2018 Dis Awssilva
2018 Dis Awssilva
2018 Dis Awssilva
CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
FORTALEZA-CE
2018
ALEXANDRE WELLINGTON DOS SANTOS SILVA
Fortaleza-CE
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Aprovada em ___/___/_____.
BANCA EXAMINADORA
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Agradecimentos
À minha mãe e meu pai, Marlene e Armando, pelos sacrifícios pessoais que me
trouxeram até aqui. Vocês são para mim, exemplo permanente de força, persistência e alegria,
que tento, dentro das minhas capacidades, replicar por onde ando.
Às minhas irmãs, Amanda e Ana Tereza, pelo constante apoio nessa empreitada.
Minhas preocupações pessoais durante o percurso desse trabalho foram em muito minoradas
por conta do perene amparo.
À Fernanda, amor da minha vida, minha esposa, minha companheira, com a qual a
vida toma sentido e se enche de amor e alegrias. Agradeço a vasta paciência diante de faltas
decorrentes da necessidade de acabar – ou iniciar – um capítulo deste trabalho. Prometo
dormir cedo a partir de agora.
Aos meus filhos, Nícolas, que tanto amo, minha fonte de inspiração para ser uma
pessoa melhor – e que agora, finalmente, verá o fim do “livro que nunca acaba de ser escrito”,
e à filha que vem, a já tão esperada e amada Carolina.
Aos cunhados, André e Flávia, e aos sogros, Seu Assis e Dona Carminha, pelos
cuidados com Nícolas e Fernanda, quando me ausentava por conta de alguma obrigação do
mestrado.
“Parnaíba era, por essa época, uma das muitas cidades saturninas do
Norte, que geram os filhos e os devoram. Dezenas de moços
tomavam, cada ano, o rumo da Amazônia, onde iam ser pasto das
febres nos seringais recém-descobertos. E os que não partiam eram
forçados a viver na indolência, aguardando, com simulada esperança,
uma vaga humilde em alguma casa comercial, ou a mudança política
para conquista de um magro lugar na Intendência do Município ou na
Coletoria do Estado. Produzindo maior quantidade de material
humano do que requeriam, as necessidades do consumo, o excedente
da produção tinha logicamente, que apodrecer na ociosidade”.
Humberto de Campos
9
Resumo
Abstract
This dissertation analyzes the “arts of resistance” of the poor people in Parnaiba city, Piauí,
between 1890 and 1920. In the first chapter we broach dimensions of Parnaiba’s history, in
which we can observe the search for a city pattern inspired by the European urban model,
translated in the works of “infrastructure of progress”, placing tensions between the dominant
and subaltern ones. In the second chapter we discuss the daily life and housing of the poor
people in their quest for survival in insanitary suburbs, a “labyrinth of huts and hovels”,
sometimes reached by the Igaraçu River floods. The third chapter socially situates the disease
and methods of isolation, demonstrating that certain diseases affected a specific part of the
Parnaiban society: the working poor. For this, we consider essential to understand the
hygienist discourse, according to theories from that period. The fourth chapter observes
instruction practices for poor people in Parnaiba and the struggle against illiteracy and the
desire to correct positions that are unfavorable to the idea of progress and modernity. These
are public or private schools where teachers strive to teach, usually in some precarious room
of their own house. They are Catholic schools where fear of God is preached. They are night
schools of the Mutualistic Associations, where they teach many trades and principles of the
worker’s morals. It is in the School of Marine Apprentices where the promise of a better life
is dissolved by its precariousness and rigid military discipline. In the fifth chapter we analyze
the popular, civic and religious festivities, carnival and football in Parnaiba, those moments
when the poor workers celebrate in novenas, drumming, or when the neighborhood team wins
the “ball game”, almost always awakening the watchful and moralizing look of the many
instances of power and control.
Lista de Ilustrações
Figura 13: “Escola privada em São Raimundo Nonato (PI). Maio de 1912” ......................173
Figura 16: Colégio Nossa Senhora das Graças. Parnaíba-PI (1913) ...................................186
Lista de Tabelas
Tabela 4: Receita gerada pela Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba (1918-1920) ........145
Lista de Mapas
Sumário
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................17
REFERÊNCIAS
17
1. INTRODUÇÃO
Foi também neste período que uma rede de contatos entre pesquisadores de
graduação e pós-graduação em Mundos do Trabalho no Piauí, onde fontes, referências
bibliográficas, métodos e teorias eram compartilhados de forma variada, possibilitando,
no ano de 2014, a criação da plataforma “Mundos do Trabalho - Piauí”, contando hoje
com um acervo de documentos e pesquisas, frequentemente é atualizado. Outro
desdobramento dessa rede foi a criação, em 2015, da Revista Piauiense de História
Social e do Trabalho, periódico semestral vinculado à Plataforma, tendo como objetivo
facilitar a difusão de pesquisas.
3
BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. São Paulo:
Brasiliense, 1982, p. 09.
4
LAPA, José Roberto do Amaral. Os excluídos: Contribuição à história da pobreza no Brasil (1850-1930).
Campinas, Editora da UNICAMP, 2008, p. 16.
20
5
HAHNER, June E. Pobreza e política: Os pobres urbanos no Brasil (1870-1920). Brasília: EdUnB. 1993, p.
11.
6
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Os pobres da cidade: vida e trabalho (1880-1920). Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 1994, p. 26.
7
PINTO, Maria Inez Machado Borges. Cotidiano e sobrevivência: a vida do trabalhador pobre na cidade
de São Paulo. Editora da USP, 1994, p. 17.
8
ARAÚJO, Maria Mafalda Baldoíno. Cotidiano e pobreza: a magia da sobrevivência em Teresina (1877-
1914). Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1995, p. 13.
21
1950)9. Neste estudo, que se localiza temporalmente entre os anos de 1930 a 1950 na
cidade de Parnaíba, o autor se utiliza das fontes para pensar as práticas e o dia-a-dia da
gente simples na cidade, confrontando essa realidade com a expectativa criada com o
desenvolvimento de determinadas estruturas de poder que configuram uma incipiente
belle époque na cidade.
9
SILVA, Josenias dos Santos. Parnaíba e o avesso da belle époque: cotidiano e pobreza (1930-1950).
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Piauí.
Teresina, 2012.
10
MONTEIRO, Francisco Gleison da Costa. “[...] cumprindo ao homem ser trabalhador, instruido e
moralisado”: terra, trabalho e disciplina aos homens livres pobres na Província do Piauí (1850-1888).
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco.
Recife, 2016.
11
LUCA, op. cit., 2008, p. 112.
22
(...), contra as intenções de quem os produziu”12. Isso significa que o esforço aqui
realizado leva em devida consideração as lições metodológicas inerentes ao trabalho
historiográfico, e também a identificação das “zonas opacas”, ou “rastros” da
experiência dos pobres na cidade.
12
GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, Falso, Fictício. São Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 11.
13
LUCA, 2008, op. cit, p. 112.
14
CAPELATO, Maria Helena Rolim; PRADO, Maria Lígia. O bravo matutino: imprensa e ideologia: o jornal
Estado de São Paulo. Sâo Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1980, p. 19.
15
LUCA, 2008, op. cit., p. 120-121.
16
Humberto de Campos (1886-1934), escritor, jornalista e político, membro da Academia Brasileira de
Letras, nasceu em Miritiba-PA (hoje Humberto de Campos em sua homenagem). Residiu em Parnaíba
entre os anos de 1895 a 1901.
23
quatro páginas quase apagadas (...)”17. Por conta disso, “os jornais surgiam e
desapareciam, conforme as conveniências do momento”18.
Migrando de Miritiba, no Pará, após a morte do pai, com sua irmã, tias e sua
mãe, o jovem Humberto de Campos trabalhou em uma tipografia na cidade de Parnaíba
nos anos de 1899. Segundo ele, “o material tipográfico era antiquíssimo. Os tipos, que
vinham trabalhando desde a Monarquia em diversos jornais parnaibanos, achavam-se já
tão gastos que haviam letras quase indiferençáveis”. Além disso, por vezes os jornais
atrasavam a data de circulação: “Não raro, quando ele circulava anunciando que um
assinante se achava enfermo, este já se encontrava, há quase uma semana, debaixo da
terra”19.
17
CAMPOS, Humberto de. Memórias. Rio de Janeiro: Editora Opus Ltda, 1982, p. 267.
18
PINHEIRO FILHO, Celso. História da Imprensa no Piauí. 3. ed. Teresina: Zodíaco Editora, 1997, p. 106.
19
CAMPOS, op. cit., 1982, p. 359.
20
SAID, Gustavo Fortes. Comunicações no Piauí. Teresina: Associação Piauiense de Letras, 2001, p. 46.
21
Nortista. Parnaíba-PI. 01 de Janeiro de 1901. Ano I, n. 01, p. 01.
22
PINHEIRO FILHO, 1997, op. cit., p. 106.
24
entre o domínio das consciências e a liberdade (...)”23, como no estudo de Maria Helena
Capelato.
24
LAPA, 2008, op. cit., p. 28.
25
PINTO (1984) apud ARAÚJO, 1995, op. cit., p. 13.
26
LAPA, 2008, op. cit., p. 31.
27
PESAVENTO, 1994, op. cit., p. 11.
28
GODINHO, Paula. O futuro é para sempre: experiência, expectativa e práticas possíveis.
Lisboa/Santiago de Compostela: Letra Livre/Através Editora, 2017.
29
SCOTT, James. A dominação e a arte da resistência: discursos ocultos. Lisboa: Livraria Letra Livre;
Fortaleza: Plebeu Gabinete de Leitura, 2013.
27
Tal decisão foi tomada não como medida preventiva, mas como deliberação
da apropriação territorial, uma vez que estas terras “há muito já vinham sendo
penetradas por outros europeus, ainda que nas bandas do norte, exatamente na foz do rio
Parnaíba, onde se situa hoje a cidade de Parnaíba”32.
32
MARQUES, José da Guia. O papel da Igreja na colonização do Norte do Piauí. Teresina: Secretaria
Estadual da Cultura/ Fundação Cultural do Piauí. 1987, p. 07-08.
33
NUNES, Odilon. Pesquisas para a história do Piauí: Vol I. Teresina: FUNDAPI/Fundação Monsenhor
Chaves, 2007, p. 62.
34
MAVIGNIER, Diderot dos Santos. No Piauhy, na terra dos Tremembés. Parnaíba: Sieart, 2005, p. 10.
35
CHAVES (2005) apud DIAS, Cid de Castro. Piauhy - das origens à nova Capital. Teresina: Nova
Expansão Gráfica e Editora, 2008, p. 144.
30
36
DEMASCENT (1712) apud DIAS, 2008, op. cit., p. 145.
37
MAVIGNIER, op cit., 2005, p. 19.
38
MENDES, Felipe. Formação Econômica. In: SANTANA, Raimundo Nonato Monteiro (org.). Piauí:
Formação - Desenvolvimento - Perspectivas. Teresina: Halley, 1995, p. 60.
39
MEDEIROS, Antonio José. Movimentos Sociais. In: SANTANA, Raimundo Nonato Monteiro (org.).
Piauí: Formação - Desenvolvimento - Perspectivas. Teresina: Halley, 1995, p. 162.
40
MENDES, Felipe, 1995, op. cit., p. 58.
41
SANTANA, Raimundo Nonato Monteiro. Evolução histórica da economia piauiense. 2. ed. Academia
Piauiense de Letras/Banco do Nordeste: Teresina, 2001, p. 60.
31
Devido a insalubre estrutura física do Porto das Barcas, a escolha por Testa
Branca se deveu à possibilidade de edificar bases portuárias em local limpo, que
permitisse o contato com a foz do Igaraçu, visando o rio como meio de transporte para
mercadorias. Apesar das expectativas, os planos em Testa Branca pouco avançaram ao
longo dos anos, sendo em 1770 definitivamente autorizada a mudança da Vila de São
João da Parnahyba para o povoado do Porto das Barcas.
42
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 14. ed. São Paulo: Edusp, 2015, p. 44.
43
KNOX, Miridan Britto. O Piauí na primeira metade do século XIX. Teresina: Comepi, 1986, p. 16.
44
REGO, Junia Mota Antonnacio Napoleão do. Dos Sertões aos Mares: História do Comércio e dos
comerciantes de Parnaíba (1700-1950). Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História
da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2010. p. 40.
45
PIAUÍ. Annuario Estatistico do Piauhy. Secretaria de Fazenda do Piauí. Ano I. Teresina: Imprensa
Official, 1926, p. 18.
46
KNOX, Miridam Brito. 1986, op. cit., p. 16.
47
Id., Ibid, p. 18.
32
48
MAVIGNIER, Diderot dos Santos; MOREIRA, Aldenora Mendes. Conhecendo a História e Geografia do
Piauí. Parnaíba: Parque da Gráfica Ferraz, 2007, p. 91.
49
Ver: SILVA, Rodrigo Caetano. A historiografia piauiense acerca da escravidão no Brasil (Séculos XVIII-
XIX). Revista de História da UEG. Anápolis-GO, Universidade Estadual de Goiás. Vol 04, n. 01, 2015.
50
SANTOS, Benjamin. Livro do Centenário da ACP. Parnaíba: Sieart Gráfica e Editora, 2017, p. 18-19.
51
DIAS, Maria Odila Leite Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense,
1984, p. 07.
52
Ver: ARAÚJO, Jhonny Santana de. O Piauí no processo de Independência: contribuição para
construção do império em 1823. Clio - Revista de Pesquisa Histórica. Recife-PE: Universidade Federal de
Pernambuco. Vol 33.2, 2015.
33
(...) dando passagem a mascates com suas tropas de burros”53, frutos da economia da
pecuária na Província e da estrutura fundiária, marcas da ocupação piauiense.
53
NUNES, Maria Célis Portella; ABREU, Irlane Gonçalves de. Vilas e Cidades no Piauí. In: SANTANA,
Raimundo Nonato Monteiro (org.). Piauí: Formação - Desenvolvimento - Perspectivas. Teresina: Halley,
1995, p. 96-97.
54
BARBOZA, Edson Holanda Lima. Zonas de Contato no Piauí Oitocentista: rotas de retirantes e
escravizados. Revista Vozes, Pretérito & Devir. Teresina: Universidade Estadual do Piauí. Ano 01, Vol 02,
n. 01, 2013, p. 318.
55
BARBOSA, Edison Gayoso Castelo Branco. O Parnaíba: contribuição à história de sua navegação.
Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1986, p. 77.
34
que podia fazer da sua liberdade”56. A mesma linha de pensamento pode ser percebida
setenta e um anos depois, quando o médico Cândido Athayde aponta que, em Parnaíba,
“uma violenta transformação social operou-se na cidade, tornando-se a urbe
inteiramente modificada em seu comportamento”, e sugerindo que a transformação da
urbe se deu em razão do comportamento dos libertos, agora “em nômades e marginais”,
e transformados “em elementos perturbadores da ordem, indisciplinados e
desinteressados pelo trabalho, incapazes de manter com independência, sua própria
sobrevivência”; em continuação, seu discurso estigmatizador observa que a dita vida
indisciplinada e sem interesse para o trabalho “levava-os a uma vida promiscua,
afeiçoada a vicios e desregramentos”57.
56
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo exm. Sr. Dr. Anizio Auto de Abreu. Estado
do Piauí. Teresina: 1909, p. 50.
57
ATHAYDE, Cândido de Almeida. Histórico: Santa Casa de Misericordia de Parnaíba. Parnaíba, 1984, p.
09.
58
CHALHOUB, 2001, op. cit., passim.
59
THOMPSON, Edward Palmer. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. In: Costumes em
Comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 282.
35
trabalhava de outra maneira”60. Com base nessa concepção de trabalho, percebemos que
“apesar de abolida a escravidão, as relações de trabalho não assumem caráter de
relações contratuais, mas são ao mesmo tempo relações de dominação social e
política”61.
60
LEONARDI, Victor. Os historiadores e os rios: natureza e ruína na Amazônia brasileira. Brasilia:
Paralelo 12/EDUnB, 1999. p. 73.
61
MEDEIROS, 1995, op. cit., p. 165.
62
COSTA FILHO, Alcebíades; SILVA, Antônio Wallyson; SILVA NETO, Enos Soares da. Lavoura de
alimentos em área de pecuária: mandioca e cana de açúcar no Piauí entre 1900 e 1950. Revista
Piauiense de História Social e do Trabalho. Ano III, n. 05. Parnaíba: Plataforma Mundos do Trabalho -
Piauí, 2017, p. 08.
63
BONFIM, Washington Luís de Sousa; JÚNIOR, Raimundo Batista dos Santos. Formação Política. In:
SANTANA, Raimundo Nonato Monteiro (org.). Piauí: Formação - Desenvolvimento - Perspectivas.
Teresina: Halley, 1995, p. 51.
64
SANTANA, 2001, op. cit., p. 89.
36
65
“A árvore da maniçoba pertence ao gênero botânico Manihot, da família das Euforbiáceas. São
árvores resistentes à seca e guardam reservas nas raízes e nos caules. Planta de que se extrai um látex
que da borracha” (OLIVEIRA (2001) apud LANDIN, Joseane Pereira Paes; OLIVEIRA, Ana Stela de
Negreiros. Caminhos da borracha: memória e patrimônio dos maniçobeiros do sudeste do Piauí. In: XII
ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA ORAL. Teresina, 2014, p. 04).
66
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. A importância da borracha de maniçoba na economia do
Piauí (1900-1920). Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História do Brasil da
Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 1984, p. 29.
67
MANIÇOBA. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 09. 02 de Março de 1901, p. 02.
37
68
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Arlindo Francisco Nogueira.
Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1904, p. 19.
69
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Arlindo Francisco Nogueira.
Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1902, p. 16.
38
70
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Arlindo Francisco Nogueira.
Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1903, p. 06.
39
71
PENNA, Belisário; NEIVA, Arthur. Viajem pelo Norte da Bahia, Sudoeste de Pernambuco, Sul do Piauí e
de Norte a Sul de Goiás pelos Drs. Arthur Neiva e Belisario Penna (Estudos feitos á requisição da
Inspetoria de Obras contra a seca). In: Fundação Oswaldo Cruz (org.). Memórias do Instituto Oswaldo
Cruz. Rio de Janeiro, Instituto Oswaldo Cruz, 1916, p. 199.
72
BARBOZA, Edson Holanda Lima. A hidra cearense: rotas de retirantes e escravizados entre o Ceará e
as fronteiras do Norte (1877-1884). Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social
da Pontifícia Universidade Católica. São Paulo, 2013, p. 14.
40
comida e ferramentas acima dos preços praticados, mas “servia também para manter a
força de trabalho no local da construção através do lançamento permanente de saldos
negativos na caderneta dos trabalhadores”73.
período, pôs fim à ação de bandos, como o chefiado por Pedro Buim, “célebre e
infinitas vezes reincidente criminoso”, e “seu comparsa” Quichabinha, como se observa
aqui, pela palavra do Governador Miguel Rosa no ano de 1913, na Mensagem
apresentada à Câmara Legislativa do Estado:
75
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Miguel de Paiva Rosa. Estado
do Piauí. Teresina: Typographia Paz, 1913, p. 14.
42
navegação fluvial trouxe ao Piauí, através dos diversos braços do Rio Parnaíba que
adentrando o Estado. Sendo o limite geográfico com o Maranhão, o rio Parnaíba
conectava inúmeras cidades através das balsas, barcas e vapores que percorriam toda
sua extensão, onde a gente comum coletava, produzia, carregava e descarregava artigos
que abasteceriam o mercado, pois “diferente da aldeia e da vila, uma cidade depende de
grande quantidade de gente de fora para plantar ou cultivar alimentos, e sobretudo para
transportá-los, e de intermediários para comprá-los e revendê-los aos consumidores”76,
como bem aponta Richard Graham acerca da cidade de Salvador entre os anos de 1780
e 1860.
76
GRAHAM, Richard. Alimentar a cidade: das vendedoras de rua à reforma liberal (Salvador, 1760-
1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 19.
77
Do Estado. Diario do Piauhy. Ano IV, n.109. Teresina-PI. 16 de Maio de 1914, p. 01.
44
78
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Miguel de Paiva Rosa. Estado
do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1915, p 27.
79
OLIVEIRA, Aliane Pereira de. A casa rural no sudeste do Piauí: o Sítio Arqueológico Histórico Casa do
Avô do Sr. Nivaldo. Monografia apresentada ao Bacharelado em Arqueologia da Universidade Federal
do Vale do São Francisco. São Raimundo Nonato, 2009, p. 23.
80
PORTO, Carlos Eugenio. Roteiros do Piauí. Rio de Janeiro: Editora Artenova, 1974, p.113.
45
de alto poder explosivo”81. O babaçu teve seu preço elevado por conta da escassez de
óleos vegetais no mercado internacional, usado também na produção de diversos
artigos, tais como sabão e alimentos.
81
Id., Ibid., p. 114.
82
BONFIM; JÚNIOR, 1995, op. cit., p. 51.
83
Ver cap. 49, “Na escada de sete degraus” e cap. 51, “O flagrante”. In: CAMPOS, 1982 op. cit.
84
Id., Ibid, p. 45.
46
controlado por um reduzido grupo de políticos em cada Estado”85, como assinala Bóris
Fausto, configurando o fenômeno do coronelismo, “resultado da superposição de
formas desenvolvidas no regime representativo a uma estrutura econômica e social
inadequada”86, de acordo com a pesquisa de Victor Nunes Leal. A República, que
firmou para as elites um período de adaptações estruturais, para os trabalhadores pobres
pouco modificou o alicerce que organizava socialmente suas práticas.
85
FAUSTO, Boris, 2015, op. cit., p. 225.
86
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o munícipio e o regime representativo no Brasil. 7.
ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 43.
87
RESENDE, Maria Efigênia Lage de. O processo político na Primeira República e o liberalismo
oligárquico. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil Republicano: o
tempo do liberalismo excludente (da Proclamação da República à Revolução de 1930). 9. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2017, p. 91.
88
Id., Ibid, p. 93.
89
MEDEIROS, 1995, op. cit., p. 167.
47
expediente mais comum para vencer eleições (...); 3) por uma série de
artifícios utilizados a nível local para amedrontar, comprar, burlar, demitir,
espancar e até eliminar o eleitor oposicionista (...); 5) e ainda pelas
dificuldades e a quase impossibilidade de registrar os abusos e protestos
contra o arbítrio e as ilegalidades cometidas no processo eleitoral (...)90
Além disso, “o voto não era secreto e a maioria dos eleitores estava sujeita à
pressão dos chefes políticos”, utilizando-se das fraudes, como a “falsificação de atas, do
voto dos mortos, dos estrangeiros, etc”93, fazendo crescer entre os subalternos a
descrença na participação política na República. Novamente o jornal O Artista retoma
sua veia crítica e o tom jocoso, encenando um diálogo imaginário entre dois amigos
sobre a farsa do voto:
Então, amigo Felizardo, como correu o pleito, na sua zona? - Muito bem,
houve ordem, muitos votos e, o que é mais, vencemos! - Afinal, qual foi o
90
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os Literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e
as tiranias do tempo. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994, p. 229.
91
FAUSTO, 2015, op. cit., p. 225.
92
A POLITICA. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 01. 15 de Agosto de 1919, p. 03.
93
FAUSTO, 2015, op. cit., p. 226.
48
nome do victorioso? Em quem votou o amigo? - Ah! Isto é que não sei:
cheguei lá, recebi a chapa, metti na urna, assinei meu nome e vim-me
embora. Isto do nome, baixando a voz, disse-nos no ouvido, é com o chefe
que eu mesmo não sei!94
Número de
Anos
Eleitores
1905 854
1907 1054
1908 1089
1909 1665
1910 1665
1911 1665
Fonte: RIO DE JANEIRO. Directoria do Serviço de
Estatistica. 1914, p. 162.
94
Eleições e eleitores. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 03. 05 de Outubro de 1919, p. 03.
95
SILVA, 2012, op. cit., p. 26.
49
96
Um transfugo. A Tribuna. Parnaíba-PI. Ano I, n. 11. 18 de Janeiro de 1920, p. 03.
97
CAMPOS, Humberto de. Memórias Inacabadas. São Paulo: Gráfica Editora Brasileira, 1962, p. 139.
98
CASTELO BRANCO, Renato. Tomei um Ita no Norte. São Paulo: L R Editores Ltda, 1981, p. 58.
99
O Batalhão Patriótico Coronel Ozorio foi fundado em 1912, sob o pretexto de que “o tenente-coronel
Coriolano de Carvalho e Silva, candidato então a governador, pela oposição, ameaçava a autonomia do
50
“sendo, na rua Grande, recebidos á bala pelos opposicionistas, tendo Nestor Veras
assassinado á tiro de rifle, um soldado do batalhão Coronel Ozorio”100, de nome Manoel
Ignacio Ribeiro.
Piauí”. Seus membros “eram pagos pelo governo do Estado, e visavam a dar cobertura, pelo terror, à
eleição de Miguel Rosa, para governador”. In: PINHEIRO FILHO, Celso; PINHEIRO, Lina Celso. Soldados
de Tiradentes: história da Polícia Militar do Piauí. Rio de Janeiro: Editora Artenova S.A., 1975, p. 68.
100
Tellegramas. Diario do Piauhy. Teresina-PI. Ano II, n. 98. 15 de Maio de 1912, p. 01.
101
Avulsos. Pacotilha. São Luís-MA. Ano XXXIII, n. 40. 18 de Fevereiro de 1913, p. 01.
102
Para o aprofundamento sobre o tema das Romarias Cívicas, ver o magistral estudo de CATROGA,
Fernando. O céu da memória: Cemitério Romântico e Culto Cívico dos Mortos em Portugal (1756-1911).
Coimbra: Minerva, 1999; e, em especial o Capítulo V, “As Romagens Cívicas”.
51
que o povo parnaibano sabe render homenajem àqueles que caem vitimas no
cumprimento do dever103
no dia onze do corrente, depois do meio dia, fui avisado de que estava sendo
armado um grupo de homens para praticar actos criminozos no Cemiterio
Egualdade; immediactamente, ignorando que o mordomo encarregado do
Cemiterio estava sendo sabedor de taes factos, mandei chamar o zelador do
mesmo Cemiterio. Este, alegando doença, não pôde vir á minha presença,
mandando-me as respectivas chaves das duas portas do Cemiterio. Em
seguida como é publico e notorio, foi a porta principal do Cemiterio
arrombada pelo dito grupo armado, que dali arrancou a lousa mortuaria do
infeliz soltado patriota Manoel Ignacio Ribeiro, assassinado nesta cidade em
doze de Maio de mil novecentos e doze na rua do Patriota (antiga rua
Grande) para onde foi condusida e errebentada a dita lousa ao som de
foguetes, vivas e morras105;
Fica claro que a formação de milícias pelos potentados locais era dispositivo
comum na luta política e que “a capangagem e o cangaço desempenham um enorme
papel nas lutas políticas municipais”109, tendo histórico considerável de ocorrências do
tipo. Registra-se em telegrama datado de 24 de Maio de 1899 que políticos adversários
“assaltaram de surpresa casa conselho municipal, apossando-se archivo, simulando
sessão illegal conduzindo chaves”110.
108
LIMA, 1987, op. cit., pp. 61-62
109
RESENDE, 2017, op. cit., p. 96.
110
RIO DE JANEIRO. Annaes da Camara dos Deputados. Vol I. Congresso Nacional. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1900, p. 252.
53
111
Boletim Official: Secretaria de Policia. Diario do Piauhy. Teresina-PI. Ano II, n. 103. 21 de Maio de
1912, p. 01.
112
Estranho acaso. O apostolo. Teresina-PI. Ano V, n. 241. 07 de Janeiro de 1912, p. 01.
113
FAUSTO, 2015, op. cit., p. 226.
114
PATROCÍNIO, Raimundo. Piauí: lutas de um povo. Teresina: Silva Gráfica & Editora, 2010, p. 94.
115
Cobra engolindo cobra. A Tribuna. Parnaíba-PI. Ano I, n. 11. 18 de Janeiro de 1920, p. 02.
54
116
BRANDÃO, Tanya Maria Pires. A elite colonial piauiense: família e poder. Teresina: Fundação Cultural
Monsenhor Chaves, 1995, p. 268.
117
CASTELO BRANCO, 1981, op. cit., p. 34.
118
Id. Ibid, p. 26.
119
O Malho. Rio de Janeiro-RJ. Ano XI, n. 498. 30 de Março de 1912.
55
120
FREITAS, José Gayoso. O Piauí e seus caminhos. Teresina: Fundação Universidade Federal do Piauí,
1999, p. 30.
56
121
RESENDE, 2017, op. cit., p. 98.
122
MEDEIROS, 1995, op. cit., p. 166-167.
123
FERNANDES, Florestan. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1975, p. 53.
124
FACÓ, Rui. Cangaceiros e fanáticos: gênese e lutas. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976,
p. 13.
57
125
MENDES, Francisco Iweltman Vasconcelos. ACP, 80 anos de lutas e conquistas. 2. ed. 1997, p. 19.
126
SANTOS, Benjamin. Livro do Centenário da ACP. Parnaíba: Sieart Gráfica e Editora, 2017, p. 25.
127
DUARTE FILHO, Gilberto Escórcio. Porta-vozes da conquista da riqueza: o ensino comercial e a escola
União Caixeiral de Parnaíba (1918-1950). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2010, p. 24.
58
128
GREVE. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 35. 05 de Fevereiro de 1910. p. 02.
59
Foi muito grave a greve havida ha dias à bordo do vapor Christino Cruz, ao
nosso porto em ocasião de seguir viagem para Tutoya. O caso foi que os
tripulantes do sobredito vapor não recebiam suas soldadas nas quaes estavam
atrasados havia algum tempo. Consta-nos que à vista dessa reclamação aliás
bem justa o sr. capitão do Porto intimou o vapor a não sahir enquanto não
satisfizesse aquelle compromisso. Consta-nos ainda mais que o ser agente
depois de ter rezado o padre nosso de traz para diante e diante para traz e o
credo em cruz conseguiu que lhe emprestassem o dinheiro para o pagamento
e o Christino lá se foi lampeiro com a tripulação garbosa rumo de Tutoya.
Antes assim129.
129
GREVE GRAVE. A Semana. Parnaíba-PI. 3 de dezembro de 1916. Ano I, n° 3. p. 03.
60
130
LINDEN, Marcel Van der. Globalizando a Historiografia das Classes Trabalhadoras e dos Movimentos
Operários: alguns pensamentos preliminares. Revista Trajetos. Fortaleza-CE: Universidade Federal do
Ceará. Vol I, n. 01, 2002, p. 02.
131
GRAHAM, op. cit., 2013, p. 143.
61
esta congregação de esforços, quer numa estrita lógica mutualista, quer num
misto de mutualidade – sindicato, foi determinante para a afirmação de uma
cultura de solidariedade fora da esfera religiosa, e ainda de valorização, por
via da intervenção político-social, de milhares de pessoas, que a partir de
então passaram a ser construtoras do seu futuro 134.
132
JÚNIOR, Leôndidas Freire Silva. Mutualismo em Luta: enfrentamentos sociais dentro do
associativismo operário no Meio-Norte do Brasil (1900 - 1922). In: IV CONFERÊNCIA INTERNACIONAL -
GREVES E CONFLITOS SOCIAIS. São Paulo-SP, 2018, p. 04.
133
Pacotilha. São Luís-MA. Ano XL, n. 223. 21 de Setembro de 1920, p. 01.
134
BENTO, Miguel da Conceição. Vida e morte no Alentejo - Pobreza, mutualismo e provisão social.
Alentejo: 100LUZ, 2013, p. 39.
135
O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 07 de Setembro de 1919, p. 02.
62
Isso demonstra que “o fato de as mutuais não terem como propósito a luta
política em favor dos trabalhadores não implica que estivessem indiferentes às
mesmas”137, mostrando a complexidade desse fenômeno associativo que mesmo
eventualmente tendo sua diretoria formada por camadas médias de uma “aristocracia
operária”138, composta por trabalhadores qualificados que recebiam proventos maiores
que a média geral, que em Parnaíba equivaleria aos dentistas, médicos, etc., sua base era
composta por trabalhadores pobres que sofriam as duras consequências de uma
economia desigual, e para dar respostas aos problemas sociais, algumas destas
Agremiações “envolveram-se na luta operária, apoiaram greves, cederam seus espaços
para as sociedades de resistência, compareceram nos congressos operários,
comemoraram o primeiro de maio e, em alguns momentos, tornaram-se, inclusive,
sindicatos”139.
136
BATALHA, Claudio; MAC CORD, Marcelo. Introdução: experiências associativas e mutualistas no
Brasil. In: BATALHA, Claudio; MAC CORD, Marcelo (orgs.). Organizar e proteger: trabalhadores,
associações e mutualismo no Brasil (séculos XIX e XX). Campinas: Editora da Unicamp, 2014, p. 14. Ver
também: LUCA, Tânia Regina de. O sonho do futuro assegurado: o mutualismo em São Paulo. São
Paulo: Contexto, 1990.
137
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. O estudo do mutualismo: algumas considerações historiográficas e
metodológicas. Revista Mundos do Trabalho. Florianópolis-SC: Universidade Federal de Santa Catarina.
Vol 2, n. 04, 2010, p. 33.
138
Para o debate sobre aristocracia operária, sugerimos a leitura de HOBSBAWM, Eric. O debate sobre a
aristocracia operária. In: Mundos do Trabalho. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
139
VISCARDI, 2010, op. cit., p. 33.
63
I Guerra Mundial, “tendo efeitos diretos sobre o movimento operário da América Latina
e do Brasil”140, situação sentida na pele pelos trabalhadores parnaibanos.
si por um lado vemos a cidade se auzentar dos seus velhos predios afeiados
que vão desapparecendo para ceder logar á novas construções elegantes e
confortaveis, por outro lado a Municipalidade se empenha em realizar outros
beneficios que condizem com essa evolução progressiva 142
140
HARDMAN, Francisco Foot; LEONARDI, Victor. História da indústria e do Trabalho no Brasil (das
origens aos anos 20). 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1991, p. 281.
141
REBELLO, Lima. Conferencia aos operarios de Parnahyba. In: ACP pró-Piauhy: Campanha econômica
promovida pela Associação Comercial de Parnahyba. Belém: Tipografia da livraria Gillet, 1921, p. 57.
142
Parnahyba: Influencia da municipalidade na sua evolução. Almanack da Parnahyba, 1924, p. 02.
64
143
CARVALHO, Marcos Antonio de. Aspectos da Modernização do espaço urbano de Parnaíba. In:
NASCIMENTO, Francisco de Assis de Sousa, et al. (org.) Fragmentos históricos: experiências de pesquisa
no Piauí. Parnaíba: SIEART, 2005, p. 165.
144
LIMA, Elys Regina de Olveira. Impactos da modernidade: Parnaíba no início do século XX. In:
NASCIMENTO, Francisco de Assis de Sousa, et al. (org.) Fragmentos históricos: experiências de pesquisa
no Piauí. Parnaíba: SIEART, 2005, p. 211.
145
FIGUEIREDO, Diva Maria Freire. O monumento habitado: a preservação de sítios históricos na visão
dos habitantes e dos arquitetos especialistas em patrimônio - O caso de Parnaíba. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de
Pernambuco. Recife, 2001, p. 36.
146
BHABHA (1998) apud MELO, Neuza Brito de Area Leão. O ecletismo parnaibano - hibridismo e
tradução cultural na paisagem da cidade na primeira metade do século XX. Teresina: EDUFPI, 2012, p.
126.
65
vida de todo dia em busca de “garantir o sossego do seu sono, e também precaver-se
contra o furto do seu dinheirinho, que guardava no forro do chapéu de couro com
rabicacho passado e do qual não se separava nem prá dormir”151.
151
LIMA, Raimundo de Souza. Vareiros do Rio Parnaíba & outras histórias. Parnaíba: Fundação Cultural
do Piauí, 1987, p. 36.
152
WEIMER, Günter. Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 68.
153
Escritor, advogado e publicitário, nasceu no ano de 1914 em Parnaíba-PI, residindo nesta até 1932.
154
CASTELO BRANCO, Renato. A Civilização do Couro. Teresina: D.E.I.P, 1942, s/p.
67
necessária para o seu movimento”155. A legenda indica ainda que a “palhoça flutuante”
opera também como abrigo da família dos embarcadiços, que sobem e descem o Rio
Parnaíba com mercadorias para garantir seu sustento. Apesar de relativas a diferentes
rios (o São Francisco e o Parnaíba), a semelhança chama nossa atenção, mostrando uma
conexão entre as formas de trabalho e moradia dos pobres em regiões distintas.
155
SILVA, 2012, op. cit., p. 58.
68
156
LINEBAUGH, Peter; REDIKER, Marcus. A Hidra de muitas cabeças: marinheiros, escravos e plebeus e a
história oculta do Atlântico revolucionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 59.
69
157
ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2008, p. 70.
158
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A Cidade. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2008, p. 71.
70
159
Annuncios. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 09 de Janeiro de 1901, p. 04.
160
Casa Ingleza. Semana. Parnaíba-PI. Ano, I n. 05. 10 de Julho de 1910, p. 06.
71
Estas obras foram realizadas tanto pelo poder público quanto pelo estímulo
dos afortunados. Dessa forma, concordamos com o estudo de Roberto Lobato Corrêa,
quando este afirma a cidade moderna no capitalismo sendo “o lugar privilegiado de
ocorrência de uma série de processos sociais, entre os quais a acumulação de capital e a
reprodução social têm importância básica”161.
161
CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 1989, p. 36.
72
162
BARBOZA, 2013, op. cit., p. 87.
163
CASTRO, Lara de. “Avalanches de flagelados” no sertão cearense: retirantes-operários e engenheiros
na lida das obras contra as secas. Fortaleza: DNOCS/BNB-ETENE, 2010, p. 39.
73
momentos privilegiados para que frações das elites mais afinadas com os
interesses modernizadores (em geral, comerciantes, financistas, proprietários
rurais esclarecidos, jornalistas, engenheiros e outros profissionais liberais)
fizessem implantar seus projetos reformadores (que vinculavam à ideia de
'progresso'), aproveitando a presença de milhares de pessoas desempregadas
e cujas plantações de subsistência e pequenos criatórios de animais
encontravam-se arruinados pela falta de água 165.
164
ATHAYDE, 1984, op. cit., p. 10.
165
CÂNDIDO, Tyrone Apollo Pontes. A piedade e a força: o trabalho forçado em obras de socorros
públicos nas secas da passagem do século XIX. Revista Mundos do Trabalho. Florianópolis-SC:
Universidade Federal de Santa Catarina. Vol. 08, n. 15, 2016, p. 152.
166
HIMMELFARB, Gertrude. La idea de la pobreza: Inglaterra a principios de la era industrial. México:
Fondo de Cultura Económica. 1988, p. 351. (Tradução nossa).
167
FACÓ, 1976, op. cit., p. 09.
74
168
Emigração para o Amazonas. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 47. 30 de Abril de 1911, p. 02.
75
169
NEVES, Frederico de Castro. A multidão e a história: saques e outras ações de massas no Ceará. Rio
de Janeiro: Relume Dumará; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 2000, p. 33.
170
THEOPHILO (1922) apud NEVES, 2000, op. cit., p. 33.
171
Diario do Piauhy. Teresina-PI. Ano II, n. 133. 26 de Junho de 1912, p. 02.
76
172
Emigração para o Amazonas. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 47. 30 de Abril de 1911, p. 02.
173
FACÓ, 1976, op. cit., p. 09.
77
174
A expressão “governar a miséria” se deve à obra de PROCACCI, Giovanna. Gouvener la misère - la
question sociale en France (1789-1848). Paris: Éditions du Seuil, 1997.
175
Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 28. 13 de Julho de 1901, p. 03.
176
Ver: RIOS, Kênia Sousa. Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na seca de 1932.
Fortaleza: Imprensa Universitária, 2014.
177
ARAÚJO (1991) apud MONTEIRO, 2016, op. cit., p. 146.
78
178
Senado - Discurso apresentado na sessão de 30 de Agosto de 1879. A Imprensa. Teresina-PI. Ano XV,
n. 643. 11 de Outubro de 1879, p. 04.
179
Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 09 de Janeiro de 1901, p. 02.
180
Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 28. 13 de Julho de 1901, p. 03.
79
tanto o calçamento das ruas centrais de Fortaleza – onde habitava sua elite
orgulhosa da beleza, organização e simetria de sua cidade, o que pode ser
apreciado nas fotos e postais de início do século XX – quanto os trilhos da
extensão da estrada de ferro de Baturité – que iria minorar as penúrias dos
retirantes das secas seguintes, além de possibilitar o transporte do algodão a
partir da década de 1910 – seriam obras implantadas nestas condições de
trabalho, resulta dos do esforço sobre-humano de retirantes fracos, andrajosos
e indigentes. A beleza da cidade foi construída pelas “múmias famintas” e
cada pedra do calçamento pode guardar um sofrimento inenarrável 184.
181
Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 09 de Janeiro de 1901, p. 02-03.
182
CÂNDIDO, Tyrone Apollo Pontes. Proletários das secas: arranjos e desarranjos nas fronteiras do
trabalho (1877-1919). Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social da
Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2014, p. 37.
183
NEVES, Frederico de Castro. O discurso oculto dos retirantes das secas. Raízes - Revista de Ciências
Sociais e Econômicas. Campina Grande-PB: Universidade Federal de Campina Grande. Vol. 33, n. 2,
2013, p. 70.
184
NEVES, 2000, op. cit., p. 31.
80
185
LINEBAUGH, Peter; REDIKER, Marcus. A Hidra de muitas cabeças: marinheiros, escravos e a classe
trabalhadora atlântica no século XVIII. In: DIAS, Bruno Peixe; NEVES, José (orgs.). A política dos muitos -
Povo, Classe e Multidão. Lisboa: Tinta-da-China, 2010, p. 262.
186
VIEIRA, Lêda Rodrigues. Caminhos de ferro: a ferrovia e a cidade de Parnaíba, 1916-1960. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Piauí. Teresina,
2010, p. 119. Ver também: CERQUEIRA, Dalva Maria Fontenele. Entre trilhos e dormentes: a Estrada de
Ferro Central do Piauí na história e na memória dos parnaibanos (1960-1980). Dissertação apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2015.
81
187
MORATELLI, op. cit., 2013, p. 41.
188
PASSOS, Caio. Cada rua - Sua história. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará. 1982, pp. 42-43.
82
ideário do autor, aparece como redentor, como bem observado no estudo de Bronislaw
Geremek: “a criação de possibilidades de trabalho constitui uma forma de assistência
social e, ao mesmo tempo, de luta contra a decadência da moral social”189. Escrevendo
sobre a “brilhante e fecunda administração na Estrada de Ferro Central do Piauí” de
Miguel Bacelar, o Almanaque da Parnaíba assim expõe seu ponto de vista sobre a
necessidade imperiosa de trabalho para as “vítimas da seca”:
189
GEREMEK, Bronislaw. A piedade e a forca: História da miséria e da caridade na Europa. Lisboa:
Terramar, 1986, p. 276.
190
Dr. Miguel Furtado Bacellar, iniciador e impulsionador dos serviços ferroviários no nosso estado - Sua
brilhante e fecunda administração na E. F. Central do Piauí. In: Almanaque da Parnaíba. Parnaíba: n. 15,
1938, p. 81.
191
CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores do Rio de Janeiro da
belle époque. Campinas: Editora da UNICAMP, 2001, p. 61.
83
192
CÂNDIDO, 2014, op. cit., p. 37.
193
CÂNDIDO, Id. Ibid., p. 41.
194
DIAS, 1984, op. cit., p. 07.
195
Piauhy. Jornal do Commercio. Manaus-AM. Ano IX, n. 2905. 22 de Maio de 1912, p. 03.
84
196
Piauhy. Jornal do Commercio. Manaus- AM. Ano XVI, n. 5442. 27 de Junho de 1919, p. 01.
197
Almanaque da Parnaíba. Parnaíba: n. 15, 1938, p. 81.
85
Tal cena se repetiria logo depois no Porto de Parnaíba, uma vez quando da
instalação no mesmo ano da Usina Elétrica, cujos materiais e os trilhos do trem,
86
198
PIAUÍ. Livro de atas da Associação Comercial de Parnaíba, vol III (1931-1933). Associação Comercial
de Parnaíba, 07 de Outubro de 1931, p. 02-03.
199
CÂNDIDO, 2016, op. cit., p. 152.
200
CÂNDIDO, 2016, op. cit., p. 150.
87
201
Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n.12. 23 de Março de 1901, p. 04.
202
RELVAS, Eunice. Esmola e degredo: mendigos e vadios em Lisboa (1835-1910). Lisboa, Portugal:
Editora Livros Horizonte, 2002, p. 33.
88
O pedido de esmola não se restringia aos períodos de seca com suas levas de
retirantes, sendo uma prática já observada entre os pobres da cidade de Parnaíba. É de
se ressaltar que, a exemplo de outros tempos e lugares tão bem descritos em Bronislaw
Geremek206, também em Parnaíba do início do século XX, os mendigos, isolados ou em
pequenos grupos, definem os lugares adequados ao peditório na cidade, variando
conforme a súplica possa ser melhor atendida. Assim podem estar na estação de trem,
na calçada de certas casas comerciais, nas imediações do porto em dias de movimento,
próximos ao mercado onde almejam um níquel ou um resto de alimento e à porta da
igreja, principalmente durante a aglomeração das festas religiosas, quando supõem que
203
PINTO, Maria de Fátima. Os indigentes - entre a assistência e a repressão: a outra Lisboa no 1° terço
do século. Lisboa, Portugal: Editora Livros Horizonte, 1999, p. 105.
204
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. Pobreza e assistência no Rio de Janeiro na Primeira República.
História, Ciência, Saúde - Manguinhos. Rio de Janeiro-RJ: Fundação Oswaldo Cruz. Vol. 18, sup. 01,
2011, p. 182.
205
CHALHOUB, 2001, op. cit., p. 73-74.
206
Ver: GEREMEK, 1986, op. cit.
89
207
CASTELO BRANCO, 1981, op. cit., p. 22.
208
Auras do Norte. Parnaíba-PI. Ano I, n. 04. 28 de Maio de 1911, p. 03.
209
RIO DE JANEIRO. População do Brazil por Estados e Municipios, segundo os defeitos physicos, por
idade, sexo e nacionalidade. Vol IV, 3 parte. Directoria Geral de Estatistica. Recensemento do Brazil
realizado em 1 de Setembro de 1920. Rio de Janeiro: Typographia da Estatistica, 1928, p. 176-177.
210
Sobre o recenseamento de 1920 e o mapeamento das deficiências contidas nele, ver o tópico
“biopoder e controle censitário para os corpos irrecuperáveis ao trabalho”, em: LOBO, Lilia Ferreira. Os
infames da história: pobres, escravos e deficientes no Brasil. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008, pp. 341-
342.
90
211
GEREMEK, 1986, op. cit., p. 51.
212
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Mulheres sem história. Revista de História: nova série. São Paulo,
USP, n. 112, jan.-jun. 1983, p. 31.
213
CARLOS, 2008, op. cit., p. 70.
91
214
CASTELO BRANCO, 1981, op. cit., p. 19.
215
NEVES, Frederico de Castro; CÂNDIDO, Tyrone Apollo Pontes. Para uma História Social dos Sertões.
In: NEVES, Frederico de Castro; CÂNDIDO (orgs.). Capítulos de História Social dos Sertões. Fortaleza:
Plebeu Gabinete de Leitura Editorial, 2017, p. 10.
216
HAHNER, 1993, op. cit., p. 165.
92
217
LAPA, José Roberto do Amaral. A Cidade: Os Cantos e os Antros. São: Paulo, Edusp, 1996, p. 124.
93
218
CAMPOS, 1982, op. cit., p. 119.
219
IGLÉSIAS, Francisco de Assis. Caatingas e Chapadões (notas, impressões e reminiscências do meio-
norte brasileiro). 1912-1919. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1951, p. 30.
94
O mesmo autor descreve que nas décadas iniciais do século XX, enquanto
ao redor do núcleo da cidade, onde viviam em seus casarões as famílias abastadas que
gozavam de uma estrutura construída para os de sua classe, sobreviviam os pobres em
seus lugares de moradia – a Coroa, os Tucuns e os Campos –, distantes do olhar da
outra cidade, e vivendo um cotidiano marcado pela exclusão e a segregação social:
220
MARX Murillo. Cidade brasileira. São Paulo: Melhoramentos/ Ed. da Universidade de São Paulo,
1980, p. 82.
221
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. Desejos, tramas e impasses da modernização (Teresina 1900-
1930). Revista Scientia et Spes. Teresina: Instituto Camilo Filho. Vol 01, n. 02, 2002, p. 300.
222
CASTELO BRANCO, 1981, op. cit., p. 21.
95
a Coroa por um lado, os Tucuns pelo outro, até alcançarem os Campos, que
fechava a cidade pelos fundos, completando o anel.223
223
CASTELO BRANCO, 1981, op. cit., p. 19-20.
224
CORRÊA, 1989, op. cit., p. 67.
225
Ibid, p. 68.
226
ARAÚJO, Maria Mafalda Baldoíno de. Cotidiano e Imaginário, um olhar historiográfico. Teresina:
EDUFPI/ Instituto Dom Barreto. 1997, p. 39.
227
LEMOS, Carlos A. C. Alvenaria burguesa: breve história da arquitetura residencial de tijolos em São
Paulo a partir do ciclo econômico liderado pelo café. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1989, p. 13.
96
O bairro da Coroa, por sua vez, se liga à geografia local, posto que “o seu
nome original nasceu das ‘coroas’ do rio, espécie de minúsculas ilhas, formadas no leito
do Igaraçu, quando diminui a sua correnteza”229. Isso expõe a precária situação onde
estes trabalhadores habitavam, pois devido à proximidade das margens do rio, a
ocorrência de enchentes e surtos de doenças proliferadas por insetos da região eram
altas. Caio Passos prossegue ainda em sua descrição mostrando que a apropriação do
território também favoreceu o desenvolvimento de ocupações voltadas para o rio:
ali moravam as famílias que faziam do rio o seu ‘tesouro encantado’. Eram
vareiros, canoeiros e pescadores. E as veredas foram se abrindo, caminhos
mais largos eram rasgados em todas as direções, casas iam apontando aqui e
acolá. De súbito, transformou-se em um aglomerado de gente trabalhadora e
alegre. As festanças se espalhavam, em 'latadas', iluminadas à luz fosca das
lamparinas a querosene230.
228
PASSOS, 1982, op. cit., p. 44.
229
Id., Ibid, p. 25.
230
Id., Ibid., p. 44.
231
GANDARA, Gecinar Silvério. Rio Parnaíba... Um cadinho de mim e a História Ambiental. Revista
Textos de História. Brasília: Universidade de Brasília. Vol 17, n. 01, 2009, p. 41.
232
GANDARA, Gecinar Silvério. Parnaíba... Cidades-Beira. Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade de Brasília. Brasília, 2008, p. 24.
233
GANDARA, Gecinar Silvério. Cidades-beira: raízes urbanas e suas relações com o ambiente/natureza.
XXVII Simpósio Nacional de História da ANPHU. Natal-RN, 2013, p. 07.
97
internacionais que podem ser ampliadas em trocas socioculturais; aqui damos ênfase ao
Rio como lugar de possibilidades da sobrevivência entre os pobres. Da pesca para o
alimento diário ou para a venda no mercado; do recebimento do ordenado após um dia
de trabalho; dos banhos, das festas, e também das mortes e das tristezas.
234
ARAÚJO, 1995, op. cit., p. 51.
235
Id., Ibid., p. 39.
236
Sobre o tema, ver também NASCIMENTO, Francisco Alcides do. A cidade sob o fogo: modernização e
violência policial em Teresina (1937-1945). Fundação Monsenhor Chaves, 2002; assim como IBIAPINA,
Fontes. Palha de Arroz. 4. ed. Teresina: Oficina da palavra, 2004.
237
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. As diversões civilizadas em Teresina: 1888-1930. Teresina:
FUNDAPI, 2008, p. 13.
98
238
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte imperial. São Paulo, Companhia das
Letras, 1996, p. 25.
239
CHALHOUB, Ibid., p. 17.
240
HAHNER, 1993, op. cit. p. 188.
99
241
PINTO, 1994, op. cit., p. 241.
242
PESAVENTO, 1994, op. cit., p. 97.
243
Parnahyba. Lei n. 116, publicada em 27 Dezembro de 1913. Diario do Piauhy. Teresina-PI. Ano IV, n.
43. 22 de Fevereiro de 1914, p. 04.
244
PESAVENTO, 1994, op. cit. p. 96.
100
invisível, desprezada, desassistida e precária era a que nutria a cidade com a força de
seus braços e seu suor, sobrevivendo à custa dos bicos, do trabalho temporário, das
ocupações que exigiam enorme dispêndio de energia física e de longas jornadas. Nestes
bairros viviam
245
CASTELO BRANCO, 1981, op. cit., pp. 20-21.
246
HIMMELFARB, 1988, op. cit., p. 360. (Tradução nossa).
247
ENGELS, 2008, op. cit., p. 70.
101
248
Correio de Theresina apud ARAÚJO, op. cit., 1995, p. 51.
249
Designação dada aos proprietários de imóveis pelos trabalhadores inquilinos em Paris.
250
RÉCLUS, Elisée. Estados Unidos do Brazil: Geographia, Ethnographia, Estatistica. Rio de Janeiro: H.
Garnier, 1900, p. 169.
251
Inundação. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 09. 02 de Março de 1901, p. 02.
102
Os dois primeiros devido ás grandes enchentes do rio Igarassú, e o último pelas águas
da chuva, pois o inverno tem sido copioso”252.
252
Telegramas: Parnahyba, 10. Diario do Piauhy. Teresina-PI. Ano III, n. 58. 11 de Março de 1913, p. 01.
253
PIAUÍ. Mensagem apresentada à Câmara Legislativa do Estado pelo Exmo. Snr. Dr. Euripedes
Clementino de Aguiar. Estado do PiauÍ. Teresina: Imprensa Oficial. 1918, p. 07.
254
Lei Municipal n. 54. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 14. 06 de Abril de 1901, p. 03.
103
255
LEMOS, Carlos A C. A República ensina a morar (melhor). São Paulo: HUCITEC, 1999, p. 17.
256
CORRÊA, 1989, op. cit., p. 30.
257
DUARTE, Adriano Luiz. Cidadania e exclusão: Brasil 1937-1945. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999,
p. 85.
104
258
CARLOS, 2008, op. cit., p. 84.
259
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 51.
260
Sociedade de socorros mútuos fundada em Agosto de 1919 na cidade de Parnaíba, congregando
trabalhadores de ofícios vários e profissões liberais, e associando também proprietários de casas
comerciais como sócios beneméritos. Possuía jornal próprio, intitulado “O Artista”. Durante suas
atividades (até meados da década de 1930), a União Progressista combateu a falta de instrução na
cidade fundando escolas noturnas para os trabalhadores e seus filhos. Auxiliava também as festas
populares e colaborava para diminuir ou neutralizar os efeitos das contradições sociais.
105
261
Rosapolis. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 03. 05 de Outubro de 1919, p. 03.
262
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar e a resistência anarquista. Brasil,
1890-1930. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014, p. 231.
263
DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo de. Indústria, trabalho e cotidiano: Brasil, 1880 a 1930. 7. ed. São
Paulo: Atual, 1991, p. 51.
264
NASCIMENTO, Francisco de Alcides do. A cidade sob o fogo: modernização e violência policial em
Teresina (1937-1945). Teresina: Fundação Monsenhor Chaves, 2002, p. 23.
106
praça de esporte, área para cooperativa, associação operária, capela, escola e outros
estabelecimentos de uso comum”265, sendo ocupada somente no ano de 1935.
265
NASCIMENTO, Ana Maria Bezerra do. Trabalhadores e trabalhadores no fio da história das práticas
e projetos educativos no Piauí (1856 - 1937). Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2008, p. 25.
266
NASCIMENTO, 2002, op. cit., p. 219.
267
SANTOS, José Maurício Moreira dos; LIMA, Solimar Oliveira. Classe trabalhadora e espaço urbano: O
surgimento da Vila Operária em Teresina (PI) (1928-1950). Revista Informe Econômico. Teresina-PI:
Curso de Ciências Econômicas/Universidade Federal do Piauí. Ano 16, n 33, 2014, pp. 23-24.
268
Diario do Piauhy. Teresina-PI. Ano II, n. 28. 06 de Fevereiro de 1912, p. 03.
107
Por outro lado, o viver em outras regiões da cidade poderia criar condições
propícias ao florescimento de um sentimento de união, dos laços de solidariedade de
classe. É o que apontam Victor Leonardi e Francisco Foot Hardman: “em função da
segregação geográfica e sociocultural a que estavam submetidos os trabalhadores, o que
tornava a vida nestes bairros muito característica e própria, desenvolviam-se com isso
laços intensos de solidariedade de classe”270. Estes laços ou as formas comunitárias
experimentadas na vida camponesa271, são por vezes, buscados em determinadas
situações, como é o caso da vila operária de Teresina em que “a prefeitura elaborou a
planta e os operários iniciaram o trabalho de construção em forma de mutirão”272. Os
mutirões operavam como importante mecanismo de solidariedade entre os
trabalhadores, garantindo a construção de sua moradia pelo adjutório dos vizinhos e
amigos. Esse processo de autoconstrução atravessa os tempos, sendo observado também
nos bairros populares de São Miguel Paulista, em São Paulo; quando em meados do
século XX, a cidade recebe um grande fluxo de imigrantes para o trabalho fabril,
principalmente vindos do Nordeste. Com grandes dificuldades, parte desses
trabalhadores conseguia comprar terrenos, em locais afastados da cidade, com a
intenção de erguer suas casas. Ali, o sistema de mutirão era amplamente usado, como
visto no estudo de Paulo Fontes:
269
LOPES, José Sérgio Leite. Fábrica e Vila Operária: Considerações sobre uma forma de servidão
burguesa. In: LOPES, José Sérgio Leite (org.). Mudança Social no Nordeste: A reprodução da
subordinação (estudos sobre trabalhadores urbanos). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 42.
270
LEONARDI; HARDMAN, 1991, op. cit., p. 150.
271
Sobre a prática tradicional do mutirão e sua forma de ajuda mútua, ver o clássico: CANDIDO, Antonio.
Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. 4.
ed. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1977; em específico, o capítulo 4 da primeira parte, “As Formas de
Solidariedade”.
272
NASCIMENTO, 2008, op. cit., p.25.
108
273
FONTES, Paulo. Um Nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista (1945-
1966). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008, p. 139.
274
MONTEIRO, Francisco Gleison da Costa.”[...] cumprindo ao homem ser trabalhador, instruido e
moralisado”: terra, trabalho e disciplina aos homens livres pobres na Província do Piauí (1850-1888).
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco.
Recife, 2016, pp. 131-132.
109
O que se anota aqui, relativo aos registros sobre as formas de socorrer “os
infelizes irmãos” alcançados pela seca e pela fome, é como se opera o paliativo da
caridade. Em Frederico de Castro Neves, se pode perceber tais práticas “como elemento
organizador da relação com os pobres e legitimador da ordem social que naturalizava a
pobreza”, tendo também uma função de dique, ou seja, afastar as possíveis ocorrências
de motins ou saques. Para o citado autor, “a caridade privatizava-se cada vez mais, e as
iniciativas caridosas estavam nas mãos de cidadãos respeitáveis e suas senhoras, que
assumiam uma função destacada nos momentos de calamidade”278. A caridade também
pode ser percebida como uma ação paternalista das elites para com os pobres, “através
da ajuda costumeira, proteção e donativos para as famílias carentes, avivando assim um
275
CAMPOS, 1982, op. cit., pp. 318-319.
276
Homenagem a Jesus Christo Redemptor. Nortista. Parnaíba-PI Ano I, n. 01. 01 de Janeiro de 1901, p.
04.
277
Festas dos Espíritas. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 04. 01 de Janeiro de 1920, p. 03.
278
NEVES, Frederico de Castro. Caridade e controle social na Primeira República (Fortaleza, 1915).
Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro-RJ: Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil/Fundação Getúlio Vargas. Vol. 27, n. 53, 2014, p. 119.
110
279
ARAÚJO, 1997, op. cit., p.38.
280
CHALHOUB, 2001, op. cit., p. 76.
281
NEVES, Frederico de Castro. Estranhos na Belle Époque: a multidão como sujeito político. Revista
Trajetos. Fortaleza-CE: Universidade Federal do Ceará. Vol. 3, n. 06, 2005, p. 130.
111
A lei municipal n° 120, inclui como “zona suburbana”, além dos bairros
Tucuns, Coroa e Campos, “parte do bairro Nova Parnahyba”283 sendo este projetado e
executado no ano de 1913 pela municipalidade, caracterizado por “seu clima ameno e
pelas suas ruas e avenidas largas, arborizadas e bem delineadas”284, também fruto das
aspirações das elites locais em modernizar as ruas e avenidas da cidade. Ali “em casas
de taipa cobertas de palha, à luz de lamparinas, viviam estivadores, vigias, cozinheiras,
lavadeiras, engomadeiras, costureiras, quitandeiros e desempregados”. Diante da
especulação em torno do lugar, “aquele bairro foi invadido pela modernização, com
palacetes, bangalôs e residências com amplos terraços e jardins floridos; com rosas
coloridas que bailavam perfumando e mesclando o espaço, além de plantas ornamentais,
migradas de outras cidades ou regiões”, sendo o resultado dessa ocupação o fato de que
282
Cadeia velha. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 09 de Janeiro de 1901, p. 02.
283
Parnahyba. Lei n. 120 - Publicada em 15 de Março de 1914. Diario do Piauhy. Teresina-PI. Ano IV, n.
129. 09 de Junho de 1914, p. 04.
284
PASSOS, 1982, op. cit., p. 40.
112
as famílias pobres “foram empurradas para locais como ‘bebedouro’ e ‘curro’, terrenos
periféricos”285.
A habitação descrita por Campos era usada pela moradora tanto para seu
descanso quanto para sua ocupação. A ausência de espaços para higiene pessoal
transforma o lugar em passagem para os clientes, que iam ou voltavam rapidamente, e
para ela, dificuldades consideráveis de moradia. Michelle Perrot sublinha que o
indivíduo empenhado em descrever o quarto onde os pobres habitam “é primeiramente
surpreendido pela pobreza e a promiscuidade, os cheiros e o entrelaçamento dos
corpos”287.
O jornal quer concluir que Bazilia teria causado a explosão, pois esta afirma
que apesar de palitos de fósforo estarem sobre o barril de álcool, não sabe como a
explosão ocorreu. A moradora do quarto em sua negativa utiliza artifícios que compõe o
repertório de “resistências cotidianas”, que de acordo com James Scott, se realizam no
plano “informal, muitas vezes dissimulada, e em grande medida preocupada com
ganhos de facto imediatos”290. Além disso, é preciso refletir sobre a ideia construída
pelos subalternos a partir das distinções entre “nós” e “eles”, onde sua ação tem por
objetivo dissuadir os grupos dominantes; “não acreditam que um visitante de outra
classe seja capaz de compreender os problemas intrincados das suas vidas, e fazem
todos os possíveis por os esconder e por evitar o paternalismo”291, como indica Richard
Hoggart.
em pensões e hotéis para atender seus clientes, sendo que a grande maioria das
prostitutas, dada a difícil situação econômica, “atendiam sua clientela nas suas próprias
moradias ou em cômodos disseminados pelos bairros populares”292.
292
PINTO, 1994, op. cit., p. 210.
293
REBELLO, 1921, op. cit., p. 49.
294
WEIMER, 2005, op. cit., p. 66.
295
PERROT, 2017, op. cit., p. 116.
115
Parnaíba, essa ausência de mobília poderia estar ligada as constantes cheias do rio
Igaraçu, tornando menos dificultosa a fuga de suas águas.
Fonte: PIAUÍ. Revista da Semana. Ano VI, n. 292. 17 de Dezembro de 1905, p. 18.
298
CASTELO BRANCO, 1981, op. cit., p. 21.
299
REBELLO, 1921, op. cit., p. 50.
300
A Embriaguez. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 01. Parnaíba, 15 de Agosto de 1919, p. 02.
301
Dever de Associação e Instrução. O Artista. Parnaíba-PI. Ano III, n. 11. Parnaíba, 1 de Maio de 1922,
p. 03.
302
REBELLO, 1921, op. cit., p. 50.
303
GRAHAM, Sandra Lauderdale. Proteção e obediência: criadas e seus patrões no Rio de Janeiro, 1860-
1910. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 30.
304
DAMATTA, 1997, op. cit., p. 91.
117
305
Ibid, p. 92.
306
Ibid.
307
CAMPOS, 1962, op. cit., p. 32.
308
REBELLO, 1921, op. cit., p. 50.
309
THOMPSON, 1998, op. cit., p. 271-272.
310
DAMATTA, 1997, op. cit., pp. 94-95.
118
que, empenhados em um conflito, não saíam dele sem imprimir no couro do outro
adversário o selo da sua superioridade”311. Em 1910, o artigo 176 da lei n. 04 do Código
de Posturas da cidade indicava que era proibido “banhar-se qualquer pessôa nos portos
publicos desta cidade das 5 horas da manhã as 7 da noite”312. Na pesquisa de Sandra
Graham para o Rio de Janeiro, vemos que em face das dificuldades de local próprio ao
asseio pessoal e a aglomeração nos cortiços ou mesmo ausência de latrina, “os pobres
banhavam-se em público, nos rios, no mar ou nos chafarizes”313.
311
CAMPOS, 1982, op. cit., pp. 318-319.
312
Edital. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 17. 02 de Outubro de 1910.
313
GRAHAM, 1992, op. cit., pp.29-30.
314
WEIMER, 2005, op. cit., p. 37-38.
119
O estado sanitario não é dos mais lisongeiros, mas á vista dos annos
anteriores pode ser considerado bom, e ficará muito melhor quando o actual
intendente municipal, o Major Madeira Brandão pozer em execução o
saneamento da cidade, e os fiscaes procederem com toda energia contra as
immundicies que se amontoam desde o mercado publico, até os quintaes das
casas particulares, em sua maioria convertidas em estrebarias e chiqueiro de
porcos, bons vehiculos para as febres de máo caracter. Além disso, torna-se
mui necessarias a inspecção do leite que segundo consta o que é apresentado
á venda, ou contem gomma ou agua para render; a recomendação aos
conductores d’agua do rio para não se servirem da margem que é verdadeira
podridão, e apanharem a que passa no leito do rio, que embora insalubre,
sempre preserva por alguns dias das molestias que teem de apparecer nos que
se servem d’ella316.
315
RÉCLUS, Elisée. Migrações, êxodo rural e problemática do crescimento urbano. In: ANDRADE, Manuel
Correa (Org.). Élisée Reclus. São Paulo Ática, 1985, p. 159.
316
Piauhy. A Republica. Fortaleza-CE. Ano VII, n. 94. 27 de Abril de 1897, p. 04.
120
317
REBELO, Goethe Pires de Lima. Tempos que não voltam mais. Rio de Janeiro: Editora ADOIS, 1984, p.
52.
318
Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 22. 06 de Novembro de 1910, p. 02.
121
Entretanto tal costume não parecia fazer parte do cotidiano indicando que
“só a minoria das famílias adotavam esse tratamento. Muitas usavam a água do rio
como recebiam”320, e em consequência, um quadro de adoecimento se instalava nos
lares parnaibanos, como atesta Placido Barbosa, chefe da Missão Sanitária no Piauí,
afirmando em 1919 que: “a opilação na Parnahyba ataca setenta e cinco por cento da
população”321. A enfermidade apontada, também conhecida como ancilostomose ou
amarelão, é causada por um verme que se instala no intestino, e passa a consumir o
sangue de seu hospedeiro, provocando anemia, perda de apetite, diarreia, vômito e
náuseas. A dita opilação decorrente também dos pés descalços e da ingestão de
alimentos contaminados parece estar ligada ao inadequado abastecimento d’água,
causando a epidemia de amarelão na cidade, o que indica um adoecimento que acomete
em maior medida a população pobre, como se vê na incidência apontada acima. Na
cidade de Fortaleza, no meado do século XIX, frente ao problema da distribuição e
abastecimento de água é verificada sua qualidade no Chafariz do Palácio, onde, “entre
os consultados, a maioria considerou ruim a qualidade da água em razão das más
condições nas quais se encontrava o principal reservatório de Fortaleza”; um deles
atestou a água potável, “mas indicou a necessidade de limpar e, a partir de então,
controlar o acesso ao aludido reservatório”322.
319
REBELO, 1984, op. cit., p. 52.
320
Id., Ibid., p. 52-53.
321
Jornal do Commercio. Manaus-AM. Ano XVI, n. 5621. 26 de Dezembro de 1919, p. 01.
322
BARBOSA. Francisco Carlos Jacinto. “Administrar a precariedade: Saúde Pública e epidemias em
Fortaleza (1850-1880)”. O Público e o privado: Revista do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da
Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza-CE. N. 13, 2009, pp.97-98.
122
Dezoito anos depois, a situação sanitária pouco foi alterada. Tal é percebido
na leitura da Mensagem do então Governador Eurípedes Clementino de Aguiar, em
1920, quando assinala a necessidade de implantação de um adequado serviço de
323
ATHAYDE, 1984, op. cit., p. 09.
324
BERTOLLI FILHO, Cláudio. História da Saúde Pública no Brasil. 4. ed. São Paulo: Ática, 2008, p.17.
325
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Antonino Freire da Silva.
Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1911, p 15.
123
326
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Snr. Dr. Euripides Clementino de
Aguiar. Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “O Piauhy”, 1920, p. 44.
327
SANTOS, Fernando Sérgio Dumas dos. Alcoolismo: algumas reflexões acerca do imaginário de uma
doença. Physis: Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro-RJ: Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
vol.3, n.2, 1993, p. 78.
124
Debaixo deste ponto de vista penso com o meu illustado antecessor, que este
valioso preservativo da variola deve ser obrigatorio neste Estado, visto como,
por maiores que sejão os meis persuasivos empregados com o fim de
convencer a população dessa necessidade, pouco tenho conseguido 329.
328
GAZÊTA, Arlene Audi Brasil. Com a varíola, nasce a saúde pública. Revista História Viva. São Paulo-SP:
Ano 11, n. 134, 2014, s/p.
329
PIAUÍ. Relatorio com que o Sr. 1° vice governador do Estado do Piauhy Dr. Joaquim Nogueira
Parnaguá entregou a respectiva administração ao sr. dr. Cabino Besouro. Estado do Piauí. Teresina:
Typographia de Honorato Souza, 1890, p. 39.
330
CHAVES, Joaquim Raimundo. Teresina: subsídios para a História do Piauí. Teresina: Fundação
Monsenhor Chaves, 1994, p. 51.
331
Id., Ibid., p. 52.
125
Existia ainda uma parcela da população ligada aos cultos africanos, que
reconheciam em Omulu, Orixá da terra e das doenças, o emissário da varíola, e, por
conseguinte, esta era vista como purificação ou aproximação do Orixá, e não como
patologia.
332
BARBOSA, Francisco Carlos Jacinto. A vacina de Rodolfo: implicações socitotécnicas e tensões
políticas envolvendo a vacina animal no Ceará (1900-1904). In: CONACSO - CONGRESSO NACIONAL DE
CIÊNCIAS SOCIAIS: desafios da inserção em contextos contemporâneos. Vitória-ES, UFES, 2015, pp. 10-
11.
333
PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. As barricadas da saúde: vacina e protesto popular no Rio de
Janeiro da Primeira República. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002, p. 15.
334
CHALHOUB, 1996, op. cit., p. 126.
335
Id., Ibid., p. 131.
336
BARBOSA, 2015, op. cit., p. 14.
126
É válido lembrar que na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1904, por conta
da implantação da lei de vacinação e revacinação, o povo, com apoio de grupos
políticos oposicionistas, como “defensores da restauração monárquica, militares
positivistas e até médicos homeopatas, contrários ao uso de vacinas”337, insurgiram-se
contra o poder público, destruindo bondes, construindo barricadas nas ruas e
incendiando prédios públicos, fato caracterizado historicamente como a Revolta da
Vacina338.
341
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Antonino Freire da Silva.
Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1910, p. 16.
342
SILVA, 2012, op. cit., p. 48.
343
SCOTT, 2013, op. cit., p. 202.
128
febres que tivemos e que mui poucas victimas produziram, por já terem ellas
desaparecido”. Apesar disso, aproveitam a situação para lembrar aos leitores o perigo de
não manter suas residências higienizadas:
Convem, entretanto, que todos concorram para melhorar ainda mais o nosso
estado sanitario observando o maior aceio em suas casas, desinfectando-as,
principalmente as latrinas e canos, sendo forçoso dizer-se que os de algumas
casas muito depõem contra os que nellas residem, além do grande mal que
occasionam.344.
Na mesma matéria ainda dão conta que “estavam sendo tomadas as devidas
providências para a extincção do mal, as quaes vão produzindo o resultado esperado,
pois não consta mais o apparecimento de caso algum”. Além disso, apontam que “os
doentes que haviam, foram retirados primeiramente para uma casa proxima no armazem
da polvora, e, com o tratamento regular a que se acham submettidos, vão caminhando
para seu reestabelecimento”, e que “serão brevemente transportados para o lazareto que
com toda a urgência está construindo na Ilha Grande onde ficarão bem isolados,
livrando-nos assim do seu contagio”345. A logística de retirada e instalação contou com
o auxílio financeiro do Estado, registrado no balanço sobre o estado sanitário do Piauí
em 1902, pelo governador Arlindo Nogueira, que também demonstra a tentativa de
diminuir, ao menos discursivamente, o impacto da varíola naquele ano:
344
O Nosso estado sanitario. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 27. 06 de Julho de 1901, p.03.
345
O Nosso estado sanitario. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I. n. 27. 06 de Julho de 1901, p. 06.
129
349
MARTINS, 2013, op. cit., p. 50.
350
SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. “Lazareto da Ilha Grande: isolamento, aprisionamento e vigilância
nas áreas de saúde pública (1884 - 1942)”. História, Ciência, Saúde - Manguinhos. Rio de Janeiro-RJ:
Fundação Oswaldo Cruz. Vol.14 n.04, 2007, p. 174.
351
PIAUÍ. Comunicado enviado ao Governador da Província tratando da instalação do Lazarêto de
Amarração (1884). Arquivo Público do Estado do Piauí. Caixa 96.
352
PIAUÍ. Relatorio com que o Exm. Sr. Presidente Dr. Emigdio Adolpho Victorio da Costa passou a
administração da Provincia do Piauhy ao Exm. Sr. 3°Vice-Presidente Dr. Manoel Ildefonso de Souza
Lima. Província do Piauhy. Teresina: Typographia da Imprensa, 1884, p. 12.
353
Extracto de expediente do Governo da Provincia. A Imprensa. Teresina-PI. Suplemento ao n. 836. 30
de Setembro de 1884, p. 06.
131
logo no hospital”; Luís Correia ainda ressalva que este varioloso era “completamente
indigente”354.
354
PIAUÍ. Comunicado enviado ao Governador da Província tratando da instalação do Lazarêto de
Amarração (1884). Arquivo Público do Estado do Piauí. Caixa 96.
355
Id., Ibid.
132
palmos de frente e 142 ditos de fundo356. Na planta e em sua descrição, não há qualquer
registro de espaço destinado ao asseio e higiene pessoal dos confinados, dificultando
ainda mais a recuperação das enfermidades. A lista de materiais requeridos na
edificação do Lazareto em Amarração também foi anexado à Mensagem de Luís
Correia, permitindo identificar as condições de acomodação dos doentes:
356
MARTINS, 2013, op. cit., p. 68.
133
uso de redes. Se considerarmos que são 28 pares de armadores, cada quarto, de cerca de
4 metros, teria que albergar 6 doentes.
os impedimentos de execução plena das ditas ações profiláticas: “(...) a permanência dos
doentes pobres que mal aconselhados por ignorantes malfazejos recusaram
terminantemente ir para o grande lazareto da Cruz, na Ilha Grande”, e diante disso, “(...)
a responsabilidade dessas miserias cabe inteira aos seus indignos autores”360. Segundo o
citado jornal, mais que as precárias condições sanitárias – moradia, água contaminada,
terrenos insalubres, entre outras – o fato assinalável é a ignorância de seus moradores,
vetores da transmissão das doenças, transferindo, portanto, aos pobres as supostas
causas de seus muitos e seguidos infortúnios.
360
O nosso estado sanitario. Nortista. Parnaíba-PI. 03 de Agosto de 1901. Ano I, n. 31, p. 03.
361
O nosso estado sanitario. Nortista. Parnaíba-PI. 10 de Agosto de 1901. Ano I, suplemento ao n. 32, p.
05.
135
362
Pela Igreja. O Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 35.31 de Agosto de 1901, p. 02.
363
O nosso estado sanitário. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 42. 26 de Outubro de 1901, p. 02.
136
364
O nosso estado sanitário. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, suplemento ao n. 46. 17 de Novembro de
1901, p. 01.
365
O nosso estado sanitario. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, Suplemento ao n. 46. 17 de Novembro de
1901, p. 01.
366
O nosso estado sanitario. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 45. 09 de Novembro de 1901, p. 04.
137
367
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Miguel de Paiva Rosa. Estado
do Piauí. Rio de Janeiro: Officinas graphicas da Liga Maritima Brasileira, 1914, p. 18.
368
Estado do Piauí, Ibid.,p. 16.
369
COSTA, Domingos de Almeida Martins. A malaria e suas modalidades clinicas. Rio de Janeiro:
Imprensa a vapor Lombaerts & Comp. 1885, p. 37.
370
Existem diferentes tipos de protozoário plasmodium, como o Plasmodium vivax, P. falciparum, P.
malariae e P. ovale e diferentes tipos de malária. O Plasmodium falciparum, é o responsável por 95%
das mortes decorrentes da malária, chamada neste caso de terçã maligna. Por outro lado, o Plasmodium
vivax causa uma doença mais branda, que pode hibernar por muitos anos, causando a chamada terçã
benigna. In: CAMARGO, Erney Plessmann. Malária, maleita, paludismo. Revista Ciência e Cultura. São
Paulo-SP: Sociedade Brasileira para o Progressoda Ciência. Vol 55, n. 01, 2003, p. 26.
138
regiões ribeirinhas, mais densamente habitadas pela gente pobre, eram os locais de
maior proliferação da doença.
Theresina”376. O vinho de jurubeba, o café quinado beirão, entre outros preparados, são
entre os primeiros e “milagrosos” remédios anunciados nos meios impressos, gerando
publicações específicas no já conhecido meio impresso dos almanaques, indicando
também por esta fonte de pesquisa o quão grave é o quadro de (falta de) saúde no Brasil
de então, principalmente nos Estados mais pobres da Federação, e nestes, subindo os
morros, as encostas, os lugares mais ermos onde os pobres teimavam em instalar suas
vidas.
Cem anos são passados e tão similar segue sendo a crônica, revelando o
descaso das ditas autoridades sanitárias e demais; primeiro se recorre à bolsa do
“inesgotável” orçamento federal, sugerindo que algo está sendo feito, mas revelando o
de sempre: nada de medidas preventivas, de providências perenes. Quando “chega” a
doença, se tenta manipular a opinião pública, creditando ao desbordamento das margens
do rio, às cheias como “condutoras” de doenças e, no mesmo passo, se diz sem pudor:
não há quinino nas farmácias!
379
PIAUÍ. Mensagem apresentada à Câmara Legislativa do Estado pelo Exmo. Snr. Dr. Euripedes
Clementino de Aguiar. Estado do Piauí. 1918, p. 08.
380
LAURELL, Asa Cristina. La salud-enfermedad como proceso social. Revista Latinoamericana de Salud.
Ciudad del México. N. 02, 1982.
141
terra com a enxada, cava ao mesmo tempo a sua propria sepultura”, e quando consegue
escapar das garras da morte, mantém sequelas da doença: “sem sangue, cachetico,
ventre entumescido pela hypertrophia do baço e do fígado” e então “abandona o campo
e recolhe-se á cidade, onde vem augmentar a legião incontavel de inúteis”381. Do
discurso, sublinha-se um modo de caracterização sobre os pobres como inúteis ao
trabalho, pois acometidos pelas doenças e vitimados por suas sequelas, formavam uma
multidão que aterrorizava as elites locais, pois o desespero de sua situação, agravada
pelas medidas insuficientes da Intendência ou pelas formas usuais de caridade e
filantropia, poderia desencadear reações na busca por minorar seu sofrimento.
Tal medo pânico é a tônica dos discursos também no Piauí, como se observa
no contraditório discurso veiculado no jornal O Tempo, da cidade de Amarante, no sul
do Estado. Em sua edição de novembro de 1915, destacam que as “populações
ribeirinhas do Parnahyba são as mais atormentadas” pela emigração dos flagelados, e
que para “socorrer pelo trabalho” dos sertanejos retirantes era preciso ao menos uma
obra governamental para estes assumirem as frentes de trabalho. Quanto aos inválidos,
resta distribuir víveres para não morrerem de inanição. O periódico continua ainda,
381
PIAUÍ. Mensagem apresentada à Câmara Legislativa do Estado pelo Exmo. Snr. Dr. Euripedes
Clementino de Aguiar. Estado do Piauí. 1918, p. 18.
382
BRESCIANI, 1982, op. cit., p. 109.
383
NEVES, 2005, op. cit., p. 119.
142
384
Soccorro aos flagellados. O Tempo. Amarante-PI. Ano I, n. 02. 30 de Novembro de 1915, p. 01.
385
Para a fundação da Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba concorrem os seguintes nomes: “Paul
Robert Singlehurst, Luiz Antonio de Moraes Correia, Antonio José Tavares, José Alves de Seixas Pereira,
Antonio Martins Ribeiro, Manoel Fernandes de Sá Antunes, Joaquim Antonio dos Santos, Joaquim
Antonio de Amorim Filho, Egidio O. Porfirio da Mota, Manuel Fernandes Marques, Josias Benedito de
Moraes, Francisco José de Seixas, José da Silva Ramos Filho, Francisco José de Moraes Correia e Dr. João
Maria Marques Basto”. In: CORREIA, Benedicto Jonas; LIMA, Benedicto dos Santos (orgs). O Livro do
Centenário da Parnaíba: Estudo Histórico, Corográfico, Estatístico e Social do município de Parnaíba.
Parnaíba: Gráfica Americana, 1945, p. 147.
386
PIAUÍ. Estatutos da Santa Casa de Misericordia de Parnahyba. Santa Casa de Misericórdia de
Parnaíba. Parnaíba, 1922, p. 03.
143
Fonte: RIO DE JANEIRO. Leitura para todos. Ano IX, n. 97. Março de 1914, p. 116.
387
CARVALHO, Aleisa de Sousa. “Pobres infelizes” à espera de “almas caridosas”: Santa Casa de
Misericórdia de Parnaíba no início do século XX (1914- 1928). Monografia apresentada ao curso de
História da Universidade Federal do Piauí. Picos, 2016, p. 21.
388
LOPES, Maria Antónia. Pobreza, Assistência e Controlo Social. Coimbra (1750-1850). 2 vols. Viseu,
Portugal: Palimage Editores, 2000; SÁ, Isabel dos Guimarães; LOPES, Maria Antónia. História breve das
misericórdias porguesas (1498-2000). Coimbra: Imprensa da Universidade, 2008.
389
CAMPOS, 1962. op. cit., p. 211.
144
I. por sepultura rasa dez mil reis (10$000), II. por sepultura perpetua sessenta
mil reis (60$000), III. por catACumba, cem mil reis (100$000), IV, por
sepultura vendida com antecipação cem mil reis (100$000), V. por licença
para enterrar pessoa da mesma familia em sepultura perpetua já adquirida,
dez mil reis (10$000)391
390
ZAHUR (1985), apud SILVA, Geovana. Assistência e poder: os provedores da Santa Casa de
Misericórdia do Rio de Janeiro. Revista Em Debate. Rio de Janeiro-RJ: Pontifícia Universidade
Católica/RJ. N. 08, 2008, s/p.
391
Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, 1922, op. cit., p. 18.
392
Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, 1922, op. cit., p. 17.
145
Previno a todos que têm pessôas suas sepultadas neste Cemiterio, ha mais de
4 annos, a que as sepulturas e catacumbas não se acham perpetuadas, para até
o dia 15 de Outubro do corrente anno, virem perpetual-as, porque depois
dessa data em diante, as não perpetuas serão demolidos todos os serviços
nellas feitos e abertas para novos enterramentos. Será tomado por base para
393
Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, 1922, op. cit., p. 04.
394
CARVALHO, 2016, op. cit., p. 34.
146
Das fontes aqui pesquisadas, salta aos olhos a aberta contradição desde o nome
adotado para o Cemitério de Parnaíba: da Igualdade, pois vimos aqui previstos em
Estatutos os mecanismos de distinção de classe quanto aos enterramentos, tamanho e
localização de sepulturas, existência ou não de lápides mortuárias, e até mesmo o tempo
de uso do túmulo. O estudo de Fernando Catroga observa que em Portugal, “as próprias
leis obrigavam a que a concessão de sepultura perpétua fosse sinónimo de
monumentalidade”397, exigindo a construção de jazigo com no mínimo um metro de
frente por dois e trinta de frente e fundo.
Observando as pesquisas sobre matéria correlata, vimos que para o caso do Rio
de Janeiro, o cerimonial dos enterros eram “acontecimentos marcantes na vida social, na
cidade”, como aponta Cláudia Rodrigues. Para a autora, “apesar das diferenciações na
forma como eram realizadas, em virtude das condições sócio-econômicas do defunto e
395
Cemiterio da Igualdade. Semana. Parnaíba-PI. Ano, II n. 64. 27 de Agosto de 1911, p. 03.
396
Jogo na Santa Casa. A Tribuna. Ano I, n. 11. 18 de Janeiro de 1920, p. 03.
397
CATROGA, 1999, op. cit., p. 96.
147
Sobre a Bahia do século XIX, o estudo de João José Reis registra que “os
funerais da maioria dos escravos eram feitos pela Santa Casa sem solenidade”, e, em
sequência, o historiador apresenta uma gravura sobre “um cortejo fúnebre mais
cerimonioso, embora modesto, de um negro pobre, talvez escravo”; apontando que “à
exceção do padre e talvez de dois encapuzados, as mais de vinte personagens da gravura
são negras, todas de pés no chão”400. Para o caso do enterro dos negros em Parnaíba, o
desejo de Teresa para adquirir um ataúde enfeitado como o dos brancos, pode ser visto
por nós como um traço da solidariedade dos subalternos, ou ainda como na escrita de
398
RODRIGUES, Cláudia. Lugares dos mortos na cidade dos vivos: tradições e transformações fúnebres
no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento Geral de
Documentação e Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1997, p. 222.
399
CAMPOS, 1962, op. cit., 212-213.
400
REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São
Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 140.
148
Campos, talvez desejassem “que êles tivessem, na morte, uma igualdade que não
haviam conseguido em vida”401.
401
CAMPOS, 1962, op. cit., p. 212.
402
ATHAYDE, 1984, op. cit., p. 10.
403
Embriaguez. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 35. 31 de Agosto de 1901, p. 04.
404
SANTOS, Fernando Sérgio Dumas dos. Alcoolismo: a invenção de uma doença. Dissertação
apresentada ao Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas. Campinas-SP, 1995,
p. 125.
149
405
CAMPOS, 1982, op. cit., p. 307.
406
ARANTES, Erika Bastos. Negros do porto: trabalho, cultura e repressão policial no Rio de Janeiro,
1900-1910. In: AZEVEDO, Elciene et al (orgs.). Trabalhadores na cidade: cotidiano e cultura no Rio de
Janeiro e em São Paulo, séculos XIX e XX. Campinas-SP: Editora da Unicamp, 2009, p. 116.
407
LONDON, Jack. O povo do abismo: a fome e miséria no coração do império britânico: uma
reportagem do início do século XX. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004, p. 188.
408
Id., Ibid.
409
Id., Ibid., p. 313.
150
410
SANTOS, 1995, op. cit., p. 108.
411
Piauhy. Jornal do Commercio. Manaus-AM. Ano XI, n. 3768. 16 de Outubro de 1914, p. 01.
412
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Miguel de Paiva Rosa. Estado
do Piauí. Teresina: Typographia Paz, 1913, p. 14.
413
SALES, Eliana. Aspectos da história do álcool e do alcoolismo no século XIX. Cadernos de História,
oficina de História: escritos sobre saúde, doença e sociedade. Recife-PE: Universidade Federal de
Pernambuco. Ano VII, n. 07, 2010, p. 184.
414
Id., Ibid.,p. 185.
415
LIMA, 1987, op. cit., p. 19.
151
Por outro lado, a aversão à polícia era quase sempre retratada nas memórias
populares, e que “marcaram época na então florescente cidade de Parnaíba”, onde
“pequenas batalhas entre soldados (...) de um lado, e, embarcadiços do outro, estes
últimos armados de porretes de pau de ferro”416. É possível que a hostilidade contra os
policiais tenha origem anterior, sendo o desafeto um mecanismo autodefensivo diante
da criminalização das práticas de convívio entre trabalhadores, tratadas como distúrbio.
Talvez por conta de uma dessas desordens mataram o guarda civil Pedro Ferreira Lima,
quando este prendia, sob ordem do delegado, dois “desordeiros”. Sabe-se sobre o caso
ocorrido em 1920 na cidade de Tutóia, no Maranhão, que “um grupo de estivadores da
Parnaiba, com tripulantes de barcos, afrontando as autoridades, foram até a porta da
cadeia, onde tomaram os presos e mataram o pobre pai de familia, evadindo-se depois
do monstruoso crime”417.
416
Id., Ibid.,p. 21.
417
Pacotilha. São Luís-MA. Ano XL, n. 60. 12 de Março de 1920, p. 01.
418
DUARTE, 1999, op. cit., p. 156.
152
como quando “Seu Juquinha abria a porta de seu boteco e já encontrava firme no seu
posto o crônico Leôncio, que fora tomar seu primeiro trago matinal”419. Se antes das
transformações causadas pela Revolução Industrial, o ócio estave reservado às elites e
era interpretado socialmente como forma de poder, naquele momento o não-trabalho
significava a fuga da narrativa modernizadora, ou seja, “a ociosidade passou a ser
entendida como uma negação do trabalho, portanto um rompimento das regras
sociais”420.
419
CASTELO BRANCO, 1981, op. cit., p. 21.
420
SANTOS, 1995, op. cit., p. 107.
421
Na mesma edição do jornal (Ano I, n. 01. 15 de Agosto de 1919, p. 01), seus editores relacionam as
bases sociais para a fundação da agremiação, figurando em 12° lugar o item que declara que “não farão
parte da União Progressista, - os artistas e operarios, entregues ao vicio do jogo de azar e da
embriaguez”.
422
A embriaguez. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 01. 15 de Agosto de 1919, p. 02.
423
COSTA, Raul Max Lucas da. Medicalização e criminalização do uso do álcool em Fortaleza (1916-
1930). São Paulo: NEIP, 2006, p. 14.
153
424
Rezoluções do Segundo Congresso. A Voz do Trabalhador. Rio de Janeiro-RJ. Ano VI, n. 39-40. 01 de
Outubro de 1913, p. 04.
425
A Embriaguez. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 01. 15 de Agosto de 1919, p. 02.
426
SANTOS,1993,op. cit., p. 80-81.
154
meios, manterem-se afastados de tão nefasto vício, que não apenas lhes consumia a
saúde física, mas também sua distinção ‘moral’ em relação às ‘classes perigosas’”427.
427
BILHÃO, Isabel Aparecida. Identidade e trabalho: uma história do operariado porto-alegrense (1989 a
1920). Londrina: EDUEL, 2008, p. 86.
428
LINEBAUGH; REDIKER, 2010, op. cit., p. 257.
429
SANTOS, José Luiz de las Heras. La asistencia a los presos pobres de las cárceles em la Edad Moderna.
In: ARAUJO, María Marta Lobo; FERREIRA, Fátima Moura; ESTEVES, Alexandra (orgs.). Pobreza e
assistência no espaço ibérico (séculos XVI-XX). Porto, Portugal: CITCEM, 2010, p. 85.
155
Profissão Quant. %
Agenciador 5 8%
Artista 3 5%
Cangueiro 5 8%
Comerciante 1 2%
Embarcadiço 1 2%
Estivador 2 3%
Foguista 2 3%
Lavrador 13 21%
Não consta 13 21%
Negociante 1 2%
Oleiro 4 7%
Pescador 1 2%
Pintor 1 2%
Roceiro 1 2%
Soldado 3 5%
Vaqueiro 1 2%
Vareiro 4 7%
Total 61 100%
Fonte: PIAUÍ. Arquivo Público do Estado do
Piauí, 1906-1918.
430
LOPES, Maria Antonia. Cadeias de Coimbra: espaços carcerários, população prisional e assistência aos
presos pobres. In: ARAUJO, María Marta Lobo; FERREIRA Fátima Moura; ESTEVES, Alexandra (orgs.).
Pobreza e assistência no espaço ibérico (séculos XVI-XX). 2010, p. 112.
156
deveriam ser feitos para “evitar a sua completa ruina”431. Em Parnaíba, no ano de 1891,
o edifício que abrigava a cadeia pública teve de ser abandonado diante do “grande
perigo de desabar o tecto”432, sendo necessário o aluguel de um prédio para tal fim.
Segundo o Governador Arlindo Nogueira, o novo prédio, sem as condições para o fim
proposto, “não tem as precisas accomodações e nem offerece a segurança
indispensavel”. Só em 1906 o Estado “principiou (...) a edificar um predio para o
quartel e cadeia – serviço este que se acha bem adeantado”433.
431
Estado do Piauí, 1904, op. cit., p. 14.
432
PIAUÍ. Conselho Municipal - Parnaíba. Oficio do Conselho de Intendencia Municipal do Estado
Federado do Piauhy na cidade de Parnahiba. N. 04, 1891. Arquivo Público do Estado do Piauí. Caixa
351.
433
Estado do Piauí. 1904, op. cit., p. 14.
434
PERROT, 2017, op. cit., p. 278.
435
PIAUÍ. Livro de despachos do Corpo de Policia (1891-1906). Arquivo Público do Estado do Piauí.
157
contam que na Parnahyba, unico porto do Piauhy (...), a cadeia era muito
pequena e quasi não podia conter os condemnados pelo jury local. Como mal
chegasse para elles dormirem amontoados nas tarimbas, pela manhã o
carceireiro, arrastando os chinellos, vinha soltal-os, afim de poderem
trabalhar nas officinas da cidade e nas lavouras dos arredores, pois a
municipalidade não lhes dava meios de subsistencia. Abria o cerbero os
cadeados, escancarando os portões de ferrro, alinhava os presos em frente ao
edificio e fazia-lhes este pequeno sermão: - vão trabalhar cambada de
safados! E portem-se direitinho: não bebam cachaça! A’s seis horas da tarde,
estejam aqui. A ultima badalada das ave marias, eu fecho este portão e o
preso que não tiver chegado dorme na rua, no sereno! Dizem que os presos
da Parnahyba eram duma pontualidade exemplar, porque não tinham mesmo
logar melhor para passar a noite fóra da cadeia436.
436
Um criminoso que merece estatua. A Ordem. Sobral-CE. Ano XIII, n. 651. 07 de Setembro de 1928, p.
03.
158
439
Um criminoso que merece estatua. A Ordem. Sobral-CE. Ano XIII, n. 651. 07 de Setembro de 1928, p.
03.
440
PERROT, 2007, op. cit., p. 257.
441
Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 04. 03 de Julho de 1910, p. 02.
442
CAMPOS, 1962, op. cit., p. 313.
160
mas que faziam parte do seu quotidiano e modo de vida, situações representadas em
práticas de lazer e sociabilidade”443.
443
FONTELES NETO, Francisco Linhares. Cotidiano e atuação policial em Fortaleza: entre o dever e a
prática nas primeiras décadas do século XX. Revista Trajetos. Fortaleza-CE: Universidade Federal do
Ceará. Vol 4, n. 07, 2006, p. 102.
444
PERROT, 2017, op. cit., p. 284.
161
445
O vadio e a Sociedade. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 01. 15 de Agosto de 1919, p. 03.
162
Defloramento 2
Homicídio 47
Lesão Corporal 2
Não consta 3
Roubo 8
Fonte: PIAUÍ. Arquivo Público do
Estado do Piauí, 1906-1918.
446
PERROT, 2017, op. cit., p. 284.
447
PERROT, 2017, op. cit., p. 275.
163
448
Fragmentos. A Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 03. 03 de Dezembro de 1916, p. 02.
449
SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de Civilização: a implantação da Escola Primária Graduada no
Estado de São Paulo (1890-1910). São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998, p. 15.
165
conteúdos de “moldar para o trabalho” assim como a difusão dos preceitos da ordem e
do progresso, como indica a pesquisa de Gleison Monteiro sobre o século XIX no Piauí:
“o olhar preventivo das autoridades começou a notar que tinha que educá-los desde
cedo para o trabalho, logo, crianças pobres, órfãs, desvalidas e vadias começaram a ser
foco dessas investidas, cujo objetivo era evitar a ociosidade e a criminalidade”450. Ao
passo em que as estratégias de dominação se moldavam, também se faziam modos de
resistência, como se observa aqui quanto as formas possíveis de ludibriar as esferas de
poder, as estratégias de solidariedade e as experiências produzidas no cotidiano escolar.
450
MONTEIRO, 2016, op. cit., p. 139.
451
CORREIA; LIMA, 1945, op. cit., p. 75.
452
FERRO, Maria do Amparo Borges. Educação e Sociedade no Piauí Republicano. Teresina, 1996, p. 96.
166
454
QUEIROZ, 1994, op. cit., p. 57.
455
LAPA, 1996, op. cit., p. 163.
456
PIAUÍ. Mensagem apresentada a Camara Legislativa Estadoal pelo Exm. Sr. Dr. Arlindo Francisco
Nogueira. Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1901, p. 11-12.
168
demanda, o Estado reconhece que “a difusão do ensino não depende somente dos
poderes publicos, mas também da iniciativa particular”457.
457
PIAUÍ. Mensagem apresentada a Camara Legislativa Estadoal pelo Exm. Sr. Dr. Arlindo Francisco
Nogueira. Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1903, p. 08.
458
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Arlindo Francisco Nogueira.
Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1904, p. 08-09.
459
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Alvaro de Assis Ozorio
Mendes. Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1907, p. 05.
460
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Miguel de Paiva Rosa.
Teresina: Typographia Paz, 1913, p. 19.
169
Além disso, e de forma indireta, avaliavam que na divisão social do trabalho, a mulher
era “uma mão de obra acessível aos cofres públicos”461.
461
SOARES, Norma Patricya Lopes. Escola Normal em Teresina (1864 - 2003): reconstruindo uma
memória da formação de professores. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2004, p. 79.
462
SOUZA, 1998, op. cit., p. 62.
463
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. Mulheres plurais: a condição feminina em Teresina na Primeira
República. Teresina: Fundação Municipal Monsenhor Chaves, 1996, p. 87.
464
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Antonino Freire da Silva.
Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “Piauhy”, 1911, p. 23.
465
QUEIROZ, Terezinha de Jesus Mesquita. Educação no Piauí (1880-1930). Imperatriz-MA: Ética, 2008,
p. 101.
170
466
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Snr. Dr. Euripides Clementino de
Aguiar. Estado do Piauí. Teresina: Typographia do “O Piauhy”, 1920, p. 37.
467
SPERRHAKE, Renata. O saber estatístico como dizer verdadeiro sobre a alfabetização, o
analfabetismo e o alfabetismo/letramento. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013, p. 55.
468
PIAUÍ. Annuario Estatistico do Piauhy. 1926, p. 18.
171
469
MENDES, Francisco Iweltman. Parnaíba: Educação e Sociedade. Parnaíba: SIEART, 2007, p. 70.
470
PIAUÍ. Aula Publica de sexo feminino da cidade da Parnahyba, 27 de Janeiro de 1906. Oficio de
Senhorinha Teixeira Mendes Avelino ao Diretor de Instrução Publica de Parnahyba. Arquivo Público do
Estado do Piauí. Caixa 96.
471
Id., Ibid.
472
PIAUÍ. Ao Sr. Inspector de ensino publico desta cidade. 02 de Fevereiro de 1906 Oficio de Odetta
Neves de Abreu ao Diretor de Instrução Publica de Parnaíba. Arquivo Publico do Estado do Piauí. Caixa
96.
172
Materiais Valor
Duas carteiras com dois metros de comprimento e
40$000
dois palmos de largura, cada uma.
Dois bancos com dois e meio metros de
10$000
comprimento cada um
Uma meza com dois metros de comprimento e
50$000
um de largura
Uma dita com um e meio metro de
comprimento e um dito de largura, com gaveta 50$000
e chave
Um Livro com para matrícula -
Um dito para ponto -
Um dito para vizitas -
Fonte: PIAUÍ. Arquivo Público do Estado do Piauí, Caixa 96, 1906.
473
No documento, é perceptível a dificuldade de escrita do professor, em decorrência de sua trêmula
escrita e ausência de firmeza no traçado das letras, necessitando outro indivíduo para redigir de forma
legível a lista de utensílios solicitados. Seu nome figura nas páginas do jornal Pátria (Sobral-CE, Ano V, n.
196. 03 de Junho de 1914), em um apontamento do médico parnaibano Marques Basto, datado de
1907, sugerindo o uso do Elixir Murué, “excellente remedio para combater as affecções de fundo
syphilitico”, testado em diversos doentes, como o professor, “que, soffrendo de uma vasta ulcera na
perna direita, ha muitos annos, achava-se hoje completamente reestabelecido”.
173
Fundação Oswald Cruz registrou, no ano de 1912, a situação de uma das “escolas
privadas” em São Raimundo Nonato.
Figura 13: “Escola privada em São Raimundo Nonato (PI). Maio de 1912”.
Também o estudo citado de Rosa Souza aponta a situação de São Paulo nos
fins do século XIX, quando “a escola pública era muitas vezes a extensão da casa do
professor”, e quando “muitas funcionavam em paróquias, cadeias, cômodos de
comércio, salas abafadas e sem ar, sem luz sem nada, cuja despesa com aluguéis corria
474
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Snr. Dr. Euripides Clementino de
Aguiar. Estado do Piauí. Teresina: Imprensa Official, 1917, p. 15.
475
HOGGART, 1973, op. cit., p. 95.
174
Sala grande, e baixa, de chão de tijolo, com três janelas abrindo para a praça
do Mercado. Em uma das extremidades, à esquerda, um estrado baixo, com a
mesa da professora. Diante dela, paralelamente, os bancos de madeira,
estreitos e altos, com a meninada de todos os sexos, de todas as cores que
consistiam a população477.
476
SOUZA, 1998, op. cit., p. 122.
477
CAMPOS, 1962, op. cit., p. 160-161.
478
Id.,Ibid. p. 163.
479
Nascido em Lisboa-Portugal, António Feliciano Castilho foi poeta, pedagogo e escritor romântico, que
viveu entre os anos de 1800 a 1875.
175
tenham valor de sílabas fortes”480. Esse efeito busca produzir um forte sentido de
exortação ao trabalho como fonte de regeneração e um sentido de harmonia na
dedicação ao trabalho, onde cada ofício tem um tem lugar na “orquestra da serra e do
malho”.
em uma casa pequena, de calçada alta, com uma porta e duas janelas de
frente. A sala, que abria diretamente para a rua por essa porta e por essas
duas janelas, era consagrada à escola. Em frente à porta, encostadas à parede,
em uma fila única, as doze ou quatorze cadeiras dos meninos. Do lado
oposto, em filas sucessivas, as meninas482.
480
ALI, Manuel Said. Versificação portuguesa. São Paulo: Edusp, 2006, p. 82.
481
CAMPOS, 1962, op. cit., p. 185.
482
Id., Ibid.,p. 188.
176
que às vezes as fazia chorar”483. Estes e outros castigos eram comuns na vida escolar à
época, principalmente para as crianças pobres da cidade. Acontecia com frequência que
os alunos permanecessem de joelhos durante todo o período da aula, ou usassem os
“capacetes de papelão” “com os dísticos vadio, burro, malcriado, e outros”484.
Era uma casa baixa, de esquina, com duas ou três janelas de frente, e meia-
dúzia de portas para a travessa. Três salas atijoladas, sendo a terceira estreita
e comprida. Um corredor de uma dezena de metros conduzia até á cozinha,
cujo fogão de barro havia perdido a memória do fogo. Um pequeno quintal,
com cerca de pau, e alguns metros de muro. E, para trás, um terreno vago, em
que se despejava o lixo485.
489
Escola Elementar São José. Ibid, p. 04
490
MARX, 1980, op. cit., p. 90-91.
491
Escola de Aprendizes Marinheiros em Parnahyba.O Piauhy. Teresina-PI. Ano XXI, n. 1123. 17 de Junho
de 1911, p. 04.
492
SILVA, Rozenilda Maria de Castro. Companhia de aprendizes marinheiros do Piauí (1874 a 1915):
história de uma instituição educativa. 2. ed. Teresina: EDUFPI, 2013, p. 110.
178
493
Escola de Aprendizes Marinheiros. O Apostolo. Teresina-PI. Ano I, n. 33. 05 de Janeiro de 1908, p. 04.
494
Escola de Aprendizes Marinheiros. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 10. 14 de Agosto de 1910, p. 01.
495
CAMPOS, 1982, op. cit., p. 340.
496
NASCIMENTO, Ana Maria Bezerra do. Trabalhadores e trabalhadores no fio da historia das práticas
e projetos educativos no Piauí (1856 - 1937). Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2008, p. 84.
497
Estado do Piauhy. Teresina-PI. Ano I, n. 09. 02 de Fevereiro de 1890, p. 03.
498
Estado do Piauhy. Teresina-PI. Ano I, n. 27. 19 de Março de 1890, p. 01.
499
Ibid. Ano I, n.16. Teresina-PI, 19 de Fevereiro de 1890, p. 01.
179
500
RIO DE JANEIRO. Relatorio apresentado ao Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil
pelo Vice-Almirante Manoel Ignacio Belfort Vieira. Ministerio da Marinha. Imprensa Naval - Arsenal de
Marinha: Rio de Janeiro, 1913, p. 102.
501
RIO DE JANEIRO. Annaes da Camara dos Deputados. Volume X. Congresso Nacional. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1910, p. 210.
502
Escola de Aprendizes Marinheiros. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 11. 21 de Agosto de 1910, p. 01.
503
MARINHA (1883) apud SILVA, 2005, op. cit., p. 105.
181
504
Diario do Piauhy. Theresina-PI. Ano IV, n. 205. 09 de Setembro de 1914, p. 03.
505
PIAUÍ. Mensagem apresentada á Camara Legislativa pelo Exm. Sr. Dr. Miguel de Paiva Rosa. Estado
do Piauí. 1915, p. 25.
506
Revista Maritima Brazileira. Rio de Janeiro-RJ. Ano XXXV, n. 07. 1916. p. 609.
507
Ibid., Ano XXXIII, n. 10. 1914. p. 181.
508
Ibid., Ano XXXIV, n. 07. 1915. p. 196.
182
509
PINHEIRO (2001) apud NASCIMENTO, 2008, op. cit., p. 43.
510
OLINDA, Ercília Maria Braga de. Tinta, papel e palmatória: a escola no Ceará do século XIX. Fortaleza:
Museu do Ceará, Secretaria da Cultura do Estado do Ceará. 2004, p. 63.
511
NASCIMENTO, 2008, op. cit., p. 43.
512
Para o aprofundamento do debate que envolve o anticlericalismo e a educação, indicamos o estudo
de CATROGA, Fernando. Secularização e laicidade: a separação das Igrejas e da Escola. In: PINTASSILGO,
Joaquim et al. (orgs.). História da Escola em Portugal e no Brasil: circulação e apropriação de modelos
culturais. Lisboa: Edições Colibri/Centro de Investigação em Educação da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa, 2006.
513
QUEIROZ, 1994, op. cit., p. 191.
183
uma moral sem princípios”, e que tudo nessa escola estava ligado ao “positivismo,
socialismo, racionalismo, queremos dizer, atheismo”514.
514
Pela Escola. O Apostolo. Teresina-PI. Ano I, n. 09. 14 de Julho de 1907, p. 04.
515
Piauhy. Jornal do Commercio. Manaus-AM. Ano XV, n. 5034. 1° de Maio de 1918, p. 01.
516
CORREIA; LIMA, 1945, op. cit., p. 209.
517
Escola Gratuita dos Pobres de S. Vicente de Paulo.Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 32. 15 de Janeiro de
1911, p. 02.
518
LEÃO XIII, Papa. Carta Encíclica Rerum Novarum: (Sobre a condição dos operários). 1891, s/p.
184
Assim, a filantropia “é identificada como peculiaridade social local, cujo espírito cristão
preside as iniciativas nesse terreno”519.
519
LAPA, 1996, op. cit., p. 30.
520
Segundo o Livro do Centenário da Parnaíba (1945, p. 209), este “prédio” tratava-se de “umas meias
águas”, que são casas simples, sendo o teto a metade de uma casa comum (de “uma água”).
521
Escola Gratuita dos Pobres de S. Vicente de Paulo. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 32. 15 de Janeiro de
1911, p. 02.
522
Sociedade de S. Vicente de Paulo. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 06. 19 de Julho de 1910, p. 02.
185
523
Gabinete de Boas Leituras em Parnahyba-Piauhy. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 31. 08 de Janeiro de
1911, p. 02.
524
Patria, Sobral-CE. Ano I, n. 15. 03 de Maio de 1910, p. 03.
525
No Piauhy. A União. Rio de Janeiro-RJ. Ano, IV n. 27. 6 de Julho de 1913, p. 02.
526
SILVA, Samara Mendes Araújo. À luz dos valores religiosos: escolas confessionais católicas e a
escolarização das mulheres piauienses (1906 - 1973). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2007, p. 43.
186
527
Collegios em Parnahyba. O Apostolo. Parnaíba-PI. Ano I, n. 01. 19 de Maio de 1907, p. 01.
528
MENDES, 2007, op. cit., p. 94.
529
No Piauhy. A União. Rio de Janeiro-RJ. Ano, IV n. 27. 6 de Julho de 1913, p. 02.
187
530
MENDES, 2007, op. cit., p. 94.
531
QUEIROZ, 2008, op. cit., p. 11.
532
BATALHA, Cláudio. O Movimento operário na Primeira República. Rio de Janeiro: Editora Jorge
Zahar, 2000, p. 15.
533
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. O Ethos mutualista: valores, costumes e festividades. In: BATALHA,
Claudio; MAC CORD, Marcelo (orgs.). Organizar e proteger: trabalhadores, associações e mutualismo no
Brasil (séculos XIX e XX). Campinas: Editora da Unicamp, 2014, p. 197.
534
Escolas. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 04. 01 de Janeiro de 1920, p. 03.
188
535
Porque combatemos o analphabetismo? O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n.04. 01 de Janeiro de 1920, p.
02.
536
Pela arte e pelo ensino II. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n.04. 01 de Janeiro de 1920, p. 02.
537
“União Progressista”. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 03. 05 de Outubro de 1919, p. 01.
538
GONÇALVES, Adelaide. “Uma fábrica de Homens utilizáveis”: sobre a escola e instrução pública para
os pobres no Ceará. In: RIOS, Kênia Sousa; FURTADO FILHO, João Ernani (Org.). Em Tempo: História,
Memória, Educação. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2008, p. 89.
539
As nossas escolas. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. Parnaíba, 07 de Setembro de 1919, p. 02.
540
Escolas. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 07 de Setembro de 1919, p. 01.
541
Escolas. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 07 de Setembro de 1919, p. 01.
189
modernidade, por outro não incidia na prática em requerer subvenção para a melhoria da
remuneração e das melhores condições de trabalho dos professores. Na Escola Noturna
“28 de Setembro”, da União Progressista, localizada no bairro dos Tucuns, o professor
Rogaciano Britto, sem um prédio disponibilizado para as aulas, lecionava em sua
própria residência542.
542
As nossas escolas. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 07 de Setembro de 1919, p. 02.
543
Id., Ibid.
544
As nossas escolas. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 03. 05 de Outubro de 1919, p.03.
545
Escolas. O Artista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 04. 01 de Janeiro de 1920, p. 03.
546
CORREIA; LIMA, 1945, op. cit., p. 174.
190
e de tanta cousa mais”547. Por isso, acreditam que a instrução em Parnaíba no final do
século XIX, e início do século XX, “era uma profissão antes de sacrificio do que
lucrativa, (...) decorrendo disso, indubitavelmente, a curta existência de muitas delas
(...)”548. Não à toa, Humberto de Campos considerava os professores da época como
“Combatentes na cruzada contra a Ignorância”549, observando as grandes dificuldades
vividas, e reproduzindo o pensamento vigente à época, sobre os professores, que se
davam “à profissão pela vocação ou pela necessidade, a retribuição depende, toda, do
aproveitamento dos alunos e da confiança dos pais”550.
547
Id., Ibid.
548
Id., Ibid., p. 175.
549
Id., Ibid., p. 190.
550
CAMPOS, 1982, op. cit., p. 189.
551
CAVALCANTE, Maria Juraci Maia. Escola, Reforma e Modernidade: por onde tem andado e o que tem
achado a História educacional no Ceará. In: CAVALCANTE, Maria Juraci Maia (org.). História e Memória
da Educação no Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2002, p. 31.
552
QUEIROZ, 2008,op. cit., p. 98-99.
191
553
GONÇALVES, 2008, op. cit., p. 85.
192
554
Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 12. 23 de Março de 1901, p. 04.
555
SOIHET, Rachel. Um debate sobre manifestações culturais populares no Brasil dos primeiros anos da
República aos anos 1930. Revista Trajetos. Fortaleza-CE: Universidade Federal do Ceará. Vol. 1, n. 01,
2001, p. 01.
193
sofrimentos dos pobres, retificar sua conduta religiosa, controlar seu tempo ou coibir
supostas degenerações de caráter. Vejamos como se dava a sociabilidade dos pobres,
seus momentos de festa, para compreender melhor as formas de viver a cidade, seus
espaços de convívio, formas de diversão ou resistência.
556
COUTROUT, Aline. Religião e política. In: REMOND. René (org.). Por uma história política. 2. ed. Rio
de Janeiro: Editora FGV, 2003, p. 334.
194
A dança de São Gonçalo tem origem no século XIII, chegando ao Brasil por
intermédio de devotos portugueses que desembarcavam no país. Em Parnaíba, era uma
festa realizada na porta dos cemitérios, pois fundamentada na prática de orações e
promessas feitas às almas do purgatório, “achavam os devotos que era esse o local mais
convincente”559. Após o vigário proibir os rituais de São Gonçalo dentro do cemitério,
as festas continuaram, desta feita, na porta do cemitério. Essa proibição permite pensar
as investidas da Igreja contra as tradições não consentidas no processo de romanização,
e tal combate se dava “em razão das superstições que as envolviam, ou não eram
reconhecidas, ou eram vistas com suspeitas pela Igreja; entre elas, as festas que
possuíam maior autonomia popular”560. O estudo de Rachel Soihet sobre a Festa da
Penha, no Rio de Janeiro, nos permite compreender melhor a reprovação da festa de São
Gonçalo em Parnaíba. Para a historiadora, no início do século XX, a Igreja, “depois de
um período de compromisso e aceitação das formas de participação popular nos festejos
religiosos, em nome do espírito romanizador, passa a uma atitude de oposição ostensiva,
desenvolvento o combate ao “catolismo popular”, exigindo depuração destes eventos,
cerrando fileiras com o poder vigente”561.
557
SANTOS, Giordana. Cultura popular e tradição oral na festa de São Gonçalo Beira Rio. In: V ENECULT -
ENCONTRO DE ESTUDOS MULTIDISCIPLINARES EM CULTURA. Salvador, 2009, p.05.
558
RIBEIRO, Verônica Maria Pereira; NUNES, Maria Cecília Silva de Almeida. Manifestações folclóricas.
In: SANTANA, Raimundo Nonato Monteiro (Org.). Piauí: Formação - Desenvolvimento - Perspectivas.
Teresina: Halley, 1995, p. 348.
559
CAMPOS, 1962, op. cit., p. 204.
560
SOUZA, João Carlos de. O caráter religioso e profano das festas populares: Corumbá, passagem do
século XIX para o XX. Revista Brasileira de História. São Paulo-SP. Vol. 24 n.48, 2004, p. 333.
561
SOIHET, Rachel. Festa da Penha: Resistência e interpretação cultura. In: PEREIRA, Maria Clementina
(org.). Carnavais e outras f(r)estas: Ensaios de História Social da Cultura. Campinas: Editora da
UNICAMP/SECULT, 2002, p. 350.
195
cachos de coco verde, araticuns e atas; mangas e cajus; tudo isso era pendurado ao
arco”562, como prendas para o leilão, cujos valores eram revertidos em oferendas de
missas rezadas às almas do purgatório563. É possível que a coleta desses donativos
facilitasse a solidariedade entre os participantes da dança, que se esforçavam para levar
uma quantidade significativa de ofertas para o leilão, o que significava, para a festa, a
salvação de mais almas.
568
SOIHET, 2002, op. cit., p. 350
569
SOUZA, 2004, op. cit., p.332.
570
GOMES, Paulo Cesar da Costa. Geografia e Modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2011,
p. 29.
571
CAMPOS, Humberto de. Op. cit. 1962, p. 206.
572
PEREIRA, José Carlos. O encantamento da Sexta-feira Santa: manifestações do catolicismo no
folclore brasileiro. São Paulo: Annablume, 2005, p. 265.
197
573
CAMPOS, 1962, op. cit., p. 206-207.
574
MORAIS FILHO, 2002, op. cit., p. 213.
575
DAVIS, Natalie Zemon. Culturas do povo: sociedade e cultura no início da França moderna. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 30.
576
CAMPOS, 1962, op. cit. p. 207.
198
577
Id., Ibid, p. 176-177.
578
KARDEC, Allan. Fora da Caridade não há salvação. In: O Evangelho segundo o Espiritismo. 365. ed.
Araras-SP: Instituto de Difusão Espírita, 2009, p.151.
579
KARDEC, Allan. Não se pode servir a Deus e a Mamon. In: Id., Ibid., p.159.
580
Festas dos espíritas. O Artista. Parnaíba-PI. Ano 01, n. 04. 01 de Janeiro de 1920, p. 02.
581
GEREMECK (1987) apud PEREIRA, Maria da Conceição Meireles. In: Caridade versus Filantropia -
Sentimento e Ideologia a propósito dos Terramotos na Andaluzia (1885). Estudos em Homenagem a
Luís António de Oliveira Ramos. Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004, p. 832.
199
586
CARVALHO, José Murillo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990, p. 10.
587
24 de Janeiro de 1823, rebelião ocorrida em Oeiras para declarar adesão do Piauí à Independência do
país. Seus partidários, aproveitando a ausência das forças militares imperiais, tomaram o palácio do
Governo.
201
588
24 de Janeiro. Nortista. Ano I, n. 04. 24 de Janeiro de 1901, p. 02.
589
Pelo Theatro. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 37. 11 de Setembro de 1901, p. 03.
590
CATROGA, Fernando. Nação, mito e rito: religião civil e comemoracionismo. Fortaleza: Edições
NUDOC/ Museu do Ceará, 2005, p. 154.
202
cotidiano de vida e trabalho do que pela adesão aos signos da comemoração do corpo
simbólico da pátria. É o que se observa durante a inauguração da Estrada de Ferro. No
ano de 1916, uma solenidade pública comemorava a inauguração da Estrada de Ferro
Central do Piauhy; garantindo a ligação direta de Amarração à Piracuruca, a ferrovia era
festejada pelas elites como o cumprimento de uma promessa do progresso econômico
almejado, uma vez facilitado o escoamento e a circulação de mercadorias para o interior
do Estado. Desde a manhã daquele dia 19 de Novembro, Parnaíba “apresentava um ar
vivo, acentuado, de festa. Musica, ornamentação, flores, fortes tons de alegria em todas
as ruas”. Enquanto as famílias abastadas eram conduzidas ao local da inauguração da
locomotiva por carros usados na sua construção, o povo “se acotovelava impaciente e
soffrego”594. Discursaram durante a inauguração Miguel Bacellar, engenheiro-chefe da
Estada de Ferro, o também engenheiro Dr. X. Pacheco, e o Dr. Lima Rebello, advogado,
todos profusamente aplaudidos. Atentos ao protocolo da ocasião o batismo da
Locomotiva - A Piauhyense - requer o estourar do champanhe por seu engenheiro-chefe.
Ato contínuo, os inevitáveis discursos de autocongratulação, pondo em relevo a vitória
do progresso, da técnica, da máquina, sendo a locomotiva e os caminhos de ferro o novo
lugar da redenção econômica e, neste caso, o papel primordial do saber técnico dos
engenheiros.
595
Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 26 de Novembro de 1916, p. 01.
596
Festa no Largo. A Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 02. 26 de Novembro de 1916, p. 03.
597
CARVALHO, 1990, op. cit., pp. 139-140.
205
os ritos cívicos “tinham por principal papel religar os indivíduos entre si, através da
produção de sentimentos de identidade e perseverança”598. No caso específico da
cerimônia de inauguração da Estrada de Ferro e da Festa no Largo, existe ainda a
peculiaridade da dicotomia entre o progresso representado pela ferrovia e o atraso
demonstrado nas festas dos trabalhadores pobres, além de um esforço notável das elites
locais em reduzir as tradições populares a práticas pueris, interpretando-as próximas da
ingenuidade.
A dita Rua dos Negros em si era vista como um lugar de perigo às elites
para além das festas e dos batuques. Ali era a rua onde os subalternos amealhavam
pequenos ganhos, moravam e viviam suas trocas de experiência, sendo assim lugar de
permanente vigilância, pois tudo destoava do estabelecido, desde “as indumentárias dos
negros, os costumes religiosos e os desregramentos da moral e da ordem faziam desses
locais espaços de constante vigilância policial”601. Podemos entender o medo das elites
em relação às festas e batuques dos negros em Teresina (e provavelmente em Parnaíba)
a partir do que era vivenciado em outros lugares. Na Bahia da primeira metade do
século XIX, João José Reis observa que “a festa negra promovia medo e recomendava
598
CATROGA, 2005, op. cit., p. 96.
599
A Legalidade. Teresina-PI. Ano I, n. 44. 20 de Novembro de 1892. p. 04.
600
CHAVES, 1994, op. cit., p. 29.
601
SILVA, Mairton Celestino da. Batuque na rua dos negros: cultura e polícia na Teresina da segunda
metade do século XIX. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2008, p. 122.
206
precaução aos brancos, por ser identificada como domínio exclusivo dos africanos, que
formavam a parte da população escrava e liberta mais rebelde da província” 602. No Rio,
a experiência dos trabalhadores portuários, forjada nas agruras de uma ocupação sazonal
e nas tentativas de conseguir recursos para sobreviver era marcadamente formada pelos
negros, e duramente combatida com base não ideário dos dominantes. Como aborda
Erika Arantes, “o modelo de civilização adotado de cima para baixo representou,
também, através do aparato repressivo legitimado por teorias científicas, a imposição da
vigilância, do controle e da disciplina para toda a população. Nesse conjunto, os negros
pareceram merecer atenção redobrada”603.
602
REIS, João José. Tambores e temores: a festa negra na Bahia da primeira metade do século XIX. In:
Carnavais e outras f(r)estas: Ensaios de História Social da Cultura. Campinas: Editora da
UNICAMP/SECULT, 2002, p. 101.
603
ARANTES, 2009, op. cit., p. 119.
604
Auras do Norte. Parnaíba-PI. Ano I, n. 05. 15 de Junho de 1911, p. 03.
605
Pela policia. Semana. Parnaíba-PI. Ano 2, n. 55. 25 de Junho de 1911, p. 01.
207
local. A denúncia decorria do costume que se ia criando entre os meninos pobres (e não
apenas) em relação aos usos da linha férrea como uma brincadeira. O maquinista
apresenta a reclamação como caso de policia, segundo ele “no sentido de evitar que os
meninos continuem a trepar-se na linha ferrea, propositalmente, ao approximar-se a
locomotiva e só de lá sahirem no ultimo momento”. As crianças pobres, descritas como
“vadios descalços”, iam em grupos para a Estrada de Ferro, onde chegavam a “se
assentarem e até mesmo deitarem sobre os trilhos, (...) com grave perigo de vida”. Mas
não só as crianças faziam isso. Os “vadios calçados”, os “grandes, adultos, homens”
realizavam essas brincadeiras606. Note-se que a base de argumentação reitera o adjetivo
desclassificador: a queixa aponta o dedo aos vadios.
Nosso pai, que era magarefe, chegou certo dia mais cedo do mercado para
recomendar a mim e a meu irmão Antônio uma lavagem caprichada em seu
cavalo de sela. Queria também ração reforçada para um passeio à tarde, que
entendemos tratar-se de “parelhas” com outros cavalos. A irmã Zezé, a mais
velha dos irmãos, piscou para nossa mãe significando que a nossa ida ao rio
era mais um motivo para o banho demorado, tomado diariamente a qualquer
pretexto. Já estávamos montados, por isso não esperamos por decisão em
contrário, que seria levar o “Pedrez” na água do barril enorme, cheio por nós
todos os dias. Cavalo árdego mas obediente a um simples toque de cabresto,
logo saiu trotando com a cauda levantada em direção ao rio, a pouca distância
de nossa casa. Uma interrupção inesperada fez o trote cessar diante do
primeiro piquete de meninos que brincava na beira do rio. Com a algazarra e
o movimento do cerco dos meninos, o “Pedrez” perdeu a paciência e
começou a dar patadas no ar, com risco de atingir os pequenos demônios,
606
Registro da Semana. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 03. 03 de Dezembro de 1916, p. 02.
208
cada vez mais divertidos. Meu irmão e eu saltamos com medo de perigo
maior, embora intimamente participando da diabrura, que só tinha graça em
situação diferente da nossa. Feita a lavagem, com o animal nadando comigo
no lombo, preso pelo cabresto longo nas mãos de meu irmão, voltamos para
casa a pé, para não molharmos o fundo das calças curtas de duas fazendas.
Parece que demoramos demais, porque o pai foi ao nosso encontro com um
cipó grosso de malva... Mas ao anoitecer nosso pai disse que não tinha havido
parelhas com outros animais, e sim com um cavalo de ferro. Diante do nosso
espanto, explicou que naquele dia uma locomotiva chegada para inaugurar o
serviço de estrada de ferro estava experimentando os trilhos, estendidos entre
a Estação e o Porto Salgado, correndo furiosa de um lado para outro, na Rua
Grande. Os cavaleiros, que a princípio ficaram olhando o movimento de
longe, foram aos poucos perdendo o medo do barulho esquisito do bicho de
ferro, até se aproximarem mais confiantes em seus cavalos ainda inquietos. O
pai tinha sido vaqueiro na mocidade, e na descrição feita para nós ao redor da
mesa de jantar deu a entender que a tal locomotiva corria como que
desafiando parelha. Disse que alguns homens montados mais afoitos
emparelharam carreira com o cavalo de ferro, quando este corria de costa,
porque parecia desequilibrado e assim podia atrasar a marcha a qualquer
instante. Mas logo veio o desengano, porque os cavalos cansaram de tanto
correr e no fim da teima nunca alcançaram o demônio de ferro, que apitava
soltava urna fumaça preta de cegar a gente. Fomos nos deitar essa noite
impressionados com o acontecimento. Isso de uma coisa toda de ferro correr
no chão mais do que um cavalo, apitando e espalhando fumaça ardosa por
todos os lados era de fazer medo. Os vapores também apitavam no rio e
soltavam um pouquinho de fumaça, mas nunca se ouviu dizer que pudessem
correr mais do que um cavalo, que era em nosso entender o animal mais
corredor do mundo! Não, parece que o cachorro corria mais, porque o
“Pedrez” desembestou certa vez com seu Anselmo na sela e foi logo
alcançado pelos cachorros, do descampado da Quarenta! Também tinha outro
bicho que talvez corresse até mais do que o cachorro, porque o pai disse
outro dia que o tatu quando perseguido na mata, corria tanto na frente dos
cachorros que o rabo zunia no vento... O sono tinha chegado afinal, mas a
imagem medonha do bicho de ferro, correndo e apitando, soprando fumaça
com fogo por todos os lados, tinha sido até então o medo mais forte que
jamais sentira em minha mente irrequieta607.
607
LIMA, 1987, op. cit., pp. 49-50.
608
DAMATTA, 1990. op. cit. p. 48.
209
atribuindo formas próprias que as diferenciavam mais ainda dos habitantes mais
ricos”609.
O que o jornal não percebe (não quer, ou não pode) é o fato de meninos e
gente adulta do povo, se apropriarem da novidade dos caminhos de ferro como uma
brincadeira perigosa sobre os trilhos da locomotiva. Ora, dos perigos da vida eles
entendiam porque deles são sobreviventes. Ademais, ali estava uma outra forma de
interagir com o novo da locomotiva e do trilho; o “demônio de ferro” parece representar
para os pobres não o “progresso”, no sentido apontado pelas classes possuidoras, mas o
princípio do fim de parte de suas práticas, suplantadas pelo poder da locomotiva que
produzia pânico aos que se recusavam a se curvar ante sua força; por outro lado, criava
condições para novas formas de viver a cidade. Analisamos sob essa perspectiva quando
crianças e adultos pobres brincam perigosamente sobre os trilhos da locomotiva,
mostrando outras formas de interagir com o novo, distantes do que esperava a elite
local, uma vez que “a relação do povo com o progresso, materializado em inúmeras
inovações utilitárias, não se deu de forma passiva e pacífica (...). Cada novidade trazia
em si um susto, um movimento de admiração e também um frêmito de medo”610.
609
SILVA, Camila Melo Silveira da. Pobreza, criminalidade e questões de gênero na “Cidade Verde”.
Revista Temporalidades. Belo Horizonte-MG: Universidade Federal de Minas Gerais. Vol. 7, n. 2, 2015,
p. 55.
610
QUEIROZ, 2008, op. cit., p. 16.
611
Registro da Semana. Semana. Parnaíba-PI. Ano I, n. 03. 03 de Dezembro de 1916, p. 02.
612
SOIHET, 2002, op. cit., p. 334.
210
613
CARVALHO, 2004, op. cit., p. 69.
614
SCOTT, 2011, op. cit., p. 219.
615
GODINHO, 2017, op. cit., p. 20.
616
CHAKRABARTY, Dipesh. História subalterna como pensamento político. In: DIAS, Bruno Peixe; NEVES,
José (orgs.). A política dos muitos - Povo, Classe e Multidão. Lisboa: Tinta-da-China, 2010, p. 292.
211
617
Carnaval. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, s/n .Fevereiro de 1901, p. 03.
618
Carnaval. Nortista. Parnaíba-PI. Ano I, n. 15. 13 de Abril de 1901, p. 02.
619
ARAÚJO (1996) apud FERREIRA, Luiz Felipe. Rio de Janeiro, 1850-1930: A Cidade e seu Carnaval.
Revista Espaço e Cultura. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro. N. 09-10, 2000, p.
12.
212
620
CAMPOS, Humberto de. Reminiscências. São Paulo: Gráfica Editora Brasileira Ltda, 1954, p. 12.
621
KARASCH (1987) apud FERREIRA, 2000, op. cit., p. 12.
622
SCOTT, 2013, op. cit., p. 242.
623
QUEIROZ, 2008, op. cit., p. 82.
624
CAMPOS, 1954, op. cit., p. 12.
625
FERREIRA, 2000, op. cit., p. 12.
626
MORAIS FILHO, 2002, op. cit., p. 120.
627
CAMPOS, 1954, op. cit., p. 13.
213
628
Id., Ibid., p. 14.
629
Id., Ibid.
630
Id., Ibid., p. 15.
631
MORAIS FILHO, 2002, op. cit., p. 116.
632
CAMPOS, 1954, op. cit., p. 15.
633
Id., Ibid., p. 16.
634
Id., Ibid., pp. 16-17.
214
uma calça velha de um dos meus tios, cujas bainhas dobrei como pude. Um
paletó velho, que me vinha quasi aos pés, umas botinas de homem, e um
chapéu de carnaúba, completavam a minha elegância. No rosto, uma feia
máscara, de quatro contos de réis. À mão, um chiqueirador. 636
Fonte: RIO DE JANEIRO. Almanak Laemmert para os anos de 1918-1919. 1918, p. 1667.
637
DAMATTA, 1997, op. cit., p. 62.
638
Id., Ibid., p. 62
639
DOMINGOS, Nuno. Futebol e colonialismo: corpo e cultura popular em Moçambique. Lisboa:
Imprensa de Ciências Sociais, 2012, p. 21.
216
640
STÉDILE, Miguel Enrique. Da fábrica à várzea: clubes de futebol operário em Porto Alegre. Curitiba:
Editora Prismas, 2015, p. 20.
641
LOPES, José Sérgio Leite. Classe, etnicidade e cor na formação do futebol brasileiro. In: BATALHA,
Claudio; SILVA, Fernando Teixeira da; FORTES, Alexandre (orgs.). Culturas de Classe - Identidade e
diversidade na formação do operariado. Campinas-SP: Editora da UNICAMP, 2004, p. 125.
642
LOPES, 2014, op. cit., p. 126.
643
FRYDENBERG, Julio. Historia social del fútbol - Del amateurismo a la profesionalización. Buenos
Aires: Siglo XXI Editores, 2011, p. 25. (tradução nossa)
644
PINTO, Rodrigo Márcio Souza. Do passeio público à ferrovia: o futebol proletário em Fortaleza (1904
- 1945). Fortaleza-CE. Dissertação apresentada para o Programa de Pós-Graduação em História Social da
Universidade Federal do Ceará, 2007, p. 36.
217
645
REBELO, 1984, op. cit., p. 61.
646
Id., Ibid., p. 61.
647
JUNIOR. Leôndidas Freire Silva. Uma consciência de classe do Sul-Global? Trabalhadores,
associativismo e relações de capital e trabalho na periferia do capitalismo (1880-1922). In: ANAIS DO
COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E O MARXISMO 2017 DE O CAPITAL À REVOLUÇÃO DE OUTUBRO
(1867 - 1917). Niterói-RJ, Agosto de 2017, p. 03.
648
NUNES; ABREU, op. cit., 1995, p.99.
218
Trabalhar nas águas significava ter mobilidade geográfica e contato com uma
grande diversidade de pessoas, o que ampliava experiências e gerava
autoconfiança. Independentemente dos tipos de embarcação em que
navegavam, de quantos homens formavam cada tripulação e do tamanho da
carga que transportavam, esses homens estabeleciam elos de comunicação
que não eram esquecidos com facilidade 649.
649
GRAHAM, op. cit., 2013, p. 146.
650
MAIA NETO, Vicente Moreira. Futebol, imprensa e cidade: o processo de especialização da crônica
esportiva em Fortaleza (1921-1930). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
História Social da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2014, p. 14.
651
NASCIMENTO, Parnaíba, terra do futebol. Fortaleza: Premius, 2013, p. 39.
652
SEVERINO FILHO. 100 anos de futebol. Teresina: Halley, 2005, p. 23.
219
653
F.A.C. em Parnahiba. Pacotilha. São Luís-MA. Ano XL, n. 246. 18 de Outubro de 1920, p. 02.
654
De tudo. O Jornal. São Luís-MA. Ano II, n. 486. 01 de Julho de 1916, p. 01
655
BRITO, José de Paulo. Memórias urbanas: uma viagem ao passado do futebol em Parnaíba, 1898-
2000. Parnaíba: Circulando Comunicação Visual e Gráfica. 2013, p. 27.
656
REBELO, 1984, op. cit., p. 61.
220
Supões tu que são 15 horas e que é essa a hora marcada para o treino diario.
Chega-se O empregado ao dono da caza e fala lhe muito naturalmente: -
Patrão eu vou trenar, com muito mais naturalidade do que dizes ao teu patrão:
vou almoçar. E sai dali direitinho para o campo do JOGO, sem esperar pela
resposta que ele sabe favoravel659.
657
BOURDIEU (1980) apud LOPES, 2004, op. cit., p. 131.
658
LOPES, 2004, op. cit., p. 139.
659
De tudo. O Jornal. São Luís-MA. Ano II, n. 486. 01 de Julho de 1916, p. 01.
660
CIOCCARI, Marta. Mina de jogadores: o futebol operário e a construção da “pequena honra”.
Cadernos AEL. Campinas: Arquivo Edgard Leuenroth (UNICAMP). Vol 16, n. 28, 2010, passim.
221
Por outro lado, considerar como total o controle das relações econômicas
“significa a exclusão da possibilidade de ação autônoma dos sujeitos”, como indica
Miguel Stédile661. Assim, percebendo que a vida e as relações sociais não são meras
determinações e reproduções das condições materiais das forças produtivas de um dado
momento histórico, é possível pensar que as experiências produzidas no tempo de não-
trabalho para os trabalhadores do comércio em Parnaíba podem ser também
emancipatórias ou marginais aos projetos idealizados de cima para baixo. Dessa forma,
podemos entender o futebol em um “movimento a partir da relação entre os muitos
sujeitos nele envolvidos”662.
661
STÉDILE, 2015, op. cit., p. 28-29.
662
PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania - Uma história social do futebol no Rio de
Janeiro (1902-1938). Tese apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 1998, p. 05.
663
REBELO, 1984, op. cit., p. 62.
664
BRITO, 2013, op. cit., p. 29.
222
Tinha todas as comodidades para seus jogadores, além de outras tantas para
os clubes visitantes. Possuía sistema privativo de água encanada, com uma
caixa d’água para muitos litros, que era enchida por força de um catavento.
Banheiros com chuveiros, vasos sanitários de louça inglesa (...) fossa,
dormitório, refeitório para os dias de concentração (uso de rede para dormir),
somente aos sábados, véspera dos jogos do campeonato local, realizados em
turno e returno665.
665
REBELO, 1984, op. cit., p. 63.
666
F.A.C. em Parnahiba. Pacotilha. São Luís-MA. Ano XL, n. 245. 16 de Outubro de 1920, p. 01.
667
REBELO, 1984, op. cit., p. 63.
668
LOPES, 2004, op. cit., p. 129.
223
669
FRYDENBERG, Julio. Os bairros e o futebol na cidade de Buenos Aires de 1930. Cadernos AEL.
Campinas-SP: Arquivo Edgard Leuenroth (UNICAMP). Vol 16, n.28, 2010, p. 188.
670
Do Maranhão. Vida Sportiva. Rio de Janeiro-RJ. Ano IV, n. 173. 18 de Dezembro de 1920, p. 07.
671
O FAC na Parnahiba. O Jornal. São Luís-MA. Ano VI, n. 1814. 26 de Outubro de 1920, p. 01.
672
FRYDENBERG, 2010, op. cit., p. 188.
224
Fonte: RIO DE JANEIRO. Vida Sportiva. Rio de Janeiro-RJ. Ano IV, n. 171. 04 de Dezembro de 1920, p. 14.
A imagem acima propicia uma vista sobre a dimensão parcial dos estádios à
época. Em primeiro plano, se vê a Arquibancada do International, com cobertura e
assento para os espectadores, e ao rés do chão a Geral, onde o valor mais baixo dos
ingressos concentrava os trabalhadores pobres, aqueles a quem a crônica do período
escuta a forma barulhenta e ruidosa de expressar sua torcida. Ademais, sua frequência
aos jogos, quando sobrava algum dinheiro, animava a formação de seus times para o
jogo de bola nos arrabaldes da cidade.
Sport Club; Piauhy Sport Club; Guarany Foot-Ball Club; Corôa Foot-Ball Club”673. Os
nomes dos times são sugestivos, pois demarcam uma territorialidade, como o “Tucuns
Sport Club”, “Piauhy Sport Club”, o “Corôa Sport Club” e o “Parnahyba”; ou uma
ocupação laboral, como o “Artístico Foot-ball Club”. Assim, percebemos que os
aspectos de “classe, nação e localidade são as três formas fundamentais de relação de
identidade entre torcedores e clube. Ou seja, em torno delas e dos valores que emanam
se constituem as relações identitárias entre torcedor e o clube”674. Diante disso,
percebemos certa similaridade entre a situação vivida na Parnaíba do início do século
XX e a de São Miguel Paulista de meados do mesmo século, onde a prática do futebol
nas vilas e nas ruas proporcionava certa autonomia , uma vez que “a criação de novos
times por grupos informais que se organizavam para o jogo em suas vilas e ruas abria
um espaço de autonomia em relação à gestão e controle da empresa e de outras
instituições empresariais que procuravam influir no lazer operário”675.
673
Almanak Laemert para o ano de 1921. 1920, pp. 3910-3911.
674
GIULIANOTTI (2002) apud STÉDILE, 2015, op. cit., p. 55.
675
FONTES, 2008, op. cit., p. 147.
676
LOPES, 2004, op. cit., p. 129.
226
campo da Ilha (Ilha Grande de Santa Isabel), campo do Cruzeiro (em frente
ao cemitério da Igualdade) e vários outros677.
677
NASCIMENTO, 2013, op. cit., pp. 28-29.
227
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
678
LIMA, 1987, op. cit., p. 16.
679
Ver: BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de História. In: Obras Escolhidas. Vol. I, São Paulo:
Brasiliense, 1985.
228
Alvos constantes das epidemias, assolados pelas doenças dos pobres e pela
autoridade sanitária que os queria longe, havia um limite, pois a doença maligna não
podia se espalhar na direção da outra cidade. Neste caso, eram tangidos à força ao
Lazareto e outros lugares muito distantes de tudo, condenados seus corpos ao
isolamento social, à internação. Havia resistência; se negavam ao trato forçado da
doença, suspeitavam dos efeitos da vacina e recorriam aos tratamentos e às curas
aprendidos do saber guardado e repartido pelos mais velhos. Contra a vacina e outros
“milagrosos” preparados de laboratório e anunciados nos Almanaques, reagiam com o
uso das ervas, das plantas que curam e até mesmo dos amuletos, das mandingas e da
reza forte, pois o que mais havia era o mau olhado e para este, só reza! Os que
sobreviviam levavam nos corpos a marca das moléstias, e muitos eram dados como
incapacitados ao trabalho, quando se juntavam à legião de aleijados, cegos, indigentes e
mendigos, expostos à (falta de) caridade e à repulsa.
Parnaíba é, então, um estranho entre as estruturas que ele mesmo ergueu como mão de
obra; um construtor daquilo que era projetado para a destruição de seu modo de vida.
Não é tão recente o fato de que os filhos, netos e bisnetos daqueles que
supostamente ergueram os pilares do progresso em Parnaíba se referirem àquele período
como “era de ouro”. Sem atentar às lógicas internas ao desenvolvimento do capital em
escala global, olham em retrospecto e enxergam um declínio da indústria, do comércio,
das estruturas projetadas para a vida urbana, e traduzem a cidade como a “Parnaíba do
já teve”. No percurso da pesquisa, a rede de contatos que se foi estabelecendo, as visitas
e o conhecimento dos Acervos Particulares ou de Instituições Públicas contribuíram e
muito para um grande aprendizado sobre as diversas narrativas do passado, sua
intencionalidade, suas interdições. As traças e os cupins encontrados em muitos
documentos, o descaso em vários arquivos, a dificuldade de acesso a determinados
acervos privados, a recusa em compartilhar um viés da história das famílias abastadas,
por certo dificultaram a caminhada da pesquisa, mas não desanimamos, e sim nos
fortalecemos ante à perspectiva da História Social, animados pelo compromisso em
buscar nas fontes estes silêncios ensurdecedores sobre a História da gente comum, dos
simples, dos pobres, dos trabalhadores, homens, mulheres, crianças, e a legião dos mais
recusados – aleijados, doentes, flagelados, retirantes, cegos, mendigos, prostitutas.
Compreendemos junto de Linebaugh e Rediker que tal apagamento se deve, também, “à
violência da abstração com que a história é escrita, à severidade da história que há muito
tem sido cativa do Estado-nação, que em muitos estudos continua sendo moldura de
análise largamente incrontroversa”680.
682
LONDON, 2004, op. cit., p. 103.
683
CAMPOS, 1982, op. cit., p. 305.
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