Diminutivos Na Lingua Portuguesa PDF
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1. Introdução
4. Conclusão.…………………………………………………………………………..31
5. Bibliografia.....……………………………………………………………………...32
3
1. Introdução
gramática checa e portuguesa. Pretendemos então nesse trabalho comparar as duas línguas de
diminutivos e o uso deles nas duas línguas. A primeira parte do trabalho coloca como as suas
diminutivos, encontramos nessa parte uma comparação tipológica das duas línguas, cujo
objecto é comprovar se existe uma base linguística comum entre o checo e português, e
A outra parte do trabalho trata da posição dos diminutivos dentro a semántica das duas
língua checa e portuguesa. Para essa comparação foram utilizados três textos: O Primo
Basílio1 do Eça de Queiróz e a sua tradução checa e Amor de Perdição2 do Camilo Castelo
Branco. Tem que também ser notado que só foi utilizada uma parte da obra prima do Eça,
com maior exactidão, capítulas 1.- 3. e 8. O razão para não incluir todo o livro foi, que a
leitura do texto comprovou a tendenção dos diminutivos de se repetir assim como as situações
1
De Queiroz, Eça: O Primo Basílio (episódio doméstico). Lello & Irmão, Porto. Exemplos tiradas do livro serão
escritos em itálicos e marcados Queiroz.
2
Branco, Camilo Castelo: Amor de Perdição. Planeta DeAgostini, Cayfosa. Exemplos tiradas do livro serão
escritos em itálicos e marcados Branco.
4
A escolha dos dois textos portugueses era motivada por dois motivos. O primeiro foi a
incontestável qualidade das obras, que garantia a autenticidade da língua, o outro motivo foi a
fácil acessibilidade dos originais portugueses assim como das traduções checas. Havia
dúvidas sobre a escolha dos textos por causa da sua desactualização, mas a pesquisa descrita
no capítulo sobre a frequência dos vários sufixos diminutivos comprovou que a os resultados
obtidos da análise dos dois textos em cima mencionados, era utilizado um texto actual: trata-
se da transcrição do filme portugês O Último Mergulho3. Como só uma das duas traduções
checas, O Primo Basílio4, era disponível, aparecem no texto traduções do Amor de Perdição
3
O Último Mergulho, dir. Jõao César Monteiro, Madragoa Filmes, 1992.
4
Queiróz, José Maria Eça de: Bratranec Basílio, rodinná epizoda. Odeon, Praha, 1989.
5
2. O processo da formação dos diminutivos na língua portuguesa e checa
discutível, mas de qualquer maneira acabou por ser recentemente confirmada pela pesquisa de
português e brasileiro, cada um deles consistiu em 550.000 palavras, tiradas de diversos tipos
Depois pesquisaram diferentes aspectos da língua, e, entre outros resultados (pois a pesquisa
foi feita a fim de apresentar as diferenças entre o português europeu e brasileiro), a pesquisa
incluindo ciência, técnica, etc., onde o número dos diminutivos se aproxima ao zero, o
que tratou, entre outro, da frequência e do uso dos diminutivos no livro do Jaroslav Hašek,
Aventuras do Valente Soldado Svejk (Osudy dobrého vojáka Švejka za světové války). A
pesquisa foi baseada nas primeiras 50.000 palavras da obra, entre as quais foram encontrados
150 diminutivos utilizados em várias situações. Os resultados foram ainda suportados pelas
análises de mais duas obras, translações de duas obras primas da literatura mundial, O Senhor
5
Lapa, M. Rodrigues: Estilística da Língua Portuguesa. Seara Nova, Lisboa, 1945, p. 105.
6
Biederman, Maria Teresa; Bacelar Do Nascimento, Maria Fernanda: Unidade e diversidade: o vocabulário da
língua oral em Portugal e no Brasil.
6
dos Anéis de J. R. R. Tolkien e Ardil 22 de Joseph Heller. Ali foram registrados 180 e 134
língua checa.7
A análise seguinte revelará as diferenças entre o uso e a formação dos diminutivos nas
duas línguas, português e checo, a primeira parte compara as duas línguas sob o aspecto de
e o uso deles, é preciso verificar, se existe alguma base comum das duas línguas, ou seja, se as
duas línguas são comparáveis. Para esta comparação podemos utilizar a investigação do
Praga8. Skalička no seu estudo dividiu as línguas em quatro tipos: aglutinante, flexivo,
gramáticas, que são proximas uma à outra; quer dizer que quando uma das qualidades aparece
numa língua, é provável, que o resto das qualidades também fará parte do sistema.“9
Segundo o professor Skalička a língua checa faz parte do sistema das línguas do tipo
flexivo, que são caracterizadas por algumas qualidades, de quais aqui só apresentamos
7
Králová, Lucie: The Use of Diminutives in Czech and Portuguese Translations: Corpus Based Study. (O Uso de
Diminutivos em Traduções Checas e Portuguesas: Estúdio baseado no Corpus)Todo o trabalho está disponível no
server Veřejné složky informačního systému, https://is.muni.cz/
8
Skalička, Vladimír: Vývoj české deklinace, Studie typologická. Jednota českých matematiků a fysiků, Praha,
1941, p. 4-5. (O Desenvolvimento da Declinação Checa, Estudo Typológico.)
9
Trata-se da minha tradução da definição „Typ je pro mě soubor gramatických vlastností, které jsou si navzájem
blízké; t.j. je-li jedna v daném jazyce, očekáváme, že bude i druhá, třetí atd.“
Skalička, Vladimír: Vývoj české deklinace, Studie typologická. Jednota českých matematiků a fysiků, Praha,
1941, p. 4.
7
ex. Falava delas, devagar, traçando a perna...
5. concordância
7. supletivismo
enraivece um lobo.
A lista dos elementos comuns nas duas línguas comprova, que as línguas
(notem principalmente os pontos 1-5). Podemos então concluir que a comparação das duas
sufixos diminutivos dentro da morfologia portuguesa. De acordo com a nova perspectiva dos
8
linguistas sobre a organização de processo de formação de palavras, distinguimos entre o
A. O Processo de Derivação
B. O Processo de Modificação
propriedades gramáticas.
de oposição: desligar
de repetição: repiscar
aumentativos, pejorativos, etc. A primeira função desse tipo dos sufixos é modificar a
9
dimensão e o grau dos semas. Mas como todos esses sufixos transmitem também a avaliação
do falante sobre o sema modificado, designam-se estes sufixos por sufixos avaliativos. A
adição do sufixo não altera a classe de palavra, género, número, e outras categorias
sintácticas, mas sim a sua qualidade: a propriedade semântica 10. Sobre o processo da formação
diminutivos, que mesmo que possui os signos formais dos diminutivos, não pertence ao grupo
dos sufixos avaliativos. Trata-se dos diminutivos formais. Os diminutivos formais são aqueles
que mesmo que preservam o aspecto formal do diminutivo, perderam a qualidade associdada
com o sufixo diminutivo. Para exigir diminuição a estas palavras, é preciso utilizar um
adjectivo adicional, por exemplo pequeno, baixo, insignificante, etc. O sentido do diminutivo
Diminutivo formal: camarote, palavra original câmaro, pelo sufixo –ote a palavra
10
Sofia Melo, Ana Martins: Terminologia Linguística: Notas e Comentários. Porto editora, 2006, p. 23-25.
http://www.carlososorio.net/documentos/tlebs.pdf
10
Existem também palavras, cujo aspecto faz uma impressão de pertencer ao grupo de
diminutivos, mas não existe ligação nenhuma, ou seja que o desenvolvimento morfológico
compartilha muitos aspectos com o uso e o processo de formação dos diminutivos em checo.
Em ambas as línguas existem duas formas de diminuição: se a diminuição for vehiculada por
meio de sufixo, falamos da diminuição sintética; se por meio de outra palavra, que modifica o
exemplos tomados da tradução checa do Primo Basílio complementados pela versão da frase
11
Rusínová, Z.: Deminutivní modifikace z hlediska pragmalingvistického. In: Karlík, P. – Pleskalová, J.-
Rusínová, Z.: Pocta Dušanu Šlosarovi : sborník k 65. narozeninám. Albert, Boskovice 1995, s. 187-193. (A
Modificação Deminutiva Tomado de Ponto de Vista de Pragmalinguístico.)
11
Verb (bábinka cupitala – a_ avozinha_pateava)
Esse fenómeno não parece tanto produtivo na língua portuguesa, pois na parte
realizada 7 vezes, outros tipos de combinações com o diminutivo não foram encontrados.
podem ser sujeitas à formação dos diminutivos tanto em português, como na língua checa. Os
sufixos avaliativos na língua portuguesa são –inho/a, –zinho/a, -ito/a, -zito/a, -acho/a, -culo/a,
-ebre, -eco/a, -ejo/a, -ela/o, -ete, -eto/a, -iço, -im, -isco/a, , -ote, -ucho, -ulo, -únculo, e –usco,
Tinha para isso muitas razões, dizia: dormia num cubículo abafado... (Queiroz, p. 93)
...ali estava horas sentando no poial da janela que dava para um quintalejo...
(Queiroz, p. 84)
...capas românticas que roçam as paredes, sombrias vielas onde luz o nicho santo e se
Esta escrivã não é má rapariga; só tem o defeito de se tomar da pingoleta; depois não
12
Bem sabem eles que o interesse do leitor se gela a passo igual que o herói se encolhe
nas proporções destes heroizinhos do botequim, de quem o leitor dinheiroso foge por
Desde rapariga a sua ambição fora ter um negóciozito, uma tabacaria, uma loja de
Quando for a Honra e Paixão cá mando um camarote à prima Luísa. (Queiroz, p. 57)
primeiro grau é formado pela adição dos sufixos -ek, -ík, -ka, ko, -átko. Para intensificar o
diminutivo é possível formar o segundo grau diminutivo pela adição dos sufixos -eček, -ečka,
-íček, -ička, para nomear os mais frequentes. Os sufixos diminutivos modificam as palavras
género do sufixo está de acordo com o género do radical, contudo há excepções, por exemplo
květ (m) → kvítko (n).12 A palavra original frequentemente tem que ser submetida à alteração
Do ponto de vista de aspecto verbal, ou seja, da categoria que diz em que ponto se
encontra a acção denominada pelo verbo, podemos distinguir quatro tipos de verbos: verbo
indicam uma acção de pouca intensidade e terminam em sufixos –icar, –ilhar, –inhar, –iscar e
12
Karlík, Nekula, Rusínová: Příruční mluvnice češtiny. Nakladatelství Lidové noviny, 1995, p. 125-128.
13
Hlibowicka-Węglarz,Barbara: Recursos Morfológicos de Integração Aspectual na Língua Portuguesa.
http://publib.upol.cz/~obd/fulltext/Romanica7/Romanica7-15.pdf
13
Raramente a diminuição dos verbos é em português utilizada para exprimir a ideia de
repetição, ou acção repetitiva, uma „marcha de tempo que desliza suave e incessantemente“14.
Quero estarzinho com ela.- Quero passar o resto da minha vida com ela.15
Esse exemplo foi apresentado num server brasileiro embora não seja muito frequente nem em
Contudo o que existe na língua portuguesa europeia são verbos criados dos
diminutivos de substantivos, como por exemplo gatinhar (Queiroz, p. 54), andar com as mãos
pelo chão, palavra que é obviamente formada do diminutivo gata → gatinha, sendo que a
mesma acção pode ser descrita com verbo andar de gatas. Suponho que essa forma
desenvolveu porque geralmente a acção descrita seja performida por crianças e a língua
uso de diminutivos seja mais produtivo com substantivos e adjectivos checos, também aqui
existem casos em que os verbos podem ser classificados como verbos diminutivos. Trata-se
dos verbos terminados em –olit (šveholit, drmolit, mrholit – murmurar, engrolar, choviscar),
que adicionam uma qualidade expressiva à acção denominada. Um certo grupo de verbos,
verbos de tipo volat, podem formar diminutivos pela adição do sufixo –k– aos verbos da
origem onomatopeica (hopkat, cupkat – saltitar, patear). Outros sufixos verbais que
adicionam uma noção diminutiva ao verbo são –itat (špitat, cupitat – cochichar, patear), –etat
(štěbetat, třepetat – gorjear, adejar), -otat (třepotat - tremular), –ink– (spinkat, hajinkat –
14
Lapa, M. Rodrigues: Estilística da Língua Portuguesa. Seara Nova, Lisboa, 1945, p. 112.
15
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u2527.shtml
16
Karlík, Nekula, Rusínová: Příruční mluvnice češtiny. Nakladatelství Lidové noviny, 1995, p. 195-6. (O Manual
da Gramática Checa)
14
2.4.4. Diminutivos avaliativos e z-avaliativos
Às vezes a palavra resultante tem que ser submetida a alguma modificação, como por
rapariga→ rapariguita
pobre→ pobrezita
Antigamente a consoante [z] era chamada um elemento de ligação (veja ex. Estilística
da Língua Portuguesa, nota 1), contudo, presentemente novas avaliações deste fenómeno tem
aparecido. Segundo as novas opiniões não se trata de duas diferentes realizações do mesmo
sufixo –inho, –ito mas sim de dois pares de sufixos diferentes: –inho e –zinho, –ito e –zito. Os
sufixos diferentes tomaram nomes sufixos avaliativos e sufixos z-avaliativos, e a razão para a
sua distinção é que os radicais a que os sufixos se associam, exibem diferentes propriedades.
A professora Maria Helena Mira Mateus no seu artigo Ensino da Língua e Desenvolvimento
avaliativos:
Os sufixos avaliativos são preferidos por bases com menor número de sílabas:
número das sílabas seja baixo, podemos empregar a outra „preferência“ da professora Mateus.
17
Mateus, Maria Helena Mira: Ensino da Língua e Desenvolvimento Educativo. Revista Perspectiva, Vol. 20, n.
01, 2002, Santa Catarina, Florianópolis: 15-25.
http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2002-mhmateus-ensino_da_lingua.pdf
15
Segundo ela é mais adequado empregar o diminutivo avaliativo com as palavras do uso
quotidiano, enquanto palavras cuja natureza impede a frequente formação dos diminutivos, é
Outra „preferência“ para o emprego das duas formas de sufixos diminutivos é, que os
A utilização da palavra preferência em vez de regra tem a sua razão no facto de que
todas das preferências em cima descritas permitem muitas excepções. É por isso que
livrinho x livrozinho
cadeirinha x cadeirazinha
percursozinho x percursinho
rendimentozinho x rendimentinho
A escolha dos diminutivos avaliativos e z-avaliativos parece portanto ser dirigida pela
A análise dos dois textos, Amor de Perdição e O primo Basílio revelou, que os sufixos
diminutivos mais produtivos em português são os sufixos –inho, –zinho, –ito, e –zito o que
16
O PRIMO BASÍLIO
classe das palavras sufixo diminutivos diminutivos formais
-inho 54 3
-zinho 18
-ito 5
-zito 3
-ucho 1
-acho 1
-ino 1 1
substantivos -ejo 1
-ete 3 3
-ulo 4
-olo 2
-ote 1
-al 2
-ela 1
-ila 1
-inho 10
adjectivos
-ino 2
advérbios -inho 2
AMOR DE PERDIÇÃO
classe das palavras sufixo diminutivos diminutivos formais
-inho 22 2
-zinho 6
-ete 2
substantivos -eta 1
-ulo 1
-im 1
-ote 1
-inho 2
adjectivos
-zita 1
advérbios -inho 4
Todos os diminutivos encontrados nos dois textos só foram incluídos na tabela uma
18
vez , para que a inclusão de todas as repetições não deformar os resultados finais. Isso
aconteceria por exemplo no Primo Basílio no momento em que o autor observa a Luísa a
preparar-se para sair de casa e passa algum tempo em descrição do seu vestido. De acordo
com a moda contemporânea, a Luísa está a vestir um corpete, palavra que encontramos cinco
vezes em apenas três páginas. Como a palavra está também incluída na tabela, na coluna de
‘diminutivos formais’ com o sufixo –ete19, a sua repetição aumentaria o número desse tipo de
18
Ou seja, quando encontrei quatro vezes o diminutivo casinha, decidi-me só o contar como um diminutivo, em
vez de quatro.
19
Mais sobre os diminutivos formais no capítulo 2.3. dedicado mesmo a este tipo de diminutivos
17
diminutivos mais do que duas vezes e o sufixo parecia mais produtivo do que é na realidade.
Assim também atinjo um resultado mais preciso no caso de adjectivos diminutivos com o
sufixo –ino: a palavra pequenino aparece no Primo Baslílio cinco vezes e se fosse incluída
tantas vezes na tabela, a relação entre adjectivos –inho : -ino mudava de 9:1 para 11: 8.
Mesmo que tratou de textos escritos há quase duzentos anos, a pesquisa conseguiu
que entre as 550.000 palavras no corpus do português europeu foram registadas em totalidade
aos diminutivos -inho, que foram representados por 707 palavras diferentes. Aqui as duas
examinados. A relação entre os diferentes diminutivos –inho: -ito na sua pesquisa é 707: 38, o
resultado que afirma a relação 100 : 8 encontrada na análise em cima descrita. A preferência
pelo diminuitivo –inho (-zinho) confirmou o tradutor português António Manuel Bomgardt
Pedroso a pergunta no server Ciberdúvidas na Língua Portuguesa 20 sobre o emprego dos dois
sufixos diminutivos: Não existe nenhuma regra enquanto a sua preferência, mas como –ito
20
Ciberdúvidas na Língua Portuguesa
http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=19861
18
3. O uso dos diminutivos na língua portuguesa e checa
Como já foi dito no capítulo 2.2, os sufixos diminutivos pertencem ao grupo dos
com a quantidade (tamanho no caso dos substantivos, e grau, quando se trata dos adjectivos e
Contexto - descrição dum objecto pequeno exige uso abundante dos diminutivos.
Colocação dos diminutivos causada pela estrutura estilística, contraste entre dois
objectos, pessoas, situações etc. pode ser desenhada por meio de presença ou ausência
de diminutivos:
Como manifesta já o nome diminutivo (do verbo diminuir = tornar menor, reduzir21),
21
Dicionário da Língua Portuguesa. Porto editora, 2004.
19
tamanho, mas sim a ideia de algo mais delicado, suave, afectivo. A ligação entre essas duas
funções mais importantes do sufixo diminutivo é óbvia: objectos pequenos inspiram mais
ternura do que coisas grandes e por isso torna-se aceitável exprimir sentimentos amorosos
pelo uso de sufixo que originalmente tinha denotado pequenez. Conhecendo a outra função do
diminutivo não é de surpreender encontrar colocações como beicinhos cheios (contraste entre
o diminutivo e o atributo cheio que denomina grandeza dos beiços), que são só depois de
poucas páginas chamados beiços gordinhos (Queiroz, p. 22) (outro contraste, neste caso
encontrado numa palavra só: gordo = grande, rico + -inho), ou maneira de que o Jorge no
Primo Basílio chama a sua esposa Luísa, viborazinha (víbora = pessoa de muito má índole +
dim. -inha).
aconteceu em português ocorreu também na língua checa. Como pode ser observado nas
O uso dos diminutivos é aceitável mesmo que se trate de objectos grandes, contanto
que algum sentimento positivo está presente. Isso brilhantemente exprime Camilo Castelo
A Mariana, menina perdidamente apaixonada pelo Simão diz, que lhe vai ‘buscar o
caldinho’ e aparece com ‘o „caldinho“ - diminutivo que a retórica duma linguagem meiga
sanciona; mas contra o qual protestava a larga e funda malga branca, ao lado da travessa
Para exprimir o seu amor, ternura e cuidado a Mariana utiliza o diminutivo caldinho
quando fala do caldo que tinha feito para o seu herói, que está a convalescer duma ferida.
20
Neste caso o sufixo diminutivo nem sequer caracteriza a palavra modificada, mas sim os
Para ainda mais evidenciar a transferência do sentido dos diminutivos basta tomar em
conta o facto que às vezes as palavras que adquirem a forma do diminutivo são nomes de
Mesmo assim, os semas que são mais frequentemente sujeitos à diminuição são os semas sem
humanidade, e concretos. A diminuição das palavras abstractas é mais rara mas há exemplos,
como pontinha de febre, arzinho, saúdinha. A excepção nas palavras abstractas são nomes de
tempo, onde o diminutivo é posto a fim de banalizar a duração verdadeira (há bocadinho,
num instantinho).
modificação pragmática empenhada pela adição do sufixo diminutivo pode variar desde o
essa razão que percebemos a diferença entre os dois apelidos da Luísa: piorinha e
com ela depois de uma pequena disputa (-Viborazinha!- murmurou, fitando-a muito
meigamente.), o outro, a piorinha, é como a chama a sua criada, a antipática Juliana, quem
detesta a Luísa. A diferença entre os dois apelidos por tanto não é dada pelo carácter do
diminutivo (pois os dois apelidos poderiam facilmente ser trocados), mas sim pela situação e
21
Esse exemplo evidencia claramente que o sentido dos diminutivos é de grande parte
determinado pelo contexto em que se encontra. Agora podemos inverter essa afirmação e
dizer que o uso dos diminutivos é da grande parte determinado pela situação, ou contexto. A
situação que muitas vezes provoca o uso do diminutivo na língua artística é a descrição da
se její oblé paže, poněkud narudlé na loktu, při splétání copů zvedly,
hnízdečko.“
diminutivos. Esse pode ser facilmente explicado se tomamos em consideração do que está a
falar o autor. Estamos a ser apresentados a um casal novo, recentemente casado e apaixonado,
com a mulher, Luísa, extremamente graciosa, amada não só pelo marido dela, o Jorge, mas
também por toda a gente. Nas descrições da Luísa, Luìsinha, mesmo que se trata da narração
na terceira pessoa, parece que é o marido próprio quem está a falar pelo autor, tão vivas e
ternas são as descrições: „era asseada, alegre como um passarinho, como um passarinho
amiga do ninho e das caricias do macho; e aquele serzinho louro e meigo veio dar à sua
22
Também a tradução checa utiliza diminutivos para exprimir o amor do marido pela sua
esposa: „byla čistotná a veselá jako ptáček a také jako ptáček měla ráda hnízdečko a mazlení
svého druha. Ta plavá něžná bytůstka ovanula jeho dům opravdovým kouzlem.“ „Je to
Outras intenções comunicativas que suportam o uso do diminutivo podem ser por
exemplo pedido, desculpa, escusa, escapatória, etc. Ao utilizar um diminutivo num dos casos
referidos, o falante diminui o efeito da exigência ao destinatário. Por isso é preferível utilizar
um momentinho em vez de um momento ao pedir alguém para esperar por nós. Obviamente a
somente nos casos em que o referente não é de diminuir. Assim precebemos que o que é
intencionado pelo apelo „Vai tomar ar, trabalha um poucochinho para espaireceres.“
(Branco, p. 146) na verdade não é trabalhar pouco, mas pelo contrário trabalhar muito. É o
contexto e a nossa experiência pessoal que nós aconselha que só quando o corpo é bastante
adquirem certo valor eufemístico. Alguns exemplos lindíssimos encontramos nos dois textos
em ligação com álcool, um vício a quem toda a gente dá, mas ninguém o confessa; e se o
confessa, faz o possível para minorar o volume do uso. Por tanto encontramos os exemplos
...que vinha... pedir à prelada um copinho de certo vinho estomacal com que todas as
noites era brindada (Branco, p. 70)_ která přišla požádat matku představenou o skleničku
Só tem o defeito de se tomar da pingoleta (Branco, p. 71)_ má jen jednu vadu: ráda si
kapičku přihne
23
...dou-te como penitência beberes um copinho... (Branco, p. 73) za trest ale budeš
possibilidade de empregar diminutivos para exprimir a idéia de beber álcool. É por isso que a
diminutivos da mesma palavra sklenička/ sklenka colocam com víno (sklenička / sklenka
vína_um copinho de vinho). Esse facto foi confirmado pela pesquisa no corpus mais
vody vína
sklenice 16 500 2 740
sklenka 585 10 800
sklenička 362 1 340
situação, em oposição ao objecto referido, é quando tratamos das crianças, pessoas queridas,
etc. Por tanto, ao ouvir uma mãezinha oferecer um bifinho ou sopinha à sua criança, sabemos
que esse não significa que o bife seja pequenino, mas sim que a criança é muito querida à sua
mãe24. Esse tipo dos diminutivos serve como um moderador social, no sentido de molificar, ou
crianças, animais domésticas pelo diminutivo. Mesmo aqui podemos no entanto encontrar
problemas: como é que explicamos os exemplos quando alguns superiores tratam os seus
23
Todas as traduções dos exemplos tirados do Amor de Perdição foram feitos pela autora.
24
Camargo, Thaís Nicoleti de: Resumão/português - Diminutivos e aumentativos.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u2527.shtml
24
subordinados pelos diminutivos? Neste caso a função do diminutivo é directamente oposta à
inferioridade dos destinatários, deve exprimir falta de respeito e funciona até como um insulto
verbal.
alcunha piorinha inventada pela Juliana para a sua ama, a Luísa. Essa alcunha em si combina
o ódio da Juliana pela casa em que serviu, a aversão da sua inferioridade, mas também o facto
de se sentir como a dona da casa, quem sabe de tudo o que se passa na casa, e quem pode
fazer a vida dos seus amos mais desagradável. Encontramos outro exemplo do mesmo
emprego do diminutivo na apresentação dum amigo da casa do casal novo, o Ernestinho. Ele
„vivia com uma actrizita do Ginásio, uma magra, cor de melão, com o cabelo muito riçado, o
exemplos mostraram que essa qualidade é mutio variável e dependente do contexto. Contudo,
uma situação ainda mais curiosa ocorre quando adicionamos um sufixo diminutivo a um
adjectivo. Tomemos mais uma vez em consideração a origem do nome diminutivo: é o verbo
diminuir, tornar menor, reduzir. Isso sabendo parece ainda mais estranha a outra função do
sufixo diminutivo, que é a intensificação, em vez da redução da qualidade. Mas mesmo aqui
exige exagero das qualidades do objecto amado, não parece estranho que o mesmo sufixo que
no início costumou ser utilizado para dar a entender afeição, passa a ser utilizado para
25
ou artística onde o exagero e intensificação é natural e mais aceitável, do que na língua
escrita. É por tanto que encontramos os diminutivos neste sentido principalmente na língua
falada (ou discurso directo nas obras da literatura), como no seguinte exemplo do Primo
Basílio:
A tradução checa tem que aproveitar das duas formas de diminuição, sintética e
analítica. A razão é que para exprimir o facto de ser aborrecido, o checo tem que utilizar o
verbo nudit se. A forma diminutiva do verbo, mesmo que poderia ter sido inventada (a língua
infantil certamente aceitava verbo nudinkat), não foi utilizada, pois o emprego dela já era
demasiado expressivo.
Em todo o livro o tradutor tenta manter a proporção dos diminutivos nas duas línguas
e assim obedecer o texto original. Neste caso no entanto preferiu traduzir pelo diminutivo o
Je to takový čisťoučký stařeček, již úplně šedivý, oblečený v bílém, velice přívětivý.
Esse era um exemplo do adjectivo diminutivo no discurso directo, mas isso não
significa que os adjectivos diminutivos não sejam aceitáveis na língua escrita. Ao contrário, os
escritores também aproveitam a força dos diminutivos adjectivos nas suas obras artísticas
mas, segundo a pesquisa das duas obras literárias analisadas, o seu uso parece ser mais
tirados do Primo Basílio, com as suas traduções checas. Enquanto todos os exemplos
26
portugueses constam de um adjectivo diminutivo e um substantivo, as traduções checas
A tabela mostrou que a língua checa prefere traduzir os adjectivos diminutivos pela
diminuição dos substantivos que modificam (ex. Knírek), pela diminuição analítica (ex. Malá
hlava), ou pela combinação das duas maneiras (ex. Drobná nožka). Combina-se raramente a
Da característica dos diminutivos podemos inferir que o uso deles é, além de outros
factores, determinado pelo grau de formalidade do discurso. Quanto mais formal seja o
discurso, tanto mais será caracterizado pela sua relativa descontextualidade, quer dizer que o
discurso formal não admite mais interpretações e por tanto exige maior grau de exactidão dos
a distinção entre a oralidade e a língua escrita, mas como ambas as modalidades da língua
26
José Manuel Fernandes: Livro do Estilo. http://www.publico.clix.pt/nos/livro_estilo/13-rigor-e.html
27
podem ser encontradas num texto escrito em prosa, bem como podem ser encontradas
diminutivo pode variar de um extremo ao outro (do amor até a depreciação). Isso os torna
inaplicável aos textos com grande grau da formalidade, mas, pelo contrário, faz o seu uso
popular no estilo funcional artístico assim como na língua falada. Encontramos então
diminutivos nos textos, cuja função não é só informar, mas exprimir emoções, experiências
subjectivas, talvez divertir, sendo a interpretação do sentido dos diminutivos dependente não
ou exprimir alguma relação entre os dois participantes do discurso. Estes recursos estilísticos
são muito parecidos nas duas línguas comparadas, ou seja: checo e português:
substituído por „Ora muito boas-noites.“ (Queiroz, p. 50), em checo „Dobrý večer
(Queiroz, p. 263). Mesmo que o tradutor checo tivesse à disponibilidade alguns diminutivos
„Eu soube que tu partias, primo Jorge... Como está, prima Luísa?“ (Queiroz, p. 43)
27
Botelho, José Mario: Entre a Oralidade e Escrita: Um Contínuo Tipológico.
http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno07-05.html
28
„Dozvěděl jsem se, že odjíždíš, bratranče Jorgi… Jak se daří, sestřenice Luíso?“ (Queiroz, p.
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posições sociais, diferenças etárias entre os falantes, como ilustra a tradução da frase
seguinte, onde a amiga da casa, Dona Felicidade fala com a Luísa. A sua idade
diminutivo:
diferentes, como prova a tradução checa, onde essa forma de tratamento costuma ser
trata de algum serviço, gastronomia, etc. Este uso parece não ser tão popular na língua
Luísa ao oferecer bolos: „Desses bolinhos de ovos. São muito frescos.“ (Queiroz, p. 48)
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No capítulo 3 nomeamos alguns casos em que o uso dos diminutivos é aceitável e
Melhoração e com isso ligado uso dos diminutivos nas descrições das mulheres, como
por exemplo Bonito rabinho; dançar com a magrinha; a mais beIa coninha do
mundo, etc.
mas não...
Anões:
A rápida análise do texto revela que o uso dos diminutivos não tem mudado muito e
28
O Último Mergulho, dir. Jõao César Monteiro, Madragoa Filmes, 1992.
30
3. Conclusão
da formação, que ocorre em ambas as línguas pela sufixação (diminuição sintética), ou pela
grande importância dos sufixos diminutivos na língua portuguesa pelo facto de os portugueses
dificilmente ser aplicada à nação checa, onde a importância dos diminutivos é também
bastante elevada. Esse facto explicamos no trabalho pela vasta lista das propriedades
semânticas que o sufixo diminutivo adiciona ao sema. Para enclarecer a popularidade do uso
dos diminutivos no checo oferece-se então a sua capacidade de exprimir ironia, ou sarcasmo.
popular no estilo funcional artístico assim como na língua falada. Devido ao facto que a
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Bibliografia
A) Textos analisados
Queiroz, Eça de: O Primo Basílio (episódio doméstico). Lello & Irmão, Porto.
Queiróz, José Maria Eça de: Bratranec Basílio, rodinná epizoda. Odeon, Praha, 1989.
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105.
Estúdio baseado no Corpus). Todo o trabalho está disponível no server Veřejné složky
Estudo Typológico.)
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Vista de Pragmalinguístico.)
32
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http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2002-mhmateus-ensino_da_lingua.pdf
http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=19861
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http://www.publico.clix.pt/nos/livro_estilo/13-rigor-e.html
http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno07-05.html
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