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REVISÃO DE LITERATURA

BELUZZO, L. M.; KANASHIRO, L. K.; ANGELIERI, F. ; SANNOMIYA, E. K.

Emprego da radiografia panorâmica no cotidiano


clínico do(a) odontopediatra

Panoramic radiography’s usage in daily clinic of pediatric dentist

Larissa Marchetti BELUZZO*


Lylian Kazumi KANASHIRO**
Fernanda ANGELIERI ***
Eduardo Kazuo SANNOMIYA****

RESUMO
Este estudo pretende realizar uma revisão de literatura a respeito da utilização da técnica radiográfica panorâmica na
Odontopediatria, abordando suas indicações, limitações, proteção contra radiação e suas vantagens. Por ser uma técnica extra-
bucal, é melhor tolerada pelas crianças de diferentes faixas etárias e sua utilização deve estar associada à necessidade de se
obter um número maior de informações da região maxilo-mandibular, tornando-se um excelente meio auxiliar de diagnóstico
para a Odontopediatria, tais como no estudo do crescimento e desenvolvimento dentário, no estudo de anomalias e patologias
dos maxilares. Entretanto, quando houver necessidade de um maior detalhamento, deve ser complementada com outras
técnicas radiográficas.
Palavra-chave: Radiografia panorâmica, Odontopediatria, Radiologia.

ABSTRACT
This study aims to conduct a review of literature concerning the use of radiographic panoramic in pediatric dentistry,
addressing their indications, limitations, protection against radiation and its advantages. Being an extra bucal radiographic
technic is more acceptable by children of different ages and their use must be associated with the need to obtain more
information from the maxillo-mandibular region, making it an excellent way to assist in the diagnosis of pediatric dentistry,
like the study of the dental growth and development, in the study of anomalies and diseases of the jaw. However, it must
be supplemented when need for greater detail and sharpness.
Keywords: Panoramic Radiography, Pediatric Dentistry, Radiology.

* Aluna da Graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo. Trabalho de Conclusão do Curso de
Graduação (TCC) da Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo.
** Professora Titular da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo.
*** Professora Doutora da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo.
**** Professor Titular da Disciplina de Imaginologia e Radiologia Buco Maxilo Facial da Faculdade de Odontologia da Universidade
Metodista de São Paulo.

Revista Odonto • Ano 15, n. 30, jul. dez. 2007, São Bernardo do Campo, SP, Metodista • 17
Emprego da radiografia panorâmica no cotidiano clínico do(a) odontopediatra

INTRODUÇÃO mica em situações práticas do dia-a-dia do


odontopediatra.
A descoberta dos raios X por Wilhelm
Conrad Röentgen em 1895 foi um marco funda- REVISÃO DE LITERATURA
mental e responsável pela evolução dos métodos
de diagnóstico, em especial à área da saúde. No Para uma melhor compreensão da revisão de
campo odontológico, por meio de trabalhos de literatura, esta foi dividida em três tópicos:
Paatero et al, em 1948, obteve-se o desenvolvi-
mento da radiografia panorâmica, permitindo ao 1. Obtenção da radiografia panorâmica e
cirurgião dentista uma visão global da região seus erros
dentomaxilofacial18. 2. Proteção contra radiação ionizante
É fundamental que o cirurgião dentista esta- 3. Emprego da radiografia panorâmica em
beleça critérios para se basear na avaliação dos Odontopediatria
pacientes. Para o correto diagnóstico, o dentista
necessita muitas vezes da clássica tríade de exames 1. Obtenção da radiografia panorâmica e seus erros
clínicos, radiográficos e laboratoriais. Segundo ARAÚJO 3 (1989), para obtermos
O exame clínico precede os demais exames uma cooperação do paciente durante o procedi-
devido a sua importância e cronologia de atuação. mento radiográfico, o profissional deve apresentar
Por essa razão, os exames radiográficos e labo- o aparelho de raios X ao mesmo, explicando os
ratoriais são chamados de exames complementa- procedimentos a serem realizados para ganhar a
res dos dados clínicos13. confiança da criança. O exame radiográfico ofere-
A radiografia panorâmica como meio comple- ce informações que não seriam possíveis de serem
mentar de diagnóstico é extremamente importante observadas clinicamente, porém podem induzir a
e o requisito fundamental para sua boa interpreta- erros, se não for executado de maneira correta,
ção é o conhecimento das estruturas anatômicas e necessitando de repetições.
patológicas. BORGES; SOUZA; ARAÚJO6 (1990) relata-
Nas especialidades odontológicas, em especial ram que todas as repetições radiográficas são in-
na Odontopediatria, a radiografia panorâmica é desejáveis, pois promovem exposição aos raios X
imprescindível, porém nem sempre sendo solici- desnecessária. As radiografias devem ser examina-
tadas pelos cirurgiões-dentistas. das em condições próprias, utilizando o negatos-
A radiografia panorâmica na odontopediatria é cópio e a lupa, para obtermos o máximo de infor-
de extrema importância como auxiliar para o diag- mação possível com o mínimo de erros no
nóstico e o plano de tratamento. Atualmente, está processo de interpretação radiográfica.
confirmado que apesar de um exame clínico minu- ROSA18 (1990) relatou em seu trabalho as di-
cioso das crianças, muitas alterações deixam de ser versas técnicas radiográficas empregadas na
detectadas. Como por exemplo, as anomalias den- odontopediatria e sua importância no contexto de
tárias, alterações patológicas e possíveis variações interpretação e método auxiliar no diagnóstico e
anatômicas. Devido a pouca idade e à hiperativi- planejamento. Neste contexto, destaca a radiogra-
dade dos pacientes infantis, encontra-se maior fa- fia panorâmica, suas indicações e necessidade de
cilidade para a realização dos exames extra-bucais conhecimento por parte do odontopediatra das
quando comparados aos exames intra-bucais16. particularidades que englobam os pacientes infan-
O presente estudo teve como objetivo apre- tis, não só no aspecto anatômico, mas também na
sentar o emprego técnico da radiografia panorâ- técnica radiográfica.

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CAPELLI et al.8 (1991) relataram que pacien- côndilos; cabeça do paciente não ereta, aparecen-
tes infantis, com menos de 12 anos, apresentam do uma faixa radiopaca na região anterior e paci-
dificuldades na obtenção de radiografias peria- ente com lábios entreabertos e ponta da língua
picais, por não possuírem controle sobre suas sem tocar a região do palato.
ações e menor compreensão. Salienta que a radio- PAGNONCELLI; OLIVEIRA16 (1999) afir-
grafia panorâmica é melhor tolerada por ser uma maram que a radiografia panorâmica é um proce-
técnica radiográfica extra-bucal e apresentar uma dimento simples de ser realizado, conveniente ao
visão de toda área dentofacial. A radiografia ne- paciente, sendo que o tempo requerido para o
cessita apresentar uma boa qualidade de imagem, procedimento é mínimo. Várias regiões da maxila
definição, contraste, distorções mínimas das estru- e mandíbula podem ser visualizadas em uma única
turas anatômicas e radiopacidade correta. película radiográfica sendo a dose de radiação
Segundo ALMEIDA; BÓSCOLO; HAITER relativamente baixa, embora não desprezível. Se-
NETO2 (1995), o exame radiográfico pode origi- gundo os autores, uma das desvantagens com
nar imagens incorretas decorrentes de erros na relação à radiografia panorâmica seria a análise de
execução, na preparação e posicionamento do detalhes que necessitam da complementação de
paciente, assim como no manuseio e proces- outras técnicas radiográficas.
samento do filme radiográfico. O aparelho pano- PASSLER; VISSER 17 (2006) relataram em
râmico é bem mais sofisticado que os aparelhos sua obra que para a obtenção de uma radiografia
de raios X odontológicos convencionais, portanto panorâmica com padrão adequado, o técnico deve
é necessário um eficiente treinamento técnico obedecer as seguintes regras: posicionar o pacien-
para que possamos obter radiografias com padrão te verticalmente, com o pescoço alongado, os
aceitável para diagnóstico. Em seu estudo foram ombros abaixados, coluna ereta e os pés juntos;
analisadas 1315 radiografias panorâmicas que plano de Frankfurt paralelo ao solo e o plano
apresentaram erros na obtenção das mesmas, sagital mediano perpendicular ao solo; mento
pertencentes ao Centro Radiológico da Faculdade apoiado na mentoneira, apoio na região frontal e
de Odontologia de Piracicaba, Unicamp. Os auto- a língua contra o palato.
res concluíram a partir deste estudo, que os erros BISSOLI et al.5 (2007) relataram que muitos
mais freqüentes foram devido ao posicionamento cirurgiões dentistas não solicitam a radiografia
da cabeça do paciente, correspondendo a 45,5%, panorâmica no exame inicial . Em seu estudo,
sendo um fator imperativo para a obtenção de verificou que a radiografia panorâmica poderia
uma imagem correta. O erro do posicionamento esclarecer dúvidas clínicas, sendo que das 430
contribui para aumentar o grau de distorção de- dúvidas, 86% foram esclarecidas por meio da ra-
corrente do plano sagital mediano girado, seguido diografia panorâmica. Segundo os autores, os re-
pela inclinação do plano oclusal para cima e sultados, permitiram concluir que para crianças
posicionamento da coluna vertebral. maiores de 5 anos, sugere-se a técnica radio-
LANGLAND; LANGLAIS 11 (2001) descre- gráfica panorâmica complementada a outras téc-
veram em seu livro que os erros mais comuns nicas radiográficas.
observados durante a técnica radiográfica panorâ-
mica são: plano de Frankfurt situado para baixo, 2. Proteção contra radiação ionizante
ocorrendo um estreitamento da radiografia pano- BORGES; SOUZA; ARAÚJO 6 (1990) cita-
râmica, deixando a mandíbula em V; plano de ram que deve ser utilizado o avental plumbífero e
Frankfurt para cima, ocorrendo um alongamento protetor de tireóide para minimizar a radiação
da radiografia panorâmica e perda da imagem dos ionizante durante o procedimento radiográfico.

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Emprego da radiografia panorâmica no cotidiano clínico do(a) odontopediatra

Para PAGNONCELLI; OLIVEIRA16 (1999), complementares que auxiliam o profissional le-


os níveis de radiação, durante o procedimento vando a um diagnóstico e plano de tratamento
radiográfico, encontrados em crianças de 5 a 12 precoce das condições patológicas, devendo ser
anos de idade foram similares aos previamente utilizado no dia-a-dia de sua clínica.
encontrados em adultos, exceto na região da Os autores SALIBA et al.19 (1997) realizaram
tiróide, que apresentou uma maior dose, porque um estudo em crianças com faixa etária entre 6 a
os feixes de raios X se posicionam mais dire- 14 anos de idade, os quais analisaram as diferentes
tamente, devido à diminuição na altura do pesco- fases de mineralização dos elementos dentários
ço e da face. por meio de radiografias panorâmicas. Para tanto,
TRISTÃO et al. 21 (2003) relataram que a na a amostra consistiu de 269 crianças, sendo 127 do
técnica radiográfica panorâmica os pacientes são sexo masculino e 142 do sexo feminino. A análise
protegidos indiretamente utilizando filmes rápidos radiográfica, com relação à mineralização dentária
e écran, porém, continua expondo obrigatoriamen- foi realizada nos elementos dentários da maxila e
te tecidos radiobiologicamente sensíveis. Na tenta- da mandíbula direita e esquerda por intermédio da
tiva de limitar essa radiação são indicados aventais tabela de mineralização de Nolla. Concluiu-se que
plumbíferos para cobrir as regiões radiobiolo- os dentes, tanto superiores como inferiores, nos
gicamente sensíveis. Em seu estudo utilizaram este indivíduos dos sexos masculino e feminino, não
tipo de proteção com tecido plumbífero nas espes- apresentaram grandes diferenças de mineralização
suras de 0.25 e 0.50mm, durante exposições radio- entre o lado direito e esquerdo. Os dentes do
gráficas, verificando que houve uma redução de sexo feminino apresentaram um grau de mine-
aproximadamente 15% da radiação. ralização mais precoce do que os do sexo mascu-
MORAES et al. 13 (2005) concluíram que o lino, em quase todos os dentes analisados.
profissional deve ter bom senso para utilizar os COUTINHO; TOSTES; SANTOS 9 (1998),
recursos disponíveis para a elaboração do diag- em seus estudos, analisaram 324 radiografias pano-
nóstico final, sabendo identificar a necessidade de râmicas de pacientes na faixa etária de 04 a 12
cada exame, dependendo de cada situação, evitan- anos, de indivíduos do sexo masculino e feminino
do exposição à radiação e gastos desnecessários atendidos na FO-USP. O objetivo desta pesquisa
ao paciente. foi identificar as anomalias dentárias mais fre-
qüentes, sendo que a anomalia de número foi a
3. Emprego da radiografia panorâmica mais encontrada (6,5%), com a região ântero-supe-
em Odontopediatria rior concentrando a maioria dos casos (46%). As
complicações associadas mais comuns foram im-
BRUNNER; SANTOS7 (1984) citaram a im- pactação (41%), perda de espaço (36%), giroversão
portância da radiografia panorâmica, na idade pré- (18%) e desvio do trajeto eruptivo (5%).
escolar e escolar, no tratamento da especialidade PAGNONCELLI; OLIVEIRA16 (1999) citaram
de odontopediatria. Entretanto segundo a autora, que a infância é um período dinâmico de cresci-
existem algumas peculiaridades inerentes aos pa- mento e um exame radiográfico satisfatório da
cientes jovens que o profissional deve conhecer e dentição da criança pode ser de grande valia para o
identificar, como por exemplo, a presença de ano- diagnóstico precoce de condições patológicas, sen-
malias dentárias, cronologia de mineralização do a radiografia panorâmica eleita nestes casos.
dentária, tumores odontogênicos, que muitas ve- ACERBI; FREITAS; MAGALHÃES1 (2001)
zes passam despercebidos pelos profissionais. relataram por meio da análise da radiografia pano-
ISSÁO 10 (1995) afirmou que em odonto- râmica de 70 pacientes com Síndrome de Down,
pediatria, as radiografias panorâmicas são exames que 60% apresentaram hipodontia de um ou mais

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elementos e 6% apresentaram dentes supranu- de agenesia em radiografias panorâmicas. O dente


merários. Houve apenas uma ocorrência de paci- que apresentou maior ocorrência de agenesia dental
ente com hipodontia e supranumerário. Os den- foi o segundo pré-molar inferior, seguido pelo pré-
tes mais afetados pela hipodontia foram os molar superior e incisivo lateral superior.
incisivos laterais superiores, segundo pré-molar OLIVEIRA; CORREIA; BARATA 15 (2006)
inferior e segundo pré-molar superior. Constando realizaram uma revisão de literatura e relataram que
uma alta prevalência de pacientes com hipodontia a utilização da radiografia panorâmica deve estar
quando comparada com a população no geral. associada à necessidade de se obter um número
MARQUÊS; SOUKI; MAZZIEIRO12 (2002) maior de informações da região maxilo- mandibu-
afirmaram que no início da dentição mista, deve lar para auxiliar o diagnóstico e avaliações do cres-
ser realizado um exame radiográfico panorâmico cimento e do desenvolvimento dentário, falhas na
associado à técnicas radiográficas interproximais erupção, condições patológicas, dentre outras.
posteriores, para detectar possíveis alterações Entretanto, deve ser complementada quando hou-
dento-maxilo-facial existentes, prevenindo futuras ver necessidade de maiores detalhes e nitidez.
complicações. Em seu estudo os autores avaliaram MORAES; BASTOS; SANTOS14 (2007) avali-
238 radiografias panorâmicas, sendo 116 de indiví- aram 102 radiografias panorâmicas de indivíduos
duos do sexo masculino e 122 do sexo feminino, com síndrome de Down para verificar a idade
tratadas na clínica de ortodontia preventiva e dentária. Foi utilizado um “software” desenvolvido
interceptadora da PUC-MG, objetivando determi- pela disciplina de Radiologia da Faculdade de Odon-
nar a prevalência de anomalias de desenvolvimento tologia de São José dos Campos. Neste “software”
dentários em indivíduos na faixa etária entre 6 e 12 foi utilizada a tabela de cronologia de mineralização
anos. Dentre as anomalias de número, a hipodontia de Nicodemo. A análise mostrou que 70,91% dos
e o supranumerário mostraram uma prevalência de indivíduos do sexo masculino e 61,21% do sexo
9.6% e 4.2%, respectivamente. Considerando a feminino apresentaram idade dentária adiantada.
forma, a microdontia apresentou 0.8%. A anomalia Apenas 32,09% de indivíduos do sexo masculino e
de posição mais expressiva foi de rotação, sendo 38,79% dos indivíduos do sexo feminino apresenta-
60% na mandíbula e 40% na maxila. ram idade dentária atrasada.
BARROSO et al.4 (2002) relataram o caso clí- SANNOMIYA et al. 20 (2007) relataram um
nico de uma criança na faixa etária de 7 anos, que caso de uma criança com 5 anos de idade que
apresentou-se à clínica de Odontopediatria da sofreu traumas faciais aos 4 anos, originando um
Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas. Foi cisto dentígero associado com o incisivo central
solicitada uma radiografia panorâmica, uma vez superior permanente. Radiografias panorâmicas e
que, ao exame clínico observou-se tumefação na periapicais revelaram uma área radiolúcida com
mandíbula. Ao exame radiográfico observou-se a limites radiopacos ao redor do incisivo lateral e do
presença de uma lesão radiolúcida, circundada por canino esquerdo, e reabsorção da raiz do incisivo
um halo radiopaco envolvendo a coroa do dente lateral esquerdo superior. O tratamento foi reali-
45 e relacionada com o 85 que estava tratado zado por meio da aspiração e enucleação; o inci-
endodonticamente. O diagnóstico foi de cisto sivo central superior esquerdo permanente fazia
dentígero e foi realizado a marsupialização. parte do cisto, e, assim, também foi removido. Os
TRISTÃO et al.21 (2003) utilizaram 268 radio- autores relataram a importância da radiografia
grafias panorâmicas de indivíduos na faixa etária de panorâmica neste caso, uma vez, que a alteração
7 a 13 anos, atendidos no ambulatório de patológica comprometeu quase a totalidade da
Odontopediatria da UFES, verificando a freqüência hemimaxila do lado esquerdo.

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Emprego da radiografia panorâmica no cotidiano clínico do(a) odontopediatra

DISCUSSÃO frente ou para trás, o plano de Frankfurt não si-


Para um diagnóstico correto é fundamental a tuado paralelo ao solo; a coluna vertebral curvada;
tríade composta por exame clínico, radiográfico e mento não apoiado; a ponta da língua sem tocar
laboratorial, quando necessário. O exame clínico no palato e os lábios abertos são erros mais
precede os demais devido a sua importância e cro- freqüentes e comuns que os erros técnicos 2,8,11
nologia de atuação 13. O exame radiográfico e o (Figuras 1a, 1b, 2a, 2b, 3a, 3b, 4 e 5).
laboratorial são exames complementares, sendo o
primeiro de fundamental importância no cotidiano
do cirurgião dentista, pois oferece informações que
não seriam observadas clinicamente. Dentre o con-
junto de técnicas radiográficas utilizadas no dia-a-dia
do odontólogo, podemos citar a radiografia panorâ-
mica. Esta é empregada como um meio auxiliar de
diagnóstico por apresentar uma visão geral do com-
plexo maxilo-mandibular do paciente5,6,8,10,16. Haven-
do necessidade de um maior detalhamento de uma
determinada região como nos casos de processos
cariosos, lesão de furca, lesões periapicais , deve-se
FIGURA1A – Plano de Frankfurt para cima Imagem.
complementar com radiografias intra bucais como
periapicais ou interproximais.
Na especialidade de Odontopediatria, muitos
profissionais não solicitam a radiografia panorâ-
mica no exame inicial6, 16. Este exame radiográfico
deve ser solicitado pois é de grande validade para
se detectar precocemente possíveis condições
patológicas e achados radiográficos como: dente
supranumerário, odontoma, anodontia, entre ou-
tros. São alterações de suma importância para
FIGURA 1B – Radiográfica aumentada no sentido latero-
serem diagnosticados precocemente, evitando in-
lateral, corte da imagem da cabeça da mandíbula.
terferências no desenvolvimento dos maxilares e
na oclusão do paciente3.
Para que a radiografia panorâmica seja cor-
retamente realizada de forma a obter maior núme-
ro de informações com o menor número de repe-
tições, é de extrema importância o conhecimento
técnico do profissional. Além disso, falhas nas
projeções, no tempo de exposição, no proces-
samento do filme radiográfico e posicionamento
do paciente, ocasionam radiografias insatis-
fatórias 8. Segundo CAPELLI et al. 8 em 1991 e
ALMEIDA; BÓSCOLO; HAITER NETO2, em
1995, erros de posicionamento no aparelho pano-
râmico como a cabeça do paciente muito para FIGURA 2A – Plano sagital mediano não está perpendi-
cular ao plano horizontal.

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FIGURA 2B – Imagem Radiográfica com distorção no


lado oposto da rotação da cabeça. FIGURA 5 – Mento não tocando a mentoneira.

A escolha da radiografia apropriada para o


paciente infantil depende da avaliação clínica inicial
e do grau de cooperação do paciente. Portanto,
concordamos com BRUNNER; SANTOS7 (1984),
ROSA18 (1990), PAGNONCELLI; OLIVEIRA16
(1999) que afirmaram que a participação da criança
nos procedimentos técnicos para a obtenção de
radiografia é muito importante. Alguns fatores
devem ser ressaltados na análise do envolvimento
participativo da criança. Se a criança tem condições,
basta uma explicação exata dos procedimentos a
FIGURA3A – Coluna vertebral não apresenta-se ereta.
serem aplicados. No entanto, se isto não ocorrer,
faz-se necessário explicar por meio de simbolismo,
o equipamento e as fases do processo. Ambas as
situações requerem a atenção do radiologista para
atingir este objetivo. O radiologista deve estabelecer
um canal de comunicação com a criança, para que
haja sucesso no procedimento.
De acordo com ARAÚJO 3 (1989),
BRUNNER; SANTOS 7 (1984), ROSA 18 (1990),
FIGURA 3B – Imagem radiopaca na região anterior da
radiografia panorâmica.
PASLER; VISSER17 (2006) a abordagem para re-
alização da radiografia panorâmica em grupos de
diferentes idades, requer cuidados específicos. Nas
crianças de idade pré-escolar (3 a 6 anos), realiza-
se o processo como se fosse uma brincadeira.
Primeiro chamar a criança pelo nome, avisar que
será tirada uma “foto dos dentes”, e que quando
o equipamento for acionado a máquina irá se
movimentar em sincronismo com o tubo de apa-
relho de raios X ao redor de sua cabeça, devendo
FIGURA 4 – Lábio entreaberto e língua sitaudo em ficar estático16. Nas crianças de idade escolar (6 a
posição de repouso. 12 anos) e adolescentes (acima de 12 anos de ida-

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Emprego da radiografia panorâmica no cotidiano clínico do(a) odontopediatra

de), estas informações podem ser passadas de puderam ser realizados com o auxílio da radio-
uma forma mais técnica, uma vez que o grau de grafia panorâmica, uma vez que a visualização do
compreensão é maior. complexo maxilo-mandibular foi facilitada com
Durante obtenção da radiografia panorâmica esta técnica, diferentemente se tivessem utilizado
o paciente é irradiado, entretanto, com o emprego técnicas radiográficas intra-bucais. Vale salientar
de filmes rápidos e écrans estes aspectos são que seqüências de erupções dos dentes e anoma-
minimizados,mas não eliminados,principalmente, lias de desenvolvimento, quando detectadas preco-
com relação aos tecidos radiobiologicamente sen- cemente, por meio de radiografias panorâmicas
síveis como gônadas e tecidos linfóides. Por isso, podem reduzir a necessidade de procedimentos
a utilização de avental plumbífero com proteção ortodônticos de longa duração.
frontal e nas costas é necessária, uma vez que es- Um aspecto interessante no atendimento de
tas crianças estão em fase de desenvolvimento. A
pacientes de odontopediatria é o processo de
quantidade de radiação necessária para se obter
desenvolvimento da dentição permanente e a cro-
radiografias panorâmicas é pequena em relação
aos benefícios6, 8,16. nologia de mineralização, que pode ser facilmente
A odontopediatria é uma especialidade na observada nas radiografias panorâmicas por meio
Odontologia, que se dedica a uma fase de cresci- das tabelas de NOLLA e NICODEMO, onde
mento e desenvolvimento do indivíduo, em que o estágio 7 de NOLLA apresenta condições de
há uma grande prevalência de achados radiográ- erupção e quando atinge o estágio 8 de NOLLA7
ficos16. Estudos como os de COUTINHO; TOS- o dente em questão está em condições de entrar
TES; SANTOS 9 (1998), PAGNOCELLI; OLI- em oclusão com o antagonista. BRUNNER;
VEIRA 16 (1999), MARQUÊS; SOUKI; SANTOS7 (1984), ISSÁO 10 (1995), OLIVEIRA;
MAZZIEIRO12 (2002), TRISTÃO et al.21 (2003), CORREIA; BARATA15 (2006) estudaram a cro-
utilizaram a radiografia panorâmica como ferra- nologia de mineralização com o auxílio da radio-
menta de pesquisa em crianças. Diversos estu- grafia panorâmica, em indivíduos ditos “normais”,
dos1,5,6,12,21 avaliaram anomalias dentárias que aco-
ou seja, sem síndromes. ACERBI; FREITAS;
meteram esta faixa etária desde agenesias,
MAGALHÃES 1 (2001), MORAES; BASTOS;
presença de dentes supranumerários, taurodon-
tismo, observação de restaurações e cistos dentá- SANTOS 14 (2007) realizaram o mesmo estudo
rios. As anomalias de desenvolvimento mais co- com o emprego de radiografia panorâmica, utili-
muns em crianças são supranumerários na região zando um programa de computador especialmen-
anterior superior e agenesias de pré-molares, sen- te desenvolvido para este estudo, em indivíduos
do na seqüência de segundo pré-molar inferior, com síndrome de Down. A autora, em sua discus-
segundo pré-molar superior e incisivo lateral e são, enfatiza a importância da técnica panorâmica
raramente os caninos superiores, conforme Figura neste estudo uma vez que estes indivíduos são
6. Segundo os autores 7,10,12,16 , estes estudos só dispersos e difíceis de serem submetidos a técni-
cas radiográficas intra-bucais.
Em casos de alterações patológicas como cis-
tos e tumores, a técnica radiográfica panorâmica
é de grande importância, uma vez que para os
especialistas que irão atuar no tratamento destas
afecções, a visualização da extensão da lesão e sua
relação com estruturas anatômicas nobres e ele-
mentos dentários apresentam grande importância
previamente ao seu tratamento. Este fato pode ser
FIGURA 6-Agenesia de canino superior lado esquerdo. comprovado com os relatos de casos clínicos ci-

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BELUZZO, L. M.; KANASHIRO, L. K.; ANGELIERI, F. ; SANNOMIYA, E. K.

tados por BARROSO et al. 4 (2002) e REFERÊNCIAS


SANNOMIYA et al.20 (2007), na qual relataram a
importância do exame radiográfico panorâmico 1. ACERBI, A. G.; FREITAS, C.; MAGALHÃES, M. H. C. G.
Prevalence of numeric anomalies in the permanent dentition of
nos casos de cistos dentígeros conforme Figura 7.
patients with Down syndrome. Spec Care Dentistry, v. 21, n. 2, p.
75-78, 2001.
2. ALMEIDA, S. M.; BÓSCOLO, F. N.; HAITER NETO, F. Erros
em radiografia panorâmica. Robrac, v. 5, n. 16, p. 25-29, Dez. 1995.
3. ARAÚJO, L. C. Radiografia panorâmica e sua aplicação em
odontopediatria. São Paulo, 1989. 101 p, Dissertação (mestrado)-
Faculdade de Odontologia de São Paulo, Universidade de São Paulo.
4. BARROSO, D. S; HANEMANN, J. A. C.; ARAÚJO, O. M. B.;
PEREIRA, M. C. Cisto dentígero na infância- Relato de caso e
revisão de literatura. J. Bras. Odontopediatr, v. 5, n. 27, p. 364-
369, Set./Out. 2002.
5. BISSOLI, C. F; CASTILHO, J. C. M; MEDICI FILHO, E;
MORAES, L. C; MORAES, M. E. L; DAVID, A. F. “Importância
FIGURA 7- Cisto Dentígero Incisivo Central Superior da radiografia panorâmica no dia a dia do cirurgião dentista”. Rev.
lado Esquerdo. Assoc. Paul. Cir. Dent, v. 9 , n. 61, p. 9-11, Abril. 2007.
6. BORGES, M. R; SOUZA, I. F; ARAÚJO, F. B. Radiologia em
A radiografia panorâmica apresenta limita-
odontopediatria: importância e indicações. Rev. Fac. Odontol.
ções, pois trata-se de um meio auxiliar de diagnós- Porto Alegre, v. 30, n. 31, p. 12-15, 1990.
tico e não um meio conclusivo; os tecidos moles 7. BRUNNER, V; SANTOS, N. P. Radiologia em odontopediatria,
não podem ser observados por meio do exame In: BOTTINO, M. A.; FELLER, C. Atualização clínica em
odontologia. São Paulo: Artes Médicas. 1984. p. 175-180.
radiográfico e deve ser complementada com ou- 8. CAPELLI, J; MAROTTI, M; LEITE, V. M; ROCHA, R. G. Ava-
tras técnicas radiográficas, mas, o discernimento liação de interesse clínico entre a radiografia panorâmica e o con-
do profissional é de fundamental importância para junto periapical aplicado à clínica odontológica. Rev. Inst. Ciênc.
Saúde, v. 9, n. 2, p. 59-68, Jul./Dez. 1991.
as indicações. Trata-se de uma importante ferra-
9. COUTINHO, T. C. L; TOSTES, M. A; SANTOS, M. E. O.
menta para o auxílio no diagnóstico e plano de Anomalias dentárias em crianças: um estudo radiográfico. Rev.
tratamento dos pacientes infantis.7,14. Odontol. Univ. São Paulo, v. 12, n.1, Jan./Mar. 1998.
10. ISSÁO, M. A importância da radiologia em odontopediatria, In:
ROSENTHAL, E. Cem anos da descoberta dos raios X. São
CONCLUSÃO
Paulo: IMOSP. 1995. p. 130.
11.LANGLAND, O; LANGLAIS, R. P. Principles of dental
Após a revisão de literatura podemos concluir que: imaging. Pennsylvania: Willians e Wilkins, 2001.
1. Os pacientes infantis apresentam uma mai- 12. MARQUÊS, L. S; SOUKI, B. Q; MAZZIEIRO, E. T. Diagnós-
tico de anomalias do desenvolvimento dentário: um estudo
or facilidade de aceitação das técnicas radio- radiográfico. J. Bras. Odontopediatr, v. 5, n. 28, p. 464-469, Nov./
gráficas extra-bucais, sendo as radiografias pano- Dez. 2002.
râmicas um ótimo meio auxiliar de diagnóstico, 13. MORAES, M. E. L; MORAES, L. C; MÉDICI FILHO, E;
CASTILHO, J. C. M; DAVID, S. M. N. É possível elaborar o diag-
pois oferecem valiosas informações à especialida-
nóstico apenas com o exame radiográfico?. Rev. Assoc. Paul. Cir.
de de Odontopediatria, permitindo um estudo Dent, v. 9, n. 49, p. 14-17, Abril. 2005.
amplo do complexo maxilo-mandibular no seu 14. MORAES, M. E. L.; BASTOS, M. S.; SANTOS, L. R. A. Idade
período mais dinâmico de crescimento. dentária em pacientes com síndrome de Down. Braz. Oral Res, v.
21, n. 3, p. 259-264, 2007.
2. A radiografia panorâmica deve ser com-
15. OLIVEIRA, M. M. N.; CORREIA, M. F.; BARATA, J. S. As-
plementada com outras técnicas radiográficas pectos relacionados ao emprego da radiografia panorâmica em pa-
intra-bucais como periapical e interproximal, cientes infantis. Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre, v. 47, n. 1, p.
quando houver necessidade. 15-19, Abril. 2006.
16. PAGNONCELLI, S. D; OLIVEIRA, F. A. M. A utilização da
radiografia panorâmica como uma opção de diagnóstico

Revista Odonto • Ano 15, n. 30, jul. dez. 2007, São Bernardo do Campo, SP, Metodista • 25
Emprego da radiografia panorâmica no cotidiano clínico do(a) odontopediatra

radiográfico inicial em odontopediatria. J. Bras. 21. TRISTÃO, M. C; GOMES, A. M. M; VALLE, M. A. S; GO-


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17. PASLER, F. A; VISSER, H. Radiologia odontológica. 1 ed. 337-341, Set./Out. 2003.
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