Meier, John P. Um Judeu Marginal
Meier, John P. Um Judeu Marginal
Meier, John P. Um Judeu Marginal
Julio Fontana
MEIER, John P.. Um Judeu Marginal: repensando o Jesus Histrico, Vol 3, Livro 1, companheiros , trad. Laura Rumchinsky. Rio de Janeiro: Imago Editora, 2003, 304 pp.
John Paul Meier[1] com seu estilo claro e cuidadoso, aborda a questo do Jesus Histrico de forma atual e equilibrada. No comete os excessos de outros pesquisadores atuais. Os resultados obtidos pela pesquisa moderna so vistos sob a ptica dos Evangelhos, principal fonte, para Meier, da busca do Jesus Histrico. O volume trs dessa grandiosa obra trata da relao de Jesus com os diversos grupos sociais contemporneos a ele. Destaca o autor a importncia dessa investigao em face de que "nenhum ser humano adequadamente compreendido se for considerado isoladamente de outros seres humanos. Um ser humano s se torna totalmente humano se mantiver relacionamentos dinmicos de amizade e amor, inimizade e dio, controle, subordinao e colaborao com outros homens" (p. 12).
Como faz sempre, Meier utiliza no decorrer da pesquisa o que ele denomina de "regras do caminho". Sua metodologia consiste em cinco critrios: o critrio do constrangimento, o critrio da descontinuidade, o critrio da mltipla confirmao, o critrio da coerncia e finalizando o critrio da rejeio e da execuo de Jesus (p. 19-23).
John Paul Meier no primeiro livro do volume trs de sua obra apresenta um quadro analtico dos companheiros de Jesus. Meier divide os companheiros de Jesus em trs crculos concntricos, onde no crculo exterior ficavam as multides, no crculo intermedirio temos os discpulos e os mais prximos do centro (Jesus) so o crculo ntimo dos Doze. O mais interessante no resultado do estudo de Meier que a partir dele comeamos a observar o quanto importante no ministrio de Jesus o fato de ele ter seguidores. Uma das constataes do nosso autor indica que " admissvel que ele (Jesus) a princpio tenha atrado vrias multides eventuais, das quais comeou a aliciar discpulos mais estveis, dentre os quais, por sua vez, afinal selecionou um grupo razoavelmente permanente de doze seguidores" (p. 33 parntese nosso). Essa uma concluso contrria quela relatada pelos Evangelhos de Marcos e Joo.
Meier analisa a influncia e a importncia das multides para o ministrio pblico de Jesus. Primeiro ele mostra que historicamente existiu uma multido que eventualmente se aglomerava ao redor de Jesus para serem curadas, para ouvir seus discursos, ou at mesmo para obterem alimento. Observa ele que as massas representavam, para as autoridades do templo, o sucesso do ministrio de Jesus e por isso sentiam-se ameaados. Diz Meier que Jesus e "seu ministrio de pregao e curas atraiu grandes multides; essa capacidade de atrair multides parece ter perdurado at seus ltimos dias; paradoxalmente, provvel que seu sucesso tenha contribudo para sua priso e execuo pelas autoridades apreensivas" (p. 42 e 43).
O crculo intermedirio era composto dos dicpulos de Jesus. Como faz sempre o autor inicia mostrando a historicidade do grupo. Um resultado interessante da pesquisa realizada por Meier que o discipulado algo original de Jesus. No havia no mundo contemporneo nada parecido com os discpulos de Jesus. Outra observao curiosa que o autor faz a peculiaridade do chamado ao discipulado. Ele relata que "o chamado peremptrio de Jesus para que o seguissem ficava aberto no apenas geogrfica, mas tambm temporalmente. No estabelecia nenhum limite de tempo obrigao de segui-lo. No havia um programa de estudos que, uma vez completado, liberasse um discpulo do constante acompanhamento a Jesus. Tornar-se um de seus discpulos no era um compromisso temporrio, aps o qual a pessoa podia esperar ser promovida igualdade com Jesus" (p. 69). Meier mostra toda a singularidade do discipulado analisando as passagens referentes ao custo do discipulado. Ele extrai toda a essncia dessas passagens e as contextualiza apontando o impacto que elas devem ter causado nos discpulos. O Professor John Paul Meier ensina que "os custos imediatos de seguir Jesus fisicamente eram bvios: deixar casa, famlia e trabalho. Mas, acima e alm disso, Jesus aparentemente advertia seus discpulos que hostilidade e perigos poderia estar reservados a eles no futuro, assim como a ele prprio" (p. 70). Finalizando o captulo central do livro, Meier, mostra o papel das mulheres no ministrio de Jesus. Ele relata que "algumas seguidoras devotadas acompanhavam Jesus em suas viagens pela Galilia e por fim o acompanharam at Jerusalm, e na verdade sustentavam-no e a seu grupo com seu prprio dinheiro, patrimnio ou alimentos" (p. 93).
No penltimo captulo do livro, o autor examina o grupo dos Doze. Comprova a existncia histrica do grupo e diferencia os termos "apstolo", "discpulo" e "Doze" quanto ao significado. O resultado principal derivado do estudo de Meier quanto ao grupo dos Doze referente sua natureza. O autor diz que ao vincular os Doze to intimamente sua pessoa e
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misso, Jesus de fato fez desse grupo o exemplo vivo do que significava ser um discpulo. As trs condies para o discipulado (receber um chamado peremptrio de Jesus, segui-lo fisicamente e, desse modo, renunciar aos laos familiares normais e expor-se ao sofrimento) foram muito bem ilustradas por esse crculo ntimo de discpulos que Jesus escolheu para estar "com ele" enquanto empreendia suas diversas jornadas de pregao pela Palestina (p. 161 e 162). Outra inteno bsica de Jesus ao criar os Doze parece ter tido um alcance mais amplo do que simplesmente proporcionar um exemplo permanente de discipulado, observa Meier. Sua inteno, ao que parece, correspondia ao cerne de sua proclamao a Israel: o advento do reino de Deus, que haveria de estabelecer seu domnio definitivo sobre um Israel restaurado (p. 162).
Finalizando o livro, Meier, aponta as caractersticas e peculiaridades de cada membro do grupo dos Doze, entretanto reconhece a restrio da pesquisa em face das poucas fontes existentes. Ele declara que "cada um dos membros dos Doze viveu no sculo I, cada um passou pelas fases normais de infncia e idade adulta, cada um teve um encontro com Jesus que mudou sua vida e fez com que se tornasse primeiro um discpulo e depois um dos Doze, cada um viveu os efeitos da crucificao de Jesus e, aps, a crena em sua ressurreio, cada um foi uma figura importante na igreja de Jerusalm no incio da dcada de 30, cada um, em suma, teve uma vida memorvel que seria fascinante conhecer hoje... Com execesso de muito pouco, as vidas dos Doze, por mais cheias e excitantes que possam ter sido no sculo I, se perderam para sempre para o nosso conhecimento" (p. 209 e 210). Portanto, esse captulo fica mais restrito a descrio da vida de Joo e Pedro.
John Paul Meier, esse padre catlico que professor da cadeira de Novo Testamento na Universidade de Notre Dame em Indiana, por meio de uma pesquisa profunda e consciente examina todas as relaes positivas as quais Jesus manteve durante o seu ministrio. Meier coloca Jesus no seu contexto social e cultural, ou seja, no judasmo. Em suma, crtica histrica em seu mais alto nvel.
[1] John P. Meier ex-professor de Novo Testamento no Departamento de Estudos Bblicos da Universidade Catlica da Amrica do Norte, onde comeou alecionar em 1984. Atualmente professor da cadeira de Novo Testamento na Universidade de Notre Dame em Indiana. dententor de um doutorado em Escrituras Sagradas (1976) no Instituto Bblico, em Roma, onde concluiu a ps-graduao com louvor mximo e recebeu a medalha papal de ouro. Ele havia recebido as mesmas homenagens em 1968, quando concluiu o programa de teologia da Universidade Gregoriana. Ele expresidente da Catholical Biblical Association (1990-91), autor de numerosos livros e amplamente publicado numa srie de revistas e obras de pesquisa. Foi o editor do Catholical Biblical Quarterly. Se desejar adquirir o livro clique na figura ao lado e estar ajudando a manter ete site.
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