Qa815 Monografia
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INSTITUTO DE QUÍMICA
QA-815 - Química do Meio Ambiente .
MICROPLÁSTICOS NO
AMBIENTE
1.Introdução
2. Microplásticos
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2.1. O que são?
Os microplásticos são partículas de plásticos muito pequenas, muitas vezes invisíveis ao
olho humano. Não há um consenso no meio acadêmico sobre as dimensões exatas para
classificar uma partícula plástica como um microplástico [1], no entanto, foi definido pela
Organização Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, dos EUA) que o tamanho máximo de
um microplástico é de 5mm, não sendo necessário estipular um valor mínimo[2].
Os microplásticos podem ser separados em duas categorias, os primários e os
secundários. Os microplásticos primários são os plásticos designados em tamanhos inferiores a
5mm, seja para uso direto (como o caso de esferas plásticas utilizadas em produtos de beleza
como esfoliantes) ou como precursor para a fabricação de outros produtos (que é o caso dos
chamados nurdles), já os secundários são aqueles liberados pela fragmentação de peças plásticas
maiores (macroplásticos) devido ao desgaste natural, sendo fragmentado por ação da radiação
UV, e variações na temperatura [12]. Alguns dos principais plásticos utilizados comercialmente no
setor de embalagens descartáveis (que contribuem para as emissões secundárias) são o
polipropileno (PP), polietileno (PE) e o tereftalato de polietileno (PET) [4], [14].
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Figura 1 - Produção global de plástico.
[6]
Fonte: Production, use, and fate of all plastics ever made.
Os plásticos são utilizados para diversas aplicações devido a sua versatilidade, alta resistência e
baixo custo, dentre as quais está a utilização dele para a confecção de embalagens (muitas delas
descartáveis) para os mais diversos produtos, inclusive os alimentícios. Outras notáveis aplicações
para os plásticos estão no setor têxtil e no setor de construções[10], conforme indica a Figura 2.
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Figura 2 – Produção de plásticos pelo setor industrial.
É estimado que algo entre 22 e 43% dos plásticos descartados acabam sendo enviados
para aterros sanitários[11], onde lentamente se degradam a microplásticos de fonte secundária, e
ficam sem passar por um processo de reciclagem ou queima para aproveitamento de energia.
Estes microplásticos secundários acabam indo parar nos esgotos (por meio do arraste pelo vento
até os bueiros, por exemplo) e, como os sistemas convencionais de tratamento de água não são
capazes de retirar os microplásticos[1], acabam indo para os rios e posteriormente para os mares,
onde podem se tornar tóxicos a vida marinha. Note que a degradação dos plásticos ocorre não
somente na superfície, mas também nos próprios oceanos, visto que temos uma quantidade de
macroplásticos no ambiente aquático estimada como algo entre 4,8 e 12,7 milhões de toneladas
métricas (MMT)[13].
Além desses microplásticos secundários, ocorre também de microplásticos primários
terem o mesmo destino, seja por perda de nurdles (grânulos plásticos utilizados como matéria
prima) no processo de transporte ou manipulação, ou pelo uso de produtos de beleza que
utilizam-se de microesferas plásticas. A Figura 3 representa as origens dos microplásticos que
acabam nos oceanos:
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Figura 3 - Origem dos plásticos nos oceanos
Ou seja, a maioria dos microplásticos existentes nos oceanos são originários da parte
terrestre[6], mostrando que esses fragmentos podem estar em todos os lugares, sendo levados pelo
vento e pela chuva, onde depositam-se nos cursos de água das cidades.
Com a grande quantidade de macroplásticos presente nos oceanos, e sabendo que a sua
exposição à ação do tempo, temperatura, impactos mecânicos e radiação pode causar sua
fragmentação à microplásticos, torna-se importante o estudo dos mecanismos de degradação dos
plásticos, focando nos polímeros mais utilizados comercialmente para confecção de embalagens,
visto que estes serão os mais comumente descartados, e, portanto, mais comumente encontrados
nos oceanos. Tais plásticos são o polipropileno (PP), o polietileno (PE) e o tereftalato de
polietileno (PET)[4], [14].
O PP e o PE possuem uma estrutura de monômero bastante semelhante, com a única
diferença sendo um substituinte R (que no PE é igual a H e no PP é igual a CH 3), e pertencem a
um grupo de plásticos com apenas carbono em sua cadeia principal (ou seja, não possuem
heteroátomos na cadeia)[12]. O mecanismo comum para as degradações de polímeros desse grupo
parte da etapa de foto-oxidação, onde ocorre a quebra de ligações C-H na cadeia principal do
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polímero devido a radiação UV, resultando em radicais livre H• e C•. Para que ocorra a quebra
por ação da radiação UV, a cadeia principal precisa possuir grupos cromóforos insaturados (ou
seja ligações duplas entre carbonos) capazes de absorver a energia, mas também é possível
ocorrer a quebra da ligação C-H por meio de variações na temperatura, que é o que ocorre no
caso do polietileno e do polipropileno, visto que eles não possuem insaturações em suas cadeias
principais.
A partir do produto obtido na quebra, no caso a cadeia polimérica com o C•, que será
chamada de P•, podemos ter o processo de reticulação, ou “crosslinking”, onde ocorre a
interligação entre duas cadeias radicalares. É possível também que ocorra uma reação com o
oxigênio, gerando um radical peróxido, que ao reagir com o H•, se torna um hidroperóxido,
POOH. Quando duas cadeias POOH reagem entre si, há a formação de uma cadeia PO•, que
reage então com uma cadeia polimérica intacta, P, resultando na fragmentação da cadeia
polimérica.
Já no caso do tereftalato de polietileno, por possuir heteroátomo (O) em sua cadeia
principal, o PET possui um mecanismo de degradação diferente, sendo mais resistente à ação
térmica. Para o PET, é possível que ocorra a quebra por três mecanismos diferentes, a hidrólise,
fotólise e uma auto-oxidação iniciado pela radiação UV, este último seguindo para maiores
fragmentações, conforme indicado pela Figura 4 a seguir:
Fonte: Pathway for degradation of plastic polymers floating in the marine environment[12]
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2.4. Por que são um problema?
O principal problema de todas essas partículas no meio ambiente, é a ingestão por
animais de tal meio. De acordo com a literatura, os microplásticos podem ser bastante nocivos
aos animais aquáticos, plantas, e até aos seres humanos.
No meio aquático, podemos ter três tipos de comportamento de tais microplásticos: os
problemas físico de acumulação e sedimentação; a absorção e adsorção de químicos poluentes, e
a relação entre o meio biótico.
Em um estudo realizado no Havaí, foi observado que as amostras coletadas de
microplásticos, em sua maioria polietileno, faziam com que a praia aquecesse mais lentamente,
ligado a uma diminuição máxima da difusividade térmica em 16%, já que a temperatura desse
[15]
sedimento era mais baixa . Desta forma considerou-se que a presença de microplásticos em
tais sedimentos poderia ter um impacto nocivo à vida marinha em função da temperatura. Como
por exemplo, o sexo de tartarugas, que são definidos de acordo com a temperatura do local onde
são enterrados, parte do processo de cria das tartarugas, sendo que temperaturas mais quentes
produzem femeas, e mais frias, machos[15]. Pesquisas feitas em laboratórios mostraram que as
partículas plásticas podem afetar o crescimento, a reprodução, o desenvolvimento e a
sobrevivência de organismos marinhos[17].
Outro ponto a se considerar é a absorção de poluentes tóxicos, derivados das atividades
humanas, como por exemplo os motores de combustão interna, que perduram no ambiente
aquático, desta forma os microplásticos absorvem estes poluentes em sua superfície, sendo
agravados pela idade de tal partícula, pois quanto mais envelhecido, aumentam-se os locais de
adsorção dos poluentes tóxicos, então quando confundidos por alimentos, os animais aquáticos,
peixes e tartarugas por exemplo, consomem tal poluição. Os microplásticos também se
encontram nas praias, por serem levados pela água, onde são consumidos por outros animais,
como os pássaros. [15]
Como constatado, os microplásticos são uma via de transferência de poluentes químicos,
para o tecido dos organismos aquáticos, embora há poucos estudos em relação a isso, é
evidentemente que os microplásticos podem captar os contaminantes químicos que estão
presentes nas água e concentrá los em até um milhão de vezes mais do que a água do ambiente
[3]
. Outro ponto a considerar é o fato de que já foi constatado que peixes ingerem essas partículas
contaminadas, e que estão associadas à morte de muitos deles, além disso podem ser um meio de
contaminação para os seres humanos que o consomem [16], pois devido aos aditivos químicos,
como o Ftalato por exemplo, que podem ser tóxicos, além de seus monômeros serem
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mutagênicos, causarem irritação respiratória[16], e já comprovados os efeitos negativos no sistema
endócrino, que tem capacidade de alterar o sistema hormonal[5].
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produtor de lixo plástico no mundo, o que pode ser explicado pelos sérios problemas na
infraestrutura de saneamento básico.
Devido a complexidade do problema, somente uma mudança de hábitos será possível
contornar todo o cenário crítico, e assim acabar com a contaminação por microplásticos no meio
ambiente.
Como o assunto ainda está sendo estudado, podemos contribuir de forma individual para
diminuirmos os números sobre a contaminação dos microplásticos, nos comprometendo com a
reciclagem dos plásticos e trocando o que for possível por produtos biodegradáveis.
3. Conclusão
4.Referências
1. COLE, M.; LINDEQUE, P.; HALSBAND, C.; GALLOWAY, T. S.; “Microplastics as contaminants
in the marine environment: A review.”.
2. COURTNEY, A.; BAKER, J.; BAMFORD, H.; (Janeiro de 2009). “Proceedings of the International
Research Workshop on the Occurrence, Effects, and Fate of Microplastic Marine Debris Come
From?” Disponível em: <https://marinedebris.noaa.gov/sites/default/files/publications-files/TM_NOS-
ORR_30.pdf>. Acesso: 23/04/2021.
3. HIRAI, H.; Et al. “Organic micropollutants in marine plastics debris from the open ocean and
remote and urban beaches. Marine Pollution Bulletin”. Disponível em:
<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21719036/>. Acesso: 25/04/2021.
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5. MONTAGNER, C. C.; OLIVATTO, G. P.; CARREIRA, R.; TORNISIELO, V. L.; “Microplásticos:
Contaminantes de Preocupação Global no Antropoceno”. Disponível em:
<http://rvq.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=998>. Acesso: 25/04/2021.
6. GEYER, R.; JAMBECK, J. R.; LAVENDER, K.; “Production, use, and fate of all plastics ever
made.”. Disponível em: <https://advances.sciencemag.org/content/3/7/e1700782>. Acesso: 24/05/2021.
7. GOURMELON, G. “Global plastic production rises, recycling lags. Vital Signs”. 2015. Acesso:
02/05/2021.
9. Fundação Heinrich Boll; “Atlas do Plástico”, 2020; Rio de Janeiro. Disponível em: <
https://br.boell.org/sites/default/files/2020-11/Atlas%20do%20Pl%C3%A1stico%20-%20vers%C3%A3o
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11. GOURMELON, G.; “Global Plastic Production Rises, Recycling Lags”, 2015; Disponível em:
<http://www.plastic-resource-center.com/wp-content/uploads/2018/11/Global-Plastic-Production-
RisesRecycling-Lags.pdf >. Acesso: 02/05/2021.
12. GEWET, B.; PLASSMAN, M., M.; MACLEOD, M.; “Pathway for degradation of plastic
polymers floating in the marine environment”, 2015; Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/280034178_Pathways_for_degradation_of_plastic_polymers_f
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13. JEMBECK, J., R. Et al; “Plastic waste inputs from land into the ocean”, 2015; Disponível em:
<https://science.sciencemag.org/content/347/6223/768%20/>. Acesso: 02/05/2021.
14. PlasticEurope; “Insight into consumption and recovery in Western Europe - A material of choice
for the packaging industry”; Disponível em:
<https://www.plasticseurope.org/en/resources/publications/451-insight-consumption-and-recovery-
western-europe-material-choice-packaging-industry>. Acesso: 02/05/2021.
15. CARSON, H. S.; COLBERT, S. L.; KAYLOR, M. J.; MCDERMID, K. J.; “Small plastic debris
changes water movement and heat transfer through beach sediments”. Marine Pollution Bulletin
2011. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0025326X11003079>.
Acesso 03/05/2021.
16. LUSHER, A.L.; MCHUGH, M.; THOMPSON, R. C.; “Occurrence of microplastics in the
gastrointestinal tract of pelagic and demersal fish from the English Channel”. Disponível em:
<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23273934/>. Acesso: 03/05/2021.
17. TURRA, A.; Et al.; “Three-dimensional distribution of plastic pellets in sandy beaches”; Shifting
paradigms. Disponível em: < https://www.nature.com/articles/srep04435 >. Acesso em 03/05/2021.
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