Alterações Do Pescado Por Microrganismos
Alterações Do Pescado Por Microrganismos
Alterações Do Pescado Por Microrganismos
Deteriorao do pescado
A parte mais susceptvel do peixe s contaminaes bacterianas a regio branquial. Os sinais mais precoces de
alterao sensorial podem ser detectados pelo mau odor que se percebe ao examinar as guelras. Se o pescado no for
eviscerado imediatamente, as bactrias intestinais atravessam rapidamente as paredes do intestino e chegam aos
tecidos internos da cavidade intestinal. possvel que esse processo seja favorecido pela ao de enzimas
proteolticas do intestino, que podem ser naturais do intestino do peixe e/ou de origem bacteriana.
Aparentemente, as bactrias que produzem as alteraes tm pouca dificuldade de crescer no muco, na poro
externa do peixe. O muco constitudo por componentes mucopolissacardeos, aminocidos livres, xido de
trimetilamina (TMAO), derivados piperidnicos e outros componentes afins. Tudo leva a crer que os organismos
produtores de alteraes utilizam, em primeiro lugar, os compostos mais simples, liberando, no processo, diversos
componentes volteis de odores caractersticos. Durante a alterao do pescado, decresce o TMAO, a creatina, a
taurina, a anserina, outros aminocidos e compostos afins, com produo de trimetilamina (TMA), amonaco,
histamina, acdo sulfdrico (H2S), indol e outros. As bactrias Pseudomonas, Moraxella e Acinetobacter tm particular
importncia no desencadeamento do processo de deteriorao do pescado. No pescado com alto contedo lipdico
(arenques, cavalas, salmes e outros), estes compostos sofrem rancificao ao produzirem-se deterioraes
microbianas. As escamas, na maioria dos peixes, esto compostas de escleroprotena, pertencente ao grupo das
queratinas e, com grande probabilidade, estas so as ltimas partes do peixe a sofrer decomposio.
O pescado conservado sob condies estreis e temperaturas de congelamento no se deteriora durante vrias
semanas de estocagem. O tpico padro de crescimento bacteriano, durante a deteriorao do pescado, mostra uma
curva clssica definida por estgios no declnio da qualidade do pescado descrita por alteraes nos caracteres
sensoriais tais como odor, flavour, aparncia e textura. Uma tpica sequncia de deteriorao foi descrita por Vieira,
em 1985. Ao estudar a padronizao de lagostas do gnero Panulirus, este autor, nos seis primeiros dias de
experimento, no observou muita variao na cor, odor e a carne permaneceu rija, com textura firme. O logaritmo das
UFC/g a 5C e a 25C no variou muito. O pH nesse primeiro estgio variou de 6,2 a 6,3, as bases volteis totais
tambm no variaram muito e a trimetilamina e a hipoxantina permaneceram com valores baixos. Nos sete dias
seguintes, comearam a aparecer sintomas mais visveis de modificaes sensoriais, quando ento as UFC/g
aumentaram progressivamente, o pH tambm teve seu aumento, o odor de trimetilamina denunciou o
comprometimento da lagosta e a hipoxantina aumentou os seus valores. Ainda assim, considerando os conceitos
emitidos pelo painelistas, admitiu-se que as lagostas ainda poderiam ser consumidas. O mesmo no aconteceu quando
as lagostas atingiram o 13 dia de estocagem em gelo. A partir desse dia, a carne ficou flcida, resultado do ataque
das bactrias, que a essa altura j atingiram 44 x 107 e 88 x 107 UFC/g a 5C e a 25C, respectivamente. Os valores
para bases volteis totais j ultrapassavam 25mg/100g e a trimetilamina apresentava valores maiores que
2,28mg/100g. Houve variao significativa nos resultados quando comparados entre sexos e espcies, indicando que
as mudanas bioqumicas, ocorrentes durante a deteriorao do pescado marinho, no dependem somente do grupo
de bactrias infectantes, mas tambm de espcie de pescado. O msculo de tubares e raias contm grande
quantidade de uria, com funes osmorreguladoras, que logo se transforma em amnia nos estgios de putrefao
desse pescado. Similarmente, os telesteos marinhos contm TMAO, uma substncia quase inexistente em pescado
de gua doce. As bactrias da microbiota natural do pescado, uma vez multiplicadas, so capazes de promover a
reduo do TMAO, produzindo TMA, um composto de odor forte bastante aumentado em pescado deteriorado.
Referncias
VIEIRA, R.H.S.F. Microbiologia, higiene e qualidade do pescado: teoria e prtica. 1a edio. So Paulo: Livraria Varela, 2004.
380p.
VINATEA ARANA, L. Fundamentos de Aquicultura. Florianpolis: Editora da UFSC, 2004. 349p.