Apoio 2
Apoio 2
Apoio 2
Socioeducativa em Contextos
Sociais Complexos
RELATÓRIO FINAL
PROJETO
DATA
julho de 2013
EQUIPA
João Sebastião (coordenador)
Joana Campos
Sara Merlini
Mafalda Chambino
1
Índice
Introdução ...................................................................................................................... 8
I. Violência, controlo disciplinar e estratégias de intervenção .................................... 10
1. A Violência na escola como problema social .................................................................. 10
1.1. transformações no sistema educativo e violência na escola ................................ 10
1.2. Representações sobre a violência ........................................................................ 12
2. A violência como problema científico............................................................................. 13
3. Desigualdades escolares e controlo disciplinar ............................................................... 18
3.1. Distinções territoriais e desigualdades escolares ...................................................... 18
3.2. controlo disciplinar e clima de escola....................................................................... 19
4. organização escolar e as políticas de regulação da violência na escola ......................... 21
4.1. As lideranças escolares e as orientações face à violência na escola ......................... 21
4.2. A evolução e centralidade das "políticas de regulação dos comportamentos" ......... 22
II. Políticas públicas ..................................................................................................... 24
1. As políticas de inclusão e igualdade: evolução, orientações e instrumentos ................... 24
2. As políticas de segurança escolar: contextos, conceitos e instrumentos de intervenção . 26
III. Territórios .............................................................................................................. 30
1. A perspetiva dos agentes locais ....................................................................................... 30
1.1. Caracterização dos agentes locais inquiridos ...................................................... 31
1.2. Relações entre os agentes locais .......................................................................... 33
1.3. Forças e fraquezas: colaboração, trocas e afinidades ......................................... 38
1.4. Prevenir e Intervir: necessidades e propostas de atuação ................................... 42
1.5. Dos instrumentos políticos às interações – considerações finais do diagnóstico
exploratório ..................................................................................................................... 43
2. A perspetiva dos representantes das instituições da rede socioeducativa local ............... 44
2.1. Intervenção dos das instituições da rede socioeducativa local – relações entre
parceiros .......................................................................................................................... 46
2.2. Estratégias de intervenção e colaboração ................................................................. 47
2.3. Posição face à escola ................................................................................................ 50
2.4. Principais dificuldades e problemas identificados.................................................... 51
IV. Escola ..................................................................................................................... 55
1. Os documentos escolares ................................................................................................. 55
1.1 Orientações da escola ................................................................................................ 55
1.2 Estrutura e Coordenação Organizacional .................................................................. 56
1.3 Estratégias e Mecanismos de prevenção ................................................................... 62
2
1.4 Regulação dos comportamentos e atitudes ................................................................ 63
1.5 Parceiros e parcerias das escolas ............................................................................... 69
2. A perspetiva dos eementos das direções escolares .......................................................... 71
2.1 Alunos violentos ........................................................................................................ 71
2.2 Orientações para a Regulação e Intervenção ............................................................. 73
2.3 Relações da escola com o exterior: famílias, entidades locais e forças da segurança 77
3. A perspetiva dos Professores ........................................................................................... 81
3.1. Percurso metodológico e amostragem ...................................................................... 81
3.2. Caracterização da população inquirida ..................................................................... 82
3.3. Integração organizacional dos professores ............................................................... 84
3.4. Atividade pedagógica e práticas disciplinares .......................................................... 93
3.5. Representações sobre a escola e a violência ........................................................... 100
3.6. representações, práticas e participação docente...................................................... 103
4. A perspetiva dos Alunos................................................................................................ 112
4.1. Violência na escola: a perspetiva dos alunos (inquérito)........................................ 112
4.2. Entrevistas a alunos reincidentes ............................................................................ 146
V. Conclusões ............................................................................................................ 163
VI. Metodologia Integrada de Intervenção ................................................................ 167
VII. Referências Bibliográficas ................................................................................. 170
Anexo A atividades do projeto .......................................................................................i
Anexo B Guiões de Inquirição ...................................................................................... ii
1. Questionário aos Agentes Sociais ..................................................................................... ii
2. Guião de entrevista para os Grupos Focais ...................................................................... iv
3. Guião de entrevista às Direções Escolares ........................................................................ v
4. Questionário aos Professores ............................................................................................ vi
5. Inquérito aos Alunos ....................................................................................................... xii
6. Guião de entrevista a alunos com comportamentos reincidentes ................................. xviii
Anexo C Lista de entidades locais inquiridas ............................................................ xxx
Anexo D Ficha de Produção Científica ...................................................................xxxi
Publicações ....................................................................................................................... xxxi
Comunicações e participação em Congressos e outros encontros científicos .................. xxxi
Formação ......................................................................................................................... xxxii
Disseminação de resultados ............................................................................................. xxxii
Anexo E Manual de Formação .............................................................................. xxxiii
3
Índice de Quadros
Quadro 1 - Relação entre agressão e intencionalidade ................................................ 15
Quadro 3 - Abordagens de regulação da violência em meio escolar ........................... 29
Quadro 4 - Distribuição das instituições com intervenção nos territórios
socioeducativos em estudo (seleção) ........................................................................... 31
Quadro 5 - Objetivos de atuação segundo o tipo institucional .................................... 32
Quadro 6 - Distribuição das instituições com intervenção nos territórios
socioeducativos em estudo (presenças) ....................................................................... 46
Quadro 7 - Estruturas de Gestão de Conflitos nas escolas – Gabinetes de Intervenção
...................................................................................................................................... 57
Quadro 8 - Medidas disciplinares corretivas - Regulamentação da tutela e das direções
das escolas .................................................................................................................... 59
Quadro 9 - Medidas disciplinares sancionatórias - Regulamentação da tutela e das
direções das escolas ..................................................................................................... 59
Quadro 10 - Medidas preventivas – Regulamentação das direções das escolas .......... 60
Quadro 11 - Ocorrências, procedimentos e medidas disciplinares registadas no
Gabinete Gestão de Conflitos da Escola E2 ................................................................ 64
Quadro 12 - Ocorrências por período e ano escolar no ano letivo de 2011/2012
registadas no Gabinete de Gestão de Conflitos da Escola E2 ...................................... 65
Quadro 13 - Ocorrências e medidas no 3º Período do ano letivo de 2011/2012
registadas pelo Gabinete de Intervenção Disciplinar da Escola E1 ............................ 65
Quadro 14 - Ocorrências por turma e ano escolar no 3º período do ano letivo de
2011/2012registadas pelo Gabinete Intervenção Disciplinar da Escola E1 ................. 66
Quadro 15 - Direitos dos alunos definidos por escola ................................................. 68
Quadro 16 - Deveres dos alunos definidos por escola ................................................. 68
Quadro 17 - Parceiros identificados nos documentos orientadores das escolas .......... 71
Quadro 18 - Responsáveis pela intervenção, por local das ocorrências e gravidade, por
escola............................................................................................................................ 75
Quadro 19 - Orientações para a gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros
...................................................................................................................................... 76
Quadro 20 - Representações dos dirigentes sobre a Tutela ......................................... 79
Quadro 21 - Guião do Inquérito por Questionários aos Professores ........................... 81
Quadro 22 - Universo e amostra do inquérito por questionário aos docentes ............. 82
Quadro 23 - Sexo e idade dos docentes inquiridos (%) ............................................... 83
Quadro 24 - Antiguidade dos docentes inquiridos na profissão e na escola (%) ......... 83
Quadro 25 - Situação na escola e cargos ocupados pelos docentes inquiridos (%) ..... 84
Quadro 26 - Perceção individual da cultura profissional e situação na escola dos
docentes inquiridos ...................................................................................................... 85
Quadro 27 - Conhecimento dos docentes inquiridos sobre o Regulamento Interno, por
escola............................................................................................................................ 87
Quadro 28 - Conhecimento dos docentes inquiridos sobre Regulamento Interno, por
funções na escola ......................................................................................................... 87
Quadro 29 - Articulação organizacional em situação de conflito e conhecimento dos
docentes inquiridos sobre o Regulamento Interno ....................................................... 88
Quadro 30 - Recursos considerados importantes pelos docentes inquiridos ............... 89
Quadro 31 - Índices de Gestão de conflitos por escola ................................................ 91
Quadro 32 – Recurso a elementos da escola para a resolução de situações de conflito
por estabelecimento de ensino dos docentes inquiridos .............................................. 92
4
Quadro 33 - Relação entre a opinião dos docentes inquiridos sobre as práticas
profissionais e o recurso a elementos para intervir ...................................................... 93
Quadro 34 - Recurso a elementos e índices de gestão de conflitos (ANOVA) ........... 93
Quadro 35 - Fatores mais importantes para a resolução dos comportamentos violentos
por escola dos docentes inquiridos .............................................................................. 94
Quadro 36 - Práticas disciplinares dos docentes inquiridos, por escola ...................... 95
Quadro 37 - Índices de práticas disciplinares por escola dos docentes inquiridos ...... 96
Quadro 38 – Efeito dos castigos ou tarefas na melhoria do comportamento dos alunos
por escola dos docentes inquiridos .............................................................................. 97
Quadro 39 - Relação entre a eficácia dos castigos e as práticas disciplinares dos
docentes inquiridos ...................................................................................................... 98
Quadro 40 - Relação entre os critérios importantes na aplicação dos castigos e as
estratégias para lidar com a reincidência dos docentes inquiridos .............................. 99
Quadro 41 - Principal fator considerado pelos docentes inquiridos para que ocorram
situações de conflito na sala de aula, por escola ........................................................ 100
Quadro 42 - Relação entre a opinião dos docentes inquiridos sobre o clima de escola e
a avaliação das situações de violência na escola ....................................................... 102
Quadro 43 - Análise Multivariada das práticas disciplinares renunciantes (MANOVA)
.................................................................................................................................... 103
Quadro 44 - Práticas disciplinares renunciantes: fatores associados ......................... 105
Quadro 45 - Análise univariada das práticas disciplinares pacificadoras .................. 106
Quadro 46 - Práticas disciplinares pacificadoras: fatores associados ........................ 107
Quadro 47 - Análise univariada da gestão reativa dos conflitos ............................... 107
Quadro 48 - Gestão reativa dos conflitos: fatores associados.................................... 108
Quadro 49 - Gestão proactiva dos conflitos: fatores associados................................ 109
Quadro 50 - Relação entre a opinião sobre as práticas profissionais e a opinião sobre o
clima de escola ........................................................................................................... 110
Quadro 51 - Relação entre as causas da violência e os fatores considerados mais
importantes na resolução dos comportamentos violentos .......................................... 111
Quadro 52 - Guião de Inquirição do Questionário aos Alunos .................................. 112
Quadro 53 - Composição da Amostra ........................................................................ 113
Quadro 54 - Autores, Vítimas e Testemunhas: construção dos índices ..................... 115
Quadro 55 - Perfis dos atores nas situações de violência na escola ........................... 115
Quadro 56 - Autores, Vítimas e Testemunhas (leitura em coluna)............................ 116
Quadro 57 - Autores por Sexo (leitura em linha) ...................................................... 116
Quadro 58 - Testemunhas por Idade (leitura em linha) ............................................. 117
Quadro 59 - Testemunhas por Ano Letivo (leitura em linha) .................................... 117
Quadro 60 - Vítimas segundo Benefício de ASE (leitura em linha).......................... 117
Quadro 61 - Categorias de violência: construção dos índices ................................... 118
Quadro 62 - Violência Física: autores, vítimas e testemunhas (leitura em coluna) ... 118
Quadro 63 - Violência Relacional: autores, vítimas e testemunhas (leitura em coluna)
.................................................................................................................................... 119
Quadro 64 - Violência Física: autores por sexo e por benefício de ASE (leitura em
linha) .......................................................................................................................... 119
Quadro 65 - Violência Física: vítimas por idade (leitura em linha) .......................... 121
Quadro 66 - Violência Física: vítimas por ano letivo (leitura em coluna)................. 121
Quadro 67 - Violência Física: vítimas por benefício de ASE (leitura em linha) ....... 121
Quadro 68 - Violência Física: testemunhas por idade, ano de escolaridade e benefício
de ASE (leitura em coluna) ........................................................................................ 122
Quadro 69 - Violência Relacional: testemunhas por idade (leitura em coluna) ........ 123
5
Quadro 70 - Violência Relacional: testemunhas por ano letivo (leitura em linha) .... 123
Quadro 71 - Legitimidade da violência (leitura em linha) ......................................... 124
Quadro 72 - Legitimidade da violência: construção dos índices ............................... 124
Quadro 73 – Legitimidade da violência: defesa e provocação ................................. 125
Quadro 74 - Autores vs. Legitimidade da Violência (leitura em linha) ..................... 127
Quadro 75 - Vítimas vs. Legitimidade da Violência (leitura em linha) ..................... 127
Quadro 76 - Autores/castigos e recompensas: resultados do teste do Qui-quadrado 128
Quadro 77 - Autores vs. Castigos Familiares (leitura em linha) ................................ 129
Quadro 78 - Autores vs. Recompensas familiares (leitura em linha) ........................ 130
Quadro 79 - Autores/opinião sobre a escola: resultados do teste do Qui-quadrado .. 131
Quadro 80 - Autores vs. Opinião positiva sobre a Escola (leitura em linha) ............. 132
Quadro 81 - Autores vs. Opinião negativa sobre a Escola (leitura em linha) ............ 133
Quadro 82 - Autores/Regulamento Interno: resultados do teste do Qui-quadrado .... 134
Quadro 83 - Razões para não conhecer o Regulamento Interno (leitura em linha) ... 135
Quadro 84 - Opinião sobre o Regulamento Interno (leitura em linha) ...................... 136
Quadro 85 - Autores/Opinião sobre os castigos: resultados do teste do Qui-quadrado
.................................................................................................................................... 137
Quadro 86 - Autores vs. Opinião positiva sobre os castigos aplicados na Escola
(leitura em coluna) ..................................................................................................... 138
Quadro 87 - Autores vs. Opinião negativa sobre os castigos aplicados na Escola
(leitura em coluna) ..................................................................................................... 139
Quadro 88 - Autores/Confiança e Obediência aos adultos da Escola: resultados do
teste do Qui-Quadrado ............................................................................................... 140
Quadro 89 – Autores vs. Confiança nos adultos da Escola (leitura em linha) ........... 141
Quadro 90 - Autores vs. Obediência aos adultos da Escola (leitura em linha) .......... 142
Quadro 91 - Autores/Importância dos estudos: resultados do teste do Qui-quadrado
.................................................................................................................................... 143
Quadro 92 - Autores vs. Importância dos Estudos: visão positiva (leitura em linha) 144
Quadro 93 - Autores vs. Importância dos estudos: visão negativa (leitura em linha)145
Quadro 94 - Tipo de comportamento e dimensão de rede por aluno e por escola ..... 148
Quadro 95 - Tipo de comportamento e dimensão de rede ......................................... 148
6
Índice de Figuras
Figura 1 - A violência enquanto forma de ação contingente ....................................... 16
Figura 2 - Centralidade dos atores em nomeações diretas ........................................... 33
Figura 3 - Intermediação (betweeness) dos atores em nomeações diretas ................... 36
Figura 4 - Simmelian Ties: relações de reciprocidade ................................................. 37
Figura 5 - Qualidade das relações ................................................................................ 39
Figura 6 - Frequência da colaboração .......................................................................... 40
Figura 7 - Frequência das trocas de informação e/ou recursos .................................... 41
Figura 8 - Distribuição etária dos inquiridos ............................................................. 114
Figura 9 - Ano escolar frequentado ........................................................................... 114
Figura 10 - Disposição das variáveis ......................................................................... 120
Figura 11 - Configuração do espaço social ................................................................ 120
7
INTRODUÇÃO
8
condições produtoras de violência e das esferas de intervenção (prevenção e regulação)
acionadas.
9
I. VIOLÊNCIA, CONTROLO DISCIPLINAR E ESTRATÉGIAS DE
INTERVENÇÃO
10
vieram colocar em causa as funções sociais da escola e a realidade da transição para o
mercado de trabalho (particularmente na Europa).1
A sensação de segurança face ao futuro que a escola dava às novas gerações converte-
se num sentimento de incerteza quanto aos benefícios potenciais da educação, uma
procura desencantada de educação (Grácio, 1986), resultante das transformações
radicais no mercado de trabalho (Canário, 2008). Esta transformação teve efeitos
particulares em Portugal uma vez que o "desencanto" ocorreu sobretudo em
indivíduos provenientes de grupos sociais pouco escolarizadas cujas famílias
realizaram esforços significativos para que os seus filhos atingissem níveis elevados
de escolaridade.
1Esta situação é experimentada de forma muito diferente nos diversos pontos do globo. Nos países em
que o crescimento económico tem sido elevado na última década (por ex. nos chamados BRICS ou
economias emergentes) o défice de qualificações existente coloca a questão de forma inversa,
encontrando-se a escola numa situação de alargamento sem perca da sua capacidade de atração .
11
aumento da supervisão e regulação das crianças por adultos, do enquadramento
permanente por instituições especializadas na infância e do fechamento da família.
Neste sentido, o alargamento e diluição espacial e temporal das fronteiras protetoras e
a difusão da perceção das crianças como vítimas e geradoras de riscos leva portanto a
uma tentativa de controlo do risco (Korbin, 2003; Gill, 2007).
12
planeamento e implementação de estratégias de prevenção e intervenção. A designada
violência de baixa intensidade (Dupper e Meyer-Adams, 2008:164) remete justamente
para os atos recorrentes de “pequena” violência, com reduzida gravidade, cuja
persistência nos quotidianos escolares tem impactos altamente negativos e a longo
prazo para os alunos. Não deixa no entanto de ser notável a divergência existente
entre a perceção popular (escalada de violência) e a evidência empírica (redução
sustentada dos incidentes ao longo da última década) (Mayer e Furlong, 2010; Fuchs,
2008; Matos, et. al., 2010).
A violência na escola surgiu como tema com uma significativa vitalidade na agenda
científica a partir dos anos 1970, marcada pela preponderância de propostas teóricas
inspiradas no conceito de bullying. Esta presença fez-se notar pelo aumento crescente
das investigações sobre o fenómeno e pela constituição de um campo de especialistas
(Brown e Munn, 2008). Desenvolveram-se diferentes abordagens, pautadas pela
crescente controvérsia acerca do carácter individual e patológico frequentemente
atribuídos aos comportamentos violentos (Bansel, et. al., 2009).
13
humanos, sociais e económicos deverão ser reduzidos (OMS, 2005). Automutilação
(suicídio, consumos de drogas legais ou ilegais), ofensas a outros (homicídio,
agressão, etc.) ou à sociedade (vandalismo, discriminação, etc.) estão considerados
nos comportamentos de risco e esta definição é particularmente comum nas
investigações epidemiológicas. Por sua vez, o conceito de comportamento antissocial
encontra-se mais associado às pesquisas na área da psicologia, sociologia e
criminologia. Aborda um leque de comportamentos como a violência física, as
ameaças e outro tipo de atitudes delinquentes, nomeadamente o roubo, o uso de
drogas e ofensas associadas ao incumprimento de regras, entre elas as escolares
(Carra, 2009a; Veenstra e Dijkstra, 2011).
2
Consideramos nesta definição apenas as situações de violência interpessoal, deixando de lado as
formas de violência institucional existentes na escola ou outras formas de violência social. Tal não
significa adotar uma abordagem individualista, mas antes delimitar algumas das dimensões centrais do
fenómeno no quadro da escola, centrando a análise nos processos relacionais que nela se produzem.
14
Quadro 1 - Relação entre agressão e intencionalidade
Tipo de Agressão
Física Psicossocial
O principal motivo é magoar o alvo,
Reativa/ reação emocional baseada em fúria,
que ocorre tipicamente em resposta Comportamento
Intencionalidade
Afectiva que
à provocação. procura ferir outros ao
Ocorre na ausência de provocação prejudicar o seu estatuto
deliberada, é desencadeada para social ou relações de
Proactiva/ obter algo em troca. O agressor tem amizade (agressão indireta
Instrumental a expectativa de que a agressão ou relacional).
física tenha consequências positivas
de carácter instrumental.
(Sebastião, 2009: 41)
Tendo por base esta distinção prévia podemos definir a violência como "atos
caracterizados pela agressão intencional, seja esta física ou psicossocial, podendo
assumir formas reativas/afetivas ou proactivas/instrumentais" (Sebastião, 2013:27).
Nesse sentido, a violência é uma configuração relacional particular marcada pela
tensão confrontacional (Collins, 2008), interação que incorpora tendencialmente
relações de poder assimétricas entre os atores (Sebastião, 2013). A limitação da
capacidade de reação das vítimas às consequências da agressão, seja pelo uso da força
física ou de mecanismos de pressão psicológica, coloca-as numa situação particular
de desproteção, impedindo muitas vezes o acionamento dos sistemas de regras
institucionais. Assim, um agressor caracteriza-se por ser tipicamente um indivíduo
que utiliza formas de poder (que são suportadas por agressividade física, verbal ou
psicológica) com o objetivo de, simultaneamente, anular a capacidade reguladora do
sistema de regras e de desencadear, ao nível relacional, um processo de dominação de
um ou mais indivíduos. A vítima nesta perspetiva é tipicamente um indivíduo que não
possui capacidade para resistir aos processos de dominação nem para ativar para sua
proteção o sistema de regras sociais da escola (Sebastião, 2009a: 46).
A anulação dos sistemas de regras pelos agressores (Domingues, 1995; Munn, et. al.,
2007; Brown e Munn, 2008; Carra, 2009a; Braun, et. al., 2011) expressa a
importância de investigar as variáveis organizacionais e os processos de intervenção
em situações de violência na escola, e implica adotar uma abordagem que enquadre as
esferas de intervenção e ação das instituições formais e dos agentes sociais e os
mecanismos que estruturam e regulam as conceções e práticas de violência. Trata-se
de perspetivar a violência enquanto forma de ação contingente, que traduz uma
configuração relacional particular com quadros de possibilidades diversos, em que
diferentes tipos e graus de tensão podem levar (ou não) a situações de confronto.
15
Figura 1 - A violência enquanto forma de ação contingente
16
Para aprofundar o conhecimento sobre o fenómeno da violência na escola a equipa do
OSE recorreu a uma combinatória de métodos extensivos e qualitativos em três níveis
de análise da difusão das situações violência. A nível macro analítico realizou-se a
recolha e análise de dados nacionais coletados através do formulário eletrónico online
situado na rede informática do Ministério da Educação, através do qual as escolas
devem fazer o registo obrigatório das ocorrências de violência.
3
Responsáveis pela gestão disciplinar da Escola, habitualmente são professores membros da direção,
assumindo a função de participar as ocorrências ao Ministério da Educação, através do formulário
eletrónico.
4
A opção pela aplicação dos inquéritos numa plataforma online em software especializado –
limesurvey – revelou-se vantajosa tanto ao nível da eficiência como da eficácia do processo de
inquirição. Um exemplo demostrativo disso mesmo foi o inquérito realizado a uma amostra de 792
alunos. Com a colaboração das escolas, foi possível colocar os alunos responder a partir de
computadores com ligação à Internet, em sessões coletivas, contando para o efeito com o apoio
presencial de membros da equipa de investigação. Além de evitar os habituais erros de inserção de
dados, este processo agilizou o tempo de tratamento dos dados e consequentemente da sua análise.
17
3. DESIGUALDADES ESCOLARES E CONTROLO DISCIPLINAR
18
estes indicadores produz hierarquias de prestígio relativo entre escolas, levando ao
agravamento da seletividade no acesso às escolas ou na organização do próprio
processo de ensino e aprendizagem, ou ainda, na fraca capacidade para atraírem e
fixarem os professores mais qualificados. As escolas situadas junto de bairros sociais,
bairros degradados ou predominantemente habitados por comunidades étnicas ou
imigrantes encontram-se no "fim da lista" dessas hierarquias simbólicas, traduzindo
uma forte perceção de que nestas escolas existem menores oportunidades educativas
contribuindo assim para reproduzir desigualdades sociais dos contextos sociais em
que se integram.
No entanto, estas hierarquias nem sempre surgem de forma evidente nas pesquisas,
constatando-se justamente que muitas dessas escolas têm maior abrangência de
ofertas educativas (como os cursos CEF e PIEF) e um efetiva estabilidade dos seus
corpos docentes (Sebastião, Campos e Merlini, 2012b). Além disso, os fatores
subjacentes ao aparecimento de escolas com necessidades educativas extensas são
mais profundos, remetendo tanto para os processos de exclusão social no território
como para os processos de seleção social das escolas.
Para alcançar os seus objetivos, as escolas servem-se dos seus estatutos territoriais e
simbólicos. Thrupp e Lupton consideram os atributos característicos dos alunos
(como a classe, etnicidade, proporção de alunos oriundos de famílias refugiadas ou
com necessidades especiais), as diferenças características da escola e do meio
envolvente como fatores fundamentais da localização territorial, defendendo que "o
contexto realmente conta", contradizendo dessa forma os discursos acerca da
"neutralidade" da escolaridade (Thrupp and Lupton, 2006: 308).
Num dos estudos anteriormente realizados pela equipa do OSE, foi possível constatar
que competição pelos alunos de classe média era mais intensa entre as escolas
territorialmente mais próximas, concorrendo através de estratégias de atração e
seleção para o agravamento das diferenças encontradas nas estrutura social dos
territórios destas escolas (Sebastião, Campos e Merlini, 2012b). Neste sentido, a
seleção dos alunos no momento da entrada para a escola ou através de processos
internos de triagem, que passam pelo encaminhamento de alunos para outras vias de
ensino além do regular ou pela utilização dos mecanismos de controlo disciplinar com
o mesmo fim, traduzem-se em situações de menor inclusão dos alunos e de maior
polarização social das escolas. Estes processos internos articulam-se com a
reconfiguração social dos territórios locais, com as escolas a reforçarem as
desigualdades escolares e sociais.
19
introduzem assim arbitrariedades e desigualdades na interpretação e tratamento das
situações (Sebastião, Campos e Merlini, 2012b).
Medidas como a suspensão são repetidamente usadas para "libertar" a escola dos
alunos identificados como fontes de perturbação, por vezes provocando mesmo a
expulsão intencional desses alunos. Apesar das ameaças reais e percebidas no
imediato estarem entre os principais motivos do recurso à pena de suspensão, a
maioria dos alunos suspensos da escola esteve envolvida em atos que não poderão ser
considerados violentos ou criminosos (Taras, 2003:1206).
20
escolar em turnos, podem acarretar custos sociais e académicos negativos, sobretudo
para os alunos mais desfavorecidos ou com maiores dificuldades de aprendizagem.
Analisar a escola implica olhar para uma configuração social particular que se
caracteriza por condicionamentos estruturais que limitam o seu desenvolvimento
organizacional e por atores sociais que interagem a partir de interesses e motivações
individuais e grupais, nem sempre coincidentes com os da organização ou dos
quadros normativos mais amplos. É nesta relação que se perspetivam as organizações
escolares, tanto na sua inteligibilidade como na sua imprevisibilidade, pois torna-se
necessário entender as organizações escolares não como entidades altamente
organizadas exteriores aos atores mas, antes, "anarquias organizadas e sistemas
debilmente acoplados" (Barroso, 1991:74). Esta abordagem incita-nos a olhar para a
escola enquanto "um espaço-tempo de mediação de interesses e poderes diversos,
interiores e exteriores às suas fronteiras físicas, prefigurando-se como uma
organização em ação" (Torres e Palhares, 2010:152). A problemática da violência na
escola contribui assim para compreender a reação da escola a situações críticas que
colocam frequentemente em causa os seus próprios fundamentos, designadamente os
psicossociais, organizacionais e normativos.
A identificação e compreensão das lógicas de ação e dos quadros que orientam a ação
sublinham a importância dos "jogos" de poder, interesses, conflitos, estratégias e
coligações dos atores no quotidiano organizacional das escolas (Silva, 2007:103). É
neste âmbito que as lideranças escolares adquirem maior relevância. Segundo Trigo e
Costa (2008:571) a escola "precisa de uma liderança que coloque no centro da sua
21
atividade a ética, a moral, os valores, as pessoas, o diálogo e a relação entre pessoas, a
adaptabilidade à mudança, o desenvolvimento organizacional, a qualidade" de forma
a corresponder aos desafios atuais. O desempenho da liderança pode constituir um dos
principais contributos na mudança dos sistemas educativos e das organizações
escolares – devido à procura de maior eficácia e ao aumento dos níveis de qualidade
que permitem o crescimento e desenvolvimento institucional. Para Silva (2009) a
liderança ganha especial importância quando é potenciada por práticas suscetíveis de
alargar e reforçar a sua influência, entre as quais o papel das lideranças intermédias:
"elementos críticos potenciadores de sucesso ou artífices do contrário" (Silva,
2009:53), às quais compete gerir recursos de base e estabelecer a ponte entre a
realidade da sala de aula e a direção.
Neste sentido, pode-se afirmar que se produz um efeito cruzado entre os princípios
fundadores do projeto estratégico da escola, os modelos organizacionais, os estilos de
liderança e as representações sobre a origem da violência e as formas possíveis de a
enfrentar. Foi possível constatar que as escolas mais abertas e preocupadas com a
equidade na educação, e por essa razão com processos internos mais democráticos e
participados, são as mais capazes de controlar e prevenir as situações de violência e
que conseguem construir ambientes mais favoráveis ao desenvolvimento dos
processos educativos de todos os alunos (Sebastião, Campos e Merlini, 2012a).
22
imediata entre a correção dos comportamentos e a melhoria dos resultados escolares
(Maguire, et. al., 2010), encerrando uma visão simplista da melhoria do desempenho
dos sistemas educativos.
23
II. POLÍTICAS PÚBLICAS
5 Para a sua implementação foi criado o Programa Comunitário de Ação Contra a Exclusão Social em
2002 (Gonçalves, 2006:136)
6
Perspetiva de racionalização em que se procurou maior simplificação, integração e coerência entre os
processos de coordenação existentes (op. cit . pp. 137).
24
garantir a coerência e coordenação entre os objetivos da coesão social e os objetivos
do crescimento e do emprego. Estas alterações reorientaram a terceira geração do
PNAI entre 2006-2008, com um novo quadro de objetivos para a proteção social e a
inclusão social, dos quais três são específicos para a inclusão: 1) garantir o acesso de
todos a direitos, recursos e serviços essenciais e simultaneamente erradicar as formas
extremas de exclusão e discriminações que levam à exclusão social; 2) garantir a
inclusão social ativa de todos através da promoção da participação no mercado de
trabalho e do combate à pobreza e à exclusão social das pessoas e grupos mais
marginalizados; 3) garantir a boa coordenação das políticas de inclusão social e o
envolvimento de todos os níveis de governo e agentes pertinentes; a sua eficiência e
integração em todas as políticas públicas relevantes (económicas e orçamentais; de
educação e formação; programas de fundos estruturais como o FSE) e que consideram
a perspetiva da igualdade de género. Em 2008-2010, após avaliação e consequente
aprovação da estratégia implementada anteriormente, deu-se continuidade às
prioridades e objetivos políticos no sentido de as reforçar e melhorar. Essas
prioridades tiveram como eixos estratégicos de intervenção responder ao impacto das
alterações demográficas e promover a inclusão social de todos os cidadãos,
procurando prevenir e reduzir as desigualdades.
Em 2010 foi definida a nova estratégia europeia, designada Europa 2020, que aponta
para um crescimento mais inteligente, sustentável e inclusivo, num prazo de dez anos.
Representando uma revisão do modelo anterior, esta agenda definiu as prioridades,
objetivos e iniciativas para orientação e coordenação das medidas políticas a nível
nacional e europeu. Foi dado especial enfoque ao crescimento inclusivo com
particular preocupação com a criação de emprego e a redução da pobreza, tendo como
um dos grandes objetivos reduzir pelo menos em 20 milhões o número de pessoas em
risco ou situação de pobreza e exclusão social7. Parte integrante desta nova estratégia
constitui a plataforma europeia contra a pobreza e a exclusão social, iniciativa criada
também em 2010, com o intuito de coordenar e gerir as intervenções promovidas,
tendo quatro medidas principais:
1) Melhorar o acesso ao trabalho, à segurança social, aos serviços essenciais
(cuidados de saúde, alojamento) e à educação;
2) Utilizar mais eficazmente os fundos da UE para apoiar a inclusão social e lutar
contra a discriminação;
3) Encorajar a inovação social para encontrar soluções inteligentes na Europa do pós-
crise, em especial no que toca a um apoio social mais concreto e eficaz.
4) Fomentar novas parcerias entre os sectores público e privado.
Estas alterações sustentam uma mudança nas estratégias definidas para a inclusão
social, reconhecendo a multidimensionalidade da pobreza e da exclusão social. As
estratégias deste modo definidas passaram a considerar, por um lado, um maior
número de pessoas em risco de pobreza, em privação material ou com uma
intensidade de trabalho muito baixa, e por outro lado, a dimensão territorial dos
fenómenos. Sendo os Programas Nacionais de Reforma elaborados por cada Estado
membro, a tradução efetiva dessas orientações encontra-se no instrumento político
nacional mais relevante nesta matéria, o Plano Nacional para a Igualdade (PNI). Na
sua quarta geração, o IV Plano Nacional para a Igualdade, Género, Cidadania e Não
25
Discriminação 2011-2013 enquadra-se nos compromissos assumidos por Portugal nas
várias instâncias internacionais e europeias (como a ONU, o Conselho da Europa e a
União Europeia). Neste plano procura afirmar-se a igualdade como fator de
competitividade através de três eixos: reforço da transversalidade do género e
integração desta dimensão em todos os domínios de atividade política e social;
implementação de ações específicas para ultrapassar determinadas situações de
desigualdade; abordagem das discriminações múltiplas – "quando à pertença sexual se
juntam outros fatores de discriminação e os seus efeitos em homens e em mulheres"
(Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, 2012).
A integração das orientações definidas nos vários domínios de decisão e ação política
(local, regional e nacional) mediante uma estratégia de territorialização, é vista como
garantia da concretização e eficácia das mesmas e um princípio fundamental de boa
governação (Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, 2012). Emerge
portanto uma nova fase de políticas europeias para a inclusão e coesão social e
territorial, que procura integrar os diversos atores chave na sua coordenação, através
do diálogo entre parceiros institucionais e não institucionais.
26
que o ato violento assume. Alguns investigadores defendem uma maior preocupação
com a escolha dos argumentos, métodos e fórmulas no sentido de adquirir um
controlo teórico sobre as virtualidades semânticas dos conceitos (Debarbieux,
2002a:65). Por esse motivo, alertam para o efeito da adoção de uma definição unívoca
do fenómeno da violência na escola pelo refinamento de categorias corresponde a um
vácuo teórico (e que se encontram na base da criação de alguns modelos de
intervenção) (Sebastião, et al 1999; Sebastião, Alves e Campos, 2003).
8
De que é exemplo o Programa Anti-bullying de Olweus, que foi largamente implementado na
Noruega em conjunto com outras iniciativas, além da Áustria, Finlândia, Alemanha e Islândia.
9
Em termos históricos, a violência policial contra os estudantes universitários no período do Estado
Novo e os confrontos físicos resultantes de intensos debates políticos entre estudantes ou mesmo
professores na época da Revolução dos Cravos são exemplo disso. Contudo, o enquadramento da
violência tinha um carácter essencialmente político, que não se coaduna com o tipo de violência que
podemos encontrar nas escolas hoje. Pequenos furtos, agressões esporádicas ou sistemáticas, uso de
armas, ameaças a professores e a colegas, ou a destruição de bens e equipamentos escolares ou pessoais
são realidades vividas pelas escolas portuguesas nos últimos anos.
27
implementado progressivamente num conjunto de escolas com a coordenação do
Gabinete de Segurança do Ministério da Educação10. Tendo como objetivo reduzir ou
erradicar as situações de violência e insegurança nas escolas e meio envolvente
(Preâmbulo – Despacho n.º 25 650 de 19 de Dezembro de 2006), os seus princípios
estratégicos baseiam-se na territorialização, na parceria, na formação e na
monitorização do fenómeno.
10
Gabinete criado em 1984 com um enquadramento meramente administrativo até 2007, ano em que
foi criada a Equipa de Missão para a Segurança Escolar, cujo mandato de três anos consistiu na
concepção, desenvolvimento e concretização de um sistema de segurança nas escolas. Em 2009 é
constituído assim o Gabinete Coordenador de Segurança Escolar enquanto estrutura administrativa
autónoma a funcionar em dependência do ME, e regulamentada a situação dos prestadores de serviço
de vigilância nas escolas e dos procedimentos concursais.
11
Inspirado em experiências de outros países como os EUA, Canadá, Inglaterra, França ou Holanda, o
policiamento de proximidade traduz-se no princípio que os agentes das Forças de Segurança devem
trabalhar conjuntamente com os cidadãos de modo a encontrar soluções para os problemas da
comunidade associados à criminalidade, desordem e outros que concorram para a redução do
sentimento de segurança (Lisboa e Dias, 2008:4).
12
Entendendo-se que grande parte das ocorrências resultavam também da necessidade de
reorganização das escolas nesta matéria para a prossecução dos objetivos educativos.
28
Quadro 2 - Abordagens de regulação da violência em meio escolar
Abordagem Objetivo da Medida Medidas em Portugal
Resolução de incidentes ocorridos ou redução Aumento do número de guardas e à colocação de
das oportunidades de ocorrência de violência. alarmes e câmaras de videovigilância nas escolas no
Policial/ Sistemas de resposta rápida e reforço da âmbito do Programa Escola Segura, bem como à
Externa vigilância, que nem sempre são eficazes criação de linhas telefónicas de apoio à vítima,
/contraproducentes na melhoria do clima de designadamente o SOS Professor da Associação
escola e da convivência Nacional de Professores.
Interventiva
O Sistema Jurídico de Autonomia e Administração
Escolar (Decreto Lei 137/2012)14 e o Novo Estatuto do
Regulamentação, definição de papéis a Aluno (Lei n.º 51/2012)15 são produtos que
desempenhar na gestão de conflitos e apoio ou representam particularmente as iniciativas nacionais de
Escolar/ Interna formação de professores (sensibilização, regulamentação e estruturação organizacional das
acréscimo de assistentes educativos e/ou treino competências a desempenhar. As iniciativas de apoio
específico de gestão de conflitos13). ou formação de professores têm cabido sobretudo ao
Programa Escola Segura16 ou a outras entidades
formadoras contratadas pelas escolas.
Entre o vasto leque de medidas portuguesas estão:
1. Intervenção cívica e/ou comportamental: Formação cívica, Programa Parlamento de Jovens;
Intervenção
pressupõem a responsabilização dos alunos e Treino de competências pessoais e sociais; Projetos de
cívica e/ou
podem enquadrar-se no âmbito da Educação gestão de conflitos entre pares ou de melhoria da
comportamental
para a cidadania e/ou para a Saúde autoestima do aluno; Programa Saúde Escolar e
Programa Eco Escolas.
O instrumento que melhor se enquadra neste tipo de
2. Alteração do Ambiente ou clima de escola:
Alteração do iniciativa em Portugal foi o Programa de
Preveem a melhoria das condições físicas dos
Preventiva Ambiente ou Modernização do Parque Escolar cujo objectivo foi
espaços escolares e dos seus equipamentos,
clima de escola modernizar a rede pública de escolas secundárias e
bem como a promoção do clima de escola.
outras afetas ao Ministério da Educação.
Principais instrumentos: Programa Territórios
Procura de 3. Procura de Equidade (igualdade de
Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP);
Equidade oportunidades, democratização do ensino):
Programa Escolhas; Diversificação de vias de ensino:
(igualdade de medidas de combate à reprodução das
Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF),
oportunidades, desigualdades sociais, nomeadamente o
Curso de Educação e Formação para Jovens (CEF),
democratização insucesso escolar e o abandono escolar
Percurso Curricular Alternativo (PCA) e Cursos
do ensino) precoce.
Profissionalizantes
Fonte: Observatório de Segurança Escolar, 2012 – adaptado de Smith (2004) e Debarbieux et al (2003)
13
Na Europa, as formações em gestão de conflitos são habitualmente destinadas a professores,
deixando com frequência o pessoal não docente e os pais excluídos destas iniciativas.
14
Este decreto procede à segunda alteração do Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, alterado pelo
Decreto-Lei n.º 224/2009, de 11 de setembro. O novo modelo de escola alterou significativamente os
níveis organizacionais de decisão e atuação, numa ótica de descentralização e autonomia, permitindo às
escolas rentabilizar e mobilizar recursos que resultaram, por exemplo, no decréscimo efetivo do
número de incidentes.
15
Sendo um normativo em constante reformulação nos últimos anos e que tem gerado um aceso debate
político, o atual Estatuto do Aluno adequa e reforça as medidas disciplinares (de carácter corretivo e
sancionatório) a aplicar na escola, agilizando igualmente os processos disciplinares e as tomadas de
decisão. Este documento é apropriado e traduzido para o Regulamento Interno de cada Escola ou
Agrupamento de Escolas, verificando-se variações pouco significativas de estabelecimento para
estabelecimento a nível documental. Nas práticas, porém, a situação é outra.
16
Nomeadamente as sessões de sensibilização e formação promovidas regularmente pelas Forças de
Segurança e pontualmente pelo Gabinete Coordenador de Segurança Escolar, para além do apoio
sistemático das estruturas regionais em colaboração com este gabinete ou da criação de programas de
atuação específica (Vigilantes nas Escolas Primárias na Amadora).
29
III. TERRITÓRIOS
30
se numa observação de diagnóstico, de natureza preliminar, cuja finalidade principal é
avaliar os padrões de interação de um conjunto de instituições locais. 17 Tanto os
recursos (temporais e materiais) como os objetivos principais do projeto, no
desenvolvimento do qual esta análise se inscreve, circunscreve a análise com enfoque
para a descrição das propriedades estruturais emergentes (padrões ou regularidades
sociais) na rede. Metodologicamente destaca-se que os diversos momentos de
contacto entre a equipa do Observatório de Segurança Escolar e as instituições
constituintes da amostra garantiram um nível de confiança significativo e,
consequentemente, um acesso privilegiado a esta rede, constituindo um excelente
ponto de partida.
Zona 1
Freguesia
Tipo/ Local Município Freguesia 1 Freguesia 2 (Freguesias Total
3
1 e 2)
Autárquica ou Oficial não judiciária 3 1 2 1 2 9
Associação, Projeto ou Programa Social 0 2 1 0 1 4
Educação e Formação 1 1 1 0 1 4
Policial ou Judicial 1 1 1 0 1 4
Saúde 0 0 0 1 1 2
Total 5 5 5 2 6 23
Fontes: Informações privilegiadas das escolas e análise dos documentos oficiais.
17
Aprofundada posteriormente no decurso do projeto, com a aplicação de mais grupos focais com as
instituições em análise, neste relatório no ponto 2. do capítulo III. Comunidade.
31
não responderam. Situação que procuráramos ver suprida em desenvolvimentos
posteriores do projeto. Ainda que apenas 18 tivessem respondido, foi
simultaneamente relevante constatar que as nomeações dos parceiros18 se centraram
sobretudo no conjunto total de entidades que estavam previamente selecionadas para
o estudo 19 , verificando-se ainda uma forte correspondência entre os respetivos
objetivos de atuação e o tipo institucional atribuído na classificação.
Esta afinidade verifica-se, por exemplo, entre instituições muito distintas como a
Associação APP5 – cujo objetivo revelado é: Acolher, capacitar e integrar são o seu
mote de ação/ intervenção. – e o Programa Comunitário APP2.2 – com objetivos
idênticos: Promover o desenvolvimento de competências escolares (...) fomentando o
sucesso escolar e a inclusão escolar. Contribuir para a inserção social e cultural dos
destinatários e beneficiários. Intervir junto das crianças e jovens no sentido de diminuir o
risco de exclusão social a partir de ações que promovam a responsabilização pela
comunidade.
18 A liberdade de nomeação, restringida até 10 parceiros possíveis, foi uma das opções metodológicas
na construção do instrumento de inquirição para a análise de redes. Embora uma lista exaustiva dos
parceiros permita suprir os problemas "típicos" de recurso à memória neste tipo de técnica, o facto de
se tratar de relações estabelecidas entre instituições garantiu-nos alguma fiabilidade na obtenção dos
dados. Resta salientar que cerca de 70% das instituições (N=18) escolheram até 6 parceiros o que, dada
a problemática em análise, seria expectável.
19
A lista de entidades locais inquiridas encontra-se em anexo, no ponto B, capítulo IX.
32
1.2. RELAÇÕES ENTRE OS AGENTES LOCAIS
Legenda: Locais – Concelho: Branco; Freguesia 1: Cinza 75%; Freguesia 2: Cinza 50%; Zona 1
(Freguesias 1 e 2): Preto; Freguesia 3: Cinza 25%. Tipo de instituição: AO: Círculo; APP: Quadrado;
EF: Triângulo; PJ: Quadrado com círculo; S: Losango.
33
Um dos aspetos a destacar no grafo das relações orientadas (ou direcionadas)
apresentado diz respeito à distribuição das instituições segundo a proximidade
geográfica. A posição dos atores na estrutura da rede está claramente disposta pelos
territórios locais em que estas se encontram. Esta evidência ganha particular
relevância relativamente à comunicação, à transferência de recursos e à colaboração
entre estas entidades, uma vez que o contexto local em que se situam determina
significativamente as ligações de adjacência/ diretas estabelecidas entre elas e
circunscreve o funcionamento do seu sistema de relações.
Na figura 2 o tamanho dos atores (ou nodos) está representado de acordo com o seu
grau de centralidade, seja por terem feito muitas escolhas, seja por terem sido muito
escolhidos. A escola EF2 e a unidade de saúde S4 são as instituições que têm maior
número de conexões emitidas e recebidas, ocupando uma posição muito particular na
rede pois têm um grau de atividade elevado relativamente aos outros, usufruem de
maior estatuto (maior prestígio ou liderança) e de maior número de alternativas
disponíveis (maior independência)21. Excetuando estas duas instituições, as restantes
têm maior frequência de nomeações recebidas ou de nomeações emitidas mas não de
ambas. Considerando o prestígio ou o número de nomeações recebidas pelos atores da
rede, a PJ2 e a PJ5 têm um lugar igualmente de destaque. Contudo, apesar destes dois
atores serem relativamente mais "populares" que os restantes, a sua capacidade de
controlo/ liderança é menor, uma vez que só uma dessas ligações é recíproca (PJ2 –
EF2). Já as comissões de proteção (AO3.2 e AO4), seguidas pela escola EF1
apresentam um grau elevado de nomeações recebidas e nulo de nomeações emitidas,
20
Para esta análise consideramos apenas a matriz das mutualidades (ou relações diretas) porque os
dados matriciais são binários e em maior quantidade do que os recolhidos com as outras dimensões
relacionais em estudo. As relações entre os atores estão representadas por setas direcionadas.
21
Tendencialmente, atores com maior centralidade adotam inovações mais cedo por terem maior
probabilidade de captar o que flui na rede (informação sensível).
34
colocando-as numa posição de recetoras das trocas e colaborações institucionais, que
não são correspondidas22.
22
Os dados apresentados mereceriam uma avaliação posterior com as instituições em questão, para
aprofundar as razões de fraca interdependência.
23
Um resumo dos principais resultados com este tipo de análises pode ser encontrado em Mizruchi, M.
S. (2006:76). Além do grau de centralidade (das relações diretas), a intermediação e a proximidade
(closeness) constituem indicadores de centralidade indireta de uma rede, perfazendo os três tipos de
análise da centralidade dos atores, cujos referenciais teóricos foram propostos e desenvolvidos por
Freeman desde 1979 (Mizruchi, 2006:83).
35
Figura 3 - Intermediação (betweeness) dos atores em nomeações diretas
Os atores com maior grau de intermediação na rede em análise (fig. 3) são: a equipa
de reinserção social PJ5 e a unidade de saúde S4, seguidos pela comissão de proteção
AO3.2 e a equipa da rede social concelhia AO5.1. Um dos fatores que poderá explicar
(ainda que parcialmente) esta distribuição remete para o tipo de estrutura
organizacional e objetivos destas instituições, pois apresentam uma relativa
centralização de funções e serviços específicos de resolução das situações de
violência comparativamente aos restantes atores. As duas primeiras constituem órgãos
específicos para prevenção e intervenção judicial e cuidados de saúde, enquanto que
as últimas são órgão oficiais e autárquicos cuja finalidade é o acompanhamento, seja
na proteção de crianças e jovens, seja pelo incentivo a uma abordagem de intervenção
integrada das instituições do município. Cada gatekeeper em foco tem pelo menos
uma relação direta com um dos outros, criando três subgrupos conectados (ou grafos
possíveis). Um desses subconjuntos integra todos os intermediários a uma distância
(geodésica) de grau 1 pela seguinte ordem: [S4, AO5.1, PJ5, AO3.2]. Estas relações
de adjacência conferem aos referidos atores um nível significativo ou alto de
intermediação pois, além de constituírem pontos chave de relação com os restantes
integrantes da rede, estão conectados diretamente entre eles. Pode-se inclusivamente
inferir que a comissão de proteção AO3.2 e a equipa de reinserção social PJ5, nesta
rede em concreto, são atores intermediários do território 3; A PJ5 e a S4 fazem a
ponte com o território 1, com a segunda a desempenhar um papel central no acesso ao
território 2. A AO5.1, por sua vez, ocupa uma posição de intermediação essencial na
ligação entre as outras três instituições.
36
A distribuição das interdependências dos atores desta rede apontam para pistas
relevantes na exploração de algumas das dinâmicas relacionais. Apesar da análise da
centralidade ser decisiva para a compreensão do estatuto ou poder simbólico dos
atores (sobretudo em relações direcionadas), vislumbram-se outros padrões de
interação nesta rede com importância análoga, como a coesão e reciprocidade. A
observação das relações de adjacência permite-nos constatar que não se trata de um
grupo coeso, porque é escassa em circuitos (ou seja, em subgrupos cujos nodos
coincidem) e é excessiva em árvores (i.e. grafos conexos sem circuitos). Uma
distribuição de relações deste tipo é comum em redes cujos atores têm uma orientação
na direção das suas conexões, apresentado portanto uma densidade baixa ou relações
dispersas (sparse).
24
De forma genérica, assume-se que a inclusão de um terceiro sujeito num encontro entre outros dois
(díade), por um lado, transforma a relação substantiva entre os dois primeiros como, por outro, produz
uma nova configuração – a tríade [que pode ser de vários tipos: fechada ou hierárquica, etc. – para
maior aprofundamento vd. isomorfismo das tríades, Holland e Leihardt (1981:43)].
37
A aplicação do teste ao padrão relacional que apresentamos confirmou a fraca
homogeneidade (e densidade) dos subgrupos, havendo apenas três formações ou
subconjuntos de relações recíprocas (triádicas), das quais duas são "hierárquicas" e
uma é "coesa". Por outras palavras, em dois subconjuntos (ou componentes do grafo)
um dos atores estabelece relações recíprocas com outros dois, mas estes não se
relacionam entre si. No subgrupo coeso existem relações recíprocas entre todos os
(três) atores. A emergência destes dois padrões revela-se relevante em vários aspetos.
38
Figura 5 - Qualidade das relações
39
modo, sobretudo se se considerarem indicadores mais específicos das relações
(frequência da colaboração e trocas). Este padrão também evidencia que as interações
mantidas são de carácter maioritariamente unilateral, cuja reciprocidade é pouco
significativa, como já tínhamos apresentado anteriormente.
40
Figura 7 - Frequência das trocas de informação e/ou recursos
Com efeito, a APP3 e a AO1 ocupam uma posição igualmente central no indicador de
trocas raras/ ocasionais. Disposição que é explicada exatamente pelo número de
apreciações feitas e não pelas recebidas. Também a AO2.1 e a PJ2 integram este
grupo, com a primeira a destacar-se pelo número avaliações emitidas e a segunda
pelas recebidas, sendo a instituição por excelência que a rede de parceiros avalia
como fraca em trocas de informação e/ou recursos.
Os padrões encontrados – seja pela simples interação entre os atores, seja pela
avaliação mais concreta de alguns aspetos relacionais – apontam para algumas pistas
relevantes no aprofundamento e compreensão da rede de instituições que intervêm
(conjunta ou isoladamente) na regulação das situações de violência com crianças e
jovens. Neste âmbito, o cruzamento com os dados qualitativos sobre as necessidades e
propostas de atuação constitui informação particularmente útil, no sentido de
complementar e enriquecer a análise.
41
1.4. PREVENIR E INTERVIR: NECESSIDADES E PROPOSTAS DE ATUAÇÃO
Esta análise, embora concisa, permite-nos concluir sobre alguns aspetos salientados
no estudo das relações entre os parceiros. Nomeadamente, o facto de grande parte das
42
instituições considerar necessário uma maior articulação e coordenação para intervir
ou pela alusão a projetos mais específicos e mais participados e envolventes. As
respostas dadas validam o padrão global encontrado de relações dispersas e altamente
contextualizadas, cuja reciprocidade e intensidade de colaboração e trocas de
informação e/ou recursos é pouco significativa.
Não só a nível macro, mas também no interior de cada uma das organizações, o leque
de interpretações das políticas e sistemas de regras é diverso. A atenção dada e a
responsabilização comum pelos casos de violência apoia-se num entendimento difuso,
sobretudo nas situações que requerem maior disponibilidade de recursos técnicos,
pondo em causa a eficiência e a eficácia de ações realizadas e o consequente sucesso
dos resultados. Os padrões encontrados na rede são reveladores disso mesmo, já que
no domínio da interação é possível identificar um conjunto de instituições cujas
relações são dispersas e com um grau baixo de reciprocidade e comunicação efetiva.
Isto quer dizer que as relações institucionais mantidas em matéria de regulação da
violência não traduzem explicitamente as demandas e normativos delineados para este
efeito.
43
As necessidades externas e propostas de ação indicadas pelos representantes
institucionais analisados mostram que o caminho para a construção dos objetivos de
intervenção conjunta e integrada ainda é longo. Apesar da convergência entre
objetivos e tipo institucional, a distribuição das relações ocorre sobretudo pela
proximidade geográfica, havendo um número muito reduzido de parceiros
interdependentes. Estes padrões apontam para um maior isolamentos dos parceiros no
desenvolvimento das suas ações, com estratégias de intervenção pouco articuladas,
designadamente por parte das escolas e das polícias. Não obstante, uma das escolas
(EF3) e uma das unidades de saúde (S4) da rede (total) preenchem um lugar de
prestígio junto dos restantes parceiros em todos os indicadores (nomeações, maior
frequência nas colaborações e trocas, relações positivas) e apresentam um dinamismo
relevante nas relações estabelecidas. O território 2 e as instituições com funções mais
centrais destacam-se igualmente por serem aquelas que apresentam relações mais
estruturadas ou colaborantes. No que respeita à intermediação, as escolas e as polícias
ocupam uma posição periférica no conjunto global da rede, mas apresentam um
padrão de reciprocidade semelhante no interior de dois dos territórios. A maior
exigência das avaliações ou vulnerabilidade à colaboração e trocas de
informação/recurso foi outra das tendências verificadas nesta análise, com as
instituições de tipo Autárquico/Oficial (AO) e Policial/Judicial (PJ) a acumularem o
maior número de apreciações negativas ou fracas. Além disso, a polarização de
instituições com nomeações emitidas ou recebidas é reveladora da fraca
interdependência patente na rede. É relativamente paradoxal constatar que apesar de
todos os representantes, sem exceção, indicarem a necessidade (interna ou externa) ou
proporem atuações em conjunto, os padrões que emergem das suas relações com os
parceiros revelam precisamente o contrário.
44
análise prévia orientaram a construção do guião semiestruturado de inquirição e a
seleção das instituições sociais e seus representantes.
Em cada uma das sessões explicámos aos intervenientes que o encontro procurava
aprofundar o conhecimento relativo às suas perspetivas sobre o fenómeno da
violência, enquanto representantes das suas instituições, compreender os modelos de
intervenção desenvolvidos no território, assim como a articulação interinstitucional, e
o que consideram ser os obstáculos e soluções relativamente ao problema. Os
intervenientes demonstraram interesse em participar nestes momentos de discussão e
reflexão conjuntas. Os espaços em que se realizaram as sessões foram gentilmente
cedidos pelos representantes das escolas, em dois territórios, e da junta de freguesia
noutro, e que tiveram uma colaboração de ativa e interessada na organização das
sessões. Coube à coordenação da equipa conduzir o debate, introduzindo os tópicos e
direcionando a discussão sobre o tema, de uma maneira não-estruturada e natural
(Parasuraman, 1986: 245). Para o registo e recolha da informação utilizámos o
suporte áudio e retirámos notas sobre os contributos dos intervenientes, a ordem dos
participantes e outras informações relevantes para a análise. A análise dos temas
discutidos nas sessões, centra-se tanto no que se aproximam e como no que diferem,
relativamente aos seguintes aspetos: 1) Foco de ação dos parceiros; 2) Estratégias de
intervenção e colaboração entre parceiros; 3) Relação com a escola e 4)
Contrariedades encontradas.
25
A literatura indica que cada grupo focal seja composto entre seis e doze participantes, não excedendo
cinco grupos por projeto de investigação (Morgan, 1997; Suter, 2004) supracitado em Galego, C. e
Gomes, A. (2005).
45
2.1. INTERVENÇÃO DOS DAS INSTITUIÇÕES DA REDE SOCIOEDUCATIVA LOCAL –
RELAÇÕES ENTRE PARCEIROS
46
Uma outra distinção relevante, quer nas conceções, quer nas práticas de intervenção
destas entidades prende-se com o facto de serem de nível central ou local. O leque de
possibilidades de ação de cada instituição é condicionado pela sua abrangência,
verificando-se por esse motivo um maior ou menor distanciamento na resolução dos
casos de acordo com o seu foco de ação. Neste sentido, houve uma grande
convergência dos participantes na defesa de atuações a nível local, caso a caso,
articulada com os parceiros relevantes para cada situação, em detrimento de uma
intervenção mais alargada e abrangente.
47
por exemplo, menciona o excesso de burocracia e a demora nos processos que trava
as tentativas de transmissão atempada da informação e o estabelecimento de pontes
interinstitucionais. A ausência de recursos humanos para intervir é outro dos
obstáculos identificados pelos parceiros. Todos os representantes deste território
consideram que a rede é um espaço privilegiado para a troca de influências, mas isso
requer alguma arrumação e preparação das instituições que possibilite a abertura e as
trocas, uma organização que nem sempre acontece na freguesia T1.
Outro aspeto destacado é a frequência dos encontros do grupo, havendo uma reunião
semanal para discussão das situações prioritárias, que além de garantir uma
intervenção efetivamente articulada, permite que os parceiros mantenham relações de
proximidade fortes. Ainda que esta colaboração esteja formalmente enquadrada, os
representantes afirmam que ultrapassam frequentemente a sua esfera de ação,
alargando e potenciando deste modo a ação conjunta, onde todos trazem e todos
recebem. Nesse sentido, os parceiros procuram identificar estrategicamente os
problemas da localidade, contando com a colaboração de todos para a definição de
um plano de ação, que lhes permite antecipar situações problemáticas relacionados
com a violência. Esta vantagem contribuiu para experimentarem estratégias e modos
de ação adequados às especificidades dos problemas com um sentido de
territorialidade e proximidade.
48
território T1 realça também que tem havido respostas, colaboração e apoios dos vários
parceiros à entidade, mas destaca obstáculos na articulação com a escola E1.
Questionados sobre o que pode ser feito para ultrapassar essas limitações e melhorar a
intervenção, os representantes das entidades locais entendem que o trabalho tem de
ser desenvolvido de modo sistémico e com a inclusão de toda a comunidade. Apesar
de não haver um trabalho em parceria, a existência de situações de colaboração caso a
caso é referida e apoiada por todos.
Por sua vez, no território T2 a atuação caso a caso acumula com uma aposta na
criação de condições para as crianças e jovens, ou seja, trata-se de uma ação que se
pretende que seja mais que paliativa. Os parceiros ilustram esta estratégia com a
organização conjunta de colónias de férias e ocupação dos tempos livres das crianças
e jovens em período de interrupção letiva, ações que entendem ser chave na
prevenção de comportamentos disruptivos, bem como no desenvolvimento de um
sentido de pertença e participação na comunidade. Salientam ainda a relevância do
trabalho efetuado pelos técnicos junto das suas crianças e jovens, apontando para uma
ética profissional comum, na qual prevalece o bom senso na tomada de decisão e na
atuação.
49
Em síntese, pode afirmar-se que estes territórios contrastam significativamente em
relação ao nível de colaboração e funcionamento da rede, contudo a escola é
considerada como parceiro central. Por um lado por ser a instituição onde a maioria
das crianças e jovens da localidade se encontram e passam uma parte substancial do
seu dia. Por outro, por entenderem que a escola tem, ou deve ter, um papel ativo no
diagnóstico e na atuação de primeira linha dos casos problemáticos. Nesse sentido, a
postura dos parceiros locais em relação à escola é um indicador pertinente tanto para a
compreensão da articulação da rede, como para a identificação dos bloqueios e
potencialidades de atuação. Porém, apenas na freguesia T2 se verificou uma
disposição efetiva da escola em assumir esse papel preponderante.
Para os diversos parceiros presentes nos grupos focais, a escola é considerada uma
instituição com um papel relevante na atuação em rede. No entanto, a perceção da sua
função e da responsabilidade que tem na resolução de casos é frequentemente objeto
de discordância e crítica nos debates tidos entre os parceiros no âmbito dos grupos
focais. A freguesia T2 constitui uma exceção, para os representantes das entidades
locais a escola desempenha uma função central e fortemente aglutinadora, e
contribuiu ativamente para a formalização e desenvolvimento da atual rede,
usufruindo da sua margem de autonomia, de uma forma global e estratégica.
50
do Ensino Básico um problema cuja solução tem de passar por uma maior divulgação
e possibilidades de encaminhamento, assim como a necessidade de melhorar a
imagem negativa que existe na comunidade sobre essas vias. Esta opinião não é
partilhada pela escola, por entenderem que existe um grande esforço e trabalho nos
cursos alternativos, que frequentemente resulta em casos de sucesso apesar dos
problemas iniciais. Esclarecem que a escolha destes cursos formativos exige recursos
e negociação, que só é possível depois de se preencherem as vagas do Ensino Regular
numa rede educativa que está sobrelotada.
Apesar das divergências encontradas, foi possível constatar que a escola assume uma
dupla função na rede, por um lado por ser um espaço onde se realizam parte as
intervenções de primeira linha, seja pela sinalização de casos, seja pelo
acompanhamento efetuado com os alunos. Por outro, funciona como aglutinadora dos
parceiros, na medida em que é promotora de ações conjuntas, orientando muitas vezes
as estratégias tomadas, nomeadamente através da cedência de espaços para a
concretização de atividades nos tempos não letivos.
51
oportunidades para desenvolver trabalho conjunto e junto das crianças e jovens.
Apesar disso, procuram manter esse trabalho noutros momentos, mas menos
frequentemente. Os problemas de carência alimentar também têm trazido maiores
dificuldades na gestão da regulamentação escolar, recorrendo para o efeito sobretudo
ao Banco Alimentar Contra a Fome.
52
social, subsistem muitas amas ilegais no bairro. Esta situação deve-se a um
desajustamento do número de creches face às necessidades das famílias, assim como
dos horários praticados relativamente aos de trabalho dos pais e do tipo de apoio que
precisam em caso de doença das crianças. Ou seja, as amas recebem e cuidam das
crianças mesmo que estejam doentes, praticam horários ajustados aos dos pais,
aceitando crianças em horários pós-laboral, por exemplo. O que coloca um dilema aos
representantes da rede pois: legalmente teríamos que denunciar, mas se o fizermos
estas crianças ficarão em muito piores situações.
53
mecanismos de intervenção e como de prevenção a nível territorial. As redes locais
permitem aceder a recursos e estratégias de atuação planeadas conjuntamente,
adequadas a problemáticas específicas identificadas pelos parceiros. Verifica-se,
porém, que para um funcionamento deste tipo de intervenção bem sucedido é
necessário um conjunto de parceiros interessados que dinamizem a rede, superando
convicções e práticas institucionais divergentes.
54
IV. ESCOLA
1. OS DOCUMENTOS ESCOLARES
A diversidade cultural e vulnerabilidade económica das famílias dos alunos parece ser
marcante na medida em que são dos aspetos repetidamente apontados, referindo por
exemplo os desafios inerentes à abertura da escola a uma população heterogénea e
multicultural inserida num meio sócio económico difícil. [Projeto Educativo
Agrupamento da Escola E1, pp.7] Segundo os documentos escolares, as
características dos alunos e meios de origem criam obstáculos ao nível do
funcionamento e papel da escola, uma vez que – quer ao nível das expectativas quer
26
2010/ 2011 e 2011/2012 foram os anos letivos considerados para a análise documental, pela
disponibilidade de documentos aprovados e em vigor, uma vez que as alterações normativas da tutela
para 2012/2013 não permitiram o acesso atempado aos mesmos. Todas as escolas foram alvo de
avaliação externa, tendo sido recolhidos os respetivos Relatórios disponibilizados pelo site da IGE (não
houve apresentação de Contraditórios em nenhum dos casos), havendo apenas uma em que a Avaliação
foi anterior ao atual mandato (E2) – considerando-se apenas para a análise as continuidades e rupturas
de Liderança. Tivemos ainda acesso a outros documentos como o Projeto Curricular ou os Planos
Anuais e Plurianuais de Atividades que foram sempre tomados, quando pertinentes, como
complemento aos recursos em análise.
55
das práticas – tanto os alunos como os pais/responsáveis apresentam níveis elevados
de desinteresse [Projeto de Intervenção da Diretora E3, pp.7]. Ou seja, consideram
que a falta de acompanhamento, de participação e as fracas expectativas relativamente
à escola e ao percurso escolar dos educandos (especialmente no caso das escolas E2 e
E3, numa lógica de reprodução de trajetórias pouco escolarizadas) contribuem
frequentemente para o abandono, insucesso e indisciplina [patente por ex. no Projeto
Educativo de Agrupamento da E2, pp.8]. Facto que reflete nestes documentos, muitas
vezes, a perceção de uma escola com funções acrescidas, como espaço de educação
de competências sociais e cívicas, para além do ensino.
27
Patentes nos Projetos Educativos de Agrupamento e/ou nos Projetos de Intervenção das Diretoras das
escolas, designadamente: PEA/E1, pp.6-7; PEA/E2, pp. 21; PID/C3, pp. 31.
28
Escola E2 – Gabinete Gestão de Conflitos; Escola C3 – Gabinete Acolhimento e
Intervenção/Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família; Escola E1 – Gabinete de Intervenção Disciplinar.
56
mediação e intervenção em situações de conflito29. Organizacionalmente e para esse
efeito foram constituídas equipas às quais foram atribuídas funções e
responsabilidades diversas. Estas equipas são formadas por nomeação das respectivas
Diretoras e compostas por docentes no caso de duas das escolas (E1 e E3) ou, como é
o caso da E2, com a colaboração/ integração de outros elementos da escola (oriundos
das equipas multidisciplinares do Programa TEIP ou integração de Assistentes
Operacionais).
Formação dos
elementos da
Designação Âmbitos de Constituição da Atribuição de Funções/
equipa em Tutorias
de Gabinete Atuação equipa Responsabilidades Tarefas
gestão de
conflitos
Constituída por Diretor pode Recebe/
Professores e delegar encaminha
Gabinete Diagnóstico,
Freguesia coordenado por competências na alunos com
E1 Intervenção Mediação e Sim Não
T1 Professores Equipa do ordem de
Disciplinar Intervenção
(reuniões Gabinete de saída de
quinzenais/mensais); Intervenção sala de aula
Equipa de
Integração/ Diretor pode Recebe/
acompanhamento delegar encaminha
Gabinete Diagnóstico,
Freguesia constituída por competências no alunos com
E2 Gestão de Mediação e Sim Sim
T2 diversos recursos Subdiretor, ordem de
Conflitos Intervenção
humanos do Adjunto ou saída de
Agrupamento Conselho de Turma sala de aula
multidisciplinar
Diagnóstico,
Gabinete de
Mediação,
Acolhimento Recebe/
Intervenção,
e Acompanhamento encaminha
Melhorar
Freguesia Intervenção Constituída por e encaminhamento alunos com
E3 meios de Não especifica Sim
T3 /Gabinete Professores dos casos ordem de
Comunicação
Apoio ao disciplinares saída de
e criar clima
Aluno e à sala de aula
de respeito e
Família
confiança
29
A escola C3 prevê ainda objetivos de melhoria dos meios de comunicação e criação de um clima de
respeito e confiança. As práticas de monitorização, os procedimentos e os modos de apropriação
internos são evidentemente singulares em cada escola.
57
está inserida, ou seja, a escola tem a responsabilidade de melhorar e aperfeiçoar o
meio social em que está inserida. Na escola E2 uma das principais linhas orientadoras
de atuação é o aumento das responsabilidades na manutenção dos espaços mediante o
incremento da participação e desenvolvimento cívico das crianças e jovens (os
alunos). A escola E1 aposta prioritariamente na informação e sensibilização dos Pais/
Encarregados de Educação sobre as normas de conduta, estando prevista formação
específica sobre estes assuntos exclusivamente para estes agentes. Além disso, esta
escola perspetiva as responsabilidades de prevenção e intervenção, relativamente à
segurança, disciplina e criação de um clima pacífico, a todos os elementos da
comunidade educativa (escola, corpo docente e não docente, alunos e demais
membros pertencentes ao estabelecimento escolar).
30
Estatuto do Aluno, alínea n.º 1 do Artigo 52º, lei nº 39/2010 de 2 de Setembro. Normativo em vigor à
data do estudo
58
Quadro 7 - Medidas disciplinares corretivas - Regulamentação da tutela e das direções
das escolas
59
No caso das medidas disciplinares sancionatórias não se verificam tantas variações.
Com efeito, a suspensão é a única medida que surge relativamente diferenciada do
que está estabelecido no Estatuto do Aluno e apenas no caso da escola E2. Nesta
escola a responsabilidade de aplicar a medida de suspensão é exclusiva do Diretor de
Agrupamento, sem a possibilidade de consulta ao Conselho de Turma. O Estatuto do
aluno regulamenta que nos casos de aplicação da medida disciplinar sancionatória de
suspensão compete ao diretor decidir se deverão, ou não, ser estabelecidas parcerias
para o acompanhamento/integração do aluno durante o período de cumprimento da
pena, isto é:
Para além das medidas disciplinares encontram-se diversas estratégias nestas escolas
definidas para prevenir e intervir sobre os comportamentos desviantes dos alunos. O
encaminhamento e os apoios individualizados ou dirigidos a grupos específicos são
comuns às três escolas. A supervisão de alunos sinalizados, a procura de integração na
abertura do ano letivo e a preocupação com a transição de ciclo são outras das
medidas preventivas.
Encaminhamento para outras vias de ensino (interno ou externo); Intervenção direta da Psicóloga: acompanhamento
semanal das turmas PCA, apoio individualizado a alunos identificados. Sensibilização e tarefas na Formação Cívica
E1
no 5º ano; Acolhimento no início do ano letivo (a Assistentes Operacionais e a alunos novos – alunos do 9º ano
apadrinham alunos de 5º ano).
Tutorias; Encaminhamento de alunos para CEF, PIEF e PCA (interno); Reconhecimento de maior articulação entre 1º
E2
e 2º Ciclos do Ensino Básico
Alunos reincidentes são sinalizados, vigiados e acompanhados por técnicos que os encaminham/ orientam para vias
E3
alternativas (interno ou externo); Tutorias.
60
necessidade de integração dos alunos num novo quadro de relações e sistema de
regras, constituindo-se assim como um momento particularmente sensível no campo
da regulação de atitudes e comportamentos. De acordo com as Avaliações Externas da
IGE, em matéria de transição e sequencialidade entre ciclos de ensino, verificámos
que em todas as escolas é assinalada a procura de articulação e preparação destes
processos, nomeadamente pela existência de mecanismos e/ou práticas de orientação
vocacional. Em complemento, nos Projetos Educativos de Agrupamento e de
Intervenção da Diretora das escolas E3 e E2, há também um especial enfoque no
trabalho cooperativo e colaborativo entre os docentes que potencie a articulação
disciplinar e interdisciplinar. Numa perspetiva de coesão e fortalecimento do
agrupamento, na escola E3 encara-se a integração e articulação entre os diferentes
níveis de ensino como veículo para o estabelecimento de um clima escolar bem
sucedido, na promoção de uma atmosfera de cooperação e convívio. Enquanto na
escola E2 um dos principais objetivos prende-se com o incentivo à articulação entre
ciclos, em que o princípio da continuidade pedagógica na constituição de turmas se
afigura como uma solução para uma resposta concertada e adequada.
A escola tem, assim, autonomia para adotar orientações próprias sobre a constituição
de turmas que se pretendem criteriosas e ponderadas, devendo para isso ser
acompanhadas por um processo de diagnóstico e análise das características e percurso
escolar dos alunos.
61
extraordinárias do Conselho de Turma (por iniciativa ou proposta), sempre que
quaisquer assuntos de natureza pedagógica ou disciplinar o justifiquem. Finalmente,
as escolas podem ainda designar professores tutores para acompanhamento em
particular do processo educativo de um grupo de alunos. As escolas E2 e a E3
promovem e implementam Sistemas de Tutorias, com o intuito de orientar e
acompanhar alunos sinalizados com problemas de aprendizagem e/ou integração na
escola e na turma.
Apesar das dificuldades identificadas, a análise destas escolas revela que estas se
encontram munidas de competências que lhes permitem desenvolver estratégias
alternativas, facilitadoras e potenciadoras de um ambiente escolar pacífico e seguro.
Na análise identificaram-se diferentes estratégias previstas pelos responsáveis
escolares das escolas em estudo, e que se podem agrupar nos seguintes domínios de
ações:
62
- Articulação e coordenação da escola no âmbito da segurança e da regulação da
violência: nas escolas E1 e E3 os responsáveis escolares planificam diversas ações a
este nível. Na Escola E3 a direção escolar prioriza a uniformização e coerência de
regras e procedimentos com vista à promoção da articulação entre as diferentes
instâncias e órgãos da escola; nas escolas E1 e E3 há por parte dos responsáveis a
previsão da implementação de sistemas de vigilância (como o cartão magnético) e a
manutenção dos espaços escolares.
63
lideranças, do envolvimento dos atores nos processos de tomada de decisão, dos
fatores organizacionais e das condições para a sua implementação. Tendo gabinetes
de apoio para a mediação e intervenção em situações de conflito, as escolas do estudo
dispõem igualmente de informação sistematizada sobre as ocorrências participadas e
que medidas foram atribuídas em cada ocorrência. A monitorização do fenómeno
parece representar para os responsáveis escolares destas escolas uma primeira etapa
de regulação do problema na medida em que no âmbito do trabalho desenvolvido por
esses gabinetes usam instrumentos de diagnóstico e de avaliação sobre a intervenção
no combate à violência na escola. Os processos de monitorização e organização da
informação distinguem-se por escola, particularmente em termos de registo e
apresentação.
2010/2011 2011/2012
Ocorrências 433 354
Procedimentos disciplinares 89 23
Medidas Disciplinares
65 9
Sancionatórias
Fonte: Direção da Escola E2
De modo mais detalhado, a distribuição das ocorrências por ano de escolaridade e por
ciclo de ensino apresenta oscilações significativas ao longo do ano letivo 2011/2012.
No 2º ciclo EB há maior número de ocorrências, sobretudo no 5º ano de escolaridade,
com um aumento progressivo de situações entre o primeiro e o segundo período
escolar. No 3º ciclo EB o número de ocorrências registadas é substantivamente
menor, havendo um ligeiro acréscimo no segundo período escolar, especialmente no
8º ano, com 36 ocorrências registadas pela equipa do gabinete. Destas, 22 são apenas
numa turma de ensino regular, na qual apenas 2 alunos em 7 identificados, não
reincidiram no seu comportamento ao longo do segundo período. A reincidência
reforça o a posição do 2º ciclo EB como ciclo que reúne o maior número de
ocorrências na escola. Do total de alunos a frequentar a escola neste ano letivo
verificaram-se 12 situações com mais de 6 reincidências, distribuindo-se do seguinte
modo por anos de escolaridade: 6 no 5º ano; 4 no 6º ano; 1 no 8º ano e 1 no 9º ano.
64
Quadro 11 - Ocorrências por período e ano escolar no ano letivo de 2011/2012 registadas
no Gabinete de Gestão de Conflitos da Escola E2
31
Por exemplo, em 2008/2009 foram aplicadas 119 medidas disciplinares sancionatórias, que incluíam
o condicionamento no acesso aos espaços escolares e suspensões, estas últimas eram particularmente
usadas com alunos reincidentes e com frequência aplicadas de forma sucessiva.
32
Ainda que estas variações necessitem de um maior aprofundamento quanto à gravidade e tipo de
ocorrências registadas, destaca-se que há um número de turmas significativamente menor no terceiro
ciclo nesta escola.
65
Quadro 13 - Ocorrências por turma e ano escolar no 3º período do ano letivo de
2011/2012registadas pelo Gabinete Intervenção Disciplinar da Escola E1
9º
5º ano 6º ano 7º ano 8º ano
ano
A 5 0 4 2 1
B 0 2 12 0 0
C 4 1 9 0 1
D 3 0 0 0 0
E 3 0 0 2 3
F 2 1 0 1 -
G 7 7 - - -
H 1 7 - - -
I 6 1 - - -
J 4 1 - - -
L - 6 - - -
Total 35 26 25 5 5
Fonte: Direção da Escola E1
66
orientações presentes no diploma relativo ao Estatuto do Aluno. O RI das três escolas
apresentam uma organização similar :
1) Secção introdutória – em que se apresentam as finalidades, determinação e
qualificação das infrações e medidas disciplinares;
2) Secção sobre medidas corretivas – em que que, além dos critérios de aplicação,
orientações e procedimentos, se definem e listam o tipo de medidas (5 no total:
advertência oral 33 , ordem de saída, tarefas/ atividades de integração escolar,
condicionamento no acesso ou utilização de materiais e equipamentos e mudança de
turma);
3) Secção sobre medidas sancionatórias – tal como na anterior, nesta parte apresenta-
se a definição das medidas (que são três: repreensão registada, suspensão (de 1 até 10
dias), transferência de escola), as orientações e procedimentos, assim como os
critérios de cumulação de medidas disciplinares.
Tal como está explanado no Estatuto do Aluno, as escolas têm autonomia para
regulamentar outras medidas corretivas, tendo-se verificado na análise aos
documentos escolares algumas variações a este nível. A escola E3 define a
permanência do aluno nos seus gabinetes de apoio na sequência de uma ordem de
saída, já a escola E2 acrescenta o impedimento de participar em visitas de estudo e
atividades festivas ou de atividades de representação da escola. As três escolas
estipulam um conjunto de tarefas a desempenhar pelos alunos orientadas para
trabalhos e ações de manutenção, apoio e organização dos espaços interiores e
exteriores da escola ou das atividades não letivas. No caso das escolas E3 e a E2 o
desenvolvimento de um trabalho autónomo ao nível das diferentes áreas curriculares,
disciplinares e não disciplinares apresenta-se como uma atividade de integração.
Nos Regulamentos Internos destas escolas encontra-se ainda a apresentação de
tipologias de medidas disciplinares a aplicar. Na escola E1 para as situações de faltas
justificadas e/ou injustificadas dos alunos há uma tipificação dos procedimentos, e na
da escola E3 há para as situações de ordem de saída de aula para os alunos que
cometem infrações. Ambas as escolas têm documentos autónomos sobre as normas de
conduta dos alunos. Nos Regulamentos Internos das escolas E2 e E3 a informação
sobre os procedimentos disciplinares tal como se encontra no Estatuto do Aluno, não
está incluída nos respetivos regulamentos; no documento da escola E1 remete-se para
os artigos do referido estatuto.
33
As alterações ao estatuto do aluno, introduzidas pela lei nº 39/2010 de 2 de Setembro, mais
concretamente no artigo 26º, incluíram pela primeira vez a Advertência no conjunto de medidas
corretivas. O carácter recente destas mudanças explica porque razão a escola E1 não consideram esta
medida nos seus RI (aprovados em 2009). Ressalva-se ainda que as mudanças normativas mais
recentes, constantes no novo estatuto do aluno (Decreto Lei n.º 51/2012 de 5 de Setembro), não foram
consideradas porque os documentos em vigor nas escolas no momento da análise correspondiam a um
período anterior a estas (mandatos de 2009 a 2012).
67
acordo com os horários e normas previstas estão regulamentados nos documentos
orientadores das três escolas. Os restantes direitos são específicos de cada escola,
estando a possibilidade de reunir, se associar e ter acesso a informação presente em
duas escolas (E2, E3).
Direitos E1 E2 E3
Direito à diferença, bem como a consideração e valorização dos diferentes saberes e culturas x
Processo de ensino-aprendizagem e avaliação: apoio, participação, esclarecimento x x x
Exercer livremente o seu direito de reunião, associação e informação x x
Utilizar as instalações da escola bem como os seus recursos nos termos regulamentares x x x
Participação em atividades lúdico-culturais (dispensa das atividades letivas) x
Ser assistido em caso de acidente ou doença súbita no decorrer de atividades escolares x
Fonte: Regulamentos Internos e Códigos de Conduta das escolas
À semelhança dos direitos, as escolas regulamentam mais deveres do que os que estão
previstos no Estatuto do Aluno. Em particular aqueles que remetem para normas de
conduta e de convivência, designadamente para as situações vividas em sala de aula.
As responsabilidades sobre os bens e equipamentos escolares são outro aspeto focado,
prevendo-se com detalhe, nos documentos orientadores, os cuidados a ter na
utilização e manutenção dos materiais. O cumprimento dos deveres escolares e a
informação ou apoio junto dos adultos da escola não são obrigações previstas nas três
escolas, possivelmente por abrangerem dimensões que já estão largamente
regulamentadas nos deveres gerais do aluno.
E1 E2 E3
Dever de manter, utilizar e responsabilizar-se pelos bens e equipamentos x x x
Atuar segundo princípios cívicos: ter uma conduta ordeira, assídua, pontual, obediente… x x x
Evitar riscos, perturbações, atos ilícitos ou proibitivos x x x
Cumprir com as responsabilidades escolares (justificação de faltas, plano de recuperação,
x x
desempenho de funções atribuídas, etc.)
Informar e/ou solicitar apoio de um agente educativo, caso surja algum problema (não
x
solucionável localmente)
Fonte: Regulamentos Internos e Códigos de Conduta das escolas
68
não estando prevista qualquer participação na elaboração dos mesmos. Na
programação de atividades a escola E3 apresenta uma fraca colaboração e
envolvimento dos alunos, ao contrário das escolas E2 e E1, que os incluem na
construção dos planos de atividades, conhecimento e definição de regras, dos critérios
de avaliação, dos temas a abordar e das atividades a desenvolver – podendo ser
propostas e executadas pelos próprios discentes.
Apesar de não estar previsto o envolvimento dos alunos nos órgãos de decisão, em
termos gerais, constatámos nos Regulamentos Internos a indicação de diferentes
formas de organização das atividades escolares com vista à promoção da participação
dos alunos na vida escolar. Situando-se entre as secções de direitos e deveres do
aluno, os documentos das três escolas integram, de maneira mais sumária (E1, E2) ou
mais detalhada (E3), um ponto relativo à representação dos alunos. Nas três escolas,
as responsabilidades dos delegados e subdelegados estão relacionadas com os seus
deveres de representação da turma, que implicam: a solicitação e integração de
reuniões, promoção da articulação e cooperação entre os alunos e os professores e a
Direção de Turma; e a coordenação dos processos de consulta, informando, e
conhecendo a opinião da turma. Por sua vez, a escola E3 estipula as competências e
perfis dos representantes dos alunos, de acordo com os valores e princípios
promovidos pela escola – nomeadamente a assiduidade, pontualidade, o sentido de
responsabilidade, de justiça e de entreajuda e solidariedade – além de boas
capacidades de relacionamento e de intervenção nos conflitos. Ser um elemento de
coesão da turma e de ligação entre a turma e o diretor de turma também correspondem
às características indicadas, e integram o conjunto de competências relativas à
representação, participação e comunicação estabelecida entre os alunos e os órgãos
deliberativos e consultivos da escola.
34Salvaguarda-se que a avaliação externa na escola E2 foi realizada em 2007, estando a decorrer uma nova
avaliação no ano letivo 2012/2013.
69
(alternativo) para a resolução dos problemas de violência e agressividade nos espaços
educativos.
Tomando por referência os parceiros identificados pelas escolas nos seus documentos
orientadores, distribuímos as entidades respetivas pela tipologia institucional
anteriormente adotada35. A escola E2 é aquela que apresenta um leque de relações
mais abrangente, relacionando-se com todos os tipos de instituição, seguida pela
escola E3. Tais resultados reforçam o que na análise de redes apresentada
anteriormente se concluiu relativamente a cada território. Por um lado pela
diversidade e maior consistência das relações entre parceiros do mesmo território, por
outro, pela assunção da escola E2 como elemento aglutinador e promotor da rede do
seu território.
35
Explicitada na análise de redes dos agentes locais, ponto 1 do capítulo III. Territórios.
70
Quadro 16 - Parceiros identificados nos documentos orientadores das escolas
T1 T2 T3
Tipo institucional Entidades parceiras
E1 E2 E3
Autarquia x x x
Autárquica ou Oficial
Instituições Públicas (Sociais) x x
não judiciária
Institutos Técnicos (Formação/ Emprego) x
Programas Comunitários x x x
Associação, Projeto ou IPSS/ ONG x x x
Programa Associações Culturais/ Desportivas x x
Associações de Pais e EE x x
Saúde Centro de Saúde x x x
Policial ou Judicial Forças de Segurança x x
A partir da análise às entrevistas aos responsáveis escolares das três escolas foi
possível compreender uma significativa uniformidade das representações sobre a
violência na escola. Nos discursos dos entrevistados há referências explícitas às
diferentes dimensões do fenómeno, seja a física, a psicológica ou a verbal. O aluno
violento é entendido pelos entrevistados como uma fonte de preocupação e de elevado
36
Os seis elementos entrevistados residem no concelho em estudo. Na sua maioria têm uma vasta
experiência de desempenho de funções em cargos de liderança escolar, embora com formações iniciais
muito diferenciadas.
71
desafio para a gestão da escola, considerando como problema prioritário e de extrema
importância, seja para a escola em geral, seja para os alunos em particular.
(...) é aquele que, sem nós darmos por ela, está “molestar” os outros é mais difícil de
detetar – é a maior preocupação! [Diretora Escola E2]
Um aluno violento é aquele que não se respeita nem a si nem aos colegas e
constantemente! Porque a partir do momento que ele agride, seja verbalmente, seja
fisicamente um colega também... Ele também não está... E só vem basicamente para a escola
com essa intenção... Além de estar a prejudicar os outros colegas, está a estragar o seu
futuro. Por isso é que eu digo que ele não tem respeito por si próprio. Porque, o que é que ele
vais ser? É isso sempre que eu os questiono: "O que é que tu vais ser? Como as coisas como
estão no país, tu não vês?" [Delegado Segurança Escola E1]
Eu acho que é um pouco de tudo, na minha opinião, não é? Ora um aluno que, realmente,
não tenha objetivos em termos de aprendizagem, se é obrigado pelo EE ou por um regime
qualquer a vir para um local – que é a escola – onde ele está sujeito a regras e neste
momento ele não tem objetivo nenhum, eu acho que uma coisa leva à outra, não é? Para
alguns alunos pode ser efetivamente o fator: não tem vontade nenhuma de aprender, nem de
estudar e então vai chatear; ou o contrário – porque há problemas exteriores que traz para a
escola: uma família desintegrada ou alguém que... Efetivamente, se são miúdos com
problemas de personalidade, porque há fatores familiares que aí são bastante evidenciados e,
efetivamente, a aprendizagem já aí está. [Diretora Escola E1]
72
tarde. Em grande medida, porque para os entrevistados se trata de um momento mais
propenso para que haja mais comportamentos agitados. Outra justificação prende-se
com a exiguidade dos espaços escolares destinadas à prática de jogos ou brincadeiras
nos intervalos (por vezes usam as salas de aulas ou outros espaços de aprendizagem).
Nas descrições e explicações sobre os incidentes no recreio na sua maioria os
entrevistados enquadram estes incidentes no que consideram ser um processo de
crescimento e adaptação das crianças à escola. Há nos seus discursos uma
naturalização relativamente ao comportamento violento dos alunos, referindo-se às
caraterísticas das faixas etárias e etapas de desenvolvimento em que se encontram os
alunos. Na sua totalidade os entrevistados declararam que a violência está a diminuir
progressivamente nos seus espaços escolares, associando de forma significativa a
ocorrência de incidentes às características da população escolar e da localidade.
73
relativamente à orientação para a intervenção prende-se com as principais
dificuldades, nomeadamente, o controlo do cumprimento de regras nos pátios.
Organizacionalmente orientam a intervenção a partir de um modelo por etapas, que
define os procedimentos de diagnóstico, o plano de ação, as modalidades de
participação, a divulgação dos resultados, a reflexão e (re)adequação dos
procedimentos.
No âmbito das orientações para a intervenção definidas pelas direções das três escolas
as equipas dos gabinetes de intervenção ocupam uma posição central. A estas equipas
cabe o desempenho de uma função de mediação, fundamental na operacionalização
dos procedimentos definidos pelas escolas. Pela sua constituição essas equipas
usufruem de um elevado grau de influência junto dos vários níveis hierárquicos da
organização escolar, seja na liderança de topo, seja nas intermédias, seja ainda junto
dos restantes professores e funcionários das escolas. O encaminhamento para os
gabinetes de intervenção disciplinar depende do local das ocorrências e da gravidade
da situação. Em cada escola a definição dos procedimentos é específica e depende, em
grande medida, das modalidades de distribuição da autoridade, por um lado, e da
definição de gravidade das ocorrências, por outro.
74
Na escola E1 a uniformização dos procedimentos de atuação apoia-se na organização
do Gabinete de Intervenção disciplinar. O gabinete tem uma equipa e espaço próprios,
e procede ao atendimento direto dos alunos em conflito, cabendo-lhes a função de
registo das ocorrências e consequente transmissão das informações para os órgãos e
entidades respetivas. Nesta escola o gabinete produziu Fichas de relato, onde se
inscrevem a participação e encaminhamento das ocorrências. Por outro lado, são
distribuídas as instruções de atuação a toda a comunidade educativa, nomeadamente
na sala de aula na mesa dos professores ou anexado aos livros de ponto. Em casos
considerados graves cabe à direção atuar.
Quadro 17 - Responsáveis pela intervenção, por local das ocorrências e gravidade, por
escola
75
essencialmente com a atitude dos autores e do contexto em que ocorre o ato. A justiça
na operacionalização dos critérios e aplicação das medidas disciplinares constitui uma
das preocupações expressas pelos responsáveis desta escola.
Canalização de recursos para a regulação da violência: disponibilização de um espaço para mediação de conflitos e
E1 acompanhamento das ocorrências;
Carências de RH em parte superadas pelos técnicos colocados ao abrigo do Programa TEIP
Canalização de recursos para a regulação da violência: conjunto alargado de projetos direcionados para a diminuição da
E2 violência na escola (nomeadamente, treino de competências sociais)
Carências de RH em parte superadas pelos técnicos colocados ao abrigo do Programa TEIP
Canalização de recursos para a regulação da violência: Oferta variada de clubes e atividades (frequência diferenciada
segundo o perfil do aluno);
E3
Carências de RH: Gestão estratégica de RH, a escola dispõe de 2 mediadores, 1 técnica de serviço social e 1 vigilante
GCSE.
76
2.3 RELAÇÕES DA ESCOLA COM O EXTERIOR: FAMÍLIAS, ENTIDADES LOCAIS E
FORÇAS DA SEGURANÇA
As famílias
As famílias dos alunos são atores distintos quanto à natureza das relações e vínculos
estabelecidos com as escola. O contacto com os Encarregados de Educação é
entendido pelos responsáveis das escolas tanto como obrigação e como necessidade.
Por esse motivo as direções têm uma postura generalizada que privilegia a promoção
da comunicação e colaboração com estes. No entanto, apontam para níveis
contrastantes de envolvimento quando caracterizam a relação que se estabelece entre
a escola e as famílias dos alunos. Associam de forma significativa um maior
dinamismo e elevada participação nos assuntos escolares às famílias que designam
como “estruturadas” e o oposto para as famílias que consideram “desestruturadas”, e
que reúnem um conjunto de condições que consideram explicativas para a falta de
investimento e acompanhamento escolar dos seus filhos, como parcos recursos
económicos e escolares, serem imigrantes ou encontrarem-se em condição de
exclusão social. Relativamente à colaboração e participação na vida da escola
distinguem entre os pais colaborantes com a escola, os pais que responsabilizam a
escola e os pais que se demitem das funções parentais, criando obstáculos e resistindo
à intervenção da escola. Para este último tipo várias ilustrações foram dadas,
explicando que nestas situações é acionado, imediatamente, um processo de
sinalização e participação às entidades competentes, como a CPCJ.
O que exigem à escola não é muito diferente, a maneira de exigir é que é [Delegada
de Segurança Escola E2]
Há alunos que se nós telefonarmos aos pais, o aluno vem "direito" no outro dia,
pronto! [Risos] Percebe o que eu quero dizer? Que basta isso para resolver a situação.
Porque muitas das vezes é desconhecimento do EE. E de vez em quando não é por mal, é
porque entra às oito e sai às oito da noite e não consegue. Não consegue, pronto! [Delegado
Segurança Escola E1]
77
As relações com as entidades locais são estabelecidas através de protocolos de
parceria. Em grande parte essas parcerias passam pela cedência de recursos escolares.
As escolas E3 e E2 têm protocolos de parcerias de concessão de alguns espaços nos
seus estabelecimentos escolares a outras entidades locais dirigidos para a realização
de atividades desportivas (com usufruto ou não dos seus alunos) ou recreativas (como
eventos de congregações religiosas ou atividades da associações de pais e de diversas
instituições locais). Além do pavilhão gimnodesportivo da escola, na E3 referem
também a cedência do refeitório e outros espaços escolares. Neste âmbito as direções
das três escolas salientam a promoção e/ou o desenvolvimento de projetos/ planos de
formação, como por exemplo: cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA,
níveis B1, B2 e B3), Português Para Todos (PPT) e cursos de Alfabetização (EFCB).
A escola E3, além de realizar cursos de PPT e de Alfabetização (EFCB), promove
ainda o desenvolvimento de cursos extra escolares (mediante uma parceria
estabelecida com a Comissão Social de Freguesia, o Programa K’Cidade e a
Associação Islâmica da localidade, e formações de curta duração (através de um
protocolo com a escola profissional do concelho vizinho):
Uma escola inserida numa comunidade destas é uma escola da qual se exige muito –
temos investido nas parcerias porque nos permite movimentar numa série de situações. A
escola não se pode fechar sobre si própria. Isto é um porto seguro, os alunos sentem isso e
queremos que os pais também o sintam. [Diretora Escola E3]
78
indiretamente, também em alguns casos está a par ou leva alguns casos de situações...
[Diretora Escola E1]
E1 E2 E3
Consideram haver autonomia para regular X X X
Manifestam concordância com as medidas e programas desenvolvidos pela
X X
tutela
Estabelecem um relacionamento com Positivo (diálogo, entreajuda) X
a tutela Negativos (conflituoso)
Consideram haver ausência de recursos/ apoios X X
Consideram que há uma imposição legislativa, desadequada às condições e
X X
características da escola
Consideram haver instabilidade na regulamentação do enquadramento legal X X
Consideram que os normativos impedem uma boa resposta de atuação X
79
De uma forma geral, os responsáveis das três escolas consideram haver autonomia
para a regulação das situações de conflito, considerando haver uma maior inibição na
prevenção do que na intervenção, devido à carência de recursos:
Nós é que temos de resolver as situações de conflito. À exceção da legislação e das medidas
de transferência, em que estamos dependentes da tutela, somos nós que resolvemos. Em
termos de prevenção, dependemos dos recursos da tutela... Para ter mais recursos humanos,
por exemplo mais um vigilante, só com a ajuda da tutela. Câmaras de vigilância também não
temos... [Diretora Escola E3]
Só que nós tivemos um grande – estamos a ter um grande problema, muitas baixas, o
Ministério demora muito tempo a substituir. Porque para uma pessoa que mete baixa nós
demoramos quase cerca de um mês para ter cá alguém. Porque o Ministério demora cerca de
15 dias para nos dar resposta se não tem ninguém de quadro de zona, que esteja com horário
zero e que possa vir para cá [Delegado Segurança Escola E1]
80
3. A PERSPETIVA DOS PROFESSORES
81
permitindo aos professores responder através da internet. O desenvolvimento desta
estratégia de inquirição teve boa aceitação por parte dos responsáveis escolares, que
nos encontros presenciais colaboraram no processo de divulgação e solicitação de
preenchimento do questionário. Foi realizado um pré-teste (entre 8 e 12 de Outubro),
cujos resultados permitiram avaliar e validar as questões definidas. Assim, em
colaboração com as direções das escolas, estabeleceu-se como período de
preenchimento dos questionários o período entre 15 de outubro e 4 de novembro,
prazo que se previa alargado para que todos respondessem. No entanto, apesar da
mobilização dos docentes, o número total de respostas na data prevista não se revelou
satisfatório. De modo a garantir o volume de respondentes planeado, as direções
desenvolveram conjuntamente com a equipa de pesquisa estratégias alternativas de
mobilização dos professores. Apesar disso, em apenas uma escola o número de
respostas aumentaram mais significativamente face às solicitações das direções,
prolongando-se por essa razão o prazo de aplicação do inquérito até 15 de Dezembro.
Apesar dos obstáculos encontrados na aplicação, foi possível recolher um conjunto
significativo de resposta.
Total de % de
Total de Professores
Respostas inquiridos
Escola E1 100 34 34%
Escola E2 75 34 45%
Escola E3 87 57 65%
Total 262 125 48%
82
Quadro 22 - Sexo e idade dos docentes inquiridos (%)
Ser professor é para a maioria dos inquiridos a profissão que desempenham há pelo
menos 10 anos. Este indicador converge com a idade na análise por escola,
verificando-se maior antiguidade na profissão para os docentes da escola E1. Se
considerarmos o número de anos na escola como indicador de estabilidade do corpo
docente, constata-se que em geral estas escolas são estáveis, na medida em que têm
cerca de 84% dos seus professores há pelo menos 3 anos na escola. Estes valores
alteram-se ligeiramente na análise por escola, com menor número de professores
recentes (0 a 2 anos) na escola E1.
A maior parte dos professores inquiridos leciona e desempenha outro cargo ou função
na escola, especialmente na escola E1 em que 85,3% dos docentes se encontra nesta
situação. Entre os cargos ou funções ocupadas, as mais comuns relacionam-se com a
direção de turma ou responsabilidades de liderança intermédia (como coordenação
dos diretores de turma de ciclo ou coordenação de departamento). As tarefas de
coordenação ou apoio a atividades estão mais presentes na escola E2, neste caso,
acima dos cargos de liderança intermédia – o que aponta possivelmente para uma
coordenação organizacional mais apoiada em projetos/ iniciativas do que em
estruturas formais de articulação. Por sua vez, na escola E3 há a mesma proporção de
professores com funções não letivas, além das letivas, e de professores com cargos de
liderança intermédia.
83
Quadro 24 - Situação na escola e cargos ocupados pelos docentes inquiridos (%)
Neste breve retrato verifica-se que os inquiridos são na sua maioria do sexo feminino
e têm entre os 41 e os 50 anos, estão há pelo menos 10 anos na profissão e na escola
respetiva há mais de 3 anos, na qual lecionam e ocupam outro cargo ou função,
tendencialmente enquanto diretores de turma. Hipoteticamente os não respondentes
serão docentes mais novos, há menos tempo na profissão e/ou na escola, ou pelo
contrário, mais velhos e há mais anos na profissão e na escola, associando-se a
pertença ao início ou final de carreira a uma condição de menor implicação na
estrutura organizacional da escola. Por outro lado, pode haver a distinção entre um
grupo de professores que se preocupam com a resolução do problema da violência e
indisciplina na escola, e por isso se revele o seu interesse colaborando com resposta
ao questionários, de outros, que não considerem que haja esse problema na escola ou
que não é resolúvel, distanciando-se de pedidos de colaboração face ao mesmo. Estas
variáveis sociográficas serão consideradas, sempre que se justificar, na análise das
dimensões incluídas no inquérito.
84
Quadro 25 - Perceção individual da cultura profissional e situação na escola dos
docentes inquiridos
Tendencialmente, as conceções com maior discordância dos docentes são aquelas que
apontam para uma representação negativa ou individualizada das suas práticas
profissionais. No caso dos que consideram o seu desempenho insuficiente e a escola
competitiva, sem cooperação dos colegas, os níveis de discordância são mais elevados
para os que lecionam apenas. A primeira ideia apresenta, porém, uma proporção
relativa de concordância (total ou parcial) com 25% do total de inquiridos. A
conceção mais individualizada das práticas profissionais (Cada professor tem o seu
método, não desempenhos bons nem maus) teve uma maioria de discordância, com
tendência para os docentes que ocupam algum cargo além das funções letivas
discordarem mais parcialmente. Esta opinião divide um pouco os inquiridos, havendo
37O desempenho exclusivo de outros cargos não foi significativo, apresentando-se apenas os resultados
para a função letiva e a função letiva e de outros cargos em relação à situação dos inquiridos na escola.
85
no conjunto cerca de 40% a concordarem, especialmente aqueles que apenas
lecionam.
Relativamente à perceção dos inquiridos acerca da avaliação dos alunos sobre o seu
desempenho profissional, os docentes tanto concordam com o reconhecimento e
valorização dos seus discentes como com o desinteresse dos alunos pelas suas aulas.
Os professores que também ocupam cargos tendem a concordar mais do que os que só
lecionam, manifestando uma conceção mais positiva e a discordar mais com a
conceção mais negativa (que no conjunto perfaz 28% de discordância – parcial ou
total).
Já a ideia de que o trabalho com os alunos é uma conquista diária tem a concordância
de uma grande proporção de inquiridos, sobretudo daqueles que lecionam
exclusivamente – com a totalidade de inquiridos nesta situação a concordar em parte
ou totalmente. Por último, tanto a representação de um desempenho adequado como a
do apoio dos colegas para a realização do trabalho têm níveis de concordância
elevados, com os professores que ocupam cargos além da função letiva a
concordarem de modo mais parcial do que aqueles que dão exclusivamente aulas.
Estes resultados sublinham a importância do apoio entre professores sobretudo para
aqueles que não desempenham de cargos e outras funções para além da letiva e que
organizacionalmente se encontram mais isolados, dependendo mais de formas
informais de organização de grupos de trabalho. Reforça-se assim a importância da
implicação dos docentes na organização escolar nesta matéria e noutras.
86
Quadro 26 - Conhecimento dos docentes inquiridos sobre o Regulamento Interno, por
escola
Escola (%)
Conhece o RI
E1 E2 E3 Total
Conheço bem 35,30% 35,30% 35,10% 35,20%
Conheço 64,70% 61,80% 61,40% 62,40%
Não conheço 0,00% 2,90% 3,50% 2,40%
Conhece o RI Coordenaçã
Liderança Funções não
DT o e/ou apoio Total
intermédia letivas
a atividades
Conheço bem 40,0% 44,4% 47,4% 30,0% 35,20%
Conheço 60,0% 55,6% 52,6% 70,0% 62,40%
38
Não conheço 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 2,40%
38
Não conhecer o atual regulamento interno só apareceu na opção funções "outras", sendo apenas
especificado num caso – coordenador de departamento.
87
Quadro 28 - Articulação organizacional em situação de conflito e conhecimento dos
docentes inquiridos sobre o Regulamento Interno
88
Quadro 29 - Recursos considerados importantes pelos docentes inquiridos
na gestão de conflitos, por escola
Escola (%)
Recursos importantes na gestão conflitos
E1 E2 E3 Total
1 2,9% 0,0% 1,8% 1,6%
2 2,9% 5,9% 3,5% 4,0%
Procurar formação específica
3 55,9% 55,9% 59,6% 57,6%
4 38,2% 38,2% 35,1% 36,8%
1 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
2 2,9% 0,0% 0,0% 0,8%
Desenvolver trabalho com outros colegas
3 52,9% 29,4% 47,4% 44,0%
4 44,1% 70,6% 52,6% 55,2%
1 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
Aconselhamento ou intervenção de técnicos 2 2,9% 2,9% 0,0% 1,6%
especializados 3 55,9% 44,1% 43,9% 47,2%
4 41,2% 52,9% 56,1% 51,2%
1 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
Procurar ou definir alternativas 2 0,0% 2,9% 0,0% 0,8%
pedagógicas no acompanhamento de alunos 3 52,9% 26,5% 45,6% 42,4%
4 47,1% 70,6% 54,4% 56,8%
1 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
Contactar ou reunir com os Encarregados 2 2,9% 2,9% 0,0% 1,6%
de educação 3 20,6% 29,4% 33,3% 28,8%
4 76,5% 67,6% 66,7% 69,6%
1 0,0% 2,9% 3,5% 2,4%
Encaminhar as situações para outras 2 2,9% 5,9% 15,8% 9,6%
instâncias escolares ou públicas 3 79,4% 52,9% 54,4% 60,8%
4 17,6% 38,2% 26,3% 27,2%
1 5,9% 0,0% 7,0% 4,8%
2 0,0% 2,9% 8,8% 4,8%
Evitar a inimputabilidade dos culpados
3 44,1% 26,5% 26,3% 31,2%
4 50,0% 70,6% 57,9% 59,2%
1 0,0% 0,0% 3,5% 1,6%
2 5,9% 0,0% 0,0% 1,6%
Reagir no imediato
3 32,4% 41,2% 36,8% 36,8%
4 61,8% 58,8% 59,6% 60,0%
Legenda: 1 – Nada importante; 2 – Pouco importante; 3 – Importante; 4 – Muito importante.
89
alternativas pedagógicas (70,6% e 70,9% respetivamente). Contactar ou reunir com os
Encarregados de Educação é outro mecanismo considerado como muito importante,
havendo uma proporção relativa de docentes a atribuírem importante na escola E3
(33,3%). Estes dados reforçam os resultados analisados por escola relativamente aos
princípios e orientações das respetivas direções nesta matéria, e de modo mais
generalizado, no que à gestão organizacional diz respeito. A resposta dos docentes da
escola E2 vai ao encontro do retrato de uma escola que tem na constituição de equipas
escolares e com outros parceiros da comunidade uma prática comum e já com
razoável antiguidade. De igual modo, a importância atribuída ao contacto com os
familiares dos alunos como estratégia eficaz, tinha sido anteriormente apontada como
traço do que consideram ser uma modalidade de atuação profícua, no que diz respeito
à regulação de comportamentos desadequados na escola.
90
utilização deste índice no decurso da análise39. A distribuição destas novas variáveis
por escola foi a seguinte:
Escola (%)
Recursos para a gestão de conflitos
E1 E2 E3 Total
Não é importante 0,0% 2,9% 8,8% 4,8%
Índice de gestão reativa
Importante 100,0% 97,1% 91,2% 95,2%
Não é importante 5,9% 8,8% 1,8% 4,8%
Índice gestão proactiva
Importante 94,1% 91,2% 98,2% 95,2%
(Escala KMO: 1-0,9 – Muito boa; 0,8-0,9 – Boa; 0,7-0,8 – Média; 0,6-0,7 – Razoável; 0,5-0,6 – Má;
<0,5 – Inaceitável. Escala Alpha Cronbach: ≥ 0,9 – Excelente; 0,8-0,9 – Bom; 0,7-0,8 – Aceitável; 0,6-
0,7 – Questionável; 0,5-0,6 – Fraco/ Baixo; <0,5 – Inaceitável)
39
Este tipo de procedimento estatístico além de permitir a agregação de variáveis, possibilitou a sua
conversão em variáveis métricas potenciando o tipo de análises realizadas com as diversas variáveis do
inquérito. Com base no índice foram ainda criadas novas variáveis ordinais, no sentido de agrupar as
distribuições de acordo com a escala de importância.
40
Analisadas neste relatório, no ponto 2 do capítulo V Escola.
91
Quadro 31 – Recurso a elementos da escola para a resolução de situações de conflito por
estabelecimento de ensino dos docentes inquiridos
O/A Diretor(a) de Turma juntamente com Outros técnicos são os elementos da escola
a quem os inquiridos recorrem com maior frequência, com tendência para os docentes
da escola E1 recorrem menos frequentemente a estas figuras de resolução de
conflitos. O recurso aos restantes elementos verifica-se de modo mais esporádico
(algumas ou raras vezes), com os docentes da escola E2 a apelarem com menor
frequência ao Gabinete Escolar e aos Funcionários. Na escola E1 o recurso aos
Funcionários e aos Professores da Direção é igualmente baixo. Por sua vez os
docentes da escola E3 apelam com alguma frequência aos Funcionários, bem como
aos Professores da Direção, assumindo esta um instrumento mais central na gestão de
conflitos desta escola por comparação às restantes.
Foi também realizada uma ACP para este conjunto de variáveis, resultando numa só
componente (KMO = 0,79) que interpretámos como Índice de Recurso a elementos na
escola. Esta análise possibilitou a criação de uma nova variável métrica, tendo um
nível de consistência interna aceitável (Alpha = 0,78). A observação desta nova escala
por escola confirmou os dados anteriores, constatando-se uma tendência para recorrer
frequentemente a elementos da escola (64,0%), com especial preponderância dos
docentes da escola E3 (71,9%). No caso da escola E2 esta distribuição é em parte
explicada pelo facto de haver uma maior delegação de poderes, cabendo a intervenção
à direção apenas quando os outros elementos não são bem sucedidos.
92
atuar nos conflitos, foram realizados alguns testes. Procurando analisar se as
conceções dos docentes sobre o respetivo desempenho estavam relacionadas com o
recurso a elementos da escola para intervir nos conflitos mediu-se o Qui-quadrado e
realizou-se uma correlação bivariada para testar estas variáveis. Nesse sentido
verificou-se que o desempenho adequado e o trabalho dos alunos ser uma conquista
diária estavam associadas positivamente com o recurso a elementos da escola para
intervir. A conceção mais individualizada do desempenho está correlacionada com o
recurso a elementos, numa dependência não linear positiva fraca. Apesar disso, isto
significa que ambas as variáveis estão de alguma forma relacionadas.
Outra hipótese que interessava testar era se o recurso a elementos da escola para atuar
em situação de conflito estava relacionado com a importância dada às necessidades de
atuação a nível organizacional. Recorreu-se para o efeito a uma análise univariada,
tendo como variável dependente o recurso a elementos na escola.
93
Além da dimensão organizacional, a dimensão pedagógica constitui um factor
igualmente significativo na análise dos processos de regulação da violência na escola.
A relação mantida entre os professores e os alunos na sala de aula implica o
estabelecimento de autoridade e legitimidade para que o processo de edução e
aprendizagem possa ser bem sucedido. É por isso importante analisar a atividade
educativa e respetivas práticas disciplinares dos docentes. Um primeiro aspecto que
importou observar foi a seleção dos factores considerados importantes na resolução
conflitos por parte dos docentes das escolas.
Escola (%)
Fatores mais importantes para a resolução dos
E1 E2 E3 Total
comportamentos violentos:
N % N % N % N %
Aumento das sanções 11 23,9% 14 30,4% 21 45,7% 46 36,8%
Apoio nos estudos 0 0,0% 5 50,0% 5 50,0% 10 8,0%
Acompanhamento dos alunos 14 21,5% 20 30,8% 31 47,7% 65 52,0%
Vigilância e controlo dos alunos 14 28,6% 14 28,6% 21 42,9% 49 39,2%
Sensibilizar os alunos para as regras da escola 20 34,5% 14 24,1% 24 41,4% 58 46,4%
Envolver os alunos nos processos de decisão 12 25,0% 12 25,0% 24 50,0% 48 38,4%
Envolver os pais na aplicação de medidas
29 31,2% 21 22,6% 43 46,2% 93 74,4%
disciplinares (corretivas ou sancionatórias)
94
Quadro 35 - Práticas disciplinares dos docentes inquiridos, por escola
No cômputo global, expulsar os alunos da sala de aula e chamar alguém para ajudar
são as práticas mais raras segundo os docentes inquiridos. Facto que não deixa de ser
interessante, uma vez que o recurso a elementos na escola apresentou valores
elevados para todas as escolas, especialmente a E3. Em consonância, verifica-se que
chamar alguém para ajudar na resolução de conflitos tem uma frequência ligeiramente
mais alta nessa escola. Encaminhar alunos para outras instâncias e gritar com os
alunos encontram-se entre as práticas assumidas pelos docentes como esporádicas,
sendo a primeira mais frequente na escola E3 e a segunda na escola E1. As restantes
são na regulação dos conflitos frequentemente usadas pelos inquiridos, com os
docentes da escola E3 a apresentarem uma frequência ligeiramente mais baixa
comparativamente às outras escolas.
95
Considerando este conjunto de variáveis também foi realizada uma Análise de
Componentes Principais (ACP) para verificar se as mesmas estavam correlacionadas
no sentido de construir índices de práticas disciplinares. O teste de KMO apresentou
um valor razoável de 0,61, ou seja, 61% da variância entre as variáveis corresponde a
uma variância comum. Esta análise permitiu agrupar as variáveis em duas
componentes, uma mais relacionada com práticas disciplinares de resolução própria
de sentido pacificador – em que os professores resolvem por si as situações na sala de
aula – e outra mais associada a práticas renunciantes/apoiadas noutros – isto é, a
situações em que os professores recorrem a outros elementos da escola para
solucionar o problema.
Escola
E1 E2 E3 Total
Práticas disciplinares
% % % % % % % %
N N N N
(linha) (coluna) (linha) (coluna) (linha) (coluna) (linha) (coluna)
Pacificadoras Frequente 34 27,2% 100,0% 34 27,2% 100,0% 57 45,6% 100,0% 125 100,0% 100,0%
Estes resultados permitem retratar globalmente a posição dos docentes das escolas
relativamente aos dois estilos de práticas disciplinares identificados. Tal como na
distribuição anterior, verifica-se que os inquiridos da escola E3 distinguem-se em
parte dos restantes, apresentando maior proporção tanto na frequência de práticas
pacificadoras como de práticas renunciantes. Estes dados apontam assim para uma
maior uniformidade dos docentes das escolas E1 e E2 e uma relativa divisão do grupo
profissional na escola E3.
96
Quadro 37 – Efeito dos castigos ou tarefas na melhoria do comportamento dos alunos
por escola dos docentes inquiridos
97
pouco eficaz ou eficaz. Nas sugestões de outras medidas a responsabilização ou
contacto com o encarregado de educação é a medida com maior número de respostas,
seguida da responsabilização, acompanhamento, motivação ou diálogo com o aluno.
Na análise por escola constata-se que, embora as escolas sejam convergentes com o
padrão global identificado, os inquiridos da escola E2 avaliaram as medidas como
eficazes ou muito eficazes com maior frequência.
Quadro 38 - Relação entre a eficácia dos castigos e as práticas disciplinares dos docentes
inquiridos
Variáveis dependentes
Práticas renunciantes Práticas pacificadoras
Efeito dos castigos na melhoria dos comportamentos dos
Pearson
alunos Qui-quadrado Pearson Correlation
Correlation
Value / Sig. Sig. (2-tailed) Sig. (2-tailed)
0,031
Advertência ou repreensão oral 41,022/ 0,087 0,078
(negativa)
Ordem de saída da sala de aula ou outros locais de
76,054/ 0,000 0,012 0,348
desenvolvimento do trabalho escolar
Realização de tarefas e atividades de integração na 0,041
68,526/ 0,000 0,934
escola ou na comunidade (negativa)
98
Quadro 39 - Relação entre os critérios importantes na aplicação dos castigos e as
estratégias para lidar com a reincidência dos docentes inquiridos
99
3.5. REPRESENTAÇÕES SOBRE A ESCOLA E A VIOLÊNCIA
Quadro 40 - Principal fator considerado pelos docentes inquiridos para que ocorram
situações de conflito na sala de aula, por escola
Escola (%)
Fator principal para ocorrerem situações de conflito na sala de aula
E1 E2 E3 Total
Opiniões contrárias entre os elementos da discussão 17,6% 20,6% 21,1% 20,0%
Motivos políticos, religiosos ou étnicos (culturais...) 2,9% 5,9% 3,5% 4,0%
A puberdade/ fase de vida das crianças em que há maior agitação 32,4% 32,4% 36,8% 34,4%
Os modelos de vida da(s) família(s) a que pertence(m) o(s) autor(es) 76,5% 79,4% 82,5% 80,0%
O conflito é uma situação que é normal ocorrer nas interações
5,9% 11,8% 10,5% 9,6%
humanas
Provocação ou intimidação 52,9% 41,2% 36,8% 42,4%
100
caraterísticas dos modelos familiares divergentes face à cultura escolar. Por outro
lado, os fatores situacionais, seja pelo comportamento dos alunos de intimidação e
provocação, seja por considerarem que nesta idade e em situação de sala de aula é
comum a ocorrência de conflitos.
101
Quadro 41 - Relação entre a opinião dos docentes inquiridos sobre o clima de escola e a avaliação das situações de violência na escola
A análise permitiu constatar uma convergência entre as representações sobre o clima de escola e a violência, com posicionamentos diferenciados
que se podem agrupar em dois grupos. De um lado, encontram-se os docentes que avaliam as situações de violência nas suas escolas como
frequentes, considerando que as medidas tomadas não têm sido bem sucedidas. Estes professores consideram o clima de escola como facilitador
de conflitos e pouco propício a momentos de tranquilidade. Os que classificam a violência na escola como frequente consideram ainda que o
clima de escola não é construído pelos elementos da comunidade escolar.Num outro grupo estão os inquiridos que consideram que a violência na
sua escola como não é frequente ou como tendo diminuído avaliando o clima de escola como propício a momentos de tranquilidade e pouco
facilitador de conflitos (correlações negativas com níveis de significância inferiores a 0,005). Destes, os que consideram que a violência não é
frequente tendem a considerar o clima de escola estável (não é variável, consoante a fase do dia) e não o associam às características da
população discente (não é em parte explicado pelos alunos que a frequentam).
102
Aqueles que não dão importância às situações de conflito na escola (Não necessitam de
uma atenção particular) tendem a avaliar o clima de escola como pouco facilitador de
conflitos.
No caso das práticas renunciantes, foram realizadas duas análises multivariadas tendo
em conta as variáveis consideradas nas dimensões organizacional e pedagógica.
103
As práticas disciplinares renunciantes relacionam-se com o recurso a elementos da
escola (como os auxiliares, diretores de turma, técnicos das escolas, etc.) apontando
para uma maior solicitação de outros para a apoio aos professores na resolução de
conflitos. Esta correlação evidencia a existência de práticas disciplinares mais propícias
a recorrer a outros do que à resolução por parte dos próprios professores. Embora o
conhecimento do Regulamento Interno não esteja associado a este tipo de práticas, o seu
efeito conjugado com o recurso a outros elementos da escola também apresenta valores
significativos, numa análise multivariada em que se validou o pressuposto de
homogeneidade (Levene sig. 0,002), com o coeficiente de determinação (R2) a medir
38,9% da variabilidade explicada pelo modelo de regressão.
Por outro lado, tanto a ordem de saída da sala como a vigilância e o controlo dos alunos
encontram-se correlacionadas com práticas disciplinares renunciantes, tendo um efeito
conjugado significativo na explicação deste tipo de práticas. Com o pressuposto da
homogeneidade validade (Levene sig. 0,019) e 20,4% da variabilidade explicada pelo
modelo, verifica-se que os inquiridos que elegem a ordem de saída da sala e a vigilância
e controlo dos alunos são os que afirmam com maior frequência a adoção de práticas
renunciantes. Estes professores privilegiam assim na sua ação a adoção de estratégias
mais "restritivas" optando com maior frequência pela renúncia à tomada de decisão per
si na resolução das situações de conflito. É fundamental que tais resultados sejam tidos
em conta na definição organizacional das estratégias de intervenção da escola, a
responsabilidade e poder dos professores pode distribuir-se de modos mais ou menos
delegados, mais ou menos equitativos face a outros elementos das escolas,
nomeadamente as direções. A afirmação da autoridade dos professores é por um lado
organizacionalmente definida, com a tomada de decisão sobre os modos de intervenção
em cada escola, mas por outro, é pelos próprios professores, individual e coletivamente
construída pelo tipo de práticas pelas quais optam, e pelo tipo de relação que com os
alunos e com os outros elementos escolares estabelecem.
Por outro lado, foi igualmente possível testar outras variáveis dos diferentes domínios
tendo como variável dependente as práticas renunciantes dos docentes.
104
Quadro 43 - Práticas disciplinares renunciantes: fatores associados
A análise a partir destes cruzamentos permite constatar que os docentes reunidos no que
se designou por práticas renunciantes recorrem mais frequentemente a outros elementos
da escola para intervir em situação de conflitos (Q2: 30,417 ; sig. 0,001/ r: 0,356; sig.
0,000). Este tipo de práticas está também correlacionado de forma positiva com a
ausência de interesse por parte dos alunos nas aulas identificada por estes professores (r:
0,209; sig. 0,020). Por outro lado, o reconhecimento dos alunos e a participação em
reuniões ou em outras instâncias de decisão da escola estão correlacionadas
negativamente com as mesmas práticas renunciantes. Estas tendências apontam assim,
por um lado, para um maior distanciamento organizacional por parte dos docentes que
desenvolvem este tipo de práticas, uma vez que não participam internamente nos
processos de decisão da escola, nem são reconhecidos ou conquistam o interesse dos
alunos. Por outro lado, o grupo de docentes que desenvolve este tipo de práticas tende a
recorrer significativamente a outros elementos da escola para intervir nas situações de
conflito – o que corrobora a ideia de uma menor responsabilidade no controlo
disciplinar.
105
enquanto a normalização do conflito se encontra correlacionada de forma negativa, já os
modelos de vida das famílias está correlacionada positivamente com os docentes com
práticas renunciantes. Estes resultados indicam que os docentes que desempenham mais
frequentemente práticas de tipo renunciante entendem o clima escolar mais
negativamente, considerando não ser da sua responsabilidade. Este grupo de professores
considera que os conflitos resultam dos modos de vida das famílias dos alunos pela sua
divergência face à cultura escolar, por um lado, ou por se associarem à fase de vida em
que os alunos se encontram, por outro. Por último, verificou-se ainda uma correlação
positiva entre a idade dos docentes e o tipo de práticas renunciantes, concluindo-se que
quanto maior a idade dos docentes maior a probabilidade de identificação deste tipo de
práticas.
A partir da análise dos dados resultantes dos cruzamentos conclui-se que os docentes
que afirmam ter práticas mais pacificadoras tendem com maior frequência a comunicar
à escola a ocorrência de situações de conflito e a considerar que o trabalho com os
alunos é uma conquista diária. Este tipo de práticas está correlacionado em sentido
negativo com a escola, isto quer dizer que quanto menor o sentido de pertença à escola
por parte dos docentes, maior a identificação com práticas pacificadoras. Tendo em
conta o perfil etário dos professores que adotam estas práticas, estes dados apontam
parcialmente para a fase de integração na escola. O facto de os professores serem mais
novos e/ou estarem há menos anos a lecionar na escola, leva a que adotem uma postura
de maior iniciativa própria no controlo disciplinar. Eventualmente por não estarem
ainda familiarizados com a estratégia de regulação definida na escola, estes professores
assumem o trabalho com os alunos como um desafio que só lhes cabe a eles gerir e
regular.
Consideraram-se ainda outras variáveis dos diferentes domínios tendo como variável
dependente as práticas pacificadoras dos docentes.
106
Quadro 45 - Práticas disciplinares pacificadoras: fatores associados
107
Conversar e atribuir uma tarefa aos alunos são identificadas como estratégias associadas
de modo independente à adoção de uma gestão de tipo reativo. Sendo validado o
pressuposto de homogeneidade (Levene sig. 0,026) e com cerca de 19% da
variabilidade explicada, constata-se que uma regulação mais imediata, de reação no
momento, se encontra associada a este tipo de mecanismos. Já o efeito conjugado das
práticas pacificadoras com o recurso a outros elementos apresenta valores significativos
para a gestão reativa, validando-se o pressuposto da homogeneidade (Levene sig.
0,047), com 65,5% da variabilidade explicada. As práticas pacificadoras estão
positivamente correlacionadas e associadas a uma gestão de tipo reativo, o que aponta
para que os docentes que gerem os conflitos de modo mais imediato ou reativo tendem a
ter práticas disciplinares em que a resolução cabe mais a eles próprios do que a outros
elementos da escola, reforçando-se assim “duplamente” a sua autoridade em sala de
aula. Na sequência desta análise testou-se ainda a relação entre outras variáveis e a
gestão reativa, como variável dependente.
Gestão reativa
Qui- Sig. (2- Pearson Sig. (2-
quadrado sided) Correlation tailed)
Considera que desempenha as suas funções de
18,273 0,438 0,184 0,039
forma adequada
Participa no conselho geral da escola 7,640 0,266 -0,220 0,014
Comunica à escola a ocorrência de situações de
22,027 0,001 0,138 0,126
conflito
Recorre a outros técnicos da escola 34,118 0,012 0,061 0,497
Eficácia da ordem de saída 30,064 0,037 0,265 0,003
Eficácia da proibição de participar em atividades 35,239 0,009 0,213 0,017
Considera importante o aumento das sanções 5,323 0,503 0,177 0,048
Critério para definição do castigo: EE que não
14,805 0,022 -0,048 0,595
concordam com castigo
Critério para definição do castigo: existência de
9,861 0,131 0,246 0,006
queixas ou relatos negativos sobre os alunos
Considera clima de escola é facilitador de
26,311 0,093 -0,177 0,048
conflitos
Considera clima de escola é propício a momentos
24,953 0,126 0,266 0,003
de tranquilidade
Considera que o clima de escola é em parte
29,490 0,043 0,242 0,006
explicado pelos alunos que frequentam a escola
108
qual se soma o critério da existência de queixas ou relatos negativos sobre os alunos,
também com uma correlação positiva para a gestão reativa.
Os docentes que consideram o clima de escola como sendo pacífico e resultante dos
alunos que frequentam a escola, tendem a adotar mais frequentemente uma gestão
reativa dos conflitos. Em consonância, a percepção de um clima escolar facilitador de
conflitos tende a diminuir com o aumento de docentes a gerir os conflitos de forma
imediata. Tendo traçado o perfil dos docentes que adotam uma gestão reativa ou
imediata dos conflitos, importa agora analisar como afirmam agir os docentes que
assumem uma gestão proactiva em situações de violência.
Gestão proactiva
Qui- Sig. (2- Pearson Sig. (2-
quadrado sided) Correlation tailed)
Considera que os alunos reconhecem o seu trabalho e
34,365 0,033 0,081 0,371
valorizam-me por isso
Conhece o Regulamento Interno 30,329 0,007 -0,127 0,160
Afirma ter instruções sobre os procedimentos em caso de
25,422 0,001 0,118 0,188
conflito
Chama alguém da escola para apoiar em caso de conflito 17,274 0,242 -0,176 0,049
Acalma os alunos e depois conversa em caso de conflito 16,747 0,726 0,232 0,009
Grita com os alunos em caso de conflito 30,173 0,089 -0,230 0,010
Eficácia da advertência ou repreensão 15,179 0,814 0,186 0,038
Critério para definição do castigo: alunos que reincidem no
18,676 0,009 -0,013 0,882
comportamento
Critério para definição do castigo: os alunos que cumprem o
21,067 0,004 0,098 0,277
castigo aplicado
Critério para definição do castigo: os EE que concordam com o
20,233 0,005 -0,063 0,486
castigo
Considera o clima de escola como propiciador de momentos de
21,319 0,440 0,230 0,010
tranquilidade
Considera que o clima de escola é em parte explicado pelos
61,591 0,000 -0,018 0,844
alunos que a frequentam
109
mobilizados para a decisão de aplicação de castigos, que estão igualmente associados de
forma positiva a este tipo de gestão dos conflitos. Também uma representação do clima
de escola como propício a momentos de tranquilidade aumenta a adoção de uma gestão
proactiva. A relação entre a representação sobre as práticas profissionais e a perceção do
clima de escola e entre esta e as causas apontadas para a violência foram igualmente
testadas.
Verificou-se por um lado que os docentes que consideram que o clima da escola é
construído pelos elementos da comunidade escolar não avaliam a escola como
competitiva, embora tenham uma perspetiva individualizada do seu desempenho. Por
sua vez, os inquiridos que afirmam ter um reconhecimento e valorização do seu trabalho
pelos alunos tendem a considerar o clima de escola propício a momentos de
tranquilidade e que este se constrói pelos elementos da comunidade escolar.
Uma vez que O(s) modelo(s) de vida da(s) família(s) a que pertencem o(s) autor(es) foi
a causa mais apontada pelos inquiridos para ocorrem situações de violência, procuramos
testar a relação que esta tinha com os fatores considerados importantes na resolução dos
comportamentos violentos.
110
Quadro 50 - Relação entre as causas da violência e os fatores considerados mais
importantes na resolução dos comportamentos violentos
Causas da violência
Indique os fatores mais importantes para a O(s) modelo(s) de vida da(s) família(s) a que
resolução dos comportamentos violentos: pertence(m) o(s) autor(es)
Pearson Sig. (2-
Qui-quadrado
Correlation tailed)
Aumento das sanções 0,138/ 0,711 -0,033 0,713
Apoio nos estudos 0,679/ 0,410 -0,074 0,414
Acompanhamento dos alunos 7,212/ 0,007 0,240 0,007
Vigilância e controlo dos alunos 1,015/ 0,314 -0,090 0,318
Sensibilizar os alunos para as regras da escola 1,158/ 0,282 -0,096 0,286
Envolver os alunos nos processos de decisão 1,218/ 0,270 -0,099 0,274
Envolver os pais na aplicação de medidas
0,672/ 0,412 0,073 0,416
disciplinares (corretivas ou sancionatórias)
111
4. A PERSPETIVA DOS ALUNOS
112
A opção pela aplicação do questionário através de uma plataforma online em software
especializado prendeu-se com as vantagens comprovadas relativamente à eficácia do
processo de inquirição, permitindo aos alunos responder individualmente a partir de
computadores na escola com ligação à Internet, em sessões coletivas, contando para o
efeito com o apoio presencial de membros da equipa de investigação. Foram também
tratados os dados socioeducativos dos alunos anteriormente fornecidos pelas respetivas
direções das escolas, em formato de listas de turma, tendo em vista definição da
amostra. Após o tratamento dos dados, recorreu-se à técnica de amostragem
estratificada, considerando o peso relativo dos alunos em cada uma das escolas sobre o
universo em estudo e a sua distribuição por anos de escolaridade. Ponderando os
referidos estratos, a seleção dos alunos realizou-se tendo em conta as turmas mais
contrastantes em termos do sucesso/insucesso escolar e do estatuto socioeconómico dos
alunos. Este procedimento garantiu uma amostra representativa da população em estudo
com 30% dos inquiridos que, perfazendo um total de 40 turmas, cuja distribuição
(selecionada e real) foi a seguinte:
Universo Amostra
Ano Total Total Total de Alunos (%) Turma E1 E2 E3
Alunos Turmas Seleção Resposta s (%) Seleção Resposta Seleção Resposta Seleção Resposta
5º 626 26 31,8 28,8 30,8 81 76 49 42 69 62
6º 612 28 34,6 31,9 35,7 86 80 65 57 61 58
7º 563 23 32,1 26,8 30,4 54 41 54 50 73 60
8º 464 21 36,2 29,1 33,3 49 20 49 46 70 69
9º 431 20 38,1 30,4 40,0 46 43 46 41 72 47
Total 2696 118 34,3 29,4 33,9 316 260 263 236 345 296
113
4.1.2. Caracterização Sociográfica da Amostra
A distribuição dos alunos inquiridos por sexo é relativamente equitativa: 48,4% do sexo
feminino e 51,6% do masculino. Relativamente à distribuição etária, a maioria dos
alunos tem entre 10 e 15 anos, havendo apenas 9% dos alunos inquiridos com mais de
15 anos.
A maioria dos alunos inquiridos (69,9%) nunca reprovou, não havendo diferenças
expressivas nos anos letivos frequentados. No que respeita ao benefício de Ação Social
Escolar (ASE) é equivalente o número de alunos que são e não são beneficiárias deste
apoio, 45% de ambos.
114
4.1.3. Autores, vítimas e testemunhas de situações de violência: caracterização dos
atores
Numa primeira fase, procurou-se definir os perfis dos atores face às situações de
violência na escola isolando-se: apenas autores, apenas vítimas, apenas testemunhas,
nenhum deles, todos eles, combinações diversificadas entre autor/vítima/testemunha.
Esta primeira análise demostrou que nas escolas em análise não existem grupos de
alunos que se distingam por serem apenas autores, vítimas ou testemunhas de violência.
A maioria dos alunos (66,9%) afirma ter assumido os três papéis, enquanto 21% assume
uma conjugação de dois dos papéis.
n %
Autor 1 0,1
Vítima 13 1,6
Testemunha 54 6,8
Nenhum 28 3,5
Todos 530 66,9
Diversos 166 21,0
Total 792 100
115
Assim, optou-se por considerar como autores, vítimas e testemunhas os alunos que em
algum momento do ano letivo assumiram estar numa dessas categorias. O que faz com
que os mesmos alunos possam simultaneamente estar incluídos nos três grupos em
análise. Realizou-se uma Análise de Componentes Principais (ACP) para medir a
correlação entre as variáveis (valores do teste KMO e Alfa de Cronbach, em rodapé, na
tabela). Os valores demonstram uma boa correlação entre as variáveis, pelo que se
construíram três índices com base nas médias de respostas: Autor, Vítima e
Testemunha. Tal com foi referido acima, nas variáveis originais a escala de resposta era:
1 (nenhuma), 2 (raras), 3 (algumas), 4 (muitas). Para melhor análise e interpretação dos
dados, procedeu-se à recodificação das novas variáveis, através de uma nova escala:
Nenhuma, Raros/Esporádicos, Frequentes/Regulares.
Como se pode verificar nas tabelas seguintes, tanto a distribuição etária das testemunhas
como o ano letivo que frequentam são equilibrados. Devido aos resultados do teste do
Qui-quadrado, não é possível realizar esta análise para os autores (Q2 5,196; sig. 0,268 /
Q2 13,918; sig. 0,084) e vítimas (Q2 4,342; sig. 0,362 / Q2 8,256; sig. 0,409).
116
Quadro 57 - Testemunhas por Idade (leitura em linha)
117
4.1.4. Violência Física e Violência Relacional
No que respeita à distribuição entre violência física e relacional, pela análise realizada
pode concluir-se que são mais frequentes os casos de violência relacional do que física.
Identifica-se uma maioria expressiva de alunos que assumem ser testemunhas
frequentes de atos relacionais (63,7%), no entanto os alunos que se posicionam como
autores e vítimas indicam que estes atos são esporádicos (57,9% e 54,1%,
respetivamente).
118
Quadro 62 - Violência Relacional: autores, vítimas e testemunhas (leitura em coluna)
Quadro 63 - Violência Física: autores por sexo e por benefício de ASE (leitura em linha)
119
Figura 10 - Disposição das variáveis
Esta análise permite, na amostra de alunos em estudo, definir dois grupos sociais:
Grupo 1: alunos que se assumem como não violentos (“nenhum”), que frequentam o 5º
e o 6º anos de escolaridade e que têm entre 10 e 12 anos.
Grupo 2: alunos que se assumem como praticantes esporádicos de violência relacional e
física, frequentam o 3º ciclo (7º, 8º e 9º anos) e têm mais de 13 anos.
120
Conclui-se pela análise que não é possível associar aos alunos que se identificam como
autores frequentes de violência (física e relacional) a algum dos grupos definidos.
Quanto às vítimas de atos violentos físicos frequentes a maioria tem entre 10 e 12 anos
(56,1%) e é beneficiária de ASE (59,6%). Embora a distribuição por ano de
escolaridade seja relativamente equilibrada, é de realçar que a maioria dos alunos que
frequentam o 7º e o 8º ano (64,4% e 66,4%, respetivamente) se assumem como vítimas
esporádicas de atos de violência física. O sexo não é uma variável explicativa da
vitimação de atos violentos físicos (qui-quadrado: 0,894). No que respeita à violência
relacional, não existe relação entre o sexo, idade, ano de escolaridade e benefício de
ASE e o facto de os alunos se assumirem como vítimas desse tipo de violência (qui-
quadrado: 0,291; 0,752; 0,664; 0,652, respetivamente).
121
de escolaridade que frequentam. O sexo, uma vez mais, não é uma variável explicativa
deste fator (qui-quadrado: 0,403; sig. 0,817).
Em consonância com o testemunho de atos de tipo físico, cerca de 70 % dos alunos com
idades entre os 13 e os 15 anos assume-se como testemunha de atos violentos
relacionais frequentes e a maioria dos alunos com idades entre os 10 e os 12 anos são
testemunhas de atos violentos relacionais esporádicos. O que sugere que os alunos mais
velhos se assumem mais como testemunha de atos violentos frequentes, tanto
relacionais como físicos. A maioria das testemunhas de atos violentos relacionais
122
esporádicos (57%) frequentam o 2º ciclo de escolaridade, enquanto a maioria (60%) das
testemunhas de atos frequentes frequenta o 3º ciclo. O sexo (qui-quadrado: 4,411; sig.
0,110) e ser benificiário de ASE (qui-quadrado: 4,024; sig. 0,403) não têm influencia na
situação de testemunha de atos violentos relacionais.
123
4.1.5. Conceções de violência
124
A maioria dos alunos inquiridos considera legítima a violência em caso de defesa, mas
não em caso de provocação. Esta distinção é demonstrativa da emergência da violência
como uma forma de ação contingente, na medida em que constitui uma possibilidade de
(re)ação a um estímulo, designadamente a agressão, a ameaça ou o insulto. O
reconhecimento da (i)legitimidade do uso da violência traduz a aprendizagem de
concepções e atitudes que estruturam e condicionam as decisões tomadas a nível
situacional.
Defesa Provocação
n % n %
Legítima 602 78,4 240 31,3
Ilegítima 166 21,6 528 68,8
Total 768 100,0 768 100,0
Globalmente, a maioria dos alunos que se assume como autor de atos violentos
considera a violência legítima, nomeadamente em caso de defesa. Os autores de
violência relacional tendem a considerar a violência provocativa menos legítima do que
os autores de violência física.
Grande parte dos alunos que se assume frequentemente como mais violentos representa
a violência (em geral e em caso de defesa) como legítima. Todavia, no que toca à
violência em caso de provocação notam-se algumas diferenças entre os autores de atos
físicos e de atos relacionais: 90,5% dos primeiros considera este tipo de violência
legítima, face a apenas 48,8% dos autores de violência relacional com a mesma opinião.
Analisando a questão pela perspetiva dos não-autores (alunos que assumem nunca ter
praticado atos de violência durante o ano letivo em análise), é de referir que a maioria
destes perceciona a violência em geral e em caso de defesa como legítima, tendo maior
tendência para considerar a violência provocativa não legítima.
125
consideradas pelos alunos inquiridos como fatores distintivos da legitimidade, ou não
desses atos.
Se nos centrarmos apenas nos alunos que se consideram vítimas de violência física, a
grande maioria entende a violência (em geral e em caso de defesa) legítima, situação
que se inverte no que toca ao uso da violência para fins de provocação. Exceção para as
vítimas frequentes de atos físicos, que na sua maioria considera a violência legítima
independentemente da situação.
126
Quadro 73 - Autores vs. Legitimidade da Violência (leitura em linha)
127
4.1.6. Autores: os castigos e as recompensas
Em primeiro lugar, há que referir que muitos dos cruzamentos não demonstraram
associação entre as variáveis em estudo (ver Quadro 76, resultados dos testes). Tendo
em conta a distinção entre autores de violência física e relacional, embora não se
encontrem tendências claras e transversais a todos os grupos de autores. Contudo, é de
realçar que os autores de violência física são os que mais afirmam receber recompensas
quando os seus comportamentos se adequam às regras escolares; no entanto, quando
cometem infrações são menos chamados à atenção pelos adultos do agregado familiar
do que os restantes alunos. Por outro lado, as boas ações são recompensadas sobretudo
com oferta de bens materiais, sendo a sensibilização e manutenção de relações
interpessoais relegadas para segundo plano. Estas respostas podem indiciar um padrão
de autoridade dos adultos marcado pelo distanciamento relacional face às crianças. No
que respeita aos autores de violência relacional, a tendência é ligeiramente diferente,
verificando-se que em geral também não são chamados à atenção quando fazem algo de
errado, todavia, sendo incentivados a continuar quando se trata de comportamentos
ajustados.
Autores: Autores:
Autores Violência Violência
física relacional
Q2 Sig. Q2 Sig. Q2 Sig.
Oferecem-te presentes 2,686 0,261 8,763 0,130 2,320 0,314
Dizem-te para continuar 6,104 0,047 5,607 0,061 11,302 0,004
Recompensas Dizem-te: não fazes mais do que a tua obrigação 6,251 0,044 2,466 0,291 6,293 0,043
Elogiam-te perto de outras pessoas 5,887 0,053 0,622 0,733 0,366 0,833
Não te dizem nada 1,701 0,427 0,364 0,834 0,134 0,935
Não te deixam sair com os amigos 0,352 0,839 5,690 0,058 0,635 0,728
Tarefas Domésticas 4,518 0,104 5,154 0,076 4,327 0,115
Obrigam-te a estudar 3,649 0,161 6,292 0,043 1,169 0,558
Conversam e chamam a atenção 4,182 0,124 9,285 0,010 6,857 0,032
Gritam 1,182 0,554 7,154 0,028 4,938 0,085
Castigos
Ficam chateados mas não dizem nada 8,328 0,016 3,196 0,202 6,993 0,030
Batem-te 5,462 0,065 18,117 0,000 4,168 0,124
Não deixar ver TV / usar o PC 3,888 0,143 3,168 0,205 7,034 0,030
Não dão algo desejado 7,642 0,022 2,229 0,328 9,219 0,010
Contam o que fizeste 3,328 0,189 1,878 0,391 11,705 0,003
128
Quadro 76 - Autores vs. Castigos Familiares (leitura em linha)
Obrigam-te a Conversam e chamam Ficam chateados Não deixar ver TV / Não dão algo
Gritam Batem-te Contam o que fizeste
estudar a atenção mas não dizem nada usar o PC desejado
Total
Total
Total
Total
Total
Total
Total
Total
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
n - - - - - - - - - 163 42 205 - - - - - - 175 30 205 - - -
Nenhuma
% - - - - - - - - - 79,5 20,5 100,0 - - - - - - 85,4 14,6 100,0 - - -
n - - - - - - - - - 470 69 539 - - - - - - 413 126 539 - - -
Raros/
Autores
Esporádicos % - - - - - - - - - - - - - - - - - -
87,2 12,8 100,0 76,6 23,4 100,0
n - - - - - - - - - 26 2 28 - - - - - - 24 4 28 - - -
Frequentes/
Regulares % - - - - - - - - - - - - - - - - - -
92,9 7,1 100,0 85,7 14,3 100,0
n 371 100 471 128 343 471 408 63 471 - - - 454 17 471 - - - - - - - - -
Nenhuma
% 78,8 21,2 100,0 27,2 72,8 100,0 86,6 13,4 100,0 - - - 96,4 3,6 100,0 - - - - - - - - -
Autores: n - - - - - - - - - - - -
Raros/ 225 55 280 87 193 280 226 54 280 264 16 280
Violência
Esporádicos % - - - - - - - - - - - -
Física 80,4 19,6 100,0 31,1 68,9 100,0 80,7 19,3 100,0 94,3 5,7 100,0
n 12 9 21 12 9 21 15 6 21 - - - 16 5 21 - - - - - - - - -
Frequentes/
Regulares % - - - - - - - - - - - -
57,1 42,9 100,0 57,1 42,9 100,0 71,4 28,6 100,0 76,2 23,8 100,0
n - - - 68 170 238 - - - 192 46 238 - - - 188 50 238 204 34 238 225 13 238
Nenhuma
% - - - 28,6 71,4 100,0 - - - 80,7 19,3 100,0 - - - 79,0 21,0 100,0 85,7 14,3 100,0 94,5 5,5 100,0
Autores: n - - - - - - - - -
Raros/ 123 324 447 388 59 447 312 135 447 339 108 447 411 36 447
Violência
Esporádicos % - - - - - - - - -
Relacional 27,5 72,5 100,0 86,8 13,2 100,0 69,8 30,2 100,0 75,8 24,2 100,0 92,0 8,1 100,0
n - - - 36 51 87 - - - 79 8 87 - - - 66 21 87 69 18 87 72 15 87
Frequentes/
Regulares % - - - - - - - - -
41,4 58,6 100,0 90,8 9,2 100,0 75,9 24,1 100,0 79,3 20,7 100,0 82,8 17,2 100,0
129
Quadro 77 - Autores vs. Recompensas familiares (leitura em linha)
Dizem-te: não
Elogiam-te perto
Oferecem-te presentes Dizem-te para continuar fazes mais do que a Não te dizem nada
de outras pessoas
tua obrigação
Não Sim Total Não Sim Total Não Sim Total Não Sim Total Não Sim Total
n - - - 54 151 205 139 66 205 156 49 205 - - -
Nenhuma
% - - - 26,3 73,7 100,0 67,8 32,2 100,0 76,1 23,9 100,0 - - -
n - - - 124 415 539 314 225 539 416 123 539 - - -
Autores Raros/Esporádicos
% - - - 23,0 77,0 100,0 58,3 41,7 100,0 77,2 22,8 100,0 - - -
n - - - 12 16 28 19 9 28 16 12 28 - - -
Frequentes/Regulares
% - - - 42,8 57,1 100,0 67,9 32,1 100,0 57,1 42,9 100,0 - - -
n 417 54 471 - - - - - - - - - - - -
Nenhuma
% 88,5 11,5 100,0 - - - - - - - - - - - -
Autores: n 228 52 280 - - - - - - - - - - - -
Raros/Esporádicos
Violência Física % 81,4 18,6 100,0 - - - - - - - - - - - -
n 16 5 21 - - - - - - - - - - - -
Frequentes/Regulares
% 76,2 23,8 100,0 - - - - - - - - - - - -
n - - - 62 176 238 161 77 238 - - - - - -
Nenhuma
% - - - 26,0 74,0 100,0 67,7 32,3 100,0 - - - - - -
Autores: n - - - 95 352 447 262 185 447 - - - - - -
Raros/Esporádicos
Violência Relacional % - - - 21,2 78,8 100,0 58,6 41,4 100,0 - - - - - -
n - - - 33 54 87 49 38 87 - - - - - -
Frequentes/Regulares
% - - - 37,9 62,1 100,0 56,3 43,7 100,0 - - - - - -
130
4.1.7. Relação com a Escola
A opinião dos alunos sobre a escola que frequentam é uma dimensão importante na
análise da violência na escola. O sentido de pertença e/ou as razões para gostarem ou
não da escola permite compreender melhor a relação dos alunos com a mesma,
contribuindo assim para uma melhor compreensão das suas práticas em meio escolar,
nomeadamente no que ao cumprimento de regras e relação com os diferentes atores da
cena escolar diz respeito.
Na presente análise centrámo-nos nos alunos das escolas em estudo que se percecionam
como autores de violência sobre os seus pares. Na sua maioria, estes alunos gostam da
escola porque gostam de estar com os colegas, gostam de aprender, gostam dos
professores e sentem-se seguros neste espaço, assumindo, contudo, que a componente
negativa da escola é esta “dar muito trabalho”, embora reconheçam a sua importância.
131
Quadro 79 - Autores vs. Opinião positiva sobre a Escola (leitura em linha)
132
Quadro 80 - Autores vs. Opinião negativa sobre a Escola (leitura em linha)
133
4.1.7.2. Sistema de Regras Escolares
No que respeita à opinião dos alunos sobre o regulamento, a maioria não considera que
seja muito rígido e defende que contribui para a melhoria do ambiente escolar. Os
autores de atos de violência relacional, em geral, não consideram que o regulamento
interno seja uma ferramenta de apoio à participação dos alunos na escola.
Autores:
Autores:
Autores Violência
Violência física
relacional
Q2 Sig. Q2 Sig. Q 2
Sig.
Não conheces o Regulamento Interno 13,463 0,097 19,073 0,014 6,232 0,621
Conheces o Regulamento Interno 3,208 0,201 3,913 0,141 2,391 0,302
Respeita os direitos dos
0,293 0,864 2,301 0,316 1,953 0,377
alunos
Serve para impor a vontade
2,642 0,267 0,109 0,947 4,814 0,090
Se conheces o dos professores
Regulamento Ajuda-me a participar na
1,776 0,411 0,572 0,751 6,089 0,048
Interno, qual a vida da escola
tua opinião É muito rígido, não me
6,832 0,033 10,736 0,005 6,713 0,035
sobre o deixa fazer nada
mesmo? Contribui para se estar
10,227 0,006 17,183 0,000 7,474 0,024
melhor na escola
Serve para castigar quem
0,518 0,772 3,191 0,203 0,278 0,870
se porta mal
134
Quadro 82 - Razões para não conhecer o Regulamento Interno (leitura em linha)
O/A
Professor/a Não sabia Não sei onde
Não estou Não sabia
não me deu o que podia o posso Total
interessado que existia
regulamento lê-lo encontrar
da escola
n % n % n % n % n % n %
Nenhuma 34 33,3 9 8,8 13 12,7 14 13,7 32 31,4 102 100,0
Autor: Raros/
Violência Esporádicos 34 44,7 12 15,8 13 17,1 5 6,6 12 15,8 76 100,0
Física Frequentes/
Regulares 2 40,0 0 0,0 3 60,0 0 0,0 0 0,0 5 100,0
135
Quadro 83 - Opinião sobre o Regulamento Interno (leitura em linha)
136
4.1.7.2.2. Castigos e tarefas aplicados na escola
Autores:
Autores:
Autores Violência
Violência física
relacional
Q2 Sig. Q2 Sig. Q2 Sig.
Contribuem para se estar melhor na
8,203 0,017 5,110 0,078 13,107 0,001
escola
São justos 5,936 0,051 4,421 0,110 8,286 0,016
Castigos:
Visão Deviam ser diferentes 7,128 0,028 12,137 0,002 4,937 0,085
positiva São o que os mal comportados precisam 18,709 0,000 12,440 0,002 14,541 0,001
Melhoram os comportamentos 7,418 0,025 3,674 0,159 9,273 0,010
Respeitam os direitos dos alunos 1,678 0,432 0,278 0,870 5,200 0,074
Pioram o ambiente da escola 8,792 0,012 6,015 0,049 7,496 0,024
Castigos: São muito duros 1,495 0,473 8,056 0,018 3,585 0,167
Visão Servem para impor a vontade dos
negativa 2,655 0,265 6,170 0,046 4,894 0,087
professores
Não servem para nada 21,183 0,000 24,461 0,000 24,661 0,000
137
Quadro 85 - Autores vs. Opinião positiva sobre os castigos aplicados na Escola (leitura em coluna)
138
Quadro 86 - Autores vs. Opinião negativa sobre os castigos aplicados na Escola (leitura em coluna)
139
4.1.7.3. Relação com os adultos da escola
Tal como o sistema de regras, a perceção sobre a relação mantida com os adultos na
escola é um domínio importante para explicar as práticas de violência dos alunos. Na
sua maioria os alunos confiam e obedecem aos adultos da Escola (Diretor(a) de turma,
Diretora da Escola, Professores da turma e da direção, Funcionários). Nota-se, contudo,
uma ligeira tendência para os autores frequentes (independentemente do tipo de
violência) confiarem e obedecerem ligeiramente menos aos adultos do que os restantes
colegas (diferenças de cerca de 10-15%).
140
Quadro 88 – Autores vs. Confiança nos adultos da Escola (leitura em linha)
Diretor(a) de Turma Professores da Turma Funcionários da Escola Professores da Direção Diretora da Escola
Não Não Não Não Não
Confio Total Confio Total Confio Total Confio Total Confio Total
confio confio confio confio confio
n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n %
Nenhuma - - - - - - - - - - - - 42 20,5 163 79,5 205 100,0 29 14,1 176 85,9 205 100,0 30 14,6 175 85,4 205 100,0
Raros /
Autores Esporádicos - - - - - - - - - - - -
175 32,5 364 67,5 539 100,0 110 20,4 429 79,6 539 100,0 97 18,0 442 82,0 539 100,0
Frequentes /
- - - - - - - - - - - -
Regulares 8 28,6 20 71,4 28 100,0 12 42,9 16 57,1 28 100,0 11 39,3 17 60,7 28 100,0
Nenhuma - - - - - - 37 7,9 434 92,1 471 100,0 121 25,7 350 74,3 471 100,0 65 13,8 406 86,2 471 100,0 65 13,8 406 86,2 471 100,0
Raros /
Físicos - - - - - -
Esporádicos 29 10,4 251 89,6 280 100,0 99 35,4 181 64,6 280 100,0 77 27,5 203 72,5 280 100,0 63 22,5 217 77,5 280 100,0
Frequentes /
- - - - - -
Regulares 5 23,8 16 76,2 21 100,0 5 23,8 16 76,2 21 100,0 9 42,9 12 57,1 21 100,0 10 47,6 11 52,4 21 100,0
Nenhuma 18 7,6 220 92,4 238 100,0 22 9,2 216 90,8 238 100,0 55 23,1 183 76,9 238 100,0 38 16,0 200 84,0 238 100,0 38 16,0 200 84,0 238 100,0
Raros /
Relacionais Esporádicos 17 3,8 430 96,2 447 100,0 30 6,7 417 93,3 447 100,0 137 30,6 310 69,4 447 100,0 82 18,3 365 81,7 447 100,0 72 16,1 375 83,9 447 100,0
Frequentes /
Regulares 18 20,7 69 79,3 87 100,0 19 21,8 68 78,2 87 100,0 33 37,9 54 62,1 87 100,0 31 35,6 56 64,4 87 100,0 28 32,2 59 67,8 87 100,0
141
Quadro 89 - Autores vs. Obediência aos adultos da Escola (leitura em linha)
Diretor(a) de Turma Professores da Turma Funcionários da Escola Professores da Direção Diretora da Escola
Não Não Não Não Não
Obedeço Total Obedeço Total Obedeço Total Obedeço Total Obedeço Total
obedeço obedeço obedeço obedeço obedeço
n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n %
Nenhuma 11 5,4 194 94,6 205 100,0 17 8,3 188 91,7 205 100,0 25 12,2 180 87,8 205 100,0 14 6,8 191 93,2 205 100,0 14 6,8 191 93,2 205 100,0
Raros /
Autores Esporádicos 24 4,5 515 95,5 539 100,0 43 8,0 496 92,0 539 100,0 113 21,0 426 79,0 539 100,0 25 4,6 514 95,4 539 100,0 18 3,3 521 96,7 539 100,0
Frequentes /
Regulares 5 17,9 23 82,1 28 100,0 6 21,4 22 78,6 28 100,0 7
25,0 21 75,0 28 100,0 6 21,4 22 78,6 28 100,0 5 17,9 23 82,1 28 100,0
Nenhuma 17 3,6 454 96,4 471 100,0 28 5,9 443 94,1 471 100,0 70 14,9 401 85,1 471 100,0 18 3,8 453 96,2 471 100,0 - - - - - -
Raros /
Físicos - - - - - -
Esporádicos 18 6,4 262 93,6 280 100,0 33 11,8 247 88,2 280 100,0 71 25,4 209 74,6 280 100,0 23 8,2 257 91,8 280 100,0
Frequentes /
- - - - - -
Regulares 5 23,8 16 76,2 21 100,0 5 23,8 16 76,2 21 100,0 4 19,0 17 81,0 21 100,0 4 19,0 17 81,0 21 100,0
Nenhuma 13 5,5 225 94,5 238 100,0 19 8,0 219 92,0 238 100,0 31 13,0 207 87,0 238 100,0 16 6,7 222 93,3 238 100,0 14 5,9 224 94,1 238 100,0
Raros /
Relacionais Esporádicos 15 3,4 432 96,6 447 100,0 31 6,9 416 93,1 447 100,0 88 19,7 359 80,3 447 100,0 18 4,0 429 96,0 447 100,0 14 3,1 433 96,9 447 100,0
Frequentes /
Regulares 12 13,8 75 86,2 87 100,0 16 18,4 71 81,6 87 100,0 26 29,9 61 70,1 87 100,0 11 12,6 76 87,4 87 100,0 9 10,3 78 89,7 87 100,0
142
4.1.8. Importância dos Estudos
Para analisar a importância atribuída aos estudos pelos alunos inquiridos, orientou-se a análise por duas
dimensões: visão positiva do percurso escolar e visão negativa. De referir que na visão positiva, não foi
possível realizar o cruzamento com os autores relacionais, devido aos valores do teste do Qui-Quadrado.
Parte dos autores (de violência em geral e de violência física) considera que os estudos são importantes para
compreender a realidade e que se deve investir nos estudos para ter um trabalho melhor. A maioria deste
alunos admite também que gostaria de continuar a estudar e que os estudos fazem parte dos seus planos
futuros, no entanto, muitos afirmam precisar de começar a trabalhar para ganhar o seu dinheiro. Esta análise
cruzada permite compreender que estes alunos têm noção da necessidade de um emprego para a sua
independência financeira, não considerando, contudo, que esse caminho possa ser realizado sem estudar.
143
Quadro 91 - Autores vs. Importância dos Estudos: visão positiva (leitura em linha)
144
Quadro 92 - Autores vs. Importância dos estudos: visão negativa (leitura em linha)
145
4.2. ENTREVISTAS A ALUNOS REINCIDENTES
42
O gerador de nomes utilizado no guião de entrevistas baseou-se num conjunto de questões sobre o
tipo de apoios recebidos pelo indivíduo focal.
43
Nas escola E2 os 5 alunos foram autorizados e na escola E3 4 em 5 foram autorizados. Na escola E1,
apenas 3 em 5 foram autorizados, devido ao tempo de demora nas autorizações pedidas nesta escola
foram solicitados mais 7 pedidos, tendo sido autorizados 6 alunos, resultando num total de 9 alunos
entrevistados.
146
membros, ≥ 70 laços). Ainda na ótica das comunidades pessoais dos alunos,
constatou-se que a maioria dos alunos recebe entre 20 a 30 apoios dos membros das
suas redes, sendo o lazer44 e o apoio instrumental45 os mais frequentes. As relações
informais são preponderantes, havendo no entanto um número relevante de alunos
cujas relações entre os seus membros são mistas, isto é, cujos amigos, familiares e
professores se conhecem bem.
44
No sentido de ter companhia para passar o tempo livre.
45
Pedir dinheiro emprestado (pontual ou permanente) ou ajuda para as tarefas da escola.
147
Quadro 93 - Tipo de comportamento e dimensão de rede por aluno e por escola
Dimensão da Rede
Tipo de comportamento Elevada Intermédia Reduzida
Agressividade 2 1 0
Indisciplina (adultos) 1 3 1
Indisciplina (alunos/ regras escolares) 3 0 1
Perturbações emocionais e do comportamento 2 2 1
148
Metade destes alunos não conhece ou não vive com o pai, pertence a famílias
monoparentais, com a mãe a assumir o papel de Encarregada de Educação. Segundo
os diretores de turma, em dois dos casos embora a mãe procure estar presente quando
a escola chama, encontra-se muitas vezes ausente ou tem uma má relação com o
respetivo aluno. Tendo em conta o perfil dos alunos entrevistados, importa agora
apresentar a análise das entrevistas, considerando os eixos analíticos enunciados no
início desta secção.
Em termos globais, os alunos conhecem a sua escola e têm uma visão positiva sobre
esta, valorizando sobretudo o convívio informal com outros alunos nos intervalos:
Eu acho que a escola é... Como devo dizer? É bom... O ensino... Ensina bem. É a
minha segunda casa. (...) Eu gosto de todos! (A2E2)
Acho boa, a escola. O que eu gosto mais é de jogar à bola, divertir-me com os meus
amigos. (A4E2)
Tanto na escola E3 como na escola E1, alguns alunos reconheceram haver situações
de conflito nas suas escolas. Relativamente aos aspetos negativos os alunos da escola
E2 a assinalarem conflitos em situações lúdicas, da E3 a apontaram sobretudo as
obras a decorrer na escola como o principal motivo para os conflitos e os alunos da
E1 salientaram as agressões e situações de dominação dos mais velhos sobre os mais
novos:
Os mais velhos, que às vezes tiram as coisas aos outros e isso... (A8E1)
Há pessoas que brincam com pedras, nas obras... E há colegas que brincam com
pedras. (A11E3)
Do 8º ano. Nós estávamos a jogar... É sempre! Sempre que estamos a jogar no campo
eles chegam lá e tiram-nos [a bola]! (A3E2)
(...) há meninos que querem almoçar aqui na escola e como não têm a senha roubam o
dinheiro. Roubam os nossos lanches. (A12E3)
Às vezes há miúdos que vêm aqui muitas vezes... (...) E depois aleijam mesmo os
outros... (...) Eles fazem os outros chorar e depois os outros vão chamar os pais (...) E
o pai ameaçou o miúdo e depois a polícia veio cá... (A6E1)
149
[Que tipo de problemas há?] Os alunos a discutirem com as contínuas. (...) Às vezes
há confusões. Mas é mais fora da escola. [Situações de roubo?] Há muitas! (...)No
pavilhão de educação física... [E tu já viste alguma situação dessas?] Ver não... Já
ouvi falar. (A5E2)
Que eu saiba só foi essa, que aconteceu hoje... (...) Nunca vi roubos. (...) Já soube
alguma coisa de roubo.... (A11E3)
A maior abrangência das relações sociais entre pares e outras formas de sociabilidade,
o acesso a mais informação, recurso e apoios resultantes de um número mais elevado
de relacionamentos, contribui para a construção da percepção que os alunos têm da
escola. Nesse sentido, a variação de perspetivas poderá estar mais relacionada com a
dimensão da rede em que se integram, contribuindo para um sentimento de maior ou
menor insegurança e/ou proteção.
Epá, pelo que eu conheço é mais rapazes que roubam do que raparigas. (A7E1)
É os mais novos, os de quinto ano e sexto têm mais receio dos mais velhos. Por isso é
que fazem tudo o que eles pedem. (A8E1)
Depois há uns que não se arriscam... Mas tem de se saber de quem é mala, se for tipo
dos... Dos do CEF ou assim... (...) Oh! São mais velhos, têm respeito. É mais velho!
Toda a gente... É mais... Com as raparigas não, mas com os rapazes sim! (A18E1)
150
e continuam no recreio, contrariando a opinião frequente dos professores que os
problemas são "transportados" para a sala de aula.
Bem, há problemas que começam dentro da sala de aula. (...) Um chama burro ao
outro, porque não soube dizer aquilo... (A14E1)
[Sorri] Isso aí são vários jogos! Isso aí são jogos lá deles, desses malucos aí! Mas eu
não me ponho nisso... Há uma coisa, é tipo... Há uns que é o corredor da morte, põem-
se todos... Normalmente é no C – que o C é o que tem mais – põem-se tipo... (...)
Depois põe-se lá, depois sempre que alguém passa começa tudo a bater! (A18E1)
151
Nesta escola também são referidos conflitos nos campos de futebol, havendo brigas
pela ocupação do campo e roubos das bolas, maioritariamente por parte dos mais
velhos sobre os mais novos.
(...) às vezes nós estamos a jogar à bola e eles chegam lá e tiram-nos do campo. (...) Às
vezes até nos dão calduços! (...) Se nós não jogarmos com eles, eles tiram-nos a bola e
eles jogam. (A3E2)
Por sua vez, os alunos da escola E3 consideram que os conflitos ocorrem porque há
alunos que são violentos por natureza e que gostam de exibir o seu poder agredindo
os mais novos.
Em princípio eu quando cheguei aqui senti-me diferente. Aqui os meninos, há miúdos
violentos. (...) Isso já é maneira de estar deles, dos alunos. Gostam de violar.... (...)
Porque mostram força em cima dos outros mais novos. (A9E3)
Os alunos da escola E1 afirmam também que a maioria dos conflitos existe por
provocações entre alunos e por roubos.
Então! Provocam-se uns aos outros! (A15E1)
É quase tudo ou é por causa das filas ou então é porque um miúdo vai a andar e depois
vai contra o outro e depois diz: "Ah, não pedes desculpa?" Ele diz que não... É sempre
essas coisas aqui. (A18E1)
Os jogos de futebol foram referidos com maior frequência pelos alunos que
desrespeitam os colegas e/ou as normas da escola e pelos alunos agressivos. Por se
tratarem de alunos com reincidência de comportamentos relacionados com as
152
situações entre pares e a conflitualidade, parece que os momentos de competição no
recreio como os jogos de futebol são as ocasiões para a emergência de situações de
conflito.
Acho que foi por causa de um jogo de futebol... (...) É sempre. O que eu acho é que
quando uns chamam nomes aos outros e depois aí é que dá luta. (...) Gostam de
chamar nomes, às vezes, os mais velhos... Gostam de estar a dizer asneiras e isso... A
chamar nomes aos outros. (A4E2)
Porque é... São aqueles que pensam que são os melhores, gostam de provocar os
outros, porque são mais chatos e depois às vezes apanham, outras vezes dão neles...
(A8E1)
153
resolução ou contribuir para que se intensifique o conflito, sobretudo no caso das
brigas, discussões e lutas.
Não sei muito bem. Porque aconteceu um problema e ainda ninguém resolveu nada.
(...) Estávamos na aula depois um miúdo começou-me a provocar, lá fora apareceram
mais... Eram para aí uns 5 e bateram-me todos e a 'stôra depois, ao fim, a 'stôra disse
que ia fazer participação e ainda não fizeram nada. (...) Às vezes, os professores vêem
dois miúdos, prontos, a zangarem-se uns com os outros e não fazem nada! (A8E1)
Por acaso não costumam fazer nada. Às vezes o senhor lá do bar, às vezes costuma
parar mas nem sempre. Nem sempre chamam a empregada. As contínuas vêm lá... (...)
O que devia acontecer mais vezes é: quando há discussão chamarem sempre a
contínua. Porque nem sempre chamam. Sim, o que devia acontecer era chamarem mais
vezes a contínua. (A4E2)
Um das explicações avançadas para a insuficiente regulação dos adultos, por dois
alunos da escola E1, prende-se com o medo que funcionários têm dos alunos
violentos, segundo estes alunos por esse motivo os funcionários intervêm menos
quando se trata de conflitos entre pares, principalmente entre os alunos mais velhos.
Depende de quem está lá no sítio, quem está há sempre confusão! Pode estar só a ver
mas depois o não sei quantos empurra, depois... Depois acaba por estar tudo, toda a
gente vai lutar. Depois chegam lá as contínuas e as contínuas também... (...) Elas têm
medo! Elas e os professores! Ninguém faz nada! Só o Sr. Z [Guarda da escola]
armava-se em esperto, foi lá uma vez, depois há um rapaz – que já cá não está – o ano
passado disse: "Ah, eles começaram têm que acabar" E depois empurraram o Sr.
Depois desde aí ele passa e finge que não vê e vem cá para cima para a Direção! (...)
Quase ninguém faz nada! Ou há lá alguns alunos que chegam lá e que... Tipo, se for
um do 9º ou assim... E depois está lá um miúdo de 5º ano eles aí... Eles separam, né?
Os mais velhos. Mas mais velhos com mais velhos e isso, isso aí ainda ajudam mais à
festa! Se começam-se a picar têm que resolver isso por eles, ninguém tem que ir lá
ajudar! Depois há uns que começam a chamar os primos e não sei quê... (A18E1)
Às vezes os mais velhos passam à frente no bar e as contínuas olham e não fazem
nada! Por exemplo, no outro dia um brasileiro, mais velho, passou-me à frente e eu
avisei a contínua, a contínua não fez nada e eu fui lá para a frente também e a
contínua não disse mais nada. Eles passam à frente... As contínuas, às vezes, também
têm medo. (A14E1)
E as contínuas ali do refeitório dão aos mais velhos, eles dizem querem mais comida,
elas põe logo mais comida e se se portam mal não dizem nada! E aos mais novos, se
nós pedimos mais um bocadinho de comida elas dizem que não, que não se pode
repetir. (A8E1)
154
Cá nesta escola sempre que alguém do 5º ano entra – até os professores e os contínuos
já dizem isso, para arranjarem amigos... Não é preciso andarem com ele, mas pelo
menos arranjem 1 ou 2 amigos que tenham bué conflitos. Porque nesta escola,
sempre... Se ninguém tem um aluno amigo, assim que conheça muita gente aqui na
escola ou que tenha muita confusão, está sempre a apanhar! Depois aqueles podem
não ser conhecidos, batem-lhes uma vez, depois eles dizem a esse tal amigo, depois vai
lá e depois, olha, já ninguém lhes faz nada! (A18E1)
Outra explicação avançada pelos alunos relativamente ao que consideram ser uma
intervenção insuficiente por parte dos adultos da escola, prende-se com a necessidade
de maior vigilância. Na escola E1 alguns entrevistados referem a necessidade de
maior vigilância, seja pelo aumento do número de funcionários, seja pela
implementação de um sistema de videovigilância na escola.
Pois, [a escola] mais do que faz não pode fazer porque depois se andarem lá pela
escola, as funcionárias, não há ninguém nos pavilhões, depois nos pavilhões pode
acontecer! E como já têm poucos funcionários... Mas quer dizer ainda têm alguns mas
não podem estar... Não se podem multiplicar! Depois é muita gente para pagar!
(A16E1)
Deviam meter câmaras em todas as salas para controlar os alunos. (...) E ter uma
'stôra para dar aula e um 'stôr de vigilância. (A7E1)
Podiam por mais vigilância, mais câmaras no recreio e depois viam o que é que se
tinha passado e iam falar com o miúdo, com a pessoa que arranjou a confusão.
Punham no recreio e nas salas de aula e depois iam falar com a pessoa que arranjou a
confusão e depois castigava de alguma forma. (A8E1)
46
A frequência de tipos de comportamento dos alunos é relativamente equitativa (Perturbações de
comportamento n= 5; Indisciplina com Adultos da escola n= 5; Indisciplina com Outros alunos e/ou
desrespeito pelas Regras escolares n= 4; Agressividade n=4).
155
Na sequência da necessidade de maior intervenção, os alunos avançaram o que
consideram ser as estratégias a desenvolver para a resolução dos conflitos e violência
na escola. Nos casos de desrespeito aos adultos da escola, os alunos com
comportamentos indisciplinados consideram que os conflitos poderiam ser evitados se
houvesse maior responsabilização de modo individualizado, sublinhando que os
alunos deveriam assumir os seus erros.
Sermos mais amigos uns dos outros... (...) Quando um está a falar os outros nunca
deixam ouvir... Começam sempre a falar em cima uns dos outros. (...) Entendermo-nos
todos uns aos outros. Ás vezes quando nós fazemos jogos em turma, nós dividimos a
turma em dois. Depois quando um ganha, passam a vida a gozar com os outros porque
perderam o jogo! Porque isto, porque aquilo, porque ganharam, porque perderam...
Eu não percebo porquê! É apenas um jogo! (A1E2)
Um pouco mais drasticamente, um dos alunos incluído neste grupo considera que os
conflitos diminuiriam se a população escolar fosse constituída por um maior número
de alunos sem comportamentos problemáticos, que poderiam servir de exemplo aos
restantes alunos. Na sua afirmação associa os problemas da escola à composição do
público discente, relacionando os alunos problemáticos com a pertença a grupos
étnicos como os ciganos, e a alunos que identifica genericamente como “pretos”
fazendo alusão ao continente africano, numa alusão à condição imigrante desses
alunos ou à descendência de famílias com trajetórias migrantes.
Dividir estes alunos! E trazerem para cá alunos exemplares... (...) Houve um ano que
isto era... Isto parecia que era a escola de África! Isto era só pretos, não havia nenhum
branco... Havia cá só 1 ou 2 e depois os 'stôres estavam sempre a queixar-se, não sei
quê, que era uma das únicas escolas que tinha bué conflitos... Porque isto antes era só
tipo bué raças, era só pretos e ciganos, pretos e ciganos! Depois de vez em quando cá
aparecia um branco mas não durava cá muito tempo também. E depois houve uma
Diretora – que era a anterior a esta – que chegou cá e despachou-os todos para a S. e
para a M. ... [Escolas Secundárias] (...) Mais exemplares! Porque depois esta escola
parece que foi feita para manter aqui os que se portam mal e depois os outros estão lá
todos, não há quase confusão! (A18E1)
[A escola] Devia proibir aqueles meninos de jogar à bola! (...) Porque se nós não lhes
fizemos nada, eles também não nos têm de fazer nada a nós! Se nós não queremos
jogar com eles... (A3E2)
156
Isso de ficar sem intervalos é uma boa ideia, ser suspenso também e deviam chamar...
Buscar o EE avisar que o aluno ia ficar de castigo e ficava... E punham-no no
intervalo a estudar. (A12E3)
Os alunos mais severamente sancionados na escola são os que defendem maior rigor
nos castigos aplicados. Hipoteticamente estamos face a uma reprodução do discurso
dos adultos da escola, considerado pelos alunos como a resposta mais adequada a esta
questão. Se houvesse uma efetiva interiorização dos valores e dos princípios do
sistemas de regras escolares por parte destes alunos ter-se-ía verificado alteração nos
seus comportamentos, o que não acontece.
157
Fiquei de castigo. Limpei a escola, fiz cópias. (...) Põem-nos de castigo ou levam para
Direção. (...) Se abusam são suspensos. (...) Mas se continuarem... Quando vierem da
suspensão, não é? Se eles continuarem são expulsos. (A2E2)
Sim, foi a última semana de aulas e a outra foi a meio do ano, foi duas semanas. (...)
Pois... Fiquei fora da escola um bocadinho! (A16E1)
Quem está cá nesta escola não se importa de ir para casa... Suspenso, portanto... (...)
[E quando vais suspenso?] Fico em casa. Yah e vou para rua também! A minha mãe
está a trabalhar! Fico sozinho em casa... (...) Suspenso é como se tivesse de férias! Só
que as faltas não se podem justificar. (A18E1)
A única coisa que eu não acho justa são as suspensões, os dias que mandam para casa.
(...) Às vezes é uma coisa assim de nada e mandam muitos dias! (A13E1)
Vem o 'stôr do GAI – que é o 'stôr T – e o 'stôr Y e levam-nos para a Direção. (...) Tive
de estar o tempo todo da aula no GAI. Às vezes os professores mandavam-me, por
exemplo, um disse para fazer os exercícios... E às vezes também, lá no GAI, tinha de
escrever 100 vezes "não me devo portar mal na sala" (...) E os meninos que vão mais
vezes, depois eles metem-nos lá todos os intervalos. (A10E3)
Agora há a regra que quem não faz as coisas que é para fazer será suspenso. Até
quando a Diretora da escola mandar vir... (A9E3)
Eles perguntam – a professora do GAAF – o nome, a turma e o motivo. E temos que
escrever o que é que aconteceu num papel. (...) Primeiro perguntaram o que é que
aconteceu, nós dissemos. Depois eles perguntaram "que castigo nós merecemos?" Nós
dissemos... Uns disseram... Já não sei! Outros disseram para "escrever regras". Outros
que disseram "ficar sem intervalo". Eles escolheram escrever regras. Castigo,
escrevemos "Não devemos atirar pedras" (A11E3)
47
Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família. Neste gabinete está integrado o GAI: Gabinete de
Acompanhamento e Intervenção (disciplinar).
158
para o recreio no período de intervalo é referida pelos alunos como sanção que pode
ser aplicada cumulativamente, neste caso pelos professores.
Às vezes na sala, quando eu fico a falar na sala depois a 'stôra manda os que se
portaram bem sair e às vezes os que tiveram a falar na sala ela manda-os ficar. Ficar
sem intervalo às vezes. (A4E2)
Fiquei sem os intervalos e a minha 'stôra deu uma folha a dizer o que é que eu faço nos
intervalos e isso tudo. Tinha 4 intervalos, tinha 5... (...) Às vezes ficava o dia todo sem
intervalos. Agora já tenho intervalos. (A12E3)
Apenas um dos alunos entrevistados desta escola defende uma maior rigidez nas
estratégias de proibição de violência física.
Para mim, se lutassem, por mim eu expulsava! (...) Se fosse muito grave sim. Mas se...
lutas... Assim suspensão de 2 dias ou 3, ou assim... (A2E2)
Na escola E1 alguns alunos também referem que os castigos não são justos porque
nem sempre são aplicados aos responsáveis pelos problemas.
Nem sempre! (...) Porque culpam muito... Por exemplo nas turmas culpam sempre os
mais velhos... Os repetentes levam sempre com as culpas... (A17E1)
Sim, os castigos são justos, mas acho que há casos mais graves que o meu que a escola
não faz nada! (...) Não são tão justos quanto isso. (A8E1)
Apesar de também não haver um acordo quanto à justiça dos castigos na escola E3, os
entrevistados defendem que a melhoria dos comportamentos dos alunos passaria por
ficarem mais vezes sem intervalo, aumentar o número de funcionários e que as regras
deveriam ser mais proibitivas de forma a evitarem a violência.
159
[Os castigos são justos?] Sim, acho que sim. Ir para o GAI, estar lá a aula toda, não
perturba mais a aula. (A10E3)
A escola devia ter mais auxiliares para tomar conta de nós. (A12E3)
Pedir aos professores para ser mais compreensíveis às vezes... (...) Quando nós
fazemos as coisas... Nós às vezes não as fazemos e as pessoas culpam-nos! Às vezes...
(...) E acontece muitas vezes isso na minha sala de aula. Os meus colegas não fizeram
nada e depois os professores culpam-nos porque eles muitas vezes fazem as coisas.
Naquela vez podem não ser eles, mas a professora culpa-os! (A1E2)
[E são justos?] Sim, de vez em quando sim. Mas há professoras que mandam as
pessoas para o GID, às vezes, à toa. Mandam os alunos para o GID à toa. (A14E1)
Não, eu dou-me bem com toda a gente, mas há 'stôres que só porque nós já temos
coisas anteriores – participações e isso – qualquer coisa, mesmo não sendo nós, somos
sempre nós acusados. Isso irrita bué! (...) São sempre as mesmas pessoas! (A18E1)
Por acaso as regras da escola agora estão muito boas. Deixaram de dar aquelas
regras que se faltar muitas vezes leva uma multa para casa. (...) [O que é que
propunhas?] Era que os alunos que não faziam os TPC ou não realizavam as tarefas na
sala de aula ficassem de castigo a varrer a escola e aí começavam logo a fazer os
TPC. (...) E não só, podiam ser outras tarefas, como limpar as casas de banho e isso.
(A8E1)
Algumas são injustas. (...) Porque a doutora H., quando estava muito calor dizia que
não podíamos vir de chinelos nem de calção, nem de tops e etc. (A5E2)
Algumas regras eu não acho bem. (...) Não podermos usar luvas nos espaços fechados.
As professoras usam! Quando estão na sala de aula.... E nós não podemos usar!
(A1E2)
160
Os alunos entrevistados defendem uma aplicação de regras mais restritivas e
controladoras (proibições, revistar os alunos, implementação de videovigilância).
Todavia, os alunos da escola E3 consideram que não deveria existir alunos violentos
na escola, havendo inclusivamente a sugestão de distribuir os horários não letivos de
modo a separar os mais alunos mais velhos dos mais novos.
Se calhar, para poderem jogar todos à bola, cada um tinha um dia... (A3E2)
Não podermos andar à porrada. Não gosto de andar à bulha! (A1E2)
Não naquele momento, mas fazer participação da professora, depois a escola via quem
é que tinha razão e depois a 'stôra não ia ser punida mas ficava lá no Relatório dela
também, que ela fez aquilo e aquilo. (A14E1)
Oh! Logo de início, logo à entrada era tudo revistado! Tudo revistado, todos os dias!
(A18E1)
Algumas são estranhas! (...) Não podermos trazer balões de água e essas coisas... Nem
fazer guerras de água... (...) E não podermos trazer telemóveis nem nada disso.
(A17E1)
161
Os alunos reconhecem a ocorrência de conflitos no espaço escolar, sobretudo entre
rapazes. As situações de dominação ou provocação dos alunos mais velhos sobre os
mais novos são as mais referidas. Os espaços de convívio como o recreio e o bar são
os locais por excelência para a emergência de conflitos. No entanto, é de sublinhar as
referências aos incidentes que se iniciam, muitas vezes, nas salas de aula e se
prolongam para o recreio. Estas referências são contrárias a opinião dos professores e
dos outros responsáveis escolares, que consideram que os problemas são
frequentemente levados para a sala de aula após os intervalos e/ou que surgem em
sala de aula como resultado da privação/ escassez de momentos não letivos
inteiramente dedicados ao lazer e ao brincar. Os motivos mais apontados para a
emergência dos conflitos são as provocações e competições entre colegas e os roubos.
As rivalidades no recreio sobretudo para os alunos agressivos e os que desrespeitam
os colegas e/ou as normas da escola.
162
V. CONCLUSÕES
163
rede, mais do que o âmbito de intervenção. Os sujeitos da rede em análise formam um
grupo pouco coeso, com baixa intensidade de relações – ou com relações dispersas –
o que conduz a um baixo aproveitamento dos recursos disponíveis. Esta fraca
maximização de recursos decorrente das baixas relações interinstitucionais mantidas
nestes territórios é contrária aos princípios de colaboração institucionalmente
recomendados nos normativos de regulação da violência, e localmente reconhecidos
como necessários. De realçar, contudo, que nestes territórios as escolas emergem
como atores institucionais com alguma centralidade nas redes locais, seja pelo seu
conhecimento e intervenção primária desenvolvida no âmbito das problemáticas
relativas às crianças e jovens do território, seja pela promoção de ações conjuntas com
outros atores e consequente partilha dos recursos disponíveis.
164
explicitarem que: a) a escola tem a responsabilidade de melhorar e aperfeiçoar o meio
em que está envolvida; b) a atuação da escola deve incrementar a participação e o
desenvolvimento cívico dos alunos; c) as escolas devem informar e sensibilizar os
Pais e/ou Encarregados de Educação sobre a normas de conduta em meio escolar; d) a
responsabilidade de prevenção e intervenção no que respeita à segurança, disciplina e
ambiente escolar pacífico deve ser partilhada por todos os membros da comunidade
escolar.
Ainda que haja autonomia e seja de realçar analiticamente o exercício da mesma face
à tutela, os responsáveis escolares consideram as medidas disciplinares disponíveis no
quadro legal e a demora no tratamento de casos reincidentes como fatores negativos e
condicionantes para a intervenção escolar face ao problema da violência. Outro
constrangimento referido tanto pelas Direções como pelo corpo docente prende-se
com os efeitos da extinção recente de algumas áreas curriculares (nomeadamente da
Formação Cívica), afirmando que neste domínio houve uma supressão de espaços
fundamentais para o trabalho preventivo de sensibilização e mudança de
comportamentos e atitudes realizado com os alunos. Este tipo de iniciativas
demonstram que a autonomia das escolas, se assume como um fator de extrema
importância na gestão escolar, permitindo uma adaptação ao seu contexto específico,
realizando ações que complementam e por diversas vezes ultrapassam as orientações
definidas nas políticas.
165
disponíveis, potenciando intervenções mais eficazes. Os fatores organizacionais são
centrais neste domínio sendo essencial potenciar a articulação e coordenação entre os
diversos níveis, tanto no interior de cada instituição, como na comunicação entre
instituições. É também central a existência de procedimentos estruturados e rotinados
de monitorização que orientem a prevenção e intervenção. É necessário que as
estratégias de regulação da violência sejam definidas de forma explícita e sistemática,
para que todos os intervenientes as compreendam e atuem em conformidade, de forma
informada e coerente. O planeamento assume um papel de relevo neste processo, pela
importância que tem a criação de um plano de ação conjunto que seja estruturado,
claramente definido e com metas claras, objetivas e tangíveis, que permitam a
monitorização regular e a detecção atempada de problemas que possam surgir durante
a execução do plano de prevenção e intervenção.
166
VI. METODOLOGIA INTEGRADA DE INTERVENÇÃO
Tal como tem sido referido ao longo de todo o estudo, constata-se que a aplicação
eficaz dos planos de ação e a pacificação dos quotidianos escolares depende em
grande medida da colaboração ativa de toda a rede local, o que resulta por sua vez
num alargamento da intervenção a outras esferas da vida dos alunos. Quer dizer que
as escolas – enquanto elemento central de todo o processo – terão que ter a
disponibilidade para a colaborar com os restantes agentes sociais. Partindo da escola e
ancorando-se na comunidade, uma intervenção desta natureza permite abarcar os
diversos espaços e recursos de regulação, contribuindo para a mudança de atitudes e
comportamentos de todos, e consequentemente para a pacificação dos quotidianos
escolares e comunitários.
48
Esta proposta é da autoria do Observatório de Segurança Escola, coordenado pelo Prof. Dr. João
Sebastião e composto por Joana Campos, Sara Merlini e Mafalda Chambino. O manual de intervenção
que resultou desta pesquisa encontra-se em documento à parte, incluído no Dossier Técnico-
Pedagógico.
167
ANTECIPAR E PREVENIR
COLABORAR E ENVOLVER
ARTICULAR E COORDENAR
LIMITAR E DISCIPLINAR
168
MEDIAR E ACOMPANHAR
AVALIAR E MONITORIZAR
REFORÇAR E DIFUNDIR
169
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183
Anexos
184
Anexos
ANEXO A
ATIVIDADES DO PROJETO
Atividades
Seleção dos Bolseiros de Investigação:
- Publicação de edital para recrutamento de dois bolseiros de investigação;
- Reunião de Júri para seleção de Bolseiros;
- Publicação de Ata Final
Planeamento e Apresentação do Projeto
Fórum de Colaboração
Entrevistas a informantes privilegiados
Análise Documental
1º Semestre
i
Anexos
ANEXO B
GUIÕES DE INQUIRIÇÃO
c. Localidade: _________________________________________________________________
2. Nomeie, por favor, os parceiros que considera serem importantes na intervenção e resolução de situações de
violência juvenil. (Por ex.: Parceiro 1: Escola Básica X)
a. Parceiro 1: _________________________________________________________________________
b. Parceiro 2: _________________________________________________________________________
c. Parceiro 3: _________________________________________________________________________
d. Parceiro 4: _________________________________________________________________________
e. Parceiro 5: _________________________________________________________________________
f. Parceiro 6: _________________________________________________________________________
g. Parceiro 7: _________________________________________________________________________
h. Parceiro 8: _________________________________________________________________________
i. Parceiro 9: _________________________________________________________________________
j. Parceiro 10: _________________________________________________________________________
3. Tendo por referência o grupo de parceiros que nomeou na questão 2, diga por favor com quais é que colabora e
com que frequência na intervenção e resolução de situações de violência juvenil.
Colabora. Colabora Não Colabora
raramente diariamente
1 2 3 4
a. Parceiro 1
b. Parceiro 2
c. Parceiro 3
ii
Anexos
d. Parceiro 4
e. Parceiro 5
f. Parceiro 6
g. Parceiro 7
h. Parceiro 8
i. Parceiro 9
j. Parceiro 10
4. Tendo por referência o grupo de parceiros que nomeou na questão 2, como avalia a relação que mantêm
relativamente aos processo de intervenção e resolução das situações de violência juvenil:
5. Tendo por referência o grupo de parceiros que nomeou na questão 2, assinale por favor com que frequência troca
informações e/ou recursos com estes na intervenção e resolução das situações de violência juvenil:
Raramente Diariamente N/S
1 2 3 4
a. Parceiro 1
b. Parceiro 2
c. Parceiro 3
d. Parceiro 4
e. Parceiro 5
f. Parceiro 6
g. Parceiro 7
h. Parceiro 8
i. Parceiro 9
j. Parceiro 10
6. Indique, por favor, quais as necessidades sentidas pela sua instituição na intervenção e resolução das situações de
violência juvenil: ____________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
8. Que medidas ou ações propõe para a intervenção e resolução das situações de violência juvenil pelos agentes
locais? _____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
iii
Anexos
iv
Anexos
Dimensões Questões
I. O Retrato da Situação 1. Como é que tem sido a evolução da violência até este momento neste ano letivo?
2. Que medidas são aplicadas, em concreto, na resolução das situações de violência?
3. Quando ocorrem situações de conflito há uma estratégia definida? De que tipo?
3.1. Esta intervenção é feita de acordo com que critérios de gravidade?
II. Os Mecanismos de 3.2.Como é que lidam com comportamentos violentos recorrentes por parte de certos alunos?
Regulação 4. Quem é que a escola contacta quando ocorrem situações de violência?
(P. Escola Segura; OSE e Enc. Educação)
5. Que tipo de recursos a escola dispõem para a prevenção e intervenção das situações de violência?
6. Qual a participação/ apoio da tutela na resposta às situações de conflito?
7. Que regras da escola considera mais importantes na prevenção das situações de violência?
(Objectivos/ expectativas de prevenção, pacificação, encaminhamento e castigo; filosofia de atuação subjacente; influência e contributo das regras
para a integração e normalização dos comportamentos dos alunos; os documentos estruturantes integram as questões da violência e agressividade)
III. A Estratégia da 8. Como é que a escola elabora os seus regulamentos e regras internos, no que diz respeito:
Escola - À participação dos diferentes intervenientes da escola?
- À articulação entre os diferentes documentos estruturantes?
9. Têm previsto algum projeto de prevenção ou intervenção para o próximo ano?
(Referência a novos projetos – concretos – ou ajuste da pergunta a um projeto já referido)
10. A escola dispõe de parcerias/ protocolos específicos para a prevenção ou intervenção da indisciplina e violência na escola?
(Articulação com o Centro de Saúde, a Junta de Freguesia, etc.)
IV. A relação com o
11. Qual o envolvimento da escola com a comunidade local na resolução deste tipo de situações?
contexto
12. A escola dispõe de algum tipo de iniciativa dirigido à comunidade/ população local?
13. Como é que avalia a participação dos pais/ responsáveis educativos?
V. Representação da
14. O que é para si a violência? E um aluno violento?
violência
v
Anexos
I. Caracterização
1. Sexo: M /F
2. Idade: ______
3. Localidade da escola onde lecciona:
Casal de Cambra
Queluz/Monte Abraão
4. Há quanto tempo exerce a sua profissão: 5. Há quanto tempo trabalha nesta escola:
6. Das seguintes opções selecione a que mais se adequa à sua situação na escola:
a) Dou aulas __
b) Dou aulas e ocupo funções e/ou um cargo na escola __
c) Não dou aulas porque ocupo funções e/ou um cargo na escola__
vi
Anexos
Discordo Concordo
Discordo Concordo
totalmente totalmente
1 2 3 4
Desempenho as minhas funções de forma adequada, correspondendo ao
que é preciso
O meu desempenho ainda não é suficiente, mas procuro esforçar-me
Cada professor tem o seu método, não há desempenhos bons nem maus
Tenho o apoio dos colegas para realizar o meu trabalho
A escola é muito competitiva, não permitindo a cooperação entre os
colegas para o exercício das suas funções
O meu trabalho com os alunos é uma conquista diária
Os alunos reconhecem o meu trabalho e valorizam-me por isso
Por vezes há alunos que não se interessam pelas minhas aulas
Não Sim
No conselho de turma
Em reuniões de área disciplinar
Em reuniões de departamento
Nos órgãos consultivos da direção
No conselho geral de escola
Outras situações
vi
Anexos
Não Sim
a. Tenho instruções sobre os procedimentos em casos de conflito
b. A escola disponibiliza instrumentos de queixa/ participação
c. Comunico à escola a ocorrência de situações de conflito
d. Sou informado das decisões sobre os conflitos ou procedimentos
disciplinares acerca dos meus alunos ou de mim
e. Já redigi ou participei na formalização de referenciações de alunos a
instituições (como a CPCJ, Polícia, etc.)
5. Com que frequência recorre aos seguintes elementos da escola para solucionar uma situação de
conflito? use a escala 1 – Nenhuma vez a 4 – Muitas vezes:
Nenhuma vez Raras vezes Algumas vezes Muitas vezes
1 2 3 4
a. Diretor de Turma
b. Funcionários
c. Professores da Direção
d. Gabinete escolar (de intervenção, mediação ou
gestão de conflitos/ disciplinar(es))
e. Outros técnicos da escola (Animador, Psicólogo,
Técnico de Serviço Social, etc.)
vii
Anexos
1. Indique com que frequência utiliza alguma destas estratégias de resolução da indisciplina e
conflitos em sala de aula:
Use a escala: 1 – Nenhuma vez a 4 – Muitas vezes:
viii
Anexos
2. Na sua opinião qual o efeito dos seguintes castigos ou tarefas na melhoria do comportamento
dos alunos:
Use a escala: 1 – Nada eficaz a 4 – Muito eficaz:
4. Relativamente à aplicação de um castigo a um aluno, quais são os critérios que pesam mais na
sua decisão:
Escolha no máximo 3 respostas
a. O(s) aluno(s) que reincide(m) no comportamento ___
b. O(s) aluno(s) que se recusa(m) a cumprir o castigo aplicado ___
c. O(s) aluno(s) que não comparece(m) para cumprir o castigo ___
d. O(s) Encarregado(s) de Educação que não concorda(m) com o castigo ___
ix
Anexos
6. Qual a estratégia que deve ser usada com um aluno que tem um comportamento
desadequando de forma recorrente:
Escolha no máximo 2 respostas
a. Participação ou queixa a entidade policial ou judicial
b. Acompanhamento direcionado especificamente ao aluno (com o reforço do apoio de
técnicos escolares; vigilância, etc.)
c. Alteração dos castigos ou tarefas que são aplicados
d. Agravamento das sanções
e. Reuniões com o(s) Encarregado(s) de Educação
f. Outro. Qual? _______________________________________________________
IV. Representações
x
Anexos
3. Na sua opinião, quais são as principais razões para ocorrerem situações de conflito?
Escolha no máximo 3 respostas
xi
Anexos
MÓDULO I
2. Sexo *
Feminino
Masculino
Casal de Cambra
Queluz/Monte Abraão
5º ano
6º ano
7º ano
8º ano
9º ano
5. Turma *
xii
Anexos
6. Via de ensino: *
Regular
PCA
CEF
PIEF
(i.e. Recebes da tua escola o passe e/ou senhas de almoço e/ou livros, etc.) *
Sim
Não
Não sei
Pai
Mãe
Irmão ou Irmã
Avô ou Avó
Tio ou Tia
Outro
Menos que o 4º ano (sabe ler e escrever, mas não frequentou/ concluiu o 1º Ciclo)
xiii
Anexos
Licenciatura
Mestrado/ Doutoramento
MÓDULO II
Sim
Não
Os professores não explicavam bem a matéria Não gostava dos funcionários da escola
A minha relação com a turma não era boa Não tinha quem me ajudasse a estudar
A escola não tinha condições nenhumas Não tinha condições em casa para estudar
Outro: __________________________________________________________
xiv
Anexos
MÓDULO III
Sim
Não
Porque nas aulas também não aprendo nada Porque há professores de que não gosto e não quero ir às aulas
Porque não me apetece ir às aulas Porque há professores que não gostam de mim e não me sinto
Outro: __________________________________________________________________
Outro: ___________________________________________________________
Em casa
Na escola
xvi
Anexos
Em centros comerciais
Outro: _______________________________________________________________
Sim
Não
18. Sem ser nas férias alguma vez estiveste mais de 1 mês sem ir à escola?*
Sim
Não
Outro: _____________________________________________________________________
xvii
Anexos
MÓDULO IV
Sim
Não
Não sei
22. Sobre continuar a estudar ou não, diz se concordas com as seguintes frases:
Usa a escala: 1 = "discordo totalmente" até 4 = "concordo totalmente" *
xviii
Anexos
1 - Discordo 4 - Concordo
totalmente 2 - Discordo em parte 3 - Concordo em parte totalmente
Sim
Não
SE RESPONDESTE NÃO, PASSA PARA A PERGUNTA 25
24. Quem te disse? *
Outro: ______________________________________________________________
MÓDULO V
25. Que confiança tens nos adultos da tua escola?
Usa a escala: 1 = "Não confio nada" até 4 = "Confio muito": *
xix
Anexos
Diretor(a) de Turma
Professores da Turma
Funcionários da Escola
Professores da Direção
Diretora da Escola
Diretor(a) de Turma
Professores da Turma
Funcionários da Escola
Professores da Direção
Diretora da Escola
MÓDULO VI
Familiares
Outro: ___________________________________________________________________________
xx
Anexos
28. Quando estás com algum problema na escola, a quem pedes ajuda? *
Pai Professores
Mãe Funcionários
Irmãos Ninguém
Outro: __________________________________________________________________
Sim Não
Como correu o teu dia na escola
A matéria que estás a aprender nas aulas
As tuas notas
O teu comportamento
Os teus amigos e/ou colegas
Os teus professores
30. Se fazes alguma coisa na escola que o(s) adulto(s) com quem vives acham errado: *
Gritam contigo
Batem-te
Outro: _______________________________________________________________________
31. Se fazes alguma coisa na escola que o(s) adulto(s) com quem vives acham certo: *
xxi
Anexos
Oferecem-te presentes
Elogiam-te perto de outras pessoas
Dizem-te: "Não fazes mais do que a tua obrigação"
Não te dizem nada
Outro: _________________________________________________________________
MÓDULO VII
32. Desde o início do ano já tiveste alguma vez numa grande discussão ou briga na escola? *
Sim
Não
SE RESPONDESTE NÃO, PASSA PARA A PERGUNTA 38
33. Pensa na situação mais grave. Quando aconteceu, estavas com quem? *
Amigos ou colegas
Professores
Funcionários
Ninguém
Outro: ______________________________________________________
Na sala de aula
No recreio
À entrada da escola
xxii
Anexos
Sim
Não
SE RESPONDESTE NÃO, PASSA PARA A PERGUNTA 38
Os amigos ou colegas
O/ A Diretor/a de Turma
Os Professores
Os Funcionários
Outro: _________________________________________________________
MÓDULO VIII
38. Desde o início do ano letivo, diz quantas vezes viste alguém: *
xxiii
Anexos
1- 2- 3- 4-
Nenhuma Raras Algumas Muitas
Insultar um colega
Ameaçar um colega
1- 2- 3- 4-
Nenhuma Raras Algumas Muitas
Insultaram-me
Ameaçaram-me
Obrigaram-me através de ameaças, a fazer coisas que não queria (entregar dinheiro
ou materiais, fazer tarefas...)
xxiv
Anexos
1- 2- 3- 4-
Nenhuma Raras Algumas Muitas
Insultei um colega
Ameacei um colega
MÓDULO IX
Sim Não
Te protegeres de uma agressão
Te conhecerem e gostarem de ti
MÓDULO X
xxv
Anexos
42. Diz se concordas com os castigos e tarefas que aplicam na tua escola:
Usa a escala: 1 = "Discordo totalmente" até 4 = "Concordo totalmente" *
2- 3- 4-
1 - Discordo Discordo Concordo Concordo
totalmente em parte em parte totalmente
Contribuem para se estar melhor na escola
Pioram o ambiente da escola
São justos
Deviam ser diferentes
São muito duros
São o que os mal comportados precisam
Servem para impor a vontade dos professores
Melhoram os comportamentos
Não servem para nada
Respeitam os direitos dos alunos
MÓDULO XI
Sim
Não
Respeita os direitos dos alunos É muito rígido, não me deixa fazer nada
Serve para impor a vontade dos professores Contribui para se estar melhor na escola
Ajuda-me a participar na vida da escola (aulas, recreios, Serve para castigar quem se porta mal
assembleias, etc.)
xxvi
Anexos
Outro: __________________________________________________________
Outro: ______________________________________________________________________
46. Diz uma regra que seria importante existir na tua escola:
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
xvii
Anexos
Como sabes na escola às vezes há problemas e conflitos entre alunos ou com funcionários e
professores. Gostávamos de te pedir para falar um pouco sobre estas situações.
Pensa agora em situações de conflito que podem acontecer no dia a dia.
2. Achas que aqui na escola há muitos problemas entre alunos? (brigas, insultos, roubos, …)
3. Já alguma vez viste uma situação dessas?
4. Isso acontece muitas vezes? há algum sítio em que costuma acontecer mais?
5. Alguma vez estiveste envolvido numa situação dessas? De que tipo? Muitas ou poucas vezes?
6. Porque é que achas que isso acontece?
7. O que é que a escola faz quando esses problemas acontecem? Quem é que costuma
intervir/ajudar? Fazem alguma coisa? Achas que a escola devia agir de outra maneira? O que se
pode fazer para que não aconteçam?
8. Já alguma vez foste castigado na escola? Porquê? Como é que isso aconteceu?
9. E o que é que achas dos castigos? São justos?
10. E das regras da escola?
Agora vou-te fazer umas perguntas sobre as pessoas com quem te costumas relacionar, que fazem
parte da tua vida
A – Com quem passas o teu tempo livre? A conversar, passear, que te faz companhia, etc.?
B – Habitualmente estudas sozinho/a ou tens apoio? Sempre ou apenas quando precisas de ajuda?
De quem?
C – Quando precisas de um conselho para tomares uma decisão sobre um assunto importante com
quem é que falas? (exemplos: te inscreveres numa atividade ou para escolheres um curso)
D – Com quem falas sobre assuntos que te preocupam? Que pessoas é que pensam como tu, têm as
mesmas ideias?
E – Imagina que perdias a tua carteira. A quem é que podias pedir dinheiro ou ajuda para comprar
alguma coisa que precisasses?
F – E no caso de não teres mesmo dinheiro, podias pedir a alguém para te pagar o que precisasses?
(exemplo: um programa/ atividade, um lanche, material da escola etc.)?
G – Quando tens um assunto uma questão muito pessoal ou íntima com quem falas habitualmente?
H – Com que pessoas é provável estares em desacordo? Ou seja, com que pessoas podes ter brigas
ou problemas ou que te possam incomodar ou aborrecer?
I - E que pessoas podem trazer preocupação para ti? Com quem te preocupas?
[ APRESENTAR EM SEPARADO]
Local de
Pessoa (nome/ abrev.) Relação A B C D E F G H I Sexo Idade
Residência
1.
2.
3.
4.
5.
xviii
Anexos
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
[Repetir nomes da pergunta anterior e mostrar cartão]
6. Em relação às pessoas que mencionaste diz-me se: conhecem-se muito bem (2), conhecem-se
razoavelmente (1)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
Interpretação da rede pelo próprio
xix
Anexos
ANEXO C
LISTA DE ENTIDADES LOCAIS INQUIRIDAS
xxx
Anexos
ANEXO D
FICHA DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA
PUBLICAÇÕES
1. Sebastião, João, Campos, Joana e Merlini, Sara (2012) "As duas margens do rio: contrastes
urbanos e regulação da violência na escola", Interseções: Revista de Estudos
Interdisciplinares, Rio de Janeiro v. 14, n.º 1, pp. 127-164;
2. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (no prelo) "Redes
(des)conexas de intervenção local na violência infanto-juvenil", Dossier temático: Análise
quantitativa e indicadores sociais. Mediações – Revista de Ciências Sociais (em publicação,
submetido em 28 de fevereiro de 2013);
3. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (no prelo) "Education
policies, territories and actor strategies", Italian Journal of Sociology of Education (em
publicação, submetido em 31 de março de 2013);
4. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (no prelo), "Violência
na escola: conhecer para agir" Em: Benavente, Ana (orgs.) A Escola do Século XXI:
problemas, desafios, perspectivas.(em publicação, submetido em 28 de fevereiro de 2013);
xxxi
Anexos
5. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (2013) "Não sei como
hei-de dizer... Porrada, pronto! Análise e intervenção em situações de violência na escola",
Workshop de Investigação do CIES-IUL, 19 de junho de 2013;
6. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (2013) "Redes
(des)conexas de intervenção local sobre a violência na escola", I Colóquio Internacional de
Ciências Sociais em Educação/ III Encontro de Sociologia da Educação, Universidade do
Minho, 25 a 27 de março de 2013;
7. Sebastião, João, Campos, Joana e Merlini, Sara (2012) "Street level bureaucracy –
Educational Policies and local context", ESA RN10 Midterm Conference - Diversity in
Education: Issues of Equity and Social Cohesion, Ghent University, Belgium, 13 e 14 de
setembro 2012;
8. Sebastião, João, Campos, Joana e Merlini, Sara (2012) "Processos de regulação da violência
escolar: das políticas às práticas", VIII Congresso Português de Sociologia – Sociedade,
Crise e Reconfigurações, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 19 a 22 de junho
de 2012;
FORMAÇÃO
1. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (2013) "Violência na
Escola – Conhecer para Agir", Manual - Metodologia Integrada de Intervenção sobre a
Violência na Escola;
2. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (2013) "Violência na
Escola – Conhecer para Agir", Brochura de apresentação da Metodologia Integrada de
Intervenção sobre a Violência na Escola (a disponibilizar brevemente no sítio do CIES);
3. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (2013) "Gestão
Organizacional da Violência na Escola - Conhecer para Agir", Formação dirigida a docentes
e técnicos com responsabilidades na proteção na infância nas escolas em estudo no Projeto
"Estratégias de Intervenção Socioeducativa em Contextos Sociais Complexos" (POAT) nos
dias 22, 27 e 29 de Maio de 2013;
DISSEMINAÇÃO DE RESULTADOS
1. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (2013) "Estratégias
socioeducativas em contextos sociais complexos" – Apresentação dos resultados de estudo
do Observatório de Segurança Escolar / CIES-IUL, Fórum de Colaboração na Casa da
Juventude no dia 3 de maio de 2013.
2. Sebastião, João, Campos, Joana, Merlini, Sara e Chambino, Mafalda (2013) "Violência,
Escola e Territórios" – Apresentação dos resultados de um estudo de casos do Observatório
de Segurança Escolar, Discussão alargada no TeatroEsfera no dia 2 de fevereiro de 2012
(ponto de partida para o projeto POAT).
xxxii
Anexos
ANEXO E
MANUAL DE FORMAÇÃO
xxxiii
Violência na Escola
FICHA TÉCNICA
Conceção:
João Sebastião (Coord.)
Joana Campos
Sara Merlini
Mafalda Chambino
[email protected]
Avenida das Forças Armadas, Ed. I
1649-026 Lisboa - Portugal
Tel.: 210 464 018 / 192
www.cies.iscte.pt
Cofinanciamento:
Programa Operacional de Assistência Técnica
do Fundo Social Europeu (POAT/FSE)
1
Violência na Escola – Conhecer para Agir
Índice
2
Violência na Escola – Conhecer para Agir
1. VIOLÊNCIA NA ESCOLA
A violência nas escolas tornou-se nas duas últimas décadas uma questão relevante no
debate educativo e político a nível nacional e internacional sendo frequentemente
expressa a ideia de que a violência resulta de uma degradação civilizacional e que as
novas gerações são incivilizadas e não respeitam os valores nem a cultura. Esta ideia é
reforçada pelo relevo dado a casos isolados nos meios de comunicação social, o que
contribuiu para a construção social das escolas como contextos de insegurança,
sustentando conceções que a pesquisa científica tem vindo a refutar. A perspetiva de
que os casos de violência na escola são recentes e estão num crescendo imparável não
encontra bases científicas, uma vez que a violência em meio escolar é um fenómeno
restrito e os incidentes de maior gravidade são raros (Carra, 2009). Estes ocorrem nos
quotidianos sobretudo sobre a forma de microviolências, pequenas vitimações e
incivilidades (ou violência de baixa intensidade, Dupper e Meyer-Adams, 2008). Nesse
sentido podemos afirmar que a relevância social do fenómeno é que é recente.
Definir e Identificar
Analisar a violência na escola implica adotar uma abordagem convergente que enquadre
as esferas de intervenção e ação das instituições formais e, ainda, os agentes sociais e os
mecanismos que estruturam e regulam as conceções e práticas de violência. As
conceções e atitudes violentas estruturam-se a partir dos diversos processos de
socialização a que os indivíduos são sujeitos, assim como da existência e eficácia dos
procedimentos de regulação da violência nos contextos em que estas interações se
produzem. Trata-se de perspetivar a violência enquanto forma de ação contingente, que
se produz num contexto relacional concreto mas com quadros de possibilidades
diversos, em que diferentes tipos e graus de tensão e conflito podem levar (ou não) a
situações de agressão. Nesse sentido, a violência pode acontecer ou não dependendo da
forma como as escolas promovem (ou não) processos de prevenção e intervenção das
situações de violência na escola. Haverá sempre situações de violência, contudo estas
podem ser em menor número e de menor gravidade quando esses mecanismos estão
organizados e preparados para intervir.
3
Violência na Escola – Conhecer para Agir
4
Violência na Escola – Conhecer para Agir
5
Violência na Escola – Conhecer para Agir
Tipo de Agressão
Física Psicossocial
2. FATORES E ESTRATÉGIAS DE
ATUAÇÃO: DIVERSIDADE DE
ABORDAGENS
7
Violência na Escola – Conhecer para Agir
No final deste guia encontra-se uma Bibliografia Temática que procura fornecer
elementos teóricos e metodológicos que permitam contribuir para o desenvolvimento de
projetos e o aprofundamento de estratégias de intervenção neste âmbito.
A metodologia cujos princípios até agora temos vindo a apresentar resulta do percurso
de investigação que tem vindo a ser realizado pela equipa do Observatório de Segurança
Escolar. Para a construção desta metodologia foram consideradas as principais
contribuições teóricas sobre o tema; exemplos práticos de estratégias de intervenção que
têm vindo a ser desenvolvidas a nível nacional e internacional; e as características
específicas dos territórios educativos em análise. A investigação realizada num conjunto
de territórios educativos permitiu aprofundar o conhecimento da equipa sobre os
processos de regulação da violência acionados pelas escolas em análise assim como
identificar fatores de sucesso e obstáculos à pacificação dos quotidianos escolares. Se
nem sempre o que é eficaz deve ser adotado como modelo, pois por vezes atropela as
regras mais elementares de uma escola aberta e democrática, o debate e a análise das
estratégias e práticas de prevenção e intervenção implementadas pelas escolas permitiu
identificar as mais eficazes nos processos de regulação e que melhor correspondiam aos
objetivos de uma escola inclusiva. Podem assim ser realçados alguns princípios
relevantes, nomeadamente:
8
Violência na Escola – Conhecer para Agir
9
Violência na Escola – Conhecer para Agir
Antecipar e prevenir
Colaborar e envolver
Articular e coordenar
Limitar e disciplinar
Mediar e acompanhar
Avaliar e monitorizar
Reforçar e difundir
Antecipar e prevenir
A antecipação e prevenção das situações potencialmente problemáticas nas escolas é um
fator chave para a construção de um clima de escola seguro e pacífico. O primeiro passo
para a construção de estratégias de intervenção eficazes em qualquer área de
intervenção é a identificação e delimitação do problema, do contexto em que ocorre e
das suas fragilidades e potencialidades. Para isso, torna-se essencial a realização de um
diagnóstico que permita, não só caracterizar o problema sobre que se quer intervir,
como compreender as reais necessidades de intervenção (impedindo assim a
sobreposição de repostas) e os recursos disponíveis para o efeito. Este conhecimento
ganhará em clareza e especificação se produzido através da participação de todos os
10
Violência na Escola – Conhecer para Agir
- Criar e manter uma equipa de ação conjunta e desenvolver um plano de atuação. Esta
equipa deverá ser composta por elementos da escola (direção, coordenação de
departamento e direções de turma), da família e da comunidade (segundo a relevância
da sua área de intervenção em cada situação concreta, e tem como objetivo fundamental
desenvolver um plano de atuação e que funcione como guia de orientação e possibilite a
supervisão das atividades promovidas.
Colaborar e envolver
O desenvolvimento de parcerias locais é uma condição essencial para um trabalho de
prevenção eficaz no médio e longo prazo. A intervenção em rede representa um claro
valor acrescentado na medida em que beneficia de uma maior diversidade de
abordagens e permite uma otimização dos recursos disponíveis (Conselho Europeu,
20112). O princípio estratégico da colaboração em rede é importante para:
11
Violência na Escola – Conhecer para Agir
Articular e coordenar
O princípio de articulação e coordenação de uma estratégia de intervenção sobre a
violência na escola pressupõe a existência de uma equipa de ação designada para o
efeito e que as atividades desenvolvidas estejam articuladas com um plano de atuação
conjunta. Nesse sentido é importante que se definam estratégias coordenadas a nível
escolar e comunitário, nomeadamente através da:
12
Violência na Escola – Conhecer para Agir
situações será desejável a intervenção, tendo em conta o tipo e a frequência das mesmas.
Este tipo de procedimento evita a sobreposição de respostas institucionais, que
frequentemente se traduz numa afetação desadequada dos recursos existentes. O
reconhecimento e priorização das competências de cada instituição de acordo com o
tipo de situação implicam o melhor conhecimento mútuo dos diversos níveis
organizacionais, tanto no interior do sistema educativo, como nas entidades parceiras, e
o estabelecimento de laços de comunicação entre estes.
Limitar e disciplinar
A relação entre as dimensões pedagógica e disciplinar é um elemento relevante nos
processos de regulação das situações de violência na escola. Os quadros de relações
sociais estabelecidos entre alunos e adultos dentro da escola implicam que as regras
escolares sejam entendidas como legítimas, enquanto componente básica para que o
processo de educação e aprendizagem possa ser efetivado. É por isso importante
conceber e implementar o controlo disciplinar com base no conhecimento e aceitação
dessas mesmas regras, o que implica:
13
Violência na Escola – Conhecer para Agir
Mediar e acompanhar
É reconhecida a importância da existência de um sistema de apoio e orientação para os
intervenientes nas situações de conflito nas escolas, mecanismos que contribuam para a
alteração dos seus comportamentos e a promoção da convivência pacífica na escola.
Algumas das estratégias mais eficazes identificadas são:
14
Violência na Escola – Conhecer para Agir
Avaliar e monitorizar
A criação de um sistema de indicadores que possibilite avaliar a difusão de fenómenos
violentos e o impacto da intervenção, contribui para assegurar que as decisões são
tomadas com base nos factos e não apenas em perceções. Enquanto princípio, propõe-se
que haja uma coordenação entre os processos de monitorização da escola e entidades
locais, através de um conjunto de instrumentos que permita a:
Reforçar e difundir
O reforço e a disseminação são elementos fundamentais numa estratégia de intervenção,
na medida em que contribuem para a manutenção do plano de ação e motivam o
envolvimento da comunidade. Neste âmbito, destaca-se um conjunto de práticas:
- Envolvimento dos líderes locais de modo a ter maior apoio e defesa nos esforços de
melhoria da segurança escolar. Esta colaboração dos líderes locais na estratégia de
intervenção pode ter diversas finalidades, desde o patrocínio na realização de uma
atividade à promoção da iniciativa ao nível territorial.
16
Violência na Escola – Conhecer para Agir
BIBLIOGRAFIA TEMÁTICA
CONCEITOS E TEORIAS
Amado, João da Silva (2001) Interação Pedagógica e Indisciplina na Aula, Porto:Asa
Carra, Cecile. (2009). European trends in research into violence and deviance in
schools. International Journal of Violence and School. 10: 97-110. Disponível em:
http://www.ijvs.org/files/Revue-10/05.-Carra-Ijvs-10-en.pdf
17
Violência na Escola – Conhecer para Agir
ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO
Chrispino, A. e Santos, T. (2011) Política de ensino para a prevenção da violência:
técnicas de ensino que podem contribuir para a diminuição da violência escolar. Ensaio
Aval. Pol. Públ. 19 (70): 57-80. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v19n70/v19n70a05.pdf
Díaz-Aguado, M.ª J. (2005) Por qué se produce la violencia escolar y como prevenirla.
Revista Iberoamericana de Educación. 37: 17-47. Disponível em:
http://www.rieoei.org/rie37a01.htm
National Crime Prevention Council (2003). School safety and security Toolkit: a Guide
for Parents, Schools and Communities. Washington: NCPC. Disponível em:
http://www.ncpc.org/cms-upload/ncpc/File/BSSToolkit_Complete.pdf
Abramovay, M., Nunes, M., Andrade, E., Neto, M., Muniz, M., Castro, J., Leite, A. e
Esteves, L. (2003) Escolas Inovadoras: experiências bem sucedidas em escolas
públicas. Brasília: UNESCO. Disponível em:
http://www.secult.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-
leituras/WEBTECA/escolas%20inovadoras%20-%20experiencias%20bem-
sucedidas%20em%20escolas%20publicas.pdf
Shaw, M. (2002) Promoting Safety in Schools: International experience and action. The
Role of Schools in Crime Prevention Conference. Melbourne. Disponível em:
http://www.aic.gov.au/media_library/conferences/schools/shaw.pdf
MEDIDAS DISCIPLINARES
18
Violência na Escola – Conhecer para Agir
Skiba, R., Reynolds, C., Graham, S., Sheras, P., Conoley, J. e Garcia-Vasquez, E.
(2006) Are Zero Tolerance Policies Effective in the Schools?: An Evidentiary Review
and Recommendations, A Report by the American Psychological Association Zero
Tolerance Task Force. Disponível em:
http://www.pbismaryland.org/documents/Are%20Zero%20Tolerance%20policies%20ef
fective%20APA%20Board%20report%20June%202006.pdf
BULLYING E VITIMAÇÃO
Institute on Family & Neighborhood Life (2002), Fact Sheet – The Olweus Bullying
Prevention Program: Background and Program Overview, Clemson University.
Disponível em:
http://www.spannj.org/pti/Fact_Sheet_on_Bullying_Harassment_&_Prevention.pdf
IAC (2010) Sobre o Bullying nas escolas. Infocedi. 24. Disponível em:
http://www.iacrianca.pt/images/stories/pdfs/infocedi/infocedi24.pdf
Sítios de referência:
http://www.bullyingescola.com/
http://www.portalbullying.com.pt/
http://www.bullying-in-school.info/en/content/home.html
http://www.violencepreventionworks.org/public/index.page
VIOLÊNCIA NO NAMORO
19
Violência na Escola – Conhecer para Agir
Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e Associação pelo Prazer de Viver (2007)
Projeto Direitos & Desafios/ PROGRIDE: Prevenção da Violência Doméstica em
Contexto Escolar. Disponível em:
http://www.direitosedesafios.com/files/espacotrevo-rel-prev-viol-domes-cont-
escolar.pdf
TUTORIAS
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
20
Violência na Escola – Conhecer para Agir
http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/tox/v16n3/v16n3a07.pdf
PARCERIAS
21