Tev Febrago
Tev Febrago
Tev Febrago
2016 / 2019
Membros
Adilson Ferraz Paschoa
Alysson Zanatta
Ana Thereza Cavalcanti Rocha
Edison Ferreira de Paiva
Eduardo Fonseca Sad
Egle Cristina Couto
Elias Ferreira de Melo Junior
Joaquim Luiz de Castro Moreira
Lucas Yugo Shiguehara Yamakami
Marcos Arêas Marques
Paulo Francisco Ramos Margarido
Venina Isabel Poço Viana Leme de Barros
Tromboembolismo venoso na gestação
Descritores
Trombofilias hereditárias; Tromboembolismo venoso materno; Tromboprofilaxia; Fator V Leiden;
Protrombina G20210A; Deficiência de proteína C; Deficiência de proteína S; Deficiência de antitrombina;
Hiper-homocisteinemia; MTHFR; Terapia anticoagulante; Síndrome antifosfolípide
Como citar?
Oliveira AL, Marques MA, von Ristow A, Paschoa AF. Tromboembolismo venoso na gestação. São Paulo:
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo
FEBRASGO - Obstetrícia, no. 56/ Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo Venoso).
Introdução
O parto, ao longo da história, sempre foi associado ao risco de mor-
te. Com a evolução dos cuidados hospitalares, as intervenções mé-
dicas conseguiram reduzir as taxas de óbitos maternos, e, em países
que controlaram as causas clássicas de morte materna direta, como
infecção puerperal, eclâmpsia e hemorragia, o tromboembolismo
venoso (TEV) desponta como a principal delas.(1,2) A gestação repre-
senta uma barreira ao diagnóstico da complicação aguda mais letal
do TEV, a embolia pulmonar (EP), causada em parte pela limitação
ao uso de métodos de imagem que dependem de radiação(3-5)
1
Hospital Pérola Byington, São Paulo, SP, Brasil.
2
Hospital Universitário Pedro Ernesto, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Hospital Universitário Gafrée e Guinle, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
5
Beneficência Portuguesa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
*Este protocolo foi validado pelos membros da Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo
Venoso e referendado pela Diretoria Executiva como Documento Oficial da FEBRASGO. Protocolo FEBRASGO
de Obstetrícia nº 56, acesse: https://www.febrasgo.org.br/protocolos
Fatores de risco
Estima-se que de 79% a 89% das gestantes que morrem por EP
apresentam ao menos um fator de risco identificável.(21-24) A cesa-
riana é um fator de risco significativo,(11,25,26) porém mulheres sub-
metidas a parto vaginal estão, também, sob risco.(21) O TEV prévio
e a presença de trombofilia previamente diagnosticada são dois
fatores de risco de TEV em gestantes que podem ser identificados
antes da gravidez, durante a anamnese.(19,27,28) Estudos relatam que
as trombofilias hereditárias são observadas em 20% a 50% dos ca-
sos de ocorrência de TEV na gestação.(24,29)Nas gestantes com TEV
prévio, o risco de recorrência é 24,8 vezes maior.(24)
Obesidade
A obesidade é um importante fator de risco para TEV na gesta-
ção,(11,15,30-32) e esse risco cresce à medida que o índice de massa cor-
poral (IMC) aumenta.(33) A obesidade (IMC > 30 kg/m2) é associa-
da ao aumento de 14,9 vezes de risco de EP e TVP.(32) O sobrepeso
Protocolos Febrasgo | Nº56 | 2018
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Oliveira AL, Marques MA, von Ristow A, Paschoa AF
Idade
Dados extraídos de estudos do tipo caso-controle sugerem aumento
de risco de duas vezes para mulheres com mais de 35 anos.(14,15,19) Em
estudo conduzido no RU,no qual se utilizou uma coorte ampla de mu-
lheres fora da gestação, aquelas com idade entre 35 e 44 anos apresen-
taram risco 50% maior de TEV quando comparadas àquelas entre 25
e 34 anos. A ocorrência de TEV não aumentou com a idade no período
anteparto, contudo mulheres em fase puerperal, entre 35 e 44 anos,
apresentaram risco 70% superior quando comparadas àquelas entre
25 e 34 anos (o que corresponde ao aumento de risco absoluto de 1,6
por 1.000 pessoas/anos).(17) Um estudo coreano similar observou-se
que o aumento da faixa etária não se correlacionou ao aumento do
risco de TEV.(25)De modo geral, considerou-se a idade de 35 anos ou
mais como fator de risco antenatal e puerperal.(24)
Admissão hospitalar
A admissão hospitalar durante a gravidez é associada ao aumento
de 18 vezes no risco de TEV em comparação ao risco basal fora do
hospital, e o risco permanece elevado após o parto, seis vezes maior,
nos 28 dias seguintes. Na internação hospitalar, o risco é maior no
terceiro trimestre de gravidez e em mulheres acima de 35 anos.(38)
Profilaxia
A estratificação de risco de TEV na gestação baseia-se na avaliação
de cada paciente e deve ser realizada em todas as mulheres antes
da gestação e logo que engravidam, recomendando-se repeti-la ao
longo do pré-natal, diante de eventual surgimento de novos fatores
de riscos. As preferências e as considerações das gestantes devem
ser levadas em conta no momento da escolha da tromboprofilaxia.
(43)
A seguir, foram sintetizadas as diretrizes das entidades mais re-
levantes na área de diagnóstico, profilaxia e tratamento do TEV na
gestação: American College of Obstetricians and Gynaecologists
(ACOG),(44) Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada
(SOGC),(43) RCOG(45) e American College of Chest Physicians
(ACCP).(46) A tabela 2 apresenta a dosagem das heparinas sugerida
para profilaxia de TEV em gestantes de acordo com SOCG.(43)
HBPM: heparina de baixo peso molecular; HNF: heparina não fracionada; SGC: Sociedade de Ginecologia
e Obstetrícia do Canadá; SC: subcutâneo.
Anteparto
ACOG: dose profilática ou intermediária de heparina de baixo peso
molecular (HBPM), dose profilática de heparina não fracionada
(HNF) ou observação clínica.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente).(43)
RCOG: dose profilática de HBPM por toda a gestação.(45)
ACCP: baixo risco de recorrência (episódio único associado a
risco transitório não relacionado à gestação ou a estrógeno): ob-
servação clínica.(46)
Risco de moderado a alto (episódio único de TEV não provo-
cado, TEV relacionado à gestação ou ao uso de estrógeno ou múlti-
plos TEVs não provocados) sem anticoagulação de longa duração:
dose profilática ou intermediária de HBPM.(46)
Pós-parto
ACOG: dose intermediária de HBPM ou HNF ou anticoagulação com
antagonistas da vitamina K (AVK) por quatro a seis semanas.(40)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente)
por seis semanas.(43)
RCOG: dose profilática de HBPM ou anticoagulação com
AVK.(45)
b. Deficiência de proteína C ou S
Anteparto
ACOG: dose profilática ou intermediária de HBPM, HNF ou obser-
vação clínica.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente).(43)
RCOG: dose profilática de HBPM por toda a gestação.(45)
ACCP: baixo risco de recorrência: observação clínica.(46)
Risco de moderado a alto sem anticoagulação de longa dura-
ção: dose profilática ou intermediária de HBPM.(46)
Pós-parto
ACOG: anticoagulação com AVK ou dose intermediária de HBPM
ou HNF por quatro a seis semanas.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente)
por seis semanas.(43)
RCOG: dose profilática de HBPM ou anticoagulação com AVK
por seis semanas.(45)
ACCP: dose profilática ou intermediária de HBPM por seis
semanas.(46)
c. Heterozigose composta
Anteparto
ACOG: dose profilática, intermediária ou ajustada de HBPM ou
HNF.(44)
Pós-parto
ACOG: dose intermediária ou ajustada de HBPM, HNF ou anticoa-
gulação com AVK por quatro a seis semanas.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente)
por seis semanas.(43)
RCOG: dose profilática de HBPM ou anticoagulação com AVK
por pelo menos seis semanas.(45)
ACCP: dose profilática ou intermediária de HBPM ou anticoa-
gulação com AVK por seis semanas.(46)
d. Deficiência de antitrombina
Anteparto
ACOG: dose profilática, intermediária ou ajustada de HBPM ou de
HNF.(44)
SOGC: dose intermediária ou terapêutica de HNF ou HBPM
(preferencialmente).(43)
RCOG: manejo em conjunto com médico especialista em anti-
coagulação ou trombose na gestação; considerar a dosagem sérica
antenatal do fator anti-Xa e a possibilidade de reposição de anti-
trombina no início do trabalho de parto ou antes da cesariana; se
os níveis de anti-Xa forem dosados, deve-se realizar teste que não
use antitrombina exógena com alvo no pico de quatro horas após a
administração de 0,5 a 1,0 UI/mL: dose alta de HBPM (50%, 75%
ou 100% da dose plena ajustada por peso).(45)
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Tromboembolismo venoso na gestação
Pós-parto
ACOG: dose profilática ou intermediária de HBPM, HNF ou antico-
agulação com AVK por quatro a seis semanas.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente)
por seis semanas.(43)
RCOG: HBPM, 50%, 75% ou 100% da dose plena ajustada por
peso por seis semanas ou até o retorno da anticoagulação oral.(45)
ACCP: dose profilática ou intermediária de HBPM ou anticoa-
gulação com AVK.(46)
Anteparto
ACOG: anticoagulação com heparina por toda a gestação.(44)
SOGC: dose intermediária ou terapêutica de HNF ou HBPM
(preferencialmente).(43)
RCOG: manejo em conjunto com médico especialista em an-
ticoagulação ou trombose na gestação: profilaxia com dose alta de
HBPM (50%, 75% ou 100% da dose plena ajustada por peso).(45)
ACCP: baixo risco de recorrência: observação clínica.
Risco de moderado a alto de recorrência sem anticoagulação de
longa duração: dose profilática ou intermediária de HBPM.(46)
Pós-parto
ACOG: 6 semanas de anticoagulação com heparina.(44)
Anteparto
ACOG: observação clínica.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente).(43)
RCOG: se o TEV foi provocado por cirurgia de grande porte,
sem outros fatores de risco, a tromboprofilaxia com HBPM pode
ser iniciada a partir de 28 semanas, desde que não haja outros fa-
tores de risco; se o TEV original tiver relação com fatores de risco
transitórios, exceto cirurgia de grande porte, a HBPM deve ser ad-
ministrada por toda a gestação.(45)
ACCP: baixo risco de recorrência: observação clínica.(46)
Pós-parto
ACOG: terapia anticoagulante pós-parto.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente)
por seis semanas.(43)
RCOG: dose profilática de HBPM ou anticoagulação com AVK
por pelo menos seis semanas.(45)
ACCP: dose profilática ou intermediária de HBPM ou antico-
agulação com AVK por seis semanas, se não houver deficiência de
proteína C ou S.(46)
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Tromboembolismo venoso na gestação
Anteparto
ACOG: dose profilática de HBPM ou HNF.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente).(43)
RCOG: tromboprofilaxia com HBPM.(45)
ACCP: risco de moderado a alto de recorrência sem anticoagula-
ção de longa duração: dose profilática ou intermediária de HBPM.(46)
Pós-parto
ACOG: terapia anticoagulante pós-parto.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente)
por seis semanas.(43)
RCOG: profilaxia com HBPM ou anticoagulação com AVK por
pelo menos seis semanas.(45)
ACCP: dose profilática ou intermediária de HBPM ou anticoa-
gulação com AVK, por seis semanas, se não houver deficiência de
proteína C ou S.(46)
Anteparto
ACOG: dose profilática de HBPM ou HNF.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente).(43)
RCOG: dose profilática de HBPM.(45)
ACCP: risco de moderado a alto de recorrência de TEV sem an-
ticoagulação de longa duração: dose profilática ou intermediária de
HBPM.(46)
Pós-parto
ACOG: terapia anticoagulante pós-parto.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente)
por seis semanas.(43)
RCOG: dose profilática de HBPM ou AVK por pelo menos seis
semanas.(45)
ACCP: dose profilática ou intermediária de HBPM ou antico-
agulação com AVK por seis semanas, se não houver deficiência de
proteína C ou S.(46)
Anteparto
ACOG: dose profilática ou terapêutica de HBPM ou HNF.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente).(43)
RCOG: acompanhamento com especialista em trombose na
gravidez: dose alta de HBPM (50%, 75% ou 100% da dose ajustada
por peso).(45)
ACCP: risco de moderado a alto de recorrência sem anticoagula-
ção de longa duração: dose profilática ou intermediária de HBPM.(46)
Pós-parto
ACOG: anticoagulação pós-parto por quatro a seis semanas.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente)
por seis semanas.(43)
RCOG: dose alta de HBPM (50%, 75% ou 100% da dose plena
ajustada por peso) por seis semanas.(45)
Anteparto
ACOG: dose terapêutica de HBPM ou HNF.(44)
SOGC: dose profilática de HNF ou HBPM (preferencialmente).(43)
RCOG: as mulheres devem ser alertadas sobre os riscos do uso
de AVK para o feto e aconselhadas a interromper tais medicações e
a mudar para HBPM assim que a gestação se confirmar (o ideal se-
ria com duas semanas de atraso menstrual e antes de seis semanas
de gravidez): dose alta de HBPM (50%, 75% ou 100% da dose plena
ajustada por peso).(44)
ACCP: em caso de uso de longa duração de AVK e se a pacien-
te for candidata à substituição por HBPM, sugere-se a realização
frequente de testes de gravidez e a substituição de AVK por HBPM
somente quando se confirmar a gravidez. Recomenda-se dose ajus-
tada ou 75% da dose terapêutica de HBPM.(46)
Pós-parto
ACOG: retomar a anticoagulação de longa duração.(44)
SOGC: retomar a anticoagulação de longa duração.(43)
RCOG: dose alta de HBPM (50%, 75% ou 100% da dose plena
ajustada por peso) por seis semanas ou até o retorno da anticoagu-
lação oral. Pode-se reiniciar o uso de AVK no caso de mulheres que
recebem anticoagulação de longa duração com esse agente quando
Conclusão
As recomendações sugeridas devem levar em conta as variações in-
dividuais entre as pacientes e têm o intuito de informar, mas não
de substituir o julgamento clínico do médico, que, em última análi-
se, deve determinar o tratamento apropriado para cada indivíduo.
Porém, com uma abordagem profilática apropriada, a incidência de
TEV na gestante pode diminuir, assim, evitando suas complicações
agudas e crônicas.
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