Literatura, Leitura e Aprendizagem PDF
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Literatura, Leitura
e Aprendizagem
Literatura, Leitura
e Aprendizagem
2.ª edição
2009
Marta Morais da Costa
O professor-leitor...................................................................... 33
A formação do leitor................................................................. 45
Leitura e compreensão............................................................ 59
Tópicos gerais sobre leitura.................................................................................................... 61
Tópicos específicos sobre leitura.......................................................................................... 63
Análise para a compreensão.................................................................................................. 65
Macroprocessos.......................................................................................................................... 67
A contação de histórias........................................................... 87
A ilustração do livro infantil.................................................101
A importância dasilustrações no livro para crianças...................................................101
As diferentes funçõesda ilustração no livro infantil.....................................................103
Funções da ilustração.............................................................................................................104
A imagem em outros suportes............................................................................................107
Por uma pedagogia do olhar...............................................................................................109
Poesia e música........................................................................149
Contos de encantamento.....................................................175
Outras formas de narrativa..................................................187
A biblioteca escolar................................................................217
Gabarito......................................................................................239
Referências.................................................................................249
Anotações..................................................................................259
Apresentação
Objetivos
Discutir o valor da leitura para a sociedade. Expor modos de enten-
der o ato de ler como criação de sentidos e como crescimento pesso-
al. Averiguar os modos como a linguagem se organiza no texto e os
modos de ler a denotação e a conotação.
São muitas as questões que afetam o tema da leitura num país de edu-
cação problemática, como o Brasil. Os professores, encarregados da for-
mação de leitores, atividade que atravessa todos os níveis da escolaridade,
trabalham sob o peso dessas muitas perguntas, algumas de resposta in-
completa, outras, ainda sem resposta.
Você receberá como resposta desde a crença de que a leitura instrui, infor-
ma, leva ao conhecimento, até aquelas de ordem prática, como, por exemplo,
“a leitura me torna independente, pois posso saber das coisas sem precisar do
auxílio de outros”, ou “a leitura me permite sair da situação de pobreza, porque
posso conseguir um trabalho melhor”, ou, ainda, “a leitura me dá segurança”, ou
“permite que eu me relacione melhor com os outros”. Provavelmente, nenhuma
resposta trará um valor negativo, descartável, de repulsa à leitura. As pessoas
podem alegar que ela é difícil, chata, demorada, mas jamais acusarão seus pro-
fessores de lhes terem ensinado o supérfluo quando foram alfabetizados; isto é,
quando foram, mesmo que minimamente, credenciados para ler.
Desde que nós, professores, passamos a ter certeza do valor que a leitura re-
presenta para os mais diversos sujeitos receptores, investir na boa qualidade da
formação dos leitores é apenas uma consequência. Então, vamos avaliar, neste
módulo, os diferentes aspectos da leitura para que, conhecendo o campo de
atuação profissional, possamos desenvolver melhor, e com melhores frutos, o
trabalho docente.
Dessa forma, fica clara qual é a função que o leitor pode e deve assumir na relação com o
conhecimento: na medida mesma em que o leitor suposto pelo autor interfere no ato de
produzir textos, o ato de leitura envolve um conjunto de histórias de leituras do texto e do
leitor, apontando para o ineditismo de sentidos renovados.
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Leitura, literatura e aprendizagem
tivado por elas, lhes atribui. Mais ainda, os estudos recentes de Linguística e da
Análise do Discurso afirmam que os significados das palavras são flutuantes e
variáveis. Dependem do contexto cultural e pessoal, das palavras que compõem
o restante do texto, da experiência de vida e leitura do leitor e assim por diante.
O resultado é que o sentido flutua e, ao ler, o sujeito leitor projeta, sobre a ma-
terialidade das palavras, significados que se alteram de leitor para leitor – nem
sempre com muita diferença, mas sempre com nuances, com pequenas distin-
ções, frutos da individualidade de cada leitor.
Diz Eni Orlandi (1996, p. 9) que “[...] a linguagem é sempre passível de equí-
voco. [...] os sentidos não se fecham, não são evidentes, embora pareçam ser”.
Podemos entender, pois, que qualquer texto tem um sentido em aberto. Cabe
ao leitor selecionar os sentidos, a partir de sua experiência com as palavras, e
montar um conjunto coerente que produza a interpretação que satisfaça aos
objetivos colocados no início da leitura.
Cumpre lembrar, ainda, que o professor deve ter clareza quanto à concepção
de texto que o leva a perguntas e a exercícios de leitura. Ângela Kleiman (2000,
p. 17-23) destaca cinco delas:
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Neste caso, o professor “utiliza o texto para desenvolver uma série de ativida-
des gramaticais, analisando, para isso, a língua enquanto um conjunto de clas-
ses e funções gramaticais, frases e orações”. Há um isolamento do texto, uma
fragmentação e um desvio de função, uma vez que a compreensão dos sentidos
gerais, da visão de mundo expressa e, consequentemente, de uma leitura signi-
ficativa para o aluno ficam perdidas.
Embora o livro didático se sirva com frequência dessa concepção, ela contri-
bui para o desinteresse e o desestímulo do leitor para a leitura, pois um texto é
muito mais do que um conjunto de fatos gramaticais. Ele visa comunicar ideias,
provocar efeitos no leitor, registrar acontecimentos ou pensamentos.
A autora adverte:
Parte constitutiva do ensino de leitura consiste em conscientizar o aluno da intencionalidade
do autor, refletida na escolha das palavras. Substituir aquela palavra escolhida pelo autor por
um sinônimo, que mais ou menos mantém o sentido original tencionado, vai contra essa
conscientização. (KLEIMAN, 2000, p. 20)
Por isso, evite sair falando em “minha leitura”, “porque é minha leitura”, sem
antes promover a compreensão do texto autoral.
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Leitura, literatura e aprendizagem
A linguagem não funciona dessa maneira isolada: ela é associativa, uma rede
de sentidos. Erra, mais ainda, o professor ao deixar de investigar com maior pro-
fundidade o pensamento expresso no texto. Em lugar desse questionamento, o
professor transfere ao aluno a capacidade de opinar: sem que o estudante tenha
sequer compreendido o texto, já está o professor a perguntar-lhe a opinião, o
posicionamento crítico, a concordância ou discordância com o autor.
A leitura medida por páginas, realizada sem objetivos, para atender à ordem
do professor ou à cobrança, age negativamente sobre o aluno e impede que o
texto seja significativo para ele, para sua aprendizagem, para sua vida.
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
As quatro funções criadas pela escola para justificar o trabalho com a leitura
produzem enganos sérios. Em primeiro lugar, a crença de que há apenas uma
maneira de abordar o texto e somente uma interpretação. Em segundo, a de
que o texto se reduz ao conhecimento do vocabulário. Em terceiro, a de que o
professor produz uma leitura “autorizada”, isto é, a única verdadeira.
Podemos concluir, com Maria Bernadete Abaurre (et al., 1998, p. 10), que:
Se o objetivo do trabalho com a leitura de textos é a constituição de leitores com uma gama
variada de habilidades de leitura, de leitores capazes de ler para informar; para estudar e
entender o ponto de vista de um autor; para compará-lo com o de outros autores; para buscar
e construir novos conhecimentos; para fruir, apreciar e refletir sobre o conteúdo, a estrutura
textual ou os recursos de linguagem utilizados; para relacionar o texto lido com outros; para
criticar aspectos do texto ou da realidade que retrata etc., o aluno deve ser exposto a textos
reais (e não artificialmente construídos para enfatizarem “um problema de ordem gramatical”
ou “temático”).
Texto complementar
O processo de leitura
(COSSON, 2006, p. 28-41)
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Leitura, literatura e aprendizagem
uma história da leitura, como também uma sociologia da leitura, uma antro-
pologia da leitura e uma psicologia da leitura, além das áreas que tradicional-
mente se ocupavam do tema como a pedagogia, a linguística e os estudiosos
da literatura e da linguagem em geral. O campo da leitura se expandiu de
tal maneira que não se pode mais ter a pretensão de conhecer todas as suas
ramificações.
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
quando não considera seus resultados. Essa é a crítica principal que se faz a
esse grupo de teorias da leitura. Ao privilegiar o leitor no processo da leitura,
essas teorias terminam por ignorar que o sentido atribuído ao texto não é um
gesto arbitrário, mas sim uma construção social. Além disso, se as antecipa-
ções que o leitor faz ao ler os textos são importantes, elas podem igualmente
levá-lo a ignorar o significado do texto, lendo apenas aquilo que deseja ler.
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Leitura, literatura e aprendizagem
Dica de estudo
<www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=3718>.
Atividades
1. Faça um levantamento das funções da leitura em sua experiência pessoal.
Procure estabelecer quais os critérios que cada uma delas segue e exemplifi-
que com livros lidos.
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
2. Observe o modo como você leu este texto: compreendeu-o todo? No que
você encontrou maior dificuldade? Essa observação faz com que você reflita
sobre a questão de seu modo de ler e da importância dessa atividade cumu-
lativa. Escreva um pequeno texto a respeito.
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Leitura, literatura e aprendizagem
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A concepção escolar da leitura
Objetivos
Refletir sobre o modo como a escola tem letrado seus alunos e de-
monstrar as possibilidades de transformação que o trabalho pedagógico
pode trazer para o processo de aprender a ler e de continuar sendo leitor.
Além do mais, o falante de uma modalidade de língua, seja ela qual for, tanto
será mais competente quanto mais habilidoso em distinguir onde, quando e de
que maneira poderá servir-se dessa ou de outra qualquer modalidade. A capa-
cidade de adequação é condição inerente ao falante inteligente e eficaz. A alfa-
betização levará em conta, portanto, a variedade da língua oral e escrita como
princípio básico de aprendizagem e desempenho.
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A concepção escolar da leitura
A leitura não pode ser cartilhesca, isto é, exercida sobre textos construídos
com a finalidade de servir de apoio a atividades e exercícios de língua, que tem
uma construção fragmentada, de frases sem coerência e sem sentido, construí-
das como narrativas primárias, que nada dizem ao imaginário infantil, nem res-
pondem às expectativas desse público.
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A concepção escolar da leitura
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Texto complementar
A prática da leitura
(POSSENTI, 2006, p. 91-93)
Para Marisa Lajolo (1982ab, p. 59), “Ler não é decifrar, como num jogo de
adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-
lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos
para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e,
dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela,
propondo outra não prevista”.
O autor, instância discursiva de que emana o texto, se mostra e se dilui nas lei-
turas de seu texto: deu-lhe uma significação, imaginou seus interlocutores, mas
não domina sozinho o processo de leitura de seu leitor, pois este, por sua vez,
reconstrói o texto na sua leitura, atribuindo-lhe a sua (do leitor) significação.
É por isso que se pode falar em leituras possíveis e é por isso também
que se pode falar em leitor maduro e “a maturidade de que se fala aqui não
é aquela garantida constitucionalmente aos maiores de idade. É a maturida-
de de leitor, construída ao longo da intimidade com muitos e muitos textos.
Leitor maduro é aquele para quem cada nova leitura desloca e altera o signifi-
cado de tudo o que ele já leu, tornando mais profunda sua compreensão dos
livros, das gentes e da vida” (LAJOLO, 1982, p. 53).
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A concepção escolar da leitura
Não me parece que a resposta seja simples. Se fosse assim, não haveria
razão para tantos encontros de professores, tantos textos que tematizam a
própria leitura. Qualquer que seja a resposta, no entanto, estará lastreada
numa concepção de linguagem, já que toda a metodologia de ensino articula
uma opção política – que envolve uma teoria de compreensão e interpreta-
ção da realidade – com os mecanismos utilizados na sala de aula (conforme
Fischer, 1976). No nosso caso, como compreendermos e interpretarmos o fe-
nômeno linguagem embasará a resposta ao problema.
É desnecessário dizer que este texto não pretende dar a resposta, mas uma
resposta. E a leitura desta, para sermos coerentes com a concepção de leitura
recém-delineada, se transformará em respostas. Por mais que eu fuja da res-
posta que quero dar, fazendo uma citação ali, alertando o leitor para o “desne-
cessário dizer”, mas dizendo, não posso fugir de dar uma resposta, sob pena de
estar simulando, agora, a produção de um texto tornando-o “redação escolar”.
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Dica de estudo
Consulte o resultado da pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, que pode
se encontrado no site <www.institutoprolivro.org.br>. Nele você obterá
não apenas os dados sobre a pesquisa e seus resultados, como também
estudos que analisam esses resultados. Nele você poderá comprovar como
a leitura tem importância histórica, social e pessoal e o quanto a escola é o
espaço privilegiado para formar leitores.
Atividades
1. Considere as diferentes disciplinas que você já estudou em sua vida estudan-
til e analise se elas dispensaram a leitura ou não. Escreva um texto sobre esse
resultado.
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A concepção escolar da leitura
2. Que critérios você deve usar para considerar uma pessoa iletrada?
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O professor-leitor
Objetivos
Questionar a formação do professor como leitor e provocar uma re-
flexão sobre a necessidade de mudanças metodológicas no trabalho
com a formação de leitores crianças.
[Professora] – Eu não me lembro dos meus pais lerem alguma coisa prá
mim, não. Não, meus pais, acho que não. Ele, meu pai, brincava muito comigo.
É, aquela brincadeira “balança caixão”, né ? Essas coisas ele brincava demais. É,
minha mãe... não me lembro assim de minha mãe brincar com a gente assim,
nem tanto. Mais era meu pai. Mas de leitura, não. Acho que leitura, nem um
pouco. Me lembro assim de jornal. Aos domingos tinha, mas não me lembro
se ele mostrava alguma coisa. Acho que, não sei. Eu acredito que a parte de
alfabetização era mais a escola. Eles deixavam essa parte prá escola mesmo,
não tinha incentivo em casa.
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A denominada Escola dos Annales teve com o suporte a revista francesa Annales (Anais) para divulgar suas ideias e modo de interpretar a reali-
dade. Dos ensaios divulgados pela revista surgiu um modo de construir o discurso histórico, denominada Nova História, que tem como princípio
a valorização dos fatos miúdos do cotidiano, as pessoas comuns, um olhar sobre a vida diária das comunidades, deixando de lado as figuras mais
proeminentes, como grandes guerreiros, reis e altas autoridades.
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O professor-leitor
P – Liam, liam.
P – Ah! Tá! Eu tô entendendo [...] Não, isso tem. Isso sempre teve. Meu pai
sempre leu jornal, é, minha mãe a Bíblia, livro mais, assim, religioso [...] Desde
pequena. Isso eu me lembro, bastante [...]
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Convém não esquecer que um professor aviltado pelo salário e por nenhuma
perspectiva de aperfeiçoamento dificilmente se torna um bom profissional. O
entusiasmo inicial da carreira extingue-se, desaparece com o tempo, em resulta-
do de um trabalho mal recompensado e mal desenvolvido.
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O professor-leitor
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Uma outra questão que não pode ser esquecida diz respeito à figura do professor que não gosta
de ler, por causa de lacunas na sua própria formação escolar. Em função disso, as metodologias
utilizadas nas aulas de leitura com as crianças e os adolescentes acabam sendo a repetição do
que ele conheceu como “aula de leitura”, pois não há conhecimento das teorias da leitura, nem
a intenção de se formar leitores críticos e maduros.
Essa advertência sobre como transferimos aos alunos nossas próprias defi-
ciências, e alimentamos, com isso, um círculo vicioso de leitura, bastaria para
mover os professores a procurarem novos caminhos de aperfeiçoamento pesso-
al, para que não fossem repetidos, nos mais novos, os mesmos defeitos do pas-
sado. Como a história do homem e dos textos move-se continuadamente, como
a realidade nos presenteia com dias novos e manhãs de esperança, não se pode
permanecer, acomodadamente, no mesmo patamar de aprendizagem.
Texto complementar
Síntese da pesquisa
(GUEDES-PINTO, 2002, p. 246-247)
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O professor-leitor
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Dica de estudo
Assista ao documentário A Janela da Alma.
Informações técnicas:
Atividades
1. Redija um depoimento de sua história pessoal de leitura.
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O professor-leitor
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
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O professor-leitor
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A formação do leitor
Objetivo
Definir as características das linguagens e o trabalho que um indiví-
duo deve realizar para se tornar um leitor crítico.
Mas de que livros? Ainda recentemente, um artigo do crítico Wilson Martins chamava a atenção
para o aspecto descartável do livro considerado apenas como mercadoria, livro efêmero, de
vida cada vez mais curta. Os jornais e revistas somente comentam as novidades, as livrarias
apenas compram os últimos lançamentos, somente exibem o que está sendo comentado. Por
pouco tempo, porque logo vem outra leva, como numa padaria, em que, assim que uma nova
fornada de pães começa a cheirar, ninguém mais quer levar o pãozinho da fornada anterior.
E as editoras, por sua vez, acabam recorrendo ao expediente das padarias: várias fornadas
sucessivas de pães cheirosos e convidativos [...].
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A formação do leitor
Há, entretanto, outro ângulo pelo qual se pode entender essa busca exclusiva
do prazer na leitura. É o que está relacionado com a cultura de nosso tempo: he-
donista, egocêntrica, sensorial, imediatista, descompromissada. Nela, o prazer é
um fim em si mesmo. A leitura desvincula-se de tempo e espaço que não sejam
o aqui e o agora. Tudo converge para uma satisfação momentânea, que desco-
nhece vínculos e diferenças.
Ler é questionar o mundo e ser questionado por ele, numa definição bastan-
te feliz de Jean Foucambert. Está nessa troca, entre o sujeito e tudo o que está
fora dele, o núcleo mais essencial da leitura enquanto ato social, não apenas
enquanto aprendizagem de um código. Por isso, ler é encontrar algumas respos-
tas para os problemas da vida, é descobrir que o mundo e o homem podem ser
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
diferentes. E, por isso, estar apto a mudanças, equipado a realizar uma trajetória
de desafios ao historicamente estabelecido. É ter a capacidade de propor uto-
pias, de persegui-las.
Numa ciranda perversa, o leitor formado pela escola (muitas vezes, não o
é) somente lê o que lhe cai aleatoriamente às mãos e, por vezes, de qualidade
inferior, mas, ao ler, ele se acredita um leitor competente (e assim também o
considera a sociedade). Ao deixar a sala de aula, a falta de exercício da leitura
de textos verbais reconverte-o à situação de quase analfabeto – o denominado
analfabeto funcional – e, muito mais tragicamente, em um leitor que sabe, mas
não lê, parafraseando Mario Quintana.
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A formação do leitor
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Sou uma leitora antiga. Isto quer dizer que leio há muito tempo, desde quando sobre mim se
aplicou a máxima sentença pedagógica, definidora de destinos, “ela aprendeu a ler”. Assim
foi sentenciado, quando as primeiras palavras que me entraram pelos olhos e me saíram pela
boca, quase simultaneamente – há especialistas que sabem o que se passa entre um momento
e outro – foram: Olhem para mim. Eu me chamo Lili. Eu comi muito doce. Eu gosto tanto
de doce! Vocês gostam de doce? Declamo isso, sem me importar se era mesmo assim que
estava no cartaz à minha frente e na cartilha às minhas mãos. Somente muito tempo depois,
apelidaram-me Lili; mesmo assim, aprendi a ler e até ganho a vida com isso, hoje.
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A formação do leitor
Apesar da escola, a criança tornou-se leitora e até escritora. Mas quantos dos
alunos daquela sala de aula puderam alcançar o mesmo sucesso? Será que o
trabalho de formação do leitor deve ficar restrito a sucesso tão mesquinho?
Da resistência criamos a sua residência. O livro, o texto, o autor habita em nós e passamos a
habitá-lo. Não disse Mario Quintana, no mais belo e mais curto poema sobre o amor, que “Amar
é mudar a alma de casa”?
Mas, para quem não domina o alfabeto, a imagem permite manter o con-
tato com o mundo e com a produção de sentidos. Seria, entretanto, minimizar
o poder da imagem, tomá-la apenas no sentido informativo e preenchedor de
lacunas culturais. A linguagem visual, tal como a verbal, possui sua estrutura pró-
pria, que a constitui como um todo orgânico, capaz de servir de instrumento de
transmissão da herança cultural e de criação artística.
Ao meu ver, ao lado da exigência social, para que todos tenham acesso mínimo ao ato de
ler, esta democracia coloca-se como um imperativo individual para que cada um, no ato de
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
ler, possa experimentar a vivência de sua própria subjetividade. O importante aqui é que não
haja uma confusão entre liberdade de interpretação e esta democracia da leitura. Ao invés
de promover o “achismo” como expressão de autonomia do sujeito, esta democracia deve
trabalhar com uma diversidade que permita a cada leitor trabalhar, interiormente, a sua
inocência e seu espírito crítico.
Texto complementar
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A formação do leitor
mento supõe, conforme reitera Magda Soares (1998, p. 18-25), uma forma de
inserção social do indivíduo de acordo com o uso competente que ele pode
fazer da leitura e da escrita.
Urge abolir a leitura desse tipo de texto no universo escolar, assim como
rever seu caráter de obrigatoriedade. É preciso proporcionar um contato pra-
zeroso entre leitores e diferentes materiais de leitura, sobretudo num país
onde o acesso ao livro ainda é precário. Assim, a escola, além de desenvolver
a competência leitora de seus alunos, emancipa-os, levando-os a resgatar as
palavras e as situações de seu mundo cotidiano e a sair da passividade instau-
rada pela leitura no espaço escolar.
Dicas de estudo
Uma boa dica sobre leitura e formação de leitores é o filme O Clube de
Leitura de Jane Austen.
Ficha técnica:
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
O filme tem como assunto as mudanças que podem ocorrer nas relações
pessoais e afetivas de um grupo de cinco mulheres e um homem durante
encontros para ler e comentar os livros da autora inglesa Jane Austen.
Atividades
1. Analise a forma como você lê e com que textos (considere a leitura sensorial,
emotiva e racional). Explique os resultados.
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A formação do leitor
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
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A formação do leitor
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Leitura e compreensão
Objetivo
Estudar os diferentes tópicos que definem e caracterizam o ato de
ler. Analisar os processos que um leitor realiza ao ler e como eles com-
põem o que se denomina a compreensão do texto.
O nível 3 de alfabetismo corresponde à capacidade de ler textos mais longos, podendo orientar-
-se por subtítulos, localizar mais de uma informação de acordo com as condições estabelecidas.
As pessoas classificadas nesse nível mostram-se capazes de relacionar partes do texto,
comparar dois textos, realizar inferências e sínteses. Por exemplo, conseguem preencher um
formulário, retirando as informações necessárias de uma carteira de identidade e um envelope
endereçado. (RIBEIRO, 2003, p.18)
Há uma série de causas que podem ser apontadas para justificar o estado de
leitura dos brasileiros na atualidade. Além da já comprovada ausência de com-
portamentos leitores em grande parte da população, encontramos, ainda, infe-
lizmente, um número significativo de professores que não lêem o suficiente e – o
que é mais grave – não gostam de ler. Dessa maneira, crescem as dificuldades
para um trabalho proveitoso e duradouro com a leitura de textos e livros.
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Leitura e compreensão
A segunda concepção propõe que o texto seja tomado como repositório de men-
sagens e informações. É o momento da sempre aguardada pergunta: Qual é a men-
sagem do texto? Essa talvez seja a questão mais frequente após a leitura de qualquer
texto. A escola tem predileção por esse enfoque conteudista do texto, mesmo que
as crianças – e até mesmo o professor – não saibam muito bem localizar o que seja
essa “mensagem”. De qualquer modo, interessa no texto apenas aquilo que é mais
fácil de descobrir: a informação. Desde que o leitor não seja um analfabeto funcional.
Quando o professor tem dificuldade de descobrir, basta ler o Manual do Professor
que acompanha invariavelmente os livros didáticos.
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Há, portanto, nesses três tópicos a clara acepção de que a leitura e o trabalho
com o texto exigem a interação do leitor com as palavras (frases, períodos, pará-
grafos, unidade textual) para que a compreensão possa acontecer.
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Leitura e compreensão
A variável leitor:
estruturas do leitor;
processos de leitura.
A variável texto:
intenção do autor;
forma;
conteúdo.
A variável contexto:
o contexto psicológico;
o contexto social;
o contexto físico.
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Convém esclarecer que os itens a serem observados têm uma dupla articu-
lação. A primeira diz respeito ao professor, que deve preparar os passos neces-
sários para uma boa compreensão. A segunda compreende a contribuição dos
alunos, que, provocados por perguntas do professor, terão sua atenção atraída
para o percurso traçado pelo docente. Assim, após uma boa preparação, a par-
ticipação dos alunos será ativa e criadora. Cremos que com esse tipo de indaga-
ção e resposta, o leitor estará mais apto a compreender.
A andorinha e a serpente
(ESOPO, 1997, p. 57)
Uma fábula, além de ser um texto com clara finalidade moralizadora, está
apoiada num pacto de leitura que supõe que o leitor aceite o fato de que os
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Leitura e compreensão
Também frequentam os livros didáticos, por isso constituem quase que in-
falivelmente, o repertório das crianças na escola. Esse fato facilita o trabalho de
aplicação de atividades e compreensão.
Microprocessos
Reconhecimento das palavras
e leitura de grupos de palavras
Nessa etapa inicial do trabalho, deve-se considerar que o dicionário interna-
lizado dos alunos compreende o reconhecimento diferenciado de palavras que
chegaram a seu conhecimento pela oralidade, ou pela escrita, ou por ambas as
vias. Leitores principiantes têm necessidades diferentes daqueles que já têm
uma experiência maior com palavras, como aqueles cuja família tem um bom
vocabulário, mesmo na expressão oral. A escola também deve contribuir para
o acréscimo desse dicionário internalizado ao trabalhar com textos que tragam
palavras novas, ou que apresentem mudança de sentido quando agrupadas. O
professor deve correr o risco de apresentar textos com dificuldades para que
os alunos aprendam. Ficar no repertório já conhecido desmerece a função da
escola.
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
Processos de integração
Esta segunda etapa dos procedimentos para se chegar à compreensão de
textos compreende dois tipos diferentes de atuação. O primeiro consiste em
apoiar-se em marcas identificáveis no texto, como os referentes e os conectores.
O segundo, o da inferência, é mais complexo, uma vez que implica estabelecer
um processo de reflexão e de relação entre informações, proposições, sentidos,
em que o repertório do leitor é exigido com maior efetividade.
Inferências
As inferências se baseiam no conhecimento prévio do leitor e nos esquemas de
pensamento que ajudam a descobrir o sentido do texto. Para inferir, segundo Gias-
son, “é preciso que o leitor passe para além da compreensão literal [...] que ele vá
mais longe do que aquilo que revela a superfície do texto” (GIASSON, 1993, p. 92).
Macroprocessos
Identificação das ideias principais
Depois de uma avaliação pormenorizada dos elementos constituintes do vo-
cabulário, dos grupos de palavras e dos conectores, é preciso avaliar o texto em
sua unidade maior. Daí porque deve-se levar em consideração – ao encontrar
as ideias principais, isto é, as informações mais importantes do texto – todas as
partes de que ele se compõe. Encontrar os sentidos mais importantes é tarefa
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Literatura, Leitura e Aprendizagem
difícil, pois cada leitora, a partir de sua experiência, de seu horizonte, toma um
caminho entre os sentidos do texto e atribui importância diferente a eles. No
entanto, é possível evitar confusões quando se distingue o assunto, isto é, aquilo
que pode ser resumido numa palavra ou numa expressão, da ideia principal, que
é o sentido mais importante que o texto quis salientar para o leitor. Às vezes essa
ideia está implícita, às vezes explícita.
Nessa tarefa, o professor precisa ser, com mais intensidade, o mediador, uma
vez que somente a continuidade do exercício em outros textos tornará seus
alunos mais hábeis para cumpri-la.
Estrutura do texto
O conhecimento da estrutura do texto pode auxiliar o professor. Verificar em
quantas e quais partes ele pode ser dividido, como se dá a sequência dessas
partes, e qual delas contém o pensamento mais significativo.
Processos de elaboração
Os procedimentos indicados neste item, para favorecer a observação do texto
e conduzir a sua compreensão, envolvem ideias e repertório do leitor, estimula-
dos pelas palavras.
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Leitura e compreensão
Previsões
As previsões estão relacionadas à experiência de leitura. Quanto mais expe-
riente o leitor, maior sua capacidade de prever sentidos para o texto. Torna-se
necessário que o professor estimule a criança a fazer previsões de sentido para
os textos. O conhecimento dos gêneros textuais favorece essas previsões. O
leitor prevê a moral das fábulas, não seu conteúdo, mas sua existência no texto.
Prever a subjetividade e a musicalidade do poema; a história com começo, meio
e fim dos contos dependem do conhecimento de textos do leitor. Imaginar a dor
da mãe que perde seus filhotes, compreender o instinto da serpente que a faz
comer os pássaros, saber que um tribunal é lugar de justiça e assim por diante.
Imagens mentais
As palavras evocam sem cessar imagens mentais. As ilustrações dos livros in-
fantis realizam concretamente essas imagens. Independentemente, porém, das
imagens em linhas e cores, o leitor produz em seu cérebro diferentes imagens
provocadas por aquilo que lê. Elas abrangem os mais diferentes tipos. Podem
ser visuais, gustativas, olfativas, entre outros, e podem estar relacionadas a de-
terminados afetos. Sua finalidade é estabelecer vínculos entre o leitor e o texto.
Favorecem, portanto, a compreensão do texto.
Resposta afetiva
Decorrente da capacidade de construir sentidos para o texto está a relação
afetiva que o leitor estabelece com o que lê. Há textos que provocam emoções,
medos, recusas das crianças. Esses sentimentos são reações imprevisíveis e
nascem dos motivos mais diversos, relacionados sobretudo com a memória afe-
tiva da criança. Quanto mais ela se envolver positiva e afetivamente com o texto,
melhor será sua compreensão.
69
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Raciocínio
Todos os itens desses processos de elaboração conduzem ao raciocínio, de
vez que implicam relações entre percepções diversas. O estabelecimento de re-
lações de pertinência, semelhança ou diferença é fundamental para o desenvol-
vimento do raciocínio e para a ampliação da compreensão de textos escritos.
Processos metacognitivos
Segundo Jocelyne Giasson (1993, p. 200), a metacognição se relaciona “aos
conhecimentos que um leitor possui acerca das habilidades, estratégias e re-
cursos necessários para ter sucesso numa atividade de leitura”. Ela divide essa
posição de análise do próprio leitor sobre o modo como compreende o que lê
em conhecimentos sobre a pessoa (como lê e quais os seus limites pessoais),
conhecimentos sobre a atividade (como faz a leitura) e conhecimento sobre as
estratégias (o quanto conhece sobre textos). Estamos, portanto, no âmbito de
processos que se situam fora do texto, e demandam reflexão do leitor sobre a
maneira como ele apreende os textos. Consiste em “saber quando compreende-
mos, saber o que compreendemos e saber do que precisamos para compreen-
der” (1993, p. 201).
Identificação
A primeira dessas atividades de metacognição, também denominada de “me-
tacompreensão” (GIASSON, 1993, p. 199), é a identificação. Diz respeito ao modo
como o leitor se sente ligado ao texto e, portanto, em condições de melhor com-
preendê-lo. Há diferentes maneiras do leitor se relacionar com o texto. A identi-
ficação é uma delas e, talvez, a mais frequente.
70
Leitura e compreensão
Correção da previsão
A correção da previsão é um procedimento de nova adequação do leitor ao
texto, de vez que houve um equívoco na previsão que fez ao começar a leitura. Essa
correção se dá, principalmente, quando o texto traz novidades ao conhecimento
do leitor. Por exemplo, quando está formatado fora dos padrões habituais.
Texto complementar
Compreensão da leitura
(ALLIENDE; CONDEMARÍN, 2005, p. 111-112)
71
Literatura, Leitura e Aprendizagem
A partir disso, são desenvolvidos a seguir os fatores que fazem parte desse
processo estratégico, e são fornecidas sugestões práticas para o desenvolvi-
mento e a avaliação da compreensão leitora, que complementam as estraté-
gias apresentadas dos capítulos anteriores.
73
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Dicas de estudo
Consulte na internet o site <www.unicamp.br/iel/memoria/projetos/te-
ses> para encontrar estudos sobre a leitura, também sob o ponto de vista
da significação.
Atividades
1. Leia a seguinte manchete de jornal: “Trabalhador poderá investir o FGTS em
novo fundo em maio.” Para que essa manchete seja compreendida, que conhe-
cimentos prévios o leitor deve ter? Escreva um pequeno texto, comentando.
74
Leitura e compreensão
75
Leitura e responsabilidade social
Objetivo
Refletir sobre as relações entre leitura e cidadania e o papel que a
literatura exerce, enquanto texto que visa apresentar as condições da
vida humana no mundo em linguagem estética, na ótica da responsa-
bilidade social.
Com a literatura, não poderia ser diferente. Ler a literatura, esse tipo especial
de linguagem, deve ser uma tarefa, que vai além do entretenimento, é atitude
de plena responsabilidade social. Deve constituir-se um objetivo que, aliado a
outros campos do saber, volte-se para a construção do leitor cidadão.
Para mapear melhor o caminho desta reflexão, vamos convencionar que cida-
dania esteve associada, na origem, ao conceito da polis grega, termo cognato de
polidez, polícia, metrópole, política. Com raízes, portanto, que associava à cidade
noções de comportamento, de controle, de diplomacia, de respeito ao grupo
social. Em sua acepção dicionarizada, cidadania significa o habitante da cidade,
o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado e o indivíduo no
desempenho de seus deveres com o Estado.
78
Leitura e responsabilidade social
I - a soberania;
II - a cidadania;
V - o pluralismo político.
Por outro lado, quando eu olhava uma folha eu passava a ver folha. O mundo, mansamente,
passava a converter-se em linguagem. Muitos anos depois, aprofundando essa prática
compreensiva e conversível da realidade em palavras, eu portava sempre um caderno para
nele anotar as palavras da realidade.
Alimentava a crença de que o poeta percebe o mundo como linguagem, como palavra
significante. Nesse caderno eu ia registrando as palavras que a leitura do mundo me estimulava
para a criação poética.
79
Literatura, Leitura e Aprendizagem
poder da escola é colocado em xeque. Como garantir, após a saída dos alunos
das instituições de ensino, a continuidade do envolvimento com a informação,
com a leitura de textos complexos, com a busca do saber?
81
Literatura, Leitura e Aprendizagem
realizar mais eficazmente o desejo desses leitores, como a literatura, por exem-
plo. Textos que eles desconhecem ou para os quais não se julgam preparados. O
leitor, nesse caso, limita-se às suas circunstâncias e se vê impedido de progredir
e aperfeiçoar-se.
Texto complementar
Narrar é preciso
(DINIZ, 2007, p. 22-23)
82
Leitura e responsabilidade social
cal, optamos, nesta curta reflexão, pelo segundo caminho, o da leitura das
ruínas como percepção da História, a descontinuidade e fragmentação como
apreensão de um interpretante do texto cultural que nos encena no presen-
te. Acreditamos que a narrativa é uma prática/de persistência e constante
reinvenção. Narrar a história, seja pessoal ou social, é sempre um exercício de
resistência.
83
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Dica de estudo
Para projetos de educação e cidadania consulte sempre o portal de Gil-
berto Dimenstein no endereço <http://aprendiz.uol.com.br/homepage.
mmp>, em que você, professor, encontrará relatos sobre atividades e ini-
ciativas importantes na área da educação e da leitura. O jornalista Dimens-
tein mantém uma coluna semanal no jornal Folha de S.Paulo, sempre com
notícias atualizadas nessa área.
Atividades
1. Escreva um relato de sua vida em que a leitura alterou para melhor suas con-
dições sociais e de relações pessoais.
84
Leitura e responsabilidade social
85
A contação de histórias
Objetivos
Apresentar as características da arte da narração oral e argumentar
a respeito de sua importância para a vida pessoal e intelectual da co-
munidade da inserção no saber coletivo e, principalmente, o que está
relacionado à tradição.
88
A contação de histórias
O contador de histórias é um todo orgânico que se expressa através da voz, do corpo, das
expressões faciais, como resultado de um estímulo que tem sua raiz no texto contado, mas,
previamente elaborado em termos de imagens, ritmo, movimentos, memória, emoções,
silêncio e treinamento .
Além destas qualidades, é preciso acentuar que o contador tem de ser, sobre-
tudo, um leitor plural e crítico.
Em especial, ela esclarece a maneira com que essa leitura se constrói na rela-
ção com o mundo, os homens e as palavras:
[...] o sujeito-leitor não está na sala de aula, exclusivamente; ao contrário, ele está, também, e
não perde essa condição visceral, indispensável na vida social moderna, por estar na fábrica,
nos escritórios, nos trens, em família, ou... na aula de matemática. Mais que isto, ele deve ler
para entender o que é possível entender, do que os outros dizem, e para interpretar, com seu
próprio acervo de vida e repertório de conhecimento, a escrita do texto. Mais: precisa ler o que
não está escrito e ler mais longe ainda, o que pode vir a ser escrito, deduzido dos atos de fala
[...]: os homens agem com a palavra, conscientemente ou não, mas quem é leitor deve saber o
que faz com ela e assumir suas consequências. (YUNES, 1998, p. 11)
Na contação, as palavras devem assumir toda sua densidade, todo seu poder
de evocação, o poder de fazer ressurgir no contador e no ouvinte as sensações e
as experiências vitais nelas depositadas. Daí o valor humano, assumido pelo ato
de contar histórias.
O escritor peruano Mário Vargas Llosa (apud YUNES, 1998, p. 12) diz que
contar histórias
[...] é uma atividade primordial, uma necessidade da existência, uma maneira de suportar a
vida. Para conhecer o que somos, como indivíduos e como povos, não temos outro recurso
do que sair de nós mesmos e, ajudados pela memória e pela imaginação, projetar-nos nessas
ficções; é refazer a experiência, retificar a história real na direção que nossos desejos frustrados,
nossos sonhos esfarrapados, nossa alegria ou nossa cólera reclamem.
A partir dessas ideias, podemos afirmar que contar histórias – assim como
ouvi-las – é uma experiência humana insubstituível.
1
YUNES, Eliane. No Coração da Palavra. Texto inédito.
89
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Há, contudo, uma omissão imperdoável nessa crença de que apenas as crian-
ças gostam e devem ouvir histórias. Os adultos recebem, com igual prazer, en-
cantamento e curiosidade.
90
A contação de histórias
A ligação torna-se ainda mais forte, quando o texto objeto da contação de-
sencadeia a memória afetiva, ligada às histórias ouvidas na infância. Contador
e ouvinte ficam, então, entregues à memória e à imaginação, restabelecidas e
vivificadas. A força dessa literatura é acrescida, quando a fonte das histórias é
de origem popular oral, como bem descreve Luís da Câmara Cascudo ([19–?],
p. 7-8), nosso grande folclorista:
Ao lado da literatura, do pensamento intelectual letrado, correm as águas paralelas, solitárias
e poderosas, da memória e da imaginação popular.
O conto é um vértice de ângulo dessa memória e dessa imaginação; a memória conserva os
traços gerais, esquematizadores, o arcabouço do edifício. A imaginação modifica, ampliando,
pela assimilação, enxertias ou abandonos de pormenores, certos aspectos da narrativa. O
princípio e o fim das histórias são as partes mais deformadas na literatura oral.
O conto popular revela informação histórica, etnográfica, sociológica, jurídica, social. É um
documento vivo, denunciando costumes, ideias, mentalidades, decisões e julgamentos.
91
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Para todos nós, é o primeiro leite intelectual: os primeiros heróis, as primeiras cismas, os
primeiros sonhos, os movimentos de solidariedade, amor, ódio, compaixão vêm com as
histórias fabulosas, ouvidas na infância.
92
A contação de histórias
O terceiro deles diz respeito ao modo como lida com os ouvintes, provocan-
do neles as mais diferentes reações e mantendo sempre sua atenção à história
que está sendo contada.
Uma visão mais pragmática chegou até nós por intermédio dos educadores
escandinavos, que utilizaram, ao fim do século passado, a contação de histórias
para objetivos de reforço escolar e dinamização de bibliotecas. Dessa segunda
vertente, a pragmática, pode ter nascido a concepção de uma atividade voltada
exclusivamente para o público infantil.
93
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Texto complementar
Qual é a diferença entre contar
um conto e ler um conto?
(AVELAR; SORSY, 2005, p. 7-9)
Sim, existe diferença entre contar e ler uma história, porque também existe
uma diferença entre palavra oral e palavra escrita. Quando a comunicação se dá
através da palavra oral, nosso centro de percepção é o auditivo. Uma caracterís-
tica da percepção auditiva é que ela nos proporciona a experiência da unidade.
O som nos invade por todos os lados e passa através de nós. Todo o nosso corpo
é uma unidade auditiva, porque estamos no centro do campo sonoro.
Experimente! Ouça uma música e tente perceber como ela envolve seu
corpo por inteiro, observe como você e o ambiente se integram numa unida-
de, porque o som preenche também o ambiente a sua volta. Essa característi-
ca é responsável ainda pelo sentimento de “estar junto” de um auditório.
A enunciação oral é dirigida por um indivíduo real, vivo, a outro indivíduo real, vivo, ou
indivíduos reais, vivos, em um tempo específico e em um cenário real que inclui sempre
muito mais do que meras palavras. As palavras faladas constituem sempre modificações
de uma situação que é mais do que verbal. Elas nunca ocorrem sozinhas em um contexto
simplesmente de palavras. (ONG, 1998, p. 118)
Portanto, como podemos ver, cada uma dessas linguagens tem suas pró-
prias características, suas regras e seus códigos e exerce diferentes funções
em nossa forma de compreender e nos relacionar com o mundo. Naturalmen-
te, isso faz com que a textualidade oral e a escrita sejam diferentes.
Vimos que o ato de ouvir e o de ler exercem sobre nós funções diferentes
e também acionam em nós faculdades diferentes. É fácil concluir que ambas
(ouvir e ler) são experiências importantes. No caso do professor, o importante é
saber que objetivos ele tem quando quer apresentar um conto a seus alunos. Há
momentos em que é necessário criar situações de grupo para favorecer o sen-
timento de “estar junto”, de pertencer a uma comunidade (a da sala de aula, por
exemplo) que compartilha as mesmas referências, “viaja” pelos mesmos mares
do imaginário. Nesse caso, a narrativa oral cumpre perfeitamente o objetivo.
Dicas de estudo
Uma primeira dica é assistir ao filme Forrest Gump – O Contador de Histórias
(Forrest Gump, 1994) .
Ficha técnica:
Há, também, vários sites de contadores e ressalto dois deles, com exem-
plos, histórias e informações: <www.amigosdolivro.com.br> e <www.ta-
petescontadores.com.br>.
Atividades
1. Quem contava histórias para você na infância (avós, pais, irmãos, parentes,
vizinhos, professores)? Qual é sua lembrança mais emotiva dessas conta-
ções? Descreva num texto quais eram as narrativas e como foram contadas.
96
A contação de histórias
97
Literatura, Leitura e Aprendizagem
3. Quais as dificuldades que você percebe numa pessoa para contar histórias
em público? Como resolvê-las? Escreva um texto a respeito.
98
A contação de histórias
99
A ilustração do livro infantil
Objetivos
Ao tratar da Literatura Infantil, um dos aspectos mais atraentes é o da
ilustração. A visualidade das páginas coloridas determina, muitas vezes,
a escolha deste ou daquele livro. Por isso, vamos aqui tratar de algumas
questões relevantes para a melhor abordagem desse componente tão
importante, nos dias de hoje, para o interesse pela literatura infantil.
Entre essas questões estão a importância das ilustrações no livro para
crianças, as diferentes funções da ilustração no livro infantil; a imagem
em outros suportes, a proposta e uma pedagogia do olhar.
A importância das
ilustrações no livro para crianças
Uma das razões mais frequentes alegadas pelas crianças e adolescen-
tes para explicar porque preferiram este ou aquele livro é a de que tem
muita ilustração, ou que ele é muito atraente, ou que a narrativa ficou en-
riquecida pelo uso das imagens. Até mesmo os adultos, pais e professores
veem na ilustração a justificativa mais relevante.
as fonéticas (hieróglifos);
Esses tipos puros admitem, como pode-se perceber numa primeira leitura,
uma inter-relação, multiplicando-se numa combinatória limitada, mas enrique-
cida de escrituras.
Alberto García García (2000) justifica esse interesse servindo-se de uma expli-
cação fisiológica:
No obstante [...] el punto de partida radica en nuestra constitución fisiológica. Nuestra
percepción del medio se canaliza a través de los órganos sensoriales, mediante los cuales nos
conectamos al entorno y recibimos la información necesaria para ejercer aquellas decisiones
de interrelación adecuadas. Aunque el 70% de los datos que obtenemos del entorno nos
llega a través del sentido de la vista, las restantes vías de información resultan igualmente
fundamentales.1
1
“Não obstante [...], o ponto de partida tem raiz em nossa constituição fisiológica. Nossa percepção do meio ambiente é cana-
lizada pelos órgãos sensoriais, mediante os quais nos conectamos com o entorno e recebemos a informação necessária para
exercer aquelas decisões de inter-relação adequadas. Embora 70% das informações que obtemos do ambiente nos chega atra-
vés da visão, os outros sentidos, que permitem o acesso à informação, resultam igualmente fundamentais” (tradução livre).
102
A ilustração do livro infantil
As diferentes funções
da ilustração no livro infantil
Fanny Abramovich, em Literatura Infantil: gostosuras e bobices, ressalta a magia
e o encantamento produzido pelas imagens visuais dos livros, mas alerta para a
necessidade de evitar passar nas páginas ilustradas preconceitos e imagens sem
qualidade, bem como a importância de reproduzir paisagens, figuras e pessoas
do Brasil, para que a imagem também contribua para melhor nos definir como
povo e brasileiros:
Saber interpretar o momento, ampliar os referenciais, não se limitar com estereótipos, não
endossar os disparates impostos, não reforçar os preconceitos, é buscar talvez no estético,
o momento da ruptura, de transgressão, onde não haja falsas e tolas correspondências, mas
descobertas de toda a sedução encoberta, da beleza e sabedoria a serem reveladas, de padrões
que não são os dos chamados países desenvolvidos. (ABRAMOVICH, 1989, p. 41)
103
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Funções da ilustração
Descritiva
“A ilustração descreve objetos, cenários, personagens, animais e assim por
diante. [...] é a predominante nos livros informativos e didáticos” (CAMARGO,
1995, p. 35).
Narrativa
“A ilustração mostra uma ação, uma cena, conta uma história” (CAMARGO,
1995, p. 35). Os denominados livros sem texto ou livros de imagens estão total-
mente ligados a essa função. Neles, não há texto verbal e, portanto, a história de
ações, personagens e reações precisa estar explicitada pelas imagens. A criança
consegue entender o sentido da história porque decodifica as imagens enquan-
to narração.
Simbólica
“A ilustração representa uma ideia” (CAMARGO, 1995, p. 35-36). Entre as di-
ferentes funções da ilustração, esta talvez seja a de maior complexidade, dado
que exige uma série de relações complexas entre as diferentes partes e sentidos
do texto. Em primeiro lugar, a necessidade de que o leitor tenha compreendido
o sentido profundo do texto, de base analógica, e depois que ele transfira
essa compreensão para a metáfora que o texto irá representar. Cumprem essa
função simbólica as imagens que propõem relações de sentido, criatividade
e função metafórica.
104
A ilustração do livro infantil
Expressiva/ética
A ilustração expressa emoções através da postura, gestos e expressões faciais das personagens
e dos próprios elementos plásticos, como linha, cor, espaço, luz etc. [...] A ilustração também
expressa valores pessoais do ilustrador e outros mais abrangentes, de caráter social e cultural.
(CAMARGO, 1995, p. 36-37)
Estética
A ilustração chama atenção para a maneira como foi realizada, para a linguagem visual [...]
importa mais o gesto, a mancha, a sobreposição de pinceladas, as transparências, a luz, o
brilho e o enquadramento, do que patas, penas e pelos. (CAMARGO, 1995, p. 37)
Pela explicação de Luís Camargo, fica evidente que se trata de uma ilustração
que causa admiração pela arte com que é apresentada, realçando as qualidades
pictóricas mais do que as narrativas ou informativas. Deixa o leitor curioso para
conhecer a técnica com que foi feita.
Lúdica
“A própria ilustração pode se transformar em jogo [...] exemplos são os livros
de pano ou com recortes vazados, elementos móveis, tácteis, sonoros etc.” (CA-
MARGO, 1995, p. 37). Para conquistar leitores muito pequenos, ou para interes-
sar crianças maiores afastadas dos livros, as editoras têm produzido material de
qualidade diversa, aproveitando a fusão entre leitura do verbal e brincadeira.
Livros pop up, outros com objetos (mapas, fotos, botões etc.), livros com nar-
rativas em que o leitor escolhe diferentes sequências, páginas para desenhar e
colorir e muitas outras novidades procuram atrair leitores e compradores. Por
vezes, a narrativa e a literatura são o menos importante no livro: a imagem se
sobrepõe a qualquer custo.
105
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Metalinguística
“Metalinguagem é a linguagem que fala sobre a linguagem” (CAMARGO,
1995, p. 37). Temos, portanto, imagens que dialogam com o próprio ilustrador
ou que contêm referências ao próprio modo com que foram construídas, ima-
gens que citam outras imagens, demonstrando que o ilustrador tem consciência
de seu fazer visual. Narrativas e poemas que apresentam personagens ilustra-
dores tendem a tratar de ilustração em algum momento do texto. É então que
aparece a função metalinguística.
Em 1845, Topffer (apud LAGO; ALBERGARIA, 1989, p. 4), precursor das tiras
ilustradas atuais, defendia a ilustração com as seguintes palavras:
Há duas maneiras de escrever histórias: uma em capítulos, linhas e palavras, e a isso chamamos
literatura; ou alternativamente, por uma sucessão de ilustrações, e a isso chamamos história
ilustrada. [...] A história ilustrada à qual a crítica de arte não dá atenção e que raramente
preocupa os letrados sempre exerceu grande atração. Mais, na verdade, que a própria literatura,
pois além do fato de que há mais gente capaz de ver que de ler, agrada às crianças e às massas,
parcelas de um público que seria especialmente desejável promover. Com a dupla vantagem
de apresentar concisão e clareza, a história ilustrada, em condições de igualdade, acabará por
suplantar a outra, por dirigir-se com maior agilidade a um maior número de mentes; e também
porque, em qualquer contexto, aquele que emprega um método tão direto leva vantagem
sobre os que falam por capítulos. (TOPFFER apud LAGO; ALBERGARIA, 1989, p. 4)
106
A ilustração do livro infantil
Os quadrinhos
As crianças, mesmo aquelas ainda não alfabetizadas, são leitoras de gibis. As
imagens que compõem esse tipo de narrativa estão entrelaçadas com o texto
verbal. No entanto, por força de sua expressividade visual, dispensam, muitas
vezes, o acompanhamento integral do texto escrito. Quando os pais e/ou pro-
fessores leem para as crianças, elas rapidamente assimilam a relação palavras/
imagens e podem depois reconstruir o texto à sua maneira. Fazem suas “hipóte-
ses de leitura”, e não deixam de apoiar-se nas imagens que veem. Não podemos
esquecer que há um forte componente lúdico nos quadrinhos e que sustenta o
prazer da leitura descompromissada. A escola, ao opor-se a esse tipo de material
de leitura acaba transformando os quadrinhos em texto de resistência. Por ser
proibido ou marginalizado pela escola, ele retorna pela porta dos fundos e per-
manece atraente – e talvez ainda mais – para os alunos.
Ignorando a produção, distribuição e leitura das histórias em quadrinhos, a escola insere-se
no processo por negatividade. Marginalizando essa modalidade cultural destinada à criança,
contribui para caracterizá-la como sendo de livre consumo, buscada assídua e espontaneamente
pelo seu destinatário que participa ativamente da escolha e aquisição desses impressos.
Segregando o gênero, a escola estimula seu papel de importância como resposta a um vazio
que os textos consagrados por ela não conseguem preencher satisfatoriamente: o prazer de
ler. (MAGALHÃES, 1982, p. 83)
107
Literatura, Leitura e Aprendizagem
O computador
A tecnologia trouxe a possibilidade de universalizar e viver uma comunicação
mais rápida através do computador. Objeto de desejo de consumidores de todas
108
A ilustração do livro infantil
109
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Texto complementar
(WALTY; FONSECA; CURY, 2001, p. 67-69)
Carybé, pintor argentino, que vivia na Bahia, ilustra a bico de pena uma
edição de Macunaíma, de Mário de Andrade, expressando a simultaneidade
temporal e espacial da narrativa, a mistura de planos entre os reinos vegetal,
animal e mineral, o que salienta a interatividade manifesta no texto. Na ver-
dade, o livro é composto basicamente pelos desenhos e um breve resumo de
cada parte da história.
Lembre-se ainda, num outro nível, o livro Lições de Casa (1978), organizado
por Julieta Godoy Ladeira, que é fruto de uma releitura, feita por diferentes
escritores, de gravuras usadas décadas atrás na escola pública brasileira. Cada
escritor criou um conto a partir de uma das gravuras.
110
A ilustração do livro infantil
[...] o ilustrador não ilustra apenas o que acontece literariamente, mas sim ele representa
também os fatos visuais poéticos que poderiam acontecer.
111
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Dica de estudo
Consultar dois sites especializados em literatura infantil e leitura e que tra-
zem exemplos e estudos sobre a ilustração. Um deles, o “dobras da leitura “
tem um bom conjunto de entrevistas com ilustradores de livros infantis.
Atividades
1. Selecione em sites da internet (os citados nas dicas de leitura e os das edito-
ras) capas de livros infantis e aplique a classificação de Luís Camargo. Escreva
um pequeno texto.
112
A ilustração do livro infantil
113
Literatura, Leitura e Aprendizagem
114
A ilustração do livro infantil
115
O jornal em sala de aula
Objetivos
Descrever as características do texto jornalístico e mostrar sua utili-
dade como material pedagógico.
O uso do jornal, como material didático, vem sendo divulgado por di-
versos estudiosos que demonstram preocupação com a má qualidade das
aulas de Língua Portuguesa nas escolas. Eles defendem que a introdução
desse tipo de texto e uso da língua é uma excelente maneira de propor-
cionar, ao discente, um contato com a linguagem usada na atualidade.
Além do que, o jornal é suporte privilegiado para a informação e para os
textos de opinião sobre acontecimentos recentes. A autora Maria Alice
Faria (1989, p. 12) explica que
[...] a linguagem jornalística oferece hoje uma espécie de “português fundamental”,
uma língua base, não restrita, que limite o crescimento linguístico do aluno, e nem tão
ampla, que torne difícil ou inacessível o texto escrito ao comum dos estudantes.
É comum que este texto use a técnica da pirâmide invertida: começa pelo fato mais importante
para finalizar com os detalhes. Consta de três partes claramente diferenciadas: o título, a
introdução e o desenvolvimento. O título cumpre uma dupla função – sintetizar o tema
central e atrair a atenção do leitor. Os manuais de estilo dos jornais sugerem que os títulos não
excedam treze palavras. (KAUFMAN; RODRIGUEZ, 1995, p. 26)
Uma reportagem é, por vezes, uma notícia apenas um pouco mais aprofundada e com uma
maior carga de interpretação pessoal, por parte do jornalista.
[...]
118
O jornal em sala de aula
Entre estas estratégias, podemos encontrar as seguintes: as acusações claras aos oponentes, as
ironias, as insinuações, as digressões, as apelações à sensibilidade ou, ao contrário, a tomada
de distância através do uso das construções impessoais para dar objetividade e consenso à
análise realizada; a retenção em recursos que servem para fundamentar os argumentos usados
na validade da tese. (KAUFMAN; RODRIGUEZ, 1995, p. 27-29)
Esse tipo de texto tem a função de trocar experiências, debater ideias e con-
tribuir para a formação política, técnica e cultural dos leitores.
119
Literatura, Leitura e Aprendizagem
É a arma ideal para realçar a realidade e a atualidade através da ficção; a crônica transmite a
reação pessoal, com a qual muitas vezes os leitores se identificam, através do humor, da ironia,
do elogio emocionado, de todas as formas de expressar sentimentos. (LETRIA; GOULÃO, 1986,
p. 86)
O corpo das letras dos títulos também é um indicador a considerar sobre a posição adotada
pela redação.
Mas não apenas isso, o professor pode também explicar as funções de lingua-
gem presentes nos textos. Como a referencial, que é objetiva, sem interferência
da emotividade ou ideologia. É através do uso da linguagem referencial que se
pode medir o grau maior ou menor de objetividade do periódico. A função ex-
pressiva ou emotiva é outro exemplo de linguagem a ser explorada, já que ela
“tem como objetivo transmitir a emoção de quem fala ou escreve” (FARIA, 1989,
p. 62) e nela, o emissor fala de seus sentimentos, veiculando uma carga emocio-
nal. Outro tipo de função de linguagem encontrada nos jornais é a função cona-
120
O jornal em sala de aula
Texto complementar
Jornal
(MARCONDES; MENEZES; TOSHIMITSU, 2008, p.19-20)
121
Literatura, Leitura e Aprendizagem
apela para a emoção, para o sensacionalismo, bem como para uma estética de
mercado, ganhando aspectos que não são apenas informativos. Ora a notícia
deve provocar preocupação, ora deve aliviar a tensão de quem a recebe. Na
televisão a notícia final dos telejornais é atenuadora de tensão.
Com relação ao jornal o que conta, atualmente, são os fatos que não foram
veiculados. Saber o que não apareceu nos jornais, ou telejornais, bem como
entender os objetivos dessa omissão podem ser caminhos de compreensão
dos informativos.
Soma-se a isso outro aspecto: o espaço dedicado a uma notícia e à sua aná-
lise no jornal. Seja quanto à localização, seja quanto ao número de palavras
dedicadas ao assunto, ler um jornal é também perceber se não houve tentati-
va de esconder uma verdade. Estar atento para essas transformações, elaborar
perguntas sobre isso é abordar com criticidade os meios de comunicação.
Dicas de estudo
Consulte o site <www.observatoriodaimprensa.com.br> em que podem
ser encontrados comentários sobre jornais brasileiros, estrangeiros, além
de artigos de opinião, cartas de leitores; enfim, os bastidores dos jornais.
Atividades
1. Você costumar ler jornais? O que busca neles? O que encontra a mais do que
procura? Se você não lê jornais, como tem acesso às notícias? Você considera
esse acesso suficiente para saber o que acontece à sua volta? Por quê?
2. Faça uma reportagem sobre um assunto de sua preferência, que tenha li-
gação com sua comunidade (problemas no bairro, assuntos de vizinhança,
comércio etc). Observe as perguntas que são indicadas para este gênero tex-
tual, vistas anteriormente.
123
Literatura, Leitura e Aprendizagem
124
O jornal em sala de aula
125
História da literatura infantil
Objetivo
Informar sobre os nomes de autores, obras, datas e contexto cultural
em que se formou no passado a literatura infantil ocidental.
128
História da literatura infantil
O famoso livro As Mil e uma Noites, de origem árabe, foi revelado em 1704, por
meio da tradução para o francês por Galland, embora suas narrativas tenham
sido completadas no final do século XV. Com ele, a cultura oriental tornou-se
mais conhecida, além de mostrar a importância da criatividade, do conhecimen-
to e da liberdade na vida das pessoas, já que Sherazade, a protagonista, teve
que usar sua criatividade e sagacidade para conquistar a atenção do rei. Ela
contava as histórias de seu povo e as interrompia em momentos de suspense
(mantendo assim a curiosidade e o desejo do ouvinte de querer saber o final na
noite seguinte). Usou o conhecimento adquirido porque as histórias vinham de
um saber oral aprendido com o povo e com ele salvou as mulheres do reino do
sultão, seu marido. São narrativas encadeadas umas às outras; entre elas, podem
ser destacadas, “O mercador e o gênio”, ”Aladim e a lâmpada maravilhosa”, “Ali
Babá e os quarenta ladrões” e “Simbad, o marinheiro”.
129
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Jean Jaques Rousseau introduziu obras que tratam as crianças de acordo com
suas ideias e princípios, valorizando as suas capacidades. Émile (1762) influenciou
muitas narrativas da época, embora muitos estudiosos acreditassem ser uma
obra de fundo totalmente moralizante e fora do contexto social. Trata da edu-
cação natural de crianças, afastadas do convívio social e tendo por companhia
apenas seu preceptor, mas em contato intenso com a natureza.
Entre 1812 e 1815, surgem os famosos Contos de Grimm (Kinder und Hausmär-
chen, Histórias para crianças e famílias) que, foram reunidos pelos pesquisadores
e folcloristas alemães Jacob e Wilhelm Carl Grimm. São narrativas que demons-
tram a influência de mitologias nórdicas. Entre elas, as mais conhecidas são: “A
Branca de Neve e os sete anões”, “João e Maria” e “Os músicos de Bremen” e estão
na origem das várias adaptações surgidas no mundo inteiro e que têm como
público-alvo as crianças.
130
História da literatura infantil
131
Literatura, Leitura e Aprendizagem
[...] identificação, pelo prazer que toda leitura com pretensões a ser de algum proveito deve
provocar na alma da criança, para além de qualquer simplismo de expressão, ou do puro
retrato físico de uma modalidade de ser e de sentir, que a criança permanentemente luta por
transcender. (JESUALDO, 1978, p. 30)
Texto complementar
132
História da literatura infantil
Dicas de estudo
Há bons filmes sobre alguns dos escritores citados na aula. Indicaremos dois
deles, filmes recentes e de boa qualidade.
Miss Potter
133
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Atividades
1. Selecione em sua memória de leitor um conto de fadas. Analise nele os ele-
mentos que manifestam o caráter lúdico e o caráter moralizante da narrativa.
134
História da literatura infantil
135
Literatura, Leitura e Aprendizagem
136
História da literatura infantil
137
A literatura infantil no Brasil
Objetivo
Informar sobre nomes de autores, obras, datas e contexto cultural
em que se formou a literatura infantil brasileira.
Esse lastro cultural não deixou de existir com a Independência. Continuou atuando
fortemente, diluindo-se durante o Império em novas contribuições culturais, com as
quais realizava um fenômeno de aculturação, de interação que, talvez, seja hoje difícil
de distinguir nitidamente, em seus múltiplos e complexos aspectos. O grande acervo
de livros de memórias com que contamos, fixando aspectos curiosos do Brasil e de sua
formação em vários espaços e tempos, deixa-nos preciosos depoimentos que mostram
a vigência e realidade da confluência cultural europeia, indígena e africana, em nosso
desenvolvimento cultural. (ARROYO, 1990, p. 45-46)
Tratava-se, é claro, de um tarefa patriótica, a que, por sua vez, não faltavam também os
atavios da recompensa financeira: via de regra, escritores e intelectuais dessa época eram
extremamente bem relacionados na esferas governamentais, o que lhes garantia a adoção
maciça do que escrevessem. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1988, p. 28-29)
E, na mesma época, Olavo Bilac e Coelho Neto editam seus Contos Pátrios
(1904) e Júlia Lopes de Almeida lança as Histórias da Nossa Terra, Contos Infantis,
e outros...
140
A literatura infantil no Brasil
de São Paulo. Texto de intensa afetividade, que lembra um pouco Coração de Ed-
mundo de Amicis que, em formato de diário, tratava da educação dos meninos
na Itália, do final do século XIX.
A poesia, nesta época, podia ser encontrada em Coração (1893) de Zalina Rolim,
no Livro das Crianças, em parceria da autora com João Köpke, Poesias Infantis
(1904) de Olavo Bilac e Alma Infantil (1912) de Francisca Júlia e Júlio da Silva.
A estudiosa Nelly Novaes Coelho (1991, p. 223) analisa esse período finissecu-
lar através de Edgard Cavalheiro:
A literatura infantil praticamente não existia entre nós. Antes de Monteiro Lobato havia tão-
somente o conto com fundo folclórico. Nossos escritores extraíam dos vetustos fabulários
o tema e a moralidade das engenhosas narrativas que deslumbraram e enterneceram as
crianças das antigas gerações [...].
141
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Lobato foi lido por milhões de leitores e traduzido em diversos países. Nelly
Novaes Coelho (1991, p. 231) afirma que “o sistema tradicional estilhaçava-se, e
Monteiro Lobato, com sua lucidez irreverente, empenhou-se em ‘desmascarar’
os falsos valores”. Com isso, sofreu reações contrárias às suas obras, por religiosos
e até por parte do ditador Salazar, em Portugal. Devido à liberdade criadora e à
liberdade de pensamento que defendiam suas personagens, ele foi considerado
subversivo, nos anos 1940.
142
A literatura infantil no Brasil
Essa etapa da Literatura Infantil brasileira reata pontas com a tradição loba-
tiana, por outras vias. Pela inversão a que submete os conteúdos mais típicos
da literatura infantil. Essa tendência contestadora manifesta-se com clareza na
ficção moderna, que envereda pela temática urbana, focalizando o Brasil atual,
seus impasses e suas crises.
Nos anos 1970, Ana Maria Machado, Eva Furnari, Sylvia Orthof, Ary Quintella,
Bartolomeu Campos Queirós, Lygia Bojunga Nunes, Marina Colasanti, Rachel de
Queiroz e Ruth Rocha são alguns dos autores que compõem esse panorama e
que produzem o experimentalismo com a linguagem, com a estruturação narra-
tiva, com o visualismo do texto e questionam os valores da sociedade.
Texto complementar
143
Literatura, Leitura e Aprendizagem
144
A literatura infantil no Brasil
Dica de estudo
Consulte os seguintes sites:
<www.dobrasdaleitura.com>
<www.fnlij.org.br>
São endereços em que podem ser encontradas resenhas, ensaios, entre-
vistas, informações sobre a Literatura Infantil brasileira. São sites muito
bem construídos e instigantes, que promovem e estimulam a leitura da
literatura.
145
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Atividades
1. Situe numa linha de tempo a evolução dos autores e as obras apresentadas
no texto desta aula. Marque em azul os livros que você já leu.
146
A literatura infantil no Brasil
147
Poesia e música
Objetivos
Estudar a poesia para crianças em seus aspectos teóricos. Analisar os
processos de metaforização dos poemas e sua relação com a música.
Para Bárbara Carvalho (1982, p. 224), a poesia não é apenas linguagem ver-
sificada, mas linguagem poética, simbólica. Ainda segundo a estudiosa, “deve
apresentar certos requisitos: ritmo, sonoridade, simplicidade, clareza e pequena
extensão [...]”. O ritmo, formado pela alternância de sons e silêncios, de palavras
e pausas, em espaços regulares e repetidos.
Ou isto ou aquilo
Cecília Meireles
151
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Nela o eu-lírico mostra que a vida é feita de escolhas e estas, muitas vezes,
são difíceis de resolver. Apresenta uma riqueza nas formas e na rima, com uma
musicalidade agradável à criança.
Considerando que a prosa poética não está presa ao verso, mas busca a mu-
sicalidade da linguagem e vale-se de imagens poéticas, Ziraldo faz do seu O
Menino Maluquinho (obra de sucesso desde o lançamento) uma narrativa com
carcterísticas de prosa poética. A mesma característica se mantém em Flicts, a
cor que não tinha lugar na terra e se encontrou na lua, um livro em que os recur-
sos poéticos da palavra se aliam à ilustração e aos aspectos gráficos, conferindo-
lhe um lugar de destaque na Literatura Infantil brasileira. A obra de Ziraldo inclui,
também, histórias escritas em versos, que exploram a rima, o ritmo, como é caso
152
Poesia e música
da coleção dos livros para cada letra do alfabeto, que podem estar inseridas na
divisão anterior.
Num povo que ama a poesia e que tem uma escola que a odeia, onde situar
a poesia infantil? Os poemas de cordel, as letras de canções, as quadras de adi-
vinhas, os hinos religiosos povoam com rimas, ritmos e imagens os dias e as
153
Literatura, Leitura e Aprendizagem
noites, os ouvidos e os olhos dos brasileiros, sem fichas de leitura, sem análise
da versificação, sem a obrigatoriedade de memorizar para a declamação na festa
dos pais, ou no aniversário do colégio. Essa maré poética arrebenta-se, porém,
ao encontrar os recifes da instituição escolar. Nela vigoram, segundo as pala-
vras de Maria da Glória Bordini (1986, p. 13), o “balbucio meloso das emoções
ou a voz estrondejante que exalta deveres cívicos ou familiares.” . Acrescentarei:
vigoram também, ao sabor da moda marrom-terra, vulgo ecologia, os animais
grandes e pequenos, com vozes onomatopaicas e figurino humano, a amole-
cer de ternura alienante os corações e mentes submissos à vontade e ao gosto
adulto. A existência humana é entendida como a vida idealizada de super-heróis
sem cuidados nem afazeres, vivendo qual linda borboleta irisada a flutuar no
firmamento azul – sem nuvens. As possibilidades fundamentais – pretendidas
por Staiger – transformam-se em inutilidades sem fundo mental. E a razão de
ser da poesia e da vida achata-se num racionalismo pragmático – bem ou mal
intencionado. Sons, ritmos e imagens cristalizam-se no exercício do hábito de
higiene – escovar os dentes, lavar as mãos, tomar banho – e no exercício mne-
mônico da tabuada, do abecedário, da lição de ciências, dos dias da semana ou
dos meses do ano.
Uni, duni, tê
Salamê minguê
Um sorvete colorê
154
Poesia e música
O Pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
...........................
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Afinando violino
Toco lino
viofino
toco vio
fonolino
vio toco
linofino
toco fino
violino
155
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Logo adiante, posiciona-se com maior clareza: “a poesia infantil genuína é in-
distinguível da poesia não adjetivada, salvo, talvez, em termos temáticos” (BOR-
DINI, 1986, p. 13).
Para melhor trabalhar a poesia em sala de aula não se pode dispensar o co-
nhecimento mais minucioso dos recursos da linguagem humana, em termos de
metaforização, de ritmo e de beleza das palavras. Esse é o trabalho do professor
ao lidar com o leitor iniciante, que é a criança. Se esse trabalho não for realizado
a contento, a poesia passa a ser um buraco negro na literatura infantil.
156
Poesia e música
Texto complementar
Isso é poema?
(GEBARA, 2002, p. 35-36)
157
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Tal como se descreve nos estudos sobre a ludicidade, através do jogo, elas
atuam no real e no faz-de-conta, aproveitando, de cada um deles, elementos
para novamente se voltar para o mundo, pesquisando respostas para suas ne-
cessidades. Cabe ao poeta respeitar-se ou, como dizia Paes, “não subestimar a
inteligência da criança, nem superestimar a sua”.
158
Poesia e música
Dicas de estudo
Há vários sites na internet com informações e textos de poesia infantil. Al-
guns se destacam pela intenção de ligar a poesia à escola e ao fazer literário.
É o que acontece com o endereço da poetisa Elisa Lucinda: <www.escolalu-
cinda.com.br>.
159
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Atividades
1. Tome um conto de fadas e um poema de Cecília Meireles (encontráveis em
endereços da internet) e estude as diferenças textuais entre eles: as imagens,
a escrita, o ritmo, a finalidade.
160
Poesia e música
161
Tipologia dos textos literários:
as narrativas da tradição
Objetivo
Tratar dos diferentes modos de narrar que constituem a literatura
infantil, em especial, das narrativas antigas, pertencentes à tradição.
164
Tipologia dos textos literários: as narrativas da tradição
Em geral, eles estão ligados aos fenômenos da natureza, aos deuses e à cria-
ção do homem e do mundo. Segundo a autora Nelly Coelho, os mitos caminham
com a história e ambos explicam-se: se este trabalha com a razão e observação
dos fatos, aquele existe pela imaginação humana:
É costume dizer que quando o homem sabe, ele cria a História e quando ignora, cria o Mito. Na
verdade, essas duas manifestações do pensamento e da palavra dos homens respondem a um
mesmo desejo: a necessidade de explicar a vida ou o mundo. (COELHO, 1991, p. 151)
165
Literatura, Leitura e Aprendizagem
A busca de explicações para tudo que existe na Terra também contribuiu para
o fortalecimento dos mitos e, sendo assim, é possível verificar a dificuldade de
datar uma origem concreta, visto que o homem mais primitivo já questionava a
sua existência e o princípio do mundo.
Para André Jolles, teórico literário, o homem faz uma pergunta ao mundo.
Deseja compreender o universo como um todo, mas também quer conhecer os
pormenores da vida. O homem coloca-se diante do mundo e o interroga, pe-
dindo que lhe revele seus fenômenos. Recebe então uma resposta: palavras que
vêm ao encontro das suas. Quando o universo se cria, assim, para o homem, por
pergunta e resposta, tem lugar a forma narrativa a que chamamos mito (PRIETO,
1999, p. 43).
Ainda segundo Nelly Coelho, mito e literatura caminham juntos, pois ambos
apresentam situações “sobrenaturais” para explicar a realidade. A psicanálise
também vai atribuir aos mitos as fontes de explicação humana, por exemplo, o
termo narcisista surgiu do Mito do Narciso, que diz respeito a pessoas com vaida-
de exarcebada. A psicanálise tem feito uso intenso dos mitos: Freud foi respon-
sável pelo ressurgimento do mito de Édipo.
As lendas (do latim legere = ler, interpretar) são textos constituintes das narra-
tivas primordiais, pois “A lenda [...] não é mais do que o pensamento infantil da
humanidade, em sua primeira etapa, refletindo o drama humano ante o outro,
em que atuam astros e meteoros, forças desencadeadas e ocultas” (SOSA, 1978,
p. 109).
Texto complementar
167
Literatura, Leitura e Aprendizagem
168
Tipologia dos textos literários: as narrativas da tradição
Dicas de estudo
Assistir a esses filmes que nasceram da literatura e aproveitam o mundo de
histórias primitivas e de maravilhoso que estava já nas narrativas de tradição.
Ficha técnica:
Título original – The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring
Gênero – Aventura
Tempo de duração – 178 minutos
Ano de lançamento (EUA) – 2001
Estúdios – New Line Cinema / The Saul Zaentz Company / WingNut Films
Direção – Peter Jackson
Ficha técnica:
Título – The Chronicles of Narnia
Direção – Andrew Adamson
Gênero – Aventura
Estúdios Walt Disney
Atividades
1. Quais foram as lendas que você aprendeu em sua infância? Lembre-se que
a lenda tem como base fatos e pessoas reais, transformados pela fantasia e
pela idealização. Escreva um texto contando uma delas.
169
Literatura, Leitura e Aprendizagem
170
Tipologia dos textos literários: as narrativas da tradição
2. Por que a sociedade, que evoluiu tecnologicamente, ainda precisa ouvir, ler
e contar narrativas míticas e lendárias?
171
Literatura, Leitura e Aprendizagem
3. Você deseja contar uma fábula inédita, ainda não contada, para seus filhos,
sobrinhos, alunos. Como você construiria o texto?
172
Tipologia dos textos literários: as narrativas da tradição
173
Contos de encantamento
Objetivo
Estudar a configuração dos contos maravilhosos e de encantamento
e sua significação nos dias atuais.
Nelly Novaes Coelho, em seu livro Literatura Infantil: teoria, análise, di-
dática, divide esse tipo de narrativa em contos de encantamento, contos
maravilhosos e contos de fadas.
Essa é uma visão arquetípica das fadas e, por consequência, dos contos em que
elas estão representadas. Marina Warner, no entanto, procura mostrar uma outra
face, mais realista e histórica dessas personagens e desses contos. Afirma ela:
Em certo sentido , a interpretação histórica dos contos de fadas oferece mais alento ao ouvinte
ou leitor do que a abordagem psicanalítica ou mística, porque revela como o comportamento
humano está inserido em circunstâncias materiais, nas leis do dote, na posse das terras, na
obediência feudal, nas hierarquias domésticas e disposições maritais, e que quando esses
fatores passam e se modificam, os comportamentos também podem mudar. (WARNER, 1999,
p. 21)
[...] uma força primordial, necessária e, ao mesmo tempo, temida e, por isso mesmo,
continuadamente dominada pelo homem. As fadas simbolizariam, talvez, a face positiva e
luminosa dessa força feminina e essencial: o seu poder de dispor da vida, de conter em si o
futuro. (Lembremo-nos de que a principal missão das fadas nas histórias infantis é prever e
prover o futuro de algum ser). O reverso seria a face frustradora; a da bruxa, – a mulher que
corta o fio do destino, frustra a realização do ser. (COELHO, 1991, p. 154)
176
Contos de encantamento
O material folclórico, recolhido pelos autores entre 1812 e 1822, resulta no volume
Contos de Fadas para Crianças e Adultos, dos irmãos Grimm, em que predomina
a temática mágica e fantasiosa. A obra compõe-se de diferentes gêneros, como
os contos de encantamento, as fábulas, os contos maravilhosos, a parábola, as
lendas, os contos de enigma e os contos jocosos. Utilizam-se da memória po-
pular para criar encantamento em suas histórias, fundindo o universo popular
e maravilhoso. Trabalham com os temas da solidariedade e amor ao próximo,
abrindo espaço para a esperança; ao contrário de Perrault, que satirizava o mal e
o expunha com clareza. Há mais humanismo e uma preocupação com a criança
que, até aquele momento, não existia.
Alguns críticos acreditam que a obra dos Grimm, por sua vez, direcionava os
leitores para a aceitação conformista da opressão.
Alguns contos apresentam o mesmo título dos contos de Perrault, porém, são
versões diferentes em que os finais se alteram, como, por exemplo, O Pequeno
Polegar, Cinderela, A Bela Adormecida e O Chapeuzinho Vermelho. No entanto, são
autores de obras-primas como O Príncipe Sapo, Joãozinho e Maria, Branca de Neve
e os Sete Anões, Os Músicos de Bremen, Joãozinho e as Três Plumas, Os Sete Corvos.
177
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Jesualdo, em seu livro A Literatura Infantil, faz uma divisão entre mentira, re-
curso demasiadamente usado pela criança e com finalidade utilitária, e a fabula-
ção, que seria uma consequência da própria curiosidade e da falta de fronteiras
nítidas entre os parâmetros reais e os da fantasia.
Por isso, interessam a ela as coisas que se mantêm imóveis no ar desafiando a gravidade (A
Cruz de Santo Humberto) as que burlam as leis físicas (As Botas de Sete Léguas) os seres que
aparecem e se esfumam (fadas, duendes, gênios) as transformações mágicas de homens e
animais (O Gato de Botas) e a realização miráculo-religiosa ou profana, que desborda das leis
do esforço ordenado: tanto o palácio encantado de Aladim, quanto a terna ressurreição da
filha de Jairo. (SOSA, 1978, p. 81)
Do mesmo modo, podemos propor a hipótese de que cada conto de fada é um sistema
relativamente fechado, composto por um significado psicológico essencial, expresso numa série
de figuras e eventos simbólicos, sendo desvendável através destes. (FRANZ, 1990, p. 29)
Muitos autores consideram que a criança se sente atraída pela história quando
há o envolvimento com a sua personalidade, mesmo que superficial. O livro A
Psicanálise dos Contos de Fadas, de Bruno Bettelheim, vai esclarecer algumas situ-
ações dentro da vivência infantil e a consequente formação de um novo adulto,
movido pelo estímulo dos contos de fadas. Para o autor, os contos de fadas são
importantes, também, para o conhecimento do ser humano, principalmente os
problemas interiores que todos passamos e as possíveis soluções para as dificul-
dades do dia-a-dia, contribuindo, portanto, com a criança em desenvolvimento.
O autor, na qualidade de educador e terapeuta infantil, defende “que para uma
história enriquecer a vida de uma criança, estimulando-lhe a imaginação, deve
relacionar-se com todos os aspectos da sua personalidade” (BETTELHEIM, 1988,
p. 13). Ou seja, a partir do estímulo das emoções, do intelecto e da imaginação,
há, consequentemente, o desenvolvimento da sabedoria, que tanto preocupa
e é necessária a todos. A criança também pode conhecer os padrões morais de
uma sociedade, levando, assim, para o seu cotidiano, os conceitos presentes nas
histórias. Sobre essa aprendizagem interior, Schiller (apud FIGUEIREDO, 2000) es-
creveu: “há maior significado profundo nos contos que me contaram na infância,
do que na verdade que a vida me ensina”.
Muitos contos de fadas trabalham com problemas existenciais que são resolvi-
dos de forma rápida, mostrando para aquele leitor uma ponderação a respeito dos
males humanos. A criação de um herói que sempre vence ao final, atrai as crianças.
Ou seja, dificilmente a criança se identifica com o herói pelo seu valor interior ou
ideológico, mas pela aparência e pelas ações desta personagem.
179
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Texto complementar
a alusão a animais, como o lobo, por exemplo, que deviam causar medo
nas populações que moravam em regiões isoladas, como ocorre à mãe
e à avó de Chapeuzinho;
1
A autora refere-se às histórias arquetípicas como os contos de fadas, mitos e outros semelhantes. Nesta obra. também há a interpretação dos
contos de fadas como chave de explicação psicológica.
180
Contos de encantamento
181
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Dica de estudo
Consulte os sites <www.dobrasdaleitura.com> e <www.fnlij.org.br> que
informam a respeito de publicações literárias ou ensaísticas sobre contos
de fadas e literatura infantil e juvenil de um modo geral. Esses endereços
servem como atualização e como interação entre professores, estudiosos
e críticos literários.
Atividades
1. Quais são as características da fada e quais são as da bruxa? O que represen-
tam em termos de concepção de comportamentos humanos? Escreva um
texto a respeito.
182
Contos de encantamento
2. Procure ler (ou lembrar) de quatro contos de fadas (que podem ser locali-
zados na internet) e tire deles situações que se repetem. Escreva um texto a
partir dos resultados dessa comparação, comentando o por quê das seme-
lhanças e das diferenças.
183
Literatura, Leitura e Aprendizagem
184
Contos de encantamento
185
Outras formas de narrativa
Objetivos
Expor e analisar narrativas que complementam o repertório literário
das crianças, como as que estão apoiadas em aventuras, em situações
cotidianas e, mais recentemente, as narrativas que retomam formas li-
terárias tradicionais.
188
Outras formas de narrativa
189
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Nelly Novaes Coelho (1993, p. 139-144) divide a linha do realismo cotidiano em:
� realismo crítico (relacionado à realidade social);
190
Outras formas de narrativa
Grandes nomes na crônica são citados pelo jornalista, como Luis Fernando
Verissimo, Mario Prata, Fernando Sabino, Rubem Braga, entre outros.
191
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Em O Sofá Estampado, Lygia Bojunga Nunes cria o tatu Vítor que, em mo-
mentos diferentes, tenta declarar seu amor pela gata Dalva. Sua fala “Eu estou
vidrado em você” é interrompida por comerciais de televisão, pelo chamado do
telefone e pela entrada da Dona-da-Casa, a oferecer-lhe um cafezinho, e até por
sua timidez. Quando Dalva o despede, ele tenta declarar-se uma última vez:
A Dona-da-Casa foi indo prá porta. O Vítor foi atrás. Mas quando viu que a Dona-da-Casa não
estava olhando, achou que dava tempo de desabafar; se virou: – Dalva, eu estou v... – Tropeçou
no tapete, a fala tropeçou junto, saiu vidrocê, e o Vítor foi indo embora aflitíssimo: Dalva eu
estou vidrocê, será que dava prá entender? (NUNES, 1981, p. 90)
192
Outras formas de narrativa
Texto complementar
193
Literatura, Leitura e Aprendizagem
194
Outras formas de narrativa
alguns poderiam supor que mudam também os interesses das crianças. Essa
suposição é provavelmente falsa. Afora interesses efêmeros, como as Tarta-
rugas Ninjas, qualquer professor pode dizer que uma boa história é mais im-
portante do que o gênero literário. Além disso, boas histórias podem misturar
mais de um gênero. A eternamente popular série Nárnia é uma aventura, uma
fantasia, ou uma história de animais? Ela tem elementos de cada um deles.
Além disso, cada criança pode ter um interesse específico por um livro dife-
rente, assim como os adultos relatam ser influenciados por diferentes gêne-
ros e temas da literatura. Entretanto, certos livros realmente parecem durar e,
conforme já foi sugerido, os editores contam fortemente com os clássicos em
suas listas. As crianças leem esses clássicos porque gostam deles, ou eles são
uma “boa literatura” que as crianças deveriam homenagear, assim como os
adultos fazem com Shakespeare?
Dica de estudo
Consulte os sites <www.casalygiabojunga.com.br> e <www.fnlij.org.br>,
onde você poderá encontrar mais informações e estudos sobre os assun-
tos desta aula. Lá existem dados sobre os livros de autores e os exemplos
para o reforço dos assuntos aqui tratados.
195
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Atividades
1. Compare as diferenças entre o conto de fadas e o conto de aventuras.
2. Faça uma seleção de cinco piadas que você conhece. Escreva-as. A seguir,
analise suas características de costumes, preconceitos, tipos de personagem.
Estude nessas piadas a diferença entre o cômico e o humor.
196
Outras formas de narrativa
3. Que outras obras dos autores da literatura infantil brasileira citados nesta
aula você conhece? Elas se parecem com as características apontadas? Escre-
va um texto a respeito.
197
O trabalho com a poesia infantil
Objetivos
Este texto tem como objetivo discutir aspectos relativos à poesia
infantil, desde sua concepção até a sugestão de algumas atividades.
Está dividido, portanto, em quatro partes:
Uma das primeiras distinções que se pode fazer ao tratar da poesia infantil diz
respeito aos termos poema e poesia. Poema é termo que designa o texto em sua
concretude formal, ou seja, a disposição das linhas, o agrupamento em estrofes
e/ou blocos, a visualidade de seu desenho na página. Por sua vez, todo texto que
tenha uma articulação das várias funções da linguagem (a referencial, a expres-
siva, a fática, a conativa e a metalinguística), com finalidade artístico-estética
denominamos poesia. Dessa maneira, podemos ter textos que são visualmente
poemas, mas que não são poéticos, isto é, não têm poesia; bem como podemos
encontrar textos que não têm formato de poema e são poéticos, como a prosa
poética de Bartolomeu Campos Queirós.
Uma das mais importantes discussões sobre o gênero poético trata da ques-
tão do adjetivo infantil. O adulto tem como objetivo, muitas vezes, usar a lite-
ratura para lições de moral, tratar de conteúdos escolares, hábitos de higiene,
informações etc. Dessa maneira, sua preocupação está localizada mais no con-
teúdo do que nos aspectos formais, o que desqualifica a poesia. Vemos, com
maior abundância, poemas, e não poesia, voltados para a criança. Desse modo,
há uma infantilização do texto poético, que é profundamente prejudicial ao co-
nhecimento literário e à experiência com a literatura.
200
O trabalho com a poesia infantil
Num outro aspecto da questão, Maria da Glória Bordini (1986, p. 13) afirma:
“Aparentada ao ludismo, embora este não seja privativo da criança, a poesia in-
fantil genuína é indistinguível da poesia não-adjetivada, salvo, talvez, em termos
temáticos”. Observe que a autora aproxima, em termos formais, a poesia para
adultos da poesia infantil: elas usam o mesmo procedimento lúdico e provavel-
mente a mesma temática. Isso significa que um poema para crianças não precisa
tratar exclusivamente de temas de interesse momentâneo, como são os hábitos,
as informações, as aprendizagens, tudo o que está ligado à escola ou às brinca-
deiras. O bom poema infantil pode tratar de temas complexos como a vida e a
morte, o amor, a saudade, e muitos outros.
201
Literatura, Leitura e Aprendizagem
NATÁLIA
NATAL..
NATA...
202
O trabalho com a poesia infantil
.ATA...
..TAL..
..T..IA
....LIA
...ALI.
...A.I.
.....IA
A bala de nata,
no céu da boca
da pequena Natália,
é lua de prata.
histórias de Ali-Babá.
203
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Sonhos da menina
(MEIRELES, 1972, p. 730)
está no sonho?
ou na fronha?
Sonho
risonho:
O vento sozinho
no seu carrinho.
De que tamanho
seria o rebanho?
A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha...
Na lua há um ninho
de passarinho.
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?
204
O trabalho com a poesia infantil
apagam devido à força da nasal. Com isso, cria-se uma imagem sonora de apaga-
mento, de sonho, de suavidade. As situações descritas e a personagem menina
estão de acordo com situações realmente vividas pelas crianças: o sono, o sonhar,
a fronha, a lua, a sombrinha, a aranha... Há um constante ir e vir das palavras que
trocam de posição, num evidente aspecto lúdico. A brincadeira com as palavras
promove o não sentido referencial: “o linho do sonho”, por exemplo.
É um dos mais belos poemas de Cecília Meireles desse livro maravilhoso que
é Ou Isto ou Aquilo.
Canção de inverno
(QUINTANA, 1989, p. 32)
“Pinhão quentinho!
Quentinho o pinhão!”
(E tu bem juntinho
do meu coração...)
205
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Um poema enigma
Canção de domingo
(QUINTANA, 1989, p. 32)
206
O trabalho com a poesia infantil
Atividades de escrita
Substituição de rimas
Recorte as palavras do poema que estão na posição de rima. Nos espaços
recortados, os alunos deverão colocar outras palavras que, mantendo ou não o
mesmo som inicial, sempre rimem uma com a outra. Procure manter o sentido
do poema com o qual você pretende trabalhar.
Alteração de metáforas
Incentive seus alunos a trabalhar com a analogia. Buscar em outros campos
semânticos relações de sentido, permitindo que as palavras e imagens possam
se corresponder de forma criativa. Nesse exercício, o sentido inicial do poema
sofrerá, provavelmente, alterações. Não se preocupe, desde que não haja um
caos generalizado. É preciso despertar os alunos para as possibilidades criadoras
da língua e exercitar o imaginário infantil.
207
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Criação de poemas
Assim como usamos diferentes motivos para reconstruir e alterar narrativas,
criando textos novos, podemos fazer o mesmo com poemas. A natural musica-
lidade da fala infantil e sua imagética podem encontrar nesse exercício de pro-
dução de texto uma boa realização. O professor deve lembrar, no entanto, que
o texto produzido quase nunca será poético, embora tenha a forma de poema e
utilize procedimentos que produzem poesia. Trata-se de um exercício escolar.
Desmontagem de palavras
Como no exemplo dado a partir do poema “Natália”, pode-se fazer o mesmo
com nomes das crianças, nomes de cidades, substantivos comuns, enfim, com as
palavras da língua. É exercício de observação e descoberta. Se o professor quiser,
poderá criar textos a partir dessa desmontagem.
Atividades orais
Declamação
Essa atividade é extremamente prazerosa, exige memória, desinibição, boa
dicção e, sobretudo, boa compreensão do poema a ser apresentado. É preciso
208
O trabalho com a poesia infantil
209
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Texto complementar
210
O trabalho com a poesia infantil
É, porém, sobre o acervo poético que estendo mais meu comentário. Vera
Aguiar Teixeira, escritora e pesquisadora da PUCRS, organizou dois volumes,
intitulados Poesia Fora da Estante, contendo poemas criados por escritores
nem sempre rotulados como infantis (Oswald de Andrade, Paulo Leminski,
entre outros). Poemas que acabam por ir ao encontro da capacidade de re-
conhecimento de letras e estruturas formais pela criança, mantendo alta qua-
lidade estética. Demonstrou que é possível tratar com respeito e sem mater-
naIismo o leitor, desafiando, propondo, deleitando sem infantilismo, doença
escolarmente transmissível.
211
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Voltamos com ele ao ritmo anterior à fala, à história antes da fala histori-
cizada, ao tempo do antes, com poemas que recuperam a música dedicada
aos deuses da poesia.
Dica de estudo
Há vários sites de autores poetas na internet, que mantêm suas páginas
atualizadas; basta procurar pelo nome deles. Outra dica é consultar os
endereços seguintes: <www.dobrasdaleitura.com> e <www.fnlij.br>. Lá
você encontra as notícias sobre lançamentos de livros de poesia e artigos
sobre poetas e obras.
Atividades
1. Lembre e escreva parlendas, quadrinhas e adivinhas. Estude nelas as rimas
enquanto função semântica. Observe se há coerência e racionalidade entre
os versos.
212
O trabalho com a poesia infantil
213
Literatura, Leitura e Aprendizagem
214
O trabalho com a poesia infantil
215
A biblioteca escolar
Objetivo
Acentuar a importância da existência da biblioteca escolar, com um
acervo adequado ao interesse dos alunos e com uma programação
constante de atuação de leitores e promoção de leituras
Hoje, existem dois tipos de bibliotecas: a pública e a escolar. Para Luiz Raul
Machado (SANDRONI; MACHADO, 1987), a escolar deveria estar voltada para
ajudar a criança a desenvolver sua capacidade de estudo, dando-lhe meios para,
através de pesquisas, ampliar seu conhecimento. Mas, nos países em desenvol-
vimento, devido ao baixo poder aquisitivo da população, deseja-se que a biblio-
teca escolar supra a falta de livros, ofertando, além de livros didáticos, obras de
ficção, de poesia, de teatro, de outras artes.
218
A biblioteca escolar
A biblioteca pública infantil, escolar ou não, deve ser uma casa e não um de-
pósito de livros, pois, assim, torna-se parte do dia-a-dia das crianças. Deveria ser
povoada por contadores de histórias, representações teatrais, com histórias rela-
cionadas aos livros da biblioteca. As atividades da biblioteca devem atender às
necessidades da criança, e cabe ao bibliotecário despertar e iniciar as atividades
219
Literatura, Leitura e Aprendizagem
O site <www.fariasbrito.com.br/biblioteca/biblieduc_infantil/biblioeduc_
infant.htm> é um endereço que apresenta ótimo exemplo de uma biblioteca
220
A biblioteca escolar
Luiz Raul Machado (SANDRONI; MACHADO, 1987) sugere para as regiões mais
carentes da periferia, a fim de suprir a falta de biblioteca e incentivar o hábito da
leitura, a caixa-estante, que é uma ótima alternativa. Pode-se solicitar a instala-
ção ao Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis, existentes nas bibliotecas
públicas municipais ou estaduais. Uma pessoa indicada é treinada para serviço
de empréstimo, sendo avaliadas as dificuldades e resolvidas pelo responsável da
caixa-estante. O acervo é renovado após um período que permita que todas as
obras sejam conhecidas pelos leitores.
221
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Texto complementar
222
A biblioteca escolar
223
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Dicas de estudo
Consulte os sites na internet que tratam das bibliotecas, dos fazeres e dos
saberes que por elas circulam, como, por exemplo, o da Fundação Biblio-
teca Nacional, no Rio de Janeiro, acessível em <www.bn.br>.
Atividades
1. Escreva um projeto de uso da caixa estante: que livros escolher? Como ela
poderia circular na escola? Quem seria o responsável? Como fazer o controle
do acervo? Como renová-lo? Como o professor poderia usufruir da circula-
ção dessa caixa-estante? Mantenha o formato de um projeto (título, objeti-
vos, hipóteses, descrição das ações, textos, cronograma, referências).
224
A biblioteca escolar
2. Como foi sua experiência pessoal com bibliotecas? Narre essa história em
um texto-depoimento.
225
Literatura, Leitura e Aprendizagem
3. Como você imagina uma biblioteca nos dias atuais? Pense nos espaços, nos
acervos e no atendimento. Escreva um texto de opinião a respeito disso.
226
A biblioteca escolar
227
A avaliação dos projetos
de formação de leitores
Objetivo
Apresentar os critérios para avaliar projetos destinados à formação
de leitores, escolares ou não, discutindo os vários aspectos relaciona-
dos a esse propósito.
Na verdade, todos podem contribuir para o conhecimento por meio das lei-
turas, ao contrário daqueles que acreditam que somente os professores são os
responsáveis por esse assunto.
A família é a primeira a impulsionar o gosto pela leitura, com literatura infantil oral
e as cantigas. É importante esse primeiro contato, que muito ajudará a criança a inte-
ressar-se pela escola. Nela, os professores farão a parte que lhes compete, ou seja, dar
a sustentação dessa aprendizagem. Os professores precisam, primeiramente, gostar
de ler para poderem passar a esses futuros leitores uma boa imagem da leitura.
Na verdade, assim como disse Paul Saffo (1999), “a palavra permanecerá como
o mensageiro mais confiável do mundo moderno”. Ele também afirma:
[...] Os entusiastas do vídeo sustentam que as imagens são intrinsecamente mais cativantes
do que as palavras, ignorando, contudo, a diferença maior entre ambos: enquanto o vídeo
é captado pelos olhos, o texto ressoa direto na mente. O texto convida-nos a buscarmos
imagens que completem as palavras fornecidas por ele, ao passo que o vídeo exclui tais
excursões mentais. Enquanto não houver uma ligação física entre o cérebro e a máquina, o
texto continuará oferecendo-nos o caminho mais direto entre a mente e o mundo exterior.
Para tanto, faz-se necessário estabelecer certas metas e atitudes do grupo en-
volvido, visando sempre a qualidade da aprendizagem e uma preparação do aluno
para a vida. Ou seja, a leitura não deve interromper-se quando esse aluno sair da
escola, mas devem ser criadas condições inconscientes que lhe tragam o interesse
para esse mundo, em todos os lugares e funções nos quais estiver inserido.
230
A avaliação dos projetos de formação de leitores
É necessário, portanto, fazer com que esse aluno (e, também os outros membros
envolvidos do grupo) perceba que, através da leitura, está sendo formada uma visão
global e constante. Mais do que em outros projetos, a leitura requer muita pesquisa e
confronto de ideias para que se possa chegar a possíveis soluções de problemas.
231
Literatura, Leitura e Aprendizagem
232
A avaliação dos projetos de formação de leitores
ver a leitura para além da sala de aula. Esse saber contribuirá decisivamente para toda
a sua vida, dando-lhe a ferramenta do progresso pessoal e profissional: a leitura.
Texto complementar
Além das novas tentativas da teoria para fundar uma ciência literária, a
crise do ensino desta disciplina provinha da constatação do fracasso escolar,
identificado com o fracasso da formação leitora. Se antes nos referimos ao
desencanto social das esperanças postas na escolaridade obrigatória, há que
recordar aqui que o ensino da leitura se realizava, tradicionalmente, a partir da
leitura de textos literários. Foi, pois, o modelo linguístico e literário da forma-
ção que se viu especialmente posto em questão.
233
Literatura, Leitura e Aprendizagem
A presença de contos infantis nas aulas das primeiras séries escolares viu-se
reforçada pelo aumento da narração oral de histórias e do uso generalizado do
234
A avaliação dos projetos de formação de leitores
folclore, que agora estava no auge da sua valorização. Nesta época, além disso,
desenvolveu-se a pré-escola, de maneira que a idoneidade deste tipo de litera-
tura passou a ser considerada fora de dúvida. O uso destes materiais foi aumen-
tando nos vários níveis de ensino e, rapidamente, todo o ensino primário aderiu
ao incentivo da leitura livre e às atividades sobre textos de tradição oral. Estudos
literários, como os de Propp, sobre os contos populares, graças à sua cientifici-
dade, deram respaldo à análise do material folclórico usado na escola.
Dica de estudo
Consultar os sites abaixo citados, responsáveis pela divulgação digital de
pesquisas relevantes na área da leitura:
<www.unicamp.br/iel/memoria/projetos/teses >
<www.catedra.puc-rio.br>
Atividades
1. Reflita sobre você e como se deu em você o processo de formação da capa-
cidade leitora. Quais foram as dificuldades? Escolha uma delas. Organize um
projeto para tentar resolvê-la. Aplique os passos propostos nesta aula.
235
Literatura, Leitura e Aprendizagem
236
A avaliação dos projetos de formação de leitores
237
Gabarito
O professor-leitor
1. Ao escrever o professor irá desenvolvendo, naturalmente, uma reflexão so-
bre seu repertório, modos de ler, gostos, oportunidades. Aparecerão infor-
mações como a relevância (ou não) da escola nessa formação, os problemas
surgidos ao longo do percurso de vida. O professor entenderá melhor seus
comportamentos e seus objetivos em relação à formação de seus alunos
para a leitura.
A formação do leitor
1. O professor ao realizar sua autoanálise enquanto leitor irá descobrir que não
lemos exclusivamente para obter um único resultado e nem lemos sempre o
mesmo tipo de texto. A atividade proporciona uma abertura para entender
a leitura como atividade ampla e diversificada.
2. Esta atividade requer que o aluno liste textos (livros, jornais, revistas, textos
técnicos) sobre as relações do homem com a sociedade e com o meio am-
biente. Também obras sobre as relações do indivíduo consigo mesmo. Serão
livros de sociologia, psicologia, religião, e, principalmente, literatura. Cada
aluno construirá sua lista
240
Gabarito
3. Para esta resposta, deverão ser alinhados argumentos relativos à força liber-
tadora da palavra, a censura, a opressão ao pensamento livre, a ambição do
poder, a violência e muitos outros.
Leitura e compreensão
1. O leitor deve reconhecer a sigla, entender o termo “fundos” em uma de suas
acepções (não a espacial), saber o que é investimento, descobrir a que ano
pertence o mês de maio, distinguir a classe trabalhadora das demais e assim
por diante.
241
Literatura, Leitura e Aprendizagem
A contação de histórias
1. Ao recordar, o professor poderá levantar um repertório de memória e tam-
bém analisar o modo como contavam (quando, em que condições, a que
horas, de que modo, o que usavam etc.).
2. Dependendo da escolha do aluno, será possível ter uma noção geral da his-
tória com apenas três quadros. É um exercício semelhante porque ativa a
capacidade de previsão do aluno-leitor. Quanto maior o repertório mais fa-
cilmente se fazem previsões acertadas.
242
Gabarito
2. O aluno irá perceber que a ligação entre escola e literatura é muito forte.
Na medida em que a escola divulga valores e crenças, os autores tendem a
escrever sobre esses assuntos. É o que acontece hoje com o meio ambiente.
243
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Poesia e música
1. O aluno deverá verificar que a prosa e a poesia são diferentes na forma visual,
no uso mais denotativo da prosa. O ritmo da prosa é mais extenso e irregular.
No poema, ele é regular e produz efeitos de sentido, tal como o significado
das palavras. As imagens são mais mediatas na poesia. A finalidade da prosa
é narrar, a da poesia é musicar.
2. O aluno irá verificar que a passagem para a prosa (por exemplo, Eu toco Lino,
o violino; ou Eu toco lino, Lino no violino; ou Eu toco fino o violino que toca
fino etc.) perde a rapidez, a musicalidade e o jogo sonoro. Por que são formas
diferentes de representar a realidade de alguém tocando um violino.
244
Gabarito
Contos de encantamento
1. O aluno irá verificar que temos imagens mais ou menos semelhantes dessas
duas entidades: o figurino, o comportamento, a ação nas narrativas, a repre-
sentação do bem e do mal. Também perceberá que aplicamos esses critérios
a pessoas reais, quando as chamamos de fadas ou bruxas.
3. O aluno irá perceber que mudar um texto implica mudar seu sentido. Essa
atividade leva a verificar que é possível, por exemplo, na mudança do tempo,
verificar como as pessoas continuam parecidas com as personagens de tex-
tos tão antigos. Perceberá também que se a personagem boa for castigada,
ideologicamente o texto muda.
3. Este exercício avalia o repertório do aluno. Quantos livros ele leu? Quan-
tos autores desconhece? Além disso, leva a pensar que a obra completa
de um autor tem textos de diferentes qualidades. Algumas características
permanecem, mas alteram-se ou renovam-se ao longo do tempo e da pro-
dução literária.
245
Literatura, Leitura e Aprendizagem
2. Este exercício é bom para que o aluno vivencie o fazer poético, a necessidade
e encontra sons e sentidos, a exigência da síntese e da brincadeira verbal. A
teoria trata dessas questões: o lúdico, o inventivo, o musical.
A biblioteca escolar
1. O aluno precisa pensar a respeito da função da leitura e da acessibilidade
aos livros. As perguntas norteadoras já informam sobre o que se espera da
resposta do aluno.
3. O aluno deverá pensar que uma biblioteca tem atualmente um acervo mais
diversificado. Os livros são apenas parte dela. Há fotos, CDs, DVDs, folhetos,
jornais e muitos outros materiais. A opinião deve levar em conta acervo e
acessibilidade a esse acervo.
246
Gabarito
2. O aluno deve analisar à sua volta (na escola e na comunidade) quais são os
movimentos (na mídia, na sociedade, na escola) em favor da leitura. Escritos,
falas, ações que visem promover a leitura fazem parte desses projetos.
247
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Anotações
Literatura, Leitura e Aprendizagem
Literatura, Leitura
e Aprendizagem
Literatura, Leitura
e Aprendizagem