Funções Convexas

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Vanessa Hlenka

FUNÇÕES CONVEXAS

Curitiba
2008
VANESSA HLENKA

FUNÇÕES CONVEXAS

Monografia apresentada à coordenação


do curso de Matemática Industrial,
da Universidade Federal do Paraná,
como parte dos requisitos para obter
aprovação na disciplina de projeto de
Matemática Industrial.
Orientadora:
Profa . Dra . Elizabeth Wegner Karas
Co-orientador:
Prof. Dr. Ademir Alves Ribeiro

Curitiba
2008
Termo de Aprovação

Vanessa Hlenka

FUNÇÕES CONVEXAS

Monografia aprovada como requisito parcial à obtenção do grau de bacharel


em Matemática Industrial, Setor de Exatas da Universidade Federal do Paraná, pela
seguinte banca examinadora:

——————————————————–
Profa . Dra . Elizabeth Wegner Karas

——————————————————–
Profa . Dra . Ana Gabriela Martinez

——————————————————–
Profa . Dra . Lucelina Batista dos Santos

Curitiba, 28 de novembro de 2008.


iv

RESUMO

A partir de conceitos de análise real e em IRn , obteremos algumas pro-


priedades importantes de convexidade, nosso foco de análise. Primeiramente es-
tudaremos a convexidade na reta, depois estenderemos o estudo de algumas pro-
priedades para o IRn . Sempre que possı́vel, ilustraremos este trabalho com exemplos
e utilizaremo-nos do auxı́lio do Matlab para plotar alguns gráficos e então identificar
essas propriedades geometricamente.
Sumário

Introdução 1

1 Definições e exemplos 2
1.1 Convexidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Desigualdade de Jensen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Função estendida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2 Propriedades 13
2.1 Primeiras Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Estabilidade sob operações funcionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3 Continuidade 23
3.1 Continuidade no interior do domı́nio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2 Semi-continuidade inferior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4 Caracterização de convexidade de funções diferenciáveis 29


4.1 Fórmula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.2 Caracterização de funções convexas diferenciáveis . . . . . . . . . . . 34

Conclusão 40

Referências Bibliográficas 41

v
Introdução

Funções convexas de uma variável real formam uma importante classe de


funções no contexto de análise real. Elas são muito úteis em otimização, bem como
em outras diversas áreas de matemática aplicada. Através de suas propriedades
podemos, por exemplo, deduzir desigualdades que há tempo conhecemos, como por
exemplo a existente entre as médias algébrica e geométrica. Algumas dessas de-
sigualdades podem ser verificadas em [3, 4, 5].
No primeiro capı́tulo de seu livro, Lemaréchal e Hiriart-Urruty [3] apresen-
tam as propriedades de funções convexas de uma variável. Uma das mais impor-
tantes, destacada por Neculai Andrei [1], é o fato de garantir que o mı́nimo local
é global. As maneiras de identificar uma função convexa de várias variáveis são
descritas no primeiro capı́tulo do livro de Bertsekas [2].
Uma função qualquer pode ter vários mı́nimos locais, sendo que dentre
eles nem sempre é fácil identificar o mı́nimo global, se este existir. Se a função
em questão é convexa e conhecemos seu mı́nimo local, temos a garantia de que
o mesmo é global, graças à presença da convexidade. Conseguimos generalizar a
desigualdade que define uma função convexa para mais que dois pontos. Obtemos
assim a desigualdade de Jensen, a qual nos permite chegar a importantes relações
de desigualdade.
Além da definição de convexidade, podemos utilizar outros meios para iden-
tificar uma função convexa. É possı́vel fazer essa identificação através de suas pro-
priedades. Por exemplo, sabemos que uma função com derivada segunda positiva é
convexa, e descobrir qual é o sinal da derivada muitas vezes é uma tarefa muito sim-
ples. A seguir, verificamos que o conceito de convexidade pode ser estendido para
as funções de várias variáveis. Também algumas das propriedades se conservam ao
fazermos essa generalização para o IRn .
Capı́tulo 1

Definições e exemplos

Funções convexas de uma variável real formam uma importante classe de


funções no contexto geralmente chamado de análise real. Elas são muito utilizadas
em otimização e também em diversas áreas de matemática aplicada.
As definições e propriedades da seção a seguir podem ser encontradas em
[3].

1.1 Convexidade
Os intervalos formam exemplos particularmente simples de subconjuntos
de IR. Um subconjunto I ∈ IR é um intervalo se e somente se, sempre que x0 e x1
pertencem a I, uma das seguintes propriedades vale:

(i) todo ponto entre x0 e x1 pertence a I (definição baseada na relação de ordem


de IR);

(ii) para todo α ∈ [0, 1], o ponto αx0 + (1 − α)x1 pertence a I (definição usando a
estrutura de vetor de IR).

A seguinte classificação de intervalos não-vazios é conveniente:

• Os intervalos compactos: I = [a, b], (a, b ∈ IR com a ≤ b);

• Os intervalos limitados mas não fechados: [a, b), (a, b], (a, b) com a, b ∈ IR,
a < b;

• Os intervalos ilimitados: (−∞, b] e (−∞, b), [a, +∞) e (a, +∞) com a, b ∈ IR;

• O próprio intervalo IR, que é um conjunto aberto e fechado.

Intervalos fechados são também chamados de segmentos, ou segmentos de


reta. A seguinte representação paramétrica, ilustrada na Figura 1.2, é clássica para
um ponto u ∈ (a, b):
u−a
u = αb + (1 − α)a = a + α(b − a) com α = ∈ (0, 1). (1.1)
b−a
Observação 1.1 u definido desta maneira é dito combinação convexa de a e b.

2
3

Definição 1.2 (Conjunto convexo) Dizemos que um conjunto C ⊂ IRn é con-


vexo quando, para todos x1 , x2 ∈ C e para todo α ∈ [0, 1], temos

αx1 + (1 − α)x2 ∈ C.

Finalmente, lembramos a definição básica de uma função f : D → IR.

Definição 1.3 O gráfico de f é o subconjunto de D × IR, D ⊂ IR,

gr f := {(x, r)| x ∈ D e r = f (x)}.

O epigrafo de f é “tudo o que está acima do gráfico”:

epi f := {(x, r)| x ∈ IR e r ≥ f (x)}.

O epigrafo estrito é definido igualmente, substituindo “≥” por “>”.

Figura 1.1: Epigrafo de uma função f . O epigrafo de uma função convexa é um conjunto
convexo.

a u b

(α=0) (α=1)

Figura 1.2: Parametrização de um intervalo

A primeira definição de uma função convexa é a que segue:


4

Definição 1.4 (Analı́tica) Seja I um intervalo não vazio de IR. A função f : I →


IR é dita convexa em I quando

f (αx0 + (1 − α)x1 ) ≤ αf (x0 ) + (1 − α)f (x1 ), (1.2)

para todos os pares de pontos (x0 , x1 ) em I e todo α ∈ (0, 1).

f(x )
2

α f(x )+(1−α)f(x )
1 2
f(z)

f(x )
1

x z x
1 2

Figura 1.3: Interpretação geométrica da definição analı́tica de função convexa.

A função f é dita estritamente convexa quando vale a desigualdade estrita


em (4.3) para x0 6= x1 .

O significado geométrico de convexidade é claro: considere na Figura 1.3 o


segmento que une o ponto (x1 , f (x1 )) ao ponto (x2 , f (x2 )). Dizer que f é convexa
significa que, para todos x1 , x2 em I e todo z em (x1 , x2 ), o ponto (z, f (z)) do gráfico
de f está abaixo do segmento que une (x1 , f (x1 )) e (x2 , f (x2 )).

Definição 1.5 (Geométrica) Seja I um intervalo não vazio de IR. A função f :


I → IR é convexa em I se e somente se epi f é um subconjunto convexo de IR2 .

A Figura 1.4 sugere que, se u está entre x0 e x1 e Pu está abaixo de Px0 Px1 , a
inclinação de Px0 Pu (ou melhor: da reta que une Px0 e Pu ) é menor que a inclinação
de Px0 Px1 , que por sua vez é menor que a inclinação de Pu Px1 .

Exemplo 1.6 A função f (x) = |x|, Figura 1.5, é convexa em IR.

Com efeito, tomemos

• α ∈ (0, 1),

• a ≤ x < x′ ≤ b,
5

f(x )
1 P
x
1
z
f(x0) P
P z
x
0

f(u)
P
u
x u x
0 1

Figura 1.4: A propriedade fundametal de um epigrafo convexo

• x′′ := αx + (1 − α)x′ ,
e chamemos
Φ := f (x′′ ) − αf (x) − (1 − α)f (x′ ),
que deve ser não-positiva (Φ ≤ 0), para que tenhamos
f (x′′ ) ≤ αf (x) + (1 − α)f (x′ ),
ou seja, queremos que f seja convexa.

Temos que
Φ = |x′′ | − α|x| − (1 − α)|x′ |.
Substituindo x′′ por αx + (1 − α)x′ , temos
Φ = |αx + (1 − α)x′ | − α|x| − (1 − α)|x′ |.
Aplicando a desigualdade triangular, obtemos
Φ ≤ |αx| + |(1 − α)x′ | − α|x| − (1 − α)|x′ |
= α|x| + (1 − α)|x′ | − α|x| − (1 − α)|x′ |
= 0.
Como Φ ≤ 0, concluimos que f é convexa.
Exemplo 1.7 Se ϕ é uma função crescente em um segmento [a, b], então a conve-
xidade da função Z x
[a, b] ∋ x 7−→ f (x) := ϕ(u)du
a
é facilmente estabelecida da equação (1.3).
6

|x|

Figura 1.5: A função modular

De fato, tomemos

• α ∈ (0, 1),

• a ≤ x < x′ ≤ b,

• x′′ := αx + (1 − α)x′ ,

e chamemos
Φ := f (x′′ ) − αf (x) − (1 − α)f (x′ ),
que deve ser não-positiva (Φ ≤ 0), para que tenhamos

f (x′′ ) ≤ αf (x) + (1 − α)f (x′ ),

ou seja, queremos que f seja convexa.


Temos
Φ = f (x′′ ) − αf (x) − (1 − α)f (x′ ).
Rx
Substituimos f (x) por a ϕ(u)du:

Z x′′ Z x Z x′
Φ = ϕ(u)du − (1 − α)
ϕ(u)du − α ϕ(u)du
a a a
Z x′′ Z x Z x′ Z x′
= ϕ(u)du − α ϕ(u)du − ϕ(u)du + α ϕ(u)du
a a a a
Z x′′ Z x′
= ϕ(u)du + α ϕ(u)du.
x′ x
7

Como x ≤ x′′ ≤ x′ , temos


Z x′′ "Z #
x′′ Z x′
Φ = ϕ(u)du + α ϕ(u)du + ϕ(u)du
x′ x x′′
Z x′′ Z x′′ Z x′
= ϕ(u)du + α ϕ(u)du + α ϕ(u)du
x′ x x′′
Z x′′ Z x′′ Z x′
= α ϕ(u)du + α
ϕ(u)du + ϕ(u)du
x x′ x′′
Z x′′ Z x′
= α ϕ(u)du + (α − 1) ϕ(u)du.
x x′′

Temos que a ≤ x < x′′ < x′ ≤ b. Como ϕ é crescente em [a, b], se u ∈ (x, x′′ ), então
ϕ(u) ≤ ϕ(x′′ ). Logo, vale
Z x′′ Z x′
Φ = α ϕ(u)du + (α − 1) ϕ(u)du
x x′′
Z x′′ Z x′
′′
≤ α ϕ(x )du + (α − 1) ϕ(x′′ )du.
x x′′

Como ϕ(x′′ ) é uma constante, então


Φ ≤ αϕ(x′′ )(x′′ − x) + (α − 1)ϕ(x′′ )(x′ − x′′ ).
Trocando o segundo e o quarto x′′ da desigualdade acima por αx+(1−α)x′ , obtemos
Φ ≤ αϕ(x′′ )(αx + (1 − α)x′ − x) + (α − 1)ϕ(x′′ )(x′ − (αx + (1 − α)x′ ))
= αϕ(x′′ )(αx + x′ − αx′ − x) + (α − 1)ϕ(x′′ )(x′ − αx − x′ + αx′ )
= αϕ(x′′ )(α − 1)(x − x′ ) − α(α − 1)ϕ(x′′ )(x − x′ )
= 0.
Logo,
f (x′′ ) − αf (x) − (1 − α)f (x′ ) ≤ 0,
f (x′′ ) ≤ αf (x) + (1 − α)f (x′ ),
ou seja, f é convexa.

Exemplo 1.8 A função − log x, Figura 1.6, é convexa em [1, b].

Temos que
Zx
1
log x = dt.
t
1
Então
Zx
1
− log x = − dt.
t
1
1
Sabemos que − é crescente em [1, ∞), portanto crescente em [1, b]; logo, do Exem-
t
plo (1.7), concluimos que − log x é convexa em [1, b].
8

−log(x)

Figura 1.6: A função − log x

Exemplo 1.9 A função exp(x), Figura 1.7, é convexa em [a, b].


No Exemplo 1.7, tomemos ϕ(u) = exp(u). Então,
Zx
f (x) = ϕ(u)du
a
Zx
= exp(u)du
a
= exp(x) − exp(a)

Sabemos que exp(u) é crescente em [a, b], pois é crescente em IR. Logo, do Exemplo
1.7, a função exp(x) − exp(a) é convexa em [a, b]. Ao somarmos exp(a) a exp(x) −
exp(a), obtemos exp(x). Efetuando esta soma, não alteramos a forma do gráfico da
função, apenas o deslocamos verticalmente. Portanto, exp(x) também é convexa.

1.2 Desigualdade de Jensen


Uma caracterı́stica essencial da desigualdade básica (4.3) é que ela pode ser
generalizada para mais que dois pontos. Nesta subseção, além de [3], temos [4] como
referência.
Teorema 1.10 Sejam I um intervalo não vazio de IR e f uma função convexa em
I. Então, para qualquer coleção {x1 , . . . , xk } de pontos em I e qualquer coleção de
números {α1 , . . . , αk } satisfazendo
k
X
αi ≥ 0 para i = 1, . . . , k e αi = 1, (1.3)
i=1
9

exp(x)

Figura 1.7: A função exponencial

vale a desigualdade de Jensen:


k
! k
X X
f αi xi ≤ αi f (xi ).
i=1 i=1

Prova. Considere primeiro k = 2. A relação é trivial se α1 ou α2 é zero; se não,


temos justamente (4.3).
Agora, suponha por indução que a relação é verdadeira para k − 1; sejam
as coleções {xi } e {αi } como em (1.3). Se αk é 0 ou 1, não há o que provar. Se não,
fixemos
k−1
X
ᾱ := αi ∈ (0, 1).
i=1
Então, temos
k
X
αi = 1,
i=1
k−1
X
αk + αi = 1,
i=1
ᾱ + αk = 1.
Portanto,
αk = 1 − ᾱ,
αi
onde αk ∈ (0, 1). Seja ᾱi := , para i = 1, ..., k − 1. Temos que
ᾱ
k−1
X
ᾱi ≥ 0 e ᾱi = 1. (1.4)
i=1

Então
k
X k−1
X
αi xi = ᾱ ᾱi xi + (1 − ᾱ)xk .
i=1 i=1
10

Pk−1
Nesta relação, o ponto x̄ := i=1 ᾱi xi está em I, isto é, entre o menor xi e o maior
xi . Aplicando (1.4), obtemos:

Xk
f( αi xi ) ≤ ᾱf (x̄) + (1 − ᾱ)f (xk )
i=1
= ᾱf (x̄) + αk f (xk ).

Então o resultado segue da suposição de indução aplicada a x̄:


k−1
X
ᾱf (x̄) ≤ ᾱ ᾱi f (xi )
i=1
k−1
X
= αi f (xi ).
i=1


k
O conjunto descrito por (1.3) é chamado de simplex unitário de IR . Uma coleção
de αP
i ’s satisfazendo (1.3) é chamado de multiplicadores convexos e o correspondente
x = ki=1 αi xi é uma combinação convexa dos xi ’s.

Dizemos que a maioria das desigualdades úteis entre números reais são
conseqüências da desigualdade de Jensen acima, mesmo que nem sempre seja fácil
descobrir a função convexa latente. A seguir, alguns exemplos tı́picos.

Exemplo 1.11 Do Exemplo 1.8, sabemos que a função − log x é convexa em (0, +∞).
Então, vale a desigualdade de Jensen:
k
! k
X X
− log αi xi ≤ − αi log xi
i=1 i=1
Xk
= − log xαi i
i=1
k
!
Y
= − log xαi i ,
i=1

para todos xi > 0 e α = (α1 , . . . , αk ) no simplex unitário. Através da monotonicidade


da função exponencial, obtemos
k
Y k
X
xαi i ≤ αi xi .
i=1 i=1

1
Observação 1.12 No caso particular em que αi = , i = 1, . . . , n, temos a
n
clássica desigualdade entre a média aritmética e a média geométrica:
√ x1 + · · · + xn
n
x1 x2 . . . xn ≤ .
n
11

Exemplo 1.13 Seja a função x log x, convexa em (0, +∞). Aplicando a desigual-
dade de Jensen, temos
k
! k
! k
X X X
αi xi log αi xi ≤ αi (xi log xi ),
i=1 i=1 i=1

k
!P ki=1 αi xi k
X X
log αi xi ≤ log xαi i xi
i=1 i=1
k
!
Y
= log xαi i xi .
i=1

Como a função log x é crescente, temos

k
!P ki=1 αi xi k
X Y
αi xi ≤ xαi i xi .
i=1 i=1

1.3 Função estendida


Quando trabalhamos com convexidade, é conveniente considerar a função f
como sendo definida em todo o espaço IR, levando-se em conta o valor +∞ para f (x).
Até agora, convexidade envolvia um par (I, f ), onde I era um intervalo não vazio
e f uma função de I em IR, satisfazendo (4.3) em I. Podemos estender igualmente
uma função f para além de I através da função

f (x) para x ∈ I,
fe (x) :=
+∞ para x ∈ / I.
A função-estendida fe leva IR ao conjunto IR∪{+∞}; é claro, o valor +∞ já
foi cuidadosamente escolhido: é a única maneira de preservar a relação da definição
(4.3) fora de I. Daqui em diante e sem menção explı́cita, todas as (potenciais)
funções convexas serão funções-estendidas: o “e” subscrito será, portanto, omitido
e as definições de §1.1.1 serão conseqüentemente substituı́das como segue:

Definição 1.14 A função f : IR → IR ∪ {+∞}, não identicamente igual a +∞, é


dita convexa quando a desigualdade em IR ∪ {+∞}
f (αx + (1 − α)x′ ) ≤ αf (x) + (1 − α)f (x′ ) (1.5)
vale para todos os pares de pontos (x, x′ ) em IR e todos α ∈ (0, 1).
Equivalentemente, f é uma função cujo epigrafo é um conjunto não vazio
em IR × IR.
O conjunto de tais funções é denotado por Conv IR.

Definição 1.15 O domı́nio de f ∈ Conv IR é o conjunto não vazio


Dom f := {x ∈ IR | f (x) ∈ IR}.
12

A utilidade da Definição 1.14 é mais que notacional; ela é conveniente espe-


cialmente quando otimização está envolvida. A seguir, daremos três exemplos para
ilustrar isso.

• Seja x um parâmetro real e considere o problema de otimização simples:

inf{−y | y 2 ≤ x}. (1.6)



Isto não tem sentido para x < 0 mas, para x ≥ 0, o valor ótimo é − x, uma
função convexa de x. Em vista da convenção inf ∅ = +∞, temos uma função
convexa no sentido da Definição 1.14. Isso é bom para saber que problemas
do tipo (1.6) fornecem funções convexas de x, mesmo que eles possam não ter
sentido para todos os valores de x.

• Associada a uma dada função f , temos a chamada função conjugada, dada


por
x 7→ sup{xy − f (y) | y ∈ IR} com x ∈ IR
Aqui, mais uma vez os valores de x para os quais o supremo é finito não são
necessariamente conhecidos antecipadamente. Este supremo é, deste modo,
uma função estendida de x, uma função que se torna de extrema importância.

• Suponha que uma função g, convexa em I, precisa ser minimizada em algum


sub-intervalo C ∈ IR. A restrição x ∈ C pode ser incluı́da na função objetiva
pela definição: 
g(x) se x ∈ C,
f (x) :=
+∞ caso contrário.

A função f resultante pertence a Conv IR e minimizá-la (em todo o IR) é


equivalente ao problema original.
Capı́tulo 2

Propriedades

Neste capı́tulo, estudaremos algumas propriedades básicas de funções con-


vexas, sem usar diferenciabilidade. Em geral, essas propriedades podem ser obtidas
facilmente a partir da equação (4.3).

2.1 Primeiras Propriedades


Proposição 2.1 Sejam Px0 = (x0 , y0 ), Pu = (u, v), e Px1 = (x1 , y1 ) três pontos
sobre f : IR → IR, onde f é convexa, com u ∈ (x0 , x1 ). Então as três propriedades
seguintes são equivalentes:
(i) Pu está abaixo de Px0 Px1 ;

(ii) inclinação(Px0 Pu ) ≤ inclinação(Px0 Px1 );

(iii) inclinação(Px0 Px1 ) ≤ inclinação(Pu Px1 ).

Prova. A Figura 1.4 ilustra esta demonstração.


(i)⇒(ii): A propriedade (i) quer dizer que a imagem de u por f está abaixo
da reta que une Px0 e Px1 (e passa por Pz ). A equação desta reta é dada por
y1 − y0
y−z = (x − u). (2.1)
x1 − x0
Como qualquer ponto da reta que une Px0 e Px1 satisfaz a equação (2.1), em parti-
cular o ponto Px0 , façamos x = x0 e y = y0 ; então temos
y1 − y0
y0 − z = (x0 − u).
x1 − x0
Logo, a imagem de u pela reta é dada por
y1 − y0
z = y0 + (u − x0 ).
x1 − x0
Sabemos que a imagem de u por f é menor que a imagem de u pela reta dada por
(2.1), ou seja, v ≤ z, ou
y1 − y0
v ≤ y0 + (u − x0 ).
x1 − x0

13
14

Como u − x0 > 0, temos


v − y0 y1 − y0
≤ ,
u − x0 x1 − x0
que é justamente a propriedade (ii).
(ii)⇒(iii): Temos que
v − y0 y1 − y0
≤ .
u − x0 x1 − x0
Como u − x > 0 e x1 − x0 > 0, podemos escrever

(v − y0 )(x1 − x0 ) ≤ (y1 − y0 )(u − x0 ),

vx1 − vx0 − y0 x1 + y0 x0 ≤ uy1 − uy0 − x0 y1 + x0 y0 ,


uy0 − uy1 − y0 x1 ≤ vx0 − vx1 − x0 y1 .
Somando y1 x1 em ambos os membros da desigualdade, obtemos

y1 x1 − y0 x1 + uy0 − uy1 ≤ y1 x1 − x0 y1 − vx1 + vx0 ,

x1 (y1 − y0 ) − u(y1 − y0 ) ≤ y1 (x1 − x0 ) − v(x1 − x0 ),


(x1 − u)(y1 − y0 ) ≤ (y1 − v)(x1 − x0 ).
Como x1 − x0 > 0 e x1 − u > 0, então
y1 − y0 y1 − v
≤ .
x1 − x0 x1 − u
(iii)⇒(i): Temos que
y1 − y0 y1 − v
≤ .
x1 − x0 x1 − u
Como x1 − x0 > 0 e x1 − u > 0, então

(y1 − y0 )(x1 − u) ≤ (y1 − v)(x1 − x0 ),

y1 x1 − y1 u − y0 x1 + y0 u ≤ y1 x1 − y1 x0 − vx1 + vx0 ,
vx1 − vx0 − x1 y0 ≤ −x0 y1 + y1 u − y0 u.
Somando x0 y0 em ambos os membros da desigualdade, obtemos

vx1 − vx0 − x1 y0 + x0 y0 ≤ x0 y0 − x0 y1 + y1 u − y0 u,

ou seja,
v(x1 − x0 ) − y0 (x1 − x0 ) ≤ u(y1 − y0 ) − x(y1 − y0 ).
Logo, como x1 − x0 > 0, temos
y1 − y0
v ≤ y0 + (u − x0 ).
x1 − x0

15

Em outras palavras, (ii) e (iii) acima significam

f (u) − f (x0 ) f (x1 ) − f (x0 ) f (x1 ) − f (u)


≤ ≤ , (2.2)
u − x0 x1 − x0 x1 − u
expressão que pode ser obtida através da representação (1.1) de u ∈ (x0 , x1 ) aplicada
na Definição 4.3 de convexidade. Temos que

u = αx0 + (1 − α)x1 .

Então,
x1 − u
α=
x1 − x0
e
u − x0
1−α= .
x1 − x0
Substituindo em (4.3), obtemos
x1 − u u − x0
f (u) ≤ f (x0 ) + f (x1 ).
x1 − x0 x1 − x0
Como x1 − x0 > 0, então

f (u)(x1 − x0 ) ≤ (x1 − u)f (x0 ) + (u − x0 )f (x1 ),

f (u)x1 − f (u)x0 ≤ x1 f (x0 ) − uf (x0 ) + uf (x1 ) − x0 f (x1 ).


Somando x0 f (x0 ) em ambos os membros da desigualdade, obtemos

f (u)x1 − f (u)x0 + x0 f (x0 ) ≤ x0 f (x0 ) + x1 f (x0 ) − uf (x0 ) + uf (x1 ) − x0 f (x1 ),

f (u)(x1 − x0 ) − f (x0 )(x1 − x0 ) ≤ f (x1 )(u − x0 ) − f (x0 )(u − x0 ),


(f (u) − f (x0 ))(x1 − x0 ) ≤ (f (x1 ) − f (x0 ))(u − x0 ).
Portanto, como x1 − x0 > 0,
f (x1 ) − f (x0 ) f (x0 ) − f (x1 )
f (u) ≤ f (x0 ) + (u − x0 ) = f (x1 ) + (x1 − u),
x1 − x0 x1 − x0
o que mostra a conexão entre (4.3) e relações de valor médio semelhantes à (2.2).
Combinando a definição geométrica de função convexa com a equivalência
enunciada na Definição 1.5, chegamos à seguinte caracterização de convexidade:

Proposição 2.2 (Critério de inclinações crescentes) Seja I um intervalo não


vazio de IR. A função f : I → IR é convexa em I se e somente se, para todo x0 ∈ I,
a função-inclinação
f (x) − f (x0 )
x 7→ =: s(x) (2.3)
x − x0
é crescente em I \ {x0 }.

Prova. Sejam x1 , x2 ∈ I com x1 < x2 . Seja x0 ∈ I, com x0 6= x1 e x0 6= x2 . Temos


três casos a considerar:
16

(i) x0 < x1 < x2 ;

(ii) x1 < x0 < x2 ;

(iii) x1 < x2 < x0 .


Provemos primeiro, para cada caso, que, se s é crescente, então f é convexa. Como
s é crescente, temos que
s(x1 ) < s(x2 ),
ou seja,
f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )
< . (2.4)
x1 − x0 x2 − x0
(i): Para α ∈ (0, 1), temos que x1 = αx2 + (1 − α)x0 . Substituindo em
(2.4), obtemos:
f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )
< ,
αx2 + (1 − α)x0 − x0 x2 − x0
f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )
< .
α(x2 − x0 ) x2 − x0
Como x2 − x0 > 0, temos

f (x1 ) − f (x0 ) < αf (x2 ) − αf (x0 ),

f (x1 ) < αf (x2 ) + (1 − α)f (x0 ),


ou seja, f é convexa para todo x0 < x1 .
(ii): Para α ∈ (0, 1), temos que x0 = αx2 + (1 − α)x1 . Substituindo em
(2.4), obtemos:

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


< ,
x1 − (αx2 + (1 − α)x1 ) x2 − (αx2 + (1 − α)x1 )

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


< .
α(x1 − x2 ) (1 − α)(x2 − x1 )
Como α > 0, (1 − α) > 0 e x1 − x2 < 0, temos

−(1 − α)f (x1 ) + (1 − α)f (x0 ) < αf (x2 ) − αf (x0 ),

(1 − α)f (x0 ) + αf (x0 ) < αf (x2 ) + (1 − α)f (x1 ).


Portanto,
f (x0 ) < αf (x2 ) + (1 − α)f (x1 ),
ou seja, f é convexa para todo x0 ∈ (x1 , x2 ).
(iii): Para α ∈ (0, 1), temos que x2 = αx0 + (1 − α)x1 . Substituindo em
(2.4), obtemos:
f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )
< ,
x1 − x0 αx0 + (1 − α)x1 − x0
f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )
< .
x1 − x0 (1 − α)(x1 − x0 )
17

Como x1 − x0 < 0, temos

f (x2 ) − f (x0 ) < (1 − αf (x1 ) − (1 − α)f (x0 ),

f (x2 ) < αf (x0 ) + (1 − α)f (x1 ),


ou seja, f é convexa para todo x0 > x2 .
Agora provemos para cada caso que, se f é convexa, então s é crescente.
(i): Para α ∈ (0, 1), temos que

x1 = αx2 + (1 − α)x0 . (2.5)

Temos que f é convexa, então, por definição, vale a desigualdade:

f (x1 ) < αf (x2 ) + (1 − α)f (x0 ),

f (x1 ) − f (x0 ) < α[f (x2 ) − f (x0 )].


Como α > 0 e x2 − x0 > 0, temos

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


< .
α(x2 − x0 ) x2 − x0
De (2.5), temos que αx2 = x1 − (1 − α)x0 , logo

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


< ,
x1 − (1 − α)x0 − αx0 x2 − x0

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


< ,
x1 − x0 x2 − x0
ou seja, s(x) é crescente para x0 < x1 .
(ii): Para α ∈ (0, 1), temos que

x0 = αx2 + (1 − α)x1 . (2.6)

Sabemos que f é convexa, então, por definição, vale a desigualdade:

f (x0 ) < αf (x2 ) + (1 − α)f (x1 ).

Somando 0 = αf (x0 )−αf (x0 ) no primeiro membro da desigualdade acima, obtemos

αf (x0 ) + (1 − α)f (x0 ) < αf (x2 ) + (1 − α)f (x1 ),

−(1 − α)f (x1 ) + (1 − α)f (x0 ) < αf (x2 ) − αf (x0 ).


Como x2 − x1 > 0, temos
(1 − α)[f (x1 ) − f (x0 )] α[f (x2 ) − f (x0 )]
< .
−(x2 − x1 ) x2 − x1
Sabemos que 1 − α > 0 e α > 0, então

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


< ,
α(x1 − x2 ) (1 − α)(x2 − x1 )
18

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


< .
αx1 − αx2 x2 − αx2 − (1 − α)x1
De (2.6), temos que αx2 = x0 − (1 − α)x1 , logo

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


< ,
αx1 − x0 + (1 − α)x1 x2 − x0 + (1 − α)x1 − (1 − α)x1

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


< ,
x1 − x0 x2 − x0
ou seja, s(x) é crescente para x0 ∈ (x1 , x2 ).
(iii): Para α ∈ (0, 1), temos que

x2 = αx0 + (1 − α)x1 . (2.7)

Sabemos que f é convexa, então, por definição, vale a desigualdade:

f (x2 ) < αf (x0 ) + (1 − α)f (x1 ).

Somando 0 = f (x0 ) − f (x0 ) no segundo membro da desigualdade acima, obtemos

f (x2 ) − f (x0 ) < (1 − α)f (x1 ) − (1 − α)f (x0 ).

Como 1 − α > 0 e x1 − x0 < 0, então

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


<
x1 − x0 (1 − α)(x1 − x0 )
f (x2 ) − f (x0 )
= .
(1 − α)x1 − x0 + αx0

De (2.7), temos que αx0 = x2 − (1 − α)x1 , então

f (x1 ) − f (x0 ) f (x2 ) − f (x0 )


<
x1 − x0 (1 − α)x1 − x0 + x2 − (1 − α)x1
f (x2 ) − f (x0 )
= ,
x2 − x0
ou seja, s(x) é crescente para x0 > x2 .

Sabemos que todo Pu = (u, f (u)) ∈ gr f está abaixo da linha Px0 Px1 quando
u ∈ (x0 , x1 ). Mas o que acontece fora do intervalo? A Proposição 2.1 implica que,
para w ∈ / [x0 , x1 ], Pw está acima da linha Px0 Px1 . Para ver isso, troque u e x1 na
Figura 1.4.

Teorema 2.3 Seja f definida em (0, +∞). Então a função


 
1
0 < x 7→ g(x) := xf
x

é convexa em (0, +∞) se e somente se f também é convexa em (0, +∞).


19

Prova. Suponhamos que f é convexa em (0, +∞); seja x0 > 0 e consideremos a


função-inclinação
   
1 1
xf − x0 f
g(x) − g(x0 ) x x0
sg (x) := = ,
x − x0 x − x0
definida em (0, +∞)\{x0 }. Temos
       
1 1 1 1
xf − x0 f + xf − xf
x x0 x0 x0
sg (x) =
x − x0
      
x − x0 1 x 1 1
= f + f −f
x − x0 x0 x − x0 x x0
  x     
1 x 1 1
= f + x−x f −f
x0 0 x x0
  x     
1 1 1 1
= f + x f −f
x0 1−
0 x x0
  x     
1 1 1 1
= f −   f −f
x0 1 1 x x0
x0 −
x x0
   
1 1
  f −f
1 1 x x0
= f −
x0 x0 1 1

x x0
   
1 1 1
= f − sf .
x0 x0 x
 
1 1
Quando x cresce, decresce; então sf decresce, pela Proposição 2.2
x x
e, portanto, sg cresce, logo g é convexa.
Analogamente, podemos mostrar que, se g é convexa em (0, +∞), então g
também é convexa em (0, +∞). Como
 
1
g(x) = xf ,
x
temos  
1 1
g = f (x).
x x
Logo,  
1
f (x) = xg .
x
Então as demais linhas desta demonstração seguem as mesmas da demonstração
anterior. 

A seguir, apresentamos dois exemplos em que aplicamos o Teorema 2.3.


20

Exemplo 2.4 Sejam as funções

f (x) = − log x,

convexa em (0, +∞), e  


1
g(x) := xf .
x
Então
  
1
g(x) = x − log
x
 
1
= −x log
x
 −1
1
= x log
x
= x log x.

Logo, pelo Teorema 2.3, a função

g(x) = x log x

também é convexa em (0, +∞).

−log (x) x log(x)

Figura 2.1: A convexidade das funções − log x e x log x.

Exemplo 2.5 Sejam as funções

f (x) = exp(x),
21

convexa em (0, +∞), e  


1
g(x) := xf .
x
Então  
1
g(x) = x exp
x
também é convexa em (0, +∞), pelo Teorema 2.3.

exp(x) x exp (1/x)

Figura 2.2: A convexidade das funções exp(x) e x exp(1/x).

2.2 Estabilidade sob operações funcionais


Nesta seção, listamos algumas das operações que podem ser provadas para
preservar convexidade, simplesmente em vista das próprias definições.

Proposição 2.6 Sejam f1 , . . . , fm m funções convexas em IR e t1 , . . . , tm números


positivos. Se existe x0 ∈ IR tal que fj (x0 ) < +∞, para todo j = 1, . . . , m, então a
função
m
X
f := tj fj
j=1

pertence a Conv IR.

Prova. Para fj (j = 1, . . . , m), temos


fj (αx + (1 − α)x′ ) ≤ αfj (x) + (1 − α)fj (x′ ).
Como tj (j = 1, . . . , m) é positivo, a desigualdade se mantém ao multiplicarmos
ambos os membros da desigualdade por tj :
tj fj (αx + (1 − α)x′ ) ≤ αtj fj (x) + (1 − α)tj fj (x′ ).
22

Somando as desigualdades

t1 f1 (αx + (1 − α)x′ ) ≤ αt1 f1 (x) + (1 − α)t1 f1 (x′ ),


..
.
tm fm (αx + (1 − α)x′ ) ≤ αtm fm (x) + (1 − α)tm fm (x′ ),
obtemos
m
X m
X m
X

tj fj (αx + (1 − α)x ) ≤ α tj fj (x) + (1 − α) tj fj (x′ ),
j=1 j=1 j=1

m
P
ou seja, f := tj fj ∈ Conv IR. 
j=1

Proposição 2.7 Se f : I → IR e g : J → IR são funções convexas, com f (I) ⊂ J,


e g monótona não-decrescente, então g ◦ f é convexa.

Prova. Dados x, x′ ∈ I e α ∈ [0, 1], temos que

f ((1 − α)x + αx′ ) ≤ (1 − α)f (x) + αf (x′ ),

pois f é convexa, por hipótese. Temos que f (I) ⊂ J. Também temos que g é não
decrescente, logo

g(f ((1 − α)x + αx′ )) ≤ g((1 − α)f (x) + αf (x′ )).

Sabemos que g é convexa, então

g((1 − α)f (x) + αf (x′ )) ≤ (1 − α)g(f (x)) + αg(f (x′ )),

ou seja,
g ◦ f ((1 − α)x + αx′ ) ≤ (1 − α)g ◦ f (x) + αg ◦ f (x′ ),
o que significa que g ◦ f é convexa. 
Capı́tulo 3

Continuidade

Ao longo desta seção, utilizamos conceitos de análise que podem ser verifi-
cados em [5]. Os assuntos deste capı́tulo são: continuidade no interior do domı́nio e
semi-continuidade inferior.

3.1 Continuidade no interior do domı́nio


Funções convexas se tornam úteis para aproveitar propriedades nı́tidas de
continuidade. Desenhos simples sugerem que uma função convexa pode ter descon-
tinuidades em pontos do final de seu intervalo de definição do Dom f , mas tem
um comportamento contı́nuo no seu interior. Isto é feito precisamente no resultado
seguinte, conforme [3].

Teorema 3.1 Seja uma função convexa f definida em (a, b). Então f é contı́nua.

Prova. Dado x ∈ (a, b), escolha δ > 0 tal que [x − δ, x + δ] ⊂ (a, b). Agora considere
um ponto z1 ∈ (x − δ, x). Aplicando a propriedade das inclinações crescentes para
os pontos x − δ, z1 , x, temos

f (z1 ) − f (x − δ) f (x) − f (x − δ) f (x) − f (z1 )


≤ ≤ .
z1 − (x − δ) δ x − z1
Agora, aplicando a propriedades das inclinações crescentes para os pontos z1 , x, x+δ,
temos

f (x) − f (z1 ) f (x + δ) − f (z1 ) f (x + δ) − f (x)


≤ ≤ .
x − z1 (x + δ) − z1 δ
Logo,
f (x) − f (x − δ) f (x) − f (z1 ) f (x + δ) − f (x)
≤ ≤ .
δ x − z1 δ
Seja agora um ponto z2 ∈ (x, x + δ). Aplicando a propriedade das inclinações
crescentes para os pontos x − δ, x, z2 , temos

f (x) − f (x − δ) f (z2 ) − f (x − δ) f (z2 ) − f (x)


≤ ≤ .
δ z2 − (x − δ) z2 − x

23
24

Agora, aplicando a propriedade das inclinações crescentes para os pontos x, z2 , x + δ,


temos
f (z2 ) − f (x) f (x + δ) − f (x) f (x + δ) − f (z2 )
≤ ≤ .
z2 − x δ (x + δ) − z2
Logo,
f (x) − f (x − δ) f (z2 ) − f (x) f (x + δ) − f (x)
≤ ≤ .
δ z2 − x δ
Então podemos concluir que, se z ∈ [x − δ, x + δ],

f (x) − f (x − δ) f (x) − f (z) f (x + δ) − f (x)
≤ ≤ .
δ x−z δ
Seja
f (x + δ) − f (x)
L= .
δ
Portanto, temos que
|f (x) − f (z)| ≤ L|x − z|,
para qualquer z ∈ [x − δ, x + δ]. Logo, podemos passar o limite quando z → x,
obtendo
lim |f (x) − f (z)| = 0,
z→x

o que prova que f é contı́nua.

Observação 3.2 Mais adiante, mostraremos que fé localmente Lipschitziana. Pre-
cisamos primeiro falar sobre as derivadas laterais de f , que serão de fundamental
importância para encontrarmos a constante de Lipschitz.

Proposição 3.3 Seja o domı́nio de f (f ∈ Conv IR) com interior não vazio e
chamemos de a ∈ IR seu extremo à esquerda. Então o limite à direita f (a+ ) :=
lim+ f (x) existe em IR ∪ {+∞}, e f (a) ≥ f (a+ ).
x→a
Similarmente, se b ∈ IR é o extremo à direita do Dom f , o limite à esquerda
f (b− ) existe em IR ∪ {+∞} e f (b) ≥ f (b− ).

Prova. Sejam x0 pertencente ao interior do Dom f , d := −1, t0 := x0 − a > 0. A


função crescente
f (x0 + td) − f (x0 )
0 < t 7→ =: q(t)
t
tem um limite ℓ ∈ IR ∪ {+∞} para t → t+ +
o , em cujo caso x0 + td → a .
Para provar que q(t) é crescente, precisamos mostrar que

t1 > t2 ⇒ q(t1 ) > q(t2 ).

Tomemos, então,
t1 > t2
e multipliquemos ambos os membros da desigualdade por d para obter

dt1 < dt2 ,


25

pois d < 0, por hipótese. Somamos x0 em ambos os lados e obtemos

x0 + dt1 < x0 + dt2 .

Temos que
f (x0 + dt1 ) − f (x0 ) f (x0 + dt2 ) − f (x0 )
< ,
(x0 + dt1 ) − x0 (x0 + dt2 ) − x0
pois funções inclinação são crescentes. Multiplicando ambos os membros da de-
sigualdade por d, chegamos a
f (x0 + dt1 ) − f (x0 ) f (x0 + dt2 ) − f (x0 )
> ,
t1 t2
logo
q(t1 ) > q(t2 ),
portanto q(t) é função crescente. A partir de
f (x0 + td) − f (x0 )
= q(t),
t
temos

f (x0 + td) = f (x0 ) + tq(t) → f (x0 ) + (x0 − a)ℓ =: f (a+ ) ∈ IR ∪ {+∞}.

Então coloquemos t → t−
0 na relação

f (a) − f (x0 )
q(t) ≤ q(t0 ) = ,
x0 − a
para todo t ∈]0, t0 [, para obter
f (a+ ) − f (x0 ) f (a) − f (x0 )
ℓ= ≤ ,
x0 − a x0 − a
logo f (a+ ) ≤ f (a).

Analogamente podemos mostrar que f (b) ≥ f (b− ). 

3.2 Semi-continuidade inferior


De acordo com a Proposição 3.3, o comportamento de uma função convexa
nos pontos extremos de seu domı́nio assemelha-se a um dos casos ilustrados na Figura
3.1. Vemos que o caso (2) está dentro da definição seguinte, que é importante para
a existência de soluções em problemas de minimização. Pode-se ler mais a respeito
em [3]. Também temos [1] como referência e utilizamos ferramentas de análise que
podem ser encontradas em [6].

Definição 3.4 Dizemos que f ∈ Conv IR é fechada, ou semi-contı́nua inferior, se

lim inf f (x) ≥ f (x0 ), para todo x0 ∈ IR. (3.1)


x→x0

O conjunto de funções convexas fechadas sobre IR é denotado por Conv IR.


26

f(a )
+

f(a)∈[−∞, f(a )]

a a a
(1) Contínua (2) Semi−contínua inferior (3) Ilimitada

Figura 3.1: Propriedades de continuidade de funções convexas de uma variável.

Teorema 3.5 Seja f : IR → IR ∪ {+∞}. As seguintes proposições são equivalentes:


(i) f é semi-contı́nua inferior em IR;
(ii) epi f é um conjunto fechado em IR × IR;
(iii) os conjuntos de nı́vel Lt (f ) = {x ∈ IR | f (x) ≤ t, t ∈ IR}, Figura 3.2, são
fechados para todo t ∈ IR.
Prova.
(i)→(ii): Seja (xk , tk ) ∈ epi f uma seqüência convergindo para (x, t), quando
k → ∞. Como f (xk ) ≤ tk para todo k, então
t = lim tk ≥ lim inf f (xk ) ≥ f (x),
k→∞ xk →x

ou seja, (x, t) ∈ epi f . Como (x, t) é ponto de aderência de epi f , temos que epi f é
um conjunto fechado.
(ii)→(iii): Tomemos xk ∈ Lt (f ) tal que xk → a. Precisamos provar que
a ∈ Lt (f ). Seja a seqüência (xk , t). Como xk ∈ Lt (f ), temos que f (xk ) ≤ t. Por
definição, (xk , t) ∈ epi f , pois t ≥ f (xk ). Como epi f é um conjunto fechado, por
hipótese, e (xk , t) → (a, t), então (a, t) ∈ epi f , ou seja, t ≥ f (a). Logo Lt (f ) é
fechado para todo t ∈ IR.
(iii)→(i): Suponhamos agora, por contradição, que f não é semi-contı́nua
inferior para algum x. Então existe uma seqüência {xk } convergindo para x tal
que f (xk ) converge para r < f (x) ≤ +∞. Consideremos t ∈ (r, f (x)). Quando k
é suficientemente grande, temos f (xk ) ≤ t < f (x), ou seja, Lt (f ) não contém seu
limite x. Então, Lt (f ) não é fechado. 
27

Lt(f)

Figura 3.2: Conjuntos de nı́vel de uma função.

Proposição 3.6 Sejam I ⊂ IR um intervalo e f : I → IR uma função convexa.


Então o conjunto de nı́vel Lt (f ) = {x ∈ I | f (x) ≤ t}, onde t ∈ IR, é um intervalo
fechado.

Prova. Sejam x1 , x2 ∈ Lt . Então, x1 , x2 ∈ I, f (x1 ) ≤ t e f (x2 ) ≤ t. Tomemos


α ∈ (0, 1) e
x = αx1 + (1 − α)x2 .
Pela convexidade de I, x ∈ I. Além disso, pela convexidade de f ,

f (x) ≤ αf (x1 ) + (1 − α)f (x2 )


≤ αt + (1 − α)t
= t.

Daı́, x ∈ Lt e, portanto, Lt é um intervalo fechado. 

Exemplo 3.7 Seja f uma função convexa cujo domı́nio é todo o IR, e seja C um
intervalo fechado não-vazio. Então a “restrição convexa” de f a C:

f (x) para x ∈ C,
fC (x) :=
+∞ para x ∈ / C,
é fechada e convexa. Seu epigrafo é a intersecção do epi f com a barra vertical
gerada por C.

Exemplo 3.8 Seja C um intervalo não-vazio de IR. A função indicadora de C é



0 para x ∈ C,
IC (x) :=
+∞ para x ∈ / C.

IC é uma função convexa se e somente se C é fechado (seus conjuntos de nı́vel são


vazios ou C).
28

Definição 3.9 O fecho de f ∈ Conv IR é a função definida por


(
lim inf f (y) para x ∈ cl Dom f,
cl f (x) := y→x
+∞ para x ∈ / cl Dom f.

Teorema 3.10 Seja f ∈ Conv IR. Para todo x0 pertencente ao interior de seu
domı́nio, f admite uma derivada à direita e uma à esquerda, finitas:

f (x) − f (x0 ) f (x) − f (x0 )


D− f (x0 ) := lim− = sup , (3.2)
x→x0 x − x0 x<x0 x − x0

f (x) − f (x0 ) f (x) − f (x0 )


D+ f (x0 ) := lim+ = sup . (3.3)
x→x0 x − x0 x>x0 x − x0
Elas satisfazem
D− f (x0 ) ≤ D+ f (x0 ). (3.4)

Prova. Aplicando o critério de inclinações crescentes, o quociente diferença en-


volvido em (3.2), (3.3) é justamente a função inclinação s. Para quaisquer dois
pontos x, x′ no interior do domı́nio de f satisfazendo x < x0 < x′ , s(x) e s(x′ ) são
números finitos satisfazendo s(x) ≤ s(x′ ). Quando x → x− 0 , s(x) cresce e, quando
+
x → x0 , s(x ) decresce. Então, ambas convergem, como descrito pelas notações

(3.2), (3.3); isto prova (3.4) ao mesmo tempo. 

Teorema 3.11 Se f ∈ Conv IR, então f é contı́nua no int Dom f . Além disso, para
cada intervalo compacto [a, b] ⊂ int Dom f , existe L ≥ 0 tal que

|f (x) − f (x′ )| ≤ L|x − x′ |, (3.5)

para todos x, x′ ∈ [a, b].

Prova. Sejam [a, b] ⊂ int Dom f , a < b, e a ≤ x < x′ ≤ b; se a < x, escrevemos


(3.2) e (3.3) para pontos apropriados para obter

f (x) − f (a)
D+ f (a) ≤ ≤ D− f (x) ≤ D+ f (x)
x−a
f (x′ ) − f (x)
≤ ≤ D− f (x′ ) ≤ · · · ≤ D− f (b).
x −x

As desigualdades relevantes valem mesmo se x = a. Seja

L = max{−D+ f (a), D− f (b)}.

Então
|f (x) − f (x′ )| ≤ L|x − x′ |,
ou seja, que é a continuidade Lipschitziana de f em [a, b]. Em outras palavras, f é
localmente Lipschitziana no interior de seu domı́nio. 
Capı́tulo 4

Caracterização de convexidade de
funções diferenciáveis

Até então, estudamos convexidade apenas na reta. Neste capı́tulo, apre-


sentaremos o polinômio de Taylor, conforme [6], e, em seguida, caracterizaremos
convexidade de funções definidas em IRn .

4.1 Fórmula de Taylor


Teorema 4.1 Considere uma função f : D ⊂ IR → IR de classe C 2 e a um ponto
do interior de D. Então existe um único polinômio p2 de grau 2 que satisfaz as
condições:
p2 (a) = f (a),
p′2 (a) = f ′ (a),
p′′2 (a) = f ′′ (a).
Este polinômio é dado por

f ′′ (a)

p2 (x) = f (a) + f (a)(x − a) + (x − a)2 .
2!
Além disso,
f (x) − p2 (x)
lim = 0,
x→a (x − a)2
isto é, a diferença entre f (x) e p2 (x) vai para zero mais rapidamente do que (x−a)2 .
Em outras palavras,

f ′′ (a)
f (x) = f (a) + f ′ (a)(x − a) + (x − a)2 + R2 (a, x),
2!
com
R2 (a, x)
lim = 0.
x→a (x − a)2

Lembramos que p2 é o polinômio de Taylor de ordem 2 em torno do ponto a.

29
30

Prova. Seja
p2 = α + βx + γx2 (4.1)
um polinômio do segundo grau. Então
p′2 (x) = β + 2γx
e
p′′2 (x) = 2!γ.
Queremos que p2 satisfaça
p′′2 (a) = f ′′ (a),
ou seja,
2!γ = f ′′ (a).
Então
f ′′ (a)
γ= .
2!
Também queremos que p2 satisfaça
p′2 (a) = f ′ (a),
ou seja,
β + 2γa = f ′ (a).
Logo, concluimos que
β = f ′ (a) − f ′′ (a)a.
E, por fim, desejamos que p2 satisfaça
p2 (a) = f (a),
isto é,
α + βa + γa2 = f (a).
Então encontramos
f ′′ (a)
α = f (a) − [f ′ (a) − f ′′ (a)a]a − a.
2!
Substituindo os valores encontrados para α, β, γ em (4.1), chegamos a
f ′′ (a)
p2 (x) = f (a) + f ′ (a)(x − a) + (x − a)2 .
2!
Agora, utilizando duas vezes a regra de L’Hôpital, temos
f (x) − p2 (x) f ′ (x) − p′2 (x)
lim = lim
x→a (x − a)2 x→a 2(x − a)
f (x) − p′′2 (x)
′′
= lim
x→a 2
f (a) − p2 (a)
′′ ′′
=
2
= 0,
isto é, o erro R2 (a, x) = f (x) − p2 (x) vai para zero mais rapidamente do que a
expressão (x − a)2 . 
31

Exemplo 4.2 Seja a função f (x) = exp(x). O polinômio de Taylor de ordem 1


(aproximação linear) em torno do ponto 0 é

p1 (x) = 1 + x.

O polinômio de Taylor de ordem 2 (aproximação quadrática) em torno do ponto 0 é

x2
p2 (x) = 1 + x + .
2
A Figura 4.1 mostra os gráficos de f , p1 e p2 .

x
e

Aproximação
quadrática Aproximação
linear

Figura 4.1: Aproximações de exp(x) pelos polinômios de Taylor de ordens 1 e 2.

Até agora, estudamos apenas propriedades de funções convexas na reta.


Deste ponto em diante, passaremos a estudar algumas das propriedades de funções
convexas em IRn .

Teorema 4.3 Considere uma função f : D ⊂ IRn → IR de classe C 2 e a um ponto


interior de D. Então existe um único polinômio p2 de grau 2 de n variáveis que
satisfaz as condições:
p2 (a) = f (a),
∇p2 (a) = ∇f (a),
∇2 p2 (a) = ∇2 f (a).
Este polinômio é dado por
1
p2 (x) = f (a) + ∇f t (a)(x − a) + (x − a)t ∇2 f (a)(x − a).
2
32

Além disso,
f (x) = p2 (x) + R2 (a, x), (4.2)
onde o erro R2 (a, x) satisfaz a propriedade:

R2 (a, x) f (x) − p2 (x)


lim = lim = 0,
x→a ||x − a||2 x→a ||x − a||2

isto é, o erro R2 (a, x) vai para zero mais rapidamente do que o quadrado da distância
entre a e x. A equação (4.2) é a chamada “fórmula de Taylor com resto infinite-
simal”.

Prova. Seja o polinômio


1
p2 (x) = α + ut (x − a) + (x − a)t A(x − a).
2
Fazendo x = a em p2 , temos
1
p2 (a) = α + ut (a − a) + (a − a)t A(a − a),
2
logo,
p(a) = α = f (a).
Temos que
∇p(x) = u + A(x − a),
então, para x = a,
∇p(a) = u = ∇f (a).
Também temos que
∇2 p(x) = A = ∇2 f (a).
Portanto,
1
p(x) = f (a) + ∇f (a)(x − a) + (x − a)t ∇2 f (a)(x − a).
2
A prova de que
R2 (a, x) f (x) − p2 (x)
lim = lim = 0,
x→a ||x − a||2 x→a ||x − a||2
resulta do lema seguinte. 

Lema 4.4 Seja r : U → IR uma função p vezes diferenciável no ponto 0 ∈ U . Se r,


juntamente com todas as suas derivadas parciais de ordem menor que, ou igual a p,
se anula no ponto 0, então
r(v)
lim = 0.
v→0 |v|p
33

Prova. Usaremos indução em p. O resultado é óbvio se p = 0 (interpretando


“derivada parcial de ordem zero” como o valor da função). Supondo-o válido para
p, seja r uma função p + 1 vezes diferenciável no ponto 0, com todas as derivadas
parciais de ordem menor que, ou igual a p+1, nulas na origem. Então, para cada
∂r
i = 1, . . . , n, a função : U → IR é p vezes diferenciável e goza de propriedade
∂xi
semelhante, com p em vez de p + 1. Pela hipótese de indução, temos
∂r
(v)
∂xi
lim = 0.
v→0 |v|p

Seja
f (t) = r(tv),
para 0 ≤ t ≤ 1. Então

f ′ (t) = ∇f (tv)v
n
X ∂f
= (tv)αi ,
i=1
∂x i

onde v = (α1 , . . . , αn ). Pelo Teorema do Valor Médio, temos que existe θ ∈ [0, 1] tal
que
f (1) − f (0) = f ′ (θ) 1,
n
X ∂r
r(v) − r(0) = (θv)αi .
i=1
∂xi
Então n
X ∂r
r(v) = (θv)αi
i=1
∂xi
e, portanto,
∂r ∂r
n (θv)αi X n (θv)
r(v) X ∂xi ∂xi αi
= = ,
|v|p+1
i=1
|v|p+1
i=1
|v|p |v|
αi
Temos que é sempre menor que ou igual a 1, em valor absoluto. (Basta tomar
|v|
em IRn a norma da soma.) Segue-se então que

r(v)
lim = 0,
v→0 |v|p+1

o que conclui a demonstração do lema.



A seguir, é dada, para funções diferenciáveis, uma caracterização alternativa
de convexidade.
34

f(z)

y=f(x)+(z−x)t∇ f(x)

x z

Figura 4.2: Caracterização de convexidade em termos de derivadas primeiras.

4.2 Caracterização de funções convexas diferen-


ciáveis
Esta subseção foi escrita tendo [2] como base e o auxı́lio de [1].

Definição 4.5 (Convexidade para funções de n variáveis) Seja C um subcon-


junto convexo de IRn . A função f : C → IR é dita convexa em C quando

f (αx + (1 − α)y) ≤ αf (x) + (1 − α)f (y), (4.3)

para todos x, y ∈ C e todo α ∈ (0, 1).

Proposição 4.6 Sejam C um subconjunto convexo de IRn e f : IRn −→ IR dife-


renciável sobre IRn .

(i) f é convexa sobre C se e somente se

f (z) ≥ f (x) + (z − x)t ∇f (x), (4.4)

para todos x, z ∈ C, conforme ilustra a Figura 4.2;

(ii) f é estritamente convexa sobre C se e somente se a desigualdade acima é


estrita para todo x 6= z.

Prova. Primeiro, suponhamos que a desigualdade (4.4) vale. Tomemos quaisquer


x, y ∈ C e α ∈ [0, 1], e seja z = αx + (1 − α)y. Usando a desigualdade (4.4) duas
vezes, obtemos
f (x) ≥ f (z) + (x − z)t ∇f (z),
f (y) ≥ f (z) + (y − z)t ∇f (z).
35

Multiplicamos a primeira desigualdade por α,

αf (x) ≥ αf (z) + α(x − z)t ∇f (z),

e a segunda por (1 − α),

(1 − α)f (y) ≥ (1 − α)f (z) + (1 − α)(y − z)t ∇f (z).

Somando estas duas últimas desigualdades obtidas, temos

αf (x) + (1 − α)f (y) ≥ f (z) + [α(x − z)t + (1 − α)(y − z)t ]∇f (z)
= f (z) + (αxt − αz t + y t − z t − αy t + αz t )∇f (z)
= f (z) + (αxt + y t − αy t − z t )∇f (z)
= f (z) + (αx + (1 − α)y − z)t ∇f (z).

Como z = αx + (1 − α)y, temos

αf (x) + (1 − α)f (y) ≥ f (z) + (z − z)t ∇f (z),

ou seja,
αf (x) + (1 − α)f (y) ≥ f (z).
Logo, f é convexa, por definição.
Se a desigualdade (4.4) é estrita como enunciado na parte (ii) da proposi-
ção, então, ao tomarmos x 6= y e α ∈ (0, 1) acima, as desigualdades precedentes se
tornam estritas, assim mostrando a desigualdade estrita de f .

Reciprocamente, suponha que f é convexa. Sejam x e z vetores quaisquer


em C, com x 6= z, e para α ∈ (0, 1), considere a função
f (x + α(z − x)) − f (x)
g(α) = . (4.5)
α
Mostraremos que g(α) é crescente com α e estritamente crescente se f é estritamente
convexa. Isto implicará que

(z − x)t ∇f (x) = lim+ g(α) ≤ g(1) = f (z) − f (x),


α→0

com desigualdade estrita se g é estritamente crescente, assim mostrando que a de-


sejada desigualdade (4.4) vale, e vale estritamente se f é estritamente convexa. De
fato, considere quaisquer α1 , α2 , com 0 < α1 < α2 < 1, e sejam
α1
ᾱ = , z̄ = x + α2 (z − x). (4.6)
α2
Como f é convexa, por hipótese, temos

f (ᾱz̄ + (1 − ᾱ)x) ≤ ᾱf (z̄) + (1 − ᾱ)f (x),

f (x + ᾱ(z̄ − x)) ≤ ᾱ(f (z̄) − f (x)) + f (x),


f (x + ᾱ(z̄ − x)) − f (x)
≤ f (z̄) − f (x). (4.7)
ᾱ
36

Substituindo (4.6) em (4.7), obtemos, por cálculo direto,


 
α1
f x + (x + α2 (z − x) − x) − f (x)
α2
α1 ≤ f (x + α2 (z − x)) − f (x),
α2
f (x + α1 (z − x)) − f (x) f (x + α2 (z − x)) − f (x)
≤ ,
α1 α2
f (x + α1 (z − x)) − f (x) f (x + α2 (z − x)) − f (x)
≤ ,
α1 α2
ou seja,
g(α1 ) ≤ g(α2 ).
Agora, seja x 6= y. Queremos provar que
lim g(α) ≤ g(1) = f (z) − f (x). (4.8)
α→0+
Suponhamos, por absurdo, que
ℓ =: lim+ g(α) > g(1).
α→0
Seja
ε < ℓ − g(1). (4.9)
Temos que ℓ − g(1) > 0. Pela definição de limite, existe δ > 0 tal que, se α ∈ (0, δ),
então ℓ − ε < g(α) < ℓ + ε. Por (4.9), temos ℓ − ε > g(1). Conseqüentemente,
g(α) > ℓ − ε > g(1), isto é, g(α) > g(1), o que contradiz (4.8). 

A seguir, a ilustração geométrica das idéias que estão nas entrelinhas da


prova da Proposição 4.6. Na Figura 4.3, aproximamos linearmente f por z = αx +
(1 − α)y. A desigualdade (4.4) implica que
f (x) ≥ f (z) + (x − z)′ ∇f (z),
f (y) ≥ f (z) + (y − z)′ ∇f (z).
Como pode ser visto na figura, segue que αf (x) + (1 − α)f (y) está acima de f (z),
então f é convexa.
Na Figura 4.4, assumimos que f é convexa, e da geometria da figura notamos
que
f (x + α(z − x)) − f (x)
f (x) + ,
α
a qual permanece abaixo de f (z), é monotonicamente não crescente para α → 0+ ,
e converge para f (x) + (z − x)′ ∇f (x). Segue que f (z) ≥ f (x) + (z − x)′ ∇f (x).
Observação 4.7 Note uma simples conseqüência da Proposição 4.6. (i): se f :
IRn → IR é uma função convexa e ∇f (x∗ ) = 0, então x∗ minimiza f sobre Rn . Esta
é uma condição clássica suficiente para otimalidade sem restrições, originalmente
formulada (em uma dimensão) por Fermat em 1637.
Definição 4.8 (Matrizes semidefinidas positivas) Diz-se que uma matriz A é
semidefinida positiva se x′ Ax ≥ 0 para todo x.
Para funções convexas duas vezes diferenciáveis, há outra caracterização de
convexidade, como mostra a proposição seguinte.
37

f(y)

f(z)+(y−z)t∇ f(z)
α f(x)+(1−α)f(y)

f(x)
f(z)

f(z)+(x−z)t∇ f(z)
x y
z=α x+(1−α)y

Figura 4.3: Aproximação linear de f por z = αx + (1 − α)y.

Proposição 4.9 Seja C um subconjunto convexo de Rn e seja f : IRn → IR conti-


nuamente duas vezes diferenciável sobre Rn .

(i) Se ∇2 f (x) é semidefinido positivo para todo x ∈ C, então f é convexa sobre C;

(ii) Se ∇2 f (x) é definido positivo para todo x ∈ C, então f é estritamente convexa


sobre C;

(iii) Se C é aberto e f é convexa sobre C, então ∇2 f (x) é semidefinido positivo


para todo x ∈ C.

Prova.
(i) Suponhamos que ∇2 f (x) seja semidefinido positivo para todo x ∈ C.
Então, por definição, pt ∇2 f (x)p ≥ 0, para todo p ∈ IRn . Sejam x, y ∈ C.Como f é
continuamente duas vezes diferenciável sobre Rn , existe α ∈ (0, 1) tal que
1
f (x) = f (y) + ∇f t (y)(x − y) + (x − y)t ∇2 f (z)(x − y),
2
onde z é um ponto no segmento de reta que liga x em y, isto é,

z = αx + (1 − α)y.

Como C é convexo, temos que z ∈ C. Por hipótese, temos que

(x − y)t ∇2 f (z)(x − y) ≥ 0.

Portanto,
f (x) ≥ f (y) + ∇f t (y)(x − y).
38

f(z)

f(x)+[f(x+α(z−x))−f(x)]/α

f(x)+(z−x)t∇ f(x)

x x+α(z−x) z

Figura 4.4: Demonstração da Proposição 4.6.

Logo f é convexa, pelo teorema anterior.

(ii) Suponhamos que ∇2 f (x) seja definido positivo para todo x ∈ C. Então,
por definição, pt ∇2 f (x)p > 0, para todo p 6= 0. Sejam x, y ∈ C, com x 6= y. Como
f é continuamente duas vezes diferenciável sobre Rn , existe α ∈ (0, 1) tal que
1
f (x) = f (y) + ∇f t (y)(x − y) + (x − y)t ∇2 f (z)(x − y),
2
onde z é um ponto no segmento de reta que liga x em y, isto é,

z = αx + (1 − α)y.

Como C é convexo, temos que z ∈ C. Por hipótese, temos que

(x − y)t ∇2 f (z)(x − y) > 0,

para todos x, y tais que x 6= y. Portanto,

f (x) > f (y) + ∇f t (y)(x − y).

Logo f é convexa, pela Proposição 4.6

(iii) Suponhamos, por absurdo, que existem algum x ∈ C e algum d ∈ IRn


tais que
dt ∇2 f (x)d < 0.
Consideremos a função
g(λ) = f (y + λd).
39

Então
g ′ (λ) = ∇f t (y + λd)d
e
g ′′ (λ) = dt ∇2 f (y + λd)d.
Para λ = 0, temos g(0) = f (y), o que implica que g é convexa no ponto 0. Logo,

g ′′ (0) = dt ∇2 f (y)d < 0.

Pela conservação de sinal, temos que existe δ > 0 tal que g ′′ (λ) < 0 para todo
λ ∈ (−δ, δ). Seja
δ
x = y + d.
2
Por Taylor, temos que existe α ∈ (0, 1) tal que
1
f (x) = f (y) + ∇f t (y)(x − y) + (x − y)t ∇2 f (z)(x − y),
2
onde
δ
z = y + α(x − y) = y + α d.
2
Então
    
t 1 δ t 2 δ δ
f (x) = f (y) + ∇f (y)(x − y) + d ∇ f y+α d d .
2 2 2 2

Temos que     
1 δ t 2 δ δ
d ∇ f y+α d d < 0,
2 2 2 2
logo
f (x) < f (y) + ∇f t (y)(x − y),
o que, pela Proposição 4.6, contradiz a hipótese de que f é convexa sobre C. 

Exemplo 4.10 Considere a função quadrática

f (x) = xt Qx + at x,

onde Q é uma matriz n × n simétrica e b é um vetor em IRn . Como ∇2 f (x) = 2Q,


segue, usando a Proposição 4.9, que f é convexa se e somente se Q é positiva
semidefinida, e estritamente convexa se e somente se Q é positiva definida.
Conclusão

Ao longo deste projeto de Matemática Industrial, estudamos funções con-


vexas e suas principais propriedades. Este trabalho foi de extrema importância para
a conclusão do curso, uma vez que permitiu utilizar conceitos de várias disciplinas,
estudadas durante o curso, em um único contexto. Ao longo de todo o texto, foram
utilizados vários conhecimentos de Análise e de Cálculo para se obter os resultados
apresentados, visando sua aplicação em Otimização.
Quando uma função é convexa, sabemos que seu mı́nimo local é global,
daı́ sua importância em Otimização. Da generalização da definição de convexidade
para mais que dois pontos, obtivemos a desigualdade de Jensen, que nos permite
chegar a outras desigualdades, há muito conhecidas, como a existente entre as médias
algébrica e geométrica, por exemplo.
Vimos que podemos identificar uma função convexa através de suas pro-
priedades, uma vez que decorrem diretamente das definições de convexidade. No
último capı́tulo, estendemos a definição de convexidade para funções de várias
variáveis.
Em trabalhos futuros, poderı́amos tentar encontrar outras desigualdades
interessantes a partir da desigualdade de Jensen. A aplicação de convexidade em
otimização é um ponto ainda mais importante a ser estudado, juntamente com as
condições de otimalidade para um problema de programação não linear.
Referências Bibliográficas

[1] N. Andrei. Convex Functions. CAMO research report. Disponı́vel em:


<http://www.ici.ro/camo/neculai/convex.pdf> Acesso em: 21 set. 2006.

[2] D. Bertsekas, A. Nedić, A.E. Ozdaglar. Convex Analysis and Optimization.


Athena Scientific, USA, 2003.

[3] J.B. Hiriart-Urruty, C. Lemaréchal. Convex Analysis and Minimization Algo-


rithms I: Fundamentals (Grundlehren Der Mathematischen Wissenschaften, No
305). Springer-Verlag, Berlin, 1993.

[4] E.L. Lima. Análise Real Volume 1: Funções de Uma Variável Real. Coleção
Matemática Universitária. IMPA, Rio de Janeiro, 2006.

[5] E.L. Lima. Curso de Análise Volume 1. Coleção Projeto Euclides. IMPA, Rio de
Janeiro, 2006.

[6] E.L. Lima. Curso de Análise Volume 2. Coleção Projeto Euclides. IMPA, Rio de
Janeiro, 2006.

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