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Absorciometria no UV-VIS – Prof.

Evelton Casartelli – DEQUIM – ICE – UFRRJ – 1/2003

ABSORCIOMETRIA NO UV-VIS

1) INTRODUÇÃO
Históricamente, o termo espectroscopia refere-se ao ramo da ciência no qual estuda-se a luz e
a sua separaçãose em vários componentes chamados comprimentos de onda, que constituem o que
denominamos espectro. O conhecimento da composição da luz foi a base para o desenvolvimento da
teoria atomica moderna, além de permitir que a espectroscopia se tornasse uma ferramenta valiosa
para a análise quali e quantitativa.
Assim, a espectroscopia desenvolveu-se de tal forma que criaram-se ramos de estudo
envolvendo faixas definidas do espectro tais como raios-X, ultravioleta, infravermelho, microondas e
rádio-frequência.
Este item de nosso estudo será voltado para o uso da radiação UV e visível com fins
analíticos.

2) PROPRIEDADES DA RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA


Em uma definição bastante simples, a radiação eletromagnética é um tipo de energia que é
transmitida pelo espaço a grandes velocidades. Muitas das propriedades da radiação eletromagnética
são convenientemente descritas por meio do modelo ondulatório clássico que emprega parâmetros
como comprimento de onda, frequência, velocidade e amplitude. Em contraste a outros fenômenos
ondulatórios, como p. ex., o som, a radiação eletromagnética não requer nenhum meio de suporte
para sua transmissão, passando facilmente pelo vácuo.
O modelo ondulatório falha ao explicar o fenômeno associado com a absorção ou emissão de
energia. Para tratar estas propriedades adequadamente, a radiação eletromagnética deve ser vista
como composta por pacotes discretos de energia que se comportam como partículas denominadas
fótons, com a energia do fóton sendo proporcional à frequência da radiação. Estes dois pontos de
vista são complementares.

3) PROPRIEDADES DAS ONDAS


Para muitos propósitos, a radiação eletromagnética é convenientemente descrita como um
campo elétrico formado por oscilações senoidais que se move através do espaço. A Figura 1 é uma
representação bidimensional de um feixe de radiação monocromática (composto de apenas um
comprimento de onda) e plano polarizado. O termo plano polarizado implica que a oscilação do
campo elétrico encontra-se em um plano simples. O campo elétrico é representado como um vetor
cujo tamanho é proporcional à intensidade do campo. Esta variação na intensidade do campo elétrico
é similar ao campo elétrico variante com o tempo prodzido por uma tensão AC senoidal conectada a
dois eletrodos no vácuo. A abscissa neste gráfico é também o tempo em que a radiação passa um
ponto fixado no espaço ou a distância em um tempo fixo. Observe que a direção na qual o campo
oscila é perpendicular à direção na qual a radiação se propaga.

3.1) Parâmetros de Onda


Na Figura 1, a amplitude, A, da onda é definida como o comprimento do vetor elétrico no
máximo da onda. O tempo requerido para a passagem entre dois máximos, ou mínimos, é chamado
período da radiação, p. A frequência, ν, é o número de oscilações do campo por segundo e é igual a
1/p.

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Figura 1 – Representação de um feixe de radiação monocromática de


comprimento λ e amplitude A. As setas representam o vetor campo elétrico
da radiação.

É preciso entender que a frequência é determinada pela fonte e permanece invariante a


despeito do meio de passagem pela radiação. Em contraste, a velocidade de propagação υi, a taxa
pela qual a frente da onda se move através de um meio é dependente do meio e da frequência; o
subscrito i é usado para indicar esta dependência.
Outro parâmetro importante é o comprimento de onda, λi, o qual é a distância linear entre
dois máximos sucessivos, ou mínimos, de uma onda. A multiplicação da frequência em ondas por
segundo pelo comprimento de onda em centímetros, dá a velocidade de propagação em centímetros
por segundo:
υi= νλi Equação 1
No vácuo, a velocidade de propagação da radiação torna-se independente do comprimento de
onda e é máxima. Esta velocidade, a qual é dado o símbolo c, foi determinada como sendo
2,99792x1010 cm/s. A velocidade da radiação no ar difere muito pouco de c (cerca de 0,03% menos).
Assim, para as três figuras significativas, a Equação 2 é igualmente aplicável no ar ou vácuo.
c = νλ = 3,00x1010 cm/s Equação 2

A taxa de propagação da radiação υ é menor que c em um meio contendo matéria porque o


campo eletromagnético da radiação interage com os elétrons nos átomos ou moléculas do meio
sendo, consequentemente, retardado. Desde que a frequência radiante seja invariante e fixada pela
fonte, o comprimento de onda da radiação deerá diminuir quando passar do vácuo para um meio
material (Equação 1). Este efeito é ilustrado na Figura 2 para um feixe de radiação visível. Observar
que o comprimento de onda se encurta próximo a 200 nm, ou mais do que 30%, assim que a
radiação passa do ar para o vidro; uma troca reversa ocorre quando esta novamente penetra o ar.
_
O número de onda, ν , definido como o recíproco do comprimento de onda em centímetros
_
(1/λ), é uma outra forma de descrever a radiação eletromagnética. Ordináriamente, a unidade para ν
é cm-1, o qual é o número de ondas de uma frequência particular na distância de 1 cm.

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Figura 2 – Mudança no comprimento de onda assim que a radiação passa do


ar para um vidro denso e retorna para o ar.

3.2) Potência Radiante e Intensidade


A potência, P, da radiação é a energia do feixe que atinge a uma dada área por segundo; a
intensidade I, é a potência por unidade de ângulo sólido. Estas quantidades são relacionadas ao
quadrado da amplitude A (Figura 1) Embora não seja estritamente correto de se fazer, potência e
intensidade são frequentemente usadas sinonimamente.

4) PROPRIEDADES CORPUSCULARES DA RADIAÇÃO


Para compreender muitas das interações entre a radiação e a matéria, é necessário se postular
que a radiação eletromagnética é feita de fótons (ou quanta). A energia de um fóton depende da
frequência da radiação e é dada por E = hν
onde h é a constante de Planck (6,63x10-34 J.s). Em termos de comprimento de onda e número de
onda,
hc _
E= = hc ν
λ
Observar que o comprimento de onda, como a frequência, é diretamente proporcional à energia.

5) O ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO
O espectro eletromagnético engloba uma enorme faixa de comprimentos de onda e energias.
Por exemplo, um fóton de raio-X (λ≈10-10 m) é aproximadamente 10000 vêzes mais energético do
que um fóton emitido por um fio de tungstênio incandescente (λ≈10-6 m) e 1011 vêzes mais
energético do que um fóton na faixa de rádio-frequência.
A Figura 3 apresenta o espectro eletromagnético com faixas características. Uma pequena
fração do espectro constitui o que chamamos de espectro visível. A Figura 3 apresenta a região
visível do espectro. Tais radiações diversas como os raios gama ou as ondas de rádio, diferem da luz
visível apenas em matéria de frequência e, consequentemente, de energia.
A Figura 3 indica as regiões do espectro que são usadas para propósitos analíticos e as
respectivas transições, moleculares ou atômicas responsáveis pela absorção ou emissão de radiação
em cada região.

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Figura 3 – As regiões do espectro eletromagnético, relacionadas com o tipo de mudança quântica e a


espectroscopia associada a ela.

Figura 4 – (a) Espectro de absorção para o vapor de sódio. (b) Diagrama


parcial de níveis de energia para o sódio, mostrando as transições resultantes da
absorção a 590, 330, e 285 nm.

6) ABSORÇÃO DE RADIAÇÃO

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Quando um feixe de luz policromática (uv ou visível) passa através de um meio contendo
átomos no estado de vapor, apenas poucas frequências são atenuadas por absorção, e o espectro
consiste de um número de várias linhas de absorção, muito estreitas (≈ 0,005 nm). A Figura 4a
apesenta um exemplo de espectro de absorção no visível para átomos de sódio. A ordenada é a
absorvância a qual é o parâmetro de medida da atenuação do feixe. A Figura 4b é um diagrama
parcial para o sódio que mostra as transições responsáveis pelas três linhas de absorção em 4a. As
transições envolvem a excitação do único elétron da camada externa do átomo de sódio de seu
estado fundamental no orbin\tal 3s para orbitais superiores 3p, 4p e 5p. Estas excitações ocorrem
pela absorção de fótons cuja energias são exatamente iguais àquelas das transições entre os estados
excitados e o fundamental 3s.
O espectro atômico dos metais alcalinos são muito mais simples do que aqueles dos
elementos com elétrons adicionais na camada externa. O espectro atômico dos metais de transição
são particularmente ricos em linhas, com alguns elementos exibindo milhares delas.

7) ABSORÇÃO MOLECULAR
As moléculas sofrem três tipos de transições qando excitadas por radiação uv, visível e
infravermelha. Para radiação uv e visível, a excitação envolve a promoção de elétron residente em
um orbital atômico ou molecular de baixa energia, para um orbital de alta energia. A energia do
fóton deverá ser exatamente aquela da transição entre os dois orbitais. A transição de um elétron
entre dois orbitais é chamada de transição eletrônica e o processo de absorção é chamado de
absorção eletrônica.
Adicionalmente às transições eletrônicas, as moléculas exibem dois outros tipos de transições
induzidas por radiação: transições vibracionais e transições rotacionais. Estas transições relacionam-
se com os vários níveis de energia quantizada associados às ligações da molécula. A energia total E,
associada com uma molécula é dada pelo somatório das energias de transição eletrônica, vibracional,
rotacional e translacional: E = Eeletronica+Evibracional+Erotacional+Etranslacional.
A Figura 5a representa alguns dos processos que ocorrem quando espécies poliatômicas
absorvem radiação infrevermelha, visível e ultravioleta. As energias E1 e E2 dois dos muitos estados
eletronicamente excitados em uma molécula, são mostrados relativamente à energia de seu estado
fundamental E0. Adicionalmente, as energias relativas de alguns dos muitos estados vibracionais
associados com cada esado eletrônico são indicados pelas linhas horizontais mais claras.
Como as transições vibracionais e rotacionais estão mais ligadas à absorção de radiação
infravermelha, não seria interessante investirmos mais tempo neste tema. O que mais nos interessa
agora é a absorção de radiação uv e visível.

7.1) ABSORÇÃO DE RADIAÇÃO UV E VISÍVEL


As setas centrais na Figura 5a, sugerem que as moléclulas sob consideração absorvem
radiação visível de cinco comprimentos de onda, promovendo assim, seus elétrons aos cinco níveis
vibracionais do nível eletrônico excitado E1. Os fótons ultravioleta que são mais energéticos são
requeridos para produzir a absorção indicada pelas cinco setas à direita.
Como a Figura 5a sugere, a absorção molecular nas regiões do uv e visível consiste de
bandas de absorção constituídas de linhas muito próximas. Como uma molécula real possui muito
mais níveis do que o apresentado na figura, é de se imaginar que uma banda de absorção típica
consiste de uma multitude de linhas muito próximas umas das outras. Em uma solução, as espécies
absorvedoras estão circundadas pelas moléculas do solvente, e a natureza da banda da absorção

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molecular frequentemente torna-se distorcida devido ao espalhamento das energias dos estados
quânticos por colisões, produzindo assim, picos de absorção contínuos e suaves.

- Processos de relaxação
O tempo de vida de uma espécie excitada é breve devido aos muitos mecanismos pelos quais
uma molécula ou átomo excitado podem doar sua energia excedente e relaxar ao estado
fundamental. Os dois mecanismos mais importantes são a relaxação não-radiativa e a relaxação
fluorescente, apresentadas nas Figuras 5b e 5c. Os tempos de vida destes estados variam de 10-15s a
10-6 s.

Figura 5 – Diagrama de níveis de energia mostrando algumas mudanças de energia que


ocorrem durante a absorção, relaxação não radiativa e fluorescência por espécies
moleculares.

8) TERMOS EMPREGADOS EM ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO


A Tabela 2 apresenta alguns dos termos mais comuns e os símbolos utilizados em
absorciometria. Esta nomenclatura é recomendade pela American Society for Testing Materials
(ASTM) assim como pela American Chemical Society. A terceira coluna da tabela apresenta
símbolos alternativos encontrados na literatura antiga. Como a nomenclatura padrão é altamente
indicada, de forma a se evitar ambiguidades, recomenda-se utilizar os símbolos padrão e se evitar os
mais antigos.

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8.1) TRANSMITÂNCIA
A Figura 6 apresenta um feixe de radiação paralelo antes e após passar através de uma
camada de solução com uma espessura de b cm e uma concentração c de uma espécie absorvedora.
Como consequência das interações entre os fótons e as partículas absorvedoras, a potência do feixe é
atenuado de P0 a P. A transmitância T da solução é definida como a fração da radiação incidente
P
transmitida pela solução T= Equação 3
P0
A transmitância é normalmente expressa em percentagem.

Tabela 2 – Termos utilizados na absorciometria


Nome e Símbolo
Termo e Símbolo Definição
alternativos
Energia da radiação (em ergs)
Intensidade de radiação
Potência Radiante P, P0 incidindo em uma área de 1 cm2
I, I0
de um detector por segundo.
P0 Densidade óptica D; extinção,
Absorvância, A log E
P
P
Transmitância, T Transmissão, T
P0
Caminho óptico da
---- l, d
radiação* , b
A
Absortividade* , a Coeficiente de extinção k
bc
A
Absortividade Molar** , ε Coeficiente de extinção molar
bc
*c pode ser expressa em g/L ou em outras unidades de concentração especificadas; b pode ser expresso
em cm ou em outras unidades de comprimento.
** c é expressa em mol/L; b é expreso em cm.

Figura 6 – Atenuação de um feixe de radiação por uma solução


absorvente.

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8.2) ABSORVÂNCIA
A absdorvância A de uma solução é definida pela equação
P
A = − log T = log 0 Equação 4
P
Observar que, em contraste com a transmitância, a absorvância de uma solução aumenta com
o aumento da atenuação do feixe de radiação. Se um espectrofotômetro é calibrado em transmitância
e absorvância, a Equação requererá que a escala de absorvância seja logarítmica.

9) A RELAÇÃO ENTRE ABSORVÂNCIA E CONCENTRAÇÃO – A LEI DE BEER


A relação funcional entre a quantidade medida no método de absorção (A) e a quantidade
procurada (a concentração do analito), é conhecida como a Lei de Beer e pode ser escrita como
P
A = log 0 = abc Equação 5
P
onde a é uma constante de proporcionalidade chamada absortividade e b é o caminho óptico da
radiação através do meio absorvente. Como a absorvância não possui unidade, a absortividade
possui unidades que cancelam as unidades de b e c.
Quando a concentração na Equação 3 é expressa em moles por litro e b é em centímeros, a
constante de proporcionalidade é chamada absortividade molar e é dada por um símbolo especial, ε
(epson). Assim,
A = εbc Equação 6
onde ε possui unidades de Lcm-1mol-1.

9.1) A MEDIDA EXPERIMENTAL DA TRANSMITÂNCIA E DA ABSORVÂNCIA


Transmitância e absorvância, como definidas nas equações 3 e 6, não podem ser medidas no
laboratório porque a solução estudada deverá ser suportada em algum tipo de recipiente. A interação
entre a radiação entre as paredes do recipiente e a radiação é inevitável, com perdas na potência
ocorrendo em cada interface como o resultado da reflexão e possivelmente absorção (Figura 7)

Figura 7 – Perdas por reflexão e espalhamento.

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As perdas por reflexão são sustanciais. Por exemplo, pode ser mostrado que cerca de 8,5% de
um feixe de luz amarela é perdido por reflexão quando passa verticalmente através de um becher de
vidro cheio com água. Em adição às perdas refletivas, o espalhamento por moléculas grandes ou
inomogeneidades no solvente pode causar uma diminuição na potência do feixe assim que ele passa
pela solução.
De forma a compensar estes efeitos, a potência do feixe transmitido através da cela contendo
a solução absorvedora é geralmente comparado com aquela do feixe que passa através de uma cela
idêntica contendo apenas o solvente. Uma absorvância experimental é então definida pela equação

Psolvente P
A = log = log 0 Equação 7
Psolução P

Tais absorvâncias experimentais obedecem a lei de Beer e são presumivelmente boas aproximações
das absorvâncias verdadeiras. Daqui por diante, o termo absorvância irá se referir à razão definida
pela equação 7, sendo P0 a potencia da radiação após a passagem pela cela contendo apenas o
solvente e P sendo a potência após a passagem através de idêntica cela contendo a solução do
analito.

9.2) APLICAÇÃO DA LEI DE BEER A MISTURAS – ADITIVIDADE DE ABSORVÂNCIAS


A lei de Beer aplica-se a soluções contendo mais do que uma espécie absorvedora. Supondo
que não ocorra interação entre as várias espécies, a absorvância total do sistema multicomponente
será dada por:
Atotal = A1 + A2 + ....... + An = ε1bc1 + ε2bc2 + + εnbcn Equação 8

9.3) LIMITAÇÕES DA LEI DE BEER


A relação linear que existe entre absorvância e o caminho óptico a uma dada concentração do
analito é uma generalização para a qual não se conhecem exceções. Contudo, podem ocorrer desvio
da proporcionalidade direta entre absorvância e concentração a uma constante b. Alguns destes
desvios são fundamentais e represental limitações reais para a lei. Outros ocorrem como uma
consequência da maneira pela qual a absorvância é medida (desvios instrumentais) ou como
resultado de mudanças químicas associadas a alterações na concentração do analito (desvios
químicos).

9.3.1) LIMITAÇÕES REAIS


A lei de Beer é bem sucedida na descrição do comportamento absortivo somente de soluções
diluídas e neste sentido é uma lei limitante. A altas concentrações (usualmente >0,01M), as
distâncias médias entre as partículas das espécies absorvedoras são diminuídas ao ponto onde cada
partícula afeta a distribuição de cargas de suas vizinhas. Esta interação pode alterar a habilidade das
partículas de absorver um dado comprimento de onda de radiação. Como a extensão da interação
depende da concentração, a ocorrência deste fenômeno causa desvios da relação linear entre
absorvância e concentração. Um efeito similar é algumas vêzes encontrado em soluções diluídas de
abservedores que contém altas concentrações de outras espécies, particularmente eletrólitos. A
proximidade dos íons ao absorvedor altera a absortividade molar deste último por interações
eletrostáticas, as quais levam a partida da lei de Beer.

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Enquanto o efeito de interações moleculares não é muito significante a concentrações abaixo


de 0,01M, algumas exceções são encontradas entre certos íons ou moléculas orgânicas grandes. Por
exemplo, a absortividade molar a 436 nm para o cátion do azul de metileno aumenta por 88% assim
que a concentração do corante aumenta de 1x10-5 para 1x10-2 M; mesmo abaixo de 1x10-6M, a
aderência estrita à lei de Beer, não é observada.
Desvios também ocorrem devido à dependência da absortividade molar em relação ao índice
de refração da solução. Assim, se a mudança de concentração causa alterações significativas no
índice de refração de uma solução, desvios da lei de Beer são observados. Em geral, este efeito é
pequeno e raramente significante a concentrações abaixo de 0,01M.

9.3.2) DESVIOS QUÍMICOS


Desvios aparentes da lei de Beer aparecem quando o analito sofre associações, dissociações,
ou reações com o solvente para dar produtos com características absorventes que diferem daquelas
do analito original. Como mostrado no exemplo abaixo, a extensão de tais desvios pode ser prevista
das absortividades molares das espécies absorvedoras e das constantes de equilíbrio para as reações
envolvidas.

Exemplo:
Uma série de soluções contendo várias concentrações de um indicador ácido Hin (Ka=1,42x10-5) foi
preparada em HCl 0,1M e NaOH 0,1M. Em ambos os meios, uma relação linear entre a absorvância
e a concentração foi observada a 430 e 570 nm. Da magniture da constante de dissociação ácida, é
aparente que , para todos os propósitos práticos, o indicador está inteiramente na forma não
dissociada (HIn) na solução de HCl e compleamente dissociado como In- em NaOH. As
absortividades molares nos dois comprimentos de onda são:

ε430 ε570
2
HIn (em HCl) 6,30x10 7,12x103
In- (em NaOH) 2,06x104 9,60x102

Derive dados de absorvância (cela de 1,00 cm) nos dois comprimentos de onda para soluções não
tamponadas com as concentrações do indicador na faixa de 2x10-5 a 16x10-5 M. Grafique os dados.
RESOLUÇÃO:
Vamos calcular a concentração de HIn e In- na solução não tamponada de 2x10-5 do indicador. Da
equação para a reação de dissociação, é aparente que:
[H+]=[In-]
Assim,
[In-] + [HIn] = 2,00x10-5 M

A substituição destas relações na expressão para o Ka do indicador produz:


− 2
[In ] −5
−5 −
= 1,42x10
2,00x10 − [In ]
Rearranjando temos a expressão quadrática:
[In-]2 + (1,42x10-5)[In-] - 2,84x10-10 = 0
A qual resolvida dá os resultados seguintes:

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[In-] = 1,12x10-5
[HIn] = 2,00x10-5 - 1,12x10-5 = 0,88x10-5

A absorvância nos dois comprimentos de onda são encontradas substituindo as concentrações encontradas
na Equação 8:
A430 = (6,30x102 x 1,00 x 0,88x10-5) + (2,06x104 x 1,00 x 1,12x10-5) A430 = 0,236
A570 = (7,12x10 x 1,00 x 0,88 x10 ) + (9,6x10 x 1,00 x 1,12x10 ) A570 = 0,073
3 -5 2 -5

Os dados da tabela abaixo foram derivados da mesma forma e encontram-se graficados na Figura 8.

CHin x10-5 M [HIn] x10-5 [In-] x10-5 A430 A570


2,00 0,88 1,12 0,236 0,073
4,00 2,22 1,78 0,381 0,175
8,00 5,27 2,73 0,596 0,401
12,00 8,52 3,48 0,771 0,640
16,00 11,9 4,11 0,922 0,887

Figura 8 – Desvios da lei de Beer para


soluções não tamponadas do indicador Hin.
Para dados, ver o exemplo dado no texto.

9.3.3) DESVIOS INSTRUMENTAIS COM RADIAÇÃO POLICROMÁTICA


A lei de Beer é também uma lei limitante no senso que ela é aplicada apenas quando a
absorvância é medida com radiação monocromática. Fontes monocromáticas verdadeiras, tais como
lasers, não são práticas para instrumentos de rotina analítica. Ao contrário, uma fonte policromática
contínua é empregada em conjunto com uma rede de difração ou filtros que isolam uma banda mais
ou menos simétrica de comprimentos de onda em torno do desejado.A seguinte derivação ilustra
como tal fonte pode levar a desvios da lei de Beer.
Considere um feixe feito de apenas dois comprimentos de onda, λ1 e λ2, e assuma que a lei de
Beer se aplica estritamente a eles. Com esta assunção, podemos escrever para a radiação λ1:
0
P
A 1 = log 1 = ε1 bc
P1

0
P1 ε1bc 0 − ε 1 bc
= 10 P1 = P1 10
P1

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Similarmente para o segundo comprimento de onda teremos:

0
P2 ε 2 bc 0 − ε 2 bc
= 10 P2 = P2 10
P2

Quando a medida de absorvância é feita com radiação composta de ambos os comprimentos


de onda, a potência do feixe emergente da solução é dada pela soma de P1 + P2, e aquele emergente
do solvente dado por P10 + P20. Assim, a medida da absorvância é
0 0
P + P2
A m = log 1
P1 + P2
o qual pode ser reescrito como:

0 0
P1 + P2
A m = log 0 − ε1bc 0 − ε 2 bc
P1 10 + P2 10
0 0 0 − ε1bc 0 − ε 2 bc
A m = log(P1 + P2 ) − log(P1 10 + P2 10 )

Agora, quando ε1 = ε2, esa equação simplifica-se a: Am = ε1bc


e a lei de Beer é seguida. Como mostrado na Figura 9, a relação entre Am e concentração não é mais
linear quando as molaridades absortivas diferem. Ainda mais, desvios da linearidade tornam-se
maiores quando a diferença entre ε1 e ε2 aumenta. Quando este tratamento é expandido para incluir
comprimentos de onda adicionais, o efeito permanece o mesmo.
É um fato experimental que desvios da lei de Beer resultantes do uso de feixes
policromáticos não são apreciáveis, desde que a radiação usada não esteja em uma região espectral
na qual o absorvedor exiba grandes mudanças na absorvância como uma função do comprimento de
onda. Esta observação é ilustrada na Figura 10.

Figura 9 – Desvios da lei de Beer com luz policromática. O


absorvedor tem a absortividade molar indicada nos dois
comprimentos de onda λ1 e λ2.

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Figura 10 – O efeito da radiação


policromática sobre a lei de Beer. A banda A
mostra pequeno desvio porque ε não muda
muito até o fim da banda. A banda B mostra
um desvio marcante porque ε sofre mudanças
significantes nesta região.

9.3.4) DESVIOS INSTRUMENTAIS NA PESENÇA DE RADIAÇÃO ESPÚRIA


A radiação empregada para medidas de absorvância é usualmente contaminada com
pequenas quantidades da radiação espúria devido a imperfeições instrumentais. A radiação espúria é
o esultado de fenômenos de espalhamento pelas superfícies de prismas, lentes, filtros e janelas. Ela
frequentemente difere muito no comprimento de onda da radiação principal e, adicionalmente, pode
não ter passado através da amostra ou solvente.
Quando medidas são feitas na presença de radiação espúria, a absorvância observada é dada
0
P + PS
por A' = log
P + PS
onde PS é a potência da radiação espúria. A Figura 11 mostra um gráfico de A’ versus concentração
para vários níveis de PS relativo a P0.
Observe que os desvios instrumentais ilustrados nas Figuras 10 e 11, resultam em
absorvâncias que são menores do que as teóricas. Pode ser mostrado que os desvios instrumentias
sempre levam a erros negativos de absorvância (ver E.J. Meeham, em Treatise in Analytical
Chemistry, wnd ed., P.J. Elving, E.J.Meeham, and I.M. Kolthoff, Eds., Part I, Vol. 7, pp 71-79. New
York: Interscience, 1981).

Figura 11 – Desvios aparentes da lei de Beer causados por


várias quantidades de radiação espúria.

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10) ERRO FOTOMÉTRICO


Mesmo para um sistema que não mostre desvios quanto à lei de Beer, o intervalo de concentração
onde as análises fotométricas são úteis limita-se tanto a valores altos como a baixos. Em
concentrações elevadas do material absorvente, a quantidade de luz que a atravessa é tão pouca que a
sensibilidade do fotômetro torna-se inadequada. Em concentrações baixas, por outro lado, o erro
inerente à leitura do galvanômetro ou a outro dispositivo indicativo torna-se grande em comparação
com a quantidade que está sendo medida. Em vários instrumentos fotoelétricos a deflexão do
galvanômetro ou a posição de equilíbrio de um potenciômetro é diretamente proporcional à potência
da radiação que incide na fotocela. Isso significa que a menor variação detectável na potência, ∆P,
será constante, independentemente do valor absoluto da potência. Para maior precisão na medida da
absorvância A, contudo, o incremento ∆A, que corresponde à variação de potência ∆P, deve ser uma
fração tão pequena quanto possível da absorvância real A; em outras palavras, a quantidade ∆A/ A
deve ser um mínimo. Para determinar a transmitância para a qual ∆A/A será um mínimo, é necessário
diferenciar a lei de Beer duas vezes e igualar a segunda diferencial a zero. É conveniente reescrever
a lei na forma :
A = log P0 – log P
Então
1
dA = 0 − (log e) dP
P
donde
1 0,4343 1 0,4343 1
dA = − dP = − dP
A A P A P0 10 −A

substituindo as diferenciais por incrementos infinitos,


∆A 0,4343∆P  1 
=−  −A

A P0  A10 
Diferenciando novamente (lembrar que ∆P é uma constante),

d(∆A / A ) 0,4343∆P  10 ln 10 10 
A A

=− − 2  Equação
dA P0  A A 
 

A condição para o valor mínimo de ∆A/ A é que o membro da direita da Equação seja zero. Isso
significa que o fator dentro do parênteses deve ser zero, ou

A A
10 ln 10 10 1
= 2 , donde A= = 0,4343
A A ln 10

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Isso significa que o melhor valor para a absorvância é 0,4343, o que corresponde a uma
transmitância T = 36,8%. O erro relativo em uma análise com um erro de 1% na medida fotométrica,
por variação da transmitância ou absorvância, é mostrado graficamente na Figura 12. A situação
poderia talvez ser visualizada mais facilmente, especialmente para aqueles que seguem o cálculo
com dificuldade, com o auxílio da Figura 13 , onde a lei de Beer é colocada em um gráfico na forma
P/Po = 10-abc . Um valor arbitrário de ∆T = 1% é colocado em um gráfico em três posições, a 10%,
37% e 90% de T. A incerteza correspondente, em porcentagem de concentração, é maior em valor
absoluto no ponto 10% de T, o que resulta em uma baixa precisão. No outro extremo, 90% de T, a
incerteza é muito menor, mas representa uma grande fração da concentração total, o que novamente
fornece baixa precisão. É evidente que deve existir um ponto intermediário em que as duas
tendências se igualam e o erro é mínimo. Esse ponto corresponde aos 37%.

Figura 12 – Erro relativo com função da Figura 13 – Lei de Beer, colocada como
Transmitância transmitância em função da concentração.

É aparente na Figura 12 que, apesar do erro ser mínimo a 37% de T, isso não será muito
importante num intervalo de transmitância entre 15 e 65% (absorvância 0,8 a 0,2).
O gráfico de calibração de uma análise fotométrica pode ser representado tanto pela curva
exponencial da Figura 13 como pela linha reta de um gráfico de calibração. Esta tem a vantagem de
mostrar a região onde se segue a lei de Beer, mas não fornece nenhuma indicação da precisão
relativa nos vários níveis de absorvância. A Figura 14 mostra a curva obtida relacionando-se a
porcentagem de transmitância em função do logaritmo da concentração. Se se abrange um intervalo
suficientemente grande de concentrações, sempre resulta uma curva em S, algumas vezes chamada
curva de Ringbom. Se o sistema segue a lei de Beer, o ponto de inflexão ocorre a uma transmitância
de 37% ; se não, a inflexão ocorre em outro valor, mas a forma geral da curva é a mesma. A curva
geralmente apresenta uma considerável região em que é praticamente reta. A extensão dessa parte
reta indica diretamente o intervalo ótimo de concentrações para uma determinada análise
fotométrica.

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Figura 14 – Curvas padrão para o permanganato. Figura 15 – Espectro de absorção do


As curvas contínuas foram determinadas nos permanganato de potássio em solução aquosa.
seguintes comprimentos de onda: 1) 526 nm; 2)
480 nm; 3) 580 nm. A curva pontilhada 4 contém
valores obtidos com um fotômetro de filtro em 430
nm.

Além disso, a precisão da análise pode ser calculada pela inclinação da curva, pois, quanto
mais íngreme for a curva, mais sensível será a determinação. Por um procedimento diferencial,
pode-se mostrar que, se o erro fotométrico absoluto for de 1 %, o erro relativo percentual na análise
será dado por 230/S, onde S é a inclinação considerada como a variação de transmitância em
porcentagem (lida na escala de ordenada), correspondendo a uma variação de dez vezes na
concentração. O erro relativo na determinação do permanganato pela curva 1 da Figura 14 é
mostrado por uma aplicação dessa relação como sendo aproximadamente 2,8% para 1% de erro
fotométrico absoluto. Se o erro na leitura do fotômetro (reprodutibilidade) for 0,2% (um valor
razoável com os instrumentos modernos), então o erro relativo da análise será ao redor de 0,6%.
Uma análise semelhante por meio da curva 4 seria bem menos precisa. A precisão com as curvas 2
ou 3 é aproximadamente a mesma que com a curva 1, mas o intervalo de concentrações utilizáveis é
deslocado para valores maiores. Uma comparação detalhada das Figuras 14 e 15 mostrará os
motivos disso.

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O intervalo de concentrações convenientes para análises com precisão adequada, como


indicado pela porção reta do gráfico de T em função de log c, pode ser muito pequeno para aplicação
a substâncias desconhecidas. Há vários métodos pelos quais esse intervalo útil pode ser estendido na
direção de maiores concentrações. O mais óbvio é simplesmente a diluição quantitativa da solução
para levá-la aos limites exigidos. Essa aproximação, se levada muito longe, pode falhar em suas
próprias finalidades, pois os erros volumétricos acumulados parcialmente destroem a vantagem da
precisão fotométrica. De modo semelhante, uma solução mais diluída pode ser preparada tomando
uma pequena amostra, limitando-se assim a precisão à sensibilidade da balança disponível. Esses
métodos geralmente são suficientes para permitir o uso de métodos absorciométricos, sensíveis a
amostras ricas no analito.
Referências à Figura 14 mostram que as análises também podem ser feitas com concentrações
maiores, escolhendo-se outros comprimentos de onda. O intervalo útil para o permanganato é cerca
de 6 a 60 ppm de manganês a 580 nm, comparado com 2 a 20 ppm a 526 nm.

11) INSTRUMENTAL
11.1) COMPONENTES DE UM INSTRUMENTO
Muitos instrumentos espectroscópicos são feitos basicamente de cinco componetes:
1) Uma fonte estável de energia radiante;
2) Um seletor de comprimentos de onda que permita o isolamento de uma região restrita de
comprimento de onda;
3) Um ou mais compartimentos para a amostra e/ou referência;
4) Um detector, o qual converta a energia radiante a um sinal mensurável (usualmente elétrico);
5) Um processador de sinal e leitura.

O diagrama da Figura 16 apresenta a disposição destes componentes em uma configuração


típica de um espectrômetro de UV-VIS.
Vale a pena observar que, muito embora nas medidas de absorvância o feixe da fonte passe
através da amostra após deixar o seletor de comprimentos de onda, em alguns instrumentos as
posições da amostra e do seletor são invertidas.

11.1.1) FONTES
Os equipamentos destinados à absorciometria no UV-VIS, necessitam de uma fonte de
radiação externa que seja constante e intensa o suficiente que torne a detecção e a medida, fáceis.
Típicamente, a potencia radiante de uma fonte varia exponencialmente com a tensão de sua fonte
elétrica. Por esta razão, são requeridos, frequentemente, reguladores de tensão para alimentar as
fontes de potência destes equipamentos.
O problema da estabilidade da fonte é algumas vêzes resolvido através da divisão do feixe da
fonte em um feixe de referência, o qual passa através do solvente, e de um feixe de amostra, o qual
passa através da solução do analito. O detector é então iluminado alternadamente como os dois
feixes, ou os feixes são monitorados por dois detectores simultâneamente (detectores “casados”). A
razão das intensidades dos dois feixes fornece um parâmetro analítico que é grandemente
independente de flutuações da fonte. Serão descritas brevemente, a seguir, as fontes contínuas mais
comuns de ultravioleta e visível.

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Figura 16 – Componentes dos instrumentos de feixe simples (a) e feixe duplo (b).

• Lâmpadas de hidrogênio e deutério


Um espectro verdadeiramente contínuo na região do UV é produzido pela excitação elétrica
do deutério ou hidrogênio a baixa pressão. O mecanismo pelo qual um contínuo é produzido envolve
a formação de uma molécula excitada (D2* ou H2*) pela absorção de energia elétrica. Estas espécies
se dissociam para produzir dois átomos de hidrogênio ou deutério mais um fóton ultravioleta. As
reações para o hidrogênio são:
H2 + Ee → H2* → H’ + H’’ + hν
Onde Ee é a energia elétrica absorvida pela molécula. A energia do processo total é

Ee = E * =E ' +E '' + hν
H2 H H

onde E * é a energia quântica fixada de H2* e E ' e E '' são as energia cinéticas do sdois átomos
H2 H H

de hidrogênio. A soma destas duas últimas energias pode variar de zero até H2*. Assim a energia e a
frequência dos fótons pode também variar cdentro desta faixa de energia. Assim, quando as suas
energias cinéticas são pequenas, hν é grande, e quanto as duas energias são grandes hν é pequeno. A
consequência é um espectro verdadeiramente contínuo de cerca de 160 nm até o início da região do
visível.
As lâmpadas de deutério e hidrogênio fornecem um espectro contínuo na regial de 160 a 375
nm, como mostrado na Figura 17.

Figura 17 – Saída de radiação de uma lâmpada de deutério.

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A intensidade de uma lâmpada de deutério é maior que aquela da lâmpada de hidrogênio, o


que leva a um maior uso da primeira. Em comprimentos de onda mais longos (>360 nm), as
lâmpadas geral linhas de emissão, as quais são superimpostas em um contínuo. Em virtude do
grande ruído observado, não são boas para fins analíticos. Contudo podem ser usadas para calibração
de instrumentos.

• Lâmpadas de filamento de tungstênio


A fonte mais comum de radiação visível e infravermelho próximo é a lâmpada de filamento
de tungstênio. A distribuição de energia é próxima a de um corpo negro e é assim dependente da
temperatura. A Figura 18 apresenta o espectro característico desta fonte na temperatura de 3000 K.
Em muitos equipamentos a temperatura de operação é de 2900 K, sendo que a maior parte da energia
é emitida na região do infravermelho. Uma lâmpada de filamento de tugstênio é usual na região de
320 a 2500 nm. O limite mais baixo é imposto pela absorção do vidro da lâmpada.
Lâmpadas de halogênio/tungstênio contém uma quantidade pequena de iodo dentro do
envelope de quartzo que forma o corpo da lâmpada. O quartzo permite ao filamento ser operado a
uma temperatura de cerca de 3500oC, a qual leva a intensidades mais altas e aumenta a faixa da
lâmpada no UV (240-2500 nm). O tempo de vida desta lâmpada é mais que o dobro daquele de uma
lâmpada comum de tungstênio, pois a vida desta última é limitada pela sublimação do tungstênio do
filamento. Na presença de iodo, o tungstênio sublimado reage para produzir moléculas de WI2
gasoso, o qual então se difunde de volta para o filamento quente, onde se decompõe e redeposita
como átomos de tungstênio. Estas lâmpadas têm encontrado maior uso em instrumentos modernos
em virtude de sua faixa extendida de comprimento de onda, maior intensidade e vida mais longa.

Figura 18 – Espectro produzido por várias


fontes, dentre elas a de tungstênio.

11.1.2) SELETORES DE COMPRIMENTOS DE ONDA


Os equipamentos espectroscópicos para medidas de absorvância são equipados com um
dispositivo que restringe a radiação sendo medida a uma banda estreita que é absorvida pelo analito.
Tais dispositivos são essenciais na melhoria da seletividade e da sensibilidade de um instrumento, já
que larguras de banda estreitas aumentam a aderência à lei de Beer.
Deve-se deixar bem claro que nenhum seletor é capaz de produzir radiação de um simples
comprimento de onda. Ao contrário, a saída de tal dispositivo é uma faixa de comprimentos de onda

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contíguos chamada de banda; estes comprimentos de onda são distribuídos mais ou menos
simétricamente em torno do comprimento de onda nominal central. Como mostrado na Figura 19
largura efetiva de banda ou largura de banda de um seletor é definida como a largura da banda em
unidades de comprimento de onda à meia altura do pico. As larguras de banda variam muito de um
equipamento para outro. Por exemplo, um espectrômetro de boa qualidade na região do visível, pode
ter uma banda efetiva de alguns décimos de nanômetro, ao passo que um filtro na mesma região
pode possuir uma largura de banda de 200 nm ou mais. Como mostrado na Tabela 3, dois tipos
gerais de seletores de comprimento de onda, filtros e monocromadores, são usados para produzir
bandas estreitas de radiação. Os monocromadores têm a vantagem de que o comprimento de onda de
sua saída pode variar contínuamente sobre umafaixa espectral considerável.

Tabela 3 – Seletores de comprimentos de onda para espectroscopia.


FAIXA DE
TIPO OMPRIMENTO DE OBSERVAÇÃO
ONDA
CONTÍNUAMENTE VARIÁVEL
3000 linhas/mm no
REDE 100 – 40000
UV
PRISMA 120 - 30000

DESCONTÍNUA
FILTRO DE INTERFERÊNCIA 200 - 14000
FILTRO DE
ABSORÇÃO
380 – 750

Figura 19 – Saída de uma fenda de saída quando o monocromador


faz a varredura de λ1-∆λ para λ1+∆λ.

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11.1.2.1) FILTROS
Os filtros operam pela absorção total de uma banda restrita de radiação de uma fonte
contínua. Como mostrado na Figura 20, um filtro é geralmente caracterizado pelo seu comprimento
de onda nominal, sua transmitância percentual máxima e sua largura efetiva de banda.

Figura 20 – Larguras de bandas de dois tipos de filtros.

11.1.2.1.1) Filtros de Interferência


Os filtros de interferência encontram uso com radiação UV e visível assim como com
comprimentos de onda até 14µm na região do infravermelho. Como o nome implica, um filtro de
interferência funciona na base de interferência óptica para fornecer uma banda relativamente estreita
de radiação.
Consiste de uma camada muito fina de um material transparente (frequentemente CaF2 ou
MgF2) recoberto de ambos os lados com um filme metálico que é fino o suficiente para transmitir
cerca de 50% da radiação incidente, refletindo o restante. Este arranjo é colocado entre duas placas
de vidro que o protegem contra a atmosfera. Quando a radiação atinge a arranjo central a um ângulo
de 90 graus, aproximadamente metade é transmitida pela primeira camada metálica e a outra é
refletida. A radiação transmitida sofre uma partição similar quando atinge a segunda camada
metálica. Se a porção refletida da segunda camada é do próprio comprimento de onda, ela é
parcialmente refletida da porção interna da primeira camada em fase com a luz penetrante de mesmo
comprimento de onda. O resultado é uma interferência construtiva da radiação deste comprimento de
onda e remoção destrutiva da maioria dos outros comprimentos de onda. É fácilmente mostrado que
o comprimento de onda nominal para um filtro de interferencia de λmáx é dado pela equação:

λmáx = 2tη/n

onde t é a espessura da camada central de fluoreto, η é seu índice de refração e n é um número


inteiro chamado ordem de interferência. As camadas de vidro do filtro são selecionadas de forma a
absorver um dos comprimentos de onda transmitidos pela camada central, restringindo assim, a
transmissão do filtro a uma simples ordem. A Figura 20 ilustra a performance característica de um

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filtro de interferência. Muitos filtros deste tipo possuem larguras de banda melhores que 1,5% do
comprimento de onda nominal, embora esta figura seja diminuída para 0,15% em alguns filtros de
banda estreita; este último possui uma transmitância máxima de 10%.

11.1.2.1.2) Filtros de Absorção


Filtros de absorção, os quais são geralmente menos caros e mais robustos que os filtros de
interferência, são limitados à aplicação na região do visível. Este filtro consiste em uma placa de
vidro colorida que remove parte da radiação incidente por absorção. Filtros de absorção possuem
larguras efetivas de banda na faixa de 30 a 250 nm. Filtros que fornecem as bandas mais estreitas
também absorvem uma significante fração da radiação desejada tendo uma transmitância de 1% ou
ou menor em seus máximos. A Figura 20 apresenta uma comparação entre as performances de um
filtro de absorção e de um de interferência.
Filtros de vidro com máximo de transmitância através do visível são disponíveis
comercialmente na forma de fontes prontas para uso. Enquanto suas performances características são
distintamente inferiores às daqueles de interferência, seu custo é muito menor tendo a vantagem de
serem perfeitamente adequados em muitas aplicações rotineiras.

11.1.2.2) MONOCROMADORES
Os monocromadores podem ser de dois tipos: de rede de difração ou de prisma. A Figura 21
mostra um diagrama de um monocromador de rede típico. A radiação entra no monocromador
através de uma abartura retangular estreita chamada “fenda de entrada”. Para finalidade ilustrativa, a
figura apresenta um feixe de radiação consistindo de apenas dois comprimentos de onda, λ1 e λ2,
sendo que o primeiro é mais longo que o segundo (ou seja o primeiro está mais para o vermelho e o
segundo mais para o azul). O caminho da radiação mais longa após ser refletida pela rede é mostrado
por linhas tracejadas; as linhas sólidas mostram o caminho do comprimento de onda mais curto.
Observem que a radiação λ2 é refletida pela rede em um ângulo mais estreito do que λ1. Assim, a
dispersão angular da radiação ocorre. A dispersão angular resulta da difração, a qual ocorre na
superfície refletora. Os dois comprimentos de onda são focalizados por outro espelho concavo no
plano focal do monocromador, onde eles aparecem como duas imagens da fenda de entrada, um para
λ1 e outro para λ2. Rotacionando-se a rede, ambos λ1 ou λ2 podem ser focalizados na fenda de saída
do monocromador. Se colocarmos um detector após a fenda de saída, e se a rede é rotacionada,
poderemos investigar todo o espectro produzido pela rede, no que chamamos de “varredura
espectral”. A largura de banda efetiva do monocromador, depende do tamanho e da qualidade do
elemento dispersor, das larguras das fendas de da distância focal do monocromador. Um
monocromador de alta qualidade exibirá uma largura de banda de alguns décimos de nm, ou menos,
no UV e visível. Uma largura de banda satisfatória para muitas aplicações quantitativas encontra-se
na faixa de 1 a 20 nm.
Muitos monocromadores são equipados com fendas ajustáveis para permitir um controle
sobre a largura de banda. Uma fenda estreita diminui a largura da banda mas diminui também a
potência do feixe emergente. Assim, uma largura de banda mínima que seja prática deve ser limitada
pela sensibilidade do detector. Para análise qualitativa, fendas estreitas e larguras de banda mínimas
são requeridas se um especro consiste de picos estreitos. Para trabalho quantitativo, ao contrário,
fendas largas permitem a operação do sistema do detector a uma amplificação baixa, a qual diminui
fornece maior reprodutibilidade de resposta.

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Figura 21 – Dois tipos diferentes de monocromadores (a)


rede de difração em uma montagem tipo Czerny-Turner; (b)
monocromador de prisma de Bunsen. Para os dois, λ1 > λ2.

11.1.2.3) DETECTORES E TRANSDUTORES


Um detector é um dispositivo que indica a existência de algum fenômeno físico. Por
exemplo, um filme fotográfico, o nível de uma balança, o nível do mercúrio em um termômetro, o
olho humano, etc.
Um transdutor é um tipo especial de detector que converte sinais, tais como intensidade
luminosa, pH, massa e temperatura em sinais elétricos que podem ser subsequentemente
amplificados, manipulados, e finalmente convertidos em númetros proporcionais à magnitude do
sinal original.
Um transdutor ideal de radiação eletromagnética responde rapidamente a baixos níveis de
energia radiante sobre uma larga faixa de comprimentos de onda. Em adição, produz um sinal
elétrico que é facilmente amplificado, produzindo um nível de ruído relativamente baixo.
Geralmente a saída dos instrumentos analíticos flutua de forma aleatória como consequência de uma
série de variáveis que fogem ao controle do analista. Estas flutuações definem o limite de
sensibilidade de um instrumento e são chamadas de ruído. O termo ruído veio da terminologia
utilizada em rádio-transmissão, onde a presença de flutuações no sinal de áudio é reconhecida pelo
ouvido como um chiado, também conhecido simplesmente como estática. As causas mais comuns
para a produção de ruído incluem, vibração, oscilação na linha de 60Hz, variações de temperatura, e
variações de frequência ou tensão na fonte de potência.
Muitos detectores exibem uma pequena resposta constante, mesmo quando nenhuma
radiação atinge sua superfície, conhecida como corrente escura. Podemos defini-la mais
simplesmente como a corrente produzida por um detector fotoelétrico na ausência de luz.

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Instrumentos com detectores que possuem uma resposta com corrente escura alta, são equipados
com um circuito de compensação que permite a subtração do sinal proporcional à corrente escura,
reduzindo sua leitura a zero.
Como mostrado na Tabela 4, são dois os tipos de transdutores os mais usados: os que
respondem a fótons e os que respondem ao calor. Todos os detectores de fótons, são baseados na
interação da radiação com uma superfície reativa para produzir elétrons (fotoemissão) ou para
promover os elétrons a estados de energia nos quais eles possam conduzir eletricidade
(fotocondução). Apenas a radiação ultravioleta, visível ou infravermelha próxima tem suficiente
energia para causar estes processos; assim os detectores de fótons são limitados a comprimentos de
onda mais curtos do que cerca de 2 µm.
Os detectores fotônicos podem ser divididos em quatro grandes grupos: 1) fototubos; 2) tubos
fotomultiplicadores; 3) fotodiodos de silício; 4) células fotovoltaicas.

11.1.2.3.1) Fototubos
Como apresentado na Figura 22 um fototubo consiste de um catodo semicilíndrico e um fio
como anodo selados à vácuo, dentro de um envelope transparente. A superfície côncava do catodo
suporta uma camada de material emissivo, tal como um metal alcalino ou seu óxido, que tende a
emitir elétrons quando sendo irradiado. Quando um potencial é aplicado através dos eletrodos, os
fotoelétrons emitidos fluem para o anodo, produzindo uma corrente que é facilmente amplificada e
direcionada para um mostrador ou simplesmente gravada.
O número de elétrons ejetados da superfície fotoemissiva é diretamente proporcional à
potência radiante do feixe que atinje aquela superfície. Com um potencial aplicado de cerca de 90V,
todos esses elétrons atingem o anodo para produzir uma corrente que é também proporcional à
potência radiante. Os fototubos frequentemente produzem uma pequena corrente escura na ausência
de radiação, que resulta da emissão eletrônica térmicamente induzida.

Figura 22 – Diagrama de um fototubo e o circuito acessório.


A fotocorrente induzida pela radiação causa uma queda de
potencial no resistor, o qual é então amplificado para
direcionar um medidor ou registrador.

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11.1.2.3.2) Tubos fotomultiplicadores


O tubo fotomultiplicador (PMT), Figura 23, é similar em construção ao fototubo, porém,
muito mais sensível. A superfície do catodo é similar em composição à do fototubo, no qual elétrons
são emitidos quando esta é submetida a exposição de radiação. Os elétrons emitidos são acelerados
para um dinodo, mantido a um potencial 90 V mais positivo do que o catodo. Em atingindo a
superfície do dinodo, cada fotoelétron acelerado produz muitos elétrons adicionais, os quais são, por
sua vez, acelerados para um segundo dinodo, 90 V mais positivo que o anterior. Aqui, nova
amplificação de elétrons ocorre. Este processo é repetido em cada um dos dinodos remanescentes até
que no final (9 dinodos) uma cascata de 106 a 107 elétrons são produzidos para cada fóton. Esta
cascata é finalmente coletada no anodo. A corrente resultante é então amplificada eletronicamente e
medida.

Figura 23 – Tubo fotomultiplicador. (a) secção


transversal; (b) circuito elétrico.

11.1.2.3.3) Fotodiodos de silício


O silício cristalino é um semicondutor – que é um material cuja condutividade elétrica é
menor do que a de um metal mas, maior que a de um isolador. O silício é um elemento do Grupo IV
da tabela periódica, possuindo quatro elétrons de valência. Em um cristal de silício, cada um desses
elétrons é combinado com os elétrons de quatro outros átomos de silício para formar quatro ligações
covalentes. Na temperatura ambiente, uma suficiente agitação térmica ocorre nestra estrutura para
liberar um elétron ocasional de seu estado de ligação, deixando-o livre pra se mover pelo cristal. A
excitação térmica de um elétron deixa atras de si uma região positivamente carregada chamada de
“vacância”, a qual, como o elétron, também é móvel. O mecanismo do movimento da vacância é do
tipo passo-a-passo, com um elétron de um átomo vizinho pulando para a região deficiente e assim

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criando uma vacância positiva. A condução em um semicondutor envolve o movimento de elétrons e


vacâncias em direções opostas.
A condutividade do silício pode ser aumentada através de um processo chamado “dopagem”.
Neste processo, uma quantidade controlada (≈ 1 ppm) de um elemento do Grupo V ou III é
distribuída homogêneamente pelo cristal de silício. Por exemplo, quando um cristal é dopado com
um elemento do Grupo V, tal como arsenio, quatro de cinco elétrons de valência do dopante formam
ligações covalentes com quatro átomos de siício deixando um elétron livre para contribuir para a
condutividade do cristal. De forma contrária, quando o silício é dopado com um elemento do Grupo
III, tal como o gálio, o qual tem três elétrons de valência, um excesso de vacâncias se desenvolvem,
as quais também aumentam a condutividade. Um semicondutor ocntendo elétros não ligados (cargas
negativas) é chamado semicondutor tipo-n e um que tenha excesso de vacâncias (cargas positivas) é
chamado semicondutor tipo-p.

11.1.2.3.4) Células fotovoltaicas


Uma célula fotovoltaica (ou fotocélula), é o transdutor de radiação mais simples que existe.
Consiste de um eletrodo plano de cobre ou ferro sobre o qual é depositada uma camada de material
semicondutor, como o selênio ou óxido de cobre (I). A camada externa do semicondutor é coberta
com um filme transmparente de ouro, prata ou chumbo, o qual serve como segundo eletrodo
(eletrodo coletor). Quando a radiação é absorvida sobre a superfície do semicondutor, elétrons e
vacâncias são formados, migrando em direções opostas criando, assim, corrente elétrica. Se os dois
eletrodos são conectados através de um circuito externo de baixa resistência, a corrente produzida é
diretamente proporcional à potência do feixe incidente. As correntes são grandes o suficiente (10 a
100 µA) para serem medidas com um simples microamperímetro sem amplificação.
Uma célula fotovoltaica típica tem uma sensibilidade máxima em 550 nm, com a resposta
caindo a pelo menos 10% do máximo, a 350 e 750 nm. A fotocélula constitui um detector robusto e
de baixo custo, de radiação visível, que tem a vantagem de não requerer uma fonte externa para
funcionar. Não é sensível como outros detectores e, ainda, sofre de fadiga, a qual causa um
decréscimo gradual na corrente de saída com iluminação contínua. A despeito destas desvantagens
este tipo de detector é bem utilizado em instrumentos de filtro de baixo custo.

11.1.2.4) COMPARTIMENTOS PARA AMOSTRAS


Os compartimentos para as amostras são geralmente chamados de celas ou cubetas.
Possuem janelas (as próprias laterais) fabricadas de um material transparente na região espectral de
interesse. Assim, janelas de quartzo ou sílica fundida são requeridas para a região do ultravioleta
(abaixo de 350 nm) e podem ser usadas na região do visível e até 3000 nm no infravermelho. Devido
seu baixo custo utilizam-se, comumente, cubetas de vidro para a região entre 375 e 2000 nm.
Cubetas de plástico também têm aplicação na região do visível. O comprimento mais comum de
cubetas para estudos no UV e visível é de 1 cm. Outras celas de caminhos ópticos entre 0,1 cm e até
10 cm, podem ser encontradas comercialmente.
Um cuidado particular deve ser tomado para se repetir a posição das cubetas com respeito ao
feixe de radiação; de outra forma, variações no caminho óptico e perdas por reflexão nas superfícies
podem levar a erros significativos.
A qualidade dos dados é críticamente dependente da forma com a qual as cubetas são usadas
e limpas. Impressões digitais, graxa ou outros depósitos sobre as paredes certamente alterarão as
características de transmissão de uma cubeta. Assim, uma limpeza cuidadosa antes e após o uso é
muito importante, e deve-se tomar cuidado para não tocar as janelas após uma limpeza.

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11.2) INSTRUMENTOS ESPECTROSCÓPICOS


11.2.1) TIPOS DE INSTRUMENTOS
Um espectroscópio é um instrumento para a identificação de elementos em uma amostra que
foi excitada em uma chama ou outro meio quente. Consiste de um monocromador modificad onde o
plano focal contendo a fenda de saída é trocado por uma objetiva móvel que permite a detecção
visual das linhas de emissão. O comprimento de onda de uma linha é determinado do ângulo entre o
feixe incidente eo caminho da linha até a objetiva.
Estritamente falando, um colorímetro é um instrumento para medidas de absorção no qual o
olho humano serve como o detector. Um ou mais padrões de comparação são requeridos cada vez
que o instrumento é usado.
Um fotômetro é um instrumento simples que pode ser usado para medidas de absorçãoi,
emissão ou fluorescência com radiação UV, visível ou infravermelha. Um fotômetro é distinguido
pelo uso de filtros de absorção ou filtros de interferência para seleção de comprimentos de onda e
um dispositivo fotoelétrico para a medida da potência da radiação. Os instrumentos utilizados para
medias de absorção com radiação visível são, algumas vêzes, chamados colorímetros fotoelétricos,
ou mesmo simplesmente colorímetros. O uso do último termo pode levar a uma ambiguidade. Um
fotômetro que é utilizado para medidas de fluorescência é chamado frequentemente de fluorímetro.
Um espectrógrafo grava o espectro em uma chapa fotográfica ou um filme localizado ao
longo do plano focal do monocromador. Assim, os monocromadotes podem ser convertidos em
espectrógrafos trocando-se o detector elétrico por um filme fotográfico. O espectro aparecerá como
uma série de imagens negras da fenda de entrada. Os espectrógrafos são usados para análise
elementar qualitativa.
Um espectrômetro é um monocromador equipado com uma fenda fixa no plano focal. Um
espectrômetro equipado com um fototransdutor na fenda de saída é chamado de espectrofotômetro.
Os espectrômetros podem ser usados para medidas de absorção, emissão ou fluorescência. Os de
fluorescência são chamados de espectrofluorímetros. Vale a pena mencionar que atualmente, a
IUPAC recomenda o uso do termo espectrômetro em substituição ao espectrofotômetro, contudo não
descarta a aplicação eventual do segundo termo.

11.2.2) DESENHO DE INSTRUMENTOS


Os instrumentos podem ser geralmente de três tipos: (1) feixe simples; (2) feixe duplo; (3)
multicanal.

11.2.2.1) Instrumentos de feixe simples


A Figura 24a, apresenta um instrumento de feixe simples para medidas de absorção. Consiste
de uma fonte de radiação, um filtro ou monocromador para seleção de comprimentos de onda celas
que possam ser colocadas no feixe de radiação, um detector, um amplificador e um dispositivo de
leitura.

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Figura 24 – Diagrama esquemático de instrumentos para medidas de absorção: (a) de


feixe simples; (b) de feixe duplo

A medida da percentagem de transmitância com um instrumento de feixe simples manual


envolve três passos: (1) o ajuste do zero de transmitância, 0%T; (2) o ajuste do cem por cento de
transmitância, 100%T; e (3) a determinação de %T do analito. Em muitos aparelhos manuais atuais,
tem-se a opção de se determinar ou %T ou a A do analito através de uma chave ou botão seletor. O
ajuste do 0%T é feito com o obturador posicionado entre a fonte e o fotodetector. O medidor é
mecanicamente ou elétricamente ajustado até que a leitura seja zero. O passo dois é então dado
colocando-se o solvente no caminho óptico, abrindo-se o obturador e variando-se a intensidade da
radiação ou a amplificação do sinal elétrico do detector até que se leia 100 no medidor (100%T). A
intensidade do feixe pode ser variada de várias formas, incluindo o ajuste da potência elétrica da
fonte. Alternativamente, o feixe pode ser atenuado por um diafragma, uma placa metálica ou um
pente óptico que bloqueie uma fração da radiação (a quantidade removida pode ser variada). No
passo três, a cela do solvente é trocada por outra contendo o analito, e a percentagem da
transmitância é lida em uma escala ou em um mostrador digital.
Normalmente um instrumento de feixe simples requer uma fonte de tensão estabilizada para
evitar erros resultantes de mudanças na intensidade do feixe durante o tempo requerido para fazer o
ajuste do 100%T e determinar o %T, ou A, para o analito.
Estes instrumentos variam em complexidade e características de performance. O mais
símples e menos caro consiste de um bulbo de tugstênio operado a bateria como fonte, um conjunto
de filtros de vidro para seleção de comprimentos de onda, tubos de teste para o compartimento de
amostra, uma cela fotovoltaica como detector, e um pequeno microamperímetro como dispositivo de
leitura. No outro extremo, estão os equipamentos sofisticados controlados por computador com faixa
de operação de 200 a 1000 nm ou mais. Possuem lâmpadas de tungstênio e deutério como fontes,
usam celas de quartzo e são equipados com uma rede de alta resolução com fendas variáveis. Tubos
fotoamplificadores são usados como detectores e a saída é frequentemente digitalizada e gravada, de
tal forma que possa ser manipulada de várias formas.

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11.2.2.2) Instrumentos de feixe duplo


Muitos fotômetros modernos e espectrômetros são baseados em um design de feixe duplo.
A Figura 24b ilustra um equipamento de duplo feixe no qual os dois feixes são formados no espaço
através de um espelho no formato de V chamado de divisor de feixe. Um feixe passa através da
solução de referência para um fotodetector, e o segundo, simultâneamente atravessa a amostra para
um segundo detector combinado. As duas saídas são amplificadas e a sua razão (ou o log da razão) é
determinado eletrônicamente e mostrado pelo dispositivo de leitura. Com instrumentos manuais, a
medida é uma operação envolvendo dois passos. Primeiramente, o ajuste do zero com um obturador
no lugar entre o seletor e o divisor de feixe. Em segundo lugar, o obturador é aberto e a
transmitância ou absorvância é lida diretamente no medidor.

11.2.2.3) Instrumentos multicanal


A partir de meados da década de 80, um número crescente de equipamentos multicanal foram
desenvolvidos e disponibilizados comercialmente. A Figura 25 apresenta um esquema simplificado
mostrando o desenho óptico de um instrumento multicanal chamado de espectrômetro diode-array.
A radiação de uma lâmpada de tungstênio ou de deutério é focalizada no amostra ou no
compartimento do solvente e então passa no monocromador com uma rede fixa. A radiação
dispersada incide em uma malha de fotodiodos, composta de centenas de fotodiodos formados ao
longo de uma pastilha de silício. Típicamente, as pastilhas têm entre 1 e 6 cm em comprimento e as
larguras individuais dos fotodiodos varia de 15 a 50 µm. A pastilha, ou chip, também contém um
capacitor e um interruptor eletrônico para cada diodo. Um registrador controlado por computador
sequancialmente fecha cada interruptor momentâneamente, o que resulta na carga de cada capacitor
a -5V. A radiação, incidindo em qualquer diodo causa a descarga parcial deste capacitor. Esta perda
de carga é trocada durante o próximo ciclo do interruptor. As correntes de carga resultantes, as quais
são proporcionais à potência radiante, são amplificadas, digitalizadas e gravadas na memória do
computador. Um ciclo completo realiza-se em alguns poucos milisegundos.
A largura da fenda do monocromador de um instrumento deste tipo é usualmente feito
idêntico à largura de um dos diodos de silício. Assim, a saída de cada diodo corresponde à radiação
de diferentes comprimentos de onda, e um espectro é optido pela varredura dessas saídas
sequencialmente.. Já que o processo é muito rápido, os dados de um espectro inteiro são acumulados
em 1s ou menos.

Figura 25 – Diagrama de um
espectrômetro multicanal do tipo “diode
array”.

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Um instrumento de malha de diodos é uma ferramenta poderosa para se esturar


intermediários transientes em reações moderadamente rápidas, para estudos cinéticos, e pra
determinação qualitativa e quantitativa dos componentes saindo de uma coluna cromatográfica. Até
algum tempo atrás, estes instrumentos sofriam pela sua limitada resolução e custo relativaemnte alto.
Contudo atualmente podem-se encontrar, facilmente no mercado, instrumentos de alta resolução,
embora o custo continue alto.

12) ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR


A espectroscopia de absorção molecular baseada na radiação UV, visível ou infravermelha, é
largamente utilizada para a identificação e determinação de um sem número de espécies orgânicas e
inorgânicas. A espectroscopia de UV/VIS é empregada primáriamente para análise quantitativa e é
provavelmente mais utilizada nos laboratórios clínicos e químicos ao redor do mundo, do que
qualquer outra técnica.

12.1) ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO NO UV/VIS


12.1.1) ABSORÇÃO POR COMPOSTOS ORGÂNICOS
Dois tipos de elétrons são responsáveis pela absorção de radiação UV e visível por moléculas
orgânicas: (1) elétrons partrilhados que participam diretamente na formação de ligações e são assim
associados com mais de um átomo, e (2) elétrons externos não compartilhados localizados em
átomos tais como oxigênio, halogênios, enxofre, e nitrogênio.
Os comprimentos de onda nos quais uma molécula orgânica absorve depende de quão
fortemente seus vários elétrons estão ligados. Assim, os elétrons compartilhados em ligações simples
tais como C-C e C-H, são tão firmemente ligados que suas excitações requerem energias
correspondentes aos comprimentos de onda na região do UV no vácuo (abaixo de 180 nm). Espectro
de ligações simples não são usados para propósitos analíticos devido às dificuldades experimentais
de se trabalhar nesta região. Estas dificultades são atribuíveis ao fato de que tanto o quartzo e a
atmosfera absorvem radiação abaixo de 180 nm, uma circunstância que exige o uso de
espectrômetros evacuados e equipados com óptica de fluoreto de lítio (limite mínimo em torno de
140 nm)
Compostos orgânicos contendo ligações duplas ou triplas geralmente exibem picos de
absorção na região do UV próximo, mais acessível, pois os elétrons nas ligações insaturadas são
relativamente fáceis de serem excitados. Grupos funcionais orgânicos insaturados que absorvem no
UVe visível são chamados de cromóforos. A Tabela 4 apresenta alguns destes grupamentos e a
localização aproximada de seus maximos de absorção.

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Tabela 4 – Características de absorção de alguns cromóforos


orgânicos mais comuns.

12.1.1) ABSORÇÃO POR COMPOSTOS INORGÂNICOS


O espectro de muitos íons complexos e moléculas inorgânicos, lembram aqueles dos
orgânicos. Com poucas exceções, os íons e complexos dos 18 elementos nas primeiras duas séries de
transição são coloridos em um se não todos os seus estados de oxidação. A absorção de energia
visível por estas espécies envolve transições de elétrons entre orbitais d preenchidos e não
preenchidos que diferem em energia como consequência de complexantes ligados aos íons
metálicos. A diferença de energia entre os orbitais d (e assim a posição do pico de absorção
correspondente) depende do estado de oxidação do elemento, sua posição na tabela periódica e o tipo
de ligante acoplado a este íon. O espectro para os íons dos lantanídeos e actinídeos representam uma
importante exceção. Os elétrons responsáveis pela absorção por estes elementos (4f e 5f
respectivamente) encontram-se blindados das influências externas por elétrons que ocupam orgitais
com números quânticos principais maiores.

12.1.1.1) Absorção por transferência de carga


Para propósitos quantitativos, a absorção por transferência de carga é importante devido ao
fato de que suas absortividades molares são muito grandes (εmax>10000), uma circunstância que leva
a alta sensibilidade. Muitos complexos inorgânicos e orgânicos exibem este tipo de absorção e são
chamados de complexos de transferência de carga.
Um complexo de transferência de carga consiste de um grupo doador de elétrons ligado a um
grupo receptor. Quando este produto absorve radiação, um elétron do doador é transferido para um
orbital que é grandemente associado com o receptor. O estado excitado é assim o produto de um

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processo interno de oxidação/redução. Este comportamento difere daquele de um cromóforo


orgânico no qual o elétron excitado encontra-se em um orbital molecular que é compartilhado por
doi sou mais átomos.
Exemplos familiares de complexos de transferência de carga incluem o complexo fenólico de
Fe (III), o complexo de Fe(II) com 1,10-fenantrolina, o complexo do íon iodeto com o iodo
molecular, e o complexo ferro/ferricianeto responsável pela cor azul da Prússia. A cor vermelha do
complexo de Fe(III)/tiocianato é ainda um exemplo de absorção de transferência de carga. A
Absorção de um fóton resulta na transferência de um elétron do íon tiocianato para um orbital que é
largamente associado com o íon Fe(III). O produto é uma espécie excitada envolvendo
predominantemente Fe (II) e o radical tiocianato SCN. Assim como outros tipos de estados
eletrônicos excitados, o elétron neste complexo, retorna ao seu estado original após um breve
período.
Em muitos complexos de transferência de carga envolvendo um íon metálico, o metal serve
como receptor de elétrons. Exceções são os complexos de Fe(II) e Cu(I) com 1,10-fenantrolina, onde
o ligante é o receptor e o metal o íon doador.

12.1.2) ASPECTOS QUANTITATIVOS DA ESPECTROMETRIA NO UV/VIS


A espectroscopia baseada na radiação UV e visível é uma das mais práticas ferramentas que
o químico tem para a análise quantitativa. As características mais importantes dos métodos
espectrofotométricos e fotométricos são:
1) Grande aplicabilidade. Um número enorme de espécies inorgânicas, orgânicas e bioquímicas
absorvem radiação UV ou visível e são assim, fáceis de serem determinadas quantitativamente.
Muitas espécies não absorventes podem também ser determinadas após conversão química para
derivados absorventes. Estima-se que perto de 90% das análises feitas em laboratórios clínicos são
baseadas na espectroscopia no UV/VIS.
2) Alta sensibilidade. Os limites de detecção típicos para espectroscopia de absorção estão na faixa
entre 10-4 até 10-5 M. Esta faixa pode frequentemente ser estendida para 10-6 ou mesmo 10-7 M com
certas modificações nos procedimentos.
3) Seletividade alta a moderada. Frequentemente um comprimento de onda pode ser encontrado no
qual o analito absorve sozinho, tornando separações anteriores não necessárias. Ainda assim, onde as
bandas de absorção se sobrepõem, correções baseadas em medidas adicionais em outros
comprimentos de onda algumas vêzes eliminam a necessidade de um passo de separação.
4) Boa precisão. Os erros relativos na concentração, encontrados em um procedimento
espectrofotométrico ou fotométrico típico, empregando radiação UV ou visível, situam-se na faixa
de 1 a 5%. Tais erros podem frequentemente ser diminuídos para poucos décimos com precauções
especiais.
5) Facilidade e conveniência. Medidas espectrofotométricas e fotométricas são feitas fácilmente e
rapidamente com instrumentos modernos. Em adição, estes métodos podem ser fácilmente
automatizados.

12.1.2.1) DETALHES DE PROCESSAMENTO


Ao se desenvolver um procedimento espectrofotométrico ou fotométrico, deve-se,
inicialmente, estabelecer condições que levem a uma relação reprodutível (preferencialmente linear)
entre a concentração e a absorvância.

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Seleção de comprimento de onda. A sensibilidade máxima é conseguida quando o comprimento de


onda selecionado para as medidas é o mesmo que o máximo de absorção para o analito, pois é aqui
que se observa uma maior mudança na absorvância por unidade de concentração. Adicionalmente, a
curva de absorção apresenta frequentemente um patamar no seu máximo, o que leva a uma boa
linearidade da curva analítica e uma menor possibilidade de erro provocado por falha na reprodução
precisa do ajuste de comprimento de onda do instrumento. Para medidas com um fotômetro, é
escolhido um filtro que possua a cor que seja a complementar da solução do analito. Tal escolha leva
a uma sensibilidade melhorada assim como uma maior probabilidade de se obter uma curva analítica
linear.

Variáveis que influenciam a absorvância. A absorvância de uma solução é frequentemente


influenciada por tais variáveis como a natureza do solvente, pH, temperatura, concentração do
eletrólito, tempo de reação, e a presença de substâncias interferentes. Os efeitos destas variáveis
devem ser estudados de forma a se estabelecer um conjunto de condições que produzam dados
analíticos reprodutíveis.

Limpeza e manuseio das celas. Medidas espectrofotométricas precisas requerem o uso de celas de
boa qualidade, que são regularmente calibradas contra uma outra para se detectar diferenças vindas
de riscos ou abrasão. Igualmente é importante a limpeza dos lados exteriores (as janelas) antes de as
celas serem inseridas no equipamento. O método preferido é o de se limpar as janelas com um papel
tipo “Klinex” que tenha sido humidecido em metanol; o metanol é evaporado ao ar, deixando as
janelas livres de contaminantes. Este procedimento é superior àquele onde simplesmente passa-se
uma toalha de papel seca nas janelas, o que leva a se deixar um resíduo de fibras e um filme sobre a
janela.

Determinação da relação entre absorvância e concentração. As soluções de referência para a


calibração, deverão se aproximar da composição da solução das amostras assim como deverão
estabelecer uma série de concentrações razoável. Não é prudente se assumir aderência à lei de Beer e
se utilizar apenas uma solução de referência, assim como basear uma análise na absortividade molar
determinada na literatura pois elas frequentemente variam de instrumento para instrumento mesmo
quando mesmos modelos são empregados.

O método de adição padrão. As dificuldades que atingem a produção de um conjunto de padrões


cuja composição aproxima-se daquela da amostra podem ser muito grandes para não dizer que levam
a uma impraticabilidade na operação. Sob estas condições a aproximação do método de adição
padrão pode ser de grande ajuda. Neste procedimento, uma quantidade conhecida do padrão é
adicionada a uma alíquota da amostra com a absorvância sendo medida antes e após a adição. Desde
que a lei de Beer seja obedecida (e isto é confirmado experimentalmente), a concentração do analito
pode ser determinada a partir das duas absorvâncias, dos dois volumes, e da concentração do padrão.

Análise de misturas – Aditividade de absorvâncias. A absorvância total de uma solução em um


dado comprimento de onda é igual à soma das absorvâncias dos componentes individuais na
solução. Esta relação torna possível, a princípio, se determinar as concentrações dos componentes
individuais de uma mistura mesmo se seu espectro se sobrepor totalmente. Por exemplo, a Figura 26
mostra três espectros, um para a solução de espécies A, um segundo para a solução de B, e o terceiro
para uma mistura dos dois. É evidente que os dois componentes contribuem para a absorvância da

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mistura em cada comprimento de onda. Para analisar esta mistura, as absortividades molares para a e
B são determinadas nos comprimentos de onda λ1 e λ2 com padrões suficientes para se ter a certeza
do obedecimento da lei de Beer sobre a faixa de absorvâncias que acompanha a absorvância da
amostra. Observem que os comprimentos de onda selecionados são aqueles onde os dois espectros
diferem significativamente. Para completar a análise, a absorvância da mistura é determinada nos
mesmos dois comprimentos de onda.

Figura 26 – Espectro de absorção para uma mistura de


dois componentes.

12.1.2.2) TITULAÇÕES FOTOMÉTRICAS


As medidas fotométricas e espectrofotométricas podem ser utilizadas para se localizar o
ponto de equivalência de uma titulação. Esta aplicação obviamente requer que um ou mais dos
reagentes ou produtos absorvam radiação ou que um indicador que absorva esteja presente.

Curvas de titulação. Uma curva de titulação fotométrica é um gráfico de absorvância (corrigida


para mudanças de volume) como uma função do titulante adicionado. Se forem escolhidas condições
próprias, a curva consiste de duas regiões de linhas estreitas com diferentes inclinações, uma
ocorrendo no início da titulação e a outra localizada além da região do ponto de equivalência; o
ponto final é tomado como a intersecção das porções lineares extrapoladas das duas linhas.
A Figura 27 mostra curvas típicas de titulações fotométricas. A Figura 27a, é acurva para a
titulação de uma espécie não absorvedora com um titulante absorvedor que é descolorizado pela
reação. Um exemplo é a titulação do íon tiosulfato com o íon triiodeto. A curva para a formação de
um produto absorvente a partir de reagentes sem cor é mostrada na Figura 27b; um exemplo é a
titulação de iodeto com uma solução padrão de iodato para formar triiodeto. As figuras restantes
ilustram curvas obtidas com várias conbinações de analitos, titulantes e produtos absorventes.
De forma a se obter curvas de titulação com porções lineares que possam ser extrapoladas, o
sistema absorvente deverá obedecer à lei de Beer. Além disso, as absorvâncias deverão ser corrigidas
( V + v)
para mudanças de volume, multiplicando-se a absorvância observada pelo fator:
V
onde V é o volume original da solução e v é o volume adicionado de titulante.

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Figura 27 – Curvas de titulação fotométrica.


As absortividades molares da substância
titulada, do produto, e do titulante são εs, εp e
εt, respectivamente.

Estas titulações são feitas com um espectrofotômetro ou fotômetro modificado de forma a


que um vaso de titulação possa ser colocado no caminho óptico. Após ajuste do equipamento da
forma usual, a radiação passa através da solução do analito para o detector, o instrumento é então
ajustado para uma leitura absorvância conveniente, variando a intensidade da fonte ou a
sensibilidade do detector. Ordinariamente, nenhuma tentativa é feita para medir a absorvância
verdadeira já que valores relativos são perfeitamente adequados para a detecção do ponto final. Os
dados da titulação são então coletados sem alteração nos ajustes iniciais do aparelho. A potência da
fonte da radiação e a resposta do detector devem permanecer constantes durante a titulação.
Normalmente, celas cilíndricas são utilizadas, e muito cuidado deve ser tomado para se evitar
qualquer movimento da cela que possa alterar o caminho da radiação. Tanto fotômetros quanto
espectrofotômetros têm sido usados para titulações fotométricas sendo que este último é preferível
em virtude de que suas larguras de banda em sendo mais estreitas, aumentam a probabilidade de
aderência à lei de Beer.

12.1.2.3) ESTUDO DE ÍONS COMPLEXOS


A espectrofotometria é uma ferramenta valiosa para se elucidar a composição de íons
complexos em solução e para determinar suas constantes de formação. O poder da técnica reside no
fato de que medidas quantitativas de absorção podem ser feitas sem perturbar o equilíbrio em
consideração. Embora muitos estudos espectrofotométricos de complexos envolvam sistemas nos
quais um reagente ou um produto absorvem, sistemas não absorventes podem também ser
investigados com sucesso. Por exemplo, a composição e a constante de formação para um complexo
de Fe(II) e um ligante não absorvente poderia provavelmente ser determinada medindo-se o
decréscimo de cor que ocorre quando soluções do complexo Fe(II) com 1,10-fenantrolina são
misturadas com várias quantidades do ligante. Para esta aproximação ser válida, é necessário que a
constantes de formação e a composição do complexo com 1,10-fenantrolina sejam conhecidos.
As três técnicas mais comuns empregadas para estudos de íons complexos são: (1) o método
das variações contínuas ou método de Job; (2) o método da razão molar; e (3) o método da ração de
inclinação.

12.1.2.3.1) O método das variações contínuas

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Neste método, soluções do cátion e do ligante com concentrações analíticas idênticas são
misturadas de tal forma que o volume total e o número total de moles dos reagentes em cada mistura
seja constante mais a razão molar dos reagentes varie sistematicamente (e.g., 1:9; 2:8; 3:7, e assim
por diante). A absorvância de cada solução é então medida e corigida para qualquer absorvância que
a mistura possa exibir se nhenhuma reação tenha ocorrido. A absorvância corrigida é graficada
contra a fração de volume da solução de um dos reagentes, assim, VM/(VM+VL), onde VM é o
volume da solução do cátion e VL, a do ligante. Um gráfico típico é mostrado na Figura 28. Um
máximo (ou mínimo, se o complexo absorver menos que os reagentes) ocorre a uma razão de
volumes VM/VL correspondente à razão em que cátion e ligante estão combinados no complexo. Na
Figura 28, VM/(VM+VL) é 0,33 e VL/(VM+VL) é 0,66; assim VM/VL encontra-se na proporção de 1:2,
sugerindo que o complexo tenha a formula geral ML2.
A curvatura das linhas experimentais na Figura 28 é o resultado vindo do fato de que a reação
de formação do complexo não se completou. A constante de formação para o complexo pode ser
avaliada de medidas dos desvios das linhas retas teóricas.

Figura 28 – Gráfico de variações contínuas para


um complexo 1:2, ML2.

12.1.2.3.2) O método da razão molar


No método da razão molar, uma série de soluções é preparada, nas quais a concentração
analítica de um dos reagentes (geralmente o cátion) é mantida constante enquanto que a do outro
varia. Um gráfico de absorvância versus razão molar dos reagentes é então preparado. Se a constante
de formação é favorável, duas linhas retas de diferentes inclinações que interceptam-se na razão
molar que corresponde à razão de combinação no complexo são obtidas. Gráficos típicos de razão
molar são mostrados na Figura 29. Observem que o ligande co complexo 1:2 absorve no
comprimento de onda selecionado de tal forma que a inclinação além do ponto de equivalência é
maior que zero. Deduzimos que o cátion não complexado envolvido no complexo 1:1 absorve,
porque o ponto inicial tem uma absorvância maior que zero. As constantes de formação podem ser
avaliadas dos dados na porção curva dos gráficos de razão molar.

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Figura 29 – Gráficos da razão molar para um complexo 1:1 e para um


1:2. O complexo 1:2 é mais estável como indicado pela menor
curvatura próxima à razão estequiométrica.

12.1.2.3.2) O método da razão de inclinação


Esta aproximação é particularmente útil para complexos fracos mas é aplicável apenas a
sistemas nos quais um único complexo é formado. O método assume: (1) que a reação de formação
do complexo pode ser forçada a se completar através de um grande excesso de um dos dois
reagentes e (2) que a lei de Beer é seguida sob estas circunstâncias.
Consideremos a reação na qual o complexo MxLy é formado pela reação de x moles do cátion
M com y moles de um ligante L:
xM + yL MxLy

As expressões de balanço de massa para este sistema são:


CM = [M] + x[MxLy]
CL = [L] + y[MxLy]

onde CM e CL são as concentrações analíticas molares dos dois reagentes. Agora vamos assumir que
em altas concentrações analíticas de L, o equilíbrio é deslocado para a direita de modo que
[M]<< x[MxLy]. Sob estas circunstâncias, o primeiro balanço de massa simplifica-se para:
CM = x[MxLy]

Se a lei de Beer é obedecida, obtemos, A1 = εb[MxLy] = εbCM/x


Um gráfico de absorvância em função de CM é linear se suficiente L estiver presente para
satisfazer a assunção de que [M]<< x[MxLy]. A inclinação deste gráfico é εb/x.
Quando o termo CM é feito muito grande, assumiremos que [L] << y[MxLy], e então o
segundo balanço de massa se reduz a:
CL = y[MxLy] e A2 = εb[MxLy] = εbCL/y

Novamente, se nossas assunções são válidas, um gráfico linear A2 versus CL é observado a


altas concentrações de M. A inclinação desta linha é εb/y.
A razão das duas inclinações das duas linhas retas, dá a razão de combinação entre M e L:
εb / x y
=
εb / y x

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