Psicoterapia Breve
Psicoterapia Breve
Psicoterapia Breve
ROTEIRO
a) Aceitar a realidade de seu ser-no-mundo, isto é, como a pessoa é e quais são as suas reais
possibilidades de ser e agir;
b) Penetrar no psiquismo da pessoa e ajudá-la na realização de si mesma, a continuar
seguindo o caminho de sua vida que foi interrompido pelo estabelecimento de uma situação
especial de "doença" (uma crise, por exemplo) e permitir que ela tenha domínio sobre suas
próprias variáveis individuais.
c) O objetivo deve ser reintegrar o "doente" na cultura a que pertence, ajudando-o a
manifestar todo o seu potencial possível, restabelecendo seu potencial criativo e sua
espontaneidade.
Nos processes terapêuticos, o conto do "Patinho Feio", não importa ser "pato" ou "cisne",
mas o importante é conscientizar-se que se está no "lugar errado" e que se quer ser "pato"
quando se é "cisne" e vice-versa, muitas vezes perdendo a oportunidade de ser um "bom
pato, se é pato" ou um "bom cisne, se é cisne".
E assim se concentra a idéia de uma psicoterapia breve, isto é, a de procurar, ao lado do ser
que sofre, encontrar a solução para a sua aflição, pesquisando no campo do "mundo
externo", primeiramente, e a seguir no seu "mundo interno", as origens de seu sofrimento,
sem se estender em longos caminhos de modificação.
Portanto, o processo de psicoterapia breve envolve a criação de um vinculo transitório entre
terapeuta e cliente, baseado na relação dialógica, estruturado na empatia, com um nível
mínimo de consolidação para que se possa desenvolver, tanto no contexto dramático,
quanto no relacional, uma certa experiência emocional de correção ("Experiência
Emocional Corretiva", aqui empregada num sentido mais amplo do que o proposto por
Alexander, pois envolve não apenas a experiência relacional, mas tamb6m a revivência
psicodramática corretiva), possibilitando a emergência de aspectos inconscientes
transferencialmente agregados à situação vivida no presente pelo paciente, permitindo o
reconhecimento destes aspectos profundos (insight) e a liberação de cargas emocionais
bloqueadas ligadas a eles (catarse de integração).
Um outro elemento que se apresenta para a conceituação de psicoterapia breve é a questão
da determinação dos objetivos a serem alcançados pelo processo. E o objetivo,
primordialmente, não é outro senão o de se atingir aquele equilíbrio existente anteriormente
A crise, com a resolução destes aspectos transferenciais agregados.
Isto traz à tona outra questão: a da focalização, que merecerá um item destacado mais á
frente ainda neste capitulo. Mas, desde já é importante afirmar a necessidade da sua correta
identificação por parte do terapeuta, pois disto depende o êxito do processo.
Quanto a questão do termo breve, que indica um fator especifico nesta modalidade de
psicoterapia, trata-se efetivamente da limitação do tempo de duração do tratamento,
determinado desde o inicio do trabalho. Tem como fundamentação não somente as questões
sócio-econômicas institucionais ou particulares, mas também a observação de que uma
situação de crise é limitada no seu tempo de duração. Há também, em sua argumentação, a
proposição colocada por Malan de que o período predeterminado para a duração do
processo desencadeia uma "ansiedade positiva", algo como no principio existencialista de
que o "reconhecimento da morte possibilita a vida!"
Finalmente, neste item quero deixar ressaltado que os meios de alcançar o objetivo
terapêutico envolvem vários níveis de ação, que vão desde mostrar ao paciente o que esta
realmente acontecendo e de que forma ele está reagindo (clareamento), passando por uma
etapa pedagógica, em que lhe são oferecidas algumas alternativas de solução
(esclarecimento) até atingir a fase mais importante do processo que é a abordagem
psicodramática direta dos conteúdos do mundo interno que impedem o seu livre
desempenho (resolução).
Assim, neste sentido, a Psicoterapia Breve tem a finalidade de uma "experiência emocional
corretiva", em que se oferece ao paciente a oportunidade de vivenciar uma situação especial
em um contexto relacional de aceitação e segurança, onde ele possa chegar a uma
formulação interna do conflito e reestruturar a sua vivência de ansiedade frente a uma
situação emocional antes insuportável. Reunindo todos estes elementos apresentados é
possível chegar a uma conceituação de Psicoterapia Breve:
Uma forma de tratamento de distúrbios de natureza emocional, fundamentada no
referencial teórico do Psicodrama, que se utiliza alguns elementos técnicos e até mesmo
teóricos de outras linhas de psicoterapia; de objetivos terapêuticos determinados, na medida
em que se restringe a abordar certas áreas de conflito previamente limitadas em um foco;
caracterizada por se desenvolver em um tempo limitado de duração, fixado ao início do
processo; praticada por um terapeuta previamente treinado que adote uma atitude bastante
ativa, de verdadeiro "ego-auxiliar" baseando seu trabalho na relação empática; dando
especial ênfase ao "atual ". sem deixar de se preocupar com os conflitos internos no que
tenham de interligação com os atuais, na expectativa de que, através do insight e da catarse
de integração, posse ser restabelecido o equilíbrio psíquico anteriormente presente.
1.6- FOCALIZAÇÃO.
Um outro ponto importante a ser abordado na delimitação teórica da Psicoterapia Breve é o
conceito de foco. Lemgruber (1984) define como foco: o material consciente e inconsciente
do paciente, delimitado como uma área a ser trabalhada no processo terapêutico atrav6s de
avaliação e planejamento prévios.
Fiorini (1978) faz uma excelente apresentação deste conceito em seu livro, descrevendo-o
como uma organização complexa da qual fazem parte formulações que enfatizam aspectos
sintomáticos (como, por exemplo, o próprio motivo da consulta), aspectos interacionais (o
conflito interpessoal que desencadeou a crise), aspectos caracterológicos ("uma zona
problemática do indivíduo"), além de aspectos próprios da díade terapeuta-cliente e o
desenvolvimento da técnica.
Partindo-se da premissa que tem sua base teórica na formulação gestáltica de que o mundo
fenomenal é organizado pelas necessidades do indivíduo, que energizam e organizam o
comportamento, vemos que estas observações de Fiorinni seguem como que "um rio
canalizado", abrangendo diferentes níveis de um mesmo foco. Isto porque o indivíduo,
ainda segundo este pensamento, executa as atividades que levam à satisfação das
necessidades seguindo um esquema hierárquico em que desenvolve e organiza as figuras de
experiência segundo um certo grau de complexidade. A medida que as enfrenta, há sua
resolução e conseqüente desaparecimento, podendo o indivíduo continuar no caminho de
sua meta.
Ora, em uma situação terapêutica, temos como um único foco em seus diversos níveis - a
situação trazida por um paciente em que a "porta de entrada" seja realmente uma série de
sintomas somáticos (taquicardia, palpitações, falta-de-ar, tonturas), desencadeados num
segundo nível pela ansiedade ou angústia frente a uma situação especifica (da qual, em
muitos casos, a pessoa nem se deu conta). Deve-se ter em conta que a angústia é o
sentimento natural que se apresenta em um indivíduo perante uma situação de conflito.
Portanto, como delimitação do foco, tem-se a sintomatologia apresentada, a ansiedade que
Ihe deu origem e o conflito atual que gerou essa ansiedade. 0 conjunto atual é a situação
vivida pelo sujeito, que encontra dificuldades para resolver um problema (obstáculo) que a
vida lhe ofereça.
Este conflito atual, uma perturbação na relação eu-tu ou eu-isso que o indivíduo apresente,
pode ser "curto-circuitado" com uma situação emocionalmente semelhante vivida em seu
passado e mal elaborada por ele em seu desenvolvimento. Esta situação pretérita constitui
outro elemento do foco, já agora mergulhando no mundo interno, inconsciente, projetado
no presente pelo mecanismo da transferência.
Por aqui, chega-se ao conflito nuclear, muito provavelmente alguma situação ou momento
da vivência com figuras parentais em que altas cargas de emoção foram bloqueadas,
gerando o que comumente é chamado de "núcleos transferenciais".
Nas palavras de Fiorini de que "a focalização da terapia breve é a sua condição essencial de
eficácia" compreendemos o sentido primordial do trabalho terapêutico breve, abandonando,
pelo menos no momento, a sugestão apresentada por Malan de se trabalhar com mais de um
foco em terapia breve, pois vejo nisto o risco de se perder a essência do processo breve e de
se criar uma outra forma alternativa de abordagem - que poderia ser aplicada em processos
psicoterapêuticos de duração limitada (como o trabalho realizado por residentes em
Hospital de Ensino ou o de Estudantes de Psicologia na Clínica-Escola) - mas que, a meu
ver, foge em precisão do termo "Psicoterapia Breve" em sua conceituação anteriormente
explicitada.
Com esta perspectiva de avaliação e ação sobre o foco, contraria-se a opinião de muitos
psicoterapeutas (principalmente psicanalistas) que afirmam ser o trabalho de Psicoterapia
Breve muito superficial, visando apenas a remoção de sintomas. Ora pois, ao se abordar em
um mesmo foco diferentes níveis de profundidade de um conflito, espera-se atingir o
"conflito nuclear", obtendo a sua resolução no seu mais profundo nível, ainda que - ligados
a este ponto conflitivo - existam outros pontos, outros focos a serem abordados. Esta
"ramificação" de conflitos profundos compõe toda a estrutura psíquica da pessoa e sua
abordagem completa realmente é apanágio das psicoterapias prolongadas.
Assim, creio ser importante distinguir-se entre profundidade e amplitude em Psicoterapia
Breve, visto que é possível ser atingida uma profundidade nuclear nesta forma de terapia,
sem que, no entanto, se tenha uma grande "amplitude" de campo de ação terapêutica,
No entanto, é preciso estar atento para que não se trabalhe realmente apenas no sentido de
suprimir os sintomas, como pode ocorrer em outras formas de abordagem (principalmente a
medicamentosa). Neste sentido é interessante observar a colocação de Jurandir Freire
(1978):
Um sintoma é a manifestação visível e sensível de uma estrutura e a estrutura é ela mesma.
Mais ainda, um sintoma sintetiza um conflito presente e uma história conflitual passada, ele
é um resumo, um instantâneo da vida do sujeito... Se a Psicoterapia Breve consegue fazer
com que o sintoma desapareça no ato da cura ou sua estratégia foi bem-sucedida, o sintoma
foi suprimido e com ele o funcionamento patológico que lhe deu origem, ou sua estratégia
foi malsucedida, o sintoma pode desaparecer, mas deu lugar a uma "sintomatização" do ego
ou do caráter, problemas psicopatológicos bem mais graves. No primeiro caso, quer queira,
quer não, o terapeuta agiu sobre a estrutura. Neste sentido, a psicoterapia obteve um efeito
pleno...
a) Fase de vinculação
Pichon-Riviére, citado por Moffatt, diz da "necessidade do paciente, em estado de crise, de
que alguém lhe segure o medo". Neder (1984) cita as experiências do psiquiatra norte-
americano Eric Wright, que acompanhou pacientes em estado grave (de origem clinica ou
acidental) no transporte de ambulância desde o local em que foi encontrado até o hospital.
No trajeto, Wright mantinha-se próximo ao paciente e, segurando-lhe a mão, informava-lhe
brandamente: "Você não está sozinho, não se preocupe, eu estou aqui com você. Está tudo
sob controle; você já foi medicado e está tudo organizado. Não há com o que se preocupar.
Descanse! ". Segundo o seu relato, isto era feito mesmo com o paciente inconsciente e os
resultados revelaram uma diminuição no número de pacientes que faleciam antes de chegar
ao hospital, mesmo tendo o mesmo nível de apoio clinico.
Portanto, já a partir da primeira sessão de Psicoterapia Breve, o terapeuta deve estabelecer
uma comunicação com seu paciente em que se tenha em mente o processo da "confirmação
da existência" da pessoa.
Laing (1978), citando Buber e William James, faz a importantíssima afirmação: "O mais
ligeiro sinal de reconhecimento do outro confirma pelo menos a presença da pessoa em seu
mundo". 0 objetivo desta fase é, pois, despertar no cliente a sensação de que não está
sozinho neste mundo e que será compreendido e ajudado exatamente no que precisa. Para
tanto, é necessário que o terapeuta esteja familiarizado com os principais concertos da
teoria da comunicação desenvolvidos por Watzlawicki, Beavin & Jackson (1973).
b) Fase ansiolítica .
Esta é a fase em que será abordada a simultaneidade da ação músculo-emoção. Tal
simultaneidade de ação parte de um principio fisiológico que coloca o animal em posição
de "briga" ou de "fuga" frente a uma situação de perigo, mobilizando todo o seu esquema
muscular. 0 relaxamento muscular pode ser considerado como a mais antiga técnica de
acolhimento, pois é "nada mais, nada menos, do que o abraço e as caricias da mãe ante o
pânico infantil, abraço que é simultaneamente contenção, encontro e relaxamento"
(Moffatt, 1982).
É no jogo, no entanto, que encontramos a expressão psicodramática máxima. Monteiro
(1979) diz que o jogo permite ao homem reencontrar sua liberdade, através não só de
respostas a seus problemas, mas também na procura de formas novas para os novos
desafios da vida, liberando sua espontaneidade criativa. Bustos (1979) cita Moreno para
dizer que "ele adorava o jogo, porque ai se encontra a liberdade".
Nas psicoterapias de grupo, os mais variados jogos podem ser propostos, sempre tendo cm
mente que, nesta situação especial, cm que o indivíduo não esta trabalhando diretamente o
seu conflito, o nível de ansiedade se tornará cada vez menor, facilitando cm muito as
demais etapas do tratamento.
Nas psicoterapias bipessoais, devem ser estimulados os jogos com objetos intermediários,
como bonecos, fantoches, tintas, "jogos de armar", etc.
1.12- RESOLUÇÃO.
Esta etapa é a "espinha dorsal" de todo o tratamento. Trata-se do momento em que se irá
abordar dramaticamente o "foco" da situação critica apresentada pelo paciente. Deve, então,
o terapeuta trabalhar mantendo um "foco" de ação, termo que se refere As dramatizações
centrais que derivam diretamente da "queixa" do paciente. O paciente deve ser sempre
encaminhado para este foco, desprezando-se possíveis derivações que eventualmente
surjam durante a dramatização. Aqui novamente é solicitada a experiência do terapeuta,
pois de suas "hipóteses" dependerão a manutenção do "foco" em evidência.
Na situação de crise, a pessoa não se apercebe da presença de barreiras secundárias
(pertencentes ao seu mundo interno) que a limitam e se lança em campo em busca da
resolução de sua meta, at6 a qual só vê um caminho, sem se dar conta destas barreiras que,
obviamente, tornam árdua e desastrosa a caminhada, com evidente rebaixamento das
funções egóicas.
Portanto, o caminho para a meta é desviado pelas barreiras secundárias, levando o
indivíduo a direções refratárias, chegando a distanciar-se tanto de sua meta que, por fim, se
vê confuso, perdido e só, característico da crise.
Cabe ao processo de Psicoterapia Breve manter o indivíduo no caminho de sua meta,
parando a cada barreira, tentando solucioná-la. Ou, se isto não for possível devido à sua
amplitude e ramificação, deve-se ao menos contorná-la, sem perder o rumo da solução.
Em termos de "operação dramática", isto eqüivale a realização de sucessivos "atos
terapêuticos", em que cada obstáculo secundário é abordado isoladamente, tendo-se a
obrigatoriedade de encerrar a sessão sempre retomando o rumo da resolução do foco
primário.
1.13- (RE)PROJETAÇÃO.
Esta é a última e certamente a mais delicada etapa do processo de Psicoterapia Breve.
Delicada sim, pois se as duas etapas propostas anteriormente exigiam experiência e talento
do terapeuta, esta exige - além disto - sua capacidade télica.
Aqui novamente é requerida a "capacidade empática" do terapeuta, pois é preciso "trocar de
papel" com o cliente e, como no poema de Moreno, "vê-lo com seus próprios olhos", pois é
nesta fase final do processo terapêutico que será elaborado e encaminhado um novo projeto
de vida do paciente.
Massaro (1984), ao discutir o conceito de temporalidade em Berg-son diz: Para criar o
futuro, é preciso que algo lhe seja preparado no presente, e como a preparação só pode ser
feita utilizando-se o que já foi, a vida se empenha desde o começo em conservar o passado
e antecipar o futuro; numa duração em que o presente, o passado e o futuro penetram um no
outro e formam uma continuidade indivisa.
Assim, esta etapa ocorre em um “continuum” com a anterior, pois o papel social
potencialmente mobilizado na fase de Resolução será aqui solicitado a demonstrar seu
desenvolvimento e "lapidado" em suas arestas. Isto significa que, na elaboração de um
novo projeto, 6 fundamental a analise critica e o questionamento sucessivo, a fim de se
assegurar da solidez das soluções propostas.
10-BIBLIOGRAFIA.
INTERNET - http://www.orgonizando.psc.br/zeg/breve.htm
INTERNET - http://www.ferreira-santos.med.br/ppb.html
Eduardo Ferreira-Santos
INTERNET - http://www.ipi.med.br/pbi.htm
Conceito de Foco
é obvio que também depende por completo de uma boa interação entre paciente e
terapeuta, que se deve descrever assim: a) o paciente oferece material que b) possibilita ao
terapeuta a formulação de um foco que c) o terapeuta oferece ao paciente, que d) o
paciente, por sua vez aceita trabalhar com ele.
SIFNEOS (1989), por sua vez, afirma que a questão da focalização em Terapia Breve é
crucial para o desenvolvimento do processo; cita também que "há um consenso geral" de
que conflitos edipianos não resolvidos , reações de luto e separação são , em si, focos, que,
quando bem trabalhados, dão origem aos melhores resultados terapêuticos. Pode-se ver
aqui, que Sifneos chama de foco, o que, talvez pudéssemos considerar como o "tema
principal" a ser abordado em Psicoterapia Breve. SIFNEOS deixa, porém, aberta a
possibilidade de haver outros possíveis focos, que não o edipiano, a serem trabalhados em
psicoterapia breve, afirmando ter escolhido trabalhar com pacientes que apresentassem esta
dinâmica apenas com finalidades de pesquisa. Ao explicar o que realmente significa "foco
edipiano" SIFNEOS diz:
Parece haver três categorias de problemas edipianos. A primeira categoria inclui aqueles
pacientes que permanecem um pouco demais em seu apego ao pai do sexo oposto,
tendendo a adiar a escolha de abandonar seus desejos por __ e competição com ___ seus
pais e encontrar um substituto adequado entre seus pares. A segunda categoria oferece um
quadro mais complexo e inclui os pacientes que, de uma forma ou de outra, foram
encorajados por seus pais a permanecerem apegados a eles... Finalmente, a terceira
categoria apresenta o maior numero de complicações. Aqui, um acontecimento externo
maior, na forma de uma situação vital realista ocorrida durante período edipiano, tende a
criar dificuldades que não podem ser alteradas e defronta o paciente com problemas que,
à primeira vista, parecem quase insuperáveis...Tais eventos se relacionam com morte ou
separação permanente dos pais...
Nestas colocações fica, a meu ver, a conceituação de "foco" como a simples descrição de
possíveis dinâmicas envolvidas no processo transferencial que se desenvolve em torno de
um obstáculo de vida e que pode gerar conflito e angústia.
Para outro conceituado autor em Psicoterapia breve, H. DAVANLOO (1979), a idéia de
foco se expande um pouco mais em amplitude, quando ele oferece a possibilidade de se
trabalhar em Psicoterapia Breve com diversos tipos de pacientes, em um processo que ele
mesmo chama de "largo foco" terapêutico; mas, mesmo assim, o conceito focal permanece
na proposição da meta a ser atingida na resolução da dinâmica apresentada pelo paciente.
Assim diz DAVANLOO:
WOLBERG (1979), talvez o menos teórico porém certamente o mais prático em termos de
se alcançar um resultado efetivo para o sofrimento de sus pacientes, apresenta, com a
clareza do nítido pragmatismo norte-americano o que se apresenta como o mais próximo de
se aceitar , a meu ver, como conceito de FOCO em Psicoterapia Breve.
Em seu trabalho, realizado para subsidiar Companias americanas de Seguro Saúde a
patrocinar processos de Psicoterapia Breve a seus associados, Wolberg compara a
Psicoterapia prolongada à breve, fazendo a analogia com o fato de um caçador entrar em
um bosque armado com uma carabina e começar a ir atirando a esmo, para todas as
direções, atingindo um ou outro animal por mera casualidade; passado algum longo tempo
no bosque, este homem certamente terá conseguido caçar muitos animais, mas isto não é
possível se se tem um tempo curto e os objetivos precisam ser atingidos neste período.
Assim, em suas palavras, WOLBERG define foco:
Portanto, compete mais ou menos ao paciente escolher a área particular de seu problema
que deve ser abordada. Freqüentemente, isto envolve a situação precipitadora da tensão ,
cuja exploração pode aliviar a tensão e servir para que o indivíduo recupere equilíbrio
adaptativo. Neste ponto, procede-se a uma tentativa para identificar a origem do distúrbio
imediato e relacioná-la com o conflito subjetivo do paciente. Desenvolve-se um esforço
para penetrar, pelo menos parcialmente, nos conflitos desencadeados pela situação de
tensão, tratando-os como fontes autônomas de ansiedade, ainda que derivem e se
correlacionem com certos conflitos nucleares subjacentes e fixos. O material histórico só é
levado em conta quando se relaciona com os problemas correntes.
MORENO (1978), por outro lado, na sua formulação teórica do método psicodramático,
deixou bem claro o conceito de "ato terapêutico" que, na sua concepção de psicoterapia
enquanto ato e não processo, trazia implícita a idéia gestáltica de foco
Partindo da premissa que tem sua base teórica na formulação gestáltica de que o mundo
fenomenal é organizado pelas necessidades do indivíduo que energizam e organizam o
comportamento, vemos que as formulações de Fiorini seguem como que "um rio
canalizado", o qual abrange diferentes níveis de um mesmo foco, isto porque o indivíduo,
ainda segundo esse pensamento , executa as atividades que levam à satisfação das
necessidades a partir de um esquema hierárquico, em que desenvolve e organiza as figuras
da experiência segundo certo grau de complexidade. À medida que as enfrenta, há sua
resolução é conseqüente desaparecimento, podendo o indivíduo continuar no caminho de
sua meta, de seus objetivos de vida.
Ora numa situação terapêutica, temos como foco único em seus diversos níveis a situação
trazida por uma paciente em que a "porta de entrada" seja realmente uma série de sintomas
somáticos desencadeados, num segundo nível, pela ansiedade frente a uma situação
específica (da qual em muitos casos a pessoa nem se deu conta dela). Nessa situação
específica estão envolvidos aspectos importantes de sua dinâmica intrapsíquica, o que
caracteriza outro nível desse mesmo foco, no qual apenas os aspectos firmemente
relacionados ao foco em questão serão abordados. (Por exemplo: num "role-playing" da
relação mãe e filho pode surgir a figura do pai em anteposição nesse caso, não é necessário
"trabalhar" o pai, mas apenas "apontar-lhe" a presença e deslocá-lo do caminho da meta).
Por conseguinte, como delimitação do foco, temos a sintomatologia apresentada, a
ansiedade que lhe deu origem e o conflito atual que gerou essa ansiedade ou angústia. O
conflito atual é a situação vivida pelo sujeito que, como se verá também no capítulo
seguinte, encontra dificuldades para resolver um problema (obstáculo) que a vida lhe
oferece.
Esse conflito atual - uma perturbação na relação EU-TU ou EU-ISSO que o indivíduo
apresenta -, por ser um "curto circuito" ligado a uma situação emocional semelhante vivida
no passado e mal elaborada por e em seu desenvolvimento. Tal situação pretérita constitui
outro elemento do foco, agora mergulhando no mundo interno, inconsciente, projetado no
presente pelo mecanismo transferência.
Por aqui chegamos ao conflito nuclear, muito provavelmente alguma situação ou momento
de vivência com figuras parentais em que altas cargas de emoção foram bloqueadas com a
geração do que Fonseca Filho (1980) chama de "núcleos-transferências".
O foco pode ser sintetizado no esquema da FIGURA 1.
Nas palavras de Fiorini, "a focalização da terapia breve é a sua condição essencial de
eficácia", compreendemos o sentido primordial do trabalho terapêutico breve,
abandonando, pelo menos no momento, a sugestão apresentada por Malan de se trabalhar
com mais de um foco em terapia breve, pois vejo nisso o risco de perder a essência do
processo e criar outra forma alternativa de abordagem, a qual poderia ser aplicada em
processos psicoterapêuticos de duração limitada (como o trabalho realizado por estagiários
e residentes, por exemplo), mas que, a meu ver, foge a precisão do termo "Psicoterapia
Breve" em sua conceituação anteriormente explicitada. O termo Psicoterapia Multifocal de
Tempo Determinado me parece mais apropriado para estas situações.
FIG.1: FOCO
Com essa perspectiva de avaliação e ação sobre o foco, contrariamos a opinião de muitos
psicoterapeutas (principalmente psicanalistas) que afirmam ser o trabalho de Psicoterapia
Breve muito superficial e que visa apenas à remoção à remoção de sintomas. Ora, ao
abordar em um mesmo foco diferentes níveis de profundidade de um conflito, esperamos
atingir o "conflito nuclear", obtendo a sua resolução no seu mais profundo nível, ainda que,
ligado a esse ponto conflitivo, existam outros pontos, outros focos a ser abordados.
Essa "ramificação" de conflitos profundos compõe toda a estrutura psíquica da pessoa e sua
abordagem completa realmente é apanágio das psicoterapias prolongadas.
Assim creio ser importante distinguir entre "profundidade" e "amplitude em Psicoterapia
Breve, visto que é possível atingir uma profundidade nuclear nessa forma de terapia, sem
que, no entanto, tenhamos uma grande amplitude do campo de ação terapêutica.
No entanto, é preciso estar sempre atento para não trabalhar apenas no sentido de suprimir
os sintomas, como pode ocorrer noutras formas de abordagem (principalmente a
medicamentosa). Nesse sentido é interessante observar a colocação de Jurandir Freire
(1978).
Um sintoma é a manifestação visível e sensível de uma estrutura e a estrutura é ela mesma.
Mais ainda, um sintoma sintetiza um conflito presente e uma história conflitual passada, ele
é um resumo, um instantâneo da vida do sujeito....Se a Psicoterapia Breve consegue fazer
com que o sintoma desapareça no ato da cura, ou sua estratégia foi bem sucedida, o sintoma
foi suprimido e com ele o funcionamento patológico que lhe deu origem, ou sua estratégia
foi mal sucedida, o sintoma pôde desaparecer, mas deu lugar a uma "sintomatização" do
ego ou do caráter, problemas psicopatológicos bem mais graves. No primeiro caso, quer
queira, quer não, o terapeuta agiu sobre a estrutura. Nesse sentido, a psicoterapia obteve um
efeito pleno...
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