Comportamento e Boas Maneiras
Comportamento e Boas Maneiras
Comportamento e Boas Maneiras
2009
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Comportamento
Das boas
Maneiras
Índice.
Capitulo 1 - Ambiente Aprazível.
Capitulo 2 – As Histórias e Fatos de Boas Maneiras.
Capitulo 3 – Os Inferiores, os Iguais, os Superiores.
Capitulo 4 – Comportamento Geral.
Capitulo 5 – Apresentação Pessoal.
Capítulo 6 – Conversação.
Capítulo 7 – Em Viagem.
Capítulo 8 – Cortesia Epistolar.
Capítulo 9 – O Jantar em Casa de Amigo.
Capítulo 10 – Colcha de Retalhos.
Capítulo 11 – Afinal o que é Cortesia?
Capítulo 12 – As Paixões e os sentimentos de Adolescente
PRIMEIRA PARTE.
Capítulo 1
Ambiente Aprazível
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Vai daí, surge-lhe uma idéia: propor aos sobrinhos que, uma vez por semana,
dediquem com ele um serão, ou parte dele, a considerações gerais sobre boas maneiras
ou como ele preferia dizer: Urbanidade cristã.
Haveria muita coisa interessante e proveitosa a considerarem juntos, se
haveria! Estando presente Carlos também, teve o mais entusiástico acolhimento. Até o
Sr. Marcelo, que parecia todo mergulhado na leitura do diário, e Dona Ana, que bordava
um jogo de toalhas para o enxoval de uma amiguinha, levantaram instintivamente a
cabeça, exclamando em uníssono.
-Bravo, Tio Roberto! Muito bem!
É que também eles notavam às vezes o embaraço e as involuntárias
descortesias dos filhos, e isso os mortificava deveras.
-Então, disse Tio Roberto, quando é que vamos começar?
-Hoje à noite mesmo! Propôs Iza.
-Devagar! Observou Carlos; esta noite tenho que resolver alguns problemas
difíceis, e as lições de história também são longas. Não poderiam deixar para amanhã?
Olha o estraga-prazer! Avançou o primo Pedro, num alvoroço. Sempre
querendo ser o “santinho” da classe, que sabe as lições melhor que os outros, para
agradar ao professor.
Psiu! Interrompeu Tio Roberto; onde se viu tanta acusação de uma vez! Olhe
que estamos cogitando de boas maneiras, ou urbanidade, meu sobrinho! Esqueceu-se,
não?
Ih, Tio Roberto! Observou o Sr. Marcelo, erguendo os olhos do jornal; os
meninos estão precisando mesmo de que lhes ensine essa matéria, hein?! Que tirada
descortês, seu Pedro! Sopite essas arrancadas!
Desculpe Carlos! Não pretendia ofender, mas reconheço que saí da linha...
Quero mesmo aprender a ser cortês! Volveu Pedro.
Muito Bem, Pedro! É assim que devemos proceder quando ofendemos a
alguém. Peçamos logo desculpas e manifestemos boa-vontade para com ele. Você agora
mostrou compreender bem esse aspecto da urbanidade. Então, vamos começar amanhã,
pois não? Os meninos aceitaram unânime a proposta de Tio Roberto.
Carlos deu-se pressa em buscar os livros para estudar as lições. Os primos,
depois de alguma insistência de Dona Ana, tomaram também seus compêndios e se
puseram a estudar, entre bocejos e espreguiçamentos. Não tardou a que cochilassem
sobre as lições, e o remédio foi recolherem-se.
Subiu cada qual para o seu quarto, sem mesmo uma “boa noite” aos pais e ao
Tio.
Nem ao menos vêm dizer boa noite à gente! Murmurou Tio Roberto,
dirigindo-se aos pais. Pois vai ser este o assunto de nossa primeira reuniãozinha,
amanhã.
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Capítulo 2
Iniciam-se os Serões.
Tio Roberto deu uma risada gostosa, Carlos acompanhou, enquanto Iza e Pedro
fizeram um gesto de não haverem compreendido, dirigido ao Tio Roberto que,
aproveitando de novo a oportunidade, disse:
Veja lá o dicionário, Pedro!
Mas adiantou-se Carlos: - Ora, não precisa de dicionário, não; eu já digo.
Urbanístico quer dizer “relativo à cidade, ou urbe” e embatucou.
É, mas não basta isso, Carlos, foi dizendo Sílvio e lendo o dicionário:
“Urbanístico: referente ao urbanismo.” “urbanismo: Ciência e arte de construção
reforma melhoramento e embelezamento das cidades.”
Ah! Foi o que o engenheiro Roberto fez no Rio de Janeiro, e Paulo Maia e
outros em São Paulo, não? Ainda há pouco o professor, em aula, falou na obra desses
engenheiros, observou, com ares de triunfo, a caçula do grupo, Iza.
Também esse nome serve, sorriu Tio Roberto. Mas a palavra me faz lembrar um
trecho de Charles Wagner, em que o conhecido escritor diz que “urbanidade vem do
latim urbs, que significa cidade; polidez vem da palavra grega polis também cidade
seria, pois, uma qualidade dos habitantes das cidades. Assemelha-se a essas duas, uma
terceira palavra: civilidade, que igualmente lembra cidade. Se nos recordamos de que
rústico vem de rus, termo latino que quer dizer campos chegaremos a esta conclusão: a
polidez é qualidade dos citadinos e os camponeses são rústicos.”
Ah, mas isso não está certo, nem seria justo, interveio Carlos, um tanto
indignado, ele que sempre tivera simpatias especiais pela gente do campo, a quem,
afinal, como dizia com razão, o Brasil deve o que come.
Perfeitamente, concluiu Tio Roberto. E é o que o próprio autor afirma,
dizendo logo a seguir: “Estabelecendo semelhante conclusão, cometeremos crassa
injustiça e uma impolidez perfeita. É certo que nas cidades se cultivam maneiras mais
refinadas (e ás vezes bem menos sinceras!) que na solidão das montanhas. Mas pessoa
alguma tem o monopólio da polidez ou da impolidez. Não faltam rústicos nas maiores
cidades, assim como nas mais afastadas campanhas se pode ver florir, entre humildes
camponeses, a mais bela polidez.” E faz o autor esta observação interessante, que
derruba pela base a pretensão dos citadinos: Nas vilas do interior, e na roça mesmo,
todos se cumprimentam mutuamente, ate os desconhecidos. Ao passo que nas cidades
nem mesmo seria possível saudar todos os passantes, pois são muitos. Mas, não
divaguemos: vamos ao nome das reuniões!
“Serões de Tio Roberto”! Exclamou Carlos, e os demais repetiram em coro,
com entusiasmo.
Tio Roberto ficou calado uns momentos, sacudindo a cabeça, negativamente.
Humilde que era, achou demasiado elogioso para si esse nome. Mas como insistissem,
conveio , acrescentando que todos deviam subentender que esses serões tratariam de
“conselhos sobre urbanidade cristã, ou boas maneiras, que”, acentuava ele, ao a chave
mágica que nos abre todas as portas e confere êxito e distinção”.
Estabelecido o nome, Tio Roberto diz um tanto constrangido, que o
procedimento de Pedro e Iza, na véspera, ou na noite anterior, ao se recolherem ao leito,
lhe sugerira o assunto para o seu primeiro serão. É que haviam ido para o quarto sem ao
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menos dizerem aos pais um “boa-noite”! Acrescentou, delicadamente, ser isso uma falta
de cortesia, tanto mais quando se tratava da conduta de filhos para os pais.
Este continuou ele, são merecedores de todo o respeito, amor e obediência
por parte dos filhos. Quando eu era jovem, considerava-se falta de respeito do filho,
mesmo adulto e casado, fumar ou beber na presença do pai. Hoje é comum ver-se isto.
E aqui aproveito para um parêntese: Não aprendam nunca a fumar, nem a tomar bebidas
alcoólicas, e aconselhem aos amigos à mesma coisa. São vícios, além de dispendiosos,
pouco asseados e muito prejudiciais à saúde.
Voltando à urbanidade, cortesia, civilidade, polidez, ou boas maneiras, que
são todos sinônimos: é tendência humana mostrarmos mais esses belos traços para com
os amigos menos íntimos, e mesmo os estranhos.
Entretanto quem mais os merecerá do que os que mais próximos de nós estão nossos
parentes chegados, nossos irmãos, e principalmente aqueles que nos deram o ser, e
muitas vezes só com grandes sacrifícios nos criam e educam.
Três vezes ao dia, sentamos a uma mesa bem fornida de ótimo alimento; quem lhos põe
no prato? Todas as noites se recolhem a leitos alvos e macios, para o sono tranqüilo;
quem lhes provê esse conforto? Erguem-se pela manhã e vestem sua roupa, que embora
não seja de luxo, agasalha bem e é bem cuidada; quem lhes compra, faz, lava e passa
essa roupa? E quando a febre ou qualquer mal-estar os prende ao leito, quem é que junto
a ele vigia, entre lágrimas muitas vezes, observando todos os pormenores do evoluir da
moléstia, com uma solicitude e desprendimento sem iguais?
Assim, gravem bem isto: nunca se recolham ao leito, sem dar o boa-noite
acompanhado de um beijo ao papai e à mamãe, e boa-noite aos irmãos e outros
membros da família ou visitas que estejam presentes. De manhã, nunca deixem faltar o
cordial e respeitoso bom- dia. Ao irem à escola, ou saírem para outros fins, não olvidem
o até logo, ou qualquer outra formula de despedida.
Seja perfeita sua obediência aos pais. Não se faça esperar, nem lhe ponham
condições ou desculpas. Vocês já terão ouvido aquela historiazinha da menina que vivia
dizendo à mamãe: “Mamãe, eu quero muito bem a Senhora! Eu amo muito a Senhora do
fundo do meu coração!” Mas quando um dia a mãe a mandou encher a lata de carvão
para a cozinha, respondeu: “Ora, Mamãe, mande o Joãozinho!” (Joãozinho era seu
irmão mais velho.) De que valerão protestos de estima e amor, se não nos levam a
obedecer?
Procedeu de modo bem diferente aquele garotinho que dizia amar a mãe
“com todas as forças”, e perguntando-lhe o que queria dizer com isso, respondeu: “O
senhor sabe, nós moramos no quarto. A casa não tem elevador, e o depósito de carvão
fica em baixo, no porão. Mamãe não te muita saúde, e eu é que cuido para que a caixa,
junto do fogão, esteja sempre cheia. Carrego sozinho o carvão, estes quatros lances de
escada. Eu lhe digo que aquilo pesa! Tenho que fazer toda a força para chegar lá em
cima com o carvão. O senhor não acha que isto é amar a Mamãe com todas as forças?”
Se há uma criatura que mereça mais que todos os outros o nosso amor,
obediência e gratidão, é nossa mãe, essa criatura. E quantas vezes lhe pagamos com
negra ingratidão os sacrifícios ingentes que lhe impomos! Ouçam mais uma história.
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Um rapaz, filho de pais pobres, foi criado por um médico amigo, o qual o
fez estudar, até formar-se em medicina. Quando o moço se formou, faleceu o pai, e o
jovem médico não pôde ir para casa. Alguns meses mais tarde a mãe, saudosa do filho,
resolveu ir morar com ele, já que estava clinicando, com boa clientela. Foi ter com ele
de surpresa e o filho, conquanto alegre por vê-la, sentiu-se um tanto incomodado ao
pensamento de que sua velha mãe humilde e pobre, sem o refinamento da sociedade
moderna, iria ficar com ele. Que pensariam dela seus amigos da chamada sociedade?
Que diria sua namorada, Violeta, de seus modos à antiga?
Não revelando aos criados a identidade da mãe, resolveu arrumar-lhe uma
casinha num subúrbio da cidade, onde a pudesse visitar muitas vezes. Aquela noite lhe
disse que o movimento e o ruído da cidade lhe haveriam de ser muito incômodos, e ele
a visitaria freqüentemente.
Uma sombra perpassou pela face da velhinha. Ocultando, porém, a tristeza,
disse que pensaria no caso, e depois de uns momentos se retirou para o quarto.
O Médico procurou dormir, mas debalde. Rolou na cama de um lado para o
outro, até que percebeu abrir-se a porta, e ele chamou:
Mamãe, que é?
Respondeu ela: Neném deixe que eu entre e lhe achegue bem as cobertas,
como fazia quando você era criança?
Sim, Mamãe, volveu ele.
“Arrumando-lhe bem as cobertas, inclinou-se e deu-lhe um beijo, e então se
retirou”. Aquele beijo lhe queimou a alma, e ele resolveu ficar com a mãe em casa,
acontecesse o que acontecesse. Feita essa decisão, adormeceu.
Naquele dia dormiu mais do que de costume, de manhã. Logo que se
vestiu, foi ao quarto da mãe, porém ela desaparecera: o quarto estava vazio. Um bilhete
que ali deixara dizia que não lhe queria ser um estorvo, e que estava certa de poder
descobrir um meio de cuidar de si mesma. Ele a procurou por toda parte, mas sem
resultado: devia estar distante. Contou o sucedido a Violeta, que o ajudou na busca, mas
tudo em vão.
Meses depois, quando o médico acabava de visitar um paciente no hospital
e saía, passando pela enfermaria dos acidentados, viu um biombo ocultando uma cama,
e disse à enfermeira: Alguém que está à morte, sem dúvida.
Sim, foi à resposta da enfermeira, uma velha atropelada por um ônibus, e
em seu delírio fala sempre em seu lar antigo, e então chama por Neném.
De um salto o médico foi para junto do leito, e ali viu sua velha mãe.
Gritando angustiadamente “Mamãe”, lançou-se de joelhos ao pé da cama. Ela abriu os
olhos, e com esforço lhe afagou a cabeça, dizendo: “Andei um caminho longo, meu
Neném”.
Chegou Violeta, e ambos ficaram junto ao leito até que, ao pôr do sol, aquela vida se
apagou. A anciã os abençoara em despedida, e o médico descobriu o amor de uma mãe
que não queria servir de estorvo ao êxito do filho.
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E não pensem vocês, prosseguiu Tio Roberto, que os pais não sejam capazes de
sacrifícios iguais aos das mães. Sim, quantos cuidados, quantos esforços não põem em
campo, a fim de prover aos filhos o sustento e a educação! Certo, vocês todos conhecem
aquela narrativa do filho ingrato, não? Fala de um casal de lavradores que fizeram todo
sacrifício possível, poupando através de anos o dinheiro necessário para mandar a um
colégio o filho único, Haroldo.
Sujeitaram-se as maiores privações para amealhar os recursos
indispensáveis, e chegou o dia em que o jovem se despediu dos pais, rumo à distante
cidade onde faria o seu curso superior.
Passaram-se alguns anos, e os pais sempre vivendo com a mais estrita
economia, pois tudo que conseguiam poupar, mal bastava para manter no colégio o
filho, objeto de seu orgulho!
Um dia, porém, tantas foram às saudades do pai, que resolveu demandar à
cidade longínqua, em visita ao filho. Mas, ir como, perguntou-lhe a esposa, se não
possuíam recursos para a longa viagem, de trem ou de ônibus? Ah, ele iria em sua velha
carroça. O cavalo, embora já velho também, agüentaria! Atrelou ao carro o fiel
tordilho, disse adeus à esposa, e lá se foi estrada afora. Dias depois chega ao colégio, e
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Esta lista, vocês podem comentar exaustivamente. Mas, como diz o ditado, “a bom
entendedor, meia palavra basta”
E agora, meus queridos, embora nossa reunião esteja muito interessante, não os
devo deter por mais tempo, pois vocês têm tarefas escolares. Apenas este conselho
ainda:
Quando forem grandes, não se esqueçam de seus pais. Se eles precisarem de auxílio
material, ou de qualquer outra coisa, não lhes deixem faltar.
Estejam sempre informados de sua situação, (porque os pais em geral não
falam aos filhos acerca de suas necessidades e privações), e socorram-nos se for preciso.
Digam-lhes que os amam que lhes são agradecidos, e corroborem suas expressões com
atos correspondentes. Como diz nosso vizinho, abraçá-los e beijá-los é louvável; mas
haverá ocasiões em que oferecer-lhes uma cédula ou uma quantia em dinheiro será mais
oportuno e bem-vindo.
Lembrem-se daquela história de uma família em que o vovô, já idoso, era
deixado a comer num canto da cozinha, á parte dos demais. Um dia o filho notou que
seu menino trabalhava com um canivete um pedaço de madeira, e perguntou.
“Filhinho, que está fazendo? E veio a resposta: “Ah, Papai, estou fazendo uma tigela
para o senhor, quando ficar velhinho como o vovô!”O pai compreendeu a lição, e o
vovô foi reintegrado ao seu lugar na mesa junto com todos.
Quando forem crescidos, sejam pacientes e bondosos com seus progenitores
e demais queridos!
Ser Pai.
Capítulo 3
dizia um filósofo da antiguidade, que “a cortesia vem do coração” isto é, não deve ser
forjada, artificial.
Para com os superiores, por exemplo, devemos ser especialmente respeitosos e
obedientes. Quando ainda estivermos na escola nossos superiores, além de nossos Pais,
são principalmente nossos mestres. Não demonstremos, nunca, má vontade para com as
tarefas que nos são dadas. Estudem a fundo as lições, dia a dia. Há alunos que
negligenciam esse estudo diário. Nas vésperas dos exames, então querem a viva força
reaver o pedido, e debruçam-se sobre os livros até alta noite. È muito re provável este
hábito, já porque os alunos prejudicam a saúde, já porque não assimilam bem os
pormenores das lições.
Com o tempo, vocês irão naturalmente descobrindo certas maneiras de tornar o
estudo mais interessante e produtivo. Uma boa regra, por exemplo, é estudar primeiro as
lições mais difíceis, das matérias de que gostamos menos, deixando para o fim as mais
fáceis.
O maior requisito do bom estudo é sem dúvida a concentração. Logo que
pequem nos livros para estudar, esqueçam-se de tudo o mais: os papagaios e piões, as
bonecas e as amiguinhas. Depois de assim se concentrarem por algum tempo no estudo,
digamos uma hora, distraiam-se um pouco, tomem um suco, dêem uma volta pela casa,
para depois de alguns minutos, voltarem aos livros, dispostos para o esforço bem
puxado, conseguimos concentrar a atenção no estudo, mesmo num ambiente ruidoso.
Gravem bem isto: a distração é o maior inimigo das lições bem estudadas.
Observem sistema e método no estudo: dividam o tempo que têm, pelas várias
lições, e dediquem-se concentradamente a cada uma delas por vez. Ninguém é capaz de
fazer várias coisas ao mesmo tempo. Enfim, a experiência, e os bons conselhos do
professor lhes ensinarão as melhores maneiras de aprenderem bem as lições. Há
também nisto, como em tudo o mais, uma arte que é preciso dominar. Ninguém nasce
sabendo estudar e tendo gosto em fazê-lo. È a prática que desenvolve em nós essas
qualidades. Mas, lembrem-se bem das condições principais: força de vontade,
concentração ou atenção e perseverança.
Tem razão, Tio, observou Carlos; tenho notado que, quando ponho toda a
atenção no estudo, aprendo a lição muito mais depressa, e ela me fica bem gravada; ao
passo que, quando meus pensamentos vagueiam por aqui e por ali,que custo! Assim
quando me vem à tentação de distrair-me, penso no prejuízo que deve Isaac Newton por
causa de uma distração sua: certa vez, ao cozinhar um ovo, meteu seu relógio de bolso
na água fervente e ficou segurando o ovo na mão, como se fosse o relógio...
Em meio á risada geral, Tio Roberto prosseguiu, rindo também:
É para vocês verem a que pode levar a distração! Prejuízos muito maiores tem
ela causado, e causa todos os dias, especialmente aos estudantes... Mas, continuemos:
Quando vocês terminarem os estudos e a profissão escolhida lhes determinar chefes e
superiores hierárquicos, cuidem muito bem em ter-lhes todo o respeito, acatando-lhes
sempre as ordens (subentendendo-se, naturalmente, que estas estejam dentro dos limites
das leis de Deus e dos homens). Para um dia ser um bom chefe, para saber mandar, é
preciso que se tenha primeiro aprendido a obedecer, ser dócil, cooperador, líder.
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Mostrem sempre aos superiores boa disposição, rosto satisfeito, de quem tem
boa vontade para cumprir os deveres, e nunca sobrecenho carregado, indisposição.
Aprendam desde já o valor da espontânea voluntariedade, do otimismo radiante. O
sorriso é fator indispensável do bom êxito. Vocês não repararam ainda que um jovem
que sabe sorrir vence mais facilmente n a vida? Naturalmente é preciso termos o senso
da oportunidade, e não estar sorrindo constantemente à toa.
Para com os nossos iguais devemos mostrar toda cordialidade, sem afetação nem
cerimônias descabidas. Haja naturalmente, sem exagerada insistência para que aceitem
esta ou aquela gentileza, mas mostrando de boa mente uma amizade sincera e
hospitaleira, de modo a deixar bem à vontade os amigos.
Vocês, rapazes, sejam muito gentis e cavalheiros com as senhoras e senhoritas,
mas sem ademais maneirismos. No trato com senhoritas, sejam respeitosos e discretos.
Não se deixem levar pela onda de desrespeito liberdades que domina nossa sociedade
hoje, para grande dano seu. É verdade que um rapaz não precisa atrapalhar-se todo
quando dirige a palavra a uma moça. Tampouco deve ser desembaraçado a ponto de
tomar atitudes menos discretas. Nós, homens, devemos ter da mulher a idéia de uma
criatura diferente, quase angelical, de cogitações e preocupações menos terra-terra que
as dos homens. Ponhamos a mulher num pedestal alto e ajudemo-la a permanecer nessa
altura, intocada por mãos profanas. Devemos assumir para com ela o papel de protetores
nobres e cavalheiros. Ouçam bem, (Se muita jovem é levada a desgarrar-se do caminho
do bem, se prostitui, se droga, é quase sempre por culpa de algum homem). Disse bem
um poeta que na “Mulher, não (se deve tocar nem com uma flor).
Concluindo este pensamento: Sejam sempre muito corteses, sim, com as
senhoritas, em seus encontros fortuitos. Não procurem, porém, demasiado a companhia
delas.
Quero dizer, a associação ocasional de jovens de ambos os sexos, de aspirações
elevadas e cogitações puras, pode até ser recomendável, ás vezes. Guardem-se, porém,
da obsessão de só se acharem bem na companhia de pessoas do outro sexo, e da
familiaridade indiscreta e metediça. Mas, estamos fugindo um pouco ao nosso tema
desta noite. Noutra ocasião teremos ensejo de voltar ao assunto.
Tio Roberto, observou Iza, devemos ser também delicados e respeitosos para
com os criados e as pessoas de posição inferior á nossa? Ontem dei uma ordem a nossa
criada, e depois Mamãe ralhou comigo, dizendo que a uma menina de minha idade não
compete estar dando ordens.
Ah, fez muito bem em lembrar este ponto, minha sobrinha. Sim, para com os que
nos são inferiores na hierarquia social, devemos mostrar afabilidade, correção e
deferência. Muito acertada essa observação, perante Deus, o juiz supremo, todos somos
iguais.
PARA REFLETIR.
(O homem verdadeiramente bem educado procura tornar mais suave a sorte dos
domésticos e inferiores e tirar-lhes por suas maneiras delicadas e polidas, o travo de
amargor de suas vidas, visto que sabe serem esses seus semelhantes obrigados a servi-lo
em conseqüência de sua condição mais modesta. O moço que fala delicadamente aos
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seus criados e inferiores e lhes presta pequenos serviços, longe de perder com isso a sua
dignidade, dá prova duma mentalidade verdadeiramente distinta).
Acertou sua mãe, Iza, ao dizer que não lhe compete dar ordens, nem mesmo a uma
criada. Mostraremos verdadeira nobreza e elevação de caráter tratando cordialmente
nossos inferiores. “Enfim, “temos que exercitar-nos em ser humanos e corteses com
todos”.” Nunca esquecer-nos de agradecer qualquer obséquio prestado a nos por quem
quer que seja, e nunca olvidar expressões como “Tenha a bondade”, “faça o favor”, Por
Favor”, “Com Licença”, Muito Obrigado”, quando temos que recorrer aos préstimos de
alguém mesmo que seja um subordinado nosso. Este é um dos principais requisitos da
arte de viver em paz como todos, arte que alguns acham muito difícil, justamente
porque são por demais avaros com os “muito obrigado”. Diz um ditado europeu que
“Com o chapéu na mão, atravessamos sem dificuldades todo o pais”. A verdadeira
cortesia é essência do genuíno “saber viver”!
É, para concluir o nosso serão de hoje, uma palavra sobre o respeito e obediência que
devemos ás autoridades.
Vocês terão visto pessoas de espírito rebelde contra tudo que é autoridade,
dificultando-lhes o trabalho de todos os modos possíveis e fazendo-lhes uma oposição
sistemática.
Não imitem nunca essas pessoas. A autoridade, seja ela de que categoria for, tem
responsabilidade para com o bem estar de todos nos, e devemos acatá-la, procurando
sempre facilitar-lhe o trabalho.
Titio, disse Iza, outro dia, quando Mamãe e eu esperávamos o ônibus ali na Rua
Manifesto, um menino estava sacudindo com toda a força uma daquelas árvores novas
que a prefeitura mandou plantar. A pobre da árvore, apenas pegada, já estava toda
frouxa. Mamãe se aproximou do menino e passou-lhe uma repreensão daquelas... Isso
também é falta de respeito para com a autoridade.
Ah, Tio Roberto, isso desta vez é mesmo um ato anti-urbanístico, interrompeu
Carlos, recordando espirituosamente aquela sugestão do Sr. Marcelo.
É o caso, concordou Tio Roberto, em meio ás risadas de todos. Um verdadeiro
ato de vandalismo, demonstrando desconhecimento e desrespeito de como lidar com o
bem comum. Há posturas municipais que impõem penas a esses dendroclastas, ou seja,
pessoas que tem prazer em destruir os bens publico. Fez muito bem a sua Mãe em
repreender o garoto. É salutar, que pessoas que sejam vista depredando o bem público
sejam repreendidas e denunciadas as autoridades competentes.
Devemos cuidar e não destruir o bem público e velar pela boa conservação de
tudo que é do povo, isso faz parte das boas maneiras, da civilidade. Vocês devem já ter-
se encontrado com pessoas que desprezam, e como que tem a preocupação de estragar,
o que é do governo. Parece acharem que isso não pertence a ninguém. Deveriam, antes,
raciocinar que o que é do governo pertence a todos, sendo por todos fruídos os seus
benefícios e cabendo, portanto a cada qual uma parcela de responsabilidade quanto a
sua boa conservação. É dever de todos nós cooperarmos com os que nos governam,
zelando pelo bom estado de tudo que é público.
Jogar papéis, cascas de frutas e outros detritos na rua, ai estar outra forma de
muito pouca urbanidade e convivência coletiva. No mês passado uma senhora da
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terceira idade, escorregou numa casca de banana, deixada na calçada, a senhora caiu e
bateu violentamente com a cabeça no cimento. Alguns populares passantes ajudaram a
levantar a acidentada senhora, e foi chamado o socorro e a ambulância a levou para o
hospital, após três semanas, a senhora ainda tinha dificuldade em andar.
Por isso, como de uma simples negligência em atender a uma corriqueira regra
de urbanidade, pode resultar em uma grande tragédia. Aquela pobre senhora poderia ter
morrido. Sim, acatem as disposições das autoridades. Respeitem as leis do país que
estabelecem as regras e as medidas que tomam, pois visam bem-estar comum. Além do
mais, assim procedendo tornaremos mais agradável a nossa vida e as dos outros.
Capítulo 4
COMPORTAMENTO GERAL
Certo dia, ao passar na rua avistei uma senhora idosa carregando uma cesta
muito pesada. Logo lhe oferece ajuda, e a levei ate a sua casa, que fica próximo de onde
estávamos, e a cesta estava realmente u m pouco pesado para aquela senhora carregar,
ao chegarmos a sua casa ela ficou muito agradecido com a minha gentileza, tanto que
não encontrou palavras para me agradecer
Portanto, devemos aplicar em todas as circunstâncias, em qualquer ambiente,
para com todas as pessoas e mesmo com os animais e a própria natureza, como árvores,
rios, lagos, oceano, todas as regras de civilidade e boa educação.
Guarde bem, este tipo de comportamento na rua, a rua como sabemos é a casa de
todos, e devemos ter boas maneiras e bom comportamento em nossa casa, que abriga
uma só família, porque não fazermos um esforço para manter o comportamento igual
quando estamos na rua, que é a casa de todos. Portanto veremos algumas regras de
etiqueta social:
Quando acompanhamos alguém, andando em uma calçada, devemos sempre
deixar que o companheiro tome o lado interno. Especialmente se a pessoa ou as pessoas
com quem andamos são pessoas da terceira idade ou crianças. Li outro dia um
comentário interessante sobre a origem desse costume, Dizia o autor que, como nas
casas antigas os telhados não tinham calhas, e as beirãs eram largas, quando chovia, a
pessoa que caminhasse do lado de fora ficava justamente sob a água que corria das
telhas. Daí ceder o lado junto da parede a pessoa de terceira idade, é uma forma de
gentileza.
Daí pode ter sido a origem desse costume de cortesia. Mas notemos que há outros
motivos ainda, que justifique essa conduta. Sempre o lado junto á parede é mais
protegido. Acontece, por exemplo, passar um automóvel rente do passeio e borrifar
água ou lama, ou levantar poeira, para cima da pessoa mais próxima, que é sempre a
que está mais perto da beira da calçada. De modo que o lugar de honra sempre é o
interno, e é o que devemos ceder aos que acompanhamos, principalmente se se trata de
pessoas de mais idade, ou uma senhora, devemos cumprimentá-la com gestos educados
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e Cortez, mas não devemos lhe estender a mão antes que ela tome a iniciativa, logo que
percebemos o gesto de nos dar a mão, estenderemos a nossa. O aperto de mão deve ser
firme, mas não o suficiente para quebrar a mão da outra pessoa, mas rápido e com
naturalidade. Não é de bom tom determos na rua uma senhora ou pessoa de mais idade
que a nossa, para lhe dirigir a palavra, seja qual for o assunto. Se tivermos que lhe falar,
devemos acompanhá-la ficando lado a lado, até que tenhamos dito o que desejamos, de
modo que ela não perca tempo, pois é possível que esteja com pressa. Se um rapaz
acompanha uma moça, nunca deve lhe segurar o braço a não ser que seja para salva-la
de algum perigo iminente, como por exemplo, de ser atropelada por um veículo.
Não parece bem, na rua, falar alto, ou gesticular de forma demasiada. A
linguagem, na rua como em qualquer outro lugar, deve ser natural, moderada, sem
afetação ou pedantismo. Se nos esforçamos por mudar o tom natural de nossa voz ou
por usar palavras difíceis, ou imitar pronúncias diferentes da região em que moramos
“como, por exemplo, um sulista imitar o nortista, ou vice-versa” pagaremos micos por
nossa atitude.
Também devemos vigiar nossa maneira de andar na rua. Não se recomenda estar
sempre a voltar à cabeça para traz ou para todos os lados, nem balançar muito os braços.
Quando se usa um acessório, como um guarda-chuva, a maneira mais distinta de levá-lo
é dependurado no braço, ou como se fosse uma bengala.
No caso de três ou mais pessoas, o centro é sempre o lugar de honra, que
devemos ceder à pessoa de mais idade presente no grupo, ou ao superior.
OS TRÊS CONSELHOS.
Um casal de jovens recém-casados era muito pobre e vivia de favores num sítio
do interior.
Um dia o marido fez a seguinte proposta à esposa: Querida, eu vou sais de casa, vou
viajar para bem longe, arrumar um emprego e trabalhar até ter condições de dar-te uma
vida digna e confortável. Não sei quando tempo vou ficar longe, só peço uma coisa, que
você me espere e enquanto estiver fora seja fiel a mim, pois serei fiel a você.
Assim sendo o jovem saiu. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um
fazendeiro que estava precisando de alguém para ajudá-lo. O Jovem chegou e ofereceu-
se para trabalhar, n0 que foi aceito.
Pediu para fazer um pacto com o patrão, o que também foi aceito. O pacto seria
o seguinte: Deixe-me trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir
o senhor me dispensa das minhas obrigações. Eu não quero receber salário, peço que o
senhor o coloque na poupança, até o dia em que eu for embora.
No dia em que eu sair o senhor me dá o dinheiro e eu sigo o meu caminho. Tudo
combinado. Aquele jovem trabalhou durante vinte anos, sem férias e sem descanso.
19
Depois de vinte anos, chegou para o patrão e disse: Patrão, eu quero o meu
dinheiro, pois estou voltando para casa.
O patrão então lhe respondeu:
Tudo bem, afinal fizemos um pacto e vou cumpri-lo, ó que antes quero lhe fazer
uma proposta, tudo bem?
Eu lhe dou todo o seu dinheiro e você vai embora ou lhe dou três conselhos e
não lhe dou o dinheiro e você vai embora. Se eu lhe der o dinheiro, não lhe dou os
conselhos e se lhe os conselhos não lhe dou o dinheiro, vá para o seu quarto e pense, e
depois me dê à resposta. Ele pensou durante dois dias, procurou o patrão e disse-lhe:
Quero os três conselhos.
O patrão frisou novamente: se eu lhe der os conselhos, não lhe dou o dinheiro. E
o empregado respondeu: Quero os conselhos.
O patrão então lhe falou:
Nunca tome atalhos em sua vida, caminhos mais curtos desconhecidos podem
custar a sua vida.
Nunca seja curioso para aquilo que é mal, pois a curiosidade para o mal pode ser
mortal:
Nunca tome decisões em momentos de ódio ou de dor, pois você pode se
arrepender e ser tarde demais.
Após dá os conselhos, o patrão disse ao rapaz, que já não era tão jovem assim:
Aqui você tem três pães, dois para você comer durante a viagem e o terceiro é
para você comer com a sua esposa, quando chegar em sua casa.
O homem então seguiu seu caminho de volta, vinte anos depois, longe de casa e
da esposa que ele tanto amava. Após o primeiro dia de viagem encontrou um andarilho
e o cumprimentou e lhe perguntou: Para onde você vai? Ele respondeu: Vou para um
lugar muito distante que fica a mais de vinte dias de caminhada por esta estrada. O
andarilho disse-lhe então: Rapaz este caminho é muito longo, eu conheço um atalho que
“é dez” e você chega em poucos dias. O rapaz contente começou a seguir pelo atalho,
quando se lembrou do primeiro conselho, então voltou e seguiu o caminho normal.
Dias depois, soube que o atalho levava a uma emboscada.
Depois de alguns dias de viagem, cansado ao extremo, achou uma pousada à
beira da estrada, onde pôde se hospedar. Pagou à diária e após tomar banho, deitou-se
para dormir. De madrugada, acordou com um grito estarrecedor. Levantou-se de um
salto só e dirigiu-se à porta, para is ate o local do grito. Quando estava à porta, lembrou-
se do segundo conselho. Voltou, deitou-se e dormiu.
Ao amanhecer, após tomar o café, o dono da pousada lhe perguntou, se ele não
havia ouvido um grito, e ele disse que tinha ouvido. O hospedeiro então lhe perguntou:
e você não ficou curioso? Ele disse que não. No que o hospedeiro lhe disse, você é o
primeiro hóspede a sair com vida daqui, pois o meu filho tem crise de loucura, grita
durante a noite e quando o hóspede sai, mata-o e enterra-o no quintal.
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O rapaz prosseguiu na sua longa jornada. Ansioso por chegar a sua casa, depois
de muitos dias e noites de caminhada, já ao entardecer, viu entre as árvores a fumaça de
sua casinha, andou e logo viu entre os arbustos a sua esposa. Estava anoitecendo, mas
ele pôde ver que ela não estava só. Andou mais um pouco e viu que ela tinha sobre as
pernas um homem a quem estava acariciando os cabelos, quando viu aquela cena, seu
coração se encheu de ódio e amargura e decidiu-se a correr de encontro aos dois e matá-
los sem piedade. Respirou fundo, apressou os passos, quando se lembrou do terceiro
conselho, então parou , refletiu e decidiu dormir naquela noite ali mesmo e só no dia
seguinte tomar uma decisão.
Ao amanhecer, já com a cabeça fria, ele disse: não vou matar minha esposa nem
seu amante. Vou voltar para meu patrão e pedir que ele me aceite de volta. Só que antes,
quero dizer a minha esposa que eu sempre fui fiel a ela. Dirigiu-se à porta da casa e
bateu. Quando a esposa abre a porta e o reconhece, se atira ao seu pescoço e o abraça
afetuosamente. Ele tenta afastá-la, mas não consegue. Então com lágrimas nos olhos lhe
diz.
Eu fui fiel a você e você me traiu... Ela espantada respondeu: Como? Eu nunca
te trai, esperei durante esses vinte anos, ele então lhe perguntou: E aquele homem que
você estava acariciando ontem ao entardecer? E ela lhe disse: Aquele homem é nosso
filho. Quando você foi embora, descobri que estava grávida. Hoje ele está co vinte anos
de idade. Então o marido entrou, o conheceu, abraçou seu filho e contou-lhe toda a sua
história, enquanto a esposa preparava o café. Sentaram-se para tomá-lo e comer juntos o
último pão.
Após a oração de agradecimentos, com lágrimas de emoção, ele partiu o pão e
ao abri-lo encontra todo o seu dinheiro como pagamento por seus vinte anos de
dedicação.
Muitas vezes, achamos que o atalho, queima etapas e nos faz chegar mais
rápido, o que nem sempre é verdade.
Muitas vezes, somos curiosos, queremos saber de coisas que nem ao menos nos
diz respeito e que nada nos acrescenta.
Outras vezes, agimos por impulso, na hora da raiva, e fatalmente nos
arrependeremos depois.
Espero que você, assim como eu, tente não esquecer esses três conselhos e não
esqueçamos também de confiar, mesmo que a vida muitas vezes já tenha nos dado
motivos para a desconfiança; é difícil, mas não impossível.
PORTANTO, TENTEMOS.
está fechada, devemos abri-la e deixarmos que todos passem, fechando-a nós depois. Se
a porta é de mola, de sorte que não pare aberta, tomemos a frente, segurando-a para
todos passarem.
Não estacionemos nossos carros diante de uma porta de garagem, a sós ou em
grupo, nem na calçada, a não ser em lugar sem movimento, onde não possamos estorvar
os transeuntes. Nas cidades grandes em geral os passantes têm pressa; cuidemos, pois,
em não lhes, atravessar os passos, andando muito devagar. Pode ser que, no momento,
tenhamos tempo bastante para assim perambular. Mas atrás de nós talvez venham
dezenas de operários e outros empregados que têm que estar à hora certa em seu posto
de trabalho. Andemos também depressa, ou pelo menos lhe cedamos caminho,
lembremos da velha e boa frase: “Deixem o trabalho passar!” O operário, todo
trabalhador, enfim, merece nossa consideração especial. Não lhe neguemos, quer seja de
caso pensado, que seja por distração.
Se vamos andando na rua com um amigo, e passa um conhecido dele e os dois
se detêm a conversar, manda a delicadeza que prossigamos nosso caminho, deixando-os
discretamente a sós. Não mostremos curiosidade por ouvir a conversa, que além do mais
pode ser de caráter confidencial. Iremos andando devagar, para que o amigo nos alcance
logo.
Cuidemos, ao andar na rua, para não darmos encontrões, nem esbarrarmos nos
outros passantes, ou lhes pisarmos nos pés. Mas se isso acontecer, nunca deixe de pedir
desculpas. E se somos nós a vítima, tenhamos sempre boa vontade para desculpar. A
propósito: Há algumas expressões que nos devem ser muito familiares, muito usadas em
todas as ocasiões oportunas. Refiro-me a expressões como: “Queira desculpar!” “Com
licença!” “Muito obrigado!” e outras semelhantes. Guardem bem a importância dessas
palavras, ou suas equivalentes.
Se na rua pedimos informações a um guarda ou outra qualquer pessoa, não
deixemos de lhe agradecer o favor prestado. Uma comunicação qualquer que nos façam
um convite que recebamos (mesmo que o não possamos aceitar), uma expressão de
pêsames ou parabéns, enfim, a menor gentileza que alguém nos demonstre, deve sempre
receber nosso cordial “Muito obrigado!”. Se estamos num elevador, nosso
comportamento deve adequado ao ambiente, principalmente se há senhoras ou pessoas
de maior idade presente, ao subir escadas em companhia de senhoras, devem os
cavalheiros tomar-lhes a dianteira. Ao descer, devem seguir logo após.
POLIDEZ HORIENTAL.
A polidez manifesta por Abraão inclinando-se diante dos filhos de Hete (Gênesis 23:7)
pode-se ver exemplificada entre os mais altos como os mais humildes dentre os povos
do Oriente. Com que graça as pessoas de todas as classes fazem uma mesura, ao
receberem um favor, ou ao tributar respeito a um superior! Às vezes inclinam-se ate o
chão; outras vezes põem as mãos ao peito, inclinando gentilmente a cabeça; também
levam à mão direita a face, em posição longitudinal; e por vezes fazem com a mão
direita o gesto gracioso de passá-la desde afronte ate ao chão.
As cerimônias diferem de um pais para outro; ma a verdadeira polidez, porém, é a
mesma em toda parte.
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Capítulo 5
Apresentação Pessoal.
O Instante da Vida.
Apenas um instante. Para sorrir... sorri
Malgrado o aguilhoante temor fundo de pungir.
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Capitulo 6
CONVERSAÇÃO.
Vamos agora a uma das mais difíceis artes. A conversa, notemos primeiramente
que toda conversa deve ser natural, sem afetação nem palavras rebuscadas e difíceis.
Nada de complexos e acanhamentos, nem também exagerado desembaraço.
Vocês já hão de ter notado que às vezes uma pessoa, receosa de dar impressão de
embaraço e acanhamento, começa a falar, e fala constantemente, saltando de um assunto
para outro, sem peias nem medidas. Outros falam assim demais, porque é mesmo de sua
natureza falar, monopolizar a conversa. Outros, ainda, falam muito, para, mostrar
erudição e cultura. Não há assunto que desconheçam, não há casos em que não tenham
tido experiência, pelo menos é essa a impressão que querem dar aos demais. Tudo isso
são extremos, que devem ser evitados a todo custo. Fiquemos sempre no meio. No feliz
meio termo: discrição. Recato, mas não timidez. Falar, não por quantos poros temos.
Nem pelos cotovelos, ma s com a única língua que possuímos.
Fugindo embora á afetação das palavras difíceis e das pronúncias extravagantes,
saibamos falar corretamente. Para isso, vocês sabem nada como um conhecimento geral
da gramática, especialmente para quem não é favorecido com um ambiente em que se
fale a língua com correção, como nas cidades onde é muito grande a corrente
imigratória, e a língua começa a se afiar com toda sorte de estrangeirismos. Para quem,
como vocês, vivem entre pessoas que possuem um conhecimento regular da língua, já
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essa tarefa fica facilitada. Também a leitura de bons livros nos ajuda a falar
corretamente, alem do que nos fornece bastante assunto para nossas conversas. Para
aumentar o vocabulário, nada como ler o dicionário, de fio a pavio.
Não cabe aqui uma enumeração de regras de gramática ou estilo, como já
observei no princípio. No entanto, não me furto a esta advertência: Evitem a repetição
freqüente de frases feitas, ou locuções ou mesmo palavras, como por exemplo: de
maneira que, isto é, aliás, entretanto, porém, naturalmente, este vale de lágrimas ECT.
Seja nossa voz suave, agradável, não estridente ou muito alta, nem muito baixa
ou adocicada, efeminada. Não falemos depressa demais, nem tampouco muito
vagarosamente. Não engulamos sílabas, nem as pronunciemos por demais
explicitamente. É da índole da língua portuguesa pronunciar muito leve as vogais finais,
ligando-as à palavra seguinte. Com efeito, essas vogais finais devem ser quase
engolidas... Mas não façamos o mesmo com sílabas inteiras! Ler em voz alta, fazer
exercícios de respiração, ouvir bons discursos (mesmo que seja pela televisão), são
ótimo auxílio para se melhorar a dicção e a pronúncia. Para animar-nos, a nós os de
língua pesada, devemos lembrar-nos de que quase todos, se não todos os grandes vultos
da humanidade, mesmo entre os oradores admirados e aplaudidos pelos homens,
passaram pelo estágio da timidez e do embaraço, muitas vezes quase invencíveis... É
muito conhecido, para citar um só, o caso de Demóstenes, que, querendo tornar-se
orador, via-se condenado por uma perturbadora gaguez, além de uns trejeitos que fazia
ao falar. Mas não desanimou: para corrigir esses trejeitos da boca pôs-se diante do
espelho, até vencer o defeito. Para livrar-se da gaguez e adquirir voz volumosa e
agradável, enchia aboca de seixos e ia declamar na praia do mar, em presença do rugido
das ondas... Ora, nós que não aspiramos a tanto, por certo conseguiremos, com algum
esforço, desembaraçar-nos na arte de conversar pelo menos ao ponto de podermos
manter e mesmo iniciar uma conversa inteligente, interessante e útil.
Em uma roda de amigos, não queiram nunca monopolizar a conversa. Pensemo-
nos nos outros mais do que em nós mesmos. Temos dois ouvidos e uma só boca!
Indicação de que devemos ouvir mais do que falar. Empregar muito a primeira pessoa
pronominal sempre e sempre fazendo girar a conversa em torno de eu fiz, eu mandei, eu
sou assim ou assado, meu modo de ver, minhas habilitações, minhas vitórias e grandes
feitos, meu bom gosto, minha família.... Dizia um grande oficial inglês Jorge Elliot:
(Para que vivemos, se não para tornar a vida menos difícil, uns aos outros?)
Por estanho que pareça, faz parte da arte de conversar, o saber ouvir, ser bom
ouvinte. Nunca devemos interromper alguém que fala, mas sempre esperar que termine,
e então entrar com a nossa contribuição. Às vezes pode-se mesmo lançar um assunto
que tenha alguma relação indireta com o que se fala, mas considerando-o por um
aspecto louvável. Por exemplo, se o tagarela está acusando alguém de avarento,
mesquinho, haverá oportunidade de exaltar os benefícios da economia, da poupança. Se
está criticando alguém a quem chama de obstinado, cabeçudo ou turrão, pode-se
introduzir a virtude da perseverança, que é a obstinação no exercício do bem. Se a
crítica é a fulano, que é muito exigente, rigoroso, pode-se mostrar que esse pecado,
evoluindo para o bem, resultará num senso de justiça e retidão. Há uma historinha já
bem conhecida.
Havia uma menina que tinha o costume de sempre defender a pessoa de que se
falasse mal em sua presença. Podia mesmo ser carregada de vícios e pecados, ela
sempre lhe descobria algum traço louvável, introduzindo sua defesa com um ”mas...”
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Um dia um grupo de conhecidos, vendo que ela chegara, combinou falarem mal de
Satanás, a fim de ver se ela descobria nele alguma virtude. Depois de haverem desfiado
todo o rosário das maldades do chefe supremo, lá veio à pequena com sua defesa:
“Mas... ele é muito perseverante, isso ele é...” Descobrira então, pelo menos uma
virtude num ente que ninguém julga capaz de uma só ação para o bem.
A lição desta história, é que devemos procurar como a menina, descobrir nas
pessoas, mesmo nas que menos motivo dão a isso, as virtudes que tenham. Porque é
bem verdade que todos, mesmo os maus, tenham ainda um pouco de resquício que seja,
do bem que DEUS insuflou no íntimo de cada um de nos, quando nos criou. Este não
consegue apagar totalmente em seu ser, a semelhança de DEUS, cuja sua imagem foi
feita.
Se nos damos com uma pessoa que parece não ter prazer em outra coisa senão
em anedotas picantes, em observações maliciosas ou relatos ambíguos, será melhor nos
afastarmos dela, sem receio de lhe ferir a sensibilidade (se é que uma pessoa desse nível
possa ter alguma sensibilidade). Convirá mesmo que ela perceba que as pessoas de bom
caráter, de discernimento espiritual e nobre dela se afastem. Talvez seja o único meio de
levá-la a refletir e perceber que não estar sendo uma pessoa discreta e sim
inconveniente.
Conflitos de família, confidências íntimas, são também assuntos que não devem
vir à tona em nossas conversas. Tenhamos cuidados para não denegrir a reputação de
ninguém, mesmo sendo o nosso maior adversário. Se não encontramos nele virtude que
possamos mencionar, não devemos lhe ressaltar os seus defeitos, ou seja, melhor
manter-nos calados. Tenhamos muito cuidados com os termos usados nas gírias atuais,
evitando principalmente os que tenham fundo ou direção duvidosa.
Tenhamos sempre bom humor em nossas conversas, sem, porém, confundi-lo
com o espírito crítico ou de gozação. Caçoar, por exemplo, de algum defeito seja físico
ou cacoete de quem quer que seja, denota falta de respeito como também de educação e
até de caridade cristã. Os gagos, os surdos, os mudos, os cegos e os com deficiência
física são alvos de gracejos ou de piada de mau gosto. Portanto devemos evitar que esse
tipo de atitude faça parte do nosso dia a dia, devemos dar graças ao nosso DEUS, por
sermos perfeitos e devotar muito respeito aos menos favorecidos de fala de visão de
ouvir e mobilidade precária.
Assuntos inoportunos devemos evitar. “Diz o ditado popular que (Em casa de
enforcado, não se fala de corda). Ao visitar um doente, não citemos casos de pessoas
que morreram da mesma doença de que sofre o visitado, nem nos demoremos em
relatos que possam ter efeito penoso sobre ele.
Não discutam nunca. Tem cada um o direito livre de pensar e falar, se a
expressão de seu pensamento representa um erro grosseiro ou mesmo heresia, temos por
nossa vez o direito e até o dever de discordar. Porém, com muita simplicidade e
humildade. Quando se trata de diferença de opinião sobre assunto de importância ou
questão pessoal, por que acalorar-nos em discussão que só contribuirá para separar
amigos, e nenhuma edificação traz a ninguém? Se meu amigo prefere dentre todas as
cores o amarelo, e eu acho o verde mais bonito, porque tentar mudar sua opinião?
Pensem bem: “Se todos gostassem do verde, o que seria do amarelo?” Não façamos a
ninguém perguntas embaraçosas ou indiscretas, como por exemplo, sobre o seu salário,
se você gosta de seu trabalho ou de seu superior. Não elogiemos a nossa própria roupa,
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A religião oferece uma gama enorme de assuntos para nossas conversas, contanto
que evitemos discussões, e menosprezo de crenças alheias. Neste terreno, em especial,
há que mostrar espírito de tolerância e bondade. “há beleza em toda doutrina religiosa,
se a procurarmos. Nada mais edificante que testemunhar a fé implícita que alguém
manifeste naquilo que crê ser verdadeiro. Em vez de discutir, desenvolvamos nosso
próprio poder de fé no credo que nós professamos. Isso certamente seria mais nobre,
pois nada existe tão desinteressante como o cínico que vê maldade em tudo e em todos,
e em ninguém ver virtude.”
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Capítulo 7
A VIAGEM
REFLEXÃO.
Em uma viagem, certa vez um passageiro ouviu uma senhora pedir ao condutor que a
avisasse quando chegasse à determinada rua, onde queria descer. O motorista esqueceu-
se, porém, de avisá-la, de modo que a senhora depois teve que caminhar um longo
trecho, com o que ficou muito aborrecida, e lhe proferiu palavras pouco amáveis.
Depois de ela haver descido, observou outro passageiro ao motorista.
Aquela senhora foi muito rude com o senhor!
Nos seus olhos brilhou uma lágrima, ao responder.
Pois ela não sabe que minha esposa está em casa, moribunda, e que eu, terminando o
meu horário, talvez só a veja morta... Por todo esta semana mal dormi uma hora. Mas
minha família precisa de dinheiro, e assim devo cumprir carga horária. Aquela senhora
não sabe disso, do contrário não teria falado daquele modo.
Quando viajamos de avião, logo após adentrarmos na aeronave, é prudente
desligar todos os nossos aparelhos eletrônicos, principalmente o telefone móvel
(celular).
Quer no trem, quer no navio, quer no avião ou ônibus, é de bom tom manter a
linha de correção e cortesia com todos, embora com recato e respeito. Especialmente
com as pessoas de maior idade, convém observar certa reserva e muita prudência, não
exorbitando a loquacidade ou atenções, se bem que ninguém deva, por outro lado,
sentir-se constrangido e embaraçado.
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CONTATO HUMANO.
É O HUMANO CONTATO NESTA VIDA
O DOM MAIOR DO AMIGO.
O TOQUE DE SUA MÃO EM NOSSA MÃO
VALE MAIS QUE O ABRIGO.
PORQUE O ABRIGO SE DEIXA AO VIR A AURORA,
E O PÃO SÓ DURA UM DIA.
MAS O HUAMNO CONTATO DE SUA MÃO
NA ALMA ACENDE UMA CHAMA DE ALEGRIA
Capitulo 8.
CORTESIA EPISTOLAR.
Imaginemos uma grande fábrica ou loja, em que houvesse mil funcionários, e todos
chegassem ao trabalho com dois minutos de atraso. Parece uma insignificância, dois
minutos! E talvez achássemos rígido demais o chefe que por isso censurasse os
empregados. No entanto, mil vezes dois minutos, quantas horas são?
Trinta e três horas e vinte minutos.
Imaginem, quase uma semana de trabalho, perdida! Além do mais, é uma grande
descortesia, fazer alguém esperar por nós. Se combinarmos com uma pessoa para estar
em determinado lugar há uma hora marcada, devemos lá estar exatamente à hora
marcada, ou de preferência há uns minutos antes. para o caso de termos nós que esperar,
levemos uma revista, um livro para ler, enquanto a pessoa chega. Mas não sejamos
nunca nós os que façamos esperar.
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2-Cartas de cortesia.
As cartas de cortesia são as que se escrevem por obrigação social, para dar os parabéns
por motivo de um adversário, casamento, nascimento ou uma conquista pessoal, para
convidar para uma festa íntima, ou ainda para dar os pêsames à família de um amigo
que faleceu.
As participações de noivado, casamento, nascimento, responde-se logo,
agradecendo e desejando felicidades. Os presentes que nos sejam enviados pelo correio
ou outro meio indireto devem ser logo acusados, agradecendo-se cordialmente.
A carta de pêsames faz-se a amigos íntimos, independente de termos ou não
recebido participação. È talvez a carta mais difícil de se escrever. Embora não muito
longa, deve conter algumas frases que confortem os contristados, fazendo-os sentir
nossa sincera simpatia. É carta que requer muito tato e prudência. Dizer, por exemplo,
que foi bom que FALECEU. Descansasse de seus muitos sofrimentos, é frase ambígua
que em vez de confortar pode irritar. Enfim, mostrar nosso pesar e simpatia pelo transe
doloroso, exprimir nosso desejo de que DEUS, cujos desígnios são de misericórdia e
cuja vontade devemos respeitar, assista aos contristados com o seu conforto, e
possivelmente lembrar a alegria da ressurreição quando da volta de JESUS CRISTO ao
mundo- eis alguns pontos que poderão ser mencionados numa carta de pêsames.
3-Cartas de negócios.
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CORTEASIA DE PRÍNCIPES
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Dizem que certa vez o príncipe de Gales, foi convidado para um banquete oferecido por
um grupo de cidadãos de uma localidade a um industrial amigo, que enriquecera graças
ao seu espírito de iniciativa e industriosidade. Sua educação, porém, não alcançara a
altura de suas pilhas de esterlinos, e conservava ele ainda, em suas maneiras, certa
rusticidade imperdoável, especialmente à mesa.
Vai daí, ao servirem o chá, que estava quentíssimo, derrama ele sem cerimônia no pires
o conteúdo da xícara e põe-se a soprá-lo.
Os comensais mal dissimulam um sorriso de censura, e cruzam-se os olhares, num gesto
de surpresa.
Eis senão quando o Príncipe de Gales, Petrônio de elegância e boas maneiras, entorna
igualmente a sua xícara no pires, e deste sorve o chá, com toda a naturalidade. Os
comensais vizinhos seguem-lhe imediatamente o exemplo, e naquela ocasião, pelo
menos, a quebra de comezinha regra de etiqueta tornou-se ato de cortesia palaciana.
Com o seu gesto livrou o príncipe de um grande embaraço o cidadão que era o
homenageado da hora.
De onde se conclui que, por vezes, a violação de uma convencional regra de etiqueta se
torna uma prova de cortesia maior do que a obediência à própria regra, ao pé da letra.
ASPIRAÇÃO.
Alegria e ternura é o quanto peço agora
AL mistério da noite e aos fulgores da aurora.
Que o céu de dê seus campos estrelados
E seus raios de sol, purificados...
Capítulo 10.
Colcha de Retalhos.
Outro dia estava um grupo de amigos, conversando por uns momentos numa
esquina, e um dos participantes não cessava de elogiar certa pessoa do grupo, realçando
suas muitas virtudes.
Aconteceu, porém, que esse amigo teve que retirar-se antes de nós outros, e
logo aquele, sorrindo maldosamente, começou a desfazer no companheiro que acabara
de louvar tanto. Contou a seu respeito um caso que o expunha ao ridículo, pondo-o mal
perante todos nós. Confesso que me senti constrangido, e tratei de despedir-me logo da
roda. Acho que não foi nada leal aquele amigo, em assim se referir a quem naturalmente
depositava toda confiança nele e não mais, estava ali para se defender.
Notemos ai dois deslizes.
Em primeiro. Não é bonito desmanchar-se em elogios exagerados.
Em segundo lugar. Não se pode ridicularizar ninguém em sua ausência. Uma ótima
regra de conduta é a seguinte:
Não falar de pessoa ausente coisa alguma que não se diria em sua presença. É
grosseira deslealdade estar a dissecar o caráter de um ausente, que não se pode defender
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seus subordinados interrompam muito os trabalhos, e com razão, pois que isso
representa prejuízo para a empresa, seja comercio, seja de serviço, ou seja, indústria.
Pode acontecer que não haja outra oportunidade de fazer essa visita. Fazendo-a então no
local de trabalho, devemos ser breves e discretos, restringindo nossa conversa ao
indispensável, mesmo para evitar o constrangimento do amigo perante seus chefes. E ao
nos despedirmos, evitemos prolongar-nos, demorando-nos ainda na porta ou na escada,
ou exprimindo nossa amizade em longos abraços e frases sentimentais.
Se formos os visitados nessas circunstâncias, procuremos ser amáveis e
atenciosos, de maneira que o amigo se sinta à vontade, o que não quer dizer que
devemos prendê-lo demais para termos alguma folga.
Em caso de sermos convidados para um jantar, em primeiro lugar, não devemos
nos atrasar no horário marcado, não é elegante recusar o alimento oferecido, mesmo que
não goste deve-se comer de tudo um pouco, contanto que seja saudável, é fácil contrair
uma espécie de mania, ou manha, de não gostar deste ou daquele alimento. Se se trata
de um bom prato, aprendamos a comê-lo, que com o tempo acabaremos gostando dele.
Entretanto, se há outros escrúpulos envolvidos no caso, se, por exemplo, há algum tipo
de alergia com determinado tipo de alimento, então poderemos pedir com delicadeza e
respeito ao anfitrião que possa servir outro prato, é de bom tom que se explique o
motivo por recusar determinado tipo de comida. Como também não é uma boa pratica, e
há casos em que já aconteceu. Nunca devemos, em qualquer ocasião ou cerimônia, que
formos convidados, tentar levar para casa um objeto ou qualquer outra coisa como
lembrança.
Apesar de que, devemos ter o máximo de cuidados com objetos alheios que
esteja em nosso poder, saber mantê-lo limpo e intacto, sem defeito ou manchas, para
devolvê-lo quando formos solicitados. Outro dia, estavam reunidos alguns amigos de
escola e desapareceu um livro, e seu portador, acusou um colega, e este teve
dificuldades para lhe convencer de que não sabia da existência do livro que lhe falava.
Isso também atenta contra o espírito da boa urbanidade.
Se, isso de andar suspeitando mal, desconfiando de tudo e de todos, é outra
fraqueza que milita contra a verdadeira cortesia, a urbanidade como a devemos
compreender e praticar. Temos que cultivar boa vontade para com todos, em palavras,
em atos, e até em pensamentos. É um aspecto de higiene mental de que só bem nos
poderá advir. Que vida aborrecida leva aquele que vive imerso em pensamentos de
suspeita, exteriorizando-os a todo o momento, desabrida e impertinente mente! Torna-se
tormento para todos os que o têm de aturar, e para si mais ainda!
Uma boa-vontade, largueza e superioridade de espírito para com todos, eis o
melhor antídoto da suspeita. Quem cultivar estas qualidades viverá mais tranqüilo e
satisfeito, desfrutando maior alegria de viver, que por seu exemplo e influência
transmitirá aos que o cercam.
Pode acontecer, naturalmente, que alguém proceda de modo a atrair contra si a
nossa desconfiança. Mas então, em vez de nutrirmos e exacerbarmos essa desconfiança,
e sobre o caso falarmos indiscretamente aqui e ali, mil vezes melhor será dirigirmo-nos
com boas maneiras à pessoa, falarmos-lhe como a um amigo, e assim com espírito cristã
removermos de vez a dúvida. Isto é urbanidade, da boa.
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Se é! Requer boa dose de paciência, mais do que isso, até. Exige o exercício
constante da principal das três virtudes teologias, que são: A fé, a esperança e a
caridade, ate diria mais, a liberdade a igualdade e a fraternidade, diz a escritura sagrada
que a maior delas é a caridade ou o amor.
Efetivamente, a verdadeira urbanidade tem raízes profundas, mais profundas do
que as regrinhas estabelecidas pelos manuais de boas maneiras e do que os costumes
convencionais de uma sociedade nem sempre regida por princípios retos.
Temos de banir de nosso vocabulário as palavras impertinentes, e de nossos
hábitos os gestos descorteses. Cumpre lutar contra o egoísmo, nosso inimigo nato, e
desprender-nos de nós mesmos. Em nosso trato mútuo, há que sufocar amarguras e
ressentimentos que ameacem instalar-se em nosso íntimo. Quando tentados a criticar, a
censurar e maldisser, cerremos os lábios hermeticamente, mordamos a língua, se preciso
for, mas não soltemos a palavra desamorosa ou cruel, a palavra branda, desvia o furor,
mas a palavra dura suscita ira.
Os pensamentos íntimos podem tornar-se nossos piores adversários, eficazes
destruidores de nossa paz, como podem ser nossos melhores amigos, e elementos de
auto-educação, de verdadeira regeneração espiritual. Cultivem sempre pensamentos
bons, edificantes. Se um pensamento impróprio procurar introduzir-lhe na cabeça,
afugentem-no logo com outro bom, que mate aquele no nascedouro mesmo, pois
devemos vencer o mal com o bem.
Não devemos perder tempo com bailes, tipo fank, hallowem, ou outros tipos,
que neles sejam introduzidos bebida alcoólica, ou drogas, nesse tipo de diversão, existe
um perigo oculto. Os bailes ou festas modernas para alguns são prolífera sementeira de
vícios, que se insinuam às vezes com aspecto bem inocente. Há conversas mais ou
menos levianas, tentações para tomar o primeiro gole, dar o primeiro trago e quem sabe
até aonde levará esse primeiro trago, há contatos e olhares que muitas vezes introduzem
a quebra da castidade, a perda da inocência. Despertam-se impressões e sensações
estranhas, favorecidas pelo ambiente e pelo traje imodesto, o que leva freqüentemente a
soltarem-se as rédeas de tendências e instintos que devem sempre estar sob o freio da sã
moral.
E o maior perigo é que isso tudo pode acontecer sem que a pessoa perceba para
onde vai sendo arrastada. Quando dá conta de si, não raro já está longe demais para
retroceder. É que o instinto sexual é o mais sutil e misterioso de todos os sentimentos,
verdadeira espada de dois gumes.
Em uma casa encontraram-se, por motivo de alguma comemoração familiar, um
grupo de rapazes e moças. A certa altura, um deles teve a idéia de propor que se
improvisasse uma dança. Interveio o dono da casa, homem experiente, sério e de bons
princípios, e disse que só concordaria se se comprometessem a dançar separadamente,
os moços e as moças. Foi água fria na fervura: ninguém mais falou em dançar! Isso m
ostra que há na dança o fator sexual, (embora queiram negar os seus defensores). O
desejo de contato entre pessoas de sexo diferente, isso é brincar com fogo, é expor-se
demais, nessa quadra feliz da juventude, em que tudo é sentimento, tudo é receptividade
e impressionabilidade. Fechem a porta a esse perigo, que se pouparam a muitos
aborrecimentos e a males de conseqüências imprevisíveis.
41
Capítulo 11.
O poder do amor.
Uma senhora voltava para casa, depois de haver feito algumas compras na
cidade, levando na mão alguns embrulhos, a ponto de não está confortável em sua
caminhada, enquanto ao seu lado caminhava o seu filho pequeno. A criança estava
cansada; os pezinhos começavam a retardar o passo, e o garoto ia ficando para traz. Não
demorou que, entre pranto, se lhe ouvisse o protesto:
To muito cansado! Quero ir de ônibus!...
43
A mãe olhou em torno, mas nenhum ônibus vinha. Tomou então um dos
embrulhos e passou-o ao seu filho, dizendo:
Mamãe também está cansada, e você precisa ajudá-la a chegar a casa. Que bom
ter ela ao seu lado um tão valoroso homenzinho que tenha cuidado dela e a ajude a
carregar os embrulhos!
Imediatamente o garoto se aprumou, apressou o passo e estendendo a mão para o
embrulho, dizendo briosamente:
Eu levo tudo, mamãe!
É esta a velha, muito velha lição que nosso Pai Celestial está sempre a nos
ensinar:
“é enfadonha e cansativa a viagem de volta ao lar? Procura aliviar as cargas de outro, e
o serviço prestado com amor há de aplainar tua vereda”.
Custa tão pouco, é verdade! Não precisa ser assim. Poderia este mundo ser um
paraíso, não fosse esse malfazejo egoísmo.
Mas às vezes parece que é simplesmente uma espécie de distração, de
esquecimento, mas nem tudo é crassa maldade. “O valor da cortesia é muito pouco
apreciado. Muitos que são bondosos de coração não têm amabilidade nas maneiras.
Muitos que se impõem ao respeito por sua sinceridade e correção, são lamentavelmente
deficientes em simpatia. Esta falta prejudica sua própria felicidade, e afasta de seu
serviço a outros. Muitas das mais agradáveis e valiosas experiências da vida são
freqüentes vezes, por mera falta de lembrança, sacrificadas pelos descorteses.”
Como a falta, muitas vezes, ao esquecimento, isto acontece mesmo com muitos
que são bondosos de coração. De maneira que temos de estar sempre alerta, para não
nos tornarmos sujeitos a semelhante “falta de lembrança”, E parece-me que não é tão
difícil exercitar a memória, nesse aspecto importante do nosso viver em comum com os
demais membros da grande família humana, todos os irmãos nossos.
Não será preciso tomar muito fosfato para ativar a memória, e nos levará a um
justo conceito de valores, de sorte que daremos o primeiro lugar às coisas de primeira
importância.
Diz o salmo, que é feliz o homem que medita de dia e de noite na lei de DEUS.
Isto é dar a essa lei o primeiro lugar na vida, tê-la no coração, fazer dela a regra de fé e
prática. Isto é, enfim, amá-la e praticá-la. E não é preciso muito esforço de memória
para amar a lei divina. Basta lê-la uma vez, com atenção, para nos convencermos de sua
integridade, justeza e formosura.
Notemos nos seis últimos dos Dez Mandamentos da lei de DEUS, que são os
que se referem às nossas relações com o próximo (ao passo que os primeiros quatro
tratam de nossa atitude para com o próprio DEUS).
Em Êxodo, cap. 20, veja os versículos 12-17: “Honra o teu pai e a tua mãe, para
que se prolonguem os teus dias, na terra que o Senhor teu Deus te dá. Não matarás. Não
adulterarás, não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Não
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cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu
servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu
próximo.
Que riqueza de conceitos! Quantas coisas dizem essas poucas palavras. É bem
certo que, não matando, não comendo impurezas,, não furtando, não mentindo e não
cobiçando, estaremos bem avançados no caminho das boas maneiras.
Vejamos algumas ordens mais, das inúmeras que encontraremos nas Sagradas
Escrituras, relativas às nossas relações com o próximo e tendente, pois, a nos incutir
boas normas de urbanidade. “Cada um temerá a sua mãe e a seu pai”. “Não amaldiçoar
ao surdo, nem pôr tropeço diante do cego”. ”Não fazer injustiça no juízo, favorecendo o
pobre em relação ao rico ou vice-versa”.”Não andarás como mexeriqueiro ou fofoqueiro
entre os teus povos”.
Mexeriqueiro talvez não, mas fofoqueira é uma palavra de nossos dias, e muito
bem usada ou praticada! E parece que nunca esteve tão em voga isso de fazer fofoca,
como na atualidade! É um dos maiores pecados, se não o maior, contra a atitude cortês e
nobre que devemos ter para com todos. Mas, vejamos alguns preceitos: “Não
aborrecerás a teu irmão no teu coração. Não te vingarás nem guardarás ira. Diante das
cãs te levantarás, e honrarás a face do velho; e terás temor do teu Deus: se um
estrangeiro peregrinar convosco na vossa terra, não lhe farás mal. Não cometerás
injustiça, nem no peso, nem na medida. Balanças justas, medidas justas, e justo ganho
tereis.
Que regras equitativas e claras! Hoje, quanta gente usa dois pesos e duas
medidas. E assim prejudicam enormemente os semelhantes.
Embora a Bíblia, não seja um manual de boas maneiras propriamente dita, tem
um rosário de conselhos, advertências, instruções e mandamentos que constituem um
verdadeiro escrínio de regras de bom-viver. Leiam, por exemplo, todos os Provérbios de
Salomão, e o Eclesiastes, para ver quanta regra de boas maneiras lá se acha engastada.
Se no sermão da montanha, esse monumento de literatura e de moral, nosso
Senhor declarou bem-aventurados os “mansos”, os “misericordiosos”, os “limpos de
coração”, “os pacificadores”. Está aí também um bom roteiro para os que querem ser
corteses, e passar pela vida sem fazer mal a ninguém.
Todo esse Sermão da Montanha é uma jóia de raro brilho. Logo adiante, ainda
fazendo parte desse sermão, disse o Salvador estas frases lapidadas: “Se qualquer um te
obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas”. “Daí a quem te pedir”. “Amai a vosso
inimigo, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que te odeiam, e orai pelos que
vos maltratam e vos perseguem.
Mas, vejamos ainda um ou dois períodos do mesmo sermão. Diz o primeiro
versículo do cap. 7: “Não Julgareis, para que não sejais julgados”. Quem somos nós,
carregados de faltas e custos de vista, para julgar motivos e intentos de um irmão?
Quantas vezes somos tentados a criticar alguém por determinada ação, que julgamos ter
sido motivada por intenções egoístas ou orgulhosas, e é bem outro o seu móvel! “Tudo
o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós”. Não é sem razão
que se convencionou chamar a essa frase “a regra áurea do cristão”.
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Assim, é claro que nem tudo que ela diz, tem referência específica ao nosso
tempo e nossas circunstâncias. Contém ela, porém, toda a orientação de que
necessitamos hoje, nós os modernos, como encerra tudo que era necessário à direção
dos povos de todos os tempos passados.
O maior discurso de Cristo diz: “Em vossa associação com outros, colocai-vos
em seu lugar. Penetrai-lhes os sentimentos, as dificuldades, as decepções, as alegrias e
as tristezas. Identificai-vos com eles, e depois lhes fazei como, se trocassem os lugares,
desejaríeis que eles procedessem para convosco”. Esta é a verdadeira regra da
honestidade.
Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo tudo o que é
puro tudo o que é amável, se há alguma virtude, nisso, pensai. Conselho sublime que,
Além de representar valioso fator na luta pela conquista da verdadeira cortesia, é
também a base de todo o processo de higiene mental. As maneiras de todo rapaz ou
moça que acariciarem na alma esses ideas se caracterizarão por uma sinceridade, por
uma natural, mas distinta elegância moral que os tornarão extremamente simpáticos e
benquistos e, o que é melhor, farão deles instrumentos de bênçãos aos que o cercam.
Para refletir.
“Ainda que eu falasse a língua dos homens, e não tivesse caridade, seria como o
metal que soa como o sino que tine. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse roda fé, de maneira
tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria. E ainda que
distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu
corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria.
A caridade é sofredora, é benigna: a caridade não é invejosa: a caridade não trata
com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus
interesses, não se irrita, não suspeita mal: não folga com a injustiça, mas folga com a
verdade: tudo sofre tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O verdadeiro apuro nos pensamentos e maneiras aprende-se melhor na escola do
divino Mestre do que por qualquer observância de regras estabelecidas. Seu amor,
penetrando no coração, dá ao caráter aquele contato purificador que o modela à
semelhança do seu. Esta educação comunica uma dignidade inspirada pelo Céu e um
senso das verdadeiras conveniências. Proporciona uma doçura de índole e gentileza de
maneiras que nunca poderão ser igualadas pelo verniz superficial dos costumes da
sociedade.
SEGUNDA PARTE
Leitura destinada aos que já alcançaram a idade da adolescência, ou a
transpuseram.
46
Capítulo 12.
Mamãe, que prosseguiu. Todos de joelhos, para a prece. Papai começou, mas logo ficou
com a voz embargada. Mamãe então me colocou a mão no ombro e começou assim: “Ó
Deus, agradecemos-te por nosso filho. Agradecemos-te por o teres conservado fiel, e o
podemos agora despedir de nosso lar como rapaz casto e puro. Conserva-o puro e bom e
não permitas que seus pés jamais se desviem da vereda da virtude, da pureza e da
verdade, na qual temos procurado educá-lo. Traze - no-lo de volta tão puro e bom com
ele daqui sai”. Erguemo-nos todos, Papai enxugou as lágrimas, ele e Mamãe
acompanharam-me até ao ônibus, e parti. Longe de casa, em ambientes estranhos e por
vezes corruptos, cheios de gente estranha, de gente envolvida com drogas, de gente
envolvida com bebida alcoólica, não me faltaram tentações, bem fortes e sedutoras. Mas
esse quadro da última manhã que passei em casa, com os meus, sempre me
acompanhou, sempre lhe senti a influência santificante, e aquela oração foi atendida:
Aqui estou puro e varonil como daqui parti há vinte anos!
Devemos crer na eficácia da oração, na poderosa influência de uma boa
educação doméstica!
Os pais devem prover os seus filhos de uma boa educação, conservar e manter
seus costumes, saber dizer sim, e, saber dizer não, dar limites, ensinar regras, e cuidar
para que, nem as regras e nem os limites, sejam quebrados
Esta é sem dúvida uma bela história, nela podemos nos espelhar, para manter nossos
princípios elevados e formar nosso caráter.
Mas voltemos ao nosso caso, que é o lado sentimental do adolescente. Os
caprichos e negaceios dos corações tomados de amor, nessa quadra da fixação de ideais
e de tantas escolhas e decisões importantes para a vida. Antes de se comprometer com a
sua pretendente, observe-a bem, sem que ela perceba, discretamente. Descubra, pela
conversa e pela observação indireta, os seus gostos e tendências, e veja se combinam
com os seus. Não lhe demonstre demais que você a destaca dentre as outras.
Ela não deve ver, no seu procedimento, razões para desconfiar de que você tenha
interesse especial nela. Pelo menos, não deve reconhecer ou sentir que haja
compromisso de sua parte, não se declare a ela, nem continue essa amizade particular,
se não pretende positivamente casar-se com ela, a tristeza de corações partidos, e de
almas feridas de dores às vezes incuráveis é grande, é quase irredutível a sensibilidade
de uma jovem bem educada e com boas intenções.
Há uma pequena história, de dois jovens que se amavam muito, e estavam
perdidamente apaixonados. Mas aconteceu que o rapaz se mudou para outra cidade, e
que ficara muito distante, depois de algum tempo a jovem soube, por linha indireta, que
ele se casara com outra. A pobrezinha retirou-se de todo o convívio social, andava muda
e triste. Desapareceu-se o apetite, fugiu-lhe o sono. Daí a pouco, veio-lhe uma tosse
impertinente. Declarou-se a tuberculose, até então, não tinha cura, e dentro de poucos
meses sucumbiu ao mal. “mal do peito”, diziam alguns. Mas os que conheciam a triste
história de seu abandono por parte de um noivo infiel à palavra empenhada, esses
acrescentaram; “Coração partido de dor!”
Casos como esse são, não deveria. Mas são comuns, pois hoje já não há mais o
respeito nem a consideração pelo compromisso assumido, aliás, nem há mais
compromisso. Há corações desiludidos de tudo e de todas jovens vidas outrora
promissoras, caracteres dantes admiráveis, que se tornaram verdadeiros destroços
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inúteis, peso morto para a sociedade. Ninguém faz idéia de quanto sofrem esses pobres
(sejam moças, sejam rapazes), que viram ruir de um dia para outro o castelo de um
sonho acalentado com efusão de alma, com todo ardor de que é capaz uma vida em
botão! Ah, como tenho pena dessas criaturas desiludidas, ensimesmadas e melancólicas,
que vão definhando a olhos vistos, torturadas por uma dor demasiado íntima para ser
partilhadas com os amigos, por demais agudas e impiedosas para lhe resistirem! E como
eu gostaria de poder tornar aos jovens culpados de semelhantes procedimentos, bastante
vivo o seu pecado, bastante sentida a sua culpa!
A tentação ás vezes é grande, muitas vezes atravessam o nosso caminho um
punhado de cara tão faceiro! Tanto mais quando também da parte delas nem sempre há
o recato e a reserva que seria de esperar. A tentação existe para nos derrubar, ou para ser
por nós derrubada, não procurem entre elas a companheira de sua vida, busquem a sua
alma gêmea entre as jovens recatadas, procurai, atrás das filas apressadas das mulheres
demasiado livremente oferecidas, almas mais pudicas que hesitem em revelar sua
doçura e em entregar sua confiança.
Devemos ter cuidados com o amor à primeira vista! Ele muito raro acerta. É
conduta arriscadíssima, entregar o coração ao primeiro viandante de nosso caminho. E
se depois, noutra curva da estrada, encontramos outro rosto mais encantador ainda, e
assim sucessivamente, e a todas detivermos e a todas galantearmos, e prometermos
mundos, que será o futuro de todas essas pobrezinhas? E que será de nosso caráter, e de
nós mesmos, quando afinal, depois de casados, continuarem os nossos encontros
fortuitos com palminhos de cara cada vez mais sedutores?
É mais que volubilidade: é crueldade, é falta de caráter, esse tipo de
procedimento. Enfim, em todas essas fases do namoro e do noivado, há que atentar para
a responsabilidade que assume o rapaz ou a moça que toque em alheios corações, neles
despertando impulsos dormentes e suscitando esperanças vãs.
Por isso, temos que pôr em campo toda a prudência e sabedoria antes de
fazermos nossa escolha. Não tomar iniciativas às cegas, ao sabor do primeiro impulso
do coração desgovernado. Embora este assunto seja mais da alçada do coração do que
do intelecto, não se pode absolutamente dele alhear o exercício da mais sã e fria razão.
As principais condições que devem ser preenchidas, para um relacionamento
saudável e duradouro, seja por parte do rapaz, seja por parte da moça.
Ser boa (bom) filha (filho), ser afetiva (o) e afetuosa (o) com os familiares. Ser
cortês com estes e com os demais.
Ser calma (o), paciente, ponderada (o). nunca perder a presença de espírito,
mesmo em face de uma emergência de solução difícil.
Ser sincera (o) e leal. Nunca usar de mentiras brancas, respostas esquivas
e subterfúgios. Dizer sempre a verdade, mesmo que seu custo seja muito alto, mas a
verdade sempre prevalecerá.
Ser humilde, sem afetação, mas humilde. Humildade não quer dizer
servilismo nem desprezo próprio. A pessoa pode e deve ter um porte digno e humilde ao
mesmo tempo.
Ser econômica. Fazer tudo isso que acabamos de enumerar, e mais, dentro
dos limites de razoável economia. Saber fazer “render” o feijão e o arroz. Para isso será
de bom aviso marido e mulher estudarem junto um orçamento mensal, esforçando-se
por ficar dentro dele. Dividir o salário de modo a atender às despesas necessárias, e
possivelmente guardar um pouco em uma poupança todos os meses. fazer, por exemplo,
uma lista mais ou menos assim.
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Gostar de criança. Ter jeito e paciência para lidar com elas, enfim, ter
noções de puericultura e de educação infantil, está ai outra qualidade que deve ter a
jovem. E esse jeito e bondade deve estender-se até ao trato dos animais domésticos, se
os tiver.
Outro ponto muito importante, mas fora de uso nos dias atuais, só uma
observação neste ponto que será acrescentada, “em todas as situações, sexo só após o
casamento, pois esta descoberta está muito banalizada atualmente”. Os noivos devem
ambos estar em boa saúde. Convirá mesmo certificar-se de que os pais de ambos a
tenham também. Daí a conveniência do chamado “também fora de uso” exame pré-
nupcial, que em geral assusta aos jovens. Mas não há motivo para susto. Trata-se de um
simples exame médico de ambos os noivos, para saberem se nada há que contra-indique
o casamento. Se alguma moléstia se descobrir, o tratamento cuidadoso quase sempre
porá os noivos a salvo de alguma surpresa desagradável ou mesmo funesta, depois de
casados.
Uma condição ainda, que os enamorados devem ter em vista, é a crença do
consorte. Primeiramente, devem ambos os seres crentes em Deus, ter fé. Que tristeza,
uma jovem crente unir-se por toda a vida a um ateu, que mais tarde, passados os
primeiros arroubos do suposto amor, passe a zombar de sua fé e de seus serviços
religiosos! E como é também solitária a vida de um moço que vai a igreja sozinho, ou
sozinho se entrega a suas devoções! Em segundo lugar, é importante que, além de serem
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Acalanto.
Geraldo F Silva.
Os nomes aqui usados na narrativa são fictícios, sendo mera conhecidência qualquer
relação a nomes ou pessoas outros e alguns nomes mencionados, tem caráter de
homenagem a pessoas de estreita relação pessoal com o autor.
A colocação parcial do significado de palavras não muito comum nos dias de hoje, é
sugestão do autor.
VOCABULÁRIO.
Acachapado – que tem pouca altura
Afetação – fingimento, falsidade
Alija – aliviar, desobrigar
Argúcia – raciocínio sutil
Arguto – perspicaz
Balha – baila
Balofa – gorda, volumosa
Cavaquear – conversar
Comensal – que comem juntos
Concisão – exposição de idéia em poucas palavras
Contristado – triste
Crassa – mistura, fusão
Desabriota – violento, rude
Digressão – desvio de rumo ou ação
Embota – tomar-se, enfraquecer
Enfronhar – instruir-se
Engastada – com em cravação
Entabular – estar a surgir, começar
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João Pessoa,
Novembro de 09.
Geraldo F Silva.
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Biografia do Autor.
Contato:
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