Livro2 AprenderTerra GeoCPLP2012
Livro2 AprenderTerra GeoCPLP2012
Livro2 AprenderTerra GeoCPLP2012
9 789892 605241
Imprensa da Universidade de Coimbra Internacional de Geociências na CPLP, que decorreu de 14 a 16 de maio de 2012 no
Coimbra University Press Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. São aqui apresentados trabalhos
2012 desenvolvidos por várias equipas afiliadas a distintas instituições da CPLP,
que representam abordagens educativas inovadoras, perspetivadas quer para
contextos escolares, quer para cenários exteriores à sala de aula, e utilizando desde os
recursos mais convencionais, como os manuais escolares, até às narrativas ficcionadas,
sem descurar o potencial educativo que encerram muitos dos locais situados em vários
países lusófonos, e que detêm enorme valor patrimonial.
Fotografia da Capa
Ribeira do Maloás, Ilha de Santa Maria, Portugal
Fotografia da Capa
Ribeira do Maloás, Ilha de Santa Maria, Portugal
D O C U M E N T O S
EDIÇ ÃO
Im pren s a da U n iv ersid ad e d e C o i m b r a
URL: http://www.uc.pt/imprensa_uc
Email: [email protected]
Vendas online: http://livrariadaimprensa.uc.pt
CONCEÇ ÃO GR Á FIC A
An t ón io Ba r r o s
INFOGR A FI A DA C A PA
Carlos Costa
INFOGR A FI A
Henrique Patrício
Xavier Gonçalves
E X ECUÇ ÃO GR Á FIC A
Gráfica de Coimbra
ISBN
978-989-26-0524-1
DEPÓSITO L EG A L
355305/13
(Fernando Pessoa)
(Página deixada propositadamente em branco)
Sumário
Apresentação........................................................................................................................... 13
SECÇÃO 1
NA TERR A DOS LIVROS ONDE TODAS AS HISTÓRIAS SÃO NATUR AIS
SECÇÃO 2
A TERR A EM CENÁRIO ESCOLAR: NOVOS PROBLEMAS, NOVOS DESAFIOS
SECÇÃO 3
A TERR A EM CONTEXTOS NÃO ESCOLARES: LÁ FOR A TAMBÉM SE APRENDE
21. LUND: uma proposta de base de dados de coleções paleontológicas brasileiras............... 205
R. P. Ghilardi, M. G. Soler & M. C. Langer
SECÇÃO 4
PATRIMÓNIO GEOLÓGICO: HER ANÇA PAR A O FUTURO
SECÇÃO 5
GEOCIÊNCIAS: O QUE NOS DIZ A HISTÓRIA E O QUE FICA PAR A A HISTÓRIA
ANEXOS
Revisão Científica..................................................................................................................415
Os Coordenadores da edição
(Página deixada propositadamente em branco)
SECÇÃO 1
NA TERRA DOS LIVROS:
ONDE TODAS AS HISTÓRIAS SÃO NATURAIS
“Andei por abrigos extensos. Mas não encontrei sombra senão na palavra.”
H. Tapadinhas1
Resumo – Contos do Mago é uma mitologia de criação geológica do Algarve que teve
por principal propósito lançar as bases de uma sólida literacia ambiental à margem das
abordagens entretanto instituídas para a Educação Ambiental (EA).
Procurando falar de ambiente sem o nomear, Contos do Mago tentou escapar à satura-
ção da temática ambiental na esfera pública, ao condicionamento das ideologias que lhe es-
tão adstritas e às polémicas académicas alimentadas pela imaturidade de muitas das teorias
em disputa no campo ambiental. Com efeito, pressionada pelo imperativo prático de obter
resultados ambientais socialmente valorados e sem ter tempo nem bases para questioná‑los,
a escola tem‑se atarefado na desmultiplicação de abordagens metodológicas para EA, sem,
contudo, se conseguir libertar do formato doutrinal incrustado nos conteúdos que lhes
dão suporte. Ora, dos resultados que este dogmatismo prático tem produzido ao nível da
adesão aos diagnósticos ambientais dominantes e respetivas terapias, não se pode inferir a
bondade da problematização que lhes está subjacente nem a sua compreensão.
É exatamente com foco numa literacia ambiental emancipadora que a geologia se nos
configura como reserva pedagógica de inestimável valor. Evoluindo em redor do binómio
tempo e mudança, a abordagem da vida pelo prisma da geologia suscita de forma sistemá-
tica o papel do conflito, casualidade, multicausalidade e complexidade na configuração do
mundo. Com essa abordagem constroem‑se as fundações de uma mundividência crítica
que é essencial para compreender ambiente.
1
Direção Regional de Educação do Algarve, Faro, Portugal; [email protected]
main stream speeches. Supported on geological local conditions, it aims to talk about environ‑
ment avoiding saying that is about environment that it intends to speak. Taking this course of
action, it intends to stress the foundations of a critical literacy on the main ideas of environ‑
ment as a complex system in a changing context, shaped by evolution and time production.
18
Doing it, Contos do Mago intends also to emphasize the understanding of conflituality,
casuality, multicausality, always present in geology, as main strengths of live. As so, Contos
do Mago intends to be the visible part of a grounded ecopedagogical iceberg.
1 – Introdução
SHOR (1992) refere‑se à pedagogia crítica como aquela que induz “Habits of thought,
reading, writing, and speaking which go beneath surface meaning, first impressions, dominant
myths, official pronouncements, traditional clichés, received wisdom, and mere opinions, to un‑
derstand the deep meaning, root causes, social context, ideology, and personal consequences of
any action, event, object, process, organization, experience, text, subject matter, policy, mass
media, or discourse.”
O entendimento das dinâmicas geológicas pode constituir‑se como base sobre a qual
é possível desenvolver‑se subliminarmente essa mudança de paradigma, abrindo cami-
nho ao reconhecimento de que o ambiente pertence ao domínio dos sistemas adaptativos
complexos e que, nessa medida, se entende melhor como contingência, do que em acepções
ortodoxas de planeamento finalista que, com frequência, pretendem abrir caminho à
passagem da utopia de um mundo asséptico, técnico, científico, perfeito.
“Pela Sereia Seixa apaixonaram‑se o Monte e o Mar; por ela o Monte envia areia através
dos rios e afasta o mar; por ela o mar quebra as arribas para avançar por terra e chegar ao
Monte. Para sempre.”
Além das possibilidades óbvias que a desconstrução desta ficção permite, como sejam
o estudo das transgressões e regressões marinhas, da formação dos calcários conquí-
feros e das margas, do modulado cársico, dos fósseis, ela abre ainda a possibilidade
inestimável de construir uma perceção fundamentada da mudança e da passagem do
tempo sobre o território em que hoje se habita (TAPADINHAS, 2011). Mas vai mais
longe. É que, ao tornar os alunos atores da sua própria aprendizagem, este tipo de abor-
dagens pedagógicas abrem as portas a outras dimensões que são centrais para o de-
senvolvimento da ecoliteracia crítica.
Para ilustrar este ponto permitimo‑nos sugerir que nos acompanhem na recapitulação
de uma situação concreta recentemente vivida por nós quando usávamos este conto
com uma turma do 10º ano profissionalizante em educação para a infância. O duplo
propósito era dotar os alunos de ferramentas para o exercício da sua orientação pro-
fissional, mas, simultaneamente, melhorar os seus conhecimentos sobre o território em
que habitam. A determinada altura da recriação do conto, um dos alunos questionou
como podia o mar chegar ao monte. A esta dúvida respondeu um segundo, dizendo
que o podia fazer gerando um tsunami. Um terceiro revelou desconhecer o que era
um tsunami. Mas de imediato, uma aluna residente num bairro problemático, par-
tilhou com a turma uma metáfora que no seu entender ajudaria no entendimento do
conceito de tsunami:
23
– “É como uma rusga da polícia!”
Esta intervenção decerto entusiasmaria Ivan Illich ou Paulo Freire, embora se reconhe-
ça que não faltará quem se possa perguntar, perplexo, que tem isto a ver com a geologia ou
com o ambiente. Mas a resposta não é tão óbvia quanto possa parecer. É que o ambiente é
um mix complexo, onde a dimensão social e cultural são tão relevantes como as dinâmicas
biológicas ou geológicas que o suportam. O ambiente define‑se na forma como se habita,
e esse entendimento não prescinde da dimensão política desse habitar, como também não
prescinde da co‑responsabilização de todos os domínios disciplinares na construção dessa
consciência, e entre eles da geologia.
Claro que para isso a ciência terá de estar disponível para descer da torre de marfim onde
por vezes parece querer resguardar a sua pureza virginal, invocando uma pertença superiori-
dade sobre a política, assente numa certa confusão entre verdade e valor. Ora, nem a verdade
contém em si mesma um valor absoluto, nem o valor representa necessariamente qualquer
verdade objetiva (COMTE‑SPONVILLE, 2008). Quem o esquece pode ser tentado a in-
vestir no avanço do conhecimento descurando a décalage que muitas vezes se cria entre o
poder que ele permite e a utilidade social que realiza. O conhecimento deveria contribuir
para a emancipação humana, diz‑se, mas na prática constata‑se que ele também contri-
bui para a produção em massa de consumidores tão mais alienados quanto mais sofisti-
cados. Ora a escola tem responsabilidades na correção dessas assimetrias, e a pedagogia
crítica é uma ferramenta poderosa para liderar essas incursões, nomeadamente através
do território do ambiente. Mas são responsabilidades que têm de ser partilhadas com os
produtores primários do conhecimento, nomeadamente os geólogos, através duma des-
blindagem dos conteúdos que facilite o papel da escola, municiando‑a, na construção do
conhecimento. Mas é claro que, como bem notou Espinosa, nós não desejamos as coisas
por elas serem boas; é por as coisas nos parecerem boas que nós as desejamos.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, A. (2007) – Educação Ambiental – a importância da dimensão ética. Lisboa: Livros Horizonte.
CAPRA, F. (1999) – Ecoliteracy: the challenge for education in the next century. Liverpool Schumacher Lectures
http://pt.scribd.com/susana2030/d/17354372‑Capra‑Fritjof‑Ecoliteracy (consultado em 2012.01.15).
GADOTTI, M. (2003) – Pedagogy of the Earth and the culture of sustainability. Toronto, Canada.
GUERR A, J., SCMIDT, L. & GIL‑NAVE, J. (2008) – Educação Ambiental em Portugal. Universidade
24 Nova de Lisboa.
PEREIRA, R. (2009) – Educação Ambiental no Ensino Básico e Secundário: conceções dos professores e
análise dos manuais escolares. Universidade do Minho.
PICKETT, S., KOLAS, J. & JONES, C. (1994) – Ecological Understanding – the nature of Theory and the
Theory of Nature. San Diego. Academic Press.
SHOR, I. (1992) – Empowering Education: critical teaching for social change. Massachusetts.
TAPADINHAS, H. (2009) – Contos do Mago – narrativas e percursos geológicos. Direção Regional Educação
do Algarve, Faro, Portugal.
TAPADINHAS, H. (2011) – A Dança da Duna Luna da Praia de Faro. Direção Regional Educação do Algarve,
Escola Secundária Tomás Cabreira e Agencia Nacional Ciência Viva, Faro, Portugal.
2
“MUSEUS & FÓSSEIS DA REGIÃO SUL DO BRASIL”:
A RELAÇÃO ENTRE A PRODUÇÃO DE UM LIVRO DE
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E A DESCOBERTA DE FÓSSEIS
DE PTEROSSAUROS NA BACIA SEDIMENTAR DO PARANÁ
Resumo – Durante o ano de 2011 foi executado um projeto para a edição de um livro
de divulgação científica em paleontologia intitulado “Museus & Fósseis da Região Sul do
Brasil”, projeto aprovado em 2010 pelo mecanismo de incentivo à cultura conhecido como
Lei Rouanet, e que teve patrocínio integral da Companhia Paranaense de Energia – COPEL.
O principal objetivo desse projeto é contribuir para minimizar uma grande deficiência que
se tem no Brasil em termos de disponibilização de material didático e paradidático, em
geociências e paleontologia, voltado às necessidades de um público leigo. A concepção des-
se livro possui algumas características particulares que lhe conferem um ineditismo entre
todas as demais propostas similares já produzidas no país. Destacam‑se: forte apoio visual
conseguido por meio de fotografias próprias dos principais fósseis constantes dos acer-
vos de museus e universidades nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul; conteúdo textual de fácil compreensão; inclusão de imagens tridimensionais
por meio de anaglifos, como recurso lúdico e motivacional para o público em idade esco-
lar; abordagem do assunto (fósseis) mediante uma ótica cultural, procurando‑se sempre
que possível relacionar ciência com cultura, principalmente na compreensão do fóssil
do ponto de vista de seu valor como patrimônio da nação. Como adendo, os autores
(CENPÁLEO‑UnC) dessa obra, juntamente com geólogos da Universidade Estadual
de Ponta Grossa, chegaram a localizar um importante sítio fossilífero, inédito para
1
paulomanzig@geotemática.com.br
2
Coordenador do CENPÁLEO/Universidade do Contestado; [email protected]
a ciência, com fósseis de pterossauros de idade cretácea, em arenitos eólicos do Grupo
Caiuá, no noroeste do Estado do Paraná, Brasil.
Abstract – During 2011 a project was executed for the publication of a book of scientific
information in paleontology, entitled “Museums and Fossils of the South Region of Brazil”,
which has been approved in 2010 by the culture incentive regulations known as “Rouanet
Law”, and which had integral sponsorship of the Energy Company from Paraná – COPEL.
The principal objective of this project is to contribute to minimize a great deficiency that
exists in Brazil in terms of availability of didactic and paradidactic material in geosciences
and paleontology, aimed at the needs of a lay public. The conception of this book has some
particular characteristics that give it an unpublished originality among all too many simi‑
lar proposals already produced in the country. They stand out: great visual support through
photographs of the main fossils of the collections of museums and universities in the states
of Paraná, Santa Catarina and Rio Grande do Sul; textual content of easy understanding;
inclusion of 3‑D images, offering playful and motivational resources for the school‑age public;
approach of the subject ( fossils) by means of a cultural point of view making a connection
between science and culture whenever possible, especially in the understanding of fossils as
an inheritance of the nation. In addition, the authors (CENPÁLEO‑UnC) of this work in
co‑operation with geologists of the University of Ponta Grossa located an important fossil area,
unknown to science, with pterosaur fossils of Cretaceous age in aeolian sandstone of the Caiuá
group, in the northwest region of Paraná state, Brazil.
1 – Introdução
Fig. 1 – Capa do livro exibindo o crânio de um Prestosucus chiniquensis, réptil do Triássico do sul do Brasil.
Esse projeto foi aprovado pelo Ministério da Cultura, por meio de um mecanismo
da legislação brasileira conhecido como Lei Rouanet para captação de recursos na área
cultural, conforme número 08.4474 (Pronac), publicado no Diário Oficial da União
em 13 de novembro de 2009. A sua conclusão foi possível graças à captação integral
dos recursos, oriundos da COPEL‑Companhia de Energia Elétrica do Estado do Paraná,
e de patrocínio adicional oferecido pela Autopista Planalto Sul (empresa do Grupo
OHL). Com a disponibilização desses recursos foi possível a edição de 3000 exemplares
do referido livro (Fig. 1), com cerca de 300 páginas, bilíngue (português e inglês), que
estão sendo distribuídos, gratuitamente, em locais estratégicos para a divulgação da pa-
leontologia, como nas secretarias estaduais e municipais de ensino, bibliotecas públicas
e universidades da região envolvida no projeto.
2 – Metodologia
3 – Estruturação
Para efeito de organização do seu conteúdo, o livro está dividido em quatro partes.
Parte III – Patrimônio Fóssil: onde são descritos os fósseis, reunidos nos capítulos sete a
dez. Os fósseis apresentados são agrupados em plantas, invertebrados, vertebrados e icnofós-
seis. O capítulo onze apresenta algumas considerações sobre o conceito de patrimônio fóssil
e turismo paleontológico. O capítulo doze relaciona as atividades de elaboração deste livro
com a descoberta de um sítio fossilífero inédito na Bacia do Paraná.
Parte IV – Anexos: a parte final do livro consta de três anexos, onde são apresentadas
as imagens em 3D, uma listagem com um breve descritivo dos museus com acervo
fossilífero e a bibliografia consultada.
Fig. 2 – Mapa da América do Sul com a localização das ocorrências de pterossauros (círculos),
e o posicionamento da Bacia Sedimentar do Paraná.
A ausência de dentição observada nas amostras sugere que os animais teriam tido uma
dieta frugívora, evidenciando indiretamente a presença de uma vegetação arbustiva ou ar-
bórea de pequeno ou médio porte, que fazia parte da paisagem cretácea de um grande
deserto coberto por dunas e permeado por algumas áreas restritas mais úmidas, caracte-
rizado pelos arenitos eólicos do Grupo Caiuá, depositados no noroeste do Paraná e onde
também teria se estabelecido uma fauna diversificada, incluindo‑se agora esses pteros-
sauros. É particularmente notável que, desde a década de 1970, os pesquisadores vêm
registrando a presença de pegadas fósseis atribuídas a dinossauros bípedes e mamíferos,
nos municípios de Cruzeiro do Oeste, Cianorte e Indianápolis, no Paraná, e em Rosana,
no Pontal do Paranapanema, em São Paulo. (SILVA et al., 2006).
5 – Considerações Finais
O livro “Museus & Fósseis da Região Sul do Brasil” é um produto inédito na literatura
de divulgação científica no Brasil. É resultado de um projeto de grande porte voltado
exclusivamente à produção de material didático sobre paleontologia. É inédito também
por abordar a paleontologia de um ponto de vista cultural, ressaltando o valor dos fósseis
como patrimônio da nação que deve ser preservado. A sua concepção foi projetada para
servir como instrumento de apoio no ensino de ciências naturais, e também para que
31
este projeto possa ter continuidade em outras regiões do país.
A descoberta dos primeiros pterossauros na Bacia Sedimentar do Paraná como con-
sequência direta dos trabalhos de pesquisa para a elaboração deste livro representa uma
premiação complementar para a paleontologia. Por meio destes fósseis, novas discussões
virão à tona em benefício da ciência, sendo importante que seja feito um trabalho conti-
nuado de divulgação sobre o significado destes répteis voadores neste contexto geológico,
para que os resultados futuros das pesquisas sejam também compartilhados com toda
a sociedade.
Referências Bibliográficas
SILVA, R. C., SEDOR, F. A. & MONTEIRO‑FILHO, L. A. (2006) – Pegadas Fósseis de Tetrapoda da Bacia do
Paraná, Brasil. Revisões de Zoologia, Cap. XII, p. 239‑253.
(Página deixada propositadamente em branco)
3
PALEONTÓLOGAS DESCORTINANDO OS
DINOSSAUROS E DRAGÕES DE PEDRO BANDEIRA
Resumo – Este trabalho analisa o livro do escritor brasileiro Pedro Bandeira intitu-
lado O dinossauro que fazia au‑au, publicado inicialmente em 1983. Em cerca de 100
páginas, este livro narra a história de um menino que, para ter seu dinossauro reconhecido
pela sociedade, teve que disfarçá‑lo de dragão. Até o final do século xix, quando os
dinossauros foram reconhecidos como tal, e meados do século xx, quando a literatura
infantojuvenil se tornou acessível às grandes massas, os dragões eram soberanos no
imaginário infantil, representando desafios a serem vencidos para obter um tesouro. Na
era tecnológica que vivemos, os dragões cederam lugar aos dinossauros (pois sua existên-
cia pode ser cientificamente comprovada) como representantes deste arquétipo. O livro
representa o anseio de toda a criança, que se percebe diferente, de ser aceita no mundo
adulto. O dinossauro que fazia au‑au apresenta um dragão, um desafio a ser vencido
para que o desenvolvimento social da criança possa alcançar novos patamares. Este
é o primeiro livro infantojuvenil de autor brasileiro a falar de dinossauros, apresentando
informações corretas e atualizadas sobre os fósseis, e delicadamente lembrando à academia
da importância de se divulgar a Paleontologia de modo acessível às crianças e jovens.
Abstract – This paper analyzes the book written by the Brazilian writer Pedro Bandeira
titled ‘O dinossauro que fazia au‑au’, published in 1983. At about 100 pages, the book tells
the story of a boy who, to get his dinosaur recognized by the society, had to disguise it in a
dragon. Until the end of the nineteenth century, when dinosaurs were recognized as such,
and mid‑twentieth century, when children’s literature became accessible to large masses, the
1
Departamento de Geologia, UFC, Fortaleza; bolsista da CAPES; [email protected]
2
Departamento de Geologia, UFC, Fortaleza; bolsista da FUNCAP; [email protected]
dragons were sovereign in the children’s imagination, representing the challenges to be over‑
come to obtain a treasure. In our technological age, the dragons gave rise to dinosaurs (their
existence can be scientifically proven) as representatives of this archetype. The book presents
the longing of every child who perceives differently to be accepted into the adult world. This
34
is the first book of children’s fiction about dinosaurs from a Brazilian writer, showing correct
and up to date information about the fossils, and gently reminding the academy of the impor‑
tance of disseminating the Paleontology accessible to children and young people.
1 – Introdução
Os dinossauros, quando surgiram, tinham o corpo coberto por escamas. Não sabe-
mos exatamente de que cor eles eram ou que padrão pigmentar possuíam. Todos tinham
caudas musculosas e quatro patas, ainda que uns possuíssem as anteriores muito reduzidas.
Não podiam nadar nem tampouco voar. Algumas das quase mil espécies hoje conhecidas
chegaram a ter 30 m de comprimento e perto de 85 toneladas (NOVELLI, 2008).
No Ocidente, a imagem mais conhecida dos dragões é oriunda de lendas celtas, germâ-
nicas e escandinavas. São tidos como seres muito grandes, com o corpo coberto por grossas
escamas, uma fileira de escamas dorsais triangulares e uma longa cauda sagital. Eles soltam
fogo pelas ventas e fazem tremer a Terra quando a pisam, com suas quatro pesadas patas,
mas podem facilmente flutuar no ar com suas denteadas asas (AUBIER, 1991).
Os dinossauros existiram durante cerca de 160 milhões de anos na superfície da Terra,
como comprovam seus fósseis preservados nas rochas. Podem ser reunidos em dois
grandes grupos: os ornitísquios, com quadril similar ao das aves, e os saurísquios, com o
quadril semelhante ao dos lagartos. Deste último grupo, há formas quadrúpedes e her-
bívoras (os sauropodomorfos), e bípedes e carnívoras (os terópodos), como Tyrannosaurus
rex Osborn 1905. Os terópodos tinham grandes dentes, garras afiadas, membros posteriores
fortes e pés com três dedos, sendo muito ferozes. Os sauropodomorfos em geral eram
maiores e mais pesados, com membros anteriores mais desenvolvidos.
Nas antigas mitologias chinesas e indianas, os dragões eram formas serpenteantes, ápo-
das e aladas, que mantinham seu ventre cheio das águas do céu, que liberavam ocasio-
nalmente, trazendo chuvas e boas colheitas aos humanos (ZIMMER, 1989). Os maias
e astecas também cultuavam um dragão‑serpente alado, que castigava ou beneficiava o
povo conforme sua própria justiça. Há uma deusa dos mitos peruanos, descrita como um
dragão, que zelava pela agricultura, mas que, ao andar, causava terremotos. Já os persas,
gregos, germanos e celtas acreditavam em dragões quadrúpedes, que atemorizavam os
homens para acumular e guardar ricos tesouros.
Restos de dinossauros foram registrados há quase 2000 anos atrás, em rochas jurás-
sicas da China, tendo sido interpretados, na época, como ossos de dragões. Só no início
do século xix, na Inglaterra, é que ossos e dentes de animais denominados Megalosaurus
(por Dean William Buckland em 1824) e Iguanodon (por Gideon Mantell em 1825)
foram reconhecidos como pertencentes a um extinto grupo de grandes répteis, que teriam
vivido na superfície da Terra, denominados dinossauros por Sir Richard Owen em 1842
(TORRENS, 1993). Nas duas décadas seguintes, várias reconstruções de dinossauros
foram expostas no Cristal Palace em Londres, visando divulgar ao grande público esta
descoberta de peso.
Na antiguidade, dragões eram ou seres benéficos, responsáveis pela fertilidade dos
campos, ou seres maléficos, quando expressavam sua fúria através de terremotos e tem-
pestades que destruíam suas casas, gado e plantações. Durante a Idade Média, a existência
dessas criaturas era tida como inquestionável, e muitas famílias possuíam a imagem de
um dragão em seus brasões. Na atualidade, os invisíveis e inaudíveis dragões são criaturas
aladas que representam o poder que os humanos gostariam de ter para usufruir dos
tesouros por eles guardados (ANJOS & BERNARDEZ, 1985).
Dinossauros viviam em planícies e terrenos de vegetação mais densa, em climas
36
tropicais ou temperados, onde andavam sozinhos ou em pequenas manadas, pastando
ou emboscando suas presas (ANELLI, 2010). Por outro lado, dragões viviam e vivem
em locais quase inacessíveis, nas profundezas de cavernas e lagos ou no cimo gelado das
mais elevadas montanhas. Deste modo, dinossauros e dragões não dividiam os mesmos
ambientes. Ou sim?
3 – O Livro
6 – Conclusões
a) Como as obras que ultrapassam gerações, o livro trata do anseio de toda a criança,
que se sente diferente, de ser aceita e reconhecida pelo mundo adulto e civilizado,
mostrando grande identidade entre o menino Galileu e seu dinossauro, observada
até nas ilustrações mais recentes. O dinossauro que faz au‑au representa um dragão,
um desafio a ser vencido para que a criança possa alcançar novos patamares em sua
convivência social.
Bibliografia Ativa
BANDEIR A, P. (1983) – O dinossauro que fazia au‑au. 1ª ed., ilustrações de Pedro Bandeira. Moderna,
São Paulo, 78 p.
BANDEIR A, P. (1987) – O dinossauro que fazia au‑au. 9ª ed., ilustrações de Paulo Tenente. Moderna,
São Paulo, 87 p.
BANDEIRA, P. (2006) – O dinossauro que fazia au‑au. 1ª ed., ilustrações de Renato Moriconi. Melhoramentos,
São Paulo, 100 p.
42
Referências Bibliográficas
ANELLI, L. E. (2010) – O guia completo dos dinossauros do Brasil. Peirópolis, São Paulo, 222 p.
ANJOS, E. S. & BERNARDEZ, A. A. (1985) – O mundo do faz‑de‑conta. 2ª ed., Shogun Arte, Rio de Janeiro,
195 p.
AUBIER, C. (1991) – Dragão. Pensamento, Rio de Janeiro, 128 p.
COELHO, N. N. (1995) – Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira: séculos 19 e 20. 4ª ed.,
EDUSP, São Paulo, 1340 p.
MELLON, N. (2006) – A arte de contar histórias. Rocco, Rio de Janeiro, 249 p.
NOVELI, L. (2008) – Darwin e a verdadeira história dos dinossauros. Ciranda Cultural, São Paulo, 111 p.
OLIVEIRA, I. (org.) (2008) – O que é qualidade em literatura infantil e juvenil? Com a palavra o ilustrador.
Difusão Cultural do Livro, São Paulo, 213 p.
TORRENS, H. S. (1993) – Quando o dinossauro foi batizado? Cadernos IG [Unicamp], 3, p. 119‑125.
ZIMMER, H. (1989) – Mitos e símbolos na arte e civilização da Índia. Palas Athena, São Paulo, 234 p.
4
AS TEMÁTICAS DO ANO INTERNACIONAL DO PLANETA TERRA
NOS MANUAIS ESCOLARES DE GEOLOGIA DOS 10º E 11º ANOS
DE ESCOLARIDADE DO ENSINO SECUNDÁRIO PORTUGUÊS
1
Escola Secundária José Falcão; 3001‑654 Coimbra, Portugal; [email protected]
2
Departamento de Ciências da Terra e Centro de Geociências; Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra; 3000‑272 Coimbra, Portugal; [email protected]
das Ciências da Terra nos currículos dos diferentes sistemas de ensino, nomeadamente
nos que se incluem na CPLP, objetivo preconizado no Programa de Divulgação do
AIPT.
44
Palavras‑chave – Ano Internacional do Planeta Terra; Ensino Secundário Português;
Geologia; Manuais Escolares
Abstract – The present work describes the presence and representation of the themes inclu‑
ded in the Scientific Programme of the International Year of Planet Earth (2007‑2009)
in eight Geology text‑books for the 10th and 11th grades of the secondary education in Portugal.
The results show that all the analyzed textbooks address the 10 subject matters included
in the IYPE Science Program: “Groundwater – towards sustainable use”; “Hazards – mi‑
nimizing risk, maximizing awareness”; “Earth & Health – building a safer environment”;
“Climate – the ‘stone tape’”; “Resource issues – towards sustainable use”; “Megacities – going
deeper, building safer”; “Deep Earth – from crust to core”; “Ocean – abyss of time”; “Soil
– Earth’s living skin”; “Earth & Life – the origins of diversity”. However, this approach does
not have the same representation in the analyzed eight books: “Deep Earth – from crust to core”
and “Ocean – abyss of time” are the most represented themes, while “Megacities: going deeper,
building safer” is the less represented.
Given the crucial role that textbooks play in educational practices, the presence and
representation of those themes – which reflect the organization of the syllabus approved by the
Portuguese Ministry of Education for the Geology component for the 10th and 11th grades
of the secondary education – allow to emphasize their value as a resource to promote a better
integration of Earth sciences in the curricula of different education systems, particularly those
included in the Community of Portuguese Speaking Countries, a major goal of the Outreach
Programme of the IYPE.
1 – Introdução
O Comité Português para o AIPT foi criado, sob a égide da Comissão Nacional
da UNESCO, em Abril de 2007, tendo, ao longo do triénio 2007‑2009, coordenado
aproximadamente 500 eventos, 84% dos quais inseridos no Programa de Divulgação
(HENRIQUES et al., 2010).
De entre os objetivos incluídos no Programa de Divulgação do AIPT, destacava‑se, na
área da educação, a necessidade de promover “uma melhor integração das Ciências da Terra
nos curricula e uma melhor visibilidade académica das mesmas no seio dos diversos sistemas
educativos” (AIPT, 2007b, p. 8), designadamente através da produção de recursos educativos
relacionados com as grandes temáticas em foco no AIPT, destinados a professores e alunos,
de que os manuais escolares (ME), enquanto mediadores privilegiados entre os currículos
oficiais e as práticas escolares, constituem exemplo.
Na verdade, a atividade dos professores é fortemente condicionada pelos conteúdos
inseridos nos ME, que a eles recorrem, não só para decidirem o que vão ensinar, mas
também para decidirem como vão ensinar e avaliar (PEDROSA & LEITE, 2005a, b).
De acordo com VALADARES & NEVES (2004, p. 9), “as aulas de ciências são predo-
minantemente orientadas, organizadas e restritas ao que está nos manuais, que ditam “o
curriculum de ciências a que são submetidos os alunos e, por isso, torna‑se a principal
fonte de conhecimento para a maioria deles”.
Neste contexto, torna‑se relevante analisar até que ponto os ME adotados no sistema
educativo português, nomeadamente na componente de Geologia, podem contribuir para
alcançar os objetivos do AIPT, de “melhorar a consciência geral acerca do enorme poten-
cial que as Ciências da Terra possuem para criar uma sociedade mais segura, saudável e
rica” (AIPT, 2007b, p. 8).
Por outro lado, os ME elaborados em Portugal têm fortes repercussões fora do
sistema educativo nacional, que se estendem, por exemplo, aos sistemas educativos de
países que integram a CPLP, muitas vezes servindo de referência na elaboração de ME
adotados naqueles países. É o caso da República de Cabo Verde, que recentemente
aprovou legislação relativa à mobilização e desenvolvimento da cooperação interna e
externa com vista ao estabelecimento de parcerias com organizações nacionais e in-
ternacionais para o desenvolvimento de programas de educação e ciência, bem como
para a elaboração dos ME que os apoiam (MED, 2012). Relativamente aos ME adotados
naquele país, “pode‑se afirmar que a sua produção e concepção sempre esteve a cargo de
técnicos caboverdianos e portugueses. Aliás, a presença de Portugal na produção de ma-
nuais caboverdianos é uma constante ao longo dos tempos. Se no ensino básico/primário
se pode identificar alguns manuais voltados em certa medida para a realidade do país,
no ensino secundário, por vezes, a carência é colmatada com manuais de Portugal que
são “adoptados” e “adaptados” em função dos conteúdos, das temáticas e dos níveis de
ensino, por exemplo, em disciplinas como História, Ciências Naturais ou Geografia”
46 (MARTINS et al., 2011, p. 5).
O presente trabalho refere‑se a resultados obtidos no âmbito de uma investigação
mais ampla, centrada na análise de conteúdo de oito ME relativos à componente de
Geologia dos 10º e 11º anos de escolaridade, que procurou averiguar de que forma as
temáticas do AIPT são abordadas naqueles recursos educativos (PACHECO, 2011).
2 – Metodologia da Investigação
Fig. 1 – Organização, em quatro grandes temas, dos programas da componente de Geologia dos 10º e 11º
anos de escolaridade (adaptado de AMADOR et al., 2001, 2003).
Tabela 1 – Identificação dos manuais da componente de Geologia
dos 10º e do 11º anos analisados (retirado de PACHECO, 2011).
Número 47
Código Local de Ano de
Título Autores Editora total de
do M E edição edição
páginas
A. Guerner Dias,
Geologia Areal
A10 Paula Guimarães & Maia 2007 223
10/11 Editores
Paulo Rocha
Amparo D. da Silva,
Terra, Almira F. Mesquita,
Universo de Fernanda Gramaxo,
B10 Porto Editora Porto 2007 192
vida: 1ª Parte M. Ermelinda Santos,
– Geologia Ludovina Baldaia &
José M. Félix
Planeta
com Vida: Jorge Ferreira & Santillana
C10 Carnaxide 2007 232
Geologia Manuela Ferreira Constância
(vol. 1)
Desafios:
Óscar Oliveira,
Biologia e
D10 Elsa Ribeiro & Edições ASA Rio Tinto 2007 255
Geologia
João Carlos Silva
(vol. 1)
A. Guerner Dias,
Areal
A11 Geologia 11 Paula Guimarães & Maia 2008 192
Editores
Paulo Rocha
Amparo D. da Silva,
Terra, M. Ermelinda Santos,
Universo de Fernanda Gramaxo,
B11 Porto Editora Porto 2008 208
vida: 2ª Parte Almira F. Mesquita,
– Geologia Ludovina Baldaia &
José M. Félix
Planeta
com Vida: Jorge Ferreira & Santillana
C11 Carnaxide 2008 200
Geologia Manuela Ferreira Constância
(vol. 2)
Desafios:
João Carlos Silva,
Biologia e
D11 Elsa Ribeiro & Edições ASA Rio Tinto 2008 192
Geologia
Óscar Oliveira
(vol. 2)
3 – Resultados
Temáticas do AIPT
2 3 4 5 6 7 8 9 10 12
Unidades
Temáticas/Capítulos
1. A Terra e os seus
√ √ √ √ √ √ √ √
subsistemas em interacção
A Geologia, os geólogos
e os seus métodos
3. A medida do tempo
√ √ √
e a idade da Terra
4. A Terra, um planeta
√ √ √ √ √
em mudança
um planeta muito especial
1. Formação do
√
Sistema Solar
A Terra,
Tema II
2. A Terra e os
√ √
planetas telúricos
3. A Terra, um planeta
√ √ √ √ √ √ √ √ √
único a proteger
Compreender a estrutura e a dinâmica
2. Vulcanologia √ √ √ √ √
da geosfera
Tema III
3. Sismologia √ √ √ √
4. Estrutura interna
√ √ √
da geosfera
1. Ocupação antrópica e
e materiais do quotidiano
√ √ √ √ √
Geologia, problemas
problemas de ordenamento
Tema IV
2. Processos e materiais
geológicos importantes em √ √ √ √ √ √ √ √
ambientes terrestres
3. Exploração sustentada
√ √ √ √ √ √ √
dos recursos geológicos
4 – Considerações Finais
Fig. 2 – Mapa da distribuição global de megacidades no ano 2015 (retirado de AIPT, 2007c).
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(Página deixada propositadamente em branco)
SECÇÃO 2
A TERRA EM CENÁRIO ESCOLAR:
NOVOS PROBLEMAS, NOVOS DESAFIOS
1
CESAM & Departamento de Biologia, Laboratório de Biotecnologia e Citómica, Universidade de
Aveiro; Portugal. Bolseira da FCT – SFRH/BPD/65032/2009; [email protected]
2
Unidade de I&D nº70/94, Química‑Física Molecular/FCT, PEst‑OE/QUI/UIOO/700/2011; Departamento
de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra (FCTUC), Portugal; [email protected]
Abstract – In the perspective of education for sustainable development (ESD), on dif‑
ferent educational levels and contexts (formal, non‑formal and informal), it is indispensable
to promote interdisciplinary practices. The closer relationships between interdisciplinarity
and ESD is even more relevant in the context of cooperation between countries, as happens
56
with Portuguese‑speaking countries (e.g., within CPLP), where, faced by different cultural and
natural heritage, cooperation between educational communities is important, in order to
promote best practices in a perspective of sustainable development. Thus, it is important
that the teachers, in general, science teachers, in particular: (i) reflect on what is it? and for
what? interdisciplinary approaches in science teaching and learning; (ii) reflect on appropriate
contexts for developing interdisciplinary practices (e.g., climate change or disasters and conflicts)
taking into account appropriate literature on research and on education for sustainability; (iii)
to, appropriately, build and develop interdisciplinary approaches that encourage cooperation
between teachers and assist students to better understand phenomena of the material world and
contemporary problems. With such purposes, the present communication intends to promote
itself, informed and conscientiously, in a sustainable development perspective, interdisciplinary
educational practices in science.
1 – Introdução
Problemas atuais e globais, como pobreza e fome, são complexos e requerem for-
mas de atuação adequadas. Para fazer face a estes e outros problemas, urge investir em
Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) visando preparar os cidadãos para
construírem um futuro melhor (UNESCO, 2010). As Nações Unidas (NU) consideram
que, para fazer face à crise que atualmente se vive, é necessário progredir no sentido de
economias verdes. As economias verdes são consideradas as adequadas por, numa pers-
petiva de desenvolvimento sustentável (DS), os equilíbrios entre as dimensões ambiental,
social e económica serem devidamente cuidados, de modo a melhorar a qualidade de
vida de todos (UNESCO, 2010).
A EDS, uma via essencial para promover DS, tem por objetivo melhorar a educação
abordando, de forma eficaz, os desafios atuais e globais para melhor os compreender e,
quando necessário, mudar atitudes e comportamentos. Com EDS pretende‑se que os
cidadãos: a) desenvolvam sentido de responsabilidade local e global; b) desenvolvam
pensamento crítico orientado para o futuro; c) valorizem conhecimento tradicional;
d) reconheçam a interdependência global das atuais mudanças; e) reflitam sobre novos
estilos de vida, respeitando os cidadãos e o ambiente (UNESCO, 2005). EDS implica,
pois, o desenvolvimento de competências, valores, atitudes e comportamentos, numa
perspetiva de ensino que se pretende transformadora e não transmissora: “We need to learn
how to change the way of teaching from being transmissible to becoming transformative”
(GC‑UNESCO, 2009, p. 40). A EDS abrange ainda múltiplas finalidades educativas (e.g.,
os propósitos de educação para todos), integra as Metas de Desenvolvimento do Milénio
(MDM) e empenha‑se em melhorar a qualidade da educação que se pratica incentivando
estratégias interdisciplinares (GC‑UNESCO, 2009).
Todavia, considerar a educação como veículo promotor de DS não é recente. Na confe-
rência do Rio+5, em particular no programa proposto para implementação da Agenda 21,
realça‑se a necessidade de reorientar a educação numa perspetiva de DS. Práticas educati-
vas interdisciplinares são apontadas entre os temas essenciais de EDS: “The core themes of
57
education for sustainability include lifelong learning, interdisciplinary education, partner-
ships, multicultural education and empowerment” (UN, 1997, p. 74). Pela sua natureza
holística, abordagens interdisciplinares são essenciais em EDS, pois ajudam a analisar as
múltiplas dimensões de problemas globais. Abordagens interdisciplinares devem, pois, ser
incentivadas de forma que responsáveis por diferentes áreas de conhecimento partilhem
conhecimentos, cooperem no sentido de alcançar consensos relativamente a assuntos com-
plexos e em diferentes contextos (e.g., formal, não formal e informal) e diferentes níveis de
ensino (GC‑UNESCO, 2009).
Partindo da análise da primeira metade da Década de Educação para Desenvolvimento
Sustentável (DEDS), reconhece‑se, claramente, que as políticas educativas vigentes a nível
dos ensinos primário e secundário procuraram integrar EDS (WALS, 2009). No contexto
europeu, em particular, as políticas educativas que se propuseram incluíam a: 1) integração
de EDS no currículo, ligando‑a a tópicos existentes com a adoção de abordagens integra-
das ou interdisciplinares; 2) criação de condições para as escolas adotarem projetos de EDS
ou atividades extra‑curriculares relacionadas com ESD; 3) escolha individual, por cada
escola, dos seus objetivos específicos e prioridades de trabalho em EDS (WALS, 2009). Os
sistemas educativos que defendiam abordagens interdisciplinares não estavam, contudo,
preparados para as integrar, nem para realçar o seu papel para melhorar a qualidade da edu-
cação (WALS, 2009). Assim, será importante clarificar o significado de interdisciplinaridade,
bem como quais os contextos e abordagens adequados para a sua concretização.
Nalgumas áreas disciplinares (e.g., em ciências) parece simples promover interdis-
ciplinaridade (SILLITOE, 2004), talvez pela aparente maior facilidade em relacionar
conteúdos. Por exemplo, nos ensinos básico e secundário pode parecer fácil interrela-
cionar‑se conteúdos de Biologia, Física, Geologia e Química envolvendo água – água
como recurso natural, água como conteúdo celular, água como solvente, água como
fonte alternativa de energia ou água para consumo humano, entre outros. No entanto,
parecer fácil relacionar conteúdos não significa que se desenvolve interdisciplinaridade,
pois abordagens interdisciplinares não significam: a) simples associação entre disciplinas,
sem alterações na forma e organização do ensino; b) organização temporal dos processos
de ensino e aprendizagem de determinados conteúdos programáticos (sequencial ou si-
multânea); c) adição das disciplinas envolvidas aquando do tratamento didático de um
assunto comum; d) colaboração com vista à recolha de informações provenientes das
disciplinas envolvidas; e) análise conjunta de um mesmo objeto; f ) encontro pontual
para resolução de um problema concreto (POMBO et al., 1994).
Assim, em educação científica será importante analisar: i) o que é interdisciplinaridade e
para quê praticá‑la; ii) quais os contextos apropriados para desenvolver práticas interdiscipli-
nares (e.g., alterações climáticas ou desastres e conflitos), tendo em conta literatura pertinente
no âmbito de investigação (e.g., CHETTIPARAMB, 2007; MORSE et al., 2007) e de edu-
cação para a sustentabilidade (e.g., GC‑UNESCO, 2009; WALS, 2009); iii) como construir
e desenvolver, adequadamente, práticas interdisciplinares que incentivem a cooperação entre
professores e auxiliem os alunos a melhor compreenderem fenómenos do mundo material e
problemas atuais, estimulando mudanças necessárias de atitudes e de comportamentos.
2 – Interdisciplinaridade
Enquanto uma disciplina tende a expor aquilo que é a sua essência, os seus assuntos,
as suas principais teorias e métodos (SZOSTAK, 2007), o termo interdisciplinaridade tra-
duz a cooperação entre várias disciplinas no sentido de se alcançar um objetivo comum,
permitindo, assim, melhorar a educação (D’ HAINAUT, 1986).
De acordo com GODEMAN (2006), interdisciplinaridade significa cooperação entre
diferentes disciplinas e integração de diferentes perspetivas disciplinares, teorias e métodos.
Já desenvolver “competências interdisciplinares” (expressão utilizada por GODEMAN,
2006) significa que os professores e alunos envolvidos se tornam conscientes dos limites e
potencialidades das disciplinas. Desenvolver estas competências significa que professores
e alunos envolvidos aprendem a: i) confrontar aspetos específicos da sua disciplina (e.g.,
de cariz processual, substantivo ou atitudinal) e a problematizar questões próprias de
sustentabilidade; ii) participar em discussões complexas; iii) procurar formas de resolução
de conflitos; iv) negociar compromissos; v) procurar soluções viáveis e, se possível, aceitáveis,
para os problemas atuais (VAN DAM‑MIERAS et al., 2007).
NICOLESCU (1999) considera três graus de interdisciplinaridade, consoante o enfo-
que predominante se centre em aplicações (e.g., quando determinados métodos de Física
são aplicados em Medicina levando ao aparecimento de novos tratamentos para deter-
minadas doenças), reflexão epistemológica (e.g., quando ocorre reflexão epistemológica
decorrente da transferência de métodos de lógica formal para Direito) ou criação de uma
disciplina nova (e.g., Física‑Matemática resultante da transposição de métodos de Ma-
temática para Física). Independentemente do grau, interdisciplinaridade traduz‑se em
diferentes contributos de várias disciplinas no sentido de encontrar uma explicação ou
um entendimento comum para determinado assunto. Nesta perspetiva, interdisciplinari-
dade implica articular pontos de vista relativamente a um assunto e, então, elaborar uma
síntese (POMBO et al., 1994). Apesar de a interdisciplinaridade transpor as disciplinas, tal
como a multidisciplinaridade, distingue‑se desta por os seus propósitos não se confinarem
às fronteiras disciplinares (NICOLESCU, 1999).
2.2 – Para quê promover interdisciplinaridade?
“The world of today faces major problems – major in respect of their magnitude and
the gravity of their consequences. Famine and the destitution of entire populations, the
level attained by the exponential population growth, the threat of nuclear war and the
deterioration of the environment are problems which ethics, science and education can
no longer ignore or leave unsolved. All right‑thinking people are aware of this. But these
problems do not lie within any one discipline, and their solution requires interdisciplinary
approaches and collaboration between specialists in different disciplines. The same is true
of many human and social problems; their complexity is such that they involve interaction
between very different aspects of knowledge and its discovery” (p. 4‑5).
Assim, para atender aos desafios atuais e complexos, educadores e responsáveis pelos
curricula devem desenvolver programas inovadores e interdisciplinares (SMITH, 2005;
LAWRENCE et al., 2010), de modo a criarem condições para melhor se compreender
problemas ou questões emergentes de desenvolvimentos atuais e promover EDS. Por
60
exemplo, combustão é um assunto que integra currículos escolares para os ensinos
básico e secundário (ver, por exemplo, Orientações Curriculares para as Ciências Físicas e
Naturais do 3º ciclo do ensino básico, em Portugal, e programas de Biologia e Química
para o 10º ano, Ensino Secundário, em Timor‑Leste), e, embora reconhecendo a sua
adequação para abordagens interdisciplinares, provavelmente os recursos educativos,
incluindo professores, abordam‑no de forma diferenciada e não articulada nas diferentes
disciplinas curriculares que o integram.
Em suma, interdisciplinaridade é essencial para reorientar a educação no sentido
da sustentabilidade e auxilia a reconhecer que, quando se pretende progredir neste sentido,
o conhecimento disciplinar é insuficiente. Como as disciplinas tradicionais não po-
dem continuar isoladas, urge reconhecer que considerar problemas complexos atuais
requer que, progressivamente, se trabalhe em interfaces disciplinares: “Reorienting
education to sustainability requires recognizing that traditional compartments and
categories can no longer remain in isolation from each other and that we must work
increasingly at the interface of disciplines in order to address the complex problems
of today’s world” (UNESCO, 1997, p. 21). Interdisciplinaridade, contribuindo para
análises efetivas de factos complexos com impacto social, e.g., alterações climáticas,
desertificação, desastres e conflitos (UNEP, 2011; AEA, 2010), é fundamental em
EDS (MORSE et al., 2007).
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3
Grupo GHK foi fundado em 1973 por David Gilmore, Donald Hankey e John Kirke – daí o nome
GHK. Este grupo fornece serviços de consultoria em três áreas principais: 1) reforço da governação e gestão; b)
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6
EDUCAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS:
INVESTIGAÇÃO EDUCACIONAL E CURRÍCULO
DO ENSINO SECUNDÁRIO DE TIMOR‑LESTE
GEOSCIENCES EDUCATION:
EDUCATIONAL RESEARCH AND SECONDARY
CURRICULUM FOR EAST TIMOR
Resumo – O artigo será constituído por duas partes. Na primeira proceder‑se‑á a uma
breve apresentação do desenvolvimento da investigação em Educação em Geociências
(EG) e das suas implicações para o currículo (s.l.), tudo isto no contexto da Educação
em Ciência (EC). A segunda abordará o enquadramento em que se efetuou a conce-
ção e construção do currículo de Geologia para os três anos do Ensino Secundário de
Timor‑Leste, aliás, ainda em curso, bem como algumas referências aos manuais do
aluno e ao guia para o professor.
Abstract – The paper is organized in two parts. The first one presents a short conceptual
framework of the earth sciences education research in a science education context. The second one
is mainly concerned with principles of the geology curriculum, textbooks and teacher’s guide for the
secondary education at East Timor which are being prepared by the authors of this paper.
1
Esc. Sec. de Estarreja. Rua Dr. Jaime Ferreira da Silva, 3860‑256 Estarreja, Portugal; [email protected]
2
Univ. de Aveiro. Campus Universitário de Santiago, 3810‑193 Aveiro, Portugal; [email protected]; [email protected]
Univ. de Évora. Apartado 94, 7002‑554 Évora, Portugal; [email protected]
3
* Membro do Grupo responsável pela elaboração do currículo de Geologia para o Ensino Secundário de
Timor‑Leste
1 – Educação em Geociências no âmbito da Educação em Ciência
4
Participação do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, Fundação Calouste Gulbenkian,
Universidade de Aveiro e Ministério da Educação de Timor‑Leste. Apoio financeiro do Fundo da Língua Portuguesa.
As estratégias para a abordagem das temáticas selecionadas, sem deixar de pon-
derar aspetos socioculturais inerentes à escola timorense, procuram ter em consi-
deração recomendações da investigação em EC. Fazem apelo ao desenvolvimento
de competências bem identificadas no programa, através do recurso a atividades de
70
natureza prática s.l., visando ajudar à resolução de problemas locais, regionais e glo-
bais, partindo da situação de Timor‑Leste. É expectável que o estudo da história
geológica de Timor‑Leste e as suas relações com a dinâmica existente na Terra con-
tribuam para perceber melhor a importante questão da sustentabilidade.
A Fig. 1 mostra o tema organizador do ciclo de três anos (10º, 11º e 12º), bem como
algumas questões chave dos programas respetivos.
10º ANO
O que somos... U. T. 1
Timor‑Leste:
viver e conviver
U. T. 4 U. T. 2
Deformação das rochas: A Terra:
a força da Terra o ovo e a casca
12º ANO
Que futuro temos...
U. T. 3
Rochas e minerais:
os tijolos da Terra
U. T. 1
Geologia e sociedade
11º ANO
A nossa história... U. T. 1
O tempo U. T. 3 U. T. 2
dos geólogos Recursos Riscos
geológicos geológicos
U. T. 4 U. T. 2
O passado geológico A lição
de Timor‑Leste dos fósseis
U. T. 3
As reconstituições
do passado
Esta breve leitura interpretativa da figura não pode desligar‑se do conjunto de com-
petências anteriormente referenciadas, as quais serão desenvolvidas a partir das unidades
temáticas apresentadas. Os conteúdos, para além de valerem por si mesmo, são também
instrumentos de valorização de competências dos estudantes.
72
3 – A finalizar
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(Página deixada propositadamente em branco)
7
O REFLEXO DO ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
COMO UM INSTRUMENTO DE CONTRIBUIÇÃO
PARA UM AMBIENTE SUSTENTAVEL
Abstract – The present article discusses the role of environmental education permeating
the formal education and in everyday society. Environmental education emerges in the con‑
text of a society that is in a social reality of environmental problems and search for economic
growth. The methodology used included research of documentary and bibliographic sources
on that topic. With these results we can conclude the importance of environmental education
as an instrument of awareness, preservation of natural resources and improving of the quality
of life for society as a whole.
1
Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Ceará, Brasil; [email protected]
2
Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Ceará, Brasil; [email protected]
3
Prof. Dr. em Geografia pela Universidade Federal do Ceará, Brasil; [email protected]
1 – Introdução
Na história da humanidade, houve tanto progresso, desde o século xx. Com seus
inventos e descobertas, o Homem tem produzido e desfrutado de um grande número de
76 bens para o seu conforto, como a energia elétrica, a telefonia móvel, a diversidade de au-
tomóveis, o transporte aéreo, os dispositivos eletrônicos, os computadores diversos, etc.
Mas para produzir e consumir esses bens ele precisa de minerais, das águas dos rios,
das chuvas, do ar, do calor da atmosfera, do clima, das plantas, do solo e das florestas,
enfim, dos mais variados recursos naturais existentes na Terra.
Ao produzir bens de consumo, o Homem acaba acelerando o processo de degradação
dos recursos naturais, provocando grandes prejuízos ambientais que afetam todas as for-
mas de vida e os ecossistemas como um todo. A atividade industrial, principalmente, é
responsável por boa parcela dos problemas ambientais, tornando, cada vez mais, insusten-
tável a qualidade para a vida humana. Além disso, a velocidade com que essa destruição
vem ocorrendo pode apressar o fim de recursos, principalmente os não‑renováveis, se a
humanidade não mudar a maneira de manuseio das riquezas naturais.
É preciso entender que é necessário mudarmos a nossa maneira de nos organizarmos,
a fim de que possamos ter um progresso adequado. Cada parte influencia e depende de
outras partes, cada Homem depende de outros Homens, cada planta e cada animal
de outras plantas e animais. A Terra é um organismo vivo e, ao perturbar uma dessas
partes, acabamos afetando o todo (SARIEGO, 2001).
A Educação Ambiental constitui uma possibilidade de conter os impactos negativos
ocasionados pelas atividades exploratórias, pois ela possui, como principal objetivo, a
implementação de um processo sistemático de educação que induz o indivíduo (educan-
do) a uma ação – reflexão – ação, com o objetivo de compreender as consequências oca-
sionadas por seus comportamentos e por suas atitudes perante a natureza. Considera‑se
que o ato de refletir sobre uma dada situação, possivelmente, levará o indivíduo a agir em
prol de benefícios que este possa oferecer à conservação da natureza.
Nesse sentido, cabe à educação um papel de fundamental importância: formar cidadãos
comprometidos e capacitados para a preservação do meio ambiente, melhorar a qualida-
de de vida e garantir a saúde de todos.
Para REIGOTA (1994), uma educação ambiental crítica, desta forma, apresenta‑se
impregnada da utopia de mudar, de forma radical, as relações que hoje conhecemos, tanto
entre a humanidade como entre esta e a natureza. Trata‑se, portanto, de uma educação
de natureza política, em que se enfatiza primeiro a questão do “porquê fazer”, e depois a
questão do “como fazer”.
A aprendizagem através da Educação Ambiental permite que o sujeito que adquire este
conhecimento tenha uma consciência crítica frente à realidade que permeia a sociedade.
E, como consequência, dar a possibilidade da utilização de práticas sócias conscientes.
A Educação Ambiental tem um papel importante dentro do contexto atual de uma
sociedade que cresce em atividades, cada vez mais exploratórias, muitas vezes ativi-
dades essas com o ritmo desenfreado. A sua função é de informar e de despertar a tomada
de consciência a respeito do posicionamento e da atuação do ser humano no planeta
Terra. À medida que a humanidade interfere no meio ambiente impacta; porém, esses
impactos podem ser minimizados a partir do conhecimento e de práticas sustentáveis,
tal como refere RODRIGUES & SILVA (2010, p. 176):
Desta forma, a Educação Ambiental deve ser ensinada através de uma perspectiva
construtivista, onde há valorização do conhecimento empírico aliado com o conheci-
mento científico. Nessa perspectiva, a abordagem sobre a ligação das características do
meio natural onde a comunidade e alunos de determinada escola, nas quais está sendo
praticado o ensino, se torna válida.
4 – Uma Educação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável
Atualmente, há uma grande produção de produtos gerados por uma sociedade mar-
cada pelo consumo. Isso acarreta consequência com a origem de resíduos, com um volu-
me cada vez mais significativo. Se faz necessário, assim, a conscientização de uma prática
educativa dentro da nossa conjuntura social, prática essa muitas vezes não utilizada, se
tornando assim só apenas discurso. Um bom início seria com a conscientização a partir
de uma visão crítica sobre a realidade dessa sociedade contemporânea.
E, ao pensar em uma pedagogia ambiental, deve‑se refletir no “como” pode ser aplicado.
RODRIGUEZ & SILVA (2010) concernem uma Educação Ambiental para contribuir signi-
ficativamente para um desenvolvimento sustentável, com a aprendizagem de quatro elemen-
tos ao aprender – a conhecer, a fazer, viver e ser:
5 – Considerações finais
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(Página deixada propositadamente em branco)
8
ENERGIA E EDUCAÇÃO PARA
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
1
Unidade de I&D nº 70/94, Química‑Física Molecular/FCT, PEst‑OE/QUI/UIOO/700/2011; Faculdade
de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra (FCTUC), Portugal; [email protected]
2
Unidade de I&D nº 70/94, Química‑Física Molecular/FCT, PEst‑OE/QUI/UIOO/700/2011; Departamento
de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra (FCTUC), Portugal; [email protected]
3
Departamento de Ciências da Terra e Centro de Geociências, Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra, 3000‑272 Coimbra, Portugal; [email protected]
Palavras‑chave – Desenvolvimento sustentável; Energia; Recursos energéticos; Educação
formal; Interdisciplinaridade; Aprendizagem baseada em resolução de problemas
1 – Introdução
Livro do 7º ano de escolaridade de “A energia é fundamental na nossa vida. Nada se faz sem energia
Ciências Físico‑Químicas, 3º ciclo [...]”
(RODRIGUES & DIAS, 2010) “A energia manifesta‑se de diferentes maneiras. De acordo
com os efeitos que produz, dão‑se algumas designações a essas
manifestações de energia.”
Fase Descrição
1. Seleção do O professor, depois de selecionar os problemas (enquadrados no currículo vigente),
contexto prepara o/os contexto/s problemáticos que apresenta aos alunos, recorrendo, por
exemplo, a notícias de jornais, filmes, desde que os respetivos conteúdos tenham,
potencialmente, interesse para aqueles.
2. Formulação O professor assume um papel de orientador das atividades. Os alunos identificam os
de problemas problemas decorrentes do/s contexto/s problemáticos previamente apresentados pelo
professor.
3. Resolução do O professor assume um papel de orientador das atividades e deve disponibilizar
problema a informação mínima necessária para que os alunos sejam autónomos e capazes
de procurar e organizar a informação. Os alunos realizam atividades práticas que
impliquem a consulta de diversas fontes, e que lhes permitam chegar a algum
resultado.
4. Síntese e O professor e os alunos verificam se todos os problemas formulados foram resolvidos,
avaliação do ou concluem que aqueles não têm solução.
processo
Partindo das Orientações Curriculares para o 3º Ciclo do Ensino Básico português,
que sugerem a abordagem de “Recursos Naturais – Utilização e Consequências”, conjunta-
mente em Ciências Naturais e Físico‑Químicas do 8º ano, apresentam‑se e discutem‑se
os fundamentos para uma intervenção centrada em energia e recursos energéticos, em
91
particular petróleo, recorrendo a ABRP.
A implementação de ABRP requer uma cuidada seleção de problemas a resolver pelos
alunos, que devem relacionar‑se com assuntos interessantes e relevantes para eles (LEITE
et al., 2008), pois “o interesse dos alunos pelas ciências aumenta e o seu desempenho
melhora quando conseguem estabelecer relações entre o que aprendem na escola e os seus
outros quotidianos [...]” (PEDROSA, 2008, p. 8). Ao longo do ano letivo, surgem notícias
nos meios de comunicação social dando conta da ocorrência de diversas catástrofes no
mundo, que podem representar um recurso útil (BRUSI et al., 2008), nomeadamente em
contextos educativos, dado que configuram problemas atuais e relevantes para os jovens
(CHIN & CHIA, 2004). O petróleo, pela importância que os materiais dele derivados as-
sumem no nosso quotidiano, “deve ser alvo de especial atenção por parte dos alunos, para
que compreendam como a indústria do petróleo tem vindo a afectar as sociedades contem-
porâneas. Para isso, podem ser incentivados a pesquisar sobre a utilização dos derivados
do petróleo no dia‑a‑dia, vantagens e inconvenientes associados ao seu uso. A pesquisa
a realizar pode contemplar a constituição química do petróleo, extracção e processo de
refinação, transporte antes e após tratamento nas refinarias, evidenciando procedimentos
de segurança a ter em conta e custos envolvidos” (DEB, 2001, p. 28).
Partindo desta orientação, sugere‑se uma intervenção centrada em ABRP, envolvendo
os professores de Ciências Naturais e Físico‑Químicas do 8º ano de escolaridade. No âm-
bito da 1ª fase, relativa à seleção do contexto, os professores podem recorrer a uma notícia
publicada ou difundida, por exemplo, sobre a explosão na plataforma Deepwater Horizon,
no Golfo do México dos EUA, em 2011, da qual resultou o maior derrame de petróleo
da história dos Estados Unidos3. Posteriormente, a notícia selecionada deve ser apresenta-
da aos alunos, eventualmente complementada com a projeção de imagens capazes de lhes
suscitar emoções e opiniões, criando um contexto propício à formulação de problemas,
relacionados, por exemplo, com os perigos associados à produção de hidrocarbonetos.
Releva‑se este aspeto por força da dependência da sociedade atual relativamente a este
recurso e/ou da necessidade de se considerar alternativas para minorar esta dependência.
No decurso das etapas seguintes, os professores deverão assumir o papel de orien-
tadores das atividades dos alunos, nomeadamente práticas, que podem assumir formas
diversas, como por exemplo, uma visita de estudo a uma refinaria de petróleo, atividades
de pesquisa relacionadas com a composição química daquele recurso energético e/ou
atividades laboratoriais referentes a propriedades de hidrocarbonetos.
Por fim, e no quadro da síntese e avaliação da intervenção, professores e alunos
devem trabalhar conjuntamente para identificar os problemas que foram resolvidos, e/ou
novos problemas que tenham entretanto emergido.
4 – Considerações finais
Nota – Este trabalho foi realizado no âmbito do projeto Educação em Ciências para
a Cidadania através da Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas (PTDC/
CPE‑CED/108197/2008), financiado pela FCT no âmbito do Programa Operacional
Temático Factores de Competitividade (COMPETE) do quadro Comunitário de Apoio
III e comparticipado pelo Fundo Comunitário Europeu (FEDER).
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9
PERCEÇÕES DE ALUNOS DO ENSINO SECUNDÁRIO DE ARGANIL
(PORTUGAL) ACERCA DE TRABALHO DE CAMPO
1
Agrupamento de Escolas de Arganil; Avenida das Forças Armadas – Apartado 8, 3300 Arganil e Centro
de Geociências; Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Largo Marquês de Pombal,
3000‑272 Coimbra; [email protected]
2
Departamento de Ciências da Terra e Centro de Geociências; Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra, Largo Marquês de Pombal, 3000‑272 Coimbra; [email protected]
Palavras‑chave – Educação para Desenvolvimento Sustentável; Educação Científica;
Ensino Secundário; Geologia; Trabalho de campo
Abstract – The present work refers to a research in science education, focused on practical
96 activities in the field, which sought to respond to the following problem: “How to encourage
meaningful and relevant learning, about detritic rocks, particularly clays?” To this end, an
educational intervention involving 25 students of the 11th year of a secondary school located
in the municipality of Arganil (Portugal) was conceived, planned, implemented and assessed,
under the frame of the “Theme IV – Geology, problems and materials of everyday life”, in‑
cluded in the subject “Clay Rocks” of Biology and Geology. The intervention included several
activities in small groups, which were developed in two distinct contexts – in the classroom
and/or laboratory and in the field. The practical field work was focused on a visit to the
Carriça Ceramic Company, headquartered in Coja, at the municipality of Arganil (Portugal).
To evaluate the perceptions of students about practical field work, two evaluation instruments
were designed, developed and validated – the Diagnostic Questionnaire and the Assessment
Questionnaire, which were administered before and after the intervention, respectively –, as
well as two record instruments – a Grid of Observation and the Teacher´s Diary. The results
obtained from this study provide positive indicators in relation to the educational value of
interventions that promote interactions between formal and non‑formal contexts and focused
on the everyday life of pupils, and reinforces the idea of taking the fieldwork as an important
strategy in promoting science education in general and geology in particular, for purposes of
Education for Sustainable Development.
1 – Introdução
2 – Metodologia da investigação
A metodologia selecionada para esta investigação tem uma natureza essencialmente qua-
litativa, do tipo estudo de caso, em que a recolha de dados contemplou a análise do conteúdo
das respostas dos alunos ao questionário de diagnóstico, às fichas de trabalho e ao questioná-
rio de avaliação, bem como os registos de observação direta e no diário do professor.
No desenvolvimento da intervenção subjacente à presente investigação organizaram‑se
estratégias educativas traduzidas em diversas atividades, orientadas por recursos didáticos es-
pecialmente concebidos e elaborados para o efeito, onde foram contemplados dois con-
textos educativos distintos, mas complementares: contexto formal – com a realização de
diversas atividades na sala de aula/laboratório – e contexto não formal – que envolveu uma
saída de campo à Cerâmica da Carriça, situada na freguesia de Côja, pertencente ao con-
celho de Arganil, o mesmo em que residem os alunos envolvidos na intervenção. Assim,
elaborou‑se um dossiê de apoio às diferentes tarefas (DAT), contendo vários documentos
relacionados com as temáticas seleccionadas (Tabela 1).
Atividades
ft nº1 Quais as características das rochas sedimentares?
– Realização de trabalho laboratorial.
– Discussão acerca das propriedades das rochas sedimentares.
– Realização de tabelas referentes às propriedades das rochas sedimentares e
sua identificação.
ft nº2 Como elaborar um mapa de conceitos sobre as rochas sedimentares?
– Discussão acerca da classificação das rochas sedimentares, bem como das suas
propriedades.
– Elaboração de um mapa de conceitos: “Rochas Sedimentares”.
Antes da saída ft nº3 Quais os principais recursos geológicos explorados na região onde vives?
de campo – Pesquisa bibliográfica utilizando o DAT e a Internet (página da Cerâmica da
(Sala de aula / Carriça).
Laboratório) – Elaboração de um mapa de conceitos: “Extração de recursos minerais”.
– Discussão sobre os recursos geológicos minerais explorados na região de
Arganil.
Tabela 1 – Continuação
ft nº4 A Qual o comportamento da argila quando exposta a diferentes
condições de temperatura e humidade?
– Realização de trabalho laboratorial.
– Discussão acerca da formação de fendas de dissecação. 99
B Qual a relação entre a disposição das partículas numa argila e a sua
deposição?
– Realização de trabalho laboratorial.
– Discussão acerca da velocidade de deposição das argilas.
– Discussão acerca da relação entre a deposição das argilas e os diferentes
ambientes de deposição.
C Como se manifesta a plasticidade de uma argila?
– Realização de trabalho laboratorial.
– Discussão acerca da relação entre a plasticidade das argilas e a sua
utilização na indústria cerâmica.
D Estará a permeabilidade relacionada com a granulometria das
partículas?
– Realização de trabalho laboratorial.
– Discussão acerca da permeabilidade de diferentes tipos de rochas
sedimentares detríticas desagregadas.
ft nº5 Como elaborar um questionário a administrar ao responsável da Cerâmica
sobre a Pedreira das Fontanheiras e sobre a fábrica da Carriça?
– Discussão acerca das questões a efetuar ao responsável da Cerâmica.
– Formulação de duas questões para cada uma das situações.
No campo ft nº6 Paragem 1 – Barreiro das Fontanheiras
– Orientação da carta topográfica com auxílio da bússola e determinação
da direção do Aeródromo e da vila de Côja.
– Representação esquemática e caracterização do barreiro.
– Recolha, identificação e caracterização de uma amostra de argila.
– Discussão acerca da existência de líquenes, existentes junto à zona de
exploração.
Paragem 2 – Parque de argilas
GUIA DE CAMPO
Foram igualmente elaboradas Fichas de Trabalho (ft), a realizar antes, durante e após
a saída de campo, com uma estrutura análoga: um texto a enquadrar a problemática,
formulação de uma questão/problema, e um conjunto de questões orientadoras de ativida-
des necessárias à formulação de hipóteses com vista à resolução do problema (Tabela 1).
A elaboração das respostas às questões incluídas nas ft pressupunha a análise da-
queles textos, a pesquisa de informações contidas no DAT e na Internet, a realização
100
de atividades práticas, laboratoriais e de campo e a discussão das respostas apresentadas,
quer intragrupo quer em plenário.
Para a realização das atividades no campo foram definidas 4 paragens: 1ª paragem
– Barreiro das Fontanheiras; 2ª paragem – Parque de argilas; 3ª paragem – Fábrica da
Cerâmica da Carriça; 4ª paragem – Zona Industrial de Côja (DIAS, 2011). De acordo
com REBELO et al. (2011), quando a saída é programada para uma manhã, o número
de paragens não deve ser superior a 4 e, em nenhum dos casos, o tempo previsto para a
realização das atividades, em cada paragem, deve ser superior a 45 minutos; a sequên-
cia das paragens deve ter em conta as características dos espaços a visitar, os objetivos
da saída e o que se pretende estudar. A Fig. 1, que representa as paragens incluídas
na saída de campo, reflete a sequência daquelas, que exprime, por um lado, processos
e procedimentos de extração e transformação da argila de Côja – de exploração da
matéria‑prima (P1), de armazenamento (P 2) e de transformação (P3) –, e por outro,
as condições em que aquela unidade aflora, em local onde não é objeto de interesse
económico, e que permite compreender as relações estratigráficas com as unidades
encaixantes (P4).
P1 P2 P3 P4
Fig. 1 – Sequência das paragens efetuadas na saída de campo (retirado de DIAS, 2011).
3 – Resultados
Fig. 2 – Resultados da análise das respostas dos alunos referentes à atividade considerada
mais interessante no âmbito da intervenção (retirado de DIAS, 2011).
Fig. 3 – Resultados da análise das respostas às questões relativas às opiniões dos alunos sobre as
atividades realizadas antes da saída de campo, no âmbito da intervenção (retirado de DIAS, 2011).
Fig. 4 – Resultados da análise das respostas às questões relativas às opiniões dos alunos sobre as atividades
realizadas durante a saída de campo, no âmbito da intervenção (retirado de DIAS, 2011).
Execução do poster
Apresentação do poster
Fig. 5 – Resultados da análise das respostas às questões relativas às opiniões dos alunos sobre as atividades
realizadas após a saída de campo, no âmbito da intervenção (retirado de DIAS, 2011).
4 – Considerações finais
Os resultados obtidos com este estudo mostram que as atividades centradas em pro-
blemáticas atuais e em contextos do quotidiano dos alunos, que os ajudam a estabelecer
relações entre os assuntos abordados na aula e no decorrer da saída de campo, parecem ser
as que mais lhes agradaram. Tal parece confirmar que, sendo a Geologia uma disciplina
inerentemente “outdoor”, sempre que possível, deverá contemplar a realização de atividades
de campo, de modo a tornar mais fácil e mais objetivo o ensino/aprendizagem na ótica
do ensino CTS (VELHO & MOTA, 2010). Também a forma entusiasmada como as
atividades propostas foram desenvolvidas e a atitude empenhada na sua realização, por
parte de todos os grupos, parece confirmar a importância das atividades “outdoor” como
103
potenciadoras de uma educação adequada às atuais orientações curriculares. As atividades
“outdoor” constituem uma forma enriquecedora de promover aprendizagens significa-
tivas e relevantes em ambiente não formal e formal, para além de auxiliarem o aluno
na construção de conhecimento científico (SALVADOR & VASCONCELOS, 2003).
Neste caso, as atividades parecem ter sido estimulantes e motivadoras de aprendizagens
nos alunos, e ter contribuído para uma melhoria na construção de conhecimento cientí-
fico do âmbito das Geociências e no desenvolvimento de atitudes e valores fundamentais
de forma a prepará‑los para desempenharem um papel ativo e construtivo na sociedade.
A investigação cujos resultados agora se apresentam reporta‑se a um estudo de caso e
tais resultados não podem generalizar‑se a outros alunos, turmas ou escolas. Contudo, as
estratégias utilizadas na intervenção subjacente à presente investigação podem e devem ser
usadas noutros contextos educativos, nomeadamente naqueles que vigoram em outros
Estados‑membros da CPLP, em que a exploração dos recursos geológicos configura uma
atividade económica importante. Enquanto estratégias promotoras de cidadania ativa
e participativa, tais estratégias revelam‑se cruciais na promoção de Educação para o Desen-
volvimento Sustentável (EDS), independentemente da organização curricular de cada país,
até porque a EDS “is not a particular programme or project, but is rather an umbrella for
many forms of education that already exist, and new ones that remain to be created. ESD
promotes efforts to rethink educational programmes and systems (both methods and
contents) that currently support unsustainable societies” (UNESCO, 2012).
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10
ATIVIDADES PRÁTICAS PARA O ENSINO DA ESTABILIDADE
DE TALUDES COM BASE EM CASOS REAIS
Abstract – In this study we have planned, prepared and validated teaching materi‑
als for STS‑E, based on a case study described in the literature – the Elísio de Moura
Avenue earth flow, occurred in Coimbra, on December 27, 2000. This subject belongs to
1
CGUC, Departamento de Ciências da Terra, Universidade de Coimbra, 3000‑272 Coimbra, Portugal;
[email protected]; [email protected]
2
Departamento de Ciências da Terra, Centro de Geociências, Universidade de Coimbra, 3000‑272
Coimbra, Portugal; [email protected]
the theme Natural Hazards and Problems of Anthropogenic Occupation (slope areas), in the
11th grade of the Biology and Geology programme. These materials were evaluated by 21 students,
9 girls and 12 boys, aged between 16 and 18, attending 11th grade Biology and Geology
classes, in a school in the municipality of Viseu. They completed a questionnaire in class, after
106
the implementation of the didactic materials. This questionnaire had 8 closed‑ended ques‑
tions with a scale of 1 to 5 and an open‑ended question requiring suggestions, comments or
opinions. We also carried out a structured interview with 3 teachers. The students considered
the practical activities important for the understanding of natural hazards associated with
slope zones. The teachers expressed a similar opinion.
1 – Introdução
Nos últimos anos tem‑se acentuado a importância de um ensino das ciências voltado
para a compreensão das relações entre a ciência, a tecnologia, a sociedade e o ambiente,
perspetiva CTS‑A. A integração desta perspetiva depende não só da organização dos
programas, mas também da construção de materiais didáticos que enfatizem aquelas re-
lações, a partir de problemas pertinentes para a sociedade. Como escreveu CANAVAR-
RO (1999, p. 134) “…a abordagem STS [Science, Tecnology and Society] procura criar
um contexto real e com significado para que a aprendizagem possa ocorrer, almeja que
os alunos aprendam ciência num contexto de experiências reais, ligadas ao mundo desses
alunos. A criação do contexto real e com significado permitirá aos alunos aplicar o que
aprendem, agir sobre o mundo e sobre as suas aprendizagens”. No entanto, a perspetiva
CTS‑A no ensino português está ainda muito dependente dos recursos didáticos ofereci-
dos pelos manuais escolares (MARTINS, 2002).
Neste estudo foram planeados, elaborados e validados materiais didáticos para o en-
sino CTS‑A, a partir de um caso real descrito na literatura – o deslizamento na Av.
Elísio de Moura, em Coimbra. Este tema está enquadrado na temática dos Riscos Natu-
rais e Problemas de Ocupação Antrópica (zonas de vertente), da disciplina de Biologia e
Geologia do 11º ano (AMADOR et al., 2002).
2 – Enquadramento Do Caso
Fig. 2 – Perfil do terreno após a estabilização dos logradouros e dos acessos às vivendas.
Na figura observa‑se ainda o local onde ocorreu a instabilização que provocou o
deslizamento de 27 de dezembro de 2000 (adaptado de LOURENÇO
& LEMOS, 2001; QUINTA‑FERREIRA et al., 2002).
3 – Metodologia
108 Com base em dados obtidos em artigos científicos sobre o deslizamento (LOUREN-
ÇO & LEMOS, 2001; QUINTA‑FERREIRA et al., 2002; LEMOS & QUINTA‑FER-
REIRA, 2004; QUINTA‑FERREIRA & PEREIRA, 2005; QUINTA‑FERREIRA, 2007)
foi elaborada uma ficha de trabalho intitulada “Estudo de caso: deslizamento na avenida
Elísio de Moura, em Coimbra”, com atividades práticas de papel e lápis, em duas versões,
uma para o aluno e a outra para o professor. Na Fig. 3 são apresentadas duas atividades da
versão do aluno. Com estas atividades pretendia‑se que os alunos atingissem os seguin-
tes objetivos: a) realizar um estudo de caso sobre um acontecimento real; b) compreender
que os movimentos em massa resultam da convergência de fatores naturais, potenciados
pela ação antrópica; c) reconhecer a importância da Geologia na implementação de me-
didas de prevenção/remediação, na identificação de potenciais riscos e no ordenamento
do território; d) assumir novas atitudes face à Geologia. Foram também elaboradas duas
animações, uma sobre os efeitos do deslizamento, outra com a evolução do perfil do
terreno onde ocorreu a instabilidade, desde o início da década de 80, do século xx, até o
momento em que ocorreu o deslizamento, de modo a possibilitar uma melhor compre-
ensão dos processos geológicos em estudo. A versão do professor continha os objetivos da
atividade, uma proposta de correção, um glossário de termos científicos e técnicos e duas
listas de referências (bibliografia consultada e proposta de consulta).
Para analisar os dados foram efetuados cálculos de estatística descritiva e análise das
respostas dos alunos à questão aberta, bem como das respostas dos professores. Para estas
últimas foi efetuada uma análise de conteúdo (BARDIN, 2008). As categorias definidas
são independentes, exclusivas e exaustivas. A tabela 1 apresenta os valores da média e
do desvio‑padrão obtidos para cada questão do QAMD apresentado aos alunos. Relati-
vamente à questão aberta, apenas 5 alunos apresentaram opiniões, críticas ou sugestões
(tabela 2). A tabela 3 apresenta as respostas dos professores à entrevista semiestruturada.
109
Questões Média ± DP
110 1. Complexidade da ficha de trabalho 2,62±0,84
2. Complexidade das figuras 2,19±0,96
3. Complexidade dos textos 2,57±0,66
4. Complexidade das questões 2,48±0,66
5. Importância do vídeo sobre o deslizamento para a compreensão do tema 4,24±0,75
6. Importância da animação para a compreensão do tema 4,38±0,65
7. Importância do estudo de caso para a compreensão do tema 4,19±0,79
8. Contributo para a compreensão da importância da Geologia na Sociedade 4,24±0,61
Tabela 2 – Unidades de registo obtidas a partir da análise das respostas à questão aberta
(sugestões, críticas ou opiniões).
Sugestões
“(…) acho que deveriam ter sido colocadas mais imagens do local antes do incidente e do local
atualmente.”
“Os textos deveriam ser menos extensos.”
Tabela 3 – Unidades de registo obtidas a partir da análise de algumas das respostas dos professores.
Sugestões
“Incluir na ficha do aluno o glossário e os objetivos da atividade.”
“Nos materiais audiovisuais poderiam ser apresentadas figuras/imagens relativas ao local, anteriores
aos deslizamentos.”
“Incluir outros exemplos de deslizamentos na cidade de Coimbra e arredores.”
5 – Considerações finais
A recetividade aos materiais foi boa. A análise do QAMD revelou que os alunos
consideraram as atividades práticas importantes para a compreensão da problemática
das zonas de vertente, no contexto dos riscos naturais e dos problemas da ocupação
antrópica das zonas de risco. Consideraram ainda que a ficha de trabalho é pouco
complexa. Sobressai, no entanto, alguma complexidade dos textos utilizados, provavel-
mente relacionada com a compreensão da linguagem científica. Para minimizar esta
situação, será introduzido, na versão do aluno, um glossário de termos científicos e
técnicos. Também as animações serão aperfeiçoadas com mais imagens do local afetado
pelo deslizamento.
O estudo de situações‑problema concretas possibilita integração das aprendizagens
construídas em sala de aula, promove momentos de discussão das relações entre a Geo-
logia, a geotecnia, a sociedade e o ambiente e sensibiliza para os riscos geológicos e para
o ordenamento do território. Em conclusão, os materiais apresentados neste trabalho
constituem uma proposta válida para o ensino da estabilidade de taludes no tema Riscos
Naturais e Problemas de Ocupação Antrópica (zonas de vertente). Como limitação deste
estudo, existe o facto de apenas cinco alunos terem respondido à questão aberta. Estes
e outros materiais, em construção, serão implementados a uma amostra mais alargada.
A entrevista também será efetuada a um número maior de professores.
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11
AS PEDREIRAS COMO RECURSOS EDUCATIVOS
– A PEDREIRA BRITALDOS (PENELA, PORTUGAL)
1
Escola Secundária de Figueiró dos Vinhos, Rua Madre de Deus, 3260‑426 Figueiró dos Vinhos e Centro
de Geociências da Universidade de Coimbra, 3000‑272 Coimbra, Portugal; [email protected]
2
Dep. Ciências da Terra e Centro de Geociências, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra, 3000‑272 Coimbra, Portugal; [email protected]
Palavras‑chave – Educação para Desenvolvimentos Sustentável; Gestão Sustentável de
Recursos Geológicos; Ensino de Geologia; Estratégias e Recursos Educativos; Pedreiras
Abstract – In this work, we present the theoretical framework and the methodology used
114
for the conception and planning of an educational project designed for students in the discipline
of Biology and Geology in the 10th year of secondary education in Portugal, focussed upon the
teaching unit – ‘Earth, a very special planet’.
The research was framed within a science education project which endeavours to answer
the following question – How to stimulate meaningful and relevant learning about sustainable
exploitation of geological resources, in particular, limestones?
The project was carried out during the academic year 2010/2011, involving students of
the 10th year at the secondary school of Figueiro dos Vinhos, and using practical fieldwork, in
small groups, during a field trip to an abandoned limestone quarry – the Britaltos Quarry
which is situated in the district of Penela (central Portugal).
Research results of this intervention reinforce the view that quarries can represent educatio‑
nal resources of great value in promoting education for sustainable development, generating
relevant knowledge on Geosciences. Thus, the strategies and resources developed for this specific
project should inspire other initiatives for other classes and schools located near to quarries,
a reality more and more present in daily life of students, and for which it is considered
necessary to adopt individual and collective attitudes and behaviors consistent with sustainable
management of the geological resources.
1 – Introdução
117
individual
Trabalho
– Apresentação da intervenção
45
– Administração do questionário de Questionário de Diagnóstico
minutos
diagnóstico
químicas e físicas
– Apresentação em PowerPoint® – 45
Documento em PowerPoint® minutos
Preparação para a aula de campo
P1 P2 P3 P4
A sequência apresentada pode e deve ser ajustada aos objetivos previamente defini-
dos, devendo sempre atender a que os alunos tenham um papel ativo na realização das
tarefas das diferentes paragens, propondo‑lhes atividades que envolvam, por exemplo:
a utilização de mapas, que lhes permitam orientarem‑se reconhecendo as suas desloca-
ções no espaço geográfico, localizarem factos relacionados com o espaço físico envol-
vente e descreverem adequadamente determinada localização (GARCIA DE LA TOR-
RE, 1994); a reprodução, sob a forma de esquema ou fotografia, do que observam,
indo ao encontro do que é defendido por COMPIANI (2011), acerca da importância
dos registos, esquemas ou desenhos na promoção da linguagem visual e da pertinência
da sua incorporação no trabalho de campo, uma vez que aqueles permitem aos alunos
adquirir uma perceção global do que vêm, bem como das relações de causalidade entre
a realidade e os processos que a modelaram.
Na Tabela 2 apresentam‑se as diferentes atividades planificadas, bem como os re-
cursos específicos que foram utilizados no decorrer da aula de campo, e que envolveu
trabalho cooperativo em Pg.
119
Ficha de Trabalho nº 5
– Identificação de rochas através das suas
Lápis, borracha, Escala de Mohs
propriedades.
Esguicho de água, ácido clorídrico
– Determinação das coordenadas
(10%), cartas geológicas, martelo de
geológicas dos estratos. 180
geólogo.
– Determinação da idade do minutos
afloramento.
120 Tabela 3 – Planificação das atividades desenvolvidas na 3ª fase (Escola – sala de aula).
Computador,
– Conceção e elaboração de DAT V – É possível recuperar
propostas para requalificação da áreas degradadas? – Exemplos de 135
Pedreira Britaltos sob a forma de Requalificação Ambiental; minutos
Local – sala de aula
– Administração do Questionário 45
Questionário de Avaliação
de Avaliação minutos
3 – Considerações finais
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12
PERCEÇÕES E IDEIAS DE ALUNOS DO ENSINO SECUNDÁRIO
ACERCA DE GEOPARQUES NO ÂMBITO DE UMA INTERVENÇÃO
EDUCATIVA CENTRADA NO GEOPARQUE AROUCA (PORTUGAL)
1
Escola Secundária de Ponte de Sor, Rua General Humberto Delgado, 7400‑259 Ponte de Sor, Portugal;
[email protected]
2
Departamento de Ciências da Terra e Centro de Geociências; Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra, Largo Marquês de Pombal, 3000‑272 Coimbra, Portugal; [email protected]
3
Departamento de Geologia da Universidade de Trás‑os‑Montes e Alto Douro, Apartado 1013, 5001‑801
Vila Real, Portugal; [email protected]
Os resultados obtidos na presente investigação evidenciam que a realização de inter-
venções educativas, envolvendo estratégias de trabalho cooperativo e de trabalho prático,
recorrendo a saídas de campo ao Geoparque Arouca, podem contribuir para promover
aprendizagens significativas e relevantes acerca de Geoconservação, bem como estimular
124
curiosidade e interesse por aprender mais relativamente às Ciências da Terra.
Abstract – This paper refers to the perceptions and ideas expressed by students about
geoparks within the framework of a research in science education centered in an intervention
that involved students from two classes of 11th grade of the High School of Ponte de Sor
(Portugal). The intervention was developed under the “Theme IV – Geology, current problems
and materials”, and resorted to strategies of fieldwork in small groups.
Accepting the assumption that geoparks can be educational resources of great importance
in promoting education for sustainable development, mobilizing knowledge inherent to the
Earth Sciences, and to Geoconservation in particular, the activities with students were held
in the classroom and in the field, the latter within a field trip to the Arouca Geopark (Portugal),
integrated into European and Global Network of Geoparks assisted by UNESCO. In this
context, we sought to explore with students, geodiversity elements found in five of its geosites:
Centro de Interpretação Geológica de Canelas, Miradouro da Frecha da Mizarela, Contacto
Geológico da Mizarela, Campo de Dobras da Castanheira e Pedras Parideiras – Castanheira.
The results of this research show that educational interventions involving both collaborative
work and practical work, using the Arouca Geopark as a resource for the implementation of
field work, can contribute to promote significant and relevant learning on Geonconservation,
as well as to stimulate curiosity and interest for learning more about Earth Sciences.
1 – Introdução
126
2 – Metodologia
Tabela 1 – Respostas dos alunos acerca dos geoparques existentes em Portugal (TOMAZ, 2011).
Contribuir
Promover o Contribuir para
Proporcionar para a Estimular a Incentivar Estimular a
desenvolvimento conservar as
128 turismo da conservação educação em a prática leitura de revistas
regional espécies de aves
natureza do património geociências desportiva sobre turismo
sustentável em risco
geológico
QD 10 34 25 15 0 4 0
QA 24 36 29 25 2 0 0
Tabela 3 – Respostas dos alunos relativamente à intenção em voltar a visitar um geoparque (TOMAZ, 2011).
Dos alunos que demonstraram interesse em visitar outro geoparque, que não o Geo-
parque Arouca (tabela 4), 25 alunos indicaram o Geoparque Naturtejo, o que se justifica
por este geoparque ter sido referido inúmeras vezes durante a realização das atividades in-
tegradas na saída de campo. Entre os restantes alunos que mostraram intenção de visitar
outros geoparques, 2 alunos referiram apenas que pretendiam fazê‑lo fora de Portugal.
Outro aluno indicou que gostaria de visitar um geoparque que proporcionasse a obser-
vação de fósseis e atividades de lazer, e outro aluno referiu apenas o interesse em visitar
um geoparque que proporcione a participação em atividades culturais. De acordo com
estes resultados, a intervenção parece ter contribuído para despertar nos alunos curiosi-
dade e interesse por visitar outros geoparques, designadamente o Geoparque Naturtejo,
o que releva o interesse da existência de um conjunto de geoparques, cada um com os
seus valores patrimoniais específicos que, trabalhando em rede, promovem a divulgação
uns dos outros, num espírito de complementaridade entre os diversos membros da Rede
Europeia de Geoparques (MC KEEVER & ZOUROS, 2005).
Da análise da tabela 5 conclui‑se que 17 alunos mostraram interesse em visitar no-
vamente o Geoparque Arouca com o intuito de participar em atividades educativas no
âmbito da disciplina de Geologia, indo ao encontro de ideias defendidas, por exemplo,
por ORION & HOFSTEIN (1994) e ORION (2003), de que as saídas de campo são
atividades de elevado valor educacional e de potencial cognitivo. Verifica‑se, ainda, a
existência de um crescente interesse, manifestado por alguns alunos, em realizar ativi-
dades de lazer em zonas naturais, reforçando o valor dos geoparques como territórios
de excelência para a prática do geoturismo (ROCHA et al., 2010), que integram recursos
naturais diversos (paisagem, relevo, afloramentos, fósseis, rochas e minerais), onde se
enfatizam processos que criaram e criam geodiversidade e se promove a valorização e con-
servação ambiental e cultural, trazendo benefícios para aqueles territórios (DOWLING &
NEWSOME, 2006; DECLARAÇÃO DE AROUCA, 2011).
129
N.º de alunos
Geoparque Naturtejo 25
“Geoparque fora de Portugal” 2
“Um Geoparque que proporcione a observação de fósseis e atividades de lazer” 1
“Um Geoparque que proporcione atividades culturais” 1
Geoparque Açores (“apesar de ainda não ter sido considerado um geoparque”) 1
Não responde 1
4 – Considerações finais
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(Página deixada propositadamente em branco)
13
BOGICCA: JOGO PARA ENSINO
DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO SOLO
Resumo – A utilização de jogos como recurso didático tem sido um importante fa-
cilitador no processo de ensino/aprendizagem. Além de auxiliar no desenvolvimento de
habilidades cognitivas, promove também a melhoria das qualidades físicas, emocionais e
sociais dos educandos. Com base nessa metodologia, que alia recursos lúdicos ao ensino,
apresentamos Bogicca, um jogo de regras cujo objetivo é ampliar os conhecimentos dos
participantes acerca dos Processos de Formação dos Solos. O jogo tem por finalidade
complementar o ensino de Geociências no tocante à formação de solos, além de apre-
sentar tópicos importantes de educação ambiental. Ademais, Bogicca incentiva, de um
modo dinâmico e educativo, a preservação da natureza através do desenvolvimento da
responsabilidade ambiental dos jogadores. Neste artigo, descreveremos o modo de apli-
cação de tal recurso, assim como os resultados obtidos, a alunos com idade entre sete e
nove anos da ONG ACORDE, em Embu das Artes – SP.
Abstract – The use of games as a teaching resource has been an important facilitator
in the teaching / learning process. Besides assisting the development of cognitive skills it
also promotes the physical, emotional and social improvement on the students. Based on this
methodology, which combines entertainment resources to educational methods, we present
Bogicca, a game of rules which aim is to expand the knowledge of participants about soil
formation. The game is intended to complement the teaching of geosciences in terms of soil
formation, in addition to presenting important topics in environmental education. Furthermore,
1
Universidade de São Paulo – Instituto de Geociências, Brasil; [email protected]
2
Universidade de São Paulo – Instituto de Geociências; Brasil; [email protected]
3
Universidade de São Paulo – Instituto de Geociências; Brasil; [email protected]
Bogicca encourages a dynamic and educational way to promote nature’s preservation through
the development of environmental responsibility of the players. In this article, we will de‑
scribe the application of this resource, as well as the achieved results, to students with age
between seven and nine years of the ONG ACORDE, in Embu das Artes – SP.
134
Keywords – Games; Soil formation; Geosciences; Environmental Education
1 – Introdução
A ausência de conhecimento mais aprofundado sobre o planeta faz com que, muitas
vezes, a população explore de forma inadequada os recursos que a Terra oferece.
Diante dessa situação, faz‑se necessário o emprego de ações voltadas à divulgação e
ao ensino das Ciências da Terra junto às comunidades visando uma ocupação sustentável
do ambiente em que se vive.
“O aprendizado das Geociências envolve contato com inúmeros desenhos explicati-
vos, gráficos, tabelas, mapas, perfis geológicos e diagramas” (LOPES & CARNEIRO,
2009). Nessa ciência, o uso de ilustrações, imagens, vídeos e jogos, como suplemento
ao ensino, é importante e necessário, uma vez que muitos conceitos são de difícil
entendimento e assimilação.
Os recursos naturais são fundamentais à manutenção da vida na Terra. O solo é um
desses recursos, primordial à concepção de conceitos como Hidrosfera, Geosfera e suas
interligações nos ciclos naturais com a Atmosfera e Biosfera.
Um dos principais problemas identificados no estudo dos solos está no entendimento
de sua formação. Poucas pessoas entendem que o solo se origina por meio da alteração das
rochas e não apenas pelo intemperismo de um depósito sedimentar, como geralmente é
pensado. A compreensão dos processos de formação do solo, que ocorre em escala de tempo
geológico de milhões e milhares de anos, enfatiza a possibilidade do uso e manejo correto
não somente desse recurso, mas de todos os recursos naturais disponíveis no planeta.
Desta forma, a aplicação de jogos educacionais, como o Bogicca aqui apresentado,
é uma tentativa de suprir essa lacuna no aprendizado das Geociências. Ao abordar um
tema complexo, como a formação dos solos, que envolve uma abordagem sistêmica do
funcionamento do planeta (Sistema Terra), é possível trabalhar temáticas interdisciplina-
res, ancorada pelos princípios da Educação Ambiental, ao alertar para a importância da
preservação desse recurso natural e para a forma como vem sendo usado pela sociedade.
O objetivo do presente trabalho é o de apresentar a concepção do jogo Bogicca e os
resultados obtidos no seu uso como um recurso didático à aprendizagem de um tema
geocientífico. Bogicca foi aplicado a um grupo de crianças, e elaborado para difundir os
conhecimentos a respeito de solos, além de enfatizar a importância de sua preservação,
ao colocá‑lo como um recurso natural.
2 – Concepção do jogo
3 – Dinâmica do jogo
Tais cartas foram elaboradas com o propósito de responder às dúvidas surgidas a par-
tir da curiosidade das crianças na busca da aprendizagem do assunto, e, também, para
orientar e incentivar a preservação da natureza de um modo sustentável, uma vez que se
as crianças se encontravam numa Área de Proteção Ambiental (APA).
Neste jogo temos duas modalidades de cartas, chamadas de “Você está Atolado”
e “Sorte ou Revés” (Fig. 2).
Foram produzidos dez jogos, sendo que oito deles foram doados à instituição Acorde.
4 – Resultados obtidos
Na fase inicial do estágio, o contato com as crianças era limitado à observação, a fim
de conhecer seus comportamentos e rotinas.
Embora a Acorde esteja localizada numa Área de Proteção Ambiental – APA, repleta
de recursos naturais, perfis de solo e com ampla vegetação, era perceptível que as crian-
ças desta instituição não tinham nenhum conhecimento acerca da origem dos solos e das
relações com a vegetação, com as nascentes, com as rochas que compunham o relevo,
tampouco sobre desenvolvimento sustentável, conceito necessário às crianças para que
elas pudessem conviver de forma harmoniosa com a natureza.
Aproveitando as atividades práticas de plantio e colheita realizadas em hortas pelos
alunos, o tema Solos foi escolhido para a confecção do jogo e para as atividades de ensino.
Os jogos propiciam o desenvolvimento de potencialidades e facilitam a aprendizagem dos
alunos, transformando‑os em cidadãos aptos a uma maior e melhor interação na sociedade.
Visto que o brincar é essencial na vida da criança, a aprendizagem e a ludicidade
não podem ser vistas como ações com objetivos distintos, mas um meio facilitador da
aprendizagem tanto para a criança, quanto para o professor, conforme pôde ser observado
durante a aplicação do jogo Bogicca, cuja interação entre os alunos e professores geraram
questionamentos que favoreceram à aprendizagem.
Sabendo da importância dos jogos no desenvolvimento educacional da criança, no
que se refere à aquisição de valores que formam o caráter, a melhora no convívio social
e o auxílio pedagógico no processo de aprendizagem, o jogo Bogicca mostrou ser um
Recurso Didático favorável à Educação Ambiental, e pode ser utilizado como um dos
métodos comprovados na transmissão de conceitos geocientíficos, haja vista que a pe-
dologia pertence às geociências e colabora para o desenvolvimento da visão sistêmica do
planeta Terra, contribuindo para a constituição de uma percepção holística dentro de
um novo paradigma para a educação ambiental que não é somente biológica, mas deve
conter elementos geológicos e pedológicos (geocientíficos).
Diante do exposto, pode‑se inferir que o conteúdo mencionado foi transmitido fa-
cilmente às crianças e os resultados, portanto, foram positivos, pois foi comprovado que
o uso do jogo Bogicca como método de ensino foi eficiente ao grupo, além de propiciar
lazer e entretenimento àqueles que participaram do jogo.
A ideia é divulgá‑lo com um dos métodos comprovados na transmissão de conceitos
das Geociências como um todo, para que se faça o uso dos recursos naturais com respeito
ao próximo e ao meio ambiente, concicliando crescimento econômico e preservação da
natureza, ou seja, contribuindo com o desenvolvimento sustentável.
LOPES, O. R. & CARNEIRO, C. D. R. (2009) – O jogo “Ciclo das Rochas” para ensino de Geociências. Rev.
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(Página deixada propositadamente em branco)
14
O ENSINO DE GEOGR AFIA
E A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS
DO ESPAÇO GEOGR ÁFICO DE INDEPENDÊNCIA
(CEAR Á, BR ASIL)
Resumo – Este trabalho visa apresentar uma proposta de ação educativa em Geografia
que foi realizada na primeira etapa do curso intitulado “Compreensão do espaço geográfico e
seus recursos voltados para a Arqueologia”, destinado a 20 (vinte) cursistas, provenientes
do ensino fundamental e médio de escolas públicas do município de Independência – Ceará,
Brasil. O curso está sendo desenvolvido utilizando uma abordagem transdisciplinar so-
bre as relações do Homem com o espaço geográfico, tendo um enfoque geoarqueológico.
Desse modo, estão sendo tratados conceitos que visam aproximar a comunidade para a
difusão e preservação do patrimônio natural e arqueológico do município, especialmente
representado pelos registros rupestres.
Abstract – This article aims to present a proposal for educational activities in Geography
which was held in the first stage of the course entitled “Understanding the geographic space and its
resources focused on Archaeology” to the 20 (twenty) course participants, of the secondary and high
school from public schools of the Municipality of Independência – Ceará, Brazil. The course is be‑
ing developed using an interdisciplinary approach on the relations between man and geographical
space, with a geoarchaeological focus. Thus, concepts are being discussed with the aim to bring the
1
Licenciado em Geografia – Universidade Federal do Ceará – UFC, Brasil; [email protected]
2
Mestre em Arqueologia – Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Brasil; [email protected]
3
Licenciada em Pedagogia e Matemática – Fundação Senhor Pires – FSP, Brasil; [email protected]
community together for the dissemination and preservation of natural and archaeological heritage
of the municipality, especially represented by the record of rock art.
1 – Introdução
Toda ciência possui um objeto de estudo e seus métodos próprios de análise. A Geogra-
fia não foge a essa regra. SANTOS (1997) traz ao rol de discussões sua visão sobre o objeto
de estudo da Geografia. Nessa perspectiva, afirma que o geógrafo estuda tanto os objetos
fixos como os fluxos, ou seja, tudo aquilo que existe na superfície terrestre, seja de origem
natural, seja de origem social. Todavia, no âmbito geográfico, esses objetos são apreendidos
como sistemas, e não como partes isoladas, pois o espaço é formado por um conjunto indi-
visível, solidário e antagônico de sistemas de objetos e ações. Dessa forma, em decorrência
de tal fato, é que a Geografia tem como objeto de estudo o espaço geográfico.
143
Para fins deste trabalho, o espaço geográfico é entendido como “um conjunto de
objetos e de relações que se realizam sobre estes objetos, não entre estes especificamente,
mas para as quais eles servem de intermediários, ou seja, o espaço é resultado da ação
dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos naturais e artificiais”
(SANTOS, 1988, p. 25).
A compreensão do espaço em questão requer o entendimento de seus aspectos formado-
res e de sua dinâmica ao longo do tempo, por isso a compreensão dos aspectos e processos
geoarqueológicos (minerais, rochas, clima, relevo, fauna, flora, solos, intemperismo, erosão,
cultura, líticos, pinturas rupestres, organização social de agrupamentos humanos e outros)
são relevantes na apreensão do espaço geográfico, nesse caso específico, o do município
de Independência (CE). Nessa perspectiva, o ensino de Geografia emerge como um meio
que possibilita a construção de conhecimentos do espaço geográfico e de seus recursos
geoarqueológicos.
Afinal, o ensino de Geografia é responsável pela construção de diversos conteúdos
relacionados aos aspectos biofísicos e sociais que se materializam e dinamizam no espaço.
Para tanto, CAVALCANTI (2002), ao tratar do objetivo do ensino de Geografia, diz
que este consiste em desenvolver nos cidadãos uma consciência da espacialidade das coisas
e dos fenômenos que eles vivenciam, direta ou indiretamente, sendo parte da história
social, ou seja, o objetivo desse ensino é o espaço geográfico, entendido como um espaço
social, concreto e dinâmico.
Assim, é necessário entender que o ensino de Geografia é primordial para a cons-
trução da cidadania dos discentes, para fortalecer suas identidades e sentimentos de
pertencimento ao espaço em que vivem. Os conhecimentos geográficos oferecem sub-
sídios fundamentais para que seus aprendizes sejam capazes de vislumbrar e atuar em
sua realidade de forma crítica e transformadora, em prol de seu desenvolvimento, pois se
ensina Geografia para que os discentes possam construir e promover o desenvolvimento
de conhecimentos do espaço e do tempo, fazer uma leitura lógica do mundo e dos in-
tercâmbios que o sustentam, de forma a apropriarem‑se de conhecimentos específicos e
usá‑los como técnicas para seu desenvolvimento pessoal e de suas relações com os outros
(ANTUNES, 2010). Além disso, a aprendizagem de novos conhecimentos pelo discente
repercute em sua transformação, na forma de vislumbrar sua realidade e de se portar
diante das situações cotidianas.
Diante do exposto, o subprojeto “Mapeamento arqueológico como instrumento de
inclusão ambiental, social e cultural no semiárido”, do Projeto Mata Branca, desponta
como importante fomentador de estudos e mapeamentos do potencial arqueológico do
município de Independência (CE). A realização desses anseios visa à proteção dos sítios
arqueológicos e/ou históricos, ao enriquecimento cultural da história do município e ao
início sutil da estruturação da cidade para o desenvolvimento de projetos que viabilizem
o turismo ecológico e científico. Assim, para a concretização de tais objetivos surge a ne-
cessidade de promover um curso de geoarqueologia para 20 (vinte) jovens estudantes do
ensino fundamental e médio de instituições públicas do município em questão, com faixa
etária entre 14 (catorze) e 17 (dezessete) anos e de ambos os sexos, para acompanharem
parte das pesquisas e serem futuros “guardiões da arte na pedra” de todo o patrimônio
geoarqueólogico independenciense. Então, a partir do treinamento e da realização dos
outros objetivos, os guardiões teriam a missão de socializar para a comunidade local,
Região dos Inhamuns e Sertões de Crateús, a importância dos sítios arqueológicos no
144
contexto ambiental, social e cultural no semiárido do Brasil (FUNDAÇÃO SENHOR
PIRES, 2010).
Dessa maneira, o ensino de Geografia desponta na realização do curso “Compreensão
do espaço geográfico e seus recursos voltados para a Arqueologia”, que tem como foco
a construção de conhecimentos relacionados ao espaço geográfico e seus recursos geoar-
queológicos, pois sabe‑se que nenhuma sociedade existiu sem se interrelacionar com o
ambiente ou construir espaços geográficos. As ocupações “primitivas” do município de
Independência (CE) estão em consonância com essa racionalidade, pois deixaram seus
vestígios materiais: tecnológicos e culturais. Logo, o entendimento arqueológico do
contexto discutido requer a compreensão do espaço geográfico independenciense e seus
recursos, todavia sempre realizando colocações de que o espaço geográfico é dinâmico
em função da sociedade e dos recursos tecnológicos e culturais que o criaram.
3 – Procedimentos técnico‑metodológicos
5 – Conclusões
Referências Bibliográficas
AMORIM, R. S. S., SILVA, D. da, PRUSKI, F. F. & MATOS, A. T. de (2001) – Influência da declividade
do solo e da energia cinética de chuvas simuladas no processo de erosão entre sulcos. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental. Campina Grande‑PB, 5, p.124‑130.
ANTUNES, C. (2010) – Geografia e didática. Petrópoles‑RJ: Vozes.
BARBOSA, J. L. (2008) – Geografia e cinema: em busca de aproximações e do inesperado. In: Carlos, A. F.
A. (eds.). A Geografia na sala de aula. São Paulo‑SP: Contexto, p. 109‑125.
BZUNECK, J. A. (2010) – Como motivar os alunos: sugestões práticas. In: Boruchvitch, E., Bzuneck, J. A. & 149
Guimarães, S. E. R. (Orgs.). Motivação para aprender. Petrópoles‑RJ: Vozes.
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da Aprendizagem. In: I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia, 2009, Ponta Grossa. Livro
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CAVALCANTI, L. de S. (2002) – Geografia e práticas de ensino. Goiânia‑ GO: Alternativa.
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LIBÂNEO, J. C. (1994) – Didática. São Paulo: Cortez.
RUBIN, J. C. R. de & SILVA, R. T. da (org.) (2008) – Geoarqueologia: teoria e prática. Goiânia‑ GO. UCG
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SANTOS, M. (1988) – Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teórico e metodológicos da Geografia.
São Paulo: Hucitec.
SANTOS, M. (1997) – A natureza do espaço: técnica e tempo/razão e emoção. São Paulo, Hucitec.
SUGUIO, K. (2003) – Geologia Sedimentar. São Paulo: Edgard Blücher, 1.
(Página deixada propositadamente em branco)
SECÇÃO 3
A TERRA EM CONTEXTOS NÃO ESCOLARES:
LÁ FORA TAMBÉM SE APRENDE
“Para mim ainda há esperança. Por muitas vezes eu fotografei histórias que mos-
travam a degradação do planeta. Então tive uma ideia de sair fotografando fábricas
que estavam poluindo e percorrer diversos depósitos de lixo. Mas depois eu pensei
que a única maneira de nos dar algum incentivo, de trazer esperança, seria mostrando
imagens de um planeta primitivo – ver a pureza. Aí sim, nós poderíamos compreender
o que precisamos preservar.”
INTERPRETING THE
AZOREAN GEOLANDSCAPES
Abstract – Within the Educational Programs of the Azores Geopark, it was programmed a
set of activities adjusted to the schools curricula and designed for the different students, from
primary to the secondary education. These activities, which will be implemented in all the
islands, improve the approach of geo‑education in an interdisciplinary perspective.
1
Universidade dos Açores, Departamento de Geociências, Rua da Mãe de Deus, apartado 1422, 9501‑801
Ponta Delgada – Açores, Portugal; [email protected]
2
Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, Parque Natural de Ilha de São Miguel, Av. Antero de Quental
– Edifício dos CTT – 9ºC, 2º andar, 9500‑160 Ponta Delgada – Portugal; [email protected]
3
Associação Geoparque Açores, Centro Empresas da Horta, Rua do Pasteleiro s/n – Angústias, 9900‑069
Horta – Açores, Portugal
1 – Geoparque Açores (projeto)
3 – Atividades educativas
Desde o final da década de 1990 existem, na Região Autónoma dos Açores, diversas
Ecotecas e Ecoescolas que levam a cabo diversas atividades de educação e sensibilização
ambientais. Os programas educativos do Geoparque Açores pretendem dar continuidade
ao trabalho desenvolvido, até então, na área da educação e sensibilização ambientais,
focando, principalmente, temas como geodiversidade, património geológico e demais
temas relacionados com as geociências, sociedade, ambiente e sustentabilidade.
No âmbito dos Programas Educativos do Geoparque Açores, programou‑se um con-
156
junto de atividades ajustadas aos currículos escolares e destinadas ao público estudantil
dos diferentes níveis de ensino, desde o básico ao secundário.
As atividades educativas pretendem ser veículos de promoção do estudo das ciências
da Terra e do ambiente e estimular o espírito crítico e científico da população estudantil.
As atividades desenvolvidas complementam ações levadas a cabo em vários outros
domínios da natureza e do ambiente e direcionam‑se para as temáticas da geodiversi-
dade, património geológico e geoconservação.
Estas atividades, a implementar nas nove ilhas açorianas, são realizadas em estreita
colaboração com os Parques Naturais de Ilha da Secretaria Regional do Ambiente e do
Mar, parceiros do projeto para a educação e sensibilização ambiental e potenciam a abor-
dagem da geoeducação numa perspetiva interdisciplinar.
Os programas educativos desenvolvidos incluem:
• a disponibilização de conteúdos online (apresentações powerpoint e respetivos
guiões para professor), na página de internet (www.azoresgeopark.com), sob os
temas “Vulcões dos Açores” e “Geopaisagens dos Açores”, diferenciados por nível
escolar (GARCIA & LIMA, 2012a‑h) (Fig. 4);
• programas para visitas de estudo aos “Geossítios da Minha Ilha” e propostas de
atividades;
• desenvolvimento do tema “Geologia na Nossa Vila/Cidade”, para exploração da
geologia urbana, potenciando a caracterização das pedras de cantaria utilizadas no
património edificado, a calçada portuguesa, etc.;
• realização de ações de reciclagem e ações de formação sobre interpretação geo-
ambiental para técnicos dos Parques Naturais de Ilha e da AZORINA S. A., guias,
técnicos de animação turística, professores e outros profissionais com interesses
nos setores (Figs. 5‑9).
Fig. 6 – Visita de alunos do ensino pré‑escolar à Gruta do Carvão (ilha de São Miguel) © Paulo Garcia.
Fig. 7 – Visita de estudo de alunos do ensino secundário à Caldeira Velha (ilha de São Miguel) © Eva Lima.
A integração destas atividades no Plano Regional de Sensibilização e Educação Am-
biental dos Açores e nas atividades da Rede Regional de Ecotecas, Centros de Interpretação
Ambiental, Centros de Ciência e estruturas similares, garantirá: i) a abrangência das
temáticas das ações educativas, ii) a sua eficácia e, iii) a plena disseminação junto dos
158
públicos‑alvo das diferentes ilhas dos Açores.
Fig. 9 – Sessão sobre Património Natural para alunos do 1º ciclo do ensino básico,
no auditório da Câmara Municipal das Lajes do Pico (ilha do Pico) © Carla Silva.
4 – Considerações finais
Referências Bibliográficas
GARCIA, P. & LIMA, E. A. (2012a) – Os Vulcões dos Açores. Apresentação Powerpoint – 1º Ciclo do Ensino
Básico. In: Geoparque Açores (eds.)
GARCIA, P. & LIMA, E. A. (2012b) – Os Vulcões dos Açores. Apresentação Powerpoint – 2º Ciclo do Ensino
Básico. In: Geoparque Açores (eds.)
GARCIA, P. & LIMA, E. A. (2012c) – Geopaisagens dos Açores. Apresentação Powerpoint – 3º Ciclo do
Ensino Básico. In: Geoparque Açores (eds.)
GARCIA, P. & LIMA, E. A. (2012d) – Geopaisagens dos Açores. Apresentação Powerpoint – Ensino Secundário.
In: Geoparque Açores (eds.)
GARCIA, P. & LIMA, E. A. (2012e) – Os Vulcões dos Açores. Guião do Professor – 1º Ciclo do Ensino
Básico. Geoparque Açores (eds.), 12 p.
GARCIA, P. & LIMA, E. A. (2012f ) – Os Vulcões dos Açores. Guião do Professor – 2º Ciclo do Ensino
Básico. In: Geoparque Açores (eds.), 16 p.
GARCIA, P. & LIMA, E. A. (2012g) – Geopaisagens dos Açores. Guião do Professor – 3º Ciclo do Ensino
Básico. Geoparque Açores (eds.): 15 p.
GARCIA, P. & LIMA, E. A. (2012h) – Geopaisagens dos Açores. Guião do Professor – Ensino Secundário.
In: Geoparque Açores (eds.), 16 p.
NUNES, J. C. & LIMA, E. A. (2008) – Paisagens Vulcânicas dos Açores: Valor Intrínseco Enquanto Recurso
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outubro, p. 31.
NUNES, J. C., LIMA, E. A. & MEDEIROS, S. (2008) – Carta de Geossítios da Ilha de Santa Maria. Escala
1/50.000. In: Departamento de Geociências (eds.). Universidade dos Açores.
NUNES, J. C., LIMA, E. A., PONTE, D., COSTA, M. P. & CASTRO, R. (2011) – Azores Geopark Project
Application. In: Azores Geopark (eds.), 50 p.
(Página deixada propositadamente em branco)
16
FÓSSEIS E A EXPANSÃO URBANA NA CIDADE DE MAFRA
(SANTA CATARINA – BRASIL)
Abstract – The occurrence of fossils in the town of Mafra is known since 1930, with
the publication of the first studies, but in the year 1997 the town of Mafra became known
in the scenario of the Brazilian paleontology by the conflict occurred with the discovery of
an important fossil bed during the excavation works for the installation of a big industry.
It was then that the town hall together with the local university discussed and defined the
necessary measures for the protection and preservation of this inheritance without damaging
the urbane development. Soon after that, the Paleontological Center of the University of
the Contestado and the Museum of Earth and Life were created, thus democratizing the
scientific knowledge, inserting the community and its leaders in the context of the impor‑
tance of preservation of this natural inheritance.
1
Coordenador do CENPÁLEO/Universidade do Contestado, Brasil; [email protected]
2
Diretora de Execução do Plano Diretor de Mafra, Prefeitura Municipal de Mafra, Brasil;
[email protected]
Keywords – Preservation; Fossils; Development; Mafra; Brazil
1 – Introdução
162
A cidade de Mafra está situada no Norte do estado de Santa Catarina (SC), na divisa com
o estado do Paraná, e inserida na borda leste de afloramento da Bacia Sedimentar do Paraná.
A Bacia Sedimentar do Paraná (ou Bacia do Paraná) ocupa uma grande área do
centro‑leste da América do Sul. Sua ocorrência no Brasil abrange desde o estado do
Mato Grosso até o estado do Rio Grande do Sul, mas também se distribui no nordeste
da Argentina, leste do Paraguai e no norte do Uruguai. Tem forma ovalada, com o eixo
maior quase norte‑sul, e possui uma área de cerca de 1,5 milhão de km², e espessura má-
xima superior a 7000 m na sua porção central (Fig. 1). As rochas que compõem a Bacia
do Paraná têm origem sedimentar e ígnea, e datam de um intervalo de tempo entre 460
e 65 milhões de anos atrás.
Fig. 2 – Fósseis com ocorrência em Mafra, SC: Peixe paleoniscídeo, escala 5cm (A);
Esponja, escala 2cm (B); Holometábolo basal, escala 1cm (C); Conodontes, escala 2mm (D).
2 – Dos acontecimentos
Fósseis na cidade de Mafra são conhecidos desde 1930, como os trabalhos de EUZÉBIO
DE OLIVEIRA. Desde então, diversos outros trabalhos foram publicados, mas foi no ano
de 1997 que os fósseis da cidade de Mafra tiveram repercursão nacional, com o episódio en-
volvendo a implantação de uma indústria no bairro Faxinal e a ocorrência de fósseis durante
a fase de corte do terreno e a comunidade científica preocupada com a salvatagem e preser-
vação destes fósseis, pois muitas peças estavam sendo destruídas ou retiradas do local por
curiosos para servirem como souvenir.
Após várias reuniões envolvendo representantes da Prefeitura local, DNPM, SBP e
diversas Universidades interessadas, definiu‑se pela retirada do material denonado do
local e sua deposição na Universidade local (Universidade do Contestado, UnC), que
se comprometeu em construir um abrigo provisório para o material e contratar um
paleontólogo que iniciaria a implantação de um centro de pesquisa.
A municipalidade se comprometeu em adquirir um terreno próximo do fato ocorrido,
transformando este em área de interesse do patrimônio natural, que foi então desapropriado
e posteriormente doado à UnC exclusivamente para fins científicos.
Na sequência dos fatos, em 1998 foi criado um pequeno museu denominado Museu
164
da Terra e da Vida, caracterizado por ser a parte expositiva do CENPÁLEO, que tem a
finalidade de levar para a comunidade o conhecimento sobre história natural.
Todos estes acontecimentos apontaram para necessidade de medidas de controle da ex-
pansão urbana sobre as áreas de ocorrência do folhelho fossilífero, fato que ocorreu nos anos
seguintes, com a revisão do Plano Diredor da Cidade de Mafra.
O Plano Diretor original de Mafra data de 1988, e nele não havia citações referentes
ao Patrimônio Natural, sendo que no ano de 2006 iniciou‑se sua primeira revisão, e com
ela a oportunidade de inserir medidas de controle nas áreas urbanas de ocorrência do
folhelho fossilífero.
3 – Metodologia
4 – Aspectos atuais
Foi criado no final do ano de 1997 com objetivo de desenvolver pesquisas nas áreas
da Geologia e Paleontologia, com ênfase nas ocorrências permo‑carboníferas do planalto
norte do Estado de Santa Catarina. 165
A equipe do CENPÁLEO, embora pequena, já desenvolveu dezenas de trabalhos
científicos, duas teses de mestrado e duas teses de doutorado, além de eventos científicos
regionais, como encontros relacionados à paleontologia e cursos de capacitação de professores
na área da história natural.
Inaugurado em 1998, em uma pequena sala com 120 m², hoje conta com aproxima-
damente 600 m² de exposição, e atende em torno de 1000 visitantes por mês, oriundos
principalmente de cidades do entorno de Mafra.
Os visitantes são representados principalmente por estudantes do ensino básico e
fundamental, onde professores utilizam o museu como ferramenta didática no ensino da
história da Terra. Instituições de ensino superior (universitário) também utilizam regu-
larmente o museu, principalmente os cursos de Geologia, Biologia e Geografia.
A exposição conta com aproximadamente 700 peças em exposição, divididas em sala do
Universo, Sala da Terra, Sala da Vida Antiga, Grandes Répteis do Brasil e Sala da Vida Atu-
al, e a reserva técnica conta aproximadamente 9.500 peças tombadas (Fig. 3), representadas
principalmente por fósseis de idade permo‑carboníferos da Bacia Sedimentar do Paraná.
Fig. 3 – Vista interna do Museu da Terra e da Vida: sala da Vida Antiga (A);
sala dos Grandes Répteis do Brasil (B).
Referências Bibliográficas
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Paraná. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, 15, p. 265‑287.
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Brasileira de Ciências. Rio de Janeiro, 2, p. 18‑21.
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Região de Rio Negro‑Mafra, Borda Leste da Bacia do Paraná. Tese de Mestrado, Departamento de
Geociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 57 p.
17
A EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES E A PERCEPÇÃO DO TEMPO
GEOLÓGICO: OFICINA E EXPOSIÇÃO NUM PROJETO DE
COOPERAÇÃO ENTRE O BRASIL E CABO VERDE
K. L. Mansur1
Resumo – No Brasil, desde 2008, foi desenvolvido o projeto Caminhos de Darwin que
estabeleceu uma rede de comunicação entre 12 localidades do Estado do Rio de Janeiro visi-
tadas pelo naturalista em 1832. Em 2009 foi comemorado o Ano Darwin, relativo aos 200
anos de nascimento do naturalista. Diversos países por onde ele passou em sua viagem a
bordo do HMS Beagle realizaram atividades. Antes de chegar ao Brasil, Darwin passou por
Cabo Verde. Neste contexto, autoridades brasileiras e cabo‑verdianas organizaram ações para
compartilhamento da metodologia utilizada no Brasil para mobilização de escolas e comuni-
dades. Foram desenvolvidas duas oficinas, sendo uma com professores e outra com crianças e
adolescentes no Centro Cultural Brasil – Cabo Verde, na cidade de Praia. Para este segundo
grupo, foi desenvolvida uma atividade sobre o tempo geológico e a evolução das espécies
baseada na proporção entre cores de uma fita, onde o vermelho representa o Pré‑Cambriano,
azul o Paleozoico, verde o Mesozoico e amarelo o Cenozoico. As cores e tempo decorrido fo-
ram correlacionados a gravuras de paleoambientes. A passagem de Darwin pelo arquipélago
foi destacada e discutida a importância do seu trabalho para o entendimento da evolução da
vida na Terra. Ao final de quatro dias foi montada uma exposição com desenhos para cada
período de tempo, além de esculturas em massa de modelar, réplicas de fósseis com massa de
farinha de trigo e água, instalações com rochas e conchas, cartazes, apresentação em meio
eletrônico e dobraduras em papel, com criatividade e qualidade artística e científica.
1
Departamento Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil;
[email protected]
Abstract – In 2009, several countries visited by Charles Darwin in the voyage of HMS
Beagle celebrated the anniversary of 200 years of his birth, named “The Darwin Year”. Since
2008 the Caminhos de Darwin project has been developed in Brazil. Under this frame a
network between 12 places of the State of Rio de Janeiro visited by Darwin in 1832 has been
168
established. Before his voyage to Brazil, Darwin was in Cape Verde. In this context, authori‑
ties from Brazil and Cape Verde organized activities to share the methodology used in Brazil
to mobilization of schools and communities. Two workshops were developed for teachers and
young people. In this last case, the activities took place at the Centro Cultural Brasil – Cabo
Verde. The geological time and the evolution of the species were chosen as themes. Ribbons of
different colors and lengths were used in order to consider the proportion in time, as follows:
(a) the red ribbon represents the Precambrian, the biggest time; (b) blue to Paleozoic age;
(c) green to Mesozoic; and (d) yellow to Cenozoic. The colors and time were correlated to
paleoenvironments pictures. The stay of Darwin in the archipelago was highlighted to the
children and teens and it was discussed his importance to the understanding the evolution of
the life on the Earth. The young people organized an exhibition with drawings, sculptures,
installation with rocks and shells, banners, presentation in digital media, origami, and
others. The produced material shows creativity and artistic, as well as scientific quality.
Keywords – Charles Darwin; Perception of the Geological Time; Brazil; Cape Verde
1 – Introdução
Charles Darwin, em sua viagem pelo mundo a bordo do navio HMS Beagle, esteve no
Brasil em 1832, quando ficou no Rio de Janeiro de 4 de abril a 5 de julho. Em 1836, no
retorno à Inglaterra, passou por Salvador e Recife. Na primeira passagem, o jovem Darwin
acabava de completar 23 anos. Esta foi sua segunda parada em terra firme, após o Beagle
zarpar da Inglaterra em 27 de dezembro de 1831. O seu primeiro desembarque foi no arqui-
pélago de Cabo Verde, entre 16 de janeiro e 8 de fevereiro. Segundo seu descendente Richard
Darwin Keynes no prefácio do livro Charles Darwin’s Notebooks from the Voyage of the Beagle
(CHANCELLOR & VAN WYHE, 2009), Darwin se transformou de estagiário em geólo-
go logo nas primeiras semanas e meses da viagem.
Em seu diário, relatos emocionados comprovam o encantamento ao se deparar com
a floresta tropical: “O dia passou deliciosamente. Delícia, no entanto, é um termo fraco
para exprimir os sentimentos de um naturalista que, pela primeira vez, se viu perambu-
lando por uma floresta brasileira”, conforme tradução do texto que abre a descrição da
sua chegada em Salvador (DARWIN, 1839).
Apesar de bem documentada, a vinda de Darwin ao Brasil e, em particular ao Estado
do Rio de Janeiro e seu interior, nunca foi muito difundida no país. Ao chegar ao Rio de
Janeiro, fez uma viagem de 16 dias a cavalo, entre 8 e 24 de abril, quando descreveu cidades
e comentou sobre seus habitantes, observou a paisagem, descreveu o ambiente e as relações
sociais, em particular a escravidão, e coletou materiais biológicos e geológicos.
Munidos dessas e outras informações, pesquisadores, profissionais da área de popula-
rização da ciência, jornalistas e representantes municipais discutiram sobre esse itinerário.
Em cada local se deu uma movimentação em torno do assunto, pois não só as comunidades
tiveram acesso pela primeira vez ao diário em português, como também muitas histórias vêm
sendo recuperadas por moradores, professores e alunos, que sentem orgulho em fazer parte
do roteiro que marca a passagem de um dos cientistas mais importantes da história.
Assim surgiu o projeto “Caminhos de Darwin” – um roteiro turístico‑científico
cujo principal objetivo é proporcionar um resgate da importância do Brasil na história
169
da ciência relacionada a Charles Darwin. A partir da identificação dos locais por onde
Darwin passou (SIMÕES et al., 2011), foi possível, então, em 2008, organizar uma
expedição para instalação de marcos comemorativos (Fig. 1a) e implantação de proje-
tos educacionais (MOREIRA et al., 2009). Foram desenvolvidas ações e atividades que
promoveram o resgate dessa história junto às populações locais, tais como: palestras;
realização de caminhadas por trilhas; coletas de amostras de rochas e minerais descritos
por Darwin; apresentação de peças de teatro; sessão de kit de vídeos sobre evolução para
cada município; doação de material de divulgação, revistas, livros e DVDs. Uma ativi-
dade que vem sendo mantida é a Semana Intermunicipal Darwin (Fig. 1b), que acontece
todo mês de novembro desde a expedição de 2008. Acredita‑se que os “Caminhos de
Darwin” podem representar um estímulo às economias locais.
Trata‑se de um itinerário sob a perspectiva da história da ciência, que integra o Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI, a Casa da Ciência da UFRJ, o Departamento
de Geologia da UFRJ, os Caminhos Geológicos/DRM‑RJ, instituições de ensino e pesquisa,
empresas, ONGs, redes de ensino e representantes de governos municipais. O projeto tem
proporcionado um novo olhar de moradores e visitantes para essas cidades e essa experiência
tem estimulado outros estados brasileiros, além de países como Uruguai e Cabo Verde.
Fig. 1 – (a) Randal Keynes, tataraneto de Darwin, ao lado de uma professora e seu aluno em Niterói,
durante a inauguração de um dos marcos comemorativos da passagem de Darwin no Estado do Rio
de Janeiro (nov. 2008) – Foto: Casa da Ciência. (b) Teatro sobre a expedição de Darwin ao interior
do Estado do Rio de Janeiro, durante a Semana Intermunicipal Darwin (nov. 2009).
2 – Metodologia
2.1 – Motivação
Foram realizadas atividades durante quatro dias em meio período, seguindo a meto-
dologia descrita a seguir (MANSUR, 2010):
i. Objetivo geral: trabalhar a história da evolução da vida no planeta Terra, conside-
rando o tempo geológico.
ii. Objetivos específicos: introduzir o tema da passagem de Charles Darwin por
Cabo Verde para crianças e jovens, considerando‑se que o entendimento da evo-
171
lução das espécies se faz também pela observação da variação da vida ao longo do
tempo geológico, por meio do estudo dos fósseis. Ao final do trabalho, produzir
uma exposição sobre a evolução.
iii. Público‑alvo: jovens de 5 a14 anos que participavam da colônia de férias no
CCB‑CV.
iv. Materiais:
a) fitas: vermelha (4,025 m), azul (0,291 m), verde (0,186 m) e amarela (0,065 m),
unidas na seguinte ordem: vermelho, azul, verde e amarelo;
b) figuras: reproduções de ambientes e formas de vida do Pré‑Cambriano, Paleozoico,
Mesozoico e Cenozoico. Para as crianças não foram usados estes nomes, e sim
como tempo Vermelho, Azul, Verde e Amarelo, respectivamente.
c) materiais: papel, lápis e lápis de cor ou outros materiais para fazer esculturas ou
relevos, tintas, etc. Pode‑se usar brinquedos, colagens de figuras, materiais recicláveis,
sementes, folhas, rochas, conchas, massa de modelar, argila, etc.
v. A divisão do tempo:
a) Tempo Vermelho: o Pré‑Cambriano – O mais antigo: compreende cerca de 87%
da história da Terra. Vai desde a origem do nosso planeta junto com o sistema
solar há 4,567 bilhões de anos até 542 milhões de anos. Somente uma pequena
quantidade das rochas deste tempo possui fósseis. A paisagem: vulcões, meteoros,
crateras de impacto, a colisão do meteoro que gerou a Lua, a origem da vida primitiva
no mar (as bactérias e algas), formação dos mares pela condensação e chuvas a partir
do vapor d´água das erupções vulcânicas, formação da atmosfera e da camada de
ozônio (para proteger a vida que se iniciava), aparecimento dos primeiros organismos
mais complexos (multicelulares).
b) Tempo Azul: o Paleozoico – Vida antiga: de 542 até 251 milhões de anos. A pai‑
sagem: a vida se espalha nos oceanos, vai se tornando mais complexa, aparecem os
vertebrados, peixes, as plantas surgem nas bordas dos continentes e depois a vida
invade as terras emersas. Florestas de coníferas se formam. Aparecem répteis carní-
voros e herbívoros, além de insetos. Ao final do Paleozoico, ocorre um dos maiores
episódios de extinção da Terra, onde 95% das espécies marinhas e 70% das terrestres
são extintas (o motivo: impacto de meteoro, glaciação, vulcanismo em larga escala,
um fato isoladamente ou motivos combinados?). A vida na Terra se reorganiza.
c) Tempo Verde: o Mesozoico – Vida média: de 251 até 65 milhões de anos. A paisa‑
gem: durante o Mesozoico a vida, tanto marinha quanto continental, se moderniza.
Domínio total dos répteis. Nos continentes surgem e predominam as plantas com
flores. Os primeiros mamíferos surgem: eram pequenos e tinham hábito noturno
para escaparem dos principais predadores, os dinossauros. Estes reinam absolutos.
São extintos ao final deste tempo pela colisão de um meteoro. Aves dividem os céus
com répteis voadores.
d) Tempo Amarelo: o Cenozoico – Vida atual: de 65 milhões de anos até o presente.
Paisagem: domínio dos mamíferos: baleias, golfinhos, megafauna (tatu e preguiça
gigante, mamute, mastodonte, tigre de dentes de sabre, etc.), cavalos, felinos e
morcegos (mamíferos voadores). Surge o homem. Ocorrem glaciações cíclicas.
O homem altera a natureza e cria estruturas que alteram a paisagem: ação geológica
do homem?
vi. Atividade:
172
a) Esticar a fita no chão ou prender na parede, informando aos jovens que a vida na
Terra se divide em quatro partes: o tempo Vermelho, o Azul, o Verde e o Amarelo.
Informar que o tamanho da fita é proporcional ao período decorrido em cada um
dos tempos, reforçando o fato do vermelho ser o maior deles e que o tempo ama-
relo, dos mamíferos, onde o homem se insere, é o menor (Fig. 2a).
b) Foi feita uma descrição sobre a vida em cada um dos tempos, como apresentado
no item “v. A divisão do tempo”. Grupos de gravuras com reconstituição paleo-
ambiental de cada tempo, identificados com adesivos na cor característica, foram
apresentados aos jovens (Fig. 2a). Estas gravuras foram plastificadas para resisti-
rem ao manuseio.
c) Foram impressas setas com as idades dos limites dos tempos representados pelas
cores e outra sem data, que representa a continuidade do tempo. Com isto, foi pos-
sível realizar discussão sobre a preservação ambiental, levando a indagações como:
que planeta será o nosso se continuamos a destruir a natureza? Isto estimulou uma
conversa sobre os motivos das mudanças na vida da Terra, isto é, as extinções cau-
sadas pelos fenômenos naturais.
d) Inicialmente os jovens foram divididos em quatro grupos e cada um deles deveria
dizer o que achou de seu tempo, mas este método não funcionou bem, porque a
maioria queria ficar com os desenhos do tempo verde, dos dinossauros. Na ativida-
de realizada, a melhor abordagem foi a de apresentar cada tempo separadamente e
pedir para as crianças desenharem com base nas gravuras. Depois, passava‑se para
o tempo seguinte. Cada desenho feito era identificado com um adesivo na cor do
tempo correspondente (Fig. 2b).
e) Enquanto os desenhos eram feitos, foi inserida a informação de que Darwin,
autor da mais importante teoria sobre a origem da vida ainda no Século xix,
havia passado por Cabo Verde há 177 anos e que ele viajava em um barco (Fig.
2c). Alguns quiseram assistir vídeos sobre Darwin, o que foi providenciado,
utilizando‑se o material selecionado e cedido pelo projeto “Ver Ciência” (http://
verciencia.com.br/).
f) A maior parte dos participantes do primeiro dia da oficina quis repeti‑la nos dias
seguintes e novos jovens foram se incorporando. Alguns levaram materiais de suas
casas para usá‑los nos trabalhos que fizeram no dia anterior ou, mesmo, para pro-
dução de novos.
g) Os desenhos foram separados por cor e tema e no último dia foram colados em
cartolinas decoradas por eles mesmos para compor a exposição (Fig. 2d e Fig. 2e).
h) Também foram produzidas réplicas de folhas com massa de farinha de trigo,
animais com massa de modelar e outros trabalhos em relevo e desenho (Fig. 2f).
i) Ao final, por sugestão da Diretora do CCB‑CV, os participantes escreveram cartas
para crianças brasileiras, descrevendo como é Cabo Verde e o que aprenderam
na atividade. Estas cartas foram encaminhadas a escolas de um município que
participa do projeto.
j) Todo o material produzido foi fotografado.
173
Fig. 2 – (a) Fita com as frações coloridas na proporção do tempo e gravuras com paleoambientes marcadas
com adesivo colorido. (b) Dinossauros e répteis voadores do tempo verde. (c) Navio Beagle.
(d) e (e) Desenhos na exposição; e (f) Dinossauro e seus ovos em massa de modelar.
3 – Resultados
Foram produzidos 100 itens para a exposição, sendo 8 na forma de esculturas, dobra-
duras, moldes de folhas, apresentação em meio digital com pesquisa sobre tempo geológico
ou instalação com conchas‑rochas‑desenhos. As demais 92 peças são desenhos que podem
ser subdivididas em: 21 sobre o tempo vermelho, 12 do tempo azul, 24 do tempo verde e
21 do amarelo. Sobre Darwin e/ou o Beagle foram feitos 11 desenhos e 3 versaram sobre o
tempo como um todo (Fig. 3).
Toda a produção foi exposta na recepção do CCB‑CV (Fig. 2d e 2e) na forma de car-
tazes para os desenhos ou em bancadas para as esculturas / instalações / réplicas.
Um menino (7 anos) perguntou se Darwin disse que os homens descendem de macacos.
Um dos alunos, com 8 anos, comparou Darwin com Amílcar Cabral, um herói nacional.
174
Fig. 3 – Gráfico com a distribuição dos itens produzidos para a exposição. Os termos “amarelo”,
“verde”, “azul” e “vermelho” correspondem aos desenhos produzidos para cada intervalo
de tempo. “4 tempos” significa desenho representando todas as faixas.
Uma aluna produziu uma instalação com conchas e rochas de grande beleza, criati-
vidade e originalidade. Nele estão reproduzidos os 4 tempos estudados e um quinto, o
futuro, com uma figura de sereia, porque elas “ainda não existem” (Fig. 4a).
Slogans também foram produzidos, como “Vejo a evolução na palma da mão”, com
um cartoon da evolução da vida dentro do desenho de uma mão (Fig. 4b).
Uma aluna de 12 anos produziu uma apresentação em meio digital sobre a origem
da vida na Terra. O material tem como base o conteúdo discutido na oficina, com a
incorporação de figuras, dados e informações obtidas em pesquisa feita na internet.
Fig. 4 – (a) Instalação com conchas, rochas e desenhos indicando os 4 tempos: vermelho: bactérias
e vulcões; azul: peixes e vida marinha; verde: dinossauros; amarelo: humanos; e sem cor: sereias.
(b) Desenho “Vejo a evolução na palma da mão” representando os 4 tempos.
4 – Conclusões e desdobramentos
Fig. 5 – (a) Desenho sobre “famílias de dinossauros”. (b) Oficina realizada em uma salina
do Estado do Rio de Janeiro (participação do Professor Ismar Carvalho da UFRJ).
Referências Bibliográficas
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the Beagle [Foreword by Richard Darwin Keynes]. Cambridge. University Press, 656 p.
DARWIN, C. R. (1839) – Narrative of the surveying voyages of His Majesty’s Ships Adventure and Beagle between
the years 1826 and 1836, describing their examination of the southern shores of South America, and the Beagle’s
circumnavigation of the globe. Journal and remarks. 1832‑1836. London: Henry Colburn. http://darwin‑
online.org.uk/content/frameset?itemID=F10.3&viewtype=text&pageseq=1 (consultado em 2012.01.22).
DARWIN, C. R. (1872) – The origin of species by means of natural selection, or the preservation of favoured
races in the struggle for life. In: Murray, J. (6th eds.); with additions and corrections. http://darwin‑online.
org.uk/content/frameset?itemID=F391&viewtype=text&pageseq=1 (consultado em 2012.01.22).
FLEMING, J. R. (2006) – James Croll in Context: The Encounter between Climate Dynamics and Geology
176 in the Second Half of the Nineteenth Century. History of Meteorology, 3, p. 43‑53.
MANSUR, K. L. (2009) – Caminhos de Darwin no Estado do Rio de Janeiro. Salto para o Futuro. http://
www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/19282316‑CaminhosDarwin.pdf. (Consultado em 2012.01.20).
MANSUR, K. L. (2010) – Tempo Geológico: Sugestões do Século 19 para Ensinar Ciências no Século 21. In:
45 Congresso Brasileiro de Geologia, 2010, Belém. Anais. SBG. CD‑ROM.
MOREIRA, I. C., BRITO, M. F. & MANSUR, K. L. (2009) – Darwin – um roteiro turístico, educacional e
científico no estado do Rio de Janeiro, Brasil. In: II Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências
da Terra e IV Simpósio Nacional “O Ensino da Geologia no Brasil”. II PEHCT. São Paulo: Instituto de
Geociências – USP, CD‑ROM. 10 p.
SIMÕES, L. C., MANSUR, K. L. & BRITO, M. F. (2011) – O mapa dos Caminhos de Darwin no Rio de
Janeiro: Implantação de um projeto de popularização da história da ciência. In: Scientiarum Historia IV,
2011, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, CD‑ROM. 7 p.
18
DIVULGAÇÃO DOS FÓSSEIS DA BACIA DO ARARIPE
(NORDESTE DO BRASIL)
L. L. M. Nogueira1, A. M. F. Sales2
M. H. Hessel3 & J. A. Nogueira Neto4
Resumo – A Bacia do Araripe, nordeste do Brasil, guarda um dos mais ricos sítios
paleontológicos de idade cretácica do mundo, com abundantes fósseis muito bem pre-
servados. A unidade com maior quantidade e diversidade de macrofósseis é a Formação
Santana, cujos peixes preservados em calcário laminado ou concreções carbonáticas são
conhecidos pela população local desde seu nascimento. Nos anos ‘80 foram criados um
museu de Paleontologia em Santana do Cariri e uma sala de exposição de fósseis no Crato,
e, no início deste século, mais dois locais em Jardim. Cinco eventos paleontológicos
regionais ou nacionais foram realizados desde a década de noventa. Depois de 1999 sur-
giram três livros infantojuvenis de autoria de cearenses sobre os fósseis do Araripe. No
presente século, a Universidade Federal do Ceará se instalou no Cariri, oferecendo um
curso de especialização com uma linha direcionada para a Divulgação da Paleontologia,
e tendo já formado dez especialistas, professores de escolas secundárias locais. Em 2006,
o Geopark Araripe foi certificado pela UNESCO, sendo gerenciado pela Universidade
Regional do Cariri e oferecendo atividades para adolescentes, como os projetos Geokids e
‘Geopark nas escolas’. Desde 2010, o Departamento Nacional da Produção Mineral dis-
tribui kits de fósseis para as escolas. Estas atividades, quase todas iniciativas deste século
e ainda tímidas diante do potencial geopaleontológico da Bacia do Araripe, mostram o
início de um movimento em prol da divulgação científica infantojuvenil. É preciso, no
entanto, formar recursos humanos locais e especializados para haver efetiva valorização
das riquezas fossilíferas da região pelos seus residentes de todas as idades.
1
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil; Bolsista da CAPES; [email protected]
2
Universidade Regional do Cariri, Crato, Brasil; [email protected]
3
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil; Bolsista da FUNCAP; [email protected]
4
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil; [email protected]
Palavras‑chave – Bacia do Araripe; Brasil; Divulgação paleontológica; Infantojuvenil
Abstract – The Araripe Basin, northeastern Brazil, holds one of the richest Cretaceous pa‑
leontological sites in the world, with abundant fossils excellently preserved. The unit with greater
178
quantity and diversity of macrofossils is the Santana Formation, whose preserved fishes in
carbonate concretions or laminated limestone is known by the local population since its birth. In
the eighties, a paleontological museum in Santana do Cariri and a fossil showroom in Crato were
created, and, at the beginning of this century, two more places appeared in Jardim. Five regional
or national paleontological events were carried out since the 1990s. After 1999, arose three chil‑
dren books by Brazilian authors on the Araripe fossils. In this century, the Universidade Federal
do Ceará settled in Cariri region, is offering a specialization course with a line directed towards
the dissemination of Paleontology, and has already formed ten experts, teachers from local schools.
In 2006, the Geopark Araripe was certified by UNESCO, being managed by Universidade
Regional do Cariri, and providing activities for adolescents, as the projects ‘Geopark in the schools’
and ’Geokids’. Since 2010, the Departamento Nacional da Produção Mineral distributes
fossil kits for the local schools. These activities, almost all initiatives of this century and even shy in
front of the paleontological potential of the Araripe Basin, show the beginning of a movement in
favors of children’s scientific dissemination. We must, however, train specialized human resources
to promote effective valorization of the fossils from Araripe by its residents of all ages.
1 – Introdução
4 – Conclusões
Através da síntese das principais atividades de divulgação dos fósseis da Bacia do
Araripe ocorrentes no sul do Estado do Ceará, nordeste do Brasil, especialmente as vol-
tadas para o público infantojuvenil, é possível listar as seguintes principais conclusões:
Referências Bibliográficas
1
Museu da Geodiversidade (MGeo), Instituto de Geociências (IGEO), Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Av. Athos da Silveira Ramos, 274, CCMN, Cidade Universitária – 21941‑916 – Rio de
Janeiro, Brasil; [email protected]
2
MGeo, IGEO, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil; [email protected]
3
MGeo, IGEO, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil; [email protected]
4
MGeo, IGEO, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil; [email protected]
5
MGeo, IGEO, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil; [email protected]
6
MGeo, IGEO, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil; [email protected]
viés estético e interativo e de uma linguagem acessível. Desta forma, o MGeo procura
fazer seu papel na preservação e divulgação do Patrimônio Geológico, fazendo uma
interceção entre ciência, educação e lazer.
186
Palavras‑chave – Museu da Geodiversidade; Exposição Memórias da Terra; Divulgação
Científica; Patrimônio Geológico; Geoconservação; Geodiversidade
1 – Introdução
3 – Museografia e a Geodiversidade
Entre a geodiversidade e as exposições existe uma relação desde o tempo dos famosos
Gabinetes de Curiosidades dos séculos xv e xvi, que costumavam expor uma diversidade
de objetos exóticos encontrados no mundo. Neste período, as exposições estavam ligadas
diretamente ao status social, assim como as bibliotecas pessoais e, portanto, o acesso a este
acervo era restrito a uma parcela ínfima da população (MELO et al., 2005).
Posteriormente, com a consolidação das ciências, estas coleções passaram a ter uma fun-
ção também científica, representando recortes do mundo em um espaço confinado, e, desde
então, as exposições começaram a ganhar um papel mais educativo. Atualmente, as exposi-
ções museológicas têm a função de divulgar a produção científica, tornando o conhecimento
acessível à sociedade, física (através da acessibilidade do espaço) e intelectualmente (utilizando
uma linguagem adequada) (MELO et al., 2005).
Fazer exposições é algo extremamente complexo, pois as mesmas possuem um compro-
misso com a academia científica e com a população. Por isso, as exposições realizadas pelo
MGeo têm os seus objetivos claramente delineados, destacando o que ela pretende pas-
sar e a quem ela se destina. Esses objetivos são os pontos que norteiam toda a exposição.
Nunca é demais lembrar que a exposição é um instrumento de comunicação poderoso,
capaz de realizar a ponte entre as ciências e o público‑leigo, devendo estar condizente
com a sua instituição e com seu objetivo.
As exposições do MGeo objetivam mostrar a importância da diversidade geológica ao
longo do tempo e, principalmente, a sua relevância no cotidiano das pessoas. Procura ensinar
em um contexto geral, pois não se limita ao público universitário, mas se volta para fora dos
limites da Cidade Universitária, onde existe um grupo extremamente amplo e diversificado.
Hoje, dentro da política museográfica do MGeo, busca‑se através da relação entre
o objeto contextualizado e a linguagem adequada desmitificar as Geociências. Visando
uma melhor assimilação pelo público, procura‑se evitar exposições que são apenas vi-
trines de fósseis descontextualizadas, ou então exposições grandiosas, com tecnologia
de última geração, mas que se perdem em seu objetivo ou até mesmo não possuem um.
A utilização dos aparatos tecnológicos apenas com o intuito de atrair o público acaba
por restringir os resultados educacionais da exposição. Por isso, a cada nova exposição
procura‑se ter em mente o compromisso selado com a sociedade, onde os atrativos são
189
utilizados para seduzir, mas como isca, de modo a envolver e cativar o público, possibi-
litando o contato com o objeto (seja ele rocha, mineral, fóssil ou outro) e uma melhor
compreensão de todo o contexto expositivo e das Geociências.
Fig. 1 – (a) Exposição de diversos tipos de minerais no módulo “Minerais: os frutos da Terra”
e (b) “Módulo Mares do Passado”, onde se expõe um estromatólito fosfático contextualiza com
o ambiente de sua formação e destaca‑se a sua importância para a formação da atmosfera terrestre.
7
O Morro do Castelo foi um dos pontos de fundação da cidade do Rio de Janeiro no século xvi e abrigou mar-
cos históricos de grande importância, como fortalezas coloniais e os edifícios dos jesuítas. Apesar disso, foi demolido
numa reforma urbanística em 1921, para um melhor arejamento do Centro (NONATO & SANTOS, 2000).
que ilustra a evolução das dos vegetais ao longo do tempo e também de uma amostra
de rocha especial, que contém partes originadas tanto na formação, quanto na quebra
no Gonduana, mostrando a datação relativa de rochas.
192
Fig. 2 – (a) Reconstituição do carnívoro Abelissauro, junto a troncos fósseis. Ao fundo, ilustração de um
paleoambiente cretácico (autoria de Karen Carr), no módulo “Mares do Passado” e (b) o “PaleoJardim”, com
destaque para os fósseis de moluscos em primeiro plano e um dos capitéis em calcário Lioz da “antiga igreja dos
jesuítas” demolida no início do século xx, junto com o desmonte do Morro do Castelo (Centro do Rio de Janeiro).
Chega a “Era dos Mamíferos”. Nesse módulo o visitante conhece o mamífero Carodnia
vieirai, encontrado na Bacia de São José de Itaboraí, localizada no estado do Rio de Ja-
neiro, onde também era extraído o calcário, matéria‑prima para a fabricação do cimento
utilizado na construção de edificações como o Estádio do Maracanã e a Ponte Rio‑Niterói.
Nesse momento, mais uma vez a integração entre Homem e geologia é enfatizada, bem
como o início de uma nova era de “dominação”, agora por parte dos mamíferos.
Contíguo a este espaço encontra‑se “O Monstro da Amazônia”, onde o visitante pode
se surpreender ao conhecer o Purusaurus brasiliensis, o maior jacaré que já existiu, com 15
metros de comprimento. Ele tinha uma mandíbula do tamanho de um homem de 1,75 m
de altura e pesava cerca de 7 toneladas e tornou‑se o maior predador continental de todos
os tempos. Sua presença demonstra como as descobertas paleontológicas brasileiras são
importantes para o conhecimento da evolução da vida no planeta.
Surge na exposição o momento dos Primeiros Americanos, quando o visitante se
depara com a sua história. Ele tem a oportunidade de observar artefatos arqueológicos,
pinturas rupestres, reconstituições de crânios de diferentes hominídeos, uma escultura
virtual da primeira americana (Luzia) descoberta e uma reconstituição de um dos primeiros
macacos americanos.
“Tecnógeno, uma realidade” é o módulo da exposição onde são tratadas temáticas
de interesse contemporâneo, como mudanças climáticas e utilização de recursos natu-
rais, com destaque para o petróleo. Numa cascata de água sobre uma placa de vidro,
imagens da relação entre o Homem, o tempo e o espaço provocam reflexões. Como
uma alegoria da história humana, o totem “Camadas do Tempo” foi produzido para
apresentar a sucessão dos principais episódios tecnológicos humanos, demonstrando
como a produção do Homem perpassa uma história de criação, construção e destruição,
através da arte, do trabalho e da guerra.
Um painel representando microfósseis associado à imagem de uma plataforma de
petróleo e a documentários sobre a importância desse recurso natural para a nossa vida
cotidiana leva à reflexão sobre a utilização de nossas riquezas minerais.
Para finalizar, televisores apresentam imagens de paisagens, de pessoas (visitantes e fun-
193
cionários do IGEO), de animais e de vegetais, demonstrando como todos fazem parte desse
complexo sistema Terra, o qual precisa ser preservado, como enfatiza o texto de encerramen-
to do circuito adaptado da Declaração Internacional dos Direitos à Memória da Terra: “Da
mesma forma como uma velha árvore registra no tronco a memória de seu crescimento e de sua
vida, assim também a Terra guarda a memória do seu passado. Uma memória gravada em níveis
profundos e superficiais. Nas rochas, nos fósseis e nas paisagens, a Terra preserva uma memória
que pode ser lida e decifrada. É chegado o tempo de aprender a proteger o passado da Terra e,
por meio dessa proteção, aprender a conhecê‑lo. Esta memória antecede a memória humana.
É um novo patrimônio, um livro escrito muito antes de nosso aparecimento sobre o Planeta.
O Homem e a Terra compartilham uma mesma herança. Todos devem compreender que a menor
depredação do patrimônio geológico é uma mutilação que conduz a sua destruição, a uma perda
irremediável. Todas as formas do desenvolvimento devem respeitar e levar em conta seu valor e sua
singularidade” (FRANÇA, 1991).
5 – Considerações finais
Através da união entre ciência, educação e lazer o MGeo procura preservar o patrimônio
geológico através da conservação de suas coleções científicas e demonstrar a importância das
Geociências para as atividades econômicas e melhoria das condições de vida da população.
Para isso, atua de forma intensa na revitalização do espaço da Cidade Universitária, indo
ao encontro do público e procurando chamar sua atenção para o quanto as Geociências
estão presentes na vida cotidiana. Elabora exposições criativas, didáticas, atraentes e intera-
tivas para motivar a visitação e prender a atenção do público, numa incansável busca pela
população das Ciências da Terra.
Referências Bibliográficas
MELO, D. J., SOUZA, A. R. de & PINTO, F. M. (2005) – Paleontologia e Museologia: uma reflexão para
as exposições brasileiras. In: PALEO MG, Belo Horizonte. Paleontologia em destaque. Porto Alegre:
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CASTRO, A. R. S. F., GRECO, P. D., ROMEIRO, E. M., DIOGO, M. C. & CARVALHO, I. S. (2011)
– O Museu da Geodiversidade (MGEO – IGEO/UFRJ) nos desafios da sociedade contemporânea. In:
Paleontologia: Cenários de vida. Rio de Janeiro: Interciência, III, p. 817‑29.
STUDART, D. C. (2004) – Educação em Museus: Produto ou Processo? (Dossiê CECA‑Brasil). Musas Revista
Brasileira de Museus e Museologia, Rio de Janeiro, 1, p. 34‑40.
FR ANÇA (1991) – Declaração Internacional dos Direitos à Memória da Terra. Carta de Digne. Tradução
de Professor Miguel M. Ramalho. Disponível em: http://sigep.cprm.gov.br/apresentacao.htm. Acesso
em janeiro de 2012.
NONATO, J. A. & SANTOS, N. M. (2000) – Era uma vez o Morro do Castelo. IPHAN. Rio de Janeiro,
2ª edição, 368 p.
(Página deixada propositadamente em branco)
20
MUSEU DE MINERAIS E ROCHAS E ACERVO
PALEONTOLÓGICO: JOGOS DIDÁTICOS COMO
MEDIADORES DO CONHECIMENTO EM GEOCIÊNCIAS
Resumo – Este trabalho revela uma ação do Museu de Minerais e Rochas (MMR)
em busca de promover a interatividade com uma prática educativa apoiada em uma
aprendizagem lúdica. Neste sentido, descreve a criação de ferramentas mediadoras, os
Jogos Didáticos – quebra‑cabeças, jogos de memória e dominó ‑, que visam dar “vida”
ao inanimado Reino Mineral e proporcionar maior interação entre o acervo de mine-
rais, rochas e fósseis e o cotidiano dos estudantes e professores de ensino fundamental e
médio, principalmente. Os temas foram selecionados com base nos conteúdos de geoci-
ências presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais, versando sobre: Mineral, Ciclo
das Rochas, Rochas, Fósseis, Bosque Fóssil, Dinossauros, Gemas, Minerais Industriais,
Minerais Radioativos, Rochas Ornamentais, Escala de Dureza. A prática do momento de
concentração e consolidação do conhecimento visitado – momento NiFe – com o recurso
dos mediadores “Jogos Didáticos” vem aprimorar a contribuição social do Museu no ensino
de geociências e na preservação do meio ambiente natural e cultural.
1
Museu de Minerais e Rochas – MMR, Departamento de Geologia, Universidade Federal de Pernambuco. Av. Acd.
Hélio Ramos. S/N. Cidade Universitária. CEP 50740‑530, Recife, PE, Brasil; [email protected]; [email protected]
2
Museu de Minerais e Rochas – MMR; [email protected]
Abstract – This work presents an initiative of the Museum which seeks to promote in‑
teractivity through an educational practice based on playful learning experience. It describes
the mediating tools – educational games – puzzles, dominoes and memory games – designed
with the objective of “giving life” to the inanimate Mineral Kingdom and promoting a
196
greater interaction between the collections of minerals, rocks and fossils and the daily life of
the students and teachers from basic education level. The themes were selected based on the
national Curriculum Guidelines: minerals, cycle of rocks, rocks, fossils, fossil forest, dino‑
saurs, industrial minerals, radioactive minerals, ornamental rocks, hardness scale. The NiFe
moment – a moment of concentration and consolidation of the Museum experience which
uses educational games – improves the social contribution of the Museum for the teaching of
geosciences and for the preservation of the natural and cultural environment.
Keywords – Didactic games; Minerals; Rocks; Fossils; Rocks and Minerals Museum; Brazil
1 – Introdução
O Museu de Minerais e Rochas, ao longo dos últimos 5 anos, acumulou uma larga
experiência no atendimento do público escolar. Percebeu‑se que as demandas dos profes-
sores costumam recair sobre determinados temas, abordados em diferentes disciplinas.
Esta situação se deve ao fato de que os conteúdos de geociências presentes nos Pa-
râmetros Curriculares Nacionais3 não se encontram adscritos a uma matéria específica,
conforme explica TOLEDO:
Apesar do perfeito entendimento quanto à importância do educando compreender o
198
funcionamento do meio natural para tornar‑se um cidadão capaz de avaliar e julgar as ações
de interferência, ocupação e uso do ambiente e de seus materiais e agir com consciência e res‑
ponsabilidade nesta questão, os PCNEM não reconhecem o papel do aprendizado integrado
em Geociências no conhecimento da natureza. De fato, as Geociências são omitidas como
ampla Ciência da Natureza, o que é uma pena, pois seu objeto de estudo (o planeta, seus
materiais e seus fenômenos) é a sede dos fenômenos físicos, químicos e biológicos estudados
no currículo escolar, podendo ser considerado que o próprio desenvolvimento da Física e
da Química ocorreu com base na necessidade de compreensão dos fenômenos da natureza.
(TOLEDO, 2005, p. 34).
Assim, para a construção dos Jogos Didáticos foram selecionados conteúdos do en-
sino de geociências que não são exclusivos de uma disciplina específica, mas que corro-
boram com a formação do discente através da abordagem de temas que procuram ser,
ao mesmo tempo, teóricos e técnicos, em seus conteúdos sobre a Geologia, e práticos e
aplicados, quando tratam das aplicações cotidianas das geociências.
De acordo com as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais e com práticas
de ensino formal que já vêm sendo experimentadas em outros tipos de instituições de
ensino, busca‑se contribuir com a formação de atitudes e habilidades adequadas ao estudo
e à compreensão da Terra (Orion et al., 1996 ). Através do raciocínio e de procedimentos
(métodos e técnicas) específicos da Geologia é feita a caracterização (descrição, identificação,
função e relações) dos materiais, das formas de energia e das suas interações no espaço e no
tempo, definindo‑se um conjunto de parâmetros interrelacionados, que serve como padrão
de referência do meio físico. Construído pelo estudante, este padrão leva à compreensão
do ambiente físico local e de suas relações com o contexto sócio‑cultural, estendendo‑a para
contextos cada vez mais amplos, até chegar à concepção da Terra como um sistema evolutivo
complexo, que favoreceu o surgimento e evolução dos organismos, bem como da humanidade,
os quais, por sua vez modificam a superfície terrestre. (GUIMARÃES, 2004, p. 87).
Assim, os temas abordados nos Jogos Didáticos foram eleitos a partir dos referenciais
propostos pelos PCNs, da revisão de bibliografia sobre o ensino de geociências na educação
formal e das próprias experiências acumuladas no Museu de Minerais e Rochas com as
demandas trazidos pelos professores.
Neste processo foram elaborados 15 jogos didáticos temáticos: 6 jogos de memória,
1 dominó e 8 quebra‑cabeças. Os temas abordados foram: Mineral, Ciclo das Rochas,
Rochas, Fósseis, Bosque Fóssil, Dinossauros, Gemas, Minerais Industriais, Minerais
Radioativos, Rochas Ornamentais, Escala de Dureza. Cada jogo é acompanhado de
uma ficha “Como Jogar”, que contém as regras do jogo, o conceito referente ao jogo,
tema, idade, participantes, número de peças, objetivo e dicas para jogar (Fig. 1).
3
Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram instituídos em 1997 como consequência da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional – N° 9.394 (BRASIL, 1996) – e constituem um referencial de qualidade para
a educação no Ensino Fundamental e Médio em todo o Brasil: Sua função é orientar e garantir a coerência dos
investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação
de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com
a produção pedagógica atual (BRASIL, 1997, p. 13).
199
Os temas iniciais foram aqueles relacionados aos conceitos básicos do Reino Mineral:
Minerais, Rochas, Ciclo das Rochas e Fósseis. Com estes temas buscou‑se a conceituação
básica dos materiais constituintes do nosso planeta.
O conceito clássico de Mineral – Mineral é um sólido homogêneo, natural, com uma
composição química definida (porém, geralmente não fixa) e um arranjo atômico altamente
ordenado, resultante de processos inorgânicos (KLIEN & HULBURT, 1999) – foi trabalhado
sobre a forma de dois jogos, um quebra‑cabeça e um jogo da memória.
No quebra‑cabeça “Mineral”, o texto formal do conceito foi impresso e acompanhado
de imagens dos minerais em ambiente natural, que remetem ao imaginário infantil de
mina versus preciosidade.
No jogo da memória “Minerais do Acervo” cada dupla de peças apresenta a imagem
de uma amostra mineral, acompanhada da sua denominação. Foram escolhidos minerais
que são representativos do acervo do Museu de Minerais e Rochas, bem como imagens
de duas jazidas localizadas na Região Nordeste, que foram fontes de amostras efetiva-
mente existentes no Museu (Fig. 2).
Fig. 3 – Detalhe das peças em MDF do jogo de memória “Minerais Industriais” onde
tem‑se um par de peças com a imagem do mineral, acompanhadas de sua denominação,
e outro par de peças com a imagem de um produto industrial e o nome do
mineral/rocha que participa de seu processo produtivo.
A B
Fig. 4 – (a) Jogo de quebra‑cabeça “Dureza”, com dimensão de 40 cm x 40 cm em MDF, apresentando o
conceito de dureza e a escala de Mohs. (b) Jogo dominó “Escala de Mohs”, composto por 55 peças em MDF
de 8 cm x 4 cm x 0,3 cm de dimensão. Cada peça tem a imagem do mineral com o valor de sua dureza.
5 – Considerações finais
Referências Bibliográficas
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Secretaria de Educação Fundamental‑ Brasília: MEC/SEF, 1997.
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em 2011.05.14).
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Mundo Físico na Educação Básica. Revista Brasileira de Geociências, 34, p. 87 – 94.
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revisão edição, Jane Leão N. da Gama. ‑‑ Brasília. 156 p.: il.; 29 cm. Anexos ISBN: 85‑99027‑01‑8.
KLEIN, C. & HURLBUT, C. S. Jr. (1999) – Manual of Mineralogy (after James D. Dana). John Wiley & Sons.
599 p.
MINERALOGICAL SOCIETY OF AMERICA (2011) – http://www.mineralogy4kids.org/rockcycle/rockcycle.
html (consultado em 2011.05.16).
TOLEDO, M. C. M. de (2005) – Geociências no Ensino Médio Brasileiro – Análise dos Parâmetros Curricu-
lares Nacionais. Revista do Instituto de Geociências – USP, Geol. USP Publ. Espec., São Paulo, v. 3, p. 31‑44.
Bibliografia
1
DCB/FC/UNESP – Bauru, SP – Brasil; [email protected]
2
Museu Biológico do Instituto Butantan, São Paulo, SP – Brasil; [email protected]
3
FFCLRP/USP – Ribeirão Preto, SP – Brasil; [email protected]
Palavras‑chave – Banco de Dados; Coleções Paleontológicas; Curadoria; Ferra-
mentas Internet
Abstract – LUND is a free software developed with the aim of cataloging fossils deposited
206
in Brazilian scientific collections, available as a database directly on the Internet. LUND has
the specimen as its unifying entity, which is identified by its collection number (ID). The tools
available in the system aggregate field data, as well as information extracted from the prepara‑
tion and description of the material. These include relationship trees available at “Taxonomic
Group”, “Geological Time”, “Stratigraphy” and “Localities”, which allow users to systematize
their hierarchical data at levels that comprehensively reflect their nature, also providing agility
and avoiding duplication of information in the system. Because LUND is a specifically paleon‑
tological database, it is possible to refine the information to be entered into the system, allowing
the inclusion of taphonomic/ecological/environmental aspects and the state of preservation of
the material. The query system allows simple and direct search for specimens using the specific
fields, namely: ID, institution, taxonomic group, stratigraphy, geologic time, location and refe‑
rences, as well as combined searches using those fields. Finally, PDF format reports of all of the
information deposited in the system are issued as required. Therefore, in addition to the virtual
record, it is possible to generate a physical book of the collection. The platform is located at the
site http://www.lund.fc.unesp.br/lund/ and is pioneering in the dissemination and cataloging of
paleontological data in Lusophone‑speaking countries.
1 – Introdução
2 – Lund
Sendo uma base de dados informatizada, LUND tem como entidade unificadora o
espécime, ou seja, todas as ferramentas disponíveis no sistema estão direta ou indiretamente
relacionadas ao mesmo, que é identificado pelo seu número e instituição de tombo.
Ademais, o sistema LUND trata os dados de forma a não alterar a informação pri-
mária, objetivando mantê‑la tal como foi originalmente descrita e sistematizada pela
instituição, ou atualizá‑la, quando necessário para sua melhor compreensão e/ou para
possibilitar abordagens mais atuais. O sistema também dispõe de uma forma de acesso
amigável, com facilidade de inclusão e resgate de dados, pois é de suma importância tornar
a informação mais acessível, para obter maior envolvimento de outros pesquisadores com
o sistema aqui exposto.
A interface com o usuário, em que é efetivado o acesso e gerenciamento dos dados,
é realizada via internet, sendo o LUND um sistema totalmente on‑line, dispensando
download ou plataformas específicas para sua utilização. A disposição das ferramentas
foi realizada de modo a refletir de modo mais claro e simples a base de dados desenvolvida
e seu modelo de relacionamento.
Uma inovação é o detalhamento dos materiais tombados nas coleções científicas.
Por se tratar de um software específico para coleções paleontológicas, é possível inserir
informações detalhadas sobre tipos específicos de fósseis, tais como: paleovertebrados,
paleoinvertebrados, paleobotânica, microfósseis e icnofósseis. Além de informações
sobre o material e seu estado de preservação, dados tafonômicos também podem ser
incluídos, o que possibilita estudos mais acurados em relação a paleoecologia e paleo-
ambientes dos espécimes.
As ferramentas GRUPO TAXONÔMICO, TEMPO, ESTRATIGRAFIA e LOCALI-
DADES foram construídas em forma de árvores hierárquicas, o que condiz conceitualmente
com tais informações, também permitindo aos usuários catalogar os dados pertinentes ao
espécime, sejam estes precisos ou não. Tal esquema também evita duplicação de dados
e facilita a consulta dos espécimes. Uma vez construídas as hierarquias, cabe ao usuário
navegar pela árvore e escolher o nível hierárquico que corresponde a informação do referido
espécime (Fig. 2).
O resgate dos dados no sistema LUND pode se realizado a partir de consultas
209
a campos específicos de interesse, como: número de tombo, instituição, grupo taxo-
nômico, estratigrafia, tempo geológico, localidade e Referências Bibliográficas. Estas
pesquisas simples trazem todos os espécimes cadastrados no banco que contenham as
informações selecionadas. É possível, ainda, refinar as buscas em pesquisas combinadas
entre os campos supracitados
3 – Softwares relacionados
4 – Considerações finais
Referências Bibliográficas
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National Academy of Sciences, USA, 105, p. 11536‑11542.
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marine mussel genus Perna (Bivalvia: Mytilidae) based on nuclear (ITS1&2) and mitochondrial (COI)
DNA sequences. Molecular Phylogenetics and Evolution, 44, p. 685–698.
22
A IMPORTÂNCIA DIDÁTICA DAS GEOCOLEÇÕES VIRTUAIS
NO ENSINO/DIVULGAÇÃO DA GEOLOGIA: CASO DA COLEÇÃO
NACIONAL DE MINERALOGIA DO MUSEU GEOLÓGICO
Resumo – Os museus são instituições educacionais que possuem coleções com alto
valor científico, pedagógico e patrimonial. Não obstante a importância do seu acervo para
o ensino e/ou divulgação das ciências da Terra, em muitos casos, por falta de espaço,
pessoal efetivo ou dificuldades financeiras, as coleções ou parte delas estão inacessíveis
ao público. O Museu Geológico possui uma sala de mineralogia com uma exposição
de exemplares de ocorrência portuguesa e estrangeira com formas cristalográficas de
grande beleza. No entanto, o acervo de minerais ocorrentes em Portugal, construído a
partir de ofertas e da colheita de centenas de amostras encontra‑se, em grande parte,
arquivado devido às limitações do espaço físico disponível, à natureza da coleção e à
conceptualização museográfica. Contudo, esta geocoleção de âmbito nacional constitui
um importante recurso didático para professores e alunos do ensino básico e secundário
e para o público em geral, pelo que se considera importante estar acessível. Este patrimó-
nio museológico poderá, no entanto, vir a ser divulgado através da comunicação digital.
Esta forma de divulgação possibilita, a um público geograficamente disperso, o acesso às
peças do museu que não se encontram nas galerias do seu espaço físico permitindo, ao
mesmo tempo, disponibilizar informação mais detalhada sobre cada uma.
Neste contexto, a criação de uma geocoleção virtual do acervo de minerais nacionais do
Museu Geológico, através de uma base de dados a disponibilizar numa plataforma interativa,
permitirá o acesso à informação fidedigna e detalhada de cada amostra, de modo a ser
utilizada como fonte de investigação e estudo.
1
Departamento de Ciências da Terra, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de
Lisboa, 2829‑516 Caparica, Portugal; [email protected]; [email protected]; [email protected]
2
Museu Geológico – LNEG, Lisboa, Portugal; [email protected]
Palavras‑chave – Coleção Nacional de Mineralogia; Museu Geológico; Geocoleção
virtual; Ensino e divulgação da Geologia
Abstract – Museums are educational institutions possessing collections of high scientific, edu‑
214
cational and patrimonial value. Despite the importance of the collections for teaching and/or
dissemination of Earth Sciences, the lack of room space and permanent staff as well as budget‑
ary constraints turn them sometimes inaccessible to the public. The Portuguese Geological
Museum possesses a mineralogy room with a permanent exhibition of specimens occurring in
Portugal and abroad as well as specimens with crystallographic forms of great beauty. Neverthe‑
less, the heap of minerals occurring in Portugal, built up from gifts and field collection of hundreds
of samples, is mainly stored due to room limitations, to the specificity of the mineral collection
and to museographic conceptualization. As this national geocollection is a major teaching resource
for teacher’s primary and high school students as well as for general public, it is useful to give it an
open access. Actually, this patrimony should be shown by digital means. This way of dissemination
will allow that a geographically dispersed audience gets access to some specimens not exhibited at
the museum galleries and at the same time, more information on which specimen can be provided.
Regarding this, giving rise to a virtual geo‑collection, using the Geological Museum national
mineralogy collection, to be released on an interactive platform, will allow access to a reliable and
detail information on which specimen so as to be used for study and research purposes.
2 – O Museu Geológico
Fig. 1 – Galeria da Seção Geológica (Segundo uma fotografia de M. D. dos Santos) in O Occidente (1881)
Apesar de manter muitas das características dos museus de outrora, como, por exemplo,
o mobiliário expositivo, típico da museologia do século xix, de que já restam poucos na
Europa, o museu geológico tem procurado atualizar o material exposto e melhorar os
seus aspetos pedagógicos, visando atingir o interesse dos alunos das escolas e do público
217
não especialista (MUSEU GEOLÓGICO, 2005).
A sala de mineralogia foi remodelada, tendo‑lhe sido dadas novas características de
iluminação e envolvência, onde contrastam expositores de design atual com o restante
mobiliário de época (Fig. 2).
3
Adaptada de: http://e‑geo.ineti.pt/MuseuGeologico/roteiro/index.html
protegida num museu, independentemente de ser considerada património geomuseoló-
gico ou geológico é, sem dúvida, uma amostra da geodiversidade do local onde foram
recolhidas, com valor educativo e científico.
Nem todas as geocoleções existentes nos museus estão acessíveis ao público. Grande
218
parte das coleções encontra‑se em reserva, espaço normalmente não acessível ao público.
Neste contexto, muitos museus têm recorrido à tecnologia digital para a preservação
das suas coleções em suportes virtuais, permitindo o seu acesso através da internet,
CD‑Rom’s e outros meios eletrónicos (MARANDINO, 2009).
No sentido de aumentar o interesse pelas geociências, pode recorrer‑se a meios não
formais de ensino, que sejam familiares e aliciantes para os jovens, como a internet e os
jogos de computador (PEIXOTO & MARTINS, 2010). Segundo JACOBUCCI (2008),
as inovações digitais salientam os conteúdos científicos e mobilizam o imaginário dos
visitantes. Embora exista grande diversidade de informação na Web, o fato é que se sente
cada vez mais necessidade de obter informações fidedignas e, neste contexto, os museus
são instituições à altura desse desiderato (WALSH 1997, in HAMMERAAS, 2006).
De acordo com BRILHA et al. (1999), a comunidade científica atual não pode deixar
de levar em conta a implementação das Tecnologias de Informação e Comunicação e
alterar radicalmente o modo como a ciência pode ser apresentada aos cidadãos. Segundo
estes autores, a divulgação da Geologia, lato sensu, através de meios digitais, apresenta
um conjunto de vantagens, das quais se destaca: a) divulgação alargada a um público
geograficamente disperso; b) atualização dos conteúdos e respetiva disponibilização
em tempo real; c) custos de produção e de divulgação muito reduzidos relativamente
aos meios clássicos; d) possibilidade de integrar conteúdos multimédia que facilitem a
visualização e a compreensão de determinados aspetos e conceitos geológicos.
Esta forma de divulgação possibilita o acesso a peças do museu que não se encontram
nas galerias do seu espaço físico, permitindo, ao mesmo tempo, disponibilizar informação
mais detalhada sobre cada constituinte da coleção (PERLIN 1998, in HAMMERAAS,
2006). Assim, enquanto no espaço museológico, as informações tendem a ser concisas,
numa exposição virtual é possível aprofundar as temáticas e, ao mesmo tempo, estabelecer
ligações com outras áreas do museu ou mesmo com outras instituições.
BERTOLETTI‑DE‑MARCHI & COSTA (2003) consideram os museus um espa-
ço educativo não formal que complementa a aprendizagem, através da contribuição de
novas fontes eletrónicas dos seus acervos. As coleções podem constituir uma biblioteca
virtual e ser utilizadas como fonte de investigação e estudo. Neste contexto, é necessário
operar uma mudança de paradigma nos museus e centros de investigação, no sentido de
uma melhor articulação entre o valor dos objetos e a sua divulgação através de dispositivos
interativos, multimédia e multissensoriais nas exposições (DELICADO, 2006).
O museu virtual é essencialmente um museu sem fronteiras, capaz de criar um diálogo
virtual com o visitante, dando‑lhe uma visão dinâmica e multidisciplinar e um contacto
interativo com a coleção e com o espaço expositivo (MUCHACHO, 2005).
O fascínio pelos minerais tem sido demonstrado pelo Homem desde os tempos mais
remotos. Algumas das suas propriedades como dureza, brilho e cor permitiram a sua
utilização como utensílios e adornos. Outros, pela sua raridade, eram considerados valiosos,
chegando em certos casos a constituir‑se verdadeiros tesouros, inicialmente na posse de
famílias poderosas, monarcas e mais tarde na de Estados. Esse fascínio levou à descrição
das características dos minerais, o que conduziu a tentativas mais ou menos bem‑sucedidas
219
de explicar o seu modo de formação e de jazida (GOMES, 2010).
Atualmente, a familiaridade com os minerais provém muito da comunicação social,
que dá a conhecer marcas de diversos produtos com nomes de minerais e campanhas pu-
blicitárias que utilizam os minerais como referência de beleza e perfeição; do comércio,
como as feiras e lojas de minerais, e, não menos importante, das exposições museológicas.
Também na escola, através do ensino da geologia, em particular no que diz respeito à
necessidade crescente de bens minerais pela sociedade, se estimula o conhecimento e
curiosidade dos alunos.
O Museu Geológico possui uma coleção de minerais ocorrentes em Portugal, consti-
tuído a partir de ofertas e da colheita de centenas de amostras, distribuída por três salas,
duas salas de reserva (Fig. 3) e a sala de exposição.
A maior parte do acervo de minerais encontra‑se nas salas de reserva, devido a limitações
do espaço físico disponível, à natureza da coleção e à conceptualização museográfica,
encontrando‑se, portanto, inacessível ao público em geral.
Contudo, esta geocoleção de âmbito nacional constitui um importante recurso didá-
tico para professores e alunos do ensino básico e secundário e para o público em geral,
pelo que se considera importante estar acessível. Este património museológico poderá,
no entanto, vir a ser divulgado através da comunicação digital.
4 – Considerações finais
Referências Bibliográficas
1
Departamento de Ciências da Terra, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa,
2829‑516 Caparica, Portugal; [email protected]; [email protected]; [email protected]
2
Museu Geológico – LNEG, Lisboa, Portugal; [email protected]
Palavras‑chave – Base de Dados; Internet; TIC; Coleção Nacional de Mineralogia;
Museu Geológico; Ensino e Divulgação da Geologia
Abstract – Science museums are usually seen as spaces for the dissemination of scientific
224
knowledge. Nevertheless, they are also spaces for creating new knowledge and training scientists
(DELICADO, 2008). Regarding the dissemination of the scientific knowledge, internet is a new
way for easy and continuous update of the information, approaching the user and the museum,
overcoming the physical, geographic and temporal barriers (PINHO, 2007). Moreover, Informa‑
tion and Communication Technologies (ICT) make the work of inventorying, cataloguing, collec‑
tion management and dissemination quite easy. Regarding this, ICT are useful and dynamic tools
for the generation and circulation of teaching resources on the national mineralogy collection of
the Geological Museum most of which are stored and inaccessible to the general public. Being the
minerals heap composed by hundreds of samples, the development of a relational database seems
to be the best way of compiling, organizing and reaching the information produced by the minerals
characterization. So, using the basic features of Microsoft Access database along with some
elementary scripts in Visual Basic it will be possible to access the multiple information generated
for each mineral. By this means, students, teachers and general public can access all the data using
an interactive platform which enhances the Geology teaching and dissemination opportunities.
3
A caraterização do Museu Geológico de Lisboa, quer em termos históricos, quer em termos da sua coleção
de minerais, encontra‑se no artigo intitulado “A importância didática das geocoleções virtuais no ensino/divulgação
da geologia: caso da coleção nacional de mineralogia do museu geológico”, também apresentado neste congresso.
caraterísticas do mineral: Min_Class, para a classificação sistemática; Min_Cris, para
a cristalografia e composição química e Min_Pfis, para as propriedades físicas. Estas
últimas ligam‑se com a tabela principal pelo atributo comum (AM_ID), gerado auto-
maticamente no preenchimento da tabela principal e propagado automaticamente para
227
as tabelas relacionadas. Como auxiliares, foram criadas as tabelas: Tb_Brilho, Tb_Clas-
ses, Tb_Cor, Tb_Diafanidade, Tb_Fratura, Tb_Hábito, Tb_Sistema e Tb_Subclasse,
pré‑preenchidas com valores padrão (Fig. 1).
Neste contexto, a partir da construção de tabelas, da estruturação de um esquema de
relações entre elas (Fig. 2), de consultas, de formulários e algumas instruções elementares
em Visual Basic (Fig. 3), a base de dados permitirá, através de uma plataforma interativa,
o acesso múltiplo à informação de cada mineral, nomeadamente a sua classificação,
características físicas, químicas e cristalográficas, génese, história/curiosidades, interesse/
utilidade, entre outras.
4 – Considerações finais
Os museus, para além do serviço que prestam à sociedade pela disponibilização das
suas coleções ao público, podem também criar conteúdos de qualidade científica intera-
tivos online, permitindo aumentar a sua importância didática e facilitando o acesso ao
conhecimento científico.
A utilização das TIC não se esgota na comunicação, difusão e dinamização de um
museu, revelando‑se de grande importância nos trabalhos de inventariação, catalogação
e gestão das coleções, tornando‑os mais simples e menos morosos.
Não perdendo de vista que esta metodologia de divulgação das coleções de um museu
não deve substituir por completo a visita presencial às suas salas, entende‑se que as visitas vir-
tuais podem ser um complemento importante na acessibilidade à informação não disponível.
A elaboração da base de dados da coleção de minerais nacionais do Museu Geológico
do Laboratório Nacional de Energia e Geologia está em curso e a sua disponibilização fu-
tura via internet será uma ferramenta de grande utilidade no ensino da mineralogia. Esta
ferramenta permitirá dar a conhecer, através de uma plataforma interativa, alguns dos mais
229
representativos minerais portugueses a alunos, professores e público em geral, contribuindo
para o desenvolvimento do ensino e divulgação das ciências geológicas.
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em Educação – Área Tecnologia Educativa. Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho.
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p. 55‑77.
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Portugal. Lisboa: Missão para a Sociedade da Informação /Ministério da Ciência e da Tecnologia.
PINHO, J. (2007) – Museus e internet. Recursos online nos sítios web dos museus nacionais portugueses.
Revista TEXTOS de la CiberSociedad, 8. Temática Variada.
VIESCAS, J.L. (2003) – Microsoft Office Access 2003 Inside Out, Microsoft Press.
(Página deixada propositadamente em branco)
24
A COLEÇÃO KRANTZ DE BRAQUIÓPODES DEVÓNICOS
DO MUSEU DA CIÊNCIA DA UNIVERSIDADE
DE COIMBRA (PORTUGAL)
Abstract – This work describes the content of the Devonian brachiopods collection by
Krantz stored in the Science Museum of the University of Coimbra. The actual taxonomic
names and the collection localities are presented, thus fulfilling a lack of information within
the Museum archives.
The brachiopods were collected at classical Devonian outcrops in Germany resulting in
that this collection is of high importance for the study of Portuguese Devonian strata, especially
for stratigraphy and regional and large scale correlation.
1
Centro de Geociências da Universidade de Coimbra, Largo Marquês de Pombal, 3000‑272 Coimbra,
Portugal; Mena.Schemm‑[email protected]; [email protected]; [email protected]
1 – Introdução
Nº de Unidades Nº de
234 Nome antigo Nome atual Localidade
inventário Estratigráficas espécimes
Chonetes Loreleiella
MIN 1403 Laubach (1) Emsiano Superior 1
dilatata dilatata
MIN Spirifer Subcuspidella
Daleiden (3) Emsiano Superior 2
1404.1‑2 subcuspidatus subcuspidata
MIN
Kayseria lens Nucleospira lens Pelm (3) Eifeliano 3
1406.1‑3
Spirifer
MIN 1408 Arduspirifer extensus Miellen (2) Emsiano Superior 1
arduennensis
MIN Rhynchonella Oligoptycherhynchus
Daleiden (3) Siegeniano 3
1410.1‑3 daleidensis daleidensis
Oligoptycherhynchus
daleidensis, Schizophoria
MIN Rhynchonella
(Pachyschizophoria) Rhens (2) Siegeniano 2
1411.1‑2 daleidensis
vulvaria, Chonetes
sarcinulatus
Chonetes Chonetes
MIN 1412 Laubach (2) Emsiano Superior 1
sarcinulatus sarcinulatus
Uncinulus pila,
Schizophoria
MIN Rhynchonella
(Pachyschizophoria) Rhens (2) Emsiano Superior 2
1414.1‑2 pila
vulvaria, Subcuspidella
subcuspidata
MIN Spirifer Subcuspidella
Rhens (2) Emsiano Superior 2
1415.1‑2 subcuspidatus subcuspidata
MIN Spirifer Arduspirifer arduennensis
Rhens (2) Emsiano Superior 2
1416.1‑2 arduennensis treverorum
MIN Rhynchonella Ahler Hütte
Uncinulus pila Siegeniano 2
1417.1‑2 daleidensis (2)
Spirifer Brachyspirifer Kondelwald
MIN 1418 Emsiano Superior 1
auriculatus carinatus rhenanus (2)
Orthisina Xystostrophia
MIN 1419 Gerolstein (3) Eifeliano 1
umbraculum umbraculum
Megantheris archiaci,
MIN Megantheris
Tropidoleptus rhenanus, Stadtfeld (3) Emsiano Inferior 2
1420.1‑2 archiaci
Chonetes sarcinulatus.
MIN
Spirifer urii Crurithyris urei Büdesheim (3) Fameniano 4
1421.1‑4
Arduspirifer
Chonetes
MIN 1425 antecendens n. ssp. C, Stadtfeld (3) Emsiano Inferior 1
sarcinulatus
Chonetes sarcinulatus
MIN Spirifer 2
Cyrtospirifer verneuili Büdesheim (3) Frasniano
1429.1‑2 verneuili
Tabela 1 – Continuação
MIN Spirifer Arduspirifer arduennenis
Daleiden (3) Emsiano Superior 3
1434.1‑3 arduennensis arduennensis
MIN Camarophoria Leiorhynchus
Büdesheim (3) Eifeliano 5
235
1435.1‑4 subreniformis subreniformis
Loreleiella dilatata,
Orthis Schizophoria
MIN 1437 Urbar (2) Eifeliano 1
striatula (Pachyschizophoria)
vulvaria
Platyorthis circularis,
Brachyspirifer sp.,
Tropidoleptus rhenanus,
MIN Orthis
Subcuspidella sp., Stadtfeld (3) Siegeniano 3
1440.1‑3 circularis
Chonetes sarcinulatus,
Arduspirifer antecedens
n. ssp. C
3 – O Devónico da Alemanha
Givetiano Givetiano
Devónico Médio
Eifeliano Eifeliano
Emsiano
Emsiano
Gedinniano Lochkoviano
4 – Conclusões
Agradecimentos – Este trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tec-
nologia (FCT), no âmbito da bolsa SFRH/BPD/71647/2010 (“Devonian Brachiopods
from Portugal: The importance of classical collections for modern paleontology”), e re-
presenta um contributo para o Projeto IGCP 596 ‑“Climate Change and biodiversity
Patterns in the Mid‑Paleozoic”.
Referências Bibliográficas
“O passado da Terra não é menos importante que o passado dos seres humanos.
Chegou o tempo de aprendermos a protegê‑lo e protegendo‑o aprenderemos a conhecer o
passado da Terra, esse livro escrito antes do nosso advento e que é o património geológico.”
Abstract – This work presents preliminary data concerning the identification of the
geological heritage and other heritage values of the “Montemuro and Gralheira” territory.
The obtained data show the high geotourism potential of this territory, which may support
an integrated development strategy to enhance its value.
1
AGA – Associação Geoparque Arouca, Arouca; Centro de Geociências da Universidade de Coimbra,
Portugal; [email protected]
2
Departamento de Geologia da Universidade de Trás‑os‑Montes e Alto Douro, Vila Real e Centro de
Geociências da Universidade de Coimbra, Portugal; [email protected]
3
Centro de Ciências da Terra da Universidade do Minho, Braga e Centro de Geologia da Universidade do
Porto, Portugal; [email protected]
Keywords – Natural heritage; Cultural heritage; Development strategy; “Montemuro
and Gralheira” territory
1 – Introdução
242
Entende‑se por território “Montemuro e Gralheira” a área que integra os sete con-
celhos de Castelo de Paiva, Cinfães, Castro Daire, Arouca, Vale de Cambra, S. Pedro
do Sul e Sever do Vouga, constituído por 105 freguesias e cobrindo uma superfície total
de cerca de 1690 km 2, com 126.929 residentes (Censos 2011: Tabela 1). Este território
está delimitado pelos rios Douro e Vouga e encaixado entre as serras de Montemuro e
o maciço da Gralheira, que inclui as serras de Arestal, Freita e Arada.
A área em estudo neste trabalho encontra‑se cartografada em 21 folhas da Carta
Militar de Portugal à escala 1:25.000, elaborada pelos Serviços Cartográficos do Exército,
conforme indicado na Fig. 1.
Os sete concelhos referidos distribuem‑se por duas NUT II – Região Norte e Região
Centro – e quatro NUT III. Assim, na Região Norte, os concelhos de Arouca e Vale de
Cambra pertencem à NUT de Entre Douro e Vouga, e os concelhos de Castelo de Paiva
e Cinfães à NUT do Tâmega. Na Região Centro os concelhos de Castro Daire e S. Pedro
do Sul pertencem à NUT de Dão Lafões, e o concelho de Sever do Vouga à NUT do
Baixo Vouga (Tabela 1).
No que diz respeito ao enquadramento distrital, quatro concelhos pertencem ao
distrito de Aveiro (Arouca, Castelo de Paiva, Sever do Vouga e Vale de Cambra) e três
ao distrito de Viseu (Castro Daire, Cinfães e São Pedro do Sul: Tabela 1).
Este território, definido como “zona de montanha” (Portaria nº 377/88, de 11 de
junho) e sofrendo problemas de interioridade e baixa densidade populacional, tem bene-
ficiado, por via dos fundos europeus para o desenvolvimento rural, da implementação
de estratégias de desenvolvimento local assentes na metodologia LEADER, desde o ano
de 1991 (DUARTE, 2008). As sucessivas estratégias aplicadas, coincidentes com os di-
ferentes períodos de programação financeira dos Quadros Comunitários de Apoio, tem
proporcionado um conjunto de intervenientes público‑privados em torno da valorização
dos recursos endógenos, e criou uma identidade territorial bem definida.
Tabela 1 – Áreas administrativas do território “Montemuro e Gralheira”.
Fig. 2 – Locais de interesse geológico do território “Montemuro e Gralheira”: A. Minas do Braçal, Sever
do Vouga; B. Cascata da Cabreia, Sever do Vouga; C‑D. Portas de Montemuro, Cinfães; E. Balneário Rainha
D. Amélia, Termas de S. Pedro do Sul, S. Pedro do Sul; F. Balneário das Termas do Carvalhal, Castro Daire.
4 – O Património Cultural
5 – Considerações finais
Referências Bibliográficas
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www.geoparquearouca.com/geotourism2011/index.php?p=congress&l=en (consultado em 2012.01.30).
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AGA – Associação Geoparque Arouca, 47 p.
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http://www.icnf.pt/ICNPortal/vPT2007/O+ICNB/Rede+Natura+2000+2010/RN2000+em+Portugal/
sitios_importancia_comunitaria.htm (consultado em 2012.07.30).
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SÁ, A. A., VALÉRIO, M., BRILHA, J., CACHÃO, M., COUTO, H., MEDINA, J., GUTIÉRREZ‑MARCO, J. 249
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da Terra 2005 – “Ordenamento do Território, Turismo e Desenvolvimento Sustentável”, Arouca, 6 p.
(Página deixada propositadamente em branco)
26
O PATRIMÓNIO NATURAL DO ARCO
(NAMIBE, ANGOLA) – ENQUADRAMENTO
GEOLÓGICO E EVOLUÇÃO GEOMORFOLÓGICA
1
Escola Superior Politécnica do Namibe, Universidade Mandume ya Ndemofayo, Namibe, Angola;
[email protected]
2
Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia e Centro de Estudos Sociais
da Universidade de Coimbra, Largo Marquês de Pombal, 3000‑272, Coimbra, Portugal; [email protected]
3
Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia e Centro de Geociências da
Universidade de Coimbra, Largo Marquês de Pombal, 3000‑272, Coimbra, [email protected]
Palavras‑chave – Arco; Angola; Património Natural; Geologia; Geomorfologia
Abstract – The Arco region, located in the Province of Namibe (southwest Angola),
corresponds to an integrated area in the Namib Desert, drained by the Curoca River.
252
Configuring a wetland area of great scenic beauty and great tourist interest, its sustainable
management is important to be promoted.
This paper presents the geological setting and geomorphological evolution of the Arco,
which are the source of the peculiar forms that characterize this territory, and the role of the
Curoca River in shaping the landscape. The Curoca River, which runs under a torrential
regime in a semi‑desert environment, leads to a fluvial and lacustrine system, marked by
fluvial deposition and erosion forms and instability mass movements.
To this end, we used the interpretation of cartographic data related to 1960, 1987 and 2007,
which shows the evolution of drainage and fluvial deposits and bars, lake systems, erosion
of the cliffs and badlands. Other landforms associated with erosion were also identified, and
representations of the deposition processes and organization of sedimentary bodies are presented.
The present study is a contribution to support future measures geoconservation of the Arco,
as a region with heritage value of high scenic content, with a view to promoting sustainable
development.
1 – Introdução
A região designada por Arco situa‑se na margem norte do rio Curoca, a cerca de 73 km
a sul da capital da província do Namibe, e 24 km a nordeste da cidade do Tômbwa, no
sudoeste de Angola. Apresenta‑se entalhada num substrato litológico definindo planaltos
extensos, enquadrados na orla sedimentar litoral (FEIO, 1981), os quais se prolongam
no sentido leste e nordeste, indo ao encontro da grande escarpa da Chela, estrutura que
integra a cadeia marginal de montanhas do país.
Este planalto estrutural em pediplanícies faz parte do deserto do Namibe, e é recortado
por talvegues de rios como o Curoca. Este, que drena em direção ao oceano Atlântico, do
qual dista cerca de 5 km, forma uma extensa bacia aluvionar, enquadrada pelos relevos
mais antigos (AMARAL, 1973).
Entre os vários aspetos que caraterizam o território do Arco, designadamente os bióticos
e os abióticos, destaca‑se a integração singular de elementos florísticos autóctones e alóctones,
bem como da população ali residente (os kimbares do Curoca), numa paisagem exibindo uma
geomorfologia típica das regiões áridas. Detentora de valores naturais que apresentam grande
interesse turístico, potenciador de desequilíbrios que importa minimizar, a gestão sustentável
daquele território requer a tomada de decisões políticas, que garantam a sua preservação. Para
tal, urge identificar e avaliar os valores, quer de biodiversidade, quer de geodiversidade, que
integram o Património Natural do Arco, necessários para fundamentar futuras decisões
relativamente à sua adequada gestão, centrando‑se o presente trabalho, na caraterização do
enquadramento geológico e na evolução geomorfológica daquela zona húmida, situada em
ambiente semidesértico, na qual são reconhecíveis formas singulares de interação entre o
território e os seus ocupantes (MÁQUINA, 2010; TAVARES et al., 2012).
2 – Enquadramento Geológico
Fig. 8 – Evolução das barras e dos depósitos Fig. 9 – Evolução do sistema lacustre
fluviais entre 1960 e 2007. entre 1960 e 2007.
4 – Conclusões
Referências Bibliográficas
AMARAL, I. (1973) – Formas de “inselbergs” (ou montes ilhas) e de meteorização superficial e profunda em
rochas graníticas do Desertp de Moçâmedes (Angola) na margem direita do rio Curoca. Garcia de Orta,
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100 p.
TAVARES, A. O., MÁQUINA, M. A. & HENRIQUES, M. H. (2012) – The impact of tourism in a fragile
wetland ecosystem in Angola: the Arco (Namibe) case study. WIT Transactions on Ecology and The
Environment, Pineda & Brebbia (eds). WIT Press, Southampton, 161, p. 205‑217.
(Página deixada propositadamente em branco)
27
VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL DAS MINAS DE REGOUFE
E RIO DE FRADES (GEOPARQUE AROUCA, PORTUGAL)
1
Geoparque Arouca, Arouca, Portugal; [email protected]
2
Dep. de Geologia, Universidade de Trás‑os‑Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal; [email protected];
[email protected]
3
Centro de Geociências, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
Abstract – In order to understand and highlight the importance of the mining
heritage of Regoufe and Rio de Frades mines (Arouca Geopark, Portugal) and justify the
geotouristic interest for a possible intervention to safeguard the remaining heritage, an
approach to the historical and socioeconomic aspects related to these mines was carried
260
out. In this sense, a review of previous work has been made, and information has been
collected from the files of the Direcção Regional de Economia do Norte. Is was also made
a small set of interviews with people who somehow have a past occupation linked to the
history of these mines, and a collection of old documents retrieved by locals who found and
kept this abandoned material. This characterization shows the importance and benefits
of possible recovery of part of these infrastructures, and of its preservation as a whole,
including the associated highly‑valuable intangible heritage. This reality allows the imple‑
mentation and affirmation of a reference geotourism, thus contributing to the sustainable
development of the Arouca Geopark territory.
1 – Introdução e objetivos
Uma verdadeira “febre do ouro negro” abateu‑se sobre estas terras, em particu-
lar no período coincidente com a 2ª Guerra Mundial, durante o qual os inimigos
beligerantes ingleses e alemães exploraram o volfrâmio, substância mineral essen-
cial para o fabrico de armas e munições, com que se gladiavam nos campos de
batalha na Europa.
Em 1928, o cidadão inglês Charles Sidney Vesey Brown adquiriu a concessão de
“Poça da Cadela” (que, mais tarde, fará parte do Complexo mineiro de Regoufe) (Fig.
1), que foi administrada por Agostinho Gaspar Gralheiro até 1940 (VILAR, 1998).
Foi somente em 1941, já durante a Segunda Guerra Mundial, que foi constituída a
261
Companhia Portuguesa de Minas, sendo a empresa mais importante na exploração
histórica desta mina, a qual, como funcionava sob administração e capitais ingleses,
ficou conhecida por “Companhia Inglesa”. Os trabalhos continuaram até à década de
1970, embora com uma atividade e intensidade mais reduzidas (VILAR, 1998; SILVA
& RIBEIRO, 2006), tendo sido encerrada ao abrigo do Decreto‑Lei nº 88/90, de 16
de Março (MOURA, 2005).
Relativamente ao Couto Mineiro de Rio de Frades (Fig. 1), as primeiras explora-
ções foram demarcadas em 1914 (VILAR, 1998). Em 1923 foi fundada a Companhia
Mineira do Norte de Portugal que, por funcionar com capitais alemães, era denomi-
nada “Companhia Alemã”. Em 1941 ocorreu o período de maior atividade e exporta-
ção do tungsténio para a Alemanha. A laboração foi mantida, com menor atividade,
até à década de 1960 (SILVA & RIBEIRO, 2006).
Desta forma, ironicamente, entre 1939 e 1944, Arouca foi um dos raros territórios
em todo o mundo onde, no mais diminuto espaço, por causa da guerra e em busca de
um dos materiais que a alimentava, “alemães e ingleses coabitavam lado a lado e sem
dispararem um único tiro” (VILAR, 1998).
Algumas infraestruturas de apoio aqui sugeridas podem, com mais ou menos di-
ficuldades, ser implementadas nas minas de Rio de Frades e Regoufe, reconvertendo
parte das ruínas remanescentes. Além disso, também deve ser recuperada e aprovei-
tada a área envolvente, de forma controlada, marcada por uma paisagem de beleza
singular, o que permitirá a realização de atividades lúdicas e desportivas, como por
exemplo percursos pedestres guiados ao interior das galerias, atividades e desportos
radicais e zonas de repouso e lazer.
O património mineiro é gerador de turismo cultural podendo contribuir, por um
lado, para o desenvolvimento local, e por outro, para a elevação do nível cultural dos
visitantes. Além do turismo cultural, a recuperação destas explorações abandonadas
pode também proporcionar mais um foco de atração para os adeptos do turismo
rural (ROMERO & ROMERO, 2003), como por exemplo o ecoturismo, o turismo
de ação e aventura, o agroturismo e turismo gastronómico, procurando sempre um
turismo de excelência, sustentável e mantendo a identidade do local.
Quando falamos de património importa referir que não só assumem importância as
infraestruturas, mas também o espólio documental depositado em organismos oficiais ou
na posse de alguns cidadãos. Interessa também dar a conhecer o elevado valor do património
intangível, sensu MARTINI & ZOUROS (2001), JORNET I RAVENTÓS (2006) ou
264
ECKHARDT (2010), associado à exploração destas minas, onde se guarda a memória
doutros tempos, criada sobre “estórias” e histórias, muitas delas constantes apenas na
recordação de antigos mineiros ou que se preserva por tradição oral, mas que corre sérios
riscos de se perder em poucas gerações. Tal como refere ÁLVARÉZ ARECES (2006), a in-
terrelação do património mineiro com um passado que dificilmente voltará, confere desde
logo às antigas áreas mineiras um valor emocional, além do valor cultural associado a todos
os edifícios, maquinaria, objetos e quaisquer outros vestígios dos quotidianos vividos.
Durante a realização deste trabalho, foi possível verificar que diverso material docu-
mental está à guarda de alguns cidadãos, que o resgataram diligentemente de situações
claras de abandono, evitando, assim, a perda de importante memória histórica e guar-
dando‑o como propriedade sua. Refira‑se, no entanto, que nem sempre tivemos sucesso
nas tentativas de consulta documental encetadas junto destes “proprietários” que, por
terem noção que têm à sua guarda “algo importante”, deturpam o seu valor e deixam
transparecer uma confusão entre o seu real valor intangível e o seu pretenso “valor mo-
netário”. Na Fig. 3 apresentam‑se exemplos de alguns destes documentos recuperados.
Entre o conjunto das pequenas entrevistas realizadas, merece destaque a de um familiar
de antigos mineiros, que relatou as dificuldades passadas pelos trabalhadores mineiros na
época, principalmente a “doença do pó” (silicose) e a elevada mortalidade.
B C
Fig. 2 – Nas fotos A e B podemos observar o confronto entre a realidade do estado dos escritórios
e oficinas da mina de Regoufe, no ano de 1943 (fonte: Arquivo de Minas da DRE do Norte) e na
atualidade, sendo notório o estado atual de avançada degradação destas infraestruturas. A foto C,
à direita, é uma fotografia com vista panorâmica das ruínas do couto mineiro de Rio de Frades
do estado atual das instalações técnicas, lavaria, tanques de decantação e oficinas.
265
Fig. 3 – Exemplo de dois documentos recuperados da mina de Regoufe. A. folha mensal de ordenados
de 1966; B. cartão de mineiro de 1950. Além da importância histórica, estes documentos são
também importantes para o estudo sociológico desta época, onde se consegue perceber, por
exemplo, os salários das diferentes profissões de mineiro em meados da década de 1960.
5 – Considerações finais
Referências Bibliográficas
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VILAR, A. (1998) – O vôlframio de Arouca no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939‑1945). Câmara
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28
O PATRIMÓNIO GEOLÓGICO‑MINEIRO DA REGIÃO
DE BARRANCOS (SUL DE PORTUGAL)
J. M. Piçarra1
Abstract – Since the late 19th century that the Barrancos region presents a geological and
mining heritage that has been under study. There are several places of high geological interest,
particularly of paleontological nature, related to the materials of the Paleozoic. Its disclosure,
protection and conservation have been made by public and private entities.
1 – Introdução
1
Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Ap. 104, 7801‑902 Beja, Portugal; [email protected]
ambientais ótimas para a criação do “porco alentejano”, de elevado valor gastronómico.
Quem não saboreou já o bom presunto “pata negra”!
Mas é o Património Geológico‑Mineiro que vamos passar a desenvolver a seguir,
através da descrição dos seus principais valores, localizados na Fig. 1, não sem que antes
268
se apresente uma resenha histórica sobre o conhecimento da Geologia desta região.
Fig. 1 – Geologia simplificada da região de Barrancos, com localização dos principais “geosítios” (pontos
1 a 5). a – Fm. de Terena, b – Fm. Monte das Russianas, c – Fm. dos Xistos Raiados, d – Fm. dos Xistos
com Nódulos, e – Fm. de Colorada, f – Fm. dos Xistos com Phyllodocites, g – Fm. de Barrancos, h – Fm.
de Ossa, i – Fm. de Fatuquedo, j – Complexo Ígneo de Barrancos, k – Paleozóico indiferenciado.
• Sequência estratigráfica do Paleozóico (do ponto 1 da Fig. 1 até Barrancos, pela EN 258)
Barrancos é a região do país em que o Silúrico está melhor conhecido, em termos lito
e bioestratigráficos. Compreende o topo da Formação de Colorada, a Formação dos Xistos
com Nódulos e os níveis basais da Formação dos Xistos Raiados. As secções da trincheira
ao km 102.15 da EN 258 (ponto 2a da Fig. 1, Fig. 2) e do vale da ribeira de Murtega, esta
a sudoeste do Monte da Coitadinha (ponto 2b da Fig. 1), são as mais importantes para
caracterizar aquele período. A primeira das secções mostra uma sequência litológica
variada e bastante rica em fósseis de graptólitos (Fig. 2).
Esta secção tem proteção municipal, segundo o edital nº 14/98 de 6 de Julho de 1998.
Na secção do vale da ribeira de Murtega (ponto 2b da Fig. 1) identificou‑se uma as-
sociação de graptólitos da Biozona de Parakidograptus acuminatus do Rhudaniano, o que
constitui a primeira prova real, e única até ao momento, da existência da base do Silúrico
em Portugal. Neste local, observa‑se a passagem gradual entre as formações de Colorada
e dos Xistos com Nódulos.
A maioria dos valores geológicos antes referidos continuará no futuro, como foi no
passado, a ser objeto de investigação geológica por parte da comunidade científica. Porém, 273
constituindo testemunhos irrepetíveis e alguns insubstituíveis, é da nossa responsabi-
lidade a sua classificação, preservação e divulgação à comunidade, desde que apresentem
comprovado valor científico, pedagógico e cultural. Neste processo, a Câmara Municipal
de Barrancos tem dado todo apoio quando solicitada, mostrando‑se também disponível
para participar na criação de um Núcleo de Geologia do Museu Municipal.
As atividades na área da geologia divulgadas e postas à disposição do público pelo
Parque de Natureza de Noudar, são também um sinal de que o setor privado também
está cooperante e reconhece o valor deste património.
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(Página deixada propositadamente em branco)
29
PATRIMÓNIO GEOLÓGICO DA TUNDAVALA (HUÍLA, ANGOLA)
– UMA AVALIAÇÃO QUALITATIVA INTEGRADA
Abstract – This paper presents the results obtained in the qualitative assessment of
the geological heritage of Tundavala (Huila, Angola), necessary to support a classification
1
Departamento de Ciências da Terra e Centro de Geociências da Universidade de Coimbra, Largo
Marquês de Pombal, 3000‑272 Coimbra, Portugal; [email protected]
2
Faculdade de Ciências e Tecnologia e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra,
Largo Marquês de Pombal, 3000‑272, Coimbra, Portugal; [email protected]
3
Escola Secundária do II Ciclo de Quilengues, Huíla, Angola; [email protected]
proposal of that territory, to guarantee the preservation of its integrity, as well as the pro‑
motion of geotourism activities.
For the evaluation of the geological heritage of Tundavala a set of several data regarding
different contents displaying heritage value has been collected and processed. These were ana‑
278
lyzed in an integrated way, with data on the meanings attributed to Tundavala by the scien‑
tific communities (degree of relevance) and on the public perception of such meanings (abstract
perceptiveness), a factor that reflects the range of social fruition of the area.
The results obtained allow us to recognize in Tundavala, as an object displaying heritage
value, more than one type of content – documental, symbolic and scenic – which gives it a
degree of relevance with regional expression, and enhances its value as an element integrating
the geological heritage of the Earth.
1 – Introdução
3 – Conclusões
Fig. 5 – Tipos de conteúdos com valor patrimonial reconhecidos na Tundavala, baseados no Grau
de Relevância e na Perceção Abstrata, definidos em PENA DOS REIS & HENRIQUES (2005).
Referências Bibliográficas
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283
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(Página deixada propositadamente em branco)
30
GEOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA
NO VALE DO PATI – PARQUE NACIONAL DA
CHAPADA DIAMANTINA (BAHIA, BRASIL)
1
Grupo de Pesquisas Ambientais da Universidade de Guarulhos, Brasil; [email protected]
2
Instituto de Geologia da Universidade de São Paulo, Brasil
3
Instituto de Geociênias da Universidade Estadual Paulista, Brasil; [email protected]
Palavras‑chave – Parque Nacional da Chapada Diamantina (Brasil); Geoturismo; Tu-
rismo de Aventura; Turismo de Base Comunitária
Abstract – The Chapada Diamantina National Park extends through an area of about
286
152,000 hectares in the Bahia State, western central region in the northeastern Brazil, and
is very important for the touristic activities development of some regional municipalities. This
protected area is frequently referred as the “Brazilian Grand Canyon”, due to its magnifi‑
cent geodiversity, that is characterized by plentiful scenarios. The Pati Valley, located in the
central portion of this national park, is considered frequently as one of the most important
trekking areas in Brazil and receives yearly many domestic and foreign adventure tourists.
They are attracted by several fascinating natural allurements represented by beautiful rapids
and waterfalls, besides labyrinthic hollows and caves that setup the regional abiotic heritage.
Some of these patrimonies have been chosen as geological sites and then integrate specific
geotourism routes. The Pati Valley cross‑route represent one of the ecotouristic worldwide
trekkings, nevertheless almost unknown, besides the development of geotourism and adven‑
ture touristic activities. The participants must be lodged and nourished in local inhabitant
homes, that belong to the artisanal diamond miners and family based farmers, thus streng‑
thening the community based tourism. This paper deals with the relationship between the
Pati Valley touristic potentialities revealed by three segmented activities, which are adven‑
ture, geoscientific and community based tourism, which supply the local inhabitants with a
convenient socio‑economical subsistence resource.
2 – Objetivo e método
O Vale do Pati está localizado na parte central do Parque, exibe grande variedade de
relevo e, devido à sua posição geográfica, é considerado como um dos refúgios paisagísticos
mais belos do Brasil. Além disso, possui uma riquíssima flora, peculiar, representada
por jardins naturais da vegetação rupestre, pelos campos gerais e pelas florestas estacio-
nais de altitude (GUANAES, 2006). Segundo o mesmo autor, em decorrência da sua
exuberante beleza, é um lugar visitado por aqueles que gostam de fazer caminhadas em
ambientes naturais.
Segundo ALMEIDA (2005), as caminhadas (trekking) e as travessias por campos
naturais constituem modalidades do turismo de aventura, e geralmente este tipo de seg-
mento leva à prática dessas atividades em destinações exóticas; algumas delas, na verdade,
podem ser relacionadas a outros segmentos, tais como; o ecoturismo ou geoturismo.
O que diferencia o turismo de aventura de outros segmentos é a situação de risco implícita
na atividade; uma caminhada por lugares selvagens e íngremes pode proporcionar um
contato bastante estreito e ser uma forma instigante de conviver com a natureza, mas ao
mesmo tempo pode se transformar em uma perigosa experiência (ALMEIDA, 2005).
Entre os locais de prática para o turismo de aventura, pode‑se dizer que a travessia do
Vale do Pati é comparável à trilha Inca de Machu Picchu, no Peru, e à trilha dos peregri-
nos, em Santiago de Compostela na Espanha. Apresenta um alto nível de dificuldade e é
uma das trilhas mais conhecidas no circuito de trekking nacional, exigindo preparo físico
e resistência dos praticantes. O caminho serpenteia pela Serra do Sincorá, por altitudes
que oscilam entre 400 e 1400 m. O deslocamento se dá por uma trilha que liga o povoado
de Guiné ao município de Andaraí em um trajeto de aproximadamente 70 km de ex-
tensão, que exige entre 4 a 6 dias de caminhada e observação de atrativos geoturísticos,
tais como: vales escarpados, cachoeiras, morros, córregos e rios de águas cristalinas, cujo
percurso é de maior beleza cênica na área do Parque.
4 – Desenvolvimento do Geoturismo
6 – Conclusões
Referências Bibliográficas
1
Programa de Pós Graduação em Geociências, Dep. de Geologia e Centro de Tecnologia e Geociências da
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil; [email protected]; [email protected]
2
Departamento de Geografia da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil; [email protected]
A importância para a história geológica local e global torna a área muito interessante do
ponto de vista do turismo científico/educacional, e também do Geoturismo, já que este
está intimamente relacionado à Geoconservação e a Geodiversidade.
296
Palavras‑chave – Trilhas geoturísticas; Geodiversidade; Geoconservação
Abstract – The concern to preserve the geological heritage is on the rise, and the
number of activities involving this issue is increasing. Geotourism as a tourism‑based
on geological and geomorphological features appears in this context. The dissemination
and awareness of the importance of the geological monuments contributes significantly to
the process of geoconservation. Thus, the definition of trails with interpretive panels il‑
lustrating the importance of the geological features, represent a major breakthrough with
regard to the dissemination of the geological heritage and inspires its conservation. This
paper aims to describe and to georeference some trails that make up the sightseeing tour
of the Metropolitan Park Armando de Holanda Cavalcanti, located in the municipality
of Cabo de Santo Agostinho, southern coast of Pernambuco in northeastern Brazil. In this
area, the Cabo granite, with of 102 Ma. age, outcrops in an area of 4km2. It is a marker
of late stages of the separation of South America and Africa (Gondwana break‑up), and sub‑
sequent formation of the Atlantic Ocean. The region holds great historical and cultural
interest, represented by buildings and ruins dating from the sixteenth century. Artifacts
that tell about the local history are still found (e.g., old coins, cannon ball), some of them
being included in the collection of the Museum of the Brazilian Navy open to visitors.
The importance to local and global geological history make the area very interesting from
the standpoint of scientific/education tourism, and also the Geotourism, closely related to
Geoconservation and Geodiversity.
1 – Introdução
O clima da região é do tipo litorâneo úmido com chuvas de inverno (As´) e forte
influência de massas tropicais úmidas. A temperatura média anual é de 25,5 ºC, com
média anual máxima de 29,10 ºC e média anual mínima de 21,9 ºC. A média mensal da
umidade do ar (valores da cidade do Recife) oscila entre 74 e 86 %, com média anual de
80% (MOREIRA et al., 2003).
Com relação à hidrografia, a área está inserida na bacia hidrográfica GL2, que repre-
senta um grupo de bacias hidrográficas de pequenos rios litorâneos do estado. É formada
por rios perenes que desembocam no Oceano Atlântico.
Geologicamente, a área esta inserida na Bacia Pernambuco, na suíte magmática
Ipojuca e marca um dos estágios da quebra de Gondwana e consequente formação do
Oceano Atlântico e das bacias sedimentares costeiras. Nelas são encontradas rochas de
origem plutônica e vulcânica (NASCIMENTO, 2003).
Estudos a identificam como sendo o último elo entre a América do Sul e o continente
Africano. As rochas encontradas na região comprovam atividades vulcânicas, inclusive
explosivas, bem como toda uma movimentação da Terra em períodos geológicos distintos
(LEON et al., 1986).
De acordo com a nomenclatura internacional para rochas ígneas plutônicas, o Gra-
nito do Cabo, trata‑se de um álcali‑feldspato‑granito de 102 milhões de anos, apresenta
uma exposição de aproximadamente 4 km², possui textura equigranular, com granulação
grossa a média e coloração creme. Mineralogicamente, é composto por uma grande
quantidade de quartzo (aproximadamente 40%) e feldspato potássico, ausência quase
total de plagioclásio e presença de anfibólio (LEON et al., 1986).
Também foram identificados diques de riolito e basalto (Fig. 2), que intrudem o
granito ao longo de fraturas e falhas com direção preferencial noroeste.
O município do Cabo de Santo Agostinho apresenta, de modo geral, dois conjuntos
distintos de relevo: um relevo ondulado, composto por morros e colinas, ocupando mais
298
de 80% da área total do município; e o relevo semi‑plano, onde predominam as áreas
mais baixas, localizadas na porção leste do município, englobando a área de planície
flúvio‑costeira, os tabuleiros e os terraços (ASSIS, 1999).
A B
3
Denominação do granito na literatura.
É possível observar nas encostas dos morros na área do PMAHC processos erosivos
em larga escala, desenvolvendo grandes sulcos formados ao longo das vertentes (Fig. 3).
A evolução deste processo erosivo pode resultar em consideráveis impactos ambientais,
podendo gerar movimentos de massa, causando dificuldades de acesso à área e compro-
299
metendo a estabilidade de algumas ruínas.
Em função destas feições geológicas e geomorfológicas, a área representa um laboratório
a céu aberto, possibilitando estudos de intensidade de erosão ao longo do tempo, erosão
vs remoção da cobertura vegetal, atividades antrópicas vs processos erosivos, além da
beleza paisagística.
O PMAHC foi criado em 1979 e tomado como patrimônio histórico no ano de 1993;
na antiga Vila de Nazaré estão edificadas construções de grande valor histórico e cultural,
monumentos que contam um pouco da história brasileira. Entre eles, um dos mais impor-
tantes é a igreja de Nazaré. Não há certeza sobre sua data de construção, no entanto a mesma
já existia ao final do século xvi. Pela sua localização privilegiada, no ponto mais alto do
granito do cabo, foi referencia para os navegadores da época (NASCIMENTO, 2005).
Outras edificações tão importantes no sentido histórico e arquitetônico podem ser
destacadas, entre elas o forte castelo do mar, edificado pelos militares portugueses
em meados de 1631, com o objetivo de proteger a então Vila de Nazaré. Há ainda ruínas
do quartel velho, do convento carmelita datado do final do séc. xvii‑início do séc. xviii,
bem como da casa do faroleiro, construção da segunda metade do séc. xix, que servia de
moradia para o faroleiro e como depósito de equipamentos do farol que ali existiu (Fig. 4).
300
A B
C D
4 – Trilhas Geoturísticas
O parque tem vários pontos que podem ser incluídos nos roteiros das trilhas; os
mesmos foram analisados e caracterizados de acordo com sua relevância, seja ela geológica,
geomorfológica, histórica ou didático/científica. Todas as trilhas têm como ponto de
partida a área central da Vila de Nazaré, próximo à igreja homônima, mais precisamente
no Núcleo de administração do Parque – NAD.
A fundamentação dos roteiros geoturísticos direcionados as trilhas que serão trabalha-
das no parque, tem como base a metodologia de estratégias de conservação propostas
por BRILHA (2005), onde se faz necessário à realização de algumas tarefas tais como:
inventário, quantificação, classificação, conservação, valorização, divulgação e monitorização
da geodiversidade local.
Neste trabalho será apresentada a primeira trilha mapeada, denominada trilha da Casa
do Faroleiro. A caracterização desta trilha foi realizada utilizando o método de Indicadores
de Atratividades de Pontos Interpretativos (MAGRO & FREIXÊDAS, 1998), associado
ao método proposto Manual de Ecoturismo de Base Comunitária (ANDRADE, 2003).
4.1 – Trilha da Casa do Faroleiro
Ponto 1 – Esse ponto marca primeira parada da trilha, em cota topográfica de apro-
ximadamente 70 m. Permite a observação de gretas de dissecação, voçorocas e o
manto de intemperismo proveniente da alteração do granito; o mesmo encontra‑se
bastante oxidado formando uma crosta laterítica.
Ponto 2 – A segunda parada da trilha é nas ruínas da casa do faroleiro. Observa‑se que
a mesma foi edificada com material da própria região, e é possível ver os blocos de
granito e arenitos de praia, material encontrado nas redondezas. Sobre o granito se
pode observar um sistema de fraturas subverticais, indicando forte movimentação
pretérita nessa região.
Ponto 3 – Apresenta grande interesse didático/científico. É possível observar o
manto de laterização proveniente da alteração do granito, bem como algumas
fraturas (Fig. 6).
302
O visitante ainda pode observar muitos blocos rochosos; os mesmos apresentam pro-
cessos erosivos de esfoliação esferoidal. A beleza cênica pode ser contemplada desse ponto
da trilha de onde se tem uma vista belíssima (Fig. 7).
4
Blocos de granito que se desprenderam em algum momento geológico da rocha mãe.
Saindo da Bica da Ferrugem em direção ao ponto de partida da trilha pode se observar,
em algumas encostas desnudas, o plantio de algumas mudas, iniciativa tomada pela
gestão do PMAHC a fim de reflorestar essas áreas e minimizar os processos erosivos, que
se tornam mais atuantes onde a vegetação foi suprimida (Fig. 9).
303
A B
C D
5 – Conclusões
O parque possui algumas trilhas já utilizadas por turistas e visitantes, feitas pelo
exército brasileiro, no entanto essas trilhas foram desenvolvidas objetivando a prática da
corrida de orientação e não há descrição das mesmas do ponto de vista geológico‑geomor-
fológico. Há algumas indicações de monumentos e ruínas.
A trilha da Casa do Faroleiro é a primeira parte de um projeto de pesquisa que levantará
as características geológico‑geomorfológicas, histórica e didático‑científica, mapeará e
304
georreferenciará todas as trilhas existentes no parque, visando divulgar e conservar o
patrimônio geológico.
Referências Bibliográficas
GEOROUTES:
A PATH FOR RURAL DEVELOPMENT
Resumo – As ilhas dos Açores exibem formas, relevos e estruturas variadas que
constituem exuberantes paisagens naturais importantes para o desenvolvimento do geo-
turismo. Neste contexto, uma atividade geoturística que resulta de parceira entre a
Associação Geoparque Açores e a ARDE (Associação Regional para o Desenvolvimento)
é a implementação de um conjunto de georoteiros na Ilha de Santa Maria e na zona
ocidental da Ilha de São Miguel (território de atuação da ARDE). Estes roteiros visam
desenvolver o meio rural.
Abstract – The Azorean islands exhibit a wide range of forms, reliefs and structures
that create a lush natural landscape important for the development of the geotourism. In
this context, one of the geoturistic activities that are being developed by the partnership
Azores Geopark Association and ARDE (Regional Association for Development) are the geo‑
routes on the Santa Maria Island and on the Western part of São Miguel Island (ARDE
operational territory). These georoutes contribute to the development of the rural area.
1
ARDE (Associação Regional para o Desenvolvimento), Rua Manuel Inácio Correia, 73, 1º Esquerdo,
9500‑087 Ponta Delgada – Açores, Portugal; [email protected]
2
Universidade dos Açores, Departamento de Geociências, Rua da Mãe de Deus, apartado 1422, 9501‑801
Ponta Delgada – Açores, Portugal; [email protected]
3
Associação Geoparque Açores, Centro Empresas da Horta, Rua do Pasteleiro s/n – Angústias, 9900‑069
Horta – Açores, Portugal
1 – O Valor Geoturístico da Ilha de Santa Maria e da zona ocidental da Ilha de São Miguel
Desde os primórdios do povoamento das ilhas (no século xv) que o povo açoriano
tem uma forte ligação com os vulcões, assistindo a vários episódios de atividade vulcânica e
sismos. Estes episódios, bem documentados nos acervos históricos disponíveis, mostram o
medo com que as pessoas viviam quando ocorriam estes fenómenos naturais catastróficos.
Um dos exemplos de atividade vulcânica histórica ocorreu em 1811 na parte ociden-
tal da Ilha de São Miguel, no mar ao largo da atual Ponta da Ferraria, originando uma
ilha efémera: a Ilha Sabrina. Hoje em dia, o que nos resta deste episódio vulcânico é um
baixio submarino, apenas acessível por mergulhadores e apaixonados pela pesca. Não
obstante, este episódio marcou, e marca, profundamente as populações das zonas vizinhas
à Ponta da Ferraria, como o atestam as toponímias Miradouro Ilha Sabrina e Rua Ilha
Sabrina existentes na zona da Ferraria, freguesia dos Ginetes.
Por outro lado, será fruto dessas catástrofes naturais, o aparecimento de manifestações
de fé e devoção, como é o caso das procissões e romarias (e.g., Romeiros de São Miguel), a
devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres e as Festas do Divino Espírito Santo, estas
últimas em todas as ilhas (Fig. 1).
Para além desse património imaterial acima referido, os açorianos souberam, desde cedo,
tirar o melhor partido dos recursos que os vulcões ofereciam. Uns desses exemplos são as
307
diferentes rochas que ornamentam igrejas, fortificações militares, solares e outros edifícios
nobres (Figs. 2 e 3), as paisagens vinícolas e vitivinícolas, campos com rendilhado de muros
de pedra e o aproveitamento das águas termais para fins medicinais, para além de, mais
recentemente, o aproveitamento do calor geotérmico para produção de energia.
Geossítios prioritários
Barreiro da Faneca SMA1
Pedreira do Campo SMA2
Poço da Pedreira SMA 3
Ponta do Castelo SMA 4
Ribeira do Maloás SMA 5
Geossítios
Baía da Cré SMA 6
Baía de São Lourenço SMA 7
Baía do Raposo SMA 8
Baía do Tagarete e Ponta do Norte SMA 9
Baía dos Cabrestantes SMA 10
Barreiro da Malbusca SMA 11
Cascata do Aveiro SMA 12
Figueiral SMA 13
Porto de Vila do Porto SMA 14
Praia Formosa e Prainha SMA 15
Geossítios prioritários
Caldeira do vulcão das Sete Cidades SMG 2
Ponta da Ferraria e Pico das Camarinhas SMG 8
Serra Devassa SMG 9
Geossítios
Fajã lávica e ilhéus dos Mosteiros SMG 14
Rocha da Relva SMG 21
308
O arquipélago dos Açores, dada a sua natureza vulcânica e a ação dos agentes ex-
ternos da biosfera, hidrosfera e atmosfera, exibe formas, relevos e estruturas variadas
que constituem exuberantes paisagens naturais, que tanto fascinam as populações locais
como os visitantes. Essas paisagens naturais constituem o ponto de partida para o de-
senvolvimento do geoturismo, isto é, um tipo de turismo assente num desenvolvimento
sustentável (a nível económico, social e ambiental), e que tem por objetivos, a promoção
309
da geodiversidade e do património geológico e a valorização dos aspetos culturais e
ambientais (LIMA et al., 2009).
Uma atividade geoturística que resulta de parceira entre a Associação Geoparque Açores
e a ARDE é o desenvolvimento de um conjunto de georoteiros na Ilha de Santa Maria e
na zona ocidental da Ilha de São Miguel, território de atuação da ARDE (MELO et al.,
2010). Estes roteiros visam: i) dar a conhecer aos habitantes locais e turistas a geodiversidade
existente nestas áreas; ii) proporcionar uma melhor compreensão acerca das geociências;
iii) fomentar diversas atividades de lazer e de interpretação (percursos pedestres, geocaching,
passeios de bicicleta, canoagem, escalada, visitas de estudo a centros de interpretação e
museus, entre outras); iv) combater a sazonalidade do turismo (promovendo a visita a
grutas, museus e centros de interpretação aquando de condições atmosféricas adversas, típicas
da época baixa) e v) criar sinergias com empresas de animação turística, restaurantes e
empreendimentos de turismo rural, que, em conjunto, contribuem para o desenvolvimento
do meio rural (Figs. 4 e 5).
4 – Considerações finais
A forte interligação existente nos Açores entre os vulcões e a sociedade faz com que a
criação dos georoteiros seja essencial para se perceber melhor esta relação entre o Homem
Açoriano e as geociências, em particular a Vulcanologia.
Com esta atividade geoturística pretende‑se promover e valorizar a geodiversidade
existente nos Açores, divulgar as geociências, homenagear o Homem Açoriano, promover
a cultura açoriana, preservar o meio ambiente, melhorar o bem estar das populações e
oferecer um produto turístico único, genuíno, diferenciador e de qualidade, que corres-
ponda às exigências dos geoturistas.
Referências Bibliográficas
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MELO, J., GARCIA P., BRAGA, T. & GOMES, C. (2010) – Roteiros pedestres Santa Maria. In: Amigos
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33
PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO E GEOCONSERVAÇÃO DA
FORMAÇÃO SANTANA (CRETÁCEO INFERIOR DA BACIA DO
ARARIPE, PERNAMBUCO E PIAUÍ – NORDESTE DO BRASIL)
A. M. F. Barreto1, J. B. R. Brilha 2,
A. M. F. Sales3 & J. A. C. de Almeida4
1
Dep. de Geologia Centro de Tecnologia e Geociências da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil;
[email protected]
2
Centro de Ciências da Terra da Universidade do Minho e Centro de Geologia da Universidade do Porto,
Portugal; [email protected]
3
Dep. Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri, Ceará, Brasil; [email protected]
4
Dep. Geociências da Universidade Federal da Paraíba, Brasil; [email protected]
Palavras‑chave – Patrimônio fossilífero; Inventário; Ações de proteção; Araripe;
Formação Santana (Brasil)
Abstract – The Santana Formation outcrops on the flanks of the Chapada do Araripe
312
in three states of northeastern Brazil, southern Ceará, west Pernambuco and east Piauí.
Their fossils, preserved in concretions, are the most important of the Lower Cretaceous
of Gondwana. This paper aims to present the inventory and actions for the preservation
and safeguarding of such heritage in the states of Pernambuco and Piauí, where Santana
Formation has a thick layer of gypsum, representing about 85% of the Brazilian production
of gypsum, underlying strata with fossiliferous concretions. Among the 21 studied fossil
outcrops, 5 geosites were selected due to its high scientific and educational importance.
Twenty‑one gypsum mining companies were also visited to assess their potential palaeon‑
tological value and possible involvement of owners in the preservation of this heritage.
Concerning valuation actions, a leaflet alerting for the need to conserve fossils was prepared
for dissemination to the general public, together with a didactical book for schools. The
establishment of a partnership between the Federal University of Pernambuco and local
colleges is also expected to occur. We intend to promote the involvement of the community
donating fossils for the creation of local museums, together with the participation of local
administration, colleges, and businesses, fostering the protection of the palaeontological
heritage.
1 – Introdução
Fig. 2 – Ictiólito, concreção com o peixe fóssil Vintifer comptoni. Coletado em Araripina (PE).
A consagração da importância internacional da Formação Santana devido à ocorrência
de elementos da geodiversidade com elevado valor científico sendo, por isso, considerados
como localidades essenciais para demonstração dos aspectos e estágios chave na evolução
geológica da região, culminou com a criação, no Estado do Ceará, do Geopark Araripe,
314
de valor reconhecido pela UNESCO em 2006. Porém, os outros dois estados que possuem
afloramentos da Formação Santana, necessitam também de estratégias de geoconservação.
As principais ameaças aos fósseis do Araripe são a destruição por desconhecimento do
seu valor e a coleta para guarda em coleções privadas ou para a venda ilegal. A Constituição
Brasileira de 1988 definiu os sítios de valor paleontológico como “Bens da União” e
“Patrimônio Cultural Brasileiro”. A coleta (extração, resgate ou salvamento), transporte
e armazenamento desses fósseis, no território brasileiro, dependem de autorização prévia
e são fiscalizadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral−DNPM. Sem esta
autorização, o coletor estará a praticar um crime contra o Patrimônio Cultural. Também
não são permitidas a compra e venda, ou qualquer outra atividade comercial (troca,
permuta, escambo) de fósseis oriundos do território brasileiro.
O trabalho apresenta os principais geossítios da porção oeste da bacia, nos estados de
Pernambuco e Piauí, seus valores e propostas de ações que visam a diminuição da perda
deste patrimônio paleontológico e cultural.
3 – Mineração de Gipsita
A região conta com 39 áreas de extração a céu aberto de gipsita (Camadas Ipubí) que
produzem 600 mil toneladas de gesso por ano, responsável por mais de 85% da produção
brasileira. O chamado “pólo gesseiro do Araripe” gera cerca de 13.000 empregos diretos na
região e mais de 60.000 indiretos (SINDUGESSO, 2012). Para a extração da gipsita, que
tem em média 20 metros de espessura, é necessário o desmonte de cerca de 10 a 25 me-
tros de calcários e concreções fossilíferas do Membro Romualdo, ficando assim expostos,
rochas e fósseis, pela extração da gipsita, favorecendo a descoberta de novos achados, ao
mesmo tempo em que os torna vulneráveis (Fig. 3).
Com o intuito de identificar o potencial fossilífero das mineradoras da região e o
interesse das empresas em apoiar a preservação deste patrimônio natural foi realizada
uma pesquisa em 21 empresas de mineração dos municípios de Araripina (10), Ipubí (7)
e Trindade (4), que representa mais de 50% das empresas em funcionamento.
Em todas as pedreiras encontram‑se níveis com concreções fossilíferas, que ficam
expostas durante o processo de decapeamento (retirada do ‘estéril’ para a extração do
minério). Enquanto as empresas maiores realizam o decapeamento todos os meses do
ano, empresas menores apenas o fazem durante quatro a seis meses por ano.
A análise dos inquéritos feitos às empresas de mineração revela que quase todas
(95%) reconhecem o valor do patrimônio que existe nas rochas com que trabalham, e
sabem que existem leis para sua proteção. Porém, referem que não têm condições para
fazer um monitoramento e resgate dos fósseis sem interferir na produção. A escavação
mecanizada não permite a separação e coleta de fósseis devido ao seu pequeno tamanho
e quantidade relativamente grande de concreções. Acresce‑se o fato de que nem todas
as concreções são fossilíferas, muito embora a maioria seja, para além de ser necessário
quebrar a rocha para verificar da ocorrência de um fóssil no seu interior.
A maioria das empresas de mineração consultadas (85%) afirmou que, caso houvesse um
museu na cidade, doaria fósseis eventualmente recuperados das frentes de lavra, desde que o
nome do doador (ou nome da empresa de mineração) ficasse registrado junto ao fóssil.
Membro Romualdo (rejeito) 317
Membro Romualdo
Ainda 90% das mineradoras estão de acordo que, caso haja algum incentivo do poder
público (redução de impostos, premiação por boas práticas de preservação do patrimônio
natural, etc.) e colaboração de técnicos, poderiam contribuir para o resgate, pelo menos, de
parte do patrimônio. Duas mineradoras disseram que se fosse possível vender os fósseis, eles
investiriam no seu resgate.
Quanto ao destino dos fósseis eventualmente encontrados durante a atividade mi-
neira, metade das empresas reconheceu que os doava para terceiros (escolas, faculdades,
amigos que têm coleção em casa ou parentes) e cerca de 50% referiu que iam para o rejeito.
Cinco pessoas comentaram que, no passado, carregavam caminhões com concreções com
destino para São Paulo.
Com esta pesquisa junto às empresas mineradoras, fica claro que qualquer estratégia
de geoconservação tem obrigatoriamente de integrar ações junto das mesmas. Lembra‑se
aqui que, segundo SINDUGESSO (2012), a exploração de gipsita deverá se estender por
mais 600 anos.
5 – Considerações finais
Referências Bibliográficas
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319
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(consultado em 30.01.2012).
34
EFEITOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA MINERAÇÃO
EM SÃO JOSÉ DE ITABORAÍ – ITABORAÍ
(ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL)
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, Instituto de
Geociências, Departamento de Geologia. Av. Athos da Silveira Ramos, 274. Bloco F. 21941‑916, Cidade
Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; [email protected]; [email protected]
Abstract – From 1933 to 1984, the Companhia Nacional de Cimento Portland Mauá
exploited economically limestone rocks of São José de Itaboraí sedimentary basin, resulting
in positive and negative effects for the locality. This study analyze, through interviews, the
public understanding of the mineral exploitation effects, so that we can assess the influence
322
of this activity in the region. During the mining operation, there were jobs, infrastructure
and an active trade in São José de Itaboraí. The place was more populated, with different
attractions and entertainments. However, the participants mentioned that with the company
shut down in 1984, the town fell into socioeconomic decay. Besides, with the end of this
activity, a lake was formed in the excavated left by the mining company, which currently
serves as water supply for the population. Regarding the scientific aspects, the mineral ex‑
ploitation contributed to the discovery of vertebrates and invertebrates fossils in calcareous
rocks, specially the late Paleocene mammals of about 57 Ma. Due to the efforts of the
scientific community the Parque Paleontológico de São José de Itaboraí was created in
1995, with the aim of preserve the testimonies of geology and fossil remains in these rocks.
Currently, the park is going through a revitalization process, which can generate a new
social and economic impulse in São José de Itaboraí, through the geotourism. However, it
was found that the historical‑cultural question of the region is better understood than the
geological and paleontological aspects.
1 – Introdução
Fig. 1 – Localização da Bacia de São José de Itaboraí. Imagem obtida do satélite Landsat (2007).
Fig. 3 – Parque Paleontológico de São José de Itaboraí. A. Bacia de São José de Itaboraí com o Morro
da Dinamite ao fundo, local onde foram encontrados vestígios arqueológicos. Com o fim da extração
de calcário formou‑se um lago na área (junho, 2011). B. Sede do Centro de Referência Ambiental,
Paleontológico e Arqueológico do Parque Paleontológico de São José de Itaboraí, que expõe
rochas, fósseis, artefatos líticos e réplicas de animais pré‑históricos (junho, 2011).
325
2 – Metodologia
Entre os dias 19 e 27 de janeiro de 2009 foram realizadas 100 entrevistas com abor-
dagens diretas e de maneira aleatória com os moradores de São José de Itaboraí, além de
pessoas que possuíam vínculos empregatícios, familiares ou afetivos com o bairro. Foi
elaborado um questionário com perguntas pré‑estabelecidas e temas voltados aos aspectos
positivos e negativos da mineração na localidade, buscando uma análise quantitativa e
qualitativa dos dados. As entrevistas davam‑se pela visita às casas, comércios e abordagens
a transeuntes, geralmente na região central do lugar.
Inicialmente, os entrevistados foram questionados se recordavam da antiga atividade
econômica existente em São José de Itaboraí antes da criação do parque paleontológico,
calcada na mineração realizada pela Companhia Nacional de Cimento Portland Mauá.
Posteriormente, foram indagados se a mineração acarretou efeitos positivos ou negativos
na localidade. Por fim, perguntaram‑se quais efeitos foram gerados na região com a
atividade mineradora (Tabela 1).
Tabela 1 – Roteiro de entrevistas que busca o entendimento da população de São José de Itaboraí acerca
do passado econômico local e sobre os efeitos positivos e negativos da atividade mineradora no lugar.
1 Qual atividade econômica existia em São José de Itaboraí antes da criação do parque paleontológico?
2 Esta prática ocasionou efeitos positivos ou negativos para a localidade? Quais são estes efeitos?
Dentre os 100 entrevistados 50% eram do sexo masculino e 50% do sexo feminino.
A faixa etária destes indivíduos variou de 15 a acima de 70 anos, possibilitando a opinião
de pessoas com diferentes estilos de vida e percepções sobre o espaço geográfico de São
José de Itaboraí. Analisou‑se que o nível de escolaridade dos participantes é baixo e a
população local possui um reduzido poder econômico. Verificou‑se que 85% dos entre-
vistados residem em São José de Itaboraí e o restante em São Gonçalo, Cabuçu (bairro
vizinho), centro de Itaboraí, Niterói e Maricá.
Fig. 4 – Resultado da pesquisa que analisa se a população de São José de Itaboraí lembra da
antiga atividade econômica existente na localidade antes da criação do parque
paleontológico. Universo de 100 entrevistados (19/01/09 a 27/01/09).
Analisando a Fig. 5, verifica‑se que, 60% dos 80 entrevistados creem que a minera-
ção só acarretou efeitos positivos, enquanto apenas 3,75% entendem que esta atividade
acarretou efeitos somente negativos. No entanto, percebe‑se uma boa porcentagem dos par-
ticipantes da pesquisa (26,25%) acreditando que a mineração trouxe efeitos, tanto positivos,
quanto negativos para o lugar. Dez porcento não souberam responder a esta questão.
327
Fig. 5 – Resultado do estudo que averigua junto à população de São José de Itaboraí os efeitos
da atividade mineradora na localidade. Universo de 80 entrevistados (19/01/09 a 27/01/09).
Fig. 6 – Relação de opiniões da população de São José de Itaboraí sobre os efeitos positivos da
mineração na localidade. Universo de 143 citações de 69 entrevistados (19/01/09 a 27/01/09).
329
Fig. 7 – Relação de opiniões da população de São José de Itaboraí sobre os efeitos negativos da
mineração na localidade. Universo de 42 citações de 24 entrevistados (19/01/09 a 27/01/09).
6 – Conclusões
Referências Bibliográficas
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Pós‑Graduação em Geologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, 252 p.
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330 tiplos olhares para um patrimônio. Programa de Pós‑graduação em Museologia e Patrimônio, UNIRIO/
MAST, Dissertação de Mestrado, 155 p.
35
PARQUE PALEONTOLÓGICO DE SÃO JOSÉ DE ITABORAÍ (BRASIL):
PROPOSTAS PARA A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
A PARTIR DAS OPINIÕES DA POPULAÇÃO DE CABUÇU
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, Instituto de
Geociências, Departamento de Geologia. Av. Athos da Silveira Ramos, 274. Bloco F. 21941‑916, Cidade
Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; [email protected]; [email protected]
Abstract – For the development of geotourism is essential to involve local communities in
managing the geotouristic space. In this context were held interviews with the population of
the Cabuçu district, located in Itaboraí (Rio de Janeiro State, Brazil), seeking the perception
they have of São José de Itaboraí Paleontological Park. In general, the participants commen‑
332
ted that they know the park; most have already visited, but are skeptical about the project
to revitalize the institution due to delays in its implementation. They believe that the site is
abandoned and is lacking in attractions and infrastructure services to visitors. The popula‑
tion trusts that the park is important because it is a tourist attraction that can generate em‑
ployment, income and infrastructure for the region and also for research and dissemination
of scientific knowledge. They commented that the Cabuçu population is not involved in the
preservation of the paleontological park for lack of invitations and not knowing the impor‑
tance of heritage. They consider that their contribution to the preservation of the area could
be carried out through the promotion and respect for the norms of the institution and believe
that to improve and disseminate the paleontological park it is necessary the advancement of
the local infrastructure. This study can be used in the implementation of musealization and
geoconservation strategies of the geological heritage, in the adoption of measures to attend
geotourism and local populations and in the development of popular education programs.
1 – Introdução
Fig. 1 – Localização da Bacia de São José de Itaboraí e de Cabuçu, bairro do 6° distrito de Itaboraí
(Estado do Rio de Janeiro, Brasil). Imagem obtida do satélite Landsat (2007) e Google Earth (2010).
Fig. 2 – Parque Paleontológico de São José de Itaboraí. A. Bacia de São José de Itaboraí, com o Morro da
Dinamite ao fundo, local onde foram encontrados vestígios do homem pré‑histórico. Note o lago formado com
o fim da mineração (junho, 2011). B. Entrada do Parque Paleontológico de São José de Itaboraí (junho, 2011).
2 – Metodologia
1 Você já ouviu falar do Parque Paleontológico de São José de Itaboraí? Sim ( ) Não ( )
3 Você sabe da futura revitalização do Parque Paleontológico de São José de Itaboraí, o que inclui a criação
de um centro cultural (espaço museográfico)? Sim ( ) Nao ( )
7 O que precisa melhorar no interior do parque paleontológico para atender aos visitantes e para que a
instituição seja mais divulgada? Questão exclusiva para quem já visitou o parque.
Dentre os 100 entrevistados, 49% eram do sexo masculino enquanto 51% do sexo
feminino. A faixa etária variou de 15 a acima de 70 anos, sendo que 52% possuem de 15
a 30 anos, 31% de 31 a 45 anos e 17% de 46 a acima de 70 anos. O nível de escolaridade
dos participantes é baixo, já que 30% não concluíram o ensino fundamental e 10%
ultrapassaram esta fase. Sobre o ensino médio, temos 22% que não o terminaram e 32%
que chegaram a sua conclusão. Apenas 2% dos entrevistados possuem ensino superior
completo, 3% não o completaram e 1% tem alguma Pós‑Graduação.
A maioria dos entrevistados recebe entre meio e dois salários mínimos (54%) e são
pouquíssimos os que ganham acima de três salários mínimos (18%), o que caracteriza
um baixo poder econômico da localidade. Um total de 26% são desempregados, estudantes
e donas de casa que não recebem salário e 2% não informaram o salário. Verificou‑se
que 74% dos entrevistados residem em Cabuçu e o restante em São Gonçalo, São José de
Itaboraí, Curuzu (bairro próximo), centro de Itaboraí e Niterói.
Pela análise da Fig. 3 verifica‑se que 22% dos entrevistados em Cabuçu acreditam
que o parque paleontológico é importante por tratar‑se de um atrativo turístico que pode
gerar emprego, renda e infraestrutura para a região. São José de Itaboraí e, consequen-
temente, os bairros do entorno (Cabuçu e Curuzu), possuíam a sua economia voltada
para a mineração, mas com o fim desta atividade em 1984, entraram num processo de
decadência social e econômica. Então, esta porcentagem de entrevistados vê no parque
paleontológico uma forma de crescimento socioeconômico por meio do geoturismo.
Entretanto, 22% dos participantes acreditam que a maior importância do parque paleon-
tológico é para a pesquisa e difusão do conhecimento científico.
Prosseguindo na interpretação da Fig. 3, percebe‑se que 15% dos entrevistados creem
que o parque é importante por valorizar e divulgar a cultura e história da região. Assim,
para esta parcela da população de Cabuçu, valorizando e divulgando a história geoló-
gica, paleontológica e arqueológica da região, a cultura e história dos moradores locais
também serão difundidas. Dessa forma, poder‑se‑á ter uma inter‑relação dos aspectos
científicos aos históricos‑culturais de Itaboraí, calcados na mineração destinada ao de-
senvolvimento socioeconômico da região por meio do geoturismo.
A Fig. 3 mostra igualmente que somente 5% dos entrevistados acham que a maior im-
portância do parque paleontológico seja a de preservação ambiental. Contudo, a pesquisa
e difusão do conhecimento científico, a valorização e divulgação cultural e histórica da
região e o aumento do emprego, renda e infraestrutura por meio do geoturismo só serão
conseguidos no momento em que o patrimônio geológico estiver preservado. Segundo
BRILHA (2005), o geoturismo só se justifica por meio de estratégias de geoconservação
que garantam a sustentabilidade dos geossítios.
336
Uma questão curiosa é a presença de 5% dos participantes que creem que a maior
importância do parque é “a lagoa” existente em seu interior, que serve de abastecimento
de água das comunidades do entorno e que, durante muito tempo, funcionou como
área de lazer para as comunidades locais (Fig. 2A). Esse resultado mostra que “a lagoa”
possui um grande significado para as populações locais, transcendendo até mesmo as
questões científicas da região. Um total de 4% dos entrevistados em Cabuçu crê que o
parque paleontológico não possui importância alguma devido à precariedade em que se
encontra, 20% não souberam responder a questão e 7% nunca ouviram falar do parque
paleontológico.
Fig. 4 – Relação das possíveis contribuições dos entrevistados em Cabuçu para a preservação
do parque paleontológico. Universo de 100 entrevistados (12/08/09 a 26/08/09).
Fig. 5 – Relação de opiniões dos entrevistados em Cabuçu a respeito das medidas necessárias
para divulgar e melhorar o interior do Parque Paleontológico de São José de Itaboraí.
Universo de 235 citações de 68 entrevistados (12/08/09 a 26/08/09).
Prosseguindo a análise da Fig. 5, verifica‑se que 11,9% das 235 citações de 68 entrevistados
consideram imprescindíveis para a melhoria do parque a realização de um reflorestamento.
O tópico melhorar vias de acesso/trilhas recebeu 10,6% das indicações (Fig. 6A). A divulgação
visual também abrangeu 10,6% das citações relacionadas à necessidade de construção de
mais placas informativas (painéis interpretativos), da elaboração de panfletos mostrando
a questão científica e histórico‑cultural da região para serem entregues nas ruas, de inter-
pretações por meio de cartazes, outdoors (propaganda ao ar livre) e a sugestão de construção
de placas informativas em outros bairros, e não somente no interior do parque. A ausência
de entretenimentos/atrativos/atividades no parque obteve 9,8% das indicações. Neste tópico,
os entrevistados comentaram da carência de atrativos como réplicas e fotos dos fósseis, de
exposições e eventos no parque, da necessidade de realização de atividades como excursões
escolares e da falta de atividades voltadas para o ciclismo e caminhadas, além de atrativos
como maquetes explicativas e brinquedos paleontológicos.
O tema contratar funcionários (Fig. 5) abrangeu 9,4% das 235 citações de 68 entrevis-
tados direcionadas a contratar empregados para exercerem serviços gerais no parque, como
por exemplo, limpeza e manutenção e para serem guias turísticos. Os meios de divulgação
oral (palestras, reuniões e convites) e capacitação dos moradores (cursos profissionalizantes)
compreenderam 8,1% das opiniões. Entre os meios de divulgação oral destacaram‑se a neces-
sidade de realização de palestras sobre a importância dos fósseis nas escolas e no interior do
parque, de reuniões com as populações locais para mostrar o que será feito na área, além da
necessidade de convites para participar dos eventos do parque. Entre os meios de capacitação
dos moradores destacam‑se a necessidade de cursos profissionalizantes no interior do parque.
A precariedade das instalações do parque e a urgência de reformas é uma opinião comparti-
lhada em 5,1% das sugestões. Um percentual de 4,3% das 235 citações está de acordo com a 339
necessidade de melhoria na entrada do parque paleontológico (Fig. 2B).
Na Fig. 5 vê‑se que 3,8% das 235 indicações de 68 entrevistados estão voltadas para
a urgência de uma maior divulgação do parque nos meios de comunicação, como por
exemplo, em jornais, na televisão e nas rádios. Também com 3,8% das citações se encon-
tra o tópico melhorias em geral, como por exemplo, a necessidade de ampliar o parque
paleontológico, de retirar o gado do local e para urgência de reassentar os moradores do
parque para outras áreas (Fig. 6B). E, para finalizar, o tópico “outros” obteve 6,8% das
indicações e abrangeu as citações dos entrevistados que não se encaixaram nos assun-
tos abordados anteriormente. Dessa forma, os participantes abordaram a necessidade de
conservar as estradas que levam ao parque, de um projeto mais organizado, de maiores
investimentos da prefeitura de Itaboraí, de uma maior divulgação através de visitas diretas
às casas do bairro Cabuçu, de cobrar taxa para entrar no parque, já que a entrada é de
graça, de obras de melhorias do entorno imediato ao parque, de divulgação por meio
de carros de som e de divulgação nas ruas (boca‑a‑boca).
Fig. 6 – Parque Paleontológico de São José de Itaboraí. A. Via de acesso à Bacia de São José de Itaboraí.
Note que a via está sendo reformada para melhor atender aos visitantes. A vegetação também
vem sendo aparada (março, 2011). B. Ocupação irregular em antigas instalações da
Companhia Nacional de Cimento Portland Mauá (março, 2011).
5 – Conclusões
Referências Bibliográficas
BELTRÃO, M. C. M. C. (2000) – Ensaio de Arqueogeologia. Rio de Janeiro: Zit Gráfica e Editora Ltda. 168 p.
BRILHA, J. B. (2005) – Património Geológico e Geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente
geológica. Coimbra, Viseu Palimage, 190 p.
BERGQVIST, L. P., MOREIRA, A. L. & PINTO, D. R. (2006) – Bacia de São José de Itaboraí 75 anos de
História e Ciência. Rio de Janeiro, Serviço Geológico do Brasil – CPRM. 81 p.
MANSUR, K. L. (2009) – Projetos Educacionais para a Popularização das Geociências e para a Geoconservação.
Revista do Instituto de Geociências – USP, 5, p. 63‑74.
SANTOS, W. F. S. (2010) – Diagnóstico para o uso geoturístico do patrimônio geológico de São José de
Itaboraí – Itaboraí (Estado do Rio de Janeiro): subsídio às estratégias de geoconservação. Programa de
Pós‑Graduação em Geologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, 252 p.
VELLOSO, R. & ALMEIDA, M. C. S. (2006) – Plano de Diretrizes do Parque Municipal Paleontológico de
São José de Itaboraí. UERJ, Departamento de Geologia, 43 p.
36
POTENCIAIS EFEITOS SOCIOECONÔMICOS DO GEOTURISMO
NA REGIÃO DO PARQUE PALEONTOLÓGICO DE SÃO JOSÉ DE
ITABORAÍ: A PERSPECTIVA DOS PROFESSORES LOCAIS
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, Instituto de
Geociências, Departamento de Geologia. Av. Athos da Silveira Ramos, 274. Bloco F. 21941‑916, Cidade
Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, Brasil; [email protected]; [email protected]
communities. However, any activity which benefits the environment needs to be well planned
to prevent any deterioration in the physical environment. Thus, we conducted interviews with tea‑
chers from neighboring public schools of the São José de Itaboraí Paleontological Park seeking their
understanding of the possible socioeconomic effects of geotourism in the region. In general, teachers
342
believe in the intensification of geotourism with the revitalization of the paleontological park and
rely on job growth in the region, especially in the food trade and functions inside the park (tourist
guides, cleaning, security). They commented that the paving of roads, public transport and basic
sanitation need to be improved to meet visitors and local people and also said that the garbage and
violence are the main threats to the region. The study can be used in territorial planning in the
region and on measures to meet geotourists.
1 – Introdução
São José de Itaboraí, Cabuçu e Curuzu são bairros rurais do 6° distrito do município
de Itaboraí (Estado do Rio de Janeiro, Brasil) que englobam uma população de aproxima-
damente 10000 habitantes. Especificamente em São José de Itaboraí ocorre uma pequena
bacia sedimentar (Fig. 1) preenchida por rochas calcárias ricas em fósseis de invertebrados
e vertebrados, com destaque para os mamíferos do Paleoceno tardio (57 Ma). Na área foram
encontrados também artefatos líticos da ocupação humana pré‑histórica datados de 8.100
± 75 AP (BELTR ÃO, 2000). De 1933 a 1984 estas rochas foram exploradas economi-
camente pela Companhia Nacional de Cimento Portland Mauá trazendo empregos,
infraestrutura e entretenimento para a área. Contudo, a região entrou em um processo de
decadência socioeconômica com o fim da atividade mineradora. Além disso, um lago foi
formado na cava deixada pela mineração, o que dificulta os estudos científicos, mas serve
hoje em dia para abastecer de água os bairros do entorno (Fig. 2A) (BERGQVIST et al.,
2006; SANTOS, 2010).
Fig. 2 – Parque Paleontológico de São José de Itaboraí. A. Lago formado na cava deixada pela mineração, com
o Morro da Dinamite ao fundo, local onde foram encontrados vestígios do homem pré‑histórico (março, 2011).
B. Visão interna da sede do Centro de Referência Ambiental, Paleontológico e Arqueológico que expõe rochas,
fósseis, artefatos líticos e réplicas de seres antigos. Repare a réplica de uma preguiça gigante (março, 2011).
2 – Metodologia
344
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DO GEOTURISMO
1 Você acredita que a revitalização do parque paleontológico pode intensificar o fluxo de geoturistas para co-
nhecer o patrimônio geológico de São José de Itaboraí? Sim ( ) Não ( ). Se não, explique sua opinião. Para
quem responder não a entrevista está encerrada.
2 Você acha que a intensificação do geoturismo acarretará uma ampliação no número de empregos e
renda nos bairros do entorno do parque (São José de Itaboraí, Cabuçu e Curuzu, por exemplo)? Sim ( )
Não ( ). Se sim, quais são os tipos empregos que poderão aumentar?
3 Você acha que com a revitalização do parque paleontológico melhorias em infraestrutura serão geradas
na região? Sim ( ) Não ( ).
4 O que precisa melhorar em infraestrutura da região, para atender ao aumento do geoturismo e, conse-
quentemente, melhorar a qualidade de vida das populações locais?
5 Você acha que a intensificação do geoturismo acarretará algum tipo de degradação no espaço físico da
região? Sim ( ) Não ( ). Se não, explique sua opinião. Se sim, quais são os tipos de degradações que
poderão ocorrer?
Dentre os 100 professores entrevistados 11% eram do sexo masculino e 89% do sexo
feminino. A faixa etária desses indivíduos variou de 21 a 60 anos. Um total de 71% dos
professores residem no município de Itaboraí, enquanto os outros 29% habitam em outras
localidades, com destaque para São Gonçalo (23%), município vizinho a Itaboraí.
Fig. 3 – Relação de opiniões dos professores da rede pública sobre os tipos de empregos que poderão
aumentar na região do entorno do parque com a intensificação da atividade geoturística.
Universo de 234 citações de 88 entrevistados (30/10/09 a 12/11/09).
Da análise da Fig. 3 verifica‑se também que 8,1% das 234 citações de 88 professores
referem‑se ao aumento do número de empregos, com a intensificação do geoturismo, nas
empresas de transporte, em funções de motoristas, trocadores, secretariado e serviços gerais,
por exemplo. O tema hospedagem recebeu 7,3% das indicações, como possíveis locais que
346
possam empregar funcionários da região. Entretanto, não existe nenhum hotel ou pousada
no entorno do parque. Os entrevistados acreditam que, com o aumento do geoturismo, em-
presários deste ramo se interessarão em investir na área. O aumento do número de empregos
em lojas de souvenir e na fabricação de artesanatos, para atender ao geoturismo, obteve 6% das
citações. Os educadores comentaram que os visitantes sempre querem levar para casa
uma lembrança da área visitada, como camisas com representações dos seres pré‑históricos,
réplicas de fósseis e artesanatos com motivos paleontológicos.
Apenas 2,1% das 234 indicações de 88 entrevistados (Fig. 3) referiram‑se ao aumen-
to do número de empregos no ramo da construção civil. Os educadores disseram que
para as obras de revitalização do parque paleontológico, será necessária a contratação de
funcionários, principalmente pedreiros, para a reforma das instalações. Além disso, as
lojas de material de construção, que fornecerem os produtos necessários para a realização
do empreendimento, também serão beneficiadas. O tópico “outros” foi mencionado por
6,8% das opiniões dos professores que não se encaixaram nos assuntos já abordados.
Os educadores comentaram do aumento do número de empregos como professores, em
serviços gerais fora do parque, na área de informática, como lixeiros (gari), em possíveis
hospitais ou postos de saúde que forem construídos na região, em serviços gerais nas
escolas, nas farmácias, em lojas de roupas num futuro shopping que possa ser criado, na
parte rural e nos sítios voltados para a recreação do público externo.
O turismo é caracterizado por gerar rendimentos de impostos locais, que podem ser uti-
lizados para a melhoria e estímulo a criação de novas instalações, serviços e infraestrutura
na comunidade receptora (OMT, 2003). Nesse contexto, apurou‑se que 94,7% dos profes-
sores acreditam que com a revitalização do parque paleontológico e aumento do geoturismo
melhorias em infraestrutura serão geradas na região, 3,2% não creem e 2,1% não souberam
responder a esta questão. Verifica‑se que a maioria dos educadores confia na melhoria da in-
fraestrutura. Contudo, isso reflete também a precariedade deste setor na região.
Pela análise da Fig. 4 verifica‑se que 24,1% das 324 citações de 94 professores sobre o
que precisa melhorar na região em infraestrutura se referem à necessidade de pavimentação
das estradas que dão acesso ao parque paleontológico. As ruas são de terra, esburacadas e,
em épocas de chuva, tornam‑se intransitáveis. Todavia, não são apenas as estradas que estão
precárias, já que os transportes foram considerados em 17,3% das opiniões dos educadores,
como serviços que precisam de melhorias. Apenas uma linha de ônibus circula nas comuni-
dades (viação Rio Ita), sendo que estes estão em péssimas condições (desconfortáveis e sujos)
e são poucos os horários dispostos. O saneamento básico, que consiste no tratamento de
esgotos e na distribuição de água, abrangeu 15,4% das citações. Não existe água encanada na
região e a distribuição é feita com a água da lagoa, cujo tratamento é desconhecido. Muitos
recorrem a poços artesianos e a caminhões PIPA. O comércio não faz parte do tema infraes-
trutura, entretanto 7,1% das citações se referiram à necessidade de melhoria deste setor.
347
Fig. 4 – Relação de opiniões dos professores da rede pública em relação ao que precisa melhorar
em termos de infraestrutura da região do entorno do parque para atender ao geoturismo.
Universo de 324 citações de 94 entrevistados (30/10/09 a 12/11/09).
Fig. 5 – Relação de opiniões dos professores da rede pública acerca dos tipos de degradações que poderão
ocorrer na região do entorno do Parque Paleontológico de São José de Itaboraí pela intensificação
do geoturismo. Universo de 68 citações de 44 entrevistados (30/10/09 a 12/11/09).
5 – Conclusões
Pode‑se concluir que existe uma ampla área de ação no que diz respeito à melhoria
dos aspectos socioeconômicos da região para atender ao geoturismo e aprimorar a quali-
dade de vida das populações locais. Apenas a revitalização do parque paleontológico não
será capaz de intensificar o número de visitantes, tornando‑se necessária a elaboração
de projetos que incentivem a aplicação de capital privado integrado a investimentos
públicos, para benefícios na região. Só assim a proposta do parque paleontológico poderá
ter sucesso. Torna‑se necessário, também, a elaboração de um plano diretor para que
se tenha noção das áreas em que o geoturismo irá atuar e dos empreendimentos para
atender a esta prática, o que contribuirá para a mitigação dos impactos de uma possível
intensificação desta atividade.
Referências Bibliográficas
BELTR ÃO, M. C. M. C. (2000) – Ensaio de Arqueogeologia. Rio de Janeiro: Zit Gráfica e Editora Ltda.
168 p.
BRILHA, J. B. (2005) – Património Geológico e Geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente
geológica. Coimbra, Viseu Palimage. 190 p.
BERGQVIST, L. P., MOREIR A, A. L. & PINTO, D. R. (2006) – Bacia de São José de Itaboraí 75 anos de
História e Ciência. Rio de Janeiro, Serviço Geológico do Brasil – CPRM. 81 p.
MANOSSO, F. C. (2006) – Geoturismo. http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=10691
(consultado em 2012.03.17).
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE TURISMO (2003) – Guia de desenvolvimento do turismo sustentável.
Porto Alegre, Bookman. 168 p.
RODRIGUES, M. A. C., MEDEIROS MARIA, J. B., RODRIGUES‑FR ANCISCO, B. H. & FIAUX
RODRIGUES, V. L. (2006) – Preservação do Patrimônio Geológico e Paleontológico do Estado do Rio
350 de Janeiro, utilizando Projeto “Jovens Talentos”. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 43, Aracaju, 2006.
Resumos, Aracaju, p. 87.
SANTOS, W. F. S. (2010) – Diagnóstico para o uso geoturístico do patrimônio geológico de São José de
Itaboraí – Itaboraí (Estado do Rio de Janeiro): subsídio às estratégias de geoconservação. Programa de
Pós‑Graduação em Geologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, 252 p.
SOUZA, M. L. (2000) – O Turismo como desafio ao desenvolvimento. In: Rodrigues, A. B. (eds.). Turismo e
Desenvolvimento Local. Editora Hucitec, p. 17‑22.
VELLOSO, R. & ALMEIDA, M. C. S. (2006) – Plano de Diretrizes do Parque Municipal Paleontológico de
São José de Itaboraí. UERJ, Departamento de Geologia, 43 p.
37
O PATRIMÓNIO GEOLÓGICO DO CABO MONDEGO (PORTUGAL)
– AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DOS GEOSSÍTIOS
1
Centro de Geociências da Univ. de Coimbra, Portugal; [email protected]
2
Dep. Ciências da Terra e Centro de Geociências, FCTUC, da Univ. de Coimbra, Portugal; [email protected]
3
Dep. de Ciências da Terra da Univ. do Minho e Centro de Geologia da Univ.do Porto, Portugal;
[email protected]
Abstract – The Cape Mondego (Portuguese west coast) is internationally known for the
stratigraphic relevance of its outcrops, due to the establishment of the Global Boundary Strato‑
type Section and Point (GSSP) for the base of the Bajocian stage and the Auxiliary Section
and Point (ASSP) for the base of the Bathonian stage. Based on the exceptional quality of
352
the geological record, and on its high scientific and educational values, this area was included,
in 2007, in the National Network of Protected Areas, as a Natural Monument. The creation
of a geological based protected area must be associated with geoconservation strategies aiming
the valuation of its geological features as well as its conservation and preservation.
But despite being a Natural Monument and included in the national inventory of geological
heritage, until now the outcrops of Cape Mondego have not been assessed for their vulnerability.
The vulnerability assessment of geosites allows the establishment of priority conservation and
valuing strategies.
In this paper we present the results of the anthropic and natural vulnerability assessment
of geosites in Cape Mondego with the aim of contributing to the conservation and valuation
of the geological heritage of this Natural Monument.
1 – Introdução
O Cabo Mondego (Figueira da Foz) foi classificado (Decreto Regulamentar n.º 82/2007,
de 3 de outubro) como Monumento Natural, com o objetivo de estabelecer um regime
de proteção para alguns locais de inegável valor científico e de fomentar a divulgação do
seu registo geológico singular com fins de promoção de educação ambiental. No entanto,
esta medida, por si só, não é suficiente para proteger, valorizar e divulgar o património
geológico daquele Monumento Natural.
A definição de estratégias de geoconservação para um território de reconhecido valor
geológico deve considerar um conjunto de etapas integradas. A avaliação da vulnera-
bilidade e da suscetibilidade de perda dos geossítios, face a fatores antrópicos e naturais,
assume particular importância para a definição de eventuais medidas que devem ponderar
a dualidade entre valorização e divulgação vs proteção e conservação. A definição e a
implementação de estratégias de valorização e de divulgação devem ser consagradas
aos geossítios que apresentam uma menor vulnerabilidade de perda ou degradação. Por
sua vez, os locais que apresentam elevada vulnerabilidade devem ser objeto de estratégias
que visem a sua preservação e conservação.
O presente trabalho tem como objetivo a avaliação da vulnerabilidade dos geossítios
do Monumento Natural do Cabo Mondego e a definição de áreas de proteção parcial e
de áreas prioritárias para a geoconservação, expressas numa Planta de Síntese.
A avaliação do potencial para uso didático (PUD) foi estabelecida com base em crité-
rios como acessibilidade (Ac), associação com outros recursos (Ar), condições de observação
(Obs), conteúdo didático (Did), fragilidade (Fra) e representatividade (Rpr), e de acordo com
ponderações propostas por BRAGA (2002).
A avaliação do potencial para uso turístico (PUT) consagrou um conjunto de 5 critérios
dos quais 4 são similares aos usados na avaliação de PUD. Assim, foram considerados
os critérios acessibilidade (Ac), associação com outros recursos (Ar), conteúdo didático
(Did), espetacularidade (Esp) e fragilidade (Fra), com as ponderações propostas por
BRAGA, op. cit.).
De acordo com as classes de vulnerabilidade resultantes da avaliação, definiram‑se os
regimes e os níveis potenciais de proteção, com o objetivo de delimitar zonas prioritárias de
Conservação da Natureza, expressas através de áreas de proteção parcial e áreas de inter-
venção específica para a conservação, manutenção e recuperação da geodiversidade (Fig. 3).
5 – Considerações finais
Fig. 4 – Planta de Síntese de parte dos geossítios sobre o modelo digital de terreno.
Referências Bibliográficas
1
Autora do Artigo e Pesquisa. Acadêmica do 10º Período de Direito – Centro de Ensino Superior dos
Campos Gerais – Faculdades Integradas CESCAGE. Docente e Pesquisadora de Geografia UEPG. Doutora
em Geografia (área de Cartografia) pela USP, Brasil; [email protected]
2
Professor de Metodologia de Pesquisa em Direito. Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais
– Faculdades Integradas CESCAGE. Doutorando em Educação pela USP, Brasil. [email protected]
3
Professor de Direito Ambiental. CESCAGE e UEPG, Brasil.
Palavras‑chave – Direito Ambiental; Patrimônio Natural; Proteção; Geotecnologias
Abstract – This work weaves considerations concerning “the legal system in the protection
of natural heritage and the role of Geotechnology as scientific and expert control instrument”,
364
and its main goal is to highlight the role of the legal system, in particular, the environmental
law, as guardianship of the Natural Heritage, using geotechnology. In the course of this work,
the historical background about the area of environmental law in the Brazilian legal system
and worldwide is firstly presented, referring its multiple connectivity within the legal area
and with other fields of knowledge. In a second moment, heritage and their classifications
are defined, finishing the job with the concept of geotechnology and a presentation about the
importance of this instrument to the right, as well as some examples of its applicability. The
method of qualitative research has been used, based on bibliographic data: scientific books on
the specialized knowledge area, and legal planning devices: laws, doctrine and jurisprudence.
The conclusion summarizes the idea about the transdisciplinarity of the environmental law,
as well as the need to conserve the natural heritage, using geotechnologies in the aim of the
legal area, as regulatory requirement for public and private administrations, and expert
control, due to its excellent reliability and easy and real‑time continuous monitoring.
1 – Introdução
“Deve ser ressaltado que as questões ambientais têm que ser tratadas segundo a
lógica da transversalidade, isto é, englobam uma abordagem que contemple diferentes
campos de ação, pública e privada. Assim, é que os temas de Direito Ambiental são
acompanhados de informações técnicas e de abordagens distintas, uma vez que a
visão e o tratamento exclusivamente jurídico das questões não seriam suficientes para
o entendimento e o equacionamento das mesmas: o desafio da sustentabilidade está
inserido nos contextos sociais, econômico, político, cultural e ambiental, por isso a
assunção do caráter multidisciplinar dos trabalhos”.
O Direito tem seus marcos em datas anteriores à Era Cristã, vide o Código de Hamurabi
(aproximadamente 1815 a.C.). Muitos foram os personagens que marcaram o desenvol-
vimento do Direito, bem como as transformações gigantescas ocorridas na sociedade que
emergia com a industrialização, e revoluções políticas que afetavam a área do Direito.
Nos séculos xix e xx, as mudanças ocorridas foram exigindo reformulações do orde-
namento jurídico, vislumbrando principalmente resolver conflitos entre as relações sociais.
Tais preocupações centradas no homem, ou em sua vida em sociedade, foi o foco central
até meados da década de 60; já no período pós Guerra, passou‑se a se preocupar com a
durabilidade dos recursos naturais, reconhecendo os problemas de escassez. Com isso,
ampliou‑se o custo de bens naturais como matérias‑primas, energia e até mesmo a água.
Esta problemática alcançou a área de Direito, ditando‑lhe novos rumos, que se estrutu-
raram principalmente com a Conferência de Estocolmo, em 1972, onde foi discutida a
urgência em direcionar o foco das preocupações para o aspecto ambiental.
Na Conferência ocorrida no Rio de Janeiro (Eco‑92), tentou‑se traçar um equilíbrio
entre os interesses do homem e os da natureza, propondo‑se um desenvolvimento sus-
tentável, capaz de conciliar o avanço do desenvolvimento global, com as necessidades de
preservação ambiental, dos recursos naturais e das espécies do planeta.
Sintetizando tal historicidade, ao Estado coube primeiramente a tutela dos Direitos
de Primeira Geração, “direitos fundamentais” ou “direitos personalíssimos”. Na sequência,
o mesmo passou a cuidar das obrigações com as demais pessoas, como Direito de Segunda
Geração (direito de propriedade, direito do trabalho, obrigações de fazer/não fazer/dar,
etc.). Com a luta enfática pela democracia e igualdade entre os povos, atingiu‑se as
demandas pelos interesses coletivos ou os chamados Direitos de Terceira Geração, onde
se incluiu o meio ambiente. Hoje, o objeto de preocupação do Direito já avançou para
as dimensões de quarta geração, que abrange questões mais complexas, entre elas a
bioética. Não existe nenhuma hierarquia entre estas gerações de Direito, porém o Direito
366
Ambiental, é considerado “difuso”, pois ao mesmo tempo em que é um direito coletivo,
não se identifica o grupo que faz parte desta coletividade, ou seja, o bem é classificado
como “bem público” (de todos).
Tais organismos, sejam na esfera federal, estadual ou municipal, têm tomado frente às
questões de proteção ambiental, criando normas e vários tipos de instrumentos mitigatórios:
• Estudo de Impacto Ambiental (EIA)
• Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)
• Plano de Controle Ambiental (PCA)
• Relatório de Controle Ambiental (RCA)
367
• Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD)
• Relatório Ambiental Preliminar (RAP)
• Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS)
Além disso, o ordenamento jurídico abre espaço, com a Lei da Ação Civil Pública
(Lei 7.347, de 24/7/85), favorecendo que a tutela sobre os valores ambientais seja de
responsabilidades de todo e qualquer cidadão, e que este denuncie qualquer tipo de dano
causado ao meio ambiente e seus patrimônios.
Observa‑se que a referida carta magna, salienta a necessidade de proteção aos patri-
mônios como bem de comum de todos, e não faz grandes distinções entre as espécies,
tratando todos sobre o gênero “cultural”.
Na distinção entre os diversos tipos de patrimônio podem ser agrupados três espécies
(ULLER et al., 2001; SILVA, 2003):
• Patrimônio Natural ou Paisagístico: Que compõem os elementos da primeira natureza;
• Patrimônio Histórico ou o Saber Fazer: Referentes ao saber fazer dos povos;
• Patrimônio Artístico ou os Objetos: Artefatos que o homem criou em seu saber‑fazer.
368
Sobre o Patrimônio Natural em específico têm‑se outras definições sobre a delimita-
ção de espaços territoriais especialmente protegidos, classificados por níveis de dimensão
zoneamento (micro, médio e macro) e área de zoneamento (urbano ou rural). Na divisão
entre os espaços urbanos e rurais, tem para o primeiro as diretrizes dos planos diretores,
atrelados ao Estatuto das Cidades, e para o segundo que também são lidos como pro-
dutivos ou de reservas naturais (novamente redistribuído de acordo com a prerrogativa:
áreas públicas ou áreas privadas), normativas decretadas especificamente (GUERRA &
CUNHA, 2006).
O direcionamento dado por este artigo refere‑se à áreas zoneadas em nível macro, que
recebem atenção especial enquanto biomas do ecossistema brasileiro: Floresta Amazônica,
Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato‑Grossense e Zona Costeira. Os macro‑
-zoneamentos apontados nos Biomas citados, além de serem constantemente alvo de ameaças
predatórias, possuem uma particular condição de necessidade de monitoramento estratégico.
Nas políticas públicas, o dever de tutela do meio ambiente aparece primordialmente
enquanto dever do Estado. Porém, vê‑se no ordenamento jurídico, que esta é uma função
tanto pública, quanto privada, daí a presença de normativas limitadoras no direito de
propriedade, trazendo a presença da função social, tanto para as áreas urbanas, quanto
rurais, em prol da prevenção de degradações ambientais, ou correções alternativas e
mitigatórias (ARAUJO et al., 2007).
Para saber a quem cabe proteger o patrimônio num aspecto formal, demanda tomar
conhecimento do âmbito em que o patrimônio foi tombado: poder local (municipal),
estadual ou federal. O meio ambiente tem um caráter sobretudo global, e embora tra-
temos de situações muitas vezes isoladas, compreendemos a repercussão de seus efeitos
na esfera macro. Assim, a proteção jurídica também se estende até alcançar tratados
internacionais, como o de Quioto. Organismos como a ONU, a UNESCO, e mesmo os
não‑governamentais, como o GREENPEACE, que atuam permanentemente no estudo
e interferências internacionais para salvaguardar patrimônios da humanidade e evitar
problemas de ordem diversas.
Verifica‑se que algumas vezes emerge um conflito existente entre a norma federal,
estadual e municipal e as vezes isto é interligado:
Na esfera administrativa (competência do setor Executivo), tem‑se o papel de fis-
calização, ou também chamado “dever de polícia”, onde são verificados os trâmites das
documentações necessárias para determinadas ações frente ao meio ambiente, ou, em
situações de infrações, se encaminha para o setor judiciário para imputar penalidades.
Na esfera legislativa, cabe aos representantes sociais criar as leis, dando provimento à
necessidade de proteção, com aplicação de deveres aos segmentos da sociedade, sob pena
de sanções diversas, que variam de multas, a penas privativas de liberdade se descumpri-
das. Contudo, tais inconformidades com os preceitos da lei são de competência da esfera
jurídica, a quem cabem julgar e sentenciar toda e qualquer irregularidade. Para isso, são
intimados peritos, que trazer elementos fidedignos de caráter probatório às ações impetradas.
Uma última esfera refere‑se à participação popular no processo de fiscalização e exigência
do dever protetivo junto aos patrimônios, através do instituto da “Ação Civil Pública”. Para
tanto, mister se faz solicitar a interferência do Ministério Público Federal ou Estadual, pois
conforme dita o art. 127 de nossa Constituição Federal/88, este órgão é considerado “insti-
tuição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo‑lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.
369
“Termo que vem sendo empregado por diversos autores para denominar o conjunto
de tecnologias computacionais e os conhecimentos científicos que lhes são necessários
para realizar a aquisição, o armazenamento e o tratamento de dados e a produção de
informações de forma georreferenciada, congrega, portanto, a Cartografia Digital, o
Sensoriamento Remoto, o Sistema de Posicionamento Global (GPS) e os Sistemas de
Informações Geográficas (SIG)” (grifo nosso).
Embora possa ser destacado o uso de fotografias aéreas desde o século xix, ligando‑se
aos primeiros registros da superfície por meio de dirigíveis, a atual aerofotogrametria,
bem como o sensoriamento remoto e o geoprocessamento se desenvolveu após a Segunda
Guerra Mundial, com o lançamento do satélite Sputnik. Foi mais precisamente na década
de noventa, que os institutos de pesquisas como no Brasil o INPE (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), veio a progredir em seus estudos, fazendo uso intensivo dos meios
computacionais para trabalhar com as imagens de satélites junto aos bancos de dados do
geoprocessamento, dando maior fidedignidade aos produtos cartográficos.
Os softwares mais utilizados em geoprocessamento voltado ao campo ambiental são
(SILVA & ZAIDAN, 2010): o SAGA (Sistema de Análise Geo‑Ambiental), o Auto Cad
(DWG) e o ArqView, entre outros. Quanto aos satélites, o GOES e o NOAA são bastante
aplicáveis às questões ambientais. Os satélites da série GOES estão a uma altitude aproxima-
da de 36.000 km da superfície da Terra e favorecem bastante por fornecerem imagens a cada
30 minutos. Os Satélites NOAA‑12,14 a 17, da série TIROS‑N, estão a uma altitude aproxi-
mada de 850 km, fazendo a cobertura terrestre, sendo que seus sensores AVHRR‑NOAA são
bastante rápidos, praticamente em tempo real, além de ser de uso irrestrito e de custo zero.
Suas imagens chegam a cobrir uma área equivalente a 2.500 km por 4.000 km.
O Brasil recebe imagens do satélite americano LANDSAT desde 1973, através de
uma antena de recepção atrelada ao INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em
Cuiabá‑MT. Hoje, inúmeros satélites ocupam espaço na órbita terrestre, onde também se
destacam o SPOT (francês), o IKONOS e o QuikBird (americanos), o Eros (Israelense)
e o CBERS (China Brazil Earth Resources Satellite, lançado em 14 de outubro de 1999).
FLORENZANO (2002; p. 55) explica que:
5 – Considerações finais
A comunidade científica não tem como deixar de reconhecer o avanço do Direito Am-
biental, bem como a preciosa contribuição de outras áreas afins que subsidiam o trabalho
jurídico, principalmente no âmbito das fiscalizações e controle das gestões de áreas que
requerem especial proteção. É necessário prosseguir com as discussões e avanços científicos
tecnológicos em prol de um aperfeiçoamento e ampliação nas ações de proteção de recursos
e reservas naturais, adequando as atividades produtivas a um desenvolvimento sustentável
para todas as nações, garantindo um ambiente saudável às gerações futuras.
Os resultados até hoje obtidos devem traduzir‑se em políticas públicas eficientes, que
garantam o equilíbrio ambiental, sem que detenha a possibilidade de desenvolvimento
econômico. As políticas de sustentabilidade devem integrar, portanto, uma organização
territorial de modo inteligente, atendendo à nova realidade cultural, social e econômica, atre-
lada as recomendações de cuidados necessários e justos à preservação das riquezas naturais.
É preciso acompanhar o ritmo da modernidade, aprimorando a tecnologia a favor do próprio
homem e do meio ambiente. Para tanto, o campo jurídico deve conciliar o debate sobre as
revisões dos dispositivos jurídicos e adotar medidas eficazes para torná‑los aplicáveis.
Vários estudiosos estão certos de que é preciso ampliar a consciência crítica ambiental
nos operadores do Direito. O meio ambiente está a mercê do homem, assim como o próprio
homem necessita das condições favoráveis do meio ambiente. As geotecnologias são um
avanço da capacidade intelectual do homem em dominar a máquina; que a preservação
do ambiente venha de encontro com esta capacidade intelectual humana, fazendo o homem
pensar que somos seres indissociáveis à questão terrena.
O ordenamento jurídico, assim como o Estado tem o seu papel na Tutela do Meio
Ambiente e dos Patrimônios Naturais, porém, cabe a nós, membros da sociedade acompa-
nhar estes trabalhos e cobrar pela execução plena dos preceitos constitucionais, enquanto
direitos de todos os cidadãos.
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SECÇÃO 5
GEOCIÊNCIAS:
O QUE NOS DIZ A HISTÓRIA E O QUE FICA PARA A HISTÓRIA
“É possível crer que todo este passado seja apenas o início dum início, e que tudo
aquilo que é e foi mais não é do que o primeiro reflexo da alvorada.”
Abstract – The City of Rio de Janeiro has always been the main reference for the main
events of Brazilian history from the standpoint of social, political, cultural and scientific.
In this work, we seek to recover and characterize the evolution of conceptual and practical
knowledge of the geology of this region, which serves as a good look at the evolution of geological
knowledge in Brazil as a whole.
1 – Introdução
1
GEP, JV‑PEQ, Departamento de Geociências, Instituto de Agronomia da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, Km 7, BR‑465, Seropédica, 23890‑000, Brasil; [email protected]
2
JV‑PEQ, DGRG, Faculdade de Geologia, UERJ, R. São Francisco Xavier 524, Bloco A, 4º Andar.
Maracanã – Rio de Janeiro. RJ. 20550‑900, Brasil; [email protected]
como objetivos básicos recuperar, catalogar e analisar os dados que permitam compreender
a evolução do conhecimento geológico da cidade do Rio de Janeiro.
376
2 – Conhecimento geológico na cidade do Rio de Janeiro: pré século xx
1. O deslocamento da produção científica, antes gerada por pessoas que eram geó-
logos “por afinidade”, para os cursos de formação de geólogos, recém criados nas
Universidades, que ao menos a princípio, não estavam preparadas (as Universidades)
para assumir esse tipo de atividade, estando voltadas prioritariamente para a
formação de geólogos e não para a pesquisa geológica;
2. A mudança da capital do país da cidade do Rio de Janeiro para Brasília (início da 379
década de 60), fazendo surgir um crescente apelo pelo conhecimento geológico
referente às outras regiões;
3. O embate político da época, que começou com a campanha “O Petróleo é Nosso”
em meados da década de 50 resultando na criação da Petrobrás e na desistência,
por parte dos geólogos lotados na cidade, do contínuo aperfeiçoamento no conhe-
cimento da geologia da cidade do Rio de Janeiro, em favor das questões nacionais,
não necessariamente geológicas e não necessariamente científicas.
O destaque absoluto, para essa época, é o mapa geológico na escala 1:50.000 produzido
por R. Helmbold, Otto Leonardos Jr. e Joel G. Valença, em 1965, e para as folhas Baía
da Guanabara, Santa Cruz e Vila Militar (HELMBOLD et al., 1965), que recobrem
a totalidade da área do então Estado da Guanabara, antigo Distrito Federal, e que cor-
responde aos limites territoriais da cidade do Rio de Janeiro. Este mapa mostra‑se, ainda
hoje, atualizado em seus aspectos litológicos, estruturais e mineralógicos, demonstrando
de maneira cabal, a sua importância. Nele, foi elaborada a caracterização das unidades
mapeáveis baseadas nas denominações petrográfico‑mineralógicas das rochas, e não com
a nomenclatura até então utilizada freqüentemente, em que as texturas e estruturas
davam nome às rochas. O trabalho é um marco na geologia da cidade e, pode‑se dizer,
na geologia do Brasil, pelo seu caráter descritivo, detalhista e inovador, em termos de
produção. Contra ele pesa o fato de não tenha sido publicado o texto explicativo, estando
as informações, relacionadas às Unidades definidas, espalhadas por uns poucos e curtos
trabalhos e em textos inéditos. O mapa de 1965, assim como alguns roteiros, foram
publicados em congresso promovido pela Sociedade Brasileira de Geologia, em comemo-
ração ao quarto centenário da cidade do Rio de Janeiro. Os roteiros, publicados como
“avulsos” da DGM são: “Roteiro Geológico e Paleontológico no Contorno da Baía de Guanabara
e na Bacia Calcária de Itaboraí”, elaborado por Friedrich Wilhelm Sommer et al., “Roteiro
Geológico ao Maciço Gericinó” de Evaldo Osório Ferreira et al. e “Roteiro Geológico na
Serra da Carioca e Adjacências”, escrito por Andrade Ramos e Rita Alves Barbosa.
Outra contribuição importante foi dada por Leonardos Jr.. Em 1973 ele apresentou,
em Tese de Doutoramento, um modelo evolutivo para o conjunto de rochas ganássicas e
graníticas, utilizando‑se de dados estruturais, petrográficos e geoquímicos (LEONARDOS
Jr., 1973).
A partir de 1980, a produção de dados geológicos sabre a cidade do Rio de Janeiro
ficou, basicamente, sob a responsabilidade das universidades instaladas no, agora, mu-
nicípio do Rio de Janeiro e seus arredores: UFRJ, UFRuralRJ e UERJ. Neste momento,
houve uma retomada na busca do conhecimento da geologia da cidade, cabendo a estes
centros de pesquisa o papel de formadores da massa crítica e da retomada da produção
científica. O grande destaque, em termos de produção, é a geração de mapas de detalhe,
em escalas 1:5.000, realizados inicialmente nos domínios do Maciço da Tijuca (início da
década de 80) e, posteriormente, levado para o Maciço da Pedra Branca (final da década
de 1980 e 1990).
No Maciço da Tijuca, os trabalhos foram estimulados e coordenados, na sua fase
inicial, pelo geólogo Fernando Roberto Mendes Pires do IG/UFRJ, que desenvolveu ex-
tensivos mapeamentos junto a alunos da graduação e pós‑graduação, com a colaboração
posterior de Monica Heilbron da UERJ. Alguns trabalhos importantes foram produzi-
380
dos, neste momento, e são exemplos: PIRES et. al. (1982) que trata da granitogênese na
cidade e define uma estratigrafia para os litotipos identificados; CADDAH & SANTOS
(1986), que aplicam a técnica de mapeamento detalhado na Serra da Misericórdia e
caracterizam o padrão estrutural para as intrusões graníticas; SILVA & SILVA (1987)
que caracterizam, através de mapeamento, a ortoderivação do gnaisse facoidal em estudo
na Serra da Carioca; e PIRES & HEILBRON (1989) que rediscutem a estratigrafia dos
gnaisses ocorrentes no Maciço da Tijuca. Em paralelo, iniciou‑se a busca do enten-
dimento para as rochas do Maciço da Pedra Branca, outra grande área de ocorrência
de rochas gnáissicas e graníticas, nos limites da cidade (PENHA & WIEDEMANN, 1984).
Em 1988, o uso de mapeamento detalhado é aplicado pela primeira vez, nesta região, em
trabalhos coordenados por Rubem Porto Jr. da UFRuralRJ. A primeira importante con-
tribuição é o estudo apresentado para as rochas da região do Morro do Sandá, a partir
do qual é caracterizada e formalizada a existência do Granito Pedra Branca (PORTO
Jr. & VALENTE, 1988). Desta época datam ainda os trabalhos pioneiros de Ariadne
Fonseca que, entre 1984 e 1986, trouxe as primeiras determinações isotópicas (Rb‑Sr e
traços de fissão em apatitas) realizadas em rochas da cidade do Rio de Janeiro. Mesmo
com a produção de dados inéditos por parte das universidades, a integração dos mesmos,
que poderia colocar o nível de conhecimento da região em um patamar de importância
similar àquele apresentado no início do século xx, infelizmente não ocorreu. A década
de 1990 vai ser caracterizada por uma mudança de abordagem. A primazia dada à espe-
cialização dos dados, passa a ser a principal característica dos trabalhos apresentados.
A pesquisa de campo passou a ser, gradualmente, substituída por trabalhos e dados de
laboratório, seja por conveniência ou por dificuldades relacionadas à urbanização e a
ocupação desordenada da cidade, e à violência a ela associada. Neste momento, dá‑se início
a uma abordagem de problemas específicos (estudo dos diques basálticos, por exemplo) e
a produção de dados geoquímicos; neste caso, principalmente para as rochas do Maciço
da Pedra Branca, como resultado do desenvolvimento de duas teses de doutorado na
região (JUNHO, 1991 e PORTO Jr., 1994).
Entretanto, outro fator toma relevância neste momento: a produção científica geológica
começou a ser vista como um elemento importante no cotidiano da cidade, como no
estudo de escorregamentos, deslizamentos e definição de áreas de risco. Vários trabalhos,
com esta abordagem, são apresentados a partir da década de 1990, com este propósito,
com contribuições importantes de Cláudio Amaral, através da Fundação GeoRio, con-
ferindo, assim, a possibilidade, mesmo que tímida, do geólogo participar de forma mais
objetiva no dia a dia da cidade, demonstrando à sociedade a importância do seu trabalho.
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40
UM PASSADO QUE CONDENA (?):
ALGUNS ASPECTOS GEO‑HISTÓRICOS LIGADOS
AOS DESASTRES NATURAIS NO BRASIL
F. J. Corrêa‑Martins1
Abstract – Due to the impact of natural disasters in 2011, the federal government decided
to create the National Center for Monitoring and Alert Disaster (CEMADEN ), meant to
develop, test and implement a system to predict the occurrence of natural disasters in suscep‑
tible areas throughout Brazil, arguing that these disasters have occurred because of climate
change in the planet. Without taking sides on the existence or not of climate change, our goal
1
Departamento de Geociências, Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Brasil; [email protected]
is to show, through natural disasters that occurred in Blumenau (Santa Catarina State), Rio
de Janeiro (Rio de Janeiro State) and the Mundaú Santana (Alagoas State), that they have
been occurring in the country since a long time ago. The natural disasters are the result
of geological, geomorphological and historical conditions, among others, which implies the
384
recognition the long time responsibility of the public authorities, without excluding the share
of the Brazilian society in the matter.
1 – Introdução
2 – Aspectos geológicos
6 – Considerações finais
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1
Rua Mangabeira 268/401 – Santo Antônio‑ 30.350.170 Belo Horizonte (MG) – Brasil;
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2
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3
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Palavras‑Chave – Geociências e Cultura; Geologia e Patrimônio Histórico; Geologia
e Turismo Sustentável; Monumentos Geológicos
Keywords – Geosciences and Culture; Geology and Cultural Heritage; Geology and
Sustainable Tourism; Geological Monuments
1 – Introdução
Hoje, é claro para todos, que o maior produto da sociedade é a Cultura e, aliás, é ela
que fornece as lentes através das quais são lidos e interpretados o papel e a importância
do ambiente natural como elemento de realização social (BECKER & GOMES, 1993). 395
Falar em Cultura quer dizer, antes de tudo, estar consciente da manifestação de uma di-
mensão complexa, na qual se misturam múltiplas determinações, e onde nossas próprias
concepções devem ser relativizadas reflexivamente, tendo em vista o contexto dentro do
qual foram geradas. Quase continuamente, tem‑se colidido com as questões culturais
ao se descrever o corpo social e sua configuração espacial: tais questões condicionam
a percepção que os indivíduos têm do mundo físico e humano, alimentam os valores
que modelam a personalidade e presidem às escolhas; elas dão significado à situação de
cada um no corpo social e definem as forças que conferem a cada grupo, seu dinamismo
(CLAVAL, 1973).
Uma das questões que, a propósito, permeiam o debate intelectual contemporâneo
das dimensões ambiental e sociocultural, corresponde à discussão sobre a topofilia,
ou seja, os elos afetivos estabelecidos entre o indivíduo e o lugar, ou ambiente físico
(TUAN, 1980). Os sentimentos topofílicos remeteriam diretamemente à experiência da
percepção do espaço e à valorização dos lugares (DEUS, 2008). Uma vertente inovadora
de investigações vinculadas à percepção ambiental diz respeito, em particular, às pesqui-
sas sobre os inter‑relacionamentos entre Toponímia e Topofilia. Em contextos territoriais
determinados – vale ressaltar –, a Geologia inclusive emerge como elemento relevante e
sugestivo de análise para o(s) inventário(s) toponímico(s), uma vez que atividades como
a mineração e a garimpagem influíram decisivamente nos processos socioeconômicos e
histórico‑culturais em certas regiões do mundo, como as regiões de antiga mineração na
América do Norte (Califórnia, Alaska) e na América do Sul (Minas Gerais e Goiás, no
Brasil, por exemplo) – (DEUS et al., 1998; CHAVES, 1992). Essas atividades exerceram
considerável influência no aparecimento de topônimos que, se por um lado, revelam
uma concepção “economicista” e “mercantilista” da sociedade que os gestou, por outro
lado, evidenciam também as relações topofílicas estabelecidas entre as comunidades
humanas e o meio físico. Poderíamos discriminar, nesse sentido, vários registros toponí-
micos proximamente relacionados com a saga dos bandeirantes e do Ciclo do Ouro, no
Brasil Colônia, a exemplo de: Minas Gerais, Minas Novas, Ouro Preto, Ouro Branco,
Ouro Fino, Esmeraldas, Pedra Azul, Cachoeira da Prata, Lagoa da Prata, Serra Doura-
da, Serra das Safiras, Serra dos Cristais, Ribeirão dos Cristais, etc. Estes topônimos
incidem em regiões (províncias minerais) como: a Zona Metalúrgica de Minas Gerais
(sobretudo, o Quadrilátero Ferrífero), o Vale do Jequitinhonha, o estado de Goiás, etc.
Foi precisamente nesses contextos regionais, que ao final do século xvii, o Brasil ex-
perimentou um surto econômico sustentado pela expansão da economia aurífera cuja
opulência e grandiosidade mobilizaram, ao longo do século seguinte, massa humana
próxima de meio milhão de indivíduos que extraiu de depósitos aluvionares, toneladas
do metal, de acordo com estimativas de estudiosos do tema (CASTRO & DEUS, 2011;
TEIXEIRA, 1998). Esses eventos foram, de fato, largamente documentados na literatura
científica (BRITO, 2009; COSTA, 2004; COSTA et al., 2002; ESCHWEGE, 1996,
2002; FREITAS, 2001). O mesmo tipo de conexão entre atividade mineral, toponímia e
topofilia se observa também – vale assinalar – em áreas de “fronteira” recentemente
exploradas pela mineração (na Amazônia), a exemplo de: Eldorado dos Carajás, no
sudeste do Pará; e Ouro Preto do Oeste, Ouro Fino, Rio do Ouro, Córrego do Bamburro,
Rio do Ouro Preto, etc., em Rondônia4. Sugestivamente, também localizamos nas re-
giões de antiga mineração e nas regiões “de fronteira”, registros toponímicos que vão
396
revelar a existência aí, das “paisagens do medo” – categoria conceitual magistralmente
discutida pelo geógrafo Y. F. TUAN (2005) –, e de lugares desvalorizados (que causam
aversão às pessoas), a exemplo de: Serra Pelada (no Pará); Rio das Mortes, Capão da
Traição e Ponte Queimada em Minas Gerais –, locais onde ocorreram conflitos relacio-
nados com a “corrida do ouro” na Minas setecentista, como a “Guerra dos Emboabas”
(embates entre “reinóis”5 e colonos nascidos em território brasileiro)6.
Noutra vertente de investigação, abordagens da percepção ambiental sobre as unidades
de conservação têm, por outro lado, definido os parques naturais como lugares valo-
rizados – como observa AMORIM FILHO (1999), em sua discussão sobre os parques
nacionais e estaduais de Minas Gerais. A instituição de áreas protegidas, voltadas para
a conservação da biodiversidade, acaba propiciando também – é relevante assinalar –, a
preservação de expressivos marcos fisiográficos e monumentos geológicos (SIQUEIRA,
2001), – sítios que foram, a propósito, declarados em 1972 como patrimônio da huma-
nidade, na conferência geral da UNESCO (FUNARI & PELEGRINI, 2006). E nesse
contexto, fica evidenciado inclusive o estreito inter‑relacionamento estabelecido entre a
valorização do meio natural e as atividades de ecoturismo e turismo cultural (FUNARI
& PELEGRINI, 2006; MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006) –, que também pro-
piciam, por sua vez, debates sobre o papel do turismo sustentável, do planejamento e
da gestão (CORRÊA et al., 2009; FONTELES, 2004, SEABRA, 2003). Até porque,
parte‑se do postulado de que os modelos de desenvolvimento sustentável devam vin-
cular intimamente crescimento econômico e proteção ambiental. Esse relacionamento
4
Nos diferentes estados brasileiros, poderíamos apontar outros exemplos de topônimos que revelam re-
lações topofílicas com o meio (nesse caso sem um vínculo histórico‑cultural com a mineração), como: São Gabriel
da Cachoeira (no estado do Amazonas); Boa Vista (Roraima); Alvorada do Oeste e Vale do Paraíso (Rondônia);
Redenção, Monte Alegre e Belo Monte (Pará); Pastos Bons (Maranhão); Areia Branca, Currais Novos e Baía
Formosa (Rio Grande do Norte); Águas Belas (Pernambuco); União dos Palmares (Alagoas); Porto Seguro, Santo
Amaro da Purificação, Santa Maria da Vitória e Arraial da Ajuda (Bahia); Resplendor, Belo Horizonte, Belo Vale,
Campo Belo, Rio Doce, Lagoa Santa, Lagoa Formosa, Montes Claros, Águas Formosas, Pouso Alegre, Amparo da
Serra e São Sebastião do Paraíso (Minas Gerais); Prosperidade e Vitória (Espírito Santo); Barra Mansa e Rio Bonito
(Rio de Janeiro); Rio Claro e Ilha Bela (São Paulo); São João do Triunfo e União da Vitória (Paraná); Porto Alegre
(Rio Grande do Sul); Rio Manso, Serra Formosa e Vila Bela da Santíssima Trindade (Mato Grosso), etc. Aliás, regis-
tros toponímicos com esse viés poderiam ser encontrados também em outros países e regiões do mundo, a exemplo
de: Costa Rica; Costa do Ouro; Costa do Marfim; Porto Rico; Terra Santa; Terra Nova (Canadá); Côte d’Azur
(França); Sierra Nevada; Rio das Pérolas (China); Cabo da Boa Esperança (África do Sul); Hollywood, Springfield,
Long Beach, Palm Beach, Sun Valley, Pearl Harbor (localidades dos Estados Unidos da América); Newcastle (Reino
Unido); Diamond Harbor (Índia); Buenos Aires, Bahia Blanca, Rio de la Plata, Paso de los Libres (Argentina);
Ciudad Real (Espanha); Porto Santo (Ilha da Madeira‑ Portugal); Porto Novo (Benin), etc.
5
Pessoas de naturalidade portuguesa, oriundas, no Brasil Colonial, do reino de Portugal.
6
Nos diversos estados do Brasil poderíamos indicar outros lugares que presumivelmente despertaram sentimen-
tos topofóficos nas pessoas: Serra da Desordem (Maranhão); Serra das Confusões (Piauí); Baía da Traição (Paraíba);
Coqueiro Seco (Alagoas); Mangue Seco (Sergipe); Cruz das Almas (Bahia); Dores do Indaiá (Minas Gerais); Lagoa
Feia (Rio de Janeiro); Caverna do Diabo (São Paulo); Rio das Mortes e Rio do Sangue (Mato Grosso); etc. O mesmo
poderia ser afirmado em relação a outros topônimos em diferentes regiões do mundo: Mar Morto; Vale da Morte,
Rio das Serpentes, Salt Lake City, Wounded Knee (EUA); Ilha do Diabo (Guiana Francesa); Costa dos Escravos e
Costa dos Esqueletos (África); Rio Turbio (Argentina); Broken Hill (Austrália), etc.
recíproco vai se expressar, a propósito, por meio de formas adequadas de ordenamento
territorial (VEIGA, 2006). Diversas unidades de conservação brasileiras preservam no-
táveis elementos constituintes da geologia e geomorfologia do país como dunas, canyons,
escarpas, picos, maciços, chapadas, divisores de água, mananciais, cachoeiras, cavernas,
397
recifes de coral, restingas, sistemas deltaicos, complexos estuarino‑lagunares, formas de
relevo ruiniforme, etc. (BITAR, 2004) – em parques nacionais7, parques estaduais8, áreas
de proteção ambiental9 e estações ecológicas10 distribuídas pelo país. Aliás, o primeiro
parque nacional a ser criado no Brasil, através de decreto assinado em 14/07/1937, teve
o objetivo de preservar notável monumento geológico de nefelina‑sienitos: o Maciço do
Itatiaia (unidade fisiográfica integrante da Serra da Mantiqueira, que se ergue na região
da tríplice divisa de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais).
No caso das áreas cársticas, localizadas em várias dessas unidades de conservação,
vale assinalar que, para que as populações direta ou indiretamente envolvidas (morado-
res, empresários, turistas, etc.) possam se conscientizar a respeito da relevância de sua
preservação, é imprescindível que se consolide um conhecimento das características
geológico‑geomorfológicas que deram origem aos sítios espeleológicos, arqueológicos
e paleontológicos aí localizados, de grande valor cultural (espeleotemas, jazigos fossilífe-
ros, pinturas rupestres, objetos líticos, peças cerâmicas...), e que, por vezes, constituem
também sítios paisagísticos de extraordinária beleza cênica (DEUS et al., 1997). No
Carste do Alto São Francisco (oeste de Minas Gerais), por exemplo, “além da impor-
tância das grutas e cavernas no estudo da pré‑história do homem” destaca‑se, a “beleza
monumental” das formações geológicas locais, como registram SOARES & BARROS
(2009, p. 30).
Podemos observar que o turismo no subcontinente sul‑americano constitui atividade
com potencialidades enormes (MORETTI, 2005), não apenas em termos de possibili-
dade de incremento de renda (fator que poderia ser otimizado através do gerenciamento
eficaz da atividade), como também como um instrumento útil e viável de valorização da
Cultura e da Natureza. Embora o autor também registre que o êxito, em termos econô-
micos, propiciado pelo empreendimento turístico, não garanta necessariamente avanços
e conquistas materiais concretas na esfera do mundo do trabalho e que a atividade pode
também gerar, se não for concretizada de forma consciente e criteriosa, significativos
impactos socioambientais, que precisam ser levados em consideração e adequadamente
avaliados (SANTOS, 1997). Em Minas Gerais, a valorização de roteiros como a “Estrada
7
Como: os Lençóis Maranhenses – a 350 km a leste de São Luís; Serra da Capivara e Sete Cidades – a
primeira, a 538 km ao sul de Teresina, e as segundas, a 180 km desta capital estadual, no quadrante nordeste
do Piauí; Ubajara – no Ceará; Abrolhos e Chapada Diamantina – essa última, no centro geográfico do estado
da Bahia; Cavernas do Peruaçu e Serra do Cipó – as primeiras, a 650 km de Belo Horizonte, no extremo norte
de Minas Gerais, no vale do São Francisco, e a segunda, a 175 km da capital mineira; Chapada dos Guimarães
(Mato Grosso); Chapada dos Veadeiros (a 240 km ao norte de Brasília, no estado de Goiás); Iguaçu (Paraná);
Aparados da Serra e Serra Geral – nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
8
Como: Ibitipoca (Minas Gerais) e Vila Velha (Paraná).
9
Como o Delta do Parnaíba/Piauí; a Chapada do Araripe – situada nos estados do Piauí, Ceará e
Pernambuco; a Costa dos Corais – localizada em Pernambuco e Alagoas, a APA Carste de Lagoa Santa/
Minas Gerais, as Ilhas de Várzeas do Rio Paraná – localizadas no Mato Grosso do Sul e Paraná; os Meandros
do Araguaia – localizados em Mato Grosso, Tocantins e Goiás.
10
Situadas em regiões geograficamente tão distanciadas entre si como a Amazônia – por exemplo: Anavilhanas;
e o extremo‑sul do Brasil, como o Banhado do Taim, no Rio Grande do Sul.
Real” e os “circuitos” das Pedras Preciosas e das Grutas (esse último localizado ao norte
de Belo Horizonte, na porção sudeste da bacia do Bambuí, compreendendo cavernas
amplamente visitadas pela população metropolitana e turistas de outros estados e países –
como as grutas do Maquiné, em Cordisburgo; Lapinha, em Lagoa Santa; e Rei do Mato,
398
em Sete Lagoas – numa região que é caracterizada pelo espeleólogo Augusto Auler como
“o berço da pré‑história brasileira” – PROUS et al., 2003, p. 5), coloca em pauta as con-
vergências (e contradições) hoje existentes entre temas geológicos, ambientais, históricos
e turísticos (AZEVEDO & KOHLER, 2003; CHENEY, 2004; COSTA, 2005; PILÓ,
1999). O “Circuito das Grutas” foi implementado, na região da melhor ocorrência cárs-
tica no Brasil (CHRISTOFOLETTI, 2002), mas aí, por uma questão de logística in-
dustrial, paradoxalmente se implantou também importante pólo guseiro, aparentemente
em contraposição com a vocação ecoturística do lugar. Outra discussão pertinente nessa
perspectiva, diz respeito à situação das minas do Camaquã, a 70 km de Caçapava do
Sul, onde as reservas de minério de cobre, que se exauriram desde o final do século xx,
poderão ser reinseridas no circuito econômico e cultural regional através de sua trans-
formação em atrativo turístico, com a possível implementação de projeto de resgate da
memória do lugar (RUIVO, 2004), como típico sítio de antiga mineração no estado
do Rio Grande do Sul. Experiência anterior e bem sucedida de abertura de um trecho
(de 315 m) de mina subterrânea à visitação turística consolidou‑se anteriormente no su-
deste brasileiro, na Mina da Passagem, situada entre as cidades de Ouro Preto e Mariana
(no estado de Minas Gerais).
Outra interface da Geologia e Cultura que hoje se inaugura, noutro tipo de cenário –
no contexto urbano –, relaciona‑se com a emergência de novas instituições direcionadas
à preservação de “paisagens culturais” imbricadas com a preservação do patrimônio
artístico e arquitetônico das cidades históricas – e que, vale ressaltar, pode, inclusive
ser gerenciado com a utilização dos recursos do geoprocessamento (MOURA, 2008).
É o caso da “Escola Nacional de Artes e Ofícios Tradicionais da Batalha” (Portugal),
fundada em 1992; e da “Oficina de Cantaria” da Universidade Federal de Ouro Preto
(criada por iniciativa do Departamento de Mineração da Escola de Minas da UFOP).
Esta última veio propiciar que a pedra entalhada voltasse a conquistar seu espaço na or-
namentação de ambientes contemporâneos11. Essa experiência se insere no contexto das
intervenções hoje definidas como topo‑reabilitação (AMORIM FILHO, 1999) e susten-
tabilidade urbanas (MATTOS, 2004) – e que sinalizariam na escala urbano‑regional,
no sentido da preservação do patrimônio histórico e paisagístico das cidades barrocas
do hinterland brasileiro, em Minas Gerais e Goiás12 (CASTRO & DEUS, 2011). Na
questão das pedras de cantaria observa‑se que a preservação de uma técnica tradicional
(trabalho refinado, presente em toda a sucessão de estilos da arquitetura ocidental e que
se tornou independente de modelos europeus), mostra‑se apropriada, e até mesmo impres-
cindível, para a efetivação dos trabalhos de restauração dos monumentos arquitetônicos
11
No Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, essa pedra de cantaria é sobretudo identificada com o
quartzito Itacolomy – litologia amplamente empregada na antiga Vila Rica, na edificação das partes nobres de
construções como igrejas, residências, pontes e chafarizes ‑, e hoje ainda explotada em três jazidas locais: Bico
de Pedra, Estrada Real e Pico do Itacolomy.
12
Ouro Preto, Mariana, Sabará, Caeté, Congonhas do Campo, São João d’El Rey, Tiradentes, Diamantina,
Minas Novas, Goiás Velho.
degradados ao longo de um processo secular de desgaste (VILLELA, 2003). A partir de
1755 – vale ressaltar ‑, passou a ser empregado na escultura arquitetônica do Barroco mi-
neiro, o esteatito (“pedra‑sabão”) – pedra talcosa (e xistosa) cuja maleabilidade permitiu
sua utilização nas ornamentações (PEREIRA et al., 2007). O artesanato em pedra‑sabão,
399
aliás, sobrevive hoje em rincões do Quadrilátero como os distritos de Mata dos Palmitos
e Santa Rita de Ouro Preto. A geologia (e a engenharia de materiais) tem muito a con-
tribuir ainda, noutras vertentes de pesquisa sobre o patrimônio cultural. PHILIPP &
BENEDETTI (2007, p. 659), que executaram uma análise/avaliação da deterioração do
revestimento de mármore da cúpula da catedral metropolitana de Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul, destacam, “a importância da análise geológica dos materiais durante
as fases de elaboração, execução e manutenção de obras públicas como monumentos,
construções e passeios públicos”, incluindo‑se aí “a necessidade de análise dos ensaios
tecnológicos dos materiais rochosos a serem utilizados” nestas obras.
3 – Considerações finais
São múltiplas e singulares, como se pode perceber, as interfaces entre Geologia e Cultura
que se apresentam na “pós‑modernidade”, para a análise e reflexão críticas no complexo
e multifacetado cenário da globalização, e em que os profissionais em Geociências têm
todas as condições de se inserir, contribuindo com eficácia e originalidade para a reela-
boração de ideias sobre esses pertinentes conceitos e temas, hoje crescentemente em foco
(CORDANI & TAIOLI, 2003). No contexto particular das cidades históricas mineiras,
seminalmente ligadas à dinâmica das regiões de antiga mineração e hoje muito valorizadas
como atrativos turísticos, ressalte‑se que, como sinalizam LACERDA et al. (2011, p. 17) “as
dimensões natural e cultural, tangível e intangível, do patrimônio barroco, [que] devem ser
incorporadas a projetos na área de educação patrimonial, cultura e lazer, direcionados à
comunidade local e aos turistas, com o objetivo de promover a aproximação/interação da
população junto aos bens culturais, interferindo assim, em sua preservação e valorização”.
Vale ressaltar o papel estratégico também desempenhado pelo ensino formal das
Ciências da Terra, no 3º. Grau, na perspectiva de seu acoplamento com proposições/
ações direcionadas para o Desenvolvimento Sustentável. É o que temos concretizado, em
sala de aula e trabalhos de campo, em nossa prática de ensino de disciplinas nas áreas de
Geologia Geral/Ambiental e Geografia Cultural/Etnogeografia para alunos de graduação13
e pós‑graduação de Geografia, Turismo, Engenharia Civil e Engenharia de Minas, nos
últimos anos, na universidade pública brasileira (no IGC/UFMG – Belo Horizonte/
MG), e em que, sistematicamente, temas da educação ambiental e patrimonial são colocados
em evidência.
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42
HISTÓRIA DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA:
UMA VERSÃO DESCRITIVA
E UM ESTUDO DE CASO BRASILEIRO
1
Departamento de Geografia, Universidade de Brasília (Campus Darcy Ribeiro, ICC Norte, subsolo, mó-
dulo 23, 70910‑900, Brasília/DF, Brasil; [email protected]
2
Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília (Campus Darcy Ribeiro, ICC Norte, mezani-
no, sala B1‑606, 70910‑900, Brasília/DF, Brasil; [email protected]
this same trajectory it can be deduced, to the micro‑scale of the national case studies, certain
inflections and paradigm shifts. This paper divulges to the Lusophone community of geoscien‑
tists some of the evolution of geographical thought – and particularly exploring, at the end,
the contemporary Brazilian case: a shift occurred in the importance of geographical research
404
in that country. The authors argue that the pragmatic‑scientific status of the discipline would
have been lost in favor of a political‑ideological militancy. In other words, in Brazil, Geography
would have turned from geoscience to geodiscourse.
1 – Introdução
Como referido há pouco, apresentaremos neste primeiro corte temático uma versão
descritiva para a história da Geografia, baseada em literatura estrangeira (CAPEL, 1981;
DENEUX, 2006; CLAVAL, 2008). Esta versão deriva de uma pesquisa iniciada, há 405
dois anos, junto ao Departamento de Geografia da Universidade de Brasília, e pode
ser considerada consensual. Será genérica e concisa o suficiente para tal.
É possível considerar o caso geográfico como um dos mais remotos saberes. Mesmo
antes da Antigüidade clássica, esteve presente no atendimento aos imperativos da so-
brevivência humana, tais como a necessidade de se localizar e de identificar os recursos
disponíveis/úteis à habitação, à alimentação e ao crescimento. Mas nos ateremos aqui
à era mais próxima, respectiva a uma já identificação disciplinar e sua conseqüente
sistematização científica.
Quando da institucionalização da Geografia como disciplina universitária (segunda-
‑metade do século dezenove, na Alemanha e França) criou‑se para ela um âmbito de
explanações que a aproximavam grandemente das ciências naturais. O corriqueiro recurso
aos expedientes metodológicos da Geologia e da Botânica atestava isso. Relatos esmiu-
çados, ilustrados por croquis, e ensaios taxonômicos. Ocorre que o âmbito, apesar de
inicialmente bastante bem demarcado (quadros fisiográficos, distribuições diferenciais e
usos), seria lido sob mais de um aspecto, conforme circunstância conjuntural daqueles
que dele se serviriam: num extremo, um âmbito meramente informacional; noutro, um
âmbito teleologicamente aplicativo.
O período que podemos chamar “clássico” (L’Âge d’Or) da Geografia tem seu flo-
rescimento em princípios do século vinte, com uma culminância entre os anos trinta
e quarenta. Sua fase de amadurecimento – quando, então, já se tira partido dos produ-
tos que iniciativas pioneiras haviam semeado (Sociedades de Geografia, revistas, atlas,
cartas‑murais) – caracteriza‑se por uma, provavelmente não‑deliberada, cristalização de
certos saberes, os quais, decerto, pareceriam ser emblemática e precisamente geográficos:
a prática inventariante, o discurso literário, o raciocínio indutivista e o foco regional
(CLAVAL, 1998). Ao longo do período, a Geografia jogará o papel de “informar” – por
exemplo, a respeito das regiões e seus recursos. Esteve, assim, previsivelmente, muito
associada às esferas da tomada de decisão; e, não raras vezes, orientando tecnicamente
ingerências imperialistas e neocoloniais.
Conclamada a diagnosticar estados e propor readequações, a partir dos anos cin-
qüenta a Geografia sofre aquela que foi, provavelmente, sua mais intensa linguistic turn.
Vivia‑se o fenômeno espacial da urbanização que, dentre outras demandas, pedia às
ciências sociais uma maior desenvoltura teórico‑metodológica. A virada lingüística em
Geografia significou, desde então, o recurso aos mais variados expedientes de sistemati-
zação: do discurso nomotético (bem representado por uma militância extraordinária em
prol dos protótipos teóricos ou modelos) à semiologia matemática (mormente identifica-
da no emprego de técnicas quantitativas). Era a New Geography – ou, dita por muitos,
Theoretical Geography. Visivelmente, o galicismo cedia lugar ao anglicismo. Mas aos
estertores da década dos sessenta, vozes discordantes começariam a ser ouvidas: algu-
mas, em uníssono, reivindicando teoria, por assim dizer, “mais crítica” (apontando as
contradições ou seqüelas de uma apropriação do espaço tipicamente capitalista); outras,
mais heterogêneas e heterodoxas, reclamando uma Geografia transcendente aos dados
meramente materiais; isto é, uma Geografia nem tão concentrada em descrever um quadro
natural (geografismo ecológico do período clássico), nem tão empenhada em otimizar
um uso econômico (geografismo teorético dos 50’s em diante) e nem tão obcecada
em denunciar as mazelas de um ditame político (geografismo neomarxista dos 70’s em
406
diante). Esta outra nova Geografia, chamada, conforme assimilações locais, “humanís-
tica”, “comportamental” ou “da percepção”, rompe (em graus variáveis – a depender da
irreverência do ativista) com a perspectiva materialista, há muitas décadas vigorando no
pensamento geográfico. Depois do inventário de recursos naturais (tradição classicista),
do planejamento locacional da produção (revolução teorética) e da denúncia das seqüelas
do sistema (discurso crítico), advinha a interpretação de imaginários sobre os lugares.
E surgia uma espécie de geógrafo psicanalista. Géographe humaniste nos países francófilos;
behavioral geographer, nos anglófilos3.
Diante do fato de que, com os sucessivos adventos paradigmáticos, visões de Geografia
multiplicaram‑se, aconteceu do espectro de temas com que o geógrafo lida restar per-
turbadoramente vasto. Inventário de recursos naturais; análise e exploração dos mesmos;
meio ambiente versus ação antrópica; ocupação do território; processos de urbanização
(redes, circuitos); ordenamento territorial (políticas, instrumentos); mobilidade (migra-
ções); arranjos institucionais; formação de nacionalidades; pertencimento territorial;
elos de afetividade com lugares; territorialidade das práticas (étnicas, de gênero, etc.);...
É que daqueles vários paradigmas recém‑mencionados, o que resultou foi o alarga-
mento de perspectivas postas na alça de mira do geógrafo: do material‑objetivo (que já
induzia o profissional à comunhão teórico‑metodológica com geólogos, biólogos, físicos
e economistas) ao imaterial‑subjetivo (levando‑o a compartir da liturgia discursiva de
antropólogos e psicólogos).
O fazer geográfico, ao longo da história, dirigiu atenção a dinâmicas e fenômenos
respectivos a cada contexto: conhecimentos cosmográficos e mapeamento vegetacional,
quando das Grandes Navegações; localização de recursos e mercados e instalação
de sistemas de transporte, quando do advento das civilizações industriais e impérios
neocoloniais; modelagem de fluxos (de informação, capital, trabalho), quando da inten-
sificação da internacionalização da economia. Entretanto, apesar de ter desempenhado
funções‑chave em vários momentos da história, hoje não dá ares de conseguir transcender
a condição de disciplina “menor”, ou pouco expressiva, se comparada a outros domínios
e saberes práticos (ARAUJO NETO & REIS JUNIOR, 2011).
3
No Brasil a repercussão do geografismo ecológico deu‑se espontaneamente, a contar das primeiras décadas
do século vinte, devido à influência das literaturas francesa e alemã (embora esta mais indiretamente). Mas com a
assimilação do geografismo teorético – que no Brasil se deu com o lapso temporal de uma década (só o identifica-
mos nitidamente por volta de 1968) –, aquelas descrições do quadro natural sobreviveriam apenas no recinto da
Geografia Física. Ou seja, foram os geógrafos humanos os que se enveredaram deliberadamente em estudos com
as novas metodologias. E no Brasil, a aplicação de técnicas quantitativas para entender a hierarquia econômica de
centros urbanos foi algo bastante praticado entre 1968 e 1978. Mas essa repercussão da New Geography no país não
perdurou mais de um decênio. O fato de que se vivia, à época, sob um regime militar, criou a impressão de que a
geografia do planejamento estava a serviço do ideário ditatorial de então. Sendo assim, ao longo dos anos setenta
uma geografia do discurso social crítico foi encontrando condições favoráveis a uma mobilização gradativa de pro-
fissionais. Por essa razão, quando alguns geógrafos brasileiros tomam conhecimento da escola humanística (graças a
traduções editadas na década dos 80’s), já não havia margem muito aberta à propagação de novas abordagens.
O geografismo neomarxista já se difundira e estabelecera definitivamente no país. Daí serem raros, hoje, os
geógrafos que se dedicam a estudos de comportamento espacial à luz de teoria psicológica.
3 – Geografia Brasileira: enfermidade e morte de uma Geociência
A fim de melhor apresentar aquilo que no próximo corte temático nos referiremos
como sendo a eclosão de uma patologia, caracterizaremos agora, em mais detalhes, alguns
episódios da história da Geografia. 407
O período de quase um século, que se estenderá entre os anos setenta do século de-
zenove e os cinqüenta, do vinte, caracterizou‑se não somente pela instituição do marco
acadêmico da Geografia (em universidades alemãs e francesas), mas muito pela auto‑
-designação de disciplina a lidar com os arranjos combinatórios da natureza. No entan-
to, apesar de que quase sempre os estudos requeressem de seus autores uma formação
bastante versátil (enciclopédica até), eles ou eram explicitamente físicos – dando maior
ênfase aos elementos vegetacionais, pedológicos, hidrológicos, etc. (e, portanto, asse-
melhando o trabalho do geógrafo ao de um “geólogo‑botânico”) –, ou eram sobretudo
humanos – neste caso, privilegiando o fator sócio‑cultural (e, assim, de certa manei-
ra, aproximando o levantamento geográfico das etnografias antropológicas clássicas)
(DENEUX, 2006). Como se pode perceber, a formação universitária de um geógrafo
pressupunha instruí‑lo em saberes multidisciplinares. Ilustra isso uma notável obra
escrita por AROLDO DE AZEVEDO (1910‑1974), célebre autor de livros didáticos,
dos anos quarenta aos sessenta. Em “Monografias regionais” (1943), ele descreve com
minúcia todos os dados que um estudante deveria levantar numa expedição a campo:
dos mais ínfimos caracteres do solo aos mais particulares detalhes da rotina agrícola.
E a crítica, advinda em meados do século vinte, a este modelo de Geografia no final
das contas pouco funcional, residia, naturalmente, no fato de que, malgrado alguns
dos estudos deterem de fato uma identidade dúplice (quer dizer, reunindo tanto o fato
zonal, de ordem naturalista, quanto o fato regional, de cunho antrópico), jamais se
conseguiu falar, em termos competentemente epistemológicos, da amálgama entre os
fatos. Ou seja, quando muito, fenômenos de natureza e de sociedade eram sim con-
templados, mas nunca explanados, pela via de modelos teóricos, na sua (tão aventada)
mútua condição de reciprocidade.
O que a New Geography pretendeu subverter foi exatamente essa pecha de campo
científico desprovido de parâmetros nomotéticos; isto é, um campo disciplinar que, a
rigor, nem mereceria o adjetivo de científico. Por conseqüência dos novos reclamos e da
imensa oferta de expedientes teórico‑metodológicos, adentra o discurso geográfico um
relativamente transgressor arsenal de técnicas analíticas e de modelos conceituais: cálculos
matemáticos, tratamentos estatísticos, terminologias fisicalistas, biologistas e economé-
tricas. No Brasil, em dois epicentros: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no
Rio de Janeiro, e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, no interior do
estado de São Paulo (MONTEIRO, 1980). Esta incorporação, mais que mero câmbio
lingüístico, teve o efeito inconteste no plano da ação do geógrafo: doravante, ele, desde
que empenhado em instruir‑se nas ferramentas alienígenas, adquiriria a competência ne-
cessária a fornecer subsídios técnico‑científicos às esferas do planejamento e da tomada
de decisão.
Todavia, há idiossincrasias nítidas quando se averigua a forma como as matrizes do
pensamento científico ancoram num ou noutro país. E o caso brasileiro foi emblemá-
tico em pelo menos um aspecto. Porque é certo que a Geografia num plano geral, a
bem dizer, trifurcou a partir dos anos sessenta; noutras palavras, a contar da onda de
repreensões aos métodos clássicos, advieram leituras distintas sobre o objeto de estudo
do geógrafo: uma neopositivista, uma neomarxista e outra fenomenológica (CHRISTO-
FOLETTI, 1982; REIS JÚNIOR, 2008a). Ainda assim, a relativa preponderância de
um matiz, por razões que, bem sabemos, a sociologia do conhecimento nos esclarece,
408
tende a ser função de circunstâncias micro‑escalares: instituições promotoras, indivíduos
vanguardistas, etc. (REIS JÚNIOR, 2008b). Logo, foi possível se dar que, no Brasil, o
fato da vertente teorético‑quantitativista ter emergido justo num contexto de regime po-
lítico militar, engendrou‑se uma ambiência intelectual naturalmente propensa a delatar
este modelo de geografia como sendo servil ao poder executivo; vindo, pois, a defender a
causa de uma ciência comprometida com teorias (o que definia seu combate ao classicis-
mo positivista), só que teorias sociológicas críticas (o que definia, ademais, seu também
combate à proposta neopositivista da New Geography, que entendeu se tratar de reacio-
nária, ou uma pseudo‑renovação – conforme insinuaram autores estrangeiros, militantes
do neomarxismo).
A emergência da chamada Geografia Radical brasileira data do fim da década de
setenta (GONÇALVES, 1978; SANTOS, 1978), enquanto o discurso sistematicamen-
te crítico, dela derivado, ganha força e progressivas publicidade e notoriedade ao longo
dos anos oitenta do século vinte (SANTOS, 1982; MORAES & COSTA, 1984), com
rejuvenescimentos no século presente (MOREIRA, 2006; MOREIRA, 2009). E o efeito
colateral que mais se fez sentir na identidade do campo disciplinar foi, sem dúvida, a
gradativa transfiguração curricular dos cursos universitários. Em não poucos casos,
Departamentos de Geografia, que antes integravam Institutos de Geociências (num
âmbito, portanto, de convivência com ciências experimentais e exatas), passaram a ser
abrigados em Institutos de Ciências Humanas ou Faculdades de Filosofia e Letras.
Se a disciplina ainda guardaria, na retina do olhar “de fora”, essa embaraçosa iden-
tidade dúplice (análise de formas naturais versus denúncia de processos políticos), na
visão do “lado de dentro”, foi‑se consolidando uma visão de geografia do discurso
ideológico.
4
Nos referimos aqui ao fato de que, refutando a presunção de neutralidade dos positivistas, os críticos
voluntariamente inauguraram um estilo de texto mais adjetivado. Apareceu, portanto, um gênero de assertivas
construídas à base de juízos de valor – o que, num certo sentido, estabeleceu que o geógrafo podia fazer julga-
mentos morais. “Subordinação do espaço aos interesses do capital”; “apropriação perversa do território”; “ins-
trumento de dominação burguesa”; etc. Todas expressões comuns a um mesmo dialeto: o da delação. Decerto,
os críticos pensavam estar, finalmente, dando relevância social ao seu trabalho; mas, restringindo‑se a um in-
sistente discurso combativo, não acharam vez de também propor. Assim, sem oferecerem alternativas ao “mal”
capitalista, as vozes discordantes restaram estritamente denunciadoras, e pouco ou quase nada propositivas.
5
Sustentamos essa afirmação categórica baseados precisamente no descrédito que, por mais de uma vez
na história, os métodos formais tiveram junto ao círculo geográfico brasileiro. E em dois contextos exemplar-
mente. Primeiro, durante as iniciais seis décadas do século vinte, quando da prática de uma geografia empírica
herdeira dos preceitos franceses (dentre os quais, a preferência pelo procedimento indutivo e a desconfiança dos
raciocínios muito sistemáticos e dedutivos) – o que impediu que nossos geógrafos clássicos tivessem se aproxi-
mado, por exemplo, dos progressos científicos que já se sentiam em Ecologia (incorporação da termodinâmica,
cibernética, teoria dos jogos). Segundo, quando do próprio advento da New Geography, posto que raríssimos
pesquisadores arriscaram esforço intelectual mais penoso, como o de ensaiar explicações a partir de modelos
naturalistas relativamente complexos mas sugestivos (princípio da incerteza, teoria do caos, geometria fractal).
de dados que unificassem o argumento dos praticantes desta disciplina (padronizando,
por extensão, métodos de validação consistentes).
Em termos de formação universitária, o que se verificou foi uma sensível marginali-
zação do espectro naturalista da disciplina, em prol do tratamento de matérias de cunho
410
social e político. Na verdade, a relevância destes aspectos para o pleno entendimento da
organização humana das paisagens nunca foi omitido; o abuso em questão traduz‑se,
isto sim, pelo profundo esvaziamento do raciocínio lógico‑sistemático – desde há muito
uma marca‑registrada da investigação formal dos fenômenos. Se o geógrafo reconheceu
sua inoperância em explanar conjuntamente os fatos físico e humano, isto é um fato
realmente relevante na história da ciência geográfica; contudo, optar (nas vezes de “solu-
ção ao problema”) pela mutilação consciente do domínio científico (não obstante o quão
bizarro possa parecer), isto acabou figurando uma tática filosoficamente aviltante. Daí
que, em muitas situações, os graduandos em Geografia sentem como se as matérias
consagradas aos processos naturais edificantes da paisagem – mineralogia, pedologia,
geologia, zoologia, botânica, hidrologia, climatologia – fossem meros caprichos de currícu-
lo. E de fato, no Brasil esses domínios, que por décadas puseram o geógrafo a freqüentar
o círculo das ciências duras, parecem hoje constar dos currículos como (quando muito)
matérias ou temáticas de função não mais que subsidiária. Resulta disso que o geógrafo
é, atualmente, bem menos versado do que já foi (no período clássico) em conteúdos
basilares – quer dizer, instruído acerca dos princípios de ciências naturais – e deficita-
riamente versado (já que desperdiçou a proposta teorético‑quantitativista) em conteúdos
operacionais – isto é, familiarizado com instrumental técnico de ciências físicas e exatas
(CHRISTOFOLETTI, 1990).
Essa menor versatilidade, resultante de uma formação universitária deficiente, vendo
sob outro aspecto, explica‑se, por efeito decorrente, de currículos que acabam priorizando
matérias de geografia social. A perspectiva da deliberação humana é forçosa, mas é óbvio
que, ao se primar por um aspecto, termina‑se por esvaziar o outro; e, assim, conteúdos
originários das ciências exatas, apesar de que possam seguir constando dos planos de
cursos (dando, então, um ar de razoável equilíbrio), não favorecem uma visão integradora
dos conteúdos – competência na qual o geógrafo, apesar de tudo, ainda se fia.
O final da década dos setenta define o ingrediente contextual que condicionará, em
grande medida, os simultâneos sepultamento e decreto de atribuições da Geografia: a esta
ciência, definitivamente, não caberia mais a tarefa de subvencionar tecnicamente os empre-
endimentos econômicos de ocupação e uso da terra; o que as populações dela esperariam é
sua astuta vigilância, na denúncia de episódios de apropriação socialmente sórdidos. Diante
do recrudescimento do matiz ideológico, o geógrafo naturalmente perderia alcance de ação
profissional – por exemplo, perdendo espaço para praticantes de ciências que, naquela con-
juntura, desenvolveriam para si um horizonte de atuação técnica absolutamente tempestivo:
se a época denotava inquietações ambientalistas (dados os já visíveis impactos do imperativo
capitalista sobre a natureza), foi previsível o surgimento de um geólogo ambientalista, de um
ecólogo perito, de um biólogo socialmente sensível, de um economista capacitado à valoração
do patrimônio ambiental, de um sociólogo instruído em processos naturais (CHRISTOFO-
LETTI, 1984). Todos eles articulados com a esfera da ciência aplicada (ou, noutras palavras,
de bom grado aliadas a um poder político ciente de que o amparo em saberes exímios é o que
garante estratégias sustentáveis). E todos eles desenvolvendo estudos para os quais, não fosse
o sucesso acadêmico da Geografia Radical, o geógrafo poderia/deveria estar contribuindo.
Vige no subcampo da geografia social um “princípio hedonístico”, segundo o qual
os autores, pensando produzir teorias legítimas, não fazem senão exercitar um prazer
individual à base de elucubrações maneiristas, mas cujo teor transmite‑se com facilidade
(LAMEGO & REIS JÚNIOR, 2009). E este discurso crítico pode, eventualmente, encon-
411
trar ressonância junto ao público frequentador dos bancos universitários – por exemplo, se
o estudante estiver à procura de uma causa pela qual pareça nobre lutar. E no Brasil a
convergência de um fator vem justamente a ser determinante: não raras vezes este público
enquadra‑se num perfil econômico desprivilegiado. Sendo assim, a retórica autodenominada
“combativa” arregimenta, sem esforço, seus soldados (REIS JÚNIOR, 2010).
4 – Considerações finais
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SANTOS, M. (1982) – Novos Rumos da Geografia Brasileira. HUCITEC, São Paulo.
ANEXOS
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REVISÃO CIENTÍFICA
Coordenação
Membros
Instituições
Agência Nacional do Petróleo, Associação dos Geólogos em Angola, Consejo Superior de Investigaciones Cien-
tíficas, Galpenergia, Geoparque Araripe, Geoparque Maestrazgo, Institut Universitaire Européen de la Mer,
Instituto Geológico, Instituto Geológico y Minero de España, Instituto Politécnico de Castelo Branco, Insti-
tuto Politécnico de Tomar, Laboratório Nacional de Geologia, Ministério das Obras Públicas e dos Recursos
Naturais, Ministério do Ensino Superior e da Ciência e Tecnologia, Museum of Natural History New York,
Partex, Petrobras, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Réserve Géologique de Haute‑Provence,
TOTAL EP, Universidad de Alcalá de Henares, Universidade Agostinho Neto, Universidade Complutense de
Madrid, Universidade de Aveiro, Universidade de Barcelona, Universidade de Bristol, Universidade de Buenos
Aires, Universidade de Cabo Verde, Universidade de Coimbra, Universidade de Lisboa, Universidade de Pá-
dua, Universidade de Salamanca, Universidade de São Paulo, Universidade de Trás‑os‑Montes e Alto Douro,
Universidade de Valladolid, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade do Minho, Universidade
do Porto, Universidade Eduardo Mondlane, Universidade Estadual de Campinas, Universidade Estadual
de Londrina, Universidade Estadual Paulista, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de
Ouro Preto, Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal do Acre, Universidade Federal do Paraná,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Fe-
deral Rural do Rio de Janeiro, Universidade Luterana do Brasil, Universidade Privada de Angola e Universidade
Técnica de Lisboa.
PATROCÍNIOS E APOIOS
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Patrocínios
Patrocínio DIAMANTE
Patrocínio Ouro
Patrocínio Prata
Patrocínio Ametista
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421
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Apoios Institucionais
9 789892 605241
Imprensa da Universidade de Coimbra Internacional de Geociências na CPLP, que decorreu de 14 a 16 de maio de 2012 no
Coimbra University Press Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. São aqui apresentados trabalhos
2012 desenvolvidos por várias equipas afiliadas a distintas instituições da CPLP,
que representam abordagens educativas inovadoras, perspetivadas quer para
contextos escolares, quer para cenários exteriores à sala de aula, e utilizando desde os
recursos mais convencionais, como os manuais escolares, até às narrativas ficcionadas,
sem descurar o potencial educativo que encerram muitos dos locais situados em vários
países lusófonos, e que detêm enorme valor patrimonial.
Fotografia da Capa
Ribeira do Maloás, Ilha de Santa Maria, Portugal