Artigo Calvicie
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Maria Isabel da Silva. Pós-Doutora em Imunogenética Molecular pela Universidade de Marselha. Doutora em Genética pela Universidade de São Paulo
(USP). Mestre em Fármacos e Medicamentos pela mesma instituição. Especialista em Farmácia Estética pela Faculdade de Tecnologia em Saúde (EURP).
E-mail: <[email protected]>.
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Cristiane Soncino Silva. Doutora em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo
(USP). Aprimoramento em Exploração Funcional Pulmonar (HCFMRP – USP). Especialista em Gestão da Clínica no SUS pelo Instituto Sírio-Libanês de
Ensino e Pesquisa. Graduada em Fisioterapia pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). E-mail: <[email protected]>.
1. INTRODUÇÃO
O aumento da preocupação das pessoas com a vaidade e a estética corporal vem marcando o cres-
cimento do mercado de estética no país. No Brasil, os procedimentos estéticos cirúrgicos e não cirúrgi-
cos em 2009 foram mais de 2,5 milhões (STREHLAU; CLARO; LABAN NETO, 2015). Diante desse
mercado em franco crescimento, a Farmácia Estética tornou-se uma especialidade do farmacêutico,
regulamentada pelo Conselho Federal de Farmácia por meio da Resolução 573, 24/05/2013, e da Reso-
lução 616, 25/11/2015. Essas resoluções definem as atribuições do farmacêutico para exercer a saúde
estética, assumir responsabilidade técnica por estabelecimentos de estética, assim como os recursos te-
rapêuticos e a qualificação técnica necessários para exercer tal função (BRASIL, 2013; BRASIL 2015).
As atribuições do farmacêutico dentro da Saúde Estética compreendem as seguintes técnicas e re-
cursos terapêuticos: avaliação, definição dos procedimentos e estratégias, acompanhamento e evolução
estética; cosmetoterapia; eletroterapia; iontoforese; laserterapia; luz intensa pulsada; peelings químicos
e mecânicos; radiofrequência estética; sonoforese (ultrassom estético); preenchimentos dérmicos; toxi-
na botulínica; carboxiterapia; intradermoterapia/mesoterapia; agulhamento e microagulhamento estéti-
co e criolipólise.
Dentro dessa nova perspectiva da profissão farmacêutica, vislumbramos um campo de atuação
bastante interessante e pouco explorado dentro da Saúde Estética: os tratamentos de disfunções capila-
res.
De acordo com Pereira et al. (2016), a prevalência de doenças capilares na população brasileira
é alta; existem inúmeras doenças tricológicas descritas na literatura e que, em muitos casos, envolvem
necessariamente o acompanhamento de um dermatologista ou tricologista. Entretanto, a maioria das
pessoas não recorre a um dermatologista, mas sim a farmacêuticos, esteticistas e cabelereiros para usar
recursos alternativos que melhorem os aspectos inestéticos dessas alterações. Essas doenças afetam
demasiadamente a autoestima do paciente de ambos os sexos, sendo que as mulheres se sentem mais
desconfortáveis que os homens frente a problemas capilares (PEREIRA et al., 2016; RAJPUT, 2010).
O desgaste psicológico e social, o estresse e a depressão devido à queda de cabelo são vistos em 46%
dos pacientes, sendo que, atualmente, são procurados tratamentos cada vez mais cedo, logo no início do
aparecimento dos sintomas, com grandes expectativas de melhora (RAJPUT, 2010).
No âmbito da Farmácia Estética, algumas dessas disfunções capilares podem ser tratadas por meio
de recursos tecnológicos e procedimentos estéticos, permitidos pelas resoluções citadas acima, o que
resulta numa melhor qualidade de vida e melhora da autoestima dos pacientes.
Os objetivos deste trabalho foram caracterizar a alopecia androgenética como disfunção estética e
realizar um levantamento dos tratamentos usando os seguintes recursos estéticos: laser de baixa intensi-
dade, microagulhamento, carboxiterapia e mesoterapia/intradermoterapia. Ressaltamos que todos esses
recursos estão disponíveis aos farmacêuticos estetas.
Os estudos foram obtidos a partir de acessos de domínio público: portal BIREME (Centro Latino
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), que incluiu busca nas bases e portais da
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medici-
ne/NLM (MEDLINE/ PubMed), The Cochrane Library e Scientific Eletronic Library Online, (SciELO).
Publicações citadas como referências nos artigos selecionados foram incluídas neste trabalho.
Os descritores da saúde utilizados na busca, com auxílio de conectores booleanos, foram: alope-
cia, alopecia androgenética, laser, laserterapia, terapia com luz de baixa intensidade, fototerapia, micro-
agulhamento, mesoterapia, intradermoterapia e carboxiterapia. A busca em bases de língua inglesa foi
realizada com os seguintes termos do Medical Subject Heading (MeSH): alopecia, androgenetic alope-
cia, hair loss, androgenetic alopecia, laser, microneedling. carboxitherapy e mesotherapy.
Alopecia androgenética
A alopecia androgenética pode ser caracterizada como a perda de cabelo, que ocorre com maior
frequência em homens do que em mulheres. Os autores relatam que são vários os fatores envolvidos
nesse processo, entre os quais podemos citar: componente hereditário, presença de androgênios, pro-
cessos inflamatórios locais ou sistêmicos, uso de medicamentos, fatores ambientais, fatores hormonais,
estresse físico ou emocional, síndrome metabólica, obesidade, tabagismo, deficiência de ferro e idade
(PEREIRA et al., 2016; MC ELWEE; SHAPIRO, 2012).
A calvície em homens tem sido descrita desde a Antiguidade, com os primeiros registros feitos
por Hipócrates em 400 a.C. (RAMOS; MIOT, 2015). Estima-se que, por volta dos 30 anos, aproxima-
damente, 30% dos homens caucasianos apresentem sinais de alopecia androgenética, e, aos 50 anos, em
torno de 50% sejam afetados por ela. O número de fios diminui em torno de 5% ao ano. Em homens
afrodescendentes, essa prevalência é quatro vezes menor (MULINARI-BRENNER; SOARES, 2009).
Em mulheres, a alopecia androgenética é também conhecida como calvície feminina ou queda
de cabelo hormonal difusa. É determinada geneticamente, influenciada pelos hormônios androgênicos,
podendo atingir em torno de 30% das mulheres caucasianas por volta dos 50 anos de idade. Situações
nas quais ocorrem alterações hormonais como a gravidez e a menopausa podem desencadear a alopecia
androgenética. Esse problema afeta muito a autoestima e a qualidade de vida das mulheres. Além disso,
percebe-se que, nos últimos anos, ocorreu um aumento de mulheres afetadas, fato que pode estar rela-
cionado ao estresse da vida moderna (MACHADO et al., 2007; LEVY; EMER, 2013).
De acordo com Pereira et al. (2016), a alopecia androgenética pode ser classificada em três tipos
de padrões: clássico, difuso e misto. O padrão clássico, chamado de padrão masculino ou hipocrático, é
característico de homens, ocorrendo queda de cabelos nas regiões temporais (“entradas”) e no vértice e
retração na região frontal, evoluindo para a perda de cabelos em toda a região do alto do couro cabeludo.
Esse padrão acomete em torno de 53,3% dos homens afetados por alopecia. O padrão difuso é caracte-
rístico de mulheres, e a perda dos cabelos ocorre nas regiões parietais, frontal e vértice. Com raras exce-
ções, as regiões temporais ou todo o couro cabeludo podem estar envolvidos. Esse padrão é encontrado
em 96,5% das mulheres afetadas e em 38,1% dos homens. O padrão misto apresenta uma mistura dos
dois padrões, acometendo 9,6% de homens e 3,5% de mulheres.
O processo de queda dos cabelos, em qualquer um dos padrões descritos, inicia-se pelo afinamen-
to dos fios, devido à diminuição progressiva do folículo piloso, influenciada pela ação da di-hidrotestos-
terona, que atua em receptores androgênicos presentes nos folículos. O precursor da di-hidrotestosterona
nos homens é a testosterona e nas mulheres é a dehidro-epiandrosterona e outros androgênios mais fra-
cos. A testosterona é convertida em di-hidrotestosterona pela enzima 5-alfa-redutase tipo 2, encontrada
nos folículos pilosos. A ligação da di-hidrotestosterona aos receptores dos folículos leva ao aumento da
produção de mediadores inflamatórios que induzem à senescência dérmica das células da papila e ao
afinamento do pelo. A densidade dos receptores androgênicos no couro cabeludo varia de acordo com
a região e o sexo, por isso os padrões de queda são diferentes para homens e mulheres. O afinamento
pode ser mais ou menos acentuado em cada paciente, sendo que, em idade mais avançada, fica mais
evidente. Após algum tempo de afinamento, o paciente começa a perceber a diminuição da densidade
capilar, sendo possível, em alguns casos, a mudança da cor (descoloração) e da estrutura dos cabelos,
que se tornam ásperos, denominados pelos pacientes como “crespos” ou “alvoroçados”. Pacientes com
alopecia androgenética podem apresentar dermatite seborreica e oleosidade no couro cabeludo ao longo
da evolução do quadro (PEREIRA et al., 2016; JIMENEZ et al., 2014; MC ELWEE; SHAPIRO, 2012;
AVCI et al., 2014).
Microagulhamento
Carboxiterapia
A carboxiterapia consiste na aplicação de gás carbônico (CO2) no organismo com finalidades te-
rapêuticas. A administração pode ser feita na forma de banhos em água acrescida de gás carbônico ou
através de injeção hipodérmica (CARVALHO; ERAZO; VIANA, 2010; ERAZO; VITERI; STRONG,
2010). Os usos da carboxiterapia com finalidade estética vêm se difundindo atualmente principalmente
para tratamento de gordura localizada, celulite (lipodistrofia ginoide), estrias, flacidez, rejuvenescimen-
to facial, terapia capilar entre outros (ERAZO; VITERI; STRONG, 2010; FERREIRA et al., 2012; LEE,
2010).
Os efeitos da administração subcutânea do gás carbônico podem ser observados farmacológica e
mecanicamente (CARVALHO; ERAZO; VIANA, 2010; ERAZO; VITERI; STRONG, 2010). A ação
farmacológica sobre o tecido tratado ocorre pela vasodilatação local, aumento do fluxo vascular e au-
mento da pressão parcial de oxigênio. A afinidade da hemoglobina pelo oxigênio diminui, o que dispo-
nibiliza uma maior quantidade deste para os tecidos (hiperoxigenação). Além disso, ocorre aumento da
drenagem linfática e sanguínea e da lipólise (CARVALHO; ERAZO; VIANA, 2010; ERAZO; VITERI;
STRONG, 2010; FERREIRA, et al. 2012). A administração subcutânea do gás carbônico provoca um
descolamento da pele no local da aplicação. Esse descolamento não provoca traumas vasculares ou ner-
vosos, apenas a ocupação do espaço pelo gás, que gera uma ação sobre o tecido suficiente para provocar
o processo de cicatrização, remodelando o tecido tratado. A associação desses dois efeitos, além do fato
do baixo risco de complicações e da ocorrência de cicatrizes inestéticas, é o que torna a carboxiterapia
tão atrativa (CARVALHO; ERAZO; VIANA, 2010; ERAZO; VITERI; STRONG, 2010).
Com relação ao tratamento de alopecia com o uso de carboxiterapia, a literatura não apresenta
muitos estudos. Erazo, Viteri e Strong (2010) descrevem um protocolo de tratamento em que foram
feitas sessões de carboxiterapia associada à intradermoterapia e tratamento domiciliar com cosméticos.
Os autores usaram uma técnica de aplicação do gás carbônico em dois planos: superficial e profundo.
No plano superficial, a aplicação é feita desde a região posterior até a anterior da cabeça, com sessões
semanais, quinzenais ou mensais, dependendo do tipo e grau de alopecia. No plano profundo, a aplica-
ção é feita somente em dois pontos profundos no couro cabeludo, um anterior e outro posterior na linha
mediana. Esse plano é realizado uma vez com repetição a cada três meses, para fazer o descolamento
profundo da pele. De acordo com os autores, essa técnica permite o aumento da vascularização do couro
cabeludo, facilitando a penetração dos ativos e estimulando os bulbos pilosos. Os resultados demons-
traram aumento no crescimento capilar após a quarta ou quinta sessão, além de fortalecimento do fio de
cabelo (ERAZO; VITERI; STRONG, 2010).
Mesoterapia/Intradermoterapia
4. CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho, pudemos observar que o campo dos tratamentos estéticos para a alopecia
androgenética ainda é pouco explorado e carente de estudos controlados para verificação da eficácia
de cada método. Além disso, observamos que, de forma geral, os estudos tratam do uso de uma ou, no
máximo, duas técnicas, abrindo a possibilidade para a associação de várias abordagens na criação de
protocolos de tratamento, o que pode levar a resultados eficazes, duradouros e, principalmente, à satis-
fação do paciente.
Sobre o ponto de vista da atuação do farmacêutico esteta, existem outras possibilidades de trata-
mento de alopecia, não exploradas neste trabalho, tais como indicação para uso de cosméticos, indica-
ção de medicamentos com princípios ativos específicos e personalizados, indicação de nutracêuticos e
repositores de minerais que podem ser adjuvantes na terapia capilar. Essas atribuições são de âmbito da
profissão farmacêutica.
Finalmente, gostaríamos de ressaltar que, embora existam todos esses recursos disponíveis, deve-
mos considerar que por trás da disfunção capilar existe uma pessoa, cujo bem-estar e qualidade de vida
deve ser nosso alvo principal, e como tal deve ser valorizada como ser humano em nossos atendimentos.
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