BAD Governança Ambiental e Questoes Ambientais Emergentes
BAD Governança Ambiental e Questoes Ambientais Emergentes
BAD Governança Ambiental e Questoes Ambientais Emergentes
SECRETARIA DO
PLANEJAMENTO
Bahia anál. dados l Salvador l v. 29 l n. 2 l p. 1-308 l jul.-dez. 2019
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Apresentação 5
Accountability na gestão hídrica em comitês de bacias hidrográficas: 9
um estudo de caso no comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana
BRUNO EDUARDO R ANGEL
ABSTRACT
Accountability na gestão
hídrica em comitês de bacias
hidrográficas: um estudo
de caso no comitê do Baixo
Paraíba do Sul e Itabapoana
B R U N O E D UA R D O R A N G E L É INCONTESTÁVEL a necessidade de uma
Graduado em Engenharia Mecânica
pelo Institutos Superiores de Ensino do organização social que defina, orientada
CENSA (ISECENSA).
[email protected] por critérios técnicos e vontade popular, a
direção a se tomar doravante no que con-
cerne ao uso da água. O Brasil parece ter
estabelecido este norte quando assumiu
a negociação baseada no modelo francês
como orientação administrativa. Tal modelo
fundamenta-se, principalmente, na divisão
em bacias hidrográficas como unidades de
gerenciamento, cedendo a um órgão cole-
giado e democrático a gestão dos recursos
naturais – os comitês de bacia.
Relacionando esta dinâmica à temática proposta, pode ser tangível que A Lei 6.938/81,
os comitês de bacias hidrográficas assumam uma posição estratégica na que estabelece
entrada comunitária ante os processos decisórios, seguindo a tendência a Política
internacional das últimas décadas. Dessa forma, se harmonizariam com Nacional do
o conceito de accountability, oriundo das ciências políticas, mas que tem Meio Ambiente
sido aplicado em outras áreas do conhecimento, ultrapassando paradig- e constitui
mas meramente aplicáveis à administração pública.
o Sistema
Nacional do
Imputar ao homem, nos variados campos de ingerência, a responsabi-
Meio Ambiente
lidade que lhe é pertinente, respondendo por ações advindas das rela-
ções de poder, fortalecendo órgãos que promovam o desenvolvimento (Sisnama), veio
sustentável e criando mecanismos de controle e coibição, pode ser um consolidar
importante fator na busca por uma gestão efetivamente participativa e nacionalmente
sustentável (GODINHO, 2013). esse modelo
participativo de
Assumindo que os comitês detêm uma função central no gerenciamento gestão
hídrico brasileiro e que têm como prerrogativa o incentivo à inclusão
popular nesta administração, este artigo objetiva investigar como os
comitês de bacias hidrográficas (em especial o Comitê da Bacia Hidro-
gráfica do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana) podem ser instrumentos
práticos na aplicabilidade de conceitos de accountability no gerencia-
mento de recursos hídricos.
REVISÃO DE LITERATURA
Participação popular
Bahia anál. dados, 1. O ator se vê obrigado a conceder as informações sobre sua con-
12 Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019 duta, de maneira formal ou informal.
Bruno Eduardo Rangel Artigos
Só no Rio Paraíba do Sul existem sete comitês em funcionamento atual- Bahia anál. dados,
MÉTODOS
tando a ideia do comitê como ser social participante, sugerindo atuação O plano de
do colegiado em assuntos políticos e comunitários gerais, com os re- questiona-
flexos de decisões externas sobre o comitê, excluindo-se os de caráter mentos não
notoriamente ambientais; ”Organizacional”, com orações que tratam seguiu um
mais especificamente do conteúdo administrativo do comitê ou que ordenamento
têm ligação com a política empregada, o planejamento e a execução de sistemático,
atividades corriqueiras dentro e fora dele; e “Accountability”, que abarca
mas provocava
frases que ressaltam a responsividade, a transparência, a participação
o participante a
popular e a responsabilidade ética que o comitê deve exercer perante
comentar temas
a sociedade. Tudo isso converge para a terceira e última etapa: a inter-
pretação dos dados levantados. como legislação
ambiental,
participação
RESULTADOS E DISCUSSÕES popular,
princípios de
As entrevistas accountability,
problemas na
O interesse dessas entrevistas está particularmente conexo à participa- gestão hídrica
ção da sociedade civil na gerência hídrica das bacias do Baixo Paraíba regional e
do Sul e do Rio Itabapoana, como suporte indispensável à implantação potenciais
dos conceitos de accountability nesse modelo de construção do Estado, medidas para o
desenhado aqui pela figura do comitê de bacia hidrográfica.
seu aprimora-
mento
A orientação na escolha dos participantes das entrevistas que consti-
tuíram a parte oral dessa dissertação se deu basicamente em membros
e ex-membros da sociedade civil que participam ou participaram do
processo de administração hídrica subsidiado pelos comitês nas regiões
norte e noroeste fluminenses. Entre os entrevistados estão a diretora da
ONG Ecoanzol, Luiza Salles, além de pesquisadores renomados do ce-
nário hídrico regional, como o professor e pesquisador Aristides Soffiati,
a representante da agência de bacia desse comitê, Thaís Nacif, membros
de sua diretoria executiva e o presidente desse colegiado, João Siqueira.
Ainda que tenha ou uma referência textual citada, havendo o cuidado de salvaguardar o
trazido novos ponto de vista do entrevistado.
conceitos, como
o de valoração Obviamente que toda análise discursiva carrega, além da subjetividade
da água, de do pesquisador, a construção de parcialidade do contribuinte enquanto
ser social moldado sob valores e crenças que lhe são peculiares.
finitude do bem
e de gestão
Eficiência ou eficácia da legislação ambiental brasileira
por bacia
hidrográfica, o As falas são indiscriminadamente análogas na alegação de que o arca-
regulamento bouço legal tenta cumprir sua função social. O presidente do comitê,
ambiental João Siqueira (informação verbal)1, descreve como “fantástica” a legisla-
deixa brechas ção ambiental brasileira, mas que, apesar de muito boa, já merece algu-
ao operador de mas revisões pontuais. Adepto da filosofia positivista de Auguste Comte,
direito ele compactua com a ideia de que a tecnologia e as demandas ambien-
tais são aspectos da dinâmica social que movem a sociedade, levando
a estática social, como as leis, para um novo degrau. Ou seja, a resposta
que a sociedade dá à interposição de um mecanismo legítimo deve ser
levada em consideração no aperfeiçoamento do código ambiental. Ain-
da que tenha trazido novos conceitos, como o de valoração da água,
de finitude do bem e de gestão por bacia hidrográfica, o regulamento
ambiental deixa brechas ao operador de direito. Exemplo citado nas
entrevistas é a possibilidade de substituição das agências de bacias por
entidades delegatárias, conforme previsto no Artigo 51 da Lei 9433/97. A
agência de bacia própria, na visão de João Siqueira (informação verbal)2,
diminuiria a burocracia na prestabilidade de serviços do comitê, o que,
em contrapartida, pode significar a perda de um instrumento regulador
de prestação de contas. Mesmo sendo entidades privadas sem fins lucra-
tivos, as delegatárias se debruçam sobre todas as determinações legais
inerentes a uma empresa pública, como obediência aos preceitos da Lei
nº 8.666, de 21 de junho de 1993, que institui normas para licitações e
contratos da administração pública (MELO, 2016).
1 Entrevista concedida para esta pesquisa pelo presidente do CBH BPSI, João Siqueira, em 18 de
abril de 2018.
Bahia anál. dados,
18 Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019
2 Entrevista concedida para esta pesquisa pelo presidente do CBH BPSI, João Siqueira, em 18 de
abril de 2018.
Bruno Eduardo Rangel Artigos
Luiza Salles (informação verbal)3 pontua que o comitê deveria atuar de A lei dá subsídio
forma mais categórica na Assembleia Legislativa fluminense no intento para uma
de reformular tais leis, orientando o legislador em suas decisões. gestão hídrica
de excelência,
Há de se frisar que a imposição quanto ao uso dos recursos obtidos fere mas a sociedade
o pressuposto pela Lei das Águas de que é prerrogativa do comitê de civil não é
bacia hidrográfica local definir como será investido o recurso oriundo
atuante, e
da cobrança na sua unidade de gerenciamento para atender às neces-
as menores
sidades locais.
frestas legais
Os moldes de repasse para comitês com rios federais (cortam mais de um atrapalham
estado) em sua unidade de gerenciamento são outro ponto de discussão a eficiência
entre os estudiosos do assunto. A lentidão no repasse das verbas, que perseguida
perambulam entre a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Comitê de
Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), no caso
da Região IX, e a confusa distribuição desse fundo são listadas quando o
mérito legal é discutido. O professor Aristides Soffiati (informação ver-
bal)4 chama esse imbróglio de “fragmentação”, em que as predileções
paulistas e da cidade do Rio de Janeiro geralmente sobressaem ante as
demais, mesmo regionalmente, e as discussões estritamente voltadas ao
gerenciamento hídrico campista ganham maior atenção.
Participação popular
3 Entrevista concedida para esta pesquisa pela diretora da ONG Ecoanzol, Luiza Salles, em 14 de
maio de 2018.
4 Entrevista concedida para esta pesquisa pelo professor e pesquisador Aristides Soffiati, em 3 de
junho de 2018.
Bahia anál. dados,
5 Entrevista concedida para esta pesquisa pela diretora da ONG Ecoanzol, Luiza Salles, em 14 de
maio de 2018.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019
19
Accountability na gestão hídrica em comitês de bacias hidrográficas: um estudo de caso no comitê do Baixo Paraíba do Sul
Artigos e Itabapoana
Hoje se pe, 1513) e Hobbes (Leviatã, 1651), chegando a um Estado liberal, fun-
apresenta damentado, basicamente na liberdade individual e na igualdade. Daí
como Estado passou para um Estado social, na busca de superar as limitações do
democrático liberalismo, de modo que as instituições públicas fossem capazes de
de direito, proporcionar justiça social e equidade aos cidadãos. Hoje se apresenta
como Estado democrático de direito, alcunha que fundamenta, inclusi-
alcunha que
ve, a Constituição deste país, em seu primeiro artigo, e que sinonimiza
fundamenta,
um governo popular.
inclusive, a
Constituição No decorrer deste estudo, parece ter ficado evidente que práticas de
deste país, em accountability só se tornam exequíveis quando apoiadas numa ampla
seu primeiro contribuição comunitária, concordando com a ideia de Rocha (2008) de
artigo, e que que “[...] a efetividade do conceito só se dá pela participação popular”.
sinonimiza Durante as entrevistas, os participantes foram questionados sobre a
um governo participação popular nesse complexo sistema de gerenciamento.
popular
Como síntese, as opiniões convergem na importância da inclusão social
na tomada de decisões e na baixa participação da coletividade. A socie-
dade ainda não reconhece o comitê como um espaço social, seguindo
o conceito de Jean-Claude Passeron, no livro O Raciocínio Sociológico
(PASSERON, 1995). O fator cultural foi apontado como uma das causas
desse cenário. Uma das representantes da sociedade civil no comitê,
Luiza Salles (informação verbal)6 observa que a cultura brasileira ainda é
de “particularizar ações”. Trocando em miúdos, os diversos atores envol-
vidos nessa discussão defendem apenas “suas bandeiras”, desprezando
uma atuação conjunta que busque uma “visão integrada, sistêmica e
realista” do assunto na região, que, diga-se de passagem, é muito com-
plexa e, por consequência, conflituosa.
Isso acarreta uma gestão voltada para os interesses dos setores mais
participativos, restringindo a abrangência das ações do colegiado. Não
significa, porém, que a gestão se dará exclusivamente em concordância
com esses segmentos. Segundo o presidente João Siqueira (informação
6 Entrevista concedida para esta pesquisa pela diretora da ONG Ecoanzol, Luiza Salles, em 14 de
maio de 2018.
Bahia anál. dados,
20 Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019
7 Entrevista concedida para esta pesquisa pela representante da agência de bacia Thaís Nacif, em
16 de março de 2018.
Bruno Eduardo Rangel Artigos
8 Entrevista concedida para esta pesquisa pelo presidente do CBH BPSI, João Siqueira, em 18 de
abril de 2018.
9 Entrevista concedida para esta pesquisa pelo professor e pesquisador Aristides Soffiati, em 3 de
junho de 2018.
Bahia anál. dados,
10 Entrevista concedida para esta pesquisa pela representante da agência de bacia Thaís Nacif, em
16 de março de 2018.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019
21
Accountability na gestão hídrica em comitês de bacias hidrográficas: um estudo de caso no comitê do Baixo Paraíba do Sul
Artigos e Itabapoana
11 Entrevista concedida para esta pesquisa pelo presidente do CBH BPSI, João Siqueira, em 18 de
abril de 2018.
Bahia anál. dados,
22 Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019
12 Entrevista concedida para esta pesquisa pelo presidente do CBH BPSI, João Siqueira, em 18 de
abril de 2018.
Bruno Eduardo Rangel Artigos
14 Entrevista concedida para esta pesquisa pela diretora da ONG Ecoanzol, Luiza Salles, em 14 de
maio de 2018.
Bahia anál. dados,
24 Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019
15 Entrevista concedida para esta pesquisa pelo professor e pesquisador Aristides Soffiati, em 3 de
junho de 2018.
Bruno Eduardo Rangel Artigos
das atas produzidas nas reuniões plenárias do comitê, que assume papel A série
mediador na implantação dessa política pública. “Ambiental”
apareceu em
A Figura 2 apresenta as categorias e a frequência relativa com que cada 53 oportuni-
uma das categorias aparece na entrevista analisada. dades, repre-
sentando pouco
Figura 2 mais de 15%
Categorias analisadas e suas respectivas frequências percentuais em relação ao total
da discussão
nos dois anos
Financeiro
27%
19% analisados
Ambiental
Sociopolitico
Organizacional
Accountability
15%
24% 14%
A atuação dos cou que hoje a projeção do cenário não indica grandes problemas com
comitês como quantidade de água. Disse que a questão mais sensível é a ausência de
órgão social, reservação” (informação verbal)17.
obviamente,
depende de A classe denominada “Financeiro” teve 66 ocorrências nos 347 perío-
dos totais, o que se traduz em 19% de frequência relativa, garantindo
recursos
destaque a este tópico durante as argumentações. A preocupação com
financeiros, daí
“recursos” – palavra recorrente nas oratórias – é inegável. Tal verbete
a relevância do
aparece 40 vezes nas atas dos dois anos – sem contabilizar vocábulos
assunto como “arrecadação”, “cobrança” ou “financeira”, que trazem a mesma
conotação para fins deste estudo –, sendo assim a palavra mais usual
durante as conferências e superando termos como “água” (23 vezes) ou
ambiente/ambiental (12 vezes).
17 Declaração obtida na ata da 2ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em junho de 2018.
18 Declaração obtida na ata da 2ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em julho de 2017.
Bahia anál. dados,
26 Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019
19 Declaração obtida na ata da 1ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em abril de 2017.
Bruno Eduardo Rangel Artigos
20 Entrevista concedida para esta pesquisa pelo presidente do CBH BPSI, João Siqueira, em 18 de
abril de 2018.
21 Declaração obtida na ata da 3ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em setembro de 2018.
22 Declaração obtida na ata da 3ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em setembro de 2017.
Bahia anál. dados,
23 Declaração obtida na ata da 3ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em setembro de 2017.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019
27
Accountability na gestão hídrica em comitês de bacias hidrográficas: um estudo de caso no comitê do Baixo Paraíba do Sul
Artigos e Itabapoana
O conceito de Carlos Ronald falou que é importante dar maior visibilidade às ações do
accountabi- Comitê, ao realizar reuniões em outras instituições como IFF, Prefeitura
lity envolve a de Campos e UFRRJ, possibilitando a diversificação dos participantes e
zação de quem
Contudo, tal sensibilização socioambiental só é possível pelo despertar
ocupa o cargo
do sentimento de pertencimento e pela aproximação com essas ques-
em prestar
tões, incentivados por meio de ações de conscientização. O comitê tem
contas, sendo
se mostrado antenado com intervenções pedagógicas nesse sentido,
imputado a ele o conforme discorrido durante a primeira reunião de 2018: “Em seguida
ônus pela inob- colocou em votação a proposta de inclusão de pauta para apresentação
servância de de um projeto de educação ambiental com foco no monitoramento”
algum preceito, (informação verbal)25.
mas também
os créditos Esse contexto democrático indubitavelmente se faz alicerçado em in-
pelo bom teresses sociais. Pressões políticas e monetárias devem ser extirpadas
desempenho de desse modelo de gerenciamento. Ainda na primeira reunião de 2018,
seus atos isso é posto em debate: “Pediu que esses grupos priorizem decisões to-
madas com embasamento técnico, evitando influências políticas nessas
decisões” (informação verbal)26.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
24 Declaração obtida na ata da 2ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em junho de 2018.
25 Declaração obtida na ata da 1ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em maio de 2018.
26 Declaração obtida na ata da 1ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em maio de 2018.
Bahia anál. dados,
28 Salvador, v. 29, n. 2,
p.8-33, jul.-dez. 2019
27 Declaração obtida na ata da 4ª Reunião Ordinária do Comitê do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana,
realizada em novembro de 2017.
Bruno Eduardo Rangel Artigos
Ainda que Ainda que este trabalho não tenha abordado todas as relações de go-
este trabalho vernança que existem na gestão hídrica regional, a contribuição epis-
não tenha temológica é relevante, e os hiatos identificados devem servir de base
abordado todas a estudos futuros. Por hora, é conclusivo que, mesmo estando em pro-
as relações de cesso incipiente de estruturação gerencial, o CBH BPSI é um eminente
representante da democracia participativa, capaz de organizar estraté-
governança
gias políticas e técnicas indispensáveis no debate público em que está
que existem na
inserido, fazendo uso de conceitos de accountability de forma factível.
gestão hídrica
regional, a Já os resultados obtidos por este trabalho por intermédio da análise do
contribuição conteúdo das atas também sugerem que o CBH BPSI aplica conceitos
epistemológica de accountability no seu modelo gerencial, evidenciados pela alta ocor-
é relevante, e os rência de matérias ligadas a este conteúdo durante a observação.
hiatos identi-
ficados devem No entanto, a discussão ainda não atingiu o nível de participação co-
servir de base a munitária esperado, quer seja pelo caráter formal das reuniões, quer
estudos futuros seja pela ausência do sentimento de empoderamento das parcelas mais
humildes envolvidas no debate. Com isso, setores historicamente he-
gemônicos envolvidos na dialética proposta reafirmam sua posição de
supremacia, principalmente os grandes produtores rurais campistas,
baseados numa legitimidade clientelista. Estes devem sim participar do
processo, mas ter seus propósitos efetivamente contrapostos por forças
populares. Tal conduta vagarosamente vem sendo combatida pela pre-
tensão de uma política participativa presumida pelo comitê.
O CBH BPSI vem se esforçando em dar publicidade aos atos que realiza
– árduo trabalho – numa região de quase 1 milhão de habitantes, mas o
desconhecimento sobre a atuação do comitê ainda é enorme.
O CBH BPSI é uma instituição jovem. São apenas 10 anos gerenciando Muito se
os recursos hídricos do norte e do noroeste fluminenses após um longo conquistou,
período de acefalia administrativa. Muito se conquistou, mas ainda há mas ainda
um longo caminho até que seja atingido um modelo gerencial verdadei- há um longo
ramente participativo e democrático. caminho
até que seja
atingido
REFERÊNCIAS
um modelo
gerencial
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil). Nota técnica nº 30/2014/SAG-ANA.
Solicita apoio no sentido de que seja elaborado estudo para avaliação dos
verdadeira-
mecanismos e valores da cobrança de transposição da água da Bacia Hidro- mente parti-
gráfica do rio Paraíba do Sul, para a Bacia do rio Guandu. Brasília: ANA, 25 jul. cipativo e
2014. Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sag/CobrancaUso/ democrático
BaciaPBS/Textos/NT30-2014-SAG-ANA_cobranca_transposicao.pdf. Acesso
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o art. 1º da Lei nº. 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº. 7.990,
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TOTTI, M. E. Gestão das águas no Brasil: trajetória. In: TOTTI, M. E.; SOFFIATI, A.
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WHITE, A. Term accountability. Ohio: Bowling Green State University, 2018. Dis-
ponível em: https://works.bepress.com/adam-white/2/. Acesso em: 25 fev. 2018.
ABSTRACT
Mecanismo financeiro de
impostos e sobretaxas para
o custeio de áreas naturais
protegidas: uma alternativa
aos aportes governamentais
em Salvador (BA)
R I C A R D O AU G U S T O S O U Z A M A C H A D O AS MUDANÇAS ocorridas nos padrões de
Doutor em Geografia, pela Universidade
de Santiago de Compostela (USC) e ocupação e uso do solo e a consequente
mestre em Geografia, pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Professor do
fragmentação de habitat, processo no qual
Departamento de Filosofia e Ciências
a cobertura vegetal contínua é converti-
Humanas da Universidade Estadual de
Feira de Santana (UEFS). da em ilhas de vegetação cercadas por
[email protected]
R U B É N C A M I LO LO I S G O N Z Á L E S
ambientes desflorestados, construídos ou
Doutor em Geografia pela Universidade modificados (DIDHAM, 2010; GARCIA et al.,
de Santiago de Compostela (USC).
Catedrático de Análise Geográfica 2013), têm sido responsáveis pela limitação
Regional do Departamento de Geografia
da Universidade de Santiago de das condições de vida e de reprodução de
Compostela (USC).
[email protected]
inúmeras espécies. Essas ocorrências con-
tribuem para o aumento das taxas de ex-
tinção e comprometem significativamente
uma série de serviços ecológicos ou ecos-
sistêmicos em nível local (DIAMOND, 1989),
como controle de enchentes, estabilização
do solo contra deslizamentos, manutenção
de microclimas e da qualidade do ar, além
da proteção dos rios e demais corpos hídri-
cos (MILLIKEN, 2018).
Parte desses problemas tem relação direta com a insuficiência dos re-
cursos financeiros destinados à gestão das ANP, fato que repercute ne-
gativamente na composição quantitativa e qualitativa do corpo técnico
dessas unidades, assim como na estrutura operacional responsável por
garantir o cumprimento dos objetivos de conservação com a realização
dos serviços ecossistêmicos fundamentais para o estabelecimento de
melhores condições ambientais e de sustentabilidade do território (MA-
CHADO, 2018).
No Brasil, PROCEDIMENTOS
utiliza-se o
termo “unidade No Brasil, utiliza-se o termo “unidade de conservação” (BRASIL, 2000)
de conservação” para designar os espaços protegidos por um regime especial de le-
(BRASIL, 2000) gislação que contemplam os elementos de fauna, flora e demais atri-
butos naturais. Trata-se de uma classificação ambígua, pois a própria
para designar
legislação divide as categorias de unidades de conservação em grupos
os espaços
de “preservação” e “conservação”, em função do uso indireto (sem ex-
protegidos por
tração de recursos) ou direto (com extração sustentável de recursos),
um regime respectivamente. Assim, pela lei, uma unidade de conservação pode ser
especial de de preservação (BRASIL, 2000), o que causa certa confusão inicial e
legislação que traz uma grande imprecisão ao termo.
contemplam
os elementos Em função disso, utilizou-se, ao longo deste texto, o termo área natu-
de fauna, ral protegida (ANP), inspirado na denominação usada pela União In-
flora e demais ternacional de Conservação da Natureza (EDMISTON et al., 2014), que
atributos adota a designação “área protegida”. A inserção da palavra “natural”
naturais nessa denominação teve por finalidade diferenciar o termo de outros
que se referem às áreas urbanas, relacionados ao patrimônio artístico e/
ou arquitetônico, aplicados com frequência no Brasil, além de facilitar o
entendimento por meio do significado explícito das palavras emprega-
das. Desse modo, torna-se mais coerente que as áreas naturais protegi-
das estejam divididas em dois grupos distintos – de conservação e de
preservação –, voltados ao amparo da biodiversidade.
de 48 mil km.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.34-53, jul.-dez. 2019
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Mecanismo financeiro de impostos e sobretaxas para o custeio de áreas naturais protegidas: uma alternativa aos aportes
Artigos governamentais em Salvador (BA)
Gráfico 1
Nível de importância biológica das ANP – Salvador – 2016
Pq São Bartolomeu
Parque da Cidade
Parque de Pituaçu
Parque do Abaeté
APA Abaeté
APA Cobre
APA Joanes-Ipitanga
0 20 40 60 80 100
(Importância Biológica %)
Gráfico 2
Nível de importância socioeconômica das ANP – Salvador – 2016
Pq São Bartolomeu
Parque da Cidade
Parque de Pituaçu
Parque do Abaeté
APA Abaeté
APA Cobre
APA Joanes-Ipitanga
0 20 40 60 80 100
(Importância socio-econômica %)
Os parques gestores das ANP. Do mesmo modo, eles projetaram como inadequados
das Dunas, da os recursos previstos para o período 2016-2021. Os parques das Dunas,
Cidade e São da Cidade e São Bartolomeu são as unidades que dispõem de melhor
Bartolomeu são saúde financeira, considerando as despesas atuais. Apesar disso, os va-
as unidades lores investidos acabam sendo suficientes apenas para a manutenção
das atividades e das infraestruturas existentes, não contemplando novos
que dispõem de
investimentos considerados importantes.
melhor saúde
financeira,
Para os gestores das unidades em regime estatal, a falta de autonomia
considerando as financeira para aquisição de novas estruturas e equipamentos, reali-
despesas atuais zação de projetos e contratação de funcionários especializados acaba
sendo um fator determinante para o pouco sucesso das ANP. Essas
unidades não possuem orçamento próprio, sendo suas demandas su-
pridas pelo órgão da administração pública responsável por sua ges-
tão, o que, em geral, não garante o atendimento de todas as demandas.
Gráfico 3
Nível dos recursos financeiros das ANP – Salvador – 2016
Pq São Bartolomeu
Parque da Cidade
Parque de Pituaçu
Parque do Abaeté
APA Abaeté
APA Cobre
APA Joanes-Ipitanga
0 20 40 60 80 100
(Recursos financeiros %)
Tabela 1
Orçamento anual atual e ideal para a gestão das ANP – Salvador – 2016
APA Abaeté
APA Cobre
APA Joanes-Ipitanga
0 20 40 60 80 100
(Resultados %)
Gráfico 5
Correlação entre o nível dos recursos financeiros e o nível dos resultados alcançados
pelas ANP de Salvador, conforme estabelecido no plano de gestão de cada unidade – 2016
100
80
60
40 y = 0,7691x + 15,016
R2 = 0,87732
20
0
0 20 40 60 80 100
Quadro 2
Resultados alcançados pelas ANP de Salvador no período 2014-2015
ANP
APA Joanes-
Bartolomeu
APA Cobre
Parque do
Parque da
Parque de
Abaeté
Cidade
Pq São
Dunas
Seria ainda possível acrescentar a esses valores uma tarifa sobre hos-
pedagem, cobrada para cada hóspede por diária de hotel ou estabele-
Bahia anál. dados, cimento equivalente. Contando-se com uma rede de aproximadamente
46 Salvador, v. 29, n. 2,
p.34-53, jul.-dez. 2019 37.400 leitos (Bahiatursa, 2016), levando-se em consideração uma taxa
Ricardo Augusto Souza Machado, Rubén Camilo Lois Gonzáles Artigos
de ocupação média de 51% no mesmo período (SETUR, 2015) e se esti- Para o setor de
pulando o valor de R$ 1,00 (US$ 0,25) por leito/noite, seriam arrecada- combustíveis,
dos mais R$ 6.962.010,00 anuais. a aplicação
de uma taxa
Para o setor de combustíveis, a aplicação de uma taxa ambiental mínima ambiental
pode se configurar como um alerta para o consumo consciente (SIL- mínima pode
VA; SANTOS; ARAÚJO, 2012) e um estímulo ao uso de meios públicos
se configurar
de transporte mais sustentáveis (CARVALHO, 2016). Outras sobretaxas
como um alerta
também poderiam ser aplicadas por conta das externalidades (custo
para o consumo
suportado por alguém que não concorda com a atividade que causou
esse custo) geradas pelos transportes individuais e pelo uso de matrizes consciente
fósseis, como o petróleo, por exemplo (MACIEL, 2012). A diminuição
da qualidade do ar, a poluição sonora e o aumento das ilhas de calor
nos centros urbanos causadas pelo grande fluxo de veículos são ex-
ternalidades criadas pela adoção de meios privados de transporte que
interferem severamente na vida das pessoas e demandam grandes in-
vestimentos do poder público para a sua mitigação (GARTLAND, 2010).
Tabela 2
Consumo anual de combustíveis por tipo de veículo e estimativa de arrecadação por
meio de sobretaxa – 2016
Consumo Km Consumo Litros por Imposto
Tipo de veículo Quantidade médio média litros/ano tipo veículo por litro R$ ano
(km/l) ano em R$
Automóvel 573.138 10 15.000 1.500 859.707.000 0,01 8.597.070,00
Caminhão 18.041 6 48.000 8.727 157.448.727 0,01 1.574.487,00
Caminhão trator 2.803 3 48.000 19.200 53.817.600 0,01 538.176,00
Caminhonete 60.899 10 15.000 1.500 91.348.500 0,01 913.485,00
Camioneta 42.246 6 15.000 2.500 105.615.000 0,01 1.056.150,00
Micro-ônibus 4.375 5 48.000 9.600 42.000.000 0,01 420.000,00
Motocicleta 122.555 30 15.000 500 61.277.500 0,01 612.775,00
Motoneta 8.696 40 15.000 375 3.261.000 0,01 32.610,00
Ônibus 9.103 3 48.000 16.000 145.648.000 0,01 1.456.480,00
Utilitário 11.719 8 48.000 6.000 70.314.000 0,01 703.140,00
Outros (1) 12.357 10 15.000 1.500 18.535.500 0,01 185.355,00
Total
Litros/ Total
Total 865.932 - - Ano 1.608.972.827 R$/Ano 16.089.728,00
Fontes: IBGE (2016), Ferraz, John e Bessa (2010), Universidade Federal de Viçosa (2015), pesquisa de campo (2017). Bahia anál. dados,
Elaboração própria.
(1) Não especificado. Utilizadas as mesmas variáveis dos automóveis.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.34-53, jul.-dez. 2019
47
Mecanismo financeiro de impostos e sobretaxas para o custeio de áreas naturais protegidas: uma alternativa aos aportes
Artigos governamentais em Salvador (BA)
vo das ANP. Dentre as questões que mais impactam a gestão, a ausência Assim, são
de autonomia orçamentária e de uma contabilidade transparente por recomendadas
parte dos órgãos públicos é uma das mais importantes. mudanças
na estrutura
Assim, são recomendadas mudanças na estrutura organizacional do es- organizacional
tado e da prefeitura municipal para que as unidades passem a contar do estado e
com alguma autonomia administrativa e financeira, objetivando propi-
da prefeitura
ciar maior agilidade e capacidade de resposta com relação aos proble-
municipal
mas, demandas e ações vinculadas ao desenvolvimento de cada unida-
para que as
de e à atuação destas junto às comunidades locais e aos demais agentes
produtores do espaço urbano. unidades
passem a
O desenvolvimento de mecanismos financeiros, portanto, é de grande contar com
relevância para a capitalização de recursos e a viabilização de proje- alguma
tos, assim como para a formação de equipes técnicas especializadas autonomia
em cada unidade, em função de suas demandas imediatas e das ações administrativa
relacionadas ao planejamento nos diferentes horizontes temporais, e financeira
visando também à criação de uma cultura organizacional voltada para
os resultados.
REFERÊNCIAS
ADAMS, L.; DOVE, L. E. Wildlife reserves and corridors in the urban environ-
ment: a guide to ecological landscape planning and resource conservation. [S.
l.]: National Institute for Urban Wildlife, 1989.
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atividades cotidianas. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO SUSTEN-
TÁVEL, 3., 2010, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: SBCS, 2010.
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ros atraca no porto de Salvador. Disponível em: http://g1.globo.com/bahia/
noticia/2016/11/cruzeiro-com-capacidade-para-32-mil-turistas-atraca-no-por-
to-de-salvador.html. Acesso em: 16 set. 2017.
LI, H.; CHEN, W.; HE, W. Planning of green space ecological network in urban
areas: an example of Nanchang, China. International Journal of Environmental
Research and Public Health, [s. l.], v. 12, n. 10, p. 12889-12904, Oct. 2015.
mar. 2016.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.34-53, jul.-dez. 2019
51
Mecanismo financeiro de impostos e sobretaxas para o custeio de áreas naturais protegidas: uma alternativa aos aportes
Artigos governamentais em Salvador (BA)
ABSTRACT
Sustentabilidade de cidades
no contexto da integração
entre a gestão de recursos
hídricos e o planejamento
urbano territorial
S A N D R A L I M A D O S S A N TO S A ÁGUA é um recurso vital, limitado, sujeito
Especialista em Geotecnologias, pela
Escola de Engenharia de Agrimensura a demandas conflitantes e exposto a múlti-
(EEA) e mestranda em Gestão e
Regulação de Recursos Hídricos, pela plas fontes de poluição. Sendo assim, a ges-
Universidade Federal da Bahia (UFBA).
tão de recursos hídricos em regiões densa-
[email protected]
2 Em muitos lugares, a gestão de recursos hídricos é realizada sem considerar a perspectiva inte-
grada. Por exemplo, é comum encontrar agências governamentais trabalhando separadamente
e independentemente para gerenciar o abastecimento e a distribuição de água, águas residuais
e águas pluviais. Além disso, as decisões e o planejamento do uso da terra com implicações para
Bahia anál. dados,
60 Salvador, v. 29, n. 2,
p.54-75, jul.-dez. 2019
a qualidade e disponibilidade da água frequentemente não são realizados em associação com o
planejamento e manejo de recursos hídricos (JOURAVLEV, 2003).
Sandra Lima dos Santos, Vivian de Oliveira Fernandes, Yvonilde Dantas Pinto Medeiros Artigos
planejamento são de áreas para habitação de interesse social3 (BRASIL, 2012, art. 26).
mais adequados
Desse modo, o plano diretor é a ferramenta adequada à compatibili-
e das mudanças
zação do crescimento econômico com a garantia da equidade social
necessárias na
e da conservação ambiental. Os municípios possuem uma grande res-
governança e
ponsabilidade na proteção dos recursos hídricos. Assim, somente por
nos arranjos meio de sistemas de planejamento integrado é possível uma gestão
institucionais sustentável das águas que possibilite sua utilização em longo prazo. A
conducentes identificação dos mecanismos de planejamento mais adequados e das
à integração mudanças necessárias na governança e nos arranjos institucionais con-
é a base para ducentes à integração é a base para o alcance de resultados que visem
o alcance de à redução dos impactos da urbanização nos sistemas hidrológicos na
resultados cidade (municípios) e na região (bacia hidrográfica) (RAUCH et al., 2017;
VASCONCELOS; SILVA, 2013).
3 Alterações da Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001, que passou a vigorar acrescida dos Arts. 42-A
Bahia anál. dados,
62 Salvador, v. 29, n. 2,
p.54-75, jul.-dez. 2019
e 42-B, conteúdo estabelecido com o objetivo da ordenação e controle do uso do solo de forma
a evitar a exposição da população a riscos de desastres (BRASIL, 2001).
Sandra Lima dos Santos, Vivian de Oliveira Fernandes, Yvonilde Dantas Pinto Medeiros Artigos
As bacias hidro- da. Modelos4 que consideraram as cidades e sua infraestrutura hídrica
gráficas são como sistemas interligados constituem ferramentas integradas de pla-
reconhecidas nejamento e apoio que permitem testar possíveis estratégias e medi-
como unidades das diante de incertezas futuras que impactam os recursos hídricos. É
territoriais para importante avaliar tendências de desenvolvimento para prever cenários
futuros, por meio de indicadores, ou seja, de metodologia de avaliação
a implemen-
do gerenciamento hídrico, utilizando-se esses dados como ferramenta
tação da Política
prática e capaz de transmitir as informações necessárias para a tomada
Nacional de
de decisão (AGUDELO-VERA et al., 2011; RAUCH et al., 2017; SERRAO-
Recursos -NEUMANN et al., 2017).
Hídricos
e atuação Nesse sentido, para atender a seus objetivos, o plano diretor municipal
do Sistema necessita de maior articulação com os planos de recursos hídricos. Des-
Nacional de sa forma é possível definir as aptidões de uma bacia hidrográfica e pro-
Gerenciamento mover um direcionamento da gestão territorial. Se considerar a variável
de Recursos ambiental no processo de controle do uso e ocupação do solo, o plano
Hídricos diretor municipal se constitui em uma importante ferramenta para o pla-
nejamento urbano em bases sustentáveis, pois incorpora à tradicional
função econômica da propriedade privada a dimensão socioambiental
e torna possível restringir a expansão urbana e a ocupação em áreas
impróprias decorrentes de fragilidades ambientais (CARNEIRO et al.,
2010; PERES; SILVA, 2010).
A área terrestre a partir da qual todas as águas fluem, através de uma O planejamento
sequência de ribeiros, rios e eventualmente lagos para o mar, desem- e o gerencia-
bocando numa única foz, estuário ou delta. Sendo a sub-bacia hidro- mento da bacia
gráfica, a área terrestre a partir da qual todas as águas fluem, através hidrográfica
de uma sequência de ribeiros, rios e eventualmente lagos para um de- seguem o
terminado ponto de um curso de água (geralmente um lago ou uma
uso eficiente
confluência de rios). (UNIÃO EUROPEIA, 2000, art. 2).
dos recursos
hídricos
A gestão de bacia hidrográfica consiste em coordenar a conservação,
disponíveis,
gerenciamento e desenvolvimento da água, terra e recursos relacio-
nados entre setores dentro de uma dada bacia hidrográfica, a fim de a fim de
maximizar os benefícios econômicos e sociais derivados dos recursos satisfazer as
hídricos de forma equitativa, preservando e, quando necessário, res- necessidades
taurando ecossistemas. O planejamento e o gerenciamento da bacia e restrições
hidrográfica seguem o uso eficiente dos recursos hídricos disponíveis, ambientais,
a fim de satisfazer as necessidades e restrições ambientais, econômicas econômicas e
e sociais. A necessidade de conservar e manejar os ecossistemas de sociais
água na escala da bacia é cada vez mais reconhecida (LIMA et al., 2016;
VISESCU; BEILICCI; BEILICCI, 2017).
Bahia anál. dados, A ordenação e controle do uso do solo devem garantir não só os in-
66 Salvador, v. 29, n. 2,
p.54-75, jul.-dez. 2019 teresses econômicos, mas também as necessidades coletivas, a insta-
Sandra Lima dos Santos, Vivian de Oliveira Fernandes, Yvonilde Dantas Pinto Medeiros Artigos
Quadro 1
Principais aspectos abordados na integração entre as gestões de recursos hídricos e de
uso do solo
Aspectos principais Gestão das águas Gestão de uso do solo
Esfera Federal: Lei nº 9.433, de 1997 Federal: Lei nº 10.257, de 2001
Denominada de Estatuto da
Cidade, tem por objetivo a
Denominada de Lei das Águas, tem por regulação do uso da propriedade
Objetivo objetivo a utilização racional e integrada urbana em prol do bem coletivo,
dos recursos hídricos, com vistas ao da segurança e do bem-estar
desenvolvimento sustentável. dos cidadãos, bem como do
equilíbrio ambiental.
Integração da gestão de recursos Garantia do direito a cidades
hídricos com a gestão ambiental. sustentáveis.
Articulação do planejamento de Ordenação e controle do uso do
Diretrizes de ação recursos hídricos com os planejamentos solo.
regionais, estaduais e nacional. Adoção de expansão urbana
Articulação da gestão de recursos compatível com os limites da
hídricos com a do uso do solo. sustentabilidade ambiental.
Instrumento técnico de Plano de recursos hídricos de âmbito Plano diretor municipal de
planejamento regional âmbito local
Unidade geográfica de Bacias hidrográficas, limites divisores Cidades, limites políticos
planejamento de águas administrativos
Fonte: Brasil (1997, 2001).
Quadro 2
Funções do zoneamento ecológico econômico conforme a escala de representação
Abrangência Escala Objetivo/Função
Indicativos estratégicos de uso do território, definição de áreas
Nacional e para detalhamento do ZEE, utilização como referência para
Macrorregionais 1:5.000.000 e definição de prioridades em planejamento territorial e gestão
1:1.000.000 de ecossistemas.
Indicativos de gestão e ordenamento territorial estadual
Estaduais/Regiões 1:1.000.000 a ou regional, tal como definição dos percentuais para fins de
1:100.000 recomposição ou aumento de reserva legal.
Indicativos operacionais de gestão e ordenamento territorial,
tais como planos diretores municipais, planos de gestão
Locais
1:100.000 e ambiental e territorial locais, usos da área de preservação
maiores permanente.
Fonte: Brasil (2002).
do, considerando que uma das finalidades precípuas deve ser a ela- O plano de
boração de uma normatização de uso do solo para a proteção dos recursos
recursos hídricos. Dessa forma, os órgãos municipais podem inserir hídricos a ser
o zoneamento ambiental nos seus sistemas de planejamento e organi- implementado
zar, de forma vinculada, as suas decisões quanto a planos, programas, nas bacias
projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos hidrográficas,
naturais, assegurando a plena manutenção do capital e dos serviços
bem como o
ambientais dos ecossistemas.
zoneamento
ecológico
O plano de recursos hídricos a ser implementado nas bacias hidrográ-
ficas, bem como o zoneamento ecológico econômico (ZEE) em todo o econômico
território, enquadra-se como proposta de planejamento ambiental inte- (ZEE) em todo
grado. Ambos os instrumentos convergem para uma finalidade similar. o território,
Assim, deveriam manter interfaces e mecanismos institucionais de inte- enquadra-se
gração visando à eficiência na gestão pública. O PRH, centralizado na como
gestão da água, e o ZEE, no ordenamento territorial, podem se favore- proposta de
cer um do outro na gestão das bacias hidrográficas, evitando sobrepo- planejamento
sições, por ajustar a escala de análise, possibilitando um melhor e mais ambiental
completo planejamento integrado dos recursos hídricos do território integrado
(CARNEIRO, et al., 2010; CARVALHO, 2014).
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
Bahia anál. dados, BRASIL. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional
72 Salvador, v. 29, n. 2,
p.54-75, jul.-dez. 2019 do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá
Sandra Lima dos Santos, Vivian de Oliveira Fernandes, Yvonilde Dantas Pinto Medeiros Artigos
DICKIE, S. et al. Planning for SUDS: making it happen. London: CIRIA, 2010.
PERES, R. B.; SILVA, R. S. A relação entre Planos de Bacia Hidrográfica e Planos Bahia anál. dados,
PERES, R. B.; SILVA, R. S. Análise das relações entre o Plano de Bacia Hidrográ-
fica Tietê-Jacaré e os Planos Diretores Municipais de Araraquara, Bauru e São
Carlos, SP: avanços e desafios visando a integração de instrumentos de ges-
tão. Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 25, n. 2, p. 349-362, maio/ago. 2013.
Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza/article/
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al area in Brazil. Journal of Urban and Environmental Engineering, João Pessoa,
v. 3, n. 1, p. 32-42, Jan./June 2009. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/
index.php/juee/article/view/2414/3038. Acesso em: 15 abr. 2019.
Bahia anál. dados, VASCONCELOS, M. E. G.; SILVA, P. M. U. Participação das políticas municipais
74 Salvador, v. 29, n. 2,
p.54-75, jul.-dez. 2019 na gestão sustentável de bacias hidrográficas. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
Sandra Lima dos Santos, Vivian de Oliveira Fernandes, Yvonilde Dantas Pinto Medeiros Artigos
RECURSOS HÍDRICOS, 20., 2013, Bento Gonçalves, RS. Anais [...]. Bento Gon-
çalves, RS: ABRH, 2013. p. 1-8.
WU, Y. et al. Smart city with chinese characteristics against the background of
big data: idea, action and risk. Journal of Cleaner Production, [s. l.], v. 173, p.
60-66, 2018.
ABSTRACT
Impacto do escoamento
transitório nas perdas de água
em sistemas de distribuição
da cidade de Salvador
(BA): análise numérica
JAMILE LEITE BULHÕES OS EPISÓDIOS de seca que assolam o
Mestre em Meio Ambiente, Águas e
Saneamento, pela Universidade Federal Nordeste brasileiro são há muito tempo co-
da Bahia (UFBA) e especialista em
Direito Ambiental, pela Universidade nhecidos. Em 2017, a região completou seu
Federal do Paraná (UFPR).
sétimo ano seguido de estiagem, com um
[email protected]
Em um SAA, as de perdas na distribuição são uma realidade na grande maioria dos sis-
perdas podem temas de abastecimento de água (SAA) brasileiros, que possuem um
ocorrer em IPD médio de 38,3% (SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE
qualquer etapa SANEAMENTO, 2019).
do sistema,
Em um SAA, as perdas podem ocorrer em qualquer etapa do sistema,
mas a quase
mas a quase totalidade acontece na distribuição. Essas perdas de água
totalidade
podem ser divididas em aparentes, que dizem respeito ao volume de
acontece na
água consumido pelo usuário, mas, por algum motivo, não medido ou
distribuição contabilizado, e reais, também conhecidas como físicas, que se referem à
água disponibilizada para distribuição que não chega aos consumidores
(SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO, 2017).
É nesse cenário Entre as ações diretas para proteger o sistema contra transitório des-
de escassez taca-se o cálculo do tempo de abertura e fechamento de válvulas e
hídrica, elevado hidrantes, controle das partidas e desligamentos das bombas, dimen-
índice de perdas sionamento das tubulações, de forma a evitar elevadas velocidades, mu-
no sistema de danças nos traçados das tubulações etc. (AMOAH; ELBASHIR, 2007;
MENDES, 2011; THORLEY, 2004).
distribuição
e negligência
No entanto, se os transitórios não puderem ser prevenidos, dispositivos
no estudo
de proteção específicos podem ser necessários. Os mecanismos que
do regime envolvem a transferência de energia para o interior ou para o exterior
transitório de de um sistema elevatório integram a categoria dos métodos de ação
operação que indireta (AMOAH; ELBASHIR, 2007; THORLEY, 2004). Entre os meca-
esta pesquisa se nismos de proteção existentes podem-se elencar chaminé de equilíbrio,
justifica reservatório hidropneumático (RHO), tanque alimentador unidirecional
(TAU), válvula de alívio, válvulas antecipadoras de ondas, tubo atenua-
dor de celeridade, entre outros.
METODOLOGIA
Áreas de estudo
Tabela 1
Percentual de ANC, DMD e população das ZA 9, 23, 42, 60
2015
Zona Perdas ANC (%)
DMD (l/s) População
9 56,6% 136,78 39.740
23 59,9% 315,98 77.704
42 61,1% 187,77 34.755
60 52,6% 114,02 33.615
Bahia anál. dados, Fonte: Bahia (2015).
80 Salvador, v. 29, n. 2,
p.76-97, jul.-dez. 2019
Jamile Leite Bulhões, André Luiz Andrade Simões Artigos
Figura 1
Croqui da subadutora de água tratada R7-R15
Zona de Abastecimento 23
Nesta ZA foi considerada uma rede secundária fictícia para análise dos
transitórios nas tubulações de menor diâmetro. A rede secundária foi
traçada considerando os arruamentos e as cotas disponíveis no softwa-
re Google Earth Pro, tendo extensão de 2,2 km e cotas que variaram
entre 20 m e 75 m. A configuração da ZA 23 e a localização da rede
secundária fictícia podem ser observadas na Figura 3.
Figura 3 A ZA 42 é
Zona de Abastecimento 23
abastecida por
uma derivação
na linha de
recalque que
conecta o Parque
de ETA da
Bolandeira ao
reservatório do
Setor R1
Zona de Abastecimento 42
Figura 4
Zona de Abastecimento 42
Simulador hidráulico
Simulação As simulações
foram
As simulações foram realizadas com os dados disponibilizados no Plano realizadas com
de Abastecimento de Água da Região Metropolitana de Salvador, Santo os dados dispo-
Amaro e Saubara (Parms), que consistem no traçado da linha-tronco da nibilizados no
rede de distribuição (definida como toda tubulação com diâmetro nomi- Plano de Abas-
nal (DN) igual ou superior a 200), suas extensões, material, rugosidade
tecimento de
e diâmetros, cotas dos nós avaliados e demanda máxima horária (DMH)
Água da Região
estimada para o ano de 2015 nos nós em que há consumo.
Metropolitana
Os tubos, segundo a SIHS (BAHIA, 2017), são de ferro fundido e muitos de Salvador,
foram implantados há algumas décadas. Seguindo o critério do Parms Santo Amaro e
de que se trata de tubos antigos, foi adotada a rugosidade absoluta (ε) Saubara
de 3 mm para toda a linha-tronco. Como não foram dadas maiores infor-
mações acerca dos tubos, considerou-se que são da classe k7. Também
não se obtiveram informações a respeito das localizações e caracterís-
ticas das válvulas de regulação e do conjunto elevatório que alimenta
a ZA 42. Por isso, foram feitas considerações embasadas no que seria
lógico e na prática dos projetistas.
Em todas as ZA que, provavelmente, será novamente expulso quando ocorrer uma os-
foram avaliadas cilação positiva de pressão.
as pressões
estáticas e Destaca-se também que a capacidade de a saída das tubulações ligadas
as pressões aos reservatórios funcionarem de forma semelhante a uma válvula de
alívio só ocorre enquanto os reservatórios residenciais estão enchendo.
em regime
A partir do instante em que a boia fecha a saída de água para o reser-
permanente
vatório, esse efeito é interrompido. Tal fato motivou a análise do sistema
considerando uma vazão mínima, com a simulação de uma condição no-
turna de consumo de água e levando em conta que as vazões que fluem
dos nós são muito pequenas – 10% da DMH estabelecida inicialmente.
14 09 TAU 10% da TAU, com 5,3 m³, na região de cota mais alta da ZA 9, onde
DMH foram observadas pressões negativas nas simulações sem
dispositivos de proteção.
Quadro 3
Regime permanente – Resumo dos resultados
ZA Estáticas Dinâmicas (dmh)
9 Pressões superiores a 50 mca em parte da Pressões superiores a 50 mca em parte da rede.
rede.
23 Pressões superiores a 10 mca e inferiores a Pressões superiores a 10 mca e inferiores a 50 mca.
50 mca.
42 - Pressões superiores a 10 mca e inferiores a 50 mca.
60 Pressões superiores a 50 mca em parte da Pressões superiores a 50 mca em parte da rede e
rede. inferiores a 10 mca em outra parte, havendo regiões
em que o abastecimento com a DMH não é possível.
Fonte: elaboração própria (2017).
Regime transitório
Dispositivos de proteção
Quadro 5
Regime transitório – Dispositivos de proteção – Resumo dos resultados
O TAU foi adequado para evitar que pressões negativas fossem obser-
vadas na rede. As sobrepressões máximas também foram reduzidas,
provavelmente devido ao efeito indireto da redução da depressão máxi-
ma. O comportamento das ondas de pressão, após o fechamento da vál-
vula no nó mais crítico com e sem TAU, pode ser observado na Figura 16. Bahia anál. dados,
Salvador, v. 29, n. 2,
p.76-97, jul.-dez. 2019
91
Artigos Impacto do escoamento transitório nas perdas de água em sistemas de distribuição da cidade de Salvador (BA): análise numérica
Figura 6 Figura 7
Oscilação de pressão – Fechamento de Oscilação de pressão – Rompimento de
válvula – DMH e 10% da DMH – ZA 9 tubulação maior e menor magnitude –
DMH – ZA 23
Figura 8 Figura 9
Oscilação de pressão – Rompimento de Oscilação de pressão – Abertura de
tubulação – 10% da DMH – ZA 23 válvula – DMH – ZA 23
Figura 10 Figura 11
Oscilação de pressão – Abertura de válvula Oscilação de pressão – Fechamento
– 10% da DMH – ZA 23 de válvula – 10% da DMH – ZA 23 (rede
secundária)
Figura 12 Figura 13
Oscilação de pressão – Parada de bombas Oscilação de pressão – Fechamento de
– DMH – ZA 42 válvula – DMH e 10% da DMH – ZA 60
Figura 14 Figura 15
Oscilação de pressão – Fechamento Oscilação de pressão – Uso de RHO – ZA 23
de válvula com 20, 40 e 60 segundos e
controlada – ZA 9
Figura 16
Oscilação de pressão – Uso de TAU – ZA 09
REFERÊNCIAS
WYLIE, E. B.; STREETER, V. L. Fluid transients. New York: McGraw-Hill, 1979. 562 p.
ABSTRACT
analisados de ressado, quando prevista nas normas estaduais, deve ser apresentada
ao órgão ambiental licenciador para a obtenção da Licença Prévia.
forma articulada,
contribuem para
Parágrafo único. Não havendo manifestação prévia ou ato correspon-
a integração
dente, a outorga de direito de uso de recursos hídricos deverá ser apre-
das gestões de sentada para a obtenção da Licença de Instalação.
recursos hídricos
e ambiental Art. 5° A outorga de direito de uso de recursos hídricos deve ser apre-
sentada ao órgão ambiental licenciador para a obtenção da Licença de
Operação.
Esfera federal
Como a outorga Como a outorga prévia e a de direito de uso de recursos hídricos são do-
prévia e a de cumentos anteriores à licença ambiental, podem ocorrer situações em
direito de uso que elas sejam emitidas e os pedidos de licença ambiental do mesmo
de recursos empreendimento sejam indeferidos. Nesses casos, a autoridade outor-
hídricos são gante competente deve ser informada pelo órgão ambiental licenciador
sobre a ocorrência para a adoção de providências cabíveis.
documentos
anteriores
Esfera estadual
à licença
ambiental, A integração entre outorga e licenciamento ambiental nos estados,
podem ocorrer segundo a ANA (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2007), relatando
situações em a situação levantada em 2004, ocorria na Bahia, Distrito Federal, Mi-
que elas sejam nas Gerais, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, São Paulo
emitidas e e Tocantins. Destes estados, foram selecionados Minas Gerais, Paraná,
os pedidos São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia para análise. Foram caracterizadas as
de licença seguintes situações:
ambiental
do mesmo • As entidades responsáveis pelos instrumentos de controle estão
empreendi- em órgãos diferentes, algumas vezes vinculadas a uma mesma
mento sejam secretaria estadual (Paraná) e, em outros casos, a secretarias di-
indeferidos ferentes (São Paulo).
• Ambos os instrumentos se encontram no mesmo órgão gestor
(Bahia e Rio de Janeiro).
• Situação mista, quando os órgãos gestores responsáveis pelas
políticas estaduais de recursos hídricos e meio ambiente estão em
entidades separadas, porém os setores operacionais de outorga e
de licenciamento estão integrados fisicamente, em um nível mais
baixo da estrutura hierárquica da secretaria ligada ao meio am-
biente (Minas Gerais).
Quadro 1
Entidades e estrutura organizacional nos estados
Estado Órgão Entidades Secretaria
Paraná Instituto Ambiental do Paraná (IAP) Separadas Única
Instituto de Águas do Paraná
São Paulo Cetesb Separadas Diferentes
DAEE
Minas Gerais Igam/Feam/IEF Mista Única
Bahia Instituo Estadual de Meio Ambiente e Única Única
Recursos Hídricos (Inema)
Rio de Janeiro Inea Única Única
Fonte: elaboração própria.
Bahia anál. dados,
104 Salvador, v. 29, n. 2,
p.98-125, jul.-dez. 2019
fernando Genz, Vanessa Calil Barbosa, João Carlos Santos da Rocha Artigos
Estado da Bahia
Documentos para
aos proce-
Descentralização
Atualização pós-
Tramitação do
Formação do
formação do
informações
autorização
Sistema de
Publicação
Entidades
integrado
unificada
processo
processo
processo
dimentos,
Estado
o ponto
crítico da
União Ibama Sim Papel Separado Digital/ Não Não Não configuração
Manual
das políticas
ANA Não Digital (1) Separado Digital Não Não Não
Paraná IAP Sim Digital Separado Digital Não Não Não em entidades
Instituto Sim Papel Separado Digital Não Não Não diferentes é
de Águas
São Paulo Cetesb Sim Digital Separado Digital Não Não Não
a atualização
DAEE Sim Digital Separado Digital Não Não Não pós-finalização
Minas Gerais Igam/ Sim Papel Único Digital Sim Sim Sim do processo de
Feam/IEF
Bahia Inema Não Digital Único Digital Sim Sim Sim autorização
Rio de Janeiro Inea Não Papel Separado Manual Sim Não Sim
Fonte: elaboração própria.
(1) Exceto para DRDH e barramento.
Do ponto Quadro 4
Correspondência entre os tipos de atos de outorga e licenciamento ambiental
de vista da
Fase Atos de outorga Atos de licenciamento ambiental
integração
Solicitação de Outorga prévia Licença Prévia (LP)
de outorga e autorização Licença técnica
licenciamento Outorga de direito de uso Licença de Instalação (Li)
Outorga de obra hídrica Licença de Operação (LO)
ambiental, Regularização de obra hídrica Licença de Instalação e Operação (LIO)
o tipo de (barragem) Licença Simplificada (LS)
Licença Única (LU)
manancial Licença Única de Plantio (LUP)
Licença de Regularização de Operação (LRO)
quanto à Autorização Ambiental (AA)
ocorrência Regularização de Carcinicultura (RC)
Dispensa de outorga Dispensa de Licença Ambiental (DLA)
física Pós-autorização Alteração de outorga Alteração de Licenças (LP, LI, LO, LS, LIO, LU, LUP)
(superficial ou Transferência de titularidade Alteração de Licenças
subterrâneo) Renovação de outorga Renovação de Licenças (LP, LI, LO, LS, LIO, LU, LUP)
Suspensão de outorga Suspensão de Licença
não implica Extinção de outorga Cancelamento de Licença
interferência Fonte: elaboração própria.
nos procedi-
mentos de plantio, autorização ambiental, regularização de carcinicultura e as
dispensas de outorga e de licença ambiental. Na fase pós- finalização
da autorização se encontram os atos de alteração, inclusa a transferên-
cia de titularidade da outorga, a renovação, a suspensão, a extinção de
outorga e o cancelamento de licença ambiental.
A validade das autorizações para as outorgas varia de dois a 30 anos, Para análise da
conforme segue: integração dos
procedimentos
• Outorga de direito de uso: até 30 anos (SERGIPE, 1999) e até 10 de outorga e
anos (CONSELHO ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS, 2014). licenciamento
• Outorga prévia: até cinco anos (SERGIPE, 1999) – na prática, dois
ambiental foi
anos (CONSELHO ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS, 2001).
considerada,
• Renovação: não especificado – na prática, mesmo prazo da outorga.
inicialmente,
Para as licenças ambientais, os prazos são:
a tipologia
dos empreen-
• Em geral, até cinco anos. Na prática, estão sendo concedidos três dimentos/
anos. atividades
• Empreendimentos de abastecimento de água: cinco anos. definidos na
• Autorização ambiental (AA): até um ano, sem renovação. Lei n° 8.497
(SERGIPE, 2018)
Para análise da integração dos procedimentos de outorga e licencia-
mento ambiental foi considerada, inicialmente, a tipologia dos em-
preendimentos/atividades definidos na Lei n° 8.497 (SERGIPE, 2018).
Assim, existem 32 agrupamentos normativos relacionados às macroa-
tividades dos empreendimentos, sendo listadas 389 atividades, das
quais uma em cada agrupamento é do tipo “Outros”, de forma a acolher
o surgimento de novas atividades. A mesma lei estabelece a classifica-
ção ambiental por porte de empreendimento e define o porte segundo
o maior dos três parâmetros: a) área total construída; b) faturamento
bruto anual; c) número de funcionários. Quando houver coincidência
de dois parâmetros em uma mesma classificação, esta deverá ser con-
siderada (SERGIPE, 2018).
Desta maneira, Desta maneira, optou-se por incluir um parâmetro hidrológico para a
optou-se por definição de porte de empreendimento quanto à integração outorga/
incluir um licenciamento, em vez de se considerar a tipologia.
parâmetro
hidrológico No geral, o indicador pode ser a vazão de demanda de recursos hídricos
do empreendimento. Outros parâmetros podem ser adotados (Reso-
para a definição
lução Conerh 1/2001 e alterações da Resolução Conerh 20/2014). Por
de porte de
exemplo, o Agrupamento Normativo 31 – Obras Hídricas (SERGIPE, 2018,
empreendi-
Anexo I) tem parâmetros específicos que definem a dispensa de outorga,
mento quanto como é o caso de barragens. A classificação de porte de empreendimen-
à integração to quanto ao uso dos recursos hídricos na integração dos procedimentos
outorga/licen- de outorga e licenciamento ambiental é apresentada no Quadro 5.
ciamento,
em vez de se Destaca-se que, para fins de integração, os empreendimentos classifica-
considerar a dos como médios quanto ao uso dos recursos hídricos, a critério do re-
tipologia querente, podem ou não solicitar a outorga prévia. Ficam dispensados de
outorga os empreendimentos classificados como pequenos, sendo que
os considerados grandes obrigatoriamente deverão solicitar outorga pré-
via quando o licenciamento ambiental necessitar de licença prévia (LP).
Quadro 5
Classificação de porte de empreendimento quanto ao uso dos recursos hídricos
Vazão de Vazão de
Classificação captação/ Barragem Núcleos rurais Carcinicultura diluição
Derivação
Pequeno(1) Q ≤ 2,5m³/h V ≤ 0,05hm³ ou A ≤ ≤ 120 casas ou LS(2) e Q ≤ 2,5m³/h
3ha ou H < 7m ≤ 600 hab Q ≤ 2,5m³/h
Médio 2,5m³/h < Q ≤ V > 0,05hm³ a < 3hm³ 2,5m³/h < Q ≤ 2,5m³/h < Q ≤ 2,5m³/h < Q ≤
50m³/h ou H ≥ 7m a < 15m ou 50m³/h 50m³/h 50m³/h
A > 3ha a < 500ha
Grande Q > 50m³/h V ≥ 3hm³ ou H ≥ 15m Q > 50m³/h Q > 50m³/h Q > 50m³/h
ou A ≥ 500ha
Fonte: elaboração própria.
Legenda: Q = vazão; V = volume; A = área do reservatório; H = altura do barramento.
(1) limite para dispensa de outorga;
(2) captações de água por empreendimentos aquícolas enquadrados no licenciamento simplificado (LS), conforme
Resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente – CEMA nº 5/2012, de 30/4/2012, desde que utilizem água
salobra; captações de água por empreendimentos de carcinicultura enquadrados no licenciamento simplificado
(LS), conforme estabelece a Resolução CEMA n.º 50/2013, de 26/7/2013, desde que utilizem água salobra.
Quadro 6
Atos e procedimentos para integração na fase pós-autorização
Ato Procedimento
Alteração O usuário primeiro solicita a alteração da outorga, incluída a transferência
de titularidade. Depois vai à Adema e pede a alteração da licença,
apresentando o documento da SRH.
Renovação Independentemente dos prazos, para renovar a outorga, a licença deverá
estar em vigor, e vice-versa nas renovações seguintes.
Suspensão, Extinção/ Caso 1: motivado pelo requerente
Cancelamento O usuário primeiro solicita a suspensão ou extinção (desistência) da
outorga. Depois vai à Adema e pede a suspensão ou o cancelamento da
licença, apresentando o documento da SRH.
Caso 2: motivado pelo órgão
SRH comunica Adema.
Adema, sempre que implicar o uso de recurso hídrico, comunica SRH.
Fonte: elaboração própria.
Bahia anál. dados,
Salvador, v. 29, n. 2,
p.98-125, jul.-dez. 2019
117
Artigos Integração dos procedimentos de outorga e licenciamento ambiental: estudo de caso do estado de Sergipe
REFERÊNCIAS
de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 dez. 2011. Dispo-
nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm. Acesso
em: 28 jun.2018.
biental será atribuição dos Municípios. Diário Oficial do Estado de Minas Gerais,
Belo Horizonte, MG, 24 fev. 2017b.
A avaliação ambiental estratégica (AAE) tem sido uma alternativa para consi-
derar a questão ambiental no processo de desenvolvimento. O presente artigo
resulta da pesquisa sobre a aplicação de AAE em programas de saneamento
básico. O objetivo da pesquisa foi propor orientações para a etapa inicial de
definição do processo de AAE, denominada scoping, conforme literatura es-
pecializada. O scoping é o conjunto de atividades que orientam o conteúdo da
avaliação. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica sobre os modelos
de scoping – seguida de análise comparativa e sistematização para a proposi-
ção do conjunto de procedimentos para esta etapa – e estudo de casos múl-
tiplos de programas de saneamento básico para a identificação de questões
relevantes. Houve abordagem multidimensional que considerou os aspectos
biofísicos, econômicos, sociais, institucionais e estratégicos do ambiente. O
resultado final foi a construção da proposta de uma base de referência para
a etapa de scoping da AAE aplicada em programas de saneamento básico.
Palavras-chave: Avaliação ambiental estratégica. Programas de saneamento
básico. Scoping.
ABSTRACT
Avaliação ambiental
estratégica para programas
de saneamento básico:
construindo orientações
para a etapa de scoping
LU I Z E U G E N I O P E R E I R A VA L I Ñ A S O COMPROMISSO das nações com as dire-
C A R D O S O E S I LVA
Mestre em Meio Ambiente, Águas e
trizes da Agenda 21 e com os Objetivos do
Saneamento e graduado em Engenharia Milênio preconiza que as políticas públicas
Civil, pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Engenheiro civil da Caixa devem considerar a perspectiva da questão
Econômica Federal.
[email protected] ambiental no processo de desenvolvimento.
SE VERINO SOARES AGR A FILHO A Agenda 2030, plano de ação elaborado
Doutor em Economia e Meio Ambiente,
pela Universidade Estadual de Campinas pelas Nações Unidas (ONU, 2015), estabe-
(Unicamp) e mestre em Planejamento
Energético, pela Universidade Federal
leceu os 17 Objetivos de Desenvolvimento
do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor-
Sustentável. Dentre eles, destacam-se os
associado do Departamento de
Engenharia Ambiental e do Mestrado em objetivos 6 e 11: água potável e saneamento,
Meio Ambiente, Águas e Saneamento
da Escola Politécnica da Universidade e cidades e comunidades sustentáveis.
Federal da Bahia (UFBA).
[email protected]
Nesse sentido, torna-se premente que se
disponha de instrumentos e procedimentos
que propiciem a inserção da sustentabilida-
de nos processos de decisão governamen-
tal. O uso da avaliação ambiental estratégica
(AAE) tem sido uma alternativa praticada
em diversos países para esse propósito,
constituindo um processo que pode ser apli-
cado na área do saneamento.
Scoping é a etapa do processo da AAE que define orientações sobre o Garantir que
âmbito da avaliação pretendida, incluindo as informações de referência as questões
para a etapa seguinte de avaliação de impactos. O termo “scoping”, no ambientais
contexto da AAE, não apresenta correspondência semântica com a pa- sejam
lavra “escopo” em português. Por isso, mantém-se o uso do termo em levadas em
inglês, considerando que é a nomenclatura consagrada para denominar consideração
esta etapa na literatura especializada sobre o tema.
nos níveis
estratégicos
O scoping é a fase na qual as especificidades do campo em estudo são
de decisão,
consideradas, constituindo o passo em que são verificadas as possibili-
dades de interação entre as políticas públicas em planejamento e o am- incluindo as
biente, identificando oportunidades, ameaças e os impactos potenciais políticas, os
possíveis, positivos e negativos. planos e os
programas
O objetivo geral deste artigo é propor orientações para a elaboração
do scoping da AAE aplicada em programas de saneamento básico, me-
diante dois objetivos específicos: propor procedimentos para a etapa de
scoping e identificar questões relevantes para o conteúdo da avaliação.
O artigo está organizado em cinco seções, sendo a primeira a presente
introdução. Em seguida, a segunda seção apresenta o referencial sobre
a AAE e o scoping. A terceira seção expõe a metodologia e os resulta-
dos relacionados ao primeiro objetivo específico, enquanto que a quarta
é sobre a metodologia do segundo objetivo específico e os resultados
alcançados. A última seção é formada pelas conclusões obtidas.
AAE E SCOPING
Metodologia
Quadro 1
Comparação das atividades da etapa de scoping entre modelos/autores
Organization
for Economic
Atividades Sadler (2001) Brasil (2002) Therivel Cooperation Fischer (2007) Partidário (2007) Herrera (2009)
(2004) and
Development
(2006)
Resultados
Quadro 3
Modelo de matriz de interação para programa de saneamento básico
Objetivos e ações do programa
Manejo de resíduos
Abastecimento de
Desenvolvimento
Manejo de águas
Esgotamento
institucional
sanitário
pluviais
sólidos
água
Definição de indicadores
processo de AAE, utilizando como parâmetro os indicadores que repre- Foi adotada
sentem os efeitos e os nexos causais das questões relevantes. como modelo
a consideração
A verificação de opções e de alternativas deve seguir uma sequência de que uma
de prioridade. Em primeiro lugar, pode-se tentar reduzir as demandas questão
adotando-se, por exemplo, o uso racional da água, o aproveitamento da relevante é
água de chuva (reduzindo a drenagem), a redução de geração de esgo-
composta
tos sanitários e de resíduos sólidos, e a possibilidade de reuso de águas
por efeitos
e resíduos. Em seguida, devem ser listadas as alternativas tecnológicas
potenciais
possíveis para atender às demandas, inclusive as não tradicionais. As
opções e as alternativas técnicas para o atendimento das demandas de relevantes,
saneamento básico devem considerar a perspectiva integrada do siste- nexo causal
ma de saneamento, bem como a melhor tecnologia disponível. e questões
estratégicas
Relatório do scoping
Metodologia
Esta pesquisa derado um caso, e cada projeto observado é uma unidade integrada
combinou a de análise dentro de um programa. A análise dos dados de cada caso
generalização seguiu a lógica da replicação e da generalização analítica. Segundo Yin
analítica e (2010), a generalização analítica difere da generalização estatística, não
a lógica da utilizando os conceitos de amostragem, de representatividade ou de
aleatoriedade. Uma premissa prévia é utilizada como referência, à qual
replicação com
são comparados os resultados do estudo. Os casos são selecionados
a ferramenta
de forma a verificar a premissa adotada. Os resultados dos casos são,
de identificação
então, generalizados. Esta pesquisa combinou a generalização analítica
de questões e a lógica da replicação com a ferramenta de identificação de questões
relevantes relevantes – matriz de interação –, sendo estudados dois casos, confor-
– matriz de me a Figura 1. A Figura 2 ilustra a metodologia utilizada.
interação
Figura 1
Generalização analítica e lógica da replicação combinada com a ferramenta de
identificação de questões relevantes para o scoping para a AAE
Foi elaborado o relatório de cada caso, por meio da reflexão do material A partir do
levantado, proporcionando a compreensão do ocorrido em cada pro- referencial
grama estudado. A identificação de questões relevantes foi efetuada teórico, foram
por meio da aplicação da matriz de interação, com o uso das informa- utilizadas a
ções geradas em cada caso. Houve a comparação dos resultados com generalização
as categorias de análise definidas, segundo a generalização analítica de analítica e
Yin (2010). As questões relevantes obtidas foram consideradas como de
a lógica da
referência para a aplicação da AAE.
replicação,
como meio de
A validação dos resultados do estudo de casos múltiplos integrados foi
realizada durante o seu transcurso, por meio da aplicação de três testes observar se
propostos por Yin (2010). O teste de validade do constructo foi feito para os resultados
garantir o uso das medidas operacionais corretas para conferir legitimi- obtidos
dade aos resultados. Foram utilizadas múltiplas fontes para verificar a confirmam
convergência dos resultados e elaborado o encadeamento de evidên- as premissas
cias. O teste da validade externa foi utilizado para verificar a possibilida- prévias
de da generalização dos resultados. A partir do referencial teórico, foram
utilizadas a generalização analítica e a lógica da replicação, como meio
de observar se os resultados obtidos confirmam as premissas prévias.
O teste de confiabilidade foi efetuado para garantir que a reprodução
dos procedimentos a partir da coleta apresente os mesmos resultados.
Figura 2
Metodologia para identificação de questões relevantes
No entanto, Quadro 4
Coleta de dados por categoria analítica
para a
Categoria analítica Atividades realizadas Instrumento Fonte
contribuição
Características do Coleta de informações Análise Normativos do programa
na formação programa dos programas documental
de uma base Coleta de informações Análise Projetos
dos projetos documental
de referência Características do Coleta de informações Análise Projetos
para a etapa ambiente do ambiente documental
Observação Locais de intervenção
de scoping de participante
aplicações Impactos Coleta de informações Análise Relatórios de desempenho do
biofísicos e resultados dos documental programa
futuras da AAE, programas
foi realizada Coleta de informações e Análise Relatórios do projeto (engenharia e
resultados do projeto documental social), licenciamento ambiental
a observação Observação Locais de intervenção
ex-post dos participante
Contexto Coleta de informações Análise Legislação local
resultados de institucional do contexto documental
experiências Participação social Coleta de informações Análise Relatórios sociais do projeto
da participação no documental
no saneamento projeto
básico Características Coleta de informações Análise Relatórios do projeto (engenharia e
dos serviços do projeto e do local documental social), licenciamento ambiental
Observação Locais de intervenção
participante
Fonte: Elaboração própria.
Resultados
(Continua)
Quadro 5
Matriz de interação do caso do Programa Pró-Saneamento
Abastecimento de água Esgotamento sanitário
Baseline Dimensão Solo
biofísica Águas Poluição das águas pela implantação Poluição das águas, por não
de abastecimento de água sem conseguir ligar todas as pessoas
esgotamento sanitário do local ao sistema de esgoto, pela
existência de trechos críticos ou pela
não aceitação das pessoas
Ar
Fauna/Flora Comprometimento de ecossistemas Comprometimento de ecossistemas
aquáticos aquáticos
Amb. construído
Dimensão Comunidades Universalidade comprometida pela
social não ligação de todos
Equidade comprometida
Integralidade comprometida, pois Integralidade comprometida, pois
apenas o abastecimento de água foi apenas o esgotamento sanitário foi
realizado realizado
Segmentos vulneráveis não Segmentos vulneráveis não
identificados, pois não houve identificados, pois não houve
diagnóstico social diagnóstico social
Comunidades não envolvidas, pois Comunidades não envolvidas, pois
não houve trabalho social não houve trabalho social
Ausência de educação ambiental Ausência de educação ambiental
junto à implementação dos serviços junto à implementação dos serviços
Dimensão Emprego
econômica Cadeia prod.
Empresas
Dimensão Governos Indefinições dos papéis Indefinições dos papéis
institucional municipais (planejamento, regulação, (planejamento, regulação,
e estadual, prestação e fiscalização). Não prestação e fiscalização). Não
inclusive órgãos houve participação do município houve participação do município
no processo, que foi planejado no processo, que foi planejado
e executado pela prestadora de e executado pela prestadora de
serviços estadual. Não houve serviços estadual. Não houve
regulação e fiscalização. regulação e fiscalização.
Ausência de arcabouço legal Ausência de arcabouço legal
Ausência de intersetorialidade. Ausência de intersetorialidade.
Não há participação dos setores Não há participação dos setores
municipais e estaduais relacionados municipais e estaduais relacionados
Baixo desempenho do programa, Baixo desempenho do programa,
com baixa execução orçamentária com baixa execução orçamentária
Longo tempo para a execução dos Longo tempo para a execução dos
projetos projetos
Falta de estudo de alternativas, Falta de estudo de alternativas,
opções e cenários que previsse os opções e cenários que previsse os
resultados resultados
Prestadores Inexistência de um padrão de Inexistência de um padrão de
qualidade qualidade
Tecnologias não apropriadas,
tendência para a preferência do
uso de rede convencional, apesar
da previsão de rede condominial no
projeto
Academia
Quadro de referência estratégico Educação
Saúde Não houve integração entre as ações Não houve integração entre as ações
de saneamento básico com a área de saneamento básico com a área
de saúde de saúde
(Conclusão)
Quadro 5
Matriz de interação do caso do Programa Pró-Saneamento
Abastecimento de água Esgotamento sanitário
Quadro de referência estratégico Habitação Ausência de política de habitação Ausência de política de habitação
e de integração com a política do e de integração com a política do
saneamento básico, função da saneamento básico, função da
habitação comprometida habitação comprometida
Orden. território
Áreas protegidas
Zoneamento
Diretrizes para a sustentabilidade Racionalização Ocorrência de perdas de água
do uso da água Uso inadequado da água
Gestão das Ausência de integração com a Ausência de integração com a
águas gestão das águas para coibir os gestão das águas para coibir os
lançamentos de esgotos lançamentos de esgotos
Educ. ambiental Não houve ações de educação Não houve ações de educação
ambiental ambiental
Pesquisa tec.
Mud. climáticas
Fonte: Elaboração própria.
Quadro 6
Classificação dos assuntos identificados na matriz de interação do Pró-Saneamento
Causas Efeitos Medidas potenciais
• Uso inadequado da água. • Poluição das águas. • Diagnóstico social identificando
• Ocorrência de perdas de • Impactos na saúde pública. os segmentos mais vulneráveis.
água. • Disponibilidade de água • Mobilização social.
• Implantação de reduzida. • Educação ambiental.
abastecimento de água sem • Comprometimento de • Controle social.
esgotamento sanitário. ecossistemas aquáticos. • Intersetorialidade – integração
• Longo tempo para a execução das esferas e das instituições.
• Trechos críticos que
dos projetos. • Regulação e fiscalização dos
dificultam a ligação de esgoto.
• Baixo desempenho financeiro serviços prestados.
• Adoção de tecnologias de do programa (baixa execução • Arcabouço legal.
maior custo. orçamentária). • Estudo de alternativas.
• Universalização dos serviços • Disponibilidade de recursos • Definição de um padrão de
comprometida. reduzida. qualidade mínima.
• Equidade dos serviços • Gestão das águas.
comprometida.
• Integralidade dos serviços
comprometida.
Fonte: Elaboração própria.
(Continua)
Quadro 7
Questões relevantes identificadas no Programa Pró-Saneamento
Questão relevante 1 – Implantação de abastecimento de água sem solução de esgotamento sanitário
Efeitos potenciais Poluição das águas, impactos na saúde pública, disponibilidade de água reduzida e
relevantes comprometimento de ecossistemas aquáticos.
Nexo causal O aumento da quantidade de água fornecida ocasiona o acréscimo de geração
de esgotos sanitários, que, sem coleta adequada, proporcionam poluição do
ambiente. O fato de deixar para efetuar o sistema de esgotamento sanitário após
o de abastecimento de água traz o risco inerente do primeiro não chegar a ser
realizado, gerando focos de poluição. A urbanização posterior, o acesso difícil em
áreas adensadas e acidentadas e a cota abaixo da rede de parte das moradias
constituem dificuldades que geram trechos críticos, não integrados aos SES.
Questão Evidências da fragilidade de aplicação dos princípios de integralidade,
estratégica universalização e equidade das ações. Os projetos devem ser orientados pelos
programas para que sejam elaborados de forma integrada em relação aos
Bahia anál. dados, componentes do saneamento básico.
144 Salvador, v. 29, n. 2,
p.126-151, jul.-dez. 2019
Luiz Eugenio Pereira Valiñas Cardoso e Silva, Severino Soares Agra Filho Artigos
(Conclusão)
Quadro 7 As diretrizes
Questões relevantes identificadas no Programa Pró-Saneamento
do PPED são
Questão relevante 2 – Ineficiência na execução dos prazos dos projetos
voltadas para
Efeitos potenciais Longo tempo para a execução dos projetos, baixo desempenho financeiro do
relevantes programa (baixa execução orçamentária), disponibilidade dos recursos reduzida.
aumentar
Nexo causal O longo tempo de execução dos projetos impactou negativamente o desempenho o nível de
do programa. Os recursos alocados no programa não foram utilizados,
diminuindo a disponibilidade financeira para realização de saneamento básico.
segurança,
Questão Evidências indicam a fragilidade da capacidade institucional para gestão e otimizar
estratégica controles voltados à execução dos projetos.
o Sistema
Questão relevante 3 – Melhor tecnologia apropriada disponível
Nacional de
Efeitos potenciais Adoção de tecnologia de maior custo no caso observado, disponibilidade dos
relevantes recursos reduzida. Defesa Civil,
Nexo causal O caso estudado identificou que especificidades para a implantação das redes facilitar
condominiais previstas no projeto desestimularam o uso da técnica. Apesar da
rede condominial em áreas adensadas ser, geralmente, a opção mais vantajosa em
a rápida
relação a custos, é necessária maior participação popular por meio de trabalho mobilização
social adequado. No caso estudado, houve a preferência pela tecnologia de rede
tradicional, com maiores custos, diminuindo a disponibilidade de recursos para de recursos
uma maior abrangência do sistema de esgotamento sanitário.
em caso de
Questão Evidencia-se a necessidade de melhor adequação da tecnologia ao contexto
estratégica socioambiental, por meio da adoção de avaliação de opções e alternativas para os desastres e
níveis de projeto e de programa, de desenvolvimento institucional e de ações de
mobilização social e educação ambiental para uso de tecnologias apropriadas. realizar desen-
Questão relevante 4 – Ineficiência na gestão das águas volvimento
Efeitos potenciais Poluição das águas, disponibilidade de água reduzida. institucional e
relevantes capacitação
Nexo causal O caso observado identificou a não existência de abordagem nos projetos para o
uso racional da água, para o controle de perdas e da poluição das águas.
Questão Evidências de fragilidade no uso responsável da água. O princípio da participação
estratégica deve ser estimulado, com ações de mobilização e educação ambiental para o uso
racional da água e de desenvolvimento institucional para o controle de perdas e
para a gestão das águas.
Fonte: Elaboração própria.
Quadro 8
Matriz de interação do caso do Programa PPED
Manejo de águas pluviais
Baseline Dimensão Solo
biofísica Águas Poluição das águas pela ausência de esgotamento
sanitário
Ar
Fauna/Flora Comprometimento de ecossistemas aquáticos pela
poluição e pelo aumento da vazão decorrente da
impermeabilização do canal
Desenvolvimento de animais indesejáveis, a
exemplo de ratos e mosquitos, decorrente do
ambiente fechado nos canais
Ambiente construído Possibilidade de transferência dos alagamentos
para outros locais como consequência hidráulica
Dimensão social Comunidades Ausência da participação pública e de controle
social
Dimensão Emprego
econômica Cadeia produtiva
Empresas
Dimensão Governos municipais Ausência de planejamento da componente manejo
institucional e estadual, inclusive de águas pluviais
órgãos Uso de tecnologia inadequada, ausência de estudo
de alternativas
Baixo desempenho do programa, com baixa
execução orçamentária
Longo tempo para a execução dos projetos
Prestadores
Academia
Quadro de referência Educação
estratégico Saúde
Habitação
Ordenam. território Possibilidade de controle da impermeabilização
urbana pelo controle do uso do solo
Áreas protegidas
Zoneamento
Diretrizes para a Racion. uso água
sustentabilidade Educ. ambiental
Pesq. tecnológica
Mud. climáticas
Fonte: Elaboração própria.
Quadro 9
Classificação dos assuntos identificados na matriz de interação do Programa PPED
Causas Efeitos Medidas potenciais
• Drenagem sem ações • Poluição das águas. •Mobilização social.
simultâneas de esgotamento • Aumento da vazão do canal. • Controle social.
sanitário. • Comprometimento de • Planejamento de sistema
• Impermeabilização do canal. ecossistemas aquáticos. municipal de manejo de águas
• Fechamento de canais, • Desenvolvimento de vetores pluviais.
criando ambiente não (ratos e mosquitos). • Estudo de alternativas.
• Transferência de alagamento • Controle da impermeabilização
ventilado, quente, úmido e sem
para outros locais. urbana pelo controle do uso do
presença de luz.
• Baixo desempenho financeiro solo.
• Longo tempo para a execução do programa (baixa execução
dos projetos. orçamentária).
Fonte: Elaboração própria.
Bahia anál. dados,
Salvador, v. 29, n. 2,
p.126-151, jul.-dez. 2019
147
Artigos Avaliação ambiental estratégica para programas de saneamento básico: construindo orientações para a etapa de scoping
O estudo de Quadro 10
Questões relevantes identificadas no Programa PPED
casos permitiu
Questão relevante 1 – Aumento da impermeabilização urbana
identificar
Efeitos potenciais Aumento da impermeabilização urbana, aumento da vazão dos sistemas de
questões relevantes drenagem, possibilidade de alagamentos, comprometimento dos ecossistemas
relevantes aquáticos.
Nexo causal A gradativa impermeabilização urbana diminui a infiltração das águas,
(constituídas aumentando a vazão nos rios, o que pode concorrer para alagamentos. Os
ecossistemas aquáticos são comprometidos.
de efeitos,
Questão estratégica Evidencia-se a necessidade de investimento em desenvolvimento institucional e
nexos causais em políticas públicas de uso do solo e de gestão territorial.
e questões Questão relevante 2 – Implantação de drenagem sem solução de esgotamento sanitário
estratégicas) Efeitos potenciais Poluição das águas, comprometimento dos sistemas aquáticos, redução da
relevantes disponibilidade de água para consumo.
para programas
Nexo causal Os rios existentes são integrados aos sistemas de drenagem urbanos. Os
de saneamento esgotos domésticos continuam sendo lançados nos rios, poluindo suas águas.
básico Questão estratégica Evidências da fragilidade do princípio de integralidade das ações de saneamento
básico. Os projetos devem ser elaborados de acordo com este princípio.
Questão relevante 3 – Impermeabilização de canais
Efeitos potenciais Aumento da vazão do canal, possibilidade de alagamentos, comprometimento
relevantes dos ecossistemas aquáticos.
Nexo causal A impermeabilização do canal como opção de projeto concorre para o aumento
de vazão, gerando alagamentos. Os ecossistemas aquáticos são comprometidos
pelo aumento de vazão.
Questão estratégica Evidencia-se a necessidade de desenvolvimento institucional e de adoção de
avaliação de opções e alternativas para os níveis de projeto e de programa.
Questão relevante 4 – Fechamento de canais
Efeitos potenciais Comprometimento de ecossistemas aquáticos e desenvolvimento de vetores.
relevantes
Nexo causal O ambiente não ventilado, quente, úmido e sem presença de luz nos canais
fechados propicia o desenvolvimento de animais indesejados. Os ecossistemas
aquáticos são comprometidos pelas condições adversas geradas pelo
fechamento do canal.
Questão estratégica Evidencia-se a necessidade de desenvolvimento institucional e de avaliação de
opções e alternativas para os níveis de projeto e de programa.
Fonte: Elaboração própria.
Espera-se que presente pesquisa seria a realização do estudo de novos casos, abor-
o conjunto de dando outros programas de saneamento (incluindo, se possível, ações
orientações de manejo de resíduos sólidos), de forma ampliar o conjunto de orien-
obtido tações para o conteúdo do scoping.
contribua para
A estruturação dos programas de saneamento básico a partir da apli-
a inovação
cação da AAE pode auxiliar na construção de uma forma sustentável
na área do
para a sociedade realizar a gestão consciente das águas, estabelecendo
saneamento
melhor relação com o ambiente do qual faz parte.
básico,
integrando Espera-se que o conjunto de orientações obtido contribua para a inova-
a gestão das ção na área do saneamento básico, integrando a gestão das águas e do
águas e do ambiente, proporcionando a redução da poluição das águas e melho-
ambiente rando as condições sociais da população por meio do ambiente saudá-
vel. Além disso, deseja-se que a pesquisa colabore para a ampliação do
uso do instrumento de AAE, devido ao seu potencial de proporcionar
decisões estratégicas mais sustentáveis em diversas áreas.
REFERÊNCIAS
ABSTRACT
Desigualdades de acesso
e qualidade dos serviços
de saneamento básico da
bacia hidrográfica do rio
Camarajipe – Salvador (BA)
C I B E L E S O U S A CO E L H O EMBORA o saneamento básico seja reco-
Graduada em Engenharia Sanitária e
Ambiental, pela Universidade Federal da nhecido como uma ação de saúde pública,
Bahia (UFBA).
[email protected] de proteção ambiental e promotora de
PAT R Í C I A C A M P O S B O R J A justiça socioambiental, as persistentes ini-
Doutora e mestre em Arquitetura e
quidades são o testemunho de um modelo
Urbanismo e graduada em Engenharia
Sanitária e Ambiental, pela Universidade de desenvolvimento desigual e excludente.
Federal da Bahia (UFBA). Professora-
associada do Departamento de Em 2015, cerca de 29% da população mun-
Engenharia Ambiental e Mestrado em
Meio Ambiente, Águas e Saneamento da dial não tinha acesso à água potável, e 61%
UFBA. [email protected]
não contavam com esgotamento sanitário,
MARIA ELISABE TE PEREIR A DOS
S A N TO S sendo que 892 milhões de pessoas defeca-
Doutora em Ciências Sociais, pela vam a céu aberto (PROGRAMA DAS NA-
Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e mestre em Ciências Sociais, ÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMEN-
pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
[email protected] TO, 2019). Os excluídos do acesso a esses
serviços básicos vivem em assentamentos
precários das zonas urbanas e rurais da
América Latina e do Caribe, da África e do
sul da Ásia, afetando de forma diferenciada
as mulheres e crianças, os mais pobres e as
populações negras.
pulação da cidade.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.152-173, jul.-dez. 2019
155
Desigualdades de acesso e qualidade dos serviços de saneamento básico da bacia hidrográfica do rio Camarajipe –
Artigos Salvador (BA)
Quadro 1
Variáveis utilizadas para a avaliação do acesso e da qualidade do saneamento básico Dos 42 bairros
em Salvador, a partir dos dados do QUALISalvador que compõem
Saneamento básico Variáveis a Bacia
Abastecimento de Abastecimento de água adequado (rede pública e poço com água tratada); Hidrográfica do
água fornecimento de água contínuo pela rede de distribuição; e percepção sobre
a qualidade da água, como límpida, sem odor/sabor e bom sabor Rio Camarajipe,
Esgotamento sanitário Esgotamento sanitário adequado (rede coletora de esgoto e fossa séptica) 38 integraram
Resíduos sólidos Frequência regular de recolhimento de resíduos sólidos por coleta porta a porta
o presente
Drenagem das águas Condições adequadas da rede de drenagem, situação de risco
pluviais estudo
Aspectos Variáveis
socioeconômicos
Escolaridade Nível superior
Cor/Etnia Responsável pelo domicílio não branco
Renda Renda familiar de até três salários mínimos
Fonte: Santos e outros (2018).
Tabela 1
Valor de ρ da correlação e interpretação
Valor de ρ (+ ou - ) Interpretação
0,00 a 0,19 Correlação bem fraca
0,20 a 0,39 Correlação fraca
0,40 a 0,69 Correlação moderada
0,70 a 0,89 Correlação forte
0,90 a 1,00 Correlação muito forte
Fonte: Shimakura (2009).
Abastecimento de água
O abastecimento de água da cidade de Salvador é realizado pelo Sis- Bahia anál. dados,
Figura 1
Abastecimento de água adequado, em proporção de domicílios, de bairros da Bacia
Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019
Tabela 3 Figura 2
Correlação estatística entre o Gráfico de dispersão entre as variáveis
abastecimento de água adequado e as “abastecimento de água adequado” e
variáveis “escolaridade”, “etnia/raça” e “renda familiar” – Bairros da Bacia do
“renda familiar” – Bairros da Bacia do Rio Rio Camarajipe – Salvador – 2019 – N=38
Camarajipe – Salvador – 2019 – N=38
Abastecimento
Variável de água
adequado
Escolaridade (proporção de
domicílios com responsável
com nível superior) 0,1025
Não brancos (proporção de
domicílios com responsável
não branco) -0,1390
Renda familiar (proporção de
domicílios com responsável Fonte: elaboração própria, a partir de Santos e
com renda familiar < 3SM) -0,2495 outros (2018).
Fonte: elaboração própria, a partir de Santos e outros
(2018).
Bahia anál. dados,
Salvador, v. 29, n. 2,
p.152-173, jul.-dez. 2019
159
Desigualdades de acesso e qualidade dos serviços de saneamento básico da bacia hidrográfica do rio Camarajipe –
Artigos Salvador (BA)
Embora a nos bairros da Bacia do Camarajipe foi possível constatar que 84,6%
totalidade dos dos domicílios possuíam fornecimento de água contínuo. O menor ín-
domicílios dice observado foi 52,7%, em Marechal Rondon, e o maior, 98,2%, em
de Marechal Brotas. Cerca de 39,5% dos bairros tinham entre 67,5% e 88,9% de seus
Rondon tenha domicílios com fornecimento de água contínuo (Tabela 4 e Figura 3).
Embora a totalidade dos domicílios de Marechal Rondon tenha acesso à
acesso à rede
rede pública de abastecimento de água, o bairro é o mais afetado (50%
pública de
das residências) com irregularidades no serviço.
abastecimento
de água, o Tabela 4
bairro é o mais Descrição da variável “fornecimento de água contínuo” em domicílios dos bairros da
Bacia Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019 – N= 38
afetado (50% das
Frequência do fornecimento de água (percentual Frequência de % % acumulado
residências) com de domicílios com abastecimento contínuo) bairros
irregularidades < 59,0 2 5,3 5,3
no serviço 59,00 - 67,47 3 7,9 13,2
67,47 - 88,89 15 39,5 52,6
88,89 - 91,43 9 23,7 76,3
> 91,43 9 23,7 100,0
Total 37 100,0
Média de proporção de domicílios 84,62
Desvio padrão 10,99
Valor mínimo 52,73
Valor máximo 98,23
Fonte: elaboração própria, a partir de Santos e outros (2018).
Figura 3
Proporção de domicílios com fornecimento de água contínuo – Bairros da Bacia
Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019
Figura 4
Gráfico de dispersão entre as variáveis “frequência do fornecimento de água” e “escolaridade”, “etnia/raça” e
“renda familiar” – Bairros da Bacia Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019 – N = 38
Tabela 6
Descrição da variável “percepção sobre a qualidade da água” fornecida pela Embasa em
domicílios dos bairros da Bacia Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019 – N= 38
Qualidade da água fornecida pela Embasa (percentual Frequência de % % acumulado
de domicílios com qualidade da água boa) bairros
< 46,74 2 5,26 5,26
46,74 - 69,52 18 47,37 52,63
69,52 - 80,73 17 44,74 97,37
80,73 - 85,71 1 2,63 100,00
Total 38 100,0
Média de proporção de domicílios 68,54
Desvio padrão 9,16
Valor mínimo 42,31
Valor máximo 85,71
Fonte: elaboração própria, a partir de Santos e outros (2018).
Figura 5
Proporção de entrevistados com percepção sobre a qualidade da água fornecida pela
Embasa como límpida, sem cheiro/odor e gosto bom – Bairros da Bacia Hidrográfica do
Rio Camarajipe – Salvador – 2019
Entre 1995 e 2004, esse sistema foi ampliado significativamente, com in-
vestimentos do Programa Bahia Azul, a um custo de US$ 175,32 milhões
(BORJA, 2014). Entre 2007 e 2014, Salvador recebeu novos investimen-
tos, no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento, para a am-
pliação do sistema de esgotamento sanitário. Assim, em 2017, segundo o
SNIS, a rede coletora de esgoto chegou a 79% da população (SISTEMA
NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO, 2019d).
Tabela 8
Descrição da variável “esgotamento sanitário adequado” em domicílios dos bairros da
Bacia Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019 – N= 38
Esgotamento sanitário adequado (percentual de domicílios com Frequência % %
acesso a redes coletoras ou fossas sépticas em bom estado) de bairros acumulado
< 76,92 2 5,3 5,3
76,92 - 85,34 8 21,1 26,3
85,34 - 92,04 18 47,4 73,7
92,04 - 95,37 9 23,7 97,4
95,37 – 100,00 1 2,6 100,0
Total 38 100,0
Média de proporção de domicílios 87,94
Desvio padrão 6,10
Valor mínimo 67,74
Valor máximo 100,00
Fonte: elaboração própria, a partir de Santos e outros (2018).
Figura 6
Proporção de domicílios com esgotamento sanitário adequado – Bairros da Bacia
Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019
Figura 7
Gráfico de dispersão entre as variáveis “esgotamento sanitário” e “escolaridade”, “etnia/raça” e “renda familiar”
– Bairros da Bacia do Rio Camarajipe – Salvador – 2019 – N = 38
Resíduos sólidos
Na Bacia truções e Serviços Ltda. Essas empresas fazem coleta, varrição, serviços
Hidrográfica do especiais, limpeza de praias e demais serviços correlatos. Assim, todos os
Rio Camarajipe, serviços de manejo de resíduos sólidos e de limpeza pública de Salvador
nenhum bairro são prestados por empresas privadas e fiscalizados pela Limpurb.
dispõe de 100%
A coleta dos resíduos sólidos e a sua frequência são determinantes na
de coleta de
avaliação da qualidade da prestação do serviço. Na Bacia Hidrográfica
resíduos sólidos
do Rio Camarajipe, nenhum bairro dispõe de 100% de coleta de resíduos
domésticos
sólidos domésticos. Em cerca de 39,5% dos bairros, a proporção de domi-
cílios com coleta adequada varia de 3,33% a 52,8% (Tabela 10 e Figura 8).
Tabela 10
Descrição da variável “coleta de resíduos domésticos” porta a porta de forma regular em
domicílios dos bairros da Bacia Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019 – N= 38
Figura 8
Coleta de resíduos sólidos adequada – Bairros da Bacia do Rio Camarajipe – Salvador – 2019
Figura 9
Gráfico de dispersão entre as variáveis “coleta de resíduos domésticos” porta a porta
de forma regular e “escolaridade” e “etnia/raça” – Bairros da Bacia Hidrográfica do Rio
Camarajipe – Salvador – 2019 – N = 38
Figura 10
Gráfico de dispersão entre as variáveis “coleta de resíduos domésticos” porta a porta
de forma regular e “renda familiar” – Bairros da Bacia Hidrográfica do Rio Camarajipe –
Salvador – 2019 – N = 38
Tabela 12
Descrição da variável “drenagem das águas pluviais adequada” em domicílios dos
bairros da Bacia Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019 – N= 38
Tabela 13
Correlação estatística entre as variáveis “drenagem das águas pluviais adequada” e
“escolaridade”, “etnia/raça” e “renda familiar” – Bairros da Bacia Hidrográfica do Rio
Camarajipe – Salvador – 2019 – N = 38
Drenagem das Probabilidade
Variável águas pluviais p
adequada
Escolaridade (proporção de domicílios com responsável com nível
superior) 0,4965 0,0000
Não brancos (proporção de domicílios com responsável não branco) -0,3864 0,0000
Renda familiar (proporção de domicílios com responsável com
Bahia anál. dados,
renda familiar < 3SM)
Fonte: elaboração própria, a partir de Santos e outros (2018).
-0,4605 0,0000 Salvador, v. 29, n. 2,
p.152-173, jul.-dez. 2019
169
Desigualdades de acesso e qualidade dos serviços de saneamento básico da bacia hidrográfica do rio Camarajipe –
Artigos Salvador (BA)
Figura 12
Gráfico de dispersão entre as variáveis “drenagem das águas pluviais adequada” e “escolaridade”, “etnia/raça” e
“renda familiar” – Bairros da Bacia Hidrográfica do Rio Camarajipe – Salvador – 2019 – N = 38
CONCLUSÃO
Assim, conforme discutido ao longo deste trabalho, esta situação de Assim, para
acesso deficitário ao saneamento básico é inconstitucional, uma vez que alcançar esses
viola a dignidade da pessoa humana e o direito à moradia, à saúde e ao e os demais
meio ambiente. Não há, portanto, respeito aos direitos fundamentais Objetivos
desses indivíduos, o que indubitavelmente interfere na qualidade de do Desen-
vida, na saúde e na produtividade. volvimento
Sustentável
O enfrentamento das desigualdades ainda se constitui em um grande
estabelecidos
desafio no século XXI, mas se deve destacar certo progresso no reco-
pela ONU
nhecimento desse problema. Em 2015, por exemplo, foi criada a Agenda
2030, pela ONU, com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentá- (ORGANIZAÇÃO
vel. Dentre eles, destacam-se o Objetivo 10, que propõe a redução das DAS NAÇÕES
desigualdades dentro dos países e entre eles, e o Objetivo 6, que visa UNIDAS, 2015),
assegurar a disponibilidade de água e saneamento para todos. as políticas
públicas de
Assim, para alcançar esses e os demais Objetivos do Desenvolvimen- saneamento
to Sustentável estabelecidos pela ONU (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES básico em
UNIDAS, 2015), as políticas públicas de saneamento básico em Salvador Salvador devem
devem somar esforços e focalizar seus investimentos para assistir essas somar esforços
populações. Destaca-se, ainda, o dever do poder público de garantir e focalizar
qualidade de vida à população, e o empenho na progressiva universa- seus investi-
lização do acesso aos serviços de saneamento básico com qualidade,
mentos para
objetivo preconizado pela Política Nacional de Saneamento Básico.
assistir essas
populações
Por fim, cita-se a limitação deste estudo ao não abranger todos os bairros
da Bacia Hidrográfica do Rio Camarajipe devido ao andamento do traba-
lho de campo e ao registro das informações em tempo compatível com
o desenvolvimento do estudo. Ressalta-se, portanto, a necessidade de
mapear as desigualdades de acesso ao serviço de saneamento básico em
todo o município, e no estado, a fim de preencher as lacunas que impe-
dem o alcance da universalização almejada, para a definição de políticas,
programas e ações para a superação do cenário de déficit dos serviços.
REFERÊNCIAS
ABSTRACT
No que se refere às cidades, em 2013, o Programa das Nações Unidas A Nova Agenda
para Assentamentos Humanos revelou que um dos maiores desafios a Urbana prevê
serem enfrentados nas próximas décadas refere-se à garantia do acesso uma mudança
à moradia e ao saneamento básico, diante do rápido crescimento das de paradigma
populações urbanas e da consequente necessidade de acesso à terra no campo
e aos serviços urbanos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017). disciplinar
Segundo esse programa, cerca de um terço da população mundial vive
da chamada
em assentamentos precários, sem acesso a serviços públicos e em si-
“ciência das
tuação de insalubridade ambiental.
cidades”
Visando ao enfrentamento da problemática urbano-ambiental, a Ter-
ceira Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento
Urbano Sustentável (Habitat III) propôs a Nova Agenda Urbana, basea-
da no reconhecimento da relação entre boa urbanização e desenvol-
vimento, buscando o alcance progressivo do direito à habitação, sem
discriminações, com acesso universal e equitativo à água potável e ao
esgotamento sanitário seguros e economicamente acessíveis. A Nova
Agenda Urbana prevê uma mudança de paradigma no campo discipli-
nar da chamada “ciência das cidades”, com foco em cinco estratégias
principais: políticas nacionais urbanas; legislação e regulação urbanas;
planejamento e desenho urbano; economia local e finança municipal; e
implantação local (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017).
METODOLOGIA
Bahia anál. dados, A opção metodológica aqui adotada envolveu a tentativa de incorporar
178 Salvador, v. 29, n. 2,
p.174-193, jul.-dez. 2019 o conhecimento gerado no âmbito da pesquisa acadêmica aos proces-
Patrícia Campos Borja, Maria Elisabete Pereira dos Santos, Luiz Roberto Santos Moraes Artigos
sos de construção da cidade e de práticas cujo foco seja o aprofunda- A relação entre
mento do exercício do direito à cidade. Assim, foram feitas pesquisas sociedade,
de títulos nos sites dos periódicos da Capes e do Habitat, da ONU e economia e
do PNUD, sendo que estes últimos foram importantes para analisar os ambiente tem
documentos oficiais sobre os ODS e a Nova Agenda Urbana. Também sido marcada
fez-se uso da legislação brasileira sobre o direito à cidade. pela complexa
associação
Do ponto de vista epistemológico, as opções consideram a assunção do
entre pobreza
caráter histórico de todo e qualquer conhecimento produzido, conforme
urbana e
as condições econômicas, sociais e político-institucionais de produção.
Acredita-se que a realidade sempre se revela de forma parcial e frag- estratificação
mentada, o que não significa a impossibilidade da sua interpretação. de acesso
Nesse caso particular, considera-se a triangulação de métodos qualita- aos serviços
tivo e quantitativo. O exercício da triangulação não tem como objetivo de consumo
exatamente a validação recíproca de cada método ou instrumento de coletivo e
pesquisa (ainda que possa secundariamente servir a esse propósito), pelo caráter
mas a complementaridade entre as distintas formas de percepção e predatório
manifestação do objeto de estudo. Também se faz uma articulação das dos projetos
dimensões urbana e ambiental, tradicionalmente circunscritas em cam- de desenvolvi-
pos teóricos distintos. mento, tanto
em relação ao
trabalho como
QUALIDADE AMBIENTAL URBANA E O DIREITO À CIDADE
ao ambiente
SUSTENTÁVEL: ALGUMAS ANOTAÇÕES
Figura 1
Conceito de qualidade do ambiente urbano
luta pelo direito à cidade é a luta contra o capital (HARVEY, 2009b, 2012).
Salvador, v. 29, n. 2,
p.174-193, jul.-dez. 2019
183
Artigos Direito à cidade sustentável e à qualidade urbano-ambiental: um estudo em Salvador, Bahia, Brasil
Nos Objetivos Na Carta Mundial pelo Direito à Cidade (2005), fruto de uma construção
do Desen- de movimentos sociais e profissionais e de pesquisadores, o direito à
volvimento cidade é definido como
Sustentável,
a noção de o usufruto equitativo das cidades dentro dos princípios de sustenta-
bilidade, democracia, equidade e justiça social [...] interdependente a
direito à cidade
todos os direitos humanos internacionalmente reconhecidos, concebi-
está prevista
dos integralmente, e inclui, portanto, todos os direitos civis, políticos,
de forma
econômicos, sociais, culturais e ambientais.
explícita nos
objetivos 11 e 6. Para Alomar (2017), nas negociações da Nova Agenda Urbana, a ONU
O ODS 11 prevê tem buscado uma posição que transita entre o neoliberalismo e as rei-
“[...] tornar as vindicações sociais relacionadas com o direito à cidade – sem enfrentar
cidades e os a estrutura social hierárquica no capitalismo, marcada pela concentra-
assentamentos ção de riqueza e reprodução de desigualdades –, pelas quais a popula-
humanos ção demanda um espaço urbano que atenda às suas necessidades, livre
inclusivos, da dominação do Estado e da empresa.
seguros,
resilientes e A Organização das Nações Unidas vem utilizando o conceito de cidade
sustentáveis sustentável. No Habitat III, objetivou-se criar uma cidade resiliente e
[...]” (UNITED sustentável, com empregos decentes e estímulo à atividade econômi-
ca (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017). Espera-se que as
NATIONS,
nações garantam terra urbanizada, habitação, energia, segurança, ali-
2015, p. 24)
mentação, destinação adequada dos resíduos, mobilidade sustentável,
serviços de saúde e planejamento familiar, educação, cultura e tecno-
logias de informação e comunicação (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 2017). Todos esses elementos compõem o direito à cidade e
são fundamentais para a promoção da qualidade de vida e da justiça
socioambiental, devendo ser promovidos por políticas públicas demo-
craticamente definidas, com a participação dos diversos sujeitos sociais,
especialmente os mais vulnerabilizados.
11.6 Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das
cidades, inclusive prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão
de resíduos municipais e outros.
6.2 Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e Bahia anál. dados,
REFERÊNCIAS
CARTA Mundial do Direito à Cidade. In: FÓRUM SOCIAL MUNDIAL, 5., 2005,
Porto Alegre. Anais [...]. Porto Alegre: FSM, 2005. Disponível em: http://www.
righttothecityplatform.org.br/download/publicacoes/Carta%20Mundial%20
do%20Direito%20%C3%83%C2%A0%20Cidade.pdf. Acesso em: 10 abr. 2019.
HARVEY, D. O direito à cidade. Lutas Sociais, São Paulo, n. 29, p. 73-89, jul./
dez. 2012. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/ls/article/view/18497/13692.
Acesso em: 20 abr. 2019.
HARVEY, D. Social justice and the cities. Athens: The Georgia University Press,
2009b.
HARVEY, D. The right to the city. International Journal of Urban and Regional
Research, [s. l.], v. 27, n. 4, p. 939-941, Dec. 2003. Disponível em: https://www.onli-
nelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.0309-1317.2003.00492.x. Acesso em: 20 abr. 2019.
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. Tradução de Rubens Eduardo Frias. 5. ed. Bahia anál. dados,
ABSTRACT
Indicadores de sustentabilidade
ambiental urbana: uma
análise comparativa com
os indicadores nacionais
propostos para os Objetivos
de Desenvolvimento
Sustentável (ODS)
SE VERINO SOARES AGR A FILHO A ONU, empenhada na promoção do desen-
Doutor em Economia e Meio Ambiente,
pela Universidade Estadual de Campinas volvimento sustentável desde a promulga-
(Unicamp) e mestre em Planejamento
Energético, pela Universidade Federal ção da Agenda 21, em 1992, tem conduzido
do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor-
diversas iniciativas e medidas, tendo como
associado do Departamento de
Engenharia Ambiental e do Mestrado em marco mais recente as diretrizes emanadas
Meio Ambiente, Águas e Saneamento
da Escola Politécnica da Universidade da Conferência Rio+20, em 2012, e o Acordo
Federal da Bahia (UFBA).
[email protected] de Paris, em 2015, que culminaram na Agen-
MÁRCIA MAR A DE OLIVEIR A MARINHO da 2030 para o desenvolvimento sustentá-
Doutora em Ciências Ambientais, pela
Universidade de East Anglia (UEA) e vel, propondo um conjunto de 17 Objetivos
mestre em Recursos Ambientais, pela
Universidade de Salford. Professora
de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
titular aposentada do Departamento Entre os distintos temas dos 17 objetivos e
de Engenharia Ambiental e professora
permanente do Mestrado em Meio as 169 metas consideradas, a questão da ur-
Ambiente, Águas e Saneamento da
Universidade Federal da Bahia (UFBA). banização é abordada na perspectiva de se
[email protected]
promover uma cidade resiliente e sustentá-
R E J A N E D E A . S A N TA N A D O S S A N TO S
Mestre em Engenharia Ambiental Urbana e vel, conforme o Objetivo 11: “Tornar cidades
doutoranda em Engenharia Industrial, pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA).
e assentamentos humanos inclusivos, segu-
[email protected]
ros, resilientes e sustentáveis”. Este objetivo
visa priorizar as ações de enfrentamento das
questões urbanas, uma vez que, conforme
ressalta o texto da ONU, embora as cidades
e áreas metropolitanas contribuam com
As evidências cerca de 60% do PIB global, a “[...] rápida urbanização está resultando
da realidade em cerca de 70% das emissões globais de carbono e mais de 60% do
urbana no Brasil uso de recursos [...]”, bem como em “[...] um número crescente de mo-
revelam que as radores de favelas, infraestrutura e serviços inadequados e sobrecarre-
condições do gados (como coleta de lixo e sistemas de água e saneamento, estradas
e transporte), agravando a poluição do ar e a expansão urbana não
ambiente das
planejada” (UNITED NATIONS, 2019, tradução nossa).
cidades estão
muito aquém
Para uma adequação das metas globais à realidade brasileira, a Co-
dos requisitos missão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
de uma susten- (CNODS), sob a coordenação do Instituto de Pesquisa Econômica
tabilidade ou de Aplicada (IPEA), elaborou uma proposta de metas nacionais dos ODS
um progresso (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2018). Esse artigo
nessa direção pretende apresentar uma contribuição para a discussão em curso so-
bre os indicadores propostos para as metas preconizadas no Objetivo
11, adotando como procedimento e referencial analítico a perspectiva
conceitual de uma cidade sustentável e resiliente e seu alinhamento e
aderência aos indicadores de sustentabilidade ambiental urbana resul-
tantes da pesquisa de mestrado de Santos (2009), a partir da propos-
ta formulada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), em parceria
com a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
(SEI). Baseia-se, portanto, em revisão bibliográfica e documental, com
análise crítica comparativa.
A construção de cia e moradia aos seus cidadãos, assim como produzir bens e serviços
um sistema de para o seu desenvolvimento e absorver resíduos e emissões (KENNEDY;
indicadores com CUDDIHYEENGEL-YAN, 2007 apud EUROPEAN COMISSION, 2018).
séries históricas
possibilita não A produtividade de uma cidade depende de cidadãos saudáveis e fe-
lizes, que necessitam de acesso adequado à educação, à saúde, à se-
só o diagnóstico
gurança, à alimentação, à água, aos transportes, ao ar puro e à eletri-
da situação
cidade. Desta forma, as cidades devem possuir sistemas eficientes de
como também
eliminação de resíduos, espaços verdes, edifícios ecoeficientes, trans-
a sua trajetória, portes públicos e atrair empreendedores que utilizem recursos locais
servindo para os mercados regionais. O comportamento e o estilo de vida dos
como suporte moradores desempenham um papel fundamental, assim como ações
à tomada de para a redução do consumo de recursos naturais e dos impactos am-
decisão bientais negativos (EUROPEAN COMISSION, 2018).
Essa proposta tos em drenagem urbana pode indicar que aspectos como proteção de
revisada é áreas de preservação permanente e controle do uso e ocupação do solo
constituída de não estão sendo observados, ou seja, uma configuração de um quadro
128 indicadores, de insustentabilidade ambiental (SANTOS, 2009).
dos quais 42
Os indicadores supracitados foram revistos, sendo propostos outros em
foram identi-
substituição, a saber: percentual da população atendida com abasteci-
ficados como
mento de água; percentual da população atendida com solução sanitá-
indicadores
ria ambiental para as excretas e os efluentes sanitários; e investimentos
básicos no manejo de águas pluviais e drenagem urbana. Já outros indicadores
prioritários tiveram sua nomenclatura atualizada, como: incidência de doenças vei-
(IB1), que são culação hídrica/ano (N/ano); e incidência de doenças de veiculação hí-
os passíveis de drica/distrito sanitário (N/d), sendo substituídos por: taxa de incidência
serem gerados a de doenças relacionadas ao contato com água contaminada/ano (N/
partir dos dados ano); e taxa de incidência de doenças relacionadas ao contato com água
já disponíveis contaminada/distrito sanitário (N/d).
em sistemas
de informações Cabe ainda destacar que, durante as consultas aos sistemas de informa-
de instituições ções de instituições públicas, foi verificada por Santos (2009) a possibi-
públicas lidade de aplicação de mais três indicadores da proposta ISAU que não
estavam classificados como IB1: percentual de materiais reciclados do to-
tal de lixo produzido (IB2); quilômetros viajados em transporte público/
habitante (IE); e percentual de áreas utilizadas na cidade para agricultura/
ano (IE). Com a inserção de sete indicadores, a proposta ficou denomina-
da como ISAU revisada (Quadro I). Essa proposta revisada é constituída
de 128 indicadores, dos quais 42 foram identificados como indicadores bá-
sicos prioritários (IB1), que são os passíveis de serem gerados a partir dos
dados já disponíveis em sistemas de informações de instituições públicas.
(Continua)
Quadro 1
Proposta ISAU revisada
Critério A: Sustentabilidade com equidade
Indicadores Tipo
IB1
1. Número de amostras em que os padrões de potabilidade da água foram
descumpridos/total de amostras/ano (N/total N/ano) E
2. Taxa de incidência de doenças relacionadas ao contato com água contaminada/ano
(N/ano) I
3. Percentual da população atendida com abastecimento de água (%) E
4. Percentual da população com consumo de água acima da média/habitante (%) E
5. Investimentos em sistemas de abastecimento de água/ano (R$/ano) R
6. Percentual da população atendida com solução sanitária ambiental para as excretas e
os efluentes sanitários (%) E
7. Volume de esgoto coletado/ano (m³/ano) R
8. Volume de esgoto tratado/ano (m³/ano) R
9. Investimentos em sistemas de esgotamento sanitário/ano (R$) R
Bahia anál. dados,
200 Salvador, v. 29, n. 2,
p.174-213, jul.-dez. 2019
10. Percentual da população atendida pelo sistema público de coleta de lixo/ano (%) E
11. Volume de resíduos sólidos coletados/ano (m³/ano) R
Severino Soares Agra Filho, Márcia Mara de Oliveira Marinho, Rejane de A. Santana dos Santos Artigos
(Continua)
Quadro 1
Proposta ISAU revisada
Critério A: Sustentabilidade com equidade
Indicadores Tipo
12. Investimentos na gestão dos resíduos sólidos urbanos/ano (R$) R
13. Número de ocorrências de alagamentos, desabamentos e deslizamentos/bairro/ano
(N/b/ano) E, I
14. Investimentos no manejo de águas pluviais e drenagem urbana/ano (R$) R
15. Número de habitações em áreas de riscos/bairro (N/b) E,I
16. Área de ocupação urbana/área total do município (ha/ha) E, I
17. Investimento público no município em habitação popular/ano (R$) R
18. Índice do nível de saúde (a*) (INS/ano) E
19. Índice do nível de educação (a*) (INE/ano) E
20. Índice do nível de renda dos chefes de família (a*) (IRMCH/ano) E
21. Percentual da população em habitações subnormais (%) E, I
22. Acidentes de trânsito/ano (N/ano) I
23. Homicídio total e de jovens/ano (N/ano) I
24. Despesas por função – ciência e tecnologia – municipal (R$) R
25. Despesas por função – desportes – municipal (R$) R
26. Despesas por função – educação e cultura – municipal (R$) R
27. Despesas por função – essencial à justiça e ao direito da cidadania – municipal (R$) R
IB2
1. Número de amostras em que os padrões de potabilidade da água foram
descumpridos/amostras/bairro (N/n/b) E
2. Número de vezes em que o abastecimento de água foi interrompido/ano (N/a) E
3. Percentual da população com acesso a água potável/bairro (%/b) E
4. Percentual da população com acesso a água potável/faixa de consumo (%/m³) E
5. Percentual da população atendida com esgotamento sanitário/bairro (%/b) E
6. Percentual de domicílios interligados à rede de esgotamento sanitário/bairro (%/b) E
7. Percentual de domicílios com outras soluções de esgotamento sanitário/bairro (%/b) E
8. Volume de esgoto coletado/bairro (m³/b) E
9. Volume de esgoto tratado/bairro (m³/b) E
10. Áreas verdes/bairro (ha/b) E
11. Volume de esgotos não tratados lançados nos corpos receptores/ano (m³/a) P
12. Percentual da população com acesso a coleta de lixo/bairro (%/b) E
13. Volume de resíduos sólidos coletados/bairro (m³/b) E
14. Nº. de reclamações relacionadas a ruído/bairro (N/b) R
15. Percentual da área urbana com sistema de drenagem (%) E
16. Área disponível de espaços públicos/bairro (ha/b) E
17. Percentual da área urbana da cidade com habitações subnormais (%) E,I
18. INS/bairro (a*/b) E
19. INE/bairro (a*/b) E
20. IRMCH/bairro (a*/b) E
21. Taxa de incidência de doenças relacionadas ao contato com água contaminada/
distrito sanitário I
22. Taxa de incidência de doenças respiratórias I
IE
1. IQA dos rios urbanos (a*) E
2. Volume de resíduos sólidos dispostos na rede pluvial/ano (m³/a) E,I
3. Volume de resíduos sólidos dispostos na rede pluvial/bairro (m³/a) E,I
4. Volume de resíduos líquidos lançados na rede pluvial/ano (m³/a) P
5. Volume de resíduos líquidos lançados na rede pluvial/bairro (m³/b) P Bahia anál. dados,
6. Volume de águas pluviais lançadas na rede de esgoto/bairro (m³/b) P
Salvador, v. 29, n. 2,
p.174-213, jul.-dez. 2019
201
Indicadores de sustentabilidade ambiental urbana: uma análise comparativa com os indicadores nacionais propostos para
Artigos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
(Continua)
Quadro 1
Proposta ISAU revisada
Critério A: Sustentabilidade com equidade
Indicadores Tipo
7. Volume de águas pluviais lançadas na rede de esgoto/ano (m³/a) P
8. Percentual da população com acesso a habitação adequada/bairro (%) E,I
9. Km de trechos de tráfego obstruídos ou engarrafados (km) E,I
10. Km de vias pavimentadas/bairro (km) E,I
11. Área de ocupação urbana/bairro (ha/b) E,I
12. Temperatura média/bairro (ºC/b) E
13. Índice de ruídos/vias de tráfego (a*/n) I
14. Taxa de incidência de doenças relacionadas ao controle inadequado dos resíduos
sólidos/ano (N/a) I
15. Percentual de ocorrência de descumprimento do padrão de qualidade do ar/ano (%) E
16. Percentual de ocorrência de descumprimento do padrão de qualidade do material
particulado/ano (%) E
Indicadores Tipo
IB1
1. Volume de lixo gerado/hab./ano (m³/hab) P
2. Extensão de ciclovias/ano (km/a) E
3. Frota de veículos na cidade/ano (N/a) P
4. Número de habitantes utilizando transporte público/ano (N/a) E
5. Investimentos em transportes públicos/ano (R$/a) R
6. Consumo de energia elétrica/ano (kwh/a) P
7. Percentual de perdas de água na rede de distribuição/ano (%) E
8. Número de hidrômetros unidomiciliares existentes/total de domicílios (N/N) E
9. ISB/ano (*a) I
10. Percentual de materiais reciclados do total de lixo do total produzido (%) E, R
11. Percentual de áreas utilizadas na cidade para agricultura (%) E, P
12. Evolução da frota de ônibus (N/ano) R
IB2
1. Taxa de crescimento populacional/bairro (%) P
2. Quantidade per capita de geração de lixo/bairro (kg/hab) P,E
3. Reaproveitamento de entulho na cidade (a*) E,R
4. Investimentos em sistemas de mobilidade do pedestre (R$) R
5. Número de habitantes utilizando transporte particular/ano (N/a) E,R
6. Consumo de combustível/transporte particular (l/n) P
7. Consumo de combustível/transporte público (l/n) P
8. Consumo de combustível per capita na cidade (l) E, P
9. Consumo de energia elétrica/bairro (kwh/b) P
10. Consumo de energia elétrica no setor de serviço/bairro (kwh/b) P
11. Consumo de água no setor de serviço/bairro (m³/b) P
12. Consumo de água/bairro (m³/b) P
13. Consumo de água/faixa de consumo (m³) P
14. Consumo de energia renovável em relação à energia consumida (kwh) P
15. Investimentos em recuperação de áreas degradadas (patrimônio histórico etc.) (R$) R
16. Investimentos em lazer/bairro (R$) R
17. Percentual de lâmpadas de baixo consumo de energia/total de lâmpadas na
iluminação pública (%/N) E, R
Bahia anál. dados, 18. Consumo de água potável/habitante/bairro (m³/N/b) E, P
202 Salvador, v. 29, n. 2,
p.174-213, jul.-dez. 2019 19. ISB/bairro (a*/b) E, R
Severino Soares Agra Filho, Márcia Mara de Oliveira Marinho, Rejane de A. Santana dos Santos Artigos
(Conclusão)
Quadro 1
Proposta ISAU revisada
Critério B: Adoção de padrões de consumo e produção sustentável
Indicadores Tipo
IE
1. Percentual de redução de material de embalagem no lixo coletado (%) E,R
2. Km viajados em transporte público/habitante (km) E,P
3. Km viajados em veículos particular/habitante (km) E,P
4. Média de passageiros transportados no transporte público em horários de pico (N) E,R
5. Percentual água de reuso/total de água distribuída (%/N) E,R
6. Percentual de água de chuva usada/total de água consumida (%/N) E,R
7. Percentual de água de chuva usada/total de água consumida/setor (industrial,
comercial e residencial) (%/N/s) E,R
8. Número de leis obrigando a captação de águas de chuvas nos condomínios e
residências (N) R
9. Número de leis obrigando os condomínios a ter medidas de desperdício de água (N) R
10. Número de leis obrigando os condomínios a ter medidas de separação de lixo
reciclável (N) R
11. Consumo de produtos agrícolas produzidos no município/ano (ton/a) E,P
Indicadores Tipo
IB1
1. Número de infrações ambientais aplicadas nas empresas/ano (N/a) R
2. Número de sites que disponibilizam de informações ambientais/ano (N/a) R
3. Número de normas ambientais deliberadas para atividades urbanas/ano (N/a) R
IB2
1. Número de colegiados interinstitucionais/ano (N/a) E,R
2. Número de colegiados intersetoriais/ano (N/a) E,R
3. Número de infrações no trânsito/total da frota/ano (N/N/a) R
4. Número de eventos de condução da Agenda 21 local/ano (N/a) R
5. Número de organizações da sociedade civil/total população (N/hab) R
6. Número de organizações da sociedade civil/bairro/ano (N/b/a) R
7. Número de colegiados com participação pública/total (N/N) R
8. Número de eventos oficiais sobre a questão ambiental urbana/ano (N/a) R
9. Número de profissionais atuando em empresas na questão ambiental urbana/ano (N/a) R
10. Número de programas ambientais intersetoriais (N) R
11. Número de eventos/reuniões do conselho municipal de meio ambiente/ano (N/n/a) R
12. Número de normas ambientais deliberadas/ano (N/a) R
13. Número de deliberações do conselho municipal do meio ambiente/ano (N/a) R
14. Investimentos municipais em programas ambientais/ano (R$/a) R
15. Número de reclamações/bairro/ano (N/b/a) E,R
16. Número de organizações da sociedade civil atuando na questão ambiental (N) R
IE
1. Número de profissionais atuando em instituições públicas municipais na questão
ambiental urbana/ano (N/a) R
2. Número de empresas atuando na questão ambiental urbana/ano (N/a) R
Fonte: Santos (2009).
Nota: *adimensional; N: número (quantidade); P: Pressão; E: Estado; I: Impacto; R: Resposta.
(Continua)
Quadro 2
Metas previstas e respectivos indicadores ODS
Meta 11.1 (ONU) Indicador global
Até 2030, garantir Percentual da população urbana morando em favelas, assentamentos informais ou habitações
o acesso de todos a inadequadas (Tier I).
habitação segura,
adequada e a preço
acessível, e a serviços
básicos e urbanizar as
favelas.
Meta 11.1 (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Até 2030, garantir 1: proporção da população Critério A – Sustentabilidade com equidade
o acesso de todos urbana vivendo em domicílios IB1
a moradia digna, inadequados Número de ocorrências de alagamentos, desabamentos e
adequada e a preço 1.1: proporção da população deslizamentos/bairro/ano
acessível, a serviços urbana vivendo em domicílios Número de habitações em áreas de riscos/bairro Investimento
público no município em habitação popular/ano
básicos e urbanizar com ônus excessivo de aluguel
Índice do nível de saúde (INS/ano)
os assentamentos no orçamento familiar
Percentual da população em habitações subnormais
precários de acordo com 1.2: proporção da população IB2
as metas assumidas urbana vivendo em domicílios Percentual da área urbana da cidade com habitações subnormais
no Plano Nacional precários INS/bairro
de Habitação, com 1.3: proporção da população Taxa de incidência de doenças relacionadas ao contato com água
especial atenção para urbana vivendo em contaminada/distrito sanitário
grupos em situação de aglomerados subnormais IE
vulnerabilidade. Percentual da população com acesso a habitação adequada/bairro
Análise: Nos indicadores BR predominam indicadores de estado e não há indicadores relacionados a serviços (saneamento e
saúde, por exemplo). Os indicadores ISAU caracterizam-se por serem mais abrangentes e com significativo grau de aderência
à proposta de indicadores BR.
Meta 11.2 (ONU) Indicador global
Até 2030, proporcionar 11.2.1 Percentual da população que tem acesso conveniente a transporte público, por sexo, idade e
o acesso a sistemas de pessoas com deficiência (Tier II).
transporte seguros,
acessíveis, sustentáveis
e a preço acessível para
todos, melhorando a
segurança rodoviária
por meio da expansão
dos transportes
públicos, com especial
atenção para as
necessidades das
pessoas em situação
de vulnerabilidade,
mulheres, crianças,
pessoas com deficiência
e idosos.
(Continua)
Quadro 2
Metas previstas e respectivos indicadores ODS
Meta 11.2 (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Até 2030, melhorar a 2.1: proporção da população Critério A – Sustentabilidade com equidade
segurança viária e o vivendo num raio de 1 km IE
acesso à cidade por de terminais e estações de Km de trechos de tráfego obstruídos ou engarrafados
meio de sistemas de transporte de média e alta Km de vias pavimentadas/bairro
mobilidade urbana mais capacidade Critério B – Adoção de padrões de consumo e produção
sustentável
sustentáveis, inclusivos, 2.2: proporção de
IB1
eficientes e justos, deslocamentos casa-trabalho
Extensão de ciclovias/ano
priorizando o transporte realizados a pé ou de bicicleta Número de habitantes utilizando transporte público/ano
público de massa e o em áreas urbanas Investimentos em transportes públicos/ano
transporte ativo, com 2.3: proporção do orçamento IB2
especial atenção para familiar comprometido com Investimentos em sistemas de mobilidade do pedestre
as necessidades das transporte público nas áreas IE
pessoas em situação de urbanas Km viajados em transporte público/habitante
vulnerabilidade, como Média de passageiros transportados no transporte público em
aquelas com deficiência horários de pico
e com mobilidade
reduzida, mulheres,
crianças e pessoas
idosas.
Análise: Verifica-se uma aderência significativa entre as propostas, com destaque para transporte público e ciclovias.
Meta 11.3 (ONU) Indicador global
Até 2030, aumentar a 11.3.1 Razão da taxa de consumo de terra com a taxa de crescimento populacional (Tier II).
urbanização inclusiva 11.3.2 Percentual de cidades com uma estrutura de participação direta da sociedade civil no
e sustentável e as planejamento e gestão urbana que operam de forma regular e democrática (Tier III).
capacidades para o
planejamento e gestão
de assentamentos
humanos participativos,
integrados e
sustentáveis, em todos
os países.
Meta 11.3 (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Até 2030, aumentar a 3.1: percentual de municípios Critério A – Sustentabilidade com equidade
urbanização inclusiva e com plano diretor participativo IB1
sustentável, aprimorar 3.2: percentual de municípios Investimentos em sistemas de abastecimento de água/ano
as capacidades para o com conselhos municipais e Percentual da população interligada a rede de esgoto
planejamento, para o fóruns municipais setoriais – Percentual da população atendida pelo sistema público de coleta de
lixo/ano
controle social e para Brasil e UFs
Investimentos na gestão de resíduos sólidos urbanos/ano
a gestão participativa,
Investimentos em sistema de drenagem urbana/ano
integrada e sustentável Investimento público no município em habitação popular/ano
dos assentamentos IB2
humanos, em todas as Percentual da população interligada a rede de esgoto/bairro
unidades da Federação. Percentual de domicílios interligados a rede de esgoto/bairro
Percentual de domicílios com outras soluções de esgotamento
sanitário/bairro
Volume de esgoto coletado/bairro
Volume de esgoto tratado/bairro
Percentual da população com acesso a coleta de lixo/bairro
Volume de resíduos sólidos coletados/bairro
Percentual da área urbana com sistema de drenagem
Áreas verdes/bairro
Área disponível de espaços públicos/bairro
IE
Percentual da população com acesso a habitação adequada/bairro
Km de vias pavimentadas/bairro
Critério B – Adoção de padrões de consumo e produção
sustentável
IB1
(Continua)
Quadro 2
Metas previstas e respectivos indicadores ODS
Extensão de ciclovias/ano
Número de habitantes utilizando transporte público/ano
Investimentos em transportes públicos/ano
IB2
Percentual de materiais reciclados do total de lixo produzido
Reaproveitamento de entulho na cidade
Investimentos em sistemas de mobilidade do pedestre
Consumo de energia renovável em relação à energia consumida
Investimentos em recuperação de áreas degradadas (patrimônio
histórico etc.)
Investimentos em lazer/bairro
Critério C – Gestão integrada, participativa com
corresponsabilidade
IB2
Número de colegiados interinstitucionais/ano
Número de colegiados intersetoriais/ano
Número de colegiados com participação pública/total
Número de eventos oficiais sobre a questão ambiental urbana/ano
Análise: O foco dos indicadores BR foi a gestão participativa e integrada, enquanto os indicadores ISAU incluem indicadores
mais apropriados para a urbanização inclusiva e sustentável (saneamento, áreas verdes e habitação popular, por exemplo).
Meta 11.4 (ONU) Indicador global
Fortalecer esforços para 11.4.1 Despesas totais (públicas e privadas) per capita gastas na preservação, proteção e
proteger e salvaguardar conservação de todo o patrimônio cultural e natural, por tipo de patrimônio (cultural, natural,
o patrimônio cultural e misto e de designação do Centro do Patrimônio Mundial), nível de governo (nacional, regional e
natural do mundo. local/municipal), tipo de despesa (despesas de manutenção/investimento) e tipo de financiamento
privado (doações em espécie, setor privado sem fins lucrativos e patrocínio) (Tier III).
11.4.1a Despesas totais públicas per capita gastas na preservação, proteção e conservação de todo
o patrimônio (Tier III).
11.4.1b Despesas totais públicas per capita gastas na preservação, proteção e conservação de todo
o patrimônio natural (Tier III).
11.4.1c Despesas totais públicas per capita gastas na preservação, proteção e conservação de todo
o patrimônio misto e de designação do Centro do Patrimônio Mundial (Tier III).
Meta 11.4 (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Fortalecer as iniciativas 4.1: percentual de municípios Critério B – Adoção de padrões de consumo e produção
para proteger e com conselho municipal de sustentável
salvaguardar o cultura e patrimônio histórico. IB2
patrimônio natural Investimentos em recuperação de áreas degradadas (patrimônio
e cultural do Brasil, histórico etc.)
Investimentos em lazer/bairro
incluindo seu
Critério C – Gestão integrada, participativa com
patrimônio material e
corresponsabilidade
imaterial. IB1
Número de infrações ambientais aplicadas nas empresas/ano
Número de sites que disponibilizam informações ambientais/ano
IB2
Número de colegiados interinstitucionais/ano
Número de colegiados intersetoriais/ano
Número de colegiados com participação pública/total
Número de eventos oficiais sobre a questão ambiental urbana/ano
Investimentos municipais em programas ambientais/ano
IE
Número de empresas atuando na questão ambiental urbana/ano
Análise: Observa-se que o indicador BR é de estado e resposta. O ISAU também apresenta indicadores de estado e de
resposta, porém com maior nível de detalhes (disponibilização de informações e medidas normativas, por exemplo).
(Continua)
Quadro 2
Metas previstas e respectivos indicadores ODS
Meta 11.5 (ONU) Indicador global
Até 2030, reduzir 5.1 Número de mortes, pessoas desaparecidas e diretamente afetadas por desastres, por 100.000
significativamente o pessoas (Tier I).
número de mortes e 5.2 Perda econômica direta em relação ao produto interno bruto global, danos à infraestrutura
o número de pessoas crítica e perturbação de serviços básicos atribuídos a desastres (Tier II).
afetadas por catástrofes
e substancialmente
diminuir as perdas
econômicas diretas
causadas por elas em
relação ao produto
interno bruto global,
incluindo os desastres
relacionados à água,
com o foco em proteger
os pobres e as pessoas
em situação de
vulnerabilidade.
Meta 11.5 (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Até 2030, reduzir 5.1: proporção da população Critério A – Sustentabilidade com equidade
significativamente o brasileira residente em áreas IB1
número de mortes e de risco – Brasil e UFs Número de ocorrências de alagamentos, desabamentos e
o número de pessoas 5.2: número de óbitos deslizamentos/bairro/ano
afetadas por desastres atribuídos a desastres Número de habitações em áreas de riscos/bairro
Percentual da população em habitações subnormais
naturais de origem
hidrometeorológica
e climatológica,
bem como diminuir
substancialmente o
número de pessoas
residentes em áreas
de risco e as perdas
econômicas diretas
causadas por esses
desastres em relação
ao produto interno
bruto, com especial
atenção na proteção
de pessoas de baixa
renda e em situação de
vulnerabilidade.
Análise: Observa-se similaridade entre as propostas, exceto o indicador 5.2 (nº de óbitos), que consta nos indicadores BR. O
ISAU possui indicadores mais detalhados.
Meta 11.6 (ONU) Indicador global
Até 2030, reduzir o 11.6.1 Percentual de resíduos sólidos urbanos regularmente coletados e com descarga final
impacto ambiental adequada sobre o total de resíduos sólidos urbanos gerados, por cidades (Tier II).
negativo per capita 11.6.2 Níveis médios anuais de material particulado (PM2.5 e PM 10) em cidades (população
das cidades, inclusive ponderada) (Tier I).
prestando especial
atenção a qualidade do
ar, gestão de resíduos
municipais e outros.
(Continua)
Quadro 2
Metas previstas e respectivos indicadores ODS
Meta 11.6 (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Até 2030, reduzir o 6.1: resíduos sólidos urbanos Critério A – Sustentabilidade com equidade
impacto ambiental produzidos, coletados e IB1
negativo per capita das coletados com destinação Percentual da população atendida pelo sistema público de coleta de
cidades, melhorando os adequada (t/dia) lixo/ano
índices de qualidade do 6.2: percentual de municípios Volume de resíduos sólidos coletados/ano
Investimentos na gestão dos resíduos sólidos urbanos/ano
ar e a gestão de resíduos com planos municipais de
IB2
sólidos e garantir gestão integrada de resíduos
Percentual da população com acesso a coleta de lixo/bairro
que todas as cidades sólidos Nº. de reclamações relacionadas a ruído/bairro
com mais de 500 mil IE
habitantes tenham Volume de resíduos sólidos dispostos na rede pluvial/ano
implementado sistemas Volume de resíduos sólidos dispostos na rede pluvial/bairro
de monitoramento de Taxa de incidência de doenças relacionadas ao controle inadequado
qualidade do ar e planos dos resíduos sólidos/ano
de gerenciamento de Percentual de ocorrência de descumprimento do padrão de qualidade
resíduos sólidos. do ar/ano
Percentual de ocorrência de descumprimento do padrão de qualidade
do material particulado/ano
Critério B – Adoção de padrões de consumo e produção
sustentável
IB1
Volume de lixo gerado/hab./ano
IB2
Percentual de materiais reciclados do total de lixo do total produzido
Reaproveitamento de entulho na cidade
IE
Percentual de redução de material de embalagem no lixo coletado
Análise: Os indicadores BR não incluem indicadores relacionados à qualidade do ar. A proposta ISAU é mais detalhada,
embora apresente lacunas referentes à minimização de resíduos.
Meta 11.7 (ONU) Indicador global
Até 2030, proporcionar 11.7.1 Espaços livres urbanizados e área urbanizada
o acesso universal
a espaços públicos
seguros, inclusivos,
acessíveis e verdes,
particularmente para
as mulheres e crianças,
pessoas idosas e
pessoas com deficiência.
Meta 11.7 (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Até 2030, proporcionar 7.1: percentual da população Critério A – Sustentabilidade com equidade
o acesso universal urbana residente em IB2
a espaços públicos domicílios cujo entorno possui Áreas verdes/bairro
seguros, inclusivos, calçadas com rampas de Área disponível de espaços públicos/bairro
acessíveis e verdes, acesso Critério B – Adoção de padrões de consumo e produção
sustentável
em particular para as 7.2: percentual de pessoas
IB1
mulheres, crianças e residentes em domicílios cujo
Extensão de ciclovias/ano
adolescentes, pessoas entorno possui arborização IB2
idosas e pessoas com Investimentos em sistemas de mobilidade do pedestre
deficiência e demais Investimentos em lazer/bairro
grupos em situação de
vulnerabilidade.
Análise: Os indicadores BR abordam questões relacionadas à acessibilidade da mobilidade. Na realidade brasileira, caberia
incluir indicadores de segurança pública em ambas as propostas.
(Continua)
Quadro 2
Metas previstas e respectivos indicadores ODS
Meta 11.a (ONU) Indicador global
Apoiar relações 11.a.1 Percentual da população que vive em cidades que implementam planos de desenvolvimento
econômicas, sociais e urbano e regional que integram projeções populacionais e necessidades de recursos, por tamanho
ambientais positivas da cidade (Tier III).
entre áreas urbanas,
periurbanas e
rurais, reforçando
o planejamento
nacional e regional de
desenvolvimento.
Meta 11.a (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Apoiar a integração 11.b.2: percentual de Critério A – Sustentabilidade com equidade
econômica, social e municípios com ações IB1
ambiental em áreas e/ou instrumentos de Número de ocorrências de alagamentos, desabamentos e
metropolitanas e gerenciamento de riscos deslizamentos/bairro/ano
entre áreas urbanas, Número de habitações em áreas de risco/bairro
Investimento público no município em habitação popular/ano
periurbanas, rurais
INS/ano
e cidades gêmeas,
Percentual de população em habitações subnormais
considerando territórios IB2
de povos e comunidades Percentual da área urbana com habitações subnormais
tradicionais, por INS/bairro
meio da cooperação IE
interfederativa, Percentual da população com acesso a habitação adequada/bairro
reforçando o Área de ocupação urbana/bairro
planejamento nacional, Critério B – Adoção de padrões de consumo e produção
regional e local de sustentável
desenvolvimento. IB1
Número de habitantes utilizando transporte público/ano
Número de hidrômetros unidomiciliares existentes/total de domicílios
IB2
Percentual de materiais reciclados do total de lixo produzido
Investimentos em recuperação de áreas degradadas (patrimônio
histórico etc.)
ISB/bairro
IE
Percentual de áreas utilizadas na cidade para agricultura
Existência de leis obrigando os condomínios a ter medidas de
separação de lixo reciclável
Critério C – Gestão integrada, participativa com
corresponsabilidade
IB1
Número de sites que disponibilizam informações ambientais/ano
Número de normas ambientais deliberadas para atividades urbanas/
ano
IB2
Número de colegiados interinstitucionais/ano
Número de colegiados com participação pública/total
Número de programas ambientais intersetoriais
Investimentos municipais em programas ambientais/ano
Número de organizações da sociedade civil atuando na questão
ambiental
Análise: O indicador BR não apresenta uma relação direta com a meta. Os indicadores ISAU, embora também sejam
indiretos, propiciam aderências mais adequadas à meta proposta.
(Conclusão)
Quadro 2
Metas previstas e respectivos indicadores ODS
Meta 11.b (ONU) Indicador global
Até 2020, aumentar 11.b.1 Número de países que adotam e implementam estratégias nacionais de redução de risco de
substancialmente o desastres em linha com o Marco de Sendai para a Redução de Risco de Desastres 2015-2030.
número de cidades 11 b.2 Proporção de governos locais que adotam e implementam estratégias locais de redução de
e assentamentos risco de desastres em linha com as estratégias nacionais de redução de risco de desastres.
humanos adotando
e implementando
políticas e planos
integrados para a
inclusão, a eficiência dos
recursos, mitigação e
adaptação às mudanças
climáticas, a resiliência a
desastres e desenvolver
e implementar, de
acordo com o Marco
de Sendai para a
Redução do Risco de
Desastres 2015-2030, o
gerenciamento holístico
do risco de desastres
em todos os níveis.
Meta 11.b (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Até 2030, aumentar b.1: percentual de municípios Critério A – Sustentabilidade com equidade
significativamente o com ações e/ou instrumentos IB1
número de cidades que de gerenciamento de riscos Número de ocorrências de alagamentos, desabamentos e
possuem políticas e 11.b.2: percentual de deslizamentos/bairro/ano
planos desenvolvidos municípios com plano Número de habitações em áreas de risco/bairro
e implementados para municipal de redução de riscos
mitigação, adaptação e
resiliência a mudanças
climáticas e gestão
integrada de riscos de
desastres de acordo
com o Marco de Sendai.
Análise: Em ambas as iniciativas os indicadores são insuficientes para atender ao propósito da meta (mitigação, adaptação e
resiliência a mudanças climáticas).
Meta 11.c (ONU) Indicador global
Apoiar os países menos 11.c.1 Proporção do apoio financeiro aos países menos desenvolvidos destinado à construção e à
desenvolvidos, inclusive modernização de edifícios sustentáveis, resistentes e eficientes em termos de recursos, utilizando
por meio de assistência materiais locais.
técnica e financeira,
para construções
sustentáveis e
resilientes, utilizando
materiais locais.
Meta 11.c (Brasil) Indicadores BR ISAU revisada
Apoiar os países menos 11.c 1 Número de projetos de Critério C – Gestão integrada, participativa com
desenvolvidos, inclusive construção e modernização corresponsabilidade
por meio de assistência de edifícios sustentáveis em IB2
técnica e financeira, países em desenvolvimento Investimentos municipais em programas ambientais/ ano
para construções que receberam assistência
sustentáveis e robustas, técnica ou financeira do
priorizando recursos governo federal brasileiro.
locais.
Análise: Em ambas as iniciativas os indicadores são insuficientes para atender ao propósito da meta.
Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2018) e United Nations (2019). Elaboração própria.
As convergên- CONCLUSÕES
cias observadas
na proposta A análise comparativa apresentada revelou as distinções entre as pro-
ISAU revisada postas para o Brasil, coordenadas pelo IPEA, e a proposta ISAU revisa-
sugerem a sua da, resultante da pesquisa de mestrado de Santos (2009), a partir da
proposta formulada pela UFBA, em parceria com a SEI, em 2006. As
pertinência, e
diferenças identificadas naturalmente refletem as distintas concepções
que diversos
e perspectivas adotadas. As convergências observadas na proposta
indicadores
ISAU revisada sugerem a sua pertinência, e que diversos indicadores
poderiam ser poderiam ser considerados para o aprimoramento e acompanhamento
considerados do progresso das metas dos ODS.
para o apri-
moramento Por outro lado, diante das comparações procedidas, ressalta-se a exis-
e acompa- tência de lacunas nas iniciativas analisadas para atender aos propósitos
nhamento do das metas ODS para a realidade brasileira, tais como a segurança de-
progresso das sejável nos espaços públicos, a questão das mudanças climáticas, dos
metas dos OD gases de efeito estufa, a desigualdade intraurbana, entre outras. Caberia
enfatizar também a necessidade de adoção de indicadores de pressão,
sobretudo nas relações e interações urbanas que trazem implicações
na sua resiliência. Outra recomendação seria proceder à aplicação das
propostas de indicadores visando à sua validação e, desta forma, ado-
tando um processo de aprimoramento contínuo.
REFERÊNCIAS
ALBERTI, M.; SOLERA, G.; TSETSI, V. La cittá sostenible. Itália: Leganbiente, 1994
BRASIL. Lei nº. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183
da Constituição Federal, estabelece as diretrizes gerais para a política urbana
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jul. 2001.
Bahia anál. dados, INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Agenda 2030: metas na-
212 Salvador, v. 29, n. 2,
p.174-213, jul.-dez. 2019 cionais dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília: IPEA, 2018.
Severino Soares Agra Filho, Márcia Mara de Oliveira Marinho, Rejane de A. Santana dos Santos Artigos
ABSTRACT
The purpose of this paper is to the debate on the impacts of agriculture on the
environment by taking into account the recent measures to release pesticides
use by the Brazilian government - some with severe restrictions or banned in
the European Union - and the publication of the IPCC report in the second half
of 2019. Considering the various forms of production and the different degrees
of technical specialization and qualification of farmers, there is a wide range of
consequences and proposed alternatives establishing various research agendas
that can determine the (re) conciliation between agricultural production and the
environment. No profound change can be seen in the forms of cultivation in the
field in the coming decades. The traditional model (agricultural specialization,
intensive use of machinery and agrochemicals) must still continue, especially
due to the prospects of increasing world population and, consequently, the
demand for food. In this scenario, however, there is room for alternative or
more rational forms of production, such as Precision Agriculture. However, the
events in Brazil and the IPCC report suggest the constant renewal and urgency
of the debate. The heterogeneity of the activities, agents and interests involved
guarantee the permanence of the issue.
Keywords: Agriculture. Environment. IPCC. Agrochemicals. Alternative agriculture.
Artigos
Bahia anál. dados, Na terceira seção são apresentadas alternativas de produção redutoras
216 Salvador, v. 29, n. 2,
p.214-235, jul.-dez. 2019 dos impactos negativos sobre os recursos naturais. Tem-se a agricul-
Alynson dos Santos Rocha Artigos
1 Em julho de 2019, a Áustria se tornou o primeiro país do bloco europeu a proibir totalmente a
utilização do glifosato nas lavouras de soja. Embora contrariando a maioria da UE, os austríacos
alegam precaução em relação aos efeitos cancerígenos e mutagênicos do agroquímico para a
Bahia anál. dados,
218 Salvador, v. 29, n. 2,
p.214-235, jul.-dez. 2019
proibição. O parlamento alemão planeja medida semelhante, visando à proteção da biodiversi-
dade (GERMANY..., 2019).
Alynson dos Santos Rocha Artigos
Quadro 1
Alguns agrotóxicos utilizados no Brasil e proibidos na UE
Substância Ano de Utilização Danos à saúde
Função proibição na UE
Acefato 2003 Amendoim, batata, brócolis, Cancerígeno; ataca sistemas
Inseticida couve, feijão, melão, repolho e soja nervoso e reprodutivo
Carbofurano 2007 Amendoim, arroz, banana, batata, Ataca sistema endócrino
Inseticida café, cenoura, feijão, milho,
repolho, tomate e trigo
Lactofem 2007 Soja Cancerígeno
Herbicida
Paraquate 2009 Arroz, beterraba, batata, cacau, Doença de Parkinson;
Herbicida café, couve, feijão, milho, soja, fibrose pulmonar irreversível
trigo e frutas
Parationa 2003 Alho, arroz, batata, cebola, feijão, Cancerígeno; pode provocar
metílica milho, soja e trigo mutações genéticas; ataca o
sistema endócrino
Fonte: Adaptado de Bombardi (2017).
Quadro 2
Limites máximos de resíduos (LMR) de agrotóxicos – Brasil x UE
Quantas vezes o
Alimento (mg/kg) Agrotóxico Limite UE Limite BR limite brasileiro
Função é superior ao
europeu
Soja 2,4 D
Herbicida 0,05 1,00 2
Cana-de-açúcar Atrazina
Herbicida 0,05 0,25 5
Alface Malationa
Inseticida 0,5 8,00 16
Citrus Acefato
Inseticida 0,01 0,20 20
Soja Glifosato
Herbicida 0,05 10,00 200
Feijão Malationa
Inseticida 0,02 8,00 400
Água Acefato Sem limite
(μg/l) micrograma Inseticida 0,1 estabelecido ????
por litro Carbofurano
Inseticida 0,1 7 70
Clorpirifós
Inseticida 0,1 30 300
Diuron
Herbicida 0,1 90 900
Tebuconazol
Fungicida 0,1 180 1.800
Glifosato
Herbicida 0,1 500 5.000
Fonte: Adaptado de Bombardi (2017).
Pode-se afirmar que essa situação não encontra sinais de mudança nas
próximas décadas. Isso porque a demanda por alimentos deve continuar
a aumentar, em reposta ao crescimento da população mundial. A Orga-
nização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)
(FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS,
2019) projeta a população mundial em 9 bilhões de pessoas no ano de
2050. A demanda por alimentos, por conseguinte, sofrerá incremento
de aproximadamente 40%, ampliando-se das 2,55 bilhões de toneladas
em 2017 para 3,20 bilhões de toneladas em 2050. Pressiona-se, dessa
forma, a produção com dois caminhos possíveis: a intensificação das
áreas já produtoras e/ou a abertura de novas fronteiras agrícolas. O Bra-
sil se destaca por apresentar grandes extensões ainda não ocupadas
com a atividade agrícola que podem ser convertidas para tal (FOOD
AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2019).
Figura 1
Ciclo da agricultura de precisão (AP)
3 Machado (2014, p. 27) afirma que “[…] mesmo antes da revolução industrial e do processo de
mecanização da agricultura, os agricultores já eram capazes de reconhecer a variabilidade
espacial de certas características físico-químicas e biológicas das áreas cultivadas, ou seja, eram
capazes de relacionar uma informação importante ao manejo da lavoura a um ponto ou zona
Bahia anál. dados,
224 Salvador, v. 29, n. 2,
p.214-235, jul.-dez. 2019
específica”. Isso reforça a observação de que a AP não é algo completamente novo. A inovação
é caracterizada pelo aparato tecnológico à disposição dos agricultores.
Alynson dos Santos Rocha Artigos
Figura 2
Objetivos das agriculturas alternativas
(Continua)
Quadro 3
Modelos de agriculturas alternativas de base ecológica
Modelo Estudos, conceitos e práticas
Agricultura orgânica Criada pelo inglês Albert Howard em 1920 e desenvolvida nos EUA, a
partir de 1948, com J. I. Rodale, é a mais antiga e tradicional corrente da
agricultura ecológica. Baseia-se na compostagem de matéria orgânica,
com a utilização de microrganismos eficientes para processamento
mais rápido do composto; na adubação exclusivamente orgânica, com
reciclagem de nutrientes no solo; e na rotação de culturas.
Agricultura biodinâmica É baseada na antroposofia de Rudolf Steiner, da Alemanha da década
de 1920. As principais características são a compostagem e a utilização
de ‘preparados’ homeopáticos ou biodinâmicos, utilizados para
fortalecimento da planta. Os animais são integrados na lavoura para
aproveitamento de alimentos: aquilo que o animal tira da propriedade
volta para a terra. Este modelo de agricultura acredita na importância de
conhecer a influência dos astros sobre todas as coisas que acontecem na
superfície terrestre.
Agricultura biológica Foi criada pelo suíço Hans Peter Muller, na década de 1930, e colocada
em prática na França. Com forte cunho socioeconômico e político,
preocupa-se com questões relacionadas à autonomia do agricultor e
à comercialização direta. Nesse modelo, a agricultura tem como base
principal as ciências biológicas – sendo definida como um sistema que
tenta manter o equilíbrio ambiental. A manutenção da fertilidade do solo
e o controle de pragas e doenças são feitos pelo uso de processos e ciclos
naturais, otimizando o uso de energia e recursos.
Permacultura Foi desenvolvida pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren. Baseia-
se num modo de vida natural, integrado à natureza das comunidades. As
principais características são os sistemas de cultivo agro-silvo-pastoris e os
extratos múltiplos de culturas. Utiliza a compostagem, ciclos fechados de
nutrientes, integração de animais aos sistemas, paisagismo e arquitetura
– tudo de maneira integrada. A comunidade deve ser autossustentável e
autossuficiente, produzindo seus alimentos, implementos e serviços sem
a necessidade de capital. Os três pilares da permacultura são: cuidar da
terra, cuidar das pessoas e repartir os excedentes. A comercialização é feita
através da troca de produtos e serviços.
Bahia anál. dados,
228 Salvador, v. 29, n. 2,
p.214-235, jul.-dez. 2019
Alynson dos Santos Rocha Artigos
(Conclusão)
Quadro 3
Modelos de agriculturas alternativas de base ecológica
Modelo Estudos, conceitos e práticas
Agricultura natural Com origem no Japão, a principal divulgadora desta corrente de trabalho
ecológico é a Mokiti Okada Association (MOA). É um método de agricultura
que propõe um cultivo natural, no qual existe harmonia do meio ambiente
com a alimentação, a saúde do homem e também com a espiritualidade.
Consiste em cultivar os vegetais da maneira mais natural possível,
rejeitando tudo o que desrespeite o ‘comportamento’ natural do solo e
do crescimento vegetal. Ou seja, não há utilização de agrotóxicos e nem
mesmo de adubos de origem animal, como o esterco – pois todos esses
elementos, segundo essa diretriz, retiram o verdadeiro e natural sabor dos
alimentos e também prejudicam a saúde do homem.
Agroecologia Miguel Altieri, nos Estados Unidos da década de 1980, procurou reunir
todas as correntes, propondo uma metodologia com uma visão holística,
abrangendo as demais alternativas numa base de pesquisa científica. É
uma ciência que fornece os princípios ecológicos básicos para o estudo e
tratamento de ecossistemas tanto produtivos quanto preservadores dos
recursos naturais. Parte-se do pressuposto de que tais sistemas sejam
culturalmente sensíveis, socialmente justos e economicamente viáveis,
proporcionando, assim, um agroecossistema sustentável.
Fonte: Adaptado de Kirinus (2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COSTA, Cinthia Cabral da; GUILHOTO, Joaquim José Martins. Impactos poten-
ciais da Agricultura de Precisão sobre a economia brasileira. Revista de Econo-
mia e Agronegócio, Viçosa, v. 10, n. 2, p. 177-204, maio/ago. 2013.
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Special report on cli- Bahia anál. dados,
mate change, desertification, land degradation, sustainable land management,
Salvador, v. 29, n. 2,
p.214-235, jul.-dez. 2019
233
Artigos Agriculturas e meio ambiente: uma questão permanente
food security, and greenhouse gas fluxes in terrestrial ecosystems. [S. l.]: IPCC,
7 ago. 2019. Disponível em: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2019/08/
Fullreport-1.pdf. Acesso em: 10 ago. 2019.
MOLIN, José Paulo; AMARAL, Lucas Rios do; COLAÇO, André Freitas. Agri-
cultura de Precisão. São Paulo: Oficina de Textos, 2015. Disponível em: http://
ofitexto.arquivos.s3.amazonaws.com/Agricultura-de-precisao-DEG.pdf. Acesso
em: 15 ago. 2019.
ABSTRACT
One of the pillars of the democratic rule of law is social participation in public
decisions, such as issues involving the environment through environmental
licensing (EL). Licensing has the primary function of regulating potentially
impacting activities. In the set of rules regulated for its operation, exceptional
conditions were established for interventions classified as of public utility,
including the possibility of suppressing the vegetation of protected areas, such
as the permanent preservation area (PPA). However, some distortions in the
use of flexibility occur, being a real problem. Given this, it becomes relevant to
discuss about social participation in the licensing of public works that present
the areas of permanent preservation. In this purpose, the methodological
procedure adopted involved an analysis of EL processes, documental,
bibliographic research and semistructured interviews with the management
agents. The results allow us to identify weaknesses and deficiencies in relation
to popular participation in EL in PPA, highlighting among others as difficulties
in accessing documents related to processes and the problems existing in
public hearings related to environmental licensing.
Keywords: Popular participation. Flexibility. Protected areas.
Artigos
Participação social no
licenciamento ambiental
de obras de utilidade
pública em área de
preservação permanente
R E N ATO S I LVA DA S I LVA OS PRINCÍPIOS e diretrizes da política
Mestre em Meio Ambiente, Águas e
Saneamento, pela Universidade Federal ambiental brasileira foram fortalecidos com
da Bahia (UFBA) e especialista em AIA e
Recuperação de Áreas Degradadas, pela a Constituição de 1988, que dedicou um ca-
Universidade Salvador (Unifacs).
pítulo ao meio ambiente e passou a deter-
[email protected]
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
UTILIDADE PÚBLICA
Fadul (2005) ratifica que esse conceito muda com o tempo, podendo
sofrer alterações no curso da história ou, no mínimo, adquirir nuances
diversificadas e novas características. A concepção de utilidade pública
evoluiu através dos séculos, resultante do desejo comum de obter ser-
viços úteis e factíveis (SARACEVIC, 1974). Esses serviços estão ligados
às seguintes áreas gerais: fornecimento de energia, de água, de servi-
ços relativos ao meio ambiente (higiene, conservação etc.), transporte
de pessoas e objetos, e comunicação. Buccini e outros (2015) citam o
conceito de utilidade pública trabalhado pelo Banco Mundial em 2004
e afirmam que os serviços assim chamados envolvem atividades eco-
nômicas de “interesse público” e abrangem os aspectos mencionados
anteriormente. O interesse público pode ser considerado como o que
beneficia uma população, uma comunidade, sem distinções de qualquer
tipo, ainda que, para isso, interesses de alguns indivíduos sejam relativi-
zados (ANDRADE, 2015).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Essa pouca participação pode ser explicada pela dimensão dos proje-
tos. Os considerados de pequeno porte, classes 1 e 2, são processos em
que não há a obrigatoriedade da participação social na decisão. Já nos Bahia anál. dados,
John e Odorissi (2012) citam Barros (2008) para alertar que a falta de
publicidade pelo órgão ambiental competente produz vício procedi-
mental que contamina a licença que vier posteriormente a ser expedi-
da. Além de prejudicar uma análise prévia, a publicidade inadequada
no processo de licenciamento ambiental pode comprometer todas as
etapas. A dificuldade de conseguir a ata de uma audiência pública e os
demais documentos de um processo foi citada no trabalho de John e
Odorissi (2012). Em alguns casos, foi necessário o encaminhamento de
um ofício do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ao Ibama solici-
tando acesso aos documentos. Essa situação caracteriza um obstáculo
a ser superado pela população, sendo que esses documentos deveriam
ser de fácil alcance.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
e da participação social.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.236-259, jul.-dez. 2019
251
Artigos Participação social no licenciamento ambiental de obras de utilidade pública em área de preservação permanente
Bahia anál. dados, Cabe salientar que se consideram importante e necessário que existam
252 Salvador, v. 29, n. 2,
p.236-259, jul.-dez. 2019 na legislação normas para regulamentar os casos excepcionais, como os
Renato Silva da Silva, Severino Soares Agra Filho Artigos
REFERÊNCIAS
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tyan Paiva. Participação pública nos processos de licenciamento ambiental no
Triângulo Mineiro. Revista Brasileira de Geografia Física, Recife, v. 11, n. 2, p. 510-
520, jun. 2018. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe/article/
view/234976/29378. Acesso em: 3 set. 2019.
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Lumen Juris, 2007.
ASSUNÇAO, Francisca Neta Andrade; BURSZTYN, Maria Augusta Almeida; Bahia anál. dados,
AZEVEDO, Ruy Emmanuel Silva de; OLIVEIRA, Vládia Pinto Vidal de. Reflexos
do novo Código Florestal nas Áreas de Preservação Permanente – APPs –
urbanas. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, v. 29, p. 71-91, abr. 2014.
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PERES, Monica Brick; VERCILLO, Ugo Eichler; DIAS, Braúlio Ferreira de Souza.
Avaliação do estado de conservação da fauna brasileira e a lista de espécies
ameaçadas: o que significa, qual sua importância, como fazer?. Biodiversidade
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ABSTRACT
Instituições e governança
ambiental: uma discussão
preliminar da Área de Proteção
Ambiental Costa dos Corais
D E I V D S O N B R I TO G AT TO NAS CIÊNCIAS sociais, as instituições são
Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, pela Universidade Federal tratadas como conjuntos de direitos, regras
de Alagoas (UFAL) e doutorando
em Políticas Públicas, Estratégias e e procedimentos para tomada de decisões
Desenvolvimento, pela Universidade
que fazem surgir práticas sociais, atribuindo
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A APA Costa dos Corais foi criada para proteção do maior conjunto de
recifes coralígenos do país e para manter a integridade do habitat do
peixe-boi marinho. No entanto, com o crescimento do turismo, a região
tem experimentado um processo de expansão imobiliária que, se não
for disciplinado, poderá trazer prejuízos ambientais e agravar alguns
problemas sociais, como a favelização. Dessa forma, entende-se que, à
medida que alguns resultados são obtidos em termos de conservação
ambiental, vários drivers com potencial de modificação desse sistema
socioecológico enxergam em sua biodiversidade o principal elemento
a ser explorado para o crescimento da renda pelos mais diversos agen-
tes econômicos. Para lidar com essas questões, Paavola, Gouldson e Bahia anál. dados,
1 Polanyi (1944) argumenta que os três principais fatores de produção percebidos pela teoria
neoclássica (terra, trabalho e dinheiro) não são commodities genuínas. A terra nada mais é que
um conceito de subdivisão da natureza; o trabalho, uma forma de atividade humana; e o dinheiro,
uma criação do Estado. Com base nesse raciocínio, Brechin e Fenner (2017) argumentam que,
caso houvesse uma situação de total livre mercado, essas três “mercadorias” não poderiam
sobreviver. A exploração sem mecanismos regulatórios levaria à sua completa exaustão. Para
esses autores, a “terra” é um conceito utilizado para definir a natureza e o meio ambiente, que
foram “commodificados” sob a lógica do livre mercado. Segundo essa linha de raciocínio, essa
Bahia anál. dados,
subjugação às demandas do mercado provocaria a fragmentação e a sobre-exploração de todos
os recursos naturais, o que terminaria ameaçando o sistema ecológico terrestre.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.260-283, jul.-dez. 2019
265
Artigos Instituições e governança ambiental: uma discussão preliminar da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais
A Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC) foi criada pelo
governo federal através do Decreto S/N em 23 de outubro de 1997, com
cinco objetivos:
Figura 1
Mapa de localização da APA Costa dos Corais entre os estados de Alagoas e
Pernambuco
1. Pesquisa bibliográfica.
2. Pesquisa documental.
4. Levantamento (entrevista).
3 Informação fornecida pelo proprietário do receptivo Hibicus Beach Club na reunião com o setor
turístico e moradores dos bairros de Ipioca e Pescaria, em 6 de março de 2018.
Bahia anál. dados,
272 Salvador, v. 29, n. 2,
p.260-283, jul.-dez. 2019
4 Informação fornecida por um empresário do bairro de Ipioca na reunião com o setor turístico e
moradores dos bairros de Ipioca e Pescaria, em 6 de março de 2018.
Deivdson Brito Gatto, Valéria Gonçalves da Vinha, Maria Cecília Junqueira Lustosa Artigos
Figura 2
Esquema de representação da competência para licenciamento ambiental nos
municípios da APA Costa dos Corais
• Licenciamento para
atividades nos limites da
APACC.
• Licenciamento para
atividades fora da APACC,
mas que produzem efeitos
diretos na UC.
Fonte: elaboração própria a partir de imagens do ICMBio Costa dos Corais e do IMA em suas páginas na web (2019).
que podem até mesmo estar aninhadas em outros níveis além do Esta-
Salvador, v. 29, n. 2,
p.260-283, jul.-dez. 2019
273
Artigos Instituições e governança ambiental: uma discussão preliminar da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais
5 Informação fornecida por um empresário na reunião com o setor turístico e moradores dos
bairros de Ipioca e Pescaria, em 6 de março de 2018.
Bahia anál. dados,
274 Salvador, v. 29, n. 2,
p.260-283, jul.-dez. 2019
6 Informação fornecida por um empresário na reunião com o setor turístico e moradores dos
bairros de Ipioca e Pescaria, em 6 de março de 2018.
Deivdson Brito Gatto, Valéria Gonçalves da Vinha, Maria Cecília Junqueira Lustosa Artigos
28ª reuniões). Foi apontada por alguns conselheiros uma diferença entre
os serviços prestados pela Companhia de Abastecimento e Saneamento
de Alagoas (Casal) e pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto7 (SAAE),
do município de Maragogi. Segundo o prefeito de Maragogi (informação
verbal)8 , o serviço municipal seria mais efetivo do que o prestado pela
empresa pública estadual. Em alguns povoados – São Bento e Peroba –,
o saneamento funciona melhor do que nas regiões atendidas pela Casal,
nas quais o esgoto está sendo despejado diretamente na rede pluvial.
7 O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Maragogi-AL é uma autarquia criada através da Lei
Municipal 285/99, de 14 de dezembro de 1999, tendo a função de captar, tratar, operar e distri-
buir água tratada em toda a área urbana, sendo também responsável pela coleta do esgoto
gerado. Fonte: http://saaemaragogi.com.br/index.php/quem-somos
8 Informação fornecida pelo prefeito de Maragogi na reunião com o setor turístico e moradores
dos bairros de Ipioca e Pescaria, em 15 de março de 2018.
Bahia anál. dados,
9 Informação fornecida pelo representante da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, na
segunda reunião setorial, em 7 de março de 2018.
Salvador, v. 29, n. 2,
p.260-283, jul.-dez. 2019
275
Artigos Instituições e governança ambiental: uma discussão preliminar da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais
O que se pode inferir sobre esses casos é que um dado arranjo insti-
tucional produz determinados resultados em relação ao cumprimento
de regras de proteção ambiental, e a interação entre níveis de governo,
como no caso do “Brexit” de Maragogi, pode estimular atores políticos a
buscarem alternativas para terem seus objetivos atendidos. Nessa pers-
pectiva, é importante que esses atores atentem que, no processo de
governança dos recursos ambientais, o redesenho de instituições pre-
cisa ser constante, “[...] já que um alto grau de ajuste entre o ambiente
institucional e o sistema biofísico refletiria uma estrutura de governan-
ça robusta que resiste à influência externa, choques e perturbações”
(VATN; VEDELD, 2012).
Caso D: autogoverno
Por fim, cabe destacar a atuação de José Nilo na região. Ele foi um dos
fundadores da Associação Milagrense de Turismo Sustentável (Amitus)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
tal, e, acima de tudo, envolvimento dos atores não estatais, que devem
cumprir as regras de proteção ambiental na área protegida.
REFERÊNCIAS
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mons. Science, [s. l.], v. 302, n. 5652, p. 1907-1912, Dec. 2003.
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lective action. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
VATN, Arild; VEDELD, Paul. Fit, interplay, and scale: a diagnosis. Ecology and Bahia anál. dados,
ABSTRACT
Healthcare Waste (SSR) require special attention in the context of the work,
acquiring this great relevance in a veterinary hospital due to the possibility
of greater generation of this type of material. These residues, when poorly
managed, may cause damage to health and the environment. Considering the
importance of the subjective factor for an adequate management of SSR, this
study analyzed the perceptions of the workers of a university veterinary hospital
regarding this issue. An e exploratory qualitative research was conducted with
workers from a veterinary hospital of a public university. The focus group was
used as a data collection techinique, due to its interactive and problematic
capacity, which made its possible to insert the research participants in the
context of the discussions, helping to rethink conception, practices, attitudes
and public policies. The research was developed through discussions in two
groups: one composed of nine statutory workers in the career of administrative
technician in education and the other composed of eight outsourced workers.
The data were analyzed by the content analysis method from the definition
of categories. The results evidenced the diverse perceptions of the workers
on waste management; health risks; impacts to the environment; and factors
that influence adequacy. Different perceptions inherent to working conditions
and relationships were revealed, evidencing the need to improve the structure
of the researched institution, institute training programs and improve working
conditions to enable the participation of all workers in an adequate management
process SSR feed.
Keywords: Health services waste. Management. Workers. Veterinary hospital.
Qualitative research.
Artigos
MÉTODOS
A coleta de dados se deu por meio de grupo focal, pois, como afir-
mam Backes e outros (2011), esta técnica tem capacidade interativa e
problematizadora e insere os participantes no contexto das discussões,
contribuindo para que se repensem práticas, concepções, atitudes e
políticas públicas.
Local de estudo
População de estudo
A pesquisa com grupos focais, segundo Gatti (2005), tem por objetivo
captar, a partir das trocas realizadas no grupo, conceitos, sentimentos,
atitudes, crenças, experiências e reações. Nesta pesquisa, foi usado um
roteiro com cerca de dez perguntas pré-selecionadas, para a coleta de
informações dos participantes.
Aspectos éticos
RESULTADOS E DISCUSSÃO
não significa que o problema foi resolvido nem que não há mais riscos,
sendo que a responsabilidade do gerador permanece.
“O cheiro é tão forte que às vezes fica com aquela sensação de tontura,
tipo, a gente vai sozinho e se desmaiar e cair dentro, quem vai? E para
sair dali, é complicado” (TER 3).
pasto que está tendo esse ciclo do animal estar se alimentando, a ques-
tão da plantação então tudo esses resíduos estão em contado com o
meio ambiente e que está retornando para nós humanos. (EST 9, infor-
mação verbal).
Ele informou que, na limpeza dos canis, entra em contato com fezes de
animais, preocupando-se com a frequência de patologias como tuber-
culose e raiva e os riscos acentuados pelo não uso de EPIs adequados,
o que pode se refletir em sua saúde no futuro. Há completa pertinência
em sua fala, apesar de ele não se lembrar de problemas relacionados ao
contato com pelos, secreções e fluidos de animais.
Acho que poderia ter um treinamento adequado para entrar aqui no Hos-
pital. Eu não sei vocês, mas eu não tive, assim, treinamento, uma pessoa
que viesse para poder chegar e falar sobre isso, [...], esta parte de treina-
mento é importante. Não sei se alguém teve esse treinamento. (TER 3).
Como teve um dia mesmo, que teve na necropsia teve um cavalo com
raiva e ninguém era vacinado, só quem era vacinado eram os mais an-
tigos. E quando a gente entrou a gente não tomou vacina, depois que
esse cavalo veio fazer necropsia, que a gente lavou, é que todo mundo
se responsabilizou para a gente tomar a vacina. Falta muita coisa ainda
para melhorar. (TER 4). Bahia anál. dados,
Salvador, v. 29, n. 2,
p.284-307, jul.-dez. 2019
301
Artigos Manejo dos resíduos de serviços de saúde: riscos e problemas em hospital veterinário de universidade pública da Bahia
a fazer o que determina a lei. O problema pode ser resolvido com pla-
nejamento e organização. Os entraves devido à burocracia sempre exis-
tirão, mas não podem influenciar o gerenciamento de RSS a ponto de
serem considerados uma das principais barreiras para sua adequação.
[...] percebo alguns entraves na legislação Lei no 8.666, que bota alguns
entraves para se adquirir alguns equipamentos e termina dificultando.
Acho que deveria existir também uma empresa especializada terceiri-
zada, talvez para dirigir essa questão dos resíduos aqui no hospital e
um técnico ou especialista no assunto. (EST 1).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo analisou as percepções dos trabalhadores do hospital vete- Bahia anál. dados,
São necessários mais estudos sobre esse assunto para permitir maior
produção de conhecimento. O método qualitativo mostrou-se impor-
tante para este trabalho, pois, apesar da relevância dos estudos quan-
titativos, a subjetividade tem grande peso na eficiência do processo de
trabalho com RSS.
REFERÊNCIAS
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S ALVAD OR • v. 2 9 • n. 2 • J U L . / D E Z . 2 0 1 9 ISSN 0103 8117
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