Weber Liderança Carismatica
Weber Liderança Carismatica
Weber Liderança Carismatica
Resumo
Apesar da recorrência e persistência do fenômeno do populismo
na América Latina, a discussão sobre esta categoria tem estado
ausente do centro das atuais análises acadêmicas feitas no Bra-
sil. Indo além das análises clássicas que, a partir do enfoque nas
classes, priorizam, de forma unilateral, seus componentes estru-
turais, o artigo revisa o debate sobre o carisma na teoria políti-
ca de linha weberiana, propondo definir o populismo como um
subtipo da dominação carismática. Por este ângulo, enfatiza-se
a dimensão especificamente política do populismo, apontando o
caráter carismático necessariamente presente na relação emo-
cional entre líder e povo. Com base nesta premissa, sugere-se
ainda um modelo para a compreensão do populismo segundo
os diferentes níveis de manifestação do fenômeno: sociocultural
(histórico-latente), institucional (tipo de regime) e psicossocial
(estilo de liderança).
Palavras-Chave: Populismo, Carisma, Liderança Carismática,
Max Weber, Lulismo, América Latina.
1
Professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC (Universidade
Federal de Santa Catarina) com Pós-Doutorado realizado na Ruprecht-Karls-Universität
Heidelberg. É também bolsista de produtividade do CNPQ e autor do livro Max Weber e
a racionalização da vida (Editora Vozes, 2013).
14
1 As dimensões do populismo
2
Já a clássica análise de Gino Germani (1973) sobre o populismo, na matriz das teorias
da modernização, teve impacto apenas secundário no conjunto das análises feitas no
Brasil.
17
3
Uma interessante exceção é o texto de Ab’Saber (Lulismo, carisma pop e cultura an-
ticrítica, 2012), ainda que se trate de um ensaio com caráter engajado.
18
4
Nas palavras do autor: “é original apenas a sugestão de que o deslocamento do subpro-
letariado, uma fração de classe com importante peso eleitoral, provocou o surgimento
do lulismo” (2010, p.28, negrito meu).
5
Ainda que, em raro momento, o autor chegue a afirmar: “o resultado é que o PT, ofere-
ceria, depois, em 2006, um canal partidário sólido ao lulismo, afastando o risco populista
de se projetar uma liderança carismática “solta”, sem partido” (2010, p.74).
19
2)Carisma e democracia
TRADICIONALIZAÇÃO
GENUÍNO REVOLUCIONÁRIO
LEGALIZAÇÃO
Institucionalização Transformação
A vantagem deste modelo [que não deve ser lido de forma “cí-
clica”: dicotomia burocracia x carisma] é que ele nos permite
entender que o carisma é considerado por Weber como uma
dimensão societária básica que inclui processos de “institucio-
nalização” e, ao mesmo tempo, de “desinstitucionalização” radi-
cal: o carisma é a força revolucionária [criativa e destrutiva] da
história.
Democracia Democracia
Parlamentar Plebiscitária
Democracia Democracia
Grega Conselhista
b) Carisma e ditadura
6
Modelo similar também pode ser encontrado em Cavalli (1987).
27
CARISMA Grau
Direção Carisma antiautoritário Carisma autoritário
5. Nota final
Mas, se este é um tema que ainda está por vir, tarefa específica
deste texto foi sugerir um aporte weberiano de análise do po-
pulismo. Definido como um subtipo peculiar de dominação ca-
rismática abre-se caminho para caracterizá-lo adequadamente
na sua dimensão especificamente política, sem reduzi-lo a epife-
nômeno de classe, abordagem na qual sua natureza fica diluída.
Nesta direção, um aporte weberiano é essencial.
Referências Bibliográficas
AB’SABER, Tales. Lulismo, carisma pop e cultura anticrítica. São Paulo: He-
dra, 2012.
AVRITZER, Leonardo. A moralidade da democracia: ensaios em teoria ha-
bermasiana e teoria democrática. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
BREUER, Stefan. Typen und Tendezen der Demokratie. Anhang: Plebiszitäre
Demokratie oder ‚Populismus‘? Max Webers tragische Soziologie. Tübingen:
Mohr Siebeck, 2006, p.142-148.
CASTAÑEDA, Jorge. Latin America’s Left turn. Foreign Aff airs, may/june,
2006.
CAVALLI, Luciano. Charisma and Twentieth-Century Politics.WIHMISTER, Sam
e LASH, Scott (Org. Max Weber, Rationality and Modernity.London: Rout-
ledge, 1987, p.317-333.
CERVI, Emerson Urizzi. As sete vidas do populismo. Revista de Sociologia e
Política, n.17, p.151-156, 2001.
43
GAST, Henrik. Wann und warum wirken Regierungschefs charismatisch? Eine Über-
tragung der Ergebnisse der interdsplinären Charisma-Forschung mit arenenspezifi-
schen Differenzireungen. ZeitschriftfürPolitikwissenschaft, 55, 2, 2008, p.147-174.
GERMANI, Gino. Política e Sociedade numa época de transição: da socieda-
de tradicional à sociedade de massas. São Paulo: Mestre Jou, 1973.
HELD, David. Models of Democracy.Stanfort: University Press, 1996.
HUNTINGTON, Samuel. A Terceira onda: a democratização no final do século
XX. São Paulo: Ática, 1994.
IANNI, Otávio.O colapso do populismo no Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Civiliza-
ção Brasileira, 1968.
KALTWASSER, Critóbal Rovira. Skizze einer vergleinchenden Forschungsagen-
da zum Populismus. Totalitarismus und Demokratie, 8, 2011, p.251-271.
LACLAU, Ernesto.On Populist Reason.London: Verso, 2005.
LEPSIUS, M. Rainer. Das Modell der charischatischen Herrschaft und seine
Anwendbarkeit auf den „Führerstaat“ Adolf Hitlers. Demokratie in Deutsch-
land: Soziologisch-historische Konstellationsanalysen (Ausgewählthe Aufsät-
ze). Göttingen: Vandenhoicek & Ruprecht, p. 95 – 118.
PORTINARO, Pier. Amerika als Schule der politischen Entzauberung : Eliten
und Parteien bei Max Weber. In: HANKE, Edith Hanke ; MOMMSEN, Wolfgang J.
Mommsen (Eds.) Max Webers Herrschaftssoziologie: Studien zu Entstehung
und Wirkung, Tübingen: Mohr Siebeck 2001, S. 285-302.
REID, Michael. O continente esquecido: a batalha pela alma da América Lati-
na. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
ROBERTS, Kenneth. Neoliberalism and the Transformation of Populism in Lat-
in America.The Peruvian case. World Politics, 48, 1995, p.82-116.
SCHLUCHTER, Wolfgang. Rationalismus der Weltbeherrschung: Studien zu
Max Weber. Frankfurt, 1980.
SELL, Carlos Eduardo. Max Weber: democracia parlamentar ou plebiscitária?
Revista de Sociologia e Política, 2010, v. 18, n. 37, p. 137-147.
_______. Democracia com liderança: Max Weber e o conceito de democracia ple-
biscitária. Revista Brasileira de Ciência Política, 2011, n. 5, p.139-166.
SINGER, André. Os sentidos do lulismo: reforma gradual e pacto conservador.
São Paulo: Cia das Letras, 2009.
SHILS, Edward. Charisma, Order and Status”. American Sociological Review,
v.30, 1965, p.199-213.
44
SILVA, Fabrício Pereira da. Vitórias na crise: trajetória das esquerdas latino-
-americanas contemporâneas. Rio de Janeiro: Ponteio, 2011.
SMITH, Peter H.; ZIEGLER, Melissa R.. Democracias liberal e iliberal na América
Latina. Opinião Pública, Campinas, v. 15, n. 2, Nov. 2009.
WEBER, Max. 1980. Parlamento e governo na Alemanha reordenada. Os pen-
sadores. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural.
_______. 1982a. Escritos políticos. Ed. José Aricó. México: Fólios Ediciones,
vol. II.
_______. 1982b. A política como vocação. Ensaios de Sociologia. 4ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara.
_______. 1994. Economia e sociedade: fundamentos de sociologia compreensi-
va. 3ª ed. Brasília: UnB, vol. 1.
WEFFORT, Francisco. O Populismo na política brasileira, São Paulo, Ed. Paz
e Terra, 2003.
ZAKARIA, Fariah. The rise of illiberal democracy. Foreign Affairs, v.76, nº 6
nov./dez, 1997.
Recebido em 10.08.2013
Aprovado em 20.10.2013