Experiência H

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE QUÍMICA

Departamento de Química Fundamental

Disciplina QFL2426 – Físico-Química XVII

Turma 35 – Grupo 10

Alunos:
Celso Maurício Pereira de Oliveira 6851327

Leandro Nobushi Hoshiko 6846766

Professor:
Paulo Teng An Sumodjo

Título: Relatório da experiência H – Medidas Ópticas

São Paulo, 09 de novembro de 2010


OBJETIVOS

• Determinar o poder rotatório específico da sacarose;


• Testar a utilização do refratômetro para determinar o teor da sacarose
numa mistura;
• Observar a influência de impurezas na determinação do teor de
sacarose, por polarimetria e refratometria.
INTRODUÇÃO

O refratômetro é um instrumento que mede o índice de refração e a


porcentagem de um liquido ou solido em solução (baseado na condição de
ângulo crítico).

Figura 1– Refratômetro de Abbe


Figura 2 - Caminho óptico no refratômetro de Abbe

O polarímetro é um instrumento que mede a rotação óptica de uma


substancia opticamente ativa (sempre em referência a uma luz plana
polarizada).
Figura 3 - Esquematização de um polarímetro

Uma luz plano-polarizada é uma radiação eletromagnética em que vetor


campo elétrico varia sempre num mesmo plano, podendo sofrer uma
mudança na direção de seu plano de polarização ao atravessar um meio
opticamente anisotrópico.

O ângulo de rotação pode ser expresso pela fórmula

α=αλT.l.c

Equação 1

Onde:

α = ângulo de rotação da luz plano-polarizada;

αλT= poder rotatório específico em uma dada temperatura e comprimento


de onda;

l =comprimento do tubo da amostra;

c= concentração em g.ml-1.

Se a direção de vibração do vetor campo elétrico desviar no sentido horário,


para um observador que olha em direção à fonte de luz, o ângulo será
positivo e a substância é dita dextrógira. Por outro lado, se o desvio da luz
for anti-horário, a substância será levógira e será negativa.

No polarímetro, a luz é polarizada por um prisma de Nicol, constituído de


dois prismas de calcita (CaCO3) convenientemente cortados e orientados. A
radiação passa através da amostra que esta contida em um tubo de vidro,
de comprimento conhecido, fechado em ambas as extremidades por placas
de vidro claras. O analisador, colocado após a amostra, é conectado a um
goniômetro (esquematização na figura 3).

Figura 4 - Lei de Snell-Descartes

Sem a solução, quando o polarizador e o analisador estiverem cruzados


haverá extinção da luz. Quando a solução opticamente ativa for introduzida,
haverá novamente passagem de luz. Para que ela seja extinta, o analisador
deve ser girado de umângulo igual ao do desvio sofrido pelo plano de
polarização da luz ao atravessar a amostra. Existem alguns artifícios
experimentais utilizados para se obter uma maior precisão na determinação
visual da posição de extinção da luz. Em particular, o polarímetro utilizado
contém um filtro óptico que transmite somente luz amarela, próxima à
radiação de uma lâmpada de sódio, razão pela qual se pode usar luz branca
como fonte de iluminação.

O índice de refração n para um líquido ou um sólido isotrópico é a razão


entre a velocidade de propagação da luz no vácuo e naquele meio. Ele pode
ser definido em relação a uma superfície de separação plana de um meio
exposto ao vácuo, como sendo a razão do seno do ângulo de incidência que
a luz faz com a normal à superfície, com o seno do ângulo refratado (figura
3). Na prática, é comum se referir ao índice de refração de um meio em
relação ao ar (1 atm), desde que o índice de refração deste em relação ao
vácuo seja de 1,00027. O índice de refração éfunção da temperatura e do
comprimento de onda da luz, usualmente tomada como a raia D do sódio(λ
= 589 nm).

A maioria dos refratômetros, aparelhos utilizados para determinação do


índice de refração, opera usando o conceito de ângulo crítico. Quando a luz
passa de um meio mais denso para um menos denso, o ângulo de refração
é maior do que o de incidência e aumentando-se este, chega-se a um
ângulo crítico para o qual o ângulo de refração é 90°. A partir deste ponto
ocorre a reflexão total.

No refratômetro de Abbe há dois prismas, entre os quais é colocada uma


gota de amostra, ocorrendo na interface amostra-prisma polido a condição
de ângulocrítico. Como os raios do feixe de luz não estão paralelos haverá
vários ângulos de incidência e o ângulocrítico é observado no campo de
visão do instrumento pela separação nítida entre uma zona iluminada (para
ângulo de incidência menor ou igual ao ângulocrítico) e uma zona escura
(ângulo de incidência maior ou igual ao ângulocrítico). Os prismas, entre os
quais se coloca a amostra, podem ser girados de modo a colocar o limite de
separação das duas zonas no centro do retículo ocular. O índice de refração
é lido diretamente na escala associada com o movimento de rotação dos
prismas.

Devido à dispersão do índice de refração da amostra, na separação das


zonas podem aparecer franjas coloridas que dificultam a leitura. Esta é
corrigida pelo use de dois prismas de Amici, que compensam esta dispersão
tornando nítida a separação das duas zonas. O movimento de ajuste dos
prismas de Amici é ligado a uma escala que mede o poder dispersivo da
amostra.

O refratômetro é frequentemente usado para determinar a composição de


misturas em sistemas onde uma simples titulação não é apropriada, ou
ainda para testar o grau de pureza de alguns compostos.Um uso muito
comum é a determinação do teor de açúcar em xaropes. Por isso, alguns
refratômetrostêm, além da escala de índice de refração, uma escala direta
de porcentagem de sacarose.

O índice de refração na quantificação de substâncias em solução

A quantidade de açúcar mensurada diretamente pelo refratômetro somente


representará a quantidade de açúcar seca dissolvida na solução medida se
ela contiver somente açúcar puro, o que raramente constitui o caso no
cotidiano. Isto se deve ao fato de que cada substância contribui no índice de
refração, como visto a seguir.

O índice de refração depende da natureza química da substância, do


comprimento de onda da luz usada em sua medida e da temperatura. Se o
segundo meio é uma solução, o índice de refração depende também da
concentração da mesma. Porém, a refração específica r definida por Lorentz
e Lorenz é independente da temperatura e inclusive do estado de
agregação. Tomando por base a teoria do comportamento eletromagnético
da luz, Lorentz e Lorenz demonstraram que:

r=n2-1n2+2.1d
Onde n é o índice de refração da substância, medido em certo comprimento
de onda e temperatura, e d é a densidade à mesma temperatura. A refração
molar então é definida como sendo o produto da refração específica pela
massa molar da substância.

A refração molar de uma substância é aproximadamente a soma das


refrações dos grupos eletrônicos dentro da substância. A refração molar de
NaCl, por exemplo, é a soma das refrações dos íons Na + e Cl-. Para obter a
refração dos íons individuais, a partir dos seus sais, é necessário conhecer
pelo menos o valor da refração para um dos íons. A refração do íon fluoreto
foi calculada exatamente a partir da Mecânica Quântica e, usando-se este
valor, as refrações dos íons Li+ e Na+, por exemplo, podem ser calculadas a
partir da refração dos fluoretos correspondentes.

O mesmo argumento pode ser aplicado a grupos eletrônicos em moléculas


covalentes. A refração do metano é atribuída à refração de quatro grupos
eletrônicos de ligação entre os átomos de carbono e hidrogênio.

A contribuição das duplas e triplas ligações à refração é encontrada a partir


das refrações de etileno e acetileno. Os pares eletrônicos das ligações π
estão mais fracamente ligados que os da ligação σ. Grupos incluindo
oxigênio mostram que a refração depende do modo de ligação do oxigênio.
Por exemplo, éter dimetílico (CH3)2O e etanol C2H5OH têm os mesmos
átomos, mas no éter o oxigênio tem refração diferente do álcool.
PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Os instrumentos utilizados foram:

• 1 balão volumétrico de 100 ml;


• 5 balões volumétricos de 50 ml;
• 1 pipeta volumétrica;
• 4 béqueres;
• 1 conta-gotas;
• Polarímetro;
• Refratômetro de Abbe;

Primeiramente foi preparada a solução inicial de sacarose, 10 g dessa


substância foram pesadas em balança de precisão e diluídas em 100 mL de
água destilada no balão volumétrico de igual volume. A agitação foi intensa
para dissolver toda a sacarose sólida.

Então duas outras diluições foram preparadas, transferindo 25 mL da


solução inicial para um balão de 50 mL via béquer e pipeta, completando
com água destilada até seu volume máximo e agitando para
homogeneização. Foram transferidos 25 mL desta nova solução diluída para
outro balão de50 mL, também completando com água e agitando.

Primeiramente foi utilizado o polarímetro para determinar o ângulo de


rotação da luz polarizada. Para tanto, foi efetuada a checagem do
equipamento colocando-se água destilada no tubo de vidro do equipamento
e verificando o marco zero. A seguir, foi efetuada a medida do ângulo de
desvio de cada solução de sacarose por três vezes e os resultados
anotados.

O próximo aparelho, o refratômetro de Abbe, também foi verificado com


água destilada. A intersecção da linha de separação das zonas clara e
escura com o centro do reticulado resultou na leitura zero de sacarose no
equipamento. Então as três soluções de sacarose anteriormente preparadas
foram submetidas à análise no refratômetro e os resultados anotados.
Para verificar a eventual disparidade, devido a outras substâncias presentes
na solução, na leitura da quantidade de sacarose via polarímetro e via
refratômetro, novas soluções foram preparadas, conforme tabela a seguir.

Tabela 1 – Soluções preparadas para avaliação no polarímetro e


refratômetro; volume final de 50 mL com água destilada
Quantidade Quantidade da
Substância
Balão de sacarose substância
adicionada
(g) adicionada (g)

1 Cloreto de sódio 3,00 2,00

2 Dextrose 3,00 2,00

3 Metanol 3,00 2,00

Cada solução foi preparada como a primeira solução de sacarose, utilizando


balança, diluindo e agitando em balões volumétricos. O processo de análise
dessas soluções também se repetiu em ambos os equipamentos como
descrito acima com a sacarose pura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O resultado das medições no polarímetro do ângulo de rotação das soluções


de sacarose está na tabela abaixo.

Tabela 2 – Ângulo de rotação, em graus e concentração, em g.mL-1 das 3


soluções de sacarose
Amost Concentração α
α (graus)
ra (g/mL) médio

13,6 13,4 13,6


1 0,100 13,58
5 5 5

2 0,050 7,05 7,05 7,05 7,05

3 0,025 3,65 3,50 3,55 3,57

O gráfico obtido a partir dos dados de ângulo de rotação por concentração


está na figura a seguir.

Figura 5 - Gráfico de ângulo de rotação por concentração de sacarose

A partir do gráfico, extrai-se o coeficiente angular da reta, y = 133,14.

Mas como α=αλT.l.c, então, pelo gráfico, αλT=yl.


O polarímetro utilizado possuía comprimento do tubo igual a 2 dm. O
comprimento de onda utilizado foi a raia D do sódio (λ = 589 nm). A
temperatura no laboratório era de aproximada-mente 20 °C.

Então, αD20=66,57graus.cm3g-1dm-1

Comparando esse valor com o da literatura [1], que é de 66,45, o desvio


percentual relativo, dada pela fórmula ∆%=α'-αα.100 é de 0,18%, bastante
próximo ao valor da literatura.

A tabela a seguir mostra os valores de porcentagem de sacarose obtidos no


refratômetro via leitura direta através do microscópio de leitura.

Tabela 3 – Amostra e sua respectiva porcentagem de sacarose (substância


seca) via refratômetro
Porcentagem de
Amostra
sacarose

1 10,50%

2 5,80%

3 1,50%

Na tabela a seguir estão discriminadas as porcentagens de sacarose de


cada solução obtidas pelos dois métodos experimentais e a quantidade real
preparada.

Tabela 4 – Comparação entre os diferentes métodos de obtenção da


porcentagem de sacarose (substância seca) nas soluções analisadas
Porcentagem de sacarose (substância seca)

Amostr Quantidade real Polarímet Refratômet


Δ% Δ%
a preparada ro ro

1,98
1 10,00% 10,20% 10,50% 5%
%

5,57
2 5,00% 5,30% 5,80% 16%
%

6,68
3 2,50% 2,68% 1,50% 40%
%

Comparando os valores, percebe-se que os valores obtidos pelo cálculo


teórico (quantidade real) e os obtidos no polarímetro estão de acordo.
Porém, ao analisar os valores obtidos no refratômetro, percebe-se uma
maior discrepância (desvio grande).
Para analisar o efeito nos resultados da presença de outras substâncias na
solução, foram preparadas misturas de três substâncias com sacarose,
conforme tabela 1.

Na próxima tabela estão os valores obtidos da análise do ângulo de rotação


do polarímetro e o respectivo valor de porcentagem de sacarose.

Tabela 5 – Medidas do polarímetro para as soluções da tabela 1 e


porcentagens de sacarose
Amostr Porcentag
α (graus) α médio
a em

NaCl 8,25 8,20 8,25 8,23 6,18%

Dextros
15,10 15,10 15,15 15,12 11,35%
e

Metanol 8,30 8,30 8,20 8,27 6,21%

Os cálculos para a obtenção da porcentagem de sacarose através do ângulo


de rotação foram feitos manipulando-se a equação 1, isolando a variável
concentração de um lado da equação e o resto do outro lado, e ainda
multiplicando esse resultado por 100.

%sacarose=ααλT.l.100

Na próxima tabela estão os valores de porcentagem de sacarose, com


respeito às soluções da tabela 1, através de diferentes métodos de
obtenção desses valores.

Tabela 6 – Porcentagens de sacarose nas soluções preparadas na tabela 1


Porcentagem de sacarose (substância seca)

Amostr Quantidade real Polarímet Refratôme


Δ% Δ%
a preparada ro tro

3,07 66,67
NaCl 6,00% 6,18% 10,00%
% %

Dextro 89,23 50,00


6,00% 11,35% 9,00%
se % %

Metan 3,48 0,00


6,00% 6,21% 6,00%
ol % %
Obs: os desvios percentuais calculados para os dois equipamentos são referentes à
quantidade real preparada de sacarose.

Comparando o polarímetro com a quantidade real preparada, as soluções de


NaCl e Metanol estão coerentes, com desvios aproximadamente constantes.
Porém nota-se divergência quanto à dextrose (glicose). Isso se explica pelo
fato de que a dextrose também possui atividade óptica, confirmada pela
literatura [1]. A dextrose possui poder rotatório específicoαD20≅52,50
graus.cm3g-1dm-1. Assim, para a concentração de dextrose a 0,04 g.mL-1, o
ângulo de rotação é de 4,2°, o que definitivamente influencia na leitura do
polarímetro.

Com relação às discrepâncias observadas nos valores obtidos com o


refratômetro, percebemos que, conforme a introdução teórica, o índice de
refração é fator determinante para esse caso, onde a leitura do refratômetro
não é a leitura direta da quantidade de açúcar dissolvido, mas sim de todas
as substâncias sólidas presentes na solução. O valor encontrado no
refratômetro então é apenas uma aproximação do verdadeiro teor de
açúcar. A exceção está no valor obtido para o metanol, que como não é
sólido à temperatura ambiente, não afetou a leitura da substância seca, pois
seu índice de refração deve ser próximo ao da solução de açúcar puro.

CONCLUSÃO

Os objetivos desta experiência, enunciados no começo deste relatório,


foram satisfeitas. Conclui-se desta experiência que a metodologia de
determinação de açúcar via refratometria só é válida para soluções que
contenham unicamente açúcar como substância sólida dissolvida. Para
analisar a quantidade de outras substâncias, a polarimetria se faz
necessária, subtraindo a quantidade de açúcar obtida no polarímetro da
quantidade de substância sólida total obtida no refratômetro.

A metodologia deste experimento está suficientemente adequada, dentro


das possibilidades desta disciplina, pois o material empregado e os
instrumentos utilizados são de utilização razoavelmente fácil, bem como os
passos da execução do experimento.
A fonte de erros mais proeminente nesta experiência é a preparação das
soluções, pois depende da pessoa que prepara as soluções. Os processos de
pesagem, manipulação, dissolução e agitação são passíveis de erro devido a
perdas de material ao longo do processo ou da má qualidade do
processamento das soluções. Porém o manuseio dos equipamentos também
é impreciso, devido à leitura subjetiva do polarímetro, ou à má ambientação
do tubo de vido. Tem-se ainda a imprecisão no refratômetro devido à má
higienização da interface entre os prismas onde o líquido é inserido, o
posicionamento da linha de separação das zonas clara e escura no
reticulado e à leitura no microscópio de leitura.

BIBLIOGRAFIA

1 – Washburn, E.W. InternationalCriticalTablesofNumerical Data, Physics,


Chemistryand Technology. Volume II. 1ª edição eletrônica baseada nas
publicações de 1926-1930. Knovel. Disponível em
<http://www.knovel.com/>. Acessado em 30 de outubro de 2010.

2 – Daniels, F., Mathews, J. H., Williams, J. W.,Bender, P., Alberty, R. A.


Experimental PhysicalChemistry. UniversityofWinsconsin: McGraw-Hill, 1956.
482 p.
3 – Braga, E. C. A. Físico-Química – Apostila de aulas práticas. 2007. 51 p.
Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de
São Paulo. Ribeirão Preto/SP.

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