Técnicas de Controle de Comportamento

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

Arquivos em Odontologia! Volume 456 !

Nº 02 110
Abril/Junho de 2010

Principais técnicas de controle de comportamento em


Odontopediatria

Main techniques of behavior control in Pediatric Dentistry


Camila Moraes Albuquerque1, Cresus Vinícius Depes de Gouvêa1, Rita de Cássia Martins Moraes1, Renata
Nunes Barros1, Cínta Fernandes do Couto1

RESUMO
Para lançar mão das principais técnicas de controle de comportamento na clínica odontopediátrica os
profissionais devem ter conhecimento e embasamento suficientes para discernir dentre as técnicas, qual é a
mais importante para cada paciente. O objetivo deste trabalho foi, por meio de uma revisão da literatura,
descrever e discutir as principais técnicas para controle de comportamento, destacando as técnicas: controle
pela voz, falar-mostrar-fazer, e mão sobre a boca.
Descritores: Odontopediatria. Psicologia da criança. Comportamento.

INTRODUÇÃO se aperfeiçoam no que se refere ao manejo infantil.


O relacionamento é a maior diferença que Com tal refinamento surge a autoconfiança neste
existe entre o tratamento de crianças e adultos. Em campo da Odontologia4.
geral, o tratamento de adulto exige uma relação de Para tratar crianças é preciso mais que
um para um, que é o modo como se relacionam o destreza manual, diagnóstico perspicaz e um
dentista e o paciente. Entretanto ao se tratar de uma conhecimento do desenvolvimento infantil, para
criança, estabelece-se uma relação de um para dois: fornecer qualidade no tratamento odontológico para
o dentista, o paciente infantil e seus pais ou as crianças. O fator “X” é a cooperação da criança5.
responsáveis. A importância deste contato unificador A segurança do dentista em relação às suas
tornar-se-á evidente quando forem descritas as habilidades de manejo da conduta, é fundamental
técnicas de controle1. para inter-relação de sucesso com crianças
O controle de comportamento infantil é um potencialmente rebeldes4.
componente integral na prática de Odontopediatria. A maioria das crianças que chega ao
Com o passar do tempo, tem diminuído a ênfase no consultório é classificada como bons pacientes. A
uso de restrições e drogas pesadas, e aumentado a falta de cooperação é levada por um desejo de se
necessidade de envolver os pais no processo de tentar evitar uma sensação dolorosa ou
decisão/realização 2. desagradável6.
Uma vez que a criança estiver no consultório É sabido que o único modo confiável de se
para tratamento, ela dependerá não só do preparo evitar por completo atitudes infantis inapropriadas
prévio efetuado pelos pais, como também da durante o tratamento é através do controle
habilidade do odontopediatra e sua equipe em manejá- farmacológico profundo. Porém, tal procedimento
la3. está fora dos objetivos deste trabalho.
Um aspecto do tratamento odontopediátrico Para todo dentista que trata de crianças, o
(exceto o esgotamento) parece antecipar aqueles comportamento do paciente é de considerável
que podem manejar as crianças e aqueles que não importância, pois sabe-se da dificuldade de se efetuar
podem. Este aspecto é a experiência. Os estudantes um tratamento de forma eficiente, principalmente se
de Odontologia, e os clínicos jovens podem se sentir a criança se recusa em se deixar tratar, ou se a
desencorajados pela ansiedade e insegurança que sessão é realizada em meio às lágrimas7.
experimentam quando algumas crianças começam O dentista devido às suas características
a se comportar mal. Contudo, com o tempo e inerentes e próprias, não tem tempo, treinamento e
dedicação às técnicas ensinadas nas escolas de nem como objetivo principal a pesquisa mais profunda
Odontologia, as habilidades clínicas dos profissionais dos problemas de comportamentos observados em
1
Departamento de Odontotécnica, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil
Contato: [email protected]
Arquivos em Odontologia ! Volume 46 ! Nº 02 111
Abril/Junho de 2010

seu consultório. No entanto, ele tem que conseguir auxiliar ficam dando orientações, o resultado pode
uma solução imediata para resolver os problemas provocar uma resposta indesejável, simplesmente
de ansiedade, medo ou qualquer outro tipo de porque a criança se torna confusa. A mensagem tem
comportamento negativo apresentado por seus de ser entendida da mesma maneira por quem envia
pacientes1. e por quem recebe. Conforme diz Chambers, é
Muitas vezes o odontopediatra é o preciso haver um “encontro” entre a mensagem
profissional da saúde que mais contato tem com a pretendida e a mensagem entendida. Ouvir também
criança, relacionando-se durante períodos mais ou é importante no tratamento de crianças. Contudo,
menos longos, porém com uma certa freqüência, quando se está tratando de uma criança mais velha,
fazendo parte de sua experiência cotidiana. As escutar suas palavras é sempre mais importante do
técnicas de manejo do paciente visam: estabelecer que escutar as de uma criança mais jovem, quando
uma boa comunicação com a criança, educar o a atenção ao comportamento não verbal muitas
paciente orientando-o a cooperar durante o vezes é mais difícil1.
tratamento odontológico e construir uma relação de Um certo conhecimento de psicologia, no que
confiança. Prevenir e avaliar o medo e ansiedade diz respeito ao desenvolvimento psicológico da
das crianças e suas diferentes capacidades em seus criança, e correta aplicação da técnica de controle
diferentes estágios é mister para o odontopediatra6. comportamental indicada para o momento,
Atualmente existe uma infinidade de executando-se assim, um tratamento adequado, é
informações que descrevem as mais variadas certo de que se conseguirá a cooperação da criança7.
técnicas para controle de comportamento, o que torna É necessário conhecer o tipo de
muito difícil, ou até mesmo impossível que um comportamento infantil e alguns aspectos do
cirurgião-dentista domine todas elas. desenvolvimento das crianças, para podermos tomar
Entretanto, há uma série básica de atitudes adequadas e conseqüentemente facilitar o
habilidades que continua crítica. Algumas das relacionamento com a criança, uma vez que não se
técnicas de manejo são agradáveis e polidas, outras consegue realizar trabalhos técnicos de alto nível sem
possuem elegância razoável em termos psicológicos a sua cooperação. Por isso para que a aproximação
e algumas podem parecer muito rigorosas e e o manejo da criança sejam compatíveis com suas
autoritárias, principalmente por pessoas leigas e experiências precisamos conhecer as características
talvez por estudantes novatos de odontologia4. psicológicas e físicas de acordo com os diferentes
Este trabalho teve como objetivo relatar e níveis de idade8.
descrever as técnicas de controle de comportamento O controle com a voz é uma técnica
não farmacológicas em odontopediatria, abordando essencial para o manejo dos pré-escolares. É muito
também os aspectos psicológicos. eficaz para interceptar condutas inapropriadas assim
que começam a ocorrer e é mais ou menos bem
REVISÃO DE LITERAURA sucedida uma vez que os comportamentos
Controle pela voz/ Gerenciamento da inconvenientes alcançam sua máxima expressão. O
comunicação: tom de voz é muito importante. Deve passar a idéia
Há um consenso geral de que atitude ou de “quem manda aqui sou eu”. A expressão facial
expectativas do dentista podem afetar o resultado do dentista também deve refletir esta atitude de
da consulta. As afirmações positivas aumentam as confiança4.
oportunidades de êxito no tratamento das crianças. Para tratar crianças é preciso ir além do
Elas são muito mais efetivas que perguntas ou tratamento almejado quando procuram um
comentários descuidados. Para ser bem sucedido profissional. Outros procedimentos clínicos que
com as crianças é preciso prever o sucesso. Segundo muitas vezes estão fora do aprendizado de
o autor, os integrantes da equipe odontológica, têm especialidade do profissional, sejam este cirurgião-
de estar cientes de seus papéis quando se comunicam dentista, médico ou outro, como: técnicas para
com seu paciente infantil. Usualmente a auxiliar manejo de comportamentos agressivos, crises de
conversa com a criança durante a sua transferência birra no consultório, entre outros, podem ser usados9.
da sala de recepção para o gabinete de trabalho O domínio lingüístico- gerenciamento da
propriamente dito, e durante o preparo da criança comunicação é o mais razoável em termos de
na cadeira odontológica. Quando o dentista se eficácia, segurança e aceitabilidade pelos pais e
aproxima, a auxiliar assume, como regra, um papel crianças, além de basear-se na comunicação entre
mais passivo, porque a criança só ouve uma pessoa o profissional e a criança 10.
de cada vez. É importante que a comunicação venha É importante oferecer garantias de que a
de uma única fonte. Quando tanto o dentista como a situação será menos ameaçadora possível, o que
Arquivos em Odontologia! Volume 456 ! Nº 02 112
Abril/Junho de 2010

exige do profissional uma atuação assertiva e que familiarização antes do tratamento propriamente dito.
transmita segurança, e tranqüilidade para que a Desta maneira, o profissional estará fornecendo
permanência na cadeira do dentista ocorra sem informações preparatórias à criança, tornando o
maiores transtornos para ambos, como ferimentos ambiente conhecido, e diminuindo seu medo e sua
na boca da criança decorrentes da movimentação ansiedade. Segundo o autor, a técnica do “falar-
abrupta da mesma, enquanto tenta se desvencilhar mostrar-fazer” deve se iniciar logo que a criança
do atendimento dentário. Muitas vezes, para facilitar entra no consultório, e durar durante todo o
a comunicação e o entendimento do paciente infantil, atendimento. É fundamental que antes mesmo da
os odontopediatras lançam mão de eufemismos, e criança entrar na sala de consulta, conheça o nome
de maneira análoga conseguem explicar do profissional e que seja realizada uma breve
determinados procedimentos e serem facilmente “conversa” ou “contato social” entre profissional e
entendidos pelas crianças. criança. O objetivo desta etapa é mostrar à criança
Muitas vezes, na tentativa de controlar a que queremos seu bem e seremos seu amigo11.
situação, alguns profissionais dão ordens às crianças
dizendo o que querem que elas façam, ou como se Técnica da Mão sobre a boca/ Hand over
comportem. No entanto, estes tipos de mensagens, mouth excercise (HOME)
que inicialmente parecem eficientes, são na verdade A técnica de “mão sobre a boca” tem por
impositivas; pois estes profissionais desrespeitam o objetivo a atenção de uma criança altamente
sentimento da criança. Quando se toma este tipo de antagonista, de maneira a permitir o estabelecimento
atitude na realidade, promove-se o aumento do da comunicação e obter o seu concurso para que o
comportamento negativo11. tratamento seja executado com segurança1.
Esta técnica não busca assustar a criança,
Falar-mostrar-fazer/ Tell-show-do (TSD) mas sim obter a sua atenção e silêncio para que possa
Em 1959, Addelston estabeleceu uma técnica escutar o dentista. Para ele, a técnica da “mão sobre
que englobou vários conceitos da teoria da a boca” continua sendo algo controverso, por razões
aprendizagem, à qual chamaram de “diga-mostre- óbvias, e diz que as contra-indicações incluem
faça” (DMF). Esta técnica descreve que as crianças incapacitadas, imaturas e sob medicação
auxiliares, as higienistas, e os dentistas devem cuja compreensão às ordens do dentista, se encontra
demonstrar os vários instrumentos, passo a passo, comprometida4.
antes de usá-los, dizendo, mostrando e fazendo. A técnica da mão sobre a boca tem sido
Quando o dentista trabalha no interior da boca, deve descrita por diversos autores e consiste em colocar
mostrar ao paciente infantil tudo o que for possível. a criança firmemente na cadeira odontológica. Se a
Somente quando a criança tem a visão dos criança movimentar braços e pernas, o dentista e a
procedimentos, é que as sucessivas aproximações auxiliar odontológica conterão a criança, prevenindo
podem ser realizadas adequadamente1. seu próprio dano e danos à equipe e ao equipamento.
Este método equivale à coluna vertebral da Se nenhuma comunicação é possível devido à
fase educacional para a preparação de um paciente criança estar gritando e chorando, o dentista
pediátrico dental relaxado e receptivo. A técnica é posiciona a mão sobre a boca da criança para abafar
simples e geralmente funciona. Antes de começar o ruído, e simultaneamente se aproxima do ouvido e
qualquer manobra deve-se explicar à criança o que diz baixo, sem gritar, calmamente e sem raiva “você
será feito, e mostrar através de algum tipo de tem que para de gritar, quero conversar com você,
simulação o que vai ocorrer. O autor ressalta que a quero olhar os seu dentes”. Geralmente a criança
escolha das palavras é importante na técnica do interrompe os gritos e o dentista remove a mão.
“dizer,mostrar e fazer”. O êxito consiste no dentista Imediatamente reforça o comportamento da criança
utilizar um vocabulário substituto para seus aparatos com um elogio: “sabia que você era capaz de
e procedimentos que a criança possa entender4. colaborar” ou “gosto de você porque você é um bom
Esta técnica consiste em apresentar aos ajudante”5,12,13,15.
poucos à criança alguns elementos do consultório Porém, se o comportamento inaceitável da
odontológico, oferecendo-lhes explicações verbais criança continua quando o dentista remove a mão, e
dos procedimentos odontológicos, numa linguagem se a aplicação adicional da mão fracassar, para
simples para ela. Envolve ainda a demonstração estabelecer a comunicação entre a criança e o
visual, auditiva, tátil e olfatória dos mesmos dentista, as vias aéreas são fechadas colocando a
procedimentos2. mão em cima da boca, e com o dedo polegar, e o
Os elementos odontológicos devem ser dedo indicador fechando ligeiramente as narinas.
apresentados gradualmente, e assim promover sua Estas são fechadas por um tempo não mais longo do
Arquivos em Odontologia ! Volume 46 ! Nº 02 113
Abril/Junho de 2010

que quinze segundos. Esta variação da técnica da situação, alguns profissionais dão ordens às crianças
“mão sobre a boca” (HOME) é chamada de “mão dizendo o que querem que elas façam, ou como se
sobre a boca com restrições das vias aéreas” comportem. No entanto, quando se toma este tipo
(HOMAR). Se a criança decide cooperar, o dentista de atitude, na realidade, promove-se o aumento do
deverá remover a mão imediatamente e elogiar a comportamento negativo1,2. Para minimizar e facilitar
criança12. a compreensão da criança, pode-se transmitir as
A American Academy of Pediatric mensagens na primeira pessoa, ou seja, do ponto de
Dentistry reconhece certas indicações e contra- vista do dentista. Assim não é feita uma avaliação
indicações para esta técnica. Indica-se em casos de negativa da criança, mas sim, identifica-se o problema
criança normal, de três anos ou mais, saudável, que e se estabelece a quem ele pertence2.
é madura o suficiente para compreender as direções O cirurgião-dentista conseguirá a
do dentista e cooperar com as expectativas da colaboração da criança, a partir do momento em que
consulta, mas que chega ao consultório gritando, obtiver um certo conhecimento de psicologia e
agressiva e histérica, apresentando um correta aplicação da técnica de controle
comportamento hostil e desregrado frente ao comportamental indicada para o momento7,8.
tratamento dental. Desmarcar ou adiar o tratamento É importante que os integrantes da equipe
destas crianças, apenas incentivará seu mau odontológica estejam cientes de seus papéis quando
comportamento. se comunicam com seu paciente infantil. Quando o
Este método é usado para controlar birras e dentista se aproxima, a auxiliar deverá assumir um
outros ataques de ira, deve ser usado com o controle papel mais passivo, porque a criança só ouve uma
de voz. Este sistema funciona de maneira confiável pessoa de cada vez. Quando tanto o dentista, quanto
em vários tipos de personalidade infantil5. a auxiliar ficam dando orientações, o resultado pode
Antes de aplicar a técnica da mão sobre a provocar uma resposta indesejável, simplesmente
boca, a criança deva ser avaliada em seu grau e porque a criança se torna confusa1,2.
inteligência e capacidade de entendimento para o Deve-se ressaltar também que todos os
que esperado para ela. A HOME não é utilizada em autores concordam com o uso de eufemismos, para
crianças com menos de três anos de idade 15. facilitar a comunicação e o entendimento do paciente
É indispensável que se preste atenção à infantil. Desta forma, consegue-se explicar
opinião dos pais a respeito ao leque de opções de determinados procedimentos e estes serão facilmente
técnicas oferecidas, após a explicação detalhada e entendidos pelas crianças. Penido1 sugere alguns
justificada de cada uma delas16. exemplos, como chamar dique de borracha de “capa
de chuva”, selante de “pintura do dente”, sugador
DISCUSSÃO de “aspirador de pó”, entre outros.
Controle pela voz/ Gerenciamento da O controle pela voz é uma técnica muito
comunicação eficaz para interceptar condutas inapropriadas assim
O gerenciamento do comportamento por que estas começam a ocorrer, e é mais ou menos
meio da comunicação é usado universalmente na bem sucedida, uma vez que os comportamentos
odontopediatria, sendo esta a base para a criação de inconvenientes alcançam sua máxima expressão4.
uma relação amigável com a criança, permitindo Comandos súbitos e firmes são usados para
assim um comportamento odontológico com sucesso manter a atenção da criança ou para interromper
e uma atitude positiva frente a ele2. qualquer ação que esteja sendo praticada1.
Há um consenso geral de que a atitude ou O método requer do dentista mais autoridade
expectativas do dentista podem afetar o resultado durante sua comunicação com a criança. O tom de
da consulta. Assim, as afirmações positivas voz é muito importante. Deve-se passar a idéia de
aumentam as oportunidades de êxito no tratamento “quem manda aqui sou eu”. A expressão facial do
das crianças. Elas são muito mais efetivas que dentista também deva refletir esta atitude de
perguntas ou comentários descuidados1. confiança. Na verdade o dentista pode usar o
O principal objetivo da comunicação é a “controle mediante a voz” somente diante de sua
compreensão. É importante oferecer garantias de expressão facial4.
que a situação será menos ameaçadora possível, o
que exige do profissional uma atuação assertiva e Falar- mostrar- fazer/ Tell-show-do (TSD)
que transmita segurança e tranqüilidade para que a Esta técnica possui uma boa aceitação entre
permanência na cadeira do dentista ocorra sem os autores, e é bastante utilizada pelos profissionais
maiores transtornos. de odontopediatria. Este método corresponde à
Muitas vezes, na tentativa de controlar a coluna vertebral da fase educacional para a
Arquivos em Odontologia! Volume 456 ! Nº 02 114
Abril/Junho de 2010

preparação de um paciente pediátrico dental compreensão às ordens de dentista, se encontra


relaxado e receptivo 4. comprometida4. Antes de aplicar a técnica da “mão
O objetivo desta técnica é lidar com o sobre a boca”, a criança deve ser avaliada em
medo das crianças frente a situações seu grau e inteligência e capacidade de
desconhecidas, os elementos odontológicos devem entendimento para o que é esperado para ela. A
ser apresentados gradualmente, e assim, promover HOME não é utilizada em crianças com menos
sua familiarização antes do tratamento de três anos de idade15.
propriamente dito. Ao conhecer as funções dos Este método é usado para controlar birras
equipamentos, a criança terá menor probabilidade e outros ataques de ira, e deve ser usado com o
de projetar neles suas fantasias aterrorizantes. controle de voz. Este sistema funciona de maneira
Assim a finalidade do primeiro contato com o confiável em vários tipos de personalidade
paciente é a aquisição de confiança tanto do infantil5.
responsável quanto da criança, sua ambientação A técnica de “mão sobre a boca” continua
com o dentista e o instrumental, bem com,o sendo algo controverso por razões óbvias. Os
estabelecer um relacionamento ótimo dentista- críticos estimam que, do ponto de vista psicológico,
paciente 2,4. pode ser agravante para a criança4. Levantamentos
A escolha das palavras é importante na realizados por odontopediatras diplomados em
técnica do “dizer-mostrar-fazer”. O êxito consiste 1972 a 1981, contudo, demonstram a aceitação
no dentista utilizar um vocabulário substituto para da técnica por parte substancial dos profissionais.
seus aparatos e procedimentos que a criança possa Em ambas as situações, mais de 80% aplicaram
entender 4 . às vezes a terapia relutante1.
Tudo o que estiver presente no consultório É importante prestar atenção à opinião dos
odontológico deverá ser mostrado detalhadamente pais a respeito ao leque de opções de técnica
à criança por meio da técnica “dizer-mostar- oferecidas, após a explicação detalhada e
fazer” 2 . justificada de cada uma delas. Estudos sugerem
Mão sobre a boca/ Hand over mouth que muitos pais não aprovam algumas técnicas
excercise (HOME) muito usadas, especialmente o HOME2.
Esta técnica geralmente é utilizada como
último recurso e em crianças altamente CONCLUSÃO
antagonistas, de maneira a permitir que o Após a revisão de literatura, destacamos
tratamento odontológico seja realizado com como principais as seguintes técnicas de
segurança. comportamento: controle pela voz/ Ggerenciamento
A técnica da “mão sobre a boca” vem da comunicação, falar-mostrar-fazer/ tell-show-
sendo descrita por diversos autores e consiste em: do (TSD), mão sobre a boca/ hand over mouth
colocar a criança firmemente na cadeira excercise (HOME).
odontológica. Se a criança movimentar braços e Para se trabalhar com crianças e obter a
pernas, o dentista e a auxiliar conterão a criança, colaboração da mesma durante os procedimentos
prevenindo seu próprio dano e danos à equipe e odontológicos, é necessário inicialmente conhecer
ao equipamento5,12,13,15. e respeitar cada fase do desenvolvimento da
Pinkham4 afirma que a técnica não busca criança. A partir daí, escolher e empregar
assustar a criança, mas sim obter a sua atenção e corretamente a técnica de controle
silêncio para que se possa escutar o dentista. comportamental mais adequada a cada situação.
Há uma variação da técnica “mão sobre a O profissional deve entender que cada técnica
boca” ou hand over mouth excercise (HOME) deverá ser aplicada de acordo com a necessidade
deverá ser utilizada quando o comportamento de cada paciente, sendo a mais utilizada o
inaceitável da criança continua quando o dentista “controle pela voz” e “dizer-mostrar-fazer”, e a
remove a mão, mesmo após a repetição da técnica. mais controversa é a técnica da “mão sobre a
Para possibilitar a comunicação entre a criança e boca”.
o profissional, as vias aéreas devem ser fechadas
por um tempo não mais longo do que quinze ABSTRACT
segundos. Esta variação da técnica da “mão sobre The present work carry out a
a boca” (HOME) é chamada de “mão sobre a bibliographical revision about the main behavior
boca com restrições das vias aéreas” (HOMAR)12. control techniques in the clinical of
As contra-indicações incluem crianças odontopediatrics. However, for it make use of the
incapacitadas, imaturas e sob medicação, cuja same, the professional should have knowledge
Arquivos em Odontologia ! Volume 46 ! Nº 02 115
Abril/Junho de 2010

sufficiency to discern among the techniques wihch 9. Nóbrega MSG. Importância dos conhecimentos
is the most adequated for each patient. That is psicológicos em odontopediatria. Odontol Mod.
the objective of this, describe and discuss the 1995; 22:10-8.
principals techniques of behavior, detach this 10. Carvalho MR, Pinto MRS. Diagnóstico e
techniques control by voice, tell-show-do (TSD), prevenção do estresse do paciente em
hand over Mmouth excercise (HOME). odontopediatria. In: Corrêa MSN Sucesso no
Uniterms: Pediatric dentistry. Child psychology. atendimento odontopediátrico: aspectos
Behavior. psicológicos. São Paulo, Santos Editora, 2002.
11. Salim et al. Métodos de restrição física
REFERÊNCIAS indicados para procedimentos odontológicos na
1. Penido RS. Psicoterapia comportamental na primeira infância. In: Corrêa MSN. Sucesso no
prática odontológica. In: Lettner HW, Rangé BP. atendimento odontopediátrico: aspectos
manual de psicoterapia comportamental. São psicológicos. São Paulo, Santos Editora, 2002.
Paulo: Editora Manole Ltda, 1987. 12. Romito ACD, Zardetto CGDC, Corrêa MSN.
2. Corrêa MSN. Sucesso no atendimento Gerenciamento comportamental em
odontopediátrico: aspectos psicológicos. São odontopediatria por meio de técnicas não
Paulo: Santos Editora. 2002. farmacológicas. In: Corrêa MSN. Sucesso no
atendimento odontopediátrico: aspectos
3. Sandrini JC, Bonacin Júnior, P, Christóforo, LR. psicológicos. São Paulo: Santos Editora. 2002.
Reações infantis frente ao atendimento
odontológico e suas manifestações psíquicas. J 13. Bowers LT. The legality of using hand-over-
Bras Odontopediatr Odontol Bebê. 1998; 3:75- mouth exercise for manejament of child behavior.
89. ASDC J Dent Child. 1982; 49:257-64.
4. Pinkhan JR, Casamassino PS, Fields JR, Henry 14. Craig W. Hand over mouth technique. ASDC J
W. Odontopediatria da infância à adolescência. Child. 1971.
2 ed. São Paulo: Editora Artes Médicas, 1996. 15. Pentagna M. Técnica da mão sobre a boca
5. Levitas T. HOME: Hand Over-Mouth-Exercise. [dissertação]. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro:
ASDC J Dent Child. 1974; 41:18-22. Faculdade de Odontologia da UERJ. 2001.
6. Ribble MA. Os direitos da criança. 2ªed. Rio de 16. Maia MES, Corrêa MSN. O último recurso
Janeiro: Imago. 1975. clínico e psicológico: HOME a partir dos 3 anos
de idade. In: Corrêa, MSN. Odontopediatria na
7. Klatchoain DA. O comportamento da criança primeira infância. São Paulo: Santos, 1998.
como elemento chave em odontopediatria. J
Bras Odontopediatr Odontol Bebê. 1998; 1:102- 17. Ramos DLP, Leber PM, Corrêa MSN. Uma
9. reflexão a cerca de aspectos psicológicos e éticos
no tratamento odontológico de pacientes infantis.
8. Sandrini JC. Desenvolvimento psicológico da In: Corrêa MSN. Sucesso no atendimento
criança e as técnicas de controle odontopediátrico: aspectos psicológicos. São
comportamental em odontologia pediátrica. Rev Paulo, Santos editora, 2002. p.221-25.
Odontopediatr. 1995; 3:109-18.

Recebido em 05/06/2009 - Aceito em 19/07/2009

Autor correspondente:
Andréa Sarmento Queiroga
Estrada Francisco da Cruz Nunes, 695/ Bl. 2 /403 – Pendotiba
Cep: 24.310-340 - Niterói-RJ
e-mail: [email protected]

Você também pode gostar