4 - Magic Bleeds - Ilona Andrews

Magic Bleeds
Ilona Andrews
Livro 4
Traduzido do Inglês e Espanhol por Fãs

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Tradução e 1ª Revisão: *Janiele

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2ª Revisão: *Diana Prince

Leitura Final e Formatação: *Divas Rosa
Mais um Projeto das Divas & Lord’s

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A Magia Sangra
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Atlanta seria um bom lugar para viver, se não fosse pela magia. Quando a magia está
alta, os magos desonestos lançam seus feitiços e monstros aparecem, enquanto as armas
se recusam a disparar e os carros não conseguem ligar. Mas a tecnologia volta, e a magia
retrocede tão imprevisivelmente quanto surgiu.
Kate Daniels trabalha oficialmente para a Ordem dos Cavaleiros de Ajuda

Misericordiosa, como ligação com a Associação dos Mercenários. Não oficialmente, ela
limpa os problemas paranormais que ninguém mais quer tratar—especialmente se eles
envolvem a comunidade metamorfo de Atlanta.
Quando ela foi convocada para investigar uma briga no Cavalo de Aço, um bar na
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fronteira entre os territórios dos metamorfos e os necromantes, Kate rapidamente

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descobre que há um novo jogador na cidade. Um que esteve por perto há milhares de
anos—e foi à guerra ao lado do pai de Kate.
Esse inimigo pode ser demais mesmo para Kate e Curran, o Senhor das Feras, para
lidar. Porque desta vez Kate vai assumir a família ...

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Prólogo
NÃO IMPORTAVA QUÃO CUISADOSAMENTE EU COLOCASSE as maçãs

picadas no lugar, a crosta superior da minha torta de maçã sempre parecia
que eu tinha tentado enterrar um corpo desmembrado sob ela. Minhas
tortas ficavam feias, mas elas eram muito boas. Esta torta em especial
estava rapidamente perdendo o último de seu calor.
Eu observei a extensão da minha cozinha. Bifes de carne de veado
marinados em cerveja, levemente temperados, colocados em uma panela,
pronta para ser posta no forno. Os deixei para o final—eles não levariam
mais de dez minutos sob a grelha. Pãezinhos caseiros, agora frios. Espigas
de milho, também frio. Assado de batatas, sim, muito frio. Eu tinha
adicionado alguns cogumelos salteados e salada, no caso de que não fosse
suficiente. A manteiga sobre os cogumelos estava fazendo seu melhor para
congelar em um estado sólido. Pelo menos a salada devia estar fria.
Recolhi uma nota dobrada da mesa. Oito semanas atrás, Curran, o
Senhor das Feras de Atlanta, o senhor e mestre de mil e quinhentos
metamorfos e meu próprio psicopata pessoal, sentou na cozinha do meu
apartamento em Atlanta e me entregou um menu escrito neste pedaço de
papel. Eu perdi uma aposta para ele, e de acordo com os termos da nossa
aposta, devia-lhe um jantar nua. Ele tinha adicionado um adendo,
explicando que aceitaria eu estar vestindo um sutiã e calcinha, já que ele
não era uma besta completa—uma afirmação muito aberta ao debate.
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Ele estabeleceu uma data, 15 de novembro, que era hoje. Eu sabia,

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porque tinha verificado o calendário três vezes já. Eu o chamei no forte, há

três semanas e definimos o lugar, minha casa perto de Savannah e a hora,
17:00h. E eram 20:30h agora.

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Ele disse que não podia esperar.

Comida—Ok. Meu mais lisonjeiro conjunto de sutiã e calcinha—Ok.
Maquiagem—Ok. Curran—em branco. Eu tracei o meu dedo ao longo da
lâmina pálida do meu sabre, sentindo o metal frio sob a minha pele. Onde
exatamente estava sua Majestade?
Ele ficou com medo? Sr. ‘você vai dormir comigo e dizer por favor antes
e obrigado depois’?
Ele perseguiu um palácio voador através de uma floresta encantada e
esculpiu seu caminho através de dezenas de demônios rakshasa para me
salvar. O jantar era um grande negócio para metamorfos. Eles nunca
levavam comida por certo, mas fazendo um jantar para alguém que você
estava romanticamente interessado tornava uma refeição simples em um
nível totalmente novo. Quando um metamorfo fazia o jantar, ele estava
também se comprometendo a cuidar de você, ou estava tentando entrar
nas suas calças. Na maioria das vezes. Curran tinha me alimentado com
sopa uma vez, quando eu estava quase morta e o fato de que eu comi,
mesmo sem saber o que isso significava, divertia-o para nenhum fim. Ele
não perderia este jantar.
Algo deve ter detido ele.
Eu peguei o telefone. Então, novamente, ele gostava de brincar
comigo. Eu não duvidaria dele se esconder lá fora, nos arbustos,
observando-me contorcer. Curran tratava as mulheres como brinquedos
maravilhosos: ele as acompanhava, jantava com elas, tomava conta de seus
problemas, e uma vez que elas cresceram completamente dependentes, ele
ficava entediado. Talvez o que eu senti existir entre nós fosse apenas na
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minha cabeça.
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Ele tinha percebido que ganhou e perdeu o interesse. Chamá-lo só lhe

daria a oportunidade de se vangloriar.

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Eu baixei o telefone e olhei para minha torta um pouco mais.

Se você abrisse um dicionário e procurasse "louco por controle",
encontrará imagens de Curran. Ele governava com garras de aço, e quando
ele dissesse, ‘pule’, havia um inferno para pagar se você não começasse a
saltar. Ele me enfurecia e eu o colocava fora de sua pele. Mesmo que não
estivesse realmente interessado, ele não perderia a chance de me ver
apresentar este jantar de calcinhas. O ego dele era muito grande. Algo deve
ter acontecido.
20:44hs. Curran servia como a primeira e última linha de defesa do
Bando. Qualquer indício de uma ameaça significativa, ele estaria lá fora,
rugindo e rasgando os corpos ao meio. Ele poderia estar ferido.
O pensamento me deixou fria. Seria preciso um exército para derrubar
Curran. Dos mil e quinhentos maníacos homicidas sob seu comando, ele
era o filho da puta mais difícil e mais perigoso. Se algo aconteceu, tinha
que ser ruim. Ele teria ligado se tivesse sido atrasado por algo menor.
20:49hs.
Eu peguei o telefone, limpei minha garganta e liguei para a fortaleza,
reduto do Bando nos arredores de Atlanta. Apenas mantenha profissional.
Menos patético dessa forma.
— Você ligou para o Bando. O que você quer? —Uma voz feminina disse
no telefone.
Pessoas simpáticas, os metamorfos. — Aqui é a agente Daniels.
Posso falar com Curran, por favor?
— Ele não está atendendo ligações agora. Você quer deixar um recado?
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— Ele está na fortaleza?

— Sim, ele está.

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Uma pedra pesada materializou-se no meu peito e ficou difícil

respirar.
— Recado? —O metamorfo fêmea solicitou.
— Apenas diga a ele que liguei, por favor. O mais rápido possível.
— Isso é urgente?
Foda-se. — Sim. Sim, é.
— Aguarde.
Reinou o silêncio. Momentos escorriam, lentamente, estendendo-se
mais fino e mais fino ...
— Ele diz que está ocupado demais para falar com você agora. No futuro,
por favor, vá através dos canais apropriados e direcione todas as suas
preocupações a Jim, nosso chefe de segurança. Seu número é ...
Ouvi a minha voz, estranhamente plana. — Eu tenho o número.
Obrigada.
— A qualquer momento.
Eu baixei o telefone na base com muito cuidado. Um som minúsculo
estalou em meus ouvidos, e eu tive a ideia absurda de que era meu coração
formando fissuras.
Ele me deu o bolo.
Ele me deu o bolo. Fiz uma refeição enorme. Sentei-me ao lado do
telefone nas últimas quatro horas. Eu coloquei maquiagem, minha
segunda vez no ano. Eu comprei uma caixa de preservativos. Apenas se
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necessário.
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Eu te amo. Eu virei sempre por você, Kate.

Seu filho da puta. Nem teve coragem de falar comigo.

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Levantei da cadeira. Se ele ia me largar depois de toda essa merda,

obrigaria a fazê-lo em pessoa.
Levei menos de um minuto para me vestir e carregar minhas
braçadeiras com agulhas de prata. Meu sabre, Matadora, tinha bastante
prata para ferir até mesmo Curran, e agora eu queria muito machucá-lo.
Eu andei pela casa à procura de minhas botas em fúria, encontrando no
banheiro de todos os lugares e sentei no chão para calça-las. Calcei a bota
esquerda, bati meu calcanhar no lugar e parei.
Suponhamos que eu cheguei à fortaleza. E então o que? Se ele decidiu
que não queria me ver, eu teria que cortar seu povo para enfrentá-lo. Não
importa o quanto doesse, não podia fazer isso. Curran me conhecia bem o
suficiente para reconhecer isso e usá-lo contra mim. Uma visão de mim
sentada no saguão do forte por horas me veio à cabeça. Inferno não.
Se o babaca condescendente fizesse uma aparição, o que eu diria?
Como ousa me dispensar antes mesmo do relacionamento ter começado? Eu viajei
seis horas para te dizer o quanto te odeio porque você significava muito para mim?
Ele iria rir da minha cara, então eu iria cortá-lo em pedaços e então ele iria
quebrar meu pescoço.
Eu me obriguei a procurar por razões na neblina da minha raiva.
Trabalhava para a Ordem dos Cavaleiros da Ajuda Misericordiosa, que,
juntamente com a Divisão Policial de Atividades Paranormais, ou DPAP,
e a Unidade de Defesa Militar Sobrenatural ou UDMS, formava a defesa
de imposição da lei contra perigos de todos os tipos mágicos. Eu não era
um cavaleiro, mas era uma representante da Ordem. Pior, eu era a única
representante da Ordem com o status de amiga do Bando, o que significa
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que quando tentasse meu caminho por problemas relacionados com o

Bando, os metamorfos não me excluiriam imediatamente. Todas as
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complicações que o Bando tinha com a lei geralmente encontrava seu

caminho para mim.

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Os metamorfos vinham em dois tipos: pessoas livres do código, que

mantiveram o controle rigoroso sobre Vírus-L, o vírus em fúria em seus
corpos; e loups, que se rendiam a ele. Loups assassinavam
indiscriminadamente, saltando de atrocidade a atrocidade até que alguém
fazia um favor ao mundo e assassinava seus traseiros canibais. O DPAP
de Atlanta via cada metamorfo como um loup-em-espera, e o Bando
respondeu ao aumentar sua paranoia e a desconfiar dos estranhos para
novas e vertiginosas alturas. Sua posição junto das autoridades era precária
na melhor das hipóteses, salvo da hostilidade aberta por seu recorde de
cooperação com a ordem. Se Curran e eu brigássemos, nossa luta não seria
vista como um conflito entre dois indivíduos, mas como o Senhor das
Feras agredindo uma representante da Ordem. Ninguém acreditaria que
eu era burra o suficiente para iniciá-lo.
A posição dos metamorfos cairia. Eu tinha apenas alguns amigos, mas
a maioria deles cresciam pêlos e garras. Faria de suas vidas um inferno
para aliviar minha dor.
Pela primeira vez na minha vida, tive que fazer a coisa mais
responsável.
Tirei a bota e joguei no outro lado da sala. Ela bateu no painel de
madeira no corredor.
Durante anos, primeiro meu pai e, em seguida, meu guardião, Greg,
tinham me avisado para ficar longe de relações humanas. Amigos e
amantes só traziam problemas. Minha existência tinha um propósito, e
esse propósito—e o meu sangue—não deixava espaço para mais nada. Eu
ignorei os avisos dos dois homens mortos e baixei minha guarda. Era hora
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de pagar por isso.

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Eu acreditei nele. Ele deveria ser diferente, ser mais. Ele me fez ter
esperança por coisas que achava que eu nunca teria. Quando a esperança

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partiu, doeu. A minha era uma esperança muito grande, muito

desesperada, e doía como um filho da puta.
Magia inundou o mundo numa onda silenciosa. As lâmpadas elétricas
piscaram e tiveram uma morte tranquila, dando espaço para o brilho azul
das lanternas mágicas em minhas paredes. O ar encantado em tubos de
vidro torcido ficou cada vez mais brilhante, até que uma misteriosa luz
azul encheu toda a casa. Era chamado de ressonância pós-turno, magia
vinha em ondas, negando a tecnologia e em seguida desaparecendo tão
abruptamente e imprevisível como apareceu. Em algum lugar, motores a
gasolina falhavam, armas engasgavam no meio do disparo. Os feitiços de
defesa em torno de minha casa subiram, formando uma cúpula sobre meu
telhado, martelando o ponto. Eu precisava de proteção. Eu baixei minha
guarda, deixando o leão entrar. Era hora de pagar o pato.
Me levantei do chão. Mais cedo ou mais tarde meu trabalho me
colocaria em contato com o Senhor das Feras. Era inevitável. Eu precisava
tirar a dor do meu sistema agora, então quando nos encontrarmos
novamente, tudo o que ele receberia de mim seria cortesia fria.
Marchei para a cozinha, joguei o jantar no lixo e caminhei para fora.
Eu tive um encontro com um pesado saco de pancadas, e não tive
dificuldade em imaginar o rosto de Curran nele.
Uma hora mais tarde, quando saí para meu apartamento em Atlanta,
eu estava tão cansada que adormeci no meu carro momentos depois que
dirigi meu veículo na linha ley e a corrente mágica me arrastou em direção
à cidade.
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CAPÍTULO 1
CAVALGUEI ATRAVÉS DAS RUAS DE ATLANTA, BALANÇANDO com o

trote de minha mula favorita, Marigold, que não ligava para a gaiola
anexada em sua sela e não ligava para as bolhas de cuspe de lagarto
pingando dos meus jeans. A gaiola continha uma moita de penugem cinza
do tamanho de um punho, que eu tive um diabo de um tempo para
capturar e que pode ou não ter sido um coelho de poeira vivo. O jeans
continha cerca de metade de um galão de saliva depositada em mim por
um par de lagartos do Condado de Trimble, que eu consegui levar de volta
em seu recinto no centro de Atlanta para pesquisa mitológica. Fiquei onze
horas e treze minutos em meu turno, eu não tinha comido desde aquela
manhã, e eu queria um donut1.
Passaram-se três semanas desde que Curran me deu o bolo. Na
primeira semana, eu estava tão zangada que não conseguia ver direito. A
raiva tinha abrandado agora, mas a densa e pesada pedra manteve-se em
meu peito, pesando-me. Estranhamente, donuts ajudavam. Especialmente
os regados com chocolate. Tão caro como o chocolate era em nossos dias
e época, eu não podia comprar uma barra de chocolate inteira, mas o
fiozinho de calda de chocolate sobre os donuts fazia o trabalho bem o
suficiente.
"Olá, querida."
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Após quase um ano de trabalho para a ordem, ouvir a voz de Maxine

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na minha cabeça já não me fazia saltar.
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Donut, doughnut, dónute ou rosquinha é um pequeno bolo em forma de rosca, popular nos EUA e de origem incerta. Consiste numa
massa açucarada frita, que pode ser coberta com diversos tipos de coberturas doces coloridos, como por exemplo chocolate.

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— Olá, Maxine.
A secretária telepática da ordem chamava todos de "querido",
incluindo Richter, uma nova adição para o capitólio de Atlanta que era tão
psicótico como um cavaleiro da ordem poderia chegar a ser sem ser
despojado de sua cavalaria. Seus "queridos" não enganavam ninguém.
Preferia correr 16km com uma mochila cheia de pedras do que enfrentar
um sermão de Maxine. Talvez tenha sido o jeito que ela parecia: alta,
magra, com um halo firmemente enrolado de cabelo prateado e os
maneirismos de uma professora de escola veterana que tinha visto isso antes
e não seria enganada facilmente.
"Richter é bastante são, querida. E há alguma razão particular para você
continuar imaginando um dragão com o meu cabelo na sua cabeça e um donut de
chocolate na sua boca?"
Maxine nunca lia os pensamentos de propósito, mas se você se
concentrasse bastante enquanto "de plantão", ela não conseguia evitar
captar imagens mentais simples.
Eu limpei minha garganta. — Desculpe.
"Não tem problema. Sempre pensei em mim mesma como um dragão chinês,
na verdade. Estamos sem donuts, mas tenho cookies."
Mmm, cookies. — O que tenho que fazer por um cookie?
"Eu sei que seu turno acabou, mas eu tenho uma petição de emergência e
ninguém para lidar com isso."
Argh. — Qual é a petição?
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"Alguém atacou o Cavalo de Aço".

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— O Cavalo de Aço? O bar de fronteira?

"Sim."

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Pós-turno em Atlanta era governado por facções, cada uma com seu
próprio território. De todas as facções em Atlanta, a Nação e o Bando eram
os maiores e os dois que eu mais queria evitar. O Cavalo de Aço ficava
bem na fronteira invisível entre seus territórios. Um ponto neutro, ele
atendia tanto a Nação e os metamorfos, enquanto eles poderiam mantê-lo
civil. Na maior parte, eles faziam.
"Kate", Maxine solicitou.
— Você tem todos os detalhes?
"Alguém começou uma briga e partiu. Eles têm algo encurralado no porão, e
têm medo de deixar sair. Eles estão histéricos. Pelo menos uma fatalidade."
Um bar cheio de metamorfos e necromantes histéricos. Por que eu?
"Está disposta a aceitar"?
— Que tipo de cookies?
"De chocolate com pedaços de nozes. Vou até te dar dois."
Eu suspirei e Marigold virou-se para o oeste. — Eu estarei lá em vinte.
Marigold suspirou pesadamente e começou a descer a rua ensolarada.
Os membros do Bando bebiam pouco. Manter a disciplina humana
requeria força de vontade de ferro, e os metamorfos evitavam substâncias
que alteravam o controle sobre a realidade. Um copo de vinho no jantar
ou uma única cerveja depois do trabalho era praticamente o seu limite.
A Nação também bebia pouco, principalmente devido à presença de
metamorfos. Um híbrido bizarro de um culto, uma corporação e um
Instituto de pesquisa, eles se preocupavam com o estudo dos mortos-vivos,
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principalmente de vampiros.
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Vampirus Immortuus, o patógeno responsável pelo vampirismo,

erradicou todos os traços de ego de suas vítimas, transformando-os em
monstros sanguinários e deixando suas mentes agradáveis e vazias.

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Mestres dos mortos, os principais necromantes da Nação, aproveitavam

essa ocorrência—eles navegavam vampiros andando em suas mentes e
controlando todos os seus movimentos.
Mestres dos mortos não eram lutadores. Intelectuais bem educados,
ricamente compensados, eles eram impiedosos e oportunistas. Mestres dos
mortos não iriam visitar um bar como o Cavalo de Aço. Muito baixo. O
Cavalo de Aço servia para os navegadores em formação e desde os
assassinatos do Estuprador de Red Point, a Nação apertou seu controle
sobre o seu pessoal. Um par de bêbados e desordeiros e seu estudo de
mortos-vivos viria a um fim prematuro. Os navegadores ainda ficavam
bêbados—a maioria era muito jovem e faziam muito dinheiro para o
próprio bem—mas eles não fariam isso onde seriam pegos e
definitivamente não fariam isso com os metamorfos assistindo.
Uma sombra percorreu a rua, pequena, peluda e com muitas pernas.
Marigold cheirou e continuou, imperturbável.
A Nação era liderada por uma figura misteriosa conhecida como
Roland. Para a maioria, ele era um mito. Para mim, ele era um alvo. Ele
também era o meu pai biológico. Roland jurou nunca mais ter filhos—elas
ficavam tentando matá-lo—mas minha mãe realmente me queria e ele
decidiu que, por sua causa, ele poderia sofrer mais uma vez. Exceto que
ele mudou de ideia e tentou me matar no útero. Minha mãe fugiu e o
Senhor da Guerra de Roland, Voron, fugiu com ela. Voron conseguiu,
minha mãe não. Nunca a conheci, mas eu sabia que, se meu pai natural
me encontrasse, ele moveria céus e terra para terminar o que começou.
Roland era uma lenda. Ele havia sobrevivido há milhares de anos.
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Alguns pensaram que ele era Gilgamesh2, alguns pensavam que era Merlin.
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Gilgamesh foi um rei da Suméria, de caráter semilendário, mais conhecido atualmente por ser o personagem principal da Epopeia de
Gilgamesh, um épico mesopotâmico preservado em tabuletas escritas com caracteres cuneiformes. Segundo a Lista de reis da Suméria, um
antigo texto sumério datado da Idade do Bronze, Gilgamesh foi o quinto rei da primeira dinastia de Uruk, datada de aproximadamente entre
2800-2500 AC. Ainda segundo a lista, era filho de um "demônio" ou "fantasma" (o significado da palavra no texto é incerto) e seu reinado
teria durado 126 anos. Seu filho e sucessor, Ur-Nungal, reinou 30 anos. Outro documento, a Inscrição de Tummal, aponta Gilgamesh como o
segundo reconstrutor do templo de Tummal, dedicado à deusa Ninlil, na cidade santa de Nipur.

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Ele exercia um poder incrível e eu não estava pronta para lutar com ele.
Ainda não. O contato com a Nação significava o risco de ser descoberta
por Roland e, assim, evitava-os como uma praga.
Ficar em contato com o Bando significava o risco de entrar em contato
com Curran e mesmo agora isso era pior.
Quem diabos iria atacar o Cavalo de Aço de qualquer maneira? Qual
era o pensamento por trás disso? ‘Aqui está um bar cheio de assassinos
psicóticos que crescem garras gigantes e a Nação que usa os mortos-vivos
para pilotar. Eu acho que eu vou acabar com este lugar.’ Parece razoável.
Não.
Não podia evitar o Bando para sempre, porque o Senhor e Mestre das
Feras fazia meu braço de espada doer. Entrar. Fazer o meu trabalho. Sair
daqui. Bastante simples.
O Cavalo de Aço ocupava um bunker feio de um edifício: atarracado,
de tijolo e reforçado com barras de aço sobre as janelas e uma porta de metal,
com cerca de dois centímetros de espessura. Eu sabia o quão grosso era a
porta porque Marigold acabara de trotar por ela. Alguém havia rasgado a
porta das dobradiças e atirado pela rua.
Entre a porta e a entrada esticada, o esburacado asfalto estava coberto
com aleatórias manchas de sangue, licor, cacos de vidro e alguns corpos
gemendo em vários estágios de embriaguez e de danos de batalha.
Droga, eu perdi toda a diversão.
Um aglomerado de caras durões parou na entrada do bar. Não
exatamente pareciam histéricos, desde que o termo estava
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convenientemente ausente de seu vocabulário, mas a maneira que eles

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seguravam as armas improvisadas de móveis quebrados faziam-me querer

me aproximar deles lentamente, falando em tons suaves.

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A julgar pela cena da batalha, eles tinham acabado de apanhar em seu

próprio bar. Você nunca pode perder uma luta em seu próprio bar, porque
se o fizer, não é o seu bar mais.
Diminui minha mula para uma caminhada. A temperatura despencou
na semana passada, e a noite estava implacavelmente, excepcionalmente
fria. O vento cortou o meu rosto. Falsas nuvens de fôlego vibraram dos
caras no bar. Alguns dos maiores indivíduos de mau aspecto ostentavam
algum equipamento: um homem grande de calções à direita carregava uma
clava, e seu colega da esquerda empunhava um facão. Seguranças. Somente
os seguranças poderiam ter armas reais em um bar de fronteira.
Olhei para a multidão, procurando por olhos brilhantes. Nada.
Apenas as íris humanas normais. Se tivesse metamorfos no bar hoje à
noite, eles sumiram ou mantiveram suas peles humanas firmemente. Não
senti quaisquer vampiros nas proximidades também. Sem rostos
conhecidos no meio da multidão. Os navegadores devem ter saído
também. Algo ruim aconteceu e ninguém queria ser pego por isso.
E agora era todo meu. Oh, bom.
Marigold levou-me passando os destroços humanos e para a porta. Eu
retirei o plástico transparente da carteira que eu carregava em um cordão
em volta do pescoço e segurei para que eles pudessem ver o pequeno
retângulo da identificação da Ordem.
— Kate Daniels. Trabalho para a Ordem. Onde está o dono?
Um homem alto saiu de dentro do bar e apontou uma besta para mim.
Era uma besta de arco recurvo moderno decente, cerca de duzentos quilos.
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Ela veio equipada com uma mira de fibra óptica e um escopo. Duvidei que
ele precisaria de tanto para me bater a dez metros. A esta distância, o raio
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não só penetraria; passaria por mim, levando minhas tripas para um

passeio em sua ponta.

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Claro, a essa distância eu poderia matá-lo antes de ele me dar um tiro.

Difícil de perder com uma faca de arremesso a dez metros.
O homem me olhou com olhos sombrios. De meia-idade e magro, ele
parecia como se tivesse gasto muito tempo ao ar livre fazendo trabalhos
forçados. A vida tinha derretido toda a carne dos seus ossos, deixando
apenas pele coriácea, pólvora e cartilagem. Uma barba curta e escura
abraçava seu maxilar. Ele assentiu com a cabeça para o segurança menor.
— Vik, verifique a identificação.
Vik se aproximou e olhou minha carteira. — Ele diz o que ela afirmou.
Estava muito cansada para isso. — Você está olhando para a coisa
errada. —Peguei o cartão da carteira e ofereci a ele. — Vê o quadrado no
canto inferior esquerdo?
Seu olhar desviou para o quadrado de prata encantado. — Coloque o
seu polegar sobre isso e diga, 'ID.'
Vik hesitou, olhou para o seu chefe e tocou o quadrado. — ID.
Uma rajada de luz socou seu polegar, e o quadrado ficou preto.
— O cartão sabe que você não é seu dono. Não importa quantos de
você mexerem com ele, ele vai ficar preto até eu tocá-lo. —Coloquei meu
dedo sobre a prata. — ID.
O preto desapareceu, revelando a superfície pálida.
— Isso é como você sabe como diferenciar um verdadeiro agente da
Ordem de um falso. —Eu desmontei e amarrei Marigold numa grade.
— Agora, onde está o cadáver?
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O proprietário do bar apresentou-se como Cash. Cash não me parecia

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ser do tipo confiante, mas pelo menos manteve sua besta apontada para o
chão, enquanto me conduziu por trás do edifício e para a esquerda. Desde
que a escolha dos representantes da Ordem limitou-se a mim e Marigold,

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ele decidiu levar as chances comigo. É sempre bom ser julgada mais
competente do que uma mula.
A multidão de curiosos ficou ao redor do edifício em um círculo. Eu
poderia ter feito sem uma audiência, mas não queria discutir. Eu
desperdicei tempo jogando truques de mágica com minha identidade.
— Nós temos um cerco seguro aqui, —disse Cash. — Tranquilo.
Nossos clientes regulares não querem problemas.
O vento da noite jogou o cheiro azedo de decomposição e vômito na
minha cara e o toque de um perfume totalmente diferente, grosso como
xarope, duro e áspero.
Não era bom. Não havia nenhuma razão para o corpo ter um cheiro.
— Diga-me o que aconteceu.
— Um homem começou uma briga com Joshua. Joshua perdeu, —
disse Cash.
Ele tinha perdido sua vocação. Ele devia ter sido um poeta épico.
Chegamos à parte de trás do edifício e paramos. Um buraco enorme e
esfarrapado estava no lado do bar onde alguém foi jogado para fora através
da parede. Tijolos espalhados em todo o asfalto. Quem quer que fosse a
criatura, ele podia perfurar paredes sólidas como uma bola de demolição.
Demasiado pesado para um metamorfo, mas nunca se sabe.
— Um dos seus clientes habituais metamorfo fez isso?
— Não. Todos eles fugiram uma vez que a briga começou.
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— E os navegadores da Nação?
— Eles não vieram esta noite. —Cash balançou a cabeça. — Eles
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geralmente vêm às quintas-feiras. É aqui!

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Cash apontou para a esquerda, onde o chão inclinou-se para um

estacionamento pontuado por um poste em seu centro. No poste, preso por
um pé de cabra através de sua boca aberta, estava Joshua.
Partes dele estavam cobertas por pedaços de couro curtido e jeans.
Tudo que estava descoberto já não parecia humano. Inchaços duros se
aglomeravam em cada centímetro de sua pele exposta, vermelhas escuras
interrompidas por lesões e úmidas, úlceras abertas, como se o homem
tivesse se tornado um barnacle3 humano. A crosta de feridas era tão grossa
no rosto que eu mesma não conseguia distinguir suas feições, exceto os
olhos leitosos, abertos e olhando para o céu.
Meu estômago afundou. Todos os traços de fadiga fugiram,
queimados em uma torrente de adrenalina.
— Ele parecia assim antes da luta começar? —Por favor, diga sim.
— Não, —disse Cash. — Isso aconteceu depois.
Um agrupamento de inchaços sobre o que poderia ter sido o nariz de
Joshua deslocou-se, inchou para fora e caiu, dando espaço para uma nova
úlcera. O pedaço caído de Joshua rolou no asfalto e parou. No pavimento
em torno dele brotou um anel estreito de penugem de cor de carne. A
mesma penugem revestia o poste inferior e ligeiramente acima do corpo.
Eu me concentrei na borda inferior da linha de penugem e vi fluir muito
lentamente para baixo na madeira.
Foda-se.
Eu mantive minha voz baixa. — Alguém tocou no corpo?
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Um barnacle é um tipo de artrópode que constitui a infra - classe Cirripedia no subfilo Crustacea e, portanto, está
relacionado com caranguejos e lagostas. Barnacles são exclusivamente marinhos, e tendem a viver em águas rasas e maréas, tipicamente
em ambientes erosivos. Eles são alimentadores de suspensão sésseis (não móveis) e têm dois estádios larváticos nektonicos (natação ativa).
Cerca de 1.220 espécies de barnacle são atualmente conhecidas. O nome "Cirripedia" é o latim, que significa "curl-footed". Barnacles são
incrustantes, anexando-se permanentemente a um substrato duro. Os "cracas" mais comuns (Sessilia), são sésseis, crescendo suas conchas
diretamente sobre o substrato. A ordem Pedunculata (biscoito de ganso e outros) se prende por meio de uma haste.

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Cash balançou a cabeça. — Não.

— Qualquer pessoa chegou perto dele?
— Não.
Eu olhei nos olhos dele. — Eu preciso de você para levar todos de
volta ao bar e mantê-los lá. Ninguém sai.
— Por quê? —Ele perguntou.
Eu tinha que nivelar com ele. — Joshua está doente.
— Ele está morto.
— Seu corpo está morto, mas a doença está viva e magia. Está
crescendo. É possível que todo mundo esteja infectado.
Cash engoliu em seco. Seus olhos se arregalaram e ele olhou pelo
buraco para o bar. Uma mulher de cabelos escuros magra e leve como um
pássaro, limpava os líquidos no balcão, deslizando o vidro quebrado em
uma lixeira com um pano. Eu olhei para trás para Cash e vi medo.
Se ele entrasse em pânico, a multidão iria se espalhar e infectar metade
da cidade.
Mantive minha voz baixa. — Se você quer que ela viva, tem de levar
todo mundo de volta para o bar e impedi-los de sair. Amarre-os se for
preciso, porque se saírem, teremos uma epidemia. Uma vez que as pessoas
estão seguras, chame o Biohazard. Diga-lhes que Kate Daniels diz que
temos uma Mary. Lhes dê o endereço. Eu sei que é difícil, mas você tem
que ficar calmo. Não entre em pânico.
22
— O que você vai fazer?

— Vou tentar contê-lo. Vou precisar de sal, tudo que você tiver.
Página
Madeira, querosene, álcool, o que você tiver que possa queimar. Eu tenho
que construir uma barreira de fogo. Você tem mesas de bilhar?

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Ele me encarou, sem entender.

— Você tem mesas de bilhar?
— Sim.
Deixei cair minha capa na encosta. — Por favor, traga o seu giz. Todo
ele.
Cash se afastou de mim e falou com os seguranças. — Tudo bem, —
rugiu o segurança maior. — Todo mundo de volta para o bar. Uma rodada
por conta da casa.
A multidão foi indo para o bar pelo buraco na parede. Um homem
hesitou. Os seguranças se aproximaram dele. — Dentro do bar, —disse
Vik.
O cara projetou seu queixo no ar. — Foda-se.
Vik afundou um soco rápido, duro em seu estômago. O homem se
dobrou ao meio, e o segurança maior o pendurou por cima do ombro e
entrou para o Cavalo de Aço.
Dois minutos mais tarde um dos seguranças veio para fora com um
grande saco de sal e fugiu de volta para o bar. Eu cortei o canto do saco e
comecei a desenhar um círculo de três centímetros de largura ao redor do
poste. Cash surgiu a partir do buraco na taverna carregando algumas
caixas quebradas, seguidas pela mulher de cabelos escuros com uma caixa
grande. A mulher colocou a caixa para baixo sob a madeira. Cheia de
quadrados azuis de giz. Bom. — Obrigada.
Ela deu um olhar para Joshua no poste. O sangue drenou de seu rosto.
23
— Chamou o Biohazard? —perguntei.

Página
— O telefone está fora, —disse suavemente Cash.

Alguma coisa pode dar certo para mim hoje?

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— Isso muda as coisas? —Perguntou Cash.

Mudou uma correção de curto prazo para uma defesa a longo prazo.
— Eu vou ter que trabalhar mais duro para mantê-lo parado.
Terminado o círculo de sal, larguei o saco e comecei a colocar a
madeira em outro círculo em torno do poste. O fogo não aguentaria
indefinidamente, mas me compraria algum tempo.
A penugem de cor de carne testou o sal e achou delicioso. Imagine isso.
Não me sentia diferente, e eu estava mais próximo ao corpo, então eu seria
a primeira a ir. Um pensamento reconfortante.
Cash derrubou algumas garrafas, e despejei o seu conteúdo nas caixas,
embebendo a madeira em álcool e querosene. Um toque do fósforo e o
círculo de madeira estalou em chamas.
— Só isso? —Perguntou Cash.
— Não. O fogo vai atrasar, mas não por muito tempo.
Os dois pareciam estar em seu próprio funeral.
— Tudo vai ficar bem. —Kate Daniels, agente da Ordem. Nós
cuidamos de seus problemas mágicos, e quando não podemos, nós
mentimos através de nossos dentes. — Vai tudo correr bem. Vocês dois
vão lá dentro agora. Mantenham a paz e continuem a tentar o telefone.
A mulher roçou a manga de Cash com os dedos. Ele virou para ela,
acariciou a sua mão, e juntos eles voltaram para o bar.
A penugem rastejou até metade do sal. Comecei a cantar, passando
24
pela lista de encantamentos de purificação. A magia construiu em torno de

mim lentamente, como um algodão doce enrolando sobre o pináculo do
Página
meu corpo e fluindo para o exterior, em torno do círculo de fogo.

A penugem atingiu o fogo. As primeiras gavinhas cor de carne
lamberam as placas e derreteram na gosma preta com um silvo fraco. As

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chamas estalaram com o fedor nauseante de queima de gordura. Isso

mesmo, seu bastardo. Fique bem atrás do meu fogo. Agora só precisava mantê-
lo até que eu terminasse o primeiro círculo da barreira.
Cantando, peguei o giz e desenhei o primeiro glifo4.
CAPÍTULO 2
— SANTA MÃE DE DEUS. —A MULHER ALTA E MAGRA que era Patrice

Lane, da seção de medi-magos da Biohazard5, cruzou seus braços sobre o
peito. Ela parecia ainda mais alta de onde eu estava sentada, amontoada
na encosta sob minha capa. O frio infiltrou-se através do tecido do meu
jeans e minha bunda se transformou em um pedaço de gelo.
O poste de telefone tornou-se uma massa de cor de carne. Em torno
dele todo estacionamento estava coberto dos meus glifos. Eu usei todo o
giz de Cash.
25
4
Um glifo é um elemento da escrita. Dois ou mais glifos que correspondam ao mesmo símbolo (i.e., caractere), se
permutáveis ou dependentes de contexto, são chamados alógrafos; um glifo é uma manifestação da unidade mais abstrata. Glifos também
podem ser ligaduras tipográficas que são caracteres compostos ou diacríticos.
Página
5
Biohazard é uma palavra em inglês que consiste na junção de biological (que significa biológico) e hazard (significa risco ou
perigo) e por isso significa risco biológico ou perigo biológico. Este substantivo faz referência a substâncias biológicas que constituem uma
ameaça potencial para seres vivos.

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O poste lentamente choveu penugem de cor da pele. A mesma

porcaria que se espalhou em um círculo em torno de sua base. O fogo
morreu para meros carvões, e a penugem se derramou sobre ele em vários
lugares, reunido contra o primeiro anel de glifos. Eu cortei os fios do poste
depois de completar o segundo círculo de glifos e joguei para a barreira. A
penugem o engoliu completamente, você nunca saberia que eles estiveram
lá.
Medi-magos e medi-técnicos chegaram à cena. Biohazard era
tecnicamente parte do PAD, mas praticamente falando, tinha seus próprios
aposentos separados e sua própria cadeia de comando, e Patrice estava
praticamente naquela cadeia.
Patrice levantou seu braço e sentiu um pulso fraco da magia. — Eu
não posso sentir nada além do giz, —ela disse, sua respiração escapando
em uma nuvem de vapor pálido.
— Essa é a ideia.
— Espertalhona. —Patrice observou minha obra e balançou a cabeça.
— Olhe para ele rastejando. Praga persistente, não é?
Foi por isso que eu fiz o segundo círculo, no caso do primeiro falhar,
e então me ocorreu que o poste poderia dar um mergulho. As barreiras dos
dois primeiros círculos iam apenas cerca de oito metros acima, e se o poste
caísse, a doença iria pousar fora da barreira, então eu desenhei o terceiro
círculo da barreira. Era um círculo muito amplo, também, porque o poste
era dolorosamente alto, cerca de nove metros. Quatro medi-técnicos agora
caminhavam ao longo do perímetro do círculo exterior, balançando
26
incensários que continham fumaça purificante. Eu afundei tudo o que

tinha naquela barreira. Agora, uma gatinha poderia me tocar com a pata e
Página
marcar um nocaute total.

Um jovem medi-técnico macho agachou-se e levantou uma pequena
flor branca para os meus lábios. Cinco pétalas brancas manchadas com

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finas veias verdes levando a um anel de hastes difusas, cada ponta com um
pequeno ponto amarelo. Uma estrela do pântano6. O técnico sussurrou um
encantamento e disse em uma cadência praticada, — Respire fundo e solte
o ar.
Eu soprei na flor. As pétalas permaneceram brancas como a neve. Se
eu tivesse sido infectada, a estrela do pântano ficaria marrom e murcharia.
O técnico verificou a cor das pétalas contra um cartão de papel e
cantou em voz baixa. — Mais uma vez—respire fundo e solte o ar.
Eu obedientemente expirei.
Ele tirou a estrela do pântano. — Olhe nos meus olhos.
Eu fiz. Ele olhou profundamente para as minhas íris.
— Limpa. Você tem olhos lindos.
— E ela tem uma grande e afiada espada. —Patrice, bufou. — Vá
embora, criatura.
O medi-técnico levantou-se. — Ela está limpa, —ele andou em direção
ao bar. — Você pode falar com ela agora.
A mulher de cabelos escuros, que trouxe o giz para mim horas antes,
saiu do bar e carregava um copo de uísque. — Eu sou Maggie. Aqui. —
Ela me ofereceu o copo. — Seagram’s Seven Crown7.
— Obrigada, eu não bebo.
27
6
estrela do pântano
Página
7
Whisky Seagram's 7 Crown

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— Desde quando? —Patrice levantou suas sobrancelhas.

Maggie segurou o uísque para mim. — Você precisa disso. Vimos você
rastejar em suas mãos e joelhos por horas. Deve doer e você deve estar
congelada.
O estacionamento provou ser um pouco mais áspero do que o
previsto. Rastejando para trás e desenhando glifos, destruíram meus jeans
já desgastados em nada. Eu podia ver minha pele através dos buracos no
tecido e estava sangrando. Normalmente, deixar traços de sangue na cena
de crime teria me deixado em pânico. Uma vez separado do corpo, o
sangue não poderia ser mascarado, e no meu caso, a magia da minha linha
de sangue significava uma sentença de morte. Mas eu sabia como ia acabar
hoje à noite, e então eu não me preocuparia. O sangue que deixei no asfalto
seria reduzido a nada muito em breve.
Peguei o uísque e sorri para Maggie, o que levou algum esforço desde
que os meus lábios estavam congelados. — Você finalmente conseguiu o
telefone funcionando?
Ela balançou a cabeça. — Ainda está fora.
— Como você chamou o Biohazard?
Maggie franziu os lábios estreitos. — Nós não chamamos.
Eu me virei para Patrice. A medi-mago franziu a testa para o círculo.
— Pat, como é que você sabia que era para vir aqui?
— Um informante anônimo nos chamou, —ela murmurou, seus olhos
fixos no poste. — Algo está acontecendo ...
28
Com um estalo alto, o poste da rede elétrica quebrou. A mulher de

Página
cabelos escuros ofegou. Os técnicos recuaram, acenando seus incensários.

O poste girou no lugar, penugem rodando em torno de seu topo,
balançando e caiu. E foi esmagado pela parede invisível dos dois primeiros

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círculos da barreira, ele tombou e deslizou para baixo, despejando a merda

de cor de carne para o asfalto. Magia cresceu através do meu crânio. Uma
nuvem de penugem explodiu contra a barreira em uma explosão feia, e
flutuou inofensivamente para se estabelecer na linha de giz quando o poste
rolou até parar.
Patrice soltou um suspiro.
— Fiz o terceiro círculo de doze metros de altura, —disse a ela. — Ele
não vai a lugar nenhum, mesmo que ele realmente queira.
— Isso funcionou. —Patrice arregaçou suas mangas. — Você colocou
alguma coisa nessas barreiras que podem me fritar se eu as atravessar?
— Não. É apenas uma divisão de contenção simples. Sinta-se à
vontade para entrar na valsa.
— Ótimo. —Ela caminhou para baixo da encosta para os glifos,
acenando com a mão para a equipe de medi-técnicos mexendo com algum
equipamento do lado. — Deixa pra lá. É muito agressivo. Vamos fazer
uma sondagem ao vivo, é mais rápido.
Ela jogou para trás seu cabelo loiro e entrou no círculo. Os glifos de
giz inflamaram com um fulgor azul fraco. A barreira encobriu a magia dela
e eu não sentia nada além dela, mas o que Patrice estava trabalhando tinha
que ser pesado.
A penugem estremeceu. Gavinhas finas esticaram na direção de
Patrice.
Eu me perguntei quem teria chamado o Biohazard. Alguém ligou.
29
Talvez tenha sido apenas um Bom Samaritano de passagem.

E talvez eu criasse asas e voasse.
Página
Maggie se inclinou para mim. — Como ela pode entrar, mas a doença
não pode sair?

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— Por causa da maneira que eu fiz a barreira. Ambos mantem as

coisas dentro e as mantém fora. É basicamente uma barreira e você
consegue configurá-la de várias maneiras. Essa tem um limite de alta
magia. A doença que matou Joshua é muito potente. Isso está fortemente
saturado com magia, por isso ela não pode atravessar. Patrice é um ser
humano, o que a torna menos mágica por definição, e então ela pode ir
para frente e para trás como quiser.
— Então, não podemos simplesmente esperar até que a onda mágica
caia e a doença morra?
— Ninguém sabe o que acontecerá com a doença, uma vez que a
magia caia. Ela pode morrer ou pode sofrer mutação e se transformar em
uma praga. Não se preocupe. Patrice vai bombardeá-la.
No círculo, Patrice levantou as mãos dela. — Sou eu, Patrice, que te
ordena, sou eu quem exige obediência. Mostre-se para mim!
Uma sombra escura rolou sobre a pele carnuda, espalhando-se em
uma pátina manchada sobre o poste e os restos do corpo. Patrice recuou
para fora do círculo. Os medi-técnicos a invadiram com fumaça e flores.
— Sífilis, —eu a ouvi dizer. — Montes e montes de sífilis magicamente
deliciosa. Está viva e com fome. Vamos precisar de napalm8.
Maggie olhou de relance para o uísque ainda intocado no meu copo.
Levantei para os meus lábios e tomei um gole para fazê-la feliz. Fogo rolou
na minha garganta. Poucos segundos depois, eu podia sentir meus dedos
novamente. Woo, de volta aos negócios.
30
— Eles limparam todos vocês? —Perguntei.

Ela assentiu. — Ninguém estava infectado. Alguns caras tinham ossos
Página
quebrados, mas isso é tudo. Eles deixaram todos irem.
8
Napalm é um conjunto de líquidos inflamáveis à base de gasolina gelificada, utilizados como armamento militar. O napalm é na realidade
o agente espessante de tais líquidos, que quando misturado com gasolina a transforma num gel pegajoso e incendiário.

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Livro 4
Agradeça ao universo por pequenos favores.

Maggie estremeceu. — Eu não entendo. Por que nós? O que é que
fizemos a alguém?
Ela estava procurando por conforto no lugar errado. Eu estava
entorpecida e exausta, e a pedra no meu peito doía.
Maggie balançou a cabeça. Seus ombros curvados.
— Às vezes não há nenhuma razão, —eu disse. — Só uma má jogada
de dados.
O rosto dela foi drenado de toda expressão. Eu sabia o que ela estava
pensando, mobiliário quebrado, parede quebrada e uma má reputação. O
Cavalo de Aço seria para sempre conhecido como o lugar onde a praga
quase começou.
— Olhe para lá.
Ela olhou no sentido do meu aceno de cabeça. Dentro do bar, Cash
separou uma mesa quebrada.
— Você está viva. Ele está vivo. Vocês estão juntos. Todo o resto pode
ser corrigido. Sempre pode ser pior. Muito, muito pior. —Confie em mim
sobre isso.
— Você está certa.
Por um tempo, nós nos sentamos em silêncio e então Maggie tomou
uma respiração profunda, como se fosse dizer alguma coisa e apertou a
boca fechada.
31
— O que é?
— A coisa na adega. —ela disse.
Página
— Ah. —Eu me empurrei na posição vertical. Eu tinha descansado o

suficiente. — Vamos cuidar disso.

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Livro 4
Nós entramos pelo buraco na parede. Os técnicos avaliaram e

liberaram a maioria dos fregueses, que estavam muito felizes em ir embora.
O bar estava praticamente vazio. A maior parte da mobília não sobreviveu
a briga. Uma corrente de ar gelada varria as portas e janelas abertas
soprando para fora da parede arruinada. Apesar da ventilação não
planejada, mas vigorosa, o lugar fedia a vômito.
Cash inclinou-se contra o bar. Sombras profundas se alinhavam em
seu rosto abatido. Ele parecia desgastado, como se tivesse envelhecido um
ano durante a noite. Maggie parou junto a ele. Ele pegou sua mão na dele.
Deve ter torcido em nós sentar-se lá por horas, observando os rostos uns
dos outros para os primeiros sinais de infecção.
Eles estavam me matando. Se tivesse obtido uma visão de Curran
agora, eu teria dado um soco na cara dele por me fazer pensar que eu
poderia ter isso e então levá-lo longe de mim.
Na porta, dois técnicos da Biohazard empacotavam um m-scanner. O
m-scanner registrava magia residual na cena do crime e cuspia fora em
várias cores: roxo para vampiro, azul para humano, verde para metamorfo.
Era imprecisa e mimada, mas era a melhor ferramenta para análise de
magia que tínhamos. Parei perto da equipe e mostrei minha identificação
da Ordem.
— Alguma coisa?
A técnica feminina ofereceu-me uma pilha de folhas impressas. —
Patrice disse para você ter uma cópia.
— Obrigada. —Folheei-os. Cada um mostrou uma fatia azul brilhante
32
em todo o papel como um relâmpago, cortando através de traços pálidos

de verde. O verde eram os metamorfos, e a julgar pela cor aguada das
Página
assinaturas, eles saíram no início da luta, deixando para trás apenas fraca
magia residual. Não era surpreendente. O Bando tinha uma política

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rigorosa em matéria de comportamento ilegal, e nada de bom jamais veio

de uma briga de bêbados em um bar de fronteira.
Estudei o azul, Magia mundana, basicamente humana. Magos
registravam azul, curandeiros, empáticos ... Eu registrei como azul. A
menos que tivesse um scanner muito bom.
— Maggie, quantas pessoas você diria que estavam aqui quando isso
aconteceu?
Ela deu de ombros no bar. — Cerca de 50.
Cinquenta. Mas apenas uma assinatura humana mágica.
Eu olhei para Cash. — Preciso falar com o seu pessoal.
Ele foi para trás do balcão para uma escada estreita que conduzia para
baixo. Segui-o. Na parte inferior da escada, Vik e o segurança maior
guardavam a porta protegida por uma grande fechadura.
Sentei-me no topo da escada. — Meu nome é Kate.
— Vik.
— Toby.
— Obrigada. —Eu disse. — Eu sei que tinha que ser o inferno para
manter todos por tanto tempo e aprecio como vocês lidaram com isso.
— Tínhamos uma boa multidão hoje, —disse Cash. — A maioria
deles eram clientes habituais.
— Sim, —disse Vik. — Se tivéssemos conseguido muitos forasteiros,
haveria sangue.
33
— Você sabe como começou?

Página
— Alguém me bateu com uma cadeira, —disse Vik. — Foi assim que
entrei nisso.
— Um homem entrou no bar, —disse Toby.

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— Como ele era?

— Alto. Cara grande.
Alto era algo. Eu tinha conseguido uma boa olhada no corpo de
Joshua enquanto rastejava em torno do estacionamento. Joshua tinha uns
bons um metro e setenta e seus pés estavam a alguns centímetros do chão.
Quem quer que o pregou naquele poste provavelmente o segurou em seu
próprio nível de olho, o que fazia nosso cara perto de dois metros de altura.
Cash desapareceu por um minuto e voltou com cinco copos. Mais
uísque.
— O que o cara usava?
Os três homens e Maggie viraram seus copos. Houve uma careta
coletiva e limpeza de garganta. Eu bebi o meu um pouco. Como beber fogo
temperado com vidro moído.
— Uma capa, —Toby ofereceu.
— Como está? —Eu toquei minha própria longa capa cinza escuro. A
maioria dos lutadores usavam capas. Usada corretamente, a capa poderia
confundir o atacante obscurecendo seus movimentos. Isso poderia
proteger, sufocar e matar. Dobrava como um cobertor comprimido, para a
pessoa ou a mula. Infelizmente também fazia uma declaração de forma
dramática e era fácil de fazer. Cada bandido de meia tigela tinha uma ...
— Era um daqueles casacos com capuz, longo e marrom. E rasgado
no fundo, —Toby disse.
— Deu uma olhada na cara dele?
34
Toby sacudiu a cabeça. — Ele manteve o capuz o tempo todo. Não vi

Página
o rosto ou o cabelo.
Ótimo. Eu estava procurando o proverbial ‘tipo comum com uma
capa’. Ele era tão evasivo quanto o lendário ‘caminhão branco’ tinha sido

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quando carros ainda enchiam as estradas. Todos os tipos de acidentes de

trânsito loucos eram culpa do caminhão branco misterioso, assim como
todos os tipos de crimes aleatórios tinham sido perpetrados por ‘um cara
em uma capa’ com seu capuz puxado sobre seu rosto.
Toby pigarreou novamente. — Como eu disse, não vi a cara dele. Eu
vi suas mãos, porém—eram escuras. Desta cor. —Ele assentiu com a
cabeça para o uísque em meu copo. — Ele entrou, ficou no bar, avaliou a
multidão por um tempo, e então se aproximou de Joshua. Eles disseram
algumas palavras.
— Você ouviu o que ele disse?
— Eu ouvi, —sussurrou Cash. — Ele disse: ‘você quer ser um Deus? Eu
tenho espaço para mais dois’.
Oh garoto. — O que Joshua disse?
Os olhos de Cash estavam tristes. — Ele disse: ‘Inferno, sim’. E então o
homem o socou e o lugar inteiro foi para o inferno.
Inferno, sim. As famosas últimas palavras. Um cara chega em você
em um bar e te oferece a divindade. E você diz sim. Burro. Mais de trinta
anos se passaram desde o Shift. Por agora cada retardado deve saber para
ter cuidado com sua boca e não aceitar barganhas com estranhos, porque
quando você diz sim a magia, sua palavra é vinculativa, quer você queria
ou não. Uma vida desperdiçada. Tudo o que eu poderia fazer agora era
encontrar o assassino e puni-lo. Só uma vez gostaria de estar lá antes que
este tipo de merda acontecesse, então eu poderia cortá-lo.
35
— Foi aí que todos os metamorfos saíram, —Maggie disse.

— Isso mesmo. —Cash assentiu com a cabeça. — Eles correram para
Página
fora daqui como se suas caudas estivessem pegando fogo.

— Estes metamorfos vêm com frequência aqui?

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— Uma vez por semana a cerca de um ano, —disse Cash.

— Bebem muito?
— Uma cerveja cada, —Maggie disse. — Eles não bebem muito, mas
também não causam nenhum problema. Eles ficam sozinhos no canto,
comem barris de amendoim. Começamos a cobrá-los por isso ... eles não
parecem se importar. Acho que todos trabalham juntos, porque eles entram
ao mesmo tempo.
Em momentos difíceis, os metamorfos passavam para uma
mentalidade de nós contra eles. O mundo era dividido em Bando e não
Bando. Eles lutavam até a morte por um dos seus próprios, ou para
proteger seu território. Este era o seu objetivo, seu lugar. Eles deviam ter
entrado para esta luta, e neste caso, a lei do Bando estaria do seu lado. Em
vez disso, foram embora. Estranho. Talvez Curran apareceu com uma
nova ordem proibindo brigas. Não, isso não faz sentido nenhum. Eles
eram metamorfos, não freiras. Se não explodissem seu vapor de vez em
quando, iriam se autodestruir. Curran sabia disso melhor do que ninguém.
Eu arquivei essa peça de quebra-cabeça para o futuro. Agora o cara
com a capa era minha principal preocupação.
Joshua foi morto com um propósito específico. O cara passou por um
monte de problemas, começando uma briga, arrebentando paredes,
organizando Joshua para representar uma borboleta humana e infectá-lo.
Era improvável que ele tenha feito isso só por diversão, o que significava
que ele tinha algum tipo de plano e não pararia até finalizasse ele. Nada de
bom poderia possivelmente vir de um plano que envolvia a transformar um
36
homem em uma incubadora de sífilis.

— Temos uma taverna tranquila, —disse Maggie. — Normalmente,
Página
eles não querem brigar aqui. Eles só querem tomar uma bebida, jogar
bilhar e ir para casa. Se houver uma briga se preparando, eles vão falar
merda por um tempo e esperar por Toby e Vik para separá-los. Mas isso ...

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Eu nunca vi nada parecido com isso. Esse homem deu um soco, e toda a
multidão explodiu. As pessoas estavam gritando e lutando, e rosnando
como animais selvagens.
Eu olhei para Vik. — Você brigou?
— Sim.
— E você? —Eu me virei para Toby.
— Sim.
Eu olhei de relance para Cash. Ele assentiu. Eu poderia dizer por seus
rostos que não estavam orgulhosos disso. Os seguranças eram pagos para
manter a cabeça fria, e Cash era o dono.
— Por que vocês brigaram? —Eles me encararam.
— Eu fiquei louco, —Vik ofereceu. — Realmente louco.
— Com raiva, —disse Toby.
— Por quê?
— Inferno se eu sei. —Vik encolheu os ombros.
Interessante. — Quanto tempo durou a briga?
— Para sempre, —disse Toby.
— Cerca de dez minutos. —Respondeu Maggie.
Isso é muito tempo para uma briga. Brigas de bar acabavam em
poucos minutos. — Piorou com o tempo?
37
Ela assentiu.
— Alguém viu Joshua morrer?
Página
— Foi tudo um borrão, —disse Toby. — Me lembro de bater a cabeça

de alguém contra a parede e ... Eu nem sei por que eu fiz isso. É como se
eu não conseguisse parar.

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— Eu vi. —Maggie abraçou a si mesma. — A briga estourou. Joshua

estava no meio dela. Ele era um grande homem, e sabia o que estava
fazendo. Eu estava gritando para que parassem de brigar. Eu estava com
medo de que eles roubassem o lugar. Ninguém me escutou. Joshua estava
cortando as pessoas para baixo com os punhos e então aquele homem
agarrou-o e eles bateram na parede. O homem arrastou Joshua ao poste,
agarrou um pé de cabra e o esfaqueou. Joshua estava se contorcendo no pé
de cabra como um peixe. Esse bastardo colocou a mão no rosto de Joshua.
Uma luz vermelha brilhou e então ele foi embora. Eu vi os olhos do
Joshua. Ele tinha desaparecido.
Isto só ficou cada vez melhor.
Maggie se abraçou. E Cash colocou a mão no seu ombro. Também
não disse nada, mas vi a expressão assombrada sair do rosto da Maggie,
como se ela se apoiasse na força dele.
Um dia eu encontraria alguém para me apoiar também. Não seria
Curran. E eu realmente tinha que parar de pensar nele, porque doía.
— Você viu qualquer parte do homem durante a luta? Qualquer coisa?
Maggie balançou a cabeça. — Só a capa.
Os técnicos do Biohazard pegaram as declarações antes de deixar os
arruaceiros irem. Eu apostaria uma barra de chocolate que ninguém deu
um olhar para o John Doe9 de capa.
Uma luta de dez minutos, cinquenta testemunhas e nenhuma
descrição. Isso tinha que ser algum tipo de recorde.
38
— Ok. —Eu suspirei. — E o bicho na adega? O que sabemos sobre

isso?
Página
9
Fulano (anônimo) é uma palavra da língua portuguesa para fazer referência a uma pessoa indeterminada ou que não se quer mencionar;
vagamente sinônimo de Beltrano e Sicrano, embora normalmente estas só se usem em conjunto quando se quer nomear mais do que uma
pessoa; do árabe fulân' ("alguém").

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— Grande, —disse Vik. — Peludo. Dentes grandes. —Ele segurou

suas mãos separadas, demonstrando os dentes com os dedos. — Ele era
como a prole do inferno.
— Como é que essa prole entrou no porão?
O segurança menor deu de ombros. — Eu estava tentando fazer o meu
caminho para o bar, onde a espingarda estava, algum idiota me bateu com
um taco de bilhar e eu levei um tombo para baixo nesta escada e bati com
a cabeça um pouco. Uma vez que a sala parou de girar, tentei levantar e vi
essa coisa enorme descendo. Dentes enormes, olhos brilhantes. Pensei que
eu estava acabado. Bem, ele saltou por cima de mim e foi para dentro da
adega. Eu bati a porta fechada e é isso.
— Alguém viu esta besta entrar com o homem que matou o Joshua?
Ninguém disse nada. Eu tomei isso como um não.
— Ele tentou sair?
Os dois seguranças balançaram suas cabeças.
Eu levantei e tirei a Matadora da minha bainha nas costas. O sabre
opaco apanhou a luz azul da lanterna mágica. Um leve brilho madrepérola
correu ao longo da lâmina. Todo mundo deu um passo para trás.
— Feche a porta atrás de mim, —disse.
— E se você não sair? —Maggie perguntou.
— Eu vou sair. —Destranquei a porta pesada de madeira, abri e entrei.
Escuridão me assaltou. Eu esperei, deixando meus olhos se ajustarem
39
à escuridão.
A adega permaneceu silenciosa, mergulhado em sombras e o odor
Página
espesso de lúpulo10 e licor. Curvas escuras dos grandes barris de cerveja
10
O lúpulo é tradicionalmente usado junto com o malte, a água e a levedura, na fabricação da cerveja.

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definindo um caminho estreito. Movi-me para frente, pronta para fugir a

qualquer momento. As minhas costas e joelhos doíam. A última coisa que
eu queria era algo grande, com dentes do tamanho dos dedos de Vik
saltando para cima de mim.
Nada além do luar, rastejando através da fenda estreita de uma janela
alta para a minha direita.
Uma sombra negra agitou-se contra a parede mais distante.
— Olá. —Mudei minha postura.
Um baixo gemido gutural me respondeu. Uma lamentação muito
triste, seguida por pesados sons molhados ofegantes.
Eu dei mais um passo e parei. Sem flash dos dentes. Sem olhos
brilhantes. Meu nariz pegou um cheiro de pele. Interessante.
Eu coloquei um pouco de emoção em minha voz. — Aqui, garoto!
A sombra escura gemeu.
— Quem é um bom garoto? Você está com medo? Eu estou com
medo.
Um som fraco de uma cauda varrendo o chão ecoou ofegante.
Bati em minha perna com a palma da minha mão. — Venha aqui,
garoto! Vamos ter medo juntos. Venha!
A sombra se levantou e correu para mim. Uma língua molhada
lambeu minha mão. Aparentemente, ele era um tipo amigável do animal
demoníaco.
40
Cheguei ao meu cinto e peguei um isqueiro. Um focinho canino

cumprimentou-me, completo com grande nariz preto e olhos de cão
Página
infinitamente tristes. Eu estendi a mão e acariciei lentamente o pêlo escuro.

O cão ofegou e caiu ao lado, expondo seu estômago. Caninos malvados e

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olhos brilhantes, certo! Suspirei, soltei o isqueiro e fui bater na porta. — Sou
eu, não atire.
— Okay, —gritou Cash.
Um som metálico anunciou a tranca deslizar aberta. Eu abri a porta
lentamente para encontrar-me olhando para a ponta de um facão. — Eu
tenho o filhote do inferno encurralado, —disse. — Pode me conseguir uma
corda?
Em dez segundos, tinha uma extensão de corrente em minha mão,
grossa o suficiente para segurar um urso sob controle. Eu senti o pescoço
do cão—sem coleira. Grande surpresa. Uma volta na corrente e deslizei
em volta da sua cabeça e abri a porta. A besta docilmente me seguiu para
a luz.
Ficou cerca de trinta centímetros no ombro. Seu pêlo era uma bagunça
de marrom escuro e bronze, em um padrão clássico de Dobermann, exceto
que a pele não era elegante e brilhante, mas sim uma massa densa e espessa
de cachos. Uma espécie de vira-lata, parte Dobermann, parte pastor ou
algo de pêlos longos.
Vik ficou da cor de uma maçã madura.
Cash olhou para ele. — É um maldito vira-lata.
Dei de ombros. — Provavelmente assustou-se durante a briga e
atravessou cegamente o bar. Ele parece bastante amigável.
O cão se pressionou contra minhas pernas, esfregando um pequeno
exército de bactérias fétidas no meu jeans.
41
— Nós devemos matá-lo, —disse Vik. — Quem sabe, isso pode se

transformar em algo desagradável.
Página
Eu lhe dei minha melhor versão de um olhar perturbado. — Cão de

evidência. Não toque no cão.

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Vik decidiu que gostava de seus dentes na boca e não no chão e bateu
em retirada estratégica. — Certo.
Eu mataria um cachorro em legítima defesa. Já tinha feito isso e me
senti mal por isso depois, mas na época não havia forma de evitar. Matar
um vira-lata que lambia minha mão estava além de mim. Além disso, o
cão era evidência. Dez para um, ele era um vira-lata local que teve uma
reação de pânico a qualquer magia que o John Doe de capa estava jogando
ao redor. Claro, também poderiam brotar tentáculos nele no meio da noite
e tentar me matar. Só o tempo iria dizer. Até que observasse ele por alguns
dias, a prole do inferno e eu ficaríamos colados pelo quadril. O que não era
necessariamente uma coisa boa, considerando que ele tentou o seu melhor
chamuscar o revestimento do meu nariz com seu fedor.
Levei o cão para o medi-técnicos para se livrar da praga—ele passou
com louvor. Eles tiraram um pouco de sangue para análise posterior e
disseram-me que ele tinha pulgas e cheirava mal, como se não tivesse
conseguido perceber. Então peguei papel e caneta do alforje da Marigold e
sentei em uma das mesas para escrever meu relatório.
No estacionamento, dentro do meu círculo a barreira brilhava com
chamas laranja. Três caras de terno com retardador de calor agitavam seus
braços, cantando o fogo para um furor branco. Não podia sequer ver o
poste ou corpo de Joshua dentro do inferno.
A magia caiu. Ela simplesmente desapareceu do mundo em um único
piscar de olhos. O inferno no estacionamento começou a morrer. Os caras
de terno mudaram para lança-chamas e foram queimando.
42
Patrice surgiu. — Cão bonito.

— Ele é evidência, —eu disse a ela.
Página
— Qual o nome dele?

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Olhei para o vira-lata, que prontamente lambeu minha mão. —

Nenhuma pista.
— Você deveria chamá-lo de Watson, —disse Patrice. — Então você
pode dizer a ele 'Elementar, meu caro Watson,' quando você resolver um
caso em um momento de glória intelectual.
Glória intelectual. Okay, certo. Eu acenei-lhe com minha caneta. — Eu
vou te mostrar o meu se me mostrar o seu.
— Combinado.
Entreguei a ela minhas anotações. — O agressor é do sexo masculino,
pele de oliva, aproximadamente dois metros de altura, usa uma longa capa
com uma bainha esfarrapada e gosta de manter seu capuz.
Ela fez uma careta. — Não me diga. Um cara em uma capa fez isso.
Eu assenti. — Parece que sim. Outras características são constituição
resistente e força sobre-humana. Havia aproximadamente cinquenta
pessoas no bar, mas o m-scanner registrou apenas uma assinatura mágica,
provavelmente o nosso assassino. Cinquenta homens violentos e ninguém
usou magia.
— Parece improvável, —disse Patrice.
— Foi uma grande briga brutal. Ninguém pode me explicar o porquê
começaram a brigar, mas aparentemente eles foram de zero a sessenta em
três segundos. Acho que o nosso cara em uma capa emana algo que atinge
as pessoas em um nível muito básico. Faz com que eles sejam realmente
agressivos. Também é possível que os animais fujam dele, mas só temos
43
um assunto de teste. —Eu acariciei o cão demônio. — Sua vez.

Patrice suspirou. — Ele é uma Mary.
Página

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Eu assenti. Marys, assim chamadas depois de Mary Tifóide11, eram

vetores de doença—indivíduos que espalhavam ou induziram doença.
— Um muito, muito forte, —disse Patrice. — Nosso cara não só
infectou—e não podemos dizer com certeza que ele fez, desde que a vítima
poderia ter sido sifilítica antes da luta—mas ele realmente deu vida a
doença, tornando-a mais potente e quase autoconsciente. A última vez que
vi isso acontecer foi durante um flare12. É preciso uma grande quantidade
de poder para fazer uma doença em uma entidade.
Poder divino, para ser exato. Exceto que não há deuses rondando as
ruas de Atlanta. Eles só vieram para jogar durante um flare, ocorridos
aproximadamente a cada sete anos, e tínhamos acabado de superar o
último. Além disso, se ele fosse um Deus, o m-scan devia ter registrado
prata, não azul.
— Temos de encontrá-lo agora. —O rosto de Patrice era sombrio. —
Ele tem potencial de pandemia. O homem é uma catástrofe em progresso.
Ambas sabíamos que a trilha tinha esfriado. Eu tinha perdido a chance
de ir atrás dele, porque estava ocupada rastejando e tentando manter sua
obra de infectar a cidade. Ele iria atacar novamente e ele mataria. Não era
uma questão de se, mas uma questão de quantos.
— Eu vou colocar um alerta, —disse Patrice.
Encontrar um cara em uma capa sem quaisquer esboços de
testemunha ocular e prendê-lo antes que ele contaminasse toda a cidade.
Moleza.
44
Página
11
Mary Mallon “Mary Tifóide” Mary Mallon, também conhecido geralmente como Mary Tifóide, era o portador o mais de conhecimento geral
da febre tifóide. Era a primeira pessoa nos Estados Unidos a ser identificados como um portador do micróbio patogénico responsável para a
doença, sem experimentar os sintomas relativos à circunstância. Trabalhou como um cozinheiro e durante toda sua carreira é pensado para ter
contaminado 51 povos, de que 3 casos provaram fatal. Foi isolada forçosamente para finalidades da quarentena duas vezes em sua vida, uma
vez que em 1907 e outra vez em 1915. A segunda vez que não foi liberada e morreu no isolamento na idade de 69.
12
Flare – e um alargamento

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— Você pode descobrir mais sobre o Bom Samaritano que fez a

chamada também? —perguntei.
— Por quê?
— Você é o Joe Blow13. Você anda por aí ... e me vê rastejar ao redor
do poste de merda desenhando no pavimento. E você entende
imediatamente que eu estou tentando conter uma praga virulenta?
Patrice franziu os lábios. — Provavelmente não.
— Quem quer que tenha chamado sabia o que eu estava fazendo e
sabia o suficiente para chamar a Biohazard, mas não ficou por perto. Eu
gostaria de saber por quê.
Meia hora depois, deixei Marigold nos estábulos da Ordem e
entreguei o coelhinho de poeira para o assistente chefe do estábulo, que
também foi encarregado de recolher todas as ‘evidências’ vivas. Tivemos
um pequeno desentendimento quanto ao estado de vida do coelho de
poeira, até sugeri que ele o deixasse fora da gaiola para resolver a questão.
Eles ainda estavam tentando pegá-lo quando eu saí.
Eu arrastei o cachorro para o meu apartamento e dentro do meu
chuveiro, onde travei uma guerra química em seu pêlo. Infelizmente, ele
insistiu em agitar-se a cada trinta segundos. Tive de enxaguá-lo quatro
vezes antes que a água corresse clara, e ao fim disso, um spray molhado
cobria cada polegada das minhas paredes do banheiro, meu dreno estava
cheio de pêlo e o animal cheirava apenas um pouco melhor. Ele conseguiu
me lamber no rosto duas vezes em gratidão. A língua dele fedia, também.
45
— Eu odeio você, —disse a ele antes de dar os restos de lasanha da

geladeira. — Você fede, você baba, e você acha que eu sou uma pessoa
Página
legal.
13
Joe Blow – termo genérico para "uma pessoa comum", "o anônimo", por assim dizer.

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O cão comeu a lasanha e abanou o rabo. Ele realmente era um vira-

lata de aparência estranha. Uma vez que o diagnóstico da Biohazard
voltasse, se ele fosse apenas um cão normal, eu teria que encontrar um bom
lar. Animais de estimação não ficavam bem comigo. Eu nem estava em
casa o suficiente para não deixá-los morrer de fome.
Verifiquei minhas mensagens—nada, como de costume—tomei um
banho e me arrastei para a cama. O cão ficou no chão. A última coisa que
me lembrei antes de desmaiar era o som de sua cauda varrendo o tapete.
CAPÍTULO 03
CHEGUEI NO ESCRITÓRIO ÀS DEZ. EU TIVE APROXIMADAMENTE

quatro horas de sono, acordei de mau humor, e meu rosto deveria estar
mostrando, porque as pessoas se esforçavam para sair do meu caminho na
rua. Claro, poderia ter sido porque uma bagunça gigante fétida de um cão
trotava ao meu lado, latindo para qualquer um que chegasse muito perto.
O escritório da Ordem dos Cavaleiros da Ajuda Misericordiosa
ocupava simples edifício em forma quadrada. Quando a magia estava alta,
ele ficava protegido por uma barreira militar, mas agora, enquanto a
tecnologia tinha vantagem, nada distinguia o bastião da virtude
46
cavalheiresca dos edifícios de escritório vizinhos. Subi para o segundo

andar, entrei num corredor muito monótono e sentei no meu pequeno
Página
escritório, pintado de cinza. O fiel companheiro canino caiu no tapete.

Apertei o botão do intercomunicador. — Maxine?
— Sim querida?

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— Acredito você me deve dois cookies.

— Venha buscá-los.
Olhei para o companheiro canino. — Eu, cookies. Você, fica.
Aparentemente, "ficar" em linguagem do fiel companheiro canino
significava ‘me siga com alegria entusiasta’. Eu poderia fechar a porta do
meu escritório na cara dele, mas então ele provavelmente uivaria e ficaria
triste. Eu tive tristeza o suficiente na minha vida até agora.
Nós trotamos pelo corredor e chegamos a uma parada diante da mesa
de Maxine. Ela observou o cão demônio por um par de segundos
atordoados, então alcançou sob sua mesa e pegou uma caixa de cookie,
cada um do tamanho da palma da minha mão. O aroma de baunilha me
atingiu. Eu fiz o meu melhor para não babar. É preciso manter a imagem
elegante e mortal, afinal.
Eu peguei dois cookies, quebrei um ao meio, tirei as gotas de chocolate
de uma metade e dei para o vira-lata. Eu mordi a outra metade. O céu
existia e tinha nozes nele. — Alguma mensagem para mim? —Geralmente
tenho uma ou duas, mas principalmente as pessoas que queriam minha
ajuda preferiram falar pessoalmente.
— Sim. Espere um minuto. —Ela puxou um punhado de bilhetes cor-
de-rosa e recitou de memória, sem verificar o papel. — Sete e quarenta e
duas da manhã, Sr. Gasparian: Eu te amaldiçoo. Eu amaldiçoo seus braços
para que eles murchem e morram e caiam do seu corpo. Eu amaldiçoo seus
olhos para explodir. Eu amaldiçoo seus pés para incharem até ficar azul. Eu
amaldiçoo sua espinha para quebrar. Eu te amaldiçoo. Eu te amaldiçoo. Eu te
47
amaldiçoo.
Página
Eu lambi as migalhas do cookie fora de meus lábios. — Sr. Gasparian

dá a impressão que tem poderes mágicos. Ele tem 56 anos, terrivelmente
infeliz porque a mulher o deixou e ele continua xingando seus vizinhos.

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Magicamente, ele é um fracasso, mas seu discurso assusta as crianças do

bairro. Eu chutei o caso dele para o melhor de Atlanta. Eu acho que eles
fizeram uma visita e ele está um tanto chateado que eu não levei seu poder
mágico seriamente.
— As pessoas fazem coisas estranhas. Sete cinquenta e seis da manhã,
Patrice Lane, Biohazard: Joshua era um metamorfo. Me ligue agora.
Engasguei com o meu cookie. Metamorfos não ficavam doentes, pelo
menos não no sentido tradicional. A única vez que vi um deles espirrar foi
quando ele teve um pouco de pó no seu nariz, ou quando se tornaram
inexplicavelmente alérgicos a tartarugas gigantes. Seus ossos curavam
juntos em um par de semanas. Que diabos?
Maxine continuou.
— Oito e um da manhã, Derek Gaunt: Você pode me ligar quando você
chegar?
— Oito e cinco da manhã, Jim, nenhum sobrenome dado: Me ligue.
— Oito e doze da manhã, Ghastek Stefanoff: Ligue-me o mais rápido
possível.
— Oito e trinta e sete da manhã, Patrice Lane, Biohazard: o cachorro
está limpo. O Bom Samaritano era uma mulher com sotaque de algum tipo.
Por que você não me ligou?
— Oito e quarenta e quatro da manhã, Detetive Williams, Atlanta
PAD: Agente Daniels, entre em contato comigo sobre sua declaração sobre
o incidente no Cavalo de Aço o mais rápido possível. E isso é tudo. —Maxine
48
deu um sorriso brilhante e me entregou uma pilha de mensagens cor-de-

rosa.
Página
Andrea emergiu do Arsenal, carregando um envelope pardo e vindo

em minha direção. Pequena e loira, ela estava armada com um rosto

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bonito, sorriso encantador e um par de 9mm SIG-Sauers. Ela costumava

atirar coisas com precisão sobrenatural muitas vezes e muito rápido. Ela
também era minha melhor amiga. Andrea parou a alguns metros de mim.
Eu balancei minha enorme pilha de folhas cor-de-rosa para ela.
— Eu vejo—você tem mensagens. Isso é bom. —Andrea acenou para
mim e roubou um cookie na caixa.
O companheiro canino rosnou em voz baixa. Apenas no caso de ela
ser problema.
— O que é isso? —Os olhos de Andrea se arregalaram.
— O que é o que?
— A besta! —Ela acenou com o cookie para o cão.
O animal trotou para o lado dela, cheirou-a, e abanou o rabo,
indicando que ele tinha decidido que ela era gente boa e que deve dar-lhe
um pedaço de seu cookie.
— Ele é evidência.
— Não me entenda mal, eu acho que um cão é uma ótima ideia.
Nunca imaginei você com um poodle mutante.
— Ele não é um poodle. Ele é uma mistura de Dobermann.
— Aham. Continue dizendo isso para si mesma.
— Onde você viu um poodle colorido assim?
— Por que não perguntamos ao Mauro? Sua esposa é veterinária e ele
cria Dobermans.
49
Eu rosnei. — Bem. Vamos perguntar a ele.

Página
Nós subimos pelo corredor para o escritório de Mauro, um enigma

canino no reboque. Se precisasse de parceiro para um trabalho e Andrea
não estivesse disponível, eu normalmente enganava Mauro para unir

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forças. Um samoano enorme e desajeitado, ele era firme como a rocha de

Gibraltar. Trazê-lo para um trabalho, era como ter seu próprio canhão
portátil—as pessoas olhavam para ele e decidiam que criar problemas não
era de seu melhor interesse.
O escritório de Mauro era apenas um pouco maior que o meu, e seu
corpo era substancialmente maior, então o exame do fiel companheiro
canino teve que ser levado para o corredor. Mauro ajoelhou-se perto do
cão, sentiu seus lados, olhou para sua boca e levantou-se sacudindo as
mãos.
— Poodle padrão. Provavelmente de raça pura, mesmo. Além de ser
assustadoramente grande, ele é realmente um cão muito bonito sob todo
esse pêlo. Você não conseguirá nenhum criador batendo à sua porta,
porque você não pode mostrar ele. Ele é muito grande. Mas, de outra
forma, um espécime muito bom.
Você deve estar brincando comigo. — E sobre a cor?
— Isso é uma bicolor reconhecido para a raça. São chamados de
poodles fantasmas14.
Andrea riu.
O poodle fantasma sentou-se perto de mim, olhando para meu rosto
como se fosse a melhor coisa que ele havia visto.
— Eles são cães muito inteligentes, —Mauro disse. — Einsteins
caninos. São protetores e eles fazem bons guardas. —Ele limpou a garganta
e deslizou para um atroz sulista tingido com sotaque samoano. — Você
50
sabe, uma jovem como você, Senhorita Scarlett, não deveria estar nestas ruas
viciosas sem um acompanhante masculino. Só não é apropriado.
Página
14
poodles fantasmas padrão

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Andrea se dobrou, coaxando de tanto rir.

— Vão se ferrar.
Mauro balançou a cabeça, olhando tristemente para Andrea. — Veja?
As ruas a afetaram: ela se tornou grosseira.
Houve momentos na vida, quando nada menos do que cuspir fogo
serviria.
— Você já pensou em um nome para ele? —Mauro perguntou. — Que
tal Erik? Depois do fantasma da ópera.
— Não.
— Você deveria pôr o nome Fezzik, —disse Andrea.
— Inconcebível, —eu disse a ela e levei o traidor canino de volta ao
meu escritório.
— Você pode querer tosar ele. —Mauro falou atrás de mim. — Seu
pêlo está todo emaranhado e é desconfortável para ele.
No escritório retirei minha bolsa marrom. Eu parei em uma barraca
de comida a caminho do escritório. Era uma barraca suja marcada com
um grande sinal que dizia HOMEM FAMINTO e era operada por um cara
loiro magro. Você teria que ser um homem muito, com muita fome, para
parar naquela barraca. À beira da inanição. E mesmo assim, acho que eu
iria por um rato cru em vez disso. O cheiro sozinho era conhecido por
enviar as pessoas correndo para salvar suas vidas. No entanto, o cão achou
o aroma que emanava do Homem Faminto curiosamente sedutor, e então
eu comprei um saco de pequenas coisas redondas fritas que supostamente
51
pareciam cachorrinhos.
Página
Enfiei a mão no saco, tirou um objeto redondo para fora, e joguei para
o poodle. Grandes mandíbulas se abriram em um piscar de olhos, pegaram
um cachorrinho e se fecharam. Ele deve ter passado algum tempo sendo

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um perdido, porque aprendeu as duas coisas que todos os animais vadios

sabiam: comida é rara, então coma rápido e fique com o idiota que te
alimenta.
Eu dobrei o saco. Kate Daniels e seu poodle de ataque mortal. Alguém me
mate. Julie, minha sobrinha adotada, teria o dia ganho com isso. Era uma
coisa boa que ela estava em um internato até o Dia de Ação de Graças.
Talvez a loja da esquina tivesse cortadores de cabelo.
Eu me afundei atrás da minha mesa e espalhei minhas mensagens cor-
de-rosa em um leque em sua superfície marcada. Em um mundo perfeito,
o talentoso assassino de Joshua teria tido um monólogo antes da agitação,
durante o qual ele em alto e bom som anunciaria seu nome completo,
ocupação, preferência religiosa, de preferência com o país de seu deus e
período de tempo, origem, seus objetivos, sonhos e aspirações e a
localização do seu covil. Mas ninguém jamais acusou o pós-shift de
Atlanta de ser perfeito.
O assassino provavelmente era devoto de alguma divindade que
gostava de pragas como meio de motivar e disciplinar os fiéis dele ou dela.
Um devoto muito poderoso, capaz de superar o poder regenerativo do Lyc-
V, o que era praticamente impossível segundo a sabedoria comum.
Obviamente, a sabedoria comum mais uma vez se mostrou errada.
Claro, o assassino também poderia ser algum psicopata que achava
que todas as doenças eram divinas e simplesmente gostava de infectar as
pessoas em seu tempo livre. Inclinei-me em direção a primeira teoria. O
homem queria especificamente Joshua, matou-o de uma maneira muito
52
estranha, e se afastou uma vez que a ação foi realizada. Ele não ficou
esperando uma reação. Tudo isso apontava algum tipo de método para a
Página
loucura dele, algum propósito definido.

Por que começar uma briga? Se tivesse querido Joshua, ele poderia o
ter emboscado em alguma rua solitária em vez de começar uma briga em

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um bar cheio de caras durões. Por que correr o risco de que ele ou Joshua
iria se machucar? Esta era uma espécie de mensagem? Ou ele achava que
ele era tão malvado?
A única dica que eu tinha era o elo entre a doença e o divino. Eu puxei
um pedaço de papel da gaveta e tirei uma pilha de livros da minha
prateleira. Eu queria algumas informações básicas antes de começar a
retornar as ligações.
DUAS HORAS MAIS TARDE, MINHA LISTA DE DIVINDADES

relacionadas com doenças mortais cresceu para proporções de difícil
controle. Na Grécia, tanto Apolo quanto sua irmã, Ártemis, infectavam
pessoas com suas flechas. A Grécia saudava o nosoi, demônios de peste,
praga e enfermidade pesada, que escaparam dos confins da caixa de
Pandora. Nos mitos, nosoi era mudo, e meu cara definitivamente falou,
mas eu aprendi a não levar o mito como evangelho.
A lista continuava. Toda vez que um homem antigo tropeçava, havia
um deus pronto para puni-lo com uma série de doenças agonizantes. Kali,
a deusa Hindu da morte, era conhecida como a deusa da doença; o Japão
estava repleto de demônios da peste; os maias tinham Ak K'ak, que era o
deus da doença e da guerra, e parecia ser um bom candidato, considerando
que o assassino do Joshua começou com uma briga; os Maori se gabavam
da deidade da doença para cada parte do corpo; os índios de Winnebago
53
tentaram proteger as bênçãos de um deus de duas faces que eles chamaram

de Doador de Doenças; os irlandeses tinham o traidor Caillech; e na antiga
Página
Babilônia, Nergal doava doenças como se fossem doces. E nem sequer

contavam as deidades que, embora não fossem especializadas em doenças,
usavam uma estranha praga aqui e ali quando a ocasião pedia por isso.

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Eu precisava de mais dados para reduzir isso. Minha bunda doía de

estar sentada por muito tempo. Tinha alimentado o cão com quatro
bolinhos até agora, e curiosamente ele parecia não estar pior do que o
usual. Eu meio que esperava que ele explodisse ou caísse no tapete. Poodle
de ataque com o estômago de aço.
Quando meus olhos ficaram vidrados, fiz uma pausa e chamei o
Biohazard.
— Um metamorfo?
— Were-coyote, —disse Patrice.
— Como você tem certeza disso?
— Sem sombra de dúvida. Vários membros irritados do Bando apareceram
no meu escritório exigindo os restos mortais dele.
— Como isto é possível? Metamorfos não ficam doentes.
— Eu não sei. —Uma nota de preocupação vibrou na voz de Patrice.
— Lyc-V é um vírus ciumento. Extermina todos os outros invasores com
extremo preconceito.
Se a praga fez isso com um metamorfo, o que faria a um ser humano
normal?
O resto da conversa foi em uma veia similar. O cara numa capa agora
tinha um nome de código oficial—Mary Steel. O poodle de ataque era
apenas um cão, o Bom Samaritano se foi para sempre e ficamos sem pistas
sobre a identidade da Steel Mary. As declarações das testemunhas oculares
54
se provaram inúteis. Os medi-magos tinham rastreado tudo sobre a cena e

descoberto nada. Sem nomes de deuses proibidos escritos em sangue na
Página
parede. Sem correspondências acidentalmente descartadas de hotéis cinco

estrelas. Sem impressões de lama feitas de algum tipo encontradas apenas
a noventa centimetros à esquerda de um famoso monumento. Nada.

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Perguntei a Patrice se ela pensou que rezando para Miss Marple15 ajudaria.
Ela me disse para ir se ferrar e desligou.
PAD era o próximo na fila. Williams principalmente flexionou seu
músculo e sacudiu seus sabres, porque PAD não foi chamado à cena e
Biohazard teve toda a glória, mas depois minha descrição vívida do nariz
de Joshua caindo, o detetive decidiu que tinha uma carga de trabalho
muito urgente e muito completa, e enquanto iria adorar ajudar minha
investigação da melhor forma possível, ele simplesmente estava atolado.
Lamentável, isso.
Marquei as três mensagens cor-de-rosa de Patrice e Williams e liguei
para Jim, porque eu precisava. Uma pessoa tinha que se esforçar para ser
educado ao lidar com o chefe de segurança do Bando. Mesmo que esse
chefe fosse seu amigo.
Um metamorfo masculino chamado Jack me colocou em espera. Virei
o papel cor de rosa e rabisquei uma cara feia nele.
Jim e eu voltamos a ser amigos. Antes do meu trabalho como um elo
entre a Ordem e a Associação dos Mercenários e seu trabalho como espião
do Bando, ambos ganhávamos nosso dinheiro como mercenários,
contratados para a Associação de Mercenários. A Associação atribuía a
cada mercenário um território. O meu passou a ser uma porcaria, e
trabalhos bem remunerados vinham em meu caminho muito raramente. O
território de Jim, por outro lado, muitas vezes gerava bons trabalhos, mas
frequentemente necessitavam de mais um corpo. Geralmente ele me
colocava nele, principalmente porque ele não tinha estômago para
55
Página
15
Jane Marple, normalmente conhecida como Miss Marple, é uma personagem de ficção presente em doze
romances e em vinte contos policiais de Agatha Christie. Miss Marple é uma senhora solteirona que vive no vilarejo fictício de St. Mary Mead
e atua como detetive amadora.

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trabalhar com mais ninguém. Durante esse tempo eu aprendi que, com o
Jim, o Bando sempre vinha em primeiro lugar. Ele podia ter o cara que
caçamos pela garganta, mas uma chamada da fortaleza e ele iria embora
sem dizer uma palavra.
Ele provavelmente estava fora de sua mente. Metamorfos passaram
toda sua vida pensando que eram livres de doenças. Ontem à noite tinha
rasgado sua imunidade para longe deles.
Eu colori de preto o nariz do desenho e adicionei uma crina espetada
de cabelos selvagens.
— Kate, —Jim disse no telefone. Jim parecia que quebrava os ossos
para viver, mas sua voz era celestial.
— Por que diabos você demorou tanto?
— Você diz as coisas mais doces para mim, amorzinho, —eu disse
a ele. — Eu estava tentando rastrear a Mary que matou Joshua.
Jim rosnou um pouco, mas não mordeu. — Ele tinha apenas vinte e
quatro anos de idade. Um were-coyote, bom rapaz. Ele trabalhava para mim de
vez em quando.
Eu dei ao desenho dois chifres afiados. — Eu sinto muito.
— Biohazard disse-me que ele foi infectado com sífilis e isso o comeu de
dentro para fora.
— Isso é ... preciso.
— Eles não vão liberar os restos mortais para nós.
56
Eu sabia onde ele estava vindo. — Doolittle quer uma amostra para
Página
analisar?
— Sim.

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Doolittle era o médico do Bando e o melhor medi-mago que tive o

privilégio de dirigir até a beira da insanidade. Ele era a razão por que o
meu amigo Derek ainda tinha um rosto. Ele também era a razão pela qual
eu ainda estava por perto ...
— Jim, Joshua era extremamente contagioso. Pedaços dele caiam,
cresciam uma penugem pálida e rastejavam pelo pavimento. O
Biohazard incendiou-o até o seu esqueleto, e trancaram num caixão
hermeticamente fechado e depois cremaram. Eles deixariam cair uma
bomba nuclear sobre o estacionamento se achassem que poderiam fazer
isso.
— Restou alguma coisa?
Desenhei garras nos braços do monstro. — Infelizmente não. Código
de Geórgia, título 38: Lei de Gestão de Emergência Sobrenatural da
Geórgia de 2019, no caso de uma clara ameaça de epidemia, o
Biohazard possui amplos poderes de emergência, que sobrepõe sobre
tudo, incluindo a reivindicação do Bando sobre os restos mortais. Tanto
quanto eu sei, eles nem sequer mantiveram uma amostra para si. Foi
extremamente virulento, Jim. Ele deslizou sobre o sal e o fogo. Se ele
saísse, a maior parte da cidade estaria infectada até agora.
O poodle ergueu a cabeça, um grunhido de advertência baixo rolando
profundamente em sua garganta. Eu olhei para ele.
"Visitante", a voz de Maxine sussurrou em minha cabeça.
— Eu vou ter que desligar em um minuto, então preciso ser rápida,
57
—eu murmurei no telefone. — Havia outros metamorfos no bar. Por que

eles se foram?
Página
Ele hesitou.

Magic Bleeds
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Livro 4
— Jim. Passamos por isso antes: não posso ajudá-lo se você não
estiver comigo.
— Eles foram expulsos. Algo que aquele desgraçado fez os aterrorizou fora
de suas mentes.
— Para onde eles foram? Eu preciso entrevistá-los.
— Você não pode entrevistar Maria. Ela está sob sedação.
— E o resto?
Houve uma pausa. — Estamos procurando por eles.
Oh porcaria. — Quantos estão faltando?
— Três.
Havia três metamorfos em pânico perdido na cidade, cada um, um
assassino em espera. Se eles fossem a loup, pintariam a cidade de
vermelho. Isso poderia ficar pior?
Uma forma magra escorregou no meu escritório com rapidez
sobrenatural e se empoleirou em minha cadeira de cliente. Talvez tenha
sido um homem em algum momento, mas agora era uma criatura: magro,
sem pêlos, com músculos secos, como se alguém tivesse enfiado um
desidratador durante alguns dias e toda a gordura e a suavidade tivesse sido
drenado dele. O vampiro olhou para mim com olhos brilhantes e em suas
profundezas vermelhas, senti uma fome terrível.
O poodle de ataque explodiu em latidos selvagens.
58
Por que eu mesmo me incomodo em fazer essa pergunta?

— Mais uma vez, sinto muito. Por favor, passe minhas
Página
condolências para sua família. —Eu disse. — Se houver algo que eu

possa fazer para ajudar, estou aqui.

Magic Bleeds
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Livro 4
— Eu sabia que você estaria. —Jim desligou.

Eu desliguei e olhei para o vampiro. Sua boca abriu-se e me mostrou
suas presas: duas agulhas curvas longas de marfim. Vendo sanguessugas
durante a luz do dia não era inédito, mas geralmente eles apareciam
borrados com protetor solar. Considerando o cobertor cinzento denso de
nuvens, sufocando o céu e fraco sol de outono tardio, eles provavelmente
não precisam se preocupar com isso hoje.
O vampiro deu um único olhar para o poodle de ataque e olhou para
mim.
Eu teria gostado de matá-lo. Eu quase podia imaginar meu sabre
cortando a carne de morto-vivo entre a sexta e a sétima vértebras do
pescoço.
Eu apontei um dedo para o poodle de ataque. — Você—quieto.
— Um animal interessante. —A voz de Ghastek derramou da boca do
sanguessuga, soando um pouco abafado, como se fosse através de um
telefone.
O vampiro reposicionou-se na cadeira do cliente e agachou-se como
um gato, com os braços na frente.
De todos os mestres dos mortos da Nação em Atlanta, Ghastek era o
mais perigoso, com exceção de seu chefe, Nataraja. Mas onde Nataraja era
cruel e caótico em seu comportamento, Ghastek era inteligente e calculista,
uma combinação muito pior.
Eu cruzei os braços sobre o meu peito. — Uma visita pessoal. Não me
59
sinto especial.
Página

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Livro 4
— Você não retornou minhas ligações. —O vampiro inclinou-se para

a frente, tocando meu desenho com uma garra cimitarra16. — Isso é um leão
com chifres e uma forquilha17?
— Sim.
— Ele está carregando a lua em sua forquilha?
— Não, é uma torta. O que posso fazer para o primeiro mestre dos
mortos de Atlanta?
Os traços do vampiro se torciam, tentando refletir a emoção no rosto
de Ghastek. A julgar pelo resultado, Ghastek estava lutando para não
vomitar. — Alguém atacou o Casino esta manhã. A Nação deseja solicitar
a Ordem para analisá-lo.
O vampiro e eu olhamos um ao outro. — Pode dizer isso pra mim
novamente? —Eu pedi.
— Alguns indivíduos mentalmente instáveis atacaram o Casino esta
manhã, causando cerca de duzentos mil dólares de dano. A maior parte do
custo veio de quatro vampiros que eles conseguiram fritar. O dano ao
edifício é principalmente estético.
— Eu quis dizer a parte onde a Nação faz uma petição à Ordem.
— Foi do meu entendimento de que a Ordem estende a sua proteção
a todos os cidadãos.
60
16
Garras curvas e também o nome dado as espadas cimitarras
Página
17
forquilha

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Livro 4
Eu me inclinei para a frente. — Me corrija se eu estiver errada, mas

você não é o mesmo cara que corre na direção oposta, no momento em
que um distintivo se envolve?
O vampiro parecia insultado. — Isso não é verdade. Nós sempre
cooperamos com a aplicação da lei.
E porcos graciosamente flutuam pelo céu claro. — Há duas semanas
atrás, uma mulher roubou um vendedor no ponto da arma e fugiu para o
Casino. Levou aos policiais quatorze horas para tirá-la porque você
reivindicou algum tipo de privilégio de santuário que foi invocado pela
última vez pela Igreja Católica. Tanto quanto eu sei, o Casino não está em
solo sagrado.
O vampiro olhou para mim com um ar de desdém altivo. Quaisquer
que sejam as falhas que Ghastek tivesse, seu controle sobre os mortos-vivos
era excelente. — Isso é uma questão de opinião.
— Você não coopera com as autoridades, a menos que seja forçado,
você chama seu advogado ao primeiro sinal de problemas, e tem um
estábulo de mortos-vivos capaz de assassinato em massa. Você é o último
grupo que eu esperava que pedisse assistência para a Ordem.
— A vida é cheia de surpresas.
Eu mastiguei isso por um minuto. — Nataraja sabe que você está aqui?
— Eu estou aqui em suas ordens diretas.
Sinos de advertência soaram na minha cabeça.
O superior do Ghastek, o chefão da Nação em Atlanta, se chamava
61
Nataraja após uma das reencarnações de Shiva. Havia algo estranho sobre
Nataraja. Seu poder me parecia velho demais para um humano e ele tinha
Página
um monte de magia, mas nunca realmente testemunharam ele pilotando

um vampiro. Há três meses, acabei por envolver-me em um torneio
subterrâneo de artes marciais, o que resultou comigo lutando contra

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Livro 4
demônios metamorfos chamados rakshasas. Também resultou na minha

aposta com Curran, devendo a ele um jantar nua.
Se aquele bastardo peludo pudesse parar de invadir meus pensamentos
durante cinco segundos, teria que dançar um gabarito em celebração.
Os rakshasas fizeram um pacto com Roland, líder da Nação e meu pai
biológico. Ele lhes forneceu armas e em troca eles tentaram destruir os
metamorfos. O Bando tinha crescido muito grande e muito poderoso e
Roland os queria fora do caminho antes que crescessem mais. Os rakshasas
falharam. Se Nataraja acabasse por ser um rakshasa, não ficaria surpresa.
Roland ainda queria o Bando fora do caminho e Nataraja respondia para
Roland.
Talvez Nataraja tenha planejado algum tipo de plano em retaliação, e
ele enviou Ghastek aqui para criar uma aparência de decoro.
Talvez eu estivesse ficando paranoica ...
Olhei nos olhos do vampiro. — Qual é a pegadinha?
O sanguessuga deu de ombros, um gesto revoltante que sacudiu todo
o seu corpo. — Eu não tenho ideia do que você está falando.
— Eu não acredito em você.
— Devo tomar isso como uma recusa em aceitar a petição?
Ghastek um, Kate zero.
— Pelo contrário, a Ordem ficaria encantada de aceitar seu pedido. —
Eu puxei a folha de petição da pilha de formulários. A Nação acumulou
62
dinheiro para financiar suas pesquisas. Sua riqueza extrema estava de

mãos dadas com frugalidade severa. Eles eram notoriamente pão-duros.
Página
— A Ordem cobra em uma escala móvel, de acordo com os meios de

renda. Para os empobrecidos, nossos serviços são gratuitos. Para você,
serão chocantemente caros.

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Livro 4
— O dinheiro não é problema. —O vampiro acenou com suas garras.

— Eu fui autorizado a concordar com os seus preços.
Eles realmente queriam a Ordem envolvida. — Diga-me o que
aconteceu.
— Entre seis e oito da manhã, dois homens vestindo sobretudos
aproximaram-se do Casino. O menor dos homens explodiu em chamas.
Fiz uma pausa com a caneta em minha mão. — Ele explodiu em
chamas?
— Ele estava envolvido no fogo.
— Seu amigo era feito de pedra laranja e ele, em algum momento,
gritou 'é hora do pau'18?
O vampiro soltou um suspiro. Foi um processo sinistro: ele abriu sua
boca, mordeu o ar lançou em uma única lufada sibilante. — Eu acho sua leve
tentativa de humor inadequada, Kate.
— Considere-me devidamente castigada. E o que aconteceu depois?
— O piromante19 dirigiu um jato de fogo em nosso prédio. Seu
companheiro o ajudou criando um vento forte, que carregava o fogo em
direção a entrada do Casino.
O mais provável era um mago do fogo e um mago do vento. Um
incendiário e um assobiador trabalhando juntos.
— O fogo varreu a frente do Casino, chamuscando a parede externa e
o parapeito. Uma equipe de quatro vampiros foi despachada para lidar
63
com o problema. Seu aparecimento fez com que os dois intrusos

Página
18
Aqui uma tentativa de humor clássico da Kate tirada do filme O Quarteto Fantástico, onde ‘a coisa’ (o homem de pedra laranja) fala ‘e
hora do pau’. Kkk
19
pessoa que controla o fogo.

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deslocassem as chamas do Casino para os vampiros se aproximando. A

intensidade do fogo provou ser mais elevada do que o previsto.
— Eles derrubaram quatro vampiros? —Isso era inesperado.
O vampiro assentiu com a cabeça.
— E você os deixou ir embora? —Eu não podia acreditar nisso.
— Nós fizemos uma perseguição. Infelizmente, os dois intrusos
desapareceram.
Sentei-me para trás. — Então eles apareceram, pulverizaram com um
pouco de fogo e desapareceram. Você recebeu alguma exigência?
Dinheiro, joias, Rowena em lingerie? —Pessoalmente, eu estava
apostando em Rowena—ela era a mestre dos mortos que cuidava do PR
do Casino, e metade da população masculina da cidade mataria para vê-la
nua.
O vampiro balançou sua cabeça.
Isso era uma brincadeira de algum tipo? Se fosse, ela se classificaria
no mesmo nível de jogar uma torradeira em sua banheira ou tentar apagar
um incêndio com gasolina. — Quão mal eles queimaram os vampiros?
O vampiro engasgou. Os músculos de seu pescoço se estreitaram,
alargaram, contraíram novamente, e ele colocou um cilindro de metal de
quinze centímetros de comprimento na minha mesa. O sanguessuga
agarrou-o, torceu metade do cilindro e tirou um rolo de papéis. —
Fotografias, —disse Ghastek, me entregando um par de folhas do rolo.
— Isso é nojento.
64
— Ele tem trinta anos, —disse Ghastek. — Todos os seus órgãos

Página
internos, com exceção do coração, atrofiados há muito tempo. A garganta

permite uma muito boa cavidade de armazenamento. As pessoas parecem
preferir o ânus.

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Tradução: esteja feliz que eu não puxei isso da minha bunda. Graças aos
deuses pelos pequenos favores.
As duas fotografias mostravam duas ruínas carbonizadas que
poderiam ter sido corpos em algum ponto e agora era apenas carne
queimada. Em lugares aleatórios, a carne de mortos-vivos se descolou,
revelando o osso.
Um mago que conseguia entregar uma explosão de calor intenso o
suficiente para cozinhar um vampiro valia seu peso em ouro. Isto não era
algum incendiário de meia tigela. Isto era um Piromante de alto calibre.
Você podia contar esses caras nos dedos de uma mão.
Eu estendi minha mão. — O m-scan, por favor.
O vampiro ficou absolutamente quieto. A muitas milhas de distância,
Ghastek estava profundamente em seus pensamentos.
— Você tem equipamento suficiente para diagnóstico no Casino para
tornar a totalidade da Escola de Magia cheia de alegria, —eu disse. — Se
você me disser que a cena não foi digitalizada, vou estar muito tentada a
fazer uma nova cavidade de armazenamento em seu vampiro com meu
sabre.
O vampiro tirou outra página do rolo e me entregou. Uma impressão
de m-scan, listado com roxo. Vermelho era a cor dos mortos-vivos, azul
era a cor da magia humana. Juntos, eles fizeram o roxo do vampiro.
Quanto mais velho o vampiro, mais vermelha é a assinatura. Estes quatro
eram relativamente jovens—sua magia residual registrando quase violeta.
Duas linhas magenta brilhantes cortavam os traços vampíricos como
65
cicatrizes gêmeas. Não importa quantos anos um vampiro iria crescer, ele
nunca iria registrar magenta. O tom estava errado. Sugadores de sangue
Página
corriam para os tons mais profundos de roxo.

Mas magenta ainda tinha vermelho, o que significava ...

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Livro 4
— Magos mortos-vivos. —Puta merda!

— Parece que sim, —disse Ghastek.
— Como isso é possível? —Eu estava começando a soar como um
disco quebrado. — O uso da magia elemental humana está diretamente
ligada à capacidade cognitiva, que deixa de existir após a morte.
O vampiro deu de ombros novamente. — Se eu tivesse as respostas,
não estaria aqui.
Quando eu me sinto confortável com as regras do jogo, o Universo
decidiu que era hora para um chute rápido na minha bunda. Os Coiotes
apanhando pragas mortais, a Nação pedindo ajuda a Ordem e as criaturas
mortas-vivas usando magia elemental.
— Tem alguma ideia de quem poderia estar por trás disso? Quaisquer
suspeitas em tudo?
— Não. —O vampiro se inclinou para frente. Uma garra muito
amarela traçou a listra magenta em todo o m-scan. — Mas estou morrendo
de vontade de descobrir.
CAPÍTULO 4
66
QUANDO VOCÊ NÃO TEM NENHUMA IDEIA DE ONDE COMEÇAR, volte

Página
ao básico. No meu caso, os princípios básicos envolviam me pendurar no

telefone e ligar para as unidades de Biohazard das principais cidades ao
redor de Atlanta. Estar com a Ordem tinha suas desvantagens, mas ela

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Livro 4
abria algumas portas e alguma coisa sobre uma epidemia tinha um alto
perfil entre o pessoal do Biohazard.
Em duas horas, eu tive uma imagem melhor, e não era bonita. Até
agora Mary Steel deixou sua marca em cinco cidades: Miami, Fort
Lauderdale, Jacksonville, Savannah—atingiu meu território e eu nem sabia—
e finalmente Atlanta. Ele foi para o norte, trabalhando a sua maneira acima
da costa, o que provavelmente significava que veio de barco para Miami.
A viagem marítima era um assunto arriscado. Ele teria ficado longe do
oceano se pudesse evitar. Várias rotas de mar corriam para fora de Miami.
Eu tive uma sensação doentia que ele veio pela curva abaixo da África
Ocidental. A África mexia com magia antiga, poderosa e primordial.
Em Miami, um homem em uma capa foi avistado no mercado. Um
rebanho de gado esperava para ser abatido. Ele entrou no lugar, levantou
os braços e o rebanho atravessou o curral de madeira e correu através do
mercado. Sua magia também atingiu os compradores, e em segundos as
pessoas fugiram do mercado, pisoteando-se e causando um pânico em toda
a cidade. Em seguida, ele desencadeou a varíola, que provou ser forte
demais para causar problemas. Ele matou seu portador em segundos e se
extinguiu.
Os cidadãos de Fort Lauderdale não sabiam que o cara com a capa
existia, mas sua unidade Biohazard fez relatório de um surto de gripe
extremamente virulenta, que afetou toda a gente que visitou um torneio no
subsolo luta com os punhos nus. Quem diria.
O PAD em Jacksonville tinha o número dele muito rápido, mas ele
largou um tipo infernal de disenteria neles, e quando limparam os corpos,
67
ele tinha ido há muito tempo. Eles mencionaram que ele tinha quatro
lacaios com ele. Eles também chamaram à frente para quase todas as
Página
cidades na Geórgia com um aviso, que as unidades de Biohazard de

Savannah e Atlanta imediatamente ignoraram.

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Livro 4
Savannah pagou com um surto de peste bubônica que começou após

uma batalha campal em um dos seus infames bares irlandeses na River
Street. Eu conhecia os detetives do PAD de lá, e todos os três estavam
muito doloridos quanto a tudo, tão doloridos que eles ofereceram para
encaixar suas evidências de casos e enviá-lo para mim. Saltei para a chance
com os dois pés.
Cada incidente ocorreu durante uma onda mágica. Cada incidente
envolveu uma multidão e uma briga, e em todos os casos, o lutador mais
durão, acabou preso à primeira superfície dura disponível. Às vezes a Steel
Mary usava uma lança. Às vezes um arpão ou um pé de cabra. As mulheres
na sua maioria não pareciam afetadas. Sua magia não funcionava nelas
também ... ou ele não estava interessado no mais perigoso dos sexos.
Os animais fugiam dele. Metamorfos pareciam ter problemas
também. Em Miami, os três lobisomens no mercado ficaram muito
furiosos. Dos berserkers, um foi morto pela debandada do gado, e os outros
dois foram apreendidos e levados sob custódia da polícia. O primeiro
sobrevivente arrancou a própria garganta e sangrou até a morte em sua
cela. O outro escapou e os membros exemplares da polícia de Miami
explodiram sua cabeça em pedaços e recolheram a recompensa. Algumas
coisas até mesmo Lyc-V não poderia consertar. Um tiro de espingarda na
cabeça era um deles. A polícia de Miami havia emitido um pedido de
desculpas formal ao Bando, mas ficou claro que o Bando não tinha
nenhuma perna para se sustentar. No lugar dos policiais, eu teria atirado
também.
Eu bati em minhas notas com minhas unhas. Eu tinha que avisar a
68
Andrea sobre isso. Ela era do sexo feminino, é verdade, então ela teria
alguma proteção contra a magia de Mary Steel, mas ela também era bestial.
Página
Lyc-V, o vírus metamorfo, infectava pessoas e animais igualmente. Às

vezes, o resultado era um bestial, uma criatura que começou a vida como
uma besta e ganhou a habilidade de se transformar em um humano.

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Livro 4
Geralmente os bestiais eram violentos, loucos, estéreis, incapazes de lidar

com as regras da sociedade humana. Assassinato e estupro não tinham
significado para eles, que era o porquê alguns metamorfos os matavam à
primeira vista, sem fazer perguntas. Muito ocasionalmente, o animal
desenvolvia a habilidade de raciocinar e aprendiam a se comunicar. Mais
ocasionalmente eles poderiam procriar.
A mãe da Andrea era um Bouda, uma were-hiena, mas seu pai era um
hiena, o que a fez bestial, a filha de um animal. Ela escondeu esse fato de
todos: da Ordem, porque eles iriam tirá-la de suas fileiras, e do Bando, porque
alguns metamorfos iriam matá-la. Apenas um punhado de pessoas sabia o
que ela era e calmamente decidimos mantê-lo para nós mesmos.
Não havia nenhuma pista do que o poder desse cara faria com ela. Se
ela entrasse em pânico e fugisse ou enlouquecesse, estaríamos ferrados.
O número crescente de lacaios de Mary Steel me preocupou. De
acordo com o segurança Toby, esse cara disse a Joshua que ele tinha uma
vaga para mais dois deuses. O que isso queria dizer? Ele estava reunindo
um grupo armado e chamando-os de deuses?
Esfreguei meu rosto. Seu MO20 dizia que ele poderia passar para outra
cidade, mas eu tive um pressentimento que ficaria. Ele estava obviamente
construindo algum tipo de objetivo, e se ele teve tudo o que queria de
Joshua, que deixou Mary Steel com apenas um lugar de Deus. Algo grande
iria acontecer quando ele enchesse sua cota. Atlanta era o centro do Sul. O
maior Bando estava aqui, a maior Associação estava aqui, a MSDU estava
sediada aqui. Fazia sentido que Atlanta tenha sido seu objetivo desde o
início. Eu não sabia onde ele ia bater em seguida, mas pelo menos poderia
69
empurrar algumas varas para as rodas dele.

Página
Eu puxei o telefone e peguei a lista telefônica. Meu mandato na

Associação de Mercenários estava prestes a ser reembolsado.
20
Modus operandi

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Livro 4
Eu disquei o primeiro número. Uma voz de macho rude respondeu.

— Taberna do Cão Negro.
— Ei, Keith, é Kate Daniels.
— Ei, Kate da Ordem, como está?
Eu quase engasguei. Kate da Ordem? Sério? — Eu estou bem. E você?
— Não posso reclamar, não posso reclamar. O que você está caçando hoje?
— Eu tenho um arruaceiro que recentemente mudou-se para a
cidade, um cara muito alto em uma capa esfarrapada. Ele gosta de
entrar em bares quando a magia está em alta e lançar alguns feitiços
pesados para iniciar brigas.
— Soa como um cara divertido.
Depende da sua definição de diversão. — Ainda tem aquela garota
trabalhando para você, Emily?
— Sim, ela está aqui todas as noites.
— Aparentemente, o poder desse cara é rejeitado pelas senhoras.
Pode me fazer um grande favor e certifique-se de que você tem a Emily
trabalhando durante as ondas de magia? Dê-lhe o meu número e diga
que me ligue imediatamente se alguma briga louca sair. Ele está
custando aos proprietários do bar um braço e uma perna em móveis
quebrados.
— Só para você saber, ele vem aqui, não será minha mobília que será
70
quebrada. Eu vou quebrar as pernas dele.

Claro que você vai. — Faça isso. Mas certifique-se de dar a menina
Página
meu número de qualquer maneira? Eu sei que sua tripulação pode lidar

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Livro 4
com ele, mas me diga. Eu realmente gostaria de colocar minhas mãos

sobre esse cara.
— Vou fazer, —disse Keith.
— Obrigada. —Desliguei. Isso foi o melhor que eu iria conseguir.
Coloquei meus dedos no próximo número e disquei.
— Poço do Diabo, —uma mulher atendeu.
— Ei, Glenda, é Kate Daniels. Como está?
— Bem e você?
— Ainda caminhando. Ouça, eu tenho esse idiota que apenas
cruzou a cidade. Ele gosta de começar as brigas e eu quero deixá-la
ciente ...
Em uma hora e meia, eu acertei toda taberna de durões que poderia
lembrar. Eu liguei para o PAD e avisei da situação. Eu chamei a polícia
regular e lhes dei a descrição do cara. Eu chamei os fofoqueiros locais e
pedi para que espalhassem a palavra ao redor. Chamei a Associação, onde
o Balconista atendeu ao telefone. Eu conhecia o Balconista há anos. Um
homem de meia-idade, ele atendia o balcão e todos os mercenários o viam
duas vezes por cada show, em primeiro lugar, quando conseguiam o
trabalho e segundo, quando buscavam seus bilhetes de captura no final.
Em algum lugar ao longo do caminho, ele tinha perdido o seu nome e nós
o conhecíamos simplesmente como ‘O Balconista’.
Eu dei-lhe o meu discurso e ele riu de mim. — Se ele vier aqui, vou
71
apenas dizer ao pessoal que há um bilhete de trabalho por sua cabeça. Eles vão
desmontá-lo por partes.
Página
— Ele é um cara durão para lidar. Deixe Solomon saber.

— Claro.

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Eu poderia dizer pela sua voz que ele iria me dar o cano. É melhor
assim. Eu duvidava que o fundador da Associação me pagaria qualquer
coisa. Solomon Red nem sabia meu nome. Tive que tentar. — Sabe o que,
deixe-me falar com ele.
— Desculpe, ele está no modo DND21.
Não perturbe. Bem. — Me dê seu correio de voz, então.
— Como quiser.
Eu deixei uma mensagem longa e detalhada, explicando tudo sobre a
Mary Steel e sua propensão para brigas. Que sorte a minha.
Solomon Red era uma lenda, o rei da colina que fundou a Associação
de Mercenários. Se mercenários tivessem que eleger um rei, ele
provavelmente teria conseguido o emprego, também: enorme, ruivo, com
uma mandíbula volumosa e olhos de cor diferente, um azul e um marrom. Ele
vivia na Associação, mas quase nunca era visto, exceto na celebração de Natal
obrigatória, quando ele dava pessoalmente o bônus para os melhores
mercenários. Em meu mandato de seis anos com a Associação, eu o vi
exatamente duas vezes e não porque eu estava na linha de bônus. Duvidava
seriamente que ele ouviria meus avisos sobre um misterioso chutador de
bundas em uma capa rasgada.
Liguei para um par de dojos locais e a Guarda Vermelha e Punho &
Escudo, outra equipe de guarda de segurança principal. Liguei para o
Biohazard e falei com Patrice para aumentar sua velocidade. Patrice
gostou que eu tivesse tanta coisa a dizer, ela xingou durante três minutos
72
completos. Ela gostava especialmente da parte onde expliquei como sua

equipe falhou em fazer uso do aviso de Jacksonville. Deixei ela falar—não
Página
21

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Livro 4
é frequente que você tenha que ouvir a cabeça da unidade de resposta

rápida da Biohazard prometer arrancar as tripas de alguém ...
Às duas horas, deixei-me ir para casa. Eu precisava dormir e um novo
maxilar, mas se o cara com a capa até mesmo mostrasse seu nariz nos bares
de Atlanta, eu saberia sobre isso primeiro.
O CACHORRO E EU PARAMOS NOS ESTÁBULOS E VERIFIQUEI

Marigold novamente. Eu tinha um caminhão velho batido que atendia
pelo nome de Karmelion, que funcionava com água encantada, mas
demorou uns bons quinze minutos de intenso cântico para pegar, e se o
cara com a capa atacasse em algum lugar, eu não queria perder tempo
implorando para meu motor pegar.
Meu prédio estava equipado com um conjunto de garagens, que os
moradores usavam para tudo, desde armazenamento extra a estábulo
improvisado. Eu usei o meu principalmente para armazenar a madeira
para o inverno e para colocar uma montaria ocasional que peguei
emprestada dos estábulos da Ordem. Com Marigold em segurança
instalada na garagem, o fiel canino e eu fomos até a loja.
A loja da esquina não tinha tosquiadora, bolei um novo plano, que
envolvia deixar o tosquiar do poodle de ataque para as pessoas que
realmente sabiam o que estavam fazendo. O cachorro e eu corremos 5 km
73
até o cabeleireiro.
Nós passamos através da porta, anunciada por um sino, e uma mulher
Página
gorda sorridente emergiu das profundezas do lugar, olhou para o cão e

sorriu mais ainda. — Oh que poodle lindo.

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Livro 4
Nós dois rosnamos um pouco, eu por causa do comentário do poodle

e o cão por conta de um senso de dever.
A mulher feliz, cujo nome era Liz, amarrou meu poodle em um poste
de ferro longo e ligou as tosquiadoras elétricas. No momento que as
tosquiadoras tocaram sua pele, o cão girou e tentou morder o braço de Liz.
Em vez disso eu apertei minha mão sobre seu focinho e o puxei para me
encarar.
— Pheew, você é rápida, —disse Liz.
— Eu seguro, você corta.
Vinte minutos mais tarde Liz varria uma massa de pêlo emaranhado
do poodle, enquanto eu recebia um novo cachorro: um vira-lata de
aparência atlético com orelhas lisas, pernas longas e uma compilação
semelhante a um ponteiro alemão22 anormalmente grande. O cão teve um
biscoito de cachorro caseiro por sofrer a indignidade e fiquei aliviada do
fardo horrível de trinta dólares.
— Você já escolheu um nome? —perguntou a mulher.
— Não.
Ela assentiu com a cabeça para o monte de pêlo preto emaranhado.
— Que tal Sansão?
74
Página
22
German Shorthaired Pointer (ponteiro alemão de cabelos curtos) é uma raça de cão de médio a grande porte,
desenvolvida no século 19 na Alemanha para a caça. Uma raça de caça versátil, sendo uma raça de armas de propósito geral adequado para
terra e água, é ainda mais poderoso, com pernas fortes que permitem mover-se rapidamente e virar-se rapidamente. Tem orelhas flexíveis
moderadamente longas colocadas no alto da cabeça. Seu focinho é longo, largo e forte, permitindo recuperar mesmo o jogo pesado

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Livro 4
NÓS FOMOS PARA CASA. A ONDA DE MAGIA NOS PEGOU no caminho

e eu dei graças a quem quer que fosse lá em cima que nós tínhamos
conseguido ter o poodle tosquiado antes de a magia deixar as tosquiadoras
elétricas completamente inúteis.
Deixei a corrente cair como uma experiência, mas o cão parecia
querer ficar ao meu lado. No estacionamento, ele provou que não só tinha
um estômago de aço, mas sua bexiga também magicamente estava ligada
a um dos grandes lagos. Fizemos um círculo, quando ele marcava com
entusiasmo o seu território. A noite insone estava me alcançando. Minha
cabeça nadou e minhas pernas continuavam tentando dobrar, lançando-
me em uma posição horizontal. Eu coloquei um grande esforço para criar
as barreiras em torno do cadáver de Joshua e meu corpo exigia algumas
horas de sono.
O cão rosnou.
Eu o olhei. Ele ficou com os pés plantados separados, costas
arqueadas, seu corpo congelado. Arrepios subiram pela sua espinha. Ele
olhou à esquerda, onde o estacionamento estreitou entre meu prédio e a
parede desmoronada das ruínas ao lado.
Tirei a Matadora da bainha nas minhas costas. As ruínas tinham sido
também um prédio de apartamentos. A magia o esmagou, mastigado até
os escombros, e agora as paredes de tijolo em ruínas serviam como casa
para a hera congelada. A vegetação obscurecia minha visão.
O poodle de ataque mostrou seus dentes, enrugando o focinho e soltou
um grunhido baixo e silencioso.
75
Dei um passo em direção às ruínas. Uma figura correu por detrás da

parede com velocidade sobrenatural, se desviou do caminho e saltou. Ele
Página
navegou através do ar, passando a parede de um metro e oitenta com

alguns centímetros de sobra e desapareceu de vista.
Está bem então.

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Livro 4
Eu corri para o local onde a pessoa estava escondida, comparando a

memória com a parede. Quem fosse, ele ou ela não era muito alto, perto
de um metro e meio. Vestido em algum tipo de vestuário monótono. Não
era muito para continuar. Perseguir a pessoa através das ruínas não era
uma opção. Eu nunca a pegaria, não com esse tipo de velocidade.
Quem iria querer ficar de olho em mim? Não havia maneira de saber.
Eu tinha mijado fora em um monte de gente. Pelo que sei, pode ser um dos
lacaios de Steel Mary. Supondo que ele tivesse lacaios.
Voltei para o meu apartamento, cão a reboque. — Se essa pessoa está
me seguindo, ele ou ela vai continuar a fazê-lo. Mais cedo ou mais tarde,
eu vou pegá-lo, —disse-lhe. — Se você for realmente bom, vou deixar você
mordê-lo primeiro.
O poodle de ataque abanou o rabo.
— O que precisamos agora é de algo para comer e um bom banho.
Mais adoração com o rabo. Bem, pelo menos uma criatura neste
Universo achava que meus planos eram de gênio.
Eu ouvi o telefone tocar quando abri a porta. Os telefones eram coisas
engraçadas: às vezes a magia os derrubava, e às vezes não. Quando
precisava desesperadamente dele, a coisa falhava, mas quando não queria
ser incomodada, ele trabalhava como um encanto. Eu entrei e o peguei. —
Kate Daniels.
— Kate. —A nota frenética na voz do Balconista bateu o sono para
bem longe de mim. — Nós fomos atingidos!
76
Página

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CAPÍTULO 05
DESLIGUEI O TELEFONE E DESCI A ESCADA, BATENDO A PORTA

fechada na cara do poodle. Desci seis lances de escadas em segundos, corri
em frente ao estacionamento, destranquei minha garagem, peguei
Marigold, montei e nós trovejamos para fora no estacionamento.
Nós subimos a rua, quase arando um carro. Marigold subiu a rampa
de madeira para a rodovia. A cidade em ruínas passava por mim, uma
mancha longa de edifícios destruídos e céu nublado.
A Associação dos Mercenários ocupava um antigo Hotel Sheraton
convertido na borda de Buckhead. Eu parei Marigold diante dos portões
de ferro grossos, saltei para baixo, agarrando um cantil de querosene que
costumava usar para queimar meu sangue, e corri, rezando para que
qualquer doença induzida na onda mágica não estivesse ativa.
Eu passei pelos portões da entrada e quase colidi com o Balconista.
Um enorme vergão vermelho marcava seu rosto e seu olho esquerdo estava
rapidamente inchando fechado. — Salão interior! —Ele gritou.
— Chamou o Biohazard?
— Sim!
A porta interior pendurava torta nas dobradiças. Eu corri através da
77
porta e do corredor interno.

O Sheraton foi construído como uma torre oca. Em sua outra vida, o
Página
salão interior abrigava uma área de happy hour criada em uma plataforma
acima do piso principal, uma loja de presentes, um café e um restaurante
no local. As fotografias antigas mostravam um pequeno córrego

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serpenteando pelo fundo, ladeada por plantas cuidadosamente

selecionadas, suas águas abrigando enormes carpas koi23. Na parede
distante, um elevador transparente subia para o quarto andar.
A plataforma de happy-hour agora ocupava o quadro de trabalho, a
loja de presentes virou um dos numerosos arsenais, e o restaurante foi
convertido em um refeitório, onde mercenários cansados enchiam seus
estômagos entre trabalhos. O elevador já não funcionava, as plantas,
córrego e carpas koi desapareceram há anos e o andar principal estava
limpo.
A primeira coisa que vi foi o corpo de Solomon Red, preso ao poço
do elevador por uma lança através de sua garganta.
Três mercenários rapidamente desenharam um semicírculo com giz
em torno do corpo. Outra dúzia abraçou as paredes. Peguei o primeiro
corpo quente. — Onde ele está?
— Se foi, —disse a mulher mercenária. — Cerca de cinco minutos
atrás.
Droga. Mas já era tarde.
O corpo de Solomon inchou, se expandindo.
— Para trás! —Eu lati, em sintonia com duas outras vozes.
Os mercenários se espalharam.
Uma enxurrada de sangue e fezes encharcou o plástico transparente,
jorrando no chão para formar uma grande poça. O fedor nos atingiu. As
pessoas engasgaram.
78
O corpo enrugou, secando bem diante dos meus olhos como uma
Página
espécie de múmia. Não precisava de Patrice para diagnosticar isso para
23
carpas koi, peixes

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mim. Já vi isso antes. Tinha o mesmo nome em inglês, espanhol e russo—

cólera. Só que esta estava com esteroides mágicos.
A poça suja ficou preta. Um arrepio correu ao longo da superfície. O
líquido deslizou, testando a borda do círculo de giz e rolou diretamente
sobre ele. Olhei naquela direção e vi um velho ralo no chão, um
remanescente do córrego das carpas. A cólera se espalharia pela água.
— Vai para o ralo! —Eu corri para frente, derramando querosene em
todo piso. Atrás de mim, Bob Carver acendeu um fósforo, definindo o
fluxo de combustível em chamas. A poça d'água atingiu a chama, recuou
e rolou para a esquerda.
Ivera, uma mulher alta e grande, cruzou as mãos, soltou um grito
penetrante e afastou as mãos, as palmas das mãos para fora. Magia estalou.
Dois jatos de fogo rolaram das mãos de Ivera e lamberam a poça. Ela
encolheu-se, para a meia-lua do querosene em chamas. Eu derramei mais,
tentando encurralar ele.
Os braços de Ivera estremeceram. Ela ofegou. A chama desapareceu
e ela tropeçou de volta, seu nariz sangrando.
A poça escorreu para fora da armadilha de fogo.
Eu respirei fundo, me preparando para a dor de uma palavra de poder.
Não sabia se uma palavra de poder iria detê-lo, mas fiquei sem opções.
Um canto subiu por trás dos mercenários, uma voz suave baixa
murmurando palavras chinesas em uma melodia cantada praticada. Uma
fita longa e escamada passou pelos mercenários—uma cobra. A cobra
provou o ar com a língua e parou, balançando ligeiramente em sintonia
79
com o canto. Ronnie Ma surgiu em campo aberto. Seu verdadeiro nome

era Ma Rui Ning, mas todos o chamavam de Ronnie. Antigo, enrugado,
Página
Ronnie era um daqueles mercenários raros e ameaçados de extinção, que

conseguiu chegar à aposentadoria. Ele tinha cumprido os seus vinte anos
e conseguido a sua aposentadoria. Sua casa era apenas a um minuto de

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distância e ele passava a maior parte do seu tempo saindo da Associação,

bebendo chá e acenando para a multidão com um pequeno sorriso.
Ele circulou a poça, carregando vários sacos pequenos, o canto
rolando dos seus lábios. A poça foi direto para o ralo. De alguma forma,
Ronnie chegou lá primeiro, enfiou a mão no saco, e baixou algo no chão.
Um escorpião. O aracnídeo dançou no lugar, enrolando sua cauda. A poça
encolheu.
Ronnie deixou cair o saco no chão e moveu-se. Mais alguns passos,
ele enfiou a mão no outro saco, e depositou um grande sapo.
Flanqueado em três lados por animais, a poça inverteu seu curso e
quase correu para a quarta criatura, uma longa lacraia, bem quando
Ronnie a deixou cair no chão. Mais alguns passos e o velho esvaziou o
último saco no chão, revelando uma grande aranha.
As criaturas se balançavam em sincronia com sua voz. A poça pairou
no centro, presa. Ronnie pegou uma vasilha pequena da sua cintura e
caminhou até a poça. Seus dedos oscilaram, muito rapidamente, e ele
puxou um pequeno pedaço amarelo de papel da manga. O papel vibrou
sobre a poça, um pequeno símbolo chinês escrito em vermelho deitado de
face para cima. Ronnie abriu a lata e derramou o seu conteúdo para o papel
em um fluxo de vermelho.
Um miasma escuro subiu acima da poça e desapareceu, como se
queimado. O fluído desagradável ficou inerte.
Ronnie Ma sorriu.
80
Página

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— É UM RITUAL CHINÊS ANTIGO, —PATRICE DISSE enquanto dois medi-

técnicos me fumigavam com fumaça de Artemísia24 enquanto eu ficava
atrás da linha de sal desenhada no chão. — Cinco criaturas venenosas para
manter a doença na baía. Sabemos porque fazia parte do Festival da
Quinta Lua. O Festival caiu sobre o solstício de verão e coincidiu com o
clima quente e úmido e um aumento de infecções.
— O que foi que ele derramou sobre a cólera?
— Se eu tivesse que adivinhar, vinho com cinábrio25. —Patrice olhou
para Ronnie Ma, ainda sorrindo serenamente, enquanto dois técnicos
tentavam sem sucesso levá-lo a exalar para a flor de diagnóstico.
— Procuramos sempre por alguém que sabe como fazer isso. Você
acha que ele viria trabalhar para mim?
— Eu diria que sim. O Sr. Ma gosta de ser útil. Posso ir? Sinto-me
bem, sem dor, sem desconforto.
Patrice colocou a mão na minha testa. Magia me pressionou. Círculos
nadaram em meus olhos. Minha pele estava em chamas. Respirei fundo e
balancei a cabeça, tentando limpá-la.
— Agora você pode ir, —Patrice me disse.
— Eu estava infectada?
— Não. Apenas uma medida de precaução. Cinco criaturas
venenosas, —ela disse, acenando para os cinco animais ainda sentados em
seus lugares. — Eles colocaram todas as doenças para dormir. Mas uma
vez longe deles, ele vai acordar e eu não quero arriscar.
81
Página
24
A Artemísia é uma erva muito conhecida desde tempos super antigos por suas propriedades medicinais. Existem registros que sugerem
sua utilização até mesmo pelos egípcios e sabe-se que Hipócrates, o pai da medicina, a prescrevia para tratar anemia, cólicas menstruais,
reumatismo e dores de cabeça crônicas. Mas poucas pessoas sabem todos os benefícios que essa planta pode nos trazer. O chá de artemísia
é indicado para muitos tratamentos e alívio de vários sintomas de vários problemas.
25
cinábrio - sulfeto de mercúrio trigonal, vermelho e brilhante, que constitui a principal fonte de extração desse metal.

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Bom saber.
Passei por cima da linha de giz. Em torno de mim um caos controlado
reinava enquanto a equipe do Biohazard varria a cena, examinando duas
dúzias de mercenários e recolhendo amostras da poça.
Eu me inclinei em direção a Patrice. — Aquela poça foi direto para o
ralo. Isso implica inteligência ou instinto. Ou sabia que o dreno conduziria
à água ou sentiu a umidade. Como pode uma doença sentir alguma coisa?
Patrice sacudiu a cabeça. — Eu não sei. Não estou sugerindo que você
está errada. Só não tenho respostas. Posso dizer-lhe que é instinto e não
intelecto. Os organismos que causaram ambas as doenças são
simplesmente muito primitivas para desenvolver a inteligência. Há limites
mesmo para a magia. E neste caso, meu palpite seria a física. —Ela
apontou para o chão. — Ele se inclina em direção ao ralo. A poça pode ter
simplesmente tentado seguir o caminho de menor resistência.
CAPÍTULO 06
LEVEI QUINZE MINUTOS DE PERGUNTAS PARA VERIFICAR QUE

ninguém no corredor tinha realmente visto como começou o ataque sobre
Solomon. Dois homens viram a Mary Steel entrar. Ele manteve seu rosto
82
escondido. No corredor cheio de valentões de rua, ninguém lhe deu

atenção. O homem cruzou o salão e subiu as escadas até o quarto andar,
Página
onde Solomon Red fez seus aposentos. A briga se seguiu ali. Meu grupo
atual de testemunhas tomou conhecimento disso apenas quando o
estranho e Solomon tropeçaram fora de seu quarto para o corredor e

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mergulharam no corrimão para o corredor interno. De acordo com Bob

Carver, o homem pousou em seus pés, segurando Solomon Red pela
garganta. O que teve a atenção de todos em sua pressa, dado que Solomon
Red tinha um metro e oitenta e sete e pesava cerca de cem quilos.
A luta em si foi curta e brutal. — Algum de vocês o viu?
Os quatro mercenários na mesa balançaram a cabeça, todos exceto
Ivera, que ainda tinha gaze em seu nariz. Bob Carver tinha doze anos de
Associação, Ivera e Ken tinham sete anos, e Juke estava chegando ao seu
quinto. Os quatro eram treinados, experientes, duros e trabalhavam bem
como uma equipe. Na Associação, eles eram conhecidos como os quatro
cavaleiros. A maioria dos mercenários eram solitários, ocasionalmente,
trabalhando com um parceiro quando não tinham escolha sobre isso. Os
cavaleiros faziam os trabalhos que exigiam mais de dois corpos e eles eram
muito bons nisso.
— Ele é bom, —disse Bob. — Eu ficaria longe dele.
— Ele não fez nenhuma merda extravagante, —acrescentou Juke,
esfregando a mão pelo seu cabelo preto espetado. Ela provavelmente
estava indo para assustar, com cabelo preto e olhos esfumaçados, mas suas
feições eram muito afiadas e delicadas e ela acabou parecendo uma furiosa
e gótica Tinker Bell. — Nada dos redemoinhos ou chicote funcionaram.
Ele bateu Solomon contra o elevador e enfiou a lança em sua garganta.
Wham, bam, obrigado, senhora. E foi isso para o líder destemido.
— Foi um golpe praticado, —Ivera acrescentou. — Sem hesitação,
sem mirar, nada.
83
— O que aconteceu depois que ele adicionou Solomon em sua coleção

de borboletas?
Página
— A magia subiu, —Ivera respondeu.

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Mary Steel sentiu a magia chegando? Isso seria um inferno de um

truque. — E então?
Bob olhou para Ken. O húngaro, alto e magro, era o especialista
mágico do grupo. Ken tinha o hábito de sentar-se muito quieto, tão quieto
que você esqueceu que ele estava lá. Seus movimentos eram pequenos, em
contraste direto com seu corpo esguio, e ele racionava as palavras como se
fossem feitas de ouro. — Extração.
— Poderia explicar isso, por favor?
Ken refletia sobre isso, pesando o benefício para a humanidade contra
o esforço terrivelmente tributário de produzir mais algumas palavras. — O
homem colocou a mão sobre a boca de Salomão. —Ele segurou seus dedos
longos separados para me mostrar. — Ele disse uma palavra e puxou sua
essência dele.
O que diabos isso significa? — Defina a essência.
Ken me encarou por um longo minuto. — O brilho de sua magia.
Isso não fazia sentido. — Você pode descrever o brilho?
Ken parou, intrigado.
— Parecia um pedaço de algodão vermelho brilhante. —Juke
forneceu.
— Incandescendo com a magia de Solomon. Eu senti. Poderoso. —
Ken assentiu. — O homem segurava sua essência em uma mão, e depois
foi embora.
84
— Ele simplesmente saiu daqui?

— Ninguém foi burro o suficiente para detê-lo, —disse Juke.
Página
E essa era a diferença entre a Associação e a Ordem em poucas

palavras. Se o homem da capa entrasse no capitólio da Ordem, cada único
cavaleiro teria que ser morto antes que ele saísse.

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— Ela. —Ivera disse.

Bob olhou para ela. — Iv, era um homem.
Ela balançou a cabeça. — Era uma mulher.
Bob se inclinou para frente. — Eu vi as mãos. Elas eram mãos de
homem. O cara tinha um metro e noventa de altura.
— Não, cerca de dois metros e cinco, —Juke disse.
— Era uma mulher, —Ivera disse.
Dei uma olhada em Juke. Ela levantou os braços. — Não olhe para
mim. Só o vi de lado. Parecia um homem para mim.
— Ken?
O mago cruzou os dedos longos na frente dele, conferindo-os por um
longo instante e encontrou meu olhar. — Eu não sei.
Esfreguei meu rosto. Relatos de testemunhas oculares deveriam
estreitar o leque de suspeitos, e não ampliá-lo.
— Obrigada, —eu disse, fechado o meu bloco de notas. Eu tinha
levado porque era necessário. Fazia me sentir estúpida. Poderia entrar em
uma sala por um segundo e te dizer quantas pessoas estavam nela, quais
deles eram uma ameaça, e que armas transportavam. Mas quando ia
entrevistar testemunhas, senão anotá-lo, ele ia embora em algumas horas.
Gene, um inquisidor de cavaleiros da Ordem e um ex-detetive de
investigações da Geórgia, a quem eu me esforcei para imitar porque ele
sabia o que estava fazendo e eu não, poderia ouvir uma testemunha ou um
85
suspeito uma vez e lembrar o que disseram com precisão perfeita. Mas eu
tinha que escrevê-lo. Fazia-me sentir como se tivesse um buraco em minha
Página
cabeça.
Era hora de encerrar. — Em nome da Ordem, agradeço sua
cooperação em tudo isso.

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Livro 4
Juke olhou para mim mal. Ela estava se esforçando para ser uma
versão anterior de mim, mas apesar de que Juke fosse boa, por sua idade
eu já tinha abandonado a Academia da Ordem. Eu comeria Juke no café
da manhã, e ela sabia disso, mas continuou com isso de qualquer maneira.
— Então você está nas grandes ligas agora. Investigando para a
Ordem e tudo mais. Sinto que devo me curvar ou algo assim.
Dei a ela meu sorriso demente. — Se curvar não é necessário. Não
saia da cidade.
Os olhos do Juke ficaram amplos. — Por quê? Estamos presos ou
alguma merda assim?
Eu continuei sorrindo. Nós nos entreolhamos por um longo instante e
Juke olhou para seu copo antes de levá-lo até sua boca. — Vá se ferrar!
— Agora vamos, docinho, você sabe que eu não curto isso.
— Que seja.
Os hábitos de Curran devem ter passado pra mim. Curran. De todas
as pessoas, por que pensei nele? É como se eu não pudesse me livrar dele.
— Lá vamos nós, —Ivera murmurou.
Mark trotou através da multidão em direção a mim, parecendo bem
montado em um terno de negócio azul-marinho.
Os quatro cavaleiros o fulizaram com os olhos em uníssono.
Mark tinha um sobrenome, mas ninguém se lembrava. Quando
alguém condescendente adicionava algum apelido para o nome dele, era
86
geralmente ‘idiota corporativo’ ou ‘aquele bastardo’, e se o orador fosse

particularmente desagradável, ‘massa’. Pelo menos ele conseguiu manter
Página
um nome, ao contrário do Balconista.

Oficialmente secretário da Associação, Mark era mais um gerente de
operações do que um administrador. Solomon Red criou a Associação e

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ganhava a maior parte dos seus lucros, mas era Mark quem resolvia os
problemas do dia a dia e a maneira que fazia isso não o deixou com muitos
amigos. O universo o criou com sua configuração de ‘compreensão’ fixa
permanentemente em zero. Nenhuma emergência ou tragédia, real ou
fabricada, fazia um amassado em sua armadura enquanto ele corria para
uma melhor linha de fundo.
Parte disso era a sua aparência também. Sua pele não era manchada
pelo sol e provavelmente generosamente hidratada. Seu corpo tonificado
o marcou como um homem boa vida que prestava atenção em sua
aparência, ao invés de um lutador que usava seu corpo para ganhar a vida.
Seu rosto estava meticulosamente preparado. Em uma multidão de
bandidos de colarinho azul, destacava-se como um lírio fresco em um
canteiro cheio de ervas daninhas, e ele transmitia ‘Sou melhor que você’ em
alto e bom som.
Ele veio a uma parada abrupta na minha frente. — Kate, eu preciso
falar com você.
— É a respeito da morte de Solomon?
Ele fez uma careta. — É sobre as suas consequências.
— Se não tem relação diretamente para a investigação, terá que
esperar.
Bob estreitou os olhos. — Movendo-se rápido, Mark? Sem perder
tempo.
Mark o ignorou. — Tenho de marcar uma hora?
87
— Sim. Ligue para a Ordem amanhã e eles irão coordenar algo com
você. —Eu me dirigi às escadas para examinar os aposentos do Solomon.
Página
Atrás de mim, Bob disse: — Amanhã, a primeira página do Atlanta

Journal-Constitution estará gritando tudo sobre como Solomon Red perdeu

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suas entranhas e depois seus mercenários tiveram que perseguir a poça do

seu sangue e merda no chão. Você não deveria responder isso?
— Cuide de seu próprio negócio, e eu vou cuidar do meu, —disse
Mark.
A morte de Solomon Red criou um vácuo de poder. Alguma coisa
tinha de preenchê-lo e eles já estavam desenhando as linhas de batalha.
Eles poderiam desenhar tudo o que quisessem. Nem que me pagassem me
envolveria nisso.
Eu subi as escadas, passado por um Solomon desidratado. O líder da
Associação cedeu sobre o eixo da lança, reduzido a um saco de pele seca
sobre a estrutura do esqueleto. O homem que se tornou uma lenda viva
tinha morrido com grande indignidade. O universo tinha um senso de
humor afiado.
A equipe do Biohazard estava arquivando tudo sem Solomon. Toda a
doença havia acabado na poça que o Biohazard tomou sob custódia. O
cadáver de Solomon era agora uma mera concha inerte. Mark deve tê-los
convencido a deixar a Associação ter o corpo para enterrar.
Subi até o terceiro andar e entrei na escada interna, que levava aos
aposentos de Solomon. Uma variedade de armas decorava as paredes:
machados, lâminas japonesas lisas, simples espadas europeias elegantes,
armas táticas modernas ... Eu fui para um espaço vazio entre dois ganchos
de ferro. Grande o suficiente para uma lança. Minha esperança de que a
lança na boca de Solomon pertencia a Mary Steel acabou de entrar em
chamas.
88
Ele poderia pegar qualquer coisa que quisesse, mas escolheu a lança.
Por que uma lança?
Página
As escadas conduziram-me a um corredor limitado por uma varanda.

Quatro andares abaixo, no corredor principal, mercenários saíam ainda em
estado de choque. A porta dos aposentos de Solomon estava entreaberta,

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pendurada em seu lado esquerdo estilhaçado. Mary Steel deve ter

quebrado a madeira em torno da fechadura com um único chute.
Eu pisei lá dentro. Uma parede estéril me cumprimentou. Nenhuma
pintura quebrava a tinta verde malaquita26. No piso, móveis quase naturais
não suportavam nenhuma quinquilharia. Sem fotografias na prateleira em
cima da lareira pequena. Nada de revistas na mesa de café. Sem livros. O
lugar se assemelhava a um quarto de hotel à espera de um convidado, ao
invés de mostrar que alguém vivia ali.
Atravessei para a esquerda do quarto. Cama simples, uma mesa
simples com uma enxurrada de papéis. Cadeira derrubada no chão.
Solomon devia estar sentado aqui quando Mary Steel invadiu.
Um gravador estava sobre a mesa. Peguei-o e o liguei.
— Sete linhas para baixo. Assine, —disse a voz de Mark. — Contar três
páginas. Página seis. Conte três linhas a partir do rodapé. Assine.
O que no mundo... Rebobinei por alguns segundos.
— É como o contrato antigo, —disse Mark. — Você ainda deve ter a fita
na caixa do ano passado. É a de número trinta e quatro. A única coisa que fizemos
foi mudar as datas e os dois parágrafos que envolvem dois novos decretos
municipais. O primeira está na página três. Conte dois parágrafos para baixo. Ele
agora diz ...
Solomon Red não sabia ler. E Mark o cobriu todos esses anos.
Nenhum dos mercenários sabia.
— Kate, —A voz de Mark chamou.
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O que agora?
Página
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Sai do quarto e olhei para baixo. Mark estava no chão abaixo. Ao lado
dele esperavam dois homens. O primeiro era musculoso e moreno. Ele não
precisava de ajuda no departamento de ameaçador, mas escolheu ampliar
seu status badass, vestindo um longo casaco preto bordado com pele de
lobo. Olá, Jim.
O homem ao seu lado usava um moletom do Bando. Para
metamorfos, moletons significava vestuário de trabalho—eram fáceis de
arrancar antes de uma luta. O homem demonstrava a fácil graça animal
específica para um muito forte. Mesmo a esta distância, sua pose emitia
violência, estreitamente enrolada e reinante, mas pronta para explodir com
a menor provocação. Os mercenários sentiram e deram-lhe espaço, como
ladrões reconhecendo um predador em seu meio.
O homem olhou para cima, inclinando a cabeça de cabelo loiro curto.
Seu rosto o acompanhava—poderoso e agressivo. Um maxilar quadrado,
maçãs do rosto proeminentes, nariz com uma ponte deformada que tinha
sido quebrada, mas nunca curou bem. Olhos cinzentos olharam debaixo
de espessas sobrancelhas douradas e trancaram em mim.
Curran.
90
Página

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CAPÍTULO 07
O TRUQUE AQUI ERA INDIFERENÇA, EU DECIDI ENQUANTO tomava um

doce tempo descendo as escadas. Seja legal. Descolada.
Algo potente e violento fervia dentro de mim e eu tencionei cada nervo
do meu corpo para mantê-lo preso. Eu poderia fazer isso. Só tinha que ficar
relaxada. Zen. Nada de bater na cara. Socá-lo não seria Zen.
A escada terminou. Eu desejei saber qual idiota fez a escada tão curta.
Eu o jogaria fora nos degraus para que ele pudesse contar com a cabeça
dele. Eu pisei no chão e caminhei até os dois metamorfos, olhando
diretamente para o Jim.
— Jim. Que bela surpresa. —Eu sorri, com o objetivo de parecer
cordial.
Mark estremeceu e decolou. Peguei um vislumbre do meu sorriso no
espelho da parede. Muita pouca cordialidade, mas muito de maníaco
homicida. Deixei cair o sorriso antes de causar um incidente entre
agências.
Jim assentiu com a cabeça para mim.
Pelo canto do olho eu vi o rosto do Curran. Como olhar para uma
geleira.
91
— Transmita meus cumprimentos para o Senhor da Feras, —disse. —

Agradeço a sua vontade de alterar sua agenda extremamente ocupada e
Página
fazer uma aparição.

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Curran não mostrou emoção. Sem regozijar se, sem raiva, nada. Jim
olhou para mim e olhou para Curran, voltou a olhar para mim. — Kate
diz oi, —ele disse finalmente.
— Estou extasiado, —disse Curran.
Minha mão contorceu-se para tocar o punho de Matadora, projetando
sobre o meu ombro. O silêncio se estendeu.
— O que posso fazer por você? —Eu perguntei finalmente.
Jim olhou para Curran de novo. O Senhor da Feras permaneceu
estoico.
Você me deu bolo, seu filho da puta. Se conseguisse isso junto, precisaria
de algum tipo de medalha para comemorá-lo.
— O Bando gostaria de estender uma oferta de assistência à Ordem
na questão de Mary Steel, —disse Jim.
Me bata com uma pena. O Bando cooperava somente quando
forçado. Os metamorfos quase nunca se ofereciam. — Por quê?
— O porquê é irrelevante, —disse Curran. — Estamos dispostos a
colocar nossos recursos consideráveis à disposição da Ordem.
Nos encaramos. Adicione alguns assobios e um arbusto rolando, e
estaríamos prontos. Um brilho verde rolou nos olhos de Jim. Reagindo à
tensão.
Um par de mercenários estava a alguma distância de nós. Um terceiro
parou. Eles estavam esperando uma briga e não queriam perdê-la.
92
Precisávamos ficar longe da audiência.

Eu acenei com a cabeça para a pequena sala de treino, separada do
Página
piso principal por uma parede de vidro fosco. O hotel tinha usado esta sala
para jantares privados. Os mercenários a esvaziaram, jogaram alguns

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tapetes num canto, e transformaram em um dojo improvisado. — Vamos

a um lugar mais privado.
Saímos do piso principal. Curran entrou na sala, como se fosse o dono,
virou-se e cruzou os braços no peito. Bíceps escavados, estendendo-se nas
mangas da sua camiseta. Se houvesse justiça no mundo, ele deveria estar
careca, ter perdido todos os dentes e desenvolvido uma erupção de pele
terrível. Mas não, o desgraçado parecia bem. Saúde perfeita.
Apenas fique tranquila. Isso era tudo o que eu tinha que fazer.
Fechei a porta de vidro e tranquei a porta.
— O Bando tem um interesse pessoal no assunto, —disse Jim.
— Não vejo nenhuma base para o envolvimento do Bando.
— Solomon Red era um metamorfo no armário, —Jim disse
suavemente.
O mundo estava em suas mãos e me chutou na cara.
— O homem era profundamente religioso. Foi uma coisa difícil para
ele. Ele não mudava, mas teve que viver com o desejo. O Bando deu-lhe
permissão especial para operar por conta própria em troca de uma parte
dos lucros da Associação. Primeiro Joshua, agora Solomon Red. Há um
padrão.
— Quanto de uma parte?
— Dez por cento.
Dez por cento da Associação era um monte de dinheiro. Alguém
93
matou dois metamorfos e mordeu um pedaço grande da renda do Bando.

Curran continuou a observar-me e eu e não consegui afastá-lo o suficiente
Página
para me concentrar. — Quem mais sabia sobre Solomon?

— O Conselho.

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Livro 4
Catorze pessoas, dois Alfas de cada clã. — Foi uma coincidência, ou

você tem um traidor entre os Alfas.
Os olhos de Jim brilharam verde. — Não há nenhum traidor no
Conselho.
Suspirei. — Claro que não—que ousadia metamorfos terem vícios
humanos.
Curran inclinou meio centímetro para a frente. — Nós não somos
mercenários, Kate. Não nos meça pelo seu padrão.
Muito obrigado, Vossa Majestade. Olhei para Jim. — A Ordem
aprecia a oferta de ajuda do Bando, mas dada a natureza sensível da nossa
investigação, declinamos sua ajuda neste momento.
Curran me mostrou a ponta de seus dentes. — Você está sugerindo
que meu povo não pode ser circunspecto27?
Olhei para Jim. — Por favor, retransmita meus parabéns a Sua
Majestade por aprender uma palavra tão grande sozinho.
Se Jim estivesse em sua forma felina, seus bigodes e sua pele teriam
ficado arrepiado.
Eu continuei. — Além disso, explique-lhe que ele tem um traidor nas
fileiras, o que significa que seu povo não é circunspecto, ou o assassinato
Solomon foi uma coincidência e o Bando não tem motivo para forçar seu
caminho na investigação da Ordem.
— Por que você não está falando comigo? —Curran deu um passo à
frente.
94
Página
27
1. que olha ou encara prudente e cuidadosamente todos os aspectos por que se apresenta uma questão, um fato etc. 2. que mantém
atitude prudente e reservada, por vezes distante. "à primeira vista é c., mas depois torna-se aberto ao convívio"

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— Eu estou seguindo suas ordens ao pé da letra. Foi-me dito que

dirigisse todas as questões ao seu chefe de segurança. Mas se você quiser
me falar diretamente, ficarei feliz em fazê-lo.
Os olhos de Curran estreitaram. — Quando eu disse isso?
— Não seja tímido. Isso não combina com você. —Fique frio, fique
calmo.
Ele balançou a cabeça. — Não importa. Você tem um pouquinho de
poder e você o usou. Corra com ele, enquanto pode. No final, a Ordem
nos deixará entrar. Eu irei por cima da sua cabeça.
Jim deu um pequeno passo em frente. Seus dentes estavam apertados
e os músculos de sua mandíbula se destacaram. Eu realmente senti pena
dele.
Mantenha a calma. Não dê a ele a satisfação de ver você perdê-la. Eu
relaxei meus dentes. — Agora você não tem nada para justificar seu
envolvimento. Se eu aceitar sua oferta de cooperação, terei que esclarecer
com Ted, que irá bloqueá-lo, porque ele desconfia de você no princípio. É
do seu interesse esperar, até que você possa me dar provas irrefutáveis de
que o Bando está sendo alvejado, forçando Ted em um canto. Se você
quiser acesso direto para o cavaleiro-protetor, você é, claro, bem-vindo a
tentar. Mas por favor, tenha em mente que esperar a compreensão de Ted
Moynohan é como esperar o vinho de uma pedra. Eu, por outro lado, sou
solidária às necessidades do Bando como um todo, não importa o quanto
eu poderia não gostar de interagir com você pessoalmente. —Por causa de
Jim, Derek, Raphael e Andrea, que não era ainda parte do Bando e quem
95
mais pode acabar lá um dia.

— Agora você não gosta de mim? Irônico, considerando que você
Página
desistiu de nós.
— Desisti de nós? Você me deu um bolo, seu babaca arrogante!

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— Você fugiu! —Ele se moveu em minha direção. — Eu mereço uma

explicação.
Matadora deixou sua bainha quase por conta própria. Foi o gatilho
mais rápido da minha vida. Um espaço vazio entre nós em um momento
e o próximo meu sabre pulou na minha mão. — Você não merece nada!
Ouro rolou nos olhos de Curran, tão brevemente, que se tivesse
piscado, eu teria perdido isso. Seu rosto ganhou uma expressão um pouco
entediada. — Você acha que seu palito pode me machucar?
— Vamos descobrir.
— Não vamos não. —Jim ficou entre nós.
Curran olhou para ele. A voz dele com o início de um rosnado. — O
que você está fazendo?
— Meu trabalho.
Ele perdeu a cabeça. Curran estava pairando à beira da violência e Jim
acabara de se tornar um alvo. — Jim, você talvez queira dar um passo
atrás.
Jim permaneceu enraizado no lugar.
O olhar de Curran firmemente sobre mim, o ouro queimando a
escaldar. Como olhar nos olhos de um leão faminto e percebendo que eu
era a comida. Meu corpo travou, os pequenos cabelos na parte de trás do
meu pescoço subiram nas extremidades, e dentro de mim uma pequena
voz sussurrou em desespero, ‘Não respire e talvez ele esqueça que você está
aqui’.
96
Eu agitei meu sabre, aquecendo meu pulso. — Seus faróis não me

Página
assustam.
Jim endireitou os ombros. — Você não pode fazer isso. Não aqui, nem
agora.

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A voz de Curran deslizou em uma calma gelada. — Tenha muito

cuidado, ou eu posso começar a pensar que você está me dizendo o que
fazer.
Se Curran lhe ordenasse para se mover, e Jim recusasse, seria um
desafio. Curran teria de lutar contra seu próprio chefe de segurança e seu
melhor amigo. E ambos sabiam disso. Foi por isso que eu estava no fim da
recepção do olhar alfa de Curran. Se ele olhasse para Jim, haveria uma
briga.
Eu me movi. Jim moveu-se comigo. Olhei para o teto e grunhi.
— Fofo, —disse Curran.
Morra. — Por que você não vem aqui e eu vou te mostrar o que é fofo.
— Eu adoraria, mas ele está no caminho. Além disso, você teve sua
chance de mostrar-me qualquer coisa que quisesse. Você simplesmente
fugiria de novo.
Pelo amor de Deus. — Eu não fugi. Fiz o seu maldito jantar, mas você
não teve a decência de aparecer.
As sobrancelhas de Jim subiram. — Jantar?
Os olhos de Curran brilharam. — Você correu. Eu senti seu cheiro.
Você estava lá, e então você ficou com medo e fugiu. Se você não quisesse
fazer isso, tudo o que tinha que fazer era pegar o telefone e me dizer para
não aparecer. Realmente achou que eu faria você me servir o jantar nua?
Mas você nem sequer se preocupou.
— Besteira.
97
— Ei! —Jim latiu.

Página
— O quê? —Curran e eu dissemos quase ao mesmo tempo.

Jim me olhou. — Você fez o jantar para ele?

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Ele ia descobrir mais cedo ou mais tarde. — Sim.

Jim virou o pé, saiu da sala e fechou a porta atrás dele.
Tudo bem, então.
— Ele pensa que estamos acasalados. —Curran se moveu para frente,
muito rápido em seus pés para um homem do tamanho dele, o olhar dele
trancou em mim—um predador perseguindo sua presa. — No Bando,
ninguém fica entre os companheiros. Ele está sendo educado. Ele não
percebe que você terminou isso.
— Oh, não. Não, eu não terminei. Você teve sua chance e estragou
tudo.
A máscara de Curran rachou. — O inferno que eu fiz!
Toda a dor e raiva do mês passado esmagou-me. Tê-lo perto era como
arrancar o curativo de uma ferida crua. As palavras só caiam fora, e eu não
podia impedi-las.
— Então, a culpa é minha? Eu fiz-lhe o seu jantar sangrento. Você não
apareceu. Você só não poderia deixar passar a oportunidade de me
humilhar, você poderia?
Curran mordeu o ar como se ele tivesse presas. — Eu fui desafiado por
dois ursos. Eles quebraram duas das minhas costelas e deslocaram meu
quadril. Quando Doolittle finalmente terminou de consertar meus ossos,
eu estava quatro horas atrasado. Eu perguntei se você ligou e disseram que
não.
Ele colocou peso o suficiente no ‘não’ para derrubar um edifício.
98
— Se você estivesse atrasada, eu viraria a cidade do avesso à sua

Página
procura. Eu te liguei. Você não respondeu. Eu estava tão certo de que algo
aconteceu com você. Eu deixei cair tudo e me arrastei para sua casa. Eu
vim verificar você com ossos quebrados e você não estava lá.

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— Você está mentindo.

Curran rosnou. — Deixei um bilhete na sua porta.
— Mais mentiras. Esperei por você durante três horas. Liguei para a
fortaleza, pensando que algo aconteceu com você, e seus lacaios disseram-
me que o Senhor das Feras disse que estava muito ocupado para falar
comigo. —Eu estava tremendo de raiva. — Que no futuro eu deveria
encaminhar todas as minhas preocupações ao Jim, porque sua Majestade
declarou que não queria ser incomodado em falar mais comigo.
— Aquele telefonema aconteceu na sua cabeça. Você está delirando.
— Você me deu bolo e esfregou meu nariz nele.
Algo sibilou atrás do vidro fosco no salão principal.
Curran se lançou em direção a mim. Eu deveria ter empurrado
diretamente para ele. Em vez disso, fiquei ali parada, como uma idiota.
Ele me puxou para ele, girando para que suas costas enfrentassem o vidro.
A parede de vidro explodiu.
Fragmentos derrubaram a sala de jantar atrás de nós, quebrando
contra as costas de Curran. Um jaguar preto e dourado bateu contra a
parede oposta. Jatos gêmeos de água explodiram na sala do andar
principal. O primeiro bateu na parede, prendendo Jim. O segundo
esmagou contra a espinha de Curran. Ele grunhiu e apertou-me a ele.
Fomos apanhados em campo aberto. Sem lugar para se esconder. Ah,
estúpido, estúpido idiota. Ele estava me protegendo.
99
Jim rosnou, tentando se levantar, mas a água o enviou para baixo e o

manteve lá.
Página
Ouro inundou os olhos de Curran. Seu grande corpo tremia.

Empurrei-me para a esquerda, tentando ver o ombro de Curran. Um
homem estava no meio do salão principal, levantando as mãos. Atrás dele,

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um tubo quebrado subiu da parede, derramando água sob seus pés. Dois
jatos pressurizados dispararam da água, seguindo a direção de seus braços.
Um mago da água. Merda.
Eu me apertei mais perto de Curran para falar no ouvido dele. — Um
homem morto, da brigada de incêndio no centro da sala. Ele quebrou o
cano principal e está esvaziando a torre de água da Associação no saguão.
Solte-me.
— Não. —Curran me agarrou mais apertado. — Muito arriscado.
— Ele está lixando a pele das suas costas.
— Eu vou me curar, você não vai.
Até que me soltasse, ele não conseguiria manobrar. Se o fizesse, o
mago iria me cortar. O jato que nos fixou tinha apenas um metro de
largura. Peguei uma faca de lançamento. — Me jogue.
Olhos dourados olharam para o meu. — Lança-me para ele.
Ele sorriu, me mostrando os dentes. — Acima ou abaixo?
— Abaixo.
— Diga, por favor.
Um spray vermelho bateu em meus lábios. Magia me beliscou—eu
provei sangue metamorfo. A água estava raspando a pele das costas dele,
mas ele não cedeu um centímetro. Quando isso acabasse, eu arrancaria sua
cabeça.
100
— Jogue-me, por favor!

— Eu pensei que você nunca pediria.
Página
Ele girou, torcendo e me atirou como uma bola de boliche. Eu deslizei

através do chão molhado e cheio de cacos de vidro, os jatos de água
gêmeos passando acima da minha cabeça, para o mago de pé em um

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redemoinho de vinte e cinco centimetros. Água encharcou meu rosto. De

pés descalços o mago pairava diante de mim. Eu agarrei o tornozelo
esquerdo. O impulso me empurrou para trás dele, e cortei o tendão de
Aquiles da perna direita.
O Mago caiu para o joelho direito, de costas para mim, sua capa
imunda sobre ele. Bati a perna esquerda para fora debaixo dele e afundei
uma das facas profundamente entre as costelas. Ele virou para mim. Eu vi
o golpe, mas não podia fazer nada para evitá-lo. O golpe esmagou minha
mandíbula, como o bater de uma marreta. Eu deslizei pelo chão molhado,
atravessando os jatos de água e me levantei por instinto. O mundo
estremeceu e nadou lateralmente em uma névoa de dor. Eu tropecei,
balançando a cabeça. As coisas estavam fora de foco.
O mago sorriu para mim a doze metros de distância. Cabelo pálido
moldando um rosto estreito. Vinte, talvez um pouco mais jovem. Sua capa
esfarrapada pendurava aberta, revelando o corpo de um artista marcial:
rígido, bem definido e completamente nu. Muito baixo. Eu tinha um cara em
uma capa, ele estava nu, e ele não era Mary Steel. Só eu poderia ter esta sorte.
Os jatos atrás do mago de água continuavam pulverizando, mudando
de direção. Ele ainda seguia Curran e Jim. Como diabos ele fazia isso?
Rodando em torno de seus pés, surgindo acima da água. Um jato fino
me bateu, queimando minha coxa esquerda. Um corte estreito cortou meu
jeans e pele, como uma barra de um bisturi. Outro jato chamuscou minhas
costelas. Ele estava brincando comigo. Se ele batesse direto com um desses,
a água bateria direto através de mim. Enquanto não atingisse o coração ou
101
os olhos, eu iria sobreviver. Tudo mais o medi-mago poderia consertar.

O mago puxou minha faca do lado dele e olhou para ela. — Bela faca.
Página
A voz era profunda, mas feminina.

Eu joguei minha segunda faca. A lâmina bateu no peito do mago.
Merda. Perdeu o pescoço. — Aqui, tem mais uma.

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O mago riu. Definitivamente uma voz feminina. A única maneira que

ele poderia soar como uma mulher seria se ele ...
Uma forma demoníaca saltou acima do homem: um monstro de mais
de dois metros musculoso, revestido de pelagem cinza, meio-humano, meio-
besta, um pesadelo completo. Ele veio acima da água, como se tivesse asas,
braços enormes se abriram e olhos queimando com ouro em um terrível
rosto.
Maldição. — Não!
O mago virou. Água disparou em dezenas de jatos estreitos afiados.
Curran o atingiu. Ossos trituraram. A cabeça do mago girou sobre seus
ombros, transformando completamente ao seu redor: cabelo, rosto, cabelo
de novo.
O corpo do mago congelou, rígido. Ele caiu de volta como uma pedra,
caindo no chão molhado com um esguicho. Os jatos de água se desfizeram.
Pescoço quebrado, coluna espinhal cortada, morte instantânea. Lá se
vai minha chance de um bate-papo. Eu xinguei. — Você tinha que matá-
lo?
Olhos cinzentos me encararam. As mandíbulas pré-históricas se
abriram, revelando enormes dentes. — Sim, eu tinha. —As palavras
saíram perfeitamente. O controle de Curran sobre sua forma de guerreiro
era absoluto. — Não há de que.
De nada, minha bunda. Eu puxei Matadora da bainha traseira e
caminhei até o cadáver. Por que diabos eu estava tão aliviada que Curran
102
estava na maior parte ileso? Eu queria estrangulá-lo, não celebrar o fato de

que ele estava inteiro. — Obrigado por matar meu suspeito antes que eu
Página
pudesse falar com ele.

— Não por isso.
Jim trotou e cheirou o corpo do mago.

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Cheguei até eles e me agachei perto do cadáver. Jim decidiu que era
um bom momento para se agitar. O spray molhado me atingiu no rosto.
— Obrigada. Isso é apenas uma cereja no meu dia. —Eu limpei o
jaguar molhado dos meus olhos e esfaqueei Matadora no estômago do
mago.
— Ele já está morto, —Curran me disse.
— O Casino foi atacado esta manhã. —Inclinei-me mais perto,
observando a pele ao redor da lâmina da Matadora. — Dois Magos
elementais fritaram alguns vampiros e melhoraram as paredes do Casino
com um padrão de queimadura adorável.
Curran encolheu os ombros monstruosos. — Estúpido, mas não
notável.
— Eles registraram magenta em um m-scanner.
Jim rosnou.
Curran enrugou seu focinho. — Magos mortos-vivos?
Foi a minha vez de dar de ombros. — Nós veremos em um minuto. O
fogo, o ar, a água fazem parte da mesma marca de magia.
O mago falou com uma voz feminina. A sala era ruidosa com os sons
da água corrente, mas eu ouvi uma mulher rir. O corpo que estava diante
de mim era inconfundivelmente masculino. A única maneira que ele
poderia falar como uma mulher seria se ele fosse morto-vivo, e uma
navegante feminina estava na sua mente. Mas nunca tinha ouvido falar de
103
outros tipos de mortos-vivos sendo pilotados. Vampiros, sim. Mas nada

mais.
Página
Bem, não, espere, eu tinha visto sereias mortas-vivas, sendo pilotadas,

também, mas elas não estavam mortas-vivas no sentido tradicional da
palavra. Inclinei-me mais perto para examinar o ferimento. Meu sabre

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liquefez a carne do morto-vivo e o consumiu, construindo espessura para

a lâmina. Se isto fosse um vampiro, a ferida já cederia até agora.
Um traço fino de fumaça branco enrolou na lâmina. Pode ser algo, ou
pode ser apenas a Matadora reagindo a mim estar chateada fora de minha
mente.
— Balconista! —Eu gritei.
— Ei! —A cabeça do escrivão apareceu acima do corrimão da varanda
do terceiro andar. Um momento depois mais cabeças se juntaram a ele.
Essa é a Associação para você. Mataria alguém atirar no maldito
desgraçado com um arco? Eu não disse isso em voz alta. Eles teriam rido.
Pessoas propensas a ajudar os outros acabavam no PAD ou na Ordem.
Esses caras estavam exatamente onde queriam estar. A menos que o
dinheiro ou a sua pele estivesse envolvido, não dariam à mínima. Eles não
eram pagos, então por que se preocupar?
— Está tudo ok aí em cima?
— Estamos bem, —Juke chamou de volta. — Tocada que você se
importa.
Matadora assobiou. Eu toquei o sabre com a ponta do meu dedo
indicador. As bordas da ferida caíram, como se a carne de homem fosse
cera aquecida. Eu belisquei o músculo perto da ferida e assisti um fluido
escorrer do corte.
Curran inalou ao meu lado, provando o cheiro. Uma careta perturbou
seu rosto de pesadelo. — Morto-vivo.
104
— Sim.
Assim como os dois magos mortos-vivos que haviam atacado o
Página
Casino com magia elementar. Seria um milagre se não estivessem

conectados.

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Havia coisas que eu poderia fazer com um corpo morto-vivo que não
poderia fazer com qualquer outro cadáver. Eu tinha pressa. Precisava de
magia e ervas para isto. As ervas esperavam no meu apartamento e
ninguém sabia quanto tempo duraria a onda mágica.
Eu olhei para o Balconista. — O que aconteceu?
— Ele entrou pela frente, —o Balconista disse. — Eu vi que ele estava
nu e limpo. Ele quebrou o cano e foi atrás de você.
Só que não era eu quem ele procurava. É verdade, que a Nação me
contratou para investigar o ataque, mas não tive a chance de fazer alguma
coisa que justificasse esse tipo de retaliação. Não, ele foi direto para
Curran. Ele e Jim eram os alvos primários. Eu era um espectador.
— Pegue o lança chamas para limpar o chão e chame o PAD.
— Quem vai pagar por isso? —Mark chamou de fora.
— A Associação, Mark, a menos que você gostaria que
continuássemos andando no sangue de mortos-vivos.
Se Mark tivesse outras objeções, ele decidiu mantê-las para si mesmo.
Havia pelo menos alguns mercenários pyro-talentosos, e uma vez que
terminassem com o chão, todos os vestígios dos mortos-vivos e do meu
sangue teriam ido embora.
Levantei Matadora e cortei o pescoço do cadáver. Só levou um corte—
Curran tinha quebrado o pescoço e rasgado o músculo, deixando apenas a
pele para eu cortar. Eu agarrei a cabeça pelos cabelos e me levantei.
105
— A Ordem aceita a oferta de ajuda do Bando, —eu disse

calmamente. Tivemos uma audiência e não era algo que eu queria que eles
ouvissem. Eu estava prestes a forçar Curran em um canto, e enquanto eu
Página
podia chegar a termos com ele em privado, em público ele imediatamente

recusaria. — Com o entendimento de que a Ordem está na posição de
autoridade e nosso contrato pode ser rescindido a vontade. Isso é meu. —

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Eu mostrei a cabeça para Curran. — O resto é seu. Comparamos os

resultados mais tarde.
— Mudou de ideia? —Ouro rolou nos olhos do Curran, mas ele
manteve sua voz baixa. Para a galeria acima, parecia que estávamos tendo
uma conversa agradável.
— Posso agora levar isso para Ted. É difícil refutar as testemunhas
oculares. Se eu lutar com bastante força, ele vai deixar isso em pé. Deixe
Jim saber o que Doolittle descobre sobre o corpo.
— Eu te ligo.
— Jim é melhor.
Curran inclinou-se para mim. Ossos rastejavam sob sua pele. Sua
mandíbula encolheu, seu focinho encurtou, suas garras recuaram. Pelagem
cinza fluiu, derretendo na pele humana. Num piscar de olhos, ele ficou nu
na minha frente. Um mês atrás eu precisaria de um momento para lidar.
Hoje, olhei diretamente para o rosto dele.
— Eu vou te ligar, —ele repetiu.
— Se você me ligar, eu não vou atender o telefone.
— Você vai esperar pela minha ligação e quando tocar, você vai
atender e falar comigo de uma maneira civilizada. Se você não sabe como,
pergunte a alguém.
E foi isso. Eu virei para ele. Minha voz saiu calma e fria. — Precisa
que eu desenhe um gráfico? Você me deu o bolo. Você me fez pensar que
106
havia algo entre nós. Você me fez querer coisas, coisas que pensei que eu
nunca poderia ter, e então você esmagou isso. Não chegue perto de mim,
Curran. Não ligue. Acabamos.
Página
Eu me virei e me afastei, indo para o vestiário da Associação, onde

ainda guardava roupas em um armário. Eu tive que tirar meus trapos

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encharcados, selar meus cortes e arrastar a cabeça para casa. Eu precisava

fazer algumas perguntas.
CAPÍTULO 08
O CLIMA DECIDIU QUE NÃO ESTAVA FEIO O SUFICIENTE. Geralmente

nossos invernos corriam para chuvosos e tristes. De vez em quando,
nevava, mas geralmente não durava. Por alguma razão, nos últimos anos
o inverno em Atlanta decidiu jogar roleta russa: três vezes em quatro
conseguíamos a porcaria usual, mas cerca de um quarto do tempo batia
duro com neve e gelo. Alguns diziam que era por causa da magia; Outros
disseram que era o efeito colateral do aquecimento global. O que quer que
cause isso, eu não gostava. Quando cheguei ao meu apartamento, cada
centímetro meu estava congelado.
Eu me arrastei até as escadas e fui para a porta. O feitiço de proteção
lambeu minha pele e escorreu para baixo em uma onda de azul, me
deixando entrar. Eu abri a porta e vi uma enorme pilha viscosa de vômito
de cachorro no meio do meu tapete no corredor. O poodle de ataque sentou
nas proximidades, uma expressão de inocência perfeita no seu focinho
estreito.
107
Eu apontei para o vômito. — Foi uma jogada idiota.

O poodle de ataque abanou o rabo.
Página
Eu passei pelo vômito e me dirigi para a cozinha. A magia ainda se

mantinha, mas a onda poderia acabar a qualquer momento. Se a magia

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caísse, eu também poderia jogar futebol com a cabeça para todo o bem que
isso me faria.
Tirei uma grande bandeja de prata do gabinete, coloquei no meio da
mesa e recolhi as ervas. Eu tinha pré-misturado a maioria, mas algumas
coisas tinham que ser combinadas no local ou seu efeito teria enfraquecido
com o tempo.
Ver Curran me machucou novamente. A pedra no meu peito estava
mais e mais pesada. Um bastardo e um mentiroso.
Eu vim para você com ossos quebrados ...
Em dez minutos espalhei a mistura de ervas sobre o prato, recuperei a
cabeça e coloquei na mistura aromática, deixando-a cair. Magia de
necromancia vinha naturalmente para mim. Isso me repelia, mas ainda
gravitava em direção a ela, como se fosse uma coceira que eu tinha que
coçar. Minha repulsa pode ter sido a natureza, mas a maior parte era
minha criação. Voron fez o seu melhor para suprimir essa parte de mim,
desde que eu era um bebê. Estranho que eu encontrei a necessidade de me
livrar de sua formação mais e mais vezes.
Eu deslizei uma assadeira rasa sob o prato e derramei um pouco de
glicerina nele. O poodle de ataque me olhava com uma expressão muito
focada. — Cuidado, —Eu disse a ele. — Vai ficar feio.
Eu espetei meu polegar com a ponta de uma faca de arremesso e deixei
uma gota de meu sangue cair sobre as ervas. Magia subiu através das ervas
secas, como fogo ao longo de um cabo de detonação e explodiu para a
108
cabeça. A carne do morto-vivo estremeceu, revivido pela erupção do

poder. Eu toquei o meu polegar na testa do morto-vivo, dirigindo um pico
de magia para o cérebro. — Acorde.
Página
Os olhos na cabeça ficaram abertos, concentrando-se em mim. Sua

boca abriu, contorcendo-se. A magia suja queimava sobre isso em uma
tempestade de malícia, furiosa e com fome.

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O poodle correu como o Papa-Léguas dos desenhos animados antigos.

Esperei por um segundo para ver se o tapete iria pegar fogo em seu rastro.
Felizmente, nenhum equipamento de extinção de incêndio seria necessário
para ser usado.
Me inclinei para a cabeça. — Mostre-me seu mestre.
As palavras não eram necessárias. A velha mulher árabe, que me
ensinou o ritual quando eu tinha 11 anos, disse que elas ajudavam a se
concentrar, então eu lhes dizia o mesmo.
A magia convulsionou. Um fedor ressuscitou as ervas. A cabeça
estremeceu. O sangue espesso deslizou dos dutos lacrimais, gotejando nas
bochechas para as ervas, em seguida na panela, espalhando sobre a
glicerina em uma espessa mancha escura.
— Mostre-me seu mestre.
A mancha rodou. Visões fracas de um rosto apareceram em suas
profundezas.
— Mostre-me!
A magia se enfureceu e ferveu. A imagem deflagrou, difusa mas clara
o bastante para reconhecer. Meu rosto me olhou de volta da mancha.
Mas que diabos ...
Eu examinei a imagem fantasmagórica. Isso estava distorcido, mas eu
vi o correspondente tom de pele, cabelos escuros e olhos escuros. Eu.
Eu deixei ir. A magia entrou em colapso sobre si mesmo.
109
Inclinei o cotovelo sobre a mesa, descansando meu queixo em meu

punho e olhei para a cabeça. Eu tinha feito o ritual seis vezes na minha
Página
vida. Sempre com vampiros. Ele nunca falhou.

Por que ele me mostrou?

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A cabeça me encarou com os olhos que não viam. A onda de magia

durante o ritual preparava o patógeno do Vampirus immortuus e, uma vez
que desapareciam, as cabeças dos vampiros se decompuseram em minutos.
Este não parecia pior para o desgaste. Eu precisava de alguém com mais
experiência. Levantei e tentei o telefone. Nenhum toque de ligação. Argh.
Os latidos entusiásticos ecoaram debaixo da minha cama. Um
momento depois, alguém bateu.
— Quem é?
— Kate! —A voz de Andrea chamou. — Você está em casa?
— Não. —Eu abri a porta.
Andrea sorriu para mim enquanto batia um envelope pardo contra a
palma da mão. — Suponho que pedi por isso. Que fedor é esse?
— Algo que eu tenho na cozinha. —Eu me afastei, fazendo sinal para
ela. — Não pise no vômito do cachorro. —Que agora eu não tinha
nenhuma desculpa para não limpar.
Ela desviou da oferenda do poodle de ataque aos deuses digestivos e
viu a cabeça e as ervas sentada no prato na cozinha. Seu rosto esticou. —
Isso não está certo. Ele está deitado em quê?
— Ervas, alecrim, coentro ...
Os olhos azuis de Andrea se abriram como pires. — Se você vai
cozinhá-lo, eu vou vomitar ao lado do vômito do cão.
— Por que eu iria cozinhá-lo?
110
— Bem, está como um peru em uma travessa e você têm ervas sob ele.
Marchei para a cozinha, agarrei a cabeça e a enfiei num saco de
Página
plástico. O saco foi para a geladeira, o resto foi para o lixo. — Melhor?
— Sim.

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Livro 4
Fui limpar o vômito, enquanto ela fervia a água para o chá sobre o
fogão de querosene. Magia nos privava de eletricidade, mas ainda tinha
querosene queimando e eu guardei um queimador de campista no meu
apartamento para pequenos trabalhos. Uma vez salvou a minha vida e a
de Julie.
Tão logo as provas ofensivas de sua desgraça foram removidas, o
poodle de ataque considerou a área segura. Ele surgiu de debaixo da cama
e lambeu a mão da Andrea.
— Ele parece bem sem o pêlo, —disse ela.
— Ele pensa assim.
O poodle lambeu a mão dela novamente. Andrea sorriu. — Não te
importa meu cheiro, pois não, cara de cachorro? Talvez ele foi criado em
torno de metamorfos.
— Você não é um metamorfo normal.
Ela encolheu os ombros. — Eu ainda cheiro como meu pai.
Dado que o pai de Andrea era uma hiena, o poodle estava mostrando
notável contenção.
Fomos para a cozinha, onde nos servi um pouco de chá. — Antes de
fazermos alguma coisa, deixe-me te dizer sobre meu cara numa capa.
Quinze minutos depois ela franziu a testa para mim. — Então os
metamorfos machos ficam loucos.
Eu assenti.
111
— E quanto aos metamorfos fêmeas?

— Eu não sei.
Página

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Ela bateu na borda da mesa com o envelope. — Então há uma boa

chance de que o outro eu irá fazer uma aparição. Claramente a minha vida
não tem sido suficientemente complicada.
— Meus sentimentos exatamente.
Não deixe Ted colocá-la nisso, se eu falhar. Seus olhos me disseram que se
dissesse isso, ela sugeriria que eu enfiasse minha opinião onde o sol não
brilhava.
Andrea suprimiu a parte dela que era bestial. Ela fez isso através da
Academia, ganhou o título de cavaleiro, e serviu com distinção durante
cinco anos. Ela carregava um punhado de medalhas e a manopla de ferro,
a quarta mais alta condecoração que a Ordem poderia conceder a seus
cavaleiros. Há um ano, ela estava no caminho para chegar a cavaleiro de
defesa para mestre de armas, arma de fogo. Ganhar a designação de um
mestre em armas ou uso mágico era uma grande conquista.
Tudo acabou caindo uma noite quando Andrea e outro cavaleiro
saíram para verificar o relatório de um avistamento de loup. A viagem
deixou vários mortos, incluindo o parceiro da Andrea, que pegou Lyc-V e
tentou transformar o estômago de Andrea em um buffet "tudo que você
pode comer". O procedimento padrão após um encontro com loups era
mandar fazer testes abrangentes para confirmar a sua humanidade. Andrea
passou na m-scan e testes. Fez através de um amuleto incorporado no
crânio e um anel de prata sob a pele do seu ombro, que tinha quase lhe
custado o seu braço. Ela foi declarada livre do vírus metamorfo e apta para
o serviço ativo, e então foi enviada para Atlanta para aliviar o trauma.
112
Em Atlanta, ela correu para uma parede de tijolo chamada Ted

Moynohan. Ted sabia que havia algo errado com ela. Ele sentiu em seu
Página
âmago, mas lhe faltava provas, então ele a mandou para ‘apoio’. Ela não
tinha escritório, sem casos ativos, e a única vez que ela viu ação foi quando
ninguém mais podia chegar lá a tempo.

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Apesar de tudo, estava disposta a servir. Apontando que se Mary Steel

aparecer, ela devia abandonar sua cavalaria e correr na direção oposta só
teria minha cabeça arrancada. Então mantive minha boca fechada e não
disse nada.
Eu mantive o segredo dela e ela manteve o meu. Só duas pessoas além
de mim sabiam minha ascendência e Andrea era um deles. Se tivesse uma
escolha, eu manteria isso dela, mas ela descobriu por conta própria.
— Obrigada pelo aviso. —Andrea me entregou o envelope pardo. —
Minha vez.
Retirar o selo da fita levou um momento, e então uma pilha de papéis
deslizou em minha mão. Uma fotografia ocupou metade da primeira folha.
Mostrou um homem alto, poderosamente construído, ao lado de um cavalo
roan28, uma mão sobre a juba.
Ele tinha características bonitas, muito masculinas, grosseiramente
cortadas, com uma mandíbula pesada e o queixo ligeiramente em
covinhas. Seu nariz era largo e reto; sua boca larga; seu cabelo longo quase
preto azulado. Era um rosto atraente, honesto e forte, do tipo que inspira
confiança e convencem-no a segui-lo até a ruptura. As poucas vezes que
eu o vi, ele usava uma expressão agradável, afável, que fez com que ele
parecesse acessível.
Ele deve ter detectado o fotógrafo e virou em direção a ele, assim que
a foto foi tirada, porque a câmera o pegou com a máscara para baixo. Ele
olhou diretamente para a lente. Seus olhos, chocantemente azuis sob as
113
Página
28
Roan é um padrão de cor de casaco de cavalo caracterizado por uma mistura uniforme de cabelos coloridos
e brancos no corpo, enquanto a cabeça e os " pontos " - pernas mais baixas, juba e cauda - são principalmente de cor sólida. Cavalos com
casaco roan têm cabelos brancos uniformemente misturados em qualquer outra cor. A cabeça, as pernas, a juba e a cauda têm menos cabelos
brancos dispersos ou nenhum. O padrão roan é dominado de forma dominante, e é encontrado em muitas raças de cavalos. Embora a
mutação específica responsável pelo roan não tenha sido exatamente identificada, um teste de DNA pode determinar a zigotopara roan em
várias raças.

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faixas retas de sobrancelhas negras, irradiavam poder arrogante. Era um

olhar que rosnava um aviso. O brilho de um predador cujo descanso foi
perturbado. Indignado, ele exigiu saber quem se atrevia e parecia como se
estivesse gravando seu rosto na memória, então se você o encontrasse
novamente por acaso, ele se lembraria para matá-lo.
Sentei-me na minha cadeira. Os olhos azuis olharam para mim.
Hugh d'Ambray. Preceptor da Ordem dos Cães de Ferro, chefe da
guarda pessoal de Roland. Senhor da guerra dos exércitos de Roland. O
maior pupilo do meu padrasto.
O papel tinha uma cópia do carimbo confidencial da Ordem—uma
clava cruzada com a lança em um escudo. Estes documentos estavam bem
acima da alçada de Andrea, muito menos da minha. Folheei o resto das
folhas. Elas foram preenchidas com fatos da vida de Hugh. Um resumo
condensado de tudo que a Ordem sabia sobre o senhor de guerra de
Roland.
— Como você conseguiu isso?
Andrea me deu um sorriso presunçoso.
Se Ted descobrisse que ela acessou o banco de dados da Ordem para
obter essa informação, iria fervê-la viva. — Você não deveria ter feito isto
por minha causa.
Ela cruzou os braços. — Oh, obrigada, Andrea! Você é a melhor! O
que eu faria sem você? Eu sei o quanto você trabalhou para obter estes
documentos, vitais para a minha sobrevivência.
114
— Você já está na lista de merda de Ted. Se ele desconfiar disto ...

— Ele não vai, —ela disse. — Tive muito cuidado. Os administradores
Página
para os Jogos da Meia-Noite mantinham registros muito detalhados. O

nome de cada patrono foi gravado. Eu estava fazendo meu registro e me
deparei com Hugh. O nome de Hugh foi mencionado muito

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frequentemente durante meu briefing29 avançado de segurança. As coisas

faziam sentido total: os rakshasas conseguiram a espada de Roland em algum
lugar e quem melhor para dar-lhes do que o senhor de guerra de Roland,
Hugh? Eu coloquei dois e dois juntos e comecei a cavar e tomei o caminho
mais longo por aí, é por isso que demorei tanto tempo para obter este
material. Você sabia quem era Hugh antes de entrar naquele poço?
A areia da arena dos Jogos da Meia-Noite passou diante de mim.
Hugh estava na plateia durante a luta final.
— Sim. Eu sabia.
— Você quebrou uma espada inquebrável feita do sangue de Roland.
Hugh é o Senhor da Guerra de Roland. Ele não vai apenas deixá-la ir,
Kate.
— Eu sei disso. —Eu bebi o meu chá. — Eu não tive escolha.
— Claro que você tinha. Você poderia ter saído antes da luta começar.
Você não precisava tentar se matar para quebrar a espada.
— Não estava planejando me matar, —eu rosnei.
Andrea acenou para mim. — Detalhes. O ponto é, você se sacrificou
para nos salvar. Por mim, foi a segunda vez.
— Você estava no poço, por minha causa. Pedi para você vir. —E
arrastava uma carga de culpa por causa disso.
Andrea sacudiu a cabeça. — Eu vim, porque para o Bando sobreviver
o rakshasas tinham que ser mortos e eu sou boa nisso. Não posso ser igual
115
a todos os metamorfos e alguns deles podem desprezar-me, mas eu ainda

tenho dentes grandes e fico peluda. Eu vim para o nosso bem comum. Mas
você não cresce pêlo, Kate. Você veio porque queria ajudar seus amigos.
Página
29
Briefing ou brífingue é um conjunto de informações ou uma coleta de dados passados em uma reunião para o desenvolvimento de um
trabalho ou documento. Esse é um instrumento muito utilizado em Administração, Relações Públicas, Design e na Publicidade.

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Você é minha amiga e agora eu vou te ajudar. E vou continuar te ajudando.

Você não tem escolha sobre isso.
Bati-lhe com a melhor versão de um olhar duro que eu poderia
gerenciar. — Fique fora disso. Eu não preciso de sua ajuda.
Ela bufou. — Bem, que pena. Nem sempre pode escolher o que seus
amigos fazem por você.
Eu deixei meu chá e esfreguei meu rosto. Em Savannah, Voron estava
rolando no túmulo. O que eu deveria fazer com ela?
Mate-a, a voz de Voron disse nas profundezas da minha memória.
Mate-a agora antes que ela a exponha.
Esmaguei o pensamento e joguei as peças fora.
— Se eu fosse o Hugh, eu estaria esperando por uma oportunidade de
subjugar você e levá-la para um lugar onde você pode tranquilamente ser
questionada, —disse Andrea.
— Não. Ele não fará isso. Ele vai reunir toda informação que puder
sobre mim e então, quando estiver confiante de que sabe o que tem, ele vai
me abordar. Sequestro não é seu estilo.
— Como você pode ter tanta certeza?
Levantei-me, desligando a voz fantasmagórica de Voron latindo
avisos para mim, fui para o quarto de hóspedes, Greg tinha transformado
em uma sala de biblioteca e armazenamento e trouxe um velho álbum de
fotos e um caderno de capa de couro. Se eu pudesse convencê-la a manter
distância dele, iria valer a pena. — Eu posso ter certeza, porque eu sei
116
como Hugh pensa.

Página
Coloquei o álbum sobre a mesa, abri na página certa, com uma faca e
cuidadosamente dividi a costura invisível segurando as duas páginas
juntas. Duas páginas finas deslizaram para a luz. Eu entreguei a Andrea
essa primeira com uma foto nela.

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Ela olhou para ele. As sobrancelhas dela se arrastaram juntas. — É

Hugh d’Ambray como um adolescente?
Assenti.
Ela estudou a foto. — Bem, ele cresceu em um bastardo bonito. Quem
é aquele ao lado dele?
— Voron.
— Voron, o Corvo? Ex-senhor da guerra de Roland? —Os olhos de
Andrea se arregalaram. — Eu pensei que ele tivesse morrido.
— Ele fez, eventualmente. —Olhei para ela. — Ele me criou. Ele era
meu padrasto.
— Puta merda! —Ela piscou para mim. — Bem, isso explica tudo o ...
—Ela acenou a colher de chá ao redor de uma forma selvagem, como se
tentando agitar as coisas fora dele.
Eu juntei minha sobrancelha. — Tudo o quê?
— Esgrima.
Eu deslizei a segunda foto para ela. Nele, Voron ficou com o braço ao
redor de uma pequena mulher loira ao lado de Greg e Anna, a ex-mulher
do meu tutor.
— Sua mãe. —Andrea apontou para a mulher loira.
— Esta é a única foto que tenho dela. Encontrei entre as coisas de
Greg, depois de sua morte. Roland amava muito minha mãe. Você
pensaria que após seis milênios ele perdeu toda a capacidade para a
117
emoção humana, mas pelo que disse Voron, Roland é apenas tão volátil
quanto o resto de nós. Ele se apaixonou pela minha mãe. Ele queria fazê-
Página
la feliz, e ela queria um filho, então apesar de jurar não gerar mais
nenhuma monstruosidade, ele decidiu tentar mais uma vez.

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— O que ele tem contra crianças? —Andrea delicadamente virou a

fotografia da minha mãe para a luz.
— Todos nós acabamos como ele. —Minha risada escorria com
amargura. — Teimosos e violentos. Imagine uma ninhada de pessoas
como eu, carregados com um poder inimaginável e uma vontade de usá-
lo.
O rosto de Andrea virou uma pálida sombra.
— Mais cedo ou mais tarde todos nós ir para a guerra com ele, —eu
disse. — E ele tem de nos matar ou vamos destruir o mundo. Algumas das
piores guerras que este planeta viu foram iniciadas por minha família.
Roland desistiu de sua descendência. Somos muitos problemas. É por isso
que, apesar de ter feito uma exceção no caso de minha mãe, ele mudou de
idéia antes de eu nascer. Ela percebeu para que lado o vento soprava e
fugiu com Voron. Poucas pessoas sabem sobre isso e nenhum deles é burro
o suficiente para arriscar a atenção de Roland abrindo suas bocas.
Andrea olhou para minha mãe. — Ela era linda.
— Obrigada.
— Você acha que ela amava Voron?
— Eu não sei. Não lembro. Eu costumava pensar que gostaria de
recordar alguns detalhes—um cheiro, um som, qualquer coisa—mas não.
Não recebi nada. Sem memórias dela, sem lembranças deles estarem
juntos. Acho que ela deve ter se importado com ele, porque os dois
estiveram algum tempo fugindo, antes de Roland os alcançar, e deve ter
118
sido feliz porque quando Voron falou disso, tudo sobre ele mudou. Sua
voz, seu rosto, o olhar nos olhos dele. É como se ele se tornasse uma pessoa
diferente quando se lembrava dela. Ele não falava sobre ela muitas vezes.
Página
Talvez eu fosse parecida com ela.

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— Não tem ideia de quão legal, isto é, —disse Andrea. — É como

tomar chá com Wyatt Earp30 e ouvi-lo falar sobre Dodge City31 e Doc. Este
material é lenda.
Não, nem mesmo um pouco. — Minha mãe deixou Roland encontrá-
la para comprar tempo a Voron para fugir comigo. Não sei o que aconteceu
entre meus pais, mas minha mãe enfiou um punhal no olho de Roland e
ele a matou. Ele assassinou a única pessoa que ele amou apenas para poder
torcer meu pescoço. Matar-me era mais importante. Eventualmente,
Roland me encontrará. Este não será um daqueles momentos de 'chorar
lágrimas de alegria'. Ele vai me matar, Andrea. Ele vai rasgar toda a cidade
para baixo só para poder colocar as mãos na minha garganta e assistir a
luz nos meus olhos morrer. Ele vai destruir todos os meus amigos, vai
destruir meus aliados, e vai matar quem se atrever a me mostrar um pingo
de bondade. Inferno, ele vai provavelmente salgar o chão, então nada mais
crescerá aqui. Não estou brincando. Isto não é um exagero. Pode ser o
material de lendas, mas essas lendas ganham vida de uma maneira
realmente dolorosa.
Ela me deu sua própria versão de um olhar duro. A loira engraçada
desapareceu e em seu lugar, sentou-se uma cavaleira da Ordem: dura,
perigosa e controlada. — É por isso que você precisa de mim. Você não
pode fazer isso sozinho.
— Você ouviu uma palavra do que eu disse?
— Eu ouvi você alto e claro. Você não consegue fazer minhas escolhas
para mim, Kate. Na última vez que eu verifiquei, eu ainda estava no
119
comando da minha vida.

Página
30
Wyatt Berry Stapp Earp, nascido em Monmouth, Illinois, ocupou vários postos policiais no oeste Americano. Foi um dos protagonistas
do Tiroteio em O.K. Corral em Tombstone, Arizona, junto com Doc Holliday, Virgil Earp, e Morgan Earp. Faz parte dos vultos reais que se
tornaram lendários pelos seus feitos registrados na História do Velho Oeste americano, inspirando numerosos Westerns.
31
Dodge City é a sede do condado de Ford, Kansas, Estados Unidos, com o nome de Fort Dodge. A cidade é famosa na cultura americana
pela sua história como uma cidade fronteiriça selvagem do Velho Oeste.

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Porra. Eu levantei as minhas mãos. — Eu desisto.

— Boa garota, —ela disse. — Isso significa que podemos voltar a
Hugh?
Suspirei. — Tudo bem. Amarre sua própria forca.
— O que você sabe sobre ele? —Andrea puxou o arquivo de Hugh em
sua direção.
Passei-lhe o caderno. — Tudo o que sei até os últimos vinte anos. Ele
foi encontrado por Voron quando tinha seis anos. Roland viu potencial
nele. Voron era um espadachim genial, um em um milhão e era um
comandante decente, mas Roland queria um verdadeiro guerreiro.
Dei-lhe um pedaço de papel. — Meu pai colocou-me através de uma
variedade de provações. Lutei em arenas de gladiadores, sobrevivi no
deserto, recebi treinamento em uma dúzia de artes marciais. Ele fez a
mesma coisa com Hugh. De certa forma, Hugh foi uma prática até eu
chegar.
Eu reabasteci minha xícara.
— Voron me treinou para ser um lobo solitário. Eu sou uma assassina
auto-suficiente. Fui feita para cortar através das fileiras e matar meu alvo.
Hugh foi preparado para liderar os exércitos. Ele lutou em dezenas de
regimentos em centenas de conflitos, tudo através do mundo. A magia de
Roland o mantém jovem. Isso o torna mais forte do que um simples
humano e mais difícil de matar. Hugh é o último guerreiro-general. Ele é
paciente, astuto e implacável.
120
— Se você está tentando me assustar, não está funcionando, —disse

Andrea.
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— Estou tentando explicar-lhe o tipo de inimigo que é Hugh. Hugh

não se permite ficar envergonhado. Ele vai reunir toda a informação que
pode, então quando apresentar a minha existência para Roland, ele vai ter

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uma parede de fatos para sustentá-la. Ele não se moverá até que tenha a
prova absoluta da minha descendência. Acho que agora ele está fazendo
círculos em torno de mim, montando a minha vida. Ele tem paciência e
tempo. Ele não pode ser comprado, intimidado ou convencido a deixar-
me sozinha. E não sei se sou forte o suficiente para matá-lo.
O rosto de Andrea azedou. — Você não quer matá-lo. Se você fizer
isso, Roland inundará a área com seu povo, tentando descobrir quem
derrubou seu Senhor de guerra.
— Exatamente. — Eu bebi meu chá agora morno. — Minha única
opção é ficar quieta e tentar não chamar atenção para mim. Voron está
morto há mais de uma década. Não é que muitas pessoas se lembrem dele.
O meu histórico é medíocre—eu trabalhei muito duro para mantê-lo assim.
Eu não deveria ser vista como algo fora do comum.
— Isso é bom, mas há a questão da espada, —disse Andrea.
— Sim. —Havia a espada quebrada. Não importa o que diga a mim
mesma, eu não podia desviar daquela bala. Havia um preço para tudo. O
preço para manter meus amigos vivos foi ser encontrada e eu paguei. Na
época, tinha certeza que morreria e arriscar ser descoberta não pareceu ser
um grande negócio.
— Se a coisa engrossar, eu posso sempre desaparecer, —eu disse.
— E quanto a Curran? —Andrea perguntou.
— O que tem ele?
— Mil e quinhentos metamorfos numa fortaleza maldita vão fazer
121
alguém pensar duas vezes antes de entrar. Você poderia ir para Curran?
Vocês são ...
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— Não há eu e Curran. —Dizer isso doía. Sem saco de pancada para

dar um soco e aliviá-lo. Eu sorri em vez disso e derramei mais um pouco
de chá.

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Andrea mexeu o dela com uma colher. — Aconteceu alguma coisa?

Contei-lhe tudo, incluindo o que aconteceu na Associação. Quanto
mais falava, mais aflito seu rosto tornou-se.
— Isso foi muito idiota da parte dele, —ela disse quando eu terminei.
— Não há argumentos sobre isso.
— Mas isso não faz sentido. Quando ele a trouxe de volta dos
rakshasas, ele quase matou Doolittle porque ele não podia consertar você
rápido o suficiente. Acho que ele pode estar apaixonado por você. Talvez
ele veio para sua casa procurando por você.
— Não importa.
— Vocês devem conversar.
— Eu terminei de falar.
— Kate, não tome isso do jeito errado, mas você não foi você mesma
desde que você voltou da licença. Você está ...
Dei-lhe meu olhar de condenação. Ele saltou diretamente dela.
— ... sombria. Realmente sinistra. É quase doloroso. Você não brinca,
não ri, e você continua a correr riscos. —Andrea esfregou a borda de sua
xícara de chá. — Você teve amigos quando estava crescendo?
— Ouch. —Eu esfreguei meu pescoço. — Essa é uma mudança
acentuada na direção dessa conversa. Eu acho que fui chicoteada.
Andrea inclinou-se para frente. — Amigos, Kate. Você teve algum?
122
— Amigos deixam você fraco, —eu disse a ela.

— Então, eu sou a sua primeira verdadeira amizade?
Página
— Você poderia dizer isso. —Jim também era um amigo, mas não era
o mesmo.

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— E Curran é seu primeiro amor verdadeiro?

Eu rolei meus olhos.
— Você não sabe como lidar, —Andrea disse suavemente.
— Eu tenho feito bem até agora. Deve ir embora eventualmente.
Andrea mordeu seu lábio. — Você sabe que eu sou bem grandinha e
posso cuidar de mim mesma, e eu não preciso de um homem para lutar as
minhas guerras por mim. E se eu não estivesse com Raphael, eu ainda
estaria totalmente bem e boa no meu trabalho e feliz às vezes. —Ela
respirou fundo. — Com isso em mente ... Um verdadeiro coração
quebrado nunca desaparece. Você pode uni-lo e fazê-lo funcionar, mas não
é o mesmo.
Eu não podia arrastar esta ferida em torno de mim para o resto da
minha vida. Eu implodiria. — Obrigada pela palestra.
— Eu não terminei. A coisa é, as pessoas têm um potencial notável
para feri-la, mas também têm um grande poder para ajudá-la a curar. Eu
não entendi isso por muito tempo.
Ela se inclinou para frente. — Raphael é quente e carregado e o sexo
é ótimo, mas não é por isso que estou com ele. Quer dizer, essas coisas não
doem, mas não é o que me mantém lá.
Se eu tivesse que adivinhar, era respeito pela perseverança de Raphael.
Raphael, um werehiena, ou bouda como eles preferem ser chamados,
amava Andrea além de toda razão. Ele a cortejou durante meses—inédito
para um bouda—e se recusou a desistir até que ela finalmente o deixou
123
entrar em sua vida. O fato de que ele era o filho de Tia B, a alfa bouda, fez
as coisas complicadas, mas nem Raphael nem Andrea pareciam se
Página
importar.
Andrea sorriu. — Quando estou com ele, posso me sentir ficando
melhor. É como se ele estivesse pegando pedaços de mim e colocando de

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volta juntos, e nem sei como ele está fazendo isso. Nunca falamos sobre
isso. Nós não vamos à terapia. Ele só me ama e isso é o suficiente.
— Estou feliz por você, —eu disse a ela e quis dizer isso.
— Obrigada. Eu sei que você vai dizer para eu me foder, mas acho
que Curran te ama. Realmente te ama. E eu acho que você ama ele
também, Kate. Isso é raro. Pense nisso—se ele realmente te deu o bolo, por
que ele ficaria chateado com a coisa toda? Ambos podem ser idiotas de
primeira ordem, portanto, não deixe os dois jogarem isso fora. Se você vai
se afastar dele, pelo menos, vá embora sabendo o quadro inteiro.
— Você tem razão. Vá se foder. Eu não preciso dele, —disse a ela.
Andrea suspirou calmamente. — Claro que não.
— Mais chá?
Ela assentiu. Eu lhe servi outra xícara e bebemos na minha cozinha
tranquila.
Mais tarde, ela saiu.
Peguei um pequeno prato do balcão, piquei meu braço com a ponta
da minha faca e deixei que algumas gotas vermelhas caírem no prato. Meu
sangue estava cheio com magia. Ele corria apenas para além da superfície.
Eu empurrei-o.
O sangue se moveu, obedecendo a minha chamada, crescendo em
agulhas de polegada de comprimento e, em seguida, desintegrando-se em
pó. As agulhas duraram meio segundo? Talvez menos.
124
No final dos Jogos da Meia-noite, quando eu estava morrendo em

uma gaiola dourada, meu sangue era como uma extensão de mim. Eu
Página
poderia torcer e moldá-lo, dobrá-lo à minha vontade, solidificando

novamente. Eu me esforcei para replicá-lo durante semanas e tinha
recebido nada. Eu tinha perdido o poder.

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O sangue era a maior arma de Roland. Eu não apreciava a perspectiva

de enfrentar Hugh d'Ambray sem isso.
O poodle de ataque olhou ansiosamente para mim. Lavei o sangue
pelo ralo, sentei no chão, então ele podia estar ao meu lado e acariciar suas
costas raspadas. Se eu fechasse meus olhos, me lembraria do perfume de
Curran. Na minha cabeça, ele me agarrou e girou ao redor, me protegendo
com seu corpo tremendo sob o impacto de cacos de vidro.
Sentia-me terrivelmente sozinha. O poodle deve ter sentido porque
colocou a cabeça na minha perna e me lambeu uma vez. Não ajudou, mas
eu estava grata mesmo assim.
CAPÍTULO 09
UM BARULHO DE MASTIGAÇÃO CORTOU MEU SONO. MEUS olhos se

abriram.
Pedaços de lixo estavam espalhados por todo o meu tapete, ao lado de
uma lata de lixo virada. No meio disso, o poodle de ataque metodicamente
devorava meu lixo. Enquanto eu assistia, ele rasgou um pedaço de uma
casca de batata, levantou seu focinho para o teto, mastigando-o com um
125
êxtase de nirvana impresso em sua cara e curvando-se para mais. Uma

substância negra manchava suas patas e focinho. Tinha que ser tinta. Julie
tinha ficado gótica um par de meses atrás. Quando não estava no internato,
Página
ela ficava comigo. Ela escolheu a biblioteca como seu quarto e a deixei
pintar de preto. O poodle tinha encontrado a lata de tinta.
— Você está tão morto.

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Nhac, nhac, nhac.

A onda mágica ainda estava em alta e meu apartamento estava muito
frio. Eu tinha dificuldade em dormir com calças de moletom—algo sobre
suar sob um cobertor simplesmente não combinava comigo—mas esta
manhã eu definitivamente me arrependi da minha decisão. Meus dedos
estavam tão frios, que era uma maravilha que eles não quebraram. Peguei
o cobertor, levantei da minha cama e coloquei minha mão contra a
ventilação. Nada. A caldeira do edifício estava na sua agonia de morte. Ela
foi cortada duas vezes no mês passado. Mesmo que todos os inquilinos
fizessem uma vaquinha, ainda não podíamos substituir essa porcaria.
Especialmente considerando que já tínhamos comprado carvão para o
inverno.
Isso me deixou com o plano B. Olhei para o outro lado de um pequeno
fogão a lenha, semi-coberto por pilhas de livros. Construir um fogo de
madeira agora parecia impossivelmente difícil, eu corajosamente deixei
cair o cobertor e puxei o suéter o mais rápido que pude.
Uma vez vestida, verifiquei a cabeça na geladeira. Ainda sem
decomposição. Esta investigação levou a noção de comportamento de
mortos-vivos "normal" para trás e estourou seus miolos com uma escopeta.
Caminhei para o cão, recolhi o lixo, o que demorou quase vinte
minutos e tentei o telefone. Som de discagem. Sem rima ou razão para isso,
mas não se olha um telefone de presente nos dentes. Liguei para o Casino
antes da linha telefônica decidir cair. Em dez segundos, Ghastek atendeu.
— Espero sinceramente que tenha notícias, Kate. Tem sido uma longa
126
noite e eu estava descansando.

Isto foi provavelmente a coisa mais estúpida que eu poderia ter feito,
Página
mas eu não tinha idéia de quem mais perguntar. — Você está

familiarizado com o ritual Dubal?

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Houve uma pequena pausa antes de ele responder. — É claro. Eu já fiz

isso várias vezes. No entanto, estou surpreso que você está ciente dele.
Não me perguntou como eu sabia disso, mas ele deveria estar
morrendo de curiosidade. Ninguém além da ex-mulher do meu tutor sabia
que eu era capaz de pilotar mortos-vivos. O ritual Dubal necessitava uma
grande quantidade de força bruta e um monte de conhecimento. Ghastek
me via como uma marginal. A ideia de que eu era capaz disso nunca
atravessaria a sua mente e é assim que eu preferia. — O que causaria
fracasso no ritual?
— Descreva a forma do fracasso.
— Em vez da identidade ou localização do antigo navegador do
morto-vivo, a pessoa que faz o ritual viu-se no sangue.
Ghastek sussurrou para si mesmo por um longo suspiro. — O ritual
Dubal levanta a imagem da mente do navegador do cérebro do morto-vivo. O
fluxo sanguíneo da cabeça não é central para o ritual; na verdade, qualquer
superfície escura vai servir. O fundo escuro simplesmente faz a imagem se
destacar. Se você olhar fixamente por alguns segundos em uma lâmpada, então
fechar os olhos ou olhar para um objeto escuro, você verá o contorno de
incandescência da lâmpada. Este fenômeno é chamado de pós-imagem
negativa. O mesmo princípio se aplica aqui, exceto que a imagem é adquirida
a partir da pegada mental deixada no cérebro do morto-vivo.
Eu arquivei essa informação para referência futura. — Aham.
— Existem dois fatores que poderiam causar o praticante ver a si mesmo.
127
Um, tinha passado muito tempo ou o morto-vivo não tinha sido pilotado. Quão
rápido foi o ritual realizado?
Página
— Dentro de duas horas após a morte.

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— Hummm ... Então, o lapso de tempo não deve ser um problema. Fui
capaz de puxar uma imagem razoavelmente decente seis horas após o término
do morto-vivo. Neste caso, ficamos com a segunda possibilidade: a vontade do
navegador era muito mais forte do que a do praticante. Se o navegador percebeu
que o morto-vivo estava prestes a ser finalizado, ele ou ela pode ter enviado uma
onda mental. Nós chamamos isso de cauterização. Um cérebro grelhado é difícil
de ler. Levantar a imagem torna-se uma questão de força bruta, ao invés de
habilidade. Há uma possibilidade que o navegador é muito mais forte que o
praticante?
— Improvável. —Eu tinha um pouco de habilidade, mas no
departamento de energia bruta colocada, eu explodiria mesmo Ghastek
fora da balança.
— O que quer dizer?
— Eu sei o quão poderoso é o praticante.
— Então, isso é alguém que você conhece pessoalmente?
Gelo fino. Prossiga com cuidado. — Sim.
— Eu devo entender que você estava na posse de uma cabeça de morto-
vivo e você não me chamou para identificação?
— Sim. —Oh, garoto.
O silêncio reinava. — Há quatro pessoas em Atlanta, além do pessoal da
Nação, capaz de realizar o ritual Dubal. Eu tenho seus números na minha
frente. Dos quatro, Martina é a melhor, mas ela não pode me alcançar e
128
corresponder em fineza ou poder. Por que você usaria outra pessoa que não eu?
— Eu tive minhas razões.
Página
— Eu estou esperando para ouvi-las.

— Prefiro mantê-las para mim.

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Livro 4
— Você me desapontou.
Eu fiz uma careta. — Porque com você seria diferente?
— Era uma cabeça de vampiro?
Isso não iria mais além. — Não.
Mais silêncio. Finalmente, ele suspirou. — Você ainda tem isso?
Se eu lhe levasse a cabeça, ele levantaria minha impressão da sua
mente. — Ele se decompôs.
Ghastek suspirou novamente. — Kate, você tinha um único espécime de
morto-vivo e você já me negou a oportunidade de examiná-lo. Em vez disso, o
levou a um hack32, que é obviamente ignorante dos princípios básicos da
necromancia; caso contrário nós não estaríamos nesse telefonema. Espero que
você não vá cometer o mesmo erro no futuro. Há mais alguma coisa?
— Não.
Um sinal de desconexão buzinou no meu ouvido.
Olhei para o poodle. — Acho que feri os sentimentos dele.
Esta petição estava ficando complicada depressa. De um lado, Mary
Steel atacou os metamorfos. Do outro lado, magos mortos-vivos tentaram
queimar o Casino e a Associação. Não pareciam conectados, exceto que
tanto Mary Steel quanto os mortos-vivos atacaram a Associação.
Talvez Roland tenha declarado guerra contra o Bando e teríamos uma
enxurrada de caçadores de recompensas que pensava que poderiam
129
derrubar os metamorfos. Mas então o ataque no Casino não fazia sentido.

O telefone tocou. Eu peguei. — Kate Daniels?
Página
32
é um termo usado na computação que refere-se à reconfiguração ou reprogramação de um sistema de função de forma que não
autorizada pelo proprietário. (Hackeado) Contar ou limpar.

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— Sou eu, —disse Curran. — Eu ...

Eu desliguei.
O telefone tocou novamente. Eu desliguei ele da tomada da parede.
Falar com Curran estava além de mim no momento.
QUANDO ENTREI NO MEU ESCRITÓRIO, A MAIOR PARTE DO café já

havia desaparecido e o que restava cozinhou em uma fermentação de
xarope que cheirava tóxica e provava veneno. Tomei uma caneca.
Também roubei um donut amarelo pequeno da caixa de Duncan na sala
de recreação e alimentei o poodle de ataque em meu escritório. Ele fez uma
grande produção disso. Primeiro, ele rosnou para o donut, só para mostrar
que quem era o chefe. Em seguida, cutucou-o com o nariz. Então ele
lambeu, até que finalmente pegou em sua boca e mordeu com grande
prazer, deixando cair migalhas por todo o tapete. Observá-lo comer me fez
sentir melhor, mas apenas por enquanto.
Mauro entrou no meu escritório, carregando uma grande caixa de
papel rebocada com fita adesiva. O poodle rosnou e mostrou os dentes.
Mauro sorriu. — Ele é um cãozinho tão bom. Tão feroz.
— Ele tem uma paixão louca por lixo.
130
— Ele provavelmente viveu nele por um tempo. Já escolheu um

nome? —Mauro colocou a caixa sobre a mesa.
— Não.
Página
— Você deve nomeá-lo Beau. Beauregard. Ele se parece com Beau.

De qualquer forma, isso veio para você de Savannah.

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— Obrigada.
Ele saiu e eu verifiquei o manifesto de envio. Evidências referentes a
Savannah Mary #7, também conhecido como Mary Steel, aka o cara com a
capa. Ah bom.
Estendi a mão sobre ele para levantar a pilha de papelada para fora, e
meus dedos roçaram algo sólido. Hmm. Eu arrastei-o para a luz. Uma caixa
de chumbo, quinze centímetros de comprimento, dez centímetros de
largura e sete centímetros de profundidade.
No comércio de magia, as pessoas muitas vezes se referiam a chumbo
como ouro preto. Ouro, sendo um metal nobre, era inerte. Não enferruja,
mancha, corrói ou decai, e a maioria dos ácidos não tinha efeito nenhum
sobre ele. Magicamente, liderava o ouro imitado. Resistia a encantamento,
ignorava barreiras de proteção e absorvia mais mágica das emissões sem
sofrer quaisquer consequências.
Uma caixa de provas de chumbo tinha que conter algo bacana. A
pequena etiqueta no seu canto afirmava, prova A, MARY#14, 9 de outubro.
Eu cavei na papelada. 5 de outubro, 8 de outubro ... 9 de outubro. Aqui
está você.
Eu me empoleirei na quina da minha mesa e verifiquei o relatório.
Mary Steel fez o seu jogo no último andar do Barbwire Noose, um buraco
de bebidas na extremidade sul de Savannah. O dono do Barbwire Noose,
Barbara ‘Barb’ Howell, relatou um homem peludo e de dois metros e dez
de altura que atravessou a porta, vestindo apenas uma capa esfarrapada e
o que ela descrevia como uma bermuda de couro. Barb comunicou a sua
131
recusa em servir o intruso, nivelando com uma espingarda Remington 87033

de bomba de ação ao homem, acompanhado por ‘sem camisa, sem sapatos,
Página
sem serviço’.
33

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Eu já gostava de Barb.
O homem riu. Neste ponto, o segurança cabeça decidiu se envolver.
O homem colocou a cabeça do segurança no balcão de madeira, o que
indicava a Barb que ela devia usar sua espingarda. Infelizmente, a onda
mágica surgiu e a arma falhou. O homem confiscou a arma e bateu Barb
na cabeça com isso. Sua lembrança dos seguintes eventos parecia
compreensivelmente turva.
Um dos fregueses regulares, um Ori Cohen, vinte e um anos, levantou
de sua cadeira e ergueu um medalhão para o homem peludo. De acordo
com a Barb, o homem "grunhiu como um cachorro" e recuou. Ele
continuou a retirar-se e Barb pensou que Ori iria "colocá-lo para correr".
Infelizmente, uma pessoa alta em uma capa entrou no bar pela porta dos
fundos e cortou o pescoço de Ori com um machado. O homem peludo
então começou a demolir o lugar, enquanto o segundo intruso assistiu.
As descrições eram vagas, na melhor das hipóteses. De acordo com
Clint, o segundo em comando de Barb, o primeiro homem era um "filho
da puta gigante, com olhos brilhantes ... as veias em seus braços do tamanho
de cabos elétricos". Não é exatamente uma descrição de qualidade. "Oi, eu
gostaria de ter um APB34 sobre um gigante filho da puta ... "
O segundo homem foi descrito como alto. Ninguém viu seu rosto.
Por causa da altura incomum e a situação quase nua do intruso, o
incidente foi classificado como um possível avistamento de Mary Steel.
Mary Steel atingiu Savannah na noite anterior, e o Biohazard de Savannah
preferiu errar no lado da cautela.
132
O relatório veio equipado com várias fotografias. As espalhei sobre a

mesa. Ori, um homem magro, pequeno, enrolado em uma bola no meio
Página
de um chão coberto de lixo. A segunda imagem mostrava o corpo de
34
"all points bulletin (apb)" Essa expressão é utilizada pela polícia americana ao enviar um aviso para várias delegacias, contendo
informações sobre um suspeito, veículo roubado ou pessoa desaparecida. Notificação de alerta; Notificação sobre suspeito/risco.

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costas. O rosto de Ori olhou bem para a câmera, sua bochecha

descansando em uma poça de sangue. Ele olhou para mim com olhos
mortos leitosos. Seu rosto estava barbeado, estreito, e surpreendentemente
jovem.
Apenas uma criança, na verdade. Um garoto que viu um valentão, o
enfrentou e foi esmagado. Os mocinhos nem sempre ganham.
A terceira foto mostrava a caixa de ferramentas de Ori, dobrada
ordenadamente sob o bar. De alguma forma, sobreviveu à destruição.
Dentro da caixa continha cinzéis e colher de pedreiro, empilhados, limpos
e organizados. Uma pequena caixa de vime amarrada com um arco rosa
estava embaixo das ferramentas. Abri a caixa. Morangos mergulhados
com chocolate.
Os pedreiros ganhavam um bom dinheiro, mas ele mal tinha idade o
suficiente para ser um trabalhador qualificado. O chocolate era caro e os
morangos estavam fora de temporada. Ele deve ter economizado por
semanas para comprá-los. Provavelmente planejava dar-lhes a alguém
especial. Em vez disso, ele acabou no chão imundo, descartado como um
pedaço de lixo.
— Nós temos que encontrar esse bastardo, —disse ao poodle de
ataque. — Nós o encontraremos e então eu vou machucá-lo.
Folheei a pilha de fotos. Um close da mão de Ori. Uma corrente de
prata quebrada sobre seus dedos. Essa coisa deve estar associada a isso.
Um amuleto, um ídolo, talvez um encanto de algum tipo ... Algo que fez
Mary recuar.
133
Folheei o relatório até a entrevista de Barb. Esse espelhava o resumo

do relatório até chegar ao "Sem camisa, sem sapatos, sem serviço".
Página
Barbara Howell afirmou que o homem peludo riu como uma mulher.
O telefone gritava para mim. Eu o peguei. — Kate Daniels?

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— Estou farto deste jogo, —rosnou Curran.

Eu apertei o botão de desligar e pressionei a extensão de Maxine. —
Maxine, se ele ligar de novo, por favor, não transfira ele.
— Querida, era o Senhor das Feras.
— Sim, eu sei. Por favor, bloqueie suas chamadas.
— Muito bem.
Olhei para trás no papel. O homem peludo riu como uma mulher.
Como o mago morto-vivo.
Porque diabos Curran estava me ligando de qualquer maneira?
Eu peguei o telefone e disquei o número de Christy. Christy era minha
vizinha mais próxima—ela vivia apenas alguns minutos na estrada da
minha casa perto de Savannah. Ela atendeu ao primeiro toque.
— Ei, é a Kate. Como está?
— Estou bem e você?
Eu lamentaria isso mais tarde. — Preciso de um favor. Pode subir
para minha casa e ver se há um bilhete em qualquer lugar em minha
porta?
Um mês havia passado. A menos que ele o prendeu sob a porta de
tela, que tinha os painéis de vidro, mesmo se a nota estivesse lá, ela estaria
longe.
134
— Claro. Eu vou ligar em alguns minutos. Seu número do trabalho,

certo?
Página
— Não, meu apartamento é melhor. Obrigada.

Desliguei. Mesmo se houvesse um bilhete, nada mudava. Nada
mesmo.

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Se o homem grande e peludo, que atacou o bar de Barb riu como uma
mulher, e se o segundo intruso fosse Mary Steel, significava que eles
estavam jogando no mesmo time. Era uma nova facção tentando esculpir
um território em Atlanta? Argh. Quanto mais fundo eu cavava, mais
confuso ficava.
Voltei para as fotos de evidências. Uma imagem ampla do bar. O
interior do Barbwire Noose foi destruído. Tudo foi quebrado. Cadeiras
estilhaçadas. Mesas esmagadas. Vidro quebrado. Buracos nas paredes.
Destroços torcidos e desordenados do que pode ter sido uma mesa de
bilhar em algum momento. A definição de "fúria" no dicionário teria essa
foto debaixo dela.
Uma das imagens capturou um amuleto, fotografado nos restos de
madeira. Cinco centímetros de comprimento, o amuleto se assemelhava a
um pergaminho de prata oco com um pedaço de papel espreitando de um
lado. Era um amuleto comum: o pergaminho continha um pedaço de papel
ou pergaminho com um feitiço protetor. A legenda da foto dizia: VEJA
PROVA A.
Eu abri a caixa de chumbo. Por dentro, em um pequeno saco de
plástico, estava um pedaço de pergaminho. Era de cinco centímetros de
largura e cerca de dez centímetros de comprimento, com bordas amarelas
esfarrapadas que foram dobradas e rasgadas muitas vezes. Eu o virei.
Em branco.
Só uma vez, só uma vez eu teria gostado que a prova não me faria
passar por um calvário.
135
A anotação afirmava que o pergaminho foi encontrado dentro do

amuleto e estava em branco. Ai. De acordo com o relatório, Ori morava
Página
sozinho. Um dos carpinteiros com quem trabalhou afirmou que Ori tinha
medo de ficar doente e carregava o amuleto como uma proteção contra

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doenças. Ela não sabia que tipo de magia continha ou como ele o
conseguiu.
Eu cavei até encontrar o relatório do laboratório. Tinha ido com a
ambição de ser—E o vento levou—tinha pelo menos dois centímetros de
espessura. Comecei com o primeiro teste. Todas as provas tinham que ser
rotineiramente m-digitalizada. O m-scanner pegava vestígios de resíduo
mágico e gravava como cores: azul para humanos, vários tons de vermelho
e roxo para mortos-vivos e verde para a maioria dos metamorfos, o m-scan
do meu pergaminho estava em branco, também. Adorável.
O próximo item foi intitulado "Teste de emissão de Franco (TEF)". Eu
não tinha a mínima ideia o que era.
Eu puxei um volume de referência de procedimento de laboratório
mágico da prateleira. Aparentemente TEF envolvia colocar o objeto de
interesse em uma folha branca de papel, expondo-a ao canto intenso ou a
um item emitindo magia pesada e em seguida m-digitalizando. Se o objeto
testado não tivesse nenhum encantamento, isso iria saturar com magia,
apenas por alguns momentos, o suficiente para ser captado pelo m-scan. A
cópia do pós-TEF m-scan mostrou um pedaço azul pálido de papel com
um espaço em branco no pergaminho de tamanho agradável no meio. O
pergaminho tinha um encantamento. Certamente, um dos testes ia mostrar
isso.
Trinta minutos depois eu tinha aprendido muitas curiosidades inúteis
sobre o que os entediados magos do PAD de Savannah faziam por
diversão. Suas conclusões depois de dezessete testes sobre o pergaminho
136
elevaram-se a: está em branco, é mágico, não sabemos o que é e não

podemos lê-lo. Adeusinho.
Página
Alguma coisa boa tinha que estar sobre o pergaminho, algo que fez
Ori arriscar sua vida por isso. Peguei o saco e o segurei até a janela,
deixando a luz brilhar. Nada além de grãos de pergaminho.

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Uma porta bateu a esquerda, seguida de passos pesados ecoando pelo

corredor. O cavaleiro-protetor entrou no meu escritório, rosnou para meu
poodle de ataque e se sentou na minha cadeira de cliente. Madeira e metal
gemeram, aceitando o seu peso. Ted me olhou com seu olhar plano. — O
que você tem?
CAPÍTULO 10
— VOCÊ NÃO TEM MUITO, —TED DISSE DEPOIS QUE EU O atualizei sobre
o meu caso.
— Eu tive o caso por trinta e seis horas.
— Trinta e oito. —Ted inclinou-se e olhou para mim com seus olhos
de chumbo.
Ted tinha uma predileção por roupas de cowboy. Hoje, ele usava calça
jeans, botas de couro e uma camisa turquesa com patches pretos sobre os
ombros, cada patch bordado com uma estrela branca do Texas. Ted
Moynohan, canalizando um ladrão de gado no baile de formatura.
O problema era que o cavaleiro-protetor tinha cerca de quarenta quilos
a mais para a roupa. Não era gordo, mas largo no peito e carregando o
137
começo de uma barriga, Ted tinha a compilação de um boxeador peso

pesado envelhecendo. Ele não subia uma escada para se divertir, mas se
Página
você batesse a porta na cara dele, ele iria golpear e te derrubar com o
mesmo golpe.

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Apesar da roupa, estar na extremidade receptora desse olhar era como

perscrutar a boca de uma arma calibre 45 com a trava de segurança. Eu me
perguntei o que ele faria se eu começasse a gritar e desmaiasse.
Sua voz era baixa, quase preguiçosa. — Qual é a diretriz principal da
Ordem?
— Garantir a sobrevivência da raça humana.
Ele assentiu. — Mantemos a ordem. Podemos forçar monstros para
coexistir. Asseguramos a paz. Quarenta e oito horas atrás, esta cidade
funcionava. Enquanto nós nos sentamos aqui, a Nação está paranoica de
que alguém tenha melhores mortos-vivos do que eles e venha atrás da sua
fatia do bolo. Os metamorfos estão ponderando sua própria mortalidade e
imaginando seus filhos morrendo de epidemias. Os mercenários estão
furiosos porque o líder da Associação teve sua cabeça cortada fora.
Biohazard quer declarar uma quarentena na cidade e PAD está
espremendo todos os sem-teto numa capa suja. A cidade está indo para o
inferno. Você sabe o que acontece quando policiais, bandidos e monstros
ficam com medo?
Eu sabia. — Eles param de jogar legal.
— Devemos restaurar a ordem. Temos que acalmar Atlanta a
qualquer custo, ou ela vai ferver com pânico e caos. Se eu tivesse um
cavaleiro feminino mais competente do que você, com melhor experiência
e um histórico mais longo, tiraria você fora desta petição e daria a ela.
O que Andrea é, fígado picado? — Obrigado pelo voto de confiança.
138
— Atribuir esta petição para um homem está fora de questão. Eu

tenho que confiar em um desistente da Academia com um problema de
disciplina e uma boca grande.
Página
Eu queria pular em cima da mesa e chutá-lo na boca. — Meu coração

sangra em simpatia.

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Livro 4
Ted me ignorou. — Você tem todo o poder do capitólio de Atlanta

atrás de você. Conserte essa bagunça. O que você precisa para isso
acontecer?
O desejo de tirar o meu ID e entregar para ele era tão forte, eu tive que
lutar para não tocar o fio em volta do meu pescoço. Aqui, você lide com isso.
Você tenta correr ao redor com o peso de uma possível pandemia que o acompanha,
você carrega a responsabilidade pelas pessoas que morrem, e eu vou sentar e lhe dizer
onde você está falhando. Um ano atrás eu poderia ter feito isso. A memória
do corpo amassado de Ori apareceu diante de mim. Mas, novamente,
talvez não.
Eu esmaguei meu orgulho em uma bola, sentei nele e arranquei o
estojo de chumbo da caixa de provas. — Este é o pergaminho que o
impediu antes. Preciso saber o que estava escrito nele. Preciso saber o que
o machuca, e quem ele é.
— Você precisa de um especialista.
Assenti. — Eu quero levá-lo para Saiman.
— O poliforma. Ele se recusa a trabalhar com a Ordem.
— Ele é o melhor, —pervertido narcisista, depravado sexual, hedonista
ganancioso, — especialista na cidade. Não temos tempo para importar mais
ninguém e o PAD de Savannah esgotou todas as possibilidades de teste
padrão. Dado o incentivo financeiro adequado, estou confiante que
Saiman trabalharia comigo.
— Quão confiante?
139
— Muito confiante. —Ele quer entrar em minhas calças e eu estive jogando

suas flores fora. Ele ficaria muito feliz se eu ligasse. — Mas ele não é barato.
Página
Ted escreveu algo e colocou na minha frente: U$100.000. Era uma soma
exorbitante, mesmo para Saiman. — Este é o seu limite. Chame-o. Agora.

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Ele não mostrou nenhum sinal de movimento na cadeira, tornando

claro como cristal: ele não acreditava em mim.
Peguei o telefone. Saiman respondeu no segundo toque.
— Kate, —uma voz masculina familiar soou no receptor. — Eu pensei
que você tivesse me esquecido.
Ugh. — Não, somente evitando. —Eu o coloquei no viva-voz.
— Você é tão contundente como sempre. Devo nos salvar algum tempo?
Você está ligando porque as entranhas de Solomon Red saíram de seu corpo e
tentaram infectar o abastecimento de água da cidade.
— Sim. —Isso era esperado. Saiman lidava com informações, ele
pagava bem e mercenários estavam sempre sem dinheiro.
A voz dele poderia ter derretido manteiga. — Você precisa de meus
conhecimentos?
— A Ordem requer sua experiência.
— Ah, mas eu não trabalho para a Ordem. —Ele riu. — Eles são legais
demais para o meu gosto.
— Desculpe por incomodá-lo, então. Eu pensei que você pudesse
estar interessado. Eu estava errada.
— Mas eu vou trabalhar para você. Nos meus termos.
Aqui vamos nós.
140
— Na verdade, eu estaria animado em trabalhar com você. Sua chamada

não poderia ter vindo em melhor hora.
Página
Ele parecia muito feliz. Isso me custaria caro.

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— Vamos às coisas mais simples primeiro, —afirmou Saiman. — Para

facilitar a contabilidade, sua e minha, vou exigir uma taxa fixa de 50 mil
dólares pelos meus serviços.
— É um número bem grande.
— Eu sou um consultor bem caro.
— Trinta mil.
— Oh, por favor, Kate, não regateie. Ted Moynohan provavelmente
autorizou o dobro desse valor. Eu sei disso porque ele me ligou esta manhã e
me ofereceu 50 mil para uma consulta sobre o caso. Eu recusei, é claro, tendo
em conta que não gosto dele pessoalmente e encontro o fanatismo da Ordem
asfixiante.
O rosto de Ted era duro como granito.
Ele foi pelas minhas costas. Minha memória mostrou Mauro,
trazendo-me a caixa de provas. Por que Mauro iria trazer isso? Todos os
pacotes iam direto à mesa de Maxine e nenhuma vez eram levados para
mim. A menos que o pacote estivesse no escritório de Ted e ele o mandou
trazê-lo.
Ted tinha ido atrás das minhas evidências e em seguida sentou-se lá
com uma cara séria enquanto eu recapitulava minhas descobertas.
— Kate? —A voz de Saiman solicitou.
Peguei minha xícara de café e agitei com uma colher. Li em algum
lugar que fazer pequenos movimentos repetitivos como mexer ou rabiscar
141
ajudava a reduzir o estresse e eu precisava reduzir meu estresse ou iria

entrar em erupção e quebrar em Ted Moynohan como uma tonelada de
Página
tijolos. — Eu estou pensando.

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Livro 4
— Notou que seu criminoso não tem como alvo mulheres? Elas possuem
uma imunidade natural ao seu poder ou ele simplesmente não sente que elas
são uma ameaça.
— Eu tenho notado.
— Então você deve perceber que as opções de Moynohan consistem em
você e Andrea Nash. Moynohan despreza Nash—eu não tenho certeza do
porquê, mas tenho certeza que vou descobrir eventualmente—então você é a
única solução viável. Na verdade, não ficaria surpreso se ele estiver sentado em
seu escritório agora ouvindo a conversa, só assim ele pode estar certo em
garantir minha cooperação. Suas costas estão contra a parede, Kate. Nestas
circunstâncias, uma taxa de 50 mil é um presente. Aceite graciosamente.
A colher dobrou sob a pressão dos meus dedos. Eu tirei de lá e comecei
a dobrá-la com ambas as mãos, para trás, para frente e para trás.
— Muito bem, —disse. — Você será pago com a quantia de
cinquenta mil dólares quando tivermos provas conclusivas de que
Mary Steel está morta ou presa.
— Ou partido para além de sua jurisdição. Não aprecio a perspectiva de
persegui-la por todo o país.
Eu dobrei a colher um pouco mais. — De acordo. Qual é o preço real,
Saiman?
— Você irá acompanhar-me a um evento, Kate. Vai ser uma função
pública, você vai usar um vestido de noite, e vai estar em exibição no meu braço.
142
Pense nisso como um encontro.

A colher quebrou em minhas mãos. Eu a joguei na lata do lixo. — A
Página
última vez que tentamos isso, fiquei coberta de sangue demoníaco.

— Eu garanto que você estará perfeitamente segura. Na verdade, a função
em questão ocorre em uma das localizações mais seguras em Atlanta.

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— Não é minha segurança que me preocupa. É a sua companhia.

Você parece muito alegre com a perspectiva de me exibir. Existe um
motivo?
— Há sempre um motivo oculto, —Saiman assegurou-me. — ... Mas
tirando isso, acho sua presença maravilhosa.
Eu acho sua presença irritante.
Ele deu um suspiro exagerado. — Não quero forçá-la a uma relação
sexual. Eu quero te seduzir. Isso leva muito mais habilidade. Acho que eu
preciso de uma resposta. Sim ou Não.
— Sim. —A palavra provou viscosa, como se eu tivesse mordido uma
laranja podre.
— Você diz isso com tal aversão. Considero-me sortudo por estar fora de
seu admirável alcance no momento. Temos um acordo?
— Sim.
— Maravilhoso! Eu vou te buscar amanhã às 20:00h. Vou enviar o vestido
para sua casa. Ele vai estar lá pelas oito hoje à noite com um par de sapatos.
Você precisa de mais alguma coisa, meias, roupa íntima ...
Acompanhar seus desvios sexuais não estava na minha agenda num
futuro próximo. — Isso é um pouco em cima da hora. Estou um pouco
ocupada com um maníaco espalhando epidemia tentando derrubar a
cidade. Isso pode ser adiado?
143
— Absolutamente não. Tem que ser amanhã à noite ou nosso acordo acaba.
O que diabos era tão importante? — Tudo bem, mas eu estou usando
Página
as minhas roupas. —Não havia como dizer com qual roupa louca ele iria
aparecer.
— Eu garanto, o vestido que escolhi é requintado.

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— Talvez você devesse usá-lo. Tenho certeza que você vai ser a bela
do baile.
Saiman suspirou. — Você questiona o meu gosto?
— A última vez você me vestiu como uma princesa vietnamita. Eu
estou usando meu próprio vestido.
— Ter você usando o vestido certo é infinitamente importante para mim.
Estou correrrendo um grande risco.
— Meu coração sangra por você. Se você quisesse que eu usasse
seu vestido, você deveria ter colocado no nosso acordo.
— Eu proponho uma troca. —A voz de Saiman era suave como
chocolate derretido. — Você responde a minha pergunta, e eu vou deixar a
questão do vestido.
— Atire.
— Como você sempre me reconhece, independentemente da forma que eu
uso?
— Os olhos, —disse a ele. — Eles te entregam sempre.
Ele ficou em silêncio por um longo minuto. — Entendo. Muito bem.
Eu devo estar livre em cerca de três horas. Eu gostaria de começar minha
avaliação com a cena da última aparição de Mary Steel. Vou exigir a presença
de pelo menos cinco testemunhas.
— Isso vai ser arranjado, —disse-lhe. — Eu vou ver você na
144
Associação em três horas.

— Estou mudando meu rosto enquanto falamos. Adeus. —Ele conseguiu
Página
infundir a palavra com tanta insinuação que eu precisava de um pano para

limpar meu telefone.

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— Você passou pela minha evidência nas minhas costas.

Ele me tratou com a melhor personificação de uma estátua da Ilha de
Páscoa.
— Você não confia em mim.
O poodle de ataque rosnou, pontuando as minhas palavras. Eu olhei
para ele e ele se deitou.
Ted se inclinou para trás. — Eu não confio em você para não estragar
as coisas. Você não aprende rápido e não tenho tempo para ensinar você,
então eu deixo você em uma coleira curta.
A raiva constante dentro de mim explodiu em uma fúria cheia. Eu
trabalhei duro. Eu puxei meu próprio peso. Eu tinha ganhado alguma
porra de confiança. — Não posso trabalhar se você ficar por cima do meu
ombro.
— E esse é o seu problema, Daniels. Você tem um ego. Todos os dias
você entra neste escritório como se você o possuísse. Como se o merecesse.
A verdade é que você não podia ir longe na Academia. Você não tem a
educação e a disciplina necessária para o trabalho. Você não é um
cavaleiro, e nunca será. Você ainda tem que me provar que você vale algo.
— Eu provei isso.
— Você lutou nos Jogos da Meia-noite e levou Nash a isso.
Olhei para ele.
— Vocês realmente acharam que você poderia lutar frente a centenas
145
de testemunhas e não iria voltar para mim?

— Foi necessário.
Página
Ted se levantou. Sua voz caiu, — O mundo está cheio de monstros.

Eles são mais fortes que nós. Eles têm a melhor magia. A única razão
porque nós, humanos, permanecemos no topo é por causa de nossos

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números e porque os monstros nos temem. Essa é a ordem das coisas. É

assim que sempre foi e é assim que deve permanecer. Você sabe o que são
os Jogos da Meia-noite? Eles são uma maneira para os monstros fazerem
os humanos de presa. Continuar a nos verem morrer na areia, e em breve
eles terão uma ideia que nós somos comida e é fácil nos derrubar. Eles vão
parar de nos temer e lançar este mundo no caos. E você entrou no ringue
e lutou ao lado de monstros. Você traiu tudo o que a Ordem representa.
Você fodeu tudo.
— Eu lutei ao lado de metamorfos.
— Os metamorfos são barris de dinamite, prontos para ir à loup a
qualquer momento. Eles não são humanos. É conveniente para nós deixá-
los pensar que são humanos, por enquanto, mas no final, não há nenhum
lugar para eles na nossa sociedade. Eles devem ser mantidos separados.
O mundo deslizou em clareza cristalina. Eu estava a um fio de pegar
minha espada e esculpir uma nova boca na garganta de Ted. — Então você
iria exilá-los. Seriam reservas ou campos de trabalho?
— Eu iria removê-los do quadro totalmente. Eles são uma ameaça
para nós. Eles podem nos matar e nos infectar. Para sobreviver, temos de
manter nosso domínio.
Ele exterminaria os metamorfos. Ele mataria todos eles. Vi isso em
seus olhos.
Ted se endireitou. — Te dei uma oportunidade de adicionar
significado para sua vida. Você acha que entrou porque é boa. Não. Eu dei
146
a você, porque eu respeitava Greg Feldman. Ele foi um dos meus melhores,
e para honrar sua memória, tive a certeza de que você não envergonhasse
o nome dele. E sempre que você se esquecer, ou esquecer nossa missão e
Página
começar a pensar que você é uma merda quente e que você sabe mais,
venha me ver e eu vou colocá-la em linha reta.
Ele se virou.

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Livro 4
Eu exalei a raiva lentamente. — Ted.

Ele parou, presenteando-me com suas costas largas.
— Quando você anda com um cachorro na coleira, ele está perto o
bastante para mordê-lo. Tenha isso em mente.
Ele saiu. Eu girei para a janela, tentando conter a vontade de quebrar
alguma coisa. Nos Jogos da Meia-noite, quando eu rodeei a areia com
Hugh, ele me perguntou por que eu recebia ordens de pessoas mais fracas
do que eu. Naquela época eu tinha uma resposta. Ela escapou de mim e
agora estava tentando agarrar em minha memória, porque eu precisava
muito disso.
Eu tinha que matar Mary Steel. Era pessoal agora, e eu iria terminar
isso. Mas eu conseguiria rastrear Mary por conta própria, sem ajuda da
Ordem. Eu tinha que pegar Saiman para analisar meu pergaminho e então
eu poderia deixar a Ordem. Isso faria eu me sentir bem.
Se eu fosse embora, o caso iria para Andrea. Ted não tinha mais
ninguém. Se Mary Steel lançasse sua magia, a metade secreta de Andrea
poderia entrar em pânico e fugir. Melhor das hipóteses, a cidade iria
queimar em uma epidemia, e ela seria exposta e inicializada a partir da
Ordem. Pior caso, ela poderia ser confundida com um metamorfo loup,
caçada e morta.
Minha mente pintou um quadro sangrento do corpo bestial de Andrea
crivado de balas, com o PAD parado sobre ela. — Ela tinha ido loup. Eu
nunca havia visto nada igual. Tive que sacrificá-la.
147
Não.
Minha bagunça. Eu iria lidar com minha própria merda.
Página
O telefone tocou. Provavelmente era Christy. Eu peguei. — Kate

Daniels?

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— Estou presa na prisão do Condado de Milton, —disse Andrea. —

Venha me pegar.
CAPÍTULO 11
UM PAR DE HORAS MAIS TARDE, ENTREI NO ESCRITÓRIO DE BEAU

Clayton, carregando um longo pacote envolto em panos.
Beau sorriu para mim por trás de sua mesa. Em 1066, antigos saxões
conheceram noruegueses antigos em uma batalha sangrenta em Stamford
Bridge. A lenda dizia que os saxões surpreenderam seu inimigo, e quando
os noruegueses tentaram se reunir, um dos seus guerreiros, um gigante,
pisou na ponte e segurou-a por si mesmo, matando mais de quarenta
saxões, até que alguém inteligente o esfaqueou com uma lança longa por
baixo, através das tábuas da ponte. Olhando para Beau, eu poderia
imaginá-lo totalmente naquela ponte, balançando um machado gigante ao
redor. Robusto, dois metros, com os ombros que tinham problemas para
passar através da porta, o xerife de Milton tinha o rosto de um quebrador
de ossos. Ele estava sentado atrás de uma mesa marcada que estava
organizada como se sua vida dependesse disso. O único item fora do lugar
era uma grande lata. O rótulo da lata dizia: AMENDOIM VERDE COZIDO EM
148
CONSERVA.
Me sentei em uma cadeira na frente de sua mesa e coloquei o pacote
Página
em meu colo. — Amendoim cozido em conserva. Isso é empurrar as

coisas.

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— Com um nome como Beau, um homem tem que ter cuidado, —ele
disse. — Alguém pode confundir-me com um desses rapazes do Norte. Os
amendoins ajudam a evitar mal-entendidos.
Ele me passou a lata. Eu olhei para ele. Cartuchos de balas vazios.
— Toda vez que eu levo um tiro, eu coloco o cartucho na lata, —disse
Beau.
A lata estava pela metade cheia. Entreguei-o de volta para ele.
— A última vez que nos encontramos, eu disse que um dia você
precisaria de um favor de mim. —Ele estendeu seus braços enormes. — E
aqui estamos.
Nós tínhamos trabalhado no mesmo caso antes, eu do lado da Ordem
e ele do lado do xerife. Ele me pediu para lhe fazer um favor,
argumentando que um dia eu precisaria de um dele, e eu tinha concordado.
Você nunca sabe em cuja porta você pode ter que bater a seguir.
— O que Andrea fez?
Ele abriu uma pasta de papel pardo e olhou para ele. — Já ouviu falar
no Missão Paraíso?
— Não.
— É um hotel de alta classe. Construído como uma missão espanhola,
com o pátio projetado. O telhado é de vidro e mantêm a temperatura
agradável e constante.
— Como uma estufa.
149
— Basicamente. O pátio é um lugar muito bonito. Flores por toda

parte, uma piscina, banheiras de hidromassagem. A fuga favorita para
Página
casais ricos da cidade. Eu levei Erica lá uma vez. Custou um braço e uma
perna, mas valeu a pena. Tinha que estar na lista de espera por quatro
meses antes de chegarmos.

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Beau não estava com pressa. Gritar com ele só o faria diminuir mais,
então assenti com a cabeça.
— Pelo que entendi, sua garota estava hospedada no local com seu
companheiro. Tenho-o na cela ao seu lado. Agora, eu sou completamente
hétero, lembre-se disso, mas ele era provavelmente o homem mais bonito
que eu já vi.
Raphael. Deve ter sido a sua grande noite romântica. Ele
provavelmente reservou o quarto com semanas de antecedência.
— Aparentemente, ambos estavam na banheira de hidromassagem.
— Banheiras são nada além de problemas, —eu disse a ele.
— Oh, eu não sei. —Beau encolheu os ombros. — Com uma cerveja
e boa companhia, elas não são ruins. Relaxante. Calmante, até. Neste caso,
no entanto, eles não conseguiram ter o relaxamento desejado. A senhorita
Nash levantou-se para ir ao banheiro e pegar algumas bebidas. Quando a
senhorita Nash voltou, encontrou uma jovem mulher conversando com
seu companheiro. —Os olhos dele brilhavam um pouco. Ele fingiu
verificar seu relatório. — Aparentemente, a jovem em questão estava
seminua.
Ele deve ter esperado anos para usar isso em um relatório. —
Continue.
— De acordo com a equipe do hotel, o pobre homem tentou
desencorajar a femme fatale o melhor que pôde, mas ou ela era estúpida ou
realmente esperava levá-lo para um passeio. Depois de conhecê-la, eu diria
150
que as duas coisas.

Suspirei. Eu sabia onde isso ia.
Página
— Quando senhorita Nash se aproximou, seu companheiro informou

a fêmea seminua que a Srta. Nash e ele estavam juntos. Ele disse que a
fêmea avaliou senhorita Nash como "fofa".

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Eu baixei a minha cabeça e bati sobre a mesa algumas vezes.

As duas lagartas peludas que Beau usava como sobrancelhas subiram.
— Precisa de um minuto?
— Não, eu vou ficar bem. Desculpe.
— Parece que a jovem fez uma sugestão um pouco indelicada de um
ménage à trois. Ninguém está completamente certo do que aconteceu
depois, mas todos concordam que foi muito rápido. Quando cheguei lá, a
senhorita Nash estava de pé perto da banheira em um pequeno biquíni,
apontando o cano de uma SIG-Sauer P-226 para seu amigo e os
preocupados membros da equipe do hotel, enquanto mergulhava a cabeça
da fêmea seminua sob a água e perguntava, ‘Quem está mergulhando o
mechilhão agora, vadia?’
Minha dor deve ter refletido no meu rosto, porque Beau enfiou a mão
em sua gaveta e me entregou um pequeno frasco de aspirina. Eu coloquei
dois na minha boca e engoli, fazendo caretas contra a amargura. — Então
o quê?
— Bem, senhorita Nash e eu tivemos uma conversa. Apostei que ela
não iria atirar em um distintivo e ganhei a aposta. Ela não tinha nenhuma
ID—era um biquíni muito pequeno—então nós a convidamos, seu amigo,
e a parte lesada para serem nossos convidados aqui nesta cadeia adorável.
Passar a noite com a gente a acalmou.
Oh, garoto. — Ela não tinha nenhuma ID, mas tinha uma arma?
— Trouxe-o em uma toalha, pelo que eu entendi.
151
Por que eu não estava surpresa? — Ela é uma cavaleira.

— Eu percebi isso quando ela ligou para a Ordem.
Página

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Peguei o pacote do meu colo, colocando-o em sua mesa e

cuidadosamente desembrulhei os panos. Beau sugou o ar em uma
respiração afiada.
Uma linda espada estava deitada nos trapos.
— O Schiavona35, —eu disse. — A arma preferida dos eslavos da
Dalmácia, que serviram na guarda de Doge veneziano no século XVI.
Profundo punho cesta. —Tracei a teia de aranha brilhante de tiras de metal
enganosamente estreitas que formavam a guarda da espada—lâmina de
noventa e três centímetros, eficiente para corte e impulso. Uma verdadeira
espada de Ragnas Dream.
Eu virei o schiavona para o lado, deixando a luz da lanterna mágica
capturar o RD estilizado sobre o ornamentado punho. Ragnas Dream não
fazia espadas, ele criava obras-primas. O schiavona sozinho pagaria as
hipotecas em meu apartamento e a casa do meu pai em Savannah por um
ano. Greg, meu guardião falecido, tinha comprado há anos e pendurado
em uma parede em sua biblioteca, assim como se exibiria uma preciosa
obra de arte. Era o tipo de espada que fazia um pacifista ao longo da vida
procurar botas altas e um chapéu com penas.
O rosto de Beau adquiriu um tom esverdeado.
— Respire, Beau.
Ele exalou com pressa. — Posso?
Cada pessoa tinha uma fraqueza. Beau amava espadas. Eu sorri. Uma
vez que ele a tocou, eu o tinha. — Fique à vontade.
152
Ele levantou-se, pegou a espada suavemente, como se fosse feita de

vidro e deslizou sua grande mão em torno do cabo de couro. Ele levantou
Página
35
Schiavona e punho em cesta

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o punho da espada, admirando a lâmina de aço elegante. Uma profunda

serenidade tomou seu rosto. Beau golpeou, um movimento clássico
perfeito, fluido, elegante e preciso e tão completamente em desacordo com
o seu corpo enorme. — Cristo, —ele murmurou. — É perfeita.
— Ela nunca esteve aqui, —eu disse a ele. — Seu 'amigo' nunca esteve
aqui. Você não sabe os nomes deles e nunca os viu antes.
Beau era um policial muito bom, porque se fez colocar a espada para
baixo. — Você está tentando subornar um oficial da lei, Kate?
— Estou tentando apresentar a um oficial da lei um sinal de apreço
pelo delicado tratamento das questões de pessoal da Ordem. Cavaleiros da
Ordem estão sob muita pressão. Andrea Nash é um dos melhores
cavaleiros que eu já conheci.
Beau olhou para a schiavona. Um minuto estendeu-se por uma
eternidade.
Eu dei um sorriso largo. — Oh e mais uma coisa. —Eu estendi a mão
e toquei a opala translúcida na base do punho.
Três. Dois.
Um.
A espada cantarolou em harmonia perfeita, como um sino de prata.
Uma fina linha vermelha cresceu a partir do punho para baixo na lâmina,
ramificando-se em ondas como uma videira ornamentada até que
finalmente chegou à ponta. Beau ficou pálido.
153
— Lâmina encantada. Nunca precisa afiar ou lubrificar. Eu esqueci de

mencionar essa parte, —eu disse.
Página
Beau tirou seu olhar da schiavona. — Leve-os e certifique-se de que

eles não voltem.

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DEZ MINUTOS MAIS TARDE, ANDREA, RAPHAEL E EU saímos da cadeia

para um dia nublado e frio. Tanto Raphael e Andrea usavam os sacos de
batata laranja que se passavam por uniformes da prisão de Milton Jail.
— Agressão. —Eu contei em meus dedos. — Agressão com arma
mortal. Conduta imprópria de um cavaleiro. Comprometimento de civis.
Uso imprudente de arma de fogo em um lugar público. Resistência à
prisão. Estado de embriaguez e confusão.
— Eu não estava nem bêbada nem confusa. —Andrea apertou os
dentes.
— Não, tenho certeza que você estava afogando-a de uma maneira
completamente calma e profissional. Beau Clayton é um homem de
disparo certo. Você tem sorte de que ele não esvaziou sua arma na sua
cabeça. Você trouxe uma arma para a banheira de hidromassagem. Quem
faz isso?
Andrea cruzou as mãos no peito. — Não me incomode sobre as
minhas armas. Você arrasta essa espada para todos os lugares. A coisa toda
foi ideia dele. Eu queria ir em um fim de semana.
Eu olhei para Raphael. Ele me deu um sorriso deslumbrante. Se eu
tivesse alguma capacidade de desmaiar, eu teria atingido o chão como um
154
tronco. Alguns homens eram bonitos. Alguns eram sexys. Raphael era
escaldantemente quente. Não era tradicionalmente bonito, tinha olhos
azuis escuros, intensos e aquecidos de dentro por um incêndio que
Página
instantaneamente fazia pensar em lençóis e pele. Juntamente com seus

longos cabelos negros e o corpo tonificado, flexível de um metamorfo, o
efeito era chocante para todas as coisas femininas. Desde que ele era o

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coelhinho de mel da minha melhor amiga eu estava praticamente imune aos

seus poderes malignos, mas de vez em quando ele me pegava
desprevenida.
— Foi a única noite que estava disponível nos próximos seis meses,
—ele disse, — e eu tive que pedir um favor para obtê-lo.
Andrea acenou com as mãos ao redor. — E nós passamos isso em uma
cadeia. Você tem alguma ideia de como é difícil sair em público com ele?
Não podemos ir a qualquer lugar, não podemos fazer nada, porque ele é
atingido o tempo todo. Às vezes as mulheres se aproximam dele como se
eu nem estivesse lá.
— Eu simpatizo com você, mas você não pode afogá-las, Andrea.
Você é treinada para matar, e elas não. Não é uma luta justa.
— Foda-se o justo! Foda-se você e ele e o que quer que seja.
Ela se afastou.
Raphael estava sorrindo de orelha a orelha.
— Bem, você está levando isso bem.
Seus olhos brilhavam com um fraco brilho de rubi. — Frenesi do
acasalamento.
— O quê?
— Quando dois metamorfos se acasalam, ficamos loucos por algumas
semanas. É tudo sobre agressão irracional e rosnados para quem olhar para
seu companheiro um segundo a mais.
155
— E você está adorando cada minuto.

Ele balançou a cabeça para cima e para baixo. — Eu mereço.
Página
Andrea reverteu seu curso e veio até nós. — Desculpe por ser uma
idiota. Obrigada. Te devo essa.

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— Nada demais, —disse a ela.

Ela olhou para Raphael. — Eu gostaria de ir para casa.
Ele curvou-se com um floreio exagerado. — Seu desejo é uma ordem,
minha senhora. Precisamos ir para o hotel, escalar a parede e roubar o
carro de volta.
— Isso parece bom.
Eles foram embora.
Frenesi de acasalamento. O mundo tinha ido completamente louco em
cima de mim. Suspirei e fui buscar Marigold. Eu tinha um compromisso
com um depravado sexual e não queria me atrasar.
CAPÍTULO 12
QUANDO EU DISSE A SAIMAN QUE EU O RECONHECIA POR SEUS

OLHOS, não estava mentindo. Ele olhava para o mundo através de um
prisma de intelecto, arrogância e desprezo sutil, mas presunçoso, e ele era
incapaz de esconder isso. Demorou-me precisamente dois segundos para
encontrá-lo no meio do hall da Associação vazia, mas desta vez não foram
156
seus olhos que fizeram isso.

Hoje ele escolheu aparecer como um homem magro em seus trinta
Página
anos. Quando entrei, ele ficou com o rosto de perfil, casualmente falando
com o Bob, Ivera, Ken e Juke sentados em uma mesa. A jaqueta preta de
Saiman mostrava uma clara influência de mandarim com uma gola alta e
um corte que acentuava sua cintura estreita e a linha reta dos ombros, um

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corte anatômico. Calças escuras abraçavam suas pernas, mostrando coxas

musculosas, mas era músculo liso e longo de um esgrimista ou um
corredor, não o volume de um levantador de peso ou a definição nítida de
um artista marcial. Seu cabelo, a cor da madeira de amieiro escuro, caia à
cintura, sem um traço de uma onda.
Saiman virou-se com minha aproximação, presenteando-me com um
rosto oval bem definido, a mandíbula angulosa, um nariz grande com uma
ponta rasa e olhos amendoados, ligeiramente cobertos com íris verdes
chocantes. Ele escorria profissionalismo e expertise da mesma maneira que
eu às vezes emanava ameaça. Se não soubesse quem ele era e o encontrasse
na rua, acharia ele um dos altos Magos da Universidade local, o tipo que
poderiam decifrar runas de três mil anos, falavam uma dúzia de línguas
mortas e destruíam um quarteirão com uma varredura de sua mão. Ele se
destacava entre os mercenários presentes no corredor como um professor
de estudos medievais em um bar de fisiculturista.
Saiman sorriu, mostrando dentes brancos e veio em minha direção,
pisando graciosamente no chão de madeira.
— Kate, —ele disse, sua voz de tenor suave. — Você está linda. A
capa, em particular, é um toque intimidante.
— Eu me esforço para ameaçar, —eu disse.
— Gosta da minha persona de trabalho? —Saiman perguntou
baixinho. — Uma esteticamente agradável combinação de inteligência e
elegância, não acha?
Como estamos satisfeitos com nós mesmos. — Você é chinês,
157
japonês, meio branco? Eu não posso dizer, suas características não estão
nem aqui nem lá.
Página
— Eu sou intelectual, misterioso e inescrutável.

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Ele esqueceu vaidoso. — Você teve algum problema para conseguir

passar esse ego pela porta?
Saiman nem sequer piscou. — Nem um pouco.
— Você conseguiu recolher qualquer informação das testemunhas
oculares usando seu intelecto misterioso?
— Ainda não. Eles parecem pouco à vontade neste momento.
Os Quatro Cavaleiros parecia que queria estar em qualquer lugar,
menos aqui. Eu observei o corredor. Fora as vinte ou mais chamadas que
eu tinha feito esta manhã, catorze pessoas apareceram, incluindo Mark,
que estava encostado na parede, um olhar azedo em seu rosto. Um monte
de rostos familiares. O pessoal da mudança e os agitadores da Associação
se voltaram para assistir Saiman e eu trabalhar.
Cheguei a minha capa e puxei para fora um saco plástico com um
pedaço de pergaminho nele.
— O que é isso?
— Este é um pergaminho mágico.
Saiman levou o saco com seus dedos longos e delgados, levando o
pergaminho para a luz e franziu a testa. — Em branco. Você já despertou
minha curiosidade.
Tirei um pedaço de papel do bolso. — Esta é a lista de testes que foram
feitos no pergaminho pelo PAD.
Saiman olhou a lista. Um estreito sorriso curvou seus lábios. —
158
Divertido. Vinte e quatro horas. Eu direi o que está escrito nele, ou direi
quem pode lê-lo. —Ele colocou o pergaminho em seu bolso interior. —
Página
Vamos?
Virei-me para os mercenários. — Precisamos de cinco voluntários.
Não se ofereça se você não deu uma boa olhada no cara.

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Bob levantou a mão. — Nós quatro vamos fazer isso.

— Preciso de mais um, —eu disse.
Mark veio para frente. — Eu vou fazer isso.
Juke olhou por baixo de seu nariz gótico de sininho, decorado com
um bonito pequeno piercing. — Você nem estava lá.
Mark deu-lhe um olhar sombrio. — Eu estava lá para o fim.
Eles encararam um para o outro.
— Não discutamos, —disse Saiman. — Vocês cinco servem
esplendidamente.
Ele ajoelhou perto de um baú. Era um baú grande, retangular, feito de
madeira velha marcada, reforçada com tiras de metal. Saiman mexeu seus
dedos e produziu um pedaço de giz com a graça de um mago treinado. Ele
desenhou um complexo símbolo na parte superior do baú. Um clique
metálico seco soou de dentro. Lentamente e com muito cuidado, Saiman
levantou a tampa e tirou uma bola de boliche. Azul e verde, rodeada com
um padrão de ouro marmorizado, a bola tinha visto algum desgaste.
— Você já ouviu falar de David Miller, Kate? —Saiman perguntou.
— Não.
Saiman enfiou a mão no bau e pegou um jarro plástico matizado com
verde musgo. — David Miller foi o equivalente mágico de um idiota sábio.
Todos os testes mostravam que ele tinha um poder mágico incomparável.
Ele constantemente emanava magia do jeito que uma lâmpada elétrica
159
emana calor. —Ele colocou o jarro ao lado da bola de boliche. — No

entanto, apesar das inúmeras tentativas para treiná-lo, Miller nunca
Página
aprendeu a usar o seu dom. Ele levou uma vida perfeitamente comum e
teve uma morte perfeitamente normal por insuficiência cardíaca na idade
de sessenta e sete. Após sua morte, descobriu-se que os objetos que ele mais
manipulara durante a sua vida tinham ganhado um significado mágico.

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Manipulando-os, seu proprietário pode conseguir um efeito bastante

surpreendente e ocasionalmente útil.
Interessante. — Deixe-me adivinhar, você caçou os objetos e adquiriu-
os?
— Nem todos eles, —Saiman disse. — Descendentes de Miller
fizeram um esforço para espalhar os objetos, vendê-los para diferentes
compradores. Eles concordaram que concentrar todo esse poder nas mãos
de uma única pessoa era perigoso. Mas vou recolher todos eles,
eventualmente.
— Se eles estavam preocupados, por que vender os objetos então? —
Mark perguntou.
Saiman sorriu. — A falta de dinheiro é a raiz de todo mal, Sr.
Meadows.
Mark piscou. Meu palpite era, nunca ninguém o chamou pelo seu
sobrenome. — Eu pensei que era "o amor" por dinheiro.
— Falou como um homem que nunca passou fome, —Ivera disse.
— Além disso, —Saiman continuou, — a família tinha preocupações
sobre sua segurança. Eles estavam com medo que seriam assaltados e
assassinados por empreendedores interessados na coleção de Miller.
Considerando o valor dos objetos, suas preocupações eram muito válidas.
Ele extraiu um chaveiro do baú e fechou com cuidado. — Vou precisar
de uma jarra de água e cinco copos, por favor.
160
Um par de mercenários trouxe uma jarra de vidro cheia da lanchonete

e cinco copos. Saiman examinou o chão e foi até a porta da frente, com giz
na mão. Ele desenhou um semicírculo a cerca de três metros da entrada, a
Página
curva voltada para o centro da sala e marcou um símbolo estranho. Então

ele passou pelo local da morte de Solomon, desenhou outro semicírculo

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maior, em frente ao lado direito contra o poço do elevador encheu-o de

círculos perfeitamente redondos. Eu contei. Dez.
— Pinos de boliche? —Perguntei.
— Precisamente.
Saiman retornou para a mesa, liberou as chaves da corrente e entregou
cada uma das cinco chaves para os quatro cavaleiros e Mark. — Segure
entre as mãos e tente recordar o evento em sua mente. O que você viu? O
que você ouviu? Que cheiro flutuou no ar?
Saiman derramou a água no jarro de vidro de Miller. Ken, o mago
húngaro, estudou a chave. — Que tipo de magia é essa?
— Magia moderna, —disse Saiman. — Cada idade tem suas próprias
tradições mágicas. Essa é a nossa. É improvável que a maioria de vocês irá
ver uma repetição deste ritual em sua vida. Esta magia é extremamente
rara e muito exigente. Só faço para clientes muito especiais. —Ele sorriu
para mim.
Excelente. Ele simplesmente fez todos os envolvidos pensar que
dormíamos juntos.
Sorri de volta. — Eu vou ter a certeza de informar ao cavaleiro-
protetor que ele deve ser muito generoso em sua compensação. —De volta
para você. Deixe-os esfregarem a imagem de um Ted Moynohan nu fora
de seus cérebros.
Depois de meio minuto, ele coletou as chaves, colocou de volta no
chaveiro e atirou no jarro. As chaves afundaram. Magia pulsava do jarro,
161
quebrando contra mim. Parecia que alguém tinha fixado uma pata macia
e peluda sobre meus olhos e ouvidos e, em seguida, desapareceu.
Página
Saiman derramou uma polegada de água em cada copo e olhou para

as testemunhas. — Bebam, por favor.
Juke fez uma careta. — Essa merda não é potável.

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— Tenho certeza de que você engoliu coisa pior, Amélia, —disse

Saiman.
— Amélia, —eu disse. — Que nome adorável, Juke.
Ela franziu a testa para mim. — Caia morto.
— Beba a água, —eu disse a ela.
Ela fez uma careta. — Eu já contei tudo o que vi.
— Nossa memória é muito mais detalhada do que nossa lembrança,
—disse Saiman. — Você pode se surpreender por quanto você se lembra.
Juke engoliu-o.
Bob bebeu o dele com uma expressão estoica. Ivera perscrutou a sua
e a drenou. Mark jogou a dele para baixo como se fosse uísque. Ken foi o
último. Ele bebeu a água muito lentamente, em goles, segurando cada gole
em sua boca, provavelmente tentando recolher algum tipo de
conhecimento a partir dele.
Saiman pegou a bola de boliche. — Por favor, permaneçam sentados
através do evento. Não interfiram com a ilusão de qualquer maneira. Kate,
pode se mover se você quiser; no entanto, não cruze com a imagem. Está
claro?
Uma variedade de ruídos afirmativos respondeu-lhe. Ele caminhou
para o semicírculo primeiro, segurou a bola no peito por um longo instante,
curvou-se e a enviou pelo chão do salão. À medida que a bola rolava, uma
realidade diferente floresceu em seu rastro, como se alguém tivesse puxado
162
um zíper no mundo, revelando o passado. O assassinato de Solomon

ocorreu durante a tarde, e a luz se inclinou em um ângulo diferente do sol
atual do meio-dia, marcando claramente as bordas da ilusão, um salão oval
Página
de cerca de nove metros se esticado ao longo do corredor.

A bola bateu no segundo semicírculo, dispersando os pinos
imaginários. Teria sido um strike perfeito.

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Livro 4
Dois homens caíram de cima para o salão oval. Um era Solomon, os

olhos arregalados, o rosto vermelho brilhante. Ele pousou mal, de costas,
mas levantou-se.
Seu oponente aterrissou em um agachamento. Uma lança caiu ao seu
lado. Mary Steel endireitou seus dois metros. Um manto pendia sobre seus
ombros. Seu capuz estava levantado. De onde eu estava, eu só podia ver o
tecido escuro.
Corri pela borda da ilusão em direção ao poço do elevador.
Solomon martelou um vicioso pontapé na lateral de Mary Steel. Mary
Steel inclinou-se fora do caminho, seu manto enrolado sobre ele. O pé de
Solomon passou a um fio de cabelo do seu rosto. Solomon girou para um
pontapé traseiro, e Mary Steel revidou. Solomon voou pelo ar, batendo
contra o poço do elevador enquanto eu parava ao lado, no limite da ilusão.
Mary Steel pegou a lança e caminhou até nós, cada passo um ponto
deliberado, como o toque de um sino de funeral. A capa se moveu em volta
e eu vi de relance os olhos grandes, escuros, quase pretos, emoldurados
com o veludo grosso de cílios longos e repletos de poder.
Uma mulher.
Eu paralisei. Havia algo tão assustadoramente familiar sobre os olhos.
Se me concentrasse, eu poderia puxar isso para fora.
Mary Steel abriu sua boca. Palavras escorreram, ressoando através de
mim. — Eu te ofereço divindade, imbecil. Aceite-o com graça.
Inglês perfeito. Sem acento. Nenhum indício de nacionalidade.
163
Droga.
Mary Steel agarrou Solomon pela camisa com a mão esquerda, o
Página
empurrou contra o poço do elevador e enfiou. A ponta da lança cortou a

traqueia de Solomon. Sangue jorrou. Solomon gritou, contorcendo-se na
lança. Carmesim jorrou de sua boca.

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Livro 4
Mary Steel levantou a mão direita, dedos rígidos como garras e

empurrou contra o peito de Solomon. — Hessad. Meu.
A palavra de poder penetrou em Solomon. Seu corpo esticou, suas
costas arquearam. Ele gritou novamente, um grito terrível, rouco de pura
dor. Sangue explodiu de seu peito e entrou em colapso, sugado para dentro
da ferida. Um longo suspiro exausto partiu dos lábios de Solomon. Ele
cedeu. Seus olhos reviraram em sua cabeça. Seu corpo balançou uma vez
e ficou quieto.
Mary Steel tirou a mão do peito de Solomon, uma bola de brilho
vermelho descansando na palma da mão. Não senti isso, mas
instintivamente sabia exatamente o que era. Era sangue. Sangue
condensado. Todo o poder de Solomon, toda sua magia, sua essência
contida em um pequeno globo brilhante, enjaulado, no punho de Mary
Steel.
Mary Steel sorriu. — Finalmente!
Seus lábios esticados em um sorriso. Ela se virou, levando o sangue, e
eu vi as linhas torcidas de uma tatuagem na parte interna do antebraço. As
letras estouram na minha mente, foi abrasador. Uma palavra de poder.
O mundo queimou ao meu redor. Calor subiu pelo meu sangue,
espalhando-se por cada veia e fio de cabelo. Meu corpo travado, lutando
para superar o choque.
Mary Steel virou-se, lentamente como se estivesse debaixo d'água e foi
embora, derretendo em nada.
164
Dor me assolou. Não conseguia me mexer, não conseguia falar, não

conseguia respirar. Através do ritmo do meu coração batendo como uma
Página
marreta em meus ouvidos, eu ouvi a voz de Juke. — Ele bateu em Solomon

Red! Eu tinha perdido isso da primeira vez.

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Livro 4
A minha visão desapareceu, substituído por uma névoa de sangue. A

palavra de poder estava me matando. Apertei-a, tentando quebrar suas
defesas. Isso machuca. Deus, isso doeu.
— Certamente é interessante, —disse Saiman. — Você não acha,
Kate? Kate?
— O que está acontecendo com ela? —Ivera perguntou.
A palavra de poder rachou sob pressão. Uma luz abrasadora pulsou
diante de mim e de repente eu a vi, claramente, Saiman me olhou do outro
lado da sala.
A palavra de poder martelou dentro de mim, ameaçando destruir-me.
Eu tinha que dizer isso para torná-la minha.
Algo clicou nos olhos de Saiman. — CORRAM!
Tarde demais. Eu abri minha boca e a palavra de poder arrebentou em
uma torrente de magia. — Ahissa!
A magia varreu a sala. As pessoas gritaram e fugiram, pisoteando-se.
Bob agarrou a mesa com as duas mãos, o rosto com uma máscara
distorcida de medo e gritou como um touro com dor. Ivera entrou em
colapso no chão.
Senti a luz como uma pluma. Os últimos ecos de magia chicotearam
sobre mim, trazendo o verdadeiro significado da palavra em minha mente.
Ahissa. Fugir.
Toda a minha força vazou através dos meus pés. Abaixei-me e deslizei
165
contra a parede.
O salão estava vazio, exceto por Bob respirando como se houvesse
Página
uma bigorna no peito, Ivera chorando em silêncio no chão e Saiman

pressionado contra a parede oposta. O gelo cobriu seus braços. As
sobrancelhas ficaram azul-esverdeados e os olhos que me olhavam debaixo

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delas eram os olhos de um gigante do gelo: frio, azul, como um diamante.

Os olhos que pertenciam à forma original de Saiman.
Nós olhamos para o rosto secreto um do outro. Ocorreu-me que eu
tinha acabado de assustar a metade da Associação. Eles não esqueceriam.
Para completar, eu exibi o controle de uma palavra de poder na frente de
Saiman. Seus olhos disseram-me que ele entendeu exatamente o que tinha
acontecido e ficou chocado com isso. Numa escala de um a dez, este
desastre era uma nota 20. Se pudesse me mover, iria bater com a cabeça
contra o chão duro.
Saiman se atirou livre da parede. O gelo em seus braços quebrando em
mil pequenos flocos de neve. As sobrancelhas azul-esverdeadas caíram,
pêlos individuais tremulando no chão. Novas sobrancelhas escuras se
formaram, combinando com o seu cabelo. A intensidade selvagem dos
olhos do gigante de gelo dissolvidos em íris verdes e calmas.
— Parece que experimentamos algumas dificuldades técnicas, —ele
disse com alegria forçada. — Minhas desculpas pela inconveniência. Este
tipo de magia ainda não foi testada.
Bob abaixou-se e levantou Ivera do chão. Seu rosto disse que não
estava comprando nada disso. Ele grunhiu, movendo o corpo de Ivera em
seus braços e a levou pelo hall.
Saiman se aproximou de mim e se ajoelhou. Se ele tentasse me matar
agora, não haveria muito que fazer sobre isso. Respirar era um esforço. A
primeira vez que assimilei palavras de poder, cheguei muito perto de
morrer. A segunda vez, eu perdi cerca de três horas. A terceira vez
166
aconteceu durante o flare e foi uma corrida de dor. Agora, com a magia
normal, senti-me totalmente drenada. Eu não desmaiei e não perdi tempo,
Página
então eu tinha que estar melhorando, mas fiquei sem energia.

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Saiman escovou meu braço esquerdo com as pontas dos dedos. —

Havia palavras, —ele sussurrou. — Centenas de palavras escritas com tinta
escura em sua pele.
Palavras? Que palavras? — O quê?
Ele se levantou. — Nada. É melhor irmos. Eu vou recolher os itens.
Observei-o empacotar a coleção de Miller. Quando ele voltou, eu
consegui assumir uma posição vertical e me movi para fora do salão para
a luz do dia. Era meu corpo, minhas pernas, e elas obedeceriam a mim,
Maldição!
Lá fora, um grupo de mercenários com rostos pálidos esperavam,
reunidos em torno dos quatro cavaleiros e o Balconista. Alguns fumavam,
agarrando os cigarros com dedos trêmulos. Ninguém falou, mas eles me
olharam como se eu fosse um pitbull raivoso. Ivera não olhava para mim
em tudo. Eu tinha que dar o fora dali, porque agora eu era presa fácil e
estava sentindo meu público hostil.
— O que aconteceu? —O Balconista perguntou.
— Um ligeiro mau funcionamento técnico com o feitiço, —Saiman
disse. — Minha culpa inteiramente.
Ele estava me cobrindo. Saiman lidava com informações e o preço de
um segredo era inversamente relacionado ao número de pessoas que o
conhecia. Quanto menos pessoas possuíssem as informações, mais
valiosas se tornavam. Eu já sabia disso porque Saiman tinha
pacientemente explicado para meu benefício.
167
— Desculpe o trabalho, caras, —eu falei para dizer alguma coisa.

— Pelo menos conseguiu o que queria? —O Balconista perguntou.
Página
— Nós temos isso. Obrigada. —Eu disse.

— Quando quiser, —Bob disse.

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— A Associação está sempre disposta a cooperar com a Ordem, —

disse Mark.
Eu acenei para eles e me dirigi para o estacionamento. Uma mulher.
Olhos escuros. Eu queria ter visto seu rosto.
Um rápido som de passos ecoou atrás de mim e Saiman me alcançou.
— Eu ficaria muito contente se você andasse comigo, —ele disse. — O
motor do meu Volvo é envolto em uma camada de vinil carregado em
massa, preso entre duas camadas de espuma de poliéster. É adequado na
atenuação de ruído de baixa frequência.
— Fascinante. —A maioria dos carros de água fazia barulho suficiente
para fazer danos permanentes à audição.
Saiman me deu um sorriso estreito. — O meu veículo é relativamente
tranquilo pelos padrões de motor encantado. Se você entrar em meu
veículo, pode descansar.
E ele me faria todos os tipos de perguntas interessantes. Eu estava
cansada, mas não cansada o suficiente para arriscar entrar em um carro
com Saiman.
— Obrigado, mas vou passar. Não posso abandonar minha mula.
Além do mais, eu vim com um passageiro.
Suas sobrancelhas se uniram. — Passageiro?
Eu assobiei e o cachorro apareceu fora de seu esconderijo atrás de
Marigold. Saiman olhou para meu companheiro canino com uma
expressão de puro horror.
168
— O que é isso?
Página
— Isso é meu poodle de ataque.

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Saiman abriu a boca, fechou, abriu novamente. Uma careta surgiu em

seu rosto. Uma luta violenta de algum tipo obviamente estava ocorrendo
lá dentro.
— Você está tentando encontrar algo de bom a dizer?
Ele me olhou impotente. — Eu não posso. É uma criatura horrível.
— Se você quer que eu vá com você, esta terrível criatura tem que
entrar no seu carro.
A dor em seu rosto era impagável. — Não podemos simplesmente ...
— Temo que não podemos.
O poodle de ataque trotou em torno de mim e começou a vomitar a
um palmo da minha bota esquerda.
— Encantador, —Saiman refletiu enquanto o cão, tendo vomitado as
tripas, urinou na parede mais próxima.
— Ele é um cão de prazeres simples, —disse a ele.
Saiman se inclinou para trás, olhou para o céu, expirou e disse, —
Muito bem. Seu gosto em cães é tão terrível quanto seu gosto por vinho. É
uma maravilha que você não o chamou de Boone.
Fazia um tempo desde que eu tinha provado da Boone's Farm36. Beber
não era mais o meu entretenimento preferido. — É um ele. Por favor, não
insulte meu fiel companheiro canino.
Saiman virou-se e caminhou para o seu veículo elegante, em forma de
169
bala, desfigurado pela extremidade dianteira inchada contendo o motor de

água encantada.
Página
36
Boone’s Farm é um licor de malte bastante padronizado, bastante popularizado. Em alguns círculos você pode chamá-
lo de "vinho barato" ou refrigerador de vinho low-end, enquanto outras pessoas podem considerá-lo "o melhor" vinho ao redor. Cada um
na sua. É a bebida perfeita? Não por um tiro longo. É uma bebida divertida quando você está olhando para festejar com os amigos ou ter um
dente doce e um coração de luz? Definitivamente. Boones Farm é considerado um licor de malte, bebidas alcoólicas Malt.

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Eu acariciei o poodle. — Não se preocupe. Eu vou deixar você mordê-

lo, se ele sair da linha.
O cão abanou o rabo. Ou Saiman cheirava saboroso, ou meu poodle
tinha bons instintos.
Montei, balançando um pouco e cutuquei Marigold para a ação.
Mesmo que eu caísse ao longo do caminho, seria em terra ou provável em
um monte de neve. Qualquer desembarque onde você poderia me afastar
era uma boa aterrissagem.
CAPÍTULO 13
A ONDA MAGICA CONTINUOU. MEU APARTAMENTO DARIA A

QUALQUER frigorífico de carne um bom dinheiro. Eu não poderia evitar a
lenha para sempre.
Eu estava pensando sobre a Mary Steel feminina o tempo todo que
montei para o meu apartamento e estava levando a lugar algum. Uma voz
de mulher saiu da boca do mago morto-vivo, mas não me lembro bem o
suficiente para comparar com a Mary Steel. Então havia duas mulheres
trabalhando juntas, ou havia apenas uma mulher, perita com uma lança,
170
com a capacidade de pilotar os mortos-vivos, usar palavras de poder e criar

pandemias.
Página
Nada que eu tinha lidado nem remotamente se encaixava nesse

cenário. Eu teria que confiar na capacidade de Saiman para ler o
pergaminho.

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Tirei meus sapatos e marchei para a cozinha. A luz vermelha da

minha secretária eletrônica estava piscando.
Apertei o botão.
— Tenho seu bilhete, —disse a voz de Christy. — Alguém arrancou o
bloqueio em sua tela e colocou o papel na sua porta da frente com um prego.
Está manchada de chuva, mas acho que ela diz, 'Eu estou aqui, você não está.
Ligue para mim'."
Ele veio me ver com ossos quebrados. Um dia tarde demais e um dólar
a menos.
A segunda mensagem era de Andrea.
— Ei! Sou eu! Raphael disse que Curran tem sido um bastardo real desde
meados de novembro. Ele está de mau humor, ele está gritando com tudo e com
todos, e ele parou de ouvir petições. Os grandes itens que precisam ser feitos,
mas nenhum novo projeto foi aprovado. Raphael tem tentado obter
financiamento do Bando para comprar uma empresa concorrente. Ele diz que
a última vez que ele apareceu, Curran quase arrancou sua cabeça. Ele
aparentemente persegue os salões da fortaleza a noite, procurando alguém para
mastigar.
— Ele precisa transar! —Raphael gritou de longe.
— Shush. Raphael está bravo porque não consegue seu negócio aprovado.
— O meu negócio nos faria dinheiro, —gritou Raphael. — Não tê-lo
aprovado está nos custando dinheiro que poderíamos estar fazendo.
171
— De qualquer forma, —disse Andrea, — eu pensei que você deveria

saber.
Página
A mensagem terminou.

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A secretária eletrônica ainda piscava. Havia outra mensagem e eu

tinha uma boa ideia de quem era.
Por um tempo sentei-me na cozinha e acariciei o poodle de ataque,
decidindo se devia ouvir a mensagem ou simplesmente apagá-la.
Finalmente, apertei o botão e a voz do Curran encheu a sala.
— Você pode correr, mas não importa. Eu vou te encontrar e
conversaremos. Nunca pedi nem esperava que você fosse me tratar em termos
de metamorfo, mas isto é infantil mesmo para os padrões humanos. Você me
deve uma resposta. Aqui, eu vou facilitar para você. Se você me quer, me
encontre e eu vou explicar o meu lado do que aconteceu. Ou você pode fugir de
mim, da maneira que sempre faz, e desta vez não vou persegui-la. Decida.
— Você perdeu sua mente, —eu disse a secretária eletrônica.
Eu ouvi a mensagem algumas vezes mais, ouvindo sua voz. Ele teve
sua chance e estragou tudo. Eu paguei por ela. Seria estúpido arriscar esse
tipo de dor de novo. Pura estupidez.
Eu caí na minha cadeira. A pedra em meu peito rachou em pedaços
afiados. Pensar em deixá-lo ir machucava. Mas então ele não era meu para
largar em primeiro lugar.
Meu pai me ensinou muitas coisas. Proteja-se. Nunca se apegue a alguém.
Nunca arrisque. Nunca se arrisque se você não precisa. E, na maioria das vezes,
ele provou estar certo. Correr riscos estúpidos só colocava você em
problemas.
Mas se eu deixasse Curran ir sem lutar, iria me arrepender pelo resto
172
da minha vida. Eu prefiro arrastar uma dúzia de pedras no meu peito e

saber que ele não era minha chance de felicidade, do que ir embora e nunca
Página
ter certeza. E isso é tudo o que ele queria—ter certeza. Nós dois
merecíamos saber.

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Tanto quanto doía-me a admiti-lo, Curran tinha razão. Eu nunca fiz

concessões por ele ser um metamorfo. Eu sempre esperava que ele me
tratasse como humano. Ele não achava que eu poderia encontrá-lo em sua
própria casa e jogar por suas regras.
Grande erro, Vossa Majestade. Você quer que eu aja como um
metamorfo? Posso fazer isso. Puxei o telefone e disquei um número da
memória.
— Sim? —Jim respondeu.
— Disseram que metamorfos declaram seu interesse romântico
invadindo o território do outro e reorganizando as coisas.
Houve uma pausa. — Isso é correto.
— Será que o clã gato usa este ritual?
— Sim. Aonde você quer chegar com isto?
Quando em terreno movediço em negociações, empurre alguma
culpa. — Você lembra quando eu fiquei do seu lado durante os Jogos
da Meia-noite, mesmo você estando errado e seu povo me atacou?
Ele resmungou silenciosamente. — Sim.
— Eu preciso de acesso ao ginásio privado do Curran por quinze
minutos.
O silêncio se estendeu.
— Quando? —Perguntou.
173
— Esta noite.
Página
Outra pausa. — Depois disto, estamos quites.

Jim era um idiota, mas ele pagava suas dívidas. — Combinado.

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— Ele está na cidade esta noite. Eu vou mantê-lo aqui. Derek vai encontrá-
la na fortaleza em duas horas.
Eu desliguei e apertei o segundo número. Quem diria, eu realmente
consegui isso.
— Teddy Jo, —uma voz rouca respondeu.
— Você me deve pelas maçãs, —eu disse para o telefone. Eu estava
pedindo todos os favores esta noite.
— Está certo. O que posso fazer por você?
Eu sorri. — Eu preciso que me empreste sua espada.
A NOITE ESTAVA GELADA E PEGUEI O KARMELION, meu velho

caminhão, surrado de cor verde-bile37. Estava faltando o conjunto da luz
dianteira e tinha mais dentes do que uma lata de Coca triturada, mas corria
durante ondas mágicas e isso me manteria quente. Também fazia barulho
suficiente para acordar os mortos, mas não me importava. Ficar quente
ganhou.
Demorei duas horas para pegar a espada e deixar Atlanta para trás.
Antes do Shift, muitos dos moradores de Atlanta tiveram o luxo de viajar
de cidades próximas, dirigindo através do campo. Auxiliado por magia, a
174
natureza recuperou esses trechos pouco desenvolvidos com velocidade

alarmante. As coisas vivas geravam magia simplesmente por existir, e
quando colocado contra aço e concreto inerte, plantas tinham a vantagem.
Página
O que uma vez foram campos agora se tornou floresta densa. Ela engoliu
37
Cor de vomito

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postos de gasolina e fazendas solitárias, forçando as pessoas a se

aproximarem. As árvores flanqueavam a estrada, seus galhos pretos e sem
folhas, esqueletos afiados na neve.
Eu olhava para o escuro e acariciei o poodle de ataque. Eu tinha que
colocar o assento dianteiro para ele—ele era muito grande.
— Eu sempre perco a maldita estrada.
O poodle fez um pequeno barulho de rosnado e se enrolou apertado.
Um longo uivo de uma sentinela solitária rolou durante a noite,
anunciando a nossa chegada.
Fizemos uma curva brusca, pegando uma estrada estreita quase
imperceptível entre os carvalhos espessos. A trilha desviou para a
esquerda, direita, as velhas árvores se separaram, e saímos numa ampla
clareira. O enorme edifício da fortaleza pairava diante de nós. Um híbrido
de um castelo e um forte moderno, ele se projetava sobre a floresta como
uma montanha, inexpugnável e escura. Foi construído à moda antiga, com
ferramentas básicas e força sobre-humana, que era à prova de magia.
Desde que eu estive aqui, a maior parte da asa norte havia sido
completada, e a parede do pátio agora tinha cerca de quatro metros e meio
de altura.
Conduzi pelos portões para o pátio. Uma figura familiar passou pelo
caminhão.
Derek. Conheço essa marcha de lobo em qualquer lugar.
Há três meses atrás, Derek tinha sido bonito. Ele tinha uma daquelas
175
rostos masculinos perfeitos, fresco, com belos e escuros olhos de veludo,

olhos que faziam as mulheres desejarem ter quinze anos novamente. Então
Página
os rakshasas derramaram metal fundido no seu rosto. Ele estava curado.

Ele não estava desfigurado, embora pensasse que estivesse, mas seu rosto
perdeu suas linhas perfeitas.

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Seu nariz era mais grosso, a mandíbula mais volumosa. Suas

sobrancelhas se projetavam mais longe, fazendo com que seus olhos
parecessem mais profundos, o resultado do Lyc-V engrossando o osso e
cartilagem em resposta ao trauma. A pele ao longo de sua linha fina na
têmpora esquerda mostrava cicatrizes permanentes, onde pedaços de
crânio quebrado tinham se alojado no músculo. Eu toquei uma vez e senti
como se fossem grãos de sal sob a superfície da pele. Com o cabelo mais
comprido, é praticamente invisível, mas Derek deixava seu cabelo curto.
Havia outras coisas pequenas—a ligeira mudança na forma da boca, a rede
de pequenas cicatrizes na face direita. Seu rosto agora fazia querer chamar
reforços. Ele parecia uma versão mais velha, cicatrizada, viciosa de si
mesmo.
E seus olhos já não eram de veludo. Um olhar em seus olhos e você
sabia que seu proprietário tinha passado por umas coisas pesadas e, se ele
ficasse chateado, você gostaria de estar a quilômetros de distância.
Desliguei o motor. O repentino silêncio era ensurdecedor.
Derek abriu a porta para mim. — Ei, Kate. —Ele tinha a voz de um
lobo, rouca, áspera em torno das bordas e ocasionalmente sarcástica. A
provação nos Jogos da Meia-noite danificou permanentemente suas cordas
vocais, bem como o seu rosto. Ele nunca mais iria uivar para a lua, em
pêlo ou fora dele, mas seu grunhido fazia você encolher.
Ele olhou meu caminhão. — Belo veículo. Discreto. Invisível mesmo.
— Poupe-me. —Eu saí, carregando a espada de Teddy Jo envolvida
em um pano e fechando o carro na cara do poodle. — Fique.
176
Derek acenou com a cabeça no veículo. — Quem é aquele?

— O seu substituto.
Página
Ele me levou do portão da frente para uma porta lateral estreita. —

Você me substituiu com um poodle raspado?

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— Ele tem habilidades loucas.

As sobrancelhas de Derek levantaram.
— Ele pode vomitar e urinar ao mesmo tempo e ele não tira sarro do
meu carro.
Ele riu sob sua respiração.
Nós entramos na porta e começamos a subir uma longa escada
sinuosa. — Deixe-me adivinhar, ele está no topo.
Derek acenou com a cabeça. — Curran tem o último andar para si
mesmo.
— É bom ser o Senhor das Feras.
Continuamos a subir. E subindo. E subindo. Cinco minutos mais tarde
a escada terminou em uma grande porta. convidando-me para uma sala
pequena, três por três. Outra porta bloqueava a saída para a parede.
Derek esperou um momento.
A segunda porta começou a abrir, revelando dois metamorfos, um
homem calvo mais velho e uma mulher da minha idade, ambos em
excelente forma. Deram-me o olhar ruim.
Derek acenou para eles.
Eles claramente não queriam me deixar entrar.
Âmbar rolou olhos de Derek. — Mova-se, —ele disse calmamente.
Eles se afastaram.
177
Derek me fez sinal. — Por favor.

O garoto prodígio tinha subido nas fileiras.
Página
Passamos entre os metamorfos em um corredor. À esquerda havia

uma pequena sala. Um terceiro metamorfo, um homem da idade de Derek,
sentava-se ali.

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Nós caminhamos até o corredor, o homem mais velho e a mulher nos

seguiram. Os guardas de Curran definitivamente tinham dúvidas sobre
minha presença aqui. Eles tinham razão. Eu não estaria fazendo nada de
bom.
— O ginásio fica à esquerda. —Derek acenou com a cabeça no
corredor, onde terminava o muro de pedra, substituído por vidro. — Seus
aposentos estão lá em cima. Há uma pequena escada no corredor.
Ele apontou para as portas enquanto passávamos por elas. — Sala de
reuniões privada. Sauna.
— E isso? —Eu assenti com a cabeça para outra porta. Parecia que
alguém tinha pisado nos pés dos guarda-costas.
Derek ficou perfeitamente neutro. — É reservado para os hóspedes
do sexo feminino.
Abri a porta. Uma enorme cama de dossel ocupava a maior parte do
quarto, cortinas elaboradas como nuvens acima do edredom branco como
a neve. A mobília era pálida, carvalho com acentos dourados, elegante e
leve, quase flutuando acima do piso de madeira polido. Uma cômoda
grande levantava-se contra a parede, ao lado de um toucador com um
espelho de três painéis. No meio do piso um sofá estofado enfrentando
uma lareira com um tapete branco grosso a sua frente. Uma tela plana
pendia na parede acima da lareira. O muro distante era de vidro fosco,
estrategicamente interrompido por trechos claros formando um design de
bambu. A porta estava entreaberta e, através dela, vi uma banheira de
hidromassagem intocada.
178
— Onde está a Barbie?

O metamorfo feminino riu e engasgou-o.
Página
— Há um poste de stripper?
O homem mais velho estremeceu. Derek parecia aflito. — Não.

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— Alto-falantes para a música de humor?

Derek apontou para o canto acima num pequeno frigobar. Aposto que
havia champanhe gelado na geladeira.
Sai, fechei a porta e puxei uma luva de forno. Os metamorfos me
olhavam com grande interesse. Eu desamarrei o cordão que segurava o
pano retardador de chamas na espada de Teddy Jo e entreguei-o a Derek,
revelando uma bainha espessa e alinhada com amianto. — Segure aqui,
por favor.
Ele segurou.
Eu agarrei o cabo de cor ônix e puxei a espada. Era uma lâmina de
Hoplite38 clássica, em forma de folha, cerca de sessenta centímetros de
comprimento. Uma faísca surgiu do metal, desde o punho até a ponta.
A lâmina explodiu em um fogo branco cegante.
Os metamorfos voltaram para trás. Os olhos de Derek ficaram amplos.
— Onde você conseguiu isso?
— É um empréstimo do anjo grego da morte. —Eu empurrei a espada
na fechadura e toquei à porta. Faíscas azuis subiram.
— O que você está fazendo? — O guarda-costas feminino grunhiu.
— Estou soldando o quarto de vadia.
Ela abriu a boca e fechou-a sem dizer uma palavra.
Ergui a espada. O bloqueio tinha derretido em um bolo de metal de
resfriamento rápido. Adorável. Segurei a espada para cima e virei para
179
Derek.
Página
— Onde você disse que a academia era?
38
Espada grega

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Eles me levaram pelo corredor para uma sala grande. A academia era
top de linha: um rack de pesos livres preenchido com halteres
personalizados, uma barra para trabalhar o bíceps, uma estação para
mergulhos e perna e no meio da pista o supino—um banco de couro com
uma barra de descanso. Você deitava no banco e levantava uma barra
carregada com pesos acima de seu peito. A barra de Curran já estava
carregada. Eu verifiquei os números gravados nos discos—feitas sob
medida, duzentos e cinquenta em cada lado. Quinhentos quilos. A barra
tinha que ser feita especialmente para suportar o peso. Curran
verdadeiramente era um bastardo assustador.
Eu sorri e abaixei a espada flamejante.
O TELEFONE GRITAVA. ABRI MEUS OLHOS. DOZE MINUTOS DEPOIS

das duas horas. Eu tinha entrado há cerca de duas horas—Teddy Jo queria
conversar, e enquanto nós conversamos, a magia deixou de funcionar. Eu
demorei uma eternidade para chegar em casa, e meu crânio cantarolava
como se alguém estivesse tocando bateria em meus ouvidos.
Eu bocejei e peguei o telefone. — Kate Daniels?
— Era um banco de peso personalizado! —Curran rosnou.
Minha voz pingou inocência desconcertada. — Desculpe?
180
— Você soldou a barra de imprensa no meu banco.

Página
— Talvez ajudasse se você começasse do início. Presumo que

alguém invadiu sua academia particular na fortaleza?
— Você! Foi você. Seu cheiro está em todo o banco.

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— Eu não tenho ideia do que você está falando, por que eu iria
vandalizar seu supino? —Pense Curran. Pense, seu idiota.
Um rugido do leão explodiu através do telefone. Eu segurei longe da
minha orelha até que ele terminou. — Muito assustador. Sinto que é meu
dever lembrá-lo que ameaçar um membro da aplicação da lei é punível
por lei. Se você gostaria de apresentar uma petição sobre seu problema,
a Ordem terá prazer em analisar o assunto para você.
O telefone ficou em silêncio. Oh Deus, dei-lhe um aneurisma.
Curran fez um barulho esquisito, a meio caminho entre um grunhido
e um ronronar ... — Há catnip39 em toda minha cama.
Eu sei, despejei todo o meu fornecimento em seu edredom. Era uma linda
cama também, enorme, empilhada com colchões grossos até quase um
metro e vinte de altura. Eu tive que literalmente escalar sobre ela.
— Catnip? Que peculiar. Talvez você devesse falar com o chefe de
tarefas de limpeza.
— Eu tenho que matá-lo, —disse Curran, sua voz estranhamente
calma. — É a única solução razoável.
Aparentemente, eu tinha que soletrar. — Não há nenhuma
necessidade de ser tão dramático. Entendo que ter alguém entrando em
seu território privado e extremamente bem guardado, causar estragos
nele e então escapar, incólume, pode ser bastante perturbador.
181
Página
39
Da família das hortelãs, Nepeta Cataria é o nome científico para a catnip, popularmente
conhecida como a erva do gato. A catnip é nativa da Europa, África e Ásia, e é conhecida pelos seus efeitos estimulantes nos gatinhos que
entram em contato com suas folhas. As folhas da catnip possuem uma substância chamada neptalactone, que age no cérebro do gato e
provoca alterações no seu comportamento, podendo fazer com que ele fique mais agitado, mie, e procure mais contato com a planta,
rolando sobre ela, ou tentando lamber.

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Ele não disse nada. Ele não entendeu. Eu o tratei para um passe em
seus termos e ele não entendeu. Eu só tinha acabado de fazer papel de tola
novamente.
— Você sabe o que, não importa. Você é denso como uma pedra.
—Eu o persegui como ele me perseguiu e ele nem conseguiu descobrir isso.
— Estou deixando o catnip onde está, —ele disse. — Você irá remover
cada pedaço dele. E você vai fazer isso nua.
— Somente em seus sonhos. —E eu também quis dizer isso.
— É claro que você sabe que isso significa guerra.
— Tanto faz. —Eu desliguei e exalei.
O poodle de ataque deu-me um olhar perplexo.
— Eu estou apaixonada por um idiota.
O cachorro virou a cabeça para o lado.
— Espere só até ele descobrir que eu o tranquei do lado de fora do seu
quarto de vadia.
O poodle gemeu baixinho.
— Não preciso de qualquer crítica de você. Se você pode passar um
dia sem vomitar ou destruir a minha casa, então posso ouvir o que você
tem a dizer. Até lá, guarde suas opiniões para si mesmo.
Eu voltei para minha cama e coloquei um travesseiro em minha
cabeça. Eu acabei de ter uma conversa com um poodle e o acusei de me
182
criticar. Curran finalmente tinha me enlouquecido.

Página

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CAPÍTULO 14
EU ACORDEI CEDO E FIQUEI NA CAMA POR UNS BONS DEZ MINUTOS,

pensando em várias maneiras que eu poderia matar Curran. Infelizmente,
eu ainda tinha Mary Steel para pegar, então eu me arrastei para fora da
cama e me vesti.
Lá fora o mundo tinha ficado completamente branco. A neve deve ter
começado a cair pouco depois que entrei e pelo menos sete centímetros de
pó cobriam o asfalto. Espessas nuvens cinzentas sufocavam o céu. O frio
queimava meu rosto. O inverno tinha tomado Atlanta em sua boca e a
mordeu com força.
Olhei para o poodle de ataque. — Está com frio?
Ele balançou sua bunda depilada para mim.
Eu voltei para dentro e acrescentei uma camiseta sob minha camisa
de gola alta e uma camisa verde em cima dela. Junto com minha velha
capa, as camadas me aqueciam. Em seguida, peguei do armário um velho
suéter preto rasgado, cortei as mangas e enfiei no poodle. Desde que eu o
tinha raspado, agora eu tinha que fornecer a pele artificial. Ele parecia ...
fofo. Algumas pessoas recebiam Dobermanns ferozes. Eu tenho um poodle
de ataque raspado com um suéter preto. Sua imagem de duro, filhote-do-
inferno tinha tomado um golpe fatal, mas pelo menos ele estaria quente.
183
Fomos para a Ordem. A neve rangia sob meus pés. Saiman iria adorar.
Sendo um gigante do gelo, ele vivia para o inverno. Para mim, o inverno
Página
significava contas altas de aquecimento, pouca comida e congelando

enquanto eu tentava conquistar as nevascas. No clima frio, as pessoas mais
pobres morreriam de exposição.

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Livro 4
Viramos uma esquina em um caminho estreito entre duas fileiras de

edifícios de escritório decrépitos. A magia bateu com força aqui. Alguns
escritórios tinham se desintegrado e desabado sobre a rua em enormes
pilhas de tijolos e argamassa. Alguns estavam à beira do colapso, olhando
sobre a borda, mas não muito dispostos a dar um mergulho. Uma vez que
a rua inteira se desintegrasse, a cidade iria limpar os escombros e
reconstruir—o local era muito próximo ao Capitólio para permanecer vago
por muito tempo.
Uma voz masculina flutuou por trás da curva. ... apenas vá em frente.
Tem que pagar.
Uma extorsão. Peguei velocidade e circulei a pilha de escombros.
Dois homens e uma mulher prendiam uma mulher mais velha em
direção ao concreto de uma construção, todos os três com um olhar de
fome familiar em seus olhos. Bandidos não profissionais, apenas
oportunistas—viram um alvo fácil e aproveitaram a oportunidade.
Péssima ideia.
A mulher mais velha me viu. Pequena e atarracada, ela estava coberta
em uma peça de roupa escura. Um véu de malha índigo cobria se cabelo
escuro e a testa. Dois olhos fundos me olhou de um rosto a cor de noz. Ela
não mostrou nenhuma expressão. Sem medo. Sem ansiedade.
Eu fui em direção a eles. O poodle de ataque trotou ao meu lado,
divertido.
— É nosso território, —latiu a mulher mais jovem.
184
— Na verdade, é meu território.

Os bandidos olharam para mim.
Página
— Vamos ver. Você está incomodando pessoas em meu território,

portanto me deve uma taxa. Um par de dedos deve bastar. Temos um
voluntário?

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Livro 4
O pequeno bandido puxou uma faca de uma bainha na sua cintura.

Eu continuei indo. — Isso é um erro.
O bandido se agachou. Ele agarrou a faca, como se estivesse se
afogando e uma gota de água iria arrastá-lo. Um pouco de luz louca
dançava em seus olhos.
— Vamos, sua puta. Ande.
O blefe mais antigo no livro: obter um brilho louco em seus olhos, olhe
como se você está pronto para lutar, e o outro cara pode recuar. Heh.
— Isso pode funcionar melhor para você se você segurasse a faca
corretamente. Você estava fazendo bem, até que puxou a lâmina. Agora
eu sei que não faz ideia de como usá-la e eu vou ter que cortar sua mão e
enfiar a faca no seu rabo só para te dar uma lição. Nada pessoal. Eu tenho
uma reputação a manter.
Eu puxei a Matadora para fora. Tive anos de prática para apoiar-me e
fiz o movimento rápido.
Os dois valentões atrás do bandido com a faca se afastaram.
Olhei para a lâmina da Matadora. — Bem, olha só. A minha é maior.
Vamos lá, mestre da faca. Não tenho o dia todo.
O bandido com a faca deu um pequeno passo para trás, girou sobre
seu calcanhar e correu, como se sua vida dependesse disso. Seus amigos o
perseguiram pelo beco.
Eu embainhei a Matadora. Seu candidato a vítima não se mexeu. Os
185
olhos dela olhavam direto para mim, grandes e arregalados, as íris tão
escuras, eu não sabia onde estavam as pupilas. Ela sorriu, lábios esticados,
Página
sua boca aberta, e ela riu. Foi gutural, era uma risada genuína e profunda
para uma mulher.
Ela não estava rindo dos bandidos. Ela estava rindo de mim.

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Livro 4
— Você está bem, senhora?

Ela não deu nenhuma indicação de me ter ouvido.
Eu balancei minha cabeça e continuei. O poodle de ataque seguindo.
O riso da mulher flutuava atrás de mim. Mesmo depois de sairmos para o
caminho lateral, eu ainda a ouvia.
— Não importa se ela é uma velha senhora assustadora, —disse ao
poodle de ataque. — Nós ainda temos que fazer o nosso trabalho.
Dez minutos depois nós passamos pela porta do prédio da Ordem.
Andrea explodiu fora da escada, seus olhos enormes.
— Alguém invadiu os aposentos privados de Curran na fortaleza e
soldou seu banco de peso juntos. Eles também derreteram a fechadura do
quarto onde ele entretinha suas mulheres. Foi você?
— Ele está fazendo um grande negócio sobre nunca esperar que eu me
comportasse como um metamorfo. Então eu fiz.
— Você ficou maluca?
Não é educado mentir para sua melhor amiga. — É uma possibilidade.
— Você desafiou-o. A fortaleza inteira está falando sobre isso. Ele vai
ter que revidar. Ele é um gato, Kate, o que significa que ele é estranho, e
ele nunca cortejou alguém dessa forma. Não sabemos o que ele vai fazer.
Ele não funciona no mesmo mundo que nós. Ele pode explodir sua casa
porque ele acha que é engraçado.
Eu acenei meu braço. — Não importa. Ele não entendeu.
186
Andrea sacudiu a cabeça loira. — Oh não. Ele entendeu.

— E como é que você sabe?
Página
— Seu escritório cheira a ele.

Oh merda.

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Livro 4
— Você pode cheirar o que ele fez?

Andrea fez uma careta. — Eu posso tentar. Mas não prometo nada.
O ESCRITÓRIO PARECIA PERFEITAMENTE NORMAL.

Andrea enrugou seu nariz e examinou meu espaço de trabalho. —
Bem, ele definitivamente esteve aqui. Eu diria que há cerca de duas horas.
Ela fechou os olhos e se moveu para minha mesa. — Ele ficou aqui
por um tempo. —Ela virou, os olhos ainda fechados e parou perto das
minhas estantes. — Sim, aqui, também. —Ela abriu os olhos e puxou um
livro do outro lado. A capa mostrava um desenho de um leão esparramado
sobre um afloramento de rocha. — Você está lendo sobre leões?
— Pesquisa, —disse a ela. — Em legítima defesa.
— Bem, ele folheou-o.
Provavelmente riu para si mesmo, também.
— Não tenho certeza de como ele entrou ... —Andrea franziu a testa.
— Através da janela, —eu disse a ela.
Suas sobrancelhas loiras se juntaram. — Como você sabe?
— As barras estão faltando. —Ele deve ter desativado o alarme,
187
também. Se a magia tivesse ativa, não teria passado pelas barreiras nem
em um milhão de anos.
Página
Ela olhou para a janela, onde um fecho de metal, uma vez poderoso,
projetava tristemente para o espaço vazio. — Boa dedução.

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Livro 4
— Obrigada, senhora. Sou uma investigadora treinada—é assim que

fazemos. —Andrea revirou os olhos.
— Se ele fez alguma coisa, eu não consigo ver. Desculpa.
— Obrigado de qualquer maneira.
Ela saiu. Eu marchei para a sala de recreação e peguei uma pequena
rosquinha e uma xícara de café. No meu regresso, o escritório não parecia
diferente. Nada fora do lugar. Nada saltando sobre mim. O que diabos ele
fez? Talvez ele fez algo para a minha mesa. Sentei na minha cadeira e
verifiquei as gavetas. Não, toda a minha porcaria magia ainda estava onde
deveria estar.
O telefone tocou. Eu peguei ele.
— Você está sentada? —Perguntou a voz de Curran.
— Sim.
— Bom.
Clique.
Eu ouvi o sinal de desconexão. Se ele quisesse que eu me sentasse,
então eu ficaria de pé. Levantei-me. A cadeira levantou-se comigo e eu
acabei curvada sobre minha mesa, com a cadeira presa a minha bunda.
Peguei a borda da cadeira e tentei retirá-la. Permaneceu presa.
Eu ia matá-lo. Lentamente. E eu iria desfrutar cada segundo disso.
Eu me sentei e tentei empurrar a cadeira. Nem se mexeu, eu agarrei
188
os lados da mesa e tentei torcer. Os pés da cadeira guincharam, raspando

pelo tapete.
Página
Ok.
Eu peguei o telefone e liguei para a extensão de Andrea.
— Sim?

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Livro 4
— Ele colou a cadeira na minha bunda.

Silêncio.
— Está presa ... ainda?
— Não consigo tirar isso.
Andrea fez alguns barulhos de asfixia que pareciam suspeitosamente
com risos. — Isso dói?
— Não. Mas eu não posso me levantar.
Os barulhos de asfixia se transformaram em gemidos.
"Visitante", Maxine murmurou na minha cabeça.
Isso é perfeito. Eu desliguei e cruzei meus braços sobre meu peito.
Quando sua bunda está permanentemente anexada a uma cadeira, a única
coisa que você pode fazer é sentar e esperar ter aparência profissional.
Um homem familiar entrou no meu escritório. De altura e porte
médio, ele tinha um rosto agradavelmente banal, bem formado, mas
bonito, não afetado por qualquer emoção forte. Se você passar por ele em
uma rua, você pode ignorá-lo da mesma maneira que iria ignorar um
edifício familiar. Ele era uma lousa em branco perfeita, exceto para os
olhos e o seu casaco preto. Elegante e macio, era feito de alguma lã que
nunca vi antes.
— Olá, Saiman.
— Bom Dia.
189
Ele fez uma pausa, provavelmente esperando que me levantasse para

saudá-lo. Sem chances.
Página
— O que posso fazer por você?

Saiman sentou na minha cadeira de cliente e observou meu escritório.

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Livro 4
— Então, é aqui onde você trabalha?

— Esta é o meu HQ40 secreto.
— Sua Batcaverna?
Eu assenti. — Agora eu tenho um Robin.
O poodle de ataque mostrou a Saiman os dentes.
— Ele é encantador.
— De que seu casaco é feito?
Saiman me deu um olhar vazio. — Caxemira.
Não sabia que eles faziam casacos de Caxemira. — É quente?
— Muito. —Ele sentou-se.
— Então, por que você precisa dele? —Eu o tinha visto dançar nu na
neve antes, com flocos de neve perseguindo-o como cachorrinhos felizes.
Ele deu de ombros. — As aparências são tudo. Falando de aparências,
sua Batcaverna parece ... qual é a palavra que estou procurando?
— Escassa, funcional ...
— Pobre.
Eu bati nele com o meu olhar duro. — Pobre?
— Ultrapassada. O que me leva ao meu ponto. —Ele enfiou a mão
em seu casaco elegante e puxou o relatório de petição que lhe dei no dia
anterior. Meu resumo do caso até agora, listando os fatos, pesquisas e
190
teorias. — Eu li o seu resumo.

— E?
Página
— Não é incompetente.
40
Quartel general,

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Livro 4
Calma, meu coração, para que eu não desmaie de tal elogio fraco. —
Você esperava que fosse escrito em um lápis?
Saiman fez uma careta e levantou a mão. — Me ouça. Você me
surpreendeu. Esta análise é misericordiosamente livre do entusiasmo
amadorístico e raciocínio defeituoso, que esperava de você. Se você pode
perdoar um coloquialismo, você projeta a imagem de músculo sobre o
cérebro. O que não quer dizer que sua inteligência natural não é evidente;
pelo contrário, mas há uma grande diferença entre uma mente
naturalmente ágil e uma mente treinada na dedução lógica.
Esfreguei meu rosto. — Para um homem treinado na dedução lógica,
você deve ser capaz de deduzir as consequências de insultar uma pessoa
com músculos em seu escritório pobre.
Ele balançou a cabeça. — Você sabe o que você poderia ser, Kate?
Uma especialista. Você tem o potencial para se tornar uma verdadeira
profissional. Tudo que precisa são as ferramentas apropriadas e liberdade
para usá-las. Eis a minha oferta: vou arrendar e mobiliar um espaço,
fornecendo o capital inicial para, digamos, de seis meses a um ano. A principal
despesa virá na forma de equipamentos. Você precisará de um m-scanner de
qualidade. —Ele contava os dedos. — Um computador trabalhando com
uma impressora, uma sala bem abastecida de ervas e almoxarifado químico e
um arsenal, tudo o que vou obter para você. Nós definiremos um cronograma
de reembolso relaxado. Você pode ser completamente independente. Você
pode escolher seus clientes, desde que, quando necessário, minha
necessidade profissional precisa ter precedência sobre o resto da sua lista de
191
clientes. Você tem uma reputação sólida, e com o meu apoio, pode tirar
proveito disso e ser muito bem-sucedida. Esta é uma oferta profissional,
Kate. Estritamente negócios sem compromisso pessoal.
Página
— Ora, obrigada, essa encantadora propriedade à beira da praia em

Kansas que você está vendendo soa maravilhosa.

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Livro 4
— Suas habilidades complementam a minha própria. Posso usá-la, e

eu prefiro confiar em você, do que nas pessoas que emprego agora, porque
você pode fazer isso melhor e está presa por um código de ética, que,
embora desconcertante, a impede de me trair. Minha oferta faz mais
sentido do que trabalhar longas horas para uma organização que se recusa
a fornecer-lhe os recursos e a autoridade para fazer seu trabalho
adequadamente.
Uma pequena parte de mim realmente se sentou e pensou: Isso parece
bom. Ted deveria ter ficado mais profundo sob minha pele do que eu
percebi.
No fundo, Saiman estava certo. Pagaram-me uma fração do que um
cavaleiro recebia, minha designação profissional era precária na melhor
das hipóteses, e meu status meia-boca me barrou da maioria dos recursos
disponíveis para um membro da Ordem. Se eu pensasse por uma visão
cínica, ele provavelmente acertou em cheio, Ted me colocou nessa posição
de "nem aqui nem lá" de propósito. Foi uma isca-e-espera. Mostre coisas
que eu poderia ter, me dê um sabor e espere até que eu fique frustrada o
suficiente para exigir o conjunto completo e concordar em me juntar a
Ordem permanentemente. Exceto que ele decidiu que eu traí a raça
humana nos Jogos da Meia-noite.
Eu olhei para Saiman. — Como você decide se alguém é humano?
Ele trançou seus longos e esbeltos dedos no joelho dobrado. — Eu não
sei. Não cabe a mim avaliar a humanidade. Ser humano em nosso mundo
é sinônimo de ser incluído no âmbito da sociedade. Dá direito a certos
192
privilégios da humanidade, mas também implica aceitação voluntária das

leis e regras de conduta. Transcende a mera biologia. É uma escolha e,
portanto, pertence exclusivamente ao indivíduo. Em essência, se uma
Página
pessoa sente que ele é humano, então ele é.

— Acha que você é humano?

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Livro 4
Ele franziu a testa. — É uma questão complexa.

Considerando que ele era em parte um Deus Nórdico, parte humana
e parte gigante do gelo, sua hesitação era compreensível.
— No sentido filosófico do conceito, considero-me uma pessoa, um
ser consciente da sua sensibilidade. No sentido biológico, possuo a
capacidade de procriar com humanos e produzir uma prole viável. Então,
sim, eu me considero um tipo de ser humano. Uma espécie diferente da
humana, talvez, mas humano, no entanto.
Eu me considerava humana. Sabia que Andrea fazia, também. Derek
era humano para mim. Então eram Jim e Dali. E Curran. Ted Moynohan
não os via como humanos. Mas ele não estava sozinho. Eu tinha
vislumbrado opiniões semelhantes dentro da Ordem durante o meu tempo
na Academia. Que, mais do que qualquer outra coisa, me fez querer ir
embora.
— De volta à minha oferta—ser seu próprio chefe tem suas vantagens,
—Saiman disse. — Dinheiro não compra felicidade, mas proporciona
conforto, casacos de caxemira e chocolate. Pense sobre isso.
Obrigado por essa demonstração de sua memória de armadilha de
aço. A única vez que ele apanhou-me babando por chocolate foi a quase
três anos atrás, quando nos conhecemos. Saiman não esquecia nada.
— É uma boa oferta. Mas eu estaria trocando a coleira da Ordem para
a coleira de estar em dívida com você.
A voz dele ganhou uma qualidade de veludo macio. — Estar em
193
dívida comigo não seria tão ruim.

Combinei com a voz dele. — Oh, eu acho que sim. Uma coleira é uma
Página
coleira, seja de seda ou correntes.

Saiman sorriu. — Não teria que ser de seda, Kate.

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Livro 4
Ponto final. Mude de assunto antes de chegarmos a um lugar que eu

não queria ir.
— Você foi capaz de quebrar o meu pergaminho?
Saiman assumiu uma expressão martirizada. — Eu devia estar
insultado que depois de todo este tempo você ainda duvida de mim.
Eu sabia o que estava por vir—o show de Saiman. Ele tinha
desvendado, e agora ele queria se mostrar.
Saiman enfiou a mão no bolso do casaco e tirou uma caixa de chumbo
estreita.
— Você está familiarizada com os Pergaminhos do Monge Cego?
— Não.
— Há doze anos, um monge ortodoxo oriental atendendo pelo nome
de Voroviev tentou exorcizar o que ele encarou como um demônio, que
havia assumido a escola local. Ele procurou banir a divindade. A criatura
atacou durante o exorcismo, cegando-o, e ele se defendeu por meio de um
pergaminho religioso antigo, contendo uma oração. Quando o exorcismo
foi concluído, o pergaminho estava em branco. Foi colocado em uma caixa
de vidro, e ao longo dos próximos três anos, a escrita gradualmente
reapareceu.
— O que aconteceu com o monge?
— Ele morreu de seus ferimentos. A questão diante de nós é porque a
escrita no pergaminho desapareceu?
194
Franzi a testa. — Eu acho que o encantamento do pergaminho estava

exausto por entrar em contato com a criatura. Se a escrita em si fosse
Página
mágica, ela iria desaparecer.

— Exatamente. O pergaminho lentamente absorvia a magia do
ambiente, e quando é reabastecido seu reservatório mágico, a escrita

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Livro 4
reaparece. Seu pergaminho é do mesmo tipo. A escrita ainda está lá,

simplesmente enfraqueceu para além do nível de nossa detecção. —Ele
estalou os dedos. Uma pedra longa negra do tamanho do meu dedo médio
surgiu em sua mão. Saiman, o Mágico.
Ele virou a pedra. Um arco-íris dançou em toda a superfície preta lisa.
Ele queria que eu fizesse uma pergunta. Eu me obriguei. — O que é?
— Uma lágrima de obsidiana arco-íris41, obtida sob uma linha ley.
Muito rara. Quando corretamente posicionada, ela pega magia residual,
amplifica e a emite. Coloquei seu pergaminho de um lado e um pedaço de
pergaminho vellum, pele de bezerro, do outro. O vellum foi curado com
cânticos durante um período de dois meses. É extremamente sensível a
magia. Um pergaminho vellum custa mais de cinco mil. Como já
mencionei, a minha taxa é uma ninharia.
— Você está fazendo mais neste trabalho do que eu faço em um ano.
— Uma disparidade que me ofereci para remediar.
Não nesta vida. — Então a obsidiana pegou a magia fraca do
pergaminho e a irradiou para o vellum. Qual foi o resultado?
Saiman abriu a caixa e sustentou um pequeno quadrado de papel
vellum. Em branco. Tudo exceto um canto, onde oito pequenas linhas
cruzavam umas nas outras: quatro verticais e quatro horizontais, formando
um quadrado seccionado fora em nove quadrados menores, como um campo
de jogo da velha. Cheio de números quadrados: 4, 9, 2, 3, 5, 7, 8, 1, 6.
Eu tinha visto isso antes. A soma de cada linha, coluna ou diagonal
195
seria igual. — Zahlenquadrat. Quadrado mágico.

Página
41

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Livro 4
Saiman limpou a garganta. Ele devia ter esperado que eu ficasse

confusa, e eu roubei seu trovão.
— Sim. O quadrado mágico é bastante antigo. Foi usado por gregos,
romanos, chineses, hindus ...
As rodas na minha cabeça começaram a girar. Esta era a área de magia
que eu conhecia muito bem, porque estava relacionada com o meu pai
biológico.
— É um quadrado de nove, três por três. Cinco no meio, a soma é 15.
Os judeus empregavam letras hebraicas como numerais. O número do
centro, cinco, corresponde à letra hebraica heh, que é um símbolo para
Tetragrammaton, YHWH, o mais sagrado dos nomes de Deus. A soma,
quinze, é o hebraico yah, que em si é um nome de Deus. Este é um
quadrado mágico judaico.
O rosto bonito de Saiman esticou. — Não tinha ideia que você estudou
misticismo judaico. Que interessante ... —Ele deixou sua voz ir se
apagando.
Eruditos judeus anotaram tudo e guardavam seus registros, como se
eles fossem feitos de ouro. Metade do que eu sabia sobre minha família
veio com os pergaminhos e eu tinha estudado desde que Voron me ensinou
a ler.
Encarei-o. — Existe uma maneira de restaurar o resto do pergaminho
agora que sabemos a quem pertence?
Ele se inclinou para trás. — O templo na Peachtree possui uma sala
196
secreta. Dentro da sala há um círculo mágico. Se você estiver dentro do

círculo, desde que você seja forte o suficiente, ele usará sua mágica para
restaurar a escrita ao seu formulário original. As chances de sucesso são
Página
muito maiores se a escrita for de origem hebraica.

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Livro 4
Finalmente! Eu conseguiria algo sobre Mary Steel. Já não era sem

tempo.
— Claro, você tem que esperar até que a magia esteja no círculo para
trabalhar, e dado que a onda terminou esta manhã, eu diria que entrar no
templo hoje não é provável. Uma palavra de advertência. Primeiro, o
círculo pode secá-la; em segundo lugar, há um preço para o uso do círculo,
e não poderei te ajudar. Receio, que sou uma persona non grata em casas
judaicas de culto. Eu suspeito que se eu for me aventurar em Toco Hills ou
Dunwoody e for descoberto, terei que lutar para sair.
Eu pisquei. — O que você fez?
Saiman deu de ombros. — Digamos que um certo jovem rabino foi
bastante zeloso em seu estudo sobre o pecado. Ele estava feliz em trocar
informações privilegiadas para esse conhecimento e fiquei feliz em instruí-
lo.
Ugh. — Você seduziu um rabino.
Saiman sorriu. — Eu seduzi vários. Mas o último caso foi o único a
ter explodido aos olhos do público. Uma pena, também. Ele era uma fonte
proverbial de informações sensíveis.
Eu quase ri. — Então por que não ir como outra pessoa?
Saiman enrugou os lábios em desgosto. — Eles têm um golem. Ele
cheira o odor de sua magia, e é, infelizmente, infalível. Eu tentei. Eu provei
minha utilidade para a sua satisfação?
— Sim. Não se preocupe, eu me lembro. Vestido, esta noite, sua
197
companhia.
— Na verdade, isso não era o que eu tinha em mente. Espero receber
Página
uma resposta a uma pergunta.

Eu arqueei a sobrancelha para ele.

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Livro 4
— O que está errado com sua cadeira?

Bastardo perceptivo. — Desculpe?
Saiman inclinou-se para frente. — Você se move enquanto está
sentada, Kate. Você toca sua espada para certificar-se de que a tem lá,
muda o ângulo de seu corpo e assim por diante. Você é cronicamente
incapaz de ficar parada. Mas você ainda não se moveu desde que
começamos a nossa conversa amigável.
Eu levantei a cabeça. — Meu traseiro está colado na minha cadeira.
— Literal ou figurativamente?
— Literalmente. —Diga algo. Faz o meu dia. Eu ainda poderia chutar
sua bunda mesmo com a cadeira no meu traseiro.
Um pouco de luz dançou nos olhos do Saiman. — Que peculiar. Foi
uma brincadeira?
— Sim, foi. —E o brincalhão ouviria poucas e boas assim que
conseguisse me separar da mobília.
— Achei que, em casos como este, a saída mais fácil é remover as
calças. Claro, pode ser uma cola solúvel. Gostaria que eu desse uma
olhada?
— Não, não gostaria.
Os lábios de Saiman estremeceram um pouco. — Se você está certa
disso.
198
— Eu estou.
— Realmente não é problema.
Página
— Examinar minha bunda não está incluído no nosso acordo. Meu

pergaminho, por favor.

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Livro 4
Saiman me passou o saco de plástico e levantou. — Deixe-me saber o

final disso.
— Vá embora.
Ele riu para si mesmo e partiu. Tomei um gole do meu café. Frio. Pelo
menos meu donut de mirtilo teria o mesmo gosto quente ou frio. Exceto
por um pequeno problema—eu tinha deixado a rosquinha no lado exterior
da mesa e chegar lá exigiria que me levantasse.
Meu telefone tocou. Eu atendi.
— Acetona, —disse a voz de Andrea. — Dissolve tudo. Eu encontrei um
galão dela no arsenal. Nós embebemos a cadeira e você está pronta para ... Ah,
merda! Entrando!
Larguei o telefone e agarrei a minha espada.
Curran entrou pela porta.
— Você!
Meu poodle de ataque subiu do chão, os dentes à mostra.
Ouro brilhava nos olhos do Curran. Ele olhou para o poodle. O
cachorro recuou, grunhindo em voz baixa.
Eu cuspi as palavras através de meus dentes. — Deixe o meu cachorro
em paz.
Curran continuou olhando.
O cachorro se afastou para a parede e deitou-se.
199
Curran entrou, carregando algum tipo de roupa. — Belo cão. Adorei

o suéter.
Página
Eu teria ele picado em pedaços pequenos, pequenos, minúsculos ...

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Livro 4
— Eu mudei de ideia sobre o catnip. —Ele mostrou o vestuário. Uma

roupa de empregada francesa, completa com um avental de renda.
O punho da Matadora estava suave em meus dedos. Senhor das Feras
ou não, ele sangrava.
O poodle rosnou.
Curran pendurou a roupa na parte de trás da porta e se aproximou de
minha mesa. Isso mesmo, chegue mais perto. Mais perto. Mais perto ...
Ele assaltou a mesa sobrenaturalmente rápido. Pequenos pelos
subiram na parte de trás do meu pescoço. Mal vi isso. Um momento a mão
dele estava vazia, no próximo ele tinha a minha rosquinha. Ele mordeu.
— Mmm, mirtilo.
Em minha mente, a cabeça dele explodiu.
— Difícil de proteger sua comida com seu traseiro colado. —Ele
cumprimentou-me com a rosquinha. — Quando você estiver pronta para
falar, ligue para mim. Você sabe o número.
Ele saiu.
200
Página

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CAPÍTULO 15
NO MOMENTO QUE ANDREA DERRAMOU ACETONA NA MINHA

cadeira através de uma seringa, a cola decidiu ter uma reação química, que
incendiou meu traseiro. Levei menos de 5 segundos para cortar as minhas
calças. Levou aproximadamente meia hora antes de me atrever a sentar
novamente e tive que passar o meu dia sentada em um saco de gelo, que
eu consegui do outro lado da rua. O gelo estava frio e minha bunda doía.
A tecnologia permaneceu durante todo o dia. Liguei para o templo e
pedi uma consulta, provisoriamente marcada para o meio-dia de amanhã,
se a magia subisse. Depois de ser colocada em espera duas vezes, disseram
que os rabinos me veriam. Kate Daniels, mestra do telefone.
Passei o dia debruçada sobre a história do caso da Mary Steel e aprendi
praticamente nada de novo. Uma ligação para o Biohazard e PAD não
revelou nenhum novo desenvolvimento. A magia estava para baixo e Mary
Steel ficou inativa. Todos nós sentamos em nossas mãos, ou no meu caso,
no gelo e esperei pelo problema começar.
No final do dia fui para casa e tirei uma soneca. Quando acordei, o
sol tinha se posto. A cidade além de minhas janelas gradeadas estava
silenciosa, congelada na escuridão do inverno.
Tempo para me preparar para o encontro com Saiman. Oh alegria.
201
Eu possuía apenas um vestido formal. Eu comprei há alguns anos

atrás, a ex-mulher do meu tutor, Anna, me ajudou a escolhê-lo. O vestido
Página
esperava por mim no armário. Eu o puxei, envolto em plástico e coloquei

na cama. Seda fina brilhava a luz da lâmpada elétrica. Um tom estranho,
nem amarelo, nem ouro, com um toque de pêssego. Um pouco mais

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Livro 4
amarelo e iria estar beirando a limão, um pouco mais de ouro, e seria

berrante. Como era, parecia radiantemente lindo.
Eu deslizei nele. Artisticamente drapeado, à frente do vestido agarrou-
se aos meus seios, escorrendo em um V antes de torcer em minha cintura
e cair no chão em uma cachoeira de tecido. A camada de seda adicionava
suavidade ao meu corpo, enganando o olho para ver curvas ao invés de
músculo. O vestido da luz solar, Anna tinha chamado. Ainda se encaixava,
um pouco mais confortavelmente do que costumava, o que não era ruim.
Graças à Ordem, não passei mais fome.
A última vez que eu usei o vestido estava indo a um encontro com
Max Crest. Agora iria usá-lo com Saiman. Apenas uma vez eu adoraria
usá-lo para um homem que realmente queria ver.
Eu puxei meu cabelo para trás das minhas têmporas. Isso fez meu
rosto parecer horrível e mostrou uma cicatriz perto da minha orelha
esquerda. Dois pelo preço de um, yay. Eu me preparei para escovar todos
os emaranhados para fora e o fixar no lugar com gel. Ele caiu sobre minhas
costas em uma onda muito lustrosa. Eu nunca furei minhas orelhas—eu
rasguei suficientes brincos das orelhas das pessoas para saber quanta dor
poderia oferecer. Eu não possuo qualquer joia, mas tinha um par de
sapatos que combinavam com o vestido, estreitos, amarelos e equipados
com pequenas estacas em vez de saltos. Eu comprei os sapatos para o
vestido. Olhar para eles machucava. Andar neles era comparável à tortura
chinesa da água.
Eles teriam que servir.
202
No ano passado, tive a oportunidade de me maquiar exatamente duas

vezes, então os níveis mais altos da arte estavam fora do meu alcance.
Página
Escovei blush, escureci minhas pálpebras com sombra marrom e coloquei

rímel. Não importa que cor eu escolhesse, rímel sempre me levava para um
território exótico. Eu passei um batom rosa e terminei minha pintura de
guerra.

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Livro 4
Sem espada. Nenhum lugar para esconder minhas agulhas. Isso

deveria ter me preocupado, mas não aconteceu. A maior ameaça viria com
a onda mágica e magia raramente atingia duas vezes em um período de
vinte e quatro horas. Algo mais e estaria disposta a assumir com minhas
próprias mãos. Na verdade, ferir alguém com meus punhos poderia ser
terapêutico, considerando meu estado de espírito atual.
Há quatro minutos para as oito uma batida ecoou em meu
apartamento, deixando o poodle de ataque histérico. Eu o coloquei no
banheiro, onde ele poderia causar danos mínimos e abri a porta.
Saiman usava um terno e uma versão atualizada de Thomas Durand.
O original Durand, que possuía um sétimo dos Jogos da Meia-noite, estava
em seus cinquenta anos. Esta versão estava na casa dos trinta, largo nos
ombros, masculino e perfeitamente construído. Assim como antes, a aura
de riqueza emanava dele, de seus sapatos caros ao seu perfil nobre e o
cabelo artisticamente cortado loiro escuro. Ele parecia com o filho favorito
de seu antigo eu.
Ele abriu a boca e simplesmente parou, como se alguém tivesse
desligado um interruptor.
Terra para Saiman. — Oi.
Ele piscou. — Boa noite. Posso entrar?
Não. — Claro. —Eu me afastei e ele entrou em meu apartamento. Ele
levou um longo momento para o levantamento da minha residência. O
olhar dele demorou-se em minha cama.
203
— Você dorme em sua sala de estar?

— Sim.
Página
— Por quê?
Porque herdei o apartamento de Greg, meu guardião. Ele transformou
o único quarto do apartamento em uma biblioteca improvisada/sala de

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Livro 4
armazenamento e dormia ali, cercado por seus livros e artefatos. Greg foi
assassinado há menos de um ano. Dormir na cama dele estava fora de
questão, então comprei um sofá-cama e coloquei na sala de estar. Dormia
lá, com a porta do quarto real firmemente fechada. E quando Julie
aparecia, eu deixava para ela.
Explicar tudo isso era chato e desnecessário. Dei de ombros. — É um
hábito.
Saiman parecia que queria perguntar outra coisa, mas mudou de ideia.
Escorreguei em meus sapatos, envolvi um xale de crochê em torno de
mim e peguei a Matadora. — Estou pronta.
Saiman não parecia que queria sair. Eu abri a porta e sai para o
corredor.
Ele me seguiu. Eu tranquei a porta. Ele ofereceu-me o braço e
descansei meus dedos na manga. Afinal estava coberta pelo nosso acordo.
Descemos as escadas encardidas. Lá fora, o frio passou por mim. Neve
branca pequena derivou-se do céu à noite. Saiman levantou o rosto para o
céu e sorriu. — Inverno, —ele disse suavemente. Quando virou para mim,
seus olhos brilhavam, como dois pedaços de gelo iluminados por um fogo
interior.
Ele abriu a porta do carro para mim com um aceno de cabeça
profundo que se assemelhou a um arco. Entrei e coloquei o sabre sobre
meu colo. Ele fechou a porta e deslizou no banco do motorista, tirando
uma caixa de madeira entalhada. — Eu trouxe isso para você, —ele disse.
204
— Mas você não precisa deles. Você está divina.

Eu abri a caixa. Um bracelete de Topázio Amarelo, brincos e um colar
sobre o veludo verde. O colar era de longe o mais impressionante—uma
Página
corrente fina elegante, coroada com uma gota ardente de uma pedra. —
Parece o diamante lobo, —eu disse.

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— De fato. É um topázio amarelo. Senti que era apropriado, mas seu

pescoço nu é chocante. Você é bem-vinda para eles, é claro.
Fechei a caixa. — E melhor não.
Saiman afastou-se pela noite adentro. Deslizando pela cidade. Ruínas
de edifícios olhavam para mim como buracos negros de suas janelas.
— Você gosta de inverno, Kate?
— Em teoria.
— Oh?
— A criança em mim gosta da neve.
— E o adulto?
— O adulto diz: contas altas, pessoas congelando até a morte, tubos de
água estourados e estradas congestionadas. O que há para não amar?
— Acho você tão imensamente divertida. —Saiman olhou para mim.
— Por que persiste com este absurdo? Deixei claro que não gosto de
você de forma romântica e nunca o farei.
Ele deu de ombros. — Eu não gosto de perder. Além disso, não estou
interessado em uma aventura. O que ofereço é infinitamente mais estável:
uma parceria. A paixão é passageira, mas uma relação baseada no benefício
mútuo iria sobreviver anos. Ofereço estabilidade, lealdade, meus recursos,
e eu. Eu nunca vou aborrecê-la, Kate. Eu nunca vou te trair.
— A menos que sirva aos seus interesses.
205
Ele deu de ombros. — É claro. Mas os ganhos teriam que superar os

riscos. Ter você do meu lado teria muito valor para mim. Se eu encontrar
Página
algo mais valioso, teria que me certificar de que você nunca soubesse sobre
o cancelamento do nosso acordo. Você é uma mulher muito violenta,
depois de tudo.

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— Em outras palavras, você me mataria, então eu não poderia puni-

lo por sua traição.
— 'Matar' é uma palavra tão feia. Eu simplesmente me certificaria de
estar fora do seu alcance.
Balancei a cabeça. Ele era um caso perdido. — Que mulher não
pularia para essa oferta?
— Eu nunca mentiria para você, Kate. É uma das vantagens que eu
lhe ofereço.
— Meu coração sangra em agradecimento. Você já amou alguém,
Saiman?
— Não.
Isso era uma conversa sem sentido. — Conheço um homem que está
apaixonado pela minha amiga. Ele a ama absolutamente. A única coisa
que ele quer em troca é que ela o ame.
Saiman arqueou as sobrancelhas, me imitando. — E?
— Você é exatamente o oposto dele. Você não tem capacidade para
amar, então você quer sufocar a minha também.
Ele riu. Seu riso ecoou no interior do veículo, uma misteriosa trilha
sonora para a cidade em ruínas.
206
Página

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CAPÍTULO 16
QUARENTA MINUTOS MAIS TARDE, SAIMAN PAROU EM UM

estacionamento diante de uma grande mansão. Nós tínhamos subido pelo
Norte, longe da parte afluente de Atlanta, mas esta casa fazia "afluente"
soar como um insulto. Muito grande para seu lote, o edifício esparramado,
levantado sobre dois andares de grandes dimensões para a noite e
afastando seus vizinhos do sul do caminho. Quando as casas novas foram
construídas em Atlanta, elas tipicamente imitavam o estilo do sul, mas este
monstro era decididamente inglês: de tijolinhos, janelas enormes, hera
escura gelada com a neve nova e uma varanda. Tudo que precisava era uma
senhorita inglesa de rosto fresco em um vestido de renda.
— O que é isso? —Eu olhei as janelas que derramaram luz elétrica
amarela sobre a neve.
— Bernard’s. —Saiman afundou um mundo de significados na
palavra, que assobiou alegremente sobre a minha cabeça.
Eu olhei de relance para ele. — É uma casa de festa.
— Eu espero que pro seu bem, seja uma festa muito inofensiva. —Se
tivesse me levado para algum tipo de orgia sexual, ele iria voar através de
uma dessas janelas bonitas, de cabeça.
207
— Não é esse tipo, —ele me assegurou. — É um lugar onde ricos e

influentes de Atlanta se reúnem para ser vistos e serem sociais.
Página
Tecnicamente é um restaurante, mas os patronos são a verdadeira atração,

não a comida. O ambiente é informal e a maioria das pessoas se mistura,
com bebida na mão.

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Oh garoto. Ricos e influentes. Precisamente a multidão que queria

evitar. — E você me trouxe aqui?
— Eu avisei que você estaria em exibição. Por favor, não ranja os
dentes, Kate. Deixa seu maxilar mais quadrado.
Saiman estacionou no final do lote.
— Sem manobrista?
— As pessoas que patrocinam o Bernard’s raramente abandonam o
controle de seus carros.
Eu deslizei Matadora entre os bancos e abri a porta do carro. Sair sem
pegar o salto do meu sapato em minha bainha levou um momento, e
quando havia conseguido esta façanha de destreza, Saiman estava lá com
seu braço e seu sorriso.
Por que eu concordei com isso novamente? Aaah, sim. Porque não tinha
escolha.
Deixei Saiman me guiar pelos degraus. Acima de nós um casal na
varanda riu de alguma coisa. O riso da mulher tinha um tom ligeiramente
histérico.
Cruzamos um vestíbulo e uma luxuosa escadaria, e Saiman me
acompanhou até o segundo andar, onde um número de pequenas mesas
pontilhava uma ampla sala. Uma sorridente hostess em um minúsculo
vestido preto levou-nos a uma mesa. Sentei-me para que pudesse ver a
porta e observei a multidão. Homens ricos e mulheres ricas trocavam
208
gentilezas. Alguns olharam para nós. Nenhuma ajuda contratada.

Estranho.
— Onde estão os guarda-costas? —Eu murmurei.
Página
— Bernard’s é um santuário, —disse Saiman. — A violência é

estritamente proibida. Alguém quebra a regra, a totalidade da elite de
Atlanta subiria para derrubá-lo.

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Na minha experiência, quando a violência eclodia, a totalidade da

elite de Atlanta se espalhava e corria por sua vida.
Saiman pediu conhaque, eu pedi água. As bebidas chegaram quase
que imediatamente. Saiman pegou seu copo de cristal pesado, aquecendo
o líquido âmbar que segurava com a palma da mão. Déjà vu. Tínhamos
feito esta música e dança, antes dos Jogos da Meia-noite.
— Só para você saber: se um rakshasa aparecer, eu deixei minha espada
no carro.
A expressão afável de Saiman ganhou uma borda. — Foi um incidente
terrível. Felizmente, está no passado.
Ele drenou seu copo. Em segundos ele tinha outro, esvaziou aquele
também em um único gole e lhe foi trazido um novo.
Eu me inclinei para frente e acenei para o conhaque prestes a seguir
seus companheiros pela garganta de Saiman. — Qual é a pressa?
— É simplesmente açúcar. —Ele deu de ombros e esvaziou o copo. —
Eu me exercitei na manhã de hoje e preciso reabastecer minhas reservas.
O garçom o contornou e depositou uma enorme garrafa quadrada de
conhaque sobre a mesa. — Com os nossos cumprimentos, senhor.
Saiman assentiu com a cabeça e derramou conhaque em seu copo. Sua
mão tremeu ligeiramente. Saiman estava nervoso. Eu examinei sua
mandíbula. Não nervoso, mas com raiva. Ele estava psicologicamente se
preparando para alguma coisa e alimentando-o com coragem líquida. Não
209
é bom.
Ele me notou olhando. Nossos olhos se encontraram. Seus lábios
curvaram em um sorriso. Ao contrário do sorriso satisfeito de um
Página
especialista tendo orgulho na sua realização, isto era o sorriso de um

homem olhando para uma mulher e fantasiando.

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Dei-lhe o meu olhar fixo. Para baixo, garoto.

— Você parece tão surpreendentemente impressionante, Kate, —
murmurou Saiman e engoliu o conhaque como se fosse água.
— Desacelere.
Saiman inclinou-se para frente. — Eu compraria para você um vestido
novo todo fim de semana só para ter o privilégio de tirá-lo de você.
Não nesta vida. — Você está bêbado.
— Besteira! —Ele derramou mais bebida. — É meu terceiro copo.
— Quinto.
Ele estudou o líquido âmbar. — Os homens muitas vezes dizem que é
encantadora?
— Não. Os homens muitas vezes me dizem que bato muito forte. —
Pegue a dica.
— Toda mulher deveria ouvir que ela é atraente. Homens são
seduzidos por seus olhos, as mulheres por suas orelhas. Eu lhe diria todas
as noites e todas as manhãs.
Ele estava apenas indo e indo. — Isso é bom.
— Você gostaria disso. —Metade do conhaque já tinha ido. Mesmo
com o metabolismo de um cavalo de corrida, ele estava bêbado. — Você
gostaria das coisas que eu diria. As coisas que faria.
— Claro que gostaria. —Talvez se o Sr. Casanova se abaixasse
210
debaixo da mesa, eu conseguiria o garçom para me ajudar a carregá-lo até

o estacionamento e terminarmos a noite.
Página
Preocupação me incomodava. Eu nunca tinha visto Saiman bêbado.

Beber, sim, mas não bêbado.

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Olhei atrás de mim. Na parede estava uma grande mesa cheia de

canapés. Se eu não podia impedi-lo de beber, talvez pudesse distraí-lo com
comida.
— Se importa se eu me servir de alguns?
Ele se levantou, como esperado. Bêbado ou não, as maneiras de
Saiman eram impecáveis. — Permita-me acompanhá-la.
Nós demos uma volta para os aperitivos. Eu me posicionei para que
pudesse ter uma visão melhor do salão. Saiman ficou perto de mim.
— Não está com fome? —Perguntei.
— Nem um pouco.
— Que tal reabastecer suas reservas?
— Ah, sim! Obrigado por me lembrar. —Ele ergueu seu copo vazio e
em segundos um garçom trouxe um cheio.
Bernard’s seis, Kate zero.
Eu olhei a comida. Diretamente na minha frente estava uma bandeja
de prata cheia de pequenos quadradinhos fritos. Cada quadrado com um
cubo de carne picada, polvilhado com pequenos pedaços de cebola verde,
sementes de gergelim e o que podia ter sido gengibre ralado.
— Tartare de atum42, —Saiman disse. — É delicioso.
Peguei um quadrado e coloquei na minha boca. O olhar de Saiman
estava preso em meus lábios. Mais umas bebidas e ele poderia se despir e
se oferecer para dançar na neve caindo lá fora. Como diabos eu me metia
211
nessas coisas?
Página
42
A palavra Tartare na culinária dá nome a um prato feito com carne crua picada, legumes e
especiarias, o “Steak Tartare”. O origem da palavra (tartare) é Francesa, é traduzida para o português como tártaro.

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— Você gosta? —Ele perguntou.

— É gos ...
Jim entrou pela porta, vestindo uma capa preta e uma carranca.
Oh, inferno.
Ele parou na porta, examinando a multidão e irradiando ameaça. Na
reunião de elite brilhante de Atlanta, o alfa do clã gato destacava-se como
um bloco sólido de escuridão. Ele me viu e cambaleou para trás, olhos
arregalados, olhando como um gato que foi atingido inesperadamente no
nariz—chocado e indignado ao mesmo tempo.
Eu nunca iria viver depois disso.
Atrás dele, Daniel e Jennifer, o casal alfa Lobo, caminhou através da
porta. Interessante.
Jim mostrou os dentes. Um jovem rapidamente afastou-se do lado
oposto da sala e correu.
Uma forma volumosa bloqueou a porta em seguida. Mahon. O urso
de Atlanta, alfa do clã Pesado e o executor do bando. O que diabos está
acontecendo?
Jim chamou o jovem à parte. Verde rolou em seus olhos. Ele disse
alguma coisa. O homem olhou para mim. Ele arregalou os olhos.
Um homem alto e bonito veio através da porta, lado a lado com um
mais magro, mais moreno, alguns anos mais jovem e bonito o suficiente
para ser deslumbrante. Robert e Thomas Lonesco, os alfas Ratos.
212
Seguiram mais pessoas, todos com a graça fluida dos metamorfos.

Houston, temos um problema. — Nós precisamos ir.
Página
— Oh, não. —Os olhos de Saiman brilharam com uma luz louca. —
Não, devemos ficar.

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Jim continuou com sua feroz máscara. Foi uma conversa muito
unilateral. Uma mulher de meia idade gordinha atravessou a porta em
seguida, me registrado, e franziu os lábios. Tia B, a alfa dos Boudas.
Saiman me arrastou para um restaurante onde o Conselho do Bando
aparentemente tinha ido jantar. Alfas de cada clã estavam presentes ...
Meus ouvidos pegaram uma voz que eu conhecia muito bem. Eu não
poderia possivelmente ouvi-lo todo o caminho por toda a sala, mas podia
senti-lo mesmo assim. Meus dedos ficaram gelados.
Uma figura familiar musculosa entrou pela porta.
Curran.
Ele virou a cabeça loira. Olhos cinzentos me fitaram.
O tempo parou.
O chão saiu debaixo dos meus pés e eu flutuei, desconectada, vendo
apenas ele.
Por um segundo, ele parecia como se tivesse levado um tapa.
Ele pensou que eu o havia rejeitado.
O olhar de Curran se moveu para Saiman. Ouro derretido inundou
suas íris, queimando toda razão e transformando-a em raiva. Merda.
Jim disse algo ao lado de Curran e em seguida, disse outra coisa.
Curran não deu nenhuma indicação de que ouviu.
Ele usava calças cáqui, uma camisa de gola alta preta e uma jaqueta
213
de couro. Para ele, era o equivalente a formal. Ele deve ter vindo aqui para
alguma ocasião especial. Talvez ele não fizesse Saiman em pedaços em
público. Talvez os porcos voassem.
Página
Ao meu lado, Saiman sorriu. — Todos queremos o que não podemos

ter, Kate. Eu quero você, você quer amor, e ele quer quebrar meu pescoço.

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Meu Deus. O tolo na verdade orquestrou a coisa toda. Eu estava em

exposição para o benefício de Curran. Eu abri minha boca, mas as palavras
não conseguiram sair.
— Ele não pode fazer nada aqui. —Saiman bebeu de seu copo. —
Depois do caso do Estuprador de Red Point, a Nação e o Bando
instituíram um encontro mensal realizado aqui em território neutro, para
manter abertas as linhas de comunicação e discutir negócios. Qualquer
desvio do protocolo significaria guerra. Ele não pode mexer um dedo fora
da linha.
Jim ainda estava falando, mas Curran não estava ouvindo. Ele estava
nos olhando com aquele olhar concentrado grande e sem piscar.
Eu finalmente forcei a minha voz a trabalhar. — Você me trouxe aqui
para humilhar o Senhor das Feras? Você está fora de sua mente?
Uma careta feia torceu o rosto de Saiman. A máscara civilizada
deslizou de seu rosto. Sua voz era um rosnar áspero. — Você gostaria de
saber o que é humilhação? Humilhação é ser forçado a sentar-se
calmamente e se comportar imprensado entre dois animais selvagens no
seu próprio local. Humilhação é dizerem quando sair e quando chegar,
para limitar-se aos seus aposentos e ter garras no pescoço no menor desvio
de suas ordens. Isso é o que ele fez nos Jogos da Meia-noite.
Saiman passou o torneio sentado entre Tia B e Mahon. Então é disso
que se tratava.
Sua arrogância imponente não aguentou. Ele deve ter fervido por
semanas, e eu tinha me jogado no meio. É por isso que ele bebeu o seu
214
peso em bebida. Curran era violência pressurizada e Saiman esperava um

confronto.
Página
— Claro, você sabe que ele quer você. —Saiman sorriu, um rolamento
selvagem dos dentes.

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— Ele pode ouvir você. —A audição de metamorfos superava a

humana, e Curran tinha que estar esforçando cada nervo para pegar nossas
vozes.
— Eu quero que ele ouça. Eu sou um especialista em luxúria e ele
cobiça você. Ele é possessivo. Ele deve ter tentado reivindica-la e você deve
o ter rejeitado da maneira que me rejeitou. Caso contrário, você não estaria
disponível para se juntar a mim aqui. Eu queria que ele visse. Para beber a
isso. Eu tenho você e ele não.
Idiota. — Saiman, cale a boca.
O rosto de Curran era ilegível.
Saiman inclinou-se para mim. — Deixe-me te dizer sobre o amor.
Uma vez eu seduzi uma noiva e um noivo na noite de núpcias. Eu tive ele
antes da recepção, e ela depois. Eu fiz isso apenas por diversão, para ver se
eu poderia fazê-lo. Duas pessoas no início de sua nova vida juntos, tendo
apenas prometido abandonar todos os outros. Se isso não é prova da
impermanência do amor, o que é?
Curran formou um olhar alfa completo. Era o brilho primitivo,
impiedoso de um predador avistando sua presa. Ele bateu meus sentidos.
Olhei de volta para as íris douradas. Pode vir. Eu tenho um monte de agressão
reprimida que guardei apenas para você.
Tia B virou-se para os dois ratos, disse algo com um sorriso e juntos
eles entraram na sala ao lado marcada como FESTA PRIVADA. Um por um
os Alfas seguiram-na.
215
Saiman riu suavemente. — Nós não somos diferentes, Curran e eu.

Ambos somos vítimas da luxúria. Ambos guardamos o nosso orgulho e
Página
sofremos de ciúme. Nós dois empregamos nossos recursos para conseguir

o que queremos: Eu uso minha riqueza e meu corpo e ele usa sua posição de
poder. Você diz que eu quero você apenas porque você me recusou. Ele
quer você pelo mesmo motivo. Eu me lembro de quando ele se tornou o

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Senhor das Feras. O rei menino, o adolescente perpétuo, de repente à

frente da cadeia alimentar, com acesso a centenas de mulheres que não
sabem dizer não. Você acha que ele as força a sua cama? Ele deve ter feito
isso pelo menos algumas vezes.
Um músculo saltou no rosto do Curran.
No canto, Jim assentiu e um casal à nossa esquerda e a acompanhante
de Jim seguiu o Conselho do Bando. Jim tinha puxado o seu povo. Eles
estavam dando a Curran um campo de jogo limpo. Sem testemunhas do
Bando, os metamorfos não poderiam ser forçados a testemunhar contra o
Senhor das Feras. Legal.
Os olhos de Curran prometeram assassinato. Eu poderia praticamente
ver a manchete: CONSULTORA DA ORDEM ATACADA PELO SENHOR
DAS FERAS EM EXCLUSIVO RESTAURANTE DA ZONA NORTE. Eu
tinha que manter Saiman vivo. Precisava dele para me ajudar com minha
petição, e eu estendi a proteção da Ordem a ele quando concordei com este
encontro idiota.
Não tinha nenhuma espada, sem lâminas, nada.
Saiman sinalizou para uma nova bebida. — Há apenas uma diferença
entre nós. O Senhor das Feras vai mentir para você. Ele dirá a você que te
ama, que você vai ser para sempre a única, que ele vai sacrificar tudo para
estar com você e mantê-la segura. Eu não vou mentir para você. Não vou
fazer promessas que não posso cumprir. Honestidade, Kate. Eu ofereço
honestidade.
216
Como um homem tão inteligente pode ser tão estúpido? Era como se
ele não pudesse parar-se. Ele tinha ido além do ponto da razão. — Saiman,
cale essa maldita boca.
Página
— Você é toda minha esta noite. Beije-me, Kate. Deixe-me acariciar

seu pescoço. Aposto que isso o enviaria para o limite.

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Saiman estendeu a mão para mim. Eu o evitei.

Algo se deslocou nos olhos de Curran. Ele começou a andar em nossa
direção, movendo-se de forma deliberada, sem pressa, seu olhar fixo em
Saiman.
Se Curran tivesse suas mãos sobre ele, ele o mataria. Eu tinha alguns
segundos para evitar isso.
Eu pisei na frente de Saiman. — Fique atrás de mim.
— Ele não vai me machucar. Aqui não. Isso significaria repercussões.
— Ele não se importa. —Saiman sabia que a sociedade funcionava
por certas regras, e enquanto ele se prendesse a essas regras, estaria seguro
e respeitado. Nunca nenhuma emoção lhe tocou fundo o suficiente para
contemplar quebrar essas regras. Ele não conseguia entender o fato que
Curran poderia jogar tudo pela janela só pela oportunidade de agarrar a
garganta dele.
Curran teceu seu caminho entre as mesas. Eu me dirigi a ele. Arma.
Eu precisava de uma arma. À minha direita, um casal estava rindo na
mesa, uma garrafa de vinho em parte vazia estava sobre a toalha de mesa
branca próxima a eles. Eu peguei a garrafa e me mantive em movimento.
Os olhos de Curran brilharam.
Mostrei-lhe a garrafa. Você não pode ter o Saiman. Estou o protegendo.
Ele pegou velocidade. Eu não me importo.
Eu segurei a garrafa e coloquei um ponto entre duas mesas. Bem.
217
Continue vindo. Você queria falar. Nós vamos falar.

Página

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Um homem entrou na sala. Levemente construído, ele usava um

sherwani43, um casaco longo indiano, pesadamente bordado com seda
escarlate e fios de ouro. Gemas brilhantes pontuavam as torções do
bordado. A cabeça escura estava nua. Ele carregava uma bengala com uma
cabeça de cobra de ouro, que, conhecendo-o, era provavelmente, o artigo
genuíno. Nataraja, o residente kahuna44 da Nação. Ele lidava com os
interesses da Nação em Atlanta, reportando ao círculo interno de Roland.
Atrás dele, a figura magra de Ghastek surgiu, ao lado, Rowena, uma
ruiva deslumbrante, envolvida em um vestido índigo lindo. Outros mestres
dos mortos seguiam. A Nação tinha chegado.
Nataraja viu Curran, fez uma careta, e falou com uma voz
ligeiramente entediada. — A Nação saúda o Senhor das Feras.
Curran parou no meio de um passo. A fúria nos olhos dele fervia. Ele
a puxou de volta, colocando-se sob controle. Deve ter tomado um esforço
monumental de vontade. Ele assustou a merda fora de mim.
Curran falou uma palavra comigo. Mais tarde.
Eu toquei a garrafa contra minha palma e murmurei de volta. A
qualquer hora.
Lentamente, Curran virou as costas para nós. Sua voz era uniforme e
clara. — O Senhor das Feras saúda a Nação.
Ele estendeu a mão em direção à sala privada e juntos ele e Nataraja
entraram lado a lado.
218
Página
43
Sherwani é um casaco comprido usado em contexto mais formal na Ásia Meridional. O casaco é tradicionalmente
associado às classes superiores muçulmanas de tempos antigos do subcontinente indiano.
44
Kahuna é uma palavra havaiana, definida em Pukui & Elbert (1986) como "sacerdote, feiticeiro, mago, líder, ministro, especialista em
qualquer profissão."

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— TEMOS DE IR, —EU ROSNEI.

Saiman encolheu os ombros com indiferença elegante. — Você se
preocupa demais.
Vinte minutos se passaram desde que a Nação e o Conselho do Bando
tinham entrado em sua sala privada e não pude tirar Saiman dali nem por
minha vida. Ele continuava a beber. Antes ele tinha ficado bêbado para
construir a sua coragem, agora estava bebendo para comemorar sobreviver
à provação.
Saiman morava na bolha de seu próprio egocentrismo. Nada era mais
importante para ele do que dinheiro e influência. Quebrar as regras da elite
de Atlanta custaria ao autor da infracção. Nenhuma emoção forte
perturbava ou incomodava Saiman o suficiente para fazê-lo quebrar as
regras. Ele simplesmente não podia compreender que Curran iria sacrificar
tudo por uma chance de afundar suas garras em sua garganta.
E mais, Curran era obrigado à violência. Saiman atirou um insulto
colossal na frente de membros do Bando. Agora Curran estava sentado
naquela sala privada, fantasiando sobre redecorar a sala de jantar com
guirlandas das tripas de Saiman. Mais cedo ou mais tarde, ele sairia e eu
não confiava em mim para manter Saiman seguro.
219
Eu queria um confronto. Eu queria quebrar a garrafa na cabeça de

Curran. Mas uma vez que começarmos isso, eu esqueceria que Saiman
estava lá. Eu estaria tão empenhada em machucar Curran, que eu me
Página
tornaria alheia a tudo o mais. Havia uma razão por que a primeira regra
do trabalho de guarda-costas dizia, "Saiba onde está o seu 'corpo' em todos
os momentos." No momento em que você perde a visão do corpo que

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estava protegendo, ele tornava-se vulnerável. Curran era um bastardo letal.

Eu não podia arriscar a segurança de Saiman.
Eu tentei o raciocínio. Eu tentei as ameaças. Saiman permaneceu
enraizado a sua cadeira, continuei a assegurar que terminaria a noite
embalando seu cadáver. Deixando-o e saindo, esperando que ele iria me
seguir, estava fora de questão. Pelo que sabia, Curran explodiria fora da
sala, no momento em que pisasse fora da vista. E Saiman era muito pesado
para carregá-lo para fora. De todos os tempos para não ter a força
sobrenatural. Se eu tivesse a força de Andrea, gostaria de colocá-lo sobre
meu ombro e arrastá-lo para fora.
Jim deu uma volta fora da sala privada e veio em nossa direção.
Moveu-se com elegância casual, só um cara durão amigável à espreita. As
pessoas discretamente encolheram-se dele. É difícil se encolher quando
está sentado, mas eles conseguiram.
Ele parou na nossa mesa e olhou para Saiman. A voz de Jim era
melodiosamente suave e ele falou suavemente, mas suas palavras
pingavam malícia. — Se você sair agora, sozinho, o Senhor das Feras lhe
concederá passagem segura.
Saiman riu, um som tranquilo e sem humor. — Não preciso de suas
garantias. Estou aproveitando muito o meu encontro, e eu pretendo
aproveitar o resto da minha noite na companhia de Kate.
Jim se inclinou para mim, pronunciando as palavras com precisão
nítida. — Precisa de ajuda?
220
Sim. Sim, eu acho. Por favor, bata no estúpido do meu lado na cabeça, derrube-
o para fora e me ajude a levá-lo daqui. Eu relaxei meus dentes. — Não.
Um sorriso triunfante tocou nos lábios de Saiman. Apenas um murro
Página
e ele iria estar catando os dentes fora daquele cabelo perfeito.

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Jim chegou mais perto. — Se você quer ir embora sem ele, eu vou
fazer isso acontecer. —Um brilho verde rolou em seus olhos.
— Sou obrigada a ficar com ele pela noite inteira. Mas agradeço a
oferta.
Jim assentiu com a cabeça e retirou-se.
Se fúria gerasse calor, eu estaria cozinhando de dentro para fora.
Tempos desesperados pediam medidas desesperadas. Eu usei a astúcia
feminina que me restava e toquei a mão de Saiman. — Saiman, por favor,
vamos lá. Como um favor para mim.
Ele fez uma pausa com o copo no meio do caminho à boca. — Estou
ansioso para atormentá-lo um pouco mais, uma vez que ele surgir.
Idiota, idiota, idiota. — Você fez o seu ponto já e eu estou cansada e
estressada. Eu só quero ir e tomar uma xícara de café na minha cozinha.
Sua mente tomou um momento para resolver a confusão do álcool.
Ele arqueou as sobrancelhas. — Você está me convidando para um chá
privado em sua casa?
— Sim. —Eu lhe daria uma xícara de café e uma grande ajuda em
forma de sanduíche. Generosidade é uma virtude, e eu estava com vontade
de ser extremamente virtuosa.
Saiman fez um suspiro exagerado. — Reconheço que é um suborno,
mas eu seria um tolo se recusasse.
— Seria.
221
Ele pagou a conta. Com sorte, a Nação e o Bando permaneceriam

enclausurados por mais algum tempo.
Página
Nós começamos a descer a escadaria. Eu o vi como um falcão,

esperando que tropeçasse na escada, mas ele conseguiu descer com sua
habitual elegância. Aparentemente ele não mostrava sinais de embriaguez.

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Livro 4
Ele não tropeçou e não pronunciou seu discurso, o que trabalhou contra
ele. Curran pode ser capaz de perdoar um homem embriagado, mas não
um sóbrio.
Lá fora, a neve caia do céu preto, escondendo o chão em um cobertor
macio e branco. Saiman levantou a mão, e flocos de neve rodaram para a
sua pele, à direita de seus dedos.
— Bonitos, não são?
— Muito bonito. —Eu o guiei para o veículo.
Nós finalmente chegamos ao estacionamento. Saiman estalou os
dedos, puxando as chaves fora do ar.
— Você não deve dirigir, —disse a ele.
— Pelo contrário, eu deveria.
Um humano normal iria morrer de envenenamento por álcool até
agora. Ele queria dirigir. — Dê-me as chaves.
Ele considerou e balançou as chaves. — O que eu ganho se eu deixar
você dirigir?
Eu senti o peso do olhar de alguém, como se um atirador tivesse
olhando minhas costas através da mira de um rifle. Virei-me. O prédio
estava a cerca de trinta metros de distância. As portas duplas de vidro que
levavam à varanda abriram-se, e Curran saiu.
— O que eu ganho se deixar você dirigir, Kate?
222
Peguei as chaves de sua mão. — Viver! Entre no carro.

— Agora, agora ...
Página
Destravei as portas, puxei a porta do passageiro aberta e o empurrei

para o banco.

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Os olhos do Curran brilhavam com ouro. Ele tirou dos ombros a

jaqueta de couro, agarrou o pescoço de sua camisa de gola alta com ambas
as mãos e a rasgou ao meio.
Eu mergulhei dentro do carro e pisei fundo no acelerador.
Pelo espelho retrovisor Curran rasgou suas calças. Sua carne fervia, e
um monstro surgiu.
— Qual é a pressa? —Saiman quis saber.
— Olhe para trás.
O homem tinha desaparecido. Em seu lugar, havia uma besta, cinza
escuro e com músculo. Eu vi de relance enormes presas em um rosto que
não era nem leão, nem humano e então ele pulou da sacada para o telhado
vizinho.
— Ele está nos perseguindo. —Saiman olhou através da janela
traseira. — Ele está na verdade nos perseguindo!
Ele está te perseguindo. Ele não me machucaria. — O que você
esperava?
Choque estampava o rosto de Saiman. — Ele abandonou todos as
pretensões de humanidade.
Eu virei numa curva fechada. Os pneus derrapavam. O veículo
deslizou, escovando um monte de neve. Eu lutei com a roda, endireitando
o carro, e nós corremos pela rua.
Curran apareceu acima do edifício atrás de nós. Ele navegou pelo céu
223
noturno como se tivesse asas e caiu sobre as telhas. O luar penetrava em

sua juba desgrenhada. Ele começou a correr, criando outra brecha entre os
Página
edifícios e nos seguiu, pulando de telhado em telhado em grandes saltos.

Tentei falar claramente, esperando que fosse penetrar a névoa do
cérebro de Saiman. — Nós vamos para minha casa. Eu pulo fora. Você

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pega o volante e dirige tão rápido quanto pode. É sua única chance. —E
minha única chance de resolver tudo o que me afligia sem interferência
externa.
Saiman não respondeu. Carne fluiu no seu rosto e mãos,
transformando-se em uma nova forma e mudando instantaneamente em
outra, como se seu corpo tivesse se tornado líquido.
— O que você está fazendo?
— Queimando o álcool. —Ele olhou para trás. — Ele ainda está lá!
— Me ajude a dirigir. Não sei onde estou indo.
— Pegue a próxima à esquerda. Você verá uma ponte. Vá para ela.
Fiz a curva, rezando para que a tecnologia aguentasse. Se a magia nos
atingisse, nós estaríamos na merda.
CAPÍTULO 17
TRINTA MINUTOS MAIS TARDE NUMA PARADA EM SECO ANTES DO

meu prédio. Saltei para a neve, a Matadora na mão. Saiman pulou para o
banco do motorista. As rodas giraram, pulverizando flocos de neve. Eu
224
pulei para trás. O carro se inverteu, atravessando o local onde meus pés
estavam meio segundo antes e acelerou na noite.
Página
Ele quase me atropelou. Covarde. Vamos fazer uma parceria, Kate.

Ofereço a honestidade, Kate. Eu não tenho que correr mais rápido do que o Senhor

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das Feras, eu só estava chateado, Kate. Só tenho que correr mais que você e bater
em você com meu carro enquanto eu fujo daqui.
Os cachorros na rua explodiram com latidos frenéticos. Falando no
diabo ...
Eu precisava atrair a atenção de Sua Majestade e tirar isso da rua. A
céu aberto, ele poderia começar a correr e me derrubar. Em meu
apartamento, ele teria dificuldade em manobra e eu teria a vantagem de
território.
Eu subi o vestido e corri para o prédio, tomando as escadas de dois
degraus de cada vez. Levei três preciosos segundos para abrir a porta. Eu
explodi dentro, soltei a espada, corri para a janela da sala e a abri. Uma
grossa grade de barras de aço e prata guardava minha janela. Peguei as
duas alças e torci. A fechadura abriu. A grade virou para a esquerda e eu o
vi, um pesadelo correndo acima dos telhados do outro lado da rua, como
um demônio preso entre o céu negro e a neve branca.
Querido Deus.
Ele me viu e mudou de direção no meio do caminho. Está certo.
Venha, deixe-me te beijar com o meu punho, baby.
Eu me afastei da janela. Sapatos. Eu estava usando saltos agulha. Tirei
e os joguei para o corredor. Se eu tivesse que chutá-lo, o calcanhar iria
direto para o corpo como uma faca. Isso doeria, mas não o suficiente para
detê-lo, e eu teria um inferno de um tempo ficando livre.
Curran caiu do telhado e atravessou a rua para o meu prédio. Eu
225
recuei, me dando espaço para chutar. Meu coração bateu. Minha boca
ficou completamente seca.
Página
Um segundo passou.
Vamos. Vamos.

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Livro 4
Uma meia pata arrancou o peitoril da janela. Curran pulou pela

janela.
Ele era enorme, nem um homem, nem um leão. A habitual forma de
guerreiro de Curran ficava em pé. Esta criatura estava em quatro patas.
Enorme, coberto com músculos sob uma pele cinza listrada e marcas de
um cinza escuro, trezentos quilos pelo menos. Sua cabeça era de leão, os
olhos eram humanos e seus caninos eram monstruosos.
Então é assim que se parece o Senhor das Feras sem controle.
Ele caiu no chão da minha sala de estar. Músculos torceram e
mudaram, alongando e encaixando. A pelagem cinza derreteu,
desaparecendo na pele humana, e Curran estava no meu tapete, nu e
irritado, seus olhos brilhando dourados.
Sua voz era um rosnado profundo. — Eu sei que ele está aqui. Eu
posso sentir o cheiro dele.
Senti um impulso irresistível de bater na cabeça dele com algo pesado.
— Você perdeu o seu sentido de olfato? O cheiro de Saiman é de duas horas
atrás.
Olhos dourados me queimaram. — Onde ele está?
— Debaixo da minha cama.
A cama voou pelo ar. Ela cruzou a sala e se chocou com a parede com
um baque.
Isso foi o bastante. — O que diabos você pensa que está fazendo?
226
— Te salvando de qualquer confusão em que você se meteu desta vez.

Por que eu? — Não há nenhuma confusão! É um arranjo profissional.
Página
— Ele está te pagando? —Curran rosnou.

— Não. Eu estou pagando a ele.

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Ele rugiu. Sua boca era humana, mas a explosão do som que saiu fora
disso foi como um trovão.
— Ficou sem palavras, Vossa Majestade?
— Por que ele? —Ele rosnou. — De todos os homens que você poderia
ter, por que você o contrataria para isso?
— Porque ele tem o melhor equipamento na cidade e ele sabe como
usá-lo! —Assim que eu disse isso, percebi como ele iria levá-lo.
O início de mais um estrondoso rugido morreu na garganta de Curran.
Ele me encarou, mudo.
Oh, isso foi muito bom. Eu joguei minhas mãos para cima. — O
laboratório! Estou falando sobre seu laboratório, não sobre seu pau, seu
idiota. Ele é o único que conheço com um laboratório de classe quatro na
cidade. Ele pode pegar um pedaço de papel em branco e ler um
encantamento invisível nele.
Deve ter penetrado, porque recuperou sua capacidade de falar. — Não
foi o que me disseram. Não minta para mim, Kate.
— Saia do meu apartamento!
— Eu sei que ele estava planejando uma longa noite e você não tinha
escolha sobre isso.
Da próxima vez que eu visse Jim, eu o chutaria na garganta. — Eu
posso matar Saiman três vezes antes de seu corpo atingir o chão. Se eu não
quiser dormir com ele, nenhuma força na Terra me faria fazer o contrário.
227
Olha só, em nosso mundo, nós temos essa coisa irritante chamada
realidade. Antes de você correr para cá em sua glória bestial para me
resgatar, esse conceito nunca passou pela sua cabeça?
Página
Ele abriu a boca.

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Livro 4
— Não! —Eu rosnei, andando de um lado para o outro. — Ainda não

terminei. Eu preciso dele para a investigação da Ordem. Sair com ele, foi
uma condição de seus serviços, porque você o fez passar os Jogos da Meia-
noite entre Mahon e Tia B e esta é sua versão mesquinha de vingança.
Você sabia que eu estava protegendo-o, e ainda assim foi atrás dele. Você
fodeu a minha vida pessoal, e agora você está tentando destruir a minha
profissional. Se você matá-lo esta noite, eu juro por Deus que vou matar
você.
— Ele está forçando você a dormir com ele?
Que ideia fixa, Vossa Majestade. — Não. Mas mesmo se eu quisesse
saltar para a cama com ele e foder seus miolos, você não tem direito a uma
opinião sobre isso.
Raiva tremeu nos cantos da boca de Curran. Ele andava de um lado
para o outro como um gato enjaulado. — Eu tenho todos os direitos.
— Quem disse?
— Você. Você me deu esse direito quando você despejou catnip por
toda minha cama.
Eu abri minha boca, mas não saiu nada. Ele me tinha lá. — Eu mudei
de ideia.
— O que, novamente? Por que não estou surpreso?
— O que quer dizer, outra vez? Você me deu um bolo, lembra?
— Você estava aliviada por eu não ter aparecido.
228
Argh. — Vamos revisar. Eu cozinhei o jantar. Fiz uma torta. Arrumei

a mesa. Tomei banho. Eu coloquei maquiagem. Eu comprei preservativos,
Página
Curran. E então fiquei sentada na minha cozinha por horas, esperando por
você. Sentei e esperei por três horas. Então liguei para a fortaleza e
disseram para não entrar em contato com você novamente. E você tem a
audácia de rosnar para mim?

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Livro 4
Ele me mostrou os dentes. — O telefonema veio quando Doolittle

estava consertando meus ossos. Foi para Mahon, que pensou que não fosse
importante. Nunca chegou a mim. Eu não tinha idéia que você tinha
chamado. Foi fodido o que aconteceu, e eu aceito toda a responsabilidade.
Desculpe-me. Isso não vai acontecer novamente.
— Nisso estamos totalmente de acordo.
Seus olhos brilharam. — Mas você, você nem tentou me encontrar e
descobrir o que aconteceu.
— Você me fez sentir tão pequena. —Eu segurei meu polegar e dedo
indicador quase juntos. — Eu deveria rastejar até a fortaleza, cair aos seus
pés e implorar para me levar?
Ele rosnou. — Você deveria ter ido para a fortaleza e me dar um soco
no rosto. Isso estaria bem. Mas você fugiu.
A fúria em seus olhos fez os pelos na parte de trás do meu pescoço
levantar.
— Estava tentando evitar um conflito entre o Bando e a Ordem, seu
idiota estúpido!
— Besteira. —Ele continuou como se ele não me ouvisse. — Você
poderia ter me encontrado. Você poderia exigir uma explicação. Em vez
disso, sua brilhante idéia para lidar com essa bagunça era não falar comigo.
Você sai e me faz correr atrás de você como um garoto de dezesseis anos?
— No máximo doze. Dezesseis está lhe dando muito crédito.
229
Ele mordeu o ar. — Olha quem está falando.

Minha voz era tão amarga que poderia saboreá-la. — Não importa.
Página
Pensei que você queria ficar comigo. "Você me fez querer"—eu me esforcei
com as palavras—coisas que eu achava que nunca iria ter. Pensei que
tínhamos uma chance. Mas agora acabou. Obrigada, Majestade, por curar
minha loucura temporária e mostrar-me como foi tudo minha culpa. Peço

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desculpas por destruir sua adorada academia. Foi um erro da minha parte.
Vou substituir seu banco e edredom. Você pode sair agora.
Ele olhou para mim. Se ele não saísse, eu o mataria.
— Você quer que eu soletre? Vou falar devagar. Você partiu meu
coração e agora você está pisando nele. Eu te odeio. Saia do meu
apartamento, ou eu juro que eu vou bater em você.
Seu rosto estava sombrio. — Você quer que eu rasteje? É isso?
— Deixe-me pensar sobre isso, rastejar seria bom, mas não, só quero
que você vá embora. Saia.
Seus olhos brilharam para mim. — Obrigue-me.
Abaixei-me para a esquerda e o chutei. Ele não fez nenhum
movimento para evitá-lo. Meu pé bateu em seu estômago. Foi como chutar
uma árvore revestida de borracha. O chute bateu e ele deu dois passos para
trás. Ele resmungou. — Só isso, baby?
Eu girei, pegando impulso e chutando-o na cabeça. Ele cambaleou
para trás, parecendo um pouco confuso.
Forcei um sorriso para fora. — Tocou os sinos, baby? —Merda. Eu
bati nele com tudo o que tinha e ele não caiu. Ele deveria estar apagado
como uma luz.
Curran balançou a cabeça e cuspiu sangue no meu tapete. O ouro em
seus olhos me queimou. Ele começou a vir em minha direção, apertando
sua mandíbula.
230
Ele não aceitaria outro chute na cabeça, e chutar seu corpo seria inútil.
Tirei um golpe para o joelho. Ele bateu o pé de lado e me agarrou. Eu me
Página
esquivei e martelei um soco em suas costelas. Ele se virou e meu punho

ricocheteou nas costas. Ahhh! Eu afundei meu calcanhar no seu joelho
novamente, dirigindo toda a minha força. Ele resmungou, mas continuou

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a vir. Peguei um abajur do criado mudo e o golpeei com ele. Ele o pegou,
retirou da minha mão e jogou-o de lado.
Eu estava quase na parede. Meu espaço de manobra encolheu para
nada.
Esmaguei meus dedos em seu plexo solar. Ele expirou em um sopro
afiado e dirigiu-me para a parede. Seu antebraço prendeu meu braço
esquerdo. Martelei meu punho direito em seu ouvido. Ele rosnou, pegou
meu pulso e trancou contra a parede acima da minha cabeça.
Eu não tinha espaço para me mover. Game over.
Ele esmagou-me contra a parede, apoiando-me com seu corpo. Eu
fiquei tensa, tentando me libertar. Ele poderia ter sido feito de pedra por
todo o bem que me fez. Só que ele era feito de carne e estava
completamente nu.
Tentei distender todos os músculos que eu tinha. Nada. Estava além
de mim.
— Sente-se melhor? —Ele perguntou.
— Incline-se para a esquerda, Sua Majestade.
— Quer um tiro na minha jugular com seus dentes? —Ele se inclinou
para a direita, expondo seu pescoço grosso. — A carótida é melhor.
— Meus dentes são muito pequenos. Eu não causaria danos
suficientes para você sangrar até morrer. A jugular é melhor—se eu rasgar
um pouco e pegar as bolhas de ar na corrente sanguínea, elas estarão em
231
seu coração em duas respirações. Você poderia cair aos meus pés. —Um
humano normal morreria, mas precisa mais do que uma embolia aérea
para derrubar um metamorfo permanentemente.
Página
— Aqui está. —Ele inclinou a cabeça para mim, seu pescoço tão perto
de meus lábios, senti o calor vindo de sua pele. O hálito dele era quente

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contra o meu ouvido. Sua voz era um rosnado irregular. — Eu senti sua
falta.
Isto não está acontecendo.
— Eu me preocupo com você. —Ele baixou a cabeça e olhou nos meus
olhos. — Eu me preocupo que algo estúpido acontecerá e eu não estarei lá
e você se irá. Eu me preocupo que já não teremos uma chance, e isso está
me deixando fora de minha mente.
Não, não, não, não ...
Olhamos um para o outro. O pequeno espaço entre nós parecia muito
quente. Músculos saltavam na sua estrutura nua. Ele parecia feral.
Olhos dourados loucos olhavam para os meus. — Sentiu minha falta,
Kate?
Fechei os olhos, tentando afastá-lo. Eu poderia mentir e então
estaríamos de volta à estaca zero. Nada seria resolvido. Ainda estaria
sozinha, odiando-o e querendo-o.
Ele agarrou meus ombros e me sacudiu uma vez. — Você sente minha
falta?
Eu mergulhei. — Sim.
Ele me beijou. O sabor dele era como uma explosão de cor em uma
sala cinzenta. Era um beijo feroz e possessivo e eu derreti nele. A língua
dele roçou a minha, ávida e quente. Eu lambi, provando-o novamente.
Meus braços deslizaram pelo seu pescoço.
232
Ele rosnou, puxando-me para ele e beijou meus lábios, meu rosto, meu
pescoço ... — Não me faça ir embora.
Página
Sem chance. Eu engoli para recuperar o fôlego. — Se você sair, como

eu vou estrangular você?

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Ele me içou em seus quadris e moldou-me a ele e o beijei na boca,

roubando sua respiração. Não queria o deixar ir. Suas mãos deslizaram
sobre o meu corpo, acariciando meu pescoço, se movendo para meus
ombros e, em seguida, meus seios. Seus dedos escovaram meus mamilos,
enviando arrepios através de mim. Eu arqueei meu corpo, moendo nele,
cada vez mais rápido.
Ele fez um barulho, a meio caminho entre um rosnado e um ronronar.
Isso desencadeou algo profundo, feminino a um nível primitivo, e apertei
mais contra ele, correndo as minhas mãos sobre as cordas dos músculos
em suas costas, lambendo seu pescoço, beijando-o várias vezes, então ele
faria de novo.
Curran me afastou da parede e me levou pelo quarto, tropeçando nas
coisas. Nós tropeçamos para a cama, derrubada em um ângulo. Curran a
puxou para baixo com uma mão e nós caímos sobre ela, seu corpo grande
em cima do meu. Ele arrastou a boca dos meus lábios e beijou meu
pescoço, pintando o calor em minha garganta. Meus mamilos doíam. Ele
puxou o vestido para baixo do meu ombro e chupou o meu seio. Calor
disparou por mim, me deixando hiper-impaciente. Senti-me tão vazia e eu
queria estar cheia dele. O cheiro e o calor vindo dele me deixaram
embriagada.
Curran pegou meus braços e empurrou-os acima da minha cabeça.
Sua mão esquerda fechou meus pulsos. Ele me beijou com um grunhido
de fome, dentes mordendo minha pele. Sua mão quente deslizou pela
minha coxa, me enviando arrepios, e eu ouvi minha roupa interior rasgar.
233
Ele a jogou de lado, empurrou a mão debaixo da minha bunda, levantando

os quadris e dobrou-se entre as minhas coxas.
Oh, meu Deus.
Página
Eu gemi.

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Livro 4
Ele me lambeu, chupando-me, e me desvaneci, exceto pelo quente nó

de prazer abaixo. Cada golpe, cada toque de sua língua, tornou-se mais
quente e mais quente, construindo a pressão, insuportável, maravilhosa e
irresistível. Finalmente, explodiu através de mim em uma sacudida
abrasadora, de dentro por todo o caminho até minha pele. Curran me
liberou. Eu gemi e o agarrei. O calor dissolveu em uma cascata de ondas.
— Preservativos, —eu ofeguei.
— Onde?
Eu apontei para onde a cama costumava estar.
Ele caminhou fora e eu quase rosnei. Eu não queria que ele me
soltasse. O mundo cambaleou. Eu estava tonta, como se estivesse bêbada.
Curran reapareceu com um preservativo.
Ele abriu um pacote. Por um segundo absurdo pensei que o
preservativo não caberia. De alguma forma ele o colocou, pairou sobre
mim e beijou meu pescoço. Os dentes dele roçando minha pele. Ele me
apertou contra ele.
Passei minhas pernas em torno de seus quadris.
Os enormes músculos das suas costas incharam sob minhas mãos. Ele
empurrou, e gemi novamente quando ele deslizou dentro de mim, me
enchendo, quente e duro. Meu corpo estremeceu. Ele empurrou de novo,
construindo um ritmo suave, e movi-me com ele, balançando e tentando
não desmaiar de êxtase. Outro orgasmo explodiu em mim, arrancando um
234
grito da minha boca. Curran empurrou profundamente. Meu corpo

apertou em volta dele. Ele rosnou e se esvaziou dentro de mim, e nós
caímos sobre o colchão.
Página
Eu estava sem fôlego.

Tinha que ser uma alucinação, mas eu estava tão feliz, não me
importava.

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Livro 4
Ele me puxou para ele, e coloquei minha cabeça em seu peito. Sua
mão acariciou meu cabelo. Seu batimento cardíaco era uniforme e forte.
Ficamos deitados juntos enquanto o suor esfriava lentamente em nossa
pele.
Eu rolei e belisquei suas costelas. Ele grunhiu. — Isso é por aquela
maldita ligação.
Ele me pegou em um abraço, prendendo meus braços. — Eu acho que
um mosquito me mordeu.
Eu tentei afastar, mas ele tinha me envolvido.
Olhos cinzentos olharam para mim. — Por que não veio para a
fortaleza?
— Oh, eu planejei isso. Tinha as minhas botas já prontas para ir,
quando lembrei que iria causar um desastre entre agências. Eu estava
sendo responsável.
Ele sacudiu com gargalhadas.
— O quê?
— Você? Responsável?
— Cale-se. Como eu ia saber que você deixou dois ursinhos te
machucaram, Cachinhos Dourados?
— Ah, sim, essa boca. Tive saudades. —Ele esmagou-me em um
abraço feroz. — Toda minha agora. —Meus ossos gemeram.
235
— Não consigo ... respirar. —Eu guinchei.

— Desculpe, —ele sussurrou, deixando-me ir apenas o suficiente para
inalar.
Página
Nós ficamos juntos por um tempo, até o ar frio da janela aberta chegar
até mim e eu estremeci.

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— Você está com frio. —Ele se levantou e foi fechar a janela.

Meu vestido agarrou-se às minhas pernas e mexeu em volta da minha
cintura. Eu me contorci e o tirei.
— Nós arruinamos o seu vestido de Princesa Prometida, —disse ele.
— Eu tenho a pior sorte com esse vestido. —Levantei-me no cotovelo
para chutá-lo para fora e vi meu apartamento. Nós destruímos o lugar. —
Pelo menos o prédio ainda está de pé.
— Eu me orgulho da minha contenção, —ele disse.
Eu ri.
Recolhemos os travesseiros do chão e encontramos o cobertor. Ele
deslizou para a cama ao meu lado, e eu me envolvi em torno dele, minha
cabeça no peito.
— O que a aberração disse, não é desse jeito, —disse Curran.
— Eu sei, —disse e beijei o canto da sua mandíbula.
— Eu nunca forcei ninguém e eu não minto para você.
— Eu sei.
Uma longa e triste lamentação rolou através do apartamento.
Curran franziu a testa. — É seu vira-lata?
— Ele é um poodle de ataque. Encontrei-o em uma cena de incidente,
o lavei, tosquiei e agora ele protege a casa e vomita no tapete.
236
— Qual o nome dele?

Estiquei-me contra ele. — Grendel.
Página
— Nome estranho para um poodle. —Ele se virou, aproveitando ao

máximo o fato de que meus seios estavam esmagados contra ele.

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Livro 4
— Ele entrou em um salão cheio de guerreiros no meio da noite e os

assustou até a morte.
— Ahh. Isso explica tudo. —Sua mão acariciava meu ombro e, em
seguida, minhas costas. Era uma carícia enganosamente casual, e isso me
fez querer esfregar-me contra ele. Ele inclinou-se para mais perto e me
beijou. Os dentes dele arranharam meu lábio inferior. Ele beijou meu
queixo e começou a abrir caminho pelo meu pescoço. Mmmm ...
— Eu li que os leões podem fazer sexo trinta vezes por dia, —eu
murmurei.
Ele ergueu uma sobrancelha. — Sim, mas ele dura apenas meio
minuto. Você prefere o vigésimo-segundo especial?
Eu rolei meus olhos. — Que mulher pode passar essa oferta?
Ele segurou meu seio. Seus dedos escovaram meu mamilo e eu tremi.
— Eu não sou de todo leão, —disse Curran. — Mas me recupero rápido.
— Quão rápido?
Ele deu de ombros. — Dois minutos?
Oh garoto.
— Eu abrando eventualmente, —ele disse. — Depois das primeiras
duas horas ou mais ou menos.
Algumas horas . . . Enfiei minha mão em seu peito para o estômago,
sentindo os cumes duros de músculo. Eu queria fazer isso há tanto tempo.
— É bom que nós temos uma caixa inteira de preservativos.
237
Ele riu, como um gato depredador saciado, e me colocou em cima

dele.
Página

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CAPÍTULO 18
EU ABRI MEUS OLHOS, VI A LUZ, E EU ME LEVANTEI.

A magia estava ainda para baixo. Agradeci ao universo.
A cama estava de volta no seu lugar certo. Oh, bom. Eu sonhei a coisa
toda.
Curran entrou no quarto. Ele usava calças de moletom do Bando que
deve ter tirado fora do meu armário e nada mais. Músculos tonificados
esculpidos no peito e braços, endurecidos pelo esforço constante. Ele tinha
a compilação de um homem que lutou por sua vida—nem muito
volumoso, nem muito magro, uma combinação perfeita de força e rapidez
flexível.
E ele sorriu como um homem que tinha tido uma noite muito longa e
emocionante.
Não. Não foi um sonho.
Eu dormi com ele. Santo Deus.
Os olhos cinzentos de Curran riam de mim. — Bom dia.
— Diga-me que eu ainda estou dormindo.
238
Ele me mostrou a borda de seus dentes. — Não.

Eu deite de novo e puxei o lençol em cima de mim. Eu não poderia
ter sido tão imprudente.
Página
— É tarde demais para isso, —ele disse. — Eu já vi tudo. Na verdade,

tenho certeza que já toquei e provei tudo, também.

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— Eu só preciso de um momento para lidar com isso.

— Não tenha pressa. Eu não vou a lugar nenhum.
Era disso que eu tinha medo.
Ocorreu-me que não ouvi nenhum latido. — Onde está meu cachorro?
— Eu o deixei sair.
Eu me levantei. — Por conta própria?
— Ele vai voltar, uma vez que terminar. Ele sabe onde está a comida.
Curran caminhou para a cama, se movendo silenciosamente, os dedos
dos pés descalços segurando o chão levemente enquanto andava, como se
ainda tivesse garras. Ele era um bastardo incrivelmente atraente. Ele
inclinou-se sobre a cama. Os lábios dele roçaram os meus. Ele me beijou.
E eu o beijei de volta. Ele tinha gosto de Curran e pasta de dentes.
Claramente, eu tinha perdido a cabeça.
— Eu machuquei você ontem à noite?
Eu poderia ter usado muitas palavras para descrever a noite passada,
mas dor não era uma delas. — Não.
— Eu não tinha certeza desde que você me disse para parar.
— Sim, às cinco da manhã. —Ele continuou indo e indo, e
aproximadamente às cinco horas, meu corpo não aguentou. — Tive que
ter algum descanso. Mas estou legal e descansada agora. —Por que isso
acabou de sair da minha boca?
239
Ele parecia um gato que entrou em uma despensa e teve uma festa de
creme e catnip. — Isso é uma dica?
Página
— Você gostaria que fosse? —Eu simplesmente não conseguia me

parar.
Ele sorriu e deslizou para a cama ao meu lado. — Sim.

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Livro 4
Meia hora depois, escapei e comecei a procurar minhas roupas. O ar

cheirava a java—ele fez café para mim.
Eu me vesti e fui para a cozinha para fritar uma omelete e chamar
Andrea para atualizações.
— Você está duas horas atrasada, —ela disse. — Você está bem? Você
nunca está atrasada. Precisa de mim para te buscar?
— Não. Estou bem. Só cansada.
Curran colocou o pão na torradeira.
— Novidades sobre a minha Mary? —Perguntei.
— Nada.
Nós desviamos a bala. — Obrigada.
— Espere, não desligue.
— Sim?
Andrea abaixou a voz dela. — Raphael descobriu mais fofocas sobre a
coisa da academia.
Curran olhou para mim.
Tinha de interceptá-la na passagem antes que ela dissesse algo que
Raphael iria se arrepender. — Agora, este não é o melhor momento ...
— Olha só, eu estou me escondendo no arsenal com o telefone, vigiando a
porta, e sussurrando assim ninguém vai me ouvir. Eu me sinto como uma
240
criança matando aula escondida no banheiro com um baseado. O mínimo que

pode fazer é me ouvir. Raphael disse que Curran permaneceu no banco de peso
Página
durante quinze minutos inteiros tentando levantar a barra, mesmo que isso
estivesse soldado.
O rosto do Curran assumiu uma expressão inescrutável.

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Livro 4
— Uhum, —disse. "Uhum" era uma palavra boa. Evasiva.

— Ele quebrou.
— Como é que é?
— Ele quebrou a barra. E então ele esmagou o banco com a barra. Bateu a
coisa em pedaços.
Apenas me mate agora. — Uhum.
— Ele deve ter um monte de frustração. O homem está instável. Então
tome cuidado, ok?
— Vou ter. Obrigada.
Eu desliguei e olhei para ele. — Você quebrou o banco.
— Você quebrou. Eu apenas terminei o trabalho.
— Não foi um dos meus momentos mais brilhantes.
Ele deu de ombros. — Não. Eu não entendi até que vi o catnip. Eu
pensei que você estava me provocando. Foi inesperado. —Ele resmungou
baixinho. — Vou amordaçar Raphael.
— Ele só quer suas maquinações financeiras aprovadas.
— Você está me pedindo para fazer isso por ele?
— Não.
Eu desliguei o gás e saí com dois pratos de metal azuis. Eu tinha
desistido de pratos frágeis depois da última vez que minha porta da frente
241
foi quebrada e sereias demoníacas destruíram minha cozinha. Eu dividi a

omelete entre os pratos e parei quando os braços de Curran se fecharam
Página
sobre mim. Ele me puxou contra ele, pressionando minhas costas contra
seu peito. Eu ouvi ele inalar meu perfume. Seus lábios roçaram minha
testa. Aqui estávamos nós, sozinhos, na minha cozinha, abraçando um ao

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outro enquanto o café da manhã esfriava na mesa. Isto era uma espécie de
universo paralelo, com uma Kate diferente, que não foi caçada como um
animal selvagem e que poderia ter esses tipos de coisas.
— O que foi? —Perguntei suavemente.
— Apenas me certificando de que você sabe que está presa.
Ele beijou meu pescoço e inclinei-me contra ele. Eu poderia ficar dias
embrulhada nele assim. Eu tinha caído muito rápido e muito profundo.
Sim, isso era muito bom, mas o que aconteceria quando ele visse a próxima
conquista no horizonte? O pensamento me cortou. Aparentemente, eu
ainda estava frágil. — Eu não quebrei nenhum osso ontem à noite, não é?
— Não. Mas isso foi um inferno de um chute. Vi luzes bonitas por um
momento ou dois.
— Bem feito.
Nos separamos, um pouco estranhos. Ele checou a geladeira. — Há
alguma torta?
— Na caixa de pão.
Ele extraiu a torta da caixa e cheirou a crosta. — Maçã.
— Fiz ontem. —Maçãs mágicas descongelavam bem.
— Para mim?
— Talvez.
— Antes ou depois da cadeira?
242
— Depois. Embora eu estivesse muito chateada com você. O que

diabos você usou?
Página
— Cola industrial. É inerte, até você adicionar um catalisador para

isso. Tirei o tecido e enchi a cadeira com um saco de cola em plástico fino,

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coberto com o plástico com catalisador, coloquei as esponjas no topo e

revesti a coisa.
Foi por isso que não pareceu estranho sentada nele. No momento em
que sentei, a bolsa quebrou, cola e catalisador misturaram, e as esponjas
prenderam a minha bunda.
— Isso deve ter levado muito tempo.
— Eu estava muito motivado.
— Sabia que a cola produz calor quando misturada com acetona?
Seus lábios curvavam. — Sim.
— Mataria você mencionar isso?
Ele riu.
— Oh, supere-se, —eu rosnei.
Curran cavou sua omelete. Bebi meu café e o vi experimentar a minha
comida. A maioria dos metamorfos evitava comida picante. Isso
entorpecia seus sentidos. Eu usei metade do sal que normalmente usava e
nenhum jalapeños45 conseguiu entrar.
Por alguma razão era terrivelmente importante que ele gostasse.
Ele agarrou um pedaço de omelete com o garfo e mastigou com prazer
óbvio. — Doolittle falou com você sobre o corpo?
— Não. Alguma notícia sobre os metamorfos desaparecidos?
243
Curran assentiu. Seu rosto tornou-se sombrio.

— Más notícias? —Adivinhei.
Página
45
O jalapeño ou pimenta-jalapenho é uma pimenta doce e de uma variedade média-grande de Capsicum annuum originária do
México, valorizada pela sua calorosa ardência na degustação.

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— Eles ficaram selvagens.

Eu parei com a xícara de café na metade do caminho para a minha
boca. Costuma-se dizer que o metamorfo tinha apenas duas opções: o
código ou loup. O primeiro exigia sacrifício e disciplina de ferro, o segundo, os
jogava pelo caminho do abandono selvagem, transformando-os em
assassinos maníacos canibais. Lá estava a terceira opção, que quase nunca
acontecia. Um metamorfo poderia esquecer sua humanidade
completamente. Não era loupismo em um sentido estrito, porque loups
mudavam para forma humana com frequência, mesmo que só para
provocar suas vítimas enquanto as rasgavam em pedaços. Metamorfos
selvagens regrediam tão profundamente em suas formas de animais que
perdiam a capacidade de transformar, falar e provavelmente ter
pensamentos humanos coerentes. Ficar selvagem era tão raro, que poderia
contar os casos conhecidos pelos dedos de uma mão. Isso geralmente
acontecia quando um metamorfo era forçado a manter a forma animal por
longos períodos de tempo—meses, às vezes anos.
Infelizmente metamorfos selvagens ainda carregavam Lyc-V. Se eles
mordessem um humano e o humano se tornasse um loup, o Bando seria
responsabilizado por isso. Era o maior peso dos Alfas. Às vezes, eles
tinham que matar seu próprio povo.
— Você os ...
— Não fui eu, mas foi feito. Os corpos estão sendo trazidos para a
fortaleza hoje.
244
— O que faria com que eles ficassem selvagens? —Eu mexi meu café.
Curran estendeu a mão e roçou a minha mão com os dedos. — Às
vezes, o medo faz isso. Quando as crianças ficam assustadas, muitas vezes
Página
ficam peludas e fogem.

— Então, ela os aterrorizou até o ponto em que eles esqueceram que
eram humanos?

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Curran parou. — Ela?

Gelo fino. Prossiga com extrema cautela. Se eu mencionasse Saiman,
isso poderia provoca-lo. — Eu acho que é uma mulher. Ela pilota os magos
mortos-vivos como os navegadores pilotam os vampiros.
Ele mastigou isso. — Um dos de Roland?
— Não sei. Você vai saber no segundo que eu souber.
Curran cortou dois pedaços de torta e colocou na minha frente. —
Quanto tempo você precisará para fazer as malas?
E a manhã feliz guinchou a um impasse. — Por que eu precisaria fazer
as malas? —Eu perguntei casualmente.
— Porque você virá para a fortaleza comigo. —Ele falou como um
fato. Seu rosto usava a expressão em branco familiar que eu viria a definir
como o Senhor das Feras ‘meu caminho ou a estrada’. Ele estava realmente
falando sério sobre isso.
— Por quê?
— Ela te viu na Associação. Ela poderia encontrá-la aqui. Não é
seguro.
— Boa tentativa. Ela está atrás de você, não de mim. —Se eu lhe desse
alguma dica que Roland estava atrás de mim, ele me carregaria até a
maldita fortaleza e me esconderia em um quarto blindado.
— Eu quero você comigo, —ele disse. — Não é um pedido.
245
— Que pena. Você deve ter esquecido, Vossa Peludeza, que não me
dou bem com ordens.
Página
Trancamos olhares sobre a mesa.

— Você não tem senso de autopreservação.

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Livro 4
— E você espera que eu gaste duas horas cada vez para ir da fortaleza
à Ordem. —Eu mantive minha voz suave. — Suponho que eu não
precisarei de meu trabalho, minha casa ou minhas roupas mais.
— Eu não diria isso. Embora deixe-me dar o retorno a você sobre a
roupa. Está ainda sob consideração.
— Olha, você não vai correr com minha vida. Dormimos juntos uma
vez.
Ele levantou sete dedos.
— Tudo bem, —soltei através de meus dentes. — Fizemos sexo sete
vezes em um período de vinte e quatro horas. Só porque eu sou sua amante
...
— Companheira.
Palavras morreram na minha boca. Em termos de metamorfo,
companheiro significava monogamia, família, filhos—uma união, civil,
física e espiritual. Significava o casamento. Aparentemente, ele não tinha
desistido da ideia.
— Companheira, —disse finalmente, degustando a palavra.
Ele piscou para mim. Querido Deus.
Dei-lhe meu olhar duro. — Você é um maníaco por controle e luto
contra toda a autoridade. E você quer que nós acasalemos?
Uma faísca ímpia acendeu nos seus olhos. — Muitas e muitas vezes.
246
— O que há de errado com você? Eu te bati duro na cabeça?

— Minha companheira vive comigo, —ele disse. — Na fortaleza.
Página
— Você já teve muitas companheiras antes?

Ele me deu um olhar reservado para os doentes mentais. — Tive
amantes.

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— Então isto é uma nova regra que você criou na hora?

— Isso é um privilégio de ser o Senhor das Feras. Você consegue fazer
as regras.
Ir para a fortaleza estava fora de questão. Eles já estavam em perigo,
mas isso era nada comparado com o que aconteceria se eu me mudasse.
Curran protegia seu povo, e eu os colocaria em perigo. Forcei a minha voz
a parecer normal.
— Quaisquer outras regras de Curran que preciso saber? Pode também
tirá-las agora, para que eu possa vetar todos elas.
— Você não vai vetar as minhas regras, —ele disse.
Eu ri. — Isso nunca vai funcionar.
Nós olhamos um para o outro.
— Vamos negociar, —disse ele. — Diga o que você tem que ter, e eu
vou te dizer o que eu quero.
Ele estava tentando negociar. Ganhei uma vitória em algum lugar. Ou
isso ou ontem à noite foi tão bom para ele quanto foi para mim. — Okay.
Ele me incentivou com um aceno de seu garfo. — Comece.
— A Ordem está fora de cogitação, —eu disse. — Eu não vou sair.
— Eu não disse que você tinha que sair. —Ele nivelou um olhar
pesado comigo. — Mas já que insiste, eu concordo. A Ordem está fora de
cogitação. Minha vez.
247
Perigo, perigo ... — Tudo bem.

— Monogamia, —ele afirmou categoricamente. — Enquanto estiver
Página
comigo, eu sou o único. Alguém toca em você e eu vou matá-lo.

— E se eu acidentalmente esbarrar em alguém?
Ouro brilhou nos olhos dele. — Não faça.

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Aparentemente ele se recusou a se sentir bem-humorado sobre a

situação. — Eu vou manter isso em mente.
— Você mesmo disse, eu sou um maníaco por controle. Eu sou um
bastardo ciumento e possessivo e não sou tão humano como alguns. Não
imagina o que ontem me custou. Me traia e eu vou matá-lo. Se você não
quer estar comigo, me diga. Não vá pelas costas. Estou tentando ser o mais
honesto possível. Para que não haja surpresas.
— Você percebe que matar o outro homem não faz sentido. Se eu te
trair, eu estou em falta, ele não. Ele não te prometeu nada.
— Não é sobre lógica. É assim que funciona o Bando. Eu estaria no
meu direito de matar qualquer um que tentasse levar minha companheira.
É esperado eu fazer isso, eu gostaria de fazê-lo, e eu faria isso.
Eu apontei o garfo para ele. — Tudo bem. Mas o desfile termina
agora.
— O desfile?
— Desfile de suas namoradas.
As sobrancelhas dele subiram. — Desfile de namoradas?
— Curran, você me trai e pronto. Isso é justo.
— Kate, ele vai nos dois sentidos. Se alguém tentar fazer um passe
para mim, você é bem-vinda à sua garganta.
— Não ligo para as pessoas fazerem passes para você. Eu só me
importo se você agir sobre isso.
248
— De acordo. O desfile de namoradas termina. —Ele mostrou os

dentes em um sorriso feliz feral. Meu próprio psicopata pessoal. — Meio
Página
que percebi isso quando você derreteu o bloqueio do meu quarto de

hóspedes em um ataque de ciúmes.
— Não me diga? —Eu peguei minha omelete.

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— Minha vez. A coisa de não falar—nós nunca faremos isso

novamente.
— Rapaz, isso realmente incomodou você, não foi?
Ele rosnou. — Sim, foi.
— Tudo bem. Prometo nunca parar de falar com você. Você pode vir
a se arrepender disso.
Ele fez uma careta. — Tenho certeza. Podemos discutir isso mais
detalhadamente, na fortaleza.
— E o que o resto de seus súditos pensará disso?
Ele deu de ombros. — As funções do Bando melhoram quando a
hierarquia é clara. Agora, a maioria das pessoas não sabe por que eu estava
irritável, e quem sabe não tem certeza em que pé estamos, então todo
mundo está pisando em ovos. Será melhor uma vez que o bando nos veja
juntos.
Não importa que rochas joguei nele, ele se recusou a se desviar do seu
curso. Eu escolhi minhas palavras cuidadosamente. — Eu prefiro não ir.
Ele sentou-se completamente imóvel. A voz dele ganhou uma borda
baixa perigosa. — Você está com vergonha de estar comigo?
— Não.
O rosto dele deslizou em uma expressão plana ilegível. — É porque
eu sou um metamorfo?
249
— Não, é porque você é o Senhor das Feras.

Ele se inclinou para trás. — Importa-se de explicar?
Página
— Meu valor está em minha imparcialidade. Posso me aproximar da

Nação, do Bando, dos druidas ou do oráculo das bruxas, é claramente
porque eu não tomo partido. Eu sou capaz de funcionar eficazmente

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somente se eu sou neutra. Dormir com você destrói minha imparcialidade.

Você não vai tolerar alguém que não é leal a você, então o momento em
que reconhecer que estou com você, todos que já tiveram um problema
com o Bando vão parar de falar comigo. Essa é apenas uma parte do
problema.
— Há mais?
Se eu tinha alguma esperança para nós dois, teria que contar-lhe tudo.
O pensamento me congelou no meu lugar.
— Kate? —Ele perguntou suavemente.
Eu abri minha boca e tentei fazer com que as palavras saíssem. Elas
não saíram. Ele estendeu a mão e cobriu minha mão com a dele.
Não podia falar. Ainda não.
Eu tinha que encontrar outras razões e então me prender às coisas que
tinham me conseguido causar a miséria das últimas semanas. — Com
quantas mulheres você já dormiu?
Ele puxou para trás e cruzou os braços, fazendo seus bíceps
sobressaírem. — Não faça isso!
— É uma pergunta legítima, —disse.
— Com quantos homens você dormiu?
— Você é o meu terceiro. —Responda à pergunta.
— Bem, estamos contando os parceiros a longo prazo ou apenas uma
250
noite?
Suspirei. — Gostaria de contar com parceiros somente?
Página
Ele fez uma careta. — Menos de vinte.

— Gostaria de elaborar?
Ele refletiu. — Dezoito.

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— E quantos delas viviam na fortaleza com você?

A resposta veio um pouco mais rápido. — Sete, mas nenhuma
compartilhou meu quarto.
— O que quer dizer, que elas não compartilham seu quarto? Onde é
que ...
— Em seus quartos.
Eu ri. — Oh, então você enfeitou-as com a sua presença noturna no
quarto de vadias, Vossa Majestade? Como Zeus, em uma chama de luz
dourada?
Ele me mostrou a borda de seus dentes. — Elas gostaram.
Idiota arrogante. — Claro. Então por que não deixa as mulheres em
seu quarto?
— Porque estando em meu quarto significa estar em uma posição de
poder.
Se ele pensasse que eu ficaria em um quarto de vadia quando isso
acabasse, ele estava sem sorte.
Eu estaria morta quando isto acabasse.
— Aos olhos do público, há um grande desequilíbrio de poder entre
eu e você. Se eu fosse para a fortaleza com você, Atlanta pararia de me ver
como Kate Daniels, agente da Ordem e me veriam como namorada
número dezenove do Senhor das Feras. Ou número oito, dependendo de
como eles escolhessem dar uma olhada. A pouca reputação que ganhei iria
251
ser apagada e você pode apostar que a Ordem vai me levar fora do caso
atual mais rápido do que você pode rosnar.
Página
— Nós dois temos que desistir de algumas coisas, —ele disse.

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Eu cruzei meus braços. — Estou tão feliz que que me entende, Sua
Majestade. Deixe de ser o Senhor das Feras, entregue o Bando e venha
morar em meu apartamento.
— Você sabe que eu não posso fazer isso.
Eu sorri para ele.
— Eu entendi, —ele disse. — Ponto feito. Não é justo. Mas o Bando
é quem eu sou. Construí-o para o meu povo. A Ordem não é quem você é.
Metade do tempo você está tentando descobrir uma maneira de esconder
o que você descobre deles. Eu li o seu relatório do flare. Se houvesse uma
competição de mentiras, você iria ganhar com as mãos atrás das costas.
Isso bateu realmente perto de casa. — A Ordem é onde eu escolho
estar agora. Se eu sou tirada desta petição, ela vai para Andrea. Ela é
minha melhor amiga. Se ela colide com a magia da Mary, ela pode ser
exposta. Isso vai destruí-la. De qualquer forma, não preciso me justificar
para você.
— Andrea sabia dos riscos quando se tornou um cavaleiro. Você não
a colocou nesta situação, ela mesma fez. Você está adiando o inevitável.
Ela está tentando viver em dois mundos ao mesmo tempo e ela não pode.
Oh. Realmente, realmente perto de casa.
Ele continuou. — Você não quer se justificar. Eu respeito isso. Mas
você quer que eu seja seu segredo sujo. Nos esconder e fingir que você não
é minha em público. Eu não vou fazê-lo.
252
— Estou pedindo que você seja discreto.

— Não.
Página
— Gostaria de pedir emprestado um par de calcinhas para acenar ao

redor na próxima reunião do Conselho para ter o ponto feito?
Ele piscou. — Tem alguma de sobra?

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Livro 4
Eu poderia ter escolhido alguém racional. Mas não, tive que me

apaixonar por esse idiota arrogante. Vá para a fortaleza comigo, minha
princesa. Chore por mim quando seu pai maluco me matar. Okay, certo.
Ele se levantou, pegou o telefone do balcão e o colocou na minha
frente. — Eu disse que ambos teríamos que abrir mão de algo.
— Até agora eu sou a que se espera desistir das coisas. Qual é o seu
sacrifício?
Ele assentiu com a cabeça para o telefone e discou um número. —
Esse é o telefone do mordomo da fortaleza. Sua equipe faz todos os
arranjos para dormir. Eu liguei para ele esta manhã para dizer-lhe que eu
estaria chegando. Ligue para ele. Veja se eu solicitei um quarto para ser
preparado para você.
O telefone tocou.
Ambos olhamos para ele.
Novamente tocou e eu atendi. — Sim?
— Kate. —A voz de Saiman parecia suavemente ansiosa. — Vejo que
você sobreviveu à noite.
— Dificilmente.
Curran pegou seu prato vazio.
— Você está ferida?
— Não. —Apenas sensível em alguns lugares.
253
— Isso é bom de ouvir.

O som de metal torturado soou pela cozinha. Curran estava
Página
lentamente, metodicamente, entortando o prato de metal em um tubo.

— Que barulho é esse? —Saiman disse.

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— Construção.
— Você pretende visitar o templo hoje?
— Se a magia estiver em conformidade.
— Eu estaria interessado em saber o que você descobrir.
— Seu interesse foi anotado.
Eu desliguei. Curran deixou cair um pedaço de metal quase sólido que
costumava ser um prato no balcão.
Olhei em seus olhos cinzentos. — Curran, se você atacá-lo, eu terei
que defendê-lo. Não há nenhuma competição lá. Se eu quisesse estar com
ele, eu poderia estar. —Porra. Isso não saiu direito.
Ele respirou fundo.
— O que eu quis dizer foi, ele ofereceu e eu recusei.
— Venha comigo.
— Não posso.
Uma sombra passou por cima de seu rosto. — Então terminamos.
— Então é tudo ou nada?
— Essa é a única maneira que eu posso fazer isso. —Ele virou as costas
para mim e saiu.
254
Página

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CAPÍTULO 19
A MAGIA ATINGIU DEZ MINUTOS DEPOIS DA SAÍDA DE CURRAN. Eu

cerrei os dentes, me vesti, selei Marigold e fui para o templo.
Tudo ou nada. Olá, Sua Majestade Peluda. Meu nome é Kate Daniels, filha
de Roland, Construtor de Torres, a lenda viva e coincidentemente, o homem que
está tentando erradicar você e o seu povo. Se você me levar, ele moverá céus e
terras para matar você e eu, quando ele descobrir quem eu sou. Mesmo agora,
estou sendo caçada. E se você continuar dormindo comigo, você nunca será o
mesmo.
Era o que tudo ou nada realmente significava. E eu queria tanto
ignorá-lo e ir com ele para a fortaleza. Quando eu me tornei tão apegada a
esse arrogante bastardo? Não foi a noite passada. Foram todas as vezes que
ele me salvou de mim mesma? Pelo menos, sabia quando começou—
quando ele tentou trocar a tampa desejada por uma horda de demônios do
mar pela vida de Julie.
Eu mataria para ficar com ele. Agora, isso era um pensamento
assustador.
A temperatura continuou seu mergulho suicida. Apesar de todas as
camadas de tecido, eu mal podia sentir que meus braços e minhas coxas
255
estavam congelados. Grendel e Marigold pareciam não estar em pior

aspecto, mesmo depois de correr todo o caminho.
Limitada em três lados por um prédio de tijolos baixos e por uma cerca
Página
de tijolos no quarto, o Templo parecia quase alegre em relação à escassa

paisagem de edifícios arruinados: paredes vermelhas brilhantes, coluna
branca como a neve e escadas igualmente brancas empoleiradas em cima de

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um gramado nevado. Poucos passos para a esquerda, Unicorn Lane estava

à espera. Uma área de magia profunda e violenta, Unicorn Lane
atravessava o Midtown como uma cicatriz. Coisas que evitavam a luz e se
alimentavam de monstros se escondiam lá, e quando fugitivos
desesperados fugiam para lá, nem o PAD nem a Ordem se incomodava
em segui-los. Não havia necessidade.
Unicorn Lane corria em linha reta como uma flecha, exceto quando
atingia o terreno do templo, onde ela desviava cuidadosamente ao redor
da sinagoga. Mezuzot, versículos da Torá, escrito por uma escriba
qualificada e protegido pelos casos de estanho, estavam pendurados ao
longo do perímetro da parede do templo. A própria parede suportava
tantos nomes angélicos, quadrados mágicos e nomes sagrados, parecia que
uma enciclopédia talismãtica havia sido jogada sobre ele.
Quatro golems46 patrulhavam os terrenos: dois metros de altura e
vermelho como a argila da Geórgia. As monstruosidades sem forma dos
primeiros dias, logo após o Shift, desapareceram; esses caras foram feitos
por um mestre escultor e animados por um adepto a magia. Cada um tinha
o tronco musculoso de um humanoide masculino, coroado com uma
cabeça grande barbada. Na cintura o torso perfeitamente fundido em um
corpo de animal atarracado, reminiscente de um carneiro e equipado com
quatro pernas poderosas com pés de cascos. Os golems iam para frente e
para trás, carregando lanças de aço longas e olhando para o mundo com
os olhos brilhando rosa fraco e aguado. Eles não me importavam. Se
fizessem, não seriam difíceis de matar. Cada um foi animado por uma
única palavra—emet, verdade—cortada em suas frentes. Destrua a primeira
256
Página
46
Golem - é um ser artificial mítico, associado à tradição mística do judaísmo, particularmente à cabala, que
pode ser trazido à vida através de um processo divino.

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letra e o emet tornou-se met. Morte. Um fim para o golem. A julgar pela sua
marcha lenta, eu poderia valsar, tirar a carta fora e fugir antes que eles
pudessem trazer essas lanças enormes ao redor.
Cada um tem seu próprio método de manipular a magia. Bruxas
fabricavam poções de ervas, a Nação pilotava vampiros e rabinos
escreviam. A maneira mais segura para desarmar um judeu mágico era
levar sua caneta longe dele.
Quando me aproximei, uma mulher saiu do templo e desceu para o
fundo das escadas. Eu amarrei as rédeas de Marigold em um trilho para
soldados na cerca e fui para o andar de cima.
A mulher era pequena, gordinha e feliz. — Eu sou a rabina Melissa
Snowdoll.
— Kate Daniels. Este é o meu poodle.
— Eu entendo que você tem um compromisso com o rabino Kranz.
Eu vou te levar até ele, mas temo que o poodle vai ter de esperar lá fora.
O poodle de ataque expressou dúvidas sobre a espera, e ele gostava da
coleira ainda menos, mas depois que eu rosnei para ele, ele decidiu que era
de seu interesse ficar quieto.
A rabino levantou a mão e deu um passo à frente. Um brilho pálido
iluminava os seus dedos e indo para baixo em uma cachoeira de luz,
quando a barreira protetora no templo abriu para me deixar passar.
— Siga-me, por favor.
257
Ela me levou para dentro. Nós passamos as portas abertas do

santuário. Enormes janelas arqueadas derramavam a luz do dia em filas de
bancos creme, equipadas com almofadas vermelhas escuras. Calmantes
Página
paredes creme subiam alto para um teto abobadado, dourado com

desenhos de ouro. Na parede leste, em frente aos bancos, uma pálida

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lanterna mágica iluminava uma plataforma elevada e o Santo Arcanjo, um

altar de ouro contendo os pergaminhos do Torá.
O contraste com o frio lá fora era tão surpreendente que eu queria
sentar na almofada mais próxima, fechar os olhos e ficar por um longo
tempo. Em vez disso segui a rabino Melissa no corredor de uma pequena
escadaria para uma sala estreita. Uma banheira quadrada ocupava a
extremidade distante do quarto. Um mikvá47, um lugar aonde judeus
ortodoxos vinham para se purificarem.
A rabino aproximou-se da parede direita, colocou a mão nela e
murmurou algo. Uma seção da parede deslizou de lado, revelando uma
passagem estendendo-se para longe. Tubos de azuis pálidos de lanternas
mágicas iluminavam as paredes de pedra. — Lá vamos nós, —ela disse. —
Apenas continue em frente, você não tem como errar. — Eu entrei lá
dentro. A parede se fechou atrás de mim. Não há para onde ir além de para
frente.
A PASSAGEM ME LEVOU PARA UM VAZIO E REDONDO escritório.

Passei por ele e continuei andando. Outro escritório esperava em frente,
com uma mesa de pedra pesada e dois homens de pé atrás dela. O primeiro
estava em seus quarenta anos, alto, magro, com um rosto comprido, com
barba curta e uma linha de cabelo recuada e olhos inteligentes por trás de
258
óculos de arame. O segundo era mais velho por dez anos, mais pesado por
setenta e cinco quilos mais ou menos, e tinha o rosto de queixo quadrado
e os olhos de um policial, cético e exausto com o mundo.
Página
47
Mikvá é o nome dado à imersão ritual em água utilizada no judaísmo.

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O homem mais alto saiu de trás da mesa para me cumprimentar. —

Olá, eu sou o rabino Peter Kranz. Este é o rabino John Weiss.
Eu apertei suas mãos e entreguei-lhes minha ID da Ordem. Eles
olharam por um tempo e me devolveram.
Peter levou sua longa estrutura atrás da mesa. — Desculpe pela
atmosfera de calabouço.
— Não tem problema, como os calabouços, eu vi coisas piores.
Os dois mastigaram esse comentário um pouco. Eu olhei para além
deles. A escrita hebraica decorava as paredes do escritório, linhas e linhas
de texto escritas na parede em linhas pretas espessas. Ele chamou a
atenção. Eu tentei não olhar.
— Eu entendo que você deseja acessar o círculo. —Peter dobrou os
longos dedos na sua frente.
— Sim.
— Gostaríamos de saber o porquê.
Expliquei sobre Mary Steel e mostrei o saco com o pedaço de papel.
Os dois rabinos se entreolharam. Olhei para a parede. Havia algo
sobre o texto hebraico. Meus olhos quase coçaram quando eu olhei para
ele. Se eu espreitasse os olhos à direita ...
— Você deve entender, é claro, que desejamos cooperar com a Ordem,
—disse Peter. — No entanto, nós não divulgamos a existência do círculo.
Você pode até dizer que nós nos esforçamos para manter isso em segredo.
259
Estamos mais curiosos em saber como você soube sobre isso.

Mencionar Saiman me jogaria fora. — A Ordem tem suas fontes.
Página
— É claro, —Peter disse.

Os rabinos trocaram outro olhar.

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As linhas pretas se misturaram, como os antigos estereogramas que

escondiam uma imagem 3D em uma imagem comum. O impacto deu um
soco em meu cérebro e eu vi uma palavra, escrita em uma linguagem do
poder. Amehe. Obedeça.
A palavra chiou em meu cérebro. Eu já possuía esta, mas vê-la escrita
ainda deixava minha mente fervilhando.
Fazia sentido que poderia ser escrita em uma parede cheia de nomes
de Deus. Rabinos especializados em magia escrita e Yahweh eram tudo
sobre obediência, se o Torá era qualquer coisa para passar.
— A Nação tentou por anos acessar o círculo, —disse Weiss. —
Algumas crianças vieram ultimamente apenas pela emoção de vê-lo.
— Eu não sou uma criança. Eu sou uma pessoa com o ID da Ordem
e uma espada afiada, que está tentando salvar a cidade de uma epidemia.
—Se eles achavam que suas mezuzot48 iriam protegê-los de Mary Steel,
ficariam profundamente desapontados.
Os cantos da boca de Peter cederam. — O que o rabino Weiss quer
dizer é que nós sentimos terrivelmente, mas sua falta de qualificação nos
impede de lhe conceder acesso. É lamentável.
Nisso estávamos de acordo. — Você gostaria que eu lesse o que está
escrito na parede atrás de você para provar que sou qualificada?
Peter me deu um sorriso triste.
Weiss suspirou. — Estes são os muitos nomes de Deus. Saber como
260
ler hebraico não vai te fazer entrar, mas vá em frente, se te faz sentir
melhor.
— Ele diz: 'Obedeça’.
Página
48
Mezuzá é o nome de um mandamento da Torá que ordena que seja afixado no umbral das portas um pequeno rolo de pergaminho que
contém as duas passagens da Torá que ordenam este mandamento, "Shemá" e "Vehaiá"...

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Um longo momento passou e então Peter fechou a boca com um

clique.
Os olhos de Weiss tornaram-se frios. — Quem te contou sobre isso?
— Gostaria que pronunciasse a palavra na língua original? —
Ninguém sabe o que a palavra faria a eles. Usei-a principalmente para
controlar a magia, mas poderia ser usada para controlar pessoas. Já fiz isso
uma vez—com Derek—e nunca faria de novo. Mas eles não sabiam disso.
Os rabinos empalideceram. Eu tinha conseguido aterrorizar homens
santos. Talvez eu poderia vencer uma freira para um bis.
— Não! —Peter levantou as mãos. — Não, isso não é necessário.
Vamos levá-la ao círculo.
O GOLEM TINHA DOIS METROS DE ALTURA E UM METRO E OITENTA

de largura. Ao contrário dos golens lá fora, que foram moldados com a
finesse das estátuas gregas, esse bruto era puro poder. Amplo, grosseiro e
talhado juntamente com espessas lajes de músculos de argila, erguia-se no
final de um corredor estreito antes de uma porta em forma de um
pergaminho aberto. Usava um capacete de aço, um Armet49 com viseira
removida. O metal cobria sua boca, e uma camada de aço blindava sua
testa. Sem letras rabiscadas aqui. Eu me perguntei o que fariam se tivessem
261
alguma vez que desativá-lo. Atirar com um tanque, talvez.

Página
49
Armet é um tipo de capacete desenvolvido no século XV, principalmente na Itália. É distinto por ser o primeiro
capacete de sua era completamente fechado e ao mesmo tempo compacto e leve o suficiente para possibilitar movimentos de quem o usa.

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Ao meu lado, Peter apontou para o chão, onde uma pequena fogueira
com o fogo já definido esperava antes do golem. Ao lado, estava uma caixa
de fósforos. — Há um preço para a utilização do círculo.
— O que é?
Sua voz era macia. — Conhecimento. Esse é o detentor do círculo.
Você deve acender a fogueira e contar um segredo. Se o seu conhecimento
for digno, o golem abrirá a porta para você.
— E se o golem não gostar do conhecimento? —Era também esperar
muito que iria me repreender e enviar-me para a cama sem jantar?
— Isso pode matá-la, —disse Weiss.
— Se você mentir, ele vai saber, —disse Peter. — A chama ficará azul.
Encantador. Os punhos do golem eram maiores que minha cabeça.
Tudo o que tinha que fazer era me agarrar e espremer, e meu crânio partiria
como um ovo. O corredor era muito estreito para manobrar. Minha
velocidade não me faria nenhum bem.
— Vamos esperar aqui. —Weiss apontou para uma bancada de pedra
pequena alguns metros de distância. Ele enfrentou o golem para que eles
tivessem assentos na primeira fila, se ele decidisse me usar como um saco
de pancadas.
— Ainda não é tarde para mudar de ideia, —murmurou Peter.
E ver os olhos mortos de Ori toda vez que fechava os meus? Não,
obrigada.
262
Atravessei o chão, peguei os fósforos e acendi um. Uma pequena

chama acendeu. Cuidadosamente, eu trouxe-a para o fogo e deixei
Página
mastigar o pedaço de papel no centro de gravetos de madeira.

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Um retumbar baixo começou no centro do golem, um áspero som de

pedra contra pedra. Dois pontos de luz afiados deflagraram em seus
soquetes cavernosos.
Sentei-me no chão.
O golem estremeceu. Uma enorme perna em coluna ergueu-se e deu
um passo à frente, sacudindo o chão.
Boom.
Boom.
Boom.
O golem parou na frente da fogueira e se inclinou. Pequenos pedaços
de pedra ou argila seca se separaram de seus ombros e caíram no fogo,
inflamando-se em faíscas brilhantes e brancas. Lentamente, pesadamente,
ele se agachou, o seu protetor de boca de aço apenas a noventa centímetros
de mim.
Olhei nos seus olhos. — Deixe-me entrar no círculo, e eu vou contar
a você a história do primeiro vampiro.
Atrás de mim, roupas agitaram quando os dois rabinos se sentaram no
banco.
Peguei um pedaço de pau e cutuquei o fogo com ele. — Há muito
tempo vivia um homem. Ele era um grande homem, um pensador, filósofo
e mago. Vamos chamá-lo Roland. Roland já teve um reino, o reino mais
poderoso do mundo, um reino de magia e maravilhas. Seus antepassados
263
trouxeram pessoas da selvageria a uma era de prosperidade e iluminação

e ele estava muito orgulhoso do que sua família tinha conseguido.
Página
— Roland teve muitos filhos, porque ele havia vivido muito tempo,
mas seu favorito era seu filho mais novo, vamos chamá-lo de Abe. Ele era o
único filho de Roland na época. Você vê, Roland tinha o hábito de matar

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seus filhos, quando se levantavam contra ele, então Abe era o único que
sobrou.
— Tudo seguia esplendidamente, mas as pessoas do Reino tinham
empurrado a magia deles longe demais. Eles romperam o equilíbrio entre
tecnologia e magia. Tecnologia veio, interrompendo o fluxo de magia. As
ondas da tecnologia atacaram o Reino de Roland, separando a forma
mágica que agora separa nosso mundo. Ele contou com o seu filho para
ajudá-lo. Mas Abe viu isso como sua chance de liberdade. No caos das
ondas tecnológicas, Abe traiu seu pai e lutou contra ele pelo poder. A
guerra entre eles rasgou seu reino em pedaços. Abe perdeu e levou seus
seguidores para o deserto, proclamando que ele faria sua própria nação,
maior que o reino caído de seu pai.
— Eventualmente Roland falhou com seu povo. O poderoso reino
tinha caído e seu governante perdeu tudo. Ele se escondeu do mundo,
escolhendo viver sozinho em uma montanha, passando seus dias em
meditação.
— Enquanto isso a nação de nômades de Abe cresceu. Eles
esqueceram a maior parte do que conheciam. Filosofia e magia complicada
não eram mais importantes—a sobrevivência era. Abe teve um filho e seu
filho tivera filhos, dois meninos. Vamos chamá-los Esaú e Jacó. Esaú era o
mais velho. Ele se orgulhava em ser um grande guerreiro e um caçador de
homens e animais. Na verdade, Esaú era um bandido, mas ele era mais forte
e mais poderoso do que criminosos comuns e ele fazia o melhor.
264
— Os nômades mais velhos contavam histórias das maravilhas do

reino caído de Roland. Havia rumores que quando Roland foi para a
Página
montanha, levou os tesouros de seu reino com ele. Entre esses tesouros
havia um conjunto de roupas feitas a partir de peles de uma besta mítica e
permeada pela fragrância de um vale perdido. Um caçador que usasse este

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vestuário poderia caçar e capturar qualquer animal que desejasse. Esaú,

sendo um homem empreendedor, decidiu colocar as mãos na roupa. Afinal
de contas, quantos problemas um velho pode dar? Então Esaú juntou seus
suprimentos e foi a caminho para a montanha de Roland.
— Coloque-se no lugar de Roland. Lá estava ele, um homem que
perdeu tudo, e agora seu próprio bisneto aparece e tenta roubá-lo. E mais,
seu bisneto, o fruto da sua árvore de família, é um bandido ignorante. Em
Esaú, Roland viu o reflexo do destino do seu povo—todo seu
conhecimento perdido, todas as suas realizações desperdiçadas, como se
eles tivessem voltado à brutalidade primitiva.
— Roland viu vermelho, e Esaú morreu antes de poder soltar um único
golpe. Mas isso não era o suficiente para ele. Roland tinha muita frustração
para desabafar. Ele descontou em seu bisneto, em seu reino caído, no
mundo. Ele queria matar o Esaú novamente, e então ele o arrastou de volta
da beira da morte e o assassinou uma segunda vez. O novo Esaú morreu,
até que finalmente Roland parou para tomar um fôlego e percebeu que
Esaú tinha sumido. Seu corpo permaneceu, mas a mente dele tinha
morrido. Em vez disso, Roland encontrou uma criatura irracional, nem viva
nem morta. Um morto-vivo com sua mente completamente em branco,
como uma página em branco.
— Roland descobriu que ele poderia controlar esse cérebro vazio com
facilidade infinita. Ele poderia falar pela boca de Esaú e ouvir o que ouviam
os mortos-vivos. Uma série de possibilidades ocorreu para Roland e ele
265
decidiu que seria conveniente para ele, se as pessoas pensassem que Esaú
tinha o assassinado. Vestiu a criatura que costumava ser seu bisneto na
vestimenta mágica. Esaú tinha vindo para ele e acabou voltando morto-
Página
vivo para sua família, com Roland controlando cada movimento seu e
fazendo relatos selvagens de sua própria morte. Ele costumava usar Esaú

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para atormentar os nômades do Abe. Ele queria destruir Abe e todos os

seus descendentes.
— Eventualmente em Esaú cresceu presas e desenvolveu uma terrível
sede de sangue. Anos mais tarde o rei colocou aquelas presas para um
teste. Ele atraiu o irmão de Esaú para uma reunião, sob o pretexto de
reconciliação, e lá ele desencadeou a fúria dos mortos-vivos em Jacó,
deixando Esaú rasgar o pescoço do seu irmão. Jacó usava um colar de
marfim e as presas de Esaú não conseguiram romper sua jugular.
— Com o tempo, o corpo de Esaú mudou. Ele cresceu garras. Seu
cabelo caiu. Seu corpo ficou magro e ele correu de quatro patas como um
animal. Roland soltou-o em uma caverna, onde os corpos de seus
antepassados e seus filhos jaziam enterrados. Morrendo de fome, o
primeiro vampiro assombrou a caverna até um homem corajoso
finalmente colocá-lo fora de sua miséria.
— Esta é a verdadeira história do primeiro vampiro. —Levantei-me.
— Não é assim tão secreto. Há ecos dele na Bíblia e nos escritos
acadêmicos judeus. Abe se foi, e também são seus filhos. Mas Roland, ele
ainda vive. Sobreviveu a todos eles, o velho bastardo. Ele fez mais mortos-
vivos e ele está reconstruindo seu poder, à espera de um tempo para
ressuscitar o seu reino.
Furei meu dedo com minha faca de arremesso. Uma única gota de
vermelho inchou na minha pele. Inclinei-me para o golem e sussurrei tão
baixinho, que eu mal podia me ouvir. — E o sangue dele vive em mim
266
também.
Toquei o sangue no peito do golem. Ele balançou para trás, como se
tivesse sido atingido. Pedra rangeu, poeira soprou. O golem girou, de
Página
costas para a porta, agarrou a pedra com a mão maciça e a afastou,

revelando um quarto escuro além disso.

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Passei por dentro da escuridão. Atrás de mim, a porta de pedra se

fechou.
LUZES AZUIS PÁLIDAS BRILHAVAM NAS PAREDES. Eu contei. Doze.

Eles pulsaram, desaparecendo e ficando mais brilhantes e brilhantes, até
que finalmente iluminaram o chão na minha frente: dois círculos, os
primeiros com dois metros de largura, o próximo trinta centimetros mais
largo, esculpidos na pedra. Doze pilares de pedra cercavam o círculo, cada um
com cinco um metro e meio de altura. Em cima de cada um descansava um
cubo de vidro. Dentro do cubo, um sefirot, um pergaminho.
Eu me aproximei do círculo. Magia pulsava entre os pergaminhos,
como uma corrente forte e invisível. Uma barreira e uma muito poderosa.
Barreiras, ambas protegidas e contidas. Tanto quanto eu sabia, entrar no
círculo resultaria em algo esquisito, manifestando-se no meio dela e me
espremendo como um suco de laranja.
Eu puxei a Matadora de sua bainha e circulei as linhas. Sem runas
misteriosas sobre as paredes, sem instruções, sem avisos. Só a fraca e
transparente luz azul da lanterna, os pergaminhos descansando em seus
sacos transparentes e o duplo círculo no chão.
Cheguei até aqui. Não há como voltar atrás agora.
267
Deslizei a Matadora debaixo do meu braço, puxei o papel fora do saco

ziploc e entrei no círculo.
Página
Uma luz de prata acendeu no local que eu cruzei. Ele correu ao longo
do esboço esculpido do círculo duplo, inflamando-o. Magia rolou entre os
pergaminhos. Uma parede de brilho prateada subiu, selando-me do mundo

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exterior. Tudo que eu precisava agora era de algum bicho monstruoso se

manifestando e tentando me comer.
Queridos rabinos, me desculpem, eu invadi seu círculo idiota. Aqui está sua
cabeça como lembrança. Sim, isso iria colar.
Magia beliscou a minha pele em pequenas agulhas afiadas, como se
para testar as águas. Eu fiquei tensa.
Uma linha fina de rachaduras se propagava através do chão. Luz
pálida entrava pelas frestas. Algo estava para acontecer. Eu balancei a
Matadora, aquecendo meu pulso.
O poder estourou debaixo de mim. A magia perfurou meus pés e
rasgou meu corpo em uma torrente agonizante, rolando em meu interior
como se cada célula do meu corpo tivesse sido desnudada. Ela arrancou
um grito de mim e a torrente estourou fora de minha boca em um fluxo de
luz, tão brilhante que fiquei cega. Minha cabeça girou. Tudo doía. Fraca e
tonta, apertei minha espada.
Respire. Um, dois, três ...
Lentamente, minha visão limpou e eu vi a sala translúcida e além dela
os pergaminhos brilhavam em seus pilares de pedra. Correntes azuis
profundas de magia deslizaram para cima e para baixo dentro do brilho.
Que diabos? Eu olhei para cima. A última das magias tiradas de mim
flutuou acima em uma nuvem de índigo, se mesclando lentamente com a
barreira.
Droga. A parede perimétrica do círculo não era uma barreira, embora
268
parecesse e sentia-se como uma. Era um ara, um motor mágico. Li sobre

eles, mas nunca encontrei um. Ele permanecia dormente até algum idiota,
como eu, pisar em seu interior e doar um suco mágico para fazê-lo
Página
funcionar. Ele absorveu a minha magia e ficou azul. Se eu fosse um

vampiro, o brilho seria roxo.

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Ocorreu-me que meus pés não estavam tocando no chão. Com o canto
do meu olho, eu podia ver o lugar onde o chão estava e não estava lá. Eu
olhei para baixo. O chão tinha desaparecido. Em seu lugar estava um poço
negro e eu flutuava acima, sem peso.
Oh, ótimo. Simplesmente ótimo.
Abri minha mão, revelando o pergaminho. Uma pena de luz varreu
minha palma e arrastou-o para o ar até o nível dos meus olhos.
A magia se curvou. Veias longas de índigo atravessaram o ara e
golpearam o pergaminho. Ele estremeceu, preso na teia de aranha de
tendões azuis. Era bom que o templo estava protegido por uma barreira.
Caso contrário, qualquer pessoa com uma pontinha de poder seria capaz
de sentir esses fogos de artifício.
As gavinhas segurando o pergaminho viraram um azul mais escuro.
O círculo pegou a magia do pergaminho e agora a espalho através do
brilho.
Um pulso de magia poderosa rasgou o ara.
O centro do pergaminho ficou suave. As linhas desgastadas, vincando
o papel áspero desapareceram. A tinta apareceu, devagar, como uma
fotografia em desenvolvimento. Um quadrado mágico formado no canto.
Uma variedade de figuras geométricas: espirais, círculos, cruzes. . .
A magia pulsou de novo, como o pedágio de um grande sino. Meu
corpo inteiro cantarolava com o eco. Apresse-se, maldito seja.
269
As bordas irregulares do pergaminho cresceram enquanto a teia

construía em volta dele. O pergaminho deve ter sido apenas um pequeno
pedaço do pergaminho original, uma parte superior do canto esquerdo, e
Página
agora o círculo estava reconstruindo-o como uma vez tinha sido.

Apareceram palavras, escritas em Hebraico. Entre eles, as linhas
menores escritas em inglês passaram.

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Eu devastarei a terra e a quebrei em pó,

Eu esmago as cidades e as transformo em resíduos,
Isso era familiar. Eu conhecia isso.
Eu desmorono montanhas e envio em pânico suas bestas selvagens,
Eu agito o mar e seguro suas marés,
Eu apertei minha memória, tentando identificar onde eu li isso antes.
Eu trago a quietude da tumba para lugares selvagens da natureza,
Eu colho a vida da humanidade, ninguém sobrevive,
Vamos lá, vamos lá. Onde é que ela vem? Por que foi apresentado no
meu cérebro? Palavras continuaram chegando, mais rápido e mais rápido.
Eu examinei as linhas.
Eu trago presságios sombrios e profano lugares sagrados,
Eu liberto demônios nas habitações sagradas dos deuses,
Eu devasto os palácios dos reis e envio nações em luto,
Eu incendeio as flores dos campos e pomares,
Uma frase final acendeu no final do pergaminho. Ela perfurou minha
mente. Meus dedos ficaram frios.
Eu deixo o mal entrar.
Ah, não.
270
As palavras me encararam. Eu deixo o mal entrar.

Oh não, você não. Eu já conhecia isso—isto fazia parte de um antigo
Página
poema babilônico, usado como um amuleto contra um homem que uma

vez fora adorado como o deus das pragas. Ele trouxe pânico e terror para
o mundo antigo e dizimou o seu povo com epidemias. Sua ira era o caos,

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o temperamento dele era fogo e babilônicos antigos temiam tanto ele, que
tinham muito medo para lhe construir um templo.
Eu li tudo sobre ele quando eu tinha dez anos. Seu nome era Erra.
Mas Mary Steel era uma mulher. Eu estava absolutamente,
positivamente, cem por cento certo de que ela era uma mulher. Eu a vi
com meus próprios olhos. Uma enorme mulher de dois metros de altura,
mas inconfundivelmente feminina. Eu tinha um buraco redondo, e não
importava como o universo tentasse me empurrar um pino quadrado, não
aconteceria.
As gavinhas enrolaram, retirando-se para o círculo. O pergaminho
ficou tenso e desintegrou em uma nuvem de faíscas brilhantes. O pedaço
de pergaminho, uma vez mais antigo e em branco, pousou em minha mão.
O poder do círculo desapareceu e eu caí no chão de pedra.
A porta se abriu e eu vi o rosto pálido de Peter. Ele sibilou,
recuperando a respiração. — Nós estamos sob ataque.
CAPÍTULO 20
EU PASSEI ATRAVÉS DAS PASSAGENS DA SINAGOGA. PETER correu

271
ao meu lado.
— O que você quer dizer, não há como esconder a magia do círculo?
Página
Você disse que mantém o círculo secreto.

Ele suspirou. — Os detalhes do círculo são secretos. Seu poder não é.
Não se esconde o poder de Deus. A luz do conhecimento deve brilhar.

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Ela brilhou bem. Ela brilhou realmente bem. Ele brilhou tão bem que
Mary Steel sentiu o pergaminho e enviou a cavalaria para investigar.
Um baque sacudiu as paredes do edifício antigo. Eu subi as escadas,
através do corredor e para frente. Várias pessoas pararam diante da porta
nas escadas.
No gramado enterrado a neve, um homem de cor vermelho-sangue de
um metro e oitenta agarrou um golem pela perna traseira. Ele empurrou o
golem, balançou e esmagou-o no chão, mandando um spray de neve para
o ar. O golem deslizou, confuso e galopou, saltando sobre o corpo
quebrado de seu gêmeo. Ao redor do templo corpos de argila triturados se
espalhavam no terreno. Pelo menos dez, talvez mais. Parecia uma zona de
guerra, e somente um lado sofreu baixas.
Uma aura vermelha flamejou do homem, um rubi brilhante contra a
neve branca. O sol era um brilho pálido atrás das nuvens. Era quase cinco
e a noite iria chegar em breve. Não queria lutar com ele no escuro.
— Ele está sozinho?
Ninguém respondeu.
— Ele veio sozinho?
— Sim. —Rabino Weiss entrou em meu campo de visão. — O que
estava nesse pergaminho? O que ele é?
Você não quer saber. — Na antiga Babilônia havia um deus chamado
Erra, também conhecido como Nergal. Ele era o deus das pragas e do caos.
—E do medo.
272
Exceto que ele não era realmente um deus. Eu teria preferido um deus,
mas Erra era algo muito, muito pior.
Página
Outro golem galopou na parte de trás e arremessou sua lança contra o

homem. O homem a bateu de lado.

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— Erra tinha sete guerreiros à sua disposição. —Eu balancei

Matadora, aquecendo meu pulso. — Escuridão, Tocha, Besta, Tremor,
Ventania, Dilúvio e Veneno. Dilúvio está morto. O Senhor das Feras o
matou há três dias.
O golem atacou o homem vermelho, chutando com suas patas com
cascos.
Eu assisti o ataque. — Este seria ...
O homem pisou. O trovão rolou pelo pátio, como o som de uma
marreta colossal. O chão se abriu. Ele agarrou o golem e empurrou no
buraco formado. Ele afundou até a cintura, ainda vivo. O homem balançou
seu punho enorme e martelou um soco no esterno do golem. O peito de
argila se despedaçou como uma casca de ovo. A cabeça do golem caiu no
chão.
— Tremor. —O poder da terra. Adorável. Por vários motivos, ele não
deveria ter sido capaz de fazer buracos, dado que o solo estava congelado,
mas aparentemente alguém se esqueceu de mencionar isso a ele.
Tremor observou o terreno, procurando o próximo alvo. — Ele nunca
vai quebrar a barreira, —disse alguém à minha direita.
Ah, sim, ele vai. Confie em mim sobre isso. — Eu não contaria com
isso. Suas barreiras são muito fortes, mas sua magia é jovem demais para
ele.
Uma mulher de cabelos grisalhos me deu um olhar de piedade,
geralmente reservado para imbecis. — Nossas barreiras são escritas em
273
uma linguagem que tem mil e duzentos anos antes do início da Era
Comum. Até Unicorn Lane não pode quebrá-las.
Página
Eu apontei para o Tremor. — Mil e duzentos anos antes da Era

Comum, Erra era uma jovem de trinta séculos. Ele é anterior a sua
línguagem.

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Um latido histérico veio da esquerda. Cachorro idiota, fazendo-se um

alvo.
— Abra a barreira. —Comecei a descer as escadas.
— Isso não é sábio, — gritou Peter. — O feitiço vai funcionar.
— Fora de questão. É muito perigoso. —A mulher mais velha cruzou
os braços. — Nós não vamos ser responsáveis por sua morte ou danos ao
templo.
Tremor deu um passo em direção ao meu poodle. — Abra a maldita
barreira, ou eu vou quebrar isso!
Tremor se afastou do cão, pegou a cabeça do golem na neve e atirou-
a no templo. Voou pelo ar, bateu na barreira em um flash de prata e
quebrou contra a porta do templo. Claro—os golems pertenciam ao templo
e a barreira foi introduzida para eles, então eles poderiam passar por ela.
Ele apedrejaria o templo com restos de golem, e quando ficasse sem corpos
para jogar, ele iria pisar aqui mesmo.
Os rabinos olharam para os fragmentos da cabeça quebrada. Tremor
alcançou outro corpo.
A mulher de cabelos grisalhos olhou para cima. — Peter, abra a
barreira!
Luz branca transmitiu para baixo. Eu atravessei, e a barreira fechou
atrás de mim. Eu me dirigi a Tremor, puxando o fecho da capa.
Tremor virou-se para me encarar. Ele usava o rosto de Solomon Red.
274
Surpresa, surpresa.
O manto deslizou pelos meus ombros e caiu sobre a neve. Continuei
Página
andando. Agradável e lentamente.

Solomon me olhou com um sorriso condescendente. Ele nunca sorriu.
Como um bêbado esticando todos os músculos parecendo sóbrio, Solomon

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fez o possível para esconder o fato de que não podia ler através de uma
máscara de grande importância. Mas agora ele tirava sarro de mim com
desprezo óbvio. Uma inteligência ágil acendeu seus olhos. Inteligência de
Erra.
Solomon abriu a boca. Uma voz feminina familiar se derramou por
ela. — Você de novo? Este é o melhor que os sacerdotes podem fazer? Ou
eles estão tentando entreter-me?
Balancei a minha espada, aquecendo meu pulso. — Por que você é
uma mulher?
— Porque não posso ser uma mulher?
Porque isso fode minha árvore genealógica. — Porque o poema de
Erra diz que você é um homem.
Solomon deu de ombros. — Você não deveria colocar sua confiança
em divagações de ratos senis de templo.
— Eu vou manter isso em mente. Alguma outra pérola de sabedoria?
— Nada que a ajude a viver no próximo minuto. —Solomon estendeu
os braços e os puxou juntos como se estivesse empurrando um grande peso
diante dele.
O chão tremeu sob meus pés.
Eu pulei para cima e para a esquerda. Um buraco apareceu onde eu
tinha estado. Eu pousei e saltei novamente, mal evitando outro buraco. Ao
meu redor abriam-se buracos, como bocas pretas gananciosas na neve, e
275
pulei entre eles como uma galinha numa panela quente. Eu corri para
direita, depois à esquerda. A menos que eu aprendesse a voar, nunca
passaria por ele.
Página
Solomon riu na voz de Erra.

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Geralmente eu guardava minha magia como um último recurso, mas

esse era um poder antigo e agora não era um bom momento para
brincadeiras. Tinha que bater nele agora e bater com força.
Eu respirei fundo e lati uma palavra de poder. "Ossanda". Ajoelhe-se.
O mundo girou em uma névoa de dor. Como pegar um punhado de
minha própria carne e arrancar isso. Eu balancei, mas não caí.
A boca de Solomon ficou aberta. Um rugido maçante como o som de
um deslizamento de rochas derramou de seus lábios. Seus joelhos bateram
no chão. Quem está rindo agora?
Os buracos no chão fecharam. Eu corri.
A palavra de poder tinha drenado também muito da minha magia e
cada passo transformou-se numa batalha. Como arrastar correntes de
chumbo. Eu continuei a correr.
Neve voou sob meus pés. Solomon estremeceu. As veias grossas do
músculo inchando em suas coxas.
Três metros.
Dois.
Um.
Eu bati em um golpe de cabeça clássico projetado para escorregar
através de seu pescoço. Enquanto passei, terra voou entre nós. A lâmina
do sabre cortou o solo e saiu limpo. Errei. Merda.
276
Um montículo espesso apareceu onde Solomon se ajoelhou. Tentando

empurrar isso quebraria a lâmina e não conseguiria nada.
— Primeiro, você se ajoelha, então você se esconde. Até agora não
Página
estou impressionada.

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O monte explodiu. Pedaços de terra atiraram na neve. Solomon

atirou-se para mim, rindo.
Eu me esquivei e entalhei sua lateral. Matadora cortou uma linha
estreita logo abaixo das costelas de Solomon. Vermelho jorrou. Solomon
balançou e rebateu. O soco chocou-se contra o meu peito. Eu voei, passei
pela neve e cai contra alguma coisa. O frio cortou o meu lado direito, como
se alguém tivesse cravado um pingente de gelo em meu rim. Meus pulmões
queimaram. Círculos coloridos nadaram diante dos meus olhos. Eu devo
ter batido a cabeça.
Eu tentei ver—o corpo de um golem quebrado. Um líquido quente
pegajoso molhando meu lado. Eu queria um banho para lavar ... Sim,
definitivamente acertei minha cabeça.
— Venha, —disse Erra. — Vamos lá. Levante-se para morrer.
Eu me empurrei para cima. A lança do golem se projetou, apoiada
pelo cadáver, e a ponta da lança estava vermelha com o meu sangue.
Exatamente o que eu precisava.
— Seus olhos não clarearam ainda?
— Segure seus cavalos. Eu estou indo. —Sim, não é para tanto.
— De onde eu estou, você está apenas respirando com dificuldade.
A neve nadou dentro e fora de foco. — Respirando com dificuldade.
Você está vindo ou apenas respirando com dificuldade. Você precisa obter
o seu caminho em linha reta.
277
— Obrigado. Eu vou lembrar disso.

A névoa borrada se foi e vi Solomon correndo para mim em quatro
Página
patas.
Sem tempo. Preparei minhas costas contra o golem e agarrei a
Matadora com ambas as mãos.

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Livro 4
Solomon pairou sobre mim. — Tempo para orar.

Eu chutei minha perna para cima, acertei-o no estômago e o estoquei
no peito. Matadora deslizou na carne e osso entre as costelas. O ponto
encontrou resistência e ela desapareceu.
As mãos enormes de Solomon tentaram agarrar-me, mas meu pé em
seu estômago deteve. A terra pressionou meus ossos. Deus, ele era um
bastardo pesado. Eu torci a lâmina, tentando romper o coração.
— Desista, —eu espremi para fora. — Eu atingi o coração.
Erra bufou. — Eu sei. Você tem alguma ideia de quantos corpos eu
tive que passar para conseguir ele?
A luz encolheu. Terra empilhou em torno de nós. Em alguns
momentos e nós seríamos enterrados.
A ferida atormentava minha lateral. Meu sabre estava apanhado, e
agulhas de prata afundando no morto-vivo eram como cutucar com palitos
de dente—um pouco doloroso—mas mortalmente inútil.
Solomon ergueu os pés. Seus dedos me arranharam meu pescoço.
Não havia ar suficiente. — Poderia apenas deixa-lo morrer de uma
vez?
— Ele não tem muito tempo restante, não se preocupe. Você fala
muito. Como um pequeno esquilo em uma árvore, gorjear-gorjear-gorjear.
Eu mal vi a luz acima de nós. Se a terra se empilhasse mais, Solomon
entraria em colapso em cima de mim quando morresse pela segunda vez.
278
Eu sufocaria, enterrada viva.

— Suas imitações de animais são impressionantes.
Página
Solomon deu uma sacudida direta. Sua mão agarrou meu braço, ele
abaixou a cabeça e a dor apertou em meu antebraço.

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Livro 4
Ela fez como os mortos-vivos e me mordeu. — Que diabos?

Solomon sorriu. — Pequeno esquilo! Você tem gosto de família.
Oh, merda.
Uma forma desgrenhada atingiu Solomon, rosnando e estalando
dentes. Solomon empurrou e um peso extra pressionou-me enquanto o cão
rasgava as costas de Salomão. Eu gritei. Solomon bateu com o braço,
batendo o poodle de lado. Seu peso mudou, e eu peguei minha faca de
arremesso.
— Não toque em meu cachorro.
Solomon riu. — Que curioso. Hugh tem mantido segredos. Não é de
admirar. Esse é o problema com a ajuda contratada: sem ambição, eles são
inúteis, com ambição ...
Espetei minha faca na garganta de Solomon. — Carótida cortada.
Divirta-se.
Sangue jorrava da boca de Solomon, encharcando meu rosto. — Vejo
você mais tarde, —ele gargarejou.
Os olhos de Salomão ficaram em branco. Ele estremeceu uma vez e
caiu em cima de mim.
Erra tinha ido.
Eu tencionei e empurrei o cadáver de Solomon para o lado, para a
lama.
279
Um momento depois uma fedorenta língua lambia meu rosto,

cobrindo a minha pele com o perfume velho de animais mortos ...
Página
Eu abracei o pescoço peludo. — Está bem, está bem. Deixe-me

levantar agora.

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Livro 4
O poodle saltou, animado. Eu me levantei. O corte no meu lado gritou

em protesto. Uma parede de terra subiu até minha cintura. Eu me segurei
a ele, para não tombar.
Solomon deitou de bruços. Eu chutei ele. Não me fez sentir muito
melhor. Eu o chutei de novo, pelo caso, e percebi que estava olhando uma
lança que saia de suas costas.
A barreira desceu. As pessoas correram do Templo, indo em minha
direção.
De onde veio a lança?
Um homem chegou a mim. — Você está machucada?
— Quem atirou a lança?
Ele recuou. — Eu sou médico. Posso ajudar você.
Eu tentei falar devagar em minha voz não ameaçadora. — De onde
veio a lança?
Ele piscou. — Eu não sei, não vi.
Peguei a lança e a tirei. Filho da puta, realmente presa. Eu coloquei
meu pé sobre o corpo, esmagando algumas agulhas negras, e puxou com
força. A lança se soltou. Ela pertencia a um dos golems. Alguém a pegou
e lançou. Alguém com grande força.
Alguém tinha relatado que eu estava rastejando ao redor do poste com
corpo do Joshua nele. Alguém me observava das ruínas. E agora alguém
280
tinha atravessado Solomon e desapareceu. Eu estava cansada de todo o

segredo.
Pequeno esquilo. Você tem gosto de família. Vejo você mais tarde.
Página
Ela reconheceu o sangue, mas não sabia quem eu era. Se eu fosse ela,
teria me rastreado. Eu entraria na minha casa, aprenderia tudo o que
pudesse sobre mim e procurei qualquer coisa que eu pudesse usar como

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Livro 4
moeda de troca. Eu sabia que isto ia acontecer eventualmente e finalmente

o fez. Todos os meus amigos só tinham adquirido um enorme alvo em suas
costas.
Julie. Eu tinha fotos de Julie em casa. Tinha que chegar em casa.
Eu tinha que avisar o Bando.
Eu girei ao redor e vi Marigold deitada de lado na neve vermelha.
Oh, meu Deus. Eu tropecei em sua direção e entrei em uma corrida.
— Espere! —O medi-mago me perseguiu.
Marigold estava imóvel, a cabeça erguida. Os destroços torcidos da
lança de um golem se projetavam de seu pescoço. Ela deve ter sido atingida
quando Erra estava jogando merda ao redor.
Eu cai na neve e agarrei sua cabeça. Os olhos dela estavam escuros.
Seus longos cílios não se mexeram.
— Você pode consertá-la?
— Ela está morta, —disse o medi-mago.
Ela matou minha Marigold. A cadela matou minha Marigold. Eu
tinha usado essa mula por um ano. Tinha trazido cenouras para ela, a
escovado e montado nela para me levar em uma luta ou tempestade. Agora
ela estava morta, morta como uma reflexão tardia.
Eu cambaleei para meus pés. Eu tinha que conseguir um telefone.
Pessoas saltaram fora do meu caminho. Eu marchei pelas escadas
281
acima e agarrei o primeiro corpo quente. — Telefone!

— Lá dentro, à direita.
Página
Corri para dentro, virei à direita em um quarto pequeno e agarrei o

telefone.
— Funcione, maldito. Funcione!

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Livro 4
Liguei para a fortaleza. Um homem atendeu. Eu lati, — Curran.

Agora.
— Quem é?
— Kate Daniels. Sou a agente da ...
O telefone clicou e voz de Curran encheu o telefone. — Deixe uma
mensagem.
— O nome de Mary Steel é Erra. Se algum de vocês lutarem com
ela, ela vai ... fazer você enlouquecer. É a especialidade dela. Ela serviu
a Roland, o que significa que veio aqui para matar o Bando. Tenha
cuidado. Não lute com ela diretamente, se você puder ...
A chamada cortou. Eu tinha chegado ao limite da mensagem. Liguei
para a Ordem. Maxine veio na linha. — Eu preciso de uma pick-up no
templo.
— Sinto muito, querida, estão todos fora.
— Andrea?
— Ela está ajudando Mauro.
Eu desliguei e chamei o número de Jim. Ele atendeu no segundo
toque. — Eu preciso de ajuda.
— Só agora descobriu isto?
Eu tentei falar calmamente. — Estou no templo. Acabei de encontrar
282
com a Mary Steel e preciso ir para casa antes que ela chegue lá.
— Vou ter um carro lá em vinte minutos.
Página
— Obrigada.
Fui lá para fora. Três rabinos se aproximaram de mim. A mulher mais
velha, Weiss, e um homem que tinha que estar em seus 70 anos. Com

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Livro 4
puros cabelos brancos e uma barba igualmente branca, ele parecia

positivamente velho e coxeava, inclinando-se sobre uma bengala
ornamentada.
— Você trouxe isso para o Templo. —Ele indicou o cemitério golem
com o movimento da sua mão. — Já não é bem-vinda aqui. Saia.
Ah, isso é encantador. Apontei para Solomon. — Queime o corpo.
Não toque o sangue. Se você tiver quaisquer sintomas de doença, contate
imediatamente o Biohazard. —Eu apontei para o médico. — Você! cuide
de mim.
— Você não ouviu? —A mulher olhou para mim, incrédula.
— Eu tenho uma Mary com potencial para pandemia que pilota
magos mortos-vivos e que está se preparando para invadir minha casa.
Todo mundo que conheço está prestes a se tornar um alvo. Ser banida do
Templo é o menor dos meus problemas.
CADA PASSO QUE EU DAVA, ERA UMA ESPETADA DE DOR FRIA no

meu lado. Minha pele estava molhada sob o curativo. A ferida se abriu. O
médico do templo era muito bom, mas o corte simplesmente não tinha
tempo suficiente para curar. Pelo menos o curativo foi bem aplicado, então
o sangue deveria ficar dentro.
283
Eu cheguei à ponte e cai para o monte de neve. Grendel me lambeu e

fugiu para pintar a neve amarela.
Página
Eu tinha que chegar em casa.

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Livro 4
Um carro atravessou a ponte muito rápido. Preto metálico, tinha o

corpo de um Hot Rod50 que de alguma forma brotou rodas dianteiras de
estilo Fórmula Indy. Chamas vermelhas pintadas se estendiam da frente
sobre o capô, lambendo um crânio com chifres bizarros com as palavras
DEMÔNIOS TROVEJANTES acima dela. Sua parte traseira borbulhava,
lutando para conter um monstruoso motor de água encantada.
O carro se arremessou para mim, freando em um spray de neve e
parou a dois metros de distância. A janela do lado do motorista desceu,
revelando uma pequena indonésia. Eu a tinha encontrado antes. Ela era a
especialista de mitologia residente no Bando. Ela também era vegetariana,
e quando se transformava em seu animal, que passou a ser um tigre branco
vesgo, ela se recusava a morder qualquer coisa que iria sangrar em sua
boca.
Ela também era cega como um morcego.
Dali olhou para mim, através de seus óculos e apontou com a cabeça
no carro. — Entre!
Eu abri minha boca, mas não saiu nada.
— Entre, Kate!
— O que diabos é isso?
— Isso é um Plymouth Prowler51 de 1999. Também conhecido como
Pooki. —Aposto que Jim pensou que isso era engraçado.
284
50
Hot Rods são carros geralmente das décadas de 1920, 1930 e 1940 modificados. As modificações geralmente
incluem rodas largas atrás, já que os carros eram praticamente todos de tração traseira, pintura com chamas geralmente feitas a partir de
Página
aerografia e pinstriping, e motores potentes, na maioria das vezes V8. Muito Populares nas décadas de 1940 e 1950, fazem sucesso até hoje
entre os entusiastas automotivos.
51
Plymouth Prowler

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Livro 4
— Dali, você quase não enxerga. Você não pode dirigir.

Dali empinou o nariz no ar. — Observe-me.
Nenhuma escolha. Gritei para Grendel, o enfiei no carro, entrei e
coloquei meu cinto de segurança.
Dali acelerou. A neve explodiu em ambos os lados do carro e nós
atiramos para a frente. As tábuas de madeira batiam sob o peso do Prowler.
A ponte tinha uma curva à frente. Dali não mostrou nenhuma indicação
de diminuir.
— Dali, há uma curva.
A curva se aproximava.
— Dali ...
O Prowler acelerou, direto como uma flecha.
— Vire! Vire a esquerda!
O trilho de madeira pairava diante de nós. O Prowler desviou à
esquerda, girando tão agudamente que quase virou. Eu segurei minha
respiração. Por um segundo, nós estávamos sem peso, e então todas as
quatro rodas desembarcaram em terra firme.
— Eu vi. —Dali empurrou os óculos de fundo de garrafa para a ponta
do nariz. — Eu não sou cega, você sabe. Segure-se em seu assento, há outra
curva chegando.
Se sobrevivesse a isso, eu mataria Jim com minhas próprias mãos.
285
O carro guinchou e perdeu o trilho por um fio.

O rosto feliz de Dali entrou em meu campo de visão. — Eu conheço
Página
sua kryptonita.
— O que?
— Kryptonita. É a pedra que pode derrubar o Superman?

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Livro 4
Eu a encarei.
Dali sorriu. — Você está com medo da minha condução.
Ela não estava dirigindo. Era suicídio por carro. — Eu preciso te falar
sobre Erra. —Cerrei meus punhos enquanto o carro corria. — Então você
pode dizer a Jim.
Dali fez uma careta. — Por que recebo o privilégio?
— Porque você é uma especialista do Bando com um histórico
comprovado e pode fazer backup do que digo com sua própria pesquisa.
Ele vai te ouvir e não tenho tempo para explicar as coisas para ele eu
mesma nesse exato momento.
Ela olhou para mim. — Kate? Isso é realmente, realmente ruim?
Porque você tem aquele olhar de dentes cerrados ...
— Olhe para a estrada!
Ela desviou, evitando os destroços de um caminhão.
— Eu tenho tudo sobre controle.
— O que você sabe sobre a Babilônia?
— Não muito. Não muito. Minha especialidade é na região asiática.
Era uma cidade-estado da Mesopotâmia que surgiu em torno do terceiro
milênio A.C. e eventualmente se transformou em um império. Sargon de
Akkad alegou ter construído. Mesopotâmia é considerada o berço da
civilização e Babilônia é na maior parte famosa pelo código de Hamurabi,
que foi o primeiro código escrito de leis, e os jardins suspensos, que foi a
286
primeira vez que um homem teve que reconstruir a cidade para se

estabelecer. Acho que o nome significa 'Portão dos deuses', embora
Página
ninguém saiba o porquê.

A definição de ‘não muito’ precisava ser trabalhada. — Foi chamado
Portão porque foi a primeira cidade construída após o Éden.

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Livro 4
Ela olhou para o para-brisa. — Babilônia é datada de três mil anos

antes da Era Comum. É muito recente.
— É a nova Babilônia. A antiga Babilônia foi construída quase
completamente com magia, e quando a tecnologia veio, ela se desintegrou
no chão, assim. —Eu apontei para o cemitério de arquitetura do centro da
cidade através da janela. — A antiga Babilônia tinha mais de doze mil anos
de idade, quando a Era Comum começou.
— Como é que você sabe tudo isso?
— Não importa. Você já leu o poema de Erra?
— Não.
— É um poema que age como um amuleto contra doenças em geral e
um deus chamado Erra em particular. Foi encontrado cinzelado em tábuas
de pedra por toda a Babilônia. Existem mais cópias dele do que há cópias
do épico de Gilgamesh.
Dali suspirou. — Gilgamesh era o seu grande pai.
— Sim, mas eles não tinham tanto medo dele. Tinham muito medo
de Erra, tão assustados, que entalharam o poema em todas as superfícies
de pedra disponível. De acordo com a história, Erra era o deus das pragas,
medo e loucura. Ele tinha sete guerreiros à sua disposição: Tocha, Tremor,
Dilúvio, Ventania, Besta, Veneno e Escuridão. Os quatro primeiros tinham
poderes elementares.
— Fogo, Terra, Água e Vento. —Dali assentiu com a cabeça.
287
— A besta era um monstro. Veneno é autoexplicativo.

— E a Escuridão?
Página
Balancei a cabeça. — Ninguém sabe.

Ela torceu o nariz. — Você não ama quando isso acontece?

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Livro 4
— O poema fala sobre como Erra e seu conselheiro chamado Ishum

vieram à Babilônia e a destruíram. O poema também está errado. Erra não
estava no comando, Ishum estava. Os babilônios tinham tanto medo de
Erra, que o colocaram no comando para estar no lado seguro. Eles também
o fizeram masculino.
— Espere, Erra era uma garota?
— Sim. Erra é uma mulher e Ishum é Roland.
Dali não disse nada. Ela apertou o volante ainda mais—seus dedos
ficaram brancos.
Eu continuei. — Cerca de 6200 A.C., Roland e Erra foram avançando
e conquistando a Mesopotâmia. Eles eram jovens e esta foi sua primeira
grande guerra. Eles encontraram a Babilônia, que era governada por
Marduk, que era inimaginavelmente velho a este ponto. Ele costumava ser
monstruosamente poderoso, mas tinha ficado velho e senil. O mundo
avançou. Marduk não e ele sabia disso. Ele se contentou em governar a
Babilônia, sua última cidade, a gema do mundo antigo. Era uma grande
metrópole próspera, construída quase inteiramente com magia profunda,
e ele estava muito orgulhoso disso.
Eu conhecia esta história muito bem. Voron tinha me contado há
muito tempo, exceto que em sua versão Erra era um homem. Nem o
senhor de guerra de Roland sabe tudo sobre ele.
— Roland decidiu que não tinham as tropas para segurar a cidade.
Marduk foi muito reverenciado, então eles teriam que suportar muita
288
resistência nativa e a infra-estrutura era muito complexa para se recuperar

facilmente. Roland faz guerra para adquirir, não para subjugar. Ele quer
tomar cidades com danos mínimos, instalar seu próprio governo e
Página
construi-los para os tornar melhor. Ele seguiu em frente. Mas Erra fincou
os calcanhares. Algo sobre Marduk deve ter esfregado no caminho errado.

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Livro 4
— Erra pegou uma parte do exército de Roland, e juntamente com

seus sete invadiram a Babilônia. Ela tomou a cidade e expulsou Marduk,
mas os babilônios se recusaram a se curvar. Erra decidiu quebrar a
Babilônia. Ela os bombardeou com pragas e deixou os sete correr e
devastar a cidade. Reduziu à metade da população, destruiu os lugares
sagrados, engajou-se em atrocidades inacreditáveis. Era o inferno na Terra.
Quando não restava nada para segurar, ela foi embora. Marduk mais tarde
voltou para a cidade e reconstruiu, mas demorou séculos para erguê-la
novamente em destaque. O que nós conhecemos agora como Babilônia
dos registos arqueológicos é uma pálida imitação do que uma vez foi. —
Eu olhei para Dali para certificar-me de que ela entendeu. — Eles tinham
defesas mágicas que não podemos sequer sonhar. E Erra os esmagou e foi
embora rindo. Precisa contar esta história para Jim.
Dali engoliu. — Por quê?
— Porque Erra está aqui. Curran matou Dilúvio e eu acabei de matar
Tremor.
— Ela está atrás de nós?
— Acho que sim. Ela tem seus sete guerreiros com ela. Eles são
mortos-vivos. Ela os pilota como vampiros.
Dali encolheu os ombros, como se sacudindo o pavor. — Tem certeza
disto?
— Eu estou muito certa. Erra traz pragas. Nos tempos antigos, ela
caminhou diante do exército de Roland. Ela iria passar pelo local e na
289
manhã seguinte não haveria nada além de cadáveres. Alguns dias depois,
uma vez que a terra fosse arejada, as tropas do Roland marchariam.
Sabemos que Roland quer acabar com o Bando. Erra é a pessoa perfeita
Página
para fazer isso. Ela tem o poder de enviar os animais em pânico e funciona
com metamorfos.
— Você está brincando.

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Livro 4
Eu citei, — ‘Eu devastarei a terra e a quebrei em pó, eu esmagarei as

cidades e os transformarei em resíduos, desmoronarei as montanhas e suas
bestas selvagens em pânico’. Ela deixa os metamorfos loucos, Dali. Ela te
faz enlouquecer. Você ouviu as testemunhas da luta no Cavalo de Aço.
Fugiram, todos eles. Você não pode lutar contra ela. Explique isso para
Jim. Não sei se é o seu poder pessoal ou se ela está usando um dos
guerreiros para fazê-lo, mas ela tem magia antiga, do tipo que o Bando não
pode enfrentar. Você não pode vencê-la, porque ela vai fazer todos vocês
insanos.
O carro derrapou até parar e eu percebi que chegamos ao meu
apartamento. Eu empurrei a porta aberta e saltei para fora seguido de
Grendel.
— Kate. —Os olhos de Dali eram enormes no rosto dela. — Como
podemos combatê-la?
— Eu não sei. Você não pode lutar com ela diretamente e eu vou fazer
tudo ao meu alcance para me certificar de que você não precise.
Eu bati com a porta fechada e corri para o meu prédio.
290
Página

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CAPÍTULO 21
CORRI PARA AS ESCADAS DO MEU APARTAMENTO, MATADORA na

mão e meu encasacado filhote-do-inferno a reboque. A porta do meu
apartamento, inteira. Sem sinal de arrombamento. Eu me forcei a me
acalmar, deslizei a chave na fechadura e abri a porta. O poodle trotou
dentro. Eu segui suavemente em meus pés ...
Cozinha. Limpa.
Toquei a porta do banheiro com a ponta dos meus dedos. Limpo.
Sala de estar. Limpo.
Sala da biblioteca/Quarto da Julie. Limpo.
O apartamento estava limpo.
Eu tinha que esconder Julie.
Olhei para o apartamento. Tinha muita coisa. Eu poderia jogar fora
as fotos, mas os sinais dela estavam por toda a minha casa. Roupas, urso
de pelúcia com dentes de vampiro, quarto pintado de preto com um grande
‘Fique Fora’ estampado na parede ... Mais cedo ou mais tarde Erra iria
encontrar meu apartamento, e iria achar alguma coisa que eu tinha
perdido. Ela olharia para a Julie e se a encontrasse, ela mataria minha
291
criança e iria fazer lentamente para me torturar com isso.

Pense. Pense, pense, pense ...
Página
Peguei uma tesoura, marchei para o armário de Julie e puxei o seu

vestido gótico favorito. Dois cortes e eu tinha dois pedaços de fita preta.

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Livro 4
Peguei a cola na gaveta de utilitários e fixei as fitas pretas sobre o canto de

duas molduras.
Fotos de funeral. Foi o que Voron fez quando Larissa morreu. Ela era
uma metamorfo-rato que viajou com a gente por um tempo, e quando ela
morreu, ele colocou as fitas em sua foto. Eu tive uma filha, mas ela morreu
e guardei as fotos do funeral à vista.
Puxei a gaveta dos papéis aberta, levei a pasta com papéis escolares de
Julie e afastei os livros da lareira. Um pouco de querosene, um pouco de
amasso e dois minutos depois, os registros escolares de Julie pegaram fogo.
Certo. Eu tinha o número de telefone da escola memorizado. Não
havia registro dele. E se Erra achasse que Julie estava morta, não a
procuraria. Peguei o telefone e disquei o número da escola. Em dez
segundos eu repassei toda a segurança e dei instruções detalhadas: Julie não
deveria sair por nenhum motivo. Ela não devia entrar em contato comigo, até
que eu entrasse em contato com ela.
Terminei a chamada, liguei para a Ordem e desliguei. Se Erra sabia
como usar a rediscagem, isso não iria levá-la para Julie também.
Os papéis queimaram em cinzas. Sentei-me no chão e olhei para as
chamas.
Eu a superei. Se ela invadisse agora, Julie estaria segura.
Grendel andou até mim e gemeu baixinho.
— Me dê um minuto, —disse a ele.
292
Toda a minha vida tinha sido focada em evitar esse momento. Minha
família me encontrando. Mesmo que eu a matasse, o que era um grande
‘se’, isso não passaria despercebido.
Página

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Livro 4
Eu tinha que ir. Eu tinha que pegar minhas coisas e fugir para o
deserto, onde ela não podia me rastrear. Eu sabia onde me esconder. Voron
e eu planejamos várias rotas de fuga há anos atrás.
E quanto a Julie? Ela estava segura na escola, mas ela não entenderia.
Ela pensaria que eu a abandonei. Levá-la comigo estava fora de questão.
Julie não era eu. Eu poderia pegar uma faca, desaparecer na floresta e sair
do outro lado semanas mais tarde, mais magra, mas não em pior estado.
Julie não seria capaz de lidar com isso. O responsável seria deixá-la onde
estava.
Ela iria fugir e ir atrás de mim. Ela fugiria num piscar de olhos.
Tudo o que eu poderia fazer era enviar uma mensagem para a escola
e dizer que eu tinha que ir e ela teria que ficar e confiar neles para mantê-
la lá.
Não há boas opções. Quando você se preocupa com as pessoas, eles
te amarram.
Supunha que eu fugisse e Erra perdesse meu rastro. O Bando seria seu
próximo alvo. Ela iria destruir os metamorfos. Uma vez que terminasse
com eles, ela teria a cidade para brincar. Se ela realmente fez o que era
famosa por fazer, Atlanta se tornaria a terra dos cadáveres doentes.
Erra era feita dos meus pesadelos de infância. Pela primeira vez desde
que cheguei à idade adulta, eu queria que meu pai estivesse vivo, da
maneira que uma criança quer os pais para entrar em um quarto escuro e
acender a luz. Exceto que Voron estava morto. Além disso, já sabia qual
293
seria sua resposta: Corra. Corra o mais rápido e o mais longe você puder. Eu
tinha uma janela de oportunidade agora, antes que ela me encontrasse
novamente. Uma vez que a deixasse escapar, minha rota de fuga teria ido
Página
para sempre.
Eu peguei a Matadora do chão e arrastei os dedos do outro lado da
lâmina, sentindo a mordida mágica em minha pele. A necessidade de

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Livro 4
correr me agarrou. As paredes se fecharam, como se meu apartamento

tivesse encolhido.
Essa não era eu. Eu não entrava em pânico. Eu precisava estar afiada
para isso.
Eu fechei os olhos e deixei tudo ir. Imaginei o pior cenário possível.
Julie morta, seu pequeno rosto ensanguentado. Curran morto, seu corpo
quebrado, olhos cinzentos, olhando para o nada, todo o ouro se foi. Jim,
Andrea, Raphael, Derek, mortos, seus corpos dilacerados.
Minhas mãos ficaram geladas. Meu pulso correu. Meu coração
martelava em meus ouvidos, muito alto.
Atlanta morta. Cadáveres nas ruas. Abutres circulando, mas não em
terra porque os corpos estavam envenenados.
Eu mergulhei em tudo. Doeu. Suor estourou em meu rosto.
Um longo momento passou.
Gradualmente, meu ritmo cardíaco diminuiu. Eu respirei bem fundo
e deixei ir. De novo. De novo. O cansaço me atingiu em uma onda lenta.
O poodle lambeu minha mão.
Eu tinha enganado a minha mente para pensar que o pior tinha
acontecido e eu tinha passado por isso. Todos ainda estavam vivos. Eu
ainda tinha uma chance de protegê-los.
Minha respiração se nivelou. O pavor e o medo desapareceram de
mim. O medo drenou minha energia. Pode-se ter medo até certo ponto
294
antes do corpo desligá-lo em defesa própria. Eu sobrecarreguei os circuitos.

A calma veio. Minha mente reiniciou lentamente, como um relógio
enferrujado. — Eu me diverti. Eu fiz amigos, adotei uma criança e me
Página
apaixonei. É hora de pagar o preço.

Grendel inclinou sua cabeça.

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Livro 4
— Além disso, a cadela matou Marigold. Temos que derrubá-la. Você

está no jogo?
O poodle se virou e trotou para a cozinha e me trouxe o seu prato de
comida.
— O que aconteceu com o seu altruísmo? Muito bem. Eu vou pagar
em carne se você me ajudar a matá-la.
O cachorro latiu.
— Você conseguiu um acordo. Aqui, vamos ver o que podemos
arranjar. —Eu sorri e levantei do chão. Tudo doía. Eu estava acabada. A
palavra de poder e a luta me custaram, e a ferida não ajudou. Parecia que
eu estava arrastando correntes de aço.
Minhas correntes invisíveis e eu seguimos para a cozinha. Eu abri a
geladeira, joguei a cabeça do morto-vivo no lixo e tentei encontrar algo
para comer.
Uma batida soou através do meu apartamento.
EU COLOQUEI GRENDEL NO BANHEIRO E ABRI A PORTA.

Erra estava no patamar, envolvida em um manto de pele, o rosto
oculto por um capuz. Eu tinha cerca de um metro e setenta e três. Ela me
295
passava por pelo menos vinte e cinco centímetros.

A teria matado esperar algumas horas e me deixado recuperar o
Página
fôlego?
Eu abri a porta. — Recebo uma visita em pessoa. Estou tão honrada.

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— Você deveria estar. Há uma barreira na porta. Sua ou você pagou

alguém?
— Minha.
Ela estendeu a mão, dando-me um vislumbre de calos na base dos
dedos—do uso de espada. Mãos de homem, Bob disse. Eu podia ver o
porquê ele acharia isso.
A barreira se agarrou a sua pele em um flash de azul. Tinha que doer
como o inferno.
Ela apertou o punho.
O brilho azul se solidificou ao redor de sua mão. Fissuras surgiram
através dele. Por um longo segundo, se manteve, como um painel de vidro
azul translúcido, e depois partiu. A magia cresceu dentro do meu crânio,
explodindo em dor incapacitante.
Mensagem recebida. Tudo o que eu poderia fazer, ela podia quebrar. Sutil.
Partes da barreira vibraram, derretendo em pleno ar. Erra apertou sua
mão com uma careta. — Nada mal.
Meu crânio queria muito se abrir. — Vamos lutar agora ou quer lutar
mais tarde?
— Mais tarde. —Ela entrou em meu apartamento. Aparentemente,
ela queria conversar. Isso era bom. Eu sempre poderia fazê-la sangrar
depois. Fechei a porta.
Erra puxou para trás o capuz, revelando uma massa de cabelo escuro,
296
quase preto e marrom, sua capa, escorregou e ela jogou na minha cama.
Ela usava calças soltas pretas e uma jaqueta de couro cravejada com metal.
Página
Uma simples espada pendurada em sua cintura. Sem frescuras, punho

funcional, cerca de vinte e oito centímetros de comprimento, lâmina de
dois gumes. Bom para empurrar ou cortar. O tipo de espada que eu levaria.
Seus calos diziam que ela sabia como usá-la. Minha visão de enfrentar um

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lutador de lança só pegou fogo. Ela rachou as barreiras como nozes, ela
era gigante, e era boa com a lâmina.
— Você não cospe fogo, não é?
— Não.
— Só checando.
Erra me encarou. Ela parecia mais velha que eu por cerca de dez anos.
O nariz dela afiado se projetava mais distante, quase romano, e seus lábios
eram mais cheios do que os meus. Olhar nos olhos dela escuros era como
se chocar com um fio vivo. Magia se agitava em suas íris, alimentando a
arrogância, inteligência e temperamento quente. Levantou pequenos pelos
na parte de trás do meu pescoço.
Seus olhos se estreitaram. Ela me examinou.
Levantei meu queixo e olhei de volta.
Erra riu suavemente. — Quem diria? O Sangue escorria verdade. Um
pequeno restante da minha própria mortalidade. Milhares de anos e poder
divino, e aqui estou, sendo desafiada por um bebê que se parece comigo.
Ela me tinha lá. Ninguém com um pingo de senso teria qualquer
dúvida de que éramos parentes. Mesma cor de pele, os mesmos olhos,
mesmo formato do rosto, mesmo sorriso, mesma construção, exceto que
ela era enorme. Nós até usávamos roupas semelhantes.
O ritual Dubal, de repente, fazia sentido. Eu não me vi no reflexo do
líquido nublado. Eu a vi. O segundo que alguém nos visse lado a lado, o
297
quebra-cabeças ficaria pronto.

Erra observou o apartamento. — Aqui é onde você mora?
Página
— Sim.
— É um casebre.

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O que deu ultimamente com todos comentando sobre minhas

acomodações? Meu escritório era pobre, meu apartamento era um casebre ...
— Quantos anos você tem?
— Vinte e seis.
Ela piscou. — Você é apenas um bebê. Quando tinha sua idade, eu
tinha um palácio. Servos, guardas e professores. Você nunca esquece o seu
primeiro.
— Primeiro o que?
— Seu primeiro palácio.
Eu rolei meus olhos. — Obrigada.
— Não há de que. Erra passou na parte de trás e olhou para a
biblioteca. — Eu gosto de seus livros. —Ela pegou a foto de Julie na
prateleira. — Quem é a criança? Ela não é da família.
— Uma órfã.
Os dedos do Erra deslizaram através da fita preta. — O que aconteceu?
— Ela morreu.
— As crianças costumam fazer isso. —Ela se virou e acenou com a
cabeça para a cozinha. — Está frio. Tem alguma coisa para beber?
— Chá. —Isso era surreal. Talvez se eu a alimentasse com alguns
biscoitos, ela iria adiar transformar Atlanta em um terreno baldio.
298
— Está quente? —Erra perguntou.

— Sim.
Página
— Vai servir.
Entrei na cozinha, fiz chá, derramei em duas xícaras e me sentei.
Matadora estava esperando por mim na cadeira. Eu a deslizei no meu colo

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e olhei para Erra. Ela sentou em uma cadeira à minha frente e despejou
meia xícara de mel em seu chá.
De todas as pessoas que conhecia, eu tinha a melhor chance de
derrubá-la. Eu não estava no meu melhor neste segundo, mas não
conseguimos escolher a hora de lutar por nossas vidas.
— O que você está pensando? —Ela perguntou.
Pensando que você tem melhor alcance, mas eu sou mais rápida. —
Por que uma espada e não uma lança?
— A lança é boa para prender as coisas no lugar. As espadas tendem
a quebrar sob o peso. Eu vi você lutar e você merece uma espada. —Um
canto de sua boca subiu. — A menos que você planeje ficar quieta
enquanto eu te espeto.
Dei de ombros. — O pensamento passou pela minha cabeça, mas eu
tenho uma reputação a manter.
Erra riu. — Eu descobri quem você é. Você é a criança perdida que Im
continua a falar, quando tem seus ataques de melancolia.
Melancolia, certo. Ele lamenta o fato dele não conseguir me matar—
que adorável. — Im?
— Um apelido de infância do seu pai. Você sabe quem eu sou?
— O flagelo do mundo antigo. O Pestiário. Comedora de cidades.
Minha tia. A irmã mais velha de Roland.
Erra levantou sua taça. — Vamos celebrar a nossa reunião de família?
299
Levantei a colher e girei no ar algumas vezes. — Yupiiiiii ...

Ela sorriu. — Você é muito engraçada para ser dele. Seus filhos
Página
tendem a ser absurdamente sérios.

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Eu bebi meu chá. Quanto mais conversarmos, mais eu descansava. —

Não me diga.
— Você é muito mais parecida com minha prole, mas só acordei há
seis anos então você não pode ser minha. Que pena. Outra hora, outro
lugar, eu poderia fazer você ser algo adequado.
Eu não pude resistir. — Como eram seus filhos?
— Impulsivos e violentos. Fiz na maioria meninos, e eles tendiam para
os prazeres simples na vida: beber, se prostituir e lutar, de preferência todos
os três de uma vez. —Ela acenou com seus dedos. — A prole de Im olha
para as estrelas e faz relógios que calculam acontecimentos inúteis como o
ângulo das garras de um falcão quando ele atinge sua presa. Eles
demonstravam suas geringonças e todos ficavam maravilhados. Minhas
crianças se embebedavam, confundiam uma manada de vacas com um
regimento de inimigos e abatiam o lote, gritando como loucos até colocar
em pânico todo o exército.
Isso soou como grande Ajax, um dos gregos que sitiou Tróia. Deve ter
sido durante o período "grego".
Erra tomou um gole. — Um idiota arrastou as portas da cidade até
uma montanha. Perguntei-lhe por que ele fez isso. Ele disse, 'Parecia uma
boa ideia no momento’.
Eu pisquei. — Ele também se recusou a cortar o cabelo?
Erra fez uma careta. — Ele era careca. Esse era seu plano principal:
300
crie uma juba assim ninguém notaria. Seu pai era lindo. Burro como um
pombo, mas lindo. Eu pensei que meu sangue iria compensar sua falta de
cérebro.
Página
— Como isso acabou para você?

Minha tia fez uma careta. — Ele era o filho mais estúpido que eu já
produzi. Matá-lo era como curar uma dor de cabeça.

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Eu bebi o meu chá. — Você matou seu próprio filho?

— Ele foi um erro, e quando você comete um erro, deve ser corrigido.
— Eu pensei que ele se suicidou. —Pelo menos de acordo com a
Bíblia.
— Ele fez. Eu apenas o ajudei ao longo do caminho.
— Ajax também se matou.
Ela tomou um gole de chá em um gesto tão parecido com o meu, que
tive que lutar para não olhar. — Não me diga.
Essa é a minha família para você. Ah, tão agradável.
Eu reabasteci meu copo.
Minha tia olhou para mim. — Você sabe o que seu pai fazia quando
seus filhos o desapontavam?
— Tenho certeza de que você vai me dizer.
— Ele me chama. Im é muito sentimental para remediar seus erros.
Ele já fez algumas vezes, mas eles precisam fazer algo verdadeiramente
incisivo para ele matá-los pessoalmente.
— Eu sou excelentemente incisiva.
Ela sorriu, afiado o suficiente para cortar. Como uma espada saindo
de uma bainha. — Nisso eu posso acreditar.
Olhamos uma para a outra.
301
— Por que o Bando? —Perguntei.

— Cinco mestiços são fáceis de despachar. Leve tropa suficiente e eles
Página
serão oprimidos. Cinquenta mestiços cortarão cinco vezes o seu número.

Eles são rápidos e aqueles que não matam, eles entram em pânico.
Quinhentos mestiços podem assumir um exército dez vezes o seu tamanho
e triunfar. —Ela tomou um gole do chá. Seu rosto ficou frio. — Vi isso

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acontecer milhares de anos atrás. Este novo reino dos mestiços está em sua
infância. Ele deve ser esmagado antes que eles aprendam a andar.
Eu olhei nos olhos dela. Uma inteligência implacável olhou de volta.
— Por que os chama de mestiços?
— É um termo conveniente. Ele escorre com desprezo. Você é um
soldado que enfrenta uma monstruosidade. É mais forte e mais rápido do
que você, parece um pesadelo, e quando ele toma uma ferida que mataria
um homem normal, seus companheiros o empurraram para trás e, quinze
minutos depois, a criatura que você feriu está de volta aos seus pés. De
onde virá sua coragem?
Eu me inclinei em sua direção. — Mas se você acha que a criatura é
uma abominação, um mestiço, que é menos do que você, você pode chegar
lá no fundo e encontrar um par.
Erra assentiu. — Exatamente.
— Porque não declará-los impuros e transformá-los em uma cruzada,
então?
Ela apontou-me a colher. — Você deve ficar longe da religião. Uma
vez que você trouxer orações e adoração para eles, suas tropas começam a
pensar que você é um deus. A fé tem poder durante a magia. Você começa
recebendo impulsos que não são seus próprios. É por isso que avisei a
Babilônia que se construíssem um santuário para mim, iria arrasar a cidade
até um coto e salgar o chão. Em qualquer caso, os mestiços devem ser
espalhados. Eles também são organizados e têm um Primeiro.
302
Brinquei com meu copo. — O que é O Primeiro?

— O Primeiro estava lá no início. Eles têm mais poder, melhor
Página
controle e o resto dos mestiços se reúnem a ele.

Curran.

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Os olhos de Erra se estreitaram. — Você gosta dele.

Arqueei minhas sobrancelhas.
— Você gosta do leão.
— Eu não o suporto. Ele é um idiota arrogante.
— Sua cama está amarrotada e existem marcas de garras no peitoril
da janela e no quadro do lado de dentro da porta. Você está dormindo com
ele?
Eu inclinei para trás e cruzei os braços. — O que é isso para você?
— Você é uma vagabunda?
Eu olhei para ela.
— Não é uma vagabunda, então. Bom. —Erra assentiu com a cabeça.
— O nosso sangue é muito precioso para se deitar com cada homem bonito
que você vê. Além disso, isso é pedir por desgosto. Você tem que se
proteger ou nunca vai sobreviver ao seu primeiro século. A dor das pessoas
que você gosta que vai destruir você.
— Obrigada pela palestra.
— Sobre seu mestiço. Eles são muito divertidos na cama, pequeno
esquilo, mas sempre querem filhos e família. A família não é para você.
Eu arqueei as sobrancelhas. Decidiu por mim, então? — Como é que
você sabe o que é para mim?
Ela riu. — Você sabe o que você é? Você é uma pálida imitação de
303
mim. Mais fraca, mais lenta, menor. Você se veste como eu, fala como eu
e pensa como eu. Eu te vi lutar. Você adora matar. Igual a mim. Você ataca
quando está com medo e, agora se pergunta se poderia quebrar a barreira
Página
da sua porta do jeito que fiz. Eu conheço você, porque eu me conheço. E

eu sou uma mãe terrível.

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Eu acariciei Matadora no meu colo. — Eu não sou você.

— Sim. E isso será a sua ruína. A chave para a sobrevivência é a
moderação. Você não aprendeu isso e agora você nunca irá.
Levar um sermão de uma mulher que teve um chilique e explodiu a
Babilônia. Essa é boa. — Falando de moderação, o Casino pertence à
Nação. O meu pai sabe que atacou uma de suas bases?
Erra encolheu os ombros. — Im aprovaria. É tão ... —Ela franziu a
testa, obviamente procurando uma palavra. — Berrante. É tudo o que eu
não gosto sobre esta época: muito alto, muito brilhante, muito chamativo.
Ninguém percebe a beleza do prédio por trás de toda a luz e banners
coloridos. A música soa como se houvesse uma banda de macacos dentro
batendo em panelas de cozinha.
— Eles relataram isso às autoridades.
Os olhos de Erra alargaram. — Eles fizeram? Maricas.
Ghastek não sabia o que ela era, mas Nataraja poderia ter estado
suficientemente perto de Roland para tê-la conhecido e sabia que ela era
instável o suficiente para reduzir o Casino em pó por um capricho. Ele não
queria correr nenhum risco.
Erra errático. Deus, talvez a palavra foi inventada para descrever a
minha tia. Isso era louco. — O que a Associação fez para ofendê-la?
Erra revirou os olhos. — Este é meu dia para dar aulas?
— Quantas vezes você pode ensinar?
304
Ela riu novamente. — Muito bem. Quando você quer assumir um

exército, você anda até eles e diz: 'Envie seu homem mais forte'. Eles fazem,
Página
e você o mata enquanto eles observam. Faz rápido e brutal, de preferência

com a mão. E enquanto eles estão atordoados, você atira no pequeno cara
com uma boca grande que te incomodou quando você se aproximou. Isso

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mostra que você poderia ter atirado no grande homem, mas você escolheu
não fazer.
Eu assenti. Pareceu-me razoável.
— Quando você quer assumir uma cidade, você deve destruir a ilusão
de segurança que ela fornece. Você deve bater nos grandes
estabelecimentos bem protegidos, encontrar as pessoas poderosas que os
dirigem e são vistas como invencíveis e matá-las. Você quer destruir a
moral primeiro. Uma vez que a determinação das pessoas se foi e todos
estão assustados de sua própria pele, a cidade é sua. A Associação está
cheia de pessoas que pensam que são fortes. Eu poderia ter matado seu
líder em seu quarto, mas em vez disso arrastei-o para baixo e o assassinei
diante de seus olhos. Não só eles não se opõem a mim agora, mas eles vão
espalhar o pânico cada vez que abrirem suas bocas. E então, claro, o
Primeiro entrou no lugar quando eu estava tirando meus meninos dali. Foi
muito tentador não tomar um tiro.
Então o status de metamorfo de Solomon foi uma coincidência. Ela o
tinha como alvo porque ele era o chefe da Associação, não porque ficava
peludo.
— Mas então você fez Tremor parecer com Solomon. Por quê?
Erra revirou os olhos. — Seu pai faz armas e armaduras. Eu posso
fazer isso também, mas principalmente faço golems de carne. Mas um
golem deve ser infundido com combustível de sangue antes de poder
mover-se. Quando o sangue é introduzido no corpo, assume a aparência
do doador de sangue. Quanto mais forte a magia, melhor o golem se move
305
e mais se assemelha ao doador. Os primeiros sete duraram por dois séculos,

porque eu tinha usado os meus filhos. Agora eu tenho que confiar no
Página
talento encontrado, e as colheitas têm sido magras.

Eu engasguei um pouco com meu chá. — Deixe-me ver se eu entendi
isso direto: você matou seus filhos e pilotou seus corpos mortos-vivos.

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— Sim. Isso choca você?

— Não. Você é uma psicopata.
— O que isso significa?
Levantei-me e lhe trouxe um dicionário. Ela leu a definição. — Isso
resume bem, sim. A ideia das regras sociais é falsa no núcleo. Há apenas
uma regra neste mundo: se você é forte o suficiente para fazê-lo, tem o
direito de fazê-lo. O resto é uma defesa artificial da maioria dos fracos para
proteger-se do forte. Eu entendo seu medo, mas isso não me incomoda.
Ela era o que Voron queria que eu fosse. Sem arrependimentos, sem
hesitação, sem anexos.
Eu sorri para ela. Então ela sorriu de volta. — Por que o sorriso?
— Estou feliz que eu não sou você.
— Sua mãe era muito poderosa, pelo que eu já ouvi. —Erra adicionou
mais mel para a xícara. — Mas seu espírito era fraco. Que tipo de mulher
se deixa ser morta e deixa seu filho para se defender por si mesmo?
Legal. — Testando-me por pontos doloridos?
— Deve ser difícil crescer sem uma mãe.
— Isso ajuda sabendo que seu pai a matou. —Eu bebi o chá frio. —
Mantém você motivado.
Erra olhou para mim por cima da borda de sua xícara. — Eu tinha
peixes quando criança. Eram peixes brilhantes, lindos, com barbatanas
306
vívidas entregues especialmente para mim de longe. Eu os amava. Meu

primeiro era azul. Ele viveu apenas dois anos. Quando morreu, eu chorei
por dias. Então, tive outro. Amarelo, eu acho. Minha memória é difusa.
Página
Ele também morreu alguns meses mais tarde. Então, tive outro. No final,
quando meu peixe morreu, tornou-se rotina. Eu sinto uma pontada de

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tristeza, queimo seus pequenos corpos com incenso e consigo um novo

quando precisar.
— Há um ponto para essa história?
Erra inclinou-se para a frente. — As pessoas são peixes para nós,
criança. A dor da sua mãe dói, porque ela era sua mãe e Im roubou sua
infância de segurança e felicidade. Você está justificada em sua vingança.
Mas para ele, ela era apenas um peixe. Vivemos um longo tempo e eles
não. Não faça seu crime maior do que é.
— Eu vou matá-lo.
As sobrancelhas de Erra levantaram. — Você teria que passar por mim
primeiro.
Dei de ombros. — Eu tenho que fazer alguma coisa para me aquecer.
Ela riu suavemente. — Esse é o espírito! Eu acho que você poderia ser
minha sobrinha favorita.
— Isso aquece o meu coração.
— Desfrute do sentimento enquanto ainda possui um. Eu vou apreciar
seus livros depois que você morrer. Você foi criada por puro acaso, e não
importa o que faça, é mais fraca do que eu. Se você vir sua mãe do outro
lado, bata nela por mim por pensar que poderia ter uma criança para a
nossa família.
Isso era o suficiente. Olhei bem em seus olhos. — Você vai perder.
— O que faz você ter tanta certeza?
307
— Você não tem nenhuma disciplina. Tudo o que você faz é destruir
a porra toda. Meu pai é um bastardo, mas pelo menos constrói coisas. Você
Página
transforma cidades em ruínas fumegantes e faz isso como uma criança

hiper-ativa, esmagando qualquer coisa que vê. E então você senta aqui e

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me pergunta: 'Por que todos os meus filhos se tornaram idiotas violentos? É

um mistério da natureza'.
Nós nos levantamos ao mesmo tempo, as espadas na mão. Grendel
bateu na porta do banheiro, latindo em um frenesi histérico.
O poder girou em torno de Erra, como um manto de magia. — Bem.
Vamos ver o que você tem.
Apontei para a porta. — Idade antes da beleza.
— Pérolas antes dos porcos. —Ela caminhou para fora e eu a segui.
Pérolas antes dos porcos. Blá-blá-blá.
Fomos para fora do apartamento e descemos as escadas. Meu lado
doía como o inferno. Nós caminhamos para o estacionamento coberto de
neve. Balancei minha espada, aquecendo-me.
— Como está sua ferida? —Ela perguntou. — Está doendo?
Eu girei o meu pescoço para a esquerda e depois direita, estralando.
— Toda vez que cortei Solomon, ele grunhiu em sua voz como um porco.
Dói quando os sete estão feridos, não é? Oh, sim, peço desculpas. Não sete.
Cinco.
— Faça sua prece. —Ela acenou.
— Vamos fazer isso, ou você vai continuar falando?
Minha tia veio através da neve, espada levantada. Rápido. Muito
rápido. Uma mulher tão grande deveria ter sido mais lenta.
308
Impulsiou sua lâmina. Rápido. Eu me esquivei e bati na sua lateral.

Ela se defendeu. Nossas espadas se chocaram. O choque perfurou meu
braço, forte como um touro.
Página
Erra golpeou junto ao meu ombro, eu bloqueei, deixando sua lâmina

deslizar pela minha espada, girando e chutando para ela. Ela saltou para
trás. Nós nos separamos.

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Minha tia jogou sua jaqueta de couro na neve e me fez um gesto com
os dedos.
— Eu sinto muito, eu deveria fazer isso?
— O que?
Eu ataquei e empurrei. Ela defendeu, torcendo. Enganchei sua perna
com a minha e afundei os nódulos da mão esquerda em suas costelas.
Ossos trituraram. Ela bateu o cotovelo, apontando para minhas costelas.
Eu girei com o golpe e o cotovelo mal me tocou. Dor rasgou minhas
entranhas. Nos separamos novamente.
Calor líquido encharcou minha lateral. Ela rasgou a ferida aberta.
Ótimo.
Eu vi os músculos na sua perna esticar e a encontrei no meio do
caminho. Nós nos enfrentamos. Ataque, ataque, esquerda, ataque, direita,
esquerda, para cima. Eu dancei através da neve, combinando meus
movimentos com o ritmo e fui mais rápido, forçando-a a seguir o meu
ritmo. Meu lado queimava. Cada pequeno movimento esfaqueou uma
agulha incandescente no meu fígado. Eu cerrei os dentes e lutei contra isso.
Ela era forte e desumanamente rápida, mas eu estava um milésimo mais
rápida.
Nós batemos e recuamos. Ela bateu de novo. Evitei o que podia e
defendi o resto. Bloqueá-la era como tentar segurar um urso. Ela cortou
meu ombro. Abaixei-me ao seu alcance, cortei sua coxa e recuei.
Erra levantou a lâmina para cima. Uma gota de vermelho deslizou
309
pela lâmina. Ela tocou. — Você conhece muitos truques.

— Você não. —Ela era hábil, mas todos os seus ataques eram simples.
Página
Então, novamente, não precisava contar com truques. Não quando ela
batia como uma marreta. — Você aprendeu a lutar quando a magia era
uma certeza, você confia nela para ajudá-la em uma luta. Aprendi a lutar

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quando a tecnologia ainda tinha a vantagem e eu confio na velocidade e

na técnica. Sem seus feitiços e magia, você não pode me vencer.
Você não é melhor do que eu, nyah-nyah-nyah. Pegue a isca, Erra. Pegue a
isca.
— Esperto, pequeno esquilo esperto. Muito bem. Eu vou te cortar em
pedaços com à mão, sem usar meu poder. Afinal, você é da família e devo
dar um desconto para parentes de sangue.
Nós nos enfrentamos novamente. Neve voou, o aço piscou. Eu cortei
e cortei, colocando tudo o que tinha em minha velocidade. Ela defendeu
muito bem para um corpo ferido, então eu fui para os seus braços. Se não
conseguisse segurar uma espada, ela não podia lutar.
Seu joelho me pegou. O golpe me derrubou para trás. Bonitas estrelas
bloquearam minha visão. Voei e bati na neve. Levante-se, levante-se, levante-
se. Falei para a consciência e me levantei, apenas a tempo de bloquear sua
lâmina.
Erra sangrava de uma meia-dúzia de cortes. A manga dela escorria
vermelho para a neve. Ela me empurrou de volta, empurrando a lâmina
contra a Matadora. Meu pé escorregou.
— Onde está a sua armadura de sangue, pequena criança vira-lata?
Onde está a sua espada de sangue? Eu continuo esperando seu poder para
aparecer, mas ele nunca o faz.
— Não preciso do meu sangue para te matar.
— Você está sangrando. —Ela acenou com a cabeça para minha
310
lateral. Minha camisa prendia ao meu corpo, encharcada com calor e

esfriando rápido. Eu tinha deixado um rastro de vermelho do outro lado
Página
da neve. — Nós duas sabemos como isso vai acabar. Você é mais
experiente, mas está ferida. Eu vou bater em você até o sangramento te
derrubar e depois matá-la.

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Bom plano. Neste momento, pareceu-me muito plausível.

Erra acenou para o rastro de sangue. — Use seu sangue enquanto
ainda pode, e então pelo menos, eu vou saber se você vale alguma coisa.
— Não preciso disso.
— Você não pode fazer isso, não é? Você não sabe como funciona o
sangue. Sua criança tola, tola. E você acha que pode me vencer?
Larguei minha guarda e virei para o lado. Ela deu um pequeno passo
em frente, fora de equilíbrio, e bati o braço esquerdo e empurrei. Erra
empurrou para trás. Matadora deslizou para a axila esquerda, rápido como
o beijo de uma cobra, e retirou-se. Ela gritou. Sangue escorreu, mas não
rápido. Não fundo o bastante. Droga. Me afastei.
Ela riu, mostrando os dentes, com o cabelo caído sobre o rosto dela.
Seus lábios se moveram, sussurrando. Um canto de cura. Tudo bem, dois
poderiam jogar esse jogo. Eu murmurei o encantamento em voz baixa,
cantando para meu lado em regeneração.
— Eu gosto de você. Você é burra, mas corajosa. Se você correr agora,
eu vou te dar uma vantagem, —disse ela. — Dois dias. Talvez três.
— Você usaria o tempo para assassinar todos os que já conheci e
depois esfregaria na minha cara.
— Ha! Você devia ser minha filha.
Eu mostrei os dentes. — Se eu fosse sua filha, eu teria me estrangularia
no útero com o cordão umbilical.
311
Ela riu. — Vou matar seu leão bonito e usar seu crânio como um
chapéu quando eu voltar ao seu pai.
Página
— Não coloque o leão nisso. É sobre você e eu.

Ela atacou. Eu defendi, e ela me levou para o outro lado da neve.

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Golpe.
Golpe.
Golpe.
Meu braço estava ficando dormente.
Ela me acertou. O prédio sacudiu, dançando em volta de mim. A força
do golpe me virou. Eu cambaleei, senti o gosto de sangue na minha boca e
cuspi vermelho na neve.
Erra rosnou. Seu braço pendurava mole. Finalmente sangrou o
suficiente para causar algum dano.
— A dor é uma cadela, huh? —Eu ri. — Esse é o problema de estar no
topo há muito tempo—você perde sua tolerância. —O mundo oscilou em
torno de mim. Minha cabeça tombou. Não aguentava mais. Ela estava me
desgastando e sangrei como se não houvesse amanhã.
Podia também usá-lo. Eu balancei e Matadora soltou um pouco dos
meus dedos. Dado que um litro do meu sangue decorava a neve em um
padrão bastante vermelho, balançar não se mostrou difícil.
Erra levantou sua espada. — Mova-se e dê seu último olhar ao redor.
Qualquer um pode matar alguém, contanto que você não se importe
se você vive ou morre. Erra se importava muito se ela vivia. Importava-me
também, mas a dor não me assustava do jeito que a assustava. Eu estava
melhor. Se eu cronometrasse certo, talvez até sobrevivesse. Precisava obter
um bom golpe e conservar minha força o suficiente para entregá-lo. Deixá-
312
la fazer a maior parte do trabalho.

— Falar, falar, falar. Você tagarela sem parar, como uma velha senil.
Página
Você está caducando?

Ela me atacou. Eu a vi claramente, correndo através da neve, olhos
selvagens, espada levantada para matar. Deixei-me cair para baixo, acima

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da pressão sob as costelas. O caminho para o coração de uma mulher é

através do seu estômago. Se eu cortasse seu coração, ela não iria se safar
disso. Ela pode ser minha tia, mas era mortal, maldição.
O mundo encolheu para minha tia e o ponto da minha espada.
Curran, eu gostaria que tivéssemos mais tempo.
Julie, eu te amo.
Ela veio até mim. O braço da espada estava muito elevado. Se eu
conseguisse esse primeiro golpe, ela era minha.
Algo me atingiu pela esquerda. A respiração deixou meus pulmões em
uma única explosão dolorosa. Eu ofeguei, tentei inalar e vi o chão
desaparecer debaixo dos meus pés. Algo me segurou em um punho de aço
e arrastou-me até o prédio.
Um grito de pura raiva nos perseguiu. — Volte aqui!
Eu consegui puxar um pouco de ar em meus pulmões.
O braço que me apertou tinha escamas.
Eu torci meu pescoço. Olhos vermelhos me encaravam com pupilas
de fendas. Abaixo dos olhos, enormes mandíbulas se projetavam,
cravejadas com dentes triangulares. Escamas cor de oliva cobriam a pele.
Um metamorfo? Metamorfos não mudavam para répteis. Meus braços
estavam presos. Eu não podia me mover.
— O que diabos você está fazendo? Eu tinha ela!
As mandíbulas se abriram. Uma voz feminina rosnou para mim. —
313
Não. Você não pode lutar contra ela.

— Solte-me!
Página
— Não.
— Quem é você?

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O telhado correu para nós. A borda surgiu, e depois, estávamos no ar.

Nós atingimos o próximo telhado e ela correu sobre ele.
— Me põe no chão!
— Em breve.
A criatura pulou de novo. A cidade em ruínas passando por nós.
— Por que você está fazendo isso?
— É o meu trabalho. Ele me encarregou de protegê-la.
— Quem? Quem te disse para me proteger?
Um edifício familiar entrou em meu ponto de visão—a casa segura de
Jim.
Jim tinha colocado uma babá em mim. Eu o mataria.
Desembarcamos em um telhado com um baque. Um homem pulou
para nós. Ela o golpeou, derrubando-o do telhado e conduziu sua mão com
garras para as telhas. Madeira gritou. Ela jogou um pedaço do telhado de
lado e caiu no buraco. Nós caímos e pousamos na mesa de jantar, batendo
os pratos à parte. Rostos me encaravam. Jim, Dali, outras pessoas que eu
não conhecia ...
A criatura soltou-me. Um rugido profundo rolou de sua boca.
— Tome conta dela!
Ela se virou. Uma cauda pesada balançou sobre mim, e ela saltou,
desaparecendo pelo buraco no telhado.
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Ilona Andrews
Livro 4
CAPÍTULO 22
JIM OLHOU PARA MIM. — O QUE DIABOS FOI ISSO?

— Você me diz. —Rolei fora da mesa, sacudi as estrelas da minha
cabeça e cambaleei em direção à porta, onde um corredor dava acesso até
a porta. Eu tinha que sair de lá.
— Ela está sangrando, —alguém gritou.
Verde rolou nos olhos de Jim. — Dali, traga Doolittle.
Dali saiu.
Jim apertou sua mão sobre meu ombro. — Quem era ela?
A casa balançava ao meu redor. — Eu não sei.
Jim apontou além de mim. — Você, você e você—perímetro de 400
metros. Você não os conhece, eles não entram. Você—telhado, encontre
Carlos. Brenna, Kate não sai. Sente-se nela, se for preciso. Se eu não voltar
em meia hora, evacue para o escritório do Sudeste.
Ele se esticou e saltou para cima e para a direita, ricocheteou na parede
pelo buraco no telhado. Num piscar de olhos ele se foi.
Uma mulher me agarrou em um abraço de urso. Eu olhei para o seu
rosto, tentando colocá-la em foco. Cabelo curto, cortado em um bob52,
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cabelo avermelhado marrom, olhos verdes, sardas ... Brenna. Um dos

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A bob cut ou bob é um corte de cabelo curto para mulheres (e ocasionalmente homens) em que o cabelo normalmente
é cortado diretamente em torno da cabeça em aproximadamente o nível do maxilar, muitas vezes com uma franja (ou "franja") na frente. O
bob é cortado no nível das orelhas, abaixo das orelhas ou acima dos ombros.

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lobos trabalhando para Jim como uma rastreadora. Da última vez que nos
encontramos, eu coloquei uma agulha de prata na sua garganta e ela
mordeu minha perna. Ela segurou meu braço direito e uma mulher loira
que não conhecia segurou minha esquerda.
Eu fixei meu olhar em Brenna. O rosto dela estava borrado.
— Liberte-me.
— Não posso fazer isso. —Ela balançou a cabeça.
— Brenna, tire suas mãos de mim ou eu vou te machucar. —Se ao
menos a sala parasse de girar, eu ficaria pronta.
— Tudo bem, Kate. Acho que eu posso aguentar.
Todo mundo era um espertinho.
Dali correu para a sala. Um homem negro em seus cinquenta anos a
seguindo, limpando as mãos com uma toalha. Doolittle.
— E o que você fez para si mesmo agora?
Seu rosto arrastou-se para os lados. Meu estômago se fechou em uma
bola apertada e eu vomitei no chão.
— Deixe-a ir, —Doolittle rosnou.
Os lobos me soltaram. Isso mesmo. Nunca irrite um texugo.
Doolittle se inclinou sobre mim. — Tontura?
Assenti. Dor rolou dentro da minha cabeça como uma bola de
chumbo. Ele tocou meu rosto e eu me afastei.
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— Agora, calma. —Os dedos de Doolittle pressionaram minha pele,

segurando o meu olho esquerdo aberto. — Dilatação irregular. Visão
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turva.

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Eu conhecia os sinais. Tive uma concussão, mas não pareceu

importante. Lentamente afundou-se: Erra tinha ido embora. Eu perdi minha
chance com ela.
— Eu quase a tive. Eu poderia ter pegado ela.
— Deite-a de costas, gentilmente. Gentilmente agora.
As mãos me apertaram e me abaixaram para o chão.
— Eu quase a tive, —disse a Doolittle.
— Eu sei que você fez, criança. Eu sei.
Eu queria levantar, mas não tinha certeza qual era o caminho e algo
me disse que eu não iria descobrir isso em breve também.
— Tenho uma concussão.
— Sim, você tem. —Doolittle cortou meu moletom.
— Brenna, ponha as mãos na cabeça e não a deixe se mover.
— Eu quase a tive. Eu poderia ter pegado ela.
Alguém, provavelmente Brenna, apertou as mãos nos lados do meu
rosto. — Por que ela continua dizendo isso?
— Isso é uma pequena perseveraça. Pessoas com lesões na cabeça
fazem isso. Não se preocupe. —Doolittle retirou minha camiseta do meu
corpo. O frio atingiu a minha pele.
— Essa é sua voz reconfortante, —eu disse a ele. — Isso significa que
estou seriamente mal.
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— Não há linguagem chula agora. Quem remendou você?

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— Um rabino no Templo.
— Fez um bom trabalho."
— Eu quase a tive. Já te contei isso?

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— Sim, você disse. Silêncio, agora. —Doolittle começou a cantar.

Magia agitou-se em mim, lenta e espessa. Ele murmurava, despejando o
poder das palavras. Lentamente, como derretendo a cera, a magia cresceu
líquida, quente e difundida através de mim, fluiu para fora do meu peito
até para meu crânio e dedos dos pés.
— Isso é bom, —eu disse.
— Ele disse quieta. —A mão de Brenna escovou meus lábios.
— Eu quase ...
— ... teve ela, nós sabemos, —murmurou Brenna. — Você tem que
ficar quieta, Kate. Shhhh.
Eu fechei os olhos. Parecia estar flutuando num mar quente. Pequenas
agulhas quentes espetaram minha ferida e dançaram dentro do meu couro
cabeludo. Meu lado coçava.
— Eu preciso falar com ela, —a voz de Jim disse através do canto de
Doolittle.
Um grito afiado, a meio caminho entre rugido e vibração, cortou-o.
Soou como um esquilo irritado gigante ou um urso pequeno, mas
igualmente irritado. Os cabelos na parte de trás dos meus braços se
ergueram. Havia uma palavra para isso.
— Horripilante. —Ouvi minha própria voz. Soava arrastada.
— Se algo está vindo para ela, preciso saber o que é", disse Jim.
— Seja rápido, —disse Doolittle.
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Jim se inclinou sobre mim, seu rosto uma mancha difusa. Isso mesmo,
chegue mais perto para que possa dar-lhe um pedaço da minha mente.
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— Quem te trouxe aqui? —Jim perguntou.

— Quase tive ela.

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— Aqui vamos nós outra vez, —murmurou Brenna.

Peguei a camisa dele e me levantei.
— Merda! —Brenna apertou os dedos sobre as minhas bochechas.
— Quase tive ela, —espremi através de meus dentes. — Eu estava a
um segundo de um golpe e sua babá me agarrou e me arrastou até um
prédio. Custou a minha morte. Agora todos vocês estão ferrados.
— Droga, Jim. —Doolittle agarrou meus ombros, empurrando-me
para baixo. — Mantenha sua cabeça estabilizada.
Os dedos de Jim apertaram meu punho. — Ela não era minha.
— Besteira. Ela era um metamorfo e me trouxe para seu esconderijo.
— Você lhe disse onde era a casa?
Jim apertou minha mão, mas eu também estava furiosa.
— Disse-lhe para me soltar. Ela disse que era seu trabalho me proteger.
Quem mais mandaria um metamorfo para me proteger? Como é que ela
encontrou o seu lugar? Você colocou um sinal sobre a porta—CASA
SECRETA DO BANDO AQUI, METAMORFOS ESTRANHOS TRAGAM UM
LANCHINHO HUMANO?
Doolittle pressionou um ponto logo abaixo do meu pulso, cortando a
circulação da minha mão. Meus dedos ficaram dormentes.
Jim puxou livre. — Estamos limpando.
Doolittle me empurrou para baixo. — Ela não pode ser movida.
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— Um metamorfo desconhecido fez um buraco no telhado e foi

embora antes que pudesse pegá-la. A casa está comprometida. Quanto
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tempo que você precisa para estabilizá-la?

— Dez minutos.

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— Você os tem, então nos movemos.

Doolittle inclinou-se sobre mim e começou a cantar.
Dez minutos mais tarde, Doolittle prendeu meu pescoço em uma cinta
e Brenna me pegou. Ela me levou para baixo das escadas como se eu fosse
uma criança. As escadas eram incrivelmente altas e turbulentas, como uma
espiral. Eu me contorcia, tentando fugir, mas Brenna só me agarrou mais
apertado. — Não se preocupe. Não vou soltar você.
Ela me carregou em um pequeno trenó. As pessoas da equipe de Jim
moviam-se em torno de nós. Doolittle me prendeu no trenó, Brenna tomou
as rédeas, e nós estávamos fora.
EU ESTAVA DEITADA NA CAMA, SEM MEU SUTIÃ E CALCINHA e olhei

o saco de O negativo vazio nas minhas veias. Minha tentativa de explicar
que minha cabeça estava limpando e não precisava de atenção extra, e
definitivamente não o sangue extra, saltou por Doolittle como ervilhas
secas da parede. Ele ressaltou que ele me tirou da beira de uma morte certa
três vezes, e ele aparentemente tinha me dado as transfusões de sangue
antes e ele pode ser apenas um médico ignorante, mas tanto quanto poderia
dizer, eu ainda respirava e faria seu dia se pudéssemos poupar algum
tempo e assumir que ele sabia o que estava fazendo. Sua vida seria mais
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fácil se a suicida cabeça dura levasse isso em conta, muito obrigado.

Minhas costelas ainda doíam, mas em vez de solavancos de espetadas
afiadas que me faziam rosnar, a dor fundiu em uma forte pressão sólida.
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Doolittle andava ao lado da minha cama. — Você vai ser a minha

morte.

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— Eu tenho certeza de que vou morrer antes de você, doutor.

— Isso eu não duvido.
Ele pegou um espelho da mesa e segurou-o para mim. Eu olhei.
A maior parte de mim estava pálida e um pouco verde. Uma mancha
roxa escura cobria o canto da minha mandíbula, prometendo evoluir para
um hematoma espetacular. A segunda mancha cobria meu estômago, onde
minha tia tinha me chutado. Eu tinha flexionado meu estômago, então
minhas entranhas não viraram mingau, e os músculos abdominais levaram
o golpe da punição.
— Verde e roxo, uma combinação deslumbrante.
Doolittle sacudiu cabeça, tirou o saco vazio de sangue e me deu um
copo cheio de líquido marrom, parecido com chá gelado.
— Parece que você teve um infeliz encontro com uma das gangues de
Warren.
— Você deveria ver o outro—cara, não, espera, garota, mulher—
"pessoa." De alguma forma não teve o impacto que tinha planejado
originalmente.
Doolittle me fixou com um olhar duro. — Cama e descanso nas
próximas vinte e quatro horas.
— Não consigo fazer isso, Doc. —Conhecendo-o, ele tentaria me
sedar. Até agora ele não tinha—eu observei minha IV como um falcão. Se
eu tivesse as coisas à minha maneira, eu estaria pronta e funcionando.
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Agora Erra estava lesionada e com ela mais fraca, era um bom momento
para acertar ela, mas as chances de encontrá-la, mesmo armada com
metamorfos eram nulas. Minha tia era psicótica, mas não estúpida.
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Doolittle suspirou. — Beba seu chá.

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Olhei para o meu copo. Eu tinha bebido o chá gelado do Doolittle

antes, e exercer extrema cautela estava em ordem. Eu bebi um pouco.
Sobrecarga de açúcar. Esperei para ver se meus dentes instantaneamente
desintegraram em choque. Nada. Minha boca era mais forte do que eu
tinha dado crédito.
Doolittle, sentou-se numa cadeira e olhou para mim, e pela primeira
vez os olhos dele estavam vazios de seu humor habitual. Sua voz era
macia. — Você não pode continuar fazendo isso, Kate. Você acha que vai
viver para sempre. Mas, mais cedo ou mais tarde todo tem que pagar a
conta. Um dia você vai rir, brincar e sair da sua cama, e você vai cair. E
não demorará três dias de descanso na cama. Serão três meses.
Eu estendi a mão e toquei a dele. — Obrigada por me consertar. Eu
não quero lhe causar sofrimento.
Ele fez uma careta. — Beba. Você precisa de fluídos.
Alguém bateu.
— Sou eu, —disse a voz de Jim.
Doolittle ofereceu-me uma camisola. Eu o coloquei e Jim entrou. Jim
parecia que tinha mastigado tijolos e cuspido cascalho.
Ele pegou uma cadeira, colocou na frente da minha cama, sentou-se e
olhou para mim.
Olhei de volta para ele. — Desculpe eu coloquei minhas mãos em
você. Não vai voltar a acontecer.
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— Tudo bem. Não era você mesma. Está melhor agora?

— Sim.
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— Vamos tentar de novo, então. Me fale sobre a luta.

— Dali disse sobre Erra?

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— Ela contou.
Eu esbocei a luta para ele, deixando de fora nossa conexão familiar e
descrevi o meu resgate.
— Escamas, —disse Jim.
— Sim.
Eu sabia o que ele estava pensando—metamorfos resultantes de
infecção por Lyc-V eram mamíferos. Houve vários casos de humanos se
transformando em répteis ou pássaros, mas todos aqueles aconteceram
devido a fatores externos e mágicos, não infecção por Lyc-V e nenhuma
dessas transformações teve uma fase intermediária. O metamorfo que me
agarrou foi em forma de guerreira. Metade humano, metade-algo
escamado.
— Que tipo de olhos ela tinha? —Doolittle perguntou.
— Íris verde-oliva, pupilas em fendas. Brilho avermelhado.
— Brilho não é um bom indicador, —Doolittle disse. — Olhos de
Hiena refletem a luz em qualquer número de cores, no entanto, os olhos
dos Bouda sempre brilham em vermelho. Mas a pupila de fenda é
interessante. —Ele olhou para Jim.
— Havia um homem no telhado, —eu disse. — Ela o nocauteou. Ele
está bem.
Jim assentiu. — Ele diz o mesmo: escamas, olhos vermelhos, cauda. Já
senti um cheiro semelhante antes.
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— O que era?
Jim fez uma careta. — Um crocodilo.
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Metamorfos crocodilos. Onde o mundo vai parar?

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— Coisas estranhas têm acontecido. —Doolittle apontou para meu

copo. — Beba.
Eu mostrei o copo para Jim. — O bom doutor coloque uma colher de
chá em meu mel.
— Você está bebendo chá de mel feito por um texugo, —disse Jim. —
O que você esperava?
Doolittle bufou e começou a embalar gazes e instrumentos em sua
maleta médica.
— Se você não a colocou para cuidar de mim, então, quem foi?
— Não sei ... —disse Jim.
Não era Curran. Segurança era o território de Jim; se Curran sentisse
que eu precisava de um guarda-costas, ele teria pedido a Jim para cuidar
disso.
Curran.
— Onde estamos? —perguntei.
— Uma das casas satélites do Clã Lobo, —disse Jim. — A casa do Clã
Lobo está fora da cidade, mas eles têm alguns pontos de reunião nos limites
de Atlanta. Esse era o mais próximo.
— E Curran?
— Na fortaleza.
— Você contou a ele sobre isso?
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— Ainda não. Há mais alguma coisa que você tem para me dizer?
— Não.
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Ele não mostrou nenhum sinal de movimento. — Há alguma coisa

que você quer me dizer?

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Combinação letal, mestre gato e espião. — Não. O que te faz pensar

isso?
Jim olhou de volta. — Você é uma péssima mentirosa.
— É verdade. —Doolittle enrolou seu estetoscópio. — Já joguei
pôquer com você, mocinha, e a mesa inteira sabia toda vez que você tinha
uma boa carta.
— Decepção te deixa desconfortável, —disse Jim. — Isso funciona
para você na rua, porque quando você promete fazer mal a alguém, não há
dúvida na mente de ninguém que você quer dizer isso. Mas se você me
procurasse para uma missão, eu te demitiria após o primeiro minuto.
— Tudo bem. Eu sou uma péssima mentirosa. —Eu olhei para Jim
acima da borda do copo. — Isso não significa que estou escondendo
alguma coisa. Talvez não tenha nada mais nessa história.
— Você colocou o copo entre nós, e está pressionando contra sua boca
para que as palavras não saíam, —disse Jim.
Eu coloquei o copo de volta.
— É uma coisa da Ordem? — Jim perguntou.
— Não, é coisa minha. Isso não tem relevância para o Bando.
— Okay, —disse Jim. — Se as coisas mudarem e você quiser me dizer
ou se precisar de ajuda, você sabe como me encontrar.
Ele se levantou e saiu.
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Eu olhei para Doolittle. — Por que a boa vontade súbita?

— Quem sabe por que os gatos fazem as coisas. Meu palpite é que
você levantando uma lâmina para ele pode ter algo a ver com isso ...
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Doolittle levantou a cabeça e fez uma careta. — Eles simplesmente não

conseguem ficar sozinhos.

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Uma batida soou pelo porão.

— Quem é? —perguntou Doolittle.
— Eu vim para ver a paciente! —chamou a voz de uma mulher.
— Ela está nua? —perguntou outra voz feminina. — Eu sempre quis
vê-la nua.
— Shush. George, vai me manter aqui o dia todo?
Eu olhei Doolittle. — Isso é o que eu penso que é?
Ele assentiu e se dirigiu para a porta.
Além de Curran, dois metamorfos no Bando me fariam hesitar:
Mahon, o urso de Atlanta e executor do Bando e Tia B, alfa do Boudas e mãe
de Raphael. O resto eram perigosos, mas aqueles dois me faziam tomar um
momento ou dois e pensar nas coisas antes de agir. Eu tinha visto Tia B
em ação com a pele humana fora. Dispensar ela não era do meu interesse,
não importa o quão irritada ou fraca eu estava.
— Você está muito bem, George, —disse Tia B. Esticar minha cabeça
para ver esses dois iria destruir o pequeno arremedo de dignidade que me
restava, então, fiquei onde estava.
— O que você quer? —Apesar do sotaque costeiro do sul da Geórgia
de Doolittle, a voz do bom doutor perdeu todo seu charme.
— Queremos ver a Kate, claro.
— A menina tem uma concussão. Suas intrigas podem esperar até que
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sua mente esteja limpa.

— Não estou aqui para tirar vantagem dela, George. Meu Deus.
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Eu estiquei o meu pescoço. Doolittle barrava a porta de entrada, o

dedo apontando para o primeiro andar acima de nós. — Lá em cima você
é a alfa do Boudas. Aqui está no meu território.

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— Por que não pergunta a menina se ela quer me ver? Se ela está muito
fraca ou inquieta, irei voltar outra hora.
E ela apenas superou nós dois. Se me recusasse a vê-la agora, eu
poderia ficar na minha cama com um sinal de néon gigante: EU ESTOU COM
MEDO DA TIA B.
Doolittle veio até minha cama. — Os Boudas gostariam de falar com
você. Você não tem que dizer sim.
Sim, eu tenho, e ambos sabemos disso. — Está tudo bem, vou vê-la.
Doolittle olhou para cima. — Trinta minutos, Beatrice.
Tia B entrou. Atrás de uma jovem fêmea Bouda transportando uma
bandeja. O aroma de especiarias e carne cozida rodou ao meu redor,
instantaneamente, enchendo minha boca com baba. Fome era bom.
Significava que os feitiços de Doolittle estavam trabalhando e meu corpo
estava queimando através de nutrientes em um ritmo acelerado.
A jovem Bouda colocou o prato na minha cama, estendeu a língua
para mim e partiu.
Tia B olhou Doolittle. — Importa-se em nos dar um pouco de
privacidade?
Ele rosnou sob sua respiração e seguiu para fora.
Tia B puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da cama. Em seus
quarenta anos ou início dos cinquentas, ela parecia uma típica jovem avó:
um pouco gorda, com um sorriso fácil e olhos gentis que podiam convencer
327
uma criança em apuros para buscá-la fora de uma multidão de estranhos. Ela
usava um suéter cinzento volumoso. Seu cabelo castanho preso em um
coque no topo da sua cabeça. Se ela acrescentasse um prato de biscoitos,
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teria tudo definido.

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Ela me cumprimentou com um sorriso caloroso. Você nunca saberia

que por trás desse sorriso esperava um monstro com garras do tamanho
dos garfos de bolo.
— Você parece nervosa, querida, —ela disse. — O quanto você se
machucou?
Oi, vovó, que dentes grandes você tem ... — Nada importante.
— Ah. Bom, então. —Ela assentiu com a cabeça para o prato. Carne,
pão árabe e molho Tzatziki53. — Fique à vontade. Almoço é por minha
conta.
Não levar uma mordida, seria um insulto. Dar uma mordida pode
obrigar-me a algo e eu preferia estar em dívida com o diabo do que com a
Tia B. Eu me sentei para beber meu chá.
— Você não está me propondo algo, não é?
— Engraçado, você dizer isso.
Eu parei com um copo na minha mão. Apenas o que eu preciso.
— Não será esse tipo de proposta. — A Tia B me deu um sorriso
brilhante.
Eu estremeci.
— Eu vou direto ao ponto de facilitar as coisas para nós duas. —Tia
B empurrou o prato para mim.
— Curran não voltou para a fortaleza ontem à noite. Eu não sou nem
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cego nem estúpido e passei mais anos resolvendo mentiras de metamorfo

do que você estava viva. Por favor, mantenha isso em mente antes de
responder. Ele passou a noite?
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53
Tzatziki (em grego: τζατζίκι, do turco cacık) é um acepipe típico da culinária da Grécia e da Turquia, mas também difundido
entre outros países da Europa Oriental, Oriente Médio e Índia, sob diferentes denominações e com inúmeras variações regionais: seja quanto
à consistência, seja quanto às ervas e especiarias ...

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Colocar as garras na minha garganta nunca foi uma boa ideia. Eu

sorri. — Não é da sua conta.
— Então ele fez. Ele usou a palavra ‘companheira’?
— O que aconteceu entre mim e Curran é assunto nosso.
Tia B levantou suas sobrancelhas. — Parabéns. Então você é, de fato,
a companheira.
Por que eu? — Isso seria novidade para mim.
— Eu não ficaria surpresa se fosse a última a saber. Eu sabia que ele
se apaixonaria por você desde que você comeu aquela sopa. Tive toneladas
de diversão assistindo vocês demorarem tanto para descobrir isso.
— Eu vivo para proporcionar entretenimento.
— Não há nenhuma necessidade de ser tão hostil. —Tia B pegou um
pequeno pedaço de sua pita54. — Eu liguei para a fortaleza. Não há
nenhum quarto pronto para você, o urso se aproximou de você?
— Mahon? Não.
— Ele está ficando lento na sua velhice. —Ela riu, mostrando os seus
dentes. Uma luz predatória inflamou-se nos seus olhos. O efeito foi frio.
— O que os quartos têm a ver com qualquer coisa? —Perguntei.
— Curran pretende que você compartilhe seus aposentos.
— Eu recebo um serviço de cama e uma bala de menta no meu
travesseiro?
329
— Você vai ser a fêmea alfa do Bando, —Tia B disse.

Eu engasguei com o ar.
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54
Pita é um pão de trigo tipo “envelope”, um pão folha que pode ser recheado e consumido como uma sanduiche.

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— Aqui, beba seu chá, querida. Honestamente, o que você achou que
seria? —Ela perguntou.
Bebi meu chá. De alguma forma quando Curran disse ‘companheira’,
minha mente não traduzi como ‘a Senhora das Feras do Bando’.
— Não estou preparada para ser um alfa.
Tia B sorriu. — Então você não quer o poder?
— Eu não. —Eu também não queria a responsabilidade.
— O que é que você quer? —Ela perguntou.
— Eu quero matar a vadia louca que está correndo ao redor de Atlanta
assassinando metamorfos.
— Além disso?
— Eu quero Curran.
— Sem o Bando?
— Sim. —Eu não tinha idéia por que eu continuava respondendo suas
perguntas. Havia algo em seus olhos que me fazia querer contar-lhe tudo
o que sabia, então ela me daria um tapinha na cabeça e me diria: "Boa
menina" no final. A adolescência no clã Bouda deve ser um inferno com
Tia B ao redor.
— Você não pode ter apenas ele. —Os olhos da Tia B eram
implacáveis. — Curran pertence ao Bando e não vamos deixar você levá-
lo longe de nós. Você precisa dele para ser feliz, mas precisamos dele para
330
sobreviver. Se ele deixar o Bando, os Alfas lutariam pelo poder. Ninguém

entre os Alfas agora poderia substituí-lo e segurá-lo. Seria o caos e sangue.
Eventualmente o mais forte ganharia, mas o mais forte nem sempre é a
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melhor pessoa para o trabalho.

Ela inclinou-se volta. — Tivemos sorte com Curran, e todos sabemos
que as chances de chegar a ter outro Senhor das Feras como ele são

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mínimas. Eu gosto de você, mas se você tentar atrai-lo para longe, eu seria
a primeira da fila para te matar.
Hoje era o dia errado para me ameaçar. — Acha que você pode?
— Você tem muita energia, mas nós temos os números, então sim, nós
podemos. Não falo isso para arrumar problemas. Você precisa entender a
situação claramente. Curran pertence ao Bando. Ficar entre ele e o Bando
fará você em pedaços. Sua carne está esfriando. Coma.
Ela tinha razão. Eles não largariam Curran. E mesmo que fizessem,
ele nunca iria deixá-los. Ele era um metamorfo e eles eram o seu povo. Eu
tinha que encontrar uma maneira de contornar isso. — Porque eu não
posso ficar com ele, mas não ser a Alfa?
— Você quer ter seu bolo e comê-lo, também. Não é assim que
funciona. Você não pode casar com o rei e não se tornar a rainha. Você vai
ser a que ele vai dar doces rosnados na cama e você vai ser aquela que ele
vai pedir conselhos. Você terá influência sem precedentes sobre as suas
decisões, mas você não quer nenhuma das responsabilidades que vem com
ele. Isso é covardia, e isso não é você. É tudo ou nada, Kate. Esse é o
acordo e não é negociável.
— Então não tenho nada a dizer nisto?
Tia B franziu o cenho. — Evidente que sim. Não tem que acasalar
com ele. Você sempre pode rejeitá-lo. Mas se você se tornar companheira
dele, a carga do alfa vem com ele. Pergunte a si mesmo, você realmente se
contentaria com uma aventura? Ou você quer ele para você para sempre?
331
Eu fiz um grande esforço para não me fazer essa pergunta. Eu estava

bastante certo de que eu conhecia a resposta. Assim fiz, a rendição total de
todo o bom senso. — Eu não sou um metamorfo.
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— Verdade. Você pode se tornar um?

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Eu balancei minha cabeça. — Não é fisicamente possível. Eu sou

imune ao Lyc-V.
— Excelente.
Ela me perdeu.
— Se você pudesse se tornar um metamorfo, teria de escolher a espécie
de sua besta. Você teria que escolher um clã e alguém doaria o Lyc-V, o
que significa seis clãs se sentindo menosprezados e um clã esperando um
tratamento preferencial. É uma lata de minhocas que ninguém quer abrir.
Este é um daqueles casos raros que ser imparcial é realmente vantajoso.
— Você deu isto uma grande quantidade de pensamento, —eu
murmurei. A pergunta de sessenta e quatro mil dólares foi o porquê.
— Tente ver a questão do nosso ponto de vista. Nós queremos que ele
se acasale. Como sua companheira, você tem o direito de questionar suas
decisões, algo que nós não podemos fazer. Se os membros do Bando têm
um problema com ele, poderiam vir até você e pedir ajuda. Se você emitir
uma ordem, tecnicamente ele pode negar-lhe, mas ele estaria relutante em
fazê-lo. Foi negada ao Bando essa via de apelação por muito tempo.
Ela acenou sua pita ao redor. — Curran é um alfa justo, um dos
melhores. Mas ele tem seus momentos ruins e agora mesmo ninguém ousa
contradizê-lo durante eles. Claro, algumas pessoas não vão aceitá-la, mas
isso é normal. A qualquer momento, há uma mudança de poder, pessoas
rugem. Depois que você matar o primeiro par de desafiantes, você vai ficar
bem.
332
Definitivamente, ela estava atrás de alguma coisa ...

— Ninguém questiona o seu poder, querida. Os Alfas têm visto você
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lutar, e você é um bom trunfo. Alguém capaz de quebrar as pernas de

duzentos demônios com uma palavra não é para ser levada levianamente.

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Ela mordeu seu pão. — Além disso, se Curran não achasse que você
está apta, não teria feito a oferta. Sim, ele é obcecado por você, mas ele é
astuto o suficiente para levar sua habilidade em consideração. Alfas
normalmente são atraídos por outros Alfas. Eu não acasalaria com um
fraco, e nem ele.
— Não é tão simples, —Eu rosnei.
Ela riu baixinho. — Nós sabemos que você tem uma história, querida.
Esse poder não vem sem bagagem e Curran não é um idiota. Se ele lhe
propôs, ele deve ver o seu passado como um risco aceitável.
Ela tinha uma resposta para tudo, não tinha?
— Por que quer tanto que eu me torne sua companheira? Você não
veio aqui pela bondade do seu coração.
Ela fez uma pausa. Seu rosto ficou triste. — Raphael é meu terceiro
filho. Os dois primeiros foram loup na puberdade. Depois dele, eu disse
que não teria mais nenhum. Não podia continuar a matar meus bebês. Meu
menino é tudo para mim. Iria rasgar o mundo por ele. Você e eu sabemos
o nome da sua felicidade.
— Andrea.
Ela assentiu. A dor nos olhos dela se derreteu em orgulho. — Meu
Raphael poderia ter qualquer mulher que quisesse. Se ele quisesse, você
não seria capaz de resistir.
— Bem, eu não sei nada sobre isso.
333
— Confie em mim. Eu fui cortejada por seu pai. Raphael fez sua
escolha, mas ele escolheu a garota que é bestial. Porque minha vida não
era suficientemente complicada.
Página
— Andrea o adora. Ela é esperta, treinada, e ...

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Livro 4
Ela levantou a mão. — Você não precisa cantar seus louvores. Eu sei
mais sobre ela do que você. Mas o fato permanece, ela é bestial e é
companheira do meu filho. Ela é dominante, forte e astuta. Não tenho
dúvidas de que ela pode lutar contra qualquer desafio, o que significa que
quando eu renunciar, as rédeas do clã Bouda passarão para uma criança
de um animal. O Boudas irão aceitá-la. Mas o Bando não pode.
— Curran me prometeu que ela não seria perseguida.
Ela mordeu os lábios. — Uma coisa é ignorar a presença de um bestial
nas fileiras. Outra é esfregar no rosto dos Alfas. Outros clãs não gostam de
nós; eles não gostam de nossa imprevisibilidade e temem nossa fúria.
Como o casal alfa Bouda, Andrea e Raphael vão se sentar com o Conselho
do Bando. Isso não vai passar bem com algumas pessoas. Os lobos e o clã
Heavy, em particular, irão encontrar sua presença difícil de engolir.
Existem quatrocentos lobos e apenas trinta e dois de nós. Mas o urso é, de
longe, a maior ameaça. Ele é antiquado e detém seus preconceitos. Ele
praticamente criou Curran e ele tem muita influência com ele. Se eu tiver
alguma esperança de salvaguardar o futuro do meu filho, eu tenho que
contrariar Mahon.
Finalmente! Tudo se tornou claro.
— E você acha que se eu me tornar companheira de Curran, iria
interceder em nome de Andrea?
— Não só em nome dela, mas em nome de todos os Boudas. Há seis
crianças no clã agora, quatro dos quais são adolescentes, todos nos últimos
estágios da puberdade com nenhum traço de loupismo. Se você acha que
334
adolescentes normais são selvagens, você ficaria chocada. A última vez

que tivemos muitos jovens, Curran estava martelando o Bando junto e ele
Página
próprio era bastante jovem. Ele escolheu ser brando quando meus filhos
pisavam fora da linha. Ele é seguro em seu poder agora e pode não ser tão
indulgente.

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Livro 4
Senhor das Feras brando. Isso faria o dia.

Tia B inclinou-se e me prendeu com um olhar fixo. — Supondo que
você se torne a alfa. Qual é a distância mínima aceitável entre um
metamorfo feminino e Curran?
— Eu não sei.
— Um metro, a menos que seja uma batalha. Mais perto e ela está
desafiando você. Você entra em uma sala em uma reunião formal, os
metamorfos se levantam ou ficam sentados?
— Eu não sei.
— Os alfas se levantam para demonstrar que você reconhece seu
poder, o resto fica para baixo, mostrando a submissão. Se um metamorfo
lhe mostrar os dentes, ele está sorrindo em saudação ou está tentando
intimidá-la?
— Eu não sei. —Disco quebrado, que sou eu.
— Se a cabeça está inclinada, ele está sorrindo. Se ele está se mantendo
ereto, você precisa estar rosnando.
Eu tive o bastante. — Qual é o objetivo de tudo isso?
— Eu não tenho nenhuma dúvida de que você vai se tornar a
companheira de Curran. Você o ama, você quase morreu por ele, e você
não poderá deixá-lo ir. Quando isso acontecer, você estará em sua cabeça,
querida. Você deve jogar pelas nossas regras e você não as conhece. —Ela
sorriu triunfante. — Aqui está a minha oferta para você: Eu vou te dar dois
335
dos meus filhos. Eles são muito bons, estáveis e qualificados. Eles não ficam
loucos, a menos que você lhes der permissão. Sua lealdade é para com você
apenas e eles terão seus melhores interesses no coração. Vou mantê-la de
Página
cometer grandes erros. Você ainda vai fazer uns pequenos, mas isso não
tem jeito. Em troca, promete ter o clã Bouda em especial consideração.

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Não vou pedir para quebrar as regras, mas posso pedir para esticá-las de
vez em quando. É uma oferta muito boa, Kate.
Encontrei o olhar dela. — Você não precisa me subornar. Eu não
deixaria ninguém tocar Andrea de qualquer maneira.
— Você pode pensar isso agora, mas amizades acabam e murcham,
enquanto arranjos de negócios persistem. Eu sou antiquada e alfa também,
e eu prefiro fazer o acordo.
Havia uma desvantagem para isso? Ela estava certa, eu não sabia nada de ser
um alfa. Se eu escolhesse aceitar a oferta de Curran ... O que diabos eu estava
pensando?
— Se eu acabar sendo sua companheira, nós temos um acordo, —
disse. — Isso é um colossal 'se'.
Os olhos da Tia B brilhavam. — Excelente, querida. Excelente.
— Eu vou falar com ele sobre isso.
— Eu espero que você fale.
— Você percebe que ele poderia mudar de ideia? Nós não nos
separamos em bons termos.
Ela mordeu os lábios. — O acasalamento é um momento volátil para
nossa espécie. Metamorfos recentemente acasalados são propensos à
violência, possessivos e ciumentos. Seus instintos são excessivos. Você
quer ficar com seu companheiro em um lugar seguro, e se alguém olhar
para ele por mais de dois segundos, você tem que lutar com você mesmo
336
para não afundar suas garras em sua garganta. Não é a hora mais racional
na vida, é por isso que a lei do Bando faz provisões para o frenesi do
acasalamento.
Página

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Ela enfiou a mão na sua bolsa e tirou um livro de couro pequeno com
um fecho. Abriu, revelando páginas protegidas por plástico transparente.
Um pequeno álbum de fotos.
— Estes são todos os meus arruaceiros. —Tia B folheou as páginas e
estendeu o álbum para mim. Um jovem sorriu para mim da fotografia.
Esguio a ponto de magro, ele tinha cabelo escuro brilhante e o sorriso de
uma criança: Largo e feliz.
— Alejandro, —ela disse. — Nós o chamamos de Mouse, porque ele
sempre foi tão calmo, que você não saberia que ele estava no quarto. Um
metro e sessenta, cinquenta e quatro quilos. Braços como fósforos. Comia
como um cavalo, mas nada ficava com ele. Ele é um garoto tímido e doce.
Olhe esse sorriso. —Ela sorriu. — Nenhum osso malvado no rapaz. Ele se
casou no ano passado com uma garota muito boa dos ratos. As meninas
brincavam um pouco: o mouse se casou com um rato. Em seu casamento,
Curran comentou que sua esposa era muito bonita. Alejandro pulou em
cima da mesa e tentou cortar a garganta de Curran com sua faca de jantar.
Eu pisquei. — O que aconteceu?
— Bem, o que você acha que aconteceu? Curran agarrou-o pelo
pescoço e nós tivemos que ir buscar uma gaiola de loup para colocar o
noivo até que ele se acalmasse. Foi assim que ele passou sua recepção, na
gaiola de loup na outra sala, gritando maldições. Sua noiva sentou-se perto
da gaiola até que ele esfriou o suficiente para ser racional e entrou ali com
ele. Ele não gritou depois disso. —Tia B esfregou a foto com o dedo. Os
olhos dela eram quentes. — Ele está muito envergonhado por tudo isso
337
agora.
Eu não conhecia a lei do Bando bem, mas eu sabia o suficiente para
Página
reconhecer um desafio.
— Curran poderia tê-lo matado.

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— Ah, sim. Estaria dentro de seus direitos também. A lei do Bando é

muito cuidadosa. Não diz que você não pode punir um metamorfo durante
o frenesi do acasalamento. Apenas diz que você não tem que puni-lo. Se
você quiser ignorar sua infração, não vai ser visto como um sinal de
fraqueza de sua parte. Lembre-se, Curran não estava tentando irritar
Mouse. Ele tem que ir para todos os casamentos, porque eles sempre o
convidam, e ele odeia isso. Ele geralmente é muito cuidadoso com o que
ele diz, mas ele estava cansado naquele dia e ele disse a primeira frase de
felicitações educadas que surgiu na cabeça dele. 'Você tem uma bela esposa,
Alejandro'.
— Foi só isso?
Ela assentiu. — Sim, isso é tudo o que foi dito. Este é o tipo de
insanidade com que está lidando, querida. Exceto que com você é muito
pior. Curran tem mais dificuldade em controlar os impulsos possessivos do
que a maioria. Ele é ... danificado.
— Como assim?
Ela fez uma careta. — Não cabe a mim explicar isso para você. O que
você precisa saber é que seu instinto de proteção é muito forte. Estou
espantada que ele ainda não te enrolou num cobertor e arrastou até a
fortaleza. Ele tem sido insuportável desde que tiveram sua desavença. Ele
ama você, Kate, e é por isso que está esperando pacientemente para que
você se decida.
— Eu sei que isso pode vir como um choque, mas é considerado como
338
educado esperar o consentimento da mulher. Na verdade, tenho certeza de

que, se você não esperar, você pode ter que lidar com acusações criminosas
problemáticas como o sequestro e estupro.
Página
Tia B revirou os olhos. — O menino não é um maníaco: não, não é, e

ele entenderá isso. Forçar você estaria indo contra tudo o que ele representa
e você sabe disso tão bem como eu. Para tudo, há um preço nesse mundo.

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Seu preço somos nós. Pergunte a si mesma, por ele, vale a pena se tornar
um alfa no Bando? Você o ama suficiente? E acredite em alguém que
enterrou dois de seus companheiros: você pode querer se decidir rápido.
Vivemos em um mundo perigoso. Se você vê uma chance de ser feliz, tem
que lutar por ela, então mais tarde você não terá arrependimentos.
CAPÍTULO 23
A TIA B PODE SER SINISTRA. EU ESPEREI ALGUMAS RESPIRAÇÕES.

ENCONTREI meus sapatos e subi as escadas. E corri para a Jennifer no
patamar. Jennifer parecia que dedicava sua vida ao Deus da corrida:
pernas longas, corpo esguio, rosto comprido. Dentes longos. Especialmente
sob a forma de animal.
Jennifer e o marido, Daniel, lideravam o Clã Lobo. Pelo que tinha
ouvido, dos dois, Jennifer era mais agressiva e mais propensa a torcer a
cabeça de seus ombros. Daniel poderia ser racional, mas se você irritasse
Jennifer, estava tudo acabado.
— Indo a algum lugar? —A alfa lobo cruzou os braços magros.
— Fora.
339
— Eu não posso deixar você fazer isso.

Olhei nos olhos azuis dela. — Você pode querer reformular isso.
Página
Jim deixou a cozinha e se inclinou contra o batente da porta.

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Jennifer levantou a cabeça. Ela tinha um par de centímetros de altura

a mais que eu e o usou com tudo que ela tinha. — Você é a companheira
do Senhor das Feras e está sob minha proteção.
— Onde você ouviu isso?
— O Clã Lobo tem suas fontes.
Bem, não era tão especial. — Então o Clã Lobo também sabe que meu
status de companheira ainda está em questão. Eu não disse sim.
Seus olhos se estreitaram. — Você deixou catnip em sua cama e soldou
seu banco de peso.
Jennifer dois, Kate zero. — Isso é um assunto privado entre mim e a
Sua Peludeza. Mesmo se nós estivéssemos acasalados, tenho meu próprio
nome e fiz minha própria reputação. Não acho que o termo ‘companheira’
deve superar tudo que eu fiz. Eu valho mais do que isso.
Jim riu suavemente.
Jennifer deu um passo para trás e me avaliou. — Ponto feito, —ela
disse finalmente. — Mas se você sair por aquela porta, eu vou ter que
explicar para Curran que tive você protegida e deixei você ir. Eu tenho o
suficiente para me preocupar como estou.
Ela tinha um ponto. — Tenho trabalho a fazer. A magia está para
baixo, então é improvável que Erra ainda esteja correndo. Ela não gosta
muito de tecnologia, e a última vez que a vi, ela estava tentando redecorar
as nevascas em torno da minha casa em um belo tom de vermelho.
340
— Não.
Olhei para o Jim. — Estou um pouco confusa em meu status dentro
Página
do Bando.
— Tecnicamente, você não tem nenhum, —ele disse. — Dormir com
um metamorfo não concede privilégios no Bando.

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Eu sorri para Jennifer. — Desde que eu não tenho nenhum status

oficial no Bando, você não tem poder para me deter. Eu sou um agente
legal da Ordem e preciso que você se afaste.
Ela olhou para Jim. — Você gostaria de analisar isso em qualquer
ponto?
Jim deu de ombros. — Se você se ferrar e souberem que Jennifer te
tinha aqui e deixou você se machucar, não ficará bem para os lobos. E você
tem um registro de ficar seriamente ferrada.
Obrigado, Sr. Útil. — Olha, compreendo a dificuldade de sua posição,
mas não vou ficar aqui toda aconchegada enquanto meu cachorro congela
até a morte. —E a partir de agora, eu era o alvo principal da minha tia.
Quanto mais espaço colocasse entre eu e os metamorfos, mais seguros para
eles seria.
— Leve um acompanhante, —disse Jim.
— Você está se oferecendo para tomar conta de mim, Srta. Poppins?
— Não. Eu vou te dar um veículo e você pode levar os lobos de
Jennifer com você.
Maravilha. Se me atacarem, tenho alguns lobisomens homicidas para
me proteger.
Jennifer olhou para Jim. — Ora, muito obrigada por voluntariar meu
povo, gato. Alguma outra ordem para mim?
Jim deu-lhe seu olhar duro. O lábio superior de Jennifer subiu,
341
mostrando um vislumbre dos seus dentes.

Dei um passo para trás. — Por favor, sintam-se livres para resolver
Página
suas diferenças. —E enquanto vocês estiverem fazendo isso, eu continuarei

silenciosamente o meu caminho ...

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Jennifer fez uma pausa por um segundo. — O gato está certo. Pegue
meus lobos.
— Eu não conheço seus lobos. —Olhei para Jim. — Por que você não
pode ir se está tão preocupado?
Ele suspirou. — Porque certas pessoas não estão completamente
racionais no momento. Se eu for com você, tenho que responder perguntas
incômodas. Eu faço perguntas, eu não as respondo.
— Que tipo de perguntas?
— Por que você estava sozinho em um veículo com Kate? O que você
estava usando? O que ela vestia? Quanto tempo esteve lá? Você fez algo ou
falou alguma coisa? Qual era a natureza de sua discussão? Essa viagem
poderia ter sido evitada?
Esfreguei meu rosto. — Então basicamente você está com medo que
Sua Senhoria possa obter suas calças em um monte?
— É uma maneira de colocá-lo. A outra maneira seria que sou
dedicado a observar o protocolo social do Bando. Se você fosse
'oficialmente' acasalada e instalada em seu quarto na fortaleza, seria menos
problemático. No entanto, tecnicamente você ainda está disponível, desde
que você ainda não se comprometeu.
Eu fiz um esforço para enunciar minha resposta muito
cuidadosamente. — Disponível?
— Em disputa. No mercado. Pronta para a ação. Enviando a vibração.
342
Ele estava só me provocando agora. Dois podem jogar esse jogo. —

Bem, não importa, me dê uma escolta, envie-me em um carro, um carrinho
ou sei lá. Só não mande sua namorada como motorista.
Página
Um silêncio atordoado seguiu. As sobrancelhas de Jim levantaram. A

julgar por sua expressão, se Jim estivesse em forma de gato, todos os pêlos
em suas costas estariam em pé. — Minha namorada?

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Jennifer manteve um rosto perfeitamente neutro.

Já que começamos, vamos terminar. — Você sabe, baixinha, usa
óculos, da indonésia, dirige como um demônio saindo das estranhas mais
baixas do inferno?
— Ela não é minha namorada.
— Oh, então ela ainda está disponível? Jogo limpo?
— Enviando a vibração? —Jennifer adicionou.
Jim virou e foi embora sem dizer uma palavra.
Puta merda, eu tinha atingido um nervo. Eu não tinha ideia de que
havia algo lá. Foi um tiro totalmente no escuro.
Jennifer olhou para mim. — Eu vou te dar três lobos.
— Por que três?
— Se houver problemas, um terá sua custódia e executará uma fuga,
enquanto os outros dois irão interferir.
Minha mandíbula se esforçou muito arduamente para não cair no
chão. Se fosse fisicamente possível, eu poderia estar pegando meus dentes
do tapete. — Nós já nos conhecemos antes, certo?
— Eu acredito que sim.
— Então você sabe que se o seu lobo tenta me levar de uma batalha,
eu vou cortar os braços dele fora?
343
— Sobre o que estamos conversando? —Tia B saiu da cozinha. —

Acabei de ver Jim e ele tinha um olhar peculiar no rosto.
— Jennifer quer me enviar com uma escolta. Deverão me agarrar e
Página
correr como um morcego fora do inferno se alguém espirrar em minha

direção.

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Tia B levantou suas sobrancelhas. — Não é necessário. O Boudas irão

fornecer a escolta.
Os olhos de Jennifer ficaram planos como dois pedaços de gelo. —
Está insinuando que há algo errado com meu povo?
Agora eu sabia por que Curran estava louco.
— Claro que não, querida. —O sorriso de Tia B era tão doce que você
poderia espalhá-lo em uma torrada. — Mas o Clã Bouda e Kate têm uma
ligação especial.
A voz de Jennifer ficou igualmente doce. — O Clã Lobo e Kate têm
uma ligação especial também.
Aço escorregou para o sorriso de Tia B. A voz dela permaneceu doce
e açucarada. — Você deveria me deixar tomar a escolta.
Os olhos de Jennifer brilharam com o amarelo. Ela deu a Tia B um
sorriso feliz. — Cuidado Beatrice. Você está em minha casa.
— Por que, meu Deus, isso é uma ameaça?
Se você não ouvisse o que elas diziam, pensaria que eram duas
mulheres sulistas pegando fofoca local num piquenique da igreja.
Jennifer balançou para frente. — Estou cansada de você vir aqui e
meter o nariz em tudo.
Um brilho rubi surgiu nas íris de Tia B. — Você é jovem e quer se
afirmar. Mas não pense por um momento que vai fazer isso me
derrubando. No seu melhor dia, você é tão boa como eu quando estou no
344
meu pior com um braço amarrado atrás das costas.

— É mesmo? Talvez devêssemos testar essa teoria.
Página
Eu dei três passos para trás e escorreguei para o corredor. Atrás de

mim um rosnado vicioso anunciou alguém ficando peludo. Corri até o fim
do corredor. Dois metamorfos estavam de guarda na porta.

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— Tia B e Jennifer estão prestes a ter um confronto, —eu disse.

Eles foram embora. Esperei uns segundos para eles chegarem até as
escadas, abri a porta e comecei a andar pela neve. Se elas queriam lutar,
tudo bem. Eu tinha um poodle para resgatar. A casa de Jim estava a apenas
trinta minutos da minha casa. Mesmo com as nevascas, chegaria em
quarenta e cinco. Espere, Grendel. Estou chegando.
EU MARCHEI PELAS ESCADAS PARA O MEU APARTAMENTO. Meus

pés não queriam se mover, como se preenchidos com chumbo. Minhas
costas doíam. Eu estava cansada. Nas últimas vinte e quatro horas, eu lutei
pela minha vida duas vezes e fui curada com magia duas vezes. Medi-
magos realizavam milagres, mas eles usavam os recursos do próprio corpo
para curar, e tudo o que Doolittle fez tinha me drenado a nada. Eu estava
esgotada.
Meus olhos continuavam querendo fechar e, algumas vezes quase me
deitei sobre a neve, porque parecia macia e convidativa. Se não fosse por
uma van da Biohazard que encontrei, eu poderia ter tirado um cochilo ao
longo da estrada e congelado minha bunda. Como era, o Biohazard Medi-
técnicos me deu uma carona, reduzindo o meu tempo de viagem em um
terço. Eu ganhei quinze minutos de meio cochilo na van no caminho,
seguro e quente. Minha sorte tinha melhorado. Um lance de escadas e eu
345
estaria em casa.
Os estilhaços da minha porta da frente enchiam o corredor. A fadiga
Página
desapareceu, queimada em uma descarga de adrenalina. Eu atravessei a

porta escancarada e parei de respirar.

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Livro 4
Pedaços de móveis e tecidos estavam espalhados pelo meu chão.

Fragmentos de madeira se projetavam da parede, marcada com cortes e
furos. A porta para a biblioteca havia desaparecido. Os livros dentro foram
pulverizados. Quatro dúzias de garrafas de vidro despedaçadas, seu
conteúdo manchando o chão, misturando-se com páginas rasgadas de
livros raros e artefatos valiosos de Greg, agora esmagados e quebrados. Pó
de erva girava nas correntes de ar da janela quebrada.
Minha casa não foi apenas destruída. Foi apagada, como se um
tornado a tivesse varrido.
A porta do banheiro estava arrancada das dobradiças. Sulcos
profundos a percorriam, muito grandes para ser de Grendel. Erra deve ter
trazido a besta. Eu procurei no banheiro. Sem Grendel. Sem sangue
também. Se ela tivesse o matado, teria deixado o corpo à mostra para mim.
Na cozinha, buracos no gesso onde ela arrancou os armários da
parede. A madeira foi quebrada, não cortada. Ela o quebrou em pedaços.
Eu pisei de volta para a sala, andando sobre o chão cheio de livros
mutilados. Uma das Adagas de Greg se projetava da parede, perfurando
fotos de Julie. Cortou em fatias as fotografias—Erra tinha esfaqueado Julie
nos olhos e rosto, uma e outra vez. Gelo subiu pela minha espinha. Se ela
encontrasse Julie, eu estaria embalando o cadáver da minha filha com
aqueles olhos cortados fora.
Eu tinha que fazer um favor ao mundo e matar a cadela.
Quando Greg morreu, ele deixou o apartamento e tudo que tinha para
346
mim. Os livros, os artefatos, as armas. Não podia deixá-la sair com essa.
Eu me mudei para cá, para Atlanta, para manter sua memória viva. Ele
era minha última ligação com algo parecido com uma família. Eu assumi
Página
seu lugar na Ordem e fiz de seu apartamento um lar. Este era o meu espaço.
Meu lugar no mundo onde me sentia segura e protegida. Um abrigo para
eu e Julie. E Erra o violou. Ela o dilacerou.

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Não havia nenhuma volta para isso. Tudo estava perdido. Não
importa o que fizesse agora, eu não poderia restaurar a biblioteca ou o
apartamento ao seu estado anterior. Ela o destruiu tão completamente, ele
nunca voltaria a ser o mesmo.
Parecia um pouco como morrer. Eu já encarei a morte vezes o
suficiente para reconhecer estar em uma tumba. Deveria ter sentido algo
mais, uma profunda tristeza, um sentimento de perda, mas eu apenas
fiquei ali, dormente.
Ela deu o seu golpe. Era minha hora de revidar.
Um pequeno ruído flutuou das escadas. Grendel correu para o
apartamento, me alcançou e pulou em mim.
— Ei, seu idiota.
Eu o agarrei e abracei seu pescoço fedorento, passando minhas mãos
ao longo de sua lateral. Sem sangue. Seu casaco pendurado em pedaços,
mas ele parecia não estar pior do que antes.
— Vamos sair daqui.
Eu sai pela porta, o cão a reboque e não olhei para trás.
Vinte minutos depois chegamos à Andrea, onde usei minha habilidade
de detetive para deduzir que ela não estava em casa. A porta estava
trancada, e ela não atendeu quando bati. Ela provavelmente estava com
Raphael. Isso me deixou com uma opção: a Ordem. A Ordem tinha o
benefício adicional das barreiras militares. Seria preciso um pequeno
347
exército de Magos para quebrar elas. Ou a minha tia. O que era um

pensamento agradável.
Arrastei-me para a Ordem. O sono ainda me agarrava e a fadiga me
Página
fazia lenta e estúpida. Demorei mais de um minuto para conseguir uma

cama dobrável do arsenal. Eu a armei no meu escritório e caí sobre ela.
Grendel caiu ao meu lado e desmaiamos.

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Livro 4
EU TINHA UM TEMPO EXCELENTE DE REAÇÃO. É por isso que eu não

ataquei Andrea com meu sabre quando ela invadiu meu escritório. Em vez
disso, deixei cair Matadora uma fração de segundo depois de ter
compreendido e me sentei lentamente. Melhor amiga, não matar.
Andrea olhou para mim. — Você está aqui!
— Onde mais eu estaria?
Ela fechou a porta. — Você não faz ideia.
— Meu apartamento está em ruínas. Parei no seu lugar, mas você não
estava, então eu vim aqui. É seguro e quente e há café.
— Você estava na última noite com Jim.
— Sim. Jennifer e Tia B estavam prestes a ter uma luta e eu fiz a minha
fuga. Normalmente eu pagaria um bom dinheiro para ver algo assim, mas
tinha de ir buscar o meu cachorro. Onde está meu cão do inferno, a
propósito?
— Ele estava se coçando na porta, então o deixei sair. Foi como eu
soube que você estava aqui. —Andrea sacudiu a cabeça. — Depois que
você saiu, Doolittle terminou com a luta. Eventualmente todos se
acalmaram o suficiente para perceber que você tinha ido embora. Doolittle
348
pirou porque carregou o seu chá com sedativo e pensou que você fosse
desmaiar em algum lugar na neve. Ambos os lobos e os Boudas têm estado
escavando as nevascas por horas procurando você.
Página
Peguei um livro e bati minha testa nele algumas vezes. Por que eu?
Por quê?

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Livro 4
— E ninguém pensou em ligar aqui e verificar?

— Jim chamou, mas Maxine lhe disse que você não estava aqui e que
lhe daria a mensagem quando seu turno começasse.
É claro. A política padrão da Ordem significava que, quando um
cavaleiro estava fora, ele estava fora, a menos que fosse uma emergência.
Caso contrário, cavaleiros tendiam a trabalhar em completo esgotamento.
Concentrei-me. "Maxine?"
— Ela está fora. Ted a arrastou para uma reunião. Não há ninguém
além de você, eu e Mauro.
— Qual reunião?
— Eu não tenho ideia. —Andrea acenou com os braços. — Kate!
— O que?
— Foco. Jennifer, Tia B e Doolittle vão contar a Curran esta manhã.
Oi, sua Majestade, nós drogamos seu bolinho do amor e depois a
deixamos sair a pé para o escuro, na neve. O apartamento dela está
destruído e não temos certeza de onde ela está ... — Ele vai precisar de um
monte de placas de metal.
— O quê?
— Deixa para lá. Não é minha obrigação cumprir o papel de guarda-
costas da Tia B. Eu não concordei com isso.
Andrea se inclinou em minha direção e falou muito devagar e
349
claramente. — Você precisa chamar o Senhor das Feras. Antes que ele
esfole a mãe do meu namorado, se possível.
Página
Arrastei-me para a mesa e peguei o telefone. Chame o Senhor das

Feras. Certo.

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Livro 4
O problema era que eu não tinha certeza de que o Senhor das Feras e
eu estávamos bem.
Liguei para a fortaleza.
— Kate Da ...
A linha clicou, e a voz de Curran encheu o telefone. — Sim?
Aqui vamos nós. — Ei, sou eu.
— Eu estive esperando você ligar.
Isso era esperado ser bom ou mau? — Como vai? —Essa sou eu,
tagarelando.
— Já estive melhor. —Ele não parecia estar no meio de esfolar alguém.
Embora conhecendo Curran, a voz calma não mostrava muito. Eu o vi
calmamente pular nas costas de um golem de prata e ser completamente
racional sobre isso depois, apesar da dor excruciante.
Andrea passou a andar como um tigre enjaulado.
— Eu também. Estou na Ordem. Desde ontem à noite.
— Isso não é o que eu ouvi.
Então eles já disseram a ele. — Você rasgou alguém em pedaços?
— Ainda não. Estou pensando sobre isso.
Inclinei-me de volta. — Andrea está fazendo um buraco no meu
tapete porque está preocupada que você estaria chateado com sua
350
futura sogra. Ela é um pouco emocional sobre esta questão.

Andrea fez uma pausa em seu ritmo e me encarou. Eu tinha visto este
Página
preciso olhar em seu rosto quando ela olhou pela mira de um rifle sniper
mirando um alvo.

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Livro 4
Esfreguei a ponta do meu nariz. — Posso dizer a ela para parar de

andar?
— É isso que você gostaria?
— Sim. Como um favor para mim.
— Como quiser.
Eu não conseguia descobrir quem era o mais idiota, ele por me dizer
isso para mim, ou eu por querer largar tudo e ir direto para ele, porque ele
disse isso. Essa insanidade tinha que parar. — Obrigada.
— Não há de que. Um favor, —disse Curran. — Você me deixaria buscá-
la na Ordem hoje?
Ele não terminou, mas eu sabia o que ele deixou de dizer: deixe-me te
buscar na Ordem e te levar para casa, para a fortaleza.
— Meu turno começou—eu olhei de relance para o relógio—há
doze minutos. Termina às seis. Se tudo correr bem, eu estarei aqui
esperando por você. Eu prometo.
— Obrigado. Sinto muito sobre o seu apartamento.
— Eu também.
Desliguei. Essa foi a segunda conversa civilizada que tivemos desde
que nos conhecemos. É uma pena que não havia nenhum champanhe à
mão para celebrar a ocasião.
— Ele está deixando ir. Satisfeita?
351
Andrea franziu a testa. — O Senhor das Feras apenas pediu um favor?

Página
— Sim, ele pediu.

— Tia B e Jennifer estavam lá?
— Eu não sei, não pensei em perguntar.

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— Eu aposto que elas estavam lá. —Andrea piscou para mim. —

Curran não pede favores. Ele não se incomoda. E ele deixou tudo isso ir
sem um argumento. Esse tipo de influência é algo que apenas um
companheiro teria ... Vocês dormiram juntos.
Dei-lhe um olhar em branco.
— Você dormiu com Curran e não me disse? Eu sou sua melhor
amiga.
— Não foi muito bom.
— Tão decepcionante para você.
Haha. — Não foi isso o que eu quis dizer.
Ela puxou a cadeira de cliente e sentou-se nela. — Detalhes. Agora.
— Tivemos uma briga, gritamos um com o outro por um tempo, eu o
chutei na cabeça, e então ele passou a noite.
— É isso aí? Isso é tudo?
— Sim.
Ela balançou os braços no ar. — Como foi?
Como fogos de artifício, só que melhor. — Foi bom.
— Tirar informações de você é como arrancar um dente. E Tia B sabe?
Eu assenti.
— Isso explica seu ataque coletivo de pânico. Então vocês dois
352
destruíram seu apartamento?

— Não.
Página
— O que aconteceu?

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Livro 4
Não era uma pergunta que eu poderia responder com Mauro no fim
do corredor. Peguei um pedaço de papel da gaveta, escrevi ‘Minha tia Erra’
nele e mostrei para ela.
Andrea empalideceu.
Eu rasguei o papel em pedaços e joguei na lata de lixo. — A boa
notícia é que eu sei quem é Mary Steel. O nome dela é Erra. A má notícia
é que eu sei o que ela pode fazer.
Dei-lhe o resumo sobre Erra, sua história e seus poderes, mantendo
nossa conexão familiar fora no caso de alguém estar escutando. — Ela é
completamente amoral. Ela não tem absolutamente nenhuma conexão
com qualquer outro ser humano, exceto Roland. Para Erra, o mundo
divide-se em família e não-família. Não-família é um jogo justo. E só
porque você nasceu na família isso não te deixa seguro. Se ela decidir que
você não é lá essas coisas, ela vai consertar o erro de sua existência.
Palavras dela, não minhas.
— Ela tem uma opinião elevada de si mesma, —disse Andrea.
— Ah, sim. Quando ela entra em um carro, seu ego tem que pilotar.
Ela bateu os dedos na minha mesa. — Você está pensando em um
desafio direto?
— Exato. Emitir um desafio, jogar um par de insultos, me usar como
isca, desde que ela me odeia, e ela não será capaz de resistir. Se fizermos
isso em algum lugar fora da cidade, onde ela não pode ferrar com a
multidão e jogar cada cavaleiro feminino que a Ordem pode raspar junto
353
com ela, talvez tenhamos uma chance.

— Eu pedi a Ted para me deixar ajudá-la com isso duas vezes, —disse
Página
Andrea. — A segunda vez por escrito. Foi negada.

— Ted está indo pelas minhas costas, —eu disse.
— Como assim?

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Livro 4
Eu resumi para ela. Na metade do resumo, ela se levantou e começou

a andar pelo meu chão outra vez. Esboços fracos de manchas fantasmas
sob sua pele.
Quando terminei, ela abriu os dentes. — O que ele fez foi contra o
código da cavalaria. Mas você não tem nenhum recurso. Não há nada no
Código que proteja seus direitos. Você não é um cavaleiro.
— Não quero recorrer.
Ela virou para mim. — Você está deixando a Ordem?
Magia inundou o mundo. Meu coração disparou. Eu escolhi minhas
palavras cuidadosamente. — Eu tenho um problema em me dedicar a uma
organização que considera meus amigos não-humanos.
— Ted Moynohan não é a totalidade da Ordem.
— Você passou pela Academia. Você sabe que ele não é o único. —
Eu me inclinei para frente. — É um preconceito profundamente arraigado
de toda a organização. Eu entendo por que está lá, mas não concordo com
isso. Não-humano é um rótulo perigoso. Se alguém é não-humano, não
têm direitos, Andrea. Sem proteção.
Ela parou de andar e olhou para mim. — É por isso que você tem que
ficar e lutar. Se pessoas como você saírem, a Ordem nunca vai mudar. A
mudança tem que vir de dentro para ser eficaz.
Suspirei. — Não é minha luta, Andrea. Nem estou em posição de
mudar nada. Você mesma disse, não sou um cavaleiro. Não faço parte da
354
fraternidade. Eu sou uma estranha mal tolerada e posso ser despedida a

qualquer momento. Minha voz não importa e não vai ser ouvida por mais
alto que eu grite.
Página
— Então você só vai sair?

— Provavelmente. Não posso me comprometer nisso e não consigo
lutar contra toda a Ordem. É uma batalha perdida. Algumas batalhas

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Livro 4
perdidas valem a pena lutar de qualquer forma, mas essa não é uma delas.
Bater a cabeça contra a parede é um desperdício de tempo e esforço. Eu
não posso alterar a Ordem, mas posso garantir que ela não se beneficie
mais de meus serviços.
Grendel correu para o quarto, passou por mim e foi para o canto. Um
rosnar esfarrapado saiu de sua boca. Ele mordeu o ar, latindo uma vez e
congelou.
Apenas uma coisa iria assustá-lo até a morte. Eu agarrei a Matadora.
As duas mãos de Andrea tinham SIG-Sauers nelas.
Um grande estrondo ecoou pelo prédio, ressoando na minha cabeça.
Alguém acabou de testar a força da barreira da Ordem.
— Mas que raios? —Andrea correu para o corredor.
Limpei a distância à janela em uma única respiração.
A barreira cobria o edifício como um escudo invisível exterior. O
feitiço protetor da Ordem era forte o suficiente para impedir um esquadrão
inteiro de magos do MSDU, mas o que quer que tenha atingido deixou um
rombo.
Uma sólida parede de fogo subiu ao longo de minha janela. Azul
pálido brilhou quando a barreira invisível do feitiço protetor se esforçava
sob a pressão das chamas.
O fogo morreu. Uma voz feminina rolou através do edifício. — Onde
está você, esquilo miserável? Eu vim para queimar sua árvore!
355
Minha tia tinha chegado.

Página

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Livro 4
BOOM! A BARREIRA TOMOU OUTRO GOLPE.

O edifício bloqueava minha visão. Eu precisava de um ângulo melhor.
Eu corri para o corredor, virando à esquerda e corri para o escritório
de Maxine. Grendel me seguiu, rosnando. O escritório de Maxine era
superficial, mas longo, e sua janela era o mais distante que eu conseguiria
da entrada, sem entrar no covil de Ted. Destranquei a janela aberta e me
inclinei para fora.
Abaixo de mim a esquerda, um homem num manto esfarrapado socou
a barreira, tentando bater o seu caminho através do feitiço na porta da
frente.
Boom!
Boom!
Os braços nus brilhavam de vermelho escuro.
Tocha. Poder de fogo. Minha tia decidiu não se mostrar pessoalmente.
Eu esperava que eu a tivesse machucado o suficiente para ela ficar quieta
por um dia. Não tive essa sorte.
Andrea veio ao escritório de Maxine com uma besta enorme nas
mãos. A besta brotava peças de metal aparente em lugares estranhos como
se uma meia dúzia de rifles tivessem vomitado nele. Mauro a seguia.
— O cara abaixo é Tocha, —disse para o benefício de Mauro. — Ele
é um mago morto-vivo com poder sobre o fogo. Erra monta sua mente da
maneira que os navegadores montam os vampiros.
356
— Não podemos levá-lo para fora. —Mauro inclinou-se para o lado,

olhou melhor e assentiu para os novos edifícios de escritórios do outro lado
Página
da rua. — Se lutar contra ele lá embaixo, ele vai queimar tudo. Os edifícios
do outro lado da rua são todos de madeira. Eles queimarão como palha.

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Livro 4
— É melhor mantê-lo contido. —Andrea tomou meu lugar junto à

janela, observou Tocha, e atirou. — Nada de bom. Mantenha-o envolvido.
Ela se moveu para o corredor, saltou, e puxou a porta de acesso
principal para o sótão.
Boom!
Mantenha-o distraído. Fácil.
Eu deslizei a janela para cima, deixando o ar gelado entrar e sentei no
parapeito da janela.
— Pare já com isso, você está me dando uma dor de cabeça.
Tocha olhou para cima. Da minha idade, cabelo preto sólido,
características de índio americano. Parecia Cherokee para mim, mas não
tinha certeza. — Aí está você. —Ele disse na voz de Erra.
— Qual é o problema? Com medo de sair e lutar comigo você mesma?
— Se prepare, covarde. Estou chegando.
Bum! O edifício estremeceu. A barreira não iria segurá-lo por muito
tempo.
Mauro entrou no meu escritório. — Andy diz para trazê-lo mais perto
de você, então ela pode ter um tiro. Aqui. Ele me jogou um frasco.
Proteção contra fogo.
Cavei no bolso e puxei uma nota de cinco dólares.
— Ei, Erra?
357
Tocha olhou em minha direção.

Eu balancei cinco dólares para ele e deixei voar para baixo no espaço
Página
de 15 centimetros entre a barreira e o edifício. — Para você.

Tocha caminhou e olhou para a nota de cinco dólares. — O que é isso?

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— Algum trocado para você. Compre para seus lacaios algumas

roupas decentes. —Eu mergulhei meus dedos dentro do frasco e espalhei
a pasta grossa perfumada no meu rosto.
Tocha franziu a testa, espelhando a expressão no rosto da minha tia.
— Trocado?
Ah, pelo amor de Deus.
— É dinheiro. Não usamos moedas como dinheiro agora, usamos
papel-moeda.
Ele olhou para mim.
— Estou te insultando! Estou dizendo que você é pobre, como uma
mendiga, porque seus mortos-vivos estão em trapos. Estou me oferecendo
para vestir seus criados por você, porque você não pode fornecer para eles.
Qual é, quão difícil isso é?
Ele empurrou a mão acima. Um jato de chamas irrompeu de seus
dedos, deslizando contra a barreira. Eu me afastei da janela por instinto.
O fogo morreu. Eu me inclinei para a frente. — Você entendeu agora?
Mais fogo.
— Qual é o problema? O dinheiro não é suficiente?
Chamas bateram na janela. Veias finas azuis apareceram na barreira.
Por que diabos Andrea não estava atirando contra ele?
Eu esperei até que o fogo desapareceu e coloquei a cabeça para fora.
Tocha estava com os dois braços levantados, e sua capa estava aberta no
358
meio, me mostrando totalmente sua visão frontal completa.

— Oh não, é hora do nu?
Página
Ele abriu a boca para responder. Um fio agudo cortou o ar. Uma seta
brotou da sua boca aberta, sua ponta saliente da parte de trás do seu
pescoço como uma estrela verde. O ar assobiou. Uma segunda seta

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atravessou seu peito. A terceira o pegou no estômago, logo abaixo do

esterno.
Luz verde pulsou uma vez, como uma esmeralda que capturara a luz
do sol.
As setas explodiram.
Uma torrente de verde entrou em erupção no céu. Me abaixei longe
da janela.
— O que diabos ela atirou nele?
— Galahad cinco ogivas. Algo que o Galês criou para usar contra os
gigantes. Faz um bom golpe. —Mauro piscou os olhos contra a luz. — Ela
exigiu que obtivéssemos alguns depois de todo aquele episódio com
Cerberus.
O sinalizador finalmente desvaneceu-se. A voz zombadora de Erra
gritou da rua: — Isso é tudo o que você tem?
Não podia ser. Inclinei-me para a janela, Mauro ao meu lado. Na rua,
Tocha puxou os pedaços do seu manto dos seus ombros. O tecido quebrou
de cinza a verde-brilhante sob seu toque.
Ele endireitou os ombros nus e abriu a boca.
Uma explosão de magia me bateu, rasgando o feitiço protetor como
um trovão. Vidro explodiu das janelas. O mundo ficou em agonia branca.
O edifício tremeu e contraiu debaixo dos meus pés, estremecendo do
tremor do colapso da barreira. Eu cerrei os dentes e me segurei através da
359
dor. Limpei minha visão. Na minha frente, Mauro caiu de joelhos entre
fragmentos da janela quebrada. O sangue escorria de seu nariz.
Página
Ele se levantou, seu rosto pego em uma careta. — Uma palavra de

poder.

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— Sim. —Provavelmente algo ao longo das linhas de Abrir ou

Quebrar. Olhei para a janela. Uma parede translúcida azul bloqueava a
vista. Fissuras fraturavam a barreira morta. A parede permaneceu junta
por mais um segundo e se fragmentou, derretendo contra o vento.
Então, era isso que se sentia de uma palavra de poder falada por uma
mulher de seis mil anos.
A voz de Erra rolou através do edifício em uma alegre canção. — Um
pequeno passo! Dois pequenos passos! Três pequenos passos! Estou
subindo as escadas, pequeno esquilo. Se prepare.
Eu puxei Matadora livre de sua bainha e caminhei para o corredor.
Atrás de mim, Andrea caiu através do painel de acesso, pousando em um
agachamento simples no chão.
A porta para o corredor se abriu, arrancada das dobradiças, revelando
Tocha no alto da escada. Seu corpo nu brilhava com uma luz rubi intensa
com raiva. Um colar largo de metal apertava o seu pescoço. Lá se vai meu
truque de decapitação.
Ele era um morto-vivo, feito com o sangue da minha família. Isso me
dava uma chance, uma pequena chance insignificante, mas os mendigos
não podem escolher. Eu puxei a magia para mim.
Tocha levantou seu pé esquerdo, pisando no interior. Pequenas faíscas
quebraram entre seus pés. O pé dele tocou o chão e as faíscas irromperam
em chamas, em espiral até seus membros em uma cascata rápida.
Mauro se preparou.
360
As chamas lambiam o peito nu de Tocha. Quinze metros de corredor

estavam entre nós, quatro escritórios em cada lado. Eu continuei puxando,
Página
enrolando a magia ao meu redor. Isso mesmo traga-o mais perto, querida tia.
Quanto menor o alcance, maior o impacto.

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A corda da besta estremeceu. Setas gêmeas perfuravam o peito de

Tocha. Ele as arrancou com um puxão impaciente da mão em chamas.
Andrea xingou.
— Fofo, —Erra latiu. — É a minha vez.
O fogo girou em torno de Tocha como um manto de calor e luz. Ele
ergueu os braços. Chamas dançavam sobre as pontas dos dedos.
Uma enorme mão me empurrou para trás. Mauro se enfiou na minha
frente. A camisa dele desapareceu. Uma parede densa de tatuagens
cobriam suas costas e peito. Elas brilhavam com pequenas linhas de
vermelho brilhante que se moviam e fluíam, como se dentro da pele de
Mauro sua carne tivesse virado lava. Ele pisou, pé esquerdo primeiro, em
seguida, se posicionou no corredor, pés separados, braços levantados em
seus lados.
— Saia da frente! —Eu rosnei. Mauro tomou uma respiração
profunda.
Uma bola de fogo explodiu dos braços de Tocha, rugindo no corredor.
Mauro rugiu uma única palavra. — Mahui-ki!
As tatuagens brilharam em vermelho brilhante. A parede de fogo
invadiu em jatos gêmeos um metro e meio na frente do samoano,
irrompendo através do escritório de Mauro à esquerda e o Gene à direita.
Mauro ficou intacto.
O fogo morreu. Tocha inclinou a cabeça para o lado como um cão. —
O que é isso?
361
Mauro grunhiu e pisou, um pé, depois o outro. As linhas vermelhas

em sua pele queimando.
Página
Outra parede de fogo atingiu Mauro e virou, desviando para os

escritórios. Mauro carregava um inferno de um poder. Mas agora os cento
e trinta quilos dele ficaram entre mim e Tocha e os cento e trinta quilos

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não mostravam nenhum sinal de movimento. O corredor era muito

estreito. Eu estava presa.
— Mauro, saia do caminho.
— Me acerte! —Mauro rugiu para Tocha.
Certo. Nenhuma vida inteligente lá.
— Prepare-se. —Tocha balançou os braços, construindo espirais de
fogo em torno de seus braços.
Se eu não pudesse passar por Mauro, precisava ir ao redor dele.
Abaixei-me na sala de descanso e chutei a parede. As placas de madeira
velhas lascada cederam sob meu chute. O edifício era de tijolo sólido, mas
as paredes internas de dentro do espaço para os gabinetes eram simples.
Chutei de novo. A madeira caiu em um piscar de olhos, e entrei no
escritório de Mauro.
No corredor, Mauro rugiu, um berro cru cheio de tensão.
Eu bati na parede ao lado com meu ombro.
O corpo de Mauro passou voando por mim. Um baque sacudiu o
edifício—as costas de Mauro na porta do escritório de Ted. Uma parede
de fogo o seguiu, me atingindo com o calor. Andrea gritou.
Eu rasguei a parede na minha frente e me espremi através da estreita
abertura.
— Onde está você, filhote? Fugiu novamente, verme?
362
As tábuas rangeram. Ela estava movendo Tocha em minha direção.

Uma ferida no estômago não faria nada a ele e o colar me impedia de cortar
o pescoço. Não tinha muitas escolhas. Se isso falhasse, ele iria nos queimar
Página
vivos.
Tocha passou pela porta.

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Agora.
Eu pulei fora da sala e apertei meu braço esquerdo em sua garganta,
puxando suas costas contra mim. Fogo disparou ao longo de sua pele. Eu
enfiei a Matadora entre suas costelas em seu coração e sussurrei uma
palavra no ouvido dele.
"Hessad." Meu.
O mundo sacudiu, como se toda a magia que eu tinha reunida fosse
arrancada de mim ao mesmo tempo. Dor fluía através de meu corpo,
tirando lágrimas dos meus olhos. A mente de Tocha se abriu diante de
mim, quente como metal a ferver. Apertei-o, acendi as chamas e esmaguei
contra a parede sólida da presença de Erra. Sua mente me deu um soco e
eu me segurei.
A imensa força de sua mente se elevou sobre mim. Ninguém era tão
poderoso. Ninguém.
Era assim que seria olhar para a mente de meu pai? Se assim for, eu
não tinha uma porra de uma chance.
Eu empurrei para trás, um mosquito contra o colosso. Uma imensa
pressão bateu contra mim, provocando dor. Me segurei, apertando minha
mão no punho da Matadora. Se eu segurasse seu coração por tempo
suficiente, a lâmina transformaria o tecido morto-vivo em pus. Eu só tinha
que aguentar.
Tocha girou, me tirando dos meus pés. Fogo lambeu meu peito. —
Você envergonha a família. Fracote. Covarde, que corre da luta como um
363
cão sarnento.
Eu cerrei os dentes contra a dor e empurrei para trás com minha
Página
mente, extinguindo as chamas.

— Não foi ideia minha. Eu tinha você e eu teria te matado.

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Livro 4
Dedos rígidos agarraram meu pulso esquerdo e puxaram, movendo

lentamente meu braço de sua garganta. Eu me segurei. No momento que
se libertasse, ele iria tirar a Matadora e então estaríamos acabados.
— Se atreve a lutar com a minha mente? Eu sou o Pestiário. Deuses
fogem quando me ouvem vindo.
— Se minhas mãos não estivessem ocupadas, eu bateria palmas para
você.
Matadora afundou sob a minha mão, ligeiramente solta no tecido
rapidamente liquefeito do morto-vivo, e trespassou fundo na ferida. Erra
grunhiu, um som severo de dor.
— Isso doeu? Que tal isso? —Eu torci a lâmina.
Um martelo de fogo atingiu minha mente, arrancando um gemido de
mim. Calor disparou de Tocha. O ar ao meu redor ferveu, queimando em
uma espiral por suas pernas.
— Isso doeu? Eu vou cozinhar você viva. Você vai me implorar para
matá-la quando seus olhos explodirem a partir com o calor.
Tocha atirou-se para trás, esmagando-me contra a parede. Me agarrei
a ele como um pit bull. Mais alguns momentos. Não doeu tanto. Eu só
tinha que segurar por alguns momentos.
Erra bateu em outra parede. Algo mastigou em minhas costas.
Uma forma escura saltou do escritório de Ted e correu para nós. Erra
o viu. Chamas encheram o corredor. Eu não podia ver. Eu não conseguia
364
respirar.
Um cachorro preto enorme passou através do fogo. Eu vi os olhos
Página
brilhando com fogo azul e presas de marfim. A criatura bateu em Tocha.

Minhas defesas mentais estremeceram. Eu estava acabada.

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Livro 4
O cão gigante apertou seus dentes sobre o braço de Tocha e o prendeu.

Tocha o sacudiu como um terrier sacode um rato. Mas o cão se agarrou a
ele, arrastando-o para baixo.
Uma segunda forma explodiu através do fogo, esta pálida e
manchada. Olhos azuis dementes me olhavam de um rosto que não era
nem uma hiena nem um humano, mas uma fluida mistura dos dois.
Andrea enterrou suas garras nas entranhas de Tocha. Nós caímos no chão,
Tocha na parte de baixo, eu em cima.
O mundo se afogou em dor, fundindo-se com grunhidos roucos.
A carne sob a lâmina de Matadora cedeu. Eu empurrei, forçando o
sabre no coração empapado do morto-vivo. A lâmina se enterrou contra as
costelas e explodiu em um spray de fluido escuro. O sangue morto-vivo
espirrou sobre meus lábios e seu ferrão tinha gosto de céu.
— Eu vou matar você, —gritou Erra. — Eu vou te caçar até os confins
da terra ...
Eu empurrei meu pé no pescoço de Tocha, esmagando a traqueia.
A pressão terrível em minha mente desapareceu.
Eu fechei meus olhos e flutuei por um longo momento. Ausência de
dor era a felicidade. E então uma dor consumia meus braços. Meus olhos
se abriram.
Uma criatura esguia subiu no estômago de Tocha. Pequena,
proporcional, com membros longos elegantes e a cabeça bem formada, ela
365
era uma mistura perfeita de humano e hiena. Sangue escuro encharcava

suas mãos armadas com longas garras, manchando de seu antebraço até o
cotovelo. Olhos vermelhos e furiosos me olhavam por um rosto humano
Página
fluindo perfeitamente em um focinho escuro.

Ela tinha mudado para me salvar.

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Livro 4
Os lábios escuros de Andrea tremeram, mostrando as pontas afiada

dos dentes. — Puta que pariu!
Ela chutou o cadáver de Tocha, derrubando-me e chutou-o
novamente, enviando-o para a parede. — Sua cadela! Meretriz de merda.
Sentei-me e assisti ela chutar e atirar o corpo dele, jorrando palavrões.
Sendo parte Bouda, ela lutava impulsionada pela raiva. Quanto mais
rápido extravasasse, mais rápido ela seria capaz de se acalmar o suficiente
para mudar de volta.
A enorme criatura negra se deitou ao meu lado e lambeu o pé.
— Grendel? —Eu perguntei suavemente.
O cão do inferno gemeu suavemente de uma forma distintamente
como Grendel.
Meu poodle de ataque se transformava em um enorme cão preto com
olhos brilhantes e pêlo desgrenhado. Imagina só.
A luz surgiu em minha mente. O cão preto. Claro. Era uma velha
lenda de tantas culturas que ninguém sabia exatamente de onde veio.
Histórias de cachorros negros gigantes com olhos brilhantes que
assombram a noite foram passados por anos, especialmente no Reino
Unido e no norte da Europa. Ninguém sabia o que eram, mas quando
capturados, eles eram catalogados como ‘fera’, um animal mágico. Sua
magia animal registrava como um amarelo muito pálido. Quando o medi-
técnico digitalizou, seu scanner deve ter falhado para encontrar.
366
Andrea rosnou a poucos metros de distância. Grendel gemeu

novamente e tentou meter o nariz do tamanho de uma bola de beisebol na
minha mão. Ao nosso redor, o escritório ardia.
Página
Nós tínhamos a espancado novamente. Três mortos-vivos para baixo.

Faltavam quatro.

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CAPÍTULO 24
PARA CHAMAR O FURACÃO SAVANNAH, QUE ACHATOU metade da

costa leste alguns anos atrás, de ‘uma brisa suave’ seria um eufemismo.
Dizer que Ted Moynohan ficou puto da vida, seria um eufemismo de
proporções criminosas.
Ele ficou no meio do corredor, examinando a ruína esfumaçada que
era o escritório da Ordem e irradiando raiva com uma intensidade
perigosa. Depois que a raiva de Andrea morreu, ela mudou de volta.
Mudar e voltar ao normal praticamente a dizimou. Colocamos neve e água
no fogo, e o resultado não ficou bonito. Toda janela tinha sido quebrada
quando a barreira desmoronou e o vento gelado uivava através do edifício,
fazendo malabarismo com os papéis soltos.
Eu tinha estabelecido a identidade de Erra de forma ampla e fiz meu
relatório—e para minha sorte, eu tinha muita prática mentindo através de
meus dentes. Mauro estava nocauteado durante a maior parte da luta.
Agora, ele estava sentado no meio do corredor, pressionando um pano
cheio de neve em um galo na cabeça. Ele não parecia com pressa para
oferecer qualquer informação.
Ted não disse nada. Um silêncio mortal tomou o escritório, o tipo de
silêncio que geralmente só existia às duas horas da manhã, quando a
367
cidade se afundava em um sono profundo e até mesmo os monstros

descansavam.
Página
O retardador de chamas no carpete e móveis de metal tinham feito seu

trabalho. O edifício sobreviveu e o dano para o escritório foi
principalmente estético. O dano à Ordem, no entanto, era enorme. Os

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cavaleiros eram intocáveis. Você feria um e o resto iria aparecer na sua

porta, jogando magia e aço suficientes para fazer você pensar que o mundo
acabou. Erra veio para o Capitólio, na casa da Ordem e o destruiu. Ted
tinha que golpear de volta, rápido e duro.
— O problema é que não sabemos onde Erra atacará em seguida, —
eu disse. — Nós precisamos tirar a escolha longe dela. Nós matamos três
de seus mortos-vivos. Ela vê isso como um insulto e ela é arrogante como
o inferno. Ela responderá a um desafio direto. Nós escolhemos um lugar
fora da cidade, agradável e privado.
Era um plano simples, mas os planos simples às vezes funcionavam
melhor.
Atrás de nós, algo bateu. Uma parte da parede caiu no chão. Ted
olhou para ele.
O telefone tocou no meu escritório. Eu peguei.
— Kate ...
— Socorro, —a voz rouca de Brenna engasgou. — Nos ajude ...!
Um grito distante ecoou através do telefone, seguido por um grunhido.
O sinal de desconexão gemeu no meu ouvido.
Ah não.
Larguei o telefone e comecei a ir até a porta.
— Daniels! —A voz de Ted estalou como um chicote.
368
— Um dos escritórios do Bando está sob ataque. Eu tenho que ir.

— Não.
Página
Eu parei.
Ted me olhou com olhos vidrados. — Você pertence aqui. Se você
sair, então você está fora.

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— As pessoas estão morrendo. Eles me chamaram por ajuda.

— Somos pessoas. Eles não são. Estou lhe dando uma ordem direta
para ficar aqui.
Olhei para Andrea atrás dele. Ela ficou imóvel como uma estátua. Seu
rosto estava sem uma gota de sangue.
A voz rouca de Brenna ecoou em minha memória.
Tudo o que eu tinha trabalhado, tudo o que eu fiz e realizei para
manter vivo a herança de Greg—mas nada disso valia a pena uma única
vida.
— Daniels, se você fizer isso, terminamos. Sem segundas chances,
sem perdão. Terminamos.
Meus dedos encontraram o cordão em volta do meu pescoço. Tirei-o
em um puxão brutal, deixei meu ID no chão e sai.
A CIDADE COBERTA POR NEVE VOOU POR MIM. EU AGARREI o

primeiro cavaleiro que vi, derrubei-o de sua sela e roubei o seu cavalo, lhe
dizendo que a Ordem pagaria a conta para que eu não levasse um tiro nas
costas enquanto galopava para longe.
Nós contornamos a esquina em alta velocidade. A casa dos lobos
369
apareceu. O Prowler de Dali estava parado no meio da rua. Ela estava ao

seu lado, olhando para o prédio, seu pequeno corpo rígido.
Página
Ela me ouviu e se virou para me olhar. Sua boca se abriu.

Um corpo atravessou a janela do segundo andar em uma cascata de
cacos de vidro. Ele caiu pelo ar, uma forma grotesca, nem humano nem

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animal, garras enormes prestes a rasgar. A forma caiu em cima do carro e

bateu em Dali, tirando-a de seus pés com um rosnado gutural.
Eu agarrei as rédeas, tentando abrandar meu cavalo. O cavalo gritou.
Deformado, torcido, coberto com manchas aleatórias de pele e músculo
exposto, o animal prendeu Dali no chão, agarrando-a com garras pretas.
Dali levantou os braços, tentando proteger a garganta.
Eu pulei do meu cavalo e atingi o chão correndo.
Sangue pulverizou a neve, chocantemente vermelho contra o branco.
A voz de Dali gritava em um frenesi histérico. — Pare, sou eu, sou eu!
Mirei um chute na lateral, colocando tudo o que tinha nele. Meu pé
bateu na lateral da fera, o fazendo recuar. A criatura rolou e saltou de
quatro patas.
Se era um metamorfo em uma forma de guerreiro, era o pior que já
tinha visto. Seu braço esquerdo era muito curto, sua pelve inclinada muito
para frente, sua mandíbula inferior se projetava para o lado, transbordando
com presas. Acima de sua mandíbula horrível, seu rosto era quase
humano. Olhos verdes olhavam para mim. Cada pelo do meu pescoço se
levantou. Eu tinha visto esse rosto ontem, sorrindo para mim.
— Brenna?
Um rosnado feroz se derramou da boca deformada de Brenna. Ela se
balançou. Cortes cruzavam o seu corpo, escorrendo pus preto e sangue,
como se a sua pele tivesse estourado aleatoriamente em alguns lugares.
370
Dali rastejou de costas e com o traseiro, deixando rastros de sangue

na neve, até que bateu a cabeça contra o carro. — Brenna, sou eu! Sou eu!
Nós somos amigas. Por favor, não.
Página
Brenna rosnou novamente.

— Brenna, não faça isso. —Eu pisei em sua direção.

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Os olhos de Brenna se fixaram em Dali com o foco inabalável de um

predador prestes a atacar.
— Por favor, por favor, não. —Dali se pressionou mais apertado
contra o carro. — Por favor!
Brenna atacou.
Seu corpo mutilado voou acima da neve, como se tivesse asas.
Brenna ou Dali. Sem tempo para pensar.
Eu saltei para frente e cortei em suas costas. Matadora cortou carne,
interrompendo o ataque de Brenna no meio do caminho. Ela girou no ar e
me atingiu. Mandíbulas enormes presas na minha perna, queimando
minha coxa com a dor.
— Não! —Dali gritou.
Eu cortei novamente, cortando sua espinha
As presas de Brenna me soltaram. Ela bateu na neve, se sacudindo
como uma marionete nas cordas de um manipulador louco. Sangue e
saliva voaram de sua enorme boca. Ela rosnou e mordeu o ar de novo e de
novo, rasgando inimigos invisíveis com seus dentes. Atrás de mim Dali
chorava incontrolavelmente.
Levantei Matadora e a abaixei. A espada perfurou o peito de Brenna.
Eu torci a lâmina, rasgando seu coração em pedaços. Na minha cabeça, a
voz de Brenna dizia, ‘não se preocupe, Kate, não vou deixar você cair’.
Brenna ficou calma. O brilho nos seus olhos se esmaeceu. Dali
371
choramingou pequenos ruídos incoerentes.

Um grunhido torturado ecoou pela rua. Eu puxei Matadora livre e
Página
contornei o edifício. Um braço de garras raspou a janela do primeiro andar

próximo da porta. Dedos grossos deslizaram sobre o vidro, deixando
manchas de sangue.

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Livro 4
Inferno sangrento.
Eu agarrei Dali e a puxei para seus pés. — Dali, olhe para mim.
Ela me olhou, seus olhos arregalados. — Eu sabia, eu sabia que algo
estava errado, eu cheguei, e não cheirava certo ...
— Entre no carro. Dirija duas quadras, entre na padaria e chame a
fortaleza. Não importa o que aconteça, não deixe a loja. Entendeu?
— Não entre lá!
— Eu preciso ir. Se conseguirem sair, eles podem matar alguém.
— Então eu irei com você. —Ela limpou o rosto com a palma da mão.
— Eu sou a porra de um tigre.
Um tigre vegetariano, vesgo, meio cego que ficava doente com a visão
de sangue. — Não. Eu preciso que você entre no carro e chame Curran.
Por favor.
Ela assentiu.
Eu a soltei. — Vai!
Um momento depois o Prowler rolou pela rua. Passei por suas trilhas.
A porta da casa se abriu, como uma boca preta.
Empurrei a porta aberta com a ponta dos meus dedos.
Um corpo esparramado no tapete a dez metros de distância. Estava
em um emaranhado de roupas rasgadas, manchadas com pus negro. Um
odor amargo enchia o corredor, como o cheiro de carne de frango
372
apodrecendo.
Eu tinha visto metamorfos sangrar cinza antes, quando golpeado com
Página
prata. Prata matava Lyc-V e o vírus morto virava cinza. Para sangrar preto,
Lyc-V tinha de estar presente em número recorde no corpo. Só loups
carregavam tanto vírus neles.

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Livro 4
Eu pisei dentro. O tapete abafou os meus passos. Acima algo soou

como uma pancada.
Devagar e com calma.
Eu alcancei o corpo. Ele estava deitado de bruços. Lesões escuras
riscavam suas costas, cheias de uma gosma viscosa, tão escura que se
assemelhava ao piche. O odor de podridão sufocou o ar. Eu me engasguei
e cutuquei o corpo com o meu pé. A cabeça rolou. Olhos leitosos cegos me
olharam de um rosto desconhecido. Morto.
Mantive-me em movimento através do longo corredor.
Quarto à direita, limpo.
Esquerda, limpo.
Direita, limpo.
Cozinha.
Uma panela fervia no fogão. Dois metamorfos jaziam imóveis. Um
deitado em cima da mesa, no meio do processo de mudar, o corpo uma
bagunça de pêlo e pele. Seus membros deformados agarravam a mesa,
ossos expostos, músculo rasgado escorrendo pus sobre a toalha de mesa
verde. Uma faca de chef se projetava do pescoço, fixando-o na mesa.
O outro corpo estava debaixo da mesa, no chão cheio de pedaços de
batatas descascadas. Um corte enorme abria seu peito, rasgos muito
irregulares—um golpe de garra. O mesmo pus negro derramando de seus
lábios, manchando seu queixo. Náusea se contorceu através de mim.
373
A cena se desenrolou na minha cabeça: o metamorfo à direita deitado

sobre a mesa atingindo o cara que cortava batatas. Seu alvo levando um tiro
Página
no peito, enfiando a faca no pescoço do seu atacante e caindo ... Me movi

para a escada. No andar de cima ou no de baixo, para o porão?

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Livro 4
Me inclinei para o lado. O papel de parede verde no patamar acima

estava manchado de sangue.
Em cima.
As velhas escadas rangeram sob meus pés. Eu corri para cima e me
pressionei contra a parede. Curtos grunhidos roucos quebravam o silêncio
em um ritmo constante, cada gemido seguido do barulho de unhas no
vidro. Verifiquei o corredor.
Algo estava agachado na escuridão, longe à direita, sobre o
aglomerado de corpos desfigurados, cavando na carne com garras
sangrentas. A criatura atacou o cadáver e limpou sua mão deformada na
janela. Garras riscando o vidro. Screeech.
Pisei no corredor.
Screeech.
Screeech.
A fera olhou para mim. Uma menina. Pouco mais velha que Julie. Ela
olhou para mim com olhos escuros pálidos, o sangue e o pus negro caindo
de sua boca.
Seu rosto estava quase perfeitamente humano. O resto dela não
estava. Membros se projetavam muito longos, terminando em mãos de
grandes dimensões. Uma corcunda curvava sua espinha, coberta em pele
de lobo cinzento. Seu peito era côncavo e suas costelas estavam perfurando
a sua pele.
374
— Dói, —ela disse.

Eu continuei andando.
Página
— Isso dói. —Ela mergulhou a mão na poça de sangue no estômago

de uma mulher ao seu lado e limpou-o no vidro. Screeech.
— O que aconteceu? —perguntei.

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Livro 4
Ela pulou em mim com um grunhido gutural. Desviei para a esquerda

e cortei toda a sua lateral. Ela bateu na parede, virou e atirou-se para mim.
Eu empurrei a lâmina e a rasguei do estômago até o coração. Dentes
humanos passaram a um palmo da minha boca. As garras agarraram meu
ombro e ela cedeu sobre minha lâmina, sua vida se esvaindo.
Afastei a criança da minha espada e continuei.
Corpos jaziam espalhados pelo corredor, um após o outro, todos de
frente para o final do corredor, onde a sólida porta do escritório de Jim
estava meio entreaberta. Eles devem ter corrido para cá e não conseguiram.
Verifiquei os rostos enquanto caminhava, com medo de ver alguém que eu
conhecia.
Fosse o que fosse, veio pela porta da frente. O primeiro metamorfo
desabou onde estava. O atacante bateu na cozinha e foi para o andar de
cima. Os metamorfos no primeiro andar e no porão devem ter ouvido o
barulho e perseguiram o intruso. Nove mortos, incluindo Brenna e a
criança que matei. Jim deve ter reforçado seus números, à espera de
problemas. Todos eles foram atrás do intruso. Ninguém tentou sair até que
fosse tarde demais.
Um baque abafado veio por trás da porta. Eu a abri.
Um homem nu estava sentado entre o caos de móveis quebrados e
pedaços de papéis. Uma algema de metal prendia o tornozelo, anexado a
uma base no chão por uma corrente tão grossa quanto meu pulso. A
corrente de loup—cada casa do Bando tinha uma.
375
Uma bagunça distorcida de membros e feridas se estendiam sobre ele.

À esquerda, um metamorfo feminino pendia na parede, pregada por uma
espada nas tábuas.
Página
O homem nu olhou para mim. Um brilho oleoso em sua pele, esticada

sobre o corpo magro. Seus olhos eram um amarelo escuro como urina
velha. O cheiro de frango podre girava sobre ele.

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Livro 4
— Minha sobrinha favorita, —disse a voz de Erra. — Só você poderia

fazer isso melhor. Bem-vindo à festa de Veneno.
O corpo na frente de Veneno se moveu.
— Você novamente. —O morto-vivo apunhalou o metamorfo com
uma lasca de madeira e puxou para o segundo golpe.
Peguei o corpo pelas pernas e o puxei para mim, fora de seu alcance.
— Muito tarde. —Erra bufou.
O corpo do metamorfo estremeceu em minhas mãos. Gosma negra
escorreu. Me ajoelhei e vi o cabelo vermelho brilhante.
Dingo, um dos homens de Jim. Ah, não.
Um buraco sangrento aberto onde o olho esquerdo de Dingo
costumava estar. Seu direito olhou para mim, contrastando contra a
bagunça desfigurada de seu rosto. — Peguei ele com a corrente, —ele
sussurrou.
— Você fez, —eu disse a ele.
Sua voz era um gemido rouco, atado com dor. — Morrendo. Me
mate.
Levantei meu sabre, trouxe-o para baixo, e então ele não estava mais
sofrendo.
— Nojento, —Erra disse através da boca de Veneno.
Nenhum de nós estava rindo mais. — Essas pessoas eram meus
376
amigos. Você me fez matá-los. Você me fez matar uma criança. —Eu ainda
podia ouvir a voz de Brenna na minha cabeça.
Página
— Pare de choramingar. Não tenho paciência para covardes.

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Livro 4
Levantei-me e deslizei a porta do armário aberta. Com a tecnologia e

magia dançando, a maioria das pessoas guardavam coisas que sempre
funcionavam como backup.
Papéis, caixas, nada que interesse. Mudei para o pequeno armário da
direita. — Eu descobri porque você não tem como alvo as mulheres.
— As mulheres são o futuro. Um homem pode construir uma nação,
mas mate as mulheres e você matará um povo.
— Não é isso. Você foi treinada para demolir os exércitos. Não
existiam muitos exércitos antigos feitos de mulheres.
— Você ficaria surpresa, —disse Erra.
Um galão de querosene, ainda com três quartos completos, estava no
canto. Eu o tirei de lá e torci da tampa.
— Por que você não roeu sua perna e fugiu? —perguntei.
— E perder sua miséria?
— Oh, tenho certeza de que você ficaria feliz em perder. Se você
perder o seu brinquedo morto-vivo, terá que procurar outro corpo para
drenar o sangue. Você não escapou, porque fazê-lo arrancar fora o pé iria
machucá-la. E você não gosta de dor.
Eu caminhei para o morto-vivo.
Veneno investiu contra mim. Eu desviei, capturando sua garganta em
minha mão. Meus dedos tocaram a sua pele. Eu já tinha tocado a mente
do Erra uma vez. Levei uma fração de segundo para encontrá-la
377
novamente. Agarrei ela e joguei o querosene sobre a cabeça de Veneno.

Veneno torceu, visando um chute em meu estômago. Deixei ir e me
Página
afastei, fora do seu alcance, agarrando-me a mente da minha tia,

prendendo-a ao corpo de Veneno.
— Tenho uma pergunta para você.

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Livro 4
— E? —Erra bufou.
Uma pressão terrível em minha mente. Eu relaxei meus dentes. —
Você é mais resistente do que eu?
Puxei um isqueiro de bolso, acendi e joguei em Veneno. Chamas
surgiram, lambendo sua pele.
Erra gritou. Sua mente agarrou a minha e apertou, da forma que um
cão sacode um rato quando quer matá-lo. Segurei com tudo o que tinha.
Cada gota de fúria que eu tive que esmagar para atravessar essa casa. Cada
gota de culpa em ver o sangue de Brenna espirrar na neve. Afundei tudo
isso na mente de Erra, prendendo-a a Veneno.
Queime, cadela. Queime.
O ar cheirava a cabelo queimado e gordura carbonizada. Veneno se
debatia em sua corrente como um cão raivoso.
— Eu vou rasgar você membro a membro!
— Isso dói? Diga-me que dói.
O calor e a dor feriam minha mente em tiras brancas e apertadas.
Lágrimas se acumulavam em meus olhos. Veneno queimava como uma
vela humana, e me aferrei à mente de Erra.
As tiras se transformaram em lâminas e me cortaram, me separando.
Senti-me desvanecendo, como se minha mente fosse desaparecendo
segmento por segmento. Uma visão absurda das veias do meu corpo sendo
puxadas. Isso doía. Querido Deus, doía tanto.
378
Mas o fogo a machucava mais.

Erra uivava como um cão. — Vou rasgar você e sugar o tutano dos
Página
seus ossos. Vou caçá-la até os confins da terra. Você não pode esconder
seu sangue, eu o reconhecerei em qualquer lugar. Eu vou encontrá-la. Vou

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Livro 4
matar todo mundo que conhece você e fazer você vê-los morrer. Você vai
pagar por isso. Você vai pagar!
A pressão moía minha mente em nada. — Pare de choramingar.
Veneno caiu no chão. Uma luz explodiu em minha mente, como uma
estrela afiada. Eu provei meu sangue—meu nariz estava sangrando.
Empurrar as palavras da minha boca levou muito tempo e elas saíram
arrastadas. — Choque de morte. Isso é o que acontece com um Mestre dos
Mortos quando um vampiro que ela navega morre antes que ela possa
deixar sua mente. Uma vez que você mantém seus mortos-vivos tão
próximos do seu coração que te machuca quando eles são abatidos ...
— Deixe-me ir! —Minha tia gritava.
— É desse jeito que você morre, —disse a ela. — Acorrentada a este
pedaço de morto-vivo.
— Você vai morrer comigo, —ela rosnou.
Dor esmagou meu crânio. Eu caí contra a parede. Fragmentos dos
meus pensamentos precipitavam-se de um lado para o outro como coelhos
assustados. — ... vale a pena ...
Uma forma pequena correu para a sala. Concentrei-me. Roupas
escuras. Capa índigo. A velha que eu tinha salvado no caminho para a
Ordem. Mas que diabos?
Ela pulou sobre os corpos e caiu perto de mim.
Erra gritou em agonia.
379
A velha empurrou sua mão para cima. Uma lança curta brilhou com
a luz das chamas. Seus olhos negros olharam para mim. — Eu termino
Página
isso. Deixe ir, agora.

Eu não tinha nenhuma força para lutar contra ela. Eu tinha afundado
tudo de mim para manter Erra presa. — Não.

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Livro 4
A lança girou na mão da mulher. Ela girou e bateu no meu plexo solar.
A dor explodiu sob o meu diafragma, me deixei cair de joelhos. Lutei para
manter o link mental, mas escapou de mim. A pressão desapareceu. Minha
tia libertou-se.
Veneno empurrou uma vez e morreu.
De novo não.
Eu me levantei sobre meus pés e me atirei contra ela. Ela não fez
nenhum movimento para evitar. Bati com ela contra parede. — Por quê?
Um brilho vermelho rolou nos seus olhos. Pupilas em forma de
diamante me olharam. — Devo protegê-la. É o meu trabalho.
A parede explodiu. Um monstro de dois metros invadiu o quarto, pele
escura, os olhos brilhando com verde, uma mistura terrível de rosto
humano e focinho de lobo. Formas menores entraram na sala.
— Proteja a companheira! —O lobisomem rosnou na voz de Jennifer.
— Proteja o quarto!
Garras me apertaram e me jogaram para fora do quarto para as mãos
de outro metamorfo à espera.
ME SENTEI NA ESCADA E VI OS METAMORFOS carregarem os corpos

380
para fora de casa. Jennifer se sentou ao meu lado.

Eu me sentia vazia e cansada. Se não fosse a parede me apoiando, eu
Página
entraria em colapso. Se eu me concentrasse duro o bastante, eu podia

mover meus dedos. Me concentrar machucava.

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Livro 4
Kate Daniels, mortal mestre das espadas. Com medo do meu dedo
mindinho.
Um metamorfo fêmea jovem carregava um corpo disforme fora da
casa. Ela parecia um pouco com Brenna com o cabelo mais claro, só que
ela estava viva e Brenna morta, porque eu a matei.
— Matei uma garotinha, —eu disse.
O lobo Jennifer agitou-se ao meu lado. — Ela era minha irmã. —Eu
estava tão entorpecida que suas palavras levaram um minuto para eu
registrar.
— Eu não permiti que eles saíssem. —A voz de Jennifer estava
anormalmente calma. — Adiei a evacuação. Porque era a nossa casa. Nós
somos os lobos. Nós não podemos ser colocados para fora de nossa própria
guarita Agora Naomi está morta.
Eu não sabia o que dizer.
Jennifer se virou para mim. — Ela se machucou quando você a
queimou?
— Sim.
— Não é o suficiente. —Jennifer olhou para os corpos estabelecidos
na neve.
— Não. Eu queria matá-la, mas ela me deteve.
Ambos olhamos para a mulher. Ela sentou-se de pernas cruzadas na
neve, sua lança no colo. Quatro lobisomens a observavam.
381
— Naomi tinha doze anos, —disse Jennifer.

Um ano mais nova que Julie.
Página
A fêmea alfa se virou para mim. Seus olhos estavam molhados. — Eu

te odeio por matá-la.

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Livro 4
Bem-vindo ao clube.
Uma caravana de jipes do Bando entrou no estacionamento.
— Dói e você quer machucar alguém, não importa quem, —eu disse.
— Porque machucar fará você se sentir melhor.
— Sim.
— Não vai. Eu matei dezenas de Fomorianos depois da morte de
Bran. Não ajudou.
— Eu não sou você, —ela disse.
— Nós somos todos humanos, —disse a ela.
Um braço me envolveu. Meu coração tentou saltar do peito. Curran
me puxou para ele e beijou minha testa.
— Vou colocar um sino em você, —ele disse. — Assim eu vou ter
algum aviso.
Ele olhou meu rosto. — Você está bem?
— Eu matei Brenna e a irmãzinha de Jennifer. E o Dingo. Fora isso,
estou ótima. Tudo é lindo.
— Certo. —Ele olhou para a Jennifer.
Ela ficou congelada.
— Os carros estão aqui. Carregue seu povo. Daniel está esperando por
você na fortaleza. —Ele virou para mim. — Você pode andar ou devo
382
carregá-la?
Eu seria condenada se deixasse ele me carregar para qualquer lugar.
Eu me levantei. Minhas pernas bambolearam um pouco, mas seguraram.
Página
Caminhamos lado a lado para o jipe do Bando. Ele abriu a porta do

passageiro e eu entrei. Ele deu algumas instruções finais e nós estávamos
fora.

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Livro 4
A FORTALEZA ERA FEITA DE ESCADAS E MAIS ESCADAS. E depois

mais escadas. Apenas continue a subir. Um pé depois do outro. A mordida de
Brenna em minha coxa queimava. Meus pulmões se enrugaram para o
tamanho de bolas de golfe.
Eu não entraria em colapso na maldita escada. Quanto mais alto
subimos, mais as pessoas paravam e olhavam para nós, e eu não iria
desmaiar enquanto metade da maldita fortaleza assistia.
— Mais um andar, —murmurou Curran.
Cerrei meus dentes.
Passo, e passo, e passo. O corredor antes de sua entrada privada. Eu
fiz isso. A porta que barrava o acesso aos aposentos de Curran se abriu.
Derek segurou-a entreaberta por dentro.
Curran virou-se para o pequeno grupo de metamorfos que nos
seguiram.
— Saiam.
Eu pisquei e as escadas estavam desertas. Nossa escolta havia
desaparecido a uma velocidade recorde.
Curran me pegou no colo.
383
— O que você pensa que está fazendo?

— Ninguém vai te ver. Sua reputação está intacta. É só você e eu.
Página
Olhei para Derek.

— Ele não viu nada, —disse Curran, carregando-me através da porta.

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Livro 4
— Eu não vi nada, —Derek confirmou e trancou a porta fechada.

Eu coloquei meus braços em volta do pescoço de Curran e o deixei me
carregar através de sua academia e seu quarto de vadia por outra escadaria
até seus aposentos.
— Para onde? —ele perguntou.
À esquerda, uma sala de estar esperava com um grande sofá secional
cinzento. Em frente estava a porta do quarto. A direita havia outra porta.
— Banheiro, —eu disse.
Ele me carregou pela porta à direita. Uma enorme banheira tomava a
maior parte da sala.
Água quente. Céu.
— Você se importa se eu tomar um banho?
Ele me colocou no chão suavemente. — Posso te pegar qualquer
coisa?
Eu balancei minha cabeça e comecei a tirar a roupa. Ele esperou para
certificar-se de que entrei na banheira e saiu.
Sentei-me e liguei a água tão quente que estava perto da ebulição.
Mesmo com a água até a clavícula, a banheira ainda tinha cinquenta
centimetros de espaço à esquerda.
Algum tempo depois Curran entrou, carregando um copo de água
com gelo. Ele se sentou na borda da banheira e colocou a mão em minha
384
testa.
— Você tem febre.
Página
Balancei a cabeça. — Brenna me mordeu.

A toxina de Veneno deve ter sido muito potente. O vírus Lyc-V teria
se multiplicado em números recordes, tentando combatê-lo, fazendo com

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Livro 4
que os metamorfos fossem de zero a loup completamente. Loups eram

contagiosos como o inferno e eu tive uma dose devoradora de Lyc-V da
saliva de Brenna.
— Não é nada importante. Meu corpo vai queimar através dele em
uma hora ou duas.
Curran assentiu com a cabeça.
Eu provavelmente não deveria ter dito isso.
Peguei a água e tomei um gole. — Porque tudo é tão grande?
— A banheira é dimensionada para minha forma de besta.
Eu sorri. — Você toma banho como um leão?
— Às vezes. Os lobos encontraram um deles no porão da Casa Lobo.
Ele os atacou á primeira vista. Será que Jennifer disse isso?
Ele estava tentando me ajudar com minha culpa. — Ela estava um
pouco ocupada. Eu matei sua irmãzinha e ela estava tentando se segurar.
Eu fiz o que eu tinha que fazer. Eu não tive escolha. Nós dois sabíamos
disso. Mesmo Jennifer sabia disso. Mas saber disso não faz com que
nenhum de nós se sinta melhor.
— Você precisa estar em algum lugar? —perguntei.
Ele balançou a cabeça.
Eu me arrastei para o lado. Ele tirou suas roupas e deslizou para a
banheira comigo. Inclinei-me contra o seu peito, com seu braço em volta
385
de mim, e afundamos na água quente.

— Onde está a velha senhora? —perguntei.
Página
— Em uma gaiola de loup lá em baixo. Alguma ideia de quem ela é?

— Não.

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Livro 4
Eu fechei os olhos. Tinha derramado algum material de espuma na

banheira de uma das garrafas que encontrei na borda e agora tinha um
cheiro limpo e com sabão, como primavera irlandesa. Pelo que eu sabia,
ele usava este material para sua juba e eu tinha acabado de esgotar o valor
de um mês do seu shampoo.
Claro, com minha sorte, estávamos sentados em uma banheira cheia
de seu shampoo anti-pulga.
A pele de Curran estava quente debaixo da minha bochecha. Podia
ficar assim para sempre.
— Não vai durar. —As palavras escaparam antes que eu tivesse a
chance de pensar sobre isso.
— O que não vai durar?
— Você e eu. Nós. Mesmo se vencermos desta vez, outra coisa vai vir
e arruinar nossas vidas. Eventualmente, eu vou perder uma briga ou você
vai, e acabará.
Ele me puxou mais perto dele. — Outra coisa virá depois. Quando
isso acontecer, nós vamos matá-los. Mais tarde, alguma coisa vai aparecer
novamente. Vamos matá-lo também e então nós iremos para casa.
Eu fiz uma careta. — E subir um milhão de escadas e tentar não entrar
em colapso.
— Eu não entro em colapso.
— Claro que não. No que eu estava pensando ...
386
Sua voz era firme. — Nós não vivemos em um mundo seguro. Eu não
posso lhe dar a cerca branca, e se eu lhe desse, você a queimaria.
Página
É verdade. — Só se eu ficasse sem lenha.

— Ou se precisasse de alguns fragmentos de madeira endurecidos para
dirigir até o olho de alguém.

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Livro 4
Estiquei as pernas. — Você realmente não queima madeira para

endurecê-la. Você aponta para o fogo, então ele absorve o calor, mas não
faz carvão.
Ele grunhiu baixo na garganta. — Obrigado por essa pequena pepita
de sabedoria.
— Não há de que.
O braço dele acariciava minhas costas. — Existem apenas duas coisas
que podem estragar isto: você e eu.
— Então estamos condenados com certeza.
Eu tinha de lhe contar sobre a minha tia. Eu simplesmente não
consegui me recompor para fazê-lo.
— Meu pai foi o melhor lutador que eu já conheci, —disse Curran. —
Mesmo agora, não sei se eu poderia levá-lo.
— Nós temos isso em comum, —Eu murmurei.
— Nós vivíamos na borda do Parque Nacional de Smoky, nas
montanhas. Não sei se foi na Carolina do Norte ou do Tennessee. Apenas
montanhas e os quatro de nós. Meu pai, minha mãe, minha irmã mais
nova e eu. Meus pais não queriam lidar com qualquer política de
metamorfos. Nós somos mais antigos do que a maioria dos metamorfos.
Diferentes.
A preocupação se arrastou pela minha coluna. O Primeiro estava lá no
início, disse Erra em minha cabeça. — O que aconteceu?
387
— Loups, —disse Curran. Sua voz era desprovida de qualquer

emoção. — Oito deles. Pegaram minha irmã primeiro. Ela tinha sete anos
Página
e gostava de subir nas árvores. Um dia ela estava atrasada para o almoço.
Fui atrás dela. A encontrei cerca de um quilometro e meio da casa. Eu
pensei que ela tinha adormecido e gritei. Ela não respondeu, então eu subi,

Magic Bleeds
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Livro 4
direto para sua armadilha. Eles amarraram um fio de prata em minha

garganta, como um laço.
Ele se inclinou para trás, expondo o seu pescoço, e vi uma linha fina
pálida na garganta.
— Enquanto me debatia, tentando me impedir de sufocar, eles me
envolveram em malha de prata. Lembro-me de ficar pendurado na árvore,
queimando com a prata envenenando minha pele, e eu finalmente pude
ver Alice. Eles tinham comido seu estômago, os olhos e o rosto dela, todas
as partes suaves e colocaram o resto no ramo para nos apanhar.
Oh, Deus. — Quantos anos você tinha?
— Doze. Meu pai foi o próximo. Ele me rastreou pelo cheiro e ele
entrou na clareira rugindo.
Os loups eram mais fortes e mais rápidos do que as pessoas do código.
Oito contra um, mesmo Curran não teria chance.
— Meu pai matou três, —ele disse. — Eu assisti o resto despedaçá-lo.
Aprendi então que não podia sobreviver por conta própria. Você precisa
de números. Depois que comeram, eles foram atrás da minha mãe. O fio
no qual eu estava pendurado cortou o galho e eu caí. Pelo tempo que fiquei
livre, ela parou de gritar.
Eu me movi mais perto para ele. — E então?
— Eu corri. Eles me perseguiram, mas eu conhecia as montanhas e
eles não. Eu os despistei. Eles montaram acampamento em nossa casa. Por
388
cerca de quatro meses eu vivi na minha própria floresta, tentando ficar

mais forte, enquanto eles tentavam me pegar. Subia o penhasco para vigiar
o acampamento, esperando uma oportunidade para pegá-los um por um.
Página
Nunca consegui. Eles estavam sempre juntos.

— No outono, Mahon me encontrou. Seu primo fazia dinheiro
guiando grupos de caça nas montanhas. O loups encontraram um. Não

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Livro 4
deixou ninguém vivo. Mahon levou para o lado pessoal e trouxe vinte
metamorfos com ele, a maioria da família, alguns de outros clãs, que lhe
devia um favor. Eu os vi pentear o bosque durante quatro dias antes de eu
deixar que me vissem. Mahon, me ofereceu um acordo. Se ele me desse
uma chance com os loups, eu viria com ele fora da floresta. Eu concordei.
— Você conseguiu sua chance? —perguntei.
Ele assentiu. — Eu tive um deles. Mordi seu pescoço pela metade. Foi
minha primeira morte de batalha.
A minha foi aos dez. Voron tinha pagado um morador de rua com mil
dólares para me matar. Eu o matei em vez disso, fiquei doente depois e
então ele trouxe o segundo cara.
Os olhos do Curran olharam para longe. — As pessoas pensam que
construí o Bando, porque eu sou o cara que tem o bem-estar de todos os
metamorfos em mente. Eles estão errados. Tudo o que construí, eu fiz para
quando acasalar e ter filhos, ninguém poder encostar em minha família.
— É por isso que você estabilizou os clãs. Sem lutas.
Ele assentiu. — É por isso que eu construí a maldita fortaleza. Eu luto
por eles, eu lido com a política mesquinha, eu os faço jogar bonito com a
Ordem, o PAD e todos os outros idiotas com um distintivo. Faço tudo para
que meus filhos não tenham que ver o cadáver de sua irmã meio comida.
Meu coração apertou-se em uma pequena bola dolorosa. — E eu que
pensei que você estava apenas fingindo ser louco.
389
Curran abanou a cabeça. — Não, eu sou a coisa real. Paranoico,

violento, não feliz, a menos que as coisas estão indo como quero. Agora
estou de volta para aquela maldita árvore assistindo loups se alimentarem
Página
do meu pai. Prometi a mim mesmo que nunca sentiria isso novamente,
mas ele está lá, bem ali mesmo. Construí tudo isso para te proteger. Eu
preciso saber se isso é o que você quer. Preciso saber se você vai ficar.

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Livro 4
Sentei-me mais reta. — Há alguns papéis no bolso da minha calça

jeans.
Ele chegou para o jeans e tirou várias páginas rasgadas de um livro,
dobradas em um pequeno quadrado. Tinha arrancado de um livro
arruinado depois que Erra destruiu minha casa.
Curran desenrolou as páginas.
A primeira imagem mostrava um homem alto com um manto
marchando pela estrada para a cidade. Gavinhas de fumaça, feitas com
traços de tinta curto, se estendiam do homem para fora, como um miasma
podre. Diante dele, os animais galopavam pelos campos, gado, ovelhas,
bois, cavalos, cachorros, todos capturados em uma debandada
aterrorizada. A legenda abaixo dizia: Erra, o Pestiário.
Curran olhou por um longo tempo, manchas molhadas se espalhando
por todo o papel de seus dedos e deixou cair no chão do banheiro.
Na outra página a mesma figura camuflada, andando pela rua
enquanto pessoas caiam diante dele, o rosto desfigurado por furúnculos.
Ele descartou essa também.
A mesma figura com outros sete agachados na névoa diante dele.
A quarta página, Erra novamente, retratada como um homem, rindo,
seus braços abertos, enquanto um templo queimava atrás dele.
— Erra, —disse. — Desenhada como um homem, mas realmente uma
mulher. Mais de seis mil anos. Irmã mais velha de Roland.
390
Curran estava olhando para mim.

Eu engoli. Quebrar vinte e cinco anos de condicionamento foi muito
Página
mais difícil do que eu pensava.

Eu apontei para a página. — O que você vê?
— Um inimigo.

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Obrigado por tornar isso muito mais difícil, Sua Majestade.

Eu tinha que dizer. Ele colocou as cartas na mesa e ele tinha o direito
de saber no que estava se metendo. Você não pode sentir felicidade baseada
numa mentira. O mundo não funciona assim.
Eu relaxei meus dentes. — Eu vejo minha tia.
Demorou um pouco para ele. Compreensão inflamou-se em seus
olhos cinzentos. Sim, ele conseguiu.
— Ela não vai parar até que eu ou ela estejamos mortas, —disse. —
Não há nenhum lugar que eu possa me esconder, e mesmo que houvesse,
não vou fugir. Você viu o que ela faz. Se eu não lutar, ela vai atrás de todos
que já conheci. Ela é minha família e minha responsabilidade. É até a
morte agora.
Minha garganta estava seca, minha língua se transformou em uma
folha seca em minha boca.
— Se eu perder, eu morro. Se eu ganhar, Roland vai querer saber quem
derrubou sua irmã. De qualquer forma, eu estou ferrada. Há consequências
para estar comigo. Essa é uma delas. Pela minha presença, eu vou pôr em
perigo você e o seu povo. Eu sei que disse coisas antes sobre o desejo de
afeto e uma família, mas a verdade é que estou sozinha por uma razão.
Uma vez que estivermos juntos, você e todo mundo que conhece se tornam
um alvo.
Não podia ler o seu rosto. Eu queria saber o que ele estava pensando.
— Eu nunca irei me sentar recatadamente ao seu lado. Eu vou te dizer
391
exatamente o que penso e você nem sempre irá gostar. Eu não vou ser sua
princesa encolhida e segura na torre que você construiu. Esta não sou eu.
Página
E mesmo se fosse, nenhum exército neste mundo poderia me fazer segura.

Se eu optar por ter filhos, eles nunca podem estar seguros. Esse é o tipo de
companheira que eu seria.

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Ele não disse nada. Eu estava divagando. Isto era importante, e eu

estava enviando tudo para o inferno.
Meus dedos tinham esfriado. Toda esta água quente e eu estava
congelando. Minha voz saiu lisa. — Estar sem você me faz muito infeliz.
Não tenho suficiente força de vontade para ir embora. Já tentei. Então, se
você quiser terminar, precisa usar o que quer que seja que fez você o Senhor
das Feras e sair. Não me diga o que você acha que eu quero ouvir, a menos
que realmente queira dizer isso. Sem ressentimentos. Caminhe fora desta
banheira, encontre Derek, me coloque em uma sala separada, e eu nunca
vou falar nisso de novo.
Olhei para Curran. Ele ainda usava o rosto do Senhor das Feras: plano
e quase tão expressivo como uma estátua de pedra. Eu estava a um fio de
lhe bater na mandíbula para ver alguma emoção. Qualquer reação serviria
neste momento.
— Mais alguma coisa? —ele perguntou.
— Não.
Curran deu de ombros e me puxou de volta para ele. — Você não
escolhe a família que você nasce. Você escolhe o que fazer. Já escolhi
minha companheira e colei a sua bunda na cadeira para certificar-me de
que ela sabia disso.
Ele não se importava. O estúpido, idiota estúpido.
— Essa coisa de colagem não vai me manter presa, —eu disse.
392
— Talvez eu vou acorrentá-la na próxima vez.

— Isso é humor de leão?
Página
— Algo como isso.

Eu o beijei. Ele tinha gosto de Curran e fiquei absurdamente feliz.
Tudo deu um passo para trás: Erra, os mortos, a culpa, o medo, a dor. Eu

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Livro 4
enfiei tudo de lado. Se um de nós morresse amanhã, pelo menos teríamos

essas poucas horas. Nós faríamos o melhor delas, e nenhuma força na
terra, nem mesmo minha tia cadela, iria interferir.
Passei minha mão pelo seu cabelo loiro. — Você é um tolo, sua
Peludeza.
Pequenas faíscas de ouro queimavam em suas íris. — Você está no
meu quarto, nua na minha banheira e ainda está falando.
Ele esperava algo diferente? — Ei, eu não te chutei ou dei um soco na
garganta. Eu considero isso um progresso. E você ainda não me
estrangulou novamente, o que é algum tipo de recorde para você ...
Ele me agarrou com um rosnado. — É isso aí. Você pediu por isso.
— Muito assustador. Estou tremendo no meu ...
Ele fechou sua boca na minha e decidi que era um bom incentivo para
me calar.
CAPÍTULO 25
ACORDEI QUANDO CURRAN SAIU DA CAMA. ELE O FEZ EM

393
COMPLETO SILÊNCIO, como um fantasma, o que era impressionante,

considerando que a cama era de um metro e meio de altura.
Página
Ele caminhou fora do quarto. Uma porta se abriu com um suave

sussurro. Uma voz quase inaudível murmurou algo. Eu não consegui
identificar as palavras, mas reconheci a rispidez—Derek.

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Livro 4
Um momento depois a porta foi fechada. Curran entrou no quarto e

parou quando me viu olhando para ele.
Ele parecia ... em casa. Seus cabelos caíam em um ângulo estranho,
provavelmente porque fomos da banheira direto para a cama. Seu rosto
estava pacífico. Nunca o vi tão relaxado. Era como se alguém tivesse tirado
um peso enorme daqueles ombros musculosos.
E despejou tudo isso sobre mim.
— Que horas são? —perguntei.
— Um pouco depois das cinco. —Ele fez uma pausa e pulou na cama.
Esfreguei meu rosto. Lembrei-me vagamente de sair da banheira
envolta em uma toalha criminalmente macia e o deixei me convencer de
que precisávamos deitar e descansar por meia hora. Dormimos por umas
sólidas dez horas pelo menos.
— Eu queria ir conversar com a velha e chamar Andrea. Em vez disso,
desmaiei aqui com você.
— Valeu a pena.
Valeu totalmente a pena.
— Sem mais banheiras para mim. —Eu pulei da cama e puxei um
moletom do Bando. — Elas me fazem perder todo o sentido.
Curran deitou na cama com um sorriso satisfeito.
— Quer saber um segredo?
394
— Claro.
— Não é a banheira, baby.
Página
Bem, não somos presunçosos. Peguei o canto do colchão mais baixo

e fiz um show de olhar debaixo disso.
— O que você está procurando?

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Livro 4
— Uma ervilha, Sua Majestade.

— O que?
— Você me ouviu.
Eu pulei para trás quando ele deu o bote e seus dedos me perderam
por uma polegada. — Ficando lento na sua velhice.
— Pensei que você gostasse de lento.
Um flashback de ontem à noite me assaltou e minha mente executou
uma parada completa.
Ele riu. — Ficou sem respostas mal-humoradas?
— Silêncio. Estou tentando pensar em uma.
Enquanto nos mantínhamos discutindo, eu poderia fingir que
sobreviver hoje seria uma brisa.
Curran deslizou fora da cama, presenteando-me com uma visão do
melhor peito do mundo de perto.
— Enquanto você está pensando, Raphael e Andrea estão esperando
por nós lá embaixo. Nash não se importa, mas se eu ficar com o herdeiro
do clã Bouda esperando por muito tempo terei que alisar suas plumas, e
não quero isso.
— Plumas?
— Sim. —Curran tirou uma camiseta branca da gaveta. — O pavão
precioso de Tia B. Exibindo-se ao redor e se certificando de que todas as
395
mulheres desmaiem no seu velório.

Eu arqueei a sobrancelha para ele.
Página
— Ele não é um cara mau. —Curran encolheu os ombros. — Mimado,

arrogante. Bom em uma luta, mas pensa com o pau dele. Quando as coisas

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Livro 4
não saem do seu jeito, ele joga uma birra. Andrea é perfeita para ele—ao
contrário de sua mãe—ela não compra nenhuma de suas besteiras.
— Então, se eu convidá-lo para chá e bolinhos ...?
— Enquanto estiver em público, não seria um problema. Não espere
que eu apareça. Eu vou estar indisposto. Se você convidá-lo para nosso
quarto, eu vou arrancar sua cabeça.
— É porque você estaria com ciúmes ou porque seria uma quebra de
protocolo do Bando?
— Ambos. —Os músculos ao longo da mandíbula de Curran se
apertaram. — Ele te entregou um leque de papel assim você poderia se
abanar enquanto o via. Se ele pisar um fio de cabelo fora da linha, não
viverá para se arrepender e ele sabe disso.
Eu deslizei a bainha de couro de Matadora nas minhas costas. —
Agora é provavelmente um bom momento para mencionar que fiz um
acordo com sua mãe.
Curran parou. — Que tipo de acordo e quando?
Eu contei para ele enquanto colocava minhas botas.
Curran fez uma careta. — Típico. Ela escolheu um momento quando
você estava no seu mais fraco.
Dei de ombros. — É um bom negócio para mim.
— É. Mas então ela tentou alimentá-la. É meu privilégio. —Curran
segurou a porta aberta. — Tia B sempre irá empurrá-la para ver até onde
396
ela pode fazer você dobrar. Não vou interferir com a forma como você lida
com ela, mas se fosse comigo, eu ligaria para uma reunião quando isto
Página
acabar. Em algum lugar público onde as duas estariam em exposição. A

faça esperar. Meia hora deve servir.
— Você está realmente segurando a porta para mim?

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— Acostume-se, —ele resmungou.

Eu mordi meu lábio para não rir, atravessei a porta, e eu e o Sr.
Romance descemos as escadas para a sala de conferência.
RAPHAEL SE APOIAVA NA PAREDE, LANÇANDO UMA FACA. Andrea

inclinou-se contra a mesa. Seu rosto estava sombrio. Raphael assentiu com
a cabeça quando Curran e eu entramos pela porta.
— Meu senhor. Senhora.
Andrea piscou, seus olhos se arregalaram. — Kate? O que você está
fazendo aqui?
— Ela é sua companheira. Onde mais ela estaria? —A voz de Raphael
gotejou amargura. Algo aconteceu entre eles e não foi bom.
— Não é o mesmo para ela, —Andrea disse sem se virar.
— Não, não é. Ela realmente veio quando o nosso povo estava
morrendo.
— Ela tinha uma escolha. Eu não tive.
Os olhos de Raphael brilharam com vermelho. — Ela tinha as mesmas
opções exatas que você tinha.
397
— Basta, —disse Curran.

Raphael se virou, girando sua faca e retomou o seu ritmo.
Página
Curran olhou para mim. — Você desistiu da Ordem.

— Ted deu as opções entre ajudar o telefonema de SOS de Brenna e
manter meu ID no meu pescoço.

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Livro 4
— Então você escolheu os metamorfos sobre os cavaleiros, —Raphael

colocou.
Andrea atirou-lhe um olhar de pura fúria.
— Não, —eu disse. — Eu escolhi as pessoas em perigo por uma ordem
direta para ignorá-los. —Agora as coisas estavam claras. Fui ajudar os
metamorfos e Andrea não e agora Raphael queria arrancar a cabeça dela.
— Eu tenho seu cachorro, —disse Andrea.
Obrigada, universo. — Será que ele vomitou em qualquer lugar?
— Ele comeu o meu tapete do banheiro, mas fora isso ele está bem.
— Eu te devo um tapete, então. —Ela assentiu.
Eu me empoleirei em cima da mesa. — Qual é o plano da Ordem para
lidar com Erra?
Andrea fez uma careta. — Ted trouxe alguns cavaleiros femininos de
Raleigh e eles estão armando uma armadilha para ela no buraco Molen.
Tamara Wilson está aqui. Mestre de armas, lâminas. Ela é suposto ser fora
deste mundo e imune ao fogo. Ted está indo junto com seu plano para
desafiar Erra diretamente. Ele já colocou o nome dela em uma bandeira e
estão voando por cima do buraco Molen.
O buraco Molen costumava ser da Molen Enterprises até que
explodiu. A torre de vidro delgada já pertenceu à Molen Corporation,
propriedade de uma das famílias mais ricas em Atlanta. Rumores diziam
que os Molens tinham apanhado um ovo de Fênix. O plano era chocar o
398
ovo, então a Fênix jovem teria uma marca com eles, dando-lhes uma
superarma. A fênix chocou, mas em vez de ‘Mamãe!’ foi um ‘boom’.
Derrubou a torre Molen e os três quarteirões em torno dele. Fênix não
Página
ficavam uma vez que elas nascem. Elas se levantavam, como foguetes
antigos, direto para o céu.

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Livro 4
Eventualmente a poeira baixou, revelando uma cratera perfeitamente

redonda. Cerca de centro e quarenta metros de diâmetro, ele tinha quase
vinte metros de profundidade e cheio de aço e vidro derretido. Quando a
cratera esfriou duas semanas depois, uma camada de vidro com trinta
centímetros de espessura banhava sua parte inferior. Cidadãos
empreendedores cavaram na parede térrea da cratera, transformando-o em
um anfiteatro improvisado. Todos os tipos de eventos legais e ilegais
ocorriam no buraco Molen, de competições de skate e hóquei de rua, a luta
de cães.
— O buraco Molen está no centro da cidade. —Eu fiz uma careta.
— Quinze minutos do Casino da Nação, vinte do Oráculo das bruxas
no Parque Centenário, vinte e cinco da Autoridade de Água e Esgoto, —
disse Andrea.
— Quão ruim a Ordem foi destruída? —Perguntou Curran.
— Ainda fumegava quando a deixei no final do dia, —Andrea lhe
disse.
— Então Moynohan precisa administrar uma punição severa e muito
pública. —Curran disse. — A Ordem deve salvar sua cara.
— Ele terá uma abundância de espectadores no buraco Molen, —disse
Raphael. — A última vez que estive lá, os edifícios na borda estavam
cheios. Pelo menos três mil pessoas, talvez mais.
Senti uma vontade de bater minha cabeça contra a parede. — Você
estava lá quando eu disse a ele que Erra gosta de multidões em pânico,
399
certo?
— Eu estava lá, —Andrea confirmou. — Eu refresquei sua memória.
Página
Ele me disse para enfiá-lo.

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Livro 4
— E essa é a pessoa para quem você vai se colocar em perigo. —

Raphael balançou a cabeça. — Mas você não vai fazer o mesmo para o
nosso povo.
— Ele é um dos muitos cavaleiros, —disse Andrea. — Ele não é a
Ordem. Suas opiniões estão desatualizadas e não refletem as atitudes da
maioria dos membros da Ordem. Eu não jurei fidelidade a ele. Eu dei
minha lealdade à missão.
— E essa missão é limpar a face deste planeta de mim e você! —
Raphael rosnou.
— A missão é assegurar a sobrevivência da humanidade.
— Sim, e Moynohan não acha que nos ajustamos à descrição.
— Não me importo com o que ele pensa, —rosnou Andrea. — Eu
estou lá porque eu dediquei minha vida a isso. Me dá um propósito. Algo
em que acreditar. Ao contrário de você, eu realmente fiz algo com minha
vida, em vez de desperdiçar meu tempo no cio com qualquer coisa que eu
poderia ficar parado por trinta segundos.
— Muito bom o que você fez—você se senta em sua bunda na Ordem
durante todo o dia, polindo suas armas, e uma vez que você poderia ter
feito a diferença, você escolheu não fazer nada.
Andrea bateu as mãos na mesa. — Eu escolhi obedecer a uma ordem
do meu comandante. Disciplina, procure isso.
— Eles estavam morrendo! Eles chamaram por ajuda e você não fez
400
nada!
— Sim, porque Kate foi para lá.
Página
Escárnio torceu o rosto de Raphael. — Então você a deixa levar a

culpa por você?

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Livro 4
— Eu não sou ela! —Andrea apontou para mim. — Eu não posso

simplesmente arrancar dramaticamente meu ID e ir embora.
Dei uma olhada para Curran no caso dele decidir entrar nisso. Ele
sentou-se perto de mim, seu queixo descansando em seu punho,
observando da maneira que alguém iria assistir um jogo fascinante.
Andrea continuou. — A Ordem estava lá para mim quando não havia
mais nada. Onde estava seu precioso Bando e estes metamorfos lendários
quando eu tinha dezesseis anos com uma mãe doente em minhas mãos e
nenhuma maneira de me alimentar? Onde você estava? Eu não serei uma
vagabunda dos Bouda. Quando dou minha lealdade, é sério.
— Você está dando isso para as pessoas erradas, não vê?
Os olhos de Andrea brilharam. — Se eu sair, Ted ganha. Não vou
deixar que aquele filho da puta me force para fora, você está ouvindo?
— Faça o que quiser. —Raphael sacudiu a cabeça. — Eu terminei.
Oh, garoto.
— Existem apenas duas ruas principais do buraco Molen, então se
Erra colocar pânico na multidão, ela vai leva-los em direção ao Casino ou
em direção à Água e Esgoto, —eu disse. — Erra gosta de ver as pessoas
correrem. A rua principal de Água e Esgoto é escura, mas a rua para o
Casino é bem iluminada.
— O Casino é mais provável, —disse Andrea. — Não só ela pode
apanhar os retardatários, mas as pessoas assustadas naturalmente tendem
a correr em direção à luz. Dá-lhes uma ilusão de segurança.
401
E a luz estará cheia de vampiros. — Erra pode ser relutante em destruir

vampiros, o que pode limitar as baixas.
Página
— A Nação não vai entrar na luta, —disse Curran. — Eles não têm
nada a ganhar.

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Livro 4
— Nataraja pode ou não saber da conexão entre Roland e Erra, mas

Ghastek não sabe, —eu disse. — Ele percebe que algo estranho está
acontecendo e quer um pedaço dele. Ele passou por um discurso retórico
de culpa gigante quando eu não o deixei ter a cabeça de Dilúvio. Ele não
vai saltar para a luta se você ou eu perguntar, mas se um cavaleiro da
Ordem chamá-lo ...
— Ted nunca aprovaria a implantação de vampiro. Ele quer que seja
uma disputa exclusivamente da Ordem. —Andrea cruzou os braços.
— Você está perdendo seu tempo, —disse Raphael. — Ela não vai
fazer nada para ajudá-la. Isso também põe em perigo a carreira dela.
— Você é um idiota, —rosnou Andrea.
Raphael executou um arco perfeito. — O Senhor das Feras requer
minha presença por mais tempo?
— Não, —disse Curran.
Raphael saiu.
Curran me deu uma linda versão de um olhar de ‘Eu avisei’.
Me virei para Andrea. — Se você chamar Ghastek e lhe dizer que Ted
planeja um confronto com o navegador dos Magos mortos-vivos a menos
de três quilômetros do Casino e não quer a Nação envolvida, Ghastek vai
espumar pela boca.
— Obrigada pela dica. —Andrea fez uma careta. — Nunca teria
pensado nisso sozinha, sendo que eu sento minha bunda numa cadeira o
402
dia inteiro polindo minhas armas.

Curran levantou. — O Bando agradece a Ordem pela sua contínua
Página
cooperação e boa vontade. Estamos ansiosos para relacionamentos bem

sucedidos no futuro.
É isso aí, acabou, vá embora agora.

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Livro 4
Andrea se colocou na posição vertical.

— Não terminei, —eu disse calmamente.
Curran me ignorou. — Você e eu temos um acordo, Andrea. Não
abuse dele insultando sua amiga e minha companheira.
Andrea foi embora.
Suspirei. — Você não pode decidir quando eu termino de falar com
minha amiga.
Curran se apoiou na beira da mesa. — A conversa estava indo a lugar
nenhum, ambos estão feridos e nenhum deles estava com vontade de ouvir.
Isso não muda nada. — Eu pensei que isso era um empreendimento
conjunto. Estou errada?
Curran ficou silencioso por um longo instante, obviamente,
escolhendo as palavras certas. — Sim, isso é. Eu sei que vai contra você,
mas, por favor, não me contradiga novamente em público. Você pode
gritar e me chutar em particular, mas em público devemos apresentar uma
frente unida. Sempre. Qualquer coisa que fizermos fora do quarto lá em
cima vai ser escrutinado, e pessoas como Tia B irão explorar cada fissura
para sua vantagem. Quando uma decisão é tomada, preciso saber que você
vai apoiá-la.
Eu bati minhas unhas na mesa. — Mesmo que a decisão foi tomada
sem a minha contribuição?
Ele exalou lentamente. — Eu não estou acostumado a compartilhar.
403
Nunca tive que fazer isso antes. Se você me der um desconto, prometo que
eu vou fazer o mesmo por você. Vou tentar sempre incluir você, mas não
será sempre possível. Você tem que confiar em mim.
Página
— A confiança vale nos dois sentidos.

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Curran inclinou-se mais perto. — Se ela fosse uma das minhas, eu teria
minhas garras na garganta dela. Eu a permiti insultá-la, porque ela é sua
amiga e você não joga pelas mesmas regras. Quero algum crédito por isso.
Essa seria uma batalha difícil. Eu podia ver em seus olhos. — Você
permitiu que ela me insultasse, porque ela é um cavaleiro da Ordem, e
mesmo você não pode matá-los com impunidade.
— Isso também.
— Enquanto você estiver ciente de que eu vou fazer minhas próprias
decisões e que lutaremos se você tentar interferir. Vou fazer um esforço
para sempre incluir você, Vossa Majestade, mas não será sempre possível.
Ouro brilhou em seus olhos e desapareceu.
— Eu mereci essa, —ele disse. — Agora estamos quites. Trégua?
Ele me olhava atentamente. Era importante para ele. O que eu dissesse
faria diferença. Curran estava acostumado à obediência inquestionável e
eu rejeitava toda autoridade. Ele nunca compartilhou o seu poder antes e
eu nunca tive qualquer um. Nós dois tínhamos que ceder e não queríamos.
— Trégua, —eu disse. — Isso vai ser muito difícil para nós.
— Sim. Mas vamos trabalhar nisso, com o tempo suficiente.
Se chegasse a ser demais, sempre havia a academia.
Sentamos em silêncio por um longo minuto. — O que você está
pensando? —Eu perguntei finalmente.
404
— Erra tem três mortos-vivos: Vento, animal e um terceiro.

— Ventania, Besta e Escuridão. E ninguém sabe o que a Escuridão
Página
faz.
Curran assentiu com a cabeça. — Supondo que qualquer armadilha
que a Ordem estabeleça para ela falhar ...

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Livro 4
— O que acontecerá, —eu adicionei.

— ... ela vai perseguir a multidão em direção ao Casino.
— Nós temos que mantê-la longe da multidão. —Eu puxei a Matadora
da bainha e coloquei no meu colo. — Não se pode dizer quantas ela vai
matar, se entrar em pânico.
— Não muitos, —disse Curran. — A maioria das mortes será de
pessoas atropelando uns aos outros.
Obrigada, Vossa Peludeza, isso me faz sentir muito melhor. — Ted
não se importa com a perda de vidas. Ele lida com grandes números: o
bem-estar de muitos supera a vida de poucos. Não consigo fazer isso.
— Eu sei. —Curran recostou-se. — Vamos pegar um esquadrão de
cada clã, apenas lutadores femininos.
Eu levantei minhas sobrancelhas. — Quantos por esquadrão?
— Entre cinco e dez. Podemos posicioná-las ao longo dos telhados.
Você vai esperar na rua perto do Casino. Ela vai te perseguir. Se você
recuar o suficiente, meu ... nosso povo enxergará seus ajudantes mortos-
vivos. Você e eu iremos pressioná-la.
Como um plano, esse era dolorosamente simples, mas algumas coisas
dependiam demais das ações de Erra e ela era imprevisível.
— Faz sentido. —Eu brinquei com a minha espada, correndo minhas
mãos ao longo da lâmina. — Você não deveria ir para essa luta. É um
homem e um metamorfo, isso te deixa duas vezes mais vulnerável a Erra.
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— Eu tenho que ir. Está na descrição do trabalho.

— Não é uma luta que você pode ganhar, Curran.
Página
— Não posso escolher as batalhas que eu sei que vou ganhar.

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Um pequeno sorriso curvou seus lábios. Ele parecia ímpio e quase

juvenil ao mesmo tempo. Algo me espetou abaixo do coração, onde eu
guardava meus medos, e eles surgiram através de mim de uma vez.
Ele era meu. Ele gostava de mim, ele me fez perder todo o sentido, e
não deu a mínima para o meu pai. Ele era o que eu queria, porque ele me
fazia feliz. Eu o queria como nunca quis ninguém na minha vida.
Eu conhecia essa dança—eu tinha passado por alguns passos antes.
Assim que comecei a me preocupar com alguém, a morte iria levá-lo de
mim.
Curran iria morrer.
Não havia nada que pudesse fazer para evitar isso. Ele morreria,
porque isso era o que sempre acontecia.
Minha garganta fechou. — Deixe-me cuidar disso.
— Não. Você não é forte o suficiente por conta própria. Lutou com
ela duas vezes e terminou num empate.
— Quase tive ela.
Curran assentiu com a cabeça. — Eu ouvi sobre isso. E você poderia
ter prendido ela, também.
Minha voz saiu fina. — Esfregue isso, por que não?
Ele sorriu. Não há tempo para isso agora. Talvez mais tarde.
Eu fechei os olhos. Não haveria mais tarde.
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— Você está me imaginando esfregando? —perguntou.

— Estou contando até dez na minha cabeça.
Página
— Isso ajuda?
— Não.

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— Também não me ajuda com você. Eu costumava levantar pesos

para aliviar a frustração, mas alguém derreteu meu banco de peso. Como
você fez, a propósito?
— Eu poderia dizer, mas então eu teria que te matar.
Senti que estava tentando segurar uma pedra gigante que rolou
montanha abaixo. Não importa o que eu fizesse, ela apenas continuaria
rolando, me esmagando com seu peso.
Ele ia morrer.
— Há outro motivo, —disse Curran. — Você é minha companheira.
Eu instalei você nos meus aposentos. Você ainda não é Alfa. Para ser
confirmada como alfa, eu teria que levá-la perante o Conselho e eles vão
lamentar e gemer, e resistir a isso, e nosso tempo é curto. Além disso, a
verdadeira autoridade de um alfa vem uma vez que você provou a si
mesmo. O que leva semanas, meses às vezes e várias mortes. Porque você
é minha companheira, os metamorfos irão tratá-la com cortesia, mas no
campo, quando estão entre a vida e a morte, eles não escutarão você. Sete
esquadrões significam sete fêmeas Alfas. Você viu o quão bem elas se dão.
Era difícil argumentar com ele, porque ele teimosamente insistia em
fazer sentido. — Coloque um dos alfas no comando, então.
As sobrancelhas loiras de Curran levantaram juntas. — E elevar um
clã acima de todos os outros, enquanto mina sua futura autoridade? Eles
nunca deixariam você esquecer.
Segurei seu olhar. — Eu conheço Erra. Eu sei do que ela é capaz. Você
407
não. Pelo menos você me respeita o suficiente para me deixar liderar nisso?
Ele não hesitou. — Sim. Mas ainda vou com você. Eu preciso estar lá.
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A frustração explodiu em mim. — Argh! —Eu me empurrei para meus

pés. — Eu odeio ela por me fazer passar por isso. Quando colocar minhas

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mãos sobre ela, eu vou arrancar suas pernas para fora e a fazer engoli-las,
as botas primeiro.
OS METAMORFOS NÃO ACREDITAVAM EM PRISÕES. As punições

típicas eram morte ou de trabalho. Em raros casos quando condenavam
alguém ao isolamento, eles os exilavam para uma área remota.
A fortaleza tinha várias celas, grandes e vazios quartos equipados com
gaiolas de loup. Uma delas tinha minha "guarda-costas". Curran insistiu
em vir comigo até a porta. De alguma forma, apesar da hora da manhã, os
corredores da fortaleza estavam cheios de metamorfos, que faziam esforço
para não olhar para mim.
— Para pessoas noturnas, vocês são muito ativos durante o dia, —eu
murmurei.
— A curiosidade está os matando. Eles iriam te rodear se pudessem
fugir com isso.
— Isso iria muito mal para todos os envolvidos. Não gosto de
multidões.
Curran ponderou por um momento. — Eu tenho alguns arranjos finais
para fazer e então estou livre. Você teria um bom jantar comigo?
408
— Eu vou cozinhar, —eu disse.

— Tem certeza? Posso ter isso feito.
Página
— Prefiro cozinhar. —Pode ser nosso último jantar.

— Eu vou te ajudar, então.

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Livro 4
Ele parou na porta. — Ela está lá dentro. Você pode encontrar seu
caminho de volta sozinha?
— Eu tenho um estranho senso de direção.
Ele me presenteou com o rosto do Senhor das Feras. — Certo. Eu vou
ter uma bússola, giz, um rolo de corda e provisões para cinco dias trazidos
para você.
Ha-ha. — Se eu tiver problemas, vou chamar a simpática loira que
você designou como minha babá.
Curran olhou para a jovem metamorfo loira que tinha discretamente
os seguido de seus aposentos. — Você foi descoberta. Pode ir esperar na
porta.
Ela saiu e fiquei junto à porta. Curran pegou minha mão e apertou
meus dedos.
Os metamorfos congelaram.
— Mais tarde, —ele disse.
— Mais tarde. —Talvez eu tenha um inferno de muita bagagem, mas
ele não era nenhum prêmio também. Viver com ele significava viver numa
caixa de vidro.
Curran soltou meus dedos, olhou para o corredor e levantou a voz. —
Continuem.
De repente todo mundo tinha um lugar para ir e realmente precisavam
chegar lá.
409
Eu abri a porta e entrei na sala.

Uma grande sala retangular estendia-se diante de mim,
Página
completamente vazia, exceto por uma gaiola de loup, três metros de altura,
com as barras do tamanho do meu pulso. A magia estava para baixo, ou

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as barras brilhariam com prata encantada. Oito suportes de vigas

estendidas da gaiola do teto ao piso, a ancorando-a a própria fortaleza.
A mulher estava sentada dentro da gaiola, na mesma pose de pernas
cruzadas como da última vez que a tinha visto. Sua lança inclinava-se
contra a parede, bem fora do seu alcance.
Aproximei-me da gaiola e sentei de pernas cruzadas no chão. Eu
poderia cobrir o chão do quarto com todas as perguntas que queria
perguntar a ela. A questão de sessenta e quatro mil dólares era, ela
responderia?
A mulher abriu os olhos. Completamente negros e impenetráveis,
como dois pedaços de carvão.
Olhamos uma para a outra. Ela tinha o rosto de uma mulher que
passou muito tempo ao ar livre e riu frequentemente—sua pele marrom
pálida estava batida pelo tempo, pés de galinha espalhavam-se de seus
olhos e sua boca parecia perpetuamente esconder um riso sarcástico, como
se estivesse convencida que ela era a única mentalmente capaz, num
mundo de tolos.
— Ele é muito forte. —Um sotaque estranho matizou sua voz. —
Teimoso e orgulhoso, mas muito forte. Ele é uma boa escolha.
Ela quis dizer Curran, — Qual é o seu nome?
— Naeemah.
— Você realmente se transforma em um crocodilo?
410
Ela inclinou a sua cabeça—um lento aceno de cabeça.

— Crocodilos são de sangue frio.
Página
— Isso é uma verdade.

— A maioria dos metamorfos são mamíferos.

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— Isso é uma verdade também.

— Então, como isso funciona?
Naeemah me deu um largo sorriso sem mostrar nenhum dente. — Eu
não sou a maioria dos metamorfos.
Touché.
— Porque me protegeu?
— Eu já te disse: é meu trabalho. Preste atenção.
— Quem contratou você?
Vermelho brilhou nos olhos de Naeemah e derreteu em suas íris de
antracite55. — Deixe-me sair da gaiola e eu vou te dizer.
Eu levantei minhas sobrancelhas. — Como eu sei que você não vai
apunhalar alguém pelas costas?
Naeemah me deu um olhar condescendente. — Traga a lança.
Eu levantei e peguei a lança. Tinha cerca de um metro e meio de
comprimento, com uma cabeça de metal lisa, com cerca de vinte e três
centímetros de comprimento e perto de oito centímetros de largura na base.
Um cordão de couro firmemente envolvido reforçava o soquete,
vinculando-o ao eixo, a cabeça da lança parecia brotar da madeira.
Levantei a lança nas palmas das minhas mãos, trazendo-a para o nível
dos olhos. Curvada. Quase como se tivesse sido um ramo em algum
momento, em vez de uma estaca de madeira cortada perfeitamente em
linha reta de um pedaço maior de madeira. Mais pesada do que o esperado
411
e muito dura. A textura era estranha também, lisa, polida e pálida, como
troncos. Pequenas marcas pretas salpicavam a madeira, entalhadas nela
Página
com fio aquecido. Pássaros, leões, linhas onduladas, figuras geométricas
55
A antracite ou o antracito, é uma variedade compacta e dura do mineral carvão que possui elevado lustre. Difere do carvão betuminoso
por conter pouco ou nenhum betume, o que faz com que arda com uma chama quase invisível.

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... Hieróglifos, escritos para os lados do eixo. Cada conjunto de caracteres

foi segregado por uma linha horizontal. Pequenos traços verticais corriam
em um pequeno círculo antes do cordão, em alguns lugares apenas alguns,
em outros tantos que eles rodeavam o eixo.
As marcas queimadas terminaram um centímetro da ponta da lança.
Interessante.
— Olhe ali. —Naeemah apontou para o último conjunto de
hieróglifos. O rosto dela tomou um ar sério. Ela parecia antiga e
inacessível, como uma estátua misteriosa de uma era há muito esquecida.
— Esse é meu nome. Ao seu lado é o nome do meu pai. A seguir é o nome
de sua mãe e depois seu irmão mais velho, então seu pai e seu pai antes
dele.
— E esses? —Eu deslizei os meus dedos entre as marcas curtas.
— Esses são os assassinos que tomamos. —Naeemah zombou. — Nós
não matamos para o lucro. Qualquer Chacal pode fazer isso. Nós somos
caçadores de assassinos. É isso que fazemos.
Eu verifiquei o sobrenome. Pelo menos três dezenas de marcas, talvez
mais. — Quantos anos você tem?
— Meus filhos tiveram filhos antes de você nascer. Sem mais
respostas. Decida.
Fui até a porta e enfiei a cabeça para fora. A metamorfo loira esperava
por mim no exato ponto que Curran lhe disse para ficar.
— Tem uma chave para a gaiola de loup?
412
— Sim, companheira. —Ela puxou a chave e me entregou.

Página
— Obrigada. E não me chame de 'companheira', por favor.

— Sim, alfa.
Certo.

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Naeemah riu de sua gaiola. Suspirei e entrei.

Abri a porta e entregou-lhe a lança. — Não é tão engraçado quando
você é o objeto de recebimento.
Naeemah deu dois passos fora da gaiola e se sentou. Eu me juntei a
ela.
— Te deixei sair, e você me deve algumas respostas. Quem contratou
você?
— Hugh d'Ambray.
Me bata com uma pena.
Fazia sentido de uma forma distorcida. Hugh me viu quebrar a
espada. Ele estava ativamente recolhendo informações sobre mim ou
planejando recolhê-la, então colocou um guarda-costas no local para se
certificar de que nada aconteceria comigo enquanto isso. Com a minha
história, ele corria o risco e ficar de pé no tapete de Roland explicando que
havia encontrado sua filha perdida, mas que ela acabou morta antes que
ele pudesse reunir provas suficientes para provar sua identidade. Isso
poderia colar.
Ela pronunciou o nome de Hugh com aversão. Eu me pergunto por
quê. — Qual é sua relação com Hugh?
— Há alguns anos, quando meus filhos eram pequenos, ele matou um
homem que um dos meus filhos protegia e capturou meu filho. Nós
negociamos por sua vida e eu a troquei por um favor a escolha de Hugh.
413
Nenhum amor perdido. Bom para mim, ruim para Hugh. — Onde
Hugh está agora?
Página
O sorriso do Naeemah virou predatório. — Eu não sei. Eu não sou

sua protetora.

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Eu tentei um diferente plano de ataque. — Quais são os termos

precisos do seu acordo com Hugh?
Naeemah riu novamente. — Ele me pediu para manter um olho em
você e mantê-la segura daqueles que são um perigo para você. Eu não
deveria interferir ou me revelar a menos que sua vida estivesse em perigo.
Muito curioso. — Por quanto tempo?
— Ele não especificou.
Tive a impressão de que eu encontrei uma brecha suficientemente
grande para dirigir um carro através dela. — Hugh está excluído daqueles
que são um perigo para mim?
O sorriso do Naeemah cresceu mais amplo. — Ele não especificou.
— Hugh não é tão inteligente quanto pensa que é.
— Isso é uma verdade.
— E se eu dissesse a você que Hugh é a segunda maior ameaça para
mim, atrás apenas de Erra?
— Eu diria que eu já sei disso.
— Como?
Naeemah inclinou-se para frente. Seus olhos negros presos em mim.
— Você não deveria ter conversas perto da janela, quando a parede da sua
casa é tão fácil de subir.
Ela ouviu Andrea e eu falando de Hugh. Provavelmente cada palavra.
414
— O que você fará se Hugh me atacar?

— Vou te proteger. Minha dívida deve ser paga.
Página
Ponto. — E quanto tempo você continuará a me proteger?

— Isso depende de você.

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Ela me pegou nessa.

Naeemah se endireitou. — Eu protegi pessoas de poder e pessoas de
riqueza. Muitas e muitas pessoas. Eu julguei você digna. Não me
decepcione.
Era tudo o que eu precisava. Aparentemente, o universo decidiu que
minha vida seria muito mais rica com uma guarda-costas crocodilo
julgadora nela.
— Vou manter isso em mente. Eu vou lutar contra Erra hoje à noite.
Se você tentar me ‘resgatar’, eu vou matar você.
— Eu vou manter isso em mente.
Eu me levantei e Naeemah levantou-se comigo. Eu tinha que fazer
algo com ela e eu tinha a sensação que fazê-la funcionar com o resto dos
guardas não se passaria tão bem. Ela iria precisar do seu próprio espaço.
— Venha comigo, por favor. Temos de arranjar um quarto para você.
Ela me seguiu. A metamorfo loira deu espaço para ela, como se
Naeemah fosse uma cobra com o capuz se abrindo. Naeemah a ignorou.
Eu voltei para os aposentos de Curran, minhas duas babás a tiracolo.
Jim simplesmente adoraria isso. Se eu não tivesse cuidado, lhe daria um
aneurisma antes de meu primeiro mês aqui.
415
Página

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CAPÍTULO 26
O PÔR-DO-SOL SANGROU NO CÉU, ARDENDO EM SUA AGONIA final.

O crepúsculo invadiu matizando os edifícios enegrecidos, transformando
o manto da neve em índigo56.
Sentei-me no topo do edifício, observando as fogueiras iluminar a
borda do buraco Molen através de binóculos. Curran sentou ao meu lado.
Ele usava a sua forma de guerreiro: uma criatura cinza de dois metros e
trinta de altura preso no cruzamento entre homem e besta.
Depois que a guarda de Curran sofreu uma apoplexia coletiva sobre
Naeemah, consegui instalá-la em seu próprio conjunto de quartos e fui
fazer o nosso jantar. O Senhor das Feras se juntou a mim poucos minutos
depois. Fizemos bife de carne de veado, batatas fritas cheias de queijo e
uma torta de abóbora rápida. Comemos, depois fizemos amor, e dormimos
enrolados juntos em sua cama ridiculamente grande, e então Curran se
transformou em sua forma de guerreiro e passei duas horas desenhando o
poema de Erra na pele de Curran com um pequeno tubo de henna. Quando
eu fiquei cansada, chamei Dali e ela assumiu. A letra dela era melhor. Não
sabia se isso iria lhe oferecer qualquer proteção, mas nesse momento
tentaria qualquer coisa.
Atrás de nós, as metamorfos fêmeas esperavam, posicionadas em
416
esquadrões individuais ao longo da rua que levava ao Casino. As lobas

estavam atrás de nós, as Boudas esperavam do outro lado da rua, em
Página
56
Conhecida como a cor da noite

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seguida as ratas e o Clã Heavy, chacais, gatas, e finalmente a quase três

quarteirões, do Clã Ágil. O esquadrão do Clã Ágil consistia em uma
mulher japonesa mais velha, que aparentemente era a alfa, e quatro
mulheres delgadas que pareciam como se tivessem quinze anos no
máximo. Curran me disse que elas eram raposas. Elas se mantiveram com
uma severa elegância e mordi minha língua e esperei que elas soubessem
o que estavam fazendo.
Em algum lugar na escuridão Naeemah se escondeu. Ela escolheu o
seu próprio ponto e eu não discuti. O cheiro dela deixava os metamorfos
desconfortáveis.
Olhei de volta para o buraco Molen. Uma fogueira queimava no
centro da cratera, ladeada por aglomerados de tambores de metal. Para a
esquerda uma linha de vans da Biohazard esperava. Pessoas lotavam a
borda da cratera, medi-técnicos, PAD, arqueiros. A maioria eram do sexo
masculino. Apesar de meus relatórios, Ted decidiu colocar homens na
cratera, provavelmente porque não pôde levantar muitas lutadoras
femininas a tempo. Eu xinguei quando os vi pela primeira vez. Curran
encolheu os ombros e disse: "Carne de canhão".
Além das fogueiras, uma multidão se reunia nos restos dos edifícios
de escritórios. Sentavam-se sobre os andaimes de madeira improvisados,
na escuridão de janelas quebradas, nos telhados, nas montanhas de
escombros. Quase metade de Atlanta deve ter visto a bandeira e decidiram
assistir a Ordem lutar com o Pestiário. Cada um deles podia morrer essa
noite e não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso.
417
Meus binóculos encontrou Ted em pé próximo a uma mulher grande,

com cabelo vermelho curto. Olhos pálidos. Calças pretas, jaqueta de couro
preta, uma bainha em sua cintura com uma lâmina nela. Uma cabeça de
Página
javali no pomo de sua espada—Arsenal de Sounder. Eles faziam falchions,

espadas únicas e afiadas de comprimento médio, em forma de filhos
bastardos de uma espada longa como uma cimitarra. Espadas de grande

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qualidade, mas caras demais. A julgar pela espada e a roupa, eu estava

olhando para Tamara Wilson.
Ted importou cavaleiros da Ordem de fora da cidade. Ele planejou
isso—ele levaria pelo menos dois dias para puxar o pessoal da Carolina do
Norte. Eu saindo ou não, isso não teria sido minha petição de qualquer
maneira.
A magia rolou em uma onda invisível. Hora do Show.
Tamara começou a descer uma escada cortada ao lado do buraco
Molen. Ela cruzou o chão da cratera para o centro, onde uma enorme
fogueira ardia pelo binóculo. Posicionando-se diante da fogueira, ela
levantou uma longa vara com padrão da Ordem—uma lança e uma espada
cruzados em um escudo. A luz da fogueira sombreando sua armadura
preta. Ela puxou um gorro na própria cabeça, escondendo o seu cabelo.
Uma criatura magra subiu sobre o telhado. Longo, encurvado, coberta
com pedaços de pele cinza, movia-se com rapidez fluida. Os pés e as mãos
eram desproporcionalmente grandes, e as pequenas garras pretas curtas na
ponta de seus dedos. Um focinho cônico fluía de um rosto quase
humanoide, emoldurado por redondas orelhas cor de rosa.
Um were-rato. Furtivo, rápido e mortal. Não faziam bons guerreiros,
mas eram excelentes batedores. E assassinos.
Ela correu para nós e se sentou em seus quadris, braços dobrados no
peito. Seu focinho abriu, exibindo grandes incisivos.
— Os barris estão cheios de napalm. —Sua boca disforme arrastava as
418
palavras, mas elas saíram bem claras. — Eles têm arqueiros escondidos ao
longo da borda, alguns com flechas incendiárias.
Página
Fazia sentido: Erra entra no buraco Molen, vai para o estandarte,

porque é um desafio. Os arqueiros acertam os barris com flechas

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incendiárias. Erra se afoga num mar de napalm ardente. Tamara

magicamente escapa. Bom plano. Tirando a parte que não vai funcionar.
— Todo mundo vai morrer, —eu disse.
Olhos escuros da were-rato se fixaram em mim por um segundo e
cintilaram para Curran. — Além disso, a Nação organizou uma festa
sanguessuga. Eles estão acampados cerca de três quilômetros atrás de nós.
— Bom, —disse Curran.
Andrea os chamou. Nunca duvidei que ela não fizesse.
Um grito agudo irrompeu da escuridão da rua à esquerda. Ele invadiu
a noite, um longo, perfurante grito, repleto de puro terror. Os metamorfos
ficaram tensos.
Um homem emergiu da escuridão. De estatura média, envolvido em
um longo manto que esvoaçava a cada passo, ele andou através da neve e,
enquanto caminhava, flocos de neve levantavam no ar rodopiando em
nuvens brilhantes. Ventania. O morto-vivo de Erra com o poder do ar.
Outro homem apareceu à vista e se agachou na borda do buraco
Molen. Nu, coberto de denso cabelo escuro, ele estava envolto com
músculos grossos como um levantador de peso em um frenesi de esteroides
ao longo da vida. Enorme e peludo. Certo. Aqui vem a Besta.
Erra trouxe pelo menos dois. Não importa o quão forte eram seus
poderes, controlar dois de uma vez deve ser difícil. Era provável que eles
iriam espelhar os movimentos uns dos outros, agindo em grupo.
419
Em seguida, uma terceira figura, um homem nu tão magro, que a pele

se agarrava em seus ossos, delineando suas costelas e peito lamentável. Ele
virou a cabeça, escaneando a cratera, e eu vi seus olhos, amarelo, como
Página
gema de ovo. Escuridão.

Os três mortos-vivos congelaram, imóveis como estátuas. Explorando
em favor de cada gota do drama com sua entrada.

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Um longo momento passou.

Outro.
— Vamos logo com isso, —eu rosnei.
Outro.
Isso estava ficando ridículo.
A névoa se separou. Erra entrou na vista, cabeça e ombros acima de
seus mortos-vivos. A luz da fogueira caiu sobre ela. Uma capa de pele
branca fluía de seus ombros, seus cabelos uma cascata negra manchando a
gola palida.
Um silêncio caiu sobre o buraco Molen.
O olhar de Erra varreu a multidão, os arqueiros, o Biohazard, vans, o
equipamento, o público acima nas ruínas nas proximidades ... Ela levantou
os braços para os lados. A capa escorregou dela.
Tecido vermelho lustroso abraçava o seu corpo. Agarrou-se a ela
como uma segunda pele de puro escarlate. Aparentemente, minha tia tinha
desenvolvido um fetiche por elastano57. Quem diria?
Ventania enfiou sua mão através de seu manto. Seu punho agarrou
um grande machado. A luz laranja das chamas brilhava ao longo da
lâmina de vinte e cinco centímetros, unida a um cabo de um metro. O
machado provavelmente tinha três quilos de peso. Um espadachim normal
seria mais lento do que o melaço, mas com sua força, não importava. Ele
poderia balançá-lo o dia todo e depois lutar com um urso.
420
Ventania virou-se sobre o calcanhar, andou cinco passos para Erra e

ajoelhou-se diante dela, oferecendo o machado nas palmas levantadas de
Página
suas mãos.
57
Elastano, licra, laycra, lycra [láicra] ou Lycra é uma fibra sintética de grande elasticidade conhecido por sua excepcional elasticidade.

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— Nós deveríamos aplaudir ou algo assim, —disse Curran. — Ela está

se esforçando tanto.
— Talvez pudéssemos arrumar algumas calcinhas para jogar. —Eu
ajustei o binóculo para focar em seu rosto.
Erra levantou a cabeça. Poder nadava em seus olhos. Ela parecia
suntuosa, como uma deusa arrogante posicionada acima do abismo. Eu
tinha que dar isso a ela—minha tia sabia como fazer um show. Teria sido
mais dramático se ela tivesse sete mortos-vivos em vez de três, mas ei, pelo
menos ela tinha alguns lacaios para trazer.
Erra pegou o machado. Seus dedos se fecharam no cabo. Ela o
empurrou para o céu. Com um grito rouco, poder pulsou dela como uma
onda de choque, tremendo a base das ruínas. Ele bateu em mim,
incendiando o meu sangue. Curran rosnou. Perto do buraco Molen, as
pessoas se encolheram.
Agulhas irromperam do traje vermelho de Erra. As veias de carmesim
escuro espiralaram por suas pernas. O tecido fluía, engrossava, encaixando
em formas reconhecíveis: braçadeira ajustada, adornos com espinhos, luvas
...
Não era elastano. Merda.
Eu me inclinei para Curran. — Ela está usando uma armadura de
sangue. É impenetrável para as armas normais, garras e dentes.
Os olhos dele escureceram. — Se eu lhe bater muito forte, ela ainda
vai sentir.
421
Assenti. — Minha espada eventualmente amaciará a armadura, mas

levará tempo. Ela não sabe que você está aqui. Se você esperar, poderia ter
Página
uma melhor chance.

Meu monstro pessoal se inclinou mais perto. — Ainda tentando me
manter fora da luta?

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Eu deslizei meus dedos ao longo da bochecha peluda. — Tentando

ganhar. Ela está sem capacete—ela é muito vaidosa.
Antiga ou não, ela ainda era humana e ele um leão. Se ele
cronometrasse certo, poderia quebrar o seu crânio como uma casca de ovo
com um só golpe.
— Uma chance, —ele disse.
— Eu vou mantê-la ocupada. Apenas não morda ela. Dentes
quebrados não são sexy.
Ele sorriu, presenteando-me com a boca cheia de presas do tamanho
de um dedo médio.
Eu rolei meus olhos.
Erra deu um passo à frente. Por um momento ela se elevou acima da
cratera, luz dançando sobre a armadura escarlate, e então ela mergulhou
no buraco Molen. Ventania a seguiu, uma sombra silenciosa deslizando
pelo chão vítreo. Escuridão e Besta ficaram para trás.
Vinte metros para o centro e a fogueira.
Quinze.
Dez.
Tamara desembainhou sua espada. Faíscas de fogo flamejaram na
borda da cratera. Os arqueiros do PAD acenderam suas flechas.
Oito.
422
Os arqueiros dispararam.
Os barris explodiram, perfurando meus tímpanos com um punho de
Página
ar. Um inferno afogou o buraco Molen, emanando calor. Dentro de suas

profundezas, vislumbrei Tamara, incólume, o fogo deslizando ao longo de
seu corpo, mas nunca tocando-a.

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Os espectadores aplaudiram o churrasco humano.

O rugido das chamas ganhou uma nova nota, um assobio de um
cântico intenso. Cresceu mais alto e mais alto. As chamas se
transformaram, torcendo cada vez mais rápido, subindo em espiral, como
um tornado de fogo. O cone de fogo se separou revelando Ventania
flutuando no coração do tornado, seus cabelos esvoaçando de sua cabeça,
seus braços cruzados sobre seu peito. Seu corpo inclinado para trás,
completamente relaxado. Seus olhos estavam fechados.
Tanto para o napalm.
Abaixo dele estava Erra. Um capacete vermelho escondia seu rosto e
cabelo. A armadura de sangue envolvia cada polegada dela. Excelente.
Porque já não era difícil o suficiente antes. Ela teve que ir e colocar um
capacete.
O tornado de fogo deslocou fora do caminho de Erra. O capacete caiu,
revelando o seu rosto. Sua juba de cabelo se espalhou por suas costas.
Ponto. Sem capacete era bom para nós.
Com uma careta, Erra balançou seu machado e avançou.
Tamara a atingiu, sua espada muito rápida. Erra golpeou de lado
como um espeto e girou para um golpe reverso esmagador. O machado
penetrou profundamente no ombro de Tamara, cortando da clavícula até
as costelas.
Tamara gritou, um som desesperado de dor e medo.
423
Curran apertou sua mão desproporcionada sobre meu ombro. — Você

não pode ajudá-la. Vamos esperar.
Erra segurou Tamara pela garganta e a levantou de seus pés. Seu
Página
rugido sufocou os gritos de Tamara. — Isso é tudo que você tem para me
oferecer? Só isso?

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Livro 4
Ela sacudiu Tamara uma vez, como se estivesse jogando água de sua
mão. O barulho do fogo abafando a trituração de ossos, mas a cabeça dela
caiu de lado, solta em um pescoço quebrado.
— Onde você está criança?
Eu balancei para frente.
— Ainda não. —Curran me empurrou para baixo.
— Ela vai matá-los.
— Você entra agora, todos nós morreremos. Nós seguiremos o plano.
No ar, Ventania abriu os olhos.
— Não há escapatória. Eu vou encontrar você, —prometeu Erra.
O cone de fogo desfraldou como uma flor e espirrou contra a borda do
buraco Molen, incendiando os arqueiros. Gritos torturados rasgaram a
noite, seguido pelo fedor nauseante de carne humana queimada. Ventania
virou, e o inferno seguiu, rugindo como um animal faminto. Ele cozinhou
os sobreviventes vivos enquanto fugiam.
Todos ao redor do buraco Molen, pessoas em trajes do PAD e
Biohazard correram sem rumo, suas armas abandonadas. Os espectadores
idiotas ainda rodeavam o edifício. A magia de Erra não os alcançou.
— Aqui vou eu! —Erra trovejou.
Carbonizados, cadáveres fumegantes enchiam o lado oposto da
cratera. Uma voz fina feminina chorava em algum lugar perto, soluçando
424
histericamente, uma nota aguda contra os gritos guturais. À direita,

Escuridão e Besta estavam empoleirados na borda do buraco Molen,
intocados pelas chamas. Eles devem ter circulado enquanto observávamos
Página
o churrasco humano. — Espere, —disse Curran.

Eu cerrei os dentes.

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Livro 4
Uma rajada de ar entrou em erupção do fundo do buraco Molen,

levantando Erra até a borda. Um momento depois seus três mortos-vivos
se juntaram a ela.
— Vá. —Curran me liberou.
Eu corri através do telhado, agarrei a corda anexada a escada de
incêndio e deslizei para a rua.
NEVE RANGIA SOBRE MEUS PÉS, ATRÁS DE MIM O Casino flutuava em

uma nuvem de luz etérea transmitida por poderosas lanternas mágicas.
Eu tinha uma simples missão. Chamar a atenção de Erra. Trazê-la
para rua, longe da multidão, para que os metamorfos conseguissem ficar
às suas costas.
Sim. Moleza. Fácil. Baba.
Eu me preparei. — Moranguinho ligou, ela quer o vestido de volta.
Erra se virou para mim.
Eu acenei para ela. — Ei, Twinkle Toes58.
Uma rajada de ar disparou de Ventania. Eu me abaixei, mas não baixo
o suficiente. Vento bateu em mim. O chão desapareceu, voei alguns metros
425
e bati contra um caminhão estacionado com um baque. Minhas costas

trituraram.
— Não corremos de uma luta e não nos escondemos atrás de homens
Página
inferiores. —Erra começou a vir em minha direção. — Você é jovem e
58
Uma palavra frequentemente associada a uma dançarina graciosa ou feminina, tipo bailarina com um corpo curvilíneo. O indivíduo é
geralmente fofo, amigável e quase sempre excessivamente amigável.

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fraca, mas não tenha medo. Eu vou te ajudar. Não vou deixar você fugir e
envergonhar a família duas vezes.
Rolei para meus pés e balancei minha espada, aquecendo meu pulso.
— Envergonhar a família é o seu trabalho. Nada do que eu fiz poderia se
comparar.
— Você me lisonjeia então.
Ela veio para mim, trazendo seus capangas em uma formação
triangular: Besta do lado esquerdo, Ventania à direita e a Escuridão no
centro. Continue vindo, querida tia. Continue vindo.
— Só estou te dando o que lhe é devido. Todas as guerras que seu
irmão começou você conseguiu estragar. Você tem um registro de falha de
milhares de anos. —Abri os braços. — Como eu poderia competir?
— Antes de morrer, eu vou colocar fogo em você, —ela prometeu. —
Vou queimar você lentamente por horas.
— Promessas, promessas ... —Eu comecei a recuar novamente. Ela
seguiu. Venha comigo, longe das pessoas. Venha comigo, Erra. Vamos dançar.
Escuridão levantou os braços. A magia pulsou dele como uma onda
de choque depois de uma explosão. O mundo ficou branco em uma névoa
de pânico. Eu não conseguia respirar. Meus pensamentos se partiam e
escorriam, deixando-me perdida e desequilibrada. Uma névoa
luminescente flutuava diante mim, como uma nuvem de tempestade
iluminadas por salpicos de raios e, além disso, senti um grande vazio. Nada
além da escuridão vazia e calma.
426
Isso era o que significava a Escuridão. Medo. Um medo que consumia

tudo, esmagador, tão poderoso que rasgava você de sua vida e te jogava no
Página
vazio, sozinho e cego.

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Livro 4
A raiva, cresceu dentro de mim. Eu a segurei como uma muleta e me

puxei para cima, de volta à realidade. Minha visão voltou. Eu me sacudi
como um cachorro molhado.
— Só isso? Eu pensei que seria algo poderoso.
Ela levantou o braço, mostrando a luva segmentada. — Onde está sua
armadura de sangue, filhote? Por que não corta o pulso e faz crescer uma
lâmina? Qual o problema? Você não pode fazer isso, pode? Você não sabe
o segredo de moldar o sangue. Aceite. Tudo o que você faz é falar e correr.
Minha família estava cheia de idiotas poderosos. Eu continuei
andando. Agora, nós estávamos a quatro quarteirões do buraco Molen.
Não sabia qual era o seu alcance. — Não importa o que você faça ou o
quão duro você tente, você nunca irá superar seu irmão. Sempre a dama
de honra, nunca a noiva.
Magia espalhou de Escuridão em correntes translúcidas escuras,
curvando-se e inundando o buraco Molen atrás dele e se estendendo cada
vez mais longe, para os edifícios decrépitos, para as centenas de pessoas
embaladas como sardinhas nas conchas de concreto das ruínas. A
enormidade de seu poder me sacudiu.
— Observe, —gritou Erra.
Escuridão reuniu seus braços. Não, maldita seja, não ...
Um uivo selvagem perfurou a noite. Outra voz se juntou, outra, e
muito mais ...
427
Uma torrente de pessoas explodiu das ruínas por trás de Erra.

Maldita merda.
Página
Pessoas corriam em minha direção, com os olhos loucos, as bocas

abertas, correndo como gado enlouquecido. Me abaixei atrás de um carro.
O tumulto humano trovejou passando por mim. Corpos batiam no metal,

Magic Bleeds
Ilona Andrews
Livro 4
o fazendo estremecer. Gritos encheram o ar e acima dele o riso de Erra

flutuava, como o som de um sino de funeral.
Uma explosão de magia rompeu de Escuridão. A realidade se fraturou
e eu flutuei entre as peças, sem saber quem eu era ou de onde vim.
Pensamentos e palavras giravam ao meu redor, girando e girando, em uma
cascata brilhante. A Escuridão acenava um pouco além do caos. Eu
alcancei a névoa e tirei uma palavra.
— Dair. Libertar.
Magia me mordeu com mandíbulas de agulha. Estremeci, tremendo,
o choque da dor rasgando a névoa.
Um corpo aterrissou perto de mim, desgrenhado com pele. Olhos
loucos me olhavam de um rosto que não era nem besta nem humano. Um
metamorfo feminino. Seu corpo estalou, torceu, empurrou, e um coiote
estava diante de mim. Ela pulou e correu para a rua, galopando atrás do
rebanho de pessoas aterrorizadas.
Ele não os enviou após os mortos-vivos? Ainda não. Nós
concordamos. Me levantei e vi Erra no meio da rua, os mortos-vivos atrás
dela, nenhum metamorfo à vista. O metamorfo solitário deve ter sido
atingido com uma explosão de poder desviada.
Cada centímetro de mim doía da magia gasta muito rápido.
Você é a distração. Levante-se e seja a distração.
Levantei-me e entrei em campo aberto, Matadora desembainhada.
428
Ela começou a vir em minha direção e eu recuei. Meia quadra para ir.
Perto o suficiente do Casino, suficientemente longe do buraco Molen, a
distância perfeita para os metamorfos atacarem.
Página
— Mais uma vez você corre.

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Livro 4
— Não é minha culpa se você anda muito devagar para me pegar. —

De perto a sua armadura se assemelhava a uma armadura de escamas:
escamas vermelhas, algumas grandes, algumas pequenas, sobrepondo-se
sobre sua estrutura. Agora, por que eu não poderia fazer isso? O que estava
faltando?
Eu atravessei a tampa do bueiro. O último dos retardatários correu. A
rua estava vazia exceto por eu e ela e seus três cadáveres.
Ela atacou. O mundo pausou em uma parada brusca. Ouvi-me
respirar, meu peito subindo lentamente, como se estivesse debaixo d'água.
Nos três segundos que ela levou para cobrir a distância entre nós, eu
ouvi a voz de Voron de minhas memórias. Ele disse: "Se ele sangra, você
pode matá-lo."
Ela sangrava—sua armadura era testemunha disso—e eu era melhor.
Erra se chocou contra mim. Eu me inclinei para trás, deixando seu
machado passar por mim, desviei, impulsionei, empurrei e cortei debaixo
do seu braço. Matadora passou direto. Ela rebateu, mas eu dancei para
fora. Ela atacou, eu me abaixei e saltei livre.
— Você não pode vencer, —rosnou Erra.
Atrás dela, sombras escuras enchiam o telhado. Dos cinquenta que
Curran trouxe, apenas metade sobraram. Aqui estava eu esperando que
fosse suficiente.
— Eu não estou tentando ganhar, —eu lhe disse.
429
— O que você está tentando fazer?

Mantê-la ocupada.
Página
Os metamorfos caíram do telhado como fantasmas com garras.

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Livro 4
Um monstro de dois metros e meio bateu na Besta. Eles enfrentaram-

se em uma confusão de pêlo e garras. O rugido profundo primitivo de um
crocodilo enfurecido rolou através da rua.
Lancei um turbilhão de golpes. Minha espada tornou-se um chicote,
cortando, cortando e cortando, esquerda, direita, esquerda. Foco.
Concentre-se em mim, sua maldita. Enquanto eu a mantivesse ocupada,
ela teria dificuldade em coordenar os movimentos dos três mortos-vivos ao
mesmo tempo e me manter à distância.
Por cima do ombro de Erra, Ventania levantou-se para o ar, segurando
Escuridão em seus braços.
Os metamorfos os perderam. Merda.
O machado de Erra se enterrou contra a Matadora. Ela me
impulsionou para trás.
Ventania subiu acima da rua a seis metros no ar, envolvido em um
cone de vento. Magia vil vibrou de Escuridão.
Um coro enfurecido de rosnados e uivos responderam, pontuados por
um misterioso riso de hiena.
Erra continuou me empurrando para trás. Eu me afastei da parede e
dancei para trás, em direção a Ventania. Eu abaixei e me esquivei,
tentando afastá-la, mas ela avançou para mim como um trem de carga.
A minha esquerda, uma enorme mulher lobo se agachou na calçada.
Ela enganchou a tampa do bueiro com os dedos em garras, girou trezentos
430
e sessenta graus e atirou em Ventania. O disco de metal cortou como uma

faca no redemoinho em torno de Ventania e esmagou Escuridão.
Uma voz feminina profunda gritou "Noboru! Sekasu kodomotachi!
Página
Noboru! Noboru!"

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Livro 4
Os metamorfos de peles vermelhas subiram as paredes dos edifícios—

as raposas do Clã Ágil.
Erra me deu uma cotovelada. Voei para trás e rolei em um
agachamento, apenas a tempo de deslizar as pernas por baixo dela. Ela
caiu. Eu golpeei duas vezes no caminho para baixo e me afastei.
Manchas escuras marcavam sua armadura, como golpes de um
chicote—lugares onde Matadora acertou. Nenhum parecia profundo o
suficiente para causar danos. Voron tinha me prometido que a espada
poderia cortar através de uma armadura de sangue, dado o tempo
suficiente, mas até agora Matadora não a perfurou. Se ela estivesse usando
armadura regular, estaria sangrando como um porco. Se desejos fosse
dinheiro, o mundo não teria mendigos.
Ainda assim, algo parecia diferente sobre ela. Alguma coisa ...
Os espinhos na armadura dela desapareceram.
Me afastei. Onde diabos os espinhos foram?
Erra ergueu o machado, seu rosto demoníaco em fúria. Seu peito
subindo e descendo. Meus braços doíam como se estivessem prestes a cair.
Uma lenta dor me agarrava às costas, e quando virei para o lado errado,
algo furou minha lateral esquerda com um prego quente. Provavelmente
uma costela quebrada. Tudo bem. Eu ainda estava em meus pés.
As raposas se lançaram em Ventania do telhado. Elas se agarraram a
ele, mordendo e arranhando. A raposa à esquerda arrancou um braço.
Erra grunhiu. Ventania deixou cair Escuridão, estremeceu e caiu no
431
chão, batendo contra os edifícios enquanto caía, as raposas ainda

agarradas a ele.
Página
Ventania ricocheteou uma vez no pavimento e o resto dos

metamorfos avançaram.
Erra não parecia em pior aspecto.

Magic Bleeds
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Livro 4
Quando sem opções, fale. Eu acenei com a cabeça para Escuridão,

deitado a apenas seis metros de distância. — Oops. Isso doeu? Agora há
apenas um.
— Um será suficiente. —Erra sorriu.
Um pequeno pedaço da armadura dela quebrou de seu ombro e caiu
para o asfalto, se transformando em líquido. Eu o assisti afundar na neve.
Uma pequena raia de vapor escapando e, em seguida, ele desapareceu no
branco.
Uma migalha de sua armadura. Sangue dela. Uma gota do seu sangue.
Atrás de nós, a neve batida por nossos pés marcava nosso rastro—
desenhamos um círculo no meio da rua e, durante todo o tempo, enquanto
batíamos uma na outra, ela estava pingando sangue de sua armadura.
Uma sombra escura apareceu no telhado atrás de Erra. Curran.
— Não! — Eu corri para ela, mas já era tarde demais.
Ele megulhou do telhado. Erra o evitou no último momento, mas a
pata de Curran bateu em seu crânio. O golpe a levou fora de seus pés. Ela
voou, quase batendo em mim.
— CORRA! —Eu investi contra seu corpo de bruços e a esfaqueei com
todas as minhas forças, uma e outra vez. — Corra, Curran!
Erra rugiu. A lâmina da Matadora continuava ricocheteando sem
efeito.
Uma parede de chamas vermelhas surgiu da neve, selando nós quatro
432
dos metamorfos. Ela nos trancou em uma barreira de sangue.

Erra rolou, batendo minhas pernas debaixo de mim. Eu tropecei para
Página
trás e ela pulou para os seus pés. O sangue escorria de sua bochecha e de
sua boca. O lado esquerdo de sua cabeça afundou, amassado pelo golpe de
Curran.

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Livro 4
Eu me atirei para ela e corri diretamente para o seu machado. Me

atingiu no estômago, logo abaixo das minhas costelas. A dor explodiu. Eu
me empurrei livre e ela me chutou, me conduzindo de volta à neve. O
machado golpeou meu lado esquerdo. Eu gritei. Ela me prendeu no chão.
Erra cuspiu sangue e dentes e se balançou, como se fosse lançar uma
bola de beisebol. Espinhos caíram de sua armadura, caindo em uma linha
irregular entre Curran e eu. A barreira de sangue o agarrou assim que ele
investiu e colidiu com ela a toda velocidade.
Ela dividiu a metade do círculo: ela e eu de um lado, Escuridão e Curran
do outro.
— Você quer dormir com um mestiço, —ela rosnou. — Eu vou te
mostrar exatamente o que ele é.
Curran avançou para o morto-vivo.
Uma torrente de explosão de magia saiu de Escuridão, rasgando
Curran. A barreira de sangue nos cortou e eu não senti nada—Curran teve
a dose completa. Ele tropeçou, sacudiu uma vez, como se jogando água
em si mesmo. Seu corpo mudou, crescendo mais esguio, ágil. Pêlos
cresceram ao longo de suas costas.
Era isto, o poder da Escuridão. Isso faria Curran ficar selvagem.
Eu me contorcia sob o machado, tentando me libertar. O Senhor das
Feras deu um passo à frente.
As mãos de Erra arranhou o ar. Escuridão vomitou outra torrente de
433
medo. Curran estremeceu. Suas mãos engrossaram, deixando suas garras

mais longas.
Outra explosão de magia. Ele continuou andando.
Página
Outra explosão.
— Veja. —Erra inclinou-se no machado, esmagando-o em mim.

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Livro 4
Curran estava agachado no meio da rua. Pêlos densos o cobriam,

cintilando em uma juba enorme em suas costas e uma cabeça
desproporcionalmente grande. Nenhum vestígio de um ser humano ou o
leão permaneceu—seu corpo estava sem emendas e completo, uma
mistura aterradora de nenhum dos dois. Os membros longos suportavam
um corpo amplo e musculoso, listrado com cinza escuro. Seus olhos
brilhavam amarelos, tão brilhantes e claros, quase brancos. Olhei para suas
profundezas e não vi nenhum pensamento racional. Nenhuma inteligência
ou compreensão.
Ele levantou a cabeça, abriu suas enormes mandíbulas e rugiu,
agitando a rua, todos os dentes e pele.
Curran tinha enlouquecido.
Eu não iria perdê-lo. Não o perderia nessa rua escura e fria. Isso não
aconteceria.
A besta que costumava ser Curran atacou o morto-vivo. Patas
enormes agarraram Escuridão, puxando-o para cima. Músculos se
esticaram e Curran o destruiu em pedaços, desmembrando o corpo dele
como se fosse uma boneca de pano. Sangue jorrou do corpo encharcando
a neve.
As mãos de Erra se apertaram em seu machado, mas o seu peso me
manteve para baixo.
Curran bateu na barreira de sangue. Magia cresceu. Ele bateu de novo,
o impacto do seu corpo tremendo a parede vermelha e a rua abaixo. Seus
434
olhos brilhavam branco. Os pêlos em seus braços queimavam do contato

com a barreira de sangue de Erra.
De novo.
Página
De novo.
De novo.

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Livro 4
Rachaduras se formaram na barreira de sangue.

Erra o encarava, seu rosto golpeado com choque.
Curran se chocou com a barreira.
A parede vermelha rachou e se desfez. Ele atravessou, rugindo, o pêlo
em chamas e caiu na neve. A magia rasgou-me, como um tufão selvagem
na fúria. Eu gritei e Erra me ecoou, se curvando de dor por cima de mim,
seu cabelo caindo como uma cortina escura.
Peguei seu cabelo e a puxei com todas as minhas forças diretamente
para minha espada.
Matadora deslizou em seu olho. Eu senti isso perfurar o osso e dirigi-
lo todo o caminho. Erra vomitou sangue. Ele me encharcou como fogo,
minha magia se misturando com o sangue vital de minha tia vazando do
seu corpo. Senti a magia nele, como senti na gaiola dourada dos rakshasas.
Eu passei nosso sangue misturado em seu rosto, forcei, e vi uma
floresta de agulhas explodirem através de sua pele.
Ela gritou e caiu sobre o machado, e eu gritei quando ele rasgou
minhas entranhas. As agulhas se desintegraram e derreteram em sua pele.
— Você não vai me derrubar, —Erra disse entre dentes. — Você não
vai ...
Suas pernas falharam e ela caiu de joelhos.
— Está acabando, —sussurrei para ela com lábios sangrentos.
435
O desespero alagou em seu rosto quebrado. Ela agarrou a lança,

tentando puxar-se na posição vertical. Nosso sangue pintava a neve em um
vermelho brilhante e rico.
Página
— Morra, —eu disse para ela.

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Livro 4
Ela caiu de quatro ao meu lado. Seu único olho me encarando. —

Viva ... longamente, criança, —ela sussurrou. — Viva o tempo suficiente
para ver as pessoas que você ama morrer. Sofra ... como eu.
Suas palavras prenderam em mim como uma maldição. Ela desmaiou
na neve. Seu peito subiu pela última vez. Uma única respiração escapou
com um sussurro suave e a vida se desvaneceu de seus olhos.
Eu olhei para ela e me vi, morta na neve.
A ruína fumegante que era Curran levantou sua cabeça
ensanguentada.
— Curran, —eu sussurrei. — Olhe para mim.
As queimaduras que manchavam seu rosto monstruoso derreteram.
Pêlo brotou, correndo ao longo de sua face, escondendo as feridas. Seus
olhos ainda estavam branco puro.
Ele caminhou até mim, segurou o machado e o arrancou de mim
como um palito de dente. Mãos com garras me pegaram.
— Fale comigo. —Eu olhei em seus olhos e não vi nada. — Fale
comigo, Curran.
Um rosnado baixo reverberou de sua garganta.
Não. Não, não, não.
Formas estranhas passaram pela barreira—os primeiros batedores
vampíricos. Eles observaram a batalha até descobrir o vencedor. Curran
viu os vampiros. Um som horrível rasgou de sua boca, a meio caminho
436
entre um rugido e um grito. Ele se lançou para a barreira. Um segundo

antes de chegarmos às chamas escarlates, coloquei minha mão sangrenta
Página
no feitiço defensivo de Erra. Magia me acertou. O vermelho entrou em

colapso, e tudo ficou preto.

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Livro 4
CAPÍTULO 27
TUDO DOÍA.
— Não se mexa! —Urgência encheu a voz tranquila de Jim.
Eu estava absolutamente imóvel, olhos fechados. A magia estava para
baixo. O ar cheirava a sangue.
Algo soprou pelo meu rosto. Abri meus olhos apenas o suficiente para
vislumbrar um pé com garras saindo do meu campo de visão.
— Você está no chão, —disse Jim. — Eu estou na porta diretamente
à sua frente. Quando eu disser, corra para mim.
Meus olhos se abriram.
Jim estava agachado na soleira da porta, Doolittle ao seu lado. Derek
estava à esquerda, seu rosto branco. Além deles, vi Mahon parecendo
como uma montanha.
Os olhos de Jim brilharam com verde.
— Ela não entende, —murmurou Doolittle.
Jim deu um passo para a frente. — Você está na fortaleza. Curran
trouxe você para cá há três horas. Ele está andando de um lado para o
437
outro ao seu redor. Ele ataca qualquer pessoa que tente entrar. Ele não está
falando. Ele não me reconhece ou a qualquer outro. —Ele fez uma pausa,
esperando eu entender. — Kate, ele pode ter ido loup. Você deve sair
Página
daqui, antes que ele te mate. Se você correr, vou fechar a porta assim que
você sair. Nós temos pessoas suficientes para segurá-lo.
Três horas. Ele não falou em três horas.

Magic Bleeds
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Livro 4
Me sentei. Uma mancha de sangue escura corria para o chão debaixo

de mim. Devo estar sangrando. Me virei e vi um pêlo cinza voltado para a
parede mais distante e acima dele uma juba enrolada e manchada de
sangue. Curran.
— Kate! —Jim assobiou.
A besta que costumava ser Curran se virou. Olhos brancos olhavam
para mim. Eu me levantei.
Ele saltou pela sala, cobrindo a distância entre nós em um único salto.
Suas mãos apertaram minhas costelas. Ele me empurrou até sua boca cheia
de dentes.
— Ei, baby, —eu disse em sua boca, expirando para deixá-lo inalar
meu perfume.
Olhos brancos olharam para mim. Um rosnado profundo rolou dele.
— Muito assustador, —lhe disse suavemente. — Estou terrivelmente
impressionada.
Ele rosnou. Dentes estalaram a um fio de cabelo da minha garganta.
— Curran, —eu sussurrei. — Lembre-se de mim.
Ele inalou meu cheiro. Suas orelhas se contraíram. Ele estava
ouvindo os metamorfos na porta.
— Feche a porta, Jim.
Jim hesitou.
438
— Eu sou sua companheira. Feche a porta.

Um momento depois, a porta fechou.
Página
Coloquei meus braços ao redor de seu pescoço. — Você é meu. Você

não pode deixá-la vencer. Ela não pode ter você.
Ele estava escutando, mas não ouvindo.

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Livro 4
— Eu te amo, —disse. — Você disse que sempre viria para mim. Volte
para mim. Por favor, volte para mim.
Eu coloquei minha cabeça contra a juba de Curran.
— Volte para mim. Eu sei que está aí. Você me trouxe aqui. Você não
me matou. Você sabe quem eu sou.
Pele deslizou sob meus dedos. Ele ficou rígido.
— Se você voltar para mim, nunca deixarei você, —eu sussurrei no
ouvido peludo. — Eu vou fazer para você todas as tortas que você
conseguir comer.
Toda a magia que eu tinha, todo o poder do meu sangue, tudo isso era
inútil com a magia para baixo. Ele estava escorregando longe, cada vez
mais longe, a cada segundo que se passava.
— Volte para mim. Por favor. Lembre-se de que você queria me
escutar pedindo por favor. Eu estou dizendo agora. Por favor, volte para
mim.
Nada.
— Quem vai me proteger de mim mesma se você for embora? Quem
vai lutar comigo? Eu estarei aqui sozinha. Você não pode me abandonar,
Curran. Você não pode deixar o Bando órfão. Você simplesmente não
pode.
Ele me apertou a ele. A dor explodiu e eu gritei.
Curran rosnou e agarrou-me mais apertado.
439
Ele não se lembrava de mim. Curran estava perdido. Ela o levou de

mim. Ela o tirou da minha vida com seu último suspiro. O mundo quebrou
Página
em pedaços e caiu sobre mim. Eu nem conseguia respirar.

Magic Bleeds
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Livro 4
Meus olhos começaram a arder. Algo dentro de mim quebrou e eu

chorei. Eu abracei seu pescoço grosso e chorei e chorei, porque ele estava
morrendo segundo a segundo e eu não podia fazer nada.
— Volte para mim. Não me deixe sozinha. Não morra, seu estúpido
filho da puta. Seu maldito idiota. Eu disse para ficar fora da maldita luta!
Por que diabos não me ouve? Eu te odeio. Odeio, está ouvindo? Não ouse
morrer, porque eu preciso te matar com minhas próprias mãos.
A pele deslizou sob minhas mãos e meus dedos seguravam pele
humana. Os olhos cinzentos de Curran me olharam de um rosto humano.
— Fale comigo, baby, —eu sussurrei. — Por favor, fale comigo.
Seus lábios se moveram. Ele lutou por um longo momento e forçou-o
para fora. — Ainda não estou morto.
Seus olhos revirarem em sua cabeça. Ele balançou e nós caímos no
chão.
DOOLITLE LIMPOU A MÃO COM UMA TOALHA. — Ele está em coma. Seu
corpo é humano, mas se sua mente retornará é a questão. No entanto, ele
falou. Nós ouvimos através da porta e foi claro e coerente. Isso nos dá
esperança.
440
— Quando ele acordará?

Doolittle me olhou, seus olhos perturbados. — Eu não sei.
Página
— Você pode fazer alguma coisa? Não pode consertá-lo?

Ele balançou a cabeça novamente e se afastou de mim. — Estou sem
curas. Cabe a seu corpo e o tempo agora.

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Livro 4
Jim atravessou meu campo de visão. — Você precisa deixá-lo te

consertar.
Olhei para ele.
— Deixe o médico te curar, —disse Jim, como se eu fosse uma criança
pequena.
— Você está ferida. Não é bom para você ficar ferida.
Eu queria que eles me deixam em paz. — Desde quando você se
transformou em minha babá?
Jim se agachou perto de mim. — Até agora a fortaleza inteira sabe que
o Senhor das Feras está em coma. Eles estão com medo e com raiva e
querem sangue. O que eles precisam agora é da companheira do Senhor
das Feras firme em seus próprios dois pés. Você precisa estar em cima e
funcionando, para que eu possa acompanhá-la através da fortaleza para
evitar que as pessoas entrem em pânico.
— Eu não vou a lugar nenhum enquanto ele está assim.
Jim balançou a cabeça. — Você vai se levantar e pegar direto de onde
ele parou. Esse é seu trabalho agora.
— Deixe-me em paz, ou eu vou te machucar, —eu rosnei para ele.
— Isso é muito legal, —disse Jim. — Mas primeiro vamos precisar
consertá-la.
Doolittle colocou os dedos em minha calça jeans, um par de
centímetros acima do joelho. — Corte daqui até o tornozelo.
441
Jim passou a faca, cortando meu jeans ao longo de minha perna

direita. Doolittle apontou para baixo. — Olhe aqui.
Página
Meu joelho tinha desenvolvido um grande inchaço no lado esquerdo.

O músculo em torno dele tinha inchado, desfigurando a perna.

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Livro 4
— Você sabe o que é isso, —disse Doolittle.

— Rótula deslocada.
— Boa garota. Você tem duas costelas quebradas, hematomas graves,
uma ferida no estômago e pelo menos quatro cortes profundos que posso
ver, e todos estão sujos. Sua ferida selou-se, mas se não cuidarmos agora,
você não estará aqui se ele acordar.
Ele disse ‘se’ não ‘quando’. Se ele acordar.
Doolittle agarrou meu tornozelo. — Segure sob seu joelho.
Jim pegou a parte inferior do meu joelho na mão.
Os olhos de Doolittle encontraram os meus. — Você sabe como
funciona.
Cerrei os braços no apoio da cadeira. — Faça.
Ele torceu a perna. Um fio de dor incandescente disparou através de
mim, arrancando um grito.
Doolittle olhou nos meus olhos. — Isso deve te trazer de volta à terra.
Você está com a gente agora?
Eu apertei meus olhos fechados contra a dor.
— Bom, —disse Doolittle. — Agora vamos ver essas costelas.
442
DEREK BATEU NA PORTA. EU SABIA QUE ERA ELE, porque ele sempre
Página
batia duas vezes.

Fechei o livro que estava lendo em voz alta. — Sim?

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Livro 4
Derek entrou. O garoto prodígio me olhou com um olhar preocupado

no rosto. — Como você está se sentindo?
— Do mesmo jeito.
Passaram-se três dias desde que Curran entrou em coma. Ele não
mostrou nenhum sinal de acordar. Eu o movi para o sofá, porque a cama
era muito alta, e fiz uma cama para mim no chão ao seu lado. Não tinha
deixado seu lado mais do que os poucos minutos que precisava para ir ao
banheiro. O garoto prodígio tinha o diabo de um trabalho para me fazer
comer.
— Julie me ligou, —ele disse. — Ela diz que a escola não vai deixá-la
entrar em contato com você.
— Foi uma precaução contra Erra. Eu não queria que ela descobrisse
que Julie estava viva. Ela está com raiva de mim?
— Ela está magoada, —ele disse. — Eu vou conversar com ela.
Eu poderia dizer que havia mais. — Diga, Derek. O que mais?
— O Conselho do Bando vai se reunir em quatro horas. Eles vão
discutir o que fazer se Curran não acordar.
— E?
— Há uma conversa de expulsá-la dos aposentos de Curran, desde que
você não é oficialmente uma alfa.
Meu riso soou através do quarto, frio e frágil.
443
Derek deu um passo para trás. Seu rosto suavizou, sua voz ganhando
uma qualidade quase suplicante.
— Kate? Deixe o tom assustador para baixo. Por favor.
Página
— Não se preocupe com isso, —eu disse. A magia tinha atingido por
algumas horas ontem e Doolittle passou a maior parte da onda me

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consertando, desde que ele não poderia fazer nada por Curran. Eu não
seria capaz de lutar contra Erra novamente nesse exato momento, mas eu
tinha o suficiente em mim para um bom show.
— Alguma chamada de Andrea?
— Não.
Os metamorfos relataram que Andrea sobreviveu ao incêndio no
buraco Molen, mas ela não fez nenhuma tentativa de contato. Minha
melhor amiga tinha me abandonado e eu sentia a sua falta. Mas então eu
provavelmente não era boa companhia nesse momento. Talvez tenha sido
o melhor.
— Ainda não há notícias de Naeemah? —perguntei.
Ele balançou a cabeça. — Mas há duas pessoas do clã Bouda aqui.
Eles dizem que você tem algum tipo de acordo com a Tia B.
Eu me empurrei da cadeira e lhe entreguei o livro. — Página 238. Leia
para ele enquanto eu falo com eles. Por favor.
Derek lambeu os lábios. — Eu não tenho certeza de que ele possa nos
ouvir.
— Quando eu estava fora depois que os rakshasas quase me mataram,
ouvi vozes. Ouvi Curran, Julie, você, Andrea. Eu não sabia o que estava
sendo dito, mas reconhecia as vozes. Foi assim que eu soube que estava
segura. Eu quero que você leia para ele, então ele saberá que não está
morto, e que não está sozinho.
444
Derek se sentou na minha cadeira e abriu o livro.

Eu atravessei a porta para a sala privada.
Página
Um homem e uma mulher se levantaram quando entrei. O homem

era de altura média e construído como um jovem boxeador peso leve:
ridiculamente tonificado, mas sem massa. Esses caras eram muito rápidos.

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Você achava que poderia o derrubar, e então estaria acordando no chão

agradavelmente frio. O rosto dele era afiado e seus cabelos brilhavam num
tom vermelho. Era uma maravilha que ele não incendiou a sala.
A mulher era negra, seis centímetros mais alta, vinte quilos mais
pesada—tudo isso em músculo—e estava se esforçando muito para não
fazer caretas. Ela falhou miseravelmente. Eles curvaram a cabeça. Ambos
pareciam estar em seus vinte e poucos.
— Tia B manda lembranças, —disse o homem. — Eu sou Barabás.
Esta é Jezebel.
Eu arqueei a sobrancelha para ele. — Nomes ambiciosos.
— Mães Bouda têm grandes esperanças para seus filhos, —Barabás
explicou. — Nossa alfa nos disse que somos seus. Se você nos achar
adequados, vamos atendê-la desse ponto em diante. Se não, ela irá enviar
substitutos.
Sentei-me na cadeira. — O que fez de você um candidato para o dever
de merda, Barabás?
Ele piscou.
— Eu não vejo Tia B deixando passar a oportunidade de matar dois
coelhos com uma cajadada. Então o que você fez para fazê-la querer
expulsá-lo das relações cotidianas de um Bouda?
— Minha mãe é uma Bouda, —disse ele. — Meu pai é do Clã Ágil.
Eu obtive o ágil da loteria genética.
445
Quando dois metamorfos de diferentes clãs se acasalavam, o que

acontecia mais frequentemente com os Boudas, já que havia apenas trinta
ou mais deles, as crianças tinham uma chance igual para a marca de Lyc-
Página
V dos pais. — No que você se transforma?

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— Mangusto59. Há problemas de dominância no clã, —disse ele.

— Ele não vai jogar pelas regras, —disse Jezebel.
Barabás suspirou. — Eu sou gay. Eles me veem como concorrência e
me tratam como tratariam uma fêmea Bouda, o que significa uma
hierarquia rígida. Eu não me encaixo bem e não tenho nenhum desejo de
matar uma carga de meus primos, para que eu possa ser uma fêmea Bouda
adequada.
Eu olhei a Jezebel. — E você?
Jezebel empurrou o queixo para mim. — Eu desafiei minha irmã por
seu lugar no clã.
— Como correu?
— Eu perdi.
Sentei-me mais reta. Duelos de dominância entre metamorfos eram
até a morte. Sempre. — Por que você ainda está respirando?
— Ela me esfaqueou no coração com suas garras. Tive parada
cardíaca e estava clinicamente morta por oito minutos. Quando acordei,
minha irmã não podia me matar pela segunda vez. Isso reflete mal sobre
ela e sobre mim. Eu estou morta, e enquanto eu estiver por perto, sou a
prova de que ela era fraca.
Ótimo. Você realmente tem que admirar a Tia B. Se qualquer um deles
deixasse o clã por conta própria, poderiam tomar como um sinal de
covardia de sua parte. Como era, sua honra estava intacta.
446
— São bons em política do Bando?

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59
Herpestidae é uma família de mamíferos da ordem Carnivora que inclui os mangustos e suricatas, entre outros
animais. O grupo inclui cerca de 40 espécies, a maioria das quais nativas de África.

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Livro 4
— Ele é muito bom, —disse Jezebel. — Eu sou melhor com força, mas
conheço as regras. Eu sei o que as pessoas podem ou não fazer. Eu não sou
estúpida e posso ser útil para você.
Suspirei. — Estão ambos contratados. Eu tenho uma reunião do
Conselho em quatro horas. Eles vão tentar me expulsar. Descubram o que
eu deveria esperar.
Levantei-me e voltei para o Curran. Eu estava dois terços do caminho
através da Princesa Prometida e ele gostaria de saber o que aconteceu depois.
Quando entrei, Derek levantou-se da cadeira. — Sobre Julie ...
— Sim?
Ele se endireitou, seu novo rosto parecia muito apertado em seus
ossos. — Eu menti. Ela não me ligou.
Eu lutei contra o desejo de cair de novo. Agora ele estava mentindo
para mim. — Ela está bem?
— Eu estou bem, —disse uma voz fina do meio da sala.
Eu virei. Julie se sentou no chão com seus pés sob ela. Ela vestia uma
camisa preta e seu rosto parecia muito pálido contra a lã escura, quase
transparente. Grandes olhos escuros olharam para mim.
Ela se levantou. — Eu fugi.
Atravessei o chão e a abracei. Derek saiu do quarto.
— Eu fui para casa, —Julie disse suavemente. — Fiquei preocupada.
447
Não há nada em casa. Todas as nossas coisas se foram. O que aconteceu?

— É uma longa história. —Pelo menos eu a mantive segura.
Página
— Estou em problemas?
— Não, garota. —Eu apertei-a contra mim e beijei seu cabelo loiro.
— Você está viva. Tudo o mais podemos consertar.

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QUATRO HORAS MAIS TARDE, NA SALA PRIVADA DE Curran. Barabás

sentou-se à minha frente. Jezebel empoleirou-se na mesa e Derek se
inclinou contra a porta. Julie se ofereceu para ler para Curran.
— Você não é universalmente amada, —disse Barabás.
Diga-me algo que eu não sei.
— Há sete clãs, —ele continuou. — Dos sete, você pode contar com
o apoio do Clã Gato, e a menos que Tia B fizesse uma reviravolta
completa, os Boudas estão do seu lado também. Os lobos são
fanaticamente leais a Curran. Normalmente eles estariam atrás de você
todo o caminho, mas você matou a irmãzinha de Jennifer.
O corpo retorcido da pequena loba passou diante de mim. — Não
pude evitar.
— Ninguém está contestando a morte, —Barrabás disse. — Foi uma
morte justificável, e com o tempo, Jennifer vai ver isso. Mas agora, ela está
de luto. Ela tem que culpar alguém, porque não pode culpar-se mais do
que ela já faz. Tudo isso coloca Daniel numa posição difícil. Ele não vai se
opor a você. Seria desleal para com Curran. Mas ele não pode apoiá-la
também, porque tem que ser fiel à sua companheira. O melhor plano de
ação em casos como esse é abster-se, e lobos sempre fazem a coisa certa.
448
Então eles não vão te machucar, mas também não vão ajudá-la.
— Isso é três, —eu disse.
Página
Barabás assentiu com a cabeça. — Em seguida, temos o Clã Heavy,

os grandes predadores que não se encaixam em outros Bandos. Javalis,
Bisões, Glutões, até mesmo um Babuíno, mas a maioria deles é ursos e

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ursos odeiam ser surpreendido. Eles gostam do status e Mahon é um urso

típico. Ele provavelmente se oporá a você. Não é nada pessoal. Você
simplesmente não se encaixa em sua imagem do jeito que deveria ser. —
Barabás se inclinou e moldurou uma caixa quadrada imaginária com as
mãos, palmas de frente para a outra. — Aos dezoito anos, pessoas como
eu têm uma escolha: podemos ficar com o clã dos nossos pais ou podemos ir
para o clã da nossa besta. Escolhi ficar com os Boudas. Todos os meus
amigos estavam lá e a minha família, e eu não conhecia ninguém no Clã
Ágil. Mahon se sentou comigo pouco depois e queria saber por quê.
— Ele não tinha o direito de perguntar, —Jezebel rosnou.
— Tivemos uma conversa. —Barabás olhou para ela. — Expliquei os
meus motivos, mas ele não poderia envolver sua cabeça em torno disso.
Para ele, eu era um mangusto e minha casa estava com o Clã Ágil, porque
é assim que deveria ser. Você é uma humana que é companheira do Senhor
das Feras e quem agora nominalmente ocupa o lugar de Alfa do Bando.
Isso não bate no seu cérebro e ele vai cavar seus calcanhares.
— Ele também criou Curran, —disse Jezebel. — Ele é um forte
apoiante do Senhor das Feras, e o Senhor das Feras escolheu você.
Barabás assentiu com a cabeça. — Ela tem razão. Quando Mahon
olha para Curran e você, ele vê bebezinhos, o que para ele significam
dinastia e estabilidade. Se ele achar que há uma chance de Curran
sobreviver, pode decidir não criar caso.
— Então ele poderia ir de qualquer maneira?
449
— Sim, —disse Barabás. — O Clã Ágil está sendo reservado como de

costume, então não encontramos nada. Clã Rato é problemático.
Página
Derek se mexeu. — Você conhece os Lonescos.

Uma luz predadora brilhou nos olhos de Barabás. — Por que, porque
todos os homens gays se conhecem?

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— Você executou patrulhas do lado norte com os ratos durante dois

anos, —disse Derek.
Jezebel bufou para Barabás. — Idiota.
Barabás fez uma careta. — Tudo bem, eu mereci essa. Os ratos são
neofóbicos. Eles odeiam o novo, eles não atacam a menos que saibam que
podem ganhar, e eles não confiam em ninguém. Os Lonescos não te
conhecem. Eles não te ajudarão.
Até agora, isso estava moldando decididamente não a meu favor.
— Seu maior problema são os chacais, —Barabás disse. — Eles são
um casal novo. Eles vieram do Oeste há dois anos, esperaram o tempo
necessário e desafiaram os velhos Alfas. Os derrubaram fora. Eles são
ambiciosos e desagradáveis em uma luta. Eles veem você como um alvo
fácil, e estão se coçando por uma chance de rosnar e mostrar a todos seus
dentes grandes. Eles vão matá-la e não vão pensar duas vezes.
— O Conselho pode me expulsar?
Barabás fez uma careta de novo. — É uma situação delicada.
Tecnicamente, sim. Você está acasalada a Curran, ninguém questiona isso.
Mas você ainda tem que provar a si mesma como um alfa. Até que a
companheira de um alfa prove a si mesma, ela é tratada como um membro
das bases e está sujeita a autoridade do Conselho. Isso quase nunca
acontece. Só conseguimos encontrar um caso nos últimos vinte anos, onde
o alfa do Clã Lobo morreu antes que seu companheiro pudesse provar a si
mesmo.
450
— O que aconteceu?
— O companheiro se retirou.
Página
Eu olhei para eles. — Eu não vou me retirar. Eu não vou deixar

Curran sozinho.

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Derek deixou a sala e depois voltou. — O Conselho estará pronto

para você em dez minutos.
Levantei-me. — Nós vamos agora. Derek, fique aqui e dobre a guarda
enquanto estivermos fora.
Deixamos os aposentos de Curran e descemos as escadas, Barabás à
minha direita e Jezebel à minha esquerda.
— Não provoque os Alfas, —Barabás disse. — Um alfa não pode
desafiar aqueles abaixo dele. O desafio tem de vir de um membro do Bando
inferior ao mais elevado. Como você tecnicamente não têm status, desde
que não os desafie abertamente, se eles atacarem, será uma agressão, e
então poderemos ajudá-la.
— Não pode trazer uma espada ou armas para o desafio, além de uma
faca de quinze centímetros. —Jezebel puxou uma faca de dois gumes
resistente e passou para mim.
— Em todo caso. Se você lutar, lute até a morte. Não os deixe vivos.
O Conselho tinha agendado a reunião enquanto a tecnologia estava
para cima. Tentando me colocar em desvantagem.
Quando viramos em um corredor, ouvi a voz de Doolittle. — ... falou.
As palavras eram claras, não arrastadas. Isso indica um retorno da capacidade
cognitiva ...
— Não há nenhuma garantia que o Senhor das Feras vai acordar, —
interrompeu uma voz masculina. — Certamente nós todos gostaríamos que ele
se erguesse como uma Fênix das cinzas, mas temos que encarar uma dura
451
realidade: ele não vai. Sua companheira não é um metamorfo. Ela não tem lugar
nos aposentos do Senhor das Feras. Quando a mesma situação ocorreu dentro do
Página
Clã Lobo, o companheiro se retirou.

— O Clã Lobo não está pronto para dar uma opinião, —disse a voz de
Daniel.

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— Agora é a hora para a liderança, —saltou o macho desconhecido. —

Ela deve ser expulsa para dar lugar a um novo alfa.
— E quem seria esse, Sontag? —Tia B perguntou. — Seria você?
Chegamos à porta.
— Se você desafiar alguém, não podemos interferir, —murmurou
Barabás. — Lembre-se de não provocá-los.
Eu chutei a porta aberta e entrei. Quatorze pares de olhos viraram para
mim ao redor da mesa. Além dos alfas, catorze outros metamorfos
aguardavam—os betas de cada clã, convidados como cortesia.
Olhei para cada rosto.
— O que diabos você acha que está fazendo? —A voz masculina disse.
Terceiro homem à esquerda. Alto, magro. Sontag.
Eu olhei para ele. — Pronto para colocar suas garras em sua boca, ou
você vai se encolher atrás dos grandes garotos o dia inteiro?
Os olhos dele inflamaram com o amarelo. — É um desafio?
— Sim, é.
Ele estourou da cadeira, virando peludo no meio do voo. Eu o evitei
e cortei com a minha faca em seu pescoço. Sangue jorrou da carótida como
um jato de uma pistola de água, pulverizando a mesa. Ele passou por mim.
Eu o chutei no joelho. Osso triturou. Ele caiu. Peguei seu cabelo, atravessei
seu pescoço e chutei a cabeça. Seu pescoço estremeceu e o crânio de Sontag
452
rolou sobre a mesa.

Sua companheira se atirou para mim. A esfaqueei no coração. Ela
Página
apertou os dentes sobre meu braço direito e eu enfiei os dedos em suas

órbitas. Ela uivou. Eu empurrei a faca e esfaqueei até que ela parou de se
mexer.

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Livro 4
A coisa toda levou cerca de meio minuto. Eternidade em uma luta.

Virei-me para o Conselho. Seus olhos brilhavam. Suas narinas se
alargaram com o cheiro de sangue. Não disseram nada.
Um casal mais velho levantou-se dentre os betas e caminharam até a
mesa. A mulher chutou o corpo morto da alfa feminino fora do caminho e
os dois se sentaram em suas cadeiras manchadas de sangue.
— O Clã Chacal não tem nenhuma objeção à presença da
companheira nos aposentos do Senhor das Feras, —disse o novo alfa dos
chacais.
Um casal japonês mais velho na extremidade se moveu. — O Clã Ágil
não tem nenhuma objeção para a companheira, —disse o homem.
— Lembramo-nos de Myong, —sua companheira disse em uma voz
fortemente acentuada. — Nós não esquecemos.
Olhei para o resto do Conselho e diretamente para Mahon. — Alguns
de vocês me conhecem. Alguns de vocês já me viram lutar, e alguns são
meus amigos. Digam o seu voto. Mas saibam disso: se vocês vierem me
expulsar, venham com força, porque se vocês tentarem separar-me dele, eu
mato cada um de vocês. Minha mão não vai tremer. Meu objetivo não vai
diminuir. Meu rosto será a última coisa que você verá antes de morrer.
Enfiei a faca na mesa e saí.
Cheguei às escadas antes de minha visão nadar e minhas pernas
virarem borracha.
453
Uma mão firme agarrou meu cotovelo. Jezebel me ergueu na posição

vertical, apoiando todo meu peso e continuamos andando.
Página
— Maneira de jogar legal lá, —Barabás empurrou através de seus

dentes. — Cada idiota que quiser fazer um nome para si mesmo vai estar
atrás de você agora. Jezebel, largue ela. Ela vai ser vista. Ela deve andar.

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— Ela está sangrando. Ela vai cair.

— É melhor que ela caia. Ela tem que andar por conta própria.
— Eu tenho isso, —eu rosnei e me fiz subir as escadas. Cada passo
espetava uma faca em meu joelho. Escadas. Quando ele acordasse, o faria
instalar um maldito elevador.
— Apenas quatro lances para chegar, —Jezebel me disse. — É
Doolittle atrás de nós?
Barabás olhou para trás. — Sim.
— Bom.
Um ano depois, Derek fechou a porta atrás de nós e desabei no tapete
do corredor. Momentos mais tarde Doolittle atravessou a porta. — Pegue-
a rapido, rápido.
Jezebel me pegou do chão e correu comigo para o quarto de Curran.
— O que é que aconteceu com ela?
— Seu joelho está quebrado e os tendões em seu braço esquerdo estão
rasgados. Levou horas para fazê-la andar corretamente. E ela reabriu as
feridas. Tola, Kate. Você é uma maldita tola, é o que você é.
Quando me puseram no quarto, a adrenalina tinha apagado e eu
estava gritando. Doolittle espetou a agulha no meu braço, esvaziando uma
seringa cheia de analgésicos em minha veia, eu vi o rosto da Julie. — Está
tudo resolvido, —disse-lhe. — Eu fiz isso. Ele acordou?
454
Ela apenas olhou para mim.

— Ele acordou?
Página
— Não.
Eu fechei os olhos e deixei o medicamento me levar.

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O CONSELHO DECIDIU A MEU FAVOR. OS LOBOS E o Clã Heavy se

abstiveram, os Ratos votaram contra mim, os Gatos, Boudas, Clã Ágil e
Clã Chacal votaram a favor.
Três dias depois Mahon veio me ver. Eu estava sendo enfaixada no
momento—os metamorfos haviam declarado a temporada de caça. Este
foi o quinto ataque desde que eu tinha matado os chacais alfas. Eu ainda
estava ganhando, mas por pouco.
Eu mantive Mahon esperando por cerca de cinco minutos. Quando
finalmente saí de nosso quarto, Mahon parecia como se uma tempestade
tivesse montado em suas sobrancelhas grossas e escuras. Derek estava
impassível e meus dois Boudas estavam obviamente conspirando sem
palavras para assassinar Mahon se ele desse um passo fora da linha.
— Eu quero vê-lo, —disse Mahon.
Eu dei um passo para o lado.
— Você também. Tenho algumas coisas que eu quero dizer aos dois.
Eu o levei para dentro.
Ele olhou para Curran. Eu também olhei. Eu pensava que ele iria
acordar a qualquer minuto, e o observava procurando o menor indício de
455
movimento, até que comecei a ver coisas que não estavam lá.
— Você não se encaixa, —disse Mahon. — Você não é um
metamorfo. Você não nos entende e você provavelmente nunca irá. Isso—
Página
ele estendeu seus braços enormes, indicando o quarto, eu e Curran —

estava contra meu melhor julgamento. Eu disse isso a ele antes. Ele teve
muitas mulheres. Eu pensei que iria passar.

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Livro 4
Eu o observei. Se ele me atacasse aqui, eu perderia. Não conseguia

levar Mahon no meu melhor, e nesse momento era uma luta para
permanecer de pé.
— Como eu disse, isso é imprudente. Mas ele escolheu você. Eu
respeito o homem que ele se tornou—e eu respeito o que ele fez por nós. E
te respeito por ficar de pé por ele. —Mahon encontrou meu olhar. — Você
nunca será minha alfa. Você vai ter que viver com isso. Mas ele sempre
será meu senhor.
Eu me senti como um pretendente do trono em um drama medieval.
Mahon inclinou-se sobre Curran e tocou seu ombro. — Durma bem.
Eu não vou desafiá-la e nem o meu povo. Falaremos mais quando você
acordar.
Ele saiu.
ENTREI NO QUARTO, CARREGANDO UMA XÍCARA DE CHÁ e me

apoiando em minha bengala. Derek levantou-se da cadeira, acenou para
mim e saiu sem dizer uma palavra. Sentei-me na borda do sofá e tomei um
gole do meu chá.
Curran permanecia imóvel, um IV pendurado em seu braço. Ele tinha
perdido peso. Treze quilos, pelo menos. Sua pele estava pálida. Doía olhar
456
para ele.
Eu forcei o medo para o lado. — Eu não tive que matar ninguém hoje.
Página
Lembrei-me, nos primeiros dois dias eles estavam chegando três por dia,
então dois, então um. Hoje ninguém me desafiou. Já é tarde agora, então

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Livro 4
se alguém aparecer, a guarda da fortaleza vai lhes dizer para voltar de

manhã. Talvez eles estejam afrouxando.
Tirei minhas botas fora, estremecendo com a pontada de dor. — Julie
se apropriou de seu quarto de vadia. Fiz-lhes jogar fora os lençóis—quem
sabe que tipo de porcaria está lá—e ela tem um novo conjunto. Preto. Ela
pintou as paredes de preto. As cortinas são de renda preta. Tentei
convencê-la a manter o mobiliário branco, mas eu a vi levar uma lata de
tinta para dentro, então acho que estará preto pela manhã. É como uma
maldita masmorra lá dentro.
Tirei minha camisa e deslizei ao seu lado. Minha voz era suave. —
Essa é a boa notícia. A má notícia é que se passaram onze dias desde que
você dormiu e estou começando a ficar com medo que você não vai
acordar.
Eu segurei a respiração, mas ele não se mexeu.
— Vamos ver ... E o quê mais? Estou cansada de matar. Doolittle diz
que pode haver danos permanentes na minha perna esquerda. Vai curar
eventualmente, mesmo que ele não pense assim, mas enquanto isso dói
como o inferno. Ele quer que eu pare de colocar pressão nela, então ele me
deu está linda bengala. Só posso usar isso aqui para que o resto da fortaleza
não me veja tão fraca.
Eu só queria que ele acordasse. Claro, ele não fez, então continuei a
falar, tentando manter o pânico na baía.
— Ainda não há chamadas de Andrea. Jim está mantendo sua
457
distância, o que eu posso entender. Derek diz que ele está ajudando nos
bastidores, o que quer que isso signifique. Os Lobos continuam
encontrando maneiras para me ferrar. Eles me fizeram mediar um
Página
divórcio. Bem, eles pediram para eu fazê-lo, e de acordo com Barabás, não
posso dizer não. É um casal Japonês. Eles eram membros de um Bando
pequeno, se casaram muito jovens e tem dois filhos. O marido foi expulso

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do Bando sob suspeita de roubo. A esposa ficou para trás, porque os avós
tinham as crianças.
Ele estava deitado ao meu lado, quente e vivo, e se eu não olhasse para
ele, quase podia imaginar que ele estava ouvindo. Fechei os olhos. Meu
corpo doía. Doolittle queria me colocar na cama para descansar, mas os
Boudas queriam que eu saísse um pouco, para demonstrar que eu estava
afinada como um violino e pronta para enfrentar todos e a qualquer um.
— Aparentemente o marido fez o seu caminho até aqui e você o
acolheu há oito anos atrás. Fiz Derek puxar a sua ficha e está limpa, então
se está roubando, ele é brilhante em escondê-lo. Eu o conheci. Ele parece
um cara decente. Em setembro, o pequeno Bando local pediu para se juntar
a seu Bando, e claro, você os acolheu novamente. Agora eles estão presos.
O marido tem outra pessoa, a esposa também tem outra pessoa, mas pela
lei dos Lobos eles estão acasalados para a vida e os avós de ambos os lados
ficaram horrorizados. Não ajuda que todos são japoneses. Eu os coloquei
no mesmo quarto—ninguém falou. Todo mundo está envergonhado e eles
continuam pedindo desculpas para mim sem parar. Não sei o que fazer.
— Você tentou a Lei da Segunda Chance? —Curran disse.
Fechei os olhos com mais força. Eu estava perdendo a cabeça. Agora
eu imaginava ele falando na minha cabeça.
Mesmo uma conversa imaginária era melhor do que nada. — Não, o
que é isso?
— É a lei que diz que qualquer metamorfo que se juntar ao Bando tem
458
um direito único a uma nova identidade. Se o marido não o usou quando

se juntou, o declare oficialmente morto e deixe-o voltar a se juntar com um
novo nome. Sua ex-mulher será oficialmente uma viúva.
Página
Um braço quente me abraçou. Meus olhos se abriram.

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Ele estava olhando para mim. Ele estava pálido, seus olhos estavam
afundados, mas ele estava olhando para mim.
— Você ficou comigo, —disse Curran.
— Sempre.
Ele sorriu e adormeceu.
Curran se agitou novamente, uma hora mais tarde. Eu corri para a
cozinha, e quando voltei com uma tigela fumegante, ele estava sentado e
puxando o IV do braço. — Que merda é essa?
— Ele te manteve vivo por onze dias.
— Bem, eu não gosto disso.
Entreguei-lhe uma tigela de sopa. Ele a pôs de lado, me alcançou, e
me apertou contra ele. Enterrei meu rosto em seu pescoço. Meus olhos
ficaram quentes e eu chorei.
Sua mão acariciou meu cabelo. — Você ficou comigo.
— Claro que fiquei com você. Você achou que eu o abandonaria?
— Ouvi você lendo. E falando.
Eu o beijei e provei minhas lágrimas. — Através de seu sono?
— Sim. Tentei acordar, mas não podia.
Eu apenas o segurei. — Não vamos fazer isso novamente. Nunca.
— Isso soa bem. —Ele me beijou.
459
— Você precisa comer.

— Em um minuto. —Ele me segurou mais apertado. Sentamos juntos
Página
por alguns felizes minutos.

Duas batidas ecoaram através da porta. Derek. Ele sempre batia duas
vezes.

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— Kate?
— Entre, —eu disse a ele.
Derek entrou. — Eu tenho um lobo aqui fora que quer te ver. Ele diz
que é uma emergência. Provavelmente outro desafio. O que quer que eu
faça ...? —Sua boca ficou aberta.
Curran olhou para ele. — Traga-o para dentro. Não diga a ele que
estou acordado.
Derek fechou a boca com um clique e saiu.
— Me ajude a levantar?
Peguei sua mão e puxei-o para fora da cama. Ele piscou para o relógio
de corda na parede. — Hoje é quarta-feira?
— Sim.
Ele pegou a tigela de sopa e bebeu.
A porta se abriu. Um grande homem hispânico entrou. Ele viu Curran
e congelou.
Curran terminou de drenar a tigela de sopa e olhou para ele. — Sim?
O lobo caiu em um joelho e ficou lá, a cabeça baixa, seu olhar no chão.
— Nada a dizer?
O lobo sacudiu a cabeça.
— O Conselho deve se reunir em três minutos. Desça e lhes diga para
460
esperar por mim, e posso esquecer que você esteve aqui.

O lobo se virou, levantou e saiu sem dizer uma palavra. A porta se
Página
fechou atrás dele.

Curran balançou. Eu o peguei. Minha perna cedeu e caímos para
baixo sobre o sofá.

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— Ow.
Curran sacudiu a cabeça.
— Você tem certeza que está pronto para uma reunião do Conselho?
Ele virou para mim. Ouro rolou sobre os olhos, frio e letal. — Tenho
certeza. É melhor que estejam prontos para mim.
Ele se levantou e foi ao banheiro. Eu o segui no caso dele cair. Ele fez,
no caminho de volta e se escorou na parede.
Deslizei meu braço em volta de sua cintura.
— A sopa vai chutar em um minuto, —disse ele.
— Certo. Apoi-se em mim. —Ele fez e lentamente fizemos nosso
caminho até a porta. — Um par de durões, nós somos.
— Duros o suficiente, —ele rosnou.
Cinco minutos depois ele caminhava para a sala do Conselho por si
mesmo. Os metamorfos o viram e se afastaram, em silêncio. Chegamos a
sala. Eu podia ouvir as pessoas murmurando dentro. Curran respirou
fundo, empurrou a porta aberta, e rugiu.
O som da raiva leonina explodiu como um trovão, agitando as janelas.
As pessoas no corredor se encolheram. Quando morreu, você poderia
ouvir um alfinete cair.
Curran segurou a porta aberta para mim. Ele caminhou para o seu
lugar no topo da mesa, colocou outra cadeira ao seu lado e me olhou. Eu
461
fui e me sentei. Ele se abaixou em seu lugar.

Os Alfas olharam para a mesa. Nem um único par de olhos olhava
para cima.
Página
Curran inclinou-se, seus olhos inundados de um ouro furioso. —

Expliquem-se.

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EPÍLOGO
O EDIFÍCIO ERA DE TIJOLO SÓLIDO, CONSTRUÍDO DE ACORDO com a

nova moda, ao invés do antigo—só dois andares de altura, grossas grades
de metal nas janelas e uma porta muito resistente. Ficava numa rua
tranquila, logo após o distrito industrial noroeste, que agora era uma ruína
antiga. Além de ser resistente e em boa forma, não consegui ver nada de
especial sobre ele.
— O que é isso?
Curran sorriu ao meu lado. — Um presente de Natal antecipado.
Eu olhei novamente para a casa. Após as últimas três semanas, um
presente de Natal foi a última coisa que eu esperava.
Curran se sentira traído pelo Bando. Do seu ponto de vista, ele
trabalhou anos em benefício do seu povo, e a lealdade deles durou menos
de quarenta e oito horas. Em troca do seu serviço, tentaram expulsar sua
companheira, e quando ela não o deixou, tentaram matá-la. Curran levou
a maratona de minhas lutas até a morte muito pessoalmente.
Todos os anos, o Bando comemorava a tradicional festa de Ação de
Graças, que consistia em um jantar de proporções épicas. Curran
geralmente passava horas lá, falando com todos. Desta vez, ele entrou,
462
grunhiu: "Vocês têm minha permissão para comer", e saiu. Tivemos um

jantar privado em nosso quarto e ele se fartou de torta. Fora isso, ele se
recusou a deixar nossos aposentos. Para o ar fresco, saíamos para o
Página
telhado, onde ele tinha um pátio gigante, completo com uma fogueira e
uma churrasqueira. Eu construí um boneco de neve, e Julie praticou
disparando com uma besta. Visitamos sua academia privada. E era isso.

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Então quando ele me pediu para vir para a cidade com ele, decidi que era
um bom sinal. Demorou menos de uma hora para chegar até aqui e gostei
de dirigir.
Inclinei a cabeça e olhei para a casa de um ângulo diferente. Nenhuma
visão ou revelação especial se apresentou.
Talvez ele comprou para mim um novo lugar para viver. — Essa é à
sua maneira complicada de me convidar a sair?
— Você nunca vai se mudar, enquanto você quiser.
Curran caminhou até a porta através da neve e abriu-a.
Entrei. Por dentro a casa parecia tão resistente. As janelas eram
pequenas e gradeadas, mas numerosas o suficiente para deixar entrar muita
luz. A sala da frente ocupou a maior parte do piso. Duas mesas esperavam
em cantos opostos. Armários de arquivos encostados nas paredes.
Atravessei a porta da esquerda. Uma estreita e longa sala cheia de
prateleiras, meio vazias, meio cheias de frascos e caixas de várias ervas.
Parecia que alguém fez um trabalho decente, estocando suprimentos
alquímicos.
— Há mais no andar de cima.
Uma inspeção superficial do segundo andar mostrou um arsenal
básico e uma sala com alguns equipamentos de diagnóstico, mágicos e de
outra forma. Não era fora desse mundo, mas era o suficiente para
sobreviver.
463
Voltei lá para baixo e sentei na escada. — O que é isso?

Ele me deu o olhar de Senhor das Feras. — É seu.
Página
— Desculpe?
— A casa e os conteúdos. É seu se você quiser. O Bando está apoiando
você como um negócio: ele compra os suprimentos e provê seu salário e um

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modesto orçamento de funcionamento durante um ano, após o qual ele terá

uma reivindicação de vinte por cento sobre seus lucros. Ele vai cair para dez,
quando o empréstimo estiver pago. Tive Raphael preparando a papelada. —
Ele foi até a mesa e levantou uma pasta de documentos. — Tudo que você
precisa é preencher o nome, e isso vai para a Secretaria de Estado.
Olhei para ele.
— Sua própria Ordem. Ou sua própria Associação.
Independentemente da forma como você escolher.
— Por quê?
Ele cruzou os braços no peito. — O Bando custou o seu emprego.
— Eu custei o meu emprego, e era podre de qualquer maneira.
Ele balançou a cabeça. — Você veio para ajudar. É a chance do Bando
de ajudar de volta. Todo mundo tem algo, uma coisa que fazem para se
sentir feliz. Acho que essa é a sua, e eu quero que você seja feliz. Você não
tem que fazê-lo, mas está aqui se você optar por voltar a ele.
— Existe uma pegadinha?
— Um par. Cláusulas padrão do Bando: solicitações do Bando têm
precedência, sempre. A segurança dos membros do Bando anula todo o resto,
e os interesses do Bando devem ser protegidos a todo custo. Num caso onde
um membro do Bando possa ser suspeito de atividade criminal fora do Bando,
você deve informar os advogados do Bando, para que o suspeito possa ser se
aconselhado.
464
Eu sorri para ele. — Você tem algum pedido também?

Ele trancou sua mandíbula.
Página
Eu ri. — Desembucha. Eu sei que se fosse do seu jeito, eu estaria

trancada em seu quarto, totalmente segura, descalça e grávida.

Magic Bleeds
Ilona Andrews
Livro 4
— Eu não sou tão louco.

Eu levantei a minha mão, com o dedo indicador e meu polegar com
um pequeno espaço de intervalo. — Um pouco. Eu sei que está te matando
fazer isso, então o que iria ajudá-lo a respirar mais fácil?
Ele soltou ar como uma baleia. — Venha para casa. Toda noite. Jante
comigo. Se você sair do escritório por mais de algumas horas, eu apreciaria
uma chamada, então saberei que você está segura. Se estiver com
problemas, você me diz. Sem mentiras, sem evasões, sem segredos. E se
precisar de músculo, por qualquer motivo, você usa o Bando. Você não
corre para lá sozinha para ser morta.
Meu psicopata pessoal em toda a sua glória, fazendo o seu melhor
para ser razoável. — Algo mais?
— Nada de negócios na tarde de quarta-feira, se você puder evitar.
Quartas-feiras ouvimos petições e litígios.
Eu fiz uma careta. — Eu odeio petições.
— Eu, também, então eu não deveria sofrer com eles sozinho. Além
disso, eu gostaria que você tivesse um tempo para assistir as funções
formais comigo, se elas forem programadas durante a semana, assim eu
não morro de tédio. É isso aí.
Nós nos olhamos um para o outro.
— Então, você gostou? —ele perguntou.
— Eu adorei isso. —Levantei e peguei a pasta da mesa. — Obrigada.
465
—Nos beijamos e saímos.

Ao nos afastarmos do meu novo escritório, ele perguntou: — Então,
Página
como vai chamá-lo?

Magic Bleeds
Ilona Andrews
Livro 4
Eu sorri para ele. — Eu terei que pensar em algo espirituoso. Algo que
faça referência a minha habilidade de resolver casos em um esplendor de
glória intelectual.
— Sua capacidade de cortar tudo em seu caminho com sua espada, e
mais parecido com isso.
— O que quer que seja, Sua Peludeza.
JORNAL CONSTITUCIONAL DE NOVA ATLANTA:
Avisamos que os documentos de incorporação que constituem a Cutting

Edge60 Investigations, Inc., foram entregues a Secretaria de Estado para
apresentação em conformidade com o código da corporação de negócios da
Geórgia ...
Fim
E continua ...
466
Página
60
Cutting Edge ou The Cutting Edge pode se referir a:
- A superfície de corte de uma lâmina ou outra ferramenta de corte, de ponta
- Estado da arte, o mais alto nível de desenvolvimento, a partir de um dispositivo, técnica ou campo científico, borda
- The Cutting Edge - O estágio mais moderno de desenvolvimento em um determinado tipo de trabalho ou atividade. (Uma empresa na
vanguarda da tecnologia de comunicações móveis)

Magic Bleeds
Ilona Andrews
Livro 4
Em um mundo dominado por ondas mágicas, Kate Daniels trabalha como
Mercenária. Ela está cansada, com fome, e há sangue e mal cheiro nas botas.
Tudo o que ela quer fazer é ir para casa, mas quando a Associação
467
Mercenária lhe oferece um trabalho que ela não pode recusar, ela se encontra
protegendo um homem contra feiticeiros russos.

Página
Aqui o início da História da Kate, como ela conheceu o Saiman <3

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Traduzido do Inglês e Espanhol por Fãs

Tradução e 1ª Revisão: *Janiele

2ª Revisão: *Diana Prince

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Kate Daniels trabalha oficialmente para a Ordem dos Cavaleiros de Ajuda

fronteira entre os territórios dos metamorfos e os necromantes, Kate rapidamente

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NÃO IMPORTAVA QUÃO CUISADOSAMENTE EU COLOCASSE as maçãs

Ele estabeleceu uma data, 15 de novembro, que era hoje. Eu sabia,

porque tinha verificado o calendário três vezes já. Eu o chamei no forte, há

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Ele disse que não podia esperar.

Ele tinha percebido que ganhou e perdeu o interesse. Chamá-lo só lhe

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Eu baixei o telefone e olhei para minha torta um pouco mais.

— Ele está na fortaleza?

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Uma pedra pesada materializou-se no meu peito e ficou difícil

Eu te amo. Eu virei sempre por você, Kate.

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Levantei da cadeira. Se ele ia me largar depois de toda essa merda,

que quando tentasse meu caminho por problemas relacionados com o

complicações que o Bando tinha com a lei geralmente encontrava seu

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Os metamorfos vinham em dois tipos: pessoas livres do código, que

de pagar por isso.

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partiu, doeu. A minha era uma esperança muito grande, muito

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CAVALGUEI ATRAVÉS DAS RUAS DE ATLANTA, BALANÇANDO com o

Após quase um ano de trabalho para a ordem, ouvir a voz de Maxine

na minha cabeça já não me fazia saltar.

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"Alguém atacou o Cavalo de Aço".

— O Cavalo de Aço? O bar de fronteira?

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Vampirus Immortuus, o patógeno responsável pelo vampirismo,

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Mestres dos mortos, os principais necromantes da Nação, aproveitavam

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convenientemente ausente de seu vocabulário, mas a maneira que eles

seguravam as armas improvisadas de móveis quebrados faziam-me querer

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A julgar pela cena da batalha, eles tinham acabado de apanhar em seu

não só penetraria; passaria por mim, levando minhas tripas para um

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Claro, a essa distância eu poderia matá-lo antes de ele me dar um tiro.

O proprietário do bar apresentou-se como Cash. Cash não me parecia

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geralmente vêm às quintas-feiras. É aqui!

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Cash apontou para a esquerda, onde o chão inclinou-se para um

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Cash balançou a cabeça. — Não.

— O que você vai fazer?

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Ele me encarou, sem entender.