Movimentos Sociais e Educação - Rede de Ações e Letramento para o Mundo
Movimentos Sociais e Educação - Rede de Ações e Letramento para o Mundo
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Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2299-4565 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Cláudio da Silva Ribeiro
Virgínia de Oliveira Silva EDITORA PROGRAMAÇÃO VISUAL
Tereza Queiroz Sanny Reis
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
INSTRUCIONAL COORDENAÇÃO EDITORIAL ILUSTRAÇÃO
Cristine Costa Barreto Jane Castellani Eduardo Bordoni
COORDENAÇÃO DE LINGUAGEM COPIDESQUE CAPA
Maria Angélica Alves Cristina Maria Freixinho Eduardo Bordoni
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL REVISÃO TIPOGRÁFICA PRODUÇÃO GRÁFICA
E REVISÃO Patrícia Paula Andréa Dias Fiães
Anna Maria Osborne Fábio Rapello Alencar
COORDENAÇÃO DE
Janderson Lemos Souza
PRODUÇÃO
Marcelo Bastos Matos
Jorge Moura
R484m
Ribeiro, Cláudio da Silva.
Movimentos Sociais e Educação: rede de ações e letramento para o mundo.
v. 2 / Cláudio Ribeiro; Virginia de Oliveira Silva. – Rio de Janeiro : Fundação
CECIERJ, 2007.
178p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 85-7648-151-0
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
AULA
dos Movimentos Sociais
e da Educação
Meta da aula
Apresentar o conceito de rede para o entendimento
da interseção de diferentes dimensões da
dinâmica bio-psico-social.
Pré-requisito
A leitura deste módulo se torna mais fácil se você
tem conhecimento dos conteúdos do Módulo 1.
Movimentos Sociais e Educação | A ligação em rede de diferentes dimensões na formação dos
Movimentos Sociais e da Educação
Saudações, alunas e alunos
de ensino a distância!
INTRODUÇÃO
11
de modo determinante. Ao recorrermos à idéia topológica, pois, podemos
“fotografar” apenas um momento (tempo) do fenômeno da vida num
AULA
determinado espaço. Deleuze e Guattari estabelecem alguns princípios,
pelo que universalizam o conceito:
“1º e 2º – Princípios de conexão e heterogeneidade: qualquer
ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro e deve sê-lo”
(p. 15). Nestes princípios, retrata-se a idéia de que qualquer fenômeno AMORFA(O)
pode se ligar a outro, mesmo sendo de naturezas distintas, e que isto Sem forma
definida.
é desejável. Diferentemente da idéia de oposição ou de complemento,
estes princípios projetam possibilidades AMORFAS, que se unem, fundem e POLIMORFO/
separam, sem ser necessariamente nesta ordem, criando rupturas ou não. POLIMÓRFICO
Enfim, em termos de trajeto fenomênico, tudo é permitido num escopo Que tem mais de
uma forma, de
sem fronteiras e aberto ao devir POLIMÓRFICO, à medida que se constitui múltiplas formas.
no espaço-tempo das interseções da vida.
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Movimentos Sociais e Educação | A ligação em rede de diferentes dimensões na formação dos
Movimentos Sociais e da Educação
10 CEDERJ
“3º – Princípio de multiplicidade” (p. 16). Constitui a idéia do
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HOLÍSTICO
múltiplo como substituto necessário a “dimensões que não podem crescer
Relativo a holismo.
AULA
sem que mudem de natureza” (p. 16). Este princípio se contrapõe à idéia Doutrina que
considera que a
do HOLÍSTICO, do Uno hierárquico, para fundar a idéia do Uno-múltiplo, parte só pode ser
compreendida a partir
sem hierarquias. Em vez de todas as coisas pertencerem a uma única raiz
do todo, que privilegia
essencial, o todo se dá pela multiplicidade de essencialidades constituintes a consideração
da totalidade na
de um permanente devir do mundo, essencialidades que se transformam a explicação de uma
realidade, sustentando
cada instante (tempo) e lugar, em cujo espaço fenômenos se formalizam. que o todo não é
Nesse sentido, não há lugar para determinismo ou oráculos, a idéia de apenas a soma de
suas partes, mas
predestinação cai por terra. A própria constituição da vida tem vida. possui uma unidade
orgânica. Ao
Portanto, inúmeras potências singulares fundam o complexo da rede deste contrário, a doutrina
fenômeno chamado mundo. Neste complexo, o movimento humano tem do Uno-múltiplo
salienta que a
seu valor na potência da ação. realidade é constituída
apenas pela soma de
todas as partes, sem
possuir uma unidade
orgânica.
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Movimentos Sociais e Educação | A ligação em rede de diferentes dimensões na formação dos
Movimentos Sociais e da Educação
12 CEDERJ
“4º – Princípio de ruptura a-significante” (p. 18). Caracteriza um
11
rizoma com a possibilidade de ser rompido ou retomado em qualquer
AULA
ponto de sua natureza topográfica. “Todo rizoma compreende linhas
de segmentaridade [vetores – que, na Matemática e na Física, indicam
a intensidade, a direção e o sentido de uma força] segundo as quais ele
é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído etc.;
mas compreende também linhas de desterritorialização pelas quais ele
foge sem parar. Há ruptura no rizoma cada vez que as linhas segmentares
explodem numa linha de fuga, mas a linha de fuga faz parte do rizoma.
Estas linhas não param de se remeter umas às outras. É por isso que
não se pode contar com um dualismo ou dicotomia, nem mesmo sob a
forma rudimentar de bem e mal” (p. 18).
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Movimentos Sociais e Educação | A ligação em rede de diferentes dimensões na formação dos
Movimentos Sociais e da Educação
14 CEDERJ
“5º e 6º – Princípios de cartografia e de decalcomania” (p. 21).
11
Parece que estes dois se fundem pela decorrência topológica. Entretanto,
AULA
apresentam distintas nuanças. Enquanto o mapa é “aberto, é conectável
em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber
modificações constantemente” (p. 21), um decalque é um eixo imutável
para o qual sempre se volta “ao mesmo tempo” (p. 21). É entendido, pois,
como “competência” (p. 21). Assim o decalque traduz o mapa em imagens,
e reproduz apenas, segundo Deleuze, “os impasses, os bloqueios, os germens
de pivô ou pontos de estruturação”. Por exemplo, “semióticas gestuais,
mímicas, lúdicas etc. retomam sua liberdade na criança e se liberam do
‘decalque’, quer dizer, da competência dominante da língua do mestre”
(p. 21), isto é, dos “pontos de estruturação” que, neste caso, caracterizam
uma determinada cultura no seu sentido amplo, antropológico.
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Movimentos Sociais e Educação | A ligação em rede de diferentes dimensões na formação dos
Movimentos Sociais e da Educação
16 CEDERJ
ATIVIDADE
11
AULA
1. Você seria capaz de desenhar uma rede de relações colocando os
nomes desses princípios de maneira a deixar sua representação gráfica
clara para quem a visse? Que tal dar uma olhada na nossa Rede? Faça
o seguinte: reveja as ilustrações do primeiro módulo desta disciplina
e tente ver onde há ruptura, conexão, heterogeneidade etc. (veja as
redes formadas ao fim das aulas, bem como a rede que se encontra
na Introdução da Aula 8). Depois, desenhe a sua rede! Se ficar uma
bagunça de linhas e formas, não estranhe! Por mais que as redes sejam
planejadas, no processo do movimento da vida, elas acabam tendo
“uma vida própria”, de modo que, às vezes, se tornam, à primeira vista,
digamos, muito enroladas! Veja o exemplo de uma rede de pescador.
Ela é geometricamente bem-feita. Mas, com o uso, furos e remendos
são inevitáveis. Depositada sobre a areia diante do mar, ou ainda
pendurada sobre a borda de um barco, o entrelaçado de uma rede se
torna muito confuso! Podemos associar, assim, a constituição da vida
a uma rede de pescador... E você sabe, quem cai na rede é peixe! Já
se sente peixe? A que cardume você crê pertencer? Se não pertence a
nenhum cardume, está longe de participar de um movimento social...
Mesmo assim, querendo ou não, você está entrelaçado(a) em uma
rede de circunstâncias (socioculturais, econômicas, históricas etc.).
Enfim, cada “peixe” é aquilo que pode ser – e não o que pensa ser...
Somos muito pequenos diante da rede do mundo que nos abriga...
Somos apenas “uma linha” dessa grande rede e, no processo de nosso
movimento no mundo, ora estamos aqui, ora ali, formando remendos,
geometrizando formas pelas nossas ações... Quando você vai começar
a participar dessa rede de forma intencional? Já começou? Então...
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Movimentos Sociais e Educação | A ligação em rede de diferentes dimensões na formação dos
Movimentos Sociais e da Educação
18 CEDERJ
devem ser considerados sem uma hierarquia de importância, pois todos
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são fatores fundamentais para o bem-estar das pessoas na organização
AULA
do que denominamos mundo. Sobreviver é a pedra angular de nossos
interesses mundanos. O conhecimento existe desde sempre; inclusive
o argumento de Descartes para a defesa da Ciência diante do clero é
essencialmente este: nos tornarmos como que senhores e possessores da
Natureza (Discurso do método, sexta parte, p. 69).
O Discurso do método, de Descartes, se tornou famoso pelo fato de que, em seu tempo, no século XVII,
a Europa passava por transformações profundas graças ao espírito da Razão, que crescia entre os homens. A
Revolução Copernicana, feita por Galileu, foi decisiva para o trabalho de Descartes. Em 1633, Galileu foi forçado
pela Inquisição a abjurar suas teorias. Quatro anos depois, Descartes defende a Ciência e, conseqüentemente,
o pensamento de Galileu, através do Discurso do método. Nele, Descartes exalta a grande vantagem que a
Razão poderá proporcionar aos indivíduos – conceito que, dentro da hierarquia lógica, está acima da espécie,
que, por sua vez, está acima do gênero – ao se descobrirem as forças potenciais do planeta. Para tal defesa
diante do clero, Descartes diz Deus ser um grande matemático e, como tal, ter construído o mundo dentro
de regras que o Homem poderá descobrir, já que Ele o fez à Sua imagem e semelhança, dotando-o de mente
e Razão para seguir os Seus desígnios. Assim, o corpo deveria ser regrado como os ditames da Igreja, mas
a mente deveria ser livre para ir longe pelas descobertas feitas pelo pensamento. Como se vê, o Homem,
ou melhor, a Ciência só caminha mediante interesses que são acordados entre aqueles que detêm o poder.
E isto não acontece por acaso, mas por intermédio de uma rede de relações de circunstâncias favoráveis ao
seu acontecimento.
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Movimentos Sociais e Educação | A ligação em rede de diferentes dimensões na formação dos
Movimentos Sociais e da Educação
20 CEDERJ
ATIVIDADE
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2. Escreva, em dez linhas, um pouco sobre sua experiência pessoal
AULA
que você acredite que tenha a ver com o que vem sendo discutido até
agora em termos de ação que transforma o mundo.
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CONCLUSÃO
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Movimentos Sociais e Educação | A ligação em rede de diferentes dimensões na formação dos
Movimentos Sociais e da Educação
22 CEDERJ
ATIVIDADE FINAL
11
Caso ainda não participe de nenhuma ação coletiva, escreva sobre as razões que
AULA
você crê impedir sua participação em grupo. Se, ao contrário, você já fizer parte
de algum tipo de organização, descreva sua prática em linhas gerais, salientando
a importância de sua ação a partir da referência dos conceitos de rede, ou rizoma,
e das circunstâncias culturais e geográficas em que você se encontre.
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RESUMO
conforme Deleuze e Guattari (1980, p. 15). Esses princípios nos dão a base teórica
para compreender que tudo que há no planeta está direta ou indiretamente
ligado em suas diferentes dimensões. Há sempre um ponto aqui e ali que poderá
ser “conectado”, “amarrado” em rede. Você já percebeu o quanto sua própria
CEDERJ 23
Movimentos Sociais e Educação | A ligação em rede de diferentes dimensões na formação dos
Movimentos Sociais e da Educação
Na próxima aula, a dimensão biológica será apresentada como uma das interseções
fundamentais para a constituição da rede mundana.
24 CEDERJ
12
A interseção das dimensões
biológicas, sociológicas e
psicológicas para a genealogia
AULA
dos Movimentos Sociais
e da Educação
Meta da aula
Apresentar aspectos psicológicos dos
quais dependem os Movimentos Sociais
e a Educação, à luz da interseção da
dinâmica bio-psico-social.
objetivos
Pré-requisito
A leitura deste módulo se torna mais fácil se você tem conhecimento
dos conteúdos do Módulo 1, no qual, ao longo das aulas, salientamos,
pouco a pouco, a noção de rede, conforme tentamos ilustrar por meio
das imagens contidas em cada aula.
Movimentos Sociais e Educação | A interseção das dimensões biológicas, sociológicas e psicológicas
para a genealogia dos Movimentos Sociais e da Educação
Uma vez que já sabemos que o modo de uma pessoa pensar depende
de sua visão de mundo e que esta só nos é possível pela representação de
vida que encarnamos pela vivência em família, na escola e entre amigos,
enfim, pela aprendizagem construída permanentemente nas diversas
situações em que nos encontramos para sobreviver, temos de nos dar
conta de que as nossas condições biofísicas são o “terreno” no qual tal
visão se constrói. Portanto, temos, diante dos nossos olhos, o mundo e,
apesar de parecer estarmos “interagindo” com ele, estamos “integrados”
a ele, portanto, fazemos parte dessa rede e dela não estamos à parte.
No espaço do mundo, encontram-se o nosso corpo e sua expressão,
cujo movimento revela o que temos subjetivamente, tal qual um conjunto
de signos a ser interpretado pelos demais. Por exemplo, se alguém nos
diz algo que nos irrita, podemos não dizer nada, mas o outro poderá ser
capaz de “ler” nossa irritação, seja porque nossa expressão facial mudou,
seja porque saímos “batendo as portas”. A fisionomia e as atitudes
são signos interpretáveis do comportamento. Todo nosso movimento,
integrado ao espaço do mundo e na interação com o outro, encontra-se
passível de leitura, e esta, de uma interpretação.
26 CEDERJ
Há, portanto, uma rede de condições existentes num determinado
12
espaço-tempo nas tramas da vida de uma pessoa em sua relação com as
AULA
demais. Essas condições, necessariamente, nos levam à aprendizagem,
capacitando-nos a sobreviver dentro de perspectivas possíveis, integradas
ao processo dinâmico de uma rede de relações. Deste modo, há:
CEDERJ 27
Movimentos Sociais e Educação | A interseção das dimensões biológicas, sociológicas e psicológicas
para a genealogia dos Movimentos Sociais e da Educação
28 CEDERJ
do homem deveria reunir atividades diversas que alimentavam o corpo e
12
o espírito, levando seus cidadãos à Areté, que, num sentido amplo, quer
AULA
dizer retidão moral da ação humana em prol da sua comunidade.
Hoje, a Educação se preocupa com a composição de diferentes
correntes teóricas para a explicação possível de condições mentais e
sociais. Na perspectiva de compreender o desenvolvimento cognitivo
e comportamental de um organismo sujeito a determinados ambientes,
teoricamente, o indivíduo, em sua particularidade bio-psico-sociológica,
é visto como um conjunto de circunstâncias integradas ao meio.
O indivíduo é, dessa forma, um processo cuja vida depende de um
corpo (biofísico) sujeito a ocupar um espaço-tempo dentro de situações
favoráveis à sua manutenção orgânica; um corpo capaz de vivenciar suas
sensações significando-as como uma possibilidade contínua nas relações
de força a que se encontra necessariamente sujeito para poder sobreviver
no mundo que o alenta e é alentado por ele.
Obtemos, nesse sentido, a idéia de que um corpo (biológico) está
condicionado a um meio (sociológico) que lhe possibilita existir e nele
sobreviver, mantendo-o numa dinâmica de relações imprescindíveis
à vida. Essas dinâmicas reúnem um conjunto de códigos (culturais)
passíveis de interpretações dependentes de registros da memória de
um indivíduo e da memória social. Há, por
extensão, uma integração de sentidos
percebidos no corpo individual
e a expressão deste corpo
no quadro social por meio
da ação. A expressão e o
sentido que tal organismo
desenvolve em seu psi-
quismo nos fornecem o
seu âmbito psicológico.
A psicologia se situa, assim, na
dimensão das representações
que os indivíduos são capazes
de apreender, produzir e reproduzir
no meio em que agem e reagem para
garantir a melhor sobrevivência possível de
seu organismo.
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Movimentos Sociais e Educação | A interseção das dimensões biológicas, sociológicas e psicológicas
para a genealogia dos Movimentos Sociais e da Educação
ATIVIDADE
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CONCLUSÃO
30 CEDERJ
12
que são, de fato, determinantes (como sexo, etnia, condições de saúde etc.).
O corpo recebe estímulos do universo exterior (fatores geocircunstanciais)
AULA
e a eles responde desde a sua forma embrionária e de modo contingente.
Um encontro entre corpo e meio (objetividade), por meio do qual um
organismo desenvolve o universo psicológico (subjetividade). Tal
encontro permite ao corpo, pelas sensações experienciadas, tornar-se
indivíduo, sujeito da racionalidade e da ação.
A Educação, na formalização dos aspectos afetivos, cognitivos e
morais, é possível, pois, graças à interseção de três dimensões específicas:
a biológica, a psicológica e a sociológica. No entrelace destas três
dimensões, desenvolve-se o homem em sua condição bio-psico-social.
Será que a ação de agentes históricos em atrito, como os
participantes do governo americano e os da Al-Qaida, pelo controle do
sistema no Iraque se resume a movimentos sociais?
Mesmo que teóricos como Tourraine (2002) – veja a Aula 4 do
Volume 1 – defendam que os Movimentos Sociais são “a ação conflitante
de agentes das classes sociais lutando pelo controle do sistema de ação
histórica” (p. 283), podemos observar que outros fatores que independem
de status social ou determinados grupos e classes, como ele mesmo
explica pelo viés sociológico, encontram-se presentes no fenômeno dos
Movimentos Sociais. Lembrando um pouco o que aprendemos daquele
autor, a dinâmica processual da vida é tanto extensa (duração de tempo)
quanto intensa (gravidade de determinados impactos que marcam a
história social e pessoal dos sujeitos).
Temos de admitir que a duração do tempo humano (histórico) só é
percebida porque há um corpo que a registra dentro de uma linearidade
de dias, semanas, meses, anos, decênios, milênios; enfim, um registro feito
graças a códigos que denominamos cultura. Considera-se, também, que
é necessário que fatos se imprimam no corpo para que haja nele registro.
Daí considerarmos a intensidade, pois quanto maior o impacto de uma
impressão no corpo, mais relevante se torna o seu registro. Conjuntos
de registros se transformam em significados, e estes últimos, associados
ao interesse de sobrevivência de um organismo (corpo), o movem e se
lhes tornam bússolas às volições.
Assim, parece ser correto dizer que os Movimentos Sociais não se
restringem aos fenômenos de conflitos entre classes desprivilegiadas em
face da hegemonia, pois os sujeitos são pessoas que sentem e significam
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Movimentos Sociais e Educação | A interseção das dimensões biológicas, sociológicas e psicológicas
para a genealogia dos Movimentos Sociais e da Educação
ATIVIDADE FINAL
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COMENTÁRIO
AULA
Nesta aula, você viu a interseção que se forma a partir da rede de relações entre
três dimensões distintas: a biológica, a sociológica e a psicológica. A partir dessa
interseção, desenvolvemos, em linhas gerais, a idéia de que a moção (aspecto
biopsíquico) de defender uma idéia inusitada poderá permitir a uma pessoa pensar
em estratégias para persuadir seus pares, fazendo-os entender (aspecto cognitivo)
que determinada ação tem mérito social, encorajando (aspecto psicológico)
parceiros para a atuação coletiva e a realização de mudanças de juízos de valor
e, talvez, de ordem estrutural (aspectos sociológicos).
Disso se depreende que há uma interseção de diferentes dimensões concernentes
aos Movimentos Sociais, as quais, à primeira vista, não se apresentam coadunadas,
mas são interdependentes na condição humana para o próprio agir. Essas
dimensões se “formam” no processo dinâmico em que os sujeitos e o mundo
se desenvolvem permanentemente numa rede de informações constituintes da
realidade, conforme vimos na aula anterior. Em tal processo formativo, a Educação
tem papel de destaque no âmbito psicossocial, pois é uma estrutura específica
que direciona organismos a “ver” e a “interpretar” “isso” e não “aquilo”. No
decorrer de seu desenvolvimento, a Educação faz com que deixem de ser apenas
um corpo bestial (aspecto biológico) para ser um corpo social (aspecto sociológico),
na decorrência de uma sucessão de processos mentais em que tais organismos se
tornam pessoas sujeitas ao pensamento (aspecto cognitivo-psicológico), pessoas
que poderão agir coletivamente em prol de transformações sociais ou não.
Portanto, saber como o corpo organicamente se constitui e se educa para o
mundo, na transposição do corpo biológico para o sociológico, formalizando sua
dimensão psicológica, se faz interessante para entendermos a ação humana e os
seus resultados em termos de Movimentos Sociais.
Na próxima aula, você conhecerá essas três dimensões, que, como sabemos, estão
interligadas, formando uma rede de relações para o fenômeno do mundo tal qual
simplesmente o percebemos pelos sentidos, erguendo as imagens e a compreensão
de que nele e dele somos capazes de construir.
CEDERJ 33
13
A gênese da dimensão
bio-psico-sociológica e sua
AULA
pertinência para a formação dos
Movimentos Sociais
Meta da aula
Ensinar aspectos biológicos que
fundam a ação humana.
Pré-requisito
A compreensão desta aula exige a leitura de
todas as aulas antecedentes.
Movimentos Sociais e Educação | A gênese da dimensão bio-psico-sociológica e sua pertinência
para a formação dos Movimentos Sociais
36 CEDERJ
corpo social). Estar com alguém demanda gentileza e “beleza”, entre
13
tantos outros aspectos, e, numa praia, por exemplo, um conjunto de
AULA
situações prazerosas é exigido para que se satisfaça aos sentidos daqueles
que lá se encontram, apesar da poluição e de tantos outros fatores que
possam comprometer a satisfação.
Como facilmente se entende, uma pessoa percebe no corpo o que
lhe afeta os sentidos, fazendo da experiência de sua vida uma sucessão
contínua de sensações. O organismo biológico humano é compreendido,
assim, como sendo um espaço a ser ocupado por situações experimentadas
ao longo do tempo em que uma pessoa se desenvolve socialmente. Nesse
processo, uma pessoa se faz sujeito de ação no mundo, pois age num
HOMEOSTASE é a
movimento intermitente a fim de que o organismo possa conquistar, capacidade de o corpo
manter um equilíbrio
repetir e produzir situações que sua experiência de vida lhe informa como estável a despeito das
sendo significantemente agradáveis. Como ocorre tal processo? alterações exteriores;
estabilidade fisiológica.
O sistema nervoso tem como função possibilitar a um organismo A homeostasia é um
conceito que, em
agir, de modo a realizar sua autonomia motriz. É o sistema nervoso que Biologia, assinala a
lei dos equilíbrios
confere ao corpo capacidade de se relacionar com o seu entorno, de forma
internos que rege
que a estrutura biológica do organismo possa se conservar. A função a composição e as
reações físico-químicas
interna celular é proteger a estrutura humana, facultando a autonomia que se passam no
organismo e que,
motriz, processo cientificamente chamado “equilíbrio HOMEOSTÁSICO”. graças a mecanismos
O hipotálamo e o tronco cerebral – uma estrutura cerebral primitiva reguladores, são mais
ou menos constantes.
bem simples – são o bastante para o cérebro operar comportamentos simples É o que ocorre com
a função interna
de ação que correspondam a um estímulo interno que Laborit (1997) chama celular do sangue,
“pulsão”, cujo fenômeno corresponde a um comportamento inato, permitindo- por exemplo, cujo
teor de água, sais,
nos suprir necessidades básicas como fome, sede ou sexo. O sistema límbico oxigênio, açúcar,
proteínas e graxas
autoriza os processos de memória a longo prazo em mamíferos, de modo que possibilita o correto
teor de alcalinidade
as experiências que resultam do contato de um organismo com o seu entorno
e sua temperatura
não se perdem, ficam estocadas interna. Sem esta
estrutura básica, o
numa reserva. corpo humano não
poderia operar de
forma independente,
movimentando-se
daqui para ali.
Tal movimento
independente é
chamado autonomia
motriz.
Hipotálamo
Tronco cerebral
CEDERJ 37
Movimentos Sociais e Educação | A gênese da dimensão bio-psico-sociológica e sua pertinência
para a formação dos Movimentos Sociais
38 CEDERJ
energia orgânica, trocada por dinheiro para garantir a sobrevivência,
13
de modo que o que sustenta a vitalidade humana é a própria manutenção
AULA
da estrutura mundana e toda a rede complexa de suas instituições.
O que distingue nossa existência atual da de antepassados é o
fato de que temos hoje ciência da nossa condição mundana. Hoje, é
indubitável o mundo existir em sua inevitabilidade produtiva, na dinâmica
da permanência das instituições. Estas se definem pela reunião de ações que
se reproduzem pelo processo de organização de idéias por cuja prática, no
exercício de métodos, assegura-se, então, a sobrevivência pela produção
do mundo. A representação simbólica da organização de idéias e suas
práticas para a sobrevivência é e reflete os signos da expressão das culturas,
signos estes interpretáveis por um corpo que percebe, sente e significa suas
sensações amealhadas pela sua experiência de vida como valores que lhe
são agradáveis e/ou desagradáveis. É dentro dessa oscilação, de ordem
psicológica, no encontro da interseção entre o corpo biológico e o corpo
sociológico, que erguemos o mundo dos homens.
O mundo é uma construção humana, e a vida, condição para que
ele exista. Pelas transformações dos elementos naturais que no planeta
encontramos, erguemos o mundo (ARENDT, 2001). Por exemplo, do
tronco fazemos a cadeira; do petróleo, a gasolina e derivados; e assim por
diante. Construímos coisas úteis e/ou inúteis, coisas somente admiráveis
aos olhos humanos, como uma escultura ou uma pintura. O fato é que,
pelas transformações de coisas naturais em mundanas, o homem organiza
e mantém um dinamismo para sua sobrevivência chamado mundo, cujo
fomento exige um sistema de relações que atendem a programas para a
permanência das suas instituições.
Assim como o Homo sapiens iniciou sua jornada há milhões de
anos, ao lado de pares, para sobreviver, hoje, a sobrevivência de grupos
consiste nas relações de convivência por meio das instituições. E a
natureza do desenrolar das instituições decorre da nossa capacidade de
manter e re-criar o mundo que nos é dado. Lidar com isso é ter cuidado
com o que está ao redor.
A DIMENSÃO PSICOSSOCIOLÓGICA
CEDERJ 39
Movimentos Sociais e Educação | A gênese da dimensão bio-psico-sociológica e sua pertinência
para a formação dos Movimentos Sociais
!
Há vários exemplos disso. Poucos sabem por que as noivas são
carregadas pelos maridos na porta da casa nova ou a origem
da "continência" militar, em que o soldado deve bater a perna
direita sobre a esquerda, elevando a mão à testa. Tudo isto,
porém, apesar de ter significados atualizados, tem um sentido
histórico esquecido no tempo.
40 CEDERJ
Compreendida pela troca contínua de idéias, ou de imagens
13
sígnicas, a organização da realidade se dá pelo conjunto de registros de
AULA
que dispomos na memória. Signos impressos no corpo pelas sensações.
Signos cujo sentido já têm em si uma ideologia que lhes é inerente.
A ação, assim, pode ser até mesmo a ação do pensamento, pois, como
já dissemos em aulas anteriores, achar as palavras certas no momento certo
exige a ação do pensar. O fato é que o homem se organiza na relação em rede
de um conjunto de imagens internas e externas, no espaço de sua memória.
As imagens internas dizem respeito ao que dispõe na mente, e as externas
ao que apreende em sua vigília. Se são imagens de que dispõe na memória,
são imagens (re)conhecidas, dentro de uma organização anterior, que logo
se atualiza, gerando nova seleção de imagens, em organização contínua
(BERGSON, 1999). O pensamento se nos coloca à mente, como um conjunto
de imagens sobrepostas; nos revela, assim, uma ideologia, cuja imagem é
uma organização mental capaz de explicar a realidade pelo universo sígnico
interpretável à luz de leituras de mundo. Tal explicação nos oferece uma
lógica, com base na qual orientamos nossas moções no mundo.
CEDERJ 41
Movimentos Sociais e Educação | A gênese da dimensão bio-psico-sociológica e sua pertinência
para a formação dos Movimentos Sociais
42 CEDERJ
de impostos ou de salários de deputados; veja determinadas medidas na
13
área da saúde e os privilégios que o governo diz que a terceira idade tem
AULA
e confronte isto com a prática de uma fila às cinco da manhã cheia de
idosos a esperar, em pé, durante duas, três horas, para fazerem um exame
de sangue em postos de saúde públicos). No mais, organismos sofrem
ao viverem na miséria, diante da comparação social e seu humilhante
significado de incompetência pessoal e política.
ATIVIDADE FINAL
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CEDERJ 43
Movimentos Sociais e Educação | A gênese da dimensão bio-psico-sociológica e sua pertinência
para a formação dos Movimentos Sociais
RESUMO
Nesta aula, você aprendeu que o sistema nervoso ligado a uma estrutura básica do
cérebro leva o organismo a se equilibrar de forma a manter-se vivo. A experiência
do organismo com o seu entorno leva tal organismo a repetir as experiências
que lhe sejam agradáveis, pois estas o alentam à vida, enquanto as experiências
desagradáveis são evitadas e, em casos extremos, por conta de sua ameaça, são
combatidas pelo organismo, de modo que este venha a se sentir seguro em sua
manutenção de vida.
O conjunto de experiências de vida do corpo orgânico é armazenado na memória
como uma seleção de imagens sobrepostas de modo a criar uma rede de relações
entre os significados de que um sujeito dispõe interna e externamente, pelo que
pessoas agem para organizarem a vida em comum. Nesse sentido, os movimentos
sociais resultam da insatisfação de imagens sociais significadas negativamente por
determinados sujeitos, que se unem no afã de atualizá-las pela ação organizada,
forçando determinadas estruturas a reavaliar e reestruturar sistemas deficitários.
Indivíduos que buscam uma melhor forma de considerar, produzir e manter o
mundo de uma forma diferente para si, pelo que evocam novas realidades de
imagens sígnicas e valores diante da miséria de tantos.
44 CEDERJ
14
A rede de representações
de imagens na constituição do
AULA
mundo que depende da relação
do eu com o outro
Meta da aula
Esclarecer a representação como ato
simbólico indispensável à vida humana.
objetivos
Pré-requisito
A compreensão desta aula demanda
o estudo das Aulas 11, 12 e 13.
Movimentos Sociais e Educação | A rede de representações de imagens na constituição do mundo
que depende da relação do eu com o outro
46 CEDERJ
assegurar a sobrevivência? O homem só é capaz de viver em grupo,
14
na associação com pares que atendam a interesses, e os interesses são
AULA
muitos, pois não somente dependem dos significados e do sentido que
a eles damos, mas dos significados e sentidos dados à vida em coletivo.
Assim, na memória dos sujeitos, além da representação mental,
há a presença da memória social, ou melhor, estão presentes registros
por cujos signos ergue-se o mundo objetivo; registros dotados de significados
cujos sentidos se dinamizam com a ação do tempo e se relacionam
diretamente com as imagens mentais dos sujeitos. De forma tal que os
sujeitos só são capazes de projetar imagens a partir desse primeiro contato
com os significados sociais, dando assim um sentido às suas vidas mediante
as representações sociais. Dessa forma, o homem participa com o seu sangue
e vida para manter o que já aí está e que o sustenta. Uma integração entre
homem e mundo. Um sem o outro nada é; ambos, vistos de forma integrada,
são um só (apesar de não serem a mesma coisa), pois o produtor é aquilo
que produz apesar de o produto não se resumir ao produtor.
Pense nas personagens de Shakespeare. Podemos dizer que Romeu, Julieta, Mercúrio,
Hamlet, Macbeth, enfim, todas as suas personagens são derivadas dele, logo, uma
invenção engendrada em sua mente; um produto dele, de sua projeção representada
mentalmente. Mas dizer que Julieta é Shakespeare seria reduzi-lo à condição de Julieta;
seria retirá-lo do processo dinâmico de estar vivo na ousadia de criar personagens no
mundo da imaginação e das Letras. Assim, cada personagem pode ser vista como um
fragmento dessa complexidade que é o autor Shakespeare; cada personagem está inte-
grada a ele, e este a todas as personagens. Juntos, são um só, mas não a mesma “coisa”.
Da mesma forma, podemos entender o Homem e o seu produto: o Mundo. Dizer que
o Mundo se resume ao Homem seria afirmar a sua incompetência de continuar criando
e transformando tudo que aí está. No entanto, o Homem é o Mundo incompetente à
divisão do que nele se produz para o conforto da vida humana. Cada um de nós somos
homens. Integrados para o Mundo e nele, o mantemos como um autor mantém viva sua
imaginação. Portanto, temos a capacidade de transformá-lo pela criação de ser o que
nele somos, ao engendrar novas personagens sociais, cujos atos produzam um tipo de
vida coletivamente mais satisfatório: eis o esforço socialmente representado em qualquer
Movimento Social.
CEDERJ 47
Movimentos Sociais e Educação | A rede de representações de imagens na constituição do mundo
que depende da relação do eu com o outro
48 CEDERJ
consumidos, em que se situa o sentimento de felicidade ao seu possível
14
proprietário, pois, ideologicamente, o leva a pensar que sua sobrevivência
AULA
será mais fácil e alegre à proporção que seja plena de conforto.
Mas viver exige o pensar em quê, por quê e como produzir
nosso próprio sustento. Antes de agir, somos chamados a pensar para
nos darmos conta de que devemos produzir algo razoável ao ambiente
em que nos encontramos, pois precisamos deste para sobreviver. E, no
jogo das relações necessárias à dinâmica da sobrevivência na dimensão
psicosociocultural, um pode levar um outro a perceber e ter ciência para
além do que pensa ter e ser, até a morte.
Na produção de significados, verificável na experiência da vivência
com um outro, um mostra ao outro o que é e sente, isto é, um se esforça
para representar o mundo num determinado sentido, e nos revela como
este o afeta, propiciando a uma pessoa ter uma tendência de se comportar
diante de determinadas situações, pelo que nos apresenta sua integração
com o Outro.
O Outro, em Psicologia, é tudo aquilo que não é o Eu. Dizemos,
assim, que todos os significados advindos das imagens que uma pessoa
adquire no seu convívio com a Cultura são um Outro que ela tem em si.
Os significados advindos dos registros coletivos não são derivados dela,
mas foram nela colocados pelo ambiente social, na relação com o seus
pares, na aprendizagem decorrente do seu desenvolvimento – que se inicia
com a vida e finda com a morte. Logo, a única coisa que podemos dizer
que pertence a um Eu reduz-se ao ato da escolha que as pessoas fazem
diante do conjunto de informações que se lhes erguem à mente como uma
sucessão de imagens sobrepostas dotadas de significados. Daí, podemos
depreender que a ação de uma pessoa optar por se unir a outras e agir
no meio em que vive sugere uma afirmação do Eu que recusa o Outro
que se lhe coloca à mente como circunstância aceitável para a vida.
Nesse sentido, pessoas escolhem ser elas próprias em vez de serem
o que desejam que elas sejam. Portanto, a compreensão de como se ergue
o desenvolvimento psicológico e de como o comportamento está sujeito
às moções e às volições é fundamental para compreendermos a fundo
o fenômeno dos Movimentos Sociais e sua relação com a Educação,
pois o professor capaz de compreender a subjetividade do outro que há
diante de si torna-se capaz de compreender o mundo para além de si
mesmo, de ver o Outro que há em si, sem nunca ter se dado conta disso.
CEDERJ 49
Movimentos Sociais e Educação | A rede de representações de imagens na constituição do mundo
que depende da relação do eu com o outro
50 CEDERJ
acordados pelos significados sociais, dos quais se depreende um modo
14
de se produzir o mundo em sua inevitabilidade, há uma ideologia para
AULA
o viver. A consciência, nessa perspectiva, resulta do compartilhamento
de idéias dotadas de um mesmo sentido às coisas do mundo. De todas
as conceituações possíveis diante da consciência, a mais convincente
explicação nessa exata direção é aquela encontrada em Bakhtin
(1977, pp. 35-36), para quem a consciência está repleta de signos e,
portanto, cheia de ideologia, pois, para esse autor, a consciência decorre
necessariamente pela e na interação social:
CEDERJ 51
Movimentos Sociais e Educação | A rede de representações de imagens na constituição do mundo
que depende da relação do eu com o outro
idéias e formam imagens que devem ser reproduzidas para que seja
possível a uma pessoa ter um determinado tipo de consciência de mundo,
cuja realidade existe pela representação simbólica, e que, portanto, foi
inventado e fomentado para atender a necessidades individuais e sociais
que, por sua vez, exigem um padrão de comportamento, caso uma pessoa
queira pertencer a um grupo.
Por todas essas razões, só poderíamos admitir que a consciência
se desenvolve pela e na interação de um conjunto de imagens que
são apreendidas pelo corpo e nele significadas pelo parâmetro social.
As individualidades, assim, digerem valores exemplares da materialidade
dos signos formados pelo sistema de comunicação social.
A realidade ideológica compõe uma teia de relações em que
o econômico se apresenta destacadamente (MARX, 1977), e as
individualidades constituem o eixo motor de produção dessa realidade
situada numa ordem determinada pelo tempo-espaço. Hoje, tal
realidade reúne atributos culturais de uma produção de mundo
globalizado. E tudo isso nos é conduzido pela palavra, ou melhor, pelas
imagens geradas pelo mercado, numa seqüência de palavras que formam
idéias que nos sugerem a representação de uma vida cheia de vantagens
e felicidade possível pela integralização das culturas, em sua pluralidade,
vantagens que nos são possíveis pelo mercado econômico integrado do
mundo contemporâneo.
ATIVIDADE
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52 CEDERJ
DAS MOÇÕES DOS SUJEITOS PARA AS LUTAS PELAS
14
TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
AULA
O conhecimento da realidade exterior – isto é, a aprendizagem
dos limites socioculturais e as conseqüências desagradáveis advindas do
custo de ser obrigado a enfrentá-las, bem como as experiências agradáveis
com que um grupo social pode recompensar um indivíduo – corresponde,
para Laborit (1976), ao princípio de realidade.
Como, para esse autor, a ação resulta, em todos os casos, em
uma aprendizagem, a modelagem de redes neuronais realizada pelo
cérebro para atender a um tipo de aprendizagem constitui, de fato, uma
estrutura adquirida. Tal estrutura é a base das emoções que acompanham
os reajustes vasomotor e a circulação da massa sangüínea, de acordo
com as variações da atividade dos organismos que estão em jogo para
realizar uma ação. Assim, Laborit (1976) complementa:
O sistema cardiovascular sob o controle do sistema nervoso
vegetativo permitirá essa adaptação. A motivação fundamental dos
seres vivos parece assim bem ser a manutenção de sua estrutura
orgânica. Mas isto dependerá das pulsões, em resposta a suas
necessidades fundamentais, ou das necessidades adquiridas pela
aprendizagem (p. 20).
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Movimentos Sociais e Educação | A rede de representações de imagens na constituição do mundo
que depende da relação do eu com o outro
ATIVIDADE
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54 CEDERJ
CONCLUSÃO
14
Uma vez que grupos entendem estarem à parte de usufruir bens
AULA
de consumo e vantagens que toda essa dinâmica mercadológica promove
como idéias de desejo e lutam contra a representação hegemônica para
produzir sua própria realidade de produção de vida, acabando por
formalizar um movimento social. Os organismos orgânicos, na integração
com pares, formam organismos sociais e travam uma ação para fazer
frente aos seus interesses de manutenção. Fundam novos significados
diante da falta de sentido que esse mercado promove a partir da visão
concreta de poucos usufruírem luxo enquanto outros vivem na miséria
ou perto disso. Ou, ainda, entendem que sua miséria sustenta o luxo de
ricos empresários, governantes, banqueiros e “parasitas” sociais, que
produzem e mantêm uma invenção econômica cuja dinâmica cria ações,
bolsas de valores e investimentos associados ao mercado de produtos
que, muitas vezes, em nada interessam diretamente às suas vidas, mas
das quais pessoas passam a depender indiretamente, queiram ou não.
Os movimentos fazem frente à barbárie humana.
Ao ver como as imagens da mente são criadas pelo processo
de integração mundo interior x mundo exterior, por meio da relação
entre o objeto percebido e o seu registro sígnico, engendrado na
memória, entendemos que as representações são dotadas de um sentido
tanto pessoal como social. Social, na medida em que os signos estão
registrados em todos os fenômenos do mundo, e pessoal, visto que as
projeções mentais só podem ser feitas no corpo humano, logo, a partir
de sensações percebidas e significadas subjetivamente. O conjunto
de significados sociais, na relação entre o fato concreto de vantagens
e o de desvantagens, se contrapõe a significados produzidos pelo mercado
de consumo, mediados pela comunicação social, cuja idéia defende
a razão de que produtos são vantajosos à vida e podem e devem ser
distribuídos a todos, pelo que se induzem grupos a ler o mundo por
um mesmo prisma, incitando-os a ter um mesmo tipo de consciência
diante dos fatos a que são submetidos. A má divisão do que se produz
e o difícil acesso a mercadorias que, muitas vezes, são desnecessárias
à vida, entretanto, levam sujeitos a entenderem não desfrutar de um
mercado de vantagens e a lutarem pelos seus direitos de consumo, ou,
ainda, a lutarem para poderem sobreviver dentro do seu melhor possível,
CEDERJ 55
Movimentos Sociais e Educação | A rede de representações de imagens na constituição do mundo
que depende da relação do eu com o outro
ATIVIDADE FINAL
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56 CEDERJ
14
RESUMO
AULA
As imagens sobrepostas de que dispomos na mente humana dinamizam as relações
entre as representações pessoais e as representações sociais. Na projeção de imagens
de consumo, o mercado apresenta imagens de desejo, remetendo-nos diretamente
ao prazer das sensações do corpo e reunindo um conjunto de produtos cuja aquisição
trará conforto, facilidades e prazer. A incoerência entre essas imagens de vantagens
e a falta de oportunidade a esses acessos mobiliza muitos a conquistar seu espaço
social e atender a suas necessidades para a sobrevivência. Categorizados como
movimentos ativos ou passivos, grupos tentam agir para sanar problemas sociais,
numa organização possível pela qual pensam serem capazes de trazer situações
gratificantes às suas vidas, opondo-se à má divisão das vantagens sociais, mediante
o que significam como desagradáveis ao organismo. Agem mediados pelos valores
do mercado de vantagens à sobrevivência, pois tais grupos vivem sob o mesmo
teto das representações do mercado globalizado de consumo de bens, cujas idéias
são mediatizadas pela comunicação social para o desenvolvimento da consciência
comum, desenvolvendo a imagem de que o consumo trará “felicidade à vida”.
CEDERJ 57
15
AULA
Bem-estar e felicidade: direção
comum da ação humana
Meta da aula
Desenvolver a idéia de bem-estar
como alvo das ações humanas.
objetivos
Pré-requisito
A compreensão desta aula exige a leitura de
todas as aulas antecedentes.
Movimentos Sociais e Educação | Bem-estar e felicidade: direção comum da ação humana
INTRODUÇÃO
Nesta aula, despeço-me de vocês. Aqui, finda-se minha parte no que tange aos
conteúdos escritos para a compreensão dos Movimentos Sociais e Educação
– Rede de ações e Letramento para o mundo.
Espero que vocês tenham gostado e aprendido muito a respeito de coisas
pelas quais passamos sem mesmo nos dar conta de como delas fazemos parte,
integrados ao mundo em rede. Ao compreender que a educação ocorre de
modo constante e inseparável de todos os processos que mantêm os sistemas
criados pelo homem para sua sobrevivência no planeta, compreendemos
também que tais sistemas desempenham papéis fundamentais para a dinâmica
da vida em sociedade. Entre os sistemas criados pelo Homem, encontram-se
os Movimentos Sociais. A moção humana para sobreviver dentro do que lhe
é gratificante, evitando ou tentando destruir o que lhe é desagradável, explica
em muito a ação do pensamento e do movimento de pessoas que conhecemos
e, tenho certeza, até mesmo de cada um de vocês. Nesse sentido, faço votos
de que vocês tenham crescido como pessoas, por meio das leituras de todas
essas aulas que exigiram que vocês superassem momentos difíceis (de início,
nada gratificantes!), no esforço de conquistar uma
nova leitura das suas vidas e do mundo que os
cerca (o que pode ser muito gratificante!).
Há muitas coisas pelas quais passamos, que
podem ser desagradáveis no início, mas que se
tornam especiais para darmos saltos mais altos,
no sentido de nos educarem para antecipar ações,
visando à conquista de situações que ajuizamos
poderem ser repletas de prazer à existência. A ação,
desse modo, como já sabemos, está indissociável da
razão, remetendo-nos ao mundo da reflexão para
podermos realizar coisas e melhorar nossas vidas.
Isso nos exige a imaginação. Não uma imaginação
que se aproxima daquela a que estamos habituados
desde a infância: a de “sonhar acordado”, que é
fundamental para escoarmos nossas frustrações, pelo
que deixamos as imagens de nossas mentes seguirem
60 CEDERJ
frouxas, à revelia do fluxo mental, mas uma imaginação em que a projeção de
15
imagens é ordenada pelo Eu de cada um, ordenando, por sua vez, o mundo
AULA
pela mediação entre diferentes representações que se desenvolvem para se
oporem a sistemas que não dão conta de necessidades que não são atendidas e
o conseqüente mal-estar que disso decorre em determinados grupos.
Diante da inevitabilidade do mundo, obtemos imagens que nos indicam o
prazer ser o meio e o fim de se produzir o que nos mantém, mas os sistemas
(inclusive e principalmente a Educação) nos forçam a situações nada gratificantes
para aprendermos como nos defendermos de obstáculos que nos impeçam de
conquistar conforto e satisfação de vida. A Educação nos imputa desenvolver
faculdades para que possamos nos beneficiar do que o mundo cria. Um mundo
de obrigações e deveres, em que raramente se desenvolve uma consciência de
cidadania de forma a atender a interesses para além das razões de se manter
tudo do jeito que está, de forma a não se alterar o que é vigente, de ir contra
a ordem da produção do mercado de consumo de desejos e do lucro, que
jamais foi dividido de forma justa.
As pessoas agem de modo individual e/ou coletivo, no afã de encontrarem a
felicidade. Unem-se na expectativa de que, mais bem organizadas, possam
usufruir mais momentos vantajosos para as suas vidas. Jamais poderíamos
esquecer que tudo o que fazemos é feito pela e para a sobrevivência. Nesse
sentido, “não há ninguém melhor do que ninguém”, mas, ao agirmos, muitas
vezes parece que não temos consciência disso, pensando que somos melhores
que nossos pares. O que nos faz diferentes do comum é o autodomínio que
orienta nossas diferentes reações, agindo pelo pensar em como podemos
atuar da melhor forma possível, ao em vez de reagir inconscientemente.
As representações mundanas e as idéias de prazer são, entre outras, tão fortes
em nossa subjetividade que acabamos por nos endereçar à vida de modo total-
mente alheio às verdades maiores da manutenção do mundo. Entendê-lo em
sua integração para melhor vivermos nossos papéis é necessário, caso queiramos
agir na direção do bem-estar coletivo.
Os movimentos sociais, bem como as práticas das ações sociais como um
todo, acabam por ter um papel de destaque na dinâmica da vida, pois
forçam uma atualização do mundo, ao alterar suas imagens no contexto
social. Como aprendemos que todo e qualquer grupo se move na direção de
alcançar situações gratificantes, podemos ajuizar o quão desagradáveis são os
sistemas em que nos encontramos. Conforme vemos, sociedades com menores
índices de violência são aquelas em que a divisão do que se produz encontra-se
equilibrada porque mais bem distribuída entre seus cidadãos.
CEDERJ 61
Movimentos Sociais e Educação | Bem-estar e felicidade: direção comum da ação humana
Por fim, todos nós agimos para alcançar satisfação e felicidade. Queremos ter
bem-estar e fundar uma vida plena de emoções positivas para o contentamento
da vida. Para falar um pouco disso, apresento, em seguida, minha palestra
pronunciada no II Congresso de Psicologia da UFRJ, em que trato da
participação de profissionais (educadores, psicólogos e outros) em projetos
sociais e comunitários.
62 CEDERJ
A troca de leitura entre pessoas é a leitura intersubjetiva. Esta
15
leitura tem sua representação na troca de ações. Poderíamos dizer ações
AULA
de troca, pois um age para trocar interesses com o outro. Nesse sentido,
o outro também pode ser visto como um obstáculo a ser superado. Não
se trata, portanto, de uma ação qualquer, mas uma ação pensada pelo que
se percebe do outro. Essa experiência da intersubjetividade é a espinha
dorsal da fenomenologia, em que um percebe o outro que o percebe. Um
age com o outro que age com ele, num perceber-se mútuo.
Vejamos uma leitura refutável, mas não menos instigante, da
biografia de personagens ilustres que defenderam causas coletivas: Gandhi
jejuou, pedindo atenção do mundo pelo sofrimento, e incita-nos a pensar
sobre a forma como lutou pela sua liberdade, cuja redenção tem base em
perseverar no sofrimento com otimismo, pois, assim, obteria a liberdade de
sua nação; Madre Teresa abriu mão da vida própria e viveu a necessidade
de muitos na prática da assistência cristã, aduzindo-nos a perseverar na
humildade com otimismo, pois a prática do amor pelo esquecimento de si
é o caminho da felicidade em Deus; Robin Hood, segundo a lenda, roubou
os ricos com grande satisfação na perspectiva de que, agindo assim, exercia
a justiça de que sua gente carecia.
Como considerar o valor de cada ato desses ilustres acima?
Projetar imagens de suas atitudes no contexto em que viviam? Pensar
essas realidades do seu ponto de vista faz necessário entender o implícito
que rege uma microcultura. Os significados que uma comunidade dá a
determinados valores, articulando-os de forma a dar continuidade ao
processo de suas representações, só pode ser entendido quando suas
imagens são vivenciadas. E isso por conta de que apreendemos e damos
significados muito próprios àquilo que percebemos pelos sentidos.
E vivenciar é isso: compreender pelos sentidos aquilo que a razão
desconhece conhecer. A satisfação se situa nesse âmbito cognitivo-
afetivo, em que seleciono, pela e na memória, regras e representações
para conquistar o meu ter, ser e fazer social. Seleciono aquilo que me
afeta, ou seja, o que, por intermédio dos sentidos, se torna impresso
como registro no espaço de minha memória. Pensar é selecionar registros
na sobreposição de imagens de que se dispõe no continuum da mente.
Organizar imagens na mente é articular o pensamento. E organizamos
as imagens de que dispomos de acordo com a nossa personalidade.
CEDERJ 63
Movimentos Sociais e Educação | Bem-estar e felicidade: direção comum da ação humana
64 CEDERJ
específica), com “mil e uma utilidades”. Faltando apenas um dia para
15
terminar o evento, acreditamos que essas pessoas devem estar exaustas
AULA
pelo trabalho que tiveram. Mas, se perguntarmos a essas pessoas se todo
esse movimento valeu a pena ou não, dificilmente escutaríamos um não
como resposta, pois a satisfação de ver algo que se pensou fazer parece
ser o coroamento da possibilidade de realização de cada um e, portanto,
um poder: o poder de realizar coisas no mundo. Satisfação de ter conse-
guido realizar algo, melhor, de realizar-se, pois, quando realizamos algo,
deixamos na sua realização uma extensão própria do autoconhecimento:
algo de si mesmo. Ninguém realiza o que não é capaz de conhecer. E
representamos o que conhecemos. Realizar é, portanto, representar o
que se conhece.
Mas, voltando à realização deste congresso, como se desenrolaram
as relações entre as diferentes pessoas que colaboraram no evento? De
pessoa para pessoa, que troca intersubjetiva foi estabelecida? Conseguimos
perceber o outro pelo que ele é ou o vemos pelo que nós mesmos somos?
Que tipo de leitura eu consigo fazer do outro, apesar de mim? Se a satisfação
de algo coletivamente realizável carece de meu bom relacionamento com
o outro que não sou eu, não dá para ser feliz sozinho.
Isso tudo é teoria. E a prática?
A prática de meu trabalho comunitário é essa que vocês estão
vivenciando aqui, isso é, articular idéias para que pessoas possam pensar
coisas que haviam sido pensadas antes de forma diferente, na ousadia
de se tentar reler o mundo.
As pessoas querem ser felizes. Querem ter coisas como qualquer
outra pessoa do nosso tempo. Querem melhoras de qualidade de vida.
Dividir e recriar a realidade de modo a tecê-la com o outro
– eis, do meu ponto de vista, a maior dificuldade da empresa coletiva.
Saber pensar coletivamente, ou produzir a ação do pensamento de
modo que imagens coletivamente venham a se sobrepor, inovando a
organização de realidades psicossociais. Por que as imagens da decisão
têm que vir de um só sujeito? Somos todos sujeitos chamados pela vida
para superar obstáculos.
Mas o que experimentamos na troca com o outro?
Ver o outro demanda enxergar suas características de personalidade,
caráter e temperamento. É claro que nos sentimos mais seguros diante da
previsibilidade de pessoas de caráter confiável e temperamento sereno.
CEDERJ 65
Movimentos Sociais e Educação | Bem-estar e felicidade: direção comum da ação humana
66 CEDERJ
A prática do trabalho comunitário, portanto, visa a demandas sociais,
15
objetivando o bem-estar pela ação solidária. Nessa perspectiva, cremos
AULA
ser perfeitamente possível afetar pessoas pela compreensão de leituras que
passam muito longe de serem feitas pelo nosso próprio umbigo...
CEDERJ 67
Movimentos Sociais e Educação | Bem-estar e felicidade: direção comum da ação humana
ATIVIDADE
Faça uma redação sobre a sua compreensão global dos Movimentos Sociais e da
Educação, considerando a rede de ações humanas para o mundo e a permanente
inclinação do homem a se mover na direção da busca da felicidade. Saliente
aspectos positivos e negativos que, em seu juízo, possam ocorrer no trajeto dessa
busca e sinalize até que ponto a ousadia e a coragem de ser contencioso podem
auxiliar indivíduos e grupos a conquistar melhorias para o seu bem-estar e a sua
qualidade de vida.
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68 CEDERJ
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AULA
Conceituando escrita,
alfabetização e letramento
Meta da aula
Apresentar o conceito de letramento,
distinguindo-o do que se convencionou
como conceito de alfabetização.
objetivos
Pré-requisito
O estudo do conteúdo desta aula
depende da idéia conceitual de rede
e a integração humana inerente à sua
dinâmica, tratada na Aula 11.
Movimentos Sociais e Educação | Conceituando escrita, alfabetização e letramento
INTRODUÇÃO
70 CEDERJ
reprodução idêntica de um algo, mas com o sentido de uma reprodução que
16
é promovida pela reinvenção.
AULA
A experiência do letramento está diretamente relacionada a essa vivência
da decifração sociocultural das linguagens, uma vez que podemos verificar
no nosso cotidiano que um analfabeto pode não saber dominar o código
alfabético, mas sabe o significado de rótulos, de placas indicativas, de
procedimentos práticos em determinadas situações etc. As formas de
alfabetização deveriam também levar isso em conta.
É o que aponta Paulo Freire (1997), quando nos diz que “linguagem e realidade se
prendem dinamicamente”, ou seja, torna-se impossível realizar a leitura da palavra
sem a experiência da decodificação (ressignificação) do contexto sociocultural.
A escrita
72 CEDERJ
Esta relação de poder é melhor compreendida quando pensamos
16
que a escrita serviria para difundir e socializar as idéias e os conhecimentos.
AULA
No entanto, podemos notar que, muitas vezes, é exatamente o contrário
que se dá, ou seja, ocorre um processo de ocultação, de velamento, para
garantir a manutenção do poder a quem a ela tem acesso, impedindo o
processo de participação e proporcionando, assim, a exclusão social.
Tfouni (2002) nos chama a atenção para o fato de a escrita também
se relacionar ao desenvolvimento cognitivo e social dos povos, assim
como a mudanças profundas em seus hábitos comunicativos, ilustrando
com os exemplos de anotações do processo de troca e empréstimo de
mercadorias realizadas na Mesopotâmia (hoje em dia, partes do Irã e do
Iraque), por meio da mais antiga forma de escrita, a suméria.
Aproximadamente no século VIII a.C., a escrita alfabética (sistema
fonográfico) foi introduzida no Ocidente, mais precisamente na Grécia e
Jônia. No entanto, isto não acarretou, de início, mudanças na cultura de
tradição oral daquela sociedade, posto que, como vimos, é demorado e
lento o processo de difusão de um sistema escrito, durando, até mesmo,
séculos.
Sendo assim, apenas nos séculos V e VI a.C. a sociedade grega pôde
ser reconhecida como letrada, e, não por coincidência, exatamente no
momento histórico em que passava por um processo de transformações
culturais e político-sociais radicais (sobretudo com o processo de
democratização da política e com o surgimento do pensamento lógico-
empírico e filosófico). Nesse contexto, a sociedade grega se diferia
de outras civilizações da mesma época, pois não possuía membros
sacerdotais que monopolizassem o acesso à palavra escrita, que era de
domínio comum e servia para a discussão de idéias.
A escrita pode ser considerada, assim, tanto como uma das
causas para o surgimento das civilizações modernas, quanto para o
desenvolvimento científico, tecnológico e psicossocial das sociedades
que a tenham adotado de modo amplo. Embora não se possa esquecer,
como já foi dito antes, dos fatores de relação de poder e dominação que
estão por trás do uso restrito ou generalizado de um sistema escrito.
CEDERJ 73
Movimentos Sociais e Educação | Conceituando escrita, alfabetização e letramento
A alfabetização
Segundo Tfouni (2002), há duas formas usuais de se compreender
a alfabetização:
a) como um processo de aquisição individual de habilidades
necessárias à leitura e à escrita;
b) como um processo de representação de objetos diversos, de
naturezas diferentes.
Tfouni (2002) critica a primeira concepção, pois daria a impressão
de que a alfabetização tanto poderia chegar a um final quanto ser associada
a objetivos instrucionais. Ao contrário dessa linha de pensamento, a
autora, dentro de um ponto de vista sociointeracionista, destaca que,
por compreendê-la como um processo, a alfabetização se caracterizaria
pelo seu aspecto de incompletude e que o ato de descrever os objetivos
a serem atingidos durante tal experiência atenderia mais às necessidades
de formalização das práticas escolares do que à alfabetização em si. Ela
nos alerta para o fato de não se poder definir o processo de alfabetização
como o de escolarização, ou seja, como os objetivos que são comumente
propostos pela escola apenas por ser, usual e formalmente, o lugar por
excelência onde a alfabetização se realiza.
Nesse sentido, a alfabetização como processo individual seria
sempre incompleto, uma vez que a sociedade está em constante
mudança e o esforço do sujeito em se atualizar se dá de modo contínuo.
A alfabetização não pode ser encarada meramente como a habilidade de
decodificação da escrita, já que os usos sociais realizados pelos sujeitos
da leitura e da escrita referem-se sempre às suas práticas culturais.
Produzir ou compreender um texto simplório como o de uma
cartilha ou de um texto mais complexo como o da argumentação
sobre os prós e contras de uma determinada questão legislativa revela
atividades distintas da perspectiva de alfabetização de um mesmo
indivíduo. Sendo assim, Tfouni (2002) propõe que se fale em graus
ou níveis de alfabetização. A movimentação dos sujeitos dentro dessa
perspectiva escalonada, embora possa se iniciar na formalidade do
processo escolar, não se esgota aí e é determinada pelas diversas práticas
sociais em que os sujeitos se engajam ou deixam de se engajar ao longo
de sua existência. Não podem ser ignoradas as práticas sociais mais
74 CEDERJ
amplas (diferentemente das práticas mecânicas e funcionais, muitas
16
vezes atribuídas à alfabetização), para as quais a leitura e a escrita são
AULA
necessárias e nas quais serão realmente utilizadas.
Ancorando-se, junto com Emília Ferreiro, no seio da segunda
concepção de alfabetização anteriormente citada, Tfouni (2002) destaca
que a escrita não deve ser considerada como a codificação da transcrição
gráfica da fala, mas sim como um sistema de representação que tem se
modificado historicamente. Sendo assim, não se deve privilegiar a simples
codificação e decodificação de sinais gráficos durante a alfabetização, mas
deve-se respeitar o processo de simbolização que a criança vai percebendo
que a escrita representa à medida que desenvolve o seu próprio processo
de aquisição de leitura e escrita, ou seja, os “aspectos construtivos” das
produções infantis durante a alfabetização.
A alfabetização, assim, deixa de ser considerada como ensino
de sinais gráficos correspondentes aos sons da fala, e a relação que se
verifica entre a escrita e a oralidade não é mais a de dependência desta
com aquela, mas sim de interdependência, ou seja, esses dois sistemas
se influenciam mutuamente. O processo de aquisição da leitura e escrita
é agora percebido não mais como linear (som-grafema), mas é visto
como complexo, passando, inclusive, por diversos estágios durante o
seu desenvolvimento.
O letramento
Para Tfouni (2002), “enquanto a alfabetização se ocupa do
processo de aquisição da leitura e da escrita por um indivíduo, ou
grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos
da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade”. A autora destaca
que os pesquisadores da questão do letramento se debruçam, entre outras,
sobre as seguintes questões, tentando resolvê-las:
a) Quais mudanças sociais e discursivas ocorrem em uma sociedade
quando ela se torna letrada?
b) Grupos sociais não-alfabetizados que vivem em uma sociedade
letrada podem ser caracterizados do mesmo modo que aqueles que vivem
em sociedades “iletradas”?
c) Como estudar e caracterizar grupos não-alfabetizados cujo
conhecimento, modos de produção e cultura estão perpassados pelos
valores de uma sociedade letrada?
CEDERJ 75
Movimentos Sociais e Educação | Conceituando escrita, alfabetização e letramento
76 CEDERJ
sem ao menos saberem “ler”. De uma perspectiva sócio-histórica, destaca
16
que o que existe nas sociedades industriais modernas são “graus de
AULA
letramento”, não se pressupondo a sua inexistência completa. Não aceita
também o uso de “iletrado” como sinônimo de “não-alfabetizado”.
Citando a perspectiva etnocêntrica presente em vários estudos
de psicologia transcultural, etnolingüística, psicologia cognitiva e
antropologia, Tfouni (2002) critica e propõe que seja revista tal
concepção que afirma que somente com a aquisição da escrita as
pessoas desenvolveriam o raciocínio lógico-dedutivo, a capacidade
para fazer inferências, para resolver problemas etc., além de asseverar
que o pensamento dos alfabetizados é “racional”, enquanto os não-
alfabetizados possuem o pensamento “emocional”, “sem-contradições”,
“pré-operatório” etc., sendo vistos como incapazes de tecer raciocínio
lógico, de fazer inferências, de efetuar descentralizações cognitivas etc.
A autora propõe duas formas para se acabar com tal etnocentrismo.
A primeira seria considerar o processo de alfabetização e o de letramento
como processos interligados, porém separados em sua natureza e
abrangência. A segunda seria considerar o letramento como um continuum.
Seriam evitadas, assim, segundo a autora, classificações preconceituosas
como as ocasionadas pelas categorias “letrado” e “iletrado” e a
confusão que se dá entre essas e as categorias “alfabetizado” e “não-
alfabetizado”, separando-se o fenômeno do letramento do processo
de escolarização, que, como já foi visto, costuma acompanhar o
processo de alfabetização.
Tfouni (2002) nos instiga à reflexão utilizando uma questão
retórica, já que ela mesma a responde positivamente:
CEDERJ 77
Movimentos Sociais e Educação | Conceituando escrita, alfabetização e letramento
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
Lembre-se de que a escrita depende essencialmente da alfabetização,
mas o letramento não, no sentido de que somos capazes de ler tudo
que há no mundo, mesmo sem sermos alfabetizados. Por outro lado,
só aprendemos o alfabeto pela leitura dos signos!
ALIENAÇÃO
Alheamento dos
sujeitos de seus CONCLUSÃO
próprios interesses
e condições de Nas sociedades industriais modernas, paralelamente ao
vida. Utiliza-se
correntemente para desenvolvimento científico e tecnológico ocasionado pelo letramento,
designar as situações
inauguradas no mundo existe um desenvolvimento correspondente, em nível individual ou de
moderno e industrial pequenos grupos sociais, que independe do processo de alfabetização e
em que pessoas e
grupos sociais adotam de escolarização. No entanto, esse desenvolvimento tem um preço, pois
idéias, hábitos e
posturas estranhos e aliena os indivíduos de seu próprio desejo, de sua individualidade e,
muitas vezes nefastos a
muitas vezes, de sua cultura e de sua historicidade. Tfouni (2002) afirma
si mesmos.
que a ALIENAÇÃO também é um produto do letramento. Afirma, ainda,
que a ciência é produto da escrita e a tecnologia, produto da ciência, e
REIFICADORES
De reificação. Diz- que funcionam como elementos REIFICADORES, principalmente para aquelas
se dos processos pessoas que, mesmo não sendo alfabetizadas, são “letradas”, mas não
e dispositivos que
transformam em coisas têm acesso ao conhecimento sistematizado nos livros, compêndios
os sujeitos sociais,
desprovendo-os de e manuais.
humanidade.
78 CEDERJ
A autora destaca também o fato de, muitas vezes, testemunharmos,
16
como conseqüência do letramento, o fato de muitos grupos sociais não-
AULA
alfabetizados abrirem mão do próprio conhecimento, da própria cultura.
Isso também caracterizaria essa relação como de tensão constante entre
poder, dominação, participação e resistência, o que não pode ser ignorado
quando se busca compreender o produto humano por excelência: a escrita
e seus decorrentes necessários, a alfabetização e o letramento – o que
veremos nas próximas aulas.
RESUMO
CEDERJ 79
Movimentos Sociais e Educação | Conceituando escrita, alfabetização e letramento
ATIVIDADES FINAIS
1. Quais são alguns exemplos possíveis de práticas sociais que exigem dos sujeitos
(sejam crianças, jovens ou adultos) o domínio da escrita?
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RESPOSTA
Diversas são as práticas sociais que exigem dos sujeitos (sejam crianças,
jovens ou adultos) o domínio da escrita, desde a urgência de se produzir
um bilhete para um parente próximo ou para um empregado até a
necessidade de se enviar uma carta cobrando e oferecendo notícias
a um amigo ou sócio distante, passando inclusive pelas práticas do
preenchimento de um formulário, da produção de um currículo, de
um cartão de Natal etc.
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RESPOSTA
Para realizar novas experiências no campo da alfabetização, torna-se
necessário que o professor/alfabetizador se liberte do uso de cartilhas
e revisite sua própria experiência de alfabetização, procurando criticar
a idéia de que a alfabetização se restringe a cópias mecânicas, já que
a relação com as palavras transcende a mera correspondência gráfico-
fonética, exigindo a vivência do contexto imaginativo e significativo de
que se alimentam a escrita e a leitura nas diversas práticas sociais.
80 CEDERJ
INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA
16
AULA
Na próxima aula, você estudará a relação existente entre a alfabetização, a leitura,
o letramento e cidadania.
CEDERJ 81
17
AULA
Leitura e letramento
Meta da aula
Desenvolver o conceito de leitura.
objetivos
Pré-requisito
O estudo do conteúdo desta aula se torna
mais fácil se você tiver conhecimento dos
conteúdos da aula anterior.
Movimentos Sociais e Educação | Leitura e letramento
INTRODUÇÃO
de Andrade.)
84 CEDERJ
se encontram os indivíduos em relação aos seus próprios desejos,
17
às suas individualidades, às suas culturas e à sua historicidade. Como vimos
AULA
na aula anterior, Tfouni (2002) afirma que a alienação também é um produto
do letramento, uma vez que muitos grupos sociais não-alfabetizados abrem
mão de seu próprio conhecimento, de sua própria cultura. Essa relação se
caracteriza por uma tensão constante entre poder, dominação, participação
e resistência, o que não pode ser ignorado quando se busca compreender a
escrita e seus decorrentes necessários (a alfabetização e o letramento) e suas
relações com os sujeitos cidadãos.
Essa busca de diferentes sujeitos organizados coletivamente por identidades
e culturas próprias – identidades de gênero, de classe, de corporação ou de
etnia – se constituiu na tônica dos Movimentos Sociais da década de 1990.
Mas antes de entrarmos nesse ponto, por questões metodológicas, iremos
primeiro apresentar a ampliação da noção de leitura realizada, sobretudo, a
partir das contribuições de Paulo Freire.
CEDERJ 85
Movimentos Sociais e Educação | Leitura e letramento
MODUS VIVENDI precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de
Maneira de viver. ‘escrevê-lo’ ou de ‘reescrevê-lo’, (...) de transformá-lo através de nossa
prática consciente”.
MODUS FACIENDI
Maneira de fazer.
OPACIDADE E LENTIDÃO: OPORTUNIDADE E
METÁFORA CIRCUNSTÂNCIA...
Processo pelo
qual se transfere a
“Espaços opacos e homens lentos” é como nomeia Milton Santos
significação própria (1996) tanto o espaço periférico como o sujeito nele inserido e, por
de uma palavra para
outro significado que isso mesmo, excluído dos espaços ditos centrais e dos seus MODI VIVENDI
lhe convém apenas
em virtude de uma e FACIENDI, cujos sujeitos costumam considerar a rapidez das ações, da
comparação mental. tomada de atitudes, das decisões e dos encontros como sinônimo de
Ex.: “Os seus olhos
são duas estrelas eficiência e competência. A METÁFORA recriada por Santos, apesar de nos
cintilantes.”
incomodar, parece-nos bastante interessante quando nos deixamos levar
pelo forte apelo SINESTÉSICO nela contido.
SINESTÉSICO
Referente à associação
de palavras ou
expressões que !
combinam sensações No imaginário ocidental, a luz está para o conhecimento como a falta dela para o
distintas numa desconhecimento, para a ignorância. Não se estranha assim que se tenham cunhado
impressão única, expressões como Século das Luzes, Iluminismo, Idade das Trevas...
cruzamento de
sensações. Ex.: em
“voz doce e macia”,
percebemos a relação
dos sentidos da
audição, da gustação
e do tato.
86 CEDERJ
“Espaços opacos”, por oposição binária quase que obrigatória
17
a espaços translúcidos, transparentes, nos leva logo a imaginar lugares
AULA
sombrios, obscuros, mergulhados na zona do
esquecimento e do desconhecido, nos quais
não penetra qualquer réstia de luz ou feixe
luminoso. Espaços que não se vêem ou
que não se deixam ser vistos. Aqueles
espaços que se escondem ou que se
querem escondidos, negados. Intramuros,
sem janelas ou portas voltadas, abertas
para o outro. Desconectados da rede de
ações engendrada em outros lugares por
outros sujeitos.
Já a expressão “homens lentos”, ainda
por oposição binária, forçosamente inevitável,
à expressão “homens velozes”, que seriam
aqueles mergulhados nas frações de segundo
dos meios de comunicação, de informação e de
transporte – fibra óptica, via cabo, highway (via
expressa), trem-bala...
!
Atentem-se às propagandas e às notícias impressas e televisivas: por exemplo, enquanto o
ex-presidente Collor chamou os carros nacionais de carroça, anunciaram-se carros importados
que vão de 0 a 100 km/h em um segundo de aceleração; a internet promete a conexão
global dos indivíduos em poucos segundos – espaço absoluto, tempo diminuto.
CEDERJ 87
Movimentos Sociais e Educação | Leitura e letramento
88 CEDERJ
ATIVIDADE
17
1. Você acredita que o cidadão é hoje compreendido como consumidor? Por
AULA
quê? O aluno de ensino a distância é um cliente? Qual a sua leitura disso?
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CEDERJ 89
Movimentos Sociais e Educação | Leitura e letramento
90 CEDERJ
da implantação de uma política nacional de valorização e formação de
17
professores, a ampliação do atendimento escolar, o apoio à construção
AULA
de Sistemas Estaduais de Avaliação da Educação Básica e Programas de
Apoio ao Letramento.
O atraso escolar – provocado pelos altos índices de reprovação
e abandono –, a desigualdade social, a baixa renda da população e a
qualidade das escolas são apontados como as principais causas do baixo
desempenho dos estudantes brasileiros no PISA.
O desempenho dos alunos das nações participantes do PISA está
diretamente relacionado aos gastos com educação. Em geral, a tendência
é: quanto maior o gasto, melhor o desempenho na avaliação. Para chegar
a esta conclusão, o PISA comparou o gasto médio dos países por aluno,
desde o início da educação fundamental até os 15 anos de idade, com o
desempenho médio nas três áreas avaliadas.
O Brasil, onde o gasto acumulado por aluno até os 15 anos é de
US$ 10 mil PPC (Paridade do Poder de Compra – medida que compara a
capacidade de moedas locais comprarem os mesmos produtos e serviços),
supera apenas a Indonésia e o Peru, que dispensam menos recursos na
educação de seus jovens. Os países com os maiores gastos são a Áustria,
com cerca de US$ 76 mil, e os Estados Unidos, com média de US$ 73
mil.
Segundo o relatório do PISA de 2001, mesmo considerando que a
qualidade do ensino depende dos investimentos na área, é preciso levar
em conta que:
CEDERJ 91
Movimentos Sociais e Educação | Leitura e letramento
92 CEDERJ
ATIVIDADES
17
AULA
2. Dê a sua opinião sobre se a nova configuração relacional entre indivíduo e
sociedade “pós-moderna” ajuda ou impede a ação dos sujeitos para realizar
seus projetos de construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
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COMENTÁRIO
Ao responder esta pergunta pense sobre como a escrita e o
letramento, na sociedade atual, entendida como pós-moderna,
endereça o comportamento dos sujeitos.
O importante é que você perceba que não podemos analisar de
maneira maniqueísta esta questão, categorizando essa relação
meramente como boa ou ruim. Devemos, sim, perceber como
esses novos modos de relação tanto podem ser utilizados contra
como a favor das causas sociais, uma vez que não são o fim, mas
os meios, os instrumentos com os quais se pode ou não contar para
se alcançar determinado objetivo.
CEDERJ 93
Movimentos Sociais e Educação | Leitura e letramento
A primeira escola que peguei foi aqui, em Angra dos Reis. No meu
lugar, minha escola era na enxada, na foice.
Meu pai não tinha dinheiro para pagar estudo. A gente era pobre. Tinha
dia que a gente chorava de fome. Ia pra casa de farinha pedir massa
de mandioca crua para comer. Meu pai dizia: esse negócio de estudo
é pra este povo rico que tá aí. Pra nós, pobres, é ‘lapada no lombo’.
Se meu pai tivesse me botado pra estudar eu não seria esse ‘João’
aqui. Seria o ‘Doutor João’.
Tinha necessidade de aprender pra aplicar na vida. Por exemplo:
receber as cartas dos parentes e amigos vindas do Norte e poder ler.
Que daqui pra frente eu possa pegar uma carta pra ler. É muito triste
pedir a alguém pra ler uma carta e você ficar ouvindo. Dá uma agonia...
A gente aflito, sem saber o que está indo, o que está vindo...
Outra coisa é você chegar num lugar onde tem uma placa escrito:
PROIBIDO ENTRAR. Você não sabe ler e entra. Olha pra um lado e pra
outro, e continua entrando. E aí vem um monte de cachorro, pessoas,
homens armados. É, analfabeto passa aperto...
O MOVA é importante, porque as pessoas que não tiveram chance de
aprender aprendem. Graças a Deus e às aulas do MOVA, antes, meus
documentos eram de analfabeto. Em vez de assinar, eu colocava o
dedão. Agora eu assino meu nome.
Quando fui assinar meu nome pela primeira vez na firma Matos
Teixeira, eu tremi. Senti uma dor no peito, um aperto no coração,
porque tinha medo que ele me colocasse pra fora. Não sabia o que
estava escrito ali. Podia ser uma carta de demissão. Agora sei que
aprender a escrever o nome é importante. Mas preciso esforço para
aprender mais que isso: é preciso aprender a ler tudo...
94 CEDERJ
17
________________________________________________________________
AULA
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________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Qualquer pessoa sem acesso aos meios de decodificação dos signos
escritos fica à mercê da desinformação, mesmo que tenhamos
disponíveis milhares de dados sistematizados sobre diferentes
assuntos nos diversos meios de comunicação.
CONCLUSÃO
CEDERJ 95
Movimentos Sociais e Educação | Leitura e letramento
RESUMO
ATIVIDADE FINAL
Releia todo o conteúdo desta aula e veja se você é capaz de explicar a ampliação
do conceito de leitura proposta por Paulo Freire.
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96 CEDERJ
RESPOSTA
17
Após a contribuição teórica de Paulo Freire, a noção de leitura deixa de
AULA
ser entendida como restrita à palavra escrita e passa a dizer respeito
também à interpretação do mundo, do contexto sociopolítico-histórico-
cultural em que esteja inserido o leitor. Este, por sua vez, é visto como
sujeito do processo de intelecção, compreensão, interpretação e
transformação do mundo que lê.
CEDERJ 97
18
AULA
Alfabetização de jovens
e adultos e participação cidadã
Meta da aula
Destacar a riqueza das experiências de incentivo à
participação coletiva organizada pelos diversos campos dos
Movimentos Sociais de modo cronológico.
capaz de:
• Identificar os processos históricos recentes que possibilitam ou negam
tanto a democratização do processo de alfabetização da população
brasileira quanto o acesso ao material impresso pelos sujeitos leitores.
• Reconhecer processos de organização da sociedade, paralelos à ação
governamental, para exigir e garantir direitos civis negados ao longo
de décadas no Brasil.
• Analisar sobre o real potencial brasileiro para promover um
desenvolvimento socioeconômico desejável diante da ausência da
garantia a direitos básicos constitucionais como acesso, permanência
e término da educação fundamental.
Pré-requisito
O estudo do conteúdo desta aula se torna mais
fácil se você tiver conhecimento dos conteúdos
das Aulas 16 e 17.
Movimentos Sociais e Educação | Alfabetização de jovens e adultos e participação cidadã
O ACESSO À ALFABETIZAÇÃO
100 C E D E R J
Qualquer um que soubesse ler e escrever podia também ensinar de
18
qualquer forma e ganhando qualquer coisa.
AULA
• 1963 a 1964 – Fim da Primeira Campanha Nacional de
Alfabetização. Paulo Freire, junto ao Ministério da Educação, assume a
elaboração de um Plano Nacional de Alfabetização (PNA).
• 1964 – Golpe Militar – 31 de março –, interrupção do PNA.
Seus participantes são perseguidos e exilados do país.
• 1969 – O Movimento brasileiro de alfabetização – Mobral – é
criado, reeditando uma campanha de âmbito nacional, conclamando a
população a fazer a sua parte. Surge com força e muitos recursos. Como
na Primeira Campanha Nacional, os alfabetizadores são recrutados
sem muitas exigências. Mais uma vez não houve preocupação com o
fazer e o saber pedagógico, e qualquer um que soubesse ler e escrever
podia também ensinar de qualquer forma e ganhando qualquer coisa.
A alfabetização se restringe ao ato de “desenhar o nome”.
• 1971 – As ações do Mobral são efetivadas na prática.
• 1985 – Fim da ditadura militar e início da Nova República.
José Sarney é eleito vice-presidente pelo colégio eleitoral e alçado à
presidência com a morte de Tancredo Neves. Extingue-se o Mobral
que, em seus últimos anos, foi marcado por denúncias que culminaram
na criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para
investigar a destinação e a aplicação de seus recursos e falsos índices
de analfabetismo. É criada a Fundação Educar, com o objetivo de
acompanhar e supervisionar instituições que recebiam recursos para
manter seus programas. Diferentemente do Mobral, a Fundação Educar
passou a fazer parte do Ministério da Educação.
• 1988 – Promulgação da nova Constituição Federal, estendendo
o direito à educação para quem não havia freqüentado ou concluído o
Ensino Fundamental.
• 1990 – Primeira eleição direta após o golpe militar. Eleito,
Fernando Collor extingue a Fundação Educar e, em pleno Ano
Internacional da Alfabetização, nada propõe em seu lugar. Com a
ausência do Governo Federal no papel de articulador nacional e indutor
de uma política de alfabetização de jovens e adultos no Brasil, os poderes
locais (municipais) iniciam ou ampliam a oferta de Educação de Jovens
e Adultos (EJA). Na cidade de São Paulo, o secretário de Educação do
governo Erundina, Paulo Freire, cria o Movimento de Alfabetização
– MOVA, procurando, numa nova configuração organizacional, envolver
C E D E R J 101
Movimentos Sociais e Educação | Alfabetização de jovens e adultos e participação cidadã
102 C E D E R J
ALGUMAS AÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA
18
• 1950 e 1960 – Paralelamente às ações governamentais, surgem
AULA
as ações dos movimentos de Educação e cultura popular, objetivando
alterar a situação socioeconômica da população. Conscientização,
participação e transformação são os conceitos elaborados a partir da
prática e das ações (inclusive a de alfabetizar unindo cultura, Educação
e transformação social) de movimentos como, por exemplo:
C E D E R J 103
Movimentos Sociais e Educação | Alfabetização de jovens e adultos e participação cidadã
ATIVIDADE
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______________________________________________________________
_____________________________________________________________
104 C E D E R J
RESPOSTA COMENTADA
18
Este texto é um exemplo das concepções e das propostas de
alfabetização que foram desenvolvidas pelos movimentos de
AULA
Educação e cultura popular na década de 1960. Estavam vinculadas
a um processo de conscientização da população sobre a realidade
vivida, acompanhado de uma participação dos educandos,
visando à transformação dessa mesma realidade. Dava-se ênfase,
na época, aos conceitos de alienação, conscientização, cultura
popular, autenticidade. Com o advento do golpe militar em 1964,
a alfabetização passa a se restringir a um mero exercício de desenho
do nome do analfabeto.
O ACESSO À LEITURA
C E D E R J 105
Movimentos Sociais e Educação | Alfabetização de jovens e adultos e participação cidadã
!
Programa Fome de Livro
Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas
Rua da Imprensa, 16 – Sala 1.102 – Palácio Gustavo Capanema
– 11º andar Centro – Rio de Janeiro – RJ – CEP 20030-120.
[email protected]
tel.: (21) 2544-8514 ramais 210 e 211
106 C E D E R J
Composto por um conjunto de projetos e ações de vários
18
ministérios, governos estaduais, prefeituras, empresas privadas e estatais
AULA
e organizações da sociedade civil que atuam nos mais diferentes setores,
o Programa Fome de Livro é, na prática, a implementação da política
nacional de leitura e bibliotecas públicas.
Ao mesmo tempo que abriga, apóia e busca fortalecer todo tipo de
iniciativa que integre os esforços gerais da sociedade para democratizar
o acesso ao livro e a outras formas de informação e fomentar a leitura, o
Fome de Livro atua em diferentes frentes para fazer cumprir os objetivos
e metas traçados para os próximos anos. Seja executando as tarefas
específicas do Governo Federal ou articulando ações com os vários
parceiros envolvidos no programa.
Uma das metas principais do programa é instalar mais de mil
bibliotecas até 2006 e, assim, zerar o número de cidades brasileiras
sem biblioteca pública. A sua coordenação e execução cabem ao Ministério
da Cultura e à Fundação Biblioteca Nacional, responsáveis pela formulação
e implantação das políticas públicas nessa área. Mas o programa só existe
com a parceria dos vários ministérios e programas federais, governos
estaduais, prefeituras e as organizações da sociedade civil.
Tendo como cenário um país que apresenta índices baixos de
leitura, a inexistência de projetos e ações de caráter permanente para
reverter esse quadro e uma desarticulação histórica do poder público com
a sociedade civil, o Programa Fome de Livro faz parte dos esforços do
Governo Federal na tarefa de se construir uma política pública nacional
para o livro, a leitura e a biblioteca pública no Brasil.
Além de implementar uma ação emergencial para zerar o déficit
de bibliotecas nos municípios brasileiros – um dos objetivos centrais do
programa, o Fome de Livro pretende coordenar os esforços governamentais
e da sociedade civil no sentido de integrar, otimizar e complementar ações
públicas e privadas na área de bibliotecas públicas e leitura. Dessa forma,
e zelando pela independência e autonomia de cada uma dessas iniciativas,
o Fome de Livro buscará evitar eventuais sombreamentos e sobreposições
de ações como forma de aperfeiçoar recursos e esforços – e conferir, assim,
maior eficácia às políticas públicas.
O Fome de Livro é, portanto, um programa nacional de biblioteca
pública e leitura que forma, ao lado da Política do Livro, um dos vértices
dessa visão de Políticas Públicas do Livro, da Leitura e de Biblioteca
Pública para o Brasil, cuja responsabilidade, no âmbito do Ministério
da Cultura, é atribuída à Fundação Biblioteca Nacional.
C E D E R J 107
Movimentos Sociais e Educação | Alfabetização de jovens e adultos e participação cidadã
108 C E D E R J
PROLER/FBN
18
O Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER) está
AULA
vinculado à Fundação Biblioteca Nacional (FBN), órgão do Ministério
da Cultura, e encontra-se sediado na Casa da Leitura, em Laranjeiras, no
Rio de Janeiro. É constituído por 81 comitês organizados em municípios
brasileiros. Foi institucionalizado em 13 de maio de 1992, pelo decreto n.º
519 (D.O. de 14 de maio de 1992), e , desde então, vem atuando com uma
política de leitura que tem em vista colaborar para qualificar as relações
sociais, através da formação de leitores conscientes e valorizadores do
exercício da cidadania para a interação crítica com o seu contexto.
Quando o Proler/FBN iniciou sua atuação em 1992, já tinha como
pressuposto o não-estabelecimento de planos verticalizados e acabados para
a implantação de ações. Pelo contrário, teorias e práticas vêm constantemente
sendo repensadas, e atualmente o Programa procura adequar-se em relação
aos indicadores sinalizados pela sociedade. Em meados de 1996, a nova
direção da Fundação Biblioteca Nacional, através da Comissão Nacional,
promoveu a integração do Proler com o MEC e outras instituições com
experiência na questão da leitura, tais como: Fundação Nacional do Livro
Infantil e Juvenil – FNLIJ, Associação de Leitura do Brasil – ALB, Programa
de Alfabetização e Leitura – PROALE/UFF.
A composição plural da Comissão está baseada no fato de a
preocupação com a leitura se expressar em diferentes instituições/
entidades, tanto de base acadêmico-universitária, quanto de organizações
não-governamentais, cuja experiência recomenda que sejam incorporadas
a programas dessa natureza.
O Proler/FBN busca contemplar a variedade e a diversidade das
práticas brasileiras de promoção da leitura. Baseia-se em princípios que
levam em conta o fato de a sociedade brasileira conviver com uma escola
básica cujos resultados têm apontado, freqüentemente, para a fragilidade
da intervenção pedagógica. A leitura (ou o seu equivocado conceito
e prática) não tem significado uma possibilidade real de inserção dos
sujeitos no mundo da informação, e, conseqüentemente, o exercício da
cidadania passa a ser comprometido. É por ela, então, que a possibilidade
de intervenção na realidade se faz, pelo domínio que a condição de leitor
oferece aos sujeitos. A educação de qualidade implica prioridade política,
como instrumento básico para sua consecução.
C E D E R J 109
Movimentos Sociais e Educação | Alfabetização de jovens e adultos e participação cidadã
110 C E D E R J
A FNLIJ foi contratada pelo FNDE, em 1998, para selecionar
18
106 títulos de literatura infantil para compor o acervo de 36.000 escolas
AULA
públicas do primeiro segmento do Ensino Fundamental por meio do
Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). A seleção dos títulos foi
apresentada ao MEC sob a forma de um relatório detalhado do processo
apontando os critérios que levaram à escolha dos mesmos.
C E D E R J 111
Movimentos Sociais e Educação | Alfabetização de jovens e adultos e participação cidadã
112 C E D E R J
Oferece treinamento continuado de educadores envolvidos no Programa,
18
destinado à formação do professor-leitor, proporcionando também a
AULA
publicação dos Cadernos de Leituras Compartilhadas, destinados ao
suporte didático-pedagógico da escola, com cinco edições anuais de dez
mil exemplares.
!
Praia do Flamengo, 100/902 – Flamengo – Rio de Janeiro.
CEP: 22210-030 – Tel./Fax: (21) 2245-7108.
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C E D E R J 113
Movimentos Sociais e Educação | Alfabetização de jovens e adultos e participação cidadã
ATIVIDADE
114 C E D E R J
18
COMENTÁRIO
AULA
Para facilitar sua busca, você pode usar as seguintes palavras-chaves:
movimentos Sociais, Ensino a Distância (EAD), Educação de Jovens e
Adultos (EJA), entre outras.
CONCLUSÃO
RESUMO
Nesta aula você conheceu tanto as diversas ações governamentais no que diz
respeito à alfabetização e às políticas educacionais, ao longo da história brasileira
recente, quanto alguns exemplos de ações não-governamentais. Em ambos os
casos, tais ações estão associadas à questão da democratização do acesso à
alfabetização e à leitura e/ou ao seu impedimento.
C E D E R J 115
Movimentos Sociais e Educação | Alfabetização de jovens e adultos e participação cidadã
ATIVIDADE FINAL
_________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Na próxima aula, você aprofundará seus estudos sobre a relação existente entre
Movimentos Sociais, cidadania e Educação.
116 C E D E R J
19
AULA
Movimentos sociais,
cidadania e educação
Meta da aula
Destacar a importância do conhecimento da
história do processo de democratização da
sociedade brasileira e de seus efeitos sobre
a luta por educação e cidadania no Brasil.
capaz de:
• Reconhecer a cidadania como um fenômeno do mundo moderno,
ligado ao desenvolvimento do capitalismo e à luta por direitos
realizada por diversos grupos sociais.
Pré-requisitos
O estudo do conteúdo desta aula se torna mais fácil se você
tiver pleno conhecimento dos conteúdos do Módulo 1 e das
aulas anteriores do Módulo 2.
Movimentos Sociais e Educação | Movimentos sociais, cidadania e educação
INTRODUÇÃO
118 C E D E R J
Só com a expansão das relações capitalistas os sujeitos ganharam
19
mobilidade: enriquecendo, sobem na escala social; empobrecendo,
AULA
descem. Com o advento do mercado e a liberação dos camponeses dos
laços pessoais de dependência, os sujeitos ganham autonomia, com
formas de sociabilidade marcadas pela impessoalidade. Os círculos de
participação social se expandiram; um mesmo sujeito passou a participar
de múltiplos grupos, muitas vezes com papéis sociais diferenciados e
contraditórios.
É esta passagem do mundo pré-capitalista sem mobilidade social
para um mundo capitalista com mobilidade social que marcou o século
XVIII na Europa. A Declaração dos Direitos Humanos, o Iluminismo,
as Teorias Jusnaturalistas, os Contratualistas, a Revolução Francesa, a
Independência dos Estados Unidos e a Revolução Industrial Inglesa foram
elementos decisivos neste processo. Nessa ocasião, inicia-se uma longa
transição onde o sujeito deixa de ser súdito (sujeito de deveres com um
monarca, em geral, absolutista) para se tornar cidadão, ou seja, sujeito de
direitos. Começa aí a difusão das idéias de que todos os homens nascem
livres e iguais, portanto, demandantes de direitos públicos e privados.
C E D E R J 119
Movimentos Sociais e Educação | Movimentos sociais, cidadania e educação
120 C E D E R J
Em função da herança escravista, o trabalho sempre teve entre nós
19
MODERNIZAÇÃO
conotações extremamente negativas e o governo getulista foi o primeiro CONSERVADORA
AULA
a inaugurar um discurso com esse setor, ainda que de forma tutelada. Processo de
desenvolvimento
Assim, nesse contexto que misturou modernização econômica, legislação econômico acelerado
realizado pelo Estado
trabalhista e conquistas sociais, as elites políticas brasileiras trocaram
que adota políticas
direitos civis e políticos por direitos sociais e, dentro do Estado Novo autoritárias para sua
implementação. A
(1937-1945), a única cidadania possível era a cidadania tutelada. sociedade civil fica
alheia desse processo,
Mais tarde, após um curto e tenso período de experiência sofrendo, entretanto,
democrática, marcado pelo populismo e pelo desenvolvimentismo, suas conseqüências.
C E D E R J 121
Movimentos Sociais e Educação | Movimentos sociais, cidadania e educação
Esses “novos atores” citados por Gohn (2002) nada mais eram
do que representações mais ou menos organizadas (sindicatos, partidos
políticos, comunidades eclesiais, associações de bairro) de demandas
presentes desde sempre. A própria maneira do debate político ao final
da ditadura militar – oficializada em apenas dois “partidos”, o do
governo e o da oposição – contribuiu para dar voz a algumas demandas
populares, uma vez que tanto o governo Arena (Aliança Renovadora
Nacional) quanto a oposição MDB (Movimento Democrático Brasileiro)
procuravam engrossar suas fileiras nas várias esferas de decisão. A
oposição, principalmente, nesse processo, incorporou várias correntes
políticas cujas solicitações se resumiam em “maior participação popular”
nos primeiros níveis de governo.
Em resumo, as lutas e os debates políticos do período visavam
substituir tecnocracia por democracia. As experiências de Orçamento
Participativo, realizadas por alguns administradores municipais, revelam
outro aspecto dos mais importantes da nova realidade política e social
brasileira.
122 C E D E R J
A nova Constituição coloca-se tanto como marco final de um
19
processo político como o de início de uma nova era da governança no
AULA
Brasil. Como lembra Mauro Rego Monteiro dos Santos:
C E D E R J 123
Movimentos Sociais e Educação | Movimentos sociais, cidadania e educação
ATIVIDADE
1. Após a leitura do depoimento de um adulto alfabetizado pelo
projeto MOVA-Angra dos Reis, escreva sobre a importância do direito à
educação para a tomada de consciência dos direitos e para o exercício
da cidadania:
(...)
124 C E D E R J
19
__________________________________________________________
__________________________________________________________
AULA
__________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
C E D E R J 125
Movimentos Sociais e Educação | Movimentos sociais, cidadania e educação
126 C E D E R J
Em sua opinião, por conta desse raciocínio, uma sociedade
19
democrática só é possível no percurso do caminho da participação, mas a
AULA
mudança não se dá apenas com esta interferência no plano micro, mas é a
partir deste plano que se dá o processo de mudança e transformação:
C E D E R J 127
Movimentos Sociais e Educação | Movimentos sociais, cidadania e educação
ATIVIDADE
2. Leia com atenção esta afirmativa do educador Paulo Freire, quando era
secretário municipal de Educação de São Paulo, a respeito dos papéis e
do caráter assumido pelos Conselhos de Escola no município de São Paulo
durante a gestão da prefeita Luísa Erundina (1989-1992):
128 C E D E R J
CONCLUSÃO
19
O cidadão em seus múltiplos papéis sociais (filho, pai, membro
AULA
de associação de moradores, condômino, munícipe, empregado, patrão,
sindicalizado, estudante, cônjuge etc.) educa e também é educável. Educa-
se, mas não só no âmbito escolar formal ou informal; educa-se com os
variados processos de participação coletiva: com os vizinhos, com as
reivindicações da associação de moradores, com a luta por mais vagas
e professores nas escolas etc.
RESUMO
C E D E R J 129
Movimentos Sociais e Educação | Movimentos sociais, cidadania e educação
ATIVIDADE FINAL
Você já deve ter participado de alguma reunião coletiva, seja uma reunião do
condomínio onde reside, um grupo do movimento estudantil, uma convenção
de determinado partido político, um debate com o seu grupo de trabalho etc., e,
muito provavelmente, pôde observar como as pessoas possuem visões distintas
a respeito de um mesmo aspecto comum à convivência de todos. O que será que
levaria pessoas que dividem o mesmo tempo e o mesmo espaço a terem uma
multiplicidade de entendimento e compreensão de um ponto em comum?
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
COMENTÁRIO
130 C E D E R J
20
AULA
Os movimentos sociais
e seu caráter educativo
Meta da aula
Expor a relação existente entre movimentos sociais
e o processo educativo por que passam os sujeitos
neles envolvidos.
objetivos
Pré-requisito
O estudo do conteúdo desta aula se tornará
mais fácil se você tiver pleno conhecimento dos
conteúdos das aulas anteriores deste módulo.
Movimentos Sociais e Educação | Os movimentos sociais e seu caráter educativo
INTRODUÇÃO
Até agora, você estudou diversos aspectos relacionados tanto aos Movimentos
Sociais como um todo quanto ao letramento como nova forma de leitura e
interação com o mundo, ou seja, com o seu contexto histórico, social, cul-
tural, político e econômico. Nesta aula, estudará, mais especificamente, as
transformações históricas do conceito de cidadania e as relações existentes
entre os movimentos sociais e o seu caráter educativo, considerando-se nesse
processo as três dimensões estudadas e divulgadas pelas pesquisas de Maria
da Glória Gohn.
132 C E D E R J
passaria a regulamentar os direitos dos cidadãos, podendo restringi-
20
los e até mesmo cassá-los conforme a conjuntura histórica. Assim, a
AULA
cidadania deixa de ser uma conquista da sociedade civil, passando a ser
responsabilidade do Estado.
Esta noção de cidadania regulamentada pelo Estado conviveria,
no século XX, lado a lado com o desenvolvimento do neoliberalismo
comunitarista, que considera a cidadania como um retorno à idéia de
comunidade, contrapondo-se à sociedade urbano-industrial burocra-
tizada. Representando as instituições da sociedade civil moderna (os
sistemas educacionais, as empresas...) como uma grande comunidade,
o cidadão, assim, passa a ser o homem civilizado, participante de uma
comunidade de interesses e solidário com os outros indivíduos.
Esta ambiência pressupõe também uma noção de Educação
conservadora: educar para a cooperação geral. A escola torna-se vital
neste processo, em que as condições concretas da realidade não têm
importância para o aprendizado, mas, sim, como nos afirma Gohn,
“uma visão romântica, idílica, estigmatizada, da vida no campo, das
relações diretas, primárias, da pequena comunidade. O livro didático é
o representante máximo desse processo”.
Gohn aponta-nos para o fato de haver um paradoxo nesta concep-
ção, visto que, para se fugir da realidade, aponta-se o idealizado como
puro e verdadeiro. Porém o cidadão civilizado seria exatamente aquele
que já teria rompido com os estágios primitivos de convivência grupal,
da barbárie, e passado para condições mais avançadas, mais modernas,
de convivência harmoniosa em uma sociedade urbanizada.
Uma terceira noção do conceito de cidadania é elaborada por
grupos organizados por meio de movimentos da sociedade civil:
a cidadania coletiva. Alguns fatores contribuíram para esta nova
perspectiva no cenário ocidental, dentre os quais Gohn exemplifica:
• o caráter do desenvolvimento explorador e espoliativo do
capitalismo;
• a massificação das relações sociais;
• o descompasso entre o alto desenvolvimento tecnológico e a
miséria social de milhões de pessoas;
• as frustrações com os resultados do consumo insaciável de bens
e produtos;
C E D E R J 133
Movimentos Sociais e Educação | Os movimentos sociais e seu caráter educativo
134 C E D E R J
20
AULA
a exploração e a espoliação a que é exposto, bem como a
ausência de direitos sociais básicos (vida, educação, saúde
e moradia), como, por exemplo:
• grupos de mulheres que lutam por creches ou
por vagas para seus filhos em uma escola mais próxima
de suas residências;
• grupos de favelados que lutam pela posse da terra;
• grupos de pessoas pobres que lutam por acesso a algum tipo
de moradia.
Outras demandas advêm de grupos não tão
explorados como os dos exemplos anteriores, mas da
mesma forma expropriados de seus direitos civis de
liberdade, igualdade, justiça e legislação, como, por
exemplo:
• grupos que lutam pelo exercício da cidadania de
negros, mulheres e homossexuais;
• grupos que lutam pela paz;
• grupos que lutam em defesa da ecologia.
Gohn nos ensina que a educação tem papel relevante para este
conceito de cidadania coletiva, exatamente porque ela se constrói
no processo de luta que é, em si próprio, um movimento educativo,
ou seja, a cidadania não se constrói por decretos, por intervenções
iluminadas externas, por agentes ou por programas pré-elaborados.
C E D E R J 135
Movimentos Sociais e Educação | Os movimentos sociais e seu caráter educativo
ATIVIDADE
RESPOSTA
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
____________________________________________________________________
_________________________________________________________________
136 C E D E R J
OS MOVIMENTOS SOCIAIS E O SEU CARÁTER EDUCATIVO
20
Concebendo-se a Educação não como restrita ao processo de
AULA
ensino-aprendizagem de conteúdos específicos das áreas de conhecimento
por meio de metodologias pedagógicas, mas, sim, como algo que é
conquistado e socializado permanentemente para além dos muros
institucionais escolares, veremos que existe realmente uma natureza
educativa nos processos externos aos canais formais de educação. Este
caráter educativo constrói-se, segundo Gohn, de diversas formas, em
vários planos e dimensões que se articulam, mas não estabelecem nenhum
grau de prioridade entre elas. Vejamos resumidamente os três exemplos
que os estudos de Gohn nos oferecem, a seguir.
C E D E R J 137
Movimentos Sociais e Educação | Os movimentos sociais e seu caráter educativo
138 C E D E R J
Em resumo, estratégias de conformismo e de resistência, de pas-
20
sividade e de rebelião são elaboradas, segundo os agentes com os quais
AULA
se defronta. Esta dimensão educativa dos movimentos sociais revela
que certas atitudes que podem ser tidas como conservadoras nada mais
são, na verdade, do que revelações de parte do processo pedagógico
vivenciado pelos movimentos.
A dimensão espacial-temporal
140 C E D E R J
20
AULA
ATIVIDADE
I) A diretora de sua escola não entendeu o objetivo de sua aula e lhe pediu
– fato inédito entre as outras professoras que lecionam em sala de aula,
seguindo o livro didático – o planejamento por escrito, numa atitude que
possivelmente visava a quê? Explique.
C E D E R J 141
Movimentos Sociais e Educação | Os movimentos sociais e seu caráter educativo
RESPOSTA
RESPOSTA
CONCLUSÃO
142 C E D E R J
20
RESUMO
AULA
Nesta aula, você pôde aprender como o conceito de cidadania se transformou ao
longo da história até se chegar ao conceito de cidadania elaborado por grupos
organizados em movimentos da sociedade civil: a cidadania coletiva. Pôde
aprender também que existe um caráter educativo nos processos externos aos
canais formais de educação, se a concebermos, não como restrita ao processo
de ensino-aprendizagem de conteúdos específicos por meio de metodologias
pedagógicas institucionais, mas, sim, como algo que é conquistado e socializado
permanentemente para além dos muros escolares.
ATIVIDADE FINAL
COMENTÁRIO
A resposta será de foro íntimo, o importante é o aluno identificar ações em seu cotidiano
citadino que revelem ou não tanto a sua participação individual em processos de
reivindicações de direitos quanto a sua participação em movimentos sociais organizados,
sejam eles de bairro, de classe, profissionais, estudantis...
Na próxima aula, você estudará a formação de uma rede virtual e real de promoção
de cidadania.
C E D E R J 143
Redes virtuais e
21
AULA
reais de movimentos
sociais e cidadania
Meta da aula
Apresentar, dentro de um mundo
globalizado e transformado pelos novos
processos tecnológicos de produção, a
importância de se tecerem redes virtuais e
reais de promoção de cidadania.
objetivo
Pré-requisito
O estudo do conteúdo desta aula se
tornará mais fácil se você tiver pleno
conhecimento dos conteúdos das aulas
anteriores deste módulo.
Movimentos Sociais e Educação | Redes virtuais e reais de movimentos sociais e cidadania
INTRODUÇÃO
146 C E D E R J
21
AULA
V FÓRUM SOCIAL
MUNDIAL
C E D E R J 147
Movimentos Sociais e Educação | Redes virtuais e reais de movimentos sociais e cidadania
148 C E D E R J
21
AULA
ATTAC
Defende a implantação de
um imposto sobre transações
financeiras especulativas,
inspirada em uma proposta de
James Tobin, prêmio Nobel
de Economia. A taxa Tobin
consiste na aplicação de um
pequeno imposto às transações
financeiras, com o objetivo
de acabar com a especulação
financeira. No âmbito da
Economia, a especulação
é o exercício de qualquer
tipo de atividade econômica
cujo objeto seja somente a
obtenção de ganhos, sem gerar
contribuição alguma para
sociedade. Se fosse adotada,
tal taxa poderia levantar, em
um ano, cerca de 300 bilhões
de dólares, que poderiam ser
destinados a erradicar as piores
formas de pobreza e fome
no mundo. Esta taxa seria o
O Segundo Fórum Social Mundial, em janeiro de 2002, foi primeiro passo para o exercício
de um controle democrático
o primeiro grande evento internacional de oposição à globalização sobre os mercados financeiros.
neoliberal após 11 de setembro de 2001. Reuniu mais de 50.000 pessoas A ATTAC reúne diversos
componentes e favorece a
de todo o mundo e demonstrou profundo compromisso com o trabalho ação comum, sem limitar, de
maneira alguma, a liberdade
de construir a resistência internacional e a solidariedade. Novamente em de intervenção de cada um.
Propõe reforçar, relacionar
2002, centenas de movimentos sociais, ONGs e sindicatos encontraram-se
e coordenar, no âmbito
durante cinco dias para elaborar uma convocatória de ação comum. internacional, a intervenção
de todos os associados que se
A segunda convocatória dos movimentos sociais enfatizou o aumento da reconheça em sua plataforma.
Deseja também estreitar a
militarização e a oposição à guerra, assim como destacou os fracassos do cooperação com todas as
capitalismo neoliberal, demonstrados pela crise econômica e política da outras redes cujos objetivos
convirjam com os seus.
Argentina e pelo colapso da empresa multinacional americana ENRON.
ENRON
Segundo o New York Times de 5/2/2002, o J. P. Morgan Chase estava sendo processado por várias companhias de seguro
americanas por práticas contábeis que “esconderam” débitos da Enron. Alan Levine, advogado de seguradoras, afirmou
que “o Morgan Chase camuflou deliberadamente um empréstimo à Enron sob forma de transação de uma commodity,
para perpetuar uma fraude”. O banco teria feito com que os débitos da Enron parecessem menores do que seriam na
realidade. A quantia da suposta fraude pode ter chegado a US$ 8 bilhões, segundo um comitê do Senado criado para
investigar a Enron. A companhia maquiava o seu balanço para aparentar ser mais lucrativa e, com isso, manter elevado
o preço das ações. Resultado: os investidores e acionistas ficaram com receio na hora de aplicar seu dinheiro. A saída
para as empresas é não só serem, mas parecerem o mais transparentes e honestas possível, pois, no mundo globalizado e
hipercompetitivo, será difícil crescer somente com capital próprio.
C E D E R J 149
Movimentos Sociais e Educação | Redes virtuais e reais de movimentos sociais e cidadania
150 C E D E R J
O MOMENTO HISTÓRICO
21
AULA
Para se compreender a necessidade de se criar uma base mínima
para uma rede mundial dos movimentos sociais, necessita-se ter clareza
da perspectiva do momento histórico no qual essa necessidade se deu.
O fracasso das políticas neoliberais em promover justiça
econômica e social enfraqueceu as expectativas em torno do “Consenso
de Washington”. Ao mesmo tempo, as instituições multilaterais
promotoras do ajuste estrutural, da liberalização do comércio e das
finanças, especialmente a OMC, o FMI e o Banco Mundial, estão
perdendo rapidamente a sua legitimidade.
Simultaneamente, estamos vivendo, por um lado, um aumento
tremendo da oposição pública às políticas neoliberais tanto no hemisfério
Sul quanto no Norte e, por outro, uma maior internacionalização dos
movimentos sociais, sindicatos e ONGs que estão se opondo a essas
políticas e trabalhando para a justiça econômica e social. Ao mesmo
tempo, também, muitos dos “movimentos sociais tradicionais” e partidos
políticos, especialmente no hemisfério norte, estão enfrentando uma crise
enquanto lutam para desenvolver novas estratégias, estruturas e práticas
em resposta a uma situação muito dinâmica e complexa.
O aumento do unilateralismo, a guerra no Afeganistão, o
estabelecimento de novas bases militares dos EUA nas Filipinas e em
outras partes da Ásia e a guerra contra o Iraque são todas tentativas de
reforçar a dominação dos grandes países do Norte, em particular dos
Estados Unidos. Na América Latina, a presença dos EUA está crescendo
sob o pretexto da “guerra às drogas”, e, em todas as partes do mundo,
a “guerra ao terror” provocou a violação de direitos políticos e civis
básicos e um aumento do medo, da xenofobia e do racismo. Isso também
está levando a um aumento de novas alianças e convergências entre os
movimentos sociais, sindicatos e ONGs de todas as partes do planeta e
ressaltando as ligações entre a militarização e o capitalismo globalizado.
Economicamente, o sistema global está passando por uma severa
crise de superprodução e redução dos lucros, resultando em demissões em
massa, reestruturação das corporações e colapso dos preços das ações.
Neste contexto, a corrupção nos mais altos escalões das corporações
americanas está vindo à tona, assim como as íntimas ligações entre o
capital dos EUA e o governo dos EUA.
C E D E R J 151
Movimentos Sociais e Educação | Redes virtuais e reais de movimentos sociais e cidadania
152 C E D E R J
No percurso até o FSM 2003, organizaram-se reuniões durante
21
os fóruns temáticos e regionais citados anteriormente para debater essa
AULA
proposta. As conclusões e propostas destes encontros foram levadas
para Porto Alegre, desejando-se que a assembléia final fosse o resultado
acumulado de um processo envolvendo movimentos ao redor do mundo,
e não apenas aqueles presentes em Porto Alegre. Um banco de dados
das organizações e redes que assinaram os manifestos de 2001 e 2002
foi preparado, mas ainda era necessário identificar outros movimentos
sociais, sindicatos, ONGs e organizações que deveriam ser incorporados
a essa iniciativa.
Um documento foi preparado para suscitar o debate e a discussão
sobre a proposta de se construir uma rede mundial de movimentos sociais
nos muitos eventos que ocorreriam antes do terceiro FSM, quando a
assembléia dos movimentos sociais, ONGs e sindicatos seria chamada
a deliberar sobre a posição final quanto a tal proposta.
ATIVIDADE
COMENTÁRIO
O importante é que o aluno acesse e socialize o máximo de
informações possível acerca dessas redes de promoção cidadã.
C E D E R J 153
Movimentos Sociais e Educação | Redes virtuais e reais de movimentos sociais e cidadania
REDES DE CIDADANIA
154 C E D E R J
O modelo de democracia em vigor é o padrão de poder. Nega
21
a diversidade da história, da cultura, da forma de ser e estar no
AULA
mundo. A democracia precisa ser repensada na totalidade das
operações de poder, inclusive nas relações individuais.
América Latina
• CEAAL – Conselho de Educação de Adultos da América Latina
www.ceaal.org
• REPPOL – Red de Educación y Poder Local
www.ceaal.org/accion/redes/reppol.htm
• RLAI – Rede Latino-Americana de Alfabetização Internacional
• REPEM – Rede de Educação Popular entre Mulheres da América
Latina
www.repem.org.uy
Brasil
• Rede Brasileira pela Integração dos Povos (REBRIP)
www.rebrip.org.br
• Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
www.social.org.br
• Rede de Apoio à Ação de Alfabetização do Brasil – RAAAB
www.raaab.org.br
C E D E R J 155
Movimentos Sociais e Educação | Redes virtuais e reais de movimentos sociais e cidadania
Argentina
• http://www.clacso.org/ – CLACSO (Consejo Latinoamericano de
Ciencias Sociales) – É uma rede internacional, não-governamental e
sem fins lucrativos, dedicada a promover a investigação, a discussão
e a difusão acadêmica em diversos campos das Ciências Sociais.
• http://www.cta.org.ar/ – CTA – Central dos Trabalhadores da
Argentina.
• http://www.dialogo2000.org.ar/ – Dialogo 2000 – Espaço de
diálogo e participação frente aos desafios e problemas comuns dos
povos da América Latina e do Caribe e às políticas de globalização,
exclusão e violência.
• http://www.fua.org.ar/ – FUA – É a Central Única representativa
de todos os universitários da Argentina.
• http://www.imfc.com.ar/ – IMFC – O Instituto Mobilizador de
Fundos Cooperativos é uma cooperativa que tem por objetivo
a representação institucional das cooperativas associadas e a
prestação de serviços requeridos por elas.
• http://www.ymca.org.ar/ – YMCA – É uma organização civil,
voluntária, ecumênica, aberta e participativa, que se orienta
pelos princípios cristãos. Promove os valores humanos essenciais e
trabalha em favor da solidariedade para ajudar a superar situações
de injustiça que afetam o pleno desenvolvimento das pessoas e de
suas comunidades.
156 C E D E R J
ATIVIDADE
21
AULA
2. Pesquise na internet outros exemplos de organização de redes de
movimentos sociais de outros países latinos-americanos (Chile, Uruguai,
Paraguai, Bolívia, Venezuela...), compare seus objetos de luta e veja se se
assemelham ou diferem muito entre si e dos que estão aqui listados.
COMENTÁRIO
O importante é que o aluno reconheça os pontos comuns e os específicos
a determinada nação no processo de luta da América Latina.
C E D E R J 157
Movimentos Sociais e Educação | Redes virtuais e reais de movimentos sociais e cidadania
CONCLUSÃO
158 C E D E R J
A relação dos sujeitos nesse e com esse mundo renovado também
21
mudou. As redes das relações humanas se modificaram e a internet (a
AULA
grande rede) faz uma enorme diferença como instrumento poderoso,
com capacidades e possibilidades tanto virtuais quanto reais de interação
sujeito/mundo. Para fazer parte desta verdadeira rede de informações
virtuais, é preciso ter acesso concreto à informatização.
RESUMO
Nesta aula, vimos exemplos tanto de ações concretas, como as cinco edições do
Fórum Social Mundial (FSM) e de seus frutos, quanto de ações virtuais sistematizadas
em redes aglutinadoras de diferentes ações promotoras da cidadania, organizadas
em torno de diversos movimentos sociais.
ATIVIDADE FINAL
1. Escolha uma das duas atividades a seguir ou, se quiser, faça as duas:
C E D E R J 159
Movimentos Sociais e Educação | Redes virtuais e reais de movimentos sociais e cidadania
160 C E D E R J
Organizações Não-
22
AULA
governamentais, Movimentos
Sociais e Educação
Meta da aula
Fomentar a habilidade para o estudo e
a pesquisa na internet sobre assuntos
correlacionados à formação dos
estudantes do Curso de Pedagogia para
os Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
objetivos
Pré-requisito
As aulas anteriores deste módulo.
Movimentos Sociais e Educação | Organizações Não-governamentais, Movimentos Sociais e Educação
INTRODUÇÃO
CONSELHOS E FUNDOS
162 C E D E R J
22 MÓDULO 2
• CNDST/Aids - Cordenação Nacional de DST/AIDS - www.aids.gov.br
• Fehidro - Fundo Nacional de Recursos Hídricos - www.recursoshidr
AULA
icos.sp.gov.br
• FNMA - Fundo Nacional do Meio Ambiente - www.mma.gov.br/port/
fnma/index.html
• Funasa - Fundo Nacional de Saúde - www.funasa.gov.br
• Fundef – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Funda-
mental e Valorização do Magistério - www.mec.gov.br/sef/fundef
C E D E R J 163
Movimentos Sociais e Educação | Organizações Não-governamentais, Movimentos Sociais e Educação
SITES GOVERNAMENTAIS
164 C E D E R J
22 MÓDULO 2
• Adital - Agência de Informação Frei Tito para a América Latina -
http://www.adital.org.br
AULA
• Revista Caros Amigos - http://carosamigos.terra.com.br
• Revista Integração - www.fgvsp.br/integracao
• Revista Justiça & Democracia -publicação da Associação Juízes para
a Democracia - www.ajd.org.br/revista_set.htm
ATIVIDADE
COMENTÁRIO
C E D E R J 165
Movimentos Sociais e Educação | Organizações Não-governamentais, Movimentos Sociais e Educação
MOVIMENTOS SOCIAIS
166 C E D E R J
22 MÓDULO 2
• CEAP-RJ - Centro de Articulação de Populações Marginalizadas
• CEDAC - Centro de Ação Comunitária
AULA
• CEDAPS - Centro de Promoção da Saúde
• CEMINA - Comunicação, Educação e Informação em Gênero
• CEPEL - Centro de Estudos e Pesquisas da Leopoldina
• DEFENSORES DA TERRA - Associação Ambientalista Defensores
da Terra
• GRUPO AFRO REGGAE - Grupo Cultural Afro Reggae
• ISER/ASSESSORIA - Iser/Assessoria
• NOVA - Nova Pesquisa e Assessoria e Educação
• NOVAMERICA - Novamerica
• PACS - Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul
• PROFEC - Programa de Formação e Educação Comunitária
• REDEH - Rede de Desenvolvimento Humano
• SAPÉ - Serviços de Apoio à Pesquisa em Educação
• SFB - Solidariedade França-Brasil
• UNIRR – União de Redes de Radiodifusão pela Democracia – Escritório
Brasileiro da AMARC
ATIVIDADE
C E D E R J 167
Movimentos Sociais e Educação | Organizações Não-governamentais, Movimentos Sociais e Educação
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COMENTÁRIO
O importante é que o aluno se familiarize com os sites
de busca e de pesquisa e possa acessar endereços
eletrônicos relacionados a sua área de estudos.
REDES E FÓRUNS
168 C E D E R J
22 MÓDULO 2
• Fórum Nacional de Mulheres Negras
• Fórum Nacional de Participação Popular
AULA
• Fórum Nacional de Reforma Urbana
• Fórum ONG/AIDS do Estado de São Paulo
• GAPA – Grupo de Apoio à Prevenção à Aids Brasil–São Paulo
• Marcha Mundial das Mulheres
• Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos Sociais e
Culturais
• REBIDIA - Rede Brasileira de Informação e Documentação sobre
Infância e Adolescência
• Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais
• Rede Brasileira de Educação Ambiental
• Rede Brasileira de Socioeconomia Solidária-RBSES
• Rede das Águas - Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês
de Bacias
• Rede de Educação Popular entre Mulheres da América Latina (Repem)
• Rede de ONGs da Mata Atlântica
• Rede Nacional de Saúde e Direitos Reprodutivos
• Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Reprodutivos e Direitos
Sexuais
• Wedo - Organização de Mulheres, Meio Ambiente e Desenvolvimento
CONCLUSÃO
C E D E R J 169
Movimentos Sociais e Educação | Organizações Não-governamentais, Movimentos Sociais e Educação
ILUSTRAÇÃO
RESUMO
170 C E D E R J
22 MÓDULO 2
ATIVIDADE FINAL
AULA
Procure acessar o máximo de informações sobre as diversas atividades e pesquisas
realizadas por estas instituições ligadas aos Movimentos Sociais relacionados à
Educação e faça um painel informativo em seu local de trabalho e/ou de estudo,
socializando ainda mais tais informações.
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COMENTÁRIO
O importante é que se perceba o grande potencial socializador de
informações que encontramos na internet, considerando-a mesmo
como uma grande aliada tanto no ambiente de trabalho quanto no
de estudos.
SITES PESQUISADOS
www.abong.org.br
www.cade.com.br
www.google.com.br
C E D E R J 171
Movimentos Sociais e Educação
Referências
Aula 11
GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais e a luta pela moradia. São Paulo:
Loyola, 1991.
Aula 12
Aula 13
Aula 14
174 CEDERJ
Aula 15
Aula 16
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se complementam. 34.
ed. São Paulo: Cortez, 1997. 88p. (Coleção questões da nossa época; v. 13).
TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
104p. (Coleção questões da nossa época; v. 47).
Aula 17
CHARTIER, R.oger. As práticas da leitura. In: ARIES, Philipp; DUBY, Georges. História
da vida privada. São Paulo: Cia das Letras, 1994. t. 3
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1967.
_______. A importância do ato de ler. In: ______. A importância do ato de ler: em três
artigos que se complementam. São Paulo: Cortez, 1983.
MARSHALL, Thomas Humprey. Cidadania, classe social e estado. Rio de Janeiro: Zahar,
1967.
CEDERJ 175
SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico
informacional. São Paulo: Hucitec, 1996.
SILVA, Virgínia de Oliveira. De leitores e leitura: água mole, pedra dura, tanto bate até
que fura? Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. Mimeo.
SITES RECOMENDADOS
Aula 18
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1967.
_______. A importância do ato de ler. In: _____. A importância do ato de ler: em três
artigos que se complementam. São Paulo: Cortez, 1983.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura e realidade brasileira. 5.ed. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1998.
SOARES, Leôncio. Deixar de sombra dos outros. In: BRASIL. Ministério da Educação.
Secretaria de Educação a Distância. TV ESCOLA: um Salto para o Futuro. Boletim
Brasil Alfabetizado em foco. Brasília,DF, MEC/SED, Set. 2003.
SITES RECOMENDADOS
176 CEDERJ
Aula 19
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 3.ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 4.ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003.
MARSHALL, Thomas Humprey. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro : Zahar,
1967.
O’CADIZ, Maria del Pilar; TORRES, Carlos Alberto; WONG, Pia Lindquist. Educação
e democracia: a praxis de Paulo Freire em São Paulo. São Paulo: Cortez, 2002.
Aula 20
BETTANINI, Tonino. Espaço e ciências humanas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
GOHN, Maria da Glória Marcondes. Movimentos sociais e educação. São Paulo: Cortez,
1992. (Coleção questões da nossa época, v. 5).
SITE RECOMENDADO
FÓRUM Mundial de Educação São Paulo. Disponível em: <http://fmet.terra.com.br/>.
Acesso em: 07 jul. 2005.
CEDERJ 177
Aula 21
BORGES, Altamiro (Org.). Para entender e combater a Alca. São Paulo: Editora Anita
Garibaldi, 2002. 128p.
RED de los movimientos sociales. Rumo a uma rede mundial de movimentos sociais.
Disponível em: <http://www.movsoc.org/htm/documentos_rede_movimentos_port.htm>.
Acesso em: 07 jul. 2005.
SITES PESQUISADOS:
ALCA Bloco: 1º portal da iniciativa privada na Internet sobre a Alça. Disponível em:
<http://www.alca-bloco.com.br>. Acesso em: 07 jul. 2005.
RED de los movimientos sociales. Rumo a uma rede mundial de movimentos sociais.
Disponível em: <http://www.movsoc.org/htm/documentos_rede_movimentos_
port.htm>. Acesso em: 07 jul. 2005.
178 CEDERJ
Aula 22
SITES PESQUISADOS:
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Organizações não governamentais. Disponível em: <http:
//www.abong.org.br>. Acesso em: 07 jul. 2005.
CEDERJ 179
I SBN 85 - 7648 - 151 - 0
9 788576 481515