O documento descreve a origem e características das primeiras construções religiosas no Brasil pelos frades franciscanos. Os frades adaptaram suas construções aos meios naturais locais de forma simples e funcional. Quadros do século XVII mostram essas primeiras igrejas franciscanas se integrando harmoniosamente à paisagem brasileira com traços simples e orgânicos. Tais características acabaram influenciando a arquitetura portuguesa e brasileira posterior.
O documento descreve a origem e características das primeiras construções religiosas no Brasil pelos frades franciscanos. Os frades adaptaram suas construções aos meios naturais locais de forma simples e funcional. Quadros do século XVII mostram essas primeiras igrejas franciscanas se integrando harmoniosamente à paisagem brasileira com traços simples e orgânicos. Tais características acabaram influenciando a arquitetura portuguesa e brasileira posterior.
O documento descreve a origem e características das primeiras construções religiosas no Brasil pelos frades franciscanos. Os frades adaptaram suas construções aos meios naturais locais de forma simples e funcional. Quadros do século XVII mostram essas primeiras igrejas franciscanas se integrando harmoniosamente à paisagem brasileira com traços simples e orgânicos. Tais características acabaram influenciando a arquitetura portuguesa e brasileira posterior.
O documento descreve a origem e características das primeiras construções religiosas no Brasil pelos frades franciscanos. Os frades adaptaram suas construções aos meios naturais locais de forma simples e funcional. Quadros do século XVII mostram essas primeiras igrejas franciscanas se integrando harmoniosamente à paisagem brasileira com traços simples e orgânicos. Tais características acabaram influenciando a arquitetura portuguesa e brasileira posterior.
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ORIGENS E PREDICADOS
Glauco Campello, in O Brilho da Simplicidade
No final de abril de 1500, quando os marinheiros de Pedro Álvares Cabral e os frades de
frei Henrique de Coimbra, ajudados pelos índios, armaram uma grande cruz com a madeira da mata local e prepararam o cenário para a Primeira Missa em terra firme, estavam compondo um ambiente adaptado ao meio natural e organizando um espaço para o atendimento de funções práticas e simbólicas. Isso não era senão um cenário arquitetônico improvisado: a configuração de um recinto religioso. Os frades franciscanos, que no dizer de Gilberto Freyre madrugaram nos trópicos, foram portanto os mentores desse primeiro cenário montado no Brasil para assinalar um momento solene, de manifestação do poder terreno e espiritual. E se dispuseram a fazê- lo com meios simples, ajustando-se às circunstâncias. Logo a seguir, em vários pontos do litoral brasileiro, começaram as ações isoladas dos missionários da Ordem dos Frades Menores. Não só frades portugueses, também espanhóis e italianos. Há notícias desses missionários franciscanos por estas bandas, desde 1503. Sabe-se de alguns que foram trucidados pelos índios e são hoje rememorados como protomártires do Evangelho. Entre eles os que construíram em Porto Seguro, parece que em 1516, a primeira igreja do Brasil, de taipa de pilão e cobertura de palha. O certo é que ao chegarem a Salvador, em 1549, na armada de Tomé de Sousa, os jesuítas já encontraram muito trabalho feito no Brasil pelos incansáveis franciscanos. O padre Manuel da Nóbrega foi o primeiro a reconhecer isso. Das primeiras construções improvisadas durante o trabalho pioneiro dos missionários, nada se guardou. E no entanto aquela primeira igreja de Porto Seguro, já com um campanário de alvenaria e coberta de telhas, estava sendo usada por volta de 1730; algumas de suas paredes ainda estavam de pé em 1940, mas dela, hoje, só restam os vestígios de sua fundação. O primeiro convento fundado pelos frades menores foi o de Nossa Senhora das Neves de Olinda, em 1585, após a criação, em Pernambuco, de uma custódia submetida à província de Santo Antônio dos Currais, em Portugal. A partir de então, muitas igrejas e conventos foram construídos pelos frades seráficos, sobretudo no Nordeste.
Primeira Missa no Brasil (Victor Meirelles – 1861)
Nada restou da feição original dessas primitivas construções. Mas podemos ver algumas delas, tal como eram na primeira metade do século XVII, nos quadros de Franz Post. Ninguém dirá que a iconografia criada pelo pintor de Nassau - que produziu muitas de suas telas já de volta à Holanda com base em anotações cuidadosamente preparadas durante a sua estada nos trópicos - não seja até enriquecida pela memória e o afeto. O que faz de suas pinturas uma representação importante não só do ponto de vista documental, mas também do ponto de vista da figuração sensível de um ambiente natural e social. Suas vistas panorâmicas de vilas e pequenos aglomerados embebidos na paisagem do Nordeste brasileiro, captadas por um europeu de formação renascentista, dizem-nos alguma coisa mais do que diria um frio documento de época. Assim como a reconstituição do cenário da Primeira Missa, segundo a visão de Victor Meirelles, um pintor do romantismo, que construiu a sua composição no final do século XIX de acordo com modelos da pintura européia, toca o nosso imaginário como uma verdade já consagrada, uma versão com a qual compactuamos. Somos levados pelo olhar afetuoso do artista a absorver a cena imaginada como a transcrição de um testemunho real. Nos quadros de Franz Post, onde o foco da atenção está sempre à distância, as construções franciscanas não aparecem em primeiro plano. Elas fazem parte, quase anônimas, dos conjuntos de edificações dispersas na paisagem ou aglomeradas diante de um longínquo horizonte. Mesmo isoladas, como em alguns casos, elas são parte de uma composição cujo tema predominante continua a ser a paisagem. Dispostas assim, ao lado de outras edificações - formando aqueles conjuntos homogêneos, quase uniformes, das construções brasileiras do começo do século XVII -, elas não são reconhecidas à primeira vista, e um olhar desatento não as distingue das outras igrejas. Mas na medida em que ficamos sabendo de suas características peculiares - o bloco singelo da nave com o frontão triangular, o alpendre, o terreiro frontal e, ao lado da igreja, o campanário recuado e as alas conventuais em torno do pátio quadrangular -, a presença desses primeiros conventos salta à vista quando examinamos um quadro do pintor holandês. As suas imagens são do período posterior à invasão e ao incêndio de Olinda. e mesmo que algumas dessas construções estejam sendo mostradas ainda incompletas ou danificadas pelo fogo ateado, as reconhecemos.
Paisagem brasileira (Franz Post – 1664)
Não é quase nada o que distingue essas construções franciscanas de todas as demais, sobretudo das outras igrejas dos jesuítas e carmelitas, que também aparecem nessas pinturas, com seus frontões triangulares e suas portadas maneiristas, abrindo diretamente para a rua. Mas na obra pictórica de Franz Post, sobretudo naquela produzida após o seu retorno à Holanda, a partir de anotações e amparadas por uma memória afetiva, essas construções tipicamente franciscanas aparecem até em lugares onde não é possível comprovar a sua existência. Numa de suas telas vê-se a igreja de um convento franciscano não-identificado com alpendre mais alto, de elegantes colunas toscanas, cuja fachada é idêntica à de uma capela ao lado da casa-grande de engenho, representada em outra obra, sendo aí as colunas do pórtico ainda mais cuidadosamente elaboradas, em contraste com a construção quase rústica da casa senhorial. Sabemos que o alpendre frontal era freqüente nas capelas rurais e nas igrejas daquele período, e sabemos também que as capelas anexas às casas-grandes de engenho eram muitas vezes fervorosamente cuidadas com um tratamento arquitetônico especial. Contudo é irresistível imaginar que na rememoração de certas tipologias a que se afeiçoara, o pintor holandês repetisse mais freqüentemente, ou em situações especiais, as características peculiares das construções franciscanas. Na verdade, essas características estavam presentes em grande parte das construções daqueles conjuntos homogêneos dos princípios do século XVII. Sua unidade visual decorria justamente da repetição de um mesmo vocabulário singelo: as paredes quase cegas, com janelas retangulares pequenas e espaçadas; o corpo mais alto das igrejas com seu frontão triangular e seus portais de pedra; o alpendre ou copiar; o telhado de duas ou quatro águas com grandes beirais. Esses poucos elementos davam àquelas construções portuguesas nos trópicos, de arraigada tradição popular, salvo esta ou aquela igreja jesuítica ou carmelita, ou até franciscana - com seus cunhais e cimalhas de arenito e suas portadas entalhadas um aspecto quase uniforme de simplicidade terrena, expressividade direta e afinidade com o ambiente natural. Mas os conventos franciscanos reuniam essas características em conjuntos harmoniosos e integrados à paisagem de forma mais orgânica. Ao acolher, explicitamente, aquele vocabulário de extração popular, trazido do Reino ou aqui hibridamente implementado, suas edificações impregnavam-se de atributos poéticos cujo mistério era uma afinidade mais espontânea com a terra e a gente da terra. Tais atributos vistos aí em seu estado bruto, inicial, tinham portanto a sua raiz histórica na tradição portuguesa - na sua arquitetura popular aderente ao ambiente natural e aos condicionamentos locais, na economia de meios e na simplicidade pragmática de suas construções, mesmo aquelas de extração erudita, aferradas à permanência do gosto e modos de fazer. A adequação desses predicados ao desenvolvimento das construções na Colônia devia-se não somente à inevitável continuidade daquela tradição, mas também à maleabilidade com que elas adaptaram-se a um novo meio e a novas influências, numa acomodação espontânea, sem artificialidades. Em sua evolução, e também em sua constância, esses predicados vieram a se constituir numa característica inerente a boa parte da arquitetura realizada no período colonial, que ao adaptar-se às condições climáticas e acolher influências étnicas e culturais híbridas não perdeu aquelas qualidades de simplicidade, de concisão e de expressividade terrena, chã, de sentido ecológico. Isso veio a se configurar como uma vertente, ou como um valor subjacente, de algum modo presente em toda a arquitetura luso-brasileira e mesmo, a seguir, na arquitetura exclusivamente brasileira. Como sabemos, o grande impulso dado à arquitetura feita no Brasil, nos primeiros séculos, deveu-se aos programas de construções das ordens religiosas. Entre elas, foi a Ordem franciscana a que mais se manteve próxima dessa vertente, transformando aqueles atributos em virtudes singelas, de sentido poético, que eram também inerentes à sua visão de mundo e até às próprias regras da ordem. Até meados do século XVII o programa de construções dos franciscanos já se estendia por todo o litoral. Sua maior concentração era na região Nordeste, com destaque para os conventos de Salvador, Recife, Paraíba, Igaraçu, Ipojuca e Olinda, o primeiro a ser construído. Mas fora dessa área já se haviam instalado, entre outros, os conventos do Rio de Janeiro, de São Paulo e, numa implantação tipicamente medieval tipicamente franciscana, o convento da Penha, no Espírito Santo, encastelado no alto de um rochedo. Em todas essas construções, os predicados da simplicidade e da afinidade com o meio ambiente estavam presentes e foram depois se adaptando e desenvolvendo-se de acordo com novas solicitações novas circunstâncias históricas e novos estilos, sem contudo se afastarem do apego à beleza terrena, específica de cada lugar, que os franciscanos cultivavam. Esse programa arrefeceu em muitos pontos no período de recessão correspondente ao domínio espanhol e, no Nordeste, chegou a parar completamente, sendo alguns conventos abandonados com a invasão dos holandeses. Mas a partir de 1665, após a Restauração e a expulsão dos flamengos, um áureo período de obras desenvolveu-se, até o final do século XVIII. Nessa fase, marcada pela descoberta do ouro que provocou grande mobilidade da população, efervescência social, prosperidade econômica e uma "explosão do barroco", os franciscanos desenvolveram, no Nordeste, longe das áreas de mineração e fora da influência mais direta da Metrópole, um programa de reconstruções e novas construções que surpreende pela originalidade. Essa originalidade decorria de muitos fatores. Entre eles, o desejo de criar uma imagem nova para os conventos, justificada pela conquista recente da independência da província de Santo Antônio, em Portugal, com a criação de uma custódia no Brasil, com sede no Recife. Mas, certamente, a fidelidade àqueles predicados desde sempre cultivados pelos frades seráficos de cultura hispânica, a sua atitude maleável diante de novas circunstâncias, a sua doce inclinação a assimilar influências étnicas e culturais, de extração erudita e popular, o seu gosto pela experimentação, mantendo oficinas de artífices para execução das obras, tiveram um peso ainda maior na configuração dessas obras. Elas assinalaram o desenvolvimento de uma tipologia inconfundível e de uma morfologia aderente ao ambiente natural e, em todos os sentidos, fruto também do meio social em que foram realizadas. Eram por isso inéditas no mundo luso-tropical daquela época. Entre essas obras realizadas pelos franciscanos no Nordeste, a igreja de São Francisco do convento de Salvador é uma exceção, por fugir um tanto a essa tipologia. A razão principal dessa excepcionalidade foi a sua localização na cidade que era um importante centro da Colônia, em contato direto e permanente com a Metrópole. A igreja de São Francisco é do mesmo período em que surgiram as igrejas monumentais da Bahia. É uma igreja com nave ampla, provida de capelas laterais com duas torres na fachada e um pequeno frontão ladeado por belas volutas. Situada a uma certa distância, mas vis- à-vis com a igreja do Colégio Jesuítico, no mesmo espaço urbano por elas definido, com esta, inevitavelmente, rivalizava. Por todos esses motivos, seu interior é inteiramente recoberto por deslumbrante talha dourada e pinturas, cuja inspiração é a igreja de São Francisco, no Porto. Mas as igrejas de outros conventos franciscanos erigidos no Nordeste, fora do centro dominante da Colônia, guardam integralmente os predicados dessa simplicidade poética peculiar às construções da ordem quanto a uma grande parte da arquitetura feita no Brasil, independentemente dos programas monumentais, do desejo de criar uma cenografia barroca em correspondência aos anseios daquela sociedade e até da evolução dos estilos. E por outro lado, a atitude dos frades seráficos, fundamentada em sua tradição religiosa e filosófica, de místico respeito à natureza e às manifestações vivas da natureza, na forma de louvar a Deus através do amor pelos objetos de sua criação - que se manifestava na assimilação de novos meios e de novas influências étnicas - levou à construção de conjuntos organicamente articulados e naturalmente integrados ao ambiente, onde a complexidade e, em muitos casos, as fases diferentes da obra não afetavam o seu caráter unitário. Isso permitiu além do mais que nesses conjuntos se fosse definindo uma tipologia original, específica e inconfundível, sob o predomínio desses predicados. Os dois exemplos mais expressivos dessa tipologia são os conventos do Paraguaçu, na Bahia, realizado no século XVII, e o convento de João Pessoa, na Paraíba, cuja fundação é de 1189 e cuja reconstrução, já na fase de pleno desenvolvimento dessa tipologia, começou a partir de 1701, sendo a sua fachada concluída quando predominava a influência do rococó.
A “GLORIFICAÇÃO DOS SANTOS FRANCISCANOS” DO
CONVENTO DE SANTO ANTÔNIO DA PARAÍBA:
ALGUMAS QUESTÕES SOBRE PINTURA,
ALEGORIA BARROCA E PRODUÇÃO ARTÍSTICA
NO PERÍODO COLONIAL, de Carla Mary da Silva Oliveira