Aula3 Etica
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Apresentação
Nesta aula estudaremos a evolução histórica dos mecanismos e principais legislações acerca do controle de
riscos em pesquisas científicas que implicam na participação de seres humanos na área da saúde.
Veremos a importância dos comitês de pesquisa institucionais e em que consiste sua atuação.
Identificaremos ainda, alguns dos procedimentos éticos de avaliação de riscos e benefícios como o
Princípio da Precaução e sua aplicação no controle de riscos e eventos adversos.
Bons estudos!
Objetivos
Reconhecer o histórico sobre o controle de pesquisas envolvendo seres humanos;
Identificar os procedimentos de avaliação de riscos e benefícios nas pesquisas em seres humanos a
luz dos princípios éticos.
O trabalho do biomédico
Para iniciar esta aula, vamos conhecer o trabalho do biomédico.
O trabalho do biomédico (Fonte: Youtube)
https://youtu.be/IcH2Pz8VSos
Julgamento de Nuremberg
Uma das consequências impostas aos criminosos nazistas ao fim da guerra foi o chamado julgamento de
Nuremberg. Mundialmente conhecido, este foi constituído por um tribunal militar internacional que efetuou
os julgamentos dos primeiros criminosos de guerra (dentre eles 20 médicos) e ocorreu entre 1945 e 1946
na cidade alemã de Nuremberg. Em função deste julgamento, foi elaborado em 1947, o chamado Código
de Nuremberg.
Objetivando eliminar futuros episódios semelhantes aos praticados pelos nazistas, o código de Nuremberg
surge como um importante marco na história da ética envolvida em pesquisas médicas.
Determinava também que toda pesquisa deveria apresentar a possibilidade de resultados não alcançáveis
por outros procedimentos não invasivos e exigia a realização de experimentos anteriores em animais.
Esta foi a primeira legislação moderna que visou o controle sobre atuações científicas de riscos em seres
humanos.
Declaração de Helsinque
Quase vinte anos depois, em 1964, foi criado pela Associação Médica Mundial, um novo e mais elaborado
documento, conhecido pelo nome de Declaração de Helsinque. A Declaração passou no decorrer dos anos
por diversas alterações e revisões, tendo sido a última, até o momento, efetuada em 2008, na 59ª
Assembleia Médica Mundial, realizada em Seul na Coreia do Sul. A Declaração de Helsinque é considerada
o mais atual e importante documento mundial sobre a ética em pesquisas na área da saúde e tem servido
como base para quase que a totalidade de todos os procedimentos regulatórios sobre pesquisa biomédica.
Princípios básicos
Nos princípios básicos a declaração procura seguir os princípios gerais da Bioética, ressaltando os
aspectos morais envolvidos nos procedimentos e experimentos científicos e na necessária
proporcionalidade entre os riscos envolvidos e os benefícios advindos destas pesquisas.
No que diz respeito à pesquisa clínica não terapêutica, a declaração de Helsinque obriga o médico
pesquisador a se responsabilizar pela saúde do paciente no qual os procedimentos experimentais são
efetuados e considera que, apesar do necessário consentimento explicito, consciente e plenamente
justificado do paciente, a responsabilidade sobre danos ou consequências é sempre do médico
pesquisador. Podendo ainda o sujeito, objeto da pesquisa, cancelar seu consentimento ou solicitar seu
encerramento a qualquer momento.
Estes princípios tratam da necessidade de serem seguidos critérios científicos aceitos pela comunidade
científica internacional e da revisão ética e científica de toda pesquisa envolvendo seres vivos.
A bioética no Brasil
O primeiro documento brasileiro a tratar das questões éticas sobre pesquisas em seres humanos foi
elaborado em 1988.
Logo dohttps://goo.gl/PmRvvj
Conselho Nacional de Saúde (Fonte:
<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_inicial.htm> )
Com a crescente discussão ética mundial, no entanto, a Resolução 01/88 mostrou-se ainda incipiente e
para complementá-la surgiu, oito anos após, um novo documento nacional abordando os aspectos éticos
em pesquisa. A Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Este novo documento, que é ainda hoje a legislação regulatória geral vigente neste aspecto, nasceu de um
amplo debate entre a comunidade científica e representantes da sociedade civil, e foi elaborado pelo
Ministério da Saúde com o intuito de normatizar as diretrizes de todas as pesquisas que envolvessem seres
humanos no território nacional.
Tomando por base os documentos internacionais e igualmente centrada nos princípios gerais da Bioética, a
Resolução 196/96
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1996/res0196_10_10_1996.html> instala
ainda a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), instância colegiada, de natureza consultiva,
deliberativa, normativa, educativa e independente, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde.
Logo do CONEP (Fonte: https://goo.gl/EhM4cX
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Logotipo_CONEP_Rep%C3%BAblica_Dominicana.jp
)
Como instância superior e reguladora dos CEP’s, a CONEP é composta por 13 membros sendo cinco
personalidades destacadas no campo da ética e saúde e oito personalidades de atuação em outras áreas.
Atualmente, qualquer pesquisa só consegue publicação nas revistas científicas nacionais ou internacionais,
após aprovação prévia dada por um comitê de ética institucional.
As pesquisas biomédicas
A classificação ou definição precisa do conceito de risco é sempre algo controverso e que implica em
aspectos subjetivos e muitas vezes culturais ou ideológicos.
Vejamos:
1
Classificava os riscos de uma pesquisa em risco mínimo e risco maior que mínimo.
2
Resolução 196/96
Ao revogar a anterior, eliminou a classificação de riscos e faz uma assertiva mais geral ao determinar, em
sua parte V – RISCOS E BENEFÍCIOS, que “considera-se que toda pesquisa envolvendo seres humanos
envolve risco”.
A Resolução 196/96 complementa, ainda, definindo que os danos podem ser imediatos ou tardios e
individuais ou coletivos. Desta forma, estabelece o entendimento de risco como a possibilidade de dano
(previsto ou não) ao sujeito da pesquisa ou, indiretamente, à coletividade como consequência da mesma.
Em maior ou menor grau, estes riscos só se tornam aceitáveis quando a finalidade da pesquisa o justificar
pelos seguintes critérios básicos:
Se a pesquisa oferecer elevada possibilidade de entendimento, prevenção ou alívio do problema que afeta
o sujeito.
Se o benefício esperado for de grande importância ou se o benefício for igual ou maior que o de outra
alternativa já conhecida.
Outro importante aspecto a ser considerado, diz respeito ao fato de que nem sempre estamos cientes de
todos os riscos envolvidos em um procedimento.
Em 1994, no livro “Ethics of scientific research” (Éticas da Pesquisa Científica), a Dr.ª Kristin Sharder-
Frechette (in José Roberto Goldim – O Princípio da Precaução) ressalta que não se pode considerar como
inexistente um risco desconhecido, ou seja, do qual não temos ainda as possíveis dimensões de sua
ocorrência. Por isso, procedimentos de análise prévia e prevenção de riscos são tão importantes em
pesquisas científicas.
Capa do livro “Ethics of scientific research” (Fonte:
https://goo.gl/5W1eZE
<https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/ciencias-
biologicas/filosofia-da-ciencia/ethics-of-scientific-research-
2514255?
id_link=8787&adtype=pla&id_link=8787&adtype=pla&gclid=EAIaIQobChMIp9-
i8bHE2gIVFYGRCh3GmgEQEAYYBSABEgLLCvD_BwE#> )
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) ou simplesmente
Rio 92, como ficou mais conhecida, ocorreu na Cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1992 e dentre outros
aspectos voltados para o desenvolvimento sustentável estabeleceu um documento, chamado Agenda 21,
no qual foi formalmente retomado o antigo preceito grego conhecido como Princípio da Precaução.
Seu sentido original, reporta-se ao cuidado necessário para que seja possível antecipar danos à saúde ou à
segurança das pessoas.
Retomando como um princípio do direito ambiental, este conceito, no entanto, aplica-se a qualquer forma
de análise de riscos referentes a atividades científicas e tecnológicas que envolvam a possibilidade de
danos às pessoas.
Segundo este conceito, mediante a ausência de certeza científica da inexistência de riscos de danos,
devem ser tomadas todas as medidas necessárias na prevenção de efeitos indesejáveis.
Especificamente quando falamos de intervenções clínicas ou científicas em saúde, estes efeitos
indesejáveis recebem o nome de “eventos adversos”. Segundo Renata Mahfuz Daud Gallotti:
Eventos adversos (EAs) são definidos como complicações indesejadas
(Revista da Associação Médica Brasileira, ISSN 0104-4230. Rev. Assoc. Med. Bras. vol. 50 nº. 2. São Paulo: abr. / jan.
2004.)
Estes eventos podem ou não ser decorrentes de erros ou ocorrer como consequências diretas das
intervenções sobre o sujeito. Reduzir sua ocorrência é, além da principal função da aplicação do Princípio
da Precaução, uma preocupação constante em profissionais eticamente comprometidos e uma das
atribuições básicas dos CEP’s.
Atividade
Quando pensamos em proteção e/ou prevenção de riscos em pesquisas com seres humanos, em
geral, consideramos prioritariamente os sujeitos da pesquisa, mas não podemos nos esquecer que,
em muitos casos, também os pesquisadores são expostos a riscos e precisam de proteção. Veja este
caso que ficou mundialmente famoso:
“A química Karen E. Wetterhahn, do Dartmouth College/USA, era uma pesquisadora de 48 anos que
pesquisava sobre os efeitos dos metais pesados sobre moléculas e células. Durante um experimento,
em agosto de 1996, ela acidentalmente foi exposta ao dimetilmercúrio, que é um composto incolor
extremamente tóxico, raramente utilizado. Esta substância era considerada como padrão de controle
nos testes que utilizam Ressonância Nuclear Magnética para verificar a ligação entre moléculas. A
Dra. Wetterhahn era uma pesquisadora experiente e meticulosa. Durante este experimento, uma
pequena quantidade desta substância respingou em sua luva de látex, quando transferia o material
para um equipamento de Ressonância Nuclear Magnética. Como estava utilizando equipamento de
segurança recomendado, não deu maior importância ao fato. A substância era permeável aos poros
da luva e entrou em contato com a sua pele em questão de segundos. Ela ficou doente alguns meses
após e faleceu em menos de um ano do ocorrido. Após a sua morte, seus colegas iniciaram uma série
de testes e verificaram que o dimetilmercúrio atravessa o látex das luvas descartáveis em menos de
15 segundos.“
Se consideramos o Princípio da Precaução, estudado na aula, o que podemos aprender com este
lamentável episódio? Que procedimento não foi respeitado e o que deveria ter sido feito que poderia
ter evitado esta morte trágica?
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