Sombra Junguiana e Maçonaria
Sombra Junguiana e Maçonaria
Sombra Junguiana e Maçonaria
Loja Maçônica
Tradução Idalina Lopes
Eis realmente o ato “que consiste em reconhecer a existência real dos aspectos
obscuros da personalidade”, o ato que permanece “o fundamento indispensável
de todo modo de conhecimento de si, e, consequentemente, confronta-se, via
de regra, a uma resistência considerável”.
Com efeito, o alter ego ou o duplo muitas vezes encontra seu estranho lugar na
Literatura. Um dos exemplos mais marcantes é provavelmente esse magnífico
poema de Alfred Musset, La nuit de décembre, que retoma, como uma espécie
de leitmotiv obsedante, o símbolo desse “estranho vestido de negro / Que se
assemelha a mim como um irmão”… Esse conviva vem misteriosamente se
colocar ao lado do homem ao longo de seu processo de crescimento…
Quando Musset é aluno, seu duplo é uma pobre criança “vestida de negro”, ele
se torna “um jovem rapaz” quando o poeta completa seus 15 anos, depois,
“estranho” “na idade em que se crê no amor”, depois, “conviva” “na idade em
que se é libertino”, depois, “órfão” à noite… “Anjo ou demônio”, quem é no fundo
“essa sombra amiga”? Não é ela realmente “a face humana e suas mentiras?”.
Quem é, portanto, essa sombra do romântico Musset que lhe sorri sem
compartilhar sua alegria e o lamenta sem consolá-lo? “Seria um sonho vão?
Seria minha própria imagem / que percebo nesse espelho?” e um pouco mais
adiante: “Quem é, portanto, tu, espectro de minha juventude / Peregrino que
nada cansou?”, pergunta o poeta. De fato, Musset, mais visionário do que
parece, evoca a Sombra de Jung antes do nascimento deste último! E a Sombra
muitas vezes toma o aspecto de um personagem velado, obscuro, da cor do
cinza, do vago, do indistinto. Pode ser stricto sensu a sombra que a silhueta do
homem forma sob o Sol. Mas, na realidade, raramente é tão simples. A Sombra é
mais do que um visitante solitário. É uma onipresença plena de ambiguidade e
nem sempre reconhecida, ou declarada. E a confrontação com a sombra, em
Psicanálise, é um difícil e às vezes trágico duelo entre o analisado e o lado
sombrio de si mesmo.
Aliás, com um humor que revela e faz sentido, C. G. Jung evoca “a cauda do
sáurio” da qual o homem não consegue se livrar para se tornar um ser realmente
civilizado! Em Aion, ele exprime sem ambiguidade: “A sombra é essa
personalidade, oculta, recalcada, com muita frequência inferior e carregada de
culpa, cujas ramificações mais extremas remontam até o reino de nossos
ancestrais animais e engloba assim todo o aspecto histórico do inconsciente…”.