Massas Ceramicas
Massas Ceramicas
Massas Ceramicas
Introduo
O Brasil ocupa lugar de destaque no Segmento de Revestimento Cermico, sendo o quarto maior produtor mundial1. Utiliza-se o processo de preparao de massa via seca
para cerca de 40% dos revestimentos produzidos no pas,
o qual se caracteriza por um menor custo de processamento
em relao ao processo via mida2. No Brasil, aproximadamente 70% dos revestimentos cermicos produzidos por
via seca so provenientes do Plo Cermico de Santa
Gertrudes-SP, que abrange os municpios de Santa
Gertrudes, Rio Claro, Cordeirpolis, Araras e Limeira localizados no interior do Estado de So Paulo. A massa cermica utilizada pelas indstrias do Plo Cermico de Santa
Gertrudes constituda por uma mistura de argilas
fundentes que so rochas sedimentares antigas como siltitos
e argilitos e denominadas de tagu3-6. O principal produto
obtido o revestimento semi-poroso classificado pela nor-
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Materiais e Mtodos
Para formulao das massas cermicas foram utilizadas dois tipos de argilas da regio de Campos dos
Goytacazes denominadas de argila amarela (A) e argila
amarela-acinzentada (AA) e uma argila fundente formecida
pela Jazida Calcreo Cruzeiro localizada no Municpio de
Limeira-SP, denominada de tagu-SP. A massa cermica
industrial (MI) foi fornecida pela UNICER (Unio dos
Ceramistas) localizada no municpio de Cordeirpolis-SP.
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Resultados e discusso
A Tabela 1 mostra a composio qumica das matrias-primas e da massa cermica industrial utilizadas. Observa-se que as argilas de Campos dos Goytacazes apresentam um menor teor de slica associado a um elevado
teor de alumina e maior perda ao fogo em relao massa
industrial e argila tagu-SP. Isto indica um maior
percentual de argilominerais ou frao argila presente
nas argilas da Regio de Campos. Outra diferena significativa consiste no menor percentual de xidos alcalinos
K2O e Na2O e alcalinos-terrosos, alm do elevado teor de
carbono orgnico. Estas diferenas so explicadas pelas
caractersticas mineralgicas das argilas. As argilas da
Regio de Campos so de carter caulintico com baixo
percentual de quartzo e as argilas da Regio de Santa
Gertrudes e so de carter iltico com elevado percentual
de quartzo.
No diagrama ternrio SiO2 - Al2O3 - (Fe2O3 + CaO +
MgO + Na2O + K2O) encontram-se indicados os pontos
relativos s matrias-primas utilizadas para formulao de
massa cermica e a massa cermica industrial (MI). Observa-se que as argilas de Campos dos Goytacazes apre-
sentam teores de fundentes prximos aos da massa cermica industrial. Entretanto, observa-se um elevado
percentual de alumina (Al2O3) que tende a aumentar a
refratariedade das argilas de Campos. Observa-se tambm
que o tagu apresenta um maior percentual de xidos
fundentes e menor percentual de alumina em relao
massa industrial.
Apesar das argilas de Campos apresentarem percentual
de xidos fundentes similar massa industrial (MI) e argila tagu, fato este devido ao elevado percentual de Fe2O3
(9,15%), suas propriedades tecnolgicas de queima so
inferiores, conforme mostra Tabela 2.
Observa-se que para uma mesma densidade a seco de
1,90 g/cm3 e mesmas condies de queima (1080oC; 10 oC/
min, 2 minutos de patamar e resfriamento natural), o tagu
apresenta uma maior densificao e melhores valores de
absoro de gua e resistncia mecnica, acompanhada de
Determinaes
SiO2
Al2O3
Fe2O3
TiO2
CaO
MgO
Na2O
K2O
PF
Carbono orgnico
Matrias-primas
Argila Amarela
Argila Amarela
Acinzentada
44,70
44,07
29,03
29,97
9,15
9,15
1,34
1,36
0,28
0,22
1,09
1,04
0,40
0,47
1,55
1,44
12,11
12,03
0,44
0,33
Massa Cermica
Argila Tagu
Massa Industrial
SP
MI
66,47
66,40
12,76
15,50
4,57
5,92
0,55
0,55
2,87
0,35
2,31
1,80
3,24
1,07
3,01
3,48
4,21
4,50
0,23
0,16
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las de Campos apresentam um elevado percentual de partculas com dimetro esfrico equivalente < 2 m (frao
argila). J a massa industrial e o tagu apresentam um
baixo percentual de frao argila e maior percentual de
frao granulomtrica concentrado acima de 20 m.
De acordo com as caractersticas e propriedades
tecnolgicas apresentadas anteriormente, fica evidente a
necessidade de se adicionar s argilas de Campos uma
matria-prima com maior quantidade de xidos alcalinos
(Na2O + K2O) e slica livre, como o tagu.
Com base nos dados observados anteriormente, foram
formuladas trs massas cermicas, conforme mostra a Tabela 3. As argilas Amarela e Amarela-acinzentada foram
misturadas em propores iguais, pelo fato que apresentam caractersticas e propriedades tecnolgicas similares.
A argila tagu-SP foi adicionada s massas cermicas em
propores de 20, 40 e 60% em peso para possibilitar uma
avaliao de propriedades tecnolgicas em uma ampla faixa
de composio.
A Tabela 4 mostra alguns parmetros tecnolgicos de
interesse em composio estudadas. Na medida que a quan-
Propriedades
Matrias-primas
Argila Amarela Tagu-SP
Densidade aparente (g/cm3)
2,04
2,18
Absoro de gua (%)
12,3
7,0
Resistncia mecnica*(MPa)
17,3
23,2
Retrao linear(%)
7,8
5,1
*flexo a 3 pontos.
Composio (% em peso)
Massas
Argila
Argila
Argila Tagu
cermicas Amarela Amarela Acinzentada
SP
M20T
40
40
20
M40T
30
30
40
M60T
20
20
60
Massas
Cermicas
M20T
M40T
M60T
MI
Parmetros Tecnolgicos
Na2O + K2O
(%)
2,79
3,66
4,52
4,55
CaO + MgO
(%)
2,09
2,86
3,63
2,14
Partculas
< 2 m (%)
46,8
40,6
34,4
35,0
Partculas
> 44 m (%)
17
22
27
31
razo
SiO2/Al2O3
2,25
2,99
3,73
4,28
PF*
(%)
10,5
8,9
7,4
4,5
C*
(%)
0,35
0,31
0,29
0,16
IP*
(%)
31
26
21
20
46
tidade de argila tagu aumentada, h uma maior aproximao dos teores de Na2O + K2O e CaO + MgO das massas elaboradas em relao massa industrial MI. Sendo
que com 60% de tagu (M60T) j observa-se um maior
percentual de Na2O + K2O e CaO + MgO em relao
massa industrial. Em relao a frao argila (< 2m)
observa-se que a massa M60T apresenta um percentual
um pouco menor que a massa industrial. Observa-se que
com o aumento do teor de tagu, aumenta-se a relao SiO2/
Al2O3 e a frao > 44m, diminuindo a refratariedade das
massas. Apesar da massa M60T apresentar um percentual
de frao argila praticamente igual massa industrial, possui um percentual de perda ao fogo cerca de 63% maior.
Isto atribudo ao elevado percentual de matria orgnica
e a presena de hidrxidos nas argilas de Campos14. O teor
de carbono orgnico das massas cermicas elaboradas apresentam valores bem superiores ao da massa industrial, estando em uma faixa crtica para ciclos de queima rpido9,
favorecendo o aparecimento do corao negro. Em relao plasticidade, observa-se que a massa M60 apresenta
valor praticamente igual ao da massa industrial, sendo considerado satisfatrio para uso industrial10.
A Tabela 5 apresenta os resultados das propriedades
tecnolgicas das massas cermicas elaboradas. Observase que a massa M60T apresentou uma densidade aparente
a seco muito prxima da massa industrial. Isto explicado
pela similaridade na relao material plstico/material no
plstico, conforme observado na Tabela 4 com a relao
SiO2/Al2O3 e frao <2m. J as massas cermicas M20T
e M40T apresentaram uma menor densidade a seco devido a um elevado percentual de frao argila. Foi observado que as massas M20 e M40, respectivamente, necessitaram de 39% e 34% menos material para preencher a
cavidade da matriz, sendo de apenas 14% a menos para a
massa M60T, quando comparadas massa industrial MI.
Este comportamento est diretamente relacionado com o
teor do argilo mineral caulinita, presente em abundncia
nas argilas de Campos, cuja forma das partculas dificulta
o escoamento e, consequentemente, o preenchimento dos
moldes. Alm disso, aps a queima foram observadas trincas de laminao na massa M20T e M40T.
Em relao densidade aparente aps queima, observa-se que a massa M60T apresentou uma densificao
menor que a massa industrial, apesar de apresentar um
maior percentual de xidos fundentes em sua composio. Este comportamento pode ser explicado em funo
da densidade do prensado da massa cermica industrial
ser levemente superior densidade da composio M60T.
As massas M60T e MI apresentaram valores de retrao
linear similares. As massas M20T e M40T apresentaram
uma menor retrao linear devido ao menor percentual de
xidos fundentes em sua composio. Em relao ao
parmetro de absoro de gua, as massas M40T e M60T
apresentaram valores dentro das especificaes para revestimentos porosos tipo BIIb. J a massa M20T apresentou um elevado valor de absoro de gua, comprovando a
sua baixa fundncia.
O valor da resistncia mecnica (flexo a trs pontos)
observado para a massa e M60T est um pouco abaixo do
valor exigido por norma tcnica (>18MPa). Para a massa
M40T, o valor de resistncia mecnica obtido foi muito
baixo. J as amostras provenientes da massa M20T no
foram submetidas ao ensaio de resistncia mecnica por
apresentarem excessivas trincas. Observa-se tambm na
Tabela 5 que a massa cermica industrial apresentou valores de absoro de gua e resistncia mecnica compat-
Propriedades tecnolgicas
3
M20T
1,70
1,79
6,1
13,8
12,6
Massas Cermicas
M40T
M60T
1,71
1,77
1,81
1,97
6,4
6,7
8,9
8,2
13,0
16,0
10,7
8,7
MI
1,79
2,03
6,8
4,7
18,5
6,4
47
Concluses
Com base nos resultados apresentados pde-se observar que argilas plsticas caulinticas de uso comum na fabricao de produtos de cermica vermelha estrutural, apresentam caractersticas bastante diferenciadas de argila
fundente denominada de tagu. Massas cermicas compostas predominantemente por argilas plsticas apresentam problemas de compactao como dificuldade de preenchimento do molde da matriz, trincas de laminao e
baixa densificao. Durante a queima apresentam empenos,
curvaturas e trincas e no atingiram as propriedades
tecnolgicas requeridas. Observou-se tambm que a massa cermica elaborada com 60% de tagu e 40% de argilas
plsticas do municpio de Campos dos Goytacazes apresentou caractersticas similares a uma massa cermica industrial de revestimento cermico semi-poroso produzido
por via seca, entretanto, com uma maior perda ao fogo e
maior teor de carbono orgnico. J para as propriedades
tecnolgicas analisadas, foram observados valores de absoro de gua e retrao linear satisfatrios e resistncia
mecnica um pouco abaixo do valor requerido por norma.
Entretanto, isto pode ser facilmente resolvido com
processamento adequado, por meio de uma moagem mais
eficiente, granulao da massa, pequeno aumento da presso de compactao e/ou ajuste do ciclo de queima. Com
isso, os resultados sinalizam para a continuidade de testes
industriais mais aprofundados, com a utilizao de grande
volume de material, ajuste das condies de queima, escolha adequada do esmalte e anlise de outros propriedades
importantes como dilatao trmica das massas e expanso por umidade, dentre outras. Alm disso, recomendase a realizao de um estudo de viabilidade tcnico-econmica para verificar a possibilidade de implantao de
indstrias de revestimento cermico por via seca na Regio de Campos dos Goytacazes-RJ, utilizando matrias
primas argilosas tipo tagu transportadas de distncias da
ordem de 1000 km, como o caso das argilas da Regio
de Santa Gertrudes-SP.
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Agradecimentos
Os autores agradecem equipe tcnica do Laboratrio
Cermico de Santa Gertrudes-CCB pela compactao das
amostras e colaborao na queima industrial, Jazida
Calcreo Cruzeiro pelo fornecimento da argila fundente.
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