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ARTIGO
Resumo
Neste texto é realizado um mapeamento das perspectivas epistemológicas da Biblioteconomia, a partir de três questões contemporâneas
que se colocam para a área: o amplo acesso atual à informação, sem que a sociedade efetivamente tenha se tornado mais crítica, justa
ou democrática; o desenvolvimento das tecnologias de recuperação da informação e as possibilidades de sua utilização pelas
bibliotecas; e o caráter ativo dos sujeitos face aos recursos informacionais. São analisadas as diferentes correntes teóricas da
Biblioteconomia, desde o século XIX passando pelas correntes desenvolvidas no século XX e chegando às perspectivas
contemporâneas, entre as quais se destacam, os estudos em mediação e apropriação da informação, a discussão da pós-verdade, a
nova biblioteconomia e a nova missão da biblioteca, o gerenciamento do patrimônio cultural, a busca da diversidade e pluralidade pelas
bibliotecas, a biblioteca como esfera pública, a biblioteca 2.0, as bibliotecas digitais e o movimento da competência informacional.
1 Introdução
A humanidade conta, hoje, com um acesso extremamente amplo a todo tipo de documentos e registros de conhecimento,
do passado e do presente, de todos os lugares do mundo, em tempo real, a partir de diversos dispositivos, do computador
aos celulares. Ainda assim, com todo esse vasto leque de possibilidades, não nos tornamos sociedades melhores, no
sentido de serem mais humanas, justas e solidárias. A fome, a extrema desigualdade na distribuição da renda gerando
pobreza e miséria, o aumento dos conflitos, a violência urbana, a intolerância étnica, religiosa e de gênero, o desrespeito às
questões ambientais, a desconsideração dos valores democráticos, o recrudescimento dos fundamentalismos de toda
ordem, todos são fenômenos que evidenciam que, apesar de todo o acesso à informação, a humanidade não se tornou
mais sábia ou solidária (BAUMAN, 2015). Isso demonstra claramente que não basta o acesso, é preciso algo mais para que
todo o conhecimento disponível efetivamente reverta para o benefício da humanidade, para a superação das condições
estabelecidas e para uma efetiva emancipação dos sujeitos (CHAUÍ, 2006).
Por fim, discute-se também que o chamado “paradigma do balcão”, isto é, um modelo de ação em que se pensa a biblioteca
como um lugar para “atender a um cliente” com uma necessidade de informação, que se dirigiria a ela, estaria superado. As
pessoas no mundo contemporâneo, a partir das possibilidades trazidas pelas novas tecnologias, não querem apenas
satisfazer uma necessidade de informação, querem elas mesmas produzir conteúdos, disseminar e compartilhar conteúdos
produzidos por outros, classificar e indexar conteúdos disponíveis na internet. Nesse sentido, seria preciso que a biblioteca
se reinventasse, passasse a oferecer outros serviços e funcionar em outra dinâmica (LANKES, 2016).
Os fatos acima são apenas algumas questões, entre outras possíveis de serem elencadas, que colocam desafios para se
pensar no que devem ser a biblioteca, o bibliotecário e a biblioteconomia no século XXI. Claramente, as técnicas, as
práticas e os modelos teóricos do século XX, derivados de outros produzidos nos séculos anteriores, não conseguem mais
se sustentar na realidade atual marcada pelas tecnologias digitais da informação e em novas condições da existência
humana e dos processos de produção do conhecimento.
O objetivo deste texto é refletir sobre essas questões, a partir de uma perspectiva epistemológica. Para tanto, busca-se,
num primeiro momento, apresentar e tensionar as matrizes e manifestações do pensamento biblioteconômico, sobretudo no
século XX, em suas quatro principais manifestações: as correntes: funcionalista, crítica, de estudos sobre os sujeitos e
sobre a representação. A seguir, são apresentadas algumas perspectivas teóricas recentes, vinculadas às questões
contemporâneas apresentadas acima, com indicações de como a biblioteconomia deveria e/ou poderia lidar com elas e ao
mesmo se consolidar como um pertinente campo institucional, profissional e teórico no momento atual. Tais perspectivas
contemporâneas são a “quarta tarefa” da biblioteconomia, os estudos em mediação e apropriação da informação, a
discussão da pós-verdade, a nova biblioteconomia e a nova missão da biblioteca, o gerenciamento do patrimônio cultural, a
busca da diversidade e pluralidade pelas bibliotecas, a biblioteca como esfera pública, a biblioteca 2.0, as bibliotecas digitais
e o movimento da competência informacional.
Após o Renascimento, a partir do século XV, começaram a surgir os primeiros traços efetivos daquilo que se poderia
chamar de um conhecimento teórico específico da biblioteconomia. Com o Renascimento, renasceu o interesse pela
produção humana, pelas obras artísticas, filosóficas e científicas. Salientou-se assim o interesse pelo culto das obras, pela
sua guarda, sua preservação. Surgiram tratados e manuais voltados para as regras de procedimentos nas instituições
responsáveis pela guarda das obras e para as regras de preservação e conservação física dos materiais.
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O passo seguinte se deu com a Revolução Francesa e as demais revoluções burguesas na Europa, que marcaram a
transição do Antigo Regime para a Modernidade. Operou-se uma profunda transformação em todas as dimensões da vida
humana (na política, na economia, no direito) e, dessa forma, também as bibliotecas foram drasticamente transformadas.
Surgiu aí o conceito moderno de “Biblioteca Nacional”, que tem no seu caráter público sua marca distintiva. São formadas
as grandes coleções, operam-se amplos processos de aquisição e acumulação de acervos - o que reforçou a natureza
custodial destas instituições. A necessidade de se ter pessoal qualificado para as nascentes instituições modernas levou à
formação dos primeiros cursos profissionalizantes voltados para as regras de administração das rotinas destas instituições.
Por fim, com a consolidação da ciência moderna como forma legítima de produção de conhecimento e de intervenção na
natureza e na sociedade, também o campo das humanidades se viu convocado a constituir-se como ciência. Surgiram
então, no século XIX, aqueles que seriam os precursores do estabelecimento do projeto de constituição científica da
Biblioteconomia: a consolidação de teorias e regras de catalogação (como as de Panizzi, de 1841, e de Jewett, de 1852) e
dos sistemas de classificação bibliográfica (sendo o mais importante deles o de Dewey, de 1876). O modelo de ciência
então dominante, oriundo das ciências exatas e naturais, voltado para a busca de regularidades, estabelecimento de leis,
ideal matemático e intervenção na natureza por meio de processos técnicos e tecnológicos, se expandiu para as ciências
sociais e humanas através do Positivismo.
Os três movimentos acima destacados se somaram. A perspectiva patrimonialista voltou-se para os “tesouros” que devem
ser custodiados, ressaltando a importância da produção simbólica humana. A entrada na Modernidade enfatizou as
especificidades da instituição biblioteca, que devia ter estruturas organizadas e rotinas estabelecidas para o exercício da
custódia. E a fundamentação positivista priorizou as técnicas particulares da Biblioteconomia a serem utilizadas para o
correto tratamento do material custodiado. Constituíram-se assim, nos finais do século XIX, os elementos que marcaram a
consolidação da biblioteconomia como campo disciplinar.
Ao longo do século XX, contudo, foram se desenvolvendo pesquisas, reflexões e estudos em diferentes países e realidades,
que foram gradualmente conduzindo à superação deste primeiro modelo, e levando por fim a abordagens contemporâneas
que problematizam as bibliotecas a partir de um quadro explicativo muito mais complexo. Tais estudos são apresentados a
seguir organizados em quatro eixos, segundo sua filiação a correntes teóricas mais amplas das ciências humanas e sociais.
3 A Corrente Funcionalista
O modelo vigente no final do século XIX, como se viu, acabou por privilegiar um pensamento voltado essencialmente “para
dentro”: para os documentos e coleções guardadas nas bibliotecas; para as rotinas e dinâmicas das bibliotecas; e para as
regras de catalogação e classificação das coleções. Mas ainda no final do século XIX surgiram também manifestos e
iniciativas que evocavam mudanças no modo de se conceberem as bibliotecas. Adjetivos como “viva”, “dinâmica” e “ativa”
começam a ser usados para apontar a direção de uma necessária mudança a ser operada nestas instituições de modo a se
combater sua inércia e seu fechamento sobre si mesmas, seu isolamento do conjunto geral da sociedade. Assim se
desenvolveram as teorias funcionalistas da Biblioteconomia, ao longo do século XX.
Uma importante e pioneira expressão do pensamento funcionalista na Biblioteconomia encontra-se na obra do espanhol
Lasso de la Vega (1952). Em seu tratado sobre o assunto, o autor argumenta que, inicialmente, as bibliotecas eram
instituições voltadas unicamente para a conservação dos livros e que, naquele momento (década de 1950) estavam
passando a se constituir como instituições pedagógicas ativas, verdadeiras “universidades populares”. O autor apresenta
uma mudança no conceito da profissão de bibliotecário, não mais como um conservador do “museu do livro”, de “braços
cruzados” limitando-se a ver como os usuários usam os livros, mas um agente propulsor de cultura.
O salto teórico-conceitual dessa abordagem se deu com o grupo de pesquisadores reunidos na Graduate Library School da
Universidade de Chicago, onde em 1928 foi criado o primeiro programa de doutoramento em Biblioteconomia. Para Lópes-
Cózar (2002), o grupo de Chicago foi fundamental para se sair de uma Biblioteconomia de orientação meramente
profissionalista para uma científica. Entre os principais trabalhos do grupo, ele destaca o livro Investigating Library Problems,
publicado por Douglas Waples em 1939, que constitui o primeiro manual de metodologia de pesquisa em Biblioteconomia.
Também na avaliação de Lopes-Cózar (2002), merece destaque o livro An introduction to Library Science, de Butler,
publicado em 1933 e que representa um “novo paradigma” na medida em que busca substituir a Library Economics
consagrada pela Universidade de Columbia por uma Library Science.
A mais elaborada elaboração funcionalista do significado da biblioteca é realizada por Shera (1976). Conforme esse autor,
cada sociedade forma e utiliza suas coleções de registros materiais de conhecimento de uma forma particular, ou seja, os
movimentos culturais são determinantes na conformação da instituição biblioteca (na natureza de sua coleção, dos serviços
oferecidos e das formas de ela ser administrada). Das tabuinhas de argila na Suméria aos papiros no Antigo Egito,
passando pelos monastérios medievais e chegando à “moderna biblioteca livre” (SHERA, 1976, p. 13), a biblioteca viveu
uma série de transformações, condicionadas pelas necessidades da sociedade à qual pertencia. Para Shera, o fundamento
da biblioteca se encontra no fato de existir para ir ao encontro de certas necessidades sociais. As funções da biblioteca
variam em função das necessidades das diferentes sociedades nas diferentes épocas e, assim, a biblioteca deve ser mais
do que “truques para encontrar determinado livro”, deve atender a sociedade em todas as suas potencialidades.
Num contexto radicalmente diferente, a Índia, surgiu outra teorização de natureza acentuadamente funcionalista. Trata-se
do trabalho de Ranganathan. Entre as diversas contribuições deste autor, destaca-se seu livro Five Laws of Library Science,
de 1931. Nela, o autor apresenta aquelas que entende como sendo as cinco leis da Biblioteconomia: os livros são para uso;
a cada leitor, seu livro; a cada livro, seu leitor; poupe o tempo do leitor; a biblioteca é um organismo em crescimento. Trata-
se uma problematização que busca enfatizar o efetivo uso da biblioteca e de seus recursos e, ao mesmo tempo, o
atendimento às necessidades da sociedade, por meio do atendimento a cada um de seus componentes.
4 A Perspectiva Crítica
Ao longo do século XX, o impacto do pensamento crítico sobre o positivismo, a sociedade e o ser humano começou a se
manifestar no espaço reflexivo sobre as bibliotecas. Também tendo como centro de preocupação as relações às bibliotecas
e a sociedade, desenhou-se uma perspectiva calcada na denúncia de processos de dominação, de ações ideológicas
ocultas por detrás de práticas tidas como pretensamente neutras, no questionamento sobre as reais necessidades a serem
atendidas e sobre os enquadramentos culturais promovidos. Essa abordagem se construiu tanto na crítica ao paradigma
patrimonialista quanto à corrente funcionalista. Seu ponto de partida é uma concepção da realidade humana como fundada
no conflito, na luta de interesses entre atores em posições desiguais por condições de domínio e legitimidade – por meio do
conceito de ideologia.
A manifestação de uma perspectiva crítica na Biblioteconomia se deu de forma mais explícita em países do terceiro mundo
e bastante vinculada aos processos de redemocratização após ditaduras militares, nos quais houve forte censura à
circulação de livros. Assim, num primeiro momento, desenhou-se um conjunto de práticas voltadas para população
excluídas ou marginalizadas (extensão bibliotecária, carros-biblioteca, serviços de caixa estante) que buscavam alargar o
acesso físico aos livros por meio da proximidade espacial. Em muitos casos, tais práticas passaram a se descrever como de
“ação cultural” ou de “animação cultural”. Para além do conjunto de iniciativas práticas e linhas de atuação geradas no
campo biblioteconômico, houve também uma importante contribuição epistemológica.
Uma das mais completas sistematizações dessa aproximação teórica entre as discussões sobre ação cultural e a
Biblioteconomia, que inclusive condensa argumentos de outros autores, é o trabalho de Flusser (1983), que identifica duas
atitudes de ‘assimilação’ da cultura: uma, estática, passiva, de ver os objetos culturais como bens ‘em si’; outra, dinâmica,
ativa, de promover uma análise crítica dessa herança. É justamente aí que se insere o trabalho do bibliotecário, da
biblioteca como instrumento de ação cultural. O autor defende uma proposta de ação profissional para o bibliotecário não
como agente da domesticação, numa ação manipuladora, normativa, buscando a interiorização de certos valores, mas sim
como agente da emergência cultural, numa prática libertadora, transgressora, proporcionando o surgimento da criação e da
invenção.
Expressões concretas dessa linha de pensamento se encontram em redefinições do conceito de biblioteca, entendendo esta
como “centro de cultura” (MILANESI, 1997). Retomou-se assim a importância da expressão “biblioteca pública” (também
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muitas vezes entendida como um tipo especial de biblioteca pública, a “biblioteca popular”), mas num quadro de sentido
bastante diferente do modelo funcionalista – embora as designações “viva” e “dinâmica” apareçam em ambos os modelos.
Numa outra perspectiva, vários trabalhos buscaram realizar um empreendimento crítico em relação ao próprio trabalho do
bibliotecário, incidindo reflexões sobre os processos de representação de livros e documentos. Dessa forma, diversos
autores debruçaram-se sobre a natureza ideológica do ato de indexar (LUCAS, 2000), sobre os critérios ideológicos
dissimulados nos sistemas de classificação bibliográfica (BERMAN, 1993) e sobre a própria ideia de “neutralidade” e
“objetividade” presente nas reflexões sobre o trabalho bibliotecário (LEWIS, 2008).
No início do século XX, houve um grande interesse em se saber como e o que as pessoas liam, e qual o uso feito das
bibliotecas em geral (FIGUEIREDO, 1994). Estes primeiros estudos foram executados principalmente por bibliotecários e
docentes ligados à Graduate Library School da Universidade de Chicago. Tais estudos tinham como foco os grupos sociais
tomados em seu conjunto – daí serem normalmente denominados “estudos de comunidade”. Os principais estudos
desenvolvidos nessa linha se focaram nos hábitos de leitura e entre os principais achados estão a percepção de que os
meios de comunicação de massa atendiam pouco às necessidades informativas das pessoas; de que as fontes mais
buscadas eram os familiares e amigos; e de que o uso de bibliotecas e outros serviços profissionais de informação era muito
baixo.
Nos anos seguintes, cada vez mais os estudos de usuários se deslocaram dos estudos de comunidades para o estudo de
indivíduos específicos no espaço da biblioteca, passando a se constituir como instrumento de diagnóstico e avaliação dos
serviços bibliotecários e dos acervos, no escopo maior das atividades de planejamento das bibliotecas. Diversos estudos
promovidos nesse período buscaram estabelecer taxas de uso dos itens constantes dos acervos, índices de freqüência à
biblioteca, estatísticas de empréstimos, tempos de resposta toleráveis, entre outras. Tais dados eram frequentemente
confrontados com variáveis de perfil dos usuários, na busca de estabelecimento de padrões de comportamento para os
diferentes tipos de usuários. Apesar dos resultados muito contraditórios obtidos nas diversas pesquisas empíricas, foi
possível acumular certo conjunto de generalizações (PAISLEY, 1968).
Na década de 1970 ocorreu uma demanda pelo crescimento conceitual do campo. Line (1974), por exemplo, buscou
estabelecer o que seria, no escopo dos estudos, os conceitos de necessidade, demanda, desejo, uso e requisito. O objetivo
era o de permitir que diferentes estudos empíricos realizados pudessem ter seus resultados comparados – o que não era
possível na atual situação de desordem conceitual.
Entre os estudos contemporâneos, destaca-se a abordagem construtivista levada a termo por Carol Kuhlthau (2004),
principalmente no âmbito das bibliotecas escolares. A partir de uma série de pesquisas empíricas, a autora empreendeu
diversos estudos sobre como os estudam buscam e usam os recursos disponíveis na biblioteca, bem como as habilidades
que e barreiras que interferem nesse processo. Com base nos resultados obtidos, a autora elaborou um modelo de
comportamento informacional baseado em processo, em seis etapas, em que são analisados, ainda, os fatores cognitivos e
emocionais atuantes em cada uma destas etapas.
Na área de catalogação, foram realizados importantes avanços na criação de instrumentos internacionais de formatos de
registros de dados bibliográficos, controle de autoridade, pontos de acesso e remissivas para os vários tipos de materiais.
Em 1961, numa conferência em Paris, e sob a égide da IFLA (International Federation of Library Associations), foram
estabelecidos os princípios que, desde então, passaram a nortear a prática catalográfica. Em conformidade com tais
princípios, foi publicada em 1969 a primeira edição das Anglo-American Cataloging Rules (AACR), código catalográfico que
passou a ser internacionalmente adotado. Nos anos 1970, sob a ação da IFLA, foi desenvolvida a ISBD (International
Standard Bibliographic Description) e, em 1978, foram revistas as regras de catalogação de acordo com essa norma
internacional, sendo publicada uma segunda edição, conhecida como AACR2. Com a necessidade de se elaborar normas
legíveis por computador, em 1969 foi criado pela Library of Congress o formato MARC (Machine Readable Cataloging) para
troca de registros bibliográficos. Na evolução do que ficou conhecido como “metadados”, surgiu ainda o padrão Dublin Core,
elaborado a partir do envolvimento de várias entidades sob a liderança da OCLC. Atualmente, o maior avanço no campo é o
modelo de entidade-relacionamento FRBR (Functional Requirements for Bibliographic Records), desenvolvido pela IFLA
(International Federation of Library Associations and Institutions). Voltada para a recuperação e acesso no campo de
bibliotecas e bases de dados digitais, consiste mais num modelo conceitual do que um código de catalogação. Sua evolução
se deu com a criação do FRAD (Functional Requirements for Authority Data) e do FRSAR (Functional Requirements for
Subject Authority Records).
É no campo das classificações bibliográficas, contudo, que mais houve produção científica. Buscando promover
classificações sistemáticas, lógicas, que refletissem de modo crítica e filosófica sobre os elementos de ligação que servem
para a reunião de conceitos (LANGRIDGE, 1977), as teorias e sistemas formulados foram buscar na lógica aristotélica as
primeiras contribuições, a partir de conceitos como gênero, espécie, diferença, propriedade e acidente Tais noções estão na
base da definição de classificação como hierarquia e foram fundamentais na formulação dos primeiros sistemas de
classificação bibliográfica, normalmente conhecidos como sistemas de classificação hierárquicos.
Na primeira metade do século XX, surgiu no âmbito das teorias da classificação bibliográfica outra concepção de
classificação: trata-se da teoria da classificação facetada, desenvolvida por Ranganathan na década de 1930, que trouxe o
conceito de “faceta”, definida como “a totalidade das subdivisões resultantes da aplicação de uma única característica”
(PIEDADE, 1977, p. 22). A utilização do termo “faceta” não implica apenas uma mudança terminológica, mas uma mudança
na concepção do processo classificatório. O impacto mundial das teorias de Ranganathan se deu com sua apropriação no
contexto inglês. Em 1948 foi fundado, em Londres, o Classification Research Group (CRG), que passou a defender a
utilização das classificações facetadas, criando inclusive diversas classificações especializadas, isto é, para campos
específicos do conhecimento (FOSKETT, 1962).
Nos anos seguintes, diversos campos e setores de pesquisa estabeleceram diálogo ou se apropriaram dos princípios da
teoria da classificação facetada, tais como a metodologia para a construção de tesauros facetados de Aitchison e Gilchrist, a
Teoria do conceito de Dahlberg, os estudos em montagem de bases de dados especializadas e automatizadas de
Neelameghan, a abordagem dos boundary objects desenvolvida por Albrechtsen e Jacob, as pesquisas em estruturas de
classificação de Kwasnik e o mapeamento de sentenças e uso de tabelas de classificação para a evidenciação de facetas
por Beghtol.
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7 Perspectivas Contemporâneas
Nas últimas três décadas, alguns fatos e fenômenos começaram a colocar novos problemas e desafios para as bibliotecas e
para a biblioteconomia. Como apontado na introdução, o desenvolvimento das tecnologias digitais, da internet e das redes
sociais; o surgimento de dispositivos e interfaces em que os sujeitos possuem mais possibilidades de atuação; e o amplo
acesso à informação (mas, ainda assim, a necessidade de se ter um efetivo uso e contribuição desse acesso) evidenciaram
alguns impasses para as teorias e práticas realizadas até então. Bibliotecas, bibliotecários e a própria biblioteconomia se
viram desafiados e gerar novos modelos compreensivos e de atuação condizentes com esses novos desafios (SILVA,
2010).
Esse cenário conduziu a biblioteconomia a, sobretudo, buscar articular os achados de pesquisa obtidos nas distintas
tradições de pesquisa, mesclando conceitos e teorias das abordagens mencionadas anteriormente. Assim, em anos mais
recentes, o que se verifica é uma compreensão de que as bibliotecas desempenham, sim, determinadas funções no todo
social, assim como também têm uma atuação ideológica nas relações de conflito e poder, e ao mesmo tempo são
apropriadas e vividas pelos sujeitos e, ainda, lidam com fenômenos de representação e produção de significados que se
multiplicam e se sobrepõem. As teorias contemporâneas se constroem em perspectivas mais amplas e atentas às
complexidades dos fenômenos biblioteconômicos, exatamente por conjugar contribuições das distintas correntes teóricas
que marcaram a evolução do campo no século XX.
Um primeiro conjunto de teorias relaciona-se exatamente com o primeiro desafio apontado na introdução deste texto.
Nossas sociedades contemporâneas possuem amplo acesso à informação (ainda que, para parte significativa da
humanidade, essa não seja a realidade, por questões econômicas). Mas esse amplo acesso não tem tornado as pessoas
mais críticas, mais politizadas, mais comprometidas com valores democráticos, ecológicos e humanos. Há uma parte da
biblioteconomia preocupada em “contribuir para a superação das deficiências presentes” (LEMOS, 2015, P. 150). Uma das
linhas de argumentação nesse sentido é a que defende que a biblioteconomia (e outras ciências que lidam com os
documentos, a informação e o conhecimento) estaria, em fins do século XX, diante de um “quarto desafio”. Como coloca
Burke (2012), as ciências do documento e da informação tiveram que lidar, historicamente, com três tipos de desafios: a
guarda e preservação dos documentos, depois a organização e análise desses documentos, depois a sua disseminação e
promoção do acesso. Estaria se desenhando recentemente a necessidade de uma nova tarefa, a promoção do efetivo uso
do conhecimento humano armazenado, organizado e amplamente disponível. Promover esse efetivo uso demandaria uma
ação específica por parte da biblioteca e do bibliotecário - ação essa que vem sendo estudada e pesquisada sob a
denominação de “mediação da informação”, “mediação bibliotecária” ou ainda “apropriação da informação”.
Essa vertente foi primeiramente trabalhada por Ortega y Gasset, em 1935, na palestra de abertura do II Congresso Mundial
de Bibliotecas e Bibliografia organizado pela IFLA, num sentido de ponte, filtro, sendo o bibliotecário um orientador de
leituras dos usuários. Anos depois, expressou-se numa alteração estrutural do conceito de biblioteca, sendo esta
considerada “menos como ‘coleção de livros e outros documentos, devidamente classificados e catalogados’ do que como
assembléia de usuários da informação” (FONSECA, 1992, p. 60). Assim, a ideia de mediação sofreu uma mudança,
enfatizando menos o caráter difusor (de transmissão de conhecimentos) e mais o caráter dialógico da biblioteca.
Há aqui uma influência das ideias de Paulo Freire: a ideia de mediação passou a definir-se não como algo coadjuvante, mas
“interferindo em seu próprio objeto”. A mediação aparece como uma interferência intencional, “em oposição ao pensamento
hegemônico que sustenta a imparcialidade e a neutralidade” do bibliotecário (ALMEIDA JÚNIOR, 2009, p. 93).
A ideia de “apropriação da informação” é trabalhada por, entre outros, Perrotti e Pieruccini (2007), que esclarecem terem
existido três “paradigmas” por que passaram as bibliotecas: o primeiro, da conservação cultural (centrado na organização,
no tratamento técnico dos acervos); o segundo, da difusão cultural (com ações voltadas para o acesso e o uso da
informação); e o terceiro, da apropriação cultural (em que o usuário ganha uma relevância maior, e a biblioteca se converte
em dispositivo de mediação cultural). As bibliotecas, assim, deixaram de ser simples artifícios de transferência de conteúdos
informacionais para se constituírem em verdadeiros dispositivos produtores de sentidos, tendo os usuários como sujeitos
ativos do processo.
Uma discussão específica que vem se dando no campo da biblioteconomia e relacionada a este aspecto é a que se refere
ao fenômeno da “pós-verdade”. O conceito de “pós-verdade” surgiu na década de 1990 e foi considerado pelo Dicionário
Oxford como a “palavra do ano” em 2016. Seu significado refere-se a uma situação em que fatos objetivos possuem menos
influência na modelagem da opinião pública do que apenas emocionais e crenças pessoais. Sua ampla utilização se deu,
sobretudo com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a saída da Grã-Bretanha da União Europeia (o chamado
“Brexit”), mas também no contexto brasileiro do impeachment de Dilma Rousseff, em que muitos fatos e afirmações falsas
circularam em sites e nas redes sociais. Mas o conceito não se relaciona com o fato de existirem mentiras, afinal, mentiras
sempre existiram. A novidade trazida pelo conceito é que hoje, com as novas tecnologias e a internet, as pessoas possuem
muito mais condições de checar a veracidade dos fatos apresentados na mídia ou nas redes sociais – elas podem, mas não
querem, não têm interesse em fazer isso. É esse desinteresse pela verdade, o apego a preconceitos e fundamentalismos
por parte de um grande contingente de pessoas, que marca o fenômeno da pós-verdade.
Diferentes atores posicionam-se em relação a esse fato. Grandes conglomerados de mídia têm usado a expressão para
deslegitimar sites, blogs e outras fontes alternativas da internet, como se apenas esses disseminassem versões mentirosas
e deturpadas dos fatos. Muitos estudos mostram que há, sim, muitos sites dedicados a veicular mentiras, bem como robôs
construídos para disseminar tais artifícios. Mas também as grandes empresas jornalísticas, vinculadas a interesses
comerciais, atuam fortemente na divulgação de boatos, noticias falsas ou parcialmente verdadeiras. Encontra-se aí mais um
campo de possível atuação para as bibliotecas, instituições comprometidas com o interesse público e desvinculadas dos
interesses comerciais e econômicos.
A segunda grande questão da realidade contemporânea relaciona-se ao fato do incremento da internet e dos motores de
busca nas últimas décadas, que tornaram o trabalho de “recuperação da informação” automatizado. É curioso perceber,
algumas vezes, entre bibliotecários, uma tentativa de desqualificação desses instrumentos, expressa em frases como “o
Google dá um milhão de respostas, o bibliotecário dá a correta”. Mas parece ser um tipo de argumentação inadequada. Na
verdade, é excelente que existam motores de busca que, de fato, sejam capazes de oferecer resultados muito mais amplos,
em tempo menor e com mais exatidão. A biblioteca e o bibliotecário não têm de competir com os motores de busca. É cada
vez mais evidente que a recuperação da informação é feita com mais eficiência por sistemas automatizados. Pessoas que
buscam informação sobre algo, sobretudo informação utilitária, não precisam mais ir a bibliotecas. Isso não torna as
bibliotecas irrelevantes, apenas chama a atenção para o fato de que, nesse mundo interconectado das tecnologias digitais,
bibliotecas podem e devem assumir novas funções que não a recuperação da informação.
Uma dessas novas funções é a base para o mais importante movimento intelectual da biblioteconomia na
contemporaneidade, a chamada nova biblioteconomia defendida e proposta por Lankes (2011) que entende que o papel dos
bibliotecários seria ajudar no progresso das sociedades facilitando a produção de conhecimentos nas várias comunidades.
Conforme o autor, a internet, por sua amplitude, não oferece um ambiente rico em informação de qualidade, e nesse sentido
as bibliotecas deveriam se constituir em “ilhas” de informação de qualidade no “oceano” da internet. Da mesma forma que,
séculos atrás, com a invenção da imprensa, o fato de haver ampla circulação de livros vendidos em bancas e livrarias não
causou a perda da importância das bibliotecas, agora também a existência de informações disponíveis na internet não
dispensa a existência de “lugares” que concentrem determinados recursos a serem priorizados. Nesse sentido, a nova
biblioteconomia liga-se também ao desafio apresentado anteriormente, por exemplo, em relação à democracia: “uma
verdadeira democracia requer a participação de uma sociedade bem informada. A principal missão das bibliotecas, públicas
ou de qualquer outro tipo, é criar uma nação de cidadãos ativos e informados” (LANKES, 2016, p. 43). Essa não é, nem
será, a “missão” da internet.
Lankes desenvolve ainda outra questão: o papel da biblioteca como “gerenciadora do patrimônio cultural”. Existem no
“mundo digital” diversos “lugares” e serviços, como por exemplo, as redes sociais, que são empresas comerciais. Como tais,
elas existem enquanto suas atividades dão retorno financeiro, e podem cessar a qualquer momento suas atividades.
Quando isso acontece, quem se torna responsável pela guarda de tudo aquilo que foi publicado e discutido nelas? É preciso
que exista uma instituição, pública e de caráter permanente, que esteja atenta a isso, que preserve as discussões que a
sociedade estabele dentro delas, os conflitos de valores e visões de mundo de uma época” (HALL, 2003). Afinal, discussões
políticas, culturais, de valores de uma sociedade, acontecem nas redes sociais e precisam estar disponíveis para a
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posterioridade. Assim como, antes, as bibliotecas preservavam jornais (e é graças a essa atividade que hoje se pode
estudar fatos do século XVIII no Brasil, por exemplo), é preciso agora que elas atuem junto aos novos serviços e produtos
criados no ambiente digital.
Há ainda uma outra tendência relacionada a esse aspecto. Diversos estudos têm evidenciado que a internet é movida por
forças comerciais e controlada segundo as grandes dimensões geopolíticas internacionais. Há páginas comerciais ou de
poder econômico que possuem maior visibilidade e poder de recuperação. Há idiomas que são privilegiados e outros
silenciados. Diante de uma realidade de concentração de poder e de exclusão (GARCÍA GUTIÉRREZ, 2008), é preciso que
existam serviços e atores que promovam a diversidade, a pluralidade de fontes de informação, que estejam além dos
interesses comerciais. Aí reside mais uma grande contribuição possível para as bibliotecas e os bibliotecários. García
Gutiérrez (2008) defende que as bibliotecas atuem como operadores complexos e operadores transculturais, permitindo a
existência de diferentes pontos de vista sobre a realidade na rede mundial e garantindo voz aos atores que não são
hegemônicos. Silva (2010, p. 57) defende o papel das bibliotecas para a “democratização da informação”. Numa linha
semelhante, busca-se compreender a biblioteca a partir do conceito de esfera pública desenvolvido por Habermas
(VENTURA, 2002), como local a proporcionar condições de envolvimento e participação por meio do acesso à informação.
A terceira questão apresentada na introdução deste texto refere-se a uma nova condição da experiência, a possibilidade dos
sujeitos serem não apenas “consulentes”, isto é, pessoas “precisando” de uma informação, mas serem também produtores,
classificadores, indexadores, disseminadores. Os dispositivos mais recentes permitem e potencializam essa dimensão. No
ambiente da computação, essa mudança é caracterizada pelo esquema que define a “web 1.0” (a internet da busca, da
recuperação da informação) e a “web 2.0” (a internet da conexão, do relacionamento entre pessoas, das interações, da
sociabilidade). Web 2.0 é uma noção formulada por Tim O’Reilly em 2004, que designa uma nova dimensão da internet
caracterizada por uma “arquitetura da participação” e também por uma mudança na concepção de usuário que passa a ser
visto também como autor, editor, organizador de informação (FURTADO, 2009). A chegada das tecnologias digitais tem
trazido, assim, uma reconfiguração da própria estrutura dos produtos e serviços bibliotecários. Conforme Furtado (2009), em
2005 Michael Casey criou o termo “library 2.0”, fruto da junção de web 2.0 e biblioteca, destacando assim a aplicação, na
biblioteca, dos princípios e ferramentas da web 2.0. Há, assim, uma profunda “mudança na relação usuário, informação e
biblioteca” (FURTADO, 2009, p. 136). Mais que oferecer novos serviços e produtos com as tecnologias digitais, é a relação
com o usuário que muda. Na biblioteca 2.0, o usuário é chamado a participar e não só receber, e o papel da biblioteca deixa
de ser apenas de disponibilizar as informações de seu acervo, mas sim permitir que todos participem na construção dos
conteúdos que todos vão usar. Na biblioteconomia, essa discussão tem sido realizada no âmbito das teorizações sobre as
bibliotecas eletrônicas ou digitais, com todas as implicações em termos de acervos, serviços e dinâmicas relativas a essa
nova condição (ROWLEY, 2002).
Mas também relacionada a essa questão está a área que se desenvolveu a partir do conceito de “Information Literacy”,
surgido nos EUA, em 1974. Formulado por Zurkowsky, inicialmente se relacionou com o ambiente empresarial, como
competência para o uso da ampla variedade de recursos informacionais disponíveis para a solução de problemas no âmbito
do trabalho. Dois anos depois, Hamelink e Owens o vinculavam à questão da cidadania, correlacionado-o com a prática de
tomar decisões relativas à responsabilidade social. Foi no campo educacional, contudo, que o conceito se desenvolveu,
como um “esforço da classe bibliotecária para ampliar seu papel dentro das instituições educacionais” (CAMPELLO, 2003,
p. 28). Conforme a autora, as teorias e ações em torno do campo da Competência Informacional tiveram como
antecedentes os serviços de referência e a educação de usuários.
Dudziak (2003) identifica três níveis de complexidade na Information Literacy: como tecnologia da informação (dimensão
instrumental, foco nos sistemas), cognitiva (em que a biblioteca é entendida como espaço de aprendizado, foco no
indivíduo) e como inteligência (é dirigida para o aprendizado, foco no processo). Assim, além de habilidades e
conhecimentos, pensa-se nos valores, incorporando uma dimensão social e situacional: “entender a Information Literacy
nesse nível é considerar a dimensão social e ecológica do aprendiz, percebendo-o não mais como usuário, nem tampouco
como indivíduo, antes como sujeito, que é o indivíduo enquanto ator social” (DUDZIAK, 2003, p. 28). Por isso, a Information
literacy representa uma mudança na filosofia da educação, mais que mera inclusão de atividades. Para o bibliotecário,
representa uma profunda mudança, já que este passa a agir como um agente educacional, um mediador do aprendizado,
centrando foco nos processos de aprendizado. A biblioteca também se altera de repositório de informações e prestadora de
serviços para uma organização aprendente, provocadora de mudanças nas instituições em que se situam.
8 Considerações Finais
Algumas vezes, em discussões de eventos científicos ou profissionais, fala-se no “fim da biblioteca” e no desaparecimento
do profissional bibliotecário. Em ambientes universitários, defende-se a mudança de nome dos cursos de biblioteconomia
para outras designações. Ainda que parte dos argumentos usados pelos defensores de tais visões sejam válidos, um olhar
mais abrangente sobre a produção recente na biblioteconomia, bem como para aspectos e desafios da realidade
contemporânea, evidenciam um quadro oposto.
Diante dos desafios colocados pelo amplo acesso à informação, pelas características das tecnologias digitais, da internet e
dos processos automatizados de recuperação da informação, bem como das novas possibilidades de atuação informacional
dos sujeitos, bibliotecas mostram-se necessárias. Desenha-se um amplo novo campo de atuação, comprometido com
valores tradicionalmente defendidos pelas bibliotecas: seu caráter público, a busca pela inclusão, pela universalidade, pela
pluralidade, pela ética, pela herança cultural, pela educação e pela paz. O quadro levantado neste texto traz apenas
algumas das iniciativas teóricas e conceituais que estão em curso no momento, e que podem, e devem iluminar a prática
biblioteconômica atual. O momento é de uma estimulante oportunidade de atuação, tanto no campo científico/reflexivo
quanto no da prática profissional e institucional.
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Dados do autor
Carlos Alberto Ávila Araújo
Professor associado da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da qual foi
diretor de 2014 a 2017. Presidente da Associação de Educação e Pesquisa em Ciência da Informação da Iberoamérica e
Caribe (EDICIC). Vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ANCIB). Graduado em
Comunicação Social; Mestre em Comunicação Social; e Doutor em Ciência da Informação, pela UFMG. Pós-doutor pela
Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi Editor Adjunto da revista Perspectivas em Ciência da Informação (1413-
9936) de 2007 a 2011 e de 2013 e 2015. Fez parte, em 2008, da Comissão de planejamento e desenvolvimento do projeto
pedagógico do curso de graduação em Arquivologia da UFMG e, em 2009, foi presidente da Comissão de planejamento e
desenvolvimento do projeto pedagógico do curso de Museologia da UFMG. Foi membro da diretoria da Abecin. Atua nas
áreas de Epistemologia da Ciência da Informação e suas relações com a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia,
Estudos de Usuários da Informação.
[email protected]
Link para o lattes: http://lattes.cnpq.br/4009452150201421
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