Concurso de Crimes e Normas PDF
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AUXILIARES DE ESTUDO
Bibliografia base:
DIAS, Jorge de Figueiredo – Direito Penal, Parte Geral, 2.ª edição. Coimbra: Coimbra Editora,
2007.
Situações que devem ser abordadas no âmbito da teoria do concurso e que permitem distinguir
os casos em que a responsabilização do agente exige a aplicação conjunta de normas/tipos,
daqueloutros em que, por força de uma determinada relação entre normas, apenas será
responsabilizado por uma delas.
O agente, através de uma ou várias acções/omissões, preenche várias vezes o mesmo tipo de
crime ou tipos de crimes distintos e vai ser responsabilizado por todos eles.
1 Também por vezes designado de concurso real, - aparece muito frequentemente nos acórdãos assim
designado)
CONCURSO DE CRIMES OU CONCURSO EFECTIVO E
CONCURSO APARENTE, LEGAL OU DE NORMAS
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• Ou porque se lesa bens jurídicos pessoais (e praticará tantos crimes quantas as vezes
que violar um bem jurídico pessoal),
• Ou porque lesa ou coloca em perigo bens jurídicos distintos.
• Concurso ideal: O agente, com uma única conduta, preenche vários tipos e é
responsabilizado por todos eles
o (coloca uma bomba e com esta única conduta, preenche vários tipos : dano,
ofensas à integridade física, homicídio; ou coloca várias pessoas em fila indiana
e com um petardo atinge-as. O petardo trespassa as várias pessoas, praticando
vários homicídios apenas com uma conduta)
o Um mesmo facto viola vários bens jurídicos, ou várias vezes bem jurídico
idêntico
o A distrai-se, despista-se e mata todos os passageiros
Exemplos:
• Concurso efectivo entre o crime de falsificação (art. 257.º) e o crime de falsidade de
depoimento ou testemunho quando as declarações tenham relevo especial por terem
sido incluídas em documento Helena Moniz apud Paulo Pinto de Albuquerque (art.
256.º, n.º1)
• Concurso efectivo entre crime de roubo (art. 210.º) e o crime de homicídio (art. 132.º,
n.º 1, alínea f)) quando o homicídio é praticado para «facilitar, executar ou encobrir
outro crime» que, neste caso, é o roubo.
o Nota: se o agente roubar e a morte sobrevier por negligência, estaremos no
âmbito d crime de roubo agravado pelo resultado morte (art. 210.º, n.º 3 + art.
18.º)
o Se o agente matar e depois de matar surgir a resolução criminosa de subtrair os
bens à vítima, haverá concurso efectivo.
Situação em que a conduta do agente apenas formalmente preenche vários tipos de crimes, se
subsume formalmente a várias normas, mas em virtude de uma determinada relação existente
entre esses tipos, o agente apenas é responsabilizado por um deles, porque uma das normas
afasta a aplicação das demais. Neste caso não se trata de verdadeiro concurso, mas de aparência
de concurso
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1. A unidade do facto
2. Existência de uma pluralidade de normas potencialmente aplicáveis
3. Sendo que apenas uma delas é aplicável, por força de uma determinada relação
existente entre essas normas, que faz com que, na realidade, apenas uma delas veja a
responsabilizar o agente
1. Especialidade
2. Subsidiariedade
3. Consumpção
Existe relação de especialidade entre normas quando exista um crime base/geral ou simples
(ex. º homicídio simples) e uma outra que a modifica, mas sem alterar a sua substância
(especial).
Exemplos:
• Homicídio qualificado - quem matar outra pessoa (art. 131.º) + com especial
censurabilidade ou perversidade) acrescenta mais culpa
• Homicídio privilegiado - quem matar outra pessoa (art. 131.º) + com compreensível
emoção violenta acrescenta circunstâncias que conduzem a menor culpa
Nestes casos pode a norma especial ter uma moldura penal mais elevada como menos
elevada
Crime de rapto (art. 161.º) – crime especial face ao sequestro (art. 158.º)
• Relação entre o crime do artigo 291.º e o crime do artigo 292.º (crime de condução em
estado de embriaguez ou sob a influência de estupefacientes ou de substâncias
psicotrópicas;
• Art. 293.º - lançamento de projéctil contra veículo «se outra pena ais grave lhe não
couber por força de outra disposição legal» é norma subsidiária, por exemplo, face aos
crimes de homicídio e o crime de atentado à segurança de transporte [art. 288.º, n.º 1d)
+ art. 290.º, n.º 1 d)].
Material, Implícita ou tácita – sempre que o facto incriminado por outra norma entra como
elemento constitutivo de um facto incriminado por outra e este exclui a aplicabilidade da
anterior
• Relação entre actos preparatórios puníveis ou tentados e a consumação só se pune
pelos actos preparatórios ou pela tentativa, se não for possível punir pelo crime
consumado
• Relação entre o crime por omissão e acção Só se pune pela omissão, se não for
possível punir pela acção
• Relação entre participação e autoria Só se responsabiliza pela participação (grau
menos grave de comparticipação), se não for possível punir por autoria (crime mais
grave)
• Relação entre o crime de perigo e o crime de dano só se pune pelo crime de perigo
se não for possível punir pelo crime de dano (embora, no que respeita ao crime de
participação em rixa – perigo abstracto-concreto), haja o entendimento que se trata de
consumpção
• Nos crimes omissivos impuros e puros – só se pune pelo crime de omissão pura (a norma
impõe uma actuação a qualquer pessoa (ex.º art. 200.º), se não for possível punir pela
omissão pura (ex.º art. 131.º + 10.º autor tem dever de garante)
RELAÇÃO DE CONSUMPÇÃO
Exemplos:
o O crime de coacção (crime fim) consome o crime de ameaça (crime meio)
o Art. 152.º (crime de violência doméstica) e art. 143.º (ofensas à integridade física) -
não é possível praticar violência numa das suas vertentes, sem se lesar a integridade
física (alguns autores entendem ser uma relação de especialidade);
o Art. 131.º(homicídio) e art.ºs 143.º e 144.º (ofensas simples e ofensas graves à
integridade física, respectivamente) - não é possível matar sem lesar a integridade
física (um crime é instrumental face ao outro)
o Art. 140.º (aborto) e 143.º(ofensas à integridade física) - não é possível praticar
crime de aborto não consentido sem lesar a integridade física da mulher grávida (um
crime é instrumental face ao outro)
o o crime de roubo (art. 210.º) consome os crimes de:
▪ Ofensas à integridade física cometidos na pessoa roubada (art. 143.º)
▪ Ameaças (art. 153.º)
▪ Coacção (art. 154.º)
• porque integram a factualidade típica destes
▪ alguns autores entendem que existe uma relação de consumpção entre
o crime de roubo e o crime de dano quando o agente destrói o bem que
subtraiu. No entanto deverá ter-se em consideração o caso concreto 3.
3 Nem sempre este será um concurso aparente. Ver: ACSTJ de 12-01-2006 - Dano Furto Concurso de
infracções http://www.pgdlisboa.pt/jurel/stj_mostra_doc.php?nid=21602&codarea=2
I - Mesmo que o dano seja meio de atingir a consumação do furto simples (resultante da desqualificação,
dada a insignificância do valor em causa), não é aceitável entendimento no sentido de que o dano se
encontra consumido pelo furto.
II - Tal como escreve Costa Andrade, «também há concurso efectivo em caso de dano seguido de furto
(ou, sendo caso disso, abuso de confiança), salvo se do primeiro resultar a destruição total da coisa.
Inversamente, já haverá concurso aparente nos casos de furto qualificado nos termos do art. 204.º, n.ºs
1, al. e), e 2, al. e). Só não será assim se, por força do disposto no n.º 4 do art. 204.º não houver lugar à
qualificação do furto, hipótese em que a solução será, mais uma vez, o concurso efectivo (...)» -
Comentário Conimbricense do Código Penal, II, págs. 234 e 235.
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/29bbee5ca962585b802573780052cc
32?OpenDocument
Ainda: «… o significado do “crime meio” desaparece nos casos em que é tido por secundário em relação
ao “crime fim” e desde que semostre associado a este através de uma forma de apari ção regular,ou
forçosamente necessári a, mas se a gravidade do “crime meio” não for mínima, do excesso resultar um
concurso efectivo com o “crime fim”.
IV – Se, por força do disposto no n.º 4 do artigo 204.º do CP, não houver lugar à qualificação do crime de
furto, então existirá concurso efectivo entre o crime de dano e o crime de furto (simples)»
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• Pura – o crime mais grave consome o crime menos grave, ou seja, o agente é punido
pelo crime mais grave
• Impura – o crime menos grave consome o crime mais grave, ou seja, o agente seria
punido pelo crime de menor gravidade. Quando assim for, o agente é punido com a
moldura penal do crime consumido, mais grave.
Ver, ainda:
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/29bbee5ca962585b802573780052cc
32?OpenDocument
4
Crime de detenção de arma proibida (crime de perigo abstracto) e crime de roubo (crime de lesão ou
dano) –concurso de crimes e de normas – fins das penas -
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/ba8ffed362818a7080257758002dc
052?OpenDocument
5 http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/fc50ce427643e498802574f9003e85
8c?OpenDocument
6 Quanto à situação de concurso entre falsificação e burla ver, entre outros https://dre.pt/pesquisa/-
/search/497861/details/maximized?p_p_auth=kSGKaH86/en;
Quanto ao Concurso entre Passagem de moeda falsa, falsificação de documentos e burla?
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/f4cbe2ecdeea9311802571bc003d0d
06?OpenDocument