ESTUDO de CASO - Dona Margarida
ESTUDO de CASO - Dona Margarida
ESTUDO de CASO - Dona Margarida
Dona Margarida Uma das pacientes que a médica Joana atendeu em domicílio, logo em sua
primeira semana de trabalho, foi Dona Margarida, de 75 anos. Viúva de Seu Quinzinho, que morreu
de derrame aos 85 anos, continuava apaixonada pelo marido. Como diz sua filha Jandira, “a mamãe
vive no passado”. Margarida teve três filhos com o finado Quinzinho e mora agora na companhia de
sua filha mais nova, Jandira, de 54 anos, e de sua neta Inês, de 32. Jandira é divorciada de João e
trabalha como diarista; Inês é manicure em um “salão chique” e, como diz Jandira, “vive para o
trabalho”. Em seu primeiro atendimento domiciliar, Joana foi chamada às pressas para ver Margarida,
que apresentava quadro de disúria, algúria e dor suprapúbica com sete dias de evolução, sem febre.
A princípio, achou estranho ter de fazer atendimentos domiciliares de “urgência”, pois não havia essa
prática na equipe em que trabalhava antes de ir para a UBS Vila Santo Antônio. Iniciou o tratamento
empírico com Sulfametoxazol + Trimetoprim 800/160 BID por sete dias, e resolveu levar o caso para
a reunião, de forma a facilitar a discussão que queria levantar sobre a organização da atenção
domiciliar na equipe.Na reunião, Joana pôde perceber que a atenção domiciliar em casos agudos era
uma prática comum. Além disso, identificou que a equipe não dispunha de instrumentos para
organizar as visitas aos pacientes com agravos crônicos (por exemplo, os atendimentos eram
marcados “só quando a família entrava em contato com a equipe”). O caso em estudo foi decisivo
para que, durante a discussão, a equipe fizesse, sob a supervisão de Joana e da enfermeira Ana Lígia,
um plano terapêutico para Margarida. O ACS Marcos seria responsável por agendar os atendimentos
na frequência e na periodicidade decididas, e Ana Lígia iria fazer um atendimento inicial de Avaliação
Global do Idoso. Na semana seguinte, Ana Lígia trouxe as suas impressões: – Pessoal, após o meu
atendimento, encontrei os seguintes problemas: baixa acuidade visual, má higiene bucal, lesões nos
lábios e comissura labial, incontinência urinária, teste de minimental alterado (20 pontos, avaliação
funcional de grau B para atividades básicas de vida diária e Escala de Lawton para atividades
instrumentais de 14/27). E continuou: – Sugiro que façamos um acompanhamento da Jandira,
ensinando a ela algumas técnicas para lidar com a dependência parcial da mãe. Também gostaria que
a Joana fosse até a casa dela para um novo atendimento, a fim de avaliar melhor a possível demência
e a incontinência. Seria importante uma visita do Érico ou da Mariane para avaliar a questão da saúde
bucal. A seguir, houve uma acalorada discussão sobre o papel do cuidador no caso, considerando que
Marcos relatou sua impressão de que Jandira estava “muito cansada” e que “precisava de um
psicólogo”. Joana e Ana Lígia pareciam preocupadas com a visão dos ACS de que os pacientes com
algum tipo de sofrimento psíquico tivessem obrigatoriamente de passar por um psicólogo. Por fim, a
equipe decidiu em conjunto que, antes de “encaminhar a cuidadora” ao serviço de saúde mental,
convidariam Jandira para um atendimento individual.