Ação Ressarcimento Passagem Aerea Extravio

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A)

DE DIREITO DA MMª ____ VARA CÍVEL DA COMARCA DA


CAPITAL – BELÉM – PA, À QUAL ESTA COUBER POR
DISTRIBUIÇÃO.

ESTHER LEVY GABBAY, brasileira, casada, administrador, portadora


do RG nº 3751887/SSP-PA, inscrita no CPF/MF sob o nº 683.376.042-04, sem
endereço eletrônico, residente e domiciliado nesta Capital, na Travessa
Angustura nº 2932, Apto nº 3101 B, bairro do Marco, CEP: 66087-710, por
intermédio de advogado ao fim assinado (procuração anexa), com escritório sito
à Av. Nazaré, n° 272, Sl 1105, Ed. Clube de Engenharia, bairro de Nazaré, CEP:
66035-170 - Belém/PA, onde recebe intimações, vem, respeitosamente, à
elevada presença de Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO DE COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA CUMULADA


COM PEDIDO DE DANO MORAL

em face de TRANSPORTES AÉREOS PORTUGUESES – TAP S/A,


pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 33.136.896/0001-
90, com sede na Avenida Paulista, nº 453, 14º andar, Bela Vista, CEP: 01.311-
000 – São Paulo/SP, diante dos fatos e fundamentos abaixo transcritos:

I – PRELIMINARMENTE

I.1 DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

1. Inicialmente a autora pleiteia os benefícios da justiça gratuita


assegurados pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV, bem como nos artigos
98 e 99, § 3º, do CPC/15, por não ter condições de arcar com custas, despesas
processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do próprio sustento e de suas
famílias, conforme atestado de hipossuficiência econômica em anexo.

I.2 – DA AUSÊNCIA DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS


REPETITIVAS

2. À luz do que dispõe o art. 976 do Código de Processo Civil/15, vale


afirmar ao Douto Julgador que o caso em tela não se trata de uma demanda
repetitiva, nem configura um risco de ofensa à isonomia e nem à
segurança jurídica.

I.3 – DA INEXISTÊNCIA DE EMAIL


3. A autora informa não possuir endereço eletrônico, destarte, não há
infringência ao inciso II, na forma do § 3º do art. 319 do Código de Processo
Civil.

II – BREVE SÍNTESE DOS FATOS

4. A autora firmou contrato de seguro de automóvel (Indiana Auto - SCC)


com a companhia ré, conforme Apólice nº 36362801 (anexa), com vigência de
03 de julho de 2015 à 03 de julho de 2016, garantindo total cobertura do veículo
JEEP RENEGADE LONG 1.8 4x2 AT, placa QDB-5275, nas seguintes
modalidades:

5. Pois bem. Ainda no interregno do contrato de seguro, em 17 de junho


de 2016, por volta das 20h, a autora foi vítima de um sinistro, tendo o seu carro
danificado na parte superior (teto solar), enquanto se encontrava estacionado
regularmente na rua Dom Pedro II, esquina com a rua quintino, bairro Estrela,
Castanhal-PA, por indivíduo não identificado que teria soltado um rojão de São
João, que veio a cair em cima do referido veículo.

6. Diante disso, a autora procurou à autoridade policial, comparecendo até


a Seccional de Polícia de Castanhal, onde foi registrado o Boletim de Ocorrência
nº 00171-2016.002441-3 (anexo), com o seguinte relato:

“[...] A comunicante informa que estava com seu veículo,


Jeep-Renegade LNGTD AT, ano 2015-2016, cor branca, placa
QDB 5275, chasse 988611122GK008854, registrado em nome
de Edilene Souza Carvalho estacionado em frente ao
Restaurante Casquinho situado na Rua D. Pedro II, entre
Quintino e Cônego Leitão, quando alguém soltou ‘rojão de
São Paulo’, o qual caiu em cima do referido veículo,
vindo a danificar o teto solar do mesmo. Que segundo
informações de vizinhos quem solta rojão todas as noites é
o vizinho do lado do Restaurante Casquinho, porém,
quando a Polícia Militar foi ao local, o suspeito negou o
fato e apareceu ninguém de testemunha [...]” (negrito para
destaque)
7. Em seguida, a autora acionou a empresa seguradora, ora ré, através de
um de seus prepostos, o qual a tranquilizou e informou que o seu veículo seria
consertado sem maiores problemas.

8. Contudo, após a realização da vistoria e individualização do sinistro, a


autora recebeu parecer negativo para o serviço de conserto sob o argumento de
que houve ATO DE VANDALISMO, previsto como causa de exclusão de
cobertura securitária, cláusula esta que sequer foi mencionada à autora quando
da assinatura do contrato, em clara violação ao direito de informação .

9. Mas não é só! A recusa em efetuar o serviço foi claramente irregular


pois o contexto fático apresentado distancia-se completamente dos atos
excepcionais de vandalismo. Veja-se que é conhecimento público que no mês de
junho tem-se o aumento da prática de soltar fogos alusivos às festividades
juninas, onde em tal período “alguém soltou rojão de São João”, vindo a
CAIR na parte superior do carro, demonstrando que não houve intenção
deliberada em acertar frontalmente o carro segurado, e “que segundo
informações de vizinhos quem solta rojão todas as noites é o vizinho do
lado do Restaurante Casquinho”.

10. Logo, verifica-se que a situação desvelou-se em claro dano material


causado por imprudência de indivíduo ao soltar artefato explosivo - sem
qualquer nota ou intenção deliberada em depredar patrimônio alheio - gerando
tal recusa na cobertura securitária, um descumprimento contratual passível de
cobertura pela empresa ré.

11. Assim, não existindo outra forma, baldos os esforços da autora, não
lhe restou alternativa senão socorrer-se do Poder Judiciário, para obter a integral
indenização dos danos materiais e morais decorrentes da recusa de cobertura
securitária perpretado pela empresa ré.

III– DO MÉRITO

III.1 DA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR

14. Inicialmente, ressalta-se a plena incidência do Código de Defesa do


Consumidor - CDC (Lei nº 8.078/90) à hipótese. O vínculo entre as partes
decorrente da realização de um contrato de seguro configura uma nítida relação
de consumo, em face da subsunção aos conceitos de consumidor e fornecedor
constante nos artigos 2º1 e 3º2 do CDC, ainda mais que de acordo com a teoria

1
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
2
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
finalista aprofundada, muito bem desenvolvida pela doutrina de CLÁUDIA
LIMA MARQUES, a cobertura securitária adquirida pela autora se deu para sua
própria utilização (destinação final). sendo igualmente vulnerável por
desconhecer por completo as normas que regem o setor atuarial3..

15. Nessa toada, a lei consumerista veio regulamentar os princípios


insculpidos nos arts. 5°, XXXII, e 170, V, da Constituição Federal, e estabeleceu
as normas afrontadas pela ação que ora é objeto de análise. O art. 4° do CDC
fixou as diretrizes da Política Nacional do Consumidor, e, em especial, cuidou de
ressaltar em seus incisos I e III: a importância do reconhecimento da
vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; a harmonização dos
interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e
tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem
econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e
equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores.

21. Tal quadro evidencia a necessidade da aplicação das normas de


ordem pública relativas ao CDC, garantindo a reparação integral do dano
ocorrido4, bem como da interpretação mais favorável ao consumidor (art.
47 do CDC5), requerendo-se também a vossa excelência a inversão do ônus da
prova, com fulcro no art. 6º, VIII do CDC6, em virtude da verossimilhança das
alegações abaixo colacionadas, bem como pela hipossuficiência fática e
econômica do autor.

prestação de serviços.
3
BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoc. Manual de
direito do Consumidor, 2ªed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 67.
4
Art. 6.º São direitos básicos do consumidor: (...) VI – a efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
5
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
6
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
III.2 NULIDADE DE CLÁUSULA ABUSIVA – “ATOS DE
VADIAGEM” NÃO CONFIGURADOS - DIREITO À INDENIZAÇÃO
MATERIAL -

22. A autora estipulou contrato de seguro tendo como objeto a garantia


do interesse legítimo, ou seja, a proteção patrimonial, que o segurado tem sobre
automóvel perante a seguradora ré.

23.

Além disso, é importante aduzir que o produto consumido encontrava-se


dentro do prazo de validade, sendo possível reconhecer o defeito no produto
fornecido pela empresa ré sob o fundamento de ter colocado à disposição para o
consumo, alimento com alta probalidade de gerar dano à saúde ou à sua integridade,

como intoxicação alimentar, infecção intestinal, ou qualquer doença ou sintoma em razão do fato. .

A responsabilidade pelo fato do produto, no Código de Defesa do Consumidor, é objetiva e,


portanto, prescinde da análise da culpa. O fabricante tem o dever de colocar no mercado um
produto de qualidade, sendo que, se existir alguma falha, seja quanto à segurança, seja quanto à
adequação do produto em relação aos fins a que se destina, haverá responsabilidade do fabricante à
reparação dos danos que esse produto vier a causar.

Como nos ensina Cláudia Lima Marques, “ há efetivamente um novo dever de qualidade
instituído pelo sistema do CDC, um novo dever anexo à atividade dos fornecedores” , cuja
finalidade precípua, assim como a de todas as demais normas do diploma consumeirista, é “ a
proteção da confiança” e das legítimas expectativas do mercado de consumo em relação a esse ou
àquele produto (Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 5ªed., São Paulo: RT, 2005, p.
1149).

A responsabilidade objetiva, no entanto, não dispensa a prova do dano e do nexo causal,


conforme consignado no acórdão recorrido.

Na hipótese, a questão que se coloca, portanto, é referente à configuração ou não do dano


moral e, diferentemente do que entendeu o Tribunal de origem, reputo que não se trata de mero
dissabor da vida cotidiana o fato do recorrente WAGNER ter ingerido parcialmente um bombom
em cujo interior havia ovos e larvas de insetos, frise-se, ainda vivas.

A responsabilidade pelo fato do produto, no Código de Defesa do Consumidor, é objetiva e,


portanto, prescinde da análise da culpa. O fabricante tem o dever de colocar no mercado um
produto de qualidade, sendo que, se existir alguma falha, seja quanto à segurança, seja quanto à
adequação do produto em relação aos fins a que se destina, haverá responsabilidade do fabricante à
reparação dos danos que esse produto vier a causar.

Como nos ensina Cláudia Lima Marques, “ há efetivamente um novo dever de qualidade
instituído pelo sistema do CDC, um novo dever anexo à atividade dos fornecedores” , cuja
finalidade precípua, assim como a de todas as demais normas do diploma consumeirista, é “ a
proteção da confiança” e das legítimas expectativas do mercado de consumo em relação a esse ou
àquele produto (Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 5ªed., São Paulo: RT, 2005, p.
1149).

A responsabilidade objetiva, no entanto, não dispensa a prova do dano e do nexo causal,


conforme consignado no acórdão recorrido.

Na hipótese, a questão que se coloca, portanto, é referente à configuração ou não do dano


moral e, diferentemente do que entendeu o Tribunal de origem, reputo que não se trata de mero
dissabor da vida cotidiana o fato do recorrente WAGNER ter ingerido parcialmente um bombom
em cujo interior havia ovos e larvas de insetos, frise-se, ainda vivas.

O próprio acórdão reconhece que a situação é capaz de gerar indignação e repulsa e esta
Corte já reputou configurado o dano moral em situações semelhantes a essa, na qual houve
ingestão de produto contaminado. Conforme precedente de minha relatoria:

a sensação de náusea, asco e repugnância que acomete aquele que descobre ter ingerido
alimento contaminado por um inseto morto, sobretudo uma barata, artrópode notadamente sujo,
que vive nos esgotos e traz consigo o risco de inúmeras doenças. Noto que, de acordo com a
sentença, o recorrente já havia consumido parte do leite condensado, quando, por uma das
“ pequenas aberturas [feitas] para sorver o produto chupando da própria lata, observou algo
estranho saindo de uma delas” (fl. 414), ou seja, houve contato direto com o inseto, o que aumenta
a sensação de mal-estar. Além disso, não cabe dúvida de que essa sensação se protrai no tempo,
causando incômodo durante longo período, vindo à tona sempre que se alimenta, em especial do
produto que originou o problema, interferindo profundamente no cotidiano da pessoa. (REsp
1.236.090⁄MG, 3ª Turma, DJe 18⁄05⁄2011).

Observe-se, outrossim, que não se desconhece a jurisprudência deste Tribunal no sentido


de que “ se não houve a ingestão do produto, não está caracterizado o dano moral” . Nesse
sentido:

"RESPONSABILIDADE CIVIL. PRODUTO IMPRÓPRIO PARA O CONSUMO. OBJETO


METÁLICO CRAVADO EM BOLACHA DO TIPO" ÁGUA E SAL ". OBJETO NÃO INGERIDO.
DANO MORAL INEXISTENTE.

1. A simples aquisição de bolachas do tipo" água e sal ", em pacote no qual uma delas se
encontrava com objeto metálico que a tornava imprópria para o consumo, sem que houvesse
ingestão do produto, não acarreta dano moral apto a ensejar reparação. Precedentes.

2. Verifica-se, pela moldura fática apresentada no acórdão, que houve inequivocamente


vício do produto que o tornou impróprio para o consumo, nos termos do art. 18, caput, do CDC.
Porém, não se verificou o acidente de consumo, ou, consoante o art. 12 do CDC, o fato do produto,
por isso descabe a indenização pretendida.

3. De ofício, a Turma determinou a expedição de cópias à agência sanitária reguladora para


apurar eventual responsabilidade administrativa.

4. Recurso especial principal provido e adesivo prejudicado. (4ª Turma, REsp n.


1.131.139⁄SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 01.12.2010)

Agravo regimental. Recurso especial não admitido. Dano moral não caracterizado.
Aquisição de produto danificado.

1. A indenização por dano moral objetiva atenuar o sofrimento, físico ou psicológico,


decorrente do ato danoso, que atinge aspectos íntimos e sociais da personalidade humana. Na
presente hipótese, a simples aquisição do produto danificado, uma garrafa de refrigerante contendo
um objeto estranho no seu interior, sem que se tenha ingerido o seu conteúdo, não revela, a meu
ver, o sofrimento descrito pelos recorrentes como capaz de ensejar indenização por danos morais.

2. O artigo 12 do Decreto nº 2.181⁄97 mostra-se impertinente para sustentar a tese recursal,


já que a constatação de existência de prática infrativa pelo fornecedor não enseja, necessariamente,
o pagamento de indenização por danos morais.

3. Agravo regimental improvido.” (3ª Turma, AgRg noAG n.º 276.671⁄SP, Rel. Min. Carlos
Alberto Menezes Direito, DJU de 08.05.2000)

“ a simples aquisição de refrigerante contendo inseto em seu interior, sem que seu
conteúdo tenha sido ingerido ou, ao menos, que a embalagem tenha sido aberta, não é fato capaz
de, por si só, provocar dano moral” (REsp 747.396⁄DF, 4ª Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves,
DJe de 22.03.2010).

Contudo, na hipótese, depreende-se da leitura, tanto da sentença como do acórdão


recorrido que, pelos menos no que respeita ao recorrente WAGNER, houve a ingestão do produto.

E diante disso, não há como afastar a configuração do dano moral, sendo de somenos
importância o fato de o recorrente não ter sofrido maiores problemas de saúde, pois era dever da
demandada oferecer produto de qualidade.

Distinta é a situação da recorrente MELISSA, pois não há elementos no acórdão que


permitam aferir se houve ou não a ingestão do produto contaminado, sendo incabível, em sede do
presente recurso, o reexame de elementos de prova ou das circunstâncias fáticas não delineadas no
acórdão, como substrato fático da decisão. Com efeito, incide na espécie o óbice da Sumula 7 desta
Corte.

Nesse sentido, pode-se concluir que existiriam meros dissabores, sem abalo à honra ou
passíveis de gerar humilhação ou sofrimento na esfera da dignidade do consumidor, se os
recorrentes apenas tivessem ganhado os bombons contaminados – ou mesmo adquirido-os
diretamente – sem que, no entanto, os tivessem ingerido total ou parcialmente. Situação vivenciada
pela recorrente MELISSA.

Mas, relativamente ao recorrente WAGNER, cuja ingestão parcial do bombom


contaminado com ovos e larvas vivas de inseto é reconhecida no acórdão recorrido, o dano moral é
evidente. O sentimento de repugnância, nojo, repulsa que o recorrente experimentou ao ingerir o
alimento contaminado e que poderá se repetir toda vez que ele estiver diante do mesmo produto,
causou-lhe um abalo moral passível de compensação pecuniária.

Quanto ao valor, diante das peculiaridades fáticas da hipótese, bem como considerando os
precedentes já mencionados, entendo razoável a quantia de R$10.000,00 (dez mil reais).
II – Do Dissídio Jurisprudencial

Os recorrentes não demonstraram a divergência jurisprudencial nos termos exigidos pelo


art. 541, parágrafo único, doCPC, e art. 255, §§ 1º e 2º, do RISTJ.

Com efeito, limitaram-se à transcrição de ementas de julgados, sem fazer o necessário


cotejo analítico das decisões. Assim, inviável a análise do dissídio jurisprudencial.

Forte nessas razões, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso especial, para condenar a
KRAFT FOODS BRASIL S⁄A ao pagamento de R$10.000,00 (dez mil reais) a título de compensação
pelos danos morais suportados pelo recorrente WAGNER RICARDO DE SOUZA NUNES,
acrescidos de correção monetária e juros moratórios, sendo esses últimos acontar da data do evento
danoso, mais custas processuais e honorários advocatícios de 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação. Mantida a decisão no que respeita à recorrente MELISSA IDELMA TESSARO
NUNES, apenas reduzo o valor dos honorários advocatícios, fixados pela sentença, à metade.

e autora contratou a RÉ para a realização de viagem internacional no dia


01.10.2016, consubstanciada nos bilhetes de passagens áreas em anexo (Bilhete
ETKT 047 2162997039-40) para a cidade de Tel Aviv em Israel, providenciando
todos os pertences apropriados para sua viagem, contudo, a autora ao utilizar o
serviço da companhia aérea, entregando sua bagagem no embarque e não a
recebendo no destino como seria a obrigação da prestadora do serviço, acabou
sofrendo sérios prejuízos econômicos, haja vista que seus bens - de
incomensurável valor moral - jamais foram encontrados, sem contar com toda a
problemática decorrente da necessidade de aguardar por horas no aeroporto na
aflição de recuperar sua bagagem.

23. Deve-se frisar que não se mostra razoável exigir da autora a produção
da prova taxativa dos pertences que estavam em sua bagagem extraviada, pois
escapa do agir comum exigir que a viajante trouxesse consigo a relação taxativa
de seus bens com as suas respectivas notas fiscais, porém e de sapiência ordinária
que em toda a viagem internacional, ainda mais em casos de mais de um mês de
estadia, há a presunção de várias peças de vestuário e materiais de higiene.

24. Dessarte, considerando as particularidades do caso em tela, sobre o


DANO MATERIAL, com base na presunção dos gastos com a aquisição de
produtos em país estranho pelo valor da cotação do dólar (R$ 3,38) para um
período de mais de 30 dias, englobando tanto os bens perdidos, de caráter
semidurável tais como peças de vestuário e higiene, como os que tiveram de ser
adquiridos, na forma fatura no cartão colacionada nesta exordial, apontando
gastos no exterior relacionados à compra de R$ 3.450,20 (três mil quatrocentos e
cinquenta reais e vinte centavos) para um lapso temporal relacionado com a
viagem internacional, abaixo descritos:

GASTOS PERÍODO VALOR


SUPERSAL LTD
04/10/2016 R$ 209,69 (U$$ 62,09)
RANANA
MAMA YOKERO
04/10/2016 R$ 408,16 (U$$ 120,76)
RANNANA
YENOT BITAN LTD -
07/10/2016 R$ 272,32 (U$$ 80,57)
HERZE
RAMI LEVI SHMOK
10/10/2016 R$ 974,99 (U$$ 288,46)
HHSIK

SUPERSAL LTD R$ 1.125,64 (U$$


24/10/2016
RANANA 333,03)
RAMI LEVI SHMOK
25/10/2016 R$ 459, 40 (U$$ 135,92)
HHSIK
TOTAL R$ 3.450,20
25. Cumpre ressaltar que pugna-se o arbitramento do valor de R$
5.000,00 (CINCO MIL REAIS) À TÍTULO DE DANOS MATERIAIS,
relacionados as compras adicionais não programadas e a perda da mala e dos
bens extraviados.

26. Seguindo. A problemática inerente à perda de seus objetos e roupas,


geram à autora DANOS MORAIS, ou seja, danos à esfera psicológica do
indivíduo, passível de reparação, não se exigindo prova de tais fatores. Não se
pode deixar de asseverar que ao adquirir uma passagem aérea, a autora criou uma
expectativa de que seria transportada com toda a segurança, juntamente com sua
bagagem, e é justamente a perda dessa expectativa que viola o princípio da
confiança e da boa-fé nas relações contratuais. O Superior Tribunal de Justiça
(STJ) já decidiu que:

“AGRAVO REGIMENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL


OBJETIVA. VOO INTERNACIONAL. ATRASO. EXTRAVIO DE
BAGAGEM. APLICAÇÃO DO CDC. PROBLEMA TÉCNICO.
FATO PREVISÍVEL. DANO MORAL. CABIMENTO.
ARGUMENTAÇÃO INOVADORA. VEDADO.
(...)- Cabe indenização a titulo de dano moral pelo atraso de voo e
extravio de bagagem. O dano decorre da demora, desconforto e aflição e
dos transtornos suportados pelo passageiro, não se exigindo prova de
tais fatores. (...)” (STJ, AgRg no Ag nº 442.487/Rel. Min.
HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJ: 09/10/2009)

27. No que tange ao DANO MORAL, é fácil perceber que o ato ilícito
praticado pela empresa Ré violou direitos subjetivos privados da autora, estando
em desacordo com a ordem jurídica e lhe causando danos a além da esfera
econômica (art. 186 do CC/027). O STJ já consignou que,nos casos de lesão a
valores fundamentais protegidos pela Constituição Federal, o dano moral
dispensa a prova dos citados sentimentos humanos desagradáveis, presumindo-
se o prejuízo. Nesse contexto:

7
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito
“sempre que demonstrada a ocorrência de ofensa injusta à dignidade da
pessoa humana, dispensa-se a comprovação de dor e sofrimento para
configuração de dano moral. Segundo doutrina e jurisprudência do STJ,
onde se vislumbra a violação de um direito fundamental, assim eleito
pela CF, também se alcançará, por consequência, uma inevitável violação
da dignidade do ser humano. A compensação nesse caso independe da
demonstração da dor, traduzindo-se, pois, em consequência in re ipsa,
intrínseca à própria conduta que injustamente atinja a dignidade do ser
humano. Aliás, cumpre ressaltar que essas sensações (dor e sofrimento),
que costumeiramente estão atreladas à experiência das vítimas de danos
morais, não se traduzem no próprio dano, mas têm nele sua causa direta”
(REsp 1.292.141/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04.12.2012,
publicado no seu Informativo n. 513).

28. Além do claro abalo psicológico proveniente do extravio de pertences


pessoais durante a viagem internacional, o qual, por si só, já representa
fundamentos suficientes para a subsunção ao dano de ordem moral, ocorreu no
caso em tela o que a doutrina vem chamando de dano moral por perda do
tempo útil, pois a autora além de ter perdido dias em sua viagem para resolver
tal sinistro - o qual não deu causa – indo até o setor da empresa Ré no aeroporto
a fim de recuperar sua bagagem, cabe anotar que desde seu retorno ao Brasil
vem sofrendo incomensurável perda de seu tempo diário no afã de receber uma
compensação pelo dano sofrido, porém sempre recebe a resposta de que ela tem
que procurar o SAC, o qual, por sua vez, informa que ela tem que procurar os
meios cabíveis, o que representa clara omissão contratual aos deveres laterais ao
contrato efetuado, que ocorrendo reiteradamente, submetem o consumidor a
danos morais. Vitor Guglinski sustenta que

“a ocorrência sucessiva e acintosa de mau atendimento ao consumidor,


gerando a perda de tempo útil, tem levado a jurisprudência a dar seus
primeiros passos para solucionar os dissabores experimentados por
milhares de consumidores, passando a admitir a reparação civil pela
perda do tempo livre”8

29. Permanecer horas no aeroporto, depois dias aguardando uma resposta

8
GUGLINSKI, Vitor Vilela. Danos morais pela perda do tempo útil: uma nova modalidade. Jus
Navigandi, Teresina, ano 17,n. 3237, 12 maio 2012. Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/21753>. Acesso em: 21 dez. 2016.
da empresa não corresponde a legítima expectativa do consumidor no século
XXI, quando um milésimo de segundo é uma eternidade. “Quem,
injustificadamente se apropria deste bem, causa lesão que, dependendo das
circunstâncias causa dano moral”9.

30. É importante elevar a máxima consumerista da efetiva reparação dos


danos causados por defeitos no serviço, não podendo ser inexpressivo ou
caracterizado como donativo, possuindo poder repressivo, inibidor e, por outro,
formador de cultura ética mais elevada, atendendo a chamada “teoria do
desestímulo”, segundo a qual a indenização não pode ser fonte de
enriquecimento ilícito da vítima, tampouco inexpressiva a ponto de não atingir o
objetivo colimado, haja vista que a natureza jurídica da responsabilidade
encontra-se disciplinada pelo artigo 6º, inciso VI do CDC, como um direito
básico do consumidor, ao assegurar a efetiva prevenção e reparação dos direitos
patrimoniais, morais, individuais e coletivos.

31. A perda de tempo da vida da consumidora em razão da falha da


prestação do serviço que não foi contratado não constitui mero aborrecimento
do cotidiano, mas verdadeiro impacto negativo em sua vida. Neste sentido, o
advogado Marcos Dessaune desenvolveu a tese do desvio produtivo do
consumidor10, que se evidencia quando o consumidor, diante de uma situação de
serviço defeituoso impõe um relevante ônus produtivo indesejado pelo último
ou, em outras palavras, onera indevidamente os recursos produtivos dele
(consumidor). Da lógica dos fatos e da prova existente, é notório que a situação
fática de perda de bagagem vivenciado pela autora violou a dignidade da pessoa
humana, gerando dor e sofrimento que extrapolam a esfera contratual, sendo

9
GUGLINSKI, Vitor. Perda do tempo provocado por descaso gera dano moral. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2013-mai-11/vitor-guglinski-danos-morais-descaso-perda-do-tempo-
util//> Acesso em: 21 dez. 2016
10
DESSAUNE, MARCOS. Desvio Produtivo do Consumidor – O prejuízo do tempo desperdiçado, São
Paulo, RT: 2011, fls. 130-134.
manifesta a configuração do dano moral.

26. À vista do exposto, de acordo o princípio da reparação integral, o qual


apresenta uma racionalidade finalística: a função compensatória (reparação da
totalidade do dano); função indenitária (limitar a indenização à extensão do dano,
à pena de enriquecimento sem causa da vítima); função concretizadora
(correspondência da indenização aos prejuízos efetivamente sofridos), pugna-se
pela condenação da empresa Ré ao pagamento de indenização por danos morais
no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), com juros moratórios corrigidos da
data da citação do réu

VI – DO PEDIDO

Isso posto requer a autora:

A) que sejam concedidos os benefícios da Justiça Gratuita, nos


termos da Lei;

B) a APLICAÇÃO das regras protecionistas do Código de Defesa do


Consumidor (CDC) no caso em tela;

C) determinar a CITAÇÃO da Ré, por carta, com AR ou correio


eletrônico para comparecer a audiência de conciliação, sob pena
de revelia e confissão ficta;

D) que seja julgada totalmente procedente a presente ação, para


CONDENAR a empresa Ré ao pagamento de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais) por DANOS MATERIAIS, bem como de R$ 30.000,00
(trinta mil reais) a título de DANOS MORAIS, ambos decorrentes
do extravio de bagagem da autora contendo vários pertences
pessoais e do comportamento desidioso adotado pela Ré diante
do defeito na prestação do serviço.

E) a condenação da Ré no pagamento de custas processuais e


honorários advocatícios no valor de 20% sobre a condenação

F) protesta-se provar o alegado por toda espécie de prova admitida


(CF, art. 5º, inciso LV), principalmente com o depoimento
pessoal do autor, juntada de documentos e testemunhas, as quais
a parte autora se compromete a apresentar no dia da audiência a
ser designada;

Dá-se à causa o valor de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais)

Termos em que, pede e espera deferimento.

Belém/PA, 25 de janeiro de 2017.

Saul Falcão Bemerguy

OAB/PA 15.812

ROL DE DOCUMENTOS
1. Identidade e CPF dos autores.

2. Comprovante de residência.

3. Procuração.

4. Contracheques de 06/1999 a 11/2016.

5. Escritura Pública do Contrato de Compra e Venda de Imóvel

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