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Antropologia Cultural

Ensino Distncia

Universidade Pedaggica
Rua Comandante Augusto Cardosos n 135
Antropologia Cultural i

Direitos de autor
Este mdulo no pode ser reproduzido para fins comerciais. No caso de reproduo deve ser mantida a
referncia Universidade Pedaggica e aos autores do mdulo.

Universidade Pedaggica

Rua Comandante Augusto Cardoso, n 135


Telefone: 21-320860/2
Telefone: 21 306720

Fax: +258 21-322113


ii ndice

Agradecimentos

COMMONWEALTH of LEARNING (COL) pela disponibilizao do Template usado na


produo dos Mdulos.

Ao Instituto Nacional de Educao a Distncia (INED) pela orientao e apoio prestados.

Ao Magnfico Reitor, Directores de Faculdade e Chefes de Departamento pelo apoio prestado em


todo o processo.
Antropologia Cultural iii

Ficha Tcnica

Autor: - Martinho PEDRO

- Alipio SIQUISSE

Desenho Instrucional: Suzete BUQUE

Reviso Lingustica: Casimiro CHACHUAIO

Maquetizao: Ftima Alberto NHANTUMBO

Edio: Anilda Ibrahimo KHAN


iv ndice

ndice
Viso geral 13
Bem-Vindo ao mdulo de Antropologia Cultural .......................................................... 13
Objectivos do curso ........................................................................................................ 13
Quem deve estudar este mdulo? ................................................................................... 14
Como est estruturado este mdulo? .............................................................................. 14
cones de actividade ........................................................................................................ 16
Habilidades de estudo ..................................................................................................... 17
Precisa de apoio? ............................................................................................................ 17
Tarefas (avaliao e auto-avaliao)............................................................................... 18
Avaliao ........................................................................................................................ 19

Unidade 1 20
Antropologia Cultural no Contexto das Cincias ........................................................... 20
Introduo .............................................................................................................. 20

Lio n 1 22
Os Conceitos de Etnografia e Etnologia na Construo de uma Antropologia. Objecto e
Objectivo da Antropologia.............................................................................................. 22
Introduo .............................................................................................................. 22
Contedo ......................................................................................................................... 22
Sumrio ........................................................................................................................... 23
Exerccios........................................................................................................................ 24
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 24

Lio n 2 25
Os Ramos da Antropologia (Fsica, Cultural, Social, Econmica, Poltica, Aplicada,
Psicanaltica) ................................................................................................................... 25
Introduo .............................................................................................................. 25
Contedo ......................................................................................................................... 25
Sumrio ........................................................................................................................... 26
Exerccios........................................................................................................................ 27
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 27

Lio n 3 28
As Relaes da Antropologia Cultural com outras Cincias Sociais e Humanas .......... 28
Introduo .............................................................................................................. 28
Antropologia Cultural v

Contedo ......................................................................................................................... 28
Sumrio ........................................................................................................................... 30
Exerccios........................................................................................................................ 30
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 30

Lio n 4 31
O Mtodo de Trabalho em Antropologia ........................................................................ 31
Introduo .............................................................................................................. 31
Contedo ......................................................................................................................... 31
Sumrio ........................................................................................................................... 33
Exerccios........................................................................................................................ 33
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 34
Actividade Final da Unidade .......................................................................................... 34

Unidade 2 35
Pensamento Antropolgico: (Teorias/Correntes) ........................................................... 35
Introduo .............................................................................................................. 35

Lio n 1 37
O Debate Terico Volta da Formao e Construo da Cincia Antropolgica ......... 37
Introduo .............................................................................................................. 37
Contedo ......................................................................................................................... 38
Sumrio ........................................................................................................................... 39
Exerccios........................................................................................................................ 40
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 41

Lio n 2 42
O Perodo de Convergncia e de Construo da Antropologia Cultural ........................ 42
Introduo .............................................................................................................. 42
Contedo ......................................................................................................................... 42
Sumrio ........................................................................................................................... 43
Exerccios........................................................................................................................ 44
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 44

Lio n 3 45
As Correntes/Escolas de Pensamento Antropolgico ..................................................... 45
Introduo .............................................................................................................. 45
Contedo ......................................................................................................................... 45
Sumrio ........................................................................................................................... 50
Exerccios........................................................................................................................ 50
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 51

Lio n 4 52
Crticas Antropologia em Geral, em frica e em Moambique .................................. 52
Introduo .............................................................................................................. 52
vi ndice

Contedo ......................................................................................................................... 52
Sumrio ........................................................................................................................... 54
Exerccios........................................................................................................................ 54
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 55
Actividade Final da Unidade .......................................................................................... 55

Unidade 3 56
A Cultura......................................................................................................................... 56
Introduo .............................................................................................................. 56

Lio n 1 58
O Conceito de Cultura .................................................................................................... 58
Introduo .............................................................................................................. 58
Contedo ......................................................................................................................... 58
Sumrio ........................................................................................................................... 60
Exerccios........................................................................................................................ 60
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 61

Lio n 2 62
As Caractersticas da Cultura .......................................................................................... 62
Introduo .............................................................................................................. 62
Contedo ......................................................................................................................... 62
Sumrio ........................................................................................................................... 64
Exerccios........................................................................................................................ 64
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 65

Lio n 3 66
A Totalidade da Cultura: Unicidade, Diversidade e Etnicidade ..................................... 66
Introduo .............................................................................................................. 66
Contedo ......................................................................................................................... 66
Sumrio ........................................................................................................................... 68
Exerccios........................................................................................................................ 69
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 69

Lio n 4 70
Da Diversidade Relatividade Cultural ......................................................................... 70
Introduo .............................................................................................................. 70
Contedo ......................................................................................................................... 70
Sumrio ........................................................................................................................... 71
Exerccios........................................................................................................................ 72
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 72

Lio n 5 73
A Aplicao do Etnocentrismo ....................................................................................... 73
Introduo .............................................................................................................. 73
Antropologia Cultural vii

Contedo ......................................................................................................................... 73
Sumrio ........................................................................................................................... 75
Exerccios........................................................................................................................ 75
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 76

Lio n 6 77
O Dinamismo Cultural .................................................................................................... 77
Introduo .............................................................................................................. 77
Contedo ......................................................................................................................... 77
Sumrio ........................................................................................................................... 80
Exerccios........................................................................................................................ 80
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 81

Lio n 7 82
Os Factores da Cultura .................................................................................................... 82
Introduo .............................................................................................................. 82
Contedo ......................................................................................................................... 82
Sumrio ........................................................................................................................... 84
Exerccios........................................................................................................................ 85
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 85

Lio n 8 86
A Interaco dos Factores ............................................................................................... 86
Introduo .............................................................................................................. 86
Contedo ......................................................................................................................... 86
Sumrio ........................................................................................................................... 88
Exerccios........................................................................................................................ 88
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 89

Lio n 9 90
A Interaco entre a Cultura e a Natureza, a Sociedade e a Civilizao ........................ 90
Introduo .............................................................................................................. 90
Contedo ......................................................................................................................... 90
Sumrio ........................................................................................................................... 92
Exerccios........................................................................................................................ 92
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 93

Lio n 10 94
A Identidade Cultural..................................................................................................... 94
Introduo .............................................................................................................. 94
viii ndice

Contedo ......................................................................................................................... 94
Sumrio ........................................................................................................................... 96
Exerccios........................................................................................................................ 96
Leituras aconselhadas ..................................................................................................... 97
Actividade Final da Unidade .......................................................................................... 97

Unidade 4 98
A Cultura Material .......................................................................................................... 98
Introduo .............................................................................................................. 98

Lio n 1 100
A Cultura Material e a Evoluo do Homem ............................................................... 100
Introduo ............................................................................................................ 100
Contedo ....................................................................................................................... 100
Sumrio ......................................................................................................................... 101
Exerccios...................................................................................................................... 102
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 103

Lio n 2 104
A Ecologia na Relao Homem-Meio Ambiente ......................................................... 104
Introduo ............................................................................................................ 104
Contedo ....................................................................................................................... 104
Sumrio ......................................................................................................................... 105
Exerccios...................................................................................................................... 105
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 106

Lio n 3 107
Noo de Sociedade de Caa- Colecta e Sociedade de Agricultura de Savana. Processos
de Transio na Histria de Moambique .................................................................... 107
Introduo ............................................................................................................ 107
Contedo ....................................................................................................................... 107
Sumrio ......................................................................................................................... 110
Exerccios...................................................................................................................... 111
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 111

Lio n 4 112
Noo dos Modos de Produo .................................................................................... 112
Introduo ............................................................................................................ 112
Antropologia Cultural ix

Contedo ....................................................................................................................... 112


Sumrio ......................................................................................................................... 113
Exerccios...................................................................................................................... 114
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 114
Actividade Final da Unidade ........................................................................................ 115

Unidade 5 116
O Parentesco ................................................................................................................. 116
Introduo ............................................................................................................ 116

Lio n 1 118
O Parentesco ................................................................................................................. 118
Introduo ............................................................................................................ 118
Contedo ....................................................................................................................... 118
Sumrio ......................................................................................................................... 120
Exerccios...................................................................................................................... 120
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 121

Lio n 2 122
As Unidades Funcionais do Parentesco e a Sua Importncia ....................................... 122
Introduo ............................................................................................................ 122
Contedo ....................................................................................................................... 122
Sumrio ......................................................................................................................... 123
Exerccios...................................................................................................................... 124
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 124

Lio n 3 125
As Formas do Parentesco .............................................................................................. 125
Introduo ............................................................................................................ 125
Contedo ....................................................................................................................... 125
Sumrio ......................................................................................................................... 127
Exerccios...................................................................................................................... 127
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 128

Lio n 4 129
Os Esquemas do Parentesco ......................................................................................... 129
Introduo ............................................................................................................ 129
Contedo ....................................................................................................................... 129
Sumrio ......................................................................................................................... 131
Exerccios...................................................................................................................... 131
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 132

Lio n 5 133
A Filiao ...................................................................................................................... 133
Introduo ............................................................................................................ 133
x ndice

Contedo ....................................................................................................................... 133


Sumrio ......................................................................................................................... 136
Exerccios...................................................................................................................... 136
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 137

Lio n 6 138
Grupos de Parentesco.................................................................................................... 138
Introduo ............................................................................................................ 138
Contedo ....................................................................................................................... 138
Sumrio ......................................................................................................................... 140
Exerccios...................................................................................................................... 140
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 141

Lio n 7 142
Aliana Matrimonial ..................................................................................................... 142
Introduo ............................................................................................................ 142
Contedos ..................................................................................................................... 142
Sumrio ......................................................................................................................... 144
Exerccios...................................................................................................................... 144
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 145

Lio n 8 146
Residncia e Circulao Matrimonial e Seu Impacto na Organizao Social e Poltica146
Introduo ............................................................................................................ 146
Contedos ..................................................................................................................... 146
Sumrio ......................................................................................................................... 148
Exerccios...................................................................................................................... 148
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 149
Actividade Final da Unidade ........................................................................................ 149

Unidade 6 150
A Cultura do Simblico, Ideologias e O Papel da Religio Tradicional em frica e em
Moambique ................................................................................................................. 150
Introduo ............................................................................................................ 150

Lio n 1 152
A Cultura do Simblico ................................................................................................ 152
Introduo ............................................................................................................ 152
Contedos ..................................................................................................................... 152
Sumrio ......................................................................................................................... 154
Exerccios...................................................................................................................... 154
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 155

Lio n 2 156
Os Veculos da Transmisso Ideolgica: Rituais e Mitos ............................................ 156
Introduo ............................................................................................................ 156
Antropologia Cultural xi

Contedos ..................................................................................................................... 156


Sumrio ......................................................................................................................... 157
Exerccios...................................................................................................................... 158
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 159

Lio n 3 160
A Religio Tradicional em frica: o Culto aos Antepassados, a Crena na Magia e na
Feitiaria ....................................................................................................................... 160
Introduo ............................................................................................................ 160
Contedos ..................................................................................................................... 160
Sumrio ......................................................................................................................... 162
Exerccios...................................................................................................................... 163
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 163

Lio n 4 164
A Introduo de Novas Ideologias Religiosas e o seu Impacto nas Sociedades Agrcolas
em frica ...................................................................................................................... 164
Introduo ............................................................................................................ 164
Contedos ..................................................................................................................... 164
Sumrio ......................................................................................................................... 165
Exerccios...................................................................................................................... 165
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 166

Lio n 5 167
Os Movimentos Poltico-Religiosos em frica ............................................................ 167
Introduo ............................................................................................................ 167
Contedos ..................................................................................................................... 167
Sumrio ......................................................................................................................... 168
Exerccios...................................................................................................................... 168
Exerccios...................................................................................................................... 168
Leituras aconselhadas ................................................................................................... 169
Actividade Final da Unidade ........................................................................................ 169
Respostas das Actividades Finais ................................................................................. 170
Notas Finais .................................................................................................................. 172
Antropologia Cultural 13

Viso geral

Bem-Vindo ao mdulo de
Antropologia Cultural

Caro estudante, voc vai iniciar o estudo do mdulo de Antropologia


Cultural com o qual voc vai aprender que, apesar da grande diversidade
da sociedade humana, isto , existirem diferentes formas de vida,
variveis de uma regio para a outra, de um tempo histrico para o outro,
o ser humano vive segundo regras culturalmente institudas, seja em que
domnio social fr. Assim, voc vai aprender que qualquer um dos
aspectos adiante estudados pode ser observado em qualquer sociedade
humana, revelando-se o carcter universal da cultura.

Objectivos do curso
Quando terminar o estudo deste modulo, voc ser capaz de:

Saber o que Antropologia Cultural;

Conhecer os pressupostos da emergncia da Antropologia Cultural;

Conhecer as especificidades da Antropologia Cultural em relao s


Objectivos outras cincias;

Diferenciar as caractersticas da Cultura Humana;

Identificar a produo material, como marco fundamental da


diferenciao entre Homem e os outros animais;

Reconhecer o parentesco como um dos fundamentos da organizao


social entre os Homens e

Conhecer a natureza simblica da cultura humana.


14 Viso geral

Quem deve estudar este mdulo?


Este mdulo destina-se formao de professores em exerccio que
possuem a 12a classe ou equivalente e inscritos no Curso Distncia,
fornecido pela Universidade Pedaggica.

Como est estruturado este


mdulo?
Todos os mdulos dos cursos produzidos pela Universidade Pedaggica
encontram-se estruturados da seguinte maneira:

Pginas introdutrias

Um ndice completo.

Uma viso geral detalhada do curso / mdulo, resumindo os aspectos-


chave que voc precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta seco com ateno antes de
comear o seu estudo.

Contedo do curso / mdulo

O curso est estruturado em unidades. Cada unidade incluir uma


introduo, objectivos, contedo, incluindo actividades de
aprendizagem, um sumrio e uma ou mais actividades para auto-
avaliao

O mdulo de Antropologia Cultural constitudo por 6 Unidades


Temticas.

Cada unidade apresenta:

Uma introduo, que d uma orientao geral sobre o aspecto


central de estudo;

Os tpicos, isto , os temas de cada lio;

Os objectivos gerais e especficos;

As motivaes, isto , aquilo que se pode constituir como um dos


fundamentos para o estudo de cada unidade;
Antropologia Cultural 15

Os meios, onde so indicados os materiais e todas as bases de


apoio, para tornar o seu estudo mais aprofundado e concreto.

Um conjunto de lies, variveis de unidade para unidade. Cada


lio possui por sua vez:

Uma introduo;

As horas necessrias para o estudo de cada lio;

Os objectivos;

Os contdos, onde apresentada a matria essencial da lio;

Um sumrio, onde voc pode encontrar os eixos centrais de


cada lio;

Uma actividade, onde voc pode testar a compreenso da


lio;

As referncias complementares, identificadas como leituras


complementares, onde se encontram indicados os livros a que
voc pode recorrer para aprofundar os seus conhecimentos.
Em cada referncia est identificada a parte onde voc pode
encontrar a matria respectiva.

Outros recursos

Se voc est interessado em aprender mais, preste ateno a lista de


recursos adicionais para e explore-os. Estes recursos podem incluir livros,
artigos ou sites na Internet.

Tarefas de avaliao e/ou Auto-avaliao

As tarefas de avaliao para este mdulo encontram-se no final de cada


unidade. Sempre que necessrio, do-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instrues para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do mdulo.

Comentrios e sugestes

Esta a sua oportunidade para nos dar sugestes e fazer comentrios


sobre a estrutura e o contedo do mdulo. Os seus comentrios sero
teis para nos ajudar a avaliar e melhorar este mdulo.
16 Viso geral

cones de actividade
Ao longo deste manual voc ir encontrar uma srie de cones nas
margens das folhas. Estes cones servem para identificar diferentes partes
do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela especfica do
texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudana de actividade, etc.

Acerca dos cones


Os cones usados neste manual so smbolos africanos, conhecidos por
adrinka. Estes smbolos tm origem no povo Ashante de frica
Ocidental, datam do sculo 17 e ainda se usam hoje em dia.

Os cones includos neste manual so... (cones a ser enviados - para


efeitos de testagem deste modelo, reproduziram-se os cones adrinka, mas
foi-lhes dada uma sombra amarela para os distinguir dos originais).

Pode ver o conjunto completo de cones deste manual j a seguir, cada


um com uma descrio do seu significado e da forma como ns
interpretmos esse significado para representar as vrias actividades ao
longo deste curso / mdulo.

Comprometimento/ Resistncia, Qualidade do Aprender atravs


perseverana perseverana trabalho da experincia
(excelncia/
autenticidade)

Avaliao /
Actividade Auto-avaliao Teste Exemplo /
Estudo de caso

Paz/harmonia Unidade/relaes Vigilncia / Eu mudo ou


humanas preocupao transformo a minha
vida
Debate Actividade de
grupo Tome Nota! Objectivos
Antropologia Cultural 17

[Ajuda-me] deixa- Pronto a enfrentar N da sabedoria Apoio /


me ajudar-te as vicissitudes da encorajamento
vida

(fortitude /
preparao) Terminologia
Leitura Dica
Reflexo

Habilidades de estudo
Caro estudante!

Para frequentar com sucesso este mdulo ter que buscar atravs de uma
leitura cuidadosa das fontes de consulta a maior parte da informao
ligada ao assunto abordado. Para o efeito, no fim de cada unidade
apresenta-se uma sugesto de livros para leitura complementar.

Antes de resolver qualquer tarefa ou problema, o estudante deve


certificar-se de ter compreendido a questo colocada;

importante questionar se as informaes colhidas na literatura so


relevantes para a abordagem do assunto ou resoluo de problemas;

Sempre que possvel, deve fazer uma sistematizao das ideias


apresentadas no texto.

Desejamos-lhe muitos sucessos!

Precisa de apoio?
Dvidas e problemas so comuns ao longo de qualquer estudo. Em caso
de dvida numa matria tente consultar os manuais sugeridos no fim da
lio e disponveis nos Centros de Recurso mais prximos. Se tiver
dvidas na resoluo de algum exerccio, procure estudar os exemplos
18 Viso geral

semelhantes apresentados no manual. Se a dvida persistir, consulte a


orientao que aperece no fim dos exerccios. Se a dvida persistir, veja a
resoluo do exerccio.

Sempre que julgar pertinente, pode consultar o tutor que est sua
disposio no Centro de Recurso mais prximo.

No se esquea de consultar tambm colegas da escola que tenham feito


cursos na Universidade Pedaggica, vizinhos e at estudantes de
universidades que vivam na sua zona e tenham ou estejam a fazer
cadeiras relacionadas com Antropologia Cultural.

Tarefas (avaliao e auto-


avaliao)
Ao longo deste mdulo ir encontrar vrias tarefas que acompanham o
seu estudo. Tente sempre solucion-las. Consulte a resoluo para
confrontar o seu mtodo e a soluo apresentada. O estudante deve
promover o hbito de pesquisa e a capacidade de seleco de fontes de
informao, tanto na internet como em livros. Consulte manuais
disponveis e referenciados no fim de cada lio para obter mais
informaes acerca do contedo que esteja a estudar. Se usar livros de
outros autores ou parte deles na elaborao de algum trabalho dever cit-
los e indicar estes livros na bibliografia. No se esquea que usar um
contedo, livro ou parte do livro em algum trabalho, sem referenci-lo
plgio e pode ser penalizado por isso. As citaes e referncias so uma
forma de reconhecimento e respeito pelo pensamento de outros. Estamos
cientes de que o estimado estudante no gostaria de ver uma ideia sua ser
usada sem que fosse referenciado, no ?

Na medida de possvel, procurar alargar competncias relacionadas com


o conhecimento cientfico, as quais exigem um desenvolvimento de
competncias, como auto-controle da sua aprendizagem.

As tarefas colocadas nas actividades de avaliao e de auto-avaliao


devero ser realizadas num caderno parte ou em folha de formato A4.
Antropologia Cultural 19

O estudante deve produzir documentos sobre as tarefas realizadas em


suporte diverso, nomeadamente, usando as novas tecnologias e envi-los
ao respectivo Departamento quer atravs da internet, quer dos servios de
Correios de Moambique

Avaliao
O mdulo de Antropologia Cultural ter dois testes e um exame final que
dever ser feito no Centro de Recurso mais prximo, ou em local a ser
indicado pela administrao do curso. O calendrio das avaliaes ser
tambm apresentado oportunamente.

A avaliao visa no s informar-nos sobre o seu desempenho nas lies,


mas tambm estimular-lhe a rever alguns aspectos e a seguir em frente.

Durante o estudo deste mdulo o estudante ser avaliado com base na


realizao de actividades e tarefas de auto-avaliao previstas em cada
Unidade, dois testes escritos e um exame.
20 Unidade 1

Unidade 1

Antropologia Cultural no Contexto


das Cincias

Introduo
Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde ter as noes fundamentais da
Antropologia Cultural. Estas vo ajud-lo a compreender a natureza da
referida disciplina, em relao s outras Cincias, isto , a peculiaridade
do seu objecto de estudo, os seus mtodos fundamentais e a relao com
as outras Cincias.

Estrutura

O estudo que voc inicia agora tem 4 lies. Devem ser dispensadas duas
(2) horas de tempo para cada lio. Eis as matrias a serem estudadas
nesta unidade:

Tpicos da Unidade

Lio 1. Os Conceitos de Etnografia, Etnologia e Antropologia.

Lio 2. Os Ramos da Antropologia.

Lio 3. As Relaes da Antropologia Cultural com Outras Cincias


Sociais e Humanas.

Lio 4. O Mtodo de Trabalho em Antropologia


Antropologia Cultural 21

Ao completer esta unidade, voc ser capaz de:

Geral

Conhecer as origens e os propsitos da Antropologia Cultural.


Objectivos
Especficos

Explicar os conceitos de Etnografia, Etnologia e Antropologia.

Distinguir os mtodos de pesquisa antropolgica dos ou mtodos das


outrs cincias sociais e humanas.

Explicar a relao entre a Antropologia e as outras Cincias Sociais e


Humanas.

Reflectir sobre a importncia e utilidade da Antropologia no contexto


das outras cincias sociais e humanas.

Motivaes

Esta unidade vai permitir-lhe a aquisio de conhecimentos sobre as


origens e propsitos da Antropologia.

Sabia que a Antropologia filha do colonialismo?

Com esta unidade, vai poder descobrir os encantos de uma das Cincias
Sociais mais generalizantes sobre o Homem, mas tambm mais especfica
e profunda no conhecimento da natureza humana a Antropologia.

Meios

Para alm das referncias bibliogrficas presentes no fim de cada lio de


todas as unidades, poder usar textos de apoio, efctuar visitas a museus
etnogrficos, sempre que eles existirem, mas tambm a sua prpria
comunidade. Com esta ltima prtica, estar a iniciar o metier do
Antroplogo, cuja especificidade na sua interveno sempre estar em
contacto com o seu objecto alvo.
22 Lio n 1

Lio n 1

Os Conceitos de Etnografia e
Etnologia na Construo de uma
Antropologia. Objecto e Objectivo
da Antropologia

Introduo

Nesta lio, voc ter a ocasio de conhecer conceitos bsicos iniciais do


estudo da Antropologia como: Etnografia, Etnologia e Antropologia
Geral. So conceitos bsicos para perceber esta cincia. Para este estudo,
voc deve dispensar duas (2) horas.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Conhecer os conceitos de Etnografia, Etnologia e Antropologia.


Analisar o objectivo e objecto da Antropologia Cultural;
Reflectir sobre as diferentes posies em relao definio do
Objectivos objecto da Antropologia;
Distinguir os conceitos Etnografia, Etnologia e Antropologia Cultural
e Social.

Contedo
A Etnologia a descrio de usos costumes, crenas, hbitos, tradies,
etc., duma determinada unidade social, como, por exemplo, a sua prpria
comunidade. J procurou algumas destas descries da comunidade? Se
nada existe ter, a partir deste estudo, conhecimentos para o fazer.
O termo Etnografia foi criado em 1826 pelo italiano Balbi para
classificar os grupos humanos segundo as suas caractersticas lingusticas.
Modernamente, o conceito aplica-se observao no "terreno", descrio
Antropologia Cultural 23

e anlise de grupos humanos que a vivam. A reconstruo deve ser to


fiel quanto possvel.
Por sua vez, Etnologia corresponde segunda etapa do estudo
antropolgico. Sem excluir a observao directa, a Etnologia orienta-se
para a sntese e produo de monografia.
A Antropologia representa uma nova e ltima etapa da sntese e
comparao. Ela apoia-se nas investigaes da Etnologia e da Etnografia.
A Antropologia, oriunda de um reconhecimento da diversidade das
sociedades, dos grupos e das culturas, aspira, com a Antropologia ao
nvel da generalizao.
Objectivo da Antropologia Cultural e Social: A disciplina visa atingir
um conhecimento global do homem.
Quanto ao seu objecto, ela abarca toda a extenso biolgica, social,
histrica e geogrfia do Homem, aspirando a um conhecimento aplicvel
ao conjunto do desenvolvimento humano. Sobre o Objecto da
Antropologia cultural ainda h varias opinies, o que tpico duma
cincia social nova. S para exemplificar, nesta lio vamos considerar
apenas trs definies:
Para P. Armando Ribeiros (1998, p. 8) - " a cincia do homem como
ser cultural, entendendo por CULTURA o conjunto das tradies.
Para Bernardo Bernardi (1978, p. 19)- "A Antropologia indaga o
significado e as estruturas da vida do homem como expresso da sua
actividade mental".
Trazemos ainda uma contribuio tirada no site
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_cultural, uma das fontes de
informao, que a Antropologia Cultural Tem por objecto o estudo do
homem e das sociedades humanas na sua vertente cultural. A
representao, pela palavra ou pela imagem, uma das suas questes
centrais.

Sumrio
A Antropologia constri-se considerando trs etapas hierrquicas,
comeando pela observao, descrio, sntese e generalizao. Na
essncia, tudo deve ser depois interpretado no mbito do plano geral
da humanidade.
Tome Nota!
24 Lio n 1

Exerccios
Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responda s
questes seguintes:

Auto-avaliao 1. Se algum lhe solicitar a caracterizao da ltima etapa da


Antropologia que conceitos usaria?
2. Com base em outros autores, apresente um outro ponto de vista
sobre o objecto de Antropologia Cultural e Social.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

1. Usaria os seguintes conceitos:


Sntese global, totalidade generalizao integral(outros que
tiver encontrado na bibliografia recomendada).
2. Por exemplo para Martinez a Antropologia trata do homem e do
seu comportamento como um todo. A Antropologia tem em conta
todos os aspectos da existncia humana: biolgica e cultural,
passado e presente, integrando esses diversos valores culturais e
materiais, numa abordagem integrada do problema da existncia
humana.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte o seu tutor.

Leituras aconselhadas

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Lisboa, Edies 70, 1971, p. 15-56.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 14-16.
Leitura
MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,
Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 33-40.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 11-32.
Antropologia Cultural 25

Lio n 2

Os Ramos da Antropologia
(Fsica, Cultural, Social,
Econmica, Poltica, Aplicada,
Psicanaltica)

Introduo
O estudo que comea agora vai proporcionar-lhe conhecimentos sobre os
ramos da Antropologia. fundamental esse conhecimento, para situar-se
na complexidade que esta disciplina encerra em perceber as razes do
estudo da Antropologia Cultural. Esta lio tem a durao de duas (2)
horas de estudo.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Conhecer os principais ramos da Antropologia Geral;

Distinguir o contedo de cada um dos ramos da Antropologia;


Objectivos Reflectir sobre a sua importncia e utilidade na comunidade onde
vive.

Contedo

Sabia que a Cincia recente? De facto, ela vem de um perodo muito


recente da evoluo do conhecimento humano, remontando ao perodo
Moderno Europeu. Ademais, como vai observar na segunda unidade, a
Antropologia s viria a emergir no sculo XIX. At princpios do sculo
XX, o termo Antropologia servia para designar a cincia que actualmente
se chama Antropologia Fsica, cuja definio vem mais adiante. Mais
recentemente, ela tende a significar o conhecimento das propriedades
gerais da vida social e das diversas sociedades humanas. Para isso, cobre
um grande nmero de cincias que estudam o Homem, tais como:
Antropologia Poltica, a Antropologia Psicanaltica, a Antropologia
Econmica, Antropologia Aplicada, a Etnografia, a Etnologia, certos
aspectos da Lingustica, a Arqueologia, Pr-histria, etc.
26 Lio n 2

Cada um destes ramos tem tarefas especficas, mas que concorrem para
explicar o Homem na sua complexidade. Vamos conhecer as tarefas de
alguns desses ramos.
Antropologia Fsica: tem por objecto o estudo de certas caractersticas
biolgicas do homem, as questes da raa, da hereditariedade, da
nutrio, da diferenciao de sexos, etc. Compreende, entre outras, a
Anatomia Comparada, Fisiologia Comparada e a Patologia Comparada.

Antropologia Social: ocupa-se mais particularmente em estabelecer leis


gerais de vida em sociedade que sejam vlidas tanto nas sociedades
tradicionais como nas sociedades industrializadas modernas. Procura
aprender mais sobre a sociedade quanto ao seu funcionamento e aos seus
actos.

Antropologia Cultural: dedica-se mais a problemas de relativismo


cultural (investigao da originalidade de cada cultura); do estudo das
relaes que se estabelecem entre os diferentes nveis numa dada
sociedade e do fenmeno da transmisso da cultura. A Antropologia
cultural apenas apreenderia a sociedade nas suas obras e no nos seus
actos e no seu funcionamento.

Antropologia Poltica: aborda em particular os problemas do poder da


autoridade, da chefia do governo, etc., assuntos que deram lugar a
numerosas especulaes filosficas (sobre a origem e a natureza do
Estado, o aparecimento do Direito, etc).

Antropologia Aplicada: faz a utilizao prtica das teorias e dos


resultados do inqurito etnogrfico, tendo em vista manipular as
sociedades, com o objectivo, quer de as administrar (como o caso da
poltica colonial, da assimilao, aculturao "forada"), quer de as ajudar
a adaptarem-se sociedade etnolgica moderna (como o caso da
aculturao "planificada", poltica de integrao) ou o desenvolvimento
de uma originalidade cultural (procura de um sincretismo).

Antropologia Psicanaltica: baseia-se essencialmente no estudo dos


sonhos, dos mitos, dos contos, na anlise de jogos, das cerimnias, das
prticas mgicas, de certos aspectos da vida quotidiana, das tcnicas de
educao.

Antropologia Econmica interessa-se pelas condies da produo


material, as trocas, os direitos sobre os objectos, as formas de utilizao
dos produtos, englobando os aspectos de ecologia e tecnologia.

Sumrio
A Antropologia Geral obviamente complexa. Ela envolve um
conjunto de especializaes que englobam aspectos de natureza
fsica, eminentemente social, mas tambm aos aspectos que abarcam
as diferentes facetas da vida humana, como a sua interveno na
natureza, as suas relaes com o mundo oculto, etc.
Tome Nota!
Antropologia Cultural 27

Exerccios
Depois desta leitura procure as respostas aconselhveis para as
actividades seguintes:

1. Por que houve a necessidade da emergncia de muitos ramos da


Auto-avaliao
Antropologia?
2. Qual das subdisciplinas antropolgicas devia ser catalizada para
estudar:

a) Necessidade de integrao das minorias tnicas


estrangeiras em Moambique?

b) Os novos fenmenos religiosos em Moambique?

c) O fenmeno de chupa-sangue frequente no Norte de


Moambique?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Pelo facto de a Antropologia estudar o Homem na sua totalidade


e porque seria difcil abordar este aspecto numa nica disciplina.
Assim emergiram as diferentes especializaes que se
complementam entre si.

2. a) Antropologia Aplicada

b) Antropologia Religiosa

c) Antropologia Psicanaltica

ptimo isso mesmo. Se teve dificuldades, no desista, volte a ler o


texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor.

Leituras aconselhadas

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Lisboa, Edies 70, 1971, p. 15-56.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 14-16.
Leitura
MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,
Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 33-40.
28 Lio n 3

Lio n 3

As Relaes da Antropologia
Cultural com outras Cincias
Sociais e Humanas

Introduo

Hoje no se pode falar duma disciplina ou cincia independente ou


isolada do interesse das outras, numa determinada rea. Ao abordarmos a
Antropologia Cultural no contexto das cincias sociais e humanas
pretendemos fazer a interdisciplinaridade. Voc vive num bairro ou numa
comunidade. Por este facto, voc precisa de viver em colaborao com os
seus vizinhos, porque precisa deles e eles precisam de si, para as formas
de cooperao e ajuda-mtua. No verdade? o mesmo o que se passa
entre as cincias.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Identificar a Antropologia Cultural no contexto das cincias sociais e


humanas;

Relacionar o papel social e cultural com os papeis desempenhados por


Objectivos outras cincias sociais e humanas .

Contedo

A Antropologia j definiu o seu objectivo ao procurar atingir um


conhecimento global do homem, abarcando as dimenses fsicas,
culturais, histricas e geogrficas. Aspira ainda a um conhecimento
aplicvel ao conjunto do desenvolvimento humano, desde a grande
cidade moderna mais pequena tribo.

A Antropologia para desenvolver o seu objecto de estudo, precisa de um


apoio de outras cincias. De facto, nenhuma cincia capaz de se prover
Antropologia Cultural 29

sozinha. da que surgem as relaes entre a Antropologia e as outras


cincias do homem. Assim, a Antropologia tem uma relao privilegiada
com a Sociologia, a Histria, a Economia, a Geografia, a Psicanlise,
entre outras. Vamos procurar encontrar a relao existente entre os
seguintes pares:

Antropologia e Sociologia

Antropologia = Discurso sobre o (cincia do) homem.

Sociologia = Discurso sobre a (cincia da) sociedade.

Antropologia procura a explicao dos fenmenos sociais e culturais na


lgica do observador ( Cincia do Observado); a Sociologia, procura a
anlise do ponto de vista da prpria sociedade qual pertence o cientista
(Cincia do Observador).

O Antroplogo distancia-se da realidade institucional para construir


progressivamente a sua problemtica analtica medida que vai
descobrindo os princpios de organizao da sociedade estudada. O
Socilogo parte de hipteses j elaboradas e fundadas, geralmente sobre
pr-construes analticas ou institucionais, procurando, em seguida,
aferi-las por inquritos no terreno. Contudo, elas cruzam-se, quer no uso
de mtodos, como nos prprios objectos. Por acaso h homem que viva
sem sociedade e h sociedade sem os Homens entanto que indivduos?

Antropologia e Histria

O Historiador distancia-se do seu objecto de estudo pelo tempo.


Distancia-se assim dos valores e categorias da sua prpria sociedade para
melhor compreender e interpretar o passado. Pelo seu lado, o
Antroplogo acantona o discurso de uma comunidade sobre ela mesma
para melhor a compreender.

O olhar da Histria e da Antropologia leva a ver o OUTRO como ele se


v, e, atravs deste olhar, procurar, ver e compreender essa sociedade
global. Como pode observar, aqui h tambm uma convergncia, na
medida em que as duas disciplinas ocupam-se da alteridade, isto , do
outro. Para que a Antropologia consiga obter a dimenso temporal dos
acontecimentos, logicamente a Histria prestar-se- na primeira linha.

Antropologia e Psicanlise

Quer a Antropologia quer a Psicanlise insistem entre o contedo


manifesto e o contedo latente; entre o implcito e o explcito; e na
necessidade de ultrapassar o sintoma, descodificando-o e dando-lhe
forma. Quer a Antropologia quer a Psicanlise so marcadas pela
alteridade. O Antroplogo tenta reconhecer e analisar o pensamento do
Outro, para se situar o seu prprio pensamento. O Psicanalista tenta
descodificar o discurso do Outro em si mesmo (Super Ego); o Outro na
sua origem e em relao ao qual se determina.
30 Lio n 3

Sumrio

A interdisciplinaridade resume a relao que a Antropologia tem com


outras cincias Sociais e Humanas, dado que ela no pode explicar
isoladamente o Homem. Essas relaes so recprocas, em virtude de
todas as Cincias Sociais serem marcadas pelo estudo de outras
realidades.
Tome Nota!

Exerccios

1. Todas as Cincias Sociais so Antropolgicas. Concorda com a


afirmao? Fundamente.

Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos.


Auto-avaliao
Resposta

De facto, todas as Cincias Sociais so antropolgicas, pelo facto de


todas elas estudarem outras realidades, outros espaos, outros tempos ou
que estejam fora do prprio Ego.

De certeza que conseguiu responder a pergunta colocada. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte o seu tutor.

Leituras aconselhadas

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades


Primitivas? Lisboa, Edies 70, 1971, p. 15-38.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 18-24.
Leitura
SILVA, Augusto Santos e PINTO, Jos Madureira: Metodologia das
Cincias Sociais, 7 edio. Lisboa, Edies Afrontamento, 1986, p. 9
27.
Antropologia Cultural 31

Lio n 4

O Mtodo de Trabalho em
Antropologia

Introduo
Voc para resolver alguma tarefa serve-se de um conjunto de
procedimentos, no verdade? Da mesma maneira, cada cincia possui
os seus caminhos prprios para desvendar o seu objecto de estudo.
Algumas cincias servem-se das fontes, outras, de um trabalho
laboratorial usando tecnologias muito sofisticadas. Nesta lio, voc vai
inteirar-se do mtodo que a Antropologia usa para desenvolver o seu
estudo.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer processos do mtodo de pesquisa antropolgica.
Distinguir atravs do seu mtodo a antropologia das outras cincias.
Compreender as vissicitudes do trabalho antropolgico como desafios
de saberes sociais, culturais e histricos.
Objectivos

Contedo
Um mtodo, em cincias, pode ser entendido como o caminho ou
estratgias usados para atingir um determinado objectivo. Todas as
cincias, quer se trate de cincias sociais, humanas ou naturais, possuem
um mtodo que as caracteriza e as distingue das outras.

A Antropologia tem tambm os seus mtodos privilegiados, tais como: o


Histrico, o Estatstico, o Etnogrfico, o Comparativo ou Etnolgico, o
Monogrfico, o Genealgico, entre outros.

O mtodo Histrico usado na pesquisa dos eventos atravs do tempo,


para compreender as diversas transformaes ocorridas unma
determinada cultura.

O mtodo estatstico empregue para apresentar a variabilidade dos


aspectos estudados antropologicamente, tanto no aspecto biolgico, como
no cultural, e que possibilitem a aferncia da diversidade biolgica ou
32 Lio n 4

cultural, como, por exemplo, a variao das dimenses do corpo ou das


religies.

O mtodo Etnogrfico usado na anlise descritiva das sociedades


humanas, enquanto o mtodo Etnolgico ou Comparativo visa aferir as
diferenas e as semelhanas apresentadas por um material de referncia
de diferentes meios culturais ou de diferentes tempos culturais.

O mtodo Monogrfico, ou estudo de caso, usado para estudar, em


profundidade, um determinado grupo humano em todas as suas
dimenses.

O mtodo genealgico usado fundamentalmente no estudo do


parentesco e todas as suas implicaes sociais, polticas, culturais, como
por exemplo, o impacto do parentesco no ordenamento territorial,
residencial ou poltico dos membros de um grupo social.

A sua principal tcnica a observao participante que, entretanto,


acompanhada por outras rcnicas como a Entrevista (dirigida e no
dirigida), os Formulrios e os Questionrios. Pelo lugar central da
Observao participante, passa a descrever-se com alguma profundidade.

A Observao Participante

Tal como voc viu na definio do objecto de estudo, a Antropologia visa


conhecer pequenas realidades. A observao participante feita a partir
dessas pequenas unidades sociais, pelas quais se tenta elaborar uma
sntese mais geral, apreendendo, a partir de um certo ponto de vista, a
totalidade da sociedade. De facto, nas unidades sociais mais pequenas ou
comunidades, em geral, as relaes sociais, que tm uma certa coerncia
interna nos aspectos cultural, econmico, social, religioso, etc., so
directamente observveis pelo investigador.

Voc j imaginou, entre procurar uma resposta numa multido e numa


pessoa, onde voc teria um interlocutor vlido, mais objectivo? o
mesmo que ocorre na pesquisa antropolgica. Dado que impraticvel
estudar grandes superfcies para apreender o essencial, o Antroplogo
para observar a sociedade global parte desses grupos restritos.

Com a observao participante o Antroplogo apreende as unidades


sociais restritas simultaneamente de dentro e de fora nas suas
especificidades e nos seus elementos comuns em relao sociedade
global. Assim, a observao participante permite extrapolar o global a
partir do local. As relaes internas postas em evidncia so feitas no
quadro do scio-cultural e econmico global.

Contudo, esta tcnica, a observao participante tem especificidades a


considerar, pois ela tem um carcter: (1) interdisciplinar (na medida em
que para a Antropologia explicar o seu objecto de estudo procura o apoio
de outras cincias sociais e das tcnicas das mesmas); (2) comparativo (s
se estabelecem regularidades, depois de comparada a realidade estudada
com outras realidades conhecidas); (3) histrico (que provm do facto de
na apreenso da realidade social ser necessrio cruzar os acontecimentos
transversais ou sincrnicos e os acontecimentos longitudinais ou
diacrnicos) e (4) holstico (j que a compreenso do facto social s
possvel estudando-o nas suas variadas dimenses , isto , de forma
integral).
Antropologia Cultural 33

Sumrio
A Antropologia, tendo como objectivo apreender as especificidades
de uma cultura, tem como o mtodo fundamental a observao
participante. Na elaborao do seu objecto deve considerar a
integralidade dos factos sociais (aplicando o holismo); de que
nenhuma cincia autnoma (a interdisciplinaridade), que toda a
Tome Nota!
manifestao de um facto social tem correspondentes em outros
grupos sociais (a comparao) e que necessrio atender
temporalidade dos factos sociais (aplicando-se o mtodo histrico).

Exerccios

1. Por que o mtodo antropolgico toma como objecto de


investigao unidades sociais mais pequenas?

2. Em que reside a peculiaridade do mtodo antropolgico (a


Auto-avaliao observao participante) em relao observao conduzida nas
outras cincias (por exemplo com a observao das paisagens?

3. Enumere as caractersticas do mtodo antropolgico.


Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Tratando de sociedade (pessoas) humana convm que assim seja para


poder-se encontrar a coerncia interna (cultural, econmica, social,
religiosa, etc., sem muitas dificuldades.

2. Este mtodo caracteriza a especificidade da antropologia, extrapola


assunto de unidades sociais sob pontos de vista de variveis
complexas da sociedade, o que obviamente diferente de estar a
observar as paisagens que so aspectos fsicos, com mudanas
relativamente pouco complexas que as das sociedades humanas.

3. O mtodo antropolgico interdisciplinar, histrico, holstico e


comparativo.

4. ptimo. isso mesmo. Se teve dificuldades, no desista, volte a ler o


texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor.
34 Lio n 4

Leituras aconselhadas

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Lisboa, Edies 70, 1971, p. 38-56.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 16-20.
Leitura
MARCONI, Marina de Andrade e PRESOTTO, Zelia Maria Neves.
Antropologia. Uma introduo 6 edio. So Paulo. Editora atlas,
2006, p. 11 16.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 65-77.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 17-32.

Actividade Final da Unidade

Depois de fazer uma reflexo volta das disciplinas Antropolgicas,


procure esboar a utilidade da Antropologia para a sua rea residencial.

Actividade
Antropologia Cultural 35

Unidade 2

Pensamento Antropolgico:
(Teorias/Correntes)

Introduo
Benvindo a esta unidade de estudo, onde ter as noes fundamentais
Benvindo a esta unidade de estudo, onde ter a ocasio de estudar a
histria da Antropologia scio-cultural e as teorias da Antropologia, bem
como as crticas da Antropologia em frica e, em particular, em
Moambique. Ter ainda a ocasio de conhecer conceitos bsicos das
teorias/correntes da Antropologia, nomeadamente os conceitos de
evoluo, difuso, funo e estrutura.

Estrutura

O estudo que voc inicia tem 4 lies, com 2 horas de estudo para cada
uma.

Tpicos da Unidade

Lio 1. O debate terico volta da Formao e Construo da


cincia antropolgica.

Lio 2. O perodo de convergncia e de construo da Antropologia


Cultural.

Lio 3. As correntes/escolas de pensamento antropolgico.

Lio 4. Crticas Antropologia em Geral, em frica e em


Moambique.
36 Unidade 2

Ao completer esta unidade, voc ser capaz de:

Geral

Conhecer as teorias/correntes da Antropologia cultural.


Objectivos Especficos

Conhecer a histria da Antropologia, que comea com a prpria


cultura da humanidade;

Conhecer os conceitos: Evolucionismo, Difusionismo, Funcionalismo


e Estruturalismo;

Distinguir as teses de cada uma das teorias/correntes;

Explicar as verdadeiras razes histricas do surgimento da


Antropologia Cultural;

Reflectir sobre os pressupostos da Antropologia expressas no perodo


de Formao;

Analisar a situao da Antropologia em frica e, em particular, de


Moambique, durante o domnio colonial..

Motivaes

Bem como o que ocorre com um ser humano, a Antropologia teve a sua
histria. Essa histria foi marcada pela emergncia de contradies
quanto quilo a que a Antropologia se devia debruar. Assim, esta
unidade vai permitir-lhe conhecer os pressupostos das origens e
propsitos da Antropologia.

Sabia que Antropologia pretendia, no incio, estudar as sociedades


chamadas primitivas?

Meios

No estudo desta unidade voc ter como material de apoio as referncias


bibliogrficas nela presentes e textos de apoio.
Antropologia Cultural 37

Lio n 1

O Debate Terico Volta da


Formao e Construo da
Cincia Antropolgica

Introduo
Trazemos nesta lio a Histria da Antropologia. A discusso vai centrar-
se nas diferentes contribuies dos cientistas sociais de vrios pases e
escolas, o que convencionou-se chamar-se por correntes, para a
emergncia da Antropologia.

Segundo Martinez1 (2004,) o conhecimento dos rumos seguidos nos


estudos da antropologia tm como determinantes, por um lado o Critrio
objectivo, pelo qual se avalia ... a consistncia das orientaes tericas e
a legitimidade metodolgica das mesmas; por outro lado o critrio
subjectivo, que permite avaliar os motivos que levaram determinados
autores a enveredar por um determinado caminho e as razes do seu
sucesso ou rejeio( p 55) e, finalmente, o critrio de utilidade, que
procura discutir a orientao terica em razo da sua possvel aplicao
(Id.).

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Conhecer a histria da Antropologia que comea com a prpria


cultura da humanidade;

Objectivos Distinguir as teses de cada uma das teorias/correntes

Explicar as verdadeiras razes histricas do surgimento da


Antropologia Cultural.

Reflectir sobre os pressupostos da Antropologia expressas no perodo


de Formao

1
Trata-se da 5 edio de Antropologia Cultural, Guia para o estudo, de
Francisco Lerma Martinez, entretanto ainda no editado, mas que uma reviso
e ampliao da 4 edio (2003), j publicada.
38 Lio n 1

Contedo
Tal como ficou mencionado na primeira unidade, a Antropologia uma
cincia recente. Ela forma-se como tal s no Sculo XIX e desde a, a
disciplina passou a conhecer vrias orientaes, conhecendo avanos e
recuos. Contudo, por uma questo metodolgica e para a identificao
das abordagens tericas, vamos avanar com uma sistematizao dos
diferentes pensamentos que, enquadrados no tempo, esboam um
itinerrio, isto , a Histria da Antropologia. Entretanto, ser difcil dar
um levantamento completo de todas as contribuies, porque elas vieram
de todos os cantos e de todos os perodos.

A emergncia da Antropologia coincide com as primeiras reflexes do


Homem sobre si e sobre a natureza, o cosmos ou o universo. Uma parte
desse conjunto de reflexes chegou aos nossos dias por via de lendas e
mitos. o perodo que Paul MERCIER indica como sendo de
Antropologia Espontnea ou o perodo da Pr-Histria da
Antropologia.

As contribuies deste perodo so de diversa natureza e origens : cones,


arte parietal (pinturas rupestres), arte mvel (esculturas), manuscritos dos
primeiros povos com escrita (Babilnios, Egcios, Hindus, Fencios, entre
outros).

Segundo Mello (2005, p. 180-185), a contribuio greco-romana na


formao da Antropologia foi enorme, com os trabalhos de Herdoto, um
dos notveis viajantes e narradores das terras visitadas; Plato, (a cidade
ideal); Aristteles, (concepes tericas acerca do Estado); Scrates (com
a crtica sociedade) (Grcia) e Lucrcio (que fala do Homem Primitivo,
Csar, Tcito, Galeno, Marco Aurlio (Roma). Apesar de, como voc
aprendeu na Histria, ser considerado um perodo de retrocesso, tais
contribuies continuaram na Idade Mdia com St. Agostinho (a Cidade
de Deus), Avicena (defende a invariabilidade das formas), Averrois (com
o evolucionismo) e Bacon (uso do mtodo experimental). As
contribuies circunscreveram-se mais na conservao dos escritos,
traduo dos sistemas de pensamento de outros povos e na preparao da
universidade. Viagens e descries foram tambm feitas pelo rabe Ibn
Khaldun (sc XIV).

No conjunto dessas contribuies, Martinez (2004, p. 56), aponta que,


com o Renascimento Europeu e com as viagens de explorao, houve
grandes contactos, que deram origem a Tratados. Surgiram Tratados
acerca das afinidades e diferenas entre os homens e seus mundos sociais
e culturais. Por exemplo, MONTAIGNE, um francs publica os seus
Ensaios (1580), que nos transmitem contactos entre os povos, onde
questiona o etnocentrismo e faz a anlise comparativa das sociedades.
Ainda segundo Martinez (Id.), o Tempo Moderno, dominado pelo
ilumisnismo ou o culto razo, empresta um antropocentrismo, base para
o estudo dos factos tipicamente humanos. As maiores contribuies
ocorrem no Sculo XVIII, com Emmanuel Kant (1724-1804), que, com o
seu pensamento, (...) influenciou os vrios ramos da cincia do tempo.
Ele ensina que o entendimento constri o seu objecto, pelo que os
fenmenos giram em torno da razo.
Antropologia Cultural 39

Voc lembra-se das ditas viagens de descobrimentos, europeias,


aprendidadas na Histria, iniciadas no fim do Sculo XV e que
continuaram a se multiplicar a partir do sculo XVI? As viagens e os
contactos que se multiplicaram para todos os cantos da terra foram
acompanhadas pela produo de relatrios que, mais tarde, serviram de
documentos essenciais para a produo Antropolgica. De facto, os
estudiosos comeam a dispor de maior material antropolgico para as
suas pesquisas. Ocorrem ainda estudos do corpo humano com Leonardo
da Vinci (1452-1518), no seu aspecto morfolgico; Drer (1514 1564),
nas medidas cranianas; Vessalius, com as lies de anatomia e Lineu com
a classificao das raas.

No Sculo XIX d-se a primeira descoberta do homem fssil. No seu


conjunto, todos esses aspectos deram subsdios para a emergncia da
Antropologia Fsica, que conhecera a sua fundao no mesmo sculo por
Johann Blumembach (Mello, 2005, p. 189-190). Antes ou depois vieram
ainda contribuies das misses cientficas mais organizadas e
sistematizadas, de naturalistas, gegrafos, humanistas, que tinham como
objectivo principal colher informaes e fazer observaes. Contam-se os
exemplos de A. Bering (Nordeste da sia); Cook (Oceania) e as viagens
posteriores organizao da African Association, pela Gr-Bretanha,
(1788), para o interior da frica. Um contributo significativo resultou
ainda da Sociedade Etnolgica de Paris (Frana), que lanou
LInstruction gnerale aux Vovageurs, espcie de orientao para a
recolha de dados.

O maior repertrio documental existente, o avano de tcnicas induziu a


especializao, possibilitando a emergncia da Antropologia Cultural, da
Pr-Histria e da Arqueologia. Lanava-se uma nova disciplina no
conhecimento humano.

Sumrio
Para a emergncia da Antropologia jogaram papel importante as
contribuies de vrios povos, perodos e individualidades. Contudo,
apesar de existirem subsdios importantes para o seu estabelecimento
como cincia, a disciplina veio conhecer a cientificidade s no sculo
XIX, merc dos grandes contactos escala planetria dos trs sculos
Tome Nota!
imediatamente precedentes e da insacivel busca dos conhecimentos
das outras realidades geogrficas, histricas, culturais ento
imprimida durante o perodo moderno europeu.
40 Lio n 1

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responda s


questes seguintes:

1. A formao da Antropologia resultou de vrios contributos em


Auto-avaliao diferentes perodos histricos. Identifique os diferentes perodos
e os representantes de cada um deles.

2. Que pressupostos existiam j no Sculo XIX para a emergncia


da Antropologia?
3. Por que foi a Antropologia Fsica aquela que se notabilizou em
primeiro?

Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Foi a Antiguidade de Herdoto, a Idade Mdia de Sto.


Agostinho, o Renascimento do francs Montaigne e o rabe Ibn
Khaldun, filsofo social do sculo XIV, o Iluminismo de
Emmauel Kant entre outros como Montesquieu.

2. O sculo XIX herdara um esplio de informaes sobre os


diferentes povos, merc das viagens de explorao, das
expedies cientficas e que mereciam um tratamento adequado,
num plano eminentemente antropolgico.

3. A Antropologia Fsica foi a primeira a notabilizar-se em virtude


de ter havido a preocupao de se fazer uma diferenciao
racial dos povos ou da sua compleio fsica, por sua vez, como
resultado de muitos trabalhos anatmicos e morfolgicos at a
existentes.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se


teve dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade
persistir consulte as obras indicadas abaixo ou ao seu tutor.
Antropologia Cultural 41

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 165-176.

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Lisboa, Edies 70, 1971, p. 21-32.
Leitura
MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.
Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 55-58.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 177-194.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 33-34.
42 Lio n 2

Lio n 2

O Perodo de Convergncia e de
Construo da Antropologia
Cultural

Introduo
Depois da emergncia da Antropologia como cincia, vrias discusses
apareceram quanto sua natureza, no mbito das demais Cincias
Sociais. Contudo, um primeiro momento foi caracterizado por um
pensamento marcadamente evolucionista, que ento dominava no
segundo quartel do sculo XIX. esse perodo que vai conhecer na
presente lio. Como sempre, no fim desta lio voc tem um exerccio
que vai aferir o grau de compreenso desta matria.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Conhecer a histria do perodo da convergncia e construo da


Antropologia.

Objectivos

Contedo

PERODO DE CONVERGNCIA E DE CONSTRUO

Mesmo existindo um grande fervor cientfico durante o sculo XIX e a


Antropologia tender para vrias interpretaes, ela parece ter procurado
definir-se volta do paradigma caracterstico da poca, o da evoluo,
cujos nomes sonantes do perodo foram: Charles DARWIN (1809-1882),
Edward TYLOR (1871), Herbet SPENCER, Augusto COMTE, Matthew
ARNOLD (1869). De facto, a Antropologia no fugiu esse pensamento
que dominava entre o segundo quartel e fim do sculo XIX, o qual veio,
Antropologia Cultural 43

de certa forma, definir a unidade da Antropologia. Por isso, mesmo que


alguns autores se tenham recusado no evolucionismo, este constituu o
pensamento dominante da poca. Por isso diz-se que foi o perodo da
CONVERGNCIA.

Segundo Martinez, (2004, p. 57) as vrias formulaes sobre a sociedade


e a cultura convergiram para trs objectivos comuns: origens, idade e
mudana. Apareceram no mesmo perodo revistas de algumas
associaes cientficas, como a revista americana Current Anthropolgy, a
britnica Man e a francesa LHome, bem como sociedades de
Antropologia em Gottingen, Cracvia, Madrid, Nova Iorque, Berlim,
Viena e Estocolmo. Segundo Mello (2005, p. 191-192), tais sociedades
eram cientfico-humanitrias e os Antroplogos eram considerados
amigos dos povos primitivos.

A teoria evolucionista alcana as suas feies definitivas com o


aparecimento da obra de Charles DARWIN sobre a evoluo, A Origem
das Espcies. Edward TYLOR veio aplicar essa teoria na Antropologia,
dando o arranque da Antropologia Moderna, isto , o arranque da fase de
construo da Antropologia. De facto, foi este que lanou a Antropologia
Cultural, cujo marco foi a publicao por TYLOR da Cultura Primitiva
em 1871. Lewis MORGAN publica na mesma altura (1877) A
Sociedade Primitiva, procurando discutir a organizao da famlia pelos
diversos estgios de desenvolvimento, isto , num contexto de evoluo
(Ibid., p. 193).

Apesar de terem existido diversas contribuies como as de: Adolf


BASTIAN (1826-1905), mdico viajante e antroplogo, que rejeitando os
particularismos do corpo e alma do romantismo defendeu a unicidade do
pensamento humano; Jacob BACHOFEN (1815-1887), jurista e
antroplogo alemo, com trabalhos comparativos sobre a mitologia e o
parentesco; Summer MAINE, que via na famlia patriarcal a base da
unidade da organizao social; McLennan, que lanou a ideia da noo
do paralelismo e tentou interpretar vrios costumes primitivos, TYLOR
foi o expoente dessas contribuies ao definir o conceito de Cultura e a
coloc-la como objecto da Antropologia. Por outro, Lewis MORGAN
introduz o esquema da evoluo: selvageria, barbrie e civilizao e
FRAZER preocupa-se com o estudo do fenmeno religioso (Id).

Sumrio
Com a formao da Antropologia, apesar de terem existido vrias
tendncias nos estudos antropolgicos, o pensamento mais comum
regia-se pelo evolucionismo que ento era dominante na poca.
Contudo, foi no interior dessa tendncia que se afirmou (construiu-se)
a Antropologia Cultural, com Edward TYLOR.
Tome Nota!
44 Lio n 2

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responda s


questes seguintes:

1. Por que o sculo XIX chamado Perodo de Convergncia?


Auto-avaliao
2. Qual a natureza dos estudos Antropolgicos dominantes a
partir do segundo quartel do Sculo XIX?

3. Em que consistiu o Perodo de Construo da Antropologia


Cultural?

Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos


Resposta

1. O sculo XIX chamado Perodo de Convergncia por ter


sido aquele que, apesar da ter registado uma exploso do
pensamento de caracter antropolgico, teve o evolucionismo
como o pressuposto fundamental do pensamento.

2. A partir do segundo quartel do sculo XIX dominaram estudos


de carcter social e cultural do Homem, diferentemente do
perodo anterior em que eles eram orientados para os aspectos
fsicos.

3. O Perodo da Construo da Antropologia consistiu na


definio da Cultura como objecto de um novo ramo da
Antropologia, a Antropologia Cultural.

Se teve dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a


dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


Antropolgicos, Lisboa, Edies 70, 1978, p. 165-194.

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Leitura Lisboa, Edies 70, 1971, p. 21-32.

MARTINEZ. Francisco Lerma. Antropologia Cultural, Guia para o


estudo. p. 56-58.

MELLO, L.G. de. Antropologia Cultural. Iniciao, Teoria e Temas,


12a edio. Editora Vozes, 2005, 190-194.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 33-34.
Antropologia Cultural 45

Lio n 3

As Correntes/Escolas de
Pensamento Antropolgico

Introduo
Voc sabia que depois da emergncia da Antropologia como Cincia,
surgiram vrias posies quanto sua natureza? Essas diferentes posies
encerram o que hoje se designa por correntes ou escolas antropolgicas.
Nesta lio, voc vai conhecer as diferentes escolas que se formaram e os
conceitos que estiveram associados a cada uma delas. No fim da aula,
voc vai dispor, como sempre, de um momento para reflectir sobre aquilo
que aprendeu, respondendo ao questionrio respectivo. Para isso, voc
dispe de quatro horas para este estudo.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer os principais perodos da Antropologia
Distinguir os vrios autores que elaboraram as teorias antropolgicas.
Reflectir sobre as diferentes posies tericas dessas correntes
Conhecer os conceitos evoluo, difuso, funo e estrutura e os
Objectivos conceitos de Evolucionismo, Difusionismo, Funcionalismo e
Estruturalismo;
Explicar a histria da Antropologia Cultural com base nas suas
correntes/escolas;
Concluir que so correntes/escolas sempre questionveis num
constante processo de retomada.
Distinguir as teses de cada uma das teorias/correntes
Explicar as verdadeiras razes histricas do surgimento da
Antropologia Cultural.

Contedo
EVOLUCIONISMO CULTURAL

Como voc pode depreender, o Evolucionismo deriva do termo


Evoluo. O evolucionismo Cultural surgiu com a emergncia da
prpria Antropologia Cultural no sculo XIX. Contudo, a ideia da
evoluo surgiu j na antiguidade clssica, quando os pensadores se
preocuparam com o problema da origem do Homem e do Universo, como
46 Lio n 3

no Gnesis, nos textos das cilivizaes mesopotmicas, nos poemas


picos da ndia, entre outras narraes. Certamente que voc pode
confirmar isso a partir, por exemplo, da leitura da Bblia.

O Evolucionismo estabeleceu-se como corrente na segunda metade do


sculo XIX, apesar de ter as suas bases fundadas nos dois sculos
precedentes, concretamente na ideia do progresso das civilizaes,
expressa por Condorcet e no Iluminismo. Se se recorda, o Sculo XIX
conheceu largas transformaes sociais, mas tambm o progresso ficou
demonstrado pela Revoluo Industrial, pela exploso do modo de vida
urbano, que indicavam a capacidade evolutiva do homem. Como defende
Martinez (2004, p. 60), o grmen das teorias evolucionistas alcanou o
seu auge neste sculo em virtude de haver manifestao de confiana dos
estudiosos na capacidade do homem de fazer uma histria cada vez mais
grandiosa,

A teoria evolucionista apoiar-se-ia no transformismo de Lamarck,


identificado como fundador da teoria da evoluo e nas ideias de Charles
DARWIN sistematizadas na A Origem das Espcies. Edward TYLOR
ao sistematizar o estudo da cultura seria considerado o pai da
Antropologia. Em 1871 publica o seu livro Primitive Culture, (Cultura
Primitiva), onde props outra sequncia para o desenvolvimento religioso
no Homem: Animismo, que segundo ele teria sido o primeiro estgio; o
Feiticismo, a Idolatria, o Politesmo e o Monotesmo, como a ltima fase
e a mais evoluida da manifestao religiosa. TYLOR define a cultura e
segundo Bernardi (1978, p. 177), com ela esto impregnados aspectos
que constituiriam centrais nos estudos antropolgicos, como a integrao
etnmica, estrutura e funo, relativismo cultural, o indivduo e a
comunidade.

Vrias foram as contribuies para o evolucionismo, de entre as quais as


de Lewis MORGAN que, em 1878, publicou o livro Ancient Society.
Este estudioso ocupou-se do estudo da organizao social. Segundo
Bernardi (Ibid., p. 179) MORGAN fez um (...) estudo cientfico e
sistemtico do parentesco como fundamento necessrio da organizao
social e poltica. James FRAZER outro clssico deste perodo.
Defendia que todas as sociedades passavam por trs estdios: mgico,
religioso e cientfico. Ele usou largamente o mtodo comparativo nos
seus estudos, que se declinavam sobre a magia, o totemismo e a
exogamia.

CARACTERSTICAS PRINCIPAIS DO EVOLUCIONISMO

Um dos aspectos dominantes entre os evolucionistas, apesar de no


explicarem os seus motivos, foi conceber a sucesso dos estgios de
desenvolvimento como caracterstico nos Humanos e verem a cultura
como aspecto tipicamente de todos os grupos humanos. Segundo eles, as
mudanas culturais resultavam da dinmica natural e no dependiam nem
do ambiente nem da histria. De modo geral, os evolucionistas
debruaram-se sobre temas religiosos, familiares, jurdicos e aspectos da
cultura material, isto , o objecto de estudo era diversificado. Tais temas
eram vistos segundo uma evoluo universal e unilinear. O exticoe os
povos primitivos constituam o centro dos estudos, cuja razo era
encontrada nesse processo evolutivo.

Na interpretao das instituies sociais, os evolucionistas (...)


acreditavam que, voltando os olhos ao passado, teriam subsdios para
Antropologia Cultural 47

determinar como a histria da cultura humana se comportaria (Mello,


2005, p. 204). Os evolucionistas introduziram um tempo cultural como
uma nova dimenso cronolgica. Esta foi a outra caracterstica do
evolucionismo.

Finalmente, o uso alargado do mtodo comparativo constituu uma das


caractersticas dos evolucionistas. Contudo, o facto de no haver um
grande rigor na aplicao desse mtodo, a falta de crtica das fontes e a
ausncia do trabalho de campo pesaram muito no enfraquecimento desta
corrente. Por outro, as dvidas repousam sobre os factores da evoluo
cultural, ao indicar aspectos subjectivos de carcter psicobiolgico.

O D1FUSIONISMO

O Difusionismo centra-se na difuso e nos contactos entre os povos como


factores da dinmica cultural, que reconhecida como um fenmeno
universal e humano. O difusionismo fundamenta-se no pressuposto
histrico para explicar as semelhanas existentes entre as diferentes
culturas particulares. por causa disso que tambm se chama
historicismo (Mello (2005, p. 222-223). O Difusionismo congrega vrias
escolas ou tendncias da Antropologia Cultural: Difusionismo Ingls,
Difusionismo Alemo, ou Escola de Viena e Escola ou Difusionismo
Americano. O Difusionismo, difundido entre 1900 e 1930 est dentro do
perodo da crtica, de que falaremos na lio seguinte.

Diferentemente do Evolucionismo, preocupa-se pelo rigor na pesquisa,


tendo, por isso, desenvolvido um trabalho de campo, com a recolha de
dados e posterior elaborao terica. A observao participante foi
privilegiada como uma das tcnicas de pesquisa, e, ao mesmo tempo, foi
incrementada a Lingustica. Por isso, a Etnografia conheceu uma
afirmao com o Difusionismo.

Foram tambm privilegiados estudos das culturas particulares, dando


maior segurana nas informaes e um maior conhecimento de
fenmenos antes relegados a um segundo plano (Ibid., p. 224).

Caractersticas das Escolas Difusionistas.

A Escola Inglesa

Surgida na segunda dcada do sculo XX, a Escola Inglesa teve como


estudiosos Grafton Elliot SMITH e o seu discpulo W.J. PERRY, que
veio a implantar definitivamente a Escola. SMITH introduziu o fenmeno
do paralelismo cultural, da que o fundamento desta escola foi o de
defender a difuso como principal motor da dinmica cultural. Foi levada
a isso talvez ao verificar quo difcil a inovao ou a criao de novos
valores culturais. Para esta escola, a cultura de todo o mundo moderno
era basicamente a mesma por conta da difuso (teoria pan-egpcia), e
ficou conhecida por seu mtodo pouco cientfico e por sua especulao
fantasiosa.

Os pontos fracos desta escola foram: a manipulao de informaes


inseguras e duvidosas; falta de rigor cronolgico dos acontecimentos e o
grande radicalismo ao considerar o Difusionismo como nica base da
explicao das semelhanas culturais existentes entre diferentes grupos.
48 Lio n 3

A Escola de Viena (o Difusionismo Alemo)

Esta escola teve como percursores GRAEBNER, um dos seus principais


fundadores, RATZEL, FROBENIUS, W FOY, F. e SCHMIDT. a
escola tambm designada como histrico-cultural. Quanto metodologia,
privilegia o uso de informaes seguras, tendo sido, por isso uma das
contribuies desta escola para a Antropologia. Grabener defendia que na
anlise da difuso cultural era necessrio ter em conta o nmero e a
complexidade, onde (...) quanto maior for o nmero de semelhanas,
maiores so as probabilidades de ter havido emprstimos (Mello, 2005,
p. 228). Tanto estes, como os ingleses, o seu trabalho basicamente o de
gabinete e neste contexto aproximavam-se dos evolucionistas.

A Escola ou o Difusionismo Americano.

O principal defensor desta Escola foi Franz BOAS. Seguiram-se-lhe,


segundo Martinez, (2004, p. 63), Alfred KROEBER, Clark WISSLER, P.
RADIN, E. SAPIR, Ruth BENEDICT, Margareth MEAD. Tendo como
objecto a cultura universal, a principal caracterstica foi de terem optado
pelo estudo de reas culturais muito pequenas, por considerarem a cultura
complexa e ser, segundo eles, difcil conhec-la completamente.

O trabalho de campo foi pouco privilegiado, alias tal como ocorria com
as outras escolas.

O FUNCIONALISMO

O funcionalismo uma corrente fundada por Bronislaw MALINOWSKI,


a partir de 1914. Esta corrente teve a sua maior influncia entre 1930-
1940. Querendo ultrapassar as tendncias dominantes na poca
(preocupaes pela origem e pelos problemas das transformaes scio-
culturais), o funcionalismo tenta explicar o funcionamento de uma cultura
num determinado momento. As noes de utilidade (para que serve?), de
causalidade (qual a razo?) e de sistema (conhecimento da
interdependncia dos elementos num conjunto coerente) determinaram a
emergncia desta corrente.

Vrios foram os representantes da corrente funcionalista: H. SPENCER,


via a funo como a finalidade procurada intencionalmente; E.
DURKHEIM, defendia a funo como a causa eficiente dos processos
sociais de adaptao, de organizao e de integrao (Rivire, 2000, p.
52). Segundo DURKHEIM, os factos sociais so regras de
comportamento, normas, padres de valores, expectativas que a socie-
dade tem dos seus membros. A pessoa se encontra num mundo onde
existem certas regras e onde ela sofre se as viola. E essa realidade ocorre
no seu meio de residncia, no verdade? A.R. RADCLIFFE-BROWN
era de opinio de que a funo pode contribuir na organizao e na aco
de um conjunto, mas no predetermina a instituio que a realiza.
Interessa-se pelos sistemas de relaes entre homens e grupos. Uma das
principais crticas desta corrente reside no facto de no explicar a gnese
e as transformaes de uma cultura ou organizao.

Contudo, foi MALINOWISKI quem revolucionou a investigao, com o


privilegiamento do inqurito de campo e a elaborao do mtodo de
observao-participante. Ele definiu a cultura como aparelho
instrumental que permite ao homem resolver da melhor maneira os
Antropologia Cultural 49

problemas concretos e especficos que deve enfrentar no seu meio,


quando tem de satisfazer s suas necessidades(Id.). Segundo ele, se a
cultura um mundo artificial criado pelo homem, tambm uma
extenso do mundo natural, dado que a satisfao das necessidades
orgnicas ou bsicas do homem resulta das condies impostas a cada
cultura. A soluo desses problemas cria como um novo ambiente que
permanentemente reproduzido, mantido e administrado cria um novo
padro de vida (Martinez, 2004, p. 65).

Como modelo de anlise para o trabalho de campo, MALINOWSKI


elegeu a instituio. MA, que para ele era constituda pelos seguintes
elementos: estatuto pessoal, normas, aparelhagem material, actividades,
funo. Os tipos institucionais, segundo Malinowski, eram classificados
segundo o princpio de integrao, como a famlia, a aldeia, grupos por
sexos, por idades, Sociedades secretas, etc.
ESTRUTURALISMO

Embora possa ser integrado na Escola Funcionalista, Alfred R.


RADCLIFFE-BROWN, um dos mentores do Estruturalismo. Ele define
estrutura como a disposio ordenada das partes ou elementos que
compem um todo. Num sentido lato, a estrutura associa sistemas, como
o parentesco, a religio, a politica, mas num sentido restrito, pe em
relevo a rede de relaes entre as posies sociais. o sistema simblico
das relaes constantes entre os factos. A anlise utilizada pelo
Estruturalismo apresenta-se como uma anlise sincrnica, sem considerar
a dialctica que existe no desenrolar da histria.

Claude LVI-STRAUSS acentua o valor de signo e de smbolo dos


elementos singulares e a constncia das suas relaes mtuas. Por
exemplo, sobre o parentesco, analisa-o como um sistema de comunicao
e de trocas entre estatutos e papis sociais, de acordo com um princpio
de reciprocidade, que consiste em se interditar o parente prximo para o
trocar por um cnjuge proveniente de outro grupo.

Uma estrutura oferece um carcter de sistema. Ela consiste em elementos


tais que uma modificao qualquer de um deles acarreta uma modificao
de todos os outros.

Em segundo lugar, todo modelo pertence a um grupo de transformaes,


cada uma das quais corresponde a um modelo da mesma famlia, de
modo que o conjunto destas transformaes constitui um grupo de
modelos.

Em terceiro lugar, as propriedades indicadas acima permitem prever de


que modo reagir o modelo, em caso de modificao de um de seus
elementos. Enfim, o modelo deve ser construdo de tal modo que seu
funcionamento possa explicar todos os factos observados. Assim,
segundo C. Lvi-Strauss, a estrutura um tipo de formalizao que se
adapta a um contedo variado.
50 Lio n 3

Sumrio
Aps a emergncia da Antropologia como cincia desenvolveram-se
diversas correntes que, de certa forma, espelharam as vrias
concepes do que devia estudar esse ramo do conhecimento
humano. Assim, seguiram-se vrias posies como a dos
evolucionistas, dos difusionistas, dos funcionalistas e dos
Tome Nota!
estruturalistas. Apesar das divergncias nos procedimentos
metodolgicos e conceptuais, pelo menos todas essas correntes
centraram-se no estudo do Homem como um ser cultural.

Exerccios

Chegado ao fim desta lio, aparentemente longa pense, naquilo que j


aprendeu e responda s questes seguintes:

1. Quanto sua orientao, em que se fundamenta cada uma das


Auto-avaliao teorias acima expostas?
2. Procure encontrar, em cada uma das teorias, o conceito
fundamental e a sua significao nas teorias elaboradas acerca
da cultura humana.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Voc deve procurar resumir o texto acima exposto e das obras


complementares e entregar o resultado ao centro de recursos a
ficha por s elaborada.

2. Voc deve procurar ligar o Evolucionismo com a evoluo; o


Difusionismo, com a difuso; o Funcionalismo, com a funo
e o Estruturalismo, com a estrutura, procurando, ao mesmo
tempo, explicar como a cultura humana era entendida segundo
estes conceitos.

Se teve dificuldades, no desista, volte a realizar a actividade. Se a


dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo ou consulte
o seu tutor.
Antropologia Cultural 51

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 165-223.

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Lisboa, Edies 70, 1971, p. 21-32.
Leitura
MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.
Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 60-68.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 199-298.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 35-60.
52 Lio n 4

Lio n 4

Crticas Antropologia em Geral,


em frica e em Moambique

Introduo

Nesta lio ter a ocasio de conhecer as crticas que se impuseram para o


desenvolvimento da Antropologia sobretudo para ela se libertar do
servilismo colonial, em frica e em Moambique.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer os propsitos da Antropologia Moderna;
Perceber que a partir da crtica se abrem novos campos para a
Antropologia e estudos sobre a cultura popular.
Analisar a situao da Antropologia em frica, em geral e em
Objectivos Moambique, em particular, durante o domnio colonial.

Contedo
Depois da emergncia da Antropologia como cincia, ela viu-se
envolvida, quase em simultneo, em crticas, em torno da sua essncia.
Por isso, pode dizer-se que a Antropologia conhece a primeira crtica
internamente.

As diferentes correntes que se sucederam podem ser postas nesse nvel de


crtica da Antropologia, j que nos primrdios do sculo XX os estudos
passaram a apresentar novas direces, relativamente distantes da teoria
evolucionista. De facto, a partir dessa altura passaram a ser criticados os
princpios iniciais da Antropologia, foram propostas novas abordagens,
condicionando a reformulao da Antropologia Cultural. Em
consequncia, o objecto inicial seria reformulado e haveria o
enriquecimento da Antropologia, por exemplo com a integrao de
estudos psicolgicos, lingusticos, com a pesquisa do campo. James
FRAZER (1854-1941), avanou com estudos comparativos das
sociedades; Alfred RADCLIFFEE-BROWN (1881-1955) e Bronislaw
Antropologia Cultural 53

MALINOWSKI (1884-1942) desenvolveram intensos trabalhos de


campo. Este ltimo veio a ser o mais metdico pesquisador de campo,
mais privilegiado na Antropologia Moderna. Edward EVANS-
PRITCHARD (1902-1973), importante socilogo, se interessou pelo
estudo das dinmicas sociais, conflitos e mudanas culturais.

O socilogo francs mile DURKHEIM (1858-1917), mesmo servindo-


se da sociologia, procurou encontrar explicao cientfica da aco social
e poltica, apresentando a religio como factor integrador fundamental da
sociedade. Os seus estudos tiveram um cariz etnolgico. Esse contributo
foi acrescido por Marcel MAUSS (1872-1952), seu discpulo, que apesar
de ser tambm socilogo, formou a primeira gerao de antroplogos
franceses. Este promoveu o surgimento da Antropologia Contempornea
francesa ao dar maior nfase a um trabalho de campo directo,
prolongado e sistemtico. Publicou um Manual de Etnografia, em 1947.

Franz BOAS (1858-1942), fundou a tradio antropolgica americana, no


fim do sculo XIX, defendendo, contrariamente aos evolucionistas, o
recurso rigoroso histria. A gerao posterior de Antroplogos,
formada, entre outros, por Abrahan KARDINER, Margareth MEAD e
Ralph LINTON, seguiu a corrente culturalista, que explorou as
dimenses inconscientes da civilizao (a personalidade individual em
relao s prticas do corpo, a noo cultural de feminidade e
masculinidade e seus papeis sociais, a relao entre culturas) (Martinez,
2004, p. 59).

A partir dos anos 50 do sculo XX, a Antropologia segue uma trajectria


complexa sob a influncia de Edward EVANS-PRITCHARD (1902-
1973), Claude LVI-STRAUSS (1908), e de autores contemporneos
como Mary DOUGLAS, manifestando um interesse pela histria e a
mudana, conflitos das dinmicas sociais. Nas geraes dos anos 70 80,
do sculo XX d-se tambm um interesse pelas representaes e crenas,
pela ideologia e as relaes de produo, pela organizao social e o
parentesco, pelos mitos e os sistemas de pensamento e pelo simbolismo
(Id.).

A Antropologia passou a estudar no s o extico, o primitivo, mas


tambm aspectos culturais do mundo ocidental. Assim, a rea de estudo
passou a constituir no o outro geogrfico ou histrico, para ser o
outro em relao ao pesquisador.

Mas essa crtica ter surgido de fora da Antropologia, quando, como


aponta Mello, (2005, p. 195) os povos que antes eram apenas objecto de
estudo dos europeus e norte-americanos, como os africanos, os asiticos e
os latino-americanos, comearam a cultivar tambm estudos
antropolgicos. Actualmente ocorre a reinterpretao ou a reavaliao da
Antropologia Cultural, segundo perspectivas elaboradas internamente e
no pela alteridade do europeu. Esperam-se ainda estudos sistemticos
tipicamente novos, como o estudo da cultura popular, o folclore, da
globalizao, da vida urbana, etc,. Dessa forma, a Antropologia libertou-
se do servilismo colonial.
54 Lio n 4

Sumrio
Desde a emergncia da Antropologia que ela passou a confrontar-se
com vrias crticas quanto sua orientao. Tais crticas ajudaram na
reformulao da Antropologia Cultural, a qual passou a ser uma
disciplina no s de povos exticos, mas tambm de todos os grupos
populacionais. Face a essa crtica, a Antropologia estabeleceu-se
Tome Nota!
como uma cincia objectiva de facto.

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responda s


questes seguintes:

1. Em que contribuiram as crticas feitas Antropologia?


Auto-avaliao 2. Depois deste estudo capaz de indicar alguns estudos
antropolgicos em Moambique em particular do perodo
colonial?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Contriburam imenso para a cientificao da Antropologia


enriquecendo-a na orientao psicolgica, no estudo
lingustico, no incremento notvel do estudo e pesquisa de
campo, para alm de se libertar do servilismo colonial.

2. Sobre esta questo necessrio que voc procure alguns


exemplos de estudos antropolgicos feitos durante o perodo
colonial. Podem-se apontar estudos como os de Jorge Dias (Os
Macondes de Moambique), de Henri Junod (Usos e
Costumes dos Bantu), de Frei Joo dos Santos (Ethipia
Oriental), ou as monografias etnogrficas dos Administradores
coloniais.

Se teve dificuldades, no desista, volte a realizar a actividade. Se a


dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo ou o seu
tutor.
Antropologia Cultural 55

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 165-223.

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Leitura Lisboa, Edies 70, 1971, p. 21-32.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 60-68.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao, Teorias e


Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 194-197.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 35-60.

Actividade Final da Unidade


Depois de voc reavaliar as noes preliminares da Antropologia, como o
outro, a Etnografia, a Etnologia, o objecto inicial da Antropologia
Cultural, procure reflectir os passos que foram tomados entre a aplicao
inicial daquelas noes e a Antropologia Contempornea.
Actividade
56 Unidade 3

Unidade 3

A Cultura

Introduo
Bem vindo III unidade de estudo, na disciplina da Antropologia
Cultural. Nesta unidade voc vai aprender aspectos relacionados com a
Cultura Humana, tocando um dos conceitos largamente usados e,
frequentemente, de forma distorcida. Alis, esta unidade de capital
importncia em virtude de ser aqui onde pode ser entendida toda a
natureza do ser Humano, a ser estudada nos captulos subsequentes.

Estrutura

Esta unidade temtica comporta 10 lies. Para cada uma delas, voc vai
disponibilizar o tempo recomendado para o estudo.

Tpicos da Unidade

Lio 1. O Conceito de Cultura

Lio 2. As Caractersticas da Cultura

Lio 3. A Totalidade Cultural : unicidade, diversidade e etnicidade

Lio 4. Da Diversidade Cultural Relatividade Cultural

Lio 5. A Aplicao do Etnocentrismo

Lio 6. Dinamismo Cultural

Lio 7. Os Factores da Cultura

Lio 8. A Interaco dos Factores

Lio 9. A Interaco entre a Cultura e a Natureza; a Sociedade e a


Civilizao

Lio 10: A Identidade Cultural


Antropologia Cultural 57

Ao completer esta unidade / lio, voc ser capaz de:

Geral

Conhecer a natureza da cultura.


Objectivos Especficos

Conhecer o conceito antropolgico de Cultura;

Distinguir as diferentes caractersticas da Cultura;

Explicar a unidade e a diversidade da cultura ;

Conhecer os factores sincrnicos e diacrnicos da cultura;

Saber identificar os aspectos que derivam do uso inadequado


dos conceitos ligados diversidade cultural.

Motivaes

Saber que a Cultura o elemento fundamental da diferenciao do


Homem em relao aos outros seres animais. A partir desta unidade, voc
vai saber que no existe nenhuma cultura superior outra. Que todas elas
so relativamente iguais.

Meios

Para alm das referncias bibliogrficas presentes no fim de cada lio,


poder usar textos de apoio, visitas a museus etnogrficos, sempre que
eles existirem, mas tambm a sua prpria comunidade. No contacto com
a realidade local a sua compreenso sobre a cultura ser mais eficaz.
Tenha um bom proveito.
58 Lio n 1

Lio n 1

O Conceito de Cultura

Introduo
Na sua vida quotidiana, voc tem ouvido expresses como: voc no tem
cultura; os jovens no tm a cultura de leitura; ns que temos cultura
em relao queles, etc. Na verdade, o que expressa o termo cultura?
Nesta lio vai ter o contacto com o conceito antropolgico da cultura.
Para isso, ter duas horas de estudo para concretizar os objectivos que se
seguem. No fim, voc tem umas actividades e a auto-avaliao, que
servem para testar o grau de aprendizagem. Procure primeiro resolver,
antes de consultar as respostas que constam no fim.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Conhecer o conceito de cultura

Identificar os elementos de cultura


Objectivos Reconhecer um nvel de cultura

Contedo
O termo Cultura tem mltiplas aplicaes e foi usado em
diferentes pocas e sentidos, tal como ocorre na fase actual. Ele
usado em vrias cincias, desde as fsicas s sociais. Mesmo na
Antropologia, o seu uso conheceu vrias significaes nas
diferentes escolas ou correntes. Contudo, o termo tem a sua
origem do Grego, para significar cultivar. O termo Cultura teve a
sua definio antropolgica clssica com Edward Tylor. Segundo
este, a Cultura Complexo unitrio que inclui o conhecimento,
a crena, a arte, a moral, as leis e todas as outras capacidades e
hbitos adquiridos pelo homem como membro da
sociedade(Bernardi, 1978, p. 24). H ainda quem entende a
cultura como uma estrutura de significados, transmitidos
historicamente, encarnados simbolicamente, para comunicar e
desenvolver o conhecimento humano e as atitudes para com a
Antropologia Cultural 59

vida, uma lgica informal da vida real e do sentido comum de


uma sociedade, que funciona tambm como controlo (Martinez,
2004, p. 23). Vrias definies existem que no seriam esgotadas
neste mdulo. Traremos ainda, mais do que uma definio, uma
caracterizao da prpria cultura, dada pela UNESCO. Segundo
esta organizao, a cultura um conjunto de traos distintivos,
espirituais e materiais, intelectuais e afectivos, que caracterizam uma
sociedade ou um grupo social. Ela abrange, alm das artes e as letras,
os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas
de valores, as tradies e as crenas. A cultura d ao homem a
capacidade de reflexo sobre si mesmo. A cultura faz de ns seres
especificamente humanos, racionais, crticos e eticamente
comprometidos. Atravs da cultura discernimos os valores e fazemos
opes. Por meio dela a pessoa se expressa, toma conscincia de si, se
reconhece como projecto inacabado, pe em questo as suas
realizaes, procura incansavelmente novos significados e cria obras
que o transcendem(Ibid., p. 24).

Como pode ver, os trs conceitos pem em relevo: o carcter humano da


Cultura; o facto de ela ser transmitida e adquirida historicamente pelo
Homem entanto que membro de um grupo social; ter um carcter
simblico, caracterstico de cada grupo humano; ser um sistema
complexo; que evolui; etc. Assim, no seu sentido antropolgico, a cultura
encerra vrios aspectos.

Importa saber que a Cultura um produto da actividade mental do


Homem, esta diferente da actividade animal pela sua codificao dentro
de um grupo social. A sua transmisso feita segundo regras pr-
estabelecidas, de gerao em gerao, por um processo de socializao,
com agentes e instituies bem identificados.

Componentes e Nveis de Cultura

Tal como depreendeu da definio da prpria cultura, esta envolve vrios


elementos tais como atitudes, valores, conhecimentos, costumes.
Contudo, necessrio frisar que a Cultura uma totalidade e no um
aspecto particular ou parcial da actividade mental ou de uma
manifestao humana. Voc no pode identificar, por exemplo, a simples
forma de comer, como um padro cultural, dado que esta uma
expresso cultural, integrada num vasto complexo. Por detrs da forma de
comer h outros significados. Ou a maneira como voc e a sua comunidade
pensam sobre a infncia ou em relao ao papel e ao lugar da mulher, no
a mesma que as outras sociedades. O mesmo acontece com as crenas e
todos os outros componentes culturais, tais como: smbolos; ideologias;
atitudes; usos de um determinado complexo cultural.

Todos estes elementos da Cultura so aprendidos normativamente. A


Cultura tem valores-chave ou essenciais, organizados num sistema. A
conduta humana governa-se por padres culturais, isto , a Cultura que
orienta a vida das pessoas. Quando na sua comunidade diz-se que no
faa isto e aquilo, porque as pessoas no admitem, prova dessa
orientao das pessoas pela cultura.

Contudo, necessrio enfatizar que o comportamento individual apesar


de estar sujeito a regras culturais, nem sempre segue o ditado ou as
regras. A surge o que podemos chamar de: nvel ideal da cultura (o que
os indivduos deveriam fazer ou o que dizem estar a fazer) e nvel real da
60 Lio n 1

cultura (o que fazem realmente no seu comportamento observvel). Mas,


nem por isso o nvel ideal deixa de pertencer realidade. Com esta
realidade, a cultura mesmo na condio de normalizadora, pode ser a base
da emergncia de um conflito. De facto, sempre que as pessoas se sentem
insatisfeitas sobre uma determinada conduta, elas violam-na. (Ex: quando
algum ultrapassa a limitao de velocidade num determinado local). E
esses atropelos existem na sua comunidade, no verdade?

Ainda a cultura pode ser subjectiva, ao expressar o conjunto de valores,


conhecimentos e experincias presentes nos indivduos como membros
de uma sociedade, isto , quando ela interpretada de forma individual e
objectiva, quando o conjunto dos valores e significados exteriorizado,
formando o patrimnio cultural de um povo.

Sumrio
A cultura um sistema complexo de prticas caractersticas da
sociedade humana. A cultura compreende vrios elementos, desde
atitudes, valores, conhecimentos, costumes, smbolos, ideologias,
usos. Existem vrios nveis de cultura, desde o ideal ao real. A cultura
pode ser tambm objectiva e subjectiva.
Tome Nota!

Exerccios

1. Indique o conceito de cultura

2. Identifique os elementos da Cultura


Auto-avaliao 3. Diferencie Cultura objectiva da subjectiva

4. Procure identificar as expresses do nvel ideal e real da Cultura da


sua comunidade.
5. Entre a forma de vestir de um indivduo e a forma de comer da sua
comunidade, identifique o que expressa a Cultura objectiva e a
Cultura subjectiva.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos


Antropologia Cultural 61

Respostas

1. Voc deve procurar apresentar o carcter humano, unitrio,


social da Cultura.

2. Os elementos da Cultura so: atitudes, valores, conhecimentos,


costumes, smbolos, ideologias, atitudes, usos.

3. Cultura Objectiva aquela que expressa a forma de viver de um


grupo social, enquanto a Cultura Subjectiva so as interpretaes
particulares da cultura.

4. Aqui o voc deve procurar os desvios e as normas de uma


determinada expresso cultural, para identificar os nveis ideais e
reais da Cultura.

5. O vestir a forma subjectiva e o comer a objectiva.

Se teve dificuldades, no desista, volte a realizar a actividade. Se a


dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo, caso a
dificuldade persisitir consulte o seu tutor.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 19-119.

MARCONI, A. & LAKATOS, E. M. Sociologia Geral, 7 edio. SP,


Edio Atlas, 130-148.
Leitura
MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,
Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 79-168.

OLIVEIRA, M da Luz et al. Sociologia. Lisboa, Textos Editora, 1989,


p. 111-128.
62 Lio n 2

Lio n 2

As Caractersticas da Cultura

Introduo
Nesta lio vai poder conhecer as diferentes caractersticas da Cultura
Humana. De facto, a Cultura Humana apresenta peculiaridades por
expressar, por um lado, o visvel e, por outro, o invisvel; ao expressar o
particular, mas tambm o geral e outros contornos, como poder
constatar. Voc constatar que nestas caractersticas, a cultura coloca em
oposio duas realidades. No fim, voc tem umas actividades de auto-
avaliao, que servem para testar o grau de aprendizagem. Procure
resolver, antes de consultar as possveis respostas.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Identificar as caractersticas da Cultura Humana.

Objectivos

Contedo

A Cultura apresenta vrias caractersticas. Se por um lado h um mundo


visvel, palpvel, constitudo por artefactos, fazendo parte da cultura e do
carcter material, por outro existe o invisvel, expresso de forma
simblica. Assim, a outra natureza o seu carcter simblico. De facto,
a aco humana est geralmente carregada de smbolos que reflectem
aces, objectos, espaos, instituies, isto , tudo o que est ligado ao
homem. Um simples gesto pode significar algo, mas um mesmo gesto
pode variar de um complexo cultural para o outro, da a necessidade de
nem sempre ser tangvel este mundo, precisando, por isso, de uma
aprendizagem. O prprio smbolo, uma vez integrado num padro
cultural acaba desempenhando a funo comunicativa entre os membros
de um determinado grupo.
Antropologia Cultural 63

Voc j fez algo que no seja praticado por um outro ser humano? Ao
reflectir h-de notar que no h nada que voc faa e no seja praticado
por um ser humano ou pelo grupo social onde voc se integra. por
causa disso que se diz que a Cultura social, na medida em que ela se
forma, se partilha e se transmite no interior de um grupo social e nunca
em indivduos separados. Uma norma de comportamento s pode ser
concebida como tal se envolver um grupo social determinado e
localizvel num espao. por causa disso que os processos de
transmisso so tambm sociais, seja qual for a sociedade.

Se olhar atentamente vai notar ainda que as prticas sociais e culturais


so algo que duram no tempo. Nada passageiro, mesmo que varie a
forma da sua manifestao. por causa disso que se diz que a Cultura
estvel. Mas tambm ela dinmica. primeira vista parece haver uma
contradio entre a estabilidade e o dinamismo. Mas eles esto
intrinsecamente ligados.

Normalmente, cada grupo social procura preservar os valores que o torna


autntico e diferente dos outros. Essa procura da demarcao do espao
cultural leva, de certa maneira, a uma estabilidade das normas que regem
um determinado grupo. Hoje tem-se em conta que este pressuposto, no
pode ser visto como um bloqueio aos comportamentos de outras culturas,
dado que isso s podia significar, de certa maneira, a excluso cultural
dos outros grupos e falta de uma comunicao intercultural.

A Cultura dinmica, na medida em que est em constante


transformao, sempre que existir uma causa para o efeito. Essa dinmica
pode ser encontrada no interior de um grupo de pessoas ou no seu
conjunto. Por exemplo, uma classe de idades ou uma faixa etria,
segundo as sociedades, tem um certo conjunto de normas, que vo sendo
complementados medida em que esse grupo passa para estgios
superiores. Mas com a prpria dinmica temporal, fruto da evoluo
material de uma sociedade ou da aco directa dos membros, de
contactos com outros grupos, certos elementos que antes eram
considerados integrantes podem ser excluidos. Ela transforma-se
consciente ou inconscientemente.

A cultura tambm selectiva, na medida em que integra os valores,


cdigos, sistemas que um determinado grupo acha pertinentes. Assim, h
uma avaliao inicial dos novos elementos, que culmina com a aceitao
ou rejeio dos mesmos numa cultura determinada. Essa seleco pode
ocorrer ainda na sucesso das geraes. Muitas vezes, as novas geraes
tm considerado algumas normas das geraes precedentes como fora da
moda. Contudo, quando os factores exgenos so fortes, persistentes ou
pem em causa a sobrevivncia de um grupo, pode ocorrer que haja uma
integrao de certos elementos novos sem a respectiva seleco. isso
que ocorre entre os pases do Terceiro Mundo em relao aos de
tcnicas muito avanadas.

A Cultura universal, regional e local. universal na medida em que


todo o ser humano um ser cultural. No h um homem que no tenha
cultura. Os Universais Culturais, que voc ver mais adiante, so o
sinnimo dessa universalidade da Cultura, mesmo que se saiba que a
maneira de express-los muitas vezes diferente. Essa diferena surge na
resposta que cada grupo d localmente a um certo impulso. Mas por
outro, pode ser que haja certas prticas especficas de determinados
64 Lio n 2

locais, circunscritas em funo das condies existentes ou criadas


localmente. Nesse mbito estar-se-ia na presena de manifestaes
particulares da Cultura. Estamos a falar da manifestao regional ou local
da Cultura.

A Cultura determinante e determinada: Se por um lado a Cultura


fruto da actividade mental do Homem, este acaba sendo o produto da
Cultura. O Homem depois de nascer circunscrito a um ambiente
cultural, regendo-se por comportamentos e normas pr-estabelecidas.
Contudo, isso no significa que este homem no tem algum papel na
modificao desse mesmo ambiente, na medida em que ele um agente
activo no interior do seu meio cultural, atravs de vrios processos:
econmicos, polticos, sociais, etc.

Sumrio
A cultura tem vrias caractersticas. Ela simblica e material,
selectiva, social, determinante e determinada, local e universal,
estvel e dinmica.

Tome Nota!

Exerccios

1. Em que consiste cada caracterstica da Cultura?

2. Apresente as formas da transmisso da cultura na sua comunidade.

Auto-avaliao 3. Como que o Homem capaz de influenciar a dinmica da sua


cultura?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. A partir das caractersticas da Cultura, (carcter simblico, universal


e local, dinmico e estvel, determinada e determinante, social,
selectivo, etc.), voc deve ser capaz de identificar o que especifica
cada caraterstica.

2. As formas de transmisso da Cultura variam de um local para o outro:


pode ser formal (educao dada por instituies especializadas) ou
informal (jogos, canes). O importante o estudante identificar, para
alm da escola oficial, as formas de transmisso da Cultura,
Antropologia Cultural 65

especficas da sua comunidade, como por exemplo os ritos de


passagem, onde eles existem.

3. O Homem pode ser capaz de influenciar a dinmica cultural da sua


comunidade a partir de contribuies individuais relevantes para a
comunidade. Como veremos, mais adiante, os gnios, os inventores,
podem alterar o comportamento cultural, quando as suas
contribuies so socializadas.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte as obras indicadas abaixo ou ao seu tutor.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 19-119.

MARCONI, A. & LAKATOS, E. M. Sociologia Geral, 7 edio. SP,


Edio Atlas, 130-148.
Leitura
MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.
Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 21-54.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 79-168.

OLIVEIRA, M da Luz et al. Sociologia. Lisboa, Textos Editora, 1989,


p. 111-128.
66 Lio n 3

Lio n 3

A Totalidade da Cultura:
Unicidade, Diversidade e
Etnicidade

Introduo
Nesta lio vamos ainda aprofundar a natureza da Cultura Humana. No
novidade que os diferentes ambientes bioclimticos condicionam
diferentes reaces do ser humano a essas adversidades. Surgem
diferentes formas de vestir, de construir as casas, de se alimentar.
primeira vista, parece existirem diversidades inconciliveis. Contudo, se
pegarmos nas aces veremos que todos os homens se vestem, constrem
casas e alimentam-se. Assim, vamos ver como a Cultura pode ser, ao
mesmo tempo total e diversa e como, s vezes, essa diversidade usada
por certos grupos humanos. Para tal, vai precisar de duas horas de estudo.
Como sempre, no fim desta lio, voc tem umas actividades de a auto-
avaliao, que servem para testar o grau de aprendizagem. Procure
resolver, antes de consultar as respostas que constam no fim.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Identificar os universais culturais;

Conhecer como a Cultura Humana pode ser total, mas diversa;


Objectivos Conhecer as bases da emergncia da diversidade cultural;

Identificar os aspectos negativos que advm da diversidade cultural.

Contedo
Se concebermos o Homem como uma espcie distinta das demais
espcies do reino animal, a sua particularidade ser: o facto de ter se
desligado de forma considervel da natureza, conseguir padronizar as
aquisies materiais e transmit-las num determinado contexto. Este
Antropologia Cultural 67

aspecto comum a todo o ser humano. Voc pode observar ainda que, em
todas as sociedades humanas, h estruturas mentais comuns a todos os
indivduos, estruturas organizacionais fundamentais comuns a todas as
sociedades e a todas as culturas, mas ao mesmo tempo existe uma
variedade de culturas e de sociedades. Assim, essa realidade leva-nos a
dizer que todos os grupos humanos tm cultura, do mais pequeno ao mais
complexo grupo que se conhea. Voc j viu que por onde anda todo o
grupo humano tem alguns pontos tais como:
Uma linguagem padronizada, usada como veculo de
transmisso do que legado pelos grupos predecessores;
Viver em grupos sociais definidos segundo determinadas
regras como, por exemplo, a famlia, mesmo que no
implique que a organizao familiar seja igual em todos os
grupos sociais;
A prtica da exogamia e o tabu do incesto, ou melhor a
proibio de casamento e da prtica de relaes sexuais entre
parentes prximos;
O matrimnio, entendido como relao social estvel e
duradoura, entre pessoas e
A diviso social do trabalho.

Neste caso, poderamos dizer que a Cultura universal, porque seja para
que sociedade fossem aplicados estes termos, iriamos encontrar a sua
aplicabilidade. Estes traos culturais que existem em todas ou em quase
todas as sociedades denominam-se universais culturais. Os universais
culturais tm a particularidade de distinguirem os seres humanos das
outras espcies animais, isto , so tipicamente manifestas pelo Homem.

Contudo, se num sentido geral a Cultura universal ao Homem, no seu


sentido mais restrito ela descreve um conjunto de diferenas de um grupo
humano especfico em relao aos outros. De facto, a Cultura ao ser
partilhada pelas pessoas, feita em funo dos membros de um grupo que
vive num determinado meio. A Cultura converte-se, assim, num sinal de
identidade grupal. Por exemplo, as mesmas prticas anteriormente
indicadas como universais culturais ao serem analisadas em funo das
diferentes reas culturais tm manifestaes dspares. Nesse caso
falaramos de diversidade cultural.

A diversidade cultural apareceu a partir do momento em que cada grupo


social se adequou a um ambiente especfico, teve uma histria particular
ou conheceu um certo desenvolvimento diferenciado em relao aos
outros grupos, aparentados ou no. Voc imagine, por exemplo, os
grupos Bantu que migraram para a frica Austral. Se nos primrdios
todos os Bantu eram caracterizados pela prtica da actividade agrcola, as
diversas migraes posteriores para os diferentes meios ecolgicos
levaram a uma certa diferenciao entre eles. Hoje individualizaram-se ao
ponto de identificarem-se como diferentes uns dos outros. nessa
identificao de um grupo, em relao aos outros, que emergem certos
fenmenos ligados diversidade cultural, como, por exemplo, o
Etnocentrismo Cultural.

O Etnocentrismo Cultural a tendncia para aplicar os prprios valores


culturais no julgamento do comportamento e das crenas de pessoas de
outras culturas. Quando um grupo cultural X diz que os membros da etnia
68 Lio n 3

Y alimentam-se mal, s pelo facto destes ltimos comerem um alimento


que no caracterstico na zona do primeiro grupo, est-se em presena
de um etnocentrismo cultural.

Etnocentricamente, os indivduos pensam que os seus costumes so os


nicos que so correctos, apropriados e morais. As pessoas pensam que
as suas normas representam a forma natural de comportamento, da que
os outros so julgados como negativos. As vises etnocnctricas
entendem o comportamento diferente como estranho e selvagem, mas
tambm como inferior. O etnocentrismo uma viso de acordo com a
qual o prprio grupo o centro de tudo: todos os outros se medem por
referncia a ele. Cada grupo alimenta o seu prprio orgulho e a sua
vaidade, proclama a sua superioridade, exalta as suas prprias divindades
e olha com desprezo para os outros. O Etnocentrismo pode manifestar-se
em diferentes nveis: aldeia, tribo, minoria tnica, rea cultural.

Com o Etnocentrismo surgiu o termo de alteridade, isto , o outro,


considerado como estranho a um determinado grupo de referncia. Os
sistemas coloniais usaram esta alteridade em funo de dois pressupostos:
geogrfico e histrico. Desta forma, a noo de Cultura foi usada politica
e etnocentricamente, para separar grupos humanos. De facto, foi com a
colonizao que surgiram os termos Grupos tnicos ou a etnicidade.

Um Grupo tnico definido por semelhanas entre os seus membros


(crenas, valores, hbitos, normas, substrato histrico comum, etc.) e por
diferenas em relao aos outros (lngua, religio, histria, geografia,
territrio, etc.). Todos estes aspectos so referentes simblicos que esto
mais na mente das pessoas que na realidade objectiva. Pode existir sem
ter um nvel de conscincia de identidade tnica.

Sumrio

Os universais culturais so aqueles que apenas constituem o


manifesto das prticas humanas. Por exemplo, o acasalamento no
universal cultural porque ele ocorre tambm entre os animais. Apesar
de a Cultura Humana ser universal ela diversificada. Essa
Tome Nota! diversidade d origem alteridade, isto , formao do outro.
Antropologia Cultural 69

Exerccios

1. Identifique trs universais culturais para alm dos que esto


apontados no texto.

2. Mostre que a Cultura Humana total mas tambm diversificada.


Auto-avaliao
Certamente que na sua zona existiro prticas etnoctricas. Identifique-as.

Respostas

1. Voc deve identificar as prticas eminentemente humanas, no


praticadas tambm pelos animais.

2. De facto, se todos os grupos humanos tm os mesmos traos culturais,


a sua manifestao tem sido bem diferente de um grupo para o outro, o
que torna diversas as prticas culturais.

3. Geralmente, a atribuio de nomes pejorativos a outros grupos


populacionais, ou de prticas achadas no aconselhadas, ou outras
manifestao, fazem parte das manifestaes etnocntricas.

4. De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte as obras indicadas abaixo ou ao seu tutor.

Leituras aconselhadas
BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos. Lisboa,
Edies 70, 1974, p. 19-119.

MARCONI, A. & LAKATOS, E. M. Sociologia Geral, 7 edio. SP,


Edio Atlas, 130-148.
Leitura
MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.
Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 8-13.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao, Teorias


e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 79-168.

OLIVEIRA, M da Luz et al. Sociologia. Lisboa, Textos Editora, 1989, p. 111-


128.
70 Lio n 4

Lio n 4

Da Diversidade Relatividade
Cultural

Introduo
Na lio anterior vimos que o facto de os diferentes grupos sociais
expressarem de forma especfica os mesmos aspectos culturais leva a
sugerir a existncia de diversas culturas. Nesta lio vai aprender, por um
lado, os aspectos que emergem dessa diferenciao cultural e, por outro
lado, que essas diversas formas no so em si absolutas ou umas
melhores que as outras.

No fim, voc tem umas actividades de auto-avaliao, que servem para


testar o grau de aprendizagem. Procure resolver, antes de consultar as
respostas que constam no fim.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Identificar as diferentes manifestaes da criao do alter ou do


outro, nas diferentes fases da evoluo da humanidade.

Saber como se formam os esteretipos.


Objectivos
Identificar a funo dos esteretipos.

Contedo

Desde a origem do Homem, as diferenas foram sempre demarcadas. Na


fase primitiva podiam ser identificados os grupos humanos das savanas e
das florestas densas. A histria deixou exemplos concretos de delimitao
de grupos sociais. Por exemplo, na Grcia antiga o thnos era um
conceito que definia um grupo de pessoas diferentes do povo grego.
Nesse caso o thnos representava o outro, o estrangeiro ou o
tnico. Face ao thnos, existia o gnos, que queria dizer ns.
Antropologia Cultural 71

Quando estes elementos identitrios so frequentemente usados, formam-


se como esteretipos. Os esteretios surgem para apreender a realidade
organizando-a em categorias: negros, brancos, os macuas, os mulatos, os
Machel. Surgem da categorizao social, como um processo de
simplificao e sistematizao da informao. Por acaso, nunca lhe
ocorreu simplificar algo para uma fcil memorizao?

Os esteretipos tambm surgem por comparao social. Os esteretipos


exageram as diferenas entre categorias, comparam e organizam a
informao. Inventam-se diferenas para criar processos de identificao.
Os esteretipos podem surgir ainda por atribuio de caractersticas a
determinadas categorias, gerando expectativas e condutas. Estes
estertipos so estruturas cognitivas partilhadas, debaixo das quais esto
sistemas de valores transmitidos pelos agentes de socializao (famlia,
escola, rgos de comunicao social : por exemplo, notcia nos canais
televisivos extra-africanos, a fome, a seca, a nudez, as guerras em
frica).

Estes esteretipos funcionam por meio de um favoritismo endogrupal.


Geralmente valorizamos mais positivamente o nosso grupo e
desfavorecemos os outros. Acentuam-se as diferenas intergrupais e
reforam-se as diferenas face aos pensados como outros, por meio da
homogeneidade interna exagerada, na procura de uma coeso interna.
Com os esteretipos homogeneiza-se o outro grupo, desindividualizando
os seus membros. Ex.: J ouviu falar, por exemplo, que Todos os negros
so iguais! Que o grupo X avarento. Mas quantas vezes essa
informao no reflecte a verdade! Neste caso, pode permitir rivalidades
ou concorrncias.

Sumrio
A identificao do outro to antiga como a origem da prpria
humanidade. Tal diferenciao acompanhada pela introduo de
esteretipos que, de certa forma, servem para fragilizar o outro e
favorecer o grupo de pertena.
Tome Nota!
72 Lio n 4

Exerccios

1. Como surgem os esteretipos nos seres humanos?


2. Qual a finalidade dos esteretipos?

Auto-avaliao Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas .

1. Os esteretipos surgem para repertoriar, sistematizar ou organizar


informaes.

2. Geralmente, os esteretipos servem para acentuar as diferenas


intergrupais, atravs da procura de uma homogeneidade interna.

ptimo! Est no caminho certo. Se teve dificuldades, no desista, volte


a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte as obras indicadas
abaixo ou ao seu tutor.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 19-119.
MARCONI, A. & LAKATOS, E. M. Sociologia Geral, 7 edio. SP,
Edio Atlas, 130-148.
Leitura
MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.
Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 8-13.
MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,
Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 79-168.
OLIVEIRA, M da Luz et al. Sociologia. Lisboa, Textos Editora, 1989, p. 111-
128.
Antropologia Cultural 73

Lio n 5

A Aplicao do Etnocentrismo

Introduo
Se certos grupos sociais ocupando espaos sociais diferentes comungam a
fraternidade, geralmente, quando os homens se consideram importantes
em relao aos outros grupos, tm o impulso de aplicar os seus interesses
para esses outros. s vezes, tal impulso manifesto de forma violenta,
pondo em questo a sobrevivncia do outro. Voc vai apreender essa
realidade na presente lio. Para isso, dispe de duas horas, seguidas pela
resoluo de um exerccio de auto-avaliao.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Identificar as formas mais exacerbadas da aplicao das diferenas
culturais.
Conhecer as bases do privilgio da relatividade cultural na fase actual

Objectivos

Contedo
Na lio anterior voc viu como surgem os esteretipos, na relao
entre grupos diferentes, cuja finalidade de rotular os outros com
aspectos pejorativos. Quando tal processo ocorre ao nvel de um
grupo tnico, estamos em presena de um etnocentrismo. O
etnocentrismo concebido como sendo o uso da prpria cultura
como base de explicao ou de descrio da cultura de outros
grupos tnicos ou povos. H termos relacionados com o
etnocentrismo e que so estudados pela Antropologia, tais como:
Etnicidade, Etnognese e Tolerncia tnica.

A Etnicidade tem como base um sentimento colectivo de


identidade. Implica identificar-se, afirmar-se como grupo tnico,
sentir-se parte dele. Serve como elemento de incluso e de
excluso.

A Etnognese o processo de afirmao, revitalizao e


autoconscincia da identidade tnica de um grupo humano, numa
situao de confronto das diferenas socio-culturais para com
74 Lio n 5

outros grupos. A frica oferece exemplos concretos de prticas


etnocntricas extremas, como o genocdio que resultou no
confronto entre os Hutu e os Tutsi.

Contudo, a mesma frica oferece mltiplos exemplos de


convivncia entre diferentes grupos tnicos, j que, geralmente,
muitos pases tm mais do que uma etnia, resultante da formao
histrica desses pases. Nesse caso tem se a Tolerncia tnica, um
processo que se manifesta no reconhecimento das diferenas
culturais mas convivendo num mesmo espao. Contudo, a
Antropologia, do ponto de vista humanstico, deve servir para
melhorar a convivncia e construir uma sociedade
democraticamente justa. Neste uso positivo das diferenas culturais
estaramos a falar do relativismo cultural.

O Relativismo Cultural afirma que uma cultura deve ser estudada e


compreendida em termos dos seus prprios significados e valores, e
que nenhuma crena ou prtica cultural pode ser entendida
separada do seu sistema ou contexto cultural. O comportamento,
numa cultura particular, no pode ser julgado com os padres de
outra cultura. O Relativismo Cultural tanto uma teoria
antropolgica como uma atitude e uma prtica antropolgica, uma
forma de lidar com os outros, respeitando a diversidade. Assim,
nenhuma cultura, ou grupo social mais importante que o outro.

A linguagem antropolgica baseada no multicultural, isto , no


reconhecimento da existncia de diversas culturas, cada uma
importante dentro no seu territrio. o Relativismo Cultural.
Entretanto, nessa perspectiva do Relativismo Cultural tico, h e
deve haver limites vlidos para toda a humanidade. Que no se
tolerem aspectos imundos. (Ex. mutilao de cltoris nas mulheres,
frequente na frica Sahariana). Existe, por isso, uma referncia
moral e valores internacionais e humanos de justia e moralidade
que nos fazem mais humanos.

Mas tambm o Relativismo Cultural mais extremo equivale


eliminao de toda a regulamentao do comportamento humano e
pode cair no risco de justificar e/ou permitir a violncia. por
causa disso que existem por exemplo documentos normativos
como, A Carta dos Direitos Humanos. Neste caso, poderamos
afirmar como fundamentos antropolgicos da cultura:

O carcter local de toda a cultura, isto , aplicada a uma certa


realidade social;

A equivalncia de todas as culturas, sendo que nenhum ser humano


mais cultural que o outro. Assim, tudo o que etnocentrista,
elitista, o ocidentalismo, acaba sendo banal.

A cultura diz respeito a todas as manifestaes humanas.


Antropologia Cultural 75

Sumrio
A histria humana foi marcada pela criao do outro, em parte como
forma de marcar a identidade prpria ou de identificar o prximo.
Essa alteridade, nem sempre, introduzida de forma positiva, levando
emergncia, por exemplo, de etnocentrismos. Contudo, necessrio
saber que as diferenas culturais enquadram-se no contexto da
Tome Nota!
multiculturalidade, no havendo, por isso, alguma cultura mais
importante que a outra.

Exerccios

1. Qual a etimologia da palavra etnocentrismo?

2. Em que se fundamenta a Tolerncia tnica?


3. Que elementos e aces devem ser postos em considerao no pas
Auto-avaliao para dissipar processos etnocntricos?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Etimologicamente, etnocentrismo vem de etno (Ethnos = povo),


centrismo (no centro), isto , a colocao de um grupo social como
centro de anlise de um determinado aspecto.

2. A Tolerncia tnica baseia-se no Relativismo Cultural, isto , no


princpio de que todas as culturas so equivalentes.

3. preciso, por um lado, guiar todos os processos sociais em funo


da lei me, a Constituio da Repblica; preciso promover
vrios contactos inter-tnicos, em eventos de carcter nacional,
para que a diversidade seja vista como uma potencialidade que
o pas oferece.

ptimo! Est no caminho certo. Se teve dificuldades, no desista,


volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir, consulte as obras
indicadas abaixo ou ao seu tutor.
76 Lio n 5

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 19-119.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 9-10 e 29.
Leitura
MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,
Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 79-168.

OLIVEIRA, M da Luz et al. Sociologia. Lisboa, Textos Editora, 1989,


p. 111-128.

TITIEV, Mischa. Introduo Antropologia Cultural 9 edio.


Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian, 2002.
Antropologia Cultural 77

Lio n 6

O Dinamismo Cultural

Introduo
Tal como se afirmou nas caractersticas da Cultura, apesar de ela ser
estvel, tambm dinmica. O dinamismo surge como resultado do seu
carcter eminentemente humano e social, caracterizado por constantes
mudanas, quer como resultado da evoluo bio-cultural do prprio
Homem, quer pelas mudanas que podem ocorrer no interior de um grupo
social. Vrios so os factores que condicionam o Dinamismo Cultural,
tais como: a descoberta, a inveno, a difuso, a aculturao, a
desculturao e a globalizao. Voc tem duas horas para poder
reconhecer os factores que condicionam o dinamismo cultural.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:

Identificar os factores do Dinamismo Cultural.

Diferenciar os factores internos e extenos do Dinamismo Cultural.


Objectivos Definir os conceitos de enculturao, aculturao, desculturao, e
globalizao.

Contedo
A DESCOBERTA E INVENO

Voc j se inteirou de que a Humanidade vive de descobertas e


invenes. verdade. Essas descobertas e invenes acumuladas vo
fazendo parte de um repertrio cultural de determinados grupos sociais,
seno de toda a humanidade, em funo da sua absoro nos diversos
quadrantes do Mundo. Todos os novos elementos descobertos ou
inventados podem condicionar o incio de um processo que pode
culminar numa mudana cultural. Ao se constituirem como novidade no
grupo em que tais processos ocorrem, eles podem, por um lado, ser
78 Lio n 6

incorporados num procedimento j existente, melhorando o anterior


estgio ou ento condicionar o abandono de anteriores prticas. Quer seja
num ou no outro sentido, h uma mudana de uma prtica. Esse processo
surge a partir do momento em que as prticas individuais so socializadas
pela comunidade onde os inventos ocorreram.

Ao lado da descoberta e da inveno, considerados factores locais, existe


a difuso, que tambm participa no processo da dinmica cultural. A
difuso de uma tcnica participa sobremaneira na dinmica cultural.
Certamente voc sabe que no h cultura que no tome por emprstimo
elementos de outras culturas. Pode mesmo afirmar-se que no existe
alguma cultura que seja constituda s por elementos originrios. Por
outro, a difuso contribui para o dilogo inter-cultural, estimulando o
alargamento dos universais culturais e, tambm, enriquecendo as culturas
locais. A transmisso de um elemento cultural de um ponto para o outro
pode condicionar, ao mesmo tempo, reformulaes, na medida em que
esse processo nem sempre pacfico. Jogam nesta influncia os contactos
entre as sociedades. Mas nem todos os processos culturais, como por
exemplo os elementos religiosos, so de fcil difuso.

A ENCULTURACO

Define-se como Enculturao, o processo educativo pelo qual os


membros duma cultura se tornam conscientes e comparticipantes da
prpria cultura (Bernardi, 1978, p. 92). Ela pressupe a transmisso da
cultura j estabelecida. Ela ocorre de maneira formal, quando transmitida
em instituies e modos rigidamente estabelecidos e, de maneira
informal, na vida quotidiana, com a familia, grupo de amigos, clubes, etc.
Entretanto, esses dois processos no esto dissociados, dado que a famlia
est enquadrada num complexo scio-cultural e os pais foram educados
nas instituies formais de um determinado grupo social. Voc pode
aperceber-se de que ningum ensina nada em casa que no seja prtica
social local. A iniciao instrutiva, como por exemplo os ritos de
puberdade, faz parte da Enculturao. A adeso implica um certo
conformismo s regras existentes, mas, s vezes, o processo de
transmisso pode ser seguido por uma recusa dessas prticas por parte do
membro que a recebe. De facto, nesse processo enculturacional, a
recepo dos valores no aceite de forma passiva, dado que a
individualidade ou a capacidade de interpretao autnoma do que
recebido tem o seu lugar.

A Enculturao tem fins normativos: as normas sociais (leis, tradies,


usos e costumes); funo de controlo social e carcter institucional numa
determinada rea cultural.

ACULTURAO

A Aculturao um processo que resulta das relaes existentes entre


vrias culturas e aos efeitos que derivam dessas relaes. A Aculturao
uma transformao cultural em curso, dos etnemas de um determinado
grupo sob a influncia de um outro. Quando os contactos entre dois
grupos ocorrem entre povos que partilham a mesma fronteira resulta uma
osmose cultural, com o entrelaamento de certos etnemas das duas reas
culturais marginais. Quando essa compenetrao for maior tem-se o caso
de fuso cultural, isto , quando duas ou mais culturas esto inseridas e
so comungadas numa rea cultural de forma harmoniosa. O sincretismo
Antropologia Cultural 79

religioso, prtico em Moambique, um exemplo prtico. Por exemplo,


voc tem notado que certas pessoas, apesar de praticarem uma religio
introduzida por povos exgenos, continuam a venerar os seus defuntos?
A introduo de rituais locais na religio importada , tambm, uma
forma de sincretismo.

Certos sistemas coloniais imprimiram uma Aculturao forada aos


grupos dos espaos coloniais, como a que ocorreu em Moambique. Para
a ocorrncia da Aculturao participam vrios factores, desde a natureza
dos grupos em contacto, os objectivos de um dos grupos, o tipo e o tempo
de contacto, o grau de receptividade dos aspectos externos por parte do
grupo nativo, etc.

Como resultado, elementos novos so integrados numa outra cultura,


dando origem a novos padres culturais no complexo cultural do grupo
receptor.

A DESCULTURAO

A Desculturao o processo da subtraco e da destruio do


patrimnio cultural. Ela pode ocorrer sob vrias maneiras. O genocdio
pode ser enquadrado na poltica de destruio da cultura. J ouviu falar-se
por exemplo de Limpeza tnica? um processo de Desculturao. O
processo colonial pode ser tambm responsvel pela Desculturao,
mesmo que esta seja parcial, isto , incidindo sobre um determinado
aspecto cultural. Mas o processo pode tambm resultar no interior do
grupo, quando certos padres caem em desuso, por no terem um
significado para o grupo a partir de um determinado momento. Contudo,
esse processo ocorre de forma lenta e imperceptvel.

GLOBALIZAO

A Globalizao, que na verdade comea no sculo XVI, com a primeira


expanso europeia, possibilitando a ligao de todo o Mundo num mesmo
sistema, tem algum impacto sobre a cultura, condicionando a sua
dinamicidade. A grande mobilidade dos homens, as rpidas
comunicaes ligando espaos distantes em tempo curto e, em certas
circunstncias, de forma instantnea, contribui para um rpido fluxo de
traos culturais das diferentes regies do globo. Nesse processo, o mundo
abordado hoje como um todo, onde so encorajados contactos
interculturais.

Os elementos de consumo de massa so rapidamente absorvidos,


principalmente por certos grupos sociais, com um impacto local.
Aspectos que, a priori, so de difcil insero num complexo cultural,
como o caso do aspecto poltico, hoje encontram uma fcil
implementao, com a introduo dos processos democrticos ou
multipartidrios em todo o mundo. Com a Globalizao surgem, s vezes,
processos de hegemonia cultural, que consiste na adopo ou na
dominao, por motivos histricos, dinmicos ou posicionais, de traos
de uma outra cultura. Contudo, emergem processos de estratificao
cultural, que indicam no necessariamente uma condio de inferioridade
cultural, mas uma falta de autonomia completa (Bernardi, 1974, p. 46),
identificados como subculturais. A subcultura participa na cultura
dominante. Voc nota, por exemplo, que nas grandes cidades, existem
grupos sociais oriundos de vrias zonas do pas e que, comungando os
80 Lio n 6

mesmos traos culturais, manifestam-nos em determinadas ocasies, mas


sem entrar em choque com a cultura dominante, da rea em que se
encontra a urbe. Este pode ser um exemplo de uma subcultura.

Sumrio
Como pode notar, a cultura nunca estvel. Ela est em constante
movimento, quer por factores internos, como por factores externos. O
tipo de mudana depende do tipo do agente, do tempo, a
aceitabilidade do grupo que pressionado, etc. Contudo, nas relaes
que se estabelecem entre os diferentes grupos sociais surgem as
Tome Nota!
culturas dominantes e as subculturas.

Exerccios

1. Identifique os factores do dinamismo cultural na sua rea de


residncia.

2. Diferencie Enculturao da Aculturao.


Auto-avaliao
3. Como foi conduzido o processo de aculturao em Moambique no
perodo colonial?
4. Procure alguns exemplos de regies ou pocas em que houve a
tentativa de se conduzir um processo de desculturao na
Humanidade.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Voc deve encontrar os factores que localmente condicionam, de


certa forma, o dinamismo cultural, desde prticas locais, como por
exemplo a introduo de um ensino oficial em comunidades
tradicionais; s influncias externas.

2. Enquanto a Enculturao um processo interno de transmisso e


aquisio da cultura, a Aculturao o processo da transformao da
cultura por factores externos.

3. No perodo colonial, o processo de aculturao em Moambique foi


conduzido atravs do desprezo da cultura local pelos colonizadores e
da introduo de um sistema educativo com valores baseados no
espao metropolitano ou na zona de origem do colonizador.
Antropologia Cultural 81

4. A humanidade testemunhou diversas prticas ou tendncias visando


acabar com a cultura de um povo, como o que ocorreu com o
processo de colonizao nas Amricas, os genocdios nos Balcs, na
regio dos Grandes Lagos em frica.

ptimo! Est no caminho certo. Se teve dificuldades, no desista,


volte a realizar a actividade. Se a dificuldade persistir, consulte as
obras indicadas abaixo ou ao seu tutor.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 19-119.
MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.
Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 9-10 e 29.
Leitura
MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,
Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 79-168.
OLIVEIRA, M da Luz et al. Sociologia. Lisboa, Textos Editora, 1989,
p. 111-128.
TITIEV, Mischa. Introduo Antropologia Cultural 9 edio.
Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian, 2002.
82 Lio n 7

Lio n 7

Os Factores da Cultura

Introduo
At aqui, voc apercebeu-se de que a cultura no s o resultado da
mente humana. Viu tambm que ela evolui e mesmo sendo universal,
manifesta-se de diferentes maneiras nos diferentes ambientes sociais e
naturais. Na verdade, na relao que se estabelece entre o Homem
(Anthropos), a Sociedade (Ethnos), o Ambiente (Oikos) e o Tempo
(Chronos), que se manifesta a prpria cultura. Estes constituem os
factores da cultura. Nesta lio, com uma durao de duas horas, voc vai
aprender como que cada um dos factores acima indicados influencia na
emergncia da cultura. Como sempre, no fim da lio, voc tem
actividades que servem para testar a sua compreenso.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer o lugar de cada um dos factores na emergncia da cultura
Identificar a forma como os factores se correlacionam.

Objectivos

Contedo

Tal como viu na introduo, existem quatro factores de cultura,


nomeadamente, o prprio Homem (Anthropos), a Sociedade (Ethnos), o
Ambiente (Oikos) e o Tempo (Chronos). Tais factores participam, de
formas diferentes, na emergncia da cultura. Veja como cada um
participa.

O Anthropos

O Anthropos, ou o Homem, na sua realidade individual contribui no


aspecto cultural, como ser biolgico e social. No aspecto biolgico, voc
Antropologia Cultural 83

nota que em muitos grupos sociais ou culturais ordenam-se em funo do


carcter sexual e etrio dos seus membros. Observe na sua comunidade e
vai notar este aspecto. De facto, este carcter natural produz efeitos
estruturais na ordenao social e tem um impacto sobre a personalidade e
o comportamento adequados a cada um daqueles parmetros. Mas
tambm, no processo de enculturao, o Homem no um simples ser
passivo, podendo introduzir certas inovaes na prpria cultura. Um
gnio, num determinado meio cultural, um exemplo da funo do
simples indivduo como factor de cultura e s vezes torna-se heri
cultural. E pode ser que figuras carismticas, como por exemplo um
presidente, consigam introduzir algumas mudanas culturais, fruto do seu
empenho pessoal. a onde podemos identificar o lugar do Anthropos
como factor da cultura.

O Ethnos

A Cultura resulta, como se afirmou nas lies anteriores, num contexto


grupal. As aces dos indivduos s tm significado se elas estiverem
circunscritas numa colectividade. Voc tem notado que as normas de uma
comunidade so emanadas em referncia a ela. a socializao e a
padronizao de certas aquisies individuais que torna a cultura como
resultado de uma colectividade. da interaco dos vrios princpios de
homens vivendo num determinado meio que resulta um sistema cultural.
Por um processo normativo, o Ethnos (a sociedade), passa a constituir-se
como um dos factores da cultura, por ser atravs dele que esta
veiculada.

O Oikos

Oikos vem do grego casa. Expressa o ambiente onde se insere o


Homem. O ambiente, como factor de cultura, condiciona a actividade
exterior e material do homem. inegvel que o ambiente condiciona, por
exemplo, a maneira de vestir, mas ele no pode ser visto numa vertente
determinista. Se voc puder ler literaturas, como por exemplo as de
carcter histrico, vai perceber que para os primrdios da humanidade as
culturas foram definidas em funo da natureza, como por exemplo, a
cultura paleoltica, neoltica, etc.

Essa denominao era feita em referncia ao uso alargado da pedra. Ou,


se em certos momentos foram empregues termos como culturas ou povos
primitivos, em referncia a sistemas culturais com uma dependncia
acentuada natureza, hoje ouvimos, por exemplo, falar-se de sociedades
urbanas, da era da ciberntica, etc. Este facto remete-nos a considerar que
se, numa primeira fase, o modelo da interveno do Homem e a sua
sobrevivncia estiveram muito ligados s condies naturais, hoje ele
depende mais de factores que resultaram basicamente da natureza
humana ou cultural.

No s um facto assente nas teorias antropolgicas, mas tambm uma


realidade que o grau civilizacional ou material define a forma de estar dos
diferentes grupos sociais na face da Terra. Assim, se essa dependncia do
Homem sobre a natureza foi mais notria nos primrdios da humanidade,
o Homem vem dependendo mais de factores fundamentalmente culturais.
Contudo, apesar disso, o Homem nunca pode dissociar-se completamente
da natureza e viver completamente da cultura. Representando
graficamente teramos a seguinte situao:
84 Lio n 7

100%

PRESENTE
P
A U
S T
S U
A R
D O
O

0% Fonte: M. Titiev, (2002, p. 167)

Se o Homem no se pode dissociar completamente do que a natureza


oferece, lgico que o grfico s pode espelhar uma evoluo ideal, mas
nunca totalmente possvel. Seja qual for o nvel cultural, a vida do
homem vai estar sempre ligada ao ambiente que o rodeia.

O chronos

Voc pode constatar que nada se escapa ao tempo. A cultura um


processo e, de forma intrnseca, est ligada ao tempo. Ela desenvolve-se e
manifesta-se no tempo. O tempo assumido nas suas trs dimenses:
passado, presente e futuro, mas com mais nfase para as primeiras duas.
Mas necessrio saber que para alm do tempo cronolgico, que acaba
de ser mencionado, existe um tempo ecolgico e outro social. O primeiro
organizado em funo dos ciclos anuais e o segundo em funo dos
ritmos de factos sociais, como por exemplo, a passagem de um grupo
etrio de uma categoria social para outra. Assim, seja o tempo
cronolgico, o ecolgico ou o social, eles interferem na cultura de um
grupo social.

Sumrio

A cultura resulta como um processo em que participam, de forma


especfica, o Homem, como indivduo biolgico e cultural, a
Sociedade, entanto que reguladora das aces individuais e
colectivas, o Ambiente, pelo facto de ser neste onde se assentam os
grupos sociais, influenciando de certa forma o comportamento dos
Tome Nota!
Homens e o Tempo, necessrio para o desenvolvimento de toda a
matriz cultural.
Antropologia Cultural 85

Exerccios

Identifique o tipo de factor da cultura presente nas seguintes situaes:

1. Construo de casas de canio junto dos ribeiros cuja formao


vegetal dominantemente herbcea.
Auto-avaliao
2. Construo de casas de blocos num local onde habitualmente se
construiam casas de canio.

3. Inveno do voleibol
4. O processo de transmisso de normas de comportamento.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Respostas

1. Oikos
2. Chronos
3. Anthropos
4. Ethnos.

ptimo! Est no caminho certo.

Leituras aconselhadas
BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.
Lisboa, Edies 70, 1974, p. 19-119.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Leitura Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 30-54.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 79-168.

OLIVEIRA, M da Luz et al. Sociologia. Lisboa, Textos Editora, 1989,


p. 111-128.
TITIEV, Mischa. Introduo Antropologia Cultural 9 edio.
Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian, 2002.
86 Lio n 8

Lio n 8

A Interaco dos Factores

Introduo

Como viu na lio anterior, a natureza da cultura depende da influncia


de quatro factores: Anthropos, Ethnos, Chronos e Oikos. Nesta lio,
voc vai perceber que estes quatro factores no agem de forma isolada.
da sua aco combinada que h uma dinmica cultural. Veja como o
processo ocorre e, como sempre, no fim da lio voc tem actividades
para testar o nvel de compreenso.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer as discusses formuladas volta da interferncia de cada
um dos factores na dinmica cultural;
Saber como ocorre a interaco dos quatro factores;
Identificar um Antropema e um Etnema.
Objectivos

Contedo
A dinmica cultural resulta da interaco dos quatro factores. Contudo, s
vezes e em funo de diferentes escolas ou correntes, h uma acentuao
de um ou de outro factor no processo da dinmica cultural. Neste
contexto, na explicao da dinmica cultural, uns privilegiam a
personalidade humana, outros realam o aspecto social, enquanto um
terceiro grupo pelos aspectos ambientais e o ltimo pelas ligaes
causais entre os seus acontecimentos (no aspecto temporal). No
obstante, o carcter global da prpria cultura fora que, em ltima
instncia, haja a considerao dos quatro factores num processo
interactivo. Nessa interactividade privilegiam-se, entretanto, as relaes
entre anthropos e ethnos, por um lado e entre o oikos e o chronos, por
outro lado.

A relao entre o anthropos e o ethnos na cultura resulta pelo facto da


convergncia de indivduos em sociedade condicionar a vitalidade do
ethnos e este gerar o anthropos. Essa interaco constante conduz uma
Antropologia Cultural 87

dinmica cultural. Mas por outro, toda a cultura desenvolve-se no espao


e num determinado tempo, da que estes esto tambm intimamente
ligados. Fora dessas relaes bipolares, necessrio ter em conta que o
homem e a sociedade, como seres culturais vivem num determinado
ambiente e tempo, da que no se pode falar da primeira interaco fora
destes ltimos dois factores. E quantas vezes, a prpria dinmica cultural
no conduz a acelerao de processos que em princpio podiam ocorrer,
num determinado local, depois de longos perodos, a ponto de mudar a
natureza do ambiente? De facto, essa interaco recproca dos quatro
factores constitui o motor da dinmica da prpria cultura.

Para todos os efeitos, necessrio ter em considerao que a cultura tem


a especificidade humana, por ter dois daqueles factores o prprio Homem
e a comunidade. com o Homem, entanto que indivduo e com a
comunidade, entanto que grupo de homens vivendo num determinado
ambiente e tempo onde emergem as formas particulares da cultura. O
Homem, atravs da sua aco individual, pode dar origem a formas
culturais. A estes aspectos individuais da cultura chamam-se Antropemas.
Define-se Antropemas como, (...) as expresses capilares da cultura,
originadas pela intuio inventiva dum indivduo, e que, portanto, se
especificam como razes da etrutura cultural e social(Bernardi, 1978, p.
83). Aqui incluem-se os aspectos simples, isto , aspectos particulares da
cultura humana, vistos de forma isolada, como por exemplo a inveno
do fogo, do motor, etc. Mas estes elementos isolados s so culturalmente
vlidos quando no normalizados ou socializados pela prpria
comunidade onde o indivduo vive.

Essa normalizao ocorre quando os feitos individuais so enquadrados


em outros fenmenos culturais mais extensos. Por exemplo, a inveno
do motor pode ser enquadrada nas inovaes tecnolgicas que ocorreram
na mesma altura ou que foram sendo acumuladas desde pocas anteriores.
Assim, quando fenmenos individuais so incorporados num conjunto
mais vasto, isto , quando eles so regulados no interior de uma
determinada comunidade, tornam-se colectivos. So os Etnemas. Os
Etnemas constituem a articulao dos diferentes Antropemas ou a
normalizao e socializao de Antropemas, formando um corpo. Como
aponta Bernardi, Os Etnemas so o resultado dos Antropemas
constitudos em estruturas, isto , articulados entre si, sistematicamente
(Id.).

Em funo de um objecto em anlise, um Etnema pode ser simples ou


complexo. O complexo aquele que envolve vrios Etnemas, como por
exemplo o parentesco, que resulta da articulao de vrias famlias, estas
consideradas como Etnemas simples. De facto, a famlia um Etnema
pelo facto de resultar da aglutinao de vrios membros que, para este
caso, desempenham a funo de Antropemas.
88 Lio n 8

Sumrio
A dinmica cultural resulta da interaco dos quatro factores:
Anthropos, Ethnos, Chronos e Oikos. Assim, nenhum factor actua de
forma isolada, no obstante, os primeiros dois serem fundamentais,
para dar esta natureza tipicamente humana cultura. por causa
desse domnio do Anthropos e do Ethnos na dinmica cultural que
Tome Nota!
emergem os Antropemas, estes definidos como aspectos particulares
da cultura e os Etnemas, que constituem o conjunto de Antropemas,
constitudos em sistemas.

Exerccios

1. Por que razo na dinmica cultural necessrio considerar a


combinao dos quatro factores?

2. Apresente as relaes bipolares privilegiadas entre os diferentes


Auto-avaliao factores da dinmica cultural.
3. D exemplos de Etnemas e de Antropemas que conhece.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Porque nenhum dos factores pode agir de forma isolada para


condicionar a dinamicidade da cultura.
2. As relaes bipolares privilegiadas dos diferentes factores so
entre o Anthropos e o Ethnos e entre o Oikos e o Chronos.
3. Aqui voc pode enumerar tantos exemplos quantos forem
possveis. Pode depois solicitar um membro do Centro de
Apoio para ajud-lo a conferir a veracidade das suas respostas.

ptimo! Est no caminho certo. Se teve dificuldades, no desista,


volte a realizar a actividade. Se a dificuldade persistir, consulte as
obras indicadas abaixo ou ao seu tutor.
Antropologia Cultural 89

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 19-119.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Leitura Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 30-54.
90 Lio n 9

Lio n 9

A Interaco entre a Cultura e a


Natureza, a Sociedade e a
Civilizao

Introduo
Nem sempre fcil identificar o limite entre o que natural e cultural.
Uma das preocupaes da Antropologia encontrar as bases de contacto
entre aqueles dois universos. Assim, nesta lio voc vai perceber a
complexidade que se forma na relao entre a natureza e a cultura. Mas
tambm vai saber da discusso que existe volta de dois conceitos, que,
primeira vista, parecem expressar a cultura: Sociedade e Civilizao. Para
tal, voc tem duas horas, que terminam com algumas actividades.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Identificar as bases de interaco entre a cultura e a natureza;
Diferenciar Cultura de Sociedade e Civilizao

Objectivos

Contedo

Numa primeira apreenso, entende-se a natureza como a totalidade do


universo, dentro do qual o Homem se encontra, incluindo todas as foras,
conhecidas e desconhecidas. Num sentido restrito, entende-se como
ambiente ecolgico. Contudo, o Homem procura dar um novo
significado. De facto, at aqui voc j se apercebeu de que o Homem est
ligado natureza de forma multifacetada: pela procura de subsistncia, de
matrias-primas, pelos condicionalismos que esta proporciona quele. Por
causa desta realidade, o Homem procura dar uma outra significao da
Natureza, ele impelido a pensar volta desta. Assim, apesar de se
regerem por leis totalmente diferentes, com a natureza a reger-se por leis
Antropologia Cultural 91

fsicas, constantes, universais e a actividade cultural a reger-se por


padres complexos, muitas vezes indefinidos, h pontos de contacto entre
os dois universos.

O Homem socializa ou torna culturais alguns aspectos naturais, como a


actividade sexual humana, com a introduo de certas prescries volta
dela, como por exemplo o incesto. De outra forma, a actividade sexual
humana torna-se diferente da dos outros animais, em virtude de ser
regrada, sando do instinto natural que reina nas espcies animais. A
linguagem, que na essncia natural, a sua culturalizao ocorre com a
criao das lnguas, apesar de se saber que estas envolvem, por sua vez,
aspectos tipicamente naturais. Por exemplo, aos sons e gestos, que so
naturais, mas que caracterizam a linguagem, atribudo um valor
simblico. Assim, mesmo que seja difcil determinar os pontos de
contacto entre a natureza e a cultura, esta ltima assenta sobre a primeira,
da que sempre necessrio consider-la nas anlises culturais.

Uma outra vertente de correlaco encontra-se entre a cultura e


civilizao. Em certas ocasies, estes termos foram usados de forma
indiscriminada. Mas em certas escolas, como a Alem acentuou-se o uso
do termo Cultura no lugar de Civilizao.

Alguns autores usam o termo Civilizao para indicar uma manifestao


territorialmente importante da cultura, quando esta ltima identificada
como a forma mais simples e localmente circunscrita daquela. Contudo,
como afirma Bernardi, (1978, p. 31) importante especificar que no
existe uma escala de classificao da cultura. Para alguns ultrapassarem
este problema, procuraram situar a cultura no aspecto ideolgico e a
civilizao no aspecto concreto, isto , a expresso material de uma
comunidade concreta.

Outros estudos, procuraram correlacionar os termos a partir do seu


sentido etimolgico, mesmo que, tambm para esta vertente, o uso de um
dos termos tenha carregado consigo aspectos pejorativos, na medida em
que foi usado para opr os povos colonizadores aos outros. Neste
contexto, Bernardi (1978, p. 33) aponta que o termo Civilizao pode ser
usado entanto que parte de uma cultura, no no seu sentido de
superioridade, mas em relao forma de estar caracterstica da vida
urbana.

Finalmente, uma outra interaco existe entre a cultura e a sociedade.


Toda a concepo cultural emerge do interior de um grupo social
determinado, com um modo de organizao e comportamento. Mas ao
mesmo tempo, a sociedade uma manifestao tipicamente cultural.
92 Lio n 9

Sumrio
A cultura humana est intrinsecamente ligada natureza. Ela pode
expressar at a continuidade de factos naturais, mas num contexto
tipicamente humano. H ainda o contacto entre a cultura e a
civilizao, na medida em que esta ltima expressa uma rea cultural
mais restrita, tipicamente urbana, de um complexo cultural mais
Tome Nota!
vasto, existente num grupo social.

Exerccios

1. D exemplos de contacto entre a natureza e a cultura.


2. Em que difere a cultura da civilizao?
3. Indique os pontos de contacto entre a cultura e a sociedade.

Auto-avaliao

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Voc deve procurar exemplos que de certa forma indiquem a


interaco entre a natureza e a cultura. Deve procurar depois o Tutor
no centro de apoio para o ajudar a corrigir o exerccio. Por exemplo, a
regulao do sistema alimentar humano; a humanizao da paisagem;
entre outros exemplos.

2. A sugesto de que o termo Civilizao pode ser usado entanto


que parte de uma cultura, mas no no seu sentido de superioridade,
mas em relao forma de estar caracterstica da vida urbana,
enquanto que a cultura deve ser vista no aspecto global, mais total.

3. Se a concepo cultural emerge do interior de um grupo social


determinado, isto , de dentro de uma sociedade, a organizao social
humana resultado de uma manifestao tipicamente cultural.
Antropologia Cultural 93

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte a obra indicada abaixo ou ao seu tutor.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


antropolgicos. Lisboa, Perspectivas do Homem, 1978, p. 19-35.

Leitura
94 Lio n 10

Lio n 10
A Identidade Cultural

Introduo
Certamente j ouviu falar de identidade, como por exemplo, a identidade
moambicana. Nesta lio, voc vai aprender como surge a identidade e
os vrios tipos de identidades. Vai tambm aprender como que ela pode
ser objectiva e subjectivamente expressa. Para tal, voc dispe de duas
horas. Como sempre, no fim da lio, voc deve reservar um tempo para
resolver o exerccio que lhe apresentado.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Definir a Identidade;
Saber como surge a Identidade;
Distinguir os diversos tipos de Identidades;
Diferenciar a Identidade Objectiva da Subjectiva.
Objectivos

Contedo
J notou que as pessoas gostam de se identificar com algo que acham que
as inclui ou est mais perto delas? Quando algum diz que Docente ou
Estudante; Jornalista; Shangana, Portugus ou Chins; Cristo,
Feminista ou Machista, a que se est a referir? Estas expresses
antecipam-se a um conjunto de diferentes nveis de Identidade:
Identidade Colectiva, Identidade tnica, Identidade de Gnero,
Identidade Profissional, Identidade Nacional, Identidade Pessoal,
Identidade Comportamental, Identidade Religiosa, etc.

Como pode ver, existem vrios tipos de identidade. Todos eles expressam
a pertena a um grupo ou categoria de pessoas. Contudo, nem sempre
essa identidade formada em funo do comportamento dominante num
determinado territrio. De facto, em funo do mbito de anlise,
possvel ter-se um tipo de identidade que no seja, priori, aliada a uma
s rea cultural, apesar de, por questes operacionais, a primeira poder
estar inscrita nesta ltima. Se dissemos que somos do espao lusfono,
este espao descontnuo e constitudo por vrias outras identidades
Antropologia Cultural 95

espaciais: moambicanos, cabo-verdeanos, so-tomenses, brasileiros,


portugueses, timorenses, angolanos. Contudo, apesar de ser inclusiva,
nem todos os membros do grupo se comportam da mesma maneira: os
portugueses, pertencentes ao espao cultural europeu, so diferentes dos
povos africanos falantes do Portugus. Por sua vez, estes diferem entre si.
Mas todos eles podem identificar-se, num certo momento, como sendo
homogneos, isto , reclamarem a mesma identidade, ao identificarem-se
como lusfonos, ou seja, falantes do Portugus, neste caso, diferentes dos
falantes de uma outra lngua, como o Ingls.

Se analisarmos os diferentes tipos de identidade, veremos que eles


respondem a certos padres. H um esprito que define essa identidade
como: disposies psquicas comuns, por exemplo, certas normas de
comportamento de base pelas quais os grupos se identificam ou so
identificados. Por exemplo, os estudantes tm uma predisposo idntica:
todos frequentam a escola.

A identidade a alma colectiva, a sobrevivncia de uma referncia


gloriosa do passado. Geralmente a identidade procura a permanncia ou a
afirmao de um grupo ou de uma pessoa. Muitas vezes, os traos
ressaltados so escolhidos de entre os que so considerados positivos ou
vantajosos para a afirmao dos grupos. Nenhum grupo quer projectar
aspectos negativos ou que lhe proporcionem uma posio subalterna.

A identidade tambm negociada, porque pode ser firmada na


diversidade. Por exemplo, a Comunidade Lusfona, a Comunidade
Europeia). Por exemplo, esta ltima procura projectar-se atravs de uma
concrdia, uma democracia, uma moeda e um mercado comum, mesmo
que isso no signifique que todos os europeus se comportem da mesma
maneira. A identidade uma definio de ns em funo dos contedos
das relaes para com os outros. A identidade constri-se
historicamente, portanto, est em constante mudana, apesar da sua
aparente permanncia no tempo. Ex: os Zulus de ontem no so os
mesmos de hoje.

A identidade constri socioculturalmente a semelhana interna de um


grupo pensado como homogneo (mesmo que no o seja, como ficou
vincado com o exemplo da Comunidade Europeia), e a diferena
(heterogeneidade e diversidade) face a outros grupos. A identidade
alimenta-se da alteridade, isto , a identidade sempre firmada pela
presena de um grupo diferente, mas com referenciais idnticos. O
mdico o , em relao ao enfermeiro.

A identidade pode ser objectivada, isto , pensada como continuidade da


base ecolgica (territrio, meio natural), da base social (populao), da
base temporal (histria) e da base cultural (traos culturais). Mas tambm
pode ser subjectivada, atravs da construo da diferena, na auto
definio da imagem endgena ou interna, na definio da imagem
exgena e no sentimento de identificao e pertena. Neste segundo
processo podem ser utilizados instrumentos de autoreconhecimento (ex.:
bandeira, escudos, mitos, cones, folclore, leis, etc.). Como voc pode
notar, muitos destes elementos tm uma grande fora comunicativa e
condensam ideias, imagens e significados interiorizados por um dado
grupo. Assim, enquanto a cultura modo de vida de um grupo humano, a
identidade a representao da cultura de um grupo humano.
96 Lio n 10

Sumrio
A identidade expressa o sentimento de pertena de uma pessoa a algo.
Por isso, existem diferentes tipos de identidade, definidos pelo tipo de
pertena: profissional, territorial, tnica, lingustica, religiosa, etc. A
identidade construda e procura formar as bases de sobrevivncia de
um grupo em relao aos outros, da que sejam escolhidos os aspectos
Tome Nota!
positivos. Ela objectiva quando os traos at a existentes so
objectivamente imutveis, como o territrio de origem ou a histria
de um povo e subjectiva, quando os elementos postos em
considerao so permutveis.

Exerccios

1. O que uma identidade?

2. O que est subjacente formao de uma identidade?

Auto-avaliao 3. Poder a identidade carregar consigo aspectos negativos?


4. Por que se afirma que a identidade negociada?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. A identidade expressa a pertena a um grupo, a incluso de algum


numa norma de comportamento ou numa categoria de pessoas.

2. Para a formao de uma identidade est subjacente a existncia de


uma predisposio (psquica, histrica, cultural, comportamental)
comum de certas pessoas.

3. A identidade pode carregar aspectos negativos, a partir do momento


em que um grupo pretender julgar os outros como inferiores ou julgar
os valores dos outros em funo dos do grupo de referncia.

4. A identidade negociada em virtude de serem escolhidos os aspectos


que, em princpio, devem ser projectados para o mundo exterior.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte as obras indicada abaixo ou ao seu tutor.
Antropologia Cultural 97

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 19-119.
MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.
Leitura Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 28-54.

Actividade Final da Unidade


Partindo de uma das expresses culturais da sua zona de residncia,
procure identificar marcas da dinamicidade, apresentando os factores
da mesma.

Discuta a resposta com os seus colegas no centro de recursos. Se no


Actividade
optar por ir ao centro de recursos discuta com os seus colegas que
vivem perto da sua residncia ou do local de trabalho.
98 Unidade 4

Unidade 4

A Cultura Material

Introduo
Bem-vindo a esta unidade de estudo. A relao entre o Homem e o
Ambiente e a exteriorizao do pensamento humano leva emergencia
da tecnologia, dos artefactos. Estes elementos fazem parte da Cultura
material, objecto de estudo da presente unidade. Para uma ptima
concretizao, voc no precisa de ir longe. A sua comunidade d
exemplos concretos de tudo o que vai estudar nesta unidade. Tenha
ptimas lies.

Estrutura

O estudo que voc inicia hoje tem 4 lies. Para cada lio devem ser
dispensadas 2 horas de tempo.

Tpicos da Unidade

Lio 1. O Conceito de Cultura Material, Origens e Evoluo;

Lio 2. Ecologia- Relao Homem/Meio Ambiente

Lio 3. Noo de Sociedade de Caa- Colecta e Sociedade de


Agricultura de Savana. Processos de Transio
(caractersticas), na Histria de Moambique

Lio 4. Noo de Modos de Produo

Ao completer esta unidade / lio, voc ser capaz de:

Geral

Conhecer a outra parte da cultura para alm da simblica.


Objectivos Especficos
Definir os conceitos de Cultura Material e Modo de Produo.
Distinguir o Modo de Produo das sociedades de caa-colecta, do da
sociedade agrcola.
Antropologia Cultural 99

Explicar as caractersticas de um Modo de Produo.

Motivaes

Esta unidade vai permitir-lhe a aquisio de conhecimentos sobre a


cultura material a partir da sua comunidade. Voc sabia que tudo o que
objecto e em alguns casos no material, resultante da mente humana, faz
parte da cultura material? Por exemplo um anel um objecto, mas as
tatuagens macondes no o so. Contudo, tanto o anel como as tatuagens
fazem parte do conjunto da cultura material. Como pode ver, vai aprender
e descobrir muita coisa da vida material do Homem, para melhor
aperfeioar os seus conhecimentos.

Meios

Para alm das referncias bibliogrficas presentes nesta unidade, voc


poder usar textos de apoio, visitas a museus etnogrficos, se eles
existirem na sua rea de residncia ou, se tiver possibilidade para o efeito,
outro "meio" importante que faz parte do arsenal material da sua
prpria comunidade.
100 Lio n 1

Lio n 1

A Cultura Material e a Evoluo do


Homem

Introduo
Nesta lio ter a ocasio de conhecer o conceito de Cultura Material,
bem como o de evoluo do Homem, que aparecer ao longo desta lio.
O estudo que comea ter a durao de 2 horas.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer os conceitos de Cultura Material e Evoluo Humana;
Analisar a Evoluo Humana nas diferentes etapas;
Reflectir sobre as diferentes etapas da evoluo da cultura material,
como criao humana.
Objectivos

Contedo

Ento, que se entende por Cultura Material?

Cultura poder ser entendida como conjunto das tradies sociais,


como que uma herana social, ou como tudo aquilo que recebemos do
ambiente social em que ns criamos e desenvolvemos.

Os elementos culturais, isto , todos os elementos que constituem uma


determinada cultura, so: os usos e costumes, as crenas, a linguagem, as
tradies orais, a sabedoria, a lngua, a msica e a dana, os padres de
comportamento, os ideais de vida, as tcnicas, etc.

No estudo da cultura material, a Etnologia (lembre-se deste conceito da


primeira unidade lio n1) abrange todos os aspectos de qualquer cultura
que procura analisar e descrever.
Antropologia Cultural 101

O Homem ao ser Produtor e Portador de cultura arrasta consigo todo


um processo de transmisso e difuso, desempenhando um papel mais
importante, do que a inveno propriamente dita.

A cultura material centra-se no estudo das relaes humanas com o


ambiente, o que vulgarmente se chama artes industriais ou
tecnologia. Contudo, ela abrange no s o que os seres humanos tiram
do seu ambiente fsico, mas o que tambm do rea que os rodeia.
Assim, a Cultura material entendida como o conjunto de objectos,
valores, significados simblicos e formas de comportamento repetitivas
que guiam a conduta dos membros individuais de uma sociedade,
transformando-a ou explorando-a materialmente.

Nenhum aspecto de cultura pode ser biogenticamente transmitido.


Expande-se sim, depois do nascimento, segundo as facetas da cultura que
a cada um diz respeito. No caso das tatuagenss de que falamos no
princpio, elas no so herdadas ao nascimento. Nem os objectos feitos
pelos nossos antecedentes so transmitidos geneticamente.

No estado evolutivo do homem, que hoje j somos (homo sapiens-


sapiens), d-se conta de terem existido outras etapas anteriores como :
Homo Australopithecus e Homo Habilis, ambos pertencentes ao
Paleoltico Inferior. Estes eram caracterizados pelo uso de instrumentos
de pedra (seixos) e pelo surgimento da primeira linguagem; na fase
posterior seguiu-se o Homo Erectus, do perodo do Paleoltico Mdio ou
seja Mesoltico, que passa a usar as raspadeiras, vida em cavernas e incio
do uso do fogo; depois foi a vez do Homo Sapiens, seguido pelo Homo
Sapiens-Sapiens, do Paleoltico Superior e do Neoltico, isto a 10 000
anos a. C. As suas caractersticas fundamentais, so o uso de
instrumentos sofisticados, prticas de cerimnias e pinturas rupestres.

Se bem que ns no vamos estudar esta classificao evolutiva do


Homem, porque isso no matria de Antropologia, importa-nos, do
ponto de vista das sociedades, apenas a ltima fase, a do Homo Sapiens-
Sapiens, para diferenciarmos as comunidades de caa-colecta, das de
agricultores e pastorcia

Sumrio
Com esta lio aprendeste que a cultura material tem a sua origem na
relao entre o Homem e o seu ambiente e a mesma guia o Homem
na transformao e produo material, no sendo, contudo, herdade
geneticamente.
Tome Nota!
102 Lio n 1

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responde s


questes seguintes:

1. Se algum lhe solicitasse a definio de Cultura Material qual seria


Auto-avaliao usando palavras suas?
2. Olhando para a classificao evolutiva do Homem, quando lhe
parece ter iniciado a actividade da Cultura Material?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos

Respostas

1. Voc deve procurar, atravs de palavras prprias, dar uma


definio do conceito no fugindo muito daquela que est
claramente no texto.

2. Tudo indica que a questo da Cultura Material vem com o Homem.


Quando inicia a actividade da sua sobrevivncia buscando
instrumentos, ainda que de pedra, j manifestava a necessidade de
uso de objectos para facilitar o seu trabalho o qual se foi
tornando efectivamente trabalho, ao longo dos tempos de evoluo.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte as obras indicadas abaixo e tente reolver de novo.
Antropologia Cultural 103

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos. Lisboa,


Edies 70, 1974, p. 357-383.

GODELIER, Maurice; Sobre as Sociedades Pr-capitalistas. Lisboa:


Leitura Seara Nova, 1976 (ler pginas 89-137);

GODELIER, Maurice; Antropologia Econmica, in: Antropologia,


Cincia das Sociedades Primitivas? Lisboa, Edies 70, S/d, pp.141-190
(Perspectivas do Homem, n13)

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 86-92.

MEILASSOUX, Claude; Mulheres, Celeiros e Capitais; Porto,


Afrontamento, 1977 (Teoria da Comunidade Domstica Pr-colonial e da
sua Explorao pelo Capitalismo, atravs do Trabalho Migratrio)

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70, 2000,


p. 89-111.

TITIEV, Mischa. Introduo a Antropologia Cultural. Lisboa: FCG,


1989, 213-231.
104 Lio n 2

Lio n 2

A Ecologia na Relao Homem-


Meio Ambiente

Introduo
Nesta lio ter a ocasio de conhecer o papel da ecologia na interaco
Homem/Meio Ambiente. O estudo que comea ter a durao de 2 horas.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer o papel da ecologia na formatao da Cultura Material;
Analisar a importncia que liga o Homem ao Meio Ambiente
Reflectir sobre a necessidade de se preservar o Meio Ambiente sob
pena de alterao catastrfica da Cultura Material.
Objectivos

Contedo
Tal como voc viu na lio sobre na terceira unidade, a cultura
condicionada pela natureza, pelo local geogrfico ou particularmente pelo
clima. Da a importncia que tem a ecologia para a sua compreenso.

O mundo cultural do Homem tem uma abrangncia muito grande,


envolvendo tambm o mundo natural. Tanto assim que se pode dizer
que a natureza conhecida pelo Homem no aquela pura, que no foi
tocada por ele. Toda a natureza que o Homem conhece, conhece-a
culturalmente, isto , toda a natureza tem para ele um significado, uma
relao de valores e de significados.

Um objecto natural pode receber significados por parte do Homem, mas


esses significados variam segundo as culturas. Por exemplo, o sol, a
chuva e outros elementos da natureza podem significar coisas diferentes
segundo a cultura em questo, principalmente na relao que se tem com
aqueles elementos.
Antropologia Cultural 105

Sumrio
Na relao entre o Homem e o Meio Ambiente que o envolve
produzem-se significados sobre este, que variam de um local para o
outro. O Homem conhece a natureza de forma cultural.

Tome Nota!

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responda a esta
nica questo:
1. At que ponto o Meio Ambiente (a ecologia) pode influir na Cultura
Material?
Auto-avaliao

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Resposta

1. Em certo sentido pode-se afirmar que o ambiente pode influir na


Cultura Material, porque do ambiente que brotam todas as coisas,
isto , em cada ambiente esto l as condies que vo ditar o tipo
de matrias- primas; que vo permitir a descoberta e inveno que,
por sua vez, constituem os pontos de partida para todo crescimento e
modificaes culturais.

ptimo! Est no caminho certo. Se teve dificuldades, no desista,


volte a realizar a actividade. Se a dificuldade persistir, consulte as
obras indicadas abaixo ou ao seu tutor.
106 Lio n 2

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 357-383.

GODELIER, Maurice; Sobre as Sociedades Pr-capitalistas. Lisboa:


Leitura Seara Nova, 1976 (ler pginas 89-137);

GODELIER, Maurice; Antropologia Econmica, in: Antropologia,


Cincia das Sociedades Primitivas? Lisboa, Edies 70, S/d, pp.141-
190 (Perspectivas do Homem, n13)

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 86-92.

MEILASSOUX, Claude; Mulheres, Celeiros e Capitais; Porto,


Afrontamento, 1977 (Teoria da comunidade domstica pr-colonial e
da sua explorao pelo capitalismo, atravs do trabalho migratrio)

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 89-111.
TITIEV, Mischa. Introduo a Antropologia Cultural. Lisboa: FCG,
1989, 213-231.
Antropologia Cultural 107

Lio n 3

Noo de Sociedade de Caa-


Colecta e Sociedade de
Agricultura de Savana. Processos
de Transio na Histria de
Moambique

Introduo
Nesta lio ter a ocasio de conhecer as sociedade de caa- colecta e
sociedade de agricultura de savana. Nas lies de geografia, voc falou
que Moambique apresenta diversos tipos de vegetao. Na verdade,
voc vai aprender que, para cada um desses ambientes florsticos h uma
fauna especificada e que, em contrapartida imprimiu um certo modo de
estar no Homem. Para este estudo, voc vai precisar de duas horas. No
fim tem uma actividade individual, que deve ser resolvida, para testar o
que voc percebeu desta lio.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer a sociedade de caa- colecta e a sociedade de agricultura de
savana;
Analisar os processos de transio, na Histria de Moambique.

Objectivos

Contedo
Na economia de caadores-recolectores, os homens vo buscar a sua
subsistncia natureza sem trabalhar nem a restaurar. O esgotamento
dos recursos impe uma migrao temporria ou definitiva, a fim de se
conseguir a reconstruo natural do meio. Nestas deslocaes, o grupo
delimita, quando muito, um territrio, cuja necessidade s se torna
patente pela presena de grupos homlogos rivais. Ao contrrio, com a
agricultura, este territrio transformado em terreno de cultivo; a se
108 Lio n 3

investe trabalho para lhe conferir uma forma perdurvel e organizar a


reconstituio das suas capacidades produtivas.

H pois uma diferena fundamental na organizao do processo de


trabalho: o rendimento das operaes de caa instantneo, quotidiano e
o produto presta-se mal a ser armazenado; exige uma cooperao para as
operaes de elevado rendimento ou para a caa de grandes predadores,
com os quais estes grupos entram em concorrncia. Mas estes grupos
dissolvem-se depois da partilha do resultado da colecta ou caada. Assim,
h instabilidade dos grupos activos, dos bandos, das hordas. O efectivo
varivel, pois a composio modifica-se constantemente, pela circulao
dos indivduos que intervm na produo. O ciclo anual e comea por
um perodo improdutivo em que a alimentao do grupo tem que ser
assegurada: quer atravs de uma produo de rendimentos imediatos
(caa), quer por um armazenamento dos produtos do ciclo anterior, ou a
distribuio diferida em todos os casos indispensvel para se dispor
de sementes que permitam iniciar um novo ciclo. Os ciclos anuais tm
portanto tendncia para encaixarem numa relao constante de
adiantamentos e de redistribuio entre indivduos cujas relaes anuais
pelo que toca produo tendem a transformar-se em relaes vitalcias,
segundo uma ordem de anterioridade/posterioridade.

Destas caractersticas da produo pode-se deduzir nas economias de


caadores, relaes sociais fracas e descontnuas, um dbil controlo da
circulao dos homens e das mulheres; nas economias agrcolas, pelo
contrrio, as relaes so vitalcias, baseadas na anterioridade, aos mais
velhos cabe a funo de controlo e de repartio de stocks, de controle da
circulao dos subordinados que so inseridos em linhagens, cujas
genealogias se estendem, e de controlo da afectao das mulheres, a qual
se encontra severamente regulamentada; a nvel do poltico h uma
gerontocracia, reguladora destas reparties; a nvel da ideologia: as
genealogias e o culto dos antepassados, assunto da nossa prxima
unidade.

Olha, antes de irmos para as actividades vamos observar algumas


caractersticas tpicas destas sociedades:

1. Caadores-colectores.

a) Produo:
A economia de puno;
A terra como objecto de trabalho;
Os instrumentos de trabalho (rudimentares) so propriedade
individual;
As unidades de produo confundem-se com os bandos ou
hordas. O grupo primitivo constitudo por um nmero
restrito de indivduos dos dois sexos;
H cooperao nos processos de trabalho.

b) Reproduo:

As unidades de reproduo compem-se de unies de clulas vizinhas,


estabelecidas atravs de uma rede coerente de trocas.
Antropologia Cultural 109

A reunio de grupos constitutivos e as suas alianas so


comandadas no apenas pelas exigncias da produo ou
toca, mas pelos imperativos da reproduo
O parentesco e em particular o problema de filiao na
comunidade de caadores ainda no relevante.

c) A colecta:

A colecta exige frequentemente o percurso de longa distncia. Ela faz-se


em grupo para se proteger face aos animais selvagens.

Requer portanto no s uma preparao fsica como um conhecimento


preciso das plantas, dos lugares dos animais perigosos, dos meios de
proteco relativamente a estes, etc.

d) A caa:

A caa e a armadilhagem de pequenos animais so correntemente


praticadas na proximidade imediata dos campos. Estas actividades
requerem:

1) conhecimentos tcnicos;

2) conhecimentos das prticas mgicas.

As formas de cooperao fundam-se na reciprocidade e cooperao por


compensao.

e) diviso tcnica e social do trabalho feita por sexo e idade.

2. A comunidade domstica de Agricultores:

O que a inveno da agricultura realizou foi uma transformao da


natureza pelo homem. Pela domesticao das plantas e dos animais
estabeleceram-se os modos de produzir. A passagem agricultura foi
acompanhada pelo(a) :

a) Alongamento do dia de trabalho;

b) Domesticao das plantas e dos animais;

c) Sedentarizao e a definio do territrio;

d) Elevao do nvel das foras produtivas;

e) Passagem da terra passou a constituir-se em meio de trabalho;

f) Pelo desenvolvimento de actividades paralelas: a caa e a colecta;

g) Estabelecimento de relaes sociais de produo por via do


parentesco;

h) Emergncia do poder como funo dos ancios sobre os grupos


de produo;
110 Lio n 3

i) Surgimento dos excedentes leva criao de celeiros. A


existncia de um excedente potencial ou real no acarreta
automaticamente um desenvolvimento econmico; a produo
orientada nestas formaes sociais para a satisfao das
necessidades e no para o lucro).

j) Envolvimento dos resultados da produo nas trocas, atravs de


formas no mercantis, como a oferta recproca, o tributo e a
redistribuio.

1. Nova organizao social (o parentesco) e a nova concepo do


Mundo. possvel que a domesticao das plantas e dos animais se
tenha acompanhado de um imenso desenvolvimento de magia e da
religio. Os indivduos ou os grupos sociais senhores das magias, da
fertilidade das plantas e dos animais puderam talvez nessas
condies, conquistar um imenso poder social baseado no seu
controlo (imaginrio) das foras sobrenaturais. Parece ter sido nessas
condies que se operou o aparecimento dos sacerdotes como grupo
social separado dos produtores (da produo), e, que transformou de
pouco a pouco o seu poder de explorao econmica.

Sumrio
A formas de produo material determinam, sobremaneira, o tipo de
relaes que se estabelecem entre o Homem e o seu Meio Ambiente,
bem como as relaes que se estabelecem no interior dos grupos
sociais, reflectindo-se sobre o nvel de organizao social, poltica e
religiosa.
Tome Nota!
Antropologia Cultural 111

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responda a


esta nica questo:
1. Apresente dois aspectos fundamentais (social e econmico) que
distinguem as duas sociedades (caa-colecta e de agricultores).
Auto-avaliao

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Resposta

1. Afinal a resposta muita simples. A nvel social, nas sociedades de


agricultores, o parentesco (a famlia) aparece com o processo da
sedentarizao e com maior relevncia o que no acontece na
sociedade de caa-colecta; a nvel econmico, os agricultores
estabeleceram o tributo como forma de explorao e de
reconhecimento do poder poltico instalado.

ptimo! Est no caminho certo. Se teve dificuldades, no desista,


volte a realizar a actividade. Se a dificuldade persistir, consulte as
obras indicadas abaixo ou ao seu tutor.

Leituras aconselhadas
BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos. Lisboa,
Edies 70, 1974, p. 357-383.

GODELIER, Maurice; Sobre as Sociedades Pr-capitalistas. Lisboa:


Leitura Seara Nova, 1976 (ler pginas 89-137);

GODELIER, Maurice; Antropologia Econmica, in: Antropologia,


Cincia das Sociedades Primitivas? Lisboa, Edies 70, S/d, pp.141-190
(Perspectivas do Homem, n13)

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 86-92.

MEILASSOUX, Claude; Mulheres, Celeiros e Capitais; Porto,


Afrontamento, 1977 (Teoria da comunidade domstica pr-colonial e da
sua explorao pelo capitalismo, atravs do trabalho migratrio)

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 89-111.

TITIEV, Mischa. Introduo a Antropologia Cultural. Lisboa: FCG,


1989, 213-231.
112 Lio n 4

Lio n 4

Noo dos Modos de Produo

Introduo
Nesta lio que encerra a nossa unidade (quatro) ter a ocasio de
conhecer o que so Modos de Produo. Isto muito importante para
perceber o funcionamento das vrias sociedades, porque cada uma
escolhe ou submete-se a um determinado modo de produo. Para esta
lio, vai precisar de duas horas de estudo. Como habitual, no fim voc
tem uma actividade a resolver, por isso precisa de entender muito bem a
lio que lhe proposta.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer os Modos de Produo
Analisar cada Modo de Produo em termos de funcionalidade
Distinguir um Modo de Produo do outro (a partir das
caractersticas).
Objectivos

Contedo
O princpio de organizao da economia no , segundo os marxistas, a
repartio mas sim a produo. Todo o Modo de Produo definido por
uma relao especfica entre, por um lado, o conjunto dos meios materiais
e dos factores e, por outro lado, as condies sociais da produo. Os
meios materiais concorrem para a produo numa determinada sociedade:
matrias-primas, equipamento e tcnicas, o saberfazer, fora de
trabalho, capital -, denominados fora de produo e, por outro lado, as
condies sociais da produo, ou seja, as formas de organizao
econmica de diviso do trabalho segundo a idade ou sexo, as
especializaes profissionais, as estratificaes ou classes sociais
(senhores e escravos, proprietrios capitalistas e trabalhadores), e
segundo as formas culturais da cooperao ou da competio. Todos
esses pressupostos so variveis em funo das tarefas, o nmero de
participantes, das remuneraes reais ou simblicas, aquilo a que se
chama relaes de produo ou condies sociais da produo, que se
realizam no quadro das unidades de produo e que dizem respeito
Antropologia Cultural 113

apropriao ou ao controlo dos meios de produo, tais como a terra, os


homens, o gado, as tcnicas, os recursos financeiros.

C. Meillassoux dos primeiros a impulsionar as pesquisas de


Antropologia Econmica Marxista. Na sua opinio, a comunidade
agrcola nas sociedades de auto-subsistncia polariza-se em redor do filho
mais velho, que recebe os produtos do trabalho e os reparte. No quadro
agrrio, a terra meio. Entre os caadores-recolectores, ela objecto de
trabalho. Se Meillassoux fez apenas um uso fugido da noo do Modo de
Produo, Emanuel Terray situa essa noo no centro de toda a
problemtica, fazendo a sua anlise a partir das formas de cooperao.
Reconhece a explorao dos mais velhos pelos mais novos, mas observa
que estes, pela idade e pelo casamento, so chamados a tornarem-se eles
prprios mais velhos, emancipando-se. Assim, no existe uma classe
estvel de mais velhos. Mais radicalmente, P Rey v a relao de classe
como dominante no modo de produo da linhagem. Acha determinante
nas relaes de produo o processo de apropriao e de reagrupamento
dos homens com vista a esta produo.

M. Godelier, ao debater os modos de produo asitica ou de linhagem,


no deixa de sublinhar a parte ideal em todo o que real e o jogo dos
simbolismos sociais. Demonstra a ligao da economia com as outras
instncias: poltica, parental, religiosa e nota que o parentesco, por
exemplo, pode funcionar como infraestrutura e como supra-estrutura. A
roptura de um sistema ou a passagem, por exemplo, da economia de
predao (Caa-colecta) economia de produo (agrcola/industrial),
no atribui necessariamente a contradies mas a modificaes externas
ou internas.

Em todos os Modos de Produo, h um fenmeno universal: a diviso


do trabalho, apesar de variar de cultura para cultura. Contudo, mesmo
tendo uma importncia no ciclo da produo, a diviso social de trabalho
no tem um valor absoluto, dado que se trata, frequentemente, de uma
escolha cultural, isto , que depende de cada sociedade. Se no princpio a
diviso social do trabalho era feita em funo do sexo e idade, ela passou
a circunscrever-se no status social (tarefas atribudas conforme o estatuto
social na sociedade), aptido (para mulheres/homens,
crianas/adultos/velhos), ou na especializao tcnica e cultural, dado que
certas tarefas so reservadas a determinadas categorias de pessoas.
Contudo, necessrio ter em conta que os vrios tipos de diviso vo
desaparecendo, por exigncias do desenvolvimento tecnolgico
(Martinez, 2004, p. 90).

Sumrio
A noo de Modo de Produo complexa, em virtude de envolver
vrios aspectos e poder variar de um grupo social para outro, bem
como de um momento para o outro. Contudo, no interior dele que
gravitam as relaes sociais e so moldados padres culturais de cada
grupo social.
Tome Nota!
114 Lio n 4

Exerccios

1. Especifique os processos que tornam cultural a produo


material entre os Homens.

Auto-avaliao

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Resposta
O significado simblico da produo material;
A relao intrnseca entre a produo material com os outros aspectos
da vida social;
O carcter evolutivo da produo material;
A diviso cultural do trabalho.

ptimo! Est no caminho certo. Se teve dificuldades, no desista,


volte a realizar a actividade. Se a dificuldade persistir, consulte as
obras indicadas abaixo ou ao seu tutor.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, B. Introduo aos Estudos Etno-Antropolgicos.


Lisboa, Edies 70, 1974, p. 357-383.

GODELIER, Maurice; Sobre as Sociedades Pr-capitalistas. Lisboa:


Leitura Seara Nova, 1976 (ler pginas 89-137);

GODELIER, Maurice; Antropologia Econmica, in: Antropologia,


Cincia das Sociedades Primitivas? Lisboa, Edies 70, S/d, pp.141-
190 (Perspectivas do Homem, n13)

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 30-54.

MEILASSOUX, Claude; Mulheres, Celeiros e Capitais; Porto,


Afrontamento, 1977 (Teoria da comunidade domstica pr-colonial e
da sua explorao pelo capitalismo, atravs do trabalho migratrio)

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 89-111.
TITIEV, Mischa. Introduo a Antropologia Cultural. Lisboa: FCG,
1989, 213-231.
Antropologia Cultural 115

Actividade Final da Unidade


Para terminar a unidade faa um trabalho de pesquisa com o mximo de
trs paginas de contedo sobre um tema relacionado com a cultura
material. Os temas podem circunscrever-se em Clulas de produo, ritos
e tempos agrcolas duma certa rea cultural = regio; cereais mais
cultivados na sociedade tradicional (mapira, mexoeira, milho) e a sua
Actividade
utilidade cultural; queimadas e o impacto na agricultura tradicional;
formas de ajuda mtua e cooperao na agricultura tradicional, etc. Para
cada um destes temas ou outros considere (uma determinada rea cultural
ou seja regio e a caracterizao geogrfica dessa rea cultural. Ter um
fundo de tempo de 08 horas. Este trabalho deve ser apresentado a tutoria
no Centro de recursos.
116 Unidade 5

Unidade 5

O Parentesco

Introduo
Bem vindo penltima unidade. Como est observando, estamos a
camninhar para o fim dos nossos estudos, esperando que os mesmos
estejam a ser gratificantes. Nesta unidade, voc vai ter os fundamentos da
organizao social, presentes praticamente em todos os grupos sociais,
tais como: o parentesco, o casamento, a famlia. Como os outros temas
que voc teve nas outras unidades, a partir desta unidade voc vai
aprofundar o carcter eminementemente social e cultural dos aspectos
anteriormente identificados.

Estrutura

A presente unidade tem 4 lies. Cada lio deve ser estudada durante
duas (2) horas. Eis as matrias contempladas em cada uma delas.

Tpicos da Unidade

Lio 1. O Parentesco

Lio 2. As Unidades Funcionais do Parentesco e a sua Importncia

Lio 3. As Formas do Parentesco

Lio 4. Os Esquemas do Parentesco

Lio 5. A Filiao

Lio 6. Grupos de Parentesco

Lio 7. Aliana Matrimonial

Lio 8. Residncia e Circulao Matrimonial e seu Impacto na


Organizao Social e Poltica.
Antropologia Cultural 117

Ao completer esta unidade / lio, voc ser capaz de:

Geral

Conhecer os fundamentos da formao do Parentesco.


Objectivos Saber como o parentesco se constitui como um dos fundamentos da
organizao social.

Especficos
Saber definir: parentesco, parente, filiao, aliana e residncia
matrimonial;
Conhecer as formas da emergncia de um parentesco;
Saber distinguir diferentes tipos de parentes;
Ser capaz de esquematizar uma rvore genealgica e de parentesco;
Ser capaz de distinguir um parente do Ego, a partir de um esquema de
parentesco;
Discriminar os diferentes fundamentos das alianas matrimoniais;
Relacionar o parentesco com a circulao do poder poltico.

Motivaes

Voc sabia que pelas relaes de parentesco que muitas relaes


humanas so estabelecidas?

Meios

A concretizao daquilo que voc vai aprender nesta unidade, para alm
das referncias bibliogrficas presentes no fim de cada lio, outros
textos de apoio, vai encontrar o objecto de estudo junto da sua rea de
residncia, alis, a partir de si mesmo, que pode constituir-se como ego,
quer na referenciao dos outros membros, como de certos
procedimentos sociais de carcter parental.
118 Lio n 1

Lio n 1

O Parentesco

Introduo
Os indivduos, em vida, formam teias ou relaes sociais diversificadas.
Essas relaes emergem desde a nascena a grupos de brincadeiras,
passando pela escola, local de trabalho, etc. Elas permitem que nos
identifiquemos em relao a outros indivduos, membros do mesmo
grupo ou num determinado meio. no mbito dessas relaes, que se
formam com a vida, que vamos falar de parentesco. Nesta primeira lio,
vai poder familiarizar-se com a complexidade que este termo carrega.
Para o efeito tem duas horas, no fim das quais tem actividades para testar
o grau da apreenso da matria.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Saber definir o Parentesco;
Identificar o elemento de referncia num Parentesco;
Conhecer a complexidade da definio do Parentesco.

Objectivos

Contedo
O termo Parentesco no de fcil definio. Uma definio simples
considera que o Parentesco seja um vnculo que liga os indivduos entre
si em vista da gerao e da descendncia (Bernardi, 1978, p. 259).
Pode-se definir-lo como um sistema simblico de denominao das
posies relativas aos laos de descendncia e de afinidade.

Voc sabia que um dos primeiros elementos de identificao do estatuto


social de um indivduo em cada sociedade humana surge do parentesco?
De facto, quando um indivduo nasce, a primeira base de identificao
um grupo social restrito, a famlia. na famlia onde existem os parentes
mais prximos. O Parentesco definido em referncia a um indivduo,
isto , a um EGO, em relao a uma ou outras pessoas que fazem parte de
um grupo social. Na essncia, o EGO identifica-se com a pessoa pela
Antropologia Cultural 119

qual comeamos a estabelecer as relaes com todos os outros membros


de um grupo social, venham tais relaes da consanguinidade ou da
afinidade.

O Parentesco institucionaliza as relaes sociais. nele que so


prescritos ou definidos comportamentos entre os membros de um grupo
social, como por exemplo os tipos de casamento, as formas de tratamento
entre os membros, as formas de filiao, isto , a maneira como
definida a pertena dos filhos, etc.

Contudo, a definio de quem parente em si complexa, dado que ela


pode variar de uma sociedade para outra e pode mesmo evoluir com o
tempo. Tem se notado, por exemplo, uma reduo progressiva dos
ncleos familiares em muitos complexos culturais. Assim, se no passado
o Parentesco envolvia muitos membros, muitas famlias alargadas, ele
tende a tornar-se cada vez mais restrito, fruto do impacto da prpria
evoluo material das sociedades humanas (urbanismo e revoluo
industrial) ou das migraes. Estes factores condicionaram perodos de
grandes transformaes familiares, com as consequentes perturbaes e
reajustamentos dos ncleos familiares.

Na definio de quem parente interferem ainda as concepes


cientficas sobre as relaes genticas, que no so partilhadas por todas
as sociedades. Voc observa na sua comunidade, uma das duas situaes:
um filho obra do pai, ou ento diz-se descendente da me. Finalmente,
se numa primeira fase o Parentesco incluia apenas os aspectos de
consanguinidade, sendo por isso o genuino e autntico, por baseiar-se no
pressuposto biolgico, actualmente ele integra outros parmetros, como a
adopo. De facto, o Parentesco no se resume apenas consanguinidade.
Se assim fosse, todos os membros de um grupo social acabariam por ser
parentes ou ento no haveria a possibilidade de integrao de outros
membros que no fossem de sangue. Por isso, o Parentesco no s
define os membros que fazem parte de um grupo social, como tambm os
distingue dos que a ele no pertencem, isto , define unidades sociais
precisas. Quando voc diz, por exemplo, que no parente de algum,
exclui-se de um certo grupo social. Neste contexto, o Parentesco pode
integrar ou excluir um membro de um determinado grupo em referncia.
120 Lio n 1

Sumrio
O Parentesco um sistema simblico de denominao das posies
relativas aos laos de descendncia e de afinidade. O Parentesco
definido em referncia a um indivduo (Ego). Mesmo variando de
uma sociedade para outra e com o tempo, o Parentesco continua a
definir as relaes sociais e as normas de comportamento. Se nos
Tome Nota!
primrdios envolvia apenas aspectos de consanguinidade, hoje ele
alarga-se tambm adopo e a outros critrios.

Exerccios

1. Identifique a primeira base de referncia de um indivduo.

2. Como se designa o indivduo de referncia num sistema de


Parentesco?
Auto-avaliao
3. Porqu difcil definir um parente?

4. Qual a importncia social do Parentesco?

5. Na sua organizao familiar, que pessoas voc considera como


seus parentes?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Respostas

1. A primeira base de referncia de um indivduo forma-se volta do


parentesco, fundamentalmente da famlia, dado que mesmo antes de
se conhecer o seu nome, ele j tem uma base de identificao.

2. O elemento de referncia num sistema de Parentesco o Ego.

3. A dificuldade da definio de um parente vem do facto de: no existir


um nico critrio para a sua identificao em todas as sociedades, isto
, variar o critrio de definio de um grupo social para o outro; ele
no se estabelecer apenas pelo critrio de consanguinidade; variar
com o tempo.
Antropologia Cultural 121

4. Voc deve identificar, a partir dos pressupostos acima indicados, os


parentes em funo da consanguinidade, da afinidade ou por
adopo. Aqui, voc vai precisar do tutor para verificar a resposta.

5. O Parentesco permite o ordenamento social e a demarcao das


regras de comportamento dentro de um grupo social.

ptimo! Est no caminho certo. Se teve dificuldades, no desista,


volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir, consulte as obras
indicadas abaixo ou ao seu tutor.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


antropolgicos. Lisboa, Edies 70, 1978, p. 257-306.

Leitura COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


2 edio. Lisboa, Edies 70, p. 56-140.

GHASARIAN, Christian. Introduo ao Estudo do Parentesco.


Lisboa, Terramar, 1999, 231 p.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 313-339.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. E FORDE, Daryll. Sistemas Polticos


Africanos de Parentesco e Casamento. Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian, 1950, 223 p.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. p. 61-88.
122 Lio n 2

Lio n 2

As Unidades Funcionais do
Parentesco e a Sua Importncia

Introduo
O Parentesco tem uma base operatria, pela qual se identificam as
relaes sociais entre os membros em referncia. Trata-se aqui da
Parentela e da Famlia. Nesta lio voc vai familiarizar-se com esses
dois conceitos e a importncia que os mesmos tm no sistema de
Parentesco. Ainda vai ter as noes de Parentesco Alargado e Restrito.
Voc tem duas horas para se dedicar a esta matria. lhe reservada uma
actividade no fim da lio para testar os seus conhecimentos.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Saber distinguir o Parentesco da Parentela;
Distinguir o Parentesco Alargado do Restrito;
Conhecer a importncia da Famlia.

Objectivos

Contedo

Tal como se constatou na lio anterior, a definio de parente nem


sempre pacfica. assim que para tornar este conceito funcional, s
uma pequena parte da rede genealgica constitui a Parentela reconhecida
e operatria para um indivduo. A Parentela um grupo de pessoas que se
forma volta de um Ego. Contudo, a Parentela no envolve
necessariamente uma descendncia. Voc tem uma teia de relaes, que
entretanto no tem relao com os seus antepassados ou descendentes
directos. Voc tem um cunhado, tio, av, sobrinho, cunhada. Entretanto,
na sua famlia, s voc a nica pessoa que se dirige s anteriores
Antropologia Cultural 123

pessoas com aqueles atributos, pois eles no so, no mesmo momento,


cunhado, tio, av, sobrinho e cunhada dos seus pais. Essas relaes de
parentesco que dizem respeito a voc que constituem a sua Parentela.
Com a Parentela, as sociedades definem os seus parentes prximos
(aqueles com os quais as regras de comportamento so mais fortes), os
parentes afastados (os que, apesar de serem parentes tm relaes menos
fortes) e aqueles que no so parentes.

Segundo a amplitude de membros, h sociedades que comportam um


Parentesco Alargado, o que envolve uma grande teia de relaes,
enquanto outras tm um Parentesco Restrito, constitudo por pequenas
unidades sociais funcionais.

A outra unidade funcional que est intrinsicamente ligada ao indivduo


a Famlia. A definio de famlia , por vezes, muito imprecisa, podendo
designar, segundo Mello (2005, p.326-327), o grupo composto de pais e
filhos; uma linhagem (patrilinear ou matrilinear), um grupo que descende
do mesmo antepassado, um grupo de parentes e descendentes que vivem
juntos. A Famlia pode ser Nuclear, Simples ou Elementar, sendo, neste
caso, a menor unidade social ligada por laos de consanguinidade, de
afinidade e de adopo. A Famlia Nuclear contrape-se Famlia
Extensa, que congrega vrias Famlias Nucleares, isto , comporta vrios
casais.

na Famlia que inegavelmente esto presentes as relaes universais


mais significativamente humanas como: a relao entre homem e a
mulher; a relao criada entre os pais e os recm-nascidos; as relaes
entre geraes diferentes.

Quando se fala da importncia social da Famlia reconhece-se geralmente


o alto grau de relevncia desta no ordenamento social. A Familia
desempenha vrias funes: de reproduo; de socializao dos filhos;
produtiva ou econmica, necessria para a perpetuao da vida e
satisfao das necessidades vitais; jurdica, na medida em que ela
proprietria de objectos, dotada de direitos e deveres; religiosa, onde os
membros sniores (pai ou me) propiciam alguns cultos.

Sumrio
A Parentela e a Famlia Nuclear tornam o Parentesco operatrio e
funcional. dentro da Parentela e da Famlia Nuclear que se definem
os parentes prximos e os mais distantes. O Parentesco pode ser
alargado ou restrito, em funo das teias de relaes que comporta.
na famlia que se fundam relaes tipicamente humanas e ela
Tome Nota!
desempenha diversos papis, como o de reproduo, socializao,
econmica, religiosa.
124 Lio n 2

Exerccios

1. Diferencie Parentesco de parentela

2. Que tipo de famlias predominam na sua rea de residncia?


3. Que funes desempenha a Famlia na sua rea cultural?
Auto-avaliao

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Respostas

1. Se o Parentesco expresa um vnculo que liga os indivduos entre si em


vista da gerao e da descendncia, a Parentela expressa os vnculos
que se formam volta de um indivduo determinado.

Nas perguntas 2 e 3, as respostas devem ser dadas em funo da


organizao social do seu local de residncia. Discuta as respostas
primeiro com os seus colegas do curso e depois apresente ao seu
tutor.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


antropolgicos. Lisboa, Edies 70, 1978, p. 257-306.

Leitura COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


2 edio. Lisboa, Edies 70, p. 56-140.

GHASARIAN, Christian. Introduo ao Estudo do Parentesco.


Lisboa, Terramar, 1999, 231 p.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 313-339.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. E FORDE, Daryll. Sistemas Polticos


Africanos de Parentesco e Casamento. Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian, 1950, 223 p.
RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,
2000, p. p. 61-88.
Antropologia Cultural 125

Lio n 3

As Formas do Parentesco

Introduo
Como viu nas lies anteriores, o Parentesco no se forma apenas por via
de sangue ou de descendncia directa. Em funo da sociedade ou
segundo as vrias prticas dentro de uma mesma sociedade, o Parentesco
pode apresentar-se sob diversas formas que voc vai conhecer nesta lio.
Para tal ter a disposio duas horas para se dedicar a esta matria, no fim
da qual tem, como habitual, so indicadas actividades a serem por si
resolvidas.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer as diferentes formas de Parentesco;
Saber identificar os Parente de Linha Recta (ascendentes e
descendentes) e os da Linha Colateral;
Diferenciar os Sistemas de Parentesco.
Objectivos

Contedo
Segundo a forma como os vnculos se formaram ou o Parentesco surgiu,
este pode ser real (a consanguinidade), fictcio (o da adopo) e o das
relaes de aliana. Apesar da adopo criar laos fortes, a
consanguinidade parece criar laos mais profundos. Em funo destes
pressupostos, surgem os Parentes Consanguneos e Aliados ou Afins.

Os Parentes Consanguneos compreendem os da linha recta, isto , os


ascendentes (os que nasceram antes de um Ego ou de voc, como os seus
avs e pais) e os descendentes (os que nasceram depois do mesmo Ego ou
de voc mesmo, como os seus filhos, os seus netos). Nestes Parentes
Consanguneos so ainda integrados os da linha colateral (germanos, isto
, descendentes do mesmo pai e me, no seu caso, os seus irmos, os seus
primos e os seus tios).
126 Lio n 3

So os Parentes Consanguneos que do a descendncia. Contudo,


mesmo que se reconhea que o critrio dessa relao de descendncia o
biolgico ou natural, esta relao tambm cultural, na medida em que
determinada em funo das regras de um grupo social determinado.
Enquanto a natureza estabelece a consanguinidade, a cultura determina os
parentes. Assim, o Parentesco Consanguneo proporciona a prole ou os
filhos, enquanto o Parentesco por Afinidade alarga-se pelo casamento.

Na descendncia ou linhagem, os membros do grupo sentem-se unidos


pela referncia a um antepassado comum real e recente, situado entre
quatro a cinco geraes. O conjunto dessas pessoas que tm o mesmo
antepassado comum d origem linhagem. Define-se por linhagem, um
grupo de pesssoas descendentes de um mesmo antepassado cujo vnculo
de descendncia genealogicamente demonstrvel e no pressuposto
miticamente (Bernardi, 1978, p. 293). Difere do cl, por consistir num
(...) grupo de pessoas descendentes de um mesmo antepassado mtico ou
fictcio (...) [sendo] uma realidade pressuposta e no demonstrvel
historicamente(Ibid., p. 292).

Os Parentes Aliados so os indivduos ligados a um determinado grupo


de Parentesco por via de casamento. So os membros com que se tm as
relaes de afinidade. Estas relaes surgem partindo-se do pressuposto
segundo o qual na famlia, marido e mulher no so parentes
consanguneos. Estes laos de afinidade tm uma grande importncia no
conjunto da organizao social de qualquer agrupamento humano. Este
tipo de relao, mesmo em sociedades industrializadas, , de certa forma,
responsvel pela distribuio de benefcios ou aproximao de grupos
sociais.

Os Parentes Adoptivos ou Fictcios so os que resultam de um processo


de adopo de um indivduo por membros que no tm nenhuma relao
de consanguinidade.

Por causa destas diferentes formas de Parentesco, nem sempre possvel


ou fcil diferenciar a origem da Parentela a partir da designao dos
parentes. Por exemplo, o termo pai, pode relegar a um pai genitor,
adoptivo, ou posicional, isto , a atribuio ao irmo do pai mesma
referncia. Mas tambm pode ser pai, aquele que lhe reconhecida a
paternidade socialmente, isto , ao pai social. Na verdade, o Parentesco
um sistema simblico de denominao das posies relativas aos laos de
descendncia e de afinidade. Por isso, existem dois sistemas de
Parentesco: Descritivo e Classificatrio.

No Descritivo so usados termos diferentes para designar cada parente.


Por exemplo, o pai tem uma designao e o irmo do pai tem outra
designao, por exemplo, a de tio. Enquanto isso, no classificatrio
usado um termo para designar um conjunto de pessoas segundo o seu
posicionamento no esquema de parentesco, isto , quando pessoas que
no ocupam a mesma posio em relao ao Ego so classificadas sob o
mesmo nome. O Ego, ou voc, chamar de irmo, ao seu primo paralelo;
de me, as irms e primas da me; de pai, aos irmos e primos do pai, etc.
Antropologia Cultural 127

Sumrio
O Parentesco pode ser formado por via da consanguinidade, da
adopo e por aliana. Por isso, nem sempre fcil distinguir a
origem da Parentela a partir da designao do parente. Na essncia
existem dois sistemas de parentesco: Descritivo e Classificatrio.
Tome Nota!

Exerccios

1. Partindo do seu grupo familiar, identifique os parentes de Linha


Recta e os de Linha Colateral:

2. Identifique, na sua rea de residncia, as bases de emergncia de


Auto-avaliao parentes por adopo. (Antes do estudante responder a esta questo,
precisa de fazer uma pesquisa no meio em que vive).
3. Qual o sistema de Parentesco dominante na sua rea de
residncia? Porqu?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Respostas .

1. Os de Linha Recta: os bisavs, os pais, os netos, os trinetos.

Os de Linha Colateral: irmo da me ou do pai; os primos.

2. Os parentes por adopo ou fictcios, sendo resultantes da converso


de indivduos estranhos a um grupo social sem ser por via de
casamento podem vir, quer da reciprocidade necessria que existiu
entre dois grupos familiares ou por integrao de crianas por razes
de esterilidade de um dos cnjuges ou por integrao, num grupo
familair, de um indivduo necessitado.

3. A resposta a esta questo depende da rea em que voc reside. De


forma geral, em Moambique o sistema dominante classificatrio,
mas influncias externas podem ter condicionado a introduo de
certas modificaes.
128 Lio n 3

ptimo! Est no caminho certo. Se teve dificuldades, no desista,


volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir, consulte as obras
indicadas abaixo ou ao seu tutor.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


antropolgicos. Lisboa, Edies 70, 1978, p. 257-306.

Leitura COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


2 edio. Lisboa, Edies 70, p. 56-140.

GHASARIAN, Christian. Introduo ao Estudo do Parentesco.


Lisboa, Terramar, 1999, 231 p.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 313-339.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. E FORDE, Daryll. Sistemas Polticos


Africanos de Parentesco e Casamento. Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian, 1950, 223 p.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. p. 61-88.
Antropologia Cultural 129

Lio n 4

Os Esquemas do Parentesco

Introduo
Na vida quotidiana, voc nota que o Homem se guia por um conjunto de
sinais que substituem os objectos, coisas ou seres a que se referem, desde
palavras, imagens, sons, objectos, etc, etc. Da mesma maneira, voc vai
aprender um conjunto de smbolos e de abreviaturas usados pela
Antropologia no sistema do Parentesco, capazes de o levarem a
identificar o sexo de um indivduo, o tipo de relao existente entre um
indivduo determinado no esquema de parentesco e um EGO. No fim,
voc tem as habituais questes de auto-avaliao. Para isso, dispe de
uma hora para conhecer os smbolos e as abreviaturas fundamentalmente
usadas para representar o parentesco ou um indivduo.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer os smbolos usados na Antropologia para identificar um
aspecto do Parentesco;
Saber, a partir do smbolo, diferenciar um homem de uma mulher;
Identificar, num esquema de Parentesco, as relaes de
Objectivos consanguinidade, de germanidade e de afinidade.

Contedo
Por uma questo operatria, a Antropologia usa diferentes smbolos e
esquemas de Parentesco, os quais permitem, a qualquer leitor, identificar
as relaes entre os diferentes membros do grupo social em referncia ou
representado. Assim, os seguintes smbolos tm o significado que est
logo a seguir :

Indivduo de sexo indiferenciado (isto ,


pode ser Homem ou mulher)

Indivduo falecido
130 Lio n 4

Indivduo do sexo masculino

Indivduo do sexo feminino

+ Indivduo do sexo masculino mais velho

- Indivduo do sexo feminino mais novo

Divrcio Segundo
Ou == Casamento
Casamento

Casamento poligmico

Germanidade, irmandade ou fraternidade Filiao

Marido e mulher

Com filhos

Para alm dos smbolos, na Antropologia usado um conjunto de


abreviaturas para designar os parentes primrios, (aqueles cuja ligao
no precisa de intermedirio) secundrios, (aqueles cuja ligao tem um
intermedirio), tercirios (os que precisam de dois intermedirios para a
sua ligao) e os afins. O quadro que se observa abaixo, traz as
abreviaturas dos Parentes Primrios e Secundrios.

Abreviaturas dos Parentes Primrios e Secundrios.

Em francs Em Ingls Em Portugus


Pre Pe Father F Pai Pa
Mre Me Mother M Me Ma
Fils Fs Son S Filho Fo
Fille Fl Daughter B Filha Fa
Frre Fr Brother B Irmo Io
Soeur So Sister Z Irm Ia
Mari Ma Husband H Marido Eo
pouse Ep Wife W Esposa Es
Oncle On Uncle U Tio To
Tante Ta Aunt A Tia Ta
Neveu Ne Nephew Ne Sobrinho So
Nice Ni Niece Ni Sobrinha Sa

Fonte: Christian Ghasariam, 1999, p. 35-36.


Antropologia Cultural 131

Sumrio
A Antropologia usa um conjunto de smbolos para representar ou
esquematizar o Parentesco. Uma outra forma o uso de abreviaturas
para designar os parentes. Estes so geralmente identificados pela
primeira letra de uma lngua dada.
Tome Nota!

Exerccios

1. Represente um diagrama onde haja um homem com duas esposas e


com uma filha na segunda esposa.
2. Repita o mesmo exerccio, mas desta vez com as seguintes
situaes: um divrcio no primeiro casamento e dois filhos, cujo
sexo no se conhece perfeitamente, no segundo casamento.
Auto-avaliao

Respostas

1. 2.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte as obras indicadas abaixo e tente reolver de novo.
132 Lio n 4

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


antropolgicos. Lisboa, Edies 70, 1978, p. 257-306.
COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?
2 edio. Lisboa, Edies 70, p. 56-140.
Leitura
GHASARIAN, Christian. Introduo ao estudo do parentesco.
Lisboa, Terramar, 1999, 231 p.
MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,
Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 313-339.
RADCLIFFE-BROWN, A. R. E FORDE, Daryll. Sistemas Polticos
Africanos de Parentesco e Casamento. Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian, 1950, 223 p.
RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,
2000, p. p. 61-88.
Antropologia Cultural 133

Lio n 5

A Filiao

Introduo
Voc j notou que a partir do momento em que nascemos, identificamo-
nos com algum que nosso genitor ou, pelo menos, com algum que
desempenha o papel de nosso pai ou nossa me? De facto, todo o
indivduo que existe est ligado a um lao de Parentesco que o liga s
geraes anteriores ou posteriores. volta dessas ligaes que vamos
falar da Filiao. Para tal, voc precisa de duas horas para fixar os
aspectos que esto volta deste assunto, seguido, como tem sido at
agora, por uma actividade de auto-avaliao.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer os tipos de Filiao;
Saber distinguir o tipo de Filiao a partir do tipo de Descendncia
Conhecer a complexidade que existe volta do Parentesco.

Objectivos

Contedo

A Filiao constitui um dos fundamentos da transmisso do Parentesco.


A filiao pode ser legtima, natural ou adoptiva. No sentido
antropolgico, a Filiao geralmente traada apenas por um nico
progenitor: ou se filho de um determinado pai ou me, pertencendo ao
grupo de Parentesco daquele ou desta. A Filiao (...) entende-se como o
conjunto das regras que definem a identidade social da criana em
relao aos seus ascendentes e que determinam a hierarquia dos
membros da famlia, a forma de herana dos bens, a transmisso dos
cargos e funes, at a distribuio da autoridade nas sociedades
(...)(Rivire, 1995, p. 64-65).Quando voc observa pessoas na sua rea
de residncia que indicam que pertencem ou so da famlia da me ou do
pai; quando voc nota que certos bens so geralmente herdados de um
134 Lio n 5

lado e no do outro, est diante de um conjunto de procedimentos que se


definem na Filiao. De forma geral, a Filiao pode ser Unilinear
(patrilinear ou matrilinear); Bilinear e Indiferenciada.

Na Filiao Unilinear, o indivduo no escolhe o seu grupo de pertena.


Ele recebe-o. A pertena ao grupo determinada pelo facto de se ser filho
do pai ou de se ser filho de determinada me, j que em certas sociedades
aponta-se que uma criana gerada por um nico dos seus progenitores.
Umas consideram que a me a nica responsvel pelo nascimento da
criana, negando-se a paternidade fisiolgica.

Na Filiao Patrilinear, designada tambm por Agntica, a pertena ao


grupo obtm-se pelo pai e a relao com os outros membros deste grupo
passa-se exclusivamente pelos indivduos do sexo masculino (os
agnatos). Por exemplo, os filhos da irm do pai no so membros do
grupo de Filiao, contrariamente aos do irmo do pai. A Filiao
transmite-se do pai para o filho. Geralmente, nestas sociedades a
circulao dos membros feita atravs de um sistema de compensao.
Normalmente, depois do casamento no se espera que a filha volte para a
aldeia. Numa primeira fase, estas comunidades eram nmadas ou
inicialmente a sua sobrevivncia dependia de recursos frgeis.

Filiao Patrilinear

Via de descendncia

Na Filiao Matrilinear ou Uterina, o lao do Parentesco transmitido


pela me. O Ego masculino, apesar de ser membro do grupo de Filiao
da sua me, ao contrrio do que acontece com a irm, no transmite a sua
pertena aos filhos. Estas sociedades so geralmente sedentrias e
geralmente vivem da agricultura. Veja o esquema a seguir.

Filiao matrilinear

A filiao bilinear, ou dupla Filiao, combina as duas filiaes


unilineares. A Filiao reconhecida de ambos lados (paterno e
materno), mas com finalidades diferentes. Num dos lados pode receber o
apelido e no outro receber, por exemplo, poderes espirituais. Veja o
esquema.
Antropologia Cultural 135

Esprito Sangue

Ego

A Filiao Indiferenciada, tambm designada Cogntica ou Bilateral


ignora o sexo para a definio dos laos do Parentesco. No sistema de
Filiao Cogntica, o Ego membro de dois grupos de Parentesco: o do
seu pai e o da sua me. Geralmente este sistema cria uma teia complexa
de relaes que a Filiao Unilinear e Bilinear. caracterstica dos pases
ocidentais.

O Ego recebe a Filiao dos quatro avs, oito bisavs, dezasseis trisavos,
etc.

Ego

Para todos os efeitos, todos os anteriores tipos de Filiao so de carcter


natural, porque apesar de ela ser determinada culturalmente, envolve a
consanguinidade. Fora desta, existe a Filiao Adoptiva, aquela em que
os filhos tm uma origem exterior Famlia Nuclear ou no tm uma
relao gentica. Entretanto, esse tipo de Filiao no menos importante
que a outra, na medida em que os adoptados gozam dos direitos dos
legtimos.
136 Lio n 5

Sumrio
A Filiao uma das bases de transmisso do Parentesco. A Filiao
pode ser Unilinear (patrilinear ou agntica e matrilinear), Bilinear e
Indiferenciada.

Tome Nota!

Exerccios

1. Qual o tipo de Filiao da sua zona de residncia?


2. Apresente o esquema de Parentesco dessa rea cultural.

Auto-avaliao

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos


Respostas.
As respostas a estas questes esto dependentes do seu tipo de Filiao
(patrilinear ou matrilinear do estudante). Apresente as suas respostas ao
tutor. Ateno! Antes de ir ao CR procure discutir primeiro com os seus
colegas.
Antropologia Cultural 137

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


antropolgicos. Lisboa, Edies 70, 1978, p. 257-306.

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


2 edio. Lisboa, Edies 70, p. 56-140.
Leitura
GHASARIAN, Christian. Introduo ao Estudo do Parentesco.
Lisboa, Terramar, 1999, 231 p.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 313-339.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. E FORDE, Daryll. Sistemas Polticos


Africanos de Parentesco e Casamento. Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian, 1950, 223 p.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. p. 61-88.
138 Lio n 6

Lio n 6

Grupos de Parentesco

Introduo
Se na ltima lio voc aprendeu que na Filiao se definem regras de
descendncia de um indivduo, nesta vai observar que, sendo cada
indivduo uma base para a formao de novas ligaes, surgem grupos
com laos cada vez mais abrangentes. sobre essas ligaes, que na
essncia se formam os grupos de parentesco, que vamos falar nesta lio.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer as normas que guiam os grupos de parentesco;
Identificar os vrios tipos de grupos de parentesco;
Elaborar um esquema de parentesco mais complexo.

Objectivos

Contedo

Quando voc diz que algum um parente seu est adjacente que ambos
tm a mesma origem. E como pode notar na sua rea de residncia, dado
que, priori, a filiao unilinear, h formao de grupos selectivos, isto
, um membro seu familiar ou no, se ele se identifica ou no com o
mesmo antepassado seu. Assim, todos os que se identificam com um
antepassado comum formam, a diferentes escalas, vrios grupos de
parentesco, como o Cl e a Linhagem.

O Cl um grupo de filiao unilinear (patriarcal ou matriarcal) que


descende de um mesmo antepassado lendrio ou mtico. s vezes, os
membros invocam um Totem, isto , representao sacralizada do Cl,
ligado ficticiamente ao antepassado. As pessoas com o mesmo Totem
respeitam os mesmos tabus ou as mesmas proibies matrimoniais ou
alimentares e possuem o mesmo patronmico ou nome genrico. A
Antropologia Cultural 139

pertena ao cl constitui a base da transmisso da herana e funes de


rituais, econmicas, polticas, etc.

O Cl compreende um certo nmero de linhagens exgamas (isto , cujos


membros devem se casar fora da sua linhagem), ligadas a um antepassado
histrico, cuja recordao se conserva. Por acrscimo demogrfico, os
Cls e Linhagens podem fragmentar-se, surgindo cls, subcls, linhagem
principal e linhagens secundrias.

Na filiao unilinear o homem (patrilinearidade) e a mulher


(matrilinearidade) transmitem a pertena ao Cl. Os germanos pertencem
ao Cl do progenitor transmissor da pertena.

Em cada uma das filiaes distinguem-se ainda os primos cruzados, que


so os germanos que nascem de irmo da me e irm do pai e os primos
paralelos, que so os germanos que nascem do irmo do pai e da irm da
me. Geralmente, segundo as regras de exogamia, os primos paralelos
esto proibidos como parceiros, enquanto os cruzados so potenciais
cnjuges. Veja o esquema seguinte:
Consanguinidade

Primos Primos Ego Primos Primos

Paralelos de Ego Cruzados de Ego Cruzados de Ego Paralelos de Ego

Numa filiao patrilinear, o esquema seria representado da seguinte


maneira

= ==

Primos cruzados EGO Primos Paralelos

Membros da linhagem de Ego

Membros de outras linhagens


140 Lio n 6

Numa filiao matrilinear, o esquema representado da seguinte maneira

= ==

Primos cruzados EGO Primos paralelos

Membros da linhagem do Ego, isto , os que


normalmente so designados familiares.

Membros de outras linhagens

Sumrio
O Ego o elemento chave na identificao de parentes. Entre os
parentes existem os directos, (consanguneos), os paralelos e os
cruzados. Entretanto, por uma questo operatria, s a me ou o pai
que do a pertena ao cl.
Tome Nota!

Exerccios

1. Identifique os grupos de parentesco.

2. Elabore a sua rvore genealgica.


Auto-avaliao
Antropologia Cultural 141

Quanto aos grupos de parentesco, voc pode indicar desde as


sublinhagens, linhagens, subcls, cls

A rvore genealgica a ser elaborada por si pode variar em funo da


informao que voc tiver dos ascendentes.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


antropolgicos. Lisboa, Edies 70, 1978, p. 257-306.

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


2 edio. Lisboa, Edies 70, p. 56-140.
Leitura
GHASARIAN, Christian. Introduo ao Estudo do Parentesco.
Lisboa, Terramar, 1999, 231 p.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 313-339.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. E FORDE, Daryll. Sistemas Polticos


Africanos de Parentesco e Casamento. Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian, 1950, 223 p.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. p. 61-88.
142 Lio n 7

Lio n 7

Aliana Matrimonial

Introduo
Vimos nas lies anteriores que o parentesco resulta de vrias formas, de
entre as quais o casamento. Nesta lio vamos conhecer todos os aspectos
que envolvem a Aliana Matrimonial nas diferentes sociedades e os
condicionalismos que emergem desse processo. Voc vai encerrar a lio
com uma auto-avaliao, onde pode testar o nvel de compreenso da
matria.

Ao completer esta lio, voc ser capaz de:


Conhecer a utilidade social do casamento;
Identificar os aspectos que condicionam a escolha do cnjuge;
Conhecer os vrios tipos de casamentos.

Objectivos

Contedos

Na sua vida quotidiana voc tem ouvido falar de Aliana Matrimonial ou


simplesmente do casamento. Este constitu uma unio estabelecida entre
dois grupos exgamos, pelo cruzamento de um dos seus membros com
algum pertencente a outro grupo. O casamento uma Instituio Social
que visa o estabelecimento de vnculos de unio estveis entre o homem e
a mulher, baseados no reconhecimento do direito de prestaes recprocas
de comunho de vida e de interesses, segundo as normas das respectivas
sociedades. De facto, os casamentos so prescritos geralmente pelas
normas do local onde se realizam, desde que um dos membros seja
nativo. Excluem-se os casamentos exticos.

A Aliana Matrimonial condiciona processos de filiao, de residncia,


de apelido, de herana, de atitudes e a base da procriao legtima no
Antropologia Cultural 143

grupo conjugal. A liana Matrimonial condiciona a mudana do estatuto


dos novos esposos e a criao de laos jurdicos, sociais e econmicos.

A escolha do cnjuge no aleatria. Participam alguns princpios como


a origem, as qualidades, a identidade social, para alm de que esperam se
negociaes e assentimentos nas famlias dos dois parceiros. Tais
princpios so tomados em considerao porque um lao matrimonial
envolve questes como a idade; o sexo; grau de parentesco dos esposos;
prazo de viuvez ou o respeito de certos interditos. Por exemplo, apesar de
actualmente ocorrerem casamentos homossexuais em alguns pases,
geralmente so privilegiados os de natureza heterosexual, isto , que
resultam da relao entre o homem e a mulher. Assim, os tipos e sistemas
matrimoniais guiam-se na base da endogamia, (matrimnio dentro), que
prescreve a escolha do cnjuge no interior de um determinado grupo e da
exogamia (matrimnio fora), que probe o casamento dentro de
determinados grupos, ou seja o casamento entre parentes do primeiro
grau. Este difere contudo do incesto, que diz respeito s relaes sexuais
entre parentes do primeiro grau, uma prtica que normalmente proibida
praticamente em todas as sociedades.

A escolha de um cnjuge opera-se por ordem decrescente segundo os


critrios seguintes: no interior da etnia (etnocentrismo); exogamia (fora
do grupo do parentesco, que na verdade tem sido um dos grandes
critrios), a afinidade e a harmonia das idades. Por isso, existem vrias
formas de casamentos, sendo impossvel considerar uma nica forma, de
valor universal. Contudo, entre as variadssimas formas e normas
existentes, permanece sempre o facto de a comunho ser socialmente
reconhecida e regulada.

Atendendo escolha dos nubentes, o casamento pode ser a) livre, quando


os nubentes tm plena liberdade na escolha do seu parceiro; b)
preferencial, quando apenas se considera aconselhvel que o indivduo
despose uma determinada pessoa ou entre as pessoas de uma determinada
categoria social e c) prescrito ou compulsrio, quando a pessoa ao
nascer fica comprometida a um futuro marido ou esposa. Assim, pode ser
a hipergamia, que a preferncia matrimonial concedida por uma mulher
a um cnjuge de estatuto e de condio econmica superior; a hipogamia,
casamento em que mulheres de sangue real so coagidas a casar com um
cnjuge de estatuto inferior e a homogamia ou isogamia, a escolha do
cnjuge em meio social, geogrfico e cultural idntico ao seu prprio
meio.

Nas prticas de casamento existem formas de trocas de mulheres entre


grupos sociais ou no interior de um grupo social. Ocorre, por exemplo,
que pode haver um casamento preferencial, especialmente entre os
primos cruzados. Nas vezes em que de grupo para grupo uma mulher
dada por troca com outra mulher fala-se de troca directa. um casamento
prescrito, como o , entre os primos cruzados. Mas quando uma mulher
compensada por um smbolo reconhecido ou dote (p. ex. vaca, soma de
dinheiro), a troca indirecta. O dote simboliza a aliana dos cls; a troca
dos valores; mas tambm uma indemnizao pela privao dos servios
agrcolas e caseiros que a filha desempenharia caso ficasse com eles ou
um direito pela apropriao de uma filha; o preo de cedncia de um
poder legal sobre esta.

H casos particulares de casamento, por herana, como o levirato, uma


prtica segundo a qual a viva se casa com um irmo do marido falecido
144 Lio n 7

e o sororato, em que o vivo se obriga a casar com uma irm solteira da


esposa falecida.

Os casamentos, segundo o nmero de parceiros, podem ser monogmicos


e poligmicos. Nos casamentos monogmicos ocorre a unio matrimonial
de um s homem com uma s mulher, representada pela frmula
estrutural didica = . Destes casamentos resultam famlias
monogmicas. Nos casamentos poligmicos, os cnjuges podem ter mais
parceiros. Neste caso h a poliginia, quando so envolvidas mais
mulheres, isto , quando um homem se casa com muitas mulheres e a
poliandria, quando uma mulher se casa com mais de um homem.
Contudo, a poliginia um dos casos mais frequentes.

De um modo geral, o casamento tem uma funo social, quer como base
de manuteno do grupo social, a partir da procriao, quer pela
manuteno de alianas entre grupos familiares, tendo por isso uma
funo comunitria. Geralmente o casamento dissovlve-se por duas vias:
por morte de um dos membros ou pelo divrcio que, por sua vez, pode
resultar de vrios factores: infertilidade de um dos membros, infidelidade,
contradies entre os membros, maus tratos, concubinato, etc.

Sumrio
excepo do exotismo e desde que um dos membros seja nativo, os
casamentos so prescritos geralmente pelas normas do local onde este
se realiza. A escolha do cnjuge depende da identidade social, questes
do sexo; grau de parentesco dos esposos; prazo de viuvez ou o respeito
de certos interditos. Eles guiam-se ainda pela endogamia e exogamia.
Tome Nota!
De acordo com a forma, ele pode ser livre, preferencial, (hipergamia),
hipogamia, homogamia ou isogamia), prescrito ou compulsrio. H
tambm os casamentos por herana, (levirato e o sororato).
Finalmente, segundo o nmero de pessoas envolvidas, pode ser
monogmico e poligmico (poliginia e a poliandria).

Exerccios

1. Depois de se informar, caracterize o casamento da sua rea de


residncia, assinalando o(s) fundamento(s) do(s) mesmo(s)

2. Livre, prescrito ou compulsrio, hipergmico, hipogmico,


homogmico ou isogmico, preferencial, por compensao nupcial;
Auto-avaliao
por Levirato e Sororato; monogmico; poligmico.

3. Quais os motivos que determinam a existncia do tipo de casamento


que identificou em 1?

4. Na sua rea de residncia, ocorre o ltimo tipo do casamento


identificado na questo 1? Qual o tipo?
Antropologia Cultural 145

Respostas (feedback) solues das questes dadas nesta lio.

1. O Centro de Apoio vai identificar, com o Discente, as bases dos


casamentos da zona.

2. O Estudante deve encontrar os motivos locais que condicionam a


dominncia de certas caractersticas do casamento.

Na condio de existir, esse tipo de casamento s pode ser polignico,


porque em nenhuma parte de Moambique existe o polindrico.

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


antropolgicos. Lisboa, Edies 70, 1978, p. 257-306.

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Leitura 2 edio. Lisboa, Edies 70, p. 56-140.

GHASARIAN, Christian. Introduo ao Estudo do Parentesco.


Lisboa, Terramar, 1999, 231 p.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 313-339.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. E FORDE, Daryll. Sistemas Polticos


Africanos de Parentesco e Casamento. Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian, 1950, 223 p.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. p. 61-88.
146 Lio n 8

Lio n 8

Residncia e Circulao
Matrimonial e Seu Impacto na
Organizao Social e Poltica

Introduo
Seja em que meio for, nenhuma organizao social feita aleatoriamente.
Essa caracterstica estende-se residncia e circulao de membros
num determinado territrio. De facto, a residncia feita em funo de
certas regras e ela tem um certo impacto sobre a organizao social.
Nesta lio, vamos conhecer essas regras e o respectivo impacto. Para
isso, voc tem duas horas para estudar a presente lio, acompanhada por
um exerccio de auto-avaliao, que deve ser resolvido.

No fim desta lio, voc deve ser capaz de:


Conhecer os diferentes tipos de residncias que existem;
Conhecer a importncia da existncia do sistema de atitudes em
Objectivos certos meios sociais.

Contedos
Os agrupamentos locais e residenciais so unidades funcionais que
definem a circulao de membros, quer masculinos quer femininos, no
interior de uma comunidade. O estabelecimento de um casal objecto de
regra. Existem vrios tipos de residncia. Por exemplo, a residncia
unilocal pode ser definida pelas residncias: patrilocal, virilocal,
matrilocal e uxorilocal.

residncia patrilocal, quando o casal vive nas terras ou na proximidade


do grupo do marido. Em Moambique caracterstica nas comunidades
de filiao patrilinear. virilocal, quando o casal se estabelece nas terras
no do grupo do marido, mas nas terras prprias do marido e pode ser
num sistema matrilinear ou patrilinear. De um modo geral, os filhos
estando sob o controle do pai, a transmisso da herana e a sucesso, na
presena de um pressuposto de transmisso de um poder poltico, feita
Antropologia Cultural 147

de pai para o filho. O pai o responsvel pela transmisso dos


rudimentos sociais do grupo ou da educao aos filhos, controlando, por
isso, a circulao destes. Este tipo de residncia pode ser encontrado nas
famlias migradas por largos tempos ou definitivamente.

residncia matrilocal quando o casal se instala junto dos pais da esposa.


Geralmente a av materna que controla o grupo domstico.
uxorilocal, quando o casal se estabelece em casa da esposa. Quando a
residncia do mesmo tipo de filiao, por exemplo, filiao matrilinear
e residncia matrilocal, o regime dito harmnico. Os homens, apesar de
sairem dos seus grupos domsticos, deslocam-se frequentemente para a
povoao da sua me. Geralmente, apesar de no ser posto de lado o
papel da mulher, j que ela detem o poder espiritual, a execuo deste
cabe aos irmos da me de um determinado Ego. por causa disso que
h um papel muito forte dos tios maternos, os quais controlam a
circulao dos sobrinhos uterinos. O poder passa, dessa forma, do tio
materno ao sobrinho. Entretanto, quer no sistema de parentesco e de
residncia matrilocal ou patrilocal, essa herana tem recado,
preferencialmente, nos primognitos, no obstante existirem certas
especificidades locais, familiares ou ocasionais.

Se uma residncia unilocal admite o estabelecimento do domiclio ou do


lado do marido ou da mulher, isto , deixa a escolha dos cnjuges,
chama-se bilocal ou ambilocal. Mas ela pode ser alternada, se primeiro
patrilocal e depois matrilocal, ou o inverso. Mas tambm pode ser
duolocal ou natolocal, quando os cnjuges podem, em certas ocasies,
residir separadamente, com a sua famlia. Ela tem geralmente um carcter
temporrio, quando, por exemplo, o novo casal se encontra a criar
condies para o seu estabelecimento, ou quando, por exemplo, a mulher
recebe assistncia na casa da me, durante um parto, perodo durante o
qual, o homem visita amiudadas vezes a sua esposa.

H vezes em que o par conjugal vai viver em casa do irmo da me do


marido. Neste caso chama-se residncia avunculocal. Mas pode ser que a
escolha do local onde o local se ir estabelecer seja feita fora da deciso
dos pais do cnjuge, como nas zonas industrializadas. Neste caso, temos
o caso da residncia neolocal.

Sistemas de Atitudes

Entre os membros de um dado grupo social so determinados certos


comportamentos que regem a relao entre os seus componetes. Existem,
por exemplo, normas de comportamento entre o tio materno e o sobrinho.
O sobrinho deve obedincia e profundo respeito ao tio e s vezes, este
importuna o sobrinho. Mas necessrio situar estas relaes no s ao
nvel destes dois membros, pois envolve o irmo da me, a prpria me, o
cunhado e o sobrinho.

Um outro sistema de comportamento situa-se ao nvel dos sogros e


genros, ou entre parentes aliados, como por exemplo o gracejo. Muitas
destas normas circunscrevem-se num respeito ou para inibir tenses
potenciais entre os membros envolvidos. Existem outras normas de
comportamento ou sistema de atitudes, como o caso do gracejo em que
os comportamentos se transpem ao nvel da entreajuda ou assistcia
recproca entre os membros em todas as ocasies.
148 Lio n 8

Sumrio
Os agrupamentos residenciais so unidades funcionais que definem a
circulao de membros. O estabelecimento de um casal objecto de
regra, podendo ser patrilocal, virilocal, matrilocal e uxorilocal. A
residncia pode ser ainda bilocal ou ambilocal, duolocal ou natolocal,
avunculocal. Geralmente nesses grupos residenciais estabelecem-se
Tome Nota!
comportamentos que regem a relao entre os seus membros, so os
sistemas de atitudes, como as que existem entre o tio materno e o
sobrinho, sogros e genros, ou entre parentes aliados, como por exemplo
o gracejo

Exerccios

1. Identifique as caractersticas residenciais da rea cultural em que se


encontra a viver.
2. Partindo da realidade de Moambique, identifique e demarque as
Auto-avaliao caractersticas residenciais mais dominantes no pas.
3. Que importncia tem o sistema de atitudes num grupo social dado?

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Resposta

1. A resposta a esta questo depende do seu local de residncia.

2. Voc de certeza que serviu-se de um mapa de Moambique para


demarcar as caractersticas residncias mais dominantes.

3. O sistema de atitudes pode regular, por exemplo, os conflitos


potenciais, como os que existem entre a velha e a nova gerao
ou entre indivduos que, priori, poderiam entrar em choque.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte as obras indicadas abaixo e tente reolver de novo.
Antropologia Cultural 149

Leituras aconselhadas

BERNARDI, Bernardo. Introduo aos Estudos Etno-


antropolgicos. Lisboa, Edies 70, 1978, p. 257-306.

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Leitura 2 edio. Lisboa, Edies 70, p. 56-140.

GHASARIAN, Christian. Introduo ao Estudo do Parentesco.


Lisboa, Terramar, 1999, 231 p.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 313-339.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. E FORDE, Daryll. Sistemas Polticos


Africanos de Parentesco e Casamento. Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian, 1950, 223 p.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. p. 61-88.

Actividade Final da Unidade


Partindo da organizao parental, trace as relaes sociais possveis que
podem existir com o mundo religioso, econmico, poltico, etc.,
existentes na sua rea cultural.
150 Unidade 6

Unidade 6

A Cultura do Simblico,
Ideologias e O Papel da Religio
Tradicional em frica e em
Moambique

Introduo
Benvindo ltima unidade do presente mdulo de Antropologia Cultural.
Depois de ter tido o contacto com aspectos relacionados com os
pressupostos da emergncia da Antropologia e das teorias subsequentes,
com as caractersticas da Cultura, com a cultura material e finalmente
com o parentesco, chegada a vez de ver o simbolismo que existe no
interior de toda a aco humana, quer na produo material ou, por
exemplo, mesmo no parentesco. Nesta unidade, voc vai apreender o que
existe do lado imaterial dos homens, desde o conjunto de ideias,
smbolos, crenas, religies, etc.

Estrutura

O estudo que voc inicia agora tem 5 lies. Devem ser dispensadas duas
(2) horas de tempo para cada lio.

Tpicos da Unidade

Lio 1. A cultura do Simblico

Lio 2. Os Vnculos de Transmisso Ideolgica : Rituais e


Mitos

Lio 3. A Religio Tradicional em frica : (o culto aos


antepassados, as crenas na magia e na feitiaria, os
ritos de possesso)

Lio 4. A Introduo de Novas Ideologias Religiosas e o seu


Impacto nas Sociedades Agrcolas em frica

Lio 5. Os Movimentos Poltico-religiosos em frica.


Antropologia Cultural 151

Ao completar esta unidade, voc ser capaz de:

Geral

Conhecer a natureza simblica da Cultura Humana.

Objectivos
Especficos
Identificar os aspectos que compem a Cultura Imaterial.
Distinguir a Religio da Magia.
Saber como a ideologia veiculada dentro de uma comunidade
Caracterizar a prtica religiosa tradicional em frica e em
Moambique
Reconhecer o impacto das Religies Exgenas sobre as Religies
Africanas
Explicar os motivos e os mecanismos da Capitalizao das religies
tradicionais face s religies impostas.

Motivaes

Quando voc trata de aspectos religiosos, tem visto um tratamento


marginalizado das prticas religiosas africanas. Com esta unidade, voc
vai conhecer o que, s vezes, est por detrs dessa situao.

Meios

Para alm das referncias bibliogrficas presentes no fim de cada lio,


voc poder usar textos de apoio, visita a museus etnogrficos, sempre
que eles existirem, mas tambm sua prpria comunidade. Os aspectos
relacionados com o sagrado e o profano, os tipos de cultos, as religies
dominantes na rea-cultural, s podem ser cedidos pelo meio
envolvente.
152 Lio n 1

Lio n 1

A Cultura do Simblico

Introduo
Todos os grupos humanos tiveram e tm uma crena num ser
sobrenatural ou tm um conjunto de ideias que no so, necessariamente,
objectos tangveis, que fazem parte do mundo de ideias. Ser sobre este
mundo que se vai centrar a presente lio. Voc dispe de duas horas
para apreender o contedo desta lio. No fim tem algumas actividades
para cujas respostas pode ser necessrio recorrer s unidades anteriores,
j que o percurso o justifica.

No fim desta lio, voc deve ser capaz de:


Identificar os aspectos que fazem parte do imaginrio ou do
simblico
Objectivos Explicar por que o ser humano um ser simblico
Especificar o lugar da Religio nesse simbolismo

Contedos
Se voc fr a fazer uma leitura sobre todos os povos vai notar que eles
tm um conjunto de ideias que se relacionam com a cosmoviso ou ento
existe uma certa crena sobre um mundo sobrenatural, ou ainda, que os
homens estabelecem um relacionamento com o mundo invisvel. Esse o
lado do imaginrio do homem, da cultura imaterial ou do aspecto
ideolgico. De facto, toda a sociedade humana tem, de certa forma, uma
ligao com o sobrenatural ou com o imaginrio que pode no se situar
necessariamente ao nvel do aspecto religioso.

Por outro, quando falamos das caractersticas da cultura, vimos que uma
delas o seu carcter simblico, isto , que para alm de ser material,
envolvendo artefactos ou objectos, ela comporta tambm uma parte
mental, resultante da actividade psquica, quer nos seus aspectos
cognitivos, quer nos afectivos, significados, valores e normas. Contudo,
estes dois lados da cultura agem de forma recproca, dado que,como
defende Maurice Godelier, o material da cultura pode se simbolizar e o
simblico da cultura se pode materializar.

Esse mundo simblico precisa de ser descodificado pelo facto de os


smbolos formarem um sistema especfico, porque transmite mensagens
difceis de captar primeira vista. Assim, a compreenso da cultura dos
Antropologia Cultural 153

homens depende da percepo dos smbolos, dado que estes tocam a


cultura e a sociedade na sua globalidade. Por isso, alguns estudiosos
consideram o homem como animal simblico e, outros autores,
indicam ser difcil separar as duas partes. Neste sentido, integram o
simbolismo: a linguagem verbal, os ritos, as instituies culturais, as
relaes, os costumes, etc. Um exemplo prtico ao nvel do simblico
existente em frica o totemismo. Este expressa um conjunto de seres,
animais ou vegetais, usados para atribuir nome a um cl, passando, a
partir desse momento, a ser o nome pelo qual um determinado cl se
identifica. Na sequncia dessa prtica, um cl X passa a evitar o contacto,
principalmente por via de alimentao, com o animal ou a planta.

Contudo, um dos elementos que congrega a maior parte dos aspectos


simblicos a Religio. O discurso religioso procura abarcar a totalidade
da experincia humana, ligando o material e o sobrenatural, o imanente
do transcedental, com o fim de classificar, ordenar, hierarquizar, construir
uma moral e dar um sentido vida. A Religio tende para a Metafsica,
tendo como caracterstica o sacrifcio, supondo um intermedirio de
poderes sobrenaturais.

Todas as religies dividem o mundo em duas partes: uma sagrada, que


envolve objectos de culto, as pessoas do culto e os prprios seres
cultuados e outra profana, respeitante ao comum, ao secular.

Segundo Martinez, (2004, p. 115) todas as religies, das diferentes


sociedades, tm funes semelhantes, como a essencialista, cujo
objectivo manter a identidade e a consistncia da sociedade e a
funcionalista nos aspectos a) transcendental, na vinculao do Homem
ao mundo transcendental, ao Ser Supremo; b) integrador, para manter o
grupo social unido atravs da sua identidade cultural; c) tico, cuja
finalidade a de manter normas morais uniformes na sociedade e d)
funo psicolgica, com o objectivo de manter o equilbrio e a harmonia.
E como acrescenta Rivire, a pluralidade das religies no autoriza, de
forma nenhuma, que se considere uma delas como a nica verdadeira,
no passando as outras de esboos ou simulacros, apesar da nossa
tendncia para tratarmos como mitos e supersties as crenas a que ns
no aderimos (Rivire, 2000, p. 143).

O discurso religioso faz, de certa maneira, parte da ideologia de um grupo


social, esta definida como o conjunto das representaes colectivas
(morais, filosficas, religiosas ...), atravs das quais os homens traduzem
as suas condies reaisi de existncia adoptadas por exprimirem os
interesses, reais ou imaginrios, de uma classe ou grupo social (Clment
et al. 1998, p. 190).

Geralmente a ideologia permite e garante a manuteno das


relaes sociais, dado que , atravs dela que esto prescritas, de
forma subtil, as relaes, baseadas numa fora exterior, reguladora
das mesmas.
154 Lio n 1

Sumrio
Todas as sociedades humanas apresentam um lado simblico na sua
cultura. Um dos aspectos mais caractersticos da Cultura Imaterial a
Religio, a qual procura abarcar a totalidade da experincia humana,
ligando o material e o sobrenatural, com o fim de classificar, ordenar,
hierarquizar, construir uma moral e dar um sentido vida. Esta cultura
Tome Nota!
simblica ou imaterial veicula elementos agregadores num
determinado grupo social.

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e


responda s questes seguintes:
1. Onde se encontra, na essncia, a diferena entre a cultura
Auto-avaliao material e imaterial?
2. Por que se diz que o ser humano por natureza simblico?
3. Apresente o carcter universal da Religio.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Resposta

1. A cultura material a expresso em artefactos ou


tecnolgica da actividade mental humana, enquanto a
cultura imaterial representa o lado do imaginrio, do
simblico dessa mesma actividade.

2. Porque toda a sua aco procura dar algum significado


simblico ou porque antropologicamente a actividade
humana mais interpretada neste lado simblico
3. Todos os grupos humanos tm ou procuram estabelecer
uma relao com o mundo transcendental ou sobrenatural,
criando um ser, ao qual esto ligadas muitas explicaes
que, priori, esto fora do alcance da construo mental
objectivamente provvel do intelecto humano.
De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve
dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte as obras indicadas abaixo e tente reolver de novo.
Antropologia Cultural 155

Leituras aconselhadas
COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?
Lisboa, Edies 70, 1971, p. 307-340.

DELUMEAU, Jean (Dir.). As Grandes Religies do Mundo. Lisboa,


Editorial Presena, 2002.
Leitura
MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.
Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 93-114.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 386-420.
RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,
2000, p. 139-164.
156 Lio n 2

Lio n 2

Os Veculos da Transmisso
Ideolgica: Rituais e Mitos

Introduo
Certamente que voc j presenciou ou ouviu falar sobre alguma
cerimnia religiosa ou comunitria da sua zona de residncia. Ter
tambm presenciado contos acerca da origem do Homem ou do Universo,
que comea: era uma vez... Tais aspectos fazem parte de um universo
imaginrio dos ritos e dos mitos, objecto da presente lio. Para isso,
voc dispe de duas horas, seguidas por uma actividade de auto-
avaliao.

No fim desta lio, voc deve ser capaz de:


Definir um rito e um mito
Distinguir um rito de um mito
Objectivos Especificar a finalidade dos ritos e dos mitos.

Contedos
O Rito designa um conjunto de actos repititivos e codificados, por
vezes solenes, de ordem verbal, gestual ou de postura, com forte
carga simblica, fundado sobre a crena na fora actuante de
seres ou de poderes sagrados, com os quais o homem tenta
comunicar, visando obter um determinado efeito (Rivire, 2000,
p. 154).

O Rito endereado a um Ser Sobrenatural, diferente dos demais e


tem: uma sequncia de aces; representaes; meios de
comunicao, feitos por um pessoal especializado e meios reais e
simblicos. Assim, envolve objectos, divindades, como as oraes
e oferendas, sacrifcios, pessoal, como Oficiantes/Mdiums/Padres.
Eles so feitos em locais prprios ou habituais, como numa rvore,
junto de nascentes de rios, nas bases das montanhas, numa Igreja,
em funo da sociedade. O Rito Religioso pblico, colectivo e
social.

Por sua vez, o Mito, que se situa ao nvel da linguagem, formado


por unidades constitutivas (mitemas ou elementos mticos). Sobre o
Mito, Lvi-Strauss desenvolveu um amplo estudo. O Mito permite
Antropologia Cultural 157

interpretar, assim como estruturar os aspectos culturais e mesmo


alguns procuram regular a vida de um grupo social. Os Mitos
inserem aspectos cuja explicao vaga, imprecisa e no pe
directamente em causa a funcionalidade de um grupo, mesmo que
possa exercer influncia sobre a mesma.

O Mito refere-se a um tempo primordial, relatando acontecimentos


das origens. As personagens que aparecem nos Mitos so Seres
Sobrenaturais, protagonistas de uma actividade criadora, revelando-
se no Mito a sacralidade das suas obras. Segundo Lvi-Strauss, o
mito pode expressar uma contradio impossvel de resolver. No
mesmo diapaso, para Copans e outros (1971, p. 319), embora o
Mito encontre as suas causas nas estruturas sociais, ele pertence
superstrutura, com a finalidade de atenuar contradies. Aponta
ainda que toda a mitologia submete, domina as foras da natureza
no campo da imaginao e d-lhes forma, mas desaparece quando
tais foras so dominadas realmente (Ibid., p. 320). Assim, ao
narrar realidades sobrenaturais, o Mito traduz-se numa histria
sacra.

O Mito uma histria exemplar, dado que fornece modelos para a


conduta humana, orientando o Homem no seu comportamento com
respeito a Deus e aos outros seres. Contudo, mesmo situando-se
nesse nvel, o Mito no de todo falso, dado que se refere a
acontecimentos, como a criao do mundo, as origens da espcie
humana, das coisas, como verdadeiros, como factos objectivos. Por
isso, os Mitos tm as seguintes caractersticas: tratam das origens;
os seus protagonistas so os Seres Sobrenaturais; atravs deles
entra-se em contacto com o sagrado; so transmitidos nos Ritos por
especialistas indicados pelo grupo social.

A Religio Tradicional em frica : (o culto aos antepassados, as


crenas na magia e na feitiaria, os ritos de possesso).

Sumrio
Os Ritos e os Mitos constituem as formas de transmisso e de
exteriorizao dos aspectos simblicos da cultura humana. Enquanto os
primeiros encerram o conjunto de regras pelas quais o Homem procura
comunicar-se com o alm, os segundos procuram explicar os
primrdios da humanidade ou mesmo do universo, desse alm.
Tome Nota!
158 Lio n 2

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e


responda s questes seguintes:

1. A partir da sua rea de residncia, identifique os Ritos


Auto-avaliao Religiosos praticados pela respectiva comunidade e os
grupos praticantes.

2. Procura encontrar a(s) verso(es) da origem do Homem ou


do Universo nesses Ritos e compare-as, se fr o caso.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Respostas

1. A partir da sua zona de residncia, voc deve procurar os


vrios Ritos praticados. Deve procurar descrev-los em
funo dos aspectos que constam no texto.

2. Seria interessante que voc tenha recolhido essa origem


em funo do tipo do Rito.
Antropologia Cultural 159

Leituras aconselhadas
COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades
Primitivas? Lisboa, Edies 70, 1971, p. 307-340.

DELUMEAU, Jean (Dir.). As Grandes Religies do Mundo.


Leitura Lisboa, Editorial Presena, 2002.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural.


SMSto. Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 93-114.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 386-420.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies


70, 2000, p. 139-164.
160 Lio n 3

Lio n 3

A Religio Tradicional em frica:


o Culto aos Antepassados, a
Crena na Magia e na Feitiaria

Introduo
A formao dos grupos populacionais e do respectivo universo cultural
em frica, e no s, foi acompanhado pela formao de um sistema
religioso especfico, baseado no culto aos antepassados. Nesta lio
vamos procurar identificar os traos gerais dessa religio em relao a
outras religies. Voc dispe de duas horas para o efeito e no fim da lio
dispe de uma actividade a ser resolvida.

No fim desta lio, voc deve ser capaz de:


Distinguir a Religio Tradicional em frica das outras;
Identificar os procedimentos que esto a ela associados
Objectivos Estabelecer a relao entre o poder e o sagrado.

Contedos
A Religio Tradicional em frica envolve um conjunto de
procedimentos, muitos deles diferentes das religies mais massificadas do
Mundo: o Cristianismo e o Islamismo ou outras que, mesmo ocupando
um pas ou uma regio geogrfica, so expressivas, como o Hindusmo, o
Budismo. uma religio que cr no culto aos antepassados, pelos quais
os vivos se endeream ao Deus e esperam receber, deste, as boas graas,
que podem passar pelos antepassados ou podem ser endereadas
directamente. Veja o esquema.

Deus

Antepassado

Vivos
Antropologia Cultural 161

Este culto resulta da crena numa segunda vida e da transformao dos


mortos (antepassados, um carcter entretanto atribudo a uma certa
categoria de homens) em personalidades msticas de ordem superior,
contudo inferiores a Deus. De facto, h uma crena de que os
antepassados que tiveram uma ptima conduta em vida tm a
possibilidade de ter uma relao directa com Deus, podendo, para isso se
constituir como um bom intermedirio entre os vivos e Aquele. O culto
realizado por meio de oferendas, preces, que varia de um grupo social
para o outro.

uma religio que no tem um calendrio especificamente delimitado,


podendo variar segundo o momento em que se manifesta o factor de
referncia para o culto. Por exemplo, a invocao da chuva s pode
ocorrer quando houver a escassez da mesma. Nos anos em que h
abundncia, esse processo no ocorre. Contudo, h perodos propcios
para a sua ocorrncia. Assim, uma religio mais prtica, que procura
resolver os problemas que aparecem quotidianamente.

O comportamento religioso , s vezes, associado s foras malignas,


influenciveis por prticas especficas, como a magia. A magia, segundo
Rivire, ... uma operao visando agir sobre a Natureza por meios
ocultos, que pressupem a existncia quer de espritos, quer de foras
imanentes e extraordinrias (p. 144-145). A magia um ritual prtico,
com finalidades malficas ou benficas. Embora assente em realidades
sociais, a magia, diferentemente da Religio, , nos seus ritos, individual.
Contudo, h situaes em que a magia comunitria e aceite pelo grupo.
s vezes considerada anti-social. A magia pe em aco poderes
externos, manipulados pelos smbolos (objectos, frmulas, gestos),
visando modificar o curso dos acontecimentos em favor de algum e
prejuzo do outro. A magia no se faz num templo ou no altar domstico,
mas s escondidas ou isolado, longe do grande pblico. O acto e o actor
envolvem-se em mistrio.

Uma outra aco que se situa ao nvel do espiritual a feitiaria, que


concebida como tendo em vista prejudicar algum. O acto ofensivo,
malfico para um grupo social ou para indivduos. Contudo, ela pode
influenciar para a manuteno da ordem social, na medida em que
alimenta o receio de desvios e de tendncias nocivas sociedade.

Essas prticas so concretizadas por actos repetitivos e codificados, de


ordem verbal, gestual ou de postura, com forte carga simblica os ritos.
Com os ritos espera-se que uma fora actuante de um poder sagrado,
sobrenatural para a obteno do efeito desejado. Um rito comporta uma
sequncia de aces, meios reais e somblicos, representaes, meios de
comunicao. Em determinadas ocasies, tais ritos so concretizados sob
um estado de possesso, na qual ... um indivduo se considera estar sob
o domnio de uma fora sobrenatural, que o transforma num instrumento
da sua vontade, quer com uma finalidade teraputica pessoal, quer como
mediao pelo possudo de uma mensagem divinatria para a sociedade
(Rivire, 2000, p. 160). Nessa situao, diz-se que a pessoa entrou em
transe.

As prticas religiosas tradicionais envolvem ainda a adivinhao, que


serve para reduzir incertezas quanto ao futuro de um indivduo, projecto
colectivo ou para revelar desajustes existentes numa comunidade, visando
moldar um novo comportamento.
162 Lio n 3

A um outro nvel situa-se o tabu, que um interdito sacralizado, ou


porque foi consagrado ou resulta do impuro. Acredita-se que a
transgresso pode dar origem a uma desordem natural ou social. O tabu
definido por membros sniores de uma comunidade, fruto de
interpretaes de experincias desagradveis, de sonhos, de vises ou de
mitos.

O Poder e o Sagrado nas Formaes Sociais, Tradicionais em


Moambique

O sagrado a concepo de uma fora misteriosa, fascinante e temvel,


cujos atributos variam de um grupo social para o outro: Deus,
antepassados, foras superiores, etc. Ele pode situar-se ao nvel religioso
e fora do religioso. No primeiro contexto, a fora que garante a
segurana e uma totalidade que se responsabiliza por tudo que no
somos responsveis. Geralmente posiciona-se ao nvel da impotncia de
explicar certos aspectos. Quanto ao segundo contexto, fora da
religiosidade, o sagrado pode situar-se ao nvel do amor Ptria, laos
sagrados do casamento, respeitos sagrados, prescritos no interior de um
grupo social, como entre pai-filho, genro-sogra, etc. Contudo, nos dois
contextos, o sagrado um dos fundamentos da circulao do poder no
interior de grupos sociais tradicionais. Alis, este processo no s
atinente quelas sociedades, pois toca tambm as sociedades urbanas, ou
as ditas desenvolvidas. Por exemplo, o amor a uma bandeira, cujo
simbolismo pode situar-se ao nvel do sagrado, pode constituir uma das
bases da execuo de uma tarefa governamental em situaes delicadas,
s pelo simples facto de termos jurado defender a bandeira nacional at
s ltimas consequncias.

Sumrio

A Religio Tradicional Africana fundamentalmente baseada no culto


aos antepassados, que so os elos de ligao entre os vivos e os mortos.
uma Religio sem um caledrio rgido, acompanhada pela prtica da
magia e adivinhao. Geralmente o sagrado est associado
transmisso do poder ou ao estabelecimento de regras ou prescries
Tome Nota!
que regulam a sociedade.
Antropologia Cultural 163

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responda s


questes seguintes:
1. As prticas religiosas africanas conhecem, em funo do
comportamento dos fenmenos naturais, descontinuidades.
Auto-avaliao Justifique.
2. 2. Procure fazer o levantamento dos aspectos sagrados na sua
rea de residncia.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Respostas

1. De facto, em funo da existncia ou no de certas condies que


obriguem a realizao de um certo culto, pode haver ou no um
determinado culto.

2. Para esta questo, voc deve conferir a sua resposta no Centro de


Recursos, dado que eles podem variar de um lugar para o outro,
atendendo ao carcter multicultural de Moambique.

De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve


dificuldades, no desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir
consulte as obras indicadas abaixo e tente reolver de novo.

Leituras aconselhadas

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Lisboa, Edies 70, 1971, p. 307-340.

DELUMEAU, Jean (Dir.). As Grandes Religies do Mundo. Lisboa,


Editorial Presena, 2002.
Leitura
MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.
Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 93-114.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 386-420.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 139-164.
164 Lio n 4

Lio n 4

A Introduo de Novas Ideologias


Religiosas e o seu Impacto nas
Sociedades Agrcolas em frica
A Penetrao e o Impacto do Islo e do Cristianismo em Moambique

Introduo
Depois da sistematizao das prticas religiosas internas, elas foram
confrontadas por outros sistemas culturais exgenos, que tiveram um
impacto significativo sobre aquelas. Tais aspectos constituem objecto da
presente lio. Como nas outras lies, voc dispe de duas horas de
trabalho para absorver o que a seguir lhe proposto.

No fim desta lio, voc deve ser capaz de:

Conhecer o impacto das Religies Exgenas sobre as Religies


Tradicionais ou Locais
Objectivos
Identificar alguns aspectos resultantes do Sincretismo Religioso em
frica e em Moambique.

Contedos
Aps a afirmao, no territrio que mais tarde seria conhecido por
Moambique, do substracto social bantu e de outros grupos populacionais
no resto da frica, e a formao do respectivo universo religioso,
caracterizado na lio 4 desta unidade, houve, durante o primeiro milnio
e no perodo subsequente, a penetrao de outros povos. Lembra-se da
penetrao mercantil que estudou em Histria? Com ela, voc aprendeu
que o territrio recebeu, primeiro, os asiticos e depois os europeus.

Cada um destes novos grupos sociais trazia consigo o seu universo


religioso. Entre os asiticos, apesar de terem penetrado muitos povos em
frica, como os indianos, os chineses, ficou vincada a presena dos
rabes. De facto, este foi o grupo que dominou as relaes comerciais
durante largos tempos, influenciando o modo de vida local, desde a
lngua, a forma de traje, mas, fundamentalmente a Religio. Com os
rabes e os povos da Costa Oriental Africana por eles influenciados foi
introduzida a Religio Islmica, cujos traos evidentes voc deve
conhecer perfeitamente. Entre os europeus, cuja penetrao sistemtica
ocorreu, como voc se deve lembrar, a partir do sculo XVI, houve a
introduo do Cristianismo.
Antropologia Cultural 165

A introduo do Islamismo e do Criatianismo em Moambique nem


sempre foi negociada. De facto, o que geralmente ocorreu foi a imposio
dos dois credos religiosos, j que reclamavam um carcter universal,
proftico e hegemnico. Na verdade, como deve recordar-se ainda das
aulas de Histria, as duas religies foram consideradas pelos respectivos
povos como o factor ideolgico.

O primeiro impacto que ocorreu sobre as comunidades agrcolas foi,


logicamente, a secundarizao ou a marginalizao das prticas religiosas
locais, seno a tentativa para a sua supresso, num projecto de uma
aculturao programada directa ou subtil. Dos conhecimentos que voc
teve sobre o perodo colonial, lembra-se perfeitamente que o Cristianismo
foi imposto at nas escolas, com as famosas catequeses, no verdade?

Contudo, no foi possvel apagar tudo nas tradies religiosas locais. Os


africanos resistiram sob diversas formas, sendo uma delas, a integrao
parcial de alguns caracteres das religies impostas. Nessa fuso surgiu
um certo sincretismo religioso que, segundo Rivire (2000, p. 158), ...
um processo contra-aculturativo, que implica assimilao de mitos,
emprstimo de ritos, associao de smbolos, por vezes inverso
semntica e reinterpretao de mensagens supostamente divinas. As
evidncias indicam que com a emergncia dessas prticas sincrticas, os
africanos quiseram preservar esta relao com o sobrenatural, segundo os
seus fundamentos de vida.

Sumrio
A introduo de novas religies em frica, onde anteriormente
existiam religies tradicionais trouxe um impacto sobre estas, atravs
da sua marginalizao ou at supresso. Contudo, algumas resistiram e
adaptaram-se nova realidade, tendo at absorvido algumas prticas
das religies impostas. Surgiram da os diversos sincretismos
Tome Nota!
religiosos.

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responde


s questes seguintes:

1. Que fundamentos foram capitalizados pelos povos


Auto-avaliao estrangeiros na difuso dos seus credos religiosos?

2. Defina, por palavras suas, Sincretismo Religioso.

3. Na sua rea de residncia haver indcios de integrao de aspectos


religiosos de um grupo exgeno?
166 Lio n 4

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos.

Respostas
1. Geralmente, os rabes e os europeus ao entrarem em frica
procuraram identificar as suas religies como as universais,
monotestas, isto , mandatadas por uma nica divindade, anti-
obscurantistas, com o fim de subalternizar todas as outras prticas.

2. Voc pode usar termos como fuso, absoro ou outro termo, de


prticas religiosas de dois grupos sociais diferentes.

3. Resposta a ser confirmada no Centro de Recursos.

Leituras aconselhadas

BOAHEM, A. Adu (Dir.). Histoire Gnrale de lAfrique. VII.


LAfrique sous Domination Coloniale 1880-1935. Chapitre 20 La
Religion en Afrique pendant lpoque Coloniale. p. 351- 361 (Verso
de bolso em lngua francesa. Existem tambm a verso integral, como
de bolso em Portugus e em Ingls)
Leitura
COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades
Primitivas? Lisboa, Edies 70, 1971, p. 307-340.

DELUMEAU, Jean (Dir.). As Grandes Religies do Mundo. Lisboa,


Editorial Presena, 2002.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 93-114.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 386-420.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 139-164.
Antropologia Cultural 167

Lio n 5

Os Movimentos Poltico-
Religiosos em frica

Introduo
Aps um certo perodo de expresso das Religies Exgenas em frica e
vendo o factor aglutinador que tais religies proporcionavam, alguns
grupos populacionais procuraram us-las em seu proveito, contra o
sistema montado. Nesta lio, voc vai aprender os motivos da
emergncia de movimentos religiosos de carcter poltico dinamizados
pelos prprios africanos. Para isso, voc dispe de duas horas. No fim,
tem uma actividade que servir para testar o nvel de compreenso do
texto e de outros materiais de que porventura voc dispe.

No fim desta lio, voc deve ser capaz de:


Especificar as razes da emergncia dos movimentos poltico-
religiosos em frica
Objectivos Identificar os vrios tipos de movimentos formados

Contedos

Quando ao africano foram impostas novas religies, procurou, sempre


que possvel, interpret-las sua maneira. Essa foi a razo da emergncia
dos sincretismos que vimos na ltima lio. Na verdade, o africano
parece ter percebido que a sua sobrevivncia passava pela criao de um
imaginrio comandado de dentro, que mesmo tendo influncias externas,
tivesse referenciais locais ou internos de um grupo social. Foi nesse
processo que emergiram os movimentos poltico-religiosos em frica.
o que se designa por Cristianismo indgena, como o Apostolowa Fe
Dedefia Habobo (Sociedade de Revoluo Apostlica) no Ghana, o Dini
ya Nsambwa (Igreja dos Antepassados) no Qunia; Pssaro Branco no
Zimbabwe, Igreja dos Negros no Congo, entre outras (Adu, p. 363-365).
Todas essas igrejas tm uma base local e mesmo usando certas teorias
ento defendidas pelo Cristianismo, visavam trazer benefcios ao povo
local no interior de uma ordem j imposta ou estabelecida.

A histria africana testemunhou, desde muito cedo nessa relao com as


religies externas, alguns movimentos religiosos, que com um impacto
poltico, visavam preservar a estabilidade dos grupos sociais locais, Cita-
se, por exemplo, que j no sculo XVII, houve um movimento de (...)
Kimpa Vita (dona Beatriz) que, africanizando o cristianismo anunciava a
168 Lio n 5

restaurao do antigo reino do Congo e uma era de riquezas materiais e


espirituais (Delumeau, 2002, p. 730).

J no sculo XX, desenvolveu-se o Kimbanguismo, tambm no Congo,


que usando preceitos fundamentalmente cristos e a Bblia, Simon
Kimbangu, designou a sua aldeia como a Nova Jerusalm, processo
que transformou a sua aldeia em local de peregrinao; transformou o seu
povo em povo eleito e paralelamente apontava a restaurao da ordem
local, que devia ser concretizada pela destruio do sistema colonial
europeu. A sua expresso poltica entre as populaes levou a sua
transformao em movimento poltico, de que se apoiou Mobutu Sesse
Sekou (Id), um dos ex-presidentes do Zaire, actual Repblica
Democrtica do Congo.

Nesse contexto, fala-se de igrejas separatistas ou independentes, (...) que


procuravam integrar uma parte importante das crenas e das prticas
africanas na vida crist (...), [ou era a] expresso do desejo dos africanos
de encontrar um lugar ondese pudessem sentir em casa e incluir noes
regiosas africanas nas liturgias crists(Boahen, p. 360). Na frica do
Sul existiram igrejas etipicas, que defendiam direitos polticos dos
africanos e o progresso autnomo da frica. Assim, em frica, os
profetismos e os messianismos apresentam uma linguagem contestatria.

Sumrio
Para contrapor a ordem institucionalizada, alguns grupos sociais
conheceram no seu interior a formao de movimentos polticos com
uma base religiosa, como o cristianismo indgena, as igrejas
separatistas ou independentes, que procuravam encontrar um espao de
manobra para a sua expresso cultural e mesmo poltica.
Tome Nota!

Exerccios

Exerccios

Chegado ao fim desta lio pense naquilo que j aprendeu e responda s


questes seguintes:

1. O que ter motivado a introduo das diferentes igrejas


Auto-avaliao separatistas entre os nativos de vrias regies africanas?

2. 2. A partir da sua zona de origem, procure evidncias de


movimentos contestatrios de origem religiosa, explicando
como se circunscreveu esse processo.

Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos


Antropologia Cultural 169

Respostas

1. A sua sobrevivncia passava pela criao de um imaginrio


comandado de dentro, que mesmo tendo influncias externas,
tivesse referenciais locais ou internos do respectivo grupo social.

2. A resposta deve ser verificada no Centro de Recursos.

Leituras aconselhadas

BOAHEM, A. Adu (Dir.). Histoire Gnrale de lAfrique. VII.


LAfrique sous Domination Coloniale 1880-1935. Chapitre 20 La
Rreligion en Afrique pendant lpoque Coloniale. p. 351- 361 (Verso
de bolso em lngua francesa. Existem tambm a verso integral, como
Leitura de bolso em Portugus e em Ingls).

COPANS, J. et al. Antropologia. Cincia das Sociedades Primitivas?


Lisboa, Edies 70, 1971, p. 307-340.

DELUMEAU, Jean (Dir.). As Grandes Religies do Mundo. Lisboa,


Editorial Presena, 2002.

MARTNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural. SMSto.


Agostinho da Matola: S/Ed, 2004, p. 93-114.

MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciao,


Teorias e Temas. Petrpolis, Editora Vozes, 2005, p. 386-420.

RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70,


2000, p. 139-164.

Actividade Final da Unidade


Na fase actual, tem se observado a exploso de seitas religiosas. Procure
fazer uma abordagem deste assunto, identificando as diferentes religies
ou seitas existentes na sua rea cultural, momentos da sua integrao,
os motivos da integrao de novos membros e o lugar das prticas
religiosas locais. Os resultados devem ser discutidos nos Centro de
Recursos.
170 Lio n 5

Respostas das Actividades Finais


Unidade 1:

Depois de fazer uma reflexo volta das disciplinas Antropolgicas,


procure esboar a utilidade da Antropologia para a sua rea residencial.

Na essncia, a Antropologia pode permitir a compreenso do universo


cultural, a interpretao do porqu as pessoas vivem de uma certa
maneira numa comunidade, na sua relao com o ambiente, com o tempo,
com outros homens e com outros grupos humanos, vizinhos ou distantes.

Unidade 2:

Depois de voc reavaliar as noes preliminares da Antropologia, como o


Outro, a Etnografia, a Etnologia, o objecto inicial da Antropologia
Cultural, procure reflectir os passos que foram tomados entre a aplicao
inicial daquelas noes e a Antropologia Contempornea.

Para esta questo, voc deve ser capaz de estabelecer a correlao entre o
perodo da Introduo da Antropologia como uma disciplina, que se
destinava a estudar o primitivo, o extico, o outro geogrfico e histrico,
num contexto de hierarquizao da cultura humana, em funo dos
diferentes grupos sociais e a fase actual que o outro construdo na
relao entre o pesquisador e o seu objecto; onde o primitivo, que antes
era o objecto, hoje sujeito de estudos, fazendo uma reinterpreo da sua
cultura, num contexto de relatividade cultural e sendo uma disciplina que
invade at o meio urbano, o mundo ocidental, etc., etc.

Unidade 3:

Partindo de uma das expresses culturais da sua zona de residncia,


procure identificar marcas da dinamicidade, apresentando os factores da
mesma.

Voc deve procurar usar fundamentalmente o mtodo histrico, para


poder captar aspectos da cultura material ou do simblico, que de certa
maneira conhecem hoje alguma marginalizao ou foram totalmente
excludos como padres. Para tal, o estudante deve fazer um trabalho na
comunidade, para conseguir captar alguma manifestao que sirva de
estudo, como por exemplo, um ritual, uma dana, novos hbitos, etc. etc.
Contudo, o estudante deve trazer os subsdios (causas, factores,
processos, etc).

Unidade 4:

Para a actividade desta unidade foram dadas as recomendaes aquando


do lanamento da questo. Vide p. 104.

Unidade 5:

Partindo da organizao parental, trace as relaes sociais possveis que


podem existir com o mundo religioso, econmico, poltico, etc.,
existentes na sua rea cultural.
Antropologia Cultural 171

Partindo da natureza funcional do parentesco, voc deve procurar saber,


que incidncia a organizao parental tem sobre a religio (por exemplo,
para quem so as preces, quem as dirige e porqu); econmica (quem o
detentor da base econmica: como e porqu?); poltico (como gravita o
poder, a herana, a sucesso); como ocorre a circulao de membros:
crianas, mulheres, homens, etc.
172 Lio n 5

Notas Finais
Aps esta longa caminhada, voc acaba de ter alguns subsdios da
Cultura Material e Imaterial, estudados no mbito da Antropologia
Cultural.

Voc est de parabns por ter chegado at aqui e esperamos que as lies
tenham sido do seu agrado. Contudo, o estudo antropolgico acaba de
comear, em virtude de existir uma multiplicidade de aspectos a
aprofundar e a aprender.

Esse trabalho continua, atravs de livros, da sua comunidade e discusses


com outros colegas, tarefas que achamos ter vindo a desenvolver sempres
que estudava as diferentes lies. Para ns, falta agradecer-lhe por todo o
esforo empreendido ao longo de todo este processo. Bem haja voc.

Os autores

Martinho Pedro e Alpio E. P. Siquisse.

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