A 039 Cenipa 2012
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RELATRIO FINAL
A - N 039/CENIPA/2012
OCORRNCIA: ACIDENTE
AERONAVE: PP-MUM
MODELO: AS332L2
ADVERTNCIA
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NDICE
SINOPSE............................................................................................................................... 4
GLOSSRIO DE TERMOS TCNICOS E ABREVIATURAS ................................................ 5
1 INFORMAES FACTUAIS .............................................................................................. 7
1.1 Histrico da ocorrncia .................................................................................................... 7
1.2 Danos pessoais ............................................................................................................... 7
1.3 Danos aeronave ........................................................................................................... 7
1.4 Outros danos ................................................................................................................... 7
1.5 Informaes acerca do pessoal envolvido ....................................................................... 7
1.5.1 Informaes acerca dos tripulantes .............................................................................. 7
1.6 Informaes acerca da aeronave .................................................................................... 8
1.7 Informaes meteorolgicas .......................................................................................... 10
1.8 Auxlios navegao..................................................................................................... 12
1.9 Comunicaes ............................................................................................................... 12
1.10 Informaes acerca do aerdromo .............................................................................. 12
1.11 Gravadores de voo ...................................................................................................... 12
1.12 Informaes acerca do impacto e dos destroos ........................................................ 13
1.13 Informaes mdicas, ergonmicas e psicolgicas ..................................................... 15
1.13.1 Aspectos mdicos..................................................................................................... 15
1.13.2 Informaes ergonmicas ........................................................................................ 15
1.13.3 Aspectos psicolgicos .............................................................................................. 16
1.14 Informaes acerca de fogo ........................................................................................ 17
1.15 Informaes acerca de sobrevivncia e/ou de abandono da aeronave ....................... 17
1.16 Exames, testes e pesquisas ........................................................................................ 21
1.17 Informaes organizacionais e de gerenciamento ...................................................... 23
1.18 Aspectos operacionais................................................................................................. 30
1.19 Informaes adicionais ................................................................................................ 34
1.20 Utilizao ou efetivao de outras tcnicas de investigao ....................................... 35
2 ANLISE .......................................................................................................................... 35
3 CONCLUSO ................................................................................................................... 43
3.1 Fatos.............................................................................................................................. 43
3.2 Fatores contribuintes ..................................................................................................... 45
3.2.1 Fator Humano ............................................................................................................. 45
3.2.2 Fator Material ............................................................................................................. 49
4 RECOMENDAO DE SEGURANA DE VOO (RSV) ................................................... 49
5 AO CORRETIVA OU PREVENTIVA J ADOTADA .................................................... 55
6 DIVULGAO .................................................................................................................. 56
7 ANEXOS........................................................................................................................... 56
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SINOPSE
O presente Relatrio Final relativo ao acidente com a aeronave PP-MUM, modelo
AS332L2, na Bacia de Campos, no litoral do Rio de Janeiro, em 26 FEV 2008, classificado
como desorientao espacial.
Aps a decolagem de uma plataforma de explorao de petrleo, durante a subida,
em curva pela esquerda, o piloto perdeu o controle da aeronave, vindo a colidir contra o
mar.
Dos vinte ocupantes da aeronave, treze passageiros e dois tripulantes foram
resgatados com vida. O corpo do piloto da aeronave no foi encontrado e quatro
passageiros faleceram. A aeronave foi resgatada do fundo do mar para permitir a
investigao do acidente.
O helicptero sofreu danos graves e sua recuperao foi considerada
economicamente invivel.
Houve a participao de representante acreditado da Frana, Estado de
Fabricao da aeronave, nos trabalhos de investigao da ocorrncia.
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LONG Longitude
LSI Local Staff Instructions
LTE Loss of Tail Rotor Effectiveness
LVPS Low Voltage Power Supply
MEL Minimum Equipment List
MGO Manual Geral de Operaes
MP Monitoring Pilot
NDB Non Directional Beacon
NMD Navigation Multifunction Display
NTSB National Transportation Safety Board
PAC Pilot at Controls
PFD Primary Flight Display
PLAH Licena de Piloto de Linha Area na Categoria Helicptero
PM Pilot Monitoring
RAB Registro Aeronutico Brasileiro
RBHA Regulamento Brasileiro de Homologao Aeronutica
ROV Remotely Operated Vehicle
RSV Recomendao de Segurana de Voo
SERIPA Servio Regional de Investigao e Preveno de Acidentes Aeronuticos
SIPAER Sistema de Investigao e Preveno de Acidentes Aeronuticos
SPECI Informe meteorolgico aeronutico especial selecionado
SSCVFDR Solid State Cockpit Voice and Flight Data Recorder
TBO Time Between Overhaul
TSO Technical Standard Order
UTC Coordinated Universal Time Tempo Universal Coordenado
VFR Visual Flight Rules
VMC Visual Meteorological Conditions
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Modelo: AS332L2
Operador:
AERONAVE Matrcula: PP-MUM
BHS HELICPTEROS S.A
Fabricante: EUROCOPTER
Data/hora: 26 FEV 2008 / 19:18 UTC
Local: Oceano Atlntico Tipo:
OCORRNCIA
Lat. 222534 S Long. 0401037 W Desorientao Espacial
Municpio UF:
1 INFORMAES FACTUAIS
1.1 Histrico da ocorrncia
A aeronave decolou da plataforma P-18, na Bacia de Campos, litoral do Rio de
Janeiro, com plano IFR no FL040, com destino a Maca (SBME), transportando trs
tripulantes e dezessete passageiros. Durante a subida inicial, em condies visuais (VMC),
efetuou curva para a esquerda, ganhando altura, veio a perder velocidade e posteriormente
o controle do voo, iniciando uma descida em espiral no sentido anti-horrio, vindo a colidir
contra o mar, s 16h18min (hora local), estando com os flutuadores inflados.
O impacto da aeronave contra o mar ocorreu aproximadamente a 300 metros de
distncia da plataforma martima de decolagem, provocando a separao da cauda da
aeronave e o estouro dos flutuadores dianteiros e lateral traseiro direito, permanecendo
inflado o flutuador lateral traseiro esquerdo. A aeronave flutuou parcialmente,
permanecendo com sua cabine submersa por aproximadamente uma hora devido
atuao do flutuador ntegro.
1.2 Danos pessoais
Leses Tripulantes Passageiros Terceiros
Fatais 01 04 -
Graves - 02 -
Leves 01 09 -
Ilesos 01 02 -
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Obs.: Os dados relativos s horas voadas foram obtidos atravs dos registros na
Caderneta Individual de Voo (CIV) dos pilotos.
1.5.1.1 Formao
O piloto formou-se piloto de helicptero no ano de 1975.
O copiloto formou-se piloto de helicptero no ano de 1999, na Escola Fast Air, em
Campinas SP.
A comissria formou-se pela Escola de Aviao Skylab, no Rio de Janeiro, no ano
de 2007.
desde a reviso geral, ambos dentro do tempo limite para reviso ou inspeo - Time
Between Overhaul (TBO) de 3.000 horas.
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Eixo vertical do
boto trim
release
Sentido da fora
exercida pelo
polegar do copiloto
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Indicao de curva a
esquerda aps a
decolagem
Sentido
do vento
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s 20h20min UTC, que trazia a informao de chuva forte, visibilidade de 1000m e teto de
400ft; a segunda, s 20h45min UTC, informando visibilidade de 8km e teto com nuvens
esparsas 1000ft.
SBMM 2020 17025KT +RA 1000 OVC004 23/23 Q1010=
SBMM 2045 17020KT 8000 BKN010 BKN060 23/23 Q1010 W///S4=
No momento da decolagem da aeronave PP-MUM, o Controle Marlin informou o
vento na regio de 150 graus com 22kt.
Nada a relatar.
1.9 Comunicaes
Nada a relatar.
Para efetuar a busca dos destroos no fundo do mar, foram utilizados robs
submarinos chamados de ROV (Remotely Operated Vehicle). Durante tais buscas, os
microfones acsticos dos ROV foram configurados para buscar a freqncia de operao
do transmissor acstico pinger. Entretanto, apesar de encontrar-se dentro do perodo de
validade, nenhum sinal do pinger foi captado durante todo o perodo da busca e nem
mesmo quando o equipamento foi encontrado na cauda do helicptero, atravs do uso das
imagens submarinas fornecidas pelas cmeras de vdeo dos ROV.
Quando o SSCVFDR foi retirado da cauda da aeronave verificou-se que o
transmissor acstico encontrava-se totalmente submerso, em contato com a gua do mar.
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Nas verses L1 e L2, observa-se a mudana dos instrumentos bsicos de voo, com
mostradores analgicos, para duas telas de cristal lquido dispostas em frente a cada um
dos pilotos. Estas telas compem o Integrated Flight and Display System (IFDS), sistema
de voo e mostrador integrados.
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Figura 3: Painis dos helicpteros AS330 PUMA, AS332 L1 e AS332 L2 SUPER PUMA. Em
detalhe os painis de instrumentos de voo do piloto mostrando os instrumentos eletromecnicos da
verso L1 e o sistema EFIS da verso L2.
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Nada a relatar.
O piloto provavelmente saiu por sua porta da cabine de pilotagem, pois foi
encontrado o fio do seu fone de ouvido preso ao suporte lateral de travamento da porta, no
seu lado externo. O copiloto saiu por sua porta da cabine de pilotagem. Ele feriu-se no
antebrao esquerdo e no lembrou, em entrevista, de ter aberto sua porta (da esquerda). A
mesma estava com a trava na posio aberta aps a sua recuperao do fundo do mar.
possvel que o copiloto tenha aberto a porta com o brao. A porta da direita, de uso do
piloto da aeronave, foi encontrada aberta, deformada para dentro, mas com a trava na
posio fechada.
A maioria dos passageiros informou que percebeu a queda da aeronave e o
acionamento dos flutuadores, preparando-se para o impacto com a gua, sendo que no
houve problemas para soltar os cintos.
Na maioria dos casos, os passageiros no souberam precisar por onde foi efetuado
o abandono da aeronave, mas que no trajeto colidiram com partes da aeronave bem como
com destroos e outros objetos soltos.
O bote de sobrevivncia da aeronave no foi alijado.
Muitos dos sobreviventes (aproximadamente metade) esqueceram de inflar os
coletes salva-vidas que estavam usando, tendo permanecido nadando na superfcie da
gua durante algum tempo at serem orientados pela comissria a inflar os coletes. Em
alguns casos, a prpria comissria puxou o punho de acionamento dos coletes.
Alguns sobreviventes afirmaram ter visto o corpo do piloto sem o colete enquanto
que outros disseram que ele vestia o colete e que o mesmo estava inflado.
As operaes de busca e resgate de sobreviventes, dos corpos e destroos foram
realizadas na superfcie do mar por diversas embarcaes. Por via area, as buscas foram
empreendidas por aeronaves.
As embarcaes maiores comearam a chegar 45 minutos aps o acidente,
auxiliando na vigia do posicionamento das vtimas no mar, orientando as embarcaes
menores.
A condio do mar era severa, com ondas de 3 a 4 metros e a visibilidade reduzida
em decorrncia de chuva forte.
No existia, na Plataforma P- 18, um Plano de Resposta a Emergncias especfico
para o atendimento a um acidente aeronutico prximo plataforma, semelhante a um
Plano de Emergncia Aeronutica em Aerdromo (PEAA). Da mesma forma, no existia
avaliao sistemtica da eficcia dos equipamentos de salvamento e resgate, bem como
dos procedimentos de emergncia.
O procedimento para atendimento emergncia aeronutica existente na
plataforma contemplava apenas a situao de incndio ou coliso no helideck. No existia
treinamento especfico na plataforma P-18 para a situao ocorrida no acidente com a
aeronave PP-MUM, na qual uma aeronave se acidentasse no mar, prximo plataforma.
Tambm no existia previso de apoio para emergncias aeronuticas ocorridas em
horrio prximo ao pr-do-sol, nas quais o trabalho de resgate se estendesse pelo perodo
noturno.
A enfermaria da plataforma P-18 no possua mdico e lotou quando recebeu os
quatro primeiros sobreviventes resgatados pelo bote e os trs sobreviventes resgatados
pela baleeira.
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O corpo do piloto foi avistado flutuando sem sinais de conscincia por diversas
testemunhas, mas no foi localizado pelas equipes de busca, tendo desaparecido.
Os sobreviventes ressaltaram que o Treinamento Bsico de Sobrevivncia, bem
como o uso do colete salva-vidas do tipo jaqueta, ao invs do colete tipo cinto abdominal
com pochete, tambm usado no transporte offshore, foi fundamental para o sucesso no
escape da aeronave. A maioria dos sobreviventes afirmou que o colete tipo abdominal com
pochete iria atrapalhar o desengate do cinto de segurana e a passagem pelas janelas de
emergncia.
O RBHA 135.167 (a) (1) prev que exista para cada ocupante, um colete salva-
vidas aprovado equipado com lmpada localizadora de sobrevivncia. O colete deve ser
facilmente acessvel de cada um dos assentos ocupados.
Os coletes salva-vidas que estavam sendo utilizados pelos passageiros foram
fabricados pela empresa Switlik Parachute Company, modelo HV-35P, e os utilizados pelos
tripulantes, modelo HV-35C. Ambos os modelos so aprovados pela norma TSO C13d,
emitida pela Federal Aviation Administration (FAA), norte-americana, e pela norma ARO
1349, emitida pela Civil Aviation Autority (CAA), do Reino Unido.
A norma TSO C13d foi emitida em 03 de janeiro de 1983, estando hoje na
categoria histrica. A verso atual da norma a TSO C13f, emitida em 24 de setembro de
1992.
O item 4.2.4 do apndice 1 da TSO C13d afirma que a cor do colete salva-vidas
deve ser uma cor internacional de resgate aprovada.
O item 4.1.15 do apndice 1 da TSO C13f determina que: a cor do colete salva-
vidas deve ser amarelo-laranja ou cor similar de alta visibilidade. A cor do colete salva-
vidas dos tripulantes deve ser vermelho-laranja ou cor similar de alta visibilidade
contrastante.
O que pode ser observado em relao aos coletes em uso no acidente que os
mesmos possuem apenas a sua cmara de flutuao em cor amarela, de alto contraste
com o mar. O tecido exterior dos coletes de cor azul-marinho, o que dificulta a localizao
dos nufragos que no tenham inflado seus coletes.
Nas duas normas, TSO C13d e TSO C13f, existe meno ao colete salva-vidas
como um todo (chamado em ingls de life preserver) e tambm meno especfica
cmara inflvel do mesmo (em ingls flotation chamber). A determinao de cor existente
em ambas as normas referente ao colete como um todo.
Ambos os modelos de colete salva-vidas, HV-35P e HV-35C, foram certificados
pela FAA, por meio da TSO C13d, vigente poca, apesar de terem invlucros da cor azul-
marinho, contrariando o padro mnimo de performance exigido pelo referido documento.
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Figura 4: Quatro fotografias mostrando os coletes modelo HV-35P (em cima) e HV-35C
(embaixo). As duas fotografias da esquerda mostram a cor azul-marinho no contrastante do tecido
externo e as duas fotografias da direita mostram a cor amarela, de alto contraste, da flotation
chamber.
H tambm a possibilidade de que tais coletes tenham sido produzidos e
exportados em desconformidade com o padro aprovado pela FAA durante a certificao.
Por debaixo dos coletes salva-vidas, os tripulantes utilizavam o uniforme da
empresa e os passageiros utilizavam roupas comuns. O uniforme de voo composto de
cala azul-marinho e camisa branca. A grande maioria dos passageiros utilizava calas
jeans de cor azul e camisas de cores diversas.
Atualmente, prevista a utilizao, por todos os empregados que trabalham em
instalaes offshore da PETROBRAS, de um macaco RF (resistente ao fogo) na cor
laranja (cor orange 021C, conforme tabela pantonegrfica). As caractersticas deste
uniforme esto descritas no item 5.6.1.1 do Padro Corporativo cdigo: EP-1E1-00002-A.
No exigido dos passageiros que esto sendo transportados entre o continente e as
instalaes offshore o uso do referido uniforme a bordo das aeronaves.
Durante a investigao deste acidente, foram observadas algumas tentativas de
melhorar as caractersticas de visibilidade destes modelos de colete quando no inflados.
Foi sugerida a adoo de uma capa de cor laranja feita para vestir o colete salva-
vidas. Segundo o seu idealizador, a capa, afixada por velcros, no impediria o
funcionamento normal do colete, porm no se tem notcia de que a mesma tenha sido
submetida a qualquer processo de certificao.
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mesmo que esta tivesse se deslocado da sua posio de repouso, ainda durante o voo,
antes do choque da aeronave com a gua.
Foram encaminhados para anlise no BEA os seguintes componentes eletrnicos:
dois DECU (Digital Engine Control Unit), um EUROARMS (Eurocopter Aircraft Monitoring
System) e um IFDS (Instrument Flight Display System). O BEA emitiu o Technical
Document, BEA pp-m080226_tec01, Avionics Systems Examination, de 25 de setembro
de 2008, contendo a anlise dos referidos componentes.
Os chips de memria dos equipamentos DECU e IFDS so do tipo EEPROM
(Electrically Erasable Read-Only Memory) um tipo de chip de armazenamento no-voltil
usado em computadores e outros aparelhos. Esta tecnologia no depende de fornecimento
de energia eltrica ao chip de memria para a manuteno dos dados gravados.
O equipamento DECU a unidade digital de controle do motor, havendo uma para
cada motor da aeronave. Na anlise efetuada pelo BEA, as memrias no volteis de
ambos DECU foram lidas e decodificadas. Os dados de discrepncias no funcionamento
dos motores (sobretorques, excessos de temperatura e outros) gravados na memria eram
relativos ao impacto da aeronave na gua. No foi gravada nenhuma falha de comunicao
entre os motores e seus respectivos DECU, o que demonstra que o sistema estava em
funcionamento correto at o impacto.
O exame do equipamento IFDS apresentou a concluso de que as memrias no
volteis 1 e 2 foram lidas e decodificadas e nenhuma falha indicou anomalia do AFCS
(Automatic Flight Control Subsystem) durante a ativao do modo superior de velocidade
no eixo de arfagem.
O EUROARMS um sistema tipo HUMS (Health and Usage Monitoring System
sistema de monitoramento de uso e sade) desenvolvido pelo fabricante. Este
equipamento composto de diversos acelermetros e transdutores instalados ao redor dos
motores, fuselagem e caixas de transmisso. Sinais da vibrao de diversos componentes
so monitorados e gravados. Os dados acumulados durante a operao da aeronave so
transferidos, normalmente de forma diria, para uma estao em terra (computador)
pertencente ao operador da aeronave. Os dados so comparados automaticamente com
valores pr-determinados e o sistema informa caso ocorra alguma condio indicativa de
falha potencial ou deteriorao prematura de componentes.
Os chips de memria utilizados no EUROARMS so do tipo voltil, e no do tipo
EEPROM, necessitando de fornecimento contnuo de energia eltrica para a manuteno
da integridade dos dados gravados. Esta energia fornecida por uma bateria instalada na
placa de circuito integrado na qual esto instalados os chips de memria. Com a imerso
do equipamento em gua salgada, a integridade do sistema ficou comprometida pela
possibilidade de ocorrncia de curto-circuito e do descarregamento da bateria.
Da anlise do equipamento EUROARMS, chegou-se concluso de que a placa
PCMCIA (Personal Computer Memory Card International Association) no continha
quaisquer dados. Os testes feitos em laboratrio mostraram ao BEA que dados
armazenados em memrias volteis semelhantes foram completamente alterados sob uma
fonte de alimentao de 0,2 Volts e os dados extrados em uma das doze memrias
volteis no eram consistentes.
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A modificao dos procedimentos foi implementada sem uma discusso prvia dos
itens e sem uma exposio adequada das razes operacionais que justificavam a
alterao, sendo recebida com resistncia por alguns pilotos, como uma imposio da
matriz.
A tripulao da aeronave acidentada recebeu a ordem da Gerncia de Operaes
para usar o novo checklist de voo, durante a reunio de troca de turma do dia 20 de
fevereiro de 2008. Os dois pilotos assinaram a ata de reunio de troca de turma no dia 20
FEV 2008, quando foi divulgada a LSI 2008-02.
As gravaes do SSCVFDR entre a decolagem e a queda da aeronave
demonstram que a tripulao cumpria a seqncia do checklist antigo, emitido pela BHS
em agosto de 2004, mesclados com alguns procedimentos do Operations Manual
AS332L2, editado em maro 2007.
No foram identificados cotejamentos dos procedimentos na ordem estabelecida
no novo checklist emitido pela CHC em 18 de fevereiro de 2008, sendo possvel observar
que o novo checklist em vigor no foi utilizado no voo do acidente.
Programa de Treinamento Operacional
O Programa de Treinamento Operacional de 03OUT2006, aprovado em
11JAN2007, atendia aos requisitos mnimos de treinamento para formao dos tripulantes
da empresa, entretanto, no descrevia pormenorizadamente as manobras e emergncias
treinadas no simulador de voo e na aeronave.
O Programa de Treinamento Operacional estabelecia o treinamento de
Gerenciamento de Recursos de Cabine (CRM) com treinamento prtico em voo na
aeronave ou em simulador LOFT, exerccios de dramatizao e projeo de vdeos.
O treinamento prtico LOFT no foi implementado no simulador e to pouco em
voo, a fim de sedimentar os conhecimentos assimilados no treinamento terico de CRM,
sendo que grande parte dos tripulantes tivera esse tipo de treinamento pela primeira vez.
Treinamento em simulador de voo
At 2006, a BHS no realizava treinamento em simulador de voo de forma
sistemtica para todos os seus pilotos. Apenas os pilotos das aeronaves ambulncia
modelo S76 realizavam este treinamento periodicamente a cada dois anos, por exigncia
do contratante.
Esse tipo de atividade s fora realizado no treinamento inicial dos pilotos da
aeronave AS332L2, em 2003, quando includo no pacote de aquisio dessas aeronaves.
A partir de 2006, ainda que no fosse um requisito obrigatrio no Regulamento
Brasileiro de Homologao Aeronutica (RBHA) 135, a BHS implementou o treinamento
peridico em simulador para todos os seus pilotos. No caso da aeronave AS332L2, o
treinamento recorrente foi realizado em simulador, em Marignane, na Frana, pelo Centro
de Treinamento da CHC (CHC Training Centre).
As tripulaes foram treinadas no simulador de voo com a utilizao do checklist de
voo da aeronave AS332L2 padronizado pela BHS.
A descrio pormenorizada das manobras de voo na aeronave e no simulador s
era encontrada nas fichas de simulador, elaboradas pela CHC, e nas fichas de voo da
BHS.
O Manual de Treinamento da empresa no continha o modelo das fichas de voo
utilizadas nos treinamentos, sendo as mesmas apresentadas como um documento avulso.
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Neste caso, assim que percebesse o incio de um giro mais rpido para a
esquerda, o piloto deveria aplicar o pedal direito de imediato, com uma amplitude
significativa, de forma continuada. A Carta de Servio alertava que ventos de cauda ou
vindo da esquerda aumentam a velocidade de rotao do helicptero nestes casos.
Por outro lado, ventos de cauda de 120 240 causam uma grande carga de
trabalho ao piloto. A caracterstica mais significante dos ventos de cauda que os mesmos
provocam a acelerao da razo de guinada pr-existente. Mesmo uma razo de giro
suave pode ser acelerada bruscamente a partir do momento que o vento incidir no setor da
cauda (de 120 a 240) caso o piloto no contrarie esta tendncia com a aplicao do pedal
oposto.
Figura 6: Diagrama demonstrando a regio onde ventos de cauda aceleram a razo de giro
devido estabilidade direcional negativa. (fonte: Federal Aviation Administration FAA AC 90-95
Unanticipated Right Yaw in Helicopters).
Outras Informaes
O manual de cursos de voo por instrumentos estabelecido pelo MMA 58-9, de
25JUL1991, estabelece uma parte terica e um treinamento prtico bsico e avanado a
ser realizado em avio ou em simuladores e treinadores sintticos.
No referido manual, no h meno sobre manobras especficas aplicveis ao voo
por instrumentos em helicpteros.
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16:16:36 Foi iniciada uma decolagem vertical, na proa 150 (no heliponto da P-
18);
- o coletivo foi aplicado em aproximadamente 70% do curso;
- houve aplicao de pedal direito para compensar o aumento de torque na
decolagem, dentro dos padres esperados (de +6% a +8% para a direita no voo pairado).
16:16:49 Incio da decolagem normal (sada do heliponto em voo nivelado), com
o rdio altmetro indicando 200ft, na proa 130 ;
- arfagem de 10 picados para incio do deslocamento para a frente, aumento de
coletivo at 79% e aplicao do pedal at +12% (para a direita) para compensar o aumento
de torque.
16:16:54 Incio do movimento de elevao de arfagem para uma atitude cabrada,
atingindo a proa 125 , com IAS (velocidade indicada) de 44kt, rdio altmetro indicando
244ft.
16:16:57 Ao cruzar IAS de 60kt, o piloto (PM) alertou o copiloto (PAC) para
aumentar o ngulo de arfagem;
- o coletivo foi baixado para uma posio de 65% do curso durante a acelerao
estabilizada, o que levou a uma aplicao do pedal em -10% (para a esquerda);
- na sequncia, a tripulao ampliou a aplicao de pedal, permanecendo aplicado
em -20% (para a esquerda), o que deixou a aeronave ligeiramente desalinhada para a
esquerda (sideslip), mantendo uma razo de curva lenta para a esquerda.
16:17:00 Fim da decolagem normal, com o rdio altmetro indicando 231ft, IAS
mxima de 76kt, proa 117 , com atitude de arfagem de 5 cabrados;
- a aeronave continuou em voo frente, porm desalinhada para a esquerda. Este
desalinhamento permaneceu durante todas as fases posteriores, chegando at a indicao
de 25% (para a esquerda);
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Nesse dilogo, o piloto alertou o copiloto, que estava na condio de PAC, que
havia sido ensinado pelo instrutor do simulador que, durante a realizao do cheque antes
da decolagem, fossem pr-selecionados os dados de velocidade vertical (VS), proa (Hdg)
e curso (Crse).
A fraseologia prevista no MGO (Manual Geral de Operaes) para transferncia
dos comandos entre tripulantes no foi utilizada quando do acidente, sendo verificado o
uso, por repetidas vezes, das expresses espera a, desde o momento em que o AFCS
foi desengajado at a queda da aeronave.
No foi observada, durante o voo, a utilizao de call out para alertar ngulo
excessivo de arfagem e de reduo de velocidade.
Trata-se de uma falsa percepo que pode resultar de uma estimulao dos canais
semicirculares. A fim de ilustrar o fenmeno, considera-se que um sujeito est em rotao
dentro de uma aeronave o tempo suficiente para ter a sensao de que no est mais em
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rotao (por no haver mais acelerao, a endolinfa dos canais semicirculares mantm a
cpula na posio estacionria, ainda que haja movimento). Ao mover a cabea para frente
ou para trs, o indivduo estimula mais um grupo de canais semicirculares (verticais), ao
mesmo tempo em que retira os canais semicirculares horizontais do plano de rotao da
aeronave. O estmulo vigoroso e produz sensao de rolamento para o lado oposto da
curva em que se encontrava ou sensao de nariz para baixo ou para cima.
Espiral Mortal
A espiral mortal foi, at o presente, estudada em relao ao voo dos avies, que
efetuam curva atravs da inclinao do plano das asas. Porm, a dinmica do movimento
do helicptero ao redor do seu prprio eixo vertical provoca o mesmo efeito fisiolgico. Tal
fato pode ser inferido pela prpria construo das cadeiras de Barani, ferramenta utilizada
no treinamento fisiolgico de pilotos, que tem seu giro no eixo vertical, como os
helicpteros.
2 ANLISE
O PP-MUM estava realizando um voo de transporte de passageiros da plataforma
P-18, na Bacia de Campos, para o Aeroporto de Maca SBME. Havia uma formao
meteorolgica pesada no setor sul/sudoeste, direita do setor de decolagem,
aproximando-se da plataforma. O vento reportado pelo Controle Marlin, situado na
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plataforma P-20 (distante cerca de 5,4NM da P-18, na marcao 318), era de 150 com
22kt.
O voo em questo constitua uma atividade de rotina para a empresa, para os
tripulantes e passageiros, sendo que os pilotos eram qualificados e possuam experincia
suficiente para realiz-lo.
A aeronave estava com Plano de Voo IFR para SBME, no nvel 040.
O copiloto realizou a decolagem da plataforma P-18 em condies visuais. Antes
da mesma, os pilotos efetuaram os cheques previstos na lista de verificaes, bem como
o clculo de peso da aeronave, que se encontrava dentro do grfico de balanceamento.
O copiloto, aps estabelecer o voo pairado, iniciou um giro para a esquerda e
efetuou a decolagem. Aps esta, foi iniciada uma suave curva pela esquerda para evitar a
formao meteorolgica, no setor sudoeste da plataforma.
Aps a decolagem do helideck, na proa magntica 120, a aeronave acelerou
nivelada a 200ft para a velocidade de subida (70kt), passando por 65kt e atingindo 76kt,
iniciando a subida para a altitude de cruzeiro e uma curva de pequena inclinao para a
esquerda.
Na subida inicial, o copiloto foi orientado pelo piloto a incrementar o ngulo de
arfagem, provavelmente por estar ultrapassando a velocidade prevista para subida, que
de 70kt. Na sequncia, foi orientado a reduzir a atitude de arfagem, devido ao grande
incremento no ngulo de ataque, com a subsequente diminuio de velocidade. A atitude
da aeronave passou de nivelada a 3 cabrados, continuando a aumentar o ngulo de
pitch at atingir 20 cabrados. Nas gravaes de voz foi identificada a preocupao do
piloto com essa situao.
Os dados do SSCVFDR, associados ao depoimento do copiloto, permitem inferir
que, durante a decolagem, ao perceber que a velocidade ultrapassara 70kt, que a
prevista para subida, o PAC (Pilot At Controls), que era o copiloto, realizou um comando
de arfagem alm do necessrio. Acoplou, na sequncia, o modo IAS do piloto
automtico com a aeronave no estabilizada, o que gerou, aps trs segundos, uma
situao de desvio excessivo (Excessive Deviation), em virtude da diferena entre a
velocidade selecionada e a indicada ser superior a 15kt.
Aparentemente, a reao do copiloto para interromper a queda excessiva da
velocidade da aeronave no foi atuar nos comandos de voo e sim acoplar o piloto
automtico para que aquele sistema efetuasse a correo necessria.
Foi possvel verificar, nos dados do SSCVFDR, que a aeronave chegou a atingir 20
graus cabrados, com a velocidade decrescendo de 78kt para um valor inferior a 25kt,
velocidade mnima de confiabilidade de registro desse parmetro no SSCVFDR.
O copiloto informou em entrevista que, durante a reduo de velocidade, ao passar
por 70kt, e sem a aeronave encontrar-se estabilizada nesta condio, acoplou o modo IAS
do piloto automtico, com a inteno de manter a velocidade dentro do padro previsto
para subida (70kt). De acordo com os dados obtidos do SSCVFDR, o engajamento do
modo IAS aconteceu quando a velocidade era de 57kt, e estava decrescendo.
Uma vez que o helicptero possua avanada automao, possvel que o copiloto
tenha tentado engajar o modo IAS naquela situao por uma confiana excessiva no
automatismo da aeronave, deixando de efetuar as correes manualmente.
Segundo o Manual de Voo (Flight Manual) da aeronave AS332L2, quando h uma
diferena de 15kt entre a velocidade selecionada e a indicada, h um aviso indicando que
o modo superior no est conseguindo manter a velocidade desejada (luz AFCS piscando
- red recovery manual control warning flashes) no PFD, informando da ocorrncia de
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desvio excessivo. Tal aviso ocorreu na aeronave quando o IAS foi acoplado, de acordo
com os dados do SSCVFDR.
Ainda segundo o Manual, o modo superior IAS desacopla quando a velocidade
indicada cai abaixo de 30kt.
Segundo os dados obtidos do SSCVFDR, o modo IAS desengajou quando a
velocidade indicada encontrava-se em torno de 46kt, aps permanecer acoplado por
aproximadamente trs segundos, depois do engajamento do mesmo pelo copiloto.
A anlise dos dados de voo feita pela Eurocopter afirmou que o modo IAS do piloto
automtico foi muito provavelmente desengajado pela tripulao.
Foram levantadas hipteses para as causas de o helicptero ter atingido a atitude
de 20 graus cabrados: desorientao espacial, influncia de windshear, falha do trim
release e uma combinao de todas as possibilidades.
As informaes meteorolgicas indicam que havia chuva forte e a presena de
nebulosidade nas imediaes da plataforma P-18, que reduziram as referncias visuais,
favorecendo a desorientao espacial na subida aps a decolagem, em condies de voo
visual.
No momento da transio entre a acelerao nivelada da decolagem e a subida
inicial o copiloto estava olhando para a esquerda. Tal fato foi comentado pelo mesmo nas
entrevistas realizadas. Existia a inteno declarada de realizar curva a esquerda e
esperado que o piloto olhe para aquele lado para verificar se no h obstculos ou outras
aeronaves que obstruam a passagem do helicptero.
O movimento da cabea da esquerda para a direita associado ao movimento de
cabrada do helicptero pode ocasionar a iluso de Coriolis por envolver movimentos em
dois planos ortogonais, o que excitaria mais de um canal semicircular. A ocorrncia do
efeito de Coriolis sobre o copiloto no pode ser descartada como uma explicao para a
atitude excessivamente cabrada que a aeronave adotou na transio entre a acelerao
nivelada e a subida inicial.
Na investigao das variveis meteorolgicas, ao serem analisados os dados
disponveis da Bacia de Campos, o relato dos comandantes das embarcaes de resgate
e da tripulao da P-18, foi possvel inferir que as condies para windshear estavam
presentes no local do acidente.
Havia tambm a presena de turbulncia, conforme observao do piloto antes da
decolagem, sendo possvel a presena de tesouras de vento que podem ter
desestabilizado a aeronave, levando-a a uma atitude excessivamente cabrada no incio da
subida aps a decolagem.
Sendo assim, existiu a possibilidade da aeronave, ao aumentar o ngulo de ataque,
por comandamento do copiloto, ter tido o seu movimento amplificado pela ao do
fenmeno meteorolgico de windshear, o que explicaria a atitude excessiva de nariz
cabrado (20). No entanto, no houve qualquer comen trio do copiloto ou do piloto na
gravao do SSCVFDR que indicasse que ocorreu a influncia do vento durante o
aumento do ngulo de arfagem.
Tendo em vista a pane intermitente do trim release, possvel que uma falha do
referido sistema, se fosse utilizado no incio da subida, pudesse desestabilizar o
helicptero e causar uma atitude excessivamente cabrada. No entanto, para que isso
ocorresse, o trim release teria que ser utilizado naquele momento especfico, teria que
falhar tambm naquele momento e seria normal que o copiloto fizesse algum comentrio
sobre o ocorrido, o que no aconteceu.
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aeronave com a base das nuvens, provavelmente dificultou a percepo visual do sentido
de giro da aeronave.
Foi afirmado em entrevista que o piloto tinha dificuldades no voo por instrumentos e
ambos os pilotos no tinham treinamento para recuperao dessas situaes em voo por
instrumentos, o que pode ter comprometido a interpretao das indicaes dos
instrumentos.
Os dados do SSCVFDR indicaram que no houve uma clara definio por parte do
piloto de que ele estaria assumindo os comandos, pois existem indcios de que, por
alguns instantes, os dois pilotos estariam com as mos nos mesmos. Isso pode ter
aumentado a dificuldade de controlar a aeronave.
Instantes aps a aplicao do pedal esquerdo at o seu batente, a aeronave iniciou
uma descida, com acentuado giro no eixo vertical (aproximadamente 100/s),
acompanhado de variaes acentuadas de arfagem e inclinao.
A excessiva taxa de giro para a esquerda tendeu a reduzir a RPM do rotor principal
em relao ao ar atmosfrico (uma vez que os sistemas do helicptero mantm a RPM
em relao ao eixo do mesmo, e no em relao superfcie). A taxa de giro atingiu at
120/s, o que representa uma reduo de 20 RPM na velocidade do rotor principal em
relao ao ar (apesar de estar sendo mantido o seu valor nominal em relao ao
helicptero). Esta reduo equivale a 14% menos trao no rotor principal.
Em funo da reduo de trao no rotor principal decorrente da elevada razo de
giro, o helicptero perdeu sustentao, entrando em condio de anel de vrtex (vortex
ring state) no rotor principal, implicando na perda de sustentao aerodinmica e
consequente queda at o impacto contra o mar.
A anlise dos destroos mostrou que a separao da cauda ocorreu por impacto e
as superfcies de fratura indicam marcas compatveis com rompimento por sobretenso.
Estes dados so suficientes para se concluir que a cauda se separou da fuselagem no
momento do impacto e devido a este.
A aeronave colidiu com a gua em giro de cauda para a direita (espiral para a
esquerda). Os ngulos de arfagem e rolamento eram de aproximadamente 0 (zero grau)
e a componente de deslocamento longitudinal praticamente nula. Houve uma forte
desacelerao no sentido vertical.
Considerando que o impacto da aeronave ocorreu de forma mais violenta no lado
direito, provvel que a porta da direita tenha sido aberta pelo impacto com a gua,
mesmo com a sua trava acionada por dentro da aeronave.
Conforme declaraes de sobreviventes, a presso da gua ao inundar a cabine de
passageiros pela porta da direita auxiliou a soltura da porta esquerda, j danificada pelo
impacto. Parte da gua inundou a cabine atravs das bolhas de acrlico situadas na parte
inferior do nariz da aeronave, fazendo com que a proa afundasse mais rapidamente.
Como j visto, apenas o flutuador traseiro esquerdo manteve-se ntegro, sustentando a
parte traseira do helicptero prxima superfcie.
Verificou-se que os coletes salva-vidas utilizados possuam cor azul escura, tendo
sido homologados segundo a norma TSO C13d, a qual foi substituda pela norma TSO
C13f. A TSO C13d afirma que a cor do colete salva-vidas deve ser uma cor internacional
de resgate aprovada, enquanto a TSO C13f determina que: a cor do colete salva-vidas
deve ser amarelo-laranja ou cor similar de alta visibilidade. A cor do colete salva-vidas dos
tripulantes deve ser vermelho-laranja ou cor similar de alta visibilidade contrastante.
Em ambas as normas, a especificao de cor faz referncia ao colete como um
todo. O colete utilizado possua apenas a cmara de flutuao na cor amarela, de alto
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contraste. Em consequncia, nos casos em que o colete no foi inflado houve dificuldade
para avistar os ocupantes do helicptero. As roupas utilizadas pelos passageiros e
tripulantes tambm no eram de alto contraste, o que impossibilitou encontrar o piloto da
aeronave.
No entanto, o modelo dos coletes utilizados, do tipo jaqueta (U invertido) foi eficaz
quando inflado, mantendo os sobreviventes em uma posio inclinada de barriga para
cima, dessa forma com o rosto fora da gua e evitando o afogamento.
No tocante aos aspectos organizacionais, a no divulgao da Carta de Servio n
1673-67-04, emitida pela Eurocopter, que trata de informaes relacionadas ao controle
do eixo de guinada, evidenciou carncias de comunicao interna entre os diversos
setores.
H evidncias de que a CHC agiu de forma positiva, aps adquirir parte do capital
da empresa, emitindo novos procedimentos detalhados, estabelecendo o treinamento de
simulador de voo e o CRM, entretanto desconsiderou fatores locais como a
regulamentao brasileira, o clima organizacional, assim como o conjunto de habilidades
e limitaes do grupo de pilotos e mecnicos da BHS durante a aplicao das mudanas
necessrias.
A desconsiderao desses fatores pode ter originado resistncias em determinados
grupos de pessoas que retardaram o processo de transformao da empresa, fazendo
com que antigos hbitos persistissem.
Apesar de ter ocorrido uma transformao positiva na empresa, essa no foi
acompanhada de um esforo compatvel de treinamento, capaz de romper com os hbitos
anteriores.
A ausncia de aplicao do LOFT, previsto no programa de treinamento aprovado,
reduziu a eficcia do treinamento de CRM, recm ministrado aos tripulantes, no
possibilitando a quebra das resistncias presentes no ambiente organizacional. Alm
disso, podem ter afetado a recuperao da atitude anormal, pela indefinio de quem
estava comandando a aeronave.
Novos manuais e procedimentos foram editados (a exemplo do Operations Manual
AS332L2) e colocados em vigor com uma quantidade significativa de modificaes, sem
que fossem adequadamente assimilados pelas pessoas envolvidas na operao e sem a
aprovao da ANAC. Esses novos manuais coexistiram com o MGO, que estava
desatualizado, mas possua a aprovao da ANAC.
Verificou-se que a anlise dos riscos era efetuada pelo Setor de Garantia da
Qualidade, que estava ligado ao incremento da produo. Em consequncia, no foi
obtida a iseno de nimo necessria a uma atuao adequada na preveno de
acidentes, que por vezes poderia resultar na diminuio da produo.
A implementao de procedimentos de um novo checklist da aeronave AS332L2
sem a aprovao da ANAC evidencia que, enquanto a empresa tentava implementar
novos processos, acabava por incentivar indiretamente o clima de informalidade existente.
Como consequncia da falta de assimilao dos novos procedimentos e do clima
de informalidade, verificou-se que os pilotos, nas gravaes de cabine, no demonstraram
estar familiarizados com os novos procedimentos e mesclaram cotejamentos previstos no
checklist antigo com procedimentos do Operations Manual AS332L2. Da mesma forma, a
aeronave foi liberada para o voo com uma pane intermitente identificada e no sanada
que poderia afetar a atuao dos seus comandos de voo.
A ANAC efetuou inspees peridicas nos setores de operaes e de manuteno
da empresa, sem constatar algumas condies latentes presentes na BHS, especialmente
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3 CONCLUSO
3.1 Fatos
a) Os pilotos estavam com os seus Certificados de Capacidade Fsica vlidos,
b) os pilotos estavam com as suas habilitaes vlidas;
c) os pilotos possuam experincia para a realizao do voo;
d) tratava-se de um voo de transporte de passageiros da Plataforma P-18 para
Maca (SBME);
e) o copiloto realizou a decolagem em condies visuais;
f) aps a decolagem, a aeronave acelerou nivelada at 76kt, quando iniciou a
subida e uma curva suave esquerda;
g) ao iniciar a subida, o helicptero atingiu a atitude de 20 cabrados e o copiloto
engajou o modo superior IAS do piloto automtico com 57kt, com a aeronave
desestabilizada;
h) a aeronave continuou a desacelerar, a luz de aviso de desvio excessivo acendeu
e o modo IAS foi desengajado com cerca de 46kt;
i) havia condies meteorolgicas no local de chuva forte, nebulosidade e
visibilidade reduzida, o que possibilitava a existncia de windshear;
j) o trim release apresentava uma pane intermitente de funcionamento;
k) a diminuio da velocidade, a posio do vento relativo e a falta de aplicao de
pedal direito, levaram o helicptero a aumentar a velocidade de giro para a esquerda;
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PAC a atuar de forma errnea nos pedais, comandando o pedal esquerdo at o seu
batente mecnico.
d) Processo decisrio - contribuiu
A deciso de prosseguir na decolagem da plataforma P-18 apesar da proximidade
de uma formao meteorolgica pesada, com chuva, vento forte e turbulncia, contribuiu
para a perda do controle da aeronave em voo.
Houve uma demora na interveno dos comandos, por parte do piloto, permitindo
que a aeronave atingisse uma atitude excessivamente cabrada.
aprovao da ANAC e sem que a sua implantao fosse realizada atravs do programa de
treinamento, reduziu a capacidade dos tripulantes da BHS de compreenderem padres
operacionais claramente definidos no mbito da empresa, o que contribuiu para a falta de
padronizao observada nos procedimentos aps a decolagem. A indefinio de quem
estava nos comandos do helicptero pode ter dificultado a recuperao da atitude anormal
em que ele se encontrava.
d) Processos organizacionais - contribuiu
A reduzida capacidade do setor de operaes e do Setor de Segurana de Voo do
operador em promover um acompanhamento dos tripulantes, quanto padronizao da
aplicao das mudanas que vinham sendo implantadas, bem como de verificar a
adequabilidade de alguns procedimentos estabelecidos, no permitiu que os principais
gestores da empresa tivessem a percepo das condies latentes e falhas ativas
existentes, inviabilizando a retroalimentao do sistema.
A superviso da contratante, atravs de auditorias externas, focando somente
aspectos pontuais da empresa area no foi capaz de identificar as condies latentes e
falhas organizacionais presentes nos setores de treinamento, manuteno e operaes na
empresa area.
Alm disso, a pouca capacidade da ANAC para supervisionar a implantao dos
procedimentos definidos nos manuais aceitos ou aprovados, bem como da aplicao do
contedo do programa de treinamento aprovado propiciou a adoo de novos
procedimentos na BHS sem o acompanhamento daquela Agncia.
e) Cultura organizacional - indeterminado
Uma cultura organizacional baseada na realizao de tarefas de maneira informal e
tolerante a desvios de padro concorreu para a inexistncia de registro e de providncias
adequadas no tratamento da pane do trim release, a qual pode ter influenciado na atitude
excessivamente cabrada da aeronave aps a decolagem. Estas caractersticas tambm
propiciaram junto ao quadro de pilotos resistncia s mudanas que estavam sendo
implantadas na BHS.
A edio, distribuio e efetivao de novos manuais e procedimentos no idioma
ingls, sem a aprovao da ANAC e sem uma carga de treinamento suficiente para
promover a assimilao e a mudana de hbitos, acabou por reforar a cultura
organizacional anterior (informal e tolerante a desvios) pela confuso decorrente da
diversidade de procedimentos.
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Departament Communication 1/2004: Loss of Tail Rotor Effectiveness (UK CAA FODCOM
1/2004).
PETROBRAS, recomenda-se:
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ANAC, recomenda-se:
RSV (A) 173 / 2012 CENIPA Emitida em 04 / 06 / 2012
1. Revisar o Manual de Curso de Voo por Instrumentos, MMA 58-9, de 25JUL1991,
estabelecendo treinamento especfico em treinadores sintticos de helicpteros que inclua
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2. Fazer uma auditoria na empresa BHS, visando verificar a atualizao e aprovao dos
manuais utilizados, a aplicao do Programa de Treinamento aprovado e o tratamento das
panes intermitentes pela manuteno.
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11. Atuar junto aos operadores areos da aviao off-shore visando revisar os seus
mecanismos de controle de publicaes, a fim de assegurar-se de que as informaes
relacionadas Segurana de Voo recebidas do fabricante de suas aeronaves e de outras
fontes sejam transmitidas aos seus tripulantes.
PETROBRAS, recomenda-se:
6 DIVULGAO
Agncia Nacional de Aviao Civil (ANAC)
BHS Helicpteros S.A
Bureau dEnqutes et dAnalyses pour la Scurit de lAviation Civile (BEA)
Eurocopter
Organizao de Aviao Civil Internacional (OACI)
PETROBRAS
SERIPA 1,2,3,4,5,6 e 7.
7 ANEXOS
1- Carta de Servio n 1673-67-04 da Eurocopter.
2- Comentrios do BEA / Eurocopter sobre o Relatrio Final.
Em, 04 / 06 / 2012
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ANEXO-1
Carta de Servio n 1673-67-04 da
Eurocopter
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Anexo-2
Comentrios do BEA / Eurocopter sobre o Relatrio Final
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