Historia Pop. Portuguesa
Historia Pop. Portuguesa
Historia Pop. Portuguesa
(coordenação)
HISTÓRIA DA POPULAÇÃO
PORTUGUESA
Das longas permanências
à conquista da modernidade
A Afrontamento
Edições
CEPESE
Equipa de investigação
Teresa Ferreira Rodrigues (FCSH-UNL, CEPESE)
Maria João Guardado Moreira (ESE-IPCB, CEPESE)
João Silva de Sousa (FCSH-UNL)
Filipa Castro Henriques (FCSH-UNL)
Outros colaboradores
Olívia Almeida Fernandes (ISEGI-UNL, CEPESE)
Paulo Violante Oliveira (FCSH-UNL, CEPESE)
Prefácio ........................................................................................................ 11
Introdução .................................................................................................... 13
Fernando de Sousa
(Presidente do CEPESE)
Introdução
Estado da População
1.ª fase Até 1527-1532 Esporádicas e com pouca informação
2.ª fase 1527-32 a 1801 Sem sequência, embora em maior número
3.ª fase 1801 a 1864 Abundantes, mas de má qualidade
4.ª fase 1864 à actualidade Publicadas e de qualidade progressivamente melhorada
Movimento da População
1.ª fase Até ca.1560 Quase inexistentes
2.ª fase ca.1560 a 1860 Abundantes, mas de qualidade variável
3.ª fase 1860 a 1911 De boa qualidade, embora não publicadas
4.ª fase 1911 à actualidade Publicadas de qualidade melhorada; inéditas de boa qualidade
Fonte: Mário Leston Bandeira, Demografia e modernidade..., p. 151.
folha de papel, à evolução agrícola e das suas técnicas, aos avanços e regres-
sões produzidos pelas massas humanas nómadas e sedentárias, à evolução
do homem no seu aspecto físico, hábil e mental.
A História pressupõe que se analisem homens e factos, produtores e
produtos, estruturas e conjunturas, sempre cronologicamente ou tendo em
conta que existe um número diverso de fases evolutivas e temporais. Ao
optar pela análise da vivência do ser humano e do meio em que ele se
move, é nossa prioridade apreendermos globalmente o modo como as
gentes, em épocas diferenciadas, intervieram activamente, e, em simultâ-
neo, condicionados por elas mesmas. Uma perspectiva sistémica facilitará,
em nosso entender, um enquadramento amplo e multifacetado, que torna
compreensível a emergência do Homem desde há cerca de 2 milhões de
anos na África Oriental até há 500 mil anos, altura provável da sua entrada
na Península Ibérica5.
A História é o resultado do estudo dos Homens: dos que estavam em
permanente movimento, dos que habitavam os centros urbanos, o campo
ou dos das periferias marítimas, póvoas piscatórias e comerciais. Aqueles a
quem um estatuto de privilégio beneficiava, francamente, as condições de
vida, e os outros, a quem a lei dificultava a existência.
A História de heróis tende a ser substituída pela História ciência6, com
o importante, porque indispensável, patrocínio de outras áreas científicas.
Às várias concepções teórico-filosóficas juntou-se a corrente historiográfica
francesa conhecida por Escola dos Annales, pontificada por Marc Bloch7, Fer-
nand Braudel8, Lucien Febvre9 e Pierre Vilar10. O nome da Escola provém do
título da revista Annales d’Histoire Économique et Social (1929), hoje Annales. Écono-
mies. Sociétés. Civilisations, em torno da qual o grupo se organizou. Esta corrente
decisiva na evolução dos estudos históricos em toda a Europa surgiu para
superar a história positivista, direccionada para a pura descrição de factos
isolados, os acontecimentos, chamando a atenção para suportes como as
estruturas demográficas e outras já acima referidas, embora não exaustiva-
mente, assim como ultrapassar as barreiras que se erguem entre os diferen-
tes sectores especializados da História, de maneira a, assim, resultar uma
História global. É de salientar a discussão sobre L’Histoire Social, sources et métho-
des, no Colóquio realizado em 1965 na Escola Normal Superior de Saint-
11 Vide pp. 45-52; 63-66; 110-119; 127-139; 167-175; 184-189; 204-217; 228-230; 238-241;
252-260; 271-277; 293-299; 310-316 e 327-329.
12 Em França por Paris, Presses Universitaires de France, 1.er trimestre 1967 e cuja tradução para
Português foi dir. por GODINHO, 1973.
13 GODINHO, 1948, 1955, 1965.
14 MARQUES, 1979, 1978, 1987.
15 MATTOSO, 1985a, 1985b, 1987.
20 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
já haviam sido feitos para Lascaux, – esse presente dado à França, descoberto,
ocasionalmente, em Setembro de 1940 e inventariado pelo abade Breuil, que
data de há 15 mil anos, além das de Niaux e Font-de-Gaume – e Altamira,
em Espanha – uma gruta perto de Santander, descoberta em 1879 pelo mar-
quês Marcellino de Santuola e classificada como a Capela Sistina da Pré-His-
tória, com 13 000 anos. E noutras paragens da Europa e de África e por todo
o lado, onde, a par dos rituais da caça e da fertilidade que lhe estavam asso-
ciados, permaneceram durante cerca de 20 000 anos, até aos finais do Plis-
toceno, há 10 000 anos. Foram os primeiros museus da História.
Com efeito, as cavernas conservam os traços de habitação, esqueletos e
ossadas – ou restos deles –, objectos diversificados, armas ofensivas, utensí-
lios de variada espécie e de muita imperfeição. Os cientistas puderam, então,
fazer uma ideia da forma como esses homens viviam e seguir de perto os
progressos da civilização. Por exemplo, é ponto assente que as novas inven-
ções criaram maior diversidade de instrumentos especializados, e apareceu
em cena uma nova forma de homem, o Homo Sapiens, o «Homem do Cro-
-Magnon», nome do lugar onde foram descobertos os primeiros ossos desse
nosso antepassado mais directo. Um homem mais ágil e mais inteligente e,
por consequência, mais bem preparado para enfrentar a luta pela sobrevi-
vência. Só que nós temos de ser nómadas, tal como esses homens eram, e
seguir os trilhos, não se sabe de quem nem de quantos. Aqueles, muito pro-
vavelmente, viviam apenas nas regiões hoje conhecidas como Portugal, Espa-
nha, Norte de África, França, Inglaterra, nos Alpes e Norte da Europa, Balcãs,
Cáucaso, Síria, Palestina, e, em plena Ásia, nos Himalaias.
Deste modo, nasceu uma Ciência jovem da pré-história, que progride,
dia após dia, à medida que se descobrem novas evidências e que se aperfei-
çoam os métodos científicos. A informática ofereceu-nos a possibilidade de
conhecer certas evoluções e transformações que podemos considerar como
bastante aproximadas da realidade ou, melhor, do que, neste campo, todo
ele enigmático, constitui para nós uma possível realidade. Outras nos são
apresentadas periodicamente, com novos achados, em diferentes locais.
Para o fabrico dos objectos de que necessitavam, para cortar, agredir e
matar, os homens da Pré-História, na Península, serviam-se da madeira, do
osso, de espessas cascas de frutos secos e dos troncos das árvores que iam
colher aos nossos bosques densos e húmidos, onde, mais tarde, abriram cla-
reiras para viverem, conchas muito fáceis de encontrar, de todas as formas
e feitios, tamanhos e espessuras, facilmente recolhidas dos extensos areais
atlânticos e mediterrânicos e pedras duras e resistentes – abundavam o
xisto, o sílex e o calcário. Baseando-nos nas técnicas utilizadas, sucessiva-
mente, para trabalharem a pedra, podemos distinguir dois grandes perío-
30 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
- Jazidas megalíticas
0 50 km
1. Enquadramento europeu
efeito, entre 8000 e 5000 anos a.C., sucederam-se várias culturas, comum-
mente consideradas como a base demográfica da Península Ibérica: a «arte»
franco-cantábrica, com armas de arremesso e a do Levante hispânico, com a
domesticação de animais, a pecuária, a agricultura e a tecelagem13.
Nas nossas áreas territoriais, o estabelecimento permanente com casas
de pedra, muros e torres verificou-se, pelo menos, por volta do ano 7000
a.C. Talvez até pudéssemos recuar um pouco mais. É provável, pelo tipo de
vida que levavam, que ainda não existisse a figura do chefe, embora força e
capacidade devam ter dado a alguns uma liderança espontânea, nas horas,
por exemplo, de terem de enfrentar um perigo comum.
Numa fase evolutiva do Neolítico Antigo, por finais do V milénio, pode-
mos já detectar o uso de instrumentos de variados materiais, sobretudo os
de pedra com formas talhadas consoante a finalidade. Na verdade, a utensi-
lagem acusa mudanças importantes: apesar de sobreviverem artefactos do
Paleolítico Superior e do Mesolítico, começam a aparecer lâminas ou lame-
las, pontas de lança de xisto e sílex, umas maiores outras mais pequenas,
adaptadas a longos paus, para defesa à distância, enxós e machados polidos;
moinhos manuais e, entre outros, peças de barro cozido14. A desflorestação
e a abertura de largas clareiras para a sedentarização, a agricultura, a demar-
cação dos campos e a organização de povoados faziam-se, de ordinário, da
costa marítima para o interior e, de preferência, ocupando terras entre-
cortadas por cursos de água15. A água e o fogo não podem faltar. Daí as
peças de cerâmica para conservar alimentos, guardar cereais, frutos, óleos,
e manter vivo o lume em casa, para se aquecerem e para o assado e fumado.
Também para guardar água útil aos Homens e à cozedura dos alimentos.
Esta movimentação do Homem para junto da água e para o interior, na vasta
Península, é vagarosa, dura e difícil, como o vai ser também a sedentariza-
ção que caracteriza o Neolítico (10 000 a 1700 a.C.)
O palco desta aventura é bastante amplo: abrange áreas que hoje corres-
pondem ao vale do Nilo, Norte da Síria, planalto Iraniano, Creta, planalto
da Ásia Menor, Grécia, Portugal e Espanha, Rússia, Hungria, costas do Medi-
terrâneo e outras regiões da Europa central. Percebe-se que havia, por todos
estes lados, milhões de pessoas e, na Península, uns dois a dois e meio
milhões. Mais tarde, num outro momento ligeiramente mais recente, o Sul
da Inglaterra e a Bélgica e, ainda depois, a Austrália, o Norte da Europa, o
cerâmica e a tecelagem. São, pois, dados marcantes que nos fazem sempre
supor a existência de uma economia baseada na agricultura, na pastorícia e
na criação de gado, e que representa o estabelecimento de uma nova forma
de organização social que, através da distribuição do trabalho, coordena e
controla as actividades de toda a comunidade.
Os 8 mil anos neolíticos, período curtíssimo na História da Humanidade,
parecem ser uma fase de transformações realmente rápidas no território do
nosso futuro Portugal, como em toda a Península. O homem conseguiu o
controle das fontes da sua alimentação. Começou a plantar, cultivar e aper-
feiçoar, através de selecção, ervas, raízes e frutos. Aprendeu, acima de tudo,
as vantagens dos cereais panificáveis. Eram todos, aliás. Até de raízes secas e
frutos silvestres e triturados se obtinha a farinha. Mas referíamo-nos ao trigo
e à cevada que, no nosso País, inclusive, na Idade Média, continuarão a ter a
mesma enorme importância. Já, então, eram tidos de alto poder nutritivo,
exigindo um bom rendimento na colheita e um trabalho periódico regular
na lavoura, embora deixassem algum tempo livre para outras actividades. No
entanto, a produção agrícola não implicou, de imediato, a adopção de uma
vida sedentária, presa a um só lugar. Desconhecendo a necessidade de des-
cansar o solo, as comunidades primitivas eram obrigadas a mudar de zona,
assim que ele se cansasse e se esgotasse. Mas essa agricultura nómada não foi
a única forma de cultivo: plantações feitas nas margens dos cursos de águas,
a priori muito férteis, permitiam maior vinculação do homem à terra. Se com-
pararmos, nos tempos de tão longa duração, até ao século XIV, assim se con-
tinuava a proceder em Portugal e, quantas vezes, a esterilidade dos solos não
obrigou os homens com suas famílias a procurar outros locais onde pudes-
sem viver com mais facilidade e maior abundância.
Além do cultivo dos cereais, também os animais – boi, carneiro, cabra e
porco – foram colocados sob a dependência humana, sendo alimentados e
protegidos das feras pelos criadores. A primeira vantagem da domesticação
estava numa reserva de abastecimento. No entanto, exigia esforços acresci-
dos: conhecer as necessidades vitais dos animais, poupar os mais novos, criar
selectivamente, eliminando os mais intratáveis e favorecendo os mais dóceis.
Estes e outros factores, é fácil perceber, vão estar na base de um acréscimo
demográfico súbito, não só pela procura de lugares aptos às mesmas condi-
ções de vida que eram mais fáceis, mas porque, nas próprias tribos, essas
melhorias ocasionavam melhores meios de fertilidade nas mulheres, aumen-
tando com certa rapidez o número de pessoas em cada local por eles ocupa-
dos. Por outro lado, iam-se liquidando os que, abusivamente, tentavam apro-
ximar-se dos primeiros, a fim de se apropriarem dos campos cultivados e das
suas produções. Então, se, por um lado, assistimos a um aumento demográ-
36 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
fico, ele será, por certo, descompensado pelas sucessivas lutas contra os estra-
nhos e de recorrentes crises de sobremortalidade. Daqui nasce a necessidade
do fossatum, ou seja da demarcação das terras através de um fosso muito
fundo, só transponível por placas de madeira espessa e dura que serviam de
pontes. Outra técnica de defesa utilizada consistia no levantamento de muros
altos que protegessem a comunidade. E é no Neolítico Superior, tendente já
para o Médio Bronze que se erguem as primeiras muralhas e torres, prote-
gendo duplamente as suas populações por um fosso a toda a volta, à seme-
lhança do que foi encontrado na ilha da Sardenha: um tipo particular de
construção: os nuraghi ou nuragues. Eram enormes torres que podiam elevar-
-se a 25 metros de altura, em forma de cone truncado, inteiramente feitas de
pedra rústica e sem nenhuma espécie de argamassa. Geralmente, os nuragues
eram divididos em dois ou três andares, ligados por uma escada tortuosa que
ladeava as paredes. Cada andar era formado por um grande salão circular, que
terminava em forma de cúpula. Pareciam-se com as torres que ainda hoje é
possível ver nos nossos castelos e, muito provavelmente, semelhantes a
outras que existiriam nos castros. Também estes eram feitos de pedra sobre
pedra e sem argamassa, ou apenas «cimentados» por meio de lama. Quando
aumentava a população, alargavam-se ambas as protecções.
Foi ainda nesse período, tão curto mas tão revolucionário porque ino-
vador, que o homem passou a conviver com a sua caça, e descobriu outras
vantagens: as plantações podiam melhorar quando adubadas, e o leite, até
ao momento apenas alimento das crias, podia enriquecer a dieta alimentar,
sem qualquer tipo de sacrifício para o animal que o fornecia. Ora, toda esta
economia produtora e não mais recolectora só pode ter existido graças a
uma actividade coordenada e a um trabalho de conjunto. E seria, obvia-
mente, necessário um número cada vez maior de gente. Por isso, se lê, entre
a grande maioria dos historiadores e especialistas que se ocupam das ques-
tões demográficas, a defesa da ideia de uma Península Ibérica densamente
povoada, a partir, sobretudo, do Neolítico Médio e Superior (já para não
falar no Paleolítico, durante os glaciares que empurraram as populações do
Norte para o Mediterrâneo e do Sul para a África do Norte).
0 50 km - Povoado
18 SILVA: 259 e notas [1] a [6]. Veja-se também a bibliografia indicada pelo autor.
2
Antecedentes de Portugal
1. O Portugal pré-romano
Não será errado afirmar que, nos tempos primitivos, o nosso futuro rec-
tângulo se achava quadriculado por uma imensidade de povos, que foram
evoluindo ou desaparecendo. A Península foi palco de constantes migrações
e compreendemos porquê. Os homens, em grande e médio número,
foram-se deslocando, vindos de partes diversas e chegaram à finisterra, ao
fim do Mundo. Mais além, a grande maioria não podia avançar. Apenas os
que tinham experiência de mar navegavam. Mas não iam longe. Seguiam a
linha da costa e depressa voltavam à terra firme1.
Alguns dos povos mais importantes, dado o seu legado para a história
de Portugal, surgiram e sedentarizaram-se em locais muito precisos da His-
pânia. Existia uma grande diferença entre os nativos costeiros e os do inte-
rior. Os primeiros eram mais receptivos aos estranhos, pactuando com eles
um modo de vida mais concertado. Por seu turno, os do interior da Penín-
sula eram mais aguerridos, porque ocupavam as melhores planícies e as
margens dos cursos de água, que não desejavam repartir com nenhuns
outros. Apuraram então com esse objectivo algumas regras de prevenção. Os
aglomerados populacionais eram fundados no cimo dos montes, em torno
dos quais se construíam linhas defensivas. Uns habitavam o interior desses
núcleos, outros apenas se serviam das fortificações em caso de ataque.
Nos séculos em que tudo principiou, povoada a Península pelos Agrários,
nome dado aos nativos pelos Gregos, talvez ela já fosse habitada nas terras
escalpelizadas por uns 300 a 500 mil habitantes. E avançamos com este
número, porque os autores que referem a aproximação e a entrada de novos
povos, apontam para um máximo de 30 000 a 50 000 homens e mulheres.
Até ao momento em que se torna possível a realização de numeramentos
1 GERLI, 2003.
40 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
10 Sobre os Celtici e os Célticos, veja-se ALARCÃO, 1993: I, 289, 355, 357 e 398; 281, 289,
290, 291, 293, 294, 298, 300, 321, 322, 333, 334, 340, 359, 360, 363, 425 e 444, respec-
tivamente.
11 ALARCÃO, 1993: I, 294, 318 e 337.
12 Talvez estando neste elemento os actuais nome e adjectivo: briga e brigão, dado serem temí-
veis guerreiros ROCHA, 1905-1908: 301-354, 493-516.
13 Talvez a estes se deva a celtização ocorrida na área tartéssica. ALARCÃO, 1988: 135 (Appendix 2),
com indicações documentais e geográficas (ALARCÃO, 1993: I, 264 e nota [11]).
14 CORREIA, 1934; CARVALHO, 1956; ATHERTONl, 2002; TRACY, 2000.
15 REES, 2001; CARTWRIGHT, 2002; ATHERTON 2002.
16 O calendário pré-cristão marcava a realização de rituais nos dias festivos que assinalassem a pas-
sagem das estações: Imbloc correspondia a 1 de Fevereiro e assinalava a lactação das ovelhas; Beltane era o 1.º de
Maio, quando os rebanhos e as manadas se transferiam para as zonas das Terras Altas, para as
pastagens de Verão; Lughnasa (de Lug, deus do Sol, como vimos acima), era o 1.º de Agosto, o
mês mais quente, o dia da primeira colheita e Samhein (de 31 de Outubro a 1 de Novembro era
marcado pelo respeito dos mortos, como ainda hoje no nosso calendário. No entanto, os nomes
dos santos remontam aos séculos V e VI da era cristã, altura em que os missionários cristãos,
provenientes sobretudo da Irlanda, se espalharam pela costa atlântica a fim de fundarem comu-
nidades monásticas. Os missionários erigiam os seus santuários sobre sítios cerimoniais pré-
-cristãos, reconhecendo desta feita o seu significado sagrado (BOOKE, 1999; REES, 2001).
Antecedentes de Portugal 43
17 Texto traduzido e adaptado para melhor ou mais fácil entendimento. Cf. O esplendor de Tiro,
extraído da Bíblia, Livro de Ezequiel, cap. XXVII.
44 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
2. Da família à cidade
18 LANCEL, 1994.
19 É de ter em consideração o facto de os Gregos se terem antecipado aos demais, mas – que
saibamos – sem o intuito de exercerem o seu sistema colonizador organizado, como se veri-
ficou posteriormente. Pensamos que teria sido, numa das suas primeiras experiências marí-
timas, das quais lhes ficámos a dever informes sobre o futuro Mar Romano e as linhas de
costa por onde passaram. Definitivamente, apontamos, já com intuitos comerciais, numa
linha de priodidades, para a primazia dos Fenícios, depois a estadia dos Gregos e, finalmente,
dos Cartagineses, Antes de todos estes, provenientes da Ásia Menor, das montanhas do
Líbano, vieram os Tartéssios, Túrdulos e/ou Turdetanos que, muito antes, fundaram colónias
do Leste ao Ocidente da Hispânia.
20 Ver MARQUES e DIAS, 2003: 31-32 e bibliografia aí indicada.
21 VALDEAVILLANO, 1963: 133-134; SOARES, 1962: I.
22 CORREIA: 1934: 132 e ss. e 371; ALARCÃO, 1993: 263, 264, 289, 294, 322, 424.
Antecedentes de Portugal 45
trava pela rudeza das suas gentes, que em pouco mais pensariam que na
subsistência e sobrevivência.
No Sul da Península e no alargado alinhamento da Catalunha com a
Galiza, vivia-se em povoados alargados, que inapropriadamente designamos
de cidades. Já no interior, junto às serras e em locais mais agressivos, morava-
-se em povoados rudimentares, correspondentes aos aldeamentos de hoje.
Em lugares mais amplos e desenvolvidos residiam aqueles que, pelo facto de
terem sido os primeiros, puderam escolher as linhas de água e as planícies
mais agradáveis e produtivas. Ora, nestes três géneros de centros de tipolo-
gia variada, mesmo se o conceito de centro para o tempo que descrevemos
deva ser usado com precaução, existiam graus de desenvolvimento diferen-
tes e densidades populacionais que dificilmente pode ser aferida. É nesta
situação que se encontra a Península Ibérica, quando recebe os Romanos.
3. O Portugal Romano
31 THOMPSON, 1995.
32 PEACOCK e WILLIAMS, 1986.
33 Número igualmente avançado por HINARD, 1997: 120.
34 Veja-se o retrato de Aníbal traçado por Tito Lívio., XXI, 4.
Antecedentes de Portugal 51
35 De 155 a 138 a.C., só entre estes foram mortos 9000 e aprisonados 20 000, que foram ven-
didos como servos, numa primeira fase da guerra que lhes moveram os Romanos. ALARCÃO,
1993: I, 347.
36 As leges dictae, como a Lex metallis dicta, para todas as minas do fisco (EDMONDSON, 1987).
37 CRUZ, 1955: 106 e ss.; HESPANHA, 1982: 79, nota [64]; DOMERGUE, 1990.
38 SILVA, 1962: 46-47.
52 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
gens, que não tinham sido as únicas a receber o impacto de uma cultura
mais evoluída. Na bacia do Mediterrâneo a dominação era completa. O
latim começou então a ser falado e nada tinha a ver com a língua de Horá-
cio, Tito Lívio, Cícero ou César. A complexidade deu lugar a uma simplici-
dade a que os próprios invasores tiveram de se adaptar. O latim que pri-
meiro teria aportado a Portugal veio com os soldados de Roma que larga-
ram do porto de Ostia. Depois chegaram outras formas e pronúncias do
norte ao sul da Península Itálica, trazidos numa primeira longa fase por
soldados e marinheiros. A seguir foi a vez dos comerciantes tentarem a sua
sorte nestas Províncias Frumentariae, tal como famílias que chegavam na
expectativa de alcançarem uma vida melhor, num quinhão de terra que
fosse seu. O latim assumiria formas diversificadas, sobretudo no modo de
falar40. Foi um processo de adaptação longo e muito mais difícil para os
que, sem qualquer tipo de instrução, residiam nos campos e nos termos
das principais ciuitates, não chegando nunca a influenciar, do mesmo modo,
os povos de língua basca da região vasconça.
Através do Direito havia que regulamentar-se a vida dos indígenas e dar-
-lhes uma certa organização. O princípio que vigorou foi o da personali-
dade do direito, isto é, apenas o cives, o cidadão romano, gozava plenamente
da protecção da ordem jurídica. Ao peregrinus, ou seja, ao estrangeiro, seria
aplicável o direito nacional. Mas esta situação verificou-se tão-só como um
ideal de princípio, embora não se tivesse desviado por demais da ideia que
o norteava. De facto, os nativos, quando chegaram os Romanos, já se «casa-
vam» e instituíam o seu herdeiro através de testamentos a fim de legarem
os seus bens (muito provavelmente, por força da oralidade). No campo do
Direito Privado também negociavam e constituíam outras operações ligadas
à compra e venda e doações intervivos e mortis-causa. Elegiam os seus chefes,
votavam e participavam nas assembleias, Senatus e Concilium no âmbito do
Direito Público. Assim, os Romanos vieram organizar o modus-vivendi das
populações locais, dando-lhes uma certa ordem e uniformidade através de
um sistema mais rígido e com princípios a observar e a seguir41.
Subdividida desde 193 a.C. em duas províncias, as Hispânias Ulterior e
Citerior, a «romanização», os sistemas produtivos e a formação da proprie-
dade não tiveram exactamente o mesmo desenvolvimento. Em zonas de
pão, de pescaria, nas clareiras cortadas por cursos fluviais, nas zonas minei-
4. As Invasões Germânicas
44 BARNWELL, 1997.
45 LEV, 1996.
Antecedentes de Portugal 57
50 COURTOIS, 1955.
Antecedentes de Portugal 59
51 ALBORNOZ e VIÑAS, 1929: 24, segundo Idácio (Bispo), Chronicon, ed. de Theodorus Mommsen.
Chronica minora, Berlim, 1894: 17-18.
52 SCHMIDT, 1953; DUFOURCQ, 1980: 6-13; LAGUAY, 1993:16-17. Ver bibliografia aduzida
perlo autor em notas [7] a [9].
53 LAGUAY, 1993: 17-19 e bibliografia referida nas notas [10] a [13].
54 BACHARACH, 1973.
55 LAGUAY, 1993: 19, e bibliografia citada na nota [14].
56 Idácio (Bispo), Chronique, ed.Alain Tranoy, col. Sources Chrétiennes, 42: I,115 e comentário 35-36.
60 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Os Suevos teriam sido umas boas centenas de milhar, a avaliar pelo tes-
temunho de Júlio César, sendo «de longe o povo maior e mais belicoso de
toda a Germânia. Diz-se que foram cem pagi, dos quais cada um fornece
mil homens, para irem fazer guerras ao exterior. Ao todo, por dia, 100 mil
homens em idade de lutar. Os outros, os que ficam no País, alimentam-se a
si próprios e ao exército. No dia seguinte, estes pegam, por sua vez, em
armas, enquanto os primeiros ficam em casa. Deste modo, o cultivo dos
campos, a instrução e o treino militar são igualmente assegurados sem
interrupção»57. No que respeita aos Alanos, os historiadores apontam para
40 mil indivíduos, dos quais uns 15 mil guerreiros. Os Vândalos estariam
bem próximos dos 130 mil, ou seja, 40 mil guerreiros. Ao todo, 500 a 600
mil bárbaros, no conjunto da Península58.
Ao fim de dois anos de razias e destruições, a ideia de uma partilha ter-
ritorial acaba por impor-se. Os líderes, ao invés de prosseguirem as lutas,
optaram por repartir espaços. Assim, os invasores dividiram entre si as terras
conquistadas e as populações submetidas, como vulgares despojos de
guerra: servos, móveis, utensílios de casa e de lavoura, jóias e animais. Na
ausência de um pacto, sabemos que a sorte entregou a Bética aos Vândalos
Silingos; a parte oriental da Gallaecia aos Vândalos Asdingos; o sector costeiro
norte-lusitano e sul-galeciano aos Suevos59, e a Cartaginense, com a maior
parte da Lusitânia, aos Alanos. Os hispano-romanos que sobreviveram às
pragas nas cidades e fortalezas submeteram-se à dominação dos Bárbaros.
Este fraccionamento territorial conferiu aos Suevos a parte ocidental do
Conuentus de Bracara Augusta: Braga; o território das ciuitates ou dos uici de
Aquae Flaviae: Chaves; Portucale: Porto; Lamecum: Lamego. A Norte, na
futura Espanha:Tudae (Tui) e todo um sector costeiro e fluvial exceptuando
as regiões montanhosas do interior. Braga tornou-se uma cidade episcopal
reconhecida. Portucale um castro, cuja superfície está avaliada em 3,5 ha.
Conímbriga beneficiava também da protecção de uma linha de muralhas
que agregavam uma região rica60. Chaves era sede episcopal. Egitânia (Ida-
nha), Ebora (Évora), Olissipo (Lisboa), Ossonoba (Faro), Scallabis (Santa-
rém) e Viseo (Viseu) tornaram-se importantes nas lutas contra os Germa-
nos61. Longe de estarem isolados, estes pequenos centros acolhiam estran-
62 LeCLERCQ, 1906; MACIAS Y GARCIA, 1921; DAVID, 1947; VELOSO, 1950; REYNOLDS, 1957:
19-47; VIANA, 1958-1959: 5-16; LIVERMORE, 1979; THOMPSON, 1963: 3-33; THOMPSON,
1977: III, 8, 15-22; REINHARDT, 1952;TORRES, 1977;AMARAL, 1982: 269-284; COLLIN, 1983.
63 BARLOW, 1950;
64 HEFELE e LeCLERCQ, 1907-1908;VIVES, MARTINEZ e DIAZ, 1963: I; ALMEIDA, 1954: 33-44:
de Braga a Toledo.
62 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
0 50 km - Paróquia
66 Acerca de um bom arrolamento bibliográfico acerca dos Visigodos, veja-se FERRERO, 1988;
GIBERT, 1956: 15-47; THOMPSON, 1969; JAMES, 1980; TEILLET, 1984; MORENO, 1989;
WOLFRAM, 1990; PALOL e RIPOLL, 1990.
67 ALMEIDA, s/d: VI, 334-337; LEGUAY, 1993; ORLANDIS, 1977; PIDAL, 1985.
68 OSÓRIO: L.º VII, Cap. 43.
69 GARCIA-GALLO, 1936-1941: 168-264; GARCIA-GALLO, 1974: 343-464; ZEUMER, 1944;
D’ORS, 1956: 93-124; D’ORS, 1960; KING, 1972.
70 ZEUMER, 1849: I; KING, 1972.
71 MATTOSO, 1992.
64 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
terras que detinha a Norte dos Pirinéus e que bordejavam a futura Navarra
francesa. Reduzido à Hispânia, o seu sucessor Geseleico [507-511] confron-
tou-se com um ambiente de certa anarquia, tendo sido necessárias décadas
para que a situação se modificasse.
Na segunda metade do século VI a Península estava submetida à autori-
dade dos «Estados» Visigodo, Suevo e Bizantino. Só em 631 foi possível ter-
minar o Reino hispano-godo, sob Sesenando [631-636]. A Coroa goda res-
pondeu com uma estrutura política herdada da sua dupla origem germâ-
nica e romana, facto que veio a reflectir-se no conceito de «Estado» e nas
características das suas instituições políticas e administrativas. Manteve a sua
organização baseada na monarquia popular, na assembleia dos homens
livres e no carácter militar dos oficiais da administração, sem modificar no
essencial a estrutura político-administrativa das antigas províncias romanas.
Enquanto isso, a ideia germânica de «Estado» despótico do Baixo-Império,
absorvido em quase todas as suas vertentes de Bizâncio, vai evoluindo para
a centralização, embora marcada por lutas constantes. O germanismo mes-
cla-se de romanidade.
Estamos em 601, a pouco mais de um século da entrada dos Muçulmanos
na Península Ibérica, a convite dos filhos de Vitiza [700-710]72. Os Visigodos
controlavam todo o território peninsular, excepto a área que corresponde
hoje ao País Basco73. Tratava-se de um grande território, com um povo em
número impossível de estimar, mas que, à data, deveria contar mais de um
milhão. A estes pedia-se uma tarefa hercúlea, a de desbravar florestas densas,
abrir clareiras, aumentar espacialmente cidades, vilas e lugares74 e ainda asse-
gurar um melhor aproveitamento hídrico, conquistando rios e ribeiras à
mata. Tudo isto exigia uma articulação difícil por parte do poder central.
Quando os Muçulmanos chegaram, encontraram um autêntico oásis,
comparado com os desertos improdutivos que haviam atravessado. Os Ber-
beres invadiram os futuros reinos de Espanha e Portugal nos inícios do
século VIII. «A Hispânia estava de novo em perigo, a partir das costas do
Norte de África. Depois dos Vândalos e dos Bizantinos, novos conquistado-
res, os Árabes, atingiram as costas da Mauritânia, incluindo Tânger, Alcácer
e Ceuta. Os confrontos marítimos multiplicaram-se e, se os Visigodos,
comandados por Teodomiro, alcançaram ainda um triunfo em 709, esta
vitória apenas pôde retardar o termo final. À morte de Vitiza – em condi-
ções, de resto, misteriosas, parte dos «grandes» da Lusitânia, da Galiza e da
72 GARCIA-MORENO, 1947.
73 HAYWOOD, 2000.
74 SCHOFIELD e VINCE, 2002.
Antecedentes de Portugal 65
5. Os Muçulmanos
fuga. Dá-se a conquista de Faro (Ossónoba) que foi entregue a Abu Al-Sab-
bah Hajj b.Yahya al Yamani, um árabe do Iémen90.
A invasão prossegue em direcção a Norte. Os exércitos de Musa dirigi-
ram as suas campanhas contra Medina Sidónia, Carmona, Alcalá de Gua-
daira, Sevilha e Mérida. O general confiou ao filho a ocupação de Málaga,
Granada e Múrcia. Na comarca de Toledo, uniram-se as suas tropas com as
de Tariq e juntos entraram no vale do Ebro. Mais tarde, dirigiram-se para as
Astúrias e Galiza, sem resistência significativa. Três anos após a vitória de
Guadalete, os Berberes dominavam a maior parte da Península e Musa e
Tariq acudiam a Damasco, para prestar contas das conquistas dos seus exér-
citos. À frente dos novos domínios do Islão ficava Abd al-Aziz, que gover-
naria a Península entre 714 e 716. A Hispânia ficava convertida num emi-
rato dependente do califado omíada de Damasco. Sob o governo de Walis,
verifica-se a islamização dos Hispano-Godos ou muladíes, perdurando uma
minoria cristã ou moçárabe, frente a uma maioria muçulmana91.
Quando correram as notícias de que a Hispânia estava conquistada e
acalmada, o inimigo convertido ou parecendo estar, e detectadas as vanta-
gens da Hispânia, teriam vindo cerca de 200 mil muçulmanos juntar-se aos
efectivos já existentes. Entre Hispano-Godos sobreviventes (que foram a
maioria) e Muçulmanos, o futuro espaço ocupado por Portugal contaria
500 a 800 mil almas, concentradas na faixa atlântica do rio Minho ao
Gharb92. Por meados do século IX, a Península era uma vasta zona de pla-
nícies verdejantes, palmeirais, hortas e pomares e de florestas, abertas por
virtude do número de habitantes que, em crescendo, vinham procurar uma
vida melhor nestas paragens do fim do Mundo.
No governo do Wali al-Hurr [716-719], a Hispânia dominada pelo
Islam começou a ser designada bilad al-Andalus, ou seja, «país do al-Anda-
lus»93. A sujeição violenta dos Omíadas aos Abássidas a Oriente ocasionou
a sua independência em 756, por obra do único príncipe sobrevivente da
dinastia aniquilada, Abd al-Rahman ibn Muawiya I. Conquistada a região
com o auxílio de uma lata clientela síria, o novo emir conseguiu impor-se
aos Árabes, Berberes e aos muladies e moçárabes que ameaçavam o Reino94,
e fortalecer a sua dinastia, cujo poder culminará com a implantação do Cali-
90 DOMINGUES, 1972.
91 GLICK, 1979; SIMONET, 1983; MATTOSO, 1987: 19-34; LAPIDUS, 1990.
92 Árabes e Europeus têm adiantado estes valores, baseados nas condições extremamente favo-
ráveis à fixação populacional (RUSSELL, 1958: 91-92; RUSSELL, 1978: 36 e ss.; DOMINGUES,
1960: 327-362; GLICK, 1979: 86; TORRES, 1992: 363-415; MARQUES, 1993: 137).
93 GUICHARD, 1976.
94 MOLINA, 1983; AL-KARDABUS, 1986; MARIN, 1998; FIERRO e SAMSÓ, 1998.
68 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
6. A Família
101 GILISSEN, 1979: 56 e ss. Ver bibliografia indicada pelo autor em nota [11].
Antecedentes de Portugal 71
gava, então, à mulher um anel aquando dos sponsalia. A compra podia efec-
tuar-se seguindo o direito costumeiro dos Francos, pagando-se um soldo e
um dinheiro, o que era apenas simbólico. A outra parte consistia na doação
que o marido prometia à mulher ou dote ex marito, cuja importância variava
segundo a condição social e a fortuna dos futuros esposos.
Para o Cristianismo, a base do casamento era o amor dos esposos e a
vontade de casarem, sem intervenção da família. Só, então, o matrimónio se
converteu numa instituição sagrada, simbolizada pela união de Cristo com
a Igreja. A partir do Baixo-império e sobretudo na época merovíngia, a
Igreja recomenda o respeito por determinadas formalidades, embora sem
qualquer tipo de obrigatoriedade, a saber: a) Os sponsalia, compromisso
solene dos futuros esposos que antecedia sempre o casamento; b) A dotatio,
que consistia num dote entregue pelo noivo à noiva; c) A traditio puella ou
entrega da noiva ao homem ou a quem o representasse. A Igreja proíbia a
bigamia e a poligamia, dando o casamento como anulado se uma ou ambas
as partes procedessem contra as regras que a instituição impunha nesta
matéria, não permitindo uma nova união matrimonial102.
Muito ficou por definir e tratar. Ficou por assegurar a evolução demo-
gráfica de tantos povos que habitaram a Península, desde tempos sobre os
quais também não existem dados em número ou qualidade suficientemente
claros. Partimos para tudo quanto dissemos da Família: do homem e da
mulher que se juntaram e tiveram filhos. A média foi de cinco almas. Daqui
para a frente, foi só fazer as contas e muitas delas batiam certo com os infor-
mes de Políbio, Estrabão, César e de quantos mais. Alguns deles dos nossos
dias ou muito pouco anteriores a nós.
Pareceu-nos interessante a possibilidade que nos foi dada de delinear
um fio condutor que partiu de culturas pós-hominídeas, localizadas em
variados pontos da Terra, passando pelos diferentes períodos da Pré-Histó-
ria para a Idade Média, na Europa, na Península e em Portugal, e termos
podido, em qualquer dos casos, apresentar as nossas observações. Entre elas,
gostaríamos de destacar as seguintes:
1.ª A natural movimentação dos povos que ocorreu, como sempre, por
motivos diversificados, o que não lhe retira o cariz de «natural movi-
mentação».
2.ª Chegados ao extremo ocidental da Europa e, na impossibilidade de
irem mais além, terem aqui permanecido e virem a organizar-se em
sociedades mais ou menos complexas.
102 Vide KALIFA, 1970: 194-225; GILISSEN, 1979: 564-572, com vasta bibliografia sobre o assunto;
GAUDEMET, 1980: 424-453, com abundante bibliografia; SILVA, 1962.
Antecedentes de Portugal 73
3.ª Não ter sido homogénea a forma de aceitação dos vindouros pelos
indígenas: a espada no interior, a pena nas zonas costeiras de Barce-
lona à Galiza.
4.ª Mais desenvolvidos do que outros, os Romanos aproveitavam para
submeter esses povos autóctones ao seu imperium, alicerçado sem
excepção em finos pilares de fraca sustentação,
5.ª Todos, mesmo os mais fortes e numerosos, foram sensíveis ao longo
dos períodos de hegemonia às culturas locais e muitos deles não
conseguiram apagar a língua, o direito, a religião. Neste campo, o
valor da família superou o do imenso inimigo.
6.ª Todos contribuíram, desde os menores aos maiores, aos quais a His-
tória foi bem mais favorável, para o aumento populacional que obri-
gava a um crescimento espacial ou vice-versa, isto é, melhores con-
dições de vida podiam dar azo a um crescente número de almas.
7.ª Os legados de todas estas gentes reflectiram-se na cultura e no quo-
tidiano das populações dos Reinos peninsulares: a língua e proximi-
dade de sons; as regras jurídicas com que ricos e pobres tinham de
confrontar-se; a religião que uniu os indivíduos dos mais variados
cantos, mesmo os mais afastados, em todo o espaço hispânico; a
autorização dos casamentos mistos e a integração de invadidos na
Administração e em lugares do exército dos invasores; a numeração
mais ou menos complexa de tanto proveito e uso.
5 CRUZ, 1968.
6 Data de período que medeia entre 1085 e 1095. Sobre esta fonte veja-se COSTA, 1959.
7 MARQUES, 1974; MARQUES, 1987; AMARAL, 1994.
8 É esta a convicção de MARQUES, 1980: 91-92.
Do século XI ao século XIV 79
liães terá sido redigida entre 1287 e 1290. Abrange todas as regiões a
Norte do Tejo e a comarca do Guadiana, no Alentejo, embora omita o
Algarve e 42 cidades e vilas fora da jurisdição régia, tais como Braga,
Porto, Pombal, Alcobaça, Tomar, Palmela e Setúbal14. A sua maior limitação
é causada pela provável inexistência de uma proporcionalidade rigorosa
entre o total de tabeliães e a população residente. Na realidade, o que o rol
nos sugere é a relação entre o número de tabeliães e o volume dos actos
notariais, ou seja, conta antes de mais como um indicador de vitalidade
económica. Apenas na medida em que o montante de tabeliães varia de
acordo com o número de habitantes e/ou o seu nível de riqueza, esta
informação pode ser utilizada para uma estimativa grosseira, como mera
ordem de grandeza15. Para além de informações sobre a distribuição da
população e áreas de desigual dinâmica económica, as listas de tabeliães
fornecem dados interessantes sobre o tecido urbano da época, em termos
de quantidade e dimensão relativa16.
Ainda na mesma linha de actuação, e com objectivos semelhantes, surge
o Rol das Igrejas, datado de 1320-1321, o qual constitui a primeira fonte
conhecida de âmbito nacional e com carácter quantitativo sobre a riqueza e
formas de distribuição das gentes portuguesas. Esta listagem aparece na
sequência da Bula Apostolicum Sedis, concedida por João XXII a Dom Dinis.
Através dela é dada ao rei de Portugal uma décima parte de todos os rendi-
mentos eclesiásticos dos Reinos de Portugal e do Algarve por três anos,
exceptuando as rendas pertencentes à Ordem de Santiago. Estes réditos
seriam utilizados na luta contra o infiel17.
O período que se estende do final do século X ao início do século XIV
é marcado na Europa por uma clara tendência de evolução positiva e inin-
terrupta do volume de habitantes, apesar das crises de subsistência que con-
tinuam a irromper com alguma regularidade18. Em termos objectivos, a
população europeia terá duplicado entre 1000 e 1340, passando de 24.7
para 55.9 milhões19. Estima-se que a população europeia tenha aumentado
lentamente (apenas 0.08% ao ano) entre 1000 e 1200, embora com desi-
gualdades regionais, acelerando-se essa dinâmica até ao último quartel do
século XIII. Os primeiros indícios de crescimento verificam-se nas regiões
próximas do Mediterrâneo, logo a partir de 920 ou 930. O Norte de Itália
23 Regiões costeiras e/ou com boas acessibilidades, situadas em regiões de solos férteis e com
boas condições climáticas.
24 BULST, 1997: 177.
25 Paris era a maior das grandes cidades, com cerca de 200 mil residentes. Seguia-se Constan-
tinopla. Veneza contava com 110 mil residentes, Milão, Génova e Florença, com 100 mil,
Londres com um pouco menos (BULST, 1997).
26 A colonização para oriente envolveu sobretudo povos alemães.
27 Refere que o espaço vital era já demasiado pequeno, conduzindo os homens à perda de valo-
res morais e mesmo à guerra entre si. Deste modo, aos verdadeiros cristãos só restava irem
fazer a guerra onde era justificável fazê-lo (BULST, 1997: 179).
Do século XI ao século XIV 83
tendo a última acabado por ser parcialmente povoada por cidadãos de Tou-
louse. Italianos, franceses, alemães e ingleses participaram na empresa da
Reconquista28.
Também a conquista de Inglaterra em 1066 provocou movimentos
populacionais de algum significado. Entraram 65 mil normandos, mas as
perdas foram enormes, não tanto como consequência da guerra, antes pela
fuga das populações. As cidades foram especialmente afectadas. As migra-
ções foram para muitos definitivas, tendo como destino a Escócia, a Irlanda
ou o País de Gales. Outros foram mais longe, para a Península Itálica, Cons-
tantinopla e mesmo Escandinávia29.
Mas o grosso das migrações medievais fazia-se em curtas distâncias,
num raio de 10 a 30 Km, com o predomínio do fluxo em direcção às cida-
des ou centros com alguma dinâmica económica. Esta tendência é compro-
vada pelo facto de cerca de um terço dos residentes urbanos apresentar
naturalidades diversas ao local de residência, com variações percentuais que
se explicam pelo seu poder de atracção. Só as grandes cidades, com mais de
10 mil habitantes originam movimentos inter-regionais, com vantagem
para as marítimas, de que Veneza e Toulouse são os melhores exemplos a
nível europeu. Estes locais são também aqueles que com maior probabili-
dade possuem comunidades estrangeiras com algum significado estatístico.
Mais difíceis de conseguir são indicadores relativos à dinâmica natural e
comportamentos colectivos. Informações sobre níveis de mortalidade só
podem ser obtidas a partir de estudos de índole arqueológica e datação de
ossadas; a natalidade e fecundidade limitam-se à estimativa do número
médio de filhos, baseadas no estudo das genealogias das famílias locais mais
importantes. Para além de uma visão incompleta, porque não são registados
os nado-mortos e os recém-nascidos, esta documentação pouco reflecte a
realidade da época, dadas as diferentes estratégias familiares dos grupos
dominantes a que já aludimos. O mesmo tipo de problemas surge ao tentar
generalizar os resultados obtidos sobre idades médias ao casamento.
No que concerne os níveis de descendência média, e já excluindo cerca
de um terço dos casamentos inférteis e os nascimentos ilegítimos, o número
médio de filhos por casal entre 1050 e 1300 oscilaria num cenário baixo
entre os 4.2 e os 5.2 na Europa ocidental e do norte, respectivamente30. Não
obstante estes valores confortáveis, a realidade era bastante adversa para as
primeiras idades e diminutas as probabilidades de sobrevivência. Estudos
28 McKAY, 1991.
29 RUSSELL, 1987.
30 FOSSIER, 1982: 235.
84 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
e pouco povoado. A norte esta tendência positiva terá sido iniciada porven-
tura no século anterior, de acordo com vários indícios documentais36.
Alguns estudos com carácter geograficamente circunscrito parecem
comprovar que os valores obtidos no final do século XIII são bastante supe-
riores aos do passado recente. Embora partam de indicadores diferentes,
parece existir alguma consonância quando à tendência positiva de cresci-
mento demográfico entre os últimos anos do século XI e o final do século
XII, desacelerado ou mesmo estabilizado entre esta última data e o final da
centúria seguinte. Possuímos o exemplo do Entre Douro e Minho, partindo
do estudo comparativo do número de casais arrolados nas inquirições de
1220 e nas de 1258. O acréscimo foi notório, embora superior nos locais
de maior densidade populacional, como no julgado de Guimarães, onde se
observa uma variação de mais de 40%37.
Outros fortes indícios de aumento do número de residentes no período
XI-XII, que terá sido mais intenso e precoce na zona norte, politicamente
mais estável, são sugeridos pela fundação de «vilas novas» e «vilas meãs»,
bem como pela emergência de novos mosteiros masculinos e femininos. A
terminar o século XII é também dado como concluído no Entre Douro e
Lima o processo de criação de paróquias rurais, cujo número só voltará ser
alterado na época moderna. A norte tudo pára no século XIII e parece que
a dinâmica demográfica se concentra no limite sul do espaço nacional,
como se pode inferir dos estudos realizados para o Baixo Mondego e a
Estremadura nesse período38. Nas terras do sul desbravaram-se matas, seca-
ram-se pântanos e novas póvoas marítimas surgiram, na sequência da polí-
tica régia de impedir o avanço das dunas em direcção às zonas de cultivo.
As migrações de gente do norte em direcção a sul explicam este desigual
comportamento.
As investidas almóadas do período 1184 a 1191 provocaram deslocações
da população cristã estacionada na Estremadura, que se refugia mais a
norte. Por seu turno, a sucessão de maus anos agrícolas que caracteriza a
última década do século XII e os vinte primeiros anos do seguinte afecta
negativamente as populações. A documentação coeva assinala esses momen-
tos conturbados e o grassar da fome e da instabilidade. Em 1188 é assina-
lado um surto epidémico que alguns afirmam tratar-se de uma primeira
manifestação de peste em Portugal, a qual terá causado «sumo estrago»39.
- Núcleo Populacional
0 50 km
- Povoamento
0 50 km
1
2
3
4
5
6
8
9
10
12
15
18
24
0 50 km
N.º de igrejas
2. Rede urbana
Número de Tabeliães nas Cidades e Vilas, por região, em finais do século XIII
3. Comportamentos demográficos
56 Degredo 25.º da Regimento da Casa Real, de 11 de Abril de 1258: «Mandamos que el Rej nem
Rico homem nem nehuum poderoso do rregno. Asi Religioso como sagral. Nom costranga
nem per força nemhuum homem nem molher que caze contra sua uoontade Mas liuremente
cazem com quem quer que queiram segundo como manda a Jgreja».
57 Os príncipes podem suceder no trono e governar sós aos 14 anos.
58 Afirma que «Custume he dessi he dereito», pelo que se um homem vive com uma mulher
e mantêm casa como sua, dos dois, por um período de sete anos, «cõtjnuadamente», sem
interrupção injustificável, tratando-se ambos por marido e mulher; se ambos fizerem com-
pras ou vendas ou emprazamentos e «sse posserem em elles nos stromentos ou chartas que
fizerem marido e mulher»; e se, na vizinhança, os conhecerem como marido e mulher...,
nem pode nenhuu deles negar o casamento e auellos hão por marido e molher ajnda que nõ
seiam cassados em face da Eygreia».
59 Com carácter verdadeiramente inovador no momento em que foi publicado, vejam-se, de
MARQUES, 1980, os capítulos dedicados à higiene e saúde, ao afecto, à crença e à morte.
Do século XI ao século XIV 99
4. Migrações e minorias
4 BERTHE, 1984.
5 Por vezes limitam-se às faixas etárias dos 20 aos 60 anos.
6 EMERY, 1967: 611-623.
A crise dos séculos XIV e XV (1325-1480) 103
res que atingem toda a Europa. Mais do que os conflitos políticos, a expli-
cação de carácter económico parece interessante, mas apenas se a cruzarmos
com a mudança climática que ocorre em finais do século XIII, precisamente
no momento em que as reservas de terra a desbravar atingem níveis míni-
mos na Europa ocidental. A crise económica penaliza com especial inten-
sidade os mais pobres, ao concentrar a posse das terras nas mãos de uns
poucos privilegiados. Apesar da recuperação conjuntural sentida nos anos
30, os volumes populacionais de início da centúria de Trezentos ainda não
haviam sido repostos quando a Peste Negra chega à Europa15.
As crises de subsistências são apontadas como causa e consequência dos
males que afectam os europeus na primeira metade do século XIV. A fome
surge com grande impacto, em resposta à adversidade das condições climá-
ticas. O Verão de 1315 foi catastrófico do ponto de vista agrícola. A escassez
provocou o aumento dos preços de produtos essenciais, nomeadamente dos
cereais, que chegam a subir 1200%. Morre-se de fome nas ruas das urbes
europeias durante o ano de 131616, mas a crise não afecta apenas os cen-
tros urbanos, onde falta lugar e tempo para enterrar os mortos. Alguns cro-
nistas mencionam a existência de doenças contagiosas, provavelmente
disenterias geradas pelo consumo de produtos alimentares impróprios e má
nutrição. A crise foi evitada no ano seguinte pelo recurso ao armazena-
mento prévio de reservas cerealíferas, desta feita coordenado pelas autori-
dades locais, a fim de evitar a especulação de preços. Novos períodos de
escassez se anunciam entre 1321 e 1323, mas a fome só em 1347 voltará a
desempenhar um papel de destaque nas cidades da Europa.
A cronologia das crises é semelhante em meio rural e está patente no
aumento expressivo do número médio anual de óbitos ao longo da primeira
metade do século XIV. Aldeias inteiras foram abandonadas. No segundo
semestre de 1347 a peste grassava com violência num território que se
estendia da Crimeia até ao Norte de África, com assento principal nos portos
de Cafa, Constantinopla, Licia, Jafa e Alexandria, todos com acesso directo ao
Mediterrâneo. A entrada da peste na Europa fez-se por duas vias diferentes.
Uma de menor impacto e menos conhecida partiu da Crimeia e por um
caminho longo chegará à região da futura Alemanha central. Dirigiu-se
depois para o Mar Báltico e para o Mar do Norte, atingindo as cidades han-
seáticas. A segunda foi trazida por via marítima e o seu itinerário foi o das
rotas comerciais mais frequentadas17. Desemboca em Messina em Setembro
de 1347, a bordo de doze galeras genovesas. Atinge de seguida Génova, na
sua dupla versão bubónica e pulmonar. Propaga-se em Itália e em França. Em
meados de Abril de 1348 despovoa as Ilhas Baleares e no mês seguinte a sua
presença é declarada em Barcelona, logo se expandindo pela Catalunha. São
muitas as vítimas em Saragoça,Valência, Granada e outras cidades dos reinos
de Espanha18. Em finais de Setembro de 1348 surge em Lisboa19, no fim do
ano em Londres. Durante os meses seguintes dissemina-se em diferentes
reinos e afecta os Países Baixos, a Dinamarca e a Noruega. O norte da Alema-
nha é atingido em 1350 e as costas do Báltico dois anos mais tarde, em
1352. No ano seguinte é assinalada na Polónia e na Rússia20.
A peste surge na Europa após seiscentos anos de ausência, pelo que aí
encontrou uma população totalmente indefesa. Ao todo, o número de óbitos
terá ascendido a 20 milhões, num espaço de três anos. Praticamente um
terço do mundo cristão foi aniquilado. O impacto demográfico desta peste
está avaliado a nível nacional apenas para Inglaterra. As séries de óbitos apon-
tam para níveis de mortalidade da ordem dos 350 a 400‰ entre os mem-
bros do clero.Valores menos seguros permitem estimar entre 300 e 450‰ a
mortalidade da população campesina e em Londres oscilariam entre 250 e
300‰, reduzindo em um terço a população da cidade. Níveis de mortali-
dade semelhantes são estimados em algumas vilas dos Países Baixos e na
parte norte da Alemanha. Em Bremen, as cerca de 8 mil vítimas correspon-
dem a mais de metade da população; em Lubeck 25% dos proprietários de
casas e 42% dos responsáveis locais morrem de peste; em Hamburgo, 76%.
Valores idênticos se registam um pouco por toda a Europa21.
A segunda metade de Trezentos é sombria. Após 1350 várias incursões
de peste voltam a deflagrar na Europa, embora circunscritas em termos geo-
gráficos e com menor intensidade. Este facto é parcialmente explicado pelo
carácter endémico que a doença revestiu e também pela relativa imunidade
adquirida pelos sobreviventes. Existe uma correlação negativa entre cada
surto e o anterior, já que os vulneráveis morriam logo na primeira vaga, o
que atenuava a intensidade da seguinte. Foi o que aconteceu em Inglaterra,
por ocasião da peste de 1361-1362, o mesmo sucedendo em 1369. Ao
invés, nos Países Baixos, onde a peste de 1348 não foi muito mortal, as crises
seguintes apresentaram efeitos muito negativos. Por todo o espaço europeu
novas crises de mortalidade por peste são assinaladas em 1361-1362, 1369,
137522, 1379-1383, 1400-1401, 1420, 1433-1434, 1438-1439, 1457-
-1458, 1481-1485, 1490-149223. O seu aparecimento regular terá anulado
as pequenas vitórias do homem sobre a morte em cada um dos momentos
de crescimento demográfico pós-peste. As grandes epidemias na Europa
datam de 1360-1362, 1369 e 1375. As duas últimas reduziram em treze
pontos percentuais o número de habitantes. A primeira, mais virulenta,
diminuiu em 23% o número de europeus24. Entre a parte continental e as
Ilhas Britânicas, as diferenças cronológicas são significativas.
De facto, em termos gerais, as perdas humanas causadas pelo impacto
demográfico da grande epidemia de 1348 foram repostas mais rapidamente
do que seria esperado. O mecanismo auto regulador das populações fun-
cionou, na medida em que os sobreviventes eram fisicamente mais resis-
tentes, a propriedade fundiária mudou de mãos e as necessidades alimen-
tares diminuíram no horizonte imediato. A doença penalizou menos os
grupos em idade activa (20 a 40 anos), o que também facilitou a recupe-
ração económica e populacional. No entanto, apesar dos sucessos alcança-
dos ao nível da reposição dos efectivos perdidos, a Europa possuía na tran-
sição do século XIV para o XV um número de habitantes provavelmente
ainda inferior ao do passado próximo. Em apenas um século e meio passa-
mos de uma densidade de 35 a 40 habitantes por quilómetro quadrado,
para uma de 20 a 25 habitantes por quilómetro quadrado.
Os sinais dessa regressão no caso específico da Europa do norte são detec-
táveis nos arrolamentos do número de explorações agrícolas familiares, que
na Noruega regridem 60% entre 1300 e 1520. Nessa parte da Europa, o
abandono das terras afectadas pela peste e/ou pelo agravamento das situação
climática25 está na ordem do dia. O mesmo sucede na Islândia, na Dinamarca
e na Alemanha, onde esta questão foi objecto de estudo26. Noutras zonas,
como Inglaterra ou Países Baixos, o fenómeno foi bastante mais ténue, cir-
cunscrito a pequenos locais ou às terras situadas fora dos limites funcionais
da aldeia. O abandono foi mais frequente nos lugares com níveis reduzidos
de densidade populacional. As percas urbanas foram por vezes notórias e a
rapidez de reposição populacional dependeu da sua capacidade atractiva. O
total de residentes urbanos na Europa central diminuiu entre 15 e 37%27,
mas as cidades do Barbante e da Holanda continuaram a aumentar na pri-
meira metade do século XV, porque as perdas humanas eram compensadas
pelo contínuo de chegadas, provenientes dos campos limítrofes.
Em termos de análise demográfica, não devemos empolar demasiado o
impacto das pestes medievais. A mortalidade extraordinária terá causado
menos vítimas que as devidas aos elevados níveis da mortalidade quoti-
diana. De facto, o efeito espectacular da concentração da morte num período
temporal curto explica o papel da peste no imaginário colectivo, embora
muitas mortes fossem apenas antecipadas, na medida em que as vítimas
preferenciais da epidemia eram os mais débeis, com probabilidades de
sobrevivência curtas, mesmo num contexto de normalidade.
Poucos estudos rigorosos conseguiram conhecer as probabilidades de
morte em épocas tão recuadas. No entanto, alguns deles, nomeadamente
para Inglaterra28, defendem que a esperança média de vida terá aumentado
durante o século XIV apesar das pestes, porque os níveis de mortalidade
geral desceram de modo sustentado. Porém existem resultados bastante
menos optimistas, nomeadamente sobre a região leste da Flandres entre
1395 e 1431, baseada na reconstituição de várias centenas de famílias pro-
prietárias de terra29. Os níveis globais de mortalidade rondavam nesse
período os 38,4‰ para este grupo, e aproximavam-se dos 55‰ nos res-
tantes indivíduos, a que correspondem, respectivamente, 26 e 18 anos de
esperança média de vida à nascença. Uma hipótese de explicação para estes
maus resultados assenta nos elevados níveis de concentração populacional,
que terá funcionado como factor de risco de morte por contágio.
A repartição percentual dos indivíduos por estado matrimonial fornece
outro indicador sobre os comportamentos colectivos, desta feita sobre nup-
cialidade em várias cidades flamengas e inglesas30. As percentagens respei-
tantes aos casados variam entre os 33 e os 45 pontos percentuais e as suas
oscilações anuais espelham os efeitos das epidemias na alteração das estru-
turas etárias e na «recuperação» de celibatários e viúvos, visível também na
31 Valores registados em cidades e zonas rurais da Flandres, com diferentes perfis de actividade eco-
nómica principal (agrícola, têxtil, comercial). (cit. por BLOCKMANS e DUBOIS, 1997: 198).
110 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
32 Vejam-se os testamentos e doações, cujo número tende a aumentar durante a Baixa Idade
Média. Um estudo sobre o tema foi efectuado por PILAR, 1995.
A crise dos séculos XIV e XV (1325-1480) 111
33 VEIGA, 2004: 30
34 MARQUES, 1980; GONÇALVES, 1964a; GONÇALVES, 1964b.
35 Nomeadamente de 1335 para Trás-os-Montes; 1339 para o Porto; 1343 para parte do
Minho; 1373, cobrindo parcialmente o Alentejo; e 1395 e 1496 para a Beira Interior. Uma
referência também para os censuais de Braga, datados de a.1396-1380, 1369-1380 e 1493
(MARQUES, 1987: 16).
36 1417-1422 (MARQUES, 1982: 158).
37 Vide Mapa, p. 89.
112 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
mais que estas perdas, foi a destruição dos meios de produção e a desorgani-
zação dos ciclos produtivos em diferentes partes do território que constituem
os factores chave para a recuperação demográfica. Esta só será possível numa
fase de progressiva estabilidade59.
Sempre que anos de escassez alimentar coincidiam com épocas de con-
flito militar e/ou também com a eclosão de uma ou várias doenças infec-
ciosas ou parasitárias, estavam reunidas as condições ideais para a ocor-
rência de uma crise global, com impactos demográficos negativos. A con-
jugação de factores adversos é recorrente na segunda metade do século XIV
e grande parte do seguinte e explica na sua quase totalidade a lentidão que
rege os ritmos de aumento populacional durante o período. Não dispomos
de informações quantitativas sobre as consequências desta crise, mas vários
indícios confirmam a falta de gente. Este aspecto foi referido em 1433 pelo
Conde de Arraiolos, ao discordar da tomada do reino marroquino de Fez,
alegando as dificuldades subsequentes à necessidade de aí manter alguns
súbditos, já de si tão escassos no Reino60. Alegação idêntica foi usada pelo
infante Dom Pedro três anos mais tarde, quando se decidia a política de
expansão no Norte de África e se colocava a hipótese de conquistar Tânger
e outras praças: «povoarde-las, com Reino tão despovoado e tão minguado
de gente como é este vosso, é impossível»61. Outras provas podem ser
indirectamente recolhidas na documentação coeva, quando se afirma o
quanto «a vila é muito minguada de gentes e despovoada», que «as gentes
não são tantas como soíam a ser nos tempos antigos», e que «durante a
pestelença morreram muitos homens», ou que a aldeia «foi povoada e ora
é despovoada»62.
A tarefa complica-se porque desconhecemos o total de habitantes pro-
váveis nos anos anteriores às grandes epidemias do século XIV. Caso em Por-
tugal tenham ocorrido os mesmos ciclos de crescimento positivo e negativo
registados na maioria dos países da Europa ocidental e central, é possível
defender que, na véspera da chegada da peste, o número máximo de súb-
ditos seria inferior a um milhão. Na impossibilidade de quantificar as ten-
dências de evolução das gentes nacionais neste período, podemos, ainda
assim, concluir que o final do século XIV e toda a primeira metade do
seguinte foram pautados pela estagnação, se não mesmo ligeira descida, do
número de portugueses. O levantamento comparado dos valores popula-
63 MARQUES faz uma síntese destas questões em Portugal na crise dos séculos XIV e XV, Editorial Pre-
sença, Lisboa, 1986: 23-24.
64 Tanto mais que o número de besteiros sobe em certas regiões, como sucede em Braga e em
Abrantes (MARQUES e DIAS, 1994: 171-196).
65 A paisagem alentejana foi uma das mais alteradas, uma vez que a reconversão no uso dos
solos atingir sobretudo os de menor índice de fertilidade.
66 Reportam-se aos seguintes momentos: 1387-1400, 1403, 1412-1414, 1418, 1422-1427,
1436-1441, 1445-1446, 1452-1455, 1459-1461, 1567-1468, 1472-1473, 1475-1478,
1484-1488, 1490-1491, 1494-1496 (MARQUES, 1978: 41, 257-281).
118 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
67 Vejam-se os casos referenciados por MARQUES, 1986: 29. E ainda a cartografia possível sobre
esses locais (MARQUES e DIAS, 2003: 84).
68 MARQUES, 1989: I, 225-233; e COELHO, 1983: I, 69 e ss.
69 MARQUES e DIAS, 1994: 175.
70 SOUSA, 2002: 29.
71 MARQUES, 1982: 286.
120 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
72 MARQUES, 1986:16.
73 SOUSA, 2002: 34. Vejam-se as notas introduzidas a este propósito na p. 87.
74 Cap. n.º 32. SOUSA, 2002: 43.
75 MARQUES, 1986:16-19.
76 Mapas a páginas 89, 90,119.
A crise dos séculos XIV e XV (1325-1480) 121
1
2-4
5-9
10 - 14
15 - 19
20 - 24
25 - 42
50 - 80
100
300
N.º de Besteiros
0 50 km
77 RIBEIRO, 1987.
122 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
2. Rede urbana
80 A cartografia desses percursos pode ser analisada em MARQUES e DIAS, 1994: 104-107.
81 Conclusão retirada de um estudo exploratório, baseado na análise dos apelidos geográficos
dos residentes em Lisboa (MARQUES, 1986: 181).
82 MARQUES, 1986: 182.
124 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
3. Comportamentos colectivos
83 Valor adiantado por MARQUES (1981: 41) baseando-se no coeficiente de 384 habitan-
tes/hectares, proposto por Leopoldo Torres-Balbàs para as cidades muçulmanas da Península
Ibérica. Assim, com 102 hectares, Lisboa rondaria os 35 a 36 milhares de habitantes.
84 MARQUES, 1986: 187.
A crise dos séculos XIV e XV (1325-1480) 125
permitir análises de tipo demográfico com algum rigor. Assim, há que con-
tentarmo-nos com a recolha de pequenos indícios, pontuais e indirectos.
A mortalidade será de todas as variáveis micro demográficas a mais refe-
renciada na documentação, embora as informações disponíveis pouco nos
permitam avançar em termos de análise demográfica. Continua a ser impos-
sível estabelecer os níveis da mortalidade extraordinária, e ainda menores
são os indícios sobre a mortalidade quotidiana. Um ensaio interessante, rea-
lizado por Armindo de Sousa, baseou-se na estimativa do número médio de
anos de vida dos membros da família real portuguesa entre 1300 e 150085.
O historiador conclui que a maioria dos homens faleceu antes de comple-
tar os 50 anos, ainda assim um valor superior em seis anos ao das mulhe-
res (respectivamente 49.5 e 44.3 anos). No caso feminino verifica-se uma
concentração das mortes aos 30 anos, a que não será estranho o aumento
do risco de morte por partos sucessivos. Estes resultados parecem plausíveis
no contexto da época. Mas, para além das flutuações introduzidas pelo
reduzido universo considerado, também devemos ter em atenção que se
referem ao grupo que reunia as melhores condições de vida e que está
longe de representar a realidade do homem comum, o qual teria certa-
mente esperanças de vida inferiores.
Com efeito, a reduzida duração da vida está patente em diversos teste-
munhos, nomeadamente literários e notariais. A partir do século XIII cresce
a preocupação do homem em redigir as suas disposições face aos bens ter-
85 Ensaio feito a partir das idades de nascimento e óbito mencionadas no Dicionário de História de
Portugal, dirigido por Joel Serrão (SOUSA, 2002: 58-59). O investigador ter-se-á muito pro-
vavelmente inspirado no exercício realizado por MARQUES, 1980: 216.
126 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
o matrimónio ainda não tivesse sido desfeito pela morte de algum dos
cônjuges. Curiosamente, a idade média das mães ao primeiro filho vivo
(desconhecemos a eventual ocorrência de gravidez ou aborto) não se altera
entre os dois períodos, embora apenas disponhamos de oito referências
sobre esta matéria.
96 PIZARRO, 1997.
132 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
4. As migrações
104 A hierarquia foi feita a partir das tributações a que foi sujeita cada mouraria, o que é falível
do ponto de vista das estimativas de população.
105 FERRO, 1979; FERRO, 1982.
A crise dos séculos XIV e XV (1325-1480) 135
- Comunas de Judeus
0 50 km - Comunas de Mouros
1. O volume
1 VIDAL, 2001.
2 VEIGA, 2004: 28-35.
3 SOUSA, 1995b:18-19.
140 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
8 Possuímos listagens de navios apresados, com a sua rota e respectiva carga, o total de embar-
cações das armadas da Índia, respectiva tonelagem e carregamento, número de tripulantes e
artilharia.
9 Veja-se MAGALHÃES, 1985: 15-56.
10 Veja-se, a título de exemplo, FARIA, 2003: 18-19, 29; e CRUZ, 2000: 167-201.
A quantificação das almas 143
por seus nomes e quantos moradores ha em cada hua delas e asi quantos vivem fora dela em quin-
tas casaes e erdades»17. Apesar do empenhamento e determinação postos nesta
empresa, o processo realizou-se em datas variáveis segundo regiões e nem
sempre com o mesmo critério18. Esse facto reflecte de forma exemplar a
complexidade de relações existentes entre as várias esferas de poder, sobre-
tudo no que toca aos entraves erguidos à directiva régia por parte dos gran-
des senhores, laicos e eclesiásticos. Mas este tipo de limitações não invali-
dam nem diminuem o valor desta primeira contagem, que representa um
salto qualitativo em termos demográficos, administrativos e políticos. Refe-
rência obrigatória para quem pretenda conhecer a população portuguesa
nesse período, mantém-se até início de Oitocentos como o mais completo
cômputo populacional. Depois dele, voltamos às informações circunscritas
em termos geográficos, como as que chegaram até nós referentes a Leiria,
Santarém e comarca do Porto (1537) e Estremoz (1538)19.
Totais nacionais apenas podem ser estimados com base nos arrolamen-
tos de gente de guerra, de que existem duas listagens, a primeira datada de
1580, a segunda de final dos anos 30 de Seiscentos, provavelmente de
163920. O facto de cada uma delas ter sido realizada por um mesmo inqui-
ridor aumenta a segurança quanto à sua comparabilidade interna, mas sem
garantia quanto à uniformidade de critérios utilizados nas várias localida-
des. Aliás, o grande problema na contabilização das gentes nesta época
decorre da impossibilidade de controlar os critérios de recolha de dados e
sobretudo o seu significado intrínseco. Nas fontes quinhentistas são utiliza-
dos conceitos de morador, vizinho e fogo sem que conheçamos exacta-
mente o seu significado e, por maioria de razões, a sua equivalência quan-
titativa. É impossível saber se existiu por parte dos agentes uniformidade de
critérios. Muito se tem falado sobre o coeficiente mais correcto para esti-
mar populações a partir de totais de fogos ou vizinhos. Para Alves Dias, este
coeficiente deverá situar-se entre 4 e 5 habitantes em média, resultado a que
chega após várias análises a documentação coeva21. No século XVII utili-
zam-se para além destes conceitos, os de almas, pessoas de comunhão,
menores de confissão, menores de comunhão22, nestes últimos casos cor-
respondendo de forma mais directa a limites etários, o que permite uma
percepção e estimativa populacional de maior rigor. Alguns autores defen-
cômputo da população a utilização desta fonte não está isenta de riscos, pois
além dos próprios erros de contagem, existem os por omissão. Outro con-
dicionalismo prende-se com a inexistência de uma terminologia uniforme
para designar os indivíduos que pertenciam a uma paróquia, nomeada-
mente a grande variedade de opções quando se trata de contabilizar os
menores (incluídos, totalmente omitidos, passando por casos intermédios
de inclusão de menores de confissão e comunhão, maiores de confissão...).
Entre 1758 e 1798 dispomos dos dados do Portugal Sacro-Profano56, cuja
autoria também se tem discutido57; de um levantamento da população feito
por Manuel José Perinlongue, datado de 176558; e para 1768 e 1776 pode-
mos utilizar J. J. Soares de Barros e a sua «Memória sobre as cauzas da differente popu-
lação de Portugal em diversos tempos da Monarquia»59.
A partir de 1771 passam a ser remetidas à Intendência Geral da Polícia
listas do total de baptismos, casamentos e óbitos das diferentes circunscri-
ções, à semelhança do que acontecia em França desde o ano anterior. Conhe-
cem-se os valores gerais, publicados na Gazeta de Lisboa.Todo o processo estava
centralizado na Intendência Geral e conduzido do ponto de vista teórico pela
Academia Real das Ciências. Um novo passo é dado em 1781, quando Pina
Manique dá instruções aos provedores para que sejam feitos mapas estatísti-
cos dos actos ocorridos nas comarcas. Ordens reiteradas em meados de
Junho do ano seguinte. Pedia-se o envio de uma relação com as almas exis-
tentes em cada comarca, distinguindo os sexos e incluindo os totais de nas-
cimentos e óbitos, que deveriam ser pedidos aos párocos. A 1 de Julho de
1782 a directiva inclui os casamentos realizados. Pretendia-se assegurar a
recolha anual do movimento de toda a população, a ser remetida à Inten-
dência no segundo mês de cada ano. Tratava-se de um projecto ambicioso,
que envolvia uma rede de entidades civis e religiosas, embora estas só parti-
2. O movimento
cos que estiveram na sua génese, eles reflectem igualmente uma compo-
nente específica, ligada aos que a redigiram e que, como perfeitos conhe-
cedores da comunidade que dirigem espiritualmente, melhor que ninguém
podem acrescentar pormenores valiosos para o conhecimento social e eco-
nómico da sua paróquia. A qualidade dos assentos, o zelo com que os res-
ponsáveis paroquiais cumprem as normas superiores, a inclusão (ou não)
de informações suplementares depende dos redactores. O que exige uma
crítica permanente e cuidada por parte do investigador actual.
O contexto que deu origem à instituição dos registos paroquiais é rela-
tivamente bem conhecido73. Tradicionalmente remetem-se as suas origens
para o Concílio de Trento: pretende-se que passe a ser obrigatório o registo
de baptismo e de casamento, no sentido de evitar «as constantes alegações
de ignorância em matéria de parentesco consanguíneo ou espiritual»74.
Mas esta determinação mais não fazia do que oficializar uma prática que já
existia em bispados de alguns países, entre os quais o nosso. Em 1614, o
papa Paulo V estabeleceu no «Ritual Romano» a obrigatoriedade de registo
de óbito, bem como as normas que deveriam presidir à redacção dos assen-
tos anteriormente estabelecidos75.
Em Portugal são conhecidos livros paroquiais anteriores ao Concílio Tri-
dentino, sendo geralmente atribuídas ao Cardeal Infante D. Afonso, Arce-
bispo de Lisboa e filho do rei D. Manuel I, as primeiras medidas acerca desta
prática, embora já quinze anos antes o Bispo de Coimbra, D. Jorge de
Almeida, tenha legislado a este propósito76. No Sínodo de 1536 foram
aprovadas as Constituições Diocesanas de Lisboa e no Título I da Constitui-
ção VII pede-se aos responsáveis paroquiais que assentem num livro baptis-
mos e enterros. Neste último caso são apenas considerados os maiores de
confissão com testamento77. Podemos encontrar outros exemplos de regis-
tos anteriores ao Concílio de Trento, como um livro de registo de baptiza-
dos da freguesia de Santiago de Coimbra que começa em 1510 e também
no concelho de Armamar (1521). No distrito de Castelo Branco, mais con-
cretamente na freguesia de Santa Maria do Castelo, da então vila de Castelo
também a que está na posse de algumas outras entidades, públicas e privadas (MARIZ, 1993;
MARIZ, 1994).
73 Cf., entre outros FELIX, 1959: 89-94; ALCOCHETE, 1981: 258-260; FARIA, 1932 e 1972:
480-489.
74 NAZARETH, 1988: 181
75 NAZARETH, 1988: 181; ALCOCHETE, 1981.
76 Sobre a problemática da cronologia dos registos paroquiais e legislação diocesana que os
regulamenta ver o contributo de COSTA, 1974: 5-49; FERREIRA, 1988: 56-64; FERREIRA,
1990-93: 893-910.
77 AZEVEDO, 1536.
A quantificação das almas 153
81 Nos locais de maior importância era mais controlada a sua qualidade, sendo redigidos por
indivíduos com maior instrução e preservados em melhores condições. Em muitas partes os
livros foram destruídos ou mesmo vendidos a peso, como sucedeu no bispado da Guarda
(RODRIGUES, 1988: 35-51).
82 Referimo-nos à omissão dos actos que envolviam religiosos, militares, hospitalizados, via-
jantes.
83 BLAYO, 1975:133.
84 MOREDA, 1980: 161, 454-455.
A quantificação das almas 155
85 Baptizados em casa por necessidade de tal modo que, muitas vezes, nem se lhes chegava a
ser atribuído nome, referindo apenas o assento a morte de «hüa criança».
86 Constituições Sinodais do Bispado da Guarda, Lisboa, 1759, Liv. I, Tit. V, Cap. II, p. 24.
87 Sobre esta questão ver MOREIRA, 1992: 19-21.
88 Esta especificação dependia do pároco, pois a sua inclusão nos assentos não consta como
item no formulário ordenado pelas Constituições Sinodais, também os visitadores frequente-
mente não referem este aspecto nas anotações que deixam.
89 São bastante completos para o Algarve (MAGALHÃES, 1988), mas pouco para Lisboa ou Fun-
chal (RODRIGUES, 1988: 51-56).
156 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
90 OLIVEIRA, 1938.
91 OLIVEIRA, 1804.
92 Foram estudados por Joaquim Veríssimo Serrão e publicados em 1975, a partir de um
manuscrito encontrado na Biblioteca Nacional de Paris (SERRÃO, 1975: 214-303).
93 RODRIGUES, 1985: 80-81. Na nota 6 é feita uma retrospectiva sobre os autores que se têm
debruçado sobre a utilização deste tipo de fonte, liderados por ROWLAND e AMORIM, na
linha de Peter Laslett.
94 RODRIGUES e REIS, 1989: 291-308.
95 No Patriarcado de Lisboa devem existir cópias resumo desses róis para todo o país, pelo
menos a partir da segunda metade do século XVI.
A quantificação das almas 157
96 Embora existam outras áreas de privilegiadas a esse respeito, designadamente a dos estudos
económicos (VEIGA, 2004: 28-35).
6
As vicissitudes do povoamento
nos séculos XVI e XVII
3 Segundo estimativas mínimas de MAC EVEDY, 1978; e máximas de BIRABEN, 1979: 13-25.
4 Vejam-se as sínteses relativas às Ilhas Britânicas, Países Escandinavos, Holanda, França, Penín-
sula Ibérica, Itália, Alemanha, Europa Central, Rússia, Polónia e Balcãs, in BARDET e
DUPÂQUIER, Vol. I, 1997.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 161
5 Segundo estimativas mínimas de MAC EVEDY, 1978; e máximas de BIRABEN, 1979: 13-25.
6 Para a história da população espanhola veja-se NADAL, 1988.
162 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
9 A percentagem de 75% é apontada com base na análise das naturalidades dos nubentes regis-
tadas nos assentos de casamento realizados nas aldeias da Europa (BARDET e DUPÂQUIER,
Vol.I, 1997: 269-274).
164 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
19 Com base na reconstituição de casais formados entre 1680 e 1740 em 14 aldeias e uma
pequena cidade da Normandia (BARDET, 1997: 321-327).
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 167
0 25 km
26 Este último incidia sobre uma parte não negligenciável da população adulta (entre 7 e 10%),
à qual, por integração no corpo eclesiástico ou outro, era vedado o direito de casar (logo de
ter filhos, uma vez que os nascimentos ilegítimos representavam uma percentagem mínima).
27 SANTOS, 2005:356-358.
28 DIAS, 1998: 13.
29 MARQUES, 1987: 291-307.
30 DIAS, 1987: 50-51.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 171
500
500
450
450
400
400
350
350
300
300
250
250
200
200
150
150
100
100
50
50
00
1538
1540
1542
1544
1546
1548
1550
1552
1554
1556
1558
1560
1562
1564
1566
1568
1570
1572
1574
1576
1578
1580
1582
1584
1586
1588
1590
1592
1594
1596
1598
1600
Baptizados Óbitos
Obitos Casamentos
507 núcleos, numa área quase três vezes inferior à parte sul, com apenas
127 unidades, embora algumas de dimensão superior à média na metade
norte33. Nesta última predominavam formas de povoamento disperso, for-
mado por casais e núcleos populacionais, onde sobressaíam algumas vilas e
cidades de pequena dimensão, se exceptuarmos o Porto, segunda maior
cidade do Reino, apesar de três vezes menor que Lisboa. Na Beira existia,
como referimos, um nítido contraste entre a faixa fronteiriça, com núcleos
relativamente populosos, idênticos em dimensão aos encontrados em Trás-
-os-Montes e no Entre Tejo e Odiana, e uma zona onde avultavam os peque-
nos povoados, entre a margem sul do rio Douro e a cordilheira central. Este
último tipo de ocupação estendia-se até à Estremadura, seguindo o curso
dos rios Vouga e Mondego. A estrada que ligava as duas maiores cidades
portuguesas e o vale do Tejo era de grande concentração populacional, que
contrastava com o vazio da faixa litoral. Com efeito, entre as terras de Aveiro
e de Alcobaça, só a vila de Buarcos se destacava, tal como acontecia mais a
sul com Sesimbra e Setúbal34.
As razões que explicam as especificidades locais não reflectem dife-
renças nos níveis da natalidade ou mortalidade, que permaneceram está-
veis e elevados nestas centúrias. A viragem do século XVI para o XVII
parece ter sido relativamente benigna em termos de crises demográficas.
A fome, a peste e a guerra estavam bem presentes na memória dos por-
tugueses, mas não assumiram nesta fase uma importância capital numa
perspectiva de média ou longa duração35. No ano de 1580 foram consi-
derados aptos para o serviço militar 180 mil homens, excluindo fidalgos
e cavaleiros36. Décadas depois, em meados de Seiscentos, foram arrolados
200 mil indivíduos com idades compreendidas entre os 20 e os 60 anos
de idade, o que parece indiciar um aumento de população. Um decreto
coevo refere dois milhões, mas qualquer destes valores se reduz a meras
ordens de grandeza, podendo apenas concluir-se que, apesar das epide-
mias, catástrofes naturais, guerras e migrações, a população não terá
decrescido, sustentada por níveis de fecundidade que garantiam a vanta-
gem da vida sobre a morte. Dada a dificuldade em fazer corresponder ao
total de fogos contabilizados, já de si com margens de erro variáveis, um
com a peste grande de 1569 uma fase menos favorável. A população, que
durante cerca de cem anos havia crescido a um ritmo contínuo, embora
acelerado a partir do primeiro quartel da centúria, sofre vários reveses,
globalmente traduzidos pela ocorrência de violentas crises de morta-
lidade41, embora muitas geograficamente circunscritas42. A crise intensi-
fica-se na transição do século XVI para o seguinte, inaugurando um ciclo
económico depressivo entre 1610 e 1623. Os anos 30 terão sido de ligeira
recuperação, a qual poderá explicar a variação positiva que inferimos das
estimativas de meados do século XVII. Em 1640 a população seria igual à
encontrada em 1527-1532, após uma fase instável na parte final de Qui-
nhentos e primeiras décadas do seguinte. Em 1620 estima-se existirem 475
mil fogos, valor que terá descido para 466 mil em 1640. Os valores de
população adiantados por diversos autores oscilam entre 1,3 e 2 milhões,
dependendo do coeficiente usado sobre o número de habitantes por fogo43.
Todas as divergências residem, pois, na impossibilidade de afirmar em
segurança qual a correspondência entre fogo, vizinho, morador e ocupan-
tes. Nas 19 cidades arroladas em 1640 existiriam uns 105 mil indivíduos;
nas 175 vilas e lugares uns 82,5 mil; em zonas rurais talvez 750 mil44. Para
final do século XVII apontam-se 593628 fogos, valor considerado a justo
título demasiado elevado e corrigido para 535 mil45. A segunda parte de
Seiscentos será marcada por factores que se conjugam para reduzir a dinâ-
mica demográfica: instabilidade política, alterações climáticas e maus anos
agrícolas, importação de doenças contagiosas e mortíferas, embora com
contrastes regionais46. Terá sido um período de crescimento muito mode-
rado47 ou mesmo nulo48. Ao terminar o século, a recuperação económica
europeia influenciou positivamente as exportações nacionais, enquanto o
ouro brasileiro permitia pagar as crescentes despesas externas. A população
recuperou nas últimas décadas49. Na transição para o século XVIII Portugal
Fonte: RODRIGUES, 1988: 68; SERRÃO, 1993: 49-69; DIAS, 1997:15; PINTO et alii, 2001: 395.
HIPÓTESE 1 HIPÓTESE 2
Períodos Tendências Períodos Tendências
1480-1620 Crescimento 1480-1527 Recuperação
1527-1580 Crescimento (0,8%)
1580-1620 Desaceleração
1620-1640 Diminuição 1620-1640 Recessão (-1,89%) ou estagnação
1640-1665 Estagnação 1640-1660 Crescimento quase nulo
1665-1700 Crescimento 1660-1700 0,43%
Fonte: MAGALHÃES, 1987: 23-28; SERRÃO, 1993: 51.
2. Crises de conjuntura
53 SOARES, 1953.
54 MOREDA, 1980.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 179
55 «E de maneira moria a gente que estando falanho huns com outros cahião muitos mortos e
dos que se deitauão achavão pela manhã grande parte delles mortos...».
56 Em Lisboa, a probabilidade de ocorrer mais de um falecimento na mesma casa e no mesmo
dia ascendeu a 20% (RODRIGUES, 1988: 35-51).
180 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Crato. Com as tropas inglesas vem a madorra, epidemia que poderá ser pestí-
fera e que mata nos primeiros meses de 1589, embora prontamente debe-
lada. O ano de 1596 é o primeiro dum total de quatro maus anos agrícolas
que irão originar perturbações no regular abastecimento do Reino, jun-
tando-se aos desastres causados pela guerra e pela doença. Nos inícios do
Verão faltam cereais. A importação de pão da Alemanha, de França e de Ara-
gão não evita que a fome «continue a oprimir o povo» nos inícios de 1597. As
cheias que assolam o Ribatejo e outras regiões agrícolas destroem as colhei-
tas do novo ano, pelo que a fome alastra. Em Fevereiro de 1598 ao espec-
tro da fome junta-se de novo o da guerra. Os ingleses cercam a barra de Lis-
boa, isolando-a a apresando navios. À semelhança do que acontecera em 75,
populações famintas afluem à capital, em busca de assistência e sobretudo
alimentos. Com eles vem «tanta cantidade de ratinhos que forão causa de com eles se
engendrar muitas doenças muito graves com mortes de muitos que cada dia sepultavão». A estas
vítimas somam-se em Julho as do tremor de terra que assola a cidade. Nos
meses subsequentes, as autoridades limitam-se a prover ao resguardo e cura
dos pobres. Teme-se que a falta de meios assistenciais provoque o deflagrar
de nova epidemia.
Na realidade, o país será devastado por diversos surtos de cólera, varíola
e sífilis. O «mal de que Deus nos livre», a peste, chega a Lisboa em 1598, numa
urca proveniente da Galiza. Há que integrar este surto pestífero num con-
texto internacional atlântico, que engloba toda a Península, bem como
alguns dos principais portos europeus. Porventura mais virulenta em Cas-
tela, a peste foi sentida com ligeiros desfasamentos em todo o Atlântico
Norte, de Hamburgo a Dunquerque, à Bretanha, Normandia, Londres, em
toda a faixa costeira peninsular, sobretudo portuguesa e andaluza59. Ter-se-
-á «apegado em Lisboa de maneira que foi necessario começarem se a fazer todos os remédios...
espargindo se o mal por todo o Reino de maneira que não ficou cidade vila nem lugar donde não
desse o mal da peste e juntamente com isso haver fome... morrendo tantos de fome como de
peste». Aos residentes em Lisboa, primeira a ser atacada, são dadas instruções
verbais sobre as medidas preventivas a respeitar. Quem pode abandona
então a capital. Apesar disso, o mal agrava-se, em parte devido a problemas
de escassez e aos indigentes que vagueiam pelas ruas. Em Janeiro de 1599
isola-se um bairro para os recolher e propõe-se o seu transporte para o
Brasil. Porém, na Primavera «o crescimento e continuação em que vai o mal de Lisboa»
arruina os cofres camarários e a Câmara declara-se insolvente. Inicialmente
bubónica, a peste torna-se mais violenta, sendo acompanhada por outras
afecções pulmonares próprias do frio. Só dez meses passados se comemora
o fim da peste em Lisboa, com uma procissão até São Domingos60. Mas «não
durou muito o gosto desta saúde. Logo no mês de Outubro seguinte começaram a picar rebates:
segundaram pelo termo com mortes arrebatadas; sinais de verdadeira peste». A partir de Abril
o mal agrava-se, mas «como a gente estivesse trabalhada e cansada de tanta saida já se não
queria ninguém sair della antes os que estavam fora se vinham». Após ligeira melhoria no
Verão, a peste mata em Outubro, desaparece depois, mas regressa no início
de 1602. É sentida nos concelhos em redor de Lisboa61, mas todo o Reino
é afectado. No final de 1599, Coimbra perdera cerca de um quinto da popu-
lação arrolada em 1567 e a crise prolonga-se até 160262. O mesmo sucede
em Guimarães, onde mais de metade dos agregados são atingidos63. Povoa-
ções tão distantes quanto a Cardanha em Trás-os-Montes64 e Cuba e Oli-
vença no Alentejo65 são lesadas.Tal como a região de Évora, onde a viragem
do século é de crise geral grave66. Na realidade as curvas de baptismos já
estavam a decrescer desde 1582. A taxa de crescimento anual médio, que
fora de 0,61% entre 1527 e 1589, reduz-se entre esse ano e 1593 a uns
0,42%. No início de Seiscentos a peste chega ao Algarve, onde permanece
activa até 1605. Registam-se mortes em Lagoa, Faro, Portimão e Alvor, alia-
das a anos de más colheitas e fome67. Desta forma, com maior ou menor
violência, a doença terá dominado o espectro da população durante seis
anos consecutivos. Apesar disso, ela terá causado menores estragos que em
1569, embora o número de vítimas fosse superior ao de 1579-1580. A
experiência terá contribuído para a tomada pronta de medidas, que mode-
raram a intensidade da peste sentida em Portugal, quando comparada com
outras regiões, nomeadamente Castela. Latente por vários anos, influenciou
o crescimento populacional, sobretudo das cidades do Sul (Lisboa e
Algarve) e constitui mais um exemplo da dependência humana face às con-
dições ambientais.
No século XVII a peste cede lugar a outras doenças epidémicas, como o
tifo e a difteria. Este fenómeno, comum a toda a Europa, trará mutações sig-
nificativas na dinâmica demográfica, agravada por más conjunturas. O fim
da longa peste de 1598-1603 dá início a uma fase relativamente tranquila.
Só na Primavera de 1609 surgem episódios de fome, causada por proble-
– População
0 50 km
– População
0 50 km
Vicente Serrão efectua uma estimativa para os centros urbanos por pro-
víncias em finais de Seiscentos, considerando apenas aqueles que ultrapas-
sam mil fogos. Se adoptarmos o mesmo critério de agregação para os dados
do numeramento de 1527-1532 concluímos que os séculos XVI e XVII
foram de crescimento urbano generalizado, mesmo nas regiões mais rura-
lizadas, como Trás-os-Montes e Beira. A população a residir em cidades
ganha importância no contexto nacional e representa em final de Seiscen-
tos 18,1% contra 12,8% nas primeiras décadas do século XVI (35822
fogos). Nesta primeira data só Lisboa e Porto possuem mais de 2500 fogos,
número que quintuplica até 1700, reflectindo o aumento significativo da
população a residir em cidades de maior dimensão. A terminar Seiscentos
Portugal possui percentagens de população urbana que serão mantidas até
ao século XIX104.
104 Porque a bipolarização de Lisboa e Porto, que caracterizará Setecentos, fará com que o ritmo
médio de crescimento urbano seja inferior ao rural (SERRÃO, 1993: 61-62).
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 193
108 Como testemunha no século XVI Duarte Nunes de Leão, a propósito «dos moços perdidos e
patifes que a Lisboa, como a mata grande, vêm parar de todo o Reino» (LEÃO, 1610).
109 Os párocos asseguravam o seu enterro cristão, depois de efectuadas diligências para verificar
a identidade do falecido. Caso não conseguissem, no registo de óbito descreve-se a fisiono-
mia e traços mais relevantes do indivíduo (falta de membros, feridas, corcundas, barbas, cal-
vície e outras), bem como a roupa que vestia (Cfr. RODRIGUES, 1987: 44-51, dedicada à
qualidade dos livros de registo paroquial nesse período).
110 Vinte vezes mais cara que em Londres e quarenta vezes mais que em Paris Os preços subiam
ainda mais nas épocas de seca, especulação que só parcialmente as autoridades conseguiam
debelar mediante a publicação de tabelas com preços que nunca eram respeitadas. Aos gale-
gos cabia por tradição esse transporte (CHANTAL, s./d.: 250-251).
111 CHANTAL, s./d.: 308.
112 CHANTAL, s./d.: 243.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 195
População Fogos
Total Cidade Termo Total Cidade Termo
1528 70000 18048 14014 4034
1535 65581* 17034 13010 4024
1551 114969 112830 2139 18030
1590 120000 120000
1620 143608 128725 14883 29534 26813 2721
1642 111552* 28200 20600
1700 140136 118609** 11527* 29668
1755 191052 168192 22860 35308 31521 3787
Fonte: SILVA, 1972; RODRIGUES, 1988: 79 e 86. *População menor de 7 anos estimada; **Valor estimado
a partir dos dados apresentados. Corrigido com estimativa de menores de 7 anos e com totais
referenciados para 1620 no caso das freguesias omitidas.
4. Fecundidade e Família
119 A relação entre o número de nascimentos (baptismos) anuais por cada mil residentes.
120 Os níveis de natalidade na Europa moderna nunca desceram abaixo de 31‰, com os Esta-
dos do Sul a ascenderem a 33‰, apenas suplantados a leste, onde padrões de casamento pre-
coce fomentavam índices de natalidade mais elevados. Cf. Capítulo 1.RIBEIRO, 1995: 252.
121 Veja-se, a título de exemplo, SOLE, 2001: 184; FAUSTINO, 1998: 150; NEVES, 2001: 114-
-117. Para Évora SANTOS, 2006:349-378.
122 NAZARETH, 1988: 125.
123 O número de filhos que as gerações femininas teriam caso vivesse em unidade conjugal dos
20 aos 49 anos.
198 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
I. Cas. Obs. DT IM
- 20 31 8,16 38,2
20-24 68 7,59 41,0
25-29 51 5,28 41,0
30-34 31 4,21 40,9
35-39 18 2,58 42,5
Fonte: SOLE, 2001: 162.
130 Ou seja, ocorrida até 1 semana após o nascimento, que se pode imputar a complicações pós-
-parto.
131 LEBRUN, 1983: 139.
132 Designadamente por beberragens ou outras formas de intervenção directa de certos enten-
didos LEBRUN, 1983: 141 e ss.
133 RODRIGUES, 1989: 302.
202 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
menor dimensão. O filho natural não tinha qualquer direito sobre o patri-
mónio familiar, salvo em caso de legitimação subsequente. O número de
crianças ilegítimas era reduzido, de 2 a 5% do total, e tendencialmente con-
finado a extractos mais desfavorecidos, embora alguns o considerem superior
à média europeia134. Conhecemos a tipologia das progenitoras: a) criadas de
servir e moças pobres trabalhadoras no campo; b) noivas comprometidas ou
namoradas abandonadas (a maioria das quais acaba por casar); c) mulheres
casadas, viúvas ou que mantêm relações com homens casados ou padres; d)
escravas135. Algumas eram estranhas à paróquia onde ocorria o nascimento,
embora de terras próximas136. Os dados sobre paternidade permitem con-
cluir tratar-se de progenitores de estatuto social idêntico e/ou escassos recur-
sos. A ilegitimidade aumenta nos finais do século XVII, embora continuem
esporádicos os casos de mais de um ilegítimo por mulher, porque a maioria
acaba por casar137.Torna-se mais frequente o estado civil de casada ou viúva,
o que explica o aumento da idade média das mães de filhos ilegítimos138.
Avultam, no entanto, os filhos de escravos, grupo que durante muito tempo
permaneceu à margem da celebração do matrimónio, e de escravas com
homens livres, quase sempre criados da casa onde ambos residiam. Poucos
eram os filhos de pais solteiros. Este panorama só parcialmente se vê repro-
duzido nos centros urbanos, onde a teia de relações vigente permitia outras
formas de relacionamento. As cidades surgem como locais ideais para situa-
ções reputadas irregulares (concubinato, uniões de facto, mães sós). O
mesmo sucede nos espaços insulares. Na Madeira o abandono de crianças era
esporádico, mas não a ilegitimidade, que chegou a representar nos anos 70
do século XVI mais de 17% do total de baptizados139. Estes valores regrediram
à medida que diminuem os escravos e que as autoridades eclesiásticas conse-
guem debelar alguma licenciosidade nos costumes, herdada da fase de povoa-
mento.Também aí grande parte destas crianças tinha mães escravas ou recém
libertadas. Dos pais pouco é dado a conhecer, embora por vezes o pároco
escreva a sua suspeita, ou constate o facto dos progenitores viverem juntos140.
Década Guimarães Guimarães Guimarães Rega- Alvito Cam- Bou- Rebor- Poiares Carda- Madeira
(cidade) (mista) (mista) lados beses gado dão nha
1530/50 13,2
1560 15,3 3 16,3
1570 3,1 5,5 12,5
1580 5 3,9 3,4 6,6
1590 12 3,2 0,8 3,7
1600 13,6 12,8 7,5 20,1 14 12,7 2,6 0,9
1610 9,3 10,7 5,1 10 13 1,4 1,3 1,7
1620 17,6 10,6 24,4 20 29,4 1,5 1,9 4,8
1630 19,9 13,2 25,4 7 20,6 2,9 1,1 1,5
1640 18,2 12,2 21,4 6 12,5 1,6 1,1
1650 15,5 9,4 17,6 11,6 13 15,2 2,1 1,7 1,7 5,1
1660 18,8 16,2 14,7 12 14,1 10,1 0,6 5,2 0
1670 12,8 16,4 11,5 3 14,8 8 0,4 2,6 1,1
1680 11,2 12,5 14,6 4 8,2 3,4 1,1 5,2 14
1690 10,7 7,2 11 5 10,5 6,6 6,4 7,6 8,9
Fonte: SOLE, 2001: 175
149 Numa freguesia de Lisboa encontraram-se no século XVI cerca de 30% de nomes novos, o
que denota uma mudança de gosto que, no entanto, pode ter atingido primeiro as camadas
urbanas (ALVES, 1983: 119-144).
150 Assim, Domingos baptiza uma filha à qual dá o nome de Domingas, o mesmo acontecendo
no caso das combinações Francisco-Francisca, António-Antónia, Filipe-Filipa e outros.
151 Brás e Vicente, nascidos no Algarve em 1542, eram filhos de Maria Brás e Maria Vicente, tal
como o pai de Estêvão era João Esteves e a mãe de Filipe era Catarina Filipe.
152 Esta mudança foi acompanhada por vários tratados científicos sobre a educação da criança,
a dieta alimentar mais saudável, os malefícios do enfaixamento.
206 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Homens Mulheres
Solteiros Viúvos Solteiras Viúvas
Calvão (1670-1729) 172 (86%) 28 (14%) 198 (99%) 2 (1%)
Meadela (1650-1699) 106 (81%) 25 (19%) 127 (97%) 4 (3%)0
Ericeira (1670-1719) 328 (86%) 55 (14%) 362 (95%) 21 (6%)
Fonte: FAUSTINO, 1998: 105, SOLE, 2001: 121; REIS, 2003: 32.
Homens Mulheres
Minho Guimarães Urbano (1590-1769) 25,1 24,6
Guimarães Rural (1590-1769) 26,5 26,7
Meadela (Viana) (1600-1649) 26,2 28,9
Meadela (Viana) (1650-1699) 28,8 27,5
Trás-os-Montes Rebordãos (1610-1700) 24,3 22,4
Cardanha (1601-1700) 29,3 26,9
Poiares (1650-1700) 26,8 25,4
Estremadura Ericeira (1670-1719) 28,4 26,0
Algarve Moncarapacho (1545) 27,3 21,1
Fonte: ROWLAND, 1989: 90-91; AMORIM, 1987: 104, REIS, 2003: 26.
trar novo par explicam a percentagem de viúvas que, mesmo novas e sobre-
tudo se possuem filhos, nunca voltavam a casar. Mesmo porque até os viúvos
preferem mulheres solteiras167.
A análise das disposições testamentárias constitui um campo privilegiado
para a percepção dos mecanismos de transmissão do património e organiza-
ção da vida conjugal. À preocupação com a alma juntava-se o cuidado com os
familiares e amigos. Mas o que verdadeiramente importava, a casa, o gado e o
campo, era deixado aos familiares próximos, ao cônjuge ou ao filho primo-
génito. Na sua falta, ao genro. A salvaguarda do dote para as filhas solteiras era
outra das prioridades testamentárias, reflectindo a importância dada ao matri-
mónio no ciclo de vida. As uniões cessavam em épocas de crise e no campo
nos períodos de maior actividade168. Ao invés, crescia a sua intensidade nos
meses que antecediam ou sucediam a períodos de interdição religiosa, como
a Páscoa e o Advento. Escolhiam-se de preferência os meses de Abril, Maio e
Novembro. Este último aliava o facto de anteceder um período interdito, com
o de ser uma época de parca labuta agrícola. Nos centros urbanos a sazonali-
dade era apenas condicionada pelos entraves religiosos e, portanto, menos rit-
mada. No século XVI as cerimónias realizavam-se sobretudo ao domingo e à
2.ª e 5.ª feira, embora pudesse ser localmente influenciado pela realização de
mercados e feiras em determinados dias da semana ou do mês.
Profundamente hierárquica, a família do passado assentava na desigualdade
entre os membros, sustentava-a e reproduzia-a. Esta imagem está retratada na
forma como os párocos preenchem os róis de desobriga pascal. Primeiro o
nome do homem, cabeça de casal, depois a mulher, os filhos, primeiro os do
sexo masculino, por ordem decrescente de idade. Seguem-se os familiares do
chefe de família, depois os da mulher, os parentes afastados (afilhados, primos),
outros residentes, criados de casa e de fora, por importância de funções. Por
último, os escravos e escravas. A dimensão e complexidade dos agregados esta-
vam directamente relacionadas com a actividade económica e o rendimento.
Investigações no âmbito da história da família têm vindo a destruir a teoria sobre
o predomínio de uma família complexa alargada. De facto, sempre que foi pos-
sível reconstruir a estrutura da família portuguesa do passado verificámos que
os núcleos familiares simples (casais com ou sem filhos e homens ou mulheres
viúvas ou solteiras com filhos) representam 40 a 50% do total. Seguem-se os
núcleos com uma base idêntica, mas alargada pela presença de outros parentes,
serviçais ou aprendizes, que correspondem a outros 30%. Nos demais agrega-
dos encontram-se os isolados, então como hoje maioritariamente femininos, ou
167 Resultados consensuais para todo o Minho e Trás-os-Montes (NEVES, 2001: 124 e ss.).
168 SOLE, 2001: 92 e ss.; FAUSTINO, 1998: 228.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 211
169 É possível estabelecer uma relação positiva entre fogos de menores dimensões e menores
níveis de rendimento. Compreendem indivíduos idosos, famílias de trabalhadores não espe-
cializados, etc.
170 IAN/TT, Registos Paroquiais, Faro – Concelho Olhão, Moncarapacho (Freguesia da Graça),
Mistos 1, fls.94 e ss.
171 Na realidade apenas um fogo atinge os 10 elementos, mas faltam dados sobre os menores de sete
anos. Partindo do princípio de que a presença de crianças seria inevitável na esmagadora maio-
ria destes agregados e que neste período o seu peso percentual se situaria em 18%, embora diver-
gisse consoante o tipo de agregado aplicamos um coeficiente aos diferentes tipos de agregado.
172 MOLS, 1955: II, 121.
212 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
173 Apontava para quatro habitantes por fogo em Trás os Montes, Alta Estremadura, Alentejo e
Algarve; para cinco em Lisboa,Vale do Tejo até Santarém e Entre Douro e Minho; para seis no
Porto e regiões próximas (DIAS, 1996: 59).
174 Criados, aprendizes, moços de recados (RODRIGUES, 1990: 50-53).
175 CASTELO BRANCO, 1990: 153.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 213
1630 1680
N.º % N.º %
Isolados 27 21,8 22 22,4
Agregado não conjugal 6 4,9 25 25,8
Agregado familiar simples 67 54,0 39 40,3
Agregado familiar alargado 13 10,4 2 2,1
Agregado familiar múltiplo 1 0,8 0 0,0
Estrutura indeterminada 10 8,0 9 9,3
124 100,0 97 100,0
Fonte: RODRIGUES, 1985:88.
188 Que podiam ou não ser um casal, como acontecia com mãe e filho, pai e filha ou dois irmãos.
189 LEMOS, 1991.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 217
tado contra o mal serpentino, redigido por Ruy Diaz d’Ysla quando teve a seu
cargo a enfermaria de doenças contagiosas do Hospital Real de Todos-os-
-Santos193. A sífilis era na época uma doença que facilmente se espalhava,
por via das prostitutas que acompanhavam as deslocações dos exércitos e
os marinheiros. A malária foi outra enfermidade que em Portugal, como
em todo o Sul da Europa, assumiu grande importância, sendo diversa-
mente descrita e sujeita a múltiplas denominações, designadamente febre
terçã e maligna. Era um mal próprio de zonas pantanosas194 ou muito irri-
gadas, como os vales do Mondego e do Sado195. Ignora-se a incidência das
doenças cardíacas, cancro ou diabetes, sabendo-se porém que existiam. É
possível que muitas delas tivessem efeitos gravosos, se atendermos ao
regime dietético, nomeadamente ao teor de hidratos de carbono, de gor-
duras ou de sal. As doenças infecciosas eram, pela falta de antibióticos que
só aparecerão nos anos 40 do século XX, a principal causa de morbilidade
e mortalidade.
Os livros de óbito só esporadicamente mencionam a causa de morte,
mas alguns párocos mais meticulosos decidiram incluir esse dado, o que
permite assinalar os grandes grupos de doenças mortíferas, onde a tísica, a
maligna, as apoplexias e as febres indiscriminadas ocupam lugares cimei-
ros. Outras causas comuns eram as febres tifóides, as moléstias de peito e as
inflamações agudas de órgãos. Os mais idosos (com 50 ou mais anos) eram
vítimas de hidropisia, apoplexia, cancro, gangrena e inflamações. Nas crian-
ças contavam-se como factores de maior letalidade as febres, o sarampo, as
complicações na fase da dentição e as lombrigas, seguindo-se todo um con-
junto de doenças maioritariamente contagiosas: escarlatina, também
conhecida por febre vermelha, tosse convulsa, desinterias e diarreias. No
princípio e no fim da vida as doenças mortais encontravam-se muito liga-
das a complicações nos aparelhos nervoso e respiratório.
Ao terminar Quatrocentos estavam firmadas as bases da assistência
pública, em moldes que irão vigorar durante a Idade Moderna. No entanto,
continuaram a existir outras instituições de prestação de cuidados de saúde
de origem medieval, que persistiram para além de Setecentos, como as
gafarias e os hospícios. Por iniciativa de Dom João II e Dona Leonor foram
193 Nela reconhece a transmissão da doença por via sexual e descreve as formas clínicas que
podia assumir. Este médico fá-lo com tal exactidão e espírito analítico que pode ombrear
com Duarte Pacheco Pereira, em relação ao cuidado com que foram observados e descritos
os fenómenos.
194 Daí a etimologia da palavra significando «mau ar».
195 De onde a malária, ou paludismo termo pelo qual também era conhecida, só será definiti-
vamente erradicada em meados do século XX.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 219
196 Como no caso do Hospital do Espírito Santo em Évora, do Hospital de Jesus Cristo em San-
tarém, bem como aos do Porto e Coimbra.
197 Dos registos conservados até hoje consta o movimento de pacientes entre Novembro de
1616 e Novembro de 1617. Durante esse ano deram entrada no Hospital 3026 doentes,
2151 tiveram alta e 620 faleceram, ficando a população hospitalar limitada a 255.
198 Como as de ensinar os simples, aconselhar os necessitados e rogar a Deus pelos vivos e pelos
mortos. Inclui visitas aos presos, alimentar e vestir os pobres, cuidar dos doentes. Os confra-
des das Misericórdias obrigavam-se a assistir os enfermos no seu domicílio, fornecendo-lhes
medicamentos necessários a título gratuito.
220 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Nos séculos XVI e XVII os níveis da mortalidade dita normal eram ele-
vados, de 30 a 40‰. A esperança média de vida à nascença era baixa, osci-
lando entre os 25 e os 38 anos, com uma ligeira vantagem feminina. Mas
estes valores escondem uma enorme variedade de situações e relembram a
questão da desigualdade face à morte, sempre presente. Inúmeros condi-
cionantes podiam interferir e alterar pontualmente estes níveis. As diferen-
ças de vida no campo e na cidade, a maior actividade laboral da mulher em
certas zonas, diferentes percentagens de jovens, adultos ou idosos, conjun-
turas politicamente instáveis.
O homem contribuía para a manutenção dos altos níveis da variável de
acordo com a sua idade e sexo. A mortalidade infantil era muito elevada,
ceifando cerca de um terço dos nascidos antes de completarem um ano de
vida. Uma vez ultrapassada a fase crítica dos primeiros meses, os níveis
mantinham-se altos pelo que apenas metade das crianças completava sete
anos. Depois a probabilidade de morte diminuía, atingindo valores míni-
mos entre as idades 10 e 15. No sexo feminino a mortalidade subia nas
idades adultas jovens, devido às complicações durante a gravidez e parto.
Na eventual existência de conflitos bélicos eram os homens nas idades
correspondentes as principais vítimas. De qualquer modo, os elementos
masculinos evidenciavam a partir dos 40 anos uma sobremortalidade
constante, aumentando a partir dessa idade as diferenças de género. A pro-
babilidade de morte subia exponencialmente para todos após os 50202.
Com efeito, a morte quotidiana era regida por vários factores, onde se des-
tacam os de carácter endógeno e exógeno, com ritmos sazonais específi-
cos. As desigualdades face à morte existiam sobretudo nas idades adultas,
uma vez que não foram alterados os níveis da mortalidade nos grupos
mais jovens e idosos. A condição socioeconómica e o local de residência
proporcionavam distintas probabilidades de sobrevivência. Nas cidades
morria-se mais e mais cedo, mas era aí maior a diversidade de situações.
Nos bairros com condições sanitárias e de salubridade superior residiam
os grupos abastados, com melhor resistência física, devida a uma dieta
mais rica. Essas zonas dispunham de condições para isolar e tratar even-
tuais doentes contagiosos. Os seus habitantes tinham maiores probabilida-
des de escapar à doença, porque dispunham de meios e locais de residên-
cia alternativa203. No mundo rural as diferenças sociais eram mais imper-
ceptíveis e maior a dependência do homem face às alterações climatéricas,
204 Morria-se na sequência das grandes variações térmicas a que estavam sujeitos os trabalhado-
res rurais, ou mesmo por causas directamente ligadas às condições dos campos, como no
caso do cultivo do arroz no vale de Santarém.
205 Um aspecto que contribuía para reduzir as flutuações sazonais decorria das características
estruturais da população. Nas cidades era menor o peso dos jovens e idosos, já que a imi-
gração privilegiava gente em idade activa, que não raro retornava às terras de origem aos 40
ou 50 anos. Dessa forma se diluíam as oscilações estivais e invernais, por que eram grandes
responsáveis as camadas mais jovens e idosas.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 223
350
300
Cid_1600/50
Cid_1600/50
Cid_1650/99
Cid_1650/99
250
Ter_1600/50
Ter_1600/50
200
Ter_1650/99
Ter_1650/99
150
100
50
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Guimarães:Guimarães:
Sazonalidade da Morte
Sazonalidade da Morte
(1630-1709)
(1630 - 1709)
400
350
300
250
Gui-mista
Gui-mista
200 Gui-rural
Gui-Rural
Gui-cidade
Gui-cidade
150
100
50
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Zonas Rurais:Zonas
Sazonalidade da Morte
Rurais: Sazonalidade da Morte
Séculos XVI-XVII
Séculos XVI - XVIII
600
500
400
Alenquer
Alenquer
Meadela
Meadela
300
Rebordãos
Rebordãos
200
Cardanha
Cardanha
100
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
cular e súbito das crises que atingem a população a partir do século XVII
põe fim às cenas de pânico e fuga dos atingidos, frequentes em épocas
anteriores, porque se esbate a percepção dos fenómenos. Este século assi-
nala também o distanciamento entre o grosso da população e os mais abas-
tados. A selectividade da morte quotidiana estende-se à extraordinária, a
qual só em aparência era niveladora.
O aumento de volume das gentes portuguesas foi refreado por crises de
mortalidade, tendo como principais responsáveis os surtos epidémicos ou
pestíferos, aliados a épocas de fome e carestia alimentar. Outros fenóme-
nos esporádicos desempenharam também papel importante, como os aci-
dentes naturais, conflitos bélicos e desastres da política expansionista. Mas
só as crises de tipo misto, aquelas em que maus anos agrícolas ou dificul-
dades de abastecimento de produtos básicos se aliavam a surtos de origem
epidémica, imprimiram verdadeiras quebras nos efectivos demográficos.
As pestes quinhentistas, importadas por via dos tratos comerciais e das
relações diplomáticas activadas entre os Estados da Europa moderna cons-
tituem casos de excepção pelas origens e virulência devastadora. A abertura
do espaço nacional nos séculos XVI e XVII favoreceu a circulação de agen-
tes portadores de doenças, especialmente perigosos nos centros de maior
densidade. Lisboa desempenhou o papel de pólo de recepção e irradiação
dos surtos.
Com cronologias, causas e impactos distintos, as «crises de mortali-
dade» apresentaram características semelhantes no território nacional, mas
que diferiram ao longo dos séculos210. O primeiro factor de uniformidade
remete-nos para as suas causas próximas. Independentemente das épocas e
dos locais, as grandes crises surgem aliadas a conjunturas adversas, em termos
políticos e sobretudo económicos. O perfil epidémico constitui outro traço
comum, embora afecte com probabilidades diversas os grupos sociais.
A questão da diferencialidade da morte será, aliás, um aspecto inovador que
iremos encontrar, após uma leitura transversal da variável. A segurança das
conclusões aumenta com a qualidade e quantidade de informação docu-
mental. Até meados de Quinhentos há que recorrer a fontes literárias para
identificar algumas das causas próximas e respectivo impacto211. Assim,
embora só tenhamos referências pontuais de Damião de Góis e Frei Luís de
Sousa sobre o impacto dos surtos epidémicos de inícios de Quinhentos, é
210 A este facto há ainda que lembrar que nem todo o território está estudado e muito menos
obedece a idênticas opções de carácter metodológico, o que dificulta as comparações.
Importa, assim, efectuar uma leitura que privilegie a perspectiva temporal, em detrimento
da geográfica, apesar das diferenças entre campos, vilas e cidades.
211 Destacar aqui o trabalho de síntese de BARBOSA, 2001: 11-17.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 227
1658-59 Crise ec. e pol. Tifo, f.tifóide 3m+3m Verão 58 e 59 Adult., idosos
218 Embora não possamos esquecer que lidamos com volumes de informação e número de
séries variáveis (três concelhos no século XVI e cinco no século XVII). Foram contabilizados
todos os momentos de sobremortalidade detectados em todas as freguesias e não apenas os
que foram considerados de crise geral.
230 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Século XVI
Intensidade Alenquer Sintra Lisboa
Grau 1 43.8 31.8 42.6
Grau 2 43.8 18.2 35.2
Grau 3 6.2 22.7 11.1
Grau 4 6.2 27.3 7.4
Grau 5 0 0 1.9
Grau 6 0 0 1.9
TOTAL 16 22 54
Século XVII
Intensidade Alenquer Oeiras Cascais Sintra Lisboa
Grau 1 34.5 37.1 38.6 39.5 50.8
Grau 2 43.1 41.9 36.4 38.8 29.5
Grau 3 22.4 21.0 25.0 21.7 16.8
Grau 4 0 0 0 0 2.1
Grau 5 0 0 0 0 0.5
Grau 6 0 0 0 0 0.3
TOTAL 58 62 44 152 376
Fonte: RODRIGUES, 2008
219 Na segunda metade de Seiscentos cumpre assinalar o número significativo de crises que
extravasam os limites impostos pelo ano civil, algumas estendo-se por três a quatro anos,
embora a duração média se fixe entre 1,5 e 2.
220 Em todos os casos são as características particulares das causas de morte extraordinária por
peste que explicam o facto. O número total de anos sem crise nos diferentes subperíodos
considerados na nossa análise foi o seguinte: 1.ª metade do século XVII = 20 (40%); 2.ª
metade do século XVII = 13 (26%).
221 Respectivamente MOREDA, 1980; DEL PANTA, 1980. Estes autores consideram anos de crise
geral apenas aqueles em que pelo menos 25 por cento das áreas em análise registem um
aumento excessivo de óbitos, independentemente do grau de intensidade dessas subidas. A
aplicação desse critério resulta na informação que apresentamos no Anexo já referido, o qual
faz uma triagem dos vários momentos de mortalidade extraordinária geral no nosso país,
registando a sua duração provável e respectiva intensidade, por concelhos. Na segunda
coluna é indicado para cada ano o grau de incidência das crises locais relativamente ao
número de localidades em observação.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 231
6. Mobilidade geográfica
223 Dada a dificuldade em definir o significado do conceito e as suas vertentes. A falta de infor-
mação que sobre cada uma delas possuímos dificulta-o também. Há que recorrer a infor-
mações sobre naturalidade: listagens de embarque, contratos de casamento e procurações,
contratos de assalariados, registos hospitalares, registos de casamento e óbito, processos
inquisitórios (locais, rotas de migração, tempos no ciclo de vida e estadias médias).
224 MAGALHÃES, 1993: 17.
225 OLIVEIRA, 1995: 261.
234 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
nível interno facilitada por uma língua e moeda únicas. Não podemos
também esquecer que até final de Seiscentos, os movimentos migratórios se
inscrevem numa política do poder central, com vista a assegurar o domínio
do Império geograficamente disperso226.
tiram mais homens que mulheres, apesar do carácter familiar que o fenó-
meno teimava em adquirir, sobretudo em períodos de expansão económica.
Os grupos de idade extremos nas cidades mais dinâmicas apareciam esba-
tidos pelo peso da população em idade activa superior a 14 anos. Nas
aldeias muda o quotidiano e as mulheres assumem um papel mais activo,
até porque muitos desses migrantes nunca retornam236.
Outro grupo que cresce substancialmente nestes séculos é o das comu-
nidades estrangeiras radicadas em Portugal, sendo mais uma vez as cidades,
sobretudo Lisboa, o seu destino preferencial. Europeus, africanos e asiáticos.
Com efeito, desde cedo os estrangeiros europeus, provenientes dos reinos
de França e de Inglaterra, da Flandres e das cidades alemãs e italianas,
desempenharam em termos socioeconómicos e políticos papéis essenciais
e de destaque na sociedade portuguesa237, tendendo a confluir para Lisboa,
onde as oportunidades de negócio e a proximidade do poder melhor ser-
viam os seus interesses. Durante o século XVI alarga-se o quadro social das
comunidades estrangeiras, constituídas por embaixadores, agentes régios,
mercadores e membros do clero. Por outro lado, certas actividades exigiam,
pelo menos de início, mão-de-obra especializada inexistente em Portugal
(caso da tipografia, ourivesaria ou relojoaria). O Renascimento atrai docen-
tes para colégios e universidade. Mas foi sobretudo o comércio ultramarino
que influiu na vinda de estrangeiros, muitos dos quais ligados à banca e aos
grandes tratos mercantis. A Coroa encarou com agrado a sua entrada, pelo
que as colónias estrangeiras tiveram a sua inserção facilitada por uma série
de privilégios. A proveniência dessa gente pouco se alterara desde a Idade
Média. Os mais numerosos eram os italianos, seguidos dos alemães, fla-
mengos e ingleses. Fixaram-se em Lisboa, no Porto, em Setúbal, mais tarde
também em Caminha,Vila do Conde e Aveiro, cidades marítimas ligadas ao
trato com o Império. Encontramos noutras zonas mais interiores, embora
em número reduzido, franceses e galegos.
Em termos reais, a expansão constituiu um esforço desmesurado para os
recursos humanos do Reino, só parcialmente colmatado pela utilização de
uma abundante e barata mão-de-obra escrava que chega à metrópole e aos
restantes espaços a colonizar. Embora disseminados por todo o Reino, estes
últimos terão chegado a representar em Lisboa e no Algarve 10% dos resi-
dentes238. À medida que crescia o Império e aumentava o esforço de colo-
236 Homens mais maduros, mulheres, crianças, velhos (POUSSOU, 1997: 274-278).
237 Haverá que aguardar por séculos mais recentes para assistir às primeiras vindas de imigran-
tes estrangeiros de fracos recursos, de que o exemplo mais evidente foi o dos galegos.
238 SERRÃO, 1982: 86; GODINHO, 1980: 76.
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 237
torna ineficaz esse controle, de que dão conta sucessiva legislação promul-
gada sobre a matéria258.
Origens Total %
Madeira (outras freg.) 277 59,8
Porto Santo 1 0,2
Viana do Castelo 39 8,4
Braga 51 11,0
Porto 9 1,9
Lisboa 7 1,5
Outras regiões 12 4,3
N. Id (Continente) 28 6,0
Açores 22 4,8
Canárias 14 3,0
Estrangeiro 3 0,6
TOTAL 463 100,0
Fonte: PINTO e RODRIGUES, 1993: 447-8.
Origens Total %
Norte do Tejo Cascais 7,4
Peniche 10,0
Buarcos 2,1
Pederneira 2,5
Aveiro 2,8
Porto e termo 29,4
Esposende 1,8
Viana do Castelo 7,0
Caminha 1,0
Outros 1,5
Sul do Tejo Almada 5,7
Sesimbra 4,5
Setúbal 13,7
Portimão 2,8
Alvor 1,4
Lagos 4,0
Outros 2,1
Fonte: PINTO e RODRIGUES, 1993: 447-8.
260 Quando se levantava qualquer arruaça, em vez do habitual «ai que del-rei», os locais usavam
gritar «ai que de Viana»!
As vicissitudes do povoamento nos séculos XVI e XVII 245
ritz, mas o local preferido foi Bordéus. A julgar pelas cartas de Henrique II
esta colónia não cessará de crescer após 1550, em número e importância
económica. Muitos cristãos novos se acolheram na Flandres após 1540,
sobretudo mercadores e oficiais mecânicos, beneficiando do contacto com
a feitoria de Antuérpia. Em 1549 existiriam na cidade 20 mercadores lusos,
mas em 1570 são já 80 as famílias residentes, além de 18 homens solteiros.
A revolta dos Países Baixos levou a que muitos procurassem outras cidades,
formando núcleos portugueses na zona do Reno. Em Colónia viviam em
1591 57 famílias, além de outros 20 mercadores. No entanto, a maioria
radica-se na Holanda, sobretudo em Amesterdão, outros preferem o Báltico,
designadamente Hamburgo, mas também Lübeck e Dantzig. Comunidades
de origem lusa formam-se em Itália. Nápoles, Veneza e Ferrara acolhem
desde Dom Manuel famílias inteiras, algumas das quais seguem mais tarde
para Oriente. Encontramos nomes portugueses em Salónica, Constantinopla
e mesmo na Síria261. No início do século XVII, o recrudescer da actividade
inquisitorial reacende o fluxo emigratório, com substancial impacto eco-
nómico. Os cristãos novos, gente de negócio e cabedais, começa a deixar o
Reino, em direcção à Europa e Castela. Queixam-se as câmaras principais do
País, sobretudo a de Lisboa. No seu Ecco Polytico, D. Francisco Manuel de Melo
refere que de certas freguesias da capital haviam saído mais de 2 mil vizi-
nhos, todos abastados. Muitos preferem Sevilha e Madrid, a partir de onde
reorganizam os seus tratos com outros Estados, «como antiguamente o cos-
tumavam fazer no reino de Portugal»262. Tal facto recoloca a questão das
causas da emigração portuguesa. De facto, para uma camada intelectual e
cristã-nova podemos falar de razões político-religiosas. Nos casos de traba-
lhadores especializados sugere-se a falta de emprego em território nacio-
nal263. Com efeito, uma das consequências da perca de independência con-
sistiu na saída de homens de negócios naturais e estrangeiros, desejosos de
controlar parte do comércio com a América. Por outro lado, a criação de
condições favoráveis para a mão-de-obra especializada, em parte como con-
sequência da crise demográfica sentida em Espanha264, fez com que muitos
artesãos deixassem Portugal. Nos primeiros anos do século XVII vários
milhares de pessoas atravessam a fronteira, enquanto outros trocam a
Europa por Lima ou Buenos Aires. Além das actividades comerciais, que
incentivavam formas específicas de emigração por vezes temporária, há que
261 AZEVEDO,
262 A.H.N., Estado, Liv.742, fl.114, cit. por OLIVEIRA, 1991: 54-55.
263 FARIA, 2003.
264 NADAL, 1980: 124
246 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
O Século XVIII
3 Veja-se ROWLAND, 1988. 72-137; REHER, 1990: 72-83; MOREDA 1997 (in BARDET e
DUPÂQUIER, I, 1997: 377)
4 FAUVE-CHAMOUX, WALL, 1997 (in BARDET e DUPÂQUIER, I, 1997: 356-368).
5 MOREDA, 1980: 121, 327-374, 465; LIVI-BACCI, 1999: 94-95.
6 PERRENOUD: 1997 (in BARDET e DUPÂQUIER, I, 1997: 290-292). Para Espanha ver, por
exemplo, MOREDA: 1997 (in BARDET e DUPÂQUIER, I, 1997: 477).
7 DUPÂQUIER, 1997 (in BARDET e DUPÂQUIER, I, 1997: 255).
250 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
dadas a este aumento populacional. Sendo certo que neste período grande
parte dos recursos (alimentos, matérias-primas, energia) estavam depen-
dentes da disponibilidade da terra, qualquer alteração no volume da popu-
lação pressupõe mudanças na estrutura organizativa das sociedades, tanto
do ponto de vista económico como social8. Na Europa oriental as necessi-
dades das populações foram sendo resolvidas com a colonização de vastas
áreas do Volga e do Mar Negro9. Mas, por exemplo, em França, onde as den-
sidades já eram fortes, os sinais de crise multiplicam-se a partir de 1770: a
idade média ao casamento sobe, o que poderá explicar, pelo menos em
parte, o aumento da ilegitimidade, das concepções pré-nupciais e a pro-
gressiva diminuição da fecundidade dos casais. Estes poderão ser os pri-
meiros sinais da transição demográfica10.
Também o processo de construção da rede urbana dos diferentes estados
é indiciador de novos moldes na ocupação e consolidação do espaço, até
porque o crescimento das cidades decorre de uma estreita relação de inter-
câmbio com as zonas rurais, que fornecem população e possibilitam o
desenvolvimento funcional e produtivo dos aglomerados urbanos.
11 DE VRIES, 1987.
12 Para Espanha cf. REHER, 1990: 37-44.
13 DUPÂQUIER, 1997 (in BARDET e DUPÂQUIER, I, 1997: 261).
14 LIVI-BACCI, 1999: 121.
252 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
15 LIVI-BACCI, 1999: 124-125. Estima-se que entre 1650 e 1820, 310 mil espanhóis saíram
anualmente em direcção ao Novo Mundo (POUSSOU, 1997 [in BARDET e DUPÂQUIER, I,
1997: 265]).
16 Veja-se também a síntese MOREIRA, RODRIGUES, 2005. 35-65, que seguiremos em parte.
17 GODINHO, 1980: 57.
18 MAGALHÃES, 1984: 27. O autor refere que esta lei vinha reforçar medidas restritivas ante-
riores, de 1709 e 1711.
O Século XVIII 253
19 Para além dos autores indicados a propósito dos valores apresentados no quadro veja-se
também SERRÃO, 1993: 51, Quadro 1; HESPANHA, 1986: 76-85 para a Chorografia do Padre
Carvalho Costa.
20 Seguimos de perto a síntese feita por Maria Luís Rocha Pinto, «A evolução da População do
Continente no século XVIII» (artigo inédito).
21 MAGALHÃES, 1984, deduz este valor considerando, como já tinha feito GODINHO, 1955,
que a população teria crescido, entre 1700 e 1800, 43%.
254 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
mento. Por outro lado, vários estudos regionais apontam para uma conjuntura
adversa, em que se aliam o aumento da mortalidade extraordinária, traduzido
na ocorrência de crises de mortalidade de intensidade forte em algumas
regiões, problemas de subsistência e a chamada Guerra Fantástica. Estes factos
são comprovados pela investigação realizada sobre Guimarães39, Braga40,Torre
de Moncorvo41, Castelo Branco42 Idanha-a-Nova43, Cova da Beira44, Cascais45,
diocese de Coimbra46, região de Évora47, Cuba48 e Algarve49.
Aliás, à semelhança do que sucede em Portugal, também em outras
regiões europeias, caso da Itália ou das regiões espanholas de Castela e da
Estremadura, há registo de crises frumentárias desde 1759, sendo o ano
crítico da fome o de 176450. No caso espanhol, a juntar à crise dos anos
60, há que considerar os efeitos da guerra, à semelhança das regiões fron-
teiriças portuguesas. É possível, portanto, que a conjuntura de crise das
décadas de 60 e 70 tenha contribuído para uma tendência de abranda-
mento do crescimento da população portuguesa durante a segunda metade
do século XVIII51.
Ensaiámos, de seguida, traçar as principais tendências do crescimento
dos portugueses ao longo do século XVIII utilizando os valores do número
de habitantes que considerámos mais plausíveis52. Mais que valores absolu-
tos, que reconhecemos serem de pouco prudente utilização, importa desta-
car as linhas de tendência de crescimento populacional ao longo deste
século. Logo de início devemos recordar que, como afirmámos anterior-
mente53, os valores da Corografia do Padre Carvalho Costa têm sido conside-
54 Veja-se por, exemplo, o que referem PINTO, 1993: 62 e 136; SERRÃO, 1987: 7; SANTOS,
1995: 191.
55 Para os valores de 1732 ensaiámos duas hipóteses, uma utilizando valor indicado por SERRÂO,
1987: 11 e outra, o valor de habitantes apresentado por GODINHO, 1955: 302 e que repro-
duz os valores de BALBI, 1822b: 69. No sentido de obviar a difícil problemática de encontrar
um multiplicador que transforme fogos em habitantes, utilizámos o coeficiente 3,85 uma vez
que não deve ter havido grande alteração ao longo século (PINTO et alii, 2001: 395), com
excepção de 1758 que corresponde à multiplicação dos fogos por 4 (MAGALHÃES, 1984);
para 1798 usámos o coeficiente 3,86 habitante/fogo que se deduz do Censo de 1801 para o
país, uma vez que esta contagem oferece tanto valores sobre habitantes como de fogos.
56 Expressão de Magalhães Godinho cit. por SERRÃO, 2005: 162, nota 42.
57 SERRÃO, 2005: 159-162.
58 Para habitantes em 1768 utilizámos os valores indicados por BALBI, 1822b: 70 e para fogos
BARROS, 1798: 141.
O Século XVIII 257
tuais nos primeiros trinta anos de Setecentos. Com efeito, as únicas regiões
que no primeiro quartel do século XVIII viram a sua população aumentar
foram o Minho68 e sobretudo o Algarve, que assiste a um crescimento sus-
tentado até 175869. Na região abrangida pela diocese de Coimbra verifica-
-se um crescimento rápido entre 1709-12 e 1720, que abranda para valo-
res inferiores a metade dos registados no período anterior70.
A evolução demográfica na segunda metade da centúria revela menores
disparidades. Nesse período Trás-os-Montes foi a província que mais cres-
ceu (62,4%) e o Alentejo a que registou um crescimento mais tímido
(29,2%)71. Entre estas duas províncias, há que referir os casos algarvio e
minhoto, já que ambos mantiveram uma evolução regular e positiva ao
longo de todo o século72.
Índice Concentração
1700 1732 1768 1798
Minho 13,8 17,0 16,2 15,8
Trás-os-Montes -3,5 -4,1 -3,5 -3,7
Beira 5,0 5,0 4,4 4,6
Estremadura 2,5 3,0 3,5 5,3
Alentejo -15,6 -19,2 -19,0 -20,3
Algarve -2,3 -1,7 -1,7 -1,7
Fonte: Elaboração própria e quadro anterior.
0 50 km 0 50 km
76 Sobre esta questão veja-se a análise feita por SILVA, 1997: 781-786.
262 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Cidades Vilas
N.º Moradores % N.º Moradores %
Minho 2 10940 4,0 21 13779 5,0
Trás-os-Montes 2 6220 7,7 59 11961 14,7
Estremadura 2 69764 34,7 110 50552 25,2
Beira 4 8564 4,0 226 60173 28,2
Alentejo 3 8524 9,8 107 41923 48,3
Algarve 3 3454 23,7 13 5270 36,1
Fonte: Elaboração própria com base em FERRO, 1995: 109-151.
que a Corografia Portugueza, ao contrário das outras contagens, apresenta apenas um valor para
as duas freguesias da cidade.
87 SERRÃO, 1996: 75.
88 RODRIGUES, 1997: 27.
89 SERRÂO, 1996.
90 BAPTISTA, 1994: 54.
91 SERRÂO, 1996: 77.
O Século XVIII 265
3. Os comportamentos demográficos
Dinâmica Populacional
35
35
30
30
25
25
Total anual
20
20
15
15
10
10
55
00
1700
1705
1710
1715
1720
1725
1730
1735
1740
1745
1750
1755
1760
1765
1770
1775
1780
1785
1790
1795
150
100
50
0
1700
1703
1706
1709
1712
1715
1718
1721
1724
1727
1730
1733
1736
1739
1742
1745
1748
1751
1754
1757
1760
1763
1766
1769
1772
1775
1778
1781
1784
1787
1790
1793
1796
1799
Baptismos Casamentos Óbitos
Fonte: BORGES, 1996.
400
400
300
300
200
200
100
100
0
1700
1704
1708
1712
1716
1720
1724
1728
1732
1736
1740
1744
1748
1752
1756
1760
1764
1768
1772
1776
1780
1784
1788
1792
1796
Bap-z.urbana Cas.- z.urbana Ób. - z.urbana
Fonte: AMORIM, 1987.
80
80
Total anual
60
60
40
40
20
20
00
1700
1705
1710
1715
1720
1725
1730
1735
1740
1745
1750
1755
1760
1765
1770
1775
1780
1785
1790
1795
3.1. Mortalidade
92 RODRIGUES, 1996.
93 NAZARETH, SOUSA, 1983: 32.
94 MOREIRA, 1994: 67-69.
95 BORGES, 1996: 55-56.
96 PINTO, 1993: 220, 223, embora a autora refira que a análise deste aumento não deve deixar
de ter presente uma melhoria dos registos de óbito, nomeadamente dos menores, assim
como o aumento progressivo da população.
97 NAZARETH, SOUSA, 1983: 32.
98 RIBEIRO, 1995: 255.
99 AMORIM, 1999: 14-21.
100 MOREIRA, VEIGA, 2005: 150-155.
268 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
160
Cuba
140
120 Idanha (algumas
N.os propocionais
freg.)
100
Cardanha
80
60
Rebordães
40
20 Cast. Branco
(algumas freg.)
0
J F M A M J J A S O N D
Fonte: BORGES, 1996; MOREIRA, 1992; AMORIM, 1973, 1980; PINTO, 1993
Nos centros urbanos, a relação entre o homem e o meio estava sujeita à inter-
ferência de aspectos vários, que alteravam o comportamento da morte tal como
ela se definia nas sociedades agrárias. Por outro lado, nas cidades era menor a
percentagem dos primeiros e últimos grupos etários, já que a imigração pri-
vilegiava a vinda de gente em idade activa, diluindo as oscilações sazonais, de
que eram grandes responsáveis as camadas mais jovens e as mais idosas.
140
120
100
N.os propocionais
80
60
40
20
0
J F M A M J J A S O N D
111 Houve, todavia, variações no que respeita à qualidade das séries paroquiais. De acordo com
um já volumoso conjunto de estudos relativos às crises de mortalidade no período setecen-
tista, não só melhora a qualidade dos dados em termos de cobertura dos concelhos ou
regiões estudadas, como também a qualidade das informações contidas nos diferentes assen-
tos de óbito.
112 É o caso da tomada de Castelo Branco, em Maio de 1704, por um exército de 40 mil homens,
que provocou a maior crise de mortalidade ocorrida nos séculos XVIII e XIX nesta região beirã
(PINTO, 1993: 266, 285-296) e que vai ter efeitos catastróficos sobre as suas populações. A
conquista da cidade ocorre na sequência da conquista de praças fronteiriças situadas na região
de Idanha-a-Nova, onde também a passagem das tropas provocou uma das crises mais graves
de setecentos (MOREIRA, 1994: 87-100). Também a diminuição da população dos bispados
de Elvas e Portalegre, entre o princípio do século e a década de trinta, é atribuída às arreme-
tidas espanholas sobre as povoações raianas destas regiões (COSME, 1992: 157-158).
113 MOREIRA, 1994: 128-133.
272 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Lisboa é o concelho mais atingido, visto que um em cada três anos pode
ser considerado ano de crise. Nas restantes unidades administrativas, onde
predomina um tipo de vida rural e um povoamento menos concentrado, a
vantagem da vida sobre a morte é mais evidente. Todavia, se fizermos uma
análise da relação de forças entre mortalidade normal e de crise, numa
114 O grau de representatividade das séries paroquiais, em relação ao total de freguesias existentes
nos concelhos estudados vai aumentando, de tal modo que o número de freguesias com infor-
mação ultrapassa sempre 50 por cento do total dos concelhos analisados desde a segunda metade
do século XVII, independentemente da dimensão dos locais. Não obstante, estamos a falar de
concelhos com populações e volume de freguesias muito diferentes. Um mínimo de 4 fregue-
sias em Cascais e Oeiras e um máximo de 60 freguesias em Braga, embora estas diferentes uni-
dades administrativas possuam dimensões populacionais muito variáveis (RODRIGUES, 2008).
115 Torre de Moncorvo, Braga, Castelo Branco Fundão, Idanha-a-Nova, Oeiras, Cascais, Sintra,
Lisboa.
O Século XVIII 273
escala mais apertada, é possível afirmar que por todo o Reino são maiores
os ratios nas freguesias mais urbanizadas dos vários concelhos116.
Mas as investigações parcelares indiciam algumas mudanças nas caracte-
rísticas das sobremortalidades ao longo do século XVIII, quando vistas
numa perspectiva nacional e de longa duração.
A principal alteração prende-se com as grandes causas de morte epidé-
mica, que passam a poder ser vistas como epidemias sociais. Primeiro de tifo,
já frequente no século XVII, mais tarde de cólera e febre-amarela. Essa evo-
lução decorre paralelamente à progressiva selectividade da morte extraordi-
nária. Mesmo que se esconda sob formas menos abruptas de eclosão, tende
a concentrar-se em áreas de maior densidade (o que explica as percentagens
encontradas nas cidades de Braga e Lisboa) e nas zonas mais insalubres,
habitadas pelos mais pobres117. As características de povoamento disperso
em quintas e pequenos núcleos aldeões, com um modo de vida rural,
minoram os perigos que espreitam os residentes nos centros densamente
povoados. Além disso, o aumento da regularidade dos picos de mortalidade
é acompanhado pelo decréscimo da sua respectiva intensidade: as crises
fracas e médias representam cerca de 70% dos momentos de mortalidade
extraordinária, sendo mais frequentes nos concelhos mais urbanizados.
As crises Setecentistas aumentaram porém a respectiva duração média, pelo
que a gravidade de algumas delas, em termos de número de vítimas, advêm-
-lhes apenas do facto de se terem mantido activas por dois ou mais anos.
Na prática, em quase todos os anos foram registadas crises, numa ou em
diversas partes do país118, embora se evidenciem épocas de maior acalmia
do comportamento da variável119. A um outro nível, cumpre assinalar o
número bastante significativo de crises que extravasam os limites impostos
pelo ano civil, o que é mais frequente na segunda metade do século XVIII.
Existem exemplos de períodos de sobremortalidade que localmente se pro-
116 Veja-se, por exemplo, o quanto diferem os resultados obtidos em Lisboa e nos três concelhos
próximos de Oeiras, Cascais e Sintra.
117 Em Lisboa a esperança média de vida difere em cerca de dois anos, consoante analisemos os bair-
ros ricos do centro urbano ou os bairros populares. Mas esta não era apenas uma especificidade
urbana.Aplica-se também a aglomerados situadas junto a pântanos, ribeiras e outros locais doen-
tios, onde só permanecem os grupos mais desfavorecidos (RODRIGUES, 1993, 1995).
118 Note-se, porém, que os dados considerados já excluem todas as pequenas crises locais, que
afectaram menos de um quarto das freguesias analisadas em cada concelho. Caso contrário,
seria improvável que encontrássemos anos sem registos de crise.
119 Em todos os casos são as características particulares das causas de morte extraordinária
(cólera ou febre amarela) que explicam esse facto. O total de anos sem crise nos diferentes
subperíodos considerados na nossa análise foi os seguintes: primeira metade século XVIII =
10 (20%); segunda metade século XVIII = 5 (10%).
274 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
longaram por oito anos, embora a duração média desse tipo de fenómenos
se fixe entre 1,5 e 2 anos.
Visto que as informações paroquiais a nível local são muito dispersas
efectuou-se a separação entre crises circunscritas e crises nacionais120. Em
certos momentos são mais afectadas regiões concretas do país, nuns casos
os concelhos nortenhos, noutros os do interior ou sul, embora sejam fre-
quentes os momentos gerais de mortalidade extraordinária, para os quais se
conhecem as principais causas de morte e conjunturas de enquadramento.
Convirá explicitar um pouco melhor quais foram essas grandes crises
nacionais. No século XVIII o modelo altera-se, com o aumento do total de
crises de intensidade bem mais moderada que no passado próximo. A razão
destas flutuações prende-se com as causas directas dos grandes surtos de
sobremortalidade, identificados na sua generalidade, e que não provocam
grandes surpresas face aos séculos anteriores.
120 Seguimos o procedimento adoptado por MOREDA, 1980 e DEL PANTA, 1986. Estes autores
consideram anos de crise geral apenas aqueles em que pelo menos 25% das áreas em análise
registem um aumento excessivo de óbitos, qualquer que seja o grau de intensidade dessas
subidas.
O Século XVIII 275
Intensidade T. Monc. Braga C. Br. Fundão Idanha Oeiras Cascais Sintra Lisboa
Grau 1 60.7 57.5 43.3 55.1 43.6 32.3 32.1 32.4 57.5
Grau 1 60.7 57.5 43.3 55.1 43.6 32.3 32.1 32.4 57.5
Grau 2 27.0 31.3 31.1 32.7 33.6 48.8 42.9 49.3 35.4
Grau 3 11.1 9.6 19.7 9.4 19.0 19.4 23.8 18.3 5.8
Grau 4 0.8 1.6 4.6 2.8 3.8 0 1.2 0 0.6
Grau 5 0.4 0 1.3 0 0 0 0 0 0.3
Grau 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0.3
N.º absolutos 244 489 238 214 211 93 84 213 621
Fonte: TAVARES, 1997; DAVID, 1992; PINTO, 1993; DIOGO, 1992; MOREIRA, 1994; RUNKEL, 1990;
BARATA, 1988; ROGRIGUES, 2008.
121 Esta metodologia tem sido adoptada por vários investigadores principalmente ligados ao
Núcleo de Estudos de População e Sociedade (NEPS) da Universidade do Minho.
122 REHER; 1990: 92.
123 SOLE, 2001: 160.
O Século XVIII 277
Homens Mulheres
Poiares 8,9 14,9
Ronfe (1700-1798) 15,1 27,6
S. Mateus do Pico 7,5 14,2
Meadela (1750-1749) 8,3 14,2
Meadela (1749-1799) 4,7 20,8
Calvão (1710-1739) 10,2 36,2
Calvão (1740-1775) 10 14,5
Guimarães (z. rural) 7 11
Guimarães (z. urbana) 21 21
Salvaterra de Magos (1788) 20 18
Barcelos (1660-1789) 32,9 44,8
Coruche (1789) 11 15
Fonte: AMORIM, 2004: 166; AMORIM, 1999: 26; FAUSTINO, 1998: 111; SOLE, 2001: 146; NAZA-
RETH, SOUSA, 1983: 38; NAZARETH, SOUSA, 1981: 349.
A análise dos dados disponíveis para o século XVIII, ainda que o seu
número não seja muito representativo, faz ressaltar a existência de uma
nupcialidade diferente no norte e no sul: as idades mais elevadas localizam-
-se a norte e as mais baixas no sul. Já no que diz respeito às mulheres o con-
traste é evidente: as regiões do sul registam idades ao primeiro casamento
inferiores aos 23 anos enquanto no norte, pelo contrário, a maioria das
regiões apresenta valores acima dos 24 anos. A excepção é a zona urbana de
Guimarães, onde as mulheres casavam mais precocemente, em consonância
com o que acontecia na generalidade dos centros urbanos. Segundo Robert
O Século XVIII 279
- 5%
- 5% - 9%
- 10% - 14%
- 15%
0 50 km
133 Foram utilizados registos de baptismo e casamento, DIOGO, MOREIRA, 1994: 135.
282 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
1780-81 nos casamentos e 45%, nos baptizados em 1782-91). Por outro lado,
constatou-se que grande parte da imigração seria de famílias já constituídas134.
Outro exemplo é o de Juromenha135, mais a sul junto à fronteira com
Espanha, onde os comportamentos diferem ligeiramente, pelo menos em
termos cronológicos. Em 1760-69, apenas 10% dos casamentos eram cele-
brados entre pessoas de Juromenha. A maior percentagem ligava mulheres
da freguesia e homens provenientes da zona 1 que, aliás, era a principal
região de origem dos nubentes masculinos que aí casaram (43,8%), apesar
de também a zona 4 ter algum peso relativo (14,6%). As mulheres eram
maioritariamente da freguesia (41,8%). Só 25% vieram de fora, principal-
mente da zona 1 mais próxima e casaram mais com homens também das
localidades contíguas. Estamos, portanto, perante uma comunidade aberta,
ainda que a mobilidade seja de muito curta distância. No final do século,
entre 1790-99 aumenta ligeiramente a endogamia comunitária, embora
continue a ser mais elevada a percentagem de casamentos entre mulheres de
Juromenha e homens oriundos da zona 1. Entre os noivos continua a ser
maior o número de mulheres da localidade e de homens que provêm das
áreas circunvizinhas, embora agora quase a par dos noivos naturais da fre-
guesia onde se realiza o casamento. Em ambos os períodos observados, a
mobilidade é sobretudo masculina (cerca de 44%), ou seja, os imigrantes
são na sua maioria homens136 e percorrem distâncias maiores. O mesmo,
aliás, também acontecia em S. Vicente da Beira (com valores entre os 35 e
40% ao longo do século137). Já quanto às mulheres há mais imigrantes em
Juromenha do que em S.Vicente da Beira, embora com valores sempre infe-
riores aos masculinos.
Os comportamentos observados nestas duas comunidades rurais não se
afastam muito do que se passava em outras comunidades portugueses138,
uma vez que nas comunidades urbanas, devido à sua especificidade, era
grande a exogamia geográfica139.
Outro fenómeno que adquiriu novas proporções nesta época foi a ilegi-
timidade e a exposição de crianças, que sofreu um aumento progressivo dos
seus valores, embora fosse mais elevada nas grandes cidades e, dentro delas,
nos bairros populares. Todavia, alguns estudos têm destacado que, ao longo
do todo século, houve regiões onde a ilegitimidade teve sempre valores
mais elevados o que configuraria um quadro regional específico. A ilegiti-
midade seria muito maior a norte do que a sul do continente, destacando-
-se o Minho140 com valores mais elevados e os do Alentejo mais consentâ-
neos com o modelo europeu141. Nos últimos anos do século XVIII verifi-
cou-se um aumento significativo do número de expostos recolhidos nas
duas grandes casas de enjeitados do Reino, em Lisboa e Porto. Mas não
podemos esquecer que parte dos registos de ilegítimos nos meios urbanos
pertenciam a expostos, crianças abandonadas e enviadas de zonas por vezes
distantes. Esse facto influencia os resultados do distrito de Lisboa, dada a
importância da capital enquanto receptora de expostos de todo o País142.
A prática da exposição instituiu-se como forma de resolução de tensões
sociais e económicas e chegou a ser considerada como uma das causas de
travão de crescimento demográfico, já que os níveis de mortalidade deste
grupo, cada vez mais significativo face ao total de nascimentos, eram mui-
tíssimo elevados143.
Chegamos por fim à variável que parece conter grande parte das res-
postas para as formas e direcções de crescimento populacional das gentes
portuguesas, num período cronológico que não se circunscreve ao século
XVIII. A importância que assumem os movimentos migratórios na história
portuguesa, na sua tripla vertente emigratória, imigratória e de movimen-
tos internos, é sobejamente conhecida, bem como os obstáculos que se
levantam à sua real apreensão. A resposta a muitas destas questões está difi-
cultada pela escassez de informação que surge a este propósito nas fontes e
pela sua variedade (registos de passaportes, listas de passageiros, alterações
de critério na recolha de dados oficiais), problema que aliás não se cir-
cunscreve a este século. Estas limitações dificilmente permitem obter quan-
titativos plausíveis e completas sobre o assunto.
140 Sobre a ilegitimidade no Minho veja-se a síntese de NEVES, 1999: 309-326 e NEVES, 2001.
141 FLINN, 1981: 76-88; BARDET, 1997 (in BARDET e DUPÂQUIER, I, 1997: 336-338).
142 RODRIGUES, 1997.
143 SOUSA, 1979: 289-295
284 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
1. O século XIX
2 Nessas muitas páginas focaram-se temas diversos: o sistema de esgotos, a limpeza de ruas, a
construção de banhos públicos ou a fiscalização dos alimentos vendidos para consumo
doméstico. Fala-se de higiene hospitalar, nos cemitérios, portos e lazaretos. Referem-se as
vantagens do sistema de vacinação, os cuidados com o aleitamento, divulgam-se tratados de
saúde pública.
3 CRESPO, 1992 e CORREIA, 1957.
O conhecimento dos factos demográficos 293
zini16. Em 1815 envia para o Rio de Janeiro as suas Reflexões sobre o actual regu-
lamento do Exército em Portugal, onde inclui mapas com o estado da população
por idade, sexo, estado religioso e profissão. Desconhece-se, no entanto, o
paradeiro desse manancial de dados. Os serviços oficiais de estatística passam
do Ministério da Fazenda para o Arquivo Militar17, sob a designação de
Comissão de Estatística e Cadastro do Reino. O primeiro trabalho de vulto
de Franzini nesta Comissão, a que presidiu pelo menos entre 1820 e 1846,
foi o numeramento de 1820, apresentado às Cortes Constituintes de
182218. Em Julho de 1820 foi enviada uma circular aos bispos, acompa-
nhada dos quadros e instruções dirigidos aos párocos, responsáveis pela
recolha e agregação dos dados da população menor e maior de 7 anos, por
estado religioso, incluindo eclesiásticos regulares e seculares. O processo
termina no Outono de 1822, iniciando-se a publicação sistemática no Dic-
cionario Estatistico – Geographico do Reino de Portugal, por José Joaquim Leal. Mas a
edição é interrompida em 1823, pelo que só conhecemos dados para as
freguesias iniciadas por A, B e C. A unidade de base continuava a ser a paró-
quia. É possível que nessa mesma data tenha sido tentada outra contagem,
para formar as Cortes Constituintes19, porém remetem para 1819 e não
coincidem com os do Almanach20. Nos anos seguintes prossegue a actividade
de Franzini dedicada à actualização dos dados, a partir de listas periodica-
mente remetidas à Comissão pelos párocos21. A crise nacional interrompe
esta actividade, que só no fim da guerra em 1834 se retoma22 e conduz aos
numeramentos de 1835, 1838 e 184123. Processa-se a laicização das tarefas
estatísticas. Os responsáveis directos pelos levantamentos deixam de ser
eclesiásticos, substituídos por homens de confiança política, como os rege-
dores, agentes dos recenseamentos modernos24. Em Maio de 1835 o
38 O censo é precedido pela proposta de lei datada de 27 de Maio de 1863, que procura insti-
tuir a prática dos recenseamentos decenais, e pelos Decretos-Lei de 9 e 23 de Julho do
mesmo ano. O primeiro ordena a realização do censo, dotando-o de meios financeiros. O
segundo, define a metodologia a seguir, através de instruções detalhadas que regulam as prá-
ticas processuais a respeitar.
39 Como o nível de instrução, nacionalidade ou profissões, que não foram apuradas, tal como
a listagem das casas segundo o número de residentes.
40 Separados por meses até um ano, de três em três meses até dois anos, ano a ano até aos dez
e por grupos quinquenais até cem, mais de cem e idade desconhecida.
41 Os do distrito de Lisboa foram-no relativamente cedo, a 11 de Novembro de 1864 (Diário de
Lisboa, n.º 255, 11 de Novembro de 1864, p. 3118).
42 Diário do Governo, n.º 121, 15 de Junho de 1877, p. 1090.
43 Apurada em grupos quinquenais, excepto no primeiro ano e entre os 21 e os 25 anos,
«período em que os mancebos estão sujeitos ao recrutamento militar».
O conhecimento dos factos demográficos 301
Anos RM Anos RM
1801 95 1878 92
1849 91 1890 94
1864 92 1900 92
Fonte: Os Recenseamentos da População Portuguesa de 1801 e 1849, p. 112; I.º a IV.º Recenseamento Geral da População.
Índice de regularidade das idades, Indice de regularidade dos sexos, Indice Com-
binado das Nações Unidas
2. O século XX
e familiares dos indivíduos». Daí que no artigo 2.º desta directiva se preco-
nize a colaboração entre a Comissão e as autoridades competentes de cada
Estado-membro, no sentido de se elaborar «um programa de quadros esta-
tísticos a preparar com base nos recenseamentos» e que abranjam determi-
nadas características demográficas, económicas e sociais dos indivíduos e
dos seus agregados familiares, tanto a nível nacional como regional92.
O primeiro recenseamento do século XX é o quinto de uma série ini-
ciada em 1864. No quadro síntese que se segue estão apresentadas as datas
de todos os recenseamentos realizados nos séculos XX e XXI.
Até 1970 vai manter-se a periodicidade decenal e a escolha dos anos ter-
minados em zero, excepto em 1910, ano em que foi proclamada a Repú-
blica, o que obrigou a que as operações censitárias fossem transferidas para
o ano seguinte93.
O recenseamento geral da população que deveria ter-se realizado em
1980 foi adiado para 1981 e o momento censitário foi fixado às zero horas
do dia 16 de Março de 1981. Até então os censos tinham-se realizado no
dia 1 de Dezembro em 1900, 1911, 1920 e 1930, às zero horas do dia 12
de Dezembro em 1940 e, a partir de 1950, no dia 15 de Dezembro. No
entanto, a realização das operações censitárias em Dezembro colocava
alguns problemas de coincidência com o período natalício e respectivas
férias escolares, o que fomenta as movimentações populacionais, para
100 INE, 1995: 46 «Conjunto de indivíduos residentes num alojamento colectivo que, indepen-
dentemente da relação de parentesco entre si, observam uma disciplina comum, são benefi-
ciários dos objectivos de uma instituição e são governados por uma entidade interior ou
exterior ao grupo».
101 INE, 1995: 41-55.
102 Foram acrescentados os avós com netos solteiros e o avô ou avó com netos solteiros.
O conhecimento dos factos demográficos 317
107 VIEIRA, 1970: 169-179; NAZARETH, 1979: 61-62, 66-70; 1988: 183; 1996a: 102-104.
320 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
aplicado aos nascimentos, por grupos quinquenais para as idades das mães.
Apenas em 1940 se passa a efectuar a distinção entre óbitos infantis e óbitos
no grupo de idades 1-4 anos a nível regional, quando se retoma o intento
de intervir na ainda elevada taxa de morbilidade e mortalidade desses
grupos vulneráveis.
Em linhas gerais, a estrutura básica de organização da informação man-
teve-se idêntica durante a grande parte do século, embora fossem sendo
acrescentados itens e melhorada a celeridade e qualidade dos sistemas de
informação, de modo a corresponder a novas solicitações. Assim, encontra-
mos os seguintes dados relativos ao movimento geral da população para
cada ano: casamentos celebrados por concelhos em que ocorreu o «facto»,
casamentos dissolvidos e interrompidos, nados-vivos, fetos mortos óbitos e
o movimento de fronteiras, com totais de emigração e estrangeiros entra-
dos em Portugal até 1988, por concelhos de residência. No que diz respeito
aos óbitos por idades e concelho, a informação é apresentada em grupos de
idade quinquenais até aos 5-9 anos e de seguida por grupos decenais.
Entre 1911 e 1921 as publicações eram anuais. Tratava-se no entanto de
compilações designadas as quais reviam resumos, informação de quatro
anos sobre: nascimentos, óbitos, casamentos e emigração (1911-1915;
1912-1916; 1913-1917; 1914-1918;1915-1919;1916-1920 e 1917-1921).
Entre 1921 e 1925 as Estatísticas demográficas realizaram-se anualmente e
em 1926 e 1927 não há registo de informação estatística, que é retomada
em 1929 para se tornar novamente uma publicação anual até 1975. De
1976 a 1979 esta surge apenas compilada num volume ral como entre
1979 e 1982108.
Com efeito, em 1980 e 1996 fizeram-se publicações anuais. A informa-
ção tratada apresenta quadros sobre nados-vivos: idade gestacional, peso à
nascença, dados relativos ao pai e à mãe, local de nascimento e assistência
no parto. Foram introduzidos valores sobre fetos de vinte e oito e mais
semanas, quadros com totalidade dos fetos-mortos, desagregação de alguns
dados por centros urbanos e outras localidades109.
A partir de 1984 retomou-se a publicação das estimativas e indicadores
do movimento anual da população110. Houve, por outro lado, alguns ajus-
108 Informação recolhida no site oficial do Instituto Nacional de Estatística a partir da biblioteca
digital online www. ine. pt. Toda a informação anterior a 2000 encontra-se digitalizada
online, a informação porterior encontra-se em excel ou pdf.
109 INE, 1984: III-IV.
110 Crescimento natural, excedente de vida, saldo migratório, em valores absolutos e taxas, taxas
de natalidade, mortalidade (total, infantil, neonatal, perinatal, fetal tardia), nupcialidade,
divórcio, emigração, por distritos de residência, esperança de vida a várias idades.
O conhecimento dos factos demográficos 321
Anos RM
1911 90
1920 90
1930 91
1940 93
1950 92
1960 92
1970 90
1981 93
1991 93
2001 93
Fonte: Elaboração própria.
O Século XIX
1.Volumes e distribuição3
5 Os Arquipélagos da Madeira e dos Açores nunca representaram mais de 9,1% no total, tendo
o seu peso percentual decrescido consecutivamente a partir dos anos 40. A população das
ilhas representava 9,1% em 1801 e 1841, 9,0% em 1851, 8,4% em 1864 e 1878, 7,6% em
1890 e apenas 7,5% em 1900.
6 A taxa de crescimento anual médio calcula o ritmo de aumento ou diminuição média anual
da população entre dois momentos censitários. Desta forma, o primeiro valor que se apre-
senta o quadro respeita à taxa de crescimento anual médio entre 1801 e 1841.
7 A taxa de variação avalia o aumento/diminuição da população entre as datas limite conside-
radas.
8 RODRIGUES e PINTO, 1993: 145-172.
330 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
13 Estas datas foram escolhidas por serem, respectivamente, o primeiro ano em relação ao qual
temos informações para todos os distritos do continente e por corresponderem à informa-
ção apurada pelo primeiro recenseamento feito em moldes estatísticos modernos, de maior
fiabilidade que os levantamentos realizados nas décadas de 40 e 50.
14 Situação que será alterada já neste século, pela dinâmica de desenvolvimento económico
manifestado pelas áreas confinantes de Aveiro e Braga.
332 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
15 O caso da Covilhã será talvez dos mais curiosos, ao influenciar por si só as médias obtidas
pelo distrito de Castelo Branco, onde se inseria (GODINHO, 1980: 24-25).
O Século XIX 333
Legenda Legenda
10 - 73 10 - 73
74 - 136 74 - 136
137 - 199 137 - 199
0 50 km 0 50 km
200 - 262 200 - 262
Lima ficava-se pelos 35 hab/km2, enquanto entre esse rio e o Ave a densi-
dade suplantava os 110 habitantes. Na província trasmontana, a zona da
Terra Fria e sobretudo o nordeste eram pouco povoados (10-15 hab/km2),
ao contrário do que ocorria junto ao Douro, com níveis de ocupação
humana da ordem dos 50 indivíduos. As mesmas variações internas se
observavam nas Beiras, onde o interior e o litoral contrastavam entre si, tal
como as partes norte e sul da província, fazendo a ligação entre o povoa-
mento típico do norte e sul de Portugal. Na Estremadura, o concelho de
Lisboa era responsável pelo valor médio da província, que seria bastante
moderado sem a capital16. Tal como nas Beiras, a parte sul da província
estremadurenha efectuava em termos de formas de ocupação do solo a
transição com o Baixo Alentejo, sendo aí observadas as densidades mínimas
de povoamento provincial. No caso do Alentejo a homogeneidade era supe-
rior à verificada nas restantes unidades administrativas, embora com ligeira
vantagem da parte norte. No Algarve à faixa litoral bastante povoada e urba-
nizada sucedia no interior montanhoso um povoamento semelhante ao do
sul alentejano17.
18 Cuja média era reduzida pela inclusão do actual distrito de Setúbal. De acordo com CÓNIM,
o número de habitantes por quilómetro quadro em Setúbal era de 17,8 em 1864, de 19,8
em 1878, de 22,4 em 1890 e de 26,0 ao terminar oitocentos. Nessas mesmas datas, naquele
que hoje é a superfície do distrito de Lisboa existiam, nas mesmas datas, respectivamente
126,4, 150,3, 180,2 e 204,8 hab/km2.
19 GUICHARD, 1982: 10-16.
O Século XIX 335
1890 1900
‰ Madeira Açores Madeira Açores
Taxa Bruta de Natalidade 37,5 33,7 41,3 31,1
Taxa Bruta de Mortalidade 24,9 32,2 22,3 23,6
Taxa Bruta de Emigração 15,7 15,3 5,5 19,2
Fonte: RODRIGUES, PINTO, 1989: 342-354; ROCHA, 1989: 856-863
180,000
160,000
140,000
120,000
Nascimentos
100,000
Óbitos
80,000 Emigrantes
60,000
40,000
20,000
0
1850 1857 1860 1862 1872 1886 1888 1890 1892 1894 1896 1898 1900
34 Uma das limitações mais frequentes consiste em saber se os volumes adiantados se referem
apenas ao continente ou incluem os arquipélagos da Madeira e Açores.
35 No primeiro ano devido ao aumento anormal da mortalidade, no segundo ao da emigração.
O Século XIX 341
40 Em 1864 o conjunto dos concelhos do futuro distrito de Setúbal corresponde a 2,3% dos
residentes continentais, em 1878 e 1890 a 2,4% e em 1900 a 2,7%.
41 Estudos realizados neste âmbito permitem estimar em cerca de 80% a percentagem dos
migrantes que trocam zonas rurais por urbanas e só um quinto se deslocaria entre dois cen-
tros urbanos (RODRIGUES e PINTO, 1996a: 561-565).
42 Sobre o processo de formação das Áreas Metropolitanas veja-se RODRIGUES e BAPTISTA,
1996: 75-122.
O Século XIX 343
A partir dos anos 60 surge cada vez mais nítida a dicotomia entre as
áreas de maior força, situadas junto ao litoral e para sul, e as restantes,
sobressaindo ainda pólos isolados no interior, como o da Covilhã. O
período que medeia entre os recenseamentos de 1878 e 1890 foi o mais
dinâmico, embora se vislumbre já a desaceleração do norte e interior43. Os
anos 80 foram a época áurea dos distritos de Lisboa, Porto e Castelo Branco,
directamente ligado ao impacto positivo originado pelo desenvolvimento
43 Viana, Vila Real, Viseu, Braga e Bragança apresentam ritmos inferiores a metade da média
nacional.
344 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Nas primeiras décadas não existe uma relação directa entre crescimento
demográfico e urbano47. Mas a nova repartição espacial que se consolida na
segunda metade da centúria resulta sobretudo do fenómeno imigratório,
que contrapõe zonas rurais estáveis e zonas dinâmicas48, pelo que o
aumento da população privilegiou as áreas urbanas na esmagadora maioria
dos distritos49. Entre 1864 e 1900 reduz-se a importância populacional das
freguesias rurais e nem as vilas cresceram significativamente. Toda a vitali-
dade se concentra nas cidades, que se alteram 77%, face aos 22 e 30% dos
espaços rurais e vilas. O crescimento urbano absorveu dois terços do total e
terá sido a maior originalidade do Oitocentos português, atraindo nacionais
e a quase totalidade dos estrangeiros.
A partir dos anos 30 existe uma correlação positiva forte entre cresci-
mento populacional e urbano. Os distritos que mais aumentaram foram os
que registaram maiores acréscimos nos níveis de população urbana. O
dinamismo das vilas e cidades parece ter condicionado as histórias locais,
embora seja incorrecto estabelecer uma relação de causa e efeito entre
ambos. Na última metade do século a população urbana representou cada
O Século XIX 347
vez mais em termos relativos, mesmo em áreas com poucas vilas e cida-
des50. Estas predominam na metade sul do Reino, onde em meados do
século XIX já mais de 40% dos residentes eram urbanos, mas no panorama
nacional Lisboa foi o único distrito com mais de 50% de população urbana
durante os cem anos considerados, embora os distritos de Faro, Évora e
Portalegre se aproximassem desse valor51. Porém, os resultados devem ser
analisados com precaução, nomeadamente cruzando-os com a evolução da
população activa por classificações socioprofissionais, apuradas nos censos
de 1890 e 1900. Os recursos humanos empregues no sector primário
diminuíram 2,4%, passando de 1,6 a 1,5 milhões, embora as actividades
ligadas ao cultivo e exploração de produtos agrícolas continuassem a ocupar
mais de 60% dos portugueses52. O remanescente distribuía-se equitati-
vamente pelos sectores secundário e terciário, ambos a registarem um
aumento de dois pontos percentuais. A acumulação de riqueza duma
55 Este problema estende-se às estatísticas oficiais, cuja recolha e tratamento obedece a critérios
que foram sofrendo alterações. Entre os que tentaram explicitar estes conceitos refira-se
FRANCO (1968: 2-117) e VIEIRA (1978: 105-128).
56 Adquiriam o estatuto de cidade todos os núcleos populacionais capitais de distrito mesmo
quando vilas, as sedes de diocese e as sedes de tribunal de comarca, o que incluía algumas
sedes de concelho, como no caso das vilas de Vila Real e Santarém.
57 SOUSA, 1979 estabelece um compromisso entre critérios demográficos e administrativos.
Veja-se também VIEIRA, 1978: 107-109 e BAPTISTA e RODRIGUES, 1995.
58 Sobre esta problemática e numa perspectiva secular cf. NUNES, 1996: 7-47.
59 RODRIGUES e PINTO, 1996b: 131-145.
60 Recorde-se que neste mesmo período a população portuguesa cresceu apenas 72%.
350 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
dições urbanas a Norte e Sul, bem como o recuo das cidades muito peque-
nas e o gradual aumento das pequenas e médias. As grandes cidades con-
tinuarão a ser apenas Lisboa e Porto, a que se junta Braga em 1890 e Setú-
bal em 190061.
61 Considerámos cidades muito pequenas as inferiores a 5 mil habitantes; pequenas as que possuíam 5
a 10 mil residentes; médias, com 10 a 20 mil habitantes; e grandes as que ultrapassavam 20 mil
indivíduos.
O Século XIX 351
1864 1900
Lisboa 199.4 Lisboa 357.0
Porto 86.8 Porto 172.4
Braga 18.8 Braga 24.3
Setúbal 12.7 Setúbal 21.8
Coimbra 12.7 Coimbra 18.4
Évora 11.5 Évora 16.1
Tavira 10.5 Covilhã 15.5
Elvas 10.3 Elvas 14.0
Viana 9.3 Tavira 12.2
Faro 8.0 Portalegre 11.9
Lamego 7.8 Faro 11.8
Lagos 7.7 Aveiro 10.0
Guimarães 7.6 Viana 9.9
Beja 6.9 Silves 9.7
Portalegre 6.4 Lamego 9.2
Viseu 6.4 Beja 8.9
Aveiro 6.4 Guimarães 8.9
Santarém 6.2 Santarém 8.7
C. Branco 6.1 Lagos 8.3
Silves 5.1 Viseu 8.2
Vila Real 4.8 Figueira Foz 7.9
Bragança 4.8 C. Branco 7.3
Penafiel 4.4 Tomar 6.9
Guarda 3.8 Vila Real 6.7
Leiria 2.9 Guarda 6.1
Pinhel 2.3 Bragança 5.5
Miranda 0.9 Penafiel 5.1
Leiria 4.5
Pinhel 2.9
Miranda 1.0
Fonte: RODRIGUES, PINTO, 1996b: 131-145.
62 Dados os critérios de apuramento adoptado pelos responsáveis executores dos censos, foi
impossível apurar também os núcleos que, embora não sendo cidades, estavam à data dos
vários recenseamentos oitocentistas em cada um dos escalões considerados.
352 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Legenda
-32 - 21
22 - 74
75 - 127
0 50 km 126 - 179
400,000
350,000 356009
300,000
301206
250,000 Lisboa
200,000 229626
Porto
199056
167955
150,000
138860
100,000
104938
90391
50,000
0
1864 1878 1890 1900
68 Podemos obter resultados iguais para realidades opostas. O povoamento pode ser concen-
trado ou disperso, contínuo ou pontilhado de pequenos grupos de habitações separadas
entre si. Num estudo feito à microescala paroquial é fácil detectar essa variedade, que cor-
responde a modos distintos de viver o espaço.
69 RODRIGUES, 1989: 60-64 e 1993a.
70 Esta questão foi desenvolvida por FERREIRA e RODRIGUES, 1993: 318.
71 Onde os alugueres eram mais acessíveis. O aumento do número de almas por fogo reflectiu
a intensidade dos fluxos migratórios e também o agravamento das condições de existência
para os mais desfavorecidos.
356 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Lisboa Porto
Anos TBN TBM TBNup. TBN TBM TBNup.
1890 27.7 29.2 7.1 37.1 31.4 7.9
1900 27.2 27.7 6.1 37.1 36.0 7.2
Fonte: RODRIGUES, 1993: 297-318.
Fogos População
Anos Cidade Freg. urbanas Cidade Freg. urbanas
1801 43526 40997 169506 159392
1815 44055 163651
1821 46933 42733 195630 177080
1840 46690 42892 154861 193667
1853 44864 46332 166539 172835
1857 46668 48239 169078 175349
1864 42180 43993 178936 186578
1878 45749 48163 202048 212246
1890 67623 63593 301643 258335
1900 77805 73821 350919 298314
Fonte: RODRIGUES, 1995d: 65.
1890 1900
N.º Hab. Cidade 1.º B 2.º B 3.º B 4.º B Cidade 1.º B 2.º B 3.º B 4.º B
1 1,9 2,2 2 2 1,4 1,6 1,6 1,8 1,5 1,4
2 8,3 9 8,2 7,8 8,1 7,7 8,1 7,3 7,3 7,9
3 12,8 13,4 12,8 12 12,9 12,6 12,5 13,3 11,7 13
4 14,8 15,7 14,4 13,9 14,8 14,7 14,8 15,2 14,1 15
5 14 14,5 13,8 13,2 14,1 14,2 14,7 13,4 13,3 15
6 12,1 11,8 11,8 12,5 12,4 12,4 12,6 11,9 12,1 13
7+ 36,1 33,4 36,9 38,6 36,3 36,8 35,7 37,2 40 36
Fonte: RODRIGUES, 1995d: 69.
77 Embora coadjuvado por alterações sancionadas pelas autoridades, inclusivamente no que res-
peita à extinção de freguesias pequenas.
78 No relatório publicado por alturas da epidemia de febre-amarela em 1857 referia-se terem
muitas famílias abandonado o centro da cidade. Sete anos volvidos, o núcleo antigo de
povoamento ainda não recuperara a população perdida.
360 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Fogos População
Períodos Cidade Freg. urbanas Cidade Freg. urbanas
1801-21 0,4 0,21 0,26 0,53
1821-35 0,12 0,13 0,36 0,47
1835-40 -0,35 -0,28 -0,56 -0,25
1840-57 0,5 0,69 -1,22 -0,58
1857-78 -0,09 -0,01 0,85 0,91
1878-90 3,31 2,34 3,15 1,65
1890-00 1,41 1,5 1,52 1,45
1801-1900 0,59 0,54 0,62 0,64
Fonte: RODRIGUES, 1995d: 65.
4. As estruturas demográficas
79 FERREIRA, 1987.
80 MARQUES, s/d.
362 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Anos 0 – 19 60 +
1801 41,9 7,7
1849 41,3 7,8
1864 40.8 7.9
1878 41.3 8.0
1890 42.4 9.9
1900 43.3 9.4
Fonte: Elaboração própria.
84 Os valores percentuais estão publicados por RODRIGUES e PINTO: 165-166), para 1864-
-1900, já que não dispormos de uma grelha comparável em termos administrativos para o
início do século.
364 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
50.0
45.0 43.3
41.9 41.3 40.8 42.4
40.8
40.0
35.0
30.0 Jovens
25.0 Idosos
20.0
15.0
10.0
9.9 9.4
5.0 7.7 7.8 7.9 8.0
0.0
1801 1849 1864 1878 1890 1900
zes) e 8,3% 60 ou mais anos. O grosso dos residentes situava-se nas idades
activas, quase 53%, com ligeira supremacia feminina.
Províncias 0 – 19 20 – 59 60 +
Minho 44.3 39.6 47.0 51.5 8.7 8.9
Trás os Montes 42.6 39.3 49.1 52.3 8.3 8.4
Beira 44.5 40.9 48.3 51.3 7.2 7.8
Estremadura 40.1 39.1 51.6 52.6 8.3 8.3
Alentejo 41.3 40.8 52.0 51.8 6.7 7.4
Algarve 45.9 42.9 49.3 52.1 4.8 5.0
Portugal 43.0 40.1 49.2 51.8 7.8 8.1
Fonte: Elaboração própria.
85 Em 1864 as diferenças eram de 10,1 pontos percentuais, em 1878 de 9,5, em 1890 de 8,1
e em 1900, conforme dissemos, de apenas 6,0 pontos (NAZARETH, 1982: 71).
86 Mais numerosos em Faro, Leiria, Guarda, Castelo Branco, Beja, Santarém e Bragança. Lisboa
era o distrito com menor percentagem de crianças e jovens. Percentagens como a de Viana
do Castelo, onde também não se atingiam 40%, tinham causas diversas: a precocidade da
emigração e o consequente esvaziamento dos grupos em idade activa.
366 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Legenda Legenda
30 - 40 30 - 40
41 - 42 41 - 42
43 - 45 43 - 45
46 - 47 46 - 47
0 50 km 0 50 km
Legenda Legenda
5-6 5-6
7-8 7-8
9 - 10 9 - 10
11 - 12 11 - 12
0 50 km 0 50 km
88 As diferenças entre cada zona não dependem apenas do peso percentual da população inac-
tiva: no caso da descida do total de activos ser causada pelo acréscimo nos grupos jovens
abrem-se perspectivas locais de futura evolução, opostas às das zonas onde esse aumento é
causado pela subida do número de idosos. O futuro económico e social destas últimas áreas
pode estar comprometido, caso se mantenham as condições vigentes.
89 A vitalidade de uma população é medida pelo número de idosos existentes por cada cem
jovens, sendo tanto maior quanto menor o peso dos primeiros em relação aos últimos.
90 RODRIGUES, 2004: 88.
O Século XIX 369
300.0
250.0
241 239 236
200.0 219
208
189
150.0
Índice de Envelhecimento
50.0
18 19 19 20 23 22
0.0
1801 1849 1864 1878 1890 1900
25.0
23
22
20.0 19 20
18 19
17 17
15.0
15
13 13 14
10.0
F t El b ã P i Índice de Envelhecimento
5.0
Índice de Dependência dos Idosos
0.0
1801 1849 1864 1878 1890 1900
1890 1900
Distritos IVit. RDJ RDI RDT IVit. RDJ RDI RDT
Aveiro 19 85 16 101 25 99 25 124
Beja 11 88 10 98 19 87 17 104
Braga 21 82 18 100 22 92 21 113
Bragança 12 86 10 96 19 89 17 106
Castelo Br. 13 89 11 100 20 98 19 117
Coimbra 15 85 13 98 26 94 25 119
Évora 16 79 12 91 21 84 18 102
Faro 11 100 11 111 18 96 17 113
Guarda 13 90 11 101 20 97 20 117
Leiria 15 97 15 112 23 100 23 123
Lisboa 20 67 14 81 21 74 16 90
Portalegre 13 83 11 94 19 88 17 105
Porto 18 83 15 98 18 96 17 113
Santarém 15 90 14 104 22 96 21 117
Viana do C. 23 78 18 96 30 86 26 112
Vila Real 16 83 13 96 21 94 20 114
Viseu 17 84 14 98 24 96 23 119
Lisboa (cid.) 31 47 15 62 23 61 14 75
Porto (cid.) 16 75 12 87 16 82 13 95
Portugal 19 80 15 95 22 92 20 112
Fonte: Elaboração própria.
5. Modelos de comportamento
1. O Portugal interior
(Bragança, Guarda, Castelo Branco, Portalegre e Beja, zonas montanhosas fron-
teiriças e do interior continental, e ilhas da Madeira e dos Açores)
a) Níveis de natalidade e mortalidade elevados (entre 28 e 40‰ e 21 a 34‰,
respectivamente);
b) Variações anuais de mortalidade acentuadas, sobretudo em épocas de crise de
origem agrícola. Nesses momentos, os acréscimos registados no número de
óbitos chegavam a subir 13% em relação a anos considerados normais.
2. O Portugal de transição
(desprovido de unidade geográfica:Vila Real,Viseu, Évora e Faro. Lisboa e Porto
pertencem a este grupo, porque as suas capitais empolavam a média distrital)
a) Níveis menos elevados das variáveis, variando a TBN de 23 e 36‰ e a TBM
de 18 a 23‰;
b) Variações menos bruscas de mortalidade, mesmo em anos de crise (que por
norma se limitava a acrescentar 3 a 7% ao volume normal da curva obituá-
ria);
3. O Portugal litoral
(todos os distritos de litoral atlântico, excepto Porto, Lisboa e Faro)
a) Constituíam uma faixa de forte crescimento natural, porque apresentavam
níveis da natalidade significativos (de 29 a 38‰) e níveis de mortalidade bai-
xos (16 a 20‰);
b) Os saldos fisiológicos eram estáveis, independentemente das conjunturas
económicas
Legenda
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
pressa alghuns fragmentos estrangeiros, enceta-se a sua discussão, e depois, quando a epide-
mia está acabada, cahe tudo no esquecimento» (Archivo Universal, 1859: 76-77).
112 RODRIGUES, 1993: 296 e ss.
113 Uma delas a causa de morte dentes, patologia passível de decorrer com sintomas respiratórios
(tosse, dispneia, entre outras) e nesse caso do grupo das Doenças do Aparelho Respiratório;
mas também podendo pertencer a Doenças Gerais, tendo em conta os sintomas constitucio-
nais com que podiam decorrer (febre, astenia, anorexia) (VALLIN e MESLÉ, 1997: 165-180).
114 Veja-se o que no capítulo VIII se refere a este propósito.
115 As precárias condições de vida, de higiene pública e privada e as duras formas de trabalho,
fizeram da tuberculose uma das principais causas de morte, com especial incidência nos
adultos jovens e em centros de maior densidade (BARDET e DUPÂQUIER, 1997: 98 e ss.).
Em 1900-1901, 17% dos óbitos registados no Porto eram devidos a tuberculose, percenta-
gem que se manteve até ao segundo pós-guerra (MAIA, 1991: 237).
O Século XIX 379
Províncias TBM
Minho 33.8
Trás os Montes 31.2
Beira 32.3
Estremadura 31.9
Alentejo 37.4
Algarve 42.8
TOTAL 33.3
Fonte: Elaboração própria.
119 É possível que a difusão de certas práticas preventivas, designadamente campanhas de vaci-
nação, bem como o envio dos expostos para criar fora tenham influenciado os resultados
médios, uma vez que se tratavam de grupos de muito alto risco.
382 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
dos anos 30. A cólera será uma das últimas manifestações da mortalidade de
tipo antigo, quando se inicia o processo de transição epidemiológica120.
Durante o século XIX os portugueses foram atingidos por diferentes
tipos de febres endémicas e males de índole desconhecida, que frequente-
mente adquiriam o estatuto de epidemias. Exposição às variações climaté-
ricas, anos de escassez e carestia alimentar, instabilidade social e política,
guerra, pobreza e más condições sanitárias emergem como causas próxi-
mas para as subidas inesperadas da variável. Uma certeza, porém: «é a
classe inferior do Povo que mais particularmente está sujeita a estas conse-
quências: sem meios suficientes para bem se curarem e tornando aos seus
penosos trabalhos mal convalescidos, eles padecem frequentemente de
recaídas de febres intermitentes, com quem finalmente se familiarizam,
abandonando todos os meios de cura, ou somente procurando remédios
particulares e misteriosos»121. Com origens e efeitos diversos, as crises de
mortalidade que regularmente atingiram o país nas primeiras décadas
foram alteradas posteriormente em muitos dos seus aspectos, designada-
mente quanto às suas causas próximas, à sua menor duração e ao facto das
vítimas serem atingidas num curto espaço de tempo, o que aumentava a
percepção das populações sobre o fenómeno122. A análise destes momen-
tos deve ser enquadrada numa perspectiva que inclua e compare a investi-
gação realizada em Portugal e Espanha. Mesmo nos casos em que as epide-
mias têm origem fora da Península, como acontece com a cólera dos anos
30 e 50, é frequente ganharem novos contornos no contexto peninsular123.
As mudanças ocorridas entre as duas metades da centúria não obstam a que
se mantivesse ou alargasse o fosso entre grupos sociais e espaços envolvi-
dos. Quando em meados de Oitocentos desapareceram as crises epidémi-
cas violentas, assistiu-se ao alargar das diferenças entre grupos consoante a
sua qualidade de vida. Mau grado as mudanças ocorridas, a sobremortali-
dade continuou a estar associada a conjunturas políticas, sociais e econó-
120 Emanuel Le Roy Ladurie alertava para uma leitura das alterações climáticas demasiado limi-
tada às suas consequências de tipo económico, sobretudo no que respeita à produção agrí-
cola (PERRENOUD e BOURDELAIS, 1997: 81-83).
121 António Jacinto Vidal, «Breve relação das moléstias, que costumão grassar em Vila Franca de
Xira, e Póvos, suas causas, e tratamento; e das que particularmente grassarão no mês de
Janeiro do Presente anno», in Jornal de Coimbra, Vol. IV, n.º XIX (Julho, 1813), pp. 219-223.
Estas questões foram abordadas por FERRO, 1995: 71 e ss.
122 Os surtos de cólera disso exemplo (BARDET e DUPÂQUIER, 1997: 88).
123 Factores como o clima ou a capacidade de gerir situações de crise por parte das autoridades
de cada Reino, determinam as diferenças encontradas ao nível da intensidade das crises
(SANTOS e RODRIGUES, 1998: 65-84). Sobre as crises de mortalidade espanhola veja-se o
livro de MOREDA, 1985 ou ainda REHER e ROWLAND, 1997: 544-546.
O Século XIX 383
que estas famílias seriam jovens e ainda em formação. Esta realidade pode
explicar a moderação das médias nacionais, quando confrontados com
outros Estados125. A Europa oitocentista apresentou níveis sempre elevados
de natalidade (TBN), superiores a 30‰, que só virão a decrescer após
1900, embora com diferenças. Nos países do Norte o nível médio de nata-
lidade era inferior em seis pontos ao registado na parte ocidental. Um
século depois estes níveis tinham recuado até 28,4 e 30,2‰, respectiva-
mente. Nos estados do sul, a TBN rondava os 32,5‰, enquanto a leste se
aproximava ou mesmo ultrapassava 40‰126.
Em Portugal, para além do efeito migratório, as diferenças internas eram
acrescidas pela vigência do european marriage pattern, modelo de comporta-
mento demográfico fundamentado por Hajnal em 1965, que tinha como
suporte o papel regulador da fecundidade nas sociedades do passado, a qual
era controlada através do casamento, dados os baixos níveis da ilegitimi-
dade então vigentes. Entre 15 a 20% das mulheres nunca casavam ou
faziam-no depois dos 40 anos, sem impacto em termos de nascimentos. As
restantes casavam tarde, reduzindo por esse facto o número de anos de acti-
vidade sexual, agravada pela sobremortalidade masculina e a dificuldade das
viúvas em voltar a casar. Apenas um terço das uniões durava mais de 15
anos, embora com grandes diferenças consoante os níveis socioeconómicos
dos nubentes. Durante o casamento, factores diversos limitavam ainda o
número de filhos: a abstinência religiosa, doenças e épocas de trabalho
intenso, o período pós-parto e as fases prolongadas de aleitamento, que no
final do século XVIII rondariam os nove meses. Os solteiros, que podiam
representar 10 a 20% da população total, funcionavam como uma garantia
de hipotético crescimento, caso fosse possível. Após uma crise demográfica
descia a idade média ao primeiro casamento e reduziam-se os intervalos
intergenésicos. Deste modo, a idade ao primeiro casamento das mulheres,
a proporção de mulheres casadas e a fertilidade dos casais funcionam siste-
maticamente até ao início da transição demográfica como forma de limita-
ção de crescimento populacional. Cerca de um quinto dos casais da Europa
pré industrial não deixavam herdeiros, outro quinto deixava apenas um.
Ainda assim, existiam diferenças de comportamento, sobretudo entre meios
rurais e urbanos, consequência das diferentes composições internas fami-
liares e de uma maior facilidade em constituir família mais cedo nas cida-
des. Nelas o casamento era mais precoce e maior o número de filhos,
127 FLINN, 1971: 25-46. Em Portugal, foi em relação aos expostos que essa prática se veio a
tornar mais frequente.
128 Entre os últimos cumpre destacar as características do sistema urbano, a mobilidade social e
as formas de ascensão no seu interior, a organização familiar e certos tipos de actividade pro-
fissional feminina (NAZARETH, 1982 e CHESNAIS, 1986).
129 LIVI-BACCI, 1971: 22.
130 A nado-mortalidade só pode ser calculada a partir do momento em que passou a ser obri-
gatória a certidão de óbito dos fetos nascidos mortos, o que acontece em finais do século.
Um ensaio realizado para o quadriénio 1887-1890, onde se contabilizaram os nado-mortos
falsos (os que morreram até 24 horas após o nascimento), aponta para margens de erro da
ordem de 1,4%, que ascendem a 4,2% no Porto e quase ao dobro, 8,1%, em Lisboa (LIVI-
-BACCI, 1971: 29).
131 Um estudo de Almeida Garrett para 1862 aponta o tipo de incorrecções daí provenientes. Das
386 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
127.202 pessoas baptizadas nesse ano, 62 (5%) eram adultas. Dos restantes, 5208 haviam
nascido em 1861, 149 em anos anteriores e 2454 em data desconhecida. Apenas 89% dos
baptismos correspondiam a nascimentos do ano de 1862 (JORGE, 1889: 224-227).
132 SOUSA, 1979: 311-313.
133 SOUSA, 1979: 248-257.
134 BANDEIRA, 1996: 196-198.
O Século XIX 387
136 VAN de WALLE, 1997: fig. 21, 144. Sobre Portugal LIVI-BACCI, 1971: quadro 19, 68.
137 Sobre a questão da ilegitimidade urbana veja-se RODRIGUES, 1995: 126 e ss.
138 Esse facto influenciava os resultados de Lisboa, pelo facto da capital acolher expostos de todo
o País (RODRIGUES, 1997: 165).
139 Cf., como exemplo de estudo a nível local, MATOS, 1995.
140 SOUSA, 1979: 356-357; MATOS, 1995.
O Século XIX 389
141 A Taxa de Fecundidade Geral pondera os nascimentos ocorridos face à a população feminina
com idades compreendidas entre os 15 e os 50 anos, ou seja, em período fértil, pelo que eli-
mina parte das distorções devidas aos efeitos de uma desigual repartição etária.
142 RODRIGUES, 1997: 211.
143 SOUSA, 1979: 262 e 267.
390 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
144 Em 1801, a TFG foi calculada em 99,38‰, em 1853 nos 106,34‰, mas em 1890 voltava a
ser de apenas 97,1‰ (RODRIGUES, 1997: 211.).
O Século XIX 391
média ao casamento em 1802 para cerca de metade das comarcas. Nos pri-
meiros anos do século XIX, a idade média ao primeiro casamento era de 27
anos para todos os homens e oscilava entre 21,8 anos no Alentejo e 27,3 na
Beira no caso feminino. Por esse facto, a amplitude etária entre os nubentes
aumentava a sul, com diferenças de 3 a 6 anos152. Tal como acontecera com
o celibato definitivo, também a idade média ao primeiro casamento dimi-
nuiu durante a segunda parte de Oitocentos, embora estabilizasse nos anos
90. Manteve-se, no entanto, vigente a tradicional dicotomia: a norte exis-
tiam mais celibatários, sobretudo femininos, e os que casavam faziam-no
em média mais tarde. Embora com especificidades locais, reduziu-se a
idade do casamento nas gerações nascidas a partir de meados do século,
mais visível a partir dos anos 70153. Esta mudança estaria relacionada com
novas oportunidades de emprego e mobilidade interna e externa, produ-
zindo efeitos ainda não estudados na sua relação com outros factores,
Em 1887 o acto efectuava-se em média aos 27 anos para os homens e 24,2 para as mulhe-
res (BARDET e DUPÂQUIER, 1997: 536).
152 ROWLAND, 1997.
153 ROWLAND, 1997:105-117.
O Século XIX 395
157 Resta-nos o recurso a metodologias indirectas, como a que testámos para analisar a evolução
global da população, e outro tipo de dados oficiais de que nos servimos, mau grado o seu
carácter circunscrito em termos cronológicos. As investigações que se baseiam nos saldos
migratórios incluem uma mistura de todos estes movimentos.
158 SOUSA, 1979: 295.
159 LEITE, 2005: 68 e ss.
160 PINTO e RODRIGUES, 1996: 39-49.
161 LEITE, 2001: Quadro 8.9, 594.
398 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Ausentes172 Transeuntes173
Distritos H M Tot. H M Tot.
Aveiro 4.0 1.4 5.4 0.2 0.1 0.3
Beja 5.0 1.8 6.8 1.1 0.4 1.6
Braga 2.3 1.0 3.3 0.2 0.1 0.3
Bragança 2.8 1.3 4.1 1.5 0.8 2.3
Castelo Br. 2.6 1.0 3.6 1.2 0.3 1.5
Coimbra 4.2 1.5 5.7 0.6 0.3 0.9
Évora 5.7 1.7 7.4 1.4 0.4 1.8
Faro 2.7 0.7 3.4 0.7 0.2 0.9
Guarda 3.0 1.1 4.1 1.1 0.3 1.4
Leiria 2.5 1.0 3.5 0.2 0.1 0.3
Lisboa 3.1 1.9 5.0 0.9 0.3 1.2
Portalegre 5.3 1.5 6.8 2.2 0.5 2.7
Porto 1.8 0.6 2.4 0.9 0.3 1.2
Santarém 2.3 1.1 3.4 0.5 0.2 0.7
Viana do C. 4.5 1.0 5.5 0.3 0.2 0.5
Vila Real 3.2 1.3 4.5 0.8 0.3 1.1
Viseu 3.8 1.9 5.7 0.7 0.2 0.9
Fonte: Elaboração própria.
169 Embora se trate de uma época de forte mobilidade, causada pela quadra natalícia e a cessa-
ção dos contratos de arrendamento, este é um indicador que pouco tem sido utilizado e que
pode dar uma primeira imagem global do fenómeno das migrações inter e intradistritais,
embora aqui só as interdistritais tenham sido apuradas e apenas para o primeiro censo.
170 Os valores relativamente elevados que encontramos em distritos como o de Bragança ou Por-
talegre podem estar distorcidos, dada a pouca população aí residente. Só uma análise a nível
concelhio ou mesmo paroquial permitiria extrair conclusões adicionais sobre estes montantes.
171 RODRIGUES, 1997: 182-183; RODRIGUES, 1999.
172 As percentagens correspondem ao número de ausentes/população de facto.
173 As percentagens correspondem ao número de transeuntes/população de direito.
402 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
174 Nos totais se incluem os estrangeiros, embora o seu volume seja insignificante quando cal-
culado ao nível do distrito. Os estrangeiros recenseados em Portugal residiam em centros
urbanos e dentro deles procuravam as grandes cidades. O Porto e sobretudo Lisboa são nesta
época os únicos concelhos onde podemos reconhecer a existência de comunidades estran-
geiras. Espanhóis (sobretudo galegos), brasileiros, ingleses e franceses são os mais represen-
tados. Mas só os galegos têm algum significado em termos nacionais, pelo seu número e
representatividade um pouco por todo o Portugal.
175 Cf. uma síntese curiosa de EVANGELISTA, 1971: 163-174.
176 Tábuas Topographicas e Estatísticas, 1801.
177 POUSSOU, 1997: 240.
O Século XIX 403
181 As opções metodológicas baseiam-se em fontes indirectas, com destaque para as informa-
ções sobre naturalidade patentes nos registos paroquiais de óbitos e casamentos, bem como
em certos apuramentos efectuados por ocasião dos recenseamentos, já na segunda metade de
Oitocentos (cf. POUSSOU, 1997: 158 e ss.). Em Portugal os registos de casamento consti-
tuem as fontes mais importantes para o estudo das migrações. Existem em todas as paróquias
e abrangem toda a população. No entanto, só apanham uma camada etária determinada,
embora seja aquela onde as migrações são por norma mais intensas, e escapam todos os imi-
grantes já casados, tal como os que nunca casam. Daí o interesse em cruzar óbitos e casa-
mentos, o que permite atenuar as lacunas. No entanto, os assentos de óbito nem sempre con-
têm esta informação.
406 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Médias anuais
Quinquénios Emigr. legal Emigr. clandestina Emigr. provável
1855-59 9996 3332 13328
1860-64 5414 1805 7219
1865-69 4783 1594 6377
1870-74 12561 4187 16748
1875-79 12132 4044 16176
1880-84 16401 5467 21868
1885-89 19867 6622 26489
1890-94 24513 8171 32684
1895-1900 27028 9009 36037
Fonte: RODRIGUES, 2004:138.
192 Os quais reflectem alterações de conjuntura externa, como a guerra entre o Brasil e o Para-
guai, as crises socioeconómicas portuguesas dos anos 70 e 80 e a instabilidade política, que
atingiu Portugal nas primeiras décadas da centúria.
193 Embora neste último caso, os valores reais fossem sobreavaliados, pela forma de registo das
saídas do país pelo porto, bem como pela de, após um período de duração variável na cidade.
194 ARROTEIA, 1983: 17 e ss.
O Século XIX 411
45000
40000
Emigração Portuguesa
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
1855 1858 1861 1864 1867 1870 1873 1876 1879 1882 1885 1888 1891 1894 1897 1899
202 J. Lopes de Lima, Ensaios sobre a Estatística das Possessões Portuguesas, cit. SERRÃO, 1982: 79.
203 RODRIGUES, 2002.
204 SERRÃO, 1982: 37-38.
O Século XIX 413
Distritos TBE(%0)
Aveiro 4.5
Beja 0.1
Braga 2.2
Bragança 2.5
Castelo Br. 0.5
Coimbra 4.5
Évora 0.1
Faro 0.6
Guarda 3.2
Leiria 1.7
Lisboa 0.5
Portalegre 0.1
Porto 1.9
Santarém 0.4
Viana do C. 3.0
Vila Real 3.7
Viseu 4.7
Portugal 2.4
Fonte: RODRIGUES, 2004:142
O Século XIX 415
7000
Homens Mulheres
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
1836 1839 1842 1845 1848 1851 1854 1857 1860 1863 1866 1869 1872 1875 1878 1899
210 O recrutamento era tido como factor determinante na decisão de emigrar. Nesse sentido, foi
por diferentes vezes mencionada a hipótese de criar condições alternativas ao ónus que cons-
tituía o serviço militar, evitando que, como referia em 1837 Leonel Tavares Cabral, «todo o
416 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
sageiros e tonelagem dos mesmos211. Só nos inícios dos anos 60, reconhe-
cida a incapacidade do poder político para travar o fluxo migratório, o dis-
curso oficial passa a destacar as vantagens económicas que dele advêm,
nomeadamente das remessas financeiras.
Não obstante, fala-se com insistência na colonização de África e no
povoamento do Alentejo como destinos alternativos. Foi proposta a conver-
são de terras no Alentejo e da concessão de vantagens que permitissem
fomentar o desenvolvimento de Angola, Moçambique, Cabo Verde (Min-
delo) e São Tomé. Esta será uma solução apontada pela primeira vez em
1839, mas regularmente lembrada, até final dos anos 70212. No Reino, a
oferta de emprego no sector das obras públicas de alguma mão-de-obra
indiferenciada e sem recursos são inovadores e encarados como solução
credível para muitos trabalhadores jovens213.
rapaz que poder ser soldado e lhe constar que há de ser recrutado, foje, e vai augmentar
povoações estranhas». Nos anos 50 sucessivos entraves se ergueram à emigração de adultos
jovens em idade militar, mas sem resultados visíveis. A Lei de Março de 1877 previa o paga-
mento de fiança a todos os mancebos entre os 14 e os 22 anos que desejassem ausentar-se
do país. Com objectivos opostos favorecia-se o retorno dos emigrados, concedendo a possi-
bilidade aos maiores de 26 anos de pagarem a remissão militar sem multa.
211 Referimo-nos, entre outros, ao carácter repressivo de vários documentos legislativos, publi-
cados nos anos 50 e 80, bem como aos inquéritos parlamentares de 1873 e 1885 (Primeiro
Inquerito Parlamentar sobre a Emigração Portugueza pela Commissão da Camara dos Senhores Deputados, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1873).
212 Veja-se, a título de exemplo, a Sessão de 13 de Fevereiro de 1839. Diário da Câmara dos Deputa-
dos. Sessão Extraordinária, Parte 2.ª, vol.1.º, Imprensa Nacional, 1839, p. 245 e ss.
213 RODRIGUES, 2002.
10
1 SANTIS, 1997. «O estudo da realidade demográfica e económica permite concluir que existe
uma relação complexa de influência entre sistema demográfico (composto por comportamen-
tos, fluxos, quantidade e estrutura) e ambiente económico (riqueza, recursos naturais, equipa-
mento, rendimento, produção e consumo), e não económico (cultura, religião, política, socie-
dade e comunidade) […] trata-se de um objectivo ambicioso tentar compreender o impacto do
sistema demográfico no seu ambiente mas também apreender como pode este ambiente modi-
ficar os comportamentos e, se tem esse poder de influencia, como, quanto e quando o exerce».
2 BECK, 1992.
3 MOREIRA e RODRIGUES, 2005: 145-169.
418 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
da sua população. Numa primeira fase elas justificam-se pelos avanços con-
cretizados ao nível dos cuidados de saúde, geradores de uma diminuição
substantiva dos níveis de mortalidade. Em 1900, a mortalidade geral era de
cerca de 17‰ na Europa Ocidental e 27‰ na Europa de Leste4. Hoje esta
assimetria intercontinental permanece, embora mais esbatida, sendo de 9 e
de 14‰ na Europa Ocidental e na Europa de Leste, respectivamente5. As con-
quistas foram ainda maiores em relação à mortalidade infantil. Em 1900,
grande parte dos países de Leste e Sul da Europa apresentava valores a rondar
os 200‰6, embora a Norte a Suécia e a Noruega já se situassem abaixo
dos 100‰. Hoje a Europa é o local no mundo mais seguro para uma criança
nascer e viver, pois é neste continente que se encontra a maioria dos países
com menor incidência desta taxa (a média europeia em 2008 é de 6‰)7.
De início a diminuição dos níveis de mortalidade ocorre sem mudanças
nos comportamentos face à fecundidade, pelo que o aumento das probabi-
lidades de sobrevivência dos mais jovens faz elevar o número de crianças e
provoca um rápido crescimento populacional, fazendo ressurgir os receios
expressos pelas teorias malthusianas de «explosão demográfica» e conse-
quente escassez de recursos naturais8. Em 1900, era no leste europeu que
nasciam mais crianças por mil habitantes (cerca de 34), enquanto no oci-
dente nasciam 27.Verificou-se, no entanto, uma alteração gradual nos com-
portamentos face à fecundidade, na sequência de políticas favoráveis à redu-
ção do número de filhos e acesso a programas de planeamento familiar, ao
crescimento urbano e industrial, à emancipação da mulher, aos casamentos
tardios e ao facto da criança passar a ser encarada como um custo9. Estas
alterações contribuíram para a actual situação, em que o número de filhos
que nascem não conseguem assegurar a renovação das gerações. Em 2008
o norte da Europa regista os maiores níveis de natalidade (12‰), que nas
restantes se fixa em 10 ou 11‰.
Para mais, actualmente espera-se viver mais do que nunca. No início do
século XX, à nascença, um homem europeu poderia aspirar viver 47 anos e
uma mulher 5010; em meados do século, esse valor era de 66 anos para os
549
274
144
84 103
1,50
1,24 1,26 1,24 1,15 1,22 1,29
1,30 1,20 1,15
1,05
1,10
0,86 0,89 0,85
0,90 0,79
0,70
0,48 0,44 0,45
0,50 0,34 0,37
0,30 0,14 0,09
-0,02 0,03 0,08
0,10
-0,10
-0,16 -0,21
-0,30
-0,34 -0,31
-0,50
-0,70 -0,65 TCT
-0,74
-0,90 TCN
-1,10 TCML
-1,36
-1,30
-1,50
1900-1911 1911-1920 1920-1930 1930-1940 1940-1950 1950-1960 1960-1970 1970-1981 1981-1991 1991-2001
20 Os Planos de Fomento (1953) introduzem uma reorientação para a substituição das impor-
tações no mercado interno e posteriormente orientação para a exportação.
21 AGUAR e MARTINS, 2004. A agricultura perdeu cerca de 600.000 activos e baixou de 24%
do PIB em 1960 para 15% em 1973; o sector secundário passou de 30% para 36% e o ter-
ciário de 45% para 49%.
22 AGUAR e MARTINS, 2004. O novo modelo de desenvolvimento económico promovia uma
política de investimento em infra-estruturas públicas necessárias às actividades produtivas
(aeroportos, redes viárias e ferroviárias, electrificação, projectos hidroeléctricos); a promoção
do investimento em sectores industriais estratégicos capital-intensivos (cimentos, adubos,
siderurgia e metalomecânicas pesadas, pasta de papel, químicas); políticas fiscais de crédito
incentivadoras da industrialização e da reorganização das indústrias tradicionais em torno das
cidades de Lisboa e Porto, promoveram a deslocação do Alentejo e das Beiras para junto dessas
cidades. É neste contexto que se intensifica o processo de urbanização dessas zonas.
23 NAZARETH, 1988.
24 RODRIGUES, 2003: 91-109.
25 Levou ao controlo dos preços, condicionalismos industriais, perdas de eficiência da utiliza-
ção dos recursos produtivos, incentiva o monopólio e oligopólio e desigual distribuição de
rendimentos.
O Século XX: a transição 425
11.000.000 1,50
Total de População residente em Portugal
1,20
0,30
7.000.000
0,00
-0,30
5.000.000 -0,60
1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2005
Fonte: Estatísticas Demográficas e Recenseamentos Gerais da População Portuguesa (1900-2001); Estimativas da População
para 31/XII/2005, INE.
26 Taxa de crescimento média anual do PIB entre 1974 e 1994 não foi além de 2.5%. a activi-
dade económica começou a flutuar acentuadamente com alternância desde períodos de
recessão e recuperação; inflação e desemprego para níveis de 1960.
27 Queda taxa de crescimento PIB internacional – passa de 4,7% entre 1960-73 para 2.3% até
1990; Aumento Desemprego – passa de 3% para 10% e aumento da Inflação media – passa
de 5% a 15%. (SILVA, 1998)
426 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
164,1
148,2 148,7
143,6
133,9 126,1
132,1 114,9
94,1
90,1
77,5
64,9
Fonte: INE
55,5
38,9
24,3
17,8 10,9
7,4 5,5 3,5
Fonte: Estatísticas Demográficas e Recenseamentos Gerais da População Portuguesa (1900-2001); Estimativas da População
para 31/XII/2005, INE.
O Século XX: a transição 427
100%
80%
60%
40%
20%
0%
25-35 35-45 45-55 55-65 65-75 75-85 85+
Nunca frequentou sistema de ensino Primária 3º Ciclo Secundário Superior
Idade
H M
85 +
80-84
75-79
70-74
65-69
60-64
55-59
50-54
45-49
40-44
35-39
30-34
25-29
20-24
15-19
10-14
5-9 1981 1900
0-4
6% 4% 2% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6%
28 SILVA, 1998: a inflação atinge os 30% em 1983; o PIB diminui em 1983 0.2% e em 1984 1.9%.
29 SILVA. 1998: Melhorias na BP; baixa dos salários; agravamento do desemprego; desceu o con-
sumo e o investimento e a depreciação cambial levou ao aumento das exportações.
30 AGRIA, 1994 refere que existe uma correlação entre ciclos políticos e económicos princi-
palmente ao nível de construção e obras públicas. Entre 1973 e 1992 houve uma intensifi-
cação na adjudicação de obras sete semestres antes das eleições, para estarem concluídas mais
próximas deste período.
O Século XX: a transição 429
31 Como a Expo’98, a ponte Vasco da Gama e a requalificação de toda a zona ribeirinha cir-
cundante e projectos imobiliários que geraram emprego para a construção e serviços culmi-
nando na importação de mão de obra estrangeira.
430 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Fonte: Recensamentos Gerais da População entre 1900 e 2001 e Estimativas 2006, Anuário Estatístico de Portugal 2006,
INE.
Idade
H M
85 +
2006* 80-84 2006*
75-79
70-74
65-69
60-64
55-59
50-54
45-49
40-44
35-39
30-34
25-29
20-24
1900 15-19 1900
10-14
5-9
0-4
6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% % 1% 2% 3% 4% 5% 6%
36 Segundo dados 2008 World Population Data Sheet (www.prb.org). Em 2006, as diferenças regio-
nais na esperança média de vida à nascença revelavam que entre a Região Autónoma da
Madeira e o Centro (74,1 e 79 anos, respectivamente) havia cerca de 5 anos de diferença. As
regiões abaixo da média nacional são a Madeira, Açores, Algarve e Alentejo.
37 MOREIRA, 2001.
38 Entre os países europeus apenas os países nórdicos se conseguem aproximar da taxa de reno-
vação de gerações: Dinamarca, Irlanda, Noruega, Suécia (1.9), França (2.0) e Islândia (2.1),
(www.prb.org).
434 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
2. Factores de diversidade
-0,50
T.C.A.M. Continente
-0,70 T.C.A.M. Ilhas
-0,90 -0,82
-0,99
-1,10
1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2005
Fonte: Recenseamentos Gerais da População entre 1900 e 2001 e Estimativas 2005, INE.
11.000.000
10.000.000
9.000.000
8.000.000
7.000.000
6.000.000
5.000.000
1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2005
Fonte: Recenseamentos Gerais da População entre 1900 e 2001 e Estimativas 2005, INE.
43 Uma análise mais detalhada destas conjunturas e respectiva influência em termos demográ-
ficos encontra-se sintetizada por RODRIGUES, 1995: 57 e ss.
O Século XX: a transição 437
Legenda
nuts3_01
zonas
1
2
3 N
4
5
44 RODRIGUES e PINTO, 1996: 561-565. Estudos realizados neste âmbito permitem estimar
em cerca de 80% a percentagem de migrantes que trocam as zonas rurais, onde residiam,
por centros urbanos. Só 20% efectuam deslocações entre dois centros urbanos.
45 RODRIGUES e BAPTISTA, 1996: 75-122.
46 RODRIGUES e PINTO, 1996: 44-53. Partimos do pressuposto metodológico que, no pano-
rama português, todos os aglomerados com dois mil ou mais residentes possuíam já algu-
mas infra-estruturas capazes de fixar os seus residentes.
O Século XX: a transição 439
Legenda
-9 - -5
-4 - 0
1-4
5-9
47 O Porto era, juntamente com Braga, um distrito muito dinâmico em termos fisiológicos.
48 BAPTISTA, 1994: 53-77.
49 RODRIGUES e PINTO, 2002: 179-203.
444 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Legenda
-9 - -5
-4 - 0
1-4
5-9
Legenda Legenda
-9 - -5 -9 - -5
-4 - 0 -4 - 0
1-4 1-4
5-9 5-9
Legenda
-31882 - -23460 Legenda
-23459 - -295 -9 - -5
-294 - 2761 -4 - 0
2762 - 8223 1-4
8224 - 22508 5-9
50 Considerámos para o efeito as taxas de crescimento total, natural e migratório médio. Esta
decomposição permite identificar a relevância das dinâmicas naturais e migratórias enquanto
factores explicativos da realidade concelhia (MOREIRA e RODRIGUES, 2008).
448 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
51 Com estratégias de fixação por vezes difusas, como é o caso das comunidades da Europa cen-
tral e de Leste ou da América Latina.
450 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Grupo % Características
2,6 Maior dinamismo e locais de destino interno preferencial nas décadas de 60 e de 70
1e2 + Localizados na região envolvente de Lisboa, mais Valongo.
0,7 Mantêm comportamento constante até 2001. Excepções: Barreiro (taxa de cres-
cimento migratório negativa em 80 e 90); e Loures (taxa de crescimento migra-
tório muito negativa em 90 devida a alterações de território).
Junta, para além de outros concelhos da Grande Lisboa, concelhos à volta do
Porto até Aveiro e os concelhos algarvios de Albufeira e Portimão.
Regista níveis médios mais elevados de crescimento natural entre 1960 e 1981,
3 10,9 resultado de comportamentos favoráveis de fecundidade tardios em contexto
nacional.
O crescimento natural explica o seu dinamismo, já que as médias do cresci-
mento migratório são baixos.
Revelam comportamentos recessivos, sobretudo o Grupo 5.
Grupo 4 – menos recessivo, embora também tenha um perfil migratório negativo
(mais em 1960-70, menos em 1981-91); nas outras décadas o saldo foi positivo,
com valores perto do zero. As outras variáveis, à excepção do saldo natural da
37,3 década de 90 em média negativo, revelam tendência positiva inferior a 1.
4e5 + Grupo 5 – valores médios negativos praticamente em todas as varáveis (excepções:
48,1 as taxas de crescimento natural entre 1960 e 1981 que, todavia, não conseguiram
inverter a sua tendência depressiva. Os valores negativos dos saldos migratórios,
especialmente na década de 60, indicam que foram locais de origem de migrantes
que se deslocaram quer para outras zonas do país, quer para o estrangeiro.
-se, todavia, que o cálculo que o INE tem feito da população urbana inclui
os residentes nas cidades oficialmente consideradas56 e as sedes de conce-
lho. Continua a dificuldade em contabilizar a população urbana portuguesa,
apesar do INE ter publicado em 2004 uma base de dados georreferenciada
para as 141 cidades existentes à data57.
Se privilegiarmos uma análise de século verificamos que o número de cen-
tros urbanos e a percentagem de população urbana em relação à população
total nos centros com mais de 5, 10 e 20 mil habitantes, ou seja, o nível de urba-
nização português no último século se manteve escasso. Em 1900 eram poucos
os centros de média dimensão e só um décimo da população vivia em núcleos
com funções urbanas, apesar da subida ocorrida na segunda metade de Oito-
centos. Condicionantes político-administrativas e sobretudo económicas trava-
ram o desejável e possível processo de evolução da frágil rede urbana nacional.
Foi lento o crescimento dos aglomerados superiores a 5 mil habitantes e só
na transição para o século XXI se verifica um expressivo aumento da sua per-
centagem. Por seu turno, os centros acima dos 10 mil residentes registam uma
56 «Em Portugal cidade refere-se a um aglomerado populacional que a dada altura foi elevado
a esta categoria por uma entidade político-administrativa (rei ou parlamento)» (SAL-
GUEIRO, 2006: 176-189), Actualmente são a Assembleia da República e as Assembleias
Regionais dos Açores e da Madeira que podem decidir da elevação dos lugares à categoria de
cidade. Na Lei n.º 11/82 de 2 de Junho enunciam-se os critérios necessários, que passam
por um mínimo populacional, mais de 8000 eleitores, e pela existência de um certo número
de equipamentos e infra-estruturas. No entanto, pode haver razões de ordem histórica, cul-
tural e arquitectónica que podem justificar uma ponderarão diferente destes requisitos.
Apesar da definição destes critérios o processo elevação de lugares a cidades tem conduzido
ao aparecimento de um grupo heterogéneo de cidades.
57 Muitas são as críticas que podemos fazer à qualidade destas estatísticas, nas quais têm pre-
dominado critérios jurídico-administrativos, que nem sempre correspondem a uma reali-
dade de vivência urbana efectiva (VIEIRA, 1978: 107-109; SALGUEIRO, 2006:178) Sobre
esta matéria veja-se MOREIRA et allii, 2007.
O Século XX: a transição 453
58 É o caso de Aveiro e Faro nos anos 60, de Viseu em 70 e na década seguinte, dos distritos de
Leiria e Santarém.
456 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
3. Os comportamentos colectivos
72 DUMONT, 1890:130.
73 HODGSON, 1983.
460 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
å
DECLÍNIO DA MORTALIDADE
Fecundidade inalterada
å
“EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA”
å
CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO MODERADO
å
3.ª FASE TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
å
CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO PRÓXIMO DE ZERO
Como qualquer nova teoria, demorou a ser aceite. Um dos teóricos resis-
tentes foi o economista holandês Pierson74, que recusava a ideia de que um
aumento da prosperidade na sociedade provocasse um decréscimo popula-
cional, pois afirmava que mesmo que o número de nascimentos reduzisse
por este factor, a mortalidade também ela iria diminuir. No decorrer da
investigação, outros contemporâneos cedo provaram a existência de uma
correlação inversa entre fecundidade e nível socioeconómico. Foram apon-
74 PIERSON,1890/1913:175.
O Século XX: a transição 461
tadas três causas: o nível de vida, a classe social e a residência urbana. A par
da evolução da mudança dos comportamentos face à fecundidade surgem
novas conceptualizações sobre a futura dinâmica da população. O econo-
mista inglês Edwin Cannan75 foi pioneiro nesta frente, tendo realizado em
1895 as primeiras projecções da população de Inglaterra e Gales com base
nos recenseamentos gerais.
Novos conceitos introduzidos por Cannan, Fahlbeck76 e Westergaard77
vieram refutar as teorias maltusianas do óptimo da população e das projec-
ções do crescimento descontrolado da população. Pela primeira vez um
conjunto de autores conseguiu dar plausibilidade à teoria de que o fim do
crescimento da população seria alcançado pela via pacífica; que o período
do rápido crescimento da população era transitório e no futuro se iria assis-
tir a uma transição demográfica com consequências ainda imprevisíveis.
Acreditava-se que não existiam estudos correlacionando fecundidade e
níveis socioeconómicos anteriores a Warren S. Thompson, 1929. Este
último era apontado como pioneiro na teorização desta nova era de cresci-
mento demográfico. Realidade contrariada e comprovada por Gans, ao enu-
merar os vários estudos e autores aqui resumidos em anteriores parágrafos.
Certo é que a investigação de Thompson não foi amplamente divulgada, e
em 1934, Landry desenvolveu na sua «La Révolution Démographique» as
mesmas ideias orientadoras, sem ter conhecimento da existência de estudos
prévios. Ambos defendiam que o crescimento populacional estava dividido
em três estágios: primitivo, intermédio e contemporâneo.
Mais tarde, em 1945, Frank Notestein e Kingsley Davis denominaram
este processo Transição Demográfica, que decompuseram em três fases: após
um longo período marcado pelo crescimento lento da população, com
níveis de natalidade relativamente estáveis e mortalidade oscilante em
momentos de crise, dá-se início à primeira fase do processo de transição,
quando os níveis de mortalidade diminuem enquanto a fecundidade se
mantém estável, o que gera a intensificação no ritmo de crescimento do
universo populacional em que ocorre; a segunda fase inicia-se quando os
níveis de natalidade mudam a sua tendência e também decrescem,
enquanto a mortalidade reforça a sua queda; por último, natalidade e mor-
talidade encontram-se, a níveis agora mais baixos que nunca. A mortali-
dade mantém-se relativamente estável, enquanto a fecundidade vai mar-
cando o ritmo de crescimento populacional, que se aproxima de zero.
78 Papel que tem sido desempenhado por diferentes organismos internacionais, de que desta-
camos as Nações Unidas, o Population Reference Bureau, o EUROSTAT, o Conselho da
Europa, o Milbank Memorial Fundation e outros.
464 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Fonte: INE – Recenseamentos Gerais da População entre 1801 e 2001 e Estimativas 2005.
Fonte: INE – Recenseamentos Gerais da População, Estatísticas Demográficas 1900 a 2001. Estimativas 2005
79 Segundo o 2008 World Population Data Sheet, a TMI mais baixa registada em 2008 pertence à Islân-
dia com 1,3‰, seguindo-se Andorra com 2,5‰, Suécia 2,8‰ e Liechtenstein 2,9‰. O Afe-
ganistão aparece aqui como o país do mundo com a mais alta TMI 163‰, seguindo-se a
Serra Leoa com 158 e a Libéria com 133 (www.prb.org).
80 INE, 2006, Estatísticas Demográficas.
O Século XX: a transição 467
170,00
160,00
205000
150,00
100,00
165000 90,00
80,00
70,00
145000 60,00
50,00
40,00
125000 30,00
20,00
10,00
105000 0,00
1910
1915
1920
1925
1930
1935
1940
1945
1950
1955
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Fonte: Recenseamentos da População e Estatísticas Demográficas 1910 a 2005.
83 Taxa de Mortalidade Infantil Exógena = [(n.º óbitos neonatais)+(22,8% óbitos entre 28-365
dias)/nados-vivos] x1000 . Taxa de Mortalidade Infantil Endógena = TMI – TMI Exógena.
470 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
1930 1950 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Infecciosas e parasitárias 23,60% 18,80% 2,58% 2,20% 1,50% 1,00% nd 1,90% nd nd
Doenças do aparelho
circulatório 15,50% 21,90% 38,76% 40,10% 42,80% 44,30% 44,15% 41,87% 38,74% 34,05%
Tumores malignos 2,70% 4,90% 11,75% 13,20% 15,00% 16,70% 17,63% 19,25% 20,28% 21,07%
Doenças do aparelho
respiratório 9,40% 15,90% 12,03% 9,20% 5,70% 7,20% 7,24% 7,65% 9,71% 10,48%
Doenças do aparelho
digestivo 14,20% 9,20% 7,45% nd nd nd 4,47% 4,36% 3,91% 4,30%
Doenças do aparelho
geniturinário nd nd 1,95% nd nd nd 1,22% 1,49% 1,49% 2,65%
Sintomas, sinais,
exames anormais,
causas mal definidas nd nd nd nd nd nd 11,75% 11,44% 12,43% 11,84%
Doença pelo vírus da
imuno-deficiência
humana (HIV) nd nd nd nd nd nd 0,15% 0,91% 0,90% 0,81%
Tuberculose nd nd nd nd nd nd 0,27% 0,30% 0,25% 0,27%
Outras causas por doenças nd nd nd nd nd nd 6,59% 7,02% 7,78% 10,30%
Causas externas 2,40% 2,70% 5,48% 7,20% 7,20% 7,30% 6,53% 5,70% 4,51% 4,23%
Fonte: MORAIS, 1999; Elementos Estatísticos. Informação Geral. Saúde, 2003; Estatíticas da Saúde – 2005, INE, 2006.
Tuberculose
100% Suicídio
Fonte: INE, Portugal, 2007, Anuário Estatístico de Portugal 2006. Informação disponível até 30 de Setembro
de 2007.
ser das mais altas da Europa, mas que nestes últimos anos manteve estável
a sua representatividade do total de óbitos. O mesmo sucede com as mortes
por suicídio.
Assim, as principais causas de morte da população portuguesa no virar
do milénio eram as doenças do aparelho circulatório, os tumores malignos
e os acidentes de viação. A liderança das doenças circulatórias prende-se
com problemas de hipertensão, elevados níveis de colesterol, hábitos ali-
mentares, obesidade e estilos de vida sedentários. Nas doenças circulatórias
incluem-se os acidentes cérebro-vasculares associados à idade. O cancro
continua a ser a maior causa de morte feminina, embora assuma também
especial significado quantitativo entre os homens a partir dos 50 anos,
idade em que a mortalidade masculina por esta causa é praticamente o
dobro da feminina. O ratio favorável às mulheres inverte-se a partir dos 75
anos devido à sua maior longevidade, o que a torna mais vulnerável a seme-
lhantes males85. Os tumores malignos da traqueia, dos brônquios e pul-
mões, da mama e do cólon são em termos gerais a segunda grande causa
de morte. Os acidentes de trânsito provocaram 1267 óbitos em 200586,
79% de indivíduos do sexo masculino e tendo quase metade incidido na
faixa etária dos 15-39 anos.
No Portugal do século XX o quadro nosológico continua a ser determi-
nado pelas características etárias e distribuição por sexos da população. O já
referido relatório do Observatório Nacional de Saúde analisa nessa perspec-
tiva as principais causas de morte na década de 9087. Nos indivíduos com
45 a 64 anos destaca-se o enfarte agudo do miocárdio no caso masculino e,
no feminino, o neoplasma maligno da mama. Em segundo lugar figuram
para ambos os sexos as doenças crónicas do fígado e a cirrose. Para os maio-
res de 65 anos a doença mais letal é em ambos os casos a cérebro-vascular
aguda. No caso masculino é secundada pelo enfarte; nas mulheres pela seni-
lidade. Este tipo de causas têm levado alguns investigadores nestas áreas a
questionar se o aumento das doenças crónicas nos últimos anos de vida
permite afirmar que os anos de vida ganhos são anos com qualidade ou
apenas o prolongamento de uma vida sem qualidade, marcada por incapa-
cidades físicas ou psíquicas diversas. Neste sentido, compreender a questão
da existência ou não de compressão da morbilidade é fulcral para as socie-
dades e os sistemas de saúde planearem os custos consoante a taxa de inca-
pacidade prevista para o futuro.
var que há um fosso notório no estado de saúde entre trabalhadores manuais especializados,
que sofrem mais com as transformações do mercado de trabalho, e proprietários, dirigentes
e profissionais liberais, quadros médios e superiores.
92 CAVELAARS et allii, 1998; JOUNG, KUNST, IMHOFF & MACKENBACH, 2000.
O Século XX: a transição 477
93 Excepção feita relativamente a alguns países da Europa central e de leste (LÉON, 1982).
94 Cit. DUPAQUIER (LÉON, 1982).
95 LÉON, 1982.
96 LÉON, 1982, excepção apresentada para a Irlanda por modelos culturais, sociais e familiares
distintos.
97 Cit. David HERLIHI (LÉON, 1982).
478 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Nados-vivos
Anos Total Fora do casamento
HM H HM H % do Total
1900 165 245 85 274 19 236 n.d. 11,6%
1905 179 746 93 898 20 531 n.d. 11,4%
1910 186 953 96 845 20 601 n.d. 11,0%
1915 195 225 100 181 24 544 n.d. 12,6%
1920 202 908 103 984 27 274 n.d. 13,4%
1925 208 434 106 801 25 958 n.d. 12,5%
1930 202 529 103 928 29 409 n.d. 14,5%
1935 203 943 104 771 31 094 16 047 15,2%
1940 187 892 97 147 29 463 15 057 15,7%
1945 209 131 108 482 26 328 13 440 12,6%
1950 205 163 106 025 24 132 12 421 11,8%
1955 209 790 107 877 23 039 11 818 11,0%
1960 213 895 110 485 20 221 10 414 9,5%
1965 210 299 108 574 16 423 8 470 7,8%
1970 180 690 93 223 n.d. n.d. n.d.
1975 179 648 93 099 12 879 6 642 7,2%
1980 158 309 81 624 14 558 7 472 9,2%
1985 130 450 67 331 16 088 8 271 12,3%
1990 116 321 59 918 17 095 8 811 14,7%
1991 116 299 59 862 18 122 9 242 15,6%
1992 114 924 58 844 18 478 9 378 16,1%
1993 113 960 58 388 19 298 9 830 16,9%
1994 109 227 56 439 19 464 9 991 17,8%
1995 107 097 55 662 19 972 10 271 18,6%
1996 110 261 57 324 20 563 10 619 18,6%
1997 112 933 58 037 22 063 11 191 19,5%
1998 113 384 58 530 22 802 11 692 20,1%
1999 116 002 59 774 24 186 12 366 20,8%
2000 120 008 62 222 26 642 13 802 22,2%
2001 112 774 58 365 26 814 13 847 23,8%
2002 114 383 59 303 29 117 15 099 25,5%
2003 112 515 58 210 30 236 15 597 26,9%
2004 109 298 56 212 31 766 16 223 29,1%
2005 109 399 56 612 33 633 17 408 30,7%
Fonte: INE, Estatísticas Demográficas 1900 a 2005.
2.800.000 4,8
4,5
2.600.000
4,2
2.400.000
3,6
2.200.000 3,3
3
2.000.000 2,7
2,4
1.800.000 2,1
1,8
1.600.000 1,5
1.400.000 1,2
0,9
1.200.000 0,6
0,3
1.000.000 0
1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2005
Fonte: Recenseamnetos da População entre 1900 e 2001. Estimativas População 2005. ISF entre 1900 e 1970 Método
RCM (Relação Mulher/Criança).
36 4,8
4,5
32
Taxa bruta de Natalidade por mil
4,2
Fonte: Recenseamentos da População entre 1900 e 2001. Estimativas População 2005. ISF entre 1900 e 1970 Método
RCM (Relação Mulher/Criança).
220000 5
Indice Sintético de Fecundidade
Índice Sintético de Fecundidade
4,5
200000
4
180000
Nados-Vivos
Nados-Vivos
3,5
160000 3
2,5
140000
2
120000
1,5
100000 1
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2005
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
10%
0%
1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
15
10
0
- de 24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75 ou +
2001
1991
1 indivíduo
2 indivíduos
1981
3 a 5 indivíduos
+ de 5 indivíduos
1970
1960
0 500 000 1 0001000 1 5000 000 2 000 000 2 500 000 3 000 000 3 500 000 4 000 000
Países 1960/64 1970/74 1980/84 1990/94 2000/03 2004/05 2050 Var. 1960/64-
-2004/05
EU-25 2,64 2,23 1,79 1,56 1,47 1,5 1,6 -43,18
EU-15 2,67 2,23 1,72 1,5 1,5 1,55 1,61 -41,95
Bélgica 2,64 2,07 1,61 1,62 1,63 1,64 1,7 -37,88
Rep. Checa 2,22 2,14 2,01 1,72 1,16 1,23 1,5 -44,59
Dinamarca 2,58 1,97 1,44 1,73 1,75 1,78 1,8 -31,01
Alemanha 2,46 1,77 1,48 1,32 1,35 1,37 1,45 -44,31
Estónia 2,13 2,12 1,67 1,35 1,4 1,6 -34,27
Grécia 2,25 2,33 2,02 1,37 1,27 1,29 1,5 -42,67
Espanha 2,86 2,87 1,94 1,3 1,26 1,32 1,4 -53,85
França 2,83 2,36 1,88 1,72 1,89 1,9 1,85 -32,86
Irlanda 3,91 3,84 2,92 1,99 1,95 1,99 1,8 -49,10
Itália 2,5 2,37 1,55 1,28 1,26 1,33 1,4 -46,80
Chipre 3,47 2,38 2,46 2,35 1,54 1,49 1,5 -57,06
Letónia 2,01 2,01 1,7 1,24 1,24 1,6 -38,31
Lituânia 2,57 2,28 2,04 1,86 1,3 1,26 1,6 -50,97
Luxemb. 2,33 1,77 1,48 1,65 1,67 1,7 1,8 -27,04
Hungria 1,88 2,01 1,82 1,77 1,31 1,28 1,6 -31,91
Malta 3,16 2,21 1,98 2,02 1,58 1,37 1,6 -56,65
Holanda 3,17 2,15 1,52 1,59 1,72 1,73 1,75 -45,43
Áustria 2,78 2,08 1,61 1,49 1,37 1,42 1,45 -48,92
Polónia 2,76 2,24 2,33 1,93 1,28 1,23 1,6 -55,43
Portugal 3,16 2,71 2,05 1,53 1,48 1,42 1,6 -55,06
Eslovénia 2,25 2,14 1,91 1,38 1,23 1,22 1,5 -45,78
Eslováquia 2,93 2,5 2,29 1,94 1,22 1,25 1,6 -57,34
Finlândia 2,68 1,64 1,68 1,82 1,74 1,8 1,8 -32,84
Suécia 2,3 1,9 1,64 2,04 1,62 1,75 1,85 -23,91
R. Unido 2,86 2,2 1,81 1,78 1,66 1,74 1,75 -39,16
Bulgária 2,23 2,16 2,01 1,57 1,25 1,29 1,5 -42,15
Roménia 2,1 2,65 2,18 1,55 1,28 1,29 1,5 -38,57
Turquia 6,18 5,68 4,36 2,99 2,42 2,2 1,85 -64,40
Fonte: Eurostat, Europes's demographic future: facts and figures on challenges and opportunities, European Commission, 2007.
113 EUROSTAT, 2007. Veja-se o caso francês, actualmente com 1,9 filhos por mulher em idade
fértil.
114 INE, 2007.
490 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
120 Esta última dá o valor residual dos diferentes movimentos, após as compensações que possam
ter existido entre entradas e saídas de migrantes na unidade, sem distinguir os fluxos inter-
nos dos efectuados com o exterior. Taxa Migratória Total (1891-1900) = Saldo migratório
médio anual (1891-1900) / População média x 1000. Ou seja, por cada mil residentes no
distrito, a saldo migratório foi (des)favorável em X indivíduos.
O Século XX: a transição 493
121 NAZARETH, 1988: 141 e ss., com especial referência a Quadro 23.
122 ALARCÃO, 1969: 159 e ss.
123 Designadamente para as sedes de concelho e distrito.
124 FONSECA, 1990.
496 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
125 Partes dos distritos de Vila Real, Bragança e Viseu e alguns concelhos da Guarda e Castelo
Branco.
126 BAPTISTA e MONIZ, 1985.
127 PEIXOTO, 1995.
128 CARQUEJA, 1916: 377 e ss.
129 Esse estudo foi realizado por José Miranda Magalhães («0 Problema dos Ranchos Migrató-
rios em Portugal» e citado por EVANGELISTA, 1971: 173).
O Século XX: a transição 497
130 Sobretudo brasileiros e venezuelanos, países também privilegiados pela emigração portuguesa.
131 Conjunto de pessoas de nacionalidade não portuguesa, com autorização ou cartão de resi-
dência, em conformidade com a legislação de estrangeiros em vigor. Não inclui os estran-
geiros com situação regular ao abrigo da concessão de autorizações de permanência, de vistos
de curta duração, de estudo, de trabalho ou de estada temporária, bem como os estrangei-
ros com situação irregular.
132 BAGANHA e MARQUES, 2001: 93 e ss.
498 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
135 As APs permitiam que fosse autorizada a permanência em Portugal a estrangeiros que aqui
se encontravam sem visto adequado e reunissem as seguintes condições: ser titular de con-
trato de trabalho ou proposta de contrato de trabalho com informação favorável do Instituto
de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho (IDICT); não ter sido condenado
por sentença transitada em julgado em pena privativa de liberdade de duração superior a 6
meses; não ter sido sujeito a medida de afastamento do país e se encontre no período sub-
sequente de interdição de entrada em Portugal; não estar indicado para efeitos de não admis-
são no âmbito do Sistema de Informação Schengen por qualquer das partes contratantes; não
estar indicado para efeitos de não admissão no sistema integrado de informações do SEF. O
período total da concessão não podia exceder os cinco anos a contar da data da concessão da
primeira autorização.
136 OLIVEIRA, 2008.
137 BAGANHA e MARQUES, 2001:27.
138 Por alguns dos seus titulares terem beneficiado de titulo de residência com dispensa de visto;
por terem casado com cidadão nacional ou da União Europeia; por serem progenitores de
cidadão nacional; pela aquisição de nacionalidade portuguesa; pela conversão de AP em
Autorização de Residência em 2006; ou simplesmente por regresso ao país de origem (OLI-
VEIRA, 2008).
O Século XX: a transição 501
140 Veja-se o caso dos imigrantes marroquinos, onde por cada cem mulheres chegam a Portugal
220 homens.
141 Nestes casos contabilizaram-se 107 homens por cada 100 mulheres.
O Século XX: a transição 503
xaram o país e em mais 2 milhões os que o fizeram entre essa data e 1970,
40% dos quais na década de 60. Os primeiros quarenta anos do século XX
foram de alguma contenção nas saídas, imposta pela conjuntura interna-
cional, mas a partir de 1950 o volume de emigrantes sobe. Nesse ano dei-
xaram Portugal quase 22 mil indivíduos, na sua maioria adultos jovens do
sexo masculino pouco qualificados. Este perfil mantém-se até hoje, embora
com uma ligeira quebra nas fases de reunificação familiar142. Apesar do
rápido aumento dos volumes envolvidos, só na segunda metade dos anos
50 a Europa passa a aliciar mais de 10% dos emigrantes. Em 1963 o des-
tino europeu representa já 59% do total de emigrantes legais143 e tivera
início um novo ciclo migratório, que durará até à crise petrolífera de meados
de 70, baseado na integração no sector industrial de trabalhadores com
pouca ou nenhuma qualificação.
Em meados da década de 60, a América será relegada para segundo
plano nos destinos emigratórios portugueses, com excepção do Brasil. O
destino francês absorve 62% dos emigrantes legais e o alemão cerca de
13%. Alteram-se ligeiramente as características do emigrante tipo, com um
200,000
180,000
160,000
140,000
120,000
100,000
80,000
60,000
40,000
20,000
0
1900
1904
1908
1912
1916
1920
1924
1928
1932
1936
1940
1944
1948
1952
1956
1960
1964
1968
1972
1976
1980
1984
1988
Emigração Oficial
142 Como aconteceu entre 1918 e meados do século no caso americano e nos anos 60 no caso
europeu.
143 A entrada de Portugal na EFTA em 1961, bem como a celebração de acordos bilaterais para
fornecimento de mão-de-obra nacional com França e Holanda em 1963 e com a RFA no ano
imediato explicam esta inversão súbita de tendência.
O Século XX: a transição 505
Tipo %
Ano Total
Permanente Temporária Permanente Temporária
1999 HM 28080 4077 24003 100,0 100,0
H 20122 2882 17240 14,3 85,7
M 7958 1195 6763 15,0 85,0
2000 HM 21333 4692 16641 100,0 100,0
H 17069 2872 14197 16,8 83,2
M 4264 1820 2444 42,7 57,3
2001 HM 20589 5762 14827 100,0 100,0
H 15774 4231 11543 26,8 73,2
M 4815 1531 3284 31,8 68,2
2002 HM 27358 8813 18545 100,0 100,0
H 22353 6897 15456 30,9 69,1
M 5005 1916 3089 38,3 61,7
2003 HM 27008 6687 20321 100,0 100,0
H 20613 3415 17198 16,6 83,4
M 6395 3272 3123 51,2 48,8
Fonte: INE, Estatísticas Demográficas.
506 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
144 Conceito estatístico relacionado com pessoas (nacional ou estrangeira) que, no período de
referência, tendo permanecido no país por um período contínuo de pelo menos um ano, o
deixou, com a intenção de residir noutro país por um período inferior a um ano. Excluem-
-se desta situação as deslocações com carácter de: turismo, negócios, estudo, saúde, religião
ou outro de igual teor.
145 Estatísticas Demográficas, INE, 1999: 189.
146 No total 47% nasceram no Norte, 44% na região Centro e em Lisboa e Vale do Tejo; apenas
5% provêm do Alentejo e Algarve. Quanto às Regiões Autónomas, os valores apurados são
hoje bastante reduzidos no contexto nacional, embora estáveis. Devemos atribuir-lhes os res-
tantes 4 pontos percentuais.
147 As Estatísticas Demográficas reflectem as alterações ao processo de recolha informativa sobre
O Século XX: a transição 507
emigração, que provocou a interrupção nas séries entre 1989 e 1992. Só em 1992 o INE
efectuou um inquérito por amostragem aos alojamentos familiares para detectar os casos de
emigração. Este inquérito-piloto foi realizado no terceiro trimestre de 1992 e o definitivo
em 1993, tendo passado a repetir-se anualmente, junto com o inquérito ao Emprego.
148 INE, 2007, 8.
149 CARRILHO, 2007.
150 CARRILHO, 2007: 69.
151 VEIGA, 2003: 91-101.
152 CARRILHO, 2007: 147.
153 VEIGA, 2001, p. 173-190.
154 NAZARETH, 1988: 174-175.
155 CARRILHO, 2003, p. 135-138.
156 INE, 2007.
508 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
mento em 2006 de 112 idosos por cada 100 jovens. Os idosos são mais e
vivem cada vez mais, com a sua probabilidade de sobrevivência a aumen-
tar cerca de 12 anos para os homens e 14 anos para as mulheres entre
1960 a 2006.
Idade
H M
2021 85 +
80-84 2021
75-79
70-74
65-69
60-64
55-59
50-54
45-49
40-44
35-39
30-34
25-29
20-24
2001 15-19 2001
10-14
5-9
0-4
6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6%
Fonte: INE – Recenseamentos Gerais da População entre 1900 e 2001 e Estimativas 2005. 1911, 1916 e 2021 Esti-
mativas Filipa Castro Henriques.
Fonte: INE – Recenseamentos Gerais da População entre 1900 e 2001 e Estimativas 2005, Anuário Esta-
tístico de Portugal 2006. Análise Prospectiva Demográfica da População Portuguesa. Filipa de Castro Henriques:
2011, 2016 e 2021.
Fonte: INE – Recenseamentos Gerais da População entre 1900 e 2001 e Estimativas 2005. PRB World Population data
sheet. 2007 para os anos de 2007, 2025 e 2050.
Fonte: INE, Projecção da População Portuguesa por NUT III, 2000-2050, 2005.
512 História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
3.500.000
3.000.000
2.959.954
2.500.000
2.000.000
1.677.301
1.500.000 1.640.669
1.000.000 1.218.542
500.000
0
2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050
Jovens Idosos
Fonte: INE, Projecção da População Portuguesa por NUT III, 2000-2050, 2005.
ção etária da população residente no país2. Mas não deixa de ser interessante
verificar que ainda hoje os níveis de Mortalidade Infantil são ligeiramente
superiores no primeiro grupo e inferior a duração média da vida. Importa
pois encontrar os fios condutores da evolução demográfica das gentes por-
tuguesas, sem esquecer a diversidade. Esta última pode revestir várias
formas, mas terá sempre de considerar os efeitos das conjunturas políticas
e económicas vividas no país.
Neste início de milénio, Portugal, à semelhança dos seus congéneres
europeus, está prestes a completar uma fase longa de evolução, que em
termos estritamente demográficos pode ser definida como a passagem de um
ciclo de vida curto e instável, para um ciclo de vida longo e estável. O pri-
meiro, muito longo em termos cronológicos, corresponde ao sistema demo-
gráfico antigo, com níveis de mortalidade e natalidade elevados e, sobretudo
no que toca à primeira, marcados por uma enorme instabilidade. O número
de nascimentos é elevado, mas reduzida a probabilidade de sobrevivência e
escasso o número daqueles que atingem idades avançadas.A esperança média
de vida é baixa. O segundo ciclo surge em Portugal mais tarde que em muitos
países da Europa Ocidental e do Norte e é de início mais modesto nos seus
sucessos. Os indicadores de mortalidade registam os primeiros êxitos na
viragem para o século XX, mas será apenas nas últimas três a quatro décadas
do final do milénio que esta descida, agora acompanhada pela redução dos
níveis de fecundidade e dos nascimentos, estabiliza a níveis muito baixos,
mesmo em contexto europeu. Eles asseguram o aumento do número médio
de anos de vida da população, passando a mortalidade a ser um aconteci-
mento esperado sobretudo em idades avançadas. A população portuguesa
cresce de novo moderadamente, mas agora de forma regular. Atinge-se um
novo equilíbrio entre número anual de nascimentos e óbitos, acentuado
positivamente pelo facto do nosso país pertencer à Europa atractiva do ponto
de vista migratório, o que também é novo na história portuguesa. Com
efeito, a emigração, essa grande constante da nossa realidade, condiciona até
meados da década de 70 do século passado as dinâmicas de crescimento
populacional, secundada por migrações internas que privilegiam os centros
urbanos. A imigração só adquire algum significado quantitativo após 1974,
mas haverá que aguardar por 1993 para que Portugal se transforme num país
com saldos migratórios positivos, situação que persistirá nos próximos anos,
embora com intensidade diversa da que pauta o final da centúria.
Séculos
XII-XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX
Idade média de vida hs 45,7 40,5 24,9 22,1 37,0 39,9 28,6
ms 33,4 27,8 35,5 24,6 35,8 42,4 24,0
Idade 1.º casamento* reis 25,5 18,7 27,0 19,7 21,5 21,3 16,5
Duração casamento reis 19,7 31,7 8,8 12,6 13,8 21,2 12,3
N.º médio filhos ilegítimos 8,1 9,0 4,0 8,3 5,3 9,0 4,0
% 35,1 33,3 12,5 8,0 19,0 28,9 0,0
Fonte: Elaboração própria. *Cinco monarcas morreram celibatários.
40
35
30
25
Total anual
20
15
10
0
1700
1703
1796
1709
1712
1715
1718
1721
1724
1727
1730
1733
1736
1739
1742
1745
1748
1751
1754
1757
1760
1763
1766
1769
1772
1775
1778
1781
1784
1787
1790
1793
1796
1799
Baptismos Casamentos Óbitos
160,000
140,000
120,000
100,000
80,000
60,000
40,000
20,000
0
1850 1857 1860 1862 1872 1886 1888 1890 1892 1894 1896 1898 1900
clima e a estrutura etária jovem dos povoadores. Acresce a esta realidade per-
centagens altas de nupcialidade e idade média ao primeiro casamento baixa,
que coexiste com níveis significativos de ilegitimidade, que resultam na con-
jugação de factores muito favoráveis ao crescimento populacional.
Povoamento da Madeira
Períodos t.c.a. médio (%)
1455-1500 3,1
1500-1552 0,2
1552-1572 0,5
1572-1598 0,9
1598-1614 -0,1
1614-1676 0,3
1676-1732 0,2
Fonte: PINTO e RODRIGUES, 1993: 403-471; PINTO et allii, 2001: 399.
300
250
200
Total anual
150
100
50
0
1536
1541
1544
1547
1550
1553
1556
1559
1562
1565
1568
1571
1574
1577
1580
1583
1586
1589
1592
1595
1598
Anos
BAP OB CAS
Homens Mulheres
Minho Guimarães Urbano (1590-1769) 25,1 24,6
Guimarães Rural (1590-1769) 26,5 26,7
Meadela (Viana) (1600-1649 26,2 28,9
Meadela (Viana) (1650-1699) 28,8 27,5
Trás-os-Montes Rebordãos (1610-1700) 24,3 22,4
Cardanha (1601-1700) 29,3 26,9
Poiares (1650-1700) 26,8 25,4
Estremadura Ericeira (1670-1719) 28,4 26,0
Algarve Moncarapacho (1545) 27,3 21,1
Fonte: ROWLAND, 1989: 90-91; AMORIM, 1987: 104, REIS, 2003: 26.
Por outro lado, ao longo das centúrias manteve-se uma estrutura e com-
posição interna dos agregados habitacionais que muitos julgavam poder
apenas encontrar nos séculos posteriores. A precariedade da vida e as fracas
probabilidades de sobrevivência condicionavam a dimensão média dos
fogos habitacionais, parecendo confirmar-se o predomínio de fogos sim-
ples. A família nuclear era já a forma mais comum de vivência para a grande
maioria da população portuguesa, pesem embora diferenças regionais.
Fogos %
1 2,80
2 16,19
3 19,92
4 19,43
5 13,49
6 10,26
7 6,38
8 6,87
9 3,83
10 + 0,83
Total 100,00
Fonte: Elaboração própria. Estimativa de população menor de 7 anos.
Considerações finais 525
450
400
350
Cid_1600/50
300
Cid_1650/99
250
Ter_1600/50
200
Ter_1650/99
150
100
50
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
350
300
250
Gui-mista
200 Gui-Rural
Gui-cidade
150
100
50
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
500
400
Alenquer
Meadela
300
Rebordãos
Cardanha
200
100
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
225.000 128.000
200.000
Nascimentos e Óbitos
175.000
78.000
Saldo Natural
150.000
125.000
28.000
100.000
75.000
50.000 -22.000
25.000
0 -72.000
1900
1902
1904
1906
1908
1910
1912
1914
1916
1918
1920
1922
1924
1926
1928
1930
1932
1934
1936
1938
1940
1942
1944
1946
1948
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
1900
1902
1904
1906
1908
1910
1912
1914
1916
1918
1920
1922
1924
1926
1928
1930
1932
1934
1936
1938
1940
1942
1944
1946
1948
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
Natural
Saldo Natural Obitos
Óbitos Nascimentos
Nascimentos
180,000
160,000
140,000
120,000
100,000
80,000
60,000
40,000
20,000
0
1855
1859
1863
1867
1871
1875
1979
1883
1887
1891
1895
1899
1903
1907
1911
1915
1919
1923
1927
1931
1935
1939
1943
1947
1951
1955
1959
1963
1967
1971
1975
1979
1983
1987
1855 1859 1863 1867 1871 1875 1879 1883 1887 1891 1895 1899 1903 1907 1911 1915 1919 1923 1927 1931 1935 1939 1943 1947 1951 1955 1959 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 350000 400000 450000 500000
As grandes mudanças
Portugal - Pirâmide de Idades 1950 e 1900 Portugal - Pirâmide de Idades 1950 e 2001
Idade Idade
H M H M
85 + 85 +
1950
1950 80-84 1950
1950 2001
2001 80-84 2001
2001
75-79 75-79
70-74 70-74
65-69 65-69
60-64 60-64
55-59 55-59
50-54 50-54
45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
1900
1900 15-19 1900
1900
1950
1950 15-19 1950
1950
10-14 10-14
5-9 5-9
0-4 0-4
6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6%
6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6%
Portugal - Pirâmide de Idades 1900 e 2001 Portugal - Pirâmide de Idades 1900 e 2005
Idade Idade
H M 4 M
85 + 85 +
2001
2001 80-84 2001
2001 2005
2005 80-84 2005
2005
75-79 75-79
70-74 70-74
65-69 65-69
60-64 60-64
55-59 55-59
50-54 50-54
45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
1900
1900 15-19 1900
1900 1900
1900 15-19 1900
1900
10-14 10-14
5-9 5-9
0-4 0-4
6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6%
6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6%
Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População Portuguesa, 1900-2001. Estimativas para 2005. Elaboração própria.
Considerações finais 529
-4.00
-3.00
-2.00
-1.00
0.00
1.00
2.00
1000
1001000
2001000
3001000
4001000
5001000
6001000
7001000
8001000
9001000
10001000
1100-1200
1000
100/1000
200/1000
300/1000
400/1000
500/1000
600/1000
700/1000
800/1000
900/1000
1000/1000
1100-1200
1100
1100
1320-1340
1320-1340
1300
1300
1350-1415
1350-1415 1415
1415
1580
1527-1580
1527-1580 1580
1640
1620-1640
1640
1620-1640
1732
1732
1660-1700
1660-1700 1801
1801
Anos
Anos
1841
1801- 1841
1801-1841 1841
Períodos
Periódos
1849
1851-1864 1849
1851-1864
1854
1854
1878-1890
1878-1890 1861
1861
1900-1911
1900-1911 1878
1878
1900
1920-1930
1920-1930 1900
1920
1940-1950 1920
1940-1950
1940
1940
1960-1970
1960-1970 1960
1960
1981-1991
1981-1991 1981
1981
2001
2001-2005
2001-2005 2001
História da População Portuguesa. Das longas permanências à conquista da modernidade
Considerações finais 531
Fonte: INE, Recenseamento geral da população portuguesa, 2001 e Projecção da População Portuguesa, 2001. Elaboração
própria.
Considerações finais 533
Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População entre 1900 e 2001 e Estimativas 2005, Anuário Estatístico de Portugal
2006. Análise Prospectiva Demográfica da População Portuguesa. Elaboração própria: 2011,
2016 e 2021.
Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População entre 1900 e 2001 e Estimativas 2005. 1911, 1916 e 2021 Esti-
mativas. Elaboração própria.
Introdução
Capítulo 1
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