Música Medieval

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 8

MÚSICA MEDIEVAL

História da Música Ocidental I

Mikael Marcondes Micheline


MÚSICA MEDIEVAL

MODOS

Para começarmos a entender a música deste período, precisamos entender que nesta
época empregou-se um sistema especial de escalas às quais se dá o nome de modos.
Podemos ver os modos como sete modelos diferentes para a escala maior natural,
alterando-se apenas a nota de começo e fim, chamada de final.
Por exemplo, se tocarmos apenas as notas brancas no piano de Ré a Ré, teremos o
modo dórico (ou dório). Para ter-se os outros seis modos, basta trocar a final, ou seja,
a nota de início e fim. Podemos classificar os modos pela final, como demonstrado na
tabela abaixo:

Final Modo
Dó Jônico (ou jônio)
Ré Dórico (ou dório)
Mi Frígio
Fá Lídio
Sol Mixolídio
Lá Eólico
Si Lócrio

Cada modo medieval apresentava duas formas:


1. Forma autêntica: como o modo dório, que vai de Ré a Ré;
2. Forma plagal: que tem o mesmo modo e o mesmo final, diferenciando-se apenas
pelo fato de a série começar uma quarta abaixo. Nesse caso, o prefixo "hipo" é
acrescentado ao nome do modo (por exemplo, uma série que vá de Lá a Lá, cuja nota
final seja Ré, passa a ser o modo hipodório).

CANTOCHÃO

Cantochão ou canto gregoriano é o tipo de música mais antiga que conhecemos, tanto
sacra como profana, que consiste em uma única melodia. Em sua primeira fase, a
música religiosa conhecida como cantochão não tinha acompanhamento. Consistia em
melodias que fluíam livremente, quase sempre se mantendo dentro de uma oitava.
Os ritmos são irregulares, fazendo-se de forma livre, de acordo com as acentuações
das palavras e o ritmo natural da língua latina, base do canto dessa música.
ORGANUM PARALELO

As primeiras músicas polifônicas (com duas ou mais linhas melódicas tecidas


conjuntamente) datam do século IX. Por essa época, os compositores partiram para
uma série de experiências, introduzindo uma ou mais linhas de vozes com o propósito
de acrescentar maior beleza e refinamento a suas músicas.
A composição nesse estilo é chamada organum e sua forma mais antiga é o organum
paralelo, pois a voz organal (vox organalis, a que foi adicionada) tinha unicamente o
papel de duplicar a voz principal (vox principalis, a que conservava o cantochão
original) num intervalo inferior, de quarta ou quinta.

ORGANUM LIVRE

Nos dois séculos seguintes, os compositores foram gradualmente dando alguns passos
no sentido de libertar a voz organal de seu papel como cópia fiel da voz principal. Por
volta do século XI, além do movimento paralelo, a voz organal também usava o
movimento contrário (elevando-se quando a voz principal baixava e vice-versa), o
movimento oblíquo (conservando-se fixa enquanto a voz principal se movia) e o
movimento direto (seguindo a mesma direção da voz principal, mas separada desta
não exatamente pelos mesmos intervalos).
No organum livre, a voz organal já aparece escrita acima da voz principal. É feita ainda
ao estilo de nota contra nota, mas às vezes a parte da voz organal tem duas notas para
cantar contra uma única da voz principal.

ORGANUM MELISMÁTICO

No começo do século XII, esse rigoroso estilo de nota contra nota foi inteiramente
abandonado e substituído por outro em que a voz principal se estica por notas do
canto com longos valores. A voz principal passou, então, a ser chamada de tenor (do
latim tenere, isto é, manter). Acima das notas do tenor, longamente sustentadas, uma
voz mais alta se movia livremente, expressa por notas de menor valor que, com
suavidade, se iam desenvolvendo. Dá-se a um melodioso grupo de notas cantado
numa única sílaba o nome de melisma, daí esse tipo de organum ser conhecido como
organum melismático.
ORGANUM EM NOTRE-DAME

Mais tarde, ainda no século XII, Paris tomou-se um importantíssimo centro musical,
desde que, teve início a construção da catedral de Notre-Dame. Ali o tenor tinha uma
ou duas notas longas por sílaba e muitas vezes em vez de ser cantado. Em cima do
tenor havia um solo que agora passou a receber o nome de duplum, isto é, segunda
parte. O duplum tinha notas mais rápidas como no organum melismático, porém agora
essas notas mais agudas eram arranjadas em precisas unidades de tempo musical.
Em alguns segmentos o tenor passava a ter o mesmo ritmo do duplum. Esse estilo de
composição ficou conhecido como descante e a parte do organum na qual isso ocorria
foi chamada de clausula. As notas do tenor nessas passagens geralmente eram
construídas formando desenhos rítmicos curtos que se repetiam por toda a clausula.
Posteriormente surgiram peças onde uma terceira voz (triplum) e até mesmo uma
quarta voz (quadruplum) eram acrescentadas.

MOTETOS

No século XIII, as vozes mais altas das clausulae (plural de clausula) começaram a
receber palavras independentes do texto. O duplum passou, então, a ser conhecido
como motetus (do francês mots, que significa "palavras"), dando assim origem a um
tipo de música popular que foi chamada de moteto.
Como muitas dessas composições foram elaboradas para serem cantadas fora das
igrejas, passaram a ser usadas palavras seculares. Sobre uma clausula, talvez tirada de
um organum a duas vozes, acrescentava-se uma terceira voz (triplum), escrita com
notas mais rápidas. Esta tinha palavras inteiramente independentes, às vezes até em
outra língua. É curioso observar que, musicalmente, o triplum poderia tanto ajustar-se
ao tenor (agora mais tocado do que cantado) como o duplum, mas não precisava
necessariamente adequar-se aos dois, do que por vezes resultavam conflitos dos mais
dissonantes.

CONDUCTUS

Outro tipo de música que se popularizou com os compositores de Notre-Dame foi o


conductus, cântico de procissão usado para acompanhar o padre. Ao elaborar um
conductus, o próprio compositor, em vez de tomar emprestado do cantochão a parte
do tenor, escrevia uma melodia própria. Sobre a parte do tenor, adicionava uma, duas,
ou mais vozes, quase sempre ao estilo de nota contra nota. Diferentemente do
moteto, o conductus usava o mesmo texto em todas as partes das vozes.
Uma interessante invenção musical que surgiu sobretudo com o conductus foi a troca
de vozes. Fragmentos de melodia ou mesmo frases inteiras eram trocados pelas vozes.
Por exemplo, enquanto uma voz achava-se cantando AB, outra ao mesmo tempo
estava cantando BA.

ARS NOVA

A Ars Nova surge no século XIV e se contrapõe à Ars Antiqua, movimento polifônico
que se estendeu do século XI ao século XIII. O estilo da Ars Nova é bem mais expressivo
e refinado e apresentou um grande salto na história da música. Os ritmos já são mais
flexíveis, ousados, e o contraponto (ou polifonia) se faz de forma mais desembaraçada.
A politextualidade do moteto do século anterior foi substituída por novas formas com
um texto único, enfatizando a importância da sua clareza.
O maior músico da Ars Nova foi o compositor francês Guillaume de Machaut, que
escreveu grande número de motetos e canções. Muitas de suas peças foram baseadas
ou calcadas em cantochão, mas muitas outras foram livremente compostas, de modo
que podemos considerá-las inteiramente criadas por ele.

FALSO BORDÃO

O fauxbourdon (falso bordão) é uma técnica de harmonização presente no final da


Idade Média e no início da Renascença que consiste em uma cadeia de acordes
construídos com intervalos de terças e sextas. Em outras palavras, trata-se da primeira
inversão das tríades, acordes formados por três notas.
As terças são também utilizadas nos intervalos melódicos da voz superior, quase
sempre acompanhando as notas de acordes subjacentes. É uma música precursora das
texturas já mais fluentes e ricas do estilo renascentista.

MÚSICA PROFANA

O profano foi canalizado através de uns músicos-poetas que serão conhecidos nos
países latinos como trovadores e troveiros e, nos germânicos, como Minnesinger e
Meistersinger.
A música profana estava relacionada ao cultivo da arte e da poesia por membros da
nobreza e ao entretenimento em celebração de torneios e festividades. Muitas vezes
esses músicos eram itinerantes, levando sua arte de cidade em cidade.
Temas recorrentes nessas expressões artísticas eram as guerras, contos de cavalheiros
e o amor.
A utilização de instrumentos na música profana foi lenta e gradual e serviu muito para
o enriquecimento desse tipo de expressão musical.

ALGUNS INSTRUMENTOS MEDIEVAIS

Galubé e tamboril: flauta e tambor que eram tocados por uma só pessoa;

Charamela: um dos antepassados do oboé, era um instrumento de sopro e palheta


dupla de grande sonoridade;
Corneto: feito de marfim ou madeira e guarnecido de couro, possuía bocal parecido
com o do trompete, mas com orifícios para os dedos, como os da flauta;
Cítola ou cistre: instrumento com quatro cordas de arame que eram tangidas com os
dedos;

Viela: ligeiramente maior que as violas modernas, possuía um cavalete um tanto


achatado que permitia que uma corda fosse tocada ao mesmo tempo que outra;
Harpa: menor em tamanho que a harpa moderna e com muito menos cordas;
Viela de roda: instrumento no qual uma roda movida a manivela fazia as cordas
vibrarem, e um teclado em conexão com as cordas melódicas respondia pela
diferenciação dos sons;
Rebeque: instrumento em forma de pera, geralmente de três cordas friccionadas com
arco;

Órgão: além do órgão de igreja, havia o órgão portátil;


Carrilhão: conjunto de sinos graduados de acordo com o tamanho e a altura dos sons,
para ser tocado com martelos de metal;
Saltério: dotado de cordas que eram tocadas com dois bicos-de-pena, um em cada
mão.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA MÚSICA MEDIEVAL

 Linha melódica modal;


 Surgimento da polifonia;
 Execução vocal e instrumental;
 Surgimento do contraponto;
 Música cantada a vários textos;
 Fantasia e individualismo artísticos.

FONTES ADICIONAIS

História da Música Clássica – Os Grandes Clássicos – Volume I. Edicione del Prado.


1995.
Bennett, R. Uma breve história da música. Jorge Zahar Editor. 1986.

Você também pode gostar