Sintese de Mariologia
Sintese de Mariologia
Sintese de Mariologia
Sntese de Mariologia
Pe. Jair Cardoso Alves Neto
Quando chegou a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, nascido de mulher para que
recebssemos a adoo de filhos (Gl 4,4-5). Constantemente na histria da salvao, Deus
manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor revelado por meio de uma eleio:
uma jovem separada para que por meio dela o Filho de Deus pudesse assumir a
humanidade decada com o pecado. Assim como por meio de uma mulher (Eva), o pecado
entrou no mundo, Deus separa uma mulher para que por meio dela chegue a Salvao:
d-se uma nova criao. H um novo Ado e, do seu lado tirada a mulher, a nova Eva; um
novo povo constitudo.
Maria a Mulher do sim. O sim dado ao Amor. A obedincia dada por amor. A entrega dada
no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importncia na histria da salvao e na
vida de muitos cristos e sua figura tradicionalmente reconhecida na Igreja Catlica.
convocada a ser discpula na busca de compreender Jesus e sua misso e acolher sua
proposta. Ela tambm podia estar entre os primeiros a nutrir preocupaes ainda muito
humanas pela misso e a obra de Jesus.
Marcos indica que a verdadeira famlia de Jesus no a de ordem carnal e que a ela
pertencem todos os filhos do Reino. Assim, Maria, Me de Jesus fundamental testemunho
dos verdadeiros laos que criam comunho com Jesus. Depois de ter levado Jesus, seu filho
no ventre, era preciso que ela o gerasse no corao, cumprindo a vontade de Deus (cf. Mc
3,35), que se manifestava naquilo que Jesus dizia e realizava. Neste sentido, a figura de
Maria me se harmoniza e se completa com a figura da discpula (SERRA, 1995).
5.1.2 Maria no Evangelho de Mateus
No Evangelho de Mateus a pessoa de Maria aparece em dois momentos: nos relatos da
infncia (cf. Mt 1-2) e no ministrio apostlico de Jesus ( cf.Mt 12,46-50; 13,54-58). O
primeiro composto por relatos prprios de Mateus; o segundo est em dependncia de
Marcos, mas Mateus toma diante dele tal liberdade que capaz de transformar seu sentido e
seu ensinamento (ALVAREZ, 2005).
No Evangelho da Infncia em Mateus, Jesus, como todos os meninos, no chega ao mundo
sem um pai e uma me. Mateus fala de Jos, esposo de Maria (cf. Mt 1,16) e de Maria
esposa de Jos (cf. Mt 1,24). Maria, por sua vez no tem existncia sem Jos, do qual
esposa, e sem Jesus, do qual me. Maria aquela que gera e me, ao passo que Jos
somente o pai legal.
Mt 1,3 fala sobre a concepo de Jesus, diz que esta se realizou para que se cumpra o
orculo do Senhor, por meio do profeta [] e cita Is7, 14, aplicando a Jesus a realidade do
Emanuel e a Maria a de virgem. (Mateus quando) Ao falar do nascimento de Jesus,
Mateus recorrendo ao texto de Isaas, no somente assume a interpretao dos LXX, mas ele
mesmo interpreta teologicamente esse nascimento: Jesus o Emmanuel e nasce de Maria
Virgem. Neles dois se realiza plenamente o orculo do profeta: Jesus o Messias, e Maria
a Me-Virgem e, este fato maravilhoso somente pode ser entendido como a obra do Esprito
Santo (ALVAREZ, 2005).
A unio de Maria com seu Filho , ento, ntima, total e permanente. Desde a concepo
virginal, Maria est expressamente unida a Jesus e inseparvel dele. Por isso, os escritores
eclesisticos aprofundam nesta realidade, dizendo que no podemos entender Jesus sem
Maria e entender Maria sem Jesus.
Podemos notar, finalmente, como que um contraste nas expresses de Mateus: Enquanto
Jesus o Emmanuel de Deus, Deus conosco, Maria a Me que est sempre junto do seu
Filho. Ela a resposta permanente presena sempre atual do Senhor na histria.
Quanto ao ser discpulos de Jesus significa cumprir a vontade do Pai no cu, realizar seu
plano. Para Mateus, o discpulo integra, ento, a escuta da Palavra e sua ao (cf. Mt
5,19;Mt7,24-25), o estar junto de Jesus e sob a sua proteo (cf. Mt 12,49-50). E Maria,
com perfeita discpula e famlia dele em um nvel muito mais forte e firme do que o dos
laos fsicos de gerao (ALVAREZ, 2005).
Portanto, o Evangelho de Mateus nos fala que Maria est intimamente ligada ao seu Filho
Jesus Cristo, desde antes do nascimento e, uma vez nascido para o mundo, est unida a ele
nos momentos fundamentais de sua vida e de seu ministrio. Assim, Maria aparece, mesmo
sem palavras, como testemunha da graa abundante de Deus para seu povo, mas tambm
como me que cuida e acompanha o Filho de suas entranhas (ALVAREZ, 2005).
5.1.3 Maria no Evangelho de Lucas
De todos os Evangelhos, Lucas o que mais nos fala de Maria. Primeiramente nos relatos da
infncia, onde ela tem um papel mais ativo do que o que vimos em Mateus; em seguida, no
marco da atividade apostlica de Jesus, com quatro textos, dois dos quais coincidem com as
tradies de Marcos e de Mateus (cf. Lc 4,16-30 e 8,19-21) e outros dois que pertencem
tradio prpria de Lucas (cf. Lc 3,23 e 11,27-28); por ltimo, no comeo dos Atos dos
Apstolos, quando se inicia a histria da Igreja (cf. At 1,14) (ALVAREZ, 2005).
A primeira coisa que temos de afirmar, ao entrar na anlise dos textos lucanos sobre Maria,
dentro do chamado Evangelho da infncia (Lc1-2), que os textos so fundamentalmente
cristolgicos e mariolgicos. Maria no tem uma identidade e uma vocao prpria, mas
dentro e a servio da cristologia. Ela tudo para Jesus e se transforma e se enriquece
plenamente por e para Jesus. Para isto, temos alguns ttulos que ilustram esta to grandiosa
discpula: Filha de Sio, Virgem e Me, Cheia de Graa, Morada de Deus, Cheia do Esprito,
Serva e mulher de f e Portadora da santa presena. Temos tambm textos bblicos que
falam da sua experincia como Me do Salvador: Lc1, 26-28 (o anncio do Anjo); Lc1-39-45
(a visita a Isabel); Lc1, 46-55 (o cntico da libertao). Assim sendo, Maria surge em Lucas
como a primeira mensageira do Evangelho de Deus: leva a Notcia da paz, da felicidade e da
salvao, desde a Galilia at a regio de Jud. Mas Maria a primeira mulher que acolhe o
Evangelho e o comunica a seus irmos, trazendo-lhes o gozo escatolgico, quer dizer, a
alegria e a segurana da salvao definitiva (cf. Lc 1,44) (ALVAREZ, 2005).
Em Lucas percebemos a participao e a cooperao de Maria no plano da salvao, desde a
anunciao at o incio da Igreja: todos estes unnimes, perseveravam na orao com
algumas mulheres, entre as quais Maria, a me de Jesus, e com seus irmos (At 1,14)
(ALVAREZ, 2005).
Portanto, no Evangelho de Lucas vimos que Maria apresentada como a Me do Salvador e
esta em Atos exerce a funo de Me da comunidade, pois, ela se encontra reunida com esta
comunidade nascente para receber em orao a Promessa do Esprito; com esta comunidade
reunida com os seus para orar e esperar de seu Filho o presente dos tempos novos. ,
finalmente, irm na comunidade e discpula do Senhor exaltada, que permanece em
Jerusalm em cumprimento da Palavra do Mestre (cf. At 1,5-8) (ALVAREZ, 2005).
5.1.4 Maria no Evangelho de Joo
O quarto Evangelho oferece-nos a histria de Cristo, num esforo de memria viva que
parte da f pascal (cf. Jo 2,17.22;12,16;13,7;20,9) e realizada por obra do Esprito, o
Parclito, que testemunha fiel e o hermeneuta qualificado da vida e da obra do Cristo
vista dos mritos de Jesus Cristo, Salvador do gnero humano, preservada de toda mancha
da culpa original (DS 2803 [1641]).
Esta verdade, solenemente definida por Pio IX em 08/12/1854, foi aos poucos aflorando
conscincia da Igreja. Durante muito tempo, os telogos perguntavam como poderia Maria
ter sido salva por Jesus Cristo se nunca tivesse pecado. Finalmente, Joo Duns Scoto, O.F.M.
(1308) props a frmula decisiva: pertence perfeio do Redentor no somente purificar
do pecado, mas preservar do pecado a mais dileta dentre as criaturas (BETTENCOURT,
2004, p.06).
Maria, portanto, foi isenta do pecado original em previso dos mritos de Cristo; assim, ela
foi remida de maneira mais perfeita do que as outras criaturas.
Maria nunca contraiu pecado pessoal, nem a mais leve culpa. A razo pela qual o Senhor
Deus quis outorgar tal privilgio a Maria, se deriva da graa da maternidade divina: no
convinha que aquela mulher chamada a ser tabernculo do Altssimo ou Me de Deus feito
homem estivesse, por um momento sequer, sujeita ao domnio do pecado e de Satans. O
anjo declarou Maria cheia de graa (Lc 1,26) o que sugere que desde o incio da sua
existncia ela gozou da plenitude do favor divino.
A riqueza de graas em Maria no impediu que ela vivesse de f e de esperana, em meio a
lutas e dores. A sua f inspirou-lhe a obedincia incondicional a Deus, que lhe pedia cada vez
mais generosa. Maria no compreendeu desde o incio a grandeza da obra que Deus nela
realizaria; tambm se sentiu perplexa, mais de uma vez, diante do procedimento de seu
Filho (cf. Lc 2,49s), mas abandonou-se a Deus sem reservas.
5.2.4 Assuno de Maria
Desde remota poca (sculos IV e V), os autores cristos julgaram que Maria teve um fim de
vida terrestre singular; em seus sermes e em escritos apcrifos, professaram a glorificao
corporal de Maria, logo aps a sua morte na terra. Esta crena foi-se transmitindo at que o
Papa Pio XII em 1950 houve por bem proclam-la solenemente como dogma de f (FIORES,
1995).
Com efeito, Maria, que no esteve sujeita ao imprio do pecado para poder ser a santa Me
de Deus, no podia ficar sob o domnio da morte que entrou no mundo atravs do pecado
(cf. Rm 5,12). Por isto, no conheceu a deteriorao da sepultura, mas foi glorificada no
somente em sua alma, mas tambm em seu corpo (FORTE, 1985).
A carne da me e a carne do filho so uma s carne. Por isto, a carne de Maria devia tocar a
mesma sorte que tocou a carne de Jesus: ambas foram glorificadas no fim desta caminhada
terrestre. Existe uma tendncia a empalidecer o significado da glorificao corporal de Maria
mediante a tese da ressurreio de todo indivduo logo aps a morte: o caso de Maria seria
um entre outros pares (BETTENCOURT, 2004).
A Assuno da Virgem Maria uma participao singular na Ressurreio de seu Filho e uma
antecipao da ressurreio dos outros cristos (CIC 966).
O cunho bblico em toda forma de culto princpio e fato reconhecido pela piedade crist e
tambm pela piedade mariana. O contedo bblico, portanto referencial para alimentar o
amor para com Maria e o culto que a ela se presta (MC 30).
Na caracterstica antropolgica, mostra que o mundo moderno requer uma nova imagem de
Maria. Os cristos devem fazer ver em Maria o modelo de pessoa humana, da mulher
responsvel e co-responsvel, em conformidade com a realidade bblica e levando em conta
as exigncias do fenmeno da libertao da mulher e do reconhecimento dos seus direitos na
sociedade moderna (MC 35).
Na questo do ecumenismo a Marialis Cultos orienta que se mantenham os sentimentos de
unidade de todos os cristos pois: [] todos aqueles que confessam abertamente que o
filho de Maria o Filho de Deus e Senhor nosso, Salvador e nico Mediador (cf. 11Tm
2,5), so chamados a serem uma s coisa entre si, com Ele e com o Pai, na unidade do
esprito Santo (MC 32).
O lugar de Maria na liturgia se insere na celebrao da obra salvfica do Pai: o Mistrio de
Cristo. Neste mistrio inseriu-se a memria de Maria como Me de Cristo, celebrando-se de
forma explcita a ntima ligao que a Me tem com o Filho de Deus (MC 3-4). Na celebrao
dos eventos dos mistrios da salvao, Maria aparece associada ao Filho em primeiro lugar
na Celebrao Eucarstica, quando se invoca a memria da sempre Virgem Maria, Me de
Deus e Senhor Jesus Cristo (Orao Eucarstica I) e as memrias incorporadas pela liturgia
da Igreja e aquelas que nascem da experincia de f das comunidades crists. Da tradio
perene e viva da f da Igreja colhem-se as mais significativas expresses da piedade e
devoo marianas (MC 9-15).
Referncias Bibliogrficas
ALVAREZ, Carlos G. Maria Discpula e Mensageira do Evangelho. So Paulo: Paulus,
2005. (Coleo do Celam).
BETTENCOURT, Estevo Tavares. Escola Mater Ecclesiae: curso de iniciao teolgica por
correspondncia. Rio de Janeiro.
DENZIGER, Hnermann. Compndio dos Smbolos, definies e declaraes de f e
moral. So Paulo: Paulinas/Loyola,2007.
FORTE, Bruno. Maria, a mulher cone do Mistrio. So Paulo, Paulinas, 1985.
FURLANI, Maria Aparecida. Apostila de Mariologia: ad usum studentium.- Vrzea
Grande, MT,2006.
Lumen Gentium. In: Documentos do Conclio Vaticano II. So Paulo: Paulus, 1997.
PAULO VI, Papa. Marialis Cultus. In Documentos de Paulo VI. So Paulo: Paulus, 1997.