Módulo II - Seminário V
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Turma Sábado
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QUESTÕES
2. Defina “renda”, “rendimento” e “ganho”. Qual a relação/diferença entre eles? Que são
“proventos de qualquer natureza”? Com fulcro nessas definições, identifique a base de
cálculo do IRPF e posicione-se, de forma fundamentada: tal como definida na legislação
infraconstitucional, a base de cálculo do imposto representa, efetivamente, a “renda”?
Confronte a afirmação doutrinária de que o “fato gerador” do imposto sobre a renda é
“complexivo” com a(s) Regra(s)-Matriz(es) do IRPF e responda:
Resposta: De acordo com o artigo 43 do Código Tributário Nacional, pode-se entender por
renda “o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos”, ou seja, renda é o
acréscimo patrimonial do contribuinte, inclusive, conforme o entendimento de Hugo de Brito
Machado1. Por outro lado, no que tange ao conceito de rendimento, pode-se dizer que é o valor
adicionado aos valores recebidos pelo contribuinte de determinada fonte pagadora. Em outras
palavras, considera-se rendimento aumento dos referidos valores. Por fim, ganho de capital,
por sua vez, são os resultados obtidos pelo contribuinte na realização de certa operação
financeira.
Noutro ponto, em relação aos proventos de qualquer natureza, entende-os como uma
peculiaridade do rendimento, conforme sabiamente explica Misabel Derzi. Veja-se:
1
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 40ª Edição, 2019.
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Nos termos do artigo 44 do CTN a base de cálculo do imposto é o montante real, arbitrado ou
presumido da renda ou dos proventos tributáveis. Entende-se que a base de cálculo do imposto
deve configurar efetivamente um acréscimo para a pessoa física e lucro para a pessoa jurídica.
Contudo, para que a base de cálculo deste imposto fosse considerada efetivamente a renda do
contribuinte, seria necessário que renda líquida tributada fosse o resultado total das rendas,
rendimentos, ganhos e/ou proventos percebidos menos as deduções e custos necessários à
produção dos rendimentos e à manutenção da fonte pagadora e da sua família, respeitando o
mínimo vital. Entretanto, a base de cálculo real do imposto considera como renda líquida o total
das rendas, rendimentos e/ou proventos menos as deduções admitidas expressamente em lei2.
No que tange ao fato gerador do Imposto de Renda, este pode ser considerado como complexivo
ou instantâneo, nos termos da doutrina de Amílcar de Araújo Falcão3, sendo bastante criticado
pelo doutrinador Paulo de Carvalho4, no sentido de que “se o chamado fato gerador complexivo
aflora no mundo jurídico, propagando seus efeitos apenas em determinado instante, é força
convir que, anteriormente àquele momento, não há que falar-se em obrigação tributária”.
(a) como compatibilizar a ideia do “fato gerador complexivo” do imposto sobre a renda
com o critério temporal da(s) sua(s) RMIT? e com a(s) base(s) de cálculo?
Resposta: De acordo com Mary Elbe Queiroz5 “o fato gerador dos tributos é
composto por um conjunto de vários elementos expressamente descritos em abstrato nas
normas. Entretanto, só quando estiverem presentes todos esses elementos, imprescindíveis e
suficientes para caracterizarem a ocorrência do fato gerador, é que se poderá dar o mesmo
por realizado e apto a produzir os efeitos que lhe são intrínsecos”. Dessa forma, entende-se
que, apenas ao fim do lapso temporal periódico e anual positivado em lei, pode-se caracterizar
a existência do fato gerador, esta somente analisada quando já estejam presentes no mundo
factual todos os elementos que compõe a hipótese abstrata. O mesmo em relação à sua base de
cálculo, quando se puder confrontar todas as receitas e despesas.6
2
QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Pág. 145.
3
FALCÃO, Amílcar de Araújo. Fato Gerador da obrigação tributária. Rio de Janeiro: Forense, 1944. Pág. 71-72.
4
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2000, Pág. 178 e, desse
mesmo autor, Teoria da Norma Tributária, 3ª ed. São Paulo: Max Limonad, 1998. Pág. 137-138.
5
QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Pág. 111.
6
QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Pág. 112.
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(b) em que instante deve ser apurado o imposto sobre a renda das pessoas físicas? Como
definir o termo inicial para a contagem do prazo decadencial para o IRPF, considerando
(i) o imposto anual; (ii) a antecipação na fonte; (iii) o imposto exclusivo na fonte; (iv) o
imposto sobre ganho de capital na alienação de bens e direitos.
Resposta: Primeiramente, ainda nos ditames de Mary Elbe Queiroz7, “somente no término de
cada período e na data determina da lei, é que se terá condição de apurar se houve a
incidência, ou não, da imposição tributária e se nasceu, ou não, a respectiva obrigação”.
No que tange ao prazo decadencial dos impostos (artigo 150, §4º e 173, I, do CTN), tem-se que
a sua forma contábil depende da forma de lançamento tributária. Para os casos de impostos com
lançamento por declaração aplica-se o disposto do artigo 173, I do Código Tributário Nacional,
in verbis:
Por outro lado, no que diz respeito aos tributos sujeitos ao lançamento por homologação, aplica-
se o disposto no artigo 150 do CTN. Veja-se
Nesse sentido, o prazo decadencial para que a Fazenda Pública exerça seu direito de revisar ou
constituir crédito da tributação do imposto de renda sobre ganho de capital é de cinco anos,
7
QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Pág. 113.
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caso haja pagamento, ainda que parcial, sendo que o início do prazo é a data da ocorrência do
fato gerador.
Por fim, em relação às verbas indenizatórias, deve-se se ter em mente, em primeiro momento,
que o salário e as remunerações em geral têm como pressuposto o caráter contraprestativo, isto
é, remuneração pelo trabalho que acresce o patrimônio do trabalhador, sendo, por isso, base de
cálculo para incidência do Imposto de Renda.
Por outro lado, as verbas indenizatórias são parcelas que visam tão somente indenizar o
empregado ou trabalhador por algum dano sofrido, configurando-se mera recomposição
patrimonial e não havendo, portanto, nessa hipótese, percepção de renda ou acréscimo
patrimonial. E exatamente por não constituírem retribuição do trabalho, mas simples
indenização pelo dano sofrido é que não devem se sujeitar à incidência de contribuição
previdenciária e Imposto de Renda. Nesse sentido segue a jurisprudência:
8
QUEIROZ, Mary Elbe. O Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – Tributação das Pessoas
Físicas. Curso de Especialização em Direito Tributário – Estudos analíticos em homenagem a Paulo de Barros
Carvalho. Coordenação: Prof. Eurico Marcos Diniz de Santi. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
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4. O art. 42 da Lei 9.430/96 criou uma nova hipótese de incidência para o imposto de
renda? Essa hipótese de incidência baseia-se em uma presunção ou em uma ficção? O
direito tributário admite o uso de presunções e de ficções para tanto? (Vide anexo IV).
Resposta: Entende-se, nesse caso, que o artigo 42, da Lei n.º 9.430/1996 não criou uma nova
hipótese de incidência para o Imposto de Renda, mas, tão somente, instituiu uma forma de
apuração de renda auferida pelo contribuinte, uma vez que aqueles valores que ingressaram em
suas contas bancárias representam auferimento de renda.
Ademais, a própria Lei, de modo a evitar a inferência de que a tributação se basearia em uma
mera presunção ou ficção da ocorrência da hipótese de incidência estabelece que, para que
ocorra, o contribuinte será previamente intimado a justificar o ingresso em questão, havendo
de ser respeitado o devido processo legal para tal imposição.
Por fim, ressalta-se que não é estranho ao direito tributário o uso de presunções ou ficções para
delimitação da base de cálculo, como ocorre, por exemplo, no caso de IRPJ sobre o lucro
presumido, entretanto, como esclarecido acima, o uso de tais mecanismos não se caracteriza
como tal.
5. A atual tabela progressiva do imposto sobre a renda da pessoa física prevê alíquotas de
7,5%, 15%, 22,50% e 27,5%. Tal previsão observa o princípio da progressividade? Qual
é o efeito da chamada “parcela a deduzir”? Pode a lei restringir as deduções, da base de
cálculo do IRPF (vide art. 4º da Lei 9.250/95)? Há parâmetros constitucionais ou legais
para a fixação dos abatimentos e deduções possíveis e seus respectivos limites? Quais?
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Nessa toada, conforme preceitua Mary Elbe Queiroz9, “não se justifica o argumento de que,
proporcionalmente, o valor que cada um assume é diferente, pois, apesar de numericamente
maior, o peso proporcional do IR torna-se menor em relação aos que ganham mais”.
Resposta: Existe identidade entre o IR Fonte e o IR Anual, pois compõem um único tributo,
havendo diferença apenas quanto ao regime de apuração e recolhimento. Ademais, a Regra
Matriz de Incidência Tributária é a mesma para os dois impostos.
Todavia, nos casos de Retenção na Fonte, existem duas relações jurídicas, uma entre fisco e
contribuinte, onde este deve o imposto em virtude da renda auferida, e a segunda entre
substituto e fisco, de ordem administrativa, na qual por conveniência foi definido que o
substituto deve recolher o imposto devido pelo contribuinte. Neste sentido entende-se que a
retenção na fonte é um dever instrumental, pois o substituto atua como um órgão arrecadador
não compondo a relação jurídica, consoante explica Heleno Taveira Torres:
“Agente de retenção é o sujeito que fica “no lugar” do contribuinte, pagando o tributo em
nome deste, porque assim dispôs a lei, mesmo sem guardar qualquer relação pessoal ou
material com o fato jurídico tributário. Trata-se de um “intermediário” legalmente
interposto para os fins de arrecadação tributária, suportando uma obrigação tributária
acessória, meramente de natureza formal, relativamente à entrega do dinheiro ao Estado,
como um fazer algo no interesse da arrecadação e da fiscalização.
(...)
Tal substituição consiste apenas em uma singular estrutura de arrecadação do tributo
(relação de dever instrumental), pela substituição do sujeito passivo real (previsto na
legislação relativa ao tributo devido como sendo um contribuinte do mesmo) por um outro
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QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Pág. 372.
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sujeito passivo, apenas para os fins de arrecadação, haja vista sua particular situação em
relação ao fato gerador do tributo.”
Recolhimento –
Retenção – Declaração do rendimento na
Fonte pagadora
Fonte Declaração de Ajuste Anual –
(Pessoa
pagadora DAA, entregue pela pessoa física
Jurídica)
- Caso 1: Não houve irregularidade tanto para a fonte quanto para o contribuinte.
- Caso 2: O contribuinte sofrerá a imposição de multa pela ausência de declaração
(descumprimento de dever instrumental/obrigação acessória).
- Caso 3: A empresa será multada por descumprimento do dever de recolher e juros sobre valor
não repassado. Poderá ainda, sofrer processo por crime contra a ordem tributária.
- Caso 4: Será aplicada multa de mora e multa por descumprimento de dever instrumental à
empresa, além de sujeição desta às penalidades resultantes da prática de crimes contra a ordem
tributária. Ao contribuinte, em razão do descumprimento do dever instrumental de apresentar
declaração, será imposta multa.
- Caso 5: A empresa sofrerá multa em razão do descumprimento do dever de reter.
- Caso 6: Ambos sofrerão a imposição de multa por descumprimento de obrigação acessória.
- Caso 7: À empresa sofrerá multa por descumprimento de dever instrumental. O contribuinte
deverá recolher o tributo devido no ajuste anual.
- Caso 8: A empresa será multada por descumprimento de dever instrumental somado à multa
de mora e pagamento do IR.
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Destarte, percebe-se possível o enquadramento das “Stock Options” como de natureza salarial
ou de investimento. E isso, porque a operacionalização de giro comercial destas “ações”
ocasiona em acréscimo patrimonial para quem compra abaixo do preço de mercado e
posteriormente as vende por um preço mais elevado.
De toda forma, destaca-se que no Brasil, não há legislação específica sobre o tema, o que causa
certa insegurança jurídica. Todavia, existem discussões doutrinárias sobre a questão, cujo
posicionamento majoritário é no sentido de que a natureza jurídica do plano de “Stock Options”
é de contrato mercantil, desvinculado do contrato de trabalho.
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https://www.ibet.com.br/tributacao-de-stock-options/, acesso em 04/10/2019.
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O artigo 7º, incisos I e II, da Lei 7.713/88 prevê que estão sujeitos à retenção na fonte os
rendimentos do trabalho assalariado, pagos ou creditados por pessoas físicas ou jurídicas ou
os demais rendimentos percebidos por pessoas físicas, que não estejam sujeitos à tributação
exclusiva na fonte. Nesse sentido, considerando-se que é defensável a natureza salarial nos
“Stock Options”, entende-se, a princípio, devida a retenção do Imposto de Renda na fonte -
IRRF. Todavia, conforme será melhor abordado adiante, só há acréscimo patrimonial real no
momento em que a ação é vendida. Nesse sentido, considerando-se que seu rendimento não
tem vínculo com a relação laboral, defensável que deve ser pago pelo Imposto de Renda Anual,
não sendo devida, portanto, a retenção na fonte.
Em que pese a base de cálculo, Thiago Taborda Simões11 ensina que, apesar de defensável o
cálculo de imposto de renda a partir da diferença entre o valor pago e o valor de mercado ativo
no momento do exercício, essa hipótese é inviável, uma vez que “enquanto essas ações não
são vendidas, seus valores não devem ser atualizados pelo valor de mercado, cabendo ao
contribuinte apenas repetir o valor pago nas declarações de exercícios posteriores”.
Nos anexos VIII e IV vemos Acórdãos do CARF com o entendimento de que “Stock Options”
tem natureza salarial, remuneratória, base de cálculo de contribuições previdenciárias e que o
Imposto de Renda deve ser retido na fonte. Ocorre que, adotado esse entendimento, o Imposto
de Renda será sempre pago sobre um rendimento presumido e não real. E de acordo com Thiago
Taborda Simões:
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TEXTO STOCK OPTIONS Pág. 135
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