Me Mo 6
Me Mo 6
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Volume 2
De 1954 a 1987
Há exatamente um ano atrás, comecei a fazer um número de
MeMo dedicado ao Jayme Cortez. Ao longo desse processo,
além de coletar informações de diversas fontes e começar
a entrevistar pessoas que o conheceram melhor do que eu,
acabei tendo a sorte de topar com o ilustrador paulistano Fá-
bio Moraes, que vinha há alguns anos zelando por um volu-
me gigantesco de originais, provas, fotografias, documen-
tos pessoais, originais de amigos, correspondência, enfim,
todo o arquivo de Jayme Cortez. Conforme fui pesquisando,
escaneando, tratando as imagens gentilmente disponibili-
zadas, comecei a perceber que tinha material demais para
apenas uma edição, e que seria uma pena deixar de fora
verdadeiros tesouros escondidos que poucas pessoas co-
nheciam, ou sabiam ser da lavra do grande artista portu-
guês. Jayme Cortez trabalhou em áreas muito diversas, dos
quadrinhos à publicidade, ao cinema, ao design editorial,
sempre de forma brilhante e inovadora. E por causa disso,
sempre fez muito sucesso. Ao contrário de outros ilustra-
dores brasileiros, que apesar de fazerem trabalhos belíssi-
mos, nunca tiveram o sucesso que mereciam, Jayme Cortez
foi um pop-star da área gráfica. Esteve presente na mídia
na maior parte do tempo de sua carreira e sempre soube se
promover muito bem. Mas não se engane: a melhor promo-
ção que ele teve sempre foi a qualidade do que entregava. E
que inacreditável quantidade de trabalhos que fazia, muitas
vezes ao mesmo tempo! Famoso por sua pontualidade com
os prazos, nunca lhe faltou trabalho. Acreditem: além do que
se vê nestes dois volumes, havia material para fazer facil-
mente um terceiro. E um quarto. Quem sabe no futuro?
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Além das histórias de E.T. Coelho, Cortez
planejava publicar histórias de artistas
brasileiros na revista, mas como não ti-
nha material à mão para os números se-
guintes, então foram publicadas histórias
de origem italiana e argentina ao longo
da série, junto com algumas histórias fei-
tas aqui. Estas foram O Garimpeiro, no
número 15, desenhado por Silvio Fuku-
moto, que mais tarde faria uma longa
carreira nas revistas infanto-juvenis da
Abril; Zumbi dos Palmares, de Álvaro de
Moya, no número 16; uma lindíssima ver-
são em aguada de A Volta ao Mundo em
80 dias desenhada por Giorgio Scudellari
no número 31, feita para aproveitar o su-
cesso do filme americano que fazia mui-
to sucesso na época com David Niven e
Cantinflas; e ainda versões de O Guarani
e Iracema por Nilo Cardoso, nos núme-
ros 32 e 33. Além da número 1, as de E.T.
Coelho saíram nos números 7, com O De-
funto, 8, com O Suave Milagre, 9, com O
Tesouro, 10 com A Aia, todas adaptações
de Eça de Queiroz, e também no núme-
ro 24, que publicou aqui Os Náufragos do
Barco Sem Nome. Na série toda, apenas
as capas do número 28, 32 e 33 não são de
Jayme Cortez. A do número 28 é de Sylvio
Ramirez, de quem voltaremos a falar, e
as demais de Nilo Cardoso, sendo estas
referentes às histórias ilustradas por ele.
Além da maioria das capas, Cortez fez
várias ilustrações e vinhetas internas em
preto e branco e durante algum tempo, a
partir do número 13, uma coleção de ilus-
trações retratando guerreiros do passado,
gladiadores, cavaleiros medievais, etc.
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Além de O Terror Negro, a La Selva logo come-
çou a publicar duas novas revistas do mesmo
gênero: Sobrenatural e Contos de Terror, tam-
bém com capas de Cortez. As histórias destas
revistas eram todas compradas da APLA e vi-
nham de diversas editoras americanas diferen-
tes. Não havia um cuidado muito grande com a
editoração dessas histórias, que eram intercam-
biáveis entre os três títulos. Nas revistas, além
das capas, Cortez algumas vezes fazia algumas
vinhetas e anúncios, como o de O Teatro do Ou-
tro Mundo, programa de rádio que fazia muito
sucesso na época. Nestas revistas, não foi feita
nenhuma tentativa séria de nacionalizar o con-
teúdo por parte de Jayme Cortez, provavelmen-
te porque a oferta de material era farta e barata.
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Mas se não valia a pena fazer nada nas edições
de terror, não era o caso de um outro gênero que
foi muito importante nos quadrinhos dos anos
1950: os contos de fadas. Jayme Cortez formou
uma dupla editorial com Milton Júlio que fun-
cionava muito bem. Lembrado pelos que o co-
nheceram como uma pessoa agradabilíssima,
Milton Júlio era também um ótimo escritor. Ele
e Cortez foram os responsáveis pelo lançamento
da revista Contos de Fadas, numa edição de Cô-
mico Colegial, em março de 1956. Não tinham
certeza se uma revista em quadrinhos que não
tinha nenhum cowboy, nenhum herói, ou uma
cena de terror na capa, venderia. Mas para sur-
presa de ambos, vendeu muito bem e fez muito
sucesso principalmente entre as meninas. Ven-
deu tanto, que Cortez se animou a aumentar a
produção com material feito no Brasil.
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No começo, a revista tinha muita coisa de E.T.
Coelho, além de material italiano, francês e
americano, sendo que apenas as capas e algu-
mas ilustrações internas eram feitas por Cor-
tez. Logo porém, começamos a ver o trabalho
de desenhistas como Giorgio Scudellari, um
artista chileno que cresceu e se formou na
Itália, e que, tendo trabalhado em vários gê-
neros na velha bota, de Mickey Mouse a um
faroeste em dupla com Gianluigi Bonelli, ti-
nha se mudado há pouco para o Brasil. Esse
também foi o caso de Nico Rosso, outro grande
artista italiano que se radicou no Brasil e que
Cortez conhecia desde a Gazetinha. Também
comparecia, embora com menos frequência,
José Lanzellotti. E não se pode esquecer de
Sylvio Ramirez, um desenhista magnífico so-
bre quem muito pouco se sabe, mas que con-
seguiu a admiração de Cortez com seu vasto
conhecimento de anatomia e composição. E
também Orlando Pizzi, Sérgio Lima, Pedro
Segui, Salgueiro e vários outros. Nesta revis-
ta saiu uma das últimas histórias em quadri-
nhos desenhadas por Cortez nesse período: a
primeira versão de Tupizinho, personagem
criado e desenhado por ele, com texto de Mil-
ton Júlio, que republicamos a seguir.
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História publicada originalmente em Contos de Fadas número 4, agosto de 1956
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Em março de 1958, a La Selva lançou uma outra revista do mesmo gênero: Varinha Mágica,
também com grande sucesso. Quase todas as capas das duas revistas são de Jayme Cortez,
mas algumas vezes podemos ver magnificas ilustrações de Sylvio Ramirez e Nico Rosso,
este último principalmente em Varinha Mágica. As revistas continuaram vendendo muito
bem até boa parte da década seguinte, mesmo quando a editora já estava em decadência,
publicando apenas reprises. Jayme Cortez continuou fazendo capas para ambas, mesmo
quando já não trabalhava mais na editora, o que comprova duas coisas: que ele gostava
mesmo do gênero e que mantinha boas relações com os La Selva.
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A quantidade de revistas que a
La Selva lançou a partir de 1954
é difícil de precisar. Muitas eram
lançadas sob os títulos genéricos
de O Cômico Colegial e Seleções
Juvenis, em edições infantis e ju-
venis e nelas vamos encontrar
uma miríade de personagens
como Buster Crabbe, Brick Brad-
ford, Gato Félix, Gavião dos Ma-
res, Capitão Radar, Big Ben Bolt,
Hopalong Cassidy, O Gordo e o
Magro, Abbott e Costello, Jim das
Selvas, John Wayne, O Sombra, O
Pato Dizzy, Banto (que também
saiu como Jambo), Supermouse,
O Gato Valente, Kid Colt, além
de outros bem menos conhecidos
como O Casal Jato, por exemplo.
Algumas dessas séries tiveram
apenas um ou dois números, mas
muitas duraram muito tempo e a
La Selva passou a colocar uma nu-
meração nas capas das que faziam
maior sucesso, mas só depois que
tinham saído em O Cômico Cole-
gial ou em Seleções Juvenis, o que
causa muita confusão, pois faz
com que algumas séries pareçam
começar no número 4, por exem-
plo, e seja possível encontrar
exemplares sem numeração algu-
ma. A La Selva também continuou
publicando revistas para o públi-
co adulto, como Seleções de Rir,
O Crime não Compensa e Gilda.
E Cortez esbanjava versatilidade,
pois era capaz de ilustrar capas
igualmente boas tanto para his-
tórias infantis como Supermouse
quanto para O Terror Negro.
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Jayme Cortez muitas ve-
zes preferia trabalhar em
casa, onde tinha sua bi-
blioteca particular. Nesta
foto ele aparece pintando
a capa ao lado.
O método Cortez
A La Selva cresceu muito a partir da segunda metade dos anos 1950 e acabou por se tornar
a maior editora de São Paulo, rivalizando-se em tamanho com as grandes editoras cariocas
como a Ebal, a Rio Gráfica e a O Cruzeiro. Nessa época, a Editora Abril já tinha um campeão
de vendas nas bancas, O Pato Donald, mas ainda estava longe de se tornar o império editorial
que viria a ser e a La Selva, uma operação quase familiar, com poucos funcionários, estava
entre as que mais títulos colocava nas bancas todos os meses. Justamente isso foi o que acabou
por fazer com que Jayme Cortez tivesse que mudar sua maneira de trabalhar. O fato é que, a
partir de um certo momento, a quantidade de material que Cortez tinha que produzir na La
Selva, entre capas, vinhetas, letterings e ilustrações internas se tornou tão grande que passou
a ser impossível para ele continuar a produzir fotos de referência. Ele passou então a se basear
em fotos já existentes em livros e revistas quando precisava de algo mais realista e também na
própria imaginação, no caso de material mais estilizado, como as capas infantis.
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Quando tinha tempo, começava sempre criando
um esboço bem solto, que virava um desenho
mais elaborado, logo transferido para um outro
papel numa mesa de luz e então pintado com
guache, aquarela, anilina Kodak ou uma mis-
tura de tudo isso. Mas algumas vezes, a partir
do primeiro esboço, ele já imaginava as cores e
partia para a finalização. Na verdade seu méto-
do de trabalho não tinha regras, mas ele tinha
que ser sempre bem rápido, pois segundo Edna
Cortez relatou ao ilustrador Fábio Moraes, não
raras vezes ele era obrigado a fazer 6 ou 7 capas
ao mesmo tempo. Desenhava todas, depois as
espalhava pelo chão ao seu redor e ia pintando
todas aos poucos. Ao acabar o fundo de uma de-
las, enquanto a tinta secava, ele passava para a
capa seguinte e assim por diante até que todas
estivessem concluídas, muitas vezes em cima
da hora de irem para a gráfica.
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Astros do
cinema e
da Televisão
Um outro grande sucesso da La
Selva a partir de 1955 foi o lança-
mento de histórias produzidas
aqui com personagens do rádio,
da televisão e do cinema. Qua-
se em sequência se viu o lança-
mento de Fuzarca e Torresmo,
a primeira dupla de palhaços a
fazer sucesso na TV Tupi de São
Paulo, Carequinha e Fred, pa-
lhaços da Tupi do Rio de Janei-
ro, Arrelia e Pimentinha, outros
palhaços que faziam sucesso na
TV Record, além de Mazzaropi,
famoso no rádio e nos filmes da
Companhia Vera Cruz e Oscari-
to e Grande Otelo, a dupla de co-
mediantes de maior sucesso nas
chanchadas da Atlântida Cine-
matográfica. Mazzaropi, por si-
nal, gostou tanto da maneira em
que foi retratado nas capas da
La Selva, que isso acabaria ge-
rando uma relação mais perene
entre ele e Jayme Cortez, como
veremos mais adiante. Todas as
histórias destas revistas foram
produzidas no Brasil, a maioria
escritas por Milton Júlio e Cláu-
dio de Souza, com desenhos de Na foto acima,
Aylthon Thomaz, Juarez Odilon, Mazzaropi examina
com Jayme Cortez
Zaé Júnior, João Batista Queiróz o original da capa
do primeiro
e o magnifico Messias de Mello, número de sua
revista (ao lado).
que finalmente voltou a traba-
De todas estas
lhar com Jayme Cortez, que fez revistas, a que fez
todas as capas, várias ilustra- mais sucesso foi
a de Fuzarca e
ções internas, vinhetas e anún- Torresmo, a única
que passou dos
cios, mas nunca desenhou ne- vinte números.
nhuma história.
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o final de um ciclo
No final de 1958, aconteceu algo que ninguém previa, mas que iria determinar a saída de
Jayme Cortez da La Selva. Nessa época, a La Selva era a maior editora de quadrinhos do
Brasil, vendendo mensalmente mais de um milhão de exemplares, somando os cerca de
30 títulos que tinha nas bancas todos os meses. Mas, ao contrário de quase todas as concor-
rentes, ela não tinham gráfica própria e imprimia com terceiros. Os principais prestadores
desse serviço à La Selva, como já foi dito, eram a Gráfica Editora Novo Mundo, de Victor
Chiodi, mas com direção de Miguel Penteado e a S.A.I.B., de Victor Civita, cuja editora
Abril começava um ciclo de expansão. Por causa disso, um belo dia a S.A.I.B. informou à La
Selva que não ia mais imprimir suas revistas, alegando “acúmulo de trabalho”. Isso era um
desastre e a situação tinha que ser contornada rapidamente. E foi então que numa reunião,
tiveram a ideia de comprar a Novo Mundo de Victor Chiodi, que a princípio relutante, foi
vencido por uma generosa oferta. Os La Selva fizeram questão de manter Miguel Penteado
à frente da gráfica e ainda trataram de ampliá-la comprando novas máquinas. Além disso,
os títulos da editora Novo Mundo que melhor vendiam foram incorporados pela La Selva,
como Noites de Terror, por exemplo. Victor Chiodi no entanto, logo depois de embolsar o
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UMA NOVA editora
Apesar de ter ficado famosa como Editora
Outubro, na verdade ela começou como O pequeno edifício onde fun-
cionava a editora, na Rua da
Editora Continental e foi lançada com uma Mooca, ainda existe. Na parte
festa, um almoço com direito a foto na co- de baixo funcionava a gráfica
e na sobreloja, a redação.
bertura do prédio de A Gazeta, onde se
reuniram diversos desenhistas e colabo-
radores da nova editora. Estavam lá, en-
tre outros, Nico Rosso, seu filho Gianluigi,
Giorgio Scudellari, Zezo (José Rivelli, que
assumiu as capas de terror da La Selva
com a saída de Cortez), Inácio Justo, Sér-
gio Lima, Gedeone Malagola, Mauricio
de Sousa (que ainda era um iniciante),
Lyrio Aragão, Álvaro de Moya, João Batista
Queiroz, Juarez Odilon, Getúlio Delphim,
Manoel Ferreira, Aylton Thomaz, Isomar
Camargo, Waldir Igayara, Hélio Porto, To-
ninho Duarte, Almir Bortolassi, Zaé Júnior,
além dos sócios e do ator Ayres Campos, o
Capitão 7 da TV Record, em pessoa.
Aqui, inauguração da Editora Continental. Na página ao lado, anúncio publicado em algumas revistas da editora em 1959.
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A Editora Continental começou colocando nas bancas revistas de todos os gêneros. Faro-
este, com o Pistoleiro Fantasma, histórias românticas na revista Alô Doçura - que aprovei-
tava oportunamente o nome de uma série de sucesso da TV Tupi sem ter nada a ver com a
mesma, mas que não duraria muito -, uma revista de contos de fadas como as da La Selva
chamada Fantasia, um super-herói de muito sucesso na TV, o Capitão 7, além de, claro,
o terror, com duas revistas, Seleções de Terror e Clássicos de Terror. Quase todas elas
venderam muito bem de inicio, mas algumas delas bem mais do que as outras, caso das
duas de terror e do Capitão 7.
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Algum tempo depois, a edi-
tora teve que mudar de nome
pois descobriram que já ha-
via uma outra com o mesmo
nome e com problemas nas
justiça. Segundo uma das
versões, o nome Editora Ou-
tubro teria sido proposto por
Miguel Penteado, como uma forma de home-
nagear secretamente o partido comunista e
a Revolução Comunista de 1917 na Rússia.
Para outros, não foi nada disso. Quiseram
aproveitar que já existia uma Editora Abril e
resolveram chamar a deles de Editora Outu-
bro, e quem teria proposto o nome, na base
da brincadeira, teria sido Cláudio de Souza,
que era secretário de Victor Civita e achou
que ninguém fosse levar a sugestão a sério.
Seja lá como for, tão logo as revistas começa-
ram a aparecer com o logotipo do Escorpião,
signo zodiacal do mês de outubro, a Editora
Abril entrou com um processo, que iria se ar-
rastar durante alguns anos, pois eles tinham
registrado todos os meses do ano como pos-
síveis nomes para outras empresas. Aprovei-
tando a mudança de nome, vieram novos tí-
tulos (em alguns casos substituindo revistas
que não iam muito bem) como O Vingador,
que ficou no lugar de Pistoleiro Fantasma, a
revista de ficção científica Fantásticas Aven-
turas (uma das poucas com histórias impor-
tadas, como Johnny Galáxia da espanhola
Selecciones Ilustradas), Zaz-trás, com his-
tórias infantis, inclusive as de Mauricio de
Sousa, que já tinha também a revista Bidu e
novos títulos de terror como Histórias Sinis-
tras, Histórias Macabras, Contos de Terror,
Histórias do Além e Terror em Revista.
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Heróis
Ayres Campos sempre
adorou aparecer em pú-
blico como Capitão 7.
da TV...
Alô Doçura acabou, mas o Capitão 7 se-
guia firme e forte, com desenhos de Júlio
Shimamoto, Juarez Odilon e Aylton Tho-
maz, além de algumas interessantes pá-
ginas produzidas por Jayme Cortez com
dicas do Capitão 7 sobre defesa pessoal
(que republicamos a seguir), além das
capas, claro. Graças ao seriado na Re-
cord, canal 7, que durou de 1954 a 1966,
a revista era uma das campeãs de venda
da editora e isso animou Cortez a con-
vencer os sócios a lançar novos títulos
baseados em sucessos da TV. Logo, lan-
çaram Jet Jackson, com histórias de um
personagem de um seriado americano
que também fazia sucesso na TV Record
da época e que era, originalmente, sem
que ninguém soubesse, um outro perso-
nagem americano de quadrinhos que já
tinha inclusive sido publicado no Bra-
David José como Joel sil, o Capitão Meia-noite. Os desenhos
e Henrique Martins,
o Capitão Estrêla. eram de Juarez Odilon, Aylton Thomaz
e principalmente de Getúlio Delphim.
Richard Webb,
ou Jet Jackson. Em seguida veio o Capitão Estrêla, pa-
trocinado pela fábrica de brinquedos
que lhe dava nome, criado por Zaé Jú-
nior na TV Tupi e desenhado por Juarez
Odilon. O último foi um dos mais lem-
brados pelos que tem mais de 50 anos,
O Vigilante Rodoviário, em cuja revista
Flávio Colin adaptava o primeiro seria-
do filmado em película da TV brasileira
(os outros eram ao vivo ou em video-ta-
pe), que estava fazendo sucesso na Tupi.
E completando o pacote, um que não era
da TV: Targo, uma mistura descarada de
Carlos Miranda, como Tarzan com o Tor de Joe Kubert.
o Vigilante Carlos e
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Jayme Cortez sempre gostou de atuar como mentor de jovens desenhistas e na Outubro fez
questão de continuar esse papel. Estrearam na casa desenhistas como Luiz Saidenberg e
Mauricio de Sousa (que já fazia tiras para a Folha, mas na Outubro ganhou um grande es-
paço), por exemplo. Mas, nem sempre Jayme Cortez era agradável com iniciantes, como
foi o caso de Júlio Shimamoto, que se dava muito melhor com Miguel Penteado. Apesar de
Cortez ser o Diretor Artístico, Penteado era uma influência nesse setor também, só que
bem mais afável e menos ferino do que Cortez, que deixou mais de um iniciante pensando
em desistir. Mas vale lembrar que Júlio Shimamoto publicou bastante na Editora Outubro e
se Jayme Cortez não gostasse dele, não reconhecesse seu valor, isso não teria acontecido.
Cortez também dava muito trabalho para artistas do Rio como Edmundo Rodrigues, Juarez
Odilon, Gutemberg Monteiro, Aylton Thomaz, Getúlio Delphim, Walmir Amaral e princi-
palmente Flávio Colin, cujo estilo admirava bastante. Destes, Colin era o único que não
costumava fazer a viagem do Rio a São Paulo no dia do pagamento, dia em que a editora
praticamente fechava e quase todos os artistas da editora e mais os sócios, passavam o dia
se confraternizando pelos botequins da Mooca, bairro que abrigava a editora. Colin não era
o único, pois Gedeone, Nico Rosso e Scudellari, talvez por serem mais maduros, não cos-
tumavam acompanhar a turma na farra. De todos os artistas que trabalharam com Cortez
na LaSelva, os únicos que não fizeram nada na Outubro foram José Lanzellotti e Messias
de Melo, por falta de tempo e Sylvio Ramirez, que passou a se dedicar mais à ilustração
de livros infantis e a seu trabalho como figurinista de teatro. Além dos que foram citados,
muitos outros artistas fizeram parte do time de colaboradores da Outubro e sempre é pos-
sível encontrar nas revistas uma grande história de um artista que, sem você saber, tinha
trabalhado para a casa. Alguns dos artistas da Edi-
tora Outubro no início dos
anos 1960. Em sentido ho-
Um dos fatores que rário a partir daqui, Júlio
contribuíram para o Shimamoto, Flávio Colin,
sucesso da revista foi Lyrio Aragão, Getúlio Del-
a forte ligação que ela phim, Juarez Odilon, Gu-
tinha com o programa temberg Monteiro e Mauri-
de TV, com seu patro- cio de Sousa.
cinador, o Leite Vigor
(como podemos ver
pelos anúncios do
Clube do Capitão 7)
e, acima de tudo,
com Ayres Campos,
que acabou se
tornando detentor da
marca Capitão 7 e
abrindo uma fábrica
de fantasias infantis
pioneira no Brasil,
que, além de fantasias
de Batman, Superman
e Zorro, nunca deixou
de ter em seu catálogo
aquela que começou
o negócio, a fantasia
de Capitão 7.
50 |MeMo6 MeMo6 | 51
Jayme Cortez por
Luiz Saidenberg...
Fui apresentado ao Jayme Cortez em 1959, mas já o conhecia
de uma década atrás.
Creio que seus desenhos saíam na Gazeta Juvenil, que meu
zeloso pai incluía nas suas generosas compras de quadri-
nhos semanais. Pretencioso e ingênuo, eu imaginava que de-
senhava tão bem quanto ele. É claro que não, mas era uma
fantasia infantil... gostei muito também da edição de Dick
Peter, rica em claro-escuro, e com bela movimentação.
Já conhecia outras aventuras desse herói em livros, escritos
por Jeronymo Monteiro, sob o pseudônimo de Ronnie Wells.
Mas, em 59 eu trabalhava para uma modesta produtora de desenhos animados. Foi quando
um ex-patrão, Francisco Raffaelli, que era professor de desenho, recomendou-me a um de
seus alunos, Almir Bortolassi.
Almir fazia já desenhos para a Editora Outubro, e apresentou-me a Cortez na Rua da Mooca,
próxima ao Parque Pedro II. Há alguns anos, passei de carro pelo saudoso local. Um predio-
zinho de tijolos, com portas metálicas de correr embaixo. Ali havia sido o local da gráfica.
Era sábado, e estava tudo fechado, então não sei em que a editora teria se transformado. Mas
o velho boteco da esquina continuava ali...
Subia-se uma escada e virava-se à esquerda. Ali era o estúdio do Cortez, com vistas para o
grupo escolar defronte. Nas paredes, algumas suas aquarelas e capas de diversas revistas:
infantís, Mazzaroppi, Arrelia e Pimentinha, Fuzarca e Torresmo, e principalmente terror.
Ele pediu-me uma página, como amostra. Fiz, e não sei porquê, era sobre vikings, e seu
navio... mas Jayme gostou, e disse até, meio espantado - Mas, já trabalhaste nisto, antes?
Evidentemente, não, a não ser em imaginação. Achou de bom nível e já encomendou uma
história, cujo roteiro seria de Gedeone.
E foi assim. Além de sócio e principal capista, ele era o diretor de arte, encarregado de jul-
gar a maioria dos trabalhos. Penteado também fazia isto, mas era mais raro.
Cortez era solerte, e fino gozador. Generoso com os artistas mais talentosos e esforçados,
era implacável com os medíocres, que, pode-se imaginar, eram muitos dos que passavam
sob seu aguçado crivo. Lembro de dois episódios, que testemunhei.
Num deles, um candidato, simples e periférico, foi-lhe mostrando as páginas. Cortez olha-
va, e ficava cada vez mais angustiado. - Está faltando...está faltando...e esfregava o polegar
no indicador. - Falta alguma coisa, seu Cortez? E ele, explodindo: - Falta tudo!!!
Noutro, era um guarda civil, provávelmente conhecido de Gedeone, Aragão e Igayara, todos
investigadores do DEIC. O desenho era muito ruim, mas já no início havia sua assinatura,
imensa e caprichosamente elaborada, como de um Picasso, ou José Zaragoza. O luso olhou
aquilo e comentou - o TÍTULO está bom...
52 | MeMo6 Jayme Cortez, de cavanhaque, faz uma participação especial na história “Coronel Galdino”, desenhada por Saidenberg. MeMo6 | 53
Na animação, Cortez, Penteado e seu sócio gráfico, José Sidekerskis também desciam.
Bares não faltavam na região fabril, e ali pertinho ficavam dois, o da esquina (da Luís
Gama) já mencionado, e outro, na Rua da Mooca, quase vizinho. Para eles, estava de-
cretado feriado na editora.
Então, que venham as bebidas! Sou de pouco beber - sempre fui, mas tomava uminha e
contemplava aquele espetáculo da comédia humana. Cortez era bom copo, o que, afi-
nal, lhe custaria muito caro. E quanto mais bebia, mais lúcido e espirituoso ficava. Já
Penteado, mais sério e contido. Sidekerskis não podia beber. Mas, quando o fazia, com
apenas uma dose ficava furioso, fora de controle. Aquele lituano esguio, de dois metros
de altura, era tímido, uma moça de tanta gentileza. Mas, uma única dose desperta-
va seu Mr. Hyde, e com muita paciência e diplomacia Penteado e Cortez conseguiam
contê-lo. Mas nem sempre.
Cortez e Penteado simpaticamente nos visitaram algumas vezes no Martinelli. Como
se vê, não se fazem patrões como antigamente. Sinto que poderíamos ter sido mais ami-
gos, mas a diferença de idade e minha timidez de então impediram mais papos e apro-
ximação, o que teria sido muito bom. Também fui visitá-lo umas poucas vezes no seu
apartamento da Luís Gama, para além da Rangel Pestana.
Um belo período, como vêem. Mas tudo muda, e logo a editora, com suas muitas publi-
cações, dezenas de milhares de exemplares de tiragem, se desfaria e os sócios segui-
riam outros caminhos. A seguir, Cortez viria para o departamento de RTV da McCann
Erickson, trabalhando, com Shimamoto, sob a direção do ex- colega de Gazeta, Zaé Jr.
Eu já tinha estado ali, e agora era ilustrador e layoutman no estúdio de imprensa da
McCann, no andar de cima. Assim, nos
falamos algumas vezes, mas não muitas,
pois tais departamentos eram mundos
bem diversos.
A seguir, acho, ele foi trabalhar com seu
antigo colaborador, Mauricio de Sousa,
no estúdio deste. E perdemos o contato. A
última vez que vi Cortez foi na Rua 13 de
Maio. Eu trabalhava na Denison, da Ave-
nida Brigadeiro Luís Antônio, e devia ter
ido almoçar no Bexiga.
E a mesma coisa o bom luso, pois, copo
de vinho na mão, estava à porta de uma
das tradicionais cantinas. Sempre bem
humorado e afável. Creio que era uma
destas pessoas que fazem da vida uma
festa, seja onde estiverem.
Ivan Saidenberg
Gedeone Malagola
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O retrato de 1961
Como vimos, com as aulas de defesa pessoal do
Capitão 7, na Outubro, Jayme Cortez voltou aos
quadrinhos depois de muitos anos. E ele também
se aventurou no carro-chefe de vendas da casa:
o terror. Eram sempre histórias de uma página,
muito úteis para completar as revistas, mas as
que Cortez de fato desenhou não foram tantas
quanto se pensa, apenas umas 5 ou 6. Houveram
outras de Almir Bortolassi, Luiz Saidenberg e
até de Gedeone. Mas foi nesse período que ele
publicou também a primeira versão de um de
seus trabalhos mais famosos, O Retrato do Mal,
com apenas 3 páginas, que republicamos a se-
guir. Na história, sem perceber, Jayme Cortez
desenha no personagem do pintor uma figura
muito parecida com a que ele próprio teria, al-
guns anos no futuro. Premonição?
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60 | MeMo6 MeMo6 | 61
autoria sem mistério
Nos primeiros anos, quase todas as capas das
revistas da Outubro eram assinadas por Jay-
me Cortez ou Miguel Penteado. Porém todas
elas eram na verdade apenas de Cortez e tra-
ziam a assinatura de Miguel Penteado “fal-
sificada” pelo artista português. Isso, ao que
parece era uma brincadeira de Jayme Cortez
que não queria que parecesse que ele era o
único capista de editora. Olhando o trabalho
de Miguel Penteado publicado anteriormen-
te, dá para perceber claramente a diferença
de estilo entre ambos. Penteado se atém es-
tritamente à referência fotográfica, enquanto
Cortez é muito mais solto, como podemos ob-
servar nestas capas.
62 | MeMo6 MeMo6 | 63
1961: A Lei dos Quadrinhos
Em 1961, ganhou corpo um movimento pela nacionalização das histórias em quadrinhos e
isso acabou gerando uma lei que ao entrar em vigor obrigaria as editoras a publicar progres-
sivamente material produzido no Brasil até a proporção de dois terços do que fosse editado.
Apesar de promulgada, nunca entrou em vigor. O movimento era liderado no Rio de Janeiro
por José Geraldo Barreto, que trabalhava para a O Cruzeiro na ocasião fazendo Charlie Chan.
Em São Paulo, o líder do movimento era Mauricio de Sousa, que tinha como companheiros
Júlio Shimamoto e Luiz Saidenberg. Todos eles trabalhando basicamente para a Outubro.
Cortez e Penteado eram simpáticos à causa. Afinal, já que todo o material que publicavam
era produzido no Brasil, nada tinham a temer. Sempre se disse que os desenhistas envolvi-
Na foto acima, vemos o
então governador do Rio
dos no movimento passaram a ser boicotados pelas editoras, mas isso não é uma verdade
Grande do Sul, Leonel absoluta. Mesmo entre as editoras cariocas, muita coisa já era produzida aqui. A Rio Gráfi-
Brizola, um acessor des-
te e o desenhista carioca ca tinha um grande estúdio onde trabalhavam profissionais como Flávio Colin, Gutemberg,
José Geraldo Barreto, um
dos líderes do movimen-
Juarez Odilon, Walmir Amaral e Edmundo Rodrigues, entre vários outros. A EBAL não tinha
to pela nacionalização uma grande produção local, mas tinha várias tentativas mais ou menos bem sucedidas em
dos quadrinhos e que era
responsável pela revis- sua história, empregando artistas como Nico Rosso, José Geraldo, Antonio Euzébio Neto e
ta Aventuras de Charlie
Chan, que fazia sucesso
outros. E a O Cruzeiro publicava alguns títulos produzidos aqui, como Charlie Chan e Pere-
editada pela O Cruzeiro. rê de Ziraldo. Em São Paulo, a La Selva ainda dava emprego a vários desenhistas nacionais,
Tanto a EBAL, quanto
a Rio Gráfica já há um porém já tinha entrado num período de decadência por conta de brigas entre os herdeiros
bom tempo publicavam
material nacional, sen-
de Vito La Selva, que culminariam com o fim da editora alguns anos depois. E a editora Abril
do que esta última tinha já tinha começado a produção local de histórias Disney, ainda de forma acanhada. Não pa-
uma tradição em conti-
nuar no Brasil séries que rece verdade que os editores temessem a entrada em vigor da lei. O mais provável é que
tinham deixado de ser
produzidas no seu país de
enxergassem e identificassem os desenhistas pertencentes ao movimento como elementos
origem, mas que faziam de esquerda, o que deixava muita gente arrepiada numa época em que Cuba era uma novi-
sucesso aqui, como Aguia
Negra. A “caçula” entre dade e o mundo vivia em plena guerra fria. Isso com certeza se exacerbou com a adesão do
as grandes em termos de
produção nacional era a
governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, notadamente esquerdista, ao movimento.
Abril, que tinha acabado Brizola apoiava os desenhistas e chegou a criar uma editora, a CETPA, em Porto Alegre,
de criar um estúdio espe-
cializado na linha Disney, dirigida por José Geraldo. Mas essa história é melhor contada por Luiz Saidenberg, que a
que atravessaria décadas.
vivenciou in loco, na MeMo número 3.
64 | MeMo6 MeMo6 | 65
MUDANDO DE NOVO
Apesar de serem minoritários na editora, Cortez e Penteado ganhavam muito mais nela
do que em seus tempos de La Selva e Novo Mundo e tudo caminhava mais ou menos bem
para ambos até o final de 1963, embora Penteado se queixasse de que eles é que faziam
a maior parte do trabalho, mesmo não sendo donos da maior parte da empresa. O único
outro sócio que punha a mão na massa na ocasião era o gráfico José Sidekerskis, que
também era minoritário. Até que um dia, Victor Chiodi se desentendeu com Heli Lacerda
e deixou a sociedade. Ao invés da parte dele ser dividida entre os sócios, isso não acon-
teceu. Ela passou para as mãos de Lacerda e Miguel Penteado, muito mais do que os ou-
tros, não ficou nem um pouco contente com isso. Algum tempo depois, Cortez e Penteado
tiveram uma grande briga, por motivos pessoais que não cabe comentar aqui e isso fez
com que Miguel Penteado deixasse também a editora. Logo depois ele voltaria ao ramo,
abrindo a GEP, mas isso é uma outra história. Jayme Cortez também não estava nem um
pouco satisfeito com a maneira com que os outros sócios tocavam a editora, que passou
a comprar cada vez menos material novo e a apelar para reprises, inclusive de capas.
Ele também começou a pensar em deixar a sociedade, embora não tivesse ainda nada
em vista. Pensou que talvez devesse dedicar mais tempo a uma atividade que o agradava
muito e que exercia já há alguns meses: a de professor.
A partir de meados de 1963, cada vez mais reprises apareciam nas revistas
da editora Outubro. Algumas vezes uma ou outra história nova aparecia em
Histórias Macabras, O Vingador ou Fantasia, mas Seleções de Terror passou a
apresentar quase que só reprises todos os meses.
Mas novas fórmulas foram tentadas, indo desde um formato de bolso até
revistas com a capa em preto e branco como a Edição Negra. Houve também
uma das raras revistas editadas no Brasil usando apenas duas cores:
Clássicos do Faroeste, onde apareciam adaptações de grandes westerns
hollywoodianos para os quadrinhos feitas em geral por Hélio Porto,
com desenhos de Flávio Colin, Juarez Odilon e Shimamoto.
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Al Dorne por Ben Shahn
Nor man
Rockwell Uma lição por Al Parker
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O primeiro endereço da Escola Panameri-
cana de Arte era na famigerada Rua Augus-
ta, número 59 e para abri-la Lipszyc trouxe
Ziraldo
da Argentina dois grandes talentos, Enri- Augusto Alvim
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MAD MEN Paulistanos
Zaé Júnior por
volta de 1964.
Depois de sair
da Editora
Outubro, Jayme
Cortez voltou a
trabalhar para a
La Selva, mas
a editora já
não era mais
a mesma.
74 | MeMo6 MeMo6 | 75
76 | MeMo6 MeMo6 | 77
Em 1965, Jayme Cortez produziu
mais de 20 ilustrações para um
relatório anual da General Mo-
tors, com temática regional.
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Tal como em todos os lugares por onde passou, o humor e a energia de Jayme Cortez, além a casca e ir comendo como aperitivo. Então, compramos uns ovos, pintamos com ecoline e
de sua grande capacidade profissional, cativou todo mundo na McCann e muitas de suas colocamos junto com os outros na surdina. No dia seguinte, soubemos que foi um Deus-nos-
aventuras passaram a fazer parte do folclore publicitário, como esta que nos conta o Dire- -acuda e o português até hoje não sabe quem fez a brincadeira”. O tempo que passou na Mc-
tor de Arte Enido Angelo Michelini, que começou na McCann em 1966, como assistente de Cann-Erickson foi um dos períodos mais frutíferos da carreira de Jayme Cortez, sobretudo
Jayme Cortez: “A McCann ficava na Rua 7 de Abril, no centro da cidade, e todo mundo de lá porque significava um trabalho estável que pagava muito bem, principalmente comparado
frequentava um bar ali perto chamado Costa do Sol. A gente notou que o pessoal chegava no aos quadrinhos, e que ainda por cima deixava muito tempo livre, o que ele soube aproveitar
Costa do Sol, sentava, pegava aqueles ovos cozidos coloridos, batendo no balcão para tirar muito bem em várias frentes, entre elas uma em que já atuava desde 1958: o cinema.
Deilon G. Lima
Adão Gonçalves
Jayme Cortez
Izacil Ferreira
Jorge Yoshikawa
Jayme Cortez
Tetsuia Watanabe
José Fontenelle
80 | MeMo6 MeMo6 | 81
Aventuras cinematográficas
O primeiro cartaz de cinema criado por Jayme Cortez foi feito no ano de 1958, para o
oitavo filme do famoso comediante Amácio Mazzaropi: Chofer de Praça. Na ocasião, o
ator/roteirista/produtor que já era um sucesso desde os anos 1940, quando começara no
rádio, acabara de lançar sua própria empresa, a PAM (Produções Amácio Mazzaropi)
e escolheu Jayme Cortez para fazer o cartaz de sua primeira produção porque achava
as capas da revista da qual era personagem, editada pela La Selva, muito melhores do
que todos os cartazes que tinham sido feitos para seus filmes, desde o primeiro (“Sai da
Frente”, da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, feito em 1952) e tinha toda razão.
Acima, o car-
taz feito para
o filme Zé do
Periquito de
1960, com
o layout de
Jayme Cortez,
feito a partir
de fotos da
produção.
Nessa época,
o sucesso de
Mazzaropi era
tão grande,
que em alguns
anos ele che-
gava a lançar
mais de um
filme, sempre
lotando todas
as salas de
cinema.
Nas páginas
a seguir, o
layout e o
cartaz final
do filme
Casinha
Pequenina,
de 1963.
MeMo6 | 83
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Jayme Cortez criou todos os cartazes dos filmes
de Mazzaropi até o filme Betão Ronca-Ferro, com
exceção de O Corintiano, de 1966, quando não es-
tava disponível dentro do prazo que a produção
demandava. Mas ele voltou no filme seguinte, O
Jeca e a Freira, de 1967. A relação de Jayme Cortez
com Mazzaropi sempre foi muito boa, mas infeliz-
mente ela acabou em 1970, quando a PAM passou
a usar fotografias para fazer os cartazes, por eco-
nomia. Mazzaropi atuou em 32 filmes, o último
em 1980, um ano antes de sua morte, sendo que 14
deles tiveram cartazes de Jayme Cortez.
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Por causa dos cartazes feitos para Mazzaropi, Cortez foi notado por outras produtoras e
acabou fazendo vários outros cartazes ao longo dos anos 1960, entre estes, dois importan-
tes filmes do ciclo de cangaço, que havia começado em 1953 com O Cangaceiro da Vera
Cruz. Os cartazes de cinema no Brasil sempre foram muito bem pagos, pois eram conside-
rados fundamentais para atrair o público e os produtores não economizavam nisso.
88 | MeMo6 MeMo6 | 89
De alguns filmes,
como Juventude
Sem Amanhã, a única Jayme Cortez nunca pensou que iria ilustrar cartazes
coisa que parece ter
sobrado é justamente para filmes estrangeiros, porém um dia isso aconte-
o cartaz feito por ceu de forma inusitada. Graças às capas que ele ha-
Jayme Cortez.
via feito para a versão em quadrinhos de O Gordo e o
Apesar de ser
preferido por Magro na La Selva, Cortez foi contactado por uma dis-
produtores que
lançavam filmes de
tribuidora que estava comercializando para matinês
apelo mais popular, pacotes com os curtas da dupla, na segunda metade
Cortez também fez
cartazes para filmes dos anos 1960. O cartaz fez bastante sucesso e logo,
de sucesso entre os
críticos, como Cristo
outra distribuidora, a Polifilmes, o procurou pois es-
de Lama e Roma, tava com um problema: tinha os direitos de distribui-
Cidade Aberta.
No caso destes, ção de três filmes italianos, mas não achava que seus
sempre usava
uma técnica mais cartazes originais tivessem o apelo comercial que jul-
experimental. gavam necessário para competir com os cartazes dos
filmes americanos que estivessem nos cinemas na-
quela época e temiam que os filmes fracassassem nas
bilheterias por causa disso. Com os cartazes feitos por
Jayme Cortez, eles acabaram se tornando sucessos.
90 | MeMo6 MeMo6 | 91
Na coluna
da direita
na página
ao lado, os
cartazes
originais,
que foram
refeitos por
Jayme Cortez.
Na página
seguinte,
dois clássicos
que fizeram
Cortez voltar
a um tema
que conhecia
muito bem:
o terror.
96 | MeMo6 MeMo6 | 97
Cortez fez para Mo-
jica três cartazes, in-
clusive o do “western”
D’Gajão Mata para
Vingar, onde o cartaz é
a única coisa que pres-
ta, segundo o próprio
Mojica. Trabalhando
no departamento de
RTV de uma grande
agência, foi natural
que Cortez acabasse
por se aproximar cada
vez mais da produção
de cinema. Começou
fazendo apenas story-
boards, mas depois de
algum tempo estava
dirigindo comerciais
para diversos clien-
tes da McCann, como
Chevrolet e L’Oreal.
Como acabou ficando
conhecido no merca-
do e tinha uma figu-
ra marcante, acabou
atuando em dois co-
merciais famosos nos
anos 70, nenhum de-
les para clientes da
McCann. Em ambos
ele fez papel de frei
Jayme Cortez aparece nos filmes de Mojica sempre no papel de um médico, franciscano, primeiro
ou um psiquiatra, ou alguém que vai explicar alguma coisa. Provalvemen-
te, Mojica achava que com sua figura na época de vastas barbas brancas e para a Faiança Por-
óculos de aros grossos, ele pudesse passar credibilidade ao papel. Jayme to Ferreira, em 1976,
Cortez ainda atuou em outra produção um pouco depois dessa época, porém
num papel menos nobre. No filme O Pálacio de Vênus, de Odi Fraga, filma- onde, com outros fra-
do em 1979 ele faz o papel de um sacristão que comparece a um bordel para des, cantava a música
o leilão da virgindade de uma garota, interpretada por Helena Ramos.
Escravos de Jó. Dois
anos depois era um
dos três frades que to-
cam sinos no filme de
Natal do Itaú.
MeMo6 | 99
Produzindo para a Televisão
Glória Menezes Regina Duarte
Tarcísio Meira
Lourdinha Félix
100 | MeMo6 Além dos desenhos da abertura, Jayme Cortez produziu uma série de retratos promocionais do elenco de A Deusa Vencida. Raquel Martins MeMo6 | 101
Ivan Mesquita
Maria Isabel
de Lizandra
e Armando
Bogus
108 | MeMo6
A par tir d os anos
1960, Jayme Cortez
passa a trabalhar nas
capas numa linha
mais próxima do de-
senho gráfico do que
da ilustração e passa
a se preocupar in-
clusive com a parte
tipográfica, mesmo
quando é contratado
apenas como ilustra-
dor. Pode-se ver isso
claramente na capa
de A Deusa Vencida,
onde era natural que
seguisse os grafis-
mos da abertura da
novela que também
foram feitos por ele.
Uma das primeiras
ed i ç õ e s d o K a m a
Sutra no Brasil foi
feita pela La Selva,
traduzida por Milton
Júlio e ilustrada, po-
rém com muita auto-
censura, por Jayme
Cortez. Nessa época,
mostrar um seio já
era um escândalo.
114 | MeMo6
No caso do Rubayat, livro erótico de
Omar Khayyam, Cortez optou por
usar um estilo mais figurativo e delica-
do, que ele dominava como poucos.
116 | MeMo6
José Mauro de Vasconcelos
foi também um indigenista.
Aqui o vemos no Xingú por
volta de 1958.
MeMo6 | 119
Uma outra série de muito sucesso que Cortez ajudou a lançar na Melhoramentos foi a da
Vaca Voadora, de Edy Lima, outra campeã de vendas, aqui na literatura infanto-juvenil. Nes-
se campo, por sinal, Cortez é um autor muito subestimado e seu trabalho precisa ser re-
descoberto, pois ele simplesmente adorava o tema, desde os Contos de Fadas da La Selva,
e sempre trabalhou com especial cuidado nestas oportunidades. Fora que fez muita coisa
nesse segmento, muitas coleções para editoras como a Melhoramentos, a Ática e a Abril.
Seu trabalho ia desde capas até dezenas de vinhetas e ilustrações a traço para o miolo dos
livros. Nos anos 1970, os trabalhos que fez para a coleção Aventura de Ler da Melhoramen-
tos se compunham de dezenas de ilustrações de capa e miolo e essa era uma coleção feita
para o MEC e portanto presente em todas as bibliotecas de todas as escolas públicas.
120 | MeMo6
o legado dos livros
Apesar de todo o seu trabalho como capista e ilustrador, com
certeza os livros mais importantes em que Jayme Cortez tra-
balhou foram aqueles em que ele foi também o autor: Técnica
do Desenho, Mestres da Ilustração e Manual Prático do Ilus-
trador. Durante muito tempo, estes foram os livros de cabecei-
ra de todos os aspirantes a ilustradores do Brasil, ajudando a
formar mais de uma geração de profissionais. Mas como foi
que eles surgiram? Muito antes de conhecer Enrique Lipszyc,
Jayme Cortez já conhecia o livro que este havia editado na Ar-
gentina em 1955, “El Dibujo a través del temperamento de 150
famosos artistas” e começou a se perguntar se não seria pos-
sível editar também aqui um livro assim. Um livro que reu-
nisse, mais do que apenas lições de desenho, demonstrações
técnicas dos mais famosos desenhistas do Brasil na época. Afi-
nal, ele conhecia quase todos e tinha certeza de que a maior
parte deles adoraria colaborar com um projeto como esse. E
resolveu que ia fazer um livro ainda maior do que o de Lipszyc.
Ele provavelmente esperava publicar esse livro pela Outubro
e numa entrevista ao jornal O Correio Paulistano de 2 de julho
de 1961 ele menciona o livro pela primeira vez. Iria chamá-lo
de “A Técnica da História em Quadrinhos” e na entrevista ele
revela que já o está preparando há muito tempo. No ano se-
guinte, em janeiro de 1962, na revista Resenha Artistica, além
deste, Cortez elenca mais dois livros que estaria preparando:
“Desenho Artístico” e “Animais e Paisagens”, o primeiro de-
les, provavelmente o livro que tinha preparado logo que chega-
ra ao Brasil e que continuava inédito.
MeMo6 | 123
Quando saiu da Outubro, boa parte do livro já havia tomado forma e era imenso. Ele co-
meçou a procurar algum editor que pudesse se interessar em editá-lo, mas isso não era
fácil, pois o investimento era grande. Cortez havia preparado o livro para que tivesse várias
páginas em cores, era uma edição luxuosa, em tamanho grande. Ofereceu o livro aos La
Selva, que não se interessaram por ele justamente por causa de seu tamanho. Eles esta-
vam ganhando muito dinheiro vendendo livros pelo reembolso postal e acharam que um
livro grande e pesado assim não venderia muito nessa modalidade. Essa opinião batia mais
ou menos com as de outros editores e Salvador Bentivegna, que havia editado Sérgio do
Amazonas, sugeriu a Cortez que dividisse o livro em volumes para facilitar o custo de sua
publicação, pois assim ele o publicaria. Cortez topou a sugestão e então preparou com o
mesmo material o que seria o primeiro volume: A Técnica das Histórias em Quadrinhos.
Bentivegna novamente sugeriu a Cortez outra mudança, desta vez no título, para que fosse
mais abrangente e pudesse atrair não apenas os fãs de quadrinhos, mas também os que
gostavam de desenho. E foi assim que foi para as gráficas em setembro de 1965 o primeiro
livro de Jayme Cortez: “A Técnica do Desenho”.
Gutemberg Monteiro
Aylton Thomaz
Luiz Saidenberg
No mês de dezembro
de 1965, a mídia deu
ampla cobertura ao
livro de Jayme Cor-
tez. No programa do
Capitão Furacão, ele
não só o apresentou,
como também dese-
nhou o Horácio, de
Maurício de Sousa.
Mauricio de sousa
ali, olhou para mim e perguntou: “Não é você quem
faz as tiras do cachorrinho na Folha?”. Confirmei.
Ele então disse: “Você faz aquelas coisas tão bonitas
e engraçadas no jornal, por que me traz esta mer-
MeMo:Você já publicava na Folha quando foi procurar Jayme Cortez na Editora Continental da? Faça histórias do Bidu que nós publicamos.”Foi
(depois Outubro). Você já contou uma vez que foi mostrar para ele uma história de terror. um choque (positivo) pra mim. Um diretor de editora
Pode contar melhor como foi isso? topava publicar o que eu sabia fazer. Voltei pra casa
inebriado. Pronto para esquecer de vez outros gêne-
Mauricio: Foi em fins de 1959. Nessa época eu já publicava minhas primeiras tiras, eram
ros e mergulhar no mundo dos quadrinhos do Bidu.
quadrinhos do Bidu e do Franjinha, historinhas mudas, semanais, que saíam aos sábados
no alto da primeira página do caderno de variedades da Folha da Manhã, hoje Folha de São MeMo: Então logo nesse primeiro encontro nasceu
Paulo. Eu ainda era repórter policial. Fazia as tiras nas minhas (poucas) horas de folga. E sua primeira revista em quadrinhos, a revista Bidu,
enquanto reportava e desenhava, via a invasão das revistas brasileiras nas bancas. Todas que durou oito números. Como ela era produzida?
com um selinho verde e amarelo no cantinho da capa. As pequenas editoras da Mooca,
deixavam de ser pequenas e inundavam o país com dezenas de títulos, a maioria de terror. Mauricio: Era produzida no maior sacrifício. Como
O terror era imbatível. Vendia mais do que tudo. Então me perguntei “por que não tentar eu disse, eu ainda era repórter policial, saia da reda-
ção pelas dez, onze da noite. Daí ia para meu apar-
aproveitar a onda?”.
tamento e desenhava varando a madrugada. Fazia
MeMo: E aí, você resolveu fazer uma história de terror? tudo das histórias. Roteiro, desenho, arte final, le-
tras, balão... e depois saía correndo, quando dava,
Mauricio: Sim. Chegou um feriado prolongado e rumei para a chácara da minha avó, em
para levar o material para a Rua da Mooca. Recebia
Mogi das Cruzes. Bairro retirado, lá no “alto do São João”, quando a região era só mato. E na
por esse trabalho (produzir a revista inteira sozinho,
calma de uma varanda gostosa, fui “elucubrando”, com muita dificuldade, uma história de
sem auxiliares) o correspondente a um salário mí-
terror. Com muito claro-escuro, como tinha que ser; personagens meio chupados do “estilo
nimo. Sem chance de choro.
Alex Raymond”, e um roteiro pra lá de medíocre. E por mais que me esforçasse, não con-
seguia imaginar nada além de quatro páginas. Mas o título já estava criado desde o início. MeMo: Vendia bem? Porque durou apenas oito nú-
A história se chamaria “A Coisa”. E era, realmente, uma coisa muito esquisita. Os feriados meros?
terminaram, eu saí de Mogi e fui direto para a editora Continental (depois Outubro), de onde
Mauricio: Acho que chegava na vendagem média
saíam dezenas de publicações com o selo verde-amarelo. Me apresentei e consegui que o
de outras revistas da editora. Havia poucas revistas
Mauricio em dois momentos: hoje em seu estúdio e quando era só um jovem repórter policial, cobrindo um evento no DEIC por volta de 1958.
infantis. A maioria, naquele tempo, era de terror ou
quadrinização de aventuras com personagens base-
ados em heróis da televisão, do cinema, do circo,
por aí. E parou porque eu não aguentei desenhar
mais do que cinco números. O que veio em seguida
foi repetição. Se eu continuasse naquele pique, não
ia durar muito.
MeMo: Você e seu trabalho aparecem com bastante
destaque no primeiro livro do Jayme Cortez, A Téc-
nica do Desenho, de 1966. Aparentemente ele gosta-
va bastante de você. Pode nos contar algo mais acer-
ca dessa amizade?
Mauricio: Nós não fomos simplesmente amigos. Eu
era um aprendiz de vida com ele. No lado artístico
não interferiu em nada no meu jeito ou estilo de
criar, de desenhar. Mas me passava as “malícias”
132 | MeMo6 Primeiras tiras do Bidu, julho de 1959 na Folha da Manhã. MeMo6 | 133
da nossa atividade junto aos “patrões”, me aconselhava. E eu meio que cuidava um pouco
dele, também. Acalmando-o em momentos em que se exasperava.
MeMo: Como foi sua viagem com o Cortez para Lucca e Portugal?
Mauricio: Certa vez me pediram para ilustrar um anúncio da Varig (maior empresa aérea
daqueles tempos - anos 50 para 60) para publicar no suplemento Folhinha de São Paulo onde
eu já colaborava com historietas. Era um anúncio chamando a criançada para visitar a Dis-
neylandia. Justo nessa época eu estava sonhando em ir para a Europa para conhecer o Con-
gresso de Histórias em Quadrinhos de Lucca, na Itália. Naquele tempo o congresso mais
badalado no gênero. Concordei em fazer o anúncio e pedi o pagamento em passagens. Duas.
Uma para mim e outra para o Cortez, já que havia muitos anos que ele desejava voltar a ver
sua terra natal, Portugal, e não tinha recursos. Passaríamos por Portugal e depois iríamos
para Lucca. Na volta, ajeitei para voltarmos por Paris, para completar gostosamente a via-
gem. Tudo foi maravilhoso. Menos a dureza, a falta de dinheiro. Saímos do Brasil com 200
dólares com obrigatoriedade de ficarmos 28 dias na Europa. Economizamos como deu. Mas Cortez em sua prancheta
no final precisei pedir socorro ao meu estúdio no Brasil. Ou estaríamos à beira do Sena dese- na Mauricio de Sousa Pro-
duções, quando este ainda
nhando (Cortez) e cantando (eu) em troca de alguns trocados. Até nos preparamos para isso era sediado no prédio da
Folha de São Paulo.
mas felizmente não foi necessário com os 100 dólares que conseguimos receber.
Mauricio de Sousa
Roberto Barbist Amélia Mihara
Reinaldo Waissman Péricles N. de Souza
Pelé
136 | MeMo6
Armando Moura
José Lanzellotti
Logo depois de lançado o primeiro, Cortez voltou a se dedicar ao seu segundo livro, cujo
título escolhido foi “Mestres da Ilustração”. Desta vez, mais voltado para o mundo da ilus-
tração do que dos quadrinhos, mostrando inclusive o trabalho de diversos grandes ilus-
tradores que trabalhavam anonimamente nas agências de publicidade, que agora ele co-
nhecia. Contando com um prefácio de Pietro Maria Bardi, o livro foi lançado no MASP em
janeiro de 1970. Este livro contava com várias páginas impressas em quadricromia, o que
o tornava mais caro do que A Técnica do Desenho. A capa, estranhamente não era de Jayme
Cortez, mas de seu colega na McCann, o diretor de arte argentino Hector Tortolano. Ao con-
trário do livro anterior, aqui há capítulos definidos para cada um dos artistas convidados,
com uma pequena introdução biográfica e uma foto de cada um deles. No começo do livro,
Cortez fornece algumas dicas técnicas sobre ilustração, mas nada muito profundo, prova-
velmente porque já tinha em mente se aprofundar em seus próximos livros.
Aldemir Martins
Pietro Maria Bardi
Mariana P. Martins
Sempre nos
(de costas) e Phillippe Druillet (de barba)
quadrinhos
No final de 1970 no MASP aconteceu um
evento chamado “Primeiro Congresso In-
ternacional de Histórias em Quadrinhos”,
junto com uma grande mostra chamada
“Histórias em Quadrinhos e Figuração
Narrativa”. Tratava-se na verdade de uma Cortez, Mauricio, Colonnese, Aizen, Lypszyc, Nico Rosso e Manoel César Casoli
mostra francesa, montada no Louvre no
ano anterior e que foi trazida ao Brasil e
oferecida ao MASP pela Escola Paname- Claude Moliterni, Lee Falk e Phillippe Druillet
Lee Falk, Phillippe Druillet e Burne Hogarth
ricana de Arte. Desde os anos 60, os qua-
drinhos ganhavam prestígio entre os círcu-
los intelectuais e apreciadores das artes.
Diversos artigos eram escritos em revista
“sérias” sobre sua qualidade como mani-
festação artística e críticos de arte impor-
tante descobriram a beleza dos desenhos
de Alex Raymond, Hal Foster e Burne Ho-
garth. Os quadrinhos estavam na moda,
enfim. E foi por causa disso que o mesmo
Pietro Maria Bardi que negou o MASP para
a exposição montada em 1951 por Cortez,
Phillippe Druillet, Claude Moliterni, Robert Gigi, Rinaldo Triani, Burne Hogarth, David Pascal e Lee Falk
Moya e seus amigos, agora abriu as portas
para esta mostra e para um congresso, em
que compareceram diversas personalida-
des dos quadrinhos mundiais, como Lee
MASP, de 23 de novembro Falk, Claude Moliterni, Phillippe Druillet,
a 15 de dezembro de 1970 e Robert Gigi, além de várias personali-
dades dos quadrinhos brasileiros como
Henfil, Ziraldo e Adolfo Aizen. Apesar de
não desenhar quadrinhos há muito tempo,
Cortez de fato jamais deixou de gostar de-
les e prestigiá-los, portanto participou ati-
vamente do Congresso, compondo várias
mesas e painéis de discussão e compare-
cendo a todas as recepções oferecidas aos
participantes mais importantes.
140 | MeMo6 MeMo6 | 141
Dois anos depois disso, de abril a maio de
1972 aconteceu o “Primeiro Congresso Ame-
ricano Internacional de Histórias em Qua-
drinhos” em Nova York com delegados de
diversos países. A delegação brasileira foi
composta por Álvaro de Moya, Enrique Lip-
Lee Falk
szyc, Manoel Victor Filho, Mario Tabarin,
Naumin Aizen, Mauricio de Sousa e Jayme
Cortez. Nessa mesma ocasião, foi entregue Hergé
Gary Trudeau
John Prentice
Jean-Claude Forest
Mel Lazarus
Hugo Pratt
Chester Gould
Em fevereiro de 1974 chegava às bancas de todo o Brasil uma nova revista da Editora Abril: que publicasse quadrinhos de boa qualidade, fossem histórias de aventura ou humorísticas.
Crás!. A revista foi uma ideia de Cláudio de Souza, nessa altura um dos diretores da Abril. O detalhe é que ele não queria nenhuma história de fora, queria que todas fossem produzi-
Ele queria uma revista moderna, nos moldes da revista italiana Linus ou da francesa Pilote, das no Brasil por talentos dos estúdios da Abril e também alguns desenhistas convidados.
Conrado Porta
MeMo6 | 167
P.C. Munhoz
Ainda em 1974, entre os dias 13 e 15 de setembro, Cortez participou do Primeiro Congresso Aylton Thomaz
Universitário de Histórias em Quadrinhos na cidade de Avaré, São Paulo. Alvaro de Moya
nessa época era professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de
São Paulo e foi um dos organizadores do congresso, que levou a Avaré, além de Jayme Cor-
tez, Mauricio de Sousa, Zélio, Ziraldo, Ciça, Jaguar, Helena Silveira e Naumin Aizen, todos Jaiminho Franco de Rosa
ligados ao mundo dos quadrinhos e mais os escritores Lygia Fagundes Telles e Hernâni Do-
Sebastião Seabra
nato. Neste mesmo mês, Jayme Cortez foi convidado pela Organização Mundial de Saúde a
colaborar com um desenho que seria utilizado num calendário que seria distribuído mun-
dialmente aos membros da organização a partir de janeiro de 1975. Seriam 52 ilustrações
de artistas do mundo inteiro, uma para cada semana do ano. A segunda semana de agosto
foi ilustrada com um desenho do Zodíako. O Congresso de Avaré foi um sucesso, e no ano
seguinte tornou a ser realizado entre 7 e 14 de setembro, também com muitos convidados e
mostras individuais de artistas como Edmundo Rodrigues, Franco de Rosa, Sebastião Sea-
bra, Luiz Gê, Paulo Hamasaki e outros. E no dia 12, às 20:00 horas, o lançamento do álbum
Zodiako, de Jayme Cortez, publicado pela Editora Saber. E para coroar a festa, no dia seguin- Paulo Paiva
te, em noite de gala, Cortez foi um dos agraciados com o Prêmio O Tico-tico. Ainda naquele
ano, em outubro, Cortez faz parte da delegação brasileira ao 11º Festival de Lucca, onde
apresenta Zodíako, que acabaria sendo publicado em italiano e em francês. Neste Festival,
o editor Adolfo Aizen foi premiado com o troféu Yellow Kid, em homenagem a uma vida de- Novaes
dicada aos quadrinhos. Como não pode comparecer foi representado por Jayme Cortez, que
no mês seguinte foi à EBAL, junto com Álvaro de Moya, Reinaldo de Oliveira e Mauricio de
Sousa entregar o prêmio, com uma boa cobertura da imprensa carioca. No alto, estudos e capa do álbum Zodiako. À esquerda, Cortez com o Troféu O Tico-Tico e entregando
o Yellow Kid a Adolfo Aizen. Acima, Cortez com uma turma de jovens cartunistas em Avaré, 1975.
Jardel Filho
Wilson Grey
Sérgio Malta
MeMo6 | 185
Finda essa experiência, já em
1978, Jayme Cortez participou
de O Grande Livro do Terror,
como já dissemos, também em
parceria com Hélio Porto, des-
ta vez pela Editora Argos, que
pertencia a Porto. Esta foi, sem
nenhuma dúvida uma das me-
lhores publicações dos anos
1970 em matéria de quadri-
nhos, pois além de boas histó-
rias tinha matérias muito bem
pesquisadas e grandes entre-
vistas com artistas brasileiros
conduzidas pelo pesquisador
Rudolf Piper. Infelizmente, em
que pese a grande qualidade,
foi um fracasso de vendas. Em
1979, Jayme Cortez participa
da festa de 45 anos de fundação
da EBAL. A convite de Adolfo
Aizen, ele, Mauricio de Sousa,
Gedeone Malagola, Álvaro de
Moya e Reinaldo de Oliveira
vão ao Rio participar da festa,
onde Cortez troca experiências
com outro artista português, o
legendário Monteiro Filho.
Na página ao lado, uma ilustração de Cortez
para O Grande Livro do Terror, cuja capa ele
criou mas foi pintada pelo artista chileno Fred-
-dy Galan. Abaixo o bolo de 45 anos da EBAL e
uma foto de Cortez com Monteiro Filho.
188 | MeMo6
Encantava por horas qualquer plateia. Rio muito toda vez que me lembro de um caso que
ele contava sobre uma vez em que estavam ele e José Mojica Marins(Zé do Caixão) num
festival de filmes de Terror, creio que nos Estados Unidos, quando viram em meio à festa
o monstro sagrado do Terror na época: Christopher Lee, o melhor de todos os Dráculas
(na minha opinião). Pediram então a um amigo em comum que os apresentassem ao
ídolo, afinal Zé do Caixão era nosso monstro sagrado tupiniquim.Quando ficaram fren-
te a frente com a imponente figura do ator, com quase 2 metros de altura e com ares de
vampirão sedutor, Mojica estendeu a mão para cumprimentá-lo. Lee ao estender a sua
viu as enormes e horrendas unhas do Zé do Caixão e simplesmente refugou, dando um
pulinho atrás, pôs as duas mãos na boca, esbugalhou os olhos e deu um gritinho horro-
rizado. Cortez contava que os dois, ele e Mojica, saíram rapidinho da cena e foram se
acabar de tanto rir, longe dos olhos do vampiro machão. E ver o Jayme contando isso era
ainda mais engraçado que a própria cena, já muito hilária. Infelizmente não tivemos a
oportunidade de fazer uma parceria profissional. Talvez pelo fato dos nossos estilos grá-
ficos serem muito diferentes. Já li muito a respeito de um lado mordaz e crítico do Jayme,
com relação a outros desenhistas. Mas eu não cheguei a presenciar esse tipo de atitude
do mestre. Pelo contrário, ele era sempre muito reservado e econômico em suas críticas
e nunca o vi fazendo qualquer tipo de ironia em relação a artistas em início de carreira
ou algo semelhante. Aparecia muita coisa primária e amadora no Clube dos Ilustrado-
res, e eu e outros profissionais arrogantemente descíamos a lenha, mas ele não proferia
uma única crítica. Acho que esse lado mais corrosivo do mestre deve ter feito parte do
seu passado ainda jovem, quando todos nós somos mais críticos e impiedosos. Mas não
é lenda, pois ouvi da própria boca do meu mestre, Hugo Tristão, uma destas passagens
dos idos anos 50, auge dos quadrinhos nacionais. O ainda jovem Hugo Tristão aportou na
Outubro, onde Cortez embora também jovem já era Diretor de Arte e principal capista
das revistas, e trouxe seus quadrinhos para apreciação do mestre. Hugo só tinha traba-
lhos na linha infantil e a editora já bem abastecida deste gênero procurava quadrinhos
de Terror, sucesso absoluto na época. Hugo Tristão então disse ao Cortez não saber como
fazer para entrar neste universo mais “pesado” e sobrenatural. Cortez não pensou duas
vezes e lascou: “simples... tú fazes um estágio no cemitério”!
Outra coisa que fez nesse ano, foi retornar ao personagem Tupizinho, que tinha publica-
do na La Selva em 1956. Em 1983, alem de aparecer em várias edições da Folhinha de São
Paulo, Tupizinho estrela um livro infantil escrito e ilustrado por Cortez que o dedica a sua
neta Simone, filha de Leonardo. A edição da Noblet de dezembro de 1983 se propõe a ser o
primeiro de uma série, mas isso acabou não acontecendo. Em 1984, Cortez é o foco de uma
reportagem da revista Inter! Quadrinhos número 3. Essa revista era uma tentativa de fazer
uma versão brasileira da Heavy Metal e no número seguinte Cortez colabora com a história
“Magoou-se pobre filho meu?” baseada numa música de Vicente Celestino de 1937. A histó-
ria foi escrita, desenhada e colorida por Cortez. Foi também letreirada por ele, coisa que ele
não gostava de fazer, sendo que várias de suas histórias nessa época foram letreiradas por
Rodolfo Zalla. Nós a republicamos a seguir. Cortez voltaria a fazer uma história baseada em
uma música de sucesso, Latir para a Lua (Bark at the Moon) de Ozzy Osbourne, publicada
em Calafrio. Nesse ano, Cortez expõe duas vezes no MASP, uma pelo Clube dos Ilustradores
e outra na IV Exposição de Quadrinhos e Ilustrações da ABRADEMI (Associação Brasileira
de Desenhistas de Mangá e Ilustrações) que conseguiu esse espaço também em virtude
da vinda ao Brasil de ninguém menos do que Osamu Tezuka, que é recepcionado e home-
nageado por vários desenhistas nacionais como Rodolfo Zalla, Mauricio de Sousa e Jayme
Cortez em novembro de 1984.
Jayme Cortez e a
pequena Simone.
ano do Festival de Lucca, com grande cobertura da imprensa brasileira, ele recebe o Prêmio Igayara
Marco
Aragão
Caran D’Ache “por uma vida dedicada à ilustração e aos quadrinhos”. Acontece também na Watson
Del Bó
Moya
Oscar
FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) uma nova mostra de cartazes do cinema na- Franco
Eduardo Francisco
cional, com destaque para o trabalho de Cortez. E no final desse ano, a Press Editorial, que Schaal Silvio
Vitorino Bira Lipszyc Reinaldo Vilachã
Dantas (escondido)
pertencia a Franco de Rosa e Paulo Paiva, edita uma bela edição chamada “A Arte de Jayme Ely
Barboza
Cortez” com texto do jornalista Wagner Augusto apresentando pela primeira vez uma cro-
nologia da carreira de Jayme Cortez, além de diversas entrevistas e muitas fotos do acervo
Rubens
pessoal de Cortez. O lançamento oficial da obra acontece no dia 30 de janeiro de 1987, Dia Mário Zalla
Cordeiro
Tabarin
Ataíde Braz
do Quadrinho Nacional, na festa de entrega do Prêmio Angelo Agostini daquele ano (que foi
Armando
concedido a Flávio Colin, Sergio Lima e Henfil). de Sá
Em 10 de junho de 1987, a Press lança uma nova edição do álbum Zodiako, com direito a
exposição de originais e uma grande festa de lançamento na Escola Panamericana de Arte.
Comparecem ao evento diversos artistas, inclusive José Delbó, que estava visitando o Brasil
por onde tinha passado em 1963 antes de se fixar nos Estados Unidos trabalhando para diver-
sas editoras. Quem primeiro lhe deu trabalho aqui no Brasil foi justamente Jayme Cortez, na
ocasião diretor artístico da Outubro que editou o cowboy Colorado, criado por Delbó. Logo
depois do lançamento de Zodiako, novamente com grande cobertura da imprensa, Cortez
acerta com a Editora Martins Fontes a publicação de um álbum reunindo suas histórias re-
centes feitas para a D-Arte e a Inter! chamado Saga de Terror. Aparentemente, 1987 corria às
mil maravilhas para o artista português, mas infelizmente o destino não quis assim.
MeMo6 | 211
Uma manhã de domingo
Dia 28 de junho de 1987 caiu num domingo. Nes-
se dia, logo pela manhã, Jayme Cortez se sentiu
muito mal e começou a vomitar sangue. Foi levado
pela família para o Hospital Matarazzo, perto de
sua casa, onde foi internado em estado grave na
Unidade de Terapia Intensiva. Mesmo medicado,
seu estado se agravou mais ainda, ele entrou em
coma e acabou falecendo de uma parada cardí-
aca no sábado seguinte, as 2 horas e 10 minutos
do dia 4 de julho de 1987. Sua internação e mor-
te, acompanhadas pela imprensa, chocou toda a
comunidade de artistas de cinema, quadrinhos,
publicidade e ilustração, pois aconteceu de uma
forma abrupta. Foi algo que ninguém esperava,
pois Cortez jamais deu qualquer sinal de estar do-
ente e tinha apenas 60 anos. Jayme Cortez foi se-
pultado no Cemitério São Paulo no mesmo dia e
seu velório foi acompanhado por diversos amigos,
muitos ainda incrédulos com relação à sua morte.
A morte de Jayme Cortez repercutiu na imprensa
do Brasil, de Portugal e da Itália. A exposição dos
originais do Zodíako continuou por mais um mês
na Panamericana e uma outra exposição foi orga-
nizada pela Fundação Cásper Líbero em homena-
gem a ele. Nesta, além de originais de Cortez, o
publico pode ver trabalhos de diversos outros ar-
tistas como Laerte, Conceição Cahú, JAL, Nico-
lielo, Gepp e Maia, Glauco e Miécio Caffé, entre
outros. O livro Saga de Terror foi lançado pela Mar-
tins Fontes em 1988, com um texto introdutório de
Alvaro de Moya homenageando seu grande ami-
go. Em 1988, a AQC-SP cria o Troféu Jayme Cortez,
que passa a ser entregue junto com o Troféu An-
gelo Agostini para aqueles com grandes serviços
prestados aos quadrinhos brasileiros. Nesse ano,
o prémio foi entregue a João Baptista Queiróz por
Edna Cortez, que às lágrimas declarou: “Estou
nessa luta desde a primeira exposição de quadri-
nhos de 1951 e vou continuar com vocês enquanto
estiver viva. Não esqueçam o Jayme…”.
Agradecimentos
Edna Cortez Edna Cortez
Edna Cortez
JAL
Até o final de sua vida, Edna Cortez se esforçou para
manter a memória de Jayme Cortez, colaborando sem-
pre que pôde, fosse emprestando originais ou presti-
giando exposições. Nisso, ela foi muito ajudada pelo
ilustrador paulistano Fábio Moraes, grande admirador
do trabalho de Jayme Cortez a quem, ironicamente, não
chegou a conhecer pessoalmente. Fábio Moraes ao lon-
go dos anos fez uma grande amizade com a família Cor-
tez, em especial com Dona Edna e com Jaiminho e após
o falecimento dela, tornou-se guardião do vasto acervo
de originais de Jayme Cortez. Sempre disposto a ajudar
na preservação da memória do grande artista portu-
guês, inclusive digitalizando, tratando, reformatando e
reeditando muitos de seus trabalhos (como o Zodíako Fábio Moraes
que acaba de sair, por exemplo), mais uma vez ele o fez
através da imensa colaboração que deu a este número de
MeMo. Sem sua bondade não seria possível meu acesso Cláudio Fragnan
ao precioso arquivo de recortes de jornal mantidos por Luiz Saidenberg Toni Rodrigues
Toni Rodrigues
216 | MeMo6
MeMo
Número 6 - fevereiro de 2015