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Ensino Secundário _______________________

Teste de avaliação de Português


12.ºano
Data: maio de 2018

TÓPICOS DE CORREÇÃO
VERSÃO 1 e 2

Grupo 0

Complete os espaços com as palavras adequadas. (10 pontos)

Filho e neto de (1)_____ camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de (2)_____ Azinhaga,
província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922, se bem que o registo oficial mencione como data de
nascimento o dia 18. Os seus pais emigraram para (3)_____ Lisboa quando ele não havia ainda completado
dois anos. […]
Fez estudos secundários (liceais e técnicos) que, por dificuldades (4)_____ económicas, não pôde
prosseguir. O seu primeiro emprego foi como (5)_____ serralheiro mecânico, tendo exercido depois diversas
profissões entre elas a de (6)_____ desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor,
editor, jornalista.
Publicou o seu primeiro livro, um romance, Terra do Pecado, em 1947, tendo estado depois largo
tempo sem publicar (até 1966). […]
A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor,
depois como autor. Casou, em segundas núpcias, com (7)_____ Pilar del Río em 1988 e em Fevereiro de
1993 decidiu repartir o seu tempo entre a sua residência habitual em Lisboa e a ilha de (8)_____ Lanzarote,
no arquipélago das Canárias (Espanha). Em (9)_____ 1998 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura.
José Saramago faleceu a 18 de Junho de (10)_____ 2010.
in https://www.josesaramago.org/biografia-jose-saramago/, (texto com supressões)

Grupo I

Leia com atenção o excerto de O ano da morte de Ricardo Reis.

Ricardo Reis não saiu para jantar […]. Já passava das onze horas, desceu ao jardim para olhar os
barcos uma vez mais, deles viu apenas as luzes de posição, agora nem sequer sabia distinguir entre avisos1 e
contratorpedeiros. Era o único ser vivo no Alto de Santa Catarina, com o Adamastor já não se podia contar,
estava concluída a sua petrificação, a garganta que ia gritar não gritará, a cara mete horror olhá-la. Voltou
Ricardo Reis para casa, certamente não vão sair de noite, à ventura, com risco de encalhe. Deitou-se, meio
despido, adormeceu tarde, acordou, tornou a adormecer, tranquilizado pelo grande silêncio que havia na
casa. A primeira luz da manhã entrava pelas frinchas da janela quando despertou, nada acontecera durante a
noite, agora que outro dia começara parecia impossível que alguma coisa pudesse acontecer. Recriminou-se
pelo despropósito de dormir vestido, só descalçara os sapatos e tirara o casaco e a gravata, Vou tomar um
banho, disse, baixara-se para procurar os chinelos debaixo da cama, então ouviu o primeiro tiro de peça.
Quis acreditar que se enganara, talvez tivesse caído qualquer objeto muito pesado no andar de baixo, um
móvel, a dona da casa com um desmaio, mas outro tiro soou, as vidraças estremeceram, são os barcos que
estão a bombardear a cidade. Abriu a janela, na rua havia pessoas assustadas, uma mulher gritou, Ai que é
uma revolução, e largou a correr, calçada acima, na direção do jardim. Ricardo Reis calçou-se rapidamente,
enfiou o casaco, ainda bem que não se despira, parecia que adivinhava […]. Quando Ricardo Reis chegou ao
jardim havia já muitas pessoas, morar aqui perto era um privilégio, não há melhor sítio em Lisboa para ver

1
Avisos: navios de guerra, pequenos e velozes.
1/6
entrar e sair os barcos. Não eram os navios de guerra que estavam a bombardear a cidade, era o forte de
Almada que disparava contra eles. Contra um deles. Ricardo Reis perguntou, Que barco é aquele, teve sorte,
calhou dar com um entendido, É o Afonso de Albuquerque. […]
Durante toda a tarde, Lídia não apareceu. Na hora da distribuição dos vespertinos 2 Ricardo Reis saiu para
comprar o jornal. Percorreu rapidamente os títulos da primeira página, procurou a continuação da notícia na
página central dupla, outros títulos, ao fundo, em normando3, Morreram doze marinheiros, e vinham os
nomes, as idades, Daniel Martins de vinte e três anos, Ricardo Reis ficou parado no meio da rua, com o
jornal aberto […]. É quase noite. Diz o jornal que os presos foram levados primeiro para o Governo Civil,
depois para a Mitra4, que os mortos, alguns por identificar, se encontram no necrotério. Lídia andará à
procura do irmão, ou está em casa da mãe, chorando ambas o grande e irreparável desgosto.
Então bateram à porta. Ricardo Reis correu, foi abrir já prontos os braços para recolher a lacrimosa
mulher afinal era Fernando Pessoa, Ah, é você, Esperava outra pessoa, Se sabe o que aconteceu, deve
calcular que sim, creio ter-lhe dito um dia que a Lídia tinha um irmão na Marinha, Morreu, Morreu. Estavam
no quarto, Fernando Pessoa sentado aos pés da cama, Ricardo Reis numa cadeira. Anoitecera por completo.
[…]. Fernando Pessoa tinha as mãos sobre o joelho, os dedos entrelaçados, estava de cabeça baixa. Sem se
mexer, disse, Vim cá para lhe dizer que não tornaremos a ver-nos, Porquê, O meu tempo chegou ao fim,
lembra-se de eu lhe ter dito que só tinha para uns meses, Lembro-me. Pois é isso, acabaram-se. Ricardo Reis
subiu o nó da gravata, levantou--se, vestiu o casaco. Foi à mesa-de-cabeceira buscar The god of the
labyrinth, meteu-o debaixo do braço, Então vamos, disse, Para onde é que você vai, Vou consigo, Devia
ficar aqui, à espera da Lídia, Eu sei que devia, Para a consolar do desgosto de ter ficado sem o irmão, Não
lhe posso valer, E esse livro, para que é, Apesar do tempo que tive, não cheguei a acabar de lê-lo, Não irá ter
tempo, Terei o tempo todo, Engana-se, a leitura é a primeira virtude que se perde, lembra-se. Ricardo Reis
abriu o livro, viu uns sinais incompreensíveis, uns riscos pretos, uma página suja, Já me custa ler, disse, mas
mesmo assim vou levá-lo, Para quê, Deixo o mundo aliviado de um enigma. Saíram de casa, Fernando
Pessoa ainda observou, Você não trouxe chapéu, Melhor do que eu sabe que não se usa lá. Estavam no
passeio do jardim, olhavam as luzes pálidas do rio, a sombra ameaçadora dos montes. Então vamos, disse
Fernando Pessoa, Vamos, disse Ricardo Reis. O Adamastor não se voltou para ver, parecia-lhe que desta vez
ia ser capaz de dar o grande grito. Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera.
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, 21ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 2013, pp. 573-575, pp. 580-582.

1. Localize o excerto na estrutura interna da obra. (10 pontos)


Situa-se precisamente no final da obra, são as suas últimas palavras… no rescaldo da revolta dos
marinheiros… no último encontro entre FP e RR…

2. Explique as atitudes de Ricardo Reis no primeiro parágrafo do excerto, recorrendo ao conhecimento


que possui da obra e da sua contextualização histórica. (20 pontos)
RR está inquieto, porque sabe, (por Lídia), que está a ser organizada uma revolta contra o regime
pelos marinheiros… vai ao miradouro a ver se vê alguma manobra, volta a casa, dorme vestido,
acorda no meio da noite… é só de manhã que a revolta é reprimida pelas forças do regime…RR
passa o dia preocupado, acaba por ler nos jornais da tarde que o irmão de Lídia morreu, (e procura-a
no hotel…)
Em 1936, vivia-se em Portugal um sistema ditatorial por Oliveira Salazar. O regime controlava
quaisquer opositores à sua ideologia, recorrendo à censura e à opressão, através da então criada
Polícia de Vigilância e Defesa do Estado. Neste excerto, estamos perante uma das tentativas de

2
Vespertinos: jornais que saíam ao fim da tarde (de véspera)
3
Normando: género de caracteres grossos, com ligações finas, que se empregam para fazer destacar certas passagens.
4
Mitra: situado em Marvila, era um albergue de acolhimento social.
2/6
revolução protagonizada por um conjunto de marinheiros, nos quais se incluía o irmão de Lídia, mas
que rapidamente foi abortada pelas forças repressoras, que se serviram, para o efeito, de
bombardeamentos aos barcos revoltosos a partir do forte de Almada.

3. Identifique, explicando o seu sentido, as relações intertextuais estabelecidas com Camões. (20 pontos)

A primeira relação intertextual estabelecida com Camões surge a propósito da estátua do Adamastor
que se ergue no Alto de Santa Catarina. Através da alusão e da descrição do gigante, o narrador
pretende, por um lado, denunciar o estado de latência e inércia de Portugal (e daí estar “concluída a
sua petrificação”, l. 4) e, por outro, indiciar já o fracasso da tentativa de revolta iminente por parte
dos marinheiros, que acabará por ser travada por um regime repressivo (“a garganta que ia gritar não
gritará”, l. 4). No final, volta a aludir-se ao grito preso do Adamastor como estando prestes a fazer
ouvir-se, metáfora de um tempo de mudança que se espera e cuja ideia é corroborada também através
da alteração do verso de Camões – “Onde a terra se acaba e o mar começa” – para – “Aqui, onde o
mar se acabou e a terra espera”.

4. Esclareça a metáfora subjacente ao título do livro que Ricardo Reis faz questão de levar consigo.
(20 pontos)

O título do livro acaba por refletir o estado labiríntico vivido por Ricardo Reis ao longo do tempo em
que esteve em Lisboa e em que tentou singrar como figura autónoma. Mas a verdade é que, não
tendo encontrado saída nem conseguindo dar um rumo à sua vida, facto que implicaria forçosamente
que passasse a adotar uma atitude ativa, Ricardo Reis acaba por desistir e opta por seguir Fernando
Pessoa em direção à morte.

Outras repostas são possíveis…. Labirintos: a cidade…, Ricardo Reis (a procuta de identidade…) …
a situação social e política…

Considere a sua experiência de leitura do conto “George” de Maria Judite de Carvalho e responda à
questão seguinte.
12A
5. Demonstre que Gi é o produto de uma recordação de George. (20 pontos)
George recorda-se enquanto criança… explicar a situação e o que é dito entre elas
12B
6. Demonstre que Georgina é o produto de uma imaginação de George. (20 pontos)
George projeta o seu futuro e imagina-se com 70 anos… explicar a situação e o que é dito entre elas

Grupo II

Leia atentamente o texto e responda às questões apresentadas. (50 pontos)

Se a liberdade tivesse dono era uma ditadura

“Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas,
os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado
5 a que chegámos”. Estas foram as últimas palavras de Salgueiro Maia às suas tropas antes da partida
3/6
rumo a Lisboa na madrugada de 25 de abril de 74.
Ontem comemorámos mais um aniversário da Revolução dos Cravos, celebrámos o 42º ano que
vivemos em liberdade, recordámos um dos momentos de maior coragem e ação cidadã que a nossa
pátria já conheceu.
10 Na “casa da democracia” ouvimos o Presidente da República apelar ao diálogo, à procura de
maior consenso político entre os partidos, apelar a menos campanha eleitoral e a mais realismo na ação.
Curiosamente, ou não, um discurso oportuno, proferido por um Presidente, que é cada vez mais o
Presidente de todos os portugueses, mas que acaba por repetir os apelos presidenciais já feitos no
passado.
15 O discurso presidencial provocou diferentes sensações aos vários grupos parlamentares, de
apoio ou repúdio, conforme cada parágrafo. No fundo, foi um discurso sem preferências partidárias,
mas sobretudo com vários recados ao governo, mas também à oposição, que cada um tentou interpretar
à sua maneira. Os recados foram dados, o caminho definido, a democracia continua viva.
Um fator que teima em marcar esta, como anteriores cerimónias, é naturalmente aquilo por que
20 lutou Salgueiro Maia, o grande capitão de Abril: eleições livres e funcionamento pleno do sistema
democrático. A humildade de Salgueiro Maia, o seu caráter e o seu espírito de missão em função do
interesse nacional, e não da sua crença ideológica, fazem dele o verdadeiro herói símbolo da nossa
democracia e da nossa liberdade. É por respeitar as instituições democráticas e os resultados da
25 democracia que Salgueiro Maia tem o significado que tem para a nossa história.
A terminar, não podia deixar de relatar aqui a oportunidade que me foi dada de participar na
mais emocionante cerimónia que testemunhei nestas comemorações anuais, a homenagem que o
Presidente da República, a autarquia e a cidade de Santarém prestaram a Salgueiro Maia na terra que o
30 adotou como o seu mais ilustre habitante. Marcelo fez questão de estar presente para, de forma simples,
bonita e muito honesta, no meio do povo, junto à viúva de Salgueiro Maia, a Professora Natércia Maia,
homenagear o nosso herói. Jamais esquecerei o momento, simples mas cheio de significado, em que a
sua neta, Daniela, leu um poema que terminou, dando a mão ao seu avô personificado na estátua que
35 tornou eterna a sua presença física, porque da memória jamais se sumirá, na capital da liberdade.
Obrigado, Capitão Salgueiro Maia!
Notícia in Expresso, edição online de 26 de abril de 2016 (adaptado e com supressões).

1. O uso de aspas nas primeiras linhas do texto justifica-se


(A) por se usar o discurso indireto.
(B) por se tratar de uma citação.
(C) pela ênfase dada às palavras proferidas.
(D) por se declarar um facto.

2. Neste texto, o autor


(A) relata objetivamente a cerimónia das comemorações do 25 de Abril.
(B) emite uma opinião valorativa sobre o discurso do Presidente da República.
(C) elogia a atitude dos “capitães de Abril”.
(D) critica a homenagem feita pelo Presidente da República a Salgueiro Maia.

3. Na opinião do autor, Salgueiro Maia


(A) não deveria ter estado presente nas cerimónias do 25 de Abril.
(B) assume, na história portuguesa, um papel tão preponderante como o Presidente da República.
(C) é o grande responsável pela democracia e a liberdade em Portugal.
(D) violou a própria democracia por causa dos seus preconceitos ideológicos.
4/6
4. A oração presente em “que vivemos em liberdade” (ll. 7-8) classifica-se como subordinada
(A) adverbial comparativa.
(B) adverbial consecutiva.
(C) substantiva completiva.
(D) adjetiva relativa restritiva.

5. Em “No fundo, foi um discurso sem preferências partidárias, mas sobretudo com vários recados ao
governo” (ll. 16-17), o vocábulo sublinhado contribui para a coesão gramatical
(A) temporal.
(B) referencial.
(C) frásica.
(D) interfrásica.

6. O segmento sublinhado “à viúva de Salgueiro Maia” (l. 31) desempenha a função sintática de
(A) modificador do nome apositivo.
(B) complemento do adjetivo.
(C) complemento do nome.
(D) complemento oblíquo.

7. A relação temporal que se estabelece entre o segmento “Jamais esquecerei o momento” (l. 32) e o
momento da enunciação é de
(A) simultaneidade.
(B) anterioridade.
(C) posteridade.
(D) --

8. O processo fonológico ocorrido na passagem de LIBERTATE- para “liberdade” é


(A) sonorização.
(B) palatalização.
(C) vocalização.
(D) metátese.

9. Identifique a modalidade presente em “Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que
chegámos” (ll. 2-3). Deôntica (valor de obrigação).

10. Classifique os deíticos presentes em “Ontem comemorámos mais um aniversário da Revolução dos
cravos” (l. 5). “Ontem”, deítico temporal; “comemorámos”, deítico temporal e pessoal.

Grupo III

Portugal, até há bem pouco tempo um país pouco conhecido fora da Europa, entrou na rota do turismo
internacional. Nos últimos tempos tem havido um progressivo aumento do número de visitantes, como
demonstram as estatísticas.

Redija um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350 palavras, e
defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia exposta no excerto transcrito. Fundamente o seu ponto de
vista, recorrendo a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. (50
5/6
pontos)
A professora
Arminda Gonçalves

6/6

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