Qualidade de Vida Na Esquizofrenia - Escala Calgary PDF
Qualidade de Vida Na Esquizofrenia - Escala Calgary PDF
Qualidade de Vida Na Esquizofrenia - Escala Calgary PDF
Belo Horizonte
2005
2
Belo Horizonte
2005
3
NLM: WM 203
CDU: 616.895.8
4
Reitora
Profª Ana Lúcia Almeida Gazzola
Vice Reitor
Prof. Marcos Borato Viana
Pró-Reitor de Pós-Graduação
Prof. Jaime Arturo Ramires
Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. José Aurélio Garcia Bergmann
FACULDADE DE MEDICINA
Diretor
Prof. Geraldo Brasileiro Filho
Sub-coordenadora
Profª. Sândhi Maria Barreto
COLEGIADO
Profª. Ada Ávila de Assunção
Profª. Eli Iola Gurgel de Andrade
Profª. Elizabeth França
Prof. Fernando Augusto Proietti
Profª. Maria Fernanda FurtadoLima-Costa
Profª. Mariângela Leal Cherchiglia
Profª. Waleska Teixeira Caiaffa
Representante discente
Elaine Leandro Machado
Lorenza Nogueira Campos
Paulo Cezar Rodrigues Pinto Corrêa
Roberto Marini Ladeira
5
Folha de aprovação
6
7
AGRADECIMENTOS
Á minha orientadora: Waleska T. Caiaffa, pela orientação sábia e por ter se tornado
A todos os meus Co-orientadores: mais uma vez obrigada pela parceria e sintonia.
Aos meus amigos: por estar sempre ao meu lado, mesmo quando eu não podia...
profissionalismo.
Aos colegas do GPW (Grupo de estudo dos orientandos da profª. Waleska): pela
logístico.
Sartre
10
RESUMO
Introdução: A avaliação da qualidade de vida (QV) emergiu nas últimas décadas como um
conceito importante. O impacto das doenças crônicas bem como das intervenções terapêuticas
passaram a ser avaliadas em termos de sua influência na QV. A partir da validação de uma
escala de QV para o Brasil, este estudo teve como objetivo investigar os fatores associados
com a QV em pacientes com diagnóstico de esquizofrenia. Método: Foi conduzido um estudo
seccional para avaliação da QV de pacientes em tratamento ambulatorial, recrutados de dois
Centros de Referência em Saúde Mental de duas cidades em Minas Gerais. A amostra total
incluiu 123 pacientes de Divinópolis e 150 de Belo Horizonte. As entrevistas foram
conduzidas tendo o próprio paciente como informante. Foram utilizados os seguintes
instrumentos: escala de qualidade de vida QLS-BR, um questionário contendo informações
clínicas e sócio-demográficas e a escala Calgary de depressão incluída para o CERSAM de
Belo Horizonte. Comparações das características dos pacientes foram feitas por meio do Qui-
quadrado, teste exato de Fisher ou teste de Mann-Whitney. Foram conduzidas análises
multivariadas utilizando regressão logística binária, ordinal e árvore de decisão pelo algoritmo
CHAID e CART. Resultados: Considerando os pacientes de Divinópolis, baixa QV na escala
global esteve associado com ser do sexo masculino e estar solteiro. Associou-se à baixa QV
nos domínios específicos: baixa renda e baixa escolaridade, relato do uso de três ou mais
medicamentos e ter se apresentado agitado durante a entrevista. Investigações da QV por sexo
mostraram diferenças na QV de homens e mulheres, sobretudo no domínio ocupacional, onde
mulheres apresentaram melhor QV quando comparadas aos homens. Homens e mulheres
solteiros apresentaram baixa QV quando comparados com seus pares casados. Duração maior
da doença (> 5 anos) foi o segundo marcador em importância para homens e mulheres,
entretanto, no modelo logístico associou-se à baixa QV somente no sexo masculino. Para os
pacientes de Belo Horizonte, foi encontrada uma prevalência de 56% de depressão. Pacientes
deprimidos apresentaram pior QV na escala global e domínio ocupacional. Em pacientes com
pior QV, presença de sintomas da doença, número de medicamentos e ausência de atividades
no lar se mostraram associados com a depressão, enquanto para aqueles com melhor QV,
apenas duração da doença foi importante. Conclusão: As implicações mais importantes desse
estudo é que os serviços de saúde devem ser incentivados a identificar estratégias para
promover a QV dos pacientes, abordando alguns aspectos específicos levantados nesta
investigação, considerando que, manter ou melhorar a QV dos pacientes tem se tornado o
principal objetivo da saúde mental.
Abstract
Introduction: Evaluation of the quality of life (QOL) emerged in the last decades as an
important concept. The impact of chronic illnesses as well as therapeutic interventions has
been evaluated under the view of QOL. This study aimed to investigate the socio-
demographic and clinical variables related to a low QOL in patients with schizophrenia.
Method: A cross-sectional study was carried out in order to evaluate the QOL in outpatients,
attending two Reference Centers for Mental Health Care in two cities located in Minas Gerais
State. The sample included 123 outpatients from Divinópolis and 150 from Belo Horizonte
City. All patients were interviewed using the QOL-BR scale and a clinical and socio-
demographic questionnaire. In one site, a specific scale for depression - the Calgary scale -
was also included. Comparisons between patients’ characteristics had been made using of the
Qui-square, Fisher’s or Mann-Whitney test. Multivariate analyses included: binary, ordinal
logistic regression and decision’s tree using CHAID and CART algorithms. Results:
Considering the patients from Divinópolis, low QOL in the global scale was associated with:
being male and single. The associated factors with low QOL in the specific domains were:
low income, low education level, being under the prescription of three or more psychiatric
medications, having demonstrated psychomotor agitation during the interview and being
under follow-up care. Differences in the QOL for men and women were found, especially in
the occupational domain, where women had better QOL than men. Single men and women
presented lower QOL than their married pairs. Longer duration of the illness (> 5 years),
although significant for both men and women, in the logistic model remained associated only
with men. Patients from Belo Horizonte presented a prevalence of 56% of depression.
Depressed patients had lower QOL in the global scale and occupational domain. For patients
with low QOL, presence of symptoms, number of medicines taken and absence of home
activities were associated with depression, while for those with better QOL, only duration of
the illness remained associated. Conclusion: Improving the QOL of schizophrenic patients
has been one of the most important objective in the mental health care. The identification of
specific aspects pointed out in this investigation may help health services to build up
strategies aiming to promote the QOL of their patients.
Key words: Quality of life; Schizophrenia; QLS-BR Scale; Factors associates, differences
between women and men; depression in the Schizophrenia.
12
SUMÁRIO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................................................................13
2. OBJETIVOS..............................................................................................................................................................................16
3. ARTIGO 1: FATORES ASSOCIADOS COM A BAIXA QUALIDADE DE VIDA NA ESQUIZOFRENIA..............................................17
RESUMO............................................................................................................................................................................................................. 19
ABSTRACT………………………………………………………………………………………………………………………………………..20
INTRODUCÃO ................................................................................................................................................................................................... 21
MÉTODO ............................................................................................................................................................................................................ 23
RESULTADOS ................................................................................................................................................................................................... 26
DISCUSSÃO ....................................................................................................................................................................................................... 29
4. ARTIGO 2: QUALIDADE DE VIDA E DIMENSÃO OCUPACIONAL NA ESQUIZOFRENIA: UMA COMPARAÇÃO POR SEXO .........45
RESUMO............................................................................................................................................................................................................. 47
ABSTRACT ........................................................................................................................................................................................................ 48
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................................................... 49
MÉTODO ............................................................................................................................................................................................................ 51
RESULTADOS ................................................................................................................................................................................................... 54
DISCUSSÃO ....................................................................................................................................................................................................... 57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................................................63
ABSTRACT ........................................................................................................................................................................................................ 77
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................................................... 78
MÉTODO ............................................................................................................................................................................................................ 80
RESULTADOS ................................................................................................................................................................................................... 83
DISCUSSÃO ....................................................................................................................................................................................................... 86
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................................93
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O tema desta investigação surgiu de um interesse durante minha atuação enquanto bolsista de
iniciação cientifica1. O estudo investigava a competência social de pacientes psicóticos
desinstitucionalizados de hospitais psiquiátricos, na região de São João Del Rei, MG. No
decorrer do estudo, as condições de vida desses pacientes, chamaram a atenção, tais como, o
relato pelo paciente de intenso sofrimento, decorrente das repercussões deteriorantes de uma
doença crônica, marcado principalmente pelo isolamento social além de intenso sofrimento
dos familiares. Outro fato que despertou a atenção foi o alto índice de tentativas ou de suicídio
propriamente dito nesta população. Isto acontecia, na grande maioria das vezes, de forma
cruel, causando forte impacto. Estas circunstâncias nos despertaram para a possibilidade de
futuras investigações. Neste contexto, a Qualidade de Vida foi então pensada.
Dentro desta proposta, deparamos com escassez de estudos no Brasil envolvendo a temática
da qualidade de vida, bem como a ausência de instrumentos de avaliação validados no país.
Diante deste fato, conduzimos um estudo de validação para o Brasil, de uma escala de QV na
esquizofrenia, como tema da dissertação de mestrado.
O resultado deste processo foi um instrumento adaptado e validado para o Brasil2, somando-
se a dois artigos publicados em periódicos3,4. O estudo de validação foi conduzido de acordo
com metodologia internacionalmente recomendada.
1
BANDEIRA, M; TREMBLEY L. Avaliação da Competência Social de Psicóticos. Um estudo observacional do
comportamento verbal e não verbal. Projeto de pesquisa intercultural Brasil e Canadá.
2
Escala de qualidade de vida para pacientes com esquizofrenia. Disponível em:
http://saudepublica.medicina.ufmg.br/dissert_teses.htm ou http://www.ufsj.edu.br/Pagina/qualidadevida/
3
CARDOSO, C. S; CAIAFFA, W.T; BANDEIRA, FONSECA, J.O.P. Escala de qualidade de vida para
pacientes com esquizofrenia - QLS-BR: Adaptação transcultural para o Brasil. Jornal Brasileiro de Psiquiatria,
v. 51, p. 31-38, 2002.
4
CARDOSO, C. S; CAIAFFA, W.T; BANDEIRA, M; SIQUEIRA, A.L; FONSECA, I.K; FONSECA J.O.P.
Qualidades psicométricas da escala de qualidade de vida para pacientes com esquizofrenia: Escala QLS-BR.
Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 52, p. 211-222, 2003.
14
Nesta etapa dos trabalhos, a avaliação da QV foi meramente descritiva, uma vez que o
objetivo era investigar as propriedades de medidas do instrumento. Entretanto, estas análises
já apontaram para a necessidade de uma investigação mais detalhada da QV, como por
exemplo, os fatores associados com uma mais baixa QV nos pacientes.
Dentro desta perspectiva surgiu a proposta de continuidade desta investigação para o trabalho
de doutorado, com projeto submetido e aprovado pela FAPEMIG5, Fundação de Amparo a
Pesquisa e Ensino de Minas Gerais.
Utilizando o banco de dados do estudo de validação da escala para o Brasil, foi conduzida a
primeira investigação. Seu principal objetivo foi avaliar os fatores associados com a baixa
qualidade de vida na esquizofrenia. Este trabalho resultou no primeiro de três artigos
propostos para o doutorado 6. Apontou fatores importantes associados com a baixa qualidade
de vida, abrindo possibilidades para outra investigação mais detalhada, sob o enfoque das
diferenças entre os sexos. Este artigo foi publicado pelos Cadernos de Saúde Pública e está
apresentado no item três desta Tese.
5
CAIAFFA, W.T; CARDOSO, C.S. Qualidade de Vida Na Esquizofrenia: Fatores associados. Projeto de
Doutorado. CDS 301/2002.
6
CARDOSO, C. S; CAIAFFA, W.T; BANDEIRA, M; SIQUEIRA, A.L; ABREU, M.N.S, FONSECA, J.O.P.
Factors Associated with a Low Quality of Life in Schizophrenia. Cadernos de Saúde Pública. Em publicação.
2005.
7
CARDOSO, C. S; CAIAFFA, W.T; BANDEIRA, M; SIQUEIRA, A.L; ABREU, M.N.S, FONSECA, J.O.P.
Qualidade de vida e dimensão ocupacional na esquizofrenia: Uma comparação por sexo. Cadernos de Saúde
Pública. 2005. Submetido
15
outras. Dessa forma, propôs-se um novo projeto, com a inclusão de mais um Centro de
Referência em Saúde Mental, em um centro urbano, Belo Horizonte MG. Esta proposta
permitiria a comparação entre os dois serviços com a mesma proposta terapêutica, embora já
antecipássemos diferenças relativas não apenas quanto ao porte da cidade, mas também
possíveis diferenças culturais e de inserção do paciente.
Em Belo Horizonte, foi conduzido um estudo seccional com uma amostra de 150 pacientes,
incluídos de acordo com os mesmos critérios da investigação anterior. Além de um
questionário clinico e sócio-demográfico mais ampliado e a escala QLS-BR foi também
incluído um outro instrumento, a escala Calgary de depressão na esquizofrenia. Instrumento
validado para o Brasil e que apresentava boas características de medidas, no que se referia à
validade e confiabilidade8.
Dentre da temática Qualidade de Vida na Esquizofrenia foi conduzida esta Tese, requisito
parcial para a obtenção do título de Doutora, no Programa de Pós-Graduação em Saúde
Pública, área de concentração em Epidemiologia, inserida na linha de pesquisa Saúde e
Urbanização da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG.
Optou-se pela apresentação da Tese em forma de artigos científicos, conforme regulamento
deste programa.
8
BRESSAN, R.A; CHAVES, A.C; SHIRAKAWA, I; MARI, J.J. Validity study of the Brazilian Version of the
Calgary Depression Scale for Schizophrenia. Schizophrenia Research, v. 32, p. 41-49, 1998.
9
CARDOSO, C. S; CAIAFFA, W.T; BANDEIRA, M; SIQUEIRA, A.L; ABREU, M.N.S, FONSECA, J.O.P.
Depressão na Esquizofrenia: Prevalência e relacionamento com a qualidade de vida. 2005. A definir submissão
16
2. OBJETIVOS
3. ARTIGO 1
Publicado nos Cadernos de Saúde Pública, 21 (5): 1338-1348, set- out, 2005.
Páginas: 17-44
18
Lucia Siqueira** , Mery Natali Silva Abreu +,**, José Otávio Penido Fonseca *,+.
*
Departamento de Medicina Preventiva e Social, Programa de Pós-graduação em Saúde
Autor responsável:
Clareci Silva Cardoso
Grupo de Pesquisas em Epidemiologia/ FM-UFMG
Av. Alfredo Balena 190/ Sala 8.013
Bairro Santa Efigênia, Belo Horizonte MG
Cep: 30130-100. Telefax (31) 3248-9949
Endereço eletrônico: [email protected] ou [email protected]
19
Resumo
O interesse na qualidade de vida (QV) na saúde mental foi estimulado pelo processo de
desinstitucionalização dos pacientes psiquiátricos e um paralelo interesse em conhecer as
dimensões de sua vida diária. Esse estudo teve como objetivo investigar as variáveis sócio-
demográficas e clínicas relacionadas com uma baixa QV. Foi conduzido um estudo
transversal para avaliação da QV através da escala QLS-BR em uma amostra de 123 pacientes
ambulatoriais com diagnóstico de esquizofrenia, recrutados do serviço de referência em saúde
mental de Divinópolis, MG. Os dados foram analisados utilizando-se regressão logística
multivariada. Os resultados indicaram que um pior escore de QV estava associado ao sexo
masculino, ser solteiro, ter renda e escolaridade baixas, estar em uso de três ou mais
medicamentos, ter apresentado agitação psicomotora na entrevista e estar fazendo
acompanhamento ambulatorial. Esse estudo aponta indicadores plausíveis para a atenção e
cuidado do portador de sofrimento mental.
Palavras chaves: esquizofrenia; escala QLS-BR; qualidade de vida; saúde mental.
20
Abstract
The interest in the quality of life (QOL) in mental health care has been stimulated by the
deinstitutionalization of psychiatric patients as well as a parallel interest in understanding the
scope of their daily lives. This study aims to investigate the sociodemographic and clinical
variables related to a lower QOL, using a cross-sectional design to evaluate the QOL by
means of the QLS-BR scale. A sample of 123 outpatients from a reference mental health
center, in Divinópolis, in the state of Minas Gerais, clinically diagnosed with schizophrenia,
was interviewed. Univariate and multivariate logistic regression analyses were carried out.
The results showed that a lower quality of life is associated with one or more of the following:
being male, being single, having a low income in addition to a low level of education, being
under the prescription of three or more psychiatric medications, having demonstrated
psychomotor agitation during the interview and being under follow-up care. This study points
out to plausible indicators to the attention and care necessary in order to improve the mental
patients’ treatment.
Key words: schizophrenia; quality of life; mental health; QLS-BR scale.
21
INTRODUÇÃO
Não existe um único e universal conceito de QV. Embora a OMS em sua definição focalize a
perspectiva de avaliação subjetiva dos pacientes com relação aos diferentes domínios de sua
14
vida , estudos recentes apontam que ambos indicadores, objetivos e subjetivos, são
necessários para a conceituação da QV. Tais investigações consideram esse conceito,
embutido de noção social e cultural de saúde e doença, justificando, portanto, a necessidade
15 16, 17
de estudos interculturais , seja na validação de instrumentos de medida , ou na
2, 15
investigação dos fatores associados à QV .
22
No contexto brasileiro, até o momento, não foram encontrados estudos sobre os fatores
associados com a baixa QV em pacientes com esquizofrenia, carência esta que poderia ser
atribuída à ausência de instrumento de avaliação validado no país.
16, 17
A partir de um estudo recente de validação de uma escala de QV para o Brasil , este
estudo propõe investigar os fatores clínicos e sócio-demográficos associados com a baixa QV
medidas pela escala QLS-BR, em pacientes com diagnóstico de esquizofrenia.
23
MÉTODO
Amostra
Área do estudo
Procedimento
Os pacientes foram convidados a participar do estudo, sistematicamente, por até três vezes,
através de telegrama ou telefonema, solicitando seu comparecimento no serviço. Após assinar
o consentimento informado, cada paciente participou de uma entrevista semi-estruturada,
conduzida por três entrevistadores previamente treinados.
Todos os princípios éticos contidos na declaração de Helsinki (1996) foram observados, sendo
o projeto aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal de Minas
Gerais/ UFMG, sob parecer 035/01.
Análise de dados
O procedimento backward foi utilizado para a seleção de covariáveis. Tal critério consistiu
em selecionar inicialmente todas variáveis que na análise univariada apresentaram valor-p ≤
18
0,25 , com exceção de sexo, idade e tempo de tratamento psiquiátrico que entraram no
modelo independentemente do valor-p apresentado, por serem descritas na literatura como
21, 22, 23, 24
importantes preditores da QV . Ajustou-se um modelo logístico, eliminando
individualmente as variáveis. Foi considerado como critério para permanência das variáveis
no modelo final se valor-p ≤ 0,05. Foi utilizado o software estatístico SPSS 11.5.
26
RESULTADOS
A idade média dos pacientes foi de 37,5 anos, sendo a maioria do sexo masculino (60,2%)
com menos de três anos de escolaridade (75,6%). Quase metade morava com os pais (48,8%).
Um grande percentual era de indivíduos solteiros (74,8%), com renda familiar de 1 a 2
salários mínimos (54,1%) e residindo com cinco ou mais pessoas (68,3%). A maioria possuía
diagnóstico de esquizofrenia paranóide (87,8%), com duração da doença acima de seis anos
(61,8%). Grande percentual usava três ou mais medicamentos (56,9%) e se mantinha em
tratamento ambulatorial (82,1%). Em relação à história de internação, cerca de 27% relatou
nunca ter sido internado. A grande maioria se mostrou tranqüilo durante a entrevista (95,1%)
e um pequeno número de pacientes apresentou atividade delirante (6,5%). A entrevista durou
em média uma hora.
Para a escala global com os 21 itens, como destaque em negrito na Tabela 1, todas as
variáveis sócio-demográficas preencheram o critério univariado (valor-p ≤ 0,25) com exceção
do número de pessoas na residência. Das variáveis clínicas, quatro preencheram o mesmo
critério: diagnóstico (p=0,17), tempo de tratamento (p=0,22), estado do paciente na entrevista
(p=0,19) e presença de atividade delirante (p=0,04).
Para a o escore global de qualidade de vida, isto é, com todos os 21 itens, observou-se que os
homens apresentaram 2,5 vezes mais chance de estar na faixa de baixa QV que as mulheres,
enquanto ser solteiro associava-se três vezes a chance de baixa QV (OR= 3,04) quando
comparado com os casados. O nível sócio-econômico, apesar de se mostrar limítrofe OR=
2,20 (IC: 0,98; 4,90), indicou que renda familiar menor ou igual a dois salários mínimos
aumentava cerca de duas vezes a chance do paciente apresentar pior QV em relação a uma
renda superior. Nenhuma variável clínica esteve associada à QV global.
Para a qualidade de vida especificamente referente ao domínio da rede social, apenas duas
variáveis estiveram independentemente associadas no modelo final. Escolaridade baixa
apresentou 2,9 vezes a chance de um pior escore de QV quando comparada com maior
escolaridade, assim como estar fazendo tratamento ambulatorial aumentou cerca de três vezes
a chance de uma pior QV (OR= 3,11), quando comparado com outros tipos ou nenhum
tratamento.
Para a qualidade de vida relativa ao domínio ocupacional, o sexo masculino apresentou 4,0
vezes mais chance de ter pior QV em relação ao sexo feminino. Já o estado civil solteiro
associou-se cerca de seis vezes com maior chance de baixa QV neste domínio em relação aos
pacientes casados (OR= 6,02).
28
Das variáveis que foram incluídas no modelo, devido à sua relevância clínica, apenas sexo
permaneceu no modelo final. A idade e tempo total de tratamento, não foram significativos
para um baixo escore de QV no modelo ajustado.
29
DISCUSSÃO
Esse estudo apontou que, ser do sexo masculino, ser solteiro, ter escolaridade e renda
baixas foram importantes variáveis sócio-demográficas associadas com baixo escore de
QV em pacientes com esquizofrenia. Além destas, três variáveis clínicas estiveram também
associadas à baixa QV, que foram: estar em uso de três ou mais medicamentos, estar
fazendo tratamento ambulatorial e ter apresentado agitação psicomotora à entrevista. Um
outro achado desse estudo é que distintas variáveis estiveram associadas à baixa QV na
escala global e nos domínios específicos.
Estes resultados confirmam que na esquizofrenia, apesar das diferentes áreas estarem inter-
relacionadas as disfunções podem funcionar de forma independente, tendo como
25
conseqüência diferentes fatores preditores . Paralelamente a estes achados, outras
investigações sugerem que o escore global de QV tem se mostrado inconsistente com o
escore em áreas específicas 26, justificando, portanto, a realização de uma análise separada
dos fatores associados à baixa QV nos domínios específicos e na escala global. Outras
investigações apontam que o melhor modelo preditivo da QV é obtido quando se combina
25
características sócio-demográficas e clínicas , assim como indicadores objetivos e
subjetivos 27.
Os resultados das associações encontradas neste estudo parecem estar coerentes com
achados da literatura. O sexo masculino é descrito como preditor da pior QV e sua
importância tem sido apontada em vários estudos 8, 15, 23. Entre mulheres, o curso da doença
e a situação de vida são vistas como mais favoráveis, e desta forma, elas se mostram mais
satisfeitas do que os homens 25.
Neste contexto, ser solteiro parece ser uma variável importante para baixa QV, há relatos
que homens com diagnóstico de esquizofrenia apresentam maior probabilidade de
23
permanecerem solteiros . Neste estudo, esta variável associou-se a uma baixa QV tanto
na escala global, quanto no domínio ocupacional e no domínio intrapsíquico e relações
interpessoais, mesmo quando ajustado por sexo.
esquizofrenia e QV, sendo que o melhor nível educacional associou-se com melhor estado
29
psicopatológico na evolução da doença , no melhor nível de ajustamento, no
21 30
funcionamento social e na maior satisfação com a vida . Entretanto, divergências
existem na literatura quanto à relação entre qualidade de vida e baixa escolaridade na
esquizofrenia. Em países subdesenvolvidos, os pacientes com níveis educacionais mais
altos teriam uma pior evolução da doença, devido às demandas e expectativas sociais mais
altas comparativamente aos pacientes com baixa escolaridade. Um estudo brasileiro sobre
ajustamento social na esquizofrenia, área extremamente relacionada com qualidade de
21
vida, a baixa escolaridade foi preditora de pior funcionamento social , assim como no
presente estudo, onde ela se manteve associada à baixa QV no domínio social.
É possível que pacientes inseridos no serviço de Divinópolis, por não terem adquirido
conhecimento educacional mínimo, apresentassem poucas habilidades para lidar com as
demandas e expectativas sociais de uma cidade em desenvolvimento, refletindo em uma
maior probabilidade do paciente relatar baixa QV em itens que requerem envolvimento e
interação social. Outros estudos conduzidos no Brasil têm indicado que o nível educacional
está associado com padrões de utilização dos serviços, comportamentos e capacidade de
21, 31
compreender mensagens de educação e saúde , o que em última instância poderá
associar-se a uma definição de qualidade de vida, seja alta ou baixa.
No presente estudo, a renda abaixo de dois salários mínimos associou-se a um baixo escore
de QV somente na escala global (OR=2,20). Pode-se notar que indivíduos com renda
menor que 3 salários apresentavam duas vezes mais chance de ter baixa QV. A avaliação
da QV tem mostrado que os pacientes psiquiátricos estão menos satisfeitos com suas
7, 32
finanças do que com outros domínios , apesar de outros estudos terem encontrado
resultados contraditórios relacionando condições objetivas de vida e percepção subjetiva
dessas condições. Ou seja, de acordo com a percepção do paciente, um bom padrão de vida
pode não refletir em boa QV 33, 34.
Em uma análise bivariada dos dados foi encontrada uma associação significativa entre
número de medicamentos e renda, onde o maior percentual dos pacientes que tomavam três
ou mais medicamentos (60%) possuía melhor renda familiar. Como, praticamente, todos os
medicamentos são disponibilizados pelo SUS, esta associação não pode ser facilmente
explicada pela facilidade de aquisição da medicação. Uma possibilidade seria que
indivíduos de maior renda familiar poderiam apresentar maior nível de informação e/ou
maior envolvimento familiar no tratamento medicamentoso, podendo inclusive estar
gerando um maior número de medicamentos prescritos.
A utilização dos serviços é uma variável muito utilizada em estudos de QV. Um estudo
mostrou que quanto maior era a autonomia do paciente, menos uso ele fazia do serviço,
sugerindo melhora do quadro clínico 2. Esses resultados se assemelham a esta investigação,
33
pois os pacientes que não faziam nenhum tipo de tratamento, nem relatavam uso de
medicamentos, apresentaram uma melhor QV.
Este estudo apresenta limitações metodológicas, devido à sua natureza transversal, em que
o evento e a exposição são mensurados simultaneamente. O estudo foi planejado buscando
garantir e controlar a qualidade da informação, por meio de treinamento e
acompanhamento dos entrevistadores, e análises de confiabilidade interavaliador e
17
confiabilidade das respostas dos pacientes, descrito com detalhes em outra publicação ,
com o objetivo de amenizar o viés de informação. Por outro lado, a possibilidade do
paciente oferecer respostas desejáveis não pode ser descartado, neste caso, poderia levar a
uma possível subestimação da exposição e conseqüente subestimação do risco. Além do
mais, a extrapolação desses resultados para outros pacientes com esquizofrenia deve ser
cautelosa, uma vez que esse estudo incluiu pacientes estáveis como critério de
elegibilidade, deixando, portanto de analisar pacientes possivelmente mais graves. Com a
34
mesma cautela, dever-se-á analisar o percentual de perdas (42%), não diferencial quanto ao
sexo, idade e diagnóstico, embora semelhantes a outras investigações envolvendo esta
população 36.
Quanto à confiabilidade das informações, este e outros estudos têm demonstrado que
17, 23, 39, 40
pacientes com esquizofrenia podem relatar sua QV com grande confiabilidade ,
desde que o estudo seja realizado com metodologia apropriada.
Por fim, levando-se em conta as limitações acima mencionadas, esse estudo sugere que
alguns indicadores objetivos tais como sexo e estado civil, poderiam estar funcionando
como marcadores de inserção social, como indicada pela quase inexistência de laços de
relacionamento para a maioria destes pacientes. A escolaridade baixa, também importante
no processo de inserção social, poderá ser melhor observada pelos programas de saúde
mental, utilizando por exemplo, informações de saúde mais claras e objetivas, incluindo
um treinamento da capacidade de interação com o ambiente, no sentido de oferecer suporte
para os objetivos e necessidades dos pacientes. A baixa renda, enquanto indicador de pior
QV, aponta para a necessidade de implementação efetiva da política de saúde mental, no
que refere à assistência financeira ao portador de sofrimento mental. Esse ponto já
representa um avanço no Brasil com a portaria 10708 de 31/07/2003 41, que regulamenta o
auxílio financeiro aos pacientes com transtornos mentais egressos de internações.
Dado o aporte destes resultados, o tema qualidade de vida na esquizofrenia merece maiores
investigações, considerando que este estudo não foi inicialmente delineado para testar
associações. Em particular, a atividade ocupacional, detalhada sob o enfoque das
diferenças entre sexos, preliminarmente encontrada neste estudo, deverá ser melhor
investigada.
COLABORADORES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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tenure of psychotic patients. Acta Psychiatrica Scandinavica 1994; 89: 72-77.
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Federativa do Brasil, Brasília, DF, pg. 03 (31/07/2003).
42
Tabela 2: Resultados da análise de regressão logística univariada para baixa QV nos três
domínios *,+,§§ da escala QLS-BR (n=123).
Clínicas
Tabela 3: Resultados da regressão logística multivariada para baixa QV no escore global e nos
três fatores da escala QLS-BR: estimativa do odds ratio, intervalo de 95% de confiança (IC) e
valor-p (n=123).
Funções Intra-
Escala Global Rede Social * Nível ocupacional + psíquicas e relações
Variáveis ** (21 itens) interpessoais §
explicativas
Odds Ratio [IC] Odds Ratio [IC] Odds Ratio [IC] Odds Ratio [IC]
Sócio-demográficas
Sexo
(Masculino)
2,52 [1,09 - 5,78] 4,18 [1,83 - 9,52]
------ ------
Estado civil
(Solteiro)
3,04 [1,10 - 8,40] 6,02 [2,16 - 16,95] 2,83 [1,01 - 8,00]
------
Escolaridade
(Escolaridade < 4 anos) ------
------ 2,86 [1,17 - 7,04] ------
Renda
(Renda < 3 salários) 2,20 [0,98 - 4,90]
------ ------ ------
Clínicas
Nº de medicamentos
(Nº medicamentos ≥ 3) 2,43 [1,05 - 5,64]
------ ------ ------
Tratamento atual
(Ambulatorial) ------ 3,11 [1,10 - 8,77] ------ ------
Estado do paciente
(Agitado) 3,58 [1,28 - 10,00]
------ ------ ------
Valor-p++
0,90 0,98 0,75 0,88
*
Itens do domínio: relações familiares, relações íntimas, amizades ativas, atividade social, rede social, iniciativa social, afastamento social.
+
Itens do domínio: funcionamento ocupacional, nível de realização, sub-emprego, satisfação ocupacional, utilização do tempo.
§
Itens do domínio: relações afetivo-sexuais, sentido de objetivos de vida, curiosidade, objetos comuns, atividades comuns, empatia,
interação na entrevista.
**
Todas as variáveis entraram no modelo simultaneamente.
++
Teste da qualidade do ajuste de Hosmer e Lemeshow (2000).
45
4. ARTIGO 2
Páginas: 45-73
46
A COMPARATION BY GENDER
Lucia Siqueira5, Mery Natali Silva Abreu3,5, José Otávio Penido Fonseca2,3
1
Parte integrante da tese de doutorado no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública -
UFMG.
4
Departamento de Psicologia, Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ.
5
Departamento de Estatística, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
RESUMO
ABSTRACT
Schizophrenia has been associated with low quality of life (QOL) of patients in several and
distinct domains, especially by gender. Knowing gender differences may help in driven
specific intervention. This study aims to investigate the QOL in males and females patients
with schizophrenia, looking especially at the occupational domain. A cross-sectional study in
a sample of outpatients using the Quality of Life Scale (QLS-BR) was carried out.
Comparisons between the QLS-BR scores by gender were done using uni and multivariate
analyses by means of classification trees through CHAID algorithm and ordinal logistic
regression. Differences in QOL were found between male and female. Women presented
higher scores of QOL (p<0.05). In the occupational domain, marital status was a relevant
variable, being single (either for men or women) was associated with lower QOL scores when
compared to being married, respectively OR=10.0 (CI: 2.9-33.3) for men and OR=4.5 (CI:
1.2-16.6) for female. Duration of illness (> 5 years) was the second more significant
associated factor for lower scores. In this study, women had better scores of QOL than men
suggesting that they may be playing more occupational activities possible related to a greater
insertion in domestic and social activities.
Key Words: Quality of life; Schizophrenia; QLS-BR Scale; Occupation domain; Gender.
49
INTRODUÇÃO
A qualidade de vida (QV) emergiu nas últimas décadas como um conceito essencial na
avaliação do impacto das doenças crônicas, bem como das intervenções terapêuticas,
associando-se a indicadores tradicionais como morbidade e mortalidade.1
A esquizofrenia é considerada uma das mais graves doenças psiquiátricas, que afeta
desfavoravelmente a vida dos pacientes em vários domínios. Porém, estudos têm apontado
que seus efeitos podem variar de acordo com o sexo, 6 mostrando maior comprometimento
nos homens, quando comparado às mulheres. 4,6-9
A partir dessas descobertas, investigações por sexo na esquizofrenia têm recebido atenção
especial. Diferenças foram detectadas quanto à sua distribuição, características, evolução 10 e,
4,6-9,11,12
mais recentemente, na QV. A maioria desses estudos indica que homens e mulheres
possuem diferentes experiências com a esquizofrenia, mas pouco se conhece sobre o reflexo
dessas diferenças na percepção do paciente sobre sua QV e, principalmente, sobre as suas
implicações para a prática clínica e para o planejamento dos serviços de saúde mental. 10
Vários paises utilizam os indicadores de QV como ponto central para avaliação da efetividade
de tratamentos na saúde mental. 1 No Brasil, estudos de QV na esquizofrenia são recentes,13,14
e seus resultados evidenciam pior qualidade de vida para homens, tanto quando se analisa o
escore global de QV, quanto no que se refere especificamente ao domínio ocupacional,
apontando a necessidade de uma melhor investigação dessas diferenças. 9
planejamento dos serviços de saúde para esta população. 8 No Reino Unido, por exemplo, o
planejamento de intervenções é distinto para homens e mulheres. 15
Este estudo tem como objetivo investigar a qualidade de vida em homens e mulheres com
diagnóstico de esquizofrenia, explorando os fatores associados com a baixa QV no domínio
ocupacional. A QV foi definida como a percepção da própria pessoa de seu bem estar, nível
de satisfação e insatisfação com importantes áreas da vida,16 mensurada pela Quality of Life
Scale (QLS-BR) validada para o Brasil. 13,14
51
MÉTODO
Sujeitos
Participou deste estudo um total de 123 pacientes, incluídos na amostra de acordo com os
seguintes critérios: estar desinstitucionalizado; ter diagnóstico confirmado de Esquizofrenia
(CID 10), com evolução mínima de um ano; estar na faixa etária de 18 e 55 anos; apresentar
quadro clínico estável nas três semanas precedentes à coleta de dados. Foram excluídos os
pacientes que apresentavam desordem neurológica, retardo mental ou história de dependência
de substância química.
Procedimento
A QLS-BR é específica para pacientes com esquizofrenia,17 tendo sido validada para o
Brasil.13,14 Possui 21 itens distribuídos em três domínios: 1. social, 2. ocupacional e 3.
intrapsíquico e relações interpessoais. Os itens contêm informações sobre sintomatologia e
funcionamento do paciente nas três semanas precedentes à entrevista. Cada item é pontuado
pelo entrevistador em uma escala tipo Likert de sete pontos, sendo que os maiores escores
refletem uma melhor QV. 14
52
Análise de dados
A variável resposta foi definida como o escore de QV, codificado em três categorias: QV
muito comprometida (escore de 0 e 1,99), QV comprometida, (escore de 2,00 a 4,99) e QV
inalterada (escore de 5,00 a 6,00). As variáveis explicativas foram de natureza sócio-
demográfica e clínica, tratadas de forma dicotômica.
Com base nas equações do modelo logístico final, foram calculadas as probabilidades de um
paciente com determinadas características ser classificado em cada uma das categorias de QV.
p
Partindo da primeira equação, log 1 = α 1 + β ' x , onde α 1 é a constante e β ' o vetor dos
1 − p1
coeficientes associados às covariáveis (x), calculou-se a probabilidade do paciente ter a QV
muito comprometida (p1). Com base neste, calculou-se a probabilidade do paciente ter QV
p + p2
comprometida (p2) por meio da equação log 1 = α 2 + β ' x . Baseando-se na
1 − p1 − p 2
primeira equação, a categoria QV muito comprometida foi comparada com a junção das
outras duas categorias (QV comprometida + QV inalterada) enquanto que na segunda
equação, pacientes com algum grau de comprometimento (QV muito comprometida + QV
comprometida) são comparados àqueles com QV inalterada. Finalmente a probabilidade do
paciente ter QV inalterada, que é o complementar das probabilidades nas primeiras duas
categorias foi calculada como 1 − ( p1 + p 2 ) . 27
O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal de Minas
Gerais/ UFMG, sob parecer 035/01.
54
RESULTADOS
A distribuição dos escores de QV por sexo, nos domínios e escala global está apresentada na
tabela 2. No domínio ocupacional, a mediana dos escores de QV das mulheres foi de 3,40
comparativamente a 1,62 dos homens (p<0,01). Em todos os cinco itens desse domínio, a
diferença entre homens e mulheres permaneceu significativa. Vale ressaltar que a diferença
neste domínio refletiu em uma melhor QV global para as mulheres, que apresentaram
mediana de 2,94, enquanto que os homens apenas 2,17 (p= 0,02). A mesma diferença foi
também observada no item motivação, com mediana de 4,00 para as mulheres e 2,00 para
homens (p=0,01), ou seja, as mulheres se mostraram com maior motivação quando
comparada aos homens.
Nas Figuras 1.a e 1.b estão apresentados os resultados da análise multivariada através da
árvore de decisão para homens e mulheres no domínio ocupacional da escala QLS-BR. A
análise para as mulheres (Figura 1.a) mostra o nó raiz com a amostra inteira (n=49), onde
57% das pacientes estão na categoria da QV comprometida, 29% delas com QV muito
comprometida e 14% apresentaram funcionamento inalterado. A variável que melhor
discriminou este grupo foi o estado civil (p=0,04), mostrando a clara separação da árvore.
Na Figura 1.b estão apresentados os resultados da análise para o sexo masculino. Dos 74
homens, cerca de 62% apresentaram QV muito comprometida, 32% com QV comprometida e
apenas 5% com QV inalterada ou funcionamento normal. Assim como para o sexo feminino,
a variável que melhor discriminou este grupo foi o estado civil, com uma clara diferença na
distribuição das categorias de QV. Dos homens casados, 62,5% apresentaram QV
comprometida, enquanto os solteiros com duração da doença acima de cinco anos, a maioria
tinha QV muito comprometida (84%). Entre homens solteiros com duração da doença de até
cinco anos, um menor percentual apresentou QV muito comprometida (59%). A árvore por
meio do CHAID classificou corretamente 70% dos homens (Estimativa de risco=0,30) e na
validação cruzada houve 64% de classificações corretas (Estimativa de risco=0,36).
chance de estar em uma mais baixa categoria de QV, quando comparados com aqueles com
menor duração da doença.
Entre mulheres, ser solteira apresenta 4,5 vezes mais chance de estar em uma categoria de
mais baixa QV, quando comparada com as casadas. O número de medicamentos, apesar de
significância limítrofe, indicou que mulheres usando três ou mais medicamentos
apresentavam 3,5 vezes mais chance de estarem em uma categoria mais baixa de QV no
domínio ocupacional (OR=3,45; IC: 0,94 -12,5). A premissa de chances proporcionais foi
também atendida para o modelo final, com valor-p entre 0,55 a 0,87.
A probabilidade de baixa QV foi calculada com base no modelo logístico final, os resultados
são apresentados na Tabela 5. Observou-se que homens solteiros, com duração da doença
superior a cinco anos têm probabilidade de 0,82 de estarem em uma categoria de QV muito
comprometida, enquanto para homens casados essa probabilidade é de 0,32. Da mesma
forma, mulheres solteiras usando três ou mais medicamentos têm probabilidade de 0,44 de
estar na categoria de QV muito comprometida, enquanto a chance para uma mulher casada é
de 0,15.
DISCUSSÃO
Este estudo evidencia diferenças importantes na qualidade de vida entre mulheres e homens,
sobretudo no domínio ocupacional. O estado civil apresentou-se como a variável mais
relevante para QV. Ser solteiro associou-se consistentemente a uma mais baixa QV tanto para
homens quanto para as mulheres. Maior duração da doença (> 5 anos) foi o segundo marcador
em importância principalmente para homens.
Da mesma forma, o fato do estado conjugal solteiro estar associado a uma mais baixa QV em
ambos os sexos, pode estar apontando para a possível ocorrência de uma menor estimulação
9
social destes pacientes. Neste contexto, é possível que homens e mulheres solteiros vivam
menos independentemente, em situações de baixa estimulação social, com pouca participação
em atividade diária que, por sua vez, encontra-se associada com pior ajustamento funcional na
6
esquizofrenia. Em contraposição, os pacientes casados, talvez favorecidos por seus
58
11,21-23
A duração da doença, variável de relevância clínica , associou-se à baixa QV para
homens em ambas análises multivariadas e para as mulheres, na análise da árvore de decisão,
indicando que quanto maior a duração da doença, pior o comprometimento na QV. Os dados
desta investigação apontam que os homens eram mais novos quando comparados às mulheres,
embora a mediana da duração da doença seja a mesma, (7anos) para ambos os sexos. Estes
achados apontam para um início mais precoce da doença nos homens, o que é consistente com
dados da literatura, quando aponta uma associação entre início mais precoce da doença nos
homens e pior evolução da esquizofrenia neste sexo.33
A baixa QV no domínio ocupacional para homens, conforme sugerida neste estudo, remete à
temática ocupacional que aponta para uma estreita relação do trabalho com a satisfação em
atividades de lazer e com o sentimento de bem-estar.4,34 Os programas de reabilitação
psiquiátrica reforçam a importância da atividade ocupacional, não apenas pelo trabalho em si,
mas pelo que ele pode proporcionar ao paciente, tais como habilidade física, independência,
35
relacionamento social e atividades de lazer. Da mesma forma, a ocupação diária, mesmo
fora do âmbito do trabalho formal, é vista como importante dimensão para QV e para outros
aspectos relacionados com a saúde. 4 Dentro desta perspectiva, estreita relação com depressão
tem sido encontrada em pacientes desinstitucionalizados, com relato de baixa participação na
rede de trabalho. Tais achados são notadamente relevantes para pacientes com esquizofrenia.
36
Apesar de ainda reduzida a participação destes pacientes no trabalho formal, cerca de 15%
2
para paises desenvolvidos, investigações apontam que a presença de alguma atividade
ocupacional está marcadamente associada com melhor QV, mesmo considerando as
divergências culturais.3
Sabe-se que a esquizofrenia é uma doença característica de adultos jovens, que tem seu início
quando os pacientes estão se tornando produtivos, em processo de formação educacional,
procurando companheiro e constituindo família. Para muitos, os anos subseqüentes são
marcados pelo isolamento social e grande prejuízo ocupacional, 7,37 assim como é evidenciado
neste estudo, principalmente para os homens.
Os serviços de saúde mental devem ser incentivados a identificar estratégias para promover a
QV dos pacientes de uma forma geral e, mais especificamente, do ponto de vista ocupacional.
Este enfoque deve ser direcionado principalmente em relação aos homens, considerando ser a
atividade ocupacional, em seu sentido amplo, uma conexão para a integração social. Neste
contexto, não se trata apenas das atividades em terapia ocupacional, muitas vezes colocadas
pelos serviços de saúde mental como uma imposição ao paciente. Trata-se aqui de uma escuta
61
COLABORADORES
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Características
Homens (n=74) Mulheres (n=49) Valor-p*
% %
Sócio-demográficas
Idade
> 38 anos 40,5 61,2 0,02
< 38 anos 59,5 38,8
Estado civil
Solteiro 78,4 69,4 0,03
Casado 21,6 30,6
Escolaridade
> 4 anos 17,6 34,7 0,261
< 4 anos 82,4 65,3
Renda familiar
< 2 salários mínimos 50,7 59,2 0,35
> 2 salários mínimos 49,3 40,8
Nº de pessoas na residência
<4 59,5 81,6 0,01
>4 40,5 18,4
Clínicas
Duração da doença
< 5 anos 41,9 32,7 0,302
> 5 anos 58,1 67,3
História de Internação
Não 28,4 24,5 0,634
Sim 71,6 75,5
Tratamento atual
Ambulatorial** 83,8 79,6 0,553
Outros*** 16,2 20,4
Nº de medicamentos
0a2 51,4 30,6 0,02
>2 48,6 69,4
Tabela 2: Mediana dos escores de qualidade de vida na escala QLS-BR entre homens e
Domínios, itens e escala global Mediana dos homens Mediana das mulheres Valor-p*
(n=74) (n=49)
* Teste de Mann-Whitney
69
Tabela 3: Regressão logística ordinal univariada* para uma mais baixa QV entre homens e
Idade
> 38 anos 1,00 1,00
< 38 anos 2,08 0,13 2,33 0,15
Escolaridade
> 4 anos 1,00 1,00
< 4 anos 1,07 0,91 1,49 0,50
Estado civil ***
Casado 1,00 1,00
Solteiro 6,87 <0,01 3,65 0,05
Renda familiar
> 2 salários mínimos 1,00 1,00
< 2 salários mínimos 1,41 0,47 0,76 0,63
Nº de pessoas na residência
>4 1,00 1,00
<4 0,70 0,47 1,74 0,45
Com quem vive***
Outros 1,00 1,00
Pais 5,00 <0,01 3,30 0,06
Características clínicas
Diagnóstico (CID.10)
Outros tipos 1,00 1,00
Esquizofrenia Paranóide 2,46 0,36 0,88 0,85
Duração da doença
< 5 anos 1,00 1,00
> 5 anos 1,85 0,20 0,82 0,73
História de Internação
Não 1,00 1,00
Sim 1,65 0,33 1,22 0,76
Tratamento atual
Outros 1,00 1,00
Ambulatorial 1,82 0,33 2,59 0,18
Nº de medicamentos
0a2 1,00 1,00
>3 0,30 0,02 2,63 0,13
Tabela 4: Resultados da Regressão Logística Ordinal multivariada por sexo no domínio ocupacional
da escala QLS-BR: estimativa da odds ratio, intervalo de 95% de confiança (IC) coeficiente, valor-p,
Homens Mulheres
Variáveis explicativas (n=74) (n=49)
(categoria de referência)
Variáveis sócio-demográficas
Estado civil
(Solteiro)
Variáveis clínicas
Duração da doença
(Duração > 5 anos)
Número de medicamentos
(Nº > 3)
HOMENS
MULHERES
Fig. 1.a – Análise multivariada através da árvore de decisão (CHAID) para as mulheres no
Nó 0
Categoria % n
QV muito comprometida 28,6 14
QV comprometida 57,1 28
QV inalterada 14,3 7
Total (100 ,0) 49
Estado civil
P-valor ajustado= 0,04
Casado Solteiro
Nó 1 Nó 2
Categoria % n Categoria % n
QV muito comprometida 13,3 2 QV muito comprometida 35,3 12
QV comprometida 60,0 9 QV comprometida 55,9 19
QV inalterada 26,7 4 QV inalterada 8,8 3
Total (30,6) 15 Total (69,4) 34
Idade Nº de medicamentos
P-valor ajustado = 0,01 P-valor ajustado = 0,06
Nó 3 Nó 4 Nó 5 Nó 6
Categoria % n Categoria % n Categoria % n Categoria % n
QV muito comprometida 40,0 2 QV muito comprometida 0,0 0 QV muito comprometida 16,7 2 QV muito comprometida 45,5 10
QV comprometida 60,0 3 QV comprometida 60,0 6 QV comprometida 66,7 8 QV comprometida 50,0 11
QV inalterada 0,0 0 QV inalterada 40,0 4 QV inalterada 16,7 2 QV inalterada 4,5 1
Total (10,2) 5 Total (20,4) 10 Total (24 ,5) 12 Total (44,9) 22
Duração doença
P-valor ajustado = 0,04
Nó 7 Nó 8
Categoria % n Categoria % n
QV muito comprometida 0,0 0 QV muito comprometida 0,0 0
QV comprometida 0,0 0 QV comprometida 75,0 6
QV inalterada 100,0 2 QV inalterada 25,0 2
Total (4,1) 2 Total (16,3) 8
73
Fig. 1.b – Análise multivariada através da árvore de decisão (CHAID) para os homens no
Nó 0
Categoria % n
QV muito comprometida 62,2 46
QV comprometida 32,4 24
QV inalterada 5,4 4
Total (100,0) 74
Estado civil
P-valor ajustado <0,01
Solteiro Casado
Nó 1 Nó 2
Categoria % n Categoria % n
QV muito comprometida 72,4 42 QV muito comprometida 25,0 4
QV comprometida 24,1 14 QV comprometida 62,5 10
QV inalterada 3,4 2 QV inalterada 12,5 2
Total (78,4) 58 Total (21,6) 16
Duração doença
P-valor ajustado= 0,02
Nó 3 Nó 4
Categoria % n Categoria % n
QV muito comprometida 83,9 26 QV muito comprometida 59,3 16
QV comprometida 16,1 5 QV comprometida 33,3 9
QV inalterada 0,0 0 QV inalterada 7,4 2
Total (41,9) 31 Total (36,5) 27
74
5. ARTIGO 3
Depressão na Esquizofrenia:
Páginas: 74-103
75
DEPRESSÃO NA ESQUIZOFRENIA:
PREVALÊNCIA E RELAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA 1
DEPRESSION IN SCHIZOPHRENIA:
PREVALENCE AND RELATION WITH THE QUALITY OF LIFE
Lucia Siqueira5, Jussara Teixeira da Silva3, José Otávio Penido Fonseca 2,3
1
Parte integrante da tese de doutorado no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública -
Resumo
Abstract
Depressive symptoms are frequent, although underestimated they have considerable impact in
the quality of life (QOL) of the patients with schizophrenia. This study aimed to investigate
the prevalence of depression in the schizophrenia and its associated factors, including the
QOL. A cross-sectional study was carried out with 150 outpatients. The CDSS measured the
depression and the QOL-BR measured the QOL, both scales were validated to Brazil.
Descriptive and multivariate analyses were done. A prevalence of 56% of major depression
(MD) was found. Patients with MD had low QOL in the global scale and in the occupational
subscale. The global score of QOL was important for the separation of the decision tree
statistical analyses. In patients with low scores of QOL, three factors were associated with
depression: presence of schizophrenic symptoms, number of medications taken and absence
of home activities. For patients with better scores of QOL only duration of the illness was
important. This study suggests high prevalence of depression, besides showing its
repercussion in the QOL. In the evaluation of the QOL, the presence of depression must be
taken into consideration.
INTRODUÇÃO
Sabe-se que a presença de sintomas depressivos tem estreita associação com a baixa qualidade
de vida (QV) em pacientes com esquizofrenia. 1 Nestes pacientes, estudos têm dado atenção
2
especial a esta morbidade, que se apresenta como indicador de prognóstico desfavorável,
associado a vários aspectos negativos do desfecho clínico, tais como aumento do risco de
3,4
suicídio, piora no funcionamento psicossocial, 5 aumento de recaídas, hospitalizações mais
prolongadas, pior resposta à medicação e cronicidade. 6
A avaliação dos sintomas depressivos na esquizofrenia esteve, por muito tempo, restrito
exclusivamente ao período pós-psicótico. Entretanto, estudos mais recentes demonstram que
17-19
eles podem ocorrer em qualquer fase da doença. Seu diagnóstico foi, por muito tempo,
dificultado pela sobreposição com os sintomas negativos ou extrapiramidais induzidos pelos
neurolépticos, constituindo um problema freqüente. Entretanto, devido à alta prevalência da
depressão e seu impacto psicossocial, foram surgindo instrumentos especificamente
planejados para mensurar sua gravidade e auxiliar na identificação desta condição, reduzindo
consideravelmente as dificuldades diagnósticas. Dentro desta perspectiva, a Escala Calgary de
Depressão na Esquizofrenia (ECDE) tem sido amplamente utilizada, possibilitando a
avaliação da depressão independentemente da sintomatologia negativa ou dos sintomas
79
induzidos pelos neurolépticos. Esta escala foi validada para o Brasil e apresentou
características adequadas de validade e confiabilidade. 14,20
MÉTODO
Sujeitos
Procedimento
As escalas foram aplicadas por avaliadores independentes, previamente treinados para o uso
dos instrumentos (concordância > 80%). O primeiro entrevistador avaliou os pacientes
aplicando o questionário com informações clínicas e sócio-demográficas e a escala QLS-BR.
O segundo entrevistador, sem nenhuma informação da entrevista anterior, aplicava a escala
Calgary de depressão. Foi realizado um estudo de confiabilidade interavaliador em que, 20
pacientes foram avaliados simultaneamente por dois entrevistadores, em uma mesma
entrevista, de forma independente.
De 10% dos pacientes incluídos no estudo foi elaborada a história clínica baseada no
prontuário e enviada a um psiquiatra externo para avaliação do diagnóstico de esquizofrenia,
de forma independente.
Instrumentos
A QV foi avaliada por meio da escala QLS-BR, desenvolvida especificamente para pacientes
28
com esquizofrenia, e validada para o Brasil tendo apresentado validade e confiabilidade
adequadas. 23,24 Possui um total de três domínios:1. domínio social, 2. domínio ocupacional e
3. domínio intrapsíquico e relações interpessoais, sendo que a QV global corresponde á media
dos escores nos 21 itens da escala. O instrumento inclui informações sobre sintomatologia e
funcionamento do paciente nas três semanas precedentes à entrevista, sendo pontuado em uma
escala de sete pontos, onde os maiores escores refletem uma melhor QV.
Análise estatística
A prevalência de depressão maior (DM) foi determinada usando o ponto de corte do escore >
a 6 na ECDE, valor apropriado para o melhor contraponto entre sensibilidade e
especificidade. 14,20 Dois grupos foram formados: pacientes com DM (escore > 6) e pacientes
sem DM (escore < 6). Comparações das características clínicas, sócio-demográficas e dos
escores de QV foram feitas entre os grupos usando o teste de qui-quadrado de Pearson ou o
teste não-paramétrico de Mann-Whitney. Quando apropriado, foi estimado o odds ratio (OR).
Foi também conduzida uma análise multivariada por meio da árvore de decisão utilizando o
algoritmo CART, abreviação de “Classification And Regression Tree”. Trata-se de um
método desenvolvido por Breiman et al.,29 tendo como objetivo estabelecer uma relação entre
variáveis preditoras e uma única variável resposta. A árvore é obtida através de sucessivas
divisões binárias no conjunto de dados, de forma a tornar os subconjuntos cada vez mais
homogêneos em relação à variável reposta.
82
Para as análises univariadas e multivariadas, a variável resposta foi a presença (escore > 6) ou
ausência de depressão maior (escore < 6) e as variáveis explicativas foram de natureza sócio-
demográficas, clínicas e de QV, incluindo o escore global e os três domínios da QLS-BR em
sua forma dimensional. Na análise multivariada, por meio da árvore de classificação, após a
construção do nó raiz, foi incluída a estratificação da árvore pelos escores de QV.
Os dados foram também analisados por meio de uma regressão logística binária, com o
principal objetivo de validar os resultados da árvore de decisão. Seu procedimento consistiu
em eliminar individualmente as variáveis. Foi considerado como critério para permanência no
31
modelo final se variáveis com valor-p < 0,05 e IC de 95% para a odds ratio. Foram
utilizados os softwares SPSS 11.5 e o Answertree 3.0.
O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal de Minas
Gerais/ UFMG, sob parecer 035/01.
83
RESULTADOS
Foram encontrados no serviço 329 pacientes elegíveis para o estudo. Destes, 150 foram
entrevistados. Os principais motivos relacionados à não participação dos pacientes foram: não
localização no endereço do prontuário (22%); em processo de vinculação com outros serviços
(8%); não preenchimento dos critérios de inclusão no momento da entrevista (12%) ou com
dificuldades em estabelecer contato (10%). Não houve diferenças estatisticamente
significativas entre pacientes elegíveis e pacientes entrevistados quanto a sexo, idade,
diagnóstico e local de residência (p>0,05).
A prevalência de depressão maior (DM) diagnosticada pela ECDE no grupo foi de 56% (IC:
47,7- 64,0), totalizando 84 pacientes. Os resultados da análise univarida para a presença de
depressão maior, e a distribuição dos pacientes nas características sócio-demográficas e
clínicas, estão apresentadas nas tabelas 1 e 2.
como presente em 62 pacientes com DM, dentre esses, 26 (42%) relataram pensamentos ou
planos, enquanto 36 pacientes (58%) chegaram a tentativa de suicídio propriamente dita em
algum momento de suas vidas. Para pacientes sem depressão maior, o principal sintoma
detectado pela ECDE foi a depressão matutina, observada em 23 pacientes deste grupo
(34,8%). Diferença significativa entre o escore médio da ECDE para os dois grupos, foi
observada, com média de 10,9 para pacientes com depressão maior e 2,7 para aqueles sem
depressão maior (p<0,01).
Por outro lado, os pacientes com escore de QV menor ou igual a 3,81, que relataram presença
de sintomas da doença e usavam mais de três medicamentos, 90% deles apresentaram
depressão maior, comparados com 60% para aqueles usando até dois medicamentos. Ainda
com níveis similares nos escores QV, pacientes que não relataram sintomas da doença e que
não desenvolviam atividade do lar, 60% apresentaram DM, para o mesmo grupo que realizava
alguma atividade no lar, 35% apresentou DM. O ajuste da árvore de classificação indicou que
73% dos pacientes foram corretamente classificados na árvore (Risco=0,27), ou seja, com
risco de 27% de classificação incorreta.
DISCUSSÃO
Neste estudo foi encontrada alta prevalência de depressão em pacientes ambulatoriais com
diagnóstico de esquizofrenia e quadro estável. Indicadores clínicos e ocupacionais, como
presença de sintomas, maior duração da doença, uso de maior número de medicamentos e
ausência de atividades no lar, mostraram-se associadas com a maior gravidades da
sintomatologia depressiva nestes pacientes.
Foi evidenciada importante relação entre depressão e baixa qualidade de vida, principalmente
no domínio ocupacional, onde pacientes com depressão mostraram-se, menos realizados,
insatisfeitos, sub-utilizados no tempo e em sua capacidade para trabalho. Também
apresentaram-se com baixos escores de QV nas relações familiares, menos motivados e com
baixa capacidade de sentir prazer na vida, quando comparados com pacientes sem depressão.
Analisando a distribuição dos escores da escala de depressão aqui utilizada (ECDE) observou-
se que, no grupo de pacientes com depressão maior, a presença de humor deprimido, tentativa
de suicídio, desesperança, autodepreciação e depressão matutina foram freqüentes e coerentes
13-15,27,33
com outros resultados da literatura. Chama a atenção o grande percentual de
pacientes com tentativa de suicídio encontrado neste estudo, 58% da amostra investigada.
Este achado é relevante, 35,36 tendo em vista a morbi-mortalidade nesta população associado a
34-38
esta causa. Apesar da escassez de estudos sobre tentativas de suicídio em pacientes com
esquizofrenia, as taxas descritas variam de 18 a 55%, dependendo da natureza do estudo.39
87
Tem sido relatado que tentativas de suicídio são observadas com maior freqüência nos
primeiros anos da doença ou durante os períodos de exacerbação da sintomatologia.40
Com relação às variáveis clínicas, a presença de sintomas esteve associada com a depressão,
podendo ser apontada como indicador da própria doença, uma vez que os sintomas referidos
45,46
pelos pacientes têm estreita relação com quadro depressivo. Na árvore de decisão, antes
da estratificação pela QV, foi a variável que melhor discriminou os dois grupos de pacientes,
mostrando distintas variáveis associadas com a depressão na presença ou ausência de
sintomatologia (dados não mostrados). Após a estratificação pela QV, permaneceu associada
para aqueles pacientes com menores escores de QV (Escore < 3,82).
A duração da doença pode ter sido outro marcador clínico importante, dentre os pacientes
com melhores escores de QV (Escore > 3,82), quando foi encontrado maior sintomatologia
88
depressiva nos pacientes com menor duração da doença. Mesmo não sendo significativa esta
comparação na análise univariada. Outros estudos também não encontraram diferenças
significativas entre pacientes com e sem episódio depressivo com relação à duração da
doença. 34
psicótica. 12 Investigações recentes apontam que seu uso pode estar associado com sintomas
depressivos. 49
O transtorno depressivo é hoje considerado um problema de saúde pública, devido sua alta
prevalência e impacto psicossocial. Quando associado à esquizofrenia, seu impacto, pode ser
ainda maior. Pacientes deprimidos são freqüentemente mais assíduos aos serviços de saúde,
apresentam diminuição da produtividade no trabalho com repercussões importantes na QV,
embora não sejam diagnosticados como tais, 9 devido a dificuldades inerentes ao diagnóstico,
90
somando-o a uma atenção dos profissionais, focada quase que exclusivamente no quadro
psicótico.
Este estudo estima a prevalência de depressão nos pacientes com diagnóstico de esquizofrenia
e aponta sua importante associação com a QV. Considerando este estreito relacionamento,
investigações sobre esta temática se tornam prioritárias. A presença de depressão é vista como
10
principal fator associado com pior QV subjetiva em pacientes com esquizofrenia. É
conhecido por meio de sua história natural, que toda doença está associada com um prejuízo
marcante na QV do paciente. Dentro deste contexto, todo tratamento, se efetivo, deve
necessariamente melhorar a QV. Atualmente, medidas de QV e de depressão, sob o ponto de
vista do paciente, têm sido valorizadas na psiquiatria. 8,10 Apesar de existir pouco consenso
científico de como os sintomas depressivos na esquizofrenia devem ser definidos e
diagnosticados, é reconhecida a importância da avaliação da depressão do ponto de vista do
paciente, 48 mesmo que mediada por um instrumento.
Estudos prospectivos apontam que uma melhor QV na esquizofrenia esteve associada com a
existência de suporte social capaz de responder efetivamente as necessidades dos pacientes. 10
Torna-se ainda importante, uma reavaliação clínica detalhada da fase da doença em que está
ocorrendo a sintomatologia depressiva, informações úteis no manejo clínico e na escolha da
40
melhor estratégia terapêutica. Da mesma forma faz-se necessário, o desenvolvimento de
estudos de acompanhamento desses pacientes, uma vez que vários autores relatam a depressão
12
como um período prolongado, sem relação com o tempo de permanência na psicose, com
prejuízo cognitivo e deficitário. 15,34
Os resultados deste estudo têm implicações importantes para o tratamento de pacientes com
esquizofrenia. Ele confirma que a depressão é comum neste grupo de pacientes e aponta para
uma estreita relação entre depressão e baixa qualidade de vida. Dentro do contexto da
inclusão de indicadores de QV na rotina dos serviços de saúde mental, faz-se necessário que a
gravidade da sintomatologia depressiva na esquizofrenia seja também avaliada.
92
COLABORADORES
REFERÊNCIAS
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98
* Foi utilizado o ponto de corte de escore > 6 na escala Calgary, como marcador de depressão maior (DM).
99
Tabela 2: Distribuição dos pacientes nas variáveis clínicas e resultado da regressão logística
univariada para a presença de depressão maior (DM).
Variáveis Clínicas Pacientes com DM Pacientes sem DM OR Valor-p
(n=84) (n=66)
% %
Diagnóstico
Esquizofrenia paranóide 77,4 78,8 1,00 0,84
Outros subtipos 22,6 21,2 1,09
Duração da doença
> 5 anos 56,6 60,0 1,00 0,69
< 5 anos 43,4 40,0 1,15
História internação psiquiátrica
Não 34,5 35,4 1,00 0,91
Sim 65,5 64,6 1,04
Satisfação com a saúde
Sim 85,7 93,9 1,00 0,10
Não 14,3 6,1 2,58
Presença de sintomas da doença
Não 33,3 72,3 1,00 <0,01
Sim 66,7 27,7 5,26
Tratamento atual
Não faz tratamento 2,4 7,7 1,00 0,34
Apenas usa medicamento 3,6 4,6 2,50
Tratamento ambulatorial 94,0 87,7 3,46
Uso do medicamento
Não usa 2,4 7,6 1,00 0,10
Uso regular 78,6 83,3 3,00
Uso irregular 19,0 9,1 6,67
Nº de medicamentos
0-2 medicamentos 28,6 53,8 1,00 <0,01
> 3 medicamentos 71,4 46,2 1,55
Relato de reação adversa
Não 39,3 54,5 1,00 0,06
Sim 60,7 45,5 1,85
Atividade delirante na entrevista
Não 79,8 89,4 1,00 0,11
Sim 20,2 10,6 2,12
Classe de Medicamentos
Estabilizador de humor
Sim 9,3 10,3 1,00 0,85
Não 90,7 89,7 1,21
Anticolinérgico
Não 48,6 50,8 1,00 0,80
Sim 51,4 49,2 1,08
Benzodiazepínicos
Não 46,7 75,9 1,00 <0,01
Sim 53,3 24,1 3,57
Antidepressivo
Sim 10,7 - 1,00 <0,01
Não 89,3 100,0 --
Neuroléptico típico
Sim 82,7 89,7 1,00 0,25
Não 17,3 10,3 1,82
Neuroléptico atípico
82,7 86,2 1,00 0,58
Não
17,3 13,8 1,32
Sim
Neuroléptico típico de depósito 76,0 94,8 1,00 <0,01
Não
24,0 5,28 5,88
Sim
100
Tabela 3: Distribuição dos sintomas depressivos identificados pela escala Calgary e teste de
comparação entre grupos*
* Foi utilizado o ponto de corte de escore > 6 na escala Calgary, como marcador de depressão.
102
Escores de QV
depressão na escala Calgary estratificado pelo escore de qualidade de vida na QLS-BR (n=
150)
Node 0
Category % n
Sem depressão maior 44,00 66
Com depressão maior 56,00 84
Total (100,00) 150
Escala Global
Improvement=0,0314
<=3,8154761904761898 >3,8154761904761898
Node 1 Node 2
Category % n Category % n
Sem depressão maior 38,40 48 Sem depressão maior 72,00 18
Com depressão maior 61,60 77 Com depressão maior 28,00 7
Total (83,33) 125 Total (16,67) 25
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre deste contexto, estudos de avaliação de pacientes com esquizofrenia passaram a dar
maior enfoque a melhora da qualidade de vida do que ao processo de cura em si. Desta forma,
a QV é considerada como a mais importante medida de impacto da esquizofrenia e de seu
respectivo tratamento. Ela tem sido utilizada em diversos estudos, o que vem mostrando ser
uma ferramenta essencial para a construção de indicadores na saúde mental. Neste contexto,
diante da relevância da temática Qualidade de Vida na Esquizofrenia, esta investigação foi
conduzida. 11
Os resultados desta investigação poderão contribuir na saúde mental, seja na avaliação clínica
dos pacientes ou no planejamento dos serviços de saúde para esta população. Ressalta-se que,
os estudos aqui conduzidos são fragmentos, diante, do vasto campo da esquizofrenia. No
decorrer dos trabalhos foi possível compreender um pouco o sofrimento dos pacientes
ocasionando pela incapacitação decorrente da doença com todas as suas conseqüências. Neste
contexto, a qualidade de vida deveria ser utilizada não meramente enquanto um indicador fim
de um processo avaliativo, mas sim ser incorporada na fase inicial do cuidado terapêutico
destes pacientes.
Conduzir este estudo foi gratificante, primeiro pelo tema abordado e, segundo pela
oportunidade de vivenciar o processo contínuo de investigação científica. Acredito que o
10
REINE, G; LANÇON, C; DI TUCCI, S; SAPIN, C; AUQUIER, P. Depression and subjective quality of life in
chronic phase schizophrenic patients. Acta Psychiatrica Scandinavica, v 108, p. 297-303, 2003.
11
SALOKANGAS, R; HONKONEN, T; STEGARD, E; KOIVISTO, M. To be or not to be married – that is the
question of quality of life in men with schizophrenia. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol, v 36, p. 381-90,
2001.
105
questionamento inicial foi parcialmente respondido, uma vez que novas perguntas foram
sendo levantadas, com possibilidades de futuras investigações. O aprendizado foi imenso,
trabalhar com este tema foi instigante e ao mesmo tempo um grande desafio.....
106
APÊNDICES
107
Páginas: 108-128
FEVEREIRO/2002
109
SUMÁRIO
I – INTRODUÇÃO............................................................................................................. 110
II - REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................... 113
III – JUSTIFICATIVA........................................................................................................ 116
IV – OBJETIVOS............................................................................................................... 118
IV.1 - Objetivo Geral................................................................................................. 118
IV.2 - Objetivos específicos....................................................................................... 118
V – MÉTODO..................................................................................................................... 118
V.1 - Desenho do Estudo............................................................................................ 118
V.2 – Sujeitos............................................................................................................. 118
V.3 – Amostragem..................................................................................................... 119
V.4 – Recrutamento.................................................................................................... 120
V.5 - Coleta de dados................................................................................................. 120
V.6 - Descrição da Escala QLS-BR........................................................................... 120
V.7 - Descrição da Escala Calgary de depressão....................................................... 121
V.8 - Análise Estatística ............................................................................................ 122
VI - CONSIDERAÇÕES ÉTICAS..................................................................................... 122
VII - CRONOGRAMA DE ATIVIDADES....................................................................... 123
VIII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS..................................................................... 124
110
I - INTRODUÇÃO
Estudos de qualidade de vida fazem parte da área de saúde desde a década de 70. Entretanto,
durante todos esses anos, o conceito tem sido definido de forma diferente na medicina e na
psiquiatria, pois o termo qualidade de vida tem sido usado para diferentes objetivos e em
referência a diferentes problemas (Mercier, 2001).
No campo da medicina, o interesse na qualidade de vida vem sendo associado com estudos
nas doenças crônicas-degenerativas, que têm grande impacto na vida diária dos pacientes,
principalmente em doenças tais como o câncer, em que o tratamento se torna mais invasivo do
que a própria doença.
A partir dos vários conceitos de qualidade de vida e das dimensões propostas para uma
avaliação, vários modelos também têm sido sugeridos para avaliá-la (Lehman, 1983; Bigelow
et al, 1982; Mercier, 2001). Dentro da saúde mental, alguns modelos são propostos, e dentro
111
deles existem alguns questionamentos, por exemplo: Quais fatores poderão estar associados
com uma melhor qualidade de vida? Como medir a qualidade de vida?
O outro questionamento encontrado nas investigações desta área se relaciona com a validade e
confiabilidade de instrumentos usados para mensurar este fenômeno. Vários instrumentos
com o objetivo de medir a qualidade de vida têm surgido, mas a maioria deles, foi
desenvolvido em países de língua inglesa sendo apenas traduzido para uso em situação
cultural específica. Entretanto, tais medidas precisam não apenas ser traduzidas
cuidadosamente, mas principalmente ter suas qualidades psicométricas testadas em contexto
cultural específico (Ciconelle, 1999).
Como no Brasil não existia nenhum instrumento validado com este objetivo específico de
medir a qualidade de vida na esquizofrenia, desenvolveu-se como dissertação de mestrado a
adaptação transcultural da escala QLS "Quality of Life Scale", cujo resultado foi uma escala
adaptada transculturalmente para pacientes brasileiros com diagnóstico de esquizofrenia, a
QLS-BR (Cardoso, 2001; Cardoso et al, 2002).
Os resultados deste estudo mostraram que os escores médios de qualidade de vida para os 21
itens individuais da escala nos pacientes brasileiros variaram de 1.59 a 3.69. Cada item
avaliava a qualidade de vida a partir de uma escala tipo Likert de 7 pontos, variando de 0 a 6,
onde o valor mais alto indicava melhor qualidade de vida. Os escores globais referente à
soma dos itens variaram de 0,10 a 5,58, indicando que os escores de qualidade de vida
apresentaram uma ampla faixa de variação, desde um prejuízo grave a um funcionamento
normal e inalterado.
um indicador em estudos de avaliação das reais necessidades dos pacientes, face às novas
políticas de saúde mental, que propõem o tratamento ambulatorial em substituição ao modelo
manicomial (Cardoso, 2001).
Considerando a importância dos estudos de qualidade de vida para a saúde pública e para a
psiquiatria em específico, propõe-se a continuidade do estudo de qualidade de vida na
esquizofrenia que iniciamos no decorrer do mestrado. Temos como objetivo principal utilizar
a escala QLS-BR, para investigar quais são as características associadas com a qualidade de
vida dos pacientes brasileiros com diagnóstico de esquizofrenia.
113
II - REVISÃO DE LITERATURA
Dentro da saúde mental, a esquizofrenia é conhecida por muitos como a mais devastadora das
doenças mentais. Seu início pode ser precoce na vida do paciente e seus sintomas podem
causar um enorme prejuízo no funcionamento do indivíduo. É considerado o mais oneroso de
todos os transtornos mentais, em se tratando de custos diretos com o tratamento e perda da
produtividade (Kaplan, 1993).
Originalmente, a QLS é uma escala americana que vêm sendo utilizada na avaliação de
pacientes e (Brow-Tomas, 1999; Miras et al, 1994; Morcilo et al, 1995; Ramires, 1994)
também, com amplo uso em ensaios clínicos para testar novos medicamentos, se mostrando
com boas qualidades de medida (Carriere et al, 2000; Revicki, 1999; Tollefson, 1999).
Sua adaptação para pacientes brasileiros, como anteriormente descrito, foi feita de acordo
com a metodologia internacionalmente aceita, utilizando o procedimento de retrotradução e
de painel bilíngüe para adaptação cultural das questões. A versão em português foi aplicada
em uma amostra de 123 pacientes com diagnóstico de esquizofrenia em tratamento
ambulatorial no SERSAM Divinópolis -MG (Cardoso, 2001; Cardoso et al, 2002).
Neste estudo não era objetivo investigar os fatores associados à qualidade de vida nos
pacientes entrevistados. O objetivo do estudo foi analisar as propriedades de medidas da
escala no que se referia à validade e confiabilidade. Desta forma, a análise dos escores foi
meramente descritiva. No entanto, esta análise já demonstrou a necessidade de maiores
investigações, principalmente quando se analisava a amplitude dos escores globais dos
pacientes brasileiros na escala QLS-BR.
Medidas de qualidade de vida têm sido amplamente utilizadas em diversos estudos, o que vêm
mostrando ser uma ferramenta essencial para a construção de indicadores na saúde mental.
Para a investigação dos fatores determinantes da qualidade de vida, vários modelos têm sido
propostos na literatura. De acordo com o modelo de Lehman (1983), qualidade de vida de
pacientes crônicos da saúde mental, pode ser explicada em síntese pelas características sócio-
demográficas, condições objetivas de vida e percepção subjetiva destas condições. Quando
testado empiricamente, este modelo mostrou que o sentimento de bem estar estava mais
associado com satisfação subjetiva em relação às condições de vida (48-58 % da variância),
do que com as condições objetivas de vida (14 -23%) ou com as características sócio-
demográficas (14 -7%).
correlacionadas com uma pior qualidade de vida, quando foi controlada a influência da
sintomatologia.
Um outro estudo mostrou que uma melhor qualidade de vida na esquizofrenia estava
associada com um menor grau de sintomas depressivos, menos efeitos colateral dos
medicamentos e melhor interação familiar. Este estudo indicou que as intervenções
terapêuticas e medicamentosas podem melhorar a qualidade de vida nesta população,
focalizando estes aspectos específicos (Sullivan, 1992).
Atualmente, vários estudos sobre esquizofrenia têm dado atenção aos sintomas depressivos. A
depressão foi por muito tempo associada apenas ao período pós-psicótico. Entretanto os
estudos mais recentes demonstram que os sintomas depressivos podem ocorrer em qualquer
fase da doença (Knights e Hirsh 1981; Johnson 1988, Green et al 1990). Estudos
longitudinais vêm considerando a depressão como um indicador de prognóstico desfavorável
(Becker 1988),e tem sido associado com vários aspectos negativos do desfecho clínico:
aumento do risco de suicídio (Roy 1982, Drake et al 1984), piora no funcionamento
psicossocial (Glazer 1981), aumento de recaídas, hospitalizações mais prolongadas e pior
resposta a medicação e cronicidade (Himmelhoch et al 1981).
A importância do gênero como variável na determinação da qualidade vida tem sido apontado
em alguns estudos. Em mulheres, o curso da doença e a situação de vida objetiva são vistas
como mais favoráveis, e desta forma, elas se mostram mais satisfeitas do que os homens
(Roder-Wanner, 1995).
III - JUSTIFICATIVA
A percepção do estado de saúde e da qualidade de vida dos pacientes, bem como o impacto da
doença e de seu respectivo tratamento medidos pela qualidade de vida estão sendo
amplamente reconhecidos em estudos clínicos e epidemiológicos. Estes estudos tornaram-se
117
essenciais na área de saúde mental, à medida que têm revelado aspectos importantes para a
avaliação e planejamento de serviços, e já vêm sendo amplamente utilizados por diversos
países.
Como demonstrado por Mercier (2001), pacientes com transtornos mentais têm poucos
recursos e pouco controle sobre o ambiente. Desta forma, eles precisam de suporte para
desenvolver estratégias para executar seus objetivos e aspirações. Intervenções objetivando
melhorar a qualidade de vida destes pacientes poderá aumentar suas estratégias de controle
em diferentes perspectivas. Além disso, estudos apontam que é necessário muito mais do que
os serviços de atenção direta têm oferecido, pois as intervenções devem incluir a negociação
entre as necessidades e demandas dos pacientes e os recursos e possibilidades da comunidade
(Bigelow, 1991; Mercier, 2001).
Considerando que atualmente já existe uma escala científica, devidamente validada, e ainda
tendo o conhecimento preliminar de que os escores globais na escala QLS-BR para os 123
pacientes do estudo de validação da escala para o Brasil variou de 0,10 a 5,58, indicando uma
diferença amplamente significativa, torna urgente a ampliação desta escala para pacientes
portadores do mesmo agravo, porém considerando os subtipos diagnósticos e fatores
determinantes de tão grande amplitude nos escores de qualidade de vida.
IV - OBJETIVOS
O produto final desta investigação será apresentado com pelo menos três artigos científicos
submetido às revistas da área.
V - MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal, onde se fará a medida individual da qualidade de vida para
cada paciente, através da aplicação da escala QLS-BR, em duas diferentes cidades:
Divinópolis e Belo Horizonte, no Estado de MG.
V.2 - Sujeitos
A população do estudo será constituída por pacientes originários de dois diferentes CERSAM
(Centros de Referência em Saúde Mental). O paciente deverá apresentar diagnóstico
institucional de Esquizofrenia (CID 10) com evolução mínima de um ano, marcada pela
primeira consulta registrada no prontuário e confirmada pelo psiquiatra responsável.
119
Com o objetivo de validar o diagnóstico será sorteado, de forma aleatória, 15% dos pacientes
entrevistados e sua história clínica encaminhada a um segundo psiquiatra para avaliação
independente. Dessa forma, o paciente será elegível para o estudo quando o diagnóstico for
confirmado.
V.3 - Amostragem
Para o CERSAM PAMPULHA (Centro de Referência em Saúde Mental), Contato inicial com
o serviço foi realizado, no sentido de levantar o universo atendido, bem como o percentual de
pacientes com o diagnóstico de interesse. Dados preliminares apontam para uma semelhança
com o universo encontrado no CERSAM Divinópolis, assim discriminado:
estatística foi de que aplicasse a escala aos 230 pacientes encontrados. Desta forma o estudo
atingiu um total de 123 pacientes.
V.4 - Recrutamento
Os dados serão coletados através de uma entrevista estruturada, realizada por um profissional
de saúde previamente treinado. Será preenchido um questionário com informações clínicas e
sócio-demográgicas, incluindo: diagnóstico, história clínica, características pessoais e
demográficas. Dados a respeito da duração da doença (marcada pela primeira visita ao
psiquiatra), uso de medicação, tempo e freqüência de internações serão incluídos (Manual de
campo). Após o preenchimento desta ficha de informação foi aplicada a escala QLS-BR, para
avaliar a qualidade de vida e a escala Calgary de depressão na esquizofrenia.
A elaboração de sua versão original foi norteada pela síndrome deficitária da esquizofrenia,
objetivando avaliar os aspectos mais insidiosos da doença. Possui em sua estrutura
dimensional um total de 21 itens distribuídos em 3 fatores, sendo Rede social, Nível
ocupacional e Relações interpessoais. É aplicada em uma entrevista semi-estruturada, com
duração média de 45 minutos.
No estudo das qualidades psicométricas da escala QLS para o Brasil, a análise fatorial indicou
a distribuição dos 21 itens da escala em três fatores, explicando 63 % da variância dos dados.
Foi observado igualmente que as correlações de cada fator com a escala global foram mais
elevadas do que as correlações inter-fatores, indicando a presença de um construto subjacente
comum de qualidade de vida. No estudo da análise da consistência interna da escala, obteve-
se um coeficiente alfa de Cronbach de 0,94 para a escala global e coeficientes que variaram de
0,88 a 0,93 para os três fatores da escala. A escala QLS não apresentou correlação
significativa com a escala WHOQOL - bref.
escala Hamilton para depressão (HRDS), foi validada para o contexto brasileiro, apresentando
boas características de validade e confiabilidade (Bressan et. Al., 1997; Bressan et al. 1998).
A escala foi desenhada para avaliar a presença de depressão independentemente das outras
dimensões psicopatológicas da esquizofrenia, tanto em fase aguda ou residual.
Para a realização do presente trabalho serão utilizados os softwares SPSS 11.5, Answertree
3.0 e o EPI-INFO.
VI - CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Todo paciente convidado a participar da pesquisa será informado sobre o objetivo do estudo.
Somente após a assinatura do consentimento informado (Manual de campo) é que o sujeito
participará da entrevista.
O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal de Minas
Gerais/ UFMG, sob parecer 035/01.
123
Atividades -Trimestre 1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º
Preparação de formulários X X X X X X
Coleta de dados X X X X
1- Angermeyer MC. Schizophrenia and the quality of life. Fortschr Neurol Psychiatr
2000; 68 Suppl 1, S2-6.
3- Awad AG, Voruganti LNP. Intervention research in psychosis: Issues related to the
assessment of quality of life. Schizophrenia Bulletin 2000; 26: 557-64.
4- Becker RE. Depression in schizophrenia. Hosp and Comm Psychiatry 1988; 39:1269-
1275.
6- Bigelow DA, McFarland BH, Olson MM. Quality of life of community mental health
program clients: validating a measure. Community Ment Health J 1991; 27: 43-55.
7- Brow-Thomas CC, Velligan DI, Miller AL, Olsen J. Predicting quality of life from
symptomatology in schizophrenia at exacerbation and stabilization. Psychiatry Res
1999; 86: 31-42.
8- Cardoso CS, Bandeira M, Caiaffa WT, Fonseca JOP. Escala de qualidade de vida para
pacientes com esquizofrenia-QLS-BR, Adaptação transcultural para o Brasil. J brasil
Psiq, n.51, p 31-38, 2002.
9- Cardoso CS. Adaptação transcultural para o Brasil de uma escala de qualidade de vida
para pacientes com esquizofrenia, Escala QLS. 2001. 154f. Medicina, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
125
11- Ciconelle RM, Ferraz MB, Santos W, MeirnãoI, Quaresma MR. Tradução para a
língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de
vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol 1999; 39: 143-150.
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cronic schizophrenic outpatients. J Nerv Ment Dis 1981; 169(11): 712-717.
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rating the schizophrenic deficit syndrome. Schizophr Bull 1984; 10: 388-98.
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Médicas Sul, 1993.
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severely mentally ill patients: a longitudinal study. J Psychiatry Neurosci 1997; 22:
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as an important determinant of quality of life? J Clin Psychiatry 1999; (60 suppl): 523-
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43- WHOQOL Group. The development of the WHO quality of life assessment
instrument (the WHOQOL). In : Orley J, Kuyken W (eds). Quality of life assessment:
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44- Marketing Departament SPSS Inc. AnswersTree 3.0. User’s Guide. Chicago; 2001.
129
OBJETIVOS DO ESTUDO:
Esta pesquisa tem como objetivo medir a qualidade de vida em pessoas que fazem tratamento
psiquiátrico. Precisamos saber como é que as pessoas acham que está a sua vida nos últimos
dias. Para isto, gostaríamos de contar com a sua colaboração durante alguns minutos para
responder a um questionário. Serão feitas várias perguntas sobre diferentes aspectos de sua
vida: sua saúde física, sua vida familiar e emocional, sua relação com os amigos, trabalho e
lazer.
PROCEDIMENTOS:
Ao concordar em participar deverei:
Responder a uma entrevista CONFIDENCIAL com perguntas sobre minha vida pessoal;
CONFIDENCIALIDADE:
Toda informação obtida é considerada CONFIDENCIAL e a minha identificação será
mantida como informação sigilosa. Os relatórios e resultados deste estudo serão apresentados
sem nenhuma forma de identificação individual.
DÚVIDAS:
Em caso de dúvida, poderei me comunicar com Clareci Silva Cardoso, coordenadora deste
projeto na Faculdade de Medicina da UFMG, na av. Alfredo Balena, 190/10º sala 10028. Belo
Horizonte MG. Telef. (31) 3248- 9810, ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG
133
pelo telefone (31) 3248-9364, ou também com a Coordenadora do CERSAM, onde será
realizada a pesquisa. Também poderei recorrer a meu médico ou agente de saúde para maiores
informações se assim entender.
CONSENTIMENTO
Sei que minha participação é totalmente voluntária e que poderei recusar ou abandonar o
estudo sem qualquer prejuízo pessoal. Contarei com o apóio do CERSAM independente de
minha participação, no sentido de obter atendimento médico, orientação ou encaminhamento
para qualquer atenção médica ou laboratorial.
Todas informações prestadas por mim serão sigilosas e utilizadas somente para esta pesquisa.
A divulgação das informações será anônima e em conjunto com as respostas de um grupo de
pessoas. Caso eu concorde, estas informações obtidas a partir desta pesquisa poderão ser
passadas para o meu médico e isto poderá auxiliá-lo no meu tratamento.
Assinatura: _______________________________
Você permite que o resultado da sua entrevista seja encaminhado para seu Médico?
Sim _____ Não_____
___________________________ ____________________________
Assinatura do participante Assinatura do entrevistador
134
Entrevistador: Preencher esta parte sem perguntar para o paciente, use os dados de seu
prontuário.
II – PARTE
13- Qual é a sua renda familiar? (somando o salário de todas as pessoas de sua casa)
1 salário mínimo (1) 3 a 4 salários mínimos (3) [____]
2 salários mínimos (2) acima de 5 salários (4)
III PARTE
16- A entrevista teve que ser interrompida em algum momento? Se foi por que?
______________________________________________________________
FICHA DE TRIAGEM
2- Endereço Completo:
Rua:____________________________________________________________________________
Nº:________________ Bairro:____________________________ CEP: ____________________
Cidade: ________________________________ Telefone:_________________________________
Entrevistador: Preencher esta parte sem perguntar para o paciente. Use os dados de seu
prontuário ou os dados da ficha de triagem.
feminino (2)
[------]
II – PARTE
12 - Qual é a sua renda familiar atual? (Somando os salários de todas as pessoas de sua casa)
1 salário mínimo (1) Acima de 5 salários (4) [____]
2 salários mínimos (2) Não sabe (9)
3 a 4 salários mínimos (3)
20 - Nas últimas 3 semanas tem tido algum sintoma desagradável relacionado à sua doença?
Sim (1) Não (2) Não sabe (9) [____]
Se sim, explique o que você tem sentido:
1 - _________________________________________________________________ [------]
2 - _________________________________________________________________ [------]
21 - Você acha que os remédios que você toma lhe prejudicam? (de alguma forma,
provocando alguma sensação desagradável)
Não prejudica em nada (1) [____]
Prejudica, mas convivo bem com eles (2)
Prejudica e atrapalha muito (3)
Outros (4)
Não sabe (9)
147
22 - O que você diria da sua satisfação atual com a saúde? Você se considera:
Uma pessoa Insatisfeita (apresenta várias queixas) (1) [____]
Uma pessoa mais ou menos satisfeita (apresenta algumas queixas) (2)
Uma pessoa completamente satisfeita com a saúde (nenhuma queixa) (3)
Não sabe (9)
148
III – PARTE
24 – A entrevista teve que ser interrompida em algum momento? Se foi por que?
___________________________________________________________________ [------]
Obs.:
___________________________________________________________________ [------]
___________________________________________________________________
149
Páginas: 151-170
151
Instruções de aplicação
Para a aplicação da escala QLS-BR, uma situação de privacidade deve ser buscada. O paciente não deve
responder o instrumento acompanhado de familiar, cônjuge ou amigo.
O paciente deve ser adequadamente informado sobre o objetivo da aplicação do instrumento e o destino dos
dados obtidos. Deve também se sentir à vontade para esclarecer quaisquer dúvidas ao longo da aplicação. Em uma
situação de pesquisa, uma vez que o paciente concorde em responder, é fundamental a obtenção do consentimento
livre e esclarecido.
Deve ser enfatizado que o questionário se refere às três últimas semanas da vida do paciente, independente do
local onde o indivíduo se encontre. O instrumento deve ser respondido em apenas um encontro.
Cada item da escala inclui três partes. Primeiro há uma breve exposição sobre o item, para ajudar o entrevistador
a compreender o parâmetro a ser avaliado. Em seguida, algumas perguntas são fornecidas, para que o entrevistador
as utilize na entrevista, buscando avaliar o item. Por último, há uma grade de cotação com 7 pontos, que o
entrevistador deve utilizar para fazer o seu julgamento sobre o item avaliado. Alguns destes pontos contém
descrições, outros não. O entrevistador deve assinalar o número escolhido nesta grade de 7 pontos, para cada um
Todos os itens da escala devem ser avaliados. Cada item deve ser explorado tanto quanto necessário, para
permitir ao entrevistador a oportunidade de fazer um bom julgamento clínico. Para isto, ele poderá complementar a
pergunta sugerida, ou mesmo fazer perguntas adicionais, além daquelas incluídas na escala. Adaptações devem ser
feitas pelo avaliador, quando fatores extrínsecos estiverem claramente envolvidos (por exemplo, contato social
diminuído devido à doença física grave).
A escala QLS-BR deve ser aplicada em uma entrevista semi-estruturada por um profissional de saúde
previamente treinado. O tempo de aplicação dura aproximadamente 45 minutos.
Os usuários devem ser lembrados de que, usando a escala QLS-BR não devem modificar as orientações,
questões e layout de nenhuma forma.
12
Referência da escala original: Heinrichs DW, Hanlon TE, Carpenter WT. The quality of life scale: an instrument for rating the
schizophrenic deficit syndrome. Schizophrenia Bulletin, v.10, p. 388-398, 1984.
152
NOTA: Este item deve receber a nota técnica (9) se o sujeito vive sozinho e sem a família imediata perto. Para
avaliação do fator e da escala global, este item deverá receber um escore equivalente à média dos itens 2 a 7, que
compõem o Fator Rede Social.
Este item visa avaliar relacionamentos íntimos, que envolvem participação e cuidados mútuos, com a família imediata
ou com membros da residência onde o paciente vive atualmente.
Perguntas sugeridas:
Você se dá bem com todas as pessoas com quem 0- Praticamente nenhuma intimidade.
você atualmente mora ou com sua família
imediata? 1-
Com que freqüência você tem conversado com 2- Apenas interações íntimas escassas e
eles? intermitentes.
Eles podem conversar assuntos íntimos com 4- Algumas interações íntimas consistentes, mas
você? reduzidas em extensão ou intensidade; ou
intimidade apenas presente imprevisivelmente.
Como é o relacionamento com essas pessoas?
5-
Dê exemplos de coisas que vocês têm feito juntos.
6- Envolvimento apropriado em relações íntimas
Quando você está em casa, você fica junto com com membros da casa ou família próxima.
sua família ou prefere ficar sozinho? ________________________________________
9 - Fazer a contagem aqui se o sujeito vive
sozinho e sem a família imediata perto.
Este item visa avaliar relacionamentos com amigos íntimos, envolvendo participação e cuidados mútuos, com
pessoas que não sejam da família imediata do paciente. Excluir relacionamentos com trabalhadores da saúde
mental.
Perguntas sugeridas:
Eles podem conversar assuntos pessoais com 4- Algumas relações íntimas consistentes, mas
você? reduzidas em número ou intensidade; ou
intimidade apenas presente imprevisivelmente.
Com que freqüência você tem falado com eles?
5-
Como está o seu relacionamento com esses
amigos? 6- Envolvimento apropriado com relacionamento
íntimo com mais de uma pessoa.
153
Este item visa avaliar relacionamentos com outras pessoas, onde há uma apreciação mútua e
compartilhamento de interesses ou atividades em comum, mas sem o investimento emocional íntimo do item
anterior. Excluir relacionamento com trabalhadores de saúde mental e outros membros da casa.
Perguntas sugeridas:
Que tipo de coisas vocês têm feito juntos? 4- Algumas relações ativas com colegas em
desenvolvimento, mas com contato reduzido e
Você tem encontrado com pessoas em lugares limitada atividade compartilhada.
como clubes, igrejas, bares, danceterias?
5-
Você tem tido encontros com colegas, tais como
irem lanchar ou saírem juntos? 6- Envolvimento apropriado em relações ativas
com colegas.
Este item visa avaliar o envolvimento do paciente em atividades realizadas com outras pessoas, com o
objetivo de diversão. Excluir atividades sociais que tenham outros objetivos, por exemplo, trabalho e escola.
Excluir a psicoterapia.
Perguntas sugeridas:
3-
5-
Este item visa avaliar até que ponto as outras pessoas se preocupam com o paciente, se interessam por sua
vida ou conhecem as suas atividades. Excluir os funcionários de Serviços de Saúde Mental.
Perguntas sugeridas:
Quantas?
1-
Quem são essas pessoas?
2- Mínima em número ou grau de envolvimento,
De que forma elas demonstram isto? e/ou limitada à família imediata.
Se fosse preciso pedir ajuda, a quem você 6 - Adequada rede social envolvida, em extensão
pediria? e grau de envolvimento.
Este item visa avaliar em que grau a pessoa toma a iniciativa de direcionar suas interações sociais. Avaliar: o
quê? Quanto? E com quem?
Perguntas sugeridas:
Você tem sempre realizado coisas sozinho ou 0- Atividade social quase sempre dependente da
com outras pessoas? iniciativa de outros.
Com quem? 1-
É você quem convida as pessoas ou são elas que 4- Evidência de alguma redução da iniciativa
convidam você para fazer as coisas? social, mas com apenas mínimas conseqüências
adversas sobre a atividade social.
Você já desistiu de sair para se divertir por achar
difícil convidar outras pessoas? 5-
Este item visa avaliar em que grau a pessoa evita as interações sociais, devido ao seu desconforto ou
desinteresse.
Perguntas sugeridas:
Você tem evitado atender ao telefone ou evitado pouco contato social pelo próprio contato; ou falta
atender pessoas?
de afastamento apenas com a família imediata.
Você tem lidado com pessoas somente quando
você precisa delas?
3-
Você tem evitado companhia em casa?
4- Algum engajamento social agradável e
Você tem preferido estar sozinho?
satisfatório, porém reduzido devido a evitação.
O fato de você querer ficar sozinho tem interferido
em sua vida?
5-
significativo.
156
Este item visa avaliar a capacidade para relações íntimas maduras e atividade sexual satisfatória. A
formulação das questões presume uma orientação heterossexual da pessoa. Em caso evidente de preferência
homossexual constante, reformular adequadamente as questões e avaliar estas mesmas capacidades.
Suas atividades sociais têm envolvido 0- Nenhum interesse sexual, ou evitação ativa.
mulheres/homens?
1-
Tem tido encontros íntimos?
2- Algum contato sexual limitado, mas superficial
Te incomoda ou aborrece ter relacionamentos com evitação de intimidade; ou atividade sexual
mais íntimos? apenas como liberação física sem envolvimento
emocional; ou relacionamentos marcados por
Teve um (a) ou mais namorados (as)? E rompimento grave e crônico, insatisfação ou caos
atualmente? afetivo.
Você já gostou ou esteve apaixonado por alguém? 4- Relacionamento com alguma intimidade e
envolvimento emocional, predominantemente
Você demonstra carinho, tais como abraçar e satisfatório, e, talvez alguma expressão sexual ou
beijar? sinais físicos de afeição.
Este item visa avaliar em que grau a pessoa está tentando desempenhar um papel ocupacional e não se ela o
faz de forma completa ou bem sucedida. Para os que dirigem um lar, considerar se para uma pessoa com
eficiência normal as responsabilidades assumidas representariam trabalho em tempo integral ou parcial. Se
desempregado, considerar o tempo gasto em atividades apropriadas de procura de emprego.
Este item visa avaliar o nível de sucesso e realização que a pessoa tem alcançado no papel que ela está
tentando desempenhar.
Para trabalhadores
Você é bem sucedido no seu trabalho? 0- Não está desenvolvendo nenhuma função, ou
está desempenhando em nível tão precário a
Seu trabalho exige muita responsabilidade? ponto de ameaçar a habilidade de continuar
naquele papel.
Você acha que você realiza bem suas atividades?
1-
Você recebe elogios pelo seu trabalho?
2- Funcionando apenas no nível suficiente para
As pessoas fazem críticas ou reclamam de seu manter a posição em um nível de realização muito
trabalho? baixo.
Este item visa avaliar até que ponto o grau de realização da pessoa no desempenho do papel ocupacional
reflete uma completa utilização de suas potencialidades e das oportunidades disponíveis para a pessoa.
Considerar habilidades inatas, deficiência física, educação, fatores culturais, econômicos e sociais.
Obviamente, limitações refletindo diretamente qualquer doença mental ou desordem de personalidade não
devem ser consideradas na estimativa do potencial da pessoa.
Perguntas sugeridas:
0- Não consegue concretizar potenciais.
Este item exige um julgamento complexo. Fazer
perguntas adicionais necessárias para esclarecer 1-
habilidade e oportunidades.
2-Significativo sub-aproveitamento de habilidades,
Relacionado ao trabalho, o que você sabe fazer? ou desempregado, mas está ativamente
procurando por trabalho.
Você gostaria de saber fazer outras coisas?
3-
Te incomoda não estar trabalhando?
4- Um pouco abaixo da capacidade da pessoa.
Se incomoda, o que você tem feito para conseguir
trabalho? 5-
NOTA: Este item deve ser avaliado com a nota técnica (9) se o item 9 (Avaliação do funcionamento
ocupacional) tiver sido avaliado com o escore 3 ou abaixo de 3. Para a avaliação deste fator e para a
avaliação do escore global, tirar a média dos itens 9, 10, 11 e 17.
Este item visa avaliar até que ponto a pessoa se sente confortável com a sua escolha ocupacional, com o seu
desempenho nesta ocupação e com a situação na qual ela é desempenhada. Destina-se também a avaliar até
que ponto esta escolha lhe propicia satisfação, prazer e realização.
Perguntas sugeridas:
Você gosta do seu trabalho e/ou escola ou 0- Infelicidade e insatisfação generalizadas com o
atividades? papel ocupacional.
Você está entusiasmado com o seu emprego ou 4- Pouco ou nenhum descontentamento e algum
atividades? prazer limitado com trabalho.
_______________________________________
9 - Não aplicável se o paciente não está envolvido
em nenhum desempenho de papel ocupacional.
Este item visa avaliar em que grau a pessoa coloca metas realistas e integradas para sua vida. Se a vida
atual reflete tais objetivos, não é necessário que ela (ele) esteja planejando uma mudança de vida, para se
avaliar que possui um bom sentido de objetivos de vida.
O que você planeja para a sua vida futura? 2- Tem planos, mas eles são vagos, um tanto
irrealistas, precariamente integrados uns com os
Tem alguma coisa em sua vida que você ainda outros, ou de pouca conseqüência para a vida da
não realizou, mas que gostaria de realizar? pessoa.
5-
Este item visa avaliar em que grau a pessoa é incapaz de iniciar ou manter atividades dirigidas para um
objetivo, devido à sua falta de motivação.
Perguntas sugeridas:
Você tem encontrado muita dificuldade para 2- Capaz de atender às demandas básicas de
realizar seus planos ou tarefas? manutenção da vida, mas a falta de motivação
prejudica significantimente qualquer progresso ou
Você tem conseguido resolver essas dificuldades? realização.
Este item visa avaliar até que ponto a pessoa está interessada no que ocorre ao seu redor e faz perguntas
sobre as coisas que ela não entende. Excluir interesse em alucinações e ilusões ou outros produtos
psicóticos. Entretanto, preocupações patológicas com produtos psicóticos ou outros temas podem limitar a
curiosidade ou interesse em outras coisas.
Perguntas sugeridas:
5-
Este item visa avaliar a capacidade da pessoa em experimentar prazer e humor. Não avaliar anedonia
resultante de síndrome depressiva observável e clara, por exemplo, agitação, choro, acentuados sentimentos
de desamparo e inutilidade, etc. Entretanto, deve-se avaliar anedonia, quando acompanhada de apatia e
afastamento, dos quais pode-se inferir a depressão. Fazer quaisquer perguntas necessárias para determinar a
presença de depressão e seus efeitos sobre a capacidade de sentir prazer. Deve-se distinguir este aspecto
de anedonia da capacidade de demonstrar afeto, o que não é avaliado aqui.
Perguntas sugeridas:
0- Inabilidade quase completa de experimentar
Você tem conseguido se divertir? prazer ou humor.
Outras pessoas parecem ser mais alegres ou 4- Algumas experiências regulares de prazer e
divertidas do que você? humor, mas reduzidas em extensão e intensidade.
Este item visa avaliar a quantidade de tempo gasto pela pessoa em inatividade sem objetivo: dormir durante o
dia, ficar deitado na cama, sentar-se aqui e ali, sem fazer nada ou em frente da TV ou rádio, quando a pessoa
não está particularmente interessada por tais atividades.
Perguntas sugeridas:
O que você faz no seu dia-a-dia? 0- Gasta grande parte de seus dias em inatividade
infrutífera.
Você costuma desperdiçar o seu tempo?
1-
Você gasta muito tempo não fazendo nada,
sentado aqui e ali ou na cama? 2- Gasta cerca de metade de seus dias em
inatividade infrutífera.
Você passa muito tempo assistindo TV ou ouvindo
música? 3-
Você realmente se interessa pôr isto ou apenas 4- Alguma inatividade infrutífera excessiva, mas
não tem nada melhor para fazer? menos do que a metade do dia.
De um modo geral, todos os seus dias são 6- Nenhuma inatividade infrutífera excessiva além
passados dessa forma? do normal exigido para relaxamento.
165
Este item presume que a participação nesta cultura quase sempre requer que uma pessoa possua certos
objetos.
Perguntas sugeridas:
1- Um lugar para guardar seus objetos pessoais 6- Pequeno ou nenhum déficit (11-12 itens)
2- Seu próprio despertador
3- Um pente ou escova de cabelo
4- Escova de dente
5- Algum aparelho eletrônico para entretenimento
6- Espelho ou aparelho de barbear.
166
Este item presume que a participação básica nesta cultura quase sempre requer que a pessoa se engaje em
alguma atividade.
Perguntas sugeridas:
Para este item, perguntar sobre cada um dos 12 0- Ausência de todas atividades (0 item)
itens mencionados abaixo. Dos seguintes, o que
você fez nas três semanas passadas. 1-
Este item visa avaliar a capacidade da pessoa em considerar e apreciar a situação de uma outra pessoa
como sendo diferente da sua própria situação: apreciar diferentes perspectivas, estados afetivos e pontos de
vista. Isto se reflete na descrição que a pessoa faz das suas interações com outras pessoas e de como ela vê
tais interações.
Você se importa com o que as pessoas pensam
Perguntas sugeridas: ou falam de você?
Este item visa avaliar a habilidade da pessoa em envolver o entrevistador na conversação, fazer com que o
entrevistador se sinta afetivamente em contato e reconhecê-lo como um participante individual na interação,
assim como a habilidade de reagir de maneira recíproca com o entrevistador.
1-
3-
5-
11 - Sub-emprego 0 1 2 3 4 5 6 [___]
14 - Motivação 0 1 2 3 4 5 6 [___]
15 - Curiosidade 0 1 2 3 4 5 6 [___]
16 - Anedonia 0 1 2 3 4 5 6 [___]
20 - Empatia 0 1 2 3 4 5 6 [___]
Sub-escalas:
Domínio 1: Rede social (itens 1-7) Domínio 3: Funções intrapsíquicas e Relações interpessoais
Domínio 2: Nível Ocupacional (itens 9 -12 e 17) (itens 8,13,15,18-21)
Escala Global: (itens 1-21)
A Escala Calgary de Depressão para Esquizofrenia é projetada para avaliar o nível de depressão
em pessoas com esquizofrenia. Deriva originalmente do Exame do Estado Psíquico (PSE) e
Escala de Hamilton para Depressão (HDRS) , a partir da análise fatorial e de confiabilidade . A
confiabilidade e validade da escala foram posteriormente testadas em amostra separada com
utilização de técnicas de análise fatorial confirmatória e análise discriminatória .
O examinador tem que ter experiência com pessoas com esquizofrenia e deve desenvolver
confiabilidade entre examinadores junto a indivíduos com experiência no uso de instrumentos
estruturados. Um examinador experiente deve desenvolver confiabilidade adequada entre cinco
e dez entrevistas práticas.
REFERÊNCIAS
1. Addington D., Addington J., Schissel B. (1990) A depression rating scale for schizophrenics. Schizofrenia
Research 3; 247-251.
2. Addington D., Addington J., Maticka-Tyndale E. (1992) Reliability and validity of a depression rating scale
for schizofrenics. Schizofrenia Research 6;201-208.
3. Addington D., Addington J., Maticka-Tyndale E. (1993) Rating depression in schizofrenia: a comparizon of
a self report and an obswerver report scale. Journal of Nervous and Mental Disease 18; 561-565.
4. Addington D., Addington J., Maticka-Tyndale E. (1993) Assessing depression in schizofrenia: the Calgary
Depression Scale. British Journal Psychiatry 163 (Supply 22) 39-44.
5. Addington D., Addington J., Maticka-Tyndale E. (1994) Specificity of the Calgary Depression Scale for
schizofrenia. Schizofrenia Research 11;239-244.
6. Addington D., Addington J., Atkinson M. (1996) A Psychometric comparison of the Calgary Depression
Scale for Schizofrenia and the Hamilton Depression Rating Scale. Schizofrenia Research 19;205-212.
172
Entrevistador:
Faça a primeira pergunta como está escrita. Use as frases que seguem e os qualificadores a seu
critério.
O período examinado refere-se às duas últimas semanas, a não ser que esteja estipulado.
1 - DEPRESSÃO
Como você descreveria o seu humor nas últimas duas semanas: Você tem estado
razoavelmente alegre, ou tem se sentido muito deprimido ou desanimado recentemente? Nas
últimas duas semanas, com que freqüência você tem se sentido (palavras utilizadas pelo
entrevistado)? Todos os dias? O dia inteiro?
0. Ausente
1. Leve Expressa alguma tristeza ou desânimo ao
responder.
2. Moderada Humor deprimido evidente, persistindo até
metade do período das duas últimas
semanas: presente diariamente.
3. Grave Humor marcadamente deprimido,
diariamente, por mais da metade do
período. Interfere no funcionamento motor e
social habitual.
173
2. DESESPERANÇA
Como você vê o seu próprio futuro?
Você vê algum futuro? Ou a vida lhe parece sem esperanças?
Você desistiu ou ainda sente alguma motivação para continuar tentando?
0. Ausente
1. Leve Nas últimas duas semanas teve em alguns
momentos desesperança, mas ainda tem
algum grau de esperança no futuro.
3. AUTODEPRECIAÇÃO
Qual é a sua opinião a respeito de si mesmo em comparação com as outras pessoas? Você se
sente melhor, não tão bom ou igual à maioria das pessoas ?
Você se sente inferior ou sem valor?
0. Ausente
1. Leve Algum sentimento de inferioridade está
presente, mas não se sente sem valor.
2. Moderada Sente-se sem valor, mas o sintoma está
presente por menos de 50% do tempo.
3. Grave Sujeito considera-se completamente sem
valor por mais de 50% do tempo. Pode ser
convencido a admitir o contrário.
174
0. Ausente
1. Leve Sujeito sente-se culpado, mas não
acusado, por menos de 50% do tempo.
2. Moderada Sentimento persistente de ser culpado, e/ou
ocasionalmente sentimento de ser acusado.
3. Grave Sentimento persistente de ser acusado.
Quando confrontado, admite que não é
exatamente assim.
5. CULPA PATOLÓGICA
Você costuma se auto-acusar por pequenas coisas que você fez no passado? Você acha que
você merece ficar tão preocupado com estas coisas ?
0. Ausente
1. Leve Sujeito sente-se excessivamente culpado por causa de pequenas faltas,
mas por menos de 50% do tempo.
2. Moderada Sujeito geralmente (mais de 50% do tempo) sente-se culpado por ações
cujo significado ele exagera.
3. Grave Sujeito sente-se acusado por tudo que saiu errado, mesmo que não
tenha sido por falta sua.
6. DEPRESSÃO MATUTINA
Quando você se sentiu deprimido nas duas últimas semanas, você notou em que período do dia
você se sente mais deprimido?
7. DESPERTAR PRECOCE
Você acorda pela manhã mais cedo do que é o habitual para você?
Quantas vezes por semana isso acontece?
8. SUICÍDIO
Você já sentiu que não valia mais a pena viver? Alguma vez você teve vontade de acabar com
tudo ? O que você pensou que poderia fazer? Você chegou realmente a tentar?
0. Ausente
1 . Leve Pensamentos freqüentes de estar melhor
morto, ou ocasionalmente pensa em
suicídio.
2. Moderado Deliberadamente cogitou o suicídio e
formulou um plano, mas não chegou a
tentá-lo.
3. Grave Tentativa de suicídio destinada a resultar
em morte (isto é: morte evitada por
descoberta acidental ou o sujeito utilizou
um método ineficiente).
176
9. DEPRESSÃO OBSERVADA
Baseado na observação do entrevistador durante toda a entrevista.
A pergunta “Você tem vontade de chorar” feita em momentos oportunos da entrevista pode dar
informações úteis para esta observação.
0. Ausente
1. Leve Sujeito aparenta tristeza e expressão de
alguém que está num velório até mesmo
durante alguns momentos da entrevista,
envolvendo-se de forma neutra na
discussão.
2. Moderada Sujeito aparenta tristeza e expressão de
alguém que está num velório durante a
entrevista, com a voz monótona e
desanimada e está choroso ou chora em
alguns momentos.
3. Grave Sujeito fica em silêncio nos momentos
estressantes, freqüentemente suspira
profundamente e chora abertamente, ou
está persistentemente num estado
miserável e o examinador tem certeza
desse fato.
PRONTUÁRIO: ________
2. Desesperança 0 1 2 3 [___]
3. Autodepreciação 0 1 2 3 [___]
8. Suicídio 0 1 2 3 [___]