O Nome de Deus É Misericórida

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Retiro Quaresmal

GRUPO DE JOVENS PONTOS DE LUZ


18, 19 e 20 de Maro de 2016

O que Misericrdia? Segundo Papa Francisco in O nome de Deus Misericrdia


Etimologicamente, misericrdia significa abrir o corao ao infeliz. E de imediato nos remete para o
Senhor: misericrdia a atitude divina que abraa, o dom de Deus que acolhe, que perdoa. Jesus disse
que no viera para os justos, mas para os pecadores. No veio para os saudveis, que no precisam de
mdico, mas para os doentes. Por isso se pode dizer que a misericrdia o bilhete de identidade do nosso
Deus.() Em suma: a misericrdia est profundamente ligada lealdade de Deus. So Paulo explica-o
bem na Segunda Carta a Timteo (2, 13): Se formos infiis, Ele permanecer fiel, pois no pode negar-se
a si mesmo. Pode-se negar Deus, pode-se pecar contra ele, mas Deus no poder negar-se a si prprio,
Ele permanece fiel.

Porque importante confessarmo-nos? () Mas no seria suficiente, no fundo, arrependerse e pedir perdo quando estivesse sozinho perante Deus? in O nome de Deus Misericrdia
Foi Jesus quem disse aos apstolos: queles a quem perdoardes os pecados, ficaro perdoados; queles
a quem os retiverdes, ficaro retidos. (Evangelho de So Joo 20, 22). Ento os apstolos e os seus
sucessores os bispos e os sacerdotes seus colaboradores tornam-se instrumentos da misericrdia de
Deus. Agem in persona Christi Ns vamos, na Pessoa de Cristo. muito bonito isto. Tem um significado
profundo, porque somos seres sociais. Se no fores capaz de falar nos teus erros com o teu irmo, fica a
saber que no sers capaz de falar com Deus, e assim acabas por te confessar ao espelho, sozinho. Somos
seres sociais, e o perdo tem um lado social, porque a humanidade, os meus irmos e irms, a sociedade,
so tambm feridos pelo meu pecado. Confessarmo-nos perante um sacerdote uma forma de deixar a
vida nas mos e no corao de outra pessoa, que naquele momento age em nome e por conta de Jesus.
um modo de sermos autnticos: estarmos perante a realidade, olhando para outra pessoa, e no nos
vermos apenas reflectidos no espelho. () verdade que posso falar com o Senhor, pedir-lhe perdo,
implorar-lhe. E o Senhor perdoa, de imediato. Mas importante ir ao confessionrio, que me coloque
perante um sacerdote que personifica Jesus, que me ajoelhe perante a Igreja Me, encarregada de
espalhar a misericrdia de Deus. Existe uma objectividade naquele gesto, na minha genuflexo perante
o padre que naquele momento o transmissor da graa que me conferida e me protege. () Lembramonos que no estamos ali para ser julgados. verdade que existe um julgamento na confisso, mas existe
algo mais importante do que o julgamento. o estar perante outra pessoa que age in persona Christi
para te receber e perdoar. o encontro com a misericrdia.

Como fazemos para nos reconhecermos como pecadores? Que dizer a algum que no se sente
dessa forma? in O nome de Deus Misericrdia
Aconselharia a pedir esta graa! Sim, porque reconhecermo-nos pecadores uma graa. uma graa
que nos dada. Sem a graa, no mximo podemos dizer: estou limitado, tenho limites, estes so os meus
erros. Mas reconhecermo-nos como pecadores outra coisa. Significa pr-nos perante Deus, que o nosso
tudo, apresentando-lhe ns mesmo, ou seja, o nosso nada. As nossas misrias, os nossos pecados.
realmente uma graa que se deve pedir.
()
Deus espera por ns, espera que Lhe concedamos apenas aquela pequena abertura para poder agir em
ns, com o seu perdo, com a sua graa. Apenas quem foi tocado, acariciado pela ternura da misericrdia,
conhece verdadeiramente o Senhor. Por isso, repeti muitas vezes que o local em que acontece o encontro
com a misericrdia de Jesus o meu pecado. Quando se experimenta o abrao de misericrdia, quando
nos deixa abraar, quando nos comove: ento a vida pode mudar porque tentamos responder a este dom
imenso e imprevisto, que aos olhos humanos pode parecer inclusive injusto, por ser muito abundante.
Estamos perante um Deus que conhece os nossos pecados, as nossas tradies, as nossas negaes, a
nossa misria. No entanto, ali que nos espera, para se dar a ns, para nos reerguer. () O simples
facto de uma pessoa se confessar j um incio de arrependimento, embora no consciente. Se no fosse
aquele passo inicial a pessoa no teria vindo. O facto de estar ali pode testemunhar o desejo de uma
mudana. A palavra importante, explicita o gesto. Mas o gesto decisivo, e por vezes pode valer mais

do que a presena hesitante e humilde de um penitente que tem dificuldade em falar, mais do que as
muitas palavras de algum que descreve o seu arrependimento.
()
Que ter dito Pedro ao Messias assim que Ele ressuscitou do sepulcro? Ter-lhe- dito que se sentia um
pecador? Ter pensado na renegao, no que acontecera poucos dias antes, quando por trs vezes fingira
no O conhecer, no ptio da casa do sumo sacerdote. Ter pensado no seu pranto amargo e pblico. Se
Pedro fez isso, e se os Evangelhos nos descrevem o seu pecado, a sua renegao, e se apesar de tudo
Jesus lhe disse Apascenta as minhas ovelhas (Evangelho de So Joo 21, 16), no acho que devamos
ficar surpreendidos, pois os seus sucessores descrevem-se a si mesmos como pecadores. No uma
novidade. O papa um homem que precisa da misericrdia de Deus. Disse-o sinceramente, inclusive
perante os prisioneiros de Palmasola, na Bolvia, perante aqueles homens e aquelas mulheres que me
receberam com tanto afecto. Relembrei-os de que tambm So Pedro e So Paulo estiveram presos. ()
De cada vez que entro numa priso para celebrar uma missa ou para uma visita, tenho sempre este
pensamento: porqu eles e no eu? Devia estar aqui, merecia estar aqui. A sua queda poderia ser a
minha, no me sinto melhor do que os que tenho perante mim. Por isso repito e rezo: porqu ele e no
eu? Poder impressionar, mas consolo-me com Pedro: renegara Jesus e apesar disso foi escolhido.

Porque somos pecadores? in O nome de Deus Misericrdia


Porque existe o pecado original. Um dado que se pode experienciar. A nossa humanidade est ferida,
sabemos reconhecer o bem e o mal, sabemos o que o mal, tentamos seguir a via do bem, mas muitas
vezes camos devido nossa fraqueza e escolhemos o mal. a consequncia do pecado original. Do qual
temos plena conscincia graas Revelao. A histria do pecado de Ado e Eva, a rebelio contra Deus
que lemos no Gnesis, serve-se de uma linguagem imaginria para expor algo que realmente aconteceu
na origem da humanidade.
O Pai sacrificou o seu filho, Jesus humilhou-se, aceitou deixar-se torturar, crucificar, aniquilar para nos
redimir do pecado, para sarar a ferida. ()

Que conselhos daria a um penitente para uma boa confisso? in O nome de Deus Misericrdia
Que pense na verdade da sua vida perante Deus, que coisa sente, que coisa pensa. Que saiba olhar com
sinceridade para si mesmo e para o seu pecado. E que se sinta pecador, que se deixe surpreender,
surpreendido por Deus. Para que nos preencha com o dom da sua misericrdia infinita, temos de sentir
a nossa necessidade, o nosso vazio, a nossa misria. No podemos ser soberbos. ()

Como se ultrapassa o complexo do filho mais velho da parbola? Ouve-se de vez em quando
dizer, mesmo no seio da Igreja: demasiada misericrdia! A Igreja tem de condenar o pecado
in O nome de Deus Misericrdia
A Igreja condena o pecado, porque tem de dizer a verdade: isto um pecado. Mas ao mesmo tempo
abraa o pecador que se reconhece como tal, aproxima-o e fala com ele sobre a misericrdia infinita de
Deus. Jesus at perdoou queles que o puseram na cruz e desprezaram. Temos de voltar ao Evangelho.
L constatamos que no se fala apenas de festa para o filho que regressa. A expresso da misericrdia
a alegria da festa, que encontramos bem expressa no Evangelho de So Lucas: Haver mais alegria o
Cu por um s pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que no necessitam de converso
(15, 7) No diz: e se depois tivesse de reincidir, voltar para trs, cometer mais pecados, que se
desenvencilhe sozinho! No porque Jesus disse a Pedro, que lhe perguntava quantas vezes preciso
perdoar: setenta vezes sete (Evangelho de So Mateus 18, 22), ou seja, sempre. Permitiram que o filho
mas velho do pai misericordioso dissesse a verdade sobre o que acontecera, mesmo que no percebesse,
at porque o outro irmo, quando o comeou a acusar, no teve tempo para falar: o pai deteve-o e abraouo. Porque existe o pecado no mundo, porque a nossa natureza humana est ferida pelo pecado original,
Deus que nos doou o seu Filho, s se pode revelar como misericrdia. ()

Poder haver misericrdia sem o reconhecimento do prprio pecado? in O nome de Deus


Misericrdia
Existe misericrdia, mas se tu no a quiseres receber Se no te reconheces como pecador quer dizer
que no a queres receber, quer dizer que no sentes essa necessidade. Por vezes podes ter dificuldade
em perceber o que te aconteceu. s vezes, podes ser desconfiado, acreditar que no possvel reerguereste- Ou ento, preferes ficar com as tuas feridas, as feridas do pecado e fazes como o co: lambes com a
lngua, lambes as feridas. () Se no sairmos da nossa misria, se continuarmos perdidos, se
desesperarmos com a possibilidade de sermos perdoados, acabamos por lamber as feridas que
permanecem abertas e nunca curamos. No entanto, existe o medicamento, existe a cura, se dermos
apenas um pequeno passo na direco de Deus ou se tivermos pelo menos o desejo de darmos um pequeno
passo na direco de Deus. Basta uma pequenssima abertura, basta levar a srio a sua prpria condio.
tambm importante conservar a memria, recordar-nos de onde vimos, o que somos, o nosso nada.
importante no pensarmos que somos auto-suficientes. ()

Doutores da lei in O nome de Deus Misericrdia


() O captulo 23 do Evangelho de So Mateus muito claro, temos de voltar l para compreender o
que a Igreja e o que nunca deve ser. Descreve-se a atitude daqueles que atam pesados fardos e os
impem nos ombros das pessoas, mas eles no querem mexer sequer um dedo; so eles que adoram os
primeiros lugares, que desejam ser chamados mestres. Na origem destas atitudes est a falta de
humildade perante a salvao que te foi dada. Quando algum se sente um pouco mais seguro, comea
a apoderar-se de faculdades que no so suas, mas do Senhor. A surpresa comea a degradar-se, e este
facto est na base do clericalismo ou da atitude dos que se sentem puros. A adeso formal s regras, aos
nossos esquemas mentais, prevalece. A admirao degrada-se, acreditamos que podemos agir sozinhos,
que somos os protagonistas. () ,noutra ocasio, o prprio papa Luciani recordava que Francisco de
Sales falava das nossas queridas imperfeies: Deus detesta os erros, porque so erros. Por outro lado,
num certo sentido, ama os erros porque so a oportunidade de Ele mostrar a sua misericrdia e de nos
tornarmos humildes, percebendo e partilhando os erros do prximo.

O Santo Padre disse vrias vezes: Deus nunca se cansa de perdoar, somos ns que nos
cansamos de lhe pedir perdo. Por que razo Deus nunca s cansa de nos perdoar? in O nome
de Deus Misericrdia
Porque Deus, porque Ele misericrdia, e porque a misericrdia o primeiro atributo de Deus. o
nome de Deus. No existem situaes de onde no podemos sair, no somos condenados a afundar-nos
nas areias movedias, nas quais quanto mais nos mexemos mais nos afundamos. Jesus est ali, com a
mo estendida, preparado para nos agarrar e para nos tirar da lama, do pecado, at do abismo do mal
em que camos. Temos apenas de ter conscincia do nosso estado ser honestos connosco e no lamber as
nossas feridas. Pedir a graa de nos reconhecer como pecadores, responsveis por aquele mal. Quanto
mais reconhecermos que precisamos de ajuda, mais nos envergonhamos e nos humilhamos, mais
depressa somos inundados com o seu abrao de Graa. Jesus espera-nos, precede-nos, estende-nos a mo,
tem pacincia connosco. Deus f. ()

As famosas obras da misericrdia da tradio crist so ainda vlidas para este terceiro
milnio, ou tero de ser repensadas? in O nome de Deus Misericrdia
So actuais, so vlidas. Talvez em alguns casos se possam traduzir melhor, mas continuam a ser a
base do nosso exame de conscincia. Ajudam-nos a abrir-nos misericrdia de Deus a pedir a graa de
perceber que sem misericrdia a pessoa no pode fazer nada, que no podes fazer nada, e que o mundo
no existiria como dizia a senhora idosa que encontrei em 1992.
Observemos acima de tudo as sete obras de misericrdia corporal: dar de comer aos famintos; dar de
beber aos sedentos; vestir quem est nu; dar acolhimento aos peregrinos; visitar os doentes; visitar os
prisioneiros; enterrar os mortos. Parece-me que no existe muito por explicar. E se olharmos para a

nossa situao, para as nossas sociedades, parece-me que no faltam circunstncias e oportunidades
nossa volta. Perante o sem-abrigo que dorme debaixo da nossa janela, o pobre que no tem o que comer
a famlia dos nossos vizinhos que no chega ao fim do ms devido crise, porque o marido perdeu o
emprego, que devemos fazer? Perante os imigrantes que sobrevivem travessia e desembarcam nas
nossas costas, como nos devemos comportar? Perante os idosos sozinhos, abandonados, que no tm mais
ningum, que devemos fazer?
Gratuitamente recebemos, gratuitamente damos. Somos chamados a servir Jesus crucificado em cada
pessoa marginalizada. A tocar a carne de Cristo em quem excludo, tem fome, sede, est nu, preso,
doente desempregado, perseguido ou refugiado. Encontramos o nosso Deus, tocamos no Senhor. Foi
Jesus quem o disse, explicando qual ser protocolo na base do qual todos seremos julgados: todas as
vezes que fizermos isto ao mais pequeno dos nossos irmos, teremos feito a Ele (Evangelho de So
Mateus 25, 31-46).
As obras de misericrdia corporal seguem as de misericrdia espiritual: aconselhar os hesitantes;
ensinar os ignorantes; repreender os pecadores; consolar os aflitos; perdoar as ofensas; suportar
pacientemente as pessoas incmodas; rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos. Pensemos nas primeiras
quatro obras de misericrdia espiritual: no fundo no tm que ver com aquilo que definimos como o
apostolado do ouvido? Aproximar, saber ouvir, aconselhar, ensinar acima de tudo com o nosso exemplo.
Ao acolher o marginalizado que est ferido na alma joga-se a nossa credibilidade como cristos. Nunca
devemos esquecer das palavras de So Joo da Cruz: No ocaso da vida, seremos julgados sobre o amor.

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