H. Spencer Lewis - As Doutrinas Secretas de Jesus

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A doutrina secreta de
Jesus

H. Spencer Lewis, F.R.C., Ph.D.

1ª Edição Grande Loja do Brasil

2
Maio de 1988

DEDICO A

SAR HIERONYMUS DA BÉLGICA

Cuja postura e pureza de caráter emprestaram

Ilimitado encanto à magnificência de sua

Sabedoria.

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Figura 1: Construção de antigos essênios. Perto do Mar Morto, na Jordânia, encontram-se as ruínas de um antigo
dormitório e refeitório dos essênios. Perto dali estão localizadas as colinas em cujas cavernas foram encontrados
os famosos Pergaminhos do Mar Morto.

Figura 2: Local da Última Ceia. As duas janelas, embaixo e no centro, deixam passar a luz para as antigas
câmaras secretas do Conselho do Cristo Jesus

4
Figura 3: Igreja da Natividade, em Belém. Todas as seitas e autoridades concordam quanto à autenticidade desse
edifício, cujo pátio ê freqüentemente usado como quartel.

Figura 4: A majestosa muralha e a torre do Rei David. Essas sombrias pedras cinzentas resistiram muitas vezes
aos selvagens ataques dos filisteus e de outras tribos belicosas do passado.

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SUMÁRIO

PREFÁCIO.................................................................................................................................7
CAPÍTULO I: Uma espantosa descoberta................................................................................12
CAPÍTULO II: A necessidade de sigilo....................................................................................20
CAPÍTULO III: A grande escola secreta..................................................................................24
CAPÍTULO IV: A missão secreta de Jesus...............................................................................38
CAPÍTULO V: Administração e discipulado dos mistérios cristãos........................................46
CAPÍTULO VI: Missões secretas individuais..........................................................................61
CAPÍTULO VII: Estranhas passagens da Bíblia......................................................................67
CAPÍTULO VIII: O maior dos milagres..................................................................................85
CAPÍTULO IX: Mais comprovação bíblica.............................................................................95
CAPÍTULO X: As doutrinas secretas.....................................................................................112
CAPÍTULO XI: Os grandes mistérios....................................................................................127
CAPÍTULO XII: Modificações progressivas das doutrinas cristãs........................................139
CAPÍTULO XIII: A preservação dos ensinamentos secretos.................................................146

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PREFÁCIO

A discussão e a controvérsia não são os motivos principais deste livro, embora nele haja bastante
argumentação, o que sem dúvida suscitará controvérsia.
Os fatos são teimosos. A verdade se revela mesmo que esteja oculta por trás de um véu ou misturada
com alegorias, parábolas e estranhas interpretações. A maioria dos fatos contidos neste livro estão
claramente revelados na Bíblia Cristã, particularmente no Novo Testamento. Este trabalho, entretanto,
não é um exemplo da forma pela qual a Bíblia pode ser erroneamente interpretada, ou descuidada e
arbitrariamente citada, em partes, para comprovar uma idéia, uma teoria ou uma postulação. Alguém já
disse que praticamente qualquer teoria estranha ou proposição assombrosa pode ser provada tomando-
se passagens desconexas ou não relacionadas da Bíblia e juntando-as de determinado modo, ou
reforçando certas palavras, de maneira a formar uma idéia nova e totalmente incorreta.
As citações da Bíblia Cristã utilizadas neste livro são surpreendente e estranhamente esclarecedoras,
quando usadas exatamente como aparecem no Novo Testamento e sem serem separadas do contexto
geral. Elas contêm fatos que foram deliberadamente omitidos ou mal interpretados, pois não são
suscetíveis de diferentes interpretações. Ou elas significam determinada coisa, ou não significam nada.
Quando o Novo Testamento afirma que Maria, a mãe de Jesus, era uma de suas discípulas secretas ou
um membro do grupo de Seus discípulos que se reuniam em um local secreto, isto não significa nem
pode significar que se tratava de uma outra Maria, ou que ela era membro de algum outro grupo de
estudantes, ou ainda que era uma de Suas discípulas apenas espiritualmente ou alegoricamente. Muitas
pessoas podem ficar surpresas em saber que Jesus tinha uma mulher entre seus seguidores, fosse ela
Maria, sua mãe, ou qualquer outra. Mas só porque esse fato é surpreendente não há razão para duvidar
de sua veracidade ou de sua implicação, seu significado claramente deliberado e seu significado
subjacente.
Se Jesus tinha Sua mãe, como simples mulher, entre Seus estudantes particulares, Seus discípulos
secretos ou Seu grupo de discípulos, isto é muito significativo, não apenas porque ela era Sua mãe,
Maria. E se esse fato é surpreendente, que devemos então pensar de outras passagens do Novo
Testamento que afirmam que havia outras mulheres além de Maria entre Seus discípulos particulares e
que, portanto, nem todos os Seus discípulos ou estudantes escolhidos eram homens?
Não se trata de que esse fato seja suficientemente importante para se escrever um livro a respeito, pois,
afinal de contas, muitas mulheres foram eminentes estudantes das grandes verdades da vida, grandes
instrutoras e pregadoras, sendo com certeza tão qualificadas naquele tempo quanto o são hoje para
serem discípulas iguais aos homens em quaisquer circunstâncias. A importância disto está no fato de
que ou a Igreja ou seus representantes autorizados, ou alguns deles, ou o movimento cristão de séculos
passados, deliberada ou inconscientemente omitiram esse significativo aspecto da grande obra de
Jesus, o Cristo.
O mesmo se aplica ao fato de os irmãos e irmãs de Jesus terem sido membros de sua escola secreta,
particular. Será que estamos dando excessiva ênfase a isso e aos incidentes até agora velados de Sua
vida? Pensamos que não, diante do fato de que muitos grandes sermões foram pregados, panfletos
foram escritos e capítulos de livros cuidadosamente preparados para interpretar a atitude de Jesus para
com seus pais e seus parentes. Pensem por um momento nas milhares de vezes em que muitos
clérigos, em sermões e por escrito, tentaram explicar a passagem do Novo Testamento que parece ser
uma censura à Sua mãe por ocasião de Sua demora na sinagoga. Esse estranho incidente tem sido
apresentado aos freqüentadores de escolas dominicais e a estudantes da Bíblia como indicação de que
Jesus não tinha paciência com Seus pais, de que estes pouco ou nada compreendiam quanto a Sua
missão na vida, e de que Ele podia até ser grosseiro, intolerante e sem consideração para com as
mulheres e suas perguntas sobre Seus assuntos. Essas explicações e interpretações implantaram na
mente de muitas pessoas a dúvida quanto a Jesus ser tão perfeito nas coisas humanas como o era nas
coisas divinas. Será isso justo? São as interpretações daquele incidente corretas à luz dos fatos que
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mostram que Jesus tinha a mente aberta e suficiente compreensão para permitir que Sua mãe, Suas
irmãs e outras mulheres fossem estudantes secretos dos grandes "mistérios" que Ele ensinava?
Se parecer que o autor deste livro está indo longe demais ao dar ênfase a quaisquer possíveis reuniões
secretas de uma escola particular de discípulos, tenhamos em mente que a própria Bíblia é a melhor
autoridade para comprovar essas afirmações, e vai longe no destaque que dá ao fato de que Jesus
ensinava às multidões de um modo, ao círculo exterior de estudantes particulares de outro, e na
intimidade ensinava e instruía a um grupo interior, uma escola secreta, de uma terceira forma. Temos
também repetidas declarações do próprio Jesus de que os grandes mistérios, os grandes segredos que
Ele ensinava a uns poucos em Seus discursos privativos e Suas reuniões secretas, não podiam ser
revelados às multidões nem podiam ser compreendidos pelas pessoas comuns. Não obstante, a igreja
cristã de nossos dias não esclarece às massas a existência de segredos, verdades e fatos que elas não
compreendem porque são mesmo difíceis de compreender, mas que podem ser revelados e
demonstrados aos dignos, aos preparados, e aos especialmente iniciados.
Esses fatos dão um colorido diferente ao quadro do cristianismo como sistema religioso, filosófico ou
moral. Na verdade, eles nos ajudam a compreender que a instrução cristã original e verdadeira e as
doutrinas cristãs originais eram coisas divinas não destinadas a todos os seres humanos, constituindo
um sistema de verdades transcendentais, revelações esotéricas e leis divinas de ilimitada aplicação e
onipotente poder. Cabe aos que contestam os fatos contidos neste livro provar seus argumentos. O
autor apresenta seus fatos e as verdades por eles reveladas. Se as citações aqui utilizadas e os fatos
nelas contidos revelarem verdades que contrariem os fatos contidos neste livro, então o leitor que
contestar o livro deverá apresentar suas interpretações e demonstrar que são superiores às que aqui
estão expostas.
Ou as muitas citações do Novo Testamento, as muitas sugestões, as muitas condições e situações
reveladoras significam algo bem definido — ou não têm significação alguma.
O leitor de mente aberta e sem preconceitos será o melhor juiz de que:

A Ordem Rosacruz em todo o mundo, a Fraternidade Rosacruz da AMORC, inclusive suas alianças e
afiliações, dedicada à perpetuação e constante revelação das antigas verdades pela cuidadosa
disseminação a pessoas devidamente qualificadas, não separa as verdadeiras doutrinas de Jesus e Suas
grandes verdades do sistema original do cristianismo. Este livro, portanto, não é, em sua natureza
essencial ou em sua intenção, uma propaganda da Ordem Rosacruz, AMORC, e sim uma contribuição
voltada unicamente para a literatura esotérica de milhares de anos passados e de hoje.

O AUTOR

CAPÍTULO I: Uma espantosa descoberta

Estamos certos de que muitos cristãos ficarão surpresos com a insinuação de que Jesus ensinou
quaisquer princípios divinos secretamente, ou que praticou qualquer arte divina sem a revelar a todos.
O autor deste livro ficou espantado, a princípio, quando descobriu que isso era verdade. Como
dedicado freqüentador de cultos religiosos cristãos por trinta anos ou mais, e após muitos anos de
estudo da Bíblia dirigido por líderes do pensamento cristão protestante, parecia-lhes quase
inacreditável que fatos tão importantes da vida de Jesus e da criação inicial das doutrinas e práticas
cristãs tivessem passado despercebidos pelos mais aguçados e analíticos estudantes do cristianismo, ou
tivessem sido deliberadamente ocultos do público por alguma razão que pudesse ter parecido boa e
suficiente.
Assim que a chave para corroborar esses fatos se revelou inequivocamente em passagens do Novo
Testamento e desvendou muitos mistérios da vida e das atividades de Jesus e Seus discípulos, as
numerosas passagens intrigantes e até mesmo duvidosas da Bíblia se tornaram claras, compreensíveis,
na forma de evidências positivas que vieram apoiar a descoberta.

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Para que o leitor possa compreender claramente os segredos que Jesus transmitiu exclusivamente a
Seus discípulos testados e comprovados, faz-se necessário resumirmos a história revelada por fatos
descobertos tão gradativamente que pareceram uma revelação verdadeiramente divina e cósmica.
Eis os fatos: Jesus convocou muitas reuniões ou sessões secretas com Seus discípulos e fiéis
companheiros, o que é sugerido em muitas partes do Novo Testamento. Existem evidências
inequívocas deste fato.
Jesus possuía um conhecimento raro, secreto, divino ou espiritual e semi-científico, que Lhe permitia
realizar milagres e transmitir Seu conhecimento e Seu poder secretos, o que é igualmente inegável se
considerarmos conscienciosa-mente certas passagens do Novo Testamento.
Os primeiros cristãos, que constituíram a verdadeira base da religião cristã, eram capazes de realizar
milagres ou aplicar princípios cósmicos ou divinos de maneira nova e diferente que jamais fora
aplicada antes, o que se imprime em nossa consciência ao lermos e analisarmos os Evangelhos
Sinópticos e outras partes do Novo Testamento.
A primitiva igreja cristã se dedicava a duas fases essenciais de atividade: pregação, ensino, postulação,
e realização de curas e demonstrações, o que não se pode negar.
A igreja cristã de hoje não mais pratica ou demonstra os princípios de cura ou de inovação das leis
divinas e naturais para ocasionar manifestações incomuns, concentrando-se quase exclusivamente na
pregação e postulação, o que indica que a igreja cristã de hoje e dos últimos séculos ou abandonou
toda uma fase de seu trabalho, ou algum conhecimento secreto que os antigos cristãos possuíam não
foi transmitido através dos tempos, de sacerdote a sacerdote, de ministro religioso a ministro religioso,
de seita a seita.
As declarações acima constituem as chaves fundamentais para desvendar os mistérios da missão de
Jesus, o Cristo, em Sua vida na Terra. Após cuidadoso estudo e extensas pesquisas dessas chaves e dos
muitos fatos correlatos revelados por elas e através delas, o autor passa a resumir os surpreendentes
argumentos que apresentará nos capítulos seguintes deste livro:
1. Jesus teve nascimento divino e, portanto, foi especialmente preparado (espiritualmente,
mentalmente e por outros meios) para receber, testar e aplicar certo conhecimento secreto que O
capacitaria a cumprir um ministério especial na Terra;

2. Tendo sido devidamente preparado de forma divina, espiritual, intelectual, e de outras


maneiras, para essa grande missão, também foi decretado que Ele transmitiria esse conhecimento, bem
como os poderes especiais nele desenvolvidos por esse conhecimento, a outros indivíduos que fossem
capazes e dignos, a fim de que eles levassem avante Sua missão através das eras, e fizessem " coisas
ainda maiores".

3. Durante os primeiros anos do ministério de Jesus, Ele procurou, encontrou, treinou e preparou
esses homens e mulheres da Palestina, do Egito e da Síria, que se mostraram espiritualmente dignos,
além de moral e eticamente qualificados para perpetuar o conhecimento que Ele trouxera à Terra e os
poderes que Lhe tinham sido transmitidos através de Seu nascimento divino;

4. Essas pessoas, preparadas e treinadas, constituíram um grupo secreto de adeptos e servidores-


companheiros, que se reuniam de tempos a tempos como um colégio secreto para fins de instrução,
testes, provas e a prática conscienciosa dos princípios secretos;

5. Essa sociedade secreta foi formada por Jesus e mantida em contínuo funcionamento e
operação nos últimos anos da vida de Jesus, não se extinguindo por ocasião da Crucificação e da
Ascensão;

6. Os homens e mulheres ligados por juramento a essa sociedade secreta formavam um total de
cento e vinte pessoas, não se limitando aos doze apóstolos ou discípulos, e este fato espantoso está
claramente indicado no Novo Testamento;

7. Como qualquer outra sociedade secreta que tinha de proteger zelosamente seus ensinamentos,
princípios, listas de membros, ideais e propósitos de perseguição política ou aristocrática, esse
misterioso grupo de estudantes especiais tinha vários locais de reunião definidos, fixos e

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continuamente utilizados, em Jerusalém, com ramificações para reuniões ocasionais em outros
distritos;

8. Seu principal local de reunião, ou "Templo" era guardado e bem protegido, tinha um nome
secreto e era conhecido somente pelos membros testados, fato este também comprovado por passagens
bem claras do Novo Testamento.

9. Essa sociedade secreta também utilizava palavras de passe, sinais, símbolos e outros meios de
reconhecimento mútuo entre os membros, evitando que espiões ou perseguidores políticos se
infiltrassem ou tomassem conhecimento de sua obra secreta, o que também é comprovado por citações
do Novo Testamento;

10. Quando os membros dessa sociedade secreta eram convocados por Jesus, em ocasiões
regulares ou especiais, tinham de se dirigir ao local secreto da reunião um a um, com grandes
precauções, usando senhas secretas que eram modificadas de tempos a tempos;

11. Entre os cento e vinte membros contavam-se, além daqueles que se tornariam conhecidos
como os doze apóstolos e que constituíam o comitê executivo dessa sociedade secreta, outros
interessados no misterioso e secreto trabalho da sociedade, inclusive a mãe de Jesus e Seus irmãos e
irmãs;

12. Durante o período de estudo e preparação para o trabalho secreto, Jesus não só lhes ensinou as
lições secretas como os auxiliou a desenvolver no íntimo do seu próprio ser o mesmo poder
misterioso, secreto e espiritual que Ele possuía e, feito isto, tendo assim preparado completamente os
discípulos, conferiu-lhes a divina autoridade para usar o poder especial que haviam desenvolvido e
representar Jesus e o Reino dos Céus pelos séculos afora;

13. Entre os cento e vinte estudantes secretos havia homens ricos do país e alguns que tinham
poder e influência política, os quais vieram mais tarde em auxílio de Jesus em Suas horas de
perseguição, realizando certas ações que tinham mutuamente prometido realizar em caso de
emergência;
14. As parábolas e instruções alegóricas que Jesus transmitia ao público, especialmente às pessoas
que o seguiam com certa cautela, eram verdades veladas e deliberadamente ocultas, que ainda hoje
não podem ser compreendidas e adequadamente interpretadas a menos que se tenha um conhecimento
básico dos ensinamentos secretos transmitidos ao Seu grupo de estudantes secretos;

15. Essa sociedade secreta pode ou não ter sido afiliada aos essênios, outra sociedade secreta com
que Jesus estava bem familiarizado1;

1
A descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto confirmou a referência feita pelo autor aos essênios e seus
ensinamentos secretos, que precederam o cristianismo e que Jesus deve ter conhecido bem. Um relatório parcial
sobre essa descoberta, do arqueólogo inglês G. Lankester Harding, Diretor do Departamento de Antigüidades da
Jordânia, diz o seguinte:
"A mais espantosa revelação dos documentos essênios até agora publicada é a de que os essênios possuíam,
muitos anos antes de Cristo, práticas e terminologias que sempre foram consideradas exclusivas dos cristãos.
Os essênios tinham a prática do batismo, e compartilhavam um repasto litúrgico de pão e vinho presidido por
um sacerdote. Acreditavam na redenção e na imortalidade da alma. Seu líder principal era uma figura
misteriosa chamada o Instrutor da Retidão, um profeta-sacerdote messiânico abençoado com a revelação
divina, perseguido e provavelmente martirizado”.
"Muitas frases, símbolos e preceitos semelhantes aos da literatura essênia são usados no Novo Testamento,
particularmente no Evangelho de João e nas Epístolas de Paulo. O uso do batismo por João Batista levou
alguns eruditos a acreditar que ele era essênio ou fortemente influenciado por essa seita. Os pergaminhos
deram também novo ímpeto à teoria de que Jesus pode ter sido um estudante da filosofia essênia. É de se notar
que o Novo Testamento nunca menciona os essênios, embora lance freqüentes calúnias sobre outras duas seitas
importantes, os saduceus e os fariseus." — O Editor.
10
16. Cada um dos ensinamentos secretos constitui uma lei divina espiritualmente aplicada e
materialmente manifestada e é apresentado em detalhamento quase perfeito (oculto em passagens do
Novo Testamento), de modo que pode ter suas partes unidas e concatenadas para que se chegue a uma
compreensão completa e perfeita;

17. Esses ensinamentos e práticas secretos não estão incluídos nas instruções da igreja cristã de
nossos dias e, pelo fato de algumas dessas verdades secretas terem sido descobertas por pessoas que
não pertenciam à igreja cristã, surgiram várias seitas e cultos que passaram a utilizar esses
conhecimentos secretos e se tornaram rivais da igreja cristã;

18. Se a igreja cristã da atualidade se instruísse nesse conhecimento secreto e se dedicasse a


ensinar, preparar e qualificar certos estudantes devotados de todas as partes do mundo para praticá-lo e
demonstrá-lo, tornar-se-ia a mais importante e poderosa influência em prol da paz, da felicidade, da
saúde e do contentamento universal. Ela poderia eliminar a maioria dos problemas da vida e
estabelecer o Reino dos Céus na Terra, pela supressão gradativa das guerras nacionais e internacionais,
das incompreensões, disputas, rivalidades, erros e pecados.

Os fatos referidos serão apresentados nos capítulos seguintes deste livro. O resumo que demos
representa o tema e os postulados do autor. Certamente esses fatos serão rejeitados pelos sacerdotes,
pastores, ou religiosos em geral, e serão escarnecidos pela maioria dos cristãos. Por estranho que
pareça, porém, os seguidores das chamadas religiões pagas, ou não-cristãs, estarão entre os primeiros a
reconhecer a verdade deste livro, e a apresentar evidências que o apóiem, baseadas em sua própria
experiência de vida e em seus arquivos. Os cristãos por nascimento ou inclinação, que aos poucos
foram se afastando da senda cristã ou da igreja cristã, aclamarão este livro como a correta explicação
do que consideram ser a fraqueza da igreja cristã de hoje, uma boa razão para o seu afastamento e sua
indiferença às instituições cristãs.
Os estudantes de misticismo, metafísica, filosofia mística e leis cósmicas, como rosacruzes,
teosofistas, maçons, herméticos e martinistas, receberão muito bem esta obra, por força de incidentes
comuns em sua vida e dos antigos registros de suas organizações.

CAPÍTULO II: A necessidade de sigilo

A primeira pergunta que surge naturalmente na mente dos cristãos devotos e estudantes sinceros da
Bíblia é: "Houve a necessidade de um instrutor secreto e da preservação do conhecimento secreto
com relação à missão de Jesus?"
Uma segunda pergunta poderia ser a seguinte: "Se concordamos com a idéia de que Jesus foi
divinamente predestinado a ser o Salvador da humanidade, além de professor e instrutor dos que
buscavam a vida eterna pelas verdades divinas, então por que Ele teve de preservar o conhecimento e
o poder em segredo, transmitindo-o apenas a uns poucos?"
As mesmas perguntas são feitas hoje por pessoas que têm preconceitos em relação a igrejas de
qualquer denominação, e que acreditam que Deus deveria ter revelado todo o conhecimento a toda a
humanidade, e deveria continuar revelando esse conhecimento, conferindo poderes mundanos e
espirituais extraordinários a todos os indivíduos, e assim promovendo o Reino dos Céus mais rápida e
seguramente.
Examinando a história passada, percebemos que em dezenas de ocasiões que remontam a uma grande
antigüidade, Deus inspirou certas pessoas sábias e escolhidas para servirem como reveladores ou
avatares, para ensinar e pregar o conhecimento necessário a elevar a consciência do homem a um
plano mais alto e tornar sua compreensão mais ampla, aproximando-o da harmonização com os
princípios da vida e da verdade eternas. Cada uma dessas grandes Luzes contribuiu para o avanço da
civilização e para o desenvolvimento moral do homem. Entretanto, esse processo sempre foi lento e
pouco eficiente. O aumento da população do mundo, acompanhado de uma crescente influência
desmoralizadora de natureza satânica, e da rápida deterioração de princípios sólidos responsáveis pela

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estabilização da moral entre homens e mulheres, tornou necessário enviar à Terra um Salvador que
fundasse ou organizasse um sistema permanente de orientação e instrução que abrangesse o mundo
inteiro.
É uma verdade fundamental,.tão verdadeira hoje quanto o era há dois mil anos, que nem toda a
humanidade está preparada e qualificada em qualquer sentido para receber ou compreender e utilizar
as verdades mais elevadas da vida e o miraculoso poder que provém desse conhecimento. Deus deve
ter compreendido, então como hoje, que enquanto o indivíduo não se torna espiritualmente digno, e
digno também no sentido intelectual e social, não merece e não pode absorver nem aplicar
adequadamente as verdades superiores que tornam o homem livre e o iniciam na senda da vida eterna.
As próprias experiências de Jesus no cumprimento de Sua missão nos oferecem excelentes razões para
justificar o princípio do sigilo. Mesmo entre os que foram cuidadosamente testados, preparados e
qualificados, alguns se tornaram céticos, outros procuraram utilizar o conhecimento e o poder para
objetivos pessoais e egoísticos,.e ainda outros se tornaram espiões, inimigos e traidores da causa.
A perseguição e depois a execução de Jesus provam que havia uma razão muito boa para que se
guardasse sigilo.
Embora seja verdade que a missão de Jesus terminou cedo, quando Ele atingia a flor da vida; embora
seja verdade que os perseguidores e executores fizeram o possível para destruir o conhecimento e o
poder que Jesus tinha trazido para a humanidade, vestígios da verdade e vagos elementos do
miraculoso poder que Ele transmitia chegaram até nós, atravessando os séculos, e têm servido como
meios de redenção gradual do homem. Se não fosse o sigilo, a organização secreta, b cuidadoso teste
de cada pessoa transformada em guardiã dos mistérios, a Grande Luz que veio à terra nos primeiros
trinta anos da Era Cristã teria se apagado no momento da Ascensão de Jesus, o Cristo, e hoje os
ensinamentos e práticas que Ele tornou reais e universalmente aplicáveis às necessidades do homem
teriam sido perdidos, a humanidade teria regredido aos erros do passado e o mundo de hoje não veria
sequer um desmaiado brilho daquela Grande Luz.
A primitiva igreja cristã, após a transmissão das "chaves" de São Pedro para os líderes cristãos que o
sucederam, afirmou ter preservado cuidadosamente, por um século ou dois, o espírito da organização
secreta fundada por Jesus. A história das primeiras atividades da igreja cristã mostra que, embora a
massa da população constituísse um grande círculo exterior de devotos e estudantes dos ensinamentos
cristãos, ela recebia apenas uma forma velada e cuidadosamente moderada dos princípios cristãos; já
num círculo interior secreto, um limitado número de candidatos era conduzido passo a passo através
dos grandes mistérios e ensinamentos secretos a um grau de desenvolvimento e desabrochar que os
preparava para continuar o trabalho que Jesus havia iniciado e transmitido a Seus discípulos.
Mas, com o passar dos séculos, os ensinamentos secretos se tornaram cada vez mais exclusivos,
enquanto as alegorias e os incompreensíveis princípios da instrução velada foram sendo distorcidos,
ritualizados, morrendo nas mentes obscurecidas das massas.
É verdade inquestionável que, nos arquivos da Santa Igreja Católica Romana, bem como no coração e
na mente de grandes, sinceros e santos líderes de séculos passados, os verdadeiros ensinamentos
secretos e poderes divinos transmitidos por Jesus foram preservados, sendo conscienciosa-mente
utilizados, de modo limitado, para reforçar o poder daquela igreja e a proteção de sua elevada
autoridade. Mas também é verdade que, nas fileiras da fraternidade cristã de hoje, tanto católica como
protestante, esse grande conhecimento secreto é desconhecido e até insuspeitado. Vemos, portanto, que
em todos os sentidos, as chaves para a Igreja do Cristo (transmitidas por Jesus a Pedro, líder de sua
grande Escola de Discípulos) eram de fato chaves reais que deveriam passar de cada sucessor de Pedro
ao próximo responsável pela preservação e explicação da verdade; não eram simples chaves
alegóricas, e sim as chaves de ouro que destravam os portões (abrem os portais) de todos os templos e
tabernáculos cristãos, de todos os corações ou almas, de todas as escolas de vida que hoje existem.

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CAPÍTULO III: A grande escola secreta

Tendo descoberto as chaves que confirmaram a existência da sociedade secreta, não foi difícil voltar a
atenção para antigos arquivos e registros, para escritos históricos e Escrituras não incluídas na Bíblia,
e para muitas passagens do Novo Testamento, aos quais, reunidos como as contas de um rosário, dão
nos, um quadro bem claro do modo pelo qual Jesus agiu para cumprir Sua grande missão na vida.
Em primeiro lugar, devemos ter em mente que houve amplos precedentes para guiar Jesus no
problema da organização de um corpo físico ou terreno como o grupo secreto que estamos
descrevendo. Ao longo dos séculos anteriores tinha havido no Egito, na índia, na Pérsia e em outras
regiões do Oriente Próximo, escolas e movimentos secretos dedicados à preservação e perpetuação da
sabedoria revelada. Na maioria dos países progressistas do Oriente Próximo havia um sacerdócio
oficial dedicado à difusão de religião oficial e à preservação das tradições religiosas e das crenças
antigas. Também havia, em cada um desses países, uma ou mais organizações secretas compostas de
livres pensadores, filósofos, místicos iluminados e devotos religiosos que buscavam a verdade dos
mistérios da vida e preferiam as revelações espirituais e cósmicas que lhes vinham como bênçãos de
Deus e dádiva à humanidade, e que, pouco a pouco, deixavam de lado as antigas tradições,
superstições e crenças mitológicas de seus ancestrais. Portanto, em todas as terras houve, por muitos
séculos, uma rivalidade entre os buscadores da verdade revelada e os protetores das formas antigas e
errôneas de religião.
Como era de esperar, o sacerdócio oficial tinha todas as vantagens de ordem física e terrena para
impor suas crenças e práticas às massas, enquanto que os buscadores, céticos, heréticos e iluminados,
muitas vezes tiveram de sacrificar a vida e os bens mundanos para preservar as grandes verdades que
lhes tinham sido reveladas e que tinham descoberto pelo uso de chaves reveladas.
A acirrada luta entre o culto de Amenhotep IV e o sacerdócio oficial do Egito é um exemplo típico
dessa contínua rivalidade entre a Luz e as Trevas. A grande iluminação que recebeu o Faraó
Amenhotep IV, tornando evidentes para ele, pela primeira vez na história da civilização, os
verdadeiros princípios da existência de um só e eterno Deus, e a falsidade da multiplicidade de deuses,
constituiu um despertar e uma chocante reação por todo o país. Era inevitável que, embora ele doasse
seu tempo, sua fortuna e seus melhores interesses ao desenvolvimento da nova revelação, dessa
religião monoteísta, embora construísse templos e relicários ao Deus eterno, destruindo estátuas,
templos, tabuletas e afrescos relativos à antiga crença, sua vida fosse tirada e os astuciosos sacerdotes
conseguissem subverter o que consideravam um movimento rival perigoso. Embora esse Faraó
sofresse intensamente e fosse impelido a uma transição prematura, realizou tanto pela disseminação
nacional de sua religião que centenas, talvez milhares de anos tenham passado sem esmaecer o brilho
de suas doutrinas e preces ao Deus de todas as criaturas, nem torná-las perdidas para a posteridade.
Depois que Jesus recebeu o batismo e o Espírito Santo desceu sobre Ele, preenchendo o Seu ser com a
sabedoria e o poder divinos que o transformaram de alma encarnada no Cristo redentor do mundo, ele
não poderia ter deixado de compreender que cada revelação, cada impulso divino, cada visão, cada
mensagem falada que vinha da boca dos anjos ou do próprio Deus, conduziam-no pelo mesmo
caminho de sofrimento, intrigas, traição e finalmente crucificação, que todos os Seus predecessores
haviam testemunhado em suas jornadas de Luz entre os homens.
Os registros das atividades de todos os líderes anteriores do pensamento divino, criadores de
organizações secretas de preservação e perpetuação dos ensinamentos divinos, devem ter propiciado a
Jesus um excelente mapa e um quadro impressionante da senda que Ele teria de trilhar no
cumprimento de Sua missão.
Não me deterei na educação e treinamento preliminares que certamente devem ter sido administrados
a Jesus para torná-lo tão brilhante intelectualmente já aos doze anos, quando causou espanto aos
Anciãos da sinagoga de seu país; também não me referirei à educação terrena e espiritual superior que
lhe foi dada na juventude, no início de Sua missão, capacitando-o a usar analogias, alegorias e
metáforas relativas a assuntos pessoais, ocupações, interesses, desejos, esperanças, provas e
tribulações de pessoas de muitas nações, muitas profissões e ocupações, além de muitas posições
sociais. Aquele jovem, nascido no lar de um carpinteiro de condição muito modesta, não poderia ter

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adquirido todo o seu conhecimento nas primitivas escolas de Sua própria terra, e não poderia ter sido
mandado para um país distante a fim de freqüentar uma escola particular, pela simples falta de
recursos. A preparação que Ele recebeu como menino e depois como rapaz não foi apenas resultado de
visões e mensagens inspiradoras vindas a Ele através do Cósmico, da consciência de Deus, pois Seu
desenvolvimento, treinamento e educação foram de natureza dual. Ele conhecia os hábitos e costumes,
os artifícios, as crenças hipócritas, as tentações mundanas e as fraquezas dos povos de muitas terras;
também parecia possuir um conhecimento ilimitado de leis espirituais e divinas e de grandes verdades
cósmicas que não poderia ter aprendido a não ser colocando-se total e entusiasticamente em harmonia
com Deus, Seu Pai, que Lhe ordenara que deixasse o Reino dos Céus e fosse ao reino da Terra, para
transformá-la em local de paz, como o Reino dos Céus na Terra.
Não se pode questionar Sua educação espiritual, Sua preparação e iluminação quanto às coisas mais
elevadas da vida. Sem dúvida, tratava-se de sabedoria revelada, religião revelada, lei revelada. De
nenhuma outra fonte poderia ter provindo uma tal sabedoria. Mas também é verdade que Seu
conhecimento mundano, tão detalhadamente compreendido em sua verdadeira relação com as coisas
profanas da vida, como provam centenas de Suas alegorias e metáforas, só poderia ter sido obtido pelo
contato pessoal com as situações mundanas, com pessoas profanas de idéias profanas.
A educação inicial de Jesus (conhecido pelo nome "José" até o Seu batismo) foi tratada amplamente
em meu livro anterior, A Vida Mística de Jesus, de modo que não há necessidade de fazer maiores
referências à importância desse Seu treinamento inicial. Mas não podemos deixar passar o fato de que
parte desse treinamento inicial incluiu o estudo das provações e sucessos, dos fracassos, esperanças e
aspirações daqueles que haviam formado e organizado ou apoiado escolas e movimentos secretos em
terras próximas, pessoas que haviam assim agido com um propósito mais ou menos semelhante ao que
impeliu Jesus nas ocasiões em que passou a perceber vividamente os contatos espirituais que estava
fazendo e as obrigações que logo teria de assumir.
Não ficamos surpresos, portanto, ao descobrir que, ao cumprir os desejos de Seu Pai e organizar uma
sociedade secreta, além de protegê-la e desenvolvê-la, Jesus se serviu de muitos pontos e princípios de
organização já estabelecidos em escolas secretas do Extremo Oriente e do Oriente Próximo. Até
mesmo alguns termos e símbolos secretos que Jesus usou e a que se referia veladamente em Suas
conversas, pregações e histórias alegóricas, eram idênticos aos de outras escolas e imediatamente
reconhecíveis para os membros de movimentos estrangeiros ou distantes, sendo ainda usados nos dias
de hoje.
E assim descobrimos, pela conscienciosa análise de antigos registros de vários arquivos do Oriente
Próximo, em que foram preservadas referências a Jesus, e pelo exame de passagens isoladas e
especialmente salientadas do Novo Testamento, que logo após Seu batismo e o influxo do Espírito
Santo que deu início à Sua missão na vida, Ele se misturou a ricos e pobres, bons e maus, cultos e
publicanos, virtuosos e pecadores, e muito aprendeu conversando e discutindo com todos eles, a
respeito das religiões estabelecidas e dos costumes de Seu tempo. Dotado de profundo discernimento
interior e de um especial dom divino de recepção intuitiva de conhecimento provindo da mente de
Deus e do homem, e tendo apenas a honestidade para servir e a verdade para revelar, Ele gradualmente
foi reunindo nos olivais e nos campos ao longo das grandes estradas da Palestina, homens e mulheres
que mostrassem alguma inclinação para ouvi-Lo pregar. Ao término de um breve período de instrução,
Ele repentinamente fazia perguntas aos Seus ouvintes, como se desejasse que argumentassem com Ele
ou discutissem os pontos importantes, mas sempre com a idéia de aprender como a mente do ser
humano estava assimilando e aceitando os princípios racionais e futurísticos que Ele defendia como
vitais para a salvação do homem. Por causa da oposição política, e sabendo o que havia acontecido nos
séculos anteriores, Ele fazia quase todas as reuniões preliminares com o intuito de testar e selecionar
discípulos dignos nos campos próximos das estradas, onde o soldado romano, o oficial judeu, o árabe
desconfiado e outras pessoas podiam ouvir o que Ele dizia sem descobrir em Suas palavras qualquer
erro técnico, qualquer crime contra o Estado, qualquer insulto grosseiro contra as religiões
estabelecidas, e qualquer violação dos regulamentos militares.
A princípio, muitos ridicularizavam Suas afirmações amplas e positivas, que eram como proclamações
e profecias, enquanto outros sorriam de Suas descrições da infelicidade que adviria aos ricos, aos
preguiçosos e negligentes. Os homens cultos da sinagoga, os dirigentes religiosos, os que detinham o
controle político, riam com desprezo do crescimento e desenvolvimento de Seu pequeno bando de
seguidores. Ele era encarado como um radical ou extremista inofensivo que poderia atrair e manter o

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interesse de um punhado de pessoas por alguns minutos. Mas no pensamento daqueles que eram
sinceros, pessoas que em toda geração ou época são os verdadeiros buscadores da verdade, havia algo
singular e místico em Seu modo de falar, em Seu método de demonstração das simples porém
misteriosas leis da natureza.
Assim, não tardou muito para que Jesus se visse cercado de duas classes de homens e mulheres — os
que duvidavam e escarneciam, e os que acreditavam Nele e em Seus ensinamentos, embora temessem
pela própria vida caso se mostrassem sinceros tanto diante dos que Lhe eram fiéis como diante dos que
eram contra Ele.
Jesus logo achou necessário desenvolver seu trabalho de maneira dual. Seria necessário continuar as
reuniões abertas, as demonstrações públicas de milagres nas margens das estradas, na presença das
multidões; mas também seria necessário reunir-se, em ocasiões variadas de cada mês, com Seus
sinceros e honestos colaboradores, que Ele havia escolhido nos últimos meses para levar adiante Sua
grande obra. Nisso Jesus percebeu que a experiência de avatares e líderes anteriores eram de grande
valor, e os antigos registros indicam que ele não se desviou muito dos métodos que esses líderes
haviam utilizado, no que se referia aos detalhes do reconhecimento físico e mundano.
Evidentemente, havia dois tipos de homens e mulheres que eram admitidos a Suas escolas secretas ou
a Seus locais secretos de reunião. O primeiro grupo consistia de pessoas que estavam sinceramente
interessadas em conhecer os fatos, mas que deliberadamente tomavam esses fatos com certa restrição e
exigiam sinais e demonstrações de tempos a tempos. Essas pessoas tornaram-se estudantes sinceros no
que concerne ao desejo de dominar os princípios dessas demonstrações, já que esse domínio lhes
permitiria curar os doentes, fazer andar os aleijados e dar visão aos cegos, como Jesus havia feito, mas
não estavam ansiosas para seguir Seus preceitos espirituais e modificar o curso de sua vida pessoal de
modo que pudessem alcançar o estado ideal que Jesus defendia como o objetivo maior de Sua missão.
A outra classe aceitava com sincera fé todas as grandes verdades postuladas por Jesus e pouco ou nada
se importava com demonstrações contínuas de Seu poder, encontrando na virtude de uma vida mais
aprimorada toda a recompensa que desejava.
Essas duas facções de Seu grupo fizeram Jesus ir a extremos para lhes transmitir a importância da obra
que tinha de realizar e que Ele sabia que deveria ser continuada por Seus seguidores no futuro.
Não foi fácil o trabalho que Jesus teve para organizar a instituição ou escola que Ele visualizava, e
temos várias provas de que Ele se retirou para a solidão ou para o silêncio muitas vezes, para chorar,
orar e pedir a Deus que Lhe desse orientação especial. Os pecados do mundo não O entristeciam tanto
quanto a indiferença e falta de sinceridade dos que eram verdadeiramente dignos de se tornar Seus
grandes discípulos, mas que ainda se apegavam aos prazeres do mundo e não podiam se dar total e
completamente ao novo movimento.
Entretanto, percebemos que com o passar do tempo Ele reuniu cento e vinte seguidores e estudantes
para formar Sua sociedade secreta. Houve alguns que Ele teve de deixar de parte, no círculo exterior
de membros, pois representavam os buscadores insinceros ou superficiais da verdade. Hoje em dia
temos o mesmo tipo de pessoas indo de um lado para outro para ouvir palavras de sabedoria de
grandes pregadores e oradores, comprando livros e manuscritos, sempre procurando, conforme elas
mesmas dizem, as grandes verdades da vida. Mas no santuário de seu coração, nas horas silenciosas de
meditação e auto-analise, elas classificam as verdades recebidas e as analisam à luz de suas próprias
crenças anteriores, especialmente à luz de suas crenças e convicções mais convenientes. Criam uma
filosofia, um código de vida, um credo próprio que e' uma mistura, de suas próprias crenças e daquelas
que acharam mais convenientes e passíveis de aceitação, provindas de mentes e corações alheios.
Essas pessoas jamais descobrem ou compreendem real e interiormente as grandes verdades que estão
buscando. Encerram sua vida ainda convictas de que o grande mestre que poderia lhes ter revelado
todas as verdades que elas poderiam aceitar e que lhes seriam inequivocamente provadas não
apareceu, e que em algum lugar esse grande mestre devia existir, enquanto elas buscavam aqui e ali,
passando diariamente pelo portal do templo que tanto esperavam encontrar.
Para evitar que os indignos e aqueles que se encontravam no círculo exterior de membros
participassem das instruções secretas e revelações divinas que Deus prometera a Jesus que seriam
dadas a Seus discípulos, nada mais natural que Jesus decidisse que Ele e Seus cento e vinte discípulos
qualificados se reunissem secretamente, mediante um sinal ou palavra de passe com que se
identificassem.

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E assim, no próprio coração de Jerusalém, numa rua que não despertava suspeitas e onde estava
garantida a proteção contra interferências dos soldados romanos, eles adquiriram e mantiveram um
local secreto de encontros, com um nome vago que era conhecido somente por Jesus e seus cento e
vinte associados.
Tudo isso pode parecer ficção ou imaginação, mas demonstrarei mais adiante que essas declarações
são fatos apoiados por provas inquestionáveis no Novo Testamento, em frases, parágrafos e palavras
que não podem ter outra interpretação ou significado, e que têm sido considerados estranhos e
misteriosos para os estudantes da Bíblia, até agora.
Assim, em certas noites, de acordo com as fases da Lua e com os regulamentos relativos a feriados
judeus e romanos, com os quais não desejavam entrar em conflito para não chamar a atenção, e
seguindo antigos costumes de avatares anteriores, que conheciam o valor dos aspectos benéficos e
harmônicos das condições celestes e cósmicas, esses cento e vinte estudantes e seu divino líder se
reuniam em ocasiões previamente acertadas, sem qualquer notificação especial; em ocasiões especiais,
causadas por uma emergência ou uma grande revelação vinda a Jesus em algum momento do dia ou da
noite, eles eram avisados de uma reunião por meio de uma mensagem codificada que circulava entre
eles.
Foi dessa forma que Jesus gradualmente expôs a Seus estudantes selecionados as grandes verdades
secretas sobre os mistérios da vida e da morte, os valores espirituais da Terra e do Reino que estava
por vir. Foi nessas reuniões que Ele provou e demonstrou que Suas doutrinas não eram apenas
filosóficas, religiosas, morais ou de mero valor ético, mas tinham também valor prático nos assuntos
diários da vida. Ele lhes ensinou a natureza da doença, sua causa e sua cura. Ensinou-lhes o quanto era
falaz depender exclusivamente de ervas, drogas, bruxarias ou encantamentos e outras formas de
tratamento, quando havia um grande poder divino que poderia ser e seria exercido através deles, tendo
por elemento essencial o poder criativo usado por Deus no começo dos tempos e na criação do
universo e de tudo que existia acima e abaixo da superfície da terra. A transformação de água em
vinho, o fazer jorrar sangue da pedra, a restauração instantânea de ossos quebrados e tecidos
dilacerados, a volta do batimento a um coração sem vida, a doação da luz ou da visão dos olhos cegos,
a preparação de pão e maná a partir de elementos invisíveis do espaço, e centenas de demonstrações
semelhantes da lei natural e divina agindo em uníssono, faziam parte dos procedimentos de cada uma
dessas reuniões secretas. O caminho para a vida eterna, a verdadeira imortalidade da alma, a
purificação do corpo e do Eu Interior, a consecução da beleza espiritual, do poder divino e da
harmonização com Deus eram cuidadosamente explicados, passo a passo, em lições coletivas e
instrução pessoal. A Lei do Triângulo e o significado da Trindade eram básicos em todas as discussões
filosóficas e demonstrações alquímicas ou físicas das leis universais de Deus.
Podemos fechar os olhos e ver, possivelmente com nossa visão mística, o local mais importante dessas
reuniões. Deve ter sido bastante amplo para acomodar cento e vinte pessoas, e ter espaço para as
demonstrações. Sabemos com certeza que esse local foi reservado para o uso exclusivo de Jesus e seus
estudantes por um longo período de tempo e que ele tinha um nome significativo, um nome que
significava algo bem definido para os discípulos mas, obviamente, significou muito pouco para os
estudantes de cristianismo no passar dos séculos. Poderemos ver mais adiante que o nome desse local
poderia ter fornecido uma das importantes chaves para a situação, embora tenha sido negligenciado,
como chave, nos últimos dezenove séculos. A maioria dos templos secretos e locais de encontro de
filósofos místicos de séculos anteriores ficava em cavernas ou espaços subterrâneos em ruínas, onde
estava assegurado o sigilo e onde o silêncio era um fator importante.
Um pequeno número desses locais, entretanto, ficava na superfície, às vezes até acima do primeiro
andar de alguma velha estrutura; neste caso particular, verificamos que Jesus e seus discípulos
escolheram uma grande sala acima do primeiro andar, onde os transeuntes de Jerusalém nada veriam
de suspeito, especialmente se os discípulos seguissem as instruções rigorosas de entrada no local um a
um, enquanto um guardião observava secretamente a rua, avisando se algum estranho se aproximava.
Com as janelas totalmente fechadas por cortinas mas um grande quadrado no teto aberto para o céu
estrelado, um altar central com velas suficientes para iluminar o local, nenhuma luz podia ser vista de
fora.
Talvez a coisa mais espantosa a respeito dessa sociedade e suas reuniões seja o fato de que, quando
Jesus escolheu, com muito cuidado e certamente através de orientação espiritual e revelação, os cento
e vinte discípulos dignos a quem podia confiar a própria vida, incluiu Sua própria mãe, além de Seus

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irmãos e irmãs. Digo espantosa, não pelo fato de Jesus ter considerado dignos Sua mãe, irmãos e
irmãs, mas porque os estudantes da Bíblia e os cristãos em geral questionarão o fato e dirão que ele é
impossível por não estar revelado pela palavra de Deus na Bíblia. Mas a verdade é que isso é revelado
no Novo Testamento de modo tão claro que não pode ser questionado. Esse fato pode ser encontrado
em diversas passagens que citarei mais adiante, e torna claros e compreensíveis outros incidentes da
relação de Jesus com Seus pais quanto à Sua missão, os quais não são compreensíveis sem que se
tenha conhecimento dessa associação com Jesus na sociedade secreta. Na verdade, muitos cristãos
lerão este livro e negarão que Jesus tivesse irmãos e irmãs. Minha afirmação neste sentido foi
questionada tantas vezes em palestras públicas e em discussões em igrejas, que aprendi a consultar
rapidamente várias partes do Novo Testamento e ler as declarações que a confirmam para meus
surpreendidos ouvintes.
Não é de admirar, portanto, que o estudante cristão da Bíblia esteja tão pouco familiarizado com
grande parte do trabalho secreto de Jesus durante Sua missão na Terra.
Se a Bíblia pode ser lida por tantos milhões de pessoas e analisada por tantos pregadores e intérpretes
eruditos, e se tanta coisa pode ser escrita e afirmada a respeito da vida de Jesus sem que se torne de
conhecimento geral o fato de que Jesus teve irmãos e irmãs nascidos depois Dele (se devemos
acreditar em muitas passagens da Bíblia) ou alguns nascidos antes e outros depois Dele, se decidirmos
crer em outros registros, então não devemos nos surpreender com o fato de que o verdadeiro e secreto
propósito, as verdadeiras e secretas leis, ideais e doutrinas de Jesus tenham se perdido para os cristãos
modernos.
Jesus manteve Seus estudantes e Sua escola secreta até a última hora de Sua vida. Ele havia dito
muitas e muitas vezes a Seus discípulos o que os grandes mestres de todas as eras haviam dito aos
discípulos sinceros: que chegaria o tempo em que a perfeição ou maestria desceria como que do céu e
ficaria com eles como resultado de sua dedicação aos estudos e sua paciência quanto às lições e
demonstrações. Jesus assegurou aos discípulos que chegaria o tempo em que Deus cumpriria Sua
promessa e faria o Espírito Santo descer sobre eles como havia descido sobre Ele próprio, e que, com
essa bênção de Deus, Ele, como mestre-instrutor, também lhes outorgaria autoridade para sair pelo
mundo e não só pregar e ensinar como Ele havia feito, mas fazer ainda milagres como Ele havia feito e
realizar coisas ainda maiores. Ano após ano aqueles estudantes esperaram ansiosos por esses
exercícios mais elevados, pelo maior dos dias de formatura, quando o milagre dos milagres seria
realizado neles. Mas Jesus também os advertiu de que antes que isso pudesse ocorrer, Ele teria de
descer ao inferno e carregar Sua cruz, sacrificar Sua vida terrena, ser crucificado e sepultado. Ele
sabia, pelo conhecimento da vida de anteriores Luzes do mundo, pelas profecias dos grandes
patriarcas, pelas visões que Deus havia Lhe revelado, que deveria sofrer perseguição justamente nas
mãos daqueles que Ele se dispunha a auxiliar, e que seria traído por alguém em quem muito confiava;
e que, tal como mostravam milhares de exemplos na história de civilizações passadas, um traidor teria
de estar entre os leais e sinceros, para exemplificar o espírito das trevas e o caráter de Satã.
Chegou então a hora negra e tudo que havia sido profetizado se cumpriu.
Em silêncio, a maioria de Seus estudantes, que haviam penhorado a própria vida ao sigilo, afastaram-
se das hordas de tagarelas espectadores, com uma compreensão que outros jamais alcançariam, e
observaram o cumprimento dramático do antigo princípio cósmico de que o Mestre deve levar Sua
cruz ao local do suplício, nela sofrer e ser sepultado com os mortos, e assim se preparar para a
ascensão final ao reino de perfeita paz e perfeito amor. Os doze estudantes especiais que eram Sua
guarda pessoal e Seu grupo executivo, e que seriam conhecidos do mundo como Seus únicos
seguidores secretos, cumpririam seu dever durante as horas do martírio, enquanto os outros cem ou
mais, inclusive Sua mãe, cumpriam suas tarefas em silêncio, sempre atentos ao olhar observador do
inimigo. Um de Seus membros secretos mais ricos se apresentou (como se tivesse recebido uma
inspiração repentina) oferecendo-se para tomar conta do corpo, no momento exato em que a lei
decretara que alguém deveria cumprir essa formalidade.
Então desceu o pano sobre aquela drástica cena, sem que os soldados e políticos, os zombadores, os
críticos e os que haviam atirado pedras em Jesus e cuspido Nele, ficassem sabendo que um grupo de
cento e vinte pessoas havia cercado o palco do Gólgota, formando um círculo místico cujo poder
elevou Jesus para além do sofrimento humano e da profanação humana; que, longe de ter sido aquele o
ato final e o fechamento da tumba que encerraria a carreira de um misterioso fazedor de milagres,
tratara-se apenas do fechamento temporário de uma tumba que seria novamente aberta e da qual se

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ergueria o grande Redentor da humanidade, cujo poder ascendera enquanto Ele estava na cruz mas que
desceria novamente, não sobre um só, mas sobre o número místico de cento e vinte seguidores; e que,
pela transformação do homem Jesus e pela transferência de Seu poder, ocorreria no mundo o início de
um novo Reino que seria eterno na Terra.

CAPÍTULO IV: A missão secreta de Jesus

Foram feitas constantes referências, nos capítulos anteriores, à grande missão que Jesus deveria
realizar em Sua vida na terra. Como essa missão esteve fortemente associada ao segredo e ao mistério,
talvez seja adequado fazer uma pausa e apresentar algumas considerações sobre a própria missão.
Já nos referimos ao fato de que, no decorrer de séculos anteriores a Jesus, haviam surgido
personalidades iluminadas que tinham espargido luz e revelações divinas sobre povos de várias
nações. Mesmo que hesitemos em aceitar pelo que parecem ser as estranhas declarações dos registros
mitológicos de antigas filosofias e religiões, e mesmo que descontemos os exageros de afirmações
alegóricas na história das religiões egípcias e hindus, por exemplo, ainda assim nos resta uma
quantidade de fatos que indicam claramente que as populações daqueles países acreditaram por muitos
séculos que os grandes líderes que surgiram em seu meio e os guiaram para fora das trevas espirituais,
levando-os para a luz, haviam tido nascimento divino e tinham sido divinamente predestinados para
cumprir uma missão de iluminação.
Como indiquei em meu livro sobre a vida mística de Jesus, houve muitas personalidades sobre as
quais se fizeram afirmações de concepção imaculada ou concepção e nascimento divinos, havendo
registros que são praticamente semelhantes às histórias sobre a concepção e o nascimento de Jesus.
Mesmo que não aceitemos esses registros históricos como verdadeiros, mas apenas como alegóricos,
não podemos fugir à conclusão de que, entre os povos antigos, havia a crença comum de que esses
filósofos místicos e "sábios" iluminados eram a representação de seu deus ou deuses, indicados
singular e espiritualmente para surgir entre os homens em diversos estágios de civilização para apontar
o próximo caminho, ou o próximo caminho superior, e a melhor maneira de abandonarem a situação
em que se encontravam, em troca de outras mais nobres e melhores. E podemos facilmente
compreender como os admiradores e mesmo adoradores sectários de cada ciclo de tempo inventaram
ou criaram histórias exageradas ou fantásticas sobre a extrema divindade e singularidade desses
"sábios", depois que tais líderes morreram. Mesmo em nossa época somos dados a transformar em
heróis extraordinários pessoas que tenham alcançado destaque em algum campo de empenho humano;
ainda tendemos a encarar toda mente muito iluminada como um ser não só destinado a cumprir uma
missão iluminadora, mas, também um ser incomum, mesmo num sentido físico, mental e biológico.
Essa tendência a atribuir aos sábios e iluminados líderes da humanidade certas qualidades
diferenciadoras que não são comuns a todos os seres humanos continua a existir, por exemplo, entre os
cristãos devotos que acham que cada um dos discípulos de Jesus deve ter sido cosmicamente
concebido como uma alma, e nascido fisicamente no plano terreno de maneira singular, para ter
alcançado as grandes alturas de sua nobre posição na religião cristã. Apesar do fato de que a literatura
cristã e os registros cristãos nos contam por exemplo que São Mateus, antes de se converter ao
cristianismo, era um publicano ou cobrador de impostos residente em Cafarnaum, e que depois de se
tornar um grande pregador e uma grande luz entre os homens (deixando vários registros espirituais
imortalizados na Bíblia) ele morreu de morte natural, os cristãos parecem achar que ele merece o título
de santo, não por causa do bem que realizou na última fase de sua vida, como discípulo e missionário,
mas devido a algumas qualidades singulares que devem ter sido atribuídas à sua alma ou
personalidade antes que ela se projetasse do Reino dos Céus ou espaço cósmico para o pequenino
corpo físico nascido na Terra, e porque até o seu nascimento deve necessariamente ter sido
acompanhado de incidentes ou condições singulares que não são comuns a todos.
Embora os registros cristãos nos digam claramente, sem qualquer intenção de pintar uma imagem
fantástica, que São Marcos tinha na realidade o nome de João e o sobrenome Marcos, e apesar de
pouco se saber de sua vida pessoal antes da conversão ao cristianismo, e de que não lhe seja atribuído
nenhum fato que pudesse chamar a atenção do público antes que ele começasse a pregar associando-se
aos outros discípulos, os cristãos tendem a visualizá-lo como uma criança santa e devota que cresceu e

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alcançou a idade adulta com magnífica espiritualidade, predestinada a ser uma grande luz na igreja
cristã, um santo. O mesmo se repete com todas as personalidades ligadas à história cristã.
Mas uma coisa é certa quanto aos antigos registros relativos aos avatares e grandes luzes que
precederam Jesus: eles de fato cumpriram uma missão, a despeito de terem sido divinamente
predestinados ou não, ou de terem nascido de maneira singular ou não. Não é porque esses filósofos
místicos e homens sábios tenham pretendido ou declarado que foram divinamente enviados que a
história contemporânea e moderna os aclama como divinamente inspirados e designados para uma
missão singular, mas por causa do que eles efetivamente realizaram e fizeram pela civilização, e por
causa da iluminação que irradiaram entre os homens.
Ao estudarmos e analisarmos os escritos ou ensinamentos desses antigos filósofos, verificamos que a
verdade revelada e a sabedoria inspirada constituem o tema de suas contribuições perenes para o
pensamento moral e espiritual de sua época. De onde veio esse maravilhoso conhecimento, e o que é
que eleva um homem de uma situação comum de vida, fazendo-o renunciar a todas as oportunidades
de conforto pessoal e consecuções individuais, para trabalhar diligente e longamente em favor da
espiritualidade, ou pelo menos da moral e da ética, fazer sacrifícios para elevar a humanidade e sofrer
corajosamente a recompensa final e suprema que a humanidade insiste em dar aos que mais a
auxiliam? Com efeito, a história registra claramente que os Duminados do passado sempre sofreram
traição, suspeita, inveja e ciúme de certas seitas e classes de pessoas de seu tempo, e na maioria dos
casos passaram pela transição como seres incomuns, pendurados numa cruz alegórica, senão real, e
escarnecidos por aqueles que deveriam ser os mais reconhecidos por sua obra.
Nada senão um plano cosmicamente esboçado, algum esquema divinamente previsto, alguma idéia
concebida por Deus e por Ele autorizada, poderia ser responsável pela posição especial ocupada por
esses filósofos antigos em sua época e pela grande sabedoria que eles legaram ao mundo, preservada
em impressionantes registros. Esses ensinamentos mostram claramente que a revelação de grandes
verdades da vida não só proveio de uma fonte divina mediante mensagens e visões, motivações e
impulsos, mas também que as verdades assim reveladas e apresentadas à humanidade foram
progressivas, como passos para a frente e para o alto, rumo aos planos superiores de existência e
compreensão consciente. Cada um desses avatares pareceu lançar uma base e sobre ela erigir uma
estrutura que se ergueu até que elevou a consciência da humanidade a um ponto ou plano além do qual
não poderia passar naquele ciclo de desenvolvimento da civilização e do progresso espiritual na Terra.
Então, após um longo período de silêncio, outro avatar surgia e levava o desenvolvimento a um outro
plano superior. Ao analisarmos os ensinamentos daqueles antigos místicos e sábios, percebemos que o
último deles levara o desabrochar da consciência espiritual, bem como da compreensão ética e moral
do homem, a um ponto em que a humanidade estava preparada para os surpreendentes e chocantes
princípios e verdades que Jesus revelaria já em seus primeiros discursos. Quando Jesus declarou aos
seus seguidores sinceros que lhes trazia um Novo Caminho para a vida eterna, que lhes trazia a
realização e o cumprimento das profecias dos sábios do passado, Ele queria dizer precisamente o que
disse, e o desenvolvimento do cristianismo e dos princípios cristãos nos revelou, nos quase dois mil
anos que se passaram desde então, que talvez Ele tenha falado com mais sabedoria do que imaginava,
ou de fato sabia bem o que dizia, graças a Sua preparação e Seu treinamento para o ministério e a
missão de Sua vida.
Qual era então essa missão? Deveria ela ser como a missão dos sábios Iluminados anteriores? Deveria
Jesus erguer-se nas trevas do ciclo do tempo e elevar a consciência da humanidade um grau acima do
que os outros haviam feito, e evitar que a humanidade tropeçasse no caminho ou voltasse a antigas
crenças e práticas? Deveria Ele afinal ser apenas mais um dos salvadores divinamente inspirados e
predestinados que surgiram com o passar dos ciclos de tempo?
Como quer que vejamos Sua genealogia e as condições imediatas que cercaram Sua concepção e Seu
nascimento físico, persiste o fato de que Jesus, como a mais nova e maior das Luzes divinas, surgiu
em meio a um povo que aparentemente não precisava de uma religião nova, mais elevada ou mais
sincera. Se por um lado analisamos a religião judaica dominante em Sua época, percebemos que, com
exceção de algumas crenças que os cristãos hoje consideram talvez falhas em sinceridade, não se pode
questionar a sinceridade geral dos seguidores da religião judaica, particularmente no que concerne à
adoração do "Deus único e eterno". E se analisamos outras religiões que existiam em Seu local de
nascimento, verificamos que nelas não faltavam seguidores ardorosos e profunda devoção. 0 fato de
que um grande Messias era esperado não era indicação de que se esperava ou necessitava de uma nova

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religião, nem de que fossem consideradas necessárias mudanças radicais. Na verdade, foi porque Jesus
anunciou logo no início de Sua missão que não concordava com as idéias incorporadas à fé judaica, e
que não podia apoiá-las, que Ele atraiu antagonismo fazendo a maioria dos judeus achar que Ele não
poderia ser o Messias esperado.
Só unia vez na história da civilização viera à Terra um líder e instrutor espiritual cujos ensinamentos e
práticas tinham sido tão radicalmente diferentes e cujo primeiro passo fora contestar as crenças
religiosas da época. Essa única e grande luz fora o faraó egípcio Amenhotep IV, mais tarde conhecido
como Akhenaton, que desviara as meditações do homem da multiplicidade de deuses simbólicos para
o "Deus único e eterno".
Vemos, portanto, que Jesus nasceu em um país comparativamente novo, onde uma nova religião, ou
uma revisão da religião existente, parecia não ser necessária, e que Ele falou desde o início como um
puro modernista. Que podemos então dizer sobre a missão desse grande modernista? Encontramos a
resposta simbolizada em uma de Suas declarações, quando Ele afirmou que viera como um
mensageiro de Deus para ser o redentor e Salvador dos homens. Ele não veio com uma espada para
destruir a vida, mas com uma espada flamejante para destruir o mal e dar maior poder à verdade. Ele
veio para assegurar que as leis reveladas ao homem em todas as eras não fossem mais ignoradas e
abolidas à vontade, ou negadas, e sim obedecidas e cumpridas.
Não obstante, Ele tinha uma missão secreta, que explicou em detalhes para Seus estudantes em Sua
escola secreta. Essa missão, como veremos em capítulos posteriores, consistia em sofrer vicariamente
pelos pecados de todos os homens, assim purificá-los de todo mal, inclusive do pecado original
herdado pela humanidade, além de sofrer e dedicar Sua missão terrena e sua divindade para que os
homens pudessem receber o Espírito Santo e estabelecer na Terra o Reino dos Céus.
Que missão maravilhosa e única!
Haverá alguma razão para nos perguntarmos por que Ele envolveu Sua missão em mistério e segredo?
Não teria Ele de revelar ao homem o maior de todos os mistérios, e não eram esses mistérios secretos?
Não era essa missão cheia de perigos e terríveis conseqüências para todos os padrões e práticas
políticos, religiosos e sociais de todo o mundo?
Percebemos, pela análise de Sua missão, e tomando Suas próprias palavras e combinando-as para
compará-las com Suas práticas e instruções particulares, que além de se apresentar ao povo como a
Luz dos Homens, como um outro João Batista, um outro Amenhotep, ou um outro líder do
desabrochar espiritual, pregando aberta e publicamente, Ele iria lançar o alicerce (o estranho e
misterioso alicerce) da superestrutura invisível que deveria constituir o milagre dos milagres, a
Remissão dos pecados dos homens e a purificação de suas almas pelo "Sangue do Cordeiro".
Através das eras o cordeiro fora o símbolo de um grande mistério, e seu sangue sempre fora reservado
para sacrifício especial, em épocas e locais dos ciclos de civilização em desenvolvimento em que o
povo nunca compreendera o significado espiritual ou místico da cerimônia, de modo que ele
permanecera como o mistério dos mistérios, não revelando sequer às grandes Luzes que haviam
apenas sugerido sua significação. Era parte da missão de Jesus não continuar mistificando Seus
seguidores com o símbolo do cordeiro, ou com referências ao seu sangue ou referências maiores à
possibilidade da completa redenção e purificação do homem, mas demonstrar o mistério, erguer o véu
e expor à alma de toda a humanidade o processo da purificação e o caminho da salvação.
Uma missão tão tremenda tinha de ser realizada com o mais alto grau de sigilo e cuidado em sua fase
inicial. Uma revelação prematura dos fatos, uma descoberta extemporânea de Seus planos, uma
aplicação profana de Seus princípios místicos, teriam tornado Sua missão mais árdua, teriam frustrado
muitas de Suas mais caras esperanças e desejos; pior que isso, teriam impedido a demonstração final e
decisiva de Seus ensinamentos, pela qual a fé do mundo foi atraída para Ele e Seus ensinamentos e a
"rocha" de Sua igreja firmemente colocada nos ciclos adequados da evolução humana.
Assim, verificamos que Sua divina e predestinada missão, Seu nascimento e Sua preparação terrena
como o maior de todos os líderes da humanidade, ocorreram exatamente no ciclo histórico, exatamente
no período de desabrochar e desenvolvimento do ser humano, exatamente no local e nas condições
precisas em que o máximo de bem poderia ser realizado. Só a compreensão disto deveria bastar para
que todo cristão (todo pensador analítico) acreditasse que Jesus fora singularmente concebido e
nascido para cumprir uma missão única, e para manifestar ao mundo o mistério secreto, o mistério dos
mistérios.

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CAPÍTULO V: Administração e discipulado dos mistérios cristãos

Os cristãos em geral ficarão sem dúvida surpresos ao lerem que as verdadeiras doutrinas e práticas
cristãs estão repletas de mistérios reais e que a missão secreta de Jesus e Seus discípulos consistia em
primeiro praticar e aplicar esses mistérios e depois revelar as leis secretas neles envolvidos aos
discípulos dignos, capacitando-os assim a cumprir suas missões especiais em todo o mundo. A igreja
cristã de nossos dias, com seus rituais e doutrinas modernizadas, deixa na mente de seus seguidores
sinceros a impressão de que todos os mistérios do cristianismo pertencem aos sacramentos e às
características do ritual, não tendo ligação com as leis naturais ou divinas aplicáveis aos assuntos
práticos e naturais do dia a dia.
Após fazer minuciosa pesquisa sobre a compreensão de milhares de cristãos nos últimos anos, concluí
que essas pessoas, a despeito de longo e detalhado estudo da Bíblia e sincera análise dos princípios
cristãos, têm a idéia geral de que quaisquer mistérios que tenham sido associados a rituais e doutrinas
religiosos, faziam parte de antigas idéias e ensinamentos pagãos, e de que tais mistérios foram
abandonados ou classificados como secretos, e na maioria dos casos tornados inconseqüentes e
totalmente transparentes pelas revelações de Jesus ao mundo. Em outras palavras, essas pessoas
parecem pensar que nos ensinamentos pagãos, primitivos e mitológicos da índia, do Egito, da Pérsia e
de outras nações, havia afirmações tidas como estranhas e misteriosas e demonstrações pretensiosas,
freqüentemente dramatizadas e apresentadas em ambientes impressionantes e hipnóticos, chamadas de
"mistérios" para confundir e atordoar os participantes desses rituais e conduzi-los cegamente, ou
seduzi-los a uma forma de devoção que os manteria eternamente no escuro com relação à verdade
desses chamados "mistérios". As pessoas que têm essa crença concluem logicamente que a vinda do
cristianismo e a difusão de nova Luz por Jesus e Seus discípulos afastaram esses mistérios que eram
tomados como fatos pelas massas, livrando-as de continuarem escravizadas a falsas crenças e poderes
misteriosos que não eram divinos nem sobrenaturais, e sim mágicos, sendo produzidos ou
manifestados por meio de truques para enganar os ingênuos.
A verdade é que as primitivas doutrinas e práticas cristãs continham mais mistérios e segredos
genuínos relativos a leis e princípios misteriosos do que os pagãos jamais haviam conhecido. Embora
seja indiscutivelmente verdadeiro que nas primitivas religiões pagas encontramos muitos chamados
mistérios que não passam de inteligentes disfarces da verdade de manipulações mágicas da lei natural,
muitos deles eram baseados em verdades fundamentais representativas de genuínos mistérios da vida.
Os iluminadores ensinamentos de Jesus e Seus discípulos desfizeram os engodos de muitos mistérios
pagãos, mas Jesus também trouxe uma nova luz para a compreensão desses antigos mistérios, e com
isto fez com que eles evoluíssem para sublimes e transcendentais revelações e demonstrações da
verdade.
Os mistérios que Jesus ensinou a Seus discípulos, e que foram por eles usados em seus trabalhos
missionários específicos, nunca estiveram separados da igreja cristã e nunca deixaram de ser
elementos essenciais da teologia cristã e da doutrina cristã. Entretanto, é verdade que, à medida que a
religião cristã foi sendo sistematizada, ritualizada e modernizada, os mistérios transcendentais que
Jesus veio para revelar e que constituíram o mais elevado elemento espiritual de Seus ensinamentos e
práticas, perderam-se para o círculo exterior de membros da antiga igreja cristã, tornando-se
finalmente desconhecidos até mesmo para os mais avançados e proficientes criadores e instrutores dos
Evangelhos cristãos.
Indaga-se hoje se os primeiros Padres da Santa Igreja Romana conheciam alguma coisa daqueles
sublimes mistérios além do fato de que Jesus os havia demonstrado e revelado a Seus discípulos,
utilizando-os para fazer Seus milagres e cumprir Seus compromissos como mestre e missionário.
Provavelmente é verdade que nos mais sigilosos arquivos da Santa Igreja Romana estão preservadas as
verdades desses grandes mistérios e das leis que tornam possível ao indivíduo altamente
espiritualizado demonstrá-los e manifestá-los. Na verdade, alguns desses mistérios, que utilizam leis
naturais e divinas para sua manifestação, foram aplicados em séculos passados pelos mais altos
dignitários eclesiásticos do círculo interior da Igreja Católica Romana e foram colocados à disposição
de muitos cardeais e servidores especiais. Temos certamente o direito de presumir que o círculo

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interior da Igreja, conhecido como o Colégio dos Cardeais, esteja de posse da sabedoria e do
conhecimento relativos a esses grandes mistérios e possa aplicar as leis e realizar aparentes milagres
quando achar necessário. Se esses eminentes Sacerdotes da igreja cristã não conhecem esses mistérios
e o modo de aplicá-los, então são mais passíveis de crítica por essa falta de conhecimento e sua
ineficiente direção da Igreja.
Nas observações levemente veladas mas freqüentemente claras feitas pelos apóstolos do Novo
Testamento, vemos que as doutrinas e mistérios secretos que Jesus veio demonstrar, revelar e ensinar,
foram um dom transcendental de Deus aos apóstolos escolhidos e nomeados, que deveriam se
considerar os administradores dessas coisas e não receptores pessoais de uma bênção individual. Seria
seu dever transmitir essas verdades e mistérios como seus curadores e não mantendo o conhecimento e
a sabedoria em sua própria consciência, como uma legítima posse pessoal.
Vemos nessa idéia um dos mais antigos princípios místicos, totalmente conhecido e mantido como lei
e prática fundamentais pelos devotos seguidores de várias fraternidades e organizações místicas do
nosso tempo. A rara sabedoria e o conhecimento divino que vêm ao místico sincero através de
revelações, ou através do estudo de antigos manuscritos disponíveis nos arquivos de sua fraternidade,
não existem para serem incorporados à consciência do estudante e do adepto como um poder
intelectual ou como dádivas para o fim de aumentar sua proficiência pessoal e servi-lo egoisticamente
em seu domínio da vida. Esse místico aprende, desde os primeiros estágios de seu desenvolvimento,
que, se ele for considerado digno de receber esse conhecimento e compreensão dos mistérios, e
desenvolver algum grau de capacidade na aplicação da lei natural e divina à revelação, demonstração e
manifestação ou uso dos mistérios da vida, ele o fará apenas como um canal, um instrumento ou servo
labutando na vinha da humanidade, realizando suas demonstrações e aplicando seu conhecimento em
favor da Consciência de Deus, da divina Consciência universal. Assim sendo, qualquer tentativa de
reter secretamente esse conhecimento no interior da consciência individual, de deixar de oferecê-lo aos
que são dignos, mesmo sem utilizá-lo egoisticamente, constitui o não cumprimento dos deveres e
obrigações do ministério; e isto é um pecado maior do que permitir o uso demasiadamente freqüente
do conhecimento, a tal ponto que possa ocasionalmente redundar em benefício para o indivíduo que
esteja agindo como instrumento ou servidor.
Não podemos conceber, portanto, qualquer afirmação satisfatória que explique a falta da prática e
revelação dos mistérios na igreja cristã de hoje com base em que os padres da igreja ignoram esses
mistérios ou preferem ocultá-los.
A falta de referência a esses mistérios nos ensinamentos e práticas da igreja cristã de hoje constitui a
base para as mais severas críticas feitas contra ela, tanto na versão protestante como na católica.
Embora o devoto comum da religião cristã não saiba quais foram esses grandes mistérios que foram
ocultos ou restritos, e possa até duvidar de que tais mistérios tenham existido, ele está se tornando
mais familiarizado com o fato de que muitos cultos e seitas fora das igrejas cristãs ortodoxas estão
utilizando o que denominam leis e princípios divinos e mistérios cristãos, para com eles realizarem
aparentes milagres e executarem em prol da humanidade práticas que simulam as dos primeiros
discípulos cristãos. O fato de esses cultos utilizarem uma sabedoria ou um conhecimento que chamam
de místico ou metafísico, divino ou cristão, e de realizarem extraordinárias demonstrações de cura e
domínio dos problemas da vida, não só tem causado séria diminuição nas fileiras das igrejas cristãs
ortodoxas, enfraquecendo-as, como também tem levado muitas mentes analíticas a pelo menos
suspeitarem de que deve ter havido sabedoria, conhecimento e poder conhecidos de Jesus, de Seus
discípulos e provavelmente dos primeiros padres cristãos, que não estão incluídos na igreja cristã de
hoje nem são utilizados pelos cristãos como parte de seus deveres.
Essa infeliz situação, causadora de muitas divisões na igreja cristã e do aumento de afiliação aos cultos
e sociedades místicos e metafísicos, foi considerada deplorável por muitos teólogos cristãos
importantes do século passado. Muitos deles indicaram que a ausência de características místicas, dos
mistérios genuínos e de práticas divinas nas igrejas cristãs de nossa época constitui a verdadeira razão
do crescimento lento e do grande abandono das denominações cristãs por parte de seus membros.
Embora eclesiásticos de todas as denominações religiosas tenham se expressado freqüentemente sobre
a influência dessas múltiplas seitas, cultos e escolas secretas contra o crescimento e desenvolvimento
da igreja cristã, e tenham admitido que esses novos movimentos representam uma séria forma de
rivalidade para com a igreja cristã, não conseguiram perceber que o erro está em sua própria igreja e
que, se essa igreja despertasse e ativasse o espírito dos mistérios e práticas cristãos que Jesus ensinou a

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Seus discípulos, e que eles utilizaram em seu trabalho missionário, os movimentos e sistemas rivais
não teriam razão de existir e mesmo desapareceriam, devido ao imediato retorno ao seio da igreja
cristã de milhões de pessoas que se tornaram indiferentes ou desanimadas.
Um dos maiores teólogos e analistas espirituais modernos foi o falecido Dr. Robert Norwood, que foi
pastor de uma igreja que crescia rapidamente na Filadélfia, e mais tarde foi escolhido para ser a grande
Luz da Igreja de São Bartolomeu, em New York. Durante um conclave de eclesiásticos episcopais
reunidos para discutir assuntos da igreja e resolver seus problemas mais prementes, o Dr. Norwood
afirmou que "a maior necessidade da igreja cristã de hoje é o retorno aos ensinamentos místicos e às
revelações dos mistérios do verdadeiro fundamento do cristianismo".
Que os discípulos de Jesus sabiam que estavam lidando com mistérios que eram secretos e com
doutrinas novas e portanto ainda não reveladas, verifica-se em todas as suas falas registradas no Novo
Testamento. Basta atentarmos para as seguintes declarações de Jesus e Seus discípulos: "A vós é dado
conhecer os mistérios do reino dos céus; a vós vos é dado saber os mistérios do reino de Deus;
falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério; e somos os dispenseiros dos mistérios de Deus e
compreendemos todos os mistérios; tendo nos dado a conhecer os mistérios; tendo sido recebidos nos
mistérios e sendo conhecedores deles, tornamos conhecidos os mistérios dos evangelhos e o mistério
que foi oculto das eras; guardando o mistério da fé em uma pura consciência" etc. Frases como estas,
e muitas outras de teor semelhante, poderão ser encontradas em Mateus 13:11; Marcos 4:11; Lucas
8:10; Romanos 11:25, 16:25; 1 Coríntios, 2:7, 4:1; 13:2, 14:2, 15:51; Efésios 1:9, 3:3, 3:4, 3:9, 5:32;
Colossenses 1:26, 1:27, 2:2, 4:3; Timóteo 3:9, 3:16; Apocalipse 1:20, 10:7, 17:5, 17:7.
Neste início de nossa discussão desta questão, procuremos uma compreensão correta dos termos
"mistério" e "mistérios", conforme foram usados por Jesus e pelos apóstolos no Novo Testamento. Não
devemos acreditar que a palavra "mistério" se referisse a qualquer ocorrência ou princípio incomum
ou extraordinário que mediante uma simples explicação deixaria de ser um mistério ou uma lei difícil
de compreender. Uma das mais eminentes autoridades em análise de palavras e termos usados pelos
autores dos livros da Bíblia foi Robert Young, cuja concordância analítica da Bíblia, publicada em
1893, continua sendo uma fonte sem igual de informações confiáveis sobre esses assuntos. Ele afirma
que a palavra "mistério", como foi usada pelos autores do Novo Testamento, significava "aquilo que
só é conhecido pelos iniciados".
Outra fonte de informações confiáveis sobre este ponto é o excelente livro comentado sobre termos
expositivos e explanatórios, escrito e editado pelo Reverendo Robert Jamison da Igreja de São Paulo
em Glasgow, Escócia; pelo Rev. A. R. Fausset, de St. Cuthberfs, York, Inglaterra, e pelo Rev. David
Brown, Professor de Teologia em Aberdeen, Escócia. Em seus exaustivos comentários sobre o uso dos
termos "mistério" e "mistérios" por Jesus e Seus discípulos, eles nos esclarecem que a palavra
"mistérios", nas escrituras, não é usada no sentido clássico de "segredos religiosos", nem tampouco de
coisas incompreensíveis ou difíceis de compreender por sua própria natureza, mas sim no sentido de
coisas relacionadas com revelação puramente divina e, geralmente, coisas obscuramente divulgadas
segundo os antigos padrões de parcimônia, e obscuramente compreendidas durante todo aquele
período, mas completamente publicadas nos evangelhos... Os "mistérios do Reino dos Céus", portanto,
significam as gloriosas verdades evangélicas que, naquele tempo, somente os discípulos mais
adiantados podiam compreender, e apenas parcialmente.
Pela explicação dada pela primeira das autoridades citadas, que emprega a palavra " iniciados", e pelas
explicações das outras autoridades, em que é usada e expressão "discípulos mais adiantados",
percebemos que esses autores evidentemente discerniram a grande verdade representada pelo termo
mistério.
Os mistérios que Jesus ensinou a Seus discípulos, e que eles mantinham em grande segredo e
estudavam diligentemente a fim de manifestá-los, demonstrá-los e aplicá-los em seu trabalho
missionário, constituíam revelações ou operações sobrenaturais ou transcendentais da lei que somente
os iniciados ou os discípulos mais adiantados podiam compreender ou aplicar. Veremos em capítulos
posteriores que esses discípulos de Jesus (os cento e vinte que formavam Sua escola secreta) eram
iniciados, pois passavam por uma cerimônia de iniciação e tinham meios secretos de identificação,
como palavras de passe, sinais e símbolos. Eles eram os mais adiantados entre os milhares de
seguidores de Jesus, representando aqueles que haviam hipotecado sua própria vida ao apoio da obra
de Jesus, e cada um dos quais tinha recebido uma missão especial, o que os distinguia dos outros
seguidores que não passavam de ouvintes casuais, muitos dos quais egoisticamente buscavam alívio

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para seus sofrimentos físicos ou tinham a esperança de se engrandecerem pela associação a um novo
movimento, um surpreendente sistema de pensamento.
Nas antigas escolas pagas, e nos antigos sistemas místicos ou mitológicos de estudos secretos, era
prática generalizada a referência a seus mistérios secretos por meio de símbolos, bem como falar dos
ensinamentos secretos em parábolas, para impedir que as massas não iniciadas descobrissem as
verdades secretas.
Quando Jesus, ainda menino, foi levado para o Egito por Seus pais, era jovem demais para
compreender que estava entrando numa terra onde quase todas as grandes verdades da vida estavam
gravadas em pedras ou pintadas em paredes na forma de símbolos ou desenhos alegóricos que
revelavam grandes princípios em parábolas. Mas quando sua educação se desenvolveu o suficiente
para que Ele, aos treze anos, causasse espanto aos Anciãos de Seu país, então Ele aprendeu que a única
maneira segura de preservar verdades e transmiti-las aos dignos, ocultando-as aos egoístas e indignos,
era usar símbolos na escrita e parábolas e alegorias na fala. Não deveríamos portanto nos surpreender
de que, tendo-lhe sido revelado o maior de todos os mistérios, e tendo a mais elevada sabedoria sido
transmitida à Sua consciência por Deus, a fim de que Ele pudesse ser um mensageiro para comunicar
essas verdades, Jesus adotasse prontamente o sistema de falar por parábolas e alegorias, bem como de
sinais e símbolos, para ocultar aos não iniciados aquilo que somente os obreiros iniciados e
devidamente preparados poderiam compreender em todos os detalhes.
Alguns dos mais antigos símbolos de mistérios e sinais secretos usados em escritos e ensinamentos
alegóricos e místicos eram o triângulo, a cruz, o círculo, o quadrado, e seus componentes, como linha
reta vertical, linha reta horizontal, linha diagonal e linha curva. Jesus não adotou arbitrariamente esses
antigos símbolos em Seu sistema de comunicação secreta de conhecimento, ou na apresentação de
parábolas e alegorias, nem os adotou apenas porque eles estavam convenientemente à disposição. Ele
os adotou porque cada um deles representava uma verdade fundamental e sublime que fora revelada
por Deus às grandes Luzes de eras passadas, no transcurso de seu trabalho preliminar de iluminação da
humanidade, e Jesus sabia que as grandes verdades simbolizadas dessa forma continuavam a ser as
grandes verdades da vida e tinham significado para as mentes iniciadas, para mentes inspiradas ou
harmonizadas, mas nada significavam para os indignos, os irrefletidos e os não evoluídos. E assim
vemos Jesus usando esses antigos símbolos do mesmo modo como eles haviam sido usados por muitos
séculos para representar uma verdade fundamental. Mas à luz das novas revelações e dos novos
mistérios que Ele deveria transmitir aos Seus discípulos, esses símbolos (e as alegorias em que eles
estavam inseridos para formar uma história aparentemente clara) adquiriram uma nova luz, um novo
poder de tocar a alma e a mente. É por essa razão que encontramos no Novo Testamento tantas
referências dos discípulos ao fato de que Jesus "disse-lhes muitas coisas em parábolas".
A propósito dessas parábolas, as eminentes autoridades que já citamos declararam em seu livro que
"essas parábolas são sete e é notável que, sendo sete o número sagrado, as primeiras quatro
parábolas foram transmitidas às massas, ao passo que as outras três foram comunicadas em
particular aos doze discípulos, e essa divisão em quatro e três é em si mesma notável na aritmética
simbólica das Escrituras". Vemos nisso uma referência ao fato de que, nos mistérios que foram
revelados por Jesus a Seus discípulos, houve a continuação do uso dos sete números sagrados que
tinham sido usados nos antigos mistérios, e de que o número sete era considerado o número sagrado
por Jesus e Seus discípulos, e não apenas um número sagrado, como é tido hoje pelas fraternidades
místicas que estão tentando preservar e perpetuar para sempre os genuínos mistérios e as doutrinas
secretas do cristianismo. Vemos, além disso, como esses números de um a sete facilmente constituem
a primeira parte dos símbolos já referidos, 1 representando uma das linhas retas, 2 representando duas
linhas, 3 representando o triângulo, e 4 o quadrado. Notamos, também, que esses autores usaram a
expressão "aritmética simbólica das Escrituras".
Quando lemos atentamente os ensinamentos e pregações de Jesus quando Ele estava cercado de
apenas alguns discípulos, ou quando estava em meio a multidões, percebemos que Ele usava
parábolas, a não ser quando falava no círculo privativo e secreto de Sua escola de cento e vinte
estudantes iniciados e qualificados. Quando Ele caminhava pelas estradas da Palestina e encontrava
uma rocha ou um monte conveniente, de onde pudesse ter uma boa visão dos grupos de pessoas que se
reuniam aos poucos no local ou atrair a atenção dos que passavam montados em seus jumentos, com
freqüência sentia que era necessário que transmitisse Sua mensagem, que imprimisse Seu breve
sermão com profundeza naquelas mentes, por meio de uma história que interessasse imediatamente

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aos transeuntes porque se relacionasse com seus problemas pessoais, com coisas que lhes fossem
familiares e não abstratas e especulativas.
Jesus estava sempre acompanhado de um ou dois discípulos, especialmente os doze apóstolos que
representavam uma espécie de guarda pessoal e círculo mais íntimo ou comitê executivo, como
poderíamos dizer na linguagem de hoje; em todas as comunidades havia um ou dois membros de Sua
escola secreta que se postavam no meio ou na orla do círculo crescente de ouvintes, a fim de
aproveitarem as demonstrações que Jesus fazia quanto à atitude e à postura adequadas ao pregar, bem
como as corretas vibrações espirituais a serem emitidas a fim de que os ouvintes pudessem sentir Seu
amor espiritual e Sua autêntica preocupação com o bem-estar de todos eles. Podemos facilmente
visualizar as multidões heterogêneas, com suas vestes, faixas e toucados multicoloridos, formadas por
muitas pessoas paupérrimas, apenas algumas muito ricas, a maioria da classe média trabalhadora.
Quase todas tinham alguma instrução, especialmente quanto às doutrinas de sua religião, o que as
tornava familiarizadas com certos termos teológicos, de modo que muitas delas estavam prontas para
rir e zombar de qualquer idéia ou pensamento que parecesse contrariar suas convicções religiosas, tal
como acontece ainda hoje em qualquer aglomeração de pessoas.
Assim, Ele falava a essas multidões em parábolas, primeiro escolhendo como abertura da palestra uma
ou duas palavras-chave que atrairiam a atenção vacilante daquelas pessoas e tornariam Suas sugestões
atraentes e familiares para elas. Ele não falava de maneira difícil demais nem simplificada demais,
pois criava, mesmo na mente das pessoas importantes e cultas, a impressão de que era uma mente
extraordinariamente brilhante. Se Ele tivesse tentado baixar o nível da palestra ao nível de inteligência
da multidão que O ouvia, teria dado a impressão de ser pessoa de pouca instrução e qualificação para
manter a atenção de qualquer grupo. Mas Ele tinha a mágica habilidade, sem dúvida de inspiração
divina e cuidadosamente desenvolvida e treinada, de inventar parábolas que lidavam com os
problemas imediatos dos ouvintes. Algumas parábolas envolviam os problemas daqueles que viviam
em terras distantes, revelando claramente que em Sua juventude, antes de iniciar Seu ministério no
mundo, Ele devia ter vivido e estudado nessas outras terras, junto ao povo a que se referia e de cujos
problemas falava com imagens detalhadas e precisas. Quando falava para homens e mulheres cujo
interesse principal era a pesca, Suas parábolas giravam em torno de histórias e incidentes de
pescadores. Quando falava a pessoas cujo trabalho diário estava ligado ao fabrico de vinho, Ele usava
uma parábola que se referia aos princípios dessa profissão.
Se lembramos que a linguagem usada por Ele também se adaptava à natureza, à compreensão
intelectual e à nacionalidade do Seu povo, como o hebraico ao falar para os judeus, e o aramaico
quando falava com os gentios e outros, percebemos que Ele utilizava todos os meios que o auxiliassem
a transmitir simbólica e alegoricamente as verdades que os ajudariam, sem colocar em suas mãos as
verdades e doutrinas secretas que poderiam usar e aplicar erroneamente, e que provavelmente não
poderiam compreender corretamente. Ele fazia certos sinais com as mãos que pareceriam aos
transeuntes casuais meros gestos para acompanhar Sua oratória, mas que para os estudantes iniciados
eram vistos como sinais reveladores de verdades simbólicas. Nas parábolas havia palavras e
expressões de duplo significado. A palavra vinho significava um produto comercial para os
plantadores de uva e fabricantes da bebida, mas para os iniciados tinha o sentido que sempre tivera nos
mistérios e nos ensinamentos sagrados do lado espiritual do homem. Quando Ele falava do pescador e
suas redes, com os rasgões que precisavam ser consertados, transmitia duas idéias diferentes às duas
classes de ouvintes, os iniciados e os não iniciados.
Infelizmente muitos erros foram cometidos pelos tradutores dos escritos dos apóstolos, nos tempos
modernos, por não estarem eles familiarizados com os significados correntes ou possivelmente com o
significado vernáculo de algumas das palavras usadas naquela época. Por este motivo, há certas
referências secretas e místicas em Suas parábolas que não são facilmente discernidas nem mesmo
pelos mais profundos sacerdotes e pregadores religiosos. Algumas palavras que Jesus usava em
aramaico tinham um significado ligeiramente diferente de uma palavra semelhante na língua hebraica.
Um excelente exemplo disso está em Sua declaração alegórica de que é mais difícil um homem rico
entrar no reino dos céus do que um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Essa declaração
simbólica ou alegórica sempre representou um enigma para os estudantes de alegorias ou metáforas.
Que relação poderia haver entre um camelo e o buraco de uma agulha? Até uma criança se
surpreenderia com uma referência assim, já que ela não se relacionava com nenhum problema ou
dificuldade que aqueles a quem Ele pregava tivessem vivido.

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Se paramos para pensar no fato de que essa declaração alegórica era feita a homens e mulheres ligados
à indústria da pesca, e se reparamos que um de seus problemas era o conserto diário de redes rasgadas,
e que uma grande esperança era encontrar um cordão forte mas suficientemente fino para passar pelo
buraco de uma agulha de consertar redes, podemos compreender que essa metáfora em particular
destinava-se a causar uma grande impressão nos pescadores
e em suas esposas, que eram responsáveis pelo conserto das redes. A referência ao camelo, entretanto,
continuaria a ser incoerente.
Na língua aramaica que Jesus usava, verifica-se, através de cuidadosa tradução, que a palavra relativa
a "camelo" podia ser interpretada como camelo em certos círculos, mas que para os pescadores ela
significava corda. Portanto, o que Jesus dizia a essas pessoas preocupadas com o problema de
encontrar um cordão forte que pudesse ser enfiado na agulha de consertar redes, era que seria mais
difícil um homem rico entrar no reino dos céus do que uma corda passar pelo buraco da agulha. A
palavra corda lhes suscitava a idéia de uma peça grossa e pesada de fibra trançada, muitas vezes maior
do que a própria agulha, de modo que a metáfora era pessoal, podendo ser seguramente empregada, ao
passo que a referência a "camelo" passando pelo buraco de uma agulha não teria sentido para aquelas
pessoas.
Todas as parábolas continham referências muito precisas, além de palavras e termos secretos que
tornavam cada parábola ou alegoria rica nas mais vitais verdades dos grandes mistérios; e se um
ouvinte era uma dessas pessoas extraordinárias que Jesus esperava encontrar de tempos a tempos, e
que tivesse olhos para ver e ouvidos para ouvir, então Ele teria conquistado mais um discípulo, ou pelo
menos colocado mais uma inteligência desperta no caminho correto.
Mesmo Sua alegoria sobre lançar as sementes ao solo, e o modo como algumas caíram em pedras fora
da leira, enquanto outras caíram em solo fértil e lançaram raízes, representou o problema que Ele
enfrentava ao falar às massas.
Mas, em capítulos posteriores, veremos que todos os princípios desenvolvidos em Sua igreja,
relativamente aos rituais e sacramentos, como a base de Seus ideais e práticas cristãs, estiveram
fundamentados em segredos que ainda têm significado místico, interpretação secreta, além de uma
sublime e transcendental aplicação pouco conhecida ou sequer suspeitada pelos cristãos em geral e que
não foi incorporada ao sistema de instrução cristã adotado pelas modernas igrejas cristãs.

CAPÍTULO VI: Missões secretas individuais

À medida que estudamos e analisamos minuciosamente as atividades dos discípulos e apóstolos, e dos
membros da grande escola secreta formada por Jesus, percebemos que, embora cada um tivesse se
comprometido a dedicar sua vida ao cumprimento de uma grande missão, e cada um tivesse recebido
especial "autoridade e poder", a missão confiada não era a mesma em todos os casos.
Inquestionavelmente, a missão de Jesus foi a mais complexa e pesada que poderia ser dada a um ser
humano; desde o início, Jesus deve ter previsto e compreendido que a complexidade de Sua missão, a
diversidade das ações que ela exigia, as muitas responsabilidades em que implicava e, acima de tudo,
o fato de que Ele estaria constantemente se colocando no centro das atenções, iriam trazer-Lhe a mais
terrível punição após as mais severas críticas. Nunca na história da civilização um homem assumira
com tanta boa vontade uma missão de vida tão grandiosa. Jesus a assumiu, embora ela tivesse sido
predeterminada. Ele sabia que não podia recusar; portanto, não recusou, pois ela era Seu dever divino
e a única razão para que o Verbo de Deus se fizesse carne e Sua alma e consciência se encarnassem na
Terra.
Não podemos imaginar (com toda a nossa capacidade de inventar e imaginar qualquer caso possível de
ação humana) o que teria ocorrido no processo da civilização terrena e no avanço do crescimento
espiritual do homem na Terra, se Jesus, ao alcançar a idade adulta e tomar consciência do que O
esperava, tivesse se recusado a participar daquela cerimônia de batismo no Rio Jordão, quando o
Espírito Santo desceu sobre Ele transformando-o no Salvador dos Homens, no Redentor, naquele que
deveria arcar com todos os pecados do homem e ser sacrificado por sua salvação.
Mas verificamos que, ao desenvolver o trabalho de Sua escola, Ele não jogou nos ombros e na
consciência de qualquer de Seus discípulos ou apóstolos todas as responsabilidades, todos os detalhes
da missão que Ele próprio havia assumido. Jesus provavelmente compreendeu que nenhum indivíduo

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além Dele mesmo, que havia nascido singular e divinamente para isso, poderia assumir essa posição
na vida. Mas é provável que Ele também tenha percebido que a maior eficiência, os maiores
resultados, e a mais perfeita compreensão dos passos para trazer o Reino dos Céus à Terra, seriam
cumpridos após Sua crucificação, pela divisão de Suas responsabilidades, de Suas próprias
características de trabalho missionário e Seus próprios esforços, entre os cento e vinte, tornando cada
discípulo ou obreiro um especialista em um ou dois requisitos ou necessidades específicas.
Parece, portanto, que Ele dividiu Seu próprio programa de atividades terrenas em doze partes,
escolhendo dez discípulos e estudantes para cada uma dessas doze partes. Em outras palavras, para
cada categoria de atividade especializada haveria exatamente dez homens ou mulheres. Isto Lhe daria
um número redondo de cento e vinte obreiros. À frente de cada classe ou grupo Ele colocou um dos
apóstolos como presidente, digamos, ou consultor-chefe. Com isto formou-se uma junta de consultoria
ou grupo de conselheiros formado pelos doze apóstolos.
Alguns desses obreiros foram enviados para o campo ou para países estrangeiros logo no início do
grande esquema, já que o trabalho que tinham de fazer não exigia o mesmo tempo de preparação e
estudo na escola secreta que era necessário para outros. Alguns desses cento e vinte obreiros deveriam
permanecer desconhecidos para sempre, como peças especiais de Seu grande plano. Na realidade,
alguns deles foram levados a jurar segredo tão absoluto, e tal sigilo de detalhes, que nunca deveriam
ser vistos junto a Ele no decorrer de Seu ministério, nunca deveriam mostrar qualquer interesse
particular em discussões e demonstrações ao longo das estradas ou veredas, e nunca deveriam ser
vistos conversando com os outros discípulos ou obreiros a não ser por comentários casuais sobre
negócios ou assuntos do dia a dia. Nenhum deles deveria jamais usar vestes especiais, exceto aqueles
que indicassem que eles pertencessem a um ou mais dos cultos existentes na época e que tinham como
aparente propósito a reforma cultural, moral, ética e espiritual.
Era comum as pessoas em geral, da Palestina e da Síria, naquela época, pertencerem a uma classe,
seita ou grupo (talvez de natureza espiritual, social ou comercial), o que não é raro mesmo hoje em
dia. Se visitássemos os escritórios de um grande edifício comercial de qualquer cidade ocidental de
hoje e nossas perguntas fossem respondidas, ficaríamos sabendo que um executivo é rotariano, outro é
sócio do Kiwanis Club, outro da Câmara de Comércio, e outros de muitas outras associações, inclusive
escolas místicas como a Ordem Rosacruz. Na verdade, um dos problemas que Jesus enfrentou foi a
análise dos vários cultos e organizações, logo no início de Seus anos de preparação. Primeiro, Ele teve
de conhecer o que cada seita ou culto representava ou declarava defender. Depois, teve de se
familiarizar com alguns de seus meios secretos de trabalho, meios secretos de identificação, e outros
motivos ou planos secretos ou inconfessados que tivessem em mente. Encontramos muitas referências
feitas por Jesus a essa multiplicidade de interesses pessoais, privativos ou secretos, e Ele teve de
passar essa informação a Seus discípulos.
Por outro lado, muitos de Seus apóstolos, discípulos e obreiros, não tiveram de jurar guardar tão
grande segredo (com exceção, talvez, da missão real que tinham em mente). Estes podiam encontrar-se
com Ele, ou podiam ser vistos falando com Ele ou se unindo às fileiras de Seus outros seguidores em
qualquer grande reunião a céu aberto ou qualquer realização de milagre.
Alguns detalhes secretos dessas missões individuais são muito interessantes; falaremos deles nos
capítulos dedicados às doutrinas secretas. Alguns discípulos juraram trabalhar somente entre os
deprimidos e desesperançados. Outros tiveram de trabalhar entre os chamados radicais, ou seja,
aqueles que estavam prontos a derrubar e destruir as boas instituições da época, junto com as más,
animados tão-somente do desejo de fazer algo de cunho heróico. Outros tiveram de trabalhar junto aos
hipócritas da sinagoga, que estavam deliberadamente disseminando falsas idéias entre os devotos, na
esperança de obterem benefícios pessoais dos resultados que pudessem advir de suas ações. Havia
outros ainda que tinham de passar muito tempo tentando conhecer oficiais romanos, dirigentes judeus
ou pessoas que ocupavam cargos de serviço aos oficiais romanos, a fim de que essas importantes
personalidades fossem devidamente informadas, em conversas casuais, sobre o que se passava.
Se lemos os escritos sobre os dias e semanas mais cruciais da vida de Jesus, encontramos nas
entrelinhas que alguém sempre informava os oficiais romanos do que se passava aqui, ali e acolá. De
início, tem-se a impressão de que alguns espiões infiltrados no grupo de apóstolos e discípulos
deliberadamente davam informações aos romanos e judeus da cúpula sobre a obra de Jesus, para que
O perseguissem e condenassem. Mas à medida que penetramos no estudo dessas ocorrências, e
notamos o bem que adveio diretamente de muitas dessas situações, concluímos que provavelmente

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havia um plano de informação sistemática aos romanos para evitar que eles enviassem investigadores
não confiáveis ou outros que poderiam lhes dar informações errôneas.
A organização como um todo era muito mais complexa do que afirmam as igrejas cristãs de hoje. Mas
essa complexidade se devia quase que integralmente ao fato de que as doutrinas secretas que Jesus
desejava ensinar e demonstrar (e depois implantar na vida dos homens) eram tão simples, tão infantis
em sua natureza fundamental, e tão facilmente aplicáveis se devidamente compreendidas, que era
necessário um sistema mais complicado de apresentação das instruções do que num caso em que
ocorresse o contrário. Em outras palavras, uma das coisas mais importantes que Jesus tinha de
estabelecer na mente das pessoas era a/á Ele tentou convencê-las, em muitas ocasiões, de que a fé era
responsável por tudo o que Ele fazia, e de que se elas tivessem fé poderiam remover montanhas. O
povo nunca tinha conhecido uma fé assim. Era uma fé infantil, como a da criança que acredita que
seus pais são capazes de qualquer feito, por serem tão grandes e maravilhosos.
Entretanto, para estabelecer essa fé, fazia-se necessário estabelecer um sistema bastante complexo, que
manteria sempre a simplicidade das idéias para o público; do contrário, a análise e a discussão dos
princípios por parte dos ignorantes teria levado a discussões dialéticas e dissertações filosóficas, que
poriam a perder toda a simplicidade das doutrinas de Jesus.
Quando Jesus tentou informar aos que O seguiam, e pararam para observar a mulher beijando a
fímbria de Suas vestes, que apenas a fé dessa mulher era responsável pela reação causada por aquele
beijo, viu-se frente a frente com um dos mais difíceis problemas psicológicos do homem.
Uma tendência primitiva que herdamos é o desejo de atribuir o que é incomum ao sobrenatural, e essa
tendência é tão forte que há muitas pessoas ainda hoje que veriam a ação de acender um fósforo
esfregando-o na lateral da caixinha, não como uma simples demonstração científica, mas como algo
sobrenatural, um milagre. E o estranho disso tudo é que essas pessoas prefeririam acreditar que fosse
sobrenatural e não científico, prefeririam buscar e exigir a explicação complexa, hipotética, que
envolvesse todas as crenças antigas no sobrenatural, ao invés de aceitar os simples fatos. Assim sendo,
para podermos compreender as doutrinas secretas de Jesus, tais como Ele as ensinou aos discípulos,
tais como foram divulgadas pela igreja cristã em seu início, analisaremos primeiro Sua escola e o
modo como se reuniam os estudantes, para depois analisarmos as doutrinas como foram ensinadas e
aplicadas pelos diversos apóstolos e discípulos.

CAPÍTULO VII: Estranhas passagens da Bíblia

Podemos encontrar toda a história da missão secreta de Jesus, da escola secreta, de Seus discípulos
secretos e suas secretas atividades, nos Evangelhos do Novo Testamento. Muitos versículos e
parágrafos aparentemente inocentes foram lidos muito superficial e irrefletidamente por milhares de
estudantes da Bíblia. Foram lidos e citados, e até parcialmente analisados, por clérigos cristãos das
mais diversas denominações de todo o mundo. Por outro lado, milhares de cristãos sinceros ficaram
intrigados com as estranhas idéias expressas em alguns desses versículos, e até chegaram a suspeitar
que eles continham um significado oculto.
Em todas as minhas pesquisas, encontrei apenas um ou dois teólogos eminentes, especialistas em
interpretação bíblica, que tentaram desvendar ou separar os significados duplos ou ocultos que os
intrigaram. Ouvi alguns clérigos dizerem, ao usarem alguns desses versículos como temas e tentarem
explicá-los, que provavelmente havia um outro significado a ser descoberto, mas que não lhes parecia
"não ser da vontade de Deus, naquela ocasião, torná-lo claro aos homens". Entretanto, é desses
versículos e parágrafos, espalhados profusa, coerente e deliberadamente pelos livros do Novo
Testamento, que podemos extrair um bom quadro da origem, natureza e das atividades da escola
secreta de sabedoria divina dirigida por Jesus, além de Seus métodos secretos de apresentar essas
doutrinas.
Pretendo apresentar ao leitor, neste ponto, a descrição de um incidente particular da história e das
atividades dessa escola secreta. Escolhi um momento muito auspicioso da vida de Jesus e da História
de Sua escola. Escolhi a ocasião da mais importante de todas as reuniões da escola secreta, aquela em
que Ele deveria outorgar o Diploma Divino aos Seus graduandos, além de certificados de autoridade,

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como ponto culminante de Seu processo de lhes conferir o conhecimento e o poder para
desempenharem missões individuais.
Essa ocasião ocorreu apenas um dia ou dois depois que Jesus presumivelmente atingiu o auge do Seu
antagonismo para com as tradições e práticas hipócritas de alguns líderes da fé judaica. Ele estivera no
templo e dele havia escorraçado os cambistas, purificando assim o templo, mas ao mesmo tempo
fazendo um inimigo na pessoa de um dos líderes da sinagoga, que obtinha uma renda pessoal do lucro
das práticas desonestas envolvidas na troca de dinheiro. Ele fizera com que judeus e romanos se
unissem numa idéia: "Já é tempo de apanhar esse sujeito, dominá-lo e colocá-lo em seu devido lugar".
E isso aconteceu apenas algumas horas antes do momento determinado para Ele ser traído e para a Sua
inevitável crucificação.
Não devemos pensar, nem por um instante, que Jesus foi subitamente surpreendido ou
inesperadamente chocado pela traição de Judas ou por planos secretos tramados contra Ele para
desgraçá-Lo publicamente após um julgamento claramente ilegal. Durante semanas e meses, as
autoridades legais que puderam ser subornadas ou induzidas a colaborar tinham estado preparando os
documentos para um julgamento como os romanos nunca tinham ouvido falar, e como os judeus
esperavam nunca mais testemunhar. Sem dúvida a cruz estava sendo preparada secretamente, assim
como todos os instrumentos de tortura. Todo o procedimento que pareceu eclodir como o súbito e
estupendo clímax de Sua vida foi um drama bem elaborado, planejado semanas, meses, anos, e mesmo
séculos antes, na malévola consciência daquela parte da natureza humana que detesta a exposição da
verdade, a vinda da Luz, a dispersão das trevas e a vitória da espiritualidade. Jesus sabia em Sua
juventude, desde os primeiros dias de Sua preparação para o ministério, que tudo acabaria como de
fato acabou. Mas sabia também que em certo número de anos, meses, semanas, dias e horas, teria de
cumprir a grande missão de Sua vida, não permitindo que o grande clímax ocorresse antes que Ele
estivesse preparado.
Então, naquela noite em particular, quando Ele vivia em Betânia e ainda proclamava Sua mensagem e
Seu desafio durante o dia, providenciou a última e decisiva assembléia terrena dos apóstolos que
constituíam o Conselho Consultivo de Sua escola secreta. Ele havia lhes prometido certas
recompensas preciosas por seus estudos e práticas, por sua fé e lealdade, como concretização de seus
anseios de cumprirem suas respectivas missões. Havia prometido a eles, como a mais rica recompensa,
a transferência do alto, a cada um individualmente, do necessário poder para continuar o trabalho que
Ele iniciara, e para fazer coisas ainda maiores. Durante os anos em que Sua escola secreta funcionou,
Ele seguira coerente e perfeitamente um currículo definido, um curso definido de estudo que incluía
palestras privadas, secretas, demonstrações particulares em seus locais secretos de encontro e em
espaços abertos muito bem escolhidos no campo, com demonstrações Suas em várias ocasiões em que
ocorria uma situação complicada ao Seu redor, de modo que os estudantes se acostumassem a
enfrentar e superar atitudes e interferências antagônicas das multidões, em suas próprias atividades
missionárias.
Ele relembrou o início de Sua campanha, quando começou a fazer os primeiros discursos públicos, do
topo de uma colina perto do Mar da Galiléia, nos arredores de Cafarnaum. Aquelas primeiras
preleções foram devidamente preparadas para atrair a atenção das mentes reflexivas e dos seguidores
das doutrinas galiléias que buscavam algo mais que um simples luminar da igreja como Messias,
alguém que viesse dotado de grande sabedoria.
Embora Ele quisesse que Suas verdades alcançassem os pobres e ignorantes e lhes fizessem um grande
bem, procurou ao mesmo tempo interessar os intelectuais, os poderosos, para que fossem atraídos para
Ele e dessa forma mostrar aos demais que ali estava uma mensagem que não era apenas um consolo
para os pobres ou uma esperança para os enfermos, nem um pouco de ânimo para os hipócritas da fé.
Enquanto.Ele viajava ao redor do Mar da Galiléia, passando pelos velhos e familiares distritos, e
depois mais para o sul em direção a Jerusalém, estudava e analisava as multidões que se reuniam à Sua
volta.
Após muitas semanas Ele pôde escolher uns poucos de vários lugares, que reconheceu como
seguidores constantes. Alguns deles tinham começado a segui-Lo em Cafarnaum, outros tinham se
unido a Ele na Tibéria; outros ainda apareceram pela primeira vez em Suas concentrações de pessoas
no local hoje chamado Nazaré e perto do poço de Maria. Ele reconheceu um punhado deles que
tinham vindo de Nabulus e que eram samaritanos denotavam todos os sinais e indicações de
inteligência e percepção espiritual. Com esses seguidores persistentes, que sacrificavam muito do seu

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tempo e conforto e mesmo de seus assuntos materiais para ouvi-Lo falar e estar perto Dele, Jesus fez
uma reunião especial em certa ocasião, contando-lhes secretamente que gostaria de lhes falar mais em
particular, tornando-os estudantes pessoais se eles tomassem a si uma parte da responsabilidade e do
fardo de Sua missão. Gradativamente, sem revelar todos os fatos, Ele uniu alguns deles a Si em
segredo, com todo o amor e devoção que esperava neles encontrar. Foi depois de Suas muitas visitas a
Jerusalém e aos locais do Sul que Ele finalmente completou o número místico de cento e vinte
estudantes, de doze unidades com dez membros cada uma, para formar o círculo universal do
discipulado; feito isso, após vários anos Ele estaria pronto para transmitir aos líderes desses estudantes
fiéis e leais amigos as últimas instruções, testemunhando sua ordenação e seu batismo espiritual, com
o comando final de partirem para sua missão.
A essa altura os estudantes, assim como as multidões e os críticos representantes da fé judaica que
tinham ouvido suas pregações e cuidadosamente observado Suas demonstrações, tinham aprendido
que Jesus falava com um poder e uma autoridade que nenhum pregador havia demonstrado
anteriormente. João Batista tinha realizado muitas manifestações maravilhosas de poder divino, mas
em nenhum momento convencera suas testemunhas da natureza e fonte de seu poder, como fez Jesus
em poucos anos. Jesus não implorava, não suplicava aos ouvintes que seguissem Seus conselhos para
seu próprio bem. Ele não lhes indicava simplesmente o Caminho que poderia levar ao estabelecimento
de um novo reino ou conduzi-los para a frente em sua jornada pela vida, rumo à mais elevada meta de
seus anseios espirituais. Ele veio para modificar o modo de vida deles, e disse isso de um modo que
convenceu a maioria de que Ele poderia ir ao ponto de forçá-los a obedecer e tornar necessário que o
fizessem, pela realização de milagres maiores do que levantar os mortos ou curar os doentes. Ele
poderia até fazer com que seus templos ruíssem sobre suas cabeças; poderia até fazer os rios secarem e
lagos ficarem rasos, e fazer com que os ventos e as tempestades se abatessem sobre as terras.
Seus discípulos, bem como as multidões, passaram a acreditar que o poder exercido por Jesus era um
poder divino singular, proveniente de uma fonte incomum, para além de sua compreensão. Ao mesmo
tempo, Seus estudantes também compreenderam, por sua fé e devoção, que aquele poder miraculoso e
divino (ou autoridade) que Jesus possuía, poderia ser-lhes outorgado. Por isso os apóstolos esperavam
ansiosamente aquela grande reunião final de suas atividades oficiais como conselheiros consultivos de
Sua escola secreta.
Naquele dia em particular, justamente nas horas dedicadas à Páscoa judaica, enquanto toda a
oficialidade discutia nervosamente Seus atos ousados e desafiadores (como a expulsão dos cambistas
do templo e as estranhas profecias sobre a destruição do templo e sua reconstrução), Seus apóstolos se
comunicaram e foram ao local secreto onde Jesus passava a noite, perguntando-Lhe para onde
deveriam se dirigir com vistas àquela importante reunião, e o que deveriam fazer.
A cada semana eles obviamente tinham se reunido em diferentes locais, ou pelo menos tinham mudado
seu local secreto de encontro com suficiente freqüência para evitar que os oficiais e inimigos ficassem
sabendo dele, e também nunca se dirigiam a nenhuma de suas reuniões sem antes aprenderem aonde
deveriam ir e como deveriam chegar até lá sem chamar atenção e tornar o local inseguro.
Nessa ocasião particular, portanto, vemos que Pedro e João encontraram Jesus e Ele lhes disse que
avisassem os demais e se preparassem para a Páscoa, que celebrariam de um modo bem diferente da
Páscoa da população em geral. Os fatos aqui descritos foram tirados do capítulo 22 do Livro de Lucas
e de passagens semelhantes dos Livros de Marcos, Mateus e João.
Quando Pedro e João perguntaram a Jesus como deveriam se preparar para essa ocasião especial, para
essa Páscoa especial, e onde encontrariam o local secreto de reunião, Jesus lhes disse para entrarem na
cidade de Jerusalém, de um em um ou de dois em dois, e irem andando pela rua principal como de
costume, procurando um homem que se aproximaria deles com um jarro de água. Quando ele se
aproximasse, virasse e caminhasse em outra direção, eles deveriam segui-lo.
Pela leitura de outras citações, parece que às vezes os estudantes secretos da escola esperavam um
homem com o pé esquerdo descalço, tendo assim uma aparência estranha, ou com a veste arranjada de
tal modo que os joelhos e as pernas estivessem expostos, ou cuja veste estivesse tão rasgada que o lado
esquerdo do peito estivesse à mostra. Em cada caso, a vestimenta, condição ou ação do importante
guia era não só incomum mas significativa conforme uma antiga simbologia relativa a personagens
das antigas escolas secretas.
Dessa vez eles deveriam seguir o homem com o cântaro de água e observar em qual porta ele se
deteria, fazendo uma pausa, voltando depois para a rua principal. Os discípulos deveriam ir até aquela

30
porta, dar uma batida simbólica e, quando a porta fosse aberta, cada um deveria dizer ao guardião:
"Nosso mestre nos disse para falar o seguinte: onde fica a câmara dos convidados, para que
possamos comer a ceia da Páscoa?". Jesus tinha lhes explicado que o guardião os deixaria entrar após
ouvir a pergunta de identificação, acompanhando-os a uma grande sala de reuniões completamente
mobiliada e pronta para a cerimônia especial.
Os doze apóstolos chegaram aos poucos, de acordo com esse sistema secreto, e foram admitidos. Se o
guardião tivesse impedido sua entrada, como devia ter ocorrido uma ou duas vezes anteriormente, eles
saberiam que um espião, inspetor ou representante dos inimigos ou das autoridades romanas tinha
estado investigando e o local não era mais seguro.
Na ocasião que estamos descrevendo, os doze apóstolos entraram e esperaram por Jesus, que
finalmente se juntou a eles, anunciando que tinha aguardado ansiosamente aquele encontro e esperava
que tudo corresse bem, permitindo que se unissem e completassem a culminação de Seu grande
trabalho secreto antes de Sua prisão, sofrimento e provável crucificação. Levantando-se, Ele declarou
preliminarmente que a ocasião tinha muito a ver com a concretização de Seus planos para o
estabelecimento do reino dos Céus na Terra.
Após essas palavras preliminares, Jesus encheu um grande cálice de vinho, bebeu um pouco e passou-
o para os apóstolos, dizendo que deveriam partilhar o vinho entre todos, cada um bebendo um pouco.
Depois explicou o simbolismo de Sua prece e da partilha do vinho, dizendo-lhes que Ele não beberia
do fruto da videira outra vez na companhia deles ou de qualquer outra maneira, até que o Reino de
Deus estivesse estabelecido na Terra. No ato de beber vinho de uma taça sagrada, os discípulos
reconheceram um símbolo secreto muito antigo de ordenação e bênção, e também um símbolo de igual
poder e posição, qualquer que fosse o trabalho ou a missão solenizada pela ocasião.
Então Jesus tomou um pedaço de pão, proferiu uma outra prece ou invocação pedindo a bênção
especial de Deus para o mesmo, e depois partiu-o em pequenos pedaços, dando um a cada apóstolo e
explicando: "Esta forma material que agora lhes sirvo simboliza o meu corpo, que ofereço e divido
entre vocês, e dela vocês se servirão para se lembrarem de mim dividido por todos, uno com vocês e
um de vocês".
Por fim Jesus levou o grande cálice sagrado novamente aos lábios, explicando que aquele era o cálice
da nova aliança, que continha simbolicamente o Seu sangue, que seria derramado por eles e através
deles para a salvação e redenção dos pecadores do mundo.

Sorver o vinho de um cálice sagrado ou graal continua sendo uma cerimônia simbólica entre as escolas
secretas do Extremo Oriente e do Oriente Próximo, e até entre algumas escolas de sabedoria espiritual
e sagrada no mundo ocidental. O procedimento de partir o pão e beber vinho não foi uma idéia
original de Jesus, mas uma idéia muito antiga e sagrada que Ele aplicou de maneira nova, pois toda a
Sua missão na Terra era uma missão nova baseada em antigos e sagrados símbolos e cerimônias.
Comer o pão dessa maneira era partilhar o corpo físico do Cristo, e beber o vinho era beber o Seu
sangue, e assim ficar não só em sagrada comunhão com Ele, mas como uma parte Dele em qualquer
trabalho sagrado que Ele lhes determinasse e transferisse.
Foi naquela ocasião de Sua última ceia que Ele lhes revelou de novo por que estivera ansioso por
muitos dias para providenciar aquela cerimônia especial. Em seguida explicou que, embora os oficiais
da região estivessem à Sua procura, tentando encontrar Seu esconderijo para prendê-lo e falsamente
condená-Lo e crucificá-Lo, somente nas horas da manhã ou tarde da noite um de Seus próprios
apóstolos, supostamente leal, O trairia.
A maioria de Seus apóstolos sabia também das ameaças que haviam sido feitas e dos perigos que O
cercavam, e por isto não ficaram surpresos com essas palavras, mas ficaram muito espantados quando
Ele lhes disse que um deles, sentado ali na mesa com Ele naquele momento, participando daquela
última grande cerimônia, seria o Seu traidor. Ficaram tão surpresos que começaram a questionar Jesus
sobre quem poderia ser o traidor, e ficaram muito excitados afirmando que cada um deles era o maior
em sinceridade e lealdade ou o discípulo escolhido para representar o grande trabalho no futuro e,
portanto, não poderia ser culpado de um crime daqueles. No desejo de estabelecer a superioridade,
lealdade e fidelidade individual, perderam consciência da importância do fato de que um deles
provaria antes do amanhecer que era o menos digno de afirmar seu alto grau de fidelidade. Jesus
argumentou com eles e os censurou pela maneira como estavam analisando a situação.

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Finalmente, Ele lhes disse que aquela era a ocasião em que cumpriria Suas promessas anteriores a
todos eles, e que naquele momento mesmo Ele lhes reservava um reino como o que Seu Pai no Céu
Lhe havia reservado, e por esse motivo eles iriam comer e beber à Sua mesa, em Seu reino; em outras
palavras, eles passariam a ser iguais a Ele nesse novo reino dos Céus na Terra, governando-o,
dirigindo-o e estabelecendo-o para todo o tempo futuro. Como as doze grandes Luzes e os líderes da
escola secreta, orientando as dezenas de outros estudantes fiéis treinados por Jesus dia após dia, eles
deveriam continuar levando a cabo Sua grande missão no futuro como se Ele estivesse presente,
pronunciando palavras de autoridade assim como Ele as pronunciava, e demonstrando poderes que
lhes seriam conferidos, do mesmo modo como Ele havia demonstrado nos últimos anos.
Todos nós sabemos, pelos vários relatos dos Evangelhos, o que ocorreu após aquela grande cerimônia
e reunião secreta. Ele previu que um deles até O negaria várias vezes antes do nascer do sol, ou antes
que o galo cantasse. Descreveu para eles as terríveis conseqüências do dia seguinte e explicou como
seria o Seu dia de agonia, e que esse dia seria seguido pelo maior sacrifício que Ele poderia fazer, o de
entregar o Espírito Santo como o filho de Deus e o Cristo na Terra, sendo enterrado como um homem
comum, enquanto que Seu grande poder e autoridade continuariam na pessoa deles e com eles. Em
algumas versões desse encontro, tal como nos é narrado por Mateus e Marcos, há ligeiras
modificações nos detalhes menores, mas em geral a história é a mesma, com todas as evidências de
que os apóstolos e Jesus se reuniram na qualidade de representantes de uma escola secreta ou de um
divino sistema secreto de preparação, e de que eles se reuniram num local secreto especialmente
escolhido, e ainda de que Ele considerou essa ocasião o ato culminante de transferência do poder e
autoridade sagrados, Dele para os doze apóstolos. Essa transferência de poder e autoridade talvez
esteja expressa com mais beleza por Mateus, capítulo 26, versículo 29, onde ficou registrado que Jesus
disse: "...até o dia em que eu beberei de novo convosco no reino de meu Pai". Aquele cálice de vinho
seria o último dos apóstolos e também o último de Jesus naquelas circunstâncias; eles nunca mais
beberiam juntos enquanto o Reino de Deus não estivesse estabelecido.
Houve uma ocasião anterior em que fora realizada uma reunião secreta como aquela, com o objetivo
de encerrar o curso sistemático de instrução e a série de demonstrações que Ele fizera em particular
aos seus estudantes, e essa reunião terminou com uma cerimônia especial de transferência de poder e
autoridade. Talvez tenhamos a melhor narrativa dessa ocasião no capítulo 9 de Lucas, sem recorrermos
a registros mais antigos fora da Bíblia cristã-. Nessa passagem, vemos que Jesus chamou Seus
discípulos e lhes deu poder e autoridade sobre todos os demônios e poder para curar doenças,
enviando-os para proclamar o Reino de Deus e para curar os enfermos.
É interessante verificar que a transferência de poder e de autoridade constitui dois procedimentos
separados. No caso, o poder não significa autoridade ou privilégio. O poder de curar e sobre os
espíritos impuros se refere a um processo divino definido, aplicando princípios e leis divinos a
condições materiais, físicas ou espirituais, no homem e ao redor do homem. Os estudantes tinham de
ser preparados para receber esse poder, a fim de que pudessem compreendê-lo e utilizá-lo com
inteligência. Não se tratava de uma simples fórmula ou encantamento, nem um processo de
necromancia, magia negra ou branca, como os pagãos utilizavam.
O poder que Jesus possuía era único, a grande dádiva de Deus Pai que O havia enviado. Consistia em
um conhecimento que os prepararia, em dias, semanas e meses de prece e meditação que os
purificariam, tornando-os receptores dignos e canais adequados para o influxo e a irradiação de um
princípio divino que se manifestaria na forma de um poder singular e sagrado para fazer determinadas
coisas. E a autoridade que Ele lhes outorgou, junto com o poder, também provinha de Deus, pois sem a
autoridade o poder não teria sido liberado para eles nem continuaria a fluir através deles.
Quanto às instruções secretas que eles deveriam obedecer quando usassem essa autoridade e esse
poder, verificamos que na ocasião em que os convocou para a transferência de Suas atividades, Ele
efetivamente os qualificou para curar os doentes e limpar do mal os leprosos, despertar os mortos e
expulsar demônios. Todas as autoridades bíblicas concordam em que aquela foi verdadeiramente a
ocasião em que a transmissão de um poder sobrenatural foi feita pela primeira vez na história da
civilização. Chamo a atenção para o fato de que um dos pontos principais da autoridade que lhes foi
outorgada, conforme Lucas, foi o de que teriam poder sobre todos os demônios, e, de acordo com
outras autoridades, o domínio sobre os "espíritos impuros".
Aqui temos referência a uma das doutrinas secretas, e parece mais lógico tratar dessa verdade aqui e
agora do que colocá-la entre as outras doutrinas secretas nos capítulos finais deste livro.

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Entre os pagãos ignorantes e sem educação dos tempos antigos havia a crença comum de que a doença
de qualquer espécie, especialmente aquela que parecia destruir a saúde das partes internas do corpo, ou
a integridade da mente e do cérebro, era causada por uma forma de obsessão, ou pela presença no
corpo e no cérebro de um espírito maléfico ou demônio, que havia entrado deliberadamente no corpo
físico e tentava destruí-lo. A princípio, somente aqueles que sofriam do que poderíamos chamar de
epilepsia ou ataques, com estranhos desvarios e rodopios, atirando-se no chão, eram manifestações de
"possessão". Por muitos séculos, aqueles que não tinham a mente sã e falavam de modo estranho, ou
cuja memória falhava, ou que eram imbecis ou pareciam próximos do descontrole mental, eram
suspeitos de estarem possessos por demônios ou estarem sendo controlados por espíritos malignos.
Com o tempo, todas as formas de doença foram atribuídas a algum contato com espíritos imundos.
Os pagãos haviam se servido de práticas muito estranhas e supersticiosas na cura das vítimas dessas
condições. Uma grande maioria era tida como caso perdido, indigna de ser curada ou purificada, e era
enterrada viva, queimada viva, ou torturada até a morte. Acreditava-se, inclusive, que aproximar-se de
alguém que estava doente por possessão poderia causar a transferência dessa condição. Por isso era
difícil encontrar alguém que pelo menos tentasse ajudar ou tratar essas pessoas. Em alguns países
acreditava-se que, se a sombra de um possesso caía sobre o corpo de outra pessoa, esta ficava
contaminada. Conclui-se também da leitura de antigos registros que certos homens e mulheres que
pareciam compreender que essas crenças eram supersticiosas e desejavam comercializar essa
compreensão classificavam-se como mágicos curadores dos possuídos. Eles se ofereciam, mediante
grandes quantidades de bens materiais, para levar um doente para sua própria casa, afastando-o da
família, a fim de tratá-lo e curá-lo, ou pelo menos cuidar dele até que ficasse bom ou morresse.
Analisando as formas de tratamento que eram aplicadas a esses infelizes, podemos deduzir que esses
mágicos e curadores profissionais, por mais inteligentes que fossem, eram enganadores e charlatões.
Sempre que um deles achava necessário dar uma demonstração de seus métodos de tratamento em
local público, colocava uma infeliz vítima sobre um colchão de palha no centro de um grande círculo
de testemunhas populares, inclusive parentes do enfermo, e entoava estranhos e místicos
encantamentos, sempre andando ao redor do doente, aspergindo água supostamente benta e outras
coisas simbólicas sobre o corpo. Levava então o doente para casa e o mantinha em reclusão por uma
semana ou dez dias, exibindo-o depois ao público como perfeitamente curado.
A multidão sempre se espantava com esses procedimentos, e quanto mais freqüente era a
demonstração, mais famoso ficava o mágico e maior o seu lucro. Entretanto, ao que parece, esses
charlatões só escolhiam os doentes cujo mal fosse do tipo que a natureza amenizaria com o tempo, ou
que pudesse ser curado com ervas medicinais, pois esse era o único tipo de paciente que eles exibiam
em público. Quanto aos que eles eram chamados a curar mas que pareciam ter uma doença incurável,
ou apresentavam uma condição que a natureza não poderia corrigir rapidamente no curso de seus
processos usuais, eles se recusavam a curar em público; levavam-nos para sua própria casa, onde os
mantinham por muito tempo e, ou acabavam liberando como curados, ou devolviam aos parentes ou
para a pira funerária.
Foi através das práticas desses charlatões, entretanto, que o uso de certas ervas, a aspersão de água e a
entoação de encantamentos, tornaram-se procedimentos padrões, assim como temos procedimentos
padrões hoje em dia, na cura de certas enfermidades.
Esses encantamentos, entoados cuidadosamente de acordo com certas regras e leis pagas, utilizavam
certos sons vocálicos conhecidos pelos antigos como calmantes dos nervos e relaxantes, provocando o
sono. Essas fórmulas ou entoações de sons vocálicos místicos, compostos principalmente das vogais
de nomes muito sagrados e santos, que o público não tinha direito de usar sob pena de terrível punição,
formaram a base de certas fórmulas, preces e métodos de entoação de cânticos, adotados mais tarde
por sistemas teológicos mais desenvolvidos, que os introduziram nas sinagogas pouco antes da era
cristã, e que mais tarde foram adotados pela igreja cristã, sendo até hoje preservados na forma de hinos
e cantos sagrados.
Até que ponto estavam errados os discípulos de Jesus e o próprio Jesus em acreditar que demônios e
espíritos imundos podiam tomar posse do corpo físico e do cérebro, provocando doenças e estados
físicos e mentais insanos? A igreja de hoje ignora esta questão e o cristianismo de nossos dias
abandonou completamente qualquer consideração sobre a crença em maus espíritos e demônios
tomando posse de um corpo sadio e nele causando doenças. É nisso que vemos grandes verdades
ocultas sob o manto de antigas crenças e assim jogadas no esquecimento.

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Os psicólogos e psiquiatras de hoje sabem que o cérebro humano pode se tornar possuído ou obcecado
por certas crenças e idéias que se fixam gradativamente na consciência humana e a dominam. Mas eles
de modo geral concordam em que essas obsessões só afetam a saúde mental e produzem certos graus
ou estágios de insanidade. Para além disso nenhum médico ou psiquiatra moderno ousa dar opinião.
Mas os que são estudantes profundos do misticismo e das leis místicas do universo, que se tornaram
especialmente familiarizados com os mistérios da mente humana, sabem que é um fato que não só a
mente humana pode se tornar gradativamente possuída por idéias fixas, e portanto aparentemente
obcecada para além de qualquer controle exterior ou interior, mas também que essa possessão ou
obsessão pode causar e freqüentemente causa distúrbios físicos que mais tarde se manifestam na forma
de doenças crônicas, degeneração de tecidos, funcionamento anormal de órgãos, e finalmente a morte
do corpo. É portanto um fato que muitas formas de enfermidades e condições anormais na parte
puramente física do corpo podem ser remediadas ou inteiramente eliminadas retirando-se da mente o
"demônio" ou "diabo" que a possui, ou as idéias obsessivas fixadas no cérebro.
E possível remover essas possessões ou obsessões mentais, essas idéias e crenças fixas na mente
humana, em um piscar de olhos, ou em poucas horas, se o procedimento correto é seguido. Já foi
demonstrado, e pode ser facilmente demonstrado por um prático treinado e experiente, que um
pensamento maléfico, que podemos chamar de demônio ou "idéia possessiva", e que é como uma
alucinação ou um demônio encarnado na mente, pode ser removido em questão de dias ou mesmo
algumas horas, resultando em imediata mudança no estado físico do paciente.
Quando as doutrinas da Ciência Cristã tentam explicar a causa da doença física como um pensamento
mortal manifesto no corpo por causa de sua fixação possessiva na mente, elas estão apresentando uma
antiga crença em roupagem modificada e com nova forma, e estão corretas ao afirmar que, como
instituição religiosa cristã, é essa igreja a única representante das doutrinas cristãs que tenta realizar a
obra dos primeiros apóstolos. Mas não é verdade que seja essa igreja a única a ter estudantes e
praticantes do antigo sistema de purificar e limpar a mente e o corpo desses males, e de expulsar esses
demônios que causam muitas formas de doenças físicas e mentais. A Antiga e Mística Ordem Rosa-
cruz (ou os rosacruzes), além de outras escolas secretas de verdadeira metafísica e compreensão
mística, em várias partes da Europa e do mundo, praticam as antigas doutrinas e ensinamentos de
Jesus e Seus discípulos, sem se tornarem movimentos religiosos e sem se denominarem uma nova
igreja ou uma nova forma de religião.
O poder secreto dessa doutrina repousa no fato de que, se o indivíduo enfermo tem fé na prece a Deus
(ou a Jesus, o Cristo, ou a Seus apóstolos), para purgá-lo dos demônios que o estão possuindo, sua
harmonização com Deus em sincera oração, ou sua cooperação sincera com um médico, um prático ou
um místico que está orando por ele e com ele, provoca em primeiro lugar uma mudança na condição
mental que causa o problema, e logo em seguida no corpo físico onde se manifestam os resultados
finais dos demônios que estão em sua mente e consciência.
A prece e a fé, nessas circunstâncias, constituem um processo de purificação, e esse grande segredo
que Jesus ensinou aos Seus discípulos e que eles praticaram, representa em verdade um dos grandes
segredos da cura cristã e de todas as curas puramente metafísicas.
Os discípulos aprenderam de Jesus que preces em forma de um cântico, utilizando os sons vocálicos
que têm um efeito positivo sobre a consciência e o sistema nervoso do paciente, são um auxílio
valioso; é por essa razão que nas escolas místicas de nossos dias, o que perpetuam as doutrinas
secretas de Jesus, e nas igrejas que tentam perpetuar os antigos princípios dos discípulos, a entoação
de sons vocálicos e as orações em forma de cânticos continuam sendo um processo curativo muito
importante. Vemos então que Jesus ensinou algo secretamente aos discípulos, que Ele não divulgou às
massas, e que não foi transmitido aos nossos dias pela religião cristã, como parte fundamental de seus
ensinamentos.
Mais uma vez repetimos que é fato que muitas formas de doenças mortais e físicas são
verdadeiramente resultado de obsessões e alucinações, e podem ser classificadas como obsessões e
possessões. Nesses casos, será inútil tentar tratar o corpo e o cérebro com remédios ou outra forma de
terapia, sem antes purificar a mente pela aplicação das leis secretas que Jesus conhecia tão bem e que
utilizou tão profissional e eficientemente em Sua missão e ao longo dos anos em que realizou Sua
grande obra.

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Devemos agora passar à análise de outras provas da existência da escola secreta e do trabalho nela
realizado por um número maior de discípulos e estudantes do que os doze que constituíram Sua
assembléia particular ou sua junta secreta de conselheiros.

CAPÍTULO VIII: O maior dos milagres

Houve um milagre realizado por Jesus que foi o maior de todos, seja qual for a perspectiva com que o
analisemos. O poder de realizar o mesmo milagre foi transferido aos discípulos por Jesus, ficando
compreendido que o poder de retransferi-lo passaria para eles, e que de mestre a estudante e de
discípulo a discípulo, através dos séculos, esse poder de realizar o maior dos milagres seria a herança
divina daqueles que seguissem Seus ensinamentos, desenvolvessem Suas doutrinas e evoluíssem para
o status de fraternidade cristã. Nas pregações das doutrinas cristãs modernas, salienta-se bastante a
promessa de que a vida dos redimidos, a vida dos seguidores das doutrinas cristãs, é imortal, de modo
que a morte causará apenas uma mudança de lugar e de condição de existência. Não há nada de novo
nessa doutrina da imortalidade, pois há muitas referências a ela e muitas formas de fé na imortalidade
entre os mais antigos ensinamentos e rituais místicos e espirituais. Mas a maneira como Jesus revelou
a lei da imortalidade e depois a demonstrou em Sua própria vida deu à doutrina uma nova forma e
interpretação.
Não é surpreendente, portanto, que a última grande lição que Jesus ensinou a Seus estudantes secretos
e demonstrou diante deles estivesse intimamente ligada ao Seu ensinamento sobre a doutrina da
imortalidade. Com efeito, Jesus salientava constantemente o fato de que o homem podia viver e
haveria de viver de novo, e continuamente, desde que O seguisse na Senda, rumo à perfeição
espiritual. A crucificação de Jesus Lhe deu a gloriosa oportunidade de provar Sua sinceridade, Seu
valor e Sua fé absoluta nas doutrinas que transmitia. Permitiu-Lhe demonstrar ao Seu grande número
de estudantes, particularmente aos apóstolos, que Ele estava disposto a fazer o maior de todos os
sacrifícios em prol da mensagem e missão divinas que era Seu propósito revelar aos que estivessem
preparados para recebê-las.
Enquanto estava na cruz, sofrendo os mais terríveis tormentos físicos, e sendo ao mesmo tempo vítima
da tortura mental e da humilhação que os acompanhavam, Ele se expressou em palavras e termos
destinados a avivar e fortalecer a fé que Seus estudantes tinham em Seus ensinamentos e no
cumprimento de uma das maiores promessas que Ele lhes fizera.
Jesus lhes prometera o milagre dos milagres, a garantia de um poder como o Seu, e uma autoridade
divina semelhante, pela qual, e através da qual, eles poderiam fazer as mesmas coisas que Ele havia
feito, e até coisas maiores.
Em torno Dele, naquela multidão mortal de gente de bom e mau caráter, de almas desventuradas,
mentes duvidosas, testemunhas zombeteiras, oficiais temerosos e crentes espantados, havia alguns que
tinham razão para pensar que aquela era a ocasião de encerramento do capítulo final da vida de Jesus,
cortando pela raiz a gloriosa carreira que eles tinham previsto. Verdadeiramente, Seus estudantes e
discípulos sinceros tinham vivido, tinham existido Nele, por meses e anos. Sua fé no futuro era uma
parte da própria fé do Mestre. Sua esperança era baseada nas esperanças do Mestre.
Suas ambições, Seus desejos, Sua determinação de ensinar e demonstrar Suas doutrinas no futuro,
dependiam do sucesso de Sua missão na Terra. Mas ali, naquela hora, o homem que havia expulsado
demônios, que havia tirado demônios de corpos torturados, que fizera os coxos caminharem direito, os
cegos enxergarem, e até mesmo os mortos se levantarem e viverem novamente, estava prestes a ser
aniquilado e removido para sempre da face da Terra por Seus inimigos, contra os quais Ele parecia
impotente para Se proteger ou defender Sua fé e Suas doutrinas.
Tudo estava prestes a ruir enquanto Seu corpo se tornava lasso e sem vida. A centelha de poder divino
que Ele mantinha em Sua consciência estava para ser extinta. Em pouco tempo um deles, um dos mais
devotados e leais estudantes secretos, chamado José, cumpriria sua promessa de proteger secretamente
aquele corpo ferido e mutilado, colocando-o num túmulo cuidadosamente preparado, e o fechamento
desse túmulo marcaria o final do livro da vida, dos ensinamentos, das doutrinas e dos milagres daquela
que era a maior de todas as escolas secretas. Não é de admirar que os céus escurecessem, que as
nuvens se fundissem pesadamente, os raios riscassem o espaço e o trovão retumbasse! No dia seguinte

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começaria um ciclo negro no desenrolar da existência humana na Terra. Seria o início do fim, e o
homem desceria aos infernos como tinham profetizado as Escrituras.
Mas antes que a consciência no corpo crucificado adormecesse e os lábios silenciassem, Jesus
pronunciou mais uma vez a promessa de que entraria no Reino dos Céus e continuaria a viver, e de
que Seu compromisso para com Seus estudantes secretos seria cumprido.
Em silêncio e profunda compreensão mística, Seus muitos estudantes e apóstolos afastaram-se da
multidão e, por trajetos indiretos, chegaram ao local de reuniões secretas, para se unir em oração e
esperar o que estavam certos de que ocorreria no dia seguinte.
E então, quando chegou o outro dia, souberam que Jesus tinha desaparecido do túmulo!
Podemos compreender a surpresa dos que haviam zombado, e dos oficiais que perceberam que a
responsabilidade por esse inesperado acontecimento poderia recair sobre seus ombros. Podemos
compreender o espanto na mente e no coração daqueles que haviam sido tentados a crer, mas que
precisavam apenas de mais essa demonstração para se convencer. Também podemos compreender o
silêncio e a crescente fé que invadiu a alma e o coração dos estudantes reunidos em oração, não muito
distante do local da crucificação. Eles sabiam que, se Jesus não estava mais no túmulo, então não
estava mais inconsciente, não mais estava "morto" no sentido proclamado pelos oficiais e que a lei
considerava suficiente. Sabiam que Ele continuava a viver e que no devido tempo, de acordo com um
antigo ritual de ressurreição que eles haviam realizado muitas vezes, simbolicamente, em seu templo
secreto, Jesus apareceria entre eles.
O fato de Ele continuar invisível para a multidão reforçou a crença da mesma. De acordo com o antigo
Livro dos Mortos, e com todos os antigos rituais que eles haviam revisado em seus estudos secretos,
certo número de dias e noites deveria passar antes que o Cristo vivo fosse novamente visível. E assim
aconteceu que, após o devido número de dias, Jesus se tornou visível à consciência objetiva e material
do homem, e foi primeiro visto por alguém que muito O amava, uma mulher. Sua notícia desse fato
realimentou a fé e a esperança dos discípulos, que se reuniram apressadamente para esperar a chegada
do Mestre. E assim, enquanto eles estavam reunidos, cem ou mais no total, à exceção de Judas, com as
portas e janelas fechadas e todos os pontos do local sob severa observação e proteção, Jesus apareceu
entre eles. Eles Lhe perguntaram se era aquela a hora do cumprimento de Sua grande promessa, da
demonstração do milagre dos milagres, e Ele respondeu em termos que só estudantes dos antigos
mistérios poderiam compreender então como agora. Respondeu Ele: "Não vos cabe conhecer a hora
ou a estação que o Pai colocou sob Seu próprio poder". Em outras palavras, Ele lhes explicou que não
lhes cabia compreender naquele momento em que hora ou estação, que dia ou momento, o grande
milagre seria realizado, pois não possuíam o poder que Seu Pai do Céu possuía e que Ele possuíra até
a hora da crucificação e entregara enquanto estava na cruz. Aquele poder havia retornado à sua fonte
divina e nenhum homem o possuía naquele instante.
Entretanto, Jesus falou mais uma vez, assegurando-lhes que isso não significava o abandono de Seus
planos nem a morte das esperanças dos discípulos. Suas palavras foram simbólicas mas categóricas:
"Mas recebereis a virtude do Espírito Santo que descerá sobre vós;e me sereis testemunhas em
Jerusalém, e em toda a Judéia è na Samária, até os confins da terra". (Atos, Capítulo I). Estas
palavras estão expressas de forma semelhante em diversos registros e contêm as chaves místicas de
uma grande fórmula divina. Ele os havia saudado com a saudação mística "A paz esteja convosco!",
ilustrando de modo típico o que quisera dizer em uma cerimônia mística anterior. Mostrou-lhes então
as partes feridas e mutiladas de Seu corpo para provar que o corpo estava efetivamente "partido" como
Ele havia partido o pão e lhes dado para comer, e também mostrou-lhes o sangue fluindo de Seus
ferimentos, conforme fora simbolizado pelo vinho que Ele havia derramado do cálice.
Em seguida, Ele realizou a primeira parte do milagre dos milagres. Não foi o ato culminante que todos
aguardavam, e sim o primeiro passo de um procedimento cerimonial cujo ritualismo estava inscrito na
consciência de Deus e por Ele fora decretado. Enquanto eles se mantinham ajoelhados formando dois
triângulos entrelaçados dentro de um círculo, como haviam feito em muitas outras ocasiões, Ele
elevou as mãos, de pé no centro daquele desenho místico formado pelos estudantes, e mais uma vez
disse: "A paz esteja convosco; assim como meu Pai me enviou, assim eu vos envio agora". São estas as
palavras de São João no capítulo vinte, mas em outros registros lê-se que Jesus disse: "A paz esteja
convosco! Assim como meu Pai me enviou e para mim transferiu o poder do Espírito Santo, assim eu
agora vos ordeno e preparo para receberdes o poder do Espírito Santo que era meu".

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De acordo com os Livros do Novo Testamento, Jesus então soprou sobre eles e lhes disse: " Recebei o
Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, aqueles a quem
redimires, estarão redimidos".
Soprar sobre eles foi um procedimento muito sagrado e divino. Essa foi a única vez durante toda a
história da vida de Jesus e durante todo o Seu ministério em que Ele soprou sobre qualquer outro ser
humano, e foi a única ocasião em que Ele disse oficialmente, com relação a uma cerimônia, "Recebei
o Espírito Santo!". Este foi o primeiro ato do milagre dos milagres. Deve-se notar que Jesus não disse:
"Eu vos outorgo o poder do Espírito!" nem "Eu vos transfiro de mim o poder do Espírito Santo e ele
agora habita em vós". Jesus não tinha mais o Espírito Santo, com o seu poder, pois Ele o havia
entregue na cruz. Mas, como mensageiro divino do Pai, Ele foi o canal através do qual o Espírito
Santo passou do Pai para os discípulos. Soprar sobre eles foi tão-somente a preparação para a descida
e entrada do Espírito
Santo, e Jesus simplesmente lhes disse que eles se aperceberiam imediatamente de tê-lo recebido.
O restante da fórmula usada por Jesus quanto à remissão dos pecados era parte das doutrinas secretas
que eles compreendiam claramente. A chave para a explicação dessa fórmula só poderá ser encontrada
na doutrina do Carma conforme Jesus a ensinou secretamente aos discípulos e conforme citou
alegoricamente em algumas parábolas e injunções às multidões.
Deve-se observar que em todas as interpretações estritamente ortodoxas dessa fórmula mística, tal
como é discutida, analisada e comentada pelos mais autênticos e reconhecidos comentários e
enciclopédias bíblicas, tomou-se a atitude de que a fórmula não conferiu aos apóstolos o direito de
perdoar ou redimir pecados. Argumentaram os autores desses livros tão reverentes que o poder de
redimir pecados nunca foi exercido pelos apóstolos e que nunca eles próprios entenderam que
possuíam esse poder ou que ele lhes tinha sido transmitido. Algumas autoridades eclesiásticas vão ao
ponto de dizer que "o poder de intromissão nas relações entre o homem e Deus não pode ter sido
outorgado por Cristo a Seus ministros a não ser num sentido ministerial ou enfático".
Mas isto é um erro de opinião devido ao fato de que a natureza mística da fórmula foi oculta pelos
próprios discípulos, sendo apenas uma entre as muitas doutrinas secretas de Jesus que a igreja cristã
moderna esqueceu ou interpretou incorretamente. Essa compreensão errônea ou interpretação incorreta
da fórmula é parcialmente responsável pela opinião de muitos milhares de cristãos de que o sacerdote
da Igreja Católica Romana tem o poder de perdoar ou redimir pecados em nome de Jesus, o Cristo.
Entretanto, se esse poder nunca tivesse sido transferido para os discípulos, não poderia ter sido
transferido para fundadores da Igreja Católica Romana e por estes aos padres.
De acordo com a Lei do Carma, uma das doutrinas secretas, Jesus disse aos Seus discípulos, no
tocante à chegada desse poder do Espírito Santo que lhes permitiria fazer milagres e dar
prosseguimento à grande missão, que aqueles cujos pecados eles perdoassem, teriam esses pecados
redimidos como um débito cármico pelo qual deveriam fazer compensação; que, embora os pecados
fossem perdoados, não seriam esquecidos, e não poderiam ser completamente redimidos até que os
próprios indivíduos tivessem feito compensação por cada pecado; e, por outro lado, aqueles pecados
que eles perdoassem ou deixassem de perdoar, os próprios discípulos teriam de assumir como débito
cármico pelo qual teriam de fazer compensação ou ajustamento. Em outras palavras, se os discípulos
perdoassem os pecados de um indivíduo, o indivíduo teria a responsabilidade da compensação como
sua cruz, e até que ele aliviasse o fardo dessa cruz pela completa compensação, os pecados remidos
continuariam a pesar sobre ele. Mas, se o discípulo, por seu critério, se recusasse a perdoar os pecados
de qualquer indivíduo, decidindo que eram pesados demais, ou que o indivíduo era indigno e não
merecedor dessa remissão ou desse perdão, esse discípulo, por agir como juiz e julgar outrem,
assumiria a responsabilidade da dívida cármica juntamente com o pecador.
Nas doutrinas secretas ensinadas por Jesus, e mais tarde transmitidas às escolas secretas até os nossos
dias, a mesma fórmula é expressa da seguinte maneira: se a pessoa dotada do poder e do Espírito
Santo para auxiliar e assistir o pecador puder indicar-lhe o modo de purificar-se de seus pecados pela
compensação, assim removendo a mancha de sua alma e consciência, ela transferirá o fardo do pecado
da divina consciência ou registro divino para a consciência do pecador, entendendo-se que, se o
pecador se purificar de seus pecados fazendo a devida compensação, livrar-se-á da cruz ou fardo
cármico, ficando puro e preparado para a redenção. Mas aquele que ousar negar o conhecimento e o
conselho que possam capacitar o pecador a se purificar fazendo compensação e purgando sua alma de
pecados, formando assim juízo final e determinando-o indigno de redenção, tornar-se-á portador dos

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pecados não redimidos e do débito cármico, de modo que ele próprio terá oportunamente de fazer
compensação por aqueles pecados ou sofrer as conseqüências junto com o pecador.
Nessa fórmula se expressa a antiga e mística injunção segundo a qual aquele que está na Senda ou
caminhando na Luz, capacitado para dar orientação e auxílio espiritual a outrem, e ousa julgar o outro
e decidir que um pecador ou outro é culpado demais para alcançar a redenção, ou está além dos limites
da remissão de seus pecados, torna-se não só um pecador, mas, ousando julgar seu próximo, assume
uma responsabilidade e deve carregar junto com o outro o fardo do carma que obteve para si mesmo
por seu julgamento. Ele é exortado, portanto, a não tentar julgar (ou condenar) seus semelhantes, a não
tentar dizer que um pecador qualquer é indigno da remissão de seus pecados, pois desse modo se
tornará imediatamente culpado pelos mesmos pecados e deverá partilhar com o outro pecador o peso
de sua cruz.
Depois dessa instrução específica, eles caminharam em silêncio com Jesus para a quietude do pôr-do-
sol e reuniram-se novamente numa gruta embaixo de uma grande rocha, onde foram realizados os
rituais finais daquela cerimônia mística, seguidos de preces, entoações e atos cerimoniais.
Depois, a grande assembléia se dispersou e Jesus mais seus onze apóstolos, ficando sozinhos, foram
para o alto da rocha sob a qual havia sido feita a reunião, e formando um círculo com Jesus no centro.
Enquanto cruzavam os braços em mística saudação, com a mão direita sobre o lado esquerdo do peito
e os pés em posição adequada, como símbolos do seu ritualismo, formou-se uma nuvem no centro do
círculo. Isto não os surpreendeu, pois a formação dessa nuvem já havia sido testemunhada em muitas
ocasiões anteriores e eles conheciam a lei segundo a qual era ela formada, e sabiam que, depois que o
poder para fazer isso e outras coisas lhes fosse conferido, também eles formariam a nuvem em
determinadas ocasiões. As antigas escolas de misticismo e ciência divina têm praticado a formação
dessa fórmula por muitas eras, e seu segredo ainda está em prática nas escolas místicas de hoje.
Quando essa nuvem é formada, os que estão envoltos por ela ficam invisíveis, mas nesse caso Jesus
não só ficou invisível como pareceu elevar-se com a nuvem. A certa altura, a nuvem foi se dissolvendo
e a forma espiritual e física de Jesus desapareceu.
Enquanto observavam essa estranha demonstração de poder divino, os apóstolos sentiram como que
um influxo do poder divino do Espírito Santo, que desceu sobre eles como havia descido sobre Jesus
na ocasião do Seu batismo.
Esse foi o milagre dos milagres, pois com a descida do Espírito Santo os onze apóstolos se tornaram
os herdeiros vivos do poder divino que Jesus havia possuído e que eles poderiam transferir do mesmo
modo a todos os que fossem dignos, bem como usar para expandir sua missão e a missão de Jesus pela
redenção do homem.

CAPÍTULO IX: Mais comprovação bíblica

É evidente que muitos leitores e possivelmente um grande número de cristãos dedicados questionarão
a autenticidade de minhas declarações sobre o número efetivo de discípulos ou estudantes e fiéis
seguidores que participaram da escola secreta organizada e dirigida por Jesus.
Acredita-se comumente que Jesus tinha doze companheiros que não só eram os doze apóstolos mas
também os únicos estudantes pessoais e particulares instruídos por Ele, sendo, portanto, os únicos que
poderiam ter posse de quaisquer ensinamentos secretos que Ele pudesse ter revelado. Assim sendo,
minha afirmação de que havia cento e vinte membros em sua escola particular, inclusive os doze
apóstolos, exige comprovação bíblica.
Espero ser perdoado, neste ponto, por divergir momentaneamente do assunto geral para um assunto
paralelo, qual seja, a exigência de autenticação e comprovação exclusivamente pela Bíblia.
Muitos eminentes eclesiásticos (e centenas de dedicados estudantes da Bíblia) que leram meu livro
anterior, A Vida Mística de Jesus, escreveram longas cartas exigindo que eu fornecesse provas ou
alguma forma de confirmação de muitas das declarações feitas nesse livro. Mas em todos os casos eles
exigiram que a comprovação, autenticação ou os elementos de apoio parcial, fossem tirados da Bíblia
cristã ou "das Escrituras Sagradas", como preferiam denominar essa fonte de informação.

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Achei estranho que alguém que estivesse exigindo a verdade, ao mesmo tempo restringisse sua fonte e
limitasse o canal de sua expressão. Afinal de contas, não haveria outras fontes de dados históricos,
outras formas de conhecimento autêntico sobre o tempo dos cristãos e as doutrinas cristãs, a não ser as
que se encontram na Bíblia cristã ou nas Sagradas Escrituras? Se isso fosse verdade, por que então
estariam os teólogos e patriarcas cristãos, e os mais eminentes pesquisadores teológicos do mundo,
vasculhando todos os pontos da história antiga e todas as regiões de países antigos para encontrar o
que chamam de evidências cumulativas ou evidências mudas que comprovassem as declarações feitas
na Bíblia? Se é possível encontrar provas fora da Bíblia cristã, por que então limitar a autenticação ou
a sustentação das afirmações históricas cristãs única e exclusivamente à Bíblia? Se nada é confiável a
não ser o que está escrito na Bíblia cristã, ou aceitável em relação à vida do Cristo e Seus
ensinamentos e atividades, então por que toda essa pesquisa, essa busca tão antiga, essas custosas
explorações, esses laboriosos estudos e análises de escritos antigos, na esperança de encontrar mais e
mais fatos que lancem luz sobre a história cristã e as doutrinas cristãs?
Se tudo o que se refira à vida do Cristo e das instituições cristãs tem de se basear na Bíblia cristã para
que seja autêntico e confiável, então nada além da Bíblia cristã precisaria ser escrito sobre a vida de
Jesus e Seus ensinamentos. No entanto, milhares de livros já foram escritos interpretando, analisando e
explicando passagens da Bíblia, e outros milhares de livros foram escritos em todas as línguas citando
evidências históricas, evidências mudas e todas as outras formas de evidência encontradas fora da
Bíblia cristã, apoiando ou tendendo a apoiar e lançar nova luz sobre as afirmações da Bíblia cristã.
Muito já foi escrito por autoridades em Bíblia relativamente aos escritos históricos de Josephus, e uma
lente de aumento já foi aplicada a todos os trechos de suas obras, acompanhada de argumentos sobre
se eles confirmam ou não as declarações da Bíblia cristã sobre Jesus e Sua grande obra. Por que
estudar o livro de Josephus e por que mesmo citar qualquer coisa que ele tenha dito, se afinal a única
prova confiável pode ser encontrada no Novo Testamento?
Certamente, é uma idéia errônea, daqueles que estabeleceram uma atitude preconceituosa para com
este assunto, a de que as únicas comprovações aceitáveis são as que se encontram na Bíblia. Muitas
coisas contidas na Bíblia cristã não poderiam ser compreendidas hoje em dia se não fosse pela luz
lançada sobre muitas de suas passagens por dados externos. A pesquisa histórica e, aliás, a pesquisa
em todos os ramos das ciências e das artes, tem tendido a lançar nova luz sobre a Bíblia e dado ensejo
a comprovações ou modificações de trechos obscuros. Quase mensalmente, e com certeza anualmente,
no decorrer dos últimos séculos, explorações geológicas, geográficas, astronômicas e históricas têm
nos oferecido muitos conhecimentos novos ou têm comprovado antigas informações relativas a Jesus e
Seu tempo, Seus ensinamentos e Sua maravilhosa missão. Mas aqueles que têm preconceitos, mas ao
mesmo tempo se consideram sinceros e honestos estudantes da pesquisa bíblica e das verdades cristãs,
recusam-se a aceitar qualquer comprovação ou evidência externa que não apóie e confirme
minuciosamente cada palavra e cada trecho das versões antigas e modernas da Bíblia cristã.
Não obstante, a própria pesquisa bíblica, levada a cabo durante séculos por grupos acompanhados de
tradutores e intérpretes oficialmente escolhidos, tem constantemente produzido novas interpretações,
versões e nova compreensão de muitas passagens da Bíblia. A versão do Rei Jaime, tão comumente
aceita agora, representou uma apreciável modificação de alguns pontos importantes de interpretações e
versões dos Livros da Bíblia que eram anteriormente aceitas. Em épocas muito recentes, muitas
palavras ou passagens importantes e significativas dos Evangelhos Sinópticos foram bastante
modificadas e alteradas, às vezes a um grau extremo. Se essas modificações são aceitáveis ou
permissíveis, então temos de admitir que todos os períodos, vírgulas e palavras de muitas versões
antigas e recentes podem um dia ser contestadas, de modo que não devem hoje ser aceitos como a
verdade inquestionável, tal que alguma evidência externa, ou a comprove completamente, ou seja
completamente rejeitada. Exigir que um livro como este ou como A Vida Mística de Jesus só contenha
declarações conformes com a Bíblia cristã significa que o autor deveria simplesmente ter reescrito a
Bíblia, exatamente com as mesmas palavras, ou então não ter escrito nadai Essa atitude exclui a
possibilidade de se lançar nova luz sobre os múltiplos mistérios que cercam a vida e os ensinamentos
de Jesus, o Cristo.
Voltando ao nosso assunto principal, sentimos que é uma felicidade que neste caso particular haja
evidências, nas versões geralmente aceitas e adotadas da Bíblia cristã, que apóiem e comprovem
minhas afirmações sobre o número real de estudantes e colaboradores íntimos na escola secreta
dirigida por Jesus.

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Se procurarmos no Livro dos Atos dos Apóstolos, começando no versículo doze do primeiro capítulo,
o que os discípulos e seguidores passaram a fazer após a crucificação, o sepultamento e a Ascensão de
Jesus, verificaremos que um certo dia eles deixaram o Monte das Oliveiras e secretamente se dirigiram
para seu local privativo de reunião e estudos, onde se reuniram da maneira usual. O 13º versículo
desse capítulo indica claramente que eles retornaram ao local costumeiro, naquele período. Em outras
palavras, eles não se reuniram em um novo local, e sim no local onde tinham se encontrado por algum
tempo. Não está indicado se foi no local onde ocorreu a Última Ceia, ou onde cerimônias foram
realizadas em segredo, mas eles não se reuniram em um novo local. Os versículos 13 e 14 nos dizem
quais eram os discípulos principais que lá se encontravam: "Pedro e Tiago, João e André, Felipe e
Tome, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão o zelador, e Judas, irmão de Tiago. Todos
eles perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e
com Seus irmãos".
Vemos nesses versículos que não só os apóstolos estavam presentes, mas também " as mulheres", e
Maria mãe de Jesus e Seus irmãos (irmãos de sangue de Jesus).
Talvez muitos cristãos fiquem surpresos com as palavras acima, pois no versículo 14, acima citado, há
três verdadeiras surpresas para muitas pessoas. A primeira é a de que entre os apóstolos e discípulos de
Jesus que se reuniam secretamente havia mulheres. Várias passagens da Bíblia sugerem que as
mulheres não haviam sido excluídas do discipulado secreto da escola original criada por Jesus.
Faz algum tempo, numa discussão sobre a vida e as atividades de Jesus com um patriarca eminente e
sacerdote da Igreja Católica Grega, perguntei-lhe qual era, em sua opinião, uma característica notável
ou singular da igreja cristã, em comparação com as antigas religiões e religiões contemporâneas de
Jesus. Após alguns minutos de profundo pensamento, ele disse acreditar que era a posição que a igreja
concedia às mulheres e o reconhecimento da igualdade de direitos que a igreja cristã deu às mulheres
graças à atitude de Jesus com respeito a elas. Quanto mais analisamos esta resposta, mais
evidentemente verdadeira ela se torna. Até que Jesus aceitasse as mulheres em base de igualdade com
os homens sob Seu manto, levando-as em consideração como seres humanos dotados de alma, elas
tinham uma posição muito baixa, humilde e mesmo não reconhecida na maioria das religiões e dos
movimentos religiosos da Palestina.
Comentou-se muitas vezes que Jesus nunca amou ninguém ou então amou tão profundamente que não
Se permitiu referir-se a isso como emoção humana. Leitores irrefletidos das doutrinas cristãs, ou
pessoas que leram a Bíblia através de óculos coloridos, têm afirmado que Jesus nunca devotou um só
pensamento humano às mulheres. Outros têm declarado que Jesus as encarava com absoluta
indiferença. Outros ainda tentaram dar importância extraordinária ao fato de que uma mulher banhou
Seus pés em certa ocasião, e de que, na crucificação, mulheres demonstraram seu amor e adoração por
Ele. Há passagens na Bíblia cristã que indicam que houve ocasiões em que Jesus se sentiu bastante
chegado a certas mulheres, e falou com elas de modo a demonstrar que as tinha em mais alta estima do
que a maioria dos homens daquele tempo. Também devemos lembrar que Ele se deixou ver primeiro
por uma mulher, após a crucificação e ressurreição. Pode-se considerar esse encontro " casual", mas
esse tipo de pensamento diminui todos os poderes de Jesus, pois à luz de Seus outros milagres e
centenas de outros atos, devemos estar convencidos de que Ele poderia ter evitado esse encontro
"acidental" com uma mulher, se tivesse preferido fazer sua primeira manifestação de ressurreição a
um de Seus apóstolos.
Não somente Sua atitude em relação à adúltera demonstra que Ele tinha uma compreensão compassiva
dos problemas das mulheres, especialmente naquele tempo e relativamente aos códigos civis e morais
da época, e que Ele sentia ternura e bondade por todas as mulheres, especialmente as infelizes, como
muitas outras passagens indicam que as mulheres tinham um lugar muito especial de consideração em
Sua vida, embora Ele percebesse suas limitações dentro dos códigos então existentes. Apesar de toda a
compreensão e o poder, a autoridade e a instrução que Ele lhes pudesse dar, ainda assim elas teriam
sido incapazes de levar adiante Sua missão com a mesma liberdade de movimento e expressão que era
comum aos apóstolos.
Assim, a surpresa desse versículo pode estar na afirmação de que havia mulheres entre Seus muitos
estudantes secretos. Com base em todos os antigos registros relativos à organização e manutenção de
escolas secretas, não podemos duvidar de que havia um número equivalente de homens e mulheres
nessa escola cristã, e de que, exceto pelo grau de apostolado que era limitado aos doze pelos códigos,

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costumes e regulamentos do país, Jesus teria dado poder e autoridade às mulheres qualificadas, em
igualdade com os homens.
A surpresa seguinte é que entre essas mulheres da escola secreta estava Maria, Sua mãe. Essa é a
última menção à Maria na Bíblia cristã. O fato de que ela era uma estudante capaz, qualificada mesmo
desde o nascimento para se tornar apóstolo ou discípulo como qualquer outro que Ele escolhesse, é
demonstrado em meu livro, A Vida Mística de Jesus. Indivíduos que pretendem ser, ou dizem que são
profundos estudiosos da Bíblia, declaram que Jesus era totalmente indiferente às mulheres, preferindo
não tê-las por perto, e para apoiar esse argumento salientam que Ele chegou a censurar Sua mãe em
certa ocasião, dizendo-lhe que não O aborrecesse insistindo para que ela fosse para casa, e que
seguisse seu caminho e O deixasse em paz, pois Ele tinha importantes negócios para resolver com
relação às instruções de Seu Divino Pai. Essa aparente censura, feita quando Ele era muito jovem,
costuma ser ampliada e exagerada com uma interpretação totalmente errônea.
Se não fosse por aquele versículo do primeiro capítulo dos Atos dos Apóstolos, talvez fosse
interessante citar muitas outras passagens mostrando que Jesus não estava grosseira e impacientemente
censurando Sua mãe quando lhe falou daquele jeito durante sua visita à sinagoga. O fato de que Maria
era um de seus estudantes secretos, particulares e de confiança, no mesmo nível dos demais, indica
indubitavelmente que Ele nunca era impaciente com ela e não a considerava indigna de Sua
companhia nem incapaz de compreender Sua missão na vida.
A terceira surpresa do versículo 14 está nas quatro últimas palavras: "e com Seus irmãos". Em muitas
partes da Bíblia cristã há referências aos irmãos de Jesus, e tem sido prática comum de muitos
teólogos, pregadores e analistas das Escrituras, tentar explicar que toda a humanidade representava os
"irmãos" de Jesus, de modo que Ele costumava Se referir a todos que estavam por perto e pertenciam
ao sexo masculino como Seus irmãos, e Se referia particularmente aos discípulos e apóstolos como
Seus irmãos, jamais querendo dizer irmãos de sangue. No caso em pauta, entretanto, Jesus não estava
usando a palavra irmãos; foi um dos Seus seguidores que empregou o termo tal como é empregado em
várias outras partes da Bíblia e de um modo que não pode ser interpretado senão da maneira correta.
Se consultamos, por exemplo, o capítulo 13 de Mateus, versículo 55, lemos o seguinte: "Não é este o
filho do carpinteiro? E não se chama Sua mãe Maria, e Seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?"
Para os que ficaram surpresos com o fato de Jesus ter vários irmãos, haverá uma nova surpresa ao nos
referirmos a Suas irmãs. No entanto, logo no versículo seguinte do capítulo 13 de Mateus, lemos: " E
não estão entre nós todas as suas irmãs?"
No capítulo 7 de João, lemos no versículo 10: "Mas quando Seus irmãos já tinham subido à festa,
então subiu Ele também, não manifestamente, mas como em oculto". Aqui temos novamente uma
referência inquestionável a Seus irmãos de sangue. Para comprovar isto, lembremos a história que nos
conta o capítulo 7 de João.
Como acontece em muitas famílias em que há um profeta ou um gênio, um sábio ou uma Luz entre os
homens, os outros membros da família podem encarar com dúvida e ceticismo suas afirmações,
pretensões, e mesmo seus atos manifestos de sabedoria, e este foi o caso de Jesus. Logo no início de
Sua carreira, os membros de Sua família, exceto Sua mãe, provavelmente questionaram a grandeza e
divindade de Sua missão. Podem mesmo ter zombado e ridicularizado Suas primeiras pregações. O
capítulo de João acima citado nos conta como Jesus agia abertamente mesmo após ter sido avisado de
que os judeus e outros procuravam matá-lo. Assim, o terceiro versículo desse capítulo nos diz o que
Seus irmãos Lhe disseram: "Sai daqui e vai para a Judéia a fim de que também Teus discípulos vejam
as obras que fazes”.
No versículo seguinte vemos que "Seus irmãos" disseram: "Porque não há ninguém que procure ser
conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo". No
versículo seguinte, o quinto, lemos: "Porque nem mesmo Seus irmãos acreditavam Nele".
Nesses versículos verificamos que há uma clara distinção no versículo 3 entre Seus irmãos e Seus
discípulos, e a alusão ao fato de que Seus irmãos não acreditavam Nele não poderia ter se referido aos
discípulos. No versículo 8 Jesus diz aos Seus irmãos para irem à festa e que Ele apareceria lá mais
tarde.
Levando em consideração tudo o que foi dito, vemos que os versículos 13 e 14 do primeiro capítulo
dos Atos dos Apóstolos nos dá provas consideráveis com respeito ao que ocorria nos períodos
particulares da vida de Jesus, quando Ele estava fazendo Seus planos e realizando Sua missão em
segredo através de Sua escola.

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Se o leitor está surpreso ao verificar que Sua mãe e muitas outras mulheres, bem como Seus irmãos, e
sem dúvida Suas irmãs, faziam parte de Seu grupo de estudantes particulares, a próxima grande
surpresa estará provavelmente no seguinte versículo, de número 15, onde vemos: "E naqueles dias,
levantando-se Pedro no meio dos discípulos (ora, a multidão junta era de quase cento e vinte
pessoas)..." Antes de expormos o que Pedro lhes disse, notemos a clareza com que este versículo
apresenta o fato de que o número de pessoas nessa reunião secreta, inclusive a mãe e os irmãos de
Jesus, e mulheres em geral, era cento e vinte. Isso certamente não limita esse número aos doze, e
também vemos nesse versículo que Pedro levantou-se em meio aos "discípulos", que incluíam os
irmãos de Jesus, conforme explica o versículo 14. A distinção entre esses dois termos é mais uma vez
bastante significativa.
Ora, o motivo dessa reunião de todos os membros da escola secreta era um assunto muito importante.
Notamos que o versículo 14 diz que todos os que estavam assim reunidos "perseveravam
unanimemente em oração e súplicas". No primeiro versículo do capítulo 2 dos Atos encontramos outra
referência ao fato de que "estavam todos reunidos no mesmo lugar", e no versículo 46 lemos que eles
continuaram "unânimes todos os dias no templo". Em outros pontos temos referências a essa reunião
"no templo", como por exemplo no versículo 53 do capítulo 24 de Lucas.
Esse local de encontro num aposento superior, conforme diz o Livro dos Atos, esse local secreto de
reunião para onde eles estavam acostumados a se dirigir, era seu "templo secreto", termo usado na
antigüidade por todas as escolas secretas. Na verdade, o termo templo, usado para indicar um local de
encontros restrito, segregado e sagrado, foi usado primeiramente pelas primitivas escolas secretas, e a
palavra por elas utilizada é corretamente traduzida para a palavra moderna, derivada do latim, templo.
É por esta razão que na maioria das sociedades e fraternidades secretas do mundo moderno,
especialmente nas que se dedicam ao estudo das filosofias e dos mistérios sagrados, o sanctum
sanctorum é denominado templo.
A finalidade dessa reunião especial era a eleição de um novo apóstolo para substituir Judas, que havia
traído Jesus e sofrido a perda de sua vida terrena, em decorrência de sua tentativa de escapar à sua
própria consciência. Então vemos que Pedro se levantou em meio aos presentes e falou-lhes, depois de
longas preces e súplicas, sobre os seguintes pensamentos: "Era necessário que as Sagradas Escrituras
do passado e as profecias de nossos dias antigos fossem cumpridas como o Espírito Santo nos havia
revelado pela boca de Davi, a respeito de um Judas que guiaria os inimigos para o local correto onde
encontrariam nosso grande líder e salvador, Jesus”. Essa terrível manifestação de falsidade e traição,
deslealdade e inimizade, tinha de ser cumprida. Fora decretado que Jesus deveria chegar
oportunamente à Sua morte pela traição de um Judas. Este era um de nós, nosso companheiro, nosso
associado de confiança, mas ele tinha o seu papel com relação ao serviço que deveríamos prestar
individual e coletivamente. Ocorreu então que um de nossos companheiros praticou o necessário mas
lamentável ato e, com o dinheiro recebido por sua iniqüidade, com as moedas que lhe deram, comprou
um campo. E ao correr por esse campo para escapar daqueles que o poderiam ver e reconhecer, e
também para escapar às censuras de sua consciência, atravessou o campo correndo para se esconder e
caiu e se feriu, o que lhe trouxe a morte; ele sangrou profusamente naquele campo, a tal ponto que
todos que ouviram esses fatos passaram a chamar o campo de Acéldama, que significa "campo de
sangue".
"Lembrai-vos", disse Pedro à assembléia, "que está escrito no Livro dos Salmos: fique deserta a sua
habitação, e não haja quem nela habite, e tome outro o seu bispado".
Pedro explicou então que a vaga entre eles deveria ser preenchida por alguém que pudesse dar
testemunho de todos os atos de Jesus, inclusive a crucificação e a ressurreição Deveriam eles escolher,
portanto, para suceder a Judas, um homem que tivesse sido companheiro deles durante todo o tempo
em que Jesus estivera por perto e no meio deles. Então escolheram dois que tinham condição de
preencher o cargo vago, um era José, chamado Barrabás, com o sobrenome de Justo, e outro chamado
Matias. Depois de fazerem novas preces pedindo a Deus, que conhecia o coração de todos eles, que
lhes mostrasse qual dos dois fora escolhido no alto para assumir a parte do ministério e apostolado que
Judas havia desertado, finalmente fizeram a votação e Matias foi eleito e considerado um apóstolo
entre os doze, completando assim este número.
Se pudéssemos saber os nomes de todos os membros da escola secreta, muitos mistérios ligados à vida
de Jesus seriam esclarecidos. Descobrimos, por exemplo, que José de Arimatéia foi discípulo de Jesus
mas sob grande sigilo, de acordo com João, capítulo 19, versículo 38.

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Segundo outras fontes de informação, esse José era um israelita rico e piedoso, que teve o privilégio
de realizar os últimos atos de dever e afeto com relação ao corpo de Jesus. Ele é claramente
distinguido de qualquer outro José pela adição de seu local de nascimento ao nome. Em Marcos,
capítulo 15, versículo 43, verificamos que José era um senador muito honrado, e por isto devemos
entender que ele fazia parte do Grande Conselho do Sinédrio. Isto justifica a razão do sigilo de sua
ligação com a escola de Jesus, e porque ele é citado como discípulo secreto. Em Lucas, capítulo 23,
versículo 50, vemos que José de Arimatéia era um homem bom e justo, e um daqueles que, tendo no
coração as palavras dos antigos profetas, aguardavam o Reino de Deus. A Bíblia nos diz claramente
que José não concordou com os conchavos e atos de seus colegas na conspiração para provocar a
morte de Jesus. Mas parece que lhe faltou a coragem que o levasse a protestar abertamente contra
essas decisões. Por outro lado, conhecendo o acordo e a promessa secretamente feitos por todos os
discípulos da grande escola, sabemos que houve ocasiões em que eles foram forçados a guardar
silêncio e em que lhes foi proibido protestar e especialmente exercer qualquer poder ou influência de
natureza política que desviasse o curso cósmico dos acontecimentos.
Se a crucificação, a ressurreição e a ascensão de Jesus foram predeterminadas, assim como até mesmo
Sua traição, de pouco valeria que José revelasse seu relacionamento com Jesus e Sua escola secreta,
protestando em vão contra um acontecimento predeterminado. Mas hoje podemos compreender
porque José se apresentou ousadamente diante de Pílatos e pediu que o corpo de Jesus lhe fosse
entregue, e algum dia talvez possamos saber por que Pilatos foi tão relutante em efetuar a grande farsa
de um julgamento, com o crime que disso resultou, e também por que ele consentiu tão prontamente
em satisfazer o pedido de José.
Outro ponto importante ligado aos serviços prestados por José é de interesse dos rosacruzes e de todos
os místicos das antigas escolas de mistérios. Segundo se informa, esse homem rico possuía um grande
túmulo cavado numa rocha, no qual "nenhum cadáver humano tinha sido ainda enterrado", e que
estava situado em um jardim que também pertencia a José e ficava "próximo do local da crucificação".
O simbolismo disso não deve ser esquecido. O túmulo (onde ninguém até então havia sido enterrado)
escavado numa rocha, em um jardim, era mais do que um túmulo comum. Em muitos séculos as
escolas de mistério usaram esses túmulos onde só os corpos de seus grandes líderes eram colocados
para depois ressuscitarem. O túmulo onde o corpo de Jesus foi colocado por José fora em parte
reservado para a escola secreta. Talvez estivesse localizado num jardim de propriedade de José, e pode
ser que, sendo um membro rico e piedoso da escola secreta, ele tivesse doado esse túmulo à escola,
mas uma parte dele jamais foi destinada a uma pessoa comum ou a um sepultamento comum, de modo
que se sabia naquela época que José e seu amigo Nicodemos "envolveram o corpo de Jesus na
mortalha de linho (sabendo) que Jesus se levantaria do túmulo".
Apenas de passagem, poderá ser interessante observar que esse mesmo José foi enviado à Grã-
Bretanha pelo apóstolo Felipe, mais ou menos no ano 63, estabelecendo-se em Glastonbury com
alguns outros discípulos da escola secreta. Lá ele deu continuidade às missões especiais a eles
atribuídas por Jesus, e à representação das instituições cristãs, além do lançamento das bases para os
ensinamentos e práticas das doutrinas secretas.
Creio que apresentei neste capítulo suficientes provas bíblicas sobre a existência de uma sociedade ou
fraternidade singular, as quais poderão satisfazer os mais analíticos estudantes da Bíblia. Mas não
tenho esperança de ter satisfeito os clérigos ou padres cristãos.
Verifiquei por meio de cuidadosas pesquisas que muitos teólogos do passado aventuraram a opinião e
muitas vezes a declaração positiva de que o número real de verdadeiros seguidores ou discípulos de
Jesus era 70. Este número proveio de certas declarações da Bíblia que foram erroneamente
interpretadas ou aceitas sem levar outros fatos em consideração. Além disso, contradiz a afirmação que
citamos mais acima, relativa à presença de cento e vinte discípulos quando houve a eleição do
sucessor de Judas. Alguns teólogos admitiram ter encontrado evidências, na leitura e releitura dos
antigos registros judaicos e gregos, de que José de Arimatéia foi um dos setenta discípulos secretos.
Mas parece muito claro que, além dos doze apóstolos de que muito se fala em todas as modernas
pregações cristãs, havia um grande número de outros discípulos que não tinham o cargo oficial de
apóstolo. O fato, então, de que os seguidores de Jesus estavam divididos em um grande corpo de
discípulos com um círculo interior de doze apóstolos, de imediato nos apresenta um quadro claro do
antigo sistema de sociedades secretas e afiliação secreta. Qualquer argumento que possa vir dos
críticos deste livro no sentido de que a única razão de Jesus ter discípulos secretos era que Ele estava

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se escondendo ou tentando Se esconder dos inimigos, e de que Seus discípulos também tinham de se
ocultar para proteger a própria vida, tem em contrapartida o fato de que somente no período final de
Suas atividades Jesus tentou qualquer sigilo quanto ao Seu paradeiro ou julgou necessário que Ele e
Seus discípulos agissem em segredo. Contudo, esses cento e vinte discípulos foram tão bem treinados
e qualificados que receberam autorização e poder para continuar Suas atividades, cumprir Sua missão
e fazer as coisas milagrosas que Ele tinha feito.
Deveremos então acreditar que esses cento e vinte discípulos secretos só se tornaram discípulos
secretamente no último ano de vida de Jesus? Deveremos acreditar que eles poderiam ter sido
treinados e qualificados em menos de um ano? A única explicação possível para o poder e a autoridade
que lhes foram conferidos, e a relação íntima que tiveram com Jesus até o último dia, é a de que eles
foram treinados e instruídos por um longo período, e se assim foi, por que não se mencionam as
atividades desses cento e vinte discípulos nos primeiros anos da vida de Jesus, enquanto eles eram
Seus alunos e colaboradores? A única conclusão é que eles foram membros secretos desde o início e
não se desejava que fossem feitas referências a eles em relação à obra de Jesus até que surgisse no
último ano a condição que tornasse necessária a revelação de sua existência e suas atividades, bem
como de sua participação nos últimos acontecimentos de Sua vida. Se essa é a verdade, Seu grupo de
discípulos constituiria uma autêntica sociedade secreta, uma escola secreta típica; e o ritualismo de
suas cerimônias, seus métodos de entrada no local secreto de reuniões, os estranhos sinais que
utilizavam para identificação e saudação, tudo isso faz lembrar e mesmo repete os processos,
cerimônias, sinais e saudações das mais antigas escolas de mistérios, que eram sem dúvida sociedades
secretas que ensinavam e propagavam a antiga sabedoria e as antigas doutrinas secretas.
Essa conclusão é reforçada ainda pelas próprias doutrinas que Jesus pregou abertamente e nas quais as
parábolas e alegorias contêm símbolos reconhecíveis, além das doutrinas que Ele ensinou aos
discípulos e que eles praticaram e preservaram como as bases da atual igreja cristã. Assim sendo,
nossa próxima obrigação será examinar essas antigas doutrinas e nelas encontrar a clara relação com
os antigos ensinamentos secretos, a inquestionável fundamentação nos mistérios de outras escolas, e o
segredo do poder que o cristianismo possuía nessas doutrinas, que não foram inculcados nem postos
em prática nas formas modernas da religião cristã.

CAPÍTULO X: As doutrinas secretas

Seria necessário um volume muito grande, do tamanho e forma de uma enciclopédia, para expor todas
as doutrinas e princípios secretos explanados e demonstrados por Jesus em Sua escola secreta, no
decurso de Sua existência. Há alguma evidência de que um grande número de princípios menores
foram abandonados nos primeiros meses de existência da escola, enquanto um número elevado de
outros princípios menores foram unidos em tríades ou grupos de três princípios para formar uma
doutrina fundamental, e várias doutrinas principais foram eventualmente modificadas e postas à parte
porque não eram apropriadas, propícias ou aplicáveis às peculiaridades de condições e épocas, e
teriam pouco ou nenhum valor em outros países em anos futuros.
A melhor maneira de tratar completamente deste assunto e oferecer ao leitor e estudioso uma
compreensão básica e abrangente dos segredos essenciais, consiste em escolher as doutrinas que
vieram até nós através dos séculos, seja em sua forma prístina ou original, ou ligeiramente
modificadas, ou as que foram retiradas do conhecimento público a partir do segundo ou terceiro século
e foram mantidas exclusivamente dentro de um certo círculo interior da hierarquia ou do clero cristão.
Talvez o mais fundamental, o mais interessante e o mais revolucionário princípio ensinado por Jesus e
que se tornou a base de várias doutrinas Suas tenha sido o que diz respeito ao Seu código moral. De
modo generalizado, é reconhecido o fato de que o elemento moral do cristianismo é mais ou menos
ideal, mas sem dúvida é uma característica importante, praticável com sutis qualidades e efeitos, mas
não compreendida pela média dos cristãos e com certeza revelada incompleta e inadequadamente
pelos pregadores e instrutores cristãos.
Desde o início do trabalho missionário de Jesus e no decorrer de toda a Sua carreira, Ele deu grande
ênfase à questão da moralidade. Mas Seu código moral parecia espantosamente estranho para os
velhos filósofos e religiosos. Talvez só os místicos daquele tempo puderam reconhecer em Seu código

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moral um princípio muito familiar. Mas era por esse código moral que Jesus avaliava o padrão e a
qualidade do caráter e da natureza dos indivíduos que admitia na escola secreta. Esse código era a
medida pela qual Ele determinava a aptidão das pessoas que se interessavam por Seus ensinamentos e
expressavam um interesse suficiente para lhes garantir o convite para se unirem aos demais num
contato mais pessoal e íntimo com Sua sociedade.
Os analistas das doutrinas cristãs expressaram o pensamento de que, comparados com as antigas
religiões pagas, a religião e os ensinamentos de Jesus constituíram uma moralidade mais elevada do
que a já estabelecida ou reconhecida pelos pagãos ou povos tribais de todo o mundo. Mas esta é uma
idéia errônea, devido a uma compreensão incorreta da verdadeira natureza do antigo código moral e do
real elemento de mistério presente no código moral estabelecido por Jesus. Veremos que não foi Jesus
o criador desse código moral, que o mesmo não era peculiar a Ele, já que existia havia muitas eras nas
escolas de mistério, embora fosse algo passível de ser compreendido e aplicado somente por pessoas
dotadas de desenvolvimento espiritual e desabrochar místico. Pregar esse código de forma sutil e
gradativamente estabelecê-lo como código geral entre pessoas comuns foi verdadeiramente uma tarefa
grandiosa e aparentemente impossível que Jesus Se impôs (ou que foi predeterminada para Ele).
Entre os povos antigos e entre os pagãos, mesmo na época de Jesus, o código moral geralmente aceito
e aplicado tinha a forma de regras ou regulamentos ditando aos indivíduos que respeitassem as
necessidades mais ou menos gerais da comunidade. Esse código moral constituía uma espécie de
dever cívico para com o próximo ou para com a comunidade. Era uma coisa totalmente impessoal,
baseada no fato de que o elemento essencial da existência humana, no tocante à conduta pessoal, era o
Eu exterior e objetivo do homem. Eram os prazeres da carne, naturais ou não, normais ou anormais,
que tentavam os homens à maioria dos pecados que eles cometiam e levavam ao maior grau e às
maiores manifestações de imoralidade. Em quase todas as escrituras antigas podem ser encontradas
alegorias de alguma espécie, muitas vezes quase idênticas à da queda do homem descrita no Velho
Testamento. A tentação de provar dos frutos da terra através dos intrigantes sussurros e incitações da
serpente (criatura que no simbolismo sempre representou a voz sutil das coisas terrenas e a natureza
sutil das manifestações mundanas), exemplificava o pensamento e a idéia de que todo pecado, e com
certeza toda imoralidade, provinham do homem exterior através de Seus sentidos mortais e terrenos.
Mesmo o "pecado dos pecados”, o maior de todos eles, e qualquer um chamado de "pecado contra um
deus", provinham do Eu exterior.
Entretanto, faz-se necessário compreender que, no entendimento dos povos pagãos e povos primitivos,
e da maioria das pessoas inteligentes e filosóficas daquela época, não havia um termo de distinção
como Eu exterior. Só existia um ego manifesto, tangível e visível. Era o corpo com o cérebro e os
sentidos humanos mortais. A existência de uma alma nesse corpo era uma idéia antiga e uma crença
geralmente aceita pelos que haviam estudado as antigas filosofias, os antigos mistérios e revelações
espirituais. Essa alma, entretanto, não constituía um "Eu" na mente das pessoas, no mesmo sentido em
que o corpo constituía um "Eu", e a alma era considerada incapaz de imoralidade ou pecado. Todos os
ensinamentos de mistério antigos afirmavam que a alma estava tão intimamente associada com o
Espírito Santo, com o sopro da vida, que era algo divino, imortal e perfeito, que entrava no corpo do
homem como uma parte de Deus, ou da consciência e do reino de Deus, ficando ali aprisionada com
pouca ou nenhuma possibilidade de se expressar, a não ser em casos de grande pressão emocional ou
êxtase espiritual, em oportunidades extremas. Acreditava-se e reconhecia-se que o espírito no interior
do homem, a alma no interior de seu corpo, poderia ser levada a se expressar de vez em quando; e por
causa dos mistérios que envolviam a natureza e a finalidade da alma no homem, as mentes não
místicas e não treinadas acreditavam que, quando a alma de fato se expressava, isso provavelmente
acontecia de acordo com o próprio mistério que a envolvia. Por conseguinte, suas expressões se
dariam através de estranhas contorções do corpo, de sons esquisitos emitidos pela boca, ou de um
balbuciar de palavras representativas de línguas desconhecidas, ou ainda, em algumas ocasiões, de
movimentos rítmicos e balanços do corpo, ou também do poder de curar os doentes, despertar os
mortos e fazer milagres.
Acreditava-se, igualmente, que a realização de milagres e a cura dos enfermos eram expressões da
alma que só poderiam ocorrer aos que tivessem desenvolvido um elevado grau de harmonização
espiritual e fossem mensageiros de Deus a um grau extremo. Não obstante, muitos acreditavam que
quando grupos de pessoas se reuniam em sessões espirituais ou sob o transe da tensão espiritual, o
estado de êxtase que nelas ocorria se revelaria mais facilmente através dos murmúrios e balbucios da

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estranha língua da alma, ou do peculiar controle dos movimentos do corpo pela alma. Por esse motivo,
muitas seitas ou cultos cresceram e se desenvolveram entre povos pagãos, e mesmo entre os judeus, e
temos muitos registros desse tipo de reunião em que essas expressões extremas da alma constituíam o
ritualismo do serviço religioso. E, por estranho que pareça, esses cultos e seitas existem até hoje.
Só o Eu objetivo e mortal do homem tinha condição de ser imoral ou cometer pecados. Por essa razão,
havia em muitos países sistemas exóticos de desenvolvimento religioso e desabrochar espiritual em
que a tortura do corpo constituía o meio e o método para o crescimento espiritual. Até que todas as
paixões do corpo (significando o cérebro e os sentidos naturais) fossem dominadas, até que os
instintos herdados e adquiridos pela carne fossem completamente controlados, até que todos os
estímulos e reações inconscientes do sistema físico fossem cercados, tornando o sistema físico imune
aos estímulos dos poderes terrenos da própria natureza, o homem não podia tornar-se um ser moral.
Enquanto o homem se mostrava capaz de reagir a estímulos mundanos ou aos desejos e impulsos da
carne, de ceder às tentações do mundo exterior ao seu corpo, não estava qualificado para cumprir seus
deveres cívicos ligados à comunidade. Os atos reprováveis ou proibidos de seu ser mortal eram
considerados perniciosos para a comunidade, visto que constituíam elementos, problemas e fatores que
tornavam a comunidade desagradável, infeliz, doentia e frágil para combater seus inimigos naturais e
preservar sua existência.
O único pecado possível contra os deuses dos pagãos era negar a existência, o poder ou a possível ira
do deus da comunidade ou da tribo. Tudo o mais que alguém fizesse a outro ser humano era imoral
porque ia contra os interesses da comunidade ou era contrário ao dever cívico do indivíduo para com a
maioria. Luxúria, adultério, assassinato, roubo, a prática de perversões, a apropriação das posses ou de
direitos de outro indivíduo, o uso de palavras proibidas e centenas de outros atos não eram
classificados como pecados contra o deus tribal ou comunitário, nem pecados contra os indivíduos
envolvidos nesses atos, e sim como crimes contra a comunidade, a tribo ou a nação.
Vemos, portanto, que o código moral não se fundamentava em mandamentos ou convenções divinas,
em onipotentes proibições ou proscrições de deuses. Tratava-se de um código criado, reconhecido e
aceito gradativamente pelos legisladores e dirigentes da comunidade e seus bons cidadãos. O
comportamento imoral representava um desafio às regras e regulamentos cívicos, atraindo para o seu
perpetrador a punição física nas mãos dos cidadãos ou das pessoas autorizadas a cumprir as exigências
do código nesse sentido. Atos imorais e pecaminosos, portanto, não atraíam para o pecador nenhuma
condenação divina, nenhuma exclusão espiritual, ou discriminação crítica num sentido religioso. Se o
corpo sofria tortura e punição suficientes pela violação do código de moral cívica, considerava-se que
uma compensação satisfatória havia sido feita e que o pecado estava apagado.
Conforme dissemos acima, a única exceção era o pecado contra Deus ou os deuses, que constituía
blasfêmia e negação da existência e do poder do deus ou dos deuses, e nesse caso o pecador tinha de
ser executado para satisfazer as exigências especiais do código espiritual pelo qual se expressava a ira
divina. Esse tipo de morte liberava imediatamente a alma do corpo e o executado deixava de existir na
terra como indivíduo; vemos então que a total aniquilação da individualidade era o preço supremo
para um pecado contra Deus.
Ora, se analisamos o código moral a que Jesus se referiu em tantas parábolas e alegorias, vemos de
imediato que havia uma grande diferença entre o Seu código moral e o que havia existido antes por
tanto tempo. É verdade que o código moral transmitido por Jesus continha muitos elementos iguais aos
que compunham o código judaico, mas os judeus não ensinavam, nem aos seus mais eruditos
discípulos, o elemento místico subjacente ao código, pelo qual esse código tornava-se verdadeiramente
moral e espiritual. Em primeiro lugar, Jesus distingue Seu código moral tornando claro aos Seus
discípulos e estudantes secretos que a moralidade consiste num dever para com Deus e não para com a
comunidade. Jesus esforçou-se constantemente, em Suas parábolas e alegorias públicas, em Suas
pregações e ações, e em Seus ensinamentos e demonstrações particulares, para demonstrar que a
moralidade era um dever para com Deus por ser um assunto particular entre o Eu interior do homem e
seu Deus, que o verdadeiro código moral não era um simples assunto ou sistema público, e que a
principal inspiração do código moral não era o princípio de cooperação com o semelhante ou de
auxiliar um irmão terreno, e sim de salvar a própria alma.
Esse código moral, como foi expresso por Jesus, tentava introduzir de maneira muito sutil a idéia de
que o homem era dual num sentido diferente de um simples corpo feito de elementos terrenos e uma
alma espiritual nele aprisionada. Ele tentou estabelecer a compreensão de que, assim como o homem

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tinha um Eu exterior com todos os seus impulsos, sensações e sua suscetibilidade à influência do
raciocínio, do pensamento e do impulso e da tentação mundana, tinha também um outro eu, o Eu
interior, distinto do corpo e apenas parcialmente associado à alma.
A despeito de ter a igreja cristã moderna salientado bastante a ressurreição final do corpo e sua
possível entrada no Reino de Deus, e a despeito de certas seitas cristãs terem desenvolvido uma
concepção errônea da idéia subjacente à Ressurreição, a ponto de considerarem o corpo físico sagrado,
recusando-se a aceitar a cremação, e em alguns casos recusando mesmo a autópsia ou qualquer forma
de lesão física aos ossos e tecidos, por acreditarem que isso interferiria na ressurreição final do corpo e
sua entrada no Reino dos Céus, Jesus não ensinou, não insinuou, nem mesmo acreditava que o corpo
físico do homem fosse mais do que um envoltório mortal feito do pó da terra e totalmente sem
importância no esquema geral das coisas. Isto pode parecer chocante para muitos cristãos ortodoxos,
mas qualquer outro ponto de vista seria totalmente incoerente com as doutrinas secretas ensinadas e
praticadas por Jesus.
Em nenhuma parte dos ensinamentos e práticas de Jesus podemos encontrar a menor insinuação de
que Seu grande sistema tivesse a finalidade de salvar o corpo físico do homem. Nem a salvação da
alma foi ensinada por Jesus, e todas as referências da Bíblia cristã à salvação da alma constituem uma
interpretação errônea do princípio secreto ensinado por Jesus. Ele se atinha rigorosamente, como o
fizeram todos os místicos de Seu tempo e dos séculos que O precederam, ao fato de que a alma do
homem era imortal, mais que perfeita, e divina, composta da consciência de Deus, e insuflada no
corpo físico do homem para torná-lo "uma imagem viva de Deus". Sempre que Jesus enfatizava a
salvação da parte espiritual, psíquica, do homem, referia-se à terceira parte, ao homem interior,
distinto do Eu exterior e apenas associado temporariamente à alma enquanto esta estivesse encarnada
no corpo físico.
Esse Eu interior constituía a individualidade universal, a entidade distinta, o caráter, o Eu perpétuo.
Certamente, se a alma do homem tinha origem e fonte na consciência e mente de Deus, era não só
imortal como imune a qualquer contaminação, qualquer pecado, qualquer condenação. Não poderia,
portanto, ser salva de coisa alguma, e Jesus não veio à Terra, nem pregou e fez demonstrações, sofreu
na cruz e ofereceu Sua vida, para "salvar" a alma humana.
Como o público, os Seus ouvintes não treinados e preparados, não podiam fazer uma correta distinção
entre alma, o Eu interior e o Eu exterior, eles não foram capazes de discernir a verdadeira mensagem
secreta de Suas doutrinas sobre a moral.
O leitor não deverá inferir dessas palavras que Jesus negava a idéia da cooperação e a importância do
auxílio ao próximo, pois Ele ensinou e demonstrou o princípio de que cada um é o guardião e servidor
de seu irmão. Não obstante, mais importante do que estabelecer e manter um código cívico cujo maior
propósito ou único objetivo fosse tornar possível a vida comunitária, uma nação ideal, um sistema
cooperativo entre os homens, era a salvação do Eu interior de cada um através de um código moral
baseado no dever individual para com Deus, o Criador, o Pai de todos.
Um ponto importante na implantação desse novo código moral era a sagrada obrigação, a ser assumida
por todos os que fossem aceitos pela escola secreta, de renunciar ao mundo e desenvolver um amor
puramente espiritual. Esses dois princípios permitiriam ao indivíduo livrar-se dos poderes
escravizadores do mundo e tornar-se imune às tentações da carne.
As escolas de mistério haviam ensinado por muitos séculos que, até que o homem aprenda a encarar a
Terra e todas as suas dádivas como um reino intermediário, um degrau criado apenas para servir ao
homem e não para escravizá-lo, e até que o homem aprenda a expressar e responder a um grau maior
de amor espiritual do que de amor físico ou mundano, ele não poderá salvar seu Eu interior da
inevitável destruição ou aniquilação. O Eu interior, ao contrário da alma, não é essencialmente imortal
a não ser por suas virtudes, sua moralidade, e sua consecução espiritual. A alma do homem é
eternamente imortal e divina. O homem interior é livre para escolher a consecução ou se deixar
devorar pelo fogo do inferno, onde será dissociado da alma e para sempre separado da expressão
física.
E o Eu interior como entidade que pode se elevar em ressurreição ao Reino dos Céus, enquanto o
corpo físico retorna ao pó da terra e perde sua identidade, individualidade, seu caráter e sua natureza.
Através dos princípios secretos envolvidos no código moral proclamado por Jesus, o caráter, a
individualidade do homem que constitui o Eu interior seria salva, de modo que era dever de cada um

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para com Deus levar ao Reino dos Céus, e à harmonização com Sua sublime presença, o Eu interior,
como entidade digna de perpétua existência e contínua perfeição.
Jesus ensinou secretamente, e tentou revelar sutilmente em Suas parábolas e alegorias, que era o Eu
interior, o caráter ou a personalidade dentro do corpo, que cometia os pecados que constituíam
violações do verdadeiro código moral. Ele ensinou aos Seus discípulos, de modo bastante privativo, os
estranhos segredos do funcionamento da mente humana, bem como dos desejos e impulsos do corpo
físico, e do raciocínio ou pensamento errôneo do cérebro mortal, pelo qual ele oferece ao Eu exterior
em evolução tentações para pecar e também impulsos para fazer o bem; mas esses desejos, impulsos e
tentações são transmitidos ao Eu interior, para ele decidir e escolher. E, segundo suas decisões, e as
ações disso resultantes, esse Eu interior tem de assumir a responsabilidade, não só de seus atos, mas
também de seus próprios pensamentos. Jesus tornou isso claro em um notável exemplo, quando
explicou que o simples olhar e pensar com luxúria e imoralidade com relação a uma mulher era o
mesmo que cometer um ato imoral.
Jesus ensinou que o corpo físico, com toda a sua mortalidade, não podia ser considerado responsável
por seus atos pecaminosos, por não possuir qualquer grau de consciência divina ou iluminação
espiritual que lhe permitisse determinar ou decidir o que era mau ou errado, ou o que era certo. Não
podia ser condenado a sofrer punição em qualquer tempo no futuro, porque não tinha futuro, mas
apenas um breve momento de existência.
Esse ponto está relacionado com outra de Suas doutrinas secretas, na qual Ele revelou aos discípulos
que a parte física do homem estava se modificando continuamente, que o corpo do homem hoje não
era o corpo de ontem ou do ano anterior; que a cada sete horas o sangue do corpo ficava tão diferente
em natureza física e química que talvez nem pudesse ser identificado como o mesmo sangue; que os
tecidos externos do corpo descamavam-se constantemente; que esses tecidos eram compostos de
células que morriam e desapareciam; que, assim como os cabelos sempre voltavam a crescer, o mesmo
acontece com todas as partes do corpo do Homem. Jesus ensinou esses fatos a propósito de Seus
métodos secretos de curar doenças e provocar mudanças rápidas na natureza física ou material do
corpo e no seu funcionamento.
Assim sendo, o corpo físico do homem não podia ser responsabilizado pelos pecados que o homem
cometia, nem podia prestar contas em um futuro distante pelos pecados de hoje, pois o corpo de hoje
não seria o mesmo dentro de um mês ou um ano. E, como a alma não podia cometer pecados e não
podia portanto prestar contas dos mesmos, então só o Eu interior em evolução, aquilo que distinguia o
homem do animal, que distinguia um indivíduo de outro em características de natureza e em
personalidade, podia ser responsabilizado e um dia ajustar contas pelos pecados do homem.
Outro ponto secreto de Suas doutrinas, freqüentemente citado com grande ênfase pelos modernos
pregadores cristãos, é a idéia de que Jesus era a Senda ou o Caminho da salvação do homem. Esta
idéia é aceita e interpretada de duas formas. Uma é a interpretação filosófica segundo a qual Jesus
queria dizer que não era Ele como indivíduo, mas como mensageiro, que representava o modo e o
curso para o viver correto; e que, como exemplo vivo e demonstrador, Ele se tornara o Caminho para a
eterna alegria e a felicidade espiritual. A interpretação ortodoxa nos incita a compreender que isso
significa que devemos aceitar Jesus como nosso Salvador, nosso Deus, nosso Senhor, nosso único
meio de salvação através de Sua Crucificação, do sangue que Ele derramou e de Seu corpo
martirizado, e que Ele morreu para que pudéssemos ser salvos vicariamente.
Mas para os místicos de Sua escola, e para os poucos místicos estranhos a ela que ocasionalmente iam
à Palestina e ouviam Suas parábolas e alegorias, e voltavam para suas próprias escolas de sabedoria
para explicar que um novo mensageiro de Deus estava na Terra, as palavras citadas na página anterior
tinham outro significado, que os místicos de hoje aceitam como o significado verdadeiro, sem
deixarem completamente de lado as outras interpretações.
Ao deixar transparecer que Ele era o Caminho ou a Senda, Jesus quis dizer que as revelações que Ele
fazia, a revelação da existência dentro de Seu corpo de um Eu altamente evoluído, que não era nem o
eu físico nem a alma, constituía um caminho ou um meio para o homem descobrir o mistério de sua
própria existência, dando-lhe a oportunidade de se aperfeiçoar e se assegurar de sua entrada no futuro
Reino, onde seria preparado e qualificado para continuar sua evolução espiritual.
Quase todas as frases pronunciadas por Jesus, e quase todos os pensamentos expressos por Ele em
alegorias, parábolas ou instruções explícitas, lançaram luz sobre algum grande mistério. O próprio
Jesus esteve entre os homens como um mistério. Para as multidões, Ele representava o mistério dos

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mistérios. Mesmo para Seus inimigos, que O condenavam e acusavam de charlatão, embusteiro, falso
profeta, político intrigante e hipócrita, Ele foi muito mais do que tudo isso — foi um homem-mistério.
No fundo do coração eles não acreditavam que Seu único propósito na vida fosse o charlatanismo que
eles alegavam ter reconhecido em Sua conduta. E nem todos eles acreditavam totalmente que ele fosse
um embusteiro sem qualquer poder ou autoridade. Nem os políticos e os dirigentes acreditavam
totalmente que a missão de Sua vida girasse unicamente em torno de um esquema político. Havia
mistério demais em Seus atos e em Suas declarações públicas. Havia mistério demais em Seu
comportamento geral. Além disso, havia o mistério de Seus seguidores, que eram tão numerosos que
os políticos não se sentiam seguros em confiar uma mensagem secreta mesmo aos mais íntimos
companheiros e colegas. Havia, ademais, o mistério de Suas estranhas profecias e predições. Que
queria Ele dizer, por exemplo, quando declarava que, se o templo fosse derrubado, Ele poderia
reconstruí-lo em três dias? Isto não era um pronunciamento arrogante, feito sem pensar, pois nunca se
vira Jesus fazer declarações sem fundamento e arrogantes desse gênero.
O fato de que havia um mistério envolvendo Jesus, Seus ensinamentos e Suas práticas, é comprovado
não só pelas declarações de Seus discípulos, apóstolos e seguidores, e por testemunhas imparciais, mas
também por aqueles que O odiavam e aqueles que estavam prontos para apedrejá-Lo até a morte ou
pregá-Lo na cruz. Mesmo durante o Seu julgamento, quando esses inimigos estavam prontos a
apontar-Lhe o dedo e acusá-Lo de todas as coisas sórdidas, desprezíveis, baixas e pérfidas que a
imaginação humana pudesse inventar, eles ainda estremeciam quando Jesus se aproximava e enchiam-
se de temor quando Seus olhos se fixavam neles, murmurando entre si e fazendo queixas a Pilatos para
que se precavesse contra qualquer truque misterioso e súbito que Ele pudesse fazer. Isso nos é
revelado pelo modo de Pilatos chamar atenção para Jesus, de pé diante deles, perto da grande janela
que dava para a multidão, dizendo: "Eis o homem!"Era o mesmo que dizer: "Aqui está Ele, despido de
Suas vestes, de modo que todos possam ver Sua carne. Ele não tem pernas ou braços ocultos. Ei-Lo
diante de vós, desnudado de todo o mistério físico e mundano. Olhai! Ele é apenas um homem Como
vós; contudo, vós Lhe atribuístes todos os poderes, todos os atos, todas as capacidades de um super-
homem ou de um monstro, e agora pedis Sua morte!"
Se pudéssemos ter em registros acurados em algum lugar um quadro verdadeiro e perfeito do que Seus
inimigos pensavam Dele e temiam Nele na hora do julgamento, teríamos um retrato preciso do que
Jesus realmente era, em Seu Eu interior. Mas tudo que temos é o que seus detratores disseram,
pensaram ou alegaram sobre Seu eu exterior e, revertendo uma vez mais às antigas idéias pagas,
desejaram ver aquele eu exterior destruído, pensando que assim a entidade viva, o ser vivo desse
misterioso Jesus seria completamente aniquilado. O que aconteceria com Sua alma não lhes
interessava nem um pouco. Era uma coisa imortal, divina, como a alma de Seus inimigos e amigos e
de todos que ali estavam. Em Sua alma, Ele não era diferente dos judeus e dos gentios nem dos
romanos que eles odiavam. A alma podia voltar para sua fonte original. Era incapaz de pecado,
imoralidade ou pretensão, hipocrisia, conchavos políticos ou qualquer outra coisa a que eles poderiam
objetar. Era o eu exterior que eles pensavam que temiam e era isto que queriam ver destruído, para que
nunca mais ensinasse, pregasse ou demonstrasse as estranhas leis e princípios que estavam no cérebro
físico de Seu corpo material, exterior.
O Homem dos Mistérios estava para deixar de ser um mistério pelo simples sofrimento e a morte do eu
exterior. Compreender esta idéia é perceber a incoerência do ponto de vista daquelas pessoas e o fato
de que deve ter havido alguma outra idéia secreta em Seus ensinamentos, quanto à natureza trina da
existência do homem, o corpo, a individualidade interior, e a alma. Nisso encontramos a antiga, mas
verdadeiramente cristã, idéia secreta da trindade.

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CAPÍTULO XI: Os grandes mistérios

Sem dúvida, muitos leitores continuarão argumentando que não há uma boa razão para se acreditar
que Jesus não tenha revelado conscienciosamente ao público todas as leis e princípios que Deus havia
implantado em Sua consciência. Provavelmente dirão que Deus enviou Seu filho à Terra encarnado em
forma humana e com capacidades humanas para falar e fazer demonstrações, a fim de que as massas e
todos os que estivessem ao alcance de Suas palavras recebessem todo o conhecimento e a sabedoria
que a consciência de Deus havia acumulado na memória e inteligência de Jesus. Argumentar que o
único propósito da encarnação de Jesus na Terra foi revelar e não ocultar, é esquecer que grandes
verdades podem ser destruídas por uma divulgação trivial e por sua classificação na categoria de fatos
rotineiros facilmente adquiridos e compreendidos, sem esforço ou merecimento.
Lançar pérolas aos porcos sempre foi um método seguro não só de perder a maior parte delas, mas de
fazer com que os porcos e outras criaturas não valorizem o que lhes é oferecido. Há uma tendência na
natureza humana, provavelmente desde os tempos de Adão e Eva, de valorizar as coisas pela
dificuldade para obtê-las ou alcançá-las. Aquilo que é oferecido gratuitamente só vale o esforço de
pegar. Pensar que Jesus desconhecia esse princípio fundamental do pensamento humano é subestimar
Seu maravilhoso conhecimento de psicologia humana. Tudo que Jesus oferecia ao público e aos Seus
discípulos era mantido nas alturas, colocado numa posição difícil de alcançar. A própria salvação,
aquilo que o homem mais desejava e que Jesus oferecia tão liberalmente, exigia sacrifícios e esforços.
Embora muitos pensassem que o Caminho para a salvação indicado por Jesus parecia simples demais,
comparado com a complicação das exigências ritualísticas e práticas das outras religiões
contemporâneas, tanto os pobres quanto os ricos logo verificaram que o método cristão era o mais
difícil de todos, e aqueles que efetivamente desejavam a purificação, o desabrochar e a elevação
espiritual que lhes era oferecida, passaram a lutar por isso simplesmente porque as dificuldades
aparentemente intransponíveis faziam a recompensa parecer extraordinariamente valiosa.
Jesus precisava de líderes para levar avante Sua missão e sabia que esses homens teriam de ser
entusiastas e atribuir um alto valor à confiança que Ele oferecia. Foi por isso que Ele utilizou muitos
métodos, especialmente o antigo sistema de escolher cuidadosamente discípulos particulares, secretos,
que seriam eficientemente treinados e enviados como verdadeiros representantes de Seu divino plano e
objetivo.
Para responder aos que ainda possam argumentar que não havia realmente mistérios envolvidos no que
Jesus ensinou, e que é um erro considerar quaisquer de Suas doutrinas ou demonstrações verdadeiros
mistérios, permitam-me dizer que quando o termo mistérios é usado no Novo Testamento e em todas
as escrituras sagradas e outros escritos de Seu tempo e posteriores, esse mistério não se refere a
alguma coisa sobrenatural e aparentemente incompreensível. Refere-se a uma revelação secreta, a algo
que é uma grande verdade mas que tem sido oculto, embora seja passível de compreensão apenas por
parte daqueles que se tornaram iniciados, preparados ou qualificados, e que talvez tenham sido
purificados, purgados e tocados pelo Espírito Santo, para receber as jóias raras da verdade.
Precisamos não confundir o termo mistério com o significado desta palavra tal como ela é usada nos
tempos modernos, e não devemos confundi-lo com o termo "magia" dos tempos antigos.
Jesus não poderia ter interessado as multidões, muito menos as mais cultas, em qualquer sistema novo
de mistérios mágicos ou truques. Hoje em dia, o mundo moderno encara espantado os trabalhos
profissionais de magia e prestidigitação não somente como um grande entretenimento mas também
como algo realmente misterioso e quase sobrenatural. Entretanto, mesmo o maior dos intrigantes e
misteriosos truques do mágico moderno teria sido recebido com um sorriso ou mesmo com escárnio
pelos homens cultos e pelo público em geral na época da missão de Jesus na Terra. O Egito e a Índia,
bem como outras terras do Extremo Oriente e do Oriente Próximo estavam acostumados a espetáculos
misteriosos, a manifestações da chamada "magia branca", a tal ponto que os adeptos que ainda
perpetuam esses mistérios nos tempos modernos espantam e causam perplexidades aos magistrais
magos científicos de hoje.
Mesmo armados com nossos chamados milagres científicos, que achamos que teriam espantado e até
assustado os povos antigos, não podemos duplicar, à maneira dos ilusionistas profissionais, as
façanhas das leis naturais e divinas que eram comumente demonstradas nos anos que precederam o
nascimento de Jesus. Até a ressurreição dos mortos não era uma coisa incomum ou surpreendente

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antes de Jesus, e se Ele tivesse tentado converter as massas a Suas doutrinas ou ao Seu divino sistema
religioso somente com base no despertar dos mortos ou na cura dos cegos e aleijados, não teria
alcançado maior sucesso do que outros anteriores a Ele.
Os mistérios com que Jesus lidava eram de natureza transcendental e revelavam princípios divinos e
um poder especial para fazer demonstrações, que os estudantes das antigas sabedorias e revelações
espirituais tinham sempre entendido como existentes em algum lugar ou como potenciais em Deus e
provavelmente transferíveis a um avatar ou mensageiro divino dotado de qualificações especiais, mas
não demonstradas nem ensinadas a não ser a uns poucos escolhidos.
Quando Jesus disse àqueles em quem confiava e que estava preparando, "Vim para mostrar-vos um
mistério", Ele quis dizer algo muito diferente de qualquer coisa que eles tivessem visto ou ouvido no
passado, e nós, que hoje tentamos penetrar nesses mistérios e vislumbrar pelo menos uma pequena
parcela de seu poder e sua magnificência transcendental, compreendemos claramente que os mistérios
ensinados por Jesus tão secretamente e demonstrados tão discretamente são na verdade merecedores
de contínua proteção contra a mentalidade e os olhos profanos do povo curioso.
Não só acreditamos que esses grandes segredos foram cuidadosamente preservados e são suscetíveis
de compreensão e repetição, como também acreditamos que coisas ainda maiores podem ser realizadas
através dos mesmos princípios que Ele ensinou, embora o estudante e praticante tenha de se
demonstrar digno, de estar comprometido a guardar segredo e de ter alcançado o verdadeiro
discipulado.
Essa necessidade de cuidadosa seleção é salientada em tantas passagens do Novo Testamento que é
absurdo afirmar que o estudante analítico das doutrinas cristãs ou o leitor cuidadoso da Bíblia cristã
possa acreditar que a igreja cristã de hoje e todos os seus representantes estejam informados sobre as
verdadeiras doutrinas secretas e os reais mistérios representados pela escola secreta de Jesus.
Os judeus de Seu tempo reconheceram o fato de que aquilo que Jesus estava ensinando e
demonstrando não era o resultado de mera compreensão e cultura intelectual. Devemos lembrar
sempre que Ele era atentamente observado pelos judeus mais eruditos e Suas doutrinas eram
esmiuçadas pela mente sagaz daqueles que queriam descobrir nelas alguma falha de filosofia mística
comum. Ele não só surpreendeu os doutores com Seu profundo conhecimento de assuntos geralmente
desconhecidos dos jovens e até de pessoas cultas, como também Sua inteligência perspicaz e Sua
evidente harmonização com a Consciência Divina permitiram-Lhe resolver os mais difíceis problemas
teológicos, filosóficos, morais e éticos.
Consideremos por exemplo a ocasião em que Ele foi ao Templo e ali ensinou por vários dias. No
versículo 15 do capítulo 7 do Livro de João, vemos que os judeus se espantaram com Seus
maravilhosos ensinamentos, dizendo: "Como sabe este as letras não as tendo estudado?" Eles se
referiam ao fato de que mesmo o mais superficialmente preparado de seus eruditos tinha de passar
metade de uma vida não só em profunda meditação e análise dos escritos sagrados do passado, mas
memorizando-os e examinando cada pensamento e idéia de todos os ângulos possíveis, e tornando-se
aptos a responder centenas de perguntas feitas de todos os pontos de vista, sobre todos os princípios. O
mesmo capítulo nos conta que Jesus lhes respondeu e disse: "A minha doutrina não é minha, mas
Daquele que me enviou".
Repetidamente Jesus explicou com franqueza e modéstia que as coisas que ensinava e as coisas que
fazia não eram o resultado da maestria de Seu próprio intelecto, mas sim de inspiração e revelação
divinas e de uma preparação especial, que constituíam um messianismo divino.
Tomemos outro exemplo de Seu modo secreto de lidar com esses assuntos. No capítulo 4 de Marcos
temos uma história interessante sobre os ensinamentos públicos de Jesus através de parábolas,
símbolos, alegorias e frases veladas, e nos versículos 10 e 11 lemos que "E quando se achou só, os
que estavam junto Dele com os doze interrogaram-no acerca da parábola. E Ele disse-lhes; A vós vos
é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por
parábolas".
Uma leitura atenta de toda a história demonstra que a multidão ficava por perto e ouvia muitas de Suas
parábolas e, quando Ele aparentemente terminava seu período de instrução por aquele dia, a multidão
se afastava, e as pessoas murmuravam entre si e perguntavam o que significava tudo aquilo e se Ele
merecia confiança, e se algumas observações feitas por Jesus referiam-se sarcasticamente a eles ou a
certas outras pessoas do país e, quem sabe, se eram críticas a suas crenças religiosas. Os zombadores e

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os meio-descrentes, junto com os mal-intencionados e os presunçosos, iam embora, pouco ou nada
aproveitando das parábolas que tinham ouvido. Hoje encontramos duplicatas perfeitas desse quadro!
Somos informados de que, quando Ele finalmente ficava sozinho, havia algumas pessoas ao Seu redor,
inclusive os Doze, que começavam a Lhe fazer perguntas sobre as parábolas que Ele tinha acabado de
contar. Essas palavras do versículo 10 indicam claramente que havia dois grupos ou duas espécies de
pessoas presentes quando Ele Se considerava "sozinho''. Havia o grande círculo de ouvintes
interessados e crentes, e o círculo menor constituído dos doze apóstolos. Isso nos dá mais uma idéia
dos cento e vinte discípulos ou estudantes da escola secreta, com os doze apóstolos como conselheiros
e líderes. Agora podemos compreender porque Jesus lhes respondeu dizendo que, para aqueles que
estavam à Sua frente e ao Seu redor naquele grupo secreto de cento e vinte estudantes, estava escrito
que eles finalmente conheceriam "os segredos" do Reino de Deus, enquanto que para os que estavam
de fora, os que estavam excluídos do discipulado de Seu corpo secreto de estudantes e representavam
o círculo mundano exterior de transeuntes comuns, tudo seria revelado somente por parábolas.
Seus discípulos haviam visto tantos mistérios demonstrados que jamais questionavam Suas
explicações, embora muitas aparentemente contradissessem o pensamento científico da época.
Contudo, mesmo algumas das escolas de mistérios deste período do século vinte estão ensinando e
demonstrando leis e princípios que se mostram contrários aos postulados teóricos da ciência. A
tentativa de reduzir todos os milagres da Bíblia e todos os mistérios da vida a teoremas simples,
naturais, científicos, está rapidamente se tornando insatisfatória para as mentes inteligentes.
Consideremos, por exemplo, ocorrências da Primeira Guerra Mundial. Milhares de mães de várias
partes do mundo tiveram experiências que lhes provaram, a despeito de qualquer argumento científico
ou contestação erudita, que tempo e espaço não existem no mundo espiritual e que a consciência de
um ser humano pode se projetar pelo espaço e se fazer objetivamente percebida por aqueles que estão
sendo lembrados pela pessoa que assim está projetando seu Eu real a distância.
Lembrando o fato de que Jesus estava ensinando secretamente a existência de um Eu interior
independente do ser físico exterior e peculiarmente relacionado com a alma, vemos que Ele provou
sua posição a este respeito por demonstrações reais. Em mais de uma oportunidade Ele apareceu no
meio dos estudantes, enquanto, em todos os sentidos físicos e materiais, Seu corpo e Sua mente, assim
como Sua alma, estavam distantes. Por isto Seus discípulos não se espantaram, mas até já contavam
com a experiência da aparição de Jesus no aposento fechado após a Ressurreição. As Sagradas
Escrituras do Novo Testamento deixam bem claro que eles estavam reunidos em uma sala fechada, na
qual nenhum corpo físico podia ter entrado, mas que Jesus apareceu no local, não como quem passa de
um recinto para outro, mas gradativamente, numa forma visível bem no meio deles.
O pensamento transmitido pelo registro desse acontecimento é o de que o Eu espiritual que apareceu
entre os discípulos aumentou em substância ou em visibilidade diante de seus próprios olhos, como se
uma nuvem mística se fosse tornando mais densa e mais definida em forma, tomando finalmente o
aspecto objetivo e as características de um corpo físico. E para provar que não se tratava de uma
simples aparição, Ele lhes mostrou que aquilo era efetivamente uma projeção da forma física, da
consciência espiritual de Seu corpo, pois havia os ferimentos nas mãos e nos pés, as cicatrizes na testa
e o corte no lado do corpo. Se essa aparição tivesse sido meramente uma "projeção da alma", ou uma
"projeção espiritual da alma", conforme os modernos espiritualistas nos pedem para compreender e
aceitar, as chagas em seu corpo carnal não estariam aparentes, pois não podemos inverter toda a nossa
compreensão de princípios fundamentais e acreditar que um ferimento na carne e nos tecidos do corpo
físico produza um ferimento idêntico na alma.
Além disso, havia a fórmula secreta que era dada com tanta clareza aos que compreendiam, e que era
interpretada simplesmente como uma declaração alegórica pelos que se encontravam fora do círculo
secreto. Jesus lhes explicara não somente como a consciência podia ser projetada a um ponto distante,
tornando-se visível, mas também como cada um deles poderia comunicar-se com o Eu interior de uma
pessoa distante e trazê-lo à sua presença, ou como poderia se harmonizar com o Eu distante de tal
forma que esse Eu distante se tornaria visível ou tangível no próprio aposento do indivíduo ou grupo
de indivíduos que o chamasse.
Sabemos hoje que para compreender esse grande mistério da projeção da consciência e projeção do
Eu, ou dar o primeiro passo nesse processo místico, precisamos dominar muitas lições cuidadosamente
preparadas, relativas a leis divinas e naturais básicas. Existem hoje em dia pessoas que praticam esse
procedimento com reverência e profunda compreensão intelectual, pessoas que sabem que não se trata

52
da violação de qualquer lei natural, como muitos poderiam pensar, e sim a aplicação de uma lei natural
com elevada compreensão e a aplicação de princípios verdadeiramente divinos.
Ao transmitir a fórmula aos Seus discípulos alegoricamente, Jesus a associou ao ato de orar, pois a
fórmula pela qual uma projeção de um ponto distante é provocada, ou pela qual o Eu se prepara para
estender sua consciência a um ponto distante, é como fazer uma petição. Jesus lhes disse então que,
quando orassem e quisessem sentir êxito em suas preces e se unificar novamente com Ele em corpo e
espírito, conforme Ele lhes explicara na Ultima Ceia, deveriam orar em Seu nome, e sempre que dois
ou mais se reunissem, em privacidade e isolamento do burburinho dos assuntos mundanos, e orassem
"em Seu nome", ou O invocassem através da fórmula mística, Ele estaria entre eles.
Fazer e dizer certas coisas, e orar por certas coisas "em Seu nome" não significava o que geralmente se
diz. Todo estudante dos antigos princípios místicos cristãos compreende muito bem o que significa a
fórmula "em Seu nome". Em nome do Christus, em nome do Cristo, em nome do Espírito Santo, em
nome da Santíssima Trindade, em nome do Logos, do grande Amém, tudo isto representa uma fórmula
muito definida praticada por Jesus e Seus discípulos e privadamente praticada ainda hoje pelas escolas
secretas de sabedoria antiga. A explicação disso tudo e da prática dos princípios pelos quais os
estudantes de esoterismo preparavam-se e qualificavam-se para sair pelo mundo e se tornar visíveis
aqui e ali, entrar nos lugares através de portas e janelas trancadas, ou através de paredes de pedra ou
tijolos, ou ainda através de barras de aço ou ferro, constitui outra grande doutrina secreta.
A transformação da água em vinho, a multiplicação dos pães para alimentar multidões, a transmutação
de coisas grosseiras em coisas mais refinadas, a alquimia do espírito, o desenvolvimento do poder da
fé, a expansão da aura humana, pela qual as radiações espirituais e divinas da consciência de Deus no
interior do homem podem curar, eram outras doutrinas secretas que foram preservadas, não só nos
velhos e embolorados arquivos existentes nas criptas das primeiras igrejas cristãs, mas também nos
ensinamentos práticos e místicos das escolas secretas de nosso tempo que representam a Grande
Fraternidade Branca.
Todas as escolas secretas de hoje que podem ser classificadas como iniciáticas (porque seus estudantes
devem primeiro ser preparados e depois iniciados esotérica e espiritualmente antes de receberem a
Verdade) estão associadas em uma organização ou federação secreta, para o intercâmbio de sugestões
e idéias úteis, relativas aos meios e métodos não só de perpetuar as doutrinas secretas ensinadas por
Jesus, mas também o modo de selecionar os discípulos e apóstolos finais que serão enviados ao
mundo, não para destruir a fé e as religiões do mundo, mas para realizar a grande missão para a qual
Jesus foi preordenado e predestinado a tornar-se um Filho de Deus encarnado.
O fato de as igrejas cristãs e os seguidores de seus grandes líderes aceitarem ou não essas idéias e
perceberem a verdade oculta neste livro é irrelevante para o sucesso do Grande Trabalho que está
sendo realizado pelos perpetuadores e conservadores da divina ordenação. Eles não levam espadas,
nem brandem uma coluna de fogo, mas em paz e secreto contentamento dedicam sua vida à
disseminação do conhecimento aos que são merecedores. Sua forma exotérica de propaganda não é
mais jactanciosa, bombástica e radical do que a propaganda feita pelo próprio Jesus quando Ele subia
ao alto das rochas ou dos montes e, contemplando a multidão, proclamava a chegada de um novo
reino, a vinda do céu à terra, a auto-condenação dos pecadores, a salvação dos que seguissem a Senda
e O aceitassem como "o Caminho" para a vida eterna.
Esses instrutores e líderes de que falamos constituem uma hierarquia que governa um enorme império
invisível, cuja existência é quase desconhecida dos zombadores, dos céticos, dos vaidosos. Eles não
reivindicam nenhum nascimento singular nem poderes sobrenaturais. Apenas repetem a antiga, muito
antiga afirmação de que são Mensageiros da Luz que trazem para a Terra a mensagem Daquele que os
inspirou, e estão na realidade desenvolvendo o trabalho do Espírito Santo que desceu sobre seus
antecessores no momento em que Jesus soprou sobre eles e pediu a Deus que os ordenasse.
Eles continuam utilizando parábolas e alegorias quando falam ao público e a chamar atenção para sua
grande mis são por todos os meios disponíveis, a exemplo do que Jesus mesmo fez. Sofrem as
censuras e a condenação das multidões, as punições físicas e materiais dos inimigos da Luz. Contudo,
seus seguidores aumentam em número, eles vivem em paz e felicidade, crescem em sabedoria e no
Espírito Santo, e representam hoje a verdadeira fraternidade humana, trabalhando para o
estabelecimento na Terra do Reino de Deus. Através de livros e panfletos, da voz do rádio, de reuniões
públicas e discursos privativos, eles abrem os portais àqueles que são sinceros; e nas entrelinhas de
suas mensagens, seja qual for a forma de transmissão, revelam, como que através de um véu, o resumo

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simples das verdades que o buscador é convidado a estudar; e quando o estudante se sentir preparado,
ou revelar seu preparo por sua atitude inquiridora e sua receptividade, o mestre instrutor aparecerá e o
Caminho lhe será mostrado com toda clareza.

CAPÍTULO XII: Modificações progressivas das doutrinas cristãs

Nos últimos anos temos ouvido falar muito sobre revisões, alterações, modificações e supressões nos
rituais, doutrinas e regras da igreja cristã; mas talvez não tenhamos consciência de que todo esse
processo de alteração ou modificação tem estado em andamento desde o primeiro século após a
passagem das Chaves a São Pedro, e de que o processo sempre foi bastante amplo para incluir as
doutrinas fundamentais dos ensinamentos do Cristo e de Seus discípulos oficiais.
Na realidade, muito poucas doutrinas essenciais, fundamentais, da seita cristã original chegaram até
nós em sua prístina pureza.
Os chamados fundamentalistas, que sustentam que estão se esforçando para conservar os fundamentos
do cristianismo e proteger a religião contra as intrusões do pensamento moderno ou as modificações
dos pensadores liberais, pouco sabem sobre o que era fundamental e o que é uma invenção de séculos
posteriores. O que a maioria deles está se esforçando para conservar em sua "forma pura" está muito
longe de ser verdadeiramente cristão em espírito ou forma.
Em todos os séculos desde a real fundação da igreja cristã, tem havido os chamados fundamentalistas,
protestando contra qualquer modificação e insistindo na obediência rígida a certas doutrinas e
princípios que afirmam ser "originais" e puros. Contudo, a maioria dos princípios e doutrinas assim
classificados por eles, foram criados por decreto de um conselho ou por invenção arbitrária. Por
exemplo, o que estava sendo protegido pelos fundamentalistas no século oito depois de Cristo como
ditames originais do Cristo, eram em muitos casos invenções e decretos arbitrários dos patriarcas da
igreja e altos conselhos do século anterior.
Os fundamentalistas de hoje tentam proteger doutrinas e princípios que foram criados, inventados ou
arbitrariamente adotados em muitos conselhos eclesiásticos e "decretos oficiais" dos últimos
oitocentos anos.
Tomemos como exemplo a doutrina da "Santíssima Trindade", que é considerada pelos
fundamentalistas um dos originais e mais sagrados fundamentos cristãos. Entretanto, foi somente no
século XII de nossa era que os patriarcas da igreja, em um concilio lateranense, discutiram a
formação, ou real invenção da Trindade mais ou menos em sua forma atual, e a proclamaram como
fundamental!.
É verdade que, no sentido místico, o triângulo sagrado fazia parte do simbolismo secreto da seita cristã
original, durante a vida de Jesus; e fora um símbolo sagrado por muitos séculos antes de Jesus nascer;
e continua sendo um símbolo sagrado de uma elevada e essencial doutrina de muitas religiões
místicas. Era um símbolo dos "mistérios" a que Jesus se referiu muitas vezes e que nunca foram
revelados ao círculo exterior de seguidores cristãos. Mas a doutrina da Trindade, como a temos hoje
(com muitos acréscimos e modificações em seu espírito) não foi conhecida nem adotada pela igreja
cristã senão no século XII, tendo pouca semelhança com a antiga e mística compreensão do
simbolismo do sagrado triângulo.
A religião cristã de nossos dias, e dos últimos cinco séculos, está repleta, em suas doutrinas, rituais,
regras e conduta, de conceitos extraídos liberalmente do paganismo. Esta declaração pode ser chocante
para a maioria dos cristãos sinceros, e deveria ser esclarecedora para os fundamentalistas, que insistem
em não permitir divergências com relação aos ensinamentos prístinos de Jesus.
Como exemplo, consideremos o muito importante, sagrado e fundamentalmente puro dia santo da
Páscoa. Se se tratasse do aniversário de um acontecimento histórico, como se supõe que seja o Natal,
deveria cair sempre na mesma data do ano. Entretanto, essa data é móvel, sendo determinada
anualmente por ocorrências astrológicas ou astronômicas, de acordo com um sistema pagão muito
antigo. Na verdade, o Dia da Páscoa é um feriado pagão tão antigo (e de significado místico e
mitológico) que sua origem se perdeu nos tempos. Quanto ao Dia do Natal (dia do nascimento do
Cristo), a primitiva igreja cristã utilizou várias datas diferentes para essa celebração sagrada e houve

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constantes disputas, durante os primeiros cinco séculos, sobre qual data de dezembro, janeiro e até
fevereiro, deveria ser decretada oficialmente como a data verdadeira do nascimento de Jesus.
Finalmente, foi adotado um feriado muito antigo dos pagãos (um feriado de natureza mitológica e
mística), que caía no dia 25 de dezembro.
Quase todas as datas dos Dias Santos cristãos foram fixadas em antigos dias santos pagãos, com
interpretações novas, originais e puramente arbitrárias. Poucas dessas datas têm qualquer relação ou
fundamento em doutrinas, ensina mentos ou práticas de Jesus enquanto Ele esteve na Terra ou durante
a vida de Seus discípulos iniciais.
Pela leitura dos cuidadosos registros das discussões feitas pelos concílios cristãos dos séculos III, IV,
V, e séculos seguintes, ficamos sempre impressionados com a posição arbitrária assumida por muitos
Conselheiros, e com a argúcia da votação do Concilio. A política explícita da "necessidade
eclesiástica" parece ter sido a única regra e orientação pelas quais as doutrinas e os princípios
ritualísticos eram rejeitados, modificados, alterados ou hipocritamente inventados.
Não era a interpretação puramente mística ou espiritual dos ensinamentos de Jesus, não era aquilo que
poderia desenvolver e desvendar Seus sagrados princípios, que determinava o que deveria ou não ser
acrescentado ou eliminado do conjunto de assuntos tradicionais em consideração, mas aquilo que
tornaria a igreja uma organização física maior e mais poderosa, e que mais convenientemente serviria
às necessidades do igrejismo era só o que recebia consideração. Uma distinção bem clara deve ser
feita entre cristianismo e igrejismo, ao considerarmos a evolução da religião cristã. Hoje em dia, tudo
que se refere à religião cristã é subserviente ao igrejismo ou cristianismo de igreja. Será então de
admirar que o espírito místico, as doutrinas e práticas místicas da seita cristã inicial sejam quase
totalmente desconhecidas dos seguidores da igreja cristã no mundo inteiro, seja católica ou
protestante?
É consenso geral de autoridades conscienciosas da igreja cristã que muitas doutrinas e ensinamentos
atuais foram inventados ou extraídos de religiões pagas, unicamente por razões de "necessidade
eclesiástica" ou "conveniência".
Um exemplo é a doutrina fundamental do pecado original. Se a igreja tivesse defendido a idéia de que
todos os homens devem ser salvos ou redimidos de pecados por eles mesmos cometidos e de que são
culpados, isso teria eliminado a necessidade de redimir aqueles que tivessem vivido uma vida boa e
sem pecado, particularmente milhares de recém-nascidos e crianças pequenas que nunca teriam
cometido qualquer pecado ou ação de que pudessem se sentir "culpados".
Para aumentar o número de fiéis da igreja, para torná-la cada vez maior na forma puramente física,
toda a humanidade, de todas as crenças, de todas as idades, inclusive bebês e crianças, teriam de
encontrar a redenção e a salvação exclusivamente na igreja cristal As criaturas mais devotas, as mais
inocentes crianças, tinham de ser compelidas à igreja para serem salvas — de quê? Não bastava que só
fossem salvos aqueles que, com conhecimento de causa ou não, tivessem cometido um ou mais
pecados da crescente lista de pecados feita pela Igreja; todas as criaturas vivas, mesmo as que tinham
sido criadas à imagem e semelhança de Deus, tinham de ser salvas e redimidas.
A doutrina do pecado original foi criada por "necessidade eclesiástica", sendo totalmente inventada e
oficialmente decretada como princípio fundamental. Por mais curta a vida terrena que uma pessoa
pudesse ter vivido, mesmo que apenas uma breve hora, por mais perfeita e devotadamente que ela
tivesse vivido, ainda assim estava amaldiçoada pelo pecado, pela herança do pecado original.
Ninguém podia escapar dessa herança, nem mesmo o bebê cuja alma acabava de se projetar da
Sublime Consciência de Deus!
Essa doutrina era sem dúvida uma "necessidade"! Ela acabou sendo a mais inadmissível de todas para
milhões de homens e mulheres reflexivos, especialmente os pais que pegavam nos braços o primeiro
filho recém-nascido com toda a sua inegável pureza.
Não obstante, dizem-nos que Deus é justiça, misericórdia e amor! Mas os inocentes têm de herdar,
pela Vontade desse Deus, um pecado que condena a alma ao castigo eterno — a menos que ela seja
redimida.
Em nenhuma parte dos ensinamentos de Jesus existe essa doutrina descrita na forma que lhe deu a
igreja. Ela é a mais gritante das muitas doutrinas incoerentes e contraditórias da religião cristã de
nossos dias.
A religião cristã (a forma cristã do igrejismo), é um dos mais complexos sistemas de nosso tempo, em
comparação com a extrema e magnífica simplicidade do sistema revelado por Jesus. Seus seguidores

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(e muitos de Seus críticos mais ferrenhos) enfatizavam o fato de que Seu sistema de salvação, Seu
Caminho, era tão fácil de compreender, tão direto e lógico, tão fácil para uma pessoa sincera adotar e
seguir, que ou era evidentemente divino ou então ridiculamente infantil, de acordo com a opinião do
comentarista.
Antes que Jesus expusesse Suas doutrinas simples e revelasse a reta e estreita Senda, o povo para
quem Ele pregava tinha lutado com complexidades e elaborados procedimentos em religião, a tal
ponto que somente os Altos Sacerdotes compreendiam todos os princípios, leis, rituais e práticas
prescritas e proscritas. Nas religiões chamadas pagas havia uma multiplicidade de deuses, um número
imenso de "indulgências simbólicas" e um fluxo contínuo de novas e arbitrárias regras, doutrinas e
interpretações. Na religião de Israel, o ritualismo, as doutrinas e práticas, tinham se tornado tão
complexas que era necessário toda uma existência de estudos para encontrar um código perfeito de
vida.
Assim como um grande clarão de relâmpago desfaz a escuridão, as surpreendentes mas simples
declarações de Jesus reveláramos fundamentos das leis de Deus. "Ama o teu próximo; sê como uma
criança; faze aos outros o que queres que te façam; abandona as coisas vãs do mundo; busca o Reino
dos Céus em teu interior; eleva tua consciência a Deus em prece e comunhão", e outras regras de fácil
compreensão constituíram a verdadeira Senda para a Vida Eterna.
Hoje, encontramos na igreja cristã uma semelhante multiplicidade de deuses (chamados Santos) e um
número constantemente crescente de novas e modificadas doutrinas, regras e práticas. No que se refere
à prece e à comunhão divina, ao invés das instruções simples de Jesus para que orássemos diretamente
e em particular ao "Nosso Pai que está nos Céus”, vemos que o sistema atual de preces é um
complicado programa ritualístico, com instruções no sentido de dirigirmos nossas orações a um grande
número de Santos mediadores. A injunção "Não terás outros Deuses diante de mim!" perdeu-se de
vista na complexidade do ritualismo; e o sublime e místico privilégio da comunhão direta com Deus é
prejudicado pelo pesado sistema do igrejismo.
Exatamente nesta hora, e em todas as horas de cada ano que passa, em algum lugar, nos numerosos
grupos de divisões cristãs sectárias, há indivíduos ou pequenas comissões e conselhos de líderes
eclesiásticos debatendo o aumento ou a modificação das doutrinas cristãs, e trabalhando arduamente
para emprestar novas e mais modernas interpretações às verdades simples (inalteráveis) enunciadas
por Jesus a Seus discípulos.
A religião cristã, em sua forma popular atual, não é mais a religião divinamente inspirada de Jesus, e
sim um sistema humano de idéias pagas e modernas cuidadosamente tecidas para ocultar, e não
revelar, as jóias transcendentais do diadema de prístinos ensinamentos de Jesus, o Cristo.

CAPÍTULO XIII: A preservação dos ensinamentos secretos

Nada do que dissemos no capítulo anterior deve ser entendido no sentido de que, com a passagem dos
séculos, os ensinamentos puros e originais de Jesus tenham se perdido para o mundo, ou de que Suas
doutrinas, práticas e métodos secretos não sejam mais do conhecimento do homem. Também não se
deve pensar que a contínua modificação, alteração, interpretação e invenção de tantos princípios novos
e incoerentes tenham obscurecido para sempre a verdade que Ele ensinou em Sua escola secreta.
Sem sombra de dúvida, a Igreja Católica Romana preservou em seus arquivos secretos em Roma, ou
outro local, muitos manuscritos sacros que contêm os ensinamentos essenciais de Jesus em Sua forma
inicial e quase pura. Existem muitas evidências indicando que no interior de suas caixas-fortes
subterrâneas, inacessíveis a não ser a uns poucos, estão certos documentos originais escritos e
assinados durante o tempo de vida de Jesus. Alguns outros documentos raros conservados no Vaticano,
ou dentro dos muros da Cidade do Vaticano, são cópias de documentos originais, além de registros que
são preservados em arquivos que estão fora do controle da Igreja Romana.
Em outros locais, arquivos reforçados de grande antigüidade guardam outros documentos e registros; e
nos arquivos secretos de várias ordens monásticas de natureza não sectária estão preservados, e são
abertos ao escrutínio ocasional de autoridades competentes, os manuscritos de pessoas, em grande
parte testemunhas fidedignas que viveram nos anos do ministério de Jesus.

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Dessas fontes é possível reunir fatos bastante esclarecedores sobre a vida e os ensinamentos de Jesus,
especialmente as verdades que Ele ensinou em Sua escola secreta.
Acreditar que os criadores da igreja católica romana não fizeram um exame exaustivo dos manuscritos
e registros que possuíam, ou que procuraram por meio de agentes em todas as terras, é ignorar o fato
de que seus próprios registros de seus debates em concílios revelam o cuidado com que pesavam cada
referência às doutrinas, ensinamentos, demonstrações e práticas de Jesus e Seus discípulos. Durante
dias inteiros eles analisavam minuciosamente cada princípio sagrado, cada preceito, cada expressão
citada dos ensinamentos de Jesus, bem como cada demonstração ou aplicação do Seu poder místico.
Cada ato e pensamento era pesado na balança; se não se encaixava, como o elo de uma corrente, no
sistema de teologia que estavam criando, era rejeitado ou "interpretado oficialmente". Onde elos
estavam faltando ou eram "incompatíveis", novos elos eram inventados.
Ano após ano, século após século, esses debates continuaram, e seus registros mostram claramente que
os Conselheiros tiveram diante deles muitos registros raros que proclamaram oficialmente como
"falsos", perigosos, secretos, ou contraditórios em relação aos princípios da teologia cristã que eles
estavam gradativamente estabelecendo.
Já fizemos referência em "A Vida Mística de Jesus", às muitas alterações que foram feitas ao longo de
muitos anos no chamado "Credo dos Apóstolos". Os debates sobre este importante assunto mostram
que os patriarcas da igreja romana em ascensão possuíam muitos registros raros dos verdadeiros
ensinamentos cristãos, e também registros confiáveis do que havia efetivamente ocorrido durante a
crucificação, o "sepultamento" e a Ascensão de Jesus. Mas os fatos verdadeiros foram deliberadamente
ocultados.
A seleção dos manuscritos que constituem os "Livros da Bíblia" oferece um excelente quadro de como
esses altos conselhos arbitrariamente escolheram ou rejeitaram fontes de informação autênticas e
confiáveis que tinham à sua disposição. Os relatórios explicando por que certos manuscritos admitidos
como genuínos foram rejeitados, e outros que ainda estão envoltos em mistério e dúvida foram
finalmente votados como os únicos a constituir a Bíblia oficial, lançam muita luz sobre a questão de os
ensinamentos originais de Jesus e Seus discípulos terem sido ou não preservados após a Ascensão de
Jesus.
Mas não foi somente nos arquivos lacrados do Vaticano, nem nos arquivos de antigas ordens
monásticas, que os segredos da escola de Jesus foram preservados.
Embora a Bíblia crista fale bastante sobre o trabalho missionário dos discípulos principais (os líderes
dos doze grupos de estudantes bem preparados na escola secreta de Jesus), pouco ou nada diz sobre o
trabalho dos outros obreiros secretos, que eram em número de cem ou mais.
É inconcebível que Jesus tivesse tido tanto trabalho para estabelecer e manter, à custa da própria vida e
da liberdade, uma instituição como Sua escola, dedicando-lhe muitas horas do dia e da noite durante
anos para preparar adeptos bem escolhidos e testados, sem ter nenhum plano ou programa para o
futuro.
Obviamente, se havia um plano, um esquema para O Grande Trabalho, ele deve ter sido baseado na
necessidade da continuação de Sua instituição (seja ela chamada de igreja, escola, ou ordem) após Seu
afastamento. (A própria Bíblia cristã, assim como outros registros sacros, menciona as muitas ocasiões
em que Jesus sugeriu claramente que Seus esforços terrenos seriam interrompidos ainda na Sua
juventude. Portanto, Ele deve ter tomado alguma providência para a continuação do trabalho por Ele
estabelecido. Doze homens apenas, os apóstolos, não poderiam ter cumprido, após Sua "crucificação",
o que exigia mais de cento e vinte homens e mulheres durante Sua liderança ativa).
É absurdo pensar que o julgamento, a crucificação, o sepultamento e a ascensão trouxeram um fim
absoluto a Seus planos secretos e Sua esmerada instituição. Que aconteceu com os cem ou mais
adeptos testados e verdadeiramente preparados? Poderia Jesus ter escolhido para Sua escola pessoas
tão fracas, tão pouco sinceras e tão facilmente desencorajadas que perdessem todo interesse,
esquecessem todas as suas promessas e abandonassem todo o seu poder, divinamente outorgado em
uma ocasião inesquecível, apenas porque seu líder tivesse sido perseguido? As pessoas não esquecem
facilmente uma dádiva divina, uma herança sublime, que lhes permite irradiar Luz, Vida e Amor entre
as massas. Existem suficientes evidências para provar que Seus cem ou mais adeptos continuaram a se
reunir em sessões secretas da escola, a iniciar novos candidatos e levar a sagrada obra a terras muito
além dos horizontes da Palestina. Há registros em muitos países do Mediterrâneo, e até da China,
mostrando que esses primeiros adeptos e seus sucessores visitaram essas terras e ali estabeleceram

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ramos da Grande Escola, sempre cumprindo o trabalho missionário na forma de um círculo externo
maior de estudantes e buscadores em geral e um círculo interno de adeptos iniciados.
Naturalmente, a necessidade de preservar as verdades que Jesus havia ensinado, e especialmente
conservar em sua prístina forma as divinas fórmulas que Jesus usava e demonstrava secretamente na
realização de milagres e "mistérios", fez com que elas fossem registradas na forma de símbolos, cifras
e signos. Somente por transmissão oral e instrução pessoal, atrás de portas fechadas e guardadas, essas
coisas foram sendo transmitidas de iniciador para iniciado, ano após ano, século após século.
Usando vários nomes simbólicos, os ramos da Grande Escola continuaram a existir através do tempo.
A Grande Escola estava pouco preocupada com a fundação posterior de uma igreja sectária que
afirmava ser total e puramente cristã, embora diferisse em doutrina do que Jesus havia ensinado. A
Grande Escola não tinha interesse na construção de grandes edificações para culto, na criação de
rituais elaborados para reuniões públicas, nem na invenção de sistemas teológicos próprios do
igrejismo. A senda indicada por Jesus devia ser seguida por cada indivíduo em privacidade e silêncio.
A salvação, o desenvolvimento espiritual e a harmonização divina eram qualidades pessoais,
individuais, e não consecuções coletivas, de grupos.
Era inevitável que uma grande separação ocorresse entre os adeptos e seguidores da Grande Escola e o
movimento conhecido como igreja cristã. Esta última estava sempre adotando e desenvolvendo
características que a tornavam rival das religiões pagãs e judaica; a Grande Escola permaneceu sempre
como o Reino Invisível do Céu na Terra.
Através dos séculos, o trabalho da Grande Escola continuou. Tomou várias formas, como assembléias
secretas, ordens monásticas e fraternidades ocultas, adaptando suas operações às necessidades,
limitações e condições específicas de época e lugar.
Várias formas exteriores de organização foram gradativamente estabelecidas para conservar e
propagar os ensinamentos secretos de Jesus. Uma delas foi a Ordem da Rosa-Cruz (Ordem Rosacruz),
à qual foi confiada a preservação e prática das fórmulas científicas, espirituais e divinas da Grande
Escola. Outra foi a ordem semi-monástica do martinismo (Ordem Martinista), à qual foi confiada a
preservação, e prática dos ensinamentos puramente religiosos de Jesus, o Cristo.
Nos nossos dias, em todo o mundo, essas duas organizações, que operam com ligeiras variações de
denominação por questões lingüísticas e outras condições de cada país, mas seguindo as antigas regras
e ditames do conselho internacional da Grande Fraternidade Branca, estão cumprindo os inalterados
objetivos da escola secreta fundada por Jesus. Nenhuma dessas organizações constitui uma igreja, no
sentido geralmente aplicado a essa palavra em nosso tempo, nem procura suplantar as igrejas
estabelecidas de qualquer credo ou nação. Seu trabalho consiste em complementar o trabalho de todas
as igrejas e movimentos religiosos, pelo ensino e estabelecimento das doutrinas, verdades e princípios
eternos que foram eliminados ou modificados nos sistemas de religião arbitrariamente formados que
existem em todo o mundo.
Nos círculos internos da Fraternidade Rosacruz encontram-se as Sagradas Assembléias que deram
força ou poder espiritual à Grande Escola original. Aqueles que buscam o conhecimento dos mistérios
do homem e de sua vida na Terra, no passado, no presente e no futuro, encontrarão o que procuram,
gradativamente e segundo seu merecimento, na Ordem Rosacruz. Aqueles que buscam conhecer os
mistérios das divinas revelações de Jesus, feitas de Seu modo original e crístico, encontrarão isso pela
preparação e orientação no círculo da Ordem Martinista. Esta organização tem sua sede mundial nos
Estados Unidos, com ramos autorizados e organizações ativas em várias partes do mundo. Só pode
participar da mesma quem está preparado e é convidado no devido tempo.

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