O documento discute a arte sacra brasileira no século XVI, destacando a Igreja de São Cosme e Damião em Igaraçu como obra-prima do período. Também aborda as origens da estruturação do espaço sacro católico e influências portuguesas na arte sacra brasileira, como mesquitas convertidas e técnicas construtivas trazidas de Portugal.
O documento discute a arte sacra brasileira no século XVI, destacando a Igreja de São Cosme e Damião em Igaraçu como obra-prima do período. Também aborda as origens da estruturação do espaço sacro católico e influências portuguesas na arte sacra brasileira, como mesquitas convertidas e técnicas construtivas trazidas de Portugal.
Descrição original:
Curso da Arte Sacra Brasileira do século XVI em diante
O documento discute a arte sacra brasileira no século XVI, destacando a Igreja de São Cosme e Damião em Igaraçu como obra-prima do período. Também aborda as origens da estruturação do espaço sacro católico e influências portuguesas na arte sacra brasileira, como mesquitas convertidas e técnicas construtivas trazidas de Portugal.
O documento discute a arte sacra brasileira no século XVI, destacando a Igreja de São Cosme e Damião em Igaraçu como obra-prima do período. Também aborda as origens da estruturação do espaço sacro católico e influências portuguesas na arte sacra brasileira, como mesquitas convertidas e técnicas construtivas trazidas de Portugal.
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ARTE SACRA BRASILEIRA
ARQUIDIOCESE DE LIMEIRA - 2021
AULA 1 – SÉCULO XVI - PROF. MARCOS TOGNON
Obra-prima do século: Igreja de São Cosme e Damião em Igaraçu - PE. Descrição - dois nichos maneiristas, com pilastras toscanas encerrando um pórtico monumental, a concha divina colocada como pano de fundo, as figuras ostentam vestimentas que à época poderiam remeter a professor universitário ou a médico, o que pela iconografia católica faz referência aos irmãos gêmeos da Egeia, que nasceram no final do séc. III, S. Cosme e Damião. Seu culto teve grande disseminação a partir da Espanha, sendo invocados pelo martírio que sofreram (sob o imperador Diocleciano – 302/304) e pela abnegação em exercer a Medicina gratuitamente (maneira de destacar que o cristianismo era benevolente com os pobres). A imagem mostram que a arte sacra católica era rica e dominante enquanto produção artística figurativa durante todo o período colonial brasileiro, fonte de imagem e informação visual prioritária para os habitantes do Brasil colônia, que povoava figurativamente o consciente e o inconsciente de todas esses brasileiros e estrangeiros aqui localizados. Essa Igreja foi uma das primeiras edificações do Brasil colônia a ser erigida para este fim, de abrigar uma Matriz, e passou por uma série de modificações nos séculos XVII, XIX e XX, até que foi totalmente restaurada e restituída ao mais próximo possível do seu original. Já trouxe a configuração conhecida do culto católico, mesmo tendo sido construída antes do Concílio Tridentino *. É uma das mais representativas do que foi a construção de templos católicos em Portugal durante a Idade Média e no período inicial do Renascimento: escolha da alvenaria de pedra para as paredes principais, as obras também em pedra de cantaria guarnecendo os umbrais, verga e peitoril das janelas, a portada, as pilastras e as próprias imagens colocadas nos nichos. Na parte de cima, alguns elementos de origem islâmica, também trazidos pelos portugueses depois da ocupação pelas civilizações do norte da África: logo, as obras de arte sacra do período não têm uma única matriz, mas são o amálgama de diversas influências. A igreja está retratada nos quadros de vários pintores holandeses que fizeram a ocupação daquela região de Pernambuco, como Franz Post, e que fizeram registros da região a mando de Mauricio de Nassau. Entretanto, uma vez que muitas dessas obras foram feitas entre os anos de 1650/65, quando os pintores já não estavam mais no Brasil, não se pode aceitar a representação como um retrato absoluto da realidade da época. O que é arte sacra católica? Uma arte da comunicação, que estrutura um diálogo extremamente importante, e que se faz por aspectos visuais. Isto vem da arte de matriz católica desde os seus primórdios, que por sua vez traz essa característica da arte judaica. No século XVI surge um movimento dentro da própria Igreja que contesta esse princípio de “arte da comunicação”, e de destaque para a vida dos santos, pessoas agraciadas que demonstram a sua fé através de suas atitudes e de sacrifício, e que se tornam temas importantes não só para um culto específico, mas também por significar visualmente os valores defendidos pela instituição. Qual é a origem da estruturação do espaço sacro católico? Existem três origens culturais que ao longo do tempo foram se sincretizando na construção desse espaço: o espaço da sinagoga judaica (sobretudo de estudo, culto e leitura das Escrituras); a basílica da magistratura romana (espécie de tribunal aberto onde os vários juízes e promotores de Justiça se reuniam para decidir sobre as situações da vida cotidiana, onde se exercia o direito romano); os templos de devoção construídos a partir do Império romano (especialmente após o governo de Augusto Otaviano). Das sinagogas, onde havia espaço bem delimitado para os componentes sagrados, a arca e a torá, vem para a matriz católica uma especificidade do espaço que não está na realidade cotidiana: é uma materialidade singular, que se desdobra em elementos de culto, como imagens, altar, etc. . Das basílicas romanas vem a organização espacial, que dirige o fluxo ao trono do imperador, no centro, que ele ocuparia caso estivesse presente às sessões de debate e julgamento; na sua ausência, a cadeira poderia estar lá, vazia: destaque para o principal celebrante, no caso de Roma da justiça. Do templo imperial de culto vem a estruturação arquitetônica hierárquica, um percurso ascensional bem claro para fora do espaço da vida cotidiana: expectativa misteriosa do que seria encontrado no seu interior. Exemplos históricos dessas construções: 1) a sinagoga de Magdala (Israel), que o Jesus histórico teria frequentado, com as arquibancadas bem delimitadas onde se reunia a audiência, as canaletas onde corria água para a lavagem dos pés, a Tebá (mesa com o candelabro judaico inscrita – rara). 2) a basílica de Maxêncio, em Roma, frequentada pelos imperadores, com os salões laterais para as audiências com os tribunos, e o espaço central onde se destacava o trono do imperador. A arquitetura é grandiosa, eloquente, de abóbadas, com uma abside onde ficaria o trono; nas basílicas de cidades menores, onde não havia perspectiva da presença do imperador, fazia-se uma escultura dele, sentado em uma cadeira, como símbolo para todas as decisões jurídicas que aconteceriam no interior da construção. 3) Maison Carré, em Nice, um dos raros templos do séc. II que não foram arruinados. Trata-se de um templo díptero, com as colunas de ordem coríntia e frontão, com a escada que sobe até o pórtico, dando acesso à cela onde as pessoas autorizadas poderiam adentrar e depositar a sua oferenda. Do exposto, se conclui que ao longo dos séculos foi-se formando uma cultura da construção dos espaços sacros, que se consolida e se diferencia do das outras religiões monoteístas que se estruturaram. A Igreja católica foi-se tornando um elemento cultural, não apenas religioso, para a estruturação das políticas das casas reinantes das nações europeias que se estabeleceram até o século XVI. Em 1502, Alberto Cantino, português que teria sido clandestino na esquadra de Cabral, desenha um mapa do que seria o mundo conhecido à época, um mundo católico, dominado pela Europa (que ocupa um lugar central na representação), com a África e a Índia já presentes e a costa brasileira delimitada ao que se explorou naquela primeira viagem – até a costa do Rio de Janeiro, aproximadamente. Ele demonstra os feitos portugueses e espanhóis e se destinava a um nobre italiano. Em 1519, temos outro mapa importante, um Atlas Náutico português, com quase 250 localidades estabelecidas entre o Maranhão e a Bacia Cisplatina, o que demonstra a importância e a profundidade do trabalho de ocupação português no litoral em apenas 20 anos. Se houve a construção de igrejas à época, as mesmas devem ter sido arruinadas, pois nada sobrou. Resta como o mais antigo o de Igaraçu, anteriormente mencionado. É nessa parte litorânea que estarão concentradas as manifestações de arte sacra conhecidas do século XVI, portanto. Muitos desses passaram por restaurações, e mais que isto por atualizações estilísticas, assim como também ocorrem destruições por deslocamento da população, quando as primeiras edificações são simplesmente abandonadas. A grande instrução que as ordens monásticas recebem ao vir para o Brasil são para a construção de conventos, que lhes proporcionassem uma instalação segura e funcional, além de espaço de culto, dando possibilidade de contato com os grupos nativos. Destacam-se os jesuítas, os franciscanos, os beneditinos, os jesuítas, os carmelitas – ordens primeiras. São pontos de referência na abertura de ocupações que avançam do litoral norte-nordeste para o sul-sudeste, e posteriormente para o interior. É uma estratégias progressiva, por rede, que não constroem relações entre si, onde os mais avançados são os jesuítas, que ocupam até a linha do Tratado de Tordesilhas. Precedentes portugueses: além das primeiras construções efetivamente católicas, a ocupação pelos muçulmanos deixou uma série de mesquitas que foram posteriormente ocupadas para culto cristão. É um ato simbólico da coroa portuguesa quanto à reaquisição do território. Ex.: 1) Catedral de Idanha-a-Velha, hoje desconsagrada e abandonada; 2) Catedral de N.Sra. Rocha, em Porches. Os elementos cerâmicos curvos são introduzidos em Portugal sobretudo pelas civilizações islâmicas, usados para a cobertura (telhas) e decorações no frontão principal. 3) Igreja de N.Sra. Anunciação em Mértula, que mantém quase todas as características de mesquita, como nas ornamentações geométricas para o acabamento vertical (coruchéis), a torre sineira construída na estrutura que era usada para o chamamento das orações. Há a abertura de entrada na fachada (nas mesquitas são laterais). 4) Mosteiro dos Jerônimos: demonstra todo o conhecimento técnico na construção das abóbadas nervuradas em cantaria pelos mestres portugueses, em clara referência ao estilo gótico que ocorria em outros países da Europa naquele momento, inclusive na Inglaterra, com quem Portugal sempre teve fortes laços comerciais. O mesmo formato se encontra em outras cidades, como Leiria. Isso demonstra que não havia essas grandes construções no Brasil por opção, não por falta de competência técnica. 5) Soluções como as adotadas nas colônias portuguesas do Oriente, como a Igreja de São Paulo em Goa, com grande escadaria e da qual só resta a fachada, pois foi destruída por um grande incêndio. Assim, convivem as chamadas “igrejas de salão”, como as de Tomar e Estremoz, com frontões simples e pilastras laterais, com as catedrais maiores – multiplicidade de soluções construtivas disponíveis. A questão tridentina: o Concílio de Trento e a reação da Contrarreforma → reitera alguns valores importantes que foram contestados pela Reforma Protestante, principalmente as de matriz alemã. Preocupação em legitimar a linguagem expressiva da arte católica, especialmente a partir das obras de arte figurativas, a partir da necessidade de validar esses elementos dentro de uma fé que buscava a sua transcendência (há aqui um certo conflito entre o material e o imaterial). Um personagem muito importante nessas discussões sobre a validade das obras de arte na construção de um ambiente de fé e liturgia é o arcebispo de Milão, Carlos Borromeu, depois canonizado. Ele escreve um “receituário” para a construção de igrejas a partir deste momento. (tradução na tese de Gabriel Santos, na bibliografia) A linguagem da arte sacra católica é sobretudo o suporte da memória da própria religião: a rememoração dos atos, passos, sacrifícios, valores a serem alcançados, de posturas de vida – a figuração e a narrativa são partes importantes na consecução desse objetivo. Todo esse arcabouço se concentra num espaço que não é o comum, do dia-a-dia, que exige uma materialidade totalmente nova, e imagens em escala monumental e uma decoração e arquitetura que povoam esse novo ambiente, especialmente com retábulos e edículas. Um elemento que também ajuda nessa caracterização do espaço da fé é o dourado, que já vinha desde a Idade Média, a partir sobretudo das Escrituras Sagradas manuscritas. No manual de São Carlos Borromeu (1577) está descrito o modelo mais comum de igrejas, com um frontão como elemento principal de finalização da fachada, porta principal, cora, naves laterais fechadas onde estão os retábulos. O santo é o responsável por construir uma igreja deste modelo em Milão, que dedica a Todos os Santos. Não sendo arquiteto, inclui seu livro entre os tratados mais importantes sobre o assunto na época, embora sem ilustrações como seria de se desejar. Um exemplo de igreja construído segundo essas instruções é a de Anchieta, no Espírito Santo, um dos raros mosteiros que sofreram poucas intervenções ao longo da História – no desenho de Lucio Costa, podemos notar a nave principal, áreas laterais para os altares, a capela-mor e a sacristia ao fundo, com dois corredores comunicantes laterais. Esse é o modelo básico de quase todas as edificações do século XVI no Brasil, a chamada matriz do espaço católico no país, e espelha uma das grandes modificações do rito litúrgico feitas pelo Concílio de Trento. A ideia era de que tivesse um espaço bem delimitado na nave para a audiência, com pé direito geralmente mais elevado, e um espaço reservado dentro da própria edificação onde ocorre a efervescência máxima da arte sagrada – o altar. Esses dois elementos se encontram na parte chamada arco cruzeiro, onde ocorre a conexão entre o mundo dos fiéis e o das coisas sagradas da celebração – elemento arquitetônico que faz a transição entre os dois mundos, criando a moldura cênica da celebração, que inclusive completa o processo de ascensão que começou do lado de fora da porta principal (o altar, presbitério ou capela-mor geralmente é precedido de degraus). Essa transição mostra que dentro do próprio edifício há um espaço bem delimitado, que se distingue da nave e se abre para o especial, o mistério, que vai ser celebrado a cada cerimônia.
Os monumentos sacros quinhentistas no Brasil: os mais paradigmáticos, próximos às
designações do Concílio Tridentino. Todos eles sofrem três destinos: são preservados, destruídos ou transformados. Esse modelo é mantido por quase 300 anos no país. o Igreja de São Lourenço dos Índios (Niteroi, RJ – aproximadamente 1586). Aqui ocorreu a incorporação da torre sineira, que era menor ou não existia, mas mantém as proporções de fachada originais exatamente como foram concebidas no século XVI. Há a ascensão, num pequeno pódio, a porta principal, a três aberturas colocadas para o coro e o óculo que ilumina de maneira muito especial o teto da igreja. Outra especificidade da arte sacra brasileira em termos arquitetônicos é o isolamento do edifício – a edificação não está limitada às suas paredes, mas tem um impacto urbano, com a construção de um adro, que muitas vezes já foi substituído por um elemento viário mais moderno. Há uma envoltória dos edifícios, como determinado pelo Conselho Tridentino, uma frente preferencial (praça) descrita por S. Carlos Borromeu, para o acolhimento aos catequisados, aos viajantes, recebimento de mercadorias, um espaço de sociabilidade, de encontro e de celebração urbana de fato, aberta. No interior, é importante perceber o esquema de iluminação que deve interferir o mínimo possível no conjunto para não modifica-lo demais. O púlpito, aqui, foi acrescentado no final do século XIX ou início do séc. XX. No altar, há um exemplar muito importante da arte retabular brasileira, recentemente restaurado, que recuperou a pintura do século XVII do arco cruzeiro. A mesa da comunhão, outro elemento importante cuja obrigatoriedade foi determinada pelo Conselho Tridentino ( é o momento principal de contato com a assembleia), está à frente de uma imagem de S.Lourenço (escultura de vestir), com a grelha que é seu atributo e a palma, símbolo dos mártires. Muito se fala sobre a “inventividade” na decoração das paredes do espaço, que não condiz com o que seria o original, mas a parte central do retábulo maneirista foi mantida, com as colunas características do período, encimado por uma tela com a Ascensão de N.Sra que guarda um acabamento provavelmente feito já no século XVIII. o Igreja de N.Sra Conceição (Itanhaém, SP – aproximadamente 1550). A dedicação a N.Sra Conceição é muito comum, especialmente nas igrejas que são “cabeças de paróquia” ou Matriz, devido à importância do culto à Virgem. Essa em particular ostenta algo que com o tempo caiu em desuso: a placa em bronze identificadora do IPHAN, usada entre as décadas de 1930/50. A igreja está situada numa acrópole ascensional bem delimitada, em modelo muito utilizado na Europa católica – instalação de santuários em pontos de observação importantes na geografia. O adro do edifício mostra uma obra de ampliação do século XVII que foi ocupada como mosteiro e depois foi abandonada, entrando em ruína. Na planta, notamos a construção em divisória leve das celas monásticas, que depois entram em arruinamento total. Nelas ainda se vê elementos comuns ao século XVI, como as paredes em alvenaria de pedra semelhantes às de Igaraçu. Há uma modificação muito importante na fachada no século XVIII, feita de cornijas contínuas de argamassa. Na torre sineira há uma característica notável do século XVI, que são os obeliscos do topo (com pontas afiladas) que são elementos decorativos islâmicos muito presentes na Península Ibérica, e numa das portas laterais a decoração com segmentos de colunas de ordem toscana, uma das preferências estilísticas das ordens religiosas. No interior, o retábulo composto por três segmentos de arcos de triunfo, que também sofreu uma série de modificações até assumir a talha neoclássica de século XIX que hoje vemos. A estruturação espacial da peça é que se mantém como do século XVI: um nicho central maior e dois laterais menores. Há um único púlpito, onde ocorre um outro momento importante de contato do celebrante com os fiéis, quando lhes é dirigida a Palavra. o Igreja de Santa Catarina de Alexandria (Carapicuíba, SP - 1580): mostra como era importante a presença da edificação religiosa em uma aldeia à época. Pertencia aos jesuítas no começo da ocupação da área, mas com a sua expulsão passou aos franciscanos, mudando a sua dedicação (antiga: São João Batista). Havia o grande terreiro, que os jesuítas sempre utilizavam ao compor suas edificações; as demais construções dos séculos XVI/XVIII, inclusive a capela, todas em taipa de mão; a presença das filas de palmeiras, usadas como símbolo de pactuação com a Coroa a partir de D. João, que distribui as suas sementes aos barões do café e às cidades fieis ao Império – originalmente não previstas na paisagem. A capela se diferencia em relação às outras construções pela cumeeira longitudinal. A pintura azul e branca nada tem a ver com o padrão original, foi adotada pelas municipalidades Brasil afora, aceita pelo IPHAN e aplicada aqui também. Não há um estudo arqueológico muito claro para determinar se a capela teria mantido de fato a configuração original, ou se houve modificação com adição de área ao longo do tempo. O que encontramos hoje é uma nave única com um pequeno coro, um piso certamente modificado, um altar distinto do primitivo, de fatura provavelmente do século XX. O cruzeiro é colocado dentro de uma pedra mó, elemento de extrema importância tecnológica dos séculos XVI a XVIII no Brasil, dos moinhos movidos a energia hidráulica. o Convento dos Reis Magos (Nova Almeida, ES – 1580): parte de uma rede de conventos jesuítas, situado em um local estratégico de confluência de rio e mar e fácil acesso aos demais conventos da mesma ordem estabelecidos na região. Possui a configuração arquitetônica exemplar dos conventos jesuítas, com a grande capela, torre sineira com elementos encimados de matriz islâmica e a área conventual, que sofreu várias ampliações ao longo do tempo, como se pode notar pela disposição das janelas na parte monástica e nas colunas das fachadas laterais. Nos fundos ficavam cozinhas e galpões que acabaram se arruinando, realizados provavelmente em taipa de mão tendo apenas as fundações em pedra. O óculo original deveria ser circular, mas foi depois modificado para este, quadrilobado (quatro lóbulos), o mesmo ocorrendo com o padrão das portas do coro. Os demais elementos ornamentais, mais elaborados, como as sobrevergas das janelas, também devem ter sido aplicados posteriormente. Numa das portas que devem ter sido originais, notamos elementos muito maneiristas na composição, como os elementos de ordem dórica (triglifos e cornija acima do friso), ambos feitos em lioz, vindo com certeza de Portugal pois não há afloramentos desse tipo na América. Ao mesmo tempo, nota-se uma geometrização nos elementos ornamentais da torre sineira, lembrando a influência islâmica no sul da Península Ibérica. No fundo da capela, a eira e a beira são a representação em alvenaria do entelhamento lateral das mesquitas do sul de Portugal. O adro deve ter sido a área mais modificada, pois nota-se o telhamento recente sobre madeirame novo, bem como a pintura em “azul IPHAN” das molduras das portas. No detalhe das celas monásticas, vê-se as divisórias feitas de tabique (taipa de mão portuguesa), com os cravos já muito oxidados – problema na conservação trazida pela abertura de janelas de prospecção, que expõem a estrutura a ataques de parasitas e elementos climáticos (porta de entrada para uma série de patologias da construção). A nave mantém seu espaço original, embora o mobiliário seja recente, assim como o piso e as luminárias. Foi mantido o forro de gamela, com traves segurando os freichais principais superiores para que não se expandam. Alguns detalhes perdidos em obras posteriores são as bossagens atualmente caiadas (os originais deveriam ser pintados). O grande retábulo é de matriz espanhola. Devemos deixar de lado teorias de que os entalhes teriam sido realizados por indígenas a serviço dos jesuítas, com habilidades inatas de modelagem de peças tridimensionais. Na verdade, muitos artistas que trabalhavam nas sedes espanholas ao longo de todo o Oceano Pacífico devem ter estado aqui produzindo durante todo o período, apesar da rivalidade entre as duas coroas. A decoração possui elementos de inspiração pré-colombiana, o gosto pela talha mais pesada, ainda que muito sofisticada; o uso de canela preta, uma madeira mais dura, também era mais característico do universo espanhol. O elemento de cor prata foi colocado recentemente, com pouca sensibilidade para ornr com o restante da peça. A tela na parte superior, representando os Reis Magos a quem a construção é dedicada, tem matriz islâmica bem marcante nos semblantes dos personagens e na escolha de cores. Há resquícios da policromia original, apesar das intervenções do IPHAN na maior parte das vezes retirar as pinturas com lavagens e tratamento para parasitas da madeira. Trata-se provavelmente de tintas orgânicas que penetraram profundamente na madeira. Nos capitéis, robustos, nota-se as folhas de acanto e nas colunas em si as videiras. 1:34 o Igreja de São Cosme e Damião (Igarassu, PE – 1540): * O Concílio de Trento, realizado de 13 de dezembro de 1545 a 4 de dezembro de 1563 foi o 19.º concílio ecumênico da Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e da reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante. O Concílio de Trento foi o concílio ecumênico mais longo da História da Igreja Católica. Foi também o concílio que "emitiu o maior número de decretos dogmáticos e reformas,e produziu os resultados mais benéficos", duradouros e profundos "sobre a fé e a disciplina da Igreja". Para opôr-se ao protestantismo, o concílio emitiu numerosos decretos disciplinares e especificou claramente as doutrinas católico‐romanas quanto à salvação, os sete sacramentos (como por exemplo, confirmou a presença de Cristo na Eucaristia), o Cânone de Trento (reafirmou como autêntica a Vulgata) e a Tradição, a doutrina da graça e do pecado original, a justificação, a liturgia e o valor e importância da Missa (unificou o ritual da missa de rito romano, abolindo as variações locais, instituindo a chamada "Missa Tridentina"), o celibato clerical, a hierarquia católica, o culto dos santos, das relíquias e das imagens, as indulgências e a natureza da Igreja. Regulou ainda as obrigações dos bispos. Foram criados seminários nas dioceses como centros de formação sacerdotal e confirmou-se a superioridade do Papa sobre qualquer concílio ecuménico. Foi instituído o "Index Librorum Prohibitorum", um novo Breviário (o Breviário Romano) e um novo Catecismo (o Catecismo Romano). Foi reorganizada também a Inquisição.