Ética Na Edf
Ética Na Edf
Ética Na Edf
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2 O Ano da Responsabilidade Ética
Sumário
Prefácio............................................................................................................5
Jorge Steinhilber
Problemáticas Epistemológicas
Interpreto as problemáticas epistemológicas tanto sob a ótica da teoria do co-
nhecimento, defendida pelos filósofos ingleses, tanto pela ótica da história e da
filosofia das ciências, sustentada pelos filósofos franceses. A epistemologia, nesta
dupla ótica, significa um estudo crítico das ciências, com o objetivo de determinar
sua origem lógica, seu valor e seu entendimento. Cabe, aqui, abordar as possíveis
implicações da epistemologia, ou talvez, melhor dito, das epistemologias que ocor-
rem na educação física e no esporte. Evidentemente, sob um olhar filosófico.
A inversão da ordem deveu-se ao fato de que, no meu entender, tudo começa a
partir do modelo de produção de conhecimento. O conhecimento fornece a inter-
pretação e a compreensão de toda realidade, ponto de partida de qualquer ação
humana. Portanto é o conhecimento que nos diz quem é o homem e em que consiste
a ética. Evidentemente, refiro-me ao conhecimento racional. Os saberes anteriores
ao saber racional não viam no ato de conhecer uma atividade específica que pudesse
ser tratada isoladamente. Aliás, a rigor, não se cogitava, nem se poderia faze-lo,
retaliar o todo e a unidade do todo cósmico. As mitologias percebiam todos os
fenômenos e todos os seres no interior da unidade cósmica; neste sentido, transmi-
tiam a “explicação teórica” da experiência cotidiana herdada de seus ancestrais,
mas que, no dizer de Jean Pierre Vernant, “se esclarecia e adquiria sentido em
relação aos atos exemplares praticados pelos deuses ‘na origem’”.1 Portanto, as
mitologias não desenvolveram atividades cognitivas, mas permaneceram na experi-
ência imediata da realidade
O pensamento racional desestruturou a ordem mitológica por ter visto falhas ou
por pressão para fundamentar uma nova ordem social. Provavelmente as falhas
foram observadas ao constatar que os conflitos sociais fugiam ao controle das tradi-
ções e das crenças míticas. Assim, a herança mítica foi recusada, pelo menos no que
concerne à produção do conhecimento como fundamento de um novo mundo huma-
no. Estava inaugurada a racionalidade, cujo caminho as ciências ocidentais, no dizer
Problemáticas éticas
Se as problemáticas epistemológicas e antropológicas, como foi dito, abrem
para horizontes ilimitados, as problemáticas éticas, além destes horizontes ilimita-
dos, abrem para um mundo altamente complexo e confuso.
A ética é definida pelos dicionários tanto como ciência da moral, quanto como a
arte de dirigir a conduta humana.28 O fato é que a ética refere-se à conduta humana
individual e coletiva. A questão maior é saber sobre que referencial maior pode-se
estabelecer a eticidade do agir humano universalmente aplicável.
No tempo das mitologias não havia, costuma-se acreditar, dificuldades em saber
o que era bem ou mau, justo ou injusto. Tudo estava fixado pela tradição, cujas
origens se perdiam no tempo, mas ninguém contestava. Os problemas éticos, aliás
como os demais problemas, começam exatamente no momento em que o homem
recusa a herança mítica. O homem, expulso do paraíso mítico doado pelas divinda-
des, precisa construir um outro paraíso, agora, fruto de sua engenhosidade. A sua
vida, antes ordenada pelos deuses, agora deve ser reordenada pela decisão do pró-
prio homem.
A ética, ciência ou arte, nasce com a Polis, exatamente quando se confrontam as
tradições míticas com o novo projeto social. Bárbara Freitag com muita clareza
traça as linhas gerais deste conflito ao interpretar uma tragédia grega, a Antígona
de Sóflocles. Nela há um confronto ético muito ilustrativo entre Creonte, o usurpador
do trono de Tebas, e Antígona, irmã de Polinice, cujo cadáver não podia ser sepul-
tado por ordem de Creonte. Havia, entretanto, duas leis (ou éticas). A lei do oikós,
ou dos deuses, que ordenava o sepultamento dos mortos, e a lei da Polis, ou dos
homens, estabelecida pelo tirano Creonte. Resumidamente, pode-se dizer com Freitag
que “Antígona representa a lei divina (do oikós, ou seja da família grega)”, em nome
desta enterra o irmão e contraria o tirano. “Creonte representa a lei dos homens (da
polis, isto é, do Estado grego)”.29 Em cujo nome condena Antígona. Deste momen-
to em diante os debates éticos nunca cessaram de perturbar a humanidade.
O ponto central do problema é estabelecer em nome de que ou de quem se pode
estabelecer uma ética. Inicialmente, pelo que se costuma acreditar, as divergências
não eram significativas.30 Os gregos estabeleceram a natureza (physis) como o
referencial único e universal para determinar a moralidade das organizações e dos
atos humanos. A natureza de cada ser devia definir a sua conduta ou seja seu agir. A
lei maior deveria ser, na fórmula latina, operari sequitur esse, isto é, o agir de um
sujeito deve ser o reflexo do seu ser. Este grande lema norteou desde a Ética a
Nicômaco, obra de Aristóteles, e se tornou ainda mais forte na medievalidade.
Na era cristã medieval, o referencial passa a ser Deus. Sem Deus não há moral.
Novamente, pelo menos para a grande maioria das pessoas, não havia dúvida que
Referências Bibliograficas
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1
Vernant, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego, p.74.
2
Burnet, John. L’Aurore da la philosophie grecque, Paris: Payot, 1970.
3
Deleuze, G. e Gattari, F. Que é a filosofia p. 92-93.
4
Latour, Bruno. A Esperança de Pandora. P. 24.
5
Santos, Boaventura de Sousa Santos. Pela Mão de Alice. São Paulo, Cortez, 1996.
6
Deleuze, G. e Guattari, F. Opus Cit. P. 47.
7
Idem p. 46.
8
Heidegger, M. Lê Príncipe de Raison. Paris: Gallimard, 1962.
9
Raux, J-f. Prefácio apud Morin, E. Prigogine I. A sociedade em Busca de Valores p.16.
10
Rossi, Paolo. A ciência e a Filosofia dos Modernos. P. 13.
11
Varela, Francisco. Conhecer: As Ciências Cognitivas, Tendências e Perspectivas. P. 9.
12
Latour. B. Opus Cit. p.15.
Contextualização
Contextualização
É incontestável o fato de se poder considerar a
Educação Física como sendo uma das profissões mais
antigas no Brasil. Um registro histórico para funda-
mentar tal assertiva se torna indispensável neste mo-
mento, ou seja, propõe-se que a Educação Física te-
nha surgido no País ainda no Período Colonial de nos-
sa história, inserida no contexto da educação jesuítica
e com um enfoque de educação moral.
Os jesuítas foram os primeiros educadores da his-
tória brasileira, a despeito das críticas favorável ou
desfavorável que a eles podem ser feitas. Desde a sua
chegada, em 1549, começou a ser implantado um es-
forço de alfabetização dos indígenas, no sentido de
convertê-los ao catolicismo e alterar os seus hábitos
culturais como a nudez, a poligamia etc.
Jurídico Legal
Moral Ético
Figura 1
2. Conceituações
Muito embora pareça ser óbvio, nunca é demais se evidenciar a base conceitual
em que devem ser definidos operacionalmente certos termos e/ou expressões consi-
derados como principais, ou como “chave” de acesso, a uma adequada interpreta-
ção de um determinado corpo de conhecimento elaborado.
Como os valores morais e éticos estão sendo enfocados no contexto do Sistema
CONFEF/CREFs, assume-se que os termos abaixo apresentados devem ser inter-
pretados através dos sentidos ou significados a eles atribuídos ao longo da seguinte
descrição.
Contudo, antes de se entrar especificamente na ambiência da definição operacional
dos termos dos valores morais e éticos, julga-se ser interessante tratar mais
detalhadamente um assunto já abordado no tópico anterior relativo à contextualização
de tais valores no âmbito do Sistema CONFEF/CREFs.
Lá foi comentado que a legitimação social de um determinado ato ou fato social
dependia de dois aspectos com seus respectivos princípios, ou seja, dos aspectos
jurídico e moral com seus respectivos princípios legal e ético.
Sendo assim, primeiramente serão abordadas as definições operacionais dos
termos jurídico e legal, para depois se definir os termos: moral e ética.
Entende-se por jurídico, segundo Ferreira (1999, p. 1169), “o que é relativo ou
pertencente ao direito; conforme aos princípios do direito; lícito, legal (grifo nosso).
Como se pode notar, o exercício legal das atividades de “Profissional da Educação
Física” no Brasil, assim como das demais profissões, passa a ser matéria exclusiva
da área do direito e que, por isto mesmo, todos os Conselhos Regionais de Classe
devem ter, em suas estruturas organizacionais, um setor jurídico para tratar exclusi-
vamente dessa matéria.
Detalhando o que se entende por matérias de direito relativo ao exercício ou a
conduta e comportamento social, sob o ponto de vista jurídico e legal, de um “Pro-
fissional da Educação Física”, recorre-se mais uma vez ao que Ferreira (1999)
descreve sobre o assunto ao dizer que direito corresponde a tudo
aquilo que é justo, reto, e conforme a lei; faculdade legal de prática ou deixar de
praticar algo; prerrogativa que alguém possui, de exigir de outrem a prática ou
abstenção de certos atos, ou o respeito a situações que lhe aproveitam; faculdade
concedida pela lei; poder legítimo (p.687).
Figura 4
Pré-Compreensão
Questão e Princípios dos Paradigmas
Figura 5
Referências Bibliograficas
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COSTA, Sérgio; DINIZ, Débora. Bioética: ensaios. Brasília: Letras Livres, 1999.
Introdução
A partir de sua constituição, a sociedade humana vem
se estratificando em inúmeras atividades e funções, cada
vez mais necessárias para a sua sustentação e o seu
progresso.
Destarte, já nos primórdios da civilização foram
identificadas funções consideradas essenciais à manu-
tenção da sociedade como aquelas relacionadas à reli-
gião, à segurança e à justiça.
Com o evoluir dos costumes e o desenvolvimento da
ciência e tecnologia, as relações sociais tornaram-se
mais complexas, determinando o aparecimento de no-
vas e especializadas atividades e funções e, para exercê-
las, novos profissionais.
Profissão é, pois, uma atividade humana especializa-
da, que surge em razão de uma necessidade social e
para ela deve estar voltada com a missão de colaborar
para o bem-estar coletivo.
A definição de uma profissão, com os seus respectivos
direitos e deveres, bem como a sua delimitação no
âmbito das demais profissões, determinam pré-requi-
sitos pessoais e técnicos para aquele que se dispõe a
exercê-la.
A Ética Profissional
Profissional
O exercício de uma profissão exige uma determinada predisposição de caráter,
um pendor ou uma vocação que não se restringe apenas a possíveis qualidades
técnicas, mas, também, a uma convicção pessoal e social de quem vai atuar nela.
Toda profissão para ser exercida deve estar fundamentada em três sustentácu-
los: a técnica, o aprimoramento profissional e a ética.
A técnica se assenta na formação científica e cultural, originada do um conheci-
mento específico ou particular da ciência, que podemos denominar Lexis artis.
O aprimoramento profissional significa a atualização permanente da técnica, deman-
dada de modo constante pelos avanços do conhecimento e da própria técnica.
Por fim, a ética profissional constitui um conjunto de valores morais aplicados
especificamente à prática de um ofício.
Dever de Informação
Constitui todos os esclarecimentos na relação do profissional da saúde com o
cliente que se consideram incondicionais e obrigatórios tais como:
Dever de Atualização
Atualização
O regular exercício do profissional de saúde não requer apenas uma habilitação
legal. Implica também no aprimoramento continuado, adquirido através dos conhe-
cimentos mais recentes de sua profissão, no que se refere às técnicas de exame e
aos meios de tratamento, seja nas publicações especializadas, nos congressos, nos
cursos de especialização ou nos estágios em centros de referência. A capacidade
profissional é sempre ajuizada toda vez que se discute uma responsabilidade do
profissional de saúde.
No fundo mesmo, o que se quer saber é se naquele discutido ato profissional
pode-se admitir a imperícia. Se o dano deveu-se à inobservância de normas técnicas
ou despreparo profissional, em face de inadequação de conhecimentos científicos e
práticos da profissão. Os erros de técnica são difíceis de serem apurados e, por
isso, os magistrados devem se omitir dessa avaliação valendo-se da experiência dos
peritos, pois os métodos utilizados na prática profissional são discutíveis e às vezes
controversos. Por sua vez, a culpa ordinária não é difícil de comprovação, como, por
exemplo, a do médico que se ausenta do plantão, vindo um paciente sofrer dano
pela sua omissão. A culpa profissional, esta não traz um certo grau de dificuldade na
Dever de Vigilância
Vigilância
O dever de vigilância significa o apuro na atenção e no acompanhamento do
cliente, não se omitindo em momento algum. A negação a este dever significa negli-
gência, omissão, deixar de fazer o que deveria ser feito (acompanhar, orientar, pres-
crever, avaliar, re-avaliar, programar, re-programar, etc.).
A vigilância pode se estender além dos limites do ambiente de trabalho ou do
horário de atendimento, podendo o cliente necessitar de informações complementa-
res ou apresentar intercorrências que exijam de uma consulta à distância. Nestas
ocasiões, o cliente deve ser orientado e conforme o caso, encaminhado a uma insti-
tuição adequada à solução de seu problema.
Conclusão
Infelizmente, a formação hodierna dos profissionais de saúde nas universidades
é deficiente em fundamentação filosófica, consistindo o ensino da ética tão somente
na repetição de um conjunto de normas impositivas, que constituem o chamado
Código de Ética Profissional ou Código Deontológico. É certo que a ética não pode
se restringir a um conjunto de regras de etiqueta ou a normas de boa convivência
entre os pares. A deontologia é, antes de tudo, a adesão aos princípios filosóficos
que se aplicam ao cotidiano profissional, por meio de um conjunto de valores morais
assumidos por uma categoria profissional.
Este código moral certamente não será um “Código de Hamurabi”, elaborado
com o único intuito de punir a má prática, nem a sua visão atenuada, traduzida por
um código deontológico, que obriga aos que exercem uma arte a determinadas
condutas, na suposição de que eles já possuam a necessária fundamentação filosó-
fica para a prática profissional.
É impossível balizar a conduta dos profissionais da saúde tão somente a partir
de seu código profissional, em alguns casos mais parecido a um código penal do que
um código de ética. Na verdade, a prática profissional contempla situações especí-
ficas que não são abordadas pelos códigos e, em tais circunstâncias, a reflexão sobre
um conflito moral, tendo com referencial o código deontológico será sempre uma
visão míope e restrita sobre a complexa realidade prática.
É de nosso entendimento que o profissional de saúde deve apresentar como
qualidades morais aquelas contidas no Corpus hippocraticum – ideário atribuído a
Hipócrates, o pai da Medicina –, acrescidas de outras que visam fortalecer o seu
caráter profissional humanista e altruísta. São elas: a prudência, a temperança, a
coragem, a fortaleza, a justiça, a generosidade, a compaixão, a humildade, a tole-
rância, a misericórdia, a fidelidade, a solicitude e o entusiasmo.
A crise de valores característica de uma sociedade de transição, como é a atual
sociedade humana, determina que este momento é importante, mais que antes, para
se discutir a formação ética do profissional de saúde, pois urge que se tomem inici-
ativas no sentindo de influenciar, de modo efetivo, a formação humanística dos futu-
ros profissionais, quer na etapa da graduação, quer na sua educação continuada.
Até porque a sociedade contemporânea exige, cada vez mais, melhores profissi-
onais, tanto na sua capacitação técnica, quanto na sua qualidade ética.
Introdução
A organização de uma nova profissão implica em diver-
sas ações, que vão desde o agrupamento de pessoas
com interesses comuns, à discussão de aspectos rela-
cionados à prática de ações no cotidiano, ao interesse
e as razões para se agrupar e as ações legais e admi-
nistrativas para o reconhecimento da profissão. Como
nas demais profissões, este foi o caminho seguido pela
Educação Física no Brasil, com a organização do Con-
selho Federal de Educação Física – CONFEF.
Vencida esta primeira etapa, era preciso organizar um
código ético e deontológico para a nova profissão,
centrando as ações nas grandes preocupações que o
filósofo Sócrates já havia manifestado a cerca de 2500
anos atrás, a respeito da ética. Era preciso descobrir o
que era justo, verdadeiro e bom, tanto para os profissi-
onais da Educação Física, como para os beneficiários
das ações destes profissionais. Assim, nasce o código
de Ética dos Profissionais da Educação Física, produ-
to do trabalho de especialistas da área, da consulta a
comunidade profissional através da Internet e do tra-
balho dos conselheiros do CONFEF. O referido Códi-
go foi aprovado em reunião ordinária do CONFEF de
20/02/2002 e publicado em 18/08/2000 no Diário
Oficial da União, satisfazendo assim um antigo anseio
dos profissionais da área.
Juramento de Hipócrates
“Eu juro por Apolo o médico, por Esculápio, Higia e Panacea, e tomo por
testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e
minha razão, a promessa que se segue”:
· Estimar tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte, fazer vida
comum e, se necessário for, com ele compartilhar meus bens; ter seus filhos
por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessida-
de de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer parti-
cipar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de
meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão,
porém, só a estes.
· Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendi-
mento, nunca para causar dano ou mal a alguém.
· A ninguém darei por prazer, nem remédio mortal nem um conselho que indu-
za a perda. Do mesmo modo darei a nenhuma mulher uma substancia abortiva.
· Conservarei imaculada a minha vida e minha arte.
· Não praticarei talha, mesmo sobre um calculoso confirmado, deixarei essa
operação aos práticos que disto cuidam.
· Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de
todo dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor,
com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
· Aquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da
sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conser-
varei inteiramente secreto.
· Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar feliz-
mente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens;
se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça”
Esse antigo código deontológico revela preocupações específicas quanto ao exer-
cício profissional na medicina, bem como em relação às questões do contexto fami-
liar e social. Este documento destaca a importância da postura individual e sua
Considerações Finais
Finais
Penso, que já é tempo de concluir esta incursão na Ética e Deontologia da
Educação Física, mas com toda certeza ainda há muito a tratar sobre tais questões.
Procurei abordar aspectos relacionados com os diversos conceitos de ética, moral
e deontologia, em razão das dificuldades existentes para compreende-los de forma
clara. Porém, à medida que se reflete e discute sobre estas questões, amplia-se o
grau de compreensão.
Quanto aos documentos que sustentam o Código de Ética dos Profissionais da
Educação Física, foram escolhidos dois para esta abordagem: A Declaração Univer-
sal dos Direitos Humanos e a Agenda 21, em razão de serem estes os mais
freqüentemente citados como referência nos textos sobre ética e deontologia, ape-
A FÁBULA-MITO DE HIGINO
“Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma
idéia inspirada. Tomou um pedaço de barro e começou a dar-lhe forma”.
Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter. Cuidado pediu-lhe que
soprasse espírito nele. O que Júpiter o fez de bom grado.
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“A Ética nada mais é do que uma tentativa racional de procurar viver melhor de
forma humana, com outros humanos”
Fernando Savater (Fala, Mestre)
Nova Escola on-line – 22/10/2002, p. 4
O outro Filósofo, o argentino José Ingenieros, que foi também médico, teórico da
ciência, catedrático em psiquiatria e sociologia, defendeu em sua obra, O Homem Me-
díocre. S/D, p. 44/45, que “O homem superior é um acidente benéfico para a evolução
humana. Dentro da sociedade Ele é precursor de novas formas de perfeição, pensa
melhor que o meio em que vive e pode sobrepor seus ideais às rotinas dos demais”.
Portadores de certo sentimento da necessidade premente de buscar dar signifi-
cação e reconhecimento à profissão e ao profissional de Educação Física, e tendo
como entendimento de que era necessário que se identificasse o conhecimento cien-
tífico que sustenta essa área específica de atuação, mas contudo, entendendo que o
enfraquecimento de uma percepção global da missão e responsabilidade, certamen-
te poderia ocasionar o enfraquecimento do senso de responsabilidade, uma deter-
minada parcela da comunidade de profissionais de Educação Física do Brasil, ou-
sou sonhar e acreditar em utopias, e vem a muito gestionando pela elaboração e
adoção de um Código de Ética profissional, o que somente mostrou-se viável, após
o estabelecimento legal da categoria profissional, que teve início com a Resolução
MEC/CFE nº 03/87, que possibilitou a criação dos cursos de formação do Bacha-
rel em Educação Física.
Esse seguimento profissional, entendia que o Código de Ética, deveria estar
baseado numa Ética do Conhecimento, através do qual a categoria pudesse de-
monstrar que possuía a capacidade de prestar o atendimento a sociedade com qua-
lidade e competência.
Depois de haver visitado obras que tratam da Ética nas perspectivas de Aristóteles
e Platão, pude encontrar em Sócrates (Filósofo Grego – 469 a 399 aC) – iniciador
da Ética na filosofia, algumas correspondências aquele aspecto determinante de
uma ética do conhecimento, pois o mesmo a pregava dando-lhe uma perfeita noção
da verdade: “SABER, DEVER, PODER”, levando para que a partir dessa postura
fosse estabelecida a Voz da Razão: “DEVE e PODE”, também chamada de impera-
tivo categórico, segundo o filósofo Kant.
“O medíocre não inventa nada, não cria nada, não força, não rompe, não engendra, mas,
em compensação, cuida zelosamente da armação de automatismos, preconceitos e dogmas
acumulados durante séculos, defendendo esse capital comum contra a armadilha dos
inadaptáveis”.
José Ingenieros (op.cit,.s/d, p.48)
“Os espíritos medíocres dos homens rotineiros, ocupados em desfrutar o existente, têm
horror a toda inovação que perturbe sua tranqüilidade e lhes traga desassossego.
José Ingenieros (op.cit.s/d, p.55)
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Introdução
No Brasil, desde a regulamentação da profissão, a éti-
ca profissional em Educação Física tem sido objeto de
crescente interesse entre os acadêmicos da área. En-
tretanto, ainda são poucos os estudos sobre o assunto.
Pode-se afirmar que existe uma enorme demanda por
trabalhos acadêmicos que tratem de maneira organiza-
da e sistemática os problemas éticos relacionados à
profissão. Tal situação coloca sérias dificuldades para
as pessoas interessados em conhecer mais de perto as
contribuições que a reflexão ética pode trazer para o
dia-a-dia da prática profissional.
Neste ensaio, focalizamos duas questões que apare-
cem de maneira recorrente em cursos de Ética minis-
trados para estudantes de graduação e pós-graduação
em Educação Física. Acreditamos que tais indagações,
dada a frequência com que são apresentadas, interes-
sam a um número substancial de profissionais e estu-
dantes da área. Para fins desse estudo, formulamos
essas questões da seguinte maneira: O que é um códi-
go de ética profissional? Por que devemos seguir o que
ele estabelece?
Considerações Históricas
Em nossos dias, os códigos de ética profissionais têm sua existência consolida-
da. Entretanto, a medida que recuamos no tempo, vemos que isto não foi sempre
assim. Em realidade, uma breve retrospectiva histórica demonstra que esses docu-
mentos apareceram muito recentemente na história das profissões. Baker (1999)
argumenta que até dois séculos atrás eles não existiam. Até então, ética profissional
nada tinha a ver com códigos escritos de conduta. Um verdadeiro profissional, sen-
do um gentleman, tinha sua prática fundada no caráter, honra e virtude pessoal.
O primeiro código de ética profissional é atribuído ao médico inglês Thomas
Percival. Seu panfleto intitulado Medical Jurisprudence, publicado em 1794, inicial-
mente para circulação privada, propôs um código de ética para clínicos e cirurgiões.
Uma versão ampliada publicada em 1803, com o título de Medical Ethics, introdu-
ziu as expressões ética profissional e ética médica e estabeleceu regras estritas de
conduta para os praticantes da medicina.
Baker (1999) sugere que para apreciar a importância do trabalho de Percival é
necessário considerar o caráter individualista da ética médica vigente na época.
Para o nosso interesse aqui, é suficiente apresentar alguns breves recortes históri-
cos.
A palavra profissão em seu sentido original refere-se à adesão por juramento.
Esta expressão de origem latina remonta aos tempos de Roma quando a ocupação
de alguém era declarada sob juramento ao coletor de taxas.
De acordo com Baker (1999), o médico grego Scribonious Largus, por volta de
100 d.C., redefiniu a profissão médica em termos do juramento Hipocrático, fazen-
do com que o termo profissão na área médica identificasse uma ocupação, cujos
membros tinham obrigações especiais com as pessoas que serviam.
Na Renascença, com a redescoberta dos clássicos, os preceitos morais de
Hipócrates, em particular o juramento, consolidaram a identificação do
profissionalismo médico com a obrigação com o doente. As instituições acadêmicas
responsáveis pela formação dos médicos introduziram a prática do juramento como
requisito para os iniciantes.
Considerações Filosóficas
Filosóficas
Vejamos agora a segunda questão deste trabalho: Por que devemos seguir o que
estabelece o código de ética profissional? Ou, como alguns preferem formulá-la:
Existe alguma justificativa para que pautemos a nossa conduta profissional nesses
documentos?
Conclusão
Nesse ensaio, procuramos apresentar algumas idéias e argumentos referentes
aos códigos de ética profissional. Como destacado no início, restringimos a aborda-
gem a questões que são levantas com freqüência por estudantes e profissionais de
Educação Física. Apesar da brevidade da exposição, esperamos que as visões apre-
sentadas forneçam um ponto de partida conceitual para futuros estudos e estimulem
a participação de um público maior em discussões de temas afetos à ética na Edu-
cação Física.
Referências Bibliogáficas
BAKER, R. Codes of ethics: some history. Perspectives, 19(1), 1999.
DAVIS, M. Thinking like an engineer: the place of the code of ethics in the practice
of a profession. Philosophy and Public Affairs, 20(2):150-167, 1991.
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and cases. Belmont, CA: Wadsworth Publishing, 1995.
LADD, J. The quest for a code of professional ethics: an intelectual and moral
confusion. In: JOHNSON, D.G. Ethics in Engineering. Englewwod Cliffs, NJ:
Prentice-Hall, 1991. p.130-136
LUEGENBIEHL, H.C. Codes of ethics and the moral education of engineers.
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VÁZQUEZ, A.S. Ética. 8 ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1985.
Referências Bibliográficas
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CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Trad. LORENCINI, Álvaro. São Paulo,
Unesp, 1999.
FREITAG, Bárbara. Itinerários de Antígona: a questão da moralidade. Campinas,
Papirus, 1992.
KANT, Emmanuel. Sobre a Pedagogia. Trad. FONTANELLA, Francisco Cock. São
Paulo, Unimep, 1999.
SÁ, Antonio Lopes de. Ètica profissional. São Paulo, Atlas, 1998.
ROUANET, Sérgio Paulo. Dilemas da moral iluminista. In: Ética. NOVAES, Adauto
(org.). São Paulo, Companhia das Letras, 1992.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação. Trad. MILLIET, Sérgio. Rio
de Janeiro, Bertrand Brasil, 1992
TUGENDHAT, Ernest. Lições sobre ética. Petrópolis, Vozes, 1997.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Trad. DELL’ANNA, João. 17ª ed., Rio de Janei-
ro, Civilização Brasileira, 1977.
“A Educação Física, para que exerça a sua função de Educação para a Saúde e possa atuar
preventivamente na redução de enfermidades relacionadas com a obesidade, as enfermida-
des cardíacas, a hipertensão, algumas formas de câncer e depressões, contribuindo para a
qualidade de vida dos seus beneficiários, deve desenvolver hábitos de prática regular de
atividades físicas nas pessoas”.
“Kant representa o princípio ético do dever como uma lei moral que se impõe à consciên-
cia humana, através de um único imperativo categórico, cuja fórmula fundamental é a
seguinte: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que
ela se torne lei universal”. (pág. 45)
Tendo como valor supremo o respeito à saúde como forma de garantir a dignida-
de humana, o documento está alicerçado numa matriz filosófica que se sustenta
sobre os pilares da competência técnica.
“Em termos de fundamentação filosófica, este Código visa assumir uma postura de
referência aos deveres e direitos de modo a assegurar o princípio de garantir aos Direitos
Universais aos beneficiários e destinatários. Procurando dotá-lo de capacidade de
aperfeiçoamento contínuo, este Código de Ética deve adotar um enfoque científico
identificando sistematicamente ordens e proibições contidas nos deveres e direitos. Tal
processo de atualização progressiva e permanente define-se por proporcionar conhecimen-
tos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis”. (CEPEF, 6°).
“o saber fazer bem tem uma dimensão técnica, a do saber e do saber fazer, isto é, do
domínio dos conteúdos de que o sujeito necessita para desempenhar o seu papel, aquilo
que se requer dele socialmente, articulado com o domínio das técnicas, das estratégias que
permitam que ele, digamos, ‘dê conta do seu recado’, em seu trabalho. Mas é preciso
saber bem, saber fazer bem, e o que me parece nuclear nesta expressão é esse pequeno
termo – ‘bem’ – porque ele indicará tanto a dimensão técnica [...] quanto um dimensão
política [...}, isto é, vou ao encontro daquilo que é desejável, que está estabelecido
valorativamente com relação à minha atuação. Como vimos, o conceito de bem não deve
ser entendido uma perspectiva metafísica; o que se entende por bem responde a necessi-
dades historicamente definidas pelos homens de uma determinada sociedade”.
Preâmbulo
A trajetória da profissão educação física, nos ter-
mos de seu reconhecimento pelo Estado, consolida-se
com a edição da Lei nº 9.696, de 1º de setembro de
1998 – dispõe sobre a regulamentação da Profissão
de Educação Física e cria os respectivos: Conselho
Federal e Conselhos Regionais de Educação (DOU de
2 de setembro de 1998). Assim, estabelece-se um
marco jurídico de ruptura com os fatos ligados até aque-
la data e as perspectivas projetadas para o período
seguinte, agora, com o estatuto de profissão, não só de
fato, como também de direito.
Considerações finais
O Código de Ética do Profissional de Educação Física e o Código Processual de
cada CREF, resultam em normas basilares que servem de suporte e equilíbrio ao
pleno exercício da profissão educação física.
Se enfatizarmos que a Ética do Profissional de Educação Física só está no Có-
digo, estaremos irremediavelmente reduzindo essa atividade profissional ao seu as-
É inequívoca que o ser tenha a sua individualidade, sua forma de realizar seu trabalho,
mas também o é que uma norma comportamental deva reger a prática profissional no que
concerne a sua conduta, em relação a seus semelhantes.
Referências bibliográficas
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução nº 803, de 10 de ou-
tubro de 1996.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução nº 825, de 30 de ju-
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CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Resolução nº 01, de 4 de mar-
ço de 1999.
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Resolução nº 25, de 21 de
fevereiro de 2000.
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Resolução nº 33, de 11 de
novembro de 2000.
CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1ª REGIÃO. Código Proces-
sual de Ética. Rio de Janeiro, 2001.
CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA 8ª REGIÃO. Código Proces-
sual de Ética. Manaus, 2002.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Brasília, Senado
Federal, Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 2002.
Introdução
Diante da posição do Sistema CONFEF/CREFs,
que apresenta o Código de Ética como mediador das
relações entre profissionais de Educação Física e os
indivíduos e grupos praticantes, e principalmente do
papel das Instituições de Ensino Superior para divul-
gação e consolidação deste Código, observa-se que as
problemáticas da moral e da ética tornaram-se impres-
cindíveis na formação de um profissional de Educação
Física.
Mas para socializar as informações sobre essas pro-
blemáticas relacionadas com o agir humano, em ter-
mos de condutas e comportamentos considerados como
Noções P reliminares da P
Preliminares roblemática da Bioética:
Problemática
Sur gimento, Conceituações e outras Características
Surgimento,
Surgimento da Bioética
A problemática da bioética é de estudo recente e seu processo de desenvolvi-
mento esteve intimamente ligado a alguns fatores históricos e sócio-culturais que
determinaram as características e definiram o enfoque e a metodologia.
· Ética médica tradicional
A medicina, desde longa data, procurou normatizar problemas éticos relativos a
seu exercício. Segundo Junges, em 1803, Thomas Percival Cunha sistematizou nor-
mas éticas para o exercício da medicina, tornando-se assim o pai da Ética médica
moderna.
Na Inglaterra, durante uma epidemia de “influenza”, houve grandes disputas no
seio da classe médica, envolvendo não só médicos, mas também outros profissionais
que se dedicavam a curar. Neste momento, levando em consideração os seus inte-
resses, os médicos pediram para que o colega Percival estipulasse normas para
atuarem honestamente e como cavalheiros, como médicos. Assim nasceu um regu-
lamento de comportamento entre colegas.
A Ética médica trata-se especificamente de uma deontologia profissional no âmbito
médico, reduzindo assim as dimensões éticas do exercício da medicina às relações
dos médicos entre si, com os enfermos e com a instituição hospitalar. Devido à
complexidade dos desafios atuais na área de saúde, esta Ética médica parece não
conseguir responder à estes.
Portanto, a bioética, como um saber mais global e interdisciplinar, veio substituir
a Ética médica tradicional.
Conceituações de Bioética
A seguir serão apresentadas algumas conceituações do termo bioética. Jungues
(1999, p.20) diz que bioética “é o estudo sistemático da conduta humana no âmbi-
to das ciências da vida e da saúde, enquanto esta conduta é examinada à luz de
valores e princípios morais”.
Para Costa e Diniz (2001, p.18-19), a bioética preocupa-se “com as situações
de vida, especialmente dos Seres Humanos, situações estas que estejam em meio as
diferentes escolhas morais quanto ao padrão de bem viver”.
A obra Bioethics: Brigde to the future (Potter, 1971) criou e tornou público o
termo bioética. Potter já havia publicado anteriormente um artigo no qual aparecia
a palavra bioética: Bioethics: the Science of Survival. Segundo este autor, a bioética
deveria ser a ciência da sobrevivência diante das diferentes ameaças da vida. Ele
partia do princípio de que a doença não é apenas uma enfermidade física, mas uma
manifestação das ameaças do ambiente. Por isso acreditava na necessidade de uma
ciência da sobrevivência. Potter não só criou o termo bioética, como também propôs
em sua primeira obra, Bioethics: Bridge to the future, o programa e o enfoque dessa
nova área de saber. Este enfoque era globalizante, incluindo o interesse ecológico
pelo meio ambiente. A bioética era compreendida como a ciência da sobrevivência
diante das diferentes ameaças contra a vida. Os diversos acontecimentos e, princi-
palmente, a perspectiva médica, preconizada pelo Kennedy Institute of Ethics, dis-
tanciava a bioética da idéia inicial de Potter, que decidiu reagir ao publicar Global
Ethics (JUNGUES, 1999).
A Ética e a Moral
Não há um conceito único sobre o que seja ética universalmente aceito por todos
que estudam o tema.
Observadas por sua origem semântica se equivale a moral. Moral deriva do
latim Mos ou More, significando “costumes” “conduta de vida”, conduta humana no
cotidiano.
O termo ética se equivale, etimologicamente, a moral, sendo que ambos provém
do grego ”Ethos”, que significa caráter, modo de ser, “conduta de vida”, “costu-
mes”. Apesar de as duas palavras se identificarem quanto ao conteúdo originário,
foram com o tempo adquirindo diferentes significados.
Atualmente se difere ética de moral considerando-se que moral seja o conjunto
de princípios, valores e normas que regulam a conduta humana em suas relações
sociais existentes em determinado momento histórico. Moral se refere a coletivo, e
na sociedade contemporânea coexistem em um mesmo contexto social, diferentes
Morais, fundadas em valores e princípios diferenciados. Nesta pluralidade moral, a
ética implica opção individual, escolha ativa, adesão intima da pessoa a valores,
princípios e normas morais, estando ligada à noção da autonomia individual. Esta
visa a interioridade do Ser Humano, solicita convicções próprias que não podem ser
impostas de fontes exteriores ao indivíduo, ou seja: cada pessoa é responsável por
definir sua ética.
A ética, como disciplina, se refere a reflexão crítica sobre o comportamento
humano, reflexão que interpreta, discute e problematiza, investigando os valores,
princípios e o comportamento moral a procura do ”bom” da “boa vida”, do “bem
estar” da vida em sociedade.
A tarefa ética é a procura e o estabelecimento das razões que justificam o que
“deve ser feito” e não o que “pode ser feito”. Neste sentido, a ética pode ser
Conclusão
Para o Profissional de Educação Física, a dignidade humana, agregando o valor
de Pessoa ao Ser Humano é importantíssimo antes de qualquer discussão do termo
ética dentro desta profissão, pois, só será entendida ou compreendida a vida huma-
na, que se faz presente através das relações entre profissionais de Educação Física
e os indivíduos ou grupos praticantes de exercícios físicos e/ou outros profissionais
da área da saúde, quando houver uma abordagem humanizada neste relacionamen-
to. Compreendendo assim, a essência deste problema, que a bioética pode ser
utilizada para auxiliar na consolidação das problemáticas da moral e da ética no
contexto profissional da Educação Física, é devida ao fato de que a bioética defron-
ta-se com um absoluto formal: a dignidade humana. Ela representa uma referência
absoluta para as ciências da vida e da saúde. O respeito a esse absoluto expressa o
Referências Bibliográficas
COSTA, Sérgio; DINIZ, Débora. Bioética: ensaios. Brasília: Letras Livres, 2001.
FORTES, Paulo Antônio de Carvalho. Ética e Saúde: questões éticas,
deontológicas e legais, tomada de decisões, autonomia e direitos do paci-
ente, estudo de casos. São Paulo: EPU, 1998.
JUNGUES, José Roque. Bioética: perspectivas e desafios. São Leopoldo:
Unisinos, 1999.
STEINHILBER, Jorge. E a Ética. In: E. F. Especial. Ano I, edição especial, Rio de
Janeiro: Órgão Oficial do CONFEF, agosto, 2002.
Introdução
A vida em sociedade e a inter-relação de depen-
dência entre as pessoas exigem que o Homem1 mante-
nha uma conduta e comportamento social, sob o ponto
de vista moral, que favoreça a harmonia da vida em
comum. A ação do indivíduo interfere na ambiência e
por isso sofre constante julgamento, seja por parte dele
próprio ou de terceiros. Aristóteles (apud SÁ, 1986,
p.17) afirmava que, “pelos atos que praticamos em
nossas relações com os homens nos tornamos justos
ou injustos”. Diante disto, temos nos questionado, inú-
meras vezes, se esta ou aquela conduta social é ou não
moral, ou seja, se pode ou não ser aceita como certa
ou justa no contexto de uma determinada sociedade.
Sempre existiu a noção do bem e do mal para
normatizar a conduta do Homem que, mesmo intuiti-
vamente, consegue fazer distinção entre estes dois con-
ceitos. Para Sócrates (apud MOTTA, 1984), a moral
provém deste conhecimento humano do bem e do mal.
O bem “é tudo que contribua para que a pessoa
humana realize a plenitude de sua natureza e alcance a
sua auto-realização” (MOTTA, ibid., p. 27), enquanto
o mal seria aquilo que produzisse efeitos contrários.
Considerações Finais
Finais
A ética é a ciência da moral e como tal deve fundamentar, com seus princípios,
toda e qualquer normatização da conduta social do Homem, encarada sob este
aspecto. Esta normatização, quando relacionada ao exercício das profissões, dá-se
através dos códigos deontológicos ou códigos de ética, que mantêm uma
especificidade em relação às virtudes requeridas à prática de uma determinada ati-
vidade profissional.
Os Códigos de Ética profissional, embora fundamentados na teoria do dever que
busca formar no homem a consciência ética ao adotar condutas virtuosas como um
estilo de vida, têm, conforme os autores apresentados, poder jurídico, firmando
sanções que vão da advertência à suspensão do exercício da profissão, quando in-
fringidos os deveres impostos ao profissional. Todavia, discordamos deste ponto de
vista quanto aos Códigos de Ética se consubstanciarem como um poder jurídico e
sim como poder moral ou de estabelecerem princípios éticos para sustentarem a
moralidade das profissões.
Referências Bibliográficas
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1999.
BERESFORD, Heron. A ética e a moral social através do esporte. Rio de
Janeiro. Sprint. 1994.
MOTTA, Nair de Souza. Ética e vida profissional. São Paulo: Âmbito Cultural
Edições LTDA. 1984.
SÁ, Antonio Lopes de. Ética profissional. São Paulo: Ed. Atlas. 1996.
1
Utilizamo-nos desta nomenclatura ao nos referirmos ao Ser do Homem em geral, contemplando
tanto seres do sexo masculino como do feminino. Os autores consultados ao longo deste trabalho,
no entanto, não seguem esta mesma regra, valendo-se da grafia “homem”.
Introdução
No dia primeiro de setembro de mil novecentos e
noventa e oito, foi criado o Conselho Federal de Edu-
cação Física (CONFEF) através da lei 9696/98 (BRA-
SIL, 1998), possuindo em seu estatuto, na seção I,
art. 4º, a finalidade, em termos gerais, de defender os
direitos e promover os deveres da categoria Profissio-
nal de Educação Física. Cabe-nos, segundo essa fina-
lidade, a seguinte pergunta: como defender direitos e
promover deveres de uma categoria profissional?
Entendemos que para chegar a defender os direi-
tos e promover os deveres de uma categoria profissio-
nal, se faz necessário estabelecer, inicialmente, dois
momentos: primeiro, o jurídico (Quid juris), que ex-
pressa na forma de um código, e indica quais são os
direitos e os deveres de um profissional em exercício;
e, segundo, o princípio ou fundamentos que expressam
os critérios éticos para avaliar possíveis dilemas oriun-
dos do que pode ou deve o profissional.
Conclusão
Lembramos que o presente estudo partiu de onde se questiona o seguinte pro-
blema: até que ponto é possível se ampliar a base de fundamentação moral do atual
código de Ética Profissional da Educação Física, a partir de princípios de cunho
racional, objetivo e universal, que contribuam para avaliar, cientificamente e de for-
ma consensual, problemas ou dilemas pertinentes ao comportamento social, sob o
ponto de vista moral, dos profissionais vinculados ao sistema CONFEF/CREF’s?
Para contribuir com a solução do problema exposto acima, estabeleceu-se como
consecução o objetivo de ampliar a base de fundamentação moral do atual Código
de Ética Profissional da Educação Física, a partir de princípios com cunho racional,
objetivo e universal, no propósito de avaliar, cientifica e consensualmente, proble-
mas ou dilemas pertinentes ao comportamento social, sob o ponto de vista moral,
dos profissionais vinculados ao sistema CONFEF/CREFs.
Evidencia-se que o objetivo descrito acima foi alcançado, já que o pensamento
de Habermas está implicado por princípios de cunho racional, objetivo e universal,
pois, sendo de tal forma, ele passa a se constituir como uma base de fundamentação
moral que vem a estabelecer critérios para avaliar, científica e consensualmente,
problemas ou dilemas pertinentes ao comportamento social, sob o ponto de vista
moral, dos profissionais vinculados ao sistema CONFEF/CREFs.
Sendo assim, confirma-se a hipótese de que o pensamento de Jürgen Habermas
acerca da consciência moral ou do agir comunicativo, pode se constituir em uma
efetiva ponte de natureza teórica, com base racional, universal e objetiva, para com
isso fornecer informações importantes sobre o princípio ético que possa servir de
indicador para se avaliar, cientifica e consensualmente, problemas e dilemas relati-
vos ao comportamento social, sob o ponto de vista moral, de profissionais vincula-
dos ao sistema CONFEF/CREFs.
Temos, dessa maneira, os três aspectos implicados no pensamento de Habermas
que possibilitam na ética do discurso, como princípios ou fundamentos, estabelecer
meios para avaliação de dilemas oriundos de conduta e/ou comportamento social,
sob o ponto de vista moral, que se relacionam a prática profissional: o universal, o
racional e o objetivo. Estes princípios ou fundamentos vem ratificar e, ao mesmo
tempo, promover o que propõe Beresford, ou seja, a ética como ciência da moral.
Entendemos, portanto, que o princípio universal é aplicável, no caso de dilemas
oriundos de direitos e deveres de uma classe profissional, porque é a expressão
designada por um juízo racional que seja comum a todos os Homens, e no caso
Referências Bibliográficas
BERESFORD, Heron. Apontamentos realizados na disciplina de Bioética.
PROCIMH. UCB, 2002.
BRASIL. Lei n° 9696, de 1º de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação
da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conse-
lhos Regionais de Educação Física. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil. Brasília: DF, 2 de setembro de 1998.
CUNHA, Antônio G. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. 2 ed. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
FERREIRA, Aurélio. B. H. Dicionário da Língua Portuguesa. 4.ed. Rio de Ja-
neiro: Nova Fronteira, 2001.
HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1989.
FERRATER-MORA, José. Dicionário de Filosofia. Lisboa: Dom Quixote, 1982.
Considerações Iniciais
A educação física, como uma das profissões mais
antigas do Brasil, não era reconhecida na CBO (Clas-
sificação Brasileira de Ocupação). Em de 1º de Se-
tembro de 1998, após várias tentativas frustradas, a
profissão é finalmente regulamentada através da Lei
Federal n. º 9.696, publicada no Diário Oficial da União
em 02 de Setembro de 1998, criando então os Conse-
lhos Federal (CONFEF) e Regionais de Educação Fí-
sica (CREF).
Um breve histórico
Lawrence Kohlberg nasceu em Bronxville, Nova York, no ano de 1927, e se
formou na cadeira de Psicologia na Universidade de Chicago em 1958 (MEDRANO,
1992). Fixou-se posteriormente na Universidade de Harvard, na qual trabalhou até
seu falecimento, ocorrido em 1987, aos 59 anos de idade.
Lawrence Kohlberg fundou e dirigiu o Centro para a Educação Moral na Univer-
sidade de Harvard, tendo sido capaz de elaborar um modelo de educação moral a
partir de um posicionamento filosófico1958 (MEDRANO, 1992).
Kohlberg delineou teorias de desenvolvimento moral humano, mostrando clara-
mente os estágios pelos quais o Homem passa durante o processo de maturação
moral, identificando os níveis e indicando os procedimentos para determinação dos
mesmos, até alcançar a referida maturidade.
Como forma de sistematização, organizou suas pesquisas através de uma série
de entrevistas, que consistiam em apresentar a cada indivíduo uma situação de
dilema moral. Para tanto, criou histórias que envolvessem dilemas morais, formulou
perguntas sobre os mesmos dilemas, procurando analisar toda série de respostas
para catalogar e classificá-las em um determinado estágio; sua atenção era voltada
para as “razões” apresentadas pelo entrevistado como justificativa para posicionar-
se diante de uma determinada situação.
Após minucioso trabalho conseguiu identificar seis estágios, organizados em
três níveis de julgamento moral: Pré-Convencional, Convencional e Pós-convencio-
nal.
Teoria
O primeiro nível de desenvolvimento moral denominado por Kohlberg é o Pré-
convencional. As pessoas que se encontram neste nível possuem uma visão estreita
de sociedade, julgam a ação somente nas conseqüências previstas, valorizando mais
o comportamento do que a intencionalidade, predominando os rótulos culturais do
certo e do errado, apresentando um comportamento hedonista ou que evite a san-
ção, pois neste nível há anseio pela recompensa e o temor à punição.
Estando em uma fase heterônoma, submetem-se às regras impostas sem questi-
onar o seu valor social, por isso não se sente inserido na sociedade, tornando-se
egocêntrico.
Kohlberg subdivide este nível em estágio 1 e 2 :
O estágio 1 é caracterizado pela a orientação para punição e obediência, a
ordem é sustentada pela sanção.
Tabela 1
Deveria rou bar o medicamento. Não está errado em rou bar o medicamento.
Estágio 1 Ele, a princípio qu eria pagar pelo medicamento. O medicamento não valia, o
qu e estava sendo cobrado, valia dez vez es menos.
Deveria rou bar o medicamento. Só fez algo qu e era natu ral, qu e u m bom
Estágio 3 marido faria. Não se pode cu lpar por se faz er algo por amor a su a mu lher,
cu lpar-se-ia, se não amara o su ficiente como para salva-la.
Deveria rou bar. Se Heinz não fiz er nada desejaras á morte de su a mu lher e
Estágio 4 se ela morrer a responsabilidade é dele. Tem qu e tirar a idéia de pagar o
farmacêu tico.
A lei não foi prevista para estas circu nstâncias. Rou bar a medicação não está
Estágio 5
bem, porém faz e-lo está ju stificado.
A universalidade em Kohlber
ohlbergg
Kohlber
A questão da universalidade baseia-se no fato de tentar tornar um estudo cientí-
fico, para tal é necessário que este seja racional, objetivo e assim universal.
A teoria de Kohlberg, baseado em sua tese de doutorado, torna- se universal,
por partir do princípio de uma cultura universal e assim, como ele mesmo descreve,
princípios morais universais.
Aplicou sua série de entrevistas, com os mesmos dilemas morais hipotéticos, em
diversos países e chegou a conclusão que a cultura não influencia nos resultados das
avaliações em seus estágios de desenvolvimento moral.
Porém, é importante salientar, que existem inúmeras críticas a universalidade da
teoria de Kohlberg, pois os críticos defendem a idéia de que não existe um relativismo,
nem uma universalidade cultural.
Mas Kohlberg não sugere um relativismo cultural, sugere uma cultura universal,
relacionando a mesma a princípios morais universais, tais como: acordos sociais
respeitando os princípios universais de justiça, igualdade dos direitos humanos e
respeito à dignidade dos seres humanos.
Diante deste relativismo cultural com valores morais, não se pode negar que seu
estudo seja científico e universal.
Considerações Finais
Finais
Lembrando que o estudo partiu do seguinte problema: Após a regulamentação pro-
fissional da educação física, através da Lei Federal nº 9.696, em primeiro de setembro
de 1998, foram criados os conselhos Federais (CONFEF) e Regionais (CREF). Com
isso foi assegurado o aspecto jurídico da regulamentação, porém fez-se necessária, para
uma ampla legitimação social, a criação do código de ética e do código processual de
ética, instituído para assegurar o aspecto moral de tal legitimação social.
Bibliografia Básica
BIAGGIO, Angela Maria Brasil. Kohlberg e a Comunidade Justa: promovendo o
senso ético e a cidadania na escola. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 10, n. 1.
Porto Alegre, 1997.
1
Porém Kohlberg descreve uma questão de psicologia e filosofia sobre os campos da moralidade
heterônoma e autônoma, podem aplicar-se de forma útil. No campo a partir do tem estudo mostra
uma tipologia específica “A” e “B” é o campo da justiça ou direito deôntico. Normalmente
diferenciado deste campo está o campo do ‘bom’, como uma aspiração para uma vida boa, para
ser uma boa pessoa boa ou virtuosa. E que uma tipologia heterônoma e autônoma se aplica aos
campos do belo, que está por resolver e sem estudar.
Ética e Moral
O sentimento da necessidade da ética está presen-
te no Brasil de modo diferente de outros países. Par-
tindo-se do nexo mais geral de civilização, superaram-
se recentemente os desejos de avanço técnico que se
tinha nos séculos passados. E se descobriu, no final do
século 20, que não havia uma ética que fosse capaz de
usar humanísticamente estas técnicas. Isto se aplica
em todas as áreas de saber e de prática. A medicina,
por exemplo, é capaz de prolongar a vida, mas não
sabe como escolher o momento da morte; é capaz de
fazer transplantes mas não sabe como regular o seu
uso. As técnicas do esporte já dispõem de meios para
fazer super-atletas, por equipamentos ou pela bioquí-
mica, mas não sabem como combinar estes novos ins-
trumentos com o espírito esportivo (fair play). Sobre-
tudo, as técnicas são capazes de fazer super - homens,
mas não se sabe o que fazer com eles.
O Brasil é um dos poucos países onde as técnicas
são amplamente disponíveis mas seu uso é seletivo e
injusto, criando-se uma grande distorção social. O Brasil
é um dos países com grande contingente de desnutri-
dos e ao mesmo tempo um país que exporta aviões,
computadores e manipulação genética. Ou seja: essas
contradições sugerem uma necessidade urgente de de-
senvolvimento ético em suas relações sociais e políti-
cas.
Ética Profissional
Profissional
Ética Profissional é definida, segundo Motta (1984), como o conjunto de nor-
mas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profis-
são. Na vida profissional a conduta ética é de extrema importância. Pois o profissi-
onal, além da responsabilidade individual, que caracteriza todo ser humano, tem a
responsabilidade social, cuja dimensão aumenta em face de sua atividade profissio-
nal que envolve pessoas que dela se beneficiam.
A Ética é ainda indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fazer”
e “o agir” são indissociáveis. “O fazer” diz respeito à competência, a eficiência que
todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. “Ö agir” se refere
à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho
de sua profissão.
Em sentido restrito, a ética é utilizada para conceituar deveres e estabelecer
regras de conduta do indivíduo, no desempenho de suas atividades profissionais e
em seu relacionamento com clientes e demais pessoas. É o que se chama de ética
profissional, existente em praticamente todas as profissões e resultado de usos e
costumes que prevalecem na sociedade. Dessa forma, surgiram os Códigos de Éti-
ca: eles oferecem orientações, estabelecem diretrizes para um nível digno de condu-
ta profissional. A ética profissional é o conjunto de princípios que regem a conduta
funcional de uma profissão.
A ética profissional hoje, não é vista só como uma questão de consciência, é uma
crescente exigência do mercado. As empresas rejeitam profissionais que podem
comprometer a imagem delas. Uma política interna mal definida por um funcionário
de qualquer nível pode repercutir em dois dos maiores patrimônios de uma empre-
sa: a marca e a imagem. Por isso a prevenção é a palavra de ordem em qualquer
empresa que valorize a ética nos seus negócios e no ambiente de trabalho. Regras
15%
25%
34%
8%
9%
4%
79%
Referências Bibliográficas
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Os P rimeiros passos da P
Primeiros rofissão de Guia
Profissão
O Club Alpin Français enquanto entidade profissional promovia encontros dis-
cussões e criando regras de conduta entre os praticantes e guias de montanha.
Seguiu-se um período relativamente calmo e próspero. Em 1919 surgiu um outro
órgão, o Groupe de Haute Montagne (GHM), fundado em Paris. Foi o primeiro
grupo dedicado exclusivamente ao Alpinismo e às atividades em alta montanha ou
montanhas difíceis. Seus personagens eram também integrantes do CAF.
Esta evolução foi natural, pois o GHM tinha visão e aspirações de evolução técnica
do esporte, enquanto o CAF se preocupava mais em enfatizar o aspecto educacional da
montanha. Desde 1874 o CAF desenvolvia projetos educacionais, como no exemplo das
Caravanas Escolares (Hoibian, 2000). Este projeto levava a juventude das cidades em
excursões à montanha para introduzir valores e preceitos montanheses.
As diferenças de abordagens e objetivos entre estas duas instituições geraram
muitos conflitos entre os anos 20 e 30 do século passado. Neste período houve
muitas discussões entorno das regras e valores da prática do Alpinismo, até que em
1937 essa tensão se tornou insustentável, levando à ruptura entre os dois grupos
(Hoibian, 2000). Estes enfim, seguiram adotando regulamentos individualizados
até o fim da IIª Guerra Mundial.
O Alpinismo e a Escalada
No início dos anos 70 a Escalada ganhou mais conteúdos lúdicos, assumindo
uma feição de jogo com algumas regras básicas. Tal tendência começou na Califórnia
(EUA) e modificou os valores da prática deste esporte. A Escalada passou então a
encontrar um fim em si mesma. Uma referência de comportamento para praticantes
denominada de “código de ética do livre” foi ganhando espaço, e ao longo da déca-
da este ideal de prática foi difundido e adotado pelos adeptos dos esportes de
montanha.
O referido código de ética substituiu os moralismos determinados historicamen-
te pelo Alpinismo como também a ciência da cramponagem e a estética progressista
da parede, pelo movimento puro. Este é aqui subentendido como a arte de progre-
dir sem o auxílio de meios artificiais como o uso de equipamentos. A estética passou
a ser definida no movimento. A superação não dependia mais dos cumes e das
montanhas, muito pelo contrário, ela passou a ser encontrada em um pequeno bloco
de pedra ou em uma estrutura artificial. Daí surgiram valores diferentes e deles
competições e novos atores envolvidos somente com a prática Escalada.
As Perspectivas A
Perspectivas tuais
Atuais
Na história da profissionalização da Escalada na França pode-se observar dois
pontos que se sobressaem. Primeiro que a intervenção do governo foi fundamental
para a organização e desenvolvimento do esporte no país. E segundo que o guia
desempenhou o papel central durante esse processo, no sentido de criar e estabele-
cer as regras que nortearam toda a formação dos modelos de formação profissional.
Depois da IIª Guerra Mundial o estado auxiliou a organizar as diferentes institui-
ções envolvidas com o Alpinismo, que na época divergiam suas ideologias. Ele fi-
nanciou e promoveu o programa de popularização da montanha. E mesmo depois
do período de domínio externo alemão o governo continuou criando leis que permi-
tiram a continuação do desenvolvimento dos esportes de montanha.
Hoje tais esportes não são mais acessíveis somente à elite da sociedade. Pode-
se afirmar que as iniciativas de popularização produziram frutos, garantindo o aces-
so e expansão da Escalada. Formar os profissionais e regulamentar a profissão foi o
primeiro passo. Pois com o aumento do número de praticantes outros setores eco-
nômicos relacionados à este esporte se expandiram. Hoje se encontram diferentes
fábricas de equipamentos e acessórios para a prática do esporte. E ainda a Escala-
da na França é utilizada como uma alternativa mais econômica às escolas de ensino
primário e secundário.
Consequentemente hoje existem muitos profissionais envolvidos com este espor-
te na França. E não se trata de um mercado de trabalho assegurado somente aos
Guias ou aos monitores. Isto se deve principalmente a organização institucional na
A Escalada no Brasil
No Brasil ainda prevalece o argumento de que a Escalada é uma atividade
dispendiosa quando se propõe alguma forma de tornar popular esta prática. Estaria
na popularização uma forma de redução dos custos de tal atividade? Conseguir-se-
ia chegar à tal popularização antes de se reduzir os custos? Precisaríamos de uma
intervenção do governo para tornar viável um projeto deste porte no Brasil? Estas
são algumas questões a serem pensadas e levantadas em futuros estudos.
Mas nas circunstâncias brasileiras pode-se também constatar algumas outras
similaridades como o grande número de entidades em desacordo tentando definir as
“regras” a serem seguidas. E significativamente, assim como o CAF, há uma institui-
ção no Brasil – a Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro
(FEMERJ) – que não se restringe somente ao esporte Escalada. A FEMERJ tem
intenções mais abrangentes inferindo tanto em outros esportes da natureza como na
manutenção e preservação das montanhas do estado.
Hoje, nota-se o desenvolvimento de todas as práticas físicas em diferentes paí-
ses do mundo. Este processo vem fundamentado no discurso que vincula atividade
física, saúde e lazer. Com a Escalada não acontece diferentemente. E segundo o
último censo de escaladores realizado no Brasil, divulgado no ano de 1999, o cres-
cimento do número de praticantes foi de quase 800% nos últimos cinco anos e meio
contados.
Este fato evidencia a eminência de um processo de regulamentação da profissão
de guias de Escalada no Brasil, o que já pode ser encontrado em fase inicial no seio
das instituições vinculadas ao esporte. Embora as circunstâncias históricas sejam
intransferíveis, este processo é similar ao encontrado na França quando os Guias
demonstravam sinais de organização ainda antes de uma intervenção efetiva do
estado. Em meio a diferenças, tais similaridades nos levam à premissa que um
estudo comparativo entre os dois países em questão pode auxiliar a compreender e
analisar as circunstâncias brasileiras no mesmo tema antecipando caminhos e pro-
postas.
Introdução
Uma dificuldade comum em se construir conheci-
mentos a respeito do que seja ‘Fair Play’1 repousa so-
bre a pouca quantidade de investigações e estudos que
se fundamentam em conceitos filosóficos. Por isso, cons-
tata-se freqüentemente que trabalhos desenvolvidos no
campo do ‘Fair Play’ (moral e ética no esporte) recor-
rem a critérios instituídos pela tradição esportiva, dei-
xando de lado definições que a filosofia moral elaborou
durante a história.
De acordo com essa compreensão, esse texto pre-
tende organizar parâmetros fundados em conceitos fi-
losóficos seminais, que possibilitem a construção de
um pressuposto teórico pautado em valores sociais,
capaz de nortear estudos na área da moral esportiva.
É nesse sentido que estudos que tenham como ob-
jetivo resgatar conceitos filosóficos que visem à elabo-
ração de um construto, e que possibilitem o entendi-
mento do ‘Fair Play’ como regra não-verbal de rela-
ções interpessoais, como sugerido por Gebauer (1990)
em trabalho similar a esse, torna-se pertinente.
Construto a contento
A consecução de parâmetros iniciais para o entendimento do ‘Fair Play’ orienta-
nos a um campo de possibilidades diversificadas, convidando-nos a descobrir um
pouco mais as particularidades que envolvem o ser humano, e as razões que o levam
a uma determinada escolha.
Assumir a posição na qual o indivíduo necessita de um esforço racional vigoroso
para se tornar um ser moral, que utiliza sua liberdade para cercear sua vontade
sensível em uma busca frenética por igualdade no intuito do recrudescimento da
justiça, pode indicar o caminho a se seguir em pesquisas de vanguarda, sejam elas
executadas no campo da filosofia, natural ou social, sejam na área da psicologia, ou
em outra ciência qualquer.
Contudo, como alertou Gerthardt (In: Gebauer 1990:468), “no esporte, so-
mente a ação prática é o que realmente conta”. O que nos impulsiona ao estudo de
questões morais amparadas por situações empíricas, tendo em consideração os
processos multifacetados da aquisição de valores sociais.
Referências Bibliográficas
ARISTÓTELES. (1992). Ética a Nicômaco. Brasília. UnB
DACOSTA, L.P. (1998). Environment and sport – an international overview.
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Proceedings of the International Symposium.
KANT, E. (1937). Fundamentos da metaphysica dos costumes. São Paulo: edições
e publicações Brasil.
*
Grupo de Pesquisas em Estudos Olímpicos - UGF
1
O termo Fair Play por ser amplamente utilizado nos meios esportivos e afins, aqui é utilizado como
referência à moral esportiva.
2
O imperativo categórico de Kant é considerado por ele como lei da moralidade e o fato das pessoas
comuns estarem a todo o momento determinando um valor similar ao imperativo hipotético se é
devido pela impossibilidade, dificuldade de popularização deste conceito.
3
Por vezes a organização de uma prova contrata atletas para acentuar o ritmo da competição em
prol de um melhor marca nos tempos dos atletas inscritos. Esses ‘atletas-coelho’ agem de forma a
correr no limite máximo no início da prova, provocando um melhor aproveitamento dos demais
competidores. Contudo, essa estratégia é conhecida e partilhada por todos os competidores, que
pré-estabelecem os seus ritmos em função do corredor contratado. Nos Jogos Olímpicos a utilização
desse estratagema não é legítima e, portanto era desconhecido por todos (atletas, expectadores,
etc...). Os demais atletas correram em função de acompanhar um outro competidor como eles. Para
surpresa dos competidores, os atletas marroquinos elaboraram esta estratégia a fim de que um deles
fosse bem sucedido em detrimento do resultado do outro. Essa caracterização de vitória a qualquer
custo causou perplexidade à audiência, provocando uma reação.
Introdução
Torna-se bastante claro para os professores de
Educação Física em suas diversas áreas de atuação
frente aos esportes, que a intervenção pedagógica in-
tencional para o desenvolvimento da moral, seja por
discurso ou pela administração de atividades, não ga-
rante o comportamento moral dos seus alunos. Da
mesma forma, podemos afirmar que o comportamento
moral perante o esporte não significaria uma transfe-
rência imediata e definitiva para a mesma postura di-
ante de decisões e dilemas em outras instâncias da vida
social. Muitas são as variáveis que definem as disposi-
ções para atitudes morais.
Também devemos refletir se diante da pluralidade
de valores presentes numa sociedade diversificada como
a brasileira, inviabilizaria uma Educação Física preo-
cupada com o desenvolvimento moral, já que valores e
interesses distintos provocam sempre conflitos. Aliás,
baseado nesta reflexão relativizadora, tem–se abando-
nado a preocupação com a formação moral, confundin-
do educação em valores morais com educação de valo-
res com conteúdos morais específicos. Não é raro ver-
mos professores e pesquisadores serem acusados (mui-
tas vezes equivocadamente) de moralistas quando pro-
põem reflexões éticas relacionadas ao esporte.
Esporte e Ética
A história da Educação Física brasileira nos apontou uma preocupação de inter-
venção mais voltada para elementos da formação corporal e técnicas esportivas.
Nota-se uma reformulação na área, principalmente a partir dos anos oitenta, em que
intelectuais brasileiros (Marinho, 1985; Taffarel, 1985; Freire, 1989, por exemplo)
Considerações Finais
Finais
Os dilemas morais aqui apresentados têm a intenção de indicar caminhos e
estratégias que possam trazer reflexões sobre os princípios, valores, abordagens e
práticas relacionadas ao esporte. Buscou-se sugerir, com exemplos, uma estratégia
sistemática de se chegar a princípios de julgamento sobre problemas éticos a partir
dos referenciais de valores como o Olimpismo e o Fair Play, buscando refletir sobre
sua coerência e fundamentação.
Não existem garantias de que mesmo que algumas pessoas concordem com os
princípios irão concordar com uma aplicação prática particular, uma vez que existem
muitas outras variáveis implicadas. Porém, no mínimo, as pessoas deveriam ser
capazes de avaliar com base em vários argumentos, e desta forma, apelar firmemen-
te para os próprios princípios, que podem conduzir e auxiliar no esclarecimento e
elucidação de questões morais.
Propomos aos professores de Educação Física que ao invés de recaírem no lugar
comum de negação sobre os valores mais tradicionais do esporte e afirmarem outros
no ponto extremo, como por exemplo “não existe mais Fair Play”, procurem o cami-
nho de uma pedagogia do esporte baseada, primeiramente, naquilo que os alunos reco-
nhecem como fundamental para as relações humanas e nos princípios éticos que estão
de acordo. Logo, perguntaríamos: se não existe mais Fair Play, o que existe?
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Preâmbulo
No processo de elaboração do Código de Ética para o
Profissional de Educação Física tomaram-se por base,
também, as Declarações Universais de Direitos Hu-
manos e da Cultura, a Agenda 21, que conceitua a
proteção do meio ambiente no contexto das relações
entre os homens em sociedade, e, ainda, os indicado-
res da Carta Brasileira de Educação Física 2000.
Esses documentos, juntamente com a legislação refe-
rente à Educação Física e a seus profissionais nas esfe-
ras federal, estadual e municipal, constituem o funda-
mento para a função mediadora do Sistema CONFEF/
CREFs no que concerne ao Código de Ética.
A Educação Física afirma-se, segundo as mais
atualizadas pesquisas científicas, como atividade im-
prescindível à promoção e à preservação da saúde e à
conquista de uma boa qualidade de vida.
Ao se regulamentar a Educação Física como atividade
profissional, foi identificada, paralelamente à importân-
cia de conhecimento técnico e científico especializado,
a necessidade do desenvolvimento de competência es-
pecífica para sua aplicação, que possibilite estender a
toda a sociedade os valores e os benefícios advindos
da sua prática.
Este Código propõe normatizar a articulação das di-
mensões técnica e social com a dimensão ética, de for-
ma a garantir, no desempenho do Profissional de Edu-
cação Física, a união de conhecimento científico e ati-
tude, referendando a necessidade de um saber e de
um saber fazer que venham a efetivar-se como um saber
bem e um saber fazer bem.
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 1º - A atividade do Profissional de Educação Física, respeitado o disposto
na Lei nº 9.696, de 1º de setembro de 1998, e no Estatuto do Conselho Fede-
ral de Educação Física - CONFEF, rege-se por este Código de Ética.
Parágrafo único - Este Código de Ética constitui-se em documento de referên-
cia para os Profissionais de Educação Física, no que se refere aos princípios e
diretrizes para o exercício da profissão e aos direitos e deveres dos beneficiários das
ações e dos destinatários das intervenções.
Art. 2º - Para os efeitos deste Código, considera-se:
I - beneficiário das ações, o indivíduo ou instituição que utilize os serviços do
Profissional de Educação Física;
II - destinatário das intervenções, o Profissional de Educação Física registra-
do no Sistema CONFEF/CREFs.
Art. 3º - O Sistema CONFEF/CREFs reconhece como Profissional de Educa-
ção Física, o profissional identificado, conforme as características da atividade
que desempenha, pelas seguintes denominações: Professor de Educação Física,
Técnico Desportivo, Treinador Esportivo, Preparador Físico, Personal Trainner,
Técnico de Esportes; Treinador de Esportes; Preparador Físico-corporal; Pro-
fessor de Educação Corporal; Orientador de Exercícios Corporais; Monitor de
Atividades Corporais; Motricista e Cinesiólogo.
CAPÍTULO II
Dos Princípios e Diretrizes
Art. 4º - O exercício profissional em Educação Física pautar-se-á pelos seguin-
tes princípios:
I - o respeito à vida, à dignidade, à integridade e aos direitos do indivíduo;
CAPÍTULO III
Das Responsabilidades e Deveres
Art. 6º - São responsabilidades e deveres do Profissional de Educação Física:
I - promover uma Educação Física no sentido de que a mesma se constitua
em meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo dos seus
beneficiários, através de uma educação efetiva, para promoção da saúde e
ocupação saudável do tempo de lazer;
CAPÍTULO IV
Dos Direitos e Benefícios
Art. 10 - São direitos do Profissional de Educação Física:
I - exercer a Profissão sem ser discriminado por questões de religião, raça,
sexo, idade, opinião política, cor, orientação sexual ou de qualquer outra
natureza;
CAPÍTULO VI
Disposições Finais
Art. 15 – O disposto neste Código atinge e obriga igualmente pessoas físicas e
jurídicas, no que couber.
Art. 16 – O registro no Sistema CONFEF/CREFs implica, por parte de profis-
sionais e instituições e/ou pessoas jurídicas prestadoras de serviços em Educa-
ção Física, total aceitação e submissão às normas e princípios contidos neste
Código.
Art. 17 – Com vistas ao contínuo aperfeiçoamento deste Código, serão desen-
volvidos procedimentos metódicos e sistematizados que possibilitem a reavaliação
constante dos comandos nele contidos.
Art. 18 - Os casos omissos serão analisados e deliberados pelo Conselho Fede-
ral de Educação Física.
Prefácio
A Associação Européia de Educação Física (EUPEA)
é uma organização “guarda chuva” das associações de
profissionais de Educação Física na Europa. Foi funda-
da em Bruxelas em 1991 com a finalidade de promo-
ver mais e melhor Educação Física em toda a Europa.
Sua primeira afirmação oficial, a “Declaração de Ma-
dri”, foi publicada no mesmo ano e apontou a necessi-
dade de promover e defender a Educação Física como
uma disciplina importante do currículo escolar – “Não
há Educação sem Educação Física”. EUPEA promove
e defende a Educação Física colaborando com outras
associações profissionais envolvidas com a Educação Fí-
sica e com as organizações governamentais e não gover-
namentais pertinentes. A Associação considera Educa-
ção Física como uma das tarefas básicas do sistema
escolar, porque o desenvolvimento da competência de
movimentar-se, a promoção do esporte para toda vida
e participação em atividades físicas são de vital impor-
tância na nossa sociedade moderna.
Agradecimentos
Este documento é o resultado de um longo e amplo processo baseado em con-
sultas. A EUPEA deseja agradecer a assistência e comentários vindos dos seus
países membros e de todos os indivíduos, agencias governamentais, grupos nacio-
nais e associações de Educação Física que tenham contribuído para este documen-
to. Os membros da EUFEA são:
Áustria, Bélgica, Croácia, Republica Checa, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Fran-
ça, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Israel, Itália, Lituânia, Luxemburgo,
Noruega, Polônia, Portugal, Romênia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Suécia, Su-
íça, Holanda, Reino Unido.
Introdução
Este Código objetiva oferecer aos professores, administradores e todos os en-
volvidos com Educação Física e esporte escolar diretrizes e padrões para serem
usados quando desenvolverem atividades de Educação Física com as crianças nas
escolas. O Código é designado para cobrir toda Educação física em escolas envol-
vendo crianças e jovens e é sustentado pelos seguintes princípios:
- A Educação Física para crianças e jovens nas escolas pode contribuir positi-
vamente com seu o desenvolvimento. É um veículo para o desenvolvimento
físico, mental, pessoal, social, espiritual e emocional. Tal desenvolvimento é
potencializado se um professor informado, pensante, cuidadoso e sensível,
Conclusão
Este documento delineia alguns dos pontos chaves que precisão ser endereça-
dos se educação física em escolas é para ser ensinada dentro dos mais altos padrões
e respeito para com as necessidades e dignidade das crianças. A responsabilidade
cai nas associações de profissionais e agencias educacionais para agir sobre as
recomendações aqui apresentadas e trabalhar cooperativamente para ajudar fazer
educação física nas escolas uma memorável experiência para todas as crianças.