Resenha Olavo Do Livro Maquiavel PDF
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Resenha
RESENHA:
Resenha
Gabriel Saldanha Lula de Medeiros
algumas ocasies, melhor que o prncipe se mantenha temido do que amado, pois os
homens tm menos receio de ofender a algum que se faa amar do que algum que se faa
temer. [...] Deve, porm, fazer-se temer de modo que, se no atrair o amor, afaste o dio.
(MAQUIAVEL, 2012, p. 128).
Para afastar o dio, necessrio que o prncipe seja tambm dissimulado para que
possa demonstrar qualidades, ainda que no as tenha, pois bem necessrio parecer t-las.
[...] E que ele parea, a quem o v e ouve, todo piedade, todo fidelidade, todo integridade,
todo humildade, todo religio (MAQUIAVEL, 2012, p. 133-134).
Segundo Carvalho, ao longo do sculo XVI, com a popularidade de sua obra
prima, Maquiavel passou a ser visto, por unanimidade, como um homem desprovido de
moral. Era visto como algum que defendia e fundamentava a tirania do Estado sob o
pretexto de manter a ordem, a segurana e a prosperidade. A obra chegou a ser includa na
lista de livros proibidos pela igreja catlica, pelo Papa Paulo IV, no Conclio de Trento em
1564.
Somente no final do sculo, o filsofo passou a ser visto como algum com
qualidades intelectuais admirveis. Muitos passaram a ver O Prncipe como um livro que
descrevia a tirania dos Estados, e no como um fomentador da mesma. Chegou a ser
considerado o livro dos republicanos, uma vez que, para muitos, mostrava a crueldade
praticada pelos monarcas visando a sua permanncia ou de sua famlia no poder.
De acordo com Carvalho, muitos ditadores modernos se inspiraram em
Maquiavel, como o caso de Mussolini, Hitler e Stalin. Estes trs, ao passo que mantinham
ditaduras, conseguiram exacerbar o nacionalismo, a defesa e fortalecimento de seus
Estados, alm de adotar condutas amorais e tiranas para a manuteno do poder.
Devido as diferentes reaes e interpretaes dadas ao clssico de Maquiavel,
Olavo de Carvalho passou a encar-lo como um enigma. Sem a pretenso de solucion-lo,
Carvalho escreve com a inteno de trazer luz alguns aspectos que, sob seu ponto de
vista, ajudam a compreender quem foi Maquiavel e qual a verdadeira finalidade de suas
obras.
Para ele, o filsofo levou em considerao apenas o comportamento eventual de
governantes da poca como modelo para seus escritos, no podendo ser, assim,
considerado um retrato integral da realidade. A obra, pois, consiste em um projeto do qual
seu autor no possua meios polticos para concretizar. Sem possibilidade de concretizao,
o nico meio de propagao deste projeto era a escrita. O que este (Maquiavel) lana nas
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guas do futuro apenas o anzol do discurso, para trazer tona a nova era que jaz no
fundo do mar das possibilidades (CARVALHO, 2011, p. 42).
Eric Voegelin (1998) classificou Maquiavel como sendo um realista. Para ele, o
filsofo era honesto e no tinha a inteno de disfarar a realidade de poder e tirania dos
Estados por meio de uma doutrina que visasse a evocao de uma nova realidade. Carvalho
concorda, em parte, com Voegelin. Segundo o autor, Maquiavel de fato no encobria a
realidade de tirania dos Estados, porm, tinha sim o desejo de evocar uma outra realidade:
a da prosperidade e segurana dos principados por meio de aes reformuladas de
represso. Para isso, discorre a respeito de possveis prticas que devem ser tomadas pelos
governantes, como acentuao do poder armado, a simulao dos fatos perante o povo,
controlar e defender os territrios vizinhos para que estes o protejam de invases inimigas,
chegando at a instruir a forma de treinamento dos exrcitos. Por isso, Carvalho classifica
Maquiavel como um pseudo-realista.
Em suas obras, Maquiavel tece duras crticas aos governantes italianos e usa seus
escritos para tentar influenciar no curso dos acontecimentos polticos. Sem saber a forma
de governo vigente no futuro, o filsofo escreveu dois livros que falam a respeito de dois
sistemas diferentes: O Prncipe fala sobre os principados e Discursos Sobre a Primeira
Dcada de Tito Lvio sobre as repblicas. Atravs deles, para Carvalho, o filsofo d
instrues para a fomentao de uma Terceira Roma, a que julga ser a mais adequada.
Qualquer que fosse a forma de governo vigente no futuro, as instrues j estariam dadas.
Por isso, intencionalmente, teria dedicado o primeiro livro a um prncipe (Lorenzo de
Mdici) e o segundo dedicado a dois cidados privados com perspectivas de tornarem-se
governantes.
Segundo Carvalho, Maquiavel divide a histria de Roma em trs perodos: a
primeira Roma diz respeito a antiga, ao imprio romano. Este teria entrado em decadncia
pois o povo e os governantes teriam permitido a dissipao da religio crist, dando origem
a uma segunda Roma. A segunda est condenada ao fracasso, pois sendo religiosa, dos
Papas e cristos, no propensa a fazer guerras. Sendo assim, no est propensa a
conquistas de ordem territorial ou de poder. A terceira Roma, idealizada por ele, seria capaz
de conquistar, ainda que utilizando a religio como um instrumento do Estado. Visando
estas conquistas, ele d instrues diversas de como os governantes devem governar,
treinar seus exrcitos, investir em armas e leis, e tratar seus governados.
Por estas razes, Maquiavel no considerado pelo autor um filsofo realista.
Segundo o autor,
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com nfase em sua obra mais famosa, O Prncipe. Olavo de Carvalho enxerga nela um
carter imoral, perverso, demonaco, que ensina os modos de lidar com a soberania, a sua
natureza, bem como conquista-la e conserv-la. Para isso, ensinado que a soberania se
conquista atravs da astcia e da traio, conserva-se atravs da mentira e do homicdio,
perde-se pela lealdade e pela compaixo (CARVALHO, 2011, p. 61). Para o autor, os
escritos de Maquiavel objetivam levar a uma transio poltica, sendo esta uma transio
para o mal consciente, refletido, planejado e transfigurado em obra de arte
(CARVALHO, 2011, p. 61).
REFERNCIAS
VOEGELIN, Eric. The collected works of Eric Voegelin: history of political ideas. 4.
vol. Missouri: University of Missouri Press, 1998.