Texto 1 2004 Moura Psicoterapia Infantil PDF
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Resumo
Este trabalho tem como objetivo sistematizar informaes disponveis na literatura sobre
organizao e conduo do processo psicoteraputico de crianas, segundo os pressupostos da
Anlise do Comportamento. O trabalho apresenta uma conceituao de processo psicoterpico,
incluindo etapas e organizao das tarefas. Discutem-se tambm as caractersticas da terapia da
criana que requerem organizao e sistematizao diferenciada. Finalmente, apresenta-se uma
proposta de sistematizao seqencial de diretrizes para conduo do processo psicoteraputico
comportamental com crianas. A proposta apresentada sumariamente de forma diagramtica
seguida de uma descrio passo-a-passo da conduo do processo, incluindo desde o primeiro
contato com a criana, at os procedimentos para o desligamento da terapia. Espera-se que o
modelo proposto auxilie na compreenso do processo de conduo e tomada de deciso em
psicoterapia infantil.
Abstract
The target of this work is to systematize available information on literature about organization and
conduction of therapeutic process with children, according to the Behavior Analysis
presuppositions. The work presents a definition of psychotherapy process, including phases and
organization of tasks. It also discusses the child-therapy characteristics that require different
organization and systematization. Finally, a suggestion is presented on the sequential
systematization of directions to the conduction of behavioral psychotherapy process with
children. The proposal is to briefly present a diagrammatic configuration after a step-by-step
description of the process' conduction, including, from the first contact with the child, to the
procedures to the disconnection of the therapy. The expectation is that the suggested model aids in
the comprehension of conduction process and for the decision's choice in Child Psychotherapy.
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Cynthia Borges de Moura - Universidade Estadual de Londrina - Centro de Cincias Biolgicas/Departamento de Psicologia Geral e
Anlise do Comportamento - Campus Universitrio - Caixa Postal 6001 - CEP 86.051-990 - Londrina-PR. - e-mail:
[email protected]
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Cynthia Borges de Moura - Marlene Bortholazzi Venturelli
processo de mudana. O processo com discutidos por estarem fora do alcance deste
crianas pr-escolares e mesmo os proce- artigo.
dimentos de orientao aos pais no sero
Explique sobre o
FASE INICIAL
1 funcionamento da terapia
Problema relacionado a
expressividade
SIM 3 Trabalhe identificao e expresso
emocional? de sentimentos e auto-exposio
FASE INTERMEDIRIA
NO
4
Inicie anlise de conseqncias
Melhorou?
e levantamento de alternativas
comportamentais
RETORNE AO 3 NO
5 Criana consegue
Treine habilidades especficas Criana executa NO identificar o obstculo
em sesso com sucesso ? que a impede?
SIM
SIM
6 Incentive a ocorrncia do
novo comportamento fora da
H melhora na
adaptao ao AVANCE REPITA O
sesso contexto?
TREINO
FASE IFINAL
8
Fortalea as mudanas INICIE PROCESSO
ocorridas DE ALTA
afetivas com amigos (ex: diga o nome do seu funo do alto custo que o lidar com a criana
melhor amigo), com familiares (ex: quem pode estar requerendo deles. Porm, embora
mais bravo em casa: o pai ou a me?) e possa estar ocorrendo punio, os ganhos
percepo do problema (ex: uma coisa que eu para a criana devem estar sendo maiores, e
mudaria em mim mesmo ...). O terapeuta por isso a recusa em identificar o compor-
tambm deve responder s questes para dar tamento como problema, e principalmente em
modelo do estilo de auto-exposio desejado. concordar com a mudana.
recomendvel realizar um levantamento do Uma estratgia para lidar com este impasse
sistema motivacional da criana, listando, consiste em apresentar as anlises formuladas
junto com ela, as brincadeiras e atividades pelo prprio terapeuta acerca da queixa dos
preferidas para fazerem parte da progra- pais, isto , expor sua opinio profissional
mao das sesses. Se o repertrio de quanto necessidade de tratamento, mos-
brincadeiras for muito restrito, o terapeuta trando criana uma comparao entre os
pode sugerir atividades a serem experimen- pequenos ganhos atuais e as grandes per-
tadas nas sesses e anotar aquelas que a das a longo prazo se no houver mudana.
criana concordar em realizar. Finalmente, Mesmo assim, se ocorrer sria oposio e
deve haver espao para brincadeiras que discordncia tanto com a formulao do
proporcionem descontrao e diverso problema quanto com os objetivos da terapia,
visando parear a terapia e o terapeuta com o tratamento com a criana dever ser inter-
atividades agradveis (Conte, 1993), o que rompido, porque a adeso ficar seriamente
certamente favorecer o estabelecimento do comprometida. A opo passa a ser ento
vnculo terapeuta-criana e da motivao para trabalhar apenas com os pais, at que a criana
participar das prximas sesses. aceite retomar o tratamento.
Caso o cliente aceite o tratamento, seja concor-
Passo 2 - Defina com a criana qual o proble- dando com o objetivo dos pais, ou elegendo
ma a ser trabalhado (objetivos). objetivos prprios, o terapeuta pode avanar
necessrio definir claramente com a criana no processo, iniciando uma explo-rao para
o problema a ser tratado, pois ela deve entender junto com a criana por que o
concordar com a necessidade de ajuda para problema vem ocorrendo. Essa uma tenta-
que aceite e colabore com o tratamento tiva de iniciar o passo 4 - anlise de conse-
(Digiuseppe, Linscott e Jilton, 1996). Para tal, o qncias e levantamento de alternativas
terapeuta poder expor criana os objetivos comportamentais. Se a criana no apresentar
dos pais para com a terapia questionando-a dificuldades em responder a abordagem
sobre a sua concordncia quanto ocorrncia direta ao problema, a etapa quatro poder ser
de tais problemas. O terapeuta deve tambm implementada. Porm, se o terapeuta iden-
auxiliar a criana a definir seus prprios tificar na sesso, inabilidades da criana nos
objetivos, sejam eles condizentes ou no com repertrios de auto-exposio (falar sobre si
os dos pais. mesmo e seu ambiente) ou auto-expresso
Quando ocorre a recusa da criana em definir (identificao e expresso de sentimentos), os
os objetivos, o terapeuta dever investigar os procedimentos teraputicos devem ser
motivos que esto levando a criana a preferir direcionados para aumentar e fortalecer tais
a manuteno de uma situao aparente- repertrios como importantes pr-requisitos
mente desagradvel e porque est havendo para a continuidade da terapia e a modelagem
divergncia em relao aos objetivos dos pais. das respostas indicativas de melhora (geral-
relativamente comum nestes casos, que os mente padres incompatveis com o reper-
pais estejam incomodados com a situao, em trio atual).
022 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2004, Vol. VI, n 1, 017-030
Direcionamentos para a Conduo do Processo Teraputico Comportamental com Crianas.
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Assim, ganha-se tempo e melhores condies garantir a permanncia dos ganhos da terapia
de implementar os procedimentos tera- antes de desligar completamente a criana do
puticos. apoio teraputico.
Com a formulao do problema, inicia-se o A presente proposta no pretende apresentar
processo de transio para fase intermediria. regras a serem seguidas, mas apontar
Nesta fase, exige-se maior habilidade do diretrizes para que o terapeuta esteja atento e
terapeuta para provocar a expresso de se deixe modelar pelas contingncias
sentimentos de forma ldica e interativa. Esta especiais de cada caso (Conte, 1993). Por
fase tambm requer do terapeuta uma melhores que sejam as propostas para
preocupao maior em relao aos outros atendimento de crianas, elas devem
passos do processo, no sentido de levar o considerar quem dirige que tipo de
cliente a analisar as conseqncias do seu procedimento, para que tipo de indivduo ou
comportamento e levantar as alternativas famlia, com que tipo de problema, em que
comportamentais para resolver seus pro- contexto.
blemas. O ponto forte de uma sistematizao como
Quando o terapeuta comea a incentivar a essa parece ser, como afirma Conte (1993), o
ocorrncia de novo comportamento fora da fato de que a repetio de processos e
sesso e isso se d com sucesso, a fase de procedimentos tm demonstrado a utilidade
desligamento pode ser iniciada. A anlise e da aplicao da Anlise do Comportamento
refinamento das tentativas de mudana e psicoterapia infantil quanto alterao de
fortalecimento das mudanas ocorridas so de relaes complexas em prol do bem estar da
grande importncia, pois se faz necessrio criana.
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