Legislação Social e Previdenciária
Legislação Social e Previdenciária
Legislação Social e Previdenciária
Previdenciária
Autor: Profa. Silmara Cristina Ramos Quintana e
Profa. Suzana Martellini Pivetta
Colaboradores: Profa. Amarilis Tudela Nanias
Profa. Glaucia Aquino
Profa. Dra. Angélica Lucia Carlini
Professoras conteudistas: Silmara Cristina Ramos Quintana e
Suzana Martellini Pivetta
Silmara Cristina Ramos Quintana é graduada em Serviço Social pela Faculdade de Serviço Social de Araraquara,
em 1983, pós-graduada em Psiquiatria e Psicologia Clínica da Adolescência pela Unicamp, em 1990, em Orientação e
encaminhamento ao Mundo do Trabalho pelo Centro Brasileiro para Infância e Adolescência, em 1994, em Formação
de Psicodramatista pela Animus Psicodrama Pedagógico, em 1997 e mestra na área das Políticas Públicas da Criança e
do Adolescente pela Uniban, em 2010.
Passou a militar nos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Municipal de Assistência Social e
Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, desde o ano de 1989, nos quais assumiu as coordenações
das comissões: de Registro, Família e Medidas Socioeducativas, com participação em conferencias nas três esferas de
governo.
Atua como docente de EaD da graduação em Serviço Social e coordenadora do curso de graduação e de
pós-graduação de Pedagogia pela Universidade Paulista UNIP.
Suzana Martellini Pivetta é formada em Direito pela Faculdade de Direito de Sorocaba (1986), com especialização
em Recursos Humanos e Desenvolvimento Gerencial pela Universidade de Sorocaba (2003), e mestrado em Comunicação
e Cultura pela Universidade de Sorocaba – Uniso. Docente da Universidade Paulista – UNIP, no campus Sorocaba e atua
como presidente da Comissão Municipal de Assistência Social de Votorantim – Comas.
il.
CDU 341
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Ana Luiza Fazzio
Sumário
Legislação Social e Previdenciária
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 OS AVANÇOS NA LEGISLAÇÃO SOCIAL E AS GARANTIAS DE DIREITOS .......................................9
1.1 A evolução dos direitos .........................................................................................................................9
1.2 Os direitos sociais ................................................................................................................................. 12
1.3 Os direitos sociais na Constituição Federal de 1988.............................................................. 16
2 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL .......................................................... 29
2.1 Histórico constitucional .................................................................................................................... 29
2.2 A participação social na Constituição de 1988 ....................................................................... 29
2.2.1 O estado democrático de direito ...................................................................................................... 29
2.2.2 As garantias individuais e coletivas ................................................................................................ 31
2.3 Participação social e políticas públicas ....................................................................................... 33
2.4 Do controle social das políticas públicas sociais ..................................................................... 34
2.4.1 Política pública de saúde ..................................................................................................................... 34
2.4.2 Política pública de Assistência Social ............................................................................................. 35
2.5 Do financiamento das políticas públicas sociais ..................................................................... 37
2.5.1 Saúde ........................................................................................................................................................... 37
2.5.2 Assistência Social .................................................................................................................................... 38
2.5.3 Criança e adolescente ........................................................................................................................... 39
3 A LEGISLAÇÃO SOCIAL VIGENTE NO BRASIL CONTEMPORÂNEO................................................. 41
3.1 O princípio da Seguridade Social ................................................................................................... 41
3.2 Da Previdência Social ......................................................................................................................... 42
3.2.1 Acesso à Previdência Social ................................................................................................................ 46
3.2.2 Segurados da Previdência Social RGPS – Regime Geral de Previdência Social ............ 46
3.2.3 Filiação e inscrição na Previdência Social..................................................................................... 50
3.2.4 As informações previdenciárias ........................................................................................................ 52
3.2.5 As contribuições previdenciárias ...................................................................................................... 54
3.2.6 Benefícios da Previdência Social ...................................................................................................... 57
3.3 A Lei Orgânica da saúde (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990) .............................. 67
3.3.1 Da saúde ..................................................................................................................................................... 70
3.3.2 O Sistema Único de Saúde – SUS .................................................................................................... 71
4 LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL – LOAS ............................................................................... 74
4.1 Da Assistência Social........................................................................................................................... 75
4.1.1 Política Nacional de Assistência Social – PNAS ......................................................................... 76
4.1.2 Sistema Único de Assistência Social – Suas ................................................................................ 76
4.1.3 A proteção social da Assistência Social
na lógica da garantia dos direitos individuais e sociais ..................................................................... 85
Unidade II
5 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA ......................................................................... 92
5.1 Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
do Adolescente – CMDCA e Conselho Tutelar ...............................................................................100
5.2 Conselho Tutelar .................................................................................................................................101
6 O ESTATUTO DO IDOSO (LEI Nº 10741, DE 1 DE OUTUBRO DE 2003) .......................................103
6.1 Legislação da pessoa idosa .............................................................................................................103
6.1.1 A realidade da pessoa idosa no Brasil ..........................................................................................105
7 DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA .................................................................................. 119
7.1 Marcos normativos e regulatórios ..............................................................................................120
7.2 A realidade da pessoa com deficiência no Brasil ..................................................................124
8 A ESPECIFICIDADE DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA – BPC ...............................132
APRESENTAÇÃO
Cabe ao profissional de serviço social conhecer a legislação vigente. Para tanto, no período da sua
graduação, vamos oferecer conteúdos que lhe permitam tomar contato e dialogar sobre os critérios de
acesso e a proposta de proteção e garantia de direitos para os cidadãos brasileiros, possibilitando, ainda,
que os futuros profissionais desenvolvam uma consciência crítica frente aos desafios estabelecidos no
processo de construção, que deve ser contínuo de uma legislação.
Objetivos gerais:
Propiciar conhecimentos básicos sobre a legislação social brasileira e a legislação social em particular,
necessários ao exercício da prática profissional e do exercício de cidadania.
Objetivos específicos:
• refletir e aplicar as legislações reguladoras e os dispositivos legais que contribuem para a garantia
dos direitos sociais conquistados;
INTRODUÇÃO
Muitos são os desafios que o profissional de serviço social se depara ao encontrar com os sujeitos
sociais, questionando a ausência ou a fragilidade da legislação brasileira frente às situações voltadas
para a garantia de direitos sociais.
Historicamente, estudamos que muitas lutas foram deflagradas, sejam essas com força física e outras
com a força do diálogo e do enfretamento dos conflitos econômicos, ideológicos, políticos e sociais,
contando sempre com a participação da sociedade civil mediante a militância junto aos segmentos,
que pela ausência de políticas públicas e de uma legislação garantista remetem-nos à margem social,
determinando sua exclusão.
Este livro-texto apresenta ao aluno/leitor uma síntese das legislações sociais, que vão sendo
distribuídas para didaticamente favorecer a compreensão mediante as duas unidades.
Na primeira unidade, vamos nos centralizar na Constituição Federal; a Constituição Cidadã que
teve o importante papel de permitir que legisladores, com a participação social, debruçassem-se para
estabelecer novos parâmetros na lógica da proteção social e da garantia de direitos.
7
Nesse sentido, vamos retomar a participação social e estabelecer quais são os avanços e os desafios
a serem vencidos, atribuídos ao controle social, ao financiamento, e à implantação e implementação das
políticas públicas sociais por meio da execução de serviços, programas e projetos.
Na segunda unidade, vamos nos aproximar dos estatutos, leis e decretos, que dão suporte e
instrumentalizam a atuação das políticas frente à singularidade das situações com relação à criança, ao
adolescente, à pessoa idosa e à pessoa com deficiência.
Será um grande desafio cumprir proteção para segmentos, que durante séculos foram desconsiderados
como sujeitos de direitos e esquecidos, pois são considerados improdutivos para/no sistema capitalista.
Marcamos, com esse livro-texto, a presença incansável do profissional de serviço social em todas
essas políticas, e com todos os cidadãos que as compõem e as utilizam, pois eles merecem nosso respeito,
compromisso e dedicação. Inovando suas ações para o acolhimento, a escuta qualificada e as ações que
permitam desenvolver potencialidades para a autonomia e a independência, salvaguardo os suportes e
apoios necessários a cada situação.
8
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Unidade I
A CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
O conhecimento da evolução dos direitos humanos é necessário para a compreensão de uma longa
e contínua conquista, fruto de árduos trabalhos desenvolvidos em diferentes momentos históricos, que
culminaram no reconhecimento de direitos humanos e sociais, marcados como grandes aquisições da
humanidade.
São inúmeras e contínuas as lutas por reduções de desigualdades e injustiças sociais, e datam
de séculos na existência da convivência humana. Em memória histórica, temos a Carta Magna
de 1215, a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, da Revolução Francesa de 1789,
a Encíclica Rerum Novarum de 1891, a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948,
dentre outros. São exemplos de documentos históricos que nos remetem a ordem da proteção de
direitos humanos criados/implantados pelas sociedades. Esses são os mais recentes, entretanto,
em tempos remotos existe o registro das lutas travadas contra desigualdades e opressões nas
sociedades.
Constantemente, existem situações que remetem aos desafios de estruturar normas para a garantia
da proteção integral do ser humano, mesmo que essas já existam, muitas vezes, elas não são respeitadas,
sendo necessária a organização da sociedade civil, da gestão pública e do Sistema de Garantia de Direitos
para retomá-las e serem cumpridas.
No que diz respeito à legislação para a garantia dos direitos humanos e sociais, o Brasil tem um
importante referencial histórico, que é a Constituição do Império do Brasil. Foi a primeira das constituições
no mundo a incorporar normas de direitos humanos em seu texto.
Didaticamente, vamos utilizar uma nomenclatura instituída por alguns doutrinadores do direito
para explicar o desenvolvimento do que se chama de quatro gerações do direito.
9
Unidade I
Os primeiros direitos, que foram conquistados pelo homem frente ao poder do Estado foram os
liberais (liberdades civis e políticas) e por isso mesmo são chamados direitos de primeira geração.
Conceitos como soberania popular, partidos políticos, democracia, tudo isso está no centro dos debates
desses direitos e a Revolução Francesa é seu marco histórico.
Com a expansão da representatividade pelo voto, os trabalhadores no século XIX passaram a lutar
pela implantação de direitos sociais. Aos poucos, o Estado foi sendo obrigado a se abster de intervir na
vida civil e a garantir direitos sociais por meio de serviços públicos.
Em 1919, a Constituição Alemã, denominada Constituição de Weimar, trouxe escrito pela primeira
vez que o cidadão tem o direito à saúde, à educação, a férias trabalhistas, à jornada de trabalho, que a
propriedade tem que servir à coletividade etc. Essa Constituição influenciou o mundo, da mesma forma
que a Revolução Francesa fez anteriormente com as liberdades civis.
Surgiu, pela primeira vez, o termo Estado Social, em que aparecem no Direito as demandas sociais,
introduzindo a segunda geração dos direitos.
Da mesma forma, a partir das conquistas, a sociedade passou a exigir que o Estado não apenas
garantisse suas liberdades e concedesse direitos sociais mas que os direitos coletivos ou difusos fossem
estabelecidos. São os chamados direitos de terceira geração.
Na terceira geração dos direitos, o meio ambiente ocupou posição destacada, mas também foram
abrangidos temas como o direito ao desenvolvimento, à paz, à comunicação etc.
Por outro lado, com as inovações tecnológicas, mormente no campo da comunicação e da genética,
surgiu uma nova esfera de direitos fundamentais, necessários não apenas à proteção do homem
enquanto ser social mas à preservação da espécie.
Tal tema encontra-se inserido na Declaração dos direitos do homem e do genoma humano, elaborado
em 1997, pela Assembleia Geral da Unesco.
Trata-se, portanto, dos direitos de quarta geração, ainda em fase de construção, mas que traduz a
ideia da proteção do ser humano em face de manipulação genética.
Para termos uma ideia dessa proposta metodológica para compreensão dos direitos, agrupamos-nos
num quadro1:
2011.
10
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Quadro 1
É claro que todos esses direitos se entrelaçam e, modernamente, a negação de um deles equivale à
inexistência dos direitos fundamentais do ser humano, pois não há que se falar em garantia ao direito
de quarta geração, por exemplo, se o direito de voto ou de petição ainda não estiver assegurado.
Quadro 2
2
Informações obtidas por meio do artigo disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/27219/1/OS-
DIREITOS-HUMANOS--DECORRENTES-DOS-TRATADOS-INTERNACIONAIS-E-O-STF/pagina1.html>. Acesso em: 22 mar.
2011.
11
Unidade I
Pacto internacional dos direitos Resolução 2200 A (XXI) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 16 de
civis e políticos dezembro de 1966.
Pacto internacional dos direitos Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992 – Brasil.
econômicos, sociais e culturais
Convenção contra tortura Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991 – Brasil.
e outros tratamentos ou
penas cruéis, desumanos ou
degradantes
Convenções signatárias
Mas a reflexão anterior à busca pela garantia dos direitos humanos é contínua e incansável,
pois, conforme o modelo econômico vigente e a dinâmica histórica de cada sociedade esses
direitos podem ser sustentados ou podem ser retroagidos, e só se estabelecem numa linha de
garantismo quando, efetivamente, a sociedade civil está organizada e milita pela sua manutenção
e efetivação.
O processo de industrialização trouxe uma série de consequências e impôs desafios, até então,
inexistentes.
A migração do homem do campo para a cidade, a grande concentração de pessoas sem moradias,
condições de higiene, assistência humanitária etc., de um lado e de outro, os baixos salários, a excessiva
jornada, o trabalho infantil e de mulheres grávidas, a falta de segurança nos locais de trabalho, tudo isso
logo se transformou em motivo de grandes conflitos.
As próprias indústrias precisavam que uma parcela de sua mão de obra tivesse alguma condição
educacional para desempenhar suas funções.
As Constituições Mexicana (1917) e Alemã (1919) foram os primeiros referenciais deste pensamento
na ordem constitucional.
A partir daí, o Estado passou a ser não só garantidor das liberdades individuais, mas intervencionista,
atuando diretamente para que os direitos sociais como saúde, educação e trabalho fossem
assegurados.
12
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Em relação ao Brasil, quando falamos de Direitos Humanos, necessário se faz a vinculação destes à
história das Constituições brasileiras. Nesse sentido, o presente assunto nos remete a uma abordagem
histórica, como se construíssemos uma linha do tempo, das diversas constituições que foram marcos
para as conquistas atuais, tanto Constitucionais como de Direitos Humanos.
A Constituição Imperial Brasileira de 1824 apresentava a inviolabilidade dos direitos civis e políticos,
com a prerrogativa da liberdade, da segurança individual e da propriedade.
A partir da influência do chamado Estado Social que norteava a Europa, bem como o início do
processo de industrialização do país, somente na década de 1930, o Brasil passou a considerar como
função estatal a garantia de direitos básicos do cidadão na esfera social.
Os movimentos da Europa influenciavam a realidade brasileira que vivia, no ano de 1930, a Grande
Revolução provocada pelo desrespeito aos Direitos Humanos. Foram dissolvidos: as Câmaras Municipais
e o Congresso Nacional, suspenderam as franquias constitucionais de habeas corpus, exceto para os
réus de processos de crimes comuns e, consequentemente, a Magistratura3 perdeu suas garantias de
poder. Toda essa situação de usurpação de direitos provocou a Revolução de 1932, que deflagrou a
instalação de um governo provisório e de uma comissão para elaborar um projeto de Constituição, mas,
que infelizmente não teve uma grande participação popular.
Com essa comissão surgiu a Constituição de 1934, mesmo com toda a censura avançou em
algumas situações liberais. A Constituição tratava, pela primeira vez, do tema referente à ordem
social como: nenhuma lei poderia prejudicar um direito já adquirido, proibiu a pena de caráter
perpétuo; proibiu a prisão por dívidas, multas ou custas; estabeleceu a assistência judiciária para os
necessitados, que até os nossos dias ainda não está implementada em todos os estados brasileiros;
promoveu a autoridade efetiva do sistema de justiça, na figura do juiz sobre as penalidades
infracionais, implantando a obrigatoriedade de “assistência médica” e remuneração às trabalhadoras
grávidas.
Entretanto, apesar de todos esses avanços constitucionais, logo após a Constituição de 1934,
instala-se o chamado “Estado Novo”; nada mais era do que o regime de governo implantado
por Getúlio Vargas em 1937, que trouxe para a política nacional um sistema centralizado e
autoritário de governar.
3
Mas vamos esclarecer: magistrado (do latim magistratus, derivado de magister “chefe, superintendente”). A palavra
latina magistratus tanto significa o cargo de governar (magistratura) como pessoa que governa (magistrado). Designava
um funcionário do poder público investido de autoridade. exemplo: juízes, prefeitos, governadores e presidentes.
13
Unidade I
Foi uma época de estado de emergência no País; foram suspensas praticamente todas as liberdades a
que o ser humano tem direito: liberdade de ir e vir, sigilo de correspondência (eram violadas e censuradas)
e de todos os demais meios de comunicação, orais ou escritos, proibiram também todas as reuniões, com
o receio de ser organizada uma nova revolução que decretasse a instalação de um novo governo. Isso
culminou na supressão dos direitos humanos do povo brasileiro.
A Constituição de 1937, que deu origem ao chamado “Estado Novo”, trouxe a política social mais
voltada para o assistencialismo e tinha no clientelismo social uma forma de manter controlada a
reivindicação dos movimentos organizados que surgiam com o fortalecimento sindical.
Fruto dessa política, foi criada a Legião Brasileira de Assistência, em 1938, e o Departamento Nacional
da Criança. Foi também nesse período que nasceu o Senai e o Sesi, visando ao mesmo tempo qualificar
a mão de obra para as novas indústrias que floresciam e manter controlados, via iniciativa privada, o
atendimento social a esses trabalhadores.
Em sequência, foi criada a Constituição de 1946. Entendia-se que o país fora “redemocratizado”,
considerando que os direitos foram restaurados com garantias individuais e tendo sido ampliados,
inclusive, os direitos sociais. Reestabeleceu o direito de greve, e o salário mínimo nacional para atender
às necessidades do trabalhador e de seu grupo familiar, contudo, esse nunca foi efetivamente, no Brasil,
garantidor das necessidades reais, apenas das necessidades mínimas.
Como resposta ao fim do Estado Novo e sua ditadura, a Constituição de 1946 ampliou as
liberdades civis e buscou uma conciliação entre o capital e o trabalho, expressando esse conceito
em seu Artigo 145:
Importante destacar nesse período que os direitos sociais na prática existiam apenas para os
segmentos que se encontravam inseridos no mercado de trabalho.
Mas, em 31 de março de 1964, instalava-se a Revolução denominada de Golpe Militar, que trouxe,
por intermédio dos Atos Institucionais (conhecidos como AI – 1 e AI – 2), um enorme retrocesso aos
Direitos Constitucionais e Humanos. E foi em 1967 que surgiu a nova Constituição Brasileira, marcada
pela supressão da liberdade de publicação e de reuniões, efetivando poderes aos militares, com punições
14
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
A Constituição de 1967 serviu apenas para legitimar o regime militar e os direitos civis foram
subordinados à vontade dos quartéis, negando-se toda forma de contestação e mobilização
popular.
No campo social ocorreram concessões como forma de ganhar apoio popular ao novo regime como,
por exemplo, a incorporação dos trabalhadores domésticos e rurais à Previdência Social. Os direitos
sociais foram centralizados no governo federal, que eram executados conforme sua estratégia de
controle da estabilidade política e econômica.
O dia 17 de outubro de 1969, com o novo AI – 5 foi marcado pela violação dos direitos individuais e
sociais dos quais o governo tinha poderes discricionários4 com prerrogativa de confiscar bens, podendo
suspender habeas corpus em casos de crimes políticos contra a segurança nacional e a ordem econômica
e social. Surgiu assim a nova Constituição Federal de 1969.
Está deflagrada uma situação de arbitrariedades, corrupção em que assassinatos são realizados em
nome da manutenção do sistema político vigente. Essa constituição é marcada pelo total retrocesso dos
direitos individuais e sociais.
Ao final dos anos 70 e durante a década de 80, a inflação tomou conta do País, a migração rural
adensou as cidades, criando novas demandas sociais, a cultura externa passou a influenciar a juventude
e as greves do ABC paulista enfraqueceram de vez com o regime militar, exigindo uma nova ordem que
expressasse a vontade popular não apenas no campo político institucional mas que redefinisse o papel
do Estado no campo econômico e social.
Somente em 1979, com a libertação pela anistia dos presos políticos, o período perpassa por um
novo momento, evidentemente não foi da forma esperada, mas foi uma conquista inesquecível.
A Constituição de 1988 reproduz todo esse período de avanços e retrocessos da curta existência da
República brasileira e, portanto, possui fortes componentes do liberalismo e do Estado Social.
Mas, somente em 1988, conforme esclareceu Ulisses Guimarães, temos a garantia dos direitos
humanos, na lógica da proteção integral, sendo que dela trataremos num item específico, a seguir.
Vamos então organizar, de forma crescente, as várias Constituições brasileiras, para entendermos
como se dá o processo de legitimação dos direitos sociais, considerando os avanços e os desafios postos,
segundo o regime político vigente:
4
Esclarecendo: atos discricionários seriam aqueles nos quais a lei confere ao agente público a possibilidade de
escolher a solução que melhor satisfaça o interesse público em questão. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/
texto/342/principio-da-eficiencia-e-controle-dos-atos-discricionarios> Acesso em: 19 mar. 2011.
15
Unidade I
Quadro 3
Constituições brasileiras
1824 – Constituição Imperial – sem participação popular;
– protestos dos estados: Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio
Grande do Norte;
1091 – Constituição Federal – voto direto:
exceto mendigos, analfabetos e religiosos.
Constituições brasileiras
Segundo Iris Maria de Oliveira5, a política social brasileira, antes de 1988, caracterizou-se pela
cobertura aos que se encontravam no mercado de trabalho, pois àqueles que estavam fora deste só
haviam ações filantrópicas ou caritativas, em que a esmola surgia como única forma de auxílio. Nesse
5
Política social, assistência social e cidadania: algumas aproximações acerca do seu significado na realidade
brasileira. Disponível em: <http://www.cpihts.com/2003_10_19/Iris%20Oliveira.htm>. Acesso em: 23 mar. 2011.
16
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
sentido, trata-se de uma política social fragmentada e centralizada no nível federal, com a total ausência
da participação social, ao que Vera Telles se refere como: modelo de cidadania “dissociado dos direitos
políticos e também das regras de equivalência jurídica” e que tira “[...] a população trabalhadora do
arbítrio – até então sem limite – do poder patronal, para jogá-la por inteiro sob a tutela estatal” (TELLES,
2001, p. 22).
A Constituição Federal de 1988 não foi elaborada por uma Assembleia Nacional Constituinte,
especificamente criada para esse fim e com dissolução posterior, ela foi elaborada pelo Congresso, um
dos mais conservadores da nossa história. O procedimento previsto foi atropelado pela grande força
da massa popular, que estava mobilizada desde o movimento das Diretas Já, e marcado por um novo
procedimento, que possibilitou a coleta de sugestões populares, de forma democrática.
17
Unidade I
• garantia de direitos;
• discute a seguridade social no tripé: Previdência Social, Assistência Social e saúde.
Observação
Dentre os 250 Artigos que compõem a CF, citaremos alguns que retomam a lógica de justiça,
igualdade e equidade social6:
I. a soberania;
II. a cidadania;
Neste Artigo, fica estabelecido o critério da dignidade humana que perpassa pelo direito a vida com
essa dignidade:
Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade [...] (BRASIL, 1988).
Fica estabelecido legalmente que todos têm as mesmas possibilidades de acessos diversos e de apoios
para terem seus direitos humanos e sociais garantidos.
Vale ressaltar que o direito à moradia, apresentado no Art. 5º, só foi reconhecido por Emenda
Constitucional nº 26 do ano de 2000. Antes, somente o direito à propriedade era garantido como
6
Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 20 mar. 2011.
18
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
forma patrimonial, mas não o de morar. Porém, ainda em nossos dias, as condições de habitação da
grande maioria de nossos cidadãos são precárias, especialmente na estrutura física das habitações, na
infraestrutura da rede de água e esgoto, na iluminação e na ausência de serviços das diversas políticas
públicas:
Art. 14 – A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos e nos termos [...] (BRASIL, 1988).
O direito ao voto, eleições diretas para as três esferas de governo: municipal, distrito federal,
estadual:
Estabelece a autonomia com a elaboração das Leis Orgânicas de cada esfera de governo, salvaguardadas
as prerrogativas constitucionais:
I. o plano plurianual;
Esses planos perpassam pelos Conselhos de Direitos, que contam com a participação popular para
todas as políticas, sendo que para algumas políticas como da Assistência Social e saúde são deliberativos
e para as demais políticas são consultivos, mas todas têm como articular o controle social, inclusive pelo
financiamento, com a participação da sociedade civil representada e usuários nos conselhos:
19
Unidade I
A lógica da Seguridade Social para as três políticas abriga a universalidade com equidade, tendo
a prerrogativa de controle social, com participação deliberativa da sociedade civil (representantes e
usuários) por meio dos conselhos:
A Constituição indicou a ordem do orçamento para a efetivação dessas políticas públicas, no marco
da Seguridade Social como políticas afiançadoras de direitos, sendo que no caso da política de saúde, a
Carta Magna expressa claramente a universalidade dos direitos, fechando a questão:
A política de saúde é direito universal dos cidadãos brasileiros, não sendo necessária a contribuição
para tal, legitimando o caráter protetor do Estado para com os cidadãos:
Com isso, fica estabelecida uma política descentralizada em três níveis de proteção: básica
(unidades básicas de saúde), especial de meia complexidade (centros de especialidades) e especial
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Unidade I
de alta complexidade (hospitais, com leitos de curta, média e longa duração). Mas expressa também
a prerrogativa de parcerias com serviços particulares, sejam privados ou públicos/privados, no caso das
ONGs (Organização Não Governamental tem em seu estatuto que a dissolução desta terá todo o seu
patrimônio encaminhado para outra congênere, perpetuando a sua finalidade).
Em contrapartida, a política pública de Previdência Social fica marcada pelo critério da contribuição
do trabalhador:
Art. 201 – A Previdência Social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei [...] (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998). (BRASIL, 1988 – 1998).
O contribuinte deverá atender todos os critérios estabelecidos para ter direitos, sendo que esses
critérios são reelaborados sobre a demanda do plano de governo vigente (teremos tais critérios detalhados
em outro tópico desde livro texto).
O critério, como podem acompanhar, estabelece-se desigual, ou seja, cada política é permeada
por critérios bastante específicos: política de saúde – universal, política de Previdência Social
– para quem contribuir e política de Assistência Social – de quem dela necessitar. Esse é o tom
do Artigo 203:
Este Artigo apresenta o início de uma grande luta pela universalização do direito, estabelecendo que
só terá acesso a está política quem dela necessitar, deixando aos profissionais o critério de legibilidade
dessa, já que proteção nem sempre pode estar associada a recurso financeiro. Entretanto, quando a
22
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
demanda é maior que a oferta de vagas, a ausência da universalidade pode gerar situações que exponham
cidadãos a muitos riscos sociais, já que os impulsiona a violações de direitos e exclusão social:
Cabe ao profissional legitimar sua função de articulador das políticas públicas e nesse caso específico,
de Assistência Social, pois, não raras vezes, o profissional expõe a fragilidade da ausência da política
como sendo descompromisso da profissão, para que isso não ocorra. O empenho para vencer os limites
impostos pela expressão “de quem dela necessitar”, deve caminhar na lógica da necessidade efetiva da
garantia de direito à vida com dignidade e não na lógica da política econômica.
Este Artigo apresenta clareza sobre o financiamento para a política de Assistência Social, deliberado
nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal) e do controle social que se efetiva pelos
conselhos por meio da participação da sociedade civil. Entretanto, sua efetividade até nossos dias ainda
é um grande desafio, principalmente para muitos Estados que ainda não compreenderam sua efetiva
responsabilidade e não assumem com eficiência a regra da descentralização, sendo que a política de
Assistência Social é a mais afetada por essa situação:
Art. 206 – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
Já, nesta Constituição, fica estabelecida a responsabilidade desta política para com a educação
infantil e com a inclusão das pessoas que apresentam diversidades na sua forma de acesso à informação,
ao conhecimento e ao desenvolvimento pedagógico. Sendo uma das políticas que preconiza o maior
financiamento se estabelecendo enquanto ação preventiva para a garantia de direitos humanos e
sociais. Contudo, ainda temos muitas críticas, já que a universalização se efetiva com grandes ausências
de vagas para os cidadãos e com péssimas condições para a inclusão, especialmente das pessoas com
deficiências, pela ausência de suportes e apoios necessários ao seu aprendizado.
A partir do Artigo 215, novas possibilidades são pensadas e idealizadas pela Constituição Cidadã,
como apresentamos a seguir:
Art. 215 – O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais
e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização
e a difusão das manifestações culturais (BRASIL, 1988).
Identificamos nesses cinco Artigos os avanços significativos dessa Constituição, que se preocupou
com as diversidades de garantias à proteção integral do cidadão, contudo, com recursos alocados,
mas sem o controle necessário para a garantia das propostas, sendo ainda incipiente e tendo que ser
acelerada a amplitude de sua perspectiva de disseminação.
Mas, para os profissionais das áreas biológicas e humanas, que tem no seu escopo de atenção o
atendimento, fica estabelecida legalmente, em primeiro lugar, a centralidade da responsabilidade na
família7, de todo o cuidado, proteção e afeto a seus membros, cabendo ao Estado a demanda que essa
não tiver atingido.
Sem sombra de dúvidas, identificamos uma grave questão ideológica, pois novamente perpassa à
família a responsabilidade para uma demanda que, na sua grande maioria, só não foi suprida por esta
devido à ausência do Estado, que só se efetiva pela presença e suficiência das políticas públicas, com o
acesso e a informação para efetivamente chegar até elas. Para entendermos essa crítica, apresentamos
a seguir os Artigos referidos:
Esses dois Artigos estabelecem a prioridade e a centralidade na família como espaço de afeto, cuidado
e proteção de seus membros, com corresponsabilidade do Estado na garantia de acessos e efetividade
nas políticas públicas sociais. E demarca a prioridade do atendimento às crianças, aos adolescentes e aos
jovens, mas que para tal necessita da garantia das políticas públicas e dos serviços para serem efetivados
os atendimentos necessários, impedindo que se mantenham em situação de vulnerabilidade e de risco
social, dos quais os seus direitos sejam violados pelo Estado, que cria leis mas que não efetiva serviços.
E o que é pior, um Estado que culpabiliza a família por não “dar conta” de suas demandas internas,
numa linguagem positivista, como se as fizesse por descaso e não por ausência de serviços, de acesso e
de informação.
7
Destaque da autora no sentido de reforçar a ideia central.
25
Unidade I
Está expressa, nos Artigos 226 e 227, a responsabilidade da família e do Estado, e a legislação
legitima a ação contra aquele que ferir a lei, mas, para que a ordem não se perpetue de cima para
baixo, que os profissionais ousem na ação de oferecer propostas que mobilizem e incentivem
os sujeitos sociais a buscarem seus direitos na lógica garantista efetivada pela Constituição
Federal.
Essa Constituição avança quando inclui os índios, conforme Artigo que se segue:
Art. 231 – São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens (BRASIL, 1988).
Tal Constituição, considerada cidadã, está marcada pelo respeito a todo povo brasileiro,
sendo ainda necessário se efetivar ações de implementação de serviços com qualidade e
continuidade.
Entre os temas inscritos na Constituição Federal, fica estabelecido aquilo que concerne à ordem
social, encontram-se a Seguridade Social, a saúde, a Previdência Social, a Assistência Social, a educação,
a cultura e desporto, a ciência e tecnologia, a comunicação social, o meio ambiente, a família, a criança,
o adolescente, o idoso e os índios.
A ordem social de um lado e a ordem econômica de outro (Título VII da Constituição Federal)
caracterizam o equilíbrio das forças que fazem funcionar a sociedade. A ordem social é aquela que
traduz uma ideia de consenso na sociedade.
A ideia de Estado Social é marcante na Constituição Federal e a dignidade do ser humano é o centro
das atividades estatais.
Tendo como objetivo a justiça social, a ordem social prevista na Constituição Federal priorizou o
trabalho como forma de garantir uma existência digna.
Enquanto os direitos individuais se caracterizam pela conduta negativa do Estado, ou seja, que ele
respeite a individualidade da pessoa humana, por outro lado, no direito social obriga-se o Estado a uma
intervenção positiva, ou seja, não pode se omitir, ficar inerte. Deve apresentar ações, denominadas de
políticas públicas, de forma a assegurar esses direitos à população.
Os direitos de segunda geração (social) surgiram porque os de primeira foram insuficientes para
garantir a igualdade e a liberdade para todos.
26
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Tem razão o autor ao afirmar que os direitos sociais são aqueles que traduzem a ideia de igualdade.
O objetivo das políticas sociais é proporcionar justiça distributiva, ou seja, tornar iguais pela ação do
Estado àqueles que a economia capitalista vigente e aceita pela ordem pública, tornaram desiguais.
O Estado passa a intervir na vida do cidadão, não para invadir sua privacidade mas por meio de
políticas públicas (moradia, educação, saúde etc.) como garantidor do direito à vida com dignidade,
conforme pressupõe a legislação, entretanto, cabe lembrar ao aluno/leitor que a efetividade desta só se
legitima com a existência efetiva e em suficiência para as demandas dos sujeitos sociais.
Alguns autores fazem uma relação entre os direitos fundamentais individuais e os sociais,
reafirmando que ambos devem caminhar concomitantemente, pois, na falta de um deles, o todo deixa
de existir. Quaisquer dos direitos individuais ou sociais que deixarem de existir, toda a dignidade humana
é afetada.
Inexiste liberdade sem os meios. Somente quando as necessidades básicas são atendidas em sua
plenitude, o ser humano pode se considerar livre, pois sem meios de moradia, de educação ou saúde os
direitos individuais são limitados.
Surge o problema dos recursos, sabidamente insuficientes para atender em curto prazo todas as
demandas sociais num país continental e desigual como o Brasil.
Assim, a definição de prioridades do Estado em longo prazo e não apenas como programas
governamentais passam a ser de extrema importância.
Escolher prioridades também significa relevar alguns direitos para uma dimensão menor da
capacidade de atendê-lo.
27
Unidade I
Sabedores que as políticas de governo nem sempre correspondem as do Estado, a maioria dos
direitos sociais tem receitas vinculadas constitucionalmente para sua execução, garantindo-se impostos
específicos e percentagens mínimas de aplicação dos recursos.
Com isso, cada ente federativo já se obriga a investir os percentuais mínimos estipulados na educação
o que, sem sombra de dúvida, elevou a qualidade e a oferta do ensino no país.
Da mesma forma, na área da saúde, em que o Artigo 198 e seus parágrafos definem os recursos
mínimos que os municípios, estado e União devem aplicar.
Além disso, o papel do chamado Estado Social é conciliar a garantia dos direitos individuais e os sociais
quando em conflito como, por exemplo, o caso da propriedade privada frente ao direito a moradia.
Uma das características dos direitos sociais na Constituição brasileira é sua universalização. Ou seja,
todos têm acesso de forma igualitária dentro das regras estabelecidas e com os recursos disponíveis.
Isso se agrava quando se traz a situação da inexistência em muitos municípios das políticas públicas de
média e da alta complexidade, como é o caso tanto da saúde como da Assistência Social, que demanda
a inscrição pelo marco da articulação e integração dos municípios para garantir os atendimentos de
forma regionalizada.
Os tribunais têm debatido sobre esse tema em face de alguns casos excepcionais em saúde pública,
mormente em procedimentos e medicamentos não cobertos pelo sistema público diante da política de
prioridades adotada. Isso porque, ao atender um único caso, poderá resultar na falta de recursos para o
sistema universal, faltando a todos, em detrimento daquela pessoa, que por outro lado também tem o
direito fundamental à saúde.
Portanto, a eficácia dos direitos sociais não está sujeita apenas a vontade do legislador ou do governo
de plantão, mas depende de uma série de conjunturas, principalmente econômicas, e da natureza da
intervenção estatal na sociedade.
Dentro dessa lógica, os serviços de Assistência Social, cultura, educação, esportes, habitação,
Previdência Social, saúde, segurança pública, tecnologia etc., seriam de responsabilidade dos próprios
28
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
interessados mediante contratação de empresas privadas, que disponibilizam os serviços somente para
os que podem pagar.
Em troca, o Estado não teria nenhuma obrigação de garantir tais direitos, podendo reduzir impostos,
já que sua atuação é mais regulamentadora e não prestadora direta de serviços.
Como já esclarecido, o Brasil teve sua história constitucional marcada pela adaptação dos textos à
realidade do poder político, ou seja, as constituições foram elaboradas a partir das necessidades de criar
normas que legitimassem os fatores reais do poder.
Por esse motivo, de 1891, quando tivemos nossa primeira Constituição Republicana, até 1967,
quando as Forças Armadas impuseram à Nação seu regime, o Brasil não teve legitimado espaços de
crescimento e fortalecimento de participação social.
No plano político, foram marcantes os modelos de governos populistas e ditatoriais. Além disso,
a grande massa da população era constituída de famílias residentes em zona rural, longe dos debates
sobre direitos sociais.
Ainda que muitos dos direitos sociais houvessem sido incorporados ao nosso direito, as grandes lutas
se davam para consolidar os direitos liberais no país.
O artigo primeiro da Constituição brasileira afirma que a República Federativa do Brasil constitui-se
em estado democrático de direito e que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus
representantes ou diretamente.
29
Unidade I
O estado de direito também pode ser chamado de estado constitucional, ou sujeito às normas,
valendo o império da lei para os governantes e governados por meio do princípio da legalidade.
Por estado democrático pressupõe-se um regime político que assegure a soberania e a vontade
popular. Porém, a complexidade do exercício dos direitos e garantias fundamentais conferidas ao cidadão
fez com que a vontade popular, na sua essência, fosse efetivada por meio de seus representantes nas
várias esferas do poder, por meio daquilo que se denomina democracia representativa.
Fruto de mobilizações e em resposta aos vários anos de ditadura, a Constituição de 1988 criou
mecanismos que possibilitaram maior participação social na tomada das decisões, bem como buscou
envolver a sociedade na implementação das políticas sociais. Dessa forma, aliaram-se à representatividade
tradicional os princípios da democracia participativa.
Aliás, o Artigo 14 da Constituição Federal assegura a soberania popular não só por meio do voto
(democracia representativa) mas também de forma direta mediante o plebiscito, o referendo e a
iniciativa popular das leis.
Mas, para além do sufrágio universal, existem outras formas de participação social como Morini
descreve:
30
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
A participação social também foi assegurada por garantias jurídicas, que visavam proporcionar a
eficácia dos direitos individuais e coletivos previstos na Constituição e que possibilitam a resistência do
cidadão frente aos abusos e desvios ou ilegalidades praticadas pelo poder estatal.
Essas garantias podem ser negativas, que é o caso do espaço onde o Estado não pode invadir como
a liberdade, a privacidade, a propriedade, a locomoção etc., e positivas, que são os instrumentos de
ação contra o Estado. Essas garantias não são onerosas e seu acesso é popular, não dependendo de
intermediários.
A Constituição elenca, em seu Artigo 5º, os direitos individuais e coletivos, sendo instrumentos de
ação frente ao Estado:
11
Moroni, J. A. Participamos, e daí? – Artigo publicado pelo Observatório da cidadania, membro do Colegiado de
Gestão do Instituto Nacional de Estudos Socioeconômicos – Inesc, dezembro de 2005. Disponível em: <http://www.ibase.
br/pubibase/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1183&sid=127>. Acesso em: 23 mar. 2011.
31
Unidade I
Tais instrumentos são colocados à disposição da sociedade e podem significar importantes formas
de mobilização social, utilizando-se do poder judiciário como forma de assegurar as garantias sociais,
sendo que o acesso ao Ministério Público – MP é devido a todo e qualquer cidadão, sem agendamento
de hora. Desejando discutir uma situação de violação de direitos, basta procurar o MP e apresentar sua
demanda.
Em caso de direito à defesa e se tiver como renda per capita o valor de um salário-mínimo deverá
ter acesso à Defensoria Pública, e se esta não estiver estabelecida em seu município deverá procurar a
procuradoria pública que lhe indicará um advogado, que tem função pública com honorários pagos pelo
Estado, para sua defesa.
Se houver uma situação que esteja causando violação de direitos para um determinado segmento
da população, poderão elaborar um documento, com coleta de assinaturas dos envolvidos e encaminhar
ao MP para averiguação e possível instalação de ação civil pública.
No caso de ser negado um direito constitucional e de demais legislações, o cidadão pode procurar
o Ministério Público Federal, que infelizmente tem sede apenas em alguns municípios brasileiros, e
apresentar suas justificativas para que mesmo após ter sido julgada sua ação improcedente receber
nova possibilidade de julgamento, na esfera Federal.
32
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
A todo direito social deve corresponder obrigatoriamente uma política pública para efetivá-lo e a
Constituição brasileira inovou ao assegurar a participação social em dois estágios das políticas públicas.
O primeiro ocorre durante a elaboração das políticas públicas: são os espaços de debates e as respectivas
institucionalizações. No segundo estágio, verifica-se a participação social na execução das mesmas.
Como modelo de participação social na elaboração das políticas públicas tem-se os conselhos, que
são instâncias públicas, criadas por lei, e asseguram a participação popular na elaboração, na execução
e na fiscalização destas políticas.
Os conselhos podem ter abrangência local, regional, estadual ou nacional. O ideal é que sua composição
seja paritária entre os membros de uma esfera do Poder Público e os representantes da sociedade civil, sendo,
portanto, bipartite. Quando mais de dois setores estejam representados, o conselho será tripartite ou até mesmo
quadripartite. Podem ser consultivos, quando apenas opinam, ou deliberativos, quando tem poder de impor
normas públicas e decisão sobre orçamento e recursos, e a própria política conforme legislação vigente.
Os conselhos de saúde, da educação, da assistência social, das cidades, criança e adolescente são
exemplos de conselhos que funcionam em todos os níveis: União, estados e municípios.
O segundo estágio da participação social dá-se na execução das políticas públicas pelos próprios
conselhos, na função fiscalizadora, mas, principalmente, quando a sociedade é chamada a assumir a
execução dessas políticas, no todo ou em parte. É o caso das parcerias.
As ONGs – Organizações Não Governamentais surgiram inicialmente como forma de colaborar com
a luta pela democratização do país, tendo mais caráter reivindicatório como o movimento contra a
carestia.
A maioria dessas ONGs tinha vínculos religiosos e eram eminentemente assistencialistas, migrando
atualmente para todas as áreas de intervenção pública. Algumas ganharam destaque internacional
como a Pastoral da Criança e chegaram a criar modelo de atuação social, que foi copiado pelas políticas
públicas governamentais.
Elas podem atuar em parceria com o Estado em forma de contratação de serviços, convênios, subsídios
etc. ou ter estrutura totalmente desvinculada do poder público, mantida e funcionando exclusivamente
com recursos e gestão próprias.
33
Unidade I
Qualquer que seja a forma de execução dos trabalhos das mesmas deverá sempre estar em sintonia
com as políticas públicas do segmento em que atuam.
Já as consultas públicas tem outro caráter: contribuição dos interessados sobre instrumentos legais
como leis e atos regulatórios. Nelas, os interessados fazem suas considerações sobre esses instrumentos
que podem ou não ser aceitos pelo órgão proponente.
O controle social da política pública de saúde se estabelece pela criação e continuidade dos conselhos
paritários, com acento dos representantes da gestão pública, indicados pelo gestor, representantes dos
profissionais da área e representantes dos usuários do SUS, sendo estes, órgãos de deliberação da política
pública, de controle e acompanhamento do financiamento nas três esferas de governo. Cabendo a cada
esfera seu universo de atenção, conforme se segue:
34
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Podem ser criados por lei municipal. O conselho fica vinculado ao SUS e
tem a finalidade de planejar, acompanhar, fiscalizar, avaliar a execução de
políticas públicas, serviços e ações de saúde em cada unidade de saúde
(BRASIL, 2009).
f) Consórcios públicos:
O controle social da política pública de Assistência Social se estabelece pela criação e continuidade
dos conselhos, que tem representação paritária, pela indicação do gestor público e das secretarias
respectivas da sua representatividade, representantes da sociedade civil organizada: de entidades
socioassistenciais, de profissionais da área e de usuários. Esses conselhos são deliberativos para controle
social e acompanhamento do financiamento da política. Estão assim distribuídos e com competências
nas três esferas de governo:
13
Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/suas>. Acesso em: 18 mar. 2011.
35
Unidade I
As demais políticas públicas se organizam em conselhos com caráter consultivo e com garantia de
conferências que indicam a política pública a ser votada em assembleia das conferências nas três esferas
de governo, mas com caráter de articulação municipal, estadual e federal.
Com relação a política pública para a criança e o adolescente, o controle social se estabelece
pelo acompanhamento dos serviços e da sua continuidade, tendo caráter de deliberação da política
36
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
pública enquanto primazia constitucional. Lembrando que, nesse caso, é uma política intersetorial, pois
a criança e o adolescente têm garantia de direitos nas diversas políticas públicas.
Lembrete
2.5.1 Saúde
e irá determinar quais tipos de gastos são da área de saúde e quais não são
(BRASIL, 2009).
d) Fundos de saúde:
Os municípios são incentivados a assumir integralmente as ações e serviços de saúde em seu território.
Esse princípio do SUS foi fortalecido pelo pacto pela saúde, acertado pelos três entes federados em
2006. A partir de então, o município pode assinar um termo de compromisso de gestão. Se o termo
for aprovado na comissão bipartite do estado, o gestor municipal passa a ter a gestão de todos os
serviços em seu território. A condição permite que o município receba os recursos de forma regular e
automática para todos os tipos de atendimento em saúde que ele se comprometeu a fazer.
Trata-se do Piso da Atenção Básica – PAB, que é calculado com base no total da população da cidade.
Além desse piso fixo, o repasse pode ser incrementado conforme a adesão do município aos programas do
governo federal. São incentivos, por exemplo, dados ao Programa Saúde da Família, no qual cada equipe
implementada representa um acréscimo no repasse federal. As transferências são realizadas fundo a fundo.
A remuneração é feita por serviços produzidos pelas instituições credenciadas no SUS. Elas não
precisam ser públicas, mas devem estar cadastradas e credenciadas para realizar os procedimentos pelo
serviço público de saúde. O pagamento é feito mediante a apresentação de fatura, que tem como base
uma tabela do Ministério da Saúde que especifica quanto vale cada tipo de procedimento.
Podem fazer convênios com o Ministério da Saúde os órgãos ou entidades federais, estaduais e do
Distrito Federal, as prefeituras municipais, as entidades filantrópicas, as organizações não-governamentais
e outros interessados no financiamento de projetos específicos na área de saúde. Os repasses por
convênios significam transferências voluntárias de recursos financeiros (ao contrário das transferências
fundo a fundo, que são obrigatórias) e representam menos de 10% do montante das transferências.
O financiamento se estabelece fundo a fundo, sendo do federal para o estadual e para o municipal.
Passando pelo controle social dos conselhos: CNAS, Ceas, CMAS, com controle do financiamento de todos
38
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Lembrete
O orçamento segue a lógica da Lei Orçamentária Anual – LOA, determinada pela Lei Orgânica do
município – LO para garantir que exista o recurso orçamentário para a execução dos serviços com
qualidade e continuidade. Esse orçamento anualmente é aprovado pela Câmara Municipal de vereadores,
de deputados estaduais, federais, e Congresso Nacional, sendo acompanhado e deliberado na reunião
específica de orçamento dos conselhos.
O Orçamento Criança – OC também se estabelece nas três esferas de governo, sendo votado nas
três instâncias dos parlamentos, entretanto, não existe um acompanhamento do recurso total pelos
conselhos de direitos, ficando apenas a responsabilidade do recurso destinado ao FMDCA – Fundo
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente para ser deliberado pelo colegiado dos CMDCA e os
demais, conforme representatividade na esfera de governo: estadual e federal.
Mesmo com o aporte dos demais recursos, a fiscalização acaba ficando limitada ao orçamento da secretaria
na qual o FMCDA está ligado e que na maioria dos municípios é a Secretaria de Assistência Social.
Cabe esclarecer que cada Conselho Municipal de Direitos deve implantar o Fundo Municipal de
Direitos da Criança e do Adolescente, e realizar uma campanha anual para a destinação de 1% a 6%
referente ao imposto de renda devido.
Mas quem pode destinar 1% são as empresas que trabalham com lucro real que são as empresas de
grande porte. E a destinação dos 6% é para as pessoas físicas que recolhem imposto. Essas destinações
podem ocorrer durante todo o ano, e/ou numa campanha anual, até o dia 30 de dezembro do ano em
exercício. Sendo que o recurso deste Fundo fica sobre a gestão do CMDCA, que pode destinar para os
serviços, programas e projetos, registrados no CMDCA, estabelecendo para isso critérios de destinação
em resolução previamente publicada, conforme demanda indicada pelos conselhos, inclusive Tutelar,
e pelo gestor público municipal, em que todos poderão ter acesso à informação e possibilidade de
participação.
39
Unidade I
Tabela 1
Destinação referente ao imposto de renda devido para o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Campinas
Esses dados são referentes ao CMDCA e o FMDCA de Campinas, e se apresentam assim organizados
para informação da população e dos destinadores14.
Para maior entendimento, incluímos um exemplo de cálculo – para pessoa física, ou seja, de
destinação no aporte de 6% do valor do IR – Imposto de Renda devido15:
Tabela 2
R$
Rendimento tributável 100.000,00
Deduções 30.000,00
Base de cálculo 70.000,00
Imposto devido 13.665,80
Imposto retido 14.500,00
Imposto a restituir 834,20
Destinação (6 % do imposto devido) 820,00
Restituição 1.654,20
14
Disponível em: <http://fmdca.campinas.sp.gov.br/prestacao_contas.php>. Acesso em: 19 mar. 2011.
15
Disponível em: <http://www.amic.org.br/paginas/doacoes/pag-doacoes-veja-mais.htm>. Acesso em: 19 mar. 2011.
40
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Em relação à destinação de pessoa jurídica, no que concerne 1% do IR devido, a empresa que apura
1 milhão de reais de lucro tributável, quando do encerramento do balanço de 31/12/2006, terá um imposto
de renda a pagar pela alíquota básica de 15%, de R$ 150.000,00. Nesse caso, 1% desse imposto, ou R$
1.500,00, poderá ser destinado ao Fundo Municipal para Defesa da Criança e do Adolescente – FMDCA e
o restante (R$ 148.500,00) pago ao Governo Federal. A destinação de 1% não concorre com os benefícios
fiscais (PAT, PDTI/PDTA), atividade audiovisual, doações ou patrocínios de caráter cultural e artístico16.
Observação
Saiba mais
16
Disponível em: <http://www.geac-campinas.org.br/contribua.htm#ex>. Acesso em: 25 mar. 2011.
41
Unidade I
Seguridade Social
Figura 1
A Constituição Cidadã primou em dirimir sobre todos os assuntos pertinentes à proteção social e
garantia de direitos, contudo, a operacionalização ainda tem percalços a serem vencidos.
No século XIX, apenas os funcionários públicos tinham algum tipo de seguridade, eram os chamados
fundos de assistência para servidores públicos e militares.
17
As informações são inspiradas nos dados apresentados no site da Previdência Social. Disponível em: <www.
previdenciasocial.gov.br>. Acesso em: 3 abr. 2011.
42
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
A partir das décadas de 1920 e 1930, surgiram as Caixas de Aposentadoria e Pensão – CAPs – caixas
profissionais por empresas, em regime de capitalização coletiva. Aqui, identificamos iniciativas de grupos
coletivos da sociedade civil organizada sem a responsabilização estatal.
Nas décadas de 1930 – 1960, surgiram os Institutos de Aposentadoria e Pensão – IAPs, também
organizados por categoria profissional para empregados urbanos, em regime de capitalização coletiva,
ainda sem a responsabilização estatal.
Somente em 1966, efetivou-se a unificação dos institutos, com a criação do Instituto Nacional de
Previdência Social – INPS, em regime de repartição, com o início da responsabilização do Estado.
Lembrete
Foi, em 1988, que o país deu um salto no que tange as políticas públicas sociais, quando da
promulgação da Constituição Federal de 1988, pela qual se registrou a equalização dos benefícios
dos sistemas urbano e rural, com a criação do conceito de segurado especial para proteção aos
trabalhadores e suas famílias que trabalhavam em economia familiar. Efetivamente, falava-se
em seguridade social.
Em 2003, surgiu uma nova reforma constitucional, agora com foco nos RPPSs – Regime Próprio de
Previdência Social:
43
Unidade I
Esse dispositivo foi criado na lei, considerando que anteriormente se dava o entendimento que todo
assessor, em cargo temporário, poderia ser compreendido como servidor público, daí a necessidade de
uma legislação especial para organizar esse território: servidores públicos.
Em 2005, a Portaria Conjunta SRF/SRP nº 2, de 10 de agosto de 2005, em seu Art. 1o A Receita Federal
do Brasil – RFB passou a exercer, a partir de 15 de agosto de 2005, as atividades da Secretaria da Receita
Federal – SRF e da Secretaria da Receita Previdenciária – SRP.
Em 2007, com a Lei 11.457, de 16 de março de 2007, criação da Receita Federal do Brasil – RFB, sendo
uma fusão da Secretaria de Receita Previdenciária – SRP e da Secretaria da Receita Federal – SRF, no
âmbito do Ministério da Fazenda, tendo sido apelidada de “Super Receita”.
E em 2008, com o Decreto nº 6.417, de 31 de março de 2008, foi instituído o Ministério da Previdência
Social, órgão da administração federal direta – que tem como área de competência os seguintes
assuntos:
I. Previdência Social.
19
Pesquisa realizada no site do governo. Disponível em: <http://www.previserti.sc.gov.br/m007/m0074021.asp?txtid_
principal=217>. Acesso em: 7 abr. 2011.
20
Disponível em : <http://www.previdenciasocial.gov.br>. Acesso em: 3 mar. 2011.
44
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Ministério da
Previdência Social
MPS
Órgãos colegiados:
Instituto Nacional Empresa de Conselho Nacional
do Seguro Social Tecnologia e de Previdência Social
INSS Informações da - CNPS
Previdência Social
DATAPREV Conselho de Recursos
da Previdência Social
- CRPS
Conselho de Gestão
da Previdência
Complementar - CGPC
45
Unidade I
A Previdência Social tem como principal característica a filiação/inscrição contributiva, ou seja, ela
não é gratuita e somente àqueles que para ela contribuírem terão acesso aos seus benefícios.
Lembrete
Conforme apresentam os Cadernos educativos da Previdência Social, esses têm por fim assegurar
aos seus beneficiários/contribuintes meios de manutenção econômica por motivo de incapacidade,
idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte
daqueles de quem dependiam economicamente do segurado.
A seguir, vamos discorrer sobre o que é considerado segurado da Previdência Social e quais os
critérios para sua filiação/inscrição. Ofereceremos ao aluno/leitor detalhes por grupos de atividades
e isso tem por objetivo qualificar a ação profissional, pois nas atividades diárias do assistente social,
muitas demandas para serem bem encaminhadas precisam ser de conhecimento do profissional, com
isso, ganho de tempo e qualidade no atendimento, e os usuários também ganham tempo, caso forem
bem orientados e encaminhados:
46
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
O segurado(a) se inscreve:
• obrigatoriamente;
• facultativamente.
Quem é o empregado?
Pessoa que trabalha com carteira assinada, recebe salário pelos serviços
prestados na casa de outra pessoa ou família, desde que essa atividade não
tenha fins lucrativos para o empregador (BRASIL, 2009).
47
Unidade I
É muito importante que você reconheça para que e para quem deve encaminhar o usuário para sua
melhor opção de contribuição. Fique atento, porque uma má orientação compromete muitas vezes a
vida profissional do usuário.
Obviamente, se não for o profissional que atue na área da Previdência Social, não precisará ter
detalhes sobre esta, afinal, não precisamos ser assistentes sociais totalitários e detentores de todo o
saber profissional, mas precisamos primar pela boa e adequada orientação. E, ainda, o saber sobre o
assunto, mesmo que sem profundidade, oferece segurança ao usuário pelo acolhimento, atenção e
escuta qualificada.
Mas vamos prosseguir nessa jornada, desvendando as formas de contribuições e tipos de contribuintes.
Com certeza, isso está clareando sua vida pessoal e não apenas a profissional. Afinal, somos trabalhadores
e precisamos trazer esses conhecimentos conosco também.
Isso parece um universo que, muitas vezes, temos acesso apenas pelas palavras soltas dos amigos
e conhecidos que se filiam à Previdência Social, mas nesse momento de leitura, você está tomando
contato com as diversas possibilidades que o trabalhador tem para se assegurar.
Muitos de nós cidadãos – devido ao valor da contribuição, acabamos trabalhando sem fazer o
recolhimento, até porque o valor recebido pelo nosso trabalho é vexatório e excludente, e tirar uma
porcentagem para o recolhimento fica inviável.
Essa é a realidade de muitos cidadãos-trabalhadores que não fazem sua inscrição no RGPS. Porém,
é um risco e precisamos saber o suficiente para poder oferecer esclarecimentos para que eles possam
realizar o processo decisório com crítica e conscientes das consequências.
49
Unidade I
O que é facultativo?
Toda pessoa que não tem renda própria, mas decide contribuir para a
Previdência Social e, voluntariamente, filiam-se ao Regime Geral de
Previdência Social – RGPS. Devendo respeitar que o maior de 16 anos
não exerça atividade que o enquadre como segurado obrigatório da
Previdência Social ou de regime próprio de Previdência Social (BRASIL,
2009).
Bem, até aqui, tentamos oferecer um leque das possibilidades de trabalhos e de formas a serem
executados, que podem garantir a inscrição do trabalhador na Previdência Social. Mas, mesmo que
cansativo, não podemos parar, temos que avançar. Assim, convidamos a continuar conosco para
oferecemo-nos condições à sua qualificação para a prática profissional.
Todo cidadão brasileiro, a partir de 16 anos de idade, pode filiar-se à Previdência Social e
pagar mensalmente a contribuição para assegurar os seus direitos e a proteção social à sua
família.
A inscrição é o ato formal pelo qual o segurado se cadastra no Regime Geral da Previdência Social:
22
É um regime especial unificado de arrecadação de impostos e contribuições devidos pelas Microempresas – ME
e Empresas de Pequeno Porte – EPP, criado pela lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006 (LC 123/2006), e
vigente a partir de 1º de julho de 2007.
50
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Inscrição RGPS
Essa inscrição ocorre de formas diferentes, dependendo do tipo de filiação à Previdência Social:
Segurado empregado:
Empregado doméstico:
Devem procurar o INSS23 para fazer a inscrição na Previdência Social. No ato da inscrição, será
fornecido o Número de Identificação do Trabalhador – NIT (necessário para efetuar as contribuições
mensais24).
O contribuinte individual e o facultativo que já possui inscrição no PIS/PASEP podem efetuar sua
contribuição, informando o número do PIS/PASEP na Guia da Previdência Social, não há necessidade de
fazer outra inscrição.
Se o contribuinte individual iniciar suas atividades prestando serviço, sem vínculo empregatício à pessoa
jurídica, a inscrição e o recolhimento da contribuição deverão ser feitos pelo contratante do serviço.
Para obter o NIT, basta ligar para 135 – número da Previdência social Nacional, sendo maior de 18 anos e tendo
23
51
Unidade I
Segurado especial:
Deve procurar o INSS25 para fazer a inscrição na Previdência Social. No ato da inscrição será fornecido
o Número de Identificação do Trabalhador – NIT.
Todos os membros do grupo familiar do segurado especial, que exercem atividade em regime de
economia familiar devem ser inscritos na Previdência Social.
Empreendedor individual:
A inscrição do empreendedor individual junto à Previdência Social se dará por meio das informações
declaradas quando o empresário fizer a opção pelo Simples Nacional. No ato da inscrição irá declarar
o NIT – Número de Inscrição do Trabalhador e essa informação, bem como a contribuição efetivada,
migrará para o Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS.
Observação
Você não precisará memorizar tudo isso, absolutamente. Essas informações, além de estarem
organizadas nesse livro-texto, também tem fácil acesso no site da Previdência (<http://www.
previdencasocial.gov.br>). Depois que você organiza o conhecimento, fica mais fácil acessar a
continuidade e a atualização das informações.
Nunca esqueça que você, como profissional de serviço social, não precisa ter isso como cartilha, mas
precisa saber acessar a informação para poder socializar, orientar e encaminhar.
Saiba mais
Todas as informações de dados cadastrais, vínculos empregatícios (registro dos contratos de trabalho),
as remunerações e as contribuições dos trabalhadores brasileiros estão registradas no Cadastro Nacional
de Informações Sociais – CNIS.
25
Toda vez que precisar procurar o INSS para informações, regularizações de questões previdenciárias agende, no
nº 135, dia e horário para ser atendido. Isso facilita o acesso e o melhor atendimento.
52
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Isso é uma segurança para o trabalhador, mas fique atento em orientar os cidadãos, que nunca devem
dispensar comprovantes de pagamento nem carteira profissional, uma vez que esses são documentos
que devem acompanhar a vida do trabalhador.
O profissional pode inclusive pensar numa proposta grupal que desenvolva uma caixa decorada e
organizadora por anos, feira com material reciclado e com reaproveitamentos, para que os trabalhadores
que frequentam o serviço tenham acesso e possam levar para suas casas. Muitas vezes, as residências
não têm espaço para armazenar durante tantos anos esses documentos. Se nós olharmos para nossas
casas, vamos verificar que temos muito problema com espaço, exceto para aqueles que o tem, fica a
sugestão de buscar alternativas de construção coletiva, primando pela organização, também importante
para o desenvolvimento integral das pessoas.
CNIS – Cadastro Nacional de Informações Sociais é um banco de dados do Governo Federal, que
armazena as informações necessárias para garantir os direitos previdenciários dos trabalhadores.
Permite o reconhecimento automático de direitos previdenciários, tem o papel de oferecer a concessão
regular de benefícios, possibilita melhor controle da arrecadação e serve de subsídio ao planejamento
de políticas públicas sociais.
O extrato do CNIS é um direito do trabalhador segurado da Previdência Social. Neste sentido, basta
telefonar para a Central 135 e agendar o atendimento na agência. No dia e hora marcados comparecer
à agência e apresentar um documento de identificação/RG. O servidor do INSS emite um extrato do
cadastro CNIS com todas as informações da vida laboral. Nesse atendimento, poderá solicitar senha de
acesso para acompanhar as informações pela internet, o que facilitará a informação em tempo real.
No caso do trabalhador ser correntista do Banco do Brasil, as informações previdenciárias estão mais
acessíveis, pois um convênio firmado entre o Ministério da Previdência Social, INSS, Dataprev e o Banco
do Brasil permite que correntistas de todo o País retirem o extrato de informações previdenciárias
nos terminais de autoatendimento ou no site do Banco do Brasil (<http://www.bb.com.br>)26.
Observação
26
Atenção! Os documentos que comprovam os vínculos empregatícios e contribuições (CTPS e carnês) devem ser
preservados, caso seja necessário inclusão ou alteração de dados.
27
Imagem obtida no site, disponível em: <http://www.mpas.gov.br/novotempo/pecas.php>. Acesso em: 22 abr.
2011.
53
Unidade I
A partir deste item, vamos discutir as porcentagens dessas contribuições, afinal, temos muitas
dúvidas e normalmente as pessoas não nos explicam, simplesmente apresentam como sendo assim e
pronto. Obviamente, não vamos mudar a legislação, mas a informação é direito dos cidadãos.
Os que se inscrevem na Previdência Social escolhem como vão contribuir, permitindo ao segurado o
planejamento, com antecedência, do valor de sua aposentadoria no futuro.
É a parcela descontada do salário dos segurados e também paga pelos patrões, que são responsáveis
por recolher as contribuições dos empregados com carteira assinada, trabalhadores avulsos e dos
contribuintes individuais que prestam serviço para a sua empresa.
É a soma de todos os ganhos do trabalhador durante o período de um mês. No caso de se ter mais
que um trabalho, a soma do salário base de recolhimento poderá ser utilizado, considerando o teto, o
que exceder não será necessário realizar o recolhimento.
É o valor da remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por
conta própria – empregado, contribuinte individual, trabalhador avulso, empregado doméstico.
É o valor por ele declarado, desde que não ultrapasse o limite máximo nem seja inferior ao salário-
mínimo especificado em lei.
54
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Está incluído no salário de contribuição o valor referente ao 13º (décimo terceiro) salário e a 1/3
(um terço) de férias proporcionais, mas não estão incluídos os benefícios como vale-transporte, cesta
básica, auxílio-saúde e, se for o caso, auxílio-moradia.
Assim demonstrados:
Tabela 3
Valores de contribuição
A tabela anterior demonstra que anualmente, quando o salário mínimo vigente é alterado, já fica
determinado que o desconto em porcentagem do recolhimento a ser realizado pelo segurado/contribuinte
será conforme o teto salarial, sendo que já é feito esse desconto em folha de pagamento e no demonstrativo
de salário mensal, e aparece com o código de desconto em referencia ao salário bruto.
Tabela 4
Trabalhador Empregador
Contribuição do segurado Contribuição
Alíquota para fins de recolhimento Alíquota para fins de recolhimento
ao INSS (%) ao INSS (%)
8,00% 12,00%
9,00% 11,00%
11,00% 9,00%
28
Portaria nº 568, de 31 de dezembro de 2010, Ministério da Previdência Social. A Tabela é atualizada conforme
atualização do valor do salário-mínimo nacional.
55
Unidade I
O valor total devido por trabalhador à Previdência Social é de 20% do salário recebido. Assim, para o
contribuinte individual seu recolhimento será de 20% do total recebido, respeitando o teto de salário de
contribuição vigente. Lembrando que aqueles que aderem ao Plano Simplificado de Previdência Social,
a alíquota será de 11%29.
Tabela 5
Lembrete
É uma forma de inclusão previdenciária com o percentual de contribuição reduzido de 20% para
11%, em algumas categorias de segurados da Previdência Social.
• o contribuinte individual que trabalha por conta própria (antigo autônomo), sem relação de
trabalho com empresa ou equiparada;
29
O segurado que contribui com a alíquota de 11% não tem direito a computar esse período de contribuição de
11% para fins de requerimento de uma aposentadoria por tempo de contribuição (espécie 42); e computar esse período de
contribuição de 11% para fins de contagem recíproca (certidão de tempo de contribuição – CTC).
56
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
• o segurado facultativo: pessoa com 16 anos ou mais sem renda própria, cuja filiação ao RGPS não
é obrigatória.
• quituteira;
• faxineira;
• costureira;
• pintor;
• passadeira.
• dona de casa;
• síndico de condomínio (sem remuneração);
• estudantes bolsistas;
• desempregado;
• presidiário não remunerado.
Não pode computar esse período de contribuição de 11% para fins de requerimento de uma
aposentadoria por tempo de contribuição (espécie 42); e para fins de contagem recíproca (certidão de
tempo de contribuição – CTC).
A Previdência Social é uma política de proteção social que assegura economicamente o trabalhador
e sua família, quando ele não pode trabalhar em decorrência de doença, acidente, gravidez, prisão,
morte ou velhice.
Vamos então, a partir dessa etapa do livro-texto, identificar quais são esses benefícios e os critérios
para acessá-los. Você verificará, aliás, com certeza você tem uma história para contar de alguém que
devido aos critérios, mesmo tendo parte dos indicadores, não foi ou está sendo atendido pelos benefícios
da Previdência Social.
57
Unidade I
Tabela 6
Com a abertura da CAT, o empregado terá direito a 12 meses de garantia de retornar ao trabalho,
com recolhimento de FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
58
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Esse benefício/auxílio não exige carência de tempo de contribuição e não pode ser cumulativo,
sendo apenas a aposentadoria.
E aí aluno/leitor, como estamos indo? De fato, no dia a dia não reconhecemos a existência de todos
esses benefícios, mas eles contemplam a lógica da garantia de direitos. Ocorre que para ter o direito
respeitado, nesses casos, deve-se ter contribuição em dia e ter respeitado os períodos de carência.
É claro que muitos trabalhadores não apresentam o período de carência ou as contribuições em dia,
não por descaso, mas por não acessarem o direito ao trabalho. Aliás, isso é o que ocorre com a maioria
da população em idade de trabalho, sendo essa, uma das inúmeras desigualdades sociais, que geram as
questões sociais tão discutidas por nós, profissionais de serviço social.
É o benefício que todo segurado tem direito a receber mensalmente quando ficar incapacitado
temporariamente para exercer suas atividades por motivo de doença ou acidente e essa incapacidade
para o trabalho deve ser atestada pela perícia médica do INSS.
Verifica-se que a legislação cuidou com atenção dos critérios de inclusão, pois podem se suceder em
qualquer tempo. Por isso, a população usa uma fala generalizada, na qual muitos que não têm direito
acessam e os que realmente estão adoecidos não acessam os benefícios. Obviamente, existem situações
de corrupção, e a mídia pouco nos informa, diante dos inúmeros casos que devem ocorrer. Mas também
existe a fala popular que divulga informação sem critério.
Para nós profissionais, isso jamais deve ocorrer, sempre precisamos checar as informações, verificando
e entendendo o que ocorre para, casa haja descaso ou violação de direitos, possamos instrumentalizar
o cidadão na busca e garantia de seus direitos.
59
Unidade I
É o benefício devido ao segurado que, após cumprida a carência de 12 meses, estando ou não em
gozo de auxílio-doença, ficar incapaz para o trabalho, de forma total e permanente. O segurado fará jus
ao benefício enquanto estiver na condição de incapaz para o trabalho.
Sem dúvida, novamente, você deve estar se lembrando de inúmeros casos que apresentam críticas ao
profissional da perícia médica, e não é sem razão. Infelizmente, existe uma falha na gestão de recursos
humanos dos funcionários públicos, engessada na legislação, que apresenta avanços na ouvidoria, mas
ainda em formação e qualificação.
Porém, somos profissionais que não desistimos, assim, se recebermos uma denúncia de um usuário
do serviço no qual trabalhamos vamos ter que apurar, ligando para o serviço social da agência em
questão e articulando novas possibilidades.
No caso dessa articulação entre profissionais não ser a contento, deveremos preparar um relatório
social, envolvendo outras áreas profissionais e encaminhar com o usuário ao Ministério Público local e,
se não houver resultado, ao Ministério Público Federal.
Mas, muita atenção na escuta que terá do caso e que não se finde em uma única entrevista, mas que
se estabeleça encontros para atendimento, para identificar a verdadeira demanda e se certificar de que
os documentos apresentados estão nos critérios legislativos.
Lembrete
É o benefício a que tem direito o segurado e a segurada da Previdência Social, quando alcança a
idade determinada em lei.
Critério de idade:
60
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Urbano Rural
Homem 65 anos 60 anos
Mulher 60 anos 55 anos
Homem 35 anos
Mulher 30 anos
Lembrete
Para professores de Educação Infantil, Ensino Fundamental ou Médio,
esse tempo é reduzido em 5 anos.
Existe a possibilidade de aposentadoria proporcional?
Sim. Pode optar pela aposentadoria proporcional, desde que conte 30 anos de contribuição e 53
anos de idade, se homem, e 25 anos de contribuição e 48 anos de idade, se mulher.
Quais os critérios para a concessão da aposentadoria integral?
Quadro 4
30
A presente tabela é cópia do site, disponível em: <http://www.assessorprevidenciario.com.br/index.
php?option=com_content&task=view&id=50&Itemid=84>. Acesso em: 3 abr. 2011.
31
Regra de transição: A Emenda Constitucional 20, de 15/12/1998, modificou profundamente a Previdência Social,
adotando, dentre outras medidas, a extinção da aposentadoria proporcional, que antes era concedida aos 30 anos para
homens, e 25 anos para mulheres, e a delegação do novo critério de cálculo das aposentadorias ao legislador ordinário.
61
Unidade I
O que é salário-maternidade?
É o benefício que toda segurada da Previdência Social tem direito a receber, por um período de até
120 dias, com início até 28 dias antes e término 91 dias depois do parto.
32
Fator previdenciário: O fator previdenciário é uma fórmula que leva em conta o tempo de contribuição do
trabalhador, sua idade e a expectativa de vida dos brasileiros no momento da aposentadoria. Assim, quanto menor a
idade na data da aposentadoria e maior a expectativa de sobrevida, menor o fator previdenciário e, portanto, menor o
benefício recebido. Quanto mais velho e quanto maior for o tempo de contribuição do trabalhador, maior será o valor
da aposentadoria. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/entenda-fator-previdenciario>. Acesso em: 3 abr.
2011.
33
O PPP é um documento histórico-laboral emitido pela empresa, com base em laudo técnico de Condições
Ambientais do Trabalho – LTCAT, expedido por médico ou engenheiro de segurança do trabalho, nos termos da legislação
trabalhista. Documento exigido pelo INSS desde 01.01.2004.
62
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Tabela 7
Categoria Carência
Empregada doméstica e trabalhadora avulsa. Benefício independe de carência.
Contribuinte individual e facultativo. 10 contribuições mensais.
Segurada especial. 10 meses anteriores ao início do benefício, de
efetivo exercício de atividade rural, mesmo de forma
descontínua.
O salário-maternidade é pago para a segurada empregada pela empresa, sendo que está última faz
a dedução na sua guia de recolhimento do valor pago. Para as demais seguradas, inclusive a que adotar
ou obtiver guarda judicial, é pago pelo INSS.
Lembrete
É o benefício a que têm direito os dependentes do segurado da Previdência Social que falecer.
63
Unidade I
Não é exigido número mínimo de contribuição para que os dependentes tenham direito ao
benefício, mas é necessário a comprovação da qualidade de segurado. Corresponde a 100% do
valor da aposentadoria que o segurado recebia no dia da morte ou que teria direito se estivesse
aposentado por invalidez. Caso haja mais de um dependente, o valor é repartido em partes iguais
entre eles.
Para aprofundarmos mais um pouquinho, temos que nos informar sobre a situação dos dependentes,
isso porque nos chegam muitos casos dos quais um dos pais faleceram e a orientação deve ser precisa
para que exista avanços rápidos para a garantia dos direitos dos membros familiares.
No caso de companheiro(a) deve provar que mantém união estável com o segurado(a).
Esse benefício tem gerado muitas polêmicas pela desinformação e pela forma como as pessoas
ouvem e não conferem a notícia/informação.
Leia atentamente, pois esse é um benefício que devido à situação de desigualdades sociais, que
acabam sendo impulsionadoras de violência pela própria ausência do Estado e pela sua negligência e
violação de direitos, culmina por situações que estão extrapolando a ordem das relações, e culpabilizando
64
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
apenas o cidadão, que está em conflito com a lei. Os demais cidadãos se sentem ameaçados e vitimizados
não pelo Estado, mas pelos que se encontram em situação conflituosa.
Não queremos, aqui, justificar o cidadão, mas sim apresentar ao aluno/leitor uma crítica encorpada
pela leitura sócio-econômica-política, que abarca a sociedade e a mantém num modelo econômico sem
suporte que é o neoliberalismo, no qual os julgamentos vão para as minorias desfavorecidas e excluídas
e não para o Estado que negligencia seu papel de proteção e garantidor de direitos, que dá suporte a
uma classe detentora do capital, que é minoritária.
Pela forma como está estruturado e pela demora no atendimento, mesmo com o avanço do
atendimento direto nº 135, os contribuintes acabam não dirimindo suas dúvidas nas unidades da
Previdência Social e deliberam para os profissionais do direitos à assessoria de suas demandas.
Esse serviço está previsto na legislação, mas, infelizmente poucas são as unidades da Previdência
Social – INSS que o possuem. Inclusive não existem os consórcios intermunicipais e interestaduais para
essa demanda, e acabam se utilizando de rede paralela e, inclusive, intersetorial.
Com a publicação da Lei 12.101/2009 e Decreto 7.237/2010 que altera o Artigo 3º da Loas, cada
política passa a se responsabilizar pelo seu universo de atendimento e o que a política pública da
Assistência Social realizou durante anos, volta-se para a sua origem de direito e de dever. Assim sendo, o
que é da educação, esta deve manter, bem como o que é da saúde, da Assistência Social e da Previdência
Social.
65
Unidade I
Ainda estamos em reordenamento e, muitas vezes, não temos clareza do lócus de cada serviço, até
porque eles ocupam o mesmo espaço quando pensamos que uma pessoa em processo de reabilitação e
habilitação demanda atenção de vários olhares, saberes e políticas.
Os detalhes sobre esse benefício – BPC e de quem tem direito, os critérios de concessão, a
avaliação e a crítica como proteção social serão apresentados no item sobre a Política pública de
Assistência Social.
34
VILLAS BOAS, S. E. B. FEAC – Fundação das Entidades Assistenciais de Campinas. Departamento de Gestão das
Políticas Públicas. Disponível em: <http://www.feac.org.br>. Acesso em: 31 mar. 2011.
66
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Em 19 de setembro de 1990, foi sancionada a Lei 8.080, denominada Lei Orgânica da saúde, que tem
como objetivo, alicerçada neste novo conceito de universalização do atendimento, regular em todo o
território nacional as ações e serviços referentes à saúde, dispondo sobre as condições para a sua efetiva
promoção, proteção e recuperação, assim como a organização e o funcionamento de suas instituições.
O Sistema Único de Saúde – SUS é considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde do
mundo, garantindo o acesso de forma gratuita para toda a população.
Em 1974, em pleno regime militar, foi criado o Instituto Nacional de Assistência da Previdência
Social – INAMPS, que tinha como objetivo fornecer atendimento médico e hospitalar aos contribuintes
da Previdência Social, ou seja, aos cidadãos que estavam trabalhando registrados, com seu contrato de
67
Unidade I
trabalho formalizado ou, popularmente, com “a carteira assinada”, tanto que era exigida a apresentação
desse documento para que o trabalhador e seus dependentes fizessem uso desse sistema.
Aos demais cidadãos que não possuíssem vínculo com a previdência e necessitassem de cuidados
médicos, restavam apenas duas alternativas: custear o tratamento com recursos próprios ou procurar
algum atendimento de benemerência, caso contrário, sem a proteção estatal, ficavam expostos à própria
sorte.
A partir da década de 1980, como resultado da pressão social, o INAMPS começou a se reestruturar,
culminando, em 1990, com o novo sistema de saúde brasileiro, o SUS.
Em suas disposições gerais, a Lei 8.080, em seu Artigo 2º, dispõe: “A saúde é um direito fundamental
do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.
Quando se fala em saúde, não devemos entender ações curativas, mas sim, e, principalmente,
preventivas. A saúde das pessoas está diretamente vinculada às condições de vida da população a qual
faz parte, sejam condições de ordem econômica, estrutural, social e cultural. As condições de trabalho,
alimentação, moradia, meio ambiente, acessos aos serviços essenciais, educação, entre outros, são em
última análise, a base do trabalho preventivo. A estrutura da sociedade está diretamente relacionada à
saúde dessa sociedade e promover as condições indispensáveis ao seu exercício equivale a proporcionar
qualidade de vida, no sentido integral das necessidades holísticas humanas.
Logo, a atuação do Sistema Único de Saúde participa de ações referentes à vigilância sanitária e
epidemiológica, saúde do trabalhador, assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica, vigilância
nutricional e orientação alimentar, fiscalização e inspeção de alimentos entre outras.
• universalidade: no sentido de que o acesso aos serviços de saúde, em qualquer de seus níveis, é
um direito de todos, independentemente de qualquer requisito, a não ser o de possuir a condição
humana;
• descentralização: o Sistema Único de Saúde atua nas três esferas administrativas – nacional,
estadual e municipal – cada uma com atribuições e comandos próprios. Aos municípios, cada vez
mais, cabe um número de atribuições e responsabilidades maiores, tanto nas medidas preventivas
(programas) como nas curativas (centros de saúde e hospitais);
• participação da comunidade: ela participa da gestão do SUS por meio dos conselhos municipais
de saúde, órgão colegiado regulamentado pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe
68
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Conforme o Artigo 2º, da Lei nº 8.080, cabe ao Estado prover as condições indispensáveis para
se viver com saúde, sendo este um direito fundamental do ser humano, garantindo a formulação
e a execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de doenças, assegurando
ainda o acesso universal e igualitário a todos os serviços que têm por objetivo a promoção, a
proteção e a recuperação da saúde. Não podemos deixar de transcrever o parágrafo segundo
do referido Artigo: “O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da
sociedade”.
É preciso frisar este entendimento, expresso na própria Lei, de que a responsabilidade com a saúde
da população é universal tanto no sentido de direito, mas igualmente e, principalmente, no contexto do
dever. Toda a sociedade é responsável pela saúde dos membros dessa mesma sociedade.
O fato de a política pública social da saúde ter garantias legislativas como universais não significa
que a efetivação desta exista, especialmente em relação à demanda por demais políticas públicas que
interferem diretamente nesta. Um exemplo simples é a ausência de saneamento básico, que afeta
diretamente a saúde da população. Isso traz graves consequências, gerando necessidade de atendimentos,
para os quais não existem implementados equipe de recursos humanos, recursos de infraestrutura física
nas unidades básicas de atendimento, nem de média e alta complexidade, nem recursos materiais/
medicamentos. Assim sendo, a universalidade transita por outras garantias para se efetivar.
Quadro 5
Altera os Arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e acrescenta Artigo ao
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para assegurar os recursos mínimos para o
financiamento das ações e serviços públicos de saúde.
69
Unidade I
3.3.1 Da saúde
As questões que envolvem a saúde são de primeira importância para qualquer país que deseja
garantir o bem-estar de seus cidadãos e, consequentemente, o desenvolvimento de sua nação. A saúde
é um direito de todos e é um dever do Estado garantir todos os tipos de ações que visem reduzir os riscos
de doenças. Suas ações se dividem em curativas e preventivas. O acesso à saúde pública é gratuito, ou
seja, diferentemente da Previdência Social, não possui nenhum tipo de contribuição.
Nessa perspectiva, o papel de cada gestor é determinante na superação dos desafios e na consolidação
de um sistema de saúde comprometido com as necessidades específicas da população, presente em
cada localidade brasileira.
70
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Aqui, não estamos discutindo a qualidade dos serviços e dos atendimentos, mas a existência de um
sistema que se fortalece, de porta aberta para toda a população, com o critério da rede de proteção e
do território.
É tudo que envolve o cuidado com a saúde do ser humano, incluindo as ações
e serviços de promoção, prevenção, reabilitação e tratamento de doenças. No
SUS, o cuidado com a saúde está ordenado em níveis de atenção, que são a
básica, a de média complexidade e a de alta complexidade. Essa estruturação
visa à melhor programação e planejamento das ações e serviços do sistema.
Não se deve, porém, considerar um desses níveis de atenção mais relevante
que outro, porque a atenção à saúde deve ser integral. Nem sempre um
município necessita ter todos os níveis de atenção à saúde instalados em
seu território para garantir a integralidade do atendimento à sua população.
Particularmente, no caso dos pequenos municípios, isso pode ser feito por
meio de pactos regionais que garantam às populações dessas localidades
acesso a todos os níveis de complexidade do sistema. A prioridade para
todos os municípios é ter a atenção básica, operando em condições plenas e
com eficácia (BRASIL, 2009).
A proteção básica que vem sendo a prioridade nas políticas públicas brasileiras traz um escopo de
matricialidade de referenciamento do caso, para que tenha um suporte da rede de proteção e do Sistema
de Garantia de Direitos – SGD, ainda inconcluso, inclusive pela falta de metas/vagas das unidades, mas que
caminha para o suporte integral. Já avançamos no que diz respeito à vacina de crianças e adolescentes,
tendo, assim, um marco no controle de doenças dessa faixa etária, o que vem indicando gráficos mais
esperançosos na meta de qualidade de vida. Obviamente, ainda fragmentado pelo próprio sistema de
burocratiza e que, muitas vezes, se corrompe pela opção de uma economia capitalista e não humanista.
Aqui, cabe uma grande crítica da área da competência de serviço social, que só não avançou pela
estrutura criada, que contempla um significativo acolhimento quando traz como exigência que os
profissionais sejam do território e que tenham vínculo com a comunidade, entretanto, desqualifica a
demanda quando não considerada a ampliação das equipes interprofissionais e exclui a presença do
assistente social. Essa é uma reivindicação antiga, mas que ainda não foi vencida, cabendo à organização
da classe profissional para tal.
72
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
A entrada do cidadão na rede de saúde é pela atenção básica (UBS – Unidade Básica de Saúde,
equipes da Saúde da Família etc.).
É reconhecido o trabalho dos ACS, mas que pela burocracia e pela demanda interna das unidades
básicas, muitas vezes, veem-se delimitados a trabalhar no interno, deixando sua ação externa
precarizada.
A média complexidade se apresenta num universo de muita fragilidade, do qual não se tem uma
rede de saúde que cubra a demanda existente, gerando a exclusão da população com a necessidade que,
muitas vezes, vê-se diante de uma doença que, se diagnosticada em tempo, poderia ter uma conduta
menos invasiva e inclusive passageira, mas devido ao tempo de espera, acaba complicando a saúde de
muitos cidadãos brasileiros.
Aqui, novamente, encontramos um gargalo que, desde 1990, tende-se a vencer, porém, com pouco
esforço, pois existe um monopólio no que se refere a leitos e equipamentos de primeira geração. Não
raro, acompanhamos entrevistas que aparecem na mídia, na qual relata o descaso com a saúde de alta
complexidade. Infelizmente, mesmo com todo o aparato dos conselhos para o controle social das ações
e do investimento financeiro, a máquina administrativa não realiza com eficiência o monitoramento e é
a população a mais prejudicada.
Assim, avançamos com a política pública de saúde de caráter universal, mas os desafios são enormes
no que diz respeito à competência na gerência do planejamento, execução e monitoramento.
Nesse aspecto, cabe uma reflexão sobre a gestão de serviços, recursos humanos e equipamentos,
e consumo em geral, pois essa é uma política que tem um financiamento previsto anteriormente na
Constituição Federal, contudo, ainda existem fragilidades não sanadas, e que repercutem no atendimento
do usuário, que não é protegido pela política universal e não contributiva, sendo exposta à situação
vexatória quando precisa do atendimento.
74
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
• assegurou à Assistência Social o caráter de política pública e aos seus usuários a garantia de se
tornarem de fato detentores de direitos, por meio da prestação de serviços e benefícios sistemáticos
e continuados, e de programas e projetos de enfrentamento à pobreza, que devem contar com
financiamento regulares e obrigatórios;
• Loas que, no seu Art. 2º, § IV, ao regulamentar as disposições constitucionais assegura como
um dos objetivos da Assistência Social: a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária37;
• Loas – Art. 20 institui o Benefício de Prestação Continuada, garantia de 1 (um) salário-mínimo
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 70 anos (reordenado para 65 anos)38 ou
mais, que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por
sua família;
A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 194, define a Seguridade Social como “um conjunto
de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à
saúde, à Previdência e à assistência Social”.
A ideia de Seguridade Social nasce da necessidade de que as pessoas precisam ser auxiliadas em
suas dificuldades, como quando doentes, desempregadas, ou idosas, para que mantenham as condições
necessárias a uma vida plena. A Seguridade Social se baseia em ações subdivididas em saúde,
Previdência e Assistência Social.
A Assistência Social tem por objetivo a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à
habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e à reintegração ao mercado de trabalho
daqueles que necessitem. É regulamentada pela Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e tem no Artigo
1º de seu texto, sua mais precisa definição:
37
Conforme apresentado pelo Decreto Legislativo nº 186, de 09 de julho de 2008 – Aprova o texto da Convenção
sobre os direitos das pessoas com deficiência e de seu protocolo facultativo, em substituição desde o Decreto 5.296, de
20.12.2004 e faz referência não mais à pessoa portadora de deficiências, mas à pessoa com deficiência.
38
Idade alterada pela Resolução 185, de 13 de dezembro de 2005 (65 anos como critérios de acesso ao BPC, mas
para o conceito de pessoa idosa a idade é 60 anos).
75
Unidade I
Ela é gratuita, tem a qualidade de política pública, direito de todo cidadão e não qualidade de
caridade, benemerência. É universal porque ultrapassa a dimensão de classe social, abrangendo a
todos os que, por algum motivo, estejam em condição de vulnerabilidade. Rege-se pelos seguintes
princípios:
A PNAS/2004 assegura que é função da Assistência Social a proteção social básica e especial à
população em situação de vulnerabilidade social por meio de ações de prevenção, promoção, inserção e
proteção, devendo atuar, dentre outras, sobre as condições que gerem desvantagens pessoais resultantes
de deficiências ou de incapacidades:
• proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento
de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários;
• proteção social especial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco
pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual,
cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil etc.,
demandando atendimento especializado.
A Assistência Social veio consolidar o sistema de proteção social brasileiro como uma das
dimensões da Seguridade Social, conjuntamente com saúde e Previdência Social. O desafio para
implementação desse novo campo de políticas públicas está na transição de uma concepção
de proteção social àqueles que dela necessitam para o reconhecimento da assistência
social como um direito fundamental em consonância com os compromissos internacionais
brasileiros relativos aos direitos humanos. Seu caráter essencial não contributivo acentua a
responsabilidade do Estado em garantir a proteção social essencial à garantia universal de
desenvolvimento humano.
76
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
A organização da Política Nacional da Assistência Social – PNAS (2004) está vinculada às diretrizes
fundamentais da descentralização político-administrativa, da participação popular, da primazia da
responsabilidade do Estado na condução da política e na centralidade da família.
77
Unidade I
política de Estado, com permanência e continuidade e com capacidade de acesso universal, focalizada
na família, a qual se constituiu elemento central na concepção e implementação de serviços, programas,
projetos e benefícios.
A política pública de Assistência Social está embasada nas proteções afiançadas e consideradas
como proteção social básica e proteção social especial.
O Cras é uma unidade pública estatal de base territorial, localizada em áreas de vulnerabilidade
social, que referencia famílias que vivem nas proximidades, podendo chegar a um total de atendimento
de até 1.000 famílias/ano, dependendo do número de famílias a ele referenciadas. Cabe ao Cras realizar
o mapeamento e a organização da rede socioassistencial de proteção social básica do território,
garantir o funcionamento dos fluxos de referência e contrarreferência entre proteção básica e especial
e promover a inserção das famílias nos serviços de proteção básica de Assistência Social, de acordo
com orientações do órgão gestor de Assistência Social e, também, conforme as diretrizes estabelecidas
pelos mecanismos de controle e monitoramento da política. Para garantir o alcance de suas ações, deve
considerar aspectos relevantes, tais como: a oferta já existente de serviços e benefícios, necessidades
das famílias, intersetorialidade das ações, sustentabilidade e ruptura do ciclo intergeracional de exclusão
social.
Segundo a PNAS (2004), são considerados serviços de proteção básica de Assistência Social
“aqueles que potencializam a família como unidade de referência, fortalecendo seus vínculos internos
e externos de solidariedade, por meio do protagonismo de seus membros e da oferta de um conjunto
de serviços locais que visam à convivência, à socialização e ao acolhimento em famílias cujos vínculos
familiares e comunitários não foram rompidos [...]”:
41
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social.
Política Nacional de Assistência Social PNAS/2004, Norma Operacional Básica NOB/Suas. Brasília: MDS, 2009, p. 33-34.
78
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Importante ressaltar que os serviços de proteção social básica não estão fragmentados nem dispersos,
mas territorializados, referenciados ao Cras e articulados ao trabalho com famílias realizado pelo serviço de
Proteção e Atendimento Integral à Família. A articulação dos serviços socioassistenciais do território com o
Paif garante o desenvolvimento do trabalho social com as famílias dos usuários desses serviços, permitindo
identificar suas demandas e potencialidades dentro da perspectiva familiar, rompendo com o atendimento
segmentado e descontextualizado das situações de vulnerabilidade social vivenciadas. É, portanto, assim
que se deve compreender o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos para pessoa idosa42
seguido pelo serviço de proteção social básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas.
De acordo com a norma operacional básica do Suas (NOB/Suas, 2005), a proteção social especial
caracteriza-se como nível de proteção do Suas, que se destina às famílias e/ou indivíduos em situações
de risco pessoal e social decorrentes das variadas formas de violação dos direitos humanos, tais como:
abandono, maus-tratos, negligência, situação de rua e inúmeras outras que apontam para a necessidade
de atendimento especializado.
Conforme documento de circulação interna do Departamento de proteção social básica que será divulgado
42
oportunamente.
79
Unidade I
enfrentar a dispersão dos serviços e potencializar a ação para os seus usuários. Opera a referência e a
contrarreferência com a rede de serviços socioassistenciais da proteção social básica e especial, bem como
com as demais políticas públicas e outras instituições que compõem o sistema de garantia de direitos.
No caso do serviço de proteção social especial para pessoas com deficiência, idosas e suas
famílias, cabe ressaltar que um membro da família na condição de cuidador de pessoa com deficiência
e/ou idosa com alto nível de dependência de terceiros necessita de:
• acesso à informação;
• de capacitação continuada e de supervisão profissional;
• da profissionalização de suas atividades, identificação de estratégias de acesso à renda, uma vez
que, na maioria das vezes, implica na impossibilidade desse cuidador de trabalhar fora.
Salienta-se que o acesso frente às barreiras estruturais, sociais, educacionais, culturais, habitacionais,
tecnológica e outras, muitas vezes, veem-se limitadas não pela negligência do cuidador mas pela
limitação frente à demanda aos cuidados que devem ser ofertados à pessoa em situação de limitação
para a vida independente e que há de ser considerado o desgaste pessoal pela continuidade da atenção
oferecida ininterrupta, ou parcialmente, que também impede o ir e vir, em especial, a convivência e
vivência social e comunitária para além do espaço da casa e dos serviços de atendimento, sendo esta,
demanda pela leveza e especialidade da atenção e competência da proteção social especial.
80
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
A PSE de alta complexidade se propõe a ofertar serviços especializados com vistas a afiançar a
segurança de acolhida a indivíduos e/ou famílias afastados temporariamente do núcleo familiar e/ou
comunitários:
Estabelece-se pelo plano nacional de convivência familiar e comunitária a atenção pelos cuidados
e sua implementação nas formas anteriores à institucionalização, especialmente, para esse caderno de
pessoas com deficiência e pessoas idosas. Historicamente, teve prioridade no que se refere a privá-los da
convivência familiar e comunitária, acreditando-se que a segregação dava respostas positivas, mas que
com o aprimoramento levava-nos ao fortalecimento das questões da violação de direitos referentes à
privação da convivência com autonomia de escolha e com a vida independente, mesmo frente a certas
restrições físicas, mas que não inviabilizava o acesso e o direito de escolha pela liberdade de espaço em
comunidade e em família.
A política pública de Assistência Social procura alcançar uma visão emancipatória, fundada
no reconhecimento de direitos e da condição política de cidadania, fortalecendo as capacidades e
potencialidades como forma de atendimento às necessidades básicas de desenvolvimento humano.
Nesse contexto, o Sistema Único de Assistência Social – Suas – organizou um modelo de gestão
para a Política Nacional de Assistência Social – PNAS (2004) fundado nos princípios da descentralização
e da participação, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se
as diferenças e as características socioterritoriais locais. Com base no princípio da responsabilidade da
gestão compartilhada e do cofinanciamento das três esferas de governo, define competências para
cada um dos entes, garantindo a participação da sociedade civil em todas as instâncias de implantação
e implementação do novo modelo.
Assim, o Suas cria as condições para normatização dos padrões nos serviços, qualidade no atendimento,
indicadores de avaliação e resultado, e nomenclatura dos serviços e da rede socioassistencial. Define,
portanto, princípios e diretrizes, entre os quais:
• matricialidade sociofamiliar;
• descentralização político-administrativa;
81
Unidade I
• territorialização;
• novas bases para a relação entre estado e sociedade civil;
• financiamento e controle social;
• o desafio da participação popular/cidadão usuário;
• política de recursos humanos;
• a informação, o monitoramento e a avaliação.
A política pública de Assistência Social ainda tem como referência a implantação e o funcionamento
dos Conselhos de Assistência Social e dos Fundos de Assistência Social, nas três esferas de governo.
Já a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social (NOB-RH/
Suas, 2006)43 considera a necessidade de uma política de valorização e qualificação da gestão do trabalho
no âmbito do Suas. Por isso, regulamentou ações e fortaleceu a atuação profissional desses agentes. Assim,
definiu que devem ser considerados na gestão do trabalho na área da assistência social:
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Secretaria Nacional de Assistência Social,
43
Conselho Nacional de Assistência Social. Sistema Único de Assistência Social. Norma Operacional Básica de Recursos
Humanos do SUAS, Resolução n.° 269, de 13 de dezembro de 2006. Brasília: CNAS, 26 dez. 2006.
82
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Com base na NOB/Suas (2005) e na PNAS (2004), a comissão intergestores tripartite pactuou
o protocolo de gestão integrada de serviços, benefícios e transferências de renda no âmbito do
Suas44.
• pactuar, entre os entes federados, os procedimentos que garantam a oferta prioritária de serviços
socioassistenciais para as famílias beneficiárias do Bolsa Família, do Peti e famílias com beneficiário
do BPC;
• construir possibilidades de atendimento intersetorial, qualificar o atendimento a indivíduos e
famílias e potencializar estratégias para a inclusão social, o fortalecimento de vínculos familiares
e comunitários, o acesso à renda e a garantia de direitos socioassistenciais;
• favorecer a superação de situações de vulnerabilidade e risco vividas pelas famílias beneficiárias
do Bolsa Família, do Peti e do BPC, por meio da oferta de serviços socioassistenciais e dos
encaminhamentos para a rede socioassistencial e das demais políticas públicas e, quando
necessário, para órgãos do Sistema de Garantia de Direitos – SGD.
44
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome. Comissão Intergestores Tripartite. Resolução
CIT n.° 7, de 10 de setembro de 2009. Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferências de Renda no
âmbito do Sistema Único de Assistência Social (Suas). Brasília: CIT, 2009.
83
Unidade I
No que diz respeito ao monitoramento da gestão integrada, o protocolo propõe indicadores para
a avaliação da gestão do Bolsa Família e para a avaliação do atendimento das famílias beneficiárias do
Bolsa Família e do BPC.
Temos, assim, um importante marco que reordenada os serviços na lógica das proteções sociais,
estabelecendo critérios de acesso dentro da política publica de Assistência Social. Ficam estabelecidas as
“portas” de entrada para essa política, segundo critérios de vulnerabilidade e risco social.
45
O MDS tem se dedicado a orientar os municípios por meio de cadernos temáticos dos quais os serviços da
proteção social básica estão sendo organizados para que as orientações sejam publicadas e encaminhadas aos municípios,
bem como a proteção social especial que terá uma publicação especial para o Paefi e demais serviços propostos pela
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais.
84
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Rede de
atendimento
serviços
continuados
Proteção Proteção
Proteção social especial Serviços
social especial Alta interseto-
básica Com riais
Ser.
domicílio Ser, C. F. ABOR DEF.
ESSCA República República Segurança
PCD ID V. Idosos RUA pública
Cultura,
MSE Emergen- Emergen- Conselho lazer,
MSE
cial cial Tutelar esportes
PCD,
PCD, ID e Idoso, Conselhos
Famílias cuidador
4.1.3 A proteção social da Assistência Social na lógica da garantia dos direitos individuais e
sociais
Apesar de crianças, adolescentes, pessoas com deficiência e pessoas idosas terem seus direitos
assegurados nos marcos normativos do país, a realidade mostra que muitos ainda estão expostos a
diversas formas de violação de direitos humanos, portanto, com sua cidadania comprometida pelo
silêncio e conivência de uma parte da sociedade, que ainda se omite.
85
Unidade I
Segundo a Política Nacional de Assistência Social – PNAS (2004), a vulnerabilidade se constitui em situações
ou ainda em identidades que concorrem para a exclusão social dos sujeitos. Essas situações se originam no
processo de produção e reprodução de desigualdades sociais, nos processos discriminatórios, segregacionais
engendrados em construções sócio-históricas e em dificuldades de acesso às políticas públicas.
Assim, a vulnerabilidade é constituída por fatores biológicos, políticos, culturais, sociais, econômicos
e pela dificuldade de acesso e barreiras a direitos, que atuam isolada ou, sinergicamente, sobre as
possibilidades de enfrentamento de situações adversas.
Segundo a PNAS (2004), o risco social se configura como uma situação instalada que, “ao se impor,
afeta negativamente a identidade e a posição social de indivíduos e grupos. É decorrente dos processos
de omissão ou violação de direitos”.
Portanto, todo esse cenário de vulnerabilidades e riscos, que impacta diretamente no núcleo familiar,
enfraquecendo-o em seu papel protetivo, gera consequências diretas a crianças, adolescentes, pessoa
com deficiência e pessoa idosa, tais como: negligência; violência física, psíquica, sexual; abandono;
situação de rua; exploração do trabalho e exploração da renda. Desse modo, cabe ao Estado ofertar
serviços para essas famílias, de forma a superar as situações de violação de direitos.
Conhecendo a realidade brasileira, na qual faltam ações afirmativas para o acesso a bens e serviços
como saúde, educação, qualificação profissional, mercado de trabalho, cultura, esporte e lazer, a ausência
de políticas específicas de habilitação e reabilitação e de concessão de ajudas técnicas, tais como órteses
e próteses, presume-se haver um número considerável de pessoas que não alcançam as ações necessárias
às suas demandas para a garantia de seus direitos individuais e sociais.
O tema da intersetorialidade nas políticas públicas vem ganhando destaque na medida em que
novos atores e agentes públicos vão qualificando o debate acerca da responsabilidade pública de
constituição e efetividade de políticas de Estado, gerando cada vez mais exigências para garantia
de institucionalidade, continuidade das ações, escala compatível, racionalidade gerencial, criação de
sistemas locais, articulação entre as esferas de governo, orçamento integrado e execução financeira
86
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
com transparência, investimento nas pessoas e política de recursos humanos e processos contínuos
de capacitação. Apesar dos avanços normativos/jurídicos, técnico/metodológicos e de estratégias para
enfrentar os passivos históricos de não-acesso aos direitos e serviços sociais, foram negligenciados e
retardados os processos de gestão intersetorial.
Contudo, em que pesem os desafios colocados frente a violações de direitos, cada vez mais há
esforço de ação articulada e integrada na perspectiva de superação do problema.
Observação
Saiba mais
Resumo
87
Unidade I
88
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
Exercícios
Questão 1. Leia abaixo a notícia publicada no endereço eletrônico, disponível em: <http://www1.folha.
uol.com.br/poder/986824-senador-critica-auxilio-reclusao-e-defende-volta-de-chicote-a-presos.
shtml>. Acesso em: 27 nov. 2011:
06/10/2011 – 18h34
Márcio Falcão
de Brasília
Em discurso na tribuna do Senado, o senador Reditário Cassol (PP – RO) criticou nesta
quinta-feira (6) a concessão pelo governo federal do auxílio-reclusão para famílias de
presidiários e falou na volta do “chicote” para os presos que não trabalharem.
“Senadores, precisamos modificar um pouco a lei aqui no nosso Brasil, que venha favorecer
sim as famílias honestas, que pagam imposto para manter o Brasil de pé e não criar facilidade
para pilantra, vagabundo, sem vergonha, que devia estar atrás da grade de noite e de dia
trabalhar, e quando não trabalhasse de acordo, o chicote, que nem antigamente, voltar.”
O Senador tem o direito de fazer suas manifestações, porque a Constituição Federal garante o direito
de livre manifestação a todos os brasileiros. No tocante ao auxílio-reclusão, assinale a alternativa correta:
B) É um benefício destinado a dependentes de detentos, que dessa maneira poderão continuar a ter
suas despesas supridas, sem sofrerem aumento de carências materiais durante o período em que
o provedor do lar estiver detido. Só é possível se aquele que se encontra detido era segurado da
Previdência Social. O benefício está previsto na Constituição Federal brasileira e isso representa
que a sociedade brasileira pensa de forma diferente daquela exposta na notícia anterior.
C) É um benefício criado para favorecer aqueles que se encontram em situação de ilegalidade e isso
não é compatível com a democracia brasileira. Além disso, pode aumentar a quantidade de crimes
para que as pessoas se utilizem desse benefício e não tenham que trabalhar.
89
Unidade I
D) É um benefício que tem sido muito comentado na mídia brasileira, mas que, em verdade, não está
previsto na Constituição Federal. O senador não pode se manifestar dessa forma, porque o benefício
não existe, foi abolido integralmente após a entrada em vigor da nova lei de Previdência Social.
E) É um benefício que se destina apenas a presos no regime de liberdade condicional, sendo ainda
pouco aplicado no Brasil em razão da baixa demanda de casos concretos. Mas é um benefício
necessário, porque existe grande quantidade de presos cujas famílias não têm como se sustentar
após sua condenação.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa correta.
Justificativa – A Constituição Federal de 1988, foi redigida por deputados federais que foram eleitos
para essa finalidade e, nessa medida, é correto afirmar que eles trouxeram para o texto constitucional
as expectativas e necessidades que a sociedade brasileira apoiava. O auxílio-reclusão está previsto
expressamente no Artigo 201, inciso IV, da Constituição Federal e a manifestação do político que
defende o fim do benefício e a agressão física a presos é duplamente inconstitucional. Primeiro, porque
ofende o Artigo 201, inciso IV e segundo, porque o Artigo 5º da Constituição Federal, em seu inciso
XLIX, determina que “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. Isso significa que
qualquer agressão ou tentativa de agressão a um detento é contrária à Constituição Federal e deverá
ser apurada e punida. Por fim, o benefício do auxílio-reclusão é um meio do Estado impedir que a prisão
do segurado repercuta de forma a decretar a miserabilidade de seus dependentes o que, em hipótese,
poderia favorecer seu ingresso na criminalidade.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
90
LEGISLAÇÃO SOCIAL E PREVIDENCIÁRIA
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. No município de Icaratêre do Mato Dentro, o prefeito tem utilizado toda a verba da saúde
pública para asfaltar os bairros onde existem postos de saúde e o hospital municipal. Ele justifica que é
preciso que haja asfalto para que a população e as ambulâncias cheguem ao local com tranquilidade,
sem correr o risco de atolar ou avariar os pneus. O município de Icaratêre é muito pequeno e tem pouca
arrecadação de tributos, porque a maior parte de sua população vive na zona rural, onde produz em regime
de economia de subsistência. O município tem dificuldade na contratação de médicos, uma vez que os
salários são muito baixos e estão sempre atrasados; tem dificuldade em fornecer medicamentos para a
população carente, porque não dispõe de recursos para comprá-los e não tem vacinado as crianças, pois
não tem geladeiras nos postos de saúde para guardar as vacinas que o governo federal encaminha. Mas as
ruas em torno dos postos de saúde e do hospital municipal estão asfaltadas, de maneira que todo o dinheiro
foi utilizado nesse serviço. Os munícipes estão revoltados com a situação e pretendem agir de forma legal e
organizada para impedir que a situação continue como está. Você recomendaria aos munícipes:
A) Que marcassem uma reunião com o prefeito e convocassem os meios de comunicação para
pressionar a mudança de atitude e a consequente utilização racional dos recursos públicos.
B) Que contratassem um advogado particular para que ele ingressasse com uma ação contra o prefeito
para averiguar se ele está recebendo propina das construtoras contratadas para o asfaltamento
das ruas próximas aos postos de saúde e do hospital municipal.
C) Que levassem o assunto ao Conselho Municipal de Saúde que é o órgão de participação da sociedade
civil na gestão do SUS. Ele gerencia e controla o SUS, atuando na participação da formulação de
estratégias e da execução de políticas públicas de saúde em sua instância correspondente e,
ainda, pelas conferências da saúde que se realizam a cada quatro anos. É o órgão capacitado para
verificar o que está sendo feito na gestão do dinheiro público da saúde.
D) Que deixassem o assunto de lado e aguardassem a eleição de um novo prefeito, porque influir na
administração pública neste país é sempre muito difícil e pouco produtivo.
E) Que fizessem contato com um programa de televisão em rede nacional, bem escandaloso, para
que ele comparecesse ao município e fizesse uma reportagem sobre a matéria.
91