Teoricos Da Autogestão Socialista
Teoricos Da Autogestão Socialista
Teoricos Da Autogestão Socialista
CLAUDIO NASCIMENTO
I Indice
Introduo:
. Istvan Mszaros
. G.Gurvitch
. Daniel Moth ( a corrente autogestionaria na Frana)
. Thomas Coutrot
. Henry Lefebrev
. Joo Bernardo
. Nicos Poulantzas
. Andre Gorz
.Petrl Uhl
.Rudolf Bahro
.Jacek Kuron e Karol Modezelwsky
-Rosa Luxemburgo
-Mario Pedrosa
-Che Guevara
-Mariategui
Parte 2=
. os caminhos da autogesto:
- Autogesto e Utopia
- Autogesto e Espao
- A dialetica do possivel:
. o tempo descontinuo:
( E.Bloch, A.Blanqui e W.Benjamin )
l- Histrico da autogesto,idias:
- Socialismos utpicos
. As utopias sociais
. Rudolf Rocker
e Pierre Naville: os utpicos
- Socialismo,marxismo e utopia
-CONCLUSES
-verso 1
- verso 2
- Bibliografia
I. Introduo=
A Odissia de Sisifo
( uma Metfora Proletria )
E, prossegue atravs da marxista que ps pela primeira vez a questo das derrotas:O
que nos ensina a historia das revolues modernas, pergunta Rosa Luxemburgo no
artigo de Die Rate Fahne (A Bandeira Vermelha, porta-voz dos espartaquistas
berlinenses de 1918-1919), redigido na vspera de seu assassinato pelos soldados de
Noske e ao qual ela dersa este trgico titulo: Reina a desordem em Berlim : A
primeira labareda da luta de classes na Europa extinguiu-se numa derrota. O saldo da
sublevao dos operrios da indstria de seda em Lyon wm 1831 foi um pesado
fracasso. Derrotado tambm o movimento cartsita na Inglaterra. Esmagado o levante do
proletariado parisiense no decorrer das jornadas de junho de 1848. A Comuna de Paris
terminou sofrendo terriveld errota. O caminho do socialismo , se considerarmos as lutas
revolucionarias , est juncado de derrotas.(Decoufl.p.113)
Decoufl, ento, traa uma cronologia destas derrotas: Realmente, quase todos os
movimento revolucionrios acabaram na historia sufocados por uma represso violenta;
mesmo sem nos reportarmos ao aniquilamento pelas legies romanas de Crasso, o Rico,
dos bandos de escravos rebelados e de gladiadores reunidos sob o comando de
Espartacus ( 71 a.C.), podemos recordar que as Cruzadas populares foram
sistematicamente abandonadas por seus chefes polticos e religiosos aos massacres dos
infiis ou dizimadas desdo o inicio ( como as Cruzadas de crianas e a Revolta dos
Pastoureaux nos emados do sculo XIII ); lembramo-nos tambm de que os prncipes
alemes dos culo XVI. Apoiados pelas imprecaes de \Lutero contra os
campopneses bandidos e assassinos, entregam-se ao extermnio total dos movimentos
munzerianos (batalha de Frankenhausen 1525); que os levantes populares da primeira
metade do sculo XVII na frana so castigadas de maneira exemplar ( para
realmente, constituir exemplos) pelas tropas reais postas por vezes , como na Rouen
libertada dos nu-pieds numa cidade morta e recebe de Richelieu o seguinte satisfecit:
Haveis to bem comeado que no duvido que continues vossa viagem para um final
feliz que de tal forma acomodar a Normandia, que nada mais haver a recear nessa
provncia nem em outras ques e mantero certamente dentro de seu dever, pelo temor de
semelhante castigo. Basta recordar de passagem, por serem mais conhecidos, os
Terrores brancos da Frana (1795, 1797, 1814-1815 ), da Russia (1905, 1917-1919 ),
da Espanha (1936-1940),as Semanas sangrentas de Paris (junho de 1848, maio de
1871 ),de Berlim (janeiro de 1919),de Canto (novembro de 1927).
Veremos como Auguste Blanqui ,na priso, chamava a este fenmeno de Dialtica
Infernal ,e,como Walter Benjamin vai tentar decifrar este enigma do Sisifo moderno,o
proletariado.
perdida,afirma que:
Os deuses acreditavam ser esse o castigo mais terrivel: o trabalho intil e sem
esperana.
Essa hora,diz Camus, que como uma respirao e que se repete tal qual sua
infelicidade, A HORA DA CONSCIENCIA(grifo nosso).Para Camus,em cada um
destes momentos Sisifo superior a seu destino.Ele mais forte que sua pedra.
Na parte mais focada nas experiencias histricas , vimos como a autogesto enquanto
estratgia de movimento dos trabalhadores, os leva a subir montanha e,l em cima,nos
momentos pr e/ou revolucionrios,de convulses sociais profundas,vislumbram,
elaboram e atingem ,em cada conjuntura histrica,o maximo de conscincia
possivel,de seus projetos histricos ,de longa durao,o projeto socialista.
Gosto mais,de minha parte, de imaginar que sero os homens que o libertaro,que se
libertaro pelo fogo, pai das artes e das tcnicas e que eles montem ao assalto ao
cu,como disse MARX sobre os comuneros, vendo que o pico das montanhas e os
espaos interestelares so vazios de deuses e que, igual as crianas das quais disse
PASCAL, eles ficaro espantados com as vises que eles mesmos tinham
imaginado.
E,do mesmo modo,para uma reflexo sobre a revoluo como tragdia,nos passos de
Raymond Williams.E,sem duvidas,da idia da Dialtica infernal do velho enrag
Auguste Blanqui,retomado e salvo por Walter Benjamin.
O estudo da historia das lutas pela autogesto e pelo socialismo apontam mais
para barbrie ?
Veremos no estudo das lutas autogestionarias que,aparentemente e por vrios
motivos e razes,h uma sucesso de derrotas.Seria um jogo do tipo perde e ganha ?
Ou, se em cada conjuntura histrica, a autogesto reaparece sob novas
formas,escapando ao retorno do mesmo ? Mas, no geral como se fosse condenada a
ciclos caracterizados por uma sucesso de experincias de curta durao e, de derrotas
,seja por represso das classes dominantes ou por varias outras razes internas
(burocratizao,etc) `a dialtica do prprio movimento.
Estaramos condenados a uma viso trgica do mundo ? A tragedia moderna ,
pensando no desenlace das revolues socialistas,nos lana em um mundo sem Deus
? Ou de um Deus Oculto ,em que, estamos lanados ao destino de nossa prpria
prxis , sem certezas ou iluses de vitrias inelutaveis? E,assim, condenados a
traarmos uma dialetica das possibilidades abertas da historia ?
De qualquer forma, as mutaes do final do sculo XX jogaram por terra muitas
idias do campo das esquerdas.Como ,por exemplo,a idia da inevitabilidade do
socialismo; o carter emancipador universal conferido ao proletariado; a viso do
tempo homogneo e linear,entre outras.
Todavia,para muitos pensadores socialistas, acontecimentos marcantes na segunda
metade do sculo XX, (anos 50) j tinham assinalado a falncia de alguns paradigmas,
provocando rupturas em suas estruturas de sentimento e vises de mundo. Chegando
mesmo a ter o significado de Tragedias Modernas.
A tradio e/ou a fortuna da autogesto no estaria marcada por uma serie de
tragdias ? Este jogo de perde e ganha , este mito de sisifo moderno ? Essa dialtica
infernal ?
Quais so os caminhos das tragedias modernas? Tomemos a trajetria de
pensadores como Raymond Wiiliams,na Inglaterra,e de um pensador romeno,exilado na
Frana, Lucien Goldmann.
Benjamin produziu uma nova teoria da historia que portadora de afinidades como
nossa analise dos ciclos longos das lutas de autosgesto dos trabalhadores.
Recorremos a um texto dos Cadernos do Crcere, de A, Gramsci, na busca de uma
metodologia para a analise dos ciclos de longos perodos histricos. Do ponto de vista
filosfico-epistemolgico, a obra de Walter Benjamin nos forneceu elementos
preciosos.Sobre este aspecto,a teoria benjaminiana da historia se especifica em uma
teoria que busca colher o modo como o passado pode tronar-se um momento critico da
experincia presente.Uma atualizao do possivel na linguagem de Daniel Bensaid.
A conscincia histrica implica a relao que a classe oprimida, como sujeito
histrico,no momento de sua ao poltica de ruptura da continuidade histrica,tem com
o passado. As revolues anti-passivas implicam uma cosnciencia do passado distinta
da imposta pela classe dominante.
Portanto,nas teses de Benjamin, h a exigncia de um novo modo de apropriao do
passado. O que passado nem por isso est irremediavelmente concludo: a estrutura
doa contecer histrico no est apenas aberta para o futuro, mas tambm em direo ao
passado.
Gramsci dizia que todo grupo social tem uma tradio, um passado...Aquele grupo
que, compreendendo e justificando este passado, souber identificar a linha de
desenvolvimento real, contraditria, mas na contradio possvel de superao,
cometer menos erros, identificar mais elementos positivos, sobre os quais criar
uma nova historia.
Estas palavras de Gramsci, implicam uma nova relao com o passado e ,tambm, uma
nova hegemonia. A referencia classe operaria,como sujeito de uma revoluo anti-
passiva,impe uma periodizao histrica distinta da oficial.A luta de classes tem como
conseqncia o por em discusso cada vitria dos dominadores(Benjamin). A
originalidade das Teses de Benjamin em termos de prxis historiogrfica,est numa
nova leitura da temporalidade histrica.
Segundo Benjamin, o movimento histrico determinado por impulsos desiguais e
assimtricos. A historia dos oprimidos uma descontinuidade no continuum que a
historia dos opressores.A historia das classes dominadas dessimtrica; A sua historia,
assim, est ligada sociedade civil, uma funo desagregadora e descontinua da
historia da sociedade civil,e por este tramite,da historia dos Estados ou dos grupos de
estados (Gramsci).
C.Buci-Glucksmann afirma que a historia de uma autonomizao dessemetrica que
visa a construo de novas formas polticas, tipo conselhos, sindicatos e partidos.
Olgaria Matos analisou de forma muito brilhante as Teses de Benjamin em sua obra
Os Arcanos do inteiramente Outro.Vejamos alguns elementos:
Na Tese XIV, Benjamin trata a relao com o passado sob uma dupla possibilidade;
- uma,que se efetiva imediatamente relao de identificao-,e,
- outra que extrai o excedente de significado no interior deste mesmo passado,o que
permaneceu virtual.
O salto do tigre no passado pode conduzir a sadas de sentidos contrapostos,
conforme advenha na arena onde manda a classe dominante (identificao),ou sob o
cu livre da historia.
tal como a moda, a historia revivida, mas segundo esta duplicidade: como repetio
ou como sentido imediato,como catstrofe ou como redeno.O que subjaz a abordagem
de Benjamin, a critica a noo de continuidade temporal : A historia o objeto de
uma construo cujo lugar no o tempo homogneo e vazio,mas, forma um tempo
pleno de jetztzeit,como interrupo do devir abstrato do tempo.A idia segundo a qual
a historia sempre escrita pelos vencedores a idia da catastrofe como continuidade
da historia.
A continuidade da historia, a dos opressores; a historia dos oprimidos uma
descontinuidade.
Podemos afirmar que,aparentemente,as inmeras derrotas das lutas operarias pela
autogesto e pelo socialismo,parecem constituir um rosrio de derrotas,uma
catstrofe,uma dialetica infernal do mito de sisifo.Mas,a descontinuidade intrinsica a
estas lutas,ao contrario,nos indicam um acumulo desigual mas combinado,em diversos
campos: militar,idoelogico,direitos,organizao,cultural,etc.
Prossegue Olgaria Matos; As tarefas revolucionarias benjaminianas exigem,portanto,
um salto tigrino,exigem a exploso da continuidade e no seu embelezamento.Para
Matos, o instante aristotlico e o jetztzeit benjaminiano so,por assim falar, um
recolhedor histrico do tempo(Tese XV),recolhedor das experincias e dos contedos
utpicos quando se do como repetio do no-realizado.
O presente,nesta concepo benjaminiana,opera sobre a historia homogenea de
maneira constitutiva e diferenciadora,mediante cortes sincrnicos
monadologicos,como se fora um modelo de tempo messinico,contendo a historia
inteira da humanidade numa enorme abreviao...de todo modo, o essencial que a
Tese XIV exprime a necessidade da interrupo temporal,com a extrao de um
momento do passado,extrao detranquilidade do passado,momento este que
necessariamente revolucionrio.
Para Matos, Benjamin ps o materialismo historico servio de uma teoria da
experiencia e,no o contrario.Neste horizonte,no existe distino entre historia e
memria;mas sim,entre o historigrafo e o cronista.O cronista repete um passado em
sua literalidade,o historigrafo o repete em sua singularidade, recolhendo o excedente
de significao de que portador,melhor diznedo, o nico e irrepetivel.
Todavia, fundamental remarcar que Arno Munster destaca em suas obras as diferenas
de vises entre Benjamin e Bloch,mesmo que ambos estejam alocados no campo de
uma viso messinica da historia.
As pocas revolucionarias para Bloch,so momentos de rejuvenescimento da historia,
que abrem objetivamente as portas chegada de uma nova sociedade...Esta qualidade
de aurora se manifesta no somente nas irrupes revolucionarias dos tempos
modernos.Ela se encontra substancialmente presente nas primeiras utopias sociais e
polticas da humanidade... Todas estas utopias tm uma funo subversiva e
estimuladora para a chegada de revoluo burguesa do sculo XVIII e para a futura
poca dominada pela cincia e pelo progresso tcnico.E como forma tpica de
concretizao histrica desta mesma tendncia na historia, Bloch cita tambm a poca
do Sturm und Drang,e do Vormatz, quer dizer; os anos que precedem a agitao
revolucionaria de maro 1848 e tambm o movimento dos Narodniki na Rssia,antes
da Revoluo de outubro.Cada um destes exemplos dados demonstram ,no entender de
Bloch,o elevado nvel de aspirao e de transformao renovadora que a conscincia
histrica das massas pode atingir,e at que ponto esta grande onda de conscientizao
pode abalar o sistema cultural,poltico e social existente.
Por sua vez,D.Bensaid ,em Marx,o Intempestivo, nos chama tambm Uma Nova
Escala do tempo:
(...) pela evocao das conjunturas passadas, Abordar a Outrora significa ,portanto,
que ela seja estudada,no mais como antes, de maneira histrica, mas de maneira
poltica, com categorias polticas-W.Benjamin.
Tratar politicamente a historia pensa-la do ponto de vista de seus momentos e de seus
pontos de interveno estratgicos(...).A citao do passado a comparecer contradiz o
postulado de um tempo irreversvel e no modificvel. A historia critica no pode anular
aquilo que foi, mas pode redistribuir-lhe o sentido.
Em sua obra sobre A Hiptese Comunista, Alain Badiou elabora uma teoria das
derrotas. Por vrios elementos,essa teoria impoortante para nosso trabalho,pois,alm
de operar com uma idia prxima a de ciclos, busca na experincia da Comuna de Paris
um de seus elementos fundantes.
Badiou : As experincias de novas formas polticas foram numerosas e apaixonantes
nos 3 ultimos decnios.Citemos:
O movimento Solidarnosc na Polnia dos anos 1980-1981;
A 1 sequencia da revoluo iraniana;
A organizao poltica na frana;
O movimento Zapatista no Mxico;
Os maoistas no Nepal.
Para Badiou, A partir da metade dos anos 70 dos culo passado,comeou o refluxo do
decnio vermelho inicado pela quadrupele ocorrncia das lutas de libertao ancional
(Vietnam e Palestina,singularmente),do movimento mundial da juventude estudantil
(Alemanha,Japo,USA,Mxico...), das revoltas de fabrica (Frana e Itlia) e da
Revoluo Cultural na China.
.Na longa hitoria das lutas pela emancipao,Badiou assinala trs tipos distintos de
fracassos:
1= o mais claro,ou a mais circunscrita, o fracasso de uma experiencia em
que,detentores momentneos de um poder em um pais ou uma zona,tentando
estabelecer novas leis,os revolucionrios so massacrados pela contra-revoluo
armada.
Neste caso,muitas insurreies so relevantes,as mais conhecidas so=
-dos Spartakistas na Berlim do aps-guerra de 1914,ou morreram Rosa Luxemburgo e
Karl Liebknetch,e as de Shangai e Canton na China dos anos 20.
O problema posto por esse tipo de fracasso sempre o da relao das foras.
Para Badiou,O balano positivo da derrota est no tratar imediato das novas disciplinas
requisitadas para o sucesso da insurreio.Destas discusses,o exemplo paradigmtico
o encaminhamento histrico do balano da Comuna de Paris.De Marx ate hoje,passando
por Lissagaray,Lenine,ou os revolucionrios chineses at 1971,esse balano est
aberto.
Talvez o 1 movimento deste tipo a Fronda no inicio dos culo XIX na Frana.O
movimento de 1919 na China tem traos tambm desse tipo.Um modelo mais recente
sem duvidas o mtico Maio 68,que ainda d lugar a inumers publicaes e a furiosas
discusses quando de seu 40 aniversario.
Tipos de desenvolvimento
(Revoluo industrial e industriosa)
A obra de G.Arrighi ,sobre Adam Smith e a China, nos leva a reflexo sobre como
estes dois conceitos se articulam em um tipo de Desenvolvimento.Um que adevem com
a revoluo industrial e caracteriza o modo de produo capitalista; outro, que advm de
civilizaes milenares e que caracteriza um tipo de desenvolvimento com caractersticas
antagnicas ao do Capital e da industrializao.
Voltemos etimologia destas expresses na obra citada de R.Williams:
industry existe no ingls desde o Sculo 15, da p.i. francesa industrie,da p.r. latina
industria (diligencia).(...)
Industrioso,com o sentido de habilidoso ou assduo,era o adjetivo derivado comum a
partir de meados do Sculo 16,mas nesse mesmo sculo surgiu industrial,em uma
distino entre frutas cultivadas (industriais) e naturais.Assim, industrial era raro ou
esteve ausente at o final do Sculo 18,quando teve inicio o DESENVOLVIMENTO
(grifo nosso) que o tornou comum por volta de meados do Sculo 19,talvez em um novo
emprstimo do francs.
Sem duvidas, com a Revoluo francesa (1789) que a Burguesia se torna classe
dominante-hegemonica.
R.Williams segue; Foi a partir do sculo 18 que o sentido de industria como
instituio ou conjunto de instituies comeou a manifestar-se.
Assim,como Tipo de Desenvolvimento , cujo metabolismo social formado pelo
Capital,Trabalho assalariado e o Estado,tal qual o define I.Meszros em sua obra Alm
do Capital.
R.Williams: desde o periodo de seus principais usos originais,o sentido de industria
como instituio foi radicalmente afetado por duas outras derivaes:
- industrialismo,introduzido por Carlyle na dcada de 1830 para indicar uma NOVA
ORDEM DA SOCIEDADE, baseada na produo mecnica organizada,
- e a expresso revoluo industrial, termo to central hoje.Revoluo industrial
especialmente difcil de rastrear.
Mas,Williams,fornece pistas: A transio crucial, no sentido desenvolvido de
revoluo como instituio de uma nova ordem na sociedade,ocorreu na dcada de
1830,notadamente com Lamartine: L 1789 du commerce et de lindustrie, que ele
descreveu como a verdadeira revoluo.
Assim, Lamartine capta muito claramente o sentido poltico do processo: o 1789.
Prossegue R.Williams: Wade (History of the Midlle and Working Classes,1833)
escreveu em termos semelhantes sobre essa extraordinria revoluo.
E, essa percepo de uma grande mudana social,equivalente a uma nova ordem de
vida,era contempornea ao sentido relacionado de INDUSTRIALISMO de Carlyle
e,como definio,dependeu de um conjunto de reflexes distinguveis,tanto em ingls
como em francs,desde a dcada de 1790.
A idia de uma nova ordem social baseada em importantes mudanas industriais era
clara em Southey e em Owen,entre 1811 e 1818, e j estava implcita em Blake no
inicio dos anos 1790 e em Wordsworth na virada do sculo.Na decadade 1840,tanto em
ingls como em francs (uma completa revoluo industrial,Mill,Principios de
economia poltica,III,xvii,1848 logo revisado e convertido em uma espcie de
revoluo industrial; lre ds rvolutions industrielles,Gilbert,1847), a expresso
tornou-se mais comum.entretanto,os usos decisivos foram provavelmente os de Blanqui
(Histoire de leconomie politique,II,38,1837): la fin du dixhuitime sicle(...) Watt et
Arkwirght (...) la rvolution industrielle se mit em possession de lAngleterre,e os de
Engels (A situao da classe trabalhadora na Inglaterra;escrito em alemo ,1845): estas
invenes(...) desencadearam uma revoluo
industrial,que,simultaneamente,transformou a sociedade burguesa no seu conjunto.
Ernst Bloch,no primeiro volume de seu monumental Principio Esperana nos fala da
herana das sociedades pr-capitalistas:
a filosofia marxista a do futuro, portanto tambm a do futuro no passado.Para
Bloch, devemos tomar conhecimento do antecpatorio com base em uma ontologia do
ainda-no.
Assim,entramos no campo propriamente da filosofia.
Nos interessa uma aproximao com o terceiro tipo,que,aparece aps 1848.E,no qual se
distingue duas tendncias;
1. Um novo esprito utpico com desenvolvimento autnomo que nasceu de um
trabalho critico espontneo da utopia sobre ela mesma, acrescido de uma reflexo
critica sobre a pratica revolucionaria de 1848;
2. Surgiu no interior do marxismo ou mais exatamente nas correntes de oposio
ou marginais do marxismo. Uma constelao de fenmenos utpicos em relao
com Marx, no arco de tempo de fins dos culo XIX at os anos 1930.
Seu principal fundador;no como herdeiro que se prossegue um movimento,
como critico.As manifestaes so ou terico-praticas ( William Morris,certas
tendncias do surrealismo), ou puramente tericas ( Ernst Bloch,Walter
Benjamin).
A pratica do desvio sobre a qual repousa o novo esprito utpico o oposto
do procedimento clssico...Trata-se de colocar a obra marxiana em um novo
espao,no mais no espao marxista clssico delimitado por Kautsky, Plekanov,
Lenine,Trotsky etc, mas no espao socialista-comunista desenhado pelos
grandes utopistas, Fora Tristan ,a Liga dos Comunistas, o movimento
comunista-materialista francs,etc..
Para Abensour, o novo esprito utpico est freqentemente ligado ao
romantismo revolucionrio...Proximos das vanguardas ou membros delas (noo
que alis recusam) , os partidrios do novo esprito utpico so bastantes
conscientes da crise da cultura moderna e do declnio da arte na sociedade
burguesa.
Ou,Sua pratica utopica,que responde igualmente vontade de substituir a arte
tradicional por uma atividade de tipo novo, um momento constitutivo de uma
pratica revolucionaria global,assim como a simulao da revoluo constitui um
momento essencial de sua projeo utpica.
Teorias da Autogesto:
inconcebvel tornar
irreversvel a ordem social alternativa sem a plena participao dos produtores
associados na tomada de deciso em todos os nveis de controle poltico, cultural e
econmico ( I.Meszros).
1) Istvan Meszros:
Poltica da Autogesto
Ainda Meszros ,
Sobre a idia do fenecimento do Estado
Logo mais, veremos ,com Lefrebrev e Bernardo , que as lutas radicais contra o
Capital e com base na autogesto,igualitarismo ,coletivismo,e de carter ativo,
conduzem a um anatgonismo frente ao Estado. Por sua vez, Meszaros aprofunda esta
questo.
Meszros ,em seu ensaio sobre O Socialismo do Sculo XXI ,analisa a postura
de Marx frente Questo do Estado;
Marx era explicito em sua defesa inflexvel do Fenecimento do Estado com
todos os seus corolrios.Somete a conduo inexorvel realizao de uma sociedade
de igualdade substantiva pode fornecer o conteudo social exigido ao conceito de
democracia socialista.um conceito que no pode definir-se apenas em termos
polticos,porque deve ir alm da prpria poltica tal como herdada do passado.
Assim a igualdade substantiva tambm o principio orientador fundamental da
politica de transio em direo ordem social alternativa.Quer seja explicitamente
reconhecido ou no,a principal ao da poltica de transio colocar-se fora de ao
pela transferncia progressiva dos poderes de deciso aos produtores
associados,capacitando-os,desse modo, a se tornarem produtores LIVREMENTE
associados (grifo nosso).
Meszros,mais adiante aprofunda esta questo,atravs da idia de unificao das
esferas da reproduo material e da poltica. Em varias experincias histricas da
autogesto,vamos encontrar essa idia no Programa dos Conselhos Operrios.
Ao expor as condies para libertar o movimento socialista da camisa-de-fora
do parlamentarismo (democracia representativa),pondo a primeira condio como sendo
a participao real , Meszros retoma a questo do Estado:
H tambm uma outra dimenso,que concerne ao desafio muito mais amplo e
fundamentalmente to inevitvel a que se normalmente se refere na literatura socialista
como o fenecimento do Estado.As dificuldade aparentemente proibitivas desse projeto
marxiano vital se aplicam com a mesma relevncia e peso tanto a participao como
a auto-administrao plenamente autnoma de sua sociedade pelo produtores
livremente associados em todos os domnios,muito alm das restries mediadoras (por
algum tempo necessrias) do Estado poltico moderno quanto ao modo duradouro de
unificao das\esferas de reproduo material e poltica como alternativa radical visada
ao parlamentarismo.
Com efeito,prossegue Meszros, quando consideramos a tarefa histrica de
tornar real o fenecimento do Estado, a auto-administrao por meio da plena
participao e a superao permanentemente sustentvel do parlamentarismo por uma
forma positiva de deciso substantiva em oposio formal/jurdica politicamente
limitada so inseparveis.
Neste sentido,Meszros assinala as experincias dos ltimos 15 anos ocorridas na
Venezuela e na Bolvia,em que,as tentativas de grandes mudanas sociais foram
acompanhadas de uma critica substancial do sistema paralamentar e pelo
restabelecimento de assemblias constitucionais.Como veremos adiante, as experincias
dos Governos Alvado,no Peru; do Governo Torres,na Bolvia ,e,Allende ,no Chile,elm
das mais recentes de Chaves e Morales,trouxeram esta marca de critica radical
democracia representativa e parlamentar.
Na verdade,uma retomada contempornea da idia da Comuna Popular.Meszaros
tambm aborda esta idia to cara Grande revoluo Francesa :
Ao criticar deturpao tendenciosa das idias de Rosseau,Meszaros diz que
Contudo,a verdade do problema que, por um lado, o poder de deciso fundamental
no deveria jamais ser separado das massas populares.Ao mesmo tempo,por outro lado,
o cumprimento das funes administrativas e executivas especificas em todos os
domnios do processo socioreprodutivo pode ,com efeito,ser delegado por um
determinado perodo de tempo aos membros de dada comunidade,contanto que isso se
faa sob regras estabelecidas de modo autnomo,pelos produtores livremente
associados e por eles controladas em todos os estgios do processo substantivo de
deciso.
Meszaros situa a questo central;
Pois o desafio inevitvel nesse sentido requer a soluo de um problema
extremamente desnorteador:a saber,que o capital uma fora extraparlamentar por
excelencia de nossa ordem social e,contudo,ao mesmo tempo domina completamente
o parlamento de fora,embora pretenda ser simplesmente uma o parte dele,professando
operar em relao com as foras polticas alternativas do movimento da classe
trabalhadora de um modo plenamente igualitario.
Para o pensador hngaro,Em uma ordem socialista,o processo legislativo teria
de se fundir com o prprio processo de produo de tal modo que a necessria diviso
horizontal do trabalho fosse complementada de maneira apropriada por um sistema de
coordenao autodeterminada do trabalho,dos nveis locais ao global
essa relao est em agudo contraste com a perniciosa diviso vertical do
trabalho do capital,complementada pela separao de poderes em um siatema
poltico democratico alienado e inalteravelmente imposto sobre as massas
trabalhadoras.
Em outro momento,Meszros afirma categoricamente:
por isso que a reconstituio radical historicamente vivel da unidade
indissolvel da esfera poltica e de reproduo material em uma base permanente , e
permanece , a exigencia essencial do modo socialista de controle sociometablico.
Para Meszaros,ou a sociedade de produtores associados aprende a controlar a
riqueza alianada e reificada,com foras produtivas emergentes do trabalho social
autodeterminado de seus membros individuais- porm no mais isolados.
Seguindo Marx,Meszaros diz que as condies objetivas de trabalho no
aparecem subsumidas ao trabalhador; antes,este aparece subsunido a elas.Capital
emprega trabalho.mesmo essa relao em sua simplicidade uma personificao das
coisas e uma reificao das pessoas
O capital a fora extraparlamentar por execelencia cujo poder de controle
sociometabolico no pode de maneira alguma ser restringido pelo parlamento. por essa
razo que o nico modo de representao poltica compatvel com o modo de
funcionamento do capital aquele que efetivamente nega a possibilidade de contestar
seu poder material.
Assim, o nico desafio que poderia afetar de maneira sustentvel o poder do
capital seria aquele que tivesse simultaneamente o objetivo de assumir as funes
produtivas chave do sistema e adquirir o controle sobre os processo polticos de deciso
correspondentes em todas as esferas,em lugar de restringir-se de modo incorrigvel pela
limitao circular da ao poltica institucionalmente legitimada de legislao
parlamentar.
Faamos longa citao,em que Meszaros retoma o problema do fenecimento do
Estado,concluindo seus pensamento:
Nesse sentido,em vista da questo inevitvel que emerge do desafio das
determinaes sistmicas,com relao tanto reproduo socioeconomica quanto ao
Estado,a necessidade de uma transformao politica abrangente em estreita conjuno
com o exerccio significativo das funes produtivas vitais da sociedade sem o qual uma
mudana politica duradoura e de longo alcance inconcebvel torna-se inseparvel do
problema caracterizado como fenecimento do Estado.
Em seguida,Meszaros, define o contedo,sem duvidas ,de autogesto,desse
processo:
Por conseguinte,na tarefa histrica de realizao do fenecimento do Estado,a
auto-administrao pela plena participao e a superao permanentemente sustentvel
do parlamentarismo or uma forma positiva de deciso substantiva so inseparveis...
Essa uma preocupao vital,e no uma fidelidade romntica ao sonho
irrealizvel de Marx, como algumas pessoas a procuram desabonar e descartar.Na
verdade,o fenecimento do Estado no se refere a algo misterioso ou remoto, mas a um
processo perfeitamente tangvel que deve iniciar-se j em nosso prprio tempo
histrico.Isso significa em uma linguagem franca,a reaquisio progressiva dos poderes
alienados de deciso pelos indivduos sem eu empreendimento de mover-se em direo
a uma sociedade socialista genuna.
E,remarca que: Sem a reaquisio desses poderes (...) no possvel conceber
nem o novo modo de controle poltico da sociedade como um todo por seus
indivduos,nem tampouco a operao cotidiana no-conflitual/adversa
e,portanto,coesiva/planejvel das unidades produtivas e distributivas particulares pelos
produtores livremente associados e auto-administrados.
Enfim,que: A suplantao radical da conflitualidade/adeversidade e a
conseqente seguridade do fundamento material e objetivo do planejamento global
vivel (...)so sinnimos do fenecimento do Estado como um empreendimento
histrico continuo.
Meszros avana na definio do sujeito revolucionario altura dessa tarefa
histrica.
Obviamente, uma transformao dessa magnitude no pode realizar-se sem a
dedicao consciente de um movimento revolucionrio mais desafiadora tarefa
histrica,capaz de sustentar-se contra toda a adversidade,j que seu engajamento tende a
despertar a hostilidade feroz de todas as maiores foras do sistema do capital.
Vimos esta barbrie das foras do Capital contra os trabalhadores,por exemplo,na
Comuna de Paris e,quase um sculo depois,no Chile de Allende.
Por essa razo, o movimento em questo no pode ser simplesmente um partido
poltico orientado a fim de assegurar conceses parlamentares, que em via de regra
acabam por anular-se mais cedo ou mais tarde pelos interesses extraparlamentares
autovantajosos da ordem estabelecida vigente tambm no parlamento.O movimento
socialista no pode obter xito diante da hostilidade dessas foras a menos que seja
rearticulado como um movimento revolucionrio de massa conscientemente ativo em
todas as formas de luta social e poltica: local,nacional e global/internacional,
utilizando plenamente as oportunidades parlamentares quando disponveis, por mais
limitadas que possam ser,sobretudo sems e esquivar de asseverar as demandas
necessrias da desafiadora ao extraparlamentar.
Meszaros aponta elementos da estrategia: Assim,em relao a ambos os
dominios de reproduo material e poltico,a constituio de um movimento socialista
extraparlamentar de massa estrategicamente vivel em conjuno com as formas
tradicionais de organizaes polticas do trabalho, ora irremediavelmente
desencaminhadas, que precisam com urgncia da presso e do apoio radicalizantes de
tais foras extraparlamentares uma precondio vital pra a contraposio ao poder
extraparlamentar macio do capital.
Adiante,em no mesmo ensaio sobre O Socialismo no sculo XXI, Meszaros
afirma que O sujeito social capaz de regular o processo de trabalho com base no
tempo disponivel s pode ser a fora conscientemente combinada da multiplicidade
de indivduos sociais : os produtores livremente associados, como so habitualmente
denominados.
Para cumprimento destas tarefas de atualizao da proposta socialista,Meszaros
pe algumas questes de mtodo:
A constituio urgentemente necessria da alternativa radical ao modo de
produo do metabolismo social do capital no ocorrer sem um reexame critico do
passado. necessrio examinar o fracasso da esquerda histrica em concretizar as
expectativas otimistas expressas por Marx quando ele postulou,em 1847,a associao
sindical e o conseqente desenvolvimento poltico da classe trabalhadora paralelamente
ao desenvolvimento industrial de vrios paises capitalistas.
Desde que o Capital controla realmente todos os aspectos vitais do
metabolismo social, o capital capaz de definir separadamente a esfera constituda da
legitimao poltica como uma questo estritamente formal,excluindo a priori a
possibilidade de qualquer contestao legitima em sua esfera substantiva de operao
reprodutiva socioeconmica,para Meszros;
A reconstituio da unidade da esfera material reprodutiva e poltica a
caracterstica essencial definidora do modo socialista de controle do metabolismo
social.
E,neste sentido, a experincia histrica ps-capitalista um relato triste e
premonitrio,conclue Meszaros.Faltou a instituio de um controle democrtico
substantivo. Se,o capital nada sem o trabalho,e de sua explorao permanente;se a
relao entre capital trabalho ser no-seimetrica;isto quer dizer : enquanto o capital
depende absolutamente do trabalho,a dependncia do trabalho em relao ao capital
relativa,historicamente criada e historicamente supervel.
Esta relao entre capital e trabalho, conduz Meszaros a considerar a possibilidade
e apenas a possibilidade- de uma evoluo positiva dos acontecimentos que conduz a
uma importante mudana histrica na confrontao entre capital e trabalho,e traz
consigo a necessidade de buscar uma nova forma de afirmar os interesses vitais dos
produtores livremente associados.
E,portanto, do Socialismo com base na Autogesto Social !
Vamos apenas traar alguns elementos sobres esses pontos que, sem dvidas,
mereceriam uma analise mais aprofundada.
A Experincia Russa
O Direito Social
Os Conselhos Operrios
Cada uma das 3 vias para autogesto dos conselhos operrios tem seus defeitos
e suas qualidades...Estas vias se impem de acordo com as circunstancias, elas se
combinam ou,as vezes, se substituem umas as outras.
Em seguida,Gurvitch para cada uma das 3 vias, fornece exemplos concretos:
Vamos partir dao trabalho de Fridolin Saint-Simon ,que, em obra de 2005, sistematizou
as idias de Gurvitch em relao s sociedades histricas.A obra de fridolin intitula-se
claramente G.Gurvitch e a sociedade autogestionaria.No Capitulo VI,analisa os
diversos Exemplos de sociedades histricas.
Pelo fato que , a obra de Gurvitch no tem grande divulgao no Brasil, vamos adiantar
dados de sua biografia e sua bibliografia.
Vida e Obra:
Georges Gurvitch nasceu em 2 dezembro de 1894 em Novorossik [Rssia],onde seu
pai era diretor do banco russo-asitico. Faleceu no final de dezembro de 1965, na
Frana. Doutor em Direito pela Universidade de Petrogrado [1917]; foi profesor de
Direito Publico na Universidade de Petrogrado [1919-1920]. Professor associado
Universidade de Praga [1921-1924];professor de Filosofia Social [1924];Conferencista
no Instituto Slavonico de Paris [1925-1927]; Conferencista na Sorbone [1928-1932];
Cidado francs naturalizado,em 1928;Doutor em Letras pela Sorbone [1932];Professor
no College Svign, Paris [1932-1934];professor agregado de Sociologia na
Universidade de Bordeaux [1934-1935]; professor de Sociologia na Universidade de
Estrasburgo, Frana [1935].
Professor associado de Sociologia na New School for Social Research, New York
[1940-1943];conferencista na universidade de Columbia, New York [1942-
1943];professor em Rutgers University [seo francesa] em 1943; professor pesquisador
na Universidade de Harvard, seo Sociologia [1944-1945]; diretor do Instituto
Sociolgico Francs; diretor de estudos na cole des Hautes Etudes [1942].
Foi secretario geral do Instituto Internacional de Sociologia do Direito [Paris, 1931-
1940]; editor de Archives de Philosophie du Droit et de Sociologie Juridique [Paris,
1931-1940];Nos Estados Unidos foi Redator-chefe do Journal of Legal and Political
Sociology.
Em 1924 publica em Tubingen o seu primeiro livro, consagrado filosofia de Fichte.
Fixado na Frana, faz o doutorado em Letras com as suas duas teses A idia do
direito social [tese principal] e O tempo presente e a idia do direito social [tese
complementar].
Professor de sociologia na Universidade de Estrasburgo , de 1935 a 1948, foi a partir
desta data chamado Faculdade de Letras de Paris,onde ensinou sociologia at sua
morte ,em 1965. Foi diretor dos Cadernos internacionais de sociologia e da
Biblioteca de sociologia contempornea.
Alm da Frana e Estados Unidos, Gurvitch nos anos 50 lecionou na USP.
Obras :
Autobiografia:
Sobre Gurvitch:
Bibliografia usada:
A Autogesto Homeoptica
Voltando a Daniel Moth,um velho militante da autogesto,desde sua participao
com Castoriadis no grupo Socialisme et Barbrie, que tentou superar essa dialetica
diabolica atravs da idia da autogesto gota-a-gota. Refletia sobre a ideia dominante
nas esquerdas de que a autogesto algo apenas para o Grande Dia ,para a Revoluo ,
a Grande Alternativa. Moth contrapunha a esta viso , a idia das experincias
realizadas no cotidiano, a Autogesto Gota-a-Gota.
Seria uma espcie de dialtica luxemburgiana de reforma e revoluo? Muitos a
dialetizam diabolicamente como reforma OU revoluo? Tudo ou nada ? Ao que a
prpria Rosa respondia : quem quer tudo ou nada,termina com nada!
As experincias recentes de economia popular e solidria,em toda sua diversidade
e extenso geogrfica, parece-nos trazer `a tona a dialtica apontada por Mothe: a
autogesto uma ideal e tambm uma estratgia e,como tal,realiza-se engravidando os
processos histricos atravs de experimentaes , articulando as experincias
cotidianas com os sonhos e as utopias.Voltaremos as idias de Moth.
A reflexo de Paul Singer,a partir de nossa experincia brasileira, retoma ou vai
no mesmo sentido,quando nos fala de implantes de socialismo ou de utopia
militante.A autogesto trabalha em torno do Real,isto ,de sua totalidade enquanto
realidade e possibilidades. Desta forma,poderemos aborda-la numa dialetica no
diabolica.
5- THOMAS COUTROT
Enfim, deste modo, podemos refletir com menos aperreio existencial sobre a
frase nos muros do estaleiro Lenin, reivindicando esta ou aquela estao . Talvez,
tenhamos que afirmar a frase do movimento social brasileiro: Podem destruir uma flor
mas no a primavera! E,assim o mostra a historia dos trabalhadores: a autogesto
como uma fonte subterrnea que em certas conjunturas aflora a tona .
Talvez, a caracterstica principal do novo ciclo,o da economia solidaria,seja a
permanncia,mesmo que de forma precria,das experincias que portam princpios da
autogesto,em conjunturas que no so revolucionarias ou de crises,e que tm como
pano de fundo e cenrio,a crise estrutural do capital(Meszros).O que no uma
soluo,mas um grande problema para os que lutam pela emancipao social.
E,tambm podemos afirmar a partir destas experincias: vem pelas margens !
realiza suas rupturas nos pontos fracos do sistema dominante,como veremos adiante
na reflexo de Henry Lefebrev.
E,sem duvidas,por iniciar nestes pontos fracos, as experincias da economia
solidria portam imensa necessidade de sustentao de polticas publicas por Governos
Democrticos,desde o nvel local at o nacional.
Daniel Mothe
Autogesto em tempos de Crise Revolucionaria
A reflexo que nos traz Daniel Mothe fundamental porque aborda as
experincias de autogesto a partir de diversas conjunturas .Por exemplo, em
conjunturas revolucionarias,inclusive com aspectos de luta militar;e,tambm,em
conjunturas de relativa estabilidade.
Daniel Moth, ex-membro do grupo Socialisme et Barbrie, ex-metalurgico
da Renault, membro do grupo da revista Autogestion et Socialisme, traou graus e/ou
niveis de existncia da autogesto .
1) Diz respeito relao do operrio com seus instrumentos e com a matria-
prima;para Moth,certas formas de trabalho em cadeia e em peas no podem ser
autogeridos. Necesitam uma modificao dos instrumentos e do aparelho de
produo.Neste primeiro nvel, a autogesto requer o trabalho do tipo de um
arteso ou de um artista,significa,superar o taylorismo.Como diz Jef Ulburghs:
A autogesto comea com as mos !
2) o do trabalho em equipe, da cooperao entre os trabalhadores,em pequenas
unidades de base,como equipes autonomas ou semi-autonomas.Veja-se a
experiencia dos CQ no Japo,antes de serem assimilados no toyotismo.
3) Caracteriza-se por uma gesto coletiva mais numerosa,por exemplo,de
oficinas.
4) o nvel da empresa.
5) No ltimo nvel, o objetivo o conjunto da sociedade.
Estes nveis podem existir de forma articulada ou de forma isolada: assim,
podemos falar de autogesto em tratando apenas de uma empresa ,ou, de varias
empresas , que articuladas formam uma rede autogestionaria(por exemplo, o
caso da Polnia em 1980-81); no nvel ou grau mais amplo e sistemtico, a
autogesto entendida como forma generalizada, o caso de um pais (por
exemplo, Yugoslavia, Arglia,etc).
Contudo, de modo geral,Moth aborda 2 tipos de experincias autogestionarias,a
saber:
No capitulo A validao da teoria pela historia, Moth assinala que as
experincias autogestionarias so to raras que no nos permitem verificar a
pertinncia e a eficcia de seu funcionamento(...)Todos os tericos do movimento
operrio mostraram como,nas grandes crises,a classe operaria tem manifestado
violentamente o desejo de gerir as empresas e a sociedade constituindo
organismos de poder democraticamente eleitos do tipo soviet,ou conselhos.
necessrio,portanto,examinar como se verifica esta tendncia dos trabalhadores na
base dos princpios que correspondem suas necessidades de autogesto.
Os fatos histricos aos quais se referem os autogestionarios so limitados um
certo numero de acontecimentos que se desenvolveram aps um
sculo.So,principalmente: a Comuna de Paris de 1871, a Revoluo russa de
1905e 1917,a Revoluo da Alemanha em 1918,a Comuna hngara de 1919,a
sublevao de Turim em 1920,os acontecimentos da Catalunha em 1936,a
revoluo hngara de 1956.
Moth divide estas revolues em duas categorias:
1) Compreende fatos que provam a capacidade dos trabalhadores gerir eles-
mesmos suas lutas.
Trata-se de acontecimentos que demonstraram como os trabalhadores sabem
se organizar entre eles para se opor as presses que sofrem nas empresas,por
greves,manifestaes,e as vezes mesmo por lutas armadas,mas tambm outros
acontecimentos que demonstram como os trabalhadores participam ativamente
em inssurreies armadas,criando organizaes para-militares que funcionam
democraticamente com a eleio de seu chefe.
6) Henri Lefebrev
O filsofo Henri Lefebvre tentou sistematizar os problemas tericos da
autogesto. Suas idias so estimulantes e importantes na perspectiva de tentarmos
situar em um quadro terico as experincias histricas.
Para Lefebrev, O conceito e a pratica da autogesto contribuem com uma
resposta original ao problema posto por Marx da socializao dos meios de
produo.Todavia, a partir das experincias existentes da planificao autoritria e
centralizada nos paises do Leste e na URSS, a autogesto no d conta desta
problemtica.Lefebrev,ento,salienta que a autogesto nada tem de mgica,que no
uma panacia,que pe mais problemas do que soluciona.
Em um mundo que tende para o global, s a autogesto torna efetiva a
participao. Mas, a autogesto no pode se isolar.Ela contm implicitamente um
projeto global,destinado a preencher o vazio,mas s se ele explicitado.Ou bem o
contedo da autogesto,seu contedo social e poltico,se desenvolve e torna-se
estratgia.Ou bem o projeto fracassa.Pode se tornar uma palavra vazia ou,o que
mais perigoso, tornar-se cogesto,adverte o filosofo.
Qual a contribuio da autogesto ? Lefebrev aponta 3 pontos fortes;
1) Uma brecha no sistema existente, no dos centros de deciso que geram a
produo e organizam o consumo sem deixar aos produtores e aos consumidores a
menor liberdade concreta,a menor participao nas verdadeiras opes;
2) Um risco; a possibilidade de uma degenerao, de uma recuperao,sobretudo
nas formas j bastardas e degeneradas da cogesto.Na autogesto em si-mesma, os
interesses parciais ou locais podem dominar os interesses gerais da sociedade;
3) O anuncio de um processo que passa pela brecha aberta e que atinge a
sociedade inteira.
falso limitar este processo gesto dos negcios economicos ( empresas,ramos
de industria,etc ).A autogesto implica uma PEDAGOGIA SOCIAL.Ela supe uma
nova pratica social,em todos os graus e nveis ... o processo de autogesto, pratica social
e teoria desta pratica, implica a construo na base de uma rede de organismos; a pratica
e a teoria modificam o conceito clssico na democracia formal de representao e de
representatividade.os interesses mltiplos da base devem estar presentes e no
representados ,isto delegados mandatrios separados desde ento da base.A
autogesto e a participao efetivas no podem se separar de um sistema de
democracia direta ....
Quanto ao conjunto e sua gesto,as tcnicas novas podem intervir.Automatizao
base nas foras produtivas uso dos meios eletrnicos (computadores e calculadoras)
para fornecer uma gesto descentralizada as informaes ascendentes e
descendentes,estas novas tecnicas fundam possibilidades novas.A condio que sejam
usadas para assegurar o enfraquecimento do Estado e da burocracia,e no para
fortalecer tecnocraticamente as instituies.
Por fim,Lefebrev retoma seu eixo central: a propsito da autogesto,
importante relembrar a importncia da vida cotidiana ? Sem duvidas. O processo
revolucionrio comea pelo abalo da cotidianeidade e termina pelo seu
restabelecimento.A autogesto mostra a via de uma transformao da vida
cotidiana.Mudar a vida,assim se define o sentido do processo revolucionrio.
Lefrebev afirma que : A experincia social (prtica social) mostra que as
associaes de autogesto surgem nos pontos frgeis da sociedade existente. Toda
sociedade tem seus pontos fortes que, no conjunto, formam a armadura, a estrutura da
sociedade.
O Estado repousa sobre estes pontos fortes. A poltica estatal tem por tarefa
soldar as possveis fissuras. Em volta destes espaos reforados nada acontece. Todavia,
entre estes pontos fortes, consolidados pelo Estado, encontram-se as reas frgeis e
as lacunas. ai que ocorrem fatos novos. As foras sociais intervm nestas lacunas, as
ocupam, as transformam em pontos fortes, ou, ao contrrio, em outra coisa.
Os pontos frgeis, os vazios, s se revelam na prtica ou iniciativas de
indivduos capazes ou s pesquisas de grupos capazes de agir. Os pontos frgeis
podem resultar de um abalo ou de uma desestruturao do conjunto.
Lefebvre nos oferece exemplos muito ilustrativos de suas idias:
2) Em 1870, Paris o ponto fraco do Imprio Bonapartista. No incio de 1871, a
capital o ponto fraco da Frana. Devido industrializao, ao crescimento do
proletariado, em razo da guerra, derrota da proclamao da Republica, ao
estado de stio, e tambm, devido segregao social feita por Hauussmann,
repartio dos operrios nos bairros perifricos, ao emburguesamento e ao incio
da deteriorao no centro.
Sob a Comuna, os operrios projetam realizar a autogesto nas fbricas
abandonadas pela burguesia de Versalhes, porm no tiveram o tempo necessrio. Por
infelicidade, a burguesia e seu Estado e as relaes de produo capitalistas ficaram
fortes fora de Paris; Thiers pode reconstituir rapidamente em Versalhes o aparelho de
Estado e a Armada.
Lefebvre aponta o ponto fraco onde surgiu a autogesto: as fbricas
abandonadas pelos patres. fundamental perceber sua noo de fraqueza: surge de um
campo complexo de contradies, tal qual apontou inicialmente. importante tambm
notar que o Programa da Comuna traz 13 pontos apontando para o conjunto da
sociedade francesa, no se restringindo ao campo da produo (ver abaixo).
3) Em 1917, durante a derrocada do Tzarismo, antigos pontos fortes de sua
armadura scio-poltica, isto , a armada e a cidade, tornam-se pontos fracos.
Juntam-se, assim, as empresas capitalistas que uma burguesia mal situada no
conseguiu consolidar. Por sua vez, os setores fracos se juntam: os Soviets de
soldados, de camponeses, de operrios, se uniram em um imenso movimento, o da
Revoluo. Lembremos que Lnin proclamou a palavra-de-ordem: Todo o Poder
aos Soviets, vendo neles mais que rgos representativos ou destinados eleger
os representantes, mas grupos de trabalhadores associados, gerindo livremente e
diretamente seus negcios. Conjuntura surpreendente. Nunca a autogesto
generalizada foi to possvel.
4) O exemplo recente da Arglia confirma nossa anlise. Onde se instalou a
autogesto? Nas fbricas abandonadas pelos patres (colonos).
Para Lefebvre, a autogesto no surge em qualquer lugar, conjuntura ou momento.
necessrio uma conjuntura, um lugar privilegiado. Onde e quando ela surge porta,
necessariamente, seus elementos possveis: a tendncia generalizao e
radicalizao. Para que a autogesto se consolide, se amplie, ela deve ocupar os
pontos fortes da estrutura social que operam contra ela.
A principal contradio que a autogesto introduz e suscita, sua prpria
contradio com o Estado; ela pe em questo o Estado: Desde que aparea um raio de
sol, em uma fissura, esta simples planta cresce, e o enorme edifcio estatal ameaado.
Para se generalizar, para se transformar em sistema, em escala de toda a
sociedade unidades de produo, unidades territoriais, instncias e nveis superiores - a
autogesto no pode evitar o choque com o sistema estatal-poltico, seja ele qual for.
A autogesto no pode evitar esta difcil tarefa: constituir-se em poder que no seja
estatal. O Estado da autogesto, isto , o Estado no qual a autogesto se eleva ao
poder, s pode ser de um tipo: um Estado em extino.
A autogesto deve ser estudada de duas formas diferentes: como meio de luta,
abrindo caminho, e, como meio de reorganizao da sociedade, a transformao de
baixo para cima da vida cotidiana e do Estado.
7) Joo Bernardo
Autogesto e Estado = as duas vias
Joo Bernardo:
As lutas ativas e coletivas
8= NIKOS POULANTZAS :
Estado ,Socialismo e Autogesto.
9= Andre Gorz:
Experimentao Autogestionria
O ncleo poltico central da obra de A,Gorz tem como foco uma nova critica da
razo economica.Neste sentido,Gorz assume a herana marxista no-ortodoxa ,com
nfase para a corrente quente do marxismo que gira em torno da proposta de um Eco-
Socialismo com base na autogesto social.
3= a criao, graas uma durao do trabalho cada vez mais reduzida, de uma esfera
de compatilhamento comunitrio, de cooperao voluntria e auto-organizada;
Lutam em favor, sem contestaes, em favor de uma UTOPIA CONCRETA ,de uma
nova sociedade, fundada na auto-organizao voluntria dos produtores(..) Um modo de
produo ecologista e cooperativista em que a durao do trabalho ser fortemente
reduzida.
O caminho que leva a esse socialismo de uma sociedade ecologista autogerida ,diz
Munster,capaz de superar o capitalismo liberal , s poder resultar de um longo
processo, de uma ao cosnciente e a longo prazo em que o inicio poder ser a
realizao de um escalonamento coerente de reformas, mas em que o desenrolar s
poder ser uma sucesso de rupturas,mais ou menos violentas, vitoriosas ou
derrotadas, em que no conjunto contribuir para formar e organizar a vontade e a
conscincia das classes trabalhadoras (A.Gorz).
A. Munster comenta essa passagem : Desafiando uma velha doutrina social-
democrata que j tinha sido desconstruida por WALTER BENJAMIN ,em suas Teses
sobe o conceito de Historia(1940),Andr Gorz no cessa de lembrar que no possvel
uma passagem gardual e insensvel do capitalismo ao socialismo(...).
Essa alternativa proposta por A.Gorz, estava calcada em experincias sociais ocorridas
em 1968 e nos anos seguintes;entre elas,Munster cita A formao da fabrica de
relgios LIP em uma cooperativa auto-gerida pelos trabalhadores.
Estas formas de experimentao de uma vida e de um modo de produo
ALTERNATIVAS, alm do modo de produo imposto pelo capitalismo, em nome
do lucro maximo, so explicitamente valorizadas por Gorz.
Neste sentido, Gorz est absolutamente persuadido que essa nova fora produtora
liberar cedo ou tarde a alternativa emancipatoria ao sistema existente;Munster
cita Gorz:
A experimentao com novos modos de vida e de outras formas sociais, nas
brechas de uma sociedade em plena desagregao, subverter e desligitimar o
controle que o Capital exerce sobre o esprito e o corpo das pessoas.
Andr Gorz,junto com sua esposa,se suicidou em setembro de 2007. Dois anos
aps, em 2009,a editora La Decouverte lanou uma obra reunindo diversos emsaios
sobre a obra de Gorz: Andr Gorz, um penseur pour l XXI Sicle. Nessa
homenagem, vamos encontrar muitas idias sobre a relao Gorz-Autogesto.
Assim,por ex., Jean Zin afirma que , na obra Misrias do presente , riqueza do
possvel ( 1997 ),Gorz aprofunda sua alternativa:
Nessa obra diz G. Fourel Gorz traz uma nova perspectiva para ecologia
poltica, das alternativas locais globalizao mercantil ( a era da informao e da
economia imaterial ),alternativas que juntam os principais instrumentos: renda
garantida ( ou alocao universal de uma renda suficiente ), oficinas cooperativas
(ou ateliers comunais de autoproduo) e moedas locais ( ou moedas-tempos )
.
Por sua vez, Carlo Vercellone aborda a evoluo das idias de Gorz em relao
superao do fordismo:
Durante os anos 1980 e at a metade dos anos 1990, a reflexo de Gorz sobre a
dinmica do capitalismo conheceu umabifurcao: a racionalidade econmica do
capital e seu modo de organizao dotrabalho na esferada heterenomia so
consideradas por gorz como um horizonte insupervel devido a inapropiabiliadde
das massas dos saberes necessariamente espeializados que combina a produo
social.
Mais anida, sob a influencia de IVAN ILLICH ,esta tese ampliada ao conjunto
das isntituies que estruturam o funcionamento da megamaquina industrial
burocratica,e,abrangendo os servios coletivos do WelfareState. Decorre
,ento,uma mudanaa profunda no modo de pensar a emancipao do trabalho
assalariado.
A autogesto e, mais geralmente, a emancipao no trabalhose efetuam diante da
constatao que aonivel microeconmico a logia do capital seria a nica forma
deraionalidadee conomica pura e que no h outra forma economicamente racional
para conduzir um empresa que a gesto capitalista.A saida do capitalismo no pode
portanto ser pensada como a reverso da diviso capitalista do trabalho.
Esta viso cede lugar um aporte que se inspira em POLANY, em que a superao
da dominao do capitalismo concebida como o encaixe e a subordinao
restritiva das atividades econmicas regidas pela racionalidade do capital aos
valores e aos objetivos societais e ecolgicos.
Para Carlo Vercellone, vrios fatores explicam essa virada.As desiluses polticas
ligadas ao esgotamento do ciclo das lutas nascidas em 1968 e os ensinos tirados do
afundamento dos sistemas planificados do scoialismo rela que tiveram,sem
duvidas,um papel importante.
Mas o impacto decisivo veio da interpretao da evoluo do capitalismo que, sob
efeito combinado das polticas de desinfleo competitiva eda revoluo
microeletrnica,conduziram a disperso da sociedade do trabalho
Foi o fim irreversvel do modelo fordista do pleno emprego e,com ele,da
centralidade da classe operaria como sujeito histrico do projeto de emancipao do
assalariado.Disto,decorre um dualismo econmico e social cada vez mais forte entre
uma elite de trabalhadores qualificados,apegados a sua empresa e beneficioo da
seguridade do emprego, e uma massa crescente de desempregados e de
trabalhadores desqualificados.
A refelexo de Gorz sobre o sentido e os desafios dessa evoluo leva a um projeto
de socieddae que se prope suprimir o dualismo regressivo garantido/no garantido
para substitui-lo ,como disse Denis Clerc, por uma sociedade dualista de outra
natureza.
=.Mario Pedrosa
Iniciaremos esta parte de nosso ensaio sobre os tericos e as teorias da
autogesto socialista, com o pensamento de Mario Pedrosa,pioneiro destas ideias em
nosso pais.
Todavia, a fonte na qual M.Pedrosa foi beber, foi o pensamento de Rosa
Luxemburgo*.Portanto, importante traar algumas ideias sobre a mulher com quem
Pedrosa se despediu do europesmo,como Ele costumava falar.
E que,
Quando tomar o poder...o proletariado tem de levar a cabo, imediatamente,
medidas socialistas de maneira mais enrgica, mais decidida e sem trguas.
Por outras palavras,tem de exercer uma ditadura de classe no de um partido
ou de uma classe a ditadura de classe significa ditadura sob a forma publica
mais aberta,com base na mais ativa e ilimitada participao da massa do
povo,na democracia ilimitada.
E
O idealismo revolucionrio...s pode manter-se por um perodo de tempo
indefinido por meio de intensa vida ativa das prprias massas,em condies
de liberdade poltica sem limites.
fato conhecido e indiscutvel que sem uma imprensa livre e isenta de
travas,sem o direito ilimitado de associao e reunio,o domnio das amplas
massas do povo totalmente impossvel
Todas essas citaes de Rosa so do seu folheto sobre A Revoluo
Russa.
Aqui, neste fecho, Rosa retoma as ideias de Flora Tristan e de Karl Marx sobre a
autoemancipao dos trabalhadores. Para N.Geras, a sua concepo reivindica a
liberdade para uma pluralidade de tendncias e partidos no seio da ditadura do
proletariado.
Conclumos com Kurt Lenk:
O conceito de revoluo em Rosa pode caracterizar-se por: um alto grau de
instruo politica e amplas lutas com participao das mais amplas massas,
inclusive das no-organizadas, um certo grau de maturidade das condies
econmicas e polticas ,e um marcado e intenso sentimento de classe,que tem
que ser transformado em conscincia de classe. Uma organizao que deve
desenvolver-se raiz da luta revolucionaria e cujas aes expressam o
comeo da runa da sociedade burguesa.Uma greve geral de massas que
inicia a revoluo e deve resultar das prprias lutas sociais.
Por outro, ao mesmo tempo, o capitalismo produziu uma nova cultura,um novo
centro da vida social emergiu: a grande cidade,assim como uma nova classe social: a
inteligensia profissional.
Da mesma forma, a sociedade capitalista tem necessidade da sade,da educao
e da formao profissional, a comunicao,as artes.assim, O capitalismo cria uma
cultura espiritual nova e a cultura espiritual da sociedade burguesa constitui em si-
mesma um ser vivo e autonomo at certo ponto.
Aqui, Rosa chega a sua viso da democracia: no somente as formas polticas
modernas, a democracia, o parlamentarismo, mas tambm uma vida pblica aberta,
uma troca aberta de vises e de concepes contraditrias, uma vida intelectual intensa
que permitea luta de classes e dos partidos (grifo nosso).
E,a questo central:
O capitalismo no cria esta cultura no ter ou no vazio,mas em um territrio
dado,em um ambiente social definido,em uma lngua precisa,no quadro de
certas tradies,enfim,em condies nacionais precisas. [...] esta cultura se
transforma em cultura nacional dotada de uma existncia e de um
desenvolvimento que lhes so prprios.
Comenta Mario:
que esssas lutas, acarretam em si mesmas uma preparao,um exercicio
educacional insubstituivel na democracia [...] Esse processo cumulativo em
carter e, do ponto de vista oposto, nada mais apto a fortalecer a base para
os frgeis comeos da democracia poltica nos pases no desenvolvidos do
que embarcarem com sucesso nas reformas necessrias para quebrar as
desigualdades sociais e econmicas.
Essa viso de Mario Pedrosa est inspirada nos trabalhos de Andre Gorz,
basicamente em "Estrategia Operria e Neo-Capitalismo"(1964): "Num livro sob muitos
aspectos novo e construtivo pela originalidade e sobretudo pela maneira de repor o
problema capital da estrategia da revoluo socialista em nossa poca[...]".Vamos
seguir o pensamento de Pedrosa:
O problema da revoluo nos paises subdesenvolvidos diferente,sem
duvida,do da revoluo nos paises de alta industrializao. A diferena
maior,quanto a forma,est em que a velha alternativa entre a luta pelas
reformas e a insurreio armada deixou praticamente de existir,
principalmente nos velhos paises altamente industrializados do Ocidente.
Mario fala do desenvolvimento tecnologico e as mudanas no que Marx
chamava de "assalariados produtores".
Para Mario,
a revoluo socialista ope ao consumismo alienante do neocapitalismo outra
concepo das necessidades. uma gigantesca tarefa social, economica,
cultural, tica, desalienente. A equipe dos trabalhadores cientistas representa
papel primordial. Onde o trabalho percelado, subordinado a norma de
rendimento, onde produz fadiga nervosa e fisica, periodicamente,
sistematicamente, onde se faz um ambiente de massa ou coletivo, seriado,
mas no qual no tem o trabalhador uma viso de conjunto do produto em
elaborao, onde o estatuto pessoal do trabalhador subsumido no grupo ou
categoria na fbrica, no laboratrio, no escritrio, na empresa, no
empreendimento, onde as relaes pessoais entre o trabalhador, o assalariado
individual e o diretor, o gerente, o patro, no existem mais - estamos em
face do produtor assalariado, seja um trabalhador manual, um operario
qualificado, um tcnico, um engenheiro, um pesquisador, um sbio. E na
categoria de produtor assalariado so todos membros,potencialmente,
essencialmente, da classe operria. No o capitalismo,nem mesmo o
neocapitalismo que dispe ainda de fronteiras abertas. O mundo do trabalho
o mundo de fronteiras abertas;ele no pode,porem,como mostra Belleville
(Une Nouvelle Classe Ouvriere-1963),esperar passivamente que suas
fileiras crescam.Tem ele,em compensao,a possibilidade de reivindicar as
fronteiras novas.Compete a ao sindical moderna esse reivindicar de novas
fronteiras para o trabalho.
Segue Pedrosa,
Esse o modelo que a historia e a experincia empirica tm elaborado para o
Terceiro Mundo. As revolues dos paises do Terceiro Mundo tendem a
refletir-se umas sobre as outras e a revelar uma face internacional cada vez
mais pronunciada. As revolues nacionais dos subdesenvolvidos tm no s
problemas comuns mas tambem inimigos comuns.Elas no podem vencer
sem uma reforma profunda na estrutura do comercio internacional e,logo,da
economia internacional[...]A revoluo dos subdesenvolvidos
absolutamente antiimperialista. A luta antiimperialista,para ser vitoriosa,tem
de ser levada a efeito numa frente comum dos paises subdesenvolvidos,como
sua politica permanente,independentemente de conjunturas nacionais crticas
ou crnicas[...]. Nessa poltica externa estacontida a condio fundamental
para a realizao do objetivo nacional permanente - a emancipao.As tarefas
internas urgentes sero irrealizaveis -ou para realiza-las o esforo e o
sacrificio sero ainda mais penosos- sem uma ao coletiva das naes
incompletas em marcha para a integrao nacional no plano regional e no
plano internacional.
A Autogesto Socialista
Segue Loureiro:
As ideias de Mario a respeito da autogesto so bastante rpidas,mais
indicativas de uma direo do que propriamente de uma reflexo original, em
que retoma a tradio conselhista,alis mencionada por ele (revoluo alem,
conselhos de fabrica de Turim,Frente Popular na Frana, Barcelona da
Guerra Civil e,bem entendido,os sovietes russos (p. 354-5).
Mais adiante :
Como se v, o segredo da direo empresarial das grandes corporaes
velho com a S e o velhssimo Marx o define em termos que o presidente da
DuPont Company, Sr. Crawford H. Greenewalt, repetiu, quase cem anos
depois, como se o tivesse lido: Talvez a melhor analogia com o trabalho do
executivo o condutor de sinfonia sob cujas mos uma centena ou por ai de
especialistas altamente qualificados e muito diferentes se ajustam num nico
esforo de grande eficcia.
Segundo Mario, desde 1865, quando Marx escrevia as linhas acima, at 1890,
quando ENGELS editou o terceiro volume. O colaborador e editor da obra resume a
anlise:
Isto a abolio do modo capitalista dentro da prpria produo capitalista e
acrescenta,numa expresso que vai inspirar Schumpeter (Capitalism,
Socialism and Democracy,1914) a formular sua talvez tese bsica sobre o
desenvolvimento do capitalismo uma autodestrutiva contradio, que
representa em sua face mera fase de transio a nova forma de produo... a
produo privada sem o controle da propriedade privada.
E, tenta, via Marx, explicar essa forma dupla de antagonismo: Marx tenta
explicar essa formula algo vaga de distinguir as duas formas de produo em que o
capital j se apresenta socialmente e no privadamente. O salario de superintendncia,
tanto do gerente comercial como do industrial, aparece completamente separado dos
lucros da empresa nas fbricas cooperativas dos operrios como nas sociedades por
aes. A separao dos salrios da superintendncia dos lucros da empresa, que em
outros casos acidental, aqui constante. Na fbrica cooperativa o carter antagnico do
trabalho de superintendncia desaparece, uma vez que o gerente pago pelos
trabalhadores em lugar de representar o capital contra eles.
Fechando esse capitulo 12, Mario Pedrosa pe os pontos nos ii,numa verdadeira
Proclamao da Autogesto:
Os tericos e panegiristas da corporao pretendem ter ela ultrapassado a
esfera do capitalismo econmica, social, cultural, cientfica, tecnolgica do
pais, o mvel intimo que a impele, que a dirige e a pe em movimento
ainda privado. Sua finalidade intrinsica em ultima ratio o lucro, o lucro
que,se dispersa em parte,se acumula tambm,se concentra em relativamente
poucas mos, estas as dos priprietarios de fato, os grandes,os que decidem
dos destinos da corporao; , pois, ainda um lucro de fato privado,
personalizado.
E, arremata:
No , pois, socialista, mas feudalista. Assim, para transformar-se no
ser preciso muito, apenas uma alterao nas relaes jurdicas que a regem,
redefinindo-a na ordem do Estado; dentro dela, h que faz-la passar gesto
coletiva, segundo o princpio de que no pode mais haver separao entre
direo e execuo, dirige quem executa, executa quem dirige, so dirigentes
os que trabalham,so trabalhadores os que dirigem.dentro dela os que
trabalham so todos, em maior ou menor grau,trabalhadores produtivos. Os
trabalhadores no querem mais ser um parafuso mecnico na engrenagem
produtiva. Querem saber o que esto fazendo,ter participao no processo
total, tomar conhecimento de para onde vo,deixar de ser alienados no
processo social do trabalho de que so, peas.
Na Itlia,
Antes de Mussolini,comunistas e socialistas ,em face a este problema,deram
com GRAMSCI a expresso acabada terica revolucionaria desses conselhos
(...) Quando, em 1936, em Frana,com Leon Blum como primeiro-
ministro,os operrios entraram em greve pelo pais inteiro, criando uma
modalidade nova de greve, greve com ocupao em massa da empresa.Ao
ocuparem as fbricas,os operrios no tinham o menor sentimento de atentar
contra a propriedade alheia.Era a sua fabrica que ocupavam. Abusavam?
dizer que abusavam de seu direito j reconhecer que tinam um direito
(RIPPERT).
Prossegue Mario:
A nova ordem revolucionaria socialista viria. Quando a vaga insurrecional na
Europa central e na Itlia refluiu, a empresa capitalista,campo de batalha
decisivo entre classes em conflito a classe trabalhadora e a patronal foi
largada sua sorte: voltou a ser a fabrica do patro. A Frana da Frente
Popular em 1936, onde a vaga revolucionaria das massas operarias chegou
bem depois, em virtude, provavelmente, dos despojos da vitria terem
concorrido para estabilizar a situao econmica do pais por mais tempo, e a
Espanha, em face do assalto internacional fascista com Franco frente das
tropas mouriscas, foram os ltimos palcos polticos onde os sovietes voltaram
a ser objeto de luta. Alis, tambm em Barcelona, lideradas pela Federao
Anarquista, os operrios ocuparam as fbricas. Depois veio a guerra,com a
ocupao de toda a Europa pelo nazismo e fascismo, e a derrota generalizada
de comunistas e socialistas de todos os matizes.O capitalismo em debandada
conseguiu reerguer-se no ocidente e inaugurar no ps-guerra fase de
verdadeira restaurao na Europa,graas em grande parte ao macio auxilio
norte-americano. Deu-se um veradadeiro renascer do capitalismo e nos
Estados Unidos a grande corporao ressurgia como o centro de toda a vida
econmica do pas. Mas o problema da empresa, da corporao, no deixou
por isto de existir.desta vez,porm, o que se v uma fase de evoluo do
lado de c,isto ,do lado patronal-capitalista,quando,em outra etapa,ela mera
vista do lado de l, isto , do lado dos babaros, ao de fora da cidadela. Da
comuna.
Assim, Pedrosa fecha sua ideia com chave de ouro: A Comuna de Paris !
===================================
Che Guevara e a Bruxa Yugoslava
Esse pequeno ensaio tem por hipotese que Guevara em relao a autogesto
,apesar de uma praxis no campo do Principio da Autogesto,teve seu pensamento
desviado da questo central devido a forma de existncia histrica (aps uma viagem a
Europa do Leste ) que encontrou na experincia da Yugoslvia e nas reformas tentadas
nos pases do chamado socialismo real.
O sistema chamado de Calculo Econmico vigente na URSS e no leste
europeu, nada tinha de autogestionario, e, principalmente, a autonomia das empresas no
campo financeiro ( a tal autogesto financeira), tal qual existia na Yugoslvia. Em um
ou outro momento o Che aborda outros aspectos da experincia yugoslava, como, por
exemplo, a gesto das empresas pelos Conselhos Operarios.Mas,no passa de um toque
na questo.
Em seus Apuntes criticos a la Economia Poltica, Guevara vrias vezes
destrincha a dialtica de particular x universal, em relao URSS. Como o faz todo o
tempo em relao as particularidades de Cuba frente URSS. Habitualmente neste
livro se confunde a noo de socialismo com o que ocorre praticamente na URSS,
criticando a propriedade cooperativa koljosiana.
Sobre o Clculo econmico: (...)O calculo econmico constitui um conjunto de
medidas de controle, de direo e de operao de empresas socializadas, em um pas
dado, com caracteristicas peculiares.
Sobre a agricultura sovitica: falso, isto caracterstica da URSS,no do
socialismo. Pena que Guevara no tenha feito o mesmo processo em relao a
autogesto financeira da Yugoslvia!
Neste sentido, como veremos adiante,Mandel e Eder Sader tm plena razo
quando falam que o Che no se reportou longa experincia dos Conselhos Operarios
na historia do socialismo.
E, na biografia que escreveu de Marx e Engels, em seus Apuntes crticos a Economia
Poltica, vrias vezes faz referncias experincia da Comuna de Paris!
J o Sistema de Planificao proposto e executado pelo Che portava elementos
do campo autogestionario,desde a gesto das empresas ate a viso filosofica do trabalho.
Nos anos 1963-64,Guevara a frente do Ministerio da Industria cubano, promoveu um
evento que ficou conhecido como O Grande Debate Econmico.
O marxista belga Ernst Mandel, participe do debate econmico em Cuba,
escreveu a respeito na revista francesa Partisans, em 1967. Em primeiro lugar, situa o
debate:
Entretanto, preciso reconhecer que este debate,mal conhecido no
Ocidente,ocupa um lugar particular na historia do pensamento
marxista,sobretudo em funo das contribuies do camarada Guevara.A
originalidade pratica da Revoluo cubana precedeu amplamente seu aporte
original teoria marxista contempornea.Porm,o Che Guevara expressou
sua contribuio no s no que respeita guerra de guerrilha,seno tambm
no campo da teoria econmica.
Esse fato permite falar de uma linha de massas na direo cubana. Mandel,
todavia, apresenta uma contradio profunda na sociedade cubana: H, no obstante,
uma contradio entre essa linha de massas e a pratica cotidiana do governo
revolucionrio cubano. O campo da gesto da economia e mais claramente, o da
gesto da industria-,estevo totalmente imunizado contra toda interveno direta das
massas.
Assim, o debate econmico surgiu de uma necessidade da pratica,em torno da
gesto das empresas,a relao entre as direes das empresas e as massas
trabalhadoras,e,a questo dos estmulos morais e materiais relacionados a esse debate.
Como diz Mandel,
A industria nacionalizada em Cuba estava,em grande parte,organizada
segundo o sistema de trusts (empresas consolidadas) por ramos da
industria,muito prximo ao que serviu de modelo organizao da industria
sovitica durante todo um perodo.O financiamento destes trusts se fazia por
oramentos;o controle financeiro se efetuava em nvel dos ministrios ( o de
Industrias e o de Finanas).O banco no cumpria seno um papel
intermedirio de importncia secundaria.
Eder Sader em ensaio (junto com Carmen Castillo), intitulado Che Guevara1,
destaca esse ponto: o porque o Che no avanou na linha da Autogesto Socialista!
Procurando evitar as deformaes do modelo sovitico expressivo que o Che
notenha feito uso de toda uma experincia terica e prtica dos
conselhos operrios como fundamento, da transformao das relaes
sociais. O novo Estado baseado na rede desses rgos de democracia direta,
seria a expresso de um processo de reapropriao da vida social pelo
conjunto da populao trabalhadora. E por isso mesmo tenderia a extinguir-
se. Existe a a convico de que o exerccio mesmo no poder pelas massas
age no sentido de acelerar sua tomada de conscincia, a criao de novos
valores e relaes.
E acrescenta Eder Sader: Mas o Che vai apostar sobretudo nas decises centrais
dos revolucionrios que do o exemplo, e sobre as mudanas produzidas pela pratica
dos valores da solidariedade.
Nos parece que Eder Sader ainda no tinha uma viso mais sistemtica da obra
1
Texto escrito para Coleo dos 100 anos do PSF - Les feux de lAmerique Latine. Paris: editora, 1978.
do Che; sem duvidas, pela militncia na POLOP, estarem no exlio francs, e pela longa
e profunda amizade entre os dois,conhecia o livro de M.Lowy. Mas, Lowy ainda no
tinha conhecimento do conjunto da obra de Guevara.
Identificar o Princpio da Autogesto na obra de Guevara no fcil. A razo
principal que em suas obras, mesmo sobre economia, o Che no trat desta questo de
forma explcita. Ela lhe foi oculta por uma nuvem embruxadora que estava presente na
forma de augesto que o Che chegou a conhecer diretamente, a autogesto financeira
da Yugoslvia, que o Che criticava de forma radical.
Entretanto, nas Atas 2das varias reunies que coordenou como Ministro da
Industria, podemos encontrar as ideias do Che sobre a autogesto,de forma
explicita,seja no Programa de cooperao industrial, a proposta dos Cilos (comits
industriais locais) que desenvolveu, seja, na teoria do Presuposto Oramentario que
contrapunha ao Clculo Econmico vigente na URSS e nos pases do Leste europeu,
ou na teoria que punha em prtica no seu Ministrio da relao entre dirigentes e base.
Ou, de forma implcita, na sua viso da qualificao dos trabalhadores, na viso
filosfica do trabalho e no papel do trabalho voluntrio e os valores morais numa
sociedade socialista, e do valor e os estmulos materiais, a ideia da construo do
scoialismo, o papel do partido e o futuro do Estado.
A publicao posterior 3do chamado Caderno de Praga traz de forma mais
sistemtica a viso do Che sobre o Planejamento democrtico. Por exemplo, a obra de
seu auxiliar Orlando Borrego (Che El caminho del fuego-2001), encontramos, em
uma reunio do seu Ministerio, em 1962, a seguinte fala de Guevara:
Qual esse passo futuro ? A construo do socialismo.Ao socialismo e dos
socialismo ao comunismo.Em quanto tempo realiza-lo? No vamos por
anos.Agora, claro que no podemos planificar nem por quatro anos.No
vamos falar em que anos vamos entrar no comunismo,porm,h uma coisa,
temos que ir preparando as condies para que se v construindo a
autogesto dos organismos,no a autogesto financeira [...].
2
Estas atas, tempos depois, foram publicadas e/ou inseridas em obras de seus auxiliares da poca, ou em
obras como as de P.Vuskovic,ou de C.Tablada.
3
Apuntos crticos a La Economia Poltica.
4
Este texto, carregado de heterodoxia, marca de Che, mereceria uma publicao a parte,como a carta que
resultou em O socialismo e o Homem em Cuba.
um tecnico da thecoslovaquia,ento em Cuba:
recebo uma revista que no se distribui aqui,uma revista de uns tericos
norteamericanos, o melhor deles penso que era marxista, PAUL
BARAN, j morreu, porm SWEEZY, que esteve aqui convidado pelo
governo,escreveu um livro que vocs conhecem,uma analise de um posio
chinesa, de que, Yugoslvia era um pas capitalista. Ento, Sweezy faz uma
anlise das colocaes dos chineses e as destri, uma a uma, vai destruindo-
as dizendo que h colocaes subjetivas, colocaes dogmticas e formais,
mas depois de destruir os argumrntos chineses, no obstante,diz que:
Yugoslavia sim, vai para o capitalismo. E vai pro capitalismo por que? a
primeira vez que o vejo,o vejo nomeando assim, expressamente,pelo
reconhecimento e a plena vigncia da lei do valor.Ento,explica como o
sistema yugoslavo ao implantar a lei do valor comea a criar,isto , a recriar
objetivamente,o capitalismo,precisamente uma coisa muito interessante,
porque considera que o sistema yugoslavo est dado aparentemente pela
autogestao operaria, sem dvidas, a autogesto operaria no tem nada de
revisionista, e uma colocao leninista, Lenin a colocava.
Cita a Lenin no perodo anterior revoluo, que muitas vezes onde fala do
controle operrio. Guevara fala de sua visita a fbricas yugoslavas: na Yugoslvia
ia comprar umas sementes e tratores ,ento me achei com uma coisa nica,a
concorrencia entre fbricas,inclusive nos baixavam os preos para uma ou outra ganhar
o pedido,isto ,uma cosia tipicamente capitalista. Contudo, diz que onde de verdade
h alguns aspectos da questo yugoslava muito interessantes , enquanto participao
que tm os operrios e que pelo menos lhes pretendem dar,eu no sei se a tm ou
no,porm lhes pretendem dar na direo da fabrica.
Na mesma reunio Che responde a outra questo de um colaborador que falou
da relao entre a direo das empresas e os trabalhadores na autogesto das
experincias de construo do socialismo na URSS e no leste europeu:
Ento,essa ligao que tu falas,da Autogesto entre a massa , mentira.Na Autogesto
o que h uma valorizao do homem pelo que rende, que isso o capitalismo o faz
perfeitissimamente,mas tampouco h alguma ligao entre a massa e o
dirigente,nenhuma.
E,mais adiante pe seu principal exemplo,a Yugoslavia :
na Yugoslvia h a lei do valor;na Yugoslvia se fecham fbricas por serem
inviaveis,na Yugoslvia h delegados da Suia e Holanda que buscam mo
de obra ociosa e a levam para seu pais para trabalhar em quais condies,nas
condies de um pais imperialista com a ma de obra estrangeira,onde h
uma serie de regras e regulaes para que seja a ultima coisa.Assim,vo estes
companheiros yugoslavos a trabalhar como agricultores ou como operrios
nestes pases onde escasseia a mo de obra e expostos ,com certeza,a ficar em
qualquer momento na rua.Praticamente so,nesse sentido,portoriquenhos nos
Estados Unidos.
Tablada mostra o porque da escolha do Che para esse cargo: Che, desde a
epopia da Sierra Maestra,tinha mostrado seu esprito construtor.Para resolver os
problemas de abastecimento do Exercito Rebelde criou varias oficinas como,a de armas,
alfaiataria,padaria,calado, de racionamento carne,tabacos e cigarros, etc.. E,que Com
o triunfo, foi nomeado Chefe da Fortaleza de La Cabana,em Havana onde o novo
poder se instalou),manifestou a mesma inclinao.
Borrego ressalta a experincia em organizao que o Che trazia acumulada:
Quando responsabilizado pelo Governo Revolucionario para a direo do
desenvolvimento industrial do pais,em 7 outubro de 1959,j tinha somado
expedio do Granma sua herica luta na Sierra Maestra,a invasoda Las
Villas com o final vitorioso da tomada da cidade de Santa Clara,e sua
experincia como Chefe do regimento de La Cabana em Havana.Contava em
seu acervo com uma acentuada vocao pelo desenvolvimento industrial que
tinha experimentado em pequena escala,primeiro nas montanhas e depois em
5
No campo da produo,tal se passou j na Comuna de Paris.
6
Esse setor era dirigido pelo Che.Em outubro de 1959,meses aps a tomada do poder ocorrida em
janeiro de 1959 , Guevara foi nomeado como Chefe do Departamento de Industrias do INRA*.
La Cabana,onde,com o objetivo de forjar uma nova mentalidade de suas
tropas,comeou a desenvolver pequenas industrias para no depender
totalmente do oramento estatal.
Essa visita Yugoslvia parece ser fundamental para a viso que Guevara
construiu sobre a Autogesto Financeira (vamos ver que,em outra ocasio,Che fazia a
distino entre a Autogesto Social e essa financeira).
Poderia se dizer que,em traos gerais,caricaturando bastante,que a
caracterstica da sociedade yugoslava a de um capitalismo empresarial com
uma distribuio socialista dos ganhos,isto ,cada empresa tomando,no
como um grupo de operarios mas como uma unidade,essa empresa
funcionaria aproximadamente dentro de um sistema capitalista,obedecendo as
leis da oferta e da procura e estabelecendo uma luta violenta pelos preos e
pela qualidade com seus similares,realziando o que em economia se chama a
livre concorrencia.
Essa a viso de Guevara sobre a Yugoslavia. Mas,o prprio Che diz que
complicado definir deste modo: dar um diagnostico definitivo, em minha opinio sobre
esse tipo social, muito arriscado no meu caso.
C.Tablada conclui essa parte:
Para ns estas notas resultam muito importantes porque em data to ceda
como em agosto de 1959, em seu primeiro contato com uma economia regida
pela chamada autogesto financeira, sem conhecimento direto de outros
pases socialistas,nem da literatura econmica especializada;sem ter um posto
no Governo que o obrigar a ocupar-se destes problemas,como teve
depois,Che manifesta sua preocupao pelo sistema conhecido porque [...]
introduzia fatores de desvirtuamento do que presumivelmente seja o esprito
socialista.
Qual a tese central que estrutura todo o texto e nos d a chave para entender o
Che,pergunta Kohan. Cremos que est resumida no seguinte fragmento de Guevara
citado por Tablada exposto em uma das reunies bimestrais do Ministerio de
Industrias: O Sistema Oramentario de Financiamento parte de uma concepo
geral do desenvolvimento da construo do socialismo e deve ser estudado ento em seu
conjunto.
N.Kohan aponta dois temas em torno dos quais gira a viso de conjunto: o primeiro:
possvel e legitima a existencia de uma economia politica da transio ? O segundo: que
politica econmica se necessita para a transio socialista ?
Kohan retoma algumas ideias do livro de C.Tablada:
[...] vale para a explicao que o autor realiza sobre a gnese histrica da
formao do SPF.Este no surgiu da cabea do Che como arte de magia ou
simples capricho.Carlos tablada relata,por exemplo,a negativa impresso que
j em 1959 ! , na oportunidade de um viagem a Yugoslavia,lhe causou a
Che o sistema de autogesto financeira das empresas.Ainda,neste
momento,no conhecia a Unio Sovietica [...].
Prossegue Kohan,
Aparentemente,a desconfiana surgiria do fato de que Guevara se nega a
abordar as relaes sociais prescindindo da subjetividade,da esfera da
conscincia,da formao de valores e da construo hegemnica da ideologia
e da cultura. Por fim, tentando responder a questo Qual a utilidade do
pensamento do Che?, Kohan aponta: o pensamento do Che nos permite
defender as razes de uma planificao democrtica (no exercida
unicamente por tecnocratas especialistas, isolados da massa, mas atravs
de uma crescente participao popular), a partir da qual a politica
revolucionaria possa incidir no natural decurso econmico atravs da
cultura, da batalha das ideias e da luta para recriar cotidianamente a
hegemonia socialista em toda a ordem social.
Esse ultimo ponto fundamental para compreenso das ideias do Che. Fala-se
muito no trabalho voluntario utilizado pelo Che ,que participava desse tipo de trabalho
como exemplo do exerccio da moral comunista. Contudo, por trs e como base
dessa atividade,o Che tinha uma concepo filosfica do papel do trabalho na
construo do socialismo.
Em uma entrevista na Argelia (Julho de 1963 ),Guevara definia como pensava o
socialismo cubano: O socialismo econmico sem a moral comunista no me
interessa.Lutamos contra a misria porm tambm lutamos ao mesmo tempo contra a
alienao.
Em outra entrevista, no Cairo (abril de 1965),Guevara afirmava: De acordo
com o ensino tradicional do socialismo, a resposta a pergunta por que trabalha uma
pessoa : porque se no trabalha no come; porm nossa resposta : porque o trabalhop
a obrigao do ser humano.
importante lembrar que aps esta viagem Argelia, o Che escreveu a Carta
que se transformou no libro O Socialismo e o Homem em Cuba. Guevara, numa
Reunio bimestral do MI* (dezembro de 1963) lembra de um debate com jovens na
Escola de Economia cubana quando,ento,fala de suas leituras que fundamentam sua
viso de mundo:
Ento, ns lamos para os jovens um pargrafo de MARX, porm do que se
chama o Jovem Marx, porque Marx em 1848 quando jovem 30 anos tinha
em 48-, um pouco antes em 1844, tinha escrito as primeiras coisas
econmicas com uma grande ascendncia da filosofia de Hegel, e a
linguagem de Marx era completamente diferente,como linguagem,da
linguagem de O Capital; que o que ns vemos, ou da linguagem das
ultimas obras,sobretudo O Capital que a mais influente.(...)Quando Marx
escrevia como jovem, como filosofo combativo,representante dos ideiais
liberais da poca,escrevia com outra linguagem,que queria dizer o
mesmo,mas que ia para outras pessoas.
Ento nessa linguagem fala mais do comunismo como um fenmeno
consciente,e como a necessidade de que fosse consciente para que pudera
produzir,e como o episodio final da eliminao do que chama a alieno do
homem, isto , a entrega do homem vendido na forma de fora de trabalho,
vendido aos exploradores. Esse pargrafo a explicao da outra parte. Em
nossa posio, o comunismo um fenmeno de cosnciencia e no apenas um
fenmeno de produo.
So, sem dvidas, palavras que deixariam estasiado o velho G.Lukacs com sua
Ontologia do Ser Social. Em breve parnteses, importante notar que Guevara,ao
procurar se aprofundar na dialtica,foi estudar Hegel e Lenin.N.Kohan cita:
Se lermos detidamente a carta que ele enviou a Armand Hart,Guevara diz:
estou tratando de por-me em tom com a linguagem filosfica. Ento
escreve: ...a segunda,e no menos importante,foi meu desconhecimento da
linguagem filosofica,e agrega,tenho lutado duramente com o mestre
Hegel,e no primeiro round me derrubou duas vezes. [...]
Guevara, segue Kohan,no meio de sua sada do Congo e antes de ir para
Bolvia,se pe a ler nada menos que Hegel ! (Para Bolivia,pe em sua
mochila um texto,que leu completo e anota com cuidado: El jovem
Hegel.Los problemas de La sociedade capitalista,do marxista hngaro
Gyorgy Lukcs).
O contexto (ps)neoliberal
No centenrio do marxista peruano, um novo bloco dominante se constitua no
Brasil, articulando uma grande aliana conservadora que unificou o conjunto das classes
dominantes e elegeu FHC Presidncia do pais.
Oito anos aps este fato, uma outra frente poltica,desta vez de centro-
esquerda,elegeu nas eleies de 2002 ,Lula,um ex-operario metalrgico,ex-presidente
da CUT e do PT, Presidncia do pais.Assim, cria-se a perspectiva de superao de
uma onda longa conservadora ,do neoliberalismo. Dizia-se que a esperana venceu o
medo.Na verdade, as expectativas da sociedade,sobretudo,dos setores mais pobres,
imensa.O novo presidente,quando da posse em Braslia, simbolicamente rendeu
homenagem varias geraes da esquerda brasileira: citou na manifestao da avenida
Paulista, a Mario Pedrosa; visitou Celso Furtado ,Maria da Conceio Tavares,Apolnio
de Carvalho;a viva de Sergio Buarque de Holanda.
Nos primeiros meses lanou o combate fome. Durante o III Frum Social
Mundial,realizado em Porto Alegre,em janeiro de 2003,ms da posse de Lula,em
Seminrios e Conferencias, intelectuais de vrios paises discutiram as novas
perspectivas e possibilidades abertas historia pela eleio de Lula.
Emir Sader, analisa o momento atual da Amrica Latina a partir do fato de que
2003 promete ser o ano mais importante para o continente desde 1973...A partir de
2003 enfrentamos uma aberta crise de hegemonia na Amrica latina, com o
esgotamento dos blocos no poder, sem que se tenham formado ainda novas foras em
condies de preencher esse vazio.
Se o continente aponta para um horizonte pos-neoliberal, 2003 ter sido um ano
histrico, como foi 1973, porm desta vez, para um patamar de avano das lutas
histricas. Assim, abre-se
Um perodo novo em que os espaos de alternativa esto abertos,
representando para o movimento popular e o movimento de massas
possibilidades novas de interveno, com governos que podem ser expresso
e interlocutores de suas reivindicaes e que, por sua vez, tero seu
significado condicionado pela prpria ao das foras sociais, poltiticas e
culturais que a esquerda latino-americana acumulou nas decadas de
resistncia ao neoliberalismo.
Aps Mariategui, Florestan nos fala sobre Caio Prado Jnior, que "como
Mariategui, portanto, plantou o marxismo na Amrica Latina e esperava deste seu
partido (o PCB) uma orientao revolucionaria especifica e coerente".
Em trs ocasies, Florestan escreveu sobre Mariategui: no Prefacio (escrito em
outubro 1974) aos "7 Ensaios"; no texto para o Anurio (1994) dos 100 anos de
Mariategui, 20 anos aps aquele Prefacio; e em "A Contestao Necessria" (1995), que
de um lado, traz um Prefcio escrito em 1995 e, de outro, retoma o texto escrito para o
Anurio de 1994.
No prefacio aos "7 Ensaios", Florestan Lamentava que "somente agora, depois
de quase meio sculo aps sua publicao original em livro, ela se torne acessvel ao
publico e aos estudioso brasileiros". Para Fernandes, Mariategui teve 2 objetivos nestes
Ensaios: contribuir para a critica socialista dos problemas e da historia do Peru; e
concorrer para a criao de uma verso peruana do socialismo. "Mariategui o nosso "
irmo mais velho", numa CADEIA DE LONGA DURAO, a qual mostrou sua
primeira florada na dcada de 20, atingiu um clmax histrico com a revoluo
cubana[...]".
" O que ficou desse intento revolucionario (...) ? Ficou a proposio de uma tica
revolucionaria, que no um ersatz intelectual, mas uma resultante coerente da
aplicao do materialismo histrico interpretao da realidade peruana (e, por
desdobramento e ampliao, da realidade latino-americana). fcil, hoje, dizer-se que se
poderia Ter ido mais longe nisto ou naquilo e condenar a interferncia de fontes no-
marxistas ou para-marxistas sem eu pensamento.
Tomando-se o "aqui" e o "agora" ,porm : quem foi mais longe ? e quando ? Essas
perguntas no so retoricas.Mariategui no se afirma apenas como pioneiro.Ele
promove as primeiras analises concretas, de uma perspectiva marxista, de vrios temas
cruciais:
a formao do capitalismo na Espanha;
a irradiao do capitalismo da Europa para a Amrica Latina;
as transformaes da dominao imperialista sob o impacto do aparecimento e
fortalecimento da grande corporao ou da presena norte-americana;
e, sobretudo, as relaes entre a base econmica e as estruturas sociais e de poder da
sociedade peruana, nas varias fase do perodo colonial e do perodo nacional.
Naquele momento, outubro de 1974, marcado pelo inicio da " abertura
politica",inicio do fim da ditadura militar no Brasil, Florestan dizia que :
Por fim, coloca-nos diante de um exemplo que , em si mesmo, um desafio.
Mariategui pagou um alto preo sua independncia, honestidade e firmeza
revolucionaria. Ele o tipo de autor que devemos ler e reler com
ateno,numa poca que exige de ns que botemos todo o nosso sangue na
defesa de nossas ideias- e na qual a alternativa para a luta sem trguas por
uma sociedade de homens livres para homens livres a servido.
A "condio de peruano"
Florestan avana na definio do carter do " especifico nacional" em
Mariategui.
natural que o Peru ocupe uma posio privilegiada no pensamento de
Maritegui. Ele procede, no obstante, rente tradio marxista - Peru no se
desloca das varias Amricas e da insero passiva-ativa de todos os
envolvidos nos mundos histricos dos "conquistadores", antigos e modernos
sua condio de peruano bsica.Ele tinha atrs de si e sob seu olhar uma
grande civilizao, o destino dos seus portadores e os seus escombros. Isso o
impelia ao estudo do passado e do presente que nenhum outro marxista de
envergadura poderia realizar. E o obrigava no s a busca de analogias e de
diferenas que procediam ou da situao homologa das "naes emergentes"
das Amricas de matriz ibrica, ou do carter varivel da colonizao e da
independncia como processos de longa durao.
Florestan define esse resumo como "suprfluo e desnecessrio", mas que o fez
para salientar a experincia europia de Mariategui: "Os 7 Ensaio de interpretao da
realidade peruana permitem sondar por que ele mergulhou sem retorno nessas vias
e,depois, ultrapassando-as, props-se enriquecer o marxismo fora e acima dos eixos
eurocentricos".
Enfim, para Florestan,
A atrao de Mariategui pelo marxismo,malgrado outras influencias
divergentes e em dados momentos muito fortes, brota da descoberta de uma
resposta sua ansiedade de observar, representar e explicar processos
historicos de longa durao e de uma proposta revolucionaria
concomitante, que vincula dialeticamente passado, presente e futuro.
Marxismo e Eurocentrismo
Estudando o marxismo latino-americano, Portantiero afirma:
A no ser ocasionalmente, em momentos muito pontuais ou parciais da
produo terica e da pratica poltica, os socialismos clssicos ligados a[...]
tradio das Internacionais foram capazes de elaborar um projeto
hegemnico ou de avanar problemticas que pudessem colaborar nesta
direo[...]. Na obra de Mariategui aparece pela primeira vez um projeto
amplo de constituio de uma vontade coletiva nacional-popular[...] As
proposies de Mariategui ficaram no meio do caminho, por sua morte
prematura e pelo bloqueio que a elas fez a III Internacional.
Onde o socialismo foi vitorioso na Amrica Latina, o foi sob formas originais.
Em Cuba e Nicargua, a luta socialista processa-se dentro de uma matriz de cultura
poltica policlassista, nacionalista e anti-imperialista. Neste processo, o marxismo no
se "esconde", simplesmente se nacionaliza. Trata-se do problema sobre o estilo de como
pensar o marxismo na Amrica Latina. Nas palavras do poeta revolucionrio Ricardo
M.Aviles: "Temos que estudar nossa historia e nossa realidade como marxistas e estudar
o marxismo como nicaraguenses". Nas pistas de Mariategui, no seu sentido de "um
socialismo indo-americano", a revoluo sandinista ps o marxismo sobre os ps.
Para, Jos Arico, um estudioso de Mariategui,
uma genuna e criadora interpretao da doutrina de Marx ocorreu no Peru,
com Mariategui, que sentou as bases para um efetivo processo de
nacionalizao do marxismo. Este processo assumiu caractersticas
contraditrias [...] no como forma acabada de uma teoria sistemtica. Surge
em forma inorgnica de intuies. O que Mariategui produziu foi a
iluminao de um caminho, ao incorporar a experincia europia como lio.
Para Jos Arico, a "via crucis" do marxismo na Amrica Latina, foi sempre a
dificuldade para tratar o "nacional", o que pe questes de ordem estratgica, pois, o
objeto da pesquisa e da analise, "o movimento real", est sempre "nacionalmente"
situado.
Como dizia Mrio de Andrade,
A arte musical brasileira[...] tem inevitavelmente de auscultar as palpitaes
rtmicas e ouvir os suspiros meldicos do povo, para ser nacional e por
conseqncia, ter direito a vida independente no universo (porque o direito de
vida universal s' se adquire partindo do particular para o geral, da raa para
a humanidade, conservando aquelas suas caractersticas prprias, so o
contingente que enriquece a conscincia humana. O querer ser universal
desraadamente uma utopia. A razo est com aquele que pretender
contribuir para o universal com os meios que lhe so prprios e que vieram
tradicionalmente da evoluo do seu povo.
Um pensamento Gramsciateguiano
Enfim, o que doce e o que acre em Mariategui? O que est vivo e o que est
morto no "Amauta"? No conjunto das questes atuais do marxismo, em que incide mais
o pensamento de Mariategui? Por certo, no h em Mariategui uma teoria do Estado, e,
pouco material sobre o problema da revoluo, o partido, alianas, tticas, etc. Mas,
com certeza, onde sua contribuio mais importante no que diz respeito a analise dos
modos de produo, o campo da teoria das superestruturas: a questo da conscincia
social, os modos de "representao", o problema das ideologias, a teoria da cultura,
contra os mecanicismos, a questo da tica, etc.
Portanto, o marxismo de Mariategui no provinciano, mas antecipatorio, nas
pistas de Gramsci. Talvez, o que poderamos chamar de um "materialismo cultural" ou
na feliz expresso de Z.Bauman, "a cultura como praxis".
Julio Gdio nos chama a ateno para o fato de que
j nos anos 60, sob a influencia direta da revoluo cubana se introduziu a
categoria de Revoluo Continental, Rodney Arismendi e outros
destacados polticos se preocuparam em impedir as simplificaes[...]. A
desigualdade de desenvolvimento econmico,social e poltico, se expressa
em nossos paises atravs de indicadores acerca de situaes de crises ou
estabilidade polticas; de distintas historias culturais; coexistncia de
diferentes lnguas; caractersticas de classe diferentes[...].
A Vida *
A Agonia de Mariategui
Jos Carlos Mariategui nasceu em Moquegua , no Sul do Peru, em 14 de Junho
de 1894. O pas andino tinha sado ha pouco tempo do desastre da guerra do Pacifico
(1879-1883), tendo sido humilhado pela coupao militar do Chile e perdido parte de
seu territrio. Nesses anos, Manuel Gonzalez Prada acirrava o debate poltico chamando
a ateno do pais para a presena dos ndios,como elemento fundamental da
nacionalidade.
Mariategui filho de Francisco Javier Mariategui, descendente de uma das
famlias mais ilustres do Peru, e de Amlia La Chiora, que pertencia a uma famlia de
origens indgenas. Logo cedo o pai abandona a famlia, e Marietegui, primeiro de trs
filhos, cresce sob a influncia da me, caracterizada por uma forte religiosidade que
deixar marcas no jovem. Desde a infancia, devido a um acidente de jogo, Mariategui
sofre de um problema na perna, que o obriga a um longo internamento em Hospital.
Neste perodo, de imobilidade forada, se dedica a vastas leituras, que formaram a base
se sua primeira formao. Mariategui um autodidata e ter orgulho desta condio.
Nestes primeiros anos,outro elemento importante ser a experincia precoce do
trabalho.Aps a mudana de sua famlia para Lima,comea a trabalhar,com 15 anos, na
Tipografia do dirio La Prensa.Aps o exercicio de varias funes no jornal, passa da
crnica policial a cronica poltica do Parlamento.Isto o leva a uma profunda averso a
politica crioula,dominada pela mediocridade.
Nesta mesma poca, com o pseudnimo de Juan Croniquer, dedica-se a
crnica da vida mundana da capital.Colabora em Lulu,dirigida a um publico
feminino. coeditor de El Turf,revista de hipismo,onde publica crnicas de costumes
das corridas dominicais,e contos inspirados no ambiente dos cavalos.Estas atividades,
do ponto de vista estilstico,lhe permite afinar sua prosa; do ponto de vista das relaes
sociais, lhe d ocasio de conhecer profundamente o ambiente oligrquico e snobe de
Lima.
Alm deste mundo frvolo de cavalos, cafs e teatros, existe um outro Peru
subterrneo que no aparece nas crnicas.Aps trabalhar em El Tiempo, 1916 ,
Mariategui comea a escrever peas em que o ndio aparece como sujeito.No
Departamento de Puno, na fronteira entre Peru e Bolvia, ocorre uma revolta camponesa
de carter tnico.Entusiasmado,Mariategui aborda as gestas de Teodomiro Gutirrez
Cuevas, militar do exercito que liderou a revolta e que assume o nome quchua de Rumi
Maki ( Mo de Pedra ).No plano mundial Mariategui aprecia de forma favorvel
Revoluo na Rssia,em 1917.
Nesta fase de sua vida, prevalece o interesse pela atividade artstica e pela vida
boemia. Participa da revista Colonida, dirigida pelo dannunziano Abraham
Valdelomar.Escreve poemas. Realiza um retiro em um Convento, onde escreve versos
msticos.Neste clima contraditrio, em 1917, com amigos organiza uma dana noturna
no cemitrio de Lima, que tem como protagonista uma bailarina chamada Norka
Rouskaya,e que provoca grande escndalo nos setores tradicionais da capital.Mariategui
obrigado a se defender publicamente,alegando motivos estticos.
Em 1918, junto com Csar falcon e Felix del Valle, cria uma editora de
orientao socialista. Publica a revista Nuestra poca,que assinala a sada de
Mariategui a campo aberto,inclusive sendo agredido por um grupo de militares,devido a
um artigo sobre gastos militares. Participa de uma comisso de propaganda e
organizao socialista,da qual se afastar quando caminha para formao do Partido
socialista, cuja fundao considera prematura. Nestes anos, surgem grande movimentos
de massa.Os trabalhadores,sob hegemonia anarquista,lutam pela jornada de trabalho de
8 horas e contra a alta do custo de vida. Nas Universidades, sob impulso da experincia
iniciada em Crdoba(Argentina), desenvolve-se um movimento pelo reforma
universitria. No inicio de 1919, Mariategui,ento,abandona o jornal El Tiempo,e
funda um dirio que possa acompanhar estes acontecimentos: La Razn,que se torna
um ponto de referencia para estas lutas. Assim, Mariategui torna-se uma figura publica;
surge o lder poltico e desaparece o artista refinado e decadente.
O Exlio na Europa
As classes dominantes perseguem este novo Mariategui: o Governo e a Igreja
fecham seu dirio. Neste ano, assume o poder o populista Augusto B. Legia , no
incio com um confuso programa populista que despertou atenes. Todavia, sua
Presidncia, chamada de Oncenio, uma verdadeira ditadura. Mariategui e seu amigo
Csar Falcon so obrigados a deixar o pais.Em fins de 1919, ambos partem para Europa.
Inicialmente, passam por New York,onde entram em contato com a luta operaria dos
porturios; em seguida, chegam a Frana, onde encontram intelectuais e
polticos,como,Henri Barbusse.
Ao passo que Falcon vai para espanha, Mariategui parte para Itlia,onde
permanecer trs anos, que sero fundamentais em sua formao poltica e intelectual.
A Itlia vivia os anos excepcionais de turbulncia da primeira ps-guerra: uma
crise do movimento operrio dividido entre a ala reformista e a maximalista.Mariategui
acompanha o surgimento da ala comunista no PSI e participa,como jornalista,do
Congresso de Livorno ,em janeiro de 1921;portanto, assiste a fundao do PCI,com a
presena de Gramsci.Segue de perto a evoluo dos catlicos e do Partido Popular de
Luigi Sturzo, e seus laos com os trabalhadores rurais.Analisa a emergncia do
fenmeno fascista.
No terreno cultural, acompanha as ideias de Benedeto Croce,a experincia do
Ordine Nuovo de Gramsci, s revistas de Piero Gobeti,e,as ruidosas proclamaes do
futurismo de Marinetti Da Itlia ,Mariategui estabelece vasta correspondncia com
peruanos,que envia ao dirio El Tiempo de Lima. Em 1969, esta correspondncia ser
publicada com o titulo de Cartas de Itlia.
Da Itlia, Mariategui pensa na fundao de um PCP,junto com Csar Falcon,entre
outros.Assim, em 1922,realizam um encontro na cidade de Ligur,em que se redige um
documento constitutivo de uma clula comunista,com o objetivo de futuramente
constituir um partido.Voltando ao Peru,Mariategui ver que este plano muito abstrato
e ideolgico, sua concretizao seria uma aplicao de receitas abstratas a realidade
peruana.
Na segunda metade de 1922 at o comeo de 1922,Mariategui realiza uma
viajem a diversos paises da Europa.Sobretudo, sua estadia na Alemanha,onde estuda o
alemo e tem acesso aos clssicos do marxismo em lngua original. Neste itinerrio,j
est acompanhado de sua esposa Anna Chiappe,com quem se casou em 1921,e da qual
j tinha um filho,Sandro,nascido em Roma.
A Volta ao Peru
Em maro de 1923,a famlia desembarca em Lima,aps de mais de trs anos de
ausncia.
Sua volta vida poltica e cultural peruana ocorre atravs das aulas que
ministrou na Universidade Popular Manuel Gonzalez Prada, criada pelo lder estudantil
e futuro fundador do APRA,Victor Raul de la Torre,para criar um dialogo entre
estudantes e operrios.Mariategui proferiu aulas sobre a historia da crise mundial,a
partir de sua vivenvia europia.So 17 aulas,entre junho de 1923 e janeiro de
1924.Tinha como objetivo fornecer uma viso internacional aos trabalhadores peruanos.
O eixo central do discurso mariateguiano a conjuntura nova criada pela guerra
mundial, que est caracterizada por uma grande mutao. Mariategui conclui que, o
aparato conceitual das vanguardas dos trabalhadores resultou tinha caducado.Povos
europeus e no-europeus redescobrem suas identidades e reivindicam sua presena
autnoma na nova ordem mundial.
Ao lado da historia poltica, Mariategui dedica amplo espao aos movimentos
sociais e ideolgicos do ps-guerra. E,deste quadro, surge sua simpatia pela corrente
revolucionaria,distanciando-se das correntes da social-democracia Pois, para isto,sua
vida na Itlia lhe permitiu conhecer o marxismo ,assimilado em sua verso italiana,com
um forte acento antipositivista, to comum a Segunda Internacional. Lnin uma forte
atrao,sendo que Mariategui poe ao seu lado a figura de Georges Sorel,que apresenta
como um inovador do marxismo,precisamente pela sua ruptura com o imobilismo
positivista.J nesta fase, encontramos elementos irracionalistas e voluntaristas no
pensamento do peruano.
Estas aulas, s sero publicadas em 1959,com o titulo de Historia de la Crisis
Mundial. Nesta poca, Mariategui comea a colaborar nas principais revistas semanais
de Lima: Variedades e Mundial. Seus ensaios analisam a situao internacional e,
faz recenses dos textos mais importantes da literatura contempornea. Tambm,assume
a direo da revista Claridad. Toda esta atividade o torna um ponto de referencia da
cena poltica e cultural do pais.Mas,em 1924, volta a ter problemas com a perna doente,
tendo que amputa-la.At o fim de sua vida, ficar em cadeira de rodas, sem poder viajar.
Mariategui, ento, recebe em sua casa inmeras visitas e revistas de vrios
paises. No quer ficar alheio ao mundo; recebe lideres das provncias peruanas e,
estabelece uma ampla correspondncia no Peru e com vrios outros paises.Um grupo de
estudantes tenta lhe conseguir uma ctedra universitria, recusada pelas autoridades
acadmicas devido ao seu carater extra e anti-universitario.
Mariategui publica seu primeiro livro: La escena contempornea,em 1925
,pela editora Minerva,fundada por ele prprio. Nesta obra,retoma os temas de suas
aulas.
Mariategui planeja criar uma revista prpria. Chama-a inicialmente de
Vanguardia; posteriormente, aps contatos com os indigenistas, chama-a de
AMAUTA7. A mudana de titulo reflete a reflexo sobre a realidade nacional
andina,que estava desenvolvendo aps seu retorno ao Peru. Aps seu retorno, se deu
conta do papel fundamental da questo indgena no problema nacional. Na verdade,foi
na Europa que passou a conhcer profundamente a Amrica Latina. O problemas das
nacionalidades , vivido na Europa, leva Mariategui a ler o marxismo em uma chave
peruana, seu aporte mais original ao pensamento poltico latinoamericano.Seus ltimos
anos de elaborao estaro dedicados a questo indgena.
A partir de 1924, nas paginas da revista Mundial escrever uma seco
chamada Peruanicemos al Peru. Estes ensaios sero publicados em 1970.
No numero inaugural de Amauta, aparece a traduo de um texto de Freud e,
nos nmeros seguintes,vrios ensaios e textos sobre a literatura de vanguarda de cada
pais.Assim,Amauta frente ao publico peruano e latinoamericano,desperta horizontes
muito amplos, tornando-se ,portanto, um fato originalssimo da cultura latinoamericana.
A revista foi fechada ,mas reapareceu em dezembro de 1927. Amauta traz um encarte
chamado de Boletin de Defensa Indigena,dedicado a luta contra o latifndio.
7
Os amautas, no perodo incaico,eram os sbios.
Os 7 Ensayos
Mariategui conclue sua reflexo sobre os problemas nacionais e a questo
indigena,em 1928, quando publica sua obra mais conhecida: Siete Ensayos de
Interpretacion de la realidad peruana. Este segundo livro, ultimo dos que viu ser
publicado em vida, com o tempo se tornou um dos textos mais universais da cultura do
continente, no sculo XX.Est traduzido nas principais lnguas do mundo,inclusive em
japons e chins. Para A.Melis, uma obra aberta,que aguarda de seus leitores e
interpretes aquele desenvolvimento que Mariategui no pode realizar devido a sua
morte precoce.
Ainda em 1928, Mariategui rompe com o APRA (Alianza popular
revolucionaria americana) de Haya de la Torre. Enquanto o APRA se definia como uma
frente unitria progressista e anti-imperialista, Mariategui deu seu apoio;mas,quando se
transformou em um partido poltico (o Pap -partido aprista peruano),apresentando a
candidatura de Haya presidncia do Peru, Mariategui rompeu as relaes.
Mariategui tinha formado muitos quadros polticos em sua volta e precisa
salvaguarda-los.Assim,em outubro de 1928, aps um perodo de preparao,funda o
Partido Socialista Peruano,uma formao original que no assume o nome de
comunista,mas que adere a Terceira Internacional.Buscava criar um socialismo ligado
especificidade do contexto andino, uma linha muito difcil de se realizar no contexto da
poca.
A partir de novembro de 1928, Amauta enriquecida pelo jornal Labor;
quinzenrio dedicado aos problemas sindicais,com um horizonte semelhante ao de
Amauta: ao lado de lutas, h temas culturais. Labor foi atacado pela censura,e
fechado em setembro de 1929.Nesta poca, surge a ideia de fundao da Confederao
de Trabalhadores do Peru CGTP.
O PSP tem pela frente a represso , a hostilidade do APRA e o conflito com a
ortodoxia da COMINTERN. Duas reunies latino americanas ,realizadas em
1929,oferecem a ocasio para os ataques. Em maio, em Montevideo,se desenvolve o
Congresso Constituinte da Confederao Sindical Latinoamericana,no qual a delegao
peruana apresenta um documento em que Mariategui reconstri a historia do
movimento operrio de inspirao classista no Peru.Em Junho, Buenos Aires aloja a I
Conferencia Comunista Latinoamericana. Para esta ocasio,Mariategui escreveu o texto
Problema das raas em Amrica latina,em que denuncia o uso do problema racial para
ocultar a questo de fundo do continente: a liquidao do feudalismo.Mariategui afirma
que o comunismo agrrio primitivo pode constituir a base para a instaurao de uma
sociedade comunista.
Outro texto, Ponto de vista antiimperialista, fala da negao das burguesias
latinoamericanas ,da vontade de lutar pela segunda independncia: a econmica.
Polemizando com as posies apristas,afirma que o anti-imperialismo por si s,no
pode constituir um programa poltico,porque no anula o antagonismo entre as classes.
Estas ideias sero fortemente refutadas pelos setores mais dogmticos,liderados
por Victorio Codovilla,lder do PC argentino.Mariategui no estava presente,pois no
podia viajar. Seu chamado a uma realidade peruana tido como uma heresia.Seus
Siete Ensayos eram desconhecidos pela ortodoxia.
Em 1929, a ditadura de Legia fecha um cerco em torno a Mariategui. Em
setembro,a policia faz uma batida em sua casa;o pretexto um complot
comunista.Mariategui pensa,ento,em deixar o Peru para continuar sua luta em Buenos
Aires,deslocando para esta cidade a redao de Amauta.Tambm,esperava poder usar
uma perna ortopdica,que lhe permitiria deslocar-se.
Enquanto prrepara sua viagem,inicia a publicalo em Amauta e no
Mundial dos captulos de um trabalho intitulado Defensa del marxismo.Polemiza
nesta obra com ,de um lado,a reviso do marxismo levada a cabo pelo belga Henri De
Man;e,por outro,contesta a verso ultraesquerdista de Max Eastman. Defensa del
marxismo ser publicada aps a morte do autor. Em muito pontos,em especial nas
aluses ao fordismo,encontram-se profundas analogias com as reflexes de
Gramsci,mesmo que o peruano s tenha conhecido os escritos gramscianos de Ordine
Nuovo. Talvez, as fontes da cultura italiana,vivenciados por ambos autores,explique as
afinidades entre eles.
No ltimo perodo de sua vida, em meio a uma frentica atividade de escritura e
organizao, Mariategui acha tempo para voltar criao literria. Reelabora um caso
da crnica italiana: o caso Bruneri-Canella,em que reconstri o ambiente italiano do
ps-guerra.Chama-se La novela y la vida,em que expe sua concepo da arte,
antagnica ao chamado realismo socialista.
No final de 1930,enquanto preparava sua viagem a Buenos Aires , ocorre uma
recada de sua doena. Morre no 16 de Abril,com menos de 36 anos, em plena
criatividade.Seu enterro contou com uma grande participao de massa.
Logo aps sua morte, se desencadeia uma violenta ofensiva contra sua herana
poltica e cultural. J h dois meses antes de sua morte, tinha sido substitudo na
secretaria do Partido por Eudocio Ravines,um homem da Comintern,formado em
Moscou. Amauta no ter longa vida. Muda-se o nome do PSP para PCP,que dirige
uma raivosa campanha contra o mariateguismo e o amautismo.
Nos anos 40,este PCP tentou se reapropriar da figura de Mariategui,tido
ento,como um populistaApenas no final dos anos 60,ocorrer uma efetiva
reapropriao critica de Mariategui. A partir de ento,Mariategui passou a ser um
pensador que cresce com o passar do tempo.
O trabalho de traduo de suas obras foi iniciado em 1943,com uma nova
proposta dos Siete Ensayos.Todavia, ser a partir de 1959,com o inicio da publicao
das Obras Completas em edio popular(20 pequenos volumes),que a difuso de seu
pensamento deu um salto de qualidade.A partir de 1987,os filhos de Mariategui
iniciaram a publicao de sua obra juvenil ,do perodo anterior a viagem para Itlia.
Por ocasio do seu centenrio (1994), em diversos paises ocorreram
seminarios,palestras,cursos sobre a obra do amauta peruano.Durante muitos anos foi
publicado o Anurio Mariateguiano,coletnea de ensaios sobre Mariategui publicados
pelo mundo afora.
Melis considera que justamente nos artigos que Mariategui dedica ao tema
da tradio onde se capta todo o alcance de seu processo de reformulao do
marxismo em termos peruanos. Sua ideia que nestes textos o grande
pensador peruano chega a uma autentica subverso do tema da tradio.
nos fins de 1927 que Mariategui se enfrenta diretamente com o tema, a partir
de umas reflexes aparentemente marginais.Trata-se do artigo "reivindicao
de Jorge Manrique", publicado na revista Mundial, onde as celebres
COPLAS do poeta tardomedieval espanhol representam uma nova ofensiva
contra os passadistas. Atravs da contextualizao dos versos do antigo
poeta, Mariategui volta a por a distino entre tradio e tradicionalistas.
Contra o que desejam os tradicionalistas, afirma que a tradio viva e
mvel e que a criam os que a negam, para renova-la e enriquece-la; enquanto
que a matam os que a querem morta e fixa, ou melhor, os que a vm como
uma prolongao do passado em um presente sem foras (LM:197-198).
A heterodoxia da Tradio
Osvaldo F. Diaz afirma que a obra mariateguiana "Em Defensa del Marxismo",
significa um avano na definio do "socialismo indo-americano". A polemica com o
belga Henry del Man visa, na realidade, responder questes da conjuntura peruana
(Haya de la Torre, o PSP, a Internacional).
A obra corresponde a mudana de Amauta, expressa no editorial "Aniversario e
Balano" e busca caracterizar o "especifico nacional". Nesta obra, Mariategui dialoga
com/e amplia o conceito de ortodoxia. Continua o esforo feito nos " 7 Ensaios". A
Questo central : o que o marxismo indo-americano?
Mariategui busca atualizar o marxismo via critrios heterodoxos, revisionismo e
heresias. Responde a Haya e a Internacional atraves de sua critica a H.del Man. Diaz
estabelece nveis de leitura na obra do Amauta.
O marxismo que vai emergindo deste esforo terico, alm de contra arrastar
a critica, e de tentar corrigir o que lhe parecia abusivo e sem propsito nela,
perturba o prprio campo da ortodoxia...a explicitao do marxismo se refere
a um debate europeu sobre a " crise do marxismo"...e no programa
explicitamente a questo sobre o marxismo latino-americano. [...] Por trs da
superfcie da resposta a De Man, mais escondido, um segundo nvel, nos
mostra o assedio ortodoxia contido nestes ensaios de " defesa", que culmina
na pergunta pelo marxismo latino-americano.
Se bem podemos ler neste exerccio uma resposta terica III Internacional,
que nestes momentos, representava a ortodoxia, o critrio de transparncia
que emprega para desvelar a trajetria de Henry de Man, diz muito de seu
prprio empenho para fazer visveis seus presupostos.Neste sentido o ensaio,
" Rasgos y espirito del socialismo belga", revelador de um processo
hermenutico, que em seu prprio caso deveria culminar em um capitulo
sobre o Peru.
Se o texto nos autoriza a ler atras da referencia a Henry de Man, uma aluso
a Haya de la Torre e III Internacional, que nos faculta para ir alm, e
afirmar que estes 16 ensaios entram na zona inexplorada, absolutamente
nova, quase contra natura do marxismo latino-americano ?". Para Diaz, a
pergunta no foi formulada de maneira aberta. Portanto, deve ser deduzida do
texto...O assedio ortodoxia parece ser a chave desta operao terica.
Mariategui e a Revoluo
Robert Paris outro estudioso de Gramsci e Mariategui, afirma que "o marxismo
teorico-pratico de Mariategui tinha por vocao o enraizamento na realidade nacional".
Isto significou uma praxis dialtica, aberta [...] articulada [...], especfica, complexa e
desigual, de elemento diversos em uma formao social. Resultou em uma estratgia
revolucionaria, alheia a modelos universais, pre-fabricados e, opondo-se a rigidez
"etapista" e ortodoxa dos PCs.
Para F. Guibal (parceiro de Ibanez em textos sobre Mariategui),
a opo socialista de Mariategui, no sonhava com aes golpistas ou
insurrecionais imediatas; muito menos, defendia uma transio longa,
pacifica e legal para o socialismo. Conforma-se em indicar que a nica
alternativa fundamental da poca estava entre o capitalismo imperialista e a
criao do socialismo.
Sem entrar em precisas "profticas", Mariategui advertia apenas que, na
teoria e na pratica, o carter necessariamente integral e radical de um
verdadeiro processo socialista e revolucionario, no basta tomar o poder,
assaltando e conquistando as instituies do aparato estatal, tinha,
simultaneamente, que modificar, desde as razes, as relaes sociais,
substituindo o predomnio da velha oligarquia e da moderna burguesia, pela
criao de uma alternativa hegemnica global, popular, poltica e cultural.
Socialismo e Autogesto
Germana assinala que este o substrato mais profundo de suas reflexes e que
abarcava os outros elementos do socialismo: a socializao dos meios de produo e a
socializao do poder poltico. o ncleo ao redor do qual se articula o pensamento de
Mariategui. Elemento tambm assinalado por Florestan Fernandes, em seu texto para o
Anurio Mariateguiano.
Mariategui esteve atento as mudanas nas relaes intersubjetivas de seu tempo
.Uma nova sensibilidade poltica e cultural emergia no Peru desde o final do sculo
XIX. Tratava-se de um "complexo fenmeno espiritual". Trs campos especiais
apresentavam este fenmeno.
Os movimentos sociais, especialmente o movimento operrio e o movimento
campons indgena. Alem destes dois, o movimento estudantil com a reforma
universitria;
Uma mudana no campo das orientaes de valores e nas atitudes individuais.
No peru dos anos 20 ocorria uma lenta mutao nos mecanismos de socializao e nas
motivaes pessoais. Germana destaca algumas questes: a educao, a religio , que
expressam a tendncia de apario de um espirito moderno;
O nvel da expresso cultural do mundo das relaes intersubjetivas. Como se
traduzia esta nova sensibilidade no pensamento, nas artes e na literatura?
Enfim, O esforo social de produzir cada vez mais e melhor constituiu o grande
projeto desta sociedade. O sistema educativo estava a seu servio. Na obra Historia
Del Tahuantinsuyo, de M.R.Diez Canseco, encontramos elementos valiosos sobre a
composio social e a organizao dos Incas. Por exemplo:
No mbito costenho existiuuma classe social que se ocupou da troca e do
intercambio;estes especialistas foram chamados pelos espanhis de
mercadores,(...)porem necessrio entender a palavra em seu contexto
indgena,isto dentro de uma economia alheia ao uso da moedae na qual
s existia o intercambio e as equivalencias [grifo nosso].
Ou,de que
Os Incas no contavam suas idades pelos anos e que as pesoas se
classificavam no pela idade cronologia mas por suas condies fsicas e sua
caapcidade para o trabalho.(...) isto significava que um sujeito se classificava
de acordo ao tempo biologico,isto ,segundoo as etapas de seu estadoo
fsico(...)as idades no seguem uma ordem cronolgica,no se inciam com a
infncia para avanar atravs da vida.(...) A idade mais importante no mundo
andino,a idade de maior potencialidade e mxima energia de trabalho
desenvolvida pelos er humano: os 25 a 50 anos,quando o homem alcana a
plenitude de suas faculdades.
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11) TEORICOS DO LESTE EUROPEU
Nos pases do lesta da Europa,desde o ps Guerra campo de experimentao dos
regimes que ficaram conhecidos comosocialismoreal, vimos no 1 volume que foram
palco de muitas lutas,revoltas,rebelies e mesmo revoluces ,dos
trabalhadores.Iniciadas em 1953 na Alemanha oriental,passando pela Hungria em
1956,a Thecoslovaquia em 1968 e,enfim,chegando a Polonia em 1980-81.
Esse longo processo permitu que varios intelectuais elaborassem vises e leituras
tanto da natureza desses regimes quanto,sobretudo,de alternativas a sua existncia.Neste
aspecto,a autogesto foi um eixo mesmo fundante destas Alternativas.De um
lado,porque esses regimes ps-capitalistas tinam em suas Constituies a propriedade
social dos meios de produo alm d se autoproclamarem socialistas;de outro lado,a
experincia que os trabalhadores foram acumulando ao longo do tempo foi
desenvolvendo propostas de autogesto que correspondia as organizaes alternativas
que fundaram nestas lutas .
Destacamos 3 obras entre tantas=
1=a da dupla polonesa J.Kuron e K.Modzelewski ,a Carta Aberta ao partido
operario polones ( 1965) ;
2= a do theco PETR UHL,elaborada aps a Revoluo dos Conselhos Operarios
thecos,em 1968;
3=e,a do alemo oriental RUDOLF BAHRO, dos anos 70,logo em seguida ao
choque provocado pela invaso da Thecoslovaquia pela URSS.
Outros autores tambm tm obras fundamentais nessa perspectiva.E,muitos
foram por ns usados para fundamentao de princpios da autogesto,por exemplo,os
thecos KAREL KOSIK,J ZELENY,a Escola de Budapest de Lukcs,a Escola Praxis da
Yugoslavia, o polons Adam Schaff.
Suas idias est espraiadas em nossos dois volumes deste trabalho.
Alm destes podemos citar, M.Djillas, Marc Racovsky,,Andreas Hegedus,Miklos
Haraszti,George Konrad/Ivan Szelenyo , o grupo theco de Radovan Richta.
Suas obras esto em nossa Bibliografia Geral.
Enfim, fundamental dizer que estes Programas alternativos construdos nos
pases do Leste europeu,como reflexo das lutas e revolues desenvovlidas pelos
operrios e povos destes pases, enquanto Programas baseados na Autogesto Social,
foram transformados em Estategia e Ao concretas pelo movimento Solidarnosc em
1980.O Congresso nacional de solidarnosc resultou pela aprovao de seus delegados
operrios de um Programa pela Republica Autogestionaria da Polonia *.
Como diz Joo Bernardo,foi o ultimo ato de um ciclo de lutas inicado no ps-
Guerra.
Tivemos a oportunidade de acompanhar essa experincia nos anos 80,quando
estvamos na Frana,atravs da CFDT.Inclusive,a pedido do movimento pela
autogesto de Portugal,BASE-FUT,fizemos uma pesquisa que resultou na publicao
Movimento pela Autogesto na Polonia (1983).
Em outro nosso trabalho,Leste europeu,a dialtica da revoluo passiva*
tratamos de forma mais sistemtica a experincia dos trabalhadores na Polonia.
Na 1 parte deste nosso trabalho,apresentamos a historia daquela experincia
ocorrida na Polonia entre agosto de 1980 e dezembro de 1981,e o Programa de
Solidarnosc.
Esse Documento do Solidarnosc, seria,ento,a 4 obra que apresentaramos aqui.
E,responde tal qual exps em sua obra: Para que os homens sejam capazes de
captar as conexes gerais,exercer influencia efetiva na sntese social, h que destruir o
tipo de organizao supercentralizada, que hostil individualidade e a iniciativa (...)
H que encontrar uma forma de regulao econmica que garanta aos homens iniciativa
individual concreta real comunalidade.
Como vemos,R.Bahro se apia tambm no Principio Comunal.
Numa das varias Conferencias que fez na Europa,Bahro ressalta com
nfase: Quero,porm,recordar a conhecida idia de Marx segundo a qual o
comunismo moderno seria uma espcie de regresso ao comunismo primitivo em
um nvel mais elevado(...)A comunidade primitiva foi para ele a formao
primaria.
A soluo,segue Bahro,est na descoberta do principio federativo, que
inerente conhecida idia da Livre Associao e que determinou,por exemplo,a
opo marxiana pela Organizao Comunal.
As unidades bsicas do trabalho unificado e da vida social deveriam ser
combinaes soberanas relativamente autnomas sobre uma determinada base
territorial,atribuindo-lhes o carter de microcosmos sociais.Uma organizao comunal
desse tipo poderia ser tambm o isntrumento adequado para desmantelar a separao
isolante das esferas da educao,a habitao e o trabalho,sem recair nas velhas
limitaes e restries da localidade e da exclusividade.Em particular,ela proporciona
espaos para formas de vida comunal que, do meu ponto de vista, o fundamento
econmico da emancipao das mulheres,e uma condio necessria para garantir as
cranas uma capacidade plena para educao e motivao para a aprendizagem
protegendo-as do perigo da neurose inerente famlia nuclear.
Organizao social segundo o principio comunal significa subordinao (no
liquidao) da regulao hierrquica.Significa coordenao ao invs de subordinao
dos homens em relao com suas diferentes atividades.E significa associao dessas
diferentes federaes interfuncionais em unidades complexas ,ainda quando,como
consequancia da estrutura territorial,sejam ainda contempladas como totalidade.essas
unidades abrangem todos os aspectos do processo de vida, eno se tomaro decises por
cima delas.
As comunas que estaro naturalmente especializadas em determinados aspectos
no marco de uma diviso globalmente social e planificada do trabalho,se associaro por
si mesmas sociedade nacional.E,finalmente,a idia de uma associao entre as naes
(...) penetrar,est penetrando j,no direito dos povos.
A mediao com cada unidade superior ocorrer atravs de delegados eleitos
pela base.,conclui Bahro.
Portanto,vemos claramente como R.Bahro traduz sua Alternativa a partir dos
Principios da Comuna,ou seja,do poder comunal.
Em sua proposta de Alternativa comunista,Bahro prope uma revoluo cultural
em que Se a sociedade organiza a educao e a produo de tal modo que todos os
indivduos possam adquirir por atividades tericas e praticas apropriadas uma formao
geral cientifica e artstica de alto nvel lhes permitindo uma apreenso diferenciada do
todo social,o potencial assim liberado conduz na pratica uma redistribuio e
autogesto de todos os negcios sociais.
Da Alternativa de Bahro,vamos dar destaque a questo da Organizao do
trabalho.Neste campo Bahro prope um Programa em que destaca os seguintes pontos:
1= generalizao de um sistema de autogesto e de auto-administrao como um
processo global que abrange o conjunto dos aspectosda reproduo e estruturado por
uma federao de comunas fundada por conselhos operrios.
2=luta radical contra a diviso vertical do trabalho,luta centrada em dois eixos:
-a reduo radical da durao do trabalho mecnico e repetitivo (trabalho
fisicamente improdutivo),atravs da reintroduo massiva dos empregados no trabalho
industrial e nos servios (comercio,transporte) paor um certo numero de horas semanais;
-generalizao do ensino superior universitario e para-universitario,extenso do
ensino obrigatrio at os 23 anos.
A CONSCIENCIA EXCEDENTARIA
Um conceito-chave na obra de R.Bahro o de cosnciencia excedentaria.esta se
divide , de forma complementar,em duas formas diametralmente opostas:
1= de um lado,os interesses de compensao so a reao inevitvel ao fato que a
sociedade limita e bloqueia,muito cedo,o desabrochar,o desenvolvimento e a afirmao
de inmeras pessoas.As necessidades correspondentes so saciadas,por meio de
satisfaes de substituio...;
2= de outro lado, os intereses de emancipao voltam-se para o crsecimento, a
diferenciao e a auto-realizao da personalidade, em todas as dimenses da atividade
humana....( Ingolf Diener,SOREX)
AUTO-GESTO NO BRASIL
Nessa parte, vamos fazer referencia alguns pensadores ou
movimentos.Inicialmente a Mario de andrade, mas incluindo elementos sobre
S.B.de Holanda e A.candido.Outro Mario iremos abordar: Mario Alves fundador
do PCBR.E,outro Mario,j o abordamos junto com Rosa Luxemburgo ,Guevara e
Mariategui l acima. E,a ideia do PT sobre socialismo do V congresso ancional.
Os Romantismos
Como j vimos, Lowy assinala 4 correntes romnticas:
O trao comum que permite identificar este campo cultural romntico - apesar
da extraordinria diversidade de suas manifestaes- a critica da civilizao industrial-
burguesa moderna (que comea a constituir aps a metade do sculo XVIII) a partir de
certos valores sociais,culturais,ticos,estticos ou religiosos do passado-pr-capitalista.
Se o romntico um laudator temporis acti, esta viso do mundo no conduz
necessariamente ao passadismo, ao conservadorismo, Restaurao? O romantismo
poltico tem sido frequentemente assimilado as doutrinas reacionrias, mas se trata de
uma interpretao unilateral e reducionista do fenmeno, incapaz de compreender sua
riqueza, sua ambigidade e suas contradies. Depois Rousseau at hoje,sempre chiste
uma corrente romntica revolucionaria,na qual a nostalgia do passado alimentou uma
aspirao utpica,e cujo objetivo no foi o retorno Gemeinschaft pr-capitalista mas
um dtour pelo passado at o mundo novo do futuro.
Lkacs (notadamente nos escritos de juventude) e Bloch pertencem a esta
corrente e esto entre os representantes mais importantes do sculo XX. a partir do
romantismo anti-capitalista que eles vo se aproximar das ideiaideias socialistas e do
marxismo,e suas interpretaes da revoluo -sobretudo nos anos 1917-1923- ficou
profundamente marcada por certos temas romnticos. A qualidade nica de seus escritos
marxistas desta poca,que os distingue to radicalmente da produo "ortodoxa" da II e
da III Internacional,deve certamente muito a esta dimenso romntica/revolucionaria."
Lowy conclui da seguinte forma, sua exposio no Seminrio:
Concluindo este breve esboo, algumas hipteses de trabalho de
carter mais geral:
Contrariamente ao que se cr de costume, o romantismo
revolucionrio no uma figura ideolgica e cultural do sculo
XIX. at nossos dias uma componente essencial da maior parte
das criticas radicais da civilizao industrial/capitalista.Ele se
distingue do romantismo conservador ou restitucionista por sua
mirada utpica em relao ao futuro e pela integrao de
elementos essenciais da Aufklarung,da Revoluo francesa,e do
racionalismo alemo clssico (notadamente Hegel).Sua
nostalgia do passado pr-capitalista se articula com a adeso aos
valores revolucionrios como a democracia,a liberdade,a
igualdade,o socialismo.
Contrariamente a uma convico bem enraizada, o romantismo
revolucionrio no de nenhuma forma contraditria com o
pensamento de Marx, que comporta, ele tambm, uma dimenso
romntica anti-capitalista. Aps um sculo e meio de hegemonia
de um marxismo kantiano e/ou positivista,e/ou darwinista,e/ou
evolucionista (salvo algumas excees como Willliams Morris e
Rosa Luxemburgo) surgiu com Bloch e Lukcs entre os anos
1917-1923 uma possante e original leitura romntica do
marxismo,uma concep,co romntica da revoluo social,que
no desapareceu mais da conscincia critica moderna.
Para Morse,
A mensagem de Gilberto em pouco tempo seria rejeitada por
motivos extrnsecos. A de Sergio era difcil de entender. E a de
Caio, a mais transparente, logo sairia vencedora: uma viso de
fora das instituies sem maiores preocupaes com a lgica
cultural, e uma viso linear do processo social orientada no
sentido de objetivos e forcas propulsoras. Nesta tradio,
deixam-se de lado as civilizaes enquanto realizaes de
destinos ou manifestaes de vises do mundo. Porem, ela era
bem adequada s obsesses dos anos 60 e 70 com integrao
nacional, industrializao e urbanizao (e no industrialismo e
urbanismo).
Cordial" e "Malandro"
A partir dos anos 50 o domnio nas cincias sociais ficou com o marxismo
"vulgar e o cientificismo norte-americano. Morse diz que, "Para encontrarmos uma
alternativa ideolgica ao cientismo,voltamos nossa ateno para um quinto momento da
tomada de conscincia,que simultneo ao quarto.Refiro-me a criao literria e
artstica,embora por uma questo de foco eu me limite ao realismo maravilhoso dos
romancistas.Temos de aceitar o fato de que a partir dos anos 60 Carpentier e Garcia
Mrquez tornaram-se mais conhecidos no Ocidente em geral do que Pablo Gonzalez
Casanova e Fernando Henrique Cardoso.Assim conclumos que a mensagem desses
artistas deve ser igualmente importante.O desafio imaginar que transao poderia
ocorrer entre romancistas e cientistas.
No sculo passado, Marx e Engls fizeram questo de admitir o quanto deviam a
Balzac e Dickens; sem os amplos panoramas sociais dos romancistas, a compreenso da
mercantilizacao e reificacao na Europa burguesa e consumista teria ficado muito
empobrecida. Mas o que viu o cientista latino-americano em "Cem Anos de Solido"
alm de um monumento a imaginao latina?
Nos anos 60, "a cincia e o realismo maravilhoso, ambos se tornaram pblicos,
criaram-se papeis estratgicos para inteligncias ambidestrais tais como filsofos,
antroplogos, um poeta-pensador (Octavio Paz), um poeta-economista (Gabriel Zaid) e
um critico literario-sociologo (Antonio Candido). Mais engajada, a dialtica agora nos
impele mais rapidamente, ao mesmo tempo em que permite -mais ainda, exige- uma
retomada do modernismo".
Esttica e Poltica-Macunaima: Um desencontro entre modernismo e
marxismo
No teria sido neste perodo assinalado por Morse, que a esquerda brasileira
perdeu seu "Muiraquita"? E, em seguida, penetrou num labirinto macunaimico? Pois,
em seguida, a hegemonia do marxismo vulgar quase absoluta. Como recuperar aquelas
alternativas? Quais outros foguetes cruzaram nossos cus ? Ser que o labirinto da
esquerda tem o seu fio de Ariadne? Ou ser um labirinto sem muruiquita?
Mario de Andrade, atravs de Macunama parece ser uma esfinge a nos
questionar: como construir um projeto nacional num pais de tamanha complexidade?
Um pais que no um, mas "trezentos, trezentos e cinqenta"?
Contudo, como poderia a esquerda daquela poca ver algo mais em Macunama
do que a "imaginao latino-americana"?
Neste sentido, a observao de Silviano Santiago sobre a repercusso das
primeiras edies de Macunama, torna-se um dado importante. Em "Historia de um
Livro, Santiago descreve a "fortuna critica do livro marioandradiano. Aponta
elementos que fizeram com que a circulao da obra modernista fosse claudicante (
ausncia de edies sucessivas,alta taxa de analfabetismo no pais,etc.) e que no tivesse
um publico.Assim,a primeira edio de Macunama foi de 800 exemplares,custeados
pelo autor,e por uma editora da provncia.Em 1937,a segunda edio com tiragem de
1.000 exemplares (Jose Olympio Editora).A terceira edio,de 1944,traz 3.000
exemplares.Ate 1978,foram 20 edies do livro.
Do ponto de vista da bibliografia critica sobre Macunama, s 27 anos apos a
primeira edio (ie, 1955) ocorre uma mudana qualitativa. Sobretudo,Manoel
C.Proena publica seu "Roteiro de Macunama".
Portanto, como ento, extrair da imagem marioandradiana, uma estratgia
poltica?
E.Lunn,em "Marxismo y Modernismo",estuda as relaes entre "Esttica e
Poltica", traa os mltiplos contornos do encontro politico-estetico entre marxismo e
modernismo na Europa dos anos 20-30. Lun tem por objetivo, entre outros de:
Por fim, escrevendo em 1970, Barata diz que "as condies gerais da vida
intelectual brasileira faziam arrefecer, no final da dcada, as possibilidades de suficiente
repercusso desses livros, certo retrocesso das atividades culturais e de seu livre
exerccio e expanso est impedindo uma colheita proveitosa do espao feito no
decorrer da dcada, no terreno dos estudos estticos".
Reconhece Williams:
Para Barriel, Mas este universo mtico de onde Macunama extrado apenas
um constructo erudito a partir da cultura popular, numa operao tipicamente
romntica. Mas tambm o material especifico do ANTICAPITALISMO DE MARIO
DE ANDRADE'.
Prossegue nosso autor,
Conclui Barriel que "Na sua viso culturalista da realidade social, Mario de
Andrade entendia que tal forma de vida social no Brasil equivalia liquidao das
possibilidades nacionais de virmos a constituir uma civilizao prpria, autnoma e
original, construda a partir dos elementos da cultura popular".
Diz-nos Mario de Andrade:
Arremata Barriel:
A Revoluo Cultural
Em seus ensaios dos anos 60, Mario Pedrosa afirmava, deduz-se de tudo o que
primitivo ou elementar tambm pode ser contemporneo. Contemporneo e
primitivo-brasileiro. O mundo planetrio aberto dos astronautas e o mundo imenso dos
subdesenvolvidos do hemisfrio sul so contemporneos e contraditrios, como o Brasil
por sua vez em face do mundo. O Brasil ao mesmo tempo um anacronismo e uma
promessa. Para certos artistas, a tarefa contempornea consiste em expressar esse
anacronismo, como se se tratasse de uma operao de catarse, para segui-la subsumi-lo
ao universal.
Outros porem, partindo do universal contemporneo implcito na promessa
aceitam, j agora, no seu trabalho criativo, o condicionamento de amanha e no o
condicionamento de ontem.
Prossegue Pedrosa:
Por fim, o que parece ser apenas uma divagao esttica, tem relaes
profundas com as questes de estratgia poltica. Neste sentido,vejamos um paralelo
entre W.Benjamin e L.Trotsky,que nos remete ao autor de Macunama.
Terry Eagleton em sua obra "W.Benjamin, or Towards a Revolutionary
Criticism, traa afinidades importantes e surpreendentes entre o autor de "Paris, Capital
do Sculo XIX e o autor de "Literatura e Revoluo":
No seu exlio parisiense, entre 1934 e 1938, Benjamin escreveu "Paris Capital
do Sculo XIX, onde expressa sua viso critica a poltica da Frente Popular Francesa,
sobretudo, em suas "Teses sobre o Conceito de Historia". Para Eagleton, "no campo da
revoluo cultural, Trotsky e Benjamin concordavam [...] ambos rejeitavam a
Proletkult; ambos aceitaram as descobertas de Freud e se aliaram com os surrealistas
[...]. Contudo o mais surpreendente paralelo traado pelo critico ingls,refere-se a outro
aspecto:
William Blake, escrevendo antes da emergncia do materialismo
histrico, fez a critica do capitalismo industrial em termos
teolgicos... Benjamin pode progredir tambm pelo lado
idealista: igual a seu grande mentor, George Lukacs, ele junta os
recursos ambivalentes do idealismo para lutar contra um
pernicioso positivismo. A medida desta faanha pode ser vista
por um simples paralelo. O marxismo do sculo XX conte uma
teoria anti-historicista que fala como Benjamin do amalgama do
arcaico com as formas mais contemporneas, e que concebe o
desenvolvimento histrico no como uma evoluo linear, mas
como uma constelao chocante de pocas desaparecidas. Foi
esta hiptese - a hiptese de Trotsky em "Resultados e
Perspectivas"- que iluminou os destinos da revoluo Russa,e
que,generalizada como teoria da revoluo
permanente,permanece de fundamental importncia para
estratgia socialista atual...A teoria da revoluo permanente
implode em vrios pedaos a homogeneidade histrica,
inserindo na era da luta democratico-burguesa o "fraco impulso
messinico" que gira heliotropicalmente em direo ao sol do
nascente socialismo do futuro.
O que era uma imagem em Benjamin torna-se uma estratgia
poltica em Trotsky: o proletariado assumindo a direo da
revoluo democratico-burguesa em aliana hegemnica com
outras classes e grupos subordinados, efetuam a dinmica que
conduzir a revoluo na direo do poder operrio.
Conclui Eagleton:
Para Viviane,
Sendo a civilizao capitalista erigida sobre os valores do
individualismo, da racionalidade instrumental e da tica do
trabalho, Mario de Andrade viria a contrapor uma viso
alternativa de sociedade, governada pelos valores da
comunidade, do cio criativo e de uma ideiaideia de Razo no
como encarnao de uma racionalidade formal, e sim como uma
racionalidade substantiva. Se no fosse assim, a dualidade
civilizao/primitivismo no teria constitudo um elemento to
importante em seu discurso, pois, embora a tentativa de
determinar e explorar a modernidade e de definir a funo
moderna do intelectual estejam no centro do projeto esttico e
ideolgico de M.de Andrade, sua atitude critica em relao Ao
progresso e a civilizao indica que ele no defendia uma
ideiaideia de modernidade identificada com a modernizao [...].
Prossegue Candido:
50 Anos Depois!
E que
No Brasil, a organizao dos ofcios segundo moldes trazidos do
reino teve seus efeitos perturbados pelas condies
dominantes:preponderncia absorvente do trabalho
escravo,industria caseira,capaz de garantir relativa
independncia aos ricos,entravando,por outro lado,o comercio
,e,finalmente,escassez de artificeis livres na maior parte das
vilas e cidades.
Deste modo,
Por sua vez, O mutiro pode ter como objeto qualquer das atividades descritas,
caractrizando-se,todavia,por no possuir o aspecto virtualmente contratual do trabalho
coletivo ou da troca individual de servio. O carter inevitvel da solidariedade
aparece nas formas espontneas de auxilio vicinal coletivo,segundo Candido,
modalidade particular do mutiro propriamente dito, em que
Vamos, agora, abrir um parntese para o ensaio a que fiz referencia nas Notas
metodolgicas sobre Mario Alves e Gramsci.
GRAMSCI NO BRASIL
Para Coutinho,
Gramsci chegou ao Brasil no inicio dos anos 60... antes ningum
o conhecia efetivamente entre ns... o marxismo da poca tinha
como principais fontes "tericas" os manuais de "marxismo
leninismo'. Assim, nos escritos de Astrojildo Pereira, Caio Prado
Jr., Nelson Werneck Sodre "no h nenhuma meno sua obra
(de Gramsci)". Este s passou a ser conhecido no Brasil, no final
dos anos 50. Com as lutas populares de antes do golpe militar de
64, o marxismo se diversificou, "iniciou um processo, embora
ainda tmido, de abertura pluralista". Foi, ento, que surgiram as
primeiras referencias Gramsci por jovens intelectuais
comunistas, em publicaes culturais ligadas ou influenciadas
pelo PCB.
Seria provvel que Mrio Alves tivesse conhecimento deste panorama das obras
gramscianas, principalmente, por sua atividade como jornalista e terico do PCB. Ser,
precisamente, na Revista "Estudos Sociais"que escrever o texto que analisaremos
adiante.
C. N. Coutinho, analisando a questo da "revoluo passiva" na obra de Caio
Prado Jr, aponta seus "limites" justamente em "no ter captado os elementos "ativos" no
processo social, o que lhe teria permitido avanar para "revoluo ativa". Afirma
Coutinho que "as analogias entre o Risorgimento italiano e os eventos que constituem o
processo de Independncia e da consolidao do Estado Imperial no Brasil so
significativas, assim, no casual que Caio Prado Junior, escrevendo sobre esses
eventos em 1933 - no mesmo momento, portanto em que Gramsci elaborava seu
conceito de "revoluo passiva"- tivesse chegado a resultados muito semelhantes aos do
pensador italiano".
Caio Prado, estudando movimento populares, como a Balaiada, "se refere 'a
presena em tais elementos de um 'subversivismo espordico e elementar'. Assinala
Coutinho que "Caio Prado indica na ausncia da auto-organizaco e da coeso dos
grupos sociais subalternos, o que os impede de tornarem-se atores polticos efetivos, as
razes da derrota de uma via 'jacobina' para resoluo de nossa questo nacional".
Assim, "Caio Prado Jr. Lanou os fundamentos para uma adequada compreenso
marxista da via no clssica de transio no Brasil para o capitalismo", contudo, "pagou
um tributo s concepes terceiro-internacionalistas da democracia".
Em relao a Florestan Fernandes, C. N. Coutinho assinala que ele usa o termo
de "contra-revoluo prolongada", que outra terminologia para "revoluo passiva".
Nos anos 70, aponta diversos autores: Luiz Werneck Vianna, Jos Carlos Brum Torres,
Marco Aurlio Nogueira, etc.
Um antigo ensaio8 aborda as afinidades entre Mario Alves e Gramsci,
sobretudo em relao ao conceito de revoluo ativa de massa, o corolrio do
conceito gramsciano de revoluo passiva. Alm disso, a experincia de Mario Alves
no PCB dos anos 1950 foi fundamental na sua viso da relao Partido - Massas. Mario
Alves foi um dos autores de textos que refletiam o acmulo de foras atravs das
experincias rurais dos anos 1950 desenvolvidas pelo PCB: Repblica de Formoso e
Trombas, Guerrilha de Porangatu, ambas em Gois e Revolta de Porecatu no Paran.
Em seu livro sobre Formoso e Trombas, Cunha mostra que: [X3] Comentrio: Buscar ano desta
obra. Incluir nas referncias: CUNHA,
Paulo Ribeiro.
8
Mario Alves e a revoluo antipassiva, Cludio Nascimento - Revista Brasil Revolucionrio So
Paulo: IMA Instituto Mario Alves de Estudos Polticos, 1993
9
Ver tambm O labirinto Gramsciano Gramsci e a Questo da Hegemonia (mimeo)
O objetivo desse debate era a superao e a crtica
necessrias a uma nova compreenso sobre a
questo agrria no Brasil e o papel do campesinato
no processo revolucionrio em que, particularmente
nos ensaios de Mario Alves, Nestor Vera, o
campons adquire centralidade. Nestas leituras,
havia uma reavaliao de alguns aspectos que
comeavam a ganhar relevncia no debate poltico
poca, ou seja, o papel a ser desempenhado pela
burguesia e a questionabilidade da luta armada
(p.44).
Rene me ajudaria ,em meu lento retorno ao papel de militante consciente, a ver
os ostensivos problemas de uma sociedade que,quarenta anos atrs, se libertaria dos
grilhes do capitalismo: marcas de atraso;largos desnveis sociais;as duras condies de
vida dos trabalhadores,no campo como na cidade;os privilgios dos altos e medios
escales partidrios;o monopartidismo;a diluio do appel dos sovietes,ou conselhos
populares, sob o peso da fuso Partido-Estado.
A conjuntura do PCB foi abordada por Carvalho tambm:
De volta ao Brasil,encontro o partido imerso numa profunda
crise poltica,que terminar ocasionando sua primeira grande
ciso.Aturdida, a organizao est paralisada.A direo sonega
qualquer informao sobre o Informe Secreto. pela imprensa
tradicional que os militantes tomam conhecimento de seu
contedo, cuja veracidade as direes se recusam a confirmar.A
indignao tantos anos represada explode;jornalistas e
intelectuais abrem, na marra, na Voz Operaria,do PC,o debate
sobre o stalinismo e suas repercusses na organizao e na
poltica do partido.
Para abordagem dos 13 pontos ,adotamos o mtodo de Ernst Bloch ,no ensaio
que o filosofo alemo analisu as 11 Teses de Marx sobre Feurbach,no livro Principio
Esperana. Na parte chamada Questo de Agrupamento, Bloch define a
reoordenao das 11 teses marxianas segundo um ponto de vista filosfico,
sequenciando-as segundo seus temas e contedos. De nossa parte, reoordenamos as 13
teses petistas segundo um ngulo mais estritamente poltiico (a estratgia socialista) e
dividimos o conjunto em 4 grupos temticos, a saber;
grupo 1. carter democrtico e revolucionrio;
(teses 1,2,3 , 4 e 5 )
grupo 2. Crtica ao socialismo real;
(tese 6)
grupo 3. pedagogia de massa, conhecimento emancipatorio e utopia socialista;
(teses 7 , 8 e 13)
grupo 4. prxis, hegemonia e solidariedade;
(teses 9,10,11 e 12).
O ltimo bloco, na linha de Bloch, significa a senha, o mais importante por
definir o contedo da revoluo anti-passiva (Gramsci). As teses,em cada bloco,se
complementam entre si,e no conjunto dos 4 blocos,formam um todo unitrio.Elementos
de um bloco,ou de uma tese de um certo bloco,podem conter elementos de teses de
outros blocos.Neste sentido,assinalamos alguns casos.
O sentido da senha, o bloco 4, anuncia o novum: O PT uma nova estrela
no firmamento de uma reconstruo socialista que articula liberdade e democracia(23).
Em suas Teses de Filosofia da Historia,Walter Benjamin afirma: [...] como as flores
voltam suas pontas em direo ao sol,assim,pela fora de um heliotropismo secreto,tudo
o que acontece tende a dirigir-se para o sol que est saindo no cu da historia.Dessa
transformao,menos eprceptivel que outras,deve tratar o materialismo histrico(24).
Deste ponto de vista, a verdade histrica do Brasil atual[...] o PT como
penhor do futuro do povo brasileiro(Mario Pedrosa). Como diz o velhoMario: A
marcha do PT larga e longa,como a prpria historia,e com esta se integrar. A relao
com o passado,implica o despertar de uma nova hegemonia.portanto,quando pensamos
no Quase L (25) que foi a campanha de Lula em 1989, podemos afirmar, ainda
com Benjamin, em um mixto de melancolia e esperana,que:todo um passado, que
ainda no foi satisfeito no presente, tende para o futuro (26).
A articulao em blocos das 13 teses,tem seu sentido maior em sua prpria
montagem,do que em uma possvel analise de carter poltico-filosfico. Cada bloco
est formado pelas teses respectivas,por um ncleo definidor e,por eixos ,interno a cada
bloco (destaques),externos (inseres de outros blocos).
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BLOCO 1 - Teses 1,2,3,4,5.
Ncleo: carter democrtico e revolucionrio;
No eixo interno (destaques),
As origens do PT esto na luta democrtica contra a ditadura militar.Alcance da
democracia como valor estratgico,que interessa sobretudo aos trabalhadores e as
massas populares.Objetivo na luta pela construo de uma democracia qualitativa
superior.
Democracia interna como negao do monolitismo e do verticalismo. Externamente,
significa autonomia dos movimentos sociais; pluralismo poltico-ideologico e cultural.
Portanto, PT com sntese de culturas libertarias,distintas correntes de pensamento
democrtico e transformador; cristianismo social, marxismos vrios, socialismo no-
marxistas, democratismo radical, doutrinas laicas de revoluo comportamental.
unidade na diversidade,em torno do projeto socialista. [C4] Comentrio: Este pargrafo e o
anterio so uma citao?
No eixo externo, [C5] Comentrio: O texto abaixo uma
citao?
(insero do bloco 3): o socialismo ,para o PT,ou ser radicalmente democrtico ou no
ser socialismo.
(insero do bloco 4): AUTOGESTO: construo de uma efetiva democracia
econmica;democracia na gesto das unidades de produo;participao das massas em
todos os nveis.Ampliao das liberdades democrticas;validade para todos os cidados
nico limite na prpria institucionalidade democrtica;instrumentod democracia direta
mais democrtica representativa.
-Ncleo revolucionrio. Eixos internos (destaques).
Crtica radical do capitalismo; descoberta emprica da perversidade estrutural do
capitalismo; critica das propostas da Social-Democracia: abandono da perspectiva
socialista. O PT traz ambio histrica socialista;dialogo critico com as correntes social-
democraticas.
Socialismo hegemonia
A construo do socialismo exige uma mudana poltica radical; os
trabalhadores precisam transformar-se em classe hegemnica na sociedade civil e no
poder de Estado.
Socialismo Prxis
O socialismo no para o PT um futuro inevitvel,produzido necessariamente
pelas leis econmicas.O socialismo um projeto humano, luta consciente dos
explorados e oprimidos.Recuperar a dimenso tica da poltica condio essencial
para reestabelecer a unidade entre socialismo e humanismo.Portanto,socialismo tica.
Socialismo Solidariedade - A nova sociedade socialista dever fundar-se no
principio da solidariedade humana.Buscar constituir-se como sujeito democrtico
coletivo.Assegurar a igualdade fundamental entre cidados,direito e diferena,seja
poltica,cultural,comportamental,etc.Lutar pela liberao das mulheres,contra o
racismo e todas as formas de opresso.
Socialismo Autogesto e Pluralismo - Pluralismo e auto-organizao
incentivados em todos os nveis da sociedade;formas de antdoto burocratizao do
poder,das inteligncias e vontades.
Socialismo Internacionalismo - Afirmao da identidade e independncia
nacionais.Instaurar relaes cooperativas entre todos os povos do mundo.O
internacionalismo democrtico ser sua inspirao permanente.
Socialismo Autogesto e Partipao Democrtica - Efetiva democracia
econmica.Propriedade social dos meios de produo que,no se confunde com a
propriedade estatal.Superar tanto a lgica perversa do emrcado capitalista quanto o
intolervel planejamento autocrtico estatal de tantas economias ditas
socialistas.Conjugar o incremento da produtividade e a satisfao das necessidades
maetriais,com uma nova organizao do trabalho,superando sua alienao
atual.Democracia nas unidades de produo ( os conselhos de fabrica so referencia
obrigatria ) quanto no sistema em seu conjunto,atravs do planejamento estrategico
sobre controle social.Socialismo bem-estar-social e, controle social autogestionrio.
Socialismo Liberdade - Ampliao das liberdades democrticas, conquistadas
duramente no cpitalismo. Liberdades vlidas para todos os cidados,cujo nico limite
seja a prpria institucionalidade democrtica. Liberdade de opinio,
manifestao,organizao civil e poltico-partidaria. Instrumentos de democracia direta
(garantindo a participao das massas nos vrios nveis de direo do processo poltico
e da gesto econmica) conjungado com os instrumentos da democracia rerpesentativa,
com mecanismos geis de consulta popular,como verdadeira capacidade de expresso
dos interesses coletivo. No pode haver definio mais clara da Autogesto Socialista!
Enfim, a Resoluo petista sobre o Socialismo, sntese de palavras e
sangue,faz jus lutas e esperanas de velhos combatentes e muitas geraes socialistas
brasileiras.Entre estas destacamos a figura de Mario Pedrosa, ficha de filiao N0. 1 do
PT,que analisando a historia da evoluo poltica do Brasil,escreveu nos idos de 1978-
1979 que O PT no um partido como os outros,pois no fundo, um produto
intrinsico da historia real do Brasil contemporneo.No por outra razo que sua
misso mais que poltica, civilizatria (27). hegemnica, tico-politica e
econmica (Gramsci).
Mario Pedrosa, em carta para LULA ,datada de agosto 1978, escrevia referindo-
se ao pujante movimento operrio grevista de So Paulo: Este o movimento histrico
mais importante e fecundo da hora brasileira. Posso agora sorrir e predizer que o Brasil
ser um pais feliz.(28).
Quando da morte de PEDROSA, em novembro de 1981, Hlio Pellegrini, seu
grande amigo, afirmou: Todo grande revolucionrio vive da esperana. Sem dvidas,
Mario Pedrosa nos legou sua esperana libertria.Sem medo de ser feliz !
Os Conselhos Operarios
Pierre Naville, autor que se dedicou ao estudo da autogesto, afirma que os
Conselhos Operrios existem sempre em estado latente nas empresas de todos os tipos.
s vezes, eles entram em atividade sob forma embrionria, durante um curto perodo,
como comits de greve. Outras vezes, eles se inserem nas organizaes existentes, por
ocasio de comisses de reivindicaes; eles existem, em potencial, mesmo nos comits
de empresas legais, com tarefas e funes limitadas. Estas formas embrionrias que
podem assumir os Conselhos ou Comits, agrupando, em geral, trabalhadores de
diversas correntes polticas, dependem de muitas condies:
A primeira que as organizaes polticas, sindicais ou cooperativas existentes no
correspondam mais s exigncias das lutas do momento. Esta condio no se apresenta
em qualquer momento. Pode ocorrer que, as atividades dos sindicatos de massa ou dos
partidos polticos respondam s necessidades de ao. Os Conselhos Operrios no so
e jamais foram os nicos organismos, insubstituveis, totalmente diferentes das outras
formas de organizao dos trabalhadores. Ao contrrio, existem relaes flexveis,
mesmo um parentesco, das diferentes formas de organizao dos trabalhadores. S as
condies da ao mostram quais so as preferidas. No se pode substituir o estudo
destas condies por uma filosofia abstrata, uma teoria pura dos Conselhos Operrios.
=============================================
3= AUTOGESTO e UTOPIA
Em seu Marx, o Intempestivo, D.Bensaid nos apela `a Uma nova escuta do tempo:
(...) Pela evocao das conjunturas passadas, Abordar a Outrora significa portanto
que ele seja estudado,no mais como antes,de maneira histrica,mas de maneira
poltica,com categorias polticas W.Benjamin-.Tratar politicamente a historia pensa-
la do ponto de vista de seus momentos e de seus pontos de interveno estratgicos.(...)
Bensaid assinala ,em relao a recolocao do passado, duas direes contrarias: uma
ontolgica e outra poltica.Na linha de Walter Benjamin e Gramsci, nesta ltima, O
tempo granuloso da historia no para eles nem o cumprimento de uma origem nem a
perseguio de um fim.O primado do futuro desenha em Ernst Bloch o horizonte
utpico da esperana.Em Heidegger a direo ontolgica- ele assombra a meditao
antecipada do ser-para-a-morte.(...).As categorias benjaminianas do tempo ordenam-se
triplamente no presente : presente do passado, presente do futuro, presente do presente.
Todo passado renasce no presente tornando-se passado.Todo presente esvanece-se no
futuro tornando-se presente(...)
Lowy,em seu estudo sobre Benjamin, afirma que: A abertura do passado significa dizer
que os nomeados julgamentos da historia no tm nada de definitivo e de imutvel.O
futuro pode reabrir os dossiers histricos fechados,reabilitar as vitimas
caluniadas,reatualisar as esperanas e as aspiraes vencidas,redescobrir os combates
esquecidos ou julgados utopicos,anacronicos e a contra-corrente do
progresso.Lowy cita a obra de E.P.Thompson sobre a formao da classe operaria
inglesa como uma manifestao clara desta reabertura do passado.
Seria vo voltar as costas ao passado para s pensar o futuro. uma iluso perigosa
acreditar que haja a uma possibilidade.A oposio entre o futuro e o passado
absurda.O futuro no nos traz nada,no nos d nada;nos que,para reconstru-
lo,devemos dar-lhe tudo, dar-lhe nossa prpria vida.Mas para dar preciso ter,e no
temos outra vida, outra seiva a no ser os tesouros herdados do passado e
digeridos,assimilados,recriados por ns.De todas as necessidades da alma humana no
h outra mais vital que o passado.
O amor pelo passado no tem nada a ver com uma orientao poltica recionaria.Como
todas as atividades humanas, a revoluo extrai toda a sua seiva de uma tradio.
O proprio M.Lowy nos oferece seu prprio exemplo.Assim.no novo prefacio a nova
edio ,pelas Editions Sociales, de seu livro de 1970 ,ento publicado pelas editions
Maspero,na Collection Bibliotheque Socialiste, La thorie de la rvolution chez l
jeune Marx, clama por uma abertura do ,digamos,dossier Marx:
Marx consagrou mais de 9/10 de sua obra a analise critica do momento presente,e
designou um lugar relativamente reduzido as determinaes do futuro.Por sua
vez,segundo Bloch, as utopias abstratas dedicaram 910 de seu espao ao desenho,a
pintura,do Estado do futuro e apenas 1/10 a observao critica,freqentemente
negativa,do momento presente.
A utopia concreta tem seu principal elemento no processo histrico ,naquilo que Bloch
chama de Latncia (Latenze),isto :
O mundo inteiro percorrido pela grande idia de uma coisa e pela inteno tendendo
ao ainda-no-acontecido: a utopia concreta a teoria-praxis mais importante desta
tendncia.Seu campo socialmente muito vasto,compreende todos os domnios do
trabalho humano,extende-se aos campos da tcnica e da arquitetura,da pintura,da
literatura e da musica,da moral e da religio.
A temtica da utopia foi retomada mais recente nas obras de Boaventura Santos, j
inserida nas questes do campo da economia solidria.
(P.Freire)
A Utopia Militante
Manifesto Comunista
(Marx e Engels )
Os sistemas autenticamente socialistas e comunistas, os sitemas de Saint-Simon, de
Fourier, de Owen,etc, surgem na primeira fase,ainda rudimentar, da luta entre o
proletariado e a burguesia.
Os inventores destes sistemas percebem, verdade,o antagonismo das classes,como
tambm a ao dos elementos dissolventes na sociedade dominante.Mas, eles no
discernem do lado do proletariado nenhuma espontaneidade histrica, nenhum
movimento poltico que lhe seja prprio.
Como o desenvolvimento do antagonismo de classes caminha passo a passo com o
desenvolvimento da industria,eles no descobriram as condies materiais da
emancipao do proletariado...Suas invenes pessoais deveriam suprir o que o
movimento social no produzia;as condies histricas da emancipao proletria, a
historia que lhes fornece,mas eles preferiam tira-las de suas imaginaes; em lugar da
organizao gradual e espontnea do proletariado em classe,eles queriam organizar a
sociedade segundo um plano especialmente imaginado para este efeito.A historia futura
do mundo se resolveria para eles na propaganda e na pratica de seus planos sociais.
Forjando seus planos, tinham conscincia de defender antes de tudo o interesse da classe
operaria que eles conheciam a imensa misria.E, unicamente sob este aspecto do
sofrimento extremo que o proletariado existia para eles. ..Eles desejam melhorar as
condies de existncia de todos os membros da sociedade , mesmo os mais
favorecidos...Estas pinturas imaginativas da sociedade futura nascem em uma poca em
que o proletariado,ainda em sua infncia, s consegue imaginar confusamente sua
prpria posio.
Mas os escritos socialistas e comunistas reafirmam igualmente os elementos
crticos.Eles atacam a sociedade existente em todos seus fundamentos. Forneceram, por
conseqncia, materiais de um grande valor para educar e esclarecer os trabalhadores.
Suas teses positivas sobre a sociedade futura, tais como a supresso da oposio entre
cidade e campo, a abolio da famlia, do ganho privado, do trabalho assalariado; a
proclamao da harmonia social, a transformao do Estado em uma simples
administrao da produo todas estas teses antecipam a desapario do antagonismo
de classes que est em seu inicio e que,em seus escritos,se apresenta sob suas primeiras
formas,ainda vagas e confusas.Assim, estas teses apresentam um sentido puramente
utpico. (Manifesto,1848)
Marx e a Autogesto
A relao entre marxismo e autogesto,sobretudo na obra de Marx, complexa. Roger
Garaudi encontra em Marx um dos defensores do cooperativismo e da autogesto.Por
sua vez,Henry Lefebrev afirma que o que encontramos na obra de Marx no suficiente
para defini-lo como um defensor da autogesto.
Sem duvidas,a questo no de ordem filolgica ou terminologia,mas poltica: ao
analisar a relao entre a construo da obra marxiana e as lutas operaris,vemos
claramente a presena da autogesto,enquanto objetivo da auto-emancipao dos
trabalhadores, na obra de Marx.
Todavia, a idia da autogesto perpassa a obra de Marx.Neste sentido, M. Rubel afirma
: O postulado da auto-emancipao proletria subentende a obra de Marx como um
leitmotiv, desde o manifesto antihegeliano e a Sagrada Familia de 1844 at a
Declarao Inaugural da I Internacional com seu lema: A emancipao da classe
operria ser obra da prpria classe operaria- , a Declarao sobre a Comuna de Paris e
as ltimas meditaes sobre o destino da comuna camponesa na revoluo russa.
Raya DUNAIEVSKAYA assinalou a relao intrinsica entre a obra de Marx e as lutas
dos operrios, mostrando como,sobretudo em O Capital, a obra de Marx atravessada
pelas lutas emancipatoria e autogestionarias dos trabalhadores.
Neste sentido, Raya analisa as relaes entre O Capital e a luta operaria na conjuntura
da Independncia norte-americana;e, a mesma relao frente a experincia da Comuna
de Paris.
H uma relao profunda na viso metodolgica de analsie das lutas operaris ente o
grupo de M.Trointi e o norteamenricano de Raya e CLRJ (ver Harvey).Ambos grupos
reflete no campo terico as afinidades das formas de luta e de organizao do mov.
Operrio dos EUA e da Italia,diferentes do qus e passava na Frana e Alemanha,por
exemplo.
Neste sentido, Raya analisa as relaes entre O Capital e a luta operaria na conjuntura
da Independncia norte-americana;e, a mesma realo frente a experincia da Comuna
de Paris.
Em seu livro sobre as teorias da autogesto,Roberto Massari ,aps longo estudo das
obras de Marx,conclui:
Cremos ter mostrado com suficincia acontinuidade que oferece a reflexo do jovem
Marx sobre a problemtica da autoemancipao, a formulao mais concreta que o
problema assume no curso da elaborao marxista mais madura: a eutogesto dos
produtoresa ssociados,entendida como controle e participao direta dos trabalhadores
sobre o conjunto da atividade econmica e social, a forma que dever distinguir
sociedade comunista de todas as precedentessociedades de classe ou de caricaturas
utopistas do sculo XIX.
Massari,em relao ao texto Chamamento Inaugural da AIT,de 1864, declara que
Uma leitura do texto pode seu til,neste ponto, para demonstrar,sem a menor duvida,
que a temtica da autogesto orgnica dentro do pensamento de Marx, chegado a um
determinado nvel do prprio desenvolvimento.
Massari destaca neste desenvolvimento o periodo dos Anais Franco-Aemes
(1844),em que o sujeito social aparece para Marx em suas mobilizaes de massa
atravs dos teceles da Silesia. Os contatos de Marx com os operrios de Paris, em um
momento em que as organizaes operarias parisienses conhecem um processo de
rpido desenvolvimento,que,iniciado em 1839-1840,prosseguir sem interrupes at a
catstrofe de 1848.E como sempre ocorre na historia do movimento operrio, o periodo
de cresceimento organizativo dos anos 40 coincide tambm com uma fase de intenso
debate terico e de rpido amadurecimento poltico de uma parte da vanguarda que
anima o jovem socialismo francs.J no so alguns cenculos de burgueses cultos que
se renem para conspirar ou para dissertar sobre os destinos do mundo, mas centenas e
centenas de quadros operrios que, junto aos mais radicais dos intelectuais proveninetes
das fileiras da burguesia,organizam escolas de formao ideolgica, centros de debates
e de estudo, formulam programas de reivindicaes para os trabalhadores
e,sobretudo,constroem as estruturas organizativas que por um certo tempo seriam
conhecidas com o nome de associaes operarias.Ao mesmo tempo,s e assiste tambm
a um processo de proletarizao.
Prossegue Massari: pouco depois,no mesmo perodo (maio de 1843),quando aparece
em Frana LUnion Ouvrire de Flora Tristan,em que,sob a influencia do cartismo e
do movimento owenista ingls, formula-se a necessidade de superar o velho
associativismo artesanal,muito ameaado pelos perigos corporativos,com o objetivo de
fundar uma grande Unio Operaria...O que nos interessa notar como o tema da
autoorganizao, j implcito na Union Ouvriere,foi tomado e desenvolvido por Marx,
que seguramente devia conhcer a obra de Tristan durante sua primeira estadia em
Paris.
Em seu livro sobre as teorias da autogesto,Roberto Massari ,aps longo estudo das
obras de Marx,conclui:
Cremos ter mostrado com suficincia acontinuidade que oferece a reflexo do jovem
Marx sobre a problemtica da autoemancipao, a formulao mais concreta que o
problema assume no curso da elaborao marxista mais madura: a eutogesto dos
produtoresa ssociados,entendida como controle e participao direta dos trabalhadores
sobre o conjunto da atividade econmica e social, a forma que dever distinguir
sociedade comunista de todas as precedentessociedades de classe ou de caricaturas
utopistas do sculo XIX.
Massari,em relao ao texto Chamamento Inaugural da AIT,de 1864, declara que
Uma leitura do texto pode seu til,neste ponto, para demonstrar,sem a menor duvida,
que a temtica da autogesto orgnica dentro do pensamento de Marx, chegado a um
determinado nvel do prprio desenvolvimento.
Massari destaca neste desenvolvimento o periodo dos Anais Franco-Aemes
(1844),em que o sujeito social aparece para Marx em suas mobilizaes de massa
atravs dos teceles da Silesia. Os contatos de Marx com os operrios de Paris, em um
momento em que as organizaes operarias parisienses conhecem um processo de
rpido desenvolvimento,que,iniciado em 1839-1840,prosseguir sem interrupes at a
catstrofe de 1848.E como sempre ocorre na historia do movimento operrio, o periodo
de cresceimento organizativo dos anos 40 coincide tambm com uma fase de intenso
debate terico e de rpido amadurecimento poltico de uma parte da vanguarda que
anima o jovem socialismo francs.J no so alguns cenculos de burgueses cultos que
se renem para conspirar ou para dissertar sobre os destinos do mundo, mas centenas e
centenas de quadros operrios que, junto aos mais radicais dos intelectuais proveninetes
das fileiras da burguesia,organizam escolas de formao ideolgica, centros de debates
e de estudo, formulam programas de reivindicaes para os trabalhadores
e,sobretudo,constroem as estruturas organizativas que por um certo tempo seriam
conhecidas com o nome de associaes operarias.Ao mesmo tempo,s e assiste tambm
a um processo de proletarizao.
Prossegue Massari: pouco depois,no mesmo perodo (maio de 1843),quando aparece
em Frana LUnion Ouvrire de Flora Tristan,em que,sob a influencia do cartismo e
do movimento owenista ingls, formula-se a necessidade de superar o velho
associativismo artesanal,muito ameaado pelos perigos corporativos,com o objetivo de
fundar uma grande Unio Operaria...O que nos interessa notar como o tema da
autoorganizao, j implcito na Union Ouvriere,foi tomado e desenvolvido por Marx,
que seguramente devia conhcer a obra de Tristan durante sua primeira estadia em
Paris.
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Marx e a Auto-Emancipao dos Trabalhadores
( Filosofia da Prxis e Autogesto )
Autogesto e Espao
4= O ESPAO DA AUTOGESTO
Mario Pedrosa ,em seus estudos sobre arquitetura e sobre a construo de Braslia,
nos aporta reflexes importantes sobre as cidades. No ps Guerra,aps voltar do seu
longo exlio nos EUA, Pedrosa desenvolveu uma viso com base na idia da
autogesto,a partir da obra de Rosa Luxemburgo.
Em um pequeno ensaio ,Crescimento da Cidade (1959),Mario relaciona cidade
e capitalismo,em uma reflexo prxima a de Angel Rama:
Com efeito, a decadncia das atividades sociais da cidade se acentuou medida
que a economia capitalista se desenvolvia. A Carta de Atenas, do Centro Internacional
de Arquitetos Modernos CIAM-, se baseou,alis,nessa verificao histrica. O
Capitalismo, tanto o privado quanto o de Estado,desmantelou por dentro,num longo
processo histrico, a ordem urbanstica,intrinsicamente harmnica e solidria.O
resultado foi a dissoluo do carter eminentemente comunitrio da cidade.O organismo
coletivo,to sua caracterstica,perdeu toda a antiga coeso social.O desenvolvimento
dela tomou a feio fabril,anrquica,mais prximo do processo de uma clula cancerosa
que devora todo o organismo,que de qualquer coisa. Este desenvolvimento desordenado
e chamado espontneo como um pedao da natureza selvagem dos trpicos deixada a
si mesmo.Em pouco tempo, o mato tudo invade. que o progresso do laissez faire o
inimigo do esprito comunitrio.
A cidade perdeu com isso o esprito do exclusivismo localista da idade
barroca,quando os prncipes absolutistas encontraram uma atividade nova: a construo
de suas cidades residenciais em lugares afastados das metropolis tradicionais que eles
mesmos escolhiam.A cidade barroca freqentemente ebela,j no
mais,entretanto,como a polis grega ou a comuna burguesa medieval.A agora grega
volatizou-se, e o corao comunal cessou de existir; a partir do barroco a cidade passou
a ser cada vez mais um aglomerado urbano sem direo,emborade poder extremamente
centralizado.
Todo o desenvolvimento ulterior s fez levar gua ao moinho do PODER
CENTRALIZADO (grifo nosso) e da anarquia inarmnica nas reas vitais ou adjacentes
ao Poder. A praa central deixou de ser o centro da vida comunal,onde os cidados se
encontram, boquejam e discutem,para ser o pedestal da grandeza do Principe.
Em relao a fundao das cidades no Brasil,Pedrosa tambm revela em sua
analise grandes afinidades com Angel Rama. Em suas analises sobre a nova
Capital,Braslia,Mario se pergunta : Braslia ou Maracangalha ?.
Wooringer , no seu estudo sobre o antigo Egito, desenvovle a tese dos povos
surgidos artificialmente, filhos de uma CIVILIZAAO OASIS (grifo nosso),e para cujo
conhecimento no se necessita de saber sua historia natural,praticamente inexistente.E
os diferencia daqueles que,ao contrario,tm no curso dessa historia como que o
paradigma de sua prpria historia poltica e cultural.o Egito dos faras,ele od efiniu
como o maximo caso de osis da historia universal, ou uma colnia sobre base
artificial.
Num osis se impe uma alta disciplina civilizadora...A caracterstica naior dessa
civilizao de osis a extremamente natural facilidade com que recebe as formas
culturais mais externas e mais altas e a naturalidade extrema com que nega a prpria
natureza.Nela o natural negar a natureza.
Eis por que, americanos,brasileiros,estamos condenados ao moderno.O
moderno vai sendo cada vez mais nosso habitat natural. A Amrica no era osis entre
desertos, era simplesmente nova: lugar onde tudo podia comear do comeo.Os colonos
ingleses que desembarcaram ao norte do Continente o que encontraram em matria de
cultura e civilizao no lhes apreceu digno de conservao. Fizeram,ento,tabula
rasa,e,assim,puderam transplantar,por assim dizer,intatas suas formas culturais mais
adiantadas,como se se tratasse de uma transplantao para osis.Sendo nova, sendo
vasta, no havendo no seu solo seno a virgindade do mato e do solo (caso especifico
nosso,os do lado e c da banda atlntica meridional),a Amrica se fez com essas
transplantaes macias de culturas vindas de fora: que estilo, que forma de arte foi
imediatamnete transplantada para o Brasil mal descoberto ? A ltima, a mais moderna
vigorante na Europa o barroco.
Para Pedrosa, A cidade ideal moderna no se coaduna mais nem com a
centralizao militar do poder la barroca, nem com o gosto pequeno-burgues do
subrbio, nem com o desenvolver ao deus-dar do liberalismo.Ela quer uma estrutura
humana atravs da qual expandir-se e restaurar a coeso social perdida.
A AUTOGESTAO DO ESPAO
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Voltemos ao incio de nossa reflexo: os ciclos longos das lutas pela autogesto.
Como vimos acima, Paul Singer ao definir os implantes socialistas no
capitalismo, afirma que A revoluo socialista, por esta conceituao j em curso h
quase dois sculos, no a concretizao de um projeto, mas o resultado de inmeras
lutas no plano poltico, social e econmico que se estenderam por um nmero crescente
de naes, medida que a revoluo capitalista foi se estendendo a novos pases e
continentes. Traar elementos fundamentais das inmeras lutas destes quase dois
sculos de luta pelo socialismo, significa buscar elementos para um balano histrico-
crtico deste processo de tentativas e erros.
Nesta perspectiva da historia , o arco que vai da experincia da Comuna de Paris
(1871) Comuna de Gdansk (1980), a histria das lutas dos trabalhadores em vrios
continentes, mostra que em momentos crticos, caracterizados por conjunturas de
carter pr e/ou revolucionrio, a autogesto surge como prxis de auto-emancipao da
classe operria e como o horizonte do socialismo.
Yvon Bourdet: Nossa hiptese fundamental que o movimento igualitrio de
expresso da liberdade de todos os homens ( s vezes reprimido, contido pelas
instituies,pelos poderes,pelos Estados,suas policias,seus tribunais,suas prises ) flue
como um rio subterrneo e que transborda cada vez que a camada que est sobre ele
,por uns tempos, perde seu peso ou se quebra.
Lissagarey, analisando a experiencia da Comuna de Paris , de certa forma,
poetizou este fenmeno:
O 18 de maro de 1871, a mais alta onda do sculo, a mais surpreendente
manifestao desta fora popular, que toma a bastilha, reconduz o rei a Paris e assegura
os primeiros passos da revoluo francesa; sangra no Campo de Marte; invade as
Tulherias; expulsa o Prussiano; aniquila a Gironda; alimenta com idias a Conveno,
os jacobinos, a Cmara Municipal; afugenta os padres; curva-se sob Robespierre,
levanta-se no Prairial e dorme vinte anos para despertar aos canhes dos aliados;
mergulha de novo no sono, mas ressucita em 1830; enche de sobressaltos os primeiros
anos do reinado orleanist; ataca-lhe as fraudes em 48; sacode durante trs dias de junho
a Repblica ----; rechaada, irrompe novamente em 69; esvazia as Tulherias em 70;
oferece-se para combater o invasor; desdenhada, espizinhada at o dia em que esmaga
a mo que a quer asfixiar; a onda revolucionria corre, ininterruptamente, na nossa
histria, ora a luz do dia, ora subterraneamente, como os rios que caem de repente nos
abismos, ou nos areiais, para reaparecerem mais majestosos ao sol maravilhoso.Vou
narrar a ltima irrupo e extrair as guas vivas dos lagos pantanosos.
Nosso prximo passo ser em relao s lutas no sculo XIX. Destacamos alguns
momentos fundamentais: o nascimento do Cooperativismo autogestionrio na
Inglaterra, a revolta dos Canuts e a grande insurreio da Comuna de Paris,
possivelmente, a primeira luta mais ampla de carter autogestionrio. Em que os
trabalhadores elaboraram a forma politica finalmente descoberta , para realizar a
emancipao econmica do trabalho(Marx).
A palavra UTOPIA signica ( o que no existe ainda em algum lugar).Ao
contrario,o ttulo do ensaio, com um certo corte barroco, tenta dar conta de dois
lugares muito concreto: o beco dos sapos, onde surgiu a cooperativa em Rochdale, e,
os canaviais da zona da mata pernambucana, onde est localizada a Usina Harmonia
Catende , com seus milhares de camponeses e operrios,construindo uma Utopia
Concreta.
O nico e s meio de esquecer esta misria sem paralelo era a cachaa ,as
vezes, um ato desesperado explodia, e se quebrava as maquinas, incendiava as
fbricas,o que apenas tinha o efeito de conduzir a pena de morte,que aps 1811 punia
este gnero de convulso social. [C6] Comentrio: Vrias citaes sem
comentrio.
D.DESANTI, em seu estudo sobre os socialistas utpicos, aborda as revoltas
contra a miseria existente na Frana , poca da revoluo de 1848.
Tal magasin foi fundado por Owen ,em Londres em 1832,tipo Bolsa do
Trabalho em que os fabricantes se reuniam sem passar pelo intermedio dos
capitalistas e buscavam escapar ao aumento que determinava o desjo do
lucro.Esta utopia ainda pr-capitalista fracassou,pois,queria regular a economia a
partir da repartio e no da produo.
mais justo dizer que se a idia no vinha realidade, era porque a realidade da poca
no vinha idia. A industria no era ainda desenvolvida, o proletariado no estava
maduro, a nova sociedade era apenas perceptivel na velha.Sobre isto, Marx fez
consideraes na Miseria da Filosofia,(sem dvidas dirigida unicamente contra
Proudhon,mas valendo para todos os utopistas da velha gerao):
Isto no impede que todos estes sonhadores so de uma classe que ningum pode
negar. Incontestavelmente, tinham a vontade de transformao,e apesar de suas vises
abstratas,no foram unicamente contemplativos. oq eu diferencia os utopistas de seus
contemporaneos,os economistas politicos,mesmo os mais criticos.Fourier,justamente,
disse que os economistas (Sismondi e Ricardo) se contentavam de lanar luz sobre o
caos,ao passo que ele buscava um meio para sair do caos. Esta vontade de pratica no
teve ocasio de se concretizar.em razo da ausencia de contato com o proletariado,e
tambm pela insuficiencia de analise das tendencias objetivas existentes na sociedade da
epoca.
A obra dos sonhadores sociais autenticos foi honesta e grande; assim que ela deve ser
compreendida e apreciada, com todas as fraquezas de suas abstraes e de seu
otimismo muito expeditivo,mas tambm com sua vontade urgente e infatigaevl de paz,
de liberdade e de po.
Assim sucedeu que a educao das massas se converteu,para a amioria dos antigos
socialistas, em campo essencial de sua atividade.
Sobre Saint-Simon:
6= Saint-Simon e Fourier
(por Pierre Naville )
Uma viso muito interessante sobre o socialismo topico foi traada pelo
revolucionrio e terico bolchevique Eugen PREOBRAZHENSKI. O elemento
especifico da obra deste revolucionrio russo, que buscou nos utpicos elementos que
pudessem ser teis para construo do socialismo na Rssia aps a Revoluo de
1917.Neste sentido, nos traz uma viso diferenciada de tantas outras sobre este tema.
Um enfoque terico da primeira situao histrica em que a construo do socialismo
abandonou o campo da especulao para passar ao das preocupaes polticas
cotidianas. Ao analisar as idias dos utpicos, Preobrazhenski separa o que h de
antecipao do socialismo e de fantasia literria e humanitria.Assim,esta sua
contribuio especifica ao estudo sobre os socialistas utpicos.
Preobrazhenski previu escrever em dois tomos seu estudo terico do sistema econmico
sovitico.O primeiro, constava de dois volumes: um terico , A Nova Economia , e
outro histrico,anunciado pelo autor no prefacio de A Nova Economia(1926),como
um breve passeio pelo horizonte das idias socialistas e comunistas sobre o
socialismo.
Este segundo volume de A Nova Economia foi publicado sob o titulo de Por uma
Alternativa Socialista (1926).
Preobrazhenski tambm publicou um obra que tem relaes com a consciencia
utpica: Da NEP ao Socialismo, em que imagina um professor dando aulas no ano
2000 ,e fazendo referencias ao processo ocorrido entre 1917 e 2000.
Na segunda edio de A Nova Economia ,final de 1926, trazia uma advertncia da
Academia Comunista ,esclarecendo que a obra trazia pontos de vista que o Comit de
edio no compartia,e que serviam de fundamento terico a um grupo de camaradas
cuja posio difere do PCUS.
Em 1927, E.P. foi expulso do Partido junto com os demais dirigentes da oposio de
esquerda.Com o inicio da coletivizao forada, E.P. estava junto com cerca de 400
dirigentes deportados. Apesar de tentar voltar ao Partido e mesmo aceitar algumas
imposies, E.P. foi preso e executado em 1938. At o final do stalinismo, sua obra foi
condena ao silencio.Foi reabilitado aps o XX Congresso do PCUS,em 1956,mas sua
obra no foi reeditada.
E.P inicia sua obra com um conjunto de perguntas :
- Como ser , no concreto, a sociedade socialista ?
- Como se levar realmente pratica a supresso da regulao espontnea do mercado e
sua substituio pela planificao socialista ?
- Qual ser a estrutura dos rgos criados pelos trabalhadores para dirigir a economia ?
- Qual ser o sistema de distribuio de bens na sociedade socialista ?
- Em que relao se situar o setor socialista da economia respeito s formas pr-
revolucionarias, e como se produzir a extino destas ltimas ?
- Em que se diferenciar o homem surgido na poca da produo de mercadorias do
trabalhador da sociedade socialista ?
- Ter a economia socialista uma base tcnica distinta da capitalista, e qual ser esta ?
E.P. aborda os seguintes pensadores e movimentos:
1)Os grandes utpicos : Saint-Simon , Fourier,Cabet,Robert Owen
2)Os comunistas : August Blanqui, Marx e Engels.
3) O sindicalismo francs
4) Marx e Lnin.
Vejamos passo a passo as observaes de E.Preobrazenky sobre os grandes utpicos:
1) Saint-Simon
2. Fourier.
Para o historiador que observa as idias concretas dos socialistas sobre o socialismo,
Fourier muito mais interessante que Saint-Simon. Na obra de Fourier, encontramos
coisas desnescessarias que fazem com que muitas muitas passagens paream pouco
serias por serem exemplo de doutrinarismo utpico e de pedanteria. Juntos com
passagens geniais, cheias de profundidade e de materialismo histrico ,encontramos
teorias e esquemas nati-mortos. Por isto, s trataremos suas questes relativas ao
socialismo,aquelas que conservam interesse atual.
- A organizao do trabalho.
Fourier via as insuficincias fundamentais da sociedade de sua poca na inadequao
da organizao do trabalho, no carter inadequado da distribuio e na incapacidade de
utilizar em proveito da sociedade todos os aspectos positivos e negativos do carter
humano.
Para Fourier, a insuficincia bsica na organizao da produo era a parcealizao do
trabalho, a discordncia absoluta entre os vrios trabalhos.A que Fourier atribua esta
insuficincia ?
O trabalho assalariado servido indireta. Carrega atrs de si a ausncia de toda
economia mecnica, a fraude,o latrocnio e a desconfiana geral,as intermitncias da
industria por falta de meios,o conflito de empresas contrarias,a contrariedade do
interesse individual e o coletivo, a ausncia de unidade nos planos e na execuo.
O sistema de distribuio permite a existencia de grande quantidade de parasitas,entre
os quais Fourier inclua as mulheres,as crianas e o pessoal de servio ( parasitas
domsticos).Tambm, inclua o exercito e a armada,os cobradores de impostos,os
fabricantes,os comerciantes,os agentes de transportes,os agentes da criao negativa
(parasitas sociais).
Mas, o que Fourier contrape sociedade contempornea no campo da produo e da
distribuio ?
Fourier propunha uma associao sobre a base da ampliao da produo, de sua
mecanizao,da diviso do trabalho mais conveniente possvel, e de sua organizao
segundo um plano determinado.Como sabido, Fourier considerava como forma
concreta de organizao mais conveniente o Flansterio, a Comuna autosuficiente,
autrquica, que se compunha de uma mdia de 300 familias,formada aproximadamente
por 1.500-1.6000 pessoas,entre adultos e crianas.
O Falansterio no deveria compor-se apenas de pessoas de diversos ofcios, tanto do
ramo industrial como agrcola,mas tambm de distinta posio social.O Falansterio
devia unificar o Trabalho, o Capital e o Talento.
Vamos nos deter no que mais no interessa em sua teoria.A idia do falsnterio constitui
um dos exemplos mais patentes de quanta falta de rigor se revela na conscincia
,inclusive, dos idelogos mais geniais e progressistas de uma classe progressista,quando
tenta libertar-se das cadeias que lhe impem as condies de sua existncia, e quando
estas condies de sua existncia no empurram para frente a idia.
O Falansterio de Fourier no a industria pesada,com uma ampla diviso do
trabalho,no a empresa que pertence a uma grande cadeia de grandes empresas
semelhantes,que formam um complexo unificado de economia socialista em um
determinado territrio.No. O Falansterio de Fourier a combinao do tipo
manufatureiro da industria e da pequena agricultura intensiva em uma comuna
autosuficiente.
o desejo de suntrair-se em teoria as condies de produo imperantes na
Frana,composta em 5/6 partes de artesos e em 1 parte de manufatura.Mas,com estes
meios artesanais,Fourier no podia avanar at a concepo da economia mundial como
organismo unificado ( e,realmente em seu tempo,no existia uma unidade deste tipo)
nem sequer inclusive at a idia da economia francesa como sistema internamente
relacionado,o qual sem duvidas j existia.
Neste ponto, Fourier d um passo atrs em comparao com Saint-Simon.Portanto, em
Fourier no encontramos nada nem tampouco devemos buscar algo que responda
questo da nova base tcnica do socialismo, questo da organizao de um complexo
econmico unificado,dirigido de forma socialista,e menos ainda questo da
organizao socialista da economia mundial.Seu socialismo era em todos estes aspectos
um socialismo artesanal.
Nas teorias de Fourier conservam sua importncia (e no s histrica) os seguintes
problemas:
1. a luta contra o consumo improdutivo;
2. em especial, a luta contra os imensos gastos originados pelo sistema de
circulao, inevitveis em uma economia mercantil;
3. a liquidao da contradio entre a cidade e o campo, mediante a unificao do
trabalho industrial e agricola;
4. a organizao da alimentao coletiva e a liquidao da cozinha individual;
5. a formao politcnica e a revonverso do trabalhador de um trabalho a outro;
6. a combinao da educao infantil com o trabalho;
7. a aplicao de estmulos ao trabalho e atividade socialmente til, que no
sistema capitalista no puderam aplicar-se ou se viram estrangulados.
No que diz respeito a luta contra o consumo improdutivo,em particular contra os
gastos do apararto de distribuio comercial, no fundo Fourier via a soluo no
trabalho associado,segundo o modelo do falansterio.Porque,para Fourier,uma
comuna seria autosuficiente,o falansterio tornaria suprflua a mediao do comercio
com a envergadura anterior e o sistema de intercambio capitalista em sua totalidade,
se bem que mantinha o intercambio comercial entre os falansterios.A soluo de
Fourier a esta questo consistia na nacionalizao da economia, o que era um
principio correto desde o ponto de vista so socialismo,se bem que sua economia
nacionalizada no era socialista nos entido atual.O problema permanece de p.
(...). Na unificao da industria e da agricultura,Fourier intui uma tendncia ao
socialismo. Em seu falansterio deveriam participar 1/8 de capitalistas ,sbios e
artistas,enquanto os restantes 7/8 de membros deveriam ser trabalhadores industriais
ou agricultores.
As oficinas de produo,as instituies sociais e a sala de estar se acham em ume
dificio construdo especialmente para isto. Os campos de cultivo, as hortas de
verduras e os jardins de flores rodeiam este centro industrial e ao mesmo tempo
agrcola, que no nem cidade nem campo no sentido contemporneo. Os
trabalhadores do falansterio vendem uma parte de sua produo a outros falansterios
e lhes compram o que no podem produzir em absoluto ou em medida suficiente
devido s condies naturais locais ou outras razes.
Mesmo que as necessidades dos trabalhadores da associao se satisfaziam em sua
maior parte no seio do falsnterio, Fourier tinha uma clara viso de todas as
vantagens que traria uma unificao da industria e da agricultura,no apenas no
sentido da imensa economizao no transporte de produtos, na armazenagem,etc,
mas tambm na relaio com a higiene e a assistncia sanitria.(...)
Fourier defende com muita convico as vantagens de uma cozinha e uma
alimentao coletivas frente cozinha individual e domestica, questo que mantm
inteiramente sua atualidade no perodo da construo socialista.Est convencido de
que uma organizao deste tipo no s muito mais til desde o ponto de vista
scio-economico isto est claro para todos-, seno que lhe parece muito mais
atrativa para os membros da famlia,os quais antes se reuniam unicamente ao redor
de sua mesa.
Fourier atribua grande importncia questo da organizao do trabalho tanto em
sua diversidade como em suas reconverses (rodzios) de um oficio a
outro.Defendia que o melhor meio para aumentar a intensidade e o atrativo do
trabalho era a troca de tipo de trabalho dentro da mesma jornada.Fourier
considerava ademais que para conseguir reforar o amor ao trabalho e incrementar
seu poder de atrao eram indispensveis as seguintes condies:
1. Que cada trabalhador seja associado, retribudo com o dividendo e no com o
salrio.
2. Que todo homem , mulher ou criana seja retribudo em proporo s trs
faculdades: capital , trabalho e talento.
3. Que as sees industriais sejam trocadas (rodzio) aproximadamente 8 vezes
vezes por dia,pois o entusiasmo no pode manter-se maid e 1 hora e meia ou 2 horas
no exerccio de uma funo agrcola ou manufatureira.
4. Que sejam exercidas em companhia de amigos espontaneamente reunidos,
intrigados e estimulados por ativssimas rivalidades.
5.que as oficinas e cultivos presenteim ao operrio os atrativos da elegncia e da
limpeza.
6.que a diviso do trabalho seja levada ao grau supremo, a fim de proporcionar a
cada sexo e a cada idade as funes mais adequadas.
7.que nesta distribuio, cada um, mulher ou criana,goze plenamente do direito ao
trabalho ou direito de intervir em cada ramo de trabalho que lhe convenha
escolher,sempre que tenha aptides e probidade.Enfim, que nesta nova ordem goze
o povo de uma garantia de bemestar, de um mnimo suficiente para o presente e para
o futuro e que esta garantia o livre de toda inquietude para si e para os seus.
Deixando de lado o fantstico sistema de retribuio do ponto 2, podemos
comprovar que os pontos restantes so ainda do mximo interesse para uma
sociedade socialista em construo. obvio, que a mudana de um trabalho para
outro a cada hora e meia inconcebvel no nvel da tcnica atual e da organizao
cientifica do trabalho,surgida com esta tcnica.Neste aspecto, a fantasia de Fourier
estava absolutamente dominada pelo tipo de produo semi-artesanal de sua
poca.Mas, a linha fundamental das propostas de Fourier totalmente
correta.Necessariamente, deve dirigir-se formao politcnica e a facilitar ao
trabalhador pelo menos a reconverso de um oficio a outro.
A economia socialista (...) tem que se servir como reserva da fora de trabalho a
capacidade do trabalhador para executar diversos tipos de trabalho,sua qualificao
polivalente.Os outros pontos de vista de Fourier mantm sua importncia:
A idia de um ambiente de trabalho agradvel e o projeto de combinar a variedade
de trabalho para o trabalhador individual com a diviso do trabalho mais
conseqente para a associao.
Fourier teve o mrito de ter posto corretamente a questo da educao social e do
trabalho infantil (desde o ponto de vista socialista e pedaggico).A separao entre
educao e trabalho caracterstica do sistema educativo da burguesia e dos
latifundirios.Muito ao contraio, o sistema educativo socialista deve ter por base a
unificao da educao e trabalho, a transio do jogo infantil ao trabalho, a
eliminao do abismo existente entre o livro de contos e o banco de trabalho,e antes
de tudo,na anulao do direito dos pais sobre a educao de seus prprios filhos.
A questo dos incentivos ao trabalho tem um papel muito importante em todo o
sistema das concepes de Fourier. Sua associao presupe dada sua constituio
(associao voluntria), e devido a seu sistema de direo (um aeropago), cujas
decises ,no obstante,no serem vinculantes,posto que deve atuar exclusivamente
em base autoridade de seu conselho-,no somente um nvel muito alto de
conscincia e instinto social, mas tambm um interesse pessoal de cada individuo no
trabalho,inclusive justamente naquele trabalho que til para todos.
Desta forma, resulta compreensvel porque jogam um papel to imenso os
incentivos internos ao trabalho,em lugar da obrigao externa. Fourier enumera
estes estmulos:
Eleio voluntria do trabalho;
Ambiente de trabalho atrativo;
Um dividendo acima do mnimo de existncia;
Competncia individual ( entre o grupo de trabalho);
Competncia coletiva (os falansterios entre si);
Reconhecimento social;
Desenvolvimento e utilizao de todas as vocaes humanas, de todas suas
singularidades em beneficio do trabalho.
Muito importante tambm o novo ngulo desde o qual Fourier considera as
paixes e os vcios humanos.Como resultado de sua analise encontrou que muito
dos chamados vcios se transformam ,com uma organizao adequada da sociedade,
em estmulos ao trabalho e atividades teis para sociedade. Vejamos as opinies
concretas de Fourier a respeito.Diziamos que apenas pelo fato de apontar estas
questes muito importante para o socialismo.(...).Todas as questes so problemas
que a classe operaria junto com sua vanguarda dirigente tero que refletir muitas
vezes aps a vitria.
Finalmente, quero mencionar ainda um aspecto do pensamento de Fourier que o
coloca muitas milhas adiante dos socialistas da II internacional,que entendiam por
humanidade apenas a parte civilizada da humanidade, por classe operaria apenas
a classe operaria da Europa e da Amrica, por socialismo apenas o produto do
aacordo parlamentar pacifico entre a aristocracia operaria e a classe capitalista,um
acordo fechado nas costas das massas operarias atormentadas nas colnias.
Sobre estes povos, que no pertencem famlia dos povos civilizados e que, ao
mesmo tempo, representam maioria da humanidade, escreveu Fourier:
Autores de cincias inexatas que pretendeis trabalhar em bem do genero humano,
acreditais que seiscentos milhes de brbaros e selvagens no formam parte dessa
humanidade ? Sem duvidas, sofrem. Ah! Que tens feito por eles ? Nada. Vossos
sistemas s so aplicveis civilizao....
Sem duvida, as simpatias de Fourier pelos povos no civilizados coincidiam em sua
maior parte com as de Rosseau.Fourier,por exemplo,considerava como uma
vantagem dos povos no civilizados o fato de conservar durante milhares de anos as
bases de sua estrutura social, enquanto que nos povos civilizados nascem toda serie
de inovaes sem chegar a alcanar jamais seu pleno florescimento.Seu protesto
contra a civilizao burguesa-latifundiaria no deixava de ter um certo gosto
reacionrio.(...)
Na historia acontece com freqncia que uma teoria social qualquer ou uma idia
surgida em, algum lugar como reao, como protesto contra um sistema econmico
dado e seu desenvolvimento progressivo, tome em outra etapa histrica,em que tal
sistema se transforma em obstculo para o desenvolvimento, novo alento vital.
Comea a golpear o sistema existente, se me permitem expressa-lo assim,
historicamente por trs.Introduze-se ento como um elo individual na cadeia das
idias de uma nova critica revolucionaria, dirigida contra aquele sistema.
2) Cabet
A utopia de Cabet ,Viagem por Icaria, tem interesse para ns porque o autor nos
oferece uma imagem completa do modo de produo comunista, tal e qual o imaginava
um socialista francs dos anos 1840.
Comparado com Fourier, Cabet d um grande passo para frente,principalmente porque
suas concepes da sociedade futura no apenas se formaram sob a impresso da
economia francesa daquela poca,em que a grande produo capitalista ainda mostrava
um desenvolvimento relativamente dbil,mas tambm sob a impresso da industria
mecanizada da Inglaterra, que Cabet conheceu durante sua estadia nesse
pais.Compreende-se que o comunismo de Cabet seja extremamente primitivo, como o
era precisamente a base tcnica deste comunismo.(...) Cabet no oferece aqui a
imagem do que existir na sociedade comunista,mas aquilo que carecia a Frana dos
anos 40.(...)
Vejamos as passagens mais interessantes para ns da utopia de cabet.Em sua descrio
dos fatos fundamentais da estrutura social na Iaria comunista, Cabet escreve:
Assim como ns (os icarianos) no formamos mais que uma s sociedade, um
povo,uma s famlia,do mesmo modo nosso territrio,com suas minas subterrneas e
suas construes superiores,no forma mais que um Domnio, que nosso domnio
social.
Todos os bens moveis dos associados, em unio com todos os produtos da terra e da
industria,formam um s Capital Social.(mais adinate veremos que Cabet introduz aqui
sem inteno um conceito do qual no podero prescindir nossos economistas ao
proceder ao analise do capitalismo de Estado.Se bem este conceito no necessrio em
relao com a sociedade comunista, ser no obstante muito difcil substitui-lo por outro
em uma economia de transio.).Este domnio (domaine) e este capital sociais
pertencem indivisivelmente ao povo, que os cultiva e os explora em comum, que os
administra por si mesmo ou por seus mandatrios, e que participa igualmente de todos
os produtos.
Ao considerar sociedade futura como um nico coletivo de produo, como uma nica
grande comuna com uma populkao de muitos milhes, e ao construir,como veremos
adiante,tambm um sistema de distribuio correspondente, Cabet d um imenso passo
a frente , em comparao com os falansterios de Fourier,que comerciam entre eles e so
autnomos na produo;tambm, descarta as exigncias do pequeno capital de Fourier
que pretendia participar na produo e na distribuio sobre uma base privada.
A industria de Cabet uma mescla de fabrica inglesa e da manufatura francesa dos anos
40; (...).Porm, no que respeita as fontes de energia do movimento, Cabet est ainda
totalmente sob o domnio do vapor,no sabe nada e no imagina nada sobre o papel da
eletricidade como base tcnica da sociedade futura.
A agricultura da sociedade futura,no obstante, a imagina o utpico em forma de
pequena produo baseada em granjas naturalmente sem empregar a fora de trabalhoa
assalariada,mas com utilizao do maximo de todas as maquinas possiveis.Que este
maximo,desde o ponto de vista de uma agricultura racional em grande escala ,no deixa
de ser um mnimo, algo fcil de supor. A agricultura de Iaria no mais que a
pequena economia racionalizada do campsinato mdio francs.(...)
A sociedade comunista se equipa de forma extremamente precria no que diz respeito
aos meios de transporte.O maximo de aquisies so 12 trens, se voa um pouco com
globos, trechos curtos se percorrem com carros e inclusive se transportam produtos com
ces.
O governo da republica determina a magnitude da comuna com base em um calculo
estatstico.temos,portanto, j completo o sistema de economia planificada,que seguir
produo e ao intercambio de mercadorias.
O sistema de distribuio de produtos da republica recorda desde o ponto de vista
organizativo (tudo vai para uns grandisoissimos armazns e depois se distribuem entre
os cidados) o sistema de distribuio Narkomprod (Comit de Economia para a
Produo) no perodo de nosso comunismo de guerra.Se no fosse notrio que nossa
organizao de distribuio durante o perodo do comunismo de guerra era uma parte
inevitvel da economia na guerra civil,poderia se pensar que entre 1918-1920 tinhamos
realizado a mais pura copia de Cabet.Em geral,Cabet se interessa mais pelos problemas
da distribuio que pelos da produo.
(...)Neste terreno se refletem muito bem certos traos caractersticos do burocratismo
francs tradicional no campo do socialismo ,um produto da fantasia de cabet.
certo que, nas oficinas ,os prprios trabalhadores estabelecem as regras do trabalho,e
elegem tambm seus funcionrios,aspecto que toma tanta importncia nas teorias dos
socialistas corporativistas.
Das particularidades que podem interessar-nos da utopia de Cabet deve reter-se o
seguinte:
1. existncia de um governo sem que existam classes,de forma que o governo s
tem que cumprir a funo de um Veshenka (Conselho Superior de economia
Poltica);
2. a competncia no marco dos concursos organizados pela republica, joga um
papel muito importante na realizao do trabalho;
3. o sistema educativo bastante reacionrio,tem lugar fundamentalmente na casa
paterna,no publico e comunitrio. As tradies familiares reacionrias so
efetivas at chegar a abusos tais, que,para se casar a uma mulher,deve se
conseguir um acordo prvio entre os pais.
4. O ocupar-se das cincias, a arte,etc,no um trabalho adicional que representa
um oficio de especialistas deste ramo,isto , perdura em Cabet a separao entre a
cincia e o trabalho fsico,tpica dos sistemas exploradores. Pode-se acrescentar que
a sociedade comunista de Cabet no pode subsistir sem a adorao de Deus, isto ,
sem a religio,sem padres,cujo trabalho se considera socialmente til e se
remunera lanando mo dos cofres do estado.
A idia de um perodo de transio do capitalismo ao comunismo no alheia a
Cabet.Em todo caso, desde a Revoluo de Outubro em Iaria at a organizao
do comunismo acabado, se passaram 50 anos.No obstante, Cabet imagina as
particularidades deste perodo,especialmente interessante para ns, s de forma
muito confusa e geral.No que respeita transio at este perodo de transio,isto
,a possibilidade da ruptura com a sociedade capitalista,Cabet permanece em geral
no nvel dos demais utpicos: no combina o destino do socialismo com a luta de
classes do proletariado e a vitria da revoluo operaria.Por esta razo nenhum dos
utpicos,sem exceptuar a Cabet, pode dizer algo razovel sobre a estrutura
econmica do perodo de transio.
Apesar de que Iaria nasce de uma guerra civil,e nisto radica precisamente a
genialidade de seu prognostico,Cabet no a leva totalmente a serio e no se deixa
guiar por ele em sua luta pratica pelo socialismo.
3) Robert Owen
Se bem que os trabalhos de Robert Owen so,enquanto a fantasia,bastante inferiores s
obras de Fourier e Cabet, tm sem dvidas outra vantagem, relacionada com a
influencia exercida pela base econmica de um capitalismo mais desenvolvido sobre a
ideologia de Owen.
S nos interessa as questes que Owen apontou que tenham relao com a construo
do socialismo.Portanto, trataremos os pontos de vista de Owen sobre:
o sistema de produo na sociedade futura,
o sistema de distribuio,
o sistema educativo e, finalmente,
as vias de superao da sociedade capitalista pelo socialismo.
Para Owen , a sociedade futura perfeita deve estar organizada conscientemente
segundo princpios altamente racionais, que devem substituir a estrutura da sociedade
atual surgida espontaneamente, para Owen a organizao cientifica de toda a
sociedade.Assim mesmo, considera imprescindvel a organizao cientifica da
produo.
Para uma sociedade desta ndole, trata-se em primeiro lugar de eliminar a contradio
entre a cidade e o campo.Como outros socialistas,Owen tambm um defensor
ardoroso da unificao entre industria e agricultura, a pesar de que,como habitante de
um pais capitalista altamente desenvolvido,poderia ter reconhecido com especial
facilidade as dificuldades existentes para aplicar uma medida deste tipo(combinar a
grande produo mecanizada e especializada em alto grau com a agricultura).Veremos
que Owen considerava possivel, por este e por outros motivos (reduo dos gastos de
circulao),que no se levariam os alimentos e mercadorias ao homem,mas que o ser
humano se acercaria aos alimentos e demais bens.
( Quando se falava entre ns em 1918-1920 de que levaramos os seres humanos ao po
em lugar de levar o po aos seres humanos, esta forma de falar era um plagio de Owen).
No podia compreender que este problema poderia ser resolvido por uma revoluo no
sistema de transportes,que possibilitaria,em vez de um traslado da aldeia cidade ou
vice-versa,o transportar com rapidez seres humanos ou produtos da cidade ao campo e
vice-versa; isto , no reduz a distancia no espao,mas sim no tempo,entre a cidade e o
campo.
Em respeito s condies tcnicas, Owen considerava imprescindvel o uso das
mquinas mais aperfeioadas e a completa aplicao da cincia a produo.Era
contrario ao intecambio monetrio e a produo de lucro,isto , ao sistema mercantil da
economia.O trabalho alcanaria a produtividade mxima quando a produo est
orientada diretamente ao consumo e no para o lucro a venda ou revenda.
A organizao da sociedade e da produo estaria assentada numa diviso do pais em
partes determinadas.A produo agrcola eindustrial deveriam ser combinadas,distribuir
as pessoas segundo os postos de trabalho, tendo em conta ao Maximo suas inclinaes
naturais e seus desejos. Este processo aumentaria a produo,economizaria os gastos
com a administrao e, eliminaria as classes e os grupos parasitrios da sociedade.
No campo da distribuio,Owen era um grande inimigo dos sitema de intercambio e
distribuio capitalista;considerava o dinheiro como instrumento de intercambio
desnecessario. com o sistema atual, a distribuio dos bens pesa como uma carga morta
sobre os produtores e se manifesta como o principio mais desmoralizador para a
sociedade...Com uma organizao cientifica razovel da sociedade podem evitar-se as
perdas relacionadas com o transporte prolongado e o armazenamento irracional no
comercio e armmazens. ( The look on the new moral world . 1849).
Como alternativa, Owen propoe uma estreita interconexo entre o processo de
produo, a distribuio e o consumo. Sua bandeira de por um mnimo de circulao e
de gastos de circulao recolhe o problema mais atual da recionalizao
socialistareferido distribuio da industria sobre um territrio e reduo de gastos
para o aparato de distribuio. Este problema,contudo, muito mais complicado e
difcil para industria socialista do que pensava Owen.
A racionalizao da produo e da distibuio no se atinge sem eliminar a sociedade
mercantil e a totalidade do sistema monetrio da sociedade capitalista.Owen observou
isto, mas ao igual que todos os socialistas que no tinham entendido a mutua
dependncia de todas as partes do sistema capitalista e a primazia da produo, se
dirigiu para aspectos isolados do sistema monetrio capitalista, especialmente sobre o
problema do dinheiro.
Assim,Owen pensava que a produo socialista era uma produo para o consumo.
Todos os utpicos tratam com muita seriedade a educao do novo ser humano.Owen
trata com mxima ateno o problema da educao. Seu pensamento bsico que a
natureza humana de todas as pessoas igual. Seu carter se forma no processo
educativo.
Owen pregava a reeducao da humanidade por via pacifica, recusando a via
revolucionaria na luta pelo socialismo.
Em relao ao sistema educativo da sociedade futura, no perodo de transio,as
crianas so separadas de seus pais no instrudos, que podem influir negativamente na
formao de seu carter e so reunidas em instituies de ensino especiais. As crianas
s voltam para seus pais pela noite. A educao est relacionada ao trabalho: as crianas
que superam todos os nveis de trabalho,convertem-se em trabalhadores de todos os
ramos da industria e da agricultura.
A questo que mais dificuldades oferece o sistema educativo de Owen de como os
velhos professores podem educar o novo ser humano.
As opinies de Owen sobre a organizao da produo, a distribuio, a autogesto,se
aproximam muito s idias dos socialistas corporativistas na Inglaterra.
Enfim, o socialismo terico alemo jamais esquecer que se sustenta sobre os ombros
de Saint-Simon, Fourier e Owen trs pensadores que apesar de seu carter fantstico e
de todo o utopismo de suas doutrinas,pertencem s mentes maiores de todos os tempos,
tendo antecipado genialmente uma infinitude de verdades cuja exatido estamos
demonstrando agora de um modo cientifico(Engels , prefacio a Guerra dos
camponeses na Alemanha).
CONCLUSES
(21 paginas)
A EXPERIMENTAO AUTOGESTIONRIA
-estrategia da autogesto
-pedagogia da autogesto
inconcebvel tornar
irreversvel a ordem social alternativa sem a plena participao dos produtores
associados na tomada de deciso em todos os nveis de controle poltico, cultural e
econmico ( I.Meszros).
2a)sendo um sistema que no tem limites para a sua expanso,o capital acaba por
tornar-se incontrolvel e essencialmente destrutivo.
- Politica da Autogesto:
Bernardo nos aponta dois exemplos histricos mais recentes,que levaram as lutas a
pontos altos de ao e organizao:
Quando as lutas coletivas mobilizam simultaneamente os trabalhadores de um grande
numero de empresas e quando a sua durao lhes permite manifestarem-se como
alternativa,podem ento desenvolver-se instituies que consolidam a articulao entre
o ambito inicial do conflito e a sua extenso alm da esfera empresarial.
Foi o que sucedeu em maio e junho de 1968 em NANTES,por exemplo, ou ainda na
POLONIA,no segundo semestre de 1980.A,comits de greve interempresas,formados
autonomamente,coordenavam e controlavam a distribuio de bens e servios
essenciais,fiscalizavam preos praticados na venda a varejo e impediam
aambarcamentos,cobrindo com esta atividade reas por vezes muito vastas.
Bernardo fala,ento,das condiies para luta chegar a esse nvel: S e possivel chegar
a uma situao desse tipo quando a populao trabalhadora se encontra autonomamente
otganizada tambm no nvel dos bairros e quando a mobilizao social inclui os
camponeses.
Nestes caos,afirma Bernardo,o processo se iniciou no ambito das empresas,mas que
apenas a sua extenso lhe permitiu atingir formas to desenvolvidas.O modelo das
relaes sociais surgidas na luta coletiva e ativa abarca assim, na sua proposta pratica, a
reeorganizao da globalidade da sociedade. este o percurso concreto que seguem ,a
partir do local da sua ecloso. esta a base pratica da sua vocao totalizante.De
relaes sociais de luta, desenvolvem-se em relaes gerais.
Vimos como no movimento polons Solidarnosc , seu Congresso construiu um
programa intitulado A Republica Autogestionaria da Polnia.Uma proposta global de
sociedade.
Joo Bernardo analisa questes importantes destes movimentos, relativos questo do
Mercado. At agora, o estagio superior nestes processos parece-me ter ocorrido
naqueles POUCOS- (grifo nosso) casos em que trabalhadores de empresas
diferentes,tendo desencadeado simultaneamente movimentos de luta autnoma e
tomado em mos a produo,reorganizando-a segundo as novas relaes sociais,trocam
ento entre si os produtos assim fabricados.S mediante a generalizao deste tipo de
trocas podero os emrcados de solidariedade incluir,no apenas bens de uso corrente,
mas todo gnero de produtos. Bernardo,arremata: Estamos certamente ainda muito
longe desse estagio, que hoje mal comea.
Bernardo assinala questes cruciais para estas lutas: Apenas o simultneo
desencadeamento de processo coletivos e ativos de contestao generalizada pelos
trabalhadores de um numero crescente de paises poder fazer recuar o emrcado mundial
e comear a por em xeque os seus critrios de produtividade.A partir de ento,o
desenvolvimento das relaes sociais surgidas na luta radical poder obedecer a
percursos diferentes daqueles que aqui sistematizai.Mas essa ser to-somente uma
ETAPA FUTURA (grifo nosso).At agora, diz Bernardo,mesmo quando se
desencadeiam em unidades de produo de empresas transnacionais,estas lutas tm-se
confinado localmente,sem se alastrarem s unidades da mesma empresa situadas em
outros paises.Isto implica uma ENORME FRAQUEZA TATICA DOS
TRABALHADORES(grifo nosso)....
E,fica assim de p uma questo crucial,retoma Bernardo:
a de saber por que essa internacionalizao dos focos de origem das lutas autnomas
no ocorreu.
Sem duvidas, nesta poca de crise estrutural do Capital (Meszros),os trabalhadores
tero que responder na sua prxis essa questo . Ou isto ou a Barbrie !
Outra Verso=
CONCLUSES:
EXPERIMENTAO AUTOGESTIONARIA
-autogesto da pedagogia
-pedagogia da autogesto
Pedagogia da Autogesto e Hegemonia
Vejamos ,em longa citao ,que nos permite entender as conexes feitas por Urbani:
Ser nos escritos sobre Materialismo Storico e la filosofia di Benedetto Croce que
Gramsci se empenhar na busca para desenvolver o marxismo como uma concepo
integral do mundo que seja em conjunto uma ideologia e uma religio ( em sentido
crociano).Ele sublinhar com grande insistncia,que seu trao peculiar deve consistir no
fato de possuir a caracteristica formal da mais complexa filosofia,e em conjunto, de ser
capaz da mxima difuso nos mais amplos estratos populares para eleva-los intelectual
e moralmente.Neste duplo carter se reflete teoricamente a tarefa histrica de
transformar a conscincia da classe operaria,fazendo-a passar, tambm no plano da
ideologia, de uma postura subalterna a uma postura dirigente;e, define-se em
conjunto,o aspecto educativo da poltica que destinado a assumir o mais grande
relevo nos Quaderni.
Este aspecto educativo da poltica no exclusivo dos Quaderni; nos Scritti do perodo
jovem j tinha assumido, como j sublinhamos, um relevo particular.Presente tambm
com toda sua clareza a idia que o objetivo desta ao educativa devia ser no apenas
um genrico melhoramento ou direcionamento dos militantes e mais genericamente das
classes populares,mas a aquisio da plena conscincia da prpria funo histrica
dirigente e da capacidade de realiza-la.
A soluo que Gramsci prope circula atravs todas as paginas dos Quaderni,mas acha
sua elaborao especifica na Note sulla poltica, em que ele desenvolve a sua
concepo do partido.
Ademais famosa a definio que Gramsci d do partido: moderno prncipe,o qual
em conjunto, o organizador e a expresso ativa e operante ... de uma vontade coletiva
nacional popular , que se reconhece e se forma na ao ;e,ainda, o propagandista e
organizador de uma reforma intelectual moral a sua vez capaz de criar o terreno para
um posterior desenvolvimento da vontade coletiva nacional popular para o
cumprimento de uma forma superior total de civilizao moderna.
(...). O que conta por em destaque como encontra expresso terica a especifica
soluo que Gramsci d ao problema concreto da formao de um novo organismo
dirigente das classes subalternas,cuja chave mestra,como veremos,est no conceito de
organicidade da relao entre classe e partido.A reconstruo da gnese deste
conceito, por muitos aspectos fundamental,mostra que nos escritos do perodo jovem a
exigncia da direo sentida em forma muito enrgica,mas quase genrica: no posta
ainda como problema de construo de um organismo especifico de formao dos
dirigentes sistematicamente predisposta; a conscincia revolucionaria e a vontade
coletiva so j reconhecidas,ao menos implicitamente, como condies indispensveis
da ao poltica revolucionaria; mas isto parece desenvolver-se segundo um processo
natural luta concreta da classe,como expresso da vida que acontece.isto em
particular vale para os ensaios do Grido e DellAvanti,em que o acento posto no lado
expansivo do movimento espontneo da massa que,provocado por razes objetivas,se
afirma segundo uma lei que lhe prpria e que enquanto se manifesta,pela fora mesmo
do impulso do qual nasce,reflete a forma constituda da organizao social e civil e no
cria algo novo.
Mas, em Ordine Nuovo direi que esta oposio no superada; bem mais, convive
com a reconhecida necessidade,que sempre se impe, da iniciativa enrgica e consciente
dos dirigentes:mas, as duas exigncias permanecem,digo assim,justapostas,no
encontram ainda um nexo que as unifique dialeticamente;a mesma incerteza que se
encontra em Ordine Nuovo,a propsito do modo de conceber o partido e as relaes
deste com os sindicatos e os Conselhos de fabrica,mostran quanto intensamente
Gramsci sentia o problema fundamental de construir um organismo dirigente
eficiente,sem trair a exigncia, essencial,de alimenta-lo perenemente com a fonte do
movimento real da massa, de mante-lo fiel,por assim dizer, lei intima do processo
histrico.
Ulburghs fez parte do MAB* e suas idias foram apresentadas em seu livro Pour une
Pedagogie de lAutogestion(1980).Como diz na apresentao:Este livro nasceu de
uma longa experiencia.Anos de luta fizeram amadurecer um mtodo e construir uma
pedagogia para uma mudana social nova na perspectiva autogestionariaChamo esse
mtodo de indutivo.
Sua obra porta inspirao em tres pedagogos= Paulo Freire,Oskar Negt,educador e
sociologo da Escola de Frankfurt, e Joseph Cardjin,fundador da JOC.
Jef diz que muito se escreveu sobre a autogesto,mas muito pouco sobre sua pedagogia:
O movimento autogestionario,ao mesmo tempo, pedaggico e poltico, portador de
uma dinmica permanente,de um processo constante de evoluo em que o pensamento
e a ao permitem o aprofundamento do contedo ideolgico.O que revolucionrio
no o resultado,mas o processo para autogesto.
A experincia de autogesto na educao ,para Ulburghs,parte da idia de que A
autogesto se parece um canteiro de construo onde os operarios tm o direito de
experimentar.
A construo de um movimento pela autogesto requer animadores-educadores de base
muito bem formados.Na Blgica,desta necessidade surgiu uma Universidade
Operaria,com o objetivo de formar militantes de base prontos se tornarem
animadores na perspectiva de um socialismo autogestionario.
Neste campo , situa-se a tomada de conscincia da base (a conscientizao,segundo
Paulo Freire),como uma etapa importante de um novo tipo de sociedade democrtica: a
autogesto.Os dois pilares desta tomada de conscincia so, uma organizao
autnoma e a formao permanente.
Ulburghs fala de uma cultura operaria original relacionada a uma cultura indutiva:
sua linguagen concreta e direta rica em smbolos...sua luta inspira tambm a poesia,a
cano,a literatura,a religio popular,a filosofia e a poltica.Ela permite que uma nova
forma de vida e de pensamento possa se desenvolver.A aprendizagem,o modo de
adquirir uma cultura,seja por transferncia (deduo),seja por auto-libertao (induo)
determinante para seu contedo.
Deste modo, Ulburghs parte de trs mestres do pensamento indutivo:
Cardjin,fundador da JOC;
Paulo Freire,com seu mtodo da conscientizao atravs da qual o oprimido cria sua
prpria linguageme,esta linguagem um meio de dar um nome ao futuro e permite ao
oprimido de tomar em mos sua prpria vida.Ulburghs esteve algumas vezes com Paulo
Freire em genebra,quando este estava exilado.
Oskar Negt,educador sindical na Alemanha.
Tambm,podemos encontrar em Ulburghs,idias de Gramsci,no sentido e que as
formas de luta de base constituem uma luta cultural.
Qual a concepo de Ulburghs deste tipo de socialismo:
o atrativo da autogesto est no fato que a base mesma pode gerir coletivamente sua
prpria vida.Claro,os comits de base em todos os setores e em todos os nveis da
sociedade devem ser criados.A produo assim gerida pelos comits de trabalhadores
eleitos por um tempo determinado e para uma funo delimitada: os critrios de opo
so a competncia e a honestidade;estes comits so regularmente controlados,so
revogveis e substituveis.Eles representam os diversos ateliers,as varias categorias de
idade e cada tipo de trabalho.Os comits de fabrica estudam a repartico do
trabalho,controlam a formao dos trabalhadores assim como as grandes opes da
produo.Regularmente,convocam assemblias para prestar contas de suas aes.
Para Ulburghs,no setor da re-produo,a popuilao dever se organizar em comits
nos setores da sade,do bairro,dos esportes ,da formao.
Alm dos vrios setores,dever haver uma intercomunicao entre os diferentes tipos
de atividades sociais: um delegado do meio ambiente visitar um comit de fabrica e
vice-versa.A autogesto coerente e digna desse nome compreender de inicio um
primeiro escalo,os comits de base nos diferentes setores de produo e de re-
produo.Ems egundo lugar, os comits se interarticulam de uma forma horizontal e
intersetorial.Em terceiro lugar,eles se organizam nos diferentes biveis da
sociedade:regional,nacional e internacional.
Entre as condies da autogesto,Ulburghs coloca uma educao permanente:
O grande perigo da autogesto a possibilidade de concorrncia,por exemplo,entre
unidades de produo...A tentao corporativa pode opor os setores fortes aos setores
fracos.Para evitar este risco necessrio combinar a autogesto com uma formao
permanente.ao passo que a durao do trabalho diminui e que as tarefas duras so
repartidas ou feitas pelas maquinas,o tempo assim ganho pode ser utilizado para a
formao dos trabalhadores.
Esta abrange uma formao ao alcance de todos (facilitada pela computao),uma
qualificao tcnica pluriforme (para evitar o trabalho nico e mecanico),analises
polticas (para situar o objetivo da produo),e a formao moral (para favorecer a
solidariedade).
Portanto,conclue Ulburghs; A autogesto ,assim,impossvel sem uma formao
permanente que ponha o conhecimento fisposio de todos...Esta formao supe uma
dimenso poltica solidaria e global.
As experimentaes de autogesto mobilizam os trabalhadores para uma tarefa
concreta,e,assim,adquirem no processo e de modo indutivo uma formao para
autogesto.
Ulburghs sintetiza sua proposta:
Conclue,ento,Bernardo:
Decerto impossvel edificar o socialismo em pequenas esferas isoladas.Mas
aqui a questo consiste em INSTAURAR NESSAS PEQUENAS ESFERAS
RELAES SOCIAIS E DE TRABALHO QUE CONSTITUAM UM
APRENDIZADO PRATICO DE SOCIALISMO,E QUE POSSAM LEVAR ADIANTE
A EXPERIENCIA.A forma da organizao determina o contedo poltico da
organizao. este o dilema em que nos encontramos hoje, e enquanto os trabalhadores
no o resolverem o sistema de explorao capitalista continuar em vigor.
Enfim, permanecer na nostalgia de velhos ciclos revolucionrios,esperando O
Grande Dia da Revoluo,ou,seu contrario,limitar-se as linhas de menor
resistencia,as lutas tticas sem horizonte estratgico, ambas so polticas que esto
fadadas a possveis fracassos.
A Idia de experimentao social foi tratada por Pierre Naville,em sua obra
intitulada Le temps, La techhinique, lautogestion ( 1980),matria de uma entrevista
para a Revista Critique Socialiste(1979).
Para Naville o que experimental o que no natural,espontaneo.Nos cabe
descobrir as formas de experimentao que possam ser conduzidas de forma
cientifica,pelo mtodo de ensaios e erros,isto ,que possamos corrigir,ou abandonar,ou
melhorar.Desta forma,a experiemntao pode torna-se democrtica.Um poder
socialista experimental deve ser democraticoo,traar hipteses e buscar verifica-
las.Experimentar muito diferente de criar o caos.Devemos buscar os modos de
experimentao diferentes segundo os setores emm jogo,buscar os domnios
prioritrios..Para mim,os socialistas devem comear pelos setores da produo,do
trabalho.A experimentao social no pode nem deve suprimir os conflitos sociais,as
lutas entre classes e grupos.
Experimentar significa,primeiro,poor um problema corretamente,de tal forma que
se posssa ter uma soluo.E,para isto,precisamos de mtodo, e justamente um mtodo
experimental.
Autogesto significa um principio,no uma regra,uma instituio ou uma
soluo.Significa que um objeto social deve se determinar a si mesmo..Para determinar
as formas da autogesto segundo certos nveis,ou conjuntos,deve-se justamente realizar
experimentaes sociais.Por exemplo, o acontecimento LIP e numerosos conflitos nas
empresas produtivas hoje,so tipos de experincias sociais que abriram as vias uma
reflexo sobre a autogesto.
E conclue Naville : O campo educativo e escolar foi sempre um terreno de
experimentao, de inovao, de contestao; um dos campos principais em que a
experimentao para autogesto deve se exercer.
Para concluir, enfim,vejamos,ento,como Daniel Moth aborda a questo da
EXPERIMENTAO AUTOGESTIONRIA.
Moth traa como objetivo central ver como os locais de competncia dos atores
podem se tornar locais de aprendizagem da gesto coletivaInicialmente esclarece que
O conceito de aprendizagem mais amplo que o profissional...tratando-se de
aprendizagens mltiplas..As aprendizagens dos trabalhadores dependem da natureza da
funo e da tecnologia de uma parte, e da estrutura de organizao ,de outra
parte.Mas,alem destas aprendizagens, os trabalhadores tm um campo de aprendizagem
mais rico,,que decorre de aprendizagens de comportamentos sociais,que lhes permitem
recusar ,combater e ou aceitar as estruturas de organizao.
H uma grande diferena se so estruturas hierrquicas autoritrias ou estruturas
democrticas,formadas por grupos autnomos que discutem ,analisam,decidem,etc.
As aprendizagens so baseadas essencialmente sobre praticas que pem os
operrios em situaes concretas e que lhes incitam buscar respostas a estas
situaes. Assim,A aprendizagem uma atividade que se efetua no nvel do
fazer,conclue Moth.
E que,desta forma, a autogesto depende de que os trabalhadores estejam em
organizaes as mais participativas.
Moth cita Rosa Luxemburgo: Para parafrasear Rosa Luxembourg,diremos que
funcionandoo coletivamente que as massas aprendem se autogerir;no h outro
meio de aprender a cincia.Sua educao se faz quando elas passam ao.
Moth traas algumas linhas sobre a relao militncia e pesquisa:
Os pesquisadores no devem testemunhar sua afeio ao mundo do trabalho
pela apologiua sistemtica da luta militante problemas dos sindicalistas- ,mas por
uma analise critica das experincias sindicais.
A aprendizagem pelo lado sindical deveria se efetuar por uma ocupao
sistemtica do terreno da experimentao de modo que essa enriquea seu ponto de
vista e possa se inserir em sua estratgia(...).Deste modo, poderamos achar um terreno
favorvel de colaborao entre pesquisadores,sindicalistas,educadores e tambm
trabalhadores que participam destas aes
A partir da experincia francesa,Mothe defende ,Equipes,formadas por
universitrios,sindicalistas,operrios,pesquisadores,educadores,ergonomosd,j
experimentaram este caminho,o da pesquisa-ao nas empresas.
Por fim,D.Moth entra no campo das empresas de autogesto:
Se relacionamos os procedimentos experimentais s empresas de autogesto,a
experimentao autogestionria consiste em enriquecer seu patrimnio de fatos, de
praticas, a partir dos quais o mundo sindical e cientifico possam refletir,modificar seus
procedimentos,afirmar suas dinmicas e constituir deste modo todo um arsenal de
tcnicas autogestionarias que lhes so prprias.
A experimentao dever ser considerada como um procedimento prprio ao
funcionamentoo autogestionario; os procedimentos experimentais nas empresas
consistem a por em movimento temporariamente novas organizaes,novas
tcnicas,novas divises de tarefas,novas relaes interpessoais.
O novo funcionamentoo dever verificar ou INFIRMER as expectativas,as
hipteses e as esperanas que foram formuladas pelos autogestionarios.
Trata-se,assim,de utilizar novos procedimentos que contenham uma certa parte
de incertezas,mas que seroo auto-controlados durante seu desenvolvimentoo.No se
trata de quaisquer tipos de experincia efetuada por profissionais da
experimento,mas,no campo da autogesto,dee xperiencias em que os
experimentadores,em particular os atores,objetos eles mesmos da
experincia,participem no controle e na dinmica da experincia.
A experimentao permitir ir alm da simulao ao proceder por passos
sucessivos,por ensaios e erros,atravs do estabelecimento de um dialgo em que o
conjuntoo dos atores ter a possibilidade concreta de participar,porque veremos os
efeitos concretos no terreno da ao.
o que temos chamado,nas atividades dos CFES,de Espao Publico
epistemologico e tico,a partir de idias formuladas por Maria Clara Bueno Fischer
,partindo das pesquisas do Grupo Frances de ergologia animado por Yves Schwartz,
grupo que o prprio Moth cita em seu livro Autogestion et Conditions de
Travail(1976),o LEST ( laboratoire dconomie ET de sociologie Du travail,de
Aix-em-Provence).Trata-se do Dispositivo de 3 Polos.*
Seguindo com Moth,A experimentao coletiva deve ser vista como um
instrumento,uma tcnica necessria ao funcionamento autogestionario.
Os obstculos esta forma de experimentao,o sabemos,vm de vrios lugares
,e em primeiro lugar dos poderes estabelecidos.Aqui,Mothe faz referencia aos
aparatos dos sindicatos e dos partidos.
Sobre a Frana,Mothe diz de forma antecipatria de varias experincias que
iriam surgir nos anos 90, ( sua obra data de dezembro 1980 ):
As experimentaes nas empresas so difceis de realizar porque o patro que
detm o poder e no os sindicatos.
Mas porque no experiemntar estes funcionamentos coletivos no interior de
instituies perifricas controladas pelos sindicatos,nos organismos em que as
Comises de Empresa se tornaram patres: as cantinas,os rgos de esportes,de
lazer,os centros culturais,etc;em todas as municipalidades conquistadas pela esquerda
e nos servios municipais que ela controla ?,pergunata-se D.Mothe.
O que diria e nos disse ao nos visitar no Frum das Cidades e participar do
Frum de economia Solidaria de SP,quando nos visitou,das posibilidades abertas pelas
aes no campo da economia solidaria,das empresas recuperadas para autogesto?
J vimos,paginas acima como Moth aborda qual o perfil do militante desta
experimentao de autogesto,diramos nos cursos dos CFES,o papel do educador,
que Mothe chama de espirito experimental
E, retomando a Rosa :
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BIBLIOGRAFIA
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388 pginas
( Concluses, 2 verses= 21 paginas)
= 367 paginas