(Pensamento Crítico) György Lukács - Arte e So PDF
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13
UFRJ
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Aloisio Teixeira
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Editora UFRJ
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Carlos Nelson Coutinho
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Conselho Editorial
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V irgínia Fontes
Gyorgy Lukács
ARTE E SOCIEDADE
ESCRITOS ESTÉTICOS 1932-1967
Editora UFRJ
Rio de Janeiro
2009
Copyright © 2009 by Editora UFRJ
Os direitos autorais sobre a organização e tradução desta obra foram cedidos gratui
tamente por Carlos Nelson Coutinho e José Paulo Netto à Editora UFRJ.
ISBN 978-85-7108-336-3
Revisão
João Sette Camara
Apoio
� Fundação Universitária
11 José Bonifácio
SUMÁRIO
Apresenta.;:ão 7
1.
2.
3.
4.
C.N.C. e J.P.N.
Rio de Janeiro, março de 2009
Notas
1 Eles são introduzidos, em nossa edição, pelo prefácio que Lukács escreveu,
em 1 967, para uma edição húngara de seus escritos estéticos, também
intitulada Arte e sociedade. Apesar do mesmo título, são diversos os artigos
que selecionamos para nossa antologia. Há uma versão italiana da edição
húngara: G. Lukács, Arte e società, Roma, Riuniti, 2 v., 1977.
2 G. Lukács, O jovem Marx e outros escritos de filosofia, Rio de Janeiro,
Editora UFRJ, 2007; e Id., Socialismo e democratização. Escritos políticos
1956-1971, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 2008. Na primeira antologia, o
leitor encontra uma cronologia da vida e das obras de Lukács, bem como
o elenco dos principais textos dele e sobre ele já publicados no Brasil.
3 Seguimos aqui as indicações fornecidas pelo próprio filósofo num escrito
autobiográfico, "Meu caminho para Marx", que pode ser lido em Socialismo
e democratização (ed. cit., p. 37-54). Mas cabe consultar também o prefácio
autocrítico que ele escreveu em 1 967 para uma reedição de seus primeiros
escritos marxistas: G. Lukács, História e consciência de classe. Estudos sobre
a dialética marxista, São Paulo, Martins Fontes, 2003, p. 1-50. É preciso
deixar claro que, apesar de uma substancial continuidade, a evolução de
Lukács posterior a 1 930 apresenta também importantes pontos de inflexão.
4 L. Goldmann, "Introduction aux premiers écrits de Georges Lukács'', em
G. Lukács, La théorie du roman, Paris, Gonthier, 1 97 1 , p. 1 56- 1 90.
5 Cf. G. Lukács,A teoria do romance. Um ensaio histórico-filosófico sobre as
formas da grande épica, São Paulo, Duas Cidades/Editora 34, 2000.
6 Cf., infra, p. 1 93-243.
7 Sobre os traços messiânicos e eticistas deste primeiro marxismo lukacsiano,
cf. suas próprias observações autocríticas no já mencionado prefácio de 1 967
(G. Lukács, História e consciência de classe, ed. cit., p. 1 - 50).
8 O que não significa, d e modo algum, que ele tenha deixado inteiramente
de lado, neste período, suas preocupações estéticas e literárias. Para com
prová-lo, basta recordar alguns pequenos textos publicados sobretudo em
Rote Fahne [Bandeira Vermelha] , cotidiano do Partido Comunista alemão.
Muitos deles foram selecionados e publicados por Michael Lõwy em G.
Lukács, Littérature philosophie marxisme (1922-1923), Paris, PUF, 1 978.
Nestes textos, Lukács trata não apenas de escritores (como Lessing, Balzac,
APRESENTAÇÃO + 19
JJ Publicado no volume Dem Dichter des Friedens Johannes R. Becher zum 60.
Geburtstg [Para o poeta J. R. Becher no seu sexagésimo aniversário], Berlim,
Aufbau Verlag, 195 1. Não foi retomado em nenhum dos volumes da citada
Georg Lukács Werke. Reproduzido na edição húngara de Arte e sociedade,
foi traduzido para o italiano em G. Lukács, Arte e società, ed. cit., v. 2,
p. 4 1 -44.
21 Tal como em Arte e sociedade, ed. cit., retomamos aqui o item III do ensaio
sobre "A estética de T chernichevski", publicado originalmente em 1952,
como prefácio à edição húngara de uma coletânea de textos estéticos do
pensador russo. Em sua íntegra, o ensaio está reproduzido em G. Lukács,
Beitrage zur Geschichte der Asthetik, ed. cit, p. 147-203.
22 Os dois ensaios foram reunidos num pequeno volume: G. Lukács,
Solschenizyn, Neuwied-Berlim, Luchterhand, 1970.
L' Esta primeira parte é intitulada "A peculiaridade do estético": cf. G. Lukács,
Asthetik, Berlim, Luchterhand, Teil 1 (Die Eigenart des Asthetischen), 1963 .
Como diz no prefácio a este volume, Lukács pretendia escrever outras duas,
a serem intituladas "A obra de arte e o comportamento estético" e "A arte
como fenômeno histórico-social". Dedicado no final da vida à redação de
sua Ontologia do ser social, ele não teve infelizmente o tempo para escrevê-las.
24 G. Lukács, Zur Ontologie des gesellschaftlichen Seins, em Georg Lukács
Werke, ed. cit., v. 13 e 14, 1 984- 1 986.
25 Cf. o "Prefácio" de Lukács à edição italiana de Contributi alia storia deli'es
tetica, Milão, Feltrinelli, 1957, p. 10. Sobre as relações com Stalin, cf.
também G. Lukács, "Para além de Stalin", em Id., Socialismo e democrati
zação, ed. cit., p. 207- 2 1 4.
26 Lukács tinha o hábito - nada acadêmico - de não indicar as referências bi
bliográficas de suas muitas citações. Esse hábito foi mantido na edição já
citada de suas Werke. Com muito esforço, conseguimos identificar, nos tex
tos aqui recolhidos, a maior parte destas referências e indicar sua localização,
quando possível, nas edições em língua portuguesa. Não tivemos sorte no
caso das citações de Nietzsche, pelo que pedimos desculpas ao leitor. Com
exceção das notas sem colchetes do ensaio "A questão da sátira", que são de
Lukács, todas as demais notas presentes neste volume são dos organizadores.
Por isso, salvo no caso do ensaio citado, elas vêm sem colchetes.
PREFÁCIO A EDIÇÃO HÚNGARA
DE ARTE E SOCIEDADE
Notas
CONTRIBUIÇÕES A HISTÓRIA
DA E S TÉTICA
A ESTÉTICA DE HEGEL
1.
mente dito. E, por outro lado - uma vez que Kant é um pensador
sério, e, como Lenin indicou, vacila entre o materialismo e o idealis
mo -, surgem em sua estética, inevitavelmente, os próprios proble
mas de conteúdo, insolúveis com os conceitos básicos do seu siste
ma, e que muitas vezes acabam por ser inseridos nele mediante
argumentações sofísticas.
Mas, apesar dessa profunda contraditoriedade, a influência do
novo método utilizado por Kant em sua estética foi extraordinária.
Seu primeiro grande seguidor, Schiller, tentou harmonizar - dando
um passo adiante em relação a Kant - o elemento do conteúdo, ou
seja, a determinação filosófica concreta do objeto estético, com a
filosofia idealista. Tentativas como essa, naturalmente, teriam que ser
contraditórias: Schiller, no tocante ao conteúdo, ia além de Kant e se
empenhava energicamente na construção de um idealismo objetivo,
mas se mantinha aferrado, em sua teoria do conhecimento, ao
idealismo subjetivo de Kant. Por isto, contra a concepção burguesa
que faz dele um simples discípulo de Kant, deve-se compreender
Schiller como um pensador de transição entre o idealismo subjetivo
e o idealismo objetivo. O caráter de transição da filosofia schilleriana
se revela, antes de mais nada, no fato de Schiller superar o estilo
a-histórico da estética kantiana. Em Schiller, o novo método, a análise
da atividade do sujeito estético, converte-se explicitamente num
problema histórico. Em um de seus principais escritos, Sobre poesia
ingênua e sentimental,4 ele situa, pela primeira vez, a partir de um
ponto de vista filosófico, a questão da contraposição entre a arte antiga
e a arte moderna e procura expor filosoficamente a justificação desta
última. Todavia, Schiller opera basicamente ainda no marco das cate
gorias do idealismo subjetivo, partindo das modificações estruturais
do sujeito estético. De qualquer forma, para além das suas limitações
epistemológicas, Schiller tem suficiente sensibilidade histórica para,
pelo menos, perceber a conexão dessas categorias subjetivas com as
transformações históricas e sociais.
Já a influência da estética de Kant sobre os escritos teóricos de
Goethe é muito diversa. Goethe sempre inclinou-se a um materia
lismo espontâneo e, na sua estética, nunca recusou inteiramente a
teoria materialista do reflexo. Ademais, Goethe é um dialético es-
A ESTÉTICA DE H EGEL + 47
2.
portava era extrair dos cursos de Hegel um livro que fosse legível de
um só fôlego. Conseguiu-o. Mas, ao mesmo tempo, perdeu os docu
mentos mais importantes para reconstituir as origens da estética he
geliana. Lasson,8 que não faz muito tempo nos ofereceu uma nova
edição da estética, pôde, ao menos, distinguir entre o texto original de
Hegel e as adições de Hotho. Ele indica também algumas diferenças
de ordenação do material entre o curso de 1 823 e o de 1 826; contudo,
isso só se refere à primeira parte da estética. Permanece como um
problema em aberto, portanto, o conhecimento da decisiva fase
inicial da estética de Hegel.
Este breve excurso é suficiente para sublinhar que a transfor
mação da estética hegeliana está relacionada, antes de mais nada, ao
método e à periodização; isso fornece as bases histórico-sistemáticas
da estética. Seria uma grande superficialidade considerar que a in
serção do desenvolvimento artístico moderno na estética de Hegel
depende exclusivamente do fato de que o filósofo só num segundo
momento se apropriou de todo o concreto material da arte moderna.
Claro que só paulatinamente Hegel alcançou o seu variado e imenso
saber. Mas já em lena, cidade em que manteve muitas relações com
Goethe, Schiller, Schelling e alguns românticos, ele pôde conhecer
destacadas obras da arte moderna. (Vimos, por exemplo, que estudou
detalhadamente, na Fenomenologia, a obra de Diderot, publicada
pouco antes na tradução de Goethe. ) Em 1 805, quando mantém con
versações com Voss, o conhecido poeta e tradutor de Homero, sobre a
sua designação para Heidelberg, declara-se disposto a ministrar cur
sos de estética. E, na sua Propedêutica filosófica ( 1 809- 1 8 1 1 ) ,9 estuda
dois estilos artísticos básicos: o antigo e o moderno, caracterizando o
primeiro como plástico e objetivo e o segundo como romântico e
subjetivo. Mas é notável o fato de que, nas análises subsequentes,
Hegel só aborde em detalhe o estilo antigo, o que se torna explicável
quando lembramos que a estética de Hegel contempla a Antiguidade
como o período próprio e autêntico da arte. Na seção introdutória à
arte romântica, Hegel lança um último olhar à Antiguidade e observa:
"Não há nem poderá haver algo mais belo".
A ESTliTICA DE H EGEL + 53
3.
sua reprodução humana pela arte (Diderot), quer pensem que a ar
te, o belo, é produto exclusivo do sujeito, da consciência (Kant). Na
estética hegeliana aparece a ideia, afirmada com ênfase, segundo a
qual a natureza que figura como objeto da estética - a natureza na
qual se pode apresentar o belo natural - é um campo de interação en
tre a natureza e a sociedade. No entanto, dada sua atitude geral
idealista, Hegel não pode explorar dialeticamente até o fim esta ideia
fecunda, caindo muitas vezes no desprezo (próprio do idealismo) da
natureza e, assim, apesar de algumas intuições geniais, deixa o pro
blema sem solução.
Também neste caso, somente o marxismo pode resolver o pro
blema. Reconhecendo a interação entre sociedade e natureza e fun
damentando-a economicamente, Marx retirou o problema do terre
no das simples intuições e possibilitou o seu tratamento científico
também pela estética. Uma solução definitiva foi propiciada pelos
artigos de Stalin sobre linguística, graças à tese de que a superestrutura
( e, logo, também a arte) não se vincula diretamente à produção e,
com isso, à natureza, mas está exclusivamente mediada pela base,
pelas relações de produção. Aqui adquire expressão clara o princípio
científico com cuja ajuda se pode resolver teoricamente o problema
básico da estética, reiterado desde os seus inícios.
4.
5.
6.
7.
Notas
Tudo o que Engels afirma aqui sobre a filosofia pode ser tam
bém amplamente aplicado aos princípios fundamentais da evolução
da literatura. É claro que todo desenvolvimento, encarado de modo
concreto, tem o seu caráter particular, e o paralelismo entre dois de
senvolvimentos jamais pode ser generalizado mecanicamente. É cla
ro que, no quadro das leis que dizem respeito à sociedade em seu
conjunto, o desenvolvimento de cada esfera assume o seu caráter
particular, com suas leis próprias.
Se agora quisermos concretizar, ainda que só superficial
mente, o princípio geral assim obtido, chegamos a formular um dos
princípios mais importantes da concepção marxista da história. No
que concerne à história das ideologias, o materialismo histórico
reconhece - ainda neste ponto, em franca oposição ao marxismo
vulgar - que o desenvolvimento das ideologias não acompanha
mecanicamente e nem segue pari passu o grau de desenvolvimento
econômico da sociedade. Na história do comunismo primitivo e da
divisão da sociedade em classes, a respeito da qual escreveram Marx e
Engels, não é de maneira alguma necessário que a cada florescimento
econômico e social corresponda infalivelmente um florescimento da
literatura e da arte, da filosofia etc.: não é absolutamente necessário
que uma sociedade mais evoluída socialmente possua uma literatura,
uma arte, uma filosofia necessariamente mais evoluída do que as de
uma sociedade com nível inferior de progresso.
Marx e Engels insistem, em muitas ocasiões, sobre a desi
gualdade de desenvolvimento no campo da história das ideologias.
Engels, por exemplo, ilustra as considerações citadas há pouco re
cordando como a filosofia francesa do século XVIII e a filosofia alemã
do século XIX nasceram em países completa ou relativamente atra
sados, o que mostra que, no campo da filosofia, a função de guia pode
ser exercida pela cultura de um país que, no campo econômico, se
94 • GYORGY LUKÁCS
algo que elas não são, quer dizer, rro contrário delas. 1 1
Notas
1
Trata-se da edição húngara dos escritos estéticos de Marx e Engels, para a
qual Lukács escreveu esta introdução.
2 Verlag Bruno Henschel, Berlim, 1 948. Uma edição bastante resumida dos
escritos estéticos de Marx e Engels foi publicada no Brasil, com o título
Sobre literatura e arte, São Paulo, Global, 1 979, 1 07 p. Uma coletânea mais
ampla saiu em Portugal: Sobre a literatura e a arte, Lisboa, Estampa, 1 97 1 ,
293 p.
3 Engels a Starkenburg, 25 de janeiro de 1 894, em K. Marx e F. Engels, Obras
escolhidas, Rio de Janeiro, Vitória, v. 3, 1 963, p. 299. Nos anos 1 970, des
cobriu-se que o verdadeiro destinatário desta carta de Engels era B. Borgius,
sobre o qual se carece de informações.
4 K. Marx, Manuscritos econômico-filosóficos, São Paulo, Boitempo, 2004,
p. 1 1 0. Aqui, como nas demais referências a esta edição brasileira dos
Manuscritos, utilizamos outra tradução.
5 Ibid., p. 1 1 0- 1 1 1 .
6 Engels a Schmidt, 27 de outubro de 1 890, em K. Marx e F. Engels, Obras
escolhidas, ed. cit., v. 3, p. 290.
7 Ibid., p. 29 1 .
8 Ibid.
9 K. Marx, "Introdução" ( 1 857) a Para a crítica da economia política, em id.,
Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos, São Paulo, Abril
Cultural, col. "Os pensadores'', v. XXXV, 1 974, p. 1 30. A tradução, aqui e
na citação seguinte, está levemente modificada.
10
Ibid.
INTRODUÇÃO AOS ESCRITOS ESTÉTICOS DE MARX E ENGELS + 119
11
K. Marx, Manuscritos econômico-filosóficos, ed. cit., p. 1 59- 1 60.
12
F. Engels, "Introdução" à Dialética da natureza, em K. Marx e F. Engels,
Obras escolhidas, ed. cit., v. 2, p. 254.
13
Carta de Engels a Lassalle, 18 de maio de 1 859, em K. Marx e F. Engels,
Sobre a literatura e a arte, ed. portuguesa citada, p. 1 88.
14
C f. K. Marx e F. Engels, A sagrada família, São Paulo, Boitempo, 2003,
p. 1 85-236.
15
K. Marx, "Introdução" a Para a crtrica da economia política, e d . cit., p. 131.
16
Engels a M . Harkness, abril de 1 888, em K. Marx e F. Engels, Sobre a
literatura e a arte, ed. cit., p. 1 96.
17
Engels a Minna Kautsky, 26 de novembro de 1 885, ibid. , p. 1 92.
18
Paul Lafargue, "Karl Marx: recordações pessoais", em D. Riazanov ( org. ) ,
Marx: o homem, o pensador, o revolucionário, São Paulo, Global, 1 984,
p. 86.
19 Marx a Lassalle, 19 de abril de 1 859, em K. Marx e F. Engels, Sobre a
literatura e a arte, ed. cit. , p. 1 84.
1.
2.
Esta arte dos "plebeus suados" é uma arte para a massa. Com
isto, Nietzsche expressa o seu mais profundo desprezo por toda essa
tendência, já que pulchrum est paucorum hominum [o belo é para
poucos] . Na arte das massas, o belo é substituído por aquilo que as
comove, ou seja, pelo grandioso, pelo sublime, pelo gigantesco, pelo
sugestivo, pelo embriagador etc.
Conhecemos as massas, conhecemos o teatro. O que
de melhor o frequenta: jovenzinhos alemães, Siegfrieds
com chifres e outros wagnerianos, precisam do sublime,
do profundo, do aniquilador [ ... ] . Mas há outros que fre
quentam o teatro: os cretinos da cultura, os pequenos ex
tenuados, os eternamente femininos, os que têm prazer na
digestão - numa palavra, o povo , que também precisam
-
3.
4.
5.
Notas
PA R A U M A T E O R I A M A R X I S TA
DOS GÊNEROS LITERÁRIOS
A QUESTÃO DA SÁTIRA
3. O ódio sagrado
Notas
1 Talvez não seja necessário insistir no fato de que a "natureza" é aqui tomada
no sentido de Rousseau e designa um estado determinado da sociedade pri
mitiva, como, por exemplo, o dos poemas homéricos. Decerto, em Schiller,
a concepção original de Rousseau é diluída e deformada no sentido do idea
lismo subjetivo: a relação entre a civilização e a "natureza" é isolada da ques
tão da propriedade privada etc. Mas, mesmo em Schiller, malgrado tudo, a
"natureza" significa um estágio da sociedade (e uma qualidade da natureza
humana) . [ Lembramos que, neste ensaio, as notas sem colchete são do pró
prio Lukács; as demais, dos organizadores.]
2 [Aqui e em seguida, todas as citações de Hegel são retiradas da Estética. Para
as edições em português desta obra, cf. Estética, Lisboa, Guimarães, 7 v.,
1 959- 1 964 (republicada em volume único, 1 993); e Cursos de estética, São
Paulo, Edusp, 4 v., 2000-200 1 . ]
3 Decerto, esta constatação vale, antes de mais nada, para Hegel. Nas teorias
literárias de Schiller, reflete-se também o covarde recuo da pequena burgue
sia alemã diante dos eventos de 1 793- 1 794; ao contrário, a Estética de
Vischer - iniciada no!\ anos 1 840, mas concluída só em 1 857 - mostra ni
tidamente, em �uas partes finais, a evolução direitista da burguesia liberal
alemã depois de 1 848. Contudo, as bases teóricas não foram revistas por
Vischer; mesmo depois de 1 848, ele se manteve fiel a seu método, ainda
que, desde o início, este tenha sido bastante ambíguo e próximo do idea
lismo subjetivo.
4 O limite ideológico de classe que Swift não pôde superar manifesta-se no
fato de que, nele, a sátira é dirigida contra a "humanidade" em geral, e não,
1 90 • GYORGY LUKÁCS
11 Espero ser desnecessário sublinhar que não se entende aqui por método
realista um reflexo fotográfico do real. No que se refere ao pensamento,
Lenin observa: "Pois, mesmo na generalização mais simples [ ... ] , há uma
certa dose de imaginação (e é absurdo negar o papel da imaginação mesmo
na mais rigorosa das ciências) ". No caso do realismo na arte, a imaginação
é igualmente indispensável. Contudo, não se trata aqui do papel da imagi
nação no reflexo literário da realidade em geral, mas especificamente dos
pressupostos do efeito de realidade no fantástico, no grotesco etc.
12 Decerto, quando se fala de "conteúdo correto", é preciso ter em vista, em
cada caso, a situação de classe concreta do escritor, ou seja, a justeza de con
teúdo que lhe é acessível a partir de tal situação. Por conseguinte, com esta
restrição dialética, a expressão liga-se também à "falsa consciência".
13 Falaremos em seguida desta segunda forma, a qual, como veremos, é neces
sariamente muito mais rara e só raramente atinge a plena realização.
14 [K. Marx, O 18 Brumário de Luís Bonaparte, in Marx-Engels, Obras escolhi
das, Rio de Janeiro, Vitória, v. l , 1 956, p. 26 1 . ]
15 Decerto, Goethe emitiu julgamentos mais razoáveis sobre a Revolução
Francesa, como, por exemplo, depois do que ocorreu em Valmy. Mas isso
em nada altera o nível com que trata a questão em O cidadão geral. Não
é certamente por acaso que seja na sátira on de se situa o nível mais baixo
de suas tomadas de posição em face da Re".olução Francesa.
16 Uma descrição cientificamente exata da evolução de Hegel será impossível
enquanto dispusermos apenas de edições "homogêneas" de seus cursos uni
versitários. O fato é que ainda hoje dispomos de textos "homogêneos" a
partir de afirmações separadas por um espaço de doze anos (no caso da Esté
tica) ou de vinte e cinco (no caso da História da filosofia) .
17 [ G . W. F. Hegel, Fenomenologia d o Espírito, Petrópolis, Vozes, 1 992, parte
II, p. 59.]
18 [G. W. F. Hegel, Estética. Poesia, Lisboa, Guimarães, 1 964, p. 446 . ]
O ROM ANCE COMO EPOPEI A BURGUES A
2. Epopeia e romance
medida suficiente para tornar possível, pelo menos, uma certa aceita
ção e um certo reconhecimento deste ordenamento ( Hegel ) . Ne
nhum pensador burguês superou este dilema teórico, nem mesmo,
como seria de prever, no que se refere à teoria do romance. E os
grandes romancistas só podem figurar de modo correto esta contra
dição quando, inconscientemente, deixam de lado suas próprias
teorias românticas ou conciliadoras. A estética clássica alemã iden
tificou a diferença específica entre epopeia e romance; viu, por
exemplo, que, enquanto a objetividade da epopeia antiga é conferida
pelo mito, é a forma específica do romance que lhe fOnfere esta objeti
vidade ( "o romance só é objetivo graças à sua forma", diz Schelling) .
Contudo, tal estética não foi capaz de tratar concretamente estas
características do romance e não foi além de uma contraposição -
ainda que correta em suas grandes linhas - entre romance e epopeia.
As bases para a construção de uma autêntica teoria científica
do romance foram colocadas, pela primeira vez, na doutrina de Marx
e Engels sobre a arte. Marx deu uma explicação materialista da desi
gualdade do desenvolvimento da arte com relação ao progresso ma
terial, bem como da hostilidade do modo capitalista de produção à
arte e à poesia: esta explicação contém a chave para compreender a
desigualdade do desenvolvimento de formas e gêneros literários es
pecíficos. As ideias gerais de Marx sobre a epopeia antiga e sobre sua
contrafação moderna, contidas na Introdução à crítica da economia
política e nas Teorias da mais-valia, bem como o capítulo do livro de
Fngels sobre A origem da família, da propriedade privada e do Estado
dedicado à desagregação da sociedade tribal, trazem à luz a dialética
do desenvolvimento da forma épica, um de cujos momentos mais
importantes é construído pelo romance.
gem do mundo, à tensão épica etc., mas não tem em vista uma
explicação do caráter do herói e de sua relação com a sociedade. No
romance, ocorre precisamente o contrário: o passado é absoluta
mente necessário para explicar geneticamente o presente, o desen
volvimento ulterior do personagem. Mas Byron aborda o problema
sob um aspecto formal: ele exige a forma biográfica como forma do
romance. Ora, sabe-se que grande parte dos romances clássicos ado
tam esta forma biográfica; mas seria incidir no formalismo deduzir
da necessidade para o romance do princípio da explicação genética a
conclusão de que a forma biográfica é igualmente necessária. Balzac,
por exemplo, o grande mestre do desenvolvimento genético, põe ex
pressamente a exigência de começar o romance em qualquer ponto
do desenvolvimento do herói e utiliza também esta variante da figu
ração em sua prática criadora.
Como vimos, ocorre uma contradição entre teoria e prátiéa no
desenvolvimento do romance, que se manifesta no atraso da teoria
com relação à prática da criação romanesca. Disso se poderia concluir
que, para a construção da teoria do romance com suas particulari
dades específicas, poderiam servir como material somente as obras
dos grandes romancistas. Contudo, ao lado da teoria por assim dizer
"oficial" dos grandes poetas e pensadores do período revolucionário
da burguesia, encontramos neles também uma teoria "esotérica", na
qual se manifesta, mais do que em sua teoria propriamente dita do
romance, uma mais clara compreensão das contradições fundamen
tais da sociedade burguesa.
Vejamos um exemplo. Já na Fenomenologia do Espírito, Hegel
indicou a oposição entre o período heroico e o período prosaico da
burguesia, ou seja, a oposição entre a atividade humana espontânea
e a dominação de forças sociais abstratas. Essa indicação serve para
iluminar o caminho que leva da epopeia e da tragédia gregas ao mun
do da prosa ( Roma). Mas os leitores atentos da Fenomenologia cer
tamente observaram que esta passagem aparece duas vezes, inicial
mente nos capítulos que tratam da transição à sociedade burguesa
moderna, ou seja, nos capítulos sobre o "reino humano espiritual" e
sobre "o espírito alienado de si mesmo, a cultura". Estes capítulos
mostram uma atividade espontânea e uma autonomia do homem,
204 + GvôRGY LuKAcs
4 . O nascimento do romance
encontra no início desta decadência; e é por isso que suas obras, num
grande número de episódios apaixonantes, ainda estão próximas das
grandes tradições do romance. Mas as linhas fundamentais de sua
criação já abrem caminho para uma nova orientação. Basta comparar
a cena de uma corrida de cavalos em seu romance Naná e aquela
contida em Ana Karênina de Tolstoi. Em Tolstoi, trata-se de uma cena
épica viva, na qual tudo é épico, desde a sela do cavalo até o público,
ou seja, onde tudo é construído através das ações dos homens em
situações para eles significativas. Em Zola, temos uma descrição
esplêndida de um evento da vida da sociedade parisiense, evento que,
do ponto de vista da ação, não tem nenhuma ligação com o destino da
protagonista do romance, e a que os demais personagens assistem
apenas na condição de espectadores interessados, mas não envolvi
dos. Em Tolstoi, a cena da corrida é um episódio épico na ação do
romance; em Zola, é uma simples descrição. Tolstoi, portanto, não
tem necessidade de' " inventar" uma "relação" entre os elementos
objetivos deste episódio e os protagonistas do romance porque a
corrida é parte essencial da própria ação. Zola, ao contrário, é obrigado
a ligar a corrida ao resto do conteúdo de seu romance de modo
simbólico, ou seja, mediante a coincidência casual dos nomes do
cavalo vencedor e da protagonista do romance.
Este uso do simbolismo, que Zola recolheu como herança em
Victor Hugo, atravessa toda sua obra: a grande loja, a Bolsa etc., são
símbolos da vida moderna elevados a uma gigantesca dimensão,
como a igreja de Notre-Dâme ou o canhão em Victor Hugo. O falso
objetivismo de Zola se manifesta do modo mais claro nesta coexis
tência inorgânica de dois princípios criativos inteiramente heterogê
neos: o detalhe apenas observado e o símbolo puramente lírico. Este
caráter inorgânico atravessa toda a composição: já que o mundo des
crito em cada romance não é construído com base em ações concretas
de homens concretos em situações concretas, mas é uma espécie de
recipiente, de ambiente abstrato no qual os homens são inseridos a
posteriori, desaparece a ligação necessária entre o personagem e a ação;
para o mínimo de ação indispensável, basta algum traço recolhido
dos casos médios. Contudo, a prática de Zola é, também aqui, melhor
do que sua teoria, ou seja, as características de seus personagens são
Ü ROMANCE COMO EPOPEIA BURGUESA + 233
mais ricas do que os enredos que ele concebe; mas, precisamente por
isso, eles não se transformam em ações, permanecendo objeto de
simples observações e descrições. Portanto, o número de tais descri
ções pode aumentar ou diminuir à vontade. A cientificidade do méto
do de Zola, cujo objetivismo mal oculta o empobrecimento da ima
gem do mundo social que ele constrói, não pode assim nem levar a
um reflexo exato das contradições da sociedade capitalista, no plano
do conhecimento, nem à criação de obras narrativas acabadas, no
plano artístico. Lafargue mostra corretamente que, apesar da exatidão
de suas observações singulares, Zola aborda temas dos quais não vê as
determinações sociais decisivas (o alcoolismo dos operários em O
matadouro, a oposição entre velho e novo capitalismo em O dinheiro).
Por outro lado, n o que s e refere a o desenvolvimento d o romance, não
têm tanta importância os erros de fato cometidos por Zola na inter
pretação dos fenômenos sociais ( embora os velhos realistas, por
participarem pessoalmente das lutas sociais de seu tempo, intuíssem
a verdade nas questões decisivas) , mas sim o fato de que tais erros fa
voreceram a aceleração da dissolução da forma romanesca. Os gran
des "historiadores da vida privada" tiveram por sucessores tão somente
cronistas líricos ou jornalísticos dos eventos do dia a dia.
Flaubert e Zola constituem a última inflexão no desenvolvi
mento do romance. Por isso, tornou-se necessário examinar mais
detalhadamente suas obras, já que as tendências à dissolução da
forma do romance manifestam-se neles, pela primeira vez, de uma
forma quase �lássica. O desenvolvimento ulterior do romance, apesar
de toda a sua variedade, transcorre nos quadros dos problemas já
delineados em Flaubert e Zola, ou seja, no quadro do falso dilema
entre subjetivismo e objetivismo, que leva inevitavelmente a uma
série de outras antíteses igualmente falsas, como, por exemplo, a
perda cada vez mais irremediável da verdadeira tipicidade das
situações e dos personagens, substituída pelo falso dilema entre a
banalidade da média e o que é puramente "original" ou "excêntrico".
Em consequência deste falso dilema, o desenvolvimento do romance
moderno oscila entre os dois extremos igualmente falsos da "cienti
ficidade" e do irracionalismo, entre o fato bruto e o símbolo, entre o
documento da "alma" ou da "atmosfera': Decerto, não faltam nem
234 • GYôRGY LUKÁCS
Notas
7
Ibid.
8 F. Engels, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, em K.
Marx e F. Engels, Obras escolhidas, Rio de Janeiro, Vitória, v. 3, 1 963, p. 63.
9 Engels, carta a M. Harkness, ed. cit., p. 1 96.
10
Hegel, Fenomenologia do Espírito, ed. cit., parte I, p. 2 1 5.
" Ibid.
12
K. Marx, Para a questão judaica, Lisboa, Avante! , 1 997, p. 89. Modificamos
a tradução.
13
K. Marx, Diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro,
Lisboa, Presença, 1 972, p. 88.
14
Honoré de Balzac, A comédia humana, Rio de Janeiro-Porto Alegre-São
Paulo, Globo, v. 1, 1 959, p. 14.
15
Personagens, respectivamente, de O vermelho e o negro e de Ressurreição.
16
K. Marx, Crítica da filosofia do direito de Hegel, São Paulo, Boitempo, 2005,
p. 52.
17
A expressão é de Hegel na Fenomenologia do Espírito, ed. cit., parte I,
p. 246 e ss.
" Personagens, respectivamente, de Lesage, Fielding e Defoe.
19
Cf., supra, nota 1 7.
"' K. Marx, O 18 brumário de Luís Bonaparte, em K. Marx e F. Engels, Obras
escolhidas, ed. cit., v. l , 1 956, p. 225.
21
Lukács se refere ao fato de que, em junho de 1 848, no seio do processo
revolucionário ocorrido na França, o proletariado francês promoveu uma
insurreição que foi esmagada pelas forças burguesas. Em toda a sua obra,
Lukács situa neste episódio o início do que vai chamar de "decadência
ideológica da burguesia".
22 Victor Hugo, Quatre-vingt-treize, primeira parte, livro II, tomo IV.
23 Cândido é uma novela de Voltaire.
24
G. W. F. Hegel, Estética. A arte clássica e a arte ro mân tica, Lisboa,
Guimarães, 1 958, p. 30 1 .
25 Lukács cita o artigo de Lenin, "Tolstoi, espelho da revolução russa'', publicado
em Proletari, 1 1 de setembro de 1 908.
'li> Gogol se refere a personagens do seu romance Almas mortas.
v E. Zola, Le roman expérimental, Paris, Garnier-Flammarion, 1 979, p. 2 14-2 1 5.
28 Lukács desenvolve este argumento, inclusive a comparação entre Naná e
Ana Karênina, em seu ensaio "Narrar ou descrever?", em id., Ensaios sobre
literatura, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1 968, p. 47-99.
zi Carta a J. Van Santen Kolff, de junho de 1 886.
Ü ROMANCE COMO EPOPEIA BURGUESA + 243
" K. Marx e F. Engels, A sagrada família, São Paulo, Boitempo, 2003, p. 48.
A tradução está modificada.
31 Ibid, p. 49.
32 K. Marx, "Teses sobre Feuerbach", em K. Marx e F. Engels, A ideologia
alemã, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2007, p. 6 1 1 - 6 1 2 .
33 V. I. Lenin, A doença infantil do "esquerdismo" n o comunismo, e m id., Obras
escolhidas em três tomos, Lisboa-Moscou, Avante ! -Progresso, t. 3, 1 979,
p. 332.
A CARACTERÍSTICA M AIS GERAL DO REFLEXO LÍRICO
Nota
Notas
A Burckhardt, Jacob, 1 50
Byron, George Noel Gordon, 1 44,
Aleksandrov, A. V., 30 202, 203, 2 1 9
Aristófanes, 1 1 1 , 1 85
Aristóteles, 44, 1 02 e
Averbach, Leopold, 29
Azaev, Nikolai Nikolaievitch, 3 1 Carlos 1, rei da Inglaterra, 250
Caudwell, Cristopher, 245
B Cervantes Saavedra, Miguel de, 24,
75, 1 1 1 , 1 1 3, 1 78, 2 1 2, 2 1 3, 2 1 5,
Bachofen, Johann Jacob, 123, 1 54 2 1 6, 22 1
Balzac, Honoré de, 30, 70, 74, 76, Cézanne, Paul, 34
79, 87, 1 02, 1 06, 1 07, 1 08, 1 1 2, Cholokhov, Mikhail
1 1 3, 1 14, 1 1 5, 1 70, 1 94, 203, Alexandrovitch, 240
204, 206, 207, 208, 209, 2 1 0, Corneille, Pierre, 1 44, 204
2 1 2, 222, 225, 226, 227, 230 Creuzer, Friedrich, 1 54
Baudelaire, Charles, 1 38, 147 Croce, Benedetto, 70
Bauer, Bruno, 67-68, 125
Bãumler, Alfred, 1 22, 1 23, 1 35, 1 54 D
Beõthy, Zsolt, 2 1
Dante Alighieri, 47, 1 1 1
Berlichingen, Gõtz von, 73
De Maistre, Joseph Marie, 1 14
Bernard, Claude, 230
Defoe, Daniel, 1 8 1 , 2 1 6, 2 1 7, 2 1 9
Bertram, Ernst, 1 22, 1 40
Diderot, Denis, 44, 47, 50, 52, 66,
Bielinski, Vissarion Grigorievitch,
68, 76, 1 83, 1 88, 1 90 n. 4, 1 93,
67, 68
204, 220, 265
Bismarck, Otto von, 70, 123, 1 24,
Dõblin, Alfred, 1 76
1 25, 143, 1 55, 1 56
Dobroliubov, Nikolai
Bizet, Georges, 1 38, 140
Alexandrovitch, 67, 265
Bloch, Jean-Richard, 235
Dostoievki, Fiodor Mikhailovitch,
Boileau, Nicolas, 1 93
24, 2 1 2
Bonald, Louis Gabriel, 1 14
Bourget, Paul, 1 1 3, 1 40
E
Brahms, Johannes, 1 32
Büchner, Georg, 30 Eckermann, Johann Peter, 1 32
Bukharin, Nikolai lvanovitch, 26 Ehrenburg, Ilia, 29
2 72 • GYORGY LUKÁCS
Engels, Friedrich, 25, 30, 43, 57, 59, Goldsmith, Oliver, 220
66, 68, 70, 72, 73, 74, 75, 76, 77, Goncourt, Edmond de, 1 38
79, 8 1 , 83, 84, 87- 1 1 8 , 1 56, 1 69, Goncourt, Jules de, 1 38
20 1 , 206, 208, 2 1 5, 226, 257, Gorki, Maxim, 29, 30, 83, 237, 24 1 ,
258, 260, 26 1 , 263, 264 262
Ermilov, Vassilii Dmitrievitch, 29 Gõrres, Joseph, 123, 1 54
Ernst, Paul, 95 Grib, V. R., 30
Ésquilo, 1 1 1 , 25 7, 266 Gundolf, Friedrich, 1 5 7
Gyp (Gabrielle Martel d e Janville) ,
F 1 40
o
s
Ostrovski, Nikolai, 265
Saint-Hilaire, Geoffroy de, 230
Saltikov-Tchedrin, Mikhail
p
Ievgrafovitch, 76
Panferov, Fiodor, 240 Sand, George (Amandine-Aurore-
Platão, 1 02, 1 09 Lucile Dupin) , 1 26
Plekhanov, Gueorgui Satz, I., 30
Valentinovitch, 25, 74, 77, 78, 257, Schauwecher, Franz, 1 2 3
260, 261 Schelling, Friedrich Wilhelm
Poe, Edgar Allan, 223 Joseph, 47, 48, 52, 57, 1 54, 1 99,
Pope, Alexande� 1 72 200, 20 1 , 202
Prévost, Antoine François, abade, Schiller, Friedrich, 25, 46, 47, 52,
220 1 04, 1 06, 1 1 1 , 1 5 3 , 1 63, 1 64,
Proust, Marcel, 235 1 68, 1 84, 1 89 n. 1 e 3, 1 90 n. 10,
Pushkin, Alexander Sergueievitch, 1 96, 220, 225
67, 222 Schlegel, August Wilhelm, 1 90 n. 10
Schlegel, Friedrich, 47, 1 90 n. 10,
R 222
Schmidt, Conrad, 43, 77
Rabelais, François, 1 65, 2 1 3, 2 14,
Schopenhauer, Arthur, 69, 1 24,
2 1 5, 2 1 6
1 37, 1 38, 1 4 1 , 1 42, 143, 1 50,
Racine, Jean de, 1 44
1 5 1 , 266
Rákosi, Mathias, 32
Scott, Walter, 1 1 2, 1 94, 2 1 7, 223
Rembrandt, Harmensz van Rijn,
Shakeaspere, William, 34, 75, 76,
74
97, 1 02, 1 06, 1 1 2, 1 44, 1 70, 2 14,
Restif de la Bretonne, Nicolas
254, 257, 266
Edme, 209, 2 1 7
Sickingen, Franz von, 73, 258
Révai, József, 3 1 , 3 2
Simmel, Georg, 22, 1 22, 157
Í NDICE DE NOMES + 2 75