Enação
Enação
Enação
Acordo às cinco horas da manhã sobressaltada com a sensação de ter algo para
resolver importante. Reviso mentalmente minhas tarefas diárias e logo me dou conta que
o que mais me ansiava fora uma provocação advinda de um email recebido no final da
tarde do professor solicitando um ensaio livre sobre enação. Faço uma análise mais
detalhada e me dou conta que o que me aflige não é necessariamente a tarefa e ou prazo
dado, mas sim a solicitação de posicionar a teoria em relação ao objeto de pesquisa do
doutorado. Essencialmente pelo motivo de que ainda estou delimitando tal campo. A
aflição se branda quando lembro que o enunciado do exercício também nos traz a
possibilidade de ampliar nosso olhar para o cotidiano.
Então, neste modelo é recorrente comparar a mente como o computador que teria
como padrão o processamento da informação. Tendo como premissa um sujeito e um
objeto pré-existente, que mantém a centralidade no cérebro. A linguagem seria simbólica
e a aprendizagem poderia ser quantificada. Produzindo assim uma realidade objetiva e
plural, nesta visão cognitivista o corpo é limitado.
O lugar do observador passa a ser uma experiência de mundo, onde ele performa
o mundo desde que está nele. A experiência de estar no mundo e a relação que se
estabelece entre ambos é uma distinção de uma unidade que se divide entre organização
e estrutura, dispondo de domínios de ação que possuem uma forma de arranjo dividido
em sistemas, objeto e relação. Podemos descrever organização como sendo a
formalização e a abstração que ao viver várias coisas parecidas alcançamos numa espécie
de agrupamento de alguma situação. O conjunto estrutura-organização é que vai dar o
sentido a elas, uma não existe sem a outra. Sendo, assim, tem-se o entendimento que não
há essência de um objeto pré-existente, o que faz este conjunto existir é a relação.
Neste sentido pude fazer muitas relações quantos as leituras que venho fazendo no
doutorado que apontam que as modificações que a tecnologia produz no meio social seria de co-
emergencia. Seria além, do sentido de que os homens fazem a tecnologia e a tecnologia fazem os
homens, conforme já preconizava Marshall Mcluhan, pioneiro dos estudos culturais e no estudo
filosófico das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das
telecomunicações. Segundo a enação o processo seria mais fluxional, onde a modificação se dá
na relação. Portanto estaríamos num processo constante de transformação do sujeito e do mundo.
Como estamos imersos num mundo repleto de tecnologia, poderíamos pensar que existe
uma co-emergencia entre o sujeito e o objeto que ao se acoplarem produzem novos jeitos de
existir. Lembrando assim uma hipótese levantada por Pierre Lewi, que a tecnologia possibilitaria
a comunicação de todos com todos de maneira horizontal, levando assim uma construção de um
pensamento coletivo. E assim a produção de uma ciberdemocracia, onde os sujeitos poderiam
tomar a decisão de forma em rede. Portanto poderíamos, de maneira inicial, apontar que ao estar
conectado em rede faria com que o sujeito tomasse decisões baseadas nas relações que ele
estabelece com o meio, transformando-o assim de maneira política, a si e ao mundo. Bastando
assim, estabelecer a comunicação através do meio tecnológico para influenciar na construção de
novos mundos. Porém o que observamos no momento atual, a experiência não pode ficar somente
no campo da linguagem, que seria a coordenação de ações, a experiência para ter uma ação na
linha da Matriz Biológica do Amor, teria que ser vivida de forma encarnada e na coletividade.