Nutrição Básica e Metabolismo Livro
Nutrição Básica e Metabolismo Livro
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E METABOLISMO
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NDICE
Contedo Pgina
Captulo 1 Conceito e Histrico da Nutrio 1
Captulo 2 Digesto e Absoro no Trato Gastrointestinal 8
Captulo 3- Carboidratos 20
Captulo 4- Fibras 45
Captulo 5- Protenas 64
Captulo 6- Lipdios 84
Captulo 7- Metabolismo Energtico 100
Captulo 8- Vitaminas 113
Captulo 9- Minerais 140
Captulo 10- gua e Eletrlitos 182
Captulo 11- Antioxidantes da Dieta 192
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Captulo 1: CONCEITO E HISTRICO DA NUTRIO
Snia Machado Rocha Ribeiro
Neuza Maria Brunoro Costa
1.1. Conceito
Nutrio o processo atravs do qual os organismos vivos utilizam as substncias necessrias para a manuteno da
vida. Inclui, portanto, no s a retirada da matria-prima do ambiente, mas todos os processos necessrios para a
disponibilizao das substncias (nutrientes) dentro da clula, na via metablica da qual o nutriente participa. A nutrio ocorre
em todos os seres vivos, vegetais e animais, unicelulares e pluricelulares, por dois mecanismos, que so a autotrofia e a
heterotrofia. Todo esse processo converge para um objetivo geral: obteno de energia.
Quando se considera a inter-relao de todas as formas vivas, percebe-se que, pequena parte da energia solar (a outra
parte destinada ao aquecimento) que alcana a superfcie da Terra absorvida pelos vegetais, que funcionam como
conversores de energia, uma vez que transformam energia luminosa em energia qumica. Esta ltima a modalidade de energia
utilizvel pelos seres vivos e armazenada em molculas, primariamente na forma de carboidrato, o qual precursor da sntese
de lipdios e protenas. A partir dessas trs molculas armazenadoras de energia, so sintetizadas outras molculas no
fornecedoras de energia, mas necessrias aos processos biolgicos. Assim, quando se consideram os nveis trficos ou
alimentares, a planta verde ocupa o nvel trfico de produtor e os animais de consumidores.
1.2. Histrico
Nutrio um campo interdisciplinar da cincia e interprofissional por excelncia. Embora o processo da nutrio seja
to antigo quanto a vida no planeta, o interesse pelo entendimento cientfico do assunto pode ser considerado recente. Por muito
tempo, a pesquisa no campo da nutrio foi conduzida por investigadores bioqumicos, visando desvendar os segredos do
metabolismo. As vitaminas foram descobertas uma a uma, no perodo de 1910 a 1940, quando foi possvel identificar que os
fatores causais de diversas doenas estavam associados carncia de alimentos especficos. At esta data, o conhecimento de
nutrio foi caracterizado por poucas, mas grandes descobertas, desde as experincias de Lavoisier, o pai da nutrio, no
sculo XVIII, quando vrias hipteses foram elaboradas com poucas comprovaes cientficas. Pode se afirmar que a
vitaminologia constituiu um marco no campo da cincia da nutrio, que at ento no existia, enquanto corpo terico
cientfico.
A histria da nutrio, como cincia, a prpria histria da evoluo do conhecimento sobre os nutrientes.
Compreende desde a sua identificao, como componentes alimentares at a comprovao de seus efeitos no organismo e a
elucidao de vias bioqumicas das quais estes participam. O conhecimento sobre os carboidratos iniciou-se com as descobertas
registradas na ndia (3000 a. C.), quando foi descrito o processo de extrao do acar. Em 1493, com as cruzadas, introduziu-
se o acar da cana no Novo Mundo, e, a partir de 1812, qumicos russos j realizaram estudos qumicos preliminares com o
amido, submetendo-o aos tratamentos trmico e cido. Em 1844, foram identificados os tomos componentes dos carboidratos
(carbono, hidrognio e oxignio) e demonstrada a presena de acar no sangue, apesar de a urina doce j ter sido noticiada
pelos hindus, no sculo VI. Em 1856, Claude Bernard descobriu a presena de amido no fgado, o que na poca, se acreditava
ser formado a partir de alimento protico. Os estudos bioqumicos marcantes das vias de metabolismo de carboidratos datam de
meados do sculo XX. A determinao das vias glicolticas, ciclo do cido ctrico, transporte mitocondrial de eltrons, ciclo da
uria e outras, esclareceu sobre como o meio biolgico extrai energia dos macronutrientes. Entretanto, na rea de nutrio
humana novos conhecimentos emergiram a partir de observaes dos diferentes efeitos metablicos dos carboidratos,
constitudos de diversas unidades de monossacardeos e tipos de ligaes glicosdicas. Em meados de 1980, houve uma
exploso de evidncias cientficas que contriburam para o avano do conhecimento da nutrio sobre os polissacardeos no
digerveis pelo organismo humano, culminando na melhor compreenso sobre as estruturas qumicas de compostos
(polissacardeos ou no) que constituem a fibra alimentar.
No incio do sculo XIX foi descoberta uma substncia contendo nitrognio, a qual era requerida na dieta, mas s um
sculo mais tarde (1930) houve a identificao dos constituintes da protena. O interesse na caracterizao das protenas, a
identificao dos aminocidos e o estabelecimento de seus requerimentos pelo organismo humano tambm datam do sculo
XX. Registros da sndrome da deficincia protica foram feitos no Mxico em 1985, mas sem a associao com a ingesto de
protena. Do final do sculo XIX at o perodo ps-guerra (1950) so registradas vrias descries enfocando o quadro clnico
da carncia protica, mas apenas em 1959 Jellife denominou a sndrome como a m-nutrio protico-calrica. A partir de
ento, intensificaram-se os estudos sobre a deficincia diettica da protena, em vrias regies do mundo, o que conduziu ao
conhecimento do efeito qualitativo e quantitativo das protenas alimentares sobre o crescimento humano e a necessidade de se
estabelecerem quantidades dirias que devem ser ingeridas na dieta. Essa realidade fortaleceu os trabalhos de alguns comits de
nutrio, j iniciados a partir de 1940 e que, atravs de organismos internacionais so responsveis pelo estabelecimento das
recomendaes nutricionais. Pode-se considerar que a protena foi o nutriente mais pesquisado no incio da histria da cincia
da nutrio humana, justificando a atribuio de funo nobre protena. Atualmente, no se pode considerar um nutriente
mais importante que o outro, pois todos tm as suas funes no meio biolgico.
As pesquisas sobre lipdios iniciaram-se a partir dos estudos sobre o colesterol. Em 1930, ficou demonstrado que ratos
sintetizavam menos colesterol quando alimentados com uma dieta contendo colesterol. Em 1950 ficou demonstrado, in vitro,
que a sntese de colesterol a partir de acetato no fgado era suprimida pela ingesto de colesterol na dieta. A partir de tais
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evidncias surgiram os estudos para a determinao das vias metablicas da sntese de lipdios e a grande preocupao com a
quantidade de gordura ingerida na dieta, como fator de risco das doenas cardiovasculares. Em 1979, trabalhos cientficos
evidenciaram a baixa incidncia de doena coronariana em esquims, os quais consumiam deitas ricas em lipdios
poliinsaturados. Esse trabalho pioneiro marcou para a nutrio uma nova etapa, na qual se considera que os efeitos dos lipdios
dietticos no organismo dependem no s da quantidade ingerida, mas tambm de sua qualidade. Os ltimos 15 anos do sculo
XX podem ser considerados, para a nutrio humana, os de maior avano no conhecimento dos lipdios.
Em paralelo ao avano do conhecimento das rotas metablicas dos macronutrientes, de suas estruturas e funes
biolgicas, identificou-se a importncia dos minerais, bem como foram estabelecidas as funes das vitaminas. A contribuio
da medicina foi relevante no despertar da curiosidade cientfica para investigar as causas de vrias doenas carenciais de
vitaminas e minerais. medida que se comprovava a participao dos nutrientes no aparecimento de doenas, surgiu a
necessidade de se conhecer melhor a composio dos alimentos, visando combin-los e prepar-los, de forma adequada, para
prevenir ou curar tais doenas. Assim nasceu, por uma necessidade da medicina, um ramo da cincia da nutrio, denonimado
diettica. Em 1981, Pedro B. Landabure escreveu a cincia da nutrio tem adquirido nos ltimos 30 anos uma importncia
antes inesperada. Isso resultou da evidncia de que a sade se mantm em conseqncia de uma alimentao correta; muitas
enfermidades podem surgir, manter-se ou se curar com uma alimentao adequada. Percebe-se nesse comentrio o conceito de
alimentos funcionais, o que, no momento, tem sido apresentado como uma atualidade.
claro que cada continente teve seu prprio percurso no avano da cincia da nutrio. Na Amrica Latina, os
escassos registros histricos tm permitido destacar a influncia de alguns trabalhos na evoluo do conhecimento da nutrio
como uma cincia. Os estudos sobre a relao da alimentao e patologias deram origem a uma transformao dos
procedimentos da clnica mdica, iniciada oficialmente em 1937, quando Pedro Escudero iniciou sua atuao na ctedra de
clnica da nutrio (inspirada e criada por ele) na Universidade de Buenos Aires. Por vrias dcadas, os trabalhos de Escudero
enriqueceram a clnica mdica, com estudos que relacionavam patologias e teraputicas dietticas, dando subsdios para a
proposio das bases doutrinrias da alimentao normal e da dietoterapia, baseada no conhecimento da composio dos
alimentos, nos requerimentos do organismo, na fisiologia e na tcnica diettica. A partir de ento, as leis da alimentao foram
o seu guia. Prosseguindo os trabalhos de Escudero, cita-se a contribuio de Jaime Espejo Sol, aluno de Escudero que
continuou os trabalhos de seu antecessor, no Instituto Nacional de la Nutricin, na Escuela Nacional de Dietistas. No Brasil, o
avano da cincia da nutrio ocorreu em paralelo expanso da atuao do profissional nutricionista e s pesquisas realizadas
nas diversas reas afins. Merecem destaque, como pioneiros dos trabalhos cientficos envolvendo o tema nutrio humana no
Brasil, os professores Nelson Chaves e Josu de Castro. O primeiro, atravs de suas publicaes no perodo de 1932 a 1944,
trouxe grande contribuio para a evoluo do conhecimento dos aspectos fisiolgicos e sociais da nutrio humana em nosso
pas, enquanto Josu de Castro sistematizou as informaes sobre a situao alimentar e nutricional do Brasil, lanando em
1946 o livro Geografia da Fome. A partir desses trabalhos, nascia a rea de estudo no campo da nutrio humana, que a
nutrio em sade pblica.
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Desde 1941, a Food and Nutrition Board (FNB), da National Academy of Science, nos Estados Unidos, vem
estabelecendo Quotas Dietticas Recomendadas ou Recommended Dietary Allowances (RDAs), com a finalidade de fornecer
padres alimentares de ingesto de nutrientes. RDAs se definem como os nveis de ingesto de um nutriente essencial que,
com base no conhecimento cientfico, so julgados pela FNB como adequados para atingir a necessidade de praticamente todos
os indivduos saudveis. No atendem os indivduos com necessidades nutricionais especiais.
As recomendaes nutricionais so atualizadas medida que novos conhecimentos cientficos apontam a necessidade
de modificaes quanto s referncias para a ingesto dos nutrientes. A ltima atualizao foi em 1997, quando a FNB
estabeleceu novas bases para as recomendaes nutricionais de nutrientes, que foram denominadas Ingestes Dietticas de
Referncia (IDRs) ou Dietary Reference Intakes (DRIs). As IDRs compreendem conceitos atuais sobre o papel dos nutrientes e
componentes dos alimentos na sade ao longo do tempo, indo alm das recomendaes para prevenir deficincias nutricionais.
As IDRs so valores de referncia para nveis de ingesto de nutrientes, estabelecidos atravs de estimativas, para
serem usados no planejamento e avaliao da ingesto diettica de indivduos sadios.
A Figura 1 evidencia que a Necessidade Mdia Estimada (EAR) o consumo no qual o risco de inadequao de 0,5
ou 50%. A Quota Recomendada (RDA) a ingesto em que o risco de inadequao muito pequeno: 0,02 a 0,03 (2 a 3%). A
Ingesto Adequada (AI) no tem relao consistente com o EAR e RDA por ter sido estabelecida sem ter sido estimada a
necessidade. Nos nveis de ingestes situadas entre RDA e UL, os riscos de inadequao e de efeitos adversos esto ambos
prximos de zero. Ingestes acima do UL implicam maior risco de efeitos adversos. A linha pontilhada foi usada para AI, visto
que a real forma da curva no foi determinada experimentalmente.
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Figura 1 Ingestes dietticas de referncia
medida que ocorre o aprofundamento nos conhecimentos sobre as necessidades de determinado nutriente, os
comits de nutrio podem alterar a recomendao do referido nutriente. Assim, as recomendaes nutricionais passam por
constantes alteraes ao longo dos tempos. Ressalta-se ainda que, pelo fato de existirem vrios fatores, distintos entre os pases,
os quais influenciam a nutrio dos indivduos, o ideal que cada pas adapte as recomendaes nutricionais sua realidade.
1.5. Referncias
BERDANIER, C. D. Advanced nutrition: macronutrients. Flrida: Ed: Wolinsky, I & Hickson, J. F. CRC Press, 1995. 277
p.
IOM - INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary reference intakes for calcium, phosphorus, magnesium, vitamin D, and
fluoride. Washington, D.C.: National Academy Press, 1997. 432 p.
IOM - INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary reference intakes for thiamin, riboflavin, niacin, vitamin B6, folate, vitamin
B12, pantothenic acid, biotin, and choline. Washington, D.C.: National Academy Press, 1998. 564 p.
IOM - INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary reference intakes for vitamin C, vitamin E, selenium, and carotenoids.
Washington, D.C.: National Academy Press, 2000. 506 p.
IOM - INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary reference intakes for vitamin A, vitamin K, arsenic, boron, chromium,
copper, iodine, iron, manganese, molybdenum, nickel, silicon, vanadium, and zinc. Washington, D.C.: National Academy
Press, 2001. 769 p.
IOM - INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol,
protein, and amino acids. Part 1. Washington, D.C.: National Academy Press, 2002. 484 p.
IOM - INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol,
protein, and amino acids. Part 2. Washington, D.C.: National Academy Press, 2002. 480 p.
MAHAN, L.K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause: alimentos, nutrio & dietoterapia. 10. ed. So Paulo: Ed. Roca, , 2002. 1133
p. (Apndice, 54).
SOL, J. E. Manual de dietoterapia de las enfermidades del adulto. 5. ed. Buenos Aires: Livraria Ateneo, , 1981. 499 p.
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STIPANUK, M. H. Biochemical and physiological aspects of human nutrition. Philadelphia: W. B. Saunders Company,
2000. 1007 p.
VASCONCELOS, F. A. G. Um perfil de Nelson Chaves e da sua contribuio nutrio em sade pblica no Brasil. Cadernos
de Sade Pblica, v. 17, n. 6, p. 1505-18, 2001.
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Captulo 2: DIGESTO E ABSORO NO TRATO GASTROINTESTINAL
Neuza Maria Brunoro Costa
Regiane Lopes Sales
2.1. Introduo
Os alimentos, em sua maioria, so ingeridos na forma no disponvel ao organismo e devem ser quebrados em
molculas menores antes de serem absorvidos e transportados nos fluidos corporais.
O trato gastrointestinal o sistema que desempenha as funes de digesto e absoro. Ele se estende da boca ao nus
e consiste de uma estrutura tubular com aberturas para a entrada das secrees da glndula salivar, do fgado e do pncreas. O
sistema gastrointestinal inclui a boca, o estmago, o intestino delgado e o intestino grosso, assim como os rgos acessrios
(glndulas salivares, pncreas, fgado e vescula biliar), para proverem secrees essenciais (Figura 2.1).
A maior funo do trato gastrointestinal digerir as molculas complexas dos alimentos e absorver os nutrientes
simples, incluindo monossacardeos, cidos graxos, aminocidos, vitaminas, minerais e gua. Serve ainda como uma barreira
entrada de bactrias no organismo e contm clulas especializadas que secretam muco, fluidos, enzimas digestivas, fator
intrnseco e alguns hormnios peptdeos.
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2.2. Digesto
Digesto definida como o desdobramento qumico de alimentos por enzimas secretadas no lmen do trato
gastrointestinal pelas glndulas da boca, do estmago e das clulas excrinas do pncreas e pela borda em escova (brush
border) e no citoplasma das clulas da mucosa do intestino delgado. Assim, a digesto ocorre antes da entrada dos nutrientes
nos fluidos intestinais e, portanto, no sistema circulatrio, pelo qual os nutrientes so levados a todas as clulas do organismo.
2.3. Absoro
Absoro o movimento dos nutrientes, incluindo gua e eletrlitos, atravs das clulas da mucosa nos fluidos
intestinais, a partir dos quais caem no sangue ou na linfa.
Os processos envolvidos na absoro incluem difuso, difuso facilitada, transporte ativo (primrio e secundrio),
arraste por solvente e endocitose.
Assim que os nutrientes deixam as clulas absortivas do intestino e chegam aos fluidos intestinais, eles podem tanto
entrar nos capilares sangneos quanto nos vasos linfticos. gua e outras molculas podem ser absorvidas por movimento
paracelular entre as clulas.
2.4. Boca
Na mastigao, os alimentos so cortados e triturados pelos dentes. O processo da mastigao assegura no s que o
alimento ser subdividido, mas tambm que ser misturado com a saliva. medida que ocorre essa mistura, a amilase salivar
pode iniciar a digesto do amido e, ainda mais importante, o bolo alimentar j estar lubrificado para facilitar a deglutio.
A saliva apresenta diversas funes, incluindo digesto dos nutrientes, atividade bactericida (devido presena de
tiocianato, lactoferrina e lisozima), umedecimento da boca para facilitar a fala e a deglutio e funo de tampo.
As glndulas salivares secretam -amilase, que atua no bolo alimentar at ser inativada pela secreo cida do
estmago. A secreo salivar est sob o controle nervoso. Outras enzimas, como a lipase salivar, so de importncia
insignificante na espcie humana.
A deglutio um processo altamente coordenado. O esfncter esofagiano relaxa aps a deglutio para permitir a
entrada do alimento no estmago. A no ser nesse caso, ele permanece fechado para prevenir contra o refluxo de cido do
estmago para o esfago. Durante a gravidez, o esfncter esofagiano pode no estar to contrado como usualmente, e isso pode
permitir o refluxo de cido no esfago, dando a sensao de queimao ou azia.
2.5. Esfago
O esfago um tubo que se estende da orofaringe ao hiato diafragmtico, onde se une ao estmago, e mede cerca de
25 cm em um adulto. Nele se iniciam as ondas de peristaltismo, responsveis por transportar o alimento no trato digestivo. A
gravidade no est relacionada a esses movimentos.
2.6. Estmago
A principal funo do estmago armazenar os alimentos deglutidos para process-los, de maneira preliminar, para a
sua liberao no intestino delgado.
Aps a entrada do alimento no estmago, este tem a sua musculatura relaxada (relaxamento adaptado). No estmago,
os alimentos so submetidos a modificaes fsicas e qumicas.
Embora o estmago no seja importante rgo de absoro, alguma quantidade de gua e substncias lipossolveis so
nele absorvidas, como etanol e cidos graxos de cadeias curta e mdia.
A mucosa gstrica contm muitas glndulas profundas constitudas, principalmente, por clulas parietais, principais e
mucosa. A secreo mista dessas clulas chamada de suco gstrico. Este contm mucina, sais inorgnicos, cido clordrico
(HCl) e enzimas digestivas ou zimgenos (lipase gstrica e pepsinognio/pepsina).
As clulas parietais produzem HCl, com secreo de H+ por meio da H+, K+ - ATPase.
A acidez gstrica favorece a desnaturao das protenas, a ativao do pepsinognio a pepsina e a ao proteoltica da
pepsina e destri muitos microrganismos, que entram no trato gastrointestinal pela cavidade bucal.
As clulas parietais secretam, ainda, fator intrnseco, uma glicoprotena necessria para a absoro de vitamina B12.
As clulas mucosas secretam bicarbonato e muco, enquanto as clulas principais, pepsinognio e lipase gstrica.
A estimulao da secreo gstrica depende de mecanismos nervosos, endcrinos (hormonais) e parcrinos. As
protenas dos alimentos so um potente estimulante da liberao de gastrina na corrente sangnea pelas clulas endcrinas do
estmago. Da mesma forma, estmulo vagal, ons clcio (Ca++) e a alcalinizao do estmago promovem a liberao de
gastrina. No entanto, a secreo de gastrina inibida pela presena de cido no estmago.
A pepsina inicia o processo de digesto das protenas no estmago pela clivagem da protena em grandes fragmentos
peptdicos e alguns aminocidos livres. A lipase gstrica hidrolisa triacilglicerol (especialmente os de cadeias mdia e curta),
formando predominantemente diacilglicerol e cidos graxos livres.
As contraes peristlticas da poro distal do estmago propulsionam o contedo estomacal em direo ao piloro
(localizado entre o estmago e o duodeno). O piloro formado por uma banda densa de msculo circular. Sua contrao com os
movimentos peristlticos favorece a formao de partculas pequenas. Alm disso, o quimo cido (massa semifluida de
alimentos parcialmente digeridos) que no consegue passar pelo piloro ser retropulsionado para o interior do estmago,
resultando na mistura do quimo e na disperso das gotculas de lipdios em pequenas partculas emulsionadas. A disperso das
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gotculas de lipdios facilitam, sobremaneira, sua subseqente digesto no intestino delgado pela lipase pancretica. Somente
lquidos e pequenas partculas no quimo conseguem passar para o duodeno devido pequena abertura resultante da contrao
do esfncter pilrico.
A motilidade e secreo gstricas so reguladas por mecanismos tanto nervosos quanto hormonais. O hormnio que
estimula a secreo e motilidade gstrica a gastrina. O estmulo nervoso dado pelo nervo vago. O estmago regula a
quantidade de alimento presente no duodeno, de forma a no exceder a sua capacidade absortiva. Isso se d graas ao de
hormnios como o peptdio inibitrio de gastrina e a colecistoquinina, que so liberados no intestino delgado em resposta
presena do quimo, inibindo a motilidade, o esvaziamento e a secreo gstricos.
Vilosidades
Entercitos
Lmina prpria
Lmina prpria
Muscular da mucosa
Cripta
Camada
submucosa
Canal
Artria
Veia
As clulas absortivas epiteliais que apresentam a borda em escova so chamadas entercitos. Essas clulas so
constantemente renovadas, tendo uma vida mdia de cerca de 72 horas.
As criptas (tubos glandulares simples na base dos vilos) contm unidades proliferativas que provm diversos tipos de
clulas para o trato gastrointestinal. Essas clulas migram a partir das criptas para o pice dos vilos, onde so imediatamente
descamadas no lmen do intestino delgado, podendo sofrer digesto. As clulas da cripta secretam um fluido chamado de suco
entrico, que contm gua e eletrlitos. medida que as clulas epiteliais proliferam e migram para o pice dos vilos, a
atividade das enzimas digestivas da mucosa e a capacidade de absorver nutrientes aumentam, enquanto a capacidade de secretar
muco diminui.
A membrana da borda em escova contm diversas glicoprotenas embebidas, que se estendem da membrana at o
lmen. As ramificaes de carboidratos dessas glicoprotenas formam um glicoclix prximo membrana da borda em escova.
Esse glicoclix age retendo gua e formando uma camada esttica de gua prximo superfcie de absoro. Muitas dessas
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glicoprotenas so enzimas digestivas. Em razo de essa camada de fluidos prximo superfcie epitelial das clulas ser
pobremente misturada, o principal mecanismo de movimento de solutos atravs da camada esttica de gua a difuso a favor
de um gradiente de concentrao.
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ALIMENTO
Estimulo visual
Distenso do estmago
Protena
GASTRINA
Estimula contrao
gstrica
ESTMAGO
Clulas parietais
HCl
Bolo alimentar
Pepsina Pepsinognio
(protena)
Figura 2.3 Esquema de controle da digesto pela gastrina no estmago, secretina e colecistoquinina no intestino.
Embora a digesto da maioria dos nutrientes no intestino delgado seja realizada pelas enzimas pancreticas, as enzimas
localizadas na borda em escova dos entercitos so responsveis pela concluso desse processo e liberam molculas que podem
ser transportadas pela membrana da borda em escova. Diversas -glicosidases, a -galactosidase e diversas peptidases esto
presentes na borda em escova. Essas enzimas so necessrias para a digesto posterior de oligossacardeos e peptdeos
resultantes da hidrlise no lmen intestinal, assim como dissacardeos e outros compostos. Essas enzimas da borda em escova
so chamadas de ectoenzimas, por serem localizadas no exterior da clula, ou seja, na fase luminal da membrana. Di e
tripeptidases podem penetrar nas clulas epiteliais do intestino e ser subseqentemente hidrolizadas para formarem aminocidos
livres pelas peptidases intracelulares. Tambm esto presentes nas clulas do epitlio intestinal enzimas envolvidas na
assimilao de produtos da digesto de lipdios para formarem triacilglicerol, steres de colesterol e fosfolipdios, que sero
incorporados nos quilomcrons.
2.10.3. Pinocitose
Endocitose mediada por receptores pode ser responsvel pela captao de algumas protenas, assim como de pequenas
molculas que so englobadas dentro de vesculas endocticas. De forma semelhante, molculas podem ser transportadas para
fora da clula por exocitose. Os quilomcrons so transportados para fora dos entercitos por exocitose pela membrana
basolateral.
2.10.4. Paracelular
um mecanismo de captao de gua e eletrlitos atravs das junes entre as clulas.
A osmolaridade desempenha importante papel na absoro de gua e eletrlitos no intestino delgado por esse processo.
A osmolaridade do plasma de cerca de 300 mOsm. Quando uma refeio hipotnica ingerida, a gua rapidamente
absorvida pelo duodeno e jejuno pela via paracelular. A absoro de gua facilita a absoro de eletrlitos por arraste. Quando
uma refeio hipertnica ingerida, a gua retida no lmen. O acmulo de gua no lmen e a absoro de ons e nutrientes
tornam o contedo do lmen isotnico. Dessa forma, a poro proximal do intestino responsvel pela absoro de gua de
refeies hipotnicas, e a poro distal do intestino delgado o por sua absoro quando a refeio hipertnica.
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Simporte
(a)
Antiporte
Uniporte
Paracelular
Transporte ativo
primrio (b)
Transporte ativo
secundrio Pinocitose
Canal inico
Difuso facilitada
Carreador
inico mvel
Difuso simples
Figura 2.4 Meios de absoro intracelular: (a) Transcelular (simporte, antiporte e uniporte) e paracelular. (b) Transcelular:
transporte ativo primrio, transporte ativo secundrio, difuso facilitada, difuso simples, canal inico, carreador
inico mvel e pinocitose.
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2.12. Metabolismo de Nutrientes nos Entercitos
Aps a absoro dos produtos da digesto nas clulas epiteliais do intestino delgado, os nutrientes so assimilados ou
pela veia porta ou pelos vasos linfticos para serem levados s outras partes do corpo ou serem utilizados pelos entercitos.
As clulas epiteliais do intestino delgado so metabolicamente muito ativas e constantemente renovadas, requerendo
alto suprimento de nutrientes absorvidos do intestino para a manuteno da sua estrutura e integridade funcional da mucosa
intestinal. O intestino delgado particularmente utiliza glutamina como combustvel, que estimula a proliferao dos entercitos.
O jejum causa atrofia da mucosa do intestino delgado, e essa atrofia pode ser revertida pela ingesto de certos aminocidos,
como a glutamina.
No interior dos entercitos, a maioria dos produtos da digesto dos lipdios, particularmente monoacilgliceris e cidos
graxos de cadeia longa, reesterificada, formando triacilgleris, incorporados nos quilomcrons e exportados. Os quilomcrons
tambm transportam colesteril steres, fosfolipdeos e vitaminas lipossolveis. Os quilomcrons so estruturas muito grandes
para atravessar os poros dos capilares, mas podem passar atravs dos vastos orifcios dos vasos linfticos. Os quilomcrons so
liberados do sistema linftico na circulao sangnea, na altura do ducto torcico, anteriormente sua entrada no corao.
Figura 2.5 Stios de absoro no trato gastrointestinal Estmago: lcool, cidos graxos de cadeia curta e cobre;
Duodeno: Cl-, SO4=, Fe, Se, P, Cu, Ca, Zn, Mg; Jejuno: glicose, galactose, frutose, vitamina C, tiamina, riboflavina,
piridoxina, cido flico, cido pantotnico; leo: protena, vitaminas A, D, E, K, lipdio, colesterol, sais biliares, vitamina B12; e
Clon: Na+, K+, vitamina K sintetizada por bactrias, gua, biotina, cido pantotnico. As vitaminas A, D, E, K, lipdios e
colesterol so captados pelo sistema linftico, caem na veia jugular e subclvia, chegando ao corao atravs da veia cava
superior. Os demais nutrientes entram nos vasos sangneos no intestino, caem na veia porta que os leva diretamente ao fgado,
que por sua vez os lanam na circulao geral, atravs da veia cava inferior.
O sistema linftico no trato gastrointestinal desempenha papel importante no transporte de substncias lipossolveis.
As substncias transportadas pelo sistema linftico entram na corrente sangnea pouco antes de chegar ao corao e vo ento
circular pelo corpo no sangue arterial, enquanto aquelas substncias transportadas pela circulao portal iro passar primeiro
pelo fgado, onde elas podem ser captadas e metabolizadas pelos hepatcitos ou retornar circulao pela veia heptica.
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Essa distino entre transporte linftico e portal de grande importncia para a indstria farmacutica determinar o
destino de certas drogas.
O sistema linftico tambm desempenha importante papel na manuteno do balano dos fluidos corporais, agindo
como um sistema de drenagem para o retorno de excesso de fluidos e de protenas do espao intersticial de volta para o sistema
circulatrio.
Embora muitas substncias transportadas pelo sistema portal possam tambm ser carreadas pela circulao linftica, o
fato de o fluxo de sangue portal ser muitas vezes maior do que o fluxo linftico faz que o transporte linftico seja de pouca
expresso, em comparao com o portal para a maioria das substncias hidrossolveis.
a) Gastrina
Gastrina o hormnio produzido pelo estmago. Sua principal funo a estimulao da secreo do cido clordrico
e do pepsinognio, alm da motilidade gstrica. A gastrina ainda desempenha importante papel na proliferao das clulas da
mucosa gstrica.
A gastrina liberada pelas clulas G no antro do estmago na presena de protena no lmen deste. Sua liberao
inibida pela acidificao do lmen gstrico abaixo de pH 3. Esse mecanismo de retroalimentao regula a quantidade de
gastrina liberada e, conseqentemente, a quantidade de cido secretada em resposta alimentao.
b) Secretina
Secretina foi o primeiro hormnio gastrointestinal descoberto. Secretina secretada pelas clulas S do duodeno,
estimulada pela acidificao do lmen duodenal. Sua principal funo no trato gastrointestinal a estimulao da secreo de
bicarbonato pelo pncreas, que neutraliza o quimo cido e promove a digesto pelas enzimas pancreticas. Pode tambm inibir
o esvaziamento gstrico.
16
c) Colecistoquinina
Colecistoquinina (CCK) um hormnio gastrointestinal secretado pelas clulas I enteroendcrinas do duodeno e
jejuno, assim como pelos neurnios do crebro e do trato gastrointestinal. A CCK responsvel pela secreo ps-prandial de
enzimas pancreticas e da contrao da vescula biliar em resposta ao estmulo provocado pela presena de lipdios ou de
protenas no intestino delgado. Alm do efeito secretrio, a colecistoquinina pode estimular a hiperplasia e hipertrofia do
pncreas.
A colecistoquinina exerce influncia positiva na liberao de insulina pelo pncreas. Foi observado que uma infuso
intravenosa do hormnio reduz a glicemia em pessoas no-diabticas e diabticas no-insulino dependente.
Outra funo da CCK est relacionada ao controle da ingesto alimentar. Atuando juntamente com outros peptdeos
secretados pelo trato digestivo, um dos responsveis pela saciedade ps-prandial (saciao). No longo prazo, entre os perodos
de jejum a CCK no age na saciedade; seu efeito parece estar limitado ao evento ps-prandial.
O papel da CCK na saciedade e os seus mecanismos de ao ainda no esto completamente esclarecidos.
d) Somatostatina
A somatostatina tem sido encontrada nos neurnios do crebro e da coluna vertebral e nas clulas D do trato
gastrointestinal. Apresenta grande efeito inibitrio na liberao de hormnios, como: hormnio do crescimento, hormnio
estimulante da tireide, gastrina, glucagon, polipeptdeo inibitrio gstrico, insulina, motilina, neurotensina, polipeptdeo
pancretico, secretina, calcitonina e renina. Da mesma forma, inibe secrees gastrointestinais, como cido gstrico, pepsina,
secrees exgenas do pncreas e secrees do intestino delgado, e, ainda a motilidade gastrintestinal.
e) Grelina
A grelina, hormnio gastrointestinal identificado no estmago do rato em 1999, um potente estimulador da liberao
de GH nas clulas somatotrficas da hipfise e do hipotlamo, sendo o ligante endgeno para o receptor secretagogo de GH.
Alm de sua ao como liberador de GH, a grelina possui outras importantes atividades, incluindo a estimulao da secreo
lactotrfica e corticotrfica, atividade orexgena acoplada ao controle do gasto energtico; controle da secreo cida e da
motilidade gstrica, influncia sobre a funo endcrina pancretica e metabolismo da glicose e, ainda, aes cardiovasculares e
efeitos antiproliferativos em clulas neoplsicas.
um dos mais importantes sinalizadores para o incio da ingesto alimentar. Sua concentrao mantm-se alta nos
perodos de jejum e nos perodos que antecedem as refeies, caindo imediatamente aps a alimentao, o que tambm sugere
um controle neural. Alguns estudos tm comprovado que a grelina est associada tambm ao controle da ingesto alimentar no
longo prazo.
f) Leptina
Leptina um hormnio produzido pelos adipcitos e pela mucosa gstrica e pode servir para coordenar a regulao no
curto e longo prazos da ingesto alimentar.
A leptina gstrica est envolvida no controle alimentar de curto prazo, atuando em conjunto com a CCK na reduo da
ingesto alimentar. Est tambm envolvida na absoro de macronutrientes, principalmente protena.
O nvel circulante de leptina correlaciona-se com a quantidade de gordura corporal, e a deficincia desse peptdeo
determina obesidade grave. A leptina reduz a ingesto de alimento e aumenta a atividade do Sistema Nervoso Simptico.
g) Galanina
A galanina um peptdeo de 29 aminocidos isolado no crebro e no trato gastrintestinal. A injeo deste hormnio
aumenta a ingesto alimentar. Muito embora o tratamento crnico com galanina no provoque aumento de peso, antagonistas
da galanina so potenciais agentes teraputicos da obesidade. A galanina interage com outros peptdeos, como leptina e
colecistoquinina, para regular a ingesto alimentar e a homeostase energtica.
h) Oxintomodulina
A oxintomodulina (OXM) foi recentemente identificada como um supressor da ingesto alimentar no curto prazo.
secretado na poro distal do intestino e parece agir diretamente nos centros hipotalmicos para diminuir o apetite, a ingesto
calrica e os nveis sricos de grelina.
j) Peptdeo YY (PYY)
17
O PYY um hormnio peptdico intestinal secretado pelas clulas endcrinas L da poro distal do intestino delgado e
intestino grosso, no perodo ps-prandial, proporcionalmente quantidade de calorias ingeridas. O PYY diminui a motilidade
intestinal e aumenta a saciedade, o que provoca diminuio do apetite e da ingesto de alimentos.
2.16. Referncias
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18
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1214, 2001.
19
Captulo 3 - CARBOIDRATOS
Neuza Maria Brunoro Costa
Andr Gustavo Vasconcelos Costa
3.3. Classificao
Existem trs classes principais de carboidratos de interesse na nutrio: monossacardeos, oligossacardeos e
polissacardeos Os monossacardeos so estruturas simples de carboidratos que no podem ser hidrolisados em partculas
menores, fato pelo qual so tambm conhecidos como "acares simples". A glicose o monossacardeo que mais interessa
nutricionalmente. Oligossacardeos so constitudos por pequenas cadeias de monossacardeos duas, trs ou quatro, originando
os di-, tri- ou tetrassacardeos. A sacarose, constituda por uma molcula de glicose e uma de frutose, o dissacardeo que mais
interessa nutrio, chegando a compreender 1/3 do total de carboidrato da dieta. Por fim os polissacardeos, que so longas
cadeias, centenas ou milhares de unidades de monossacardeos. Os de maior interesse na nutrio so o glicognio, encontrado
em certos animais, inclusive os humanos, o amido e a celulose, originados de plantas (GROFF, 1995).
3.3.1. Monossacardeos
Os monossacardeos (Fig. 3.1A), como mencionado anteriormente, constituem os chamados acares simples e
consistem em uma s unidade aldedica, quando o grupo carbonila est em uma das extremidades da cadeia carbnica; ou
cetnica, quando o grupo carbonila est em qualquer outra posio da cadeia. Os mais simples so as duas trioses (trs tomos
de carbono): gliceraldedo e diidroxicetona. Aqueles com quatro, cinco, seis e sete tomos de carbono so chamados,
respectivamente, de tetroses, pentoses, hexoses e heptoses (LEHNINGER, 1995).
As hexoses mais abundantes nos alimentos so a D-frutose e a D-glicose. A D-glicose o principal combustvel para a
maioria dos organismos vivos e o monmero primrio bsico dos polissacardeos mais abundantes como amido e celulose.
Dentre as hexoses, apenas glicose, galactose e frutose podem ser absorvidas por seres humanos (ETTINGER, 2002).
Os principais monossacardeos que ocorrem livres nos alimentos so a glicose, uma aldo-hexose, e a frutose, uma ceto-
hexose. A galactose e a manose raramente aparecem na forma livre na natureza, mas podem existir tanto em cadeia aberta
quanto em anel. Quando esto ligadas em di ou polissacardeos, permanecem na forma cclica. As pentoses, como ribose,
desoxirribose, xilose e arabinose, so outros tipos de monossacardeos no encontrados na forma livre nos alimentos. Elas so
derivadas de pentosanas de frutas, dos cidos nuclicos e de derivados de carne e frutos do mar (ETTINGER, 2002).
20
CH2OH
CH2OH
O
O HOH2C O CH2OH
HO
OH HO
OH
HO OH
OH
OH OH
OH
-D-Glicose
-D-Galactose -D-Frutose
Glicose
A glicose, tambm chamada de dextrose, um carboidrato simples abundante em frutas e hortalias. As clulas
utilizam a glicose proveniente da dieta, onde est presente em sua forma simples ou em formas mais complexas como sacarose,
lactose e amido; nesse caso, essas molculas precisam ser degradadas para serem absorvidas. A glicose tambm pode ser
proveniente dos estoques de glicognio muscular e heptico e do esqueleto carbnico dos aminocidos glicognicos e do
glicerol, durante seu metabolismo no processo chamado de gliconeognse (STIPANUK, 2000).
A glicose a melhor forma de acar para ser utilizada quando necessrio um suprimento imediato de energia, uma
vez que no requer mudanas para ser empregada, relativamente barata e pode ser adicionada a alimentos lquidos para
aumentar a ingesto de carboidratos, sem afetar o sabor dos alimentos, pois tem cerca de 3/5 da doura do acar da cana.
Em condies normais, clulas, como as hemcias, so incapazes de usar outro tipo de combustvel seno a glicose,
que tambm essencial para as clulas do sistema nervoso central, dos pulmes e do msculo cardaco. No entanto, a maioria
das clulas do organismo humano tambm pode utilizar os lipdios e protenas como fonte energtica; por exemplo, em
situaes de jejum prolongado, o sistema nervoso pode se adaptar para utilizar corpos cetnicos com fonte de energia
(STIPANUK, 2000).
As clulas no so capazes de armazenar glicose como monossacardeo, pois sua estrutura de reserva o glicognio,
um polissacardeo conhecido como "amido animal". Porm, a glicose a forma de acar encontrada normalmente na corrente
sangnea, sendo sua concentrao no sangue estreitamente regulada; em um indivduo adulto, a faixa de normalidade
compreende 70 a 110 mg/dL de sangue.
A digesto do carboidrato da dieta no trato gastrointestinal superior fornece glicose, frutose e galactose para absoro
intestinal. A presena de oligossacardeos no absorvveis e de fibras como pectinas, -glicanos e gomas das frutas, vegetais e
cereais reduz a eficincia da hidrlise de enzimas e torna mais lenta a velocidade com a qual a glicose entra na corrente
sangnea. A reduo na eficincia da hidrlise diminui o ndice glicmico dos alimentos que esto sendo digeridos.
Abaixo esto valores de ndices glicmicos de alguns alimentos, tendo com referncia o po branco (IG po
branco=100) (ETTINGER, 2002).
Arroz 109 Manga 80
Batata frita 107 Biscoito de aveia 79
Abbora 107 Batata-doce 77
Melancia 103 Banana 76
Cenoura 101 Inhame 73
Batata assada 100 Chocolate 70
Fub 97 Macarro 64
Refrigerante 97 Laranja 62
Biscoito amanteigado 95 Pudim 61
Abacaxi 94 Ma 52
Batata cozida 93 Iogurte 51
Beterraba 91 Gro-de-bico 47
Po de hambrguer 87 Feijo-roxo 42
Sorvete 87 Leite 39
Mamo 83 Ameixa 34
21
ndice Glicmico e Carga Glicmica
O ndice glicmico (IG) definido como a rea abaixo da curva relativa ao aumento da glicose sangnea no
perodo de 2 h aps a ingesto de certa quantidade de carboidratos de um alimento (ex. 50 g), comparado com a ingesto da
mesma quantidade de carboidratos de um alimento-referncia (po branco ou glicose), avaliado no mesmo indivduo, nas
mesmas condies, usando a concentrao de glicose inicial como ponto de base (Fig 3.2). Assim, o ndice glicmico a
categorizao dos alimentos com base na resposta de glicose sangnea ps-prandial, comparada com um alimento de
referncia (ETTINGER, 2002).
A carga glicmica mdia derivada da mesma maneira que o ndice glicmico, mas sem dividir pela quantidade
total de carboidratos consumidos. A carga glicmica , portanto, um indicador da resposta glicmica ou insulnica induzida
pelo consumo total de carboidratos e no apenas de uma quantidade preestabelecida, como 50 g para determinao do IG.
Alguns alimentos que contm carboidratos elevam os nveis de glicose sangnea muito rapidamente, enquanto
outros permitem que o organismo mantenha um "estado constante" com relao liberao de insulina para controlar os
nveis de acar do sangue (MATHAI, 2002). Esse ndice uma proposta como um meio de prescrever dietas para
diabticos e para controle de energia.
Diversos fatores influenciam o IG. E os que mais contribuem para reduzir esse ndice so: alta relao entre
amilose: amilopectina; maior tamanho de partcula do gro ingerido; menor processamento (cozimento) dos alimentos;
menor grau de amadurecimento das frutas, presena de fibra solvel e de inibidores enzimticos (-amilase) e a interao
fsica com lipdios e protenas. A chave do processo de IG parece ser a taxa de absoro do alimento.
ndice Glicmico
160
140
Glicose (mg/dL)
120 Feijo
100 Batata
80
60
0 15 30 45 60 75 90 120
Tempo (min)
Figura 3.2 ndice glicmico (valores fictcios). A rea abaixo da curva do alimento em relao rea correspondente para
glicose ou po branco fornece o ndice glicmico (IG).
Frutose
A frutose, tambm chamada de levulose, encontrada juntamente com a glicose e a sacarose no mel e nas frutas. um
acar muito solvel e o mais doce dos acares simples. A frutose, combinada com a glicose, forma sacarose. Constitui a
unidade estrutural da inulina, um oligossacardeo encontrado em certas razes (alcachofra) e bulbos (cebola e alho). A inulina
muito pouco digerida no trato gastrointestinal e, juntamente com frutooligossacardeos (FOS), constitui uma das principais
fontes de prebiticos na alimentao.
Galactose
A galactose raramente encontrada livre na natureza, mas obtida principalmente pela hidrlise da lactose, encontrada
no leite. menos solvel em gua e menos doce do que a glicose. A galactose tambm um constituinte dos glicolipdios e das
glicoprotenas, encontrados em muitos tecidos, inclusive no tecido nervoso. No organismo, a glicose pode ser transformada em
galactose, para que as glndulas mamrias possam produzir lactose.
22
3.3.2. lcoois de Acares
Os lcoois de acares no so carboidratos, mas derivados deles atravs de hidrogenao, e so encontrados em
diversos vegetais (Fig. 3.3).
O sorbitol, produzido comercialmente por hidrogenao da glicose e tambm encontrado em muitas frutas e hortalias,
absorvido de forma muito lenta na corrente sangnea, e pode ser metabolizado aparentemente sem insulina. Tem o mesmo
valor calrico da glicose, o acar do qual obtido e tem cerca da metade do poder adoante da sacarose. Em altas doses, o
sorbitol tem efeito laxativo.
O manitol, obtido comercialmente por hidrogenao da manose, ocorre naturalmente em abacaxis, azeitonas,
cogumelos, aspargos e cenouras, podendo tambm ser adicionado como agente desidratante em outros alimentos. Uma vez que
muito pouco absorvido, o manitol fornece quase a metade do valor energtico da glicose.
O xilitol, encontrado em menor concentrao nas plantas, derivado da xilose extrada da hemicelulose e tem o
mesmo poder adoante e o mesmo valor energtico da sacarose. Tem sido muito utilizado como adoante, por no ser
cariognico. tolervel por diabticos, pois sua transformao em glicose no fgado lenta e parcial.
O inositol ocorre em muitos alimentos, especialmente na casca dos gros de cereais. Quando combinado com certos
grupos fosfato, forma o cido ftico, que reduz a absoro de clcio, zinco e ferro nos intestinos.
O dulcitol, obtido da galactose por hidrogenao, , s vezes, adicionado aos alimentos.
O glicerol ocorre na natureza e importante componente dos lipdios.
O lcool, ou o etanol, produzido pela fermentao da glicose por enzimas em leveduras e pode, em certos indivduos
consumidores de grandes quantidades de bebidas alcolicas, representar parte significativa da ingesto total de energia. Um
grama de lcool produz 7 kcal. O etanol no requer digesto e pode ser absorvido no trato gastrointestinal.
HO OH
OH
OH
HO
OH
mio-Inositol
H C OH HO C H H C OH
HO C H HO C H HO C H
H C OH H C OH H C OH
H C OH H C OH CH2OH
CH2OH CH2OH
23
Reao de Maillard
A reao de Maillard consiste na ligao, atravs de enzimas, do grupamento amino dos aminocidos,
principalmente da lisina, com o grupamento carboxil de acares redutores. Essa importante reao ocorre no
processamento de alimentos, especialmente naqueles assados ou frituras, sob altas temperaturas, como na panificao, na
evaporao do leite. O resultado dessa reao um escurecimento do alimento, formando um pigmento marrom; no
obstante ocorre perda do valor nutritivo das protenas (STIPANUK, 2000; GROFF, 1995).
3.3.3. Dissacardeos
Os dissacardeos so representados pela sacarose (acar da cana ou da beterraba), maltose (acar do malte) e lactose
(acar do leite), compostos de duas molculas de hexoses (Fig. 3.4):
Sacarose = glicose + frutose
Maltose = glicose + glicose
Lactose = glicose + galactose
So hidrolisados em seus constituintes monossacardeos pelas enzimas digestivas, antes de serem absorvidos no
organismo.
Sacarose
A sacarose o acar comum da mesa e encontrado principalmente no acar da cana, no acar da beterraba e no
melao. Quando hidrolisada, forma-se uma mistura 50:50 de glicose e frutose. Essa mistura chamada de acar invertido e
vista freqentemente em rtulos de alimentos.
Maltose
A maltose, ou acar do malte, no existe livre na natureza. chamada de acar "derivado", pois um produto da
digesto do amido pela diastase, uma enzima obtida de gro germinado, como ocorre na fabricao da cerveja.
A maltose tambm formada no trato gastrointestinal, durante a digesto do amido. A reao se inicia com a -
amilase salivar e continua com a -amilase pancretica. No intestino, a maltase hidrolisa a maltose em duas molculas de
glicose, forma na qual absorvida. A maltose no prontamente fermentada pelas bactrias do clon e, como a fermentao
freqentemente leva diarria, essa propriedade torna a maltose til, em combinao com dextrina, nas frmulas infantis.
Lactose
A lactose o principal acar encontrado no leite, 4 a 6% do leite de vaca e 5 a 8% do leite humano. No est
presetnte nas plantas e limita-se, quase que exclusivamente, glndula mamria de animais lactantes. menos solvel que os
outros dissacardeos comuns e tem apenas um sexto da doura da sacarose. Quando hidrolisada, produz glicose e galactose e
digerida mais lentamente que os outros dissacardeos.
Na fabricao do queijo, parte da lactose do leite convertida em cido ltico e outros cidos. A lactose permanece no
soro e obtida comercialmente como um subproduto da manufatura do queijo. Conseqentemente, a maioria dos queijos
contm pouca ou nenhuma lactose.
CH2OH
HOH2C O CH2OH
OH HO
O
HO
OH OH
Sacarose
24
CH2OH CH2OH
O O
OH OH
O
HO OH
OH OH
Maltose
CH2OH
CH2OH
O
HO O
OH O
OH
OH
OH Lactose Figura 3.4 Estrutura dos dissacardeos.
OH
3.3.4. Oligossacardeos Os oligossacardeos rafinose e estaquiose so encontrados em leguminosas, como a soja e o feijo, e
so responsveis por certas disfunes digestivas, como a flatulncia. A rafinose um trissacardeo, composto de sacarose e de
resduo da galactose. A estaquiose um tetrassacardeo com outro resduo de galactose ligado rafinose. Esses
oligossacardeos podem ser hidrolisados pela -D-galactosidase, durante a germinao dos gros. O homem no sintetiza essa
enzima. Desta forma, os oligossacardeos no so digeridos e passam para o intestino grosso, onde so fermentados, produzindo
gases.
Intolerncia Lactose
Intolerncia lactose uma sndrome caracterizada pela incapacidade primria ou secundria de hidrolisar a
lactose em monossacardeos. A manifestao clnica caracterstica a diarria aquosa explosiva, mas podem ser
encontrados outros sintomas isolados.
Normalmente, para ser absorvida, a lactose deve ser degradada pela enzima lactase, presente na borda em escova
do intestino delgado. A partir da, origina os monossacardeos galactose e glicose, que so conduzidos ao interior das
clulas. Quando a atividade da enzima diminuda, a lactose no hidrolisada, ficando intacta no lmen intestinal; isso faz
que a osmolaridade aumente. Ao mesmo tempo, a lactose sofre fermentao pelas bactrias intestinais, o que aumenta ainda
mais a osmolaridade. Dessa forma, aparecem os sintomas da diarria aquosa explosiva, distenso abdominal, flatulncia,
vmitos e diminuio no crescimento, devido perda contnua de nutrientes.
A intolerncia pode ser classificada em primria, defeito intrnseco da enzima, ou secundria, devido a um dano na
mucosa intestinal que acarreta a deficincia da enzima. Tal dano pode ser originado da desnutrio, doena celaca, diabetes
mellitus, fibrose cstica, lcera duodenal e colite ulcerativa, dentre outras.
O diagnstico compreende uma anamnese alimentar dirigida, exame fsico e testes que avaliem a digesto e
absoro desse carboidrato. Detectada a intolerncia, o tratamento deve ser direcionado para a retirada desse acar da dieta
ou na ingesto oral de lactase sempre que o indivduo consumir esse acar ou na substituio do leite por frmulas
industrializadas isentas de lactose, como as frmulas base de soja (SABR et al, 1994).
3.3.5. Polissacardeos
Para um armazenamento eficiente de energia potencial, plantas e animais encerram a energia dos carboidratos em
unidades bem maiores do que os acares, quais sejam: amido, dextrina e glicognio. Todos esses polissacardeos so
molculas que podem conter vrias centenas de unidades de glicose. Conseqentemente, so menos solveis e mais estveis,
mas diferem entre si em alguns aspectos, como digestibilidade e resistncia deteriorao.
Para ser utilizado como fonte de energia na alimentao humana, o carboidrato deve estar sujeito digesto pelas
enzimas do trato digestivo. Os amidos e as dextrinas esto dentro dessa categoria, mas celulose, hemiceluloses, pectinas, gomas
e mucilagens, que tambm esto presentes nos alimentos vegetais, no so digeridas pelos humanos.
Amido
25
O amido a principal forma de carboidrato na dieta, sendo composto de duas subunidades: amilose e
amilopectina. A primeira consiste de longas cadeias no ramificadas, polissacardicas de unidades de glicose ligadas entre si,
como a maltose (ligaes (14), enquanto a segunda uma estrutura ramificada formada por unidades de glicose. O
comprimento das ramificaes de 24 a 30 resduos de glicose. A ligao do esqueleto (14), mas os pontos de
ramificao so laos (16). A composio do amido varia conforme a sua origem, porm todos eles contm amilose e
amilopectina.
O amido encontrado em gros de cereais, leguminosas, hortalias, razes e tubrculos. O amido do gro est
principalmente no endosperma, encapsulado por uma cobertura protetora de celulose (a casca). O grnulo de amido do
endosperma consiste em minsculas partculas de amido, geralmente arrumadas em camadas concntricas num padro de forma
e aparncia caractersticas. Os grnulos de amido, por sua vez, podem ser encerrados em clulas de tamanho maior.
Antes que o amido possa ser usado pelo organismo, a membrana externa precisa ser rompida, seja por triturao, seja
por cozimento. Aplicando-se calor e umidade, o envelope celulsico externo rompido, e a umidade permeia os grnulos de
amido. Esses possuem afinidade pela gua, absorvendo-a tal como o faz uma esponja e aumentando grandemente de volume.
Aps a ruptura da parede celular por cozimento, o amido torna-se gelatinizado e, nessa forma, pode sofrer mais facilmente a
ao das enzimas digestivas.
Dextrinas
A aplicao longa de calor seco, como no assado ou na torrefao, transforma o amido em dextrina solvel. O paladar
da crosta formada nos pes, nas torradas ou em cereais tostados devido em parte s formas de dextrina.
As dextrinas aparecem principalmente como produtos intermedirios na hidrlise parcial dos amidos, por ao
enzimtica ou coco. So formadas por muitas unidades de glicose ligadas entre si com o mesmo tipo de ligao do amido. As
molculas individuais so menores e no possuem a propriedade de espessamento do amido.
Glicognio
O glicognio a forma na qual os animais armazenam glicdio. um polissacardeo similar amilopectina, porm
com mais cadeias ramificadas e um peso molecular maior. Quando na corrente sangnea entra quantidade de glicose maior do
que pode ser imediatamente metabolizada, o indivduo normal combina muitas molculas de glicose (at 30.000) para formar
glicognio no fgado ou no msculo. Do mesmo modo, quando a glicose necessria, o glicognio quebrado, e ela se torna
logo disponvel para a produo de energia. Aproximadamente de 340 a 350 g de glicognio podem ser estocados por adultos
do sexo masculino, sendo 115 g no fgado e 230 g nos msculos. O glicognio heptico disponvel para a reposio de acar
no sangue, enquanto o muscular usado primariamente como combustvel para os prprios msculos.
Quase nenhum glicognio encontrado nos alimentos. As pequenas quantidades existentes na carne e nos alimentos
marinhos so convertidas em cido ltico quando o animal morre, durante a "rigidez mortis".
O ser humano no tem as enzimas necessrias para hidrolisar a celulose para que ela possa ser utilizada. Os ruminantes
podem utilizar a celulose porque ela digerida por bactrias do rmen; no sendo digerida, no ser absorvida, passando dessa
forma para o intestino grosso. A celulose apenas contribui para o volume do bolo fecal, no oferecendo, porm, valor nutritivo
para as clulas do corpo.
A indigestibilidade da celulose a sua principal vantagem, uma vez que as fibras no digeridas fornecem a massa
necessria para uma ao peristltica eficiente e normal do intestino.
Boas fontes alimentares de celulose so as frutas secas, os cereais de gro integral, as folhas dos vegetais, as
leguminosas, as castanhas e as nozes. Os alimentos muito refinados, como a farinha de trigo branca e outros, praticamente no
contm celulose.
As hemiceluloses, em contraste com a uniformidade da celulose, so componentes da parede celular que consistem de
ampla variedade de polissacardeos, que contm uma mistura de pentoses e hexoses, sendo muitos desses polmeros
ramificados. Portanto, esses polissacardeos no so relacionados estruturalmente com a celulose. O termo hemicelulose,
entretanto, prevalece para designar a mistura complexa de polissacardeos que podem ser extrados da parede celular das
plantas com lcali diludo. As hemiceluloses tm a capacidade de reter gua, aumentam o volume do bolo fecal e estimulam o
peristaltismo intestinal, sendo essa a sua principal funo na nutrio humana.
Embora presentes em quantidades menores do que outros componentes das paredes celulares, as pectinas so comuns a
quase todas as clulas vegetais e esto presentes tambm em camadas intercelulares. Elas constituem cerca de 1 a 4% dos
polissacardeos totais da parede celular. As frutas ctricas desidratadas contm cerca de 30% de pectina, ma 15% e a cebola
11 a 12%.
Duas propriedades das pectinas devem ser mencionadas: sua capacidade de formar gis e de se ligar a ons. A pectina
comercial, preparada a partir de cascas de ma e caroos de limo, obtida com lquido ou p e usada para fazer gelias de
fruta e gelatinas.
26
Uma grande importncia da pectina na nutrio humana o seu efeito na reduo dos nveis de colesterol plasmtico.
A habilidade da pectina em baixar a concentrao de colesterol no sangue tem sido amplamente investigada e confirmada por
numerosos estudos.
3.4. Funes dos Carboidratos no Organismo
Fornecimento de Energia: A principal funo dos carboidratos ser a maior fonte de energia para o corpo. A maioria
dos tecidos pode usar outras fontes de energia, mas o crebro e as clulas vermelhas do sangue so mais restritos. Cada grama
de carboidrato digervel fornece cerca de 4 kcal, independentemente da fonte - monossacardeo, dissacardeo ou polissacardeo.
Crescimento bacteriano: A lactose permanece no intestino por mais tempo e estimula o crescimento de bactrias
benficas, resultando numa ao laxativa. Acredita-se que essas bactrias sejam sintetizadoras de vitamina k e do complexo B.
Alm disso, a fermentao bacteriana da lactose facilita a absoro do clcio.
Funo intestinal: A celulose e outros carboidratos insolveis facilitam a funo intestinal, estimulando o peristaltismo
e prevenindo vrias doenas, alm de auxiliar no tratamento de outras enfermidades.
Precursores de compostos orgnicos: Os carboidratos so precursores de compostos como cidos nuclicos, matriz do
tecido conectivo e galactosdeos do tecido nervoso.
27
(1-4)
Amido
-amilase
(1-6)
Maltose Maltotriose
Dextrina-limite
Maltase
Isomaltase
Glicose
Maltose Maltotriose
Maltase
Glicose
Figura 3.5- Digesto do amido: a enzima -amilase quebra a cadeia linear do amido em maltose, maltotriose e dextrina-
limite. A digesto continuada pela maltase, liberando glicose, e pela isomaltase, que quebra a ligao 1-6
das ramificaes. Glicose o produto da digesto do amido.
28
Essas enzimas agem nas ligaes internas da amilose e tm pouca especificidade para as ligaes no final da molcula,
por isso os produtos finais possuem apenas ligaes mais externas, resultando em dissacardeos (maltose) e trissacardeo
(maltotriose). Como a molcula de amido contm no apenas ligaes (14) mas tambm (16), surgem tambm como
produtos finais da digesto pela -amilase oligossacardeos, que contm justamente o ponto de (16), as chamadas
dextrinas-limite. Portanto, a digesto pela -amilase consegue liberar apenas traos de glicose livre, j que essa enzima no
quebra ligaes externas.
Os estgios finais da digesto dos carboidratos so feitos pelas enzimas ligadas membrana no lado luminal da
membrana lipoprotica da clula mucosa (borda em escova). As enzimas mais importantes, que atuam na digesto dos
carboidratos nessa parte do aparelho digestivo, so:
- Isomaltase ou (16) glicosidase: atua nos pontos de ramificao, quebrando as ligaes (16).
- Sacarase: tambm chamada de invertase, desdobra a sacarose em glicose e frutose. - Maltase: desdobra a maltose
em duas molculas de glicose. Atua tambm nas maltatrioses.
- Lactase ou - galactosidase: atua sobre a lactose, resultando em uma molcula de glicose e uma de galactose.
Os acares ingeridos como monossacardeos no sofrem digesto ao longo do aparelho digestivo.
Na+
S
G
Glicose T
ou L G
Galactose L
U
G T
Frutose L 2
U
T
ATP ADP
Figura 3.6- Absoro de carboidratos: glicose e galactose so absorvidas por transporte mediado ativo, dependente de sdio. O
transportador SGTL1 liga-se simultaneamente glicose ou galactose e ao sdio. Glicose e galactose so liberadas do
entercito pelo transportador GLUT2, na membrana basolateral. O sdio eliminado pela bomba sdio-potssio, com
gasto de energia. A frutose absorvida por transporte mediado passivo pelo transportador GLUT 5, que no depende
29 do
sdio. A sada da frutose do entercito se d pelo mesmo transportador de glicose e galactose (GLUT 2). Os
monossacardeos seguem pela veia porta at o fgado.
3.7. Metabolismo dos Carboidratos
3.7.1. Consideraes Gerais
Todos os tecidos do organismo so capazes de remover a glicose da circulao e utiliz-la na produo energtica.
Existem diferenas entre os tecidos relativas captao de glicose, como uma fonte de energia, assim como s vias metablicas
nas quais ela liberada. Os tecidos do Sistema Nervoso Central (SNC) e das clulas do sangue so mais dependentes de um
contnuo suprimento de glicose.
No caso do SNC, de todos os rgos e tecidos do corpo ele o mais dependente da glicose, que, como tal, tem
influncia especfica e indispensvel integridade do tecido nervoso. Quando o nvel de glicose no sangue abaixa, os tecidos
que tm estoques de glicognio podem us-lo para vencer o perodo de escassez. O tecido nervoso tem pouco glicognio, e no
se sabe se ele capaz de utiliz-lo nas emergncias. O que se sabe que o contedo de glicognio do tecido nervoso permanece
mais ou menos constante mesmo na hiperglicemia ou na hipoglicemia e pode ser considerado como parte integrante da
estrutura do nervo. Essa no-disponibilidade do glicognio presente nas clulas nervosas evidenciada pelo desenvolvimento
rpido dos sintomas quando ocorre baixa na glicemia. Durante um jejum prolongado, as clulas do SNC parecem se adaptar
para utilizar corpos cetnicos no lugar da glicose como fonte de energia.
Alguma glicose, entretanto, sempre necessria, e o organismo tem meios para armazen-la quando um excesso
disponvel e para mobiliz-la ou converter outras substncias em glicose quando o suprimento limitado.
3.7.2. O Fgado
As clulas hepticas exercem papel regulador sobre os carboidratos da dieta. Depois de absorvidos, os carboidratos
vo at o fgado pela veia porta. Nas clulas hepticas, frutose e galactose sero convertidas em glicose. Assim, o principal
carboidrato que surge na circulao geral, aps a passagem dos glicdios da dieta pelo fgado, a glicose. Uma das principais
funes metablicas do fgado ser um agente "glicosttico" do sangue, convertendo os excessos de glicose em estoques de
reserva em tempos de plenitude e reconvertendo tais estoques em glicose na hora das necessidades, mantendo, assim, um nvel
adequado de glicose no sangue.
A galactose-1-P pode ser integrada ao metabolismo da glicose pelas aes consecutivas da fosfogalactose
uridiltransferase e UDP-glicose epimerase, como se segue:
transferase
Galactose-1-P + UDP-Glicose UDP-Galactose + Glicose-1-P
epimerase
UDP-Galactose UDP-Glicose
Em uma enfermidade congnita chamada de galactosemia, a habilidade de metabolizar a galactose est impedida
devido deficincia da enzima galactose-1-P uridil transferase, requerida para a converso da galactose. Conseqentemente, a
galactose-P acumula-se em muitos tecidos. Isso pode resultar em falha no crescimento, formao de cataratas e retardamento
mental.
Com uma dieta livre de galactose, portanto sem leite, os indivduos com essa falha gentica podem viver at a vida
adulta sem nenhum sintoma de galactosemia.
Frutose
A frutose pode ser fosforilada por quinases no especficas para dar frutose-6-fosfato, todavia a afinidade dessas
enzimas pela frutose muito baixa, de tal forma que a maioria da frutose ingerida fosforilada pela frutoquinase que cataliza a
reao:
frutoquinase
Frutose + ATP Frutose - 1-P + ADP
A frutose 1-P no pode ser diretamente convertida em frutose -6-P nem em frutose 1-6-di P, mas, em
vez disso, ela sofrer a ao da frutose -1-P aldolase:
frutose-1-P aldolase
Frutose - 1-P Diidroxiacetona-P + Gliceraldedo
30
A diidroxiacetona-P um intermdio da via glicoltica, mas o gliceraldedo precisa ser oxidado na mitocndria pela
gliceraldedo desidrogenase para dar glicerato, o qual , ento, fosforilado pela gliceroquinase para produzir 2-fosfoglicerato,
outro intermedirio da via glicoltica.
Ciclo de Krebs
Gliclise
uma via do catabolismo da glicose que, sob a maioria das condies, uma etapa preliminar necessria liberao
de toda energia biologicamente disponvel da molcula de glicose. Resulta na conservao da glicose-6-P em duas molculas de
piruvato ou lactato, dependendo do tecido e do suprimento de oxignio da clula. A energia fornecida nessa via depende do
produto final. Algum ATP diretamente produzido pelos graus de fosforilao do substrato, no importando a disponibilidade
de oxignio. Outra reao liberadora de energia envolve a reduo concorrente do NAD+ que, sob condies aerbicas, ser
oxidado, gerando ATP (Fig. 3.7).
Ciclo de Cori
Durante perodos de limitado fornecimento de oxignio, como no msculo durante um exerccio vigoroso, o piruvato
reduzido a lactato pela desidrogenase lctica, utilizando NAD reduzido como coenzima. Embora isso reduza o fornecimento
total de ATP, pode servir como importante fonte de energia para o msculo, devolvendo o NAD oxidado para a quebra
contnua de glicose e produo de ATP (da gliclise), que cessaria devido inabilidade de oxidao do piruvato e do NADH.
Quando o oxignio se torna novamente disponvel, o lactato pode ser reoxidado a piruvato e metabolizado
posteriormente no Ciclo de Krebs. No msculo esqueltico, a reconverso do lactato a piruvato limitada. Em vez disso, ele
liberado para o sangue, removido pelo fgado para reoxidao e subseqente converso para glicose. Liberada para o sangue,
31
essa glicose se torna disponvel ao msculo novamente. Essa reciclagem dos carbonos da glicose entre o fgado e o msculo
conhecida como o ciclo do cido lctico ou ciclo de Cori (Fig. 3.8).
Glicogenlise
o desdobramento do glicognio, sendo a glicose o principal produto no fgado e o piruvato e o lactato, nos msculos.
Essa via usada quando h necessidade de glicose no organismo. Nesse caso, a glicose produzida a partir dos depsitos de
glicognio existentes, principalmente, no fgado (Fig. 3.11).
Glicognese
Sntese de glicognio a partir da glicose. Essa via usada sempre que o nvel de glicose no sangue atingir limites
acima dos normais (Fig. 3.11).
Gliconeognese
o reverso da gliclise. Consiste na formao de glicose, partindo de fontes que sejam ou no carboidratos (Fig. 3.12).
Aparentemente, apenas o rim e o fgado tm a capacidade enzimtica de realizar a gliconeognese.
32
Glicose
ATP
Etapa 1
ADP
Glicose-6-P
Frutose-6-P
Etapa 2
ATP
ADP
Frutose-1,6-diP
Diidroxicetona-P
Etapa 3
Gliceraldedo-3P
NAD
NADH x2 Etapa 4
1,3-diP-glicerato
ADP
ATP x2
3-P-glicerato
2-P-glicerato
Etapa 5
Fosfoenolpiruvato -PEP
ADP
ATP x2
Piruvato
Figura 3.7 - Gliclise: Rendimento energtico = 8 ATP (Etapa 3: 2 NADH x 3 = 6 ATP + Etapa 4: 2 ATP + Etapa 5: 2 ATP =
10 ATP Etapas 1 e 2: 2 ATP).
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Msculo Fgado
Sangue
Glicose
Glicose
2 NAD
2 NAD
2 ATP
2 NADH
6 ATP 2 NADH
2 Piruvato
2 Piruvato
2 NADH
2 NADH
2 NAD
2 NAD
2 Lactato
2 Lactato
Figura. 3.8 - Ciclo de Cori. O lactato produzido no msculo pela via anaerbia levado na corrente
sangnea at o fgado, onde, pela gliconeognese, convertido em glicose, que pode retornar
ao msculo.
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Lactato desidrogenase
Lactato Piruvato
NAD NADH
TPP
Via anaerbica FA
Piruvato desidrogenase cido
lipico
NAD CoASH
NAD CO2
H Via aerbica
Acetil CoA
Figura 3.9 - Descarboxilao oxidativa do piruvato (via aerbica) e produo de lactato (via anaerbica). A
enzima piruvato desidrogenase requer cinco coenzimas: tiamina pirofosfato (TPP), coenzima A,
FAD, NAD e cido lipico.
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Piruvato
Acetil CoA
Oxalacetato Citrato
NADH
Malato Isocitrato
Ciclo do cido
Tricarboxlico
NADH
Ciclo de Krebs
Fumarato -cetoglutarato
FADH2
NADH
Succinato Succinil-CoA
GTP
Figura 3.10 - Ciclo do cido tricarboxlico (Ciclo de Krebs): rendimento energtico = 24 ATP (glicose = 2
acetil CoA; NADH = 3 ATP; FADH2 = 2 ATP; e GTP = 1 ATP.
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Glicose
AT
AD
Glicose-6P Gliclise
Glicose-1P
Uridino tri-
P
Glicose(n-
Glicose-UDP
P Glicose(n-1)
Glicognio UD
Glicose(n)
Glicogenlise Glicognese
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Glicose
(sangue)
Hexoquinase Glicose-6-fosfatase
(clula) (fgado)
Glicose-6P
Frutose-6P
Frutose-1,6diP)
Gliceraldedo-3P Diidroxicetona-P
P-enolpiruvato (PEP)
Glicerol
Oxalacetato
Msculo Ciclo de
Lactato Piruvato Krebs
Fgado
Aminocidos
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Glicose-6P (6C)
NAD
NADP
H
6P-Gluconato (6C)
NAD
CO2
NADP
H
Ribulose-5P (5C)
Via Glicoltica
Gliceraldedo-3P (3C)
Glicose-6P (6C)
Figura 3.13 - Via da pentose fosfato ou shunt da hexose monofosfato prov NADPH para a
biossntese, ribose-5P para a sntese de cidos nuclicos e outros metablitos da via
glicoltica.
39
3.8. Controle da Glicemia
3.8.1. Vias de captao e de remoo de glicose sangnea
Por meio da corrente circulatria, a glicose transportada para as clulas do organismo, onde serve como fonte de
energia e para a sntese de vrias substncias. A glicose continuamente retirada do sangue pelas clulas, mas reposta
principalmente pelo fgado, de modo que sua concentrao sangnea se mantm praticamente constante.
A dependncia da glicose por parte de vrios tecidos varia amplamente. A glicose essencial para o sistema nervoso
central, uma vez que a principal fonte de energia que atravessa efetivamente a barreira hematoenceflica. O msculo e outros
tecidos podem obter energia de outras fontes, como os corpos cetnicos e aminocidos ramificados. O msculo cardaco
relativamente insensvel a variaes de glicemia, pois remove efetivamente cidos graxos e lactato do sangue.
Aps 3 h de jejum, a concentrao de glicose no sangue cerca de 70 a 90 mg/100 mL. Logo aps a alimentao, pode
atingir 140 a 150 mg/100 mL (glicemia ps-prandial), mas em poucas horas a glicemia atinge os valores do jejum. Se a
concentrao sangunea atinge 160 a 180 mg/100 mL, a glicose ser excretada pelos rins (glicosria), mas isso raramente ocorre
nos indivduos normais, uma vez que o fgado bastante eficiente no processamento da glicose, sendo esta armazenada como
glicognio e utilizada para a sntese de lipdios.
A concentrao em excesso de glicose no sangue denominada hiperglicemia, caracterstica do diabetes mellitus. Uma
concentrao inferior normal denominada hipoglicemia, que pode ocorrer devido a desordens do metabolismo heptico ou
quando o pncreas secreta quantidades excessivas de insulina.
So fontes de glicose sangnea:
1 - Absoro de carboidratos da dieta.
2 - Degradao do glicognio heptico (glicogenlise).
3 - Gliconeognese a partir de aminocidos.
4 - Gliconeognese a partir do glicerol.
5 - Gliconeognese a partir do lactato.
Uma vez que a absoro intestinal de carboidratos um processo descontnuo, o fgado mantm o abastecimento
contnuo de glicose para o sangue, por meio da hidrlise da glicose-6-fosfato proveniente da glicogenlise, o que tambm
ocorre, em menor extenso, nos rins e no intestino. O fgado tambm o principal rgo onde acontece a gliconeognese a
partir de amincidos, lactato e glicerol; cerca da metade dos esqueletos carbnicos dos aminocidos presentes nas protenas
glicognica. tambm importante ressaltar que os cidos graxos, os corpos cetnicos e o glicognio muscular no contribuem
diretamente para a elevao da glicemia, uma vez que no podem dar origem glicose.
A glicose sangnea retirada do sangue pelas seguintes vias:
1 - Captao celular contnua para a produo de energia.
2 - Sntese de glicognio heptico (glicognese).
3 - Sntese de lipdios no fgado e no tecido adiposo (lipognese).
4 - Sntese de substncias derivadas (converso).
5 - Eliminao renal, quando o seu limiar excedido.
A concentrao da glicose sangunea resulta das velocidades relativas da produo de glicose pelo fgado, da absoro
intestinal e de sua utilizao por todos os tecidos. Tecidos como o fgado e o msculo assimilam mais rapidamente a glicose na
presena de altos nveis de glicemia. A concentrao elevada de glicose no sangue favorece a formao de glicognio e de
triglicerdeos, sobretudo no fgado e no tecido adiposo.
Hipfise
A hipfise anterior tem efeito indireto sobre a glicemia, por meio da tirotrofina (TSH), que estimula a tireide, e da
adrenocorticotrofina (ACTH), que estimula a crtex adrenal. Contudo, tem tambm efeito direto, por meio da somatotrofina ou
hormnio do crescimento (GH ou SH). O GH antagoniza a ao da insulina, diminui a captao e utilizao da glicose e
aumenta a mobilizao de lipdios para fins energticos. Acredita-se que a liberao de GH em excesso pode ter efeito
diabetognico, pois pode aumentar de 50 a 100 vezes o nvel de glicose no sangue, estimulando o pncreas a secretar cada vez
mais insulina, o que pode levar disfuno desse rgo, com posterior desenvolvimento de diabetes.
Tireide
A tiroxina (T4), liberada pela tireide pelo estmulo da TSH da adenohipfise, um hormnio derivado do aminocido
tirosina e contm iodo. um estimulador dos metabolismos muscular e heptico, aumentando a velocidade do metabolismo
basal. Aumenta a concentrao da glicose sangnea, porque eleva a absoro intestinal de carboidratos, a glicogenlise e
gliconeognese hepticas, embora tambm estimule a gliclise.
Adrenais (supra-renais)
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A adrenalina, ou epinefrina, secretada pela medula ou poro interna das glndulas supra-renais, tambm um
hormnio derivado do aminocido tirosina. A medula adrenal essencialmente parte do sistema nervoso, de quem recebe os
sinais. Quando os impulsos nervosos atingem a glndula, causam a exocitose dos grnulos que armazenam a adrenalina para o
fluido extracelular circulante e da para o sangue, podendo aumentar a concentrao sangnea desse hormnio de at 1.000
vezes. A secreo de adrenalina aumenta durante o estado de raiva e medo, resultando em aumento da produo de glicose, que,
presumivelmente, serve como fonte extra de energia, permitindo o organismo responder mais rapidamente ao estado de crise.
Os tecidos-alvo da adrenalina so o fgado e os msculos esquelticos, bem como o corao e o sistema vascular. A adrenalina
prepara o organismo para os estados de emergncia de vrias formas. Aumenta a freqncia e o rendimento cardacos e a
presso arterial, preparando o sistema circulatrio para a emergncia. Estimula a degradao do glicognio heptico em glicose
sangnea, o combustvel para realizar o trabalho muscular anaerbico, alm de inibir a sntese do glicognio, por inativar a
glicognio sintetase. Promove a degradao do glicognio do msculo esqueltico at lactato, via gliclise, estimulando,
portanto, a formao glicoltica de ATP.
A adrenalina no penetra realmente na clula heptica para exercer seu efeito. Ela liga-se a receptores especficos da
membrana plasmtica dos hepatcitos, provocando alterao na protena receptora. Essa alterao "transmitida" para a clula
que estimula a sntese de AMP cclico (AMPc), o segundo mensageiro. A sntese de AMPc desencadeia uma srie de reaes
em cascata de fosforilao de protenas, que terminam por ativar a fosforilase do glicognio ao mesmo tempo que inativam a
glicognio sintetase. O fenmeno em cascata de uma enzima promovendo a ativao ou inativao de outras enzimas resulta em
uma grande e rpida amplificao do sinal inicial, em que cada enzima da seqncia promove a ativao de muitas molculas
da prxima enzima. Dessa forma, a ligao de poucas molculas de adrenalina aos receptores do hepatcito resulta rapidamente
na liberao de muitos gramas de glicose para a circulao. Um efeito semelhante ocorre no msculo, mas, devido falta de
glicose-6-fosfatase, o tecido muscular no produz glicose. Em vez disso, a formao aumentada de glicose-6-fosfato no
msculo leva a um aumento na taxa de gliclise at lactato, tornando o ATP disponvel para a contrao.
Os glicocorticides, hormnios esterides secretados pela crtex adrenal, tambm contribuem para elevar a glicemia.
Aumentam o catabolismo protico, estimulando a gliconeognese a partir de aminocidos. Estimulam tambm a mobilizao
das gorduras, diminuindo a utilizao celular da glicose.
Pncreas
O pncreas o principal rgo endcrino no controle da glicose circulante. O glucagon, secretado pelas clulas alfa
das ilhotas pancreticas em estados de hipoglicemia, ativa a fosforilase do glicognio, estimulando a glicogenlise heptica.
Estimula tambm a gliconeognese e o transporte de aminocidos glicognicos, a fim de prover os carbonos necessrios para a
sntese de glicose. A soma desses efeitos resulta na elevao da glicemia.
O mecanismo de atuao do glucagon semelhante ao da adrenalina, sendo tambm mediada pela AMPc. Entretanto,
no estimula a gliclise muscular; ao contrrio, inibe-a indiretamente pela inibio da piruvato-quinase. O glucagon tambm
difere da adrenalina por possuir uma ao mais longa e por no estimular a freqncia cardaca ou elevar a presso arterial.
A insulina efetivamente o nico hormnio cuja ao reduz a glicemia. secretada pelas clulas beta das ilhotas
pancreticas, por um processo complexo que requer clcio. A taxa de secreo de insulina determinada principalmente pela
concentrao da glicose plasmtica. Quando a concentrao de glicose se eleva, ocorrer aumento da secreo de insulina.
O mecanismo exato de ao da insulina no est completamente estabelecido. Receptores de insulina foram detectados
nas superfcies das clulas do fgado, do msculo esqueltico e tambm do tecido adiposo. Sabe-se que esse receptor, uma vez
ativado, tem atividade cataltica, podendo se autofosforilar e fosforilar outras protenas. Apesar de esforos intensos, um
segundo mensageiro intracelular, liberado quando a insulina se liga aos seus receptores na superfcie celular, ainda no foi
identificado. Tambm no so conhecidas quais as protenas-alvo de fosforilao, entretanto acredita-se que o clcio
intracelular importante no desencadeamento da ao da insulina, e observou-se tambm um efeito moderador sobre os nveis
citoplasmticos de AMPc.
A insulina atua diminuindo o nvel da glicose sangunea porque aumenta a velocidade de captao da glicose pelas
clulas musculares e adiposas para a produo de energia, promove o armazenamento de glicose como glicognio no fgado e
msculo e estimula a converso de glicose em gordura no fgado e tecido adiposo. Em resumo, a insulina aumenta a taxa de
utilizao da glicose com trs propsitos bsicos: oxidao, glicognese e lipognese.
Embora o metabolismo da glicose no fgado seja dependente de insulina, esse rgo no necessita desta para a
captao de glicose. A clula heptica livremente permevel entrada e sada de glicose. Alm disso, em contraste com certos
tecidos como o muscular e o adiposo, em que a captao de glicose insulino-dependente, a glicose apenas captada pelo
fgado em condies de hiperglicemia. A insulina favorece a sntese de glicoquinase, que fosforila a glicose formando glicose-
6-fosfato no fgado. Essa enzima serve para capturar todo o excesso da glicose sangnea na clula heptica, independente da
concentrao de glicose-6-fosfato (um conhecido inibidor da hexoquinase muscular), permitindo, assim, o armazenamento de
glicose sob a forma de glicognio ou, aps o metabolismo posterior, na forma de cidos graxos.
A insulina possui outros efeitos, alm de aumentar a captao de glicose pelas clulas. Suprime a sntese de piruvato-
carboxilase, fosfoenolpiruvato-carboxiquinase e frutose-di-fosfatase, inbindo, assim, a gliconeognese. Alm disso, estimula o
aumento dos nveis de glicognio-sintetase e acelera a velocidade de oxidao da glicose pela via do fosfogliconato. Inibe a
liplise, ao mesmo tempo que estimula a sntese de cidos graxos a partir de glicose e piruvato (lipognese). Favorece tambm
a sntese de protenas e inibe o catabolismo protico, tanto no msculo quanto no fgado, o que contribui para suprimir a
gliconeognese a partir de aminocidos.
41
Sndrome Metablica e Resistncia Insulina
A resistncia insulina um problema metablico comum, caracterizado por um impedimento fisiolgico de
resposta insulina. um fator-chave na patognese do diabetes tipo 2 e pode anteceder o desenvolvimento da hiperglicemia
por muitos anos. A resistncia insulina e as vrias outras desordens metablicas e vasculares associadas so conhecidas
como sndrome metablica ou sndrome X ou sndrome da resistncia insulina. As caractersticas da sndrome metablica
incluem obesidade central, hipertenso, dislipidemia, intolerncia glicose e anormalidades na funo endotelial e de
coagulao. Est freqentemente associada infiltrao gordurosa no fgado e ao desenvolvimento de esteato-hepatite no-
alcolica, assim como com o aumento no risco de doenas cardiovasculares. A origem exata da sndrome metablica ainda
no completamente conhecida, no entanto est inquestionavelmente relacionada com o aumento da gordura corporal.
42
O crescimento do crebro ainda considervel at aproximadamente 5 anos de idade, e aps essa idade o crescimento
modesto. Apesar disso, o consumo de glicose aps 1 ano de idade permanece praticamente inalterado at a fase adulta, em
ambos os sexos.
Dessa forma, a necessidade energtica a mesma em indivduos aps 1 ano de idade, independentemente do sexo:
Essa quantidade suficiente para suprir o crebro com glicose, sem o aumento dos nveis de corpos cetnicos
circulantes, quando comparado com o indivduo aps uma noite em jejum.
Com o avanar da idade, ocorre uma reduo de cerca de 10% na taxa de oxidao da glicose e no tamanho do crebro.
No entanto, no existem evidncias que indiquem uma menor necessidade de glicose para indivduos acima de 70 anos de
idade.
Gravidez
Na gravidez ocorre um aumento na utilizao da glicose, independentemente do incremento no gasto energtico. Cerca
de 33 g/dia de glicose so necessrios para suprir o crebro do feto com combustvel, sem que ele utilize corpos cetnicos.
Considerando que a me ir necessitar de 100 g/dia de carboidratos (EAR) sem necessitar de corpos cetnicos como substrato
energtico, um adicional de 35 g/dia de glicose recomendado, passando o EAR da gestante para 135 g/dia de carboidratos,
independentemente da idade da gestante.
Lactao
O contedo de lactose do leite de cerca de 74 g/L. Como a lactose sintetizada a partir da glicose, um suprimento
adicional de carboidratos da dieta ou de aminocidos e glicerol para a gliconeognese necessrio.
A necessidade de carboidratos na lactao representa a soma do total de carboidratos necessrios para repor a secreo
de leite materno (60 g/dia) e o EAR para mulheres (100 g/dia), totalizando 160 g/dia.
3.10. Referncias
BEYER, P.L. Terapia clnica nutricional para os distrbios do trato gastrointestinal alto. In: MAHAN, L.K.; ESCOTT-STUMP,
S. Krause: alimentos, nutrio & dietoterapia. 10. ed., So Paulo: Ed. Roca, 2002. Cap. 30, p. 627-642.
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ETTINGER, S. Macronutrientes: carboidratos, protenas e lipdeos. In: MAHAN, L.K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause:
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GROFF, J.L.; GROPPER, S.S.; HUNT, S.M. Advanced nutrition and human nutrition. 2. ed. St. Paul: Ed. West, 1995. p.
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222-241.
43
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human nutrition. Philadelphia: Ed. Saunders, 2000. Cap 1, p. 3-22.
MATHAI, K. Nutrio na idade adulta. In: MAHAN, L.K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause: alimentos, nutrio &
dietoterapia. 10. ed. So Paulo: Ed. Roca, 2002. Cap. 12, p. 261-275.
SABR, A. et al. Temas de pediatria n 57. So Paulo: NESTL - Servio de Informao Cientfica, 1994.
STIPANUK, M. H. Biochemical and physiological aspects of human nutrition. Philadelphia: W. B. Saunders Company,
2000. 1007 p.
44
Captulo 4 _ FIBRAS ALIMENTARES
Neuza Maria Brunoro Costa
Hrcia Stampini Duarte Martino
4.1. Histrico
Em 400 AC, hipcrates j mensionava os efeitos benficos da fibra alimentar (FA). Por volta de 1920, Kellogg
verificou seu efeito positivo, porm McCance e Lawrence consideraram a FA como parte no-digervel de alimentos de origem
vegetal que irritava o intestino. Trinta anos mais tarde, Cleave relacionou certos tipos de doenas com a deficincia na ingesto
de FA. No final da dcada de 60, Burkit observou que a populao africana que consumia dieta rica em FA no era acometida
por certos tipos de doenas, como cncer de clon, mais comum entre sociedades ocidentais mais desenvolvidas, onde o
consumo de FA era menor. Nos anos 70, Walker verificou que a populao negra do sul da frica, que consumia farinha de
milho no refinada e com elevado contedo de FA, tinha menos risco de doenas como ateroscleroses, hemorridas e cncer de
clon. Resultado similar foi observado por Trowell, em 1976.
No final do sculo XX cresceu o interesse da comunidade cientfica em estudar o contedo de FA e os efeitos de sua
ingesto pelo homem, pelas observaes de que dietas pobres em FA eram freqentemente associadas a doenas coronarianas,
diabetes, doenas diverticulares e cncer de clon, alm de uma srie de outros distrbios do trato gastrointestinal.
Os efeitos da FA so decorrentes no da sua assimilao pelo organismo, mas principalmente pela sua natureza
indigervel, desempenhando papel importante em vrios processos fisiolgicos, na preveno de doenas de diferentes
etiologias e recentemente exercendo a funo de ingrediente funcional. Apesar das investigaes e descobertas ao longo dos
anos sobre FA, existem muitas discusses e controvrsias sobre sua definio, mtodo de anlise, propriedades e aspectos
funcionais.
4.2. Definio
O conceito de fibra vem sendo associado a vrios significados ao longo dos anos, os quais resultaram de discusses
internacionais baseadas nas vantagens das tcnicas analticas, nas informaes fisiolgicas e nutricionais, e tambm do interesse
das indstrias de alimentos. Na Tabela 4.1 apresentam-se algumas definies. Nos Estados Unidos a FA definida pelo nmero
de mtodos analticos que so aceitos pela Association of Official Analytical Chemists (AOAC), e esses mtodos isolam
carboidratos no-digerveis de plantas e animais.
Os componentes de FA podem ser isolados e concentrados usando-se os mtodos disponveis sem necessariamente
obter efeitos benficos sade. No entanto, outros compostos no digerveis podem ser desenvolvidos com o processamento e
propiciar efeitos benficos sade. Por essa razo, a Food and Nutrition Board props as seguintes definies de fibra (IOM,
2001):
- A fibra alimentar consiste de carboidratos no-digerveis e de lignina presentes de forma intrnseca e intacta nas plantas.
Fazem parte da fibra alimentar a celulose, a pectina, as hemiceluloses, as gomas, as -glucanas, o amido resistente encontrado
naturalmente ou produzido durante o processamento convencional de cereais (cereais matinais), os oligossacardeos
encontrados em leguminosas como rafinose e estaquiose e as frutanas como frutooligossacardeos e inulina encontrados na
cebola e na chicria.
- A fibra funcional consiste de carboidratos no-digerveis, isolados que exercem efeitos benficos ao indivduo. Fazem parte
da fibra funcional as fraes isoladas ou extradas usando-se processos qumicos, enzimticos ou aquosos de celulose, lignina,
hemiceluloses, pectina, -glucanos, gomas, oligossacardeos ou psilium. Amido resistente manufaturado e polissacardeos
como polidextrose, bem como produtos de origem animal como quitina e quitosanas, encontrados em artrpodes como
caranguejo e lagosta, esto includos nesta definio.
- A fibra alimentar total a soma da fibra alimentar e da fibra funcional.
4.3. Classificao
A fibra alimentar total (FAT) pode ser classificada conforme a sua caracterstica qumica, botnica e fisiolgica.
De acordo com sua constituio qumica, FATs so carboidratos complexos, com exceo da lignina, que um
polifenol. Diferem entre si pelos resduos de acar que compem os polissacardeos e pelo arranjo desses resduos.
Adicionalmente, algumas FATs possuem diferentes graus de metilao e de sulfonao. Os principais resduos das FATs so
glicose, galactose, manose e algumas pentoses. No entanto, as FATs no so apenas a soma dessas partes. De fato, o
arranjamento dessas partes geralmente mais importante para os seus efeitos fisiolgicos do que os constituintes por si ss. Por
exemplo, pectina um polmero de resduos de cido galacturnico que podem estar metilados. Nesse caso, no haver grupos
inicos para se ligarem ao clcio e reter gua.
A localizao das FATs e a classificao de suas funes nas plantas podem tambm ser teis. As principais categorias
botnicas de FAT so celulose, hemicelulose, substncias pcticas, gomas, mucilagens, polissacardeos de algas e lignina.
A localizao do componente das fibras na planta e se esta ou no extrada da planta ou consumida intacta podem ter
significantes conseqncias fisiolgicas. Se a fibra est intacta na planta, a parede celular precisa ser primeiro rompida para que
seu efeito possa ser exercido. Isso, por sua vez, depende da estrutura da parede celular e do grau de lignificao. Portanto, o
tamanho da partcula, o cozimento, o processamento e a mastigao podem determinar a acessibilidade da parede celular s
enzimas digestivas.
45
As FATs podem tambm ser classificadas pelos seus efeitos fisiolgicos, como sendo solveis e insolveis ou
viscosas e no-viscosas ou, ainda, fermentveis e no-fermentveis.
Em geral, as FAs estruturais (celulose, lignina e algumas hemiceluloses) so insolveis, no-viscosas e no-
fermentveis. Em contraste, pectinas, gomas, mucilagens e as demais hemiceluloses so solveis, viscosas e fermentveis.
Entretanto, h exceo, como a goma-arbica, que solvel, porm no viscosa.
A viscosidade afeta, principalmente, as funes da poro superior do trato gastrointestinal e a fermentabilidade, a
poro inferior do intestino grosso. A fermentabilidade depende do tipo de FAT e da microflora intestinal.
46
Tabela 4.1 Caractersticas de vrias definies de fibra alimentar (FA)
CHO Animal CHO No- Mono e Amido Fonte de FA FA Resistente Efeito
Mtodo No- Preciptado por Dissacardios Lignina Resistente Intacta e Natural a Enzimas Fisiolgico
digervel lcool No-digerveis dos Alimentos Digestivas Especfico da FA
No
Trowell et al., 1976 No No considerado No considerado Sim No considerado especificamente Sim No
listado
USFDA, 1987 Sim Alguma inulina No Sim Algum No No No
FAO/WHO, 1995
(Codex Alimentarius Sim Alguma inulina No Sim Algum No Sim No
Commission)
AACC, 2000 Sim Sim Sim Sim Sim No Sim
IOM, 2001
Fibra alimentar No Sim No Sim No Sim Sim No
Fibra funcional Sim Sim Sim Sim Sim No Sim Sim
Fonte: IOM (2001). IOM = Institute of Medicine, USFDA = United State Food and Drug Administration, AACC = American Association of Cereal Chemists
47
4.4. Componentes da FAT presentes nos alimentos e, ou, isolados
4.4.1. Celulose
a molcula orgnica mais abundante na natureza, sendo o principal polissacardeo estrutural das
plantas, conferindo a rigidez de seus tecidos. um polmero linear formado de unidades de glicose, unidas
por ligao glicosdica (1-4), apresentando elevado grau de polimerizao (at 10.000 unidades), Figura 4.1.
A conformao da molcula confere celulose uma caracterstica de longos filamentos, bastante resistente
fora mecnica ou ao ataque qumico ou a insolubilidade em gua quente.
A celulose no hidrolisada pelas enzimas digestivas humanas, embora possa ser parcialmente
fermentada pela sua microbiota intestinal. Sua principal funo na nutrio do ser humano fornecer uma
"massa" no-digervel, que estimula o peristaltismo, promovendo uma funo intestinal eficiente.
Est presente na polpa e casca das frutas, caule e folhas de hortalias, revestimento externo de gros,
sementes e nozes. A maioria da FAT do farelo constituda de celulose e classificada como FA ou fibra
funcional.
Figura 4.1 Estrutura da celulose formada por resduos de glicose unidos por ligaes glicosdicas (1-4).
4.4.2. Hemiceluloses
Sob essa denominao genrica, incluem-se vrios polmeros complexos que combinam pentoses,
como xilose e arabinose; e hexoses, como glicose, galactose e manose, sendo encontrados tambm cidos
urnicos (Figura 4.2). Juntamente com a celulose e a lignina, as hemiceluloses compem a parede das clulas
vegetais. No so digeridas pelas enzimas do trato gastrointestinal, mas so mais suscetveis degradao
microbiana que a celulose. As hemiceluloses com molculas cidas so levemente carregadas e, portanto,
solveis em gua; outras so insolveis.
As hemiceluloses podem conter alto grau de ramificao, e tipicamente cada molcula possui de 50 a
200 unidades de acares. As xilanas so basicamente polmeros de D-xilose, unidas por ligao glicosdica
(1-4) formando a cadeia principal da molcula, que pode ser ramificada em C-2 ou C-3 por resduos de L-
arabinose e, ou, cido D-glicurnico ou seu ter 4-0-metlico. As glicomananas so polmeros
predominantemente de D-manose, podendo a cadeia principal ser intercalada por unidades de D-glicose e
conter ramificaes de D-galactose
Os cereais contm polmeros ricos em arabinose e xilose, enquanto a batata possui polmero de
galactose, sendo classificada como fibra alimentar.
48
Figura 4.2 Resduos das hemiceluloses: cadeia principal(a) e cadeias laterais (b)
4.4.3. Pectinas
Formam um grupo de polissacardios amorfos, encontrados principalmente no material intercelular
cimentante dos tecidos vegetais, mas ocorrem tambm em menor quantidade na parede celular. No so
hidrolisadas pelas enzimas digestivas, mas podem ser completamente fermentadas pela microbiota intestinal.
So, principalmente, polmeros de cido galacturnico, contendo tambm L-ramnose na cadeia principal e
ramificaes com D-galactose e L-arabinose. A presena de L-ramnose na cadeia principal confere
molcula uma configurao de zig-zag, e a presena das ramificaes importante na caracterstica
gelificante das pectinas. Os cidos galacturnicos podem ocorrer em propores variadas na forma de ster
metlicos, ou mesmo na forma de cidos urnicos, neutralizados com clcio ou magnsio (Figura 4.3).
As frutas e os vegetais contm de 5 a 10% de pectina. Em alguns alimentos, como as frutas ctricas e
mas, podem chegar a 15-30% da matria seca. Apresentam grande capacidade de adsorver gua e formar
gel, sendo amplamente usadas na indstria de alimentos como agentes espessantes. Isolados de pectina so
utilizados na produo de gelia e adicionados em produtos lights como gelias e iogurtes. Assim, pectinas
podem ser classificadas como fibra alimentar e, ou, funcional.
49
Figura 4.3 Estrutura da pectina.
4.4.4. Lignina
So componentes essenciais das paredes celulares, atingindo cerca de 20% de sua composio, em
que podem estar ligados quimicamente aos polissardeos fibrosos. So polmeros muito complexos, de
estrutura tridimensional, formados de unidades de fenil-propanides e, portanto, no so carboidratos.
Entretanto, a lignina classificada como FA devido aos seus efeitos fisiolgicos e associao com a fibra na
planta.
A lignina extremamente resistente ao ataque qumico ou enzimtico e no digerida nem
fermentada pela microbiota intestinal. Ao contrrio das hemiceluloses e pectinas, tem uma capacidade muito
reduzida de reter gua, uma vez que relativamente apolar, tendo capacidade de formar ligao hidrofbica.
A lignina isolada e adicionada nos alimentos pode ser classificada como fibra funcional apresentando
efeitos fisiolgicos positivos em humanos. Vegetais formados por razes, como cenoura, trigo e frutas
consumidas com sementes, como o morango, so ricos em lignina.
4.4.5. Gomas
A goma-arbica, guar, tragacante e outras so caracterizadas como hidrocolides e tm estruturas
altamente ramificadas, consistindo de acares no-ionizveis, como galactose, cido galacturnico,
arabinose, ramanose, manose e cido urnico (Figura 4.4). As gomas so grupos de polissacardios
encontradas naturalmente nos alimentos como farinha de aveia, cevada e leguminosas ou isolados de
sementes. So amplamente usadas como agentes espessantes, podendo ser classificadas como fibra funcional
ou alimentar.
As gomas guar e "locust bean" so polmeros contendo manose e galactose e tipicamente encontradas
em leguminosas e usadas amplamente como agentes gelificantes em alimentos.
50
A goma-arbica o hidrocolide mais comumente usado como aditivo dos alimentos graas s suas
propriedades fsicas, como elevada solubilidade, estabilidade do pH e caracterstica gelificante.
Certas bactrias tambm contm polissacardeos tipo goma, que se enquadram na definio de fibra
funcional, a exemplo das gomas xantanas.
a)
51
b)
52
4.4.8. Mucilagens
As mucilagens esto presentes em clulas especiais na camada externa das sementes da famlia
plantain, tal como a ispgula, sendo classificada como fibra alimentar. Esses polissacardeos tm alta
capacidade de reteno de gua e so usados como laxantes.
O psilium, conhecido como casca de espgula, uma mucilagem muito viscosa originria da casca
da semente do psilium. A semente pequena, escura, com tom vermelho-marrom, sem odor e praticamente
sem textura. Pode ser classificado tambm como fibra funcional.
4.4.9. -glicanas
So polmeros de glicose, assim como a celulose, porm de menor tamanho e apresentam algumas
ramificaes com resduos de glicose. Formam solues viscosas e contribuem com cerca de 40% da matria
seca da parede celular da aveia e da cevada e tambm esto presentes nos fungos e nas algas. So
classificadas como fibra alimentar e quando isoladas e adicionadas, como fibra funcional.
4.4.11. Oligossacardeos
A rafinose e a estaquiose so oligossacardios indigerveis, como aqueles associados flatulncia,
porque so facilmente fermentveis pelos microrganismos do clon, produzindo grande quantidade de gases.
Esto presentes em vegetais como soja, feijo, ervilha, lentilha e gro-de-bico. A rafinose um trissacardio,
formado de glicose, frutose e galactose, sendo a estaquiose formada por rafinose e galactose.
53
sobre uma definio exata. Muitos so especficos e precisos para identificao e quantificao de diferentes
componentes da FAT. Alguns mtodos utilizam enzimas altamente purificadas, liberando oligo e
polissacardios que constituem os componentes da fibra. De interesse especial so aquelas enzimas que
hidrolisam frutanas, galactanas, mananas, arabinanas e -glicanas. Na Tabela 4.2, apresentam-se os
componentes de fibra alimentar e, ou, funcional medidos pelos variados mtodos de anlise.
O mtodo de fibra bruta foi o primeiro a ser desenvolvido e adotado pela Association of Official
Analytical Chemists (AOAC) at os anos de 1960. Consistia de uma extrao da fibra com soluo cida e
bsica, com grandes perdas de seus constituintes.
O mtodo de van Soest foi originalmente desenvolvido para raes animais, como aprimoramento do
mtodo de fibra bruta, sendo simples e fcil de ser realizado. Entretanto, apresenta como principal
desvantagem a perda dos componentes solveis da fibra, principalmente a pectina. Ele se baseia nas
determinaes de Fibra Detergente cido (ADF), Fibra Detergente Neutro (NDF) e Lignina.
A ADF o resduo obtido aps a extrao por refluxo com soluo a 2% de detergente, brometo de
cetiltrimetilamnia, em meio cido diludo. Essa preparao fornece essencialmente a lignina e a celulose da
parede celular das plantas, embora contenha tambm produtos indigerveis do cozimento e parte dos minerais.
A NDF o resduo que se obtm aps a fervura do alimento em presena de soluo neutra de
detergente, lauril sulfato de sdio e EDTA. uma extrao no-hidroltica, que remove os carboidratos
solveis, protenas e lipdios com detergentes complexos, embora remova tambm a pectina. A NDF
tambm denominada material da parede celular das plantas, uma vez que determina essencialmente lignina,
celulose e hemicelulose.
A lignina pode ser determinada separadamente atravs do tratamento do resduo com cido
sulfrico72%, como no mtodo de Southgate.
Subtraindo a lignina da ADF, obtm-se uma estimativa da celulose, enquanto a subtrao NDF
menos ADF fornece a hemicelulose.
Desses procedimentos originais foram desenvolvidos diversos mtodos analticos. De acordo com
ASP et al. (1992), os mtodos de anlise de fibra so classificados em dois grupos.
O primeiro grupo conhecido como mtodo enzimtico-gravimtrico, que consiste em quantificar a
FAT como resduo aps o tratamento da amostra com enzimas especficas que degradam amido e protena. A
grande vantagem que com essas determinaes, possvel separar a fibra alimentar insolvel da solvel, em
que a solvel obtida pela preciptao com etanol. Os tratamentos enzimticos devem ser padronizados com
enzimas altamente purificadas para obteno de resultados confiveis quando se determina FAT de alimentos
que contm quantidade significante de -glicanas, amido resistente e frutanas. Apesar de vrios mtodos j
terem sido desenvolvidos, estudos inter-laboratoriais so ainda necessrios para validao de novos mtodos
obtidos como referncia daqueles oficialmente aceitos.
O segundo grupo determina a FAT sem considerar suas propriedades fisiolgicas. Eles so mtodos
enzimticos gravimtricos para isolar e fracionar polissacardios no celulsicos, celulose e lignina, seguido
pela hidrlise de cada frao e quantificao da composio de seus acares por cromatografia gasosa com
ou sem acetilao prvia dos acares liberados em cada frao. As tcnicas com HPLC que no requerem a
derivao dos acares tambm podem ser usadas. Existem tambm mtodos colorimtricos que consistem
em determinar o contedo de acares dos compostos coloridos que so formados pela reao entre o acar
hidrolisado e o cido p-aminoidroxibenzico.
Alm dos mtodos mencionados anteriormente, existem outros mtodos rpidos cujos resultados so
confiveis e comparveis com os procedimentos tradicionais. Estes incluem o uso do Espectroscpio de
Infravermelho Prximo (NIR) para determinao de FAT de diferentes fontes e a quantificao daqueles
componentes da FAT que podem agir como prebiticos, principalmente as oligofrutoses, inulina e
polidextrose, que podem ser utilizadas como ingrediente funcional em diferentes tipos de alimentos, incluindo
a matriz aquosa, bem como aqueles alimentos ricos em lipdios e acares.
Muitas anlises de prebiticos so baseados no uso de tcnicas cromatogrficas. As anlises por
cromatografia gasosa so complexas, pois requerem prvia derivao da amostra para formar compostos
volteis, embora apresentem a vantagem de determinar oligossacardios com grau de polimerizao menor
que 10. Os mtodos baseados na filtrao em gel necessitam de um tratamento enzimtico prvio com
inulinase. A determinao de polidextrose tambm implica o uso de enzimas que liberam oligossacardios do
alimento. Nesse caso, a mistura enzimtica consiste de frutanase, amiloglicosidase e isoamilase. Os mtodos
de isolao, anlises e quantificao de prebiticos esto sendo desenvolvidos e previstos para serem aceitos
como mtodos oficiais aps a validao.
54
Tabela 4.2 Componentes de fibra alimentar e,ou, funcionais determinados pelos diversos mtodos de anlise
Oligossa
Polissacardeos Amido Poli - Maltodextrina Quitina e Sulfato de No-
Mtodos de Referncia Lignina Inulina -
No-digerveis Resistente dextrose Resistente Quitosana Condroitina Carboidratos
cardeos
Asp et al., 1983 Sim Sim Pouco Pouco No No No Um pouco Um pouco Um pouco
Englyst e Cummings, 1984 No Sim No No No No No Um pouco Um pouco No
McCleary et al., 2000 (AOAC
No No No Sim No No No No No No
999.03)
Prosky et al., 1985, 1988, 1992,
1994, (AOAC 985.29, 993.19, Sim Sim Pouco Pouco No No No Um pouco Um pouco Um pouco
991.42)
Southgate, 1969 Sim Sim Pouco No No No No Um pouco Um pouco No
55
4.6. Contedo e consumo
A FA est naturalmente presente nos cereais, vegetais, frutas e oleaginosas, entretanto a quantidade e
composio desta difere de alimento para alimento. Diversos alimentos que no so fontes de amido fornecem
de 20 a 35 g de FA/100 g de peso seco, e aqueles que so fontes de amido apresentam 10 g/100 g de FA em
relao ao peso seco. O contedo de FA nos vegetais pode representar de 28 a 30% do peso seco, embora em
alguns produtos, como feijo-preto e vermelho, valores maiores podem ser encontrados. Similar aos vegetais,
as frutas contm um grande percentual de gua e pequena quantidade de tecido vascular lignificado,
apresentando menor contedo de FA 1 a 3,5% do peso mido.
Entre os diferentes alimentos ricos em FA, os cereais so as fontes mais importantes, contribuindo
com cerca de 50% da ingesto dos pases ocidentais. Os vegetais fornecem em torno de 30 a 40%, as frutas
cerca de 16 e os 3% restantes vm de outras fontes.
A quantidade de FA dos cereais difere em grande parte, dependendo da fonte e do processamento do
produto. Assim, o contedo de FA da farinha de trigo varia de 2,5g /100 g na farinha refinada a 12 g/100 g na
farinha no-refinada, obtida do farelo de trigo. A maior parte da FA da farinha de trigo insolvel e perdida
durante o processo de refinamento.
Em razo do desenvolvimento de numerosos mtodos analticos para determinao do teor de FA
dos alimentos, seu contedo pode sofrer variaes dependendo do mtodo empregado (Tabela 4.3). Alm
disso, como a maior parte da FA derivada da parede celular e do material intercelular dos vegetais, outras
substncias naturais podem estar fsica ou quimicamente associadas (protena, oxalatos, fitatos, substncias
fenlicas). A presena de substncias no-digerveis, derivadas do processamento dos alimentos, dificulta
avaliar o teor exato de FA presente nos alimentos e, conseqentemente, a quantidade consumida pelas
populaes humanas.
Pesquisas indicaram que o consumo de FA entre os pases menos desenvolvidos mais elevado.
Entre populaes africanas rurais, que consomem dietas base de farinha de milho pouco refinada, estimou-
se um consumo mdio de 50 g/dia. Nos pases escandinavos, a ingesto de FA menor que nos pases do sul
da Europa, como Frana, Itlia e Espanha. Na Amrica Latina, sobretudo no Brasil, existem poucos dados
disponveis sobre o consumo de FA. Observou-se um consumo mdio de 20 g/dia de FA pelas mulheres e 29
g/dia de FA pelos homens, em 559 indivduos adultos estudados na regio metropolitana de So Paulo. Nos
Estados Unidos foi observado um consumo variado de 14 a 52 g de FA por dia, em indivduos no-
vegetarianos.
Tabela 4.3 Comparao entre os teores de fibra em alimentos, determinados por diferentes mtodos
analticos (% em base seca)
Alimento Fibra Bruta NDFa Fibra Totalb
Trigo integral 2,9 8,5 11,8c
Farinha de centeio integral 2,2 nd 23,0
Batata-inglesa 1,9 10,8 11,0
Farinha de mandioca 2,0 nd 6,3
Feijo-carioca 4,9 nd 19,3
Alface 13,7 14,1 33,1
Couve 6,9 16,0 32,6c
Couve-flor 9,4 14,0 27,0c
Repolho 11,6 12,1 27,2c
Tomate 9,7 17,6 22,1
Pepino 8,7 16,0 28,5c
Beterraba 8,2 8,8 15,9
Cebola 6,7 4,9 15,5
Cenoura 8,5 10,1 23,9c
Ma 4,4 16,5 13,8
aFibra Detergente Neutro NDE, bMtodo enzimtico-gravimtrico, cMtodo de Englyst e nd = no
determinado.
56
4.7. Recomendao nutricional
No h parmetros bioqumicos que possam ser utilizados para estabelecer o estado nutricional de
um indivduo em relao fibra alimentar, funcional ou total. Assim, as recomendaes sobre a quantidade de
fibra que deve ser ingerida no so as mesmas em todos os pases. No Reino Unido, prope-se a ingesto de
18 g/dia e na Alemanha, de 30 g/dia.
A dieta mediterrnea, tipicamente presente na Espanha, Itlia e Grcia, possui alto contedo de fibra,
por ser rica em vegetais, cereais, frutas e leguminosas. A recomendao da ingesto de FA nesses pases de
20 g/dia para homens e 15,7 g/dia para mulheres.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Alimentao e Nutrio (SBAN, 1990) recomenda uma
ingesto diria de 20 g ou de 8 a 10 g/1.000 kcal.
Nos Estados Unidos, baseado em estudos epidemiolgicos prospectivos, relacionando o consumo de
FA com a ocorrncia de doenas cardiovasculares, foi estabelecida a ingesto adequada (AI) de 14 g/1.000
kcal, independentemente do estgio de vida e do estado fisiolgico. Para crianas de 0 a 6 meses de idade,
considerando o leite materno como alimento adequado para suprir todas as necessidades nutricionais e
considerando ainda que o leite no fornece FA, no foi estabelecida AI para esses indivduos. Para crianas de
7 meses a 1 ano de idade, embora o consumo de alimentos slidos j esteja presente na alimentao da
criana, no h dados suficientes para se estabelecerem recomendaes de FA. Assim, no h AI de FA para
crianas de at 1 ano de idade. Na Tabela 4.4, apresentam-se as AI de FA total baseadas no consumo
energtico (14 g/1.000 kcal), de acordo com o estgio de vida e o estado fisiolgico.
Tabela 4.4 Recomendaes nutricionais para a ingesto de fibra alimentar total em diferentes estgios de
vida e estado fisiolgico
Estgio de Vida Fibra Alimentar Total (g/dia)*
(anos) Sexo
Masculino Feminino
1a3 19 19
4a8 25 25
9 a 13 31 26
14 a 18 38 26
19 a 30 38 25
31 a 50 38 25
50 a 70 30 21
> 70 30 21
Gestantes 28
Lactantes 29
*IOM (2002) baseado na ingesto adequada (AI).
57
4.8.2. Degradao microbiana dos polissacardeos
As fibras podem ser degradadas pela flora microbiana no intestino grosso. O grau de degradao
varia consideravelmente entre os polissacardeos e est relacionado com a capacidade de reteno de gua e
com a estrutura do polissacardeo da fibra.
Pectinas, gomas e mucilagens parecem ser completamente degradadas, enquanto a celulose apenas
parcialmente degradada, cerca de at 40%. Seguem os efeitos da degradao microbiana:
- Produo de cidos graxos de cadeia curta (AGCC ou SCFA) ou cidos graxos volteis (AGV ou VFA),
como acetato, propionato e butirato. Esses cidos graxos podem ser absorvidos e utilizados pelas clulas do
clon para produo de energia, especialmente butirato. Podem ainda ser absorvidos na veia porta, indo at o
fgado, onde influenciam o metabolismo de lipdios (propionato) e de carboidratos (acetato).
- Formao de gases como CO2, H2 e CH4, que podem ser eliminados pela respirao ou causar flatulncia.
- A fermentao promove abaixamento de pH intestinal, afetando a atividade das enzimas microbianas, como
as responsveis pela converso de cidos biliares primrios em secundrios. A reduo desses cidos biliares,
especialmente a de cido litoclico, est associada menor incidncia de cncer de clon. O abaixamento de
pH pode tambm favorecer a solubilizao e a conseqente absoro de certos minerais no clon, pelo
transporte paracelular.
- As fibras, ao serem fermentadas, contribuem para um maior crescimento das clulas microbianas, o que
pode contribuir com uma poro significativa do peso fecal.
58
processo, alguns componentes ligados na matriz da fibra pode ser solubilizado. Portanto, o tamanho da
partcula antes da ingesto no relevante para medir o potencial de ao da fibra no trnsito intestinal.
59
4.9.2. Fibras e cncer de clon
Estudos epidemiolgicos vm demonstrando a correlao da incidncia de cncer no intestino grosso
com a baixa ingesto de fibra. Um mecanismo plausvel para o efeito anticarcinognico das fibras a reduo
no tempo de trnsito da massa alimentar atravs do clon, portanto reduzindo a possibilidade de pr-
carcingenos, carcingenos e promotores de tumores potenciais interagirem com a superfcie mucosa. Alm
disso, o aumento na massa, volume e maciez das fezes diluem os carcingenos. A reduo do pH intestinal
promovido pela fermentao reduz a atividade das enzimas microbianas, diminuindo a produo de cidos
biliares secundrios, especialmente o cido litoclico, que carcinognico e reduz a produo de amnia,
conhecida ser txica para as clulas.
Fibras afetam a diviso celular tanto aumentando quanto reduzindo a concentrao luminal de fatores
mitognicos. Juntamente com a fermentao das fibras so produzidos cidos graxos de cadeia curta,
especialmente butirato, que estimulam a proliferao celular no clon. Em situaes normais de indivduos
sadios, isso pode ser benfico. Entretanto, na presena de carcingenos isso pode acelerar o processo
carcinognico. A fermentao da fibra impede que ela exera o efeito de diluio dos carcingenos. Portanto,
no que diz respeito ao cncer de clon as fibras insolveis, menos fermentadas, so mais protetoras.
A maioria dos estudos clnicos e de interveno epidemiolgica no mediu os aspectos funcionais
dos mecanismos potenciais pelos quais a fibra pode ser protetora. Tentou-se demonstrar aspectos fisiolgicos,
como peso fecal e tempo de transito intestinal ,para promover proteo contra o desenvolvimento de tumor.
Cummings et al. (1992) relataram que o peso fecal maior que 150 g protetor contra o cncer de clon. Em
estudos realizados por Birkett et al. (1997) foi demonstrado que o peso fecal maior que 150 g melhorou os
marcadores para o cncer de clon, incluindo volume fecal, razo de cidos graxos primrios para secundrio,
pH das fezes, produo de amnia e tempo de trnsito intestinal.
60
gstrico e na absoro dos acares pelas fibras solveis, permitindo melhor controle dos nveis plasmticos.
As fibras tambm melhoram a sensibilidade insulina, visto que cidos graxos de cadeia curta, como o
acetato, provm uma fonte alternativa de energia para substituir a glicose, sem requerer insulina.
O consumo crnico de dietas pobres em fibra pode tambm ser importante na precipitao do
aparecimento de diabetes em indivduos geneticamente predispostos. Desse modo, a ingesto de fibra no
representa apenas um recurso teraputico no controle da diabetes, mas tambm pode ser um fator
etiopatognico dessa enfermidade. Essa hiptese apoiada pela baixa incidncia de diabetes em populaes
africanas, que consomem tradicionalmente dietas com elevado contedo de fibras.
61
Acredita-se que diversos mecanismos possam estar envolvidos na reduo de colesterol sangneo
pelas fibras. Dentre esses foram citados:
- Menor digesto e absoro de lipdios, devido ao esvaziamento gstrico mais lento e maior viscosidade do
meio, que dificultam a ao de enzimas digestivas.
- Maior eliminao de cidos biliares, que se complexam com pectina, interferindo com a formao de
micelas, reduzindo a absoro de colesterol, cidos biliares e lipdios.
- A fermentao produz cidos graxos de cadeia curta, especialmente propionato, que absorvido na veia Porta
vai at o fgado, inibe a atividade da enzima HMG CoA redutase (hidroxi-metil-glutaril coenzima A redutase)
e, portanto, a sntese de colesterol heptico, diminuindo seus nveis sangneos.
A ingesto de fibra solvel resulta em reduo consistente no pool de colesterol heptico, devido
menor quantidade de colesterol via remanescente de quilomcrons que chega at o fgado ou ao aumento da
atividade da 7--colesterol hidroxilase, responsvel pela interrupo da circulao ntero-heptica de cidos
biliares. Isso gera um balano negativo de colesterol heptico, resultando no estmulo da HGMCoA redutase e
receptotres apo B/E e reduo na atividade da acilCoA:colesterol aciltransferase (ACAT). Essas alteraes na
homeostase de colesterol heptico esto correlacionadas com reduo na secreo de VLDL-colesterol,
aumento da remoo da VLDL do plasma, diminuio na converso de VLDL para LDL e aumento na taxa
catablica da frao ApoB da LDL-colesterol. Alm disso, a atividade da protena ester de colesteril
transferase (CETP) reduzida e provavelmente a lipase lipoprotica aumenta (LPL). Todas essas alteraes
no metabolismo de colesterol heptico, como sntese, processamento intravascular e catabolismo de LDL,
resulta no conhecido efeito da fibra solvel em reduzir a concentrao de LDL-colesterol no plasma.
A ingesto de 8,7 g de -glicana do farelo de aveia aumentou em 83% a excreo de cidos biliares
aps 24 horas e em 93% aps a ingesto da refeio-teste, rica em lipdio e colesterol e com 6 g de -glicana.
A excreo endgena de colesterol diminuiu aps a refeio-teste com fibra de aveia. Isso pode ser um efeito
secundrio devido ao aumento da excreo de cidos biliares e, conseqentemente, sntese heptica de
colesterol. O colesterol srico tambm utilizado para sntese de cidos biliares, explicando a reduo na
concentrao de colesterol aps longo tempo de ingesto da fibra de aveia. O aumento da excreo de lipdio
parece ser pela reduo no processo de solubilizao no intestino, resultando na menor secreo de
quilomcrons na circulao linftica.
Vrias fontes de fibra so conhecidas por ter efeitos benficos na dislipedemia. O mecanismo de
ao depende de suas propriedades fsico-qumicas e tm sido identificados como fator de risco para doenas
cardiovasculares LDL-colesterol elevado, HDL-colesterol reduzido e trigliceridemia. As fibras, que so
capazes de otimizar esses marcadores, so recomendadas para todas as pessoas, especialmente para aqueles
indivduos com risco de dislipidemias.
4.10. Referncias
62
GURR, M.I.; ASP, N.G. Dietary fiber. Blgica: ILSI Europe Concise Monograph Series, 1994. 23 p.
INSTITUTE OF MEDICINE: Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, faty acids,
cholesterol, protein and amino acids. Food and Nutrition Board (FNB). [S.L.], 2002.
INSTITUTE OF MEDICINE: Dietary reference intakes: Proposed definition of Dietary fiber. Food and
Nutrition Board (FNB). [S.L.], 2001.
KAMP, J.W.; ASP, J.; MILLER, J.; SCHAAFSMA, G. Dietary fiber. Wageningen, The Netherlands:
Wageningen Academic Publishers, 2004. 357 p.
LAJOLO, F.M.; SAURA-CALIXTO, F.; PENNA, E.W.; MENEZES, E.W. Fibra diettica en
iberoamrica: Tecnologa y salud. So Paulo: Livraria Varela, 2001. 472p.
LUPTON, J.R.; TURNER, N.D. Dietary fiber. In: STIPANUK, M.H. (Ed.) Biochemical and physiological
aspects of human nutrition. Philadelphia, W.B: Saunders Company, 2000. cap 8; p. 143 - 154.
RODRGUEZ, R.; JIMNEZ, A.; FERNNDEZ-BOLAOS, B.; GUILLN, R.; HEREDIA, A. Dietary
fibre from vegetable products as source of functional ingredients. Trends in Food & Technology, v. 17, p. 3
- 15, 2006.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ALIMENTAO E NUTRIO. Cadernos de nutrio; v. 2, 1990.
63
Captulo 5 - PROTENAS
Maria do Carmo Gouveia Peluzio
Ellencristina da Silva Batista
5.1. Introduo
A palavra protena vem do grego protos, que significa primeiro. Foi o primeiro macronutriente
considerado essencial para o organismo e o mais abundante componente estrutural e funcional das clulas
do corpo humano.
O corpo de um homem de 70 kg contm aproximadamente 11 kg de protena. Metade dessa protena
(43%) est presente como msculo esqueltico, enquanto outras estruturas como pele e sangue contm cerca
de 15% do total de protenas. Os tecidos viscerais metabolicamente ativos possuem apenas 10% do total de
protenas, e o restante encontra-se nos demais rgos (crebro, intestino, corao e ossos). A distribuio da
protena entre os rgos varia de acordo com a faixa etria. O recm-nascido tem menos tecido muscular e
mais crebro e tecido visceral que o adulto. tambm interessante realar que, apesar da grande variedade de
protenas dentro de um nico organismo, quase a metade do contedo total delas no ser humano se encontra
em apenas quatro protenas: miosina, actina, colgeno e hemoglobina. O colgeno, especificamente
compreende 25% do total.
As protenas possuem diversas funes, cuja importncia evidenciada pelo fato de que a
informao gentica expressa como protenas. Assim como existem milhares de genes no ncleo celular,
cada um especificando uma caracterstica distintiva do organismo, existem tambm, correspondentemente,
milhares de diferentes protenas na clula, cada uma executando uma funo especfica, determinada pelo
gen.
Dentre as inmeras funes das protenas, pode-se citar aquela que serve de carreador de substncias
como ons ou molculas no plasma sanguneo, a exemplo da hemoglobina. Outras protenas ancoradas em
membranas biolgicas so receptores para compostos especficos que funcionam na regulao celular,
incluindo o transporte de molculas para dentro e para fora da clula. Alm disso, h os fatores de coagulao,
os anticorpos, os hormnios, as enzimas que tambm so protenas.
Contm em sua estrutura carbono, hidrognio, oxignio e, adicionalmente, nitrognio, juntamente
com enxofre, e algumas possuem elementos como fsforo, ferro e cobalto na sua estrutura.
O teor de nitrognio nas protenas vegetais varia de 16,28% a 18,75%, e nas protenas animais o valor
mdio de 16%. A fim de adotar um fator universal para todos os produtos, convenciou-se uma mdia de
16%. Esse porcentual de nitrognio pode ser usado para obter o teor de protena.
100 g protena 16 g nitrognio
X 1 g nitrognio
X = 6,25 g protena
Ento, 6,25 o FATOR UNIVERSAL adotado para converso do teor de nitrognio no teor de protena
do alimento. Assim, dosando o teor de nitrognio do alimento pelo mtodo de Kjedhall e multiplicando o
valor encontrado por 6,25, obtm-se o teor de protena do alimento.
5.2. Aminocidos
5.2.1. Formao das Protenas
As protenas so macromolculas cuja unidade estrutural so os aminocidos. Na natureza j foram
identificados cerca de 200 aminocidos, sendo que quase todas as protenas nos seres vivos so compostas
pelos mesmos 20 aminocidos que so conhecidos como primrios. A protena da dieta fonte para esses 20
aminocidos primrios.
a ordem desses aminocidos primrios e a freqncia com que aparecem na estrutura que permitem
que as protenas sejam umas diferentes das outras e possuam diversas funes. Cada tipo de protena tem
uma seqncia nica de aminocido.
64
Todos os aminocidos contm em sua estrutura pelo menos um grupo amino (-NH2) na posio alfa
e um grupo carboxila (COOH-) e todos, com exceo da glicina, contm um tomo assimtrico. Na Figura 5.1
esta representada a frmula geral dos aminocidos:
COO
H 3N C H
R
Figura 5.1: Frmula geral dos aminocidos
Os aminocidos unem-se uns aos outros para formar uma protena por meio da ligao peptdica. Tal
ligao constituda pela unio de um grupo carboxlico de um aminocido ao grupo amino de outro, com
liberao de gua (Figura 5.2).
1 2
R H R
+ -
H 3N CH C OH + H N CH COO
O H 2O H 2O
1 2
R H R
+ -
H 3N CH C N CH COO
O
Figura 5.2- Unio dos aminocidos formando as ligaes peptdicas, com sobra de uma molcula de gua.
65
A seqncia da ligao, determinada geneticamente, conhecida como estrutura primria. A sua
conformao no espao em forma linear, dupla hlice ou folha pregueada constitui a estrutura secundria da
protena. J a forma como a estrutura secundria se arranja no espao, estendendo-se ou dobrando-se sobre si
mesma, a estrutura terciria. A estrutura quaternria a associao de subunidades da estrutura terciria. J
a estrutura tridimensional das protenas vai influenciar sua digestibilidade e, conseqentemente seu valor
nutricional.
A unio de dois aminocidos por uma ligao peptdica forma um dipeptdio. Trs aminocidos
podem ser reunidos por duas ligaes peptdicas para formar um tripeptdio e, assim, sucessivamente para
formar tetra e pentapeptdios. A estrutura formada por pequeno nmero de aminocidos chamada de
oligopeptdeo, e quando os aminocidos so reunidos em estruturas que variam at aproximadamente 10.000
Dltons, essas estruturas so chamadas de polipeptdeos. As estruturas com peso molecular acima de 10.000 a
milhes de Dltons j so protenas.
66
Quadro 5.1 - Aminocidos indispensveis, dispensveis e condicionalmente indispensveis na dieta humana
Indispensveis Dispensveis Condicionalmente Precursores dos
indispensveis condicionalmente
indispensveis
Histidina Alanina Arginina Glutamina/glutamato/
Aspartato
Isoleucina cido asprtico Cistena Metionina/serina
Leucina Asparagina Glutamina cido Glutmico/amnia
Lisina cido glutmico Glicina Serina/colina
Metionona Serina Prolina Glutamato
Fenilalanina Tirosina Fenilalanina
Treonina
Triptofano
Valina
De acordo com a composio da sua estrutura, as protenas podem ser divididas em simples e
conjugadas.
Protenas simples: so aquelas que, por hidrlise, fornecem apenas aminocidos. Podem ser:
Fibrosas Aquelas constitudas de cadeias polipeptdicas que se organizam em um arranjo paralelo
ao longo de um eixo, formando fibras ou filamentos. So pouco solveis, de consistncia rgida e tm
normalmente funes estruturais. Como exemplo, tm-se o colgeno, a queratina e a elastina.
Globulares So constitudas de cadeias polipeptdicas enoveladas em estruturas esfricas ou
globulares. Em geral, tm funes dinmicas na clula, como os anticorpos, a maior parte das enzimas, os
hormnios e muitas protenas carreadoras, como a albumina e a hemoglobina.
Protenas conjugadas: So aquelas combinadas com outros grupos, alm dos aminocidos. A
poro no-aminoacdica da molcula chama-se grupo prosttico. As protenas conjugadas so classificadas
de acordo com a natureza do grupo prosttico:
Lipoprotenas So complexos de lipdios com protenas. A poro lipdica constituda de
triglicerdeos, fosfolipdeos, colesterol ou derivados ligados protena. As lipoprotenas tm funo estrutural
quando associadas a membranas de organelas celulares e de transporte de lipdios. So exemplos as
lipoprotenas sricas HDL, VLDL, IDL, LDL e quilomcrons, as quais so detalhadas no captulo de lipdios.
Alm das lipoprotenas sricas, so exemplos importantes as da gema do ovo lipovitelinas e lipovitelininas,
que agem como emulsificantes.
Glicoprotenas So as protenas ligadas co-valentemente s molculas de glicdios. A poro
glicdica encontra-se ligada molcula protica, atravs de grupos hidroxila da serina e treonina ou de grupos
NH2 dos resduos de asparagina e glutamina. Essa conjugao aumenta a solubilidade da protena, que capaz
de formar solues altamente viscosas. So exemplos importantes as fito-hemaglutininas do feijo que,
quando no inativadas, causam problemas na absoro e aproveitamento dos nutrientes. E ainda a ovomucina,
que um dos responsveis pela alta viscosidade da clara do ovo, entre outras.
Metaloprotenas So complexos de metais com protenas. O metal pode estar fortemente ligado,
como no caso da hemoglobina e da mioglobina, em que o tomo de ferro est includo no ncleo porfirnico
ou ligado mais fracamente e facilmente removvel, como as ligaes de Fe, Cu e Zn com a ovoalbumina e do
Fe com ferritina no fgado. Muitas dessas ligaes permitem que os metais, que de outra forma so insolveis,
sejam solubilizados e transportados nos pHs fisiolgicos dos fluidos orgnicos.
67
Fosfoprotenas So protenas que possuem grupo fosfato na molcula, ligados normalmente na
forma de ster aos grupos hidroxila da serina e da treonina. So exemplos a casena do leite e a vitelina da
gema do ovo. A casena do leite na forma micelar, cuja estabilidade mantida devido a esses grupos de
fosfato ligados ao clcio, forma uma estrutura estvel no pH natural desse fluido, no se precipitando pelo
aquecimento. Alm disso, a presena de grupo fosfato dificulta a ao de enzimas digestivas na sua
proximidade, resultando da hidrlise parcial fosfopeptdeos, que podem ter importante funo na absoro de
clcio.
Nucleoprotenas So complexos de protenas bsicas com cidos nuclicos encontrados no ncleo
celular. As histonas e protaminas so nucleoprotenas.
5.4. Digesto
Aps a ingesto os alimentos so triturados com o processo de mastigao para digesto das
protenas. A boca tem ao apenas mecnica, pois a saliva no contm enzimas proteolticas. Quando o
alimento deixa o esfago, ele se deposita temporariamente no estmago. A distenso do estmago, causada
pela ingesto de alimentos, provoca liberao do hormnio gastrina pela mucosa gstrica, que por sua vez
estimula a liberao do cido clordrico, que desnatura as protenas, facilitando a sua degradao. O pH cido
propiciado por esse cido leva converso do pepsinognio em pepsina, a qual inicia o processo de digesto
das protenas. Esse processo de converso autocataltico, isto , depois da converso inicial do pepsinognio
em pepsina, ela mesma capaz de ativar o pepsinognio.
importante observar que todas as enzimas proteolticas do trato digestivo so produzidas na forma
de zimognios inativos, para proteger as clulas secretoras da autodestruio.
A pepsina hidrolisa as protenas da dieta em pequenos peptdios, clivando preferencialmente grupos
aminos dos peptdeos que tenham anis aromticos como cadeias laterais e, portanto podem agir em vrios
pontos entre as cadeias polipeptdicas.
Do estmago, a protena parcialmente digerida vai para o duodeno. As protenas que deixam o
duodeno so agora uma mistura de protenas no digeridas, polipeptdeos e cerca de 15% j como
aminocidos. A pepsina, cujo pH timo est prximo de 1,8, tem sua ao bloqueada, pois o pH duodenal
passa a ser de 6,5, favorvel ao de outras proteases.
Esses produtos da digesto estomacal aps penetrarem no intestino delgado estimulam a secreo
pela mucosa intestinal da enteroquinase, uma enzima que transforma o tripsinognio pancretico em tripisina
ativa. A tripsina, por sua vez, ativa outras enzimas pancreticas proteolticas. A elastase a enzima
pancretica que hidrolisa a elastina e o colgeno.
Os zimognios do suco pancretico so tripsinognio, quimotripsinognio e procarboxipeptidase. A
ativao dos zimognios pela tripsina se d pela clivagem de uma ligao peptdica adjacente a uma arginina
ou lisina, no comeo da cadeia do zimognio.
68
As enzimas proteolticas pancreticas so classificadas em endopeptidases: a tripsina, quimotripsina,
elastase; e exopeptidases: a carboxipeptidase e aminopeptidase.
Essas enzimas independem da ao da pepsina para agir. As endopeptidase quebram ligaes
peptdicas na poro interna da molcula; a tripsina age em ligaes onde um aminocido dibsico contribui
com a carboxila (lisina e arginina); a quimotripsina, por sua vez, hidrolisa a ligao onde um aminocido
aromtico contribui com a carboxila (fenilalamina, tripotofano e tirosina); e a exopeptidase libera
aminocidos livres. Ela age no aminocido, que tem a carboxila terminal, da o nome carboxipeptidase; as
aminopeptidases agem na extremidade amnica.
A quantidade de enzimas secretadas pelo pncreas regulada pelo teor de protena na luz intestinal.
A tripsina vai se ligando protena diettica at que esteja em excesso. Quando isso acontece, a tripsina livre
no intestino envia sinal ao pncreas para reduzir a sntese de tripsinognio.
A digesto dos peptdeos provenientes da ao das enzimas gstricas e pancreticas at aminocido
completada pelas mltiplas peptidases produzidas pelas microvilosidades, principalmente do duodeno e
jejuno. So elas as peptidases mais importantes: as aminopolipeptidases e as dipeptidases. Essas enzimas
desdobram os polipeptdeos remanescentes em tripeptdeos e dipeptdeos e alguns aminocidos.
Os tripeptdeos, dipeptdeos e os aminocidos so facilmente transportados atravs da membrana das
microvilosidades para o interior do entercito, onde h outras peptidases especficas para os tipos de ligaes
restantes entre os aminocidos das molculas dos tripeptdeos e dipeptdeos. Em poucos minutos,
praticamente todos os tripeptdeos e dipeptdeos so digeridos a aminocidos, os quais, a seguir, passam para
o sangue circulante.
A maior parte dos produtos da digesto de protenas absorvidas est na forma de aminocidos, com
raras excees nas formas de peptdeos e protena que, se ocorrerem, podem causar distrbios imunolgicos,
como a alergia alimentar.
5.5. Absoro
Quase todas as protenas da dieta so absorvidas na forma de aminocido no intestino. Entretanto, as
molculas de aminocidos so grandes para sofrer difuso atravs dos poros das membranas celulares,
portanto os aminocidos s podem atravess-los por transporte ativo ou facilitado, utilizando-se mecanismos
carreadores.
Entre as formas isomricas dos aminocidos, h diferena na velocidade de absoro intestinal. O
ismero natural L ativamente transportado atravs da mucosa. Essa transferncia para a serosa envolve a
participao da vitamina B6 (pirididoxal-fosfato). J os ismeros D so transferidos por difuso simples. O
sistema ativo de absoro envolve a participao de energia e carreadores para o transporte de aminocidos
atravs da membrana:
- Sistema para o transporte de aminocidos neutros.
- Sistema para o transporte de aminocidos bsicos (lisina, arginina, histidina).
- Sistema para o transporte de aminocidos cidos (aspartato e glutamato).
- Sistema para o transporte de prolina e hidroxiprolina.
69
5.6. Metabolismo de aminocidos
Do fgado, os aminocidos podem seguir duas rotas: a anablica e a catablica. A direo a ser
tomada depende do suprimento de aminocidos nos alimentos e das necessidades do organismo e do controle
hormonal. Na rota catablica, as protenas intracelulares so hidrolisadas por catepsinas.
Ao conjunto de aminocidos livres presentes na circulao geral de todo o organismo, oriundos da
dieta, da quebra de protenas tissulares ou da sntese de aminocidos dispensveis no corpo, d-se o nome de
pool circulante.
No existe reserva considervel de aminocidos livres no organismo, qualquer quantidade acima das
necessidades para a sntese protica celular e dos compostos no-proticos que contm nitrognio ser
metabolizada, ou seja, os excessos so excretados. H um limite superior, aps o qual os aminocidos so
degradados e utilizados como energia ou armazenados como gordura.
O turnover protico o contnuo estado de sntese e degradao de protenas, que necessrio para
manter o pool metablico e a capacidade de satisfazer a demanda de aminocidos nas clulas e tecidos
quando estes so estimulados a produzir protenas. Os tecidos de substituio de protenas mais ativos so as
protenas plasmticas, a mucosa intestinal, o pncreas, o fgado e os rins, enquanto os msculos, a pele e o
crebro so menos ativos.
Quando a ingesto protica inadequada, em termos de quantidade ou proporo de aminocidos
essenciais ou se h um dficit no fornecimento energtico, o catabolismo dos aminocidos excede sua
incorporao nas protenas teciduais. O catabolismo dos aminocidos tambm um meio de utilizar a energia
de aminocidos extras ingeridos com alto teor de protena.
no fgado que ocorre o catabolismo de seis dos nove aminocidos indispensveis; os demais, os
aminocidos de cadeia ramificada, so degradados, principalmente, nos msculos e rins. O catabolismo de
aminocidos dirigido para a separao do grupo amino do esqueleto de carbono, com subseqente destino
desses dois componentes. Entretanto, cada aminocido segue um caminho diferenciado na rota metablica.
Neste momento, trata-se aqui apenas das reaes comuns maioria dos aminocidos no metabolismo
protico.
70
Transaminao
cido glutmico cido -cetoglutrico
COOH COOH
CH2 CH2
CH2 CH2
CHNH2 C O
COOH COOH
CH3 CH3
C O CHNH2
COOH COOH
Desaminao oxidativa
NH3
Flavina
R CH COOH R C COOH R C COOH
Enzima
NH2 NH O
H2O
A maioria das transaminases especfica para o receptor do grupamento amino, mas muito menos
especfica para outro substrato, o aminocido que doa o grupamento amino.
O -cetoglutarato o receptor comum dos grupos aminos da maioria dos outros aminocidos.
Agora, o novo aminocido formado com a recepo do grupo amino sofrer a desaminao, que a
reao na qual o nitrognio do aminocido formado pela transaminao removido, resultando na formao
de amnia e liberao do esqueleto carbnico.
Por exemplo, se for o glutamato o produto da transaminao, este pode ser desaminado pelo
mecanismo de desaminao, em que o grupo amino do glutamato removido do esqueleto carbnico.
A glutamato desidrogenase muito ativa no fgado e funciona conjuntamente com o ciclo da uria.
Portanto, uma srie de transformaes, que em ltima anlise concentra o nitrognio no glutamato, previne a
formao excessiva de amnia livre, que altamente txica.
A amnia formada pode ser recuperada e reutilizada na sntese de aminocidos, e, nesse caso, a
glutamato desidrogenase atua inversamente, formando o glutamato a partir de alfa-cetoglutarato e amnia.
71
Embora sendo mais ativa no fgado, a desaminao oxidativa do glutamato um processo que ocorre
praticamente em todos os tecidos.
A maneira usada para transportar amnia dos tecidos perifricos ao fgado na maioria dos animais
convert-la num composto txico antes de lan-la no sangue. Em muitos tecidos, incluindo o crebro, a
amnia enzimaticamente combinada com o glutamato, produzindo glutamina pela ao da glutamina
sintetase; ou seja:
ATP + NH4+ + glutamato ADP + Pi + glutamina + H+
72
DIETA -Cetoglutarato NAD(P)H + H
-Aminocidos
PROTENA CORPORAL
Glutamato
Aminotransferase desidrogenase
Glutamina
sintetase
Nitrognio amida
doado nas reaes GLUTAMINA NH3 Compostos
nitrogenados
biossintticas
na
Glutaminase
ria
b a ct e e
s
Urea
H2O Glutamato
Ciclo
da
uria
URIA URINA
73
Glicognio
CARBOIDRATOS Glicose-1-fosfato
LIPDIOS
Glicose Glicose-6-fosfato
Glicerol Acetoacetato CoA
VIA
ANAERBICA cido acetoactico
AMINOCIDOS GLICOGNICOS:
Glicina Alanina AMINOCIDOS CETOGNICOS:
Cistina Serina Fenilalanina
Cistena cido pirvico
Triptofano Tirosina
Metionina Leucina
Isoleucina
cido ltico Acetil-CoA Lisina
cido cido
cido asprtico
oxalactico CICLO ctrico
DE
KREBS
Succinil
CoA cido
2-cetoglutrico AMINOCIDOS GLICOGNICOS
Prolina
AMINOCIDOS GLICOGNICOS Lisina
Valina cido glutmico Arginina
Treonina Histidina
Hidroxiprolina
74
PIRUVATO AGL
LEUCINA
Malato Oxalocetato
Acetil-CoA
Citrato
Fumarato
2-oxiglutarato
Sucinil-CoA 2-oxi-3 Glutamato
metilbutarato
GLUTAMINA
NH2
ISOLEUCINA
Figura 5.6 Destino dos aminocidos de cadeia ramificada.
A fraca ligao nitrogenada dos aminocidos de cadeia ramificada une-se ao piruvato, formando
outro aminocido, a alanina. Esta tambm desempenha papel especial no transporte da amnia do msculo
para o fgado, numa forma no-txica, atravs do ciclo da glicose-alanina.
Nesse ciclo, a amnia convertida no grupo amino do glutamato pela ao da glutamato
desidrogenase:
NH4 + alfa-cetoglutarato + NADPH + H+ glutamato + NADP+ + H2O
75
efeito do GH sobre o metabolismo de gorduras, o que aumenta a liberao de seus depsitos, tornando-a
disponvel para a produo de energia. Isso reduz a oxidao de aminocidos, que se tornam disponveis aos
tecidos para a sntese protica.
5.7.2. Insulina
A insulina acelera o transporte de aminocidos para as clulas, o que poderia representar um
estmulo para a sntese protica. Alm disso, aumenta a disponibilidade de glicose para as clulas, de modo
que o uso de aminocidos para a produo de energia diminui.
5.7.3. Glicocorticides
Os glicocorticides secretados pelo crtex supra-renal diminuem a quantidade de protenas na
maioria dos tecidos, enquanto elevam a concentrao de aminocidos no plasma. Os efeitos dos
glicocorticides sobre o metabolismo protico so especialmente importantes, por promoverem a cetognese a
partir dos aminocidos disponveis no plasma.
5.7.5. Tiroxina
A tiroxina, hormnio da tireide, aumenta a velocidade do metabolismo de todas as clulas e,
portanto, afeta indiretamente o metabolismo protico, se houver quantidade insuficiente de carboidratos e
lipdios para a produo de energia. No entanto, na presena de quantidades adequadas de carboidratos e de
lipdios e da disponibilidade em excesso de aminocidos nos lquidos extracelulares, a tiroxina pode aumentar
a velocidade da sntese protica.
76
5.9. Necessidades Dirias de Aminocidos e Protenas
O fornecimento de um aporte diettico adequado de protena essencial para manter a integridade da
clula e suas funes. Apesar de as recomendaes serem feitas na forma de protena, na verdade a
necessidade biolgica para aminocidos.
A recomendao da ingesto de protenas so calculadas com base na manuteno da sade de
indivduos saudveis. E essa recomendao deve satisfazer as necessidades fisiolgicas de todos os indivduos
de determinada faixa etria, gnero e estado metablico.
No Quadro 3 so apresentadas as recomendaes de protenas de acordo com o sexo e a faixa etria.
Foi estimado pela National Academy of Sciences (2002) o Acceptable Macronutrients of
Distribution Ranges AMDR, ou distribuio do total de energia para adultos, oriunda dos macronutrientes,
sendo gordura de 20-35%; carboidrato de 45-65% e protenas de 10-35%, de acordo com a necessidade de
assegurar uma dieta nutricionalmente adequada. No h evidncia de que a AMDR para protena deva ser
abaixo dos valores preconizados pela RDA (cerca de 10% do total de energia) para adultos. Para
complementar as AMDRs de gordura e carboidrato, a ingesto de protenas pode ser ento aumentada (10-
35%) (Quadro 5.3).
77
Para garantir que a quantidade recomendada de ingesto de protenas ir satisfazer as necessidades
preconizadas, necessrio ingerir quantidade adequada de calorias provenientes de carboidratos e lipdios.
Atendendo s necessidades energticas do indivduo, impede-se que as protenas ingeridas sirvam como
substrato energtico para o organismo e sejam desviadas de suas funes metablicas.
Na alimentao, so fundamentais considerar a quantidade e qualidade da protena ingerida.
A qualidade nutricional de uma protena determinada pela qualidade e quantidade dos seus
aminocidos constituintes, que estaro disponveis para o organismo aps a absoro.
Uma protena considerada de alto valor biolgico quando contm todos os aminocidos essenciais
em propores adequadas. Os alimentos de origem animal possuem protenas de alto valor biolgico.
Para se estabelecerem as necessidades proticas, so utilizadas protenas de alto valor biolgico.
Quando se trata de uma alimentao mista, como a do nosso pas, correes devem ser feitas em funo da
qualidade da protena ingerida.
O valor nutricional de uma protena pode ser estimado atravs da comparao do seu perfil de
aminocidos, obtido por anlise qumica, com um padro de referncia. Esse padro atualmente recomendado
pelo FAO para os diferentes estados fisiolgicos do indivduo o requerimento de aminocidos essenciais
para pr-escolares, exceto para lactentes cujo padro deve ser o leite humano. Entretanto, maiores
informaes so necessrias para se estabelecer em, com mais preciso, as necessidades de aminocidos
indispensveis para as diferentes faixas etrias (Quadro 5.4).
Quadro 5.4 Escore-padro de aminocidos para lactentes, pr-escolares e adultos, baseados nos
requerimentos estimados para protenas e aminocidos indispensveis.
Aminocidos Infantes Pr-escolar (1-3 anos)b Adultosb
mg/g prot. mg/g prot mg/g N mg/g prot mg/g N
Histidina 23 18 114 17 104
Isoleucina 57 25 156 23 142
Leucina 101 55 341 52 322
Lisina 69 51 320 47 294
Metionina + cistena 38 25 156 23 142
Fenilalanina + tirosina 87 47 291 41 256
Treonina 47 27 170 24 152
Triptofano 18 8 43 6 38
Valina 56 32 299 29 180
Padro baseado na composio do leite humano.
b
Padro derivado de EAR de aa.: EAR para protena (para criana de 1-3 anos EAR prot.= 0,88 g/kg/dia; para
adultos EAR de prot. 0 0,66 g/kg/dia).
Fonte: IOM, 2002.
78
forma, podem-se relacionar no s as protenas que atuariam como antinutricionais, mas todos os compostos
que se encaixam na definio anterior, a saber:
- Inibidores de proteases.
- cido ftico.
- cido oxlico.
- Polifenis.
- Fibras alimentares.
- Inibidores de -amilase.
- Lectinas.
b) Digestibilidade in vitro
estimada usando-se enzimas proteolticas que agem normalmente na digesto, procurando imitar as
condies de acidez do estmago e de intestino onde a digesto das protenas ocorre. Usa-se pepsina em pH
de 1 a 1,5 por duas horas e em seguida pancreatina em pH 8 por 24 horas, um de cada vez temperatura de
37 C.
A digestibilidade indica a poro de protena que pode ser hidrolisada pelas enzimas digestivas at
aminocidos, ou seja, aqueles disponveis biologicamente, desde que no haja interferncia na absoro.
79
c) Estimativa da disponibilidade de aminocidos em alimentos
Para correo da limitao do escore qumico em determinar qual ou quais aminocidos essenciais
no est presente na protena em estudo, necessrio conhecer a disponibilidade desses aminocidos.
O valor de PER varia de 0 a 4. Se o valor do PER da casena, por exemplo, for de 2,5, pode-se dizer
que para cada grama de protena ingerida tm-se 2,5 g de ganho de peso. Os valores de PER 2 so
considerados bons, uma vez que correspondem ao valor mdio ou acima da mdia, na escala de 0 a 4.
Para a realizao do mtodo, os animais so divididos em seis grupos, alimentados com uma dieta
contendo uma concentrao de 9 a 10% de protena, sendo que um grupo, o controle, mantido com dieta de
casena como fonte protica.
A maior parte de erro no mtodo est no uso do ganho de peso como nico critrio do valor da
protena, no se fazendo referncia manuteno. Nem sempre o peso reflexo fiel da protena incorporada
ao organismo. Algumas dietas podem provocar reteno de gua e, ou, depsito exagerados de lipdio.
Algumas protenas, no entanto, administradas ao nvel de 9 a 10% podem no produzir crescimento e
at mesmo provocar decrscimo de peso, no alcanando nenhum resultado no final do experimento.
Apesar disso, o mtodo apresenta tambm vantagens, como a de ser de fcil aplicao, permitir a
localizao das protenas em uma escala segundo a sua qualidade e possibilitar a realizao de clculos
estatsticos aplicveis a qualquer organismo em crescimento, inclusive criana.
80
a.2) Net Protein Ratio (NPR) ou Razo Protica Lquida
Trata-se de uma modificao do PER, em que o NPR leva em considerao a qualidade da protena
para fins de crescimento e manuteno. Verifica-se a capacidade da protena de manter o peso do animal e
promover crescimento, portanto o NPR representa a soma do ganho de peso dos animais dos grupos
experimentais, com a perda de peso do grupo com dieta livre de nitrognio, aprotica.
Quanto pior a qualidade da protena, maior a diferena entre NPR e PER, pois ela no vai promover
crescimento, mas ser utilizada na sua manuteno.
Y= 2,92 + 0,02X
BN = I E, sendo E= (U + F)
Para quantificao exata do balano nitrogenado, necessrio considerar que o organismo, mesmo
no recebendo protenas na dieta, est constantemente eliminando nitrognio pela urina e pelas fezes
provenientes da descamao das clulas do intestino, de secrees do trato gastrintestinal, da flora intestinal e
do metabolismo dos produtos nitrogenados no-proticos. Por isso, para o clculo do verdadeiro valor do
balao nitrogenado necessrio incluir no experimento um grupo de animais alimentados com dieta aprotica.
Assim, o balano nitrogenado obtido com a seguinte equao:
BN= I (U- Uk) - (F Fk)
Em que:
I = N ingerido;
F = N fecal do grupo teste;
Fk = N fecal do grupo aprotico;
U = N urinrio do grupo teste; e
Uk = N urinrio do grupo aprotico.
81
b.2) Digestibilidade in vivo
A digestibilidade um mtodo que mede a proporo de nitrognio absorvido aps a digesto.
calculada medindo-se o nitrognio ingerido e o nitrognio eliminado nas fezes, o que a digestibilidade
aparente, pois no se considera que nas fezes sempre se est eliminando quantidade de nitrognio no
proveniente da dieta.
D ap= Ni Nf X 100
Ni
Para determinar a digestibilidade verdadeira, seria necessrio submeter os animais a uma dieta
aprotica, bem como medir o nitrognio fecal que seria, ento, utilizado para corrigir o nitrognio das fezes.
Assim, a frmulas da digestibilidade verdadeira :
c) Net Dietary Protein Calories Per Cent (NDPCal %) ou Porcentagem de Calorias Lquidas da
Protena Diettica
Este mtodo til na avaliao das dietas humanas, em que a relao da protena para calorias totais
pode variar de modo acentuado. Portanto, a avaliao biolgica de um cardpio por ser feita atravs da
verificao do seu teor de protenas (quantidade e qualidade), ou seja:
Em que:
NPUop obtido atravs dos seguintes fatores de correo:
Cereais= 0,5;
Leguminosas= 0,6; e
Protena animal=0,7.
De acordo com os valores calculados de protenas da mais alta qualidade (ovo integral ou leite
humano), uma dieta que fornea menos de 5% das calorias na forma de protena disponvel no preencher as
necessidades do ser humano adulto. Com relao s crianas, pelo menos 8% requerido (FAO, 1995).
Assim, o valor de NDPCal% de uma dieta deve ser de no mnimo 6% e o mximo, 15%. Valores
acima de 15% so considerados anti-econmicos, pois as protenas podero ser utilizadas como fonte de
energia. Se o NDPCal for inferior a 5%, ele permitir a manuteno do peso corporal, mas poder provocar
desnutrio.
82
d) Protein Digestibility Corrected Amino Acid Score (PDCAAS) ou Escore Qumico Corrigido
pela Digestibilidade
Mtodo para avaliao da qualidade protica baseado na correo do valor do escore qumico de um
aminocido pela digestibilidade verdadeira da protena.
5.13. Referncias
INSTITUTE OF MEDICINE. Protein and amino acids. In: - Dietary reference intakes Energy,
carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein, and amino acid. Part 2, Chapter 10. Washington, D.C.,
United States of America: The National Academy Press, 2002. p 10; 1-10; 143.
CHAMPE, C. P.; HARVEY, R. A. Bioqumica ilustrada. 2. ed, Porto Alegre: editora arte mdicas, 1996, 446
p.
VIEIRA, E.C. Protenas. In: TEIXEIRA NETO, F. Nutrio clnica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan S.A. Cap. 3, 2003. p.20-24.
WAITZBERG, D. L. Nutrio oral, enteral e parenteral na prtica clnica. 3. ed. So Paulo: Ed. Atheneu.
2000. 1858 p.
83
Captulo 6 LIPDIOS
Cphora Maria Sabarense
Maria do Carmo Gouveia Peluzio
6.1. Introduo
Os lipdios definem um conjunto de substncias qumicas que, ao contrrio das outras classes de
compostos orgnicos, no so caracterizadas por algum grupo funcional comum, e sim pela sua alta solubilidade
em solventes orgnicos e pela baixa solubilidade em gua. Fazem parte de um grupo conhecido como
biomolculas e se encontram distribudos em todos os tecidos, principalmente nas membranas celulares e nas
clulas de gordura.
Geralmente, os lipdios ocorrem combinados, seja co-valentemente, seja atravs de ligaes fracas, para
produzir molculas compostas, como os glicolipdios, que contm tanto carboidratos quanto grupos lipdicos, e
lipoprotenas, que contm tanto lipdios quanto protenas. Em tais biomolculas, as distintas propriedades
qumicas e fsicas de seus componentes esto combinadas para preencher funes biolgicas especializadas.
Ao contrrio das demais biomolculas, os lipdios no so polmeros, isto , no so repeties de uma
unidade bsica. Embora possam apresentar estrutura qumica relativamente simples, as funes dos lipdios so
complexas e diversas, atuando em muitas etapas do metabolismo e na definio das estruturas celulares.
Desempenham vrias funes biolgicas importantes no organismo, entre elas:
Reserva de energia (1g de gordura = 9 kcal) em animais e sementes oleaginosas, sendo a principal forma
de armazenamento como triacilgliceris ou triglicerdeos (TG).
Componente estrutural das membranas biolgicas.
So molculas que podem funcionar como combustvel alternativo glicose, pois so os compostos
bioqumicos mais energticos.
Oferecem isolamento trmico, eltrico e mecnico para proteo de clulas e rgos e para todo o
organismo (panculo adiposo sob a pele), contribuindo tambm, para a forma esttica caracterstica.
Do origem a molculas mensageiras, como hormnios, prostaglandinas, etc.
As gorduras (triacilgliceris), devido sua funo de reserva de energia, so acumuladas principalmente
no tecido adiposo. A reserva sob a forma de gordura muito favorvel clula, uma vez que so
insolveis na gua e, portanto, no contribuem para a presso osmtica dentro da clula.
6.2. Utilizao dos Lipdios da Dieta
Com base na ingesto de dietas ricas em gorduras foi estimado pela National Academy of Sciences (2002)
as Acceptable Macronutrientes of Distribution Ranges AMDR, com a distribuio de gordura total variando de
20-35% da energia diria para adultos. Alm disso, estima-se que a AMDR da ingesto de gordura total seja de
aproximadamente 30 a 40% para crianas com idade entre 1 a 3 anos e 25 a 35% de energia para indivduos de 4 a
18 anos (Institute of Medicine, 2006).
Os TG constituem aproximadamente 95% da gordura presente nos alimentos e so a principal forma de
estocagem de energia do organismo para utilizao nos perodos ps-prandial ou jejum prolongado.
Tradicionalmente, a principal preocupao com relao aos lipdios da dieta era sua digestibilidade.
Atualmente, existe um interesse crescente na qualidade dos lipdios consumidos, durante a infncia, como
principal determinante do crescimento e desenvolvimento visual e neurolgico, e da sade em longo prazo. Dessa
forma, a seleo dos lipdios da dieta no incio da vida considerada de grande importncia.
Uma questo presente na elaborao e, ou, recomendao de dietas , principalmente, qual deve ser a
proporo entre os cidos graxos saturados, monoinsaturados e poliinsaturados dentro do consumo total de
gorduras, considerando-se tanto indivduos saudveis quanto doentes.
6.3. Triacilgliceris TG
O glicerol um composto simples que contm trs grupamentos hidroxila. Quando os trs grupamentos
lcool formarem ligaes ster com cidos graxos, o composto resultante ser um triacilglicerol. So geralmente
chamados de lipdios saponificveis, porque a reao destes com uma soluo quente de hidrxido de sdio
produzem o sal sdico do cido carboxlico correspondente, isto , o sabo.
A Figura 6.1 ilustra a estrutura de um triacilglicerol, com o glicerol mostrado para comparao. Observa-
se, nessa figura, que os trs grupos ster esto na parte polar da molcula, ao passo que as caudas dos cidos
graxos so apolares. comum que trs cidos graxos diferentes estejam esterificados a grupamentos lcool da
molcula de glicerol. Os triacilgliceris no so componentes de membranas (como outros tipos de lipdios),
sendo acumulados em tecido adiposo (principalmente em clulas adiposas) e constituindo um meio de
84
armazenamento de cidos graxos, particularmente em animais, e armazenados sob a pele servem tambm como
isolantes contra temperaturas externas muito baixas.
Como combustveis estocados, os triacilgliceris tm duas vantagens significativas sobre os
polissacardeos, como o glicognio e o amido. Os tomos de carbono dos cidos graxos so quimicamente mais
reduzidos que aqueles dos aucares e, portanto, a oxidao dos triacilgliceris libera, grama por grama, uma
quantidade de energia duas vezes maior que a liberada pelos carboidratos. Ainda, como os triacilgliceris so
hidrofbicos, a molcula que transporta a gordura no tem que carregar o peso extra da gua de hidratao que
est sempre associada aos polissacardeos armazenados.
O contedo elevado de triacilgliceris sangneos pode ser um fator de risco para doena aterosclertica.
Esse aumento ocorre como resultado de distrbios no metabolismo de carboidrato ou excesso de gordura na dieta.
Figura 6.1 Estrutura do glicerol, cidos graxos (R) e triacilglicerol (TG). Os cidos graxos podem ser iguais
ou diferentes, esterificados aos grupamentos lcool da molcula de glicerol nas posies sn-1,
sn-2 e sn-3.
85
A lipase pancretica pura atua de maneira ineficiente na mistura de lipdios e sais biliares, mas, quando
ela est associada com a secreo pancretica, capaz de hidrolisar os TG com extrema eficincia. Isso ocorre em
funo da presena da colipase, que auxilia a atuao das lpases gstrica e pancretica.
A colipase secretada pelo pncreas como pr-colipase. No intestino delgado, ativada pela clivagem de
um pentapeptdeo terminal. Ao ser hidrolisada pela tripsina forma um pentapeptdeo denominado enterostatina.
A pr-colipase gstrica ativada pela pepsina e pelo HCl, formando a colipase gstrica e os peptdeos de
enterostatina imunorreativos.
Quadro 6.1 Nomenclaturas e caractersticas de alguns dos cidos graxos saturados e insaturados de ocorrncia
natural.
Nmero de
Nome descriti Nome "Geneva" Posies da
tomos de Frmula estrutural
(cido) (cido) duplas liga
carbono
Lurico 12 CH3(CH2)10CO2H Dodecanico
Mirstico 14 CH3(CH2)12CO2H Tetradecanico
Palmtico 16 CH3(CH2)14CO2H Hexadecanico
Esterico 18 CH3(CH2)16CO2H Octadecanico
Araqudico 20 CH3(CH2)18CO2H Eicosanico
Palmitolico 16 CH3(CH2)5CH=CH(CH2)7CO2H Hexadecenico 9
Olico 18 CH3(CH2)7CH=CH(CH2)7CO2H Octadecaenico 9
Linolico 18 CH3(CH2)4CH=CH(CH2)CH=CH(CH2)7CO2H Octadecadienico 9,12
-linolnico 18 CH3(CH2CH=CH)3(CH2)7CO2H Octadecatrienico 9,12,15
Araquidnico 20 CH3(CH2)4(CH=CHCH2)4(CH2)2CO2H Eicosatetraenico 5,8,11,14
Fonte: Campbell (2000).
86
Figura 6.2 Estrutura do cido graxo saturado, com 12 tomos de carbono. Os asteriscos correspondem,
respectivamente, (*) = , (**) = e (***) = .
As duplas ligaes, quando presentes, podem ser descritas em nmero e posio em ambos os sistemas.
Por exemplo:
O cido linolico possui 18 tomos de carbono e duas duplas ligaes, entre os carbonos 9 e 10, e entre
os carbonos 12 e 13; sua estrutura pode ser descrita como (Figura 6.3):
Figura 6.3 Estrutura do cido linoico, C18:2 9,12 ou 18:2 (9,12) e pertencente famlia mega -6.
87
Figura 6.4 Fonte: Estruturas de cidos graxos com isomeria geomtrica cis e trans.
Fonte: Sabarense e Mancini-Filho, 2003a. Reproduo autorizada.
Os cidos graxos poliinsaturados contribuem com menos energia, em torno de 7%. O guia de
recomendao da Associao Americana do Corao para adultos saudveis recomenda uma dieta que prov uma
quantidade menor que 10% de calorias de AGS at 10% de AGP e 15% de AGM. A recomendao-limite de at
30% de calorias de gorduras da dieta facilita a reduo de AGS e auxilia o controle do peso. No Quadro 6.2,
apresentam-se a composio em lipdios e os alimentos ricos em AGS, AGM e AGP.
Quadro 6.2 Composio em AGS, AGM e AGP de alimentos ricos em lipdios (em 100g de parte comestvel)
Alimentos Calorias Gordura AGS AGM AGP
Total (g) (g) (g)
(g)
leo Vegetal
Azeite de oliva (e.v.) 900 100 14,9 75,5 9,5
leo de Canola 900 100 7,9 62,6 28,4
leo de Girassol 900 100 10,8 25,4 62,6
leo de Milho 900 100 15,2 33,4 50,9
leo de Soja 900 100 15,2 23,3 60,0
Sementes e nozes
Noz crua 620 59 5,6 8,7 44,1
Cco, Bahia, cr 411 42 30 1,5 0,3
Amendoim gro cr 544 44 8,7 17,2 16,2
Manteiga com sal 726 82 49,2 20,4 1,2
88
Trs modificaes ocorrem na molcula:
a) A dupla ligao pode ser modificada para uma ligao simples.
b) A localizao da dupla pode se movimentar ao longo da molcula do cido graxo.
c) A configurao cis da dupla ligao poder passar para uma configurao trans.
O leo de soja um dos mais empregados para a hidrogenao. Durante esse processo, o contedo de
cido linolico C18:2 9c,12c reduzido e so produzidos os cidos olico C18:1 9c, eladico C18:1 9t e o
esterico C18:0 .
A modificao nas propriedades fsico-qumicas dos leos permite que estes sejam utilizados como
matria-prima para elaborao de gordura para frituras, margarina e gorduras tcnicas (shortenings). Estas so
fundamentais na produo de biscoitos e bolos, entre outros produtos de panificao, conferindo-lhes maciez.
A concentrao de cidos graxos trans varia com a extenso e o tipo de processamento do leo.
Geralmente, margarinas contm menor concentrao de cidos graxos trans do que as gorduras tcnicas. Um dos
fatores envolvidos nessa variabilidade a escolha dos ingredientes. No Brasil, o teor dos ismeros trans nas
margarinas varia de 12,3 a 38,1%, nos cremes vegetais de 15,9 a 25,1%, nas gorduras tcnicas de 30 a 40% (9) e
nas gorduras vegetais parcialmente hidrogenadas variam de 10 a 50%. Tal variao est relacionada aos leos
empregados no processamento. O leo de soja o mais utilizado no Brasil. Em situao de escassez, tem no leo
de milho ou no de algodo seus principais substitutos. Essa uma das razes que justificam a dificuldade de
padronizao do perfil de cidos graxos trans nas gorduras e nos alimentos que utilizam a gordura hidrogenada
como matria-prima, com conseqncias sobre a rotulagem dos alimentos que os contenham.
Durante o processo de hidrogenao, a isomerizao dos cidos graxos insaturados reduz
proporcionalmente as concentraes de cidos graxos essenciais. No entanto, a mistura de leos hidrogenados e
no-hidrogenados promove aumento no ponto de fuso e uma funcionalidade que contribuem para elevar o nvel
de cidos graxos poliinsaturados e reduzir o teor de cidos graxos trans. Considera-se, portanto, uma alternativa
para a produo de margarinas com menos ismeros trans.
Outro fator que determina a composio em cidos graxos das gorduras so as condies empregadas
durante o processo de hidrogenao. Seletividade o termo utilizado para descrever essas condies. Quando a
seletividade baixa, forma-se um pouco ou quase nenhum cido graxo trans, porque todos esses cidos so
hidrogenados na mesma proporo. Contudo, forma-se um produto rico em cido esterico, isto , muito saturado
e com um ponto de fuso muito elevado. com o produto desse tipo de processamento que se obtm os cremes
vegetais sem cidos graxos trans, encontrados no mercado brasileiro.
Recomenda-se que sejam utilizados os leos vegetais na sua forma natural pela indstria de alimentos,
mas a substituio da gordura hidrogenada empregada na confeco de bolos, biscoitos, massas e outros produtos
pode no alcanar as caractersticas de palatabilidade e de conservao desses alimentos. Provavelmente, outros
avanos tecnolgicos possam superar esse problema, mas os investimentos necessrios so elevados para as
indstrias de alimentos, uma vez que j tm as suas linhas de produo estabelecidas.
89
6.4.4.1 - Metabolismo dos cidos Graxos trans
A digestibilidade das gorduras hidrogenadas pode variar de 79 a 98%, dependendo do ponto de fuso da
gordura. A digesto dos triacilgliceris contendo cido eladico pelas enzimas pancreticas no apresentou
diferenas quando comparada com triacilgliceris esterificados com outros cidos graxos nem para a localizao
nas diferentes posies na molcula do triacilglicerol. Aps a absoro, os ismeros so transportados para vrios
tecidos para deposio ou catabolismo.
Os cidos graxos trans monoinsaturados com 18 tomos na cadeia carbnica so primariamente
incorporados nos fosfolipdios e triacilgliceris do plasma, fgado, rim, corao, tecido adiposo e clulas
sangneas. Alm de serem depositados nesses rgos e tecidos so tambm oxidados, uma vez que, com a
descontinuidade da dieta, somente pequenas quantidades de cidos graxos trans so encontradas, com exceo do
tecido adiposo.
Figura 6.6 Estrutura do CLA - C18:2 9c;11t. O realce identifica as duplas ligaes com a isomeria
geomtrica e de posio.
Muita ateno tem-se dispensado a esses ismeros devido ao seu efeito protetor contra o cncer, durante
os estgios de iniciao e promoo da carcinognese, alm das propriedades anti-aterognicas e anti-
inflamatrias. No entanto, os efeitos biolgicos dos CLA no podem ser explicados por um nico mecanismo
bioqumico. Dentre as vrias hipteses, podem-se citar:
a) Efeito direto de um ou mais ismeros CLA na diferenciao celular.
90
b) Efeitos do CLA no metabolismo da vitamina A, que poder tambm influenciar a diferenciao
celular.
c) Efeitos do CLA no metabolismo das prostaglandinas, influenciando todas essas hipteses no
desenvolvimento da carcinognese.
d) efeitos no metabolismo lipdico podem estar diretamente relacionados regulao e atividade
bioqumica de enzimas-chave encontradas no tecido adiposo e msculo esqueltico.
Figura 6.7 Esquema da dessaturao dos cidos graxos -9, -6 e -3. Reproduo autorizada. Sabarense,
2003b.
91
O alongamento da cadeia geralmente acontece numa velocidade maior do que a da dessaturao, e a
velocidade de converso depende do tamanho da cadeia, bem como da posio das duplas ligaes,
preferencialmente com cadeias contendo 18 tomos de carbono. Desse modo, os ismeros monoinsaturados
podem tambm ser alongados. Em estudos com microssomos de ratos, foram observados que os ismeros com
duplas ligaes nos carbonos 7 e 9 so os mais reativos.
O cido linolico (C18:2 n-6) precursor do cido graxo araquidnico (C20:4 n-6) e o cido -
linolnico (C18:3 n-3) precursor dos cidos eicosapentaenico (C20:5 n-3) e docosaexaenico (C22:6 n-3). O
alongamento da cadeia e a insero de duplas ligaes carbono-carbono ocorrem nas posies 5 e 6 da molcula,
contando a partir do grupo carboxlico. Esse processo ocorre principalmente no fgado.
Os cidos graxos poliinsaturados formados so fundamentais para a sntese dos eicosanides, molculas
participantes do controle do sistema circulatrio (prostaglandinas e tromboxanos) e compostos envolvidos no
sistema imune (leucotrienos).
O cido araquidnico (C20:4 -6) tem papel importante na agregao plaquetria. medida que
liberado dos fosfolipdios da membrana da plaqueta, esse cido utilizado na formao de prostanides pela ao
da cicloxigenase com efeito pr-agregatrio. Essa propriedade modulada pela concentrao de cidos graxos
poliinsaturados com 20 e 22 tomos de carbono na molcula.
O cido linolico e o cido -linolnico competem pelas mesmas enzimas, logo, eles podem inibir tanto
o prprio alongamento quanto a dessaturao.
A deficincia de cido linolico acarreta alteraes no crescimento, nas funes reprodutivas e leses
na pele. Os sinais so mais obscuros na deficincia em cido -linolnico, mas pode se observar, em animais
experimentais, uma reduo na acuidade visual, determinada por eletrorretinogramas anormais e, possivelmente,
conseqncias sobre a cognio e o comportamento.
92
Figura 6.8 Fosfolipdios
Fonte: Sabarense, 2003b. Reproduo autorizada.
As membranas so de fundamental importncia para a estrutura e funo celular. A membrana
plasmtica, que envolve as clulas, e outras membranas formam uma superfcie intracelular contnua (retculo
endoplasmtico), sendo a base estrutural de organelas intracelulares, como as mitocndrias.
Cada espcie lipdica exibe um perfil caracterstico de cidos graxos, uma vez que h uma
especificidade das acil-transferases que catalisam a acilao tanto dos triglicerdios, quando dos fosfolipdios.
O funcionamento normal da membrana vital para os processos celulares, sendo modulada por uma
extensa variedade de fatores. Pesquisas recentes tm demonstrado que componentes dietticos podem influenciar
caractersticas das membranas, como a fluidez estabilidade e a suscetibilidade ao dano oxidativo.
Diferenas qualitativas na gordura da dieta afetam a composio em cidos graxos das membranas. Os
efeitos so mais evidentes quando h deficincia de cidos graxos essenciais na dieta e em perodos de intenso
desenvolvimento tecidual, por exemplo durante os perodos fetal e neonatal. Os cidos graxos poliinsaturados n-3
podem aumentar a fluidez da membrana dos eritrcitos quando esterificados aos fosfolipdios da membrana.
Contrapondo a isso, a substituio dos cidos graxos saturados por monoinsaturados cis ou trans no apresentou
alterao na fluidez. J, aumentando o contedo de colesterol e de cidos graxos saturados, a fluidez decresce. O
colesterol, os cidos graxos saturados e os cidos graxos trans podem agir enrijecendo a membrana e inibindo a
maioria dos movimentos transmembrana.
6.6. Glicolipdios
Os glicolipdios, como seu nome indica, so lipdios que contm glicdios. Nas clulas animais, os
glicolipdios, como a esfingomielina, so derivados da esfingosina, um aminolcool, sendo, ento, chamados de
glicoesfingolipdios. O grupamento amino do esqueleto da esfingosina acilado por um cido graxo. Os
glicolipdios diferem da esfingomielina na natureza da unidade que est ligada ao grupamento hidroxila primria
do esqueleto da esfingosina, no contendo fosfato. Assim como os fosfolipdios, os glicoesfingolipdios so
componentes essenciais de todas as membranas do organismo, mas so encontrados em maiores quantidades no
tecido nervoso. Eles esto localizados primariamente na camada externa da membrana plasmtica, onde interagem
93
com o ambiente extracelular. Como tal, eles desempenham algum papel na regulao das interaes, crescimento
e desenvolvimento celulares.
A mielina uma bainha de membranas, rica em lipdios, que circunda axnios de clulas nervosas e tem
um contedo particularmente alto de esfingomielina. Ao contrrio de muitos tipos de membranas, a mielina , em
essncia, uma bicamada lipdica com uma pequena quantidade de protenas. Sua estrutura, composta por
segmentos com interrupes (ndulos), promove a transmisso rpida de impulsos nervosos entre ndulos
sucessivos. A perda da mielina leva lentido e, eventualmente, interrupo da transmisso nervosa. Na
esclerose mltipla, uma doena incapacitante e fatal, a bainha de mielina destruda, de modo progressivo, por
placas esclerticas, que afetam o crebro e a medula espinhal.
Figura 6.9 O termo glicolipdos designa alguns compostos contendo um ou mais resduos de
monossacardeos ligados por uma ligao glicosdica parte hidrofbica da molcula,
como um acilglicerol, esfingosina ou ceramida. No exemplo apresentado um
galactolipdio, onde so representadas as estruturas (I) cidos graxos, (II) glicerol e (III)
resduo de galactose.
6.7. Esteris
Os esteris so produzidos em animais e vegetais. Todos os esteris compartilham de uma estrutura
qumica especfica, uma cadeia de carbono similar e um grupo alcolico (-OH), e atendem s mesmas funes
biolgicas: a formao de estruturas da membrana celular. Aproximadamente, apenas 2% dos esteris so solveis
em leo e praticamente insolveis em gua.
Nosso organismo no pode sintetizar os esteris encontrados em vegetais (fitosteris). Os esteris
vegetais so componentes encontrados em leos vegetais comestveis. Quando leos comestveis passam por
refino normal para aumentar sua estabilidade, os esteris vegetais so parcialmente extrados com alguns
tocoferis (utilizados para fabricar suplementos de vitamina E).
Estima-se que necessitam ser refinadas 2.500 toneladas de leos vegetais para produzir uma tonelada de
esteris vegetais. Um estudo foi divulgado mostrando a eficcia dos fitosteris (Instituto de Pesquisa Nutricional e
Alimentar-Holanda), onde 100 voluntrios selecionados aleatoriamente, 42 do sexo masculino e 58 do sexo
feminino, com faixa etria entre 19 e 58 anos e nveis de colesterol sangneo normal e moderadamente elevados,
utilizaram cinco produtos diferentes. Trs margarinas que continham nveis elevados de fitosteris (3%, 6,5% e
13% m/m) e altas concentraes de gordura polinsaturada, manteiga e Becel (70% de gordura). As duas ltimas
foram utilizadas como controle. Os voluntrios consumiram-nas durante 3,5 semanas consecutivas, diariamente.
Os resultados apontaram que todas as margarinas enriquecidas com fitosterol reduziram efetivamente as
concentraes de colesterol total e LDL do sangue, enquanto os nveis de colesterol HDL no foram afetados.
O colesterol o esterol mais conhecido obtido dos alimentos de origem animal. Pode ser sintetizado por
todas as clulas do organismo humano, mais intensamente no fgado e no intestino.
um componente das membranas celulares e funciona como precursor dos cidos biliares, hormnios
esterides e vitamina D. Dessa forma, fundamental que as clulas dos principais tecidos do corpo recebam um
suprimento contnuo de colesterol. Ao lado dos cidos graxos, importante modulador de fluidez da membrana.
94
O fgado desempenha papel central na regulao do balano corporal do colesterol. O colesterol que entra
no fgado proveniente de uma srie de fontes, incluindo o colesterol da dieta, o colesterol sintetizado pelos
tecidos extra hepticos e a sntese de novo do colesterol pelo fgado. O colesterol eliminado pelo fgado
inalterado na bile, como um componente das lipoprotenas do plasma enviadas aos tecidos perifricos ou como
sais biliares secretados na luz intestinal.
O mevalonato, ento, convertido a isopentenil pirofoAGSto (IPP) por trs reaes consecutivas
envolvendo ATP, duas fosforilaes e uma descarboxilao. IPP, um isoprenide de cinco carbonos, bloco
bsico para a construo do colesterol nas reaes subseqentes.
A segunda etapa da colesterognese envolve a polimerizao dos blocos isoprenides, IPP condensa-se
ao seu ismero (dimetil alil pirofoAGSto), formando o intermedirio de 10 carbonos, geranil pirofoAGSto (GPP)
que, aps nova condensao com IPP, resulta em farnesil pirofoAGSto (FPP) com 15 tomos de carbonos. Duas
molculas de FPP unem-se para dar origem ao intermedirio linear de 30 carbonos, o esqualeno.
A etapa final da sntese comea com a ciclizao do esqualeno, formando epxido de esqualeno, com
participao de oxignio molecular e NADPH. Ocorre movimento de eltrons por quatro duplas ligaes e
migrao de dois grupos metila. Finalmente, o lanosterol convertido em colesterol pela remoo de trs grupos
metila, reduo de uma ligao por NADPH e migrao de outra dupla ligao.
95
-hidroxi--metilglutaril CoA
Mevalonato
3 isopentenil pirofoAGSto 2 isopentenil pirofoAGSto
geranil pirofoAGSto 2 isopentenil tRNA
farnesil pirofoAGSto 2 isopentenil adenosina
esqualeno trans-poliprenilpirofoAGSto 2 isopenteniladenina
lanosterol cispoliprenil pirofoAGSto Dolicis
desmosterol isoprenide de cadeia lateral de ubiquinonas
COLESTEROL
96
Tabela 6.1 Caractersticas e funes das lipoprotenas do plasma
97
captado e esterificado nas partculas de HDL transportado para outras lipoprotenas (1.500 mg/dia), por ao da
enzima CETP. Aproximadamente, 9 mg de colesterol/kg de peso corporal/dia sintetizados pelos tecidos perifricos
vo ser transportados para o fgado para o catabolismo, quando pode ser excretado na bile (principal via para
eliminao) ou reabsorvido (circulao entero-heptica).
6.10. Referncias
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99
Captulo 7: METABOLISMO ENERGTICO
7.1. Introduo
O ser vivo alimenta-se para satisfazer duas necessidades bsicas: obter substncias que lhe so
essenciais e energia para a manuteno dos processos vitais.
Os animais necessitam, alm de oxignio, gua e minerais, de certas substncias orgnicas que eles
no so capazes de sintetizar, como aminocidos essenciais, cidos graxos essenciais e vitaminas. Alm
desses compostos essenciais, necessitam de energia que requerida para a manuteno de diversas funes
orgnicas, incluindo respirao, circulao, atividade fsica e manuteno da temperatura corporal.
A energia dos alimentos liberada no organismo pela oxidao, produzindo a energia qumica
necessria para manter o metabolismo, transmisso dos impulsos nervosos, respirao, circulao e atividade
fsica. O calor que gerado durante esse processo usado para a manuteno da temperatura corporal.
Os principais nutrientes que fornecem energia para o organismo so: carboidratos, lipdios e
protenas.
O balano energtico de um indivduo depende do seu consumo e do seu gasto energtico. O
desbalano entre eles resulta no ganho ou perda de componentes corporais, principalmente na forma de
gordura, o que determina as alteraes no peso corporal.
O requerimento ou necessidade estimada de energia (EER) definido como o consumo de energia
que previsto para manter o balano energtico de um adulto saudvel de determinada idade, sexo, peso,
altura e nvel de atividade fsica, compatvel com um bom estado de sade.
O interesse em conhecer a origem do calor produzido pelos animais norteou os primeiros trabalhos
sobre calorimetria, e deles se descobriu que a produo de calor resulta dos processos de oxidao dentro da
clula. Quando os produtos derivados dos alimentos so oxidados, existe uma produo de calor, da mesma
forma da que quando uma substncia queimada fora do organismo. A combusto, no to intensa,
realizada com a ajuda de complicadas reaes enzimticas, mas ao final ela uma oxidao que gera calor ou
outras formas de energia.
A principal vantagem biolgica da oxidao no , entretanto, a produo de calor para aquecer o
corpo, e sim a transformao da energia contida nos alimentos em uma forma de energia utilizvel para o
trabalho animal interno e externo. O calor produzido como um resultado final da oxidao biolgica
benfico para a manuteno da temperatura corporal, mas ele no tem valor para a realizao do trabalho,
sendo considerado um sub-produto do metabolismo.
A fonte de energia til para os animais a energia qumica fornecida pelos alimentos
A oxidao dos alimentos prov energia qumica para as reaes celulares. Como a energia
transformada de uma forma para outra (como ocorre no metabolismo dos nutrientes na clula), a capacidade
da energia total para desenvolver trabalho diminui. Quando macromolculas de carboidratos, lipdios e
protenas so quebradas em fragmentos progressivamente menores, por meio das enzimas do metabolismo
intermedirio, a mudana de estado altamente organizado para um desorganizado (maior entropia). O
processo, por ocorrer em etapas, garante a captura de cerca de 40% da energia na forma de adenosina
trifosfato (ATP). O restante perdido como calor. Entretanto, quando molculas so rompidas violentamente,
em contato com o oxignio atmosfrico, como numa bomba calorimtrica, o estado de desorganizao tal
que toda a energia potencial do alimento liberada como calor.
100
Joule
A unidade de medida da energia no sistema mtrico o joule, medida de energia em termos de
trabalho mecnico. a energia necessria par acelerar 1 N a 1 m de distncia.
Cerca de 90% da populao mundial usa o sistema mtrico ou em vias de converso ao seu uso.
Devido a isso, o joule foi selecionado como a unidade de energia na literatura sobre nutrio. Uma
quilocaloria igual a 4,184 quilojoules. Na prtica, usa-se 1 kcal = 4,2 kJ.
Converso: 1 cal = 4,184 J
1 kcal = 4,184 kJ
1 J = 0,239 cal
1 kJ = 0,239 kcal
1 MJ = 239 kcal (MJ = megajoule)
Tabela 7.1 - Caloria produzida por 1 g de carboidrato, lipdio, protena e lcool queimados em bomba
calorimtrica.
Nutrientes kcal/g
Protena 5,65
Lipdio 9,45
Carboidrato 4,10
lcool 7,10
101
Os valores de 4, 9 e 4 kcal por grama de protena, lipdio e carboidrato, respectivamente, podem ser utilizados
para fins prticos na estimativa de valor calrico dos alimentos.
O lcool fornece 7 kcal/g, o que se chama de calorias vazias, j que no contribui para a nutrio,
alm de exercer efeitos txicos. obrigatoriamente oxidado, principalmente no fgado, cuja capacidade
mxima de 160 a 180 g de etanol/dia. Na Figura 1 est esquematizado o metabolismo do lcool.
A Figura 7.2 ilustra a utilizao de energia proveniente dos alimentos.
102
Substitui os cidos graxos como
combustvel
Drogas e Etanol
hormnios
NADPH
NAD Hidrognio
MEOS cidos graxos
ADH
NADH
NADP
Cetose
Acetaldedo
(Txico) Triglicerdeos
Metablitos polares
cido pirvico
Esteatose Hiperlipidemia
Acetato heptica
cido lctico
Glicose (hipoglicemia)
Hiperlactacidemia
Acidose renal
Uricademia Gota
Figura 7.1 - Metabolismo do lcool. ADH - Desidrogenase alcolica e MEOS - Sistema microssmico de oxidao do etanol.
103
Energia dos alimentos
(Calor de combusto em kcal/g)
91,99%
Energia no-digervel, perda
pelas fezes ou utilizadas por
bactrias (1 9%)
Energia digervel :
(E. consumida - E. fezes) x 100
E. consumida
85 93%
Perdas em urina, suor e clulas
(6%)
Energia metabolizvel, valor
energtico dos alimentos
(carboidrato, protena, lipdio e
etanol)
Calor produzido em
catabolismo ou ciclos
inteis - < 50%
27 30%
Figura 7.2 - Utilizao de energia proveniente dos alimentos e energia lquida utilizada para o metabolismo basal e
atividade fsica.
QR = CO2 = 6 = 1
O2 6
II) Lipdios: tm um QR menor, devido ao fato de o teor de oxignio de sua molcula ser bastante baixo em
relao ao carbono. Conseqentemente, necessitam de mais oxignio externo. Exemplo de oxidao da triestearina:
2 C57H110O6 + 163 O2 114 CO2 + 110 H2O
III) Protenas: a oxidao das protenas no pode ser expressa to facilmente, porque sua estrutura qumica
varivel. O QR das protenas aproximadamente 0,8 por clculos feitos.
possvel avaliar as necessidades energticas basais das pessoas de constituio corporal: 1 kcal/kg de peso/h
para homens de 0,9 kcal/kg de peso/h para as mulheres. Para aqueles acima de 50 anos de idade, a taxa reduzida em
10%.
Os valores conseguidos com esses clculos tm boa correspondncia com os obtidos nos testes reais de
metabolismo basal. Contudo, quando o clculo usado para pessoas cujo peso corporal desvia do padro, a
concordncia menos satisfatria.
b) Outros mtodos indiretos de medir o gasto energtico: vrios outros mtodos tm sido usados para medir o gasto
energtico em humanos, em condies normais de vida. As tcnicas mais comuns utilizadas recentemente se baseiam na
medida do ritmo cardaco ou na freqncia cardaca, e a tcnica da gua duplamente marcada com istopos estveis.
O mtodo da freqncia cardaca, embora confivel, pode apresentar limitaes de uso, visto que alguns
fatores que afetam o ritmo cardaco, como o volume das refeies, a variao na postura e o consumo de cigarros,
podem superestimar o gasto energtico.
1051
O mtodo da gua duplamente marcada (2H218O) baseado na diferena de velocidade de turnover entre 2H2O
18
e H2 O na gua corporal, o que usado para estimar a taxa de produo de CO2 e, por conseguinte, o gasto energtico.
Varia com as condies nutricionais do indivduo e com as condies ambientais e pode ser usado tambm para medir a
composio corporal do indivduo e o consumo de gua e em gestantes, mulheres, homens, lactentes, crianas e idosos.
b) Sexo: as mulheres, em geral, tm metabolismo 5 a 10% menor do que os homens, mesmo quando da mesma
altura e peso.
c) Gravidez: o metabolismo basal da gestante aumenta em razo da elevada atividade de rgos, como corao,
pulmes e outros, e maior demanda de O2. Alguns pesquisadores acreditam que o aumento seja de 20-28% acima do
normal.
d) Idade: a taxa de MB maior durante os perodos de crescimento rpido, principalmente no primeiro e segundo
anos, e alcana um pico menor nos anos de puberdade e adolescncia em ambos os sexos. A TMB declina cerca de 2%
por dcada de vida durante a vida adulta.
e) Composio corporal: o tecido adiposo diminui a taxa de metabolismo basal, pois requer menos oxignio e,
portanto, tem taxa metablica menor que o tecido muscular.
f) Glndulas endcrinas: a secreo da glndula tireide influencia o metabolismo mais que qualquer outra
secreo endcrina:
- Hipotireoidismo pode diminuir de 30 a 40% o MB.
- Hipertireoidismo pode elevar o MB em at 80%
g) Estado nutricional: nos subnutridos crnicos, a taxa do MB menor devido menor quantidade de tecido ativo.
h) Clima: o MB das pessoas que vivem nos trpicos menor que o daquelas que vivem em locais de clima frio. O
uso de roupas apropriadas compensa a diferena.
i) Febre: infeces ou febre aumentam a TMB em cerca 13% para cada grau acima de 37 C.
Tabela 7.3 - Equaes para estimativa da TMB (FAO/OMS, 1985), segundo a faixa etria e o sexo
Idade (anos) Masculino Feminino
0-3 (60,9 x P) - 54 (61,0 x P) - 51
3 -10 (22,7 x P) + 495 (22,5 x P) + 499
10 - 18 (17,5 x P) + 651 (12,2 x P) + 746
18 - 30 (15,3 x P) + 679 (14,7 x P) + 496
30 60 (11,6 x P) + 879 (8,7 x P) + 829
> 60 (13,5 x P) + 487 (10,5 x P) + 596
A estimativa do peso ideal pode ser feita pelo clculo do ndice de Massa Corporal (IMC), que representa a
relao entre o peso (kg) e o quadrado da altura (m) (Tabela 7.4):
IMC = P/H2 , em que P = peso (kg)
H = altura (m)
1061
7.4.5. Termognese Induzida pela Dieta
A termognese induzida pela dieta (TID), ou efeito trmico dos alimentos, representa o aumento do gasto
energtico durante a digesto dividido pelo contedo energtico do alimento consumido. A TID varia de 5 a 10% para
carboidratos, de 0 a 5% para lipdios e de 20 a 30% para protenas. O consumo de uma dieta mista geralmente implica
em aumento equivalente a 10% do contedo energtico da dieta. A TID pode resultar em aumento considervel no gasto
energtico de repouso (GER) durante as horas que sucedem a ingesto de uma refeio. Os alimentos condimentados
intensificam e prolongam essa termognese.
A termognese pode ser tanto obrigatria quanto facultativa:
a) Obrigatria essencial promover a digesto, absoro e metabolizao dos nutrientes.
b) Facultativa o excesso de energia gasto, alm da metabolizao dos nutrientes, atribuvel a
ineficincia metablica, mediada pelo sistema nervoso simptico.
Tabela 7.5 - Gasto aproximado de energia para vrios nveis de atividade, como mltiplos da TMB
Categoria Fator de Atividade
Repouso TMB x 1,0
Dormindo, recostado
Muito Leve TMB x 1,5
Atividades assentadas ou de p, dirigindo, desenhando, trabalho de
laboratrio, datilografando, costurando, passando roupa, jogando cartas, tocando
instrumento
Leve TMB x 2,5
Andando no plano (4 a 5 km/h), garagistas, eletricistas, carpinteiros, garons,
limpando casa, cuidando de crianas, jogando pingue-pongue
Moderada TMB x 5,0
Andando no plano (6 a 7 km/h), capinando, carregando peso leve, andando
de bicicleta, jogando tnis, danando
Pesada TMB x 7,0
Subindo ladeira carregando peso, lenhadores, escavao manual pesada,
jogando basquete ou futebol, escalando
As necessidades energticas podem ser estimadas utilizando-se de fatores de atividade fsica dirios totais,
quando so conhecidos os padres gerais de atividade fsica do indivduo. Os fatores de atividade fsica (gasto
energtico x TMB) mais utilizados para clculo das necessidades energticas esto apresentados nas Tabelas 7.6, 7.7,
7.8 e 7.9.
Tabela 7.6 - Intensidade de atividade fsica por sexo, segundo a FAO/OMS (1985)
Atividade Homens Mulheres
Mnima 1,4 1,4
Leve 1,7 1,7
Moderada 2,7 2,2
Pesada 3,8 2,8
Tabela 7.7 - Intensidade de atividade fsica por sexo, segundo a FNB/NRC (1989)
Atividade Homens Mulheres
Muito leve 1,3 1,3
Leve 1,6 1,5
Moderada 1,7 1,6
Pesada 2,1 1,9
Excepcional 2,4 2,2
1071
Tabela 7.8 - Classificao da atividade fsica por sexo, segundo o SBAN (1990)
Atividade Homens Mulheres
Metabolismo basal 1,0 1,0
Mnima de sobrevivncia 1,27 1,27
Sedentria 1,4 1,4
Leve 1,55 1,55
Moderada 1,8 1,8
Intensa 2,1 2,1
A atividade fsica pode ser estimada por um monitor de acelerao corporal de trs dimenses. Esse monitor
empregado para a avaliao do gasto energtico com a atividade fsica, utilizando-se sensores de movimento nas
direes ntero-posterior, mdio-lateral e vertical.
Tabela 7.10 - Exemplo de clculo das necessidades energticas de um estudante adulto do sexo masculino de 25 anos de
idade e 64 kg de peso
Atividade Fator de Atividade Horas Custo Energtico
(x TMB) (kcal)
Dormindo 1,0 8 552
Atividades ocupacionais 2,7 8 1490
Atividades livres:
Sociais 3,0 2 414
Esportes 7,0 1/2 242
Tempo restante 1,4 5 1/2 531
TOTAL 1,95 24 3230
Mais recentemente, o Institute of Medicine (IOM, 2002) estabeleceu novas equaes para calcular o
requerimento ou necessidade estimada de energia (EER), definido como o consumo de energia previsto para manter o
balano energtico de um adulto saudvel de determinada idade, sexo, peso, altura e nvel de atividade fsica,
compatvel com um bom estado de sade.
Para calcular o EER, equaes foram desenvolvidas para indivduos de peso normal (IMC de 18,5 a 25 kg/m2),
de 0 a 100 anos de idade, baseando-se em dados de gasto energtico medidos pela tcnica da gua duplamente marcada.
Para crianas e mulheres grvidas ou lactantes, o EER inclui as necessidades de deposio de tecido ou de
secreo de leite a uma taxa consistente com um bom estado de sade.
Embora seja esperada variabilidade interindividual quanto ao EER, no h RDA (margem de segurana) para
energia, uma vez que o seu consumo acima do EER resulta em ganho de peso. Para a maioria dos nutrientes, o
requerimento corresponde quantidade mdia suficiente para atingir os critrios especficos mais dois desvios-padro a
fim de atingir as necessidades de quase todos os indivduos saudveis. Entretanto, isso no se aplica para energia, visto
que o excesso desta no pode ser eliminado e se deposita na forma de gordura. Essa reserva prov o organismo durante
perodos de limitado consumo energtico, porm pode resultar em obesidade.
O conceito de UL (limite mximo tolervel) tambm no se aplica para energia, visto que qualquer consumo
acima do EER pode resultar em ganho de peso indesejvel ou, mesmo, prejudicial ao indivduo.
1081
EER para lactentes e crianas de 0 a 2 anos de idade
A necessidade total de energia para lactentes e crianas de at 2 anos de idade varia com a idade, o sexo e o
modo de alimentao da criana. A necessidade energtica aumenta com o crescimento e maior em meninos do que
em meninas. A massa livre de gordura responsvel pelas diferenas entre sexo e idade. A TID em crianas
alimentadas com frmulas infantis maior do que em crianas amamentadas com leite materno.
As equaes que definem as necessidades de energia para esse grupo no levam em considerao o sexo e a
altura da criana, uma vez que esses fatores interferem no peso e, dessa forma, somente o peso se correlaciona
diretamente com o gasto energtico total. A atividade fsica tambm no foi considerada, em razo do pequeno tamanho
amostral. Assim, o gasto energtico total (GET) dado pela equao:
Uma vez que as crianas nessa faixa etria se encontram em fase de crescimento, uma quota para a deposio
energtica deve ser considerada na estimativa da necessidade energtica total (EER), de forma que EER = GET +
Energia de deposio:
0-3 meses: EER = (89 x peso da criana [kg] 100) + 175 (kcal para deposio energtica)
4-6 meses: EER = (89 x peso da criana [kg] 100) + 56 (kcal para deposio energtica)
7-12 meses: EER = (89 x peso da criana [kg] 100) + 22 (kcal para deposio energtica)
13-35 meses: EER = (89 x peso da criana [kg] 100) + 20 (kcal para deposio energtica)
Recomenda-se o leite materno como nica fonte de nutrientes, inclusive de energia, para lactentes de at 4 a 6
meses de idade. Considerando um consumo mdio de 780 mL de leite materno por dia e uma densidade energtica de
650 kcal/L, o consumo energtico total dessa criana seria de 500 kcal/dia. O EER calculado pelas equaes anteriores
superior a 500 kcal/dia para muitas crianas de ambos os sexos.
EER = 88,5 61,9 x idade [anos] + atividade fsica x (26,7 x peso [kg] + 903 x altura [m]) + 20 (kcal de deposio
energtica)
EER = 135,3 30,8 x idade [anos] + atividade fsica x (10,0 x peso [kg] + 934 x altura [m]) + 20 (kcal de deposio
energtica)
1091
EER para adultos acima de 19 anos de idade
EER para homens acima de 19 anos de idade:
EER = 662 9,53 x idade [anos] + atividade fsica x (15,91 x peso [kg] + 539,6 x altura [m])
EER = 354 6,91 x idade [anos] + atividade fsica x (9,36 x peso [kg] + 726 x altura [m])
Exemplo:
Mulher de 30 anos de idade, 1,65 m de altura, atividade fsica pouco ativa e peso de 50,4 kg (IMC = 18,5).
Comparando com a equao da FAO/OMS, 1985, tem-se para essa mesma mulher:
EER na gravidez
O aumento no gasto energtico basal (GEB) durante a gravidez devido contribuio metablica do
tero e do feto, bem como do aumento do trabalho cardaco e respiratrio. O aumento do GEB o principal
responsvel pelo incremento da necessidade energtica na gravidez.
Durante a gestao no h variao no efeito trmico do alimento ou TID e a atividade fsica aumenta no
final da gestao, em razo do esforo decorrente do aumento de peso.
O EER durante a gravidez derivado da soma do gasto energtico total (GET) da mulher antes da
gravidez mais a alterao mdia no GET de 8 kcal/semana mais a energia de deposio durante a gravidez de
180 kcal/dia. Como o GET varia muito pouco durante o primeiro trimestre, o consumo adicional de energia
recomendado apenas nos segundo e terceiro trimestres.
1o semestre: EER = EER da adolescente + 500 170 (Energia da secreo do leite perda de peso)
2o semestre: EER = EER da adolescente + 400 0 (Energia da secreo do leite perda de peso)
Atletas
Com pequenas excees, as recomendaes dietticas para os atletas no diferem daquelas para a populao
em geral. A quantidade de energia deve ser ajustada para alcanar ou manter um peso corporal timo para atletas de
competio e outros com atividades fsicas semelhantes. Assim como para a maioria da populao, tambm o atleta de
competio dever fazer uso de refeies em pequenos volumes e maior freqncia. Atletas com hipertrofia muscular
podero alcanar IMC acima de 25 kg/m2.
De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO, 2001) o requerimento energtico a ingesto de
alimentos necessria para manter o balano energtico, o que inclui a manuteno da composio e forma corporal, a
prtica de atividade fsica, a promoo do crescimento e desenvolvimento da criana, a deposio de tecidos durante a
gestao e o fornecimento de energia suficiente para a secreo de leite durante a lactao, promovendo sade para a
me e o filho.
Para adultos, a necessidade energtica calculada em funo da taxa metablica basal, atividade fsica, peso
corporal e sexo. O gasto energtico na atividade fsica estimado pelo tipo de atividade fsica realizada e pelo tempo de
durao.
A energia necessria para a gestante determinada pela necessidade do ganho de peso gestacional, associado
ao ganho de protena e gordura maternas, fetal e tecidos placentrios, aumento do metabolismo basal e atividade fsica.
O ganho de peso gestacional foi calculado, em mdia, em 12,5 kg e o peso da criana ao nascer, em torno de 3,4 kg. O
aumento do metabolismo basal devido acelerada sntese de tecidos, aumento do trabalho cardiorrespiratrio e da
massa muscular. O aumento do metabolismo basal de 5, 10 e 25% no primeiro, segundo e terceiro trimestres,
respectivamente, o que corresponde a 20, 85 e 310 kcal/dia para um ganho de 12 kg durante toda a gestao. A energia
de deposio durante a gravidez recomendada por causa da ineficincia do organismo na utilizao de energia
proveniente das gorduras e protenas em 10%, sendo recomendados os acrscimos de 85, 285 e 475 kcal /dia durante o
primeiro, segundo e terceiro trimestres de gestao.
A necessidade total energtica durante a lactao igual necessidade da pr- gestante, porm h demanda
maior de energia para a produo e secreo do leite. O acmulo de gordura durante a gestao cobre parte da energia
gasta para a produo do leite nos primeiros meses.
1111
atividade fsica voluntria.
IMC acima de 25 kg/m2, no entanto, est associado a maior risco de mortalidade prematura devido a diabetes
do tipo 2, hipertenso, doenas cardiovasculares, infarto, osteoartrite e alguns tipos de cncer.
Assim, em diversos estudos sugere-se buscar manter o IMC de 22 kg/m2 ao final da adolescncia, a fim de
garantir um possvel aumento de peso na idade adulta, sem que o IMC ultrapasse os 25 kg/m2.
7.7. Referncias
DIENER, J. R. C. Calorimetria indireta. Rev. Ass Med Brasil, v. 43, n. 3, p. 245-53, 1997.
INSTITUTE of MEDICINE. Dietary reference intakes Energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol,
protein, and amino acids. Washington, D.C.: The National Academy Press, 2002. Part 1, 484 p.
JQUIER, E. Methods of measuring energy expenditure and substrate utilization, Diabetes Reviews, v. 4, n. 4, p. 423-
431, 1996.
LABAYEN, I.; LOPES-MARQUS, J.; MARTNEZ, J. A. Mtodos de medida del gasto energtico, Nutricin
Clnica, v., 15, n. 6, p. 7-17, 1997.
LIVESEY, G. Thermogenesis associated with fermentable carbohydrate in humans, validity of indirect thermogenesis
for energy requirements, food energy and body weight. Internacional Journal of Obesity, v. 26, p. 1553- 1569, 2002.
RAVUSSIN, E.; SWINBURN, B. A. Energy Metaboism. In: Obesity: theory and therapy. 2. ed. [S.l.]: Raven Press,
1993. Cap.6, p. 97-123.
SCHUTZ, Y. The basis of direct and indirect calorimetry and their potentials. Diabetes/ Metabolism Reviews, v. 11, n.
4, p. 383- 408, 1995.
SCHUTZ, Y.; DEURENBERG, P. Energy metabolism: Overview of recent methods used in human studies, Ann Nutr
Metab, v. 40, p. 183, 1996.
1121
Captulo 8 - VITAMINAS
Maria do Carmo Gouveia Peluzio
Vanessa Patrocnio de Oliveira
8.1. Introduo
Vitaminas so compostos orgnicos que participam de importantes processos celulares, sendo essenciais para a
manuteno das funes orgnicas (crescimento, metabolismo e integralidade) e, em pequenas quantidades, para o
funcionamento adequado do organismo humano. Distinguem-se dos macronutrientes por no serem catabolizadas a CO2
e H2O - conferindo energia s clulas e nem usadas em carter estrutural.
A primeira preparao de alimento com nutrientes especficos incorporados foi um concentrado anti-beribri,
introduzido por Funk e Hopkins em 1912. O fator introduzido foi uma amina, que sendo necessria vida, recebeu o
nome de vitamina. Apesar de o seu estudo ter sido intensificado apenas no sculo XX, relatos de doenas provocadas
por deficincia de vitaminas vo desde os primrdios da humanidade. Nos esqueletos dos homens pr-histricos foram
encontradas evidncias claras de deficincia de vitamina D (raquitismo) e vitamina C (escorbuto). Na Antigidade,
eram de conhecimento mdico os sintomas da deficincia de vitamina B1 (beribri) e vitamina A (cegueira noturna),
sintomas que tambm so relatados em vrios manuscritos da Era Crist.
At recentemente, acreditava-se que a principal funo das vitaminas era evitar as doenas causadas por
deficincia aguda desses compostos orgnicos. Hoje, alguns estudos, tm evidenciado o seu uso profiltico com o
emprego de suplementos vitamnicos.
Durante o sculo XX foram isoladas, identificadas (inicialmente atravs de letras do alfabeto e posteriormente
por meio de nomes qumicos) e sintetizadas quimicamente. Descobriram-se ento, a grande variedade na composio
qumica e a funo das vitaminas, que vai desde a atuao como coenzima sntese de hormnios, regulao no
catabolismo de macronutrientes, antioxidante e substrato de reaes qumicas.
As vitaminas so classificadas de acordo com a sua solubilidade, em dois grupos:
Vitaminas lipossolveis(imiscveis em gua): vitaminas A, D, E e K.
Vitaminas hidrossolveis(miscveis em gua): vitaminas B1, B2, B3, B5, B6, B7, B9, B12 e C.
As necessidades de vitaminas, de acordo com os valores de referncia Dietary Reference Intakes (DRI) ou
tambm conhecidas como Ingesto Diettica Recomendada (IDR), so as mesmas tanto para indivduos saudveis
quanto para diabticos. Estes valores foram desenvolvidos para as populaes americana e canadense e, portanto,
devem ser utilizados com bastante cautela.
Observao: Para grupos selecionados, como indivduos idosos, mulheres grvidas ou em lactao,
vegetariano estrito, indivduos com dietas restritas em calorias, a suplementao com complexos multivitamnicos
aconselhvel.
1131
Tabela 8.1 - IDR das vitaminas para diferentes fases do ciclo de vida:
RDA/AI* UL
Lactentes (meses)* Crianas Mulheres Homens
(Anos) (Anos) (Anos)
0-6 7-12 1-3 4-8 9-13 14-18 19-50 51-70 >70 9-13 14-18 19-50 51-70 >70
Vitamina A 400 500 300 400 600 700 700 700 700 600 900 900 900 900 3.000
g/dia
Vitamina D 5 5 5 5 5 5 5 10 15 5 5 5 10 15 50
g/dia
Vitamina E 4 5 6 7 11 15 15 15 15 11 15 15 15 15 1.000
mg/dia de alfa-tocoferol
Vitamina K 2 2,5 30 55 60 75 90 90 90 60 75 120 120 120 DI
g/dia *
Tiamina 0,2 0,3 0,5 0,6 0,9 1,0 1,1 1,1 1,1 0,9 1,2 1,2 1,2 1,2 DI
mg/dia
Riboflavina 0,3 0,4 0,5 0,6 0,9 1,0 1,1 1,1 1,1 0,9 1,3 1,3 1,3 1,3 DI
mg/dia
Niacina 2 4 6 8 12 14 14 14 14 12 16 16 16 16 35
mg/dia
cido Pantotnico 1,7 1,8 2,0 3,0 4,0 5,0 5,0 5,0 5,0 4,0 5,0 5,0 5,0 5,0 DI
mg/dia*
Vitamina B6 0,1 0,3 0,5 0,6 1,0 1,2 1,3 1,5 1,5 1,0 1,3 1,3 1,7 1,7 100
mg/dia
Biotina 5 6 8 12 20 25 30 30 30 20 25 30 30 30 DI
g/dia*
cido Flico 65 80 150 200 300 400 400 400 400 300 400 400 400 400 1.000
g/dia do equivalente diettico ao folato
Vitamina B12 0,4 0,5 0,9 1,2 1,8 2,4 2,4 2,4 2,4 1,8 2,4 2,4 2,4 2,4 DI
g/dia
Vitamina C 40 50 15 25 45 65 75 75 75 45 75 90 90 90 2.000
mg/dia
DI: Dados insuficientes
Fonte: IDR (Institute of Medicine, 2001)
1 114
8.3. Vitaminas Lipossolveis
Grupo de substncias orgnicas sem valor energtico, com vrias estruturas celulares essenciais ao
organismo humano, sendo necessria sua ingesto via alimentao. Por serem insolveis em gua, so
necessrias a sua absoro, a presena de bile e a formao dos quilomicrons para seu transporte. Na
circulao so transportadas por protenas especficas, como as vitaminas A e D, ou ligadas a lipoprotenas
como as vitaminas E e K. A principal via de excreo dessas vitaminas a fecal, as quais, no organismo, so
armazenadas fgado (vitamina A) e tecido adiposo (Vitaminas D e E).
8.3.1. Vitamina A
8.3.1.1. Histrico, propriedades fsico-qumicas e atividade
Relatos sobre a atividade dessa vitamina vm desde a Antigidade, como no Egito, relacionando-se a
distrbios da viso. Em 1913, foi publicado o primeiro trabalho relacionando vitamina A, presente em
alimentos lipdicos de origem animal, com o crescimento e desenvolvimento adequados. Nas dcadas de 1920
e 1930, foram elucidadas as relaes tnues entre a vitamina A e o crescimento, xeroftalmia, diferenciao
celular e resistncia a infeces. Nessa poca foi tambm proposta a estrutura qumica da vitamina A.
Sua estrutura est relacionada a um lcool lipdico, de massa molecular de 286,46: o Retinol (Figura
8.1). Descreve uma famlia de compostos lipossolveis. Apresenta-se como leo de cor amarelada ou em
slido cristalino, forma mais estvel da vitamina. sensvel oxidao na presena de luz, calor e meio cido,
convertendo-se em um aldedo (retinal ou retinaldedo) e, posteriormente, em cido carboxlico (cido
retinico). Existem espcies em alimentos de origem vegetal determinadas carotenides, que apresentam
atividades de pr-vitamina A e so convertidos em retinol pelo organismo.
O termo genrico vitamina A refere-se aos retinides (retinol e seus derivados metablicos e
sintticos) e aos carotenides com atividade pr-vitamnica, ou seja, so precursores do retinol, a forma ativa
da vitamina. Essa vitamina essencial para a viso, proliferao e diferenciao celulares e a integridade do
sistema imune.
Os carotenides so pigmentos naturais que conferem cores aos alimentos, que vo do amarelo ao
vermelho. So classificados, segundo a sua estrutura qumica, em , e -caroteno, licopeno, lutena,
criptoxantina e zeaxantina (xantofilas), sendo que os trs ltimos no possuem atividade pr-vitamnica. O -
caroteno o carotenide de maior atividade pr-vitamnica e possui dois anis -ionona, formando em sua
hidrlise duas molculas de retinol.
8.3.1.2. Metabolismo
Os alimentos-fonte fornecem a vitamina A em duas formas: vitamina A pr-formada (steres de
retinol) nos alimentos de origem animal e carotenides pr-vitamina A, oriundos de alimentos de origem
vegetal. Sofrem a ao de enzimas digestivas e so emulsificados pela bile para posterior absoro pelo
entercito. A absoro em nvel fisiolgico saturvel, com uma eficincia de 70-90% dos steres de retinol
ingeridos. Porm, em doses farmacolgicas o processo absortivo no-saturvel, constituindo ponto
importante na toxicidade da vitamina A pr-formada. Os carotenides so clivados a retinal e, posteriormente,
a retinol, sendo a eficincia de absoro desses compostos de 50-60%, o que depende da biodisponibilidade,
sendo essa eficincia inversamente proporcional ingesto do nutriente.
Uma vez nos entercitos, o retinol esterificado com cidos graxos de cadeia longa, e no retculo
endoplasmtico so agrupados aos lipdios neutros (triacilgliceris, steres de colesterol e fosfolipdios),
115
formando o ncleo dos quilomicrons. Estes, por sua vez, so absorvidos pelo sistema linftico, levados ao
sistema circulatrio e metabolizados pelo fgado.
Cerca de 40-50% da vitamina A absorvida armazenada no fgado. Este rgo responsvel por 90%
da reserva corporal do nutriente sob a forma de steres retinlicos, permitindo a manuteno dos nveis
plasmticos do nutriente mesmo sem o seu consumo contnuo, 20% dela excretada pelas fezes, 17% pela
urina e 3% pela transpirao.
8.3.1.3. Funes
Viso
a mais conhecida funo da vitamina A, relacionada preveno da cegueira noturna e ao
melhoramento da acuidade visual. necessria aos olhos por dois aspectos: como 11-cis-retinal, atuando na
transduo de luz em sinais neurais na retina, e como cido retinico, mantendo a diferenciao normal das
clulas constituintes dos olhos e prevenindo a xeroftalmia.
As clulas fotossensveis da retina, cones (percepo de cores na luz clara) e bastonetes (percepo de
movimentos e viso noturna) possuem protenas denominadas opsinas, que, com o 11-cis-retinal formam uma
unidade (rodopsina nos bastonetes e opsinas nos cones) essencial para a captao de luz em diferentes
comprimentos de onda. No processo, a luz atinge o complexo rodopsina/opsina, isomerizando a ligao 11-cis
11-trans e dissociando o complexo em opsina e retinal-trans, o qual reduzido retinol-trans na presena de
NADH e lanado na circulao, onde ocorre o processo inverso e o complexo rodopsina/opsina
reconstitudo. Nos processos de desintegrao da rodopsina/opsina e isomerizao do retinol acontecem a
liberao de energia, a ativao do nervo ptico e a excitao nervosa que ocasiona a viso.
A deficincia da vitamina leva lentido no processo da regenerao da rodopsina aps o estmulo
luminoso, processo esse definido como cegueira noturna.
Tecidos da retina, crnea e conjuntiva ptica dependem de cido retinico para a manuteno de sua
integridade estrutural. A vitamina A liberada via secreo lacrimal. A deficincia de vitamina A leva ao
ressecamento das conjuntivas da crnea (xerose) e formao de depsitos de clulas e bactrias denominados
manchas de Bitt. A evoluo da deficincia pode levar queratomalacia, lcera da crnea e,
conseqentemente a uma cegueira irreversvel.
Desenvolvimento e Crescimento
O cido retinico necessrio para o desenvolvimento fetal ps-gastrulao, uma vez que, ao ligar em
seus receptores, ativa genes responsveis pela regulao da morfognese, como o Hox. Contribui para o
crescimento, induzindo osteoblastos a produzir colgeno e glicoprotenas (matria orgnica do osso), por meio
da sntese do cido condroitina sulfrico.
Imunidade
A deficincia de vitamina A est associada a aumento na incidncia de certos tipos de infeces. A
vitamina A parece influir nos sistemas sinalizadores da resposta imunolgica adequada, no havendo contudo,
alterao nas estruturas imunolgicas na deficincia retinica.
8.3.1.4. Recomendaes:
As ingestes recomendadas de vitamina A so expressas em microgramas de equivalente retinol por
dia (g ER/d). A necessidade varia de acordo com o grupo populacional e estado metablico, como visto na
Tabela 2 (DRI de vitamina A nas diversas fases da vida).
O clculo da quantidade total de vitamina A em g ER, nos alimentos como segue abaixo :
gER = vitamina A pr-formada*(g) + 1/6 -caroteno(g) + 1/12 outros carotenos
precursores de vitamina A (g)
*Alimentos de origem animal.
A ingesto excessiva de retinol pode levar a efeitos txicos no organismo, provocando a secura de
mucosas, raleamento dos cabelos, unhas quebradias, dores sseas e articulares, esplenomegalia, cefalia,
116
vmitos, descamao, alteraes hepticas, hemorragia e coma. Os retinides so capazes de inserir, expandir
e desestabilizar membranas, levando s rupturas de clulas e organelas celulares como lisossomos. Os
retinides tambm possuem efeito teratognico, sendo seu consumo em excesso associado malformao
congnita e abortos espontneos.
A ingesto elevada de -caroteno parece no ser txica, apesar de o consumo macio desse nutriente
levar a carotenodermia, em que a sola dos ps e mos tornam-se amarelados ou alaranjados. O efeito
reversvel com a diminuio do consumo.
8.3.1.5. Fontes
As fontes de vitamina A pr-formadas so alimentos de origem animal, como fgado, gema de ovo,
leite, manteiga, margarina (vitamina adicionada), atum, queijo, creme de leite e leite em p integral. Os
carotenides pr-vitamnicos so encontrados em alimentos de origem vegetal principalmente, frutas,
hortalias amarelas e vermelhas e hortalias verdes, como podem tambm ser encontrados em alguns
alimentos de origem animal, como gema de ovo, leite e manteiga.
8.3.2. Vitamina D
8.3.2.1. Histrico, propriedades fsico-qumicas e atividade:
Esta vitamina faz parte do grupo de compostos lipossolveis de origem vegetal e animal, com
atividade anti-raquitismo (PINTO; PENTEADO, 2003). originria de fitoplnctons do oceano, funcionando,
a princpio, como filtro solar, pois absorve a radiao ultra-violeta ou como um sinal fotoqumico (HOLICK,
2003).
Possuem uma estrutura esteride, variando de acordo com a origem do composto. Os tecidos vegetais
produzem o ergocalciferol (vitamina D2) e os tecidos animais, o colecalciferol (vitamina D3), diferindo-se na
estrutura devido apenas presena de uma insaturao no carbono 22 do ergocalciferol (Figura 8.2). Para
117
realizao de suas funes biolgicas, necessrio que a vitamina D se transforme em sua forma ativa, atravs
de hidroxilaes no rim e no fgado (PINTO; PENTEADO, 2003).
8.3.2.2. Metabolismo
Assim como a vitamina A, a vitamina D aps a ingesto solubilizada nas micelas emulsificadas pela
bile, para absoro com uma eficincia entre 55-99%, sendo o transporte na circulao linftica por meio dos
quilomicrons. Na circulao sangnea, tanto a vitamina quanto seus metablitos so transportados por uma
protena ligadora de vitamina D, que leva o composto aos tecidos-alvo. Os tecidos adiposo e muscular
esqueltico constituem os principais estoques da vitamina.
A vitamina D proveniente da dieta e sintetizada na pele transportada ao fgado e sofre a ao da
enzima 25-hidroxilase, que adiciona ao carbono 25 da molcula um oxignio, formando o 25-hidroxivitamina
D ou calcidiol, uma forma inativa da vitamina. Esse metablito a principal forma circulante da vitamina,
sendo seus nveis parmetros para avaliao da concentrao de vitamina D no organismo.
Nos rins, o calcidiol sofre ao de outras duas hidrolases formando os metablitos 1,25-
dihidroxivitamina D ou calcitriol e a 24,25-hidroxivitamina D. O calcitriol considerado a forma ativa da
vitamina, responsvel por suas funes no organismo. A 24,25-hidroxivitamina D tem ao na via de
desintoxicao da vitamina D e supresso do hormnio paratireoidiano.
A produo de calcitriol regulada de acordo com a necessidade de clcio no organismo, sendo
influenciada pelos nveis de clcio, fsforo e paratormmio plasmticos. A principal via de excreo da
vitamina D a fecal, com o auxlio dos cidos biliares.
8.3.2.3. Funes
As principais funes da vitamina D no organismo humano esto relacionadas ao metabolismo dos
minerais, clcio e fsforo, contribuindo, assim, para a mineralizao ssea, sustentao das funes
neuromusculares e os processos celulares dependentes desses minerais.
118
Nos intestinos, a vitamina D responsvel pela induo da sntese de protenas, como a calbindina,
responsvel pela absoro intestinal de clcio, e estimula o transporte ativo de fosfato. No paratormnio
(PTH), mobiliza os estoques de clcio dos ossos para a manuteno dos nveis plasmticos adequados do
mineral, assim como possui influncia na reabsoro do mineral, mobilizando tambm o fosfato do osso para
manter seus nveis plasmticos.
A deficincia da vitamina D pode levar ao raquitismo em crianas, ossos amolecidos e sujeitos
deformidades, e osteomalcia em adultos, quadro clnico em que os ossos e dentes ficam enfraquecidos mais
suscetveis a fraturas.
Por estar intimamente ligada ao metabolismo sseo, a vitamina D usada no tratamento da
osteoporose, alm de ser fundamental para o crescimento e desenvolvimento infantil.
Preveno de Doenas
Estudos utilizando modelo animal (camundongos), evidenciam que a vitamina D pode prevenir o
desenvolvimento de doenas auto-imunes, como o DM tipo 1. Sua ao est ligada a receptores nucleares de
vitamina D, fator transcricional, em clulas do sistema imune e em clulas das ilhotas do pncreas.
GIARRATANA et al. (2004) em estudo in vivo (modelo animal) e in vitro (cultura de clulas pancreticas
humanas), utilizando um anlogo da vitamina D (BXL-219), observaram reduo no desenvolvimento do DM
tipo 1 (auto-imune) por retardar a progresso da resposta inflamatria s ilhotas, diminuindo a produo de
quimiocinas pr-inflamatrias, inibindo a infiltrao de lifcitos B no tecido pancretico via inibio da
expresso de TRL (molculas de superfcie que reconhecem diferentes estruturas patognicas, induzindo a uma
resposta inflamatria).
A ativao dos receptores de vitamina D est ligada inibio de genes relacionados produo de
interleucinas pr-inflamatrias (IL-2, IL-4 e IL-12), fator de necrose tumoral- (TNF- ) e interferon-
(JONES et al., 1998). O polimorfismo desse receptor est ligado ao desenvolvimento do DM tipo 1. A
alterao de um simples nucleotdeo no gene de expresso do receptor poderia aumentar o risco de
desenvolvimento da doena. Porm, NEJENTSEV et al. (2004) verificaram que fatores ambientais, como a
ingesto de vitamina D, sejam na dieta ou via suplementao, exercem maior influncia no desenvolvimento
de DM tipo 1 que a alterao gentica mais comum do receptor, em populao do Reino Unido, Finlndia
(TURPEINEN et al., 2003), Noruega, Romnia e Estados Unidos. Resultado semelhante ao encontrado para as
populaes alem e indiana, onde houve associao positiva entre o receptor nuclear de vitamina D e seus
diferentes alelos e a suscetibilidade de desenvolvimento de DM tipo 1 (PANI et al., 2000; McDERMOTT et
al.,1997).
Em indivduos com insuficincia renal, a suplementao com vitamina D melhora a secreo de
insulina, resistncia insulina e intolerncia glicose. Porm, o mecanismo pelo qual a vitamina D atua ainda
no est elucidado (BAYNES et al., 1997).
A deficincia de vitamina D est associada a nveis altos de PTH, que em excesso pode reduzir a
tolerncia glicose (PROCPIO; BORRETTA, 2003) e induzir a secreo de citocinas inflamatrias
(MITNICK et al., 2001).
Na ausncia de exposio ao sol, a ingesto de vitamina D deve ser aumentada. Em idosos, cuja
capacidade de sntese de vitamina D ativa est reduzida, recomenda-se ateno nas fontes alimentares dessa
vitamina.
O excesso de ingesto de vitamina D pode levar a toxicidade e efeitos adversos, como a hipercalcemia
e calcificao de tecidos moles.
8.3.2.4. Fontes
A vitamina D3 encontrada em alimentos de origem animal, como peixes gordurosos (salmo,
sardinha, bacalhau e arenque), gema de ovo, fgado, leite e derivados. A vitamina D2, presente em alimentos de
origem vegetal, encontrada predominantemente em leveduras e cogumelos comestveis. Os vegetais so fontes
pobres de vitamina D, sendo que os cereais e as frutas no apresentam essa vitamina.
8.3.3. Vitamina E
8.3.3.1. Histrico, propriedades fsico-qumicas e atividade:
A princpio denominada vitamina da esterilidade, a vitamina E um componente lipoflico essencial
para o organismo. O termo vitamina E designa oito compostos, divididos em duas sries distintas: os
tocoferis e os tocotrienis (Figura 8.3)
119
Dos oito compostos derivados do termo vitamina E, o -tocoferol o que apresenta maior atividade
biolgica. Em sua estrutura, o grupo hidroxila ligado ao anel aromtico possui grande importncia, uma vez
que cumpre a sua funo biolgica e permite a esterificao para a formao do componente comercial.
A diferena entre os compostos se encontra na posio ocupada pelos grupos metil do anel aromtico.
E
A
F
B
C G
D H
A vitamina E sensvel oxidao na presena de oxignio, luz UV, lcalis, ons metlicos (Fe e Cu)
e perxidos lipdicos. Assim, durante o processamento e armazenamento de alimentos ricos dessa vitamina,
podem ocorrer perdas considerveis, resultando na diminuio do valor nutricional dos alimentos.
8.3.3.2. Metabolismo
Os steres tocofers, quando presentes na dieta, so hidrolisados em tocoferis livres, por meio da
ao de enzimas esterases oriundas do pncreas. Aps a emulsificao pelos sais biliares, a vitamina
absorvida, de forma passiva, pelo entercito. No meio intracelular, incorporado aos quilomicrons, que, por
sua vez, so secretados no sistema linftico e, posteriormente, na corrente sangunea.
Durante o catabolismo dos quilomicrons, parte da vitamina E presente na estrutura incorporada a
outras lipoprotenas circulantes, principalmente a lipoprotena de alta densidade (HDL), uma vez que, com a
ao da lpase lipoprotica, o ncleo lipdico se torna menor e o excesso de superfcie transferido para a
HDL. Essa lipoprotena , ento, responsvel pelo transporte e incorporao da vitamina nas outras
lipoprotenas circulantes no plasma, por meio da protena de transferncia de fosfolipdio.
Seus nveis na corrente sangunea so regulados pela protena heptica de transferncia de -
tocoferol, sendo esta tambm responsvel pela incorporao da vitamina nas lipoprotenas nascentes de muito
baixa densidade (VLDLs).
A excreo se d por via fecal, atravs dos sais biliares. Seu local de armazenamento no tecido
adiposo.
8.3.3.3. Funes
Antioxidante
Sendo o melhor antioxidante lipoflico biolgico na defesa contra efeitos nocivos dos radicais livres,
principalmente na proteo dos tecidos musculares contra leses oxidativas, o -tocoferol, forma mais reativa
de vitamina E, absorvido de forma ineficiente pelo intestino, atravs do sistema linftico. As lipases
produzidas pelo pncreas e a bile so necessrias na absoro da forma lipossolvel da vitamina E. steres de
acetato e succinato de -tocoferil so primeiro hidrolisados para produzir -tocoferol.
Preveno de Doenas
H evidncias de que a vitamina E exerce papel importante, modulando a sntese de prostaglandinas e,
como conseqncia, a agregao de plaquetas. Observou-se que, durante o processo de agregao de plaquetas,
h peroxidao de lipdios. Diversos trabalhos demonstraram o efeito protetor da vitamina E como
antioxidante, interrompendo reaes em cadeia na peroxidao lipdica e protegendo os cidos graxos
poliinsaturados das membranas celulares. Demonstraram tambm o seu papel na preveno contra danos
120
oxidativo, atuando ao lado das enzimas antioxidantes catalases, peroxidases e superxido dismutase,
estabilizando membranas e debelando as espcies reativas de oxignio (ROS) contra danos nas bases do DNA,
nas protenas, noscarboidratos e nos lipdios. Outras funes da vitamina E ou seus anlogos, como inibio e
potenciao do metabolismo do cido araquidnico, interaes da vitamina E durante a proliferao e
diferenciao de clulas, seu efeito sob a ativao do NF-kB e ativao da protena quinase C, so tambm
relatadas em alguns dos estudos, com a finalidade de demonstrar o importante papel dessa vitamina no
organismo de animais e humanos.
O efeito do tocoferol na preveno de hipercolesterolemia e arteriosclerose ainda controverso.
Variaes no contedo de -tocoferol de LDL e no contedo de cidos graxos poliinsaturados, perxidos pr-
formados, relao protena-colesterol, so algumas das indagaes quanto resistncia oxidao da LDL.
ESTERBAUER et al. (1997), relataram que a ubiquinol-10 seja mais eficiente na inibio da oxidao da LDL
do que o -tocoferol. A concentrao do ubiquinol-10 em LDL 10 vezes menor, em relao concentrao
do tocoferol, sendo duvidoso que tais concentraes to baixas contribuam na extenso da fase lag na oxidao
da LDL.
8.3.3.4. Recomendaes
Em 1968, a vitamina E foi oficialmente considerado um nutriente essencial, sendo estabelecido
primeira recomendao de 30 UI por dia para um homem adulto. Contudo, aps estudos experimentais e
clnicos, as recomendaes foram revisadas e os valores passaram a ser expressos em equivalentes de -
tocoferol (-TE), em que 1mg de -TE igual a 1 mg do ismero RRR--tocoferol. Os demais ismeros
devem ser convertidos, multiplicando-se as miligramas de cada ismero pelo fator de atividade relativo (RRR-
-tocoferol por 0,5 e RRR--tocoferol por 0,1). Em UI, o fator de converso de 1,49 UI/1 mg -TE.
A deficincia da vitamina E pode causar disfunes neurolgicas, miopatias e atividade plaquetria
anormal. Em recm-nascidos prematuros, causa anemia hemoltica devido ao aumento da sensibilidade de
membranas celulares e ao estresse oxidativo. Geralmente, a causa da deficincia envolve alteraes no
metabolismo lipdico, na fase absortiva ou de transporte em lipoprotenas. Em recente pesquisa, os autores
relataram que a dose mnima de 400 UI de vitamina E por dia em indivduos sadios produz aumento
significativo na resistncia de oxidao da LDL. Desse modo, uma nica dose com quantidade 10 vezes maior
que o recomendado diariamente para adultos dispensaria a suplementao pela dieta.
Na suplementao com a vitamina E, observa-se o efeito benfico do antioxidante sob a ao da
insulina e diminuio da relao glutationa reduzida/glutationa oxidada, indicando melhor proteo contra
estresse oxidativo.
8.3.3.5. Fontes
A vitamina E, apesar de ser sintetizada apenas por vegetais, tendo, assim, os leos vegetais como
principal fonte, est difundida em alimentos de origem animal, como ovos, leite e fgado.
Antioxidantes de vitaminas
Apesar de no haver razes tericas para suplementao de antioxidantes (vitamina E, vitamina C,
beta-caroteno) em diabticos, h pouca evidncia sobre seus benefcios.
De acordo com a avaliao do Instituto de Medicina dos Estados Unidos, o consumo de megadoses de
antioxidantes dietticos, como as vitaminas C, E ou mesmo os precursores da vitamina A, os -caroteno ou
outros carotenides, no protegem contra doenas cardiovasculares, DM e cncer, como tambm no existe
comprovao quanto proteo contra deficincias nutricionais.
Os pacientes que necessitam de reposio adicional so aqueles com maior risco de deficincia, como
vegetarianos estritos, idosos, gestantes, lactentes e pacientes crticos, alm daqueles que usam medicamentos
que alteram o metabolismo de micronutrientes.
8.3.4. Vitamina K
8.3.4.1. Histrico, propriedades fsico-qumicas e atividade
A vitamina K foi descoberta por DAM, em 1935, como fator anti-hemorrgico, presente nas
gorduras e essencial ao organismo. O termo vitamina K designa uma srie de compostos com atividades anti-
hemorrgicas derivadas da naftoquinona. As filoquinonas esto presentes em alimentos vegetais verdes e as
menaquinonas, como resultado do metabolismo bacteriano nos intestinos. O composto sinttico menadiona
possui atividade duas vezes maior que os compostos naturais, devido sua estrutura, quando o organismo
insere a cadeia lateral para a utilizao como vitamina (Figura 8.4). Essa vitamina sensvel a luz e lcalis,
porm resiste a oxidao pelo calor.
121
A
8.3.4.2. Metabolismo
Como as demais vitaminas lipossolveis a vitamina K necessita da emulsificao da bile para sua
absoro, cujo stio se d na poro superior do intestino delgado. A eficincia de absoro varia de acordo
com a fonte alimentar, oscilando entre 10-80%.
Dos quilomicrons, a vitamina K transferida para o tecido heptico esplnico e sseo. O fgado o
principal local de armazenamento da filoquinona, sendo esta transportada no plasma, principalmente atravs da
VLDL, que representa 50% da vitamina K plasmtica.
A excreo da vitamina se d, sobretudo, por via fecal, sendo, contudo, 30% por vias urinrias.
8.3.4.3. Funes
Sntese de Protenas e Fatores da Cascata de Coagulao
Sete protenas da cascata de coagulao so dependentes da vitamina K, sendo trs pr-enzimas e
quatro fatores do ncleo de coagulao (II, VII, IX e X). Aparentemente, um precursor da protena
protrombina est constantemente sendo produzido pelo fgado, porm a etapa pela qual esse precursor
convertido em protrombina ativa dependente de vitamina K.
8.3.4.4. Recomendaes:
A vitamina K existe em quantidades abundantes na dieta usual, alm de ser sintetizada por bactrias
intestinais. Contudo, as bactrias intestinais no so capazes de produzir quantidade de menaquinona
necessria ao organismo, sendo, assim, necessrio o consumo dessa substncia na dieta.
A deficincia em humanos, exceto recm-nascidos, rara, geralmente decorrente da alterao na
absoro de lipdios ou crescimento da microflora intestinal comprometida pelo uso de antibiticos. A
principal manifestao e evidncia clnica da deficincia da vitamina um aumento no tempo de coagulao,
evidenciando a hipoprotombinemia. O quadro pode levar hemorragias e, em casos extremos ocasionar
anemia fatal.
122
Os neonatos esto mais suscetveis deficincia identificada como doena hemorrgica do recm-
nascido, que se deve falha no estabelecimento da microflora intestinal e baixa transferncia placentria da
vitamina. Porm recomenda-se o uso de uma dose profiltica da vitamina via intramuscular aps o parto.
Os efeitos adversos relacionados ao excesso da vitamina K so raros, porm as doses excessivas
podem causar anemia hemoltica em ratos e ictercia grave em bebs.
8.3.4.5. Fontes
Amplamente distribuda nos alimentos, a filoquinona tem origem vegetal e encontrada em vegetais
verdes como brcolis, espinafre e repolho, e em leos vegetais como canola, oliva e soja. Seu contedo
aumenta com o tempo de maturao e condies de cultivo. Menaquinonas so encontrados em carnes, peixes
e produtos lcteos, alimentos que possuem baixo teor de filoquinona.
Quadro 8.1 - Principais funes das vitaminas do complexo B no metabolismo e suas fontes alimentares:
123
cido Na forma de coenzima A, atua como um ativador energtico Ovo e levedura.
Pantotnico do grupamento acetil derivado do metabolismo de acares,
participando do ciclo de Krebs, como protena carreadora do
grupo acil (ACP), participando de cidos graxos de cadeia
longa, e como um antioxidante envolvido no funcionamento
adequado dos linfcitos B.
Vitamina B6 Coenzima de mais de 100 reaes do metabolismo de Levedura, cereais
aminocidos. Sendo algumas enzimas do metabolismo de integrais, fgado e
carboidratos dependentes dessa vitamina, como a glicognio- carne de frango.
fosforilase.
Biotina Carreador do grupo carboxil, de diversas enzimas, entre elas as Vsceras, leite,
carboxilases. aveia e arroz
integral.
Vitamina B12 Participa do metabolismo de carboidratos por atuar como Carnes, leite e
coenzima em diversas rotas metablicas, como o metabolismo derivados e
do proprionato, metilao da homocistena e formao da mariscos
metionina e degradao inicial de aminocidos.
8.4.1.2.2. Metabolismo
O mecanismo de absoro da tiamina no est completamente elucidado. Sabe-se que em baixos
teores ela absorvida por processo ativo saturvel dependente de Na++. Quando a ingesto oral excede os 5
mg/dia, o transporte intestinal feito por meio da difuso facilitada. O principal local de absoro o duodeno.
A tiamina prontamente absorvida em meio cido no duodeno proximal e, em algum grau, no duodeno distal.
124
No entercito, a tiamina fosforilada a Tiaminapirofostato (TPP). Para o transporte na corrente
sangnea, o TPP desfosforilado por fosforilases mitocondriais. No plasma, a tiamina livre ligada
albumina e transportada para os tecidos.
No armazenada em grande quantidade no organismo e, conseqentemente, necessita ser fornecida
diariamente. excretada na urina em quantidades que refletem a ingesto e a quantidade armazenada. As
gorduras e as protenas poupam tiamina, enquanto uma ingesto grande de carboidrato aumenta a necessidade
de tiamina.
Alguns microrganismos presentes no trato intestinal podem sintetizar a tiamina, mas a quantidade
sintetizada insuficiente para suprir as necessidades dirias.
Observao: O consumo de etanol leva inativao do transporte ativo da vitamina, deixando o indivduo
mais suscetvel ao desenvolvimento de uma deficincia vitamnica.
8.4.1.2.3. Funo
A tiamina combina-se com o fsforo para formar a coenzima TiaminaPirofosfato (TPP) que funciona
como uma carboxilase. A TPP necessria para a descarboxilao oxidativa de -cetocidos a aldedos
(metabolismo dos carboidratos). A descarboxilao oxidativa do piruvato e -cetoglutarato desempenha um
papel-chave no metabolismo energtico da maioria das clulas. Envolvida na transmisso de impulsos
nervosos, pode atuar como bloqueadora do canal de potssio em clulas neurais. Na deficincia de tiamina, a
produo de ATP prejudicada com concomitante diminuio da funo celular.
8.4.1.2.3. Recomendaes
A deficincia de tiamina ocorre, mais freqentemente, em reas onde a alimentao bsica consiste de
arroz ou de farinha refinada. Tambm, aparecem com uma ingesto baixa de tiamina as populaes que tm
hbito de comer peixes crs, que contm em seu trato gastrointestinal microrganismos que sintetizam a
tiaminase, enzima que quebra a tiamina.
A deficincia acentuada de tiamina causa o beribri. H trs tipos de beribri: o seco ou neurtico, o
beribri mido ou dermatoso e o beribri infantil ou agudo. No beribri seco, o incio lento, e o sintoma mais
importante a fraqueza progressiva dos msculos que so mais utilizados, como dos braos, pernas e coxas.
So comuns os sintomas de perda de apetite, fadiga, paralisia e insuficincia cardaca. Ocorre, principalmente,
em alcolatras, devido baixa ingesto, m-absoro ou fosforilao defeituosa. No beribri mido, o
quadro se agrava porque, alm dos distrbios do sistema nervoso perifrico, ocorrem manifestaes
cardiovasculares e edema, podendo mascarar a atrofia muscular. O beribri infantil existe em partes do
Oriente, onde constitui importante causa de mortalidade infantil. Os lactentes alimentados com o leite materno,
cujas mes se alimentam, na maior parte das vezes, com o arroz polido e demonstram deficincia de tiamina,
podem tambm desenvolver o beribri infantil.
Nos EUA, a deficincia de tiamina observada primariamente em associao com o alcoolismo
crnico, sendo devida insuficincia diettica ou absoro intestinal diminuda da vitamina. Alguns
alcolatras desenvolvem a sndrome de Wernicke-Korsakoff, um estado de deficincia caracterizado por
apatia, perda de memria e um movimento rtmico dos globos oculares.
8.4.1.2.4.Fonte
A tiamina encontrada em uma grande variedade de alimentos, mas em quantidade relativamente
baixa, estando presente em todos os tecidos animais e vegetais.
Fontes ricas incluem: leveduras, grmen de trigo, cereais integrais, castanhas e carne de porco magra
fresca. O fgado e outras vsceras, aves, carnes magras, peixes, gema de ovo, ervilhas, feijes secos, soja e
amendoim so tambm fontes excelentes da tiamina. O leite contm quantidades relativamente baixas dessa
vitamina.
A suplementao com a vitamina B6 pode ter influncia positiva sobre as retinopatias e neuropatias
tpicas do diabetes. Esse efeito se deve capacidade inibidora da vitamina e formao de espcies altamente
glicosiladas, bem como produtos da lipoxidao. O tratamento em modelo experimental com a vitamina B6
previne as modificaes patolgicas que iro culminar nas retinopatias dos indivduos diabticos.
Em 1920, o pesquisador Emmett, destruindo o fator neurtico (vitamina B1) de extratos de levedura
pelo aquecimento, demonstrou a existncia de um fator remanescente que podia promover o crescimento. Esse
fator foi designado vitamina B2. Em pesquisas posteriores, ela foi isolada do leite (pigmento amarelo
esverdeado) e da clara do ovo.
125
A riboflavina pertence a um grupo de pigmentos fluorescentes amarelos denominados flavinas. O anel
da flavina liga-se a um lcool relacionado ribose. As duas formas biologicamente ativas so a Flavina
Mononucleotdeo (FMN) e a Flavina Adenina Dinucleotdeo (FAD), formadas pela transferncia de um AMP
do ATP a FMN. A FMN e FAD so capazes de aceitar, reversivelmente, dois tomos de hidrognio, formando
a FMNH2 ou FADH2. A FMN e FAD esto ligadas fortemente, algumas vezes co-valentemente, a
flavoenzimas, que catalisam a oxidao ou reduo de um substrato.
A tiamina estvel ao calor, oxidao e aos cidos, mas desintegra na presena de lcalis ou luz,
especialmente ultra-violeta. Devido estabilidade ao calor e a hidrossolubilidade limitadas, muito pouco
perdido no cozimento e processamento de alimentos. Todavia, por ser sensvel ao pH>7,0, a adio de
bicarbonato de sdio para amaciar ervilhas secas ou feijes para um cozimento mais rpido destri grande
parte da riboflavina. O sol, secando frutas e vegetais, como utilizado em alguns pases, tambm pode causar
uma destruio considervel do contedo da riboflavina.
8.4.1.3.2. Metabolismo
As formas FAD e FMN so liberadas devido ao baixo pH estomacal, uma vez que esto ligadas
protenas. No intestino delgado sofrem ao de enzimas e so liberadas para absoro no leo superior. Estudos
tm demonstrado a existncia de duplo mecanismo de absoro, contudo a principal via o transporte ativo de
sdio dependente.
No entercito, a riboflavina sofre fosforilao por meio da ao da flavoquinase, sendo transformada
em FMN, e transportada ao fgado via sistema porta ligada albumina plasmtica. No fgado ocorre a
transformao da FMN em FAD, que representa a principal forma de armazenamento da vitamina (70-90%).
A biodisponibilidade da vitamina B2 , muitas vezes, comprometida devido sua baixa solubilidade
em gua, sendo os sais biliares um importante fator que contribui para a absoro de riboflavina, alm da
difcil liberao da matriz alimentar e da natureza saturvel do processo de transporte ativo.
A excreo da vitamina via urinria, na forma de glicosdeo (provenientes do metabolismo heptico
da riboflavina). Ocorre pela combinao entre filtrao glomerular, secreo e reabsoro tubular e degradao
bacteriana.
a. 8.4.1.3.3. Funo
Importante no metabolismo dos carboidratos, lipdios e protenas, por participar do sistema de
oxirreduo e transporte de eltrons. Ela essencial na sntese de coenzimas com funo nas reaes de
oxirreduo, envolvidas no catabolismo da glicose, cidos graxos , corpos cetnicos e aminocidos. A
riboflavina combina com o cido fosfrico, nos tecidos, para tornar-se parte da estrutura de duas flavinas
coenzimas (FMN e FAD), que so grupos prostticos das flavoprotenas, enzimas que catalisam as reaes de
oxirreduo nas clulas, como transportadores de hidrognio na cadeia respiratria.
Acredita-se que a riboflavina tenha mltiplas funes na produo de corticosterides, na formao de
hemceas, na gliconeognese e no crescimento celular.
Est tambm envolvida na ativao da vitamina B6 (Piridoxina).
b. 8.4.1.3.4. Recomendaes
A deficincia de riboflavina no ocorre isoladamente, mas em conjugao com deficincias de outras
vitaminas do complexo B. Os sintomas de deficincia incluem: dermatite, glossite, queilose, estomatite, dor de
garganta, edema e hiperemia na orofaringe.
A toxicidade ainda controversa, uma vez que os nveis plasmticos so mantidos por um processo
saturvel. O efeito do excesso de vitamina est associado a alteraes no eletrocardiograma.
126
8.4.1.4.2. Metabolismo
A absoro realizada por difuso facilitada em todas as pores do trato intestinal, sendo
pobremente armazenada no organismo. Os excessos so eliminados via urinria.
A niacina facilmente absorvida pelo intestino e covertida em NAD (nicotinamida adenina
dinucleotdeo) e NADP (nicotinamida adenina dinucleotdeo fosfato) no fgado.
A absoro do cido nicotnico e da nicotinamida rpida e em baixas concentraes mediada por
difuso facilitada dependente de Na+. Em altas concentraes, a difuso passiva predomina. As glico-
hidrolases no fgado e no intestino catalisam a converso da nicotinamida em NAD. A nicotinamida
transportada para os tecidos para ser usada na sntese de NAD quando necessrio.
8.4.1.4.3. Funo
Essa vitamina funciona metabolicamente como componente das coenzimas NAD e NADP, s quais
podem aceitar eltrons de muitos substratos biolgicos:
Substrato reduzido + NAD+ substrato oxidado + NADH + H+
Substrato reduzido + NADP+ substrato oxidado + NADPH+ H+
Dessa forma, essas coenzimas tm importantes funes de xido reduo em todo o organismo,
participando de reaes essenciais para a vida: sntese de fosfatos ricos em energia, gliclise, metabolismo de
piruvato, biossntese de pentoses, metabolismo de glicerol e cidos graxos e obteno da energia a partir de
protenas.
8.4.1.4.4. Recomendaes
Entre os vrios sintomas da deficincia de niacina, podem-se citar: fraqueza muscular, anorexia,
ingesto e erupo cutnea. Ao mesmo tempo ocorre diminuio das coenzimas NAD e NADP.
A deficincia grave de niacina leva pelagra, caracterizada por dermatite, demncia e diarria (os trs
D) , tremores e lngua amarga.O quadro clnico inclui o aparecimento de leses dermatolgicas em reas de
exposio ao sol (face, pescoo, dorso dos braos, mos e ps). A dermatite tpica da doena , geralmente,
precedida pelas alteraes intestinais e acomete, inicialmente, o dorso das mos. A leso eritematosa,
pruriginosa no incio, hiperpigmentada e com descamao grosseira. caracterstica simtrica e bilateral, em
forma de luva nos membros superiores e bota nos membros inferiores. A leso no pescoo atinge as
regies lateral e anterior, s vezes prolongando-se ao longo do esterno (colar de casal/outros locais s vezes
comprometidos so cotovelos, joelhos, locais comuns de traumatismos). As leses do trato grastrointestinal
podem incluir glossite e estomatite. Diarria uma manifestao freqente com evacuaes lquidas e de
pequeno volume. Perturbaes mentais tambm esto presentes.
Pacientes alcoolistas e com sndrome de m-absoro so altamente suscetveis pelagra.
Altas doses de niacina tambm podem ser prejudiciais, levando sensao de formigamento e
enrubescimento da pele e ao latejamento devido ao vasodilatadora. Tambm, pode interferir no
metabolismo de metionina.
8.4.1.4.5. Fontes
Carnes magras, vsceras, levedura de cerveja, amendoim, aves e peixes so boas fontes de niacina. Ao
passo que leites e ovos no o so, mas sim fontes de excelentes de triptofano. As bactrias do trato
gastrointestinal podem sintetizar niacina, embora a contribuio no seja muito bem conhecida.
127
O cido pantotnico outro grupo do complexo B reconhecido primeiramente, como essencial para
ratos, cachorros, porcos, pombos e galinhas. A sntese completa do cido foi descrita como causa de
emagrecimento, perda e embranquecimento de cabelo em animais escuros, lcera do trato intestinal e
danificao de diversos rgos internos.
Apresenta como um composto branco, cristalino e de sabor amargo, sendo facilmente decomposto por
cidos ou bases. razoavelmente estvel durante o cozimento e o armazenamento, porm podem ocorrer
perdas durante o processamento e o refino de alimentos.
8.4.1.5.2 Metabolismo
O cido pantotnico incorporado a coenzima A hidrolisado no intestino at a forma de pantetena,
processo que ocorre por meio da ao das enzimas pirofosfatase e fosfatase. A pantetena , ento, hidrolisada,
dando origem ao cido pantotnico e ao -mercaptoetilamina, ainda no lmen intestinal. Por meio da ao de
transportadores especficos da vitamina, o cido pantotnico absorvido independentemente da sua quantidade
na dieta e facilmente absorvido no trato gastrointestinal, assim com sua forma alcolica, o pantotenol. Sua
maior via de eliminao a urinria. No se tm relatos da deficincia nem de efeitos txicos
8.4.1.5.3. Funes
O cido pantotnico parte da coenzima A, que tem papel bsico no metabolismo de glicdios e
protenas e na liberao de energia dos carboidratos. Est envolvido na sntese de aminocidos, cidos graxos,
colesterol, fosfolipdeos e hormnios esterides. tambm essencial para a formao de porfirina, a poro
pigmentar da molcula de hemoglobina.
8.4.1.5.4. Recomendaes
Acredita-se que a ingesto diria de cido pantotnico na alimentao normal no permita a
ocorrncia de deficincias. Pode-se dizer que a ingesto diria adequada seja em torno de 4 a 7 mg/dia (NRC,
1989).
8.4.1.5.5. Fontes:
A palavra pantotnico significa espalhamento, indicando que a distribuio dessa vitamina muito
extensa. Dados sobre teores de cido pantotnico nos alimentos so limitados em nmero. Levedura, fgado,
rim, corao, salmo e ovos so as suas melhores fontes, seguidos de brcolis, couve-flor, cogumelos, carne de
porco, lngua de boi, amendoins, trigo, centeio e farinha de soja. Cerca da metade do cido pantotnico perde-
se durante a moagem dos gros, o que constitui prejuzo na dieta normal. As frutas so relativamente pobres
dessa vitamina.
8.4.1.6.2. Metabolismo
As diversas formas de vitamina B6 sofrem desfosforilao pela ao das enzimas fosfatases alcalinas e
so facilmente absorvidas no jejuno, por meio de transporte passivo. So transportadas ao fgado, onde sofrem
fosforilao, sendo parte utilizada pelo hepatcito em suas diversas reaes enzimticas e parte transportada da
circulao ligada albumina plasmtica. Antes de ser captada nos tecidos perifricos, sofre nova
desfosforilao e, no meio intracelular, novamente fosforilada para a execuo de suas funes (Figura 8.5).
Para o metabolismo da vitamina B6, necessrio a participao da vitamina B2. O principal tecido de
armazenamento da vitamina o tecido muscular esqueltico.
128
B6
Fosfatase alcalina
PN e PNP PL PLP
PM e PLP
PN e PMP
PM
Desfosforilao
A vitamina B6 exerce papel essencial em vrios dos processos bioqumicos, atravs dos quais os alimentos
so metabolizados no organismo. Essa vitamina B6 encontrada nas clulas na forma ativa piridoxal-fosfato
(PLP), uma forma essa que age no metabolismo de protenas, gorduras e carboidratos. Porm, sua funo
primria como coenzima para diversas reaes qumicas relacionada ao metabolismo das protenas. O
piridoxal-fosfato age nas reaes envolvidas na degradao no-oxidativa de aminocidos, a saber:
8.4.1.6.3. Recomendaes
A deficincia primria no comum devido grande distribuio da vitamina em alimentos.
Estudos experimentais em ratos demonstraram que a deficincia dessa vitamina leva a dermatite,
diminuio do crescimento, esteatose heptica, anemia e decrscimo de resposta imune, dentre outros.
A deficincia da vitamina B6 pode levar maior exceo urinria de oxalato, o que resulta em maior
ocorrncia de clculos renais. A deficincia grave pode levar a anormalidades no sistema nervoso central.
Os sintomas clssicos de deficincia so: a dermatite seborrica, anemia microctica (como reflexo da
diminuio da sntese de hemoglobina), convulses epilpticas, depresso e confuses. Mais recentemente,
aumentou-se o interesse no papel dessa vitamina na diminuio da homocistena circulante, um fator de risco
para doenas vasculares.
Certos defeitos metablicos respondem ingesto de altos teores de piridoxina. Alguns recm-
nascidos com crises convulsivas responderam ao tratamento com grandes doses de vitamina B6 (2 g/dia). Em
adultos, uma anemia hipocrnica ocasionalmente encontrada com reservas normais de ferro. Tais casos
respondem ao tratamento com piridoxina, por isso parece existir uma anormalidade na sntese de heme,
envolvendo uma coenzima B6.
A necessidade de vitamina B6 complicada, pois influenciada pela quantidade de protena na dieta:
quando a ingesto de protena mais elevada, a necessidade de vitamina B6 maior.
129
8.4.1.6.4. Fontes
As melhores: amendoim, gema de ovo, banana, abacate, carnes, fgado, nozes e cereais de gro
integral.
Essa vitamina amplamente distribuda entre os alimentos de origem animal e vegetal.
8.4.1.7.2. Metabolismo
A biotina diettica existe na forma livre e ligada. Quando ligada biotina digerida no trato
gastrointestinal em forma de biocitina. Os mecanismos de absoro no intestino ainda no esto bem
elucidados, estudos evidenciam que o transporte de biotina no intestino saturado na presena de um gradiente
de Na+, mas linear na presena de um gradiente colina. Sendo predominantes o transporte saturado na regio
proximal do intestino e o transporte linear na poro distal.
No plasma, parte da biotina circulante est ligada protena plasmtica denominada biotinidase.
A principal via de excreo a urinria.
8.4.1.7.3. Funes
A biotina tem uma funo essencial como coenzima na fixao de CO2; a sntese de cido graxo, por
exemplo, necessita de uma enzima contendo biotina (a acetil-CoA carboxilase) para formar a malonil-
coenzima A, a partir da acetil- coenzima A.
O papel da biotina no metabolismo de protena e glicdios menos claro, e a sua relao com a sntese
de RNA necessita de elucidaes posteriores. Acredita-se que a biotina pode ser essencial para o crescimento
celular, homeostase da glicose e para a sntese de DNA, estando mais relacionadas s carboxilases (enzimas
dependentes da biotina) do que prpria biotina. Esta est relacionada ao metabolismo da vitamina B12 e do
cido pantotnico.
A deficincia de biotina resulta em fadiga, anorexia, depresso, mal-estar, dores musculares, nuseas,
anemia, hipercolesterolemia e alteraes no eletrocardiograma.
A suplementao com biotina parece atuar no tratamento da acne e da seborria, no sendo comum a
deficincia em humanos, mas em animais caracterstico ocorrer uma dermatite.
Sinais de deficincia incluem dermatite, anorexia, glossite, hipercolesterolemia, dores musculares,
depresso e anormalidades cardacas.
8.4.1.7.4. Recomendaes
A maior parte da dieta dos norte-americanos contm cerca de 150 a 3.000 g de biotina/dia, o que
inteiramente adequado para uma boa sade. A sntese pela microflora intestinal parece fornecer a maior fonte
dessa vitamina. Acredita-se que uma ingesto entre 30 e 100 g por dia dessa vitamina adequada para o ser
humano (NRC, 1989).
8.4.1.7.5. Fontes:
Uma das melhores fontes de biotina o leite (humano e de vaca). Sabe-se que ela abundante no
fgado e outras vsceras, nos cogumelos e nos amendoins, nos ovos (gema) e em certas frutas e vegetais.
largamente fornecida pela sntese bacteriana no trato intestinal.
130
Biotina e Diabetes Mellitus
O estado nutricional da biotina est comprometido no DM. Em estudos epidemiolgicos, observou-se
relao inversa entre os nveis da vitamina no plasma e o diagnstico de DM e glicemia ps-prandial
(MAEBASHI et al., 1993). Em estudos experimentais, verificou-se que a deficincia de biotina est ligada
reduo da tolerncia a glicose e a sua utilizao pelo organismo (DEODHAE; MISTRY, 1970). Assim, a
recuperao do estado nutricional da biotina poderia melhorar as anormalidades do DM, como a reduo da
glicemia e melhora da tolerncia glicose (KOUSTIKOS et al., 1996; REDDI et al., 1988; ZHANG et al.,
1996).
A biotina parece ativar genes envolvidos no metabolismo e homeostase da glicose, entre eles o gene
que codifica uma glicoquinase pancretica e heptica, que regula a secreo de insulina pelas clulas em
resposta glicemia. Entretanto, tambm induz a reduo da expresso gnica de fosfoenolpiruvato
carboxiquinase, enzima essencial para a gliconeognese (DAKSHINAMURTI; LI, 1994; BEZ-SALDAA
et al., 2004).
8.4.1.8.2. Metabolismo
O cido flico pode ser absorvido ao longo do intestino delgado; entretanto, h evidncias de que o
jejuno o local primrio de absoro ativa. Alm da absoro dependente de energia, o folato tambm parece
ser absorvido por difuso passiva. A maior parte da vitamina aparece na dieta sob a forma de poliglutamato.
Antes de ser absorvido, o excesso de glutamato da cadeia lateral da molcula removido por conjugases
encontradas no lmen intestinal ou clulas epiteliais. A absoro de cido flico , portanto, controlada pelo
mecanismo desconjugante, o qual, por sua vez, pode ser afetado por inibidores de conjugases em alimentos,
i.e., leveduras. A taxa de absoro de folatos conjugados parece estar relacionada ao tamanho de cadeia.
O folato, ligado protena, transportado no sangue at as clulas da molcula ssea, reticulcitos e
talvez outras clulas. O metilfolato parece ser a forma principal da vitamina em tecidos sseos. Cerca da
metade do cido flico armazenado no organismo est no fgado. Algum folato excretado na bile, assim
como na urina. Nveis sorolgicos de folacina so encontrados numa faixa de 7 a 16 nanogramas (1ng = 10-9
grama) por ml de soro.
As questes de deficincias primrias e secundrias de cido flico foram levantadas. No caso da
ltima, possveis causas numerosas foram citadas: falhas na absoro de folato alimentar; excreo urinria
aumentada de cido flico; maior destruio de folato; interferncia na sntese ou ativao de enzimas
necessrias para utilizao do folato; e produo de antifolatos.
8.4.1.8.3. Funes
A funo metablica mais importante dos fatos agir como coenzimas que transportam fragmentos de
um carbono em reaes do metabolismo dos aminocidos e na sntese de purinas e pirimidinas dos cidos
nuclicos (DNA e RNA).
O aminocido histidina necessita de cido flico para sua utilizao completa. Quando o cido flico
no disponvel, um produto intermedirio, o cido forminoglutmico (FIGLU) excretado na urina. Nveis
de excreo de FIGLU podem, portanto, ser usados para determinar o estado nutricional do cido flico.
A deficincia do cido flico produz defeitos na reproduo celular e alteraes na sntese de
protenas. Esses efeitos se tornam mais evidentes em tecidos de crescimento rpido. Resulta em anemias
megaloblsticas (reduo no nmero de glbulos vermelhos sendo estes imaturos e de tamanho maior que o
normal), glossites e distrbios gastrointestinais. Por causa da interdependncia das vitaminas B12, B6, cido
ascrbico e cido flico, a anemia encontrada nessas deficincias pode ser similar e responder a tratamento
com um ou vrios desses nutrientes. Deve-se dizer, entretanto, que o tipo de anemia perniciosa pode melhorar
com o cido flico, mas somente a vitamina B12 cura os sintomas neurolgicos.
Os grupos populacionais de mais alto risco incluem os adolescentes, mulheres grvidas, pessoas que
consomem muita bebida alcolica e pessoas idosas.
131
Entre mulheres em idade frtil, a complementao alimentar com cido flico, a partir de trs meses
antes da concepo at as primeiras seis a 12 semanas de gestao, pode prevenir anormalidades no feto
conhecidas como defeitos do tubo neural (DTN), incluindo anencefalia (crebro incompleto ou ausente),
encefalocele e espinha bfida.
J foi demonstrado que a complementao de cido flico pode reduzir o risco de certas enfermidades
cardiovasculares, por meio da reduo da homocistena no sangue.
A maior parte dos alimentos no rica em folatos, o que dificulta o aumento de seu consumo. O
folato contido nos alimentos apresenta-se na estrutura qumica como tetraidrofolato reduzido, que suscetvel
a rompimento por oxidao. Alm disso, esse folato est ligado a uma cadeia de cidos glutmicos que deve
ser eliminada antes que o intestino absorva a vitamina atravs da hidrolise enzimtica. bem provvel que
esse desdobramento reduza a biodisponibilidade do folato nos alimentos.
8.4.1.8.4. Recomendaes
Altos nveis devem ser requeridos para minimizar os defeitos no nascimento. As recomendaes para
mulheres de idade precoce, que esto aptas a engravidar, devem ingerir 400 g de folato/dia, derivados de
suplementos e, ou, alimentos fortificados, em adio ingesto normal de folato nos alimentos.
8.4.1.9.2. Metabolismo
A vitamina B12 absorvida atravs de dois mecanismos. O primeiro, provavelmente por difuso,
ocorre ao longo de todo o intestino delgado, sendo importante apenas na presena de quantidades
farmacolgicas de B12. O segundo feito atravs de um mecanismo especifico, que envolve fator intrnseco
(FI), o clcio inico e as clulas da mucosa do leo. A presena de cido clordrico tambm necessria para
quebrar as ligaes peptdicas da vitamina B12.
O fator intrnseco, uma glicoprotena secretada pelas clulas parietais do estmago, liga-se vitamina
B12 e forma um complexo construdo por duas molculas de fator intrnseco e duas vitaminas B12. Esse
complexo (FI + B12) transportado para o leo, onde adere s vilosidades das clulas da mucosa na presena
de clcio inico e num pH acima de 6. Atravs de um mecanismo ainda desconhecido, a vitamina B12
liberada deste complexo dentro do prprio leo, de onde passa para o sangue venoso atravs de eritrcitos.
No fluxo sangneo, a vitamina B12 transportada por duas protenas, a trasncobalamina I e a
transcobalamina II, sendo a ltima mais importante, fisiologicamente.
O armazenamento corpreo de vit B12 substancial, aproximadamente 2 mg, com o fgado contendo
50 a 90% do estoque total da vitamina. Quando necessrio, a vitamina B12 pode ser liberada para a medula
ssea e outros tecidos. Pode levar de 5 a 6 anos para os sintomas da deficincia surgirem aps a restrio do
suprimento corpreo a partir de fontes naturais. Porm, quando h ingesto excessiva a vitamina excretada na
urina.
8.4.1.9.3. Funes
A vitamina B12 um nutriente essencial para todas as clulas do organismo; em sua ausncia o
crescimento de tecidos prejudicado; juntamente com os derivados do cido flico, a vitamina necessria
para a sntese de DNA. Assim, a auscia da vitamina B12 resulta em insuficincia de maturao de ncleo e,
portanto, insuficincia de diviso celular. As clulas eritoblsticas da medula ssea no proliferam
132
normalmente; tornam-se maiores que o normal (megaloblastos). Os macrcitos (hemcias de tamanho maior
que o normal) so assim liberados no sangue perifrico. Embora esses macrcitos de forma irregular possam
transportar oxignio, sua vida mdia reduzida, em conseqncia da fragilidade de sua membrana, muitas
vezes metade ou dois teros do normal. No sistema nervoso, atua na formao da bainha de mielina.
De modo geral, essa vitamina est envolvida no metabolismo de gorduras, carboidratos e protenas, e
associada absoro e metabolismo do cido flico.
A deficincia da vitamina B12 causa a anemia perniciosa ou megaloblstica, caracterizada pelo
aparecimento de clulas vermelhas maiores e imaturas, mas em nmero menor do que o normal. Sua
deficincia pode resultar em problemas neurolgicos, problemas de pele, diarria e perda de apetite.
8.4.1.9.4. Recomendaes
As recomendaes (Tabela 1) so convenientes para indivduos adultos completando a alimentao
com alimentos fortificados com a vitamina B12 e, ou, usando suplementos de vitamina B12, devido alta
incidncia de m-absoro, isto, principalmente, em pessoas com mais de 50 anos de idade.
8.4.1.9.5. Fontes
A nica fonte de vitamina B12 conhecida na natureza a obtida pela sntese de microrganismo. Est
amplamente disseminada na natureza, na gua do mar, e em produtos de fermentao. As plantas (frutas,
hortalias, gros) no contm vitamina B12, exceto quando so contaminados pelos microrganismos. Os
animais superiores no podem sintetizar vitamina B12 e devem obt-la direta ou indiretamente das fontes
bacterianas. Quantidades substanciais da vitamina so produzidas pela flora do rmen de diversos animais na
presena de quantidade suficiente de cobalto.
As melhores fontes de vitamina B12 so: fgado, crebro, corao, mariscos, ostras e gema de ovo;
fontes intermedirias: carnes musculares, subprodutos do leite, peixe, camaro e lagosta; fontes pobres:
vegetais verdes, batatas, clara de ovo e cereais.
8.4.2.2. Metabolismo
A absoro de cido ascrbico ocorre na parte superior do intestino delgado, passando corrente
sangunea e chegando at os tecidos do corpo. A quantidade de cido ascrbico nos diferentes tecidos
varivel. Os tecidos supra-renal e pituitrio, crebro, pncreas, rim, fgado e bao apresentam concentraes
relativamente altas; seguidos das clulas sangneas que contm maior quantidade que o soro.
Quando os tecidos atingem a sua concentrao mxima da vitamina, eles so considerados saturados e
o cido ascrbico em excesso excretado pela urina na forma de cidos oxlico, trenico e deidroascrbico,
substncias que facilitam o aparecimento de clculos renais.
8.4.2.3. Funes
Formao do colgeno
133
A vitamina C tem grande variedade de funes nos processos vitais, mas at agora suas funes
bioqumicas especficas ainda no so bem compeendidas. Um de seus papis mais significativos na
formao de colgeno, a substncia protica que une as clulas. O colgeno contm os aminocidos
hidroxiprolina e hidroxilisina, formados no organismo, a partir dos aminocidos prolina e lisina e parece que o
cido ascrbico necessrio a essa converso.
Foi postulado que o cido ascrbico ativa a enzima propil-hidroxilase (incorporao de prolina numa
ligao peptdica), causando a agregao de trs subunidades inativas para formar um composto ativo. A
deficincia na sntese de colgeno resulta na cicatrizao demorada de feridas, ocorrendo aumento de cido
ascrbico na rea do ferimento durante sua caracterizao. Por causa da falha do funcionamento adequado dos
osteoblastos durante o escorbuto, h uma desorganizao na estrutura ssea. A dentina dos dentes tambm
pode ser afetada pela deficincia de vitamina C, embora os defeitos estruturais desses quase nunca aparecem
no homem. A falta dessa vitamina resulta na fragilidade das paredes capilares, que por sua vez pode provocar
hemorragias de vrios graus.
Metabolismo de aminocidos
O cido ascrbico atua no metabolismo dos aminocidos de fenilalanina e tirosina. No caso da
tirosina, foi demonstrado que o cido ascrbico tem papel na biossntese de tirosina hidroxilase.
Antioxidante
O cido ascrbico tem a capacidade de ceder e receber eltrons, o que lhe confere papel essencial
como antioxidante. Acredita-se que a vitamina C poderia atuar na preveno e tratamento do cncer, na
diminuio do risco de doenas cardiovasculares, no tratamento da hipertenso e na reduo da incidncia de
cataratas.
Outras funes
Entre outras funes, pode-se citar que a vitamina C pode funcionar na inativao da lpase do tecido
adiposo e participar de reaes de desaminao de protenas, bem como facilitar a remoo do colesterol da
circulao, auxiliar a hidroxilao de dopamina para norepinefrina, prevenir a reduo do nitrito em
nitrosamina e participar na converso de colesterol em cidos biliares. Pode estar associada funo dos
leuccitos, resposta imune, cicatrizao e reaes alrgicas.
O sulfato de cido ascrbico (SAA) foi identificado com metablico do cido capaz de funcionar
como um agente surfactante no homem. O efeito antiaterognico do cido ascrbico, por exemplo, pode ser
responsvel pela formao do sulfato do colesterol da circulao ntero-heptica. Igualmente interessante a
hiptese de que o cido ascrbico funciona na converso de colesterol em cidos biliares, participando em
reaes de hidroxilao.
Observaes clnicas de inmeras infeces acompanhadas por Feber apontaram diminuio no nvel
sangneo de cido ascrbico, indicando que, ou h uma necessidade ou uma destruio aumentada por essa
vitamina. Entretanto, parece que uma ingesto inadequada de vitamina C no uma causa de predisposio
para qualquer uma dessas infeces. Observou-se, ainda, que as altas concentraes de cidos ascrbico no
crtex supra-renal so esgotadas sempre que a glndula estimulada por hormnios ou certas toxinas. Embora
no haja concordncia quanto relao de cido ascrbico e o estresse, parece haver aumento nas necessidades
de cido ascrbico em situaes de estresse; entretanto, no h, at agora, conhecimento suficiente para
afirmar, em termos absolutos ou quantitativos, sobre os nveis aumentados dessas necessidades.
A administrao de grandes doses de cido ascrbico parece proteger o indivduo exposto a
temperaturas muito baixas. Entretanto, a controvrsia que envolve o uso e grandes doses de cido ascrbico
para aumentar a resistncia ao frio comum ainda no foi conhecida. O Food and Nutrition Board no
recomenda grandes ingestes de vitamina C.
8.4.2.4. Recomendaes
Estudos foram realizados para determinar as necessidades humanas quanto ao cido ascrbico em
diferentes idades, sob vrias condies do meio ambiente, durante exerccios fsicos, estados febris e em
infeces. A quantidade necessria para prevenir sintomas de escorbuto no homem muito menor (10 mg) do
que as recomendadas para a manuteno da sade.
134
As recomendaes nutricionais da vitamina C vm aumentando ao longo do tempo. A comisso de
especialistas da FAO/OMS recomendava, na dcada de 1960, 30 mg para adultos (homens e mulheres acima
de 13 anos), 50 mg durante a gestao e lactao e 20 mg para crianas recm-nascidas e crianas at a idade
de 13 anos. Nos anos de 1970, o National Research Council recomendava 45 mg dirios para adultos, 60 mg
durante a gestao e 80 mg durante a lactao.
A deficincia grave de vitamina C causa escorbuto, caracterizado por fenmenos hemorrgicos pelo
aumento da permeabilidade da parede de pequenos vasos sangneos, pelo decrscimo na excreo urinria,
concentrao plasmtica e tecidual de vitamina C. Os sintomas incluem sangramento, fraqueza, perda de
apetite, anemia, edema, inflamao nas gengivas (podendo ocorrer perda dos dentes) e dor, entre outros
sintomas. Podem ocorrer tambm distrbios neurticos, como hipocondria, histeria e depresso. Os sintomas
desaparecem rapidamente com a administrao de doses teraputicas.
Entre os efeitos txicos, tem-se a formao de clculos renais, alm do que uma ingesto em altas
doses pode gerar certa dependncia .
8.4.2.5. Fontes
As frutas e hortalias so as fontes mais ricas de cido ascrbico; como exemplo: as frutas ctricas e
vrios vegetais folhosos crs. As melhores fontes so: laranja, limo, acerola, morango, brcolis, repolho,
espinafre etc. Os sucos de frutas ctricas, enlatados ou congelados, podem ser a fonte mais barata de vitamina
C quando as frutas ctricas frescas so escassas ou caras, podendo ser mais baratas do que o suco de tomate,
pois leva trs vezes mais tomate para se obter um suco do que um suco ctrico para fornecer as mesmas
quantidades de vitamina C.
Muitos fatores afetam o teor de cido ascrbico nas frutas e vegetais, como: a variedade, o estado de
maturao, o tempo de armazenamento, a parte da planta, as estaes e as reas geogrficas. Como as plantas
maduras tm menos cido ascrbico, os brotos de feijo ou gros apresentam o teor de cido ascrbico nos
vegetais. Tabelas de grupos de alimentos fornecem mdias representativas, entretanto os alimentos,
individualmente, podem variar muito em relao a esses valores.
8.5. Referncias:
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139
Captulo 9: MINERAIS
Neuza Maria Brunoro Costa
9.1. CLCIO
9.1.1. Ocorrncia e Importncia
O clcio o quinto elemento mais abundante na esfera biolgica (aps o ferro, alumnio, slica e
oxignio). o constituinte do calcrio, do mrmore, dos corais, das prolas, das conchas do mar, da casca de
ovo, dos chifres e dos ossos. Devido ao fato de apresentar solubilidade intermediria, encontrado tanto na
forma slida quanto em soluo. Em muitos solos, o clcio existe como ction trocvel. Ele captado pelas
plantas, cujas partes contm de 0,1 a 8% desse elemento. Em geral, sua concentrao maior nas folhas,
menor nos caules e nas razes e menor ainda nas sementes.
Trata-se do mineral divalente mais abundante no corpo humano, contribuindo com cerca de 1,5% do peso
corporal total. Ossos e dentes contm cerca de 99% do clcio, constituindo uma reserva orgnica do mineral. O
restante do clcio est distribudo nos fluidos intracelular e extracelular. Uma mulher adulta de 60 kg de peso
contm aproximadamente de 1.000 a 1.200 mg (25 a 30 mol) de clcio no corpo.
Nos animais superiores, o papel mais bvio do clcio estrutural ou mecnico, conferindo massa, dureza e
fora aos ossos e dentes. No sangue, a concentrao de clcio tipicamente de 2,25 a 2,5 mmol. De 40 a 45%
destes esto ligados a protenas plasmticas, de 8 a 10% esto complexados com ons como citrato e 45 a 50%
esto dissociados na forma de on livre.
9.1.2. Fontes
As principais fontes de clcio so leite, queijo, sorvete, iogurte, tofu, salmo, sardinha com ossos,
ostras, moluscos, folhas de nabo e de mostarda, brcoli, couve, leguminosas e frutas desidratadas. Carnes,
cereais e nozes so, em geral, fontes pobres de clcio, como mostrado a seguir.
Alimento Quantidade mg
Iogurte light 1 xcara 345
Leite desnatado 1 xcara 302
Leite integral 1 xcara 297
Queijo mussarela 1 fatia (30g) 207
Salmo enlatado com osso 100 g 185
Sorvete de baunilha 1 xcara 176
Queijo ricota xcara 167
Espinafre cozido xcara 138
Queijo tofu regular xcara 130
Leite em p, sem gordura 2 C sopa 104
Feijo branco xcara 64
Laranja 1 mdia 52
Brcolis cozidos xcara 36
Carne magra 100 g 4
9.1.3. Metabolismo
9.1.3.1. Absoro
O clcio usualmente liberado dos complexos na dieta durante a digesto e lanado em soluo,
provavelmente na forma ionizvel para ser absorvido. Entretanto, complexos de baixo peso molecular, como
oxalato de clcio e carbonato de clcio, podem ser absorvidos intactos.
A eficincia da absoro (porcentual de absoro) geralmente varia inversamente com o consumo,
mas a quantidade absoluta absorvida aumenta com o consumo. Uma variao de apenas 20% na absoro de
clcio pode refletir no estado nutricional de clcio.
Mecanismos de Absoro
O clcio pode ser absorvido pelas seguintes vias de transporte:
a) Transporte Transcelular
um transporte ativo, que depende de energia, ocorre na poro proximal do duodeno e dependente de
vitamina D e da protena ligante de clcio, calbindina. Envolve trs etapas seqenciais: entrada na clula,
difuso intracelular e extruso.
140
A entrada na clula atravs da borda em escova se d a favor de um gradiente de eletroqumico, por canais
de clcio na clula (no barrados por voltagem). A difuso intracelular do on de clcio, ou seja, o seu
movimento no sentido da membrana basolateral, a etapa-limite da sua absoro. Esse transporte dependente
da calbindina D9k, protena ligante de clcio, cuja sntese dependente da vitamina D. Na deficincia desta
vitamina, o clcio entra na clula, mas permanece na borda em escova. Calbindina se liga ao clcio e aumenta
sua concentrao intracelular. A extruso de clcio da clula intestinal mediada pela CaATPase. Essa sada
de clcio se d contra um gradiente eletroqumico e constitui a etapa dependente de energia da absoro de
clcio. Este, ao chegar na poro basolateral do entercito, liga-se a um stio do aspecto citoplasmtico da
CaATPase, que atravessa a membrana basolateral. Seguem alteraes induzidas pela fosforilao na
conformao da CaATPase, e o clcio extrusado atravs do canal formado pelos elementos da enzima
transmembrana.
b) Transporte Paracelular
O transporte paracelular se d a favor de um gradiente de concentrao entre as estreitas junes dos
entercitos. A quantidade de clcio absorvido paracelularmente determinada pela sua solubilidade, pela
permeabilidade paracelular ao on e pelo tempo gasto pelo quimo para atravessar determinada regio do
intestino. No caso do clcio, sua solubilidade depende da forma qumica dos seus sais e do pH da regio do
intestino.
Presume-se que, enquanto o on se mantiver em soluo, sua absoro ir ocorrer se houver um gradiente
de concentrao entre o lmen intestinal e os fluidos corporais.
O transporte paracelular a principal forma de absoro de clcio quando o consumo adequado ou alto.
Os altos nveis de clcio na dieta regulam o transporte transcelular. Quando os nveis na dieta so baixos, o
transporte transcelular contribui com cerca de 50% do total de clcio absorvido, porm diminui medida que o
nvel de clcio na dieta aumenta.
Cerca de 90% do tempo que o quimo leva para percorrer o intestino delgado gasto no leo (que no
contm calbindina D9k), e que o principal local de absoro de clcio. A forma de absoro no leo
exclusivamente paracelular.
c) Absoro no Clon
A absoro de clcio ocorre no ceco e no clon ascendente. Assume-se que 11% do clcio absorvido pela
via paracelular em toda a extenso do intestino seja absorvido no clon. O transporte ativo de clcio tambm
ocorre no intestino grosso, visto que contm calbindina D9k. O transporte ativo no intestino grosso tambm
regulado pelo clcio, portanto, em dietas ricas em clcio, sua absoro menor.
Estima-se que a absoro de clcio no clon seja da ordem de 10% do total de clcio absorvido no rato.
Em humanos ileostomizados, a absoro de clcio menor do que em pacientes com o clon preservado.
141
Quando a concentrao de clcio no sangue se eleva em resposta a uma absoro de clcio aumentada,
reabsoro renal aumentada ou mobilizao ssea, o limiar renal de excreo alterado e o clcio extra,
excretado na urina.
Em crianas, a principal defesa contra hipercalcemia a liberao de calcitonina pelas clulas C da
glndula tireide. Calcitonina um hormnio peptdeo que se liga a stios nos rins, nos ossos e no sistema
nervoso central. A calcitonina reduz a ao dos osteoclastos e reduz a liberao de clcio dos ossos. Quando a
absoro pra, os nveis de calcitonina caem e a ao dos osteoclastos retorna ao normal. Em adultos,
calcitonina tem pouco significado devido ao fato de a absoro intestinal de clcio ser mais reduzida nessa fase
e de o fluido extracelular ser maior. Como resultado, a calcemia absortiva aps uma dieta rica em clcio
promove apenas pequeno aumento nos nveis de clcio no fluido extracelular.
9.1.3.3. Excreo
O clcio excretado do corpo pela urina, pelas fezes e pelo suor. Cerca de 175 a 250 mmol (7 a 10 g) de
clcio so filtrados diariamente nos rins, dos quais 98% so reabsorvidos, sendo 2,5 a 5 mmol (100 a 200 mg)
excretados na urina por dia. A excreo endgena fecal de clcio semelhante excretada na urina. As perdas
pelo suor so de 0,4 a 0,6 mmol (16 a 24 mg) por dia, e uma adicional perda pela descamao de clulas,
cabelo e unhas aumenta essa excreo para cerca de 1,5 mmol (60 mg) por dia.
O clcio fecal inclui a quantidade da dieta que no absorvida mais o clcio que entra no intestino por
fontes endgenas, incluindo descamao das clulas da mucosa, saliva, suco gstrico, suco pancretico e bile.
O mecanismo de transporte de clcio que ocorre no intestino est tambm presente nos nfrons dos rins.
Ambos os processos so estimulados pelo hormnio PTH e pela 1,25- (OH)2-D3 e tm o complexo miosina-
calmodulina, que pode servir como transportador de clcio. Transporte ativo ocorre no tbulo distal contra um
gradiente de concentrao. Nos rins de mamferos, a regulao da vitamina D funciona via calbindina-D28k,
que se liga a 4 Ca2+ por molcula. Entretanto, na ausncia da vitamina D no observada hipercalciria.
Portanto, o maior efeito na excreo renal exercido pelo PTH, visto que na sua deficincia h aumento na
excreo renal de clcio.
O tranporte paracelular ocorre a favor de um gradiente de concentrao. A reabsoro tubular decresce em
mulheres na fase ps-menopausa. A reabsoro de clcio determinada pelo Na+. Para cada 100 mmol de
sdio excretado, aproximadamente 0,5 a 1,5 mmol de clcio excretado na urina.
9.1.4. Funes
9.1.4.1. Mensageiro Intracelular
O clcio ionizado o elemento mais comum de transmisso de sinal na clula devido sua habilidade
de se ligar reversivelmente a protenas. Um estmulo interno ou externo (fsico, qumico ou eltrico) leva a
uma alterao na concentrao de clcio em um stio especfico da clula atravs da liberao de clcio dos
seus estoques intracelulares ou pela entrada de clcio na clula.
A concentrao de clcio mantida a 0,1 M no citosol por intermdio de diversas protenas ligantes.
Isso se faz necessrio, visto que o clcio no metabolizado como outros segundo-mensageiros. Acmulo de
clcio no citosol levaria a clula morte, porque poderia precipitar fosfato, que vital para a transferncia de
energia.
A membrana plasmtica importante na manuteno da homeostase, porque a membrana em estado
de repouso pouco permevel entrada do clcio, e a bomba Ca2+-Mg2+-ATPase expulsa clcio do citosol
para o espao externo (fluido extracelular). Essa bomba ativada pela calmodulina, protena receptora de
clcio intracelular. Portanto, um momentneo incremento na concentrao de clcio no citosol causado por um
influxo de clcio rapidamente seguido do retorno ao seu nvel de pr-excitao. Outras vias de entrada de
clcio pela membrana incluem canais de clcio, canais de voltagem dependente, canais operados por
receptores e canais de sdio. As vias de sada de clcio so mantidas pelas trocas de Na+-Ca2+ pela bomba de
Na+.
Quando um estmulo interno ou externo, tal como um hormnio ou neurotransmissor se liga ao
receptor de membrana, uma srie de respostas ocorre. O receptor pode ser uma protena G ou tirosina quinase.
A fosfolipase C ativada, o que quebra a fosfatidilinositol-4,5-bisfosfato (PIP2) na membrana da clula em
inositol-1,4,5-trifosfato (InsP3) e diacilglicerol (DG). Ao ser lanado no citosol, o InsP3 se liga a receptores na
membrana do retculo endoplasmtico (ou sarcoplasmtico no msculo), que induz liberao de Ca2+ dos
estoques internos. Ca2+ pode ainda entrar na clula pelos canais de Ca voltagem dependentes na membrana
plasmtica. A concentrao de clcio pode se elevar de 0,1 M para 10 M. O Ca2+ elevado no citosol se liga
calmodulina, que por sua vez ativa a quinase para fosforilar protenas especficas. Esse sistema contribui para a
secreo de aldosterona pelas clulas da adrenal em resposta angiostensina II; a secreo de insulina pelas
clulas panceticas; e a contrao muscular de msculos lisos. Simultaneamente, a poro lipdica da PIP2,
DG, permanece na membrana e ativa outra enzima ligada membrana, a protena quinase C, que estimula a
atividade da bomba de clcio. Clulas excitveis, como msculo esqueltico e neurnios, contm canais de
142
Ca2+ voltagem-dependente, que permitem um dramtico aumento do Ca2+ intracelular, que por sua vez ativa
os receptores rianodines (RyR) a liberarem Ca2+ dos estoques internos.
9.1.5. Biodisponibilidade
9.1.5.1. Interaes com nutrientes e outros componentes da dieta
Diversos nutrientes afetam a homeostase de clcio ou sua absoro:
Sdio
O maior determinante da excreo urinria de clcio o sdio. Sdio e clcio compartilham alguns
dos sistemas de transporte no tbulo proximal, de forma que cada 100 mmol (2,3g) de incremento na excreo
de sdio carreia aproximadamente 0,6 a 1,0 mmol (24 a 40 mg) de clcio.
Como a excreo urinria de clcio representa 50% da variabilidade da reteno de clcio, o sdio
diettico tem grande influncia potencial na perda ssea. Numa mulher adulta, cada grama de sdio extra
consumido por dia pode produzir uma taxa adicional de perda ssea de 1% ao ano quando a perda de clcio na
urina provm do esqueleto.
Protena e Fsforo
Outro componente da dieta que afeta a excreo urinria de clcio a protena. Cada grama de
protena metabolizada aumenta a excreo de clcio em aproximadamente 1,75 mg. Portanto, dobrando a
quantidade de protena purificada ou de aminocidos na dieta a excreo urinria de clcio aumenta em
aproximadamente 50%. A acidez do sulfato produzido pelo metabolismo de aminocidos sulfurados o
principal responsvel pelo incremento na excreo urinria de clcio. Entretanto, alimentos ricos em protenas
so geralmente ricos tambm em fosfato, que tem efeito hipocalcirico, contrapondo o efeito hipercalcirico
das protenas.
Embora a perda urinria de clcio no se altere com a incluso de alimentos ricos em protenas e
fsforo, como carnes, cereais, feijes e produtos de laticnios, a presena de fsforo aumenta o contedo de
clcio nas secrees digestivas, aumentando tambm, por conseguinte, a perda endgena de clcio nas fezes.
Portanto, o consumo de alimentos ricos em protena resulta numa perda lquida de clcio, que pode exacerbar o
risco de uma dieta pobre em clcio.
A relao clcio:protena da dieta est mais relacionada taxa de ganho sseo em mulheres jovens do
que o consumo de clcio ou de protenas isolados. Num outro extremo, o consumo inadequado de protena
compromete a sade ssea e pode contribuir para a osteoporose na terceira idade.
Embora o consumo de fsforo e clcio em diversos nveis no tenha produzido alteraes no balano
de clcio (possivelmente pelo efeito oposto de protena e fsforo), alguns investigadores tm demonstrado
preocupao com a tendncia no aumento do consumo de fsforo em refrigerantes. Nveis elevados de PTH
podem levar maior mobilizao de clcio dos ossos quando o consumo de fsforo alto e o de clcio baixo.
Cafena
Cafena em altas doses pode elevar a excreo urinria de clcio. Esse efeito, entretanto, no tem sido
demonstrado em alguns estudos duplo-cegos. O consumo dirio de duas a trs xcaras de caf acelera a perda
ssea de vrtebras e dos ossos totais do corpo em mulheres ps-menopausa que consumiam menos de 744 mg
de clcio por dia. A relao entre o consumo de cafena e a perda ssea nesse estudo pode ter sido decorrente
de uma reduo na absoro de clcio ou a fatores de confundimento, como a provvel associao inversa
entre o consumo de leite e a ingesto de cafena.
143
Lipdios
O consumo de gorduras tem impacto negativo no balano de clcio somente na ocorrncia de
esteatorria. Nessa condio, o clcio forma sabes insolveis com os cidos graxos no intestino.
Minerais
O uso de suplementos de clcio e de alimentos fortificados tem aumentado a preocupao sobre o
efeito de altas doses de clcio na induo da deficincia de vrios minerais. Altos consumos de clcio
produzem deficincia de magnsio em ratos. No entanto, o consumo de clcio no afeta a reteno de
magnsio em humanos. Da mesma forma, o alto consumo de clcio no tem sido associado baixa reteno de
zinco. A natureza das interaes controversa e requer maiores estudos.
A absoro de ferro no heme reduzida pela metade quando o consumo de clcio de 300 mg por
dia, aps o qual no h redues subseqentes. Em termos prticos, prudente estabelecer a recomendao de
ferro, admitindo que o indivduo consome a quantidade de clcio presente em pelo menos um copo de leite em
cada refeio. A inibio da absoro de ferro pelo clcio no parece ocorrer no lmen intestinal, mas sim uma
competio no transporte de ferro na mucosa intestinal, possivelmente envolvendo a mobilferrina. Estudos
apontam que a suplementao de clcio em at 12 semanas no afeta o estado nutricional de ferro,
possivelmente pela regulao compensatria na absoro de ferro. Estudos de absoro utilizando uma dose
nica de ferro podem exacerbar o efeito inibitrio do clcio, que pode desaparecer no contexto de uma dieta
completa.
Lactose
Lactose aumenta a absoro intestinal de clcio. O efeito maior em crianas do que em adultos e
parece estar mais relacionado ao mecanismo de absoro, independentemente da vitamina D.
Suplementos de clcio
Um fator importante a ser considerado para a fortificao de alimentos com clcio o teor de clcio
presente nos sais. Isso importante, visto que sais com baixo teor de clcio devem ser adicionados em maior
quantidade, s vezes difcil de ser ingerida. A biodisponibilidade depende de certa forma da solubilidade do
clcio no trato gastrointestinal. Por exemplo, carbonato de clcio praticamente insolvel em gua em pH
neutro, mas se dissolve facilmente em solues cidas. Lactato de clcio solvel numa ampla faixa de pH. O
sal preparado com citrato e malato de clcio (CCM) altamente solvel e mais absorvido do que o clcio do
leite e de outros sais.
A biodisponibilidade dos sais de clcio parece ser influenciada pela secreo gstrica e pela ingesto
simultnea de alimentos. A solubilizao pela acidez gstrica, entretanto, no garante absoro eficiente.
144
9.1.5.2. Mtodos de determinao da biodisponibilidade
A falta de sensibilidade de indicadores do estado nutricional de clcio e a regulao homeosttica das
concentaes de clcio nos meios intra e extracelular limitam os mtodos de avaliao da biodisponibilidade
de clcio. Por exemplo, a mudana na concentrao plasmtica de clcio aps a sua ingesto um pobre
indicador da sua absoro, visto que o mecanismo homeosttico mantm os nveis quase constantes, mesmo
quando altas doses so ingeridas.
a) Mtodos de Balano
A tcnica clssica de balano de clcio, com ou sem o uso de traadores isotpicos, continua sendo a
tcnica mais amplamente usada para estudos de biodisponibilidade de clcio.
O balano de clcio definido como:
Balano = Cai (Caf + Cau + Cad)
Em que: Cai = Ca ingerido;
Caf = Ca fecal;
Cau = Ca urinrio; e
Cad = perda pela pele (perspirao e descamao da pele).
As perdas pela pele so geralmente ignoradas porque so bem menores quando comparadas com as
perdas fecal e urinria e porque so muito difceis de se medir. A absoro aparente, calculada como a
diferena entre clcio consumido e clcio excretado nas fezes, pode tambm ser usado como indicador da
biodisponibilidade. No entanto, subestima a absoro verdadeira de clcio, visto que o clcio fecal inclui
quantidades substanciais de clcio endgeno, alm do clcio no absorvido.
Na prtica, os mtodos de balano so tediosos e demandam muito tempo. Alm do mais, so sujeitos
a grandes erros, desde que as medidas precisas de consumo e das perdas so difceis e o tempo de coleta pode
no estar bem estimado. O uso de marcadores, como o azul brilhante, polietileno glicol e cromo podem ser
usados para corrigir a coleta de fezes.
Uma modificao do mtodo de balano consiste na administrao de uma soluo de lavagem, a fim
de limpar todo o trato gastrointestinal. Os indivduos recebem, ento, uma refeio, e aps 12 horas a lavagem
repetida. O procedimento repetido em outro dia, substituindo a refeio por gua. O contedo total do
efluente retal (aps a ingesto da refeio ou da gua) coletado e a absoro lquida de clcio, calculada pela
seguinte equao:
Essa medida tem a vantagem de ser rpida e, portanto, menos cara do que a tcnica tradicional. A
absoro, ao invs do balano, calculada, visto que a determinao acurada da excreo urinria no pode ser
feita nesse curto perodo de tempo.
provvel que a absoro no clon esteja alterada, uma vez que a ao bacteriana estaria
praticamente ausente, e o tempo de trnsito intestinal estaria muito mais rpido do que o habitual. At que
ponto isso pode interferir na absoro de clcio ir depender do quanto do clcio absorvido no clon.
Essa medida tem a vantagem de se estimar a absoro de clcio numa nica amostra de sangue e de
urina. A absoro total de clcio pode, ento, ser calculada multiplicando-se a ingesto de clcio pela absoro
fracional. Clcio fecal de origem endgena determinado pelo contedo fecal do traador dado por via i.v. O
balano de clcio pode ser calculado pela equao:
145
b.2) Contagem de corpo inteiro
A contagem de corpo inteiro pode ser realizada aps a administrao oral de 47Ca para a estimativa da
biodisponibilidade de clcio. A radioatividade no corpo medida logo aps o oferecimento da dose e
novamente aps sete dias. A reteno no 7 dia expressa como porcentual da dose inicial.
Esse mtodo pode subestimar a absoro verdadeira de clcio, uma vez que pode haver excreo do
traador absorvido aps sete dias. Apesar disso, um excelente mtodo quando se quer comparar a
biodisponibilidade de diferentes dietas. Infelizmente, contadores de corpo inteiro grandes o suficiente para
estudos com humanos so pouco disponveis e muito caros.
146
Dessa forma, a recomendao de clcio, segundo a Food and Nutrition Board/ Institute of Nutrition (IOM,
1997), :
Grupo Idade Clcio (mg/dia)
AI*
Lactentes 0-6m 210
7 - 12 m 270
Crianas 1-3a 500
4-8a 800
Homens 9 - 13 a 1.300
14 - 18 a 1.300
19 - 30 a 1.000
31 - 50 a 1.000
51 - 70 a 1.200
> 70 a 1.200
Mulheres 9 - 13 a 1.300
14 - 18 a 1.300
19 - 30 a 1.000
31 - 50 a 1.000
51 - 70 a 1.200
> 70 a 1.200
Gravidez 18 a 1.300
19 - 30 a 1.000
31 - 50 a 1.000
Lactao 18 a 1.300
19 - 30 a 1.000
31 - 50 a 1.000
*AI Ingesto adequada
O nvel de ingesto mxima tolervel (UL) no foi estabelecido para crianas de 0 a 12 meses. Para
crianas acima de 1 ano de idade, bem como para as demais faixas etrias e estados fisiolgicos (gravidez e
lactao), a UL foi estabelecida em 2,5 g/dia, segundo IOM (1997).
9.1.8. Deficincia
Em razo da grande reserva de clcio nos ossos, a deficincia de clcio praticamente inexistente, embora
tenham sido reportadas anomalias bioqumicas, como hipocalcemia, hipercalciria e nveis elevados de
fosfatase alcalina em crianas de 7 a 12 anos de idade consumindo habitualmente 125 mg de clcio por dia.
A inadequao crnica de clcio um dos fatores na etiologia de diversas desordens. O consumo
adequado de clcio tem efeito protetor no desenvolvimento da osteoporose e sido relacionado com a reduo
do risco de hipertenso, cncer de clon, toxidez por chumbo e clculo renal em pacientes com sndrome do
intestino curto. O alto consumo de clcio leva formao de complexos insolveis de oxalato de clcio no
intestino, reduzindo a absoro do oxalato da dieta. O oxalato o principal responsvel pela formao do
clculo renal e no o clcio.
9.1.9. Toxidez
As informaes sobre os efeitos adversos do excesso de consumo de clcio em humanos so
primariamente relacionados ao consumo de suplementos de clcio. Os mais provveis efeitos adversos do
consumo excessivo de clcio so: formao de clculos renais (nefrolitase), sndrome da hipercalcemia e
insuficincia renal com ou sem alcalose (referida historicamente como sndrome alcalina do leite, associada ao
tratamento da lcera pptica) e a interao do clcio com a absoro de outros minerais essenciais.
9.2. FSFORO
9.2.1. Introduo
O fsforo existe na natureza numa diversidade de estados oxidativos, variando de -3 a +5. Do ponto
de vista bioqumico, compostos de fsforo e oxignio so predominantes devido maior estabilidade
termodinmica dos compostos de fosfato em gua.
O fsforo no fluido extracelular representa apenas 1% do total de fsforo do organismo. A maioria
(70%) do total de P no plasma encontrada como constituinte de fosfolipdios orgnicos. No entanto, a frao
de P de significado clnico a concentrao de P inorgnico no plasma. Cerca de 10% do P inorgnico do
plasma est ligado a protenas, 5% complexado com Ca ou Mg e a maioria encontrada como H2PO4- e
HPO4-2. Essas duas fraes de ortofosfato so encontradas, em pH 7,4, na proporo 1:4.
147
9.2.2. Digesto
Sais de fosfato insolveis so formados em pH elevado. O meio cido do estmago (pH=2) e da
poro proximal do intestino delgado (pH=5) desempenha importante papel na manuteno da solubilidade e
biodisponibilidade do fsforo inorgnico. Isso pode ter importncia ainda maior em situaes de acloridria,
observadas em idosos e indivduos com medicao antilcera.
Em dietas vegetarianas, a maioria do fsforo est na forma de fitato. Os animais e o homem no
possuem a enzima fitase, necessria para quebrar o fitato e liberar o fsforo. Dessa forma, o fitato muito
pouco digerido no trato gastrointestinal. No entanto, seres procariotas, como leveduras e bactrias, contm
fitase, o que se torna importante na nutrio humana por duas razes. Em primeiro lugar, o uso de leveduras
como agente de crescimento de massas libera o fsforo pela ao antes de serem assadas. Em segundo lugar, as
bactrias intestinais, localizadas no intestino grosso, podem quebrar o fitato.
O remolho de gros em gua pode efetivamente remover fitato. Por exemplo, 99,6% do fitato do
feijo pode ser extrado na macerao com gua. A moagem dos gros tambm pode remover a camada
superficial do germe, rico em fitato. Entretanto, esses tratamentos tambm reduzem o teor total de fsforo nos
alimentos.
Outras formas orgnicas de fsforo na dieta so primariamente derivadas de compostos celulares que
contm fsforo, como fosfolipdios e acares fosforilados. Esses compostos so digeridos no intestino
delgado, liberando fsforo inorgnico, que transportado atravs da membrana da parede intestinal.
9.2.3. Absoro
Cerca de 60 a 70% do fsforo de uma dieta mista absorvido.
A absoro de fsforo em humanos tem sido demonstrada como sendo linear ao consumo de fsforo
at o nvel de 0,13 a 1 mmol/kg de peso corporal (4 a 30 mg/kg) por dia.
Estados fisiolgicos, como crescimento, gravidez e lactao, so associados a aumentos na
necessidade de P e no correspondente aumento na sua absoro. Em idosos, ocorrem alteraes na excreo e
adaptaes na ingesto de P, de modo que balano negativo , muitas vezes, observado.
O mecanismo celular e molecular da absoro de P no completamente conhecido. O transporte de P
atravs da parede intestinal se d por um mecanismo ativo, dependente de sdio. A absoro intestinal de P
representa a soma do componente saturvel, mediado por carreador e no saturvel, dependente da
concentrao. Nveis intracelulares de P so relativamente altos, e o interior da clula eletronegativo.
Portanto, provvel que um transporte ativo seja necessrio para levar o P para dentro da clula, mas a sada
de P da clula se d por difuso. Um peptdio 145-kd tem sido identificado como o transportador de P da borda
em escova sensvel ao sdio.
O hormnio da paratireide no parece desempenhar papel diretamente na regulao da absoro de P
no intestino. Administrao de metablitos ativos da vitamina D, no entanto, leva a um aumento da absoro
de P tanto em indivduos normais quanto em pacientes urmicos. Em ratos, a administrao da 1,25(OH)2D3
aumenta a absoro de P ao longo de todo o intestino delgado, sendo o maior efeito no jejuno, ao contrrio da
absoro de clcio mediada pela 1,25(OH)2D3, que se d principalmente no duodeno.
9.2.5. Excreo
As perdas fecais endgenas de P variam de 0,03 a 0,14 mmol/kg (0,9 a 4 mg/kg) por dia. Os rins so a
principal via de excreo de P, variando de 0,1 a 20% do P filtrado.
O transporte de P nos tbulos renais ocorre por dois processos: no tbulo proximal, um sistema de
transporte ativo, dependente de sdio, tem sido descrito; um segundo sistema de transporte tambm encontrado
nos rins passivo, independentemente de sdio.
O principal regulador da excreo urinria de P a sua concentrao plasmtica e o principal
hormnio relacionado a essa regulao o PTH. Os nveis plasmticos de PTH so positivamente
148
correlacionados com a excreo urinria de P. PTH afeta tanto a reabsoro dependente de sdio quanto a no
dependente de sdio.
Os principais determinantes da perda urinria de P so consumo aumentado de P na dieta e aumento
da absoro intestinal de P e dos nveis plasmticos de P. Outros fatores importantes que esto associados com
a hiperfosfatria so hiperparatireoidismo, acidose aguda respiratria ou metablica, diurticos e expanso do
volume extracelular.
Redues na excreo urinria de P esto associadas com a restrio diettica de P, aumento dos
nveis plasmticos de insulina, hormnios da tireide, hormnio do crescimento ou glucagon, alcalose
metablica ou respiratria, hipocalemia e contrao do volume extracelular.
Alimento Quantidade mg
Leite integral 1 xcara 232
Presunto 100 g 210
Queijo ricota xcara 170
Levedo de cerveja 1 C sopa 140
Castanha de caju xcara 138
Feijo cozido xcara 137
Bife de hamburger 100 g 135
Po integral 1 fatia 74
Bebidas tipo cola 1 lata 46
9.2.8. Biodisponibilidade
Diversos constituintes da dieta e a quantidade relativa de outros minerais nela podem inibir ou
estimular a biodisponibilidade do mineral. Em geral, a biodisponibilidade de P maior nos produtos de origem
animal do que nos de origem vegetal.
Produtos Animais
O fsforo encontrado nas carnes bem absorvido (>70%) em humanos. Nas carnes, o P est presente
principalmente como compostos orgnicos, que so, na sua maioria, hidrolisados no trato gastrointestinal,
liberando P inorgnico, que disponvel para a absoro intestinal. Carnes processadas tambm contm
diversos polifosfatos e pirofosfatos como aditivos.
O fsforo inorgnico representa um tero do P do leite, 20% ocorre como ligaes steres com
aminocidos e casena, 40% est nas micelas de caseinato e o restante, na forma de steres hidrossolvel e
lipossolvel. O P inorgnico do leite encontrado principalmente como sais de fosfato de clcio, magnsio e
potssio.
A biodisponibilidade relativa do P no leite tem sido demonstrada como sendo de 65 a 90% em
crianas. Entretanto, todo o P da casena do leite, que representa 20% do total de P do leite, est na forma de
um polipeptdio 5 kd, que resistente digesto enzimtica pela tripsina e pode reduzir a sua
149
biodisponibilidade. O menor contedo de casena no leite humano, comparado ao leite de vaca, pode ser o
responsvel pela maior biodisponibilidade do P no leite humano.
A maior parte do P no ovo est na forma de uma fosfoprotena 45 kd, chamada de fosvitina, que tem
grande afinidade pelo ferro. No h muita informao sobre a biodisponibilidade de P nos ovos.
Produtos Vegetais
A recomendao de maior ingesto de cereais, leguminosas e vegetais demanda uma reavaliao da
biodisponibilidade de P nesses alimentos. Existe preocupao a respeito da biodisponibilidade de P em gros,
devido ao fato de este ser encontrado, na maior parte, na forma de cido ftico (fosfato de inositol) e compostos
organofosfatos, usados pela planta para estocar P. Em trigo, arroz e milho, mais de 80% do total de P est na
forma de cido ftico, enquanto na batata representa cerca de 35%.
9.2.10. Deficincia
A deficincia crnica de P em animais resulta na perda de apetite, desenvolvimento de tores nas
juntas, ossos frgeis e aumento da suscetibilidade a infeces. A falta de apetite leva a uma menor massa
ssea.
150
Em indivduos normais, a deficincia de P improvvel de ocorrer devido ao fato de o P ser
amplamente encontrado nos alimentos. Entretanto, bebs prematuros so exceo, devido sua maior
possibilidade de desenvolver raquitismo devido a um inadequado suprimento de clcio e fsforo.
A deficincia de P acompanhada da reduo na sua excreo renal e de aumento na excreo
urinria de clcio, magnsio e potssio, sendo o clcio e o magnsio provenientes dos ossos.
As manifestaes clnicas da hipofosfatemia incluem: manifestaes hematolgicas (reduo nas
clulas vermelhas, anemia hemoltica, disfuno das plaquetas e de leuccitos), respiratrias (falha respiratria
aguda hiper ou hipoventilao), musculares (fraqueza generalizada, miopatia proximal), neurolgicas
(parestesia, confuso, acessos, coma, tremor, ataxia), endcrinas (hipoparatireoidismo funcional, intolerncia
glicose), esquelticas (osteomalcia com dores sseas e pseudofraturas), cardacas (cardiomiopatia reversvel,
reduo da resposta vascular de vasopressores), renais (hipofosfatria, hipercalciria, hipermagnesria, acidose
metablica hiperclormica).
9.3. MAGNSIO
9.3.1. Introduo e Ocorrncia no Organismo
O magnsio o segundo elemento mais abundante no meio intracelular, depois do potssio. No homem
adulto, h cerca de 100 mmol (24 g), dos quais aproximadamente 60% esto no esqueleto, 39% no espao
intracelular, 20% no msculo esqueltico incluindo o corao e apenas 1% se encontra no espao extracelular.
Existem trs pools de magnsio no organismo: um com rpido turnover, constitudo, principalmente,
do Mg extracelular; um segundo pool com uma taxa de turnover duas vezes menor que o primeiro,
constitudo do Mg intracelular; e um terceiro pool com turnover muito baixo, constitudo do Mg do
esqueleto.
O nvel normal de Mg no soro mantido dentro de uma faixa estreita (0,7 a 1,0 mmol/L) e no se
correlaciona com o total de Mg no organismo. Uma deficincia intracelular de Mg pode ocorrer com nveis
normais de Mg no soro. Cerca de 30% do Mg no soro est ligado a protenas, e a maioria do Mg restante se
encontra na forma ionizvel. O Mg intracelular est ligado, principalmente, a protenas e fosfatos ricos em
energia.
9.3.2. Absoro
A absoro se d primariamente no intestino delgado. Alguma absoro pode ocorrer no estmago, e,
em casos de patologias do intestino, o clon pode se transformar num importante stio de absoro. No trato
gastrointestinal da ordem de 35 a 40%.
O Mg endgeno, proveniente da bile e dos sucos pancretico e intestinal, geralmente elevado, cerca de
1,25 mmol/L, e quase que completamente absorvido. O Mg absorvido por transporte transcelular saturvel,
151
que fisiologicamente regulado, e por transporte paracelular no-saturvel, que dependente da concentrao
de Mg no lmen.
Diversos fatores influenciam a absoro de Mg, dentre eles fsforo, fitato, clcio, lipdios e protenas.
9.3.3. Excreo
O balano de Mg regulado pela excreo renal. A excreo urinria normal de Mg de 120 a 140
mg/dia, sendo a maior parte da excreo realizada noite.
Os rins so muito eficientes na conservao do Mg, de forma que indivduos com consumo de Mg muito
baixo so capazes de praticamente no excretar Mg na urina. Doses de Mg injetadas em indivduos normais
so praticamente excretadas na sua totalidade na urina em 24 horas.
c) A determinao do Mg livre (forma inica) muito importante, visto que essa a forma
biologicamente ativa do Mg, porm muito difcil de se fazer de forma acurada. Pode ser feita por
ultrafiltrao ou dilise de equilbrio.
d) Tem sido sugerida a determinao de Mg nos tecidos (clulas sanguneas vermelhas e brancas e
msculo).
O teor de Mg nas clulas vermelhas do sangue (RBC) relativamente fcil de se medir e bastante
reprodutvel. Entretanto, muitos estudos no provaram correlao entre esses valores e a concentrao de Mg
no soro, msculo ou clulas brancas do sangue. Portanto, seu uso no est muito claro. Parece haver
determinao gentica nos nveis de Mg nas RBC e efeito da idade, visto que jovens tm maior Mg nas RBC
do que idosos.
152
O teor de Mg em leuccitos (clulas sangneas mononucleares ou WBC) parece ser um melhor
preditor do Mg cardaco e muscular do que o Mg nas RBC ou no soro. No msculo, pode ser determinado por
bipsia, o que requer habilidades e demanda maiores prticas de laboratrio para se obterem resultados
acurados. Esse mtodo mais utilizado em pesquisas especiais.
e) Coleta de urina por 24 horas pode ser til na verificao de perdas de Mg pela urina.
f) Reteno de Mg seguida de administrao parenteral tem sido mais usada como indicador da
deficincia de Mg. Indivduos com balano normal de Mg excretam essencialmente todo Mg injetado, dentro
de 24 a 48 horas. Indivduos eficientes retm significante frao do Mg injetado. At o presente tem sido difcil
relacionar a porcentagem de reteno com a deficincia total de Mg no organismo, e o valor clnico desse teste
incerto.
Alteraes no Mg no soro e Mg excretado seguido de uma dose oral de Mg tm sido usadas para
avaliar a absoro intestinal de Mg. Os resultados so primariamente dependentes da taxa de absoro no
intestino delgado e provavelmente o melhor teste disponvel, do ponto de vista prtico, na avaliao da
absoro de Mg.
9.3.6. Funes
O Mg um co-fator de mais de 300 sistemas enzimticos. indispensvel no metabolismo do ATP e
essencial em uma srie de processos metablicos, como: utilizao da glicose, sntese de lipdios, sntese de
protenas, sntese de cidos nuclicos, contrao muscular e sistema de transporte de membrana.
O Mg considerado um antagonista natural do clcio, afetando sua captao, seu contedo, sua ligao e
a distribuio do Ca nas clulas do msculo liso.
O Mg est presente na superfcie cristalina do osso e age como um veneno de cristal, prevenindo a
formao de cristais de Ca-P grandes e perfeitos. Isso importante, visto que cristais grandes e perfeitos
so rgidos e se quebram mais facilmente do que outros tipos, que so mais maleveis. Ossos de mulheres em
ps-menopausa com osteoporose contm menor teor de Mg e so maiores, e os cristais so mais perfeitos do
que ossos normais.
153
Em ordem decrescente de concentrao mdia de Mg por peso, tm-se: nozes, cereais integrais, produtos
do mar, carnes, leguminosas, hortalias, produtos lcteos, frutas, acares refinados e gorduras, sendo que
acares refinados e gorduras no contm virtualmente nenhum Mg.
As folhas verdes so excelentes fontes de Mg, pelo fato de o Mg ser constituinte da clorofila, porm seu
alto teor de gua faz que seu teor por peso seja relativamente baixo.
O refinamento dos cereais remove quase todo o Mg presente no gro. Por exemplo, arroz integral contm
1.477 g/g e arroz polido, apenas 251 g/g.
A coco tambm reduz o teor de Mg; por exemplo, cenoura crua contm 185 g/g e cenoura cozida, 62
g/g.
A gua dura contm altos teores de Mg e pode contribuir com at 30% do consumo dirio de Mg. Esses
teores variam de 0 a 15 g/mL.
O consumo de Mg tem decado nos ltimos anos, possivelmente devido ao refinamento dos alimentos e do
uso de fertilizantes sem Mg.
9.3.9. Deficincia
A deficincia de Mg em humanos pode ser dividida em duas categorias: aguda e crnica.
A deficincia aguda est associada a outras patologias pr-existentes e causa uma variedade de sintomas.
Hipomagnesemia e,ou, deficincia de Mg so usualmente decorrentes de perdas de Mg tanto pelo trato
gastrointestinal quanto pelos rins. Seus sintomas incluem: falta de memria, perda de concentrao, apatia,
depresso, confuso, alucinaes, idias paranicas, sintomas neuromusculares (dormncia, formigamento,
cimbra, fraqueza muscular, tremor, ataxia, tetania, acesso e tremor nos olhos), anormalidades no
eletrocardiograma, arritmias, morte sbita e baixos nveis de Ca e de K.
Sinais da deficincia crnica de Mg em animais experimentais incluem: dentes e ossos defeituosos,
baixa capacidade de superar o estresse pelo frio, calcificao de tecidos como corao, aorta e rins e leses
cardacas, incluindo necrose, fibrose e calcificao.
Deficincia crnica de Mg em humanos pode estar relacionada com a formao de clculos renais e
calcificaes de outros tecidos. Baixos nveis de ingesto de Mg esto associados a doenas cardacas. O nvel
de Mg no msculo cardaco menor em indivduos que tiveram morte por doenas cardacas do que em
pessoas que morreram de outras causas. Mulheres com osteoporose tm menos Mg em seus ossos do que
mulheres normais.
Tem sido demonstrado efeito protetor do Mg no sistema neurolgico de crianas prematuras com peso
ao nascer muito baixo.
9.3.10. Toxidez
Devido ao fato de o Mg ser excretado pelos rins de forma bastante eficiente, problemas de
hipermagnesemia virtualmente s ocorrem quando h reduzida excreo urinria, decorrente de problemas
renais e reduzida eliminao.
Sintomas de hipermagnesemia so geralmente devidos ao consumo excessivo ou administrao de
sais de Mg em pacientes com concomitante disfuno renal. Sais de Mg so comumente usados como
anticidos e laxantes. Mg o tratamento-padro de hipertenso induzida pela gravidez (pr-eclampsia e
eclampsia) e pode causar intoxicao tanto na me quanto no feto.
Os sintomas da hipermagnesemia incluem: desaparecimento do reflexo do tendo, sonolncia,
respirao difcil, anormalidades no eletrocardiograma, hipotenso, cansao, hipocalcemia, nusea, vmito e
manifestaes cutneas.
O tratamento envolve a remoo da fonte de Mg, administrao de Ca e, em pacientes com disfuno
renal, dilise peritoneal ou hemodilise.
9.3.11. Biodisponibilidade
9.3.11.1. Fatores que afetam a biodisponibilidade
No h comprovao de que fatores fisiolgicos como idade, sexo, gravidez e lactao possam afetar
a absoro de Mg. Provavelmente, os rins regulam facilmente a conservao de Mg nos casos de necessidade
aumentada de Mg.
O consumo excessivo de Ca e P em ratos pode reduzir a absoro intestinal de Mg, porm estudos
realizados em humanos tm mostrado que incrementos substanciais de Ca e de P na dieta no provocam
alterao no balano de Mg.
A lactose aumenta a absoro de Mg e provvel que outros carboidratos possam estimular a
fermentao bacteriana no intestino e exercer o mesmo efeito.
lcool e cafena aumentam a excreo urinria de Mg, mas no h evidncias de que isso possa
resultar em deficincia de Mg.
O cido ftico inibe a absoro de Mg, levando a uma baixa concentrao de Mg nos ossos de ratos.
Em humanos, no h evidncias de que esse composto possa alterar o estado nutricional de Mg.
154
9.3.11.2. Mtodos de avaliao da biodisponibilidade de Mg
No h parmetro geralmente disponvel para medir o estado nutricional de Mg. A deficincia desse
elemento em humanos resulta de decrscimo progressivo na sua concentrao no plasma e decrscimo lento
nos eritrcitos, e dentro de poucos dias as excrees urinria e fecal de Mg so reduzidas a valores muito
baixos.
O mtodo clssico de balano tem sido muito empregado.
Radioistopos de Mg disponveis tm meia-vida muito curta (28Mg = 21,3 h), e por isso seu uso
limitado. Istopos estveis como 25Mg e 26Mg tm a desvantagem de ser abundantes na natureza (10,00 e
11,01%, respectivamente). Portanto, o emprego desses traadores requer quantidades relativamente altas para
se obterem valores de enriquecimento suficientemente aumentados. Isso pode ser um problema nos casos em
que o teor de Mg do produto a ser testado relativamente baixo. possvel que tcnicas mais sensveis de
Inductively Coupled Plasma Mass Spectrophotometry (ICPMS) para valores de enriquecimento de istopos
estveis possam tornar possvel a aplicao de traadores estveis em menores quantidades.
9.4. FERRO
9.4.1. Importncia do Ferro na Nutrio Humana
O ferro o 4 elemento mais abundante na natureza, compreendendo cerca de 4,7% da superfcie da
Terra, na forma de hematita, magnetita e siderita.
essencial para todas as formas vivas, com exceo de certos membros do gnero das bactrias
Lactobacillus e Bacillus. Nesses organismos, as funes do ferro so desempenhadas por outros minerais,
como mangans e cobalto. Em todas as outras formas de vida, o ferro um componente essencial ou um co-
fator para centenas de protenas e enzimas.
155
9.4.4. Distribuio no Ser Humano
Nos humanos, a quantidade total de ferro no organismo varia com o peso, a concentrao de
hemoglobina, o sexo e o tamanho do compartimento de reserva:
Homens: 50 mg Fe/kg 4 g/ 80 kg
Mulheres: 35 mg Fe/kg 2,3 g/65 kg
Ferro Essencial:
a) Hemoglobina: 60 a 70% - transporte de O2 no sangue.
b) Mioglobina: 3 a 10%.
c) Enzimas heme: 1 a 3% (catalase, peroxidase, superxido dismutase, citocromo oxidase, lactato
desidrogenase, sulfito oxidase, aldedo oxidase).
d) Transferrina: 0,08% mg Fe Fe +++ - transporte de Fe extracelular (plasma, fluido cerebroespinal,
leite - lactoferrina, smen, fluido amnitico) e intracelular.
A transferrina regula o fluxo de Fe: recebe Fe do trato gastrointestinal, dos estoques e das
hemoglobinas quando destrudas e o leva para a medula ssea, placenta, fgado etc. sintetizada no fgado,
tem vida mdia de 8 a 10 dias e sua sntese influenciada pelo estado nutricional de Fe. As clulas apresentam
receptores de transferrina, os quais transportam Fe por endocitose para o citoplasma.
Ferro No-Essencial
Constitui o Fe de reservas: 15 a 35%
Ferritina: sintetizada no fgado, bao e trato gastrointestinal; estocada em maior quantidade no fgado,
no bao e na medula ssea.
O nvel sangneo indicador das reservas, visto que a ferritina constantemente degradada e
ressintetizada, levando a um equilbrio entre ferritina do soro e ferritina dos tecidos. Tem a funo de prevenir
o acmulo de Fe livre (no ligado) nos tecidos e constitui uma reserva solvel de Fe. Sua sntese induzida
pelo Fe.
Hemossiderina: estoque heptico de Fe; forma insolvel de ferritina, formada pela agregao desta.
A relao entre ferritina e hemossiderina no fgado varia de acordo com o nvel de reserva no
organismo, com a primeira predominando em baixas concentraes e a segunda em altas (overdose).
A liberao de ferro dos estoques requer a presena de substncias redutoras, como a riboflavina
(FMN), niacina (NADH) e,ou, vitamina C.
Ferro No-Heme
O balano normal de ferro regulado pela sua absoro intestinal. O ferro inorgnico solubilizado e
ionizado pelo suco gstrico, reduzido a Fe++ e quelado. As substncias que formam quelatos de baixo peso
molecular, como cido ascrbico, acares e aminocidos, promovem a absoro de Fe. Os quelatos podem ser
absorvidos ou excretados, dependendo da natureza do complexo ferro-quelato. Se esse complexo se mantiver
solvel e o ferro estiver ligado fracamente, este elemento pode ser liberado nas clulas da mucosa e ser
absorvido. Entretanto, se o ferro for fortemente ligado ao quelato e estiver numa forma insolvel, ele ser
excretado como parte do quelato.
A absoro pode ocorrer em qualquer local do intestino delgado, mas mais eficiente no duodeno.
Antes de ser captado pela borda em escova das clulas da mucosa, os tomos de Fe devem primeiro atravessar
a camada de muco. O prprio muco tem a propriedade de ligar Fe. O ferro no estado ferroso (Fe++) mais
solvel do que o ferro na forma frrica (Fe+++), portanto o Fe++ atravessa a camada de muco mais rapidamente
para alcanar a borda em escova, em que ligado a protenas ligantes de Fe, que transferem o ferro para dentro
da clula. Diversos estudos tm tentado identificar essas protenas ligantes. Uma dessas protenas a mucina
(glicoprotena do muco), que tambm se liga ao zinco, porm com menor afinidade. Estudos recentes tm
apontado que um transportador de metal divalente (DMT-1) e a protena NRAMP2 (natural resistance
associated macrophage protein) sejam envolvidos na captao do ferro nas clulas do duodeno.
O transporte do ferro atravs do entercito parece envolver outras duas protenas ligantes,
semelhantes transferrina. Uma a integrina e a outra a mobilferrina, esta ltima pode tambm se ligar ao
clcio, cobre e zinco, o que pode explicar a interao na absoro desses elementos. De acordo com essa
156
hiptese, a mucina liga-se ao ferro no estmago, em pH cido, tornando-o solvel e disponvel para a absoro
no pH mais alcalino do duodeno. A integrina, localizada nas vilosidades intestinais, parece facilitar o seu
transporte para dentro da clula. A mobilferrina recebe o ferro da integrina, que age como protena protetora de
ferro no citosol at a membrana basolateral.
Quando o ferro alcana o plasma, ele oxidado a Fe+++ pela ceruloplasmina e, ento, captado pela
transferrina. A poro de ferro no citosol que excede a capacidade de ligao com a transferrina se liga
ferritina e pode ser posteriormente liberada na circulao, porm a maioria permanece nas clulas da mucosa e
liberada no lmen intestinal aps dois a trs dias, quando a clula descamada.
A transferrina ligada ao ferro transportada atravs da membrana basolateral da clula da mucosa. O
ferro , ento, levado aos estoques no fgado, no bao e na medula ssea, assim como para os tecidos, que
precisam de ferro. A captao do ferro pelos tecidos envolve a ligao da transferrina aos receptores celulares.
O complexo penetra na clula por endocitose e forma uma vescula no seu interior. As enzimas lisossomais
liberam o Fe+++ e a apotransferrina, que levada de volta superfcie da clula e segue para o plasma.
A maioria do ferro encontrado no organismo est ligada a uma protena, mas no na forma livre. Essa
ligao protege o Fe da filtrao glomerular e serve como mecanismo de defesa, visto que o Fe++ reage
prontamente com perxido de hidrognio (H2O2), gerando radicais livres, que so extremamente reativos e
causam danos clula.
Ferro Heme
O ferro heme absorvido por um mecanismo diferente dos descritos anteriormente para ferro no-
heme. A maioria do ferro heme ingerida nas formas de hemoglobina e de mioglobina. O grupo heme pode
ser absorvido intacto (como metaloporfirina) diretamente pelas clulas da mucosa aps a remoo da globina
pelas enzimas proteolticas gstricas e duodenais, ou a poro protica pode ser removida no epitlio da
mucosa. Uma vez dentro da clula, o ferro liberado do heme pela enzima hemeoxigenase, formando Fe++ e
protoporfirina, e a partir de ento processado de maneira anloga que acontece com o ferro no-heme. O
ferro atravessa a clula para ser liberado no plasma como Fe+++. Apenas pequena poro do ferro heme que
entra na clula chega at a veia porta como ferro heme. Sua absoro aumentada na deficincia de ferro, mas
no pelo cido ascrbico e tampouco reduzida por substncias como o fitato. ligeiramente inibida pela
administrao simultnea de ferro inorgnico e ferro no-heme.
157
Caf e ch.
Fibra e farelos de arroz, trigo, milho, nozes, amendoim.
Ingesto concomitante de sais de ferro e zinco.
158
Segundo IOM (2001):
Grupo Idade Fe (mg/dia)
EAR RDA UL
Crianas 0-6m 0,27* 40
7 - 12 m 6,9 11 40
1-3a 3,0 7 40
4-8a 4,1 10 40
Homens 9 - 13 a 5,9 8 40
14 - 18 a 7,7 11 45
19 - 30 a 6 8 45
31 - 50 a 6 8 45
51 - 70 a 6 8 45
> 70 a 6 8 45
Mulheres 9 - 13 a 5,7 8 40
14 - 18 a 7,9 15 45
19 - 30 a 8,1 18 45
31 - 50 a 8,1 18 45
51 - 70 a 5 8 45
> 70 a 5 8 45
Gravidez 18 a 23 27 45
19 - 30 a 22 27 45
31 - 50 a 22 27 45
Lactao 18 a 7 10 45
19 - 30 a 6,5 9 45
31 - 50 a 6,5 9 45
*AI: ingesto adequada (baseada na composio do leite materno).
EAR: necessidade mdia estimada.
RDA: quota diettica recomendada.
UL: nvel de ingesto mxima tolervel.
159
Uma contagem inicial feita logo aps a administrao da dose e antes de ser excretada (2 a 3 horas aps
a ingesto - tempo zero). Subseqentes contagens so feitas em intervalos de 24 a 48 horas por um perodo de
10 a 14 dias, cujo resultado expresso como porcentagem de reteno em relao ao tempo zero. Para calcular
a absoro, uma poro reta da curva de reteno versus tempo extrapolada no ponto zero. importante
corrigir a decada do radioistopo usando padres apropriados.
b) Ferro dializvel
Baseia-se na passagem do ferro dializvel de uma dieta-teste, previamente digerida enzimaticamente, para
o interior de um saco de dilise aps um perodo de tempo.
Com base em estudos interlaboratorias comparando os diversos mtodos de avaliao da
biodisponibilidade de ferro, Forbes et al. (1989) recomendaram uma avaliao prvia por mtodos in vitro,
seguida da avaliao biolgica pelo mtodo da AOAC, como melhores mtodos para se predizer a
biodisponibilidade de ferro para humanos.
160
Mulheres: > 36%
Reduzido na anemia ferropriva.
161
b) Hemossiderose transfusional (aumento dos estoques de ferro sem danos aos tecidos, em virtude de
transfuso de sangue).
RDA UL RDA UL AI UL
Lactentes 0-6m 2* 4 200* NE 0,003 NE
7 - 12 m 3 5 220* NE 0,6 NE
Crianas 1-3a 3 7 340 1 1,2 2
4-8a 5 12 440 3 1,5 3
Homens 9 - 13 a 8 23 700 5 1,9 6
14 - 18 a 11 34 890 8 2,2 9
19 - 30 a 11 40 900 10 2,3 11
31 - 50 a 11 40 900 10 2,3 11
51 - 70 a 11 40 900 10 2,3 11
> 70 a 11 40 900 10 2,3 11
Mulheres 9 - 13 a 8 23 700 5 1,6 6
14 - 18 a 9 34 890 8 1,6 9
19 - 30 a 8 40 900 10 1,8 11
31 - 50 a 8 40 900 10 1,8 11
51 - 70 a 8 40 900 10 1,8 11
> 70 a 8 40 900 10 1,8 11
Gravidez 18 a 12 34 1.000 8 2,0 9
19 - 30 a 11 40 1.000 10 2,0 11
31 - 50 a 11 40 1.000 10 2,0 11
Lactao 18 a 13 34 1.300 8 2,6 9
19 - 30 a 12 40 1.300 10 2,6 11
31 - 50 a 12 40 1.300 10 2,6 11
*AI: ingesto adequada.
RDA: quota diettica recomendada.
UL: nvel de ingesto mxima tolervel.
NE: no estabelecido.
162
que frutas e hortalias so pobres. Altos nveis de cido ftico, encontrados em certos cereais, inibem a
biodisponibilidade de Zn.
Cobre
Assim como em Zn, mariscos, nozes, leguminosas, farelo e germe de cereais e fgado so fontes ricas
em Cu (> 0,3 mg Cu/100 g). A maioria das carnes, cogumelos, tomates, frutas secas, banana, batata e uvas tem
quantidades moderadas de Cu (0,1 a 0,3 mg Cu/100 g). Leite de vaca e produtos lcteos, galinha, peixes, frutas
e hortalias so fontes pobres de Cu.
Mangans
O mangans pode ser encontrado em cereais integrais, nozes, ch e folhas de vegetais. Cereais
refinados, carnes, produtos do mar e produtos lcteos so fontes pobres desse elemento.
9.5.4. Absoro
Zn, Cu e Mn so absorvidos ao longo de toda a extenso do intestino delgado. Cu pode ser absorvido
no estmago. O jejuno provavelmente o seu principal local de absoro, devido ao seu comprimento e ao
tempo que o alimento permanece nele.
A absoro regulada para Zn e Cu no intestino e, possivelmente, para Mn. A absoro pode ser
saturvel, regulada, mediada por carreador e no-regulada, difusional.
A absoro de Zn mediada por carreador predomina em baixos nveis de Zn na dieta. A extruso do
Zn para fora do entercito, atravs da membrana basolateral, provvel que seja dependente de carreador e de
ATP (ATPase especfica para Zn). Os carreadores, tanto da borda em escova quanto da membrana basolateral,
no foram ainda identificados. Entretanto, tm-se sugerido dois transportadores, um deles chamado de ZnT-1 e
um transportador de ferro, chamado de NRAMP2 ou DCT1, com afinidade pelo Zn.
Em situaes de baixo estado nutricional de Zn, a absoro transcelular predomina. Quando o estado
nutricional de Zn est alto, a absoro inibida. Essa inibio parece ser resultante da produo de
metalotionena, uma protena ligante de Zn.
Metalotionena uma protena de baixo peso molecular (6,1 kDa) encontrada no citosol e produzida
em resposta a altos nveis de Zn e de Cu, assim como de metais pesados, como cdmio e mercrio. Tem sido
proposto que altos nveis de metalotionena nos entercitos tm ao de se ligar ao Zn e bloquear a sua
absoro. O metal bloqueado posteriormente eliminado do organismo pela descamao dos entercitos no
intestino. possvel que a induo da produo de metalotionena pelo cobre tenha a mesma funo de limitar
a sua absoro.
Altos nveis de ingesto de Zn podem inibir a absoro de cobre, uma vez que estimula a produo de
metalotionena, que bloqueia a absoro transcelular de Cu. Em contraste, altos nveis de Cu no reduzem a
absoro de Zn, embora tambm induza a produo de metalotionena. Isso se d, provavelmente, pelo fato de
o Cu ter maior afinidade pela metalotionena do que o Zn. possvel ainda que o antagonismo Zn-Cu seja
devido ao fato de competirem pelo mesmo transportador de membrana na borda em escova.
A protena responsvel pelo transporte de Zn, Cu e Mn atravs do citosol a partir da borda em escova
at a membrana basolateral no foi ainda identificada.
Tem sido proposta uma protena ligante de Zn2+, chamada de CRIP. No entanto, essa protena
encontrada em muitos outros tecidos, alm do intestino, e parece estar mais associada a alteraes na
diferenciao do que na absoro de Zn.
Cobre
O cobre tambm se liga albumina aps a absoro intestinal para ser levado ao fgado, onde
incorporado ceruloplasmina. Nessa forma complexada, levado aos tecidos pela circulao. Ceruloplamina
uma glicoprotena de alto peso molecular (132 kDa), que contm 6 a 7% de carboidratos e pode-se ligar a seis
tomos de Cu. De 90 a 95% do Cu no soro est ligado ceruloplamina, cuja sntese no fgado regulada pelo
Cu, assim como pela interleucina-1 e glicocorticides. O complexo ceruloplasmina-Cu se liga a receptores nas
clulas, sendo o Cu reduzido e liberado dentro da clula na forma livre.
163
Mangans
Aps a absoro, o Mn parece ligar-se 2-macroglobulina e ser levado at o fgado. Devido sua
capacidade de se oxidar formando Mn3+, ele pode se ligar transferrina para ser levado aos tecidos. Isso indica
que o Mn seja captado pelas clulas da mesma forma que o ferro, ou seja, por endocitose mediada por
receptores do complexo transferrina-metal.
9.5.6. Armazenamento
Quando animais so alimentados com dietas sem Cu, Zn ou Mn, seu estado nutricional cai
rapidamente. Isso evidencia que no h um "pool" de reserva desses minerais para ser usado em ocasies de
baixo consumo ou de necessidade aumentada. O zinco pode estar localizado nos ossos quando o seu consumo
alto, porm no mobilizado para servir as necessidades do organismo em condies de baixo consumo.
Quando o consumo de Zn ou Cu elevado, a produo de metalotionena no fgado, nos rins e no
intestino cresce dramaticamente, porm o significado funcional dessa ligao com metais no ainda muito
clara.
Metalotionena a melhor candidata a protena de reserva de zinco. Trata-se de uma protena de baixo
peso molecular (61 aminocidos, dos quais 20 so resduos de cistena, que se ligam ao metal per pontes de
dissulfeto). Pode-se ligar a sete tomos de zinco ou de outro metal de transio (cdmio, mercrio, cobre ou
prata), sendo o Zn o principal metal a se ligar a ela.
A sntese de metalotionena induzida rapidamente no fgado, nos rins e no intestino pela exposio a
altos nveis de metais pesados, e estudos tm suportado a hiptese de que metalotionena seja uma protena de
desintoxicao de metais pesados. H tambm evidncias de que a absoro intestinal de Zn no est reduzida
na deficincia de metalotionena, em altos suprimentos de zinco. Isso suporta o papel proposto da
metalotionena intestinal de limitar a quantidade de Zn que deixa o entercito para entrar na corrente
sangnea.
Doena de Wilson
tambm um distrbio no metabolismo de Cu, que ocorre com uma incidncia de 1 em 100.000
nascidos vivos. Sua manifestao mais lenta e usualmente diagnosticada aps a terceira dcada de vida. Da
mesma forma que na sndrome de Menkes, os nveis de ceruloplasmina esto baixos. No entanto, ao contrrio
da sndrome de Menkes, o Cu se acumula no fgado e no crebro. Os pacientes com doena de Wilson parecem
apresentar defeito na excreo de Cu via bile.
O estgio final da doena caracterizado por danos neurolgicos e cirrose heptica. Se diagnosticado
precocemente, os pacientes podem ser tratados com a reduo da ingesto de Cu, terapia de quelao com D-
penicilamina ou pela suplementao oral de Zn, que aumenta a sntese de metalotionena e reduz a absoro de
Cu.
9.5.8. Excreo
Em condies normais, muito pouco Zn, Cu ou Mn excretado pela urina ou pela pele, sendo a
maioria excretada nas fezes.
Do total das perdas endgenas nas fezes, parte devida descamao das clulas intestinais.
Entretanto, quando o consumo de Zn ou Cu alto e a sntese de metalotionena induzida, essas perdas podem
ser significantes.
As perdas especficas de Cu e Mn pelo trato gastrointestinal via secreo na bile. A incorporao de
Mn na bile bastante rpida. Quando o Mn transportado at o fgado, ele entra rapidamente na mitocndria,
onde incorporado superxido dismutase (SOD) mitocondrial ou seqestrado para dentro dos lisossomos.
O Mn lisossomal , ento, ativamente transportado para a bile e concentrado na vescula biliar.
Quase toda a excreo do Cu tambm via bile, e o Cu biliar parece estar complexado, de tal forma
que se torna indisponvel para a reabsoro intestinal.
A excreo de Zn na urina varia com o seu consumo, mas geralmente abaixo de 10% do total
excretado. Cerca de 90% da excreo de Zn atravs das fezes. O nvel real de excreo de Zn depende do
consumo e estado nutricional de Zn do indivduo. Embora a bile e as secrees gastroduodenais contribuam
para a excreo endgena de Zn, a secreo pancretica a maior responsvel pelas perdas endgenas de Zn,
devido s enzimas pancreticas dependentes de Zn, como as carboxipeptidases A e B. Essas enzimas podem
ser digeridas e a maioria do Zn, reabsorvida.
164
9.5.9. Funes
9.5.9.1. Fator de transcrio gentico (protena "dedo de zinco" ou "zinc-finger")
O Zn importante na regulao gentica. Ele promove uma dobra nos aminocidos ao seu redor na
transcrio do fator TFIIIA. O Zn, pela formao dessa dobra, na forma de dedo na protena, permite que essa
regio dobrada se ligue seqncia de DNA na regio promotora do gene. Portanto, sem o Zn, a transcrio do
fator no poderia se ligar ao DNA e estimular a transcrio do gene.
9.5.9.3. Imunorregulao do Zn e Cu
A deficincia tanto de Zn quanto de Cu afeta a funo imune. Em estudos com animais e com
humanos, a deficincia de Zn parece reduzir a funo imune devido a uma perda geral no nmero total de
linfcitos (clulas B e T) do sistema imune perifrico. A deficincia de Cu resulta em neutropenia (perda de
neutrfilos/granulcitos circulantes), assim como em menor nmero de linfcitos T.
Estudos evidenciam que a perda de linfcitos e neutrfilos resulta da produo reduzida de novas
clulas e no da morte precoce de clulas. Os efeitos da deficincia de Zn nos linfcitos podem ser resultantes
parcialmente da atrofia do timo, um rgo que controla o desenvolvimento dos linfcitos T e a perda do
hormnio dependente de Zn - timulina.
A deficincia de Cu inibe a proliferao de clulas T em resposta a mitgenos. Interleucina-2 (IL-2)
media a proliferao de clulas T em resposta a mitgenos, mas clulas deficientes em Cu no produzem IL-2
to eficientemente quanto clulas de animais com adequao em Cu.
9.5.9.4. Metabolismo de Fe e Cu
Alm do seu papel de transportadora de Cu, a ceruloplasmina tambm tem uma funo enzimtica de
ferroxidase. Ela oxida o Fe2+ liberado das reservas de Fe no organismo em Fe3+, que se liga a transferrina para
ser transportada para as clulas para ser processado, como a sntese do heme.
Essa funo de forroxidase da ceruloplamina foi proposta aps a observao de anemia em animais
com deficincia severa de Cu, com reservas normais de Fe. A anemia, nesse caso, era revertida com Cu na
dieta, mas no com Fe.
165
completamente inibida na ausncia desses minerais. Ao contrrio, alguma atividade da SOD-Cu/Zn mantida
quando o Zn removido ou substitudo por outro mineral quimicamente semelhante, como cdmio, mercrio
ou cobre. O Zn parece desempenhar duas funes: estabilizar a estrutura nativa da enzima e o grupo Zn-
histidil-Cu pode ser um doador de prton durante o ciclo oxidativo da enzima.
A deficincia de Cu e Zn pode ter conseqncias funcionais relacionadas reduzida defesa contra os
radicais livres.
A mitocndria o stio de fosforilao oxidativa e, portanto, uma tremenda fonte potencial de
espcies reativas de oxignio e radicais livres nocivos. Portanto, a deficincia de Mn se torna uma condio de
intoxicao de radical superxido devido perda de atividade da SOD-Mn. Isso pode levar a anormalidades
funcionais e estruturais da mitocndria. Alteraes na crista e matriz mitocondriais podem ser resultantes da
peroxidao lipdica. Alterao na integridade da mitocndria pode perturbar o metabolismo energtico. A
deficincia de Mn altera o metabolismo de carboidratos pela destruio das clulas do pncreas, o que resulta
em menor utilizao da glicose e reduo na insulina pancretica. Essas alteraes podem ser devidas a danos
causados por radicais livres, em decorrncia da menor atividade da SOD-Mn.
166
9.5.11. Deficincia
Zinco
Os sintomas da deficincia de Zn tm sido observados em populaes com consumo alto de fitato e
baixo de carne. Os sintomas incluem: perda de apetite, baixo crescimento, alopecia (falta de cabelo ou de plos
no corpo), disfuno imune, hipogonadismo, baixa capacidade de cicatrizao e baixa acuidade de paladar.
Devido ampla diversidade de enzimas zinco-dependentes e da importncia da estrutura dedo de
zinco na modelao da interao entre fator de transcrio e DNA, pouco provvel que essas condies
sejam todas provenientes da mesma origem.
Cobre
Os sintomas da deficincia severa de Cu de origem alimentar ou gentica (doena de Wilson) incluem:
anemia, defeitos no esqueleto, aumento cardaco, pigmentao alterada, falhas reprodutivas, baixa elasticidade
da aorta e neutropenia. Essas condies so raras em humanos. No entanto, sintomas como batimento cardaco
irregular e baixa utilizao da glicose tm sido observados em deficincia menos severa de Cu e tm maior
importncia na sade humana.
Mangans
Crescimento reduzido a maior conseqncia da deficincia de Mn. Outros sintomas incluem: ossos
anormais, baixa tolerncia glicose, baixa reprodutividade e mal formao de filhotes de animais.
9.5.12. Toxidez
Como regra, Zn, Cu e Mn so relativamente no-txicos quando consumidos na dieta. A toxidez pode
ser devida a exposies acidentais ou contaminao ambiental.
Zinco
Manifestaes da toxidez pelo Zn iro ocorrer com exposio por longo prazo a doses de 100 a 300
mg por dia (6 a 20 vezes o RDA). Os sintomas da toxidez incluem deficincia de Cu, caracterizada pela
anemia e neutropenia; funo imune comprometida e reduo nos nveis de HDL-colesterol. Consumos de Zn
extremamente altos causam vmito, dor epigstrica, letargia e fadiga.
O uso de pastilhas de Zn no combate da gripe tem efeitos potencialmente eficientes, porm o mau uso
desses produtos pode levar toxicidade de Zn. As doses preconizadas para surtirem efeito, da ordem de 150
mg/dia, podem ser txicas, especialmente se tomadas de maneira crnica ao longo do perodo de gripes e
resfriados.
Cobre
Em condies de consumo excessivo crnico de Cu, a toxidez s ocorre quando a capacidade do
fgado de se ligar e seqestrar Cu est excedida. A quantidade de Cu na dieta necessria para causar toxidez
no conhecida, mas sinais de desconforto gstrico so observados em doses de at 5 mg/dia. As
conseqncias da toxidez do Cu so fraqueza, desateno e anorexia nas fases iniciais, o que pode progredir
para coma, necrose heptica, colapso vascular e morte.
Mangans
Este elemento considerado um dos minerais menos txicos. A toxicidade oral relativamente rara.
No entanto, Mn proveniente do ar devido emisso industrial e de automveis pode causar srios efeitos se a
exposio for suficientemente longa. Sintomas associados toxidez do Mn incluem desordens pancreticas e
neurolgicas, que so semelhantes s observadas em pacientes com esquizofrenia e mal de Parkinson. A
toxidez do Mn tem sido observada tambm em crianas recebendo nutrio parenteral prolongada.
9.5.13. Biodisponibildade
9.5.13.1. Interaes entre Nutrientes
A similaridade com outros nutrientes pode resultar na competio por stios comuns de ligao entre
minerais correlatos. Isso pode explicar a inibio da absoro de Mn pela alta ingesto de ferro e tambm o
antagonismo entre Zn e Cu. A ligao de compostos orgnicos da dieta no lmen do trato gastrointestinal pode
alterar a absoro. o que ocorre com o fitato (mioinositol penta e hexafosfato), que inibe a absoro de Zn,
Fe e outros minerais da dieta. A presena simultnea de clcio e fitato na mesma refeio aumenta o efeito
inibidor da absoro do mineral devido estabilizao do clcio com o fitato.
A ligao de Zn ou Cu com ligantes de baixo peso molecular, como os aminocidos (Ex: histidina),
pode aumentar a absoro intestinal desses minerais, mas a forma de ao no ainda muito clara.
167
O cido ascrbico, embora aumente a absoro de Fe, inibe a de Cu. O efeito o mesmo, ou seja, o
cido ascrbico reduz tanto o Fe3+ para Fe2+, quanto o Cu2+ para Cu1+. Isso indica que o Cu mais bem
transportado na sua forma oxidada de Cu2+.
Altos nveis de ingesto de molibdnio podem aumentar a excreo urinria de Cu, e altos nveis de
Ca na dieta podem aumentar a excreo fecal de Zn exgeno.
a) Balano Metablico
Tradicionalmente, a absoro de Zn tem sido determinada pela medida da diferena entre consumo e
excreo fecal. Devido grande excreo intestinal de Zn, essa tcnica no pode explicitamente medir a
absoro de uma dieta ou de um suplemento e limitada ou no utilizada para medir a biodisponibilidade de
Zn.
b) Tcnicas Isotpicas
As limitaes da tcnica de balano podem ser superadas grandemente pelo uso de istopos. A
incorporao biolgica (marcao intrnseca) ou a adio (extrnseca) do istopo radioativo ou estvel de Zn
no alimento e a subseqente medida do istopo retido no corpo ou presente nas fezes, so atualmente as
tcnicas mais precisas de avaliar a absoro de Zn. A tcnica do istopo assume que o istopo adicionado ou
incorporado se comporta de maneira similar ao Zn nativo.
c) Aparncia no Plasma
A resposta plasmtica ao consumo de Zn numa dieta-teste tem sido usada para avaliar a
biodisponibilidade de Zn. O rpido "turnover" de Zn no plasma limita a viabilidade dessa tcnica. Alm disso,
os nveis de Zn normalmente presentes na dieta no alteram a concentrao plasmtica de Zn. Ao contrrio, o
168
zinco no plasma geralmente cai especialmente aps uma refeio rica em protena, possivelmente devido
rpida captao pelo fgado do Zn transportado por aminocidos.
Essa tcnica tem uso potencial na avaliao da disponibilidade relativa dos diferentes suplementos de
Zn, em que altas doses so usadas. Para estudar a absoro de nveis habituais de Zn na dieta, seria possvel
adaptar essa tcnica pelo uso de istopos estveis, garantindo um enriquecimento suficiente para ser medido no
plasma.
d) Modelos Animais
A biodisponibilidade de Zn tem sido medida em animais experimentais, como ratos, esquilos e
porcos, avaliando seu crescimento e incorporao de Zn em tecidos, como o fmur. A limitao dessas
tcnicas na extrapolao para humanos reside nas diferentes taxas de crescimento e conseqentes
requerimentos diferenciados de minerais desses animais, assim como as diferenas nas enzimas intestinais,
atividade microbiana, anatomia e fisiologia intestinal.
Filhotes de ratos entubados com dieta marcada com istopo tm sido usados para avaliar a absoro
de frmulas infantis. Seu uso limitado a alimentos lquidos e solues aquosas. O total absorvido pelos
filhotes geralmente maior do que em humanos, o que pode indicar diferentes mecanismos de absoro, sendo
a difuso passiva predominante sobre o transporte mediado por carreador nos filhotes de ratos.
Cobre
Estudos mais recentes da biodisponibilidade de Cu tm usado contagem de corpo inteiro, empregando
o radioistopo 67Cu, um -emissor, com meia-vida de 58 horas. A durao da medida de uma meia-vida
biolgica limitada a aproximadamente 20 vezes a sua meia-vida fsica, ou seja, 48 dias. O outro istopo
radioativo o 64Cu, que possui meia-vida ainda menor (12 horas) e tem sido empregado para investigar
absoro de Cu de leite usando um modelo animal.
A falta de suprimentos disponveis de radioistopos, suas meias-vidas curtas, a necessidade de
contadores de corpo inteiro sofisticados e a crescente preocupao com os danos associados radiao
ionizante restringem grandemente o uso de radioistopos na determinao da biodisponibilidade de Cu.
O Cu tem dois istopos estveis, 63Cu e 65Cu, com abundncia de 69,2 e 30,8%, respectivamente. Estudos
metablicos podem ser conduzidos usando enriquecimento de 65Cu. Por ser o nico istopo estvel, no
possvel conduzir estudos com doses oral e intravenosa simultaneamente. Estudos tm mostrado que a
marcao extrnseca com 65Cu se correlaciona bem com a marcao intrnseca e pode ser usada para medir a
absoro de Cu de um alimento ou dieta.
Ao determinar a absoro de Cu pelo monitoramento fecal (balano qumico ou uso de istopos
radioativos ou estveis) ou pela contagem de corpo inteiro (radioistopos), o perodo de tempo da conduo do
estudo crtico. Assim como em todos os nutrientes inorgnicos, se o perodo de balano for muito curto,
ento nem todos os elementos no absorvidos tero sido excretados e a absoro ser superestimada. No
entanto, se o monitoramento for muito longo, algum Cu inicialmente absorvido ser reexcretado, resultando na
subestimao da absoro.
9.6. SELNIO
9.6.1. Importncia
O selnio foi descoberto em 1817 pelo qumico sueco Berzelius. Nos anos de 1930 e 40 foi
identificado como causador de doenas em animais pela sua ingesto excessiva. Nos anos de 1950, entretanto,
foi identificado como um fator de preveno de necrose heptica em ratos e passou a ser considerado um
nutriente essencial. A partir dos anos de 1960, estudos epidemiolgicos apontaram o selnio como tendo
atividade anticarcinognica. Evidncias da essencialidade do selnio para a espcie humana no haviam sido
documentadas at o final dos anos de 1970.
A deficincia de selnio foi pela primeira vez documentada em 1979, num estudo realizado com
pacientes em nutrio parenteral total na Nova Zelndia, cujo solo pobre em selnio. A paciente apresentava
pele seca e dores musculares, que desapareceram com a administrao intravenosa de selnio. Uma doena
chamada de Kashin-Beck, que afeta cerca de oito milhes de pessoas na China, est relacionada ao baixo
consumo de selnio por aquela populao, cuja dieta se baseia na ingesto de milho.
169
O selnio inorgnico comumente usado para suplementao de dietas animais. A forma mais
comum de selnio nessa suplementao selenito de sdio (Na2SeO3), embora selenato de sdio (Na2SeO4)
seja preferido por no possuir eltrons livres capazes de oxidar outros componentes da dieta.
O selnio da dieta de alta biodisponibilidade, e cerca de 84% dele na forma de selenito e 98% na
forma de selenometionina so absorvidos. Enzimas ou transportadores responsveis pela absoro de selnio
so desconhecidos. A selenometionina transportada ativamente pelo mesmo sistema que transporta
metionina.
A ingesto de selnio varia amplamente com o contedo de selnio no solo, onde os alimentos so
produzidos. O consumo tpico na China de 20 g, 35 g na Finlndia e Nova Zelndia e de 50 a 200 g na
Amrica do Norte.
A excreo urinria de selnio se d na forma de metaneselenol, ons trimetilselennio e
dimetilselenito. Tanto a dose quanto o estado nutricional de selnio do animal influencia a forma e a
quantidade de selnio excretado na urina. Em humanos, metanosselenol a principal forma de excreo
urinria em condies adequadas ou insuficientes. Outras formas de excreo aparecem na urina quando doses
maiores so administradas.
Estudos com traadores isotpicos em humanos tm permitido monitorar o fluxo de selnio no
organismo. Um modelo proposto ilustra o intestino, maior stio de absoro, e outros compartimentos, como o
plasma, fgado/pncreas, rins e msculo/outros tecidos. Nesse modelo, o selnio se apresenta em trs formas
distintas: selenoprotena P (SEL-P), glutationa peroxidase plasmtica (GPX3) e o composto de baixo peso
molecular, seleneto de hidrognio (HSe-). Com a ingesto de 70 g de Se, 59 g so absorvidos (84%) e 11 g
so excretados nas fezes. Outros 32 g so reciclados na bile, e a perda urinria aps 12 dias de 12 g (17%
da dose). O restante do selnio absorvido incorporado nas selenoprotenas dos tecidos como parte do
turnover normal das protenas, substituindo o selnio original, que se mistura com o pool de baixo peso
molecular e excretado, mantendo o balano de Se.
O selenito intestinal quase todo reduzido a seleneto durante a absoro. De maneira similar, as
clulas vermelhas do sangue e outros tecidos tambm reduzem o selenito. Portanto, seleneto se encontra
elevado no pool plasmtico aps duas horas da ingesto e desaparece com a meia-vida de 20 minutos. A
maioria desse selnio captada pelo fgado, incorporada na SEL-P e secretada na circulao. A concentrao
de SEL-P plasmtico alcana seu pico mximo aps 10 horas da ingesto, com meia-vida de trs horas. Os rins
so as maiores fontes de GPX3 nos humanos, e os seus nveis no plasma alcanam o pico mximo aps 13
horas, com meia-vida de 12 horas. A captao de SEL-P e de GPX3 no tem sido demonstrada, portanto o
destino dessas formas desconhecido.
O contedo estimado de selnio no organismo humano de cerca de 13 a 20 mg. Msculos, fgado,
sangue e rins contm 61% do total do selnio estimado em humanos.
9.6.3. Metabolismo
O metabolismo intracelular de selnio complexo no s por ser um elemento trao ligado ao
carbono, mas tambm porque vias metablicas distintas so necessrias para converter formas simples de
selnio da dieta em enzimas contendo selnio.
Essas vias incluem metabolismo de selnio inorgnico, vias do metabolismo para selnio orgnico de
baixo peso molecular e, principalmente, diversas vias alternativas que resultam em protenas ou enzimas
contendo selnio.
170
Sec degradada por uma enzima selnio-especfica, Sec-liase, que libera selnio elementar. O selnio
elementar reduzido no-enzimaticamente a seleneto pela glutationa ou outros tiis. Seleneto pode ser
metilado, usando-se S-adenosilmetionina pela metiltransferase microssomal ou citoslica no fgado para
formar metaneselenol, a principal forma de excreo urinria de selnio. A ingesto excessiva de selnio leva a
outras etapas de metilao, resultando em dimetilseleneto ou no on trimetilsenonio.
Metaloselenol tambm produzido mais diretamente atravs da metionina pela via transaminao
enzimtica e pelas reaes de descarboxilao pela via da transaminao da metionina.
9.6.4. Selenoprotenas
a) Glutationa peroxidase-1
Virtualmente, todas as clulas e plasma animal contm atividade de glutationa peroxidase (GPX). A
atividade de GPX decresce na deficincia de selnio, e a suplementao com selnio restaura essa atividade ao
normal.
A enzima catalisa a seguinte reao:
2GSH + ROOH GSSH + ROH + H2O
GPX1 muito especfica para glutationa (GSH) como substrato doador.
171
l) Protenas ligantes de selnio
Existem diversas protenas ligantes de Se implicadas no seu metabolismo.
n) Selenoenzimas procariticas
Uma srie de selenoenzimas tem sido identificada em microrganismos, que possivelmente podero
servir como modelo para se estudar em novos papis do Se em organismos superiores.
9.7. IODO
9.7.1. Introduo
O corpo humano contm de 15 a 20 mg de iodo, dos quais 70 a 80% esto na glndula tireide. A
funo nutricional primordial do iodo como componente dos hormnios da tireide, tiroxina (T4) e
triiodotironina (T3), representando 65% do T4 e 59% do T3. Outras funes no organismo ainda no esto
comprovadas e merecem futuras investigaes.
Os hormnios da tireide esto envolvidos na regulao de vrias enzimas e processos metablicos.
Os hormnios da tireide so essenciais aos mamferos, por regularem a taxa metablica, calorignese,
termorregulao, crescimento, desenvolvimento de diversos rgos, sntese protica e atividade enzimtica.
172
O iodo pode ser ingerido de diversas formas, sendo a maioria reduzida no intestino e absorvida quase
que completamente. Em condies normais, a absoro do iodo de cerca de 90%. O iodato, amplamente
usado no enriquecimento do sal de cozinha, reduzido a iodeto antes de ser absorvido. Na circulao, o iodeto
captado principalmente pela glndula tireide e rins. A tireide retm iodeto para a sntese dos hormnios, e
a maioria do iodo no utilizado pela glndula excretada na urina.
Um transportador na membrana basal da tireide responsvel pela transferncia de iodeto da
circulao e sua concentrao na glndula em cerca de 20 a 50 vezes a do plasma.
A sntese do hormnio da tireide se inicia com a sntese da tiroglobulina, uma glicoprotena que
serve de veculo para a iodao, formando diiodotirosina e monoidotirosina. A enzima tiroperoxidase, ento,
catalisa a associao de duas molculas de diiodotirosina, formando tetraiodotironina ou tiroxina (T4). Uma
associao similar entre diiodotirosina e monoidotirosina produz triiodotironina (T3). Dois teros do iodo, no
entanto, so mantidos na forma dos precursores inativos, diiodotirosina e monoidotirosina, que so retirados da
frao protica por uma deiodinase especfica e reciclados dentro da glndula tireide, conservando o iodo no
organismo.
Uma vez na circulao, os hormnios T4 e T3 se ligam a protenas sintetizadas no fgado e migram
para os rgos-alvo, onde T4 convertido em T3, que a forma metabolicamente ativa do hormnio. Essa
converso de T4 em T3 feita pela 5-deiodinase, dependente de selnio. Portanto, a deficincia de selnio
reduz a ao dos hormnios da tireide, mesmo que a ingesto de iodo seja adequada.
A tirotropina ou TSH o principal regulador da funo da tireide. Esse hormnio secretado pela
glndula pituitria, em resposta aos nveis circulantes dos hormnios da tireide. A secreo do TSH aumenta
quando os nveis dos hormnios da tireide esto baixos, de forma que altos nveis de TSH indicam
hipotiroidismo e baixos nveis de TSH indicam hipertiroidismo. Quando os nveis plasmticos de T4
diminuem, a secreo de TSH aumenta, assim como a atividade da tireide e a captao de iodo aumenta.
A principal via de excreo do iodo a urina, que contm mais de 90% do iodo proveniente da dieta e
um bom indicador do consumo e do estado nutricional relativo ao iodo. O restante do iodo eliminado pelas
fezes, e em menor proporo, pelo suor.
9.7.3. Deficincia
A desordem por deficincia de iodo (DDI) inclui retardo mental, hipotiroidismo, bcio, cretinismo e
outras anormalidades do crescimento e desenvolvimento em diversos graus. A deficincia resultante da
produo inadequada dos hormnios da tireide, devido falta de iodo.
O principal efeito da deficincia de iodo no desenvolvimento cerebral. O hormnio da tireide
particularmente importante para a mielinizao do sistema nervoso central, que mais ativo no perodo
perinatal e durante o desenvolvimento fetal e ps-natal inicial. Assim, a deficincia de iodo pode estar
relacionada a altas incidncias de retardo mental em certas regies.
O cretinismo uma forma extrema de dano neurolgico do hipotiroidismo fetal. Ocorre nos casos de
deficincia severa de iodo e caracterizado pelo retardo mental, baixa estatura, surdez e mudez.
O bcio (aumento da glndula tireide) usualmente o sinal clnico inicial da deficincia de iodo. Na
tentativa de se adaptar deficincia do iodo para a produo dos hormnios, a glndula aumenta o tamanho e o
nmero de suas clulas. Num estgio inicial, a hipertrofia pode ser difusa e, em estgios avanados, estar
associada ao hipertiroidismo de ndulos autnomos e ao cncer folicular da tireide. Quando atinge a
prevalncia de 10%, chamado de bcio endmico.
Algumas substncias, chamadas de bociognicas, podem interferir com a produo e utilizao dos
hormnios da tireide. A mandioca pode produzir tiocianato, que bloqueia a captao de iodo pela tireide. A
soja e as crucferas, como o repolho e a couve-flor, tambm contm substncias bociognicas. No entanto,
essas substncias so geralmente volteis e no representam importncia clnica, a no ser que coexista a
deficincia de iodo.
Deficincias de vitamina A, selnio e ferro podem exacerbar os efeitos da deficincia de iodo. O
selnio parte da 5-deiodinase, que converte T4 em T3 no fgado, e tanto a deficincia quanto a
suplementao de selnio podem aumentar o tamanho da glndula tireide em animais com deficincia de
iodo. A vitamina A afeta os hormnios da tireide em diversos nveis e a tiroperoxidase, necessria para a
sntese do T4, uma heme-protena dependente de ferro. Na deficincia de ferro, o metabolismo da tireide
comprometido, levando-se inabilidade do controle da temperatura corporal.
173
redao Lei, quanto proporo de iodo, por kg de sal, que passa a ser estabelecida pelo Ministrio da
Sade, tendo em vista a necessidade de iodao para o efetivo controle do bcio endmico no pas
(www.anvisa.gov.br).
9.8. FLOR
9.8.1. Introduo
O flor um elemento abundante na natureza. Tem alta afinidade pelo clcio, o que faz que 99% do
flor do organismo esteja fortemente ligado aos tecidos calcificados. Desempenha papel importante na
preveno e reverso do progresso das cries dentrias. Tem ainda a propriedade de estimular a formao
ssea e, por isso, apresenta potencial na preveno e tratamento da osteoporose.
174
em idosos provvel que a maior poro do flor absorvido seja excretada. O balano de flor pode-se tornar
negativo, ou seja, a excreo urinria pode exceder a quantidade ingerida quando o consumo crnico de flor
insuficiente para manter as concentraes plasmticas, ocasionando a mobilizao do flor dos tecidos
calcificados. Embora o flor esteja ligado fortemente aos tecidos calcificados, essa ligao no irreversvel,
existindo locais de troca rpida ou lenta.
175
9.8.7. Recomendaes nutricionais, segundo o IOM (1997)
Grupo Idade Flor (mg/dia)
AI UL
Lactentes 0-6m 0,01 0,7
7 - 12 m 0,5 0,9
Crianas 1-3a 0,7 1,3
4-8a 1,0 2,2
Homens 9 - 13 a 2,0 10,0
14 - 18 a 3,0 10,0
>19 a 4,0 10,0
Mulheres 9 - 13 a 2,0 10,0
14 - 18 a 3,0 10,0
>19 a 3,0 10,0
Gravidez 18 a 3,0 10,0
19 - 50 a 3,0 10,0
Lactao 18 a 3,0 10,0
19 - 50 a 3,0 10,0
*AI: ingesto adequada.
UL: nvel de ingesto mxima tolervel.
9.9. ELEMENTOS-TRAO
9.9.1. CROMO
9.9.1.1. Introduo
O cromo existe na natureza com as valncias +3 e +6. O cromo III mais estvel e a forma encontrada
nos alimentos e no organismo. O cromo VI um subproduto da indstria de ao inoxidvel, de pigmentos e de
material cromado. altamente oxidvel, provoca irritao e corroso e pode ser carcinognico quando inalado.
J o cromo III tem baixa toxicidade devido, em parte, sua reduzida absoro intestinal.
O cromo potencializa a ao da insulina, restabelecendo a tolerncia glicose. Entretanto, a eficcia do
uso de seus suplementos para controlar a glicemia no est comprovada.
Uma protena de baixo peso molecular ligante de cromo, a cromodulina, parece amplificar a atividade
do receptor de insulina tirosina quinase em resposta insulina. A forma inativa do receptor se liga insulina,
tornando-se ativo. O receptor ativado estimula a entrada de cromo na clula, o qual se liga a essa protena. Esse
complexo ativa a tirosina quinase.
9.9.1.3. Deficincia
A deficincia de cromo foi observada em pacientes com nutrio parenteral total no suplementada com
cromo, levando m utilizao da glicose e aumento da necessidade de insulina. Em vista disso, a deficincia
de cromo tem sido considerada fator que contribui para a intolerncia glicose no diabetes tipo II.
A falta de informao sobre o consumo alimentar de cromo e sobre um indicador da sua deficincia
dificulta a associao entre a deficincia desse elemento e a incidncia de diabetes.
176
alimentos muito varivel e dependente das condies geogrficas. Esses fatores contribuem para a falta de
informao nas tabelas de composio alimentar e, conseqentemente, sobre o consumo alimentar de cromo.
O refinamento de gros e acares reduz o contedo de cromo. Entretanto, o processamento de
alimentos em meio cido pode aumentar o contedo de cromo nos alimentos, especialmente quando
processados em material de ao inoxidvel.
Os cereais podem contribuir com 0,15 a 35 g de cromo por poro de 50 g. Os cereais integrais so
mais ricos em cromo, mas sua biodisponibilidade pode ser afetada pelo fitato.
Leite e derivados, em geral, so pobres em cromo (0,6 g/poro), enquanto carnes, aves e peixes
contribuem com cerca de 1 a 2 g/poro. Sua concentrao em frutas e hortalias muito varivel. Cerveja e
vinho tambm podem fornecer quantidades variveis de cromo.
A limitao de estudos ainda no permitiu estabelecer o nvel de ingesto mxima tolervel (UL) para o
cromo.
9.9.2. MOLIBDNIO
9.9.2.1. Introduo
O molibdnio atua como co-fator de uma srie de enzimas no organismo humano, como a sulfeto
oxidase, xantina oxidase e aldedo oxidase, enzimas envolvidas no catabolismo de aminocidos sulfurados,
purinas e pirimidinas. Na deficincia da enzima sulfeto oxidase, o sulfeto no oxidado a sulfato, levando a
danos neurolgicos e morte.
177
9.9.2.4. Recomendaes nutricionais, segundo o IOM (2001)
Grupo Idade Molibdnio (g/dia)
EAR RDA UL
Lactentes 0-6m 2* NE
7 - 12 m 3* NE
Crianas 1-3a 13 17 300
4-8a 17 22 600
Homens 9 - 13 a 26 34 1.100
14 - 18 a 33 43 1.700
19 - 30 a 34 45 2.000
31 - 50 a 34 45 2.000
51 - 70 a 34 45 2.000
> 70 a 34 45 2.000
Mulheres 9 - 13 a 26 34 1.100
14 - 18 a 33 43 1.700
19 - 30 a 34 45 2.000
31 - 50 a 34 45 2.000
51 - 70 a 34 45 2.000
> 70 a 34 45 2.000
Gravidez 18 a 40 50 1.700
19 - 30 a 40 50 2.000
31 - 50 a 40 50 2.000
Lactao 18 a 35 50 1.700
19 - 30 a 36 50 2.000
31 - 50 a 36 50 2.000
*AI: ingesto adequada.
EAR: necessidade mdia estimada.
RDA: quota diettica recomendada.
UL: nvel de ingesto mxima tolervel.
NE: no estabelecido.
9.9.3. BORO
9.9.3.1. Introduo
A importncia do boro na nutrio humana ainda no completamente conhecida. Esse elemento se
encontra na forma de cido brico e, em condies fisiolgicas, pode dar estabilidade a molculas como
polissacardeos e esterides.
provvel que o boro esteja envolvido no metabolismo da vitamina D e do estrognio em humanos.
Diferentes funes tm sido atribudas ao boro em outras espcies animais.
178
9.9.4. NQUEL
9.9.4.1. Introduo
O nquel um elemento essencial para diversas espcies animais. Em ratos, sua deficincia provoca
retardo no crescimento, baixos nveis de hemoglobina e alterao no metabolismo da glicose.
A essencialidade do nquel para a espcie humana no foi ainda demonstrada, e provvel que ele seja
co-fator ou componente estrutural de metaloenzimas envolvidas em reaes de oxirreduo e na expresso
gnica. Pode ainda ser um facilitador da absoro e do metabolismo do ferro e, ainda, interagir na via de
converso da homocistena em metionina, mediada pela vitamina B12 e pelo cido flico.
9.9.5. SLICA
9.9.5.1. Introduo
A funo da slica na nutrio humana no est ainda bem definida. Em animais como ratos e aves, a
slica parece estar envolvida com a formao ssea, contribuindo para a atividade prolilidrolase, importante na
formao do colgeno.
179
Devido ao fato de no ser conhecida a funo biolgica da slica na espcie humana, suas
recomendaes nutricionais (EAR, RDA e AI) no foram estabelecidas. No h evidncias de que o consumo
habitual de slica na alimentao possa causar algum efeito adverso ou toxidez. O uso de medicamentos
anticidos contendo slica por perodos prolongados pode causar urolitase, devido formao de clculos de
slica. Em virtude da ausncia de informao acerca dos efeitos adversos da slica, a UL tambm no foi
estabelecida.
9.9.6. VANDIO
9.9.6.1. Introduo
A funo do vandio na nutrio humana no foi ainda identificada. Ele parece imitar a ao da
insulina, e sua suplementao medicamentosa pode diminuir a necessidade de insulina em pacientes diabticos
tipo I. Essas altas doses, entretanto, superam o limite mximo tolervel (UL).
9.9.7. ARSNICO
9.9.7.1. Introduo
No h evidncias da essencialidade do arsnico na nutrio humana. Em animais, a sua deficincia
pode causar alteraes no metabolismo da metionina, alm de crescimento e reproduo anormais.
180
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181
Captulo 10- GUA e ELETRLITOS
Neuza Maria Brunoro Costa
Carla de Oliveira Barbosa Rosa
10.1. gua
A gua a substncia mais abundante nos sistemas vivos, contribuindo com 70% ou mais da massa da
maioria dos organismos. Os seus pontos de congelamento, ebulio e calor de vaporizao relativamente altos
so o resultado de atraes intermoleculares fortes na forma de pontes de hidrognio entre molculas de gua
adjacentes. A gua lquida tem considervel ordenamento de curta distncia e consiste de agregados de curta
durao, ligados por ponte de hidrognio. A polaridade e a capacidade de formar pontes de hidrognio fazem
dela um potente solvente para muitos compostos inicos e outras molculas polares.
A gua est mais prxima de ser um solvente universal que qualquer outro material. , todavia, mais
do que um solvente passivo, participando tambm ativamente de diversas funes que so essenciais para a
vida, como o fato de ser o principal fluido no qual nutrientes, gases e enzimas so dissolvidos; de a gua
extracelular que circula as clulas servir como meio de transporte de nutrientes e de oxignio para as clulas e
para remover resduos das clulas; e de a gua intracelular possibilitar um meio fsico-qumico que permite que
vrios processos metablicos se realizem. Alm disso, o volume do fluido intracelular promove um turgor para
os tecidos, importante para sua estrutura e do organismo. Outro papel importante da gua a regulao da
temperatura corporal, o que alcanado pela remoo do excesso de calor do corpo pela gua que evaporada
na pele, ou seja, as propriedades fsicas e qumicas da gua so de importncia central para a estrutura e funo
biolgicas.
A quantidade de gua nos diversos tecidos varia, como pode ser visualizado na Tabela 1.
Tabela 10.2 Proporo dos lquidos intracelular (LIC), intersticial (LIT) e intravascular (LIV), em relao ao
peso corpreo, em funo da faixa etria
Idade LIC (%) LIT (%) LIV (%)
Recm-nascido 25 45 5
Criana de 1 ano 30-35 30 5
Adulto 40-45 15 25
Idoso 25 10 15
182
50 anos de idade. O dbito urinrio mnimo de um adulto de 70 kg de 500 mL, e o de uma criana de 7 kg
de 100 mL. O volume urinrio de uma criana o dobro relativamente ao esperado para o adulto. O organismo
da criana , portanto, mais vulnervel s variaes da gua e, por isso, mais suscetvel s circunstncias que
levam desidratao, como diarria, vmitos ou privao da ingesto de lquidos. Como a perspirao
insensvel determinada pela superfcie corprea e a criana portadora de maior rea corporal relativa do que
do adulto, ela se torna naturalmente mais vulnervel perda de gua tambm por esse mecanismo. Os bebs
tambm possuem maior necessidade de gua por causa da limitada capacidade dos seus rins em lidar com a
carga renal do soluto.
Os idosos possuem menor quantidade de gua do que os jovens. Chegam a ter de 40 a 50% de gua
em seu peso corpreo. Os idosos tendem a perder para o exterior solues isotnicas; alm disso, ingerem
menor quantidade de lquidos. Essa situao exige ajustamentos finos que so naturalmente perdidos com o
envelhecimento.
A gua total no organismo maior em atletas do que em no-atletas, pois a quantidade de gua varia
entre os indivduos, dependendo da proporo de msculo para o tecido adiposo.
Em qualquer idade, a produo do calor e a velocidade do metabolismo so os principais
determinantes do metabolismo da gua. As circunstncias que os aumentam so capazes de provocar
desidratao, a menos que haja ingesto adequada e simultnea de lquidos. Cerca de 20% do total de calor
produzido em 24 horas deve ser dissipado na forma de perspirao insensvel. Cada grama de perspirao
insensvel absorve 0,58 caloria.
Mulheres tm menor contedo de gua do que os homens de mesma idade, e obesos tm menor
contedo de gua do que indivduos magros de mesmo sexo e idade. Essas variaes so atribudas s
diferentes propores de tecido adiposo em relao ao tecido magro (livre de gordura). Clulas gordurosas tm
cerca de 10% de gua, enquanto tecido muscular pode conter cerca de 70% de gua. Portanto, o teor de gua
do organismo varia inversamente ao teor de lipdios do corpo.
O obeso pode chegar a ter 25 a 30% de seu peso corpreo em gua. O equilbrio hdrico no obeso ,
assim, menos estvel do que os magros. A quantidade de gua de reserva maior, e sua disponibilidade para
eventuais necessidades tambm, suprindo mais facilmente suas perdas do que ocorre entre os obesos. Portanto,
o teor de gua do organismo inversamente proporcional ao teor de lipdios do corpo.
183
10.1.4. Perda de gua
A gua perdida por quatro vias principais: trato respiratrio, pele, trato gastrointestinal e rins. As
perdas pelos rins so as mais importantes, visto que a excreo renal de gua regulada para manter constante
a osmolaridade dos fluidos orgnicos.
Suor
O excesso de calor do corpo dissipado na forma de vapores de gua. O volume de gua eliminado
pelo suor altamente varivel, dependendo da temperatura ambiente e da atividade fsica do indivduo. Para
cada grama de gua evaporada na pele, cerca de 0,58 kcal de calor perdida do corpo.
Normalmente, o volume de gua perdido no suor de um indivduo adulto de 65 kg, exercendo
atividade fsica leve em um ambiente de temperatura em torno de 29 C, de 2 a 3 L por dia, mas pode
aumentar para 2 a 4 L por hora se o indivduo estiver exercendo uma atividade fsica pesada em um ambiente
quente e mido. Para cada grau de temperatura acima de 37 C, durante 24 horas, perdem-se mais 150 a 300
mL.
A perda de vrios litros de gua no suor por dia em climas quentes resulta na perda tambm de sdio e
de cloro, alm da gua, que precisam ser repostos.
b) Trato gastrointestinal
O volume de gua perdido nas fezes pequeno, em torno de 0,1 L por dia, e no causa problemas no
balano hdrico, a no ser que perdas excessivas ocorram devido diarria.
O volume de lquidos ingeridos por dia varia com os indivduos, mas em mdia est em torno de 1,7
L. Adicionalmente, so secretados saliva, sucos gstrico, biliar, pancretico e entrico, que somam 7 L por dia.
Normalmente, o intestino delgado absorve a maioria desses lquidos, cerca de 8,3 L, e o clon outros 0,3 L,
resultando numa excreo de 0,1 L de gua nas fezes por dia. Devido a esse volume de lquido reabsorvido ser
de aproximadamente o dobro do plasma sangneo, perdas excessivas de lquido devido diarria podem ter
srias conseqncias, particularmente para as crianas e para os idosos. Outras perdas anormais ocorrem
devido a vmito, hemorragia, drenagem de fstula, exsudato de queimadura e ferimentos ou por drenagem por
sonda cirrgica ou nasogstrica.
c) Rins
O volume mnimo de urina que um indivduo deve produzir por dia, em condies normais de
funcionamento renal, de 0,64 L.
A capacidade renal de ajustar o volume de urina muito grande. O organismo no consegue,
entretanto, eliminar gua pura, nem urina com concentrao de solutos superior a 1 g para 15 mL de gua. O
metabolismo de 70 g de protena resulta na produo de cerca de 21 g de uria, que deve ser excretada na
urina, e contribui com 350 mOsm. Se a ingesto de cloreto de sdio for de 320 mOsm e de potssio 100
mOsm, um total de 770 mOsm de substncias osmoticamente ativas dever ser excretado pelos rins por dia.
Como o rim pode concentrar urina at o mximo de 1.200 mOsm/L, o volume mnimo de urina nesse caso ser
de 0,64 L por dia.
184
A densidade urinria um bom ndice para avaliar a capacidade renal de concentrar a urina. Sua faixa
normal varia de 1,010 a 1,030, entretanto influenciada pela ingesto de lquidos.
Quando o consumo de gua insuficiente ou a perda de gua excessiva, os rins compensam
conservando gua e excretando uma urina mais concentrada. Os tbulos renais aumentam a reabsoro de gua
em resposta ao hormonal do hormnio antidiurtico (ADH). Durante a desidratao, a densidade urinria
aumenta alm dos limites normais.
Tabela 10.3- Recomendaes Nutricionais (IDR) para gua, segundo o Institue of Medicine (IOM, 2004)
AI Ingesto Adequada
gua (L/ dia)
Grupo Homens Mulheres
Alimentos Bebidas Total Alimentos Bebidas Total
0 a 6 meses 0 0,7 0,7 0 0,7 0,7
7 a 12 meses 0,2 0,6 0,8 0,2 0,6 0,8
1 a 3 anos 0,4 0,9 1,3 0,4 0,9 1,3
4 a 8 anos 0,5 1,2 1,7 0,5 1,2 1,7
9 a 13 anos 0,6 1,8 2,4 0,5 1,6 2,1
14 a 18 anos 0,7 2,6 3,3 0,5 1,8 2,3
19 a 50 anos 0,7 3,0 3,7 0,5 2,2 2,7
51 a 70 anos 0,7 3,0 3,7 0,5 2,2 2,7
> 70 anos 0,7 3,0 3,7 0,5 2,2 2,7
Gestao - - - 0,7 2,3 3,0
14 a 50 anos
Lactao - - - 0,7 3,1 3,8
14 a 50 anos
185
O excesso de gua resulta na excreo de urina diluda, enquanto o dficit de gua resulta na excreo
de urina concentrada. Essa habilidade de excretar urina diluda ou concentrada depende dos nveis circulantes
do hormnio antidiurtico (ADH).
O balano de gua pode ser resumido, conforme ilustrado na Figura 10.1.
Osmolaridade do plasma
Consumo de gua
Osmorreceptores
Secreo de ADH
Reabsoro de gua
Excreo de gua
Figura 10.1- Balano de gua: a perda excessiva de gua promove a secreo do hormnio antidiurtico e a
sensao de sede. Em conseqncia, a excreo de urina reduzida e o consumo de gua
aumentado.
186
eles recebe o nome de gua livre. Como elemento fundamental para veicular reaes qumicas, pela grande
capacidade que lhe oferece o fato de ser uma substncia bipolar, essa gua livre permite que os alimentos se
deteriorem por ao de suas prprias enzimas. Isso altera a defesa natural que os alimentos tm contra as
bactrias e os mofos.
A existncia de gua livre pode ser modificada em sua ao sobre os germes pelo pH e tambm pela
existncia ou no do oxignio, segundo o tipo de microrganismo e as substncias antibacterianas que ela possa
conter.
187
Algumas protenas carreadoras presentes na membrana do lmen intestinal, como a SGLT1
(protena transportadora de sdio e glicose), e diversas protenas transportadoras de aminocidos contm stios
de ligao tanto para o sdio quanto para aminocidos ou monossacardeos (glicose e galactose). A entrada de
Na+ na clula, a favor de um gradiente de concentrao, carreia esses nutrientes para o interior do entercito.
Os nutrientes aumentam, ento, a sua concentrao intracelular, formando um gradiente favorvel sua
difuso pela membrana basolateral, usualmente atravs de outro transportador. O Na+ expulso do entercito
pela bomba Na+,K+-ATPase, contra um gradiente de concentrao, com gasto de energia.
despolariza, causando fraqueza muscular, paralisia facial e arritmia cardaca. Em situao de hipocalemia,
quando a concentrao de K+ plasmtico se encontra abaixo de 3,5 mmol/L, a membrana hiperpolariza,
interferindo no funcionamento das clulas nervosas e musculares. Portanto, importante a manuteno de K+
dentro de limites estreitos no plasma.
A concentrao de Ca+2 tambm afeta a excitabilidade das clulas nervosas e musculares e
desempenha papel importante na excitabilidade das clulas musculares lisa e cardaca.
188
Dficit de sal
Volume plasmtico
Presso sangunea
Secreo de renina
Angiotensina II plasmtica Secreo de
ADH
Secreo de aldosterona
Reabsoro de Na+ Reabsoro de
gua
Excreo de Na+ Excreo de
gua
Figura 10.2 Representao esquemtica do controle renal da excreo de sdio e gua, em situao de dficit
de sal.
10.2.6. Desbalano de K+
Hipercalemia: A hipercalemia raramente ocorre quando os rins funcionam normalmente. A
capacidade de excreo renal de K+ pode ser reduzida por um defeito no processo secretrio dos nfrons
distais, pela falta de secreo de aldosterona ou pela falta de resposta dos tbulos renais aldosterona. A
hipercalemia tambm pode ocorrer na acidose metablica e em danos teciduais, como hemlise, queimadura,
trauma e lise de clulas tumorais, que resultam na liberao de K+ intracelular para o plasma. Uma importante
manifestao clnica da hipercalemia a arritmia cardaca, que pode levar fibrilao ventricular. Outros
sintomas incluem parestesia, fraqueza muscular e paralisia.
Hipocalemia: A hipocalemia pode ocorrer devido depleo de K+ do organismo ou passagem de
K para o meio intracelular, decorrente da alcalose e hiperinsulinemia. A depleo de K+ raramente devida
+
sua baixa ingesto, uma vez que a quantidade usualmente consumida excede as perdas obrigatrias e a
necessidade para manuteno tecidual. A depleo pela dieta ocorre somente durante jejum prolongado ou
severas restries alimentares. A depleo pode ocorrer pela via renal, em situao de desordem endcrina e
metablica, como hiperaldosteromia, alcalose metablcia e terapia diurtica.
Perdas gastrointestinais devidas a vmito e diarria tambm levam hipocalemia. O aumento da
aldosterona para manter os nveis de Na+ e a volemia exacerba a perda de K+. A hipocalemia leva depresso
da funo neuromuscular, como fraqueza muscular e cimbra. Em situaes mais severas, leva arritmia
cardaca, paralisia e alcalose metablica.
189
10.2.7. Recomendaes Nutricionais de Na+ e Cl-
A ingesto adequada (AI) para o Na+ foi estabelecida para adultos jovens em 1,5 g (65 mmol/L) e
-
para Cl em 2,3 g (65 mmol/L), que corresponde a 3,8 g de NaCl por dia (Tabela 5). Esses valores de AI no se
aplicam a indivduos com grandes perdas de Na+ no suor, como ocorre com atletas de competio e
trabalhadores expostos ao estresse trmico.
O principal efeito adverso do consumo elevado de sal (NaCl) na dieta o aumento da presso
sangnea, que o principal fator de risco para doenas cardiovasculares-renais. A hipertenso em resposta ao
consumo de sal parece ser maior em indivduos hipertensos, diabticos, com doena renal crnica, idosos e
negros. Fatores genticos tambm influenciam a presso sangnea em resposta ao NaCl.
Embora diversos fatores afetem a dose-resposta ao NaCl, o nvel de ingesto mxima tolervel (UL)
de Na+ foi estabelecido em 2,3 g (100 mmol/L), equivalente a 5,8 g de NaCl por dia para adultos (Tabela 5). A
UL correspondente para Cl- de 3,5 g por dia. Para indivduos com maior sensibilidade ao Na+, os valores de
UL devero ser bem menores e para indivduos no adaptados atividade fsica em ambientes quentes, suas
necessidades podem exceder as ULs, devido sua maior perda de Na+ no suor.
Tabela 10.5- Recomendaes Nutricionais (IDR) para Potssio e Sdio, segundo o Institute of Medicine (IOM,
2004)
AI Ingesto Adequada UL Limite Mximo
Tolervel
Potssio Sdio Sdio
Grupo (g/dia) (g/dia) (g/dia)
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
190
10.3. Referncias
IOM Institute of Medicine. Dietary reference intakes for water, potassium, sodium, chloride, and
sulfate. Washington, D.C.: National Academy Press, 2004. 617 p.
MAHAN, L.K., ESCOTT-STUMP, S. Krause - Alimentos, nutrio e dietoterapia. 11 ed. So Paulo: Roca,
2005. 1242 p.
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Academy Press, 1989. 284 p.
SHENG, H.P. Body fluids and water balance. In: STIPANUK, M.H. (Ed.) Biochemical and physiological
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SHENG, H.P. Sodium, chloride, and potassium. In: STIPANUK, M.H. (Ed.) Biochemical and physiological
aspects of human nutrition. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 2000. p. 686-710.
191
Captulo 11: ANTIOXIDANTES DA DIETA
Snia Machado Rocha Ribeiro
Maria Eliana Lopes Ribeiro de Queiroz
Maria do Carmo Gouveia Peluzio
Neuza Maria Brunoro Costa
Srgio Luiz Pinto da Matta
Jos Humberto de Queiroz
11.1. O Estresse Oxidativo
11.1.1. Terminologias
A compreenso dos mecanismos pelos quais os antioxidantes da dieta agem protegendo o organismo
contra alguns processos patolgicos envolve o conhecimento sobre os danos oxidativos causados pelos radicais
livres, aos quais as clulas aerbicas esto sujeitas.
Radical livre uma espcie qumica que tem eltrons desemparelhados e, por isso, instvel e
apresenta grande reatividade. Como exemplo, citam-se os radicais livres de oxignio e os radicais livres de
nitrognio que so formados no organismo humano. Outras espcies qumicas reativas podem-se formar a
partir dos radicais livres que, embora no tenham eltrons desemparelhados, apresentam instabilidade
estrutural que atribui a essas espcies reatividade similar dos radicais livres. Por essa razo, Espcies
Reativas de Oxignio (EROs) e Espcies Reativas de Nitrognio (ERNs) so utilizadas como termos
genricos para denominar as espcies reativas na forma de radical livre ou no-radical. Mais recentemente,
sugere-se uma proposta de se utilizar o termo Espcies Oxidativas Reativas para designar tanto EROs quanto
ERNs.
192
Tabela 11.1 - Caracterizao das principais Espcies Reativas de Oxignio e Espcies Reativas de Nitrognio
formadas in vivo
Intermedirio Comentrio
Radical superxido: O2 - Formado a partir da reduo parcial do oxignio molecular por 1 eltron
Perxido de hidrognio: H2O2 Formado a partir da reduo parcial do oxignio molecular por 2 eltrons
Radical hidroxil : OH Formado a partir da reduo do oxignio molecular, por 3 eltrons nas
reaes de Fenton e Haber-Weiss, catalisada por metais
Oxignio molecular Simpleto: Primeiro estado excitado do Oxignio Molecular com nvel de energia de
(1gO2) 22 kcal/moL acima do estado fundamental ou oxignio tripleto (3O 2)
xido ntrico: NO Formado a partir de arginina em reao catalisada
pela enzima xido ntrico sintase
Peroxinitrito : ONO2 Formado a partir da reao com o radical superxido
11.1.5. Estresse Oxidativo Causado pelo Aumento das Espcies Reativas de Oxignio
Se h desequilbrio entre a formao de EROs e a atuao das defesas antioxidantes, em conseqncia
do aumento da produo de radicais livres ou da diminuio das defesas, instala-se o estresse oxidativo. Nessa
condio, ocorrem srias conseqncias para os tecidos, em decorrncia da oxidao de protenas, lipdios,
carboidratos e cidos nuclicos. Pode ocorrer ainda a alterao da expresso de genes, cujos produtos esto
envolvidos em mecanismos de morte ou de proliferao celular. Dessa forma, o estresse oxidativo causa
alteraes na estrutura e integridade funcional da clula e pode induzir respostas imunes, que culminam com
mecanismos inflamatrios crnicos ou ainda sinalizam uma resposta de proliferao celular fora do controle. O
estresse oxidativo est associado s doenas crnicas no-transmissveis, e a hiptese oxidativa tem sido uma
das mais atraentes dentro da medicina, nas ltimas dcadas, para explicar mecanismos de doenas.
193
11.2. Antioxidantes da Dieta
11.2.1. Definies
Antioxidante da dieta uma substncia presente no alimento que diminui os efeitos adversos de
espcies reativas de oxignio (ERO) e de nitrognio (ERN) sobre as funes fisiolgicas normais em
humanos. A definio de antioxidante da dieta na rea de Nutrio Humana considera os seguintes critrios:
i) a substncia encontrada na dieta humana; ii) o teor da substncia pode ser determinado em alimentos
comumente consumidos; e iii) a substncia diminui os efeitos adversos da ERO e ERN in vivo.
Ascorbato
O ascorbato, ou vitamina C, um potente antioxidante hidrossolvel, porque a molcula pode doar
um tomo de hidrognio e formar um radical livre ascorbil, relativamente estvel, com meia-vida de
aproximadamente 10-5 segundos. O radical ascorbil pode ser reduzido a ascorbato ou se oxidar, formando
desidroascorbato.
O efeito antioxidante do ascorbato est relacionado com a sua capacidade para eliminar as Espcies
Reativas de Oxignio (EROs), podendo reagir com o radical superxido, o perxido de hidrognio, o radical
hidroxil e o oxignio simpleto. Tambm elimina Espcies Reativas de Nitrognio (ERNs), prevenindo a
nitrao de molculas. Acredita-se que o ascorbato participa da regenerao de tocoferol, e isso explica o
sinergismo do efeito antioxidante dos dois nutrientes (Figura 11.1). considerado um antioxidante protetor de
194
compartimentos solveis da clula, mas auxilia a manuteno de tocoferol no estado reduzido, sendo, portanto,
considerado um nutriente economizador de vitamina E.
Ao participar de reaes como agente redutor, o ascorbato oxida-se, formando desidroascorbato, que
pode ser regenerado por sistemas enzimticos que utilizam glutationa reduzida (GSH). A eficincia do
processo de reciclagem do ascorbato depende do ambiente redutor no meio biolgico.
Figura 11.1 - Ao sinergstica de ascorbato e tocoferol. Este reduz radicais peroxil (R) e se converte no
radical semiquinona, que pode ser reduzido pelo ascorbato, recuperando a molcula de tocoferol na
forma ativa e convertendo ascorbato no radical ascorbil.
Tocoferis
O tocoferol, ou vitamina E, considerado o principal antioxidante lipossolvel do meio biolgico e o
mais eficiente antioxidante em altas concentraes de oxignio.
H um grupo de compostos que recebem a denominao de vitamina E, os quais so sintetizados por
plantas a partir do cido homogentsico. Esses grupos incluem tocoferis e tocotrienis.
O tocoferol est includo na classe dos antioxidantes convencionais que apresentam estrutura
fenlica e pode reagir com radicais peroxil, protegendo membranas contra danos oxidativos. A etapa inicial da
reao antioxidante pelo tocoferol envolve uma rpida transferncia do hidrognio fenlico para o radical
livre, formando um produto radical (Figura 11.2). Este estabilizado por ressonncia, sendo relativamente
pouco reativo com oxignio e lipdios, impedindo reaes em cadeia. Por isso, freqente caracterizar a
propriedade antioxidante do tocoferol como chain-breaking ou interruptor de reaes em cadeia.
195
Figura 11.2 - Reaes do tocoferol com perxidos, formando radicais tocoferil. Uma molcula de tocoferol
pode reduzir duas molculas de radicais (ROO) derivados de perxidos (de hidrognio ou de
lipdios), formando o radical quinona tocoferil.
O radical tocoferil no apresenta atividade antioxidante. Assim, para a molcula manter tal
propriedade, ela deve ser regenerada, ou seja, convertida em tocoferol, pois a concentrao da molcula
presente nas membranas 103 vezes menor que a quantidade do substrato potencialmente oxidvel. O tocoferol
encontrado nas membranas, principalmente dentro da bicamada fosfolipdica, estando numa proporo com
os fosfolipdios de 1:2000 molculas. Isso evidencia a necessidade de regenerao do tocoferil. Uma parte da
quinona tocoferil eliminada pela urina, ou bile, aps reaes de conjugaes, e a outra pode ser regenerada
pelo ascorbato e por outros sistemas antioxidantes, presentes no organismo humano.
Carotenides
Centenas de carotenides esto presentes na natureza, mas poucos so encontrados nos tecidos
humanos, sendo os principais: -caroteno, lutena, licopeno, -criptoxantina e -caroteno. O -caroteno a
principal fonte de pr-vitamina A da dieta, porm existem aproximadamente 50 carotenides com atividade
antioxidante. Estima-se que em pases desenvolvidos o consumo de licopeno proveniente de tomates, lutena
(espinafre, brcolis, milho) e zeaxantina (milho), quantitativamente semelhante ingesto de -caroteno,
somando-se ainda a ingesto de -criptoxantina, que encontrada principalmente em frutas.
Por serem molculas lipoflicas, os carotenides distribuem-se nas regies apolares do meio
biolgico, incluindo as membranas, as partculas de lipoprotenas (LDL e HDL) e o soro, ligados a uma
protena de transporte.
O -caroteno apresenta dois anis de seis carbonos, separados por 18 tomos de carbono na forma
de duplas ligaes conjugadas, o que tambm comum nos demais carotenides. O sistema de duplas ligaes
conjugadas responsvel pela propriedade antioxidante dessas molculas.
Os carotenides so eficientes eliminadores (quenching) de Espcies Reativas de Oxignio,
especificamente oxignio simpleto e radicais peroxil. Afirma-se que os carotenides so eficientes
desativadores de oxignio simpleto, em baixas concentraes de oxignio. A desativao de oxignio simpleto
ocorre por dois mecanismos distintos: fsico e qumico. A desativao fsica ocorre por transferncia de
energia do oxignio simpleto para o carotenide, formando o carotenide excitado. Essa energia dissipada
atravs de interaes vibracionais com o solvente, para recuperar o carotenide no estado fundamental, o qual
permanece intacto, podendo participar de outros ciclos de desativao de oxignio simpleto. A desativao
qumica contribui pouco nesse processo (menos que 0,05% do total), mas o evento responsvel pela
destruio da molcula, e a interao qumica do radical carotenide com os radicais peroxil leva desativao
dos radicais. Esses mecanismos explicam os efeitos protetores dos carotenides contra as doenas relacionadas
ao estresse oxidativo. Entretanto, a modulao gnica parece ser o efeito mais relevante dos carotenides
descoberto nos ltimos anos, o qual pode ser um dos mecanismos adicionais da citoproteo contra alguns
processos patolgicos.
196
Os carotenides formam no organismo produtos de clivagem oxidativa. Sugere-se que estes possam
ativar o promotor do gene do receptor de cido retinico, o qual intensifica a comunicao gap junctional das
clulas. A comunicao intercelular adequada proporciona a regulao do ciclo celular nos diversos tecidos,
permitindo mais tempo para que ocorram mecanismos de reparo que destroem clulas anormais.
Flavanona Taxifolina OH OH OH OH OH
Naringenina - OH OH - OH
Flavona Luteolina - OH OH OH OH
Apigenina - OH OH - OH
Flavon-3-ol Quercetina OH OH OH OH OH
Kenferol OH OH OH - OH
Isoflavona Genistena - OH OH - OH
Daidzena OH OH
197
A aceitao definitiva para as propriedades antioxidantes dos constituintes fenlicos da dieta, in
vivo, justificada por trs razes: i) sua capacidade de reagir, in vitro, com as Espcies Reativas de Oxignio
(EROs) e Espcies Reativas de Nitrognio (ERNs), funcionando como eliminadores, e/ou sua capacidade para
prevenir a formao de EROs, atravs da quelao de metais; ii) a evidncia de sua biodisponibilidade em
humanos; e iii) sua bioatividade in vivo.
Mecanismos de absoro de compostos fenlicos ainda esto sob investigao. Alguns fatores
influenciam a extenso e a velocidade de absoro destes compostos: ocorrncia de interaes no intestino
delgado, potencial para serem metabolizados pela flora bacteriana do clon e a subseqente absoro dos
metablitos, bem como a excreo biliar aps a sua biotransformao heptica. A absoro em nvel de
intestino delgado influenciada pelo peso molecular, lipofilicidade, solubilidade, pKa, e fatores fisiolgicos
tais como, tempo de trnsito gastrointestinal, pH do lmen e outros. H evidncias de que algumas classes de
fenlicos so absorvidas no intestino delgado e outras no clon, aps a degradao prvia por enzimas da
microflora. Existem sugestes de que no intestino delgado, alguns compostos na forma de glicosdios,
principalmente os ligados glicose, podem ser absorvidos intactos atravs de transporte ativo. Um outro
mecanismo alternativo proposto envolve a presena de enzimas no lado externo da membrana da borda em
escova, as quais hidrolisam os glicosdios e, subseqentemente a estrutura fenlica absorvida por difuso.
Os compostos fenlicos, especialmente flavonides, podem atuar como antioxidantes, eliminando o
nion superxido, o radical hidroxil e os radicais de lipdios. Existem evidncias do efeito protetor de
compostos fenlicos sobre a oxidao de LDL induzida por ons cobre e macrfagos, do efeito em inibir
enzimas que catalisam reaes geradoras de EROs, alm da possibilidade de regenerar antioxidantes de
membranas, como -tocoferol. Uma caracterstica interessante de muitos compostos fenlicos a sua natureza
anfiflica, podendo atuar como antioxidante em regies polares e apolares do meio biolgico.
Alm de seus efeitos como antioxidantes, os compostos fenlicos podem exercer outras aes
fisiolgicas benficas, entre as quais se incluem: modulao de enzimas da via de biotransformao de
xenobiticos, inibio de enzimas envolvidas em respostas celulares a fatores de crescimento, incluindo
protena quinase C, tirosina quinase, 3-fosfatidil-inositol quinase, modulao da expresso de genes de
protenas antioxidantes ou supressoras de tumor, como a p-53.
Apesar do suporte cientfico apontando os efeitos benficos dos compostos fenlicos, alguns estudos
tm mostrado que molculas aromticas com substituintes diidroxi na posio orto da estrutura catecol
apresentam propriedade qumica pr-oxidante. Esta estrutura est presente em hidrocarbonetos aromticos e
em metablitos de estrgenos, sendo formada, por ativao metablica em ciclo redox, durante sua
biotransformao. Esta tem sido uma explicao plausvel para o mecanismo responsvel pela ligao entre a
exposio ao estrgeno administrado e o desenvolvimento de cncer. A converso desses compostos
aromticos contendo a estrutura catecol na via da NADPH citocromo redutase-P450 gera intermedirios
reativos (radicais livres), que participam de ciclo redox com o oxignio molecular, formam EROs e produzem
metablitos que fazem adutos com protenas, DNA e RNA, causando efeitos celulares deletrios.
Vitaminas do complexo B
A niacina constituinte do NADH e NADPH os quais so equivalentes redutores, no meio biolgico,
em reaes de oxirreduo que protegem o organismo contra o estresse oxidativo.
198
A flavina um cofator da glutationa redutase, uma enzima chave na manuteno dos nveis de
glutationa reduzida (GSH), a qual um substrato utilizado em reaes redutivas. Deficincias dessas vitaminas
limitam a defesa antioxidante enzimtica.
- So necessrios estudos para melhor compreenso do sinergismo entre ascorbato, tocoferol, carotenides e
compostos fenlicos da dieta, com nfase no apenas na proteo contra o estresse oxidativo, mas tambm em
seus possveis efeitos txicos.
- A presena de antioxidantes no-nutrientes no organismo deve ser considerada em estudos que objetivam
estabelecer recomendaes nutricionais de nutrientes que apresentam funo antioxidante.
- O nvel de recomendao para a ingesto diettica de nutrientes que tm funo antioxidante depende da
funo co-antioxidante dos no-nutrientes e da exposio do organismo condio oxidante;
- O conhecimento da estrutura da molcula uma etapa imprescindvel nos estudos que testam o efeito
antioxidante de compostos fenlicos, em decorrncia da relao estrutura-atividade e da influncia sobre a
partio da molcula antioxidante, entre os compartimentos biolgicos, hidroflico e lipoflico;
199
- Antioxidantes da dieta um tema complexo e exige uma abordagem multidisciplinar para a sua
compreenso; os conhecimentos sobre o assunto apresentam uma aplicao direta em reas diversas: nutrio,
medicina, farmacologia e indstria de alimentos.
11.4. BIBLIOGRAFIA
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