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EMPREENDEDORISMO SOCIAL, COMBATE À

POBREZA E DESAFIOS PARA GERAÇÃO DE


EMANCIPAÇÃO SOCIAL NO BRASIL

Edson Marques Oliveira1

RESUMO: O tema empreendedorismo social no Brasil pode ser considerando


como um tema ainda em construção. Mas já é notório a sua importância e
impacto na realidade social, mundial e Brasileira. Este tema e fenômeno surge
em meio aos desdobramentos paradoxais da globalização, que gera riqueza mas
também muita pobreza, tanto estrutural como política. O que faz surgir novos
desafios para velhos problemas, principalmente o de criar ações de
emancipação social e não de manutenção do status quo . A partir de nossa
investigação sobre o empreendedorismo social no Brasil, podemos constatar
que o mesmo, emerge neste contexto como uma alternativa emergente em
busca de ações e resultados coletivos e de emancipação social e
desenvolvimento humano. Objetivamos com isso ampliar o debate.

PALAVRAS-CHAVES: empreendedorismo social, emancipação social,


globalização

1 INTRODUÇÃO

O tema empreendedorismo social no Brasil, ainda não recebeu a devida


atenção e tratamento científico. São poucas as produções sobre este tema em nosso país,
se compararmos a outros países como E.U.A e outros da Europa, que já tem uma
tradição neste campo, tanto por parte de instituições de ensino e pesquisa como de
ONG’s e empresas, disseminando tanto o conceito como as práticas dos chamados

1
Doutor em Serviço Social pela Unesp-SP, mestre em Serviço Social pela PUC-SP, bacharel em Serviço Social pela Faculdade
Paulista de Serviço Social, professor adjunto do curso de Serviço Social da Unioeste, campus de Toledo-PR, pesquisador do GEPEC
– Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional da Unioeste.
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negócios sem fins lucrativos (business nonprofits) ou de empreendimentos sociais


(social entrepreneurs). Desde 2000 estamos investigando este tema, culminando com
um projeto de doutorado (Cf. OLIVEIRA, 2004). Este estudo nos permitiu mapear a
produção sobre o tema, bem como, verificar e estudar algumas práticas. Ao estudar as
origens do empreendedorismo social e sua fundamentação, percebemos que o mesmo é
mais do que uma mera transferência de tecnologia de gestão de empresas para ser
aplicada em organizações do chamando Terceiro Setor. (Cf. OLIVEIRA, 2002) Tanto o
conceito como a prática do empreendedorismo social, derivam de entendimentos e
intenções frente a vontade de mudar o cenário causado pelos impactos de uma
globalização de efeitos paradoxais, que ao mesmo tempo que gera riqueza e ciência e
tecnologia, também produz um gigantesco exercito de famintos e excluídos, produzidos
principalmente pela desigualdade social e econômica, marcada e acentuada pela
concentração de renda e problemas sociais históricos, principalmente para os chamados
países do terceiro e quarto mundo. Desta forma, o empreendedorismo social no Brasil,
surge e esta em desenvolvimento num cenário que requer uma visão crítica quanto ao
que é pobreza e de que tipo de pobreza estamos falando.
O mesmo emerge da derivação das práticas do empreendedorismo empresarial
clássico, mas assume formas e valores diferenciados, derivado também e em específico
do surgimento de uma nova lógica de fazer negócios, que segundo GRAYSON e
HODGES (2002) são decorrentes as chamadas forças globais de transformação, como: a
revolução tecnológica, a revolução de mercado, revolução na demografia e no
desenvolvimento e a revolução de valores. Tais forças têm trazido a tona outras
questões para o processo de gestão empresarial, tais como: ecologia e meio-ambiente,
diversidade, bem-estar, direitos humanos, que encontram no paradigma do
empreendedorismo social sua ferramenta principal, mas que depende de um fator
decisivo, que é o capital social, conceito que designa a capacidade de articulação
coletiva de uma determinada sociedade, baseada numa visão coletiva e de interesses
comunitários. Tal constatação indica que o desenvolvimento do empreendedorismo
social no Brasil encontra novos desafios, oriundos de velhos problemas, como a pobreza
estrutural e política. Desta forma todos os Stakholders (pessoas envolvidas no processo)
devem ter uma visão mais ampla e aprofundada sobre as reais condições e
desdobramentos que as ações de responsabilidade social empresarial em geral e das
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ações de empreendedorismo social, em específico podem de fato acarretar para nossa


sociedade, pois o preferível é uma ação criativa e transformadora, que produza capital
social e que estimule ações socialmente empreendedoras afim de gerar o
desenvolvimento humano e a emancipação social, principalmente daqueles que são alvo
das ações e dos projetos de gestão social. Nesta perspectiva, o presente trabalho
objetiva contribuir para esta reflexão.

2 GLOBALIZAÇÃO E POBREZA: NOVOS DESAFIOS PARA VELHOS


PROBLEMAS

A globalização é ao mesmo tempo, odiada, adorada, venerada, repudiada. É


sem dúvida um fenômeno complexo e paradoxal, como afirma Souza Santos (2002a,
p.26) “ Uma revisão dos estudos sobre os processos de globalização mostra-nos que
estamos perante um fenômeno multifacetado com dimensões econômicas, sociais,
políticas, culturais, religiosas e jurídicas interligadas de modo complexo.” Entre os
inúmeros paradoxos deste processo, nos chama mais a atenção, a questão entre a
riqueza e a pobreza. Os reflexos da globalização, desta forma, produz um impacto
visceral, principalmente nos meios de produção, e principalmente das formas de
trabalho (Cf. POCHMANN, 2001) onde as desigualdades e a deterioração dos grupos
sociais como a família, são profundamente afetados (Cf. KLISBERG, 2001). Tais
constatações fazem com que paradoxalmente, surjam novos manifestações contra esta
atual globalização. Mas decorrente a complexidade destes fenômenos, vemos que a
pobreza, também assume, “novas” formas de se expressar, necessitando de novos
paradigmas e ações para o seu enfrentamento. O que nos possibilita concluir que: a)
pobreza não é coisa do acaso ou desvio moral; b) pobreza não é só responsabilidade de
religiosos ou de pessoas “bem intencionadas”; c) pobreza não atinge só o corpo, mas a
alma, a consciência, a auto-estima, a dignidade de vida; d) o combate à pobreza, não se
restringe a ações “humanitárias”, mas é, antes de tudo, uma questão política de direitos
e deveres, é um processo resultante da injustiça social, da injusta distribuição e
redistribuição de renda, falta de serviços e condições de auto-sustentabilidade de uma
parcela significativa da humanidade, é histórica, não só estrutural é política; e) a
pobreza ao longo da história da humanidade se mostra como um processo
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intencionalmente dado vinculado a propósitos de uma minoria que almeja o poder em


detrimento de uma grande massa, que só serve ao interesse de acumulação de bens e
riquezas, produzindo a indignação, injustiça e desigualdade de direito à vida. Segundo
Demo (1993, p.2):

“pobreza não pode ser vista só como carência material, pois esta é a face material e
explícita da exclusão social, decorrente a outro tipo de pobreza, a política. Pobreza não será
carência dada, natural, mas aquela produzida, mantida, cultivada por conta do conflito
subjacente em torno do acesso a vantagens sociais, sempre escassas na sociedade. Ser pobre
não é apenas não ter, mas sobretudo ser impedido de ter, o que aponta muito mais para uma
questão de ser, do que de ter. [...] a miséria é transformada em estratégia de acumulação de
vantagens, mantendo o pobre como massa de manobra, objeto de manipulação.”

Logo, o entendimento da pobreza e seu tratamento, devem passar por


mudanças radicais, tanto para quem “assiste”e “ajuda”, como para quem “recebe” e é
“ajudado”. Pois, “se o pobre não descobrir um dia que pobreza é injustiça, não chegará a
tornar-se sujeito de seu próprio destino” (Demo, 1991, p.7).

3 O DESAFIO DA QUALIDADE PARA A EMANCIPAÇÃO SOCIAL, E PARA


O DESENVOLVIMENTO HUMANO – O EMERGIR DO
EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Face aos elementos até o momento apresentados, vemos que surgem vários
desafios, acreditamos que um deles, seja a questão da qualidade para a emancipação
social e o desenvolvimento humano. Por qualidade, estamos entendendo algo que vai
além dos princípios preconizados pela Qualidade Total, como é mais conhecido este
termo. DEMO (op.cit.1994) propõe uma outra perspectiva, a qual concordamos e aqui
apresentamos. Para o autor, “qualidade significa a perfeição de algo diante da
expectativa das pessoas.” (op.cit.p,11) . Mas esta expectativa, bem como, sua execução
é antes de tudo um ato humano, ou fruto da ação humana, ou seja, “Com efeito, somente
poderia ser intenso aquilo que tem a marca do homem, por ser questão de vivência,
consciência, participação, cultura e arte.” (idem). Neste sentido, qualidade é “... intervir
com sentido humano, ou seja, dentro de valores e fins historicamente considerados
desejáveis e necessários, eticamente sustentáveis.” (idem, p.12). É a partir desta
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perspectiva que surge o conceito de desenvolvimento humano da ONU, que segundo


DEMO (1996, p.9) “... trata o desenvolvimento sob uma única adjetivação, a saber, a
humana, tendo deixado de lado outras ainda correntes, mas tidas por ultrapassadas,
como a econômica e mesmo a social. Assim, seria o caso falar tão-somente de ‘política
de desenvolvimento humano’, e não mais de política econômica, ou social, ou
ambiental, ou cultural etc.” A busca por esta perspectiva, passa pelo entendimento da
qualidade formal e qualidade política. Por qualidade formal, entende-se, “... a habilidade
de manejar meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos desafios do
desenvolvimento. Entre eles, ressaltam manejo e produção de conhecimento. São o
expediente primordial de inovação.” (op.cit., 1994 p.14). E por qualidade política
entende-se como: “... a competência do sujeito em termos de se fazer história, diante dos
fins históricos da sociedade humana. É condição básica da participação. Dirige-se a fins,
valores e conteúdos. É naturalmente ideológica, porque definição política é sua marca,
perdendo qualidade, se ideologia se reduzir a justificações desumanas e a partidarismos
obtusos. Inclui ética na política.” (idem). Desenvolvimento humano de fato, só é
possível com qualidade formal e qualidade política, o que pode ser observado quando as
pessoas não precisam mais de “ajuda”, o que só ocorre quando alcançam a emancipação
social. Que segundo SOUZA SANTOS, (2002b, p.27), “... só haverá emancipação
social na medida em que houver resistência a todas as formas de poder.” Poder aqui
entendido, que não permite a solução dos problemas, mas ao contrario, dá
propositalmente, manutenção, o que impede o real desenvolvimento humano, e ainda
como afirma DEMO (op.cit, 1996, p.56) “... ninguém se emancipa sem ajuda, mas
emancipar-se é especificamente saber dispensar ajuda (...) Mais que ajudar, trata-se de
saber ajudar em mão dupla: no ajudado, é mister emergir capacidade crítica e autocrítica
dos riscos da ajuda, de sua necessidade e sua dispensa; no doador, é mister haver a
mesma consciência para evitar a estigmatização do pobre e para sair da cena.” Neste
sentido, romper com o circulo vicioso e pouco virtuosa, do combate à pobreza, de modo
filantrópico e assistencialista, requer uma melhor compreensão da dimensão destes
desafios. É neste contexto que, emerge o empreendedorismo social, e que podemos
perceber de imediato alguns elementos de maior evidência quanto as principais
características do empreendedorismo social, como podemos constatar nos quadros a
seguir.
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QUADRO 1: CONCEITOS DIVERSOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL,


VISÃO NACIONAL
AUTOR CONCEITO

LEITE (2003) ƒ “O empreendedor social é uma das


espécies do gênero dos empreendedores;
ƒ São empreendedores com uma missão
social, que é sempre central e explicita;”
ASHOKA; MCKINSEY (2001) “Os empreendedores sociais possuem
características distintas dos empreendedores
de negócios. Eles criam valores sociais
através da inovação a força de recursos
financeiros em prol do desenvolvimento
social, econômico e comunitário. Alguns dos
fundamentos básicos do empreendedorismo
social estão diretamente ligados ao
empreendedor social, destaca-se a
sinceridade, paixão pelo que faz, clareza,
confiança pessoal, valores centralizados, boa
vontade de planejamento, sonhar e uma
habilidade para o improviso.”
MELO NETO; FROES (2002) “Quando falamos de empreendedorismo
social, estamos buscando um novo
paradigma.O objetivo não é mais o negócio
do negócio [...] trata-se, sim, do negócio do
social, que tem na sociedade civil o seu
principal foco de atuação e na parceria
envolvendo comunidade, governo e setor
privado a sua estratégia [...]Quando falamos
de empreendedorismo social, estamos
buscando um novo paradigma.O objetivo não
é mais o negócio do negócio [...] trata-se, sim,
do negócio do social, que tem na sociedade
civil o seu principal foco de atuação e na
parceria envolvendo comunidade, governo e
setor privado a sua estratégia.”
RAO, (2002) “Empreendedores sociais, indivíduos que
desejam colocar suas experiências
organizacionais e empresariais mais para
ajudar os outros do que para ganhar dinheiro.”
ROUERE; PÁDUA (2002) “Constituem a contribuição efetiva de
empreendedores sociais inovadores, cujo
protagonismo na área social produz
desenvolvimento sustentável, qualidade de
vida e mudança de paradigma de atuação em
benefício de comunidades menos
privilegiadas.”
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de OLIVEIRA, 2004,
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Com esta pequena amostra conceitual, já podemos perceber a diferença do


empreendedorismo social com outros conceitos, por exemplo a Responsabilidade Social
Empresarial e o Empreendedorismo privado, pois o primeiro supõe um conjunto
organizado e devidamente planejado de ações internas e externas, e um definição
centrada na missão e atividade da empresa, face as necessidades da comunidade. E o
segundo resultados individuais. Vejamos a seguir, alguns quadros comparativos que
apresentam os principais pontos que diferem termos que apresentam certa semelhança
com o empreendedorismo social, mas são distintos. Vejamos outras diferenças.

QUADRO 2: DIFERENÇA ENTRE EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL E


EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Empreendedorismo empresarial Empreendedorismo social
1. é individual 1. é coletivo
2. produz bens e serviços 2. produz bens e serviços a comunidade
3. tem o foco no mercado 3. tem o foco na busca de soluções para os
problemas sociais
4. sua medida de desempenho é o lucro 4. sua medida de desempenho é o impacto
social
5. visa satisfazer necessidades dos clientes e 5. visa respeitar pessoas da situação de risco
ampliar as potencialidades do negócio social e promovê-las
Fonte: elaborado pelo autor a partir de MELO NETO e FROES, 2002, p. 11

QUADRO – 3: CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL,


RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E EMPREENDEDORISMO
PRIVADO.
Empreendedorismo privado Responsabilidade Social Empreendedorismo social
Empresarial
é individual Individual com possíveis é coletivo e integrado
parcerias
produz bens e serviços Produz bens e serviços para si produz bens e serviços para a
para o mercado e para a comunidade comunidade, local e global
tem foco no mercado Tem o foco no mercado e tem o foco na busca de
atende a comunidade soluções para os problemas
conforme sua missão sociais e necessidades da
comunidade
Sua medida de
Sua medida de desempenho é sua medida de desempenho é
desempenho é o lucro
o retorno aos envolvidos no o impacto e a transformação
processo Stakeholders social
visa satisfazer necessidades Visa agregar valor estratégico visa resgatar pessoas da
dos clientes e ampliar as ao negócio e atender situação de risco social e
potencialidades do negócio expectativas do mercado e da promove-las, gerar capital
percepção da social, inclusão e
sociedade/consumidores emancipação social
Fonte: Elaborado e adaptado pelo autor a partir de MELO NETO E FROES, 2002
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Neste sentido, o empreendedorismo social se difere de outros termos, apesar se


grande aproximação, e assume na atualidade formatação própria. Logo, podemos
verificar que o empreendedorismo social se caracteriza por ser: 1º) é um novo
paradigma de intervenção social; 2º) é um processo de gestão social; 3º) é uma arte e
uma ciência; 4º) é uma nova tecnologia social, 5º) é um indutor de auto-organização
social. Tais constatações comprovam nossa hipótese e tese, de que o empreendedorismo
social, é uma ação emergente como capacidade de gerar emancipação social e
desenvolvimento humano. A seguir destacamos a principais constatações em nossa
investigação que confirmam tal afirmação: 1) O empreendedorismo social emerge em
um cenário paradoxal onde o avanço científico e tecnológico cresce tanto quanto a
pobreza e desigualdade. Ele surge da relação entre o crescimento das organizações do
Terceiro Setor, da redução das políticas públicas, das fontes de investimento, e da
crescente necessidade de elaborar ações estratégicas de gestão para captação de
recursos, onde as empresas privadas também intensificam sua participação na
intervenção social; 2) É um processo e alternativa emergente com forte influência e
impacto na realidade. Apresenta uma racionalidade diferenciada quanto à visão de
mundo, de homem e de sociedade. Não é acritico ou apolítico, mostra um
comprometimento com a causa humana e a condição de vida não só dos seres humanos,
mas com a natureza, a economia e o ciclo da vida como um todo; 3) O desenvolvimento
do empreendedorismo social está gerando uma nova forma de consciência e de postura
no enfrentamento das questões sociais e no enfrentamento á pobreza, da desigualdade
social e da exclusão social, mais próxima da população, mais centrada na realidade e
necessidades locais, envolvendo vários atores, e segmentos deste espaço comunitário; 4)
Seu impacto se diferencia não como um o marketing barato, populista e só de
perfumaria, mas o real empreendedorismo social tem como principal característica à
socialização de fato e verdade, das idéias e ações; 5) Este processo envolve mais do que
racionalidade política e ideológica, envolve emoção (paixão, amor, comprometimento,
envolvimento), postura ética, engajamento político e sobretudo utopia possível, ou seja,
tudo começa com uma inquietação, uma indignação, inconformismo e gera ações que
buscam a materialização do sonho, o que provoca mudança e gera transformação; 6)
Isso prova que a utopia é possível, concreta e não só imaginária, o que se apresenta não
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é nada que se compare aos modelos historicamente apresentados de sociedade, seja na


centralidade individualista e consumista do capitalismo, ou na ditadura do coletivismo
do socialismo, mas uma nova sociedade que está sendo gerada, tendo como base, a
participação, o exercício da cidadania e o sonho da construção de uma sociedade mais
justa, solidária e digna de se viver.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procuramos, mesmo que brevemente, refletir sobre o aprofundamento e


ampliação do entendimento do empreendedorismo social no Brasil, na atualidade.
Ressaltando, sobretudo, a busca do equilíbrio entre a qualidade formal e política, com
vistas ao desenvolvimento humano e a emancipação social. Que este desafio enfrenta,
velhos e novos problemas, como a pobreza estrutural e política. Ressaltamos que a
compreensão, bem como, o tratamento da “nova” pobreza globalizada, deve ser
renovada, de modo a gerar autonomia e emancipação e não paternalismo e acomodação.
Procuramos mostrar que o empreendedorismo social é sem dúvida, uma alternativa
emergente para esta finalidade e que é preciso integrar, formal e politicamente as esferas
públicas, governamentais, não-governamentais e empresariais, de modo a gerar e
potencializar a participação cidadã, a democratização, o desenvolvimento sustentável e
o debate da coisa pública, respeitando os avanços dos espaços de gestão pública já
conquistados (Conselhos municipais de assistência social) e servindo de elemento
catalisador e integrador das formas de cooperação e fortalecimento do amor, da
fraternidade e solidariedade. Finalizando faço minhas as palavras do Profeta Jeremias,
que ao constatar a dor e sofrimento de seu povo ( a dominação do império Babilônico)
conclui: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” (Lamentações
3,21). Que, sempre, haja em todos nós, mesmo que um pouquinho, um empreendedor
social solidário, pois são estes que estão destinados a mover o mundo, e com isto,
possamos saber plantar desafios e saber colher oportunidades.
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REFERÊNCIAS

ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS e MACKISEY e Cia. Inc.


Empreendimentos sociais sustentáveis. São Paulo: Petrópolis, 2001.
DEMO, Pedro Assistência aocial – pobreza estrutural refletindo sobre impasses e
desafios. Brasília: IPEA/CPS, 1991. (mimeo)
DEMO, Pedro Combate a pobreza: desenvolvimento como oportunidade. São Paulo:
Autores Associados, 1996.
DEMO, Pedro Educação e qualidade. São Paulo: Papirus, 1994.
DEMO, Pedro Pobreza política. São Paulo: Fundação Konrad-Adenauer – Stiffung,
1993.
GRAYSON, David e HODGES, Adrian. Compromisso social e gestão empresarial.
São Paulo: Publifolha, 2002.
KLIKSBERG, Bernado. Falácias e mitos do desenvolvimento social. São Paulo:
Cortez/Unesco, 2001.
LEITE, Emanual. Incubadora social: a mão visível do fenômeno do
empreendedorismo criando riqueza. In: Anais do 4º ENEMPRE. Santa Catarina:
UFSC/ENE, 2002.
MELO NETO, Francisco Paulo de Melo e FROES, César. Empreendedorismo social:
a transição para a sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.
OLIVEIRA, Edson Marques Empreendedorismo social no Brasil: fundamentos e
estratégias. Franca-SP: Unesp, 2004. (tese de doutorado)
OLIVEIRA, Edson Marques Responsabilidade social empresarial e os desafios e
possibilidades de atuação do Serviço Social nesta área: caminhos globais e realidade
local – um estudo de caso in: Anais do VIII ENPESS – Encontro Nacional de
Pesquisadores em Serviço Social , Juiz de Fora-MG: ABESS e UFJF, 2002.
POCHMANN, Marcio O emprego na globalização: a nova divisão internacional do
trabalho e aos caminhos que o Brasil escolheu. São Paulo: Bomtempo, 2001.
RAO, Srikumar. Renasce o imperador da paz. Forbes. v. 162, nº 5, de 7/9/1998.
Disponível em <www.ashoka.org.br> , acessado em 8/9/2002.
ROUERE, Mônica de; PADUA Suzana Machado. Empreendedores sociais em ação.
São Paulo: Cultura Associados, 2001.
SOUZA SANTOS, Boaventura de (org.). A globalização e as ciências sociais. São
Paulo: Cortez, 2002a.
SOUZA SANTOS, Boaventura Produzir para viver: os caminhos da produção não
capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002b. (reinventar a emancipação
social: para novos manifestos, n. 2)

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